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APRESENTAÇÃO

DE APOIO

MÚSICA E SAÚDE INTEGRATIVA


Professores
CRISTIANE FERRAZ PRADE LAURA FRANCH SCHMIDT DA SILVA
Professora Convidada Professora PUCRS

Graduada em psicologia pela Universidade Mackenzie. Mestre Possui graduação em Licenciatura em Música pela
em musicoterapia pela Universidade de Nova York. Realizou curso de Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1979), mestrado em
aprimoramento em Intervenções em Luto pelo Instituto 4Estações. Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1991) e
Co-fundadora da Casa do Cuidar. Atuou em grandes hospitais como: doutorado em Teologia pelo Instituto Ecumênico de Pós
Beth Israel e Mount Sinai, em Nova York, Beneficência Portuguesa, Graduacão (1999). Implantou e consolidou o Bacharelado em
Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital Sírio Libanês em São Musicoterapia do Instituto Superior de Música de São Leopoldo.
Paulo. Atendia em consultório e em domicílio pacientes e familiares Atualmente é coordenadora e professora titular da Licenciatura
na cidade de São Paulo. Sócia-fundadora da Associação Casa do em Música, Faculdades EST.
Cuidar, Prática e Ensino em Cuidados Paliativos. Atualmente é vice-
presidente da instituição e reside na Inglaterra, onde trabalha para o
Royal Trinity Hospice, coordena o curso básico multiprofissional a
distância da Casa do Cuidar e explora novas formas de expandir a
filosofia de cuidados paliativos através do projeto Vital Kompass.
Ementa da disciplina
História da música na sociedade. Fundamentos em musicoterapia. Cérebro,
comportamento e desenvolvimento sonoro-musical. Música e neurociências. Psicologia da
música. Música e imunogênese. Musicoterapia e reabilitação. Musicoterapia e políticas
públicas. Musicoterapia e saúde. Experiências em musicoterapia e intervenções sonoro-
musicais. Procedimentos e técnicas musicoterapêuticas. Pesquisas e evidências em
musicoterapia.
História da música na sociedade

sobrevivência pertencimento ritos


vivência

educação entretenimento business


religião
“No começo era o verbo” , Bíblia
“Om ou Aum, o som primordial. O Om representa a divindade da criação, Brahma.”,
A foto de um som na placa de metal

Placa de metal com areia


vibrando em frequência de 8200
Hz. Experiência de Hans Jenny
em 1960.

2
Som = onda mecânica
Há um milhão de anos atrás, os Neandertais tinham uma anatomia vocal pronta pra ca

Sons, ruídos, timbres, melodias, ritmos e tonalidades da natureza

The story of music is the story of humans: Where did music come from? Recent article discusses how mus
June 20, 2017, Frontiers
Somos corpos vibrantes, sonoros, pulsantes
E buscamos por conexão e sentido.
Há evidencia de que seres
humanos faziam música batendo
em estalactites ou Gongos de
pedra, dentro das cavernas, há 12
mil anos atrás.
A caverna oferecia uma acústica
favorável pro som ressoar.

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June 20, 2017, Frontiers
O que é música?
Sons que carregam emoções.

Jeremy Montagu, University of Oxford


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O poder da voz e do canto no processo de
elaboração do sofrimento humano
Vibração, voz, palavra

✤ Humming

✤ Melodia

✤ Mensagem da palavra
✤ Conexão com a
espiritualidade

✤ mantra

✤ oração

✤ canção

01
“A teoria do mantra consiste de uma palavra que
nasce dos abismos escondidos do nosso ser, onde
foi nutrida por uma consciência profunda e
finalmente emerge silenciosamente ou falada alto
para propósito da criação. O mantra cria em nós
novos estados internos subjetivos ou modifica a
nossa psiquê, revelando sabedoria e faculdades
que desconhecíamos até então. Assim o faz em
outras pessoas também…O uso Védico do mantra
é nada mais do que o uso consciente do poder
encoberto da Palavra.”
–Sri Aurobindo, em Being Still, de Jean Yves Leloup
(traduçao livre)
✤ onde vibra?
✤ como é o fluxo?
✤ volume?
✤ tensão no corpo?
✤ Sugestões para quem quiser explorar
mais…

✤ Laurel Elizabeth Keyes - Toning

✤ Silvia Nakkach - xamanic singing


Sons e instrumentos musicais

Desejo de criar sons


Mimicar os sons da natureza
Criar estados alterados de consciência

Água….barulhinho da chuva…de olhos fechados


Criar técnicas
Dominar o instrumento
Criar códigos musicais
Performar

música erudita…de olhos fechados


Há registro arqueológicos de descobertas de
instrumentos musicais de 35,000 anos atrás.
15

Ser Sonoro, podcast UOL


16
Cérebro, comportamento e desenvolvimento
sonoro-musical
Relação mãe e bebê se inicia na gestação, na
experiência corporal.

Na semana 10 o feto apresenta o desenvolvimento


das orelhas, e na semana 16 as orelhas estão
praticamente prontas.

A partir da semana 20, o feto tem as estruturas de


ouvido e orelha formadas, e a função neurosensorial
se desenvolve após a semana 20. A partir daí o feto
começa a reagir a sons.

No 5º e 6º mês há o desenvolvimento do sistema


auditivo. E na semana 25 à 28 a escuta do bebê está
totalmente formada.

O feto então escuta os sons do corpo da mãe e


responde aos sons externos, com alteração de pulso e
se movimentando dentro do útero em resposta a
estímulos sonoros.
A percepção auditiva, no sistema nervoso central,
é efetuada no lobo temporal, ao nível das áreas
auditivas, primária e secundária. A parte posterior
da área auditiva primária recepciona os sons de
alta frequência e a parte anterior os sons de baixa
frequência. A área auditiva secundária recebe
impulsos da área primária e do tálamo,
considerando-se que esta é necessária para a
interpretação dos sons e para a
associação dos estímulos sonoros com outra
informação sensorial (Snell 2006).

A audição da música é, primeiramente,


recepcionada nas estruturas subcorticais, no
núcleo coclear, no tronco encefálico e no cerebelo,
ascendendo, posteriormente, às áreas auditivas,
em ambos os hemisférios cerebrais.
Para acompanhar a música, o cérebro activa
regiões no hipocampo (centro de memória) para
tentar reconhecê-la, o córtex sensorial e o córtex
frontal, principalmente na região mais inferior.
Para acompanhar os tempos da música, são
utilizados circuitos temporizadores do cerebelo.

(Levitin 2006).
Música é uma parte íntima da psique e da forma humana.
Tem sido dito que a música é universal, sendo encontrada em todas as culturas
partilhadas por seres humanos.
(Darwin,1871)

Tal como a competência da linguagem, há também uma competência musical


inconsciente que é automaticamente adquirida a partir da exposição aos estímulos.
(Miller, 2000)

Características estruturais da música, como intervalo de timbre, e contorno do


intervalo, são automaticamente decodificados pelos indivíduos, o que sugere que a
arquitetura funcional do nosso cérebro tem sido adaptada para processar estímulos
musicais e seres humanos encontraram na música uma parceira íntima na vida.
(Trainor et al.,2002 Peretz et al.,2001)

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Darwin,C.(1871). The Descent of Man and Selection in Relation to Sex.

Miller,G.(2000).“Evolution of human music through sexual selection,” in The Origins of Music,


Croom, A..(2011).“Music, neuroscience and the psychology of well being: a précis”, in Frontiers in Psychology
23
Even Ruud

24
Even Ruud
1
“Se eu não fosse um físico, provavelmente
Música e neurociências seria um músico. Frequentemente penso
de jeitos musicais. Vivo sonhando
acordado com música. Vejo minha vida
em termos musicais.”

Albert Einstein, 1929.


Por quê a música como elemento
terapêutico?

A música estrutura o tempo

O ritmo é um elemento organizador

A melodia é um elemento que nos


conecta com as emoções.

A harmonia é um elemento de
equilíbrio

Se comunica sem palavras


Que músicas falam por você...

Trilha sonora da sua vida...

4
5
Obrigada!
crisferrazprade@gmail.com
cristiane@casadocuidar.org.b
r
7
Permissão para a criatividade
• Para Ghiselin (1952), "é o
processo de mudança, de
desenvolvimento, de evolução na
organização da vida subjetiva".
• "criatividade é o processo de
tornar-se sensível a problemas,
...identificar a dificuldade, buscar
soluções.(Torrance, 1965)
Música que carrega e a música que
descarrega

Louis Gallait - Power of Music


Música como recurso de saúde
Coping
Esforços despendidos pelos
indivíduos para lidar com situações
estressantes, crônicas ou agudas.
Resiliência
Capacidade de voltar ao estado
natural (termo oriundo do latim),
principalmente após alguma
situação crítica e fora do comum.
Criatividade no processo de
enfrentamento
• Tempo de cuidado e conforto
• Tempo de silêncio
• A música que pode cuidar, oferecer espaço seguro
para lamentação, encorajar, alimentar esperança.

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“Adeus, vou pra não voltar e onde quer que eu vá
Sei que vou sozinho…”
Edu Lobo

“…São as águas de março fechando o


verão
É a promessa de vida no seu coração…”

Tom Jobim
Fundamentos em musicoterapia:
Definição, história, desenvolvimento da área
As sementes da musicoterapia…
O interesse em utilizar a música e
suas propriedades no contexto de
saúde surge a partir da II Guerra • Pesquisadores da Duke University Hospital
constataram que o uso de certas músicas e
Mundial. elementos musicais podia:
Veteranos de guerra • aumentar a sensação de conforto
hospitalizados que participavam • reduzir o medo
de atividades musicais no hospital • reduzir a necessidade de sedação para
aparentavam menos desconforto cirurgia
e se recuperavam mais
rapidamente
(Taylor,
16 1981)
Uma definição…
A Musicoterapia é uma modalidade
terapêutica que se utiliza da música e/ou seus
elementos (som, ritmo, melodia, harmonia)
com cliente ou grupo para promover
comunicação e expressão, desenvolvimento e
restabelecimento de potenciais e funções do
indivíduo, visando melhor qualidade de vida,
pela prevenção, tratamento e ou reabilitação.
Outra definição…

Musicoterapia é o uso intencional da música e suas experiências, por um profissional da área,


visando enriquecer a experiência da vida humana; aliviar sofrimento, aprimorar aspectos físicos,
cognitivos, emocionais e sociais; promover processos de desenvolvimento e empoderamento
pessoal. Musicoterapeutas trabalham com clientes que apresentam diferentes condições de saúde,
e eles trabalham em sessões individuais, grupos e também nos contextos de trabalho em
comunidade.
Definição mais recente (2014)
“Musicoterapia é um processo reflexivo
onde o terapeuta ajuda o cliente a
otimizar sua saúde, se utilizando de várias
facetas da experiência musicoterapêutica,
bem como as relações formadas no
processo terapêutico de forma a alavancar
mudanças. Como definido aqui,
musicoterapia é o componente da prática
profissional da disciplina que se dá através
de teoria e pesquisa.”

Defining Music Therapy, de Kenneth Bruscia


• Musicoterapia ativa • Medical music
• Musicoterapia therapy
receptiva • Music
psychotherapy
• Medicine music
Experiências em musicoterapia e intervenções
sonoro-musicais
Kenneth Bruscia
divide as experiências
musicais no contexto
terapêutico em 4
métodos:
• improvisação,
• re-criação,
• composição,
• escuta musical.

01
✤ Julio (nome e dados de identificação alterados)!
✤ arquiteto! Favorecer expressão e elaboração de sentimentos
elaboração de luto antecipatório
✤ 27 anos! e promoção de sentido de vida
✤ glioblastoma (primeiros sintomas, visão dupla)!
“Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
✤ Re-criação! Levará você de mim
Eu sei e você sabe
✤ Vida louca vida (Cazuza) Roda Viva (Chico Que a distância não existe
Buarque), Eu não existo sem você (Tom Jobim), ! Que todo grande amor
Só é bem grande se for simples
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você…”
!
Tom Jobim e Elizeth Cardoso
“…E a vida !
Ela é maravilha ou é Você diz que é luta e
sofrimento? prazer
Ela é alegria ou Ele diz que a vida é
lamento? viver
O que é? O que é, meu Ela diz que melhor é
irmão? morrer
! Pois amada não é e o
Há quem fale que a vida verbo é sofrer
da gente !
É um nada no mundo Eu só sei que confio na
É uma gota, é um tempo moça
Que nem dá um segundo E na moça eu ponho a
! força da fé
Há quem fale que é um Somos nós que fazemos
divino a vida
Mistério profundo Como der, ou puder, ou
É o sopro do criador quiser
Numa atitude repleta de !
amor Sempre desejada
!

“O poder da música é marcante


porque favorece um movimento
anteriormente impossível.”
!
Oliver Sacks
A canção contém e expressa a emoção ao mesmo tempo.
Não cobra respostas.
!
É um continente que oferece limites e estruturas tão necessárias
em momentos de sofrimento e desorganização interna e externa.
Composição e gravação
Favorecer melhor enfrentamento, promover auto-estima
melhora do humor
e promoção de sentido de vida

“Você pode contar que me salvou de um túnel da depressão. Foram 5 períodos de


internação , . … No segundo eu tava ficando muito irritada e me convenceram de
que era uma depressão, comecei a tomar remédios. Quis parar depois… tive uma
alergia e tiraram todos os remédios possíveis, inclusive este.
Na quarta internação, numa madrugada cheia de sono eu bati boca com uma
enfermeira. e no dia seguinte eu estava arrasada. Uma enfermeira me sugeriu fazer
Nícia Guerriero-fotógrafa
musicoterapia. E … abriu um horizonte infinito de criação. Mesmo hoje, passados 10
anos da internação, me sinto muito orgulhosa de ter minhas músicas.
…Lembro várias coisas…Cantávamos e conversávamos bastante…No fim de uma
sessão, você sugeriu que eu compusesse uma música e eu fui compondo lentamente
a letra…depois gravamos um CD.
Na internação seguinte, que seria a última, mas perigava não ser, eu tinha um
propósito: fazer a “música da cura”. Eu queria muito superar. E você sabia uma
música do Chico Buarque, que eu desconhecia, de superação (Já Passou)…e as
semanas passando e eu sem idéia…, até que aconteceu de eu acordar no meio da
noite com uma luz estranha da janela, que só fui descobrir que era a lua na noite
seguinte quando ela me acordou de novo…E aí me veio a frase “a lua me chama por
detrás da persiana” e eu pensei que se tudo desse certo eu poderia ver a próxima
lua cheia ao ar livre e comecei então a fazer a “Célula Lelé” e foi amanhecendo um
dia lindo.

depoimento 10 anos depois do fim do tratamento


Faixa 2 2:45 Álbum Desconhecido (6/9/2014 13:04:49) 0
Patients randomized to music therapy received!
live music therapy from trained music therapists in!
their rooms. All study therapists were experienced!
music therapists who had worked on the bone marrow!
transplant unit before treating their first study patient.!
Music therapy sessions were individualized. Music!
therapists are trained to discuss music preferences!
and clinical problems with patients and to determine!
appropriate content for a music therapy session. For!
example, listening passively to assist relaxation might!
be optimal for a patient experiencing pain, whereas a!
particularly anxious patient might be encouraged to!
take a more active role in creating music, such as!
improvising lyrics to a song. Sessions typically lasted!
20–30 minutes. The frequency of sessions was determined!
by the music therapist according to clinical!
need. After each music therapy session, the therapist!
discussed with the patient the timing of the next visit,!
taking into account issues such as the patient’s mood,!
mental status, severity of physical symptoms, and!
2724 CANCER December 15, 2003 / Volume 98 / Number 12!
coping skills. Patients in the control arm received!
standard care. Control subjects could listen to music if!
they so chose, but were not visited by a music therapist!
and received no structured music therapy intervention.!
Outcome was assessed using the short form of the!
Profile of Mood States (POMS). The POMS, a widely!
used quality of life measure with good psychometric!
properties,15,16 is a self-administered instrument comprised!
of 65 adjective rating scales that assess transient!
mood states.
Music therapy led to immediate improvements in!
mood (Table 3; the outlier is omitted from reported!
means but not from analyses). Immediately after a!
single session of treatment, combined Anxiety/Depression!
scores declined by approximately 45% (from!
4.1 to 2.2) in the music therapy group compared with!
20% (from 3.5 to 2.9) in the control group (P 0.005!
for the difference between groups). The total mood!
disturbance score improved by two-thirds (from 13.4!
to 4.4) in the music therapy group compared with 10%!
in the control group.!
Music therapy can be recommended!
as a psychosocial intervention to reduce!
mood disturbance in patients undergoing HDT/ASCT.

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