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Àjàlá Mopin – O modelador de Orí

Afùwàpé, aquele que soube escolher o melhor Orí

Orí é a cabeça que norteia todos os seres-humanos e “Apéré” é seu suporte, por essa
razão, sempre que louvamos Orí, evocamos também o seu suporte “Orí Apéré-oooooo!”,
bem como o Orí Inú (encéfalo) “Orí Inú-oooo!” .

Acreditamos que “Àjàlá Mopin” é a Divindade à qual Olodúnmarè atribuiu a


responsabilidade de “modelar” o Orí das pessoas. Muito embora Àjàlá seja habilidoso na
“arte de moldar cabeças”, por vezes ele comete erros e então surgem os “Orí Buruku”, que
são as “cabeças defeituosas”. Cremos que mesmo antes do nascimento, escolhemos nosso
Orí, pedindo-lhe junto à Àjàlá Mopin. Essa “solicitação” é denominada “Àkúnlèyàn”, nesse
momento o indivíduo “acorda” a sua permanência no Àyé, dentre outros aspectos de sua
vontade. Isto posto, Àjàlá Mopin dá a pessoa aquilo que os yorùbás chamam de
“Akúnlègbà”, que é na verdade uma espécie de “mola propulsora” para que os “desejos
acordados” sejam realizados. Por fim, Àjàlá Mopin, concede “Àyànmò” que é a parte do
destino que mesmo através da mediação dos Òrìsàs não será jamais alterada. Ou seja,
“Àkúnlèyàn” e “Akúnlègbà” podem sofrer alterações ao longo da vida. Essas alterações são
possibilitadas por meios de oferendas, as quais são vislumbradas através do oráculo ou
pela “fala” dos Òrìsàs, entretanto, aquilo que fora determinado em “Àyànmò” jamais sofrerá
mudanças.

A afirmação de que nós mesmos escolhemos nosso Orí é fundamentada através de um


Itán, publicado por Abimbola, o qual diz que Ifá foi consultado para “Orísèékú”, “Orílèémèrè”
e “Afùwàpé”. Quando eles foram escolher seus respectivos Orí junto à Àjàlá Mopin, o
grande moldador de cabeças, Ifá determinou que eles fizessem sacrifícios de modo que
escolhessem um bom Orí para o seus destinos. Orísèékú e Orílèémèrè ignoraram a
recomendação de Ifá e, somente Afùwàpé fez o que lhe fora designado. Como
consequência, Afùwàpé teve muita sorte e prosperidade em sua vida, haja vista que, graças
aos sacrifícios realizados, ele escolheu o “Orí certo” (Orí Réré). No entanto, Orísèékú e
Orílèémèrè, que não seguiram a determinação de Ifá não tiveram a mesma sorte.

Abaixo, transcrevemos uma variante do Itán de Ifá, respeitante a saga de Orísèékú,


Orílèémèrè e Afùwàpé rumo à Terra.

“Ifá foi consultado para Orísèékú, o filho de Ògún, para Orílèémèrè, o filho de Ìjá e para
Afùwàpé, o filho de Òrúnmìlà, no dia que eles iam para a casa de Olódúnmarè escolher
suas cabeças. Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé eram amigos, um dia eles se reuniram e
decidiram que iriam para a Terra e lá, eles se estabeleceriam e seriam prósperos, sendo
que, para eles, a Terra seria um lugar melhor do que o céu.

Eles pediram conselho aos Àgbàlágbà (anciões), que disseram que antes deles viajar, eles
deveriam ir até Àjàlá escolher suas cabeças. Eles foram advertidos assim: “quando vocês
forem, vocês não devem virar à direita, e nem ir diretamente para a casa de Àjàlá, até
mesmo se um de vocês ouvir a voz do pai, vocês não devem ir diretamente para a casa de
Àjàlá”. Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé, prometeram aos Àgbàlágbà que atenderiam as
advertências. Depois de caminhar por muito tempo, eles encontraram Afabéré-Gúnyán
(“aquele que bate inhames com uma agulha pequena”). Eles disseram: “Pai, nós o
saudamos”! O pai respondeu: “obrigado”! Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé questionaram
como chegar até a casa de Àjàlá. Afabéré-Gúnyán disse que eles tinham que terminar de
bater o inhame dele primeiro, depois ele mostraria como chegar até lá. Afùwàpé levou a
agulha dele e começou a bater os inhames com isto, durante três dias. Quando ele terminou
de bater, Afabéré-Gúnyán disse que eles podiam ir, que depois de caminhar mais um
pouco, eles deveriam virar à direita, onde encontrariam o Oníbodè (guardião). Eles
deveriam perguntar ao Oníbodè como chegar até a casa de Àjàlá.

Depois de caminharem por algum tempo, eles chegaram, Orísèékú, o filho de Ògún, ficou
imóvel, ele ouviu a voz do pai dele, solicitando-o para guerra. Então, Orísèékú pegou suas
armas para ajudar seu pai. Orílèémèrè e Afùwàpé o advertiram, dizendo que eles não
deveriam ouvir nem mesmo aos seus pais, conforme orientação dos Àgbàlágbà. Eles então,
continuaram sua viajem até a casa de Àjàlá. Após terem caminhado por um longo período,
eles ouviram Òrúnmìlà, que golpeava o Opon Ifá com seu Iroke, fazendo um grande
barulho. Afùwàpé, seu filho, ficou imóvel. Então, os outros dois companheiros exigiram que
ele não parasse. Afùwàpé disse que ele não iria até ver o pai dele. Eles o fizeram lembrar
da advertência, mas Afùwàpé, recusou abruptamente, insistindo que ele tinha que ver seu
pai. Afùwàpé foi até Òrúnmìlà, enquanto Orísèékú e Orílèémèrè prosseguiram a viajem.
Quando Òrúnmìlà viu Afùwàpé, ele lhe perguntou aonde ia. Afùwàpé disse que ele ia para a
Terra. Òrúnmìlà, então, foi consultar o oráculo para o filho. O destino que se apresentou foi
Ogbèyónú. O Oráculo disse: “Òrúnmìlà, seu filho vai fazer uma viagem para a Terra, para
ele escolher uma cabeça boa, ele deverá fazer sacrifícios”. O que ele deve sacrificar,
questionou Òrúnmìlà. “Ele deve oferecer duas bolsas de sal e doze mil búzios”. Òrúnmìlà
ofereceu todos os materiais e o sacrifício foi realizado. As duas bolsas de sal e os doze mil
búzios foram dados a Afùwàpé. Eles falaram que Afùwàpé procedesse na viagem. Quando
Afùwàpé saiu da casa de Òrúnmìlà, ele nem não viu Orísèékú nem Orílèémèrè, eles já
tinham ido embora.

Quando Orísèékú e Orílèémèrè alcançaram o Oníbodè, perguntaram-lhe como chegar à


casa de Àjàlá. O Oníbodè disse que a casa de Àjàlá era muito longe, senão fosse por isso,
ele os levaria até lá. Eles ficaram com muita raiva e perguntaram para outras pessoas, até
conseguirem chegar à casa de Àjàlá. Quando lá chegaram, eles não o encontraram e
esperaram por dois dias, como Àjàlá não retornou, eles resolveram falar com as pessoas
que moravam lá. Disseram que eles haviam vindo escolher suas cabeças, sendo que
estavam indo para a Terra. As pessoas da casa mostram-lhes muitas cabeças disponíveis
na “loja de Àjàlá”. Quando Orísèékú entrou, ele escolheu uma cabeça feita recentemente
que ainda não havia sido “levada ao forno”. Quando Orílèémèrè entrou, ele escolheu, sem
perceber, uma cabeça defeituosa. Orísèékú e Orílèémèrè vestiram suas cabeças de barro e
foram rumo à Terra. Restando poucos dias para chegarem, uma forte chuva caiu sobre
Orísèékú e Orílèémèrè, essa chuva perdurou por muito tempo e as cabeças deles,
começaram a se desfazer, ficando apenas um pequeno plano e assim eles chegaram. Na
Terra, eles trabalharam muito, no entanto, eles perdiam tudo o que ganhavam e esse
cenário se manteve por uns dez anos, sem qualquer sinal de melhora. Eles resolveram,
então, consultar Ifá que através do oráculo disse que tudo que estava acontecendo, era em
função das cabeças ruins que eles haviam escolhido e perguntou: “Quando vocês estavam
vindo para Terra, vocês foram atingidos pela chuva?” Eles responderam: Sim, nós fomos!
Ifá disse: “Quando vocês estavam vindo para Terra, vocês escolheram cabeças ruins!
Vocês escolheram cabeças que ainda não haviam sido levadas ao forno. Vocês foram
atingidos pela chuva e as cabeças ruins que vocês escolheram, ficaram danificadas, em
pedaços, por isso, tudo o que vocês ganham, vocês perdem, sendo que tudo o que vocês
conseguirem, será para restabelecer a forma de suas cabeças”…

Afùwàpé também continuou sua viagem à Terra, depois de ter caminhado por algum tempo,
ele chegou até o Oníbodè e lhe perguntou como fazer para chegar à casa de Àjàlá. O
Oníbodè disse que lhe mostraria depois, primeiro, ele iria preparar sua comida. Assim,
Afùwàpé se sentou e pacientemente ajudou o Oníbodè. Quando Afùwàpé estava ajudando
acender o fogo, ele notou que o Oníbodè estava colocando cinzas na sopa. Ele disse: “você
está colocando cinzas na sopa”. O Oníbodè disse que isso era o que ele sempre comeu.
Afùwàpé colocou na sopa, um pouco do sal, que havia trazido consigo e pediu que o
Oníbodè provasse aquilo. O Oníbodè ficou impressionado com o gosto e, implorou mais
daquela iguaria à Afùwàpé, que concordou, dando-lhe as duas bolsas de sal. Quando eles
terminaram de preparar a sopa, Oníbodè se levantou, conduzindo Afùwàpé até a casa de
Àjàlá. Quando estavam chegando, eles ouviram alguém gritar. Oníbodè disse que aquele
barulho vinha da casa de Àjàlá e que ele não estava em casa, sendo que aquele barulho
era provocado por um credor à sua procura e, sempre que o credor aparecia, Àjàlá se
escondia.

O Oníbodè disse à Afùwàpé que se ele tivesse dinheiro, ele deveria ajudar Àjàlá a pagar
suas dívidas. Quando Afùwàpé chegou à casa de Àjàlá, ele achou o credor gritando,
relinchando como um cavalo. Afùwàpé indagou quanto Àjàlá lhe devia. O credor disse que
eram doze mil búzios (nesse aspecto, cabe lembrar que àquela época, os búzios eram
moedas correntes). Afùwàpé pegou os doze mil búzios, que havia trazido consigo, e pagou
o credor de Àjàlá, quitando toda a sua dívida. Quando o credor foi embora, Àjàlá saltou do
teto, onde havia se escondido e, cumprimentou Afùwàpé. Ele perguntou se Afùwàpé achou
alguém na casa. Afùwàpé disse: “Sim, achei! Essa pessoa disse que você lhe devia doze
mil búzios, então, eu paguei toda a sua dívida”. Àjàlá, muito contente, agradeceu Afùwàpé e
lhe perguntou o que ele vinha fazer em sua casa. Afùwàpé disse que ele tinha vindo
escolher uma cabeça, pois estava à caminho da Terra. Àjàlá pediu-lhe que viesse depois de
certo tempo. Passado o tempo pedido por Àjàlá, Afùwàpé retornou e foi escolher sua
cabeça. Àjàlá lançou uma vara férrea em muitas cabeças e todas ficavam em pedaços.
“Está vendo Afùwàpé, essas cabeças não são boas”! Após muitas cabeças em pedaços,
Afùwàpé escolheu uma. Quando Àjàlá lançou a vara de ferro, a cabeça deu um salto, caiu
no chão e ficou rodando sem se desfazer. Àjàlá disse que aquela sim era uma boa cabeça e
deu à Afùwàpé, que a fixou, dirigindo-se rumo à Terra.

Quando Afùwàpé estava chegando na Terra, uma forte chuva caiu sobre sua cabeça, a
chuva era tão forte e intensa que Afùwàpé quase ficou surto, no entanto, sua cabeça
permanecia firme, igual quando havia sido retirada da casa de Àjàlá. Ao chegar na Terra,
Afùwàpé começou a comerciar, ele fez bastante lucro, ele construiu uma casa e enfeitou
sua porta. Ele teve muitas esposas, ele teve muitos filhos. Depois de algum tempo, ele
recebeu o honroso título de Orísanmí. Orísèékú, o filho de Ògún e Orílèémèrè, o filho de Ìjá,
lamentaram-se à Afùwàpé. “Onde você escolheu sua cabeça? Porque não nos falou onde
escolheria sua cabeça?”. Afùwàpé, por sua vez, disse que eles haviam escolhido suas
cabeças, todos em um mesmo lugar, o que os diferenciavam era, o destino”.

“Ajalá modela a cabeça do homem

Odudua criou o mundo,


Obatalá criou o ser humano.
Obatalá fez o homem de lama,
com o corpo, peito, barriga, pernas, pés.
Modelou as costas e os ombros, os braços e as mãos.
Deu-lhe ossos, pele e musculatura.
Fez os machos com pênis
e as fêmeas com vagina,
para que um penetrasse o outro
e assim pudessem se juntar e se reproduzir.
Pôs na criatura o coração, fígado e tudo o mais que está dentro dela,
inclusive o sangue.
Olodumare pôs no homem a respiração
e ele viveu.
Mas Obatalá se esqueceu de fazer a cabeça
e Olodumare ordenou a Ajalá que completasse
a obra de Oxalá.
Assim, é Ajalá quem faz as cabeças dos homens e das mulheres.”

O povo Yorùbá acredita que Obatala (a maior divindade cultuada entre os yorùbá, o
primeiro ser divino criado, conhecido por Òòsàálá) modela o homem do barro do òrun
(mundo espiritual), ou seja, ele cria o homem, com elementos do próprio òrun, porem em
momento algum diz que ele cria mulas sem cabeça, este conceito turvo, surgiu em
determinado momento em que os africanos vieram para o Brasil discursar sobre a criação
do mundo e os seres humanos.

Assim que os africanos comentaram que o homem recebe um ara (corpo) e segue para
buscar sua “Orí” (cabeça), logo os brasileiros entenderam e registraram o maior erro da
história da cultura afro-brasileira, ou seja, nasceram as mulas sem cabeça.

Porem o erro foi que não esperaram para que fosse devidamente explicado, é que Orí é
abstrato, tal quais os Odù (são considerados os pensamentos de Olorun, o senhor do òrun,
odù seria caminhos ou conhecidos por destinos) que são energias mutáveis e cultuáveis,
sem que tenham manifestações diretas e possuam um corpo.
Entre muitos erros de conceitos este acima é o pior, que faz com que o homem seja criado
como a mula sem cabeça, para mais tarde buscar orí na casa de Ajalá, mas como ele iria
buscar a sua cabeça na casa de Ajalá sem que ele tivesse cérebro, ou, uma mente para
pensar e desejar...
Todos sabem que Ajalá realmente é o oleiro do òrun, que possui poder de modelar orí,
estas que estão ligados aos Odù e variados destinos, por isso, que o culto a orí é individual
e em momento algum veremos igual à outra e ou a manifestação de nem uma delas,
mesmo sendo uma divindade de suma importância para cada ser humano, tanto que é
cultuado antes mesmo da feitura do òrìsà, e ao contrario do que se acredita aqui no Brasil, o
indivíduo não pertence a um òrìsà, na verdade quem determina e ou deve ser responsável
por aquele individuo sempre será “orí”, nem uma divindade terá poder sem que orí
sancione.

“Quando alguém está para nascer,


vai à casa do oleiro Ajalá, o modelador de cabeças.
Ajalá faz as cabeças de barro e as cozinha no forno.
Se Ajalá está bem. faz cabeças boas.
Se está bêbado, faz cabeças mal cozidas,
passadas do ponto, malformadas.
Cada um escolhe sua cabeça para nascer.”

Realmente há possibilidade do indivíduo pegar orí deformada, por isso, que é feito o ritual
do Ebori, para que possa tratar orí e ao mesmo tempo rever seus votos, desejando novos
caminhos, para isso, o indivíduo deve passar por determinados rituais e preceitos.
Outro ponto a discutir é o fato de se ter ou não um igba-orí (recipiente de louça, contendo
alguns fetiches representando orí), nem todos os indivíduos precisam ter um igba-ori, o
sacerdote pode muito bem dar um Ebori, sem que seja preciso manufaturar um igba-ori.

Então porque se ter um Igba-ori, se não há necessidade de ter um igba-ori, para cultuar
esta divindade abstrata tão importante?

Muitas vezes um indivíduo, quer apenas dar um Eborí sem criar vínculos com a casa, nada
impede que uma pessoa possa fazer isso, porem para aqueles que desejam seguir o culto a
òrìsà, ou, os rituais yorùbá, pode manufaturar um igba-orí, para que possa tratar e cultuar o
seu òrìsà individual com maior detalhes.

“Cada um escolhe o ori que vai ter na terra.


Lá escolhe uma cabeça para si.
Cada um escolhe seu ori.
Deve ser esperto, para escolher cabeça boa.
Cabeça ruim é destino ruim,
cabeça boa é riqueza, vitória, prosperidade, tudo que é bom. ”

Outro equivoco, pois o individuo não tem como saber o que contém um orí até que chegue
no aiye (plano físico), desta forma, não há como ele escolher uma boa cabeça, nem ser
esperto com algo que ele não possui este direito, pois segundo a cultura yorùbá, a
indisciplina de Ajalá é clara, pois ele não consegue criar todas as cabeças perfeitas, porem
pode escolher uma boa, se o indivíduo fizer uma paga para ele, mas como um indivíduo
poderia fazer um ebo (oferenda) se ele não possui elementos para isso no òrun, caso
fossem assim não haveria pessoas com orí problemáticos.

Por isso, acredita-se que a família do indivíduo que irá nascer pode auxiliar, consultando o
oráculo para descobrir um ebo para oferenda para aquele indivíduo que está para nascer.
Porem de qualquer forma há possibilidade de através do culto ao orí de melhorar a
condição do orí daquele indivíduo através do Eborí.

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