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Como Funciona
Aparelhos, Circuitos e Componentes
Eletrônicos
Volume 41
Newton C. Braga

Patrocinado por

Mouser Electronics

2
São Paulo - Brasil - 2024

Instituto NCB
www.newtoncbraga.com.br
leitor@newtoncbraga.com.br

Diretor Responsável: Newton C. Braga


Diagramação: Bianca Paiotti
Coordenação: Renato Paiotti
Capa: Amanda Paiotti

3
Copyright by
INSTITUTO NEWTON C BRAGA.
1ª edição

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Índice

Apresentação da Série.................................................................... 9
O receptor de rádio Reflex............................................................ 15
O receptor reflex........................................................................ 20
O condicionador de ar Inverter.....................................................27
O que é a tecnologia inverter nos condicionadores de ar?........30
Como isso é feito....................................................................... 32
Conceito básico de uma placa de condicionador de ar inverter 33
Os Tipos de condicionadores.....................................................36
E1T – A válvula digital da Philips de 1954...................................39
Circuitos..................................................................................... 45
Medidor de absorção de ELFM101S............................................ 47
Os campos................................................................................. 49
As medidas................................................................................ 51
Uma montagem..........................................................................53
O choque elétrico...........................................................................57
As tensões de nossas redes de energia.................................... 58
O circuito elétrico....................................................................... 60
Terra e neutro.............................................................................62
O choque elétrico....................................................................... 65
Eletricistas de "mãos grossas"...................................................69
O parafuso e o macaco................................................................. 73
Cálculos..................................................................................... 76
Conclusão.................................................................................. 80
Todos os Tipos de Motores...........................................................83
Motor DC com escova................................................................84
Motores de passo.......................................................................86
Modos de excitação................................................................... 89
5
Motores DC sem escovas ou brushless.....................................92
Motores universais..................................................................... 95
Motor de indução ou de uma fase..............................................96
Como funciona........................................................................... 97
Tipos........................................................................................ 103
Motor sincronizado AC de três fases....................................... 104
Motor de relutância comutada ou de relutância variável......... 105
Conclusão................................................................................ 106
Controles de Movimento............................................................. 107
Teoria....................................................................................... 107
Sentido de rotação................................................................... 109
Velocidade................................................................................109
Características......................................................................... 110
Tensão......................................................................................110
Corrente................................................................................... 110
Potência....................................................................................111
Velocidade................................................................................113
Sugestões para projetos.......................................................... 113
Motores de Passo........................................................................ 115
Teoria........................................................................................116
Como funciona......................................................................... 117
Como usar motores de passo.................................................. 122
Tensão e corrente.................................................................... 122
Sequência................................................................................ 123
Ângulo do passo...................................................................... 123
Taxa de pulso........................................................................... 124
Torque...................................................................................... 125
Efeito de frenagem...................................................................125
As UARTs......................................................................................127
Os tipos de UARTs...................................................................128

6
A estrutura de uma UART........................................................132
RBR – Receiver Buffer Register (RO)......................................134
THR: Transmiter Holding Register (WO)................................. 134
IER: Interrupt Enable Register (R/W).......................................135
IIR: Interrupt Identification Register (RO).................................136
FCR: FIFO Control Register (WO)........................................... 138
LCR: Line Control Register (R/W)............................................140
MCR: Modem Control Register (R/W)......................................142
LSR: Line Status Register (RO)............................................... 143
MSR: Modem Status register (RO).......................................... 143
SCR: Scratch Register (R/W)...................................................144
DLL e DLM: Divisor Latch Registers (R/W)..............................145
Conclusão................................................................................ 146
Compandors.................................................................................149
Compressão e descompressão............................................... 149
Onde são usados..................................................................... 154
Estrutura de um Compandor....................................................155
Aplicações em Áudio................................................................158
NE570/571 – Compandor........................................................ 160
Ondas Estacionárias................................................................... 165
Transferência de energia......................................................... 167
Impedância de antena..............................................................170
As ondas estacionárias............................................................ 172
Como medir..............................................................................177
O acoplador direcional............................................................. 180
Medidores de onda estacionária comerciais............................183
Como medir..............................................................................184
Multiplexação............................................................................... 187
Multiplexação em frequência................................................... 188
Multiplexação no tempo........................................................... 189

7
Multiplexação por código......................................................... 191
Multiplexação geográfica......................................................... 192
Modos combinados de multiplexação...................................... 193
Penetração e eficiência............................................................193
Conclusão................................................................................ 194
Antenas.........................................................................................197
Tipos de antena....................................................................... 206
Antenas para microondas........................................................ 214
Conclusão................................................................................ 217

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NEWTON C. BRAGA

Apresentação da Série
Este é o quadragésimo primeiro volume desta grande série de
livros que levamos aos nossos leitores sob patrocínio da Mouser
Electronics (https://br.mouser.com/). Conforme os leitores que já
baixaram os volumes anteriores sabem, esta série é baseada na
enorme quantidade de artigos que escrevemos ao longo de nossa
carreira como escritor técnico e que publicamos em diversas revistas,
folhetos, livros, cursos e no nosso próprio site tanto em português,
como em espanhol e em inglês. São artigos que representam mais de
50 anos de evolução das tecnologias eletrônicas e, portanto, têm
diversos graus de atualidade. Os mais antigos foram analisados
sendo feitas alterações e atualizações que julgamos necessárias.
Outros pela sua finalidade didática, tratando de tecnologias antigas e
mesmo de ciência (matemática, física, química e astronomia) não
foram muito alterados a não ser pela linguagem, que sofreu
modificações se bem que em alguns casos mantivemos os termos
originais da época em que foram escritos. Não estranhem se alguns
deles tiverem ainda a ortografia antiga que foi mantida por motivos
históricos. Os livros da série consistirão numa excelente fonte de
informações para os nossos leitores.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Os artigos têm diversos níveis de abordagem, indo dos mais


simples que são indicados para os que gostam de tecnologia, mas
que não possuem uma fundamentação teórica forte ou ainda não são
do ramo. Neles abordamos o funcionamento de aparelhos de uso
comum como eletroeletrônicos, não nos aprofundando em detalhes
técnicos que exijam conhecimento de teorias que são dadas nos
cursos técnicos ou de engenharia.
Outros tratam de componentes e circuitos, ideais para os que
gostam de eletrônica e já possuem uma fundamentação quer seja
estudando ou praticando com as montagens que descrevemos em
nossos artigos. Estes já exigem um pequeno conhecimento básico da
eletrônica que também podem ser obtidos em artigos de nosso site,
livros e nossos cursos EAD. Estes artigos também vão ser uma
excelente fonte de consulta para professores que desejam preparar
suas aulas e alunos que desejam enriquecer seus trabalhos
Temos ainda os artigos teóricos que tratam de circuitos e
tecnologias de uma forma mais profunda com a abordagem de
instrumentação e exigindo uma fundamentação técnica mais alta.
São indicados aos técnicos com maior experiência, engenheiros e
professores.
Também lembramos que no formato virtual o livro conta com
links importantes, vídeos e até mesmo pode passar por atualizações
on-line que faremos sempre que julgarmos necessário.

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NEWTON C. BRAGA

Neste volume ainda trataremos do funcionamento de


equipamentos antigos em especial televisores, monitores antigos de
computadores, gravadores de vídeo e games que utilizavam o padrão
da TV analógica., sendo especialmente indicado aos que desejam
recuperar este tipo de equipamento e já possuam um conhecimento
técnico, que estejam estudando ou que precisam de material de
consulta para suas aulas ou trabalhos práticos.

Trata-se de mais um livro que certamente será importante na


sua biblioteca de consulta, devendo ser carregado no seu tablete,
laptop ou celular para consulta imediata. Os livros podem ser
baixados gratuitamente no nosso site e um link será dado para os que
desejarem ter a versão impressa pagando apenas pela impressão e
frete.

Newton C. Braga

Nota sobre a ortografia: os artigos que coletamos para fazer


parte das edições da série Como Funcionam foram escritos a partir
de 1965. Desde aquela época, a língua portuguesa passou por muitas
transformações, como a perda do trema em frequência, do acento em
polo, termos que foram substituídos por equivalentes modernos,
tanto em inglês como em português. O próprio uso da vírgula

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

mudou. Assim, em muitos casos, ao recuperar os artigos dependendo


da época, mantivemos a forma original (pelo valor histórico) como
também foram feitas alterações para o português moderno. Assim,
eventuais “erros” que o leitor encontre, não são erros, mas a
manutenção da forma original. Para usar estes artigos em eventuais
trabalhos, o leitor estará livre para manter a forma original,
indicando isso, ou de fazer alterações para o português moderno,
onde se fizer necessário, com a devida observação.

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NEWTON C. BRAGA

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

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NEWTON C. BRAGA

O receptor de rádio Reflex


Conhecer um pouco da tecnologia antiga é fundamental para
o praticante da eletrônica moderna, principalmente aqueles que
estudam projetos que envolvam ideias pouco comuns. Muitas delas
podem ser adaptadas para fazer uso de tecnologias modernas,
evitando assim a necessidade de se “redescobrir” coisas que nossos
antepassados já conheciam. É o caso da tecnologia usada nos
receptores reflex que abordaremos neste artigo.
Para que o leitor tenha uma ideia de quão antiga é a
tecnologia do receptor Reflex nos baseamos num livro da editora de
Hugo Gernsback escrito por P. E. Feldman em 1924.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 1 – A capa do livro

Evidentemente o transistor ainda não existia, mas a ideia do


receptor reflex com transistor passou para a nova tecnologia como
vamos analisar neste artigo.
Partimos então da estrutura de um receptor antigo valvulado
simples que usava uma válvula tríodo, conforme mostra a figura 2.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 2 – O receptor de amplificação direta

Nesse receptor, simplesmente sintonizava-se o sinal da


estação desejada usando um circuito LC e jogando o sinal na grade
de uma válvula tríodo ela o detectava e amplificava. Era então
possível ouvir a estação através de um fone magnético de alta
impedância ligado ao anodo da válvula.
Se quiséssemos mais sensibilidade aumentando o número de
válvulas e, portanto, a amplificação, havia duas possibilidades.
A primeira consistia em detectarmos o sinal e o
amplificarmos com uma primeira válvula e depois jogar o sinal de
áudio a uma segunda válvula que proporcionaria nova amplificação,
conforme mostra a figura 3.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 3 – Usando duas válvulas para amplificar o áudio

Era possível aumentar ainda mais o número de válvulas para


se obter sinal de intensidade suficiente até para excitar um
alto-falante, mas havia um problema. Com maior número de válvulas
o circuito se tornava instável ocorrendo instabilidades e
realimentação com apitos e outros problemas. Havia um limite para a
amplificação desta forma.
Uma outra maneira consistia em se usar uma válvula para
amplificar o sinal de RF sintonizado, sem detectá-lo e depois de
amplificado, aí sim, ele era detectado e jogado na grade de uma nova
válvula amplificadora.
Esta técnica também podia ser ampliada com o uso de mais
válvulas, por exemplo, duas de RF e duas de áudio, obtendo-se assim

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NEWTON C. BRAGA

um rádio de 4 válvulas com bom ganho, conforme mostra o circuito


da figura 4.

Figura 4 – Rádio com duas etapas de RF e duas de áudio

Observe que já tínhamos a dificuldade de ter dois circuitos


sintonizados na mesma estação, o que tornava difícil e crítico o
ajuste. O variável era duplo neste caso.
Mas, novamente entravam em cena alguns problemas como
as instabilidades e eventualmente a necessidade de se sintonizar cada
etapa de RF de forma independente. Algumas tecnologias tentavam
resolver esse problema antes do surgimento da melhor, a do receptor
super-heteródino que prevalece até hoje.
Uma delas foi a do receptor reflex de que trataremos neste
artigo.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

O receptor reflex
Observou-se que nesses circuitos a válvula era usada para
amplificar sinais de RF ou então sinais de áudio. Porque não fazer
com que ela amplifique os dois ao mesmo tempo. Já que são
diferentes?
Assim, nos anos 20 criou-se uma tecnologia denominada
“reflex” em que o sinal de RF era amplificado e detectado e depois
“refletido” para a entrada do circuito na forma de sinal de áudio e
agora amplificado novamente pelas mesmas válvulas.
Para entender como isso funciona, vamos pegar um circuito
que trabalha com os dois tipos de sinais, um amplificador simultâneo
para sinais de áudio e RF, mostrado na figura 5.

Figura 8 – Uma válvula amplificando sinais de áudio e RF

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NEWTON C. BRAGA

Se isso funcionasse, seria possível aplicar a um receptor de


rádio. Chegamos então a um circuito como o mostrado na figura 9
que permitirá ao leitor ter uma ideia de seu funcionamento.

Figura 9 – Um receptor reflex de uma válvula

Os sinais que são captados pela antena são levados a uma


bobina de acoplamento 1, sendo transferidos para a bobina 2 que
forma juntamente com o capacitor variável o circuito de sintonia.
Os sinais de RF da estação selecionada são aplicados
diretamente à grade da válvula tríodo, recebendo amplificação. No
entanto, na saída da válvula, ou seja, na placa, estes sinais encontram
o fone magnético de alta impedância e um capacitor de 0,002 uF (2
nF).

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

O fone é uma indutância elevada, não respondendo aos sinais


de RF, e então esses sinais passam pelo capacitor sendo aplicado a
um transformador de alta frequência ou Rádio Transformer como era
chamado.
Passando por esse transformador, os sinais de RF
sintonizados encontram o diodo detector. Feita a detecção, passamos
a ter nesse ponto sinais de áudio que são levados de volta à bobina 2.
O capacitor de 0,001 uF ou 10 nF faz o desacoplamento dos sinais de
RF.
Encontrando a bobina 2 os sinais de áudio passam com
facilidade, pois essa bobina tem baixa indutância para a sintonia dos
sinais de RF.
Passando por essa bobina, chegam à grade da válvula agora
sinais de áudio que então são amplificados. Uma vez recebendo
amplificação eles aparecem nos fones, sem passar pelo capacitor em
paralelo, onde são amplificados.
Assim, com engenhosidade, uma válvula funciona duas vezes
como amplificadora, sendo uma vez para sinais de RF e uma vez
para sinais de áudio.
Aperfeiçoamentos foram feitos com a utilização de mais
válvulas que então poderiam ter função dupla no circuito.
Na figura 10 temos um exemplo de receptor que usa duas
válvulas que funcionam como 4 contendo transformadores de rádio

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NEWTON C. BRAGA

que deixam passar sinais de RF e transformadores de áudio que


deixam passar somente áudio!

Figura 10 – Rádio reflex de duas válvulas

Fica o desafio para o leitor traçar o percurso dos sinais de RF


e de áudio neste circuito, até chegar no fone de ouvido.
E a coisa foi mais longe, com um circuito de 4 válvulas,
usando antena de quadro. Neste circuito fica mais percebemos o
percurso dos sinais de rádio e de áudio pelos transformadores
diferentes. (figura 11)

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 11 – Receptor de 4 válvulas

Com a chegada do transistor, a ideia de se usar um mesmo


transistor para amplificar sinais de RF e de áudio não foi esquecida.
Assim, tomamos na figura 12 um receptor reflex transistorizado.
Analisemos seu funcionamento. Os sinais de RF captados
pela antena e sintonizados pelo circuito de entrada passam para a
base do transistor onde são amplificados

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NEWTON C. BRAGA

Figura 12 – Receptor dos anos 70.

No coletor do transistor temos então esses sinais de RF que,


encontrado o choque de 25 mH não passam para o fone. No entanto,
eles passam pelo capacitor de 100 pF encontrando o detector
formado pelos dois diodos.
Detectados temos agora sinais de áudio que passam para a
base do transistor onde recebem nova amplificação. O capacitor de
0,005 uF (5 nF) faz o desacoplamento do RF.
No coletor do transistor os sinais de áudio não passam pelo
capacitor de 100 pF, mas passam pelo choque de 25 mH chegando ao
transformador de onde são aplicados ao fone.
Versões elaboradas mais modernas podem até usar um
circuito integrado para amplificar o sinal de áudio. Diversos circuitos
podem ser encontrados em nosso site.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

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O condicionador de ar Inverter
A tecnologia inverter no condicionador de ar Split mesmo
existindo há 30 anos no mercado de climatização, se popularizou no
Brasil por volta dos anos 2000, mesmo assim ele ainda hoje é um
produto desconhecido por grande parte dos profissionais da área de
manutenção e dos consumidores. Ernesto Vicente (*)

(*) Canal Decol Eletrônica:


https://www.youtube.com/channel/UC1h7LwxVjTi-4-B-RGYJrTQN
o Instagram: @decol_eletronica
Mais conforto, menos ruído e redução do consumo
energético. O sistema de tecnologia inverter foi desenvolvido com o
objetivo de reduzir o consumo de energia, através de um sistema
inteligente de controle eletrônico, embarcado nos condicionadores de
ar Split.
Com avançada tecnologia de climatização para todos os tipos
de ambientes, os condicionadores de ar Split inverter, são atualmente
os modelos mais procurados no mercado do segmento da
climatização.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Boa parte das indústrias fabricantes de condicionadores de ar


da atualidade, possuem centros de desenvolvimento onde realizam
testes de durabilidade, que simulam ambientes extremamente
inóspitos, tudo para criar novas tecnologias ainda mais avançadas e
duráveis, prontas para encarar as maiores adversidades.
A geração mais recente de condicionadores de ar, tornou-se
mais inteligente ainda, pois, usam inteligência artificial (IA) e
Internet das Coisas (IoT) para controlar automaticamente a
temperatura do ambiente em um nível ideal (Wind Free Plus da
Samsung).
Para isso, utilizam como base os padrões de uso do usuário,
dados coletados de sensores integrados de temperaturas, presença e
até informações meteorológicas. No levantamento da empresa de
pesquisas GfK, publicada na Revista do Frio, o faturamento de
vendas de condicionadores de ar no mercado varejista brasileiro,
cresceu entre janeiro e maio de 2021, um aumento de 15,5% em
relação ao mesmo período de 2020, chegando a R$ 942,2 milhões.
Vale lembrar que estávamos nesse período em plena
pandemia. Mesmo com essas cifras, o mercado brasileiro possui uma
demanda reprimida em relação a esse produto, que está presente em
menos de 20% dos lares brasileiros, ainda que sejamos um país com
dimensões continentais, que conta com todos os tipos de climas, do
mais quente ao frio, onde a necessidade de climatização é enorme.

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NEWTON C. BRAGA

Então é um mercado de um potencial gigantesco em franco


crescimento.
Diante desses dados, aparece então uma demanda por
profissionais ainda, praticamente inexistentes no mercado de
trabalho, os técnicos especialistas na tecnologia inverter, um
profissional que deve mesclar conhecimento técnico de refrigeração,
técnico em eletrotécnica e técnico em eletrônica, com especialização
na tecnologia inverter.
Um profissional da área de service que tem e terá lugar no
mercado, seja como autônomo ou dentro das empresas de
climatização, prestando serviços de conservação, manutenção e
reparo nas diversas placas eletrônicas, que estão embarcadas nas
diversas marcas e modelos de condicionadores de ar inverter.
Essas placas contam com uma eletrônica refinada, que
demanda alto conhecimento das diversas áreas envolvidas, dentre
essas, a eletrônica analógica, eletrônica digital e a eletrônica de
potência, tudo junto na mesma placa.
Sendo um produto de uma tecnologia própria, a necessidade
de estudos, e especialização por parte dos profissionais é muito
grande, pois, a maioria dos produtos possuem mais que uma placa
eletrônica, para o seu funcionamento, o que requer um ótimo
conhecimento para a perfeita identificação de qual placa pode estar
apresentando defeito, para evitar erros, como a troca de placa errada,

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

elevando sobremaneira o custo, de forma desnecessária, no reparo de


um condicionador de tecnologia inverter.
Com a finalidade de melhorar a qualidade das manutenções e
diminuir os custos, se faz necessário um técnico em eletrônica
especializado na tecnologia inverter, que pode gerar economias de
até 70% nos custos dos reparos de um condicionador de ar inverter.

O que é a tecnologia inverter nos


condicionadores de ar?
Como sabemos o condicionador de ar é um produto utilizado
em climatização de ambientes, que utiliza motores para efetuar seu
trabalho. Desde sua criação pelo Eng. Willis Carrier em 1902, os
condicionadores de ar eram produtos eletromecânicos, sendo
compostos de vários componentes, entre eles motores alimentados
por corrente alternada e de rotação fixa para acionamento de
ventiladores e compressores.
O ar-condicionado tradicional quando ligado funciona a
100% da capacidade, ou seja, isso significa que ele sempre opera em
sua capacidade máxima. Com o desenvolvimento da tecnologia
inverter, esses moto-ventiladores e moto-compressores tiveram uma
grande evolução.

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NEWTON C. BRAGA

Então hoje temos o popularmente conhecido


"ar-condicionado inverter", que se trata basicamente de um
condicionador de ar com motores que variam a suas rotações. Um
condicionador de ar inverter é um condicionador de ar com
velocidade de resfriamento variável. Esses sistemas fornecem
desempenho de resfriamento de alta eficiência sem todo o esforço ou
custo de um sistema de ar-condicionado convencional.
Veja a figura 1, onde temos no gráfico a linha em verde que
mostra o funcionamento de um condicionador de ar convencional,
onde é possível observar o funcionamento liga e desliga, já em
vermelho, temos o comportamento do condicionador inverter, com
um controle de fluxo estável ao longo do tempo.

Para este tipo de controle foi embarcado nesses produtos,


uma eletrônica refinada e complexa, a fins de melhorar a
performance dos condicionadores de ar.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Principais vantagens
• Economia de custos
• Operação silenciosa
• Resfriamento rápido
• Eco-Friendly

Como isso é feito


Aliando diversas tecnologias que evoluíram durante anos,
como os conversores de frequência, soft starters, inversores de
frequências, que se tornaram possíveis também a partir da evolução
dos componentes eletrônicos como, tiristores, transistores IGBTs,
microcontroladores dedicados, módulos de potência inteligentes
IPM, etc., assim como os motores e compressores é que foi possível
a criação da tecnologia inverter para o condicionador de ar inverter.
Existem hoje no mercado, diversos produtos
eletroeletrônicos, brinquedos, eletrodomésticos passando pela linha
branca, residencial, comercial e industrial, que utilizam algum tipo
de inversor de frequência para melhorar o desempenho de suas
funções. Especificamente, no condicionador de ar split inverter, que
é um produto composto por duas unidades, uma interna e uma
externa, onde em cada uma delas temos placas eletrônicas para o
controle do seu funcionamento.

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NEWTON C. BRAGA

Existem várias versões de condicionadores de ar split


inverter, no mercado, variando conforme a marca e modelo de
diversos fabricantes, com diversas versões de placas eletrônicas, mas
para que um condicionador de ar seja um inverter, ele precisa de ter
no mínimo uma “placa inverter”, na unidade externa.
Essa placa irá controlar o fluxo do refrigerante, da maneira
mais eficiente possível para o condicionamento do ar ambiente, seja
no aquecimento ou resfriamento.
A “placa inverter” com sua topologia específica, tem a
função na unidade externa, de maneira geral, controlar um moto
ventilador e um moto compressor, que, faz parte da estrutura geral de
uma unidade externa em um condicionador de ar split.
O controle é feito através de sensores que informam para a
placa seus parâmetros e baseado numa lógica de programação, o
microcontrolador da placa fará os ajustes necessários, para a maior
eficiência de funcionamento da máquina.

Conceito básico de uma placa de


condicionador de ar inverter
O diagrama mostrado na figura 2, compreende as unidades
básicas para a construção de uma placa de uma unidade externa em
um condicionador de ar inverter.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Na metade de cima da figura 2, podemos observar desde a


entrada de alimentação, geralmente em 220Vac/ 60Hz, depois
passamos inicialmente por um filtro EMI, proteções de transientes de
tensão e supressores “in rush”. A seguir temos uma etapa de
retificação e chegamos ao circuito de PFC, que pode ser ativo ou
passivo. Na sequência temos a etapa do filtro capacitivo, onde se
forma o DC LINK, para alimentação do módulo IPM, que fará o
acionamento de um compressor geralmente rotativos, acionado por
um motor moderno, trifásico de corrente contínua, sem escovas,
chamado de BLDC (Brushless DC motor). O módulo do IPM é
acionado por 6 (seis) pulsos PWMs gerado por um microcontrolador
dedicado e para o perfeito funcionamento do conjunto.
Na parte cinza temos toda a etapa de acionamento e controle,
onde microprocessadores e microcontroladores, recebem
informações de diversos sensores instalados, como periféricos da
placa e na própria placa, fazendo parte do circuito eletrônico, e tudo
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NEWTON C. BRAGA

isso para o controle eficaz dos diversos parâmetros e variáveis do


processo.
De uma maneira resumida, temos aqui uma ideia da
complexidade de uma placa eletrônica, que visa controlar as
variáveis de um processo de climatização, uma área da física que
além de muito interessante e necessária ao dia a dia das pessoas, é de
extrema complexidade, e para alcançar esse objetivo, os projetistas
devem observar inúmeras regras, teorias, normas nacionais e
internacionais, pois essas placas além de ajudarem no melhor
desempenho do produto, também podem prejudicar a “saúde” da
rede elétrica.
Na figura 3 vemos a foto de uma placa inverter da Samsung,
para o controle da unidade externa de um condicionador de ar split
inverter de 24K BTUs.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

A evolução dos sistemas de climatização proporcionou novas


formas de otimizar os recursos e economizar energia. Os sistemas de
controle de temperatura ambiente, utilizando o fluxo variável de
fluido refrigerante, com novas formas de monitoração e controle, são
excelentes exemplos da tecnologia inverter.

Os Tipos de condicionadores
Um aparelho condicionador de ar é composto basicamente
por uma unidade de condensação e uma unidade de evaporação.
Existem três tipos básicos de condicionador de ar:
ACJ (Ar-Condicionado de Janela). Este tipo de aparelho é
composto de duas unidades, que ficam dentro do mesmo gabinete.
Esses aparelhos são fixados, como o próprio nome diz, em uma
janela ou mais comumente em um buraco na parede. Condicionador
Portátil. O condicionador portátil, também possuem as duas unidades
no mesmo gabinete, porém com o tamanho reduzido, por isso esse
aparelho pode ser transportado mais facilmente. Condicionador Split.
O condicionador split, (do inglês, separado), é um aparelho onde as
unidades de evaporação e condensação estão separadas, ficando
assim uma unidade interna ao ambiente a ser climatizado e a outra
unidade no ambiente externo. Nessa modalidade de condicionador
split temos os sub tipos:- Hi Wall;- Piso teto;- Cassete;- Multi split;-
VRF ou VRV*
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NEWTON C. BRAGA

● ( VRV é um nome cuja marca foi registrada pela Daikin na


ocasião do desenvolvimento do produto. Assim, os outros
produtos do mercado, do mesmo tipo, normalmente são
chamados de VRF, que no caso significa "Fluxo de
Refrigerante Variável". )

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

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NEWTON C. BRAGA

E1T – A válvula digital da


Philips de 1954
Você que é ligado em válvulas e que nos acompanha, deve ter
ficado entusiasmado quando tratamos da válvula “olho mágico”,
uma indicadora analógica de sintonia usada em rádios antigos, mas
também em outras aplicações. Mas ficará ainda mais surpreso e
ligado na tecnologia dos anos 50 e depois quando descobrir (se não
conhece ainda) a válvula digital, contadora de década E1T da
Philips. É deste estranho componente que trataremos neste artigo.
A eletrônica digital ainda era uma novidade lá nos anos 50, e
o uso do transistor em circuitos ainda não estava firmemente
adotado. Assim, os circuitos digitais valvulados ainda eram algo de
interesse e consequentemente os componentes associados.
A Philips lançou então uma válvula digital (?), uma válvula
que era um contador de década e que possibilitava o
desenvolvimento de circuitos digitais valvulados, alguns até hoje
elaborados por entusiastas que não se abalam por ter de pagar mais
de 30 libras por uma E1T!.
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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Na internet encontramos diversos sites que vendem essas


raridades e também projetos como um interessante vídeo que mostra
um relógio digital feito com 6 delas.
Começamos pela primeira página do datasheet desta válvula
que pode ser baixado em:
http://www.tube-tester.com/sites/nixie/dat_arch/E1T_Philips_Book_
1954.pdf

Figura 1 – Primeira página do datasheet

40
NEWTON C. BRAGA

Mas, como funcionava essa válvula esquisita, mas


maravilhosa.
Na figura 2 temos uma vista mais detalhada desse
componente cujas características serão analisadas.

Figura 2 – A válvula
Quando uma tensão de controle é aplicada, um feixe de
elétrons é emitido e ele forma uma barrinha exatamente na direção
do número que deve representar, conforme mostra a figura 3.

41
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 3 – Duas válvulas indicando 32 num contador até 99

É claro que as válvulas poderiam ser ligadas em cascata para


um indicador de maior número de dígitos.
Na figura 4 temos a estrutura interna simplificada dessa
válvula, a partir da qual analisaremos seu funcionamento.

Figura 4 – Estrutura tirada do datasheet

42
NEWTON C. BRAGA

Conforme podemos ver, elétrons são emitidos pelo catodo k.


Os eletrodos marcados com b têm então a finalidade de formar um
feixe de elétrons. Esse feixe de elétrons passa então por dois
eletrodos de deflexão marcados com d na figura.
O feixe de elétrons é atraído pelos anodos indicados por a1,
a2 e ah de modo a incidir numa cama condutora revestida de
material fluorescente. Grades auxiliares e eletrodos supressores
também são agregados a esta estrutura.
Isso significa que sinais de controle, além de sinais de
polarização, vão fazer com que o feixe de elétrons incida no eletrodo
fluorescente em diversas posições que estejam alinhadas com os
números de 0 a 9. Veja que o controle faz com que a deflexão seja
para a esquerda ou direita e para cima e para baixo escolhendo uma
das duas filas correspondentes de números.
Com isso, forma-se uma barra indicadora, conforme vimos
nas figuras anteriores que indica um algarismo de 0 a 9.
O símbolo para esta válvula com a indicação dos eletrodos
equivalentes é mostrado na figura 5.

43
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 5 – O símbolo da E1T e seu invólucro

A tensão de filamento é 6,3 V, mas a tensão de anodo é


elevada, conforme podemos ver pelas características tiradas do
próprio datasheet.

44
NEWTON C. BRAGA

Figura 6 - Características

Circuitos
Na aplicação básica, essa válvula é um display digital de 0 a
9, sendo indicada para uso em um contador. Assim, encontramos
aplicações relacionadas como contadores de objetos, contadores de
pulsos, relógios, cronômetros e muito mais.
No datasheet encontramos diversas configurações de
contadores e circuitos associados como multivibradores. Para que o
leitor tenha uma ideia de um circuito prático escolhemos este
contador de 2 dígitos. Os valores dos componentes podem ser
encontrados no link dado em que se baixa o datasheet completo.

45
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 7 – Circuito de aplicação

E, uma montagem completa de um relógio com essa válvula,


obtida do site https://www.tubeclockdb.com/scope-crt-clocks?start=4
onde muita informação adicional pode ser obtida para
colecionadores é dada na figura 8.

Figura 8 – Um relógio com válvulas E1T.


46
NEWTON C. BRAGA

Medidor de absorção de
ELFM101S
Existe uma preocupação cada vez maior com os perigos que
os campos magnéticos de baixa frequência podem representar para
as pessoas. Campos magnéticos de equipamentos domésticos, linhas
de transmissão, transformadores e outros dispositivos, têm sido
associados às mais diversas doenças, incluindo-se a leucemia e
algumas outras formas de câncer. Como saber se estamos
absorvendo esse tipo de radiação em nosso ambiente de trabalho ou
em nossa casa? É justamente disso que vamos tratar nesse artigo
ensinando o leitor a montar um medidor de energia eletromagnética
de baixa frequência ou ELF.
As discussões sobre os reais efeitos dos campos
eletromagnéticos de baixas frequências, como os criados por
equipamentos de uso doméstico, linhas de transmissão e muitos
outros têm levado as autoridades a estabelecer diversas normas para
medir a exposição excessiva das pessoas a esse tipo de radiação.
Se bem que existam normas rigorosas que impedem que
eletrodomésticos, televisores, monitores de vídeo e muitos outros

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

equipamentos produzam níveis de radiação perigosos, como saber se


outros tipos de equipamentos, instalações ou dispositivos não estão
emitindo radiação num nível perigoso.
Uma linha de transmissão, um transformador de distribuição
de energia ou mesmo um equipamento antigo podem gerar campos
capazes de nos afetar, conforme mostra a figura 1.

O grande problema de tudo isso é que esses campos são


invisíveis e não são percebidos pelo nosso corpo. Suas

48
NEWTON C. BRAGA

consequências só se tornam palpáveis quando uma doença mais


grave toma conta de nós. Uma maneira de se saber se num ambiente
existe intensidade de radiação de baixa frequência num nível que
possa ser considerado perigoso é através de um equipamento que
faça sua medida.
Equipamentos profissionais para essa finalidade são caros e
fora do alcance das pessoas comuns que então, não podem saber se
estão ou não expostas a campos perigosos nos locais em que
frequentam. O que propomos nesse artigo é um circuito muito
simples que, ligado a um voltímetro digital comum permite avaliar a
intensidade do campo de baixa frequência num local de forma muito
simples.
O circuito não é preciso, mas serve para dar uma ideia de que
se algo anormal está ocorrendo, podemos nos prevenir e analisar.

Os campos
A rede de energia trabalha com correntes alternadas que, no
nosso país, tem uma frequência de 60 Hz. Isso significa que em
torno de qualquer condutor que conduza essa corrente, teremos um
campo eletromagnético de baixa frequência, cuja intensidade é
proporcional à intensidade dessa corrente, conforme mostra a figura
2.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Qualquer corpo condutor que esteja no caminho dessa onda


eletromagnético ou sujeito a esse campo, terá induzidas correntes da
mesma frequência, conforme mostra a mesma figura. Essas correntes
representam energia absorvida e têm diversos efeitos sobre o
organismo como:
a) Aquecimento
O aquecimento é o mesmo que ocorre num forno de
microondas. A energia absorvida converte-se em calor nas células
dos organismos vivos. Se a potência absorvida for muito alta, a
temperatura sobe o suficiente para cozinhar as células.
No caso dos campos de baixa frequência a que estamos
sujeitos, normalmente as potências absorvidas são insuficientes para
que esse tipo de efeito ocorra de maneira perigosa.

50
NEWTON C. BRAGA

b) Alterações fisiológicas
A captação de um campo faz com que sejam induzidas
correntes e essas correntes podem provocar alterações químicas num
meio condutor como é o organismo vivo. Essas alterações seriam
responsáveis pelo aparecimento de tumores e até mesmo
modificações genéticas.
c) Alterações nervosas
Essas alterações estão associadas ao fato de que íons de
cálcio e potássio, como os responsáveis pela transmissão de
impulsos nas junções nervosas, são ressonantes em frequências
próximas aos 60 Hz da rede de energia. Houve até uma proposta
recente de mudar a frequência da rede no sentido de se minimizar os
perigos que a ressonância desses íons representa para o organismo.

As medidas
A quantidade de energia absorvida é medida em Gauss, sendo
o miligauss o submúltiplo que mais se adapta ao uso nas intensidades
que normalmente encontramos nas aplicações comuns. Se levarmos
em conta que a absorção de uma certa quantidade de energia por um
corpo, como o nosso corpo, induz uma certa tensão, podemos
associar a tensão medida nesse corpo à quantidade de energia em
miligauss.

51
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Esse é justamente o princípio de funcionamento de nosso


medidor de miligauss. A cada 1 V medidos no corpo podemos
associar aproximadamente uma energia de 250 mGauss. Por
exemplo, basta usar a escala do multímetro em milivolts e dividir o
valor por 4 para se obter a energia absorvida, conforme mostra a
figura 3.

Se medirmos, por exemplo, 200 mV teremos uma energia


absorvida de 50 miligauss.
Para os padrões comuns o que é e o que não é perigoso pode
ser dado por uma tabela conforme se segue:

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NEWTON C. BRAGA

Energia Absorvida Nível de Perigo


Até 5 miligauss Nível baixo – inofensivo
5 a 25 miligauss Nível regular – perigo a longo
prazo
25 a 100 miligauss Nível alto – deve ser evitado
Mais de 100 miligauss Muito alto – perigo extremo

Uma montagem
Na figura 4 temos o diagrama do medidor simples de
absorção de energia que propomos nesse artigo.

O que temos é um simples detector de onda completa que


transforma o sinal induzido de corrente alternada de baixa frequência

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

numa tensão que será aplicada a um multímetro digital de alta


impedância. A alta impedância é absolutamente necessária nesse
caso, pois a intensidade do sinal é muito pequena. Multímetros
analógicos não funcionariam nesse circuito devido à sua baixa
impedância de entrada.
O multímetro será utilizado na faixa de 200 mV e
eventualmente se o sinal detectado for maior, deve-se mudar para a
escala de 2 000 mV (2 V). A montagem do circuito é extremamente
simples, podendo ser feita numa pequena ponte de terminais,
conforme mostra a figura 5.

Para usar, basta segurar o eletrodo que pode ser um pedaço de


fio ou uma barrinha de metal, conforme mostra a figura 6l. O valor

54
NEWTON C. BRAGA

da tensão lida dará a quantidade de miligauss que a pessoa estará


absorvendo naquele local.

Experimente se aproximar de equipamentos elétricos em


funcionamento, fios da rede de energia e outros locais para verificar
a variação que ocorre. Fazendo medidas em diversos locais de sua
casa ou local de trabalho você pode verificar quais são os locais mais
“perigosos” onde os níveis de radiação são mais elevados.
Lista de Material
D1, D2 – 1N4148 – diodos de silício de uso geral
C1 – 100 nF – capacitor cerâmico
C2 – 220 pF – capacitor cerâmico
X1 – Multímetro digital
Diversos:
Ponte de terminais, fios, solda, eletrodo, etc.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

56
NEWTON C. BRAGA

O choque elétrico
Eletricidade é uma forma de energia perigosa. As elevadas
tensões que podem ser encontradas na rede de energia e em alguns
eletrodomésticos, assim como as usadas em aparelhos eletrônicos
são capazes de causar morte. Para quem trabalha com eletricidade,
evitar os perigos do choque elétrico é uma questão de extrema
importância. Veja, neste artigo, o que é o choque elétrico e como
podemos evitá-lo.
Obs.: O mesmo assunto pode ser encontrado em outro artigo
do autor (EL005 no site)
Na maioria dos aparelhos domésticos utilizamos a
eletricidade que vem através de uma rede de energia. Esta
eletricidade é entregue sob tensões algo elevadas que representam
um perigo em potencial. Assim, como a maioria dos aparelhos
eletrônicos funciona com a eletricidade da rede de energia, mudando
pouco suas tensões (a não ser em casos em que ela é muito
aumentada, como nos circuitos de MAT - muito alta tensão - dos
televisores e monitores de vídeo), será interessante analisarmos o
problema do choque a partir de sua origem na rede de energia.
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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

As tensões de nossas redes de energia


Para o consumo doméstico podemos encontrar diversos
valores de tensões nas redes brasileiras. Estas dependem do sistema
de fornecimento, se ele é trifásico de 3 ou 4 condutores, ou se ele é
monofásico de 3 condutores, conforme mostra a figura 1.

Essas diferenças trazem algumas confusões e podem levar


equipamentos mais sensíveis a apresentarem problemas de
funcionamento, se indevidamente ajustados. Em geral, os aparelhos
elétricos e eletrônicos indicados como "110 volts" funcionam bem
com tensões na faixa de 110 a 127 volts, enquanto os indicados por
"220 volts" operam bem com tensões de 220 a 254 volts.
Todavia, o usuário precisa estar atento, principalmente se na
sua localidade já houver precedentes de funcionamento indevido.

58
NEWTON C. BRAGA

Desse modo, temos as seguintes tensões nas redes de energia de


nosso país:
a) Sistema trifásico de 3 ou 4 condutores:
115/230 V
120/240 V
127/220 V
220/380 V
220 V
b) Sistema monofásico de 3 condutores:
110/220 V
115/230 V
127/254 V
Para maior facilidade de compreensão de nossos leitores,
quando nos referirmos daqui em diante à rede de 110 volts, o que for
dito será válido para tensões entre 110 e 127 V, e quando nos
referirmos à rede de 220 volts, estaremos considerando as tensões de
220 a 240 V.
Para o caso da tensão de 240 volts, especificamente, será
sempre interessante verificar se os equipamentos alimentados podem
operar com esta tensão.

59
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

O circuito elétrico
Da mesma forma que a energia não pode ser criada nem
destruída, mas somente transformada, as cargas elétricas que
transportam a energia elétrica precisam ser "recicladas".
Isso significa que os aparelhos alimentados pela corrente
elétrica não "consomem" cargas, mas somente a energia que elas
transportam. Não podemos simplesmente ligar um fio a uma
lâmpada e "bombear" cargas indefinidamente para que ela acenda,
"consumindo" essas cargas para produzir luz, conforme ilustra a
figura 2.

Uma vez que as cargas entregam a energia que transportam à


lâmpada, elas precisam continuar com seu movimento e ir para
algum lugar, ou seja, precisam "circular". O que se faz normalmente
é usar dois fios, de modo a permitir que as mesmas cargas possam
ser usadas para transportar a energia, formando assim um circuito
elétrico, observe a figura 3.

60
NEWTON C. BRAGA

Assim, a tensão estabelecida pelo gerador da empresa de


energia "empurra" as cargas estabelecendo a corrente na lâmpada, e
uma vez que as cargas entregam esta energia, fazendo a lâmpada
acender, elas voltam ao gerador de modo que possam ser usadas
novamente, sendo "empurradas" de volta para alimentar a mesma
lâmpada ou outras lâmpadas.
Podemos comparar o gerador da empresa de energia a uma
bomba que "empurra" constantemente água através de um cano para
movimentar algum tipo de dispositivo, mas uma vez que a água fez
"seu trabalho", ela volta à bomba para ser reaproveitada.
Observe que a bomba simplesmente "repõe" a energia na
água, pressionando. O mesmo acontece com o gerador que "repõe" a
energia às cargas que voltam a circular pelos fios. Tudo isso significa
que para que a energia elétrica possa ser usada, deve haver um
percurso completo entre a tomada de energia que está ligada ao
gerador e o aparelho alimentado, conforme indica a figura 4.

61
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Este caminho fechado ou percurso fechado para a corrente é


denominado "circuito elétrico".
Lembre-se: só há corrente elétrica se houver um percurso
fechado ou um circuito fechado para sua circulação. É por esse
motivo que sempre precisamos de DOIS fios para alimentar qualquer
aparelho elétrico: um serve para "enviar" a energia e outro para fazer
o retorno, ou seja, para permitir a movimentação das cargas que já
estejam sem energia. A pressão elétrica e, portanto, a energia
disponível num fio pode ser medida por sua pressão elétrica, ou seja,
por sua tensão.

Terra e neutro
Da mesma forma que só podemos falar na pressão da água
num reservatório em relação a um nível de referência, só podemos
falar na "pressão elétrica" em relação uma tensão de referência.

62
NEWTON C. BRAGA

Assim, conforme exemplificado na figura 5, entre os pontos


A e B do reservatório existe uma diferença de pressão ou potencial
hidráulico menor do que a que existe entre os pontos A e C.

Para a represa, a referência é o seu nível mais baixo ou ainda


pode ser considerado como o nível do mar. Este nível pode ser
considerado o "zero" de pressões e a partir dela estabelecidas todas
as outras pressões. Para a eletricidade, o nível "zero" de tensão, ou
seja, de "potencial elétrico" é um corpo para o qual todas as cargas
podem se escoar quando pressionadas: a terra.
De fato, a terra conduz a eletricidade como um fio de metal, e
por isso pode "absorver" ou "fornecer" qualquer quantidade de
cargas. A terra é então tomada como referência ou zero para o
potencial elétrico. Assim, por definição a terra tem um potencial de
zero volts (0 V).

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

As empresas de energia elétrica, quando geram energia,


precisam de um fio para enviá-la e outro para fazer o retorno, por
isso as tomadas têm dois fios, conforme mostra a figura 6.

O fio de retorno é denominado neutro, pois ele é aproveitado


como um retorno comum para muitos circuitos. Entretanto, de modo
a ter algumas comodidades nas instalações, as empresas de energia
costumam ligar este fio de retorno ou neutro à terra, isso por meio de
barras de metal que são enterradas profundamente no solo, nas
entradas das instalações elétricas e em muitos lugares da própria rede
de distribuição de energia.
Isso faz com que o potencial do polo neutro seja igual ao da
terra, daí este polo ser confundido com a terra, e às vezes chamado
de "terra", como ilustrado na figura 7.

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NEWTON C. BRAGA

Entretanto, pelos motivos que vimos é bom levar em conta


sempre que "terra" e "neutro" são coisas diferentes, se bem que em
alguns instantes coincidam. Tudo isso faz com que no outro polo
possamos ter potenciais em relação à terra ou diferenças de
potenciais diferentes, que podem ser 110 V ou 220 V, conforme o
caso.

O choque elétrico
O corpo humano pode conduzir a corrente elétrica, no
entanto, como nosso sistema nervoso também opera com correntes
elétricas, qualquer corrente que "venha de fora" consiste numa forte
interferência passível de causar sérios problemas ao nosso
organismo.
Dependendo da intensidade da corrente que circular pelo
nosso organismo, diversos efeitos podem ocorrer. Se a corrente for
muito fraca, provavelmente nada ocorrerá, pois o sistema nervoso

65
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

não será estimulado o suficiente para nos comunicar alguma coisa, e


as próprias células de nosso corpo não sofrerão influência alguma.
Entretanto, se a corrente for um pouco mais forte, o sistema
nervoso já poderá ser estimulado e termos com isso algum tipo de
sensação como, por exemplo, um "formigamento". Se a corrente for
mais forte ainda, o estímulo já proporciona a sensação desagradável
do choque e até de dor.
Finalmente, uma corrente muito forte, além de poder
paralisar órgãos importantes como o coração, pode ainda danificar as
células "queimando-as", pois correntes intensas quando encontram
certa resistência à sua passagem, geram calor. A tabela abaixo nos
mostra as diversas faixas de correntes e os efeitos que causam sobre
o organismo humano.
Efeitos da corrente no organismo humano
100 µA a 1 mA - Limiar da sensação
1 mA a 5 mA - formigamento
5 mA a 10 mA - sensação desagradável
10 mA a 20 mA - pânico, sensação muito desagradável
20 mA a 30 mA - paralisia muscular
30 mA a 50 mA - a respiração é afetada
50 mA a 100 mA - dificuldade extrema em respirar, ocorre a
fibrilação ventricular
100 mA a 200 mA - morte

66
NEWTON C. BRAGA

200 mA - além da morte temos sinais de queimaduras severas


Obs: 1 µA (um microampère = 1 milionésimo de ampère)
1 mA (um miliampère = 1 milésimo de ampère)
Uma crença que deve ser examinada com muito cuidado, já
que muitas pessoas a aceitam como definitiva, é a de que usando
sapatos de borracha não se leva choque e, portanto, pode-se mexer à
vontade em instalações elétricas. Nada mais errado! Se a
eletricidade é tão perigosa e, se mesmo usando sapatos de borracha o
choque ainda pode ocorrer, é importante analisarmos o assunto mais
profundamente.
Conforme vimos, uma corrente elétrica só pode circular entre
dois pontos, ou seja, é preciso haver um ponto com potencial mais
alto e um ponto de retorno ou potencial mais baixo.
A terra é um ponto de retorno, porque conforme vimos, as
empresas de energia a usam para ligar o polo neutro. Isso quer dizer
que, se a pessoa estiver isolada da terra (usando um sapato com sola
de borracha ou estando sobre um tapete de borracha ou outro
material isolante), um primeiro percurso para a corrente é eliminado,
veja a figura 8.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Isso significa que, se uma pessoa, nestas condições, tocar


num ponto de uma instalação elétrica que não seja o neutro e,
portanto, houver um potencial alto (110V ou 220V), a corrente não
terá como circular e não haverá choque.
Lembre-se: estando isolado da terra e tocando num único
ponto de uma instalação elétrica não há choque; porém, o fato de
usar sapatos de borracha não o livrará do perigo de choque.
Todavia, se a pessoa tocar ao mesmo tempo num outro ponto
que ofereça percurso para a corrente seja por estar no circuito para
isso, quer seja por estar ligado à terra, o choque ocorrerá,
independentemente da pessoa estar ou não com sapatos de sola de
borracha, conforme mostra a figura 9.

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NEWTON C. BRAGA

É por este motivo que uma norma de segurança no trabalho


com eletricidade consiste em sempre se tocar apenas num ponto do
circuito em que se está trabalhando, caso exista o perigo dele estar
ligado. Nunca segurar dois fios, um em cada mão! Nunca apoiar uma
mão em local em contato com a terra enquanto se trabalha com a
outra!

Eletricistas de "mãos grossas"


Um fato interessante que pode ter sido notado é que as
pessoas podem sentir choques de maneiras diferentes. Quem já não
viu eletricistas calejados que seguram nas pontas de fios para saber
se a tensão é 110V ou 220V?
(Para os menos experientes - que não façam a experiência -
dizem que se sair fumaça por uma orelha é porque a tensão é de 110
volts, e se sair pelas duas, a tensão é 220 volts!)Acontece que não é o
fato de a tensão ser 110 volts ou 220 volts que vai provocar a morte
69
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

pelo choque, mas sim a intensidade da corrente que circula pela


pessoa, conforme a tabela que apresentamos anteriormente.
Assim, 220 volts é mais perigoso do que 110 volts no sentido
de que, para um mesmo circuito (que tenha determinada resistência),
os 220 volts podem forçar a circulação de uma corrente mais intensa!
A intensidade da corrente que vai circular pelo corpo de uma pessoa
dependerá justamente de como essa pessoa pode conduzir a
eletricidade, e existem diferenças de indivíduo para indivíduo.
Diversos são os fatores que vão influir nesta "capacidade"
que a pessoa tem de conduzir a corrente elétrica tais como:
a) espessura da pele
Uma pele mais grossa é mais isolante que uma pele fina. Por
esse motivo, os eletricistas "calejados" possuem a pele dos dedos
bem mais grossas (e sujas!) e quase não sentem choques, pois a
intensidade da corrente que pode passar por ela é muito pequena.
b) umidade
Uma pele molhada se torna excelente condutora de
eletricidade, principalmente se for molhada de suor que, pela
presença de sal, é mais condutora ainda.
Isso torna o choque nas condições de um banho
extremamente perigoso, pois as correntes podem ser dezenas de
vezes maiores do que em condições normais, ou seja, com a pele
seca

70
NEWTON C. BRAGA

c) presença de cortes
Um corte coloca a parte "molhada" de nosso corpo, que é
formada pelo fluido sanguíneo e outros fluidos internos em contato
direto com a eletricidade. Esta parte é um excelente condutor de
corrente, aumentando em muito a sua intensidade em caso de
choque. Ao tomar banho num chuveiro com um aterramento
deficiente, insuficiente para causar choque em condições normais, a
pessoa que possui um pequeno ferimento vai sentir choque
justamente nele.
d) exposição à partes sensíveis
Um choque nos dedos, onde a pele é mais grossa, certamente
será devido a uma corrente de muito menor intensidade do que se ele
ocorrer numa parte mais sensível com pele mais fina ou úmida.
Segurar um fio na boca pode ser terrivelmente perigoso para um
técnico desavisado.
Existem normas de segurança para trabalhar em instalações
elétricas com o mínimo de perigo de choques, mas o melhor mesmo
é DESLIGAR TUDO antes de mexer em qualquer ponto da
instalação!
Obs.: Recomendamos consultar a norma NBR 5410 que não
estava em vigor quando o artigo foi escrito em 2000.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

72
NEWTON C. BRAGA

O parafuso e o macaco
Existem dispositivos mecânicos muito simples que, no
entanto, se mal utilizados ou mal calculados podem levar a
resultados inesperados bastante desagradáveis. Até mesmo um
parafuso pode causar problemas se não soubermos exatamente como
ele funciona. Sim, um simples parafuso segue leis físicas muito bem
estabelecidas que, se não forem observadas, podem trazer problemas.
Veja neste artigo como calcular um parafuso.
O parafuso é uma “máquina simples” que encontra uma
infinidade de usos. Ele não serve apenas para prender peças como
muitos podem pensar, mas pode ser usado em configurações que
transmitem força e movimento, conforme veremos a seguir.
Como máquina simples, o parafuso permite um ganho de
força ou “vantagem mecânica” e por isso pode ser usado em
aplicações que vão muito além do que manter peças unidas.
O parafuso pode ser considerado uma modificação do plano
inclinado. Se cortarmos uma peça de papel em forma de triângulo,
que representa um plano inclinado, e a enrolarmos num lápis,

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

conforme mostra a figura 1, teremos uma idéia muito clara de como


funciona e se obtém um parafuso.

A distância entre os pontos em que cada volta do parafuso


passa determina o “passo” do parafuso, ou se adotarmos o termo em
inglês muito comum, o “pitch” do parafuso.
Girando o lápis em que o papel foi enrolado e preso, vemos
que à medida que isso ocorre temos um movimento das espiras
enroladas numa determinada direção, conforme mostra a figura 2.

74
NEWTON C. BRAGA

Observe que podemos associar esse movimento que as


espiras fazem pode ser associado ao movimento de rotação do
parafuso. Isso nos permite usar o parafuso para converter um
movimento rotativo num movimento linear! Uma outra aplicação
importante desta máquina simples.
O passo, que é determinado pela inclinação do plano que
forma o parafuso, juntamente com seu diâmetro determina a
vantagem mecânica que podemos obter além de outras
características importantes. Assim, conforme mostra a figura 3 para
obtermos um parafuso, basta gravar num tubo de metal sólido os
sulcos que tenham uma determinada inclinação que determine seu
passo.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Evidentemente, a distância entre os sulcos e, portanto, o


passo deve ser sempre constante.

Cálculos
Uma ideia de como podemos fazer alguns cálculos
interessantes a partir da ideia do parafuso é a que nos dá o macaco,
mostrado na figura 4.

O que temos neste caso é a união de uma alavanca a um


parafuso de modo a multiplicarmos a força que faz a alavanca se
movimentar num percurso circular de modo que ela atue linearmente
levantando um peso.
Se considerarmos que o braço da alavanca usada no macaco
tem um comprimento R, podemos afirmar que no percurso de uma

76
NEWTON C. BRAGA

volta a sua extremidade, onde a força é aplicada percorre uma


distância dada por:
D=2xπxR
Ao mesmo tempo, em uma volta o parafuso “avança” a
distância correspondente a um passo. Se considerarmos on tamanho
do passo “d”, a vantagem mecânica, ou seja, “por quanto a força F
fica multiplicada” será dado por:
V.M. = 2 x π x R/ d
Um exemplo prático nos mostra como um parafuso pode
“aumentar” enormemente a força:
Suponhamos um macaco em que o comprimento do braço da
alavanca seja de 50 cm e que o passo do parafuso seja de 0,5 cm.
Essa alavanca multiplicará a força aplicada por:
V.M. = 2 x 3,14 x 50/0,5
V.M. = 6,28 x 100
V.M. = 628
Precisamos de uma força de apenas 1 N para levantar um
“peso” de 628 N.
Temos ainda a vantagem de poder transformar um
movimento giratório num movimento linear.
Um exemplo prático de dispositivo simples que pode ser
elaborado segundo o princípio do parafuso é o atuador linear
mostrado na figura 5.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Usando uma caixinha de redução e um parafuso comprido


(pelo menos 4” x 1/8”) e uma porca, podemos montar um dispositivo
simples capaz de movimentar peças linearmente com grande força.
Força pode ser calculada a partir do torque aplicado parafuso e o
tamanho de seu passo.
Uma opção para termos um atuador mais complexo seria
colocar duas chaves de fim de curso nas extremidades do parafuso,
conforme mostra a figura 6, de modo a desligar o motor quando a
porta chegasse a esses pontos, não forçando assim a estrutura do
atuador.

78
NEWTON C. BRAGA

Uma outra aplicação prática é a prensa, como a mostrada na


figura 7 e que pode produzir enormes forças, graças à vantagem
mecânica do parafuso.

Figura 7 – Prensa simples usada em pequenas atividades


gráficas.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Conclusão
Veja que é importante saber como fazer esses simples
cálculos com parafusos pois eles podem ajudar a elaborar
dispositivos de grande utilidade nos projetos de mecatrônica.
Muito mais do que simplesmente segurar partes de modo
fixo, o parafuso é uma máquina simples que pode ser usada de forma
dinâmica transmitindo força e movimento!

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NEWTON C. BRAGA

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

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NEWTON C. BRAGA

Todos os Tipos de Motores


Em diversos artigos focalizamos o princípio de
funcionamento de motores comumente usados em aplicações
mecatrônicas, tais como motores, EC, motores de passo, motores
universais etc. No entanto, nenhuma vez fizemos isso num único
artigo, possibilitando assim ao leitor entender como funciona o
“universo dos motores” e, portanto, saber como escolher o melhor
motor para uma aplicação. Neste artigo, baseados em documentação
de diversos fabricantes, focalizamos os principais tipos de motores,
indicando seu funcionamento, e mostrando as suas principais
características e aplicações. Muito do material que utilizamos foi
obtido de documentação da Renesas.
Se bem que a tecnologia mais simples de controle de um
motor elétrico envolta apenas o uso de interruptores e chaves,
eventualmente relés e circuitos simples, a disponibilidade de
microcontroladores para as aplicações mais elaboradas, leva à
necessidade de se analisar muito bem que tipo de motor usar numa
aplicação, antes de se fazer sua escolha.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Assim, o projetista deve antes analisar o seu projeto,


determinando que tipo de ação deseja de um motor, ou seja, como a
energia obtida através de movimento vai ser utilizada, para fazer a
escolha do motor que melhor atenda às suas necessidades.
Antigamente contávamos apenas com motores simples de
corrente contínua com escova e motor de corrente alternada
universais e monofásicos, nas aplicações domésticas e de automação.
Hoje temos muito mais tipos e é desses tipos que trataremos neste
artigo.

Motor DC com escova


Os motores de corrente contínua ou DC com escovas são os
mais simples, normalmente utilizados em aplicações de baixas
potências como brinquedos, barbeadores elétricos, pequenos
ventiladores, aeromodelos, etc. Na figura 1 temos o desenho em forte
de um desses motores, a partir de onda analisaremos o seu princípio
de funcionamento.

Figura 1 – Motor DC
84
NEWTON C. BRAGA

Nesses motores temos um estator formado por um ou mais


ímãs permanentes que criam um forte campo magnético. O rotor é
formado por enrolamentos que são ligados a uma fonte de tensão
através de escovas. A polaridade do campo magnético criado pelas
bobinas é oposta a do estator criando uma forma que faz o rotor
girar.
Quando aplicamos uma tensão no motor, uma corrente circula
pelas bobinas enroladas na parte móvel (rotor) do motor, criando um
campo magnético. O campo dessa bobinas interage com o campo
criado pelos ímãs permanentes que existem em torno do motor (em
alguns tipos existe um segundo conjunto de bobinas para criar esse
campo), aparecendo então uma força que tende a girar o rotor.
O movimento do rotor é de meia volta até que ele encontre
sua posição de equilíbrio. No entanto, no final dessa meia volta,
entram em ação comutadores (escovas), que são pequenos carvões
ou lâminas que fazem contacto com o rotor para levar a corrente às
bobinas. Esses comutadores invertem a corrente, de tal forma que
agora as forças tendem a continuar a movimentar o rotor de modo
que ele dê mais meia volta. No final da meia volta seguinte acontece
o mesmo, os comutadores invertem a corrente e assim ele continua
girando enquanto houver alimentação. Na figura 2 mostramos a
sequência do movimento.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 2 – Sequência do movimento conforme polaridade do


rotor

Os pequenos motores que encontramos em muitas aplicações


são especificados pela tensão e pela corrente que exigem.

Motores de passo
Existem três tipos básicos de motores de passo, que são:
* Relutância variável
* Ímã permanente
* Híbrido
Analisemos as principais características de cada um.

86
NEWTON C. BRAGA

a) Relutância variável:
Na figura 3 temos uma vista em corte da construção de um
motor de passo de relutância variável.

Figura 3 – Construção de um motor de passo de relutância variável

Conforme podemos ver, é a ação das bobinas criando campos


que posiciona os dentes de material ferromagnético acoplados a um
eixo móvel. O rotor múltipolo deste motor é feito de ferro macio,
enquanto o estator é multilaminado. O rotor deste tipo possui uma
inércia pequena.
b) Imã permanente:
Na figura 4 temos uma vista em corte de um motor deste tipo.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 4 –Motor de passo de imã permanente

Este motor gira quando o campo magnético das bobinas


energizadas interage com um conjunto de imãs permanentes.
O rotor é energizado radialmente.
Este tipo de motor é indicado para aplicações onde não se
exige precisão, e o custo seja importante já que tem um preço baixo.
Outra característica é sua operação com ângulos de passo grandes,
entre 45 e 90 graus.
c) Híbridos
Estes motores têm a construção do tipo ilustrado na figura 5.

Figura 5 – Motor de passo híbrido


88
NEWTON C. BRAGA

O rotor é energizado axialmente. Tanto o rotor como o estator


são do tipo multipolares. A principal vantagem deste motor é a sua
precisão com passos de 1,8 graus nos tipos mais comuns, e chegando
mesmo a 0,36 graus nos tipos de maior precisão.

Modos de excitação
Os motores de passo são formados por 4 bobinas que devem
ser excitadas numa certa ordem, ou ainda de acordo com o
posicionamento desejado. A configuração típica destas bobinas é
apresentada na figura 6 onde também vemos os modos de ligação
mais comuns, que são o unipolar e o bipolar.

Figura 6 – As bobinas são indicadas por A, B, C e D

A excitação de fase destas bobinas depende da aplicação e


pode ser feita das seguintes maneiras:

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

A) Uma fase ou onda (wave)


Nesta excitação cada bobina é energizada separadamente em
sequência de acordo com o movimento de posicionamento do rotor,
conforme mostra a figura 7.

Figura 7 – Excitação por sequência de fase

B) Duas fases
Nesta modalidade de operação, exemplificada na figura 8, as
bobinas são energizadas duas a duas de modo que o rotor possa parar
em posições intermediárias dadas pela resultante das forças de
atração entre as bobinas.

Figura 8 – Excitação por duas fases

90
NEWTON C. BRAGA

B) Uma-Duas fases
Nesta modalidade de funcionamento, uma e duas fases são
excitadas alternadamente levando o rotor ao movimento ou posição
desejada, veja a figura 9.

Figura 9 – Excitação uma-duas fases

C) Duas fases ou micro-passo


Nesta modalidade temos a aplicação de níveis de tensão
diferenciados na bobina, o que permite o posicionamento do rotor
em pontos intermediários aos pólos das bobinas energizadas, veja a
figura 10.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 10 – Micro-passo

O escalonamento das tensões aplicadas às bobinas vai


determinar quantos pontos intermediários entre dois passos (90
graus) podem ser obtidos.

Motores DC sem escovas ou brushless


Os motores DC sem escovas pertencem à família dos motores
sincronizados. Também são chamados de motores de ímã
permanente devido a estrutura do rotor, mostrada na figura 11.

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NEWTON C. BRAGA

Figura 11 – Estrutura de um motorDC sem escovas

Veja que esses motores não operam propriamente a partir de


uma fonte DC pura. Seu nome vem do fato deles operarem segundo
o mesmo princípio dos motores DC comuns. Na topologia típica
esses motores são acionados por sinais de controle aplicados aos
enrolamentos. Na figura 12 mostramos uma topologia típica em que
transistores de potência, IGBTs ou outros dispositivos comutadores
são usados.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 12 – Acionamento por IGBTs

As vantagens desse tipo de motor são as seguintes:


● Sem escovas não existe comutação capaz de gerar faíscas
● O torque se mantém em toda faixa de rotações
● Podem ser alcançadas altas velocidades, até 70 000 rpm.
As desvantagens:
● São motores caros
● A comutação produz ripples ou ondulações no torque
Os motores DC sem escovas podem ser encontrados em uma
grande variedade de aplicações tanto industriais como de consumo
(máquinas de lavar, opor exemplo) numa faixa de potências que vai
até 20 kW.

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NEWTON C. BRAGA

Os motores sem escovas admitem diversos tipos de controles


como o Trapezoidal, Senoidal, Vetorial, sem Sensor Trapezoidal e
Senoidal.

Motores universais
Os motores universais são semelhantes aos motores DC com
escovas, no entanto, no estator, em lugar de imãs, são utilizados
enrolamentos para criar os campos magnéticos. O princípio de
funcionamento é exatamente o mesmo. Os campos magnéticos
criados pelos enrolamentos do estator interagem com os campos
magnéticos criados pelo rotor, criando as forças responsáveis pelo
movimento.
Para os motores universais temos basicamente dois tipos: os
motores tipo série em que os enrolamentos do estator são ligados em
série e os motores do tipo paralelo, em que os enrolamentos do
95
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

estator são ligados em paralelo. Na figura 13 temos uma vista em


corte deste motor para se visualizar seu princípio de funcionamento.

Figura 13 – O motor universal

Estes motores são utilizados em eletrodomésticos,


ferramentas elétricas, ventiladores, processadores de alimentos, etc.
Seu controle normalmente é feito pelo uso de triacs, já que são
basicamente motores de corrente alternada, mas também podem ser
utilizados controles PWM.

Motor de indução ou de uma fase


Os motores de indução, entretanto, não usam escovas e por
esse motivo podem consistir numa solução bastante interessante para
alguns projetos. É claro que eles, como qualquer outro tipo de motor,
têm suas vantagens e desvantagens que ficarão claras no decorrer
deste artigo.

96
NEWTON C. BRAGA

Como funciona
A não presença de escovas comutadoras e apenas uma bobina
fixa torna bastante simples entender o princípio de funcionamento do
motor de indução. Um motor típico do tipo de indução possui um
rotor em curto-circuito com defasamento indutivo de campo e possui
uma estrutura básica conforme a mostrada na figura 14.

Figura 14 – Motor de indução

Encontramos esses motores no acionamento de toca-discos


antigos, de ventiladores, ventoinhas de chuveiros pressurizados,
bombas d’água de aquários e muitos outros aparelhos
eletrodomésticos e mesmo em alguns equipamentos eletrônicos que

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

possuam um sistema de ventilação ligado à rede de energia, já que os


motores de indução operam exclusivamente com corrente alternada.
Temos então um eletroímã em forma de “U” formado por
diversas placas de ferro doce, como as usadas nos transformadores
comuns. A finalidade de se usar um núcleo laminado é evitar as
correntes de turbilhão induzidas no condutor sólido que causariam
seu aquecimento excessivo, conforme mostra a figura 15.

Figura 15 – Correntes de turbilhão

Entre os pólos do ímã, denominado estator, é colocado um


rotor cilíndrico que também é feito de chapas e tem a finalidade de
fechar o percurso das linhas do campo magnético criado pelo
eletroímã em forma de “U”. A eficiência deste tipo de motor
depende da fenda ou espaço que existe entre o eletroímã e o rotor.
Quanto menor o espaço entre os dois, menor será a corrente
necessária para a magnetização do conjunto.

98
NEWTON C. BRAGA

Observamos nesta construção que em pontos opostos das


peças que denominamos estator que formam o eletroímã duas fendas
nas quais são colocados dois anéis de cobre, conforme mostra a
figura 16.

Figura 16 – Anéis de curto-circuito

A finalidade destes anéis é formar uma espira de


“curto-circuito” e sua ação no sistema é justamente a de retardar a
formação do campo magnético em relação ao restante do eletroímã.
Conforme mostra a figura 17, se representarmos o campo na bobina
e o campo na espira através de um gráfico, observamos que existe
uma defasagem entre os dois com o campo na espira se atrasando em
relação ao primeiro.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 17 – Campos num motor de indução

O retardo obtido com esta configuração é de 1 ⁄ 4 (um quarto)


do ciclo da alimentação alternada. O efeito deste retardo é como se
houvesse na peça polar um campo magnético rotativo entre os pólos
com uma velocidade que corresponde justamente ao tempo de um
ciclo por volta. Isso significa que o campo entre as peças polares dá
60 voltas por segundo, já que nossa rede de energia é de 60 Hz, ou 3
600 voltas por minuto, que será traduzida em 3 600 rpm para o
motor (rotações por minuto).
Para que o rotor possa responder à esse campo rotativo ele
precisa ter uma construção especial que é mostrada na figura 18.

100
NEWTON C. BRAGA

Figura 18 – Construção do rotor

Esse rotor possui sulcos ou canaletas no sentido axial nos


quais são embutidos fios de cobre todos tendo suas extremidades
interligadas de modo a formar espiras em curto. Ao cortar os
condutores, o campo magnético rotativo induz uma corrente. Como
esses condutores estão em curto, a corrente induzida é muito alta
criando um campo magnético no próprio rotor.
Esse campo interage com o campo da peça polar ou estator,
aparecendo uma força de atração tal que um tende a seguir o outro.
Como os condutores estão fixos, o rotor vai girar no mesmo sentido
do campo magnético criado pelo estator. Na prática o rotor não
consegue acompanhar o campo exatamente na mesma velocidade,
pois se isso acontece a indução cessaria, de modo que o motor gira
um pouco mais devagar que os 3 600 rpm teóricos.

101
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

A velocidade desses motores é da ordem de 95% a 98% da


velocidade teórica, o que corresponde a algo entre 3400 e 3560 rpm.
Uma variação do motor que descrevemos é o motor de indução de 4
polos mostrado na figura 19.

Figura 19 – Motor de indução de 4 polos

O princípio de funcionamento desse motor é o mesmo, mas o


campo vai dar uma volta completa a cada dois ciclos da corrente
alternada. Assim, a velocidade teórica máxima desse tipo de motor é
de 1800 rpm.
Podemos também encontrar tipos com maior número de
pólos que terão uma velocidade que será dada por:
rpm = 3600/n
Onde n é o número de bobinas.

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NEWTON C. BRAGA

Um motor de 4 bobinas ou 8 pólos girará a 900 rpm (valor


teórico). Observe também que, na rede de 50 Hz, esses motores
giram mais devagar.

Tipos
A NEMA (National Electrical Manufacturers Association)
classifica os motores de indução em 4 categorias conforme o torque,
corrente e outras características importantes para os projetos.
Essas categorias são designadas pelas letras A, B, C e D.
Analisemos as características dos motores das diversas categorias:

Tipo A
Tem um torque normal na partida (150 a 170% da potência
nominal) e uma corrente de partida relativamente alta. Pode
manusear cargas mais pesadas. Na indústria são usados em máquinas
injetoras.

Tipo B
É o tipo mais comum. Seu torque de partida é semelhante ao
do tipo A, mas tem uma corrente inicial menor. A eficiência e o fator
de carga são relativamente altos. Aplicações típicas incluem sistemas
de ventilação, ferramentas, bombas, etc.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Tipo C
Tem um torque de partida elevado (maior do que o dos tipos
anteriores, ou aproximadamente 200% da potência nominal) sendo
por isso indicados para o acionamento de cargas maiores.

Tipo D
Tem o maior de todos os torques de partida e a velocidade
final é menor. Trata-se do tipo ideal para aplicações em que ocorram
grandes variações de velocidade.

Motor sincronizado AC de três fases


Estes motores são semelhantes aos motores de indução, mas
nele o rotor é formado por imãs permanentes e o estator possui
enrolamentos de fase, conforme mostra a figura 20.

Figura 20 – Motor sincronizado de 3 fases

Os enrolamentos do estator são energizados de modo


sincronizado criando um campo rotativo que interage com os campos
104
NEWTON C. BRAGA

dos ímãs permanentes fazendo o rotor girar. Como a excitação é feita


por correntes senoidais, o funcionamento deste tipo de motor é mais
suave do que os motores que operam com controles do tipo PWM.

Motor de relutância comutada ou de


relutância variável
Neste motor temos bobinas tanto no rotor como no estator.
Estas bobinas criam os campos magnéticos a partir de uma corrente
DC fazendo com que as bobinas tendam a se alinhar. A sequência de
pulsos de energização das bobinas cria as forças que fazem com que
o rotor gire. Este motor é indicado para aplicações de torque elevado
e alta velocidade como máquinas de lavar e outros eletrodomésticos.
Na figura 21 temos a vista em corte deste tipo de motor, mostrando a
disposição do estator e rotor.

Figura 21 – Motor de relutância variável

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Conclusão
Variações desses motores podem ser encontradas,
dependendo da aplicação.
A escolha de um motor correto para uma aplicação é
importante de modo a se obter melhor desempenho e maior
economia de energia.

106
NEWTON C. BRAGA

Controles de Movimento
Este artigo é parte do meu livro Mechatronics, Robotics and
Artificial Intelligence (esgotado) (*). Aqui eu forneço várias
sugestões sobre o uso de controles de movimento, também com base
em artigos que publiquei em outras mídias, como revistas em muitos
países.
(*) Uma nova edição em português, em espanhol e em inglês
está sendo preparada com a finalidade de atender as modificações
impostas no ensino de tecnologia no nível médio pelo BNCC (Base
Comum Curricular) de 2018 e pelo STEM do programa americano
semelhante aprovado em 2015 e analisado desde 2009..

Teoria
A maneira mais simples de adicionar movimento a robôs,
dispositivos mecatrônicos e outros equipamentos de automação é
usar um motor DC. Eles são baratos, pequenos, eficientes e podem
ser encontrados em uma ampla variedade de tamanhos, formas e
classificações de potência.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Um motor convencional de corrente contínua é formado por


um arranjo de bobinas e ímãs que cria movimento para a energia
elétrica. A figura 1 mostra a construção típica de um pequeno motor
dc.

Figura 1 - Pequeno motor de corrente contínua usando ímãs


permanentes

Podemos usar esses motores para mover qualquer mecanismo


diretamente ou, adicionando engrenagens ou polias, para reduzir a
velocidade ou aumentar a potência. As propriedades básicas do
motor DC que devem ser consideradas ao usá-las em projetos de
robótica ou mecatrônica são discutidas abaixo.

108
NEWTON C. BRAGA

Sentido de rotação
Quando alimentado por uma fonte de alimentação CC
(bateria ou outra fonte), o sentido de rotação do eixo depende da
direção da corrente que passa pelo motor. Invertendo a corrente,
podemos inverter a direção do movimento de qualquer dispositivo
acionado por um motor dc.

Velocidade
A velocidade de um motor de corrente contínua, expressa em
rotações por minuto (rpm), depende da corrente e da carga. Devemos
considerar duas situações ao usar um motor DC. No primeiro caso, o
motor opera sem carga (ou com carga constante). A velocidade
aumentará até um máximo que depende da tensão aplicada.
No segundo caso, o motor opera com uma carga variável (ou
seja, o motor deve alimentar algum tipo de mecanismo com forças
que dependem do momento ou da tarefa).
Neste caso, a velocidade depende da carga: maior potência
necessária = menor velocidade.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Características
Ao procurar um motor de corrente contínua para uma
aplicação específica, o projetista deve determinar suas
características. A seguir, considerações importantes.

Tensão
Motores pequenos de corrente contínua podem ser obtidos
com classificações de tensão em uma faixa de 1,5 a 48 V.
A tensão especificada indica a tensão nominal, que é a tensão
aplicada que a faz funcionar normalmente (ou seja, produzindo
energia máxima e consumindo corrente nominal). Na prática, a
tensão nominal é importante, pois indica a tensão máxima
recomendada que pode ser aplicada ao motor.

Corrente
O fluxo de corrente através de um motor, quando alimentado
com a tensão nominal, depende da carga. A corrente aumenta com
um aumento na carga. É importante evitar que um motor funcione
com cargas excessivas que possam paralisá-lo. Na condição parada,
o motor torna-se um curto-circuito para a corrente, e toda a potência
aplicada é convertida em calor. O motor pode queimar rapidamente

110
NEWTON C. BRAGA

nesta condição. Motores de corrente contínua possuem correntes de


operação na faixa de 50 mA a mais de 2 A.

Potência
A potência é dada pelo produto de tensão × corrente. Em
projetos envolvendo robôs e mecatrônica, é normal avaliar a
quantidade de força que um motor pode gerar em termos de torque
(poder de torção). Como mostrado na Figura 2, o torque é a força
liberada pelo eixo e depende não apenas das características elétricas
e mecânicas do motor, mas também do diâmetro do eixo. Essa
especificação é importante, pois a força que um mecanismo
alimentado por um motor de CC pode fornecer depende não apenas
do próprio motor, mas também do mecanismo acoplado a ele.
Portanto, se as caixas de engrenagens forem adicionadas, conforme
mostrado na Figura 3, a velocidade pode ser diminuída e a potência
aumentada pelo mesmo fator.

Figura 2 - O torque é constante para um motor.

111
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 3 - Reduzindo a velocidade e aumentando a força com as


engrenagens.

Por exemplo, se uma caixa de engrenagens emprega uma


engrenagem de redução que é dez vezes o diâmetro da engrenagem
de acionamento do motor, a velocidade é reduzida dez vezes, mas a
potência também é aumentada em um fator de dez.
Em robótica e mecatrônica, o uso de caixas de câmbio de
todos os tamanhos e relações de redução é comumente usado para
combinar as características de um motor selecionado para uma tarefa
desejada. Portanto, ao usar um motor, é importante conhecer a
classificação de torque porque, partindo dessa figura e conhecendo a
taxa de redução do mecanismo a ser movido, podemos facilmente
encontrar a potência final que pode ser gerada por um sistema.
112
NEWTON C. BRAGA

Velocidade
É normal especificar a velocidade de um motor CC em
condições abertas ou sem carga. A velocidade pode estar na faixa de
500 e 10.000 rpm de acordo com o tipo, tamanho e outras
características de um motor comum de corrente contínua. Lembre-se
que esta velocidade será reduzida por um fator considerável quando
o motor estiver operando sob condições carregadas.

Sugestões para projetos


A maneira mais simples de adicionar controle direcional para
um robô é usando dois motores. Se os dois motores estiverem
ligados, o robô vai em linha reta. Se um motor estiver ligado e o
outro desligado, o robô gira na direção do motor que está desligado.
O mesmo tipo de controle pode ser fornecido se os motores
operarem em velocidades diferentes.
Sistemas mecânicos simples, como mostrado na Figura 4,
também podem ser montados com um único motor CC acoplado a
uma caixa de engrenagens. O movimento para cima e para baixo e a
velocidade podem ser controlados diretamente pelo motor.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 4 - usando chaves para controlar motores

Partindo desses conceitos, alguns projetos podem ser


sugeridos:
▪ Projete um circuito de controle para um robô pequeno que
possa andar em todas as direções, usando interruptores simples para
essa tarefa.
▪ Projetar um elevador experimental controlado por
computadores.
▪ Projetar um guindaste usando pequenos motores DC e
caixas de engrenagens.

114
NEWTON C. BRAGA

Motores de Passo
Este artigo foi originalmente publicado em Robótica,
Mecatrônica e Inteligência Artificial - Robotics, Mechatronics and
Artificial Intelligence (esgotado) nos Estados Unidos (*). Nele
descrevemos os aspectos básicos dos motores de passo. Diversos
circuitos de controle e aplicações, mesmo utilizados como
blindagens, seguem essa sequência com aplicações específicas. Nós
sugerimos visitar a Mouser Electronics para motores e circuitos de
controle.
(*) Uma nova edição em português, em espanhol e em inglês
está sendo preparada com a finalidade de atender as modificações
impostas no ensino de tecnologia no nível médio pelo BNCC (Base
Comum Curricular) de 2018 e pelo STEM do programa americano
semelhante aprovado em 2015 e analisado desde 2009.
Motores de passo podem ser usados ​para locomoção,
movimento, posicionamento e muitas outras funções nas quais
precisamos de um controle preciso da posição de um eixo, alavanca
ou uma parte móvel de um dispositivo mecatrônico. O objetivo deste
capítulo é fornecer ao leitor informações básicas sobre o uso de
115
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

motores de passo em projetos de mecatrônica e robótica e descrever


blocos e circuitos práticos.

Teoria
O princípio básico de operação de um motor de passo não é
muito diferente do de um motor de CC ou CA: ele é formado por
bobinas e ímãs com um eixo móvel que se move quando a
alimentação é aplicada. A diferença está no modo como o eixo é
movido; eles movem o rotor aplicando potência a diferentes bobinas
em uma sequência predeterminada (escalonada). Os motores de
passo ou steppers são projetados para requisitos de controle preciso e
não apenas girarão, mas também percorrerão qualquer número de
etapas por segundo até a velocidade máxima. Outro recurso do motor
de passo que não pode ser encontrado nos motores comuns é que os
motores de passo podem manter sua posição e resistir ao giro. A
figura 1 mostra o símbolo adotado para representar um motor de
passo e a aparência dos tipos mais comuns.
O projetista mecatrônico não precisa comprar motores de
passo caros para os projetos, uma vez que muitos deles podem ser
encontrados em boas condições operacionais em unidades de
disquete de computador antigas, impressoras e muitos outros
dispositivos fora de uso.

116
NEWTON C. BRAGA

Figura 1 - Motores de passo.

Como funciona
Um motor de passo converte informação digital em
movimento mecânico proporcional. Eles são diferentes dos motores
de corrente contínua, que são controlados mudando a corrente que
flui através deles. Motores de passo são digitais.
Os motores de passo podem ser encontrados em três tipos
básicos: ímã permanente, relutância variável e híbrido. A maneira
como os enrolamentos são organizados dentro de um motor
determina como ele funciona. O tipo mais comum é o motor de
passo de quatro fases, mas também existem tipos de duas fases e seis
fases. A figura 2 mostra a versão mais popular: o motor de passo de
quatro fases.

117
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Figura 2 - Motor de passo de quatro fases.

Dentro deste motor, encontramos quatro enrolamentos e cada


par de enrolamentos tem um GND comum, como mostrado na
Figura 3.

Figura 3 - Um motor de passo de quatro fases tem seis fios.

118
NEWTON C. BRAGA

Em operação normal, os fios comuns são conectados ao fio


positivo da fonte de alimentação, e os outros fios são conectados ao
terra por um curto período de tempo - pelo tempo que você quiser
energizar o enrolamento correspondente. Cada vez que o motor é
energizado, o eixo do motor avança por uma fração de revolução.
Para que o eixo gire corretamente, o enrolamento deve ser
energizado por uma sequência de pulsos ou ondas.
Por exemplo, se você energizar os enrolamentos A, B, C e D
nesta sequência, o eixo girará no sentido horário. Por outro lado, se
você inverter a sequência, o motor gira no sentido anti-horário. A
Figura 4 mostra a sequência normalmente usada para energizar os
motores de passo de quatro fases.

Figura 4 - Sequência de pulsos aplicada a um motor de quatro fases.

119
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Outra maneira de energizar um motor de passo é aplicando


uma sequência on-on / off-off. Essa sequência é mostrada na Figura
5. Ela tem a vantagem de aumentar a potência de acionamento do
motor e fornecer uma rotação mais precisa do eixo.

Figura 5 - Sequência On-Off

Outro tipo comum de motor de passo é o de duas fases,


mostrado na Figura 6. Este motor de passo é formado por duas
bobinas, como mostrado na figura, e pode ser facilmente identificado
por seus quatro fios. Este tipo de motor é energizado usando uma
sequência diferente, em que a direção da corrente através de cada fio
é considerada, como mostrado na Figura 7. Em alguns tipos, a
conexão –V pode ser substituída por terra.

120
NEWTON C. BRAGA

Figura 6 - Motor de passo bifásico.

Figura 7 - Sequência de fases para um motor bifásico.

121
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Existem também motores de passo com mais fases, por


exemplo, o motor de passo de seis fases, mas eles não são muito
comuns. Motores com mais fases são mais precisos, mas também
mais caros.
Para nossos propósitos, abrangendo muitas aplicações em
projetos que envolvem robótica e mecatrônica, o motor de passo de
quatro fases é recomendado, e a maioria dos projetos neste site foi
projetada para esse tipo de motor.

Como usar motores de passo


Como vimos, os enrolamentos de um motor de passo devem
ser energizados adequadamente para conseguir uma operação
correta. Isso significa que, ao usar um motor de passo, você precisa
conhecer não apenas as especificações elétricas do dispositivo, mas
também as especificações mecânicas. As especificações mais
importantes são descritas abaixo.

Tensão e corrente
Os motores de passo são geralmente classificados para 5, 6
ou 12 V. Ao contrário dos motores de corrente contínua, não é
recomendável ultrapassar os enrolamentos de um motor de passo.
Sobretensões de mais de 30% da tensão nominal podem queimar os

122
NEWTON C. BRAGA

enrolamentos. As classificações atuais dependem da aplicação


(tamanho e torque). Tipos comuns podem trabalhar com correntes na
faixa de 50 mA a mais de 1 A. Quanto mais alta a corrente e a
tensão, maior o torque.
Ao projetar uma fonte de alimentação para uma aplicação
usando um motor de passo, é importante considerar as correntes que
são dadas por enrolamento. Portanto, a fonte de alimentação deve ser
capaz de fornecer pelo menos duas vezes a corrente por enrolamento,
ou oito vezes a corrente por enrolamento em um tipo de quatro fases.

Sequência
Embora a maioria dos motores de passo use uma das duas
sequências mostradas nos artigos sobre teoria do motor de passo, é
possível encontrar unidades que operam de maneira diferente. Ao
usar essas unidades, é importante determinar a sequência de pulso
operacional correta.

Ângulo do passo
Quando um pulso da sequência é aplicado ao motor, ele
avança um passo. Isso significa que o eixo se move um número
especificado de graus, referido como ângulo de passo. O ângulo
pode variar entre os tipos de motor no intervalo entre 0,8 e 90 °.

123
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Em um motor de passo de 90 °, quatro pulsos movem o eixo


uma volta completa, como mostrado na Figura 8. No entanto, é mais
comum encontrar motores de passo com ângulos de de passo de 1,8
°. Isso significa que você precisa aplicar 200 pulsos no circuito de
controle para fazer o motor completar uma volta.

Figura 8 - Motor de passo de 90 °

Taxa de pulso
A taxa de pulso determina a velocidade do motor. Se você
estiver usando um motor de ângulo de degrau de 1,8 ° e aplicar 200
pulsos por segundo, este motor funcionará a 1 rotação por segundo
ou 60 rotações por minuto (60 rpm).
Dado o ângulo da etapa, é fácil calcular o rpm. Os motores de
passo não são destinados a aplicações de alta velocidade. A

124
NEWTON C. BRAGA

velocidade máxima recomendada está na faixa de 2 ou 3 voltas por


segundo, ou na faixa de 120 a 180 rpm. É importante lembrar que,
neste tipo de motor, o torque cai à medida que a velocidade aumenta.

Torque
O torque produzido por um motor de passo não é alto. Um
motor de passo típico pode fornecer apenas alguns gramas por
centímetro de torque em operação. Isso significa que, em aplicações
onde é necessário alto torque, caixas de redução devem ser
adicionadas. Como o torque cai a velocidades mais altas, esse tipo de
motor é melhor usado em modos de baixa velocidade.

Efeito de frenagem
Se a corrente em um enrolamento é mantida após um pulso
ser aplicado, o motor de passo não pode continuar a girar. O eixo
será bloqueado como se você aplicasse um freio. Um circuito que
mantém a corrente em um enrolamento para estabelecer uma posição
fixa efetivamente atua como freio eletrônico em um motor de passo.

125
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

126
NEWTON C. BRAGA

As UARTs
Em todo sistema em que dados digitais devam ser
transmitidos e recebidos na forma serial, existe um elemento
importante presente, que deve ser entendido pelos profissionais das
telecomunicações: as UARTs. Com a finalidade de converter dados
paralelos para a forma serial e vice-versa, as UARTs estão presentes
nos modems e em muitos outros equipamentos. Veja neste artigo
como elas funcionam e como são usadas. Newton C. Braga
UART é o acrônimo de Universal Asynchrounous
Receiver/Transmiter ou Receptor/Transmissor Universal Assíncrono.
Sua finalidade é possibilitar a transmissão e a recepção de dados
originalmente disponíveis na forma paralela, conforme mostra a
figura 1.

127
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

No diagrama de funcionamento, pode parecer simples,


converter os dados que chegam ao mesmo tempo nas entradas
paralelas de modo que eles sejam transmitidos sequencialmente por
uma linha de dados e depois, recuperá-los recebendo-os em
sequência e apresentados na forma paralela na saída
No entanto, precisamos levar em conta que essa transmissão
deve ser feita de modo seguro, com um controle de paridade para
garantir a integridade dos dados e formas de sinalização do lado que
transmite para que o lado que recebe saiba onde começa e onde
termina uma transmissão. Tudo isso é justamente feito pelas UARTs
que tem sido usada a um bom tempo, conforme veremos a seguir.

Os tipos de UARTs
As primeiras UARTs usadas nos computadores (PCs) eram do
tipo 8250 empregadas basicamente na série XT. Posteriormente,
novos tipos foram criados como a 8250A, 8250 B e em seguida a
16450. Essa última foi implementada nos computadores da série AT.
Na figura 2 temos o invólucro dessa UART de 40 pinos.

128
NEWTON C. BRAGA

Figura 2 – UART 16450

A cada tipo lançado, o principal implemento era a velocidade


de operação. Assim, a 16450 já alcançava uma velocidade de 38,4
kbp facilmente. Mas mesmo assim, para as exigências crescentes dos
novos computadores essa velocidade logo se tornou pequena. Surgiu
então a 16550 que resolvia um problema que começava a incomodar.
Os tipos anteriores precisavam ter uma ação do software a
cada bit que transmitiam. A 16550 continha buffers FIFO on board

129
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

que podiam armazenar cada um 16 bits, um para os sinais


transmitidos e outro para os recebidos.
No entanto, um “bug” tornava impossível usar esses buffers
até que surgiu a 16550A capaz de transmitir a uma velocidade de
115,2 kbps.

Figura 3 – A pinagem da 16550A.

130
NEWTON C. BRAGA

Essa UART podia ter usado a DMA (Direct Access Memory)


para a transmissão de dados, de modo a não exigir a intervenção do
software para essa finalidade. Hoje, a 16550A é a UART mais
comum, contendo 32 bytes de FIFO e software de controle para
garantir o fluxo de dados.
A Texas Instruments tem uma UART de 64 bytes de FIFO,
denominada 16750.

131
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

A estrutura de uma UART


Para que uma UART funcione existem diversos tipos de
circuitos funcionando de modo coordenado. Vejamos quais são esses
circuitos.

Registradores
São usados 8 bytes I/O para cada UART com a finalidade de
acessar os registros. A tabela abaixo mostra onde cada registro está.

132
NEWTON C. BRAGA

Tabela de Conversão Registro para Porta de UART

DLAB = 0 DLAB = 1

Porta
Ler Gravar Ler Gravar
I/O

RBR THR
receptor transmissor
Base buffer manuseio DLL divisor latch LSB

IER IER
habilitação habilitação
de de
base + 1 interrupção interrupção DLM divisor latch MSB

IIR FCR IIR FCR


identificação Controle de identificaçã controle de
de FIFO o de FIFO
base + 2 interrupção interrupção

base + 3 LCR controle de linha

base + 4 MCR controle de modem

LSR – LSR –
status de teste de status de teste de
base + 5 linha fábrica linha fábrica

MSR MSR
status de status de
modem – modem –
base + 6 não usado não usado

base + 7 SCR scratch

133
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Analisemos cada um desses registros e sua função:

RBR – Receiver Buffer Register (RO)


A finalidade desse registro é armazenar o byte recebido se
nenhum FIFO é usado ou o último byte não lido. Se o buffer da
FIFO é sado, cada nova ação de leitura do registro passa para o byte
seguinte até que nenhum byte esteja presente. O byte 0 na linha de
status do registro pode ser usado para verificar se os bytes recebidos
foram lidos.
Obs: RO significa Read Only ou apenas leitura.

THR: Transmiter Holding Register (WO)


É usado para os caracteres que saem do buffer. Se a FIFO não
é usada, somente um caractere pode ser armazenado. Se usada, a
quantidade de caracteres armazenados depende da UART. O THR
não é usado para transmitir dados diretamente. O byte é inicialmente
transferido para um shift register onde a informação é dividida em
bits para transmissão uma a um.
Obs: WO significa Write Only ou apenas gravação

134
NEWTON C. BRAGA

IER: Interrupt Enable Register (R/W)


Uma forma eficiente de se conseguir comunicações entre PCs
na forma serial é utilizando rotinas de interrupção. Nessa
configuração, não é necessário colocar os registros da UART
periodicamente em estado de mudança. A UART vai sinalizar a cada
mudança gerando uma interrupção para o processador. Uma rotina
de software pode então ser usada para manusear a interrupção e
verificar qual estado de mudança a gerou.
As interrupções não são geradas a não ser que a UART seja
avisada. Isso é feito enviando bits para o registro de habilitação da
interrupção. O bit 1 indica que uma interrupção deve ser feita. A
tabela abaixo mostra esses bits.

Bit Comentário
0 Dados recebidos disponíveis
1 Registro de controle do transmissor vazio
2 Mudança de estado do registro linha
3 Mudança do estado do registro de modem
4 Modo sleep (somente na 16750)
5 Modo de baixo consumo (somente na 16750)
6 Reservado
7 Reservado

Obs: R/W significa Read/Write ou Leitura e Gravação

135
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

IIR: Interrupt Identification Register (RO)


Trata-se do registro de identificação de interrupção. Uma
UART pode gerar uma interrupção de processador quando uma
mudança no dispositivo de comunicação é detectada. Esse sinal é
usado para chamar a atenção antes do envio das informações. Seus
bits mostram o estado da UART e qual a mudança de estado fez com
que a interrupção ocorresse. A tabela abaixo mostra os significados
dos bits deste registro:

136
NEWTON C. BRAGA

IIR :Registro de Identificação de Interrupção

Bit Valor Descrição Reset por

0 Interrupção pendente –

0 1 Nenhuma interrupção pendente –

Bit 3 Bit 2 Bit 1

0 0 0 Mudança de estado do Modem MSR lido

IIR lido ou THR


0 0 1 Registro do transmissor vazio gravado

0 1 0 Dados recebidos disponíveis RBR lido

0 1 1 Mudança de estado da linha LSR lido

1,2,3 1 1 0 timeout de caractere (16550) RBR lido

4 0 Reservado –

0 Reservado (8250, 16450, 16550) –

FIFO de 64 byte habilitada


5 1 (16750) –

Bit 7 Bit 6

0 0 Nenhuma FIFO –

1 0 FIFO não usada (16550 apenas) –

6,7 1 1 FIFO habilitada

137
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

FCR: FIFO Control Register (WO)


É o registro de controle da FIFO que controla o
comportamento da FIFO na UART. O valor lógico 1 e gravado nos
bits 1 ou 2 e sua função é disparar o dispositivo. Outros bits são
usados para selecionar o modo específico de funcionamento. A
tabela abaixo mostra como os diversos bits são usados.

138
NEWTON C. BRAGA

FCR : FIFO control register

Bit Valor Descrição

0 Desabilitação da FIFO

0 1 Habilitação da FIFO

0 –

1 1 Apaga a FIFO de recepção

0 –

2 1 Apaga a FIFO de transmissão FIFO

0 Seleciona o modo 0 da DMA

3 1 Seleciona o modo 1 da DMA

4 0 Reservado

0 Reservado (8250, 16450, 16550)

5 1 Habilita a FIFO de 64 bytes FIFO (16750)

Bit Bit
7 6 Recebe o nível de disparo de interrupção da FIFO

0 0 1 byte

0 1 4 bytes

1 0 8 bytes

6,7 1 1 14 bytes

139
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

LCR: Line Control Register (R/W)


Esse registro é usado na inicialização para fixar os
parâmetros da comunicação. Paridade e número de bits de dados
podem ser alterados. Esse registro também controla a acessibilidade
dos registros da DLL e DLM. Como esses registros são acessados
apenas no processo de inicialização eles não influem na performance
da UART.
Os modos de ajuste mais comuns são:
● 8 bits de dados, um bit de parada, sem paridade
● 7 bits de dados, uma parada, paridade ímpar

140
NEWTON C. BRAGA

LCR: Registro de Controle de Linha


Bit Valor Descrição
Bit 1 Bit 0 Comprimento da palavra de dados
0 0 5 bits
0,1 0 1 6 bits
1 0 7 bits
1 1 8 bits
0 1 stop bit
2 1.5 stop bits (palavra de 5 bits)
1
2 stop bits (palavra de 6, 7 ou 8 bits)
Bit 5 Bit 4 Bit 3
x x 0 Sem paridade
0 0 1 Com paridade par
3,4,5
0 1 1 Com paridade ímpar
1 0 1 Alta paridade (stick)
1 1 1 Baixa paridade (stick)
0 Sinal de Break desabilitado
6
1 Sinal de Break habilitado
0 DLAB: RBR, THR e IER acessíveis
7
1 DLAB: DLL e DLM accessíveis

141
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

MCR: Modem Control Register (R/W)


MCR : Registro de Controle do Modem

Bit Descrição

0 Terminal de dados pronto

1 Pedido para transmitir

2 Saída Auxiliar 1

3 Saída Auxiliar 2

4 Modo Loopback

5 Controle Autoflow (16750 somente)

6 Reservado

7 Reservado

As duas saídas auxiliares são definidas pelo usuário. A saída


2 é usada, algumas vezes, no circuito que controla o processo de
interrupção de um PC. A saída 1 é normalmente usada em placas
I/O, selecionando a frequência de um segundo oscilador que opera
em 4 MHz. Normalmente é usada em aplicações MIDI.

142
NEWTON C. BRAGA

LSR: Line Status Register (RO)


Esse registrador mostra o estado da comunicação, detectando
erros. A tabela abaixo mostra o significado dos bits nesse registro.

LSR : Line status register

Bit Descrição

0 Dados disponíveis

1 Erro de Overrun

2 Erro de paridade

3 Erro de Framing

4 Sinal Break recebido

5 THR está vazia

6 THR está vazia , e a linha está desocupada

7 Dados errados na FIFO

MSR: Modem Status register (RO)


O MSR armazena informações sobre as quatro linhas de
controle do modem. A informação é dividida em dois nibbles. Os
quatro bits mais significativos (MSB) contém informações sobre o

143
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

estado das entradas, enquanto os quatro bits menos significativos


(LSB) são usados para indicar as mudanças de estado. A tabela
abaixo mostra o significado dos bits deste registro.

MSR : Modem status register

Bit Descrição

0 Mudança no Clear to send

1 Mudança no Data set ready

2 Indicador do trailing edge Ring

3 Mudança no Carrier detect

4 Clear to send

5 Data set pronto

6 Indicador de Ring

7 Detecção de Portadora

SCR: Scratch Register (R/W)


A finalidade deste registro de gravação e leitura é armazenar
um bit, mas na prática tem uso muito limitado. Como está presente
apenas nas UARTs mais antigas, não é muito comum seu uso.

144
NEWTON C. BRAGA

DLL e DLM: Divisor Latch Registers


(R/W)
O ritmo de funcionamento da UART é determinado por um
oscilador que opera em 1,8432 MHz. Essa frequência é dividida por
10 para gerar a base de tempo de todo o sistema que então alcança
sua velocidade máxima de 115 200 bps.
Existem, entretanto, UARTs como a 16550 que podem até
operar com frequências mais altas, até 24 MHz, o que possibilita
comunicações até 1,5 Mbps. No entanto, esses valores não são
usados nos PCs por serem incompatíveis com as configurações de
software.
A tabela abaixo mostra as possibilidades de se dividir a
frequência original e assim obter velocidades mais baixas de acordo
com a capacidade do meio de comunicação usado.

145
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

DLL eDLM : Divisor latch registers

Velocidade
Divisor DLL DLM
(bps)

50 2,304 0x00 0x09

300 384 0x80 0x01

1,200 96 0x60 0x00

2,400 48 0x30 0x00

4,800 24 0x18 0x00

9,600 12 0x0C 0x00

19,200 6 0x06 0x00

38,400 3 0x03 0x00

57,600 2 0x02 0x00

115,200 1 0x01 0x00

Conclusão
As UARTs são os elementos básicos de qualquer sistema de
comunicação serial. Elas formam o “coração” dos Modems
possibilitando a transformação de dados na forma paralela para serial
e vice-versa. Nesse artigo vimos como elas funcionam, dando uma
146
NEWTON C. BRAGA

ideia das funções que elas fazem e das diversas configurações


possíveis para seus registros.

147
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

148
NEWTON C. BRAGA

Compandors
Os Compandors são dispositivos de extrema utilidade no
processamento de sinais de áudio, sendo encontrados em tape-decks,
telefones, microfones sem fio e em muitos outros casos em que sons
devam ser transmitidos. Veja neste artigo o que são os Compandors,
como funcionam e onde são usados.
Compandor é o acrônimo de Compressor-Expansor que
poderia ser traduzido como Compressor-Expansor. Isso é justamente
o que esse dispositivo faz e que vamos explicar neste artigo.

Compressão e descompressão
Existem diversos motivos para se comprimir um sinal de
áudio antes de fazer sua transmissão e depois descomprimí-lo
novamente no lado receptor, para que ele recupere sua forma
original. Um dos motivos é o fato de que, se transmitirmos o sinal
através de um meio ruidoso, como uma linha telefônica, e esse sinal
não oscilar entre os limites de sua faixa dinâmica, ocorrem cortes e
distorções.

149
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Outro motivo, bastante aproveitado pelos radioamadores já


há muito tempo, é que concentrando a faixa dinâmica dos sinais
podemos obter maior rendimento dos transmissores, alcançando
maiores distâncias. Para que o leitor tenha uma ideia do que ocorre,
vamos imaginar um sinal típico de áudio em que suas componentes
possuem picos de diferentes intensidades, conforme a frequência. De
uma forma simples, podemos representar esse sinal conforme mostra
a figura 1.

Vamos imaginar que o meio em que esses dois sinais devam


ser transmitidos é ruidoso, apresentando uma característica conforme
a mostrada na figura 2.

150
NEWTON C. BRAGA

Se o sinal for transmitido através desse meio, na sua forma


original, verificamos que podem ocorrer dois problemas. Um deles, é
que os pontos de maior amplitude podem ser mais intensos do que o
aceito pelo meio (linha de transmissão, modulador, etc.) e com isso
ocorre uma saturação. O resultado, conforme mostra a figura 3 é que
ocorrem cortes e consequentemente distorções.

151
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Por outro lado, as partes do sinal de menor amplitude, se não


forem amplificadas, podem ser cobertas pelo ruído e com isso não
aparecerem no receptor, conforme mostra a figura 4.

Em suma, se amplificarmos “de menos” as partes de menor


amplitude do sinal serão cobertas pelos ruídos, e se amplificarmos
“demais”, as partes de maior amplitude serão “clipadas”. A melhor
solução consiste em se fazer uma amplificação seletiva, ou seja, uma
compressão do sinal, modificando sua faixa dinâmica, isso é o que
denominamos “comprimir” o sinal e é uma das funções do
compandor.
O que ele faz então é aumentar as componentes de menor
amplitude do sinal de modo que superem eventuais ruídos existentes
no meio em que ele será transmitido, e amplificar menos as

152
NEWTON C. BRAGA

componentes de maior amplitude de modo que elas não saturem o


circuito. Isso é mostrado na figura 5.

Para recuperar a forma original do sinal é preciso que ele


passe por um processo de “descompressão” ou expansão, feita pelo
“expandor”, conforme mostra figura 6.

Nesse circuito, as partes que foram mais amplificadas


recebem uma amplificação menor do que as que foram menos
amplificadas e com isso a faixa dinâmica do sinal é recuperada. Com
isso ele pode ser reproduzido mantendo a forma original.

153
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Onde são usados


Existem diversos equipamentos que trabalham com a
transmissão e gravação de sinais de áudio que fazem uso das técnicas
de compressão e expansão dos sinais. Os sistemas de comunicações
analógicos como os usados nas faixas de radioamadores, VHF,
serviços públicos são exemplos. Os telefones sem fio analógicos
além de microfones sem fios também podem ser citados como
exemplos. Esses equipamentos, conforme mostra a figura 7,
comprimem os sinais antes de fazer sua transmissão e depois os
descomprimem no receptor de modo a recuperar a forma original.

Com esse procedimento, eles podem ser mais bem


transmitidos, com maior rendimento do sistema, menor influência
dos ruídos do meio e mantendo a sua fidelidade original.

154
NEWTON C. BRAGA

Estrutura de um Compandor
Existem diversos circuitos integrados que consistem em
compandors e que podem ser usados com facilidade. Podemos citar
os NE570, NE571 o NE572.

O Compressor
Analisemos a estrutura de um compandor típico, partindo dos
blocos básicos que formam a parte compressora e que são mostrados
na figura 8.

O que temos é um amplificador operacional em que o ganho


é determinado pela intensidade do sinal de entrada. Um bloco que
contém um sistema retificador amostra a intensidade do sinal na
saída produzindo uma tensão que, aplicada ao bloco de ganho (G)
determina a realimentação do amplificador operacional. Dessa

155
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

forma, o ganho do circuito não é fixo, mas depende da intensidade


do sinal.
Com os sinais de baixa intensidade o ganho é maior e com os
sinais de maior intensidade o ganho é menor. O bloco de ganho nada
mais é do que um atenuador controlado por tensão ou VCA (Voltage
Controlled Attenuator). Este circuito pode ser baseado num segundo
amplificador operacional que proporciona uma realimentação que
depende da tensão externa fornecida pelo bloco retificador. Na figura
9 temos a implementação de um compressor para linhas de 600
ohms.

156
NEWTON C. BRAGA

Nesse circuito observamos a presença de um trimmer para


ajuste de sinais no nível mais baixo. A finalidade desse circuito é
compensar eventuais problemas de distorção que possam ocorrer na
célula de ganho.

O Expansor
Na figura 10 temos o circuito em blocos que corresponde a
um expansor (expandor).

Conforme podemos, a diferença em relação ao circuito


compressor está no fato de que temos uma etapa de ganho fixo, mas
na sua entrada temos um circuito atenuador variável. Esse circuito,
em função da intensidade do sinal que chega, gera na célula
retificadora uma tensão que controla o bloco atenuador. Se o sinal
for intenso, a tensão gerada aumenta a atenuação e se o sinal for
157
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

fraco, a atenuação é pequena. Dessa forma, a faixa dinâmica do sinal


original pode ser recuperada, aparecendo na forma original na
entrada da etapa amplificadora.
Assim, o amplificador usado nesse circuito pode ser linear,
conforme mostramos na figura dada como exemplo. Para uma linha
de 600 ohms, podemos ter o circuito completo conforme mostrado
na figura 11.

Esse circuito recupera a forma de onda original, para o sinal


que é comprimido no circuito da figura 9.

Aplicações em Áudio
Existem diversas aplicações possíveis para os Compandors
em circuitos de áudio de alta fidelidade. A compressão do sinal pode
ser importante em gravadores de fita mantendo o sinal no seu nível

158
NEWTON C. BRAGA

mais baixo, acima do ruído da própria fita e circuito; em sistemas de


distribuição de áudio, superando os níveis de ruído da linha; em
sistemas de som digital, para que o sinal seja comprimido antes de
digitalizado, obtendo-se melhor fidelidade e nas câmaras de eco.
O circuito mostrado na figura 12 é um exemplo de aplicação
que usa como base o NE570 e tem o recurso da pré-ênfase,
necessária para se evitar o problema de se ouvir uma espécie de
ruído de fundo quando ele muda de ganho.

A rede formada por R2/C5 e R14/C8 evita esse problema.


Para expandir os sinais, pode ser usado o circuito da figura 13
também sugerido pela Philips e que faz uso do NE570.

159
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Evidentemente, para compensar o efeito da pré-ênfase, temos


o circuito de de-ênfase que devolve a forma de onda original aos
sinais.
O ganho do circuito é de 0 dB, o que garante a manutenção
da intensidade original dos sinais que vão se trabalhados. Os
trimpots servem para corrigir a distorção harmônica e os níveis DC
que aparecem junto aos sinais.

NE570/571 – Compandor
Os circuitos integrados NE570 e NE571 consistem em
compandors capazes de operar numa faixa dinâmica de 110 dB. Na

160
NEWTON C. BRAGA

figura 14 temos o invólucro básico com a identificação dos seus


terminais.

A faixa de tensões de operação deste CI vai de 6 V a 24 V. Na


figura 15 vemos o bloco correspondente ao circuito tanto do
compressor como do expansor.

161
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

No circuito integrado temos dois blocos semelhantes a esses e


conforme o modo de ligação, teremos a operação como compressor
ou como expansor. Assim, quando ligamos o bloco de ganho à saída
ele proporciona a realimentação que determina a compressão e o
com isso o circuito funciona como compressor.
Quando o bloco é ligado em série com a entrada, ele funciona
como um atenuador variável, o ganho do operacional pode ser
programado para um valor fixo e temos a operação como expansor.
A curva de transferência básica do circuito é mostrada na figura 16.

A capacidade de fornecimento de corrente do bloco de saída


é +/- 20 mA o que significa uma amplitude de sinal de 3,5
Vrms em uma carga de 300 ohms. Com um resistor e um
transformador apropriado, essa saída pode ser convertida em
162
NEWTON C. BRAGA

+ 13 dBm em uma linha de 600 ohms. A faixa dinâmica obtida


é mostrada na figura 17.

Observe que a faixa dinâmica dos sinais pode ir de -80 dB a


+20 dB, obtendo-se uma taxa de compressão de 2 para 1.
Isso significa que a faixa dinâmica original de 100 dB pode ser
comprimida numa faixa de 50 dB para transmissão e depois
recuperada. Existem outros circuitos integrados que podem
ser usados como compandors como o NE472, mas suas
características são diferentes

Conclusão
Os compandors são circuitos de grande utilidade quando se
deseja fazer a transmissão de sinais de áudio (analógicos)
através de um meio ruidoso ou ainda aproveitando-se a
máxima potência de um transmissor. Apesar do uso cada vez
mais intenso das formas digitais de transmissão, existem

163
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

ainda os casos em que a transmissão analógica é necessária


e os problemas podem aparecer. Alterando a faixa dinâmica
de um sinal e depois recuperando-a pode ser a solução para
diversas aplicações que envolvem áudio na sua forma
original.

164
NEWTON C. BRAGA

Ondas Estacionárias
As ondas estacionárias são importantes tanto em sistemas
eletrônicos como mecânicos. Assim, seu conhecimento é de grande
importância para a realização de projetos mecatrônicos e de
radiotransmissão. Na verdade, a maioria dos leitores que já montou
um transmissor já ouviu falar das ondas estacionárias. Estas ondas,
que aparecem nas linhas de transmissão, devem ser mantidas num
nível baixo para que o rendimento das emissões e dos próprios
equipamentos não sejam comprometidos. Mas, o que são realmente
estas ondas, como se formam e como pode ser reduzida sua ação e,
finalmente, como podem ser medidas é algo que não são muitos os
que conhecem a ponto de poder tomar decisões em sua função. Tudo
isso é o que veremos neste artigo.
Para que um transmissor funcione corretamente, toda energia
de alta frequência gerada nos circuitos eletrônicos deve ser levada à
antena e irradiada. Para esta finalidade existe um elemento físico, um
cabo denominado "linha de transmissão" que faz a conexão dos dois:
transmissor à antena, conforme mostra a figura 1.

165
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Essa linha não apresentaria interesse maior para os


operadores ou projetistas das estações de rádio se não fosse alvo da
ocorrência de um fenômeno importante, capaz de reduzir
consideravelmente a eficiência do sistema. Se ocorrerem problemas
de adaptação entre a linha e o transmissor ou entre a linha e a antena,
ocorrem sérios problemas na transferência da energia.
Reflexões podem então reduzir a energia irradiada e não é só
isso: essa energia não transmitida volta para os circuitos do
transmissor podendo sobrecarregá-los a ponto de causar a queima de
componentes importantes.
Os sinais que refletem na linha de transmissão dão origem às
chamadas "ondas estacionárias", ou do inglês "standing waves".
Estas ondas que também se manifestam em sistemas mecânicos
como por exemplo uma onda que se propaga através de uma corda
vibrante é o assunto que passamos a abordar em maior profundidade.

166
NEWTON C. BRAGA

Até mesmo com ondas sonoras que se propagam num tubo o


fenômeno pode ocorrer com grande intensidade com efeitos bastante
interessantes que merecem ser conhecidos de nossos leitores. Estes
efeitos podem ser usados em sistemas de detecção de objetos com a
medida da distância (trenas) em robôs e outros dispositivos
mecatrônicos.

Transferência de energia
Para que ocorra a máxima transferência de energia de um
sistema para outro como, por exemplo, de um transmissor para uma
antena, é preciso que suas impedâncias sejam iguais. Se a ligação de
um sistema A a um sistema B for direta conforme mostra a figura 2,
o modo como esta ligação é feita não é importante, pois os fios não
influenciam na transferência da energia.

Entretanto, se o sistema A (um transmissor por exemplo)


estiver longe do sistema B (uma antena, por exemplo) é preciso que
o cabo que os une, ou seja, a linha de transmissão tenha

167
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

características apropriadas, para que não ocorram modificações no


processo.
A linha de transmissão deve ter a mesma impedância dos
outros elementos do sistema, ou seja, o transmissor e a antena,
conforme mostra a figura 3.

Para fios comuns, a impedância apresentada depende do


comprimento considerado, o que não os torna muito próprios para
serem usados na ligação de transmissores a uma antena. Isso ocorre
porque, em altas frequências, entram em ação a indutância dos fios e
a capacitância entre eles, a qual depende justamente do
comprimento, conforme mostra a figura 4.

168
NEWTON C. BRAGA

Para a condução de tais sinais existe; entretanto uma solução


que consiste no uso de fios especiais, ou seja, cabos, em que a
construção física é tal que a impedância, para uma ampla faixa de
frequências, se mantém constante independentemente do
comprimento do fio e da própria frequência do sinal que deve ser
conduzido.
Assim, quando dizemos que um cabo coaxial tem uma
impedância de 75 ohms ou 50 ohms, não importa se o comprimento
considerado seja de 20 centímetros ou 20 metros. Na figura 5 temos
o modo como um cabo coaxial é construído, observando-se a
blindagem externa e o condutor interno.

169
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Com a utilização de um transmissor cuja saída seja de 50


ohms de impedância, de um cabo de 50 ohms de impedância
(qualquer comprimento) e uma antena de 50 ohms, teríamos
certamente o máximo rendimento para uma estação. Na prática,
entretanto, se podemos manter a impedância do transmissor no valor
certo, do cabo no valor certo a da antena nem sempre se ajusta
perfeitamente a isso e aí começam a aparecer os problemas.

Impedância de antena
Para entender melhor fenômeno vamos imaginar um sistema
em que tenhamos um transmissor, um cabo coaxial, mas em lugar da
antena seja colocada uma lâmpada, conforme mostra a figura 6.

Vamos supor inicialmente que a lâmpada tenha uma


resistência constante de filamento, igual a 50 ohms, e que
corresponda à impedância da linha de transmissão e da própria saída
do transmissor. Ligando o transmissor, toda a energia ser transferida
para a lâmpada que a absorverá e a converterá em luz e calor. A
lâmpada acenderá então com seu brilho normal.

170
NEWTON C. BRAGA

Se em seu lugar for ligada uma antena de 50 ohms a


transferência de energia para o espaço na forma de ondas
eletromagnéticas será total. O que aconteceria se em lugar de uma
lâmpada de 50 ohms fosse ligada uma de 150 ohms, conforme
mostra a figura 7?

O resultado seria um "descasamento de impedâncias".


A lâmpada não conseguiria absorver toda a energia do
transmissor vinda pelo cabo e não tendo o que fazer com o excedente
dessa energia, ela a refletiria de volta ao transmissor. A absorção
seria de 75% e a parte refletida de 25%.
É claro que esta energia refletida terá de ir para algum lugar
pois não pode ficar "acumulada" no fio, e este algum lugar são os
componentes de saída do circuito do transmissor. Estes componentes
têm de dissipar esta energia refletida, transformando-a em calor, já
que não ela pode ser irradiada, e o resultado será um aquecimento
adicional que pode causar problemas de funcionamento.
Nem sempre o projeto prevê um aquecimento muito maior do
que o obtido em funcionamento normal e isso pode causar a queima
de componentes. Para um transmissor transistorizado pode ocorrer a
171
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

queima dos transistores de saída e para os transistores valvulados


teremos um "avermelhamento" das placas das válvulas com uma
sobrecarga e redução da vida útil.
Por que a onda refletida faz tudo isso? O que ocorre dentro
do cabo?
Para entender estes fatos vamos um pouco além nas nossas
explicações tomando uma analogia mecânica.
Na verdade, esta analogia mecânica se aplica aos sistemas
que podem estar num dispositivo que transfira energia através de
uma corda, de um tubo usando algum tipo de vibração mecânica.

As ondas estacionárias
Imaginemos uma corda com uma extremidade presa a uma
parede, conforme mostra a figura 8.

172
NEWTON C. BRAGA

Movimentando rapidamente para cima e para baixo a


extremidade livre da corda, podemos produzir uma onda transversal
que se propaga com uma certa velocidade.O comportamento desta
onda é análogo ao de uma onda elétrica que percorre um cabo
coaxial.
A única diferença é que no caso do sinal elétrico temos uma
tensão que varia ao longo da linha e a percorre numa velocidade de
centenas de milhares de quilômetros por segundo.No cabo temos
uma amplitude mecânica e a velocidade de propagação é da ordem
de centenas de metros por segundo, conforme o material de que ele é
feito.
Pois bem, se na extremidade fixa da corda houver um sistema
de amortecimento que possa absorver toda a energia que é
transportada pela onda transversal tudo bem: a onda chega a este
ponto e transfere sua energia desaparecendo. No entanto, se esta
oscilação não tiver sua energia absorvida, a onda reflete e volta ao
ponto de partida, conforme mostra a figura 9.

173
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Temos então uma onda refletida que pode ter maior ou menor
intensidade, conforme a energia que eventualmente tenha sido
absorvida no ponto fixo de reflexão. No caso de um transmissor de
rádio não temos simplesmente uma onda mas sim a produção
constante de ondas, ou um trem de ondas, e essas ondas vão
continuamente do transmissor para a antena.
Seria como o movimento constante da mão (transmissor)
produzindo as ondas que vão para a antena parede, conforme mostra
a figura 10.

Isso significa que, se houver reflexão dessas ondas no final da


linha, as ondas que vão se combinam com as ondas que vem e o
resultado é bastante interessante: como as frequências das ondas num
sentido e noutro são iguais (seus comprimentos também), ocorre um
fenômeno de batimento em que aparecem pontos de máximos e
mínimos fixos, bem estabelecidos ao longo da extensão da linha ou
corda, conforme mostra a figura 11.

174
NEWTON C. BRAGA

Se a intensidade da onda refletida for a mesma da onda


incidente, ou seja, se tivermos 100% de reflexão, os pontos de
máximo terão a intensidade (amplitude) correspondente ao dobro da
amplitude de cada sinal e os pontos de mínimo corresponderão à
nulos. Se a intensidade da onda refletida for menor, os máximos não
terão o dobro da amplitude do sinal original e os mínimos não serão
nulos. A diferença entre elas será menor e teremos uma forma de
oscilação conforme mostrada na figura 12.

175
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Levando isso para o caso eletrônico, tomando um transmissor


como fonte de sinais, podemos imaginar voltímetros ao longo da
linha de transmissão, conforme mostra a figura 13.

Se não houver reflexão alguma dos sinais, a tensão marcada


em qualquer voltímetro será máxima, qualquer que seja o ponto da
linha em que ele seja ligado. Por outro lado, se o sinal refletir
totalmente no final da linha, teremos pontos fixos em que os
voltímetros indicarão máximos e pontos que indicarão nulos.
Veja que, observando essas indicações e mesmo a oscilação
da corda, temos a impressão de que a onda "para", ou seja, passamos
a ter nós e ventres em posições fixas. Na realidade existe uma

176
NEWTON C. BRAGA

propagação de ondas nos dois sentidos, resultando no fenômeno, mas


sua combinação leva à impressão de uma só que esteja estacionada
ou estacionária, daí darmos ao fenômeno o nome de ”ondas
estacionárias".
Para a transmissão, a presença de ondas estacionárias é sinal
de que existe energia sendo refletida e, portanto, não irradiada.
Devemos, portanto, reduzir sua proporção no sentido de obter maior
rendimento na transferência dos sinais.

Como medir
Em princípio sabemos que, para que haja total transferência
de energia do transmissor para a antena, não devemos ter nenhum
sinal refletido. Em outras palavras, em todos os pontos considerados
da linha de transmissão a tensão deve ser a mesma. A relação entre
as intensidades observadas entre os pontos de máximos e de
mínimos é de 1:1 (um para um). Obtemos então o maior rendimento
de um transmissor quando a relação de ondas estacionárias
observadas no sistema for de 1 para 1. Esta relação de ondas
estacionárias é abreviada por ROE.
Nos livros técnicos que mantém os termos em inglês a
abreviação é SWR (Stand Wave Ratio).
À medida que aparecem as ondas estacionárias em
consequência da reflexão do sinal, a relação entre a tensão nos
177
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

pontos de máximos e mínimos de sinal aumenta. Damos como


exemplo uma tabela em que associamos as relações de ondas
estacionárias (ROE) à potência perdida.
R.O.E. Perda (%)
1 : 1,01 -
1 : 1,020,01
1 : 1,030,02
1 : 1,040,04
1 : 1,050,06
1 : 1,060,08
1 : 1,070,11
1 : 1,080,15
1 : 1,090,19
1 : 1,100,23
1 : 1,110,27
1 : 1,120,32
1 : 1,130,37
1 : 1,140,43
1 : 1,150,49
1 : 1,160,55
1 : 1,170,61
1 : 1,180,68
1 : 1,190,75

178
NEWTON C. BRAGA

1 : 1,200,83
1 : 1,301,70
1 : 1,402,78
1 : 1,504,00
1 : 1,605,33
1 : 1,706,72
1 : 1,808,16
1 : 1,909,63
1 : 2,0011,1
1 : 2,2014,1
1 : 2,4017,0
1 : 2,6019,8
1 : 2,8022,4
1 : 3,0025,0
1 : 4,0036,0
1 : 5,0044,4
1 : 6,0051,0
1 : 7,0056,0
1 : 8,0060,5
1 : 9,0063,2
1 : 10 66,9
1 : 20 81,9
1 : 50 92,3

179
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Evidentemente, um medidor de ondas estacionárias deve ter


condições de captar tanto o sinal que vai do transmissor como o que
é refletido da antena para o receptor, diferenciando-os de modo a se
obter a indicação desejada.
Para conseguir isso, os circuitos usam recursos interessantes.

O acoplador direcional
Uma das características de uma linha de transmissão é que o
campo externo é nulo de modo que não podemos extrair nenhum
sinal em suas proximidades, do lado externo. É justamente esta
propriedade que permite a constância de sua impedância,
independendo de seu comprimento.
Se quisermos extrair parte do sinal de um cabo coaxial por
indução, precisamos passar um condutor sob sua malha, fazendo-o
correr paralelo ao condutor interno conforme mostra a figura 14.

Nestas condições, teremos nas extremidades deste condutor


uma tensão que depende em valor e frequência do sinal que está
sendo transmitido. Partindo desta configuração, podemos ir um

180
NEWTON C. BRAGA

pouco além e colocar um diodo e um instrumento, conforme mostra


a figura 15.

A polarização do diodo é tal que permite que apenas os sinais


que correm num sentido sejam medidos. O que ocorre é que,
cortando parte dos semiciclos que correspondem à reflexão ou à
incidência dos sinais, podemos ter uma indicação ou do sinal direto
ou do sinal refletido.
Veja então que aproveitando este tipo de acoplamento
direcional podemos facilmente saber qual é a "quantidade" de sinal
refletido e com isso saber qual é a relação de ondas estacionárias.
Basta ligar o acoplador de modo a medir as ondas "diretas" e depois
inverter a ligação para ler as ondas "refletidas" e estabelecer a
relação.
Isso nos leva então à configuração final de um instrumento
para esta finalidade que é mostrado na figura 16.

181
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Sua operação é muito simples: colocando a chave leitora na


posição de ajuste, medimos o sinal no sentido direto (transmissor
para a antena) e com isso podemos fazer o ajuste para que o valor
indicado seja 100% ou 1. Depois, invertendo a posição da chave,
medimos o sinal refletido, obtendo deste modo uma indicação direta
da relação de ondas estacionárias ou da porcentagem de sinal
transferido.
Veja que esta necessidade de termos de ajustar o instrumento
para o fim da escala na condição de sinal direto faz com que a
sensibilidade do instrumento determine a potência mínima que o
transmissor deve ter para a sua utilização.
Os instrumentos deste tipo são então especificados para
potências mínimas em que operam e também, para uma determinada
faixa de frequências. Como a tensão induzida no fio interno ao cabo
coaxial depende também da potência, podemos usar o mesmo
182
NEWTON C. BRAGA

instrumento como indicador de potência. Basta então ter uma


referência na escala obtida por calibração para que, na posição de
sinal direto, tenhamos a possibilidade de medir diretamente a
potência do transmissor.

Medidores de onda estacionária comerciais


Comercialmente o medidor de onda estacionária pode ser
adquirido para operar com transmissores, principalmente da faixa de
radioamadores (PX e PY), se bem que existam os tipos profissionais
que são indicados para operação em diversas faixas de
telecomunicações, incluindo frequências da faixa de VHF, UHF e
SHF.
Estes aparelhos, como o mostrado na figura 17 são bastante
simples e sua precisão é suficientemente boa para permitir que os
operadores levem seus equipamentos de transmissão à condição de
máximo rendimento.

Figura 17 – Um medidor de ROE (SWR)

183
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Os medidores de ondas estacionárias são intercalados entre o


transmissor e a antena, conforme mostra a figura 18.

Como todo instrumento de medida deste tipo (sem sistema


ativo), a energia que aciona o instrumento indicador é tirada do
próprio circuito, o que significa uma pequena atenuação do sinal.
Neste caso, a atenuação é de apenas 0,5% o que significa uma boa
precisão para as medidas, mesmo de transmissores de pequena
potência.

Como medir
A operação dos medidores é feita de maneira semelhante na
maioria dos tipos. Assim, para que o leitor tenha uma ideia de como
isso pode ser feito, vamos dar como exemplo a operação de um
medidor típico como o tomado como exemplo no item anterior.

184
NEWTON C. BRAGA

a) Medindo potência (PWR)


Inicialmente a chave seletora do instrumento deve ser
ajustada para medir potência, ou seja, colocada na posição PWR.
Depois, ajusta-se o potenciômetro de calibração para a frequência de
transmissão, de acordo com a tabela fornecida pelo fabricante do
instrumento.
A seguir, acionando-se o transmissor de modo que ele
transmita seus sinais, faz-se a leitura do valor da potência
diretamente na escala correspondente do instrumento.

b) Medindo ondas estacionárias (SWR)


Inicialmente, coloque a chave seletora na posição que mede
as ondas diretas (SWR-FWD). Ajuste então o potenciômetro de
calibração até obter a indicação de máximo ou ainda o ponto
indicado por SET pelo fabricante. Este ajuste deve ser feito com o
transmissor ligado.
Passe agora a chave seletora para a posição que mede a onda
refletida (SWR).
Basta então ler a porcentagem de onda refletida ou ainda a
relação de ondas estacionárias (SWR ou ROE) diretamente na escala
correspondente. Ao fazer a medida deve ser observado o mínimo de
potência do transmissor para a frequência correspondente de modo a
se conseguir o ajuste do aparelho.

185
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

186
NEWTON C. BRAGA

Multiplexação
O espectro de RF comporta um número finito de canais de
comunicação. Diversas tecnologias permitem aproveitar ao máximo
o espaço disponível, colocando num mesmo canal diversos sinais.
Para esta finalidade, utilizam-se processos de multiplexação bastante
engenhosos que são usados de diversas formas, conforme as
tecnologias exigidas pelas aplicações específicas. Neste artigo
focalizamos as diversas técnicas de multiplexação usadas nas
comunicações sem fio atuais.
Multiplexar (MUX) significa utilizar um mesmo canal de
comunicação para transmitir informações de diversas fontes ao
mesmo tempo. O processo inverso, a demultiplexação (DEMUX)
significa recuperar as informações transmitidas, enviando-as a
destinatários separados, conforme sugere a figura 1.

187
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Existem diversas tecnologias que permitem usar um único


canal para transmitir informações de diversas fontes. É dessas
tecnologias que passamos a tratar em seguida.

Multiplexação em frequência
O processo mais usado de multiplexação em frequência tem
por exemplo o Frequency Division Multiple Access ou FDMA. Nele,
a faixa que é ocupada pelo sinal é dividida em canais, cada qual
tendo uma largura definida e centralizado numa frequência dentro
dessa faixa, conforme mostra a figura 2.

188
NEWTON C. BRAGA

Esta tecnologia é bastante antiga, tendo sido usada desde


1900.
O principal requisito para se utilizar esta tecnologia é que
tanto o transmissor como o receptor devem ter uma faixa estreita de
sintonia, ou seja, devem ser de alta seletividade.

Multiplexação no tempo
Neste caso temos o sistema denominado Time-Division
Multiplexing ou TDM. Nele, os sinais ocupam a mesma frequência,

189
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

mas um de cada vez, havendo uma distribuição de uso no tempo,


conforme mostra a figura 3.

O exemplo mais simples deste processo de multiplexação é o


Time Division Duplex ou TDD. Nele, temos uma comunicação
bilateral (entre duas estações), operando na mesma frequência.
Quando uma transmite, o que é determinado pelo pressionar do
botão “falar” na estação A, a outra (B) recebe. Quando a estação B
deve transmitir, A tem seu botão falar solto, e agora a estação B é
que precisa ter o botão falar pressionado. É o sistema usado
normalmente nos walk-talkies de baixo custo comuns, conforme
mostra a figura 4.

190
NEWTON C. BRAGA

Evidentemente, trata-se de um processo muito lento e de


baixa capacidade. Nos sistemas modernos, a comutação de diversos
sinais ocupando parcelas de tempo muito curtas aumenta sua
velocidade e capacidade. Neles, o sinal tem o seu tempo
comprimido, conforme mostra a figura 5, e depois novamente
distendido na recuperação, de modo a não haver interrupção
perceptível.

Multiplexação por código


O exemplo mais comum desta tecnologia é o CDMA. Neste
sistema, diversos usuários compartilham um mesmo canal com uma
frequência fixa. A largura do canal é de apenas 1,28 MHz. Nele os
sinais são codificados e transmitidos em sequências diferentes de tal
191
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

modo que o receptor possa reconhecer a que canal pertence cada


uma. Esse reconhecimento é baseado em sequências que identifica
os blocos de informação. A figura 6 mostra como isso é feito.

Neste sistema, a quantidade de canais é limitada a 64 no link


direto, mas não existe limite para o número inverso.

Multiplexação geográfica
Uma outra forma de se obter multiplexação é pelo processo
geográfico ou celular, conforme mostra a figura 7.

192
NEWTON C. BRAGA

Se usuários estiverem longe o suficiente uns dos outros, eles


podem usar a mesma frequência. Esse sistema é usado pelas estações
de rádio e TV, de certa forma, já que existem estações que ocupam as
mesmas frequências, mas operando em regiões diferentes do país.
No entanto, o exemplo mais comum é o da telefonia móvel celular,
em que as estações rádio-base determinam a área de atuação ou
célula e a ocupação de uma determinada faixa de frequências.

Modos combinados de multiplexação


Na prática, os diversos modos de multiplexação que vimos
podem operar combinados. Por exemplo, o GSM usa FDMA,
TDMA e FDD e geográfico. Por outro lado, o DECT usa o FDMA,
TDD e multiplexação geográfica. Uma tabela no final do artigo fará
a comparação.

Penetração e eficiência
Definimos penetração como a capacidade de um sinal de
poder avançar sem muitos problemas num meio de grande
atenuação, grande nível de ruído e interferência. Um exemplo pode
ser dado, quando comparamos os pagers com os telefones celulares.
Os pagers podem receber sinais mesmo em condições difíceis como
dentro de construções com grandes estruturas metálicas enquanto os
celulares falham.

193
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

O tipo de modulação usado pelos pagers permite a detecção


dos sinais sob condições de mínima intensidade. A maioria usa a
modulação FSK que é mais fácil de demodular. No entanto, a
eficiência de um celular é maior, no sentido de que ele proporciona
uma comunicação completa nos dois sentidos.

Conclusão
A multiplexação é um recurso fundamental em nossos dias
para se obter a capacidade de acomodar a quantidade de usuários que
se fazem valer de sistemas de comunicações sem fio. As técnicas
devem levar em conta diversos fatores como a penetração,
quantidade de canais acomodados, eficiência e muito mais. O que
observamos em nossos dias é que a combinação das principais
tecnologias de multiplexação que vimos neste artigo levam a
sistemas de comunicações sem fio cada vez mais eficientes,
acomodando quantidade crescente de usuários e tendo uma
penetração maior.
Na tabela dada a seguir mostramos os diversos tipos de
multiplexação usados nos sistemas de comunicações atuais.

194
NEWTON C. BRAGA

Ano da Modulação Número de Canais


Introdução
GSM900 1992 TDMA 124
NADC 1992 TDMA 832
PDC 1993-1994 TDMA 1600
CDMA 1995-1997 CDMA 19-20
DCS1800 1993 TDMA 3000-6000
PHS 1993-1995 TDMA/TDD -
DECT 1993 TDMA/TDD 10 frequências -12 usuários
por frequências
TETRA 1995 TDMA -

(*) Com base em documento da Agilent Technologies

195
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

196
NEWTON C. BRAGA

Antenas
Um elemento fundamental para o bom funcionamento de
todos os sistemas de telecomunicações que fazem uso de ondas de
rádio é a antena. Sem ela o sistema não funciona e com uma má
antena, não adianta empregar a melhor tecnologia do mundo. Dessa
forma, é fundamental para todo profissional das telecomunicações
entender como funcionam as antenas e os principais tipos que
existem. Nesse artigo damos alguns fundamentos sobre a antenas,
assunto de grande valia para os leitores que desejam reciclar seus
conhecimentos ou ainda não tiveram um embasamento teórico nos
seus cursos que possa ser considerado excelente.
Todo sistema de telecomunicações que faz uso de ondas
eletromagnéticas tem como elemento importante para seu
funcionamento a antena. No transmissor, correntes de altas
frequências geram as ondas eletromagnéticas. A função da antena é
então transferir a energia gerada pelo transmissor para o espaço na
forma de ondas. No receptor, a antena é usada para interceptar as
ondas que chegam até ele, induzindo correntes que são levadas então
ao circuito de processamento. Na figura 1 mostramos o que ocorre
197
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

quando aplicamos um sinal de alta frequência numa antena, tomando


como exemplo a configuração formada por dois condutores. Observe
que aparecem alternadamente dois campos: o elétrico e o magnético.

As dimensões de uma antena são importantes para sua


eficiência tanto na transmissão como na recepção dos sinais. Assim,
a antena tomada como exemplo deve ter um comprimento que
corresponda a ½ do comprimento da onda na frequência que deve ser
transmitida. Veja pela figura 2 que nessa antena a corrente e a tensão
se distribuem de modo diferentes.

198
NEWTON C. BRAGA

Nas extremidades temos os pontos de tensão máxima e no


centro da antena temos os pontos em que a intensidade da corrente é
mínima. Podemos dizer que esta configuração equivale a um circuito
ressonante ideal, como o mostrado na figura 3.

199
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Veja que, num circuito ressonante a reatância capacitiva é


igual à reatância indutiva (XL =XC) na frequência de ressonância.
Isso significa que uma antena deste tipo, na frequência de
ressonância, se comporta como uma carga resistiva pura. Essa
componente é a impedância da antena. Numa antena do tipo
analisado os cálculos mostram que essa impedância tem um valor
fixo: 73 ohms. Na prática, adota-se como valor mais apropriado para
os cálculos 75 ohms.
Veja que existem alguns fatores que podem influir nesta
impedância tais como a espessura do fio usado, e a própria
velocidade de propagação da onda no material de que é feita a
antena. A antena que analisamos é o chamado “dipolo de meia
onda”. No entanto existem outros tipos, conforme veremos mais
adiante.
Conforme vimos, uma das características importantes no
projeto de uma antena é a sua impedância. A impedância de uma
antena depende do modo como ela é construída e de suas dimensões,
havendo diversos tipos que serão analisados no próximo item.
No entanto, além da impedância existem algumas
características das antenas que são de grande importância no seu
projeto para uma determinada aplicação. Analisemos algumas delas.

200
NEWTON C. BRAGA

a) Ganho
Quando falamos em ganho, isso não significa que uma antena
possa “amplificar” os sinais que transmite ou que recebe. Uma
antena é um elemento passivo tanto na transmissão como na
recepção de sinais. Não existem elementos que possam introduzir
um ganho efetivo num sinal de uma antena.
Usamos o termo ganho para expressar a capacidade que uma
antena dá para receber sinais de uma determinada direção quando a
comparamos com uma antena usada como referência. Podemos
entender melhor esse significado tomando como exemplo a antena
mostrada na figura 4.

Se essa antena concentra a energia transmitida numa certa


direção ela possui um ganho, pois a intensidade da energia na
direção considerada é maior do que uma antena comum tomada

201
Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

como referência que irradie o sinal com a mesma intensidade em


todas as direções. O mesmo é válido para uma antena receptora. Se
ela consegue captar melhor os sinais que chegam de uma
determinada direção, também podemos falar que esta antena possui
um ganho quando comparado ao desempenho da antena tomada
como padrão que recebe da mesma maneira os sinais que vêm todas
as direções. O ganho de uma antena pode ser calculado e
normalmente é expresso na forma logarítmica, conforme mostra a
seguinte fórmula:
Ga (dB) = 10 log (P1/P2)
Onde:
Ga = ganho em dB (decibel)
Log = logaritmo
P1 = potência da antena em mW
P2 = potência da antena padrão em mW
Se uma antena irradia 20 W numa direção quando a antena
padrão irradia 1 W, o ganho será:
Ga = 10 log 20/1 = 17 dB
Como o ganho na recepção é medido comparando-se a
intensidade do sinal recebido pela antena com a intensidade do sinal
recebido no mesmo local com uma antena padrão a mesma fórmula
pode ser usada para seus cálculos.

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NEWTON C. BRAGA

b) Diretividade
Uma esfera pode ser considerada uma antena ideal. Ela
irradia ou recebe sinais com a mesma intensidade em todas as
direções.
Evidentemente, para as aplicações prática pode não ser
interessante ter um padrão de irradiação desse tipo. Na prática, as
antenas devem concentrar os sinais em determinadas direções. Para
isso, seus formatos raramente são esféricos, mas sim planejados para
se obter um comportamento diretivo. Podemos então falar na
diretividade de uma antena como a sua capacidade de concentrar
sinais e expressar isso através de um diagrama, conforme mostra a
figura 5.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Nesse diagrama plotamos as intensidades relativas do sinal


(recebido ou transmitido) para cada direção a partir daquela para a
qual a antena é apontada. O padrão típico mostrado na figura 5
possui um lóbulo maior que corresponde aos sinais irradiados na
direção para a qual a antena está apontada, e outros lóbulos menores
que indicam a irradiação de sinais em menor intensidade. Também
existem direções em que nenhum sinal é irradiado (ou recebido).
Quanto mais estreito for o lóbulo principal e menores os
outros, mais diretiva é a antena e maior é o seu ganho na direção
para a qual está apontada. Uma característica importante de uma
antena muito diretiva é que ela tende a rejeitar com mais facilidade
sinais que chegam lateralmente. Isso é importante se ela for
receptora e no local existirem fontes de interferências. Os sinais
dessas fontes podem ser naturalmente rejeitados pela simples escolha
de uma antena apropriada, conforme mostra a figura 6.

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NEWTON C. BRAGA

O diagrama típico dessa antena também nos permite observar


o que se denomina “relação frente/costa” de uma antena. Veja no
exemplo que os sinais que chegam pela direção para a qual ela foi
apontada são muito melhor captados do que os que chegam pela
direção oposta, ou seja, pelas “costas”.

c) Polarização
Os campos elétrico e magnético que correspondem à uma
onda transmitida ou recebida por uma antena possuem uma
orientação específica. Os campos magnético e elétrico são
perpendiculares um ao outro. O modo como eles aparecem numa
antena transmissora ou devem ser captados por uma antena receptora
determina a sua polarização. Uma antena com polarização vertical,
conforme mostra a figura 7, não recebe de maneira eficiente sinais
que chegam com uma polarização horizontal.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

É por este motivo que as antenas comuns de TV para VHF


que vemos nos telhados das casas têm suas varetas colocadas em
posição horizontal e não vertical. Os sinais de TV são polarizados
horizontalmente.

Tipos de antena
A escolha do tipo de antena que deve ser usada num sistema
de telecomunicações depende de diversos fatores:

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NEWTON C. BRAGA

● Frequência de operação
● Diretividade desejada
● Espaço disponível
Se levarmos em conta que as dimensões da antena estão
diretamente ligadas ao comprimento da onda do sinal que deve ser
transmitido ou recebido, que dependendo da aplicação precisaremos
ter antenas mais ou menos diretivas, existem diversos tipos de
antenas disponíveis, cada qual com suas características específicas
para a aplicação que temos em mente. Os principais tipos de antena
possuem denominações especiais que o profissional deve conhecer.
Analisemos as principais.

a) Yagi
O nome dessa antena se deve ao seu criador, H. Yagi, que a
desenvolveu em 1926. A antena Yagi tem como elemento ativo um
dipolo. Além disso possui um refletor e dois ou mais diretores,
conforme mostra a figura 8.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

O número de elementos diretores desta antena determina o


seu ganho e portanto a diretividade além de influir no valor de sua
impedância. A impedância típica deste tipo de antena é de 50 ohms.

b) Antena helicoidal

Este tipo de antena é muito comum nos sistemas que operam


com frequências muito altas como os links de microondas. Seu
formato é mostrado na figura 9.

Veja que, como em qualquer antena, as dimensões de todas as


partes que a formam possuem uma relação de valores bem definida
com o valor do comprimento de onda do sinal que deve ser
transmitido ou recebido. Alterações desses valores mudam
completamente suas características.Observe que uma antena deste

208
NEWTON C. BRAGA

tipo se presta apenas à recepção e transmissão numa estreita faixa de


frequências que corresponde justamente às suas dimensões.

c) Dipolo de meia onda


Esta é uma das antenas mais populares, tanto na recepção
como na recepção de sinais para diversas faixas de frequências. A
figura 10 mostra um dipolo de meia onda típico. Observe que sua
impedância típica é de 50 ohms, valor que depende da espessura do
fio usado.

Evidentemente, este tipo de antena, pelas suas características,


se presta à transmissão e recepção de sinais numa pequena faixa de
frequências para a qual ela está sintonizada ou dimensionada.

d) Dipolo dobrado
Este tipo de antena é muito utilizado na recepção de sinais da
faixa de VFH, principalmente para as estações de TV convencionais
desta faixa. A impedância típica de um dipolo dobrado é de 300

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

ohms. Na figura 11 mostramos como esta antena é construída e suas


dimensões em relação ao comprimento de onda.

Evidentemente, como as características da antena dependem


das suas dimensões em relação à frequência do sinal que está sendo
recebido, ela se destina a recepção de uma pequena faixa de
frequências em torno da qual suas dimensões determinam.

e) Dipolo/plano terra
A antena dipolo/plano de terra, utiliza a terra como um
elemento de irradiação. Na figura 12 temos o aspecto desta antena
que tem uma impedância da ordem de 30 ohms.

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NEWTON C. BRAGA

Observe que esta antena irradia com igual intensidade em


todas as direções, sendo por isso bastante utilizada em sistemas que
exigem esta característica.

f) Log-Periódica
Esta antena é popularmente conhecida pelo nome de “espinha
de peixe” sendo tanto utilizada na recepção de sinais de TV da faixa
de VHF como também em alguns sistemas de telecomunicações.
Conforme podemos ver pela figura 13, esta antena é formada por um
conjunto de varetas que formam os elementos ativos e um par de
varetas que formam o refletor. As varetas que formam os elementos

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

ativos têm comprimentos que variam segundo a faixa de frequências


que ela deve operar.

Assim, quando o sinal que chega a esta antena tem uma


frequência tal que seu comprimento de onda se adapte ao conjunto
de varetas X, as varetas que estão à sua frente (de comprimento
menor) passam a funcionar como diretores enquanto que as varetas
que estão por trás se comportam como refletores. Em suma, nesta
antena, as varetas que formam a parte ativa da antena dependem
apenas do comprimento de onda do sinal que está sendo recebido.
Por essa capacidade de poder operar numa faixa ampla de
frequências, este tipo de antena é bastante popular na recepção dos
sinais de TV da faixa de VHF que ocupam uma faixa relativamente
ampla, para a qual, normalmente seriam necessárias várias antenas
no caso ideal de recepção. O número de elementos desta antena,
além de determinar a faixa de frequências na qual ela pode operar

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NEWTON C. BRAGA

com rendimento máximo também é responsável por outras


características como a diretividade.

g) Rômbica
Na figura 14 temos uma antena rômbica cuja impedância
típica com as dimensões indicadas é de 600 ohms.

h) Antena de quadro
Outra antena usada em sistemas de telecomunicações,
principalmente para a faixa de ondas curtas e VHF é a antena cúbica
de quadro, mostrada na figura 15.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Usando dois elementos, esta antena tem o mesmo ganho da


antena Yagi, sendo bastante usada por radioamadores.

Antenas para microondas


À medida que as frequências dos sinais se tornam mais
elevadas, seu comportamento muda. Na faixa das microondas, os
sinais já apresentam propriedades bastante semelhantes às da luz,
caso em que tanto para sua recepção como transmissão podemos
encontrar dispositivos semelhantes à lentes e espelhos. Assim, a
antena básica para microondas é a corneta irradiadora, mostrada na
figura 16, observando-se que suas dimensões estão intimamente
ligadas ao comprimento de onda do sinal emitido.

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NEWTON C. BRAGA

Na figura mostramos as dimensões que esta corneta deve ter


para se obter um bom desempenho. Outro tipo de configuração
bastante usada na recepção e transmissão de sinais de frequências
muito altas é a que faz uso do refletor parabólico.
O que ocorre é que as cornetas não são muito convenientes
quando se deseja ter um ganho elevado, pelas dimensões que
precisam ter.
Assim, o que se faz é concentrar os sinais provenientes de
uma certa direção e refleti-los em direção a uma corneta, conforme
mostra a figura 17.

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

Esta configuração é usada em muitos sistemas de


telecomunicações, mas para os leitores que não são da área, muito
mais evidente nas antenas de TV via satélite de uso doméstico. Uma
característica muito importante neste tipo de antena é a relação entre
a distância focal (F) e o diâmetro da abertura da antena D. Conforme
mostra a figura 18, se a relação é grande, a corneta pode receber
sinais também de fora da parábola, tornando-se sensível à
interferências, portanto. Por outro lado, se F/D é pequena, a corneta
não consegue ver os limites da parábola e o rendimento do sistema
cai.

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NEWTON C. BRAGA

Nas aplicações práticas, a relação F/D deve estar entre 0,3 e


0,6.

Conclusão
Além destas existem diversas outras antenas que encontramos
nos equipamentos de telecomunicações modernos.
Como a tendência atual é de que os sistemas de
telecomunicações ocupem faixas de frequências cada vez mais
elevadas, isso implica que as antenas se tornam cada vez menores,
passando a ser embutidas nos próprios equipamentos. Assim, na
faixa dos Gigahertz (faixa centimétrica) as antenas têm ordem de
comprimentos de alguns centímetros no máximo. É o que ocorre no

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Como Funciona - Aparelhos, Circuitos e Componentes Eletrônicos - Volume 41

caso dos GPS dentro de relógios, pagers e celulares, redes sem fio,
etc.
No entanto, qualquer que seja o seu tamanho, as
configurações e tamanhos dos elementos seguem as mesmas regras
que vimos para os diversos tipos de antenas neste artigo. As
dimensões, formas vão determinar suas características elétricas e
com isso de que forma os sinais são recebidos ou irradiados.

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