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FOLHA DE S.

PAULO

Zinho está isolado em cela


em prisão de segurança
máxima e não prestou
depoimento
BRUNA FANTTI 25 DEZEMBRO 2023 | 3min de leitura

Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, 44, está preso na Penitenciária


Laércio Costa da Silva Pelegrino, Bangu 1, unidade de segurança máxima
do estado do Rio de Janeiro.

No local há 48 celas individuais. Além dos presos não terem contato uns
com os outros, a penitenciária é destinada para casos de disciplina e é
passagem antes da transferência para o sistema penitenciário federal. O
governo do Rio de Janeiro, no entanto, ainda não confirmou se irá
solicitar a transferência de Zinho para uma unidade de segurança
máxima fora do estado.
Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, é empresário e irmão de Ecko, líder da milícia - Divulgação

Em Bangu 1, Zinho ficará 22 horas dentro da cela e outras duas no


chamado banho de sol, no pátio, isolado.

Após ser preso neste domingo (24), ao se entregar na Superintendência


da Polícia Federal, na região portuária do Rio, ele ainda não prestou
depoimento. Investigadores afirmaram à Folha que esperam que ele faça
uma delação premiada, entregando nomes de empresários, políticos e
policiais que tenham envolvimento com a milícia.

No último dia 18, o Tribunal de Justiça do Rio afastou do cargo a


deputada estadual Lúcia Helena Pinto de Barros (PSD), a Lucinha. Ela é
acusada de ser o braço político de Zinho e teria influenciado tentativas de
mudanças de comandantes de batalhões que combatiam a quadrilha.
Outra suspeita que recai sobre ela é de que teria agido para soltar um
miliciano que estava sendo conduzido a uma delegacia. Sua defesa nega
todas as acusações.

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Policiais ouvidos pela reportagem afirmam que, entre os motivos que
teriam levado Zinho a se entregar estariam questões familiares e o
cansaço da vida de foragido.

Procurada, a defesa de Zinho não retornou as ligações e as mensagens da


reportagem. Em outras ocasiões, os advogados do preso negaram todas
as acusações contra ele.

Caso não seja transferido para um presídio federal após 30 dias, Zinho irá
para a Penitenciária Bandeira Stampa, unidade prisional que, desde
2016, é reservada para milicianos. Atualmente, há cerca de 500 presos na
unidade. Entre os internos estão suspeitos de integrarem a quadrilha de
Zinho.

Das 833 áreas listadas pela Polícia Civil como sendo de influência da
milícia, 812 têm a mão do grupo. Os paramilitares exercem o domínio das
regiões ao cobrar de seus moradores taxas extras, extorquir
comerciantes e forçar monopólios de serviços básicos, como gás e luz.

De acordo com o Geni/UFF (Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos),


grupos milicianos ocupam quase 60% da região metropolitana.
Na última terça-feira (19), a PF e o Ministério Público do Rio fizeram
uma operação contra Zinho e outros milicianos do mesmo grupo. Eles
são suspeitos de praticar crimes como formação de milícia privada,
extorsão, homicídios, lavagem de capitais, além de porte, posse ilegal e
comercialização de armas de fogo.

Segundo a investigação, as cobranças de taxa extra são planilhadas pelos


paramilitares. Apenas em fevereiro deste ano, o grupo criminoso
arrecadou mais de R$ 308 mil com a cobrança de taxas feitas a grandes
empresas do ramo da construção civil atuantes na zona oeste do Rio.

"No intuito de ocultar e dissimular a natureza, origem e a localização do


dinheiro ilícito, os criminosos valiam-se de variadas contas para
recebimento e circulação dos valores obtidos através das extorsões", diz
o Ministério Público.

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