a mata, o espaço exuberante na atribuição dos yuhkʉrimahsã
Gabriel Sodré Maia
O tema de Nʉhkʉrĩ, yuhkʉdukawi’i [1], visa, sobretudo aduzir as técnicas remotas,
como foram usadas e são preservadas. Mesmo estando na hodiernidade o povo Tukano usam o método como as frutas do mato que são coletadas, preparadas, processadas, conservadas e consumidas. O texto se dispõe a contribuir, dialogar simetricamente com os conhecimentos tradicionais dos Yepadi’iromahsã, residentes desde outrora do médio rio ahko yĩisa (Papuri). Para construir este texto foi necessário a reminiscência densa. Esta etapa foi a mais fatigante, precisava-se de muita serenidade mental, um espaço silencioso, um revinda de décadas para acionar a memória, mas foi pertinente o uso de baforamento de cigarro, para abrir a mente e o subconsciente. Esta atitude foi realizada para recordar as palavras do Lino Maia-Ahkʉto[2] (in memoriam), quando yãmikãrinʉhkʉ (todas as tardinhas) duhi ukũnayõgʉ (sentado frente a casa) após a janta familiar, ele tinha o habito de contar as kihti ukũse, e bahsamori, isso demonstra que o Lino Maia na sua concepção estava repassando todos os seus conhecimentos tradicionais dos Yepadi’iromahsã adquirido no período da formação dos especialistas, do kumũ. A sua atitude é a metodologia usada de transmitir as nirõkãhse ukũse (falas pertinentes) por isso os conhecimentos continuam vivo, e que agora (século XXI) está sendo escrito pelo seu neto, Ahkʉto[3]. Neste contexto, as yuhkʉdʉhka (frutas) são especificamente para o póose (dabucuri), que acontece na estação de ayã (jararaca). Para os Yepadi’iromahsã a floresta presenteia as frutas do mato, os animais, os pássaros para a caça, além do mais, na floresta existem ervas medicinais, os remédios dos animais, e as pedras preciosas que são as bijuterias dos seres invisíveis, os yuhkʉrimahsã ou nʉhkʉrimahsã (seres da floresta) são os responsáveis da selva. Se as pessoas estiverem na mata para coletar as frutas, e caso alguém se encontrar no estado de vulnerabilidade, isto é, sem proteção, a pessoa está passível de levar surra dos nʉhkʉrimahsã, com seus materiais de ataques, o feixe de waiwãhsori (caniço), que são quatro tipos e que tem na ponta as pedras coloridas buhtika (branca), yĩika (preta), soãka (vermelha), e yasahka (verde), e cada cor contem a potencialidade de promover as dores. Que segundo a Cristiane Lasmar[4], “O baya (mestre de cantos e danças), na hora de dançar, leva esses enfeites. Para o baya eles são enfeites de dança, mas para os waimahsã são armas que causam doenças. Os waimahsã usam caniço de pau, os ʉtãmahsã usam caniço de pedra (LASMAR, 2005 pag. 251)”.
Os afetados, começam a sentir as dores no corpo, na cabeça, a tonteira e
fraqueza no corpo, são esses os sintomas. Se não houver a neutralidade por meio de bahsese, o paciente corre risco de ir a óbito. O elemento fundamental usado pelo bahsegʉ é a yãã (urtiga). Tanto que, para evitar esses ataque, os bʉhkʉrã usam o método de bahsese de wetidarero (proteção) e bohsaro (apaziguamento). O bahsegʉ por meio de compensação de uuro, entrega nas mãos de yuhkʉrimahsã, o mʉrõro (cigarro), o pâatu (pó de ipadu) o pêeru (caxiri) e o kumurõ (banco), recebendo isso os yuhkʉrimahsã encontra-se no comodismo e mui atarefado em consumir, olvidando a presença dos humanos. No relato dos Yepadi’iromahsã, os nʉhkʉrimahsã são os verdadeiros responsáveis da mata tanto das frutas, dos animais, das aves, das ervas naturais e das pedras preciosa. Contudo, na mata há um vigilante renomado pelo animais e o destemido pelo ser humano, o boraro (curupira), auxiliado pelo cancão e bem-ti-vi do mato. Enquanto no rio os peixes são os responsáveis. Os que são considerados de predadores dos peixes, são também os protetores. Nas ʉrʉpʉ (serras) existem animais e pássaros que se procriam nas ʉtãwi’seri (cavernas) nos di’taturʉri (paredões) são os ohsoamahsã (seres morcegos) e ʉrʉtẽroãmahsã (seres galos da serra) siripiamahsã (seres andorinha). O lugar vivenciado desses animais é o espaço da vida, da proteção e da preservação, merece o respeito. Nos lagos, a responsabilidade é dos peixes como huumahsã (seres pacu do lago), yuhkʉboteamahsʉ (seres aracu do lago), buuamahsã (seres tucunaré) yuhkʉyakamahsã (seres cascudo) e eles recebem o apoio dos animais predadores como a diatimimahsã (seres lontra) e diayoamahsã (seres ariranha). O patamar terrestre, só existe porque houve a colaboração dos quatro demiurgos, com a surpervisão do Yepário[5]. Portanto, quando viram que o patamar terrestre estava pronto eles se retiraram definitivamente no ʉmʉse wi’i (patamar superior) onde se encontram para não serem incomodados. De todo modo, os demiurgos mantém diálogo com os quatro Doetihroa, e os Doetihroa se comunicam com os quatro especialistas Yepadi’irmahsã. E os Yepadi’iromahsã por sua vez para se comunicarem precisam do kahpi[6].
Yuhkʉdʉhka: as frutas do mato na atribuição dos yuhkʉrimahsã
As frutas existentes na mata foram cedidas pelo Ʉtãboho O’ãkʉhʉ, ou Bissiu, este demiurgo especialista em toque musical, se sentia solitário e teve a iniciativa de preparar animadores das festas. Bissiu morava no ʉmʉse wi’i (malocas aéreas) e demais moradores eram desmotivados, isto é, yʉsʉari mahsã (pessoas frias). Resolveu descer na plataforma terrestre em busca da novidade, logo no kahsero poewa (Tunui cachoeira, rio Içana), encontrou três meninos animados com disponibilidade invejável. Indagou se eles queriam aprender a tocar os instrumentos musicais, a resposta foi positiva. Motivado com a resposta, resolveu-se fazer dabucuri de frutas. Logo, escolheu cunuri. Adentrando na mata o mesmo subiu no uacuzeira e com uma vara derrubou muitas frutas, e os meninos colocaram o cunuri nas baa (cestas feitas com a folha de yumupũri – palmeira de bacabeira). Mas, um dos meninos sentiu fome, resolveu assar e comeu. Bissiu, ficou com raiva e devorou-lhe os meninos, porém, o mais novo escapou, para contar aos pais o fato ocorrido. As frutas elencadas são as mais prestigiadas no dabucuri de frutas. As bebidas mais consumidas nesse dia são caxiris de arũko ou tusabekeko (de cana), duhtuko (de macoari), yãmuko (de cará), dependendo do tempo o caxiris de serãko ou warapu (de abacaxi), merẽko (de ingá), ʉrẽko (de pupunha), raramente ʉrẽyakeko (de pupunha enterrada) e no yuhkʉduhka póose e de wai póose se consomem o kahpi. Para os velhos os imprescindíveis o mʉroro (cigarro) e no dia especial usam-se o utikaro (cigarrão na forquilha) e o pâatu (pó de coca).
– As frutas coletadas e consumidas.
– merê (ingá). Quando fazem o póose de merê é ofertada em feixe, como também em forma de cacho. A partir do ingá se prepara o merê pêeru (caxiri de ingá). O caxiri de ingá é doce, mas embriaga quando é consumido em excesso. Além disso, para estimular a festa existe um toque de wẽopamari (cariçu, em nheegatu) com melodia e coreografia animadora, que é tocada exclusivamente pelos jovens, e que por meio desse toque os mamapiha (jovens) pedem que as moças da comunidade vizinha ofereçam o caxiri de ingá. O toque desta melodia sempre é feita pelos jovens, porque eles querem conhecer por meio de dança as moças da outra aldeia. Visando isso, a melodia de merêpêeru waya (tragam o caxiri de ingá) é voltada para os jovens iniciantes na vida adulta. O póose de merê acontece no final da estação da garça e no início da estação de Ayã (Jararaca), é nesse yuhkʉdʉhka póose , o líder da comunidade realiza o amoyerinʉmʉ (inicio da vida adulta). Por isso que os recém-especialista consomem a bebida de merê pêeru (caxiri de ingá), por ela ser doce, e tocam a melodia de merêpêeru waya. Nesse dia a jovialidade contagia o ambiente com toque de instrumentos musicais. Ademais, a ocasião promove buscar uma esposa, que por meio da dança o jovem usa a maneira mais simples de conhecer a dama. A linguagem usada é aperto dos dedos pelo rapaz, e se a moça corresponder o interesse do rapaz, a resposta é com outro aperto de dedos. O rapaz precisa ser hábil na linguagem, o próximo passo uma riscada com dedo na palma da mão da moça, se ela retribuir com o mesmo sinal, a resposta é positivo, isso demostra a necessidade do aprofundamento do diálogo entre os jovens. Por outro lado avulta a preocupação das bʉhkʉrã numia (as idosas), com as moças da outra aldeia, que estão prestes a formar a nova família, para isso elas usam o método milenar de provar quem é a mulher que está se disponibilizando a ser membro da família. Esse método é assar o caroço de merê yoase (ingá cipó) para alimentar. Por meio deste ato elas (avós) querem conhecer a personalidade da pessoa, especialmente da moça que busca ser a esposa do seu neto. Se o caroço de ingá assado pela pessoa vier a ter com o gosto de doce, define-se que a pessoa é bondosa, respeitosa, carinhosa, atenciosa com os seus semelhantes. Raramente o caroço assado apresenta com o sabor amargo, isso demostra que a pessoa é insensível. É um método infalível e inquestionável que as velhas praticam para conhecer a pessoa. – kerõ (jatobá), a fruta pode ser encontrada nos dois lugares distintas, uma no quintal que é kerõ pahka (jatobá graúda) a outra na mata a ãhpʉ kerõ (jatobá miúda), com sabores diferentes, a mais saborosa é aquela da mata, por isso é apreciada pelos primatas. O ser humano para se alimentar aguarda que a jatobá venha a amadurecer e na sequência caia, coleta, quebra e se alimenta do que se encontra dentro do caroço com sabor de doce. Para fazer o kerõ póose é necessário ajuntar bastante frutas caídas em diversas localidades tanto na mata, quanto no quintal de casa. O kerõ (jatobá) madura se encontra na estação de Ayã (Jararaca). O jatobá é um elemento fundamental no uso de bahsese para a ferida. O bahsegʉ menciona o jatobá e coloca com seu uuro (poder da fala) o pó em cima da ferida. Como o jatobá contem no caroço um elemento pó e doce com o formato de algodão, este elemento é colocado em cima da ferida com oméro de bahsese porque tem o poder de curativo de sarar e cicatrizar a ferida. O Yepadi’iromahsʉ (õ) mais crente em jatobá, nem pedem o auxilio do bahsegʉ quando se ferem, quebra a fruta e colocam diretamente na ferida, pois confiam copiosamente no poder da cura. Esta atitude de adotar o pó de jatobá para o curativo foi usado no tempo remoto quando não existiam nas aldeias os remédios industrializados, contudo o ato não está descartado, mas prevalece na hodiernidade. – pehya – babaçu. A fruta é encontrada na mata quanto nos campos e apreciada também pelos animais como buu (cutia), bohso (cutiaia) e seme (paca). As frutas são retiradas em cacho pelo ser humano, quebrada uma a uma com terçado no tempo atual, já no tempo remoto era fragmentada com a pedra, porque o caroço é áspero e o alimento consumido se encontra dentro do caroço, ficando saboroso com farinha e beiju de goma quentinho. Algumas pessoas assam para alimentar quente e, além disso, facilita para quebrar ficando menos resistente. Quando fazem o póose são retirados no mesmo dia, porque a maioria das palmeiras de babaçu graúda se encontra nos campos. Para diversificar o alimento as velhas no dia posterior de póose, usam a criatividade quebrando o caroço de pehya, ajuntando um montante de miolos, passam no ralo e em seguida misturam com a goma e fazem o hãũga (beiju), seguidamente distribuem as pessoas da casa e alimentam felizes. – ʉse (cucura). O cacho desta fruta é um dos alimentos pertinente, tanto para ser humano quantos os animais como ahké (macaco), wau (macaco da noite), merẽa’sĩã (macaco zogue zogue) e pássaros, suĩtĩ (pipira), ʉrẽmirĩ (rouxinol), ʉrẽsuĩ (curio azul), pitiri (bem-te-vi) dela (ʉse) se consome assim que retirar do cacho, se faz pêeru, e possui líquido doce. Este líquido é essencial no uso de bahseriko, desde os primeiros pamʉrimahsã usaram o liquido de ʉsé para fazer o bahsese quando as primeiras mulheres que estavam totalmente desmaiadas no momento de parto no diáwi’i, onde nasceram os primeiros seres humanos o Ʉtãboho Õakʉhʉ e Kahperinihi. Na mata podemos encontram o waumutũ (cucura do mato), a diferença desta fruta é o tamanho, a cucura plantada é o maior, porém tem o mesmo sabor. Na ausência de ʉse, o bahsegʉ faz o bahseriko com o líquido de waumutũ. Após o póose as crianças apreciam fartamente das frutas, por elas serem deliciosa e doce.
Frutas coletadas, preparadas, e consumidas.
– puhpiá (ucuqui) coletado no mato no período de verão. O póose de puhpiá acontece na estação de Ayã (Jararaca). O tipo de puhpiá – karẽpuhpia (ucuqui abiu) tem formato redondo e grande com um sabor moderado, – yõsõwipuhpia tem formato oval com sabor excelente, porem quando se alimenta bastante a língua sangra bastante, é bom fazer a manicuera tornando-se um liquido saudável. taropuhpia tem formato de sapinho com as pintas pretas, bem docinho, é a mais consumida e também no uso de póose. Quando as velhas preparam a manicuera o liquido é doce, toda a comunidade se consome na boca da noite e utiliza o tempo para o dialogo das suas labutar particulares. Assim do puhpiá se faz manicuera conhecida como puhpiá yõkã. Os Yepadi’iromahsã usam a criatividade, do caroço prepara o apito. O apto no tempo remoto fazia parte do processo de desenvolvimento do jovem e da habilidade no preparo do apto, caso quebre no momento do preparo demostrava que o jovem esta inapto, precisa de acompanhamento. Na hodiernidade o simples apto sinônimo de economia. Outra atividade pertinente era fabricar artesanalmente a goma a partir da borra, era necessário pegar a massa mastigar lavar com agua e paulatinamente vai formando à goma colante. Da goma colante os velhos colocavam próximo o cacho de bacaba ou de açaí como armadilhas para capturar os pássaros, para o alimento familiar e comunitário. Um dos detalhes a ser repassado inegavelmente aos jovens isto é, nunca sovinar a goma colante, futuramente terá um filho (a) com uma wahparo (marca de nascença) que os velhos chamam do resultado de duhí. – yumu (bacaba) Uma das frutas pertinentes no consumo humano dos animais como as aves. Para alimentar o yumu é preciso subir na palmeira com picuinha para cortar o cacho de bacaba, trabalho reservado ao homem. Após isso colocar na agua morna e esperar para amolecer, seguidamente colocam-se no pilão para socar misturando um pouco de água, passa na peneira e dai se extrai o suco, do suco mistura com farinha vermelha ou com farinha de tapioca, que delicia, e toda família se consome, recentemente o suco de bacaba torna-se o picolé, e o sorvete. Existem três tipos de bacaba – yumupahka (patuá) a coleta é feita no mato, e encontra-se na mata virgem. – yumumahkã (bacaba), muita consumida pelos humanos, tanto que se encontra na capoeira a ou ate nos campos é utilizada no yuhkʉdʉhka póose. yumupehriakã (bacabinha), com o tamanho miúdo que só se encontra na mata virgem. Caso o Yepadi’iromahsʉ vier se sentir a fome, mas se encontra dentro da mata, porem com um pouco de farinha, ele pode ate amolecer bacabinha colocando no canto da boca quanto for necessário, de tanto ser pequena fácil de amolecer e consumir. Da palmeira derrubada pode retirar as pihkorõã buhtirã (larvas da bacabeira), das larvas fazem o iã póose (larvas e insetos), nos meses de Maio e Junho. – mihpĩ (açaí), existe cinco tipos de mihpĩ: mihpĩ yĩise (açai preta), sempre encontrada no quintal da casa, mihpĩ yasase (açaí verde), encontrada no quinta de casa, nʉhkʉkãhse mihpĩ (açaí do mato), deparada na mata virgem, as frutas caídas são alimentadas pelo buu (cutia) e bohso (cutiaia), tahtaboa mihpĩ (açaí do chavascal) apreciada pelos porcos do mato, diakoe mihpĩ (açaí da lagoa) como se encontra no lago é consumido pelos peixes, como huu (pacu da lagoa), botea (aracus). Vendo a presença maciça de peixe o Yepadi’iromahsʉ com sua habilidade e cautelosamente captura os peixes graúdos usando arco e flecha, ou seja, waibʉebase (pesca flechando). Com o mihpĩ fazem também o póose de frutas. Do suco fazem chibé, picolé e sorvete. – neé (buriti), uma das frutas comestíveis tanto do ser humano e também dos animais como a semé (paca), a buu (cutia), o nʉhkʉkʉ yese (porco do mato). Enquanto os animais se alimentam da fruta, o Yepadi’iromahsʉ faz a sua caça para o alimento familiar e comunitário. Existe momento oportuno para caçá-la, ou na boca da noite ou na madrugada a partir do primeiro canto de inambu. Ouvindo o canto do pássaro inambu, o Yepadi’iromahsʉ se dirige ao local a espera da caça, e o caçador deve estar ante da passagem da caça. O neé faz parte do póose, por ela ser mais atrativo e assecivel para a retirada e por ela ser gostoso de consumir, tanto no suco como é consumido com o pooka pʉose (chibé), já na modernidade torna-se picolé e creme de sorvete para minimizar do calor amazônico. O pé de buritizeiro é fundamental no uso de alguma coisa. Uma dela serve como o local de proliferação de pihkorõã soarã (larvas avermelhadas), estas larvas servem para o iã póose (dabucuri de larvas e insetos). O iã póose acontece na estação de yãmiã, contudo primordialmente é indispensável derrubar a buritizeira, abrir pequeno buraco, e aguardar o essencial, a chegada do dotõʉ (besouro) e pôr os ovos. Por isso a presença do besouro é fundamental. Se o besouro não pousar no buritizeiro derrubado e não por ovos nos buracos, o trabalho foi perdido, e não haverá iã póose na aldeia. – toá (uirapixuna) frutas pretinhas encontrado no mato tanto na capoeira. Para se alimentar é necessário buscar no mato, subir na fruteira e com a ajuda de uma vara derrubar as frutas, para a pessoa debaixo recolher e colocar na pi’í (aturá), subir na fruteira é o trabalho do homem. Depois colocar na água morna, assim que as frutinhas chegarem ao ponto de alimentar, toda população de uma comunidade se alimenta, às vezes é feito o toakoó (suco de uirapixuna). Também existe brincadeira com o caroço, conhecido como toa sirãpese[7] (brincar de lançar/lançamento/arremesso de caroços escorregadios (resina, óleo, baba) de uirapixuna com a pressão dos dedos. É um alimento prediletos das aves como, dahsé (tucano), ãrũrõ (araçari), kaĩã (periquitos) e wehkoá (papagaios). Se a pessoa está com ânsia de alimentar pode ate amolecer esta fruta colocando no canto da boca o quanto ele quiser. O tempo de amadurecimento dessas frutas se encontra na estação do Yehe (garça), ou seja, o início do verão no conhecimento dos Yepadi’iromahsã. Os velhos Yepadi’iromahsã quando deparam bastante frutas no pé de uirapixuna, acreditam que haverá um verão prolongado, vendo isso planejam o trabalho posteriores como o roçado e entre outras.
Frutas coletadas, preparadas, processada e consumidas.
– simiõ (uacu). Existem dois tipos de uacu – momorõ símiõ (uacu borboleta) é a mais consumida pelos Yepadi’iromahsã e também usada no póose. Para coletar essa fruta precisa-se a participação de toda a família, porque o uacu cai em locais afastados do pé de simiõgʉ (uacuzeiro). O simiõgʉ é uma árvore resistente e duro para ser derrubada. Esta fruta (momorõsímiõ ) é a menos amarga. Enquanto o outro tipo é a biaporã simiõ (uacu formiga), esta é o mais amargo. Essa fruta dá trabalho para se alimentar. Primeiro ir na mata e coletar as frutas encher nas pi’iseri (aturás), após isso cozinhar bem, em seguida coloca no simiõpi’i (aturá de uacu) cobrem com as folhas de miõpũrĩ tecem com cipó a boca de aturá e colocam na agua por um tempo ate que as amargas de uacu desapareça, tornando-se doce ou azeda, mas sendo deliciosas, dai as velhas se retiram para se alimentar, ou misturam com a manicuera e oferecem a seus familiares, e todos consomem na maior alegria. Outra forma de consumir é assando, porém a pessoa deve aguentar o amargo da fruta. –ba’ti (japura). Extremamente usada no yuhkʉdʉhka póose (dabucuri). Há dois tipos diá ba’ti (japurá) coletada no igarapé, e quando caem na água muito consumida pelos peixes, inclusive os botea itiape yĩiro tigʉ (aracus de três pintas) é a mais graúda dos aracus, húu (pacu do lago), e para o Yepadi’iromahsʉ o ba’ti se torna isca. Da mesma forma existe o ba’ti pahka (japura graúda) coletada no mato. Se a pessoa quiser se alimentar do ba’ti terá muito trabalho como coletar no igarapé ou no mato. Seguidamente cozinhar, e após isso colocar no kaisarĩro, um pequeno tubo feita com as talas de zarabatana, forrando com as folhas de bʉhpʉapurĩ (sororoca) em seguida colocam no buraco por um tempo adequado de três ou quatro meses. Contudo há um detalhe a serem evitados as desgraças ou desentendimento posteriores no momento de enterrar o kaisãrirõ. 1) Não discutir no momento de enterrar, pois quando retirado e misturado na comida sentirá o amargo. 2) Não urinar logo após o enterro, consequentemente no ato de desenterrar sentirá odor desagradável isto é fétido da urina. 3) Não fazer o traque, na hora de desenterro sentirá o odor desagradável. Assim sendo, para enterrar o kaisarĩro de japurá é necessário o betise. Se não aplicar o betise de forma correta o trabalho será perdido, tanto como o alimento. As velhas para variar do cardápio cotidiana, desenterram o japurá retiram o suficiente socam no pilão para temperar o peixe, o cozido de aracu fica um prato irresistível para alimentar. – wãmʉ (umari). Uma das frutas muito apreciado pelo ser humano, como também pelos animais e encontrada na maior parte nas capoeiras. Existem três tipos, wamʉ ma’rã (umari roxa), waimahsã wamʉ (umari de seres invisíveis), mahkã wamʉ (umari do sitio). Para consumir é preciso coletar as frutas caídas, pode-se comer o que se encontra por cima, com beiju, farinha, fazer o suco misturar com farinha (chibé), o suco poder ser colocado na panela de peixe como tempero, dando o gosto inigualável, um prato de pacu com o cheiro de umari um pouco de pimenta é irresistível para alimentar. Outro meio de preparar para alimentar é sobre o caroço, após ser consumido, os caroços são colocados no wamʉdʉhka (tubo feito com talas de zarabatana) na água, ou no lugar onde possa ficar por um período adequado, ate que o miolo do caroço se amoleça. As esposas dos Yepadi’iromahsã, vendo que está na hora de retirar os caroços amolecidos da wamʉdʉhka retira o miolo do caroço amolecido e prepara para o marapatá usando goma de tapioca como ingrediente complementar, ou beiju de umari, também conhecido como wamʉhãũga. No primeiro momento elas retirando o miolo amolecido com colher, colocando numa vasilha, passam no ralo, e a massa colocam no tipiti para espremer, em seguida deixa encima da peneira e peneiram, mistura com a goma, na sequência coloca um porção encima da folha de bananeira com um formato desejado (quadrado, redondo, oval) de espessura variado, põe no forno bem quente e pouco a pouco vira de um lado e de outro, no ponto certo retira do forno, convida os familiares e servem, alimentar o marapatá bem quentinho, coisa extraordinário. Com essa fruta nada se perde, tudo é consumido, só o caroço áspero é jogado. Do umari fazem wamʉkai (papa de umari) elemento cozido, mas para ficar mais apetitoso pode ser colocado peixe na panela de preferência o aracu , e alimenta-se pouco a pouca com o hãũ (beiju). – ʉrẽ (pupunha). Uma fruta muito usada no yuhkʉdʉhka póose. Porém originou- se no submundo, e era uma das frutas predileta que a cobra grande usava para fazer o seu pêeru (caxiri), para as festas familiar. A palmeira de pupunha pode ser plantada na roça, e dar uma boa limpeza, por questão de segurança, isto é, no pé da palmeira local adequado da presença da jararaca, e para manter a pupunheira bem carregada no período da fruta a limpeza é fundamental. Desde princípio a pupunha estava no domínio da cobra grande no submundo. Em tempo antigo, um homem (Dehsubari Oãkʉhʉ) herói místico raptou a filha da cobra grande para ter como esposa. Como de praxe, um belo dia a esposa convidou o marido para visitar o pai dela, e o marido meio perplexo aceitou o convite. Estando no submundo, na casa do sogro descobriu que ele (sogro) tinha a fruta pupunha. A cobra gigante (sogro) do submundo, “Num belo dia, quis oferecer uma festa com vinho de pupunha ao seu genro e pediu para as suas filhas e esposa preparassem a bebida, para dar as boas vindas ao seu genro. Dehsubari Oãkʉhʉ ficou muito interessado na semente da pupunha e queria roubá-la, mas as mulheres tinham bastante cuidado para não perder nenhum caroço, sabendo da intenção do herói. Porém, com o uso de bahsese de descuido ou de vacilo, ele fez com que duas sementes chegassem até ele no momento em que a esposa despolpava a fruta. Vendo que alguma coisa saiu de errado, as mulheres perceberam e puseram-se a investigar, reviram todos os pertences e o corpo do herói, mas ele havia engolido as sementes. Depois de algum tempo, tendo recolhido as sementes das fezes, combinou com seu primo calango[8] para que pudesse retirar as sementes e a plantasse no quintal de sua casa. O herói retornou da viagem quando a pupunha já estava madura e pôs-se fazer festa de vinho de pupunha como aprendera com seu sogro”. ( OMERÕ[9], pag. 38). Dehsubari–oãku resolveu roubar e conseguiu, trouxe a semente nesse patamar e cultivou, como o roubo foi feito as pressas, a fruta pupunha veio com certas doenças, e a doença está alocada no hilo da fruta. Como o hilo é perigoso, as senhoras dos Yepadi’iromahsã no ato do cozimento retiram o hilo. Uma das doenças oriunda do hilo, aparece quando a menina está na sua primeira menstruação, sentindo-se as dores na parte íntima. Fazer o bahsese só minimiza as dores, portanto, é necessário o trabalho de yai com ahko sihtase (aspersão da água). Os animais que consomem a pupunha madura é a buu (cutia), bohso (cutiaia) e yehseburu (porco do mato) no período diurno, enquanto a noite é alimentada pela seme (paca), oá (mucura) e biá (ratos). Também apreciada pelos pássaros yeoro, kaiã (periquitos) e ʉrẽmiriã (rouxinóis), ʉrẽsuiã (rouxinóis azuis) . Os animais alimentando essa fruta fazem o papel de (re)plantadores, quando eles carregam as frutas para se alimentar, às vezes caem e nem comem e a fruta vai se brotando e formando outra palmeira. O Yepadi’iromahsʉ alimenta a pupunha de várias formas. O período da pupunha é longa, começa desde do mês de agosto com o florimento até em fevereiro quando se retiraram o último cacho. Mas o cacho é retirado desde o mês de novembro a fevereiro. Para os Yepadi’iromahsã o florimento nas pupunheira é uma alerta, isto é, no rio começa a surgir os cardumes de peixes para o início da piracema e também, conhecido como yẽkoese. Esse é o tempo do início da piracema dos peixes como aracu, mas a piracema é fraca. Os conhecedores afirmam que os peixes estão limpando o futuro local de grande piracema, já na época do Pamô (Tatu) (MAIA, pg.52) . Tanto que é, o início da viagem dos waimahsã para visitarem os seus locais de festa (waitũrisewi’iseri) nas corredeiras, nas cabeceiras dos igarapés, e dos lagos. Como é reconhecido esta subida dos waimahsã? É reconhecido por meio de bioindicador, quando se ouve na boca da noite o som de tãĩ, tãĩ, tãĩ, não há como afirmar o formato desse inseto, será um yiro (grilo?), uma yoasõ (lagartixa?) um mirĩkʉhʉ (pássaro?) Um inseto voador, tipo kero (vagalume?) porque quando a pessoa se caminha na sua direção, desaparece, só podemos ouvir o som, mas, como faz parte dos waimahsã também é invisível. O som de tãĩ tãĩ tãĩ, alerta ao ser humano que naquele espaço estão os waimahsã de passagem, contudo, se sentem invadidos capaz de atacar a pessoa em vulnerabilidade. O bahsegʉ prontamente entra em ação para fazer o bahsese de wetidarero (proteção), e de bohsaro (apaziguamento). Por isso que os velhos recomendam aos casais não terem filhos no incio de verão. O Yepadi’iromahsʉ consome a fruta de pupunha cozida e, além disso, fatiado serve de isca para pescar botea (aracu), wasʉsuʉ (aracu vermelho) e ikiʉ (mandi). A ʉrẽsitiri (borra de pupunha) serve para colocar como isca nas brechas das pedras para atrair o nimatʉ (acara peba), wãrĩtihro (acara trovão), botea (aracu), wasusuarã (aracu vermelho), buú (tucunaré) entre outras, e o instrumento para apanhar o peixe usa-se o wẽhkʉ suakʉ pahikʉ (puçá grande), conhecido como waitoose. A farinha de pupunha uma delicia, de modo recente na era da geladeira fazem o picolé e sorvete. Para conservar a pupunha com criatividade o Yepad’iromahsʉ constrói pequenos kaisãrirõ (formato de um tubo feito de talas de zarabatana) forrando com as folhas de miõpũrĩ[10], colocando dentro do kaisãrirõ, as pupunhas cozidas é enterrada no buraco. Após três ou quatro meses, o Yepadi’iromahsʉ retira e prepara o caxiri com caldo de cana conhecido como ʉrẽyakeko (caxiri de pupunha enterrado) consumida nos meses de maio e junho. Como foi preparado com caldo de cana, o pêeru é forte. Os Yepadi’iromahsã consomem mais a ʉrẽsoãse (pupunha vermelha que são graúdas) e bohpa (pupunha amarela, que fazem o caxiri no dia de tinguijamento comunitário, porque a fermentação é fraca). –wahpʉ (cunuri). Muito usado no póose de frutas, como também é uma das frutas escolhida pelo ɄtãbohoOãkʉhʉ como símbolo de fertilidade, porque ela possui excesso de leite quando ralado. Para realizar o yuhkʉdʉhka póose (frutas) o Yepadi’iromahsʉ com a família adentram no mato para recolher as frutas, porque as frutas podem ser encontradas muito distantes do wahpʉdʉhkagʉ (cunurizeiro), ela cai por meio de pahtise (espocamento) e o caroço vai longe. É a fruta predileta da cutia, da cutiaia, e do porco do mato como também dos aracus, dos pacus do lago. Para alimentar precisa coletar, cozinhar, preparar wahpʉpi’i (aturá de cunuri), ou wahpʉpi’iseri quanto for necessário, deixar na água por um período ate que os caroços se amoleçam. As velhas se retiram para alimentar a família. E os caroços amolecidos são misturadas na manicuera, ficando a tardinha bem animada deixando a conversa do dia empolgante e aproveitam para o jantar. Outra meio de alimentar é assando, ou fazem também sopa de cunuri, e pode colocar peixe como botea (aracu) doe (traíra), detalhe sem o sal, com o sal o alimento fica doce.
Gabriel Sodré Maia-Ahkʉto
Mestre e Doutorando em Antropologia Social/UFAM. Pertencente do Colegiado Indígena do PPGAS/UFAM Pesquisador do Núcleo do Estudo da Amazõnia Indígena/NEAI Bolsista do CAPES/MEC
[1]. Seres invisíveis da floresta.
[2] Ahkʉto, meu avô [3] Ahkʉto, Eu, (Antropólogo Indígena) [4] Doutora em Antropologia pelo programa de pos graduação em Antropologia Social no Museu Nacional-UFRJ [5]. Primeira mulher, criada por ela mesma. [6]. Bebida dos velhos e dos especialistas é forte e alucinógena. [7] A expressão “toásirãpese” em Yepadi’iromahsã (língua tukano) significa literalmente “brincar de masturbar o caroço de uirapixuna”, mas na sua expressão oral coloquial significa = brincar de lançar caroços escorregadios de uirapixuna com a pressão dos dedos) [8] Por isso que o yoasõ (calango) tem o hábito de remover as fezes, assim cava um buraco na terra e se esconde para se alimentar posteriormente. [9] Omerõ, livro elaborado pela equipe de pesquisadores do Núcleo do Estudo da Amazonia Indigena-NEAI. Do programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFAM. O significado literal é, a força que emana da “porta da boca” do especialista na sua ação sobre as coisas e o mundo, e na sua comunicação com as pessoas humanas e não humanas. [10] Uma folha específica e resistente para forrar, podendo ficar até seis meses debaixo da terra, mas não apodrece.