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Ivan Lessa
Se no Reino Unido você disser CV, todo mundo sabe que está se referindo ao seu
"curriculum vitae", ou seja, sua folha corrida em matéria de trabalho.
É o CV de Certificado de Velhice.
Completou 60 anos, e a senhora ou senhorita têm direito a passar nos correios e pegar
uma.
A igualdade entre os sexos, ao que parece, ainda não chegou aos sessentões.
Ele pega uma conta qualquer que tenha seu nome e endereço, a conta de gás, por
exemplo.
Pega duas fotos 3 por 4 e vai na agência de correios mais próxima do bairro.
Entra na fila, é atendido poucos minutos depois, preenche um formulário e, num piscar
de olhos (como dizem os mais velhos), pronto, eis aí a carteira de velhinho, o
certificado de velhice, válido por ao menos pelos próximos dois anos.
Com ele, o velhinho de 65 anos pode andar de graça de segunda a sexta no metrô e
no ônibus depois de nove e meia da manhã.
Idem nos cinemas, teatros e museus. Acho que, numa confusão, serve como
documento de identificação.
Frise-se que na carteirinha não está escrito Certificado de Velhice ou de Velhinho.
Usam um eufemismo meio pomposo: "Freedom Pass". Passe da liberdade. Parecendo
coisa da guerra fria.
Quem paga por ele é o distrito eleitoral, ou bairro, onde mora a figura em questão.
De uma certa forma, é mais uma gentileza deles, os ingleses, para comigo.
Ivan Lessa fez parte do grupo que colaborou e que, durante muito tempo, fez
sucesso no jornal "O Pasquim". Carioca, filho de Orígines Lessa e Elsie Lessa, escreve
valendo-se de um humor cheio de ironias. Auto-asilado na Inglaterra, segundo ele por
ter-se desencantado com o Brasil, trabalha na BBC de Londres. O texto acima foi lido
em 12-05-2000 naquela emissora de rádio.