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JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ | ANO XXXII - 376 | MARÇO DE 2021

“O DEUS FEITO HOMEM


ADORMECEU E ACORDOU OS QUE
DORMIAM HAVIA SÉCULOS”
[De uma antiga homilia do séc. IV]
expediente
Diretor geral
DOM JOSÉ LANZA NETO

Editor
DIÁCONO
JORGE AMÉRICO DE OLIVEIRA JUNIOR

Equipe de produção
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JOSÉ EDUARDO DUARTE
LUCIANA OLIVEIRA MEZETTI SILVA
MARIA ELIETE CASSIANO MOREIRA
MARIVALDA CEZÁRIO SANTOS TOBIAS
MESSIAS DONIZETE FALEIROS
ROBERTO CAMILO ÓRFÃO MORAIS
SIMARA APARECIDA TOTI
VALÉRIA HELENA ALBINO DA SILVA CORRÊA

Revisão
VALÉRIA HELENA ALBINO DA SILVA CORRÊA

Telefone
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E-mail
guaxupe.ascom@gmail.com

Os Artigos assinados não representam necessariamente a opi-


nião do Jornal.

Uma Publicação da Diocese de Guaxupé

www.guaxupe.org.br
editorial

O
feminino também está no Paraíso! Existe uma pre-
dileção de Deus no ato criativo pelo homem e pela
mulher. O último ato da criação é a criação da hu-
manidade, portanto, é o último ato, o mais belo. A beleza
encontra-se no ponto mais alto da criação.

A humanidade nasce da terra: “Então o Senhor Deus


modelou, com o pó do solo, o homem (...)” (Gn 2, 7). Desse
modo, a cultura hebraica ensina que o feminino do homem
é a terra.

Este mesmo povo compara a terra com o útero da mu-


lher. A maternidade é dom de Deus (Gn 1, 28). Ser estéril e
virgem para o povo hebreu era uma não bênção de Deus. A
bênção é a fecundidade!

A mulher é o lugar que acolhe e transporta a vida. Maria


na Anunciação acolheu a vida, e na Visitação a transportou.

Eva, pela desobediência acolheu e transportou a mor-


te ao mundo, o pecado. Essa importante figura de mulher do
Antigo Testamento faz alusão ao Novo Testamento, na qual
se encontra uma mulher hebreia, de uma cidadela pobre e
esquecida, tampouco importante, que gerou a salvação ao
mundo, o Cristo.

Maria venceu as dificuldades numa terra precária. Eva


fracassou no paraíso! O problema não está no lugar, mas
sim nas escolhas!

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Dom José Lanza Neto,
Bispo da Diocese de Guaxupé

voz do pastor
AS MULHERES NO MISTÉRIO
DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

U
m grande e propício sopro do Espírito Santo fez com que
nós, cristãos, uníssemo-nos em uma Campanha da Fra-
ternidade Ecumênica (CFE), que acontece a cada cinco
anos.
Nas Sagradas Escrituras, as mulheres não aparecem tanto
quanto os homens, mas em situações determinantes se desta-
cam pela beleza e pela profundidade de suas ações e decisões,
marcam sua vida à luz da fé e da confiança no Deus da Vida.

Assim, vão se sucedendo tantas mulheres envolvidas nos


diversos trabalhos da Igreja em nossas comunidades. Cada vez
mais, ocupam funções de destaque, liderando na teologia, na
catequese, na evangelização e, até mesmo, na administração
dos bens da Igreja.

Quantas mulheres marcaram sua época no campo social,


caritativo, espiritual, além da área político-econômica. Ainda
prevalecem barreiras, preconceitos, impondo-lhes um patamar
inferior ou, ainda, atitudes de indiferenças e desprezo.

Quando Deus criou o mundo, colocou no centro da Criação


o homem e a mulher, fê-los à sua imagem e semelhança. No li-
vro de Gênesis, Adão e Eva são figuras que significam o primei-
ro casal, nossos primeiros pais - origem de toda a humanidade.
A mulher recebe o nome de Eva, por ser ela a mãe de todos os
que vivem. No Apocalipse de São João, o autor sagrado nos fala
da mulher como um símbolo rico em significado, especialmen-
te quando se refere à Nova Eva, à Virgem Maria, terra virgem e
sem mancha que nos daria o Salvador.

Na Ressurreição do Senhor, como testemunho de fé e es-


perança, surgem as mulheres, primeiras testemunhas. O Senhor

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havia preparado seus discípulos para que fossem os primeiros
anunciadores do evento de sua ressurreição. Numa situação sur-
preendente, os primeiros anunciadores são as mulheres que vão
ao túmulo de madrugada e, sem encontrar o corpo do Senhor,
presenciam a manifestação do Ressuscitado. Eis o fato novo que
será divulgado primeiramente pelas mulheres.

No Sermão da Páscoa, de Santo Hipólito de Roma (século


III), o autor destaca: “As mulheres foram as primeiras a ver o
Ressuscitado. Para que assim como foi uma mulher que intro-
duziu no mundo o primeiro pecado, a mulher fosse também a
primeira em anunciar a vida ao mundo. Por isso, as mulheres
ouvem a voz sagrada, alegrai-vos, para que a dor primeira fosse
suplantada pela alegria da Ressurreição; e para que os incrédu-
los cressem na sua Ressurreição corporal dentre os mortos”.

O Senhor ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Estamos


diante do fato maior de toda a fé cristã. O apóstolo Paulo afirma
que se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé e nossa prega-
ção se torna vazia (cf. 1 Cor 15, 14). São Máximo de Turim, bispo
(século V) ensina que: “a ressurreição de Cristo é vida para os
mortos, perdão para os pecadores, glória para os Santos. Por
isso, o santo profeta convida todas as criaturas para a festa da
ressurreição de Cristo, exultando e se alegrando neste dia que
o Senhor fez”.

É tempo oportuno de reafirmamos nossa fé no Ressuscita-


do. Santa e Feliz Páscoa!

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Rosângela Martelli Vilela é pedagoga, pós graduada em Gestão Escolar e Gestão Pú-
blica Municipal. Leiga atuante na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima em Alfenas

opinião
EDUCAÇÃO E RELIGIÃO

E
ducação fonte de conhecimentos e religião fonte de inspi-
ração e fé. Tanto Educação como religião são fundamen-
tais, pois uma complementa a outra. A educação transmite
saberes, enquanto a religião denota sabedoria para o espírito.
Como podemos dissociar uma da outra?

Essa reflexão é de extrema importância, faz-nos pensar so-


bre o que esperamos de uma educação de qualidade. Será que
conseguimos passar uma educação de qualidade sem nortear-
mos nossas crianças, jovens e adultos para uma religiosidade
necessária para a continuação dos princípios da fé que habita
em nós? O trabalho da educação em conjunto com uma educa-
ção religiosa faz se necessário, pois quando preparamos nossos
educandos para a vida, não deixaremos de orientá-los para a
religiosidade e manutenção dos princípios da fé Cristã. A cada
dia vemos mais pessoas sem nenhuma orientação religiosa, isto
faz falta e muitas vezes deixam as pessoas à deriva.

A unificação da educação com a oferta da educação reli-


giosa direciona para nos tornarmos pessoas mais humanas, a

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igreja a cada dia, pede por respeito as minorias e nos conduz a
compreensões que são necessárias para termos posturas mais
humanizadoras. A evolução faz parte da transformação que tan-
to necessitamos para a conscientização sobre pautas relaciona-
das à justiça, participação e consequentemente, estarmos em
consonância com o que Jesus Cristo nos ensinou: “amai ao teu
próximo, como a ti mesmo”. Portanto, sabemos que quem ama,
educa e necessitamos de uma educação de maneira comple-
mentar e holística.

Em tudo é necessário um equilíbrio, a sociedade precisa de


orientações pautadas em uma realidade mais justa. O encontro
da Religião com a Educação traz a possibilidade da promoção
de uma cultura de paz, amor, perdão, solidariedade, excluindo
o ódio e toda a cultura de desrespeito. A formação dos sujeitos,
tanto na educação escolar como a educação familiar são de ple-
no valor para o desenvolvimento do indivíduo em suas concep-
ções.

Jesus o maior pedagogo da história da humanidade, ensi-


nava por meios de parábolas. Marcos (capítulo 4 versículos 1 e
2): [...] Outra vez começou a ensinar à beira do mar. E reuniu-se
a ele tão grande multidão que ele entrou num barco e sentou-se
nele, sobre o mar; e todo o povo estava em terra junto do mar.
Então lhes ensinava muitas coisas por parábolas, e lhes dizia no
seu ensino: [...].

Sabemos que seus ensinamentos norteiam nossas vidas


e que nunca se desatualiza, pelo contrário está sempre mais
atualizado que nunca. A educação não se constrói sozinha, ela
necessita de constantes investimentos e discussões que contri-
buam para o aprimoramento da sociedade.

Do ponto de vista religioso e da filosofia Cristã, a prática


do amor é o maior ato de uma vivência. Inspiramos tanto por
uma Educação igualitária e deixamos de lutar por uma Educa-

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ção abrangente nos princípios religiosos. A filosofia e a sociolo-
gia são importantes no currículo escolar e a Educação religiosa
também não seria uma pauta importante para nortear nossas
vidas?

São tantas as indagações que temos, que se faz necessário


comungar destas, para que possamos abrir diálogo com a socie-
dade em torno do que desejamos para o futuro da humanidade.

“Educação não transforma o mundo. Educação muda as


pessoas. Pessoas transformam o Mundo” (Paulo Freire).

Que sejamos a fonte de transformação do mundo, pautados


no amor de Deus por nós! E que nossa religiosidade e fé nunca
deixem de fazer parte do nosso cotidiano, de nossas ações e
sejamos perseverantes. Portanto, nunca deixemos de acreditar
que Deus é por nós!

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Toninho Fernandes é professor e leigo

política, fé e devoção
FÉ, CIÊNCIA E PANDEMIA

A
discussão sobre fé e ciência não é nova. Diversos auto-
res e pensadores (teólogos, filósofos, psicólogos e até
mesmo cientistas) nos ensinaram-nos conceitualmente o
que é fé e o que é ciência.

A fé na sua essência é a crença que o homem tem em algo


superior, que extrapola sua inteligência, que é capaz de resolver
seus diversos problemas. A ciência, a meu ver, nem tem uma
definição acadêmica específica. Como defini-la? Não me im-
porta o conceito dela, mas seu objetivo que é dar uma solução
prática de algo ou de um fenômeno que interfere na vida huma-
na. Na doença, a ciência apresenta-nos soluções baseadas em
pesquisas. Em contraponto, a doença diante da fé nos demons-
tra-nos respostas fundamentadas na crença de que há um “Ser”
superior que nos cura, desde que creiamos intensamente. Não
pretendo tratar aqui os aspectos científicos.

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A fé é uma “coisa”, a ciência é outra; embora entenda que
devam caminhar juntas. A discussão é ampla e muitas vezes
sem um consenso. O olhar científico é diferente do olhar da
fé. A dimensão da fé é abrangente. O homem tem fé em Deus
ou em deuses que ele cria, tem fé que a chuva cai, porque ele
precisa dela, tem fé que será curado, tem fé que irá ganhar na
loteria, por isto ele faz uma “fezinha” e assim por diante. Crê na
ciência que dará a cura que ele necessita, crê que a chuva cai
porque a ciência explica o porquê. Porém não crê que a ciência
lhe fará milionário isto é próprio da fé.

Portanto, não há como estender a discussão num assun-


to tão vasto e complicado. Sabemos que precisamos da fé e
da ciência. Quando me pediram para escrever sobre este tema,
achei desafiador, pois tudo que refletia, alguém já havia discor-
rido. Queria ser mais prático. Comecei a observar... Logo de co-
meço, ao me deparar com uma igreja, atentei que o seu telhado
ostentava uma cruz e junto dela um para-raio, logo compreendi
que ali estava a junção das duas: fé e ciência. Não teve melhor
explicação. Depois vi minha bondosa vizinha que assistia a um
programa pela televisão e aguardava ansiosa a bênção da água
pelo padre. Ali presente estava a fé que por meio da água ocor-
re a cura e sana os problemas. A mesma água usada pela fé é
também abordada pela ciência, sendo uma substância química,
objeto de pesquisa. E assim as ideias vão se clareando.

A fé não substitui a ciência e tão pouco a ciência substitui


a fé. Ambas existem. Uma no campo sobrenatural, invisível, in-
compreensível. E crer no que não vê é a máxima do Evangelho,
para nós cristãos. A outra no âmbito natural visível e compreen-
sível é a máxima da pesquisa científica. Sem muitas delongas,
a fé e a ciência caminham assim, complementares.

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Pois bem, para melhor entender as dimensões de ambas,
voltemos nossos olhares e compreensão para o momento pre-
sente. Estamos envolvidos numa pandemia do novo coronaví-
rus. Sujeitos a uma doença infecciosa e contagiosa que está se
espalhando pelo mundo numa rapidez inexplicável, levando-nos
ao susto, à dor e ao medo. Então, diante do nosso modo de vi-
ver, vamos buscando respostas e conforto para isso. Muitos vão
pelo caminho da fé e procuram o sagrado para não se contagiar
e não morrer. Mesmo assim, a morte induz-nos ao medo, até
mesmo, para as pessoas que creem, que tem fé em Deus que
vai lhe mostrar a cura, mas não tem fé de ser recebido por Ele na
eternidade que diz crer. Aí não tem ciência, “é pegar ou lagar”.

Para se associar à fé, a ciência vem demonstrando em seus


estudos e resultados como a vacina que é capaz de curar. Mui-
tos não acreditam, são os “negacionistas”, termo que está em
moda, não têm fé na vacina (agora a fé é na vacina). Mesmo as-
sim, muitos querem vacinar, uns confiam na vacina, outros em
Deus, esperando que ela seja a solução. Sendo assim, concluí-
mos que fé e ciência andam juntas, se completam. Então, para
os que não creem em Deus, apostam na vacina.

Para os que confiam apostam na intercessão divina, em


Deus que tudo pode. O SENHOR vai colocando homens, aqui
no caso cientistas e pesquisadores capacitados que possuem
o conhecimento necessário para dar soluções práticas e con-
cretas. A fé cura, a fé acalenta. E a ciência responde no mesmo
sentido. Pois bem, procurei escrever o que penso, nada acadê-
mico, sobre o tripé: fé, ciência e pandemia. Logo a fé nos será
correspondida e a ciência explicada.

Não podemos deixar que nossa relação com Deus e com a

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ciência seja abalada a tal ponto de perdermos a fé e a esperan-
ça nas pesquisas. Vale dizer sem medo de errar teologicamente,
é um leigo que escreve: “precisamos ter fé em Deus e crer na
ciência”. A fé manifestada pela oração aniquila o medo e a dor.
A esperança na ciência neutraliza a incredulidade e sobrepõe a
fiel necessidade de crer no que o homem é capaz. A fé, força
interior que temos, leva-nos a crer em Deus, porque para Ele
nada é impossível.

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Samuel Medeiros, seminarista da etapa discipular

igreja em ação
A DIMENSÃO MISSIONÁRIA
NA FORMAÇÃO DOS FUTUROS
PADRES

N
o dia 11 de fevereiro aconteceu a apresentação do Con-
selho Missionário de Seminaristas (COMISE) na casa de
formação Santo Antônio ministrada pelo seminarista Rhil-
ton Roger, atual coordenador.

O convite para a missão se estende a todos os batizados.


Especialmente na casa de formação, a sua principal função é
despertar e cativar o candidato ao sacerdócio o amor missioná-
rio.

Contou ainda com a explanação dos seminaristas Mateus


Henrique e Richard Oliveira, que explicaram sobre os organis-
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mos missionários da Igreja no Brasil e da Diocese de Guaxupé.

Tal apresentação tem como objetivo iniciar a nossa cami-


nhada missionária vivendo em comunidade com os demais ir-
mãos na fé, com as atividades da casa, com os estudos e a pas-
toral. Tudo isso fortifica a consciência da Missão, fomentando a
identidade cristã!

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Frei Jonas Ribeiro da Silva é membro da Ordem dos Frades Menores e mora no
Convento Franciscano Sagrado Coração de Jesus em Petrópolis / RJ

em pauta
AS DESACREDITADAS
TESTEMUNHAS DA
RESSURREIÇÃO

A
ntes de iniciarmos nossa reflexão neste tema importante
e atual para nossos dias, vejamos o que o Evangelista
Lucas nos diz a respeito desse acontecimento histórico:

“no primeiro dia da semana, ainda de madrugada, as mu-


lheres foram ao túmulo levando os aromas que tinham prepara-
do. Encontraram removida a pedra do túmulo. Entraram, mas não
encontraram o corpo do Senhor Jesus. E ficaram sem saber o que
fazer. Eis que apareceram diante delas dois homens em roupas
brilhantes. Cheias de medo, elas olhavam para o chão. Mas eles
disseram a elas: Por que vocês procuram entre os mortos aque-
le que esta vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou! Lembrem-se de
como ele lhes falou, quando ainda estava na Galileia: “É preci-
so que o Filho do Homem seja entregue nas mãos dos pecado-
res, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia”. Então elas se
lembraram das palavras de Jesus. Voltando do túmulo, contaram

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tudo aos Onze e a todos os outros. Eram Maria Madalena, Joana
e Maria mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam
com elas contaram tudo isso aos apóstolos” ( Lc 24, 1- 9).

Vemos neste relato de Lucas, o apreço que Jesus tinha pe-


las mulheres, as primeiras testemunhas de sua ressurreição. Elas
ficaram com medo, relata-nos o evangelista, mas mesmo com
esse sentimento, não se deixaram barrar no seu desejo de cui-
dar do corpo adormecido do Senhor. Rejeitadas pela sociedade
do seu tempo, souberam acolher o projeto do Reino. Desacre-
ditas pelos apóstolos, anunciaram com fé convicta e audácia o
que tinham visto e ouvido dos anjos.

O mistério a elas foi revelado. A tarefa de serem testemu-


nhas pós-ressurreição coube a elas. O coração feminino trás a
sensibilidade divina. Sente a verdade antes mesmo de verem-na
confirmada diante dos olhos. Elas vão ao túmulo na madrugada,
como que antevendo nossa tristeza, para serem depois a luz ir-
radiadora de esperança e alegria.

Ser portador(a) da boa nova, requer doação contínua e es-


pírito atento a voz do amado. E isso, as mulheres os têm de
sobra. Sabem ler nas entrelinhas do mistério a escrita de Deus
e conseguem traduzir com intrepidez e alegria, quando quem
nos rege é a incerteza e a tristeza. Maria Madalena, Apóstola
da Ressurreição, que ela nos ensine a saborear este mistério na
fé. E que a experiência dessas mulheres do Evangelho de São
Lucas, primeiras testemunhas, inunde nosso coração de alegria
e esperança por dias melhores e solares.

Paz e bem!

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Maria Luzia de Oliveira Pedroso

os leigos
MULHER,
PRESENÇA VIVA NA IGREJA

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S
abemos da grande importância da participação de todos
os leigos na vida da igreja e, em especial, da presença
e participação da figura feminina atuando e contribuindo
com todos os seus dons na ação missionária e evangelizadora.

Durante muitos séculos, a tradição da Igreja mostrava a


mulher como inferior perante o homem e com isso era excluída
de muitas atividades da sociedade. Ela deveria aceitar que seu
espaço de atuação era seu lar. Era proibido que ocupasse ou
desempenhasse cargos públicos ou funções nas igrejas. Essa
crença e esse drama ecoaram ao longo de muitos anos.

Com o decorrer do tempo, as mulheres passaram a reivin-


dicar seus direitos em busca de tão sonhada emancipação femi-
nina. Iniciou-se uma luta que perdura até os dias de hoje para
continuar garantindo seu espaço.

Felizmente, em janeiro de 2021, o Papa Francisco modifi-


cou um cânon, o Código de Direito Canônico e agora está ins-
titucionalizado o acesso das mulheres aos ministérios do leito-
rado e acolitado. Fundamental destacar a vontade do Papa de
promover “uma maior participação das mulheres nos processos
de discernimento e decisão eclesial”.

Como protagonistas da Igreja e através do Batismo, as mu-


lheres recebem a missão de trabalharem pelo Reino de Deus,
de alimentarem a sua vida no mundo com a Eucaristia, com um
aprofundamento na Palavra de Deus, com orações, formação,
enfim, o fortalecimento, de cada vez mais, sua espiritualidade e
fé.

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Papa Francisco ressalta em “Querida Amazônia”, que mui-
tas mulheres, impelidas pelo Espírito Santo, mantêm a Igreja de
pé, em muitas partes do mundo, com admirável dedicação e
fervorosa fé. Importante ressaltar também o exemplo de Maria,
Mãe de Deus como luz da realização do feminino, como inspira-
ção nas obras divinas.

O Papa João Paulo II afirma que é preciso iniciar o diálogo


com cada mulher e para todas as mulheres através do “obriga-
do” ao Deus pela vocação da mulher, à mulher-mãe, mulher-es-
posa, mulher trabalhadora, mulher-filha e mulher-consagrada.

Além de todas as atribuições pontuadas acima e do tra-


balho nas pastorais, nas atividades internas na Igreja, a mulher
deve assumir sua missão sem fronteiras, a “Igreja em Saída”,
como nos orienta o Papa Francisco. Evangelizar em todos os
contextos, na família, comunidade, trabalho e hospitais, enfim
onde pessoas necessitarem.

Assim, venho contribuindo como leiga, na Paróquia de Nos-


sa Senhora da Abadia, de São Sebastião do Paraíso-MG, da qual
tenho muito orgulho de pertencer. Seguindo a tradição e exem-
plo de minha avó e de minha mãe, dando continuidade a esta
missão tão bela desde criança. Participando das Novenas de
Natal, das orações em família, do Grupo de Reflexão na comu-
nidade, sendo catequista, atuando em diversas pastorais como
Liga Católica, Legião de Maria, Apostolado da Oração, sendo
missionária e coordenadora de grupo e de paróquia do Movi-
mento da Mãe Rainha. Também colaborando nas Santas Missões
Populares, como Ministra da Eucaristia, participando do Curso
de Teologia e atualmente ajudando na Pastoral do Dízimo. Além
disso, colaboro com um grupo que faz e distribui refeições aos

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moradores de rua.

Diante destas experiências, cada vez mais, sinto-me apai-


xonada e envolvida em servir a DEUS e aos meus irmãos e ten-
do o SENHOR como Centro de minha vida.

Gratidão a todas as mulheres solteiras, casadas, religiosas,


teólogas, leigas que exercem seu papel nas comunidades e lu-
tam incansavelmente em busca de uma sociedade mais iguali-
tária, mais humana e mais fraterna.

Que o Espírito Santo seja Luz em nosso caminho para que


possamos com coragem, fé e perseverança levar Cristo a todas
as pessoas e, assim, contagiarmos e resgatarmos mais mulhe-
res comprometidas com a igreja. Venha você também!

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Gustavo Henrique de Souza Ribeiro é membro da Pastoral do Batismo da
Paróquia N.S Aparecida em Alfenas/MG

os santos também riem


SÃO JOÃO XXIII, O PAPA BOM

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O
s Santos são exemplos e referência para todos os católi-
cos. Em suas vidas vemos a interpretação do evangelho,
cada um do seu modo, segundo a sua época e tempo.
Um desses exemplos é São João XXIII, o “papa bom”!

Marcado pelo seu bom humor e seu sorriso cativante, João


XXIII encantava a todos, dos mais novos aos mais velhos, sendo
conhecido até hoje como o papa mais engraçado da história.

Certa vez, um grupo de religiosas foi até o santo, e se apre-


sentaram como irmãs de São José. Com o um largo sorriso, ele
perguntou como elas conseguiram ficar conservadas depois de
2 mil anos.

Outra pérola se refere ao período em que ele foi núncio na


França. Durante uma recepção, foi-lhe apresentado o rabino-
-chefe de Paris, com quem, o então cardeal Roncalli, começou
uma diplomática conversa. Quando os convidados passaram
para o salão, o rabino gentilmente convidou o núncio a prece-
dê-lo, mas Roncalli respondeu: “Por favor, primeiro o Antigo Tes-
tamento!”.

Estes são apenas dois dos inúmeros episódios em que, o


“Papa Bom” demonstrou seu apurado bom humor em aconteci-
mentos da sua rotina.

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Gabriela Itagiba Aguiar Vieira é médica, professora e pesquisadora da
Universidade Federal de Alfenas/MG

fé e saúde
A VACINA CONTRA COVID-19 É
UM FIO DE ESPERANÇA

A
s vacinas estão entre as principais conquistas da huma-
nidade. Graças a elas, conseguimos eliminar doenças
como a rubéola e o tétano materno que vitimaram mi-
lhões de pessoas ao longo da história. As vacinas reduzem in-
ternações, diminuem o alto custo social consequente do adoeci-
mento e preservam vidas.

Desde o início da pandemia de COVID-19, a nossa Igreja


se uniu em oração e o Papa Francisco abençoou-nos, rezou por
nós e conosco pedindo ao “nosso Deus Pai que os encha com o
seu amor e os defenda ao longo do caminho, dando-lhes a força
que mantém vivos e não desaponta: a esperança”.

Enquanto católica, médica, professora e cientista, uno-me

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à Sociedade Brasileira de Infectologia e à Associação Médica
Brasileira para recomendar a vacinação e reconhecer a vacina
contra a COVID-19 como um fio de esperança em meio ao caos
vivido ao redor do mundo.

Como nos orientou o Papa Francisco, “não devemos ter


medo de nos aventurarmos por novos caminhos e de propor so-
luções inovadoras”. Reconheçamos a vacina como resposta às
nossas orações e como a inovação de que tanto precisamos!

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil é um


dos mais bem-sucedidos do mundo e totalmente capaz de con-
duzir o processo de vacinação. Somos um país abençoado com
estrutura e profissionais qualificados.

As melhores evidências científicas demonstram que nenhu-


ma medicação tem eficácia na prevenção ou no tratamento defi-
nitivo para a COVID-19 até o presente momento.

Mas as vacinas têm o potencial de evitar a COVID-19 grave,


evitando internações hospitalares, necessidade de oxigeniote-
rapia, admissões em unidades de terapia intensiva e óbito, e
assim, controlarmos a pior crise sanitária dos últimos cem anos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, os brasileiros
representam 10% dos óbitos por COVID-19 no mundo. Para mu-
dar esta triste realidade precisamos do engajamento da popula-
ção. Ressalto o respeito à prioridade dos mais vulneráveis como
uma atitude cristã e lembro que a caminhada de controle da
pandemia ainda será longa.

Por isso, precisamos manter, mesmo com o início da vaci-

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nação, o uso correto de máscara, distanciamento físico e higie-
nização frequente das mãos.

Façamos a nossa parte e tenhamos vida em abundância.


(Jo 10, 10b)

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Iêzo Antônio de Oliveira Venâncio é Ministro da Palavra e leigo atuante
na Paróquia Santa Rita de Cássia, em Cássia/MG

símbolos
DOMINGO DE RAMOS

É
uma festa santa celebrada no domingo anterior à Páscoa
que comemora a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
Um evento da vida de Jesus citado nos quatro evange-
lhos. Jesus dispensa a carruagem luxuosa e tem o auxílio de
um jumentinho; símbolo da humildade e da simplicidade. Era
uma nova compreensão de vida, um novo caminho. Por isso, os
ramos verdes significam um novo tempo de esperança e de paz
para a humanidade.

Com a celebração do “Domingo de ramos” a Igreja inicia a


semana santa.

Quando Jesus chega a Jerusalém é recebido com grande


alegria, é saudado como o rei de Israel, o Messias.

Estejamos atentos, Jesus é de fato o Rei dos Reis, porém


não entrou em Jerusalém demonstrando força e superioridade,
mas sim humildade. E nós, será que estamos sendo humildes e
solidários com nossos irmãos? Nesses tempos difíceis de pan-
demia, vamos celebrar o “Domingo de ramos” apenas louvando
Jesus com os lábios ou também com um coração puro e sincero?

Jesus é verdadeiramente Rei, mas um Rei pobre, servo, que


veio não para ser servido, mas sim para servir e dar a vida em
resgate de muitos.

Uma abençoada semana santa.

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rezando pelas vocações
CONHEÇA O CHAMADO DE
DEUS NA VIDA DO JOVEM LUIZ
PAULO

Salve Maria! Compartilho com vocês meu relato vocacional.

D
esde jovem, participava dos retiros e encontros do Grupo
Revolução Jesus – um grupo de jovens da minha paró-
quia – nele aprendi muito e fiz grandes amigos, que me
fizeram, cada vez mais, despertar o desejo de ajudar a minha
comunidade.

Com o passar do tempo, fui convidado pelo Padre Arnoldo

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para fazer parte da Pastoral dos Acólitos, onde fiquei por três
anos. Certo dia, ele chamou-me para conversar e me perguntou
se eu já havia pensado em ser sacerdote, pois percebia em mim
sinais vocacionais. Também me aconselhou a fazer o acompa-
nhamento vocacional. A partir desta conversa, comecei a perce-
ber que nunca havia feito esta pergunta a mim mesmo, mas que
algo, ou melhor, alguém me chamava.

Intensifiquei meus momentos de oração na busca sobre o


entendimento deste chamado vocacional; fui percebendo que
com o passar do tempo esta convicção aumentava e se torna-
va uma decisão madura. Então, voltei a conversar com o padre
e passei alguns dados pessoais para que os encaminhassem
à SAV (Serviço de Animação Vocacional). Comecei a responder
aos documentos e participar dos retiros no seminário. Com este
amparo, fui gradativamente entendendo que era isso que eu
queria para a minha vida.

Após dois anos de acompanhamento vocacional, fui convi-


dado para um encontro ao qual recebi o chamado de ingresso.
Após ter sido aceito para entrar no seminário, voltei para a casa
repensando a pergunta que me motivou a começar esta cami-
nhada: “Por que ser padre?” e em minha comunidade eu per-
cebi que não estava só. Deus estava comigo e esta mesma co-
munidade permanecia constantemente rezando por mim. E que,
sendo padre eu não seria apenas feliz, bem como, por meio dos
sacramentos e do testemunho de Deus, faria os outros felizes.
Por fim, para não me estender demasiadamente, peço que re-
zem por mim e por todas as vocações.

#EuSouUmaVocação #RezePorMim

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Aretuza Prado Ramos é leiga. Coordenadora da Crisma na
Paróquia Sagrada Família e Santo Antônio em Machado / MG

doutrina
A ORAÇÃO DE JESUS:
O PAI NOSSO (PARTE I)

P
ercorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras,
e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não
esteja incluído na oração do Senhor (Santo Agostinho).

Esta oração é a mais perfeita, entendê-la e meditar as en-


trelinhas dessas 7 petições nos coloca em contato direto com a
vontade de Deus e nossas reais necessidades; já dizia Santo To-
más de Aquino que “esta oração não só nos ensina a pedir, mas
ordena também todos os nossos afetos”.

Sendo ela em si um ato de FÉ, pois só quem crê é capaz de


subir ao monte Tabor, contemplar toda Glória, Grandeza e Ma-
jestade e com humildade reconhecer que esse Deus, é Pai, mas
não somente meu pai e sim, um pai de todos. E que por Graça,
deu-nos o espírito de adoção, suscitando em nós uma ESPERAN-
ÇA, uma confiança antecipada que nos lança a um futuro; por

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saber que por ser Pai atende ao pedido de seus filhos: “Quem
dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? Se
vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos,
quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pe-
direm”(Mt 7, 9.11). E com os pés bem firmes no hoje, esse cuida-
do de Pai toca a nossa alma e nos inflama a CARIDADE, fazendo
presente nessa oração as virtudes Teologais, também as Bem
Aventuranças e os Dons do Espírito Santo.

Sendo filhos, somos também seus herdeiros, e com gran-


de humildade reconhecemos nossas desordens na vida moral e
nossa dificuldade no cumprimento da Sua Palavra, urgindo em
nós a Temperança para resistir às tentações e não O ofender,
que por Graça nos permitiu chamá-Lo de PAI NOSSO.

Por ser Onipresente, Ele não se contém, está em tudo e em


todas as partes, Ele QUE ESTÁS NOS CÉUS, nos diz Santo Agos-
tinho que céus é o coração do justo que ambiciona a virtude car-
deal da Justiça, para Aquele que invocamos venha nos habitar.
ELE faz morada principalmente na alma do justo e santo, nos ho-
mens de coração contrito e humilde. Sabendo a Quem pedimos
e onde Ele habita, passamos à primeira das sete petições.

Só quem faz uma experiência com Deus deseja que Seu


nome seja conhecido, e fazer esse nome conhecido é viver o
SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME. Por isso, Bem Aventurados
os pobres de espírito, porque deles é o Reino do céu”; para pos-
suir o Reino devemos ter o Temor de Deus que nos desapega
dos bens materiais e nos faz realmente filhos, que em tudo hon-
ram esse Pai através de seus atos, levando outros a desejarem
conhecer esse Deus Pai.

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Wilma Steagall de Tommaso é doutora em Ciências da Religião pela PUC-SP

ao redor do altar
A THEOTOKOS DE VLADIMIR

O
ícone, arte sacra característica da Igreja do Oriente, como
imagem é sui generis, é uma Imagem-Palavra. Há no íco-
ne um percurso histórico e teológico que converge na uni-
dade Palavra-Imagem, isto é, a Palavra de Deus como imagem, e
não mera figuração de episódios bíblicos. Tal modelo de arte sa-

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cra desenvolveu-se a partir do Concílio de Calcedônia (451), que
definiu as principais questões sobre a divindade e a humanidade
de Jesus.

Para o Oriente cristão, não há uma separação rigorosa e sis-


temática que aloque Jesus Cristo em um plano e a Virgem Maria
em outro. A veneração à Mãe de Deus está́ estreitamente ligada
à sua maternidade divina e à união com a Pessoa e a obra do Fi-
lho; por isso, pode-se dizer que a iconografia mariana é também
cristológica. Segundo São João Damasceno, apenas o nome The-
otokos, Mãe de Deus, já contém todo o mistério da economia da
salvação, já indica a dupla origem de Cristo: de Deus e de Maria.

A Encarnação do Verbo é o dogma fundamental do cristianis-


mo. A admissão desse mistério é incompleto se não se professa a
Virgem Maria como verdadeira Mãe de Deus. O culto do ícone de
Jesus Cristo presume o papel da Theotokos, cujo consentimento
foi condição indispensável para a Encarnação, para que Deus se
fizesse visível e representável.

Segundo os Padres da Igreja, o que permite que o Verbo En-


carnado seja representado em um ícone é a humanidade herdada
de sua Mãe, pois, se não pudesse ser representado, significaria
que nasceu somente do Pai e não se encarnou. E isso, seria con-
trário a todo o plano da salvação.

A Virgem de Vladimir é um modelo misto de dois modelos


iconográficos: a Virgem do Caminho, Hodighitria, que leva o me-
nino no braço e cuja mão indica o caminho, Ele é o Logos, o Filho
feito Homem; e a Virgem da Ternura, a Eleusa, uma concepção
eslava, mais russa que grega, na qual o Menino envolve com a

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mãozinha o pescoço da mãe como gesto de ternura.

A mãe dolorosa sempre foi a imagem preferida na devoção


das mães cristãs. O veredicto sobre Eva se refere à dor de dar à
luz aos filhos (cf. Gn 3,16). Essa dor parece inseparável de toda
a existência do ser da mãe, da vida plena de pressentimentos e
clarividências e da difícil consciência de levar o peso do destino
dos filhos. Não se encontra facilmente outra imagem cuja face da
mãe seja tão carregada de sofrimento, ainda que não especifica-
do, mas vagamente pressentido, como nesse ícone de Vladimir.

Sabe-se que por volta dos anos 1120-1130 um ícone desse


tipo foi levado de Bizâncio à Kiev, e se supõe que seja o mesmo
ícone chamado de Vladimir, porque foi transferido em 1155 a Vla-
dimir, cidade a nordeste de Moscou. Acredita-se que esse ícone
teria salvado milagrosamente a cidade de Vladimir de ser destru-
ída pela invasão asiática em 1237.

No ícone russo, o Salvador tem um olhar pleno de compai-


xão por todos os que sofrem e entre esses, em primeiro lugar,
por sua Mãe. A seu lado, a Mãe sente piedade pelo futuro sofri-
mento do Filho. A compaixão é, no entanto, incomparavelmente
mais serena, então o Filho procura alcançar o olhar triste da Mãe,
aperta a bochecha e, abraçando-a afetuosamente, parece sus-
surrar alguma coisa. Seria a mesma coisa que se encontra como
inscrição em outro ícone: “Não chores por mim, Mãe”. A dor da
Mãe é o pressentimento da paixão e da cruz. Porém, o iconógrafo
deixa indeterminado, não especificado, e transgride desse modo
os limites da consideração histórica do mistério. As faces são uma
personificação da tristeza universalmente humana. É o Cristo mís-
tico que sofre junto àqueles que sofrem, e juntos apresentam suas
dores.

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A Virgem tem um ar de tristeza porque vislumbra o destino
de cada homem, isto é, sua paixão e morte. Mas, há algo inte-
ressante aqui: assim como Cristo é Filho de Deus, Maria lhe deu
a carne, a fim de que Deus pudesse se tornar Homem; com essa
abertura, Deus pôde se tornar conteúdo da sua humanidade.

Se a vida que recebemos é a vida do Filho, que possamos


nos tornar dom, possamos viver como oferta, como uma semente
que germina, então fica evidente que é Deus que nos consola e
não nós que consolamos Deus. Nunca encontramos no Oriente
cristão uma Theotokos que consola o Filho, isso nasceu no Oci-
dente, no Barroco; não consolamos Deus, é Ele quem toma nossa
situação para si.

É belo que neste ícone, o Cristo seja representado fazendo


com a mãozinha uma carícia na Virgem. Cada homem pode se re-
conhecer na face de Maria, na sua tristeza, na angústia, no medo
e nas incertezas, e será consolado por um Deus pequenino que
é capaz de Se introduzir em espaços que o homem considera to-
talmente pessoais e sente medo que qualquer um entre e mude
algo. Isso significa que esse Deus, que continua a se fazer hóspe-
de, pequeno, uma vez acolhido se torna o Paráclito, portador da
consolação.

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Sibélius Cefas Pereira é
graduado em Teologia e Letras. Mestre em Linguística pela Unicamp e Doutor em Ciên-
cias da Religião pela UFJF. É também docente na PUC Minas em Poços de Caldas

espiritualidade
ESPIRITUALIDADE NA
FRATERNIDADE E NO DIÁLOGO

D
uas tentações presentes em nossa conturbada sociedade
contemporânea. De um lado, o apego às coisas materiais,
uma busca compulsiva por bens, status e poder, como se
a felicidade pudesse ser encontrada. E basta olhar a nossa volta
para se perceber que apesar de tanta ostentação o que se vê
é frustração, adoecimentos, violência e um grande vazio. Como
forma de enfrentamento deste cenário, emergem muitas prá-
ticas e formas de buscas pessoais na direção de um encontro
ou de um descobrir-se rumo a uma existência mais significativa.
E então, surge o segundo risco, de se encontrar em dinâmicas
existenciais ou espiritualidades muito individualistas e evasivas,
numa sociedade que já por si mesa, estimula o individualismo e
a cultura do self.

É sim importante a busca de uma espiritualidade, mas que


seja conduzida e se realize como experiência de fraternidade,
criando pontes de diálogo. Muitas causas conjunturais podem
nos explicar o aumento da violência e a ascensão do discurso

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do ódio e da intolerância em nossa sociedade, mas talvez haja
uma causa mais profunda que já havia sido apontada por Jesus,
quando no evangelho alertou quanto ao risco de se edificar a
casa sobre a areia e não sobre a rocha (Mt 7,24-29). Nossa so-
ciedade tem cometido esse erro de se apoiar nesta dupla ilusão:
do individualismo e do apego a coisas, bens e riquezas. A ver-
dade é que ainda hoje corremos o risco de fazer escolhas equi-
vocadas.

A espiritualidade cristã tem a ver com a busca de uma in-


timidade e comunhão com Deus que nos possibilite sim, aden-
sar o sentido da própria vida de modo a vivê-la de forma mais
significativa. Mas o que se percebe, e os exemplos bíblicos são
abundantes, assim como em toda a tradição espiritual cristã, é
que essa experiência de fé, seja autêntica, se realiza na desco-
berta do outro, na expressão do amor e da compaixão, da mise-
ricórdia e da fraternidade.

Neste momento, e no cenário da pandemia, o desafio da


fraternidade é grande e nos convida a olhar, sobretudo para os
mais desamparados. Também nos desafia para o diálogo, em
todos os níveis, internamente na família da fé, mas também atu-
ando na sociedade, criando pontes de diálogo e combatendo
toda forma de intolerância, violência e exclusão, no espírito da
Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 que tem como
tema: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, e como
lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unida-
de” (Ef. 2.14).

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comunicações
aniversários março
Natalício
01 Padre José Carlos Carvalho, O.Cist.
08 Padre José Augusto da Silva
11 Padre José Ronaldo Neto
12 Padre Gilgar Paulino Freire
14 Padre Gilvair Messias da Silva
17 Padre Célio Laurindo da Silva
17 Padre Márcio Alves Pereira
18 Padre Willian Franquis Venâncio
19 Padre Luciano Campos Cabral
19 Padre José Donizetti de Faria (Religioso)
24 Padre Guaraciba Lopes de Oliveira
25 Padre Pedro Miguel
27 Seminarista Otávio Lemes
28 Padre Claiton Ramos
30 Padre Vinícius Pereira Silva

Ordenação
10 Padre Heraldo de Freitas Lamin
11 Dom Messias dos Reis Silveira (episcopal)
14 Padre Adivaldo Antônio Ferreira
14 Padre Mateus (Anderson) L. S. Resende, O.Cist.
19 Padre Marcio Alves Pereira
25 Padre Edno Tadeu de Oliveira
30 Padre Juvenal Cândido Martins

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