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CENTRO UNIVERSITÁRIO- UNIESP

CURSO PSICOLOGIA
COMPONENTE CURRICULAR: PSICOLOGIA HOSPITALAR
PROFA. DRA. FABRYCIANNE GONÇALVES COSTA

RELATO DE CASO EM PSICOLOGIA HOSPITALAR: A IMPORTÂNCIA DA


RESILIÊNCIA

Fernanda Neves de Martins Moraes1


Rossana Medeiros Cantisani Nóbrega2
Sirlange de Souza Tavares3
Fabrycianne Gonçalves Costa4

RESUMO

Este trabalho apresenta o relato de atendimento a um paciente de 69 anos, do brejo


paraibano, encaminhado para um hospital de João Pessoa com intumescimento
abdominal, ferida no pé direito, com suspeita de diabetes e possibilidade de amputação.
O paciente foi atendido no setor vascular e submetido a cirurgia de urgência e posterior
amputação (desarticulação do joelho). Em seguida, foi recomendado que o paciente
passasse a fazer hemodiálise. Neste sentido, o foco do atendimento psicológico esteve
na escuta do paciente enquanto este se submetia a uma sessão de hemodiálise. As
intervenções possibilitadas pela Psicologia permitiram apoio para o fortalecimento e
reestruturação do paciente para conseguir manter a resiliência e adesão ao tratamento.

Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Diabetes; Insuficiência Renal Crônica;


Hemodiálise; Cirurgia vascular.

ABSTRACT

This work presents the report of care for a 69-year-old patient, from the brejo of
Paraíba, referred to a hospital in João Pessoa with abdominal swelling, a wound on the
right foot, with suspected diabetes and the possibility of amputation. The patient was
treated in the vascular sector and underwent emergency surgery and subsequent
amputation (knee disarticulation). It was then recommended that the patient undergo
hemodialysis. In this sense, the focus of psychological care was on listening to the
patient while he underwent a hemodialysis session. The interventions made possible by
Psychology allowed support to strengthen and restructure the patient to maintain
resilience and adherence to treatment.

Keywords: Hospital Psychology; Diabetes; Chronic Renal Failure; Hemodialysis;


Vascular surgery.

1
Graduanda em Psicologia pelo UNIESP. E-mail:fernanda_nmm@hotmail.com
2
Graduanda em Psicologia pelo UNIESP. E-mail: rossanacantisani@yahoo.com.br
3
Graduanda em Psicologia pelo UNIESP. E-mail: sirlangetavor.adm@gmail@com
4
Orientadora Profa. Dra. em Psicologia Social pela UFPB. E- mail: prof1588@iesp.edu.br
1 INTRODUÇÃO

A Insuficiência Renal Crônica (IRC) apresenta-se como uma


enfermidade caracterizada pela perda progressiva e irreversível da atividade renal, que
produz um grave desequilíbrio metabólico e hidrolítico nas pessoas acometidas. Dentre
os tratamentos disponíveis, o mais comumente adotado é a hemodiálise, que é uma das
terapias substitutivas após falência renal cuja função é remover líquidos e produtos
residuais urêmicos do organismo, por meio de um dialisador, em um processo mecânico
extracorpóreo.
O tratamento hemodialítico e a dependência de suporte tecnológico
especializado para a manutenção da vida podem desencadear sofrimento e angústia,
considerando a dor, a monotonia e a limitação do paciente frente ao adoecimento,
exercendo influência diretamente nos aspectos físicos e psicológicos dos pacientes.
Embora os portadores de IRC reconheçam os benefícios do tratamento
dialítico, considerando que este possibilita a espera pelo transplante renal, sentimentos
negativos em relação à doença com frequência são experienciados. Este contexto
ocasiona situações estressantes e exige uma readaptação em sua rotina, com
modificação alimentar e da ingesta hídrica, bem como restrição da atividade laboral,
alterações corporais e consequente perda da autonomia. Tais modificações afetam
severamente a vida pessoal, familiar, profissional e social dos pacientes e podem
influenciar na adesão à terapêutica, na frequência às sessões hemodiáliticas, no
cumprimento das recomendações nutricionais e na aderência farmacológica
(ANDREOLI, 2011).
O foco da psicologia hospitalar é o aspecto psicológico em torno do
adoecimento. Mas aspectos psicológicos não existem soltos no ar, e sim estão
encarnados em pessoas; na pessoa do paciente, nas pessoas da família, e nas pessoas da
equipe de profissionais. A psicologia hospitalar define como objeto de trabalho não só a
dor do paciente, mas também a angústia declarada da família, a angústia disfarçada da
equipe e a angústia geralmente negada pelos médicos.
O objetivo da psicologia hospitalar é a subjetividade. A doença é um
real do corpo no qual o homem esbarra, e quando isso acontece toda a sua subjetividade
é sacudida. É então que entra em cena o psicólogo hospitalar, que se oferece para
escutar esse sujeito adoentado falar de si, da doença, da vida ou da morte, do que pensa,
do que sente, do que teme, do que deseja, do que quiser falar. A psicologia está
interessada mesmo em dar voz à subjetividade do paciente, restituindo-lhe o lugar de
sujeito que a medicina lhe afasta (MORETTO, 2001).
No caso deste presente trabalho, o objetivo do grupo foi realizar uma
escuta psicológica com um paciente que estava se submetendo a uma sessão
hemodialítica no setor de hemodiálise de um hospital público de João Pessoa.

3 METODOLOGIA

No dia 09 de novembro de 2023, realizamos a visita a um hospital


público que fica localizado no centro da cidade de João Pessoa. O paciente, de 69 anos,
encontrava-se realizando uma sessão hemodialítica do setor de hemodiálise,
acompanhado de sua esposa. Foi realizada uma escuta psicológica, para a qual
utilizamos um roteiro de avaliação psicológica previamente estabelecido, com o intuito
de nos direcionar para a escuta. Este roteiro propõe as seguintes funções: diagnóstico,
orientação de foco, fornecimento de dados sobre a estrutura psicodinâmica da
personalidade da pessoa, avaliação continuada do processo evolutivo da relação do
paciente com sua doença e tratamento, conhecimento da história da pessoa, diagnóstico
diferencial e estabelecimento das condições de relação da pessoa com seu prognóstico.

4 RESULTADOS

Paciente: E.M.P.
Paciente do sexo masculino; 69 anos; pardo; natural e residente de
Sapé-PB, casado, pai de 6 filhos, católico, há dois anos faz hemodiálise, três vezes por
semana, e cada sessão dura em torno de quatro horas. Consciente e orientado, relata que
a primeira vez em que esteve no hospital foi por causa de um inchaço abdominal
intenso, em que foi preciso um procedimento cirúrgico de urgência para a retirada do
excesso de líquidos. Foram feitos exames clínicos e laboratoriais e foi diagnosticada a
diabetes, uma comorbidade importante no caso do paciente. Logo após essa cirurgia, o
paciente foi submetido a outra cirurgia, desta vez para a amputação de membro inferior
direito (desarticulação do joelho).
Além da Diabetes, após a realização das cirurgias, o paciente foi
diagnosticado com insuficiência renal crônica, sendo necessária a realização de sessões
de hemodiálise, enquanto aguarda o transplante renal. O paciente está ciente do seu
quadro e demonstra uma postura de bastante resiliência em relação ao tratamento.
Foi observado que ele está lúcido, sem nenhum sinal de sintomas de
ansiedade, nem tampouco pareceu apreensivo com o prognóstico. Além do tratamento
via hemodiálise, o paciente estava fazendo o uso de medicações para hipertensão,
doença vascular e diabetes, além da restrição dietética. O paciente estava acompanhado
da sua esposa, mas também recebe suporte dos filhos que moram em João Pessoa.
Relata gostar muito do atendimento do hospital, da alimentação, e da equipe que o
acompanha durante as sessões de hemodiálise.

5 DISCUSSÃO

Resiliência e religiosidade têm sido apontadas por estudos com


enfoque nas estratégias de enfrentamento dos pacientes com insuficiência renal crônica
como recursos notáveis que auxiliam na compreensão e no confrontamento dos agentes
estressores presentes neste cenário. O conceito de resiliência é entendido como um
padrão adaptativo de funcionamento, sendo uma experiência dinâmica de resistência e
adequação positiva frente às adversidades, capaz de propiciar estratégias de superação
ao paciente, fazendo com que ele deixe de ser um observador passivo e busque recursos
em si e no seu ambiente para a resolução de conflitos.
Comumente associada à relação de aproximação com o sagrado e
transcendente, a religiosidade constitui-se como um sistema organizado de crenças,
rituais, símbolos e práticas. Pesquisas evidenciam que dentre os múltiplos fatores que
abrangem o processo de resiliência, há indícios de que a religiosidade pode auxiliar os
indivíduos a desenvolverem recursos importantes diante da situação de enfermidade.
Neste sentido, trata-se de uma ferramenta de apoio e fortalecimento
no enfrentamento das dificuldades relacionadas às condições de saúde, propiciando ao
indivíduo a ressignificação do seu processo de adoecimento e promovendo,
consequentemente, uma melhor qualidade de vida.
Isto dito, resta claro que postura resiliente do paciente é fundamental
para a sua adesão ao tratamento e à terapia farmacológica, evidenciando a importância
de se contemplar o ser humano integralmente, sob a ótica biopsicosocioespiritual.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência de visitar o hospital foi muito enriquecedora para


estudantes como nós, que nunca havíamos estado em um hospital saúde sob a
perspectiva dos profissionais. Foi interessante observar o fluxo de trabalho das
profissionais, orquestrando as responsabilidades de cada um, os horários e a forma de
acolhimento e atendimento aos pacientes. Ao mesmo tempo, foi possível perceber que
cada leito escondia uma história diferente que suscitava nos internos sentimentos e
emoções diversas. Como futuras psicólogas, a visita nos proporcionou aprimorar nossa
capacidade de escuta e a certeza de que saber acolher uma pessoa em situação de
fragilidade pode ser determinante para a melhora do quadro dela.
REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Especializada e Temática. Diretrizes Clínicas para o Cuidado ao paciente com Doença
Renal Crônica – DRC no Sistema Único de Saúde. 2014. Disponível em:
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/marco/24/diretriz-cl--nica-drc-
versao-final.pdf.
Andreoli MCC, Nadaletto MA. Serviço de diálise peritoneal do hospital do rim e
hipertensão e fundação Oswaldo Ramos - UNIFESP/EPM. São Paulo; 2011. Disponível
em: http://www.sbn.org.br/Publico/dia-lise.html.
Campos CGP, Mantovani MF, Nascimento MEB, Cassi CC. Representações sociais
sobre o adoecimento de pessoas com doença renal crônica. Rev Gaúcha Enferm.
2015;36(2):106-12. doi: 10.1590/1983-1447.2015.02.48183.

ANEXO

1. Avaliação psicológica resumida


(PREENCHIDA)

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