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Desde que Charlie fez a cirurgia, andava se sentindo muito triste, pois havia percebido que todos os seus

“amigos”, na verdade eram pessoas que o sacaneavam e ficavam ofendendo-o apenas para serem
engraçados.
Charlie se revoltou com as pessoas, até mesmo as que realmente eram generosas à ele, e não confiava
em mais ninguém. Tornou-se alguém que não era de se admirar, desconfiou de tudo e todos, distanciou-se
de seus amigos e conhecidos, e acabou perdendo as esperanças que um dia teve de que o mundo poderia
ser um lugar bom para se viver.
Decidiu então, começar a procurar os motivos dos sentimentos se comportarem assim. Não chegou a
descobrir muitas coisas no início de suas pesquisas, mas conseguiu criar boas hipóteses sobre o porquê de
as pessoas dizerem coisas ofensivas às outras mesmo sabendo que é ruim, que chamou muito sua atenção,
já que viu que as pessoas diriam coisas ruins ao se sentirem ou ameaçadas intelectualmente por essa
pessoa, ou por quererem ofender essa pessoa e fazer os outros rirem através desse xingamento. Concluiu
que a primeira opção não seria, então essas pessoas só queriam o ofender sem motivo algum.
Isso o afetou profundamente, dado que metade de sua vida havia sido uma ideia completamente errada
sobre as outras pessoas e o mundo.
Charlie, muito magoado, resolveu confrontar as pessoas da padaria, o lugar onde passou maior parte de
sua vida, onde pensou que era tratado bem, mas que, no fim, era só mais um lugar onde já foi ofendido.
Chegando à padaria, foi falar com seu antigo chefe, senhor Donner:
- Senhor Donner, por que você deixou eles me tratarem tão mal por tanto tempo e nunca fez nada para
isso acabar?
- Do que você está falando?
- Apenas me responda.
- Você não era o único empregado aqui, eu precisava ter certeza de que todos estavam felizes... e parecia
que você não se importava com isso.
- Eu não me importava com isso ( , ) porque nunca percebi que estavam tirando sarro de mim. Onde estava
você para me defender quando eu não era capaz?
- Nunca pensei que você precisasse de ajuda, já que entrava na brincadeira deles...
- Admite, você sabia que eu não entendia que estavam me sacaneando e nunca pensou em me defender!
Você usa esses argumentos para esconder a sua culpa e não ter parte no sofrimento que tive, mas tudo
que aconteceu comigo dentro dessa padaria é culpa sua!
- Mas Charli-
- Não me interrompa! Já ouvi vocês falarem por anos e agora é a minha hora de falar! Eu estou cansado
desse lugar e de vocês. Desde que fiz a cirurgia percebi como os seus comportamentos mudaram,
começaram a me tratar bem, porém eu sei que é tudo falsidade. Não confio mais em vocês e sei que tudo
que dizem para mim é mentira!
- Eu sei que você não acreditará, mas eu sempre quis o seu bem, quanto mais eu falasse para eles pararem
de te ofender, mais eles fariam isso.
Charlie sai da padaria furioso e vai direto para o laboratório, no qual não ia há tempos.
Os doutores são surpreendidos pela presença de Charlie, seu antigo paciente.
- Charlie, o que está fazendo aqui? Dizem doutor Strauss e professor Nemur.
- Eu vim aqui para conseguir respostas sobre como eu era antes da cirurgia.
- Você não nos via há mais de 3 semanas e vem aqui do nada apenas com perguntas e nenhuma explicação
sobre o que está acontecendo? – Diz Dr. Strauss
- Eu vim aqui para conseguir respostas, e não para dar-lhes explicações. Agora, me responda... vocês
costumavam me ver da forma que me vejo atualmente, que eu era estúpido e inocente?
- Por que você escolheu agora para nos confrontar? Você teve semanas de experimentos, semanas em que
você ainda vinha ao laboratório. Por quê agora? – Diz prof. Nemur
- Pois só agora que percebi o quão estúpido costumava ser, que todos estavam me tratando mal esse
tempo inteiro e que eu só ficava parado lá, sorrindo e acenando aos outros, pensando que estava por
dentro da piada, acontece que EU era a piada!
- De onde você tirou essas conclusões? – Dizem Dr. Strauss e prof. Nemur
- Da minha mente, agora percebo tudo e consigo tirar as minhas próprias conclusões sem a ajuda de
ninguém.
Continua Charlie:
- Pensei que inteligência fosse ser uma dádiva, porém, até agora, só me trouxe conclusões que me levaram
a questionar quem e o quê são as pessoas... pensei que a cirurgia fosse me fazer entender as pessoas e o
mundo, e não ter mais e mais dúvidas sobre tudo.
Strauss: - Nós te falamos que a cirurgia não lhe traria apenas coisas boas.
Nemur:- Nós não previmos que você ficaria tão inteligente... a inteligência é uma coisa boa, mas não tanto.
Charlie não gosta da resposta e decide ir embora.
Após 2 semanas sem algum contato, a professora chega de sua viagem e encontra Charlie morto com uma
carta ao seu lado, dizendo:

Queridos amigos,
Não sei se vocês se perguntam o motivo de eu ter me suicidado, mas caso sim, aqui está a explicação:
Tudo que eu sempre quis na minha vida foi ser inteligente e ser parte do grupo de pessoas normais, não
ser sacaneado toda vez que passava por algum lugar.
Pensei que a cirurgia fosse me trazer algo bom, e realmente trouxe, porém, junto dela, percebi muitas
coisas tristes sobre a vida. Percebi que meus amigos não gostavam de mim, que muitas pessoas mentiram
e que tudo em que sempre acreditei foi mentira.
Eu me conformei com isso, consegui me ajustar a essa sociedade mau-caráter, porém agora percebo que
estou retrocedendo. Não estou me lembrando de muitas coisas, não estou com vontade de ler livros não
estou com vontade de aprender. Tudo isso me faz pensar que logo estarei voltando a ser como era antes e
isso me dá medo. Não quero ser o tipo de pessoa que era, não quero rir das piadas das pessoas mesmo
quando elas me ofendem, não quero ser tão retardado a ponto de não saber responder simples perguntas
e não quero que tudo isso que já acontesseu comigo, acontessa de novo.
Talvez a intelijência seja uma benção que eu não soube usar, talvez eu tenha me perdido durante essas
tantas mudanças. Recebi tantas informações ao mesmo tempo que agora me sinto frustrado quando não
consigo entender algo. Sei que ninguém nunca teve a inteligência que tenho e talvez isso tenha sido bom.
Não sei se é por que eu adiquiri muito conhecimento em um espaço de tempo, ou se é por que nada em
grande quantidade fas bem mas a unica coisa que poso diser é que não gostaria que ninguém passaçe pelo
oque eu paçei.
Então meus amigos esa é minha carta de despedida espero qui tenham conseguido entender meus
motivos e tudo que levou a iso.
Com amor,
Charlie Gordon.
Parte do diário de Charlie, achado junto de seus pertences:
Acabei de sair do laboratório.
Fiquei bem desapontado com as respostas do senhor Donner e do doutor Strauss com o professor Nemur.
Acho que eles não conseguem entender o que passa na minha mente, então só ficam fazendo perguntas
que não levam a lugar nenhum apenas para não admitir que não me entendem.
Desde a cirurgia estive me sentindo muito sozinho e não consegui encontrar ninguém com a mesma
história que eu, já que esse experimento é único até agora.
Estou me sentindo muito triste ultimamente, muitos me contaram que isso poderia acontecer, que minha
inteligência iria sobrepor a dos outros e, que nem antes, eu ficaria isolado. Posso não ter ficado triste
quando era estúpido, mas isso era porque eu não entendia o que estava acontecendo. Agora entendo e
não posso fazer nada sobre isso.
Eu quis me tornar inteligente para poder conversar com as pessoas da mesma forma que elas conversam
entre si, mas nem isso eu consegui fazer.
Alguns dias depois:
Estou escrevendo à noite pois esqueci de escrever durante o dia.
Estive tendo pensamentos suicidas, não me parece ser muito saudável, porém não sei o que devo fazer.
Nada do meu conhecimento foi baseado em pensamentos desse tipo, nunca pensei que teria, mas, nessas
situações, é bem plausível.
Estou bem perdido, não tenho mais ninguém ao meu lado além da professora, que me visita às vezes.
Acho que ficarei um tempo sem escrever no diário, não estou mais com vontade nem de fazer isso.
Até algum dia.

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