Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Incidência Das Contribuições Previdenciárias Na Tributação Rural
Incidência Das Contribuições Previdenciárias Na Tributação Rural
1 Introito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221
6 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 246
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
Não tardou muito, no entanto, até que o plano básico de previdência social
rural fosse substituído por regime autônomo, complementar ao Programa de
A figura do agroindustrial, por seu turno, exige não só que se trate de pessoa
jurídica, mas, conforme o artigo 22-A da Lei Orgânica da Seguridade Social,
que sua atividade econômica seja a industrialização de produção própria
(podendo haver aquisição de terceiros de parte da produção), competindo-
lhe o recolhimento da contribuição previdenciária ao Funrural sobre o valor
da receita bruta proveniente da comercialização de sua produção à alíquota
2,5% para o financiamento da seguridade social, 0,1% para o financiamento da
complementação das prestações por acidente de trabalho (SAT/RAT) e 0,25%
ao Senar; portanto, 2,85%.
É possível dizer, portanto, que não se afigura mais razoável adotar como base
de cálculo para a contribuição em epígrafe a receita bruta para os grandes
empregadores rurais pessoas jurídicas, que se beneficiam, largamente, do
cálculo sobre a folha de salários no cenário contemporâneo das atividades
do agronegócio.
O outro argumento, por sua vez, trazido à consideração do plenário pelo ministro
Alexandre de Moraes, foi o de que a declaração incidental de inconstitucionalidade
do artigo 25, I, teria ocorrido apenas para o empregador rural pessoa física,
mantendo-se a validade e a eficácia do dispositivo em relação à outra categoria
de contribuintes, qual seja, a dos segurados especiais, produtores rurais que
trabalham em regime de economia familiar e não empregam mão de obra. O
ministro destacou que, reintroduzida a figura do empregador rural pessoa física
após a alteração constitucional feita pela Emenda nº 20/1998, aplicar-se-ia
aquele inciso não só aos segurados especiais como também – e novamente
– aos empregadores pessoas físicas.
O princípio do destino tem eficácia normativa forte. Ele subjaz não só à regra
do artigo 149, parágrafo 2º, I, de que ora se cuida, como também dos artigos
155, parágrafo 2º, XII, e e f, e 156, parágrafo 3º, II, todos da Constituição.
Portanto, interpretação daquela regra constitucional imunitória que autorize
a incidência da contribuição sobre a receita bruta na venda a sociedades
comerciais exportadoras da produção rural, com saída subsequente para fora
O alcance da regra imunitória nesse caso parece ainda mais claro. Enquanto as
vendas às sociedades comerciais exportadoras (trading companies) consistem
em operações de circulação de mercadorias, com transferência de titularidade,
as relações estabelecidas entre os cooperados e as cooperativas de que fazem
parte – chamadas, genericamente, de atos cooperativos – não implicam, nos
termos do artigo 79, caput e parágrafo único, da Lei nº 5.764/1971, operação
de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria.
Ainda assim, esses atos cooperativos são negócios jurídicos válidos, que
contribuem para a consecução do objeto social da cooperativa. Em outras
Fábio Calcini (2017) critica a interpretação da Receita Federal, uma vez que
somente há que se tributar o resultado da operação de comercialização –
faturamento –, que tem conceito restrito e não permite a inclusão de qualquer
outro tipo de receita, como as receitas financeiras, bonificações, ICMS-ST,
IPI e descontos incondicionais. E colaciona, em seguida, entendimento do
CARF,5 no sentido de que a transferência de estoque para integralização do
capital social não pode ser equiparada à obtenção de receita proveniente de
comercialização da produção própria.
5 “Se o objeto social da empresa é comercializar produção rural e não participar em sociedades, a
integralização de ações em outra sociedade figura como meio para a realização do objeto social
(ato societário) e não o próprio desenvolvimento do objeto social (empresa), razão pela qual a
transferência de estoque figurou como um ato societário e não como a própria atividade empresarial.
Nesse sentido, estabeleceu o STF que a incorporação de bens ao capital social é um ato típico, não
equiparável a ato de comércio” (BRASIL, 2014).
REFERÊNCIAS
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2001.
ÁVILA, Humberto. Sistema constitucional tributário. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11. ed. Atualizado por Misabel de Abreu
Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
BARROS, Geraldo Sant’Ana de Camargo et al. PIB do agronegócio. 2017. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4211393/mod_resource/content/1/pibmacro.
pdf. Acesso em: 1 out. 2018.
BECKER, Alfredo Augusto. Teoria geral do Direito Tributário. 3. ed. São Paulo: Lejus, 1998.
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 10. ed. Brasília: UnB, 1999.
CALCINI, Fábio Pallaretti. Quais receitas são tributadas pelo Funrural na pessoa jurídica?
Conjur, 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-jun-02/direito-agronegocio-
quais-receitas-sao-tributadas-funrural-pessoa-juridica. Acesso em: 29 set. 2018.
DERZI, Misabel. Direito Tributário, Direito Penal e tipo. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1988.
DEZEMONE, Marcus. Mundo rural e Era Vargas: direitos, papel do campo e legislação
social na historiografia recente. Tempos Históricos, v. 16, p. 219-245, 2012. Disponível
em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/temposhistoricos/article/viewFile/8104/5997.
Acesso em: 30 set. 2018.
JORGE, Alice de Abreu Lima; MOREIRA, André Mendes. O direito como plano e o
planejamento fiscal: reflexões à luz da Planning Theory of Law, de S. J. Shapiro. Revista
Direito Tributário Atual, São Paulo, v. 35, p. 13-30, 2016.
STF. RE nº 102.141, 2ª Turma, relator: ministro Carlos Madeira, julgado em: 18 out.
1985. Diário da Justiça, 29 nov. 1985.
STF. RE nº 346.084, Tribunal Pleno, relator: ministro Ilmar Galvão, relator para acórdão:
ministro Marco Aurélio, julgado em 9 nov. 2005. Diário da Justiça Eletrônico, 1 set. 2006.
STF. RE nº 363.852, Tribunal Pleno, relator: ministro Marco Aurélio, julgado em: 3 fev.
2010. Diário da Justiça Eletrônico, n. 107, 6 jun. 2011.
STF. RE nº 596.177, Tribunal Pleno, relator: ministro Ricardo Lewandowski, julgado em:
1 ago. 2011. Diário da Justiça Eletrônico, n. 226, 14 nov. 2013.
STF. ADI nº 2.588, relatora: ministra Ellen Gracie, relator para acórdão: ministro Joaquim
Barbosa, julgado em: 10 abr. 2013. Diário da Justiça Eletrônico, n. 27, 10 fev. 2014.
STF. RE nº 759.244 RG, relator: ministro Roberto Barroso, julgado em: 19 set. 2013.
Diário da Justiça Eletrônico, 2 fev. 2015.
STF. ARE nº 873.235 AgR, 1ª Turma, relatora: ministra Rosa Weber, julgado em: 2 set.
2016. Diário da Justiça Eletrônico, n. 206, 27 set. 2016.
STF. RE nº 574.706, Tribunal Pleno, relatora: ministra Carmen Lúcia, julgado em: 15
mar. 2017. Diário da Justiça Eletrônico, n. 251, 6 nov. 2017a.
STF. RE nº 883.542 RG, relator: ministro Gilmar Mendes, julgado em: 2 jun. 2017. Diário
da Justiça Eletrônico, n. 268, 27 nov. 2017b.
STF. RE nº 718.874, Tribunal Pleno, relator: ministro Edson Fachin, relator para acórdão:
ministro Alexandre de Moraes, julgado em 30 mar. 2017. Diário da Justiça Eletrônico,
n. 191, 12 set. 2018a.
STF. RE nº 761.263 RG, relator: ministro Teori Zavascki, julgado em 24 abr. 2014. Diário
da Justiça Eletrônico, n. 130, 28 jun. 2018b.
STF. RE nº 958.252, relator: ministro Luiz Fux, julgado em: 30 ago. 2018. Diário da
Justiça Eletrônico, n. 26, 11 fev. 2019.
STJ. AgRg no Ag nº 1.062.772/SP, 1ª Turma, relator: ministro Luiz Fux, julgado em: 25
nov. 2008. Diário da Justiça Eletrônico, 15 dez. 2008a.
STJ. AgRg no REsp nº 1.020.051/SC, 2ª Turma, relator: ministro Castro Meira, julgado
em: 19 ago. 2008. Diário da Justiça Eletrônico, 11 set. 2008b.
STJ. AgRg no REsp nº 1098545/RS, 1ª Turma, relator: ministro Luiz Fux, julgado em:
18 jun. 2009. Diário da Justiça Eletrônico, 6 ago. 2009a.
STJ. REsp nº 1.107.975/MG, 2ª Turma, relatora: ministra Eliana Calmon, julgado em: 2
abr. 2009. Diário da Justiça Eletrônico, 29 abr. 2009b.