Você está na página 1de 2

A menopausa masculina

Ivan Lessa

Agora que já se sabe o nome do novo presidente da Rússia e o nome da moça que
ganhou o Oscar de coadjuvante feminina, o mundo já pode ir dormir um pouco mais
descansado.

Parece também que ninguém tinha dúvida que a cobiçada estatueta iria para o — aliás
excelente — ator Kevin Spacey, e seu desempenho em Beleza Americana, filme que,
este ano, arrebanhou os prêmios principais.

Não há mais ninguém civilizado que não tenha visto o filme ou, ao menos, saiba do
que se trata.

Um americano classe média típico entra em parafuso psicológico bem no meio de sua
vida.

Ora, uma notícia nos jornais de ontem — uma das poucas notícias que não era ou
sobre Oscar ou sobre eleições na Rússia —, uma notícia, dizia eu, informava a quem
quisesse saber que dois médicos do Instituto WellMan, em Londres, depois de
exaustivas pesquisas chegaram a conclusão de que — atenção ! — a menopausa
masculina, existe, sim, senhor, e é bom não botarem banca com ela.

Aí está a ilação "registro científico, desempenho artístico": a menopausa masculina


explica, e eloqüentemente, as ações algo perturbadas do personagem vivido por
Spacey em "Beleza Americana".

Segundo o estudo, a menopausa masculina não é tão súbita quanto a menopausa


feminina.

Parece que é mais sinistra. Chega assim como quem não quer nada, de mansinho, e,
de repente, cataplum!, acerta o camarada — um quarentão, claro — bem no meio da
testa.

Num dia ele está lá dando boa noite para os filhos, lavando o carro aos sábados, no
outro, de repente, não mais que de repente, começa a sofrer de calores súbitos no
rosto, ter depressão, ficar inquieto, começa a — perdoem-me — não funcionar lá muito
direito no departamento sexual.

A notícia é péssima para os homens, claro. E não pode ser mais irritante para as
mulheres.

Não só têm elas lá os seus problemas de menopausa quando ainda por cima têm de
lidar com o comportamento bizarro dos maridos, que — some-se à lista — começam a
querer freqüentar cassino ou boate, comprar carro esporte e, pela primeira vez,
examinam seriamente a possibilidade de deixar, de uma vez por todas e para sempre,
a mulher e filhos e começar vida nova.
Fazendo arte. No sentido elevado da palavra. Escrevendo um romance, poesia,
pintando quadro, por aí.

De qualquer forma, o estudo, a uma certa altura, deixa bem claro: as mulheres que se
cuidem, tudo isso pode não passar de simples pretexto do homenzinho supostamente
tomado de menopausa — confiem desconfiando, recomendam.

E aí é outra história, outro filme, outro Oscar.

Ivan Lessa fez parte do grupo que colaborou e que, durante muito tempo, fez
sucesso no jornal "O Pasquim". Carioca, filho de Orígines Lessa e Elsie Lessa, escreve
com sucesso, valendo-se de um humor cheio de ironias. Auto-asilado na Inglaterra,
segundo ele por ter-se desencantado com o Brasil, trabalha na BBC de Londres. O
texto acima foi extraído de sua página naquela empresa, publicado em 27-03-2000.

Você também pode gostar