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HISTÓRIA
DO SEIO
| Tradução de
Maria Augusta Júdice
f |
teorema
O Marilyn Yalom, 1997
Título óriginal: 4 History of the Breast
Tradução: Maria Augusta Júdice
Capa: Fernando Mateus
Paginação: Rui M. Almeida
Impressão e acabamento: Rainho & Neves, Lda. / Santa Maria da Feira
Este livro foi impresso em Setembro de 1998
ISBN: 972-695-344-8
Depósito legal nº: 128083/98
. |
Quando os poetas falam da morte, chamam-lhe o lugar |
"onde não há seios”. |
americanas; e a Susan Bell, que leu o manuscrito enquanto este não estava
concluído e foi a minha crítica infatigável.
Um agradecimento especial a Chana Bloch, do Mills College e a Marcia
Falk, autora de Berkeley (que publicaram uma tradução do Cântico dos Cân-
ticos) pelo seu auxílio nos materiais bíblicos e clássicos. De modo idêntico,
o psicanalista John Bebbe, de São Francisco, e o psicanalista Carlos Greaves,
de Palo Alto, forneceram-me dados preciosos para o capítulo dedicado à psi-
canálise. Beth Gutcheon, romancista de São Francisco, e Minerva Neiditz, es-
critora da Universidade do Connecticut, deram-me conselhos úteis em termos
de estilo. Susan Gussow, da Copper Union de Nova Iorque, ajudou-me a alar-
gar a minha perspectiva sobre a arte visual contemporânea. Tal como acon-
teceu na maioria dos meus projectos anteriores, pude contar com o aconse-
lhamento avisado de Mary Felstiner, da San Francisco State University
Em França, os meus bons amigos Philippe Martial e Bertrand Féger con-
cederam-me o benefício da sua sabedoria profissional e contactos na Biblio-
teca do Senado e da Assistência Pública. Estou também profundamente grata
ao falecido Claude Paoletti e à sua esposa, Catherine pelo seu apoio e gene-
rosidade. Gostaria igualmente de expressar a minha gratidão à escritora Eli-
sabeth Badinter, que foi uma preciosa fonte de informações e encorajamento.
O meu marido, Irvin, e o meu filho Benjamin foram companheiros pres-
táveis e críticos exigentes. A minha filha, Eve, e o meu genro, Michael Cars-
tens — ambos médicos — fizeram a crítica do capítulo sobre medicina. Son
Reid, um fotógrafo, verificou as ilustrações e contribuiu com algumas foto-
grafias. O meu filho Victor, psicólogo clínico, e a minha nora Tracy La Rue
(mulher de Red), psicóloga estagiária, contribuíram com críticas úteis para O
capítulo sobre psicologia. A minha nora Noriko Nara (mulher de Victor) po-
sou com o nosso neto Jason para uma bela fotografia a amamentá-lo. Bem
vistas as coisas, O Seio foi, em certa medida, um trabalho em família.
E por fim, mas não menos importante, gostaria de agradecer à minha edi-
tora de Knopf, Victoria Wilson, pelas suas críticas profundas; a Bram Dijks-
tra, da Universidade da Califórnia, pela sua leitura cuidadosa do manuscrito
num estádio crucial de desenvolvimento; e à sua mulher, Sandra Dijkstra, mi-
nha agente literária e amiga querida, por ter levado o livro a excelentes edi-
tóras, tanto no país, como no estrangeiro.
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— A História do Seio
É
Introdução:
MUDANÇA DE SIGNIFICADO
Quero fazer o leitor pensar no seio feminino como nunca pensou. Para a
maior parte das pessoas, e em especial para os homens, os seios são ornamentos
sexuais — as jóias da coroa da feminilidade. No entanto, esta visão sexualizada
do seio não é, de modo nenhum, universal. Em muitas culturas de África e do
Pacífico Sul em que as mulheres andam de seios descobertos desde tempos
imemoriais, o seio não assumiu o significado predominantemente erótico que
tem-no Ocidente. As culturas não-ocidentais têm os seus próprios fetiches —
pés pequenos na China, a parte posterior do pescoço no Japão, as nádegas em
África e nas Caraíbas. Em cada um destes casos, a parte do corpo sexualmente
investida — o que o poeta francês Mallarmé designa por “erotismo velado”
— deve muito do seu fascínio à ocultação completa ou parcial.
As hipóteses que nós, ocidentais, tomamos como válidas em relação ao
seio, revelam-se particularmente arbitrárias quando adoptamos uma perspec-
tiva histórica, que constitui o objectivo desta obra. Nela cobriremos cerca de
vinte e cinco mil anos, focando-nos em certos momentos em que uma con-
cepção específica do seio tomou a imaginação ocidental, transformando a
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maneira como este era visto e representado. Encare esses momentos como
uma espécie de montagem cinematográfica progressiva e, por vezes, em so-
breposição, mas não como uma bobina continua da história do seio.
Na base desta progressão, há uma questão básica: a quem pertence o seio?
Pertence ao lactente, cuja vida depende do leite da mãe ou de uma ama de
leite? Ao homem ou mulher que o acaricia? Ao artista que representa a forma -
feminina, ou ao estilista que escolhe seios pequenos ou grandes de acordo
com a procura contínua de um novo estilo no mercado? Pertence à indústria
têxtil, que produz o ” soutien para adolescentes,” o “soutien de suporte” para
mulheres mais velhas, e o Wonderbra para mulheres que pretendam obter de-
cotes mais pronunciados? Pertence aos juízes religiosos e morais que insis-
tem que os seios devem ser castamente cobertos? Pertence à lei, que pode
ordenar a prisão de mulheres que façam ” topless”? Pertence ao médico, que
decide quantas mamografias, biopsias ou remoções devem ser feitas? Perten-
ce ao cirurgião plástico, que o reestrutura por razões meramente cosméticas?
Pertence ao pornógrafo, que compra os direitos de expor alguns seios de mu-
lheres, frequentemente em cenários aviltantes e injuriosos para todas as mu-
lheres? Ou pertence à mulher, para quem os seios constituem uma parte do
seu próprio corpo? Estas questões sugerem alguns dos diversos esforços dos
homens e das instituições para se apropriarem dos seios femininos ao longo
da história.
Como parte determinante do corpo feminino, o seio foi codificado com co-
notações ” boas” e “más” desde que há registo. Recordemos que no Génesis,
Eva era simultaneamente a honrosa mãe da raça humana e a arquetípica mulher
tentadora. Judeus e Cristãos podem afirmar com orgulho que ela amamentou
os seus antepassados, mas também associam a maçã do pecado aos seus seios
redondos — uma relação tomada visível em inúmeras obras de arte.
Quando o modelo do “bom” seio entra em ascensão, a ênfase recai sobre
o seu poder de alimentar crianças ou, alegoricamente, em toda uma comuni-
dade religiosa ou política. Foi o que aconteceu durante cinco mil anos, em
que os ídolos femininos foram adorados em muitas civilizações do Ocidente
e do Próximo Oriente. Foi o que aconteceu há quinhentos anos nas pinturas
italianas da Virgem a amamentar, e há duzentos anos nas imagens de seios
dgsnudos da Liberdade, da Igualdade, e da nova República Francesa.
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!
pecial às alturas em que as mulheres tentaram reclamar a posse dos seus seios
— nomeadamente a época presente, o final do século XX.
A viagem traçada neste livro das deusas do Paleolítico até ao movimento
de libertação feminino é longa e recheada de surpresas. Ao longo do caminho,
encontramos estátuas pré-históricas cujos seios eram investidos de poderes
mágicos. Também deparamos com as sacerdotisas das serpentes de Minos,
em Creta, de seios nus, e as estátuas do culto de Artemisa, com inúmeros
seios, que configuraram a última vaga de adoração pré-cristã inspirada nos
mistérios femininos. No mundo da Bíblia hebraica, encontramos mulheres
primordialmente validadas como mães, e no mundo do Novo Testamento, a
Virgem Maria celebrada como a mãe miraculosa do Deus cristão. Tanto na
tradição judaica como na cristã, os seios eram dignificados por produzirem
o leite necessário à sobrevivência do povo hebraico, os seguidores de Jesus.
O exemplo do Menino Jesus a beber o leite da mãe tornou-se a metáfora do
alimento espiritual de todas as almas cristãs.
A Nossa Senhora do Leite, inventada na Itália do séc. XIV, em breve teve
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aleitamento. Por outro, estão cada vez mais associados ao cancro da mama
e à morte. Para as mulheres, a oposição entre o seio “bom” e o seio “mau”
não põe em confronto a mulher e a santa com a vagabunda e a prostituta,
como acontece em muitos textos escritos por homens. Nem evoca a oposição
entre as percepções do seio “bom” e acalentador para a criança e O seio
“mau” e rejeitador, subjacentes a algumas teorias psicanalíticas. Para as mu-
lheres, os seios incarnam literalmente a tensão existencial entre Eros e Tha-
natos — vida e morte — numa forma visível e palpável.
Uma história cultural do seio inclui-se inevitavelmente no contexto do
“reino do falo” que domina o Ocidente há duzentos e cinquenta anos. No
entanto, o seio tem um reino simultâneo construído a partir das fantasias dos
homens, é certo, mas que exprime cada vez mais as necessidades e desejos
das mulheres a quem os seios pertencem, em última análise.
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Um
O SEIO SAGRADO:
DEUSAS, SACERDOTISAS, MULHERES
BÍBLICAS, SANTAS E VIRGENS
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ação era rem tina
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n
Sicília. Séc. VIA. €C.
Uma deusa a amamentar não apenas uma, mas sim
duas crianças, sugere'poderes excepcionais.
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culto da deusa Artemisa, em tamanho real (fig. 8). Estas estátuas de seios
múltiplos têm sido vistas tradicionalmente como símbolos de abundância ma-
mária, embora haja quem afirme que os globos pendentes do tronco são filas
de ovos ou testículos de touro, últimas reminiscências do antigo rito de pregar
testículos de touros sacrificados a estátuas de culto em madeira.
De acordo com outra interpretação, a Artemisa de Efeso era ornamentada
com tâmaras grandes — símbolos de fertilidade — que vieram posteriormen-
te a ser tomadas por seios múltiplos! E possível que elas tenham sido ins-
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piradas na anomalia física que faz com que algumas mulheres se vejam pro-
vidas de seios ou mamilos ” supranumerários” dispostos em fila; esta situação
anatômica anómala faz-nos lembrar os nossos laços genéticos com outros
mamíferos, com os seus múltiplos úberes e tetas. Mas qualquer que seja a
origem das estátuas, a Artemisa de Efeso, ” com seios múltiplos”, acabou por
simbolizar a ideia de um abastecimento de leite miraculoso, correspondendo
a uma fantasia humana sem idade. Os artistas de séculos posteriores não dei-
xam dúvidas em relação ao que pensavam que os globos simbolizavam: ge-
ralmente, representam uma criança sobre um dos seios, ou fios de leite a cor-
rer de vários seios para a boca das crianças.
A fantasia da mulher de seios múltiplos (que não desapareceu com a Gré-
cia Antiga) deriva de uma associação duradoura entre o corpo feminino, a
Natureza e o alimento. Com os seios representados como úberes ou frutos
pendentes de uma árvore, as mulheres têm sido associadas aos reinos das
plantas e dos animais, e isoladas do reino do ” pensamento” do “espírito”,
reservados aos homens. Como as mulheres têm seios e potencial para forme-
cer leite às crias, as mulheres têm sido encaradas como estando mais perto
da Natureza do que os seus pares masculinos — como a própria personifi-
cação da Natureza — e tem-lhes sido atribuída uma responsabilidade primor-
dial por toda a comida que os seres humanos ingerem diariamente.
A proeminência do seio nas primeiras religiões gregas viria a ser gradual-
mente suplantado por aquilo que Eva Keuls denominou o “reino do falo”
Jovens divindades helénicas viriam a suplantar os antigos deuses, embora os
últimos tenham conseguido sobreviver num pequeno número de casos. Zeus
conquistou o Monte Olimpoà mais antiga divindade grega, Gaia Olympia,
A de Seios Profundos, e tornou-se chefe incontestado do Panteão Olímpico,
com a sua consorte, Hera, numa posição distintamente secundária. Numa cu-
riosa gravura em madeira do séc. VILA. C. está representado Zeus oferecen-
do o seio de Hera como as deusas costumavam oferecê-lo, sem a ajuda dos
maridos.!* Oferecer o seio era, entre outras coisas, um sinal da capacidade
de conceder favores.
Tal como as grandes deusas que inspiraram as civilizações Paleolítica,
Neolítica, e a Idade do Bronze tornaram-se ” Olimpianizadas” e fragmenta-
ramese em divindades menos poderosas, cada qual com os seus atributos mais
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para cobrir a
túnicas e, fora dela, capas para se protegerem do frio e véus
de vestuário
cabeça. Só em Esparta as mulheres podiam ter uma liberdade
um pouco maior. Aí, as raparigas usavam uma túnica curta
que dava até acima do joelho e tinha uma racha de lado que
deixava ver a coxa.
A maioria das raparigas gregas eram segregadas em re-.
lação aos rapazes, e quando casavam, geralmente com ho-
mens vinte anos mais velhos, esperava-se que
permanecessem em casa. As raparigas limita-
vam-se a trocar o recolhimento em casa dos pais
pelo recolhimento em casa dos maridos. % Er
quanto os homens passavam. muito tempo na
ágora, que servia de fórum público e de merca-
do, ou no ginásio, onde praticavam ginástica
nus, ou nos bordéis, onde os prostitutos mascu-
linos e femininos exerciam a sua
actividade, ou em banquetes dados
em casa de outros homens, não pa-
recia decente que as mulheres da
classe burguesa aparecessem em
público, nem mesmo na presença
dos homens que tam a sua casa.
Os desenhos encontrados em
vasos antigos representam recata-
das mulheres burguesas, sentadas
com as suas garrafas de óleo e ces-
tos de lã, e uma lira ou uma criança.
Estão sempre recatadamente cober-
tas até ao pescoço, por vezes com
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nis, o jovem e desditoso amante de Afrodite, tinham lugar por cima dos te-
lhados de Atenas em finais de Julho. Grupos informais de mulheres dan-
cavam e cantavam aí no mínimo uma noite no ano provavelmente mais, à
vista de todos os que quisessem espiá-los de longe.
A Lysistrata de Aristófanes dá-nos um retrato irónico da versão masculina
desses acontecimentos. Um legislador pomposo expunha na Assembleia,
“enquanto a sua mulher, um pouco ébria em cima do telhado, / exclamava
*“Abanai os vossos seios por Adónis! 24 A versão feminina desta festa, como
a célebre poetisa lírica Safo afirmara muito antes, tem um tom de empatia
muito diverso: “O belo Adónis morre, Cytherea, que havemos de fazer? Aba-
nai os seios, donzelas, e rasgai OS vossos chitons.”?º .
A “cultura do seio” que florescera durante vários milénios em torno dos
altares da Grécia Antiga continuou a ganhar expressão em grupos exclusiva-
mente femininos que se reuniam no alto dos telhados, ou dentro das casas e
“ debaixo do chão.” Esta cultura viria a ser transmitida oralmente de geração
em geração sob a forma de mitos que faziam lembrar os mistérios femininos
numa altura em que esses mistérios tinham deixado de ser reverenciados pu-
blicamente. Na sociedade grega que festejava os órgãos genitais masculinos,
o poder do seio feminino existia principalmente em lendas que tinham per-
manecido ao longo do tempo e continuavam a atribuir aos seios poderes so-
brenaturais.
Havia uma explicação mitológica para a criação da Via Láctea, por
exemplo, que associava os seios de Hera à seguinte lenda. Acreditava-se
que os mortais poderiam tornar-se imortais se fossem amamentados no seio
da rainha das deusas. Por isso, quando Zeus quis que o seu filho Hércules
-— cuja mãe era a mortal Alomena — se tornasse imortal, pousou-o suave-
mente sobre o seio de Hera enquanto esta se encontrava a dormir. Mas Hér-
cules chupou com tanto vigor, que ela acordou e percebeu que ele não era
o seu filho. Indignada, retirou o seio com tanta força, que o leite jorrou para
o céu, criando a Via Láctea. Foi assim que Hércules, que bebera leite de
Hera, se tornou um deus imortal. Durante o Renascimento, tanto Tintoretto
(1518-94) como Rubens (1577-1640) transformaram este mito em magní-
ficos quadros (fig. 10).
4“ao
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10. Jacopo Tintoretto. 4 Origem da Via Láctea. Finais do séc. XVI.
Tintoretto representa a Via Láctea a nascer de um jacto de leite dos seios da deusa Hera, de
acordo com uma lenda antiga da Grécia.
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Me
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to para homens como para mulheres. O académico hebraico David Bials en-
contra semelhanças entre as bênçãos dos seios e do ventre encontradas na Gé-
nese e os cultos de fertilidade dos habitantes de Canaã, vizinhos dos Israeli-
tas. Este autor suspeita da influência de deusas de Canaã como Asherah e
Anat, “cuja iconografia representava seios proeminentes. Essas deusas são
referidas num texto desta região como “as amas de leite dos deuses.” Outro
refere “os seios divinos, os seios de Asherah e Rabam *!
O seio sagrado dos primórdios do Judaísmo encontra-se directamente liga-
do ao próprio Deus. El Shaddai, o nome de Deus que está sempre associado
às bênçãos de fertilidade, significava qualquer coisa como o “Deus (El) com.
seios” ou o ” Deus que amamenta.”*? Mesmo que essa linguagem fosse com-
preendida apenas metaforicamente, é evidente que se trata de uma apropriação
de um atributo fundamentalmente feminino. Deus podia ser visto como mas-
culino ou feminino, transcendendo os limites estreitos dos géneros humanos.
A fertilidade era então tão central nos primórdios do Judaísmo como o
era para as religiões pagãs, e o seio, tal como o ventre, era celebrado aber-
tamente. Sara, mulher de Abraão e mãe do povo hebraico, riu de contenta-
mento ao saber do nascimento de Isaac na altura da sua velhice e exclamou:
” Quem diria a Abraão que Sara iria amamentar crianças?” (Génese, 21:7).
Ana, mulher do futuro juiz Samuel, recusou-se a ir em peregrinação para fa-
zer o sacrifício anual até o seu filho ser desmamado — ou seja, por um pe-
ríodo de dois ou três anos (1 Samuel 1:21-22). Posteriormente, o Talmude vi-
ria a formular a ordem de amamentar para todas as mulheres judaicas: ” Um
bebé mama durante vinte e quatro meses. O período de aleitamento não deve
ser reduzido, pois o bebé pode morrer de sede.” * Numa emergência, as amas
-de leite podiam ser substituídas pela mãe biológica, ou algum tipo de leite
animal, principalmente de cabra, de ovelha ou de vaca.
Um marido bíblico era intimado a retirar prazer dos seios da mulher: ” Ale-
grai-vos com a mulher da vossa juventude. Deixai os seios satisfazer-vos a todo
o momento.” Em contrapartida, era advertido para “não beijar o colo de uma
estranha” (Provérbios 5:19-20). Aquele que seguia este conselho podia esperar
obter as bênçãos da progenitura, a recompensa da sexualidade monógama.
O seio seco, tal como o ventre estéril, era considerado uma maldição. Era
so. Deus de Israel que dominava estas duas eventualidades, determinando se
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úma merecia ter um ” ventre fecundo” ou o ” ventre que aborta e seios secos”
(Isaías 9:11, 14). A maldição dos seios secos ou engelhados, que ameaçava
todos os que desafiavam a vontade de Deus, tomou uma veemência particular
na boca dos profetas.
No séc. VIA. €.,o profeta Ezequiel associou os seios aos pecados co-
medos por Jerusalém e pela Samaria. Na parábola das duas prostitutas que
simbolizavam essas cidades, atacou os seus seios com uma vingança pouco
comum, mesmo para um profeta da desgraça. Jerusalém e a Samaria eram
representadas como irmãs lascivas que “fizeram de prostitutas no Egipto, fi-
zeram de prostitutas enquanto ainda eram meninas, visto que aí deixaram aca-
riciar os seios e comprimir o colo virgem” (Ezequiel 23:3). Elas também
” serviram de prostitutas” com Assírios e Babilónios, e acabariam por ser des-
* truídos pelos seus primeiros amantes pagãos.
Falando em nome do Senhor, Ezequiel avisa Jerusalém de que será cruel-
mente punida, como a sua irmã Samaria. ”Beberás da taça da tua irmã cheia
- de troça e zombaria uma taça de ruína e desolação e bebê-la-ás até às fezes.
' Depois comê-la-ás aos pedaços e rasgarás os seios” (Ezequiel 23:32-34). É
“um retrato brutal da vingança divina tão oral e sádico que quase lamentamos
a sorte dos comentadores bíblicos que tiveram de defendê-lo. Basta dizer que
a profecia de Ezequiel provou ser verdadeira enquanto ele ainda era vivo: os
Babilónios, comandados por Nabucodonosor, destruíram o reino de Israel e
puseram os Hebreus em cativeiro. o vero =
Encontramos uma atitude muito diferente em relação aos seios n'O Cân-
tico dos Cânticos, uma colectânea de poemas de amor tradicionalmente atri-
buída ao Rei Salomão, mas que pode ter sido escrita por mais de um autor
“ao longo de um grande período de tempo. Na opinião de Marcia Falk, uma
das recentes tradutoras do Cântico, as mulheres deram um contributo signi-
ficativo para a composição oral desta obra. Esta autora salienta que “as mu-
Iheres falam em mais de metade dos versos do Cântico — uma proporção
extraordinariamente grande para um texto bíblico — e o mais notável é que
se referem à sua própria experiência e imaginação, em palavras que não pa-
recem ser filtradas pelas lentes da consciência patriarcal.”**
Ao contrário da relativa falta de interesse pelo amor erótico na Bíblia, es-
tes poemas conferem um interesse nitidamente sensual pelo corpo e uma viva
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%
Como és formosa,
Minha adorada,
Os teus olhos são como pombas
Por detrás do teu véu
O teu cabelo —
Negro como os cabritos
Que serpenteiam pelas ravinas
Os teus seios —
Duas crias de cerva gémeas
À. pastar em campos floridos
Ou então:
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“b
terpretações mais seculares: a nóssa era não tem qualquer problema em in-
terpretá-lo como um poema de amor lírico sobre homens e mulheres mortais.
Embora seja perigoso interpretar os textos bíblicos como se constituís-
sem crónicas, eles permitem-nos retirar algumas conclusões seguras sobre
as mulheres hebraicas. Tai como as suas congéneres gregas, que não eram
escravas nem prostitutas, as mulheres bíblicas eram educadas para viver em
castidade sob o tecto dos pais e em monogamia em casa dos maridos. Uma
mulher tinha de manter o corpo longe dos olhares de todos excepto do ma-
rido; a cabeça também passava a ficar coberta a partir do momento em que
punha o-véu de casamento. é Tirando algumas figuras excepcionais, como
a grande profetiza Débora ou a heróica Judite, as mulheres bíblicas parecem
surpreendentemente próximas das suas irmãs do mundo moderno ocidental.
Filhas cumpridoras, mulheres obedientes embora por vezes demasiado di-
rectas, e mães preocupadas, todas elas se curvavam aos ditames dos homens
que govemavam as suas vidas. Os seus seios pertenciam aos maridos e fi-
lhos por decreto divino.
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. (À esquerda) Martírio de
Santa Ágata. Atribuído a
Pieter Acrtsen. Séc. XV.
Santa Ágata foi uma már-
tir dos primórdios do
Cristianismo cujos seios
foram —wmutilados por
soldados Romanos.
(À direita) Francisco de
Zurbarán. Santa Ágata.
Séc. XVIL
Em pinturas Renascentis-
tas e Barrocas, Santa
Ágata aparece transpor-
tando os seus seios numa
travessa, como se se
tratasse de pudins ou
romãs.
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H
santa padroeira de Florença, com uma igreja erigida em sua honra que veio
a ser parte da actual catedral. Actualmente, podemos encontrar um fulgurante
quadro do séc. XV representando o seu martírio no Museo del Duomo. As
narrativas pictóricas de martírios femininos, qualquer que seja a sua intenção
didáctica, proporcionaram a alguns artistas a oportunidade de dar livre curso
aos seus impulsos sádicos contra os seios femininos.
Numa excepção curiosa na iconografia medieval, podemos ver o desnu-
damento do seio como sinal de súplica. Na sua essência, tratava-se do mesmo
gesto usado pela ousada cortesã grega Phryne no seu julgamento, mas no con-.
texto cristão, havia uma humildade consideravelmente maior. Um persona-
gem nada menos importante que a Virgem Maria encontra-se representada
de seios nus numa cena do Julgamento Final pintada na parede da igreja de
North Cove, Suffolk, Inglaterra.” A Virgem oferece este gesto supremo
numa tentativa de interceder por um grupo de pecadores destinados ao fogo
do Inferno. Em tudo semelhante a uma rainha do séc. XIV com a sua coroa
cravejada de Jóias, e com os seios elegantes apertados um contra o outro den-
tro de um espartilho justo, Maria ergue os braços e implora perdão a Cristo.
É de presumir que até Cristo terá pensado melhor ao ver os seios da mãe.
Mas as representações pictóricas não contam tudo. Se analisarmos a lite-
ratura desta época, encontramos outras redes de sentido em torno do seio,
muitos deles relacionados com a instituição da maternidade. Para a sociedade
médica, o seio tinha uma importância particular: era o sinal de ligação entre
mãe e filho, o laço entre uma e outra geração, com tudo o que isso implicava
em termos de estatuto, riqueza e responsabilidades morais. Num tratado in-
fluente do séc. XIII da autoria de Bartolomeu, o Inglês, a mãe era, inclusi-
vamente, definida como a pessoa ” que dá o seio à criança” *º (Num contexto
completamente diferente, é interessante notar que o ideograma chinês para
“mãe” é feito com dois seios quadrados estilizados.)
Mesmo quando não era a própria mãe a amamentar a criança, o que já
acontecia em algumas famílias das classes mais abastadas, o seio aleitador
era da responsabilidade da mãe. O leite da mãe, ou da ama de leite que ama-
mentava em seu lugar, era o equivalente visual da linhagem, em torno da qual
a sociedade feudal estava organizada. Uma linhagem transmitida por proge-
nitura legítima, e em especial ao herdeiro homem, o melhor leite possível,
Ho
Tay
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EM
tar a criança, que tem na mão um quadro do abecedário. A criança está cla-
tamente na idade de aprender a ler, provavelmente por volta dos três anos.
A aprendizagem do abecedário era uma questão “oral” para a criança, pois
esta assimilava com ele uma recompensa deliciosa, o leite materno ou outra
: guloseima, como o mel. O seio era, então, o adoçante da aprendizagem, a
“porta da sabedoria, a mãe era chamada a alimentar a criança física e men-
talmente.
Este modelo maternal, estreitamente ligado ao ideal de Nossa Senhora,
tinha de rivalizar com a influência crescente do amor cortês, onde não havia
lugar para a lactação. As narrativas francesas do séc. XII, como Garin le Lo-
herain e Ogier le Danois, já cantavam o louvor dos seios pequenos (V les ma-
melettes” ), sempre firmes, sempre brancos, e frequentemente comparados a
“ maçãs. O autor de Aucassin et Nicolette preferia contornos ainda mais redu-
zidos, visto que a sua heroína tinha cabelos louros, olhos risonhos, lábios pe-
quenos, dentes pequenos e “seios firmes que subiam acima do vestido como
duas avelãs redondas.” *
La Clef d'Amors, um manual de cortesia baseado na Arte de Amar de Ovi-
deo, fornecia este conselho pouco modesto: ” Se tendes um belo seio e um
belo pescoço, não deveis cobri-los, mas sim usar vestidos decotados para que
todos possam olhá-los e desejá-los ardentemente.” O poeta do séc. XIV
Eustache Deschamps defendia decotes amplos e vestidos justos com rachas
dos lados, ” através dos quais se podia ver melhor os seios e o pescoço.” Para
os seios flácidos, havia o remédio de coser na parte de cima do vestido ” duas
bolsas contra as quais os seios ficam comprimidos, de forma a que os ma-
milos são impelidos para cima,”*
Esta e outras fontes evocam as grandes alterações que ocorriam no final
da Idade Média. Anteriormente, homens e mulheres usavam vestes muito se-
melhantes — túnicas pelos tornozelos que não enfatizavam as diferenças en-
tre os sexos. Porém, no início do séc. XIV na maior parte da Europa, os ho-
mens tinham abandonado as suas longas túnicas, trocando-as por vestes mais
curtas que apenas davam pelo meio da coxa, deixando as pernas à mostra.
Embora as mulheres continuassem a usar roupas pelo tornozelo, baixaram o
decote e moldaram o corte de forma a acentuar o busto.
Muitas pessoas achavam que estas novas modas que expunham o corpo
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expõe apenas um pequeno seio redondo, ao passo que o outro permanece de-
baixo da capa; o Menino Jesus chupa o seio exposto; porém, este parece estar
ligado ao corpo da Virgem de um modo pouco realista, como um fruto pe-
queno — um limão, uma maçã ou romã — que tivesse caído acidentalmente
na tela,
Neste século, familiarizados que estamos com a Nossa Senhora do Leite
a partir de inúmeros quadros italianos, franceses, alemães, holandeses e fla-
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A
mengos, não podemos imaginar a novidade que constituiu esta imagem quan-
do ela surgiu. Temos de tentar pôr-nos na pele dos italianos de fins da Idade
Média, a maioria dos quais não sabia ler, ao verem pela primeira vez a Vir-
gem a dar de mamar a um bebé como qualquer outra mulher. A sua reacção
terá sido de choque, indignação, horror ou prazer? Não podemos esquecer
que, até então, a Virgem tinha sido incarnada em figuras muito menos hu-
manas — como a imperatriz bizantina envolta num halo dourado, ou a etérea
Rainha dos Céus rodeada de anjos e santos, ou a esquálida Virgem recuando
com modéstia face ao anjo da anunciação. Quando Nossa Senhora era re-
presentada como mãe, o menino que tinha no colo era geralmente um homem
em miniatura, numa posição rígida à sua frente. Em alguns casos, era repre-
sentado olhando-a no rosto, ou com um símbolo religioso na mão, mas nunca
tinha sido visto como um lactente guloso.
O que é certo é que o seio não parecia fazer parte do resto do corpo. As-
sim, o artista transmitia a natureza ambígua da mãe de Cristo: ela era, e não
era, uma mulher como as outras. Ela tinha, de facto, um seio funcional (pelo
menos um) capaz de produzir leite, e usava-o para amamentar o filho, mas
tudo o mais sugeria que ela era ”única entre o seu sexo”?!
Porque apareceu e se popularizou esta imagem da Virgem no início do
séc. XIV em Itália? Talvez esse facto se relacionasse com a subnutrição cró-
nica e a ansiedade em relação ao abastecimento de alimentos que afectou a
sociedade florentina na altura em que os quadros da Nossa Senhora do Leite
começaram a proliferar.”*2 A imagem de um Menino Jesus rechonchudo a
mamar no seio de Nossa Senhora devia ser reconfortante para uma população
que, no início do séc. XIV, tinha vivido graves crises nutricionais provocadas
por colheitas fracas e, posteriormente, por ondas sucessivas de peste.
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Eaq
Talvez isso tivesse a ver com a prática cada vez mais comum de enviar
4
crianças florentinas para amas de leite da província. A partir de meados de
1300, as crianças da classe média urbana eram geralmente entregues nas
mãos de uma bália ou ama de leite imediatamente a seguir ao baptismo.”
Quer a mãe amamentasse ou não a criança, ou não fosse autorizada a fazê-lo
pelo marido, a bâlia era vista como uma necessidade. Combinações contra-
tuais, geralmente levadas a cabo pelo pai, estipulavam que a bália amamen-
tava o bebé até ao desmame, geralmente aos dois anos, embora na prática fos-
ço
Ta
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E noutra canção:
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1416) via Cristo como uma mãe que alimentava os fiéis com leite que corria
- das feridas. A analogia de uma mãe a amamentar foi referida explicitamente
em middle English: ”The moder may ley hyr chylde tenderly to hyr brest,
but oure tender mother Jhesu, he may homely lede vs in to his blessyd brest
by his swet opyn syde.” (7A mãe pode pôr o filho ternamente ao peito, mas
a nossa terna mãe Jesus pode deixar-nos modestamente pousar sobre o lado
)* No séc. XVI, Deus ainda era conceptualizado
aberto do seu seio sagrado.”
como uma mãe aleitadora. Santa Teresa, por exemplo, escreveu na sua Via
para a Perfeição: ” A alma é como uma criança que ainda mama ao colo da
mãe... apraz a-Deus que, sem exercitar a mente, a alma... beba apenas o leite
que Sua Majestade lhe põe na boca, e saboreie a sua doçura.” º Esta lingua-
gem mística, com a sua visão de reciprocidade entre o seio divino e a alma
humana, transmite um estado que pode atiçar memórias inconscientes de en-
levo infantil, mesmo aos cépticos modernos.
Ao longo de toda a Idade Média, o leite do seio — e outros fluidos, como
o sangue de Cristo ou as lágrimas da Virgem Maria — sempre tiveram co-
notações místicas. O leite e o sangue eram considerados essencialmente a
mesma substância, a primeira composta a partir da segunda para alimentar
as crianças. Muitas histórias e quadros populares lidavam com o apelo não-
-verbal destes dois fluidos, misturando-os por vezes num efeito milagroso:
por exemplo, dizem que Santa Catarina de Alexandria, quando decapitada,
deitou leite da garganta em vez de sangue ”*º o
A seguir ao sangue de Cristo, o leite de Maria era o mais sagrado e mi-
lagroso dos fluidos, e os seus milagres eram contados em inúmeros poemas,
histórias e canções. Uma narrativa inglesa de finais da época medieval des-
creve Maria ” com os mamilos cheios de leite”, pousando o Menino “no seio
(colo)”, e “enquanto ouvia falar do Espírito Santo, ia-o saciando com o seu
leite doce.”*! Aqui, Maria é descrita como uma simples rapariga do campo
dada aos cuidados afectuosos de uma mulher que é mãe pela primeira vez;
porém, não devemos esquecer que os seus mamilos cheios e o seu leite doce
foram originados por uma força mais poderosa.
Esta dualidade entre carne e espírito é expressa de um modo mais com-
pleto na seguinte canção de Natal, com versos escritos alternadamente em
“francês e em latim. ”O Menino pega no seio / E bebe o leite / É o leite de
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“x
uma virgem / E por isso, incorrmuptível. / É certo que é novidade / Uma virgem
ser mãe. / E uma criança nascer /Sem pecado carnal.”*2 S6 o leite de uma
virgem imaculada era considerado capaz de produzir milagres.
Inúmeros frasquinhos com o leite de Maria eram colocados como relí-
quias nas igrejas, onde se dizia poderem curar um grande número de doenças,
incluindo a cegueira e o cancro. Calvino, o reformador Protestante do séc.
XVI, ao ver as amostras do leite de Maria espalhadas por toda a Europa, co-
mentou sardonicamente no Inventário de Relíquias que “não há cidade, por
mais pequena, nem mosteiro ou convento, por mais insignificante que seja,
que não os tenha, alguns em pequenas, e outros em maiores quantidades...
Ou os seios da Santa Virgem Maria forneceram uma quantidade mais copiosa
do que a que daria uma vaca, ou então, se ela tivesse continuado a amamentar
durante o resto da vida, dificilmente poderia ter fornecido a quantidade ex-
bida.” E prosseguia, no mesmo tom cínico, indagando ” como esse leite terá
sido colhido e preservado até aos nossos dias.” É
As pessoas mais simples não duvidavam que o leite era proveniente da
Virgem adorada. Sentiam-se reconfortadas pelas relíquias e estátuas de Maria
e dos santos protectores, alguns dos quais eram especialmente dedicados às
mulheres grávidas e mães aleitantes. Notre-Dame-de-Tréguron na Bretanha
(Gouêrec), por exemplo, acolhe uma estátua da Virgem Maria de seios des-
cobertos, com o seio direito pousado na mão, em oferenda. As jovens nuben-
tes levavam toucas de bebé e miniaturas de partes do corpo feitas de cera em
oferenda, a par das suas orações para terem leite suficiente. Na França rural,
essas práticas mantiveram-se entre a população de camponeses até ao séc.
x3c.64
Uma das mais curiosas histórias medievais diz respeito a Veronica Giu-
liana, que levou um cordeiro para o leito, e o amamentou em memória do
cordeiro de Deus. Por este acto de extrema piedade, foi beatificada no séc.
XV pelo Papa Pio H. Num banco de coro da Catedral de Léon, em Espanha,
inspirado na sua história, está representada uma rapariga a dar o seio a um
pequeno anima! semelhante a um unicórnio.É Ela representa a virtude teo-
lógica da Caridade, que era geralmente representada como uma mãe a ama-
mentar uma ou duas crianças (fig. 19).
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20. Jean Fouquet. Nossa Senhora com o Menino, conhecido por 4 Virgem de Melun. Segunda metade
do séc. XV.
Este retrato da amante de Carlos VIH, Agnês Sorel, pintada como uma Nossa Senhora, marca a
transição entre o seio sagrado da Idade Média e o seio erótico do Renascimento.
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com Carlos VH, adoeceu e morreu passados poucos dias. Deixou o legado
da sua beleza em dois retratos conhecidos que marcaram a transição do ideal
do seio sagrado associado à maternidade para o do seio erotizado, denotando
prazer sexual. Na arte e na literatura, o seio viria a pertencer cada vez menos
ao bebé, ou à Igreja, e mais aos homens de poder terreno que o encaravam
apenas como um estímulo para o desejo.
Não sabemos ao certo se Agnês Sorel alguma vez terá aparecido em pú-
blico de seios descobertos ou com um seio descoberto, como se dizia quando
ela era viva. É certo que usava os vestidos muito decotados que eram moda
na corte. Dizem que foi Isabel da Baviera, a obstinada mãe de Carlos VII,
que introduziu este estilo. Em 1405, Isabel foi publicamente censurada peló
ousado sacerdote Jacques Legrand pelo seu mau exemplo. O sacerdote vo-
ciferou do púlpito: ”Ó rainha louca! Baixa as pontas dos teus hennins (cha-
péus em forma de sela) e cobre a tua carne provocante”? Mas apesar disso,
os novos decotes em breve se tornaram opções acessíveis às mulheres de to-
das as classes.
Desde a altura em que os seios começaram a aparecer na moda no final
da Idade Média, os moralistas de todos os países ergueram-se em protesto
por tamanha exposição. Os porta-vozes da Igreja Católica apelidavam os de-
cotes rendados dos corpetes das mulheres de “portas do Inferno”. O refor-
mador religioso checo John Hus (1369-1450) condenou veementemente o .
uso de vestidos decotados e os adereços artificiais que faziam os seios parecer
dois “chifres” projectados para fora. O chanceler da Universidade de Paris,
Jean Gerson (1363-1429), criticava o espectáculo do “colo aberto e dos seios
descobertos” das mulheres, empinados no meio de espartilhos rígidos e man-
gas apertadas *
Confrontadas com essas críticas, as mulheres elegantes arranjaram maneira
de manter os decotes vivos através do uso de um pouco de tecido transparente
a cobrir o busto. Michel Menot, um dos oradores mais virulentos do séc. XV,
denunciou explicitamente este estratagema, acusando-o de ser um engodo mal-
doso que apenas fingia cobrir os seios. As mulheres que ofereciam a carne desta
maneira eram comparadas com as peixeiras que mostravam a mercadoria, ou
os leprosos que andavam pelas ruas com todo o tipo de objectos para fazer ba-
« xulho e alertar os transeuntes da sua presença perigosa.
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Outro padre francês, Olivier Maillard, garantia que as mulheres que mos-
ravam os seios arderiam no fogo do Inferno penduradas pelos seus “úberes
ergonhosos”, um castigo evidentemente adequado ao crime. 'o bispo Jean
“Touven des Ursins, lamentando as práticas dissolutas da corte de Carlos VII,
“atacava os decotes dos corpetes “através dos quais se vêem os seios das mu-
heres, mamilos e carne”, que na sua mente eram símbolos concretos da at-
mosfera geral de ” prostituição e libertinagem e todos os outros pecados.”
“Em Inglaterra, o equivalente mais novo de Carlos VII, o pio Henrique VI
1421-71), sentia-se ofendido pelos colos despidos que via à sua volta, e de-
jencorajava firmemente a sua exibição na corte. Os moralistas ingleses jun-
“taram-se ao coro, condenando as mulheres por mostrarem Os selos, e censu-
“tavam homens e mulheres pelos seus trajes exuberantes — nomeadamente
“as mangas sumptuosas, sapatos afilados, e a exuberante protecção da região
genital que esteve na moda durante quase duzentos anos (de cerca de 1408
“a 1575). Durante este período, numerosas leis sumptuárias que regulamen-
“tavam o vestuário foram aprovadas na maior parte do reino da Europa, tanto
para distinguir as classes como para desencorajar o uso de roupas sexualmen-
te provocantes. Apesar de repetidos esforços, os seios visíveis continuaram
-a constituir uma afronta para os fanáticos e a deleitar as pessoas francamente
“terrenas.
Se pensarmos em muitas cenas de banho de diversos meios sociais, mos-
“trando homens retirando um prazer evidente dos seios das mulheres (figs. 21
“e 22). Prestemos atenção às palavras do poeta realista François Vilon (1431
“depois de 1463), que coloca na boca de uma prostituta idosa tristes expres-
“ sões de lamento pela perda dos seus encantos físicos:
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e exigindo que descobrissem os seios. O motivo para isso era O facto de al-
gumas prostitutas se vestirem de homem para atrair a clientela gay.
Para tornarem os seios aínda mais visíveis, algumas cortesãs pintavam-
-nos com os mesmos cosméticos que punham na cara. Eram vistas à janela
de suas casas, a mostrar os seios e a fazer sinais amorosos para atrair os clien-
tes. Os seios descobertos eram geralmente associados às prostitutas, tal como
os véus amarelos que elas eram obrigadas a usar em público e a ausência de
pérolas, proibidas por lei. No entanto, apesar das tentativas de controlar o seu
vestuário e joalharia, as cortesãs bem pagas continuaram a exibir os seus tra-
jes excessivos e as cruzes que abanavam provocantemente nos fios de ouro
que elas traziam no decote (fig. 26).
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28. Ronsard e Cassandre. Frontispício de Les Amours, 1552.
Ronsard, coroado e vestido como um poeta romano, olha para a imagem da sua musa Cassandre,
no lado oposto da página. Eram estas as convenções da era em que Ronsard, um clérigo ton-
surado, podia proclamar os seus tormentos eróticos pela bela Cassandre e exibir os seus seios
nus na primeira página do livro.
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conduta irrepreensível que fizesse prever a sua posterior carreira como aman-
te do rei, a menos que nos lembremos que o seu marido era neto de Carlos
VII e Agnês Sorel! O modelo de poder transmitido pelo sexo pode bem cons-
tituir parte da herança marital de Diane de Poitiers.
Após a morte do marido, a jovem viúva estava à altura da sua beleza len-
dária na altura em que terá cativado o jovem principe Henrique no auge da
adolescência. Diane viria a ser o grande amor de Henrique na maturidade,
apesar do casamento com Catherine de Médicis, que lhe deu dez filhos em
treze anos, e de algumas pernoitas em outros leitos reais. Henri assumiu aber-
tamente a pose de amante cavalheiresco em relação à viúva do Grande Se-
nescal, usando as suas armas -— preto e branco — em justas e tomeios, e pa-
trocinando os poetas e artistas que imortalizaram os seus encantos. Devido
aos favores concedidos ao rei, Diane adquiriu diversos títulos prestigiosos,
rendimentos colossais e diversas propriedades notáveis — entre as quais se
encontrava Chenonceaux, que se transformou naquilo que hoje em dia muita
gente considera ser o mais elegante castelo de França. À sua fama, riqueza
e influência atingiram um nível inédito.
Os encantos de Diane de Poiters incluíam muitos atributos mais signifi-
cativos do que o colo, mas como já vimos, os seus seios pequenos corres-
pondiam ao ideal da época. Não podemos duvidar que Henrique II os consi-
derava sedutores. Uma carta descrevendo o procedimento do rei em
semi-privado descreve-o “a tocar os seus seios de vez em quanto e a olhá-la
atentamente como um homem surpreendido pelos seus sentimentos.” *
A taça pessoal de Henrique IH tinha a forma do seio dela, uma prática que
o cronista Brantôme faz remontar (através de Plínio) a Helena de Tróia. A
tradição grega invocava os seios de Helena como a fonte original da primeira
taça de vinho. Deste modo caracteristicamente irreverente, para não dizer li-
cencioso, Brantôme troça das mulheres cujos ” enormes seios hediondos” da-
riam taças menos atraentes: ” Teríamos de dar ao ferreiro uma grande quan-
tidade de ouro, e toda a nossa despesa teria como retribuição risos e troça,”**
Nesta descrição das partes do corpo femininas, Brantôme dá-nos um antibla-
zon em prosa: Os seios, pernas, ou mesmo os pêlos púbicos e os grandes lá-
bios das mulheres são descritos da maneira mais repulsiva. Para citar apenas
um exemplo: há mulheres “ cujos seios têm mamilos semelhantes a uma pêra
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35 Va « ro , , =
podre.” A tradição do insulto misógino estava viva e de boa saúde nas mãos
de Brantôme, um Renascentista tardio.
Para evitar ter ” enormes seios hediondos”, as mulheres francesas recor-
riam a uma panóplia de práticas. Em finais do séc. XV, Eleanor, a favorita
de Carlos VII (1470-98), aumentava a beleza do colo recorrendo a água de
papoila, uma infusão feita de hera, óleo de rosa e cânfora.*º Dizia-se que Dia-
ne de Poitiers usava certos banhos de ouro e água da chuva ou leite de por-
ca” Naturalmente não havia falta de imaginação na produção de loções, bál-
samos, pomadas pós, pastas e cremes preparados nas boticas e vendidas por
caixeiros viajantes.
A acreditar em alguns dos muitos manuais de beleza que foram publica-
dos nos séculos dezasseis e dezassete, as fórmulas para a pele continham uma
vasta gama de ingredientes, desde as pérolas esmagadas à banha, ou ao san-
gue de pombo e aos olhos de sapo. Certos produtos eram considerados es-
pecialmente eficazes para manter os seios pequenos e firmes. Jean Liebault,
autor de Três Livros para o Embelezamento do Corpo Humano (Trois Livres
pour 1" Embellissement du Corps Humain, 1582), aconselhava o seguinte tra-
tamento: ” Aquela que tem seios pequenos e sólidos mantê-los-á desse modo
se esmagar sementes de cominho com água transformando-os numa polpa,
e a aplicar nos seios, apertando-os depois com um pano mergulhado em água
e vinagre. Ao fim de três dias, deve tirar tudo, e pôr em seu lugar bolbo de
lírio esmagado com vinagre, bem apertado com uma fita, e deixá-lo assim
por mais três dias."
Esta obsessão da classe alta com a aparência estava relacionada com o
recente culto do banho e do toucador. As banheiras ovais apareceram pela
primeira vez em França no reinado de Francisco 1, em substituição dos ba-
nhos públicos e das banheiras redondas do século anterior, pelo menos para
uma elite selecta. Não devemos, porém, ter ilusões em relação à limpeza. À
imersão completa na água era considerada perigosa, pois pensava-se que
abria os poros a substâncias nocivas; a limpeza consistia na mudança fre-
quente dos lençóis de linho e das camisas brancas, que funcionavam como
esponjas na remoção da sujidade.” Era provável que se utilizassem mais per-
fumes do que sabão.
O mais importante era a ilusão de limpeza e o efeito ofuscante que se po-
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. Gabrielle d'Estrées e uma das suas irmãs. Escola de Fontainebleau. Finais do séc. XVI
O aspecto mais notável deste quadro é a mão da mulher morena no seio da mulher loura. Mas
a mulher que está a beliscar o mamilo de Gabrielle d"Estrées será a sua irmã Julienne ou Henriette
d'Entragues, a mulher que sucedeu a Gabrielle como amante de Henrique IV?
sexuais de uma mulher despida, como se ela estivesse em exibição para ser
“vendida* Quando os homens e as mulheres eram retratados amorosamente
" juntos, ela encontrava-se frequentemente em estado de nudez e ele comple-
tamente vestido, muitas vezes com a mão no seio dela. O significado do seio
na alta cultura renascentista era inequivocamente erótico.
Enquanto 90 por cento das mulheres europeias funcionavam como por-
tadoras de leite, as outras 10 por cento cuidavam bem dos seios e reserva-
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vam-nos para os parceiros. Escusado será dizer que os parceiros eram geral-
mente homens, embora houvesse algumas mulheres, então tal como agora,
que preferiam fazer amor com membros do seu próprio sexo. O amor lésbico
não era de modo nenhum desconhecido nas comunidades medievais e renas-
centistas, embora a sua realidade estivesse escondida em conventos, castelos
e quintas, o mais longe possível de vizinhos curiosos ou de sacerdotes puni-
tivos. Um raro poema escrito por uma freira à sua amante dá-nos uma visão
única do amor lésbico na Europa pré-moderna: ” Quando recordo os beijos
que me deste, E como acariciaste os meus seios com palavras ternas, Tenho
vontade de morrer, Porque não posso ver-te, Fica à saber que não posso mais
suportar a tua ausência. Adeus. Lembra-te de mim.”* É este tipo de fisica-
lidade franca, com a sua referência específica aos prazeres do seio, que não
encontramos noutros escritos femininos.
Oficialmente, o sexo entre mulheres era um pecado ” contra natura”; po-
rém, na prática, esses actos entre mulheres eram raramente punidos só por
si, e muito menos do que a homossexualidade entre homens.* A historiadora
Judith Brown, que descobriu a história de uma freira lésbica julgada pelas
autoridades eclesiásticas pelos seus “actos de imodéstia”, apenas encontrou
uma meia dúzia de procedimentos semelhantes em toda a Europa renascen-
tista, a par de centenas senão milhares de casos de homossexualidade mas-
culina sobre os quais foram movidas acções judiciais * É certo que, qualquer
que fosse a intenção simbólica do artista, parte do valor de choque do retrato
de Gabrielle d'Estrées com a sua companheira no banho derivava do facto
de duas mulheres serem mostradas num acto oficialmente reservado para os
homens ou para os bebés. Numa cultura que glorificava a justaposição do seio
e do bebé e sancionava a mão masculina no peito da mulher, retratar uma
mulher a tocar no seio de outra era, no mínimo, subversivo.
Muitos dos seios da arte do séc. XVI são notavelmente semelhantes, como
se tivesse havido um modelo esguio a posar para todos os quadros de França,
e a sua irmã de peito amplo para todos os de Itália. Poucas mulheres, à ex-
cepção das amas de leite, das camponesas e das bruxas, são retratadas com
seios muito grandes ou pendentes. É como se os seios ideais não estivessem
sujeitos às leis da gravidade. É possível que as mulheres reais, de seios nor-
“mais em forma de peras, melões ou beringelas, sentissem o desconforto que |
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vidida. Vira a ser a única estrela do firmamento inglês, brilhando ( como rai-
nha, rei e amante ao mesmo tempo.
Para esse efeito, projectou uma imagem andrógina. Um excesso de femi-
nilidade poderia minar a sua autoridade, demasiada virilidade fá-la-ia parecer
monstruosa. Ela sabia tirar partido tanto dos atributos masculinos como dos
femininos, como aconteceu no seu discurso que fez às tropas em 1588 em
Tibury, após a derrota da Armada Espanhola, quando proclamou: ” Eu sei que
tenho corpo de mulher fraca e frágil, mas tenho coração e barriga de rei.” A
sua fraqueza feminina era enfatizada de forma a realçar a sua força máscula.
Foi ela que estabeleceu o modelo para aquela linhagem de “mulheres de fer-
ro”, mais recentemente incarnado por Margaret Thatcher, cujo papel é man-
ter sob controlo tanto a fraqueza ” feminina” como a insubmissão “masculi-
na.”>9
Durante a maior parte do reinado de Isabel, o corpo da “mulher fraca e
frágil” encontrava-se geralmente oculto por baixo de roupagens pesadas e
elaboradas que lhe esmagavam o peito, deixando apenas as mãos e o rosto a
descoberto. É assim que ela aparece na maioria dos seus retratos, cujo pro-
pósito era apresentar uma imagem de magnificência real (fig. 32). Nos pou-
cos quadros que expõem o seu pescoço e parte superior do busto, essas partes
do corpo encontram-se aplanadas, de modo a sugerir um ícone rígido e formal
em vez de uma mulher de came e 0880. Até ao fim da vida, OS seus seios vi-
riam a permanecer os seios de uma “rainha virgem”, casada apenas com o
povo.
Os vestidos de Isabel eram cortados de acordo com o estilo armadura im-
portado de Espanha no início do século: a metade superior do busto estava
encerrado num corpete duro de barbas de baleia que comprimia o busto e des-
cia até à cintura. O corpete era designado por “body” ou “pair of bodies”,
por ser composto por duas partes, a da frente e a de trás, unidas dos lados.
As mangas separadas podiam ser unidas ao corpete e, por uma questão de
modéstia e protecção, um lenço de gaze semi- Jransparente ou uma peça de
linho conhecida por “partlet” cobria o decote.”
As mulheres das classes populares usavam corpetes duros com rendas na
parte da frente, como ainda podemos ver nos trajes tradicionais de muitos paí-
x Ses europeus, mas nas famílias das classes altas, o “corpo” mais substancial,
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Aqui, os seios apelam para três dos cinco sentidos — visão, sabor e toque
— numa longa lista de analogias bem conhecidas.
Edmund Spenser (1552-993, comparando os órgãos femininos com diver-
sas flores, criou um jardim inglês anatómico no seu soneto 6a.
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Já amamentei, e sei
Quanto amor se tem ao bebé que nos suga o leite; .
Enquanto ele me sorria,
Ter-lhe-ia arrancado das gengivas desdentadas o bico do meu
seio
E esmagado os seus miolos, se eu tivesse jurado que lho faria,
Como vós jurastes que havíeis de executar o vosso projecto.
Ela receia que Macbeth esteja ” demasiado cheio do leite da bondade hu-
mana” para executar o acto que lhe permitiria aceder à coroa. Nas suas me-
ditações, o assassínio exige um tipo de alimento diferente: “Vem aos meus
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seios de mulher / E bebe a bílis do meu leite” De acordo com conceitos an-
tigos segundo os quais o leite materno continha em si os traços de carácter
da mãe, Lady Macbeth teria transmitido ao filho (ou ao marido) a sua natu-
reza vingativa.
Este retrato de uma mulher que deseja transformar o leite em bílis para im-
itar o marido a matar, ou esmagar a cabeça do seu bebé por medo ou cobardia,
enuncia um medo primitivo de que o seio que dá leite se transforme num agen-
te de destruição. O veneno e a bílis tornam-se, assim, substitutos simbólicos
o leite — fluidos tóxicos existentes no coração da feminilidade. Por detrás do
“corpo erótico e maternal encontramos a figura da mulher guerreira — uma
“Amazona ou Lady Macbeth — que incute terror no coração dos homens.
— Infelizmente, não há poemas de mulheres inglesas deste período que ofe-
reçam uma perspectiva alternativa do corpo feminino. No entanto, dois poe-
mas atribuídos nada mais nada menos que à rainha Isabel, referem-se ao seio,
embora não o encarem como objecto de excitação física. Tal como na poesia
das duas francesas citadas anteriormente, o seio é visto como equivalente ao
coração, proporcionando uma visão interna e emocional, e não externa e sen-
sual. No poema seguinte, o seio é considerado terno e vulnerável, um alvo
fácil para as setas ou críticas de Cupido, neste caso as últimas, pois Isabel]
troçou das alianças do amor, tendo lamentado esse facto em vida, pelo menos
nos poemas:
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Uma poeta e dramaturga mais célebre do séc. XVII, Aphra Behn (1640-
-89), avançou a causa do erotismo feminino como nenhuma outra mulher
o tinha feito antes dela. Por esse facto, ganhou a fama de ser uma “ meretriz
lasciva.”
62 No seu poema “De um Junípero Abatido para Fazer Varetas
de Espartilhos,” apresenta um retrato convencional da pastora que cede ao
pastor; ” Com o peito a arfar, unido ao dela,” acrescentado ao toque irónico
de revelar que a árvore que dava sombra ao casal durante o seu enlevo amo-
roso vir a ser cortada e transformada em varetas para espartilhos de senhora.
O tema estava totalmente de acordo com o tom frívolo e um pouco cínico
que se infiltrou no âmago da cultura do seio no séc. XVII. As damas da
Restauração inglesa (1660-88) e da corte francesa de Luís XIV (1643-1715)
talvez se tenham divertido, mas desconfio que algumas delas se limitavam
a elevar os seios com um suspiro de tédio enquanto ouviam os monólogos
irónicos, madrigais espirituosos e enigmas lógicos dedicados aos seus
seios.
Uma seguidora de Aphra Behn conhecida por ” Ephelia” aproximou-se
um pouco de exprimir o autêntico desejo feminino no seu poema ” A Primeira
Abordagem do Amor.” Assumindo a posição do observador em vez do ob-
servado, recordava como o olhar dele afectara o seu coração, e pedia à di-
. vindade do Amor ” Que torne o seu gélido peito tão quente como o meu” (Fe-
male Poems, 1679). Neste caso, os seios femininos e masculinos oferecem
possibilidades recíprocas.
- À persistência de pretensões rivais sobre o colo provenientes de fontes
tanto eróticas como maternais pode ser resumida em dois textos ingleses de
meados do séc. XVII. Os primeiros versos tirados de “Dos Seios de Julia”,
pelo poeta cavalheiresco Robert Herrick (1591-1674):
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MARILYN YALOM
EM MEMÓRIA
DA CONDESSA DE MANCHESTER, DE ESSEX,
FILHA DE THOMAS CHEEKE
6 ESPOSA DE EDWARD DUQUE DE MANCHESTER
MORTA A 28 DE SETEMBRO
ANO DOM 1658, QUE DEIXOU
8 FILHOS 6 RAPAZES &
2 MENINAS 7 DOS QUAIS
AMAMENTOU COM SEUS PRÓPRIOS SEIOS
“Os seus filhos erguer-se-ão & chamar-lhe-ão abençoada É
J10
HISTÓRIA DO SEIO
1
MARILYN YALOM
ai;
113
Três
- O SEIO DOMÉSTICO:
UM INTERLÚDIO HOLANDÊS
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MARILYN YALOM
A
doura. Em frente à lareira está sentada uma mãe com um bebé ao colo, todo
contente a mamar. Deparamos com uma cena de simples felicidade domés-
tica.
A Mulher a Amamentar, com Criança, de Pieter de Hooch, ajuda-nos a
visualizar essa cena (fig. 34). À luz de uma janela acima, vemos uma mãe
burguesa a olhar com amor para o bebé que tem ao peito. A ênfase pousa
menos no seio em si, que mal se vê, do que na aura de doçura calma gerada
116
HISTÓRIA DO SEIO
pelo acto de amamentar. Está tudo como devia neste retrato idealizado de har-
monia familiar.
Não podemos saber em que medida este tipo de quadro constituía real-
mente um retrato da vida doméstica. Como o historiador Wayne Franits de-
monstrou, tanto a arte como a literatura deste período serviram o propósito
de fornecer linhas de orientação para a criação de crianças virtuosas e a con-
duta de adultos integros.? Essas obras apresentavam as crianças como dádi-
vas de Deus, que deviam ser criadas num ambiente gerador de piedade reli-
giosa e estabilidade social. O lar era o principal cenário em que as crianças
eram moldadas de acordo com esta visão elevada, seguido pela igreja e a es-
cola. E em casa, era dever da mãe prover ao sustento do seu rebento em todos
os aspectos — das primeiras gotas de leite às primeiras orações confiantes.
Todas as autoridades médicas, religiosas e morais holandesas eram firmes
defensoras do aleitamento materno. Tal como em Inglaterra, os Protestantes
rigorosos eram os mais ostensivos, pois criam que uma mãe que desse de ma-
mar agradava a Deus e que uma mulher que se recusasse a fazê-lo era uma
abominação aos olhos do Senhor. Esperava-se que uma mãe amamentasse o
bebé que tinha dado à luz de acordo com a antiga noção de que a Natureza
dá sustento ao que cria. Um dos aforismos do prolífico escritor e magistrado
Jacob Crats (1577-1660) resumia esta atitude:
A verdadeira mãe era a que amamentava o seu filho. Mais do que qual-
quer outro factor, o aleitamento era een merck-teecken van een vrome Vrowe
— a marca de uma mãe piedosa.*
Os tratados de medicina acrescentaram peso ao debate. Seguindo a crença
contemporânea de que o leite materno se formava a partir do sangue que ali-
mentara o feto dentro do ventre, considerava-se importante que o bebé con-
tinuasse a ingerir a mesma substância — ou seja, o sangue da mesma mãe
que tinha sido transformado em leite. Havia muitos receios em torno do “ san-
gue/leite” de uma estranha, o não menos importante dos quais era o de que
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MARILYN YALOM
á
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HISTÓRIA DO SEIO
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a
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35. Escola de Gerald Houchgeest. Interior de Igreja com Mãe a Amamentar. Meados do séc. XVIL
Só muito dificilmente conseguimos distinguir a mãe a amamentar sentada na base de uma coluna
muito alta,
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MARILYN YALOM
122
HISTÓRIA DO SEIO
banal, nas mãos de uma terceira pessoa fora da díade mãe-filho.“* Esta autora
também cita à obra de Johannes a Castro no seu Zedighe Sinne-beelden
(1694), onde a mãe é representada dando ao bebé a escolher entre a roca e
o seio, enquanto o texto compara o seio da mãe ao alimento espiritual de
Deus: Competia à mãe garantir que o bebé não fosse seduzido por tentações
triviais e se afastasse do seio, visto que este era considerado a fonte de edi-
ficação moral e religiosa.
As mães também eram responsáveis pela gestão de todos os aspectos do
lar holandês, conhecido pela sua higiene e parcimónia. A grande historiadora
holandesa Johan Huizinga tinha orgulho em proclamar a limpeza como uma
qualidade nacional, salientando que o termo holandês schoon evoca não ape-
nas limpeza mas também pureza e beleza.!º Também tem o sentido da pala-
vra inglesa “proper.” Um lar holandês que merecesse ser qualificado como
“schoon”, começaria por um seio materno branco de leite e irradiar limpeza
em cada recanto e fresta, incluindo o proverbial terraço imaculado à frente
da casa. A mãe era encorajada a amamentar com o mesmo rigor com a mesma
limpezae parcimónia que dedicava a todas as outras tarefas domésticas,
como varrer, coser, fiar e fazer manteiga. Parcimónia, recordemo-lo, significa
gestão frugal e económica, e o que podia ser mais ” parcimonioso” que uti-
lizar o próprio leite da mãe em vez de pagar uma fonte exterior? É evidente
que os defensores do aleitamento não baseavam os seus argumentos nas van-
tagens económicas do leite materno, preferindo avançar com razões medici-
nais, religiosas, sociais e morais mais grandiloquentes. Porém, talvez não te-
nha escapado à atenção das donas-de-casa holandesas e aos seus maridos que
se tratava de uma despesa desnecessária pagar uma ama de leite quando já
existia um fluxo de leite gratuito nos seios da mãe biológica.
Embora fosse verdade que as mulheres holandesas se encontravam nomi-
nalmente debaixo do controlo dos pais e dos maridos, também era verdade
que detinham uma grande autoridade no reino doméstico. A submissão ao pa-
terfamilias parecia diluir-se frequentemente numa grande dose de afecto e,
no caso das mulheres, num espírito característico primordial de mutualidade
muito além do ideal de companheirismo conjugal que viria a ser seguido em
Inglaterra e França um século mais tarde.
O belo quadro de Rembrandt O Casal, também conhecido por 4 Noiva
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HISTÓRIA DO SEIO
grupo de estroinas apreciam a cena, ou um homem mais velho faz uma oferta
sugestiva a uma rapariga roliça apontando para os seus seios. Em cenas deste
género, a mulher entra geralmente no jogo com desportivismo. o
Mesmo as cenas com prostitutas são notáveis pela reciprocidade jovial
entre. a mulher e o cliente. A Alcoviteira de Vermeer, por exemplo (fig. 38),
onde se pode ver um homem com a mão sobre o seio de uma mulher, revela
um à-vontade e uma familiaridade entre o cliente do bordel e a dona do es-
tabelecimento que não se afasta muito da mutualidade do casal judeu de Rem-
brandt. Nos Países Baixos, as prostitutas podiam ter um lado ” doméstico”,
ou mesmo um aspecto maternal, apesar da condenação pública do seu ofício.
Os cidadãos respeitáveis que administravam as suas cidades reconheciam em
privado que a prostituição constituía uma necessidade prática, especialmente
no caso dos marinheiros libidinosos que chegavam aos portos holandeses ao
fim de vários meses sem qualquer contacto heterossexual no mar alto.
Frequentemente, é certo, as alcoviteiras — antigas prostitutas que assu-
38. Jean Vermeer. A Alcoviteira. Meados do século XVII. A Alcoviteira estende a mão para receber
o dinheiro do seu cliente com a mesma segurança e ausência de culpa que manifestaria se es-
tivesse a segurar um vaso de leite.
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HISTÓRIA DO SEIO
"de que as crianças seguem o mau exemplo dos mais velhos. Nestas obras,
vemos representados adultos e crianças de copos, jarros e cachimbos na mão.
Alguns dos foliões tocam flauta ou gaita-de-foles. Toda a gente parece ter
“alguma coisa na boca ou perto dela. E mesmo no centro de um quadro muito
“oral? (fig. 39) vemos o seio redondo e descoberto de uma mãe que tem ao
-colo um bebé gordo com um cachimbo de barro na mão. O seio exposto pa-
rece deslocado num cenário tão libertino. A um certo nível, esta cena pode
“ser considerada como uma expressão da licenciosidade permitida no mundo
“inebriado de Jan Steen. Mas a um nível mais profundo, o quadro contrasta o
seio “natural”
.— a fonte original de sustento e desenvolvimento moral —
“com as substâncias ” contra natura” misturadas na mente dos bebedores e fu-
madores de Steen. Deste ponto de vista moralista, é aconselhável manter o
seio longe de influências que possam corrompê-lo.
Fa
39, Jan Steen. Assim Cantam os Velhos (Soo de Ouden Songen). Meados do séc. XVII.
O seio rosado no centro desta cena ruidosa corre o perigo de ser corrompido pelas más compa-
nhias.
127
MARILYN YALOM
A literatura popular também avisava que o seio podia ser pervertido com
intuitos carnais. As futuras prostitutas eram representadas como criadas nas .
suas vidas anteriores, expondo astutamente o peito enquanto faziam a lida da
casa, para excitarem os homens da casa. Um poema começa da seguinte ma-
neira: ?O filho mais velho do meu amo estava sempre a apalpar-me os
seios” !º Se a casa não fosse gerida com uma vigilância escrupulosa, isso po-.
dia ser meio caminho para que ela se transformasse num bordel. Esses textos
destinavam-se a avisar as jovens da classe operária contra as tentações da car-
ne e a irreparável perda da virgindade. Também constituíam avisos aos jo-
vens das classes média e superior para que resistissem às tentações da classe
inferior.
Se pensarmos apenas no tamanho, essas tentações carnais eram, de facto,
muito grandes: as mulheres holandesas tinham fama de ter seios muito gran-
des. Em meados do século, as mulheres holandesas e flamengas começaram
a inspirar um ideal de seio totalmente novo entre os artistas. Pela primeira
vez na história de arte desde as deusas antigas, os seios grandes passaram a
estar na moda. O pintor flamengo Rubens (1577-1640) lançou a moda das
mulheres robustas, e após a sua morte, outros pintores holandeses e flamen-
gos expandiram as dimensões mamárias dos seus modelos para proporções
inéditas. Tecendo comentários acerca deste novo modelo, Anne Hollander
afirma que a partir de 1650, a arte holandesaé abundante em “ damas de seios
muito enfáticos a sair do decote — seios que parecem maiores, mais redondos
e brilhantes do que os exibidos em séculos anteriores.” ”
Apesar da ênfase colocada pelos Calvinistas e Baptistas nas verdades es-
pirituais, nem os holandeses protestantes do norte nem os holandeses católi-
cos do sul reprimiram completamente o seu deleite sexual nas realidades ter-
renas. À sua apreciação das formas e cores do mundo visível era tão evidente
na obsessão holandesa pelas tulipas (que deram origem a um fiasco econó-
mico na especulação do séc. XVII com os bolbos de tulipa!) como as suas
adoráveis paisagens, naturezas mortas e corpos de mulher com curvas lasci-
vas. A” sobrecarga de riquezas” originada pela ascensão da burguesia e pela
expansão colonial holandesa contava entre os seus bens não apenas queijos,
frutos e flores, mas também corpos bem dotados e alimentados.
As pessoas que visitavam a Holanda no séc. XVII ficavam impressiona-
128
HISTÓRIA DO SEIO
das pelos encantos roliços das mulheres holandesas, e pela sua liberdade de
agir de uma maneira que seria impensável para as mulheres respeitáveis de
outros países europeus. “Beijos em público, conversas francas, passeios sem
companhia, tudo isso espantava os estrangeiros, em especial os franceses,
como algo de chocantemente impróprio, embora fossem repetidamente tran-
quilizados em relação à castidade inexpugnável da mulher casada.” !º Era
“evidente que as curvas visíveis e os modos independentes das mulheres ho-
landesas não eram sinónimo da licenciosidade sexual que os estrangeiros in-
terpretariam nas mulheres dos seus países.
À medida que o século avança e os Holandeses se tornam uma grande po-
tência colonial, a moda reflectiu o aumento de riqueza e da influência dos
estilos estrangeiros. De início, durante a primeira parte do século, os rufos,
golas de tufos espanholas a cobrir o pescoço eram usados pela grande maioria
das damas, cujas cabeças pareciam assentar nelas como abóboras ou escude-
tas. Em meados do século, o rufo suavizou-se, dando origem à gola mais
mole, geralmente pontiaguda ou recortada, e bordada com rendas. Posterior-
mente, seguindo as modas francesas e inglesas, o decote desceu, permitindo
mostrar a região entre a clavícula e o seio, chegando, por vezes, até à ponta
do mamilo. A ostentação feminina era determinada por variáveis como a clas-
se, religião e idade, para não falar das preferências sexuais. Muitas Protes-
tantes austeras continuavam a usar golas enormes que formavam uma estru-
“tura semelhante a uma tenda à volta do pescoço e dos ômbros; e toucas
apertadas na cabeça, quando já passara a ser moda as mulheres das classes
mais elevadas deixarem a descoberto uma boa parte do colo e usarem o ca-
belo encaracolado. Tal como em França e em Inglaterra, que regulavam a
marcha das coisas, os espartilhos passaram a ser essenciais para as mulheres
das classes média e superior. No entanto, esta peça de vestuário importada
do estrangeiro, que elevava os seios para alturas artificiais acima do decote,
era, evidentemente, condenada por pregadores e moralistas, que admoesta-
vam as damas holandesas a fazer descer os seios e mantê-los recatadamente
cobertos debaixo de agasalhos.
As mulheres menos privilegiadas, como as criadas e empregadas do cam-
po, usavam apenas um espartilho extemo com atilhos à frente e uma camisa
por baixo (fig. 40). Os atilhos podiam ser facilmente abertos e a camisa abria-
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MARILYN YALOM
-iá
É certo que havia uma vaga ideia das ramificações políticas do seio na
corte de Luis XV (que reinou entre 1715-74), uma corte famosa pelas suas
exibições libidinosas. Respondendo ao apetite por arte erótica, os pintores
franceses cobriram as suas telas de mulheres voluptuosas em vários estados
de nudez. O colo não era um assunto de somenos importância para Luís XV,
que condenou veementemente um dos seus ministros por não reparar que a
sua futura nora, Maria Antonieta, era muito dotada. Conta-se que o rei terá
afirmado: ” E os seus seios? É a primeira coisa que se vê numa mulher.”
O ideal da alta cultura era ainda o do colo “imaculado”, que dependia da
ama de leite para se manter juvenil. Em 1700, menos de metade das mães
britânicas amamentava os próprios filhos, ea outra metade era alimentada por
amas de leite ou pelo método de ” alimentação a seco” que recorria a comida
semi-líquida ? Em França, a incidência de amas de leite era ainda mais ele-
vada: o que era antes uma prática que se verificava apenas no seio da aris-
- tocracia durante o séc. XVI, passou a abranger a burguesia no séc. XVII, che-
gando a atingir as classes populares no séc. XVII. As trabalhadoras e as
aristocratas dependiam igualmente do leite mercenário, as primeiras para po-
derem exercer o seu ofício, as últimas para se verem livres para as inúmeras
obrigações sociais que competiam às senhoras de boas famílias.
Em meados do século, cerca de 50 por cento de todas as crianças pari-
sienses eram enviadas para o campo para serem criadas por amas de leite.
Em 1769, foi criado um Gabinete das Amas de Leite em Paris, com o intuito
de garantir que as amas de leite recebiam pagamentos antecipados. Por volta
de 1780, dos cerca de vinte mil bebés que tinham sido dados à luz em Paris,
apenas 10 por cento estavam a ser criados nos seus lares. Os outros 90 por
cento tinham sido entregues pelos pais aos cuidados de amas de Jeite ou ti-
nham sido postos na roda.* Porém, em 1801, calculou-se que metade dos be-
bés parisienses e dois terços dos bebés ingleses eram criados pelas mães > A
que se terá devido esta mudança espantosa?
Em meados do séc. XVIII, começou a ouvir-se por toda a Europa um vio-
lento protesto contra as amas de leite a partir das fileiras de moralistas, filó-
sofos, médicos e cientistas. Falando em nome da Natureza, estes homens co-
meçaram a provar que o que era natural no corpo humano era basicamente
bom para o organismo político. A saúde física era uma metáfora da saúde do
152
HISTÓRIA DO SEIO
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8
MARILYN YALOM
a produção de leite para bebés britânicos era úm assunto das mulheres, dado -
que ”a maioria das Mães de qualquer condição, ou não pode ou não quer de-
dicar-se à penosa Tarefa de amamentar os seus próprios Filhos.” |
Cadogan argumentava que amamentar era penoso “só por falta de um
Método adequado; se fosse devidamente executada, haveria muito prazer :
nessa actividade para toda a Mulher que possa prevalecer sobre si mesma :
para dar um pouco da beleza do seu seio para alimentar o seu rebento.” Além
disso, como pai recente, Cadogan garantia às futuras mães que não devia ha-
ver “receio de incomodar os Ouvidos do Marido com o barulho do Fedelho .
aos gritos. A Criança, se fosse amamentada deste modo, ficaria sempre sos-
segada, de bom Humor, sempre a brincar, a rir ou a dormir.” O método de
aleitar que ele recomendava tinha aparentemente feito milagres em casa de
Cadogan.
A mãe aleitante era vista como alguém que cumpria o seu dever em pri-
meiro lugar para com a família e a seguir para com o Estado que, de acordo
com a vulgaridade reinante, considerava os seus habitantes a sua maior força.
Com a realidade recorrente da guerra na Europa do séc. XVIII, Cadogan par-
tilhava com muitos outros pensadores nacionalistas e colonialistas o medo do
despovoamento.
Como médico, também reflectia os valores da classe média em ascensão,
para a qual o recurso a uma ama de leite constituía um mero símbolo de es-
tatuto. Em contrapartida, elogiava ” A Mãe que tem apenas uns Trapos para
cobrir esparsamente o Filho, e pouco mais do que o Seio para alimentá-la.”
Os filhos de uma mulher assim, afirmava ele, eram geralmente ” fortes e sau-
dáveis” — como se os pobres fossem de certo modo imunes às doenças dos
ricos. Na sociedade ideal preconizada por Cadogan, as mulheres de todas as
classes davam de mamar aos filhos. Cada unidade familiar constituía um pa-
raíso doméstico, e contribuia para o “Espírito público” comum. Em meados
do séc. XVII, o aleitamento materno passara a ser um dogma da política igua-
litária. Seria preciso que passasse mais uma ou duas gerações para que a ali-
mentação infantil mudasse substancialmente, e quando isso aconteceu, por
volta de 1800, não podemos dizer que isso tenha alterado a estrutura de clas-
ses britânica.
4,
a Do outro lado do oceano, na América, as amas de leite não parecem ter
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=
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2"
lista do séc. XVIII e não tivesse sido pai de sete filhos, era provável que Lineu |
nos chamasse outra coisa que não mamíferos. |
Em França, o tema do aleitamento materno viria a ter as consequências -
mais revolucionárias. Aí, philosophes, escritores políticos e funcionários do
govemo, bem como médicos, lideravam a campanha contra as amas de leite,
e nenhum deles de maneira mais influente do que Jean-Jacques Rousseau
(1712-78). O seu tratado de 1762 sobre a educação, Emile, defendia a tese
que o aleitamento firmava laços mais sólidos entre as mães e os bebés e suas
famílias, criando a base para a regeneração social. ” Quando as mulheres vol-
tam a'ser mães” — e com isso, referia-se às mães que davam de mamar —
“os homens voltam a ser pais e maridos.”
Por mais sedutora que fosse a sua linguagem e por mais influentes que
fossem as suas ideias, a posição de Rousseau foi alvo dos comentários críti-
cos de pessoas ofendidas pela sua visão de que as mulheres vieram ao mundo
com o único propósito de agradar aos maridos e alimentar os filhos. Os ho-
mens, sugeria, foram providos de cérebro para pensar, e as mulheres recebe-
ram seios para amamentar. Se os homens achavam os seios das mulheres
atraentes, em última análise, isso ia no interesse da perpetuação da espécie
e da preservação dos laços familiares. Por trás da poética das mães como for-
ça social e da política de aleitamento igualitário havia uma mundivisão se-
xista tão profundamente enraizada na cultura ocidental que poucos a reco-
nheciam como tal. A ideia de Rousseau de que a mulher era por natureza uma
criatura generosa, adorável, e sacrificada viria a formar a base de uma nova
ideologia de maternidade idealizada que viria ser veiculada na Europa e na
América durante a maior parte dos dois séculos seguintes (fig. 42).
Dois factos da vida pessoal de Rousseau tomaram os seus escritos sobre
o aleitamento duplamente problemáticos. Por um lado, a sua mãe morreu du-
rante o parto e ele foi criado pelo pai, com o auxílio de uma ama de leite.
Comentadores actuais, especialmente os de tendência psicanalítica, viram na
sua perda precoce a origem da nostalgia permanente de Rousseau pelo seio.
É certo que ele deixou provas consideráveis de um interesse obsessivo e por
vezes cómico pelos seios femininos. No sétimo livro das suas Confissões,
Rousseau conta a história do seu fiasco sexual com uma cortesã veneziana
« chamada Giulietta. Primeiro, não conseguiu ter um bom desempenho porque
Pap
138
42. Auguste Claude Le Grand. Jean-Jacques Rousseau ou Fomme de la Nature. gravura. Cerca de
1785. .
Ninguém deu um contributo tão grande para a popularização do aleitamento materno como o
filósofo suíço Rousseau, no séc. XVIII. Na legenda desta gravura, pode ler-se: “Ele renovou os
deveres das mulheres e a felicidade das crianças.”
139
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43. Taças de porcelana da leitaria de Rambouillet. Produzidas por Sévres para Maria Antonieta.
-Segundo reza a lenda, estas duas taças em forma de seios encomendadas por Maria Antonieta
foram moldadas a partir dos seus próprios seios.
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=
de uma lareira. Os simples protótipos pastorais deste quadro eram uns pais ”
ostensivamente mais afectuosos do que os seus congéneres citadinos.
Podemos encontrar um trio completamente diferente num quadro inglês que
satiriza as senhoras das classes mais elevadas, pressionadas pela moda a ama-
mentar os filhos. Os seus seios estavam envolvidos no acto, mas os seus cora-
ções não, a acreditar na sátira de James Gillray, em 1796, A Mamã da Moda,
que representa uma mãe elegantemente vestida, rigidamente sentada na ponta
de uma cadeira enquanto uma criada aproxima o bebé do peito e uma carrua-
gem espera na rua para levar a mãe rapidamente dah para fora (fg. 44).
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-a
ida
HISTÓRIA DO SEIO
o seio aos maridos como acalento, e aos filhos como alimento. E todas as
crianças da nação tinham a garantia de que “A Pátria ouviu os vossos gritos
frágeis; para nós, ela passou a ser uma segunda mãe.” TA pátria tinha o pra-
zer de representar-se como mãe a oferecer os seios a todos os filhos, mesmo
a antigos escravos negros das ex-colónias (figs. 45 e 46).
A iconografia da Revolução Francesa cedo se povoou de mulheres de
seios descobertos. Seguindo os modelos clássicos, figuras femininas vestidas
com túnicas e um ou os dois seios expostos tomaram-se símbolos comuns
da nova República. Por vezes, a República era uma guerreira com um seio
descoberto, um capacete semelhante ao de Atena e uma lança coberta por um
boné frígio. Noutros lugares, revivendo o modelo da Artemisa de seios múl-
tiplos, ela chegava a exibir doze seios, representando ideais populares como
a Natureza e a Razão (fig. 47). Inúmeros quadros, gravuras, medalhas, bai-
xos-relevos e estátuas transformaram o seio num ícone nacional.
Imaginemos a celebração da festa da Renovação, a 10 de Agosto de 1793,
no lugar da antiga Bastilha. Aí, na primeira de seis estações dispostas por Pa-
ris, foi erigida uma fonte em forma de deusa egípcia, com jactos de água a
“ sair dos seios. Louis David, o autor deste projecto, indignou-se eloquente-
mente com o momento supremo em que “a nossa mãe comum, a Natureza,
espreme dos seus seios fecundos o líquido puro e salutar da renovação.” *
Uma multidão de parisienses estupefactos ficou a ver os oitenta e seis comis-
sários beber uma taça de água dos seios abundantes da deusa, e o presidente
da Convenção Nacional, Hérault de Séchelles, proclamou: “Estas águas fe-
cundas que jorram dos vossos seios consagrarão os juras que a França vos
faz neste dia.” As mulheres da multidão eram encorajadas a amamentar para
que “as virtudes militares e generosas pudessem fluir, com o leite materno,
para o coração de todos os lactentes de França!”?º Este espectáculo holly-
woodesco efectuou uma espantosa fusão propagandística da Nova Nação
com as imagens gémeas da Mãe Natureza e das mães reais, todas elas reve-
renciadas como fontes de alimento.
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MARILYN YALOM
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148.
HISTÓRIA DO SEIO
vens damas andavam ” cobertas com pouco mais que uns xailes transparen-.
tes que flutuam e esvoaçam sobre os seios, permitindo ver perfeitamente
através deles.” Este traje reduzido era considerado adequado para as jo-
vens mães e para as mulheres solteiras. Os seios que tinham sido separados
em dois grupos durante o Renascimento — um para amamentar, e o outro
para gratificação sexual — encontravam-se agora reunidos num colo com
uma multiplicidade de propósitos. Os seios aleitadores tinham-se tornado
sexy (fig. 48).
A partir desta altura, o seio maternal com cambiantes eróticas viria a ser
chamado a servir diversos interesses nacionais. Em França, ao longo dos sé-
culos XIXe XX, a figura alegórica com um ou os dois seios descobertos con-
tinuou a representar a República. Muitas vezes, era identificada com a ideia
de Liberdade, tal como no célebre quadro de Delacroix A Liberdade Condu-
zindo o Povo, que não era sobre a revolução de 1789, como a maioria das
pessoas pensam, mas sobre a sublevação sangrenta de 1830 (fig. 49).
Em contraste com a exposição “acidental” dos seios femininos durante
o Renascimento ou na arte erótica do séc. XVIII, esta Liberdade descobre os
seios deliberadamente numa tentativa de inspirar sentimentos políticos, e não
sexuais * Mais de cem anos depois, na altura da Libertação de Paris, no se-
guimento à Segunda Grande Guerra, a cantora popular Anne Chapel subiu
para cima de um carro, abriu a blusa e berrou o hino nacional” A vida,
inspirada na arte, não podia encontrar melhor símbolo para a liberdade do que
os seios libertados.
Por volta de 1850, a incarnação dos seios da República Francesa passou
a ter um nome — Marianne. Desde então, Marianne tem sido representada,
com o seu rosto jovem, boné frígio, e seios descobertos em inúmeros quadros,
esculturas, cartazes, bandas desenhadas e notas bancárias, sugerindo as qua-
lidades de ousadia, dinamismo, solidariedade e atracção sexual, reivindicadas
pelos franceses como características nacionais.“ Embora outras nações te-
nham por vezes adoptado aspectos da figura de Marianne nos seus emblemas
nacionais — por exemplo, na Colúmbia Americana, na Grã-Bretanha e na
Alemanha Prussiana — as suas congéneres nunca exibiram os seios com O
descaramento das Francesas.
149
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&
48. Marguerite Gérard. Les Premiers Pas ou la Mêre Nourrice. Cerca. 1800.
? Nos anos a seguir à revolução, a mãe aleitadora adquiriu conotações sexuais e cívicas,
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151
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com o seu amado marido, o Príncipe Alberto, e os seus nove filhos, que cons-
tituíram o modelo supremo de dedicação familiar e cívica,
Tanto em Inglaterra como na América, apenas o seio materno era publi-
camente louvado. As mães eram encorazadas a amamentar os bebés e a as-
sumir todos os deveres que tivessem a ver com o seu bem-estar geral. À per-
cepção da importância psicológica da relação íntima entre mãe e filho
acrescentou cada vez mais peso à ordem de amamentar. As mães que se re-
cusavam a dar de mamar aos filhos eram vistas como pessoas egoístas e so-
cialmente subversivas. No mínimo, a prática de enviar os bebés britânicos
para o campo diminuiu, e passou a contar-se cada vez mais com a presença
da ama de leite em casa, onde a mãe podia vigiá-la.
À maioria das mulheres americanas amamentava os bebés. Mesmo no sul
de antes da guerra, onde era possível optar por uma ama escrava, apenas 20
por cento das mães recorriam a uma ama de leite suplementar ou substituta.
Quando as mães pretas eram contratadas para amamentar crianças brancas,
isso era feito à custa dos seus próprios filhos, como se pode ver por esta his-
tória contada por uma escrava da Carolina do Norte.
As tensões inerentes à posse dos brancos sobre os seios das negras ir-
rompeu num dos momentos mais dramáticos da história abolicionista. Isso
ocorreu em Indiana em 1858, quando Sojoumner Truth, uma activista anti-
esclavagista e antiga escrava se dirigiu a um público maioritariamente bran-
co. No final do encontro, um grupo de simpatizantes a favor da escravatura
pôs em causa a sua identidade sexual. Tentaram provar que ela não era mu-
lher. Como Nell Painter demonstrou na sua biografia de Sojourner Truth,
esta acusação de impostura, destinada a minar a autenticidade de Sojourner,
152
HISTÓRIA DO SEIO
Descobrir o peito para obter um efeito político viria a ter um número su-
perior de aderentes um século mais tarde, entre as feministas dos anos 70 e
80, mas nunca de uma maneira tão premente como na plataforma de Indiana
em 1858, quando a questão moral da escravatura esteve prestes a atiçar a na-
ção inteira. Os seios nus de Sojoumer Truth, tal como o seu discurso igual-
mente célebre “Não sou Mulher?”, não deixou qualquer dúvida em relação
ao seu estatuto como mulher e comô pessoa. Como podiam esses seios, que.
tinham presumivelmente amamentado tanto bebés negros como brancos, não
ser vistos como completamente humanos? Porém, os corpos negros dos es-
cravos eram tratados como consideravelmente menos humanos — tanto no
mercado dos escravos, onde os seus dentes, músculos e seios eram examina-
dos publicamente pelos potenciais compradores, e.nos lares para onde iam,
e onde faziam tanto parte dos bens dos donos, tal como os cães ou as vacas
(fig. 50).
A luta de Truth para libertar o corpo dos negrosída exploração branca es-
tava muito distante da maioria das preocupações da classe média. Enquanto
as escravas estavam a ser tratadas como animais, as mulheres brancas ame-
ricanas e britânicas eram idealizadas como anjos domésticos. O poema de
Coventry Patmore ” Anjo Doméstico” (1854-56) exprimia a visão que a alta-
153
50. J. T. Zealy. Da-
guerreótipo. Março
de 1850. Delia,
nascida no campo,
filha de pais afri-
canos. Filha de
Renty, Congo.
Plantação de B. F.
Taylor. Colúmbia,
Carolina do Sul.
Os primeiros
fotógrafos ameri-
canos | documen-
tavam as mulheres
negras como
”bens”. Os seios
completamente
descobertos desta
preta eram tratados
como parte intrin-
seca do seu valor
como escrava.
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HISTÓRIA DO SEIO
vam o aleitamento materno um baluarte contra a cada vez mais reduzida taxa
de natalidade e a crescente participação das mulheres na força laboral.46
No mesmo ano, o Estado prussiano atribuiu fundos à primeira clínica de
protecção da infância constituída por membros da Liga Patriótica Feminina.
Havia prémios de aleitamento, e as mães eram encorajadas a resistir ao de-
clínio moral provocado pelos males como o uso de biberões e o controlo da
natalidade. O medo do decréscimo populacional que aumentou em crescendo
antes da Primeira Guerra Mundial repercutiu-se na política de saúde da Ale-
manha e teve como resultado a criação de mais de mil clínicas de protecção
da criança-por volta de 1915. Este alarme pela descida da taxa de natalidade
(embora não tenha descido tanto como a dos seus vizinhos franceses) deu
trunfos aos políticos prussianos, que defendiam o aleitamento como panaceia
para todos os males físicos, morais e sociais.
Outros defendiam um leite engarrafado mais puro e melhor higiene. Os
membros da Liga para a Protecção das Mães contrapôs um programa progres-
sivo à mensagem pró-natal do Govemo. Favoreciam a libertação sexual, o
bem-estar das mães solteiras, outras causas radicais. Durante os vinte anos
que se seguiram até ao advento do Nacional Socialismo, a Liga para a Pro-
tecção das Mães viria a estabelecer um desafio permanente às facções con-
servadoras.
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HISTÓRIA DO SEIO
Nos primeiros anos da guerra, belas mulheres alemãs de seios grandes e tran-
ças douradas eram mostradas a oferecer flores e bebidas aos soldados. Porém,
à medida que a guerra foi avançando, as imagens tornaram-se mais sombrias.
Os véus de viúva e os rostos enlutados tornaram-se as marcas visíveis do nú-
mero crescente de mortos (fig. 53).
Os Americanos caricaturizaram o inimigo prussiano como um monstro
desumano, um gorila de cartaz circense de capacete prussiano, dentes cani-
nos, um bordão numa mão a dizer ” cultura” e uma donzela indefesa na outra
(fig. 54). Esta imagem num cartaz de 1917 para propaganda ao alistamento
e o título ” Destrói Este Bruto Enlouquecido,” transmitia a mensagem de que
os Alemães eram bestas que violavam as vítimas femininas. Os seios desco-
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5s. “Compre um Fundo da
Liberdade; Não Me Deixe
Perecer!” 1917.
Com a sua coroa e as suas
vestes drapejadas, a Liber-
dade é dessexualizada à
moda de uma Atena grega.
tas para um modelo menos vestido. Esta transição é nítida numa série de car-
tazes criados para promover a venda de Fundos da Liberdade entre 1917 e
1919. O primeiro da série mostra uma Liberdade semelhante a uma estátua,
coberta de panos pesados até ao pescoço (fig. 55). O segundo da série, pu-
blicado alguns meses mais tarde, é radicalmente diferente (fig. 56). A figura
é mais suave e feminina; os seus braços encontram-se estendidos num gesto
de súplica: o seu rosto é quase de luto; e os seus seios cheios evidenciam-se
— na verdade, estão literalmente sublinhados por fitas que se cruzam acima
e abaixo deles. O terceiro, quarto e quinto cartazes da série, todos criados por
Howard Chandler Christy, mostram uma mulher mais nova e sexualizada
vestindo uma peça de roupa mais parecida com uma camisa de dormir do que:
a
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com os trajes clássicos (fig. 57). Os Americanos tinham aprendido que as mu-
lheres escassamente vestidas promoviam a causa ou o que se quisesse vender
ao público, quer se tratasse de Fundos da Liberdade, do serviço militar ou
da própria guerra.
As variações sobre a utilização do seio na propaganda da Primeira Guerra
Mundial podem ser classificadas de acordo com os gostos e costumes nacio-
nais.” Os italianos exibiam mulheres de grandes bustos, transpirando sexo
e poder (fig. 58). Os Austriacos representavam heroínas populares de seios
encerrados em trajes tradicionais ou mitológicos. “Os ingleses confiavam
profundamente na sua fiel Britannia de capacete, couraça, espada e escudo.
As mulheres russas eram um caso aparte, porque algumas delas chegavam
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ES
61. "Slightly Dangerous". O Boeing B-17 Fortaleza Voadora numa base aérea inglesa. 12 de Agosto
de 1943. 388º grupo de bombardeiros.
A arte das fuselagens da Segunda Guerra Mundial misturava os seios, o perigo, a destruição e
a vitória.
suas ” Vargas girls” por cima dos beliche, e levaram-nas dobradas para as
praias da Normandia. As raparigas de blusas justas e calções colados ao cor-
po, ou vestidos sem alças e sem costas, projectavam uma visão sensual de
boneca de papel. Quando os homens voltassem da guerra, aqueles seios e per-
nas estariam à sua espera.
Outro fornecedor oficial de imagens de pin-ups era a revista Yank, criada
em 1942 para a tropa. Por cinco cêntimos o exemplar, os soldados americanos
da época podiam ler artigos bem escritos sobre a guerra e arrancar a página
da “pin-up” do mês para os seus sonhos privados. As pin-ups da Yank eram
geralmente fracas e sorridentes como qualquer vizinha do lado, mas algumas
eram maliciosas e sexy, com seios gigantescos a sair de blusas que salienta-
vam as curvas e quase caíam dos ombros. As actrizes Jane Russell e Linda
Dammell eram muito consideradas entre as pessoas cujas carreiras avançaram
deste modo.
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Bs
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como sujeitos que tinham de ser geridos por uma gestão predominantemente
masculina e eficaz em termos tecnológicos; esses médicos viam pouca ne-
cessidade na participação activa das mulheres no processo de natalidade ou
no aleitamento dos filhos, especialmente porque a fórmula láctea era consi-
derada um substituto perfeitamente adequado — ou mesmo superior — ao
leite materno. Um estudo de 1975 sobre as forças sociais que rodeiam o alei-
tamento concluiu que os serviços obstétricos americanos estavam estrutura-
dos de tal forma que negavam às mulheres uma verdadeira opção na matéria,
e que a cultura americana de finais do séc. XX era intrinsecamente hostil ao
aleitamento. Para apoiar esta última contenda, o autor citava uma história
da The New York Times Magazine de 27 de Julho de 1975, que referia que
três mulheres que estavam a amamentar os seus bebés num parque de Miami
tinham sido presas por exibicionismo.
As mulheres foram expulsas de vários lugares — museus de Toledo,
Ohio, centros comerciais de Albany, Nova Iorque, e grandes armazéns da Ca-
hfórnia — sempre devido ao delito de amamentarem os filhos.“ Só em 1993
e 1994 é que os Estados da Florida e Nova Iorque autorizaram as mulheres
a amamentar em público. Na lei de Nova Iorque de 16 de Maio de 1994, pode
ler-se: ” Direito de amamentar. Não obstante qualquer outra disposição legal,
uma mãe pode amamentar o seu bebé em qualquer lugar, público ou privado,
onde tenha autorização para estar por qualquer outro motivo, quer o seu ma-
milo esteja ou não coberto durante o acto de aleitar.” Gostaríamos de saber
como uma mãe poderá amamentar sem destapar o mamilo! Um decreto-lei
que defendia o direito das mães californianas de amamentar os seus filhos
em público foi finalmente aprovado pela Assembleia em Julho de 1997, após
ter sido vetado no ano anterior. Até ao momento, trinta Estados aprovaram
leis semelhantes para que as mães não se vejam obrigadas a sair de lojas, cen-
tros comerciais, restaurantes, museus e parques devido ao excesso de zelo dos
gerentes e agentes da polícia.
As mães dos anos 90 são encorajadas a amamentar por uma grande va-
riedade de grupos, como a Organização Mundial de Saúde e a La Leche Lea-
gue. La Leche League, a mais antiga e poderosa organização de aleitamento,
argumenta que é possível trabalhar e amamentar, sem esconder o seu pendor
a favor da mãe não-trabalhadora. No seu melhor, a liga valida o desejo da
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4
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“A
com uma facilidade notável, mais de 50 por cento das mães ainda se encon-
tram a amamentar três meses depois do nascimento dos bebés. Tudo nesse
país é de molde a encorajar o aleitamento, a começar pelos cinco dias no hos-
pital em que as mães são ensinadas a aleitar, o que fazer se o leite encaroçar
(as folhas de couve frias parecem fazer milagres!), e como obter auxílio quan-
do regressam a casa. Devido a estas estruturas de apoio, é raro uma mãe não
amamentar o filho inicialmente. .
Se fosse da responsabilidade da cirurgiã geral americana dra. Joycelyn El-
ders (demitida devido às suas afirmações sobre a educação sexual), 75 por
cento das mães americanas procederiam ao aleitamento na viragem do sécu-
lo. Em Agosto de 1994, ela aderiu a uma campanha global para reduzir a con-
fiança na fórmula láctea para bebés. As afirmações da dra. Elder recorda-
ram o “escândalo do leite materno” cerca de cinco anos antes, quando se
descobriu que tinha morrido um grande número de crianças alimentadas com
a fórmula láctea nos países desenvolvidos porque as mães não tinham tido
acesso a água potável ou a refrigeração. No seguimento daquele escândalo,
organizações influentes como a UNICEF e a Organização Mundial de Saúde
tentaram persuadir as mulheres do Terceiro Mundo a desistir de fórmulas ar-
tificiais e amamentar os filhos durante dois anos.
Um anúncio de 1989-90 da UNICEF afirmava claramente: ” A alimenta-
ção através de biberão aumenta o risco de infecções A UNICEF tenta encon-
trar vários modos de proteger e promover a prática do aleitamento.” se to-
dos os bebés fossem amamentados pelo menos durante o primeiro meio ano
de vida, seriam mais resistentes a diarreias e às muitas doenças que vitimam
um grande número de crianças nos países pobres. Essa prática também viria
a reduzir os custos de saúde infantil da UNICEF, cujo apoio deriva, em gran-
de medida, das nações industriais do ocidente como a Grã-Bretanha e a Itália,
onde as mulheres que aleitam os filhos estão, ironicamente, em minoria.
Como vimos, os seios começaram a adquirir significado político no séc.
XVIII. Desde então, tem-se pedido às mulheres que ponham os seios ao ser-
viço dos interesses nacionais e internacionais. Em alguns momentos históri-
cos, foi-lhes ordenado que amamentassem com o intuito de aumentar a taxa
de natalidade nacional, reduzir a mortalidade infantil e regenerar a sociedade.
Noutras épocas, foi-lhes ordenado que recorressem ao biberão e aos substi- |
as
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63. André François. Capa de um livro de Charles Rycroft. 4 Critical Dictionary of Psychoanalysis.
1972.
A psicanálise é representada como um rosto masculino enxertado num corpo de mulher, com um
seio significativamente colocado na parte detrás da cabeça barbuda do analista.
Cinco
O SEIO PSICOLÓGICO: CUIDAR DO CORPO
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=
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cido que a sexualidade começava no seio e a mãe era, de certo modo, a “pri-
meira sedutora” da criança.”*
No âmbito desta estrutura conceptual, os sonhos com objectos esféricos
como as maçãs e as peras podiam ser geralmente interpretados como seios.
Por exemplo, um homem de trinta e cinco anos contou um sonho que afirmou
ter tido aos quatro anos: no sonho apareciam duas peras que lhe tinham sido
trazidas por um homem encarregado de fazer o testamento do pai. A mãe do
rapaz também estava presente, com dois pássaros pousados na cabeça; um
deles voou para a boca dela e começou a sugá-la. Como interpreta Freud esta .
visão enigmática? Com o grau de certeza habitual, afirmou: “O sonho deve
ser traduzido: “Dá-me ou mostra-me outra vez o seio, em que mamava anti-
gamente, Mãe, ”*
Sempre que Freud tinha a oportunidade de ver um seio escondido nas do-
bras obscuras dos pensamentos dos pacientes, aproveitava. Uma vez, ao ouvir
um jovem fazer um relato em associação livre da sua ligação com uma actriz
em versos poéticos, Freud declarou: “Não há a menor dúvida em relação ao
sentido da macieira e das maçãs (no poema). Além disso, a beleza dos seios
era um dos encantos que motivaram a atracção do rapaz do sonho pela ac-
triz.” “As interpretações de sonhos de Freud, por mais rebuscadas que sejam,
são sempre apresentadas com um ar de infalibilidade papal.
Os seios têm um lugar proeminente na teoria básica de Freud sobre a psi-
coneurose, que tem origem-no desenvolvimento sexual ” perverso.” Por ”per-
verso,” Freud designa tudo o que não leva à primazia das funções sexuais
sobre todo o tipo de expressões adultas da heterossexualidade. O famoso caso
de Dora, uma “rapariga histérica de cerca de dezanove anos,” incluía uma
sucessão de perversões que se moviam por caminhos inconscientes desde o
aleitamento na primeira infância, passando pelo hábito de chupar no dedo,
para acabar na fantasia adulta de chupar o órgão masculino -— tudo isto in-
“tuído por Freud a partir da sua tosse e irritação da garganta é
Para compreender Dora, Freud baseou-se na história de outra paciente,
uma jovem que nunca deixara de chupar no dedo, e que guardava uma re-
cordação de infância em que ” se via a mamar no seio da ama ao mesmo tem-
po que puxava o lóbulo da orelha da ama ritmadamente” — sugerindo o úl-
timo gesto a prática masturbatória. Seguindo o fio do pensamento que liga
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dades patriarcais. Além disso, não explica os motivos por que as raparigas
abandonam o seio materno como objecto erótico. Parece-me que Freud es-
tava mais perto da verdade quando escreveu, “A identificação com a mãe
pode tomar o lugar da ligação à mãe.” Besta identificação não deriva do res-'
sentimento por a mãe ter feito a filha vir ao mundo sem um pénis, mas sim
de uma sensação crescente de feminilidade partilhada que inclui as semelhan-
ças físicas. Quando os seios da filha crescem e ela começa a ter a menstrua-
ção, torna-se, tal como a mãe, um ser adulto preparado para a sexualidade e
para a maternidade.”
Em algumas páginas de notas redigidas nos seus últimos meses de vida,
Freud tentou repensar a sua teoria da inveja do pénis. Primeiro, virou-se para
a ideia da “identificação” da rapariga com o clitóris, associando-a ainda a
um sentido de inferioridade feminina em relação ao pénis. Mas a seguir,
numa série de expressões apressadas, começou a reconsiderar o lugar do seio
na vida mental de uma criança. ” As crianças gostam de exprimir uma relação
objectal através de uma identificação: “eu sou o objecto.” Exemplo: o seio.
“OQ seio faz parte de mim, eu sou o seio.” E só mais tarde: “Bu tenho-o”, ou
seja, “Eu não sou o seio”!
Que significam estas notas crípticas, redigidas com a urgência de um ho-
mem que se aproximava da morte? Se, como Freud afirmava, nem o rapaz
nem os bebés do sexo masculino nem os do sexo feminino distinguem o seio |
“da mãe do seu próprio corpo, eles acabam por perceber que o seio pertence
a outra pessoa, que tem o prazer de o dar ou retirar. Tanto uns como outros
passam do “eu sou o seio” inicial (se aceitarmos a premissa que começam
por sentir o seio como indistinto de si próprios) para “eu não sou o seio.”
Mas as meninas têm a oportunidade de reclamar o seio como seu de um modo
novo. Na altura da puberdade, elas podem dizer uma coisa que os rapazes
nunca poderão dizer. Podem afirmar, ” Eu tenho-o.”
Se levarmos as ideias elípticas de Freud até às últimas consequências,
passar a ter seios como parte do corpo pode ser visto como uma vantagem
psicológica para as mulheres. Os seios por que elas ansiavam na infância são-
“lhes devolvidos na idade adulta, como fonte de prazer para elas, para os
amantes e para os filhos. Por estar enciausurado numa estrutura de pensamen-
to". centrada no homem, Freud apenas concebia o seio do ponto de vista ex-
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Esta paródia dos três ensaios de Freud sobre a sexualidade feminina des-
tina-se a sugerir que o desejo erótico pelos seios está associado ao desejo pela
mãe, à rivalidade entre irmãos, e possivelmente ao ciúme pelos filhos. 5
Quando se vê um homem de braço dado com uma mulher de peito grande
como se ela fosse um símbolo de masculinidade, a teoria da inveja do seio
não parece assim tão estranha.
Até agora, milhares de pacientes em milhares de gabinetes responderam a
perguntas acerca das suas recordações do seio materno: a pergunta “ foi ama-
mentado pela sua mãe”? é há muito uma questão analítica padronizada. Median-
te o recurso aos instrumentos do terapeuta, deixou de se considerar as expe-
riências de sugar e ser desmamado como para lá dos limites da memória.
Uma censura comum contra a mãe, referida por Freud e por várias gera-
ções de freudianos, é o facto de a mãe ter dado à criança pouco leite, o que
pode ser interpretado como falta de amor. Pior ainda, o medo de ser enve-
nenado pelo leite materno dá origem à fantasia do “seio mau” ou “veneno-
so” 16 Esta visão malévola do seio veio a ser mais um traço a acrescentar à
mãe ” castradora” ou “esquizofrénica” popularizada pelos psiquiatras ame-
ricanos nos anos 40 e 50 deste século.
Um dos seguidores de Freud identificou o que se denominou por ” fenó-
meno Isakower.” Quando em estado de devaneio, alguns adultos imaginaram
uma massa macia a aproximar-se do seu rosto. Isakower imterpretou esta ima-
gem como um reviver da experiência infantil de ser amamentado.”” Os ana-
listas que relatam casos relacionados com o fenômeno Isakower utilizaram-
-no para examinar outras memórias da primeira infância e para apoiar teorias
altamente conjecturais sobre a ansiedade de castração, fantasias incestuosas
e outras formas de regressão no adulto.!º ,
186
HISTÓRIA DO SEIO
Por mais reservas que tenhamos acerca das teorias de Freud sobre o seio,
temos de reconhecer que ele uniu os dois aspectos principais da história do
selo num paradigma psicológico de peso: o seio materno e o seio erótico pas-
saram a ser um só. À mãe e o amante partilharão para sempre uma misteriosa
incandescência mamária que continua a iluminar o presente, por mais que nos
afastemos do seu calor original. Freud compreendeu como ninguém o poder
psíquico do seio, que dura toda a vida.
“Na Grã-Bretanha - onde Freud passou o seu último ano de vida, depois
da conquista da Áustria pelos Nazis o obrigar a fugir de Viena — o seu legado
foi assumido por vários analistas de renome, nomeadamente Melanie Klein,
Ronald Fairbam, e D. W. Winnicott. Frequentemente agrupados como teó-
ricos das “relações objectais”, elaboraram a crença freudiana de que o bebé
adquire as qualidades do objecto primário — ou seja, O seio materno — e
que este objecto primário reside permanentemente no nosso inconsciente,
como uma imagem caleidoscópica sujeita a configurações ilimitadas. Klein,
em particular, concluiu que as fantasias acerca do selo, iniciadas nos primei-
ros meses de vida, passam a fazer parte do inconsciente do indivíduo, e afec-
tam todos os processos mentais posteriores. À descoberta freudiana da sexua-
lidade relacionada com o seio, Kleim acrescentou a sua convicção de que os
sentimentos sádico-orais (agressivos) alimentam a relação de amor-ódio com
o seio e, por conseguinte com a mãe. o ==
Klein propunha uma polaridade inata de instintos semelhantes aos ins-
tintos de vida e de morte de Freud. Na sua perspectiva, o instinto de morte
é a fonte original da ansiedade da criança, que eje ou ela transfere para o
objecto externo original -— ou seja, o seio. Este transforma-se no “seio
mau”. Em contrapartida, o seio gratificante associado ao instinto vital
transforma-se no “seio bom”. Nas suas palavras: ” o seio, desde que seja
gratificante, é amado e sentido como 'bom'; se for uma fonte de frustração,
é odiado e sentido como “mau.”!? Esta oposição entre o seio bom e o seio
mau exprime-se através de certos mecanismos psíquicos conhecidos como
“introjecção” e” projecção.” ” A criança projecta os seus impulsos de amor
e atribui-os ao seio gratificante (bom), tal como projecta para fora os seus
impulsos destrutivos e os atribui ao seio frustrante (mau).” O seu objectivo
é adquirir e assimilar o objecto ideal, e afastar de si o mau objecto. Assim,
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tanto o seio bom como o seio mau são criados na mente da criança.
Baseando-se na sua análise e observações de brincadeiras de crianças nos
anos 20, Klein acreditava poder compreender a mente da criança: se o seio
frustrava os desejos do bebé, era um ”persecutor terrível.” Nas fantasias des-
trutivas da criança, “ela morde e rasga o seio, devora-o, aniquila-o; e sente
que o seio irá atacá-lo do mesmo modo.” A criança receia a retaliação do
seu ” sugar vampiresco” ou das fantasias de “esvaziar o seio,” retirando dele
tudo o que é bom, e enchê-lo de substâncias más, como os seus próprios ex-
crementos. No que diz respeito às descrições inventivas do panorama mental
da criança (não esqueçamos que o que está em causa é uma criança de três
ou quatro meses!), Klein chega a fazer Freud passar por timido.
A seu tempo, o bebé saudável passa da visão da mãe como boa ou má
para uma relação mais satisfatória com a mãe como pessoa completa. O seio
bom e o seio mau, agora a mãe boa e a mãe má, aproximam-se e tornam-se
unos. Em contrapartida, na sua forma patológica de desenvolvimento, o seio
e, por extensão, a mãe, continuam a existir na mente da criança como unidi-
mensionais, quer como formas idealizadas ou desvalorizadas.
Enquanto Freud chocou os seus contemporâneos com a descoberta da se-
xualidade infantil, Klein acrescentou a visão inquietante do sugar demoníaco.
As mães de hoje que leram Klein podem dar por si a pensar como à poeta
americana Minerva Neiditz:
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tor afirma que ” a mente do analista é, de facto, o seio, que fornece o alimento
para o pensamento que é parte da formação analítica dos nossos pacientes.”
Este “seio analítico” não pode ser completamente apreciado pelo paciente
“até ao desmame no final da análise” Metaforicamente falando, a compa-
ração do analista com uma mãe que dá de mamar tem o seu encanto, embora
acrescente póuco à nossa compreensão do processo terapêutico.
A psicanálise teve, no mínimo, o valor de esclarecer o modo como os
seios funcionam na mente humana como símbolos previamente determina-
dos, mesmo que as suas interpretações se tenham restringido ao nexo de as-
sociações maternais e sexuais. O que os psicanalistas se esqueceram geral
mente de reconhecer foram os outros sentidos não associados ao aleitamento
e ao sexo. Consideremos, por exemplo, o tema da anorexia nervosa — uma
doença psicológica caracterizada por uma obsessão em perder peso. Durante
cerca de um século após as descrições desta perturbação alimentar pelos mé-
dicos francês e inglês Charles Lasegue e William Gull em 1873, a anorexia
nervosa foi considerada uma doença rara? Mas nos últimos vinte e cinco
anos, ela passou de um fenómeno isolado para um problema de proporções
epidémicas entre as mulheres jovens, que constituem cerca de 90 por cento
da população anoréxica dos Estados Unidos.
A psicanálise interpretou tradicionalmente a anorexia como uma “fuga da
feminilidade” — ou seja, da heterossexualidade adulta. No início da década
de 70, quando a anorexia começou a atingir proporções mais elevadas, a pers-
pectiva psiquiátrica prevalecente era a de que a doença derivava de um con-
flito neurótico profundo em relação à sexualidade, com origem na dinâmica
familiar do paciente, e que podia ser tratada com um modelo médico de ali-
mentação forçada e terapia familiar. Mas algumas críticas feministas come-
caram a defender que o jejum auto-induzido da anoréxica derivava igualmen-
te, e talvez de um modo mais premente, de imperativos culturais como a
“tirania da magreza” e da necessidade de parecer “rapaz” num mundo que
privilegia a masculinidade.” Essas feministas salientavam que, inconscien-
temente, e com razão, as anoréxicas receiam que a gordura nos seios e nas
ancas as faça parecer estúpidas ou vulneráveis aos rapazes e aos homens. A
rejeição dos seios é não só uma rejeição da sexualidade e da maternidade,
«jas a rejeição de um panorama completo de inferioridade social, económica
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HISTÓRIA DO SEIO
e intelectual com que as raparigas deparam, muitas vezes pela observação di-
recta da vida das mães. As anoréxicas sabem que não podem controlar o mun-
do que as rodeia — quer o que é criado pela sua família, quer pela cultura
em geral — mas acreditam que podem, ao menos, controlar o peso do seu
corpo. Na realidade, o que acontece é que, a partir de certo ponto, deixam
geralmente de poder controlar a assimilação de comida e caem em níveis de
peso perigosos ou fatais. Hoje em dia, com o acréscimo de atenção à anorexia
e outras perturbações alimentares, a psiquiatria alargou a sua perspectiva so-
bre as causas e desenvolveu modelos de tratamento mais complexos, que têm
em conta a maior gama de significados atribuídos pela cultura à forma femi-
nina inscritos na mente das jovens.
Fora da arena profissional, o seio psicológico tornou-se um elemento
principal da cultura popular. Pensemos nos inúmeros cartoons que repre-
sentam uma associação entre objectos físicos inanimados — maçãs, ovos,
montanhas — e uma imagem do seio primordial na mente humana. Pensemos
no seio monstruoso do filme de 1972 Tudo o que Sempre Quis Saber Sobre
o Sexo mas Tinha Medo de Perguntar, que foge do laboratório de um cientista
“maluco, arrasa o campo e é derrotado por um Woody Allen cómico-heróico
a brandir corajosamente um crucifixo.
Pensemos na novela de Philip Roth O Seio, cujo protagonista se transfor-
ma numa enorme glândula mamária. Quando o herói desta fábula (com a de-
vida vénia a Kafka) tenta compreender a desgraça, a lingua que profere é uma
psico-treta da Costa Leste: ” A que se deve esta identificação primitiva com
o objecto de veneração infantil? Que apetites por satisfazer, que confusões,
que fragmentos do meu passado mais remoto terão colidido para fazer defla-
grar uma ilusão de simplicidade tão clássica?” A transformação de um ho-
mem adulto num enorme seio é apresentada sob a forma de realização de um
desejo parodiando a obsessão de uma geração inteira.
Ainda é tão comum pensar em termos freudianos, que os Americanos fa-
lam em tipos estenográficos ou “orais” e na visão francesa da obsessão ma-
mária americana como forma de infantilidade suspensa (esquecendo o seu
longo fascínio pelo seio). Quando recordamos o discurso sobre o seio popu-
larizado pela psicanálise, podemos rir de muitas das coisas que foram em
tempos consideradas inquestionáveis. Poucas pessoas. levam à letra a crença
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193
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tulo Seeing Through Clothes (Ver Através da Roupa)? As roupas que ficam
em contacto directo com o corpo nu são geralmente encaradas como objectos,
sexuais de direito, fetiches do lado fantasioso do vestuário público.
Hoje em dia, os produtos e serviços destinados aos seios — soutiens e
espartilhos, cremes para o busto e aulas de ginástica, operações para reduzir
e aumentar os seios — constituem uma gigantesca indústria internacional.
Por todo o mundo ocidental, as mulheres estão dispostas a gastar biliões de
dólares para criar a ilusão que fará subir o seu valor sexual e profissional |
Atraídas por imagens femininas raramente criadas por elas, algumas mulhe
res transformam-se em anúncios ambulantes de soutiens para fazer subir o
peito, implantes de silicone ou outros produtos destinados a criar um busto
estandardizado.
Porém, é demasiado fácil retratar as mulheres apenas como “corpos dó-
ceis,” nas palavras de Michel Foucault, como vítimas da exploração comer-
cial ou co-responsáveis pela sua própria opressão As mulheres são hoje, e
sempre foram, mais que vítimas das pressões externas. Embora tenhamos
motivos para vociferar contra a tirania do olhar masculino e a ditadura da
moda, que costumam afectar mais as mulheres do que os homens, é uma to-
lice negar a opção pessoal nestas questões. Por vezes, escolhemos cegamente,
é verdade, e muitas vezes optamos por agradar aos outros sem sabermos que
a nossa escolha reflecte desejos que não são os nossos; na melhor das hipó-
teses, as nossas escolhas correspondem a um ideal estético interior (por mais
socialmente elaborado que ele seja!) que contribui para uma sensação geral
de bem-estar, e para a sensação assumidamente agradável de nos sentirmos
sensuais.
Como vendedoras, as mulheres comercializam os seios desde o início da
história. Quando ser ama de leite era uma profissão viável, muitas mulheres
ganhavam a vida à custa dos seus seios lactantes. As amas de leite das classes
mais elevadas, como as que amamentavam os filhos dos faraós, eram equi-
valentes às grandes damas da corte que presidiam a importantes redes de po-
der. As amas de leite das rainhas de França tinham várias prerrogativas, in-
cluindo o nome ” Madame Poitrine” (Sra. Seio), que era usado como título
honorífico em certas famílias francesas muito após o desaparecimento da mo-
-«narquia.
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bros redondos, peito descaído e barriga grande, por não usarem espartilho.
Tratava-se de uma visão oposta à perspectiva médica de que as raparigas do
campo, num estado natural, ficavam com o peito grande e seios redondos e
protuberantes, em comparação com os seios atrofiados das raparigas da ci-
dade e das aristocratas, que se deviam à utilização de espartilhos.
A curto prazo, as mulheres aceitaram as críticas médicas e morais: uma
das primeiras alterações da moda durante a Revolução Francesa foi o exílio
do espartilho. O ponto aito da nova moda foi atingido quando Madams Tal-
lien, mulher de um dos Directores da República, apareceu num baile da Ope-
ra em 1795 com uma túnica de seda sem mangas e sem qualquer peça de
roupa interior.
Em França e Inglaterra esta quase nudez foi muito troçada pelos sátiros
e cartoonistas, embora apenas correspondesse provavelmente à maneira de
vestir de um pequeno número de mulheres. Outro alvo da sátira era a mulher
que aumentava o peito com seios artificiais, como se referia no 7) he Times
de 1799: ” A moda dos seios falsos tem, ao menos, a utilidade de compelir
as nossas beldades da moda a usar alguma coisa.” '*
Passado pouco tempo, o espartilho voltou a aparecer em modelos curtos |
e compridos (figs. 64 e 65). A “cintura Império”, na moda em toda a Europa |
durante o reinado de Napoleão (1804-15), quebrou com todas as convenções |
anteriores elevando a cintura para a área imediatamente abaixo dos seios. Es-
tes tornaram-se, assim, indiscutivelmente o centro das atenções. Com a Res-
tauração da monarquia francesa em 1815 e o triunfo do conservadorismo po- :
lítico em toda a Europa, a cintura voltou a descer para o seu nível normal.
Por volta de 1816, estavam na moda os seios afastados um do outro. O
“Espartilho Divórcio”, inventado e patenteado pelo criador de espartilhos
Leroy, separou os seios por um triângulo de ferro ou aço acolchoado inserido :
na parte da frente do espartilho com a ponta para cima. Essa peça fez furor .
tanto em França como e Inglaterra, embora.os ingleses tenham rapidamente
regressado ao busto unido em prateleira.
Nesta altura, tanto em França como em Inglaterra, os espartilhos ainda es-
tavam fora do alcance da classe trabalhadora. Quando o industrial suíço Jean -
Werly instalou a primeira fábrica de espartilhos em Bar-le-Duc em França,
«passou a haver modelos mais baratos, produzidos em massa. A sua patente |
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a
65. James Gillray. Progress of the Toilet — AS VARETAS. Espartilho comprido. Início do séc. :
XIX.
Os ingleses preferiam uma versão mais comprida, que chegava até acima das ancas.
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-A
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67. The Princess Bust Developer. Catálogo da Sears, Roebuck & Co. 1897.
O Bust Developer prometia tornar o busto “redondo, firme e belo.”
que tinham um efeito deformante sobre o corpo das mulheres. Médicos fran-
ceses, ingleses e americanos acusaram o espartilho de ser responsável por di-
ficultar a respiração, deformar as costelas, comprimir os órgãos abdominais .
20
e provocar uma ” decadência física” geral na mulher.
Uma série de palestras proferidas em Boston durante a Primavera de 1874
apresentavam cinco oradoras, quatro das quais eram médicas, todas apaixo-
nadamente dedicadas à reforma do vestuário. Mary J. Safford-Blake, M.D.,
denunciou as “espessuras entre seis e dez” das roupas que envolviam habi-
tualmente o tronco feminino, com uma invectiva especial dirigida à “prisão
imutável” do espartilho.”! Caroline E. Hastings, M.D., responsabilizou o es-
partilho pela deterioração dos músculos torácicos, de forma que uma rapariga
de dezasseis ou dezoito anos que tenha usado “este aparelho de tortura hu-
mana” desde a infância julgar não poder viver sem ele. Mercy B. Jackson,
M.D., considerou os efeitos deletérios dos espartilhos ainda ” mais fatais” nas
mulheres ocidentais do que a deformação dos pés das chinesas.
HISTÓRIA DO SEIO
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A
Class, atacou o espartilho por tornar as mulheres fracas e inaptas para o tra- |
balho, e cada vez mais dependentes dos maridos, que consideravam as suas
frágeis esposas símbolos de prosperidade. Nas palavras de Veblen: ” Na teo-
ria económica, o espartilho é substancialmente uma mutilação, sofrida com
o propósito de baixar a vitalidade da pessoa que o usa e torná-la permanente
e evidentemente inapta para o trabalho,” motivos que contribuíam para “o
cs »23
seu visível encarecimento.””” Estava na altura de o espartilho desaparecer.
No. 23858.
No. 23659 Corset waist
for girls from 8 to 12 years &
of age; button front; lace º%
; back; made of fine qualit
; silesia; well corded; shoul-
, der straps; tape fastened
buttons for skirts, Colors:
| - white or drab; size 19 to WS
ennnocesatuas. a. essere «OC
ne Edi No. 23659.
68. Catálogo da Sears & Roebuck. 1897.
Os espartilhos padronizados para adultos correspondiam a tamanhos de seios entre 46 e 76 cm,
pesavam cerca de meio quilo, custavam entre quarenta cêntimos e um dólar, e eram geralmente
feitos de um algodão sarjado conhecido por “jean”. Também havia modelos especiais para ra-
parigas de oito anos.
HISTÓRIA DO SEIO
SOUTIEN-GORGE
(brovelé), rose, ciel ou écru,
ne touchant pas la tailie,
indispensable pur robes
dintérieur, et repos.
41.75
Kous dommer lo conlour do la
poilrino eu passant sous les bras.
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MARILYN YALOM
xítio da sua criada francesa, adaptou ao peito dois lenços e uma fita cor-de-
-rosa. A seguir, fez algumas cópias para as amigas, e registou a patente em
1914 sob o nome de Caresse Crosby, denominando-o ” soutien Sem Costas”
A patente foi posteriormente avaliada em quinze milhões.
Levou algum tempo até o termo “brassiére” suplantar todos os outros ter-
mos. À revista Vogue utilizou-a pela primeira vez em 1907, e o Oxford En-
glish Dictionary em 1912. Os franceses utilizavam alternadamente brassiêre
e soutien-gorge. Estes primeiros soutiens eram muito graciosos e sustenta-
vam pouco os seios. Como prisioneiros recentemente libertados da prisão, os
seios sofreram um período de liberdade e indecisão antes de encontrarem su-
porte num soutien verdadeiramente funcional.
Durante o período que abrangeu a Primeira Grande Guerra, o tipo de es-
partilhos e soutiens disponíveis era muito variado. Em 1912, os franceses co-
meçavam a dar sinais de favorecer o peito liso que.viria a estar na moda de-
pois da guerra. Um anúncio no programa dos Ballets Russos de 1912
mostrava uma imagem do “soutien Redutor Junon” pequeno, elástico e sem
alças, feito para reduzir o peito (fig. 70). Os alemães, por seu turno, estavam
70. O soutien Redutor
Junon. Do programa
dos Ballets Russos.
1912.
O soutien Redutor
Junon prefigura a
moda do pós-guerra,
de peito liso. Na
legenda pode ler-se:
“A moda actual re-
quer muito pouco
peito. O soutien RE-
DUTOR JUNON é
indispensável para
mulheres de peito
grande. Ele “en
volve” o peito na
perfeição, reduz-
cem indo-o às proporções
exactas”
mario.
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UST ENOUGH—NO MORE! Nov
Iung into Fasbivo'a discard aro «ll excess
dertlioga-—aloug with the perticoar, high boot
ai) Use busto. To be drcased smartly today — one
wear ltss— just nough-—no more. À dress and
Seanties — that's alt! Boxe litele is talica to bamish
all bulges) Bur ane pair of shoulder atrups, À
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72. Anúncio da Maidenform, 1962. "Sonhei que pegava o touro pelos comos no meu soutien Maiden-
form”
De mão enluvada apoiada no chifre fático do touro, a mulher que vestia um soutien Maidenform
exalava insinuações sexuais.
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h
HISTÓRIA DO SEIO
magra e de peito liso, para começar. Embora esses modelos não fossem, de
modo nenhum, políticos, associaram-se francamente às mulheres feministas
na popularização do visual assexuado.
Tal como os anos 20, a década de 60 foi uma altura de mudança para as
mulheres. As mulheres “modernas” dos anos 20 tiveram de cortar o cabelo
curto, reduziram os seios e constituíram a percentagem mais elevada de mu-
lheres com empregos académicos da história dos Estados Unidos. As suas
congéneres dos anos 60 eram parecidas com as avós não só no desejo de pa-
recerem “arrapazadas” mas também na sua aspiração de maior liberdade so-
cial e política.O seu desejo de ” queimar o soutien” tornou-se um grito sim-
bólico para banir todas as formas de opressão extema. Mesmo as mulheres
que rejeitavam a palavra ” feminista” viriam, a seu tempo, a gozar os bene-
fícios da libertação feminina.
A contrapartida francesa do fenómeno de ” queima de soutiens” na Amé-
rica foi a abolição da parte de cima do fato-de-banho. Embora algumas pio-
neiras já fizessem topless nas praias de Saint-Tropez desde o início da década
de 60, sóno final da década é que este fenómeno se transformou numa prática
corrente. No seguimento dos “acontecimentos” do Maio de 68, quando os
estudantes e trabalhadores franceses encenaram uma pequena revolução po-
lítica, a França inteira sofreu sublevações dramáticas. Para as mulheres, o de-
sejo de obter uma nova medida de igualdade em relação aos homens e exercer
a autonomia sobre os seus corpos cômeçõu tom a abólição da parte de cima
dos fatos-de-banho. Numa nação eternamente dividida entre esquerda e di-
reita, os seios descobertos sofreram uma vitória surpreendentemente fácil:
um: quarto de século mais tarde, nas praias de França, Itália e Espanha, as
mulheres apanham banhos de sol em topless sem se preocupar muito com as
pessoas que podem achar o espectáculo provocador — ou com os perigos da
camada do ozono sobre a sua pele nua. Todos os anos, na Primavera, os em-
presários europeus desencadeiam uma gigantesca campanha publicitária para
vender cremes especiais, bronzeadores e sessões de. bronzeamento para pro-
teger e embelezar os seios das mulheres.
Em finais dos anos 70, foi descoberto outro mercado, o da roupa interior
para as atletas, inicialmente inspirado pela mania do jogging que se tinha aba-
tido sobre a América. As corredoras exigiam roupa interior que “resistissem
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anos 50. É provável que tenhamos de esperar mais uma década até voltar a
aparecer a figura andrógina tão popular nos “Hibertados anos 20” e nos libe-
rais anos 60. Com o ciclo de peitos lisos a surgir de quarenta em quarenta
anos, segundo a nossa amostra de dois ciclos no séc. XX, devemos contar
com um regresso ao andrógino por volta do ano 2000. Atenção, fabricantes.
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LIQUORE
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75. Etiqueta de uma caixa de fruta. Cerca. 1950. ” YANKEE DOLL APPLES.”
Não é por acaso que a palavra ” Apples” (”Maçãs”) é colocada aparte, como
uma etiqueta, ao lado dos seios da mulher.
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HISTÓRIA DO SEIO
os meus próprios fins. Faço dinheiro com elas, mas para as outras mulheres
que não gostam de jovens playmates as revistas são muito prejudiciais Se
pensasse que podia detê-las sozinha, talvez pusesse essa hipótese. Mas não
estou disposta a perder dinheiro e ser a única rapariga a ser altruísta.”
* Gail parece falar a uma geração inteira de mulheres que decidiram ganhar
dinheiro, apesar da suspeita de que o seu trabalho contribui para espalhar da-
nos psicológicos. O número reduzido de corpos perfeitos exibidos em revistas
— ou colocados nas mãos das rapariguinhas sob a forma da Barbie com as
suas pernas finas como lápis, ancas inexistentes e seios protuberantes — des-
tina-se a fazer muitas mulheres sentirem-se insatisfeitas com a sua figura
muito diversa. Já em 1973, um inquérito de sessenta e duas mil leitoras des-
cobriu que 26 por cento das mulheres que tinham respondido a perguntas so-
bre a sua ” Imagem Física” afirmavam-se ” insatisfeitas” com os seios, e 49
por cento estavam “insatisfeitas” com as ancas.“ Mais recentemente, um
surpreendente programa televisivo 20/20” de Abnil de 1996 revelou a me-
dida em que algumas mulheres odeiam verdadeiramente os seios. Os estudos
de ciências sociais que procuram entender este fenômeno sugerem que as mu-
lheres estão infelizes com o seu corpo porque não se conformam com as fi-
guras esguias e de seios grandes que pressentem que os homens preferem;
de facto, as mulheres têm a tendência de sobrestimar o tamanho do seio quan-
do avaliam o seu carácter geral de atracção *! Existem bons motivos para
acreditar que a sociedade paga um preço muito acima do valor monetário ao
alimentar a fantasia de corpos e seios perfeitos sem reconhecer qualquer outro
tipo.
“Helen Gurley Brown, editora da Cosmopolitan durante trinta anos, assu-
miu esta posição feminista em finais da década de 60.” As mulheres,” disse
em defesa da utilização de mulheres nuas na publicidade, “nem de longe
vêem o número de mulheres nuas que gostariam.” * Especialmente neste
país, as mulheres americanas têm tão pouca oportunidade de ver outras mu-
lheres de seios nus que possuem uma ” noção idealizada dos seios das outras
pessoas. Meu Deus, não é ridículo ser uma mulher emancipada e não saber
verdadeiramente como é o corpo de outra mulher?” É evidente que as afir-
mações de Gurley Brown não abriram a fotografia de moda a uma vasta gama
de seios velhos e novos, flácidos e firmes, e outras características distantes
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HISTÓRIA DO SEIO
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HISTÓRIA DO SEIO
seus espectáculos onde apareciam mulheres totalmente nuas (fig. 79). Seios
e nádegas expostos, corpos enfeitados com plumas, lantejoulas e pequenas
coberturas para os mamilos conhecidas por pasties (Geralmente com franjas
que oscilavam) eram exibidos à frente dos olhos incrédulos dos habitantes
locais e dos estrangeiros dispostos a pagar uma bela quantia pela noite mais
tardia da cidade. As Folies Bergêres passaram a ser sinónimo da nudez fe-
minina em espectáculos dignos de um rei, ou pelo menos um príncipe árabe.
Entretanto, nos Estados Unidos, a nudez era geralmente mantida por bai-
xo de camadas penetrantes de puritanismo — aliás, até aos permissivos anos
60. Então nasceu em São Francisco, a 19 de Junho de 1964, a dança de seios
descobertos. Carol Doda, que era na época uma go-go dancer do nightclub
Condor, na Broadway, foi convidada pelo patrão a pôr um dos novos calções
de banho de Rudi Gernreich e a executar o seu número habitual em cima de
um piano descido do tecto. Não tardou muito, a fila à porta do Condor dava
a volta à esquina, e daí a alguns dias, havia seios descobertos por toda a
Broadway.
Um nightciub apresentava uma estrela franco-persa com um busto tama-
nho 44. Outro exibia uma ” Mãe de Oito Filhos em topless” Chegou a ser
aberta uma banca de engraxar sapatos em topless. No Condor, a multidão ia
aumentando cada vez mais, a par dos seios de Carol Doda, o que se deva pre-
sumivelmente a uma série de injecções de silicone. Em 1966, a Câmara do
Comércio de São Francisco salientou que quase um terço dos 101 nightclubs
da cidade exibiam mulheres de seios nus. Alguns deles acabaram por adoptar
a nudez total, ou mesmo peepshows proibidos a menores. À longo dos anos
60 e:70, São Francisco era o centro da nova moralidade — ou imoralidade,
como os seus detractores a apelidaram.
Uma topless dancer dos anos 70 conhecida apenas por “Susan” descre-
veu-nos a sua experiência * De início, pensou: ” Era tudo tão estranho! Havia
gente que entrava num lugar para beber uns copos, mas principalmente para
ver os meus seios em exposição. Podemos considerar isso uma forma de en-
tretenimento? Observá-los?” A seguir, mudou de atitude. ” Quando passou a
timidez, senti-me bem. Era como ” Querem ficar aí sentados e pagar para vê-
-los? Óptimo! Porque eu preciso do dinheiro!”
Ao falar com os homens dos bares, Susan ficou surpreendida ao descobrir
233
MARILYN YALOM
que alguns deles acreditavam mesmo na fantasia que ela criava no palco
“eles pensam que é realidade,” e tinham tendência para criticar as mulheres
que não apreciavam a exibição, Essa ideia fez Susan parar. Começou a pensar
no efeito das bailarinas de seios nus na sociedade em geral. Mas afinal de
contas, ela continuou a dançar para satisfazer as necessidades financeiras e,
nas suas próprias palavras, “o narcisismo e a liberdade.”
A avaliação de Susan era, no seu todo, extremamente fraca: ” dançar de
seios nus foi uma experiência incrivelmente libertadora para mim Há muita
camaradagem entre as mulheres, e isso não se deve ao facto de estarem todas
unidas por se sentirem vítimas, mas sim pela surpresa por estes tipos pagarem
para verem os nossos seios.”
E se pagam! Os bairros da sexualidade de Londres e Amsterdão, Nova
Iorque e Los Angeles são verdadeiros ímãs para milhões de homens dispostos
a largar as suas libras, marcos e dólares por darem uma olhadela às ” mamas
e rabos” ou ficarem a observá-los durante várias horas. Dentro de cubículos
com montras de vidro, mulheres a acariciar os seios conversam com clientes
excitados do sexo masculino, ou executam danças em que se acariciam em
cima de estrados minúsculos, atiçadas pelos homens do outro lado das bar-
reiras. Em peepshows gastos ou espectáculos de gala de stripiease, Os seios
são frequentemente a atracção principal. As ” Showgirls” de Las Vegas, que
dançam de peito nu — em oposição às “bailarinas,” que mantêm os seios
“cobertos — têm fatos mais brilhantes e mais cinquenta dólares por semana
— o que não acrescenta muito a um salário semanal entre quinhentos e oi-
tocentos dólares.
" Hoje em dia, não temos de sair de casa para ver a carne das apresenta-
doras. A TV cabo e a cassete de vídeo trouxeram os seios e os rabos para a
sala. O peepshow passa agora em écrãs de 76 a 1,5 m onde pode ser visto
por toda a família,
Nenhuma mulher foi mais bem sucedida do que Madonna na exploração
deste mercado.” Cantora, bailarina, actriz, super vedeta, Madonna projectou-
-se nos lares e nas mentes de milhões de fãs, mcluindo adolescentes, gays €
lésbicas, e adultos heterossexuais, que a transformaram num símbolo cultural
avaliado em 125 milhões de dólares. No seu primeiro e melhor filme, Deses-
peradamente à Procura de Susana (1985), Madonna exibiu os seios e a bar-
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HISTÓRIA DO SEIO
riga com uma falta de pudor que se transformou na sua imagem de marca.
Porém, alguns anos mais tarde, tinha emagrecido consideravelmente e desen-
“volvido um corpo esguio e musculoso devido a um programa de exercício
rigoroso que correspondia mais ao ideal da nação.
Isto era conseguido, em grande medida, devido aos soutiens cónicos de-
senhados para ela por Jean-Paul Gaultier. No seu filme colossalmente famoso
Na Cama Com Madonna (1991), ela aparece num número de fato de negócios
de riscado com as copas do soutien de cetim cor-de-rosa a ver-se por entre
as rachas do casaco, e ligas a pender das calças. Esta combinação de fato de
negócios clássico e roupa interior sexy é uma paródia aos papéis sexuais tra-
dicionais. Noutra sequência, soutiens pontiagudos de Madonna são, eles pró-
prios, parodiados por dois bailarinos de pele negra com grotescos seios fáli-
cos com cerca de trinta centímetros. Os homens agitam energicamente os
seios falsos e, por vezes, os de Madonna, ao mesmo tempo que ela se acaricia,
simulando masturbar-se. Trata-se de uma cena lasciva que esteve para ser
proibida pela polícia quando executada em público.
Quer sob a forma excitante de Madonna ou de Marylin Monroe, ou qual-
quer par de seios anónimo numa capa de revista, o sexo vende. O sexo vende
porque vai ao encontro das redes subterrâneas que unem as nossas primeiras
memórias do seio materno a memórias posteriores do nosso corpo. Como
cães de Pavlov a salivar ao som da campainha mesmo que a comida deixe
de aparecer, continuamos a esperar-quaiquer tipo.de satisfação do seio muito
depois de ele deixar de dar leite. Sobrepostas às nossas memórias inconscien-
tes há ainda as experiências posteriores dos nossos próprios seios num estado
de excitação adulto, o mamilo com uma sensibilidade extrema nas mulheres
e, para alguns homens, ao toque de uma mão experiente. Para ambos os se-
xos, a visão, e certamente o toque dos seios pode arrastar-nos para o rede-
moinho do desejo.
Através da associação visual das maçãs e dos seios, os homens são leva-
dos a crer que, ao comprarem maçãs, também estão a comprar as mulheres
e o prazer sexual. Ao fazer confluir os soutiens e o sexo, as mulheres são le-
vadas a acreditar que, ao comprarem um Wondrebra, também estão a com-
prar a opção de um amante ideal, ou no mínimo o potencial de trocar o par-
ceiro actual por outro mais romântico e sensual** É evidente que o
MARILYN YALOM,
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HISTÓRIA DO SEIO
O tablóide londrino Sunday Sport edita anúncios de play mates com fo-
tografia por apenas três libras para três números. Embora o nu não seja aceite,
muitas fotografias mostram mulheres de rosto coberto e seios descobertos!
Eis uma amostra dos textos que acompanham algumas das fotografias de pei-
tos grandes da edição de 16 de Janeiro de 1994:
SENHORA MADURA, finais dos 40, busto 48, figura cheia, pro-
cura cavalheiro, 30-60, para passar momentos divertidos. Se já ex-
perimentou o resto, experimente o melhor! Escócia.
Estes anúncios de seios nus e rosto coberto dizem-nos qualquer coisa me-
nos evidente nas colunas pessoais da The New York Review of Books e outras
publicações de alto nível. Eles falam em nome de uma sexualidade que realça
o corpo, ou apenas algumas partes dele. O rosto com a sua boca e olhos ex-
pressivos (as “janelas da alma,” nas belas palavras de Dante) deixa de ser
relevante. Afinal de contas, quem tem alma nos dias que correm? O que resta
são os seios, e para algumas pessoas, aparentemente isso chega.
Ultimamente, quando entro em desespero devido a essa mercantilização
e encaro as pessoas como vítimas de um mercado sem freio, penso na seguin-
te carta que encontrei na coluna da “Dear Abby” (Chronicle de São Fran-
cisco, 2 de Dezembro de 1993).
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MARILYN YALOM
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HISTÓRIA DO SEIO
Os homens que preferem adoptar a mais recente tecnologia para obter sa-
tisfação podem comprar programas de sexo interactivo em realidade virtual.
Uma versão alemã permite ao jogador usar óculos e uma luva táctil (Tas-
thandschuh), e manipular o seio que aparece no ecrã de computador (fig. 80).
O material de promoção para este modelo prevê que o prazer sensual a dois,
já em declínio, seja em breve substituído pelas maravilhas do Cibersexo
Os que preferirem mulheres reais podem satisfazer os seus apetites — por
mais bizarros que eles sejam — por vídeos e filmes para adultos. As mulheres
que actuam nesses filmes vão da fraca Annie Sprinkle, que se tornou uma
fotógrafa de êxito, à actriz de filmes porno do 1º escalão Savannah, que se
suicidou em 1994. A história de Savannah levanta muitas questões perturba-
doras sobre os efeitos negativos da pornografia nas mulheres que actuam nos
filmes do género.
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HISTÓRIA DO SEIO
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MARILYN YALOM
HISTÓRIA DO SEIO
njecer os mamilos com gelo, para os cirurgiões plásticos que fazem aumentos
de seios, para a indústria dos soutiens que cria a ilusão de seios maiores, para
a indústria cosmética que promete brancura, suavidade e firmeza, para a mu-
lher britânica que põe um anúncio a procurar um ” cavalheiro generoso.” Se
esta exploração do seio continuar — e até aqui não há sinais de desistência
— opróximo milénio assistirá a ainda mais permutas estrangeiras do seio oci-
dental fetiche.
-Já não podemos ignorar o fenómeno da argola no mamilo (fig. 81). Estes
adornos popularizaram-se entre alguma juventude aventurosa de ambos os
sexos, especialmente em cidades como Londres e Los Angeles, onde há mui-
tos body-piercers profissionais. Embora se refira que o processo de adquirir
uma argola no mamilo exige relativamente pouco tempo, dor ou dinheiro, não
deixamos de pensar por que motivo alguém há-de querer submeter-se a isso.
Qual é o sentido da argola no mamilo?
Tal como tudo o que se relaciona com o seio, o significado simbólico da
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Sete
O SEIO MÉDICO:
FONTE DE VIDA E DE ANIQUILAÇÃO
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MARILYN YALOM
para os bebés. É evidente que hoje sabemos que esse leite, denominado “ co-
lostro”, é mais que adequado, visto que transmite muitos anticorpos neces-
sários da mãe para o bebé. Aristóteles também escreveu muitos disparates so-
bre o facto de as mães morenas darem leite mais saudável do que as louras,
e as amas de leite momo darem origem à dentição mais precoce dos bebés
que amamentavam do que as que tinham leite frio.
O mais célebre ginecologista da antiguidade, Sorano de Efeso (início do
séc. ITD. €.) era mais a favor do recurso a uma ama de leite do que a maioria
dos médicos pensadores do seu tempo. Embora estivesse de acordo que a mãe:
que amamentava a criança podia sentir mais afecto por ela, ele reconhecia o
desgaste provocado pelo parto e o aleitamento que se lhe seguia, e aconse-
lhava a contratação de uma ama de leite “para que a mãe não tenha um en-
velhecimento precoce, passando o dia inteiro a amamentar.” ” Sorano desa-
creditava certas superstições populares, como a crença de que uma ama de
leite contratada para amamentar um rapaz já devia ter dado à luz um rapaz.
Ele punha de lado esse mito com o argumento de que, no caso de gémeos
de sexos diferentes mas amamentados pela mesma pessoa, nem o rapaz se
toma mais feminino nem a rapariga mais masculina.
Tal como outros médicos greco-romanos, Sorano estabeleceu critérios ex-
tremamente precisos para a selecção de uma ama de leite. Devia ter entre vin-
te e quarenta anos, já ser mãe de duas ou três crianças, estar em bom estado
físico e, de preferência, ser grande e morena. Os seus seios deviam ser de
tamanho médio, flexíveis e sem rugas, de mamilos não demasiado grandes
nem demasiado pequenos, compactos ou porosos. Devia ser uma pessoa afec-
tiva, limpa, de temperamento equilibrado, e grega de nascimento. Sendo ele
próprio grego, embora tenha exercido em Roma, o preconceito de Sorano a
favor das amas de leite gregas era partilhado por muitos dos seus contempo-
râneos.
Quanto ao leite produzido pela ama de leite ideal, também ele estava su-
jeito a um escrutínio severo. Devia ser branco e sem nenhuma coloração ver-
melha ou esverdeada, de odor agradável, gosto doce e consistência média.
Esta última qualidade podia ser testada espremendo uma gota de leite numa
unha ou numa folha de louro e observando se ele se mantinha assim ou dis-
persava demasiado depressa.
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HISTÓRIA DO SEIO
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MARILYN YALOM
tavam, por cima do coração, para dar mais calor e protecção a esse órgão vi-
tal. E acreditava que as mulheres melancólicas tinham mais tendência a sofrer
de cancro da mama do que as mulheres alegres — uma noção que não deixa
de ter pontos de contacto com algumas das especulações psicossomáticas dos
nossos dias, embora os estudos actuais não tenham conseguido encontrar uma
associação entre a depressão e o cancro da mama.
O compilador bizantino Aetius, deixou-nos a descrição de uma operação a
um cancro da mama. Aetius considerava os tumores que se encontravam na ex-
tremidade do seio e que ocupavam menos de metade desse órgão os únicos pas-
síveis de serem operados. Antes de pegar na faca, o médico era aconselhado a
desintoxicar o corpo, quer mediante uma purga, quer administrando teriaga, um
antídoto composto por vários ingredientes frios. Os caranguejos fervidos em
leite de burra também eram considerados eficazes. A utilização de caranguejos
baseava-se na crença de que o aspecto de um objecto, ou mesmo do seu nome,
era indicativo da sua utilidade terapêutica. Assim, cancer, O caranguejo, serve
para curar o cancro. A utilização médica do termo “cancro” — karkinos em
grego — pode ter ocorrido devido ao facto de o caranguejo andar para trás e
agarrar-se firmemente a qualquer coisa que toque, ou pura e simplesmente por
alguns tumores malignos serem parecidos com caranguejos.
Aetius copiou esta descrição de uma operação ao cancro da mâma de Leó-
nides, um médico da escola da Alexandria no séc. 1.
não evoluiu desde os excrementos de vespa dos antigos egípcios até aos mor-
cegos queimados da Antiga Grécia.
* Qutros manuscritos latinos e vernaculares também sugerem o papel das
mezinhas na medicina medieval. Peyre de Serras, por exemplo, que viveu
perto de Avinhão em meados de 1350, aconselhava as mulheres com proble-
mas de parto, menstruações dificeis ou dores nos seios possivelmente causa-
das por quistos, abcessos, por cancro ou-pelas mutações hormonais a beber
uma infusão de baga de sabugueiro mergulhadas em vinagre durante vários
dias. Outro tratamento popular para as dores no seio consistia em aplicar um
penso feito com sangue de porco.!! Os pensos podiam, ao menos, imobilizar
a região afectada e eram geralmente considerados eficazes quando havia um
alívio dos sintomas — mêsmo que o paciente acabasse por morrer. Com re-
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MARILYN YALOM
médios desses aconselhados pelos médicos, não é de admirar que muitas mu-
lheres se tenham agarrado à crença nas curas religiosas. Rezar na igreja em
frente à Virgem Maria e aos santos protectores ou debaixo das efígies pen-
duradas acima das suas cabeças não podia fazer mal. Como já referimos, as
muitas histórias de curas milagrosas efectuadas por sacerdotes e santos su-
gerem como as crenças religiosas estavam interligadas às práticas médicas.
No séc. XIII, os cirurgiões italianos Bruno da Longoburgo, Theodoric
Borgognone e Guglielmo da Saliceto escreveram tratados de medicina que
continham tudo que se sabia na época sobre o cancro da mama. Guglielmo :
reconheceu que alguns tratamentos que consistiam numa dieta e em aplica-
ções locais eram geralmente ineficazes, e que o cancro da mama só podia ser
verdadeiramente curado através da cirurgia. Toda a parte afectada era cortada
com ” uma faca muito afiada,” ao que se seguia uma cauterização com um
ferro quente e a aplicação de substâncias calmantes.'2 A Cyrurgia de Theo-
doric incluía a ilustração de uma examinação do seio executada por um mé-
dico a uma mulher sentada, e outra de uma mulher a aprender a observar-se
para despistar abcessos do seio. Dada a grande ênfase colocada actualmente
nas examinações aos seios, estas imagens parecem muito avançadas para a
época.
O mais importante cirurgião francês deste período, Henri de Mondeville
(12607-1320), também tinha uma opinião sobre este tema. Cirurgião do rei
de França Filipe, o Belo, e professor de cirurgia em Montpellier e em Paris,
Henri de Mondeville achava que o cancro da mama só devia ser operado
quando o tumor podia ser completamente erradicado; caso contrário, a inter-
venção só iria piorar as coisas. Empiricamente, o cirurgião observara que cor-
tar um tumor dá geralmente origem a uma ferida que não sara, embora não
compreendesse porque é que isso acontecia. Ainda não havia qualquer per-
cepção de que cancro podia espalhar-se no seguimento de uma operação des-
sas, tornando-se uma doença sistémica.
De Mondeville também se pronunciou sobre a afirmação de Galen acerca
do posicionamento dos seios: ” Os motivos pelos quais os seios das mulheres
se encontram no peito, ao passo que outros animais os têm noutros lugares,
, são de três espécies. Em primeiro lugar, o peito é um lugar nobre, casto e
notável, e assim eles podem ser mostrados decentemente. Em se gundo, aque-
252
HISTÓRIA DO SEIO
cidos pelo coração, devolvem-lhe o seu calor, pelo que este órgão se forta-
lece. O terceiro motivo só se aplica aos seios grandes que, cobrindo o peito,
aquecem, cobrem e fortalecem o estômago.” “o que de Mondeville desco-
nhecia em termos de conhecimentos anatómicos, explicava numa linguagem
elegante.
“As descrições médicas do corpo humano eram frequentemente baseadas
em provas muito ténues — que por vezes não provavam nada. Era esse o caso
da antiga noção que remontava a Hipócrates, de que o leite materno era uma
espécie de sangue menstrual. Em comentário à sua "poética de leite e san-
gue,” o historiador Thomas Laqueur considera-a parte de uma epistemologia
médica mais baseada na sabedoria empírica e popular do que na observação
factual. Os artistas anatômicos renascentistas chegavam, por vezes, a esta-
belecer uma ligação entre o útero e os seios femininos, como acontece num
célebre desenho de Leonardo da Vinci.
Só a seguir à obra de Andreas Vesalius (1514-64) é que o estudo da ana-
tomia se transformou numa verdadeira ciência. A partir da sua dissecação de
cadáveres em Pádua, onde era professor de cirurgia, Vesalius conseguiu obter
um novo entendimento das funções do corpo humano. Porém, o seu tratado
anatômico revolucionário, cuja primeira edição data de 1543, ainda se baseava
em ideias de Aristóteles e Hipócrates acerca das mulheres. Ele acreditava, por
exemplo, que as substâncias a partir das quais o embrião se formava eram o
“sémen genital” e o “sangue espiritual” O leite materno constituía um mis-
tério, transformando-se miraculosamente a partir do sangue ao subir aos seios.
O interesse de Vesalius no seio centrava-se na sua relação com as necessidades
do recém-nascido, como podemos perceber pela seguinte descrição:
Quando o feto é dado à luz, suga o leite para seu alimento sem
ninguém o ensinar. Os seios localizam-se no peito e estão forneci-
dos de mamilos; estes são formados de um material glandular que,
por força inata, converte e leite no sangue que é trazido até eles
pelas velas.
253
MARILYN YALOM.
do que pelas mulheres, dado que muitas dessas obras foram escritas em La-
tim. Mesmo no caso das obras escritas em vernáculo, os leitores eram pre-
dominantemente outros humanistas e profissionais, pois a população letrada
era composta por relativamente poucos homens e ainda menos mulheres.
A mais famosa figura médica francesa do séc. XVI, Ambroise Paré (1510-
-90), escreveu copiosamente sobre o tema do aleitamento. Influenciado pelos '
seus antecessores greco-romanos, concentrou-se em grande medida no tema
das amas de leite. Num capítulo intitulado ” Dos Seios e do Peito da Ama de
Leite”, afirma que ” Ela deve ter um peito amplo e seios bastante grandes que '
não sejam flácidos nem pendentes, mas entre o duro e o macio.” A “firmeza
média” era um sinal de que o leite fluiria facilmente quando o bebé mamasse.
Quando ao seio rijo, o seu leite era considerado demasiado concentrado, e o
bebé ”achando-o demasiado duro, enfurece-se e não quer mamar.” !É Na opi-
nião de Paré, esse tipo de seio também tinha a desvantagem de fazer o bebé
ficar com o nariz achatado!
A obra de Paré está cheia de deduções questionáveis deste tipo. As amas
de leite de cabelos escuros são melhores do que as de cabelos claros, e acima
de tudo, avisou o autor, nunca se deve contratar uma ruiva. Se o último bebé
da ama tiver sido um rapaz, isso traz vantagens especiais: o sangue tem “me-
nos excrementos,” e o seu leite é melhor “porque o rapaz, com o seu calor
natural, enquanto se encontra na barriga da mãe, aquece-a mais do que o feto
do sexo feminino.” Porém, apesar dos preconceitos infundados a favor das
amas morenas, dos bebés do sexo masculino, etc., Paré também forneceu
conselhos úteis e muito senso comum ao tema do aleitamento.
Paré foi sensível ao estado de exaustão que muitas mulheres experimen-
tam após parto, e demonstrou uma preocupação pouco habitual com a saúde
da mãe e do recém-nascido. Este autor dedicou um longo capítulo sobre os
diversos métodos de secagem dos seios destinado à mulher que optasse por
amamentar. Esses métodos incluíam massagem, pensos, loções, êmbolos
aplicados nas coxas e na barriga, e o aleitamento de outro adulto ou mesmo
de cachorrinhos! E se a mãe não tivesse estes últimos à sua disposição, Paré
aconselhava-a a usar um êmbolo de vidro, que devia colocar na ponta do seio,
chupando do outro lado do aparelho.
» Como outros médicos moralistas da sua época, Paré tinha motivos para
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HISTÓRIA DO SEIO
acreditar que, para a saúde do bebé, o aleitamento materno era melhor do que
o recurso a uma ama de leite. Na segunda metade do séc. XVI, sabia-se que
a taxa de mortalidade das crianças entregues aos cuidados de amas de leite
era muito elevada. Uma das causas disso pode dever-se ao facto de as amas
de leite, que amamentavam crianças durante vários meses, ou mesmo anos,
não terem o “primeiro leite”, que contém o colostro, que transfere os anti-
-corpos maternos para o bebé. Era provável que os bebés das famílias pobres,
amamentados pelas mães desde o primeiro dia de nascimento, tivessem taxas
inferiores de mortalidade neo-natal. Um observador deste fenômeno, o mé-
dico galês John J ones, salientou em 1579 as “condições de uma certa robus-
tez dos filhos de mães mais pobres.” !” Mesmo que uma mãe das classes altas
tivesse optado por amamentar o seu filho, não o fazia durante os primeiros
dias de vida da criança, porque se julgava erradamente, de acordo com as
ideias de Aristóteles e outros pensadores, que o “primeiro leite” fazia mal à
criança.
“Enquanto os médicos do Renascimento criavam um novo corpo de lite-
ratura obstétrica, os cuidados da maioria das mães durante a gravidez, o parto
e o aleitamento era da responsabilidade das parteiras. A maior parte das par-
teiras era treinada por outras parteiras sem beneficiarem-de instrução institu-
cional ou vigilância municipal. No entanto, em Paris, em finais do séc. XVL,
a profissão da parteira era cuidadosamente controlada por autoridades civis,
médicas e religiosas. À lista oficial de parteiras de 1601 contém sessenta no-
mes classificados por idades, e entre elas encontra-se o de Madame Louyse
Bourgeoyse.
Louise Bourgeois (para utilizar o grafismo moderno) entrou na história
como a parteira que ajudou a nascer o rei francês Luís XIII e os cinco outros
filhos de Marie de Médicis e Henrique IV. Ela também é conhecida pela pu-
blicação, em 1609, do primeiro livro francês sobre obstetrícia escrito por uma
parteira. Bourgeois repete muito do que já se encontrava na obra de Ambroise
Paré (com quem o seu marido, que era cirurgião, tinha estudado), mas tam-
bém põe a sua voz distinta e a sua experiência pessoal ao serviço das mu-
lheres — com um sabor mais de cozinha do que de sala de consulta. Por
exemplo, uma das suas muitas receitas para secar o leite da mãe é uma po-
mada feita de cera de abelha, mel e uma onça de óleo de rosas, uma onça de
MARILYN YALOM
manteiga fresca, e seiva de salva e cerefólio, que deve ser espalhado sobre
cânhamo fino e colocado sobre os seios, depois de estes terem sido esfrega-
dos com óleo de rosas e vinagre, posto o que se cobre tudo com linho quente
e deixa-se ficar assim durante um período de oito dias. Para as mães que estão
a amamentar que, por qualquer motivo (medo, irritação, doença, má alimen-
tação ou melancolia), perdem o leite e querem recuperá-lo, Louise Burgeois
aconselha uma boa sopa feita de funcho chicória, azedas e alface, que devia
ser comida de manhã e à noite. Às mulheres de seios inchados ou com um
tumor, aconselhava: ” Dissolva meia onça de banha, uma pequena quantidade
de cera nova, duas onças de pez (alcatrão), e faça com todos os ingredientes
uma pomada que deve usar para cobrir o peito depois de lancetado.” 2 O es-
tilo caseiro de Bourgeois explicará com certeza a sua popularidade entre as
gerações de parteiras, mães e amas de leite que teriam sido incapazes de ler
tratados de medicina mais formais.
O seu conselho sobre a escolha de uma ama de leite, sem o tom moralista
de muitos escritores do sexo masculino, indica que esta prática se estava a
tornar cada vez mais aceitável, tanto para a burguesia como para a aristocra-
cia. Existem, é claro, alguns aspectos habituais a ter em consideração: veri-
ficar os dentes, a cor do cabelo, a história médica e, especialmente, o carácter
da futura ama de leite (as que fossem namoradeiras deviam ser cuidadosa-
mente evitadas). Tendo em conta que o bebé passa nove meses na barriga da
mãe e dois anos ao seio de uma ama de leite, Bourgeois não ficou surpreen-
dida ao descobrir que algumas crianças possuíam mais características da se-
gunda que da primeira. No séc. XVII, a profissão das amas de leite — e das
parteiras — estava cada vez mais regulamentada, uma profissão que oferecia
às mulheres uma perspectiva de ganhar um ordenado decente e, ocasional-
mente, subir na hierarquia social (fig. 82). A parteira e a ama de leite faziam
parte de uma rede de curandeiras que começavam agora a ter a participação
de médicos do sexo masculino.
— Tanto os médicos como as curandeiras continuavam a entender a doença
em termos humorísticos. Repetiam as opiniões de Hipócrates e Galen, pres-
creviam eméticos, sangrias, e alguns alimentos que iriam restaurar o equili-
brio do sistema. Em termos do seio, acreditavam que o cancro era provocado
pelo fluxo de um humor espesso e viscoso, e o grau de malignidade era de-
256
HISTÓRIA DO SEIO
82. Luís XIV em criança com a sua ama de leite. Pintor anónimo.
As amas de leite da família real francesa eram cuidadosamente escolhidas de acordo com padrões
rígidos estabelecidos nos tratados médicos.
257
MARILYN YALOM
- | Se os resultados eram tão bons como Fabry afirma, isso deve-se em parte
ao facto de ele seguir a regra de tirar, não apenas o tumor mas também todas
as membranas que o envolviam. Fabry sabia que se ficar para trás alguma
“parte do tumor ou tecido envolvente, “ele volta a declarar-se e torna-se ainda
- mais grave”
— Outro famoso cirurgião alemão, Johannes Schultetus (1595-1645), colo-
cou ilustrações das etapas sequenciais de uma mastectomia na sua obra pós-
tuma, Armamentarium Chirurgicum (1635)./As traduções desta obra para ale-
mã, francês e inglês, a par da utilização das suas ilustrações em outros livros
- sobre cirurgia, explicam a sua crescente influência nos séculos seguintes./A
Com a descoberta da circulação sanguínea por William Harvey em 1628
e a descoberta do sistema linfático, denominado vasa lymphatica por Thomas
Bartholin de Copenhaga em 1652, a ciência entrou numa fase de transição
entre o abandono gradual da patologia humoral e a aceitação da patologia ce-
lular no séc. XI. Durante os dois séculos seguintes, a medicina e a charlata-
nice, a superstição e a ciência, o preconceito infundado e a observação em-
258
HISTÓRIA DO SEIO
pírica coexistiram lado a lado, como hoje, se bem que actualmente esse facto
seja menos flagrante.
Alguns médicos acreditavam que o cancro era contagioso, especialmente
o de tipo ulceroso. O médico e anatomista de Amsterdão Nicolaes Tulp
(1593-1674) — conhecido das gerações seguintes através do célebre quadro
de Rembrandt4 Lição de Anatomia — citou o caso de uma paciente que so-
fria de um cancro da mama aberto, que se pensava ter sido transmitido à em-
pregada ? A crença no contágio do cancro permaneceu até ao séc. XI, e mes-
mo actualmente os familiares e amigos de doentes cancerosos albergam, por
vezes, este-receio que não tem qualquer base científica.
Entre os médicos consultados para tratamento do cancro da mama, a cl-=-
rurgia era geralmente considerada o tratamento de último recurso. Foi esse ...
o que aconteceu em 1663, quando Ana de Áustria, mãe do rei Luís XIV de
França, descobriu um pequeno nódulo no seio esquerdo. O quisto foi tratado
“com sangrias, eméticos, clisteres, compressas, pomadas, e posteriormente,
depois de ele ter ulcerado, com beladona e lima queimada. Um grande nú-
mero de médicos, curandeiros e charlatães examinou a rainha, propondo todo
“o tipo de remédios. Comentando todas estas intervenções numa série de car- —
tas Gui Patin, o antigo decano da Faculdade de Medicina de Paris, afirmou
exasperado, “O Cancro não tem nem nunca terá cura; mas o mundo gosta
de ser enganado” (22 de Maio de 1665). —
“Em Agosto de 1665, Ana estava tão fraca que já tinha sido dadá como
moribunda por duas vezes. Nessa altura, pôs-se nas mãos de um médico da
Lorena, cujo remédio especial era uma pasta de arsénico; o seu efeito era
mortificar o tecido doente, que ia depois sendo cortado a pouco e pouco. A
rainha submeteu-se a estas operações entre Agosto de 1665 e Janeiro de 1666,
mostrando poucos sinais de recuperação. Por fim, chamaram o cirurgião de
Oorschot Arnoldus Fey para operá-la. Como a situação era claramente de-
“sesperada, este último redigiu um documento legal onde declarava que não
podia ser responsabilizado pelos resultados. A rainha agonizou depois da
operação de Fey, e morreu em Janeiro de 1666, aos sessenta e cinco anos.
- Adrian Helvétius (1661-1741), um médico holandês que exercia em Paris,
reclamou pela primeira vez honra de executar uma operação a um tumor no
seio bem sucedida pela primeira vez em França. A sua “Carta Sobre a Na-
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HISTÓRIA DO SEIO
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MARILYN YALOM
mem retirar o quisto em sua casa “para reduzir os custos.” É evidente que
Storch, médico, tinha sido consultado na categoria de autoridade na matéria,
mas o trabalho sujo foi executado pelo barbeiro cirurgião, menos culto e mais
mal remunerado.
A camponesa de Storch estava decididamente mais disposta a ser exami-
nada do que muitas das suas pacientes. Entre elas, uma desavergonhada de
vinte anos “teve de obrigar-se a si própria” a mostrar-lhe o seio dorido, e
uma senhora da corte descobriu o seio ” com grande embaraço” apesar da dor
que sentia há três anos. Todas estas mulheres parecem ter tido aquilo que a
historiadora Barbara Duden designou por “tabu” contra tocar e mostrar.”
Era típico uma mulher permanecer completamente vestida à frente do médico
enquanto lhe descrevia os sintomas, quer a consulta decorresse no consultório
ou no quarto (fig. 83).
Como a maioria das pacientes esperavam o máximo de tempo possível
antes de consultarem um médico, deparando-se, assim, com estádios de doen-
ça avançados, as vítimas do cancro da mama raramente sobreviviam muito
tempo à operação. Não é que a detecção precoce apresentasse resultados sig-
nificativos nessa época em que não havia antissépticos, visto que elas tam-
bém podiam morrer da infecção e do envenenamento sanguíneo resultante da
própria operação! O caso da escritora inglesa Mary Astell é provavelmente
representativo do destino que as mulheres com cancro da mama podiam es-
perar na época * Astell descobriu o seu tumor em 1731, aos sessenta e três
anos. Esperou que ele atingisse uma dimensão bastante grande e ulcerasse
antes de procurar o famoso cirurgião escocês Dr. Johnson, pedindo-lhe para
retirar o seio da maneira mais privada possível. De acordo com um relato da
sua vida, ela submeteu-se à mastectomia “sem a menor oposição ou resis-
tência, nem um único gemido ou suspiro.”?? Porém, a sua coragem de pouco
lhe valeu. No prazo de dois meses, morreu de uma doença que já estava de-
masiado avançada para ser detida por uma intervenção cirúrgica.
= Nos séculos XVII e XVIII, o cancro da mama ainda era encarado de acor-
do com a descrição galénica como a estagnação ou coagulação de um dos
humores corporais. Como tal, era frequentemente tratado com regimes die-
téticos destinados a restaurar a circulação; estes regimes incluíam água mi-.
geral, leite, e caldos de galinha, rãs ou sapos, bem como laxantes e jejuns.
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HISTÓRIA DO SEIO
84. Lorenz Heister. Um Sistema Geral de Cirurgia. Londres. 1748. Mastectomia e instrumentos
médicos relevantes.
Esta gravura mostra o método que o médico alemão Lorenz Hastor utilizava para fazer lumpec-
tomias e mastectomias assim como os instrumentos que usava.
E»
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HISTÓRIA DO SEIO
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MARILYN YALOM
Esta descrição foi escrita numa época em que o cancro da mama era um
assunto altamente confidencial, que só devia ser contado aos mais próximos .
e aos mais queridos, e mesmo assim com palavras criteriosamente escolhidas.
Porém, ta! como o autor da novela Evelina e outras obras célebres, Bumey
sabia que a carta que enviara à irmã seria partilhada com outros membros da
família e amigos, e que não seria deitada para o lixo. O texto que se segue
é obra de uma novelista experiente.
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HISTÓRIA DO SEIO
Ali estava ela estendida em cima da cama, com um simples lenço de cam-
braia a cobrir-lhe o rosto, ainda por cima transparente, através do qual con-
seguia ver tudo. Ao fechar os olhos para deixar de ver “o brilho do aço po-
lido,” ouviu a voz melancólica do dr. Larrey perguntar ” Qui me tiendra ce
sein?” (” Quem me pega neste seio?”) Ao que Bumey respondeu que ela pró-
pria pegaria nele. Foi então que percebeu, pelo dedo do médico que desenha-
va “uma linha direita de alto a baixo do seio, a seguir uma Cruz & por fim
um Círculo” que o seio teria de ser retirado por completo. Então, Burney fe-
chou novamente os olhos, “renunciando a toda a observação, a toda a resis-
tência, a toda a interferência, e tristemente decidida à resignação total”
Foi então que começou “a mais dolorosa das torturas.”
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Rush respondeu, não a Abigail Smith mas ao seu pai, John Adams, que
considerava o seu tumor “pronto para a faca.” Smith curvou-se perante os
cinguenta anos de experiência de Rush, e dentro de semanas estava a ser ope-
rada. Um mês mais tarde, Abigail Adams escreveu ao seu filho John Quincy
Adams que a sua irmã ” encontra-se tão bem quanto é possível depois de uma
operação em que o Seio inteiro foi retirado.” Durante o primeiro ano pós-
-operatório, Abigail Smith julgava que tinha posto o cancro para trás das cos-
tas, mas no Inverno seguinte a sua saúde começou a piorar e, em Agosto, ela
morreu tranquilamente com a mãe a seu lado. A mãe Abigail ficou inconso-
lável com a morte da filha e verteu a sua mágoa em muitas cartas, invulgares
pela falta de pejo em falar de um assunto que era convencionalmente guar-
dado em segredo.” A ferida que lacerou o meu Seio não tem cura,” escreveu,
numa identificação metafórica com a filha.
Durante este período, passou a ser cada vez mais comum as operações
serem feitas em anfiteatro para fins didácticos. O Dr. John Brown nunca se
esqueceu da mastectomia que viu em estudante num teatro operatório de
Edimburgo apinhado de gente, em 1830. Vinte e oito anos mais tarde, em Rab
e os Seus Amigos, Brown contou a história de uma camponesa escocesa cha-
mada Alie, que entrou no teatro vestida com a sua roupa habitual, acompa-
nhada do marido, James, e do cão. Enquanto o cirurgião-chefe cumpria a sua
função o mais depressa possível Rab rosnava ao ver o sangue do dono, Alie
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aguentou as dores sem anestesia com uma coragem notável. Quando a ope-
ração acabou, ela desce ” graciosa e decentemente da mesa, procura James:
a seguir, virando-se para o cirurgião e para os estudantes, faz uma vénia e,
numa voz baixa e clara, pede perdão pelo seu comportamento.” ** Este com-
portamento apagado e apologético era característico das pacientes com can-
cro, especialmente as pobres, que exprimiam preocupação pela falta de à-
vontade do cirurgião e não pelo seu próprio bem-estar. Infelizmente, esta
mulher corajosa sucumbiu a uma sépsia alguns dias depois.
Embora o tratamento do cancro da mama ainda estivesse muito no Início,
a ciência do princípio do séc. XIX começava a fazer progressos na compreen-
são da estrutura fundamental da doença. Na Alemanha, Matthias Schleiden -—-
e Theodor Schwann descreveram a célula como o elemento básico tanto das
plantas como dos animais, Johannes Miiller estabeleceu que as excrescências
patológicas são feitas de células como quaisquer outros tecidos, e Hermann
Lebert confirmou a existência de uma célula característica do cancro, peque-
na e redonda, com um nucelo oval distinto. Alfred Velpeau, no seu Traité
des Maladies du Sein, de 1854, fez uma grande descrição da investigação mé-
.dica existente sobre o seio, que tinha tirado partido do uso extensivo do mi-
“ croscópio durante a primeira metade do século. A crença nas maravilhas da
ciência deu origem a uma nova era de positivismo médico que viria a formar
cada vez mais a vida das mulheres.
No séc. XVIII, os representantes da medicina tinham assumido o papel-
de guardiões da sociedade no que diz respeito ao corpo das mulheres. Não
esqueçamos o influente Ensaio sobre o Aleitamento, do Dr. William Cado-
gan, dirigido à comunidade médica, que foi seguido de obras semelhantes em
várias línguas europeias. A nova tendência do séc. XIX era apelar directa-
mente às próprias mulheres. Em breve, as mulheres viriam a habituar-se a
consultar especialistas do sexo masculino em busca de conselhos e orienta-
ção, em vez das parteiras e curandeiras a que recorriam no passado. O ro-
mance com a ciência iniciado no séc. XVII começava a rivalizar com a Te-
ligião como guia total na vida.
Consideremos, por exemplo, a popular obra do Dr. Naphey 4 Vida Física
da Mulher (1869). Na secção sobre a maternidade, Naphey afirma que as suas
regras de aleitamento beneficiariam todas as mães. À criança devia ser posta
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pacientes e dos médicos que julgavam que muitas mulheres estavam a ser
desnecessariamente mutiladas. .
Entre eles encontrava-se Rose Kushner, uma vítima do cancro da mama
que assumiu a posição controversa de defender que deviam ser as próprias
pacientes a decidir os aspectos do tratamento que, geralmente, eram apenas
determinados pelo médico. No seu livro vanguardista O Cancro da Mama,
Kushner assumiu-se como crítica acérrima das formas radicais de cirurgia, e
em especial da cirurgia “numa única etapa” — a operação que permite a um
cirurgião amputar o seio na altura da biopsia, caso se prove que o tumor é
maligno.” (Numa biopsia, é retirado tecido para fins de diagnóstico, quer
através de uma cirurgia, quer através de uma agulha oca inserida no quisto.)
Caso seja o cancro da mama seja diagnosticado, a doente tem geralmente à
escolha a mastectomia (a remoção total do seio e de alguns nódulos linfáticos
por baixo da axila) ou uma lumpectomia (a remoção do quisto e de uma mar-
gem do tecido envolvente, e ainda alguns nódulos linfáticos). Nos anos 70 e
80, os estudos começaram a mostrar que quando um tumor pequeno é detec-
tado num estádio inicial, a sua remoção e um tratamento de radiações é tão
- eficaz como a remoção total do seio. Em 1990, os Institutos Nacionais de
Saúde recomendaram a lumpectomia seguida de terapia de radiações como
uma alternativa eficaz em relação à mastectomia que deixa menos cicatrizes
físicas e emocionais.
Hoje em dia, é sempre aconselhável algum tipo de cirurgia para as pa-
cientes diagnosticadas com cancro da mama. Tanto no caso da lumpectomia
como da mastectomia, é a presença do cancro nos nódulos linfáticos que aju-
da à determinar a hipótese de recorrência. Quanto maior for o número de nó-
dulos positivos, pior o prognóstico. A cirurgia oferece uma esperança, mas
“esta depende de um grande número de variáveis.
Embora a cirurgia seja ainda o método mais comum de travar o cancro,
têm vindo a ser desenvolvidas outras formas de tratamento. Consideremos o
uso dos raios-X, descobertos em 1895 por Wilhelm Roentgen. Com a des-
coberta de quea radiação inibe a divisão celular, os raios-X em breve come-
çaram a ser utilizados em casos de cancro inoperáveis, ou após a cirurgia,
para matar quaisquer células cancerígenas que ficassem para trás (fig. 86).
Nos anos 30 deste século, passou a ser possível usar raios-X em super vol-
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tagem, e, nos anos 60, os raios de cobalto radioactivo. Mas os raios-X admi-
nistrados em doses fortes também têm efeitos negativos. Num estudo de vá-
rios milhares de mulheres que receberam tratamento por radiações entre 1935
e 1971 descobriu-se que elas quase tinham duplicado o risco de desenvolver
um cancro nos pulmões em relação às mulheres que tinham recebido outros
tipos de tratamento para o cancro da mama.“ Porém, um aspecto mais po-
sitivo consistiu no facto de se ter chegado à conclusão que a combinação da
cirurgia com a radiação reduz a recorrência do cancro da mama em um terço,
em comparação com o recurso apenas à cirurgia. -
Nos anos 60, a quimioterapia — a administração intravenosa de uma
combinação de medicamentos que interferem com a reprodução das células
cancerígenas — foi acrescentada à terapêutica oncológica. Actualmente, é
comum iniciar o tratamento de rotina quimioterapia na altura do diagnóstico
inicial, especialmente no caso das mulheres na pré-monopausa com nódulos
que tenham dado um resultado positivo na biopsia. Há alguma controvérsia
quanto ao efeito da quimioterapia nas mulheres que já passaram a menopau-
sa, mas no total, podemos afirmar com segurança que a quimioterapia pro-
longa a vida da paciente num mínimo de dois ou três anos além do que seria
“de esperar noutras circunstâncias.“
Uma quarta forma de tratamento — hormonal — encontra-se disponível
para as pacientes que sofrem de cancro da mama desde a viragem do século.
Nessa altura, a ligação há muito suspeitada entre o cancro da mama e os ór-
gãos reprodutores foi atribuída ao estrogéneos femininos, que são produzidos
pelos ovários e estimulam o desenvolvimento dos seios. Desde então, tem
sido, efectuada a remoção dos ovários em muitas mulheres jovens num estado
avançado de doença, com vista a travar a produção de estrogéneos. —
Hoje em dia, acredita-se que os estrogéneos influenciam o crescimento
das células tumorais, e que os níveis de estrogéneos estão complexamente as-
sociados a dietas ricas em gorduras e muitos outros factores ambientais. Esta
relação entre o cancro da mama e os estrogéneos deu origem à criação de uma
hormona sintética conhecida por ”tamoxifen”. O “tamoxifen” é um estro-
géneo fraco que ocupa e bloqueia as células receptoras de estrogéneos, im-
pedindo a absorção do estrogéneo endógeno. O tamoxifen provou ser tão efi-
caz como a quimioterapia nas mulheres na fase pós-menopausa, mas ainda
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e
não é claro se também resulta tão bem como a quimioterapia nas mulheres
na fase pré-menopausa.
Os quatro tratamentos principais para mulheres diagnosticadas com can-
cro da mama — cirurgia, radiação, quimioterapia e hormonas — oferecem
às doentes mais oportunidades do que nunca. Porém, mesmo com estas for-
mas sofisticadas de tratamento, continuam a morrer cada vez mais mulheres
com cancro da mama: enquanto tinham morrido 560 000 em 1980 em termos
globais, prevê-se que no ano 2000 venha a haver um milhão de vítimas desta
doença.“ Estas estatísticas levaram muitos investigadores, médicos e activis-
tas a focar a sua atenção na prevenção a par do tratamento. Muita gente acre-
dita que a incidência do cancro da mama, que é mais elevado nos países in-
dustrializados do mundo ocidental, podia ser significativamente reduzido
pela introdução de modificações na dieta e estilo de vida das mulheres e no
meio ambiente.
Os defensores da prevenção através da dieta citam como prova a diferença
das taxas de cancro da mama no Ocidente e na Ásia. Os Estados Unidos e a
Grã-Bretanha, que têm a dieta mais rica do mundo, também têm os níveis
mais elevados de cancro da mama, ao passo que países como o Japão e a Chi-
na, que têm dietas com baixo teor de gorduras, tem um quinto da incidência
das mulheres brancas americanas ou britânicas? Os epidemiólogos salien-
tam que, quando as mulheres asiáticas vão para os Estados Unidos e come-
cama ingerir uma dieta rica em gorduras, a sua taxa de cancro da mama co-
meça a aumentar — mais uma prova de que o excesso de alimento,
especialmente com elevado conteúdo de gorduras, contribui para a elevada
taxa de incidência da doença na América.
Embora a gordura em geral tenha sido identificada como um inimigo, o
azeite — uma gordura insaturada — continua a ter os seus defensores. Num
estudo grego que abrangeu mais de duas mil mulheres, chegou-se à conclusão
que o risco de cancro da mama era 25 por cento menos elevado nas mulheres
que consumiam azeite mais de uma vez por dia *
Como era de esperar, toda esta preocupação com a dieta tem sido apro-
veitada pelas revistas femininas, que oferecem mais do que a dieta pode pro-
porcionar só por si. Consideremos a capa da edição de Julho de 1994 do La-
dies' Home Journal, que anuncia: “Você Pode Prevenir o Cancro da Mama
mi
a
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|
A nova ênfase na tomada de decisão individual, na esperança de prevenir
o cancro da mama deixou muitas mulheres com a sensação de que são, de
certo modo, responsáveis se contraírem a doença. Terei contribuido para isto
por não ter feito uma dieta adequada? Ou por viver numa região pouco sau-
dável? Ou por ter optado por não ter filhos ou amamentar? Ou por tomar a
pílula ou fazer uma terapia de substituição de estrogéneos? Ao passo que no
passado, a mulher acreditava que o cancro da mama era devido a uma estag-
nação dos humores, a uma lesão no seio ou à punição divina, cada vez é mais
comum a mulher assumir uma sensação pessoal de culpa pela doença. Os sis-
temas explicativos do passado, sejam eles religiosos ou científicos, partiam
do princípio que a causa do cancro da mama estava fora do nosso controlo;
actualmente parecemos supor que, se modificarmos o nosso comportamento,
podemos conseguir reduzir as probabilidades de desenvolver a doença.
Hoje em dia, ao fim de um século de investigação do cancro em gerai e
de uma década de maior atenção ao cancro da mama em especial, os cien-
tistas continuam sem saber quais são as causas exactas da doença. Tanto a
“hereditariedade como os estrogéneos, a gordura ou os agentes ambientais es-
“tão implicados no cancro da mama, mas ninguém sabe ao certo o que desen-
“cadeia esta doença. As investigações mais recentes parecem sugerir que o
gene BRCA 1, que se julgava inicialmente ser apenas o causador de uma pe-
quena proporção de cancros da mama, pode ser responsável por quase todos
eles. É possível que, a seu tempo, esta descoberta venha a dar origeim à no-
vas maneiras de diagnosticar e tratar o cancro da mama. Mas por enquanto,
temos de viver com o conhecimento estatístico de que uma em oito ou nove
mulheres americanas podem ser diagnosticadas com a doença.
— As estatísticas pouco nos dizem acerca da experiência interior das pacien-
tes que sofrem de cancro da mama. A psiquiatria começou a disponibilizar
os seus recursos para esse fim a partir de meados da década de 70. Nessa al-
tura, o meu marido, o Dr. Irvin Yalom, professor de psiquiatria da Stanford
Medical School, inaugurou o primeiro grupo de apoio a pacientes com cancro
da mama metastizado.” Fazemos encontros semanais com grupos de oito a
doze mulheres, e proporcionamos-lhes um fórum para debater os seus medos
e perdas e, em muitos casos, a sua morte iminente. De início, muita da coesão
do grupo resultou de um laço comum de inimizade em relação à profissão
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bros e usar camisolas largas para esconder o peito, como evitava as aulas de
ginástica para as outras pessoas não lhe verem os seios “a abanar para cima
e para baixo.” Quando ia correr, apertava os seus seios de cinco quilos em
três soutiens de desporto. Por fim, optou por uma operação que reduziu os
seus seios a um tamanho de copa C. Embora os seios ainda tenham as cica-
trizes da operação, ela ” nunca imaginara como isso seria libertador.” Afirma
que recuperou a auto-confiança e o gosto pelo desporto.
A lactação, os tumores e, mais recentemente, a cirurgia cosmética têm cons-
tituído as maiores preocupações da profissão médica. Nas mãos dos médicos,
os seios foram cobertos de todas as poções concebíveis, ligados a máquinas
eléctricas, bombardeados com rádio, apertados entre as placas de mamografia,
injectados com silicone e, como último recurso, amputados do resto do corpo.
O tratamento convencional contra o cancro da mama foi resumido pela Dra.
Susan Love como ”retalhar, envenenar e queimar.” >” Mas não devemos só atri-
buir à classe médica mais do que a sua conta de horrores; recordemos também
os progressos por que ela foi responsável. Actualmente, sabemos por que mo-
tivo o leite materno é benéfico para as crianças: as hormonas e os enzimas que
âuxiliam o crescimento e os anticorpos que protegem a criança das infecções
comuns foram, em grande medida, identificados. As mulheres que optam por
não amamentar não precisam de se preocupar com a saúde dos bebés alimen-
tados a biberão desde que a fórmula seja devidamente preparada e administra-
da. Também temos uma maior compreensão sobre alguns dos factores que de-
sencadeiam e aceleram a contaminação do cancro da mama, e muitos motivos
para estarmos relativamente optimistas se contrairmos a doença. Algumas de
nós ássistiremos à cura do cancro da mama no próximo século. E para as que
querem ter seios maiores ou mais pequenos, bem, há sempre os cirurgiões plás-
ticos, ou mesmo os hipnotizadores que prometem modificações do tamanho
dos seios pelo poder da mente. Um hipnotizador afirma conseguir aumentar
o peito num programa de doze semanas com o custo de 3775 dólares; sob o efeito
da hipnose, faz as clientes regressar à puberdade e pede-lhes que ' “se libertem
da supressão dos seios” que sofreram nessa época da sua vida. Sim, os char-
latães continuam por perto, como sempre. Mas o mesmo acontece com os cu-
randeiros. Parafraseando Proust, é uma grande loucura acreditar na medicina,
isto é, se não fosse uma loucura ainda maior não acreditar nela.
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no mínimo, pouco comuns (fig. 88). Analisemos este texto jornalístico: “Um
descapotável vermelho pára em frente do Parlamento italiano, na Praça Mon-
tecitorio, no centro de Roma. Uma jovem loura, toda vestida de cor-de-rosa,
muito direita, descobre generosamente o seio. Os flashes disparam. “Não à
repressão sexual!” entoa ao microfone. Uma pequena multidão de entusiastas
aplaude calorosamente.” 2
Num país em que as mulheres ocupavam apenas 6,5 por cento dos assen-
tos parlamentares, a candidatura de Cicciolina colocou-a entre um pequeno
número de mulheres esperançadas. Mas ao contrário das outras candidatas,
Cicciolina não tinha qualquer experiência política ou académica: tinha apenas
os seios, e estes estavam à altura.
Nas eleições de Junho, para grande surpresa da maioria dos pontífices das
letras, Cicciolina ocupou um lugar entre os 360 onorevoli (veneráveis) que
representam a nação. A sua mensagem de libertação sexual levou-a ao san-
tuário do poder político. Durante os seus quatro anos como deputada, intro-
duziu sete propostas: o direito dos prisioneiros terem práticas sexuais, a edu-
cação sexual nas escolas, a criação de “parques de amor,” a reforma dos
padrões de obscenidade no cinema, um imposto ecológico sobre veículos mo-
torizados, a interdição da venda de peles e das experiências com animais vi-
vos, e a reabertura de casas de prostituição legais.
Mas o papel de Cicciolina como deputada foi complicado pelo facto de
ela continuar a mostrar os seios, e frequentemente o resto do corpo, fora da
legislatura. Tomemos em conta este título de Outubro de 1987: “Seios de
Ciccionina semeiam o escândalo na Terra Santa” É Ao chegar a Israel, onde
fora fazer dois filmes porno, foi acolhida com protestos pela comunidade ju-
daica ortodoxa e recusou-se a entrar no Knesset. Decididamente, os israelitas
não estavam dispostos a aceitar a mistura de pornografia e política que era
aplaudida no seu pais natal. Foram introduzidas duas acções judiciais contra
a actriz-deputada em Tel Aviv, e ela teve de regressar rapidamente a Itália,
onde os seus filmes porno estavam protegidos pela imunidade parlamentar.
Cicciolina demitiu-se do seu cargo em Abril de 1991, durante um período
de crise parlamentar. Fossem quais fossem os seus motivos, Cicciolina re-
gressou ao seu primeiro amor — a pornografia — e acolheu-se nos braços
de um segundo marido, o artista americano Jeff Koons, com quem tez uma
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89. Hope Herman Wurmfeld. Women's Health Action Mobilization (WHAM) na Quinta Avenida,
Nova Iorque, 1992.
Membros da WHAM desfilam em defesa da liberdade de opção.
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Bebé guloso
a chupar na teta doce
puxas o mamilo com a língua e fazes cócegas à mamã
os teus olhos redondos e abertos parecem revelar entendimento
Enquanto mamas sinto cada vez mais
a minha fenda sensível
a tua boca palpita de vida, tal como a minha barriga
A poeta interroga-se porque hão-de as mães negar este prazer: ” Será as-
sim tão horrível gozarmos: outro amor que não ousa dizer o nome?”?º
Aparentemente, pelo menos a partir de um incidente relatado, é de facto
horrível uma mãe admitir que se sentiu excitada enquanto dava de mamar.
Denise Perrigo de Siracuse, Nova Iorque, viu ser-lhe retirado o filho de dois
anos depois de assumir esse facto. Foi acusada de abusar sexualmente da
criança, mesmo depois do juiz saber que não tinha havido abuso sexual. À
fim de oito meses em que esteve entregue aos cuidados de pais adoptivos, a
criança foi entregue, não à mãe, mas sim aos avós!” Infelizmente para Per-
rigo, OS membros dos serviços sociais, a polícia e os tribunais que pronun-
ciaram os seus sentimentos como anormais não estavam familiarizados com
escritoras como Ostriker, nem com as afirmações da La Leche League ou da
Dra. Susan Love, que reconhecem como “normal” que haja excitação sexual
quando se dá de mamar. ' ==
Rosanne Wasserman escreveu uma ”Moon-Milk Sestina” em homena-
gem ao aleitamento e das primeiras palavras do seu filho lactente. > Deve ser
verdade: os bebés aprendem a língua com o leite que mamam.” 2 Deborah
Abbott recorda os muitos prazeres derivados dos seus seios cheios de leite
quando era muito mais nova: ” Gosto muito destes seios que tantos prazeres
conheceram. Os bebés engasgaram-se com o seu leite, os amantes foram de-
vidamente aspergidos, e também eu os senti e toquei. São os seios de uma
mulher que viveu muito e com gosto. Agora chamo-lhes seios preguiçosos.
Cumpriram o seu dever e repousam sobre o meu peito como frutos caídos
no chão.” 2 Isto não podia ter sido escrito por um homem. Não há aqui o me-
nor lamento pela perda do colo firme da juventude, nem descrições de tetas
de bruxa, mas apenas as doces recordações de prazeres passados e a aceitação
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madura dos seus “seios preguiçosos” que já têm uma certa idade.
Ao mesmo tempo que as poetas celebravam o aleitamento e a sexualida-
de, também foram produzindo um conjunto menos alegre de poesia sobre o
cancro da mama. Este tema antigamente tido por tabu desembocou de súbito
em poemas pouco verosímeis sobre mamografias, mastectomias, e próteses.
A “Mamografia de Rotina” de Linda Pastan descreve a vulnerabilidade que
qualquer mulher sente quando se submete a este procedimento: ” Procuramos
um verme / na maçã.” ?* Para Joan Halperin, o momento mais terrível foi o
“ Diagnóstico”:
A três de Maio
o indicador tosco de um médico
aponta para um tumor
. . 25
que diz encontrar-se no meu seio.
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Amar O próprio corpo só-com-um-seio, amar o corpo — não tem sido fácil
para as mulheres. As mulheres americanas estão notoriamente insatisfeitas com
o seu corpo e continuam em busca de solucionar isso através de dietas, pro-
gramas de exercícios e cirurgia cosmética. Como Naomi Wolf afirmou de
modo convincente em O Mito da Beleza, as alterações faciais e corporais tor-
naram-se literalmente uma religião nacional.” A escrita e a arte femininas con-
trariam muitas vezes esta tendência ixrealista e pouco saudável. Os poemas re-
lacionados com o cancro da mama são, entre outras coisas, tentativas de
fazer-nos gostar dos nossos corpos menos que perfeitos, tais como eles são.
Quando Adrienne Rich escreve acerca do cancro da mama em “Uma Mu-
lher Morta aos Quarenta,” as primeiras palavras do poema, “ Os teus seios
fcortados,” deixa um espaço para os seios ausentes, um abismo que os evoca
mais do que a linguagem. O acesso de termura da autora pelas feridas de uma
dupla mastectomia ultrapassa em muito a compaixão convencional: “Quero
tocar com os meus dedos / o lugar onde estiveram os teus seios / mas nunca
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teriosos do México pré-hispânico. Esta ama e esta bebé não se olham com
intimidade interpessoal. Nem sequer olham uma para a outra. Fitam o hori-
zonte como que para sugerir qualquer drama cósmico em que cada uma tem
um papel previamente decidido. A ama transporta o seu fardo ao colo como
- se de uma vítima sacrificial se tratasse. A lactente tem espelhado no rosto o
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seja mãe de três filhos), mas sim no da criança, sob a forma da cabeça femi-
nina entre as coxas da mãe.
Outras variações sobre este tema encarnam de modo semelhante o fascí-
nio de Bourgeois pela mãe arquetípica. O seu grande bronze Estudo Natural
(1984) representa uma criatura enigmática, meio humana, meio animal, com
três pares de seios sobre uns pés providos de garras. Quem a viu na Bienal
de Veneza de 1993 (onde Bourgeois representou os Estados Unidos) encarou
a qualidade irredutível da fêmea em toda a sua força e mistério. Embora as
suas descrições de partes do corpo — especialmente seios e falos — se su-
jeitem a interpretações psicanalíticas de teor psicanalítico ou kleiniano, as
suas melhores obras participam de uma dimensão mítica que transcende qual-
quer teoria particularista.
A Bienal de Veneza também continha uma visão diferente dos seios múl-
tiplos. Mamelles (1991) é um friso de seios de borracha cor-de-rosa que en-
tram uns nos outros como uma corrente de carne ondulante. Estes seios, que
não têm qualquer semelhança com o corpo de uma mulher, são exibidos
como objectos atirados ao acaso para dentro de uma vasilha — nabos ou
“ovos, comercializáveis e permutáveis. Este significado devia ser ainda ele-
mentar quando Bourgeois criou Mamelles (o termo francês tem a conotação
pejorativa de “tetas” ou “úberes”), visto que ela afirmou posteriormente que
a obra ” retrata um homem que vive à custa da mulher que corteja, passando
de uma para outra. Alimentando-sé delas sem dar tada em troca, ele ama ape-
nas de uma maneira consumista e egoísta.” 36 Bourgeois atribui este ponto de
vista ao macho Don Juan-esco que trata as mulheres como bens descartáveis
que nunca o satisfazem. Não admira que, ao interpretar a sua arte (como os
críticos psicanalistas), as artistas tenham considerado Bourgeois paradigma
de uma escola de pensamento particular. Diga-se de passagem que a obra de
Bourgeois interessa espectadores de convicções ideológicas muito diversas,
e continua no nosso espírito muito depois de as vermos.
A par das suas congéneres pintoras e escultoras, as fotógrafas também in-
ventaram novas maneiras excitantes de representar as mulheres. Nos anos
trinta, Imogen Cunningham já fotografava torsos sem cabeça segundo uma
visão de beleza fragmentada que viria a transformá-la na mais respeitada das
fotógrafas americanas da sua época. Os seios, tal como as costas, braços e
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e barba negra. Ela apoia a cabeça dele contra o seu seio enorme, e olha-o por
detrás dos óculos com uma ternura emudecida. A parte inferior do cabelo está
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iluminada por um halo de luz. Uma vez mais, a fotografia emoldurada choca
contra o nosso padrão habitual de referência. Esta é a pose que associamos tra-
dicionalmente a uma Nossa Senhora virginal com o Menino louro. Que have-
mos de pensar de um adulto peludo e bestial a mamar todo satisfeito numa mu-
lher contemporânea, com o seu peito enorme e mãos masculinas? No mínino,
ficamos a saber que o acto de mamar não se encontra limitado aos bebés.
Outra fotografia de Spence imortaliza um par de seios falsos postos em
cima da mesa da cozinha ao lado de um monte de produtos de mercearia (fig.
94). O preço de” 65p” nos seios redu-los a carne embalada, como o ” Frango
com Miúdos” que se encontra ao lado deles. A imagem dos seios como pro-
dutos possui a qualidade de confrontação característica das melhores obras
de Spence, sem se tornar terminantemente didáctica
Em Nova Iorque durante o mesmo período, Cindy Sherman também ex-
punha cenários destinados a desconstruir as práticas comuns utilizadas para
representar a feminilidade. Ao fotografar-se a si mesma em papéis femininos
estereotipados, como acontece na sua série de Planos Cinematográficos de
1977-80, parodiou os corpos sensuais de rosto vazio típicos dos cartazes dos
filmes de série B. Durante os anos 80, a sua obra cada vez mais sensaciona-
lista começou a expor a exploração do corpo das mulheres que podemos en-
contrar nas artes gráficas e na sociedade em geral.
A série intitulada Retratos Históricos (1988-90) copia os grandes mestres,
transformando-os em paródias bizarras de si próprios. Em algumas desias
obras, Sherman salienta a utilização tradicional dos seios acrescentando seios
falsos. Estes objectos claramente irreais em cera ou borracha produzem efei-
tos grotescos. Eles chocam com a pele verdadeira do corpo de Sherman e com
os fatos que ele usa para imitar os quadros originais. Não há qualquer tenta-
tiva de disfarçar os adereços. Em vez disso, as partes falsas do corpo afastam
a ilusão de que o corpo tem uma história ” natural” invariável. Para Sherman,
a história do corpo é a história da sua construção e manipulação social.
Os pastiches de Sherman da Nossa Senhora do Leite inspiram todo o tipo
de sentimentos irreverentes, entre os quais podemos encontrar o riso, a sur-
presa, o medo e a repulsa. Numa destas obras (Sem Título 4223) vemos re-
. presentado um pequeno seio falso semelhante aos seios ”amovíveis” dos pri-
meiros quadros de Nossa Senhora. Noutra, inspirada na Virgem de Melun
314
. Lof!
HISTÓRIA DO SEIO |
; Ji
94.'Jo Spence / Terry Dennett. Natureza Morta. ” Remodeling Photo History.” 1982.
Esta natureza-morta pouco convencional sugere que os seios femininos são produtos de consumo
semelhantes ao frango, à fruta e aos legumes a que foram associados.
(Sem Título 4216), podemos ver um globo artificial no lugar do globo “blas-
femo” de Agnês Sorel. Uma mãe a dar de mamar ao filho (Sem Título ”225)
usa uma peruca loura de Rapunzel e deita leite de um seio artificial adaptado
ao tronco (fig. 95). Todas estas fotografias de “seios adicionados” põem em
contacto diferentes meios de comunicação (pintura, fotografia e artes de re-
presentação), diferentes modos (irónico, humorístico e macabro), diferentes
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cro da mama em 1991, exprime uma visão profundamente trágica nas suas
obras pós-mastectomia. O seu chocante auto-retrato de vestido branco corta-
do no seio, revelando a cicatriz resultante de uma mastectomia apareceu na
capa da The New York Times Magazine de 15 de Agosto de 1993, provocando
uma grande onda de reacções emocionais. Embora metade das cartas expri-
missem ultraje e vergonha, a outra metade elogiava Matuschka e o Times pela
sua autenticidade angustiada. Os auto-retratos pós-operatórios de Matuschka
são, de facto, uma maneira de dizer aquilo que a Times Magazine anunciava
na capa: ” Não Podemos Deixar de Olhar.”
Pouco depois do seu controverso artigo na Times, a Massachussetts
Breast Cancer Coalition apresentou uma grande exposição de fotografia im-
x
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nómeno muito recente. Basta olharmos para as fotografias da família para re-
cordar como, de um momento para o outro, durante e imediatamente após a
Primeira Grande Guerra, as pernas se libertaram do empecilho das botas altas
e das saias compridas. Hoje, que as pernas nuas são já um facto no mundo
ocidental, há zonas novas a descobrir. Irá o seio libertado do séc. XX exigir
e adquirir também o direito da nudez pública?
324
Nove
O SEIO EM CRISE
325
RR
ES
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=
326
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elas a noção de que os seios foram feitos para estar na boca dos filhos e.
nas mãos dos maridos? Onde se encontrava a mulher em tudo isto? O que
pensava e sentia?
Hoje, é a trágica realidade do cancro da mama que está fazer as mulheres
acederem à posse total dos seus seios. O choque das doenças letais estão a
fazê-las aprender que os seios lhes pertencem mesmo. Até os maridos e
amantes, familiares e amigos as abandonam quando os seus seios adoecem.
Muitos amigos e familiares são simplesmente incapazes de dar consolo quan-
do é mais necessário.
Porém, paradoxalmente, o cancro da mama também tem um lado inspi-
rador. A luta contra a doença ensinou-nos que é possível combatê-la, que ela
nem sempre é fatal, que uma boa assistência médica e os grupos de apoio
são importantes. As mulheres juntaram-se a outras mulheres, homens e crian-
ças e criaram cenários em que a paciente que sofre de cancro da mama possa
sentir-se menos só. Um desfile de sete mil pessoas para recolher dinheiro para
o cancro da mama; uma exposição de imagens de seios incluindo as de so-
breviventes do cancro da mama; poemas e novelas cheios de compaixão so-
* bre o cancro da mama escritos por homens e mulheres — tudo isto são sinais
de que a sociedade americana está a mudar, está a aprender a acolher a mulher
com cancro da mama com empatia, de uma maneira diferente.
Os significados que atribuímos aos seios serão sempre associados aos va-
lores e normas culturais. Poucas mulheres e poutos homens são indiferentes
aos meios de comunicação de massas, que são se especializam em seios es-
tandardizados — grandes, firmes, e empinados. Esses globos hemisféricos
em corpos arrapazados representam um ideal impossível para quase todas as
mulheres. Confrontadas com essas imagens, muitas mulheres resolvem sub-
meter-se a operações para aumentar os seios ou sucumbem a acessos de bu-
limia, anorexia e outras formas de ódio contra si mesmas. Os inquéritos à es-
cala nacional, estudos de ciências políticas e talk-shows televisivos docu-
mentam a insatisfação em larga escala que as mulheres americanas sentem
em relação ao seu corpo. Outras mulheres ripostam, recusam-se a intertorizar
a visão que a indústria tem dos seus seios. Arrancam os seios que Deus lhes
deu da posse dos media e de uma sociedade abertamente comercializada para
insuflá-los de um espírito centrado na mulher. Numerosas activistas, médi-
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PRIMEIRO CAPÍTULO
vasta e frequentemente
Marija Gimbutas, The Language of the Goddess, pág. 316. A literatura
m
contraditória sobre este assunto levou um arqueólogo a concluir que as figuras da “Vénus” " ape-
nas têm em comum o sexo” (Sarah Nelson, ”Diversity of the Upper Paleolithic “Venus” Figurines
and Archasological Mythology”, in Gender in Cross-Cultural Perspective, ed. Caroline Brettell
e Carolyn Sargent, pág. 51).
2 Buffie Johnson, Lady of the Beasts: Ancient Images of the Goddess and Her Sacred Animals;
pág. 44.
Nature, pãgs.
3 James Mellart, Catal Hiyik, figs. 25-28; Adele Getty, Goddess: Mother of Living
11-12,
”Representation of the Female Breast in Bone Carvings from a Neolithic
A Juliet Clutton-Brock,
The Tressé
Lake Village in Switzerland,” Antiguiiy, vol. 65 (1991), págs. 908-10, V.C.C. Collum,
Monument; Its Quadruple Sculpiured Breasts and Their Relation to the
Iron-Age Megalithic
Mother-Goddess Cosmic Cult, quadro XXXV.
Transfor-
5 Tikva Frymer-Kensky, /n the Wake of the Goddess: Women, Culture, and the Biblical
of Pagan Myth, págs. 159-60. Ver também Ruth Hestrin, ” cAstarte' figurines” in High-
mation
lights of Archaeology, págs. 72-73.
Armstrong, 4 History of God: The 4000-Year Quest of Judaism, Christianity and Islam,
6 Karen
págs. 23-26, 49-50.
250.
7 Anne Baring e Jules Cashford, The Myth of the Goddess: Evolution of an Image, pág.
Maméjol, “La Nourrice: Un Thême Iconographique,” Annales du Service des Antiquités
8 Florence
de VÉgypte, vol. 69 (1983), pág. 311.
9 Gay Robbins, Women in Ancient Egypt, pág. 86.
333
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10 Barbara G. Walker, The Woman's Dictionary of Symbols and Sacred Objects, pág. 303.
11 Colin Renfrew, The Cycladic Spirit: Masterpieces from the Nicholas P. Goulandris Collection
pág. 105. Ver também as especulações mais prudentes de J. Lesley Fitton, Cycladic Art, págs.
66-70. .
12 Rodney Castleden, Minoan Life in Bronze Age Crete, pág. 7; Elizabeth Wayland Barber,
Women's Work: The First 20,000 Years, pág. 110.
13 Reproduzido em Baring and Cashford, pág. 114.
I4 Theodora Hadzisteliou Price, Kourotrophos: Cults and Representations of the Greek Nursing
Deities.
15 Diana Darke, Guide to Aegean and Mediterranean Turkey (London: Michael Haag, 19893, pág.
80; A, Frova, “La Statua de Artemide Efesia a Caesarea Maritima,” Bolletino d “Arte, vol. XLVII,
nº 4 (1962), págs. 305-13. É possível encontrar outras estátuas de seios múltiplos em Roma, no
Museu do Vaticano, no Palazzo dei Conservatori, e na Villa Albani; em Nápoles no Museo
Nazionale; em Paris no Louvre; e em Jerusalém no Museu de Israel.
l6 James Hall, Dictionary of Subjects and Symbols in Art, pág. 52.
17 Eva C. Keuls, The Reign of the Phallus: Sexual Politics in Ancient Athens.
18 Esta gravura em madeira encontra-se reproduzida em Baring e Cashford, pág. 314.
19 Ame Hollander, Seeing Through Clothes, pág. 6. É
20 K. J. Dover, “Classical Greek Attitudes to Sexual Behaviour,” im Women in the Ancient World:
The Arethusa Papers, ed, John Peradotto and J. P. Sullivan, pág. 145.
21 Valerie A. Fildes, Wet Nursing, pág. 10.
22 Athenaeus, The Deipnosophists, trad. Charles Burton Gulick (1937) (Cambridge, Mass.: Harvard
University Press, 1959), vol. VI, págs. 185-87.
23 John J. Winkler, The Constraints of Desire: The Anthropology of Sex and Gender in Ancient
Greece, pág. 188.
24 Ibid., pág. 190.
25 Mary R. Lefkowitz, Women in Greek Myth, pág. 57.
26 Wm. Blake Tyrrell, Amazons: À Study in Athenian Mythmaking.
27 Keuls, págs. 4, 34.
28 Plínio, o Velho, Natural History, trad. H. Rockham (Cambridge, Mass.: Harvard University Press
19423, pág. 587.
29 Jean Starobinski discute este tema pictórico em Largesse, págs. 82-85,
30 ” Agricola,” ” Germania” e “Diálogo sobre os Oradores” de Tácito, trad. e ed. Herbert W.
Benario (1967) (Norman and London: University of Oklahoma Press, 1991), pág. 117.
31 David Biale, Eros and the Jews: From Biblical Israel to Contemporary America pág. 27.
32 Ibid., pág. 26.
33 “Infant Feeding im the Bible,” Midwife, Health Visitor and Community Nurse, vol. 23 (1987),
pág. 312.
34 Marcia Falk, The Song of Songs, 4 New Translation, pág. XV. As citações do Cântico são dos
nos. 25, 29, 15, 23.
35 Ariel Bloch e Chana Bloch, The Song of Songs, 4 New Translation, pág. 31.
36 Josy Eisenberg, La Femme au Temps de la Bible, pág. 85.
37 Jean Claude Bologne, História do Pudor, Editorial Teorema, Lisboa, 1990.
38 Paul Valéry, Berits sur 1'Art (Paris: Club des Librairies de France, 1962), pág. 138.
39 Vide E. Clive Rouse, Medieval Wall Paintings, pág. 60.
Têm
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HISTÓRIA DO SEIO
40 Anglicus Bartholomaeus, On the Properties of Things, citado em Clarissa Atkinson, The Oldest
Vocation: Christian Motherhood in the Middle Ages, pág. 58.
Al Urban T. Holmes, Medieval Man: His Understanding of Himself, His Society, and the World,
pág. 90.
42 Doris Desclais Berkvam, Enfance ei Maternité dans la Littérature Française des XIP et XUI
Siecles, pág. 49.
43 Berkvam, ibid., pág. 48, refere-se especificamente a Philippe de Novare, Les Quatre Áges de
VHomme (Paris: F. Didot, 1888, pág. 2).
44 Esta citação é a seguinte de Tristan de Nanteuil, ed. K. V. Sinclair (Assen: Van Gorcum, 1971,
citado em Berkvam, ibid., pág. 53.
45 Daniéle Alexandre-Bidon, “La Lettre Volée: Apprendreà Lire à P Enfant au Moyen-Àge,”, pág.
988.
46 Aucassin et Nicolette, ed. Mario Roques (Paris: Champion, 1929), séc. 12.
47 Citado em Bologne, pág. 54. Tradução inglesa das citações referenciada nas notas 47 e 48
sugerida por Brigitte Cazelles, Professora de Stanford,
48 Citado em 1. Houdoy, La Beauté des Femmes dans la Litiérature et dans VArt du XE au XVI
Siêcles, págs. 60-61.
49 Adaptado do Book of the Knight La Tour-Landry, trad. para inglês a partir do original francês
no reinado de Henrique VI, ed. Thomas Wright, pág. 49.
50 Dante, The Divine Comedy, trad. Dorothy Sayers (Baltimore: Penguin Books, 1955), vol. 2, pág.
250 (Purgatory, cap. 23, V. 102).
51 Marina Warmer, Alone of All Her Sex: The Myth and the Cult of the Virgin Mary.
52 Margaret R. Miles, ”The Virgin's One Bare Breast: Female Nudity and Religious Meaning in
* Tuscan Early Renaissance Culture,” in The Female Body in Western Culture ed. Susan Rubin
Suleiman, págs. 193-208.
53 A discussão que se segue deriva, em grande medida, de James Bruce Ross, "The Middle-Class
Child in Urban Italy, Fourteenth to Early Sixteenth Century,” im The History of Childhood, ed,
Lloyd de Mause, págs. 183-96.
54 Ibid., pág. 199. —
55 Shar L. Thurer, The Myths of Motherhood; How Culture Reinvents the Good Mother, pág. 83,
56 Carolyn Bynum, Holy Feast and Holy Fast: The Religious Significance of Food to Medieval
Women, quadro 17 e págs. 269-76.
57 Catherine de Siena, The Dialogue, trad. Suzanne Nofíke, págs. 179-80.
S8 Juliana, 4 Book of Showings to the Anchoress Julian of Norwich, pt. Dois, ed. Edmund Colledge
| and James Walsh, pág. 592.
59 Santa Teresa, The Complete Works, trad. e ed. E. Allison Peers (Londres e Nova Iorque: Sheed
and Ward,1946), vol. 2, págs. 130-131.
60 Esta discussão deriva, em grande medida, de Atkinson, págs. 58-60, e das suas referências a The
Golden Legend of Jacobus de Voragine, ed. Grander Ryan and Helmut Rippeger Bell, Saints
and Society, págs. 24-25, com histórias da infância dos santos.
61 Nicholas Love, ” The Myrrour of the Blessyd Life of Christ,” in The Oxford Book of Late Me-
dieval Verse and Prose (Oxford: Clarendon, 1985), pág. 96.
62 Citado em Satia e Robert Bemen, Myth and Religion in European Painting, 1270-1700, pás.
172. No original, pode ler-se: ”L"enfant prend la mamelle / Et lacte pascitur. / C'est du lait de
pucelle / Quod non corrumpitur. / La chose est bien nouvelle / Quod virgo mater est. / Et sans
335
MARILYN TYALOM
SEGUNDO CAPÍTULO
1 Johan Huizinga, The Waning of the Middle Áges, pág. 159.
2 Anne Holiander, Seeing Through Clothes, pág. 187.
3 Romi, La Mythologie du Sein, pág. 29.
4 Tbid., pág. 30.
5 Dominique Gros, Le Sein Dévoilé, pág. 27.
6 Pierre Champion, La Dame de Beauté, Agnês Sorel, pág. 39.
7 Peter Fryer, Mrs. Grundpy: Studies in English Prudery, págs. 172-73.
8 No original, de “Regrets de la Belle Heaumiêre,” de Villon, pode ler-se “Ces gentes épaules
menues, / Ces bras et ces mains traitisses, / Petits tetins, hanches chamues.”
9 Nos versos relevantes do poeta Gratien du Pont, do séc. XV, lê-se: ” Tes tetins sont: blancz, rondz
comm une pomme / Sy durs et fermes; que jamays en veit homme / Loing lung de laultre” (citado
por Alison Saunders, The Sixteenth Blason Poétique pág. 63).
10 Ludovico Ariosto, Orlando Furioso (Bari: Laterza, 1928), pág. 14. No original, lê-se ”Vengon
e van come onda al primo margo.”
11 Citado em Naomi Yavneh, ” The Ambiguity of Beauty in Tasso and Petrarch,” in Sexuality and
Gender in Early Modern Europe: Institutions, Texts, Images, ed. James Grantham Turner, pág.
i4l.
12 Agnolo Firenzuola, Of the Beauty of Women trad. Clara Bell, pág. 76.
13 3. Houdoy, La Beauté dans la Littérature et dans V'Att du XIT au XVÊ Siecle, pág. 96.
14 Para um relato magistral da vida de Franco, vide Margaret R. Rosenthal, The Honest Courtesan:
Veronica Franco, Citizen and Writer in Sixteenth-Century Venice.
15 Mila Contini, Fashion from Ancient Egypt to the Present Day pág. 118.
16 Quero manifestar a minha gratidão à historiadora Judith Brown pelo seu contacto com Guido
Ruggiero. Ver também Guido Ruggiero, Binding Passions: Tales of Magic, Marriage, and
Power at the End of the Renaissance, págs. 48-49.
17 Hollander, Seeing Through Clothes, págs. 188-98, 203-4.
18 A historiadora de arte Lynne Lawner chama a atenção para os muitos quadros de cortesãs apon-
tando para os seios ou apoiando-os nas mãos, que considera reminiscências de antigas figuras
de deusas. No entanto, apesar de possíveis alusões a antigas fontes religiosas, quadros como a
Cortesã de Paris Bordone (National Galleries of Scotland, Edinburgo), o Retrato de uma Dama
de Palma Vechio (Staatliche Museen Preussicher Kulturbesitz, Berlim), e La Fornarina de Gi-
ulio Romano(Galleria Nationale, Roma) são fundamentalmente eróticos. (Lynne Lawner, Lives
of the Courtesans, pág. 96.)
19 Keith Thomas, Religion and the Decline of Magic, págs. 445-46.
20 Anne Lleweliyn Barstow, Witchcraze: A New History of the European Witch Hunts, págs. 129-30.
im
“ca
336
HISTÓRIA DO SEIO
21 Jim Sharpe, “Women, Witchcraft, and the Legal Process,” in Women, Crime, and the Couris in
Early Modern England, ed. Jenny Kermode and Garthine Walkerm págs. 109-10.
22 Barstow, pág. 144. -
23 Margaret L. King, Women of the Renaissance, págs. 144-46.
24 No original, pode ler-se: “Mais petite boulte d'ivoire, / au milieu de qui est assise / Une Fraise
ou une Serise Quant on te voit, il vient à maintz / Une envie dedant les mains / De te taster,
de te tenir: / Mais il se faut bien contenir / Den approcher, bon gré ma vie, / Car il viendrait
une autre envy. / Á bon droit heureux on dira / Celuy qui de laict t'emplira / Faisant d'ung
tetin de pucelle / Tetin de femme entiêre et belle.” (Pascal Lainé e Pascal Quignard, Blasons
Anatomiques du Corps Féminin, págs. 51-52.)
25 No original, pode ler-se: ” Tetin, qui nas rien que la peau, / Tetin flat, Tetin de drapeau Tetin
au grand villain bout noir / Comme celuy d'un entonnoir, / Tetim propre pour en enfer / Nourrir
les enfants de lucifer. / Va, grand vilain tetin puant, / Tu fournirois, en suant, / D civette & de
parfuns, / Pour faire cent mille defunctz.” (Ibid. págs. 118, 121.)
26 Esta discussão deve-se a Lawrence D. Kritzman, The Rhetoric of Sexuality and the Literature
of the French Renaissance.
27 O Soneto 8 de Labé começa assim: “Je vis, je meurs: je me brule et me noye” (Louise Labé,
Oeuvres Completes, ed. Enzo Giudici, pág. 148).
28 Os versos originais do Soneto 4 de Labé são: “Depuis qu' Amour cruel empoisonna / Premiere-
ment de son feu ma poitrine, / Tousjours brulay de sa fureur divine, / Qui un seul jour mon
coeur n'abandonna.” (Tbid. pág. 144).
”
29 Os versos originais do Soneto XXIV são: ” ma main, maugré moi, quelque fois / De "amour
- chaste outrepasse les lois / Dans votre sein cherchant ce qui m'embraise” (Pierre de Ronsard,
* Les Amours, ed. Henri et Catherine Weber, pág. 72).
30 No Soneto XXXIX, pode ler-se: ”Pleut il à Dieu n'avoir jamais tâté / Si follement le tetin de
m'amie! / Qui eút pensé, que le cruel destin / Eút enfermé sous un si beau tetin / Un si grand
feu, pour m'en faire la proie?” (Tbid., pág. 26.)
31 Françoise Bardon, Diane de Poitiers et le Mythe de Diane.
32 Phlippe Erlanger, Diane de Poitiers: Déesse de la Renaissance, pág. 206.
33 Ibid., pág. 193.
34 Le Seigneur de Brantôme, Lives of Fair and Gallant Ladies, pág. 150.
35 Ibid., pág. 151.
36 Contini, pág. 92.
37 Brantôme, pág. 205; Paul Lacroix, Les Secrets de Beauté de Diane de Poitiers.
38 Citado em Anne de Mamhac, Femmes au Bain: Les Mêétamorphoses de la Beauté, pág. 29.
39 Georges Vigarello, Le Propre et le Sale: L'Higyêne du Corps Depuis le Moven Áge pág. 70.
40 Orest Ranum, "The Refuges of Intimacy”, in 4 History of Private Life: Passions of the Renais-
sance, ed. Philippe Ariés and Georges Duby, vol. LI, ed. Roger Chartier, trad. Arthur Gold-
hammer, pág. 222.
41 King, pág. 12.
42 Citado em Joseph Illick, ” Anglo-American Child-Rearing,” in The History of Childhood, ed.
Lloyd de Mause, pág. 308.
43 Citado em Yvonne Knibiehler and Catherine Fouquet, L Histoire des Meres, pág. 86.
44 Philippe Erlanger, Gabrielle d'Estrées: Femme Fatale, pág. 83.
45 Inês Murat, Gabrielle d 'Estrées, págs. 425-26.
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46 Para um debate mais amplo sobre este assunto, ver Eileen Q*Neill, ” (Re)Presentations of Eros:
Exploring Female Sexual Agency,” in Gender/BodyKnowledge: Feminist Reconsiructon of Be-
ing and Knowing, ed. Alison Jaggar and Susan Bordo, págs. 69-70.
47 Citado em Judith Brown, Fumodest Acts: The Life of a Lesbian Nun in Renaissance Italy, pág.
167.
48 Guido Ruggiero, The Boundaries of Eros: Sex Crime and Sexuality in Renaissance Venice págs.
189-90.
49 Brown, pág. 6.
50 Esta secção é devida a Marina Warner, Monuments and Maidens, págs. 38-60; e a Andrew
Belsey e Catherine Belsey, “Icons of Divinity: Portraits of Elizabeth 1,” im Renaissance Bodies:
The Human Figure in English Culture, c. 1540-1660, ed. Lucy Gent e Nigel Llewellyn, págs.
n-35.
51 Para informações sobre o traje feminino, vide Elizabeth Ewing, Fashion in Underwear, pãgs.
20-27: Jane Ashelford, Dress in the Age of Elizabeth, págs. 11-42; Christopher Breward, The
Culture of Fashion, pags. 44-48.
52 Valerie A. Fildes, Breasts, Boítles, and Babies, pág. 102.
53 Christopher Hibbert, The Virgin Queen: Elizabeth 1, Genius of the Golden Age, pág. 10.
54 Nancy Vickers, ”'The blazon of sweet beauty's best”: Shakespeare's Lucrece,” im Shakespeare
and the Question of Theory, ed. Patricia Parker and Geoffrey Hartman, págs. 95-115.
55 Kirkpatrick Sale, The Conquest of Paradise: Christopher Columbus and the Columbian Legacy,
pág. 176.
56 Catherine Keller, “The Breast, The Apocalypse, and the Colonial Joumey,” pág. 64.
57 Louis B. Wright, Middle-class Culture in Elizabethan England, pág. 114.
58 Dorothy McLaren, ”Marital Fertility and Lactation, 1570-1720” in Women in English Society,
1500-1800.
59 Mary Abbott, Family Ties: English Families, 1540-1920, pág. 48.
60 Lawrence Stone, The Family, Sex, and Marriage in England, 1500-1800, pág. 270, e Fildes,
Breasts, pêg. 102.
61 Citação de Morwenna e John Rendle-Short, The Father of Child Care: Life of William Cadogan
(1711-1797), pág. 26.
62 Germaine Greer, Susan Hastings, Jeslyu Medoff, Melinda Sansone, eds., Kissing the Rod: An
Anthology of Seventeenth-Century Women's Verse, pág. 243. Os poemas de “Eliza”, Aphra
Behn, e “Ephelia” podem ser encontardos nas págs. 145-46, 243-46, e 274.
63 Fildes, Breasts, pág. 101.
64 Baseando-se em estatísticas sobre filhos ilegítimos, Edward Shorter situa ondas sucessivas de
actividade sexual extra-matrimonial acrescida em finais do séc. XVI, início do séc. XI, e finais
do séc, XX. Edward Shorter, The Making of the Modern Family, pág. 81.
65 Citado in William Manchester, 4 World Lit Only by Fire, pág. 68.
66 Edward Lucie-Smith, Sexuality in Western Art pág. 75.
67 Linda Woodbridge, Womn and the English Renaissance: Literature and the Nature of Woman-
kind, 1540-1620, pág. 218.
68 Joan Kelly Gadol, “Did Women Have a Renaissance?” in Becoming Visible: Women in Buro-
pean History, ed. Renate Bridenthal and Claudia Koonz, pág. 160.
69 Alan Macfarlane, Marriage and Love in England: Modes of Reproduction, 1300-1840 pág. 198.
Ho.
Ens
338
HISTÓRIA DO SEIO
TERCEIRO CAPÍTULO
| Este capítulo é devido a Simon Schama, The Embarassment of Riches: An Interpretation of Dutch
Culture in the Golden Age, especialmente págs. 536-44.
2 Wayne E. Franits, Paragons of Virtue: Women and Domesticity in Seventeenth Century Dutch
Art, págs. 111-19.
3 Citação de Mary Prances Durantini, The Child in Seventeenth-Century Duich Painting, pág. 18,
-coxi altérações poéticas de Bram Dijkstra.
4 Teellinck, 1639, vol. 2, pág. 85, citado por Franits, pág. 227.
5 Jacob Cats, Houwelijck (Middleburg, 1625), cap. 5, pág. 56, citado por Franits, pág. 115.
6 Durantini, pág. 19.
7 Citado in Schama, pág. 538.
8 Zbigniew Herbert, Still Life with a Bridle: Essays and Apocryphas, trad. John e Bogdana Car-
penter, pág: 29,-
9 Schama, pág. 540.
10 Adrian van de Venne, Moeder, in Jacob Cats, Houwelijck (Amsterdão, 1632), reproduzido em
Schama, pág. 544, e Franits, pág. 131.
11 Reproduzido em Franits, pág. 116.
12 ” Mulher a Amamentar uma Criança,” gravura de 1474 da série Nove Figuras, Amsterdão,
Rijksmuseum-Stichtung reproduzido em Franits, pág. 114.
13 Durantini, págs. 6-21.
14 3. E. Huizinga, Dutch Civilization in the Seventeenth Century and Other Essays, pág. 114,
15 R. H. Fuchs, Dutch Painting, pág. 42.
. 16 Schama, pág. 459.
: 17 Anne Hollander, Seeing Through Clothes, pág. 110-11.
18 Schama, pág. 402.
19 Schama, pág. 403, referindo-se a Diderot, ” Voyage de Hollande” in Oeuvres (Paris, 1819), vol.
7, pág. 41.
QUARTO CAPITULO
1 Mervyn Levy, The Moons of Paradise, pág. 87.
2 Linda Pollock, Forgotten Children: Parent-Child Relations from 1500 to 1900, pág. 215.
3 Hommage à Robert Debré (1882-1978): L 'Epopée de la Médecine des Enfants (Paris: Musée de
- PAssistance Publique, 1988), pág. 40.
“4 Elisabeth Badinter, Mother Love:Myth and Reality, pág. Kix. Ver também George D. Sussman,
Selling Mother's Milk: The Wet-Nursing Business in France, 1715-1914, pág. 22.
5 Em relação às práticas de aleitamento na Grã-Bretanha, vide Valerie Fildes, Breasis, Bottles, and
Babies, especialmente, págs. 98-122 e págs. 152-63.
6 Lyou Hunt, ” Introduction,” in Eroticism and ihe Body Politic, ed. Lynn Hunt, pág. 1.
7 Ruth Perry, ”Colonizing the Breast: Sexuality and Matemity in Eighteenth-Century England,”,
pág. 216.
8 Citação de Morwenna e John Rendle-Short, The Father of Child Care: Life of William Cadogan
(1711-1797 pág. 26.
9 William Cadogan, An Essay upon Nursing, and the Management of Children, From their Birth
to Three Years of Age, reproduzido em ibid., citações de Cadogan das págs. 7, 24, 23, 24, 6 e 7.
339
MARILYN YALOM
340
HISTÓRIA DO SEIO
39 Nell Painter, Sojourner Truth: A Life, À Symbol. Quero manifestar a minha gratidão à Professora
Painter de Princetown por me ter chamado a atenção. para o incidente de Sojourne por me ter
deixado ler o manuscrito do seu livro em fase de pré-publicação.
40 As citações de Tennyson foram-me referidas pelo Professor de Inglês Emmeritus Wilfred Stone,
de Stanford.
41 Peter Gay, The Education of the Senses: The Bourgeois Experience Victoria to Freud, págs.
337-38.
42 Flora-Thompson, Lark Rise to Candleford (Londres, Nova Iorque e Toronto: Oxford University
Press, 154), págs. 139-40.
43 Jane T. Costlow, ” The Pastoral Source: Representations of the Maternal Breast in Nineteenth-
“Century Russia,” in Sexuality and the Body in Russian Culture, ed. Jane T. Costlow, Stephanie
Sandler, e Judith Vowles, pág. 225.
44 Patrick P. Dunn, ” That Enemy Is the Baby':Childhood in Imperial Russia,” in The History of
Childhood, ed. Lloyd deMause, pág. 387.
45 Costlow, pág. 228.
46 O debate que se segue baseia-se em grande medida em Paul Weindling, Health Race and German
Politics Between National Unification and Nazism, 1870-1945, págs. 192-205.
47 Pode encontrar imagens francesas in Jean Garrigues, fmages de la Révolution: L Imagerie Répu-
blicaine de 1789 à Nos Jours, págs. 14-15, 118.
48 Dr. Magnus Hirschfeld, Sittengeschichte des Weltkrieges, vol. 1, quadro oposto à pág. 64,
49 Vide Peter Paret, Berth Irwin Lewis, e Paul Paret, Persuasive Images; Libby Chenault, Batileli-
nes: World War 1 Posters from the Bowman Gray Collection; e Walton Rawls, Wake Up, Ame-
, rica! World War 1 and the American Poster.
“50 Bernard Denscher, Gold Gab Ich Fiir Eisen: Osterreischische Kr iegsplakate 1914 1918 (Viena:
Jugend & Volk, 1987), págs. 100, 16.
51 Hirschfeld, págs. 250-55.
52 Varga: The Esquire Years, A Catalogue Raisonné, ed. Robert Walker, pág. 150.
53 Ralph Stein, The Pin-Up from 1852 to Now, pág. 139.
54 Virginia Hewitt, Beauty and the Banknote: Images of Women on Paper Money, pág. 18.
55 New York Times, Abnl de 1994.
56 Barbara Sichtermann, Femininity: The Politics of the Personal, trad. John Whitlam, pág. 61.
57 Françoise Thébaud, Quand Nos Grand-Mêres Donnaient la Vie: La Maternité e France dans
TEnre-Deux-Guerres pág. 86.
58 Quero agradecer ao Professor Robyn Owens da Universty of Westem Australia a informação
sobre a ” Autorização para Fornecer Suplementos aos Recém-nascidos” da Tasmânia e sobre a
política do aleitamento na Austrália.
59 Datha C. Brack, “Social Forces, Feminism, and Breastfeeding,” págs. 556-61.
60 Editorial, Globe de Boston, 31 de Maio de 1994.
61 Esta secção deve-se, em grande medida, a Linda M. Blum, “ Mothers, Babies, and Breastfeeding
in Late Capitalism America: The Shifting Contexts of Feminist Theory,” págs. 1-21.
62 New York Times, 7 de Abril de 1988.
63 Zillah R. Eisenstein, The Female Body and the Law, pág. 213.
64 Gabrielle Palmer, The Politics of Breasifeeding pág. 265.
65 Chronicle de São Francisco, 16 de Setembro de 1993.
66 International Herald Tribune, 9 de Agosto de 1994.
341
MARILYN YALOM
QUINTO CAPÍTULO
1 Sigmund Freud, Complete Works of Sigmund Freud, vol. VI, pág. 181; vol. XVI, pág. 314.
2 Ibid., vol. VI, pág. 222.
3 Ibid., vol. XXIII, pág. 188.
4 Ibid., vol. V, págs. 372-73.
5 Ibid., vol. IV, págs. 286-87.
6 Ibid., vol. VI, pág. 51.
7 Ibid., pág. 52.
8 Ibid., vol. IV, pág. 204.
9 Ibid., vol. XXI, pág. 188.
10 Tbid., pág. 189.
il Ibid., vol. VII, pág. 182.
12 Ibid., vol XXXII, pág. 193.
13 Ibid.
I4 Ibid., pág. 299.
15 Este pastiche baseia-se nos ensaios de Freud ” Algumas Consequências Psíquicas da Diferença
Anatómica Entre os Sexos” (1925), “ Sexualidade Feminina” (1931), e ”Feminilidade” (1933).
16 Freud, vol. XX, pág. 122.
17 O. Isakower, ?A Contribution to the Patho-Psychology of Phenomena Associated with Falling
Asleep.,” págs. 331-45.
18 Vide, por exemplo, O. Townsend Dann, “The Isakower Phenomenon Revisited: A Casa Study,”
International Journal of Psycho-Analysis, vol. 20, nº 1 (Primavera de 1992): 99-113.
19 Esta citação e as seguintes são de Melanie Klein, “Som Theoretical Conclusions Regarding the
Emotional Life of the Infant,” in Developmenis in Psychoanalysis, ed. Melanie Klein et al.,
págs. 19-207. É ,
20 Citado por permissão de Mmerva Neiditz.
21 John E. Beebe, M.D., comunicação particular. Ver também a sua introdução a Carl Jung, Aspecis
of the Masculine.
22 James Astor, "The Breast as Part of the Whole: Theoretical Considerations Conceming Whole
and Part Objects,” pág. 118. A citação seguinte é da pág. 117.
23 Jollen Weme, ed., Trating Eating Disorders, pág. XV.
24 Kim Chemin, The Obsession: Reflections on the Tyranny of Slenderness. Ver também Susan
Bordo, Unbearable Wight: Feminism, Western Culture, and the Body, em especial as págs. 139-
-64.
25 Philip Roth, The Breast, págs. 66-67.
26 Freud, vol. XXII, pág. 122,
27 Ibid., vol 1, págs. 117-28.
SEXTO CAPÍTULO
1 Entrevista com o Dr. Dominique Gros, “Le Sein: Image du Paradis,” Le Nouvel Observateur,
20-26 de Abril de 1995.
342
HISTÓRIA DO SEIO
343
MARILYN YALOM
“8
34d
HISTÓRIA DO SEIO
SÉTIMO CAPÍTULO
1 Valerie A. Fildes, Breasts, Botiles and Babies, pãg. 5.
2 Gay Robins, Women in Ancient Egypt, págs. 90-91. Ilustração de um recipiente com a forma de
“uma mulher a amamentar, placa 27, pág. 81.
3 Frederick B. Wagner, ” History of Breast Disease and Its Treatment,” in The Breast, ed. Kirby 3.
Bland e Edward M. Copeland, vol. II, pág. 1.
4 James V. Ricci, The Genealogy of Gynaecology, pág. 20.
5 Lesley Dean-Jones, ” The Cultural Construct of tae Female Body in Classical Greek Science,” in
Women's History and Ancient History, ed. Sarah B. Pomeroy, pág. 115.
6 Citado in Daniel de Moulin, 4 Short History of Breast Cancer, pág. 2. Estou profundamente em
dívida para com de Moulin por algum do material sbre cancro da mama apresentado neste
capítulo.
7 Soranus, Gynaecology, trad. Owsei Temkin, pág. 90.
8R.C. Hahn e D. B. Petitti, "Minnesota Multiphasic Personality Inveutory-Rated Depression and
the Incidence of Breast Cancer,” págs. 845-48; A. B. Zonderman, P. T. Costa, e R. R. McCrae,
“Depression as a Risk for Cancer Morbidity and Mortality in a Nationally Representative Sam-
ple,” págs: 1191-95.
9 Citado por Moulin, págs. 5-6.
10 Medieval Woman's Guide to Health: Th First English Gynaecological Handbook, trad. Beryl
Rowland, págs. 161-62.
“11 Régine Pemoud, La Femme au Temps des Cathédrales, pág. 119.
12 Salicet, Chirurgie de Guillaume de Salicet, ed. Paul Piftcau, págs. 108-9.
13 Estas duas imagens encontram-se reproduzidas in Albert S. Lyons e R. Joseph Petrucelli, Medi-
cine: An Hlustrated History, figs. 490 e 498, págs. 326-27. Fonte original: Biblioteca da Uni-
versidade de Leiden (Bibliotec des Rijksuniversitate), ms. Vossius lat. .3, fol. .90v.
14 Citação m Moulin, pág. 15.
15 Thomas Laqueur, Making Sex: Body and Genderfrom the Greeks to Freud, págs. 104.5.
16 O desenho encontra-se reproduzido in Kenneth Clark e Carlo Pedretti, Leonardo da Vinci Draw-
ings at Windsor Castle (1935) (Londres: Phaidon, 1969), 19097 verso.
17 Andreas Vasalius, The Epitome of Andreas Vesalius, trad. L. R. Lind, págs. 86-87. The Epitome
é um breve sumário da obra de Vesalius De Humani Corporis Fabrica Libri Septem (Basel,
1543).
18 Esta citação e as seguintes são de Ambroise Paré, Oeuvres Complêtes, ed. .-F. Malgaigne, vol.
2, págs. 687-689.
19 Citado in Dorothy McLaren, ”Marital Fertility and Lactation,” in Women in English Society
1500-1800, ed. Mary Prior, pág. 27.
20 Louise Bourgeois, Dite Boursier, Sage-Femme de la Reine, Observations Diverses sur la
Stérilité, Perte de Fruits, Fécondité, Accouchemenis et Maladies des Femmes et Enfants Nou-
veau-Nés, Suivi de Instructions à Ma File, pág. 90.
21 Esta citação e as seguintes são de Leo M. Zimmerman e Tiza Veith, Great Ideas in the History
of Surgery, págs 245-46.
345
MARILYN YALOM
51 David Spiegel, Living Beyond Limits: New Hope and Help for Facing Threatening Ilness, pág.
xlil.
52 Le Monde, 2 de Setembro de 1988.
53 Solveig Beale et. al., ” Augmentation Mammoplasty: The Surgical and Psychological Effects of
the Operation and Prediction of the Result,” págs. 279-97.
54 Kathy Davis, Reshaping the Female Body.
55 S. E. Gabriel et. al., “Risk of Connective-Tissue Discases and Other Disorders After Breast
“— implantation” New England Journal of Medicine, 16 de Junho de 1994, 330 (24): 1697-702.
56 Gail S. Lebovic, Donald R. Laub, Jr., Kenneth Hadler, Diana Guthauer, Frederck M. Durbas,
e Donald Laub, manuscrito em preparação (Stanford, Calif., 1996).
57 New York Times, 29 de Junho de 1994.
58 Larger Firmer Breasts Through Self-Hypnosis (San Juan, P:R.: Piedras Press, 1991).
59 Chronicle de São Francisco, 1 de Junho de 1994.
OITAVO CAPÍTULO
1 Boston Women's Health Collective, Our Bodies, Ourselves (1969) (Nova Iorque: Simon & Schus-
ter, 1976).
2 Time, 13 de Setembro de 1968.
3 Deborah L. Rhode, “Media Images,” Feminist Issues,” pág. 693.
4.Sandy Polishuk, “Breasts,” pág. 78.
"5 Germaine Grier, The Female Eunuch pág. 24.
-6 Para uma análise inicial do movimento anti-soutiens, vide Denton E. Morrison e Carlin Paige
Holden, “The Burning Bra: The American Breast Fetish and Women's Liberation,” in Deviance
and Change, ed. Peter K. Manning.
7 D. Ayalah e J. J. Weinstock, Breasts: Women Speak About Their Breasts and Their Lives, pág.
125.
8 Tbid.
9 Sentinel de Santa Cruz, 7 de Outubro de 1984.
10 Jean-Claude Kaufmann, Corps de Femmes, Regards d'Hommes: Sociologie des Seins Nus.
11 Revé Kônig, 4 la Mode: The Sociological Psychology of Fashion, trad. F. Bradley, pág. 193.
12 Fotografia e citação de Le Matin, 29 de Maio de 1987.
13 Libération, 26 de Outubro de 1987,
14: New York Times Magazine, 15 de Agosto de 1993.
“15 Time, 1 de Novembro de 1993.
16 Chronicle of Higher Education, 18 de Novembro de 1992.
17 São estes atributos, e não tanto o tamanho, que os homens desejam nos seios femininos, de
acordo com a neuropsicóloga Nancy Etcoff, citada por Elizabeth Weil in “What Men Love,”
Mademoiselle, Janeiro de 1995,
18 Alicia Suskin Ostriker, ” Years of Girlhood (For My Students)” in “The Mastectomy Poems,”
de "The Crack in Everything,” ( 1996. Reeditado com autorização da University of Pittsburgh
, Press.
19 Sharon Olds, “New Mother,” in Olds, The Dead and the Living (Nova Iorque: Alfred A. Knopf,
1984) Copyright ( 1983 by Sharon Olds. Novamente publicado in Touching Fire: Erotic Writ-
ings by Women, ed. Louise Tborton, Jan Sturtevant, e Amber Sumrall, pág. 62.
347
MARILYN YALOM
20 Alicia Suskin Ostriker, The Mother/Child Papers, págs. 18, 33. Novamente publicado com
autorização da autora.
21 Media Watch, vol. 6, nº 1 (Primavera-Verão de 1992), pág. 7.
22 Rosanne Wasserman, ”Moon-Milk Sestina,)” in The Breast: An Anthology, ed. Susan Thames e
Marin Gazzaringa, pág. 84.
23 Deborah Abbott, “This Body Love,” in Touching Fire, ed. Thornton et al., pág. 98. Copyright
( 1985, With the Power of Each Breast: A Disabled Women's Anthology, ed. Susan Browne,
Debra Connors, e Nancy Stem. Pittsburgh: Cleis Press.
24 Linda Pastan, ” Routine Mammogram,” in Pastan, 4 Fraction of Darkness, pág. 46. Copyright (1985)
by Linda Pastan. Novamente publicado com a autorização da W. W. Norton & Company, Inc.
25 Joan Halperin, “Diagnosis,” in Her Soul Beneath the Bone: Women's Poetry on Breast Cancer,
ed. Leatrice Lifshitz, pág. 7. Copyright (1988 University of Illinois Press.)
26 Patrícia Goedicke, “Now Only One of Us Remains,” in Her Soul, ed. Lifshitz, pág. 33.
27 Alice Davis, ” Mastectomy,” in Her Soul, ed. Lifshitz, pág. 41.
28 Sally Allen MeNall, ” Poem for the Woman Who Filled a Prosthesis with Birdseed, and Others,”
in Her Soul, ed. Lifshitz, pág. 67.
29 Audre Lorde, The Cancer Journals, pág. 44.
30 Naomi Wolf, The Beauty Myth: How Images of Beauty Are Used Against Women.
31 Adrienne Rich, "A Woman Dead in Her Forties.” Copyright (1984) by Adrienne Rich, de The
Fact ofa Doorframe: Poems Selected and New, 1950-1984. Segunda edição com autorização
da autora e W. W. Norton & Company Inc.
32 Helena Michie, The Flesh Made Word: Female Figures and Women's Bodies, pág. 127.
33 Therese Diamond-Rosinsky, Suzanne Valadon (New York Universe Publishing, 194), pág. 81.
34 Hayden Herrera, Frida Kahlo: The Paintings, pág. 12.
35 Louise Bourgeois, entrevista pessoal, 8 de Março de 1996.
36 Louise Bourgeois: Recent Work/Opere Recenti (Brooklyn Museum, editado pela United States
Information Agency para a 45º Binal de Veneza, 1993), n.p. Para estudos mais completos da
obra de Bourgeois, vide Christiane Meyer-Thoss, Louise Bourgeois e Marie-Laure Bernadac,
Louise Bourgeois.
37 William Ewing, The Body: Photographs of the Human Form, pág. 68.
38 As citações são de Terry Dennett e Jo Spence, ”Remodeling Photo History: A Collaboration
Between Two Photographers,” Screen, vol. 23, nº 1 (1982), novamente publicadas in Jo Spence,
Puiting Myself in the Picture: 4 Political, Personal and Photographic Autobiography, pãgs.
118-21.
39 Gostaria de agradecer a Terry Dennett pelo seu comentário generoso em relação ao seu trabalho
com Jo Spence. Spence morreu de cancro da mama em 1992.
40 A interpretação mais profunda da obra de Sherman pode ser encontrada em Rosalind Krauss,
Cindy Sherman, 1979-1993.
41 Annie Sprinkle com Katharine Gates, Annie Sprinkle's Post-Modern Pin-Ups Bookit (Richmond,
Va.: Gates of Heck, 1995). As citações foram retiradas das págs, 7,6 e 5.
42 É possível obter cópias do cartaz com a imagem de Deena Metzger fotografada por Hella Ham-
mid, bem como informações sobre os livros, gravações e workshops de Deena Metzger na
TREE, P.0. Box 136, Topanga, Califórmia 90290.
43 Daily de Stanford, | de Fevereiro de 1995.
44 Economist, 25 de Dezembro de 1993 — Janeiro de 1994.
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Créditos das ilustrações
Fig. - Oferta de Mrs. Horace L, Mayer. Cortesia do Museu de Belas Artes de Boston.
Fig, . Oferta de Edward W. Forbes. Cortesia do Museu de Belas Artes de Boston.
Fig. - Copyright British Museum, Londres.
Fig. . Oferta de Mrs. W. Scott Fitz. Cortesia do Museu de Belas Artes de Boston.
O
Fig. : Foto Jean Mazenod. L'Art Grec, Editions Citadelles & Mazenod, Paris.
1
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MARILYN YALOM
Figs. 24 e 25. Por cortesia do Board of Trustees do Victoria and Albert Museum, Londres.
Fig. 26. Beinecke Rare Book and Manuscript Library, Universidade de Yale.
Fig. 27. Louvre, Paris. Foto Bulloz.
Fig. 28. Bibliothêque Nationale, Paris. Foto Bulloz.
Fig. 29. Senlis. Foto Bulloz.
Fig. 30, Musée Condée, Chantilly. Foto Giraudon.
Fig. 31. Louvre, Paris. Foto Bulloz.
Fig. 32. National Portrait Gallery, Londres.
Fig. 33. Albertina, Viena,
Fig. 34. M. H. de Young Memorial Museum, São Francisco.
Fig. 35. Louvre, Paris. Foto Bulloz.
Fig. 36. Paleis Het Loo, National Museum, Apeldoorn, Países Baixos. Foto A, A. Meine Jansen.
Fig. 37. Amsterdão. Foto Bulloz.
Fig. 38. Staatliche Gemildegalerie, Dresden.
Fig. 39. Samuel H. Kress Collection, 1961.60; Allentown Art Museum, Allentown, Pensilvânia.
Fig. 40. Copyright The Celeveland Museum of Art, 1996, John L. Severance Fund, 66.239.
Fig. 41. Copyright Bibliothêque Nationale, Paris.
Fig. 42. Coleeção Particular.
Fig. 43. Foto RM.N.
Fig. 44. Wellcome Institute Library, Londres.
Fig. 45. Musée Carnavalet, Paris.
Fig. 46. Musée Carnavalet, Paris.
Fig. 47. Foto Bulloz.
Fig. 48. Musée Fragonard, Grasse, Foto Bulloz.
Fig. 49. Louvre, Paris. Foto Bulloz.
Fig. 50. Peabody Museum, Universidade de Harvard.
Fig. 51. Bibliothêque de Documentation Internationale Contemporaine, Nanterre.
Fig. 52. Tirado de uma edição de 1917 de La Vie Parisienne.
Fig. 53. GE264, Colecção de Cartazes, Hoover Institution Archives.
Fig. 54. US2003A, Colecção de Cartazes, Hoover Institution Archives.
Fig. 55. US1021, Colecção de Cartazes, Hoover Institution Archives.
Fig. 56. US5718, Colecção de Cartazes, Hoover Institution Archives.
Fig. 57. US1237, Colecção de Cartazes, Hoover Institution Archives.
Fig. 58. Archivo Storico Ricordi, Milão.
Fig. 59. Reproduzido em Hischfeld, Sittengeschichie des Welteskrieges (Leipzig e Viena, 1930).
Fig. 60. GE982, Colecção de Cartazes, Hoover Institution Archives.
Fig. 61. National Air and Space Museum, Washington, D.C.
Fig. 62. Nota colonial portuguesa.
Fig. 63. Capa de brochura da Penguin, 1972 (1968, 1995).
Figs. 64. e 65. Wellcome Institute Library, Londres.
Figs. 66, 67 e 68. Catálogo da Sears, Roebuck & Co,, 1897.
Fig. 69. Bibliothêque des Arts Décoratifs, Paris.
Fig. 70. Foto Jean-Loup Charmet,
, Fig. 71. Colecção Particular.
Fig. 72. Cortesia do Maidenform Museum, Nova Iorque.
Pad
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HISTÓRIA DO SEIO |
- Fig. 97. Cortesia da TREE, P.O. Box 186, Topanga, Califómia 90290.
Fig. 98. Cortesia do artista.
ig. 99. Cortesia do artista.
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363
Índice
raee
ronca cerearecerarerenesaranen
Agradecimentos .........i ss ceeceesreteaeneo arencacas 9
“INTRODUÇÃO,
MUDANÇA DE SIGNIFICADO... e 3
UM
O SEIO SAGRADO: DEUSAS, SACERDOTISAS, MULHERES
BÍBLICAS, SANTAS E VIRGENS ......seeeeemases 21
DOIS
O SEIO ERÓTICO: GLOBOS CELESTIAIS ...........iiiiem 67
TRÊS
O SEIO DOMÉSTICO: UM INTERLÚDIO HOLANDÊS................. 115
QUATRO
O SEIO POLÍTICO: SEIOS PARA A NAÇÃO .......iiii 131
364
HISTÓRIA DO SEIO
CINCO
O SEIO PSICOLÓGICO: CUIDAR DO CORPO... 179
SEIS
O SEIO COMERCIALIZADO:
DO CORPPETE AO CIBER-SEXO .....iiiiaies 193
SETE
O SEIO MÉDICO: FONTE DE VIDA E DE ANIQUILAÇÃO ........ 245
OITO
O SEIO LIBERTADO: POLÍTICA, POESIA E IMAGENS ............ 287
NOVE
O SEIO EM CRISE... aa iara er aeee 325
Notas eia ea aaa a cerne aaa a tara ca na ea at rar aaa aerea renan saca rtraanaado 333
. Bibliografia seleccionada... 349
* Créditos das ilustrações ....etieeeee ereta 361
Índice... aeee rena ac rara renata 364
365