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Segunda edição
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Feito em nome de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Owó lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyan
Ọmọ lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Àikù lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Ire gbogbo lẹ bá fẹ́ẹ́ ní láyé
Ẹni tí ẹ ó maa bí nìyẹn
Ọrúnmìlà afèdè-fẹ̀yọ̀
Ẹ̀tà-Ìsòdè
Ifá re'lé Olókun
Kò dé mọ́
Ó ní ẹni tí ẹ bá ti rí
Ẹ sá maa pèé ní Bàbá
Se você está em busca de prosperidade na terra
Esta é a pessoa para a qual você deve perguntar
Se você quer filhos
Esta é a pessoa a quem você deve procurar
Se você está em busca de vida longa
Esta é a pessoa a quem você deve perguntar
Órunmilá, ele que fala em diferentes idiomas e línguas
Ela-ìsòdè
Ifá foi para a casa de Olokun
E nunca retornará
Ele diz que qualquer um que você veja
Por favor, procure-o como a um Pai
Sumário
Introdução
Resumo das atualizações desta versão do livro
Mitos sobre egbe ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)
As informações de Verger sobre esse tema
As informações de Ayo Salami
As informações de Alex Cuoco
Onde fica de fato a sociedade egbe ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)?
Como é a composição do egbe ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)
O que é a sociedade egbé ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)
O grupo dos Eré
Os demais espíritos do egbé ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run).
A origem dos Àbíkú
A família que recebe as crianças do egbé ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)
O envolvimento dos companheiros do egbe ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)
Os problemas que crianças vindas do egbe ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run) sofrem
O que o Bàbáláwo pode fazer para ajudar?
Conclusão
Informações complementares sobre o egbe ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)
Erros, mistificações e desentendimentos sobre egbe orun
RESUMO DESTE LIVRO
Introdução
Você vai ler agora um livro poderoso em termos de conteúdo. Faça isso com
responsabilidade.
Este livro representa uma parte da teologia da religião Yoruba. A religião
Yoruba não tem um nome específico, é apenas chamada assim, religião
Yoruba. Esta religião gerou na Nigéria e no novo mundo (américa central e
do sul), tradições religiosas baseadas nela como um todo e em alguns dos
seus cultos em particular, sendo o maior, mais proeminente e mais conhecido,
o culto de Orixá. Orixá é a divindade que representa a manifestação teândrica
de deus junto a humanidade. Eles são a manifestação humanizada de deus
entre nós. Orixá é a representação da analogia entis para o entendimento de
deus.
Como tradições religiosas, derivadas dessa religião, podemos citar, no Brasil,
o Candomblé, o Batuque e o Nagô, em Cuba a Santeria e na Nigéria a RTY,
mas, sem se restringir a essas. Não existe relação de hierarquia entre essas
tradições, são todas tradições de uma mesma religião, cada uma foi formatada
em acordo com a sociedade e culturam que representam.
Depois do culto de Orixá (Òrìṣà), o culto mais conhecido é o de Ifá, cuja
sociedade sacerdotal se ocupa exclusivamente em lidar com o oráculo e
representa apenas uma divindade, que não é um orixá, esta divindade é
Órunmila. Ifá foi o último culto a se espalhar pelo mundo e, diferente do
culto de Orixá (Òrìṣà), em todo mundo é conhecido pelo mesmo nome, culto
de Ifá, mesmo que existam variações.
É neste contexto religioso, da religião Yoruba, que possui vários cultos e
tradições diferentes, que surge a teologia ligada a existência da sociedade
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), que é o tema deste livro.
O conteúdo do livro é baseado no que já podemos chamar de Ifá Brasileiro e
unifica a visão de Ifá, através de versos de Ifá (não são usados Pataki,
cubanos) e através do conhecimento do Candomblé. Existem outros trabalhos
sobre esse tema que trazem a visão do Ifá Nigeriano atual. Este livro não se
baseia nessa visão contemporância desta escola de Ifá e Orixá (Òrìṣà).
Este é um tema bem vertical nesta religião e que sai fora do contexto mais
comum e amplo ligado a orixá. Assim, por ser uma especificidade teológica,
algumas pessoas menos habituadas com as tradições de Orixá, poderão ter
alguma dificuldade de entender tudo o que será dito, mas o livro foi feito para
permitir o amplo entendimento, não é necessário ser um especialista.
A sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é bem conhecida pelo culto de Ifá que
lida com os problemas e consequências ligadas a ela.
A sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é um tema bastante importante devido
a enorme influência em fatos que surgem na vida de crianças, mas que podem
virar cicatrizes ou marcas na vida de adultos, impactando-os enormemente
por causas que poderiam ter sido trabalhadas no seu surgimento e sua
infância.
Como será explicado neste livro, os espíritos da sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) são almas abaladas emocionalmente, rejeitadas e ainda estão em sua
infância emocional. Almas que nasceram e não puderam crescer e evoluir
com o suporte da família e da sociedade humana. Pelas mãos de deus, através
dos Orixá (Òrìṣà) elas renascem, para uma nova vida, sem antes voltar ao
órun (Ọ̀run) para um novo reinício e isso traz para elas um enorme
comprometimento emocional.
Elas não são a face do mal. Elas são apenas vítimas infelizes do seu próprio
destino. É isso que esse livro vai mostrar, recuperando a verdadeira face desta
sociedade que é apresentada por esta religião.
Infelizmente, existe um grande grau de desinformação sobre o mesmo,
devido a falta de estudo teológico sobre o assunto, devido a falta de bom
senso e inteligência, devido a falta de fontes confiáveis e, principalmente
devido ao excesso de mistificação sobre o assunto. A preguiça e a falta de
honestidade levaram a este tema ter sido abandonado e depois prejudicado.
Eu, neste trabalho, levei bem mais de 10 anos para reunir fontes confiáveis e
consistentes, para poder entender esse assunto, em si mesmo e dentro do
contexto geral da religião e, finalmente, também, poder confirmar, através de
conversa com pessoas e da prática de Ifá e do Candomblé, esse conhecimento
teórico.
Eu não estou apresentando um trabalho acadêmico, copiando e compilando
fontes. Esse é um trabalho de campo para recuperar a teologia e a origem da
sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
O entendimento do fenômeno, das causas e origem desta sociedade, reside
nas fontes ruins, que desorienta quem busca o conhecimento. Além da
dificuldade do assunto, somam-se nigerianos sem nenhuma noção do que
falam e que estão inventando bobagens sobre o assunto para poder ganhar
dinheiro dos tolos de plantão.
Existe um critério, importante e que não é observado por muita gente que fala
sobre essa religião, que é a questão da consistência e simplicidade quando
tratamos de teologia. A falta de bom senso.
Não basta apenas conhecermos o assunto, suas práticas, ritos e mitos. Não
basta ler e reproduzir, ler e reptir. Não podemos, em cada tema da religião,
construirmos uma nova base teológica para atender e se ajustar, para aquele
tema, formando uma teia de infinitas possibilidades e, principalmente, infinita
complexidade. O conhecimento proposto, em cada tema, tem que se encaixar
em relação ao restante da religião de forma consistente e harmônica.
Assim para falar dessa religião tem-se, primeiro, que dominar a teologia da
religião, entender o todo, porque cada parte que de aprofunda ou se detalha
tem que ser consistente com esse todo.
Isso gera um grande problema, que é a necessidade de a pessoa, primeiro,
conhecer o todo sobre a teologia desta religião (como em toda religião) para,
depois, poder falar de alguma coisa ou de partes dela em detalhes. Não se
pode adquirir conhecimento em pedaços e falar de cada coisa como se fossem
separadas. Além disso, em todo o tema, é necessário aplicarmos o princípio
da “Lâmina de Occan”.
Devido ao trabalho necessário e complexidade disso, de entender a teologia,
o caminho adotado, por muitos na prática, é o mais simples e mais idiota, a
pessoa se concentra apenas no seu problema, necessidade ou interesse
imediata e é essa a razão pela qual nascem as idiossincrasias e absurdos
teológicos. Isso é uma realidade. O que piora isso é o fato de que não existe,
para a religião Yorùbá, uma obra que a defina, um ou mais livros que reúnam
o conjunto da teologia, cosmologia, cosmogonia e teodicéia para servir de
uma base mínima para ser discutida por todos. Veja, para poder ser, no
mínimo discutida e questionada. O que temos são malucos falando qualquer
coisa que querem ou pensem como se tivessem a autoridade de deus. Temos
antropólogos definindo a religião para os teólogos e não o contrário.
Infelizmente estamos na idade das trevas do conhecimento desta religião.
Quando tratamos de qualquer tema ou subtema dentro desta religião, se não
conseguimos encaixar essa visão particular e contextualizada, de forma
coerente na teologia geral da religião, existe uma grande possibilidade de
estarmos refletindo uma visão errada sobre o mesmo. Infelizmente a base
para evitar isso é a pessoa conhecer a religião como um todo, primeiro, em
vez de ficar se “especializando” em detalhes. Mergulhar em detalhes, é o
caminho para os erros, a pessoa olha uma única coisa e já se acha
especialista. Mas, pode ser pior, ela fica aprendendo em pedaços e fica
“especialista” em partes, mas, cada uma dessas partes não se combina com as
outras. O problema é facilmente resolvido adicionando complexidade, tudo é
complicado, aí, fica fácil de falar.
Mas isso poderia ser evitado facilmente se a pessoa, pelo, menos procurasse
algumas informações adicionais, se pensasse um pouco mais sobre o assunto
antes de fazer coisas e tomar decisões.
Este é o critério adotado nesse livro, ser consistente com o todo da religião.
Se algum erro é cometido, ele é sincero, é feito na busca de acertar e não de
inventar o conhecimento.
Este livro trará uma explicação religiosa, baseado na teologia Yorùbá, de
fenômenos que afetam muito as pessoas individualmente e por consequência
as suas famílias e que são vistos como malefícios, mas, na verdade, são uma
das páginas mais tristes da nossa relação, como pessoas e almas, com a
estrutura metafísica da religião.
Este não é um tema complexo de verdade.
O que é complexo é o emaranhado de explicações fantasiosas e mirabolantes
que tem que sido dadas e as consequências dessas explicações por pessoas
que seja por real ignorância ou por má fé para pessoas buscando justificar
problemas que elas não encontram respostas.
Durante um bom tempo, eu mesmo, baseado nas informações que eu tinha
disponível, passei a considerar o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e principalmente
os Àbíkú, como uma componente do mal teológico desta religião, contudo,
com o tempo, o que se abriu para mim foi o contrário, de verdugos passaram
a serem vítimas do mal (explicar o mal na sua forma teológica não será feito
aqui). Os Àbíkú são almas que temos que lamentar e ajudar, mas, isso,
somente será para os muito fortes, os eleitos.
As famílias não são amaldiçoadas pelos Àbíkú. Os Àbíkú não existem
aleatoriamente para fazerem famílias sofrerem, os espíritos humanos não têm
esse mal intrínseco, é justamente o contrário, os Àbíkú foram espíritos que
morreram na infância e que foram amaldiçoados pelas famílias originais com
a rejeição. Devido a isso elas não retornam ao órun (Ọ̀run), ficam em um
espaço intermediário chamado Ìrònà, onde criam novos laços familiares, com
seus companheiros de mesma sina.
Os Àbíkú não são “demônios” que atormentam as famílias ou maldições que
as perseguem. São o resultado de sentimentos muito humanos, como medo,
decepção, raiva e rejeição. São parte do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), mas, por
não superarem sua rejeição se tornam os Àbíkú. Entendendo assim passamos
a olhar os Àbíkú de uma forma humana e não como um espírito do mal sem
explicação.
As novas famílias, que os recebem, foram eleitas, pelos Orixá (Òrì ṣ à), para
recuperar essas almas e precisam entender essa árdua missão. Quando elas
não entendem ou não tem a capacidade para isso, elas sofrem. Os Àbíkú,
dessa maneira, são o resultado de uma relação bastante humana e são uma
consequência de um mal maior cometido antes contra essas as almas infantis.
E qual a utilidade deste conhecimento? Por que esse tema é relevante?
A razão é muito objetiva. Conhecendo a verdadeira natureza da sociedade
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e a razão da existência dos Àbíkú, as pessoas
poderão identificar potenciais problemas causados em crianças originadas
desta sociedade e com esse conhecimento verdadeiro entendê-las, atuar nos
problemas que a relação com a sociedade traz e solucionar a questão dos
Àbíkú, evitando sofrimento para a criança, para o adulto e para toda a família.
Existem problemas causados por esta origem que abalam as crianças
renascidas e que poderão ser tratados de forma inadequada pela medicina e
pelos pais. Crianças sofreram no seu crescimento e adultos problemáticos
poderão ser gerados.
Não entendam errado, o que estou afirmando é que cuidar de crianças
conhecendo sua origem na sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é superior a
tentar resolver isso com remédios, psicólogos e terapias. Nem todos os
problemas, doenças e anomalias que temos tem origem no nosso corpo e
podem ser tratadas pela medicina. Ignorar o conhecimento do supernatural e
as causas supernaturais para questões da nossa vida não fará que esses
problemas sejam resolvidos. Nem tudo é halopatia, a alma também de
adoece.
É o correto conhecimento do que é uma coisa e outra que traz a solução. O
corpo se cuida nas ciências biomédicas, mas, a alma se cuida na religião.
Desta forma, o trabalho sacerdotal nessa religião, através do Bàbáláwo (que
deve ter esse conhecimento), é o de recuperar essas relações, seja a esperança
ou a confiança da alma que renasce, bem como, o entendimento da família
que o recebe. O trabalho de Ifá tem que ser transformador e não punitivo e
excludente, não tem família a ser protegida e nem espírito a ser punido.
Osamaro Ibie (Ifism the complete work of Órunmila, pág. 48) destaca
acertadamente que, “Órunmila (Ọ̀rúnmìlà) não resolve nenhum problema
através da confrontação exceto se todas as formas disponíveis de conciliação
falharam. Nós frequentemente procuramos a ajuda das divindades mais
agressivas para fazer o trabalho sujo para nós.”. Essa é a essência de Ifá
buscar o equilíbrio e a conciliação.
Esta é a visão que vou explicar longamente neste texto.
Seguindo o entendimento que tem que ser usado na obtenção do
conhecimento nesta religião, tudo o que tratamos e afirmamos tem que ser
baseado em leitura e interpretação de versos. Nós devemos fazer uma análise
dos versos e mitos, que são metáforas e parábolas, buscando o seu sentido
transcendente e dar um entendimento mais amplo e também mais relativo,
não literal, do que lemos, como é feito em todas as religiões.
Temos, também, que estar atentos, visto que, com o passar do tempo,
histórias podem ter sido alteradas e simplificadas. Temos sempre que buscar
o sentido maior, mas, sempre também, nos basearmos nos versos para isso.
Assim, depois, encaixar isso no contexto teológico mais amplo, buscar um
entendimento que seja baseado no bom senso, no normal e alinhado com a
nossa humanidade.
Não podemos fazer afirmações, dentro de um tema específico da religião que
não sejam suportadas por versos, mitos ou um conhecimento da tradição oral
fortemente estabelecido. Alerto que, usar a tradição oral é bastante
complicado, quando digo tradição oral, me refiro a ritos que são feitos pela
sociedade de forma ampla e que podem ser analisados e entendidos no
contexto que estamos tratando. Ao usar “tradição oral” por ela mesma,
podemos nos basear em histórias inventadas ou distorcidas, essa expressão de
origem de informação já foi bastante usada para disfarçar a falta de
conhecimento real. Alegar o uso da “tradição oral” não pode ser passaporte
livre para criar conhecimento do nada. Outro cuidado diz respeito a
regionalidade. Quando se fala daquela região da África, abrangida hoje pela
Nigéria e Benin, estamos falando de muitas etnias e diferenças culturais, é
uma diversidade grande, apesar de muito próximas geograficamente uma da
outra.
Um bom exemplo de uso da tradição oral, como referência, é mostrado por
Batatunde Lawal no livro Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) Spectacle. O livro é dedicado ao
estudo do espetáculo dos mascarados do culto de Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́), mas, é
impossível falar de Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) sem também falar de Àbíkú e ajé (Àjẹ́).
Lawal, em seu livro, mostra como a sociedade trata na prática estas questões
através do culto de Ìyá Nlá, a mãe terra, divindade que está diretamente
ligado a custo de Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́). Ele descreve os festivais e até rituais, mas,
ao tratar desse tema, não busca os versos e mitos de origem, ele se
desenvolve na tradição oral, visto que seu trabalho é sobre a externalização
desta questão. Isso é o bom uso da tradição oral, é mostrar evidência, hábitos,
crenças, mitos e ritos baseados no que a sociedade faz de fato.
Esse livro é mais formal o focado em sua abordagem, assim, eu vou
inicialmente expor uma base de mitos que fazem parte do conhecimento da
religião e que foram a base inicial para minhas análises e conclusões. Repito,
a partir desses mitos e sempre usando eles junto com minha prática de canpo
eu construí o conhecimento que aqui vou expor.
Antes que pensem que estou querendo complicar tudo, entendam que, para
compreender essa religião, vocês devem de fato ler os versos e as histórias.
Eu posso junto com isso fazer minhas análises e explicações, mas, é
necessário conhecer a fonte da informação que transmitimos ou seremos
apenas especuladores e inventores de maluquices.
Desta maneira, eu reúno a seguir as fontes que achei mais relevante. Elas
devem ser lidas com calma e entendidas porque, depois, tudo o que eu falar
será baseado nelas.
Resumo das atualizações desta versão do
livro
Esta versão traz uma revisão minuciosa de todo o texto e será acompanhada
de uma versão em inglês.
Mitos sobre egbe ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)
Não se pode conhecer ou entender essa religião sem se basear pelo conteúdo
dos versos e mitos. Essa literatura oral foi, em parte, recuperada após ser
perdida quase completamente devido ao tsunami que desestabilização a
outrora vibrante sociedade Yorùbá. O escravagismo, o colonialismo e depois
a tomada da sociedade pelas religiões abraâmicas, dispersou e fez
desaparecer a sua religião tradicional. Atualmente, menos de 1% da
população segue a religião tradicional e possivelmente faça isso devido a
exploração econômica do turismo religioso dos praticantes do novo mundo.
Em função disso. a análise desses mitos deve ser feita com cuidado devido às
distorções da transmissão oral e também das alterações feitas para atender a
diversos fins convenientes e econômicos, mas, apesar desse risco, versos de
Ifá e mitos de orixá sempre serão a unidade base para entender a teologia
desta religião.
Qualquer pessoa que fale sobre a religião, que faça análises e apresente
conclusões deve ser justificar através desse corpo literário. Dessa maneira
esse livro também inicia com esse corpo literário.
A relação a seguir não esgota o tema, mas, pincei o que considero relevante
para poder analisar esse assunto. Eu apresento os mitos no sentido de
estabelecer essa documentação do que eu obtive de relevante. A minha
posição sobre o tema em questão será apresentada depois, considerando tudo
o que eu já disse, esses mitos e também minha experiência.
Elégùn
Um orixá é um elemento puro, uma força da natureza e ase, que é uma energia que só se torna
visível quando o orixá possui os humanos e se torna um deles. A pessoa que o orixá escolheu
possuir é chamada de "elegun", aquela que obteve o privilégio de ser "montada" pelo orixá. Em
Yorubaland, os pais de uma criança recém-nascida geralmente consultam um Bàbáláwo para
determinar o destino da criança. Nesse momento, o orixá-chefe da criança é certificado e ele se
torna um futuro elégùn. Por volta dos sete anos de idade, a criança receberá cuidados espirituais
de um padre guardião, que pertence ao mesmo orixá da criança. Isso é feito para que a criança
viva na atmosfera de seu Orixá (Òrìṣà) designado.
Por meio da possessão, os corpos dos devotos tornam-se veículos que permitem aos orixás
retornar à terra para serem saudados, participarem de ritos cerimoniais, bem como receberem
sacrifícios e serem capacitados a se comunicarem diretamente com aqueles que os evocaram.
Na terra Yorùbá, o termo Iyawoorisa é frequentemente dado a um elégùn, que significa "esposa
do orixá" (Iyawo). Este termo é usado para referir-se a homens e mulheres e não representa uma
ideia de união nem de posse carnal, mas sim de subordinação e dependência. Normalmente é
realizada uma cerimônia de consagração de um novo elégùn. O noviço, deve suportar um longo
ritual de iniciação de seu orixá. Um lugar sagrado especial para a iniciação é estabelecido e o
futuro elégùn deve ir lá alguns dias antes do início das cerimônias, a fim de atender aos
preparativos. O novato então viverá em um local privado que deve ser próximo ao "igbo iku" (a
floresta da morte), que é o local onde as cerimônias acontecerão. Apesar do nome, este local
não é uma floresta real, mas sim um cômodo simples de uma casa ou qualquer outro cômodo
vazio. A permanência do noviço no igbo iku representa a passagem ao Órun (Ọ̀run) infinito,
entre a existência antiga e profana do noviço e a nova que será consagrada ao seu orixá. O
noviço é então submetido a ingerir infusões feitas com folhas e raízes sagradas, que irão
reforçar a ligação entre ele e seu futuro Orixá (Òrìṣà) . Essas infusões, que contêm ase, o poder
do Orixá (Òrìṣà), têm um efeito influente na mente do novato ou contribuir para levá-lo a um
estado de entorpecimento e sugestão, o que o torna um ser dócil, pronto para a iniciação e para
receber seu orixá. Uma vez que o processo de iniciação é concluído, o novato renasce como um
elégùn. Da ai em diante, seus sentidos serão constantemente aprimorados e poderão ser:
avaliados durante os rituais de adoração. Um elégùn é mais vulnerável à possessão de um orixá
durante cerimônias religiosas onde tambores, cantos e danças criam uma atmosfera carregada
de axé (àṣẹ) que permite que o orixá adorado monte em seu corpo. No estado de transe, o
elégùn se torna um orixá e é adorado por outros devotos, que oferecem sacrifícios e o saúdam.
Por sua vez, o evocado Orixá (Òrìṣà) oferece orientação aos devotos através do elégùn.
Referências da atualidade
Explorando a segunda opção e tomando como referência a livraria Amazon,
verificaremos que não tem muita gente falando sobre esse tema. Uma parte
um pouco maior fala sobre os Àbíkú, que é o assunto mais popular e
tradicional e, destes, a maior parte na forma de novela, ficção. Em livros
sobre Ifá ou sobre a religião, geralmente são reservadas apenas algumas
páginas, com pouca informação, sendo que, as melhores referências
existentes eu já citei no início do texto. Eu encontrei apenas uma publicação
falando de egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) na Amazon, cujo autor é Ifayemisi
Elebuibon. Na verdade, trata-se de uma autora, Ifayemisi é mulher e bem
nova. Ela não é Bàbáláwo e desta forma falta-lhe prática de oráculo ou
mesmo de Ifá para tratar do tema. Neste livro ela usa, ao extremo, este
contexto órun (Ọ̀run) para desenvolver o assunto, mas, faz uma obra, como
eu previ, alucinada, misturando coisas diferentes da religião e criando figuras
novas. Ele multiplica a existência de divindades ligadas ao egbe (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run), associando divindades regionais diferentes e que realmente existem,
mas não ligadas entre si, como se fossem parte do todo comum, cria novos
nomes para elas e define, da cabeça dela, finalidades de atuação. Lembro que
o estabelecimento de áreas de atuação especializada não faz parte desta
religião. Ela chega ao ponto, absurdo, de dizer que, se temos esposa no órun
(Ọ̀run) esta interferirá em nosso destino no Àiyé, justificando com isso nossa
dificuldade em encontrar a felicidade, devido a atuação e ciúmes desse
espírito. Este livro é um festival de besteiras, mais do que seria normal, e que
tem origem, como eu digo, no entendimento que o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)
está ligado ao órun (Ọ̀run).
Tem que se tomar cuidado com Nigerianos, ética não é uma palavra que se
aplica a eles. Elebuibon é uma família conhecida e eles tem a necessidade de
dar notoriedade aos membros da família, seja pela vaidade ou seja pela
necessidade de estabelecer os membros no mercado de comércio religioso
entre eles e o novo mundo, principalmente os EUA. O mesmo ocorreu com o
Abimbola. Se você não entende isso, fique atento.
No Youtube o panorama não é diferente. Pouca gente consegue escrever, mas
todo mundo sabe falar. A quantidade de pessoas falando sobre o tema se
multiplica e o objetivo disso parece o mesmo. Nos vídeos eles conseguem
definir bem os problemas que os espíritos do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) trazem
para os Ara Àiyé, afinal, isso está na religião, mas eles estabelecem em suas
explicações uma complexidade, e amplitude enormes que permitem uma
oferta ampla de soluções pagas para resolver os problemas. Nos vídeos fica
bem claro a complexidade da explicação quando tratamos de órun (Ọ̀run).
Uma coisa muito comum é a repetição, eles se repetem.
O proplema é que para aceitar essas explicações é necessário, como expliquei
anteriormente, criar uma teologia paralela à religião yorùbá, teologia esse que
endereça muito bem apenas uma coisa, um comércio de iniciações,
assentamentos e trabalhos orientados a resolver os problemas que não
existem.
Se você não conhece os elementos basilares da teologia da religião as
explicações podem parecer razoáveis. Mas, mesmo sem conhecer a teologia
se você tiver alguma inteligência a aplicar bom senso vai perceber que aquilo
não pode fazer sentido.
Essas referências que fiz, do livro e dos vídeos, não tem como foco apenas
criticar os autores em meu benefício, mas elas são necessárias para
comprovar a minha afirmação de que a composição do egbé (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) baseada no órun (Ọ̀run) torna esse tema complexo além do limite.
Quando você entende o que eu estou dizendo e vê essas explicações
complicadas fica bem evidente o que eu quero mostrar, a falta de bom senso e
o excesso de complexidade.
Mas deixando essa visão geral vamos ao conteúdo que interessa.
Devido a uma troca. Eles não poderiam ter filhos e tiveram que
recorrer a Orixá (Òrìṣà) para mudar isso e, assim, recebem uma
criança da sociedade para trazerem de volta a vida.
Como uma missão, sua bondade e dedicação vão fazê-las receber
umas dessas crianças perdidas e a trazerem de volta a uma linha
familiar.
O caso Àbíkú é mais extremo e vai merecer mais cuidado porque a criança, na
sociedade, se transforma em um Àbíkú e eles devem entender a causa disso.
Não deve ser descartado o próprio envolvimento da família nesse motivo,
assim trata-se de algo que, ambos, a criança Àbíkú e a família terão que
resolver juntos.
Orixá (Òrìṣà) não pune ninguém, quer sempre o bem de todos.
A influência dos companheiros do egbe ( Ẹ gbẹ́) órun (Ọ̀run)
Vamos então deixar de lado a exclusividade de Àbíkú no tema e vamos tratar
de forma ampla de um caso muito mais comum entre as pessoas.
Por estarem localizado no Ìrònà os espíritos das crianças do egbe (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) tem acesso ao Àiyé e estão presentes entre a gente, eles têm essa
facilidade de acesso. Dessa maneira, quando um de seus companheiros
renasce pode haver a manutenção do contato entre eles, do renascido e das
crianças do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Isso não é sempre, depende do nível de
ligação entre eles lá, é claro.
Assim, para os Àbíkú, esses espíritos poderão participar do processo de
retorno deles ao Ìrònà. Eu não creio que eles serão responsáveis por matá-lo,
matar é uma coisa muito séria, mas podem levar a criança a acidentes por
distração, por exemplo. Não são raros relatos de crianças que tem amigos
invisíveis, que brincam sozinhas, falam sozinhas e veem o que a gente não
vê.
Como explicado, as crianças vindas de Orixá (Òrìṣà) poderão sofrer com a
presença de seus companheiros do Ìrònà, seja para brincar com ela ou para
cobrar delas o seu retorno. Os mitos do Cuoco mostram bastante esta
ocorrência. Todos temos que entender que, uma vez que elas vieram do Ìrònà
e que os demais espíritos que conheceram no Ìrònà tem acesso ao Àiyé, a
presença desses espíritos poderá ser sentida pela criança e até mesmo pela
família.
Mas esse contato entre nascidos e o egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) tem que ser
monitorado, porque situações não tão favoráveis podem ocorrer. Temos que
lembrar que esse contato é inconsciente, ocorre a noite e a criança não se
lembra deles e se de dia não tem a consciência disso. Quando a pessoa cresce,
eles se afastam, mas, antes disso podem deixar o adulto em uma posição
ruim.
A minha opinião, como Bàbáláwo é que é o problema mais sério que envolve
de forma geral crianças vindas da sociedade. Esse vínculo tem que ser
quebrado para que o renascido possa ter uma vida normal. Manter esse
vínculo sempre traz problemas. É risível, na minha opinião, a intenção do
Bàbáláwo que indica iniciações para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Se isso fosse
sério, em vez de um placebo, somente seria aplicado se o objetivo for o de
desgraçar a vida da pessoa. O que salvam as pessoas é que essas liturgias
malucas como iniciar para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e fazer assentamento
para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e assentar Exú (Èṣù) para egbé (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) é apenas placebo.
Essas coisas oferecidas como solução por pessoas e casas ignorantes ou mal-
intencionadas, não tem sentido na religião. Para aceitar isso, assentamentos e
iniciações a esta sociedade, temos, primeiro, que deixar de lado nossa
inteligência e depois jogar fora toda a teologia conhecida da religião Yoruba.
Para não ficar registrado apenas minhas palavras ruins sobre esse assunto,
vou fazer como tenho feito aqui, vou explicar minha posição de modo que
cada um, com informações de qualidade possa também fazer seu próprio
juízo.
O egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é uma sociedade e não uma ligação espiritual.
Não somos ligados espiritualmente a nenhum espírito do egbé (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) e se nós somos ligados a ele é porque, como espíritos, já participamos
dessa sociedade. Essa característica de ligação fraternal é descrita nos mitos e
faz sentido com a interpretação e análise que eu fiz sobre os mesmos e já
expus aqui.
Essa característica de ligação fraterna de desenvolve devido a serem espíritos
que já haviam nascido e não voltaram ao órun (Ọ̀run). Elas ficam com a
consciência da vida que iniciaram. A relação que os membros da sociedade
desenvolvem com os seus membros renascido está toda dentro do contexto do
Àiyé e não existe necessidade de nenhuma liturgia especial para a relação
dentro do Àiyé, porque todos já estamos dentro do contexto do Àiyé.
A iniciação, por sua vez, é um ato litúrgico para despertar e intensificar a
nossa ligação com uma divindade do órun (Ọ̀run). É uma liturgia individual.
Nós no Aiye, nos submetemos a um ato litúrgico porque queremos
estabelecer, estabilizar ou amplificar uma ligação entre nós, Ara Àiyé, com
uma divindade no órun (Ọ̀run). Assim a iniciação desperta a presença desta
divindade junto a nós ou cria um vínculo que necessitamos. A necessidade
disso, de acordo com o que instrui a religião é devido a meu ver a 2 fatores. O
primeiro é a separação energética entre órun (Ọ̀run) e Àiyé. Todos têm que ter
sempre isso em mente, órun (Ọ̀run) e Àiyé são separados, muito separados,
não existe trânsito.
Observe o caso católico, na visão deles, deus simplesmente não apareceu no
Àiyé. Ele teve que criar uma manifestação teândrica dele, através do Cristo,
que teve que nascer pelo útero de uma mulher, crescer para depois poder falar
e atuar. Se fosse simples bastaria ele estalar os dedos e sair de dentro de uma
garrafa com uma fumacinha cor de rosa e aparecer para todos. Mas não foi
assim que ocorreu, como está, também nesta religião ele teve nascer de um
útero para existe física e energeticamente aqui.
Mesmo no antigo testamento, deus não aparecia para multidões, ele sempre
se “comunicava” através de 1 pessoa, um escolhido e essa pessoa é que se
expressava em nome dele.
Vocês têm que fica atento a essas coisas, é nessas descrições que estão as
informações simples que precisam ser reunidas, compiladas e analisadas para
comporem as explicações teológicas. Eu gosto de dar esse exemplo da
religião católica porque é um ótimo exemplo para reforçar tudo o que nós
explicamos na teologia de Ifá, serve para comprovar tudo o que afirmamos
aqui.
Eles entendem deus como o todo poderoso, onisciente e onipresente que sabe
de tudo e interfere em tudo ao mesmo tempo e que basta qualquer pessoa
pedir que será atendido. Mas isso é apenas discurso a prática deles não é nada
disso. Nós aqui falamos que deus não é nada disso, ele é a divindade
suprema, mas não é onipresente e nem onisciente para todos. Sua presença se
manifesta através de uma complexa estrutura de divindades e recorremos a
ele quando precisamos através de um oráculo e recebemos ajudar através de
liturgias e de suas divindades.
O deus católico não estala o dedo para fazer as coisas acontecerem, basta ler
a bíblia deles e você vai conhecer a história como os judeus a contaram.
Assim nesta religião, conforme instruído, iniciações são feitas para
estebelecer a ponte órun (Ọ̀run) e Àiyé conforme eu já expliquei
anteriormente aqui.
Outro aspecto diz respeito a questão extremamente importante do livre
arbítrio. Pessoas não são tomadas expontâneamente, tem que haver por parte
delas a opção por se submeteram a isso, elas têm que optarem por isso. Nós
não somos objetos de carne que podemos ser usados a bel prazer por deus ou
por suas manifestações através de divindades. Esse não é o formato dessa
vida. Temos que optar por nossos caminhos, certos ou errados.
Isso não se aplica ao Egbe Orun. Uma iniciação é como uma ponte, de um
lado estamos nós e do outro está a divindade. No caso do egbé (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run)não existe o outro lado da ponte, visto que o outro lado seria nós
mesmo como espírito, não podemos nos ligar a nós mesmos. Também não
existe iniciação para nos ligar a uma comunidade, uma sociedade.
Outra razão é que iniciações são pontes entre o Àiyé e o Orun. O egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) está localizado no Irona, eles não estão no Orun, não é necessária
a iniciação para nos ligarmos a espíritos do Irona, esta, por exemplo, é a
razão de a Umbada não ter iniciações. Tudo o que está no Àiyé não necessita
de nada para se ligar entre eles, estamos no mesmo nível energético, nós
pessoas e os espíritos estamos sem impedimentos para interagir.
Alguns neste momento podem questionar essa minha afirmação sobre a
Umbanda não ter iniciação, visto que têm pessoas que fazem coisas como
“camarinhas”. Não perdendo muito tempo com isso, afirmo que isso é uma
bobagem completa, Umbanda não tem iniciações, mas, isso não impede que
as pessoas façam e inventem coisas.
Explicado isso, afirmo que se tratam de bobagens completas iniciações para a
sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Isso não faz nenhum sentido. Primeiro
porque participar dela não é privilégio ou escolha, é uma associação comum,
a pessoa morre e seu espírito fica no Àiyé, no Ìrònà. Esse espírito
basicamente se reuniu com outros e essa sociedade é ocasional e temporária,
esses espíritos retornarão ao órun (Ọ̀run) ou renasceram para outra vida.
Segundo porque quando essa ligação permanece isso trata-se de um problema
para ser resolvido. Os renascidos quando são importunados pelos espíritos
que estão no egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) terão problemas, isso é uma
interferência no sentido do livre arbítrio. Mas, porque ocorre então? Por que
como esses espíritos e nós, renascidos estamos no Àiyé e não têm como
impedir isso. O impedimento da interferência não é uma regra divina, é uma
construção, a separação entre órun (Ọ̀run) e Àiyé é que nos permite desfrutar
do livre arbítrio, não é porque deus, manda não interferirem com a gente.
Vocês têm que ter percepção das coisas como uma construção como uma
arquitetura que liga componentes e desta forma estebelece as regras e
consequências. Não podem acreditar que existe a mão de deus em tudo o que
ocorre e que ele esteja preocupado e vigiando o que ocorre com todo mundo
aqui no Àiyé. Isso é uma visão muito infantil.
Existem espíritos bons e ruins no Àiyé. Esses espíritos podem, se tiverem
capacidade energética e motivação, interferir em nossa vida pelo simples fato
que eles já estão no Àiyé. Demônios estão por aqui no Àiyé e causam muitos
problemas, as religiões, que são criações de deus, também se destinam a
combater e controlar essas forças ruins. Assim, deus o todo poderoso, não
pode apenas estalar os dedos e fazer os demônios desaparecerem, nós mesmo
que temos que fazer isso com as instruções que ele nos mandar através da
religião.
Assim nossa independência e nosso arbítrio existe não somente pela vontade
ou ordem de deus e sim através da construção que deus deu ao nosso
universo e contexto, mas, essa construção tem falhas ou permite a
intercorrência de eventos e falhas que terão que ser resolvidas por nós
mesmos.
O que está no Àiyé está no nosso contexto e vamos ter que nos virar. A
separação do órun (Ọ̀run) e Àiyé é o que nos permitiu a nossa independência
e tudo o mais que temos aqui, mas, ficamos com os 2 lados da moeda. Essa
compreensão metafísica tem que ser desenvolvida e as pessoas abandonarem
modelos simples e ingênuos que não levam a nada. Desculpem esse choque
de realidade.
As pessoas que estão ligadas ao egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é porque já
participaram dele e desta maneira já tiveram essa ligação. Mas não é uma
ligação que deva ser mantida, isso foi ocasional. É justamente essa ligação
afetiva com o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) que nos traz problemas e que
precisamos desfazer, mas, não existe processo mágico para desfazer isso, o
que fazemos é convencer o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) a deixar em paz a
pessoa.
Assim quando alguém fala em fazer iniciação para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run)
estamos tratando com um idiota que não entendeu nada.
Igualmente não faz sentido fazer assentamentos, muito menos Exú (Èṣù),
como eu já vi gente anunciando. O assentamento de Exú (Èṣù) é uma coisa
sofisticada e está ligado ao princípio de ligação do Àiyé com o órun (Ọ̀run),
transporte de Axé e do conceito de Orixá (Òrìṣà) como essência e de Exu
como o movimento. Isso está explicado, para quem quer entender, no livro Os
Nago e a Morte, de Juana Elbein. Se a pessoa não entende o sentido dessa
ligação Exú (Èṣù)-Orixá ou Exú (Èṣù) com a gente, então, fica falando essa
bobagem de assentar Exu para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Esse é apenas um livro sobre a sociedade e apesar de eu ter dito que toda a
teologia tem que se ligar não posso detalhar toda a teologia aqui. Assim a
relação Exú (Èṣù)-Orixá que nos leva a fazer o assentamento de um Exú
(Èṣù) para os iniciados em Orixá (Òrìṣà) é tratada com propriedade no livro
da Juana.
Basicamente, posso explicar que Orixá (Òrìṣà) está localizado no órun (Ọ̀run)
e é considerado um princípio estático uma energia potencial. Exú (Èṣù) é uma
divindade muito especial diferente ele é o princípo do axé, é ele que
transporta o axé é o que faz as coisas ocorrerem, é o princípio da ação. É
também a única divindade que tem trânsito órun (Ọ̀run) e Àiyé. Eu afirmo
isso porque é o que está nos versos de Ifá, não estou criando teologia aqui. Os
versos descrevem Exú (Èṣù) como sendo o transportador do axé, aquele
quem leva as oferendas o único que tem acesso direto a Olódùmarè.
No contexto de separação entre o órun (Ọ̀run) e Àiyé é Exú (Èṣù) que
viabiliza a atuação da religião, de forma geral e por isso é um princípio
neutro em relação ao bem e ao mal. A necessidade de Exú (Èṣù) é devido a
ação de transmitir o axé do Orixá (Òrìṣà) a se transformar a energia potencial
do orixá em energia cinética, energia viva.
Assim, no Candombé, que entende dessas coisas, existe o assentamento do
Exú (Èṣù) junto ao Orixá (Òrìṣà) para estabelecer o equilíbrio e amplificação
deste princípio e ligação, é esse assentamento que aumenta a força espiritual
do iniciado.
Contudo a sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) já está localizada no Àiyé e
não existe aplicabilidade do princípio de assentamento de Exú (Èṣù) para essa
situação. Isso não é aplicável e quem sugere ou faz isso quer apenas roubar
dinheiro das pessoas.
Ambas as questões, iniciação para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), assentamento de
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e assentamento de Exú (Èṣù) para egbé (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) estão ligados a mesma coisa, a ignorância na teologia da religião, a
pessoa desconhece o que está falando, ela não entende com o que está
lidando. Basicamente é isso a pessoa não sabe de nada.
A ligação entre os renascidos e a sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) ela deve
ser desfeita, jamais incentivada. Todos já devem entender minha posição de
absoluta solidariedade com os espíritos que estão neste contexto de ter ficado
no Àiyé, terem ser perdido ou rejeitados, mas, isso não muda a necessidade de
uma vez renascido a pessoa se desligar desse grupo.
Familiares no órun (Ọ̀run) nos
prejudicando?
Existe, atualmente, uma corrente de desinformação que relaciona a nós, que
estamos vivendo nossas vidas, autônomas, no Àiyé problemas causados por
familiares que deixamos no órun (Ọ̀run). Eu vou tocar nesse assunto mais
adiante, mas, na sequência dessa explicação didática que estou fazendo,
preciso abordar de forma direta e teológica sobre isso.
Essa corrente de ignorância teológica diz que quando vamos para o Àiyé,
deixamos no órun (Ọ̀run), uma esposa ou esposo que fica saudoso e
ciumento, filhos e amigos. Todos esses viventes no órun (Ọ̀run) seriam os
responsáveis por trazerem problemas, infortúnios e infelicidade a nossa vida
e, desta maneira, problemas que todos temos seriam, assim, causados por
eles.
Uma esposa ou esposo deixado no órun (Ọ̀run) seria responsável por impedir
que você tivesse um bom casamento na sua vida ou que sempre fosse infeliz
nos relacionamentos amorosos. A razão disso seria que eles teriam ciúmes de
você.
Um amigo ou sei lá o que impediria que você tivesse prosperidade na sua
vida, fazendo com que tudo desse errado e a razão seria para você desistir de
viver ou coisa assim. Já via explicações como credores que você deixou no
órun (Ọ̀run) e tiram todo o seu dinheiro.
São várias explicações estapafúrdias, mas todas tem a mesma coisa em
comum:
Desmaios frequentes
Ausência de atenção
Hiperatividade
Sonambulismo
Desmaios
Falar dormindo
Um outro indicador muito importante é quando a criança come muito e não
engorda. Isso significa que seus companheiros estão se alimentando do que
ela come, assim apesar do volume ela não ganha peso. Desnutrição é um sinal
de egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) muito presente e até de Àbíkú.
Doenças que acometem sucessivamente a criança, podem estar associadas ao
chamado dos amigos do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) para ele retornar.
As crianças que sofrem doenças psicológicas ou tidas como neurológicas,
como deficit que atenção, dificuldades de aprender na escola, hiperatividade
ou dislexia, por exemplo podem ser crianças que são perturbadas por egbé
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Crianças com dificuldade na escola, que brincam horas
sozinhas, com sonos agitados ou pesadelos, igualmente. Crianças que fazem
xixi na cama mesmo depois de terem passado muito da idade para isso
também são casos.
Crianças que se machucam muito, que sofrem acidentes com frequência,
sérios ou não podem ter sido ligadas a essa sociedade. Crianças que perdem
a atenção e ficam fitando para o nada também estão ligadas a esta sociedade.
Este último é um indicador importante, crianças que se isolam que são
solitárias e calada, parecem ter um mundo seu ou não seu importar muito
com o mundo onde estão.
Atualmente, toda vez que crianças, na tenra infância, mostram esses desvios
eu recomendo que antes de gastar horas em psicólogos ou usar remédios sem
fim, que se verifique se não é um caso de pertubação por egbe (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run). Já vi casos no presente e do passado com essa situação. Em uma
consulta vi um adulto que tinha esse vínculo e isso atrapalhou demais a
infância dele e depois sua vida e o desenvolvimento dele como adulto,
prejudicando bastante a sua vida e carreira.
Existem vários graus de intensidade em relação ao reflexo dos espíritos da
sociedade afestando a vida das crianças, não é uma coisa simples e padrão.
Requer observação, e várias consultas para ser endereçado.
Cabe ao Bàbáláwo, com ética e seriedade avaliar se existe relação com o
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e se ele tem algo a ajudar. Se não tem, deixe a
situação com a medicina. Mas, o que se ganha é evitar crianças frustradas e
medicadas na infância.
O egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) se afasta, normalmente, quando a pessoa cresce,
mas, já pode ter deixado no adulto prejuízos que não serão mais recuperados.
Esse é o maior problema. O grande problema não é apenas quando ela é
crianção e sim o problema que causará para o adulto.
Eu sugiro muito que se gaste o tempo e ebós que forem necessários para
identificar se os problemas sejam devido a sociedade e seus espíritos. Procure
várias pessoas se necessário, busque encontrar alguém honesto e que conheça
o problema. Mesmo para essa pessoa nada será fácil.
Este livro é para explicar o que é esse problema, porque, conhecendo o real
problema e suas verdadeiras faces você e o Bàbáláwo poderão tomar as
melhores medidas e decisões. Claro que não é bom dar nascimento a um
Àbíkú, mas, entender eles, os seus motivos é o caminho mais fácil para que
isso para de ocorrer e que ele viva. Se o Orixá (Òrìṣà) escolheu você para
ajuda-lo seja por que você é uma boa pessoa ou família ou porque você pode
ter sido responsável pela formação do Àbíkú você deve encarar isso de forma
séria e buscar cumprir a missão.
Como eu já expliquei, gestações interrompidas e abortos não estão dentro do
domínio dos Àbíkú, esse problema pertence a ajé (Àjẹ́). O útero pertence a ajé
(Àjẹ́) o sangue está ligado a ajé (Àjẹ́). Abortos e doenças pre-partos não são
causados por Àbíkú e sim por a ajé (Àjẹ́). Para ser um problema de Àbíkú a
criança precisa nascer, respirar, ter vida. O culto que tem o objetivo de
resolver os problemas de gestação e de evitar a mortalidade infantil é o culto
de Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) que está ligado a divindade Ìyá Nlá, esse culto não foi
trazido para o Brasil e nem a qualquer outro lugar no novo mundo. Na
ausência dele temos que resolver as coisas como podemos, com os recursos
que temos e Ifá é um recurso importante desde que baseado na teologia real e
não em maluquices.
Apesar de eu dizer que os abortos estão ligados a atuação de ajé (Àjẹ́), é
importante colocar que estou me referindo a abortos naturais, independente
da quantidade você têm um problema com ajé (Àjẹ́). Abortos provocados por
mulheres, por outro lado, podem, sim, gerar Àbíkú. A razão de gerar é que o
espírito poderá ficar no Ìrònà ao invés de retornar ao órun (Ọ̀run) se
transformando em “fantasmas”. Se eles ficam pelo Ìrònà é porque foram
rejeitados pela família e nesse caso poderão ser Àbíkú.
Assim a realização de abortos provocados deve ser muito cuidadosa. Isso não
gera Àbíkú ou automaticamente relega o espírito para ficar no Ìrònà.
Dependendo do motivo esse espírito poderá voltar ao órun (Ọ̀run) e aguardar
uma próxima oportunidade, sendo acolhido pelos parentes do órun (Ọ̀run)
para essa volta ou no caso de rejeição poderão não ter o amparo dos parentes
do órun (Ọ̀run) e ficarão no Àiyé, especificamente no Ìrònà pertencendo a
sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), como já expliquei.
Os casos mais graves de rejeição, os maiores traumas poderão, então, gerar os
Àbíkú que poderão ser uma sombra na própria pessoa que os gerou ou seja
que os rejeitou gravemente.
Além dos casos de abortos temos os fratricídios e outras maldades praticadas
por pais contra filhos.
Nesse capítulo não estou voltando a esse tema, estou apenas relembrando isso
que já foi extensivamento dito. Faço isso para lembrar a todos o que esse
trauma no espírito pode causar para esse espírito renascido e também a
relação fraternal que, nesse caso, pode sim sofre com ciúmes e saudades
pelos demais membros da sociedade que ainda não renasceram e estão no
Ìrònà vendo seu companheiro viver uma nova vida.
Pode ocorrer é que o espírito do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) decide ficar no
Àiyé, mas, pode ser que os seus companheiros pensem o contrário e fiquem o
perturbando. Imagine um espírito Àbíkú, ainda no Ìrònà, com todo o seu
complexo de rejeição, com sua mágia e raiva, direcionando esforços para
aquele companheiro renascido retorne a eles no Ìrònà?
Assim, a presença do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é algo para ser evitada na vida
dos nascidos. Não existe NENHUMA razão para essa ligação ser mantida.
Como eu disse podem ter casos, raros, em que ajudem, mas, eu não
recomendo que eles sejam mantidos junto a crianças em crescimento. O egbé
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é um grupo bem difícil de ser controlado, bastante
indisciplinado e pouco controlado. Recorrer a ele é um risco grande. Temos
de entender que eles não são egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), e muito menos estão
no órun (Ọ̀run), estão egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e estão no Ìrònà
temporariamente.
Mas atenção. Nada de assentamentos, iniciações e feitiços malucos. A
questão de pertubação das crianças deve ser tratada com conhecimento e
inteligência. Estamos lidando com um caso humano e uma solução
igualmente humana.
Os problemas que adultos sofrem
Adultos sofrem problemas com a sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) de
forma colateral. Sou radicalmente contra equiparar os problemas com
crianças com os de adultos. Como expliquei, antes, justificar o problema de
adultos atribuindo a sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) é apenas uma forma
de ganhar dinheiro fácil das pessoas. Claro que além de má fé pode ser
também ignorância de quem afirma isso.
A sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) se afasta gradualmente da pessoa à
medida em que ela cresce e se torna adulto. É uma síndrome de peter-pan ao
contrário, você fica adulto então se desligará da sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun
(Ọ̀run) porque os vínculos com eles deixaram de existir, eles reconhecem que
você se torna um espirito adulto.
Mas, apesar disso, sim, adultos ainda podem sofrer consequências da sua
relação anterior com esta sociedade. O caminho normal é eles se afastarem,
mas, sempre poderemos ter o caso de adultos com algum vínculo e, também,
de adultos com as sequelas do passado.
Adultos podem sofrer física e psicilogicamente reflexos devido a uso de
remédios na sua infância. Tratar de problemas não existentes com drogas para
a mente, remédios tarja-preta ou tratamentos contínuos e longos trarão para
aquele adulto sequelas.
Outro aspecto psicológico é a insegurança que os adultos sofreram por algum
atraso em sua infância, na sua educação formal e na relação com outras
crianças. Ser um diferente é um problema e é piorado quando os pais não
compreendem a criança que sofre o assédio do egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Essas coisas influenciam a formação da personalidade da pessoa e adultos
complexados, inibidos, medrosos e todo o tipo de consequência pode ser
esperado.
Outro aspecto que as vezes se reflete é a continuidade do vínculo. Esse não é
o caso mais comum, certamente como os trapaceiros tentarão fazer você
acreditar, mas pode, sim ocorrer. Adultos podem permanecer com o
comportamente isolado, fechado, com seu pensamento longe, sem criar
vínculos muito fortes com as demais pessoas. Pessoas que sonham muito, ou
que sonham sempre podem ser esse caso, elas acabam criando o seu mundo
pessoal. Isso não se caracteriza por um distúrbio como esquizofrenia, mas,
um mundo suave uma ligação forte com esse mundo é algo que pode se
desenvolver.
O vínculo continuado não tem a finalidade de trazer o mal a vida da pessoa, a
sociedade egbé ( Ẹ gbẹ́) ó run ( Ò ̣run) não se diverte prejudicandp adultos,
mas, o vinculo vai desfocácolo de sua vida, de suas dificuldade e desafios.
Temos que lembrar que podemos ter espíritos no egbé ( Ẹ gbẹ́) ó run ( Ò ̣run)
que possam ter ficados muitos anos alí, tantos quanto a pessoa cresceu.
O déficite de atenção ou o desvio de atenção é algo comum nesse tipo de
pessoa. Também será a pessoa que se sente oprimida pela sociedade ou que
não encontra o seu próprio lugar nela e tem muita necessidade de auto-
afirmação. Isso são consequências da ação da maldade humana em sua
formação, as pessoas tendem a não compreender ou aceitar as pessoas que
são assediadas pela sociedade em seu crescimento. As pessoas esperam
encontrar pessoas muito iguais e seus próprios medos de relações diferentes
as levam a se proteger pela agressividade contra pessoas diferentes. O
resultado disso são adultos que desenvolverão uma relação ruim com o
restante da sociedade porque não esperará boas reações delas.
Por outro lado, serão pessoas independentes, que se resolvem sozinhas e que
não esperam nada de outras pessoas. Pessas que se bastam. Essas pessoas
serão muito independentes da sociedade e da própria família.
Nesse aspecto de ligação com a família tenho dois opostos para relatar. O
primeiro e mais positivo é que crianças que nasceram vindo do egbe (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) e trazidas por Orixá (Òrìṣà) tenderam a serem muito mais
carentes e ligadas na família. Elas valorizarão a relação familiar e serão muito
carentes por atenção e afeto, vão querer compensar tudo aquilo que sofreram
antes.
O outro lado é quando não se ligam muito, estão no mundo para tocar a sua
vida e não conseguirão se ligar a essa família. Certamente é o caso das
crianças que tinha fortes vínculos com a sociedade egbe (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run),
que aceitaram seu novo nascimento, mas que não estão ligadas a esta
linhagem familiar. Pode ser até o caso daqueles que saíram da sua linhagem
familiar como castigo.
Tratar os problemas com adultos é muito mais complexo do que tratar dos
problemas com crianças. É muito mais sério e complexo do que ficar dizendo
que sua esposa no órun (Ọ̀run) o está prejudicando por saudade o ciúme.
O que o Bàbáláwo pode fazer para ajudar?
Não é a finalidade deste livro ser um grimório de soluções, aqui o objetivo é
falar da religião, mas, vou dar algumas indicações.
Primeiro quero deixar claro que a expectativa de que realizar oferendas de
comidinhas e objetos é um caminho para resolver problemas é uma ilusão
boba. Não acredite que oferecer “comidinhas” vai solucionar situações sérias
e graves. A solução de problemas passar por recorrer ao oráculo com o seu
pleito e pedir a intervenção de um Orixá (Òrìṣà) para a situação. Não será o
Babalorixá (Bàbálórìṣà), a Iyalorixá (ÌyálÒrìṣà) ou o Bàbáláwo oferecendo
umas comidinhas em algum lugar que os problemas serão resolvidos.
A solução dos problemas com egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) passa por quebrar o
vínculo com a sociedade para que o renascido, a criança possa seguir o seu
desenvolvimento. É isso que é feito. Assentar, iniciar ou montar Exú (Èṣù)
são idiotices completas, caça-níqueis.
As indicações das liturgias são encontradas nos próprios mitos sobre egbé
(Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e Àbíkú ou nos versos de Ifá. Além disso verger tem
alguns Òfó que ele documentou em seu livro sobre folhas Yorùbá. As
liturgias, envolvem principalmente a sociedade e não a pessoa em sí.
As liturgias mais efetivas passam pelo envolvimento de um Orixá (Òrìṣà) na
questão, orixás como Xangô (Ṣàngó) e principalmente Ìrókò. Somente os
Orixá (Òrìṣà) pode ajudar a quebrar esse vínculo. Existem rituais que são
feitos em rios.
O culto Gélede (Gẹ̀lẹ̀dẹ́) a Ìyá Nlá é especializado nessa questão, mas, ele
não foi trazido para o Brasil, aliás nenhum lugar da diáspora de forma que é
necessário obter rituais equivalentes.
Além de Orixá (Òrìṣà) Egúngún pode também ser um caminho para proteger
do egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). O motivo é a ligação desta questão com a linha
familiar, o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e o Àbíkú é acima de tudo um assunto de
família.
Pode ainda ser necessário manter uma oferenda anual por vários anos para o
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) de modo a mantê-los longe.
A grande questão é que para lidar com o isso o sacerdote, seja o Bàbáláwo , o
Babalorixá (Bàbálórìṣà) ou a Iyalorixá (ÌyálÒrìṣà) terão que se aprofundar e
entender os motivos, os rituais e as liturgias, isso não se trata apenas de fazer
ebó (ẹbọ), eles não resolvem, trata-se de entender as questões para poder
mediar uma solução com o egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Não se trata de recorrer a soluções de magia ou agressivas. Trata-se de amor
e carinho, acima de tudo, de convencer essa alma a desejar viver no Àiyé e de
acomodar as expectativas dos seus companheiros.
O primeiro passo que o Bàbáláwo pode dar é na cerimônia de Imorí, que é
feita após o nascimento. Nessa cerimônia é feito a estabilização da alma no
Àiyé e isso pode ser um passo definitivo para resolver os problemas com esta
sociedade.
Eu não posso aqui dar todas as fórmulas, o que estou afirmando é que, sim
existem soluções que o Bàbáláwo ou pessoa com conhecimento poderá atuar,
mas, que isso terá que ser algo bastante pensado e planejado e, acima de tudo,
contar com o amor de todos os envolvidos.
Um caso bem complicado é o das almas de ciclo curto, aquelas que não são
Àbíkú e nascem para morrer cedo, sendo acometidas por doenças graves na
infância e juventude, como câncer, a indicação, além do convencimento
daquela pessoa para continuar viva é um processo iniciático de verdade, não
falo dessas iniciações placebo feitas por estrangeiros, estou me referindo a
iniciações mesmo, feituras, seja para que o orixá domine essa relação seja
para a alma passar pela cerimônia de renascimento que faz parte da iniciação.
Eu sou a última pessoa a indicar iniciações, mas, esse é um caso onde uma
iniciação ou feitura são parte da solução, porque promovem um novo
nascimento no qual a pessoa poderá mudar o seu destino por sua própria
opção. Esta é a chave do processo, a liturgia de morte e renascimento que
caracteriza as iniciações de verdade. É nesse momento que aquele espírito por
escolher um novo destino na sua vida. A alma de ciclo curto precisa
liturgicamente renascer para nessa nova vida decidor ficar e assim mudar o
destino que combinou com Olodumare e Onibode.
Para bebes os yorùbá adotam o uso de tornozeleiras de proteção. Esse
instrumento deve ser usado e os versos que eu relacionei no livro tem várias
indicações importantes além de liturgias que são feitas em rios, como já
expliquei antes. Por que o rio porque o rio é a metáfora da vida, a vida que
inicia e continua, a vida que se renova e até a vida que termina quando a água
fica parada.
Para os adultos o trabalho do Bàbáláwo será muito mais complicado. Ele
primeiro deve identificar a situação do adulto e a existência de ligação com a
sociedade egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) que ainda o esteja atrasando ou desviando
sua atenção. Esse vínculo terá que ser quebrado.
Se o vínculo não existe então o Bàbáláwo deverá entender a origem dos
problemas que o adulto tem hoje e através do seu Ifá, buscar Odù a Odù a
correção dos desvios buscando retornar a pessoa a seu rumo e seu destino.
Um Imorí tardio pode ser necessário ou mesmo Borí. Mais uma vez, sou o
último a achar que Borí é uma liturgia para ser feita por Bàbáláwo, mas
existem casos e casos e esse é um bom caso.
Cuidar de um adulto será sempre muito, mas muito mais complicado do que
uma criança, porém, a grande diferenã é o foco. Saber a origem da pessoa na
sociedade permitirá ao Bàbáláwo buscar as melhores medidas corretivas para
os problemas entender a origem deles. Mas, nunca será fazendo
assentamentos e exú para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run).
Conclusão
Depois deste extenso texto, pouca coisa resta a falar. O maior desafio aqui é
aceitar o modelo teológico que é o resultado de minhas pesquisas,
experiência e análises. Esse modelo não muda muito o que se fala hoje sobre
egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run), mas o pouco que muda, transforma tudo o que se
pensa. Uma mudança pequena com grande impacto.
Ele parte de 3 pilares: A localização no Ìrònà, a composição do egbé (Ẹgbẹ́)
órun (Ọ̀run) com os espíritos infantis mortos em condições não normais e a
questão da origem do nascimento através de Orixá (Òrìṣà). Claro que tem
muito mais detalhes e informações, mas tudo deriva em sua base dessas 3
coisas.
A partir desta base é possível desmontar o modelo furado e que precisa de
uma enorme complexidade para ficar de pé. Como eu sugiro, aplique a
lâmina de Occam nos dois modelos e o que ficará é certamente a minha
proposta.
Certeza de tudo? Não sei, sempre há espaço para o mistério, tentamos
entender as mesagens de deus para nós, mas, sempre podemos aprender mais.
O mais importante é que eu não inventei isso, diferente do outro modelo
maluco que existe por aí, o que proponho é baseado nos mitos, nos versos e
na teologia e cosmogonia como um todo, como um conjunto coeso e
consistente.
Por fim eu lembro que o modelo que eu proponho suporta toda a prática e
todos os bons conhecimentos que se têm sobre o tema sem necessidade de
fazer qualquer tipo de malabarismo.
Mais ainda, as indicações e recomendações práticas que devem ser tomadas
baseadas no modelo que estou propondo são muito mais objetivas, simples e
conduzem a uma solução direta e simples dos problemas que desafiam os
Bàbáláwo em relação ao egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run). Mesmo os sacerdotes do
culto de Orixá (Òrìṣà) serão mais efetivos se adotarem essa linha de
pensamento mais fácil de entender, de explicar e de atuar.
Essa proposta é assim ninguém tem nada a perder, apenas a ganhar. Aliás,
quem tem a perder é quem vende iniciações para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run),
assentamentos para egbé (Ẹgbẹ́) órun (Ọ̀run) e ebós votados para motivos
criativos.
Informações complementares sobre o egbe ( Ẹ gbẹ́) órun
(Ọ̀run)
Vou agora dar uma série de informações que coletei ao longo dos anos,
espero que sejam úteis. Elas não mudam nada do que eu já falei sobre esse
grupo e fenômeno, mas, dentro da religião são informações importantes.
O nascimento do indivíduo
Existe um ponto importante para ser discutido que é o momento em que o
indivíduo nasce.
De acordo com os valores e o entendimento cristão, que domina a sociedade,
a partir do momento em que existe a concepção o novo indivíduo nasce e fica
no ventre da mãe. Nesse entendimento o novo nascido fica 9 meses dentro
daquela barriga, até nascer.
Não vejo esse como o entendimento da religião Yorùbá para esse processo.
Esse é um dos pontos que a religião conflita com a ciência e com outras
religiões e tenho certeza que é o ponto mais polêmico da minha análise.
Lembro que a religião sempre oferece um entendimento alternativo ou
complementar a ciência e nem sempre conflita com esta, é apenas uma outra
visão, a do processo supernatural.
Indo direto ao ponto do meu entendimento, baseado em fontes esparsas (que
não consigo compilar agora para citar sem transformar esse texto em um
longo e monótono texto) e tradição oral (conversa com outras pessoas sobre
esse tema) é que o espírito que vai nascer não passa toda a gestação dentro do
corpo da mulher, o novo espírito vai para la antes de nascer.
O mito da criação do homem por Oxalá (Òṣàlá), diz que a missão de criar os
corpos humanos foi dada por Olódùmarè a Oxalá (Òṣàlá) e que este é quem
molda o corpo humano a partir do barro fundamental. Esse é um processo
que toma um tempo assim como toma tempo a gestação. Esse processo de
criação pode ter falhas, é reconhecido no mito que Oxalá (Òṣàlá) comete
erros na criação do corpo humano e quem nasce com defeitos físicos passa a
ser diretamente protegido por ele. Os mitos não deixam dúvida que pertence a
Oxalá (Òṣàlá) a tarefa de elaborar o corpo.
Posteriormente, através da interferência da própria pessoa que vai nascer
naquele corpo, junto a uma outra divindade chamada Ajalá, ele obtém a sua
“cabeça exterior”, chamada de Orí òde. Esta é a última etapa de sua
caminhada e é feita imediatamente antes de iniciarem a ida para o Àiyé, em
cujo caminho vão sofrer grande tempestade.
Existe, na religião, a diferenciação da cabeça interior, Orí inú, da cabeça
exterior, Orí òde e do corpo, chamado de Orí Apẹ̀rẹ̀, ou sustentáculo do Ori.
À cabeça é dada a maior importância no indivíduo, é a sua parte mais alta,
mais próxima do Órun (Ọ̀run).
Orí é um conceito amplo e vamos ter que restringir sua abordagem aqui neste
texto. Entendam que o Orí inú, a cabeça, traz o indivíduo em sí, traz as
ferramentas que essa pessoa recebe de Olódùmarè para ter sucesso na vida
que pediu a ele e traz também a ligação com seu Orixá (Òrìṣà) e com sua
linhagem (através do Aporí). Orí inú une o contexto passado com o futuro.
Esta área, Orí e destino, é bem complexa e, até mesmo, confusa da teologia,
mas, sem complicar, posso citar que existem mitos que explicam que as
pessoas antes nasciam sem cabeça e depois ganharam a cabeça, que nasciam
sem face (todas iguais) e depois ganharam a face (ver em Lawal), tudo isso
gradativamente através da intersecção de diversas divindades, explicando
assim, através dessas metáforas, a evolução e os vínculos das pessoas com
essas divindades.
A escolha do Orí inú é uma missão muito importante e deve contar com a
ajuda de outros parentes no Órun (Ọ̀run) (mundo espiritual). Na verdade,
existe pela religião, solidamente documentado em Ifá em na tradição oral, um
importante processo litúrgico que deve ser feito no Órun (Ọ̀run) pela pessoa
que vai nascer novamente. Esse processo é para garantir o seu sucesso na
vida.
A pessoa antes de nascer vai a Olódùmarè, deus, para combinar com ele os
seus objetivos nessa vida, nesta encarnação. É deus que concorda com seus
objetivos e pode adicionar mais alguns (existem 3 tipos de objetivos, ou
destinos, que a pessoa recebe), dando a pessoa os instrumentos divinos para
realizar o que ela se propôs.
Por fim, está muito bem documentado em um mito, que é Olódùmarè o único
que pode dar a vida a uma pessoa. Depois que Oxalá (Òṣàlá) criou o corpo e
ele já passou pela sala de Olódùmarè e recebeu seus destinos e axé (Àṣẹ́), ele
passa em Ajalá e recebe o receptáculo que vai proteger o seu Orí inú, por fim
é Olódùmarè quem dá o sopro divino, o Èémí , que é nossa respiração e com
ele a vida (Émi (Ẹ̀mì)). É o Èémí que mostra que existe a vida - Émi (Ẹ̀mì)
naquele corpo de forma que não existe Émi (Ẹ̀mì) sem Èémí (Idowu –
Olodumare God in yoryba belief – pag. 169).
Essa estrutura é muito consistente e aceita pelos principais estudiosos e
acadêmicos da teologia Yorùbá, Èémí mostra que existe Émi (Ẹ̀mì) no corpo.
Por essa razão a minha afirmação de que o corpo da criança, dentro do corpo
da mãe não tem Èémí e sem Èémí não existe Émi (Ẹ̀mì) que é a vida.
Assim sendo na visão desta religião enquanto dentro da mãe o que alimenta o
corpo é a própria mãe é o seu Èémí e por esta razão a criança dentro da mãe é
uma parte dela e não um indivíduo.
É Olódùmarè nos dá o seu axé (Àṣẹ́), a centelha divina que somente
Olodumare pode dar e que cada um ser vivo tem.
Não posso deixar de mencionar, como parte desta teologia, que existe ainda
uma jornada entre o Órun (Ọ̀run) e o Àiyé que é feita por quem vai nascer e
que a última etapa é passar pelo portão do Órun (Ọ̀run), momento em que
somos interpelados por uma divindade chamada Onibode, o porteiro do Órun
(Ọ̀run) e do Àiyé. Nesse momento nós falamos com Oníbodè como será nossa
vida e quando vamos retornar naturalmente ao Órun (Ọ̀run) (quando
morreremos).
Sem poder aqui explorar esse conjunto muito interessante de mitos que
explicam de forma bastante harmônica e suave a integração da visão
supernatural com a própria visão natural (real) da vida, eu tenho que destacar
que:
É claro o trabalho independente de Oxalá (Òṣàlá) na criação do
corpo.
É cristalino que a cabeça, Orí inú, é uma parte importante do
processo pré-natal no Órun (Ọ̀run) e seu axé (Àṣẹ́) é obtido pela
pessoa junto a Olódùmarè.
Que existe uma jornada entre o Órun (Ọ̀run) e o Àiyé.
Somente Olódùmarè nos dá a vida, através do seu sopro.
Dessa maneira, prestem atenção na minha interpretação e afirmações:
A formação do corpo é um processo separado e sujeito a
falhas, mas o copo é um receptáculo vazio sem o Orí inú
(cabeça interior), sem o Émi (Ẹ̀mì) e sem Èémí, o sopro
de vida de Olódùmarè.
A cabeça interior (a que contêm de fato a essência do indivíduo) é
escolhida à parte da criação do corpo físico e é um, processo
separado e especial.
O processo de escolha dos objetivos de vida (destino) e da sua
capacidade para isso é separado do processo de criar o corpo, na
verdade não tem nenhuma relação.
O indivíduo somente nasce de fato quando recebe o Èémí de
Olódùmarè, o sopro da vida.
O corpo que está sendo gerido vagarosamente ao longo dos 9 meses é apenas
um corpo mesmo. Enquanto gerido no útero não existe individualidade o
corpo vai sendo construído por Oxalá (Òṣàlá) e na verdade é parte do corpo
da mãe.
No fim do processo, com o corpo formado, o indivíduo entra no corpo
formado (fim da jornada) trazendo a sua essência (Orí inú). Quando ele
nasce, recebe o sopro da vida de Olódùmarè e ai passa a ser um indivíduo
independente.
Desta forma, de acordo com essa visão abortar um corpo não formado e não
nascido, no início de gravidez afeta apenas a mãe, não existe indivíduo e nem
vida autônoma.
Quando o recém-nascido respira pela primeira vez, ele se transforma no
indivíduo independente do corpo da mãe.
A benção de filhos
A primeira coisa que qualquer Bàbáláwo poderá dizer sobre o tema do aborto
provocado na religião é que para essa religião, filhos são uma benção.
Sim, isso mesmo, filhos são considerados uma benção divina. Um dos
maiores motivos que leva mulheres a Ifá é a fertilidade, ter filhos.
Isso não é colocação minha, está fartamente documentado em versos e faz
parte de qualquer explicação sobre a sociedade Yorùbá.
Como citei, não encontramos na religião, citações diretas ao aborto
provocado, mas, sabemos que filhos são valorizados demais. Esta é uma
contribuição inegável de Ifá a esta discussão visto que este tipo de
entendimento veio com Ifá não fazia parte do conhecimento do Candomblé.
Os filhos são uma benção equivalente a ter casa, mulher, dinheiro, saúde.
Mas, porque ter filhos é assim tão especial na religião?
Trata-se de 2 coisas, uma questão teológica e outra cultural.
No aspecto cultural temos que lembrar que essa religião tem origem em um
povo rural, fazendeiros. Em sociedades rurais ter filhos era importante para
poder tocar o negócio da família ou a própria subsistência. Além disso os
filhos é quem garantiam o suporte aos pais quando esses envelheciam. Dessa
forma filhos são sempre uma benção nesse tipo de sociedade.
Pelo lado teológico, é uma religião re-encarnacionista e que acredita que a
família permanece unida, seja no Órun (Ọ̀run) como no Àiyé e, assim, as
pessoas re-encarnam, voltam ao Àiyé para uma nova vida, através dos seus
próprios descendentes. Se uma pessoa morre poderá voltar em gerações
seguintes em seus tataranetos.
Com esta filosofia é muito importante que você tenha filhos, vários, para que
possa mais tarde voltar a viver no Àiyé. Se você não deixa descendentes
diretos vai depender de oportunidade em descendentes de parentes.
Esse aspecto deve ser levado em conta antes de decidir pelo ato de abortar.