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Para: Sonia

Essa carta é uma tentativa de colocar em palavras tudo o que eu não consegui dizer a você,
Sonia. É um pedido sincero de perdão. Eu espero que você possa me perdoar pela maneira
como tratei você e pela falta de consideração em não me despedir, porque eu deveria ter
dito um adeus.

Eu espero que você consiga receber essa mensagem. Eu espero que você esteja
bem. Eu sinto muito.

Eu estou começando a escrever hoje, dia 15 de setembro de 2023, porque não posso mais
dormir e acordar sem me pronunciar para você. Também não tinha ainda deixado uma
mensagem no grupo para os colegas.

Isso não é para tratar o intratável, considerando o mal estar que causei nas trocas que
tivemos, na minha falta de zelo em tratar você. Isso é porque simplesmente eu não sei mais
em que acreditar. Eu traí a minha consciência repetidas vezes, eu passei dias sem
conseguir dormir, assustei o pessoal da casa onde eu estava, até que ouvi uma coisa
chamada “neurose” e fui pesquisar, e só agora eu vejo que foram neuroses. Agora que
passou, eu vejo que foram neuroses.

Eu não fui atrás de ter um ensino médio, mas acho que ter chegado com uma bagagem um
tanto quanto infantil me fez confundir muito as coisas. Eu não estou conseguindo lidar
comigo mesmo porque eu sei exatamente o que eu fiz, deixei de fazer e o que eu senti.

Devo satisfação a você. Sei que devo. Mesmo que você ache que não, eu sinto que devo.
Eu sinto que uma parte de mim não queria acreditar que era real o que estava acontecendo,
que eu havia encontrado alguém com lucidez, bravura e esperança, alguém cuja história eu
não conheço, mas que fiquei próxima de acompanhar porque houve confiança e intimidade
nas trocas, mas o medo me tomou conta, um medo indescritível da morte, agora que
passou vejo que pôde ter sido apenas saudade da minha família. Tenho muitas dúvidas,
sonia, muitas dúvidas.

Você quis me mostrar que eu sou livre, mas pensar nisso o tempo inteiro é aterrorizante. E
era como eu estava, como a minha cabeça estava processando as coisas. Li Sartre, me
identifico, pois sei que existo e é com essa existência que busco fazer o que me cabe.

E falando em existência, sônia, foi com você que pude perceber que existem nuances,
existem modos de dizer e existe um cuidado naquilo que é dito para não ser violento. Eu
preciso dizer a você que não é todo mundo que tem esse cuidado. Como uma garota que
desde muito cedo esteve em contato com o mundo dos adultos, me perco em muitas
discussões que seriam facilmente lidas por qualquer pessoa. Eu só sei performar, sonia.
Mas, por favor, eu preciso que você saiba que eu busco responsabilidade sobre cada coisa
que faço e falo, e penso nisso o tempo inteiro. Eu não sei, sonia. Não sei de onde isso vem.
Mas é um senso de dever urgente. E foi isso que me fez decidir voltar para casa. Diante de
tanta coisa fora do meu controle, eu precisava voltar para casa, para maneirar o ritmo, e
consertar as coisas.
Sonia, depois da nossa conversa no ccbb, eu fiquei com muita coisa para pensar, não foi?
Estávamos cientes disso. Mas eu ainda estava com a memória falha, eu não sabia no que
acreditar, até porque uma parte de mim me dizia que você estava sendo legal comigo, mas
que sabia toda a verdade, que sabia que era uma criminosa. Sim, esse era o pano de fundo
na minha cabeça.

Revisitei mensagens antigas, revisitei mensagens de colegas que estavam próximos de


mim na época, colegas que viram o absurdo e entendi que não cometi crime algum. Não
houve crime, nem mesmo infração, não houve. Foi tudo coisa da minha cabeça.

Ainda sobre Sartre, temos que falar da má-fé. Eu sei que já tive TAG, não tratei ela. Já tive
episódios depressivos, mas sem saber que era depressão, por isso fiquei assustada. Foi
por meio de leituras e de conversas que entendi que a forma como eu estava levando as
coisas não era normal. Eu sabia que o meu problema não era doença, mas sim dificuldade
de aceitar a realidade tal como ela é. Eu fui contra o que eu acredito. E estou sendo
assombrada por isso.

Você tinha razão, eu estava vivendo de catarse enquanto estive aí. Não me considero
autossuficiente e nem acredito que ninguém seja. Acho que o que aconteceu foi que tive
acesso a muitas realidades ao mesmo tempo e que fiquei sem saber o que fazer.

Eu confesso a você que eu estou em dois mundos, ainda estou em dois mundos, eu agi
como se todas as pessoas tivessem acesso ao que eu penso, como se tivessem acesso às
coisas que eu já vi, já li e já ouvi. Não me orgulho de ter tratado você mal, mas uma
graduação exige muito para que eu passe tanto tempo longe de casa. Eu não fui organizada
o suficiente para administrar a responsabilidade que exige.

Diante das incongruências e incertezas da vida, eu devo dizer a você o quanto você me fez
repensar totalmente a angústia de existir e a maneira como me relaciono com o mundo.
Porque eu fui iniciar uma graduação ainda com uma culpa irreal.

Sônia, eu não consigo ficar no presente, não consigo.

Espiritualmente falando, lhe digo que tive sinais para voltar para casa, pois ainda, apesar de
todas as incoerências, contradições e violências, tenho respeito aos meus pais. Não sei
como devo agir agora, sei que somos todos livres, mas essa liberdade me assusta muito,
não sei se é assim com todos, mas enquanto estive aí, sentia que a qualquer momento iria
acontecer uma catástrofe, isso se alarmou nos seis meses. Sonia, perdoe-me pela minha
ignorância, você foi incrivelmente humana comigo e eu fiquei com medo de estragar tudo
entre a gente, com medo de compartilhar o que eu pensava e o que eu queria, porque
parece que nunca tive esse espaço, porque todas as vezes em que tentei falar o que eu
penso não fui ouvida ou apoiada, apenas por meio dos livros, da ciência e da universidade é
que vejo esse lugar, um lugar bonito de habitar. Decidi cancelar a matrícula porque me vi
em uma encruzilhada, vi colegas colocando, vi gente faltando a monitoria e desrespeitando
professores, mas além disso, vi que seria muito arriscado seguir o nível de exigência do
curso porque não tinha aptidão para as leituras e o estudo programado, diante disso, soube,
precisamente, que eu deveria me retirar. Não seria capaz de trapacear, vai contra tudo o
que eu acredito. Entreguei as avaliações originalmente enquanto pude.

Li Sartre, parece que sou uma existencialista mesmo. Se nada importa, então tudo importa.
Perante o absurdo do livre arbítrio, todos nós tentamos mascarar e nos acorrentar
espontaneamente porque a liberdade parece ser um fardo muito grande para se assumir.
Vejo isso, vejo os meus embates próprios, percebo no mundo. E isso seguiu me
paralisando. Paralisar a ponto de não sair da cama.

Sonia, voltando para casa, pude ver o quanto a minha família é disfuncional e o quanto eu
me esforcei todos esses anos para tentar fazer as coisas funcionarem, inclusive abrindo
mão de amizades.

Eu sei que eu desejei que você se afastasse. Desejei que você me odiasse. Como poderia
continuar perto de mim sendo que tratei você mal.

Eu agi como se tivesse bola de cristal, agir buscando dizer as coisas certas da maneira
certa, não admitindo nenhuma outra perspectiva como todo psicólogo deve possuir porque
eu já tinha embutido em mim o que eu acreditava: eu merecia ser presa. Voltando para
casa, revisitei mensagens antigas

Quando digo que os meus pais são simples, quero reforçar que o meu pai concluiu até a 4°
série do ensino médio e atua como mecânico, e a minha mãe concluiu o ensino médio e
está desempregada há mais de 10 anos. Em fevereiro, quando fiz a inscrição para a UFRJ,
esse era o paradigma. Em fevereiro, eu ainda estava trabalhando, e portanto, ajudava com
a renda da casa. Endividei o meu pai para conseguir a mala, as passagens e para ter
alimentação enquanto estava aí.

Eu não sei de onde isso vem, não sei mesmo, mas há um ponto moral e ético muito forte,
que preciso respeitar.

O evento que contei a você tem dois anos, mas eu mantive as mensagens do whatsapp
fixas aqui, no fundo porque eu não consigo lembrar do que aconteceu precisamente, mas
sei que agi de modo irrefreável, cada pessoa conta uma versão diferente, perguntei a
diferentes pessoas o que lembram daquela época, mas se recordam somente de detalhes
superficiais. No fundo, o que doeu em mim foi ver que eu considerava que a rosângela de
17 anos precisava dar conta. Aquela rosângela teve acesso a como eram os militares em
seu grau mais íntimo e ficou assustada. O garoto que colocou a minha foto na tela do
telefone e disse que aquilo era para se lembrar de estudar. Tudo aquilo foi demais para
mim. Foi demais. Foi quando tive ideação suicida.
Eu sinto muito por não ter retornado e tentado construir uma amizade com você. Acho que
no fundo é porque eu acho que não mereço isso. Eu amo aprender coisas novas, mas
parece que deixei um lado infantil e débil falar mais alto, como naquela mensagem da
Marielle que mandei no grupo. Ter a ciência que a Marielle foi assassinada e ter acesso a
isso de forma mais legítima me deixou angustiada.

Me desculpe, Sonia, eu pedi muitas desculpas a você mentalmente, mas só agora estou
escrevendo essa carta.

A realidade é muito assustadora, muito mesmo. Uma coisa é saber que a Marielle morreu,
outra é ouvir isso do senhor Cláudio, aquele senhor da banca de livros.

Você merecia que eu me despedisse pessoalmente, mas eu não conseguiria sustentar, não
conseguiria, pois eu já sabia que precisava voltar, uma voz dentro de mim gritava dizendo
para que eu voltasse para casa, para não preocupar os meus pais desnecessariamente.
Sônia, eu não sei no que acreditar. É aterrorizante pensar na vida e na morte o tempo
inteiro, e é como eu tenho estado desde que fui para o Rio. Eu peço sinceras desculpas a
você. Peço mesmo. Eu não gostaria de ter agido da maneira rude e nada gentil que agi com
você. Eu sei que você tentou me mostrar o lado do Rio que não está nos holofotes, assim
como eu também sempre tentei buscar o lado de Salvador que não está no carnaval, por
isso disse que eu tinha medo de arruinar as coisas entre a gente, porque eu sabia
exatamente do que você estava falando.

Na última vez que nos vimos, lembro do seu olhar furioso de desaprovação ao sair do
bandejão. Eu sei exatamente o que eu fiz, e sei que você entendeu no momento em que
pedi ajuda e que precisaria ir ao psiquiatra. Eu não estava conseguindo fazer nada, assim
como não conseguia me manter próxima das meninas que poderiam verdadeiramente me
ajudar.

Sonia, preciso te dizer que não paro de pensar em você, na maneira como lhe tratei. Eu
sinto muito. Eu estou em casa agora, e precisei retornar. Cinco anos seria demais longe da
minha família. Preciso confessar a você que, durante os seis meses, meu pai, que trabalha
no comércio, movimentou dinheiro a mais, violando a renda bruta familiar, que se tornou até
4 salários mínimos depois que eu pedi demissão.

Sonia, a cena que descrevi para você, aquela do garoto com a minha foto no plano de fundo
do celular, afirmando com ódio que “é para isso que eu estudo” foi muito forte para mim.
Passei dias sem acreditar que aquilo tinha acontecido, que alguém seria capaz daquilo, de
ver o que o ódio é capaz de mover. Fiquei assustada, nunca contei aos meus pais. Foi com
você que compreendi que existem episódios da vida íntima de cada um que podem ser
muito violentos, a ponto de ser insuportável. Foi com você que entendi que não estive
errada todas as vezes que procurei tatear as palavras ao falar com as pessoas, pois
acredito, de verdade, que são a nossa fonte inesgotável de magia. Elas curam, elas ferem.
Foi com você que pude entender que eu estava reproduzindo comportamentos infantis por
insegurança, por temer falar o que penso, ou de expor a minha revolta com o que estava
observando na dinâmica da ufrj.

Olha, vou confessar outra coisa aqui. Pode parecer absurdo à primeira vista, mas eu saí de
Salvador sem nunca ter assistido Tropa de elite. Assisti enquanto estive aí. As cenas de
tortura me deram ânsia de vômito, assim como as sutilezas da malícia policial me fizeram
ficar assustada porque eu já tinha visto de perto. Sim, você tinha razão sobre a perda de
idealização que me tomou conta da cabeça depois do episódio que relatei a você. Em meio
à crise, eu tinha sido alguém que tentava, desesperadamente, fazer as coisas da melhor
maneira, de forma que não prejudicasse as pessoas. Agora, fora de cena, consigo
compreender. Embora não concorde e não me adeque a cultura militarizada, estudei por 8
anos num colégio da pm, e agora sei que tenho muitos bloqueios em relacionamentos por
conta disso. Isso não justifica a maneira rude como tratei você.

Eu preciso confessar também que agir por impulsividade de propósito, na minha cabeça
passiva uma voz dizendo: “você sabe que vai estragar tudo”, “será que ela não percebe
quem você é”, uma voz que deixei falar mais alto.
Sonia, você falou muito da minha força, mas agora eu preciso - mesmo não sendo capaz de
olhar em seus olhos para dizer - falar no quanto a sua bravura me faz acreditar que o
mundo vale a pena, que a vida vale a pena. Agora, enquanto escrevo, tenho imaginado o
quanto as minhas atitudes enquanto estive perto de você talvez lhe fizeram questionar se
você deve continuar confiando nas pessoas. Por favor, continue. Foi a sua confiança e
abertura que me fez não cometer nenhuma besteira, que me fez ter peito para enfrentar
uma angústia implacável de não desistir de mim e não mais prejudicar ninguém. Enquanto
eu estive ai, me disseram para não confiar em ninguém, ao tempo em que eu sabia que só
conseguiria continuar os estudos se estudasse. Eu sinto muito. Eu não sabia mais no que
acreditar. Ainda não sei no que acreditar. Você tinha razão, Sonia, eu estou em dois
mundos, em dois tempos.

Sonia, eu voltei para casa sem saber no que acreditar, sem ter a certeza se eu tinha
cometido um crime ou não, porque eu não lembrava precisamente do que havia acontecido,
por isso tentei olhar fotos, tentei reinterpretar as coisas, sem considerar outras visões. Até
que lembrei de âncoras, eu tinha âncoras, eu tinha a minha prima, a minha prima que se
formou em direito. Quando revisei as mensagens, fiquei assustada em ver o que eu tinha
perguntado a ela. Lembro de estar muito mal, muito desesperada, sem saber no que
acreditar. Quando contei a você que havia sido algo imoral é porque eu sabia que podia
contar a você, que você me ajudaria a chegar em alguma conclusão porque você reconhece
os padrões e os símbolos, eu sei que sim.

Apesar de morar no Uruguai, eu deixei de ter muitas experiências na rua porque sempre fui
muito podada, eu acho. Só retornando para casa é que entendi que a minha família se
configura como disfuncional e que, talvez, eu nunca tenha reconhecido isso por falta de
orientação e por tentar salvar uma família desengonçada, família na qual o pai e a mãe são
separados e ameaçam sair de casa desde quando eu ainda era uma criança. Falo isso
porque você notou o quanto eu dei enfoque em dizer que não era carioca, e portanto, não
me sentia confortável em assumir papéis que um aluno morador daí poderia ficar a frente.

Quando disse para você que você seria eu mesma caso tivesse continuado em Salvador,
me referi a ser esse alguém que busca, trilha e investiga a sua cidade, que busca na arte, e
em todas as formas de literatura um motivo para permanecer esperançosa diante da
realidade bruta. Mas, preciso confessar que o meu coração ficou muito apertado toda vez
que encontrava com você, porque durante o mês de maio o meu pai, que é mecânico, me
ligou, para falar que as coisas estavam melhorando e que havia conseguido terminar o
empréstimo do carro. Resultado de mais de 3 anos seguidos trabalhando sem descanso
(autônomo), mas ainda assim aquilo foi uma pontada no meu coração, porque isso
significava que os dados seriam alterados, isso significa que eu não estava mais
formalmente dentro da cota de renda. O tempo estava passando, a leitura dos textos
também estava me dando novas informações e cada vez mais uma angústia me tomava
conta, uma angústia de um segredo que havia lhe contado e que não sabia mais no que
acreditar, ao tempo em que via que ainda me regia muitas inseguranças, a ponto de não
permitir que você me conhecesse melhor.

Pesquisando oficialmente, descobri que a minha família é classe média baixa. Como eu
poderia olhar para a turma A, ou mesmo para o instituto de psicologia e ver que só quem
estudava ali eram burgueses, uma galera que fuma descaradamente, uma galera que
pensa na psicologia como um grande fã clube de Freud, que cola em prova e que
desrespeita professor. Ao mesmo tempo em que ficava enfurecida, episódio após episódio
em sala, me via num embate ideológico. Eu estava em um bairro de uma zona nobre, tendo
ajuda de fora, eu estava numa sala que tinha monitoria extras e horários melhores. Sonia,
eu estava com privilégios, e em maio, após a notícia que o meu pai me deu, eu soube que
precisaria cancelar a matrícula, eu havia entendido que eu estava indo contra ao que eu
acreditava, aquilo estava doendo, eu já não estava conseguindo ler os textos, pelo
contrário, eu lembro de começar a agir com indiferença com você, com a Giullia e com a
Erika, eu lembro de não saber mais o que fazer. Eu lembro de ficar com medo, de não saber
o que fazer. Qual a melhor escolha? Qual a conduta mais adequada? Diante de tantas
dúvidas e do ritmo elevado da ufrj (que é demais para mim), decidi voltar para casa. Sonia,
eu preciso confessar que foi um ritmo muito elevado para mim, para a minha ignorância, eu
preciso confessar que eu não estava conseguindo acompanhar o ritmo das leituras e as
discussões, por isso recuei. Eu preciso ler mais.

Sonia, eu sou assim, eu já entendi e aceitei isso, eu sou assim. Alguns podem dizer que é
uma benção, outros diriam que é uma maldição. Eu acho que eu prefiro acreditar que é um
meio entre esses dois limites. Mas eu sou assim, eu penso em tudo, eu consigo perceber as
minhas contradições, e assim que as percebo, luto contra elas.

O dinheiro que recebi para pagar o aluguel seria o dinheiro que os meus tios ajudariam a
minha família a pagar a autoescola, para que eu tirasse a carteira, mas em fevereiro,
quando o resultado do SISU saiu, eu os convenci a me ajudarem com a ida para o Rio. Uma
parte de mim desejaria fortemente que eu não tivesse ido, que eu continuasse no emprego
que eu estava e que tentasse a faculdade daqui. Mas sonia, existe uma outra parte de mim
que diz que ir e voltar foi um salto de fé, que me permitiu ter tato de ver coisas que eu só via
em livros e filmes. Essa outra parte me diz que só de ter conhecido você valeu muito a
pena.

Sonia, durante a palestra de guerra às drogas, estávamos sentadas em cadeiras diferentes,


e eu vi, de realce, como você virou a cabeça em minha direção quando aquele deputado
isidório, que é policial militar, foi citado. Ele é uma aberração, uma figura política cômica
sem nenhuma lucidez, mas que defende os valores tradicionais tão reforçados pela polícia
militar.
Sonia, construi essa linha do tempo porque confio em você e porque queria saber se você
está disposta a recomeçar uma amizade comigo. Estou com uma psicóloga agora, para
tratar de uma vez essas questões, e vou vendendo algumas das minhas coisas para ajudar
o meu pai com os cartões. Com isso quero dizer que quero aprender a me respeitar e a
zelar por pessoas que conhecerei como você mesmo. Ah! Sabe a amiga que falei que me
lembra de você? Voltei a falar com ela, nos vemos ontem depois de 2 anos.

Uma outra coisa, queria lhe fazer uma pergunta. Você percebeu em mim algum traço
narcisista? Depois das nossas conversas, passei a pesquisar melhor para entender, nunca
conheci nenhum narcisista, e queria saber a sua opinião sobre o meu comportamento.
Questionei se eu tinha algum grau, a psicóloga não soube confirmar.

Dito isso, Sonia, eu preciso ler mais. Eu quero ler mais.


Agora estou em casa. Vou recomeçar com “A morte de Ivan Ilitch”.

Eu preciso retomar os estudos, ainda não sei quando.

Me perdoe.

Esse é o meu novo email, caso queira recomeçar.


E esse é o meu novo número: o 9 9944-7762

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