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ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Agradecemos ao Senhor por estarmos concluindo mais um ano letivo da Escola Bíblica
Dominical, ano em que nos debruçamos sobre temas relevantes que nos fazem refletir sobre o nosso papel
enquanto Igreja neste tempo final da dispensação da graça, onde a opressão maligna se acentua e se intensifica
grandemente.
Depois de termos visto a necessidade do avivamento espiritual para este tempo final no
primeiro trimestre, de termos muito cuidado com os nossos relacionamentos familiares, pois a família é o
núcleo básico não só da sociedade mas da própria Igreja, no segundo trimestre e de termos acabado de ver
qual deve ser nossa maneira de viver num mundo dominado pelo maligno, terminaremos o ano letivo
estudando sobre a missão da Igreja, que é a de pregar o Evangelho por todo o mundo a toda criatura
(Cf. Mc.16:15).
Com efeito, quando o Senhor Jesus, pouco antes de Sua ascensão, mais uma vez
lembrou Seus discípulos do dever que tinham de levar a mensagem de salvação à humanidade, não deixou de
considerar que a Igreja deveria ser Sua testemunha em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra
(At.1:8).
Esta consciência de cabe à Igreja não só pregar o Evangelho na sociedade onde está
localizada, mas também levar a mensagem da salvação para outros lugares, até os confins da Terra, não é algo
que esteja sempre presente na mente dos cristãos.
Foi preciso que o Senhor Jesus permitisse uma perseguição em Jerusalém para que os
discípulos se dispersassem e, deste modo, evangelizassem Judeia, Samaria, Galileia e até os confins da terra
(At.8:1-4), mas, mesmo assim, a grande maioria somente pregava o Evangelho a judeus (At.11:19).
Somente a partir de Antioquia e, mesmo assim, com grande dificuldade, é que a Igreja
entendeu que seu papel evangelizador superava as barreiras culturais e que a salvação leva pessoas de todas
as tribos, línguas, povos e nações a pertencer a um povo espiritual, que é a Igreja, o corpo de Cristo (Cf.
Ap.5:9).
Esta visão é denominada “etnocêntrica”, ou seja, que tem como centro a “etnia”, palavra
cujo significado, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é de “toda classe de seres de origem
ou de condição comum”, ou seja, pessoas que convivem por terem o mesmo modo de vida, os mesmos
costumes, tradições, língua, alimentação e outros aspectos da vida sobre a face da Terra.
Entender que o Evangelho deve ser pregado por todo o mundo e a toda criatura,
independentemente desta comunidade de maneira de viver não é algo que seja percebido pelos servos do
Senhor Jesus.
A mesma dificuldade da igreja primitiva encontramos ainda hoje em nossos dias, tanto
que é muito, mas muito pequeno mesmo o número de igrejas locais que, tendo esta visão, promovem a
pregação do Evangelho “nos confins da Terra”.
Mais do que nunca, é interesse do Espírito Santo que todos tomem esta consciência e
faça como aqueles varões que chegaram a Antioquia e pregaram o Evangelho aos gentios e dali surgiu a igreja
que foi a responsável por enviar o apóstolo Paulo, que foi o iniciador da pregação do Evangelho a todos os
povos.
Por isso, extremamente oportuna a reflexão sobre este tema para que despertemos
enquanto é dia, porque a noite já está a chegar, quando ninguém mais pode trabalhar (Jo.9:4).
Esta consciência deve ser particularmente despertada entre nós, brasileiros, porquanto
o Brasil tem sido um verdadeiro “celeiro missionário” para a Igreja nas últimas décadas, sendo evidente que
o Senhor tem escolhido este país e seus habitantes para ter um papel relevante na colheita da última hora (Cf.
Mt.20:6,7).
Temos as mãos de uma pessoa segurando o planeta, planeta que é posto sobre uma
Bíblia Sagrada aberta, vindo uma luz extremamente brilhante, que parece vir de cima, a tudo iluminar.
A luz brilhante vinda do céu, que é o próprio Jesus (Cf. Jo.1:4,5; 8:12), tinha esta visão
do mundo todo, de toda a humanidade, pois por ter Deus amado este mundo é que Jesus foi enviado (Jo.3:16).
Assim, nós, como Seus discípulos, devemos segui-l’O nesta mesma visão, trabalhando
para que todo o mundo seja alcançado pela pregação do Evangelho, cada um fazendo a sua parte para que o
Evangelho chegue a toda a humanidade.
Após uma lição introdutória, temos um primeiro bloco em que veremos o que são as
missões transculturais, como, tendo nascido em Deus, foi revelada nas Escrituras (lições 2 a 4).
No terceiro bloco, veremos dois grandes desafios para as missões em nossos dias, a
questão da chamada janela 10/40 e a igreja perseguida.
No quarto e último bloco do trimestre, ainda buscando nos posicionar em nossos dias
com relação a missões, veremos o modelo missionário da igreja de Antioquia, que é o modelo bíblico para a
igreja da última hora e, por fim, o aspecto escatológico das missões.
O comentarista do trimestre é o pastor Wagner Tadeu dos Santos Gaby, presidente das
Assembleias de Deus em Curitiba/PR e que já há alguns anos vem colaborando com as Lições Bíblicas.
Feliz 2024!
INTRODUÇÃO
- Estaremos a estudar neste trimestre sobre as missões transculturais.
I – O QUE É O EVANGELHO
- Neste trimestre, estaremos estudando o tema “Até os confins da Terra: pregando o Evangelho a todos
os povos até a volta de Cristo”, tema extremamente oportuno tendo em vista que se vive, em nosso país,
lamentavelmente uma verdadeira letargia por parte da Igreja no tocante à evangelização, que é a tarefa
precípua da Igreja, a sua própria razão de ser.
- Portanto, para sabermos o que é a grande comissão em seu enfoque etnocêntrico, o objetivo de nossa lição,
há que sabermos o que é o Evangelho, vez que evangelizar é pregar o Evangelho.
- A palavra grega “evangelion” (εύαγγέλιοον) tem o significado de “boas novas” e era utilizada, em Roma,
para designar as notícias referentes a feitos extraordinários e miraculosos feitos pelos imperadores, notícias
que tinham o propósito de fazer os súditos de Roma crerem que os imperadores eram dotados de poderes
divinos e que, assim, trariam melhores dias para a vida terrena.
- Este sentido de “boas novas”, de notícias vindas da divindade para o bem do ser humano, foi dado pelo
próprio Senhor Jesus quando iniciou Seu ministério terreno, pois, como nos dá conta o evangelista Marcos
(que foi, aliás, o primeiro a adotar esta nomenclatura para tratar da narrativa da vida e ministério de Cristo -
Mc.1:1), ao iniciar a Sua pregação, conclamou Seus ouvintes a crerem no “evangelho”, crendo que o tempo
da redenção havia chegado, que o reino de Deus estava próximo e que era preciso se arrepender (Mc.1:15).
- Ao longo de Seu ministério, Jesus identificaria a Sua mensagem como sendo “o evangelho” (Mt.11:5; 24:14;
Mc. 8:35; 10:29; 13:10; 14:9; 16:15; Lc.4:43; 7:22), tendo, inclusive, mandado que fosse esta a mensagem a
ser pregada pelos Seus discípulos em continuidade à Sua obra. Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo
Paulo diz ser “o Evangelho de Cristo” “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do
judeu, e também do grego, porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: mas o
justo viverá da fé” (Rm.1:16,17).
- É elucidativo que o apóstolo Paulo resuma o “evangelho” à assertiva do profeta Habacuque de que “o
justo viverá da fé” (Hc.2:4), pois “…a tradição judaica parece ir por dois caminhos com a ideia de que a
Torá pode ser explicada por meio da halakhah (explicações dos rabinos, dos doutores da lei) (…) [um dos
quais] refinar os vários mandamentos em princípios gerais que são cada vez menores em número. Por exemplo,
em Makkot 23b-24a [tratado do Talmude – observação nossa], a discussão vai de uma enumeração dos 613
mandamentos identificados na Torá, para a redução de Davi do número para 11 (Salmo 15), da redução de
Isaías para o número de seis (Is.33:15,16), para a redução de Miqueias para o número de três (Mq.6:8), para
mais uma redução de Isaías para dois (Is.56:1), para um essencial mandamento por Habacuque (“mas o justo
pela fé viverá”). Obviamente, o apóstolo Paulo refinou as várias mitzvot para o mesmo princípio da fé (veja
Rm.1:17; Gl.3:11 e Hb.10:38).…” (PARSONS, John J. Taryag Mizvot: os 613 mandamentos da Torá.
Disponível em: http://www.hebrew4christians.com/Articles/Taryag/taryag.html Acesso em 10 fev. 2015)
(tradução nossa de texto em inglês) (destaques originais).
- Este único princípio a que se reduz toda a Torá é chamado por Paulo de “Evangelho de Cristo”, o poder de
Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiramente do judeu e depois do grego, a síntese de toda a
Torá, a “Torá do Messias”, quando se pode, então, cumprir o mandamento dado por Deus neste novo tempo,
o de amar uns aos outros como Jesus nos amou.
- Portanto, proclamar o Evangelho nada mais é que anunciar a notícia de que se pode alcançar a justiça,
se pode alcançar a salvação por intermédio da fé em Cristo Jesus, o Senhor e Salvador da humanidade.
II – O QUE É EVANGELIZAÇÃO
- Ora, verificado que evangelização é o ato de evangelizar e que evangelizar é proclamar o Evangelho, vemos,
com clareza, que a evangelização é o ato de proclamação do Evangelho, do anúncio de que chegou o tempo
de se obter a justiça diante de Deus, de se ter a salvação, mediante a fé em Jesus Cristo, Aquele que veio
restaurar a comunhão entre Deus e os homens, que veio restabelecer a amizade com Deus, que veio libertar o
homem do pecado e do maligno.
- Esta notícia foi dada, em primeira mão, como haveremos de estudar na próxima lição, pelo próprio Deus,
quando estava a impor o juízo sobre o primeiro casal por causa do pecado. No próprio ato em que punia o
homem por ter transgredido Sua ordem de não comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, o próprio
Deus anunciou que haveria de nascer uma semente da mulher que poria inimizade entre a humanidade e o
diabo, aniquilando o poder que Satanás havia obtido sobre os homens, em virtude do pecado, algo que não
seria sem custo, vez que esta “semente da mulher” teria ferido o seu calcanhar, ou seja, teria de pagar um
preço para realizar esta obra redentora (Gn.3:15).
- Somente Deus poderia dar esta notícia, pois só Deus, dentro de Sua onisciência, sabia que o homem haveria
de pecar e que teria de haver um meio para a redenção, para a salvação deste homem. A evangelização,
portanto, é algo que nasce no próprio Deus, sendo por este motivo, aliás, que as Escrituras dizem que o
Cordeiro foi morto desde a fundação do mundo (Ap.13:8), já era conhecido ainda antes da fundação do mundo
(I Pe.1:20), pois, estando já na mente divina esta verdade, foi ela divulgada somente após a queda do homem,
no exato instante da aplicação do juízo.
- A evangelização, portanto, é uma tarefa inicialmente divina, pois somente Deus poderia dar a notícia de
que haveria de salvar o homem e é, por isso mesmo, que temos aqui um “desafio”, ou seja, uma tarefa que é
superior à própria condição humana e que, por isso mesmo, não poderia ser executada senão pelo próprio
Deus, o que se deu precisamente na pessoa do Filho, Jesus Cristo, cujo ministério era precisamente o de pregar
o Evangelho do reino de Deus (Mc.1:14,15) na plenitude dos tempos, quando ainda se estava sob a lei (Gl.4:4).
- No entanto, esta tarefa não ficaria circunscrita ao ministério terreno de Jesus Cristo. Muito pelo contrário,
tendo cumprido a lei e vencido o pecado e a morte, o Senhor edificou a Igreja (Mt.16:15) para que ela,
como Seu corpo (I Co.12:27), prosseguisse a proclamação do Evangelho, que agora não é o “Evangelho
do reino de Deus”, que havia sido pregado aos judeus (Mt.10:6; 15:24; Jo.1:11; At.28:25-28), mas, sim, o
“Evangelho da graça de Deus” (At.20:24), porquanto, com o ministério terreno de Cristo, revelou-se outro
mistério que estava escondido na mente divina, qual seja, a de que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo
corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo Evangelho (Ef.3:3-6).
- Todavia, para que esta evangelização pudesse ser feita pela Igreja, composta de homens, despidos do
poder de Deus (Cf. Sl. 9:20; 62:11), o Senhor Jesus tratou de capacitar o Seu povo para que isto pudesse ser
feito e, por isso mesmo, lhes enviou o Espírito Santo (Jo.20:22) e não somente lhes deu o outro Consolador
(Jo.14:16), que só poderia vir quando Cristo fosse glorificado (Jo.7:39), como também os revestiu de
poder com este Espírito para que pudessem executar a contento a obra da evangelização (Lc.24:49).
- Não bastou, porém, a recepção do Espírito Santo e o revestimento de poder para que a evangelização fosse
efetuada, mas o próprio Jesus passou a cooperar com a Igreja (Mc.16:20), a estar sempre com a Igreja
(Mt.28:20), assim como o Espírito Santo (I Co.2:4) sem o que esta tarefa, superior à condição humana, jamais
poderia ser realizada.
- A evangelização, portanto, é o ato de proclamar o Evangelho, Evangelho que é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê. É, portanto, o anúncio da notícia de que se deve crer em Jesus Cristo como
Senhor e Salvador da humanidade, arrependendo-se dos pecados e passando a obedecer ao Senhor Jesus, com
o que se alcançará a salvação e a vida eterna, que é o convívio para sempre com o Senhor na glória celestial.
- Recorrendo, uma vez mais, à Bíblia de Estudo Palavras Chave, no seu já mencionado verbete 2097 do Novo
Testamento, temos ali três sentidos que bem demonstram o que é a evangelização, o que é pregar o Evangelho.
- Já vimos que Jesus, ao iniciar Seu ministério público, fê-lo para pregar o “Evangelho do reino de Deus”,
mensagem que era ansiosamente guardada pelos judeus, que esperavam a chegada do Messias que restauraria
o reino a Israel e que, através de Israel, reinaria sobre todo o mundo, trazendo justiça e paz para toda a
humanidade. Era, portanto, na mente dos israelitas, sobretudo um reino terreno e político. Tanta era a
ansiedade por este reino, que, mesmo após a ressurreição, os discípulos perguntaram a Cristo a respeito da
instauração deste reino (At.1:6), ocasião em que o Senhor foi bem claro ao afirmar que não era este reino o
objeto da proclamação a ser feita pela Igreja, que, ao contrário, deveria ir até os confins da Terra para
proclamar o poder de Deus para salvação (At.1:7,8).
- A mensagem do reino de Deus não é uma mensagem de caráter político ou terreno, pois o reino de Cristo
não é deste mundo (Jo.18:36), mas, sim, a pregação da justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17).
- Por isso, as mensagens que se têm ouvido, ao longo da história da Igreja, em que se prega o estabelecimento
de um reino terreno, de um Paraíso na Terra a partir de uma entidade política, seja ela um governo instituído
por cristãos, seja ela um governo decorrente de uma “revolução” ou uma “transformação social” baseada em
princípios éticos constantes das Escrituras, não é o genuíno e autêntico Evangelho, de sorte que não tem
qualquer chancela divina o que se tem feito, em nome do Evangelho, com esta conotação política e terrena,
como é o caso, em nossos dias, da teologia da libertação e de algumas vertentes da chamada teologia da missão
integral.
- Pregar o Evangelho é, portanto, dizer que chegou o momento de nos tornarmos súditos do Rei, do Soberano
de toda a Terra, de sermos Seus súditos e, mais do que súditos, concidadãos dos santos e da família de Deus
(Ef.2:19), de passarmos a pertencer ao povo de Deus, de termos direito de entrar na cidade celestial, onde
seremos transformados deste corpo abatido em um corpo glorioso (Fp.3:20,21).
- O evangelho é a mensagem de que o ser humano pode ser um cidadão diante de Deus, ou seja, alguém
que goza de direitos e de proteção da parte do Senhor, alguém que tem a Deus como seu amigo e não como
um inimigo, como um adversário.
- Para entendermos isto, devemos observar que, ao contrário do que ocorre hoje em dia, para ser cidadão
romano era necessário que a pessoa fosse livre e reconhecido como tal pelo soberano. Para pertencer ao reino
de Deus precisamos ser libertos do pecado, o que somente Jesus pode fazer (Jo.8:36), como também podermos
ser “registrados” como cidadãos na pátria celestial, através do novo nascimento, da nossa inserção no livro da
vida (Jo.3:3,5; Ap.3:5; 21:27), algo que somente pode alcançar quem crer em Jesus Cristo 9Jo.5:24).
- Por isso, a mensagem do Evangelho é uma mensagem para que as pessoas se arrependam dos seus
pecados e recebam a Cristo como Senhor e Salvador das suas vidas. Não é possível pregar o Evangelho
sem conclamar o povo a se arrepender dos seus pecados, a se reconhecer pecador e crer que Jesus morreu na
cruz do Calvário para pagar o preço dos nossos pecados, satisfazendo a justiça divina e, deste modo, alcançar
o perdão.
- Jesus, ao iniciar a pregação do Evangelho do reino de Deus, foi enfático ao dizer: “Arrependei-vos e crede
no Evangelho” (Mc.1:15). É esta a mensagem que a Igreja continuou a pregar, como vemos, claramente, no
dia de Pentecostes, pela boca de Pedro e dos apóstolos: “ Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo (…). Salvai-vos desta
geração perversa…” (At.2:39,40).
- Foi isto também que Paulo afirmou quando disse aos coríntios que sua mensagem era “a palavra da cruz” (I
Co.1:18), pois a cruz nada mais é que o instante em que Jesus morre por nós pecadores, faz-Se pecado por nós
- Não há, portanto, possibilidade de se pregar o Evangelho sem que se fale em necessidade de arrependimento
dos pecados, sem que se fale na cruz de Cristo, onde o Senhor ganhou a nossa redenção. Temos de crer que
Jesus, ao morrer por nós, pagou o preço de nossos pecados e que este sacrifício foi aceito por Deus, tanto que
Cristo ressuscitou ao terceiro dia, garantindo, assim, a nossa fé n’Ele, daí porque o apóstolo ter afirmado que
se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé (I Co.15:14). Feliz foi o poeta sacro traduzido/adaptado
por Paulo Leivas Macalão ao afirmar que “Tema do bom pregador: o Calvário” (terceiro verso da terceira
estrofe do hino 192 da Harpa Cristã).
- Somente nos arrependendo dos pecados e crendo em Jesus, poderemos ser libertos do poder do pecado e
passar a ter uma nova vida, a nascer de novo para não mais vivermos, mas Cristo viver em nós (Gl.2:20),
passando, então, a pertencer ao reino de Deus e a fazer a vontade deste Rei, sendo, a partir de então, cidadãos
da cidade celestial, em perfeita amizade com Deus, não sendo mais Seus inimigos, estando por Ele protegidos
e aquinhoados, como os servos da parábola das minas (Lc.19:11-27), onde há perfeita distinção entre os servos
e os inimigos do Senhor, que eram precisamente aqueles que não queriam que Ele reinasse sobre eles.
- Mas a Bíblia de Estudo Palavras Chave também diz que há um segundo significado para evangelizar, que é
o de “…pregar Jesus Cristo ou o Senhor Jesus (At.5:42; 8:35; 11:20; 17:18; Gl.1:16; Ef.3:8).…” (op.cit.,
p.2214).
- O anúncio das boas novas da salvação só pode ser o anúncio de Jesus Cristo, pois Ele é o Salvador (Mt.1:21),
Ele é a graça de Deus que se manifestou trazendo salvação a todos os homens (Tt.2:11). A pregação do
Evangelho é o anúncio do Salvador e foi, aliás, o que fez Deus no chamado “protoevangelho”, ou seja, quando
do primeiro anúncio da salvação, ainda no Éden, quando disse que a “semente da mulher” esmagaria a cabeça
da serpente, embora fosse ferida em seu calcanhar (Gn.3:15), semente esta que era o Senhor Jesus, pois é Ele
que traz a paz entre Deus e o homem (Ef.2:17).
- Por isso, o apóstolo Pedro, no início de seu sermão no dia de Pentecostes, depois de ter esclarecido o que
ocorrera com os quase cento e vinte irmãos que haviam sido batizados com o Espírito Santo, logo anunciou a
“Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por Ele fez
no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis” (At.2:22), dizendo ainda que “esse Jesus, a quem vós
crucificastes, Deus O fez Senhor e Cristo” (At.2:36).
- Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo disse aos coríntios que seu assunto era um só: Cristo, e Este,
crucificado (I Co.2:2), repetindo, assim, o que era feito por todos os demais apóstolos e evangelistas, como se
verifica nas referências supramencionadas no verbete 2097 da Bíblia de Estudo Palavras-Chave.
- Jesus é o assunto da evangelização. Se temos de dar a notícia, as boas novas da salvação do homem, não
temos como deixar de falar de Jesus, que é o Salvador, que é quem conquistou, na cruz do Calvário, a vitória
sobre o pecado e sobre a morte. Pregar o Evangelho é falar de Jesus aos pecadores, é dizer que Jesus salva o
miserável pecador.
- Conforme já dissemos, a evangelização é baseada nas Escrituras, na Bíblia Sagrada e vemos aqui o porquê
disto. Como o assunto da Bíblia é Jesus e o assunto da evangelização é Jesus, não há como evangelizarmos se
não nos utilizarmos da Palavra de Deus, pois evangelizar é falar de Jesus.
- A pregação é Jesus, o objetivo da evangelização é Jesus. Quando evangelizamos levamos Jesus aos homens,
pregamos a Cristo e as pessoas somente serão salvas se crerem em Cristo, se receberem a Cristo, se se
entregarem a Jesus.
- Nos dias hodiernos, infelizmente, pouco se fala de Jesus, pouco se fala de Cristo, dando-se ênfase mais às
bênçãos trazidas por Jesus, aos benefícios que se pode ter com a salvação em Cristo. Assim, enquanto a
pregação deva ser Cristo, prega-se a cura de enfermidades por Cristo, os milagres e maravilhas que se pode
obter por intermédio de Cristo e, pior do que isto, as bênçãos materiais que podem ser proporcionadas por
Cristo.
- A pregação do Evangelho deve ser a pregação de Cristo e Este, crucificado. Devemos mostrar aos pecadores
o amor de Deus revelado na pessoa de Jesus e o interesse de Deus de nos salvar, de nos levar para os céus,
para vivermos para sempre com Ele, o que somente é possível por causa de Cristo e, assim, devemos crer
n’Ele e entregar nossas vidas a Ele. Com Cristo, estaremos com a vida eterna; com Cristo, entraremos em
comunhão com Deus e, por isso, deveremos sempre estar unidos a Cristo, desde agora, para que esta união
perdure pelos séculos dos séculos.
- A mensagem trazida pelos pioneiros das Assembleias de Deus no Brasil era a pregação de Cristo: “Jesus
salva, cura, batiza com o Espírito Santo e brevemente voltará”. Falava-se de Jesus e tão somente d’Ele e, por
isso, esta mensagem teve o grande êxito neste pouco mais de 110 anos em nossa nação.
- No entanto, nossos púlpitos estão carentes desta pregação de Cristo. Prega-se prosperidade material, cura
divina, milagres e manifestações sobrenaturais, mas não se fala mais de Jesus, que, quando não é
completamente esquecido nos sermões, aparece apenas como um instrumento para a obtenção das bênçãos.
As pessoas não vão mais aos cultos para adorar a Deus, para sentir a presença do Senhor no meio dos salvos,
mas, sim, para “receber bênçãos”, pois não se está mais a pregar a Cristo, mas os benefícios que Cristo pode
trazer.
- Não é isto que vemos na Bíblia Sagrada. Os discípulos não cessavam de anunciar a Jesus Cristo (At.5:42),
ainda que tal anúncio viesse acompanhado de sinais, prodígios e maravilhas (At.5:12), o que também ocorreu
com Felipe em Samaria (At.8:12,13) e, como lemos em Mc.16:20, com todos os discípulos do Senhor, que
tinham a Palavra confirmada com sinais.
- Precisamos anunciar o Salvador, o Abençoador e não as bênçãos. É certo que o Evangelho apresenta bênçãos
espirituais e materiais, que não se pode omitir este aspecto, mas tudo isto é decorrência da salvação, é
consequência da chegada do Salvador, de sorte que, no anúncio, não devemos, como diz o povo, “colocar a
carroça na frente dos bois”.
- Em nossos dias, é muito triste vermos pregações que se preocupam tão somente com os benefícios do
Evangelho e não com o próprio Evangelho. Pessoas que, querendo atrair multidões, adotam um discurso
sensacionalista e afável, enfatizando as bênçãos em vez de enfatizar o Abençoador.
- É assaz preocupante vermos hoje as pessoas correndo de um lado para outro atrás de manifestações
sobrenaturais, de sinais e de maravilhas, quando deveriam estar à busca de Cristo, Este, sim, a fonte de todas
as bênçãos. Quando se tem o Abençoador, estamos de posse de todas as bênçãos espirituais, pois o Abençoador
nos leva aos lugares celestiais n’Ele (Ef.1:3). Quando estamos apenas atrás das bênçãos, estamos à mercê do
engano e da mentira, já que rejeitamos entrar em comunhão com Jesus, que é a própria Verdade (Jo.14:6).
- Pregar o Evangelho é “pregar a Palavra” (At.8:4,25; 15:35), “a fé” (Gl.1:23), ou seja, anunciar o que está
nas Escrituras Sagradas, cujo assunto, como já dissemos supra, outro não é senão o Senhor Jesus, pois são elas
que d’Ele testificam (Jo.5:39).
- A pregação do Evangelho é fundamentalmente bíblica, tem de estar baseada na Palavra de Deus, retirando
dos textos bíblicos o seu verdadeiro sentido e significado, o que se obtém através de uma boa hermenêutica,
ou seja, de uma correta interpretação, interpretação esta que é dada pela própria Bíblia, pois, como afirma a
regra de ouro da hermenêutica bíblica, “a Bíblia interpreta a própria Bíblia”, pois texto algum das Escrituras
é de particular interpretação (II Pe.1:20).
- A pregação do Evangelho tem de ter base bíblica, extrair o real sentido daquilo que foi revelado por Deus
aos homens que a escreveram, homens que eram inspirados pelo Espírito Santo (II Pe.1:21).
- Quando se foge da Bíblia Sagrada, passamos a ter não a pregação do Evangelho, mas, sim, a proliferação de
fábulas (I Tm.1:4; 4:7; II Tm.4:4; Tt.1:14; II Pe.1:16), ou seja, histórias fantasiosas, ficções, frutos da
imaginação humana, com as quais o Senhor não tem qualquer compromisso, pois Ele vela pela Sua Palavra
para a cumprir (Jr.1:12) e nada mais. Por isso, aliás, o apóstolo Paulo fazia questão de dizer que não ia além
do que estava escrito (I Co.4:6), pois ir além do que está escrito, ir além do Evangelho, que se confunde com
as próprias Escrituras, nada mais é que “abuso de poder” no evangelho (I Co.9:18).
- Por isso, o apóstolo Pedro fazia questão de dizer que fora a Palavra de Deus o objeto da evangelização por
ele realizada (I Pe.1:25).
- Pois bem, visto o que é o evangelho, o que é evangelizar e o que é pregar o Evangelho, cumpre-nos analisar
o “enfoque etnocêntrico” da Grande Comissão.
- Já vimos que a Grande Comissão nada mais é que a tarefa que o Senhor Jesus deu à Igreja para pregar o
Evangelho por todo o mundo a toda criatura (Mc.16:15).
- Logo se percebe, portanto, que a ordem é dada para “todo o mundo”, “a toda criatura”. Aqui o Senhor
já nos mostra que seu objetivo é alcançar o mundo inteiro, todas as nações.
- Tanto assim é que a promessa da salvação foi dada já aos primeiros pais, ao primeiro casal, no dia mesmo
da queda, quando o Senhor, solenemente, diz que restauraria a amizade entre Deus e o homem, ou seja, um
propósito universal, que abrangia toda a humanidade (Gn.3:15).
- Esta mesma promessa, de cunho universal, vemos no pacto que o Senhor estabeleceu com Noé, referindo-se
sempre a toda humanidade (Gn.8:21,22).
- Entretanto, tal objeção não tem respaldo, porquanto, após a confusão das línguas, com a rebeldia de todos
contra o Senhor, Deus trata de formar um povo para nele vir o Salvador prometido, mas, no instante mesmo
em que chama Abrão para começar a formação deste povo, mostra que Seu intuito era a salvação de todas as
famílias da Terra (Gn.12:3).
- Esta mesma realidade vemos novamente dita pelo Senhor quando faz a proposta a Israel para que fosse este
Seu povo, fazendo questão de deixar bem claro aos israelitas que toda a terra era Sua e que Israel seria
propriedade peculiar dentre todos os povos, povos estes, porém, que não seriam desprezados por Deus
(Ex.19:5), até porque os israelitas não eram superiores a eles (Dt.7:6,7).
- Israel é chamado para ser um reino sacerdotal e povo santo (Ex.19:6), ou seja, alguém que deveria levar
as demais nações para adorar ao Senhor, mantendo-se separado deles, mas os chamando a servir a Deus. Aliás,
as profecias diziam que este seria o trabalho do Messias, em passagens como Is.11:10-16 e 49:1-6.
- É bem por isso que o episódio inicial da evangelização pela Igreja se dá precisamente no dia de
Pentecostes, onde, embora a porta do Evangelho tenha sido aberta aos judeus, foram alcançados judeus de
todas as partes do mundo (At.2:6-12), e a confusão de línguas, em vez de dispersarem as pessoas, como
aconteceu no episódio da torre de Babel, uniu-as em torno da pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,
com a primeira grande colheita de almas (At.2:37-41).
- A ênfase na divulgação das maravilhas do Senhor na língua de cada um dos que ali estavam era uma
clara indicação divina de que a mensagem do Evangelho era para todos os povos, mas, infelizmente, as
barreiras culturais fariam com que ainda se demorasse a cumprir todo o propósito divino.
- O Senhor, no episódio ocorrido na casa de Cornélio, o centurião romano (At.10), uma vez mais mostraria
aos Seus discípulos que o objetivo era alcançar também os gentios, mas isto também não foi compreendido
pela igreja primitiva em Jerusalém, que continuou, como vimos, sem este enfoque etnocêntrico.
- Se isto ocorreu na igreja primitiva, não deve nos surpreender quando vemos, na atualidade, mesmo diante
do mais longo e mais amplo avivamento da história da Igreja, que é o avivamento pentecostal, esta mesma
falta de visão etnocêntrica da pregação do Evangelho.
- Enquanto as hostes espirituais da maldade se movimentam celeremente para construir o governo mundial do
Anticristo, querendo impor às nações, todas elas, a sua agenda (a chamada “Agenda 2030” da Organização
das Nações Unidas), muitos dos que cristãos se dizem ser não têm esta visão de alcance de todos os povos e
nações.
- O apóstolo João, quando foi arrebatado ao céu, viu um solene culto em que o Senhor Jesus era adorado e
tomava o Seu devido lugar como Aquele que traria sobre a Terra o devido julgamento pela rejeição da Sua
mensagem salvadora.
- Pois bem, Cristo é apresentado como o Cordeiro de Deus e, como tal, como Aquele que comprou com o Seu
sangue para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação (Ap.5:9).
- Jesus veio resgatar a humanidade, Ele é o Salvador de todo o mundo e isto somente se fará uma realidade se
cada um de nós tiver consciência de que temos de trabalhar para que todo o mundo seja alcançado e que não
podemos nos contentar em tão somente evangelizar os que estão à nossa volta, a “nossa aldeia”.
- A adoração ao Senhor somente será perfeita, quando tivermos nos empenhado para dar este enfoque
etnocêntrico a nossa participação na obra de Deus.