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TÍTULO IV
DA ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)
CAPÍTULO I
DO PODER LEGISLATIVO
SEÇÃO I
DO CONGRESSO NACIONAL
No plano federal, nós temos um legislativo bicameral. Por quê? Porque uma casa
representa a vontade do povo e a outra representa a vontade da federação. É uma
característica própria da federação o bicameralismo. Boa parte das federações
possuem duas casas: uma para representar a vontade do povo e a outra para
representar a vontade dos Estados que, um dia, irão precisar respeitar aquela lei.
Então, é indispensável que os Estados também participem do processo de construção
daquela norma.
O legislativo estadual, distrital e municipal, por sua vez, é unicameral, com uma casa,
apenas, representando a vontade do povo.
Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Seção II
DAS ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL
Seção III
DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
Ajuda se você começar a estudar pelas competências da câmara, porque elas são mais
reduzidas, mas o ideal é ler todas as competências do CN, da câmara e do senado.
Seção IV
DO SENADO FEDERAL
III - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição pública, a escolha de:
c) Governador de Território;
e) Procurador-Geral da República;
XIV - eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como
Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que
somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda
do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública,
sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.
Seção V
Aula 11
Vamos começar falando sobre a prerrogativa de foro funcional, que está no art. 53, §
1º (ver abaixo).
Se o parlamentar cometer crime ANTES DA DIPLOMAÇÃO, ele será julgado pela justiça
comum e, com a diplomação, o processo em andamento passará para o STF. Então, o
processo criminal em andamento antes da diplomação sai da justiça comum e vai para
o STF. Findo o mandato sem decisão, o processo volta para o STF.
Com relação ao júri, o que é que acontece? A prerrogativa de foro funcional prevista
na CF/88 afasta a competência do tribunal do júri. Lembre-se disso. Então, os crimes
cometidos pelo parlamentar que serão julgados pelo STF poderão até mesmo ser
crimes dolosos contra a vida (a competência do júri é afastada).
Em 1964, foi criada a Súmula 394 do STF, que diz que, cometido o crime durante o
exercício funcional, prevalece a competência especial, por prerrogativa de função,
ainda que o inquérito ou a ação sejam iniciados após a cessação daquele exercício.
Essa súmula estabelecia a prorrogação de competência do STF para julgar ex-
parlamentares. Ela foi muito criticada, porque uma coisa é você garantir a alguém que
está numa situação diferenciada um tratamento diferenciado. Mas outra coisa é o
parlamentar deixar de ser parlamentar e continuar com o julgamento em um órgão
diferenciado. Depois de muitos anos, essa súmula foi CANCELADA (em 1999). A partir
daí, passou a vigorar a regra da atualidade do mandato (tem mandato, tem
prerrogativa; não tem mandato, não terá mais prerrogativa).
Alguns anos depois (em 2002), o presidente da república FHC sancionou a Lei
10.628/02. Essa lei restaurou a chama da já apagada Súmula 394.do STF, restaurando
também a prerrogativa de foro após o término do mandato. O MP agiu, ajuizou a ADI
2797, que foi julgada procedente, e a partir daí realmente vigorou a regra da
atualidade do mandato.
Só que o tema é complexo. Em dois casos depois dessa ADI, essa regra da atualidade
do mandato precisou ser revista (ação penal 333 e ação penal 396). Na ação penal 333,
um parlamentar eleito pela PB foi acusado de praticar um crime e, depois de longos
anos, o STF marcou a data de julgamento. Cinco dias antes da data marcada, o
parlamentar renunciou e os advogados disseram que o STF não era mais competente e
que era preciso remeter o caso para a justiça comum. O STF, mesmo indignado,
entendeu que, se está vigorando a regra da atualidade do mandato, se não tem
mandato, não tem mais prerrogativa. O caso foi remetido para a PB e o parlamentar já
faleceu sem ser julgada a ação.
Anos depois, outro parlamentar (dessa vez de RO) passou por situação parecida.
Depois de uma longa instrução, o STF marcou a data de julgamento. Na véspera do
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Ainda nessa parte da prerrogativa de foro funcional, a gente teve a decisão do STF na
ação do mensalão. E a Súmula 704 foi aplicada ao caso. Sem entrar na parte processual
penal, mas apenas na constitucional, a Súmula 704 foi utilizada pelo STF para evitar
que houvesse desmembramento da ação do mensalão. O STF decidiu, no julgamento
da ação penal 470, tendo em vista que boa parte dos acusados não tinha prerrogativa
de foro funcional, por aplicar a súmula 704, que diz que não viola as garantias do juiz
natural, da ampla defesa e do devido processo legal, a atração por continência ou
conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados. Então, o STF trouxe todo o processo do mensalão, apostando nessa
súmula 704. Foi essa súmula a responsável por trazer o processo do mensalão todo
para o STF.
Esse dispositivo trata da prisão criminal. A regra é que o parlamentar NÃO PODERÁ SER
PRESO. Essa é a regra geral. No entanto, PODE A PRISÃO desde que em flagrante de
crime inafiançável. Quando isso ocorrer, os autos da prisão serão remetidos para a
casa respectiva dentro de 24h e a casa pode resolver sobre a prisão, pela maioria de
seus membros (pode decidir soltar o parlamentar para que ele seja julgado em
liberdade).
O STF julgou uma ação cautelar 4039, proposta pelo MPF, sobre a prisão de Delcídio do
Amaral. O tribunal referendou uma decisão tomada pelo Ministro Teori Zavascki, de
determinar a prisão do senador. O que se entendeu aqui foi que haveria respaldo
constitucional. Haveria aqui uma situação de flagrante, porque o crime cometido pelo
Delcídio seria um crime permanente (crime de associação criminosa com objetivo de
atrapalhar as investigações). Esse crime permanente estaria em estado de flagrante
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constante, servindo para fins de prisão cautelar. O ministro Gilmar Mendes entendeu
que esse crime também seria um crime inafiançável, caracterizada a flagrância técnica,
tendo em vista que se tratava de um crime permanente. O tema, principalmente no
âmbito penal, tem dado o que falar, porque muitos entendem que não houve nem
flagrante nem crime inafiançável. De qualquer modo, o Senado referendou a decisão
do STF, mantendo a decisão do Senador.
Além dessa prisão em flagrante de crime inafiançável, o parlamentar ainda pode ser
preso por conta de sentença condenatória criminal transitada em julgado. E aí, no que
tange à pena restritiva de liberdade, isso já aconteceu. O deputado foi condenado pelo
STF. O transito em julgado da decisão foi encaminhado para a câmara dos deputados,
que, na forma do art. 55, § 2º (que diz que, no caso do inciso VI – condenação por
transito em julgado, a perda do mandato será decidida pela câmara dos deputados ou
pelo senado, por maioria absoluta, por VOTO SECRETO, mediante provocação da mesa
ou partido representado no CN), decidiu por MANTER O MANDATO DO DEPUTADO
NATHAN DONADON. Aquilo foi uma decisão extremamente conflituosa, questionável...
Como representar o povo preso? Então, impetraram um MS contra essa decisão da
câmara e o STF suspendeu essa decisão. Poucos meses depois, foi realizada uma nova
sessão, já com a redação nova do art. 55, § 2º (alterado por emenda constitucional),
que acabou com o voto secreto. Nessa nova sessão, com voto aberto, foi cassado o
mandato do deputado. De qualquer modo, não há uma decisão sobre a natureza da
deliberação da casa legislativa (ou seja, se ela é obrigada a cassar, se ela só é obrigada
a cassar se for pena restritiva de direitos ou se ela pode escolher se cassa ou não).
Vamos agora para a imunidade formal quanto ao processo, que está no art. 53, § 3º. O
art. 53, § 3º, não tem uma redação igual à de 1988, porque ele foi reformado pela EC
35/01. Antes da EC 35, o STF não podia iniciar um processo contra o parlamentar sem
que a casa legislativa o autorizasse a deflagrar o processo. Lógico que essas
autorizações não vinham... O corporativismo vigora em nosso país... Então, era um
absurdo o STF precisar de uma autorização da casa legislativa para iniciar o processo
contra o parlamentar. Essa licença acabou com a emenda. Imagine que nós temos um
senador... A denúncia ou queixa crime contra ele é apresentada perante o STF. O STF
deflagra o processo contra o parlamentar e dá ciência à casa legislativa. A casa não
pode fazer nada, mas qualquer partido político (não precisa ser do mesmo partido do
parlamentar) com representação na casa específica pode pedir a sustação da ação (à
casa). A casa então tem 45 dias improrrogáveis para decidir se o processo será
suspenso ou não. Se a casa decidir pela suspensão do processo, ela vai informar ao
STF, que não poderá fazer mais nada (mas apenas suspender a prescrição - § 5º,
porque não faz sentido que a prescrição continue a contar com o processo parado).
Além disso, deputado estadual também goza de imunidade formal quanto à prisão e
quanto ao processo, nos mesmos moldes dos deputados federais.
Quanto aos deputados distritais, o art. 32, § 3º, diz que aos deputados distritais e à
câmara legislativa se aplica o mesmo artigo dos deputados estaduais. Por isso, os
deputados distritais gozam das mesmas imunidades e prerrogativas dos deputados
federais e estaduais. No caso, a prerrogativa de foro funcional deles é no TJDFT.
A situação mais peculiar, no entanto, é a dos vereadores. O art. 29, VIII, diz que a
inviolabilidade dos vereadores por suas opiniões, palavras e votos é garantida no
exercício do mandato e na circunscrição do município. O constituinte economizou em
relação às imunidades dos vereadores. Elas não têm o mesmo grau dos demais
parlamentares. Os vereadores gozam de imunidade material, mas apenas no limite
geográfico do próprio município. Então, a imunidade é limitada ao município. Além
disso, a CF não estabeleceu imunidades formais para os vereadores. Por isso, os
vereadores não possuem nenhum tratamento diferenciado com relação à sua prisão,
ao seu processo... Os vereadores podem ser presos como pessoas comuns e, além
disso, não há nenhuma possibilidade de suspensão do processo. E se a constituição do
estado assim determinar? Ela não pode fazer isso, porque ela não possui essa
liberdade. Se isso ocorrer, ela será declarada inconstitucional.
O STF, sobre a prerrogativa de foro funcional, abriu a sua jurisprudência para aceitar
que as constituições estaduais estabelecessem a prerrogativa de foro facultativamente
para os vereadores. É a constituição do estado que vai estabelecer ou não aquela
prerrogativa. Mas, ainda assim, se a constituição estadual estabelecer essa
prerrogativa, fica uma questão no ar? E a competência para julgar crimes dolosos
contra a vida é de quem? Do júri ou do tribunal de justiça? Nós temos a Súmula 721 do
STF, que foi convertida na Súmula Vinculante 45, em 2015. Essa súmula diz que a
competência funcional do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função
estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual. Ou seja, ainda que a CE
estabeleça prerrogativa de foro funcional para os vereadores, ela não está acima da
CF. Como a competência do júri está na CF e a prerrogativa de foro do vereador, se
houver, está apenas na CE, prevalece a base da CF (ou seja, a competência do júri).
Então, se um vereador praticar um crime doloso contra a vida, o órgão de julgamento
será o júri, e não o tribunal de justiça.
Outro ponto importante é o do art. 53, § 8º. Qual é a diferença entre estado de defesa
e estado de sítio? O estado de sítio pode ser decretado em todo o território nacional,
mas o estado de defesa é localizado. O estado de sítio é mais grave. Se a CF está
dizendo que as imunidades dos deputados e senadores serão mantidas durante o
Estado de sítio, só podendo ser suspensa em situações excepcionais, o que a gente
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leva para a prova sobre o tema? Que durante o estado de defesa não é possível
suspender as imunidades. Se durante a situação mais séria a imunidade será mantida,
o que dizer durante o estado de defesa? Claro que será. E por que a CF não disse nada
sobre o estado de defesa? Porque não precisa. As imunidades serão sempre mantidas
durante o estado de defesa e durante o estado de sítio a regra é a da manutenção das
imunidades, mas nesse caso elas podem ser suspensas, desde que pelo voto de 2/3
dos membros da casa respectiva e apenas nos casos de atos praticados fora do recinto
do congresso que sejam incompatíveis com a execução da medida.
II - desde a posse:
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades
referidas no inciso I, "a";
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das
sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada;
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta,
mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado
no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 76, de 2013)
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa
da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.
O art. 56 nos traz algumas situações em que o deputado e o senador não perderão o
mandato. Mas o que acontece com a prerrogativa, nesses casos? Ele vai manter essas
imunidades e prerrogativas ou elas serão suspensas? Segundo o STF, nos casos do art.
56 as imunidades materiais e formais serão suspensas. Entretanto, a prerrogativa de
foro funcional será mantida. Na visão do STF, as imunidades estão associadas ao
exercício das funções. O parlamentar que está licenciado para ser secretário de Estado
não está exercendo função de parlamentar. Então, não terá direito a imunidade formal
ou material. Mas, nas hipóteses do art. 56, o parlamentar não deixou de ser
parlamentar. E aí, fazendo a interpretação do art. 53, § 1º, o STF entende que, como
após a diplomação o parlamentar será julgado pelo STF e ele não deixou de ser
parlamentar, ele também não deixará de ter a prerrogativa de foro garantida. Então,
as imunidades serão suspensas, mas a prerrogativa de foro funcional será mantida.
II - licenciado pela respectiva Casa por motivo de doença, ou para tratar, sem
remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento
não ultrapasse cento e vinte dias por sessão legislativa.
Seção VI
DAS REUNIÕES
Cada casa legislativa possui o seu órgão diretor. E o Congresso Nacional também tem
uma mesa própria, que funciona quando as duas casas estão reunidas para deliberar
sobre os assuntos constitucionais.
A composição da mesa diretora está no art. 57, § 5º. Cada mesa é composta por 7
membros titulares e 4 suplentes. Então, não interessa se a mesa é da câmara, do
senado ou do congresso.
A mesa da câmara, por exemplo, é composta pelo presidente da câmara, pelo 1º vice
presidente, pelo 2º vice presidente e por 4 secretários. E nós ainda temos 4 suplentes
dos secretários. Somando, então, temos 11 membros. Na mesa do senado é a mesma
coisa. E a do congresso também, só que alternando... Então, nós temos o presidente
do senado como presidente da mesa. O 1º vice será da câmara, o 2º do Senado, o 1º
secretário será da câmara, o 2º do senado... e assim vai.
Seção VII
DAS COMISSÕES
Há várias comissões nas casas do congresso nacional. As comissões são órgãos técnicos
criados pelos regimentos, constituídos por parlamentares, com a finalidade de discutir
e votar as proposições ou projetos.
Essas comissões podem ser formadas apenas por deputados, apenas por senadores ou
ainda podem ser mistas (que podem ser permanentes ou temporárias, conforme o
caso).
Vamos falar agora sobre as CPIs. A CPI é uma comissão temporária que pode ser mista
ou pode ser aberta em cada uma das casas individualmente. A CPI é criada no exercício
da função típica do legislador (função de fiscalizar), e não na função atípica. A CPI não
julga ninguém, assim como não condena ou absolve. Ela é criada para apurar as
irregularidades no plano federal. Ou seja, a CPI não julga ninguém. Existe inquérito
policial, inquérito civil... e o inquérito aqui é parlamentar. Então, lembrem que a CPI é
uma manifestação de atividade típica do Poder Legislativo, muito embora a redação da
Constituição não seja a melhor, porque ela equipara as funções da CPI às funções dos
juízes. E a gente vai ver que não é bem assim, porque o STF já reinterpretou esse artigo
inúmeras vezes e limitou essa atuação da CPI.
A gente vai ver os pressupostos materiais para atuação da CPI. Vamos cuidar do fato
determinado. O que é o fato determinado? Ele significa que a CPI precisa ter um
direcionamento. Não é possível abrir uma CPI para verificar se há algo a ser apurado. A
CPI precisa ter um norte, uma linha... Não é possível se abrir uma CPI para verificar se
há algo a ser apurado ou para apurar situações abstratas (corrupção no Brasil, p. ex.).
Então, a CPI precisa ter um fato determinado.
Além disso, a CPI precisa ter um prazo certo. A CPI não pode ser aberta por prazo
indeterminado. Sobre o prazo certo, o que o STF entendeu? A Lei 1.579/52, que versa
sobre a CPI, diz, no seu art. 5º, § 2º, que a incumbência da CPI termina com a sessão
legislativa em que tiver sido outorgada, salvo deliberação da respectiva casa,
prorrogando-a dentro da legislatura em curso. O STF reforçou que o prazo
determinado pode ser renovado, mas é indispensável que essa inúmeras prorrogações
sejam necessárias, bem fundamentadas e que não ultrapassem o prazo da legislatura
em que a CPI foi criada. Ele disse que são possíveis prorrogações do prazo inicialmente
fixado para o término da CPI, desde que não ultrapasse ao da legislatura em que a CPI
foi criada. Outra coisa: toda prorrogação depende de decisão fundamentada pela
maioria dos membros da comissão.
O STF também decidiu que a CPI deve apurar um fato determinado, mas não está
impedida de investigar fatos que se ligam intimamente com o fato principal. Imagine
que a CPI foi aberta para apurar uma determinada situação e, ao longo das
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investigações, surgiram novos casos envolvendo aquele principal. Neste caso, a CPI
continuará responsável pela investigação. Ou seja, ela continuará responsável pela
investigação se, ao longo dela, surgirem novos fatos alinhados ao principal.
Sobre o prazo certo, o STF decidiu que a locução “prazo certo”, inscrita no § 3º do art.
58 da CF, não impede prorrogações sucessivas dentro da legislatura, referendando a
Lei 1.576/72.
É claro que fatos conexos aos inicialmente apurados podem também a constituir alvo
de investigação da CPI em causa. Contudo, para que isso aconteça, torna-se necessária
a aprovação do aditamento. Lembre-se que todas as decisões da CPI devem ser
fundamentadas e precisam respeitar o princípio da colegialidade (devem ser tomadas
por decisão da maioria dos seus membros).
O primeiro é a assinatura de 1/3 dos membros da casa (ou do CN, se for o caso). Se a
CPI for aberta apenas no âmbito da câmara, ela precisará de 1/3 da câmara (171
assinaturas). Se ela for aberta apenas no âmbito do senado, ela precisará de 27
senadores. E se for uma CPMI (comissão parlamentar mista de inquérito), ela precisará
de 1/3 de assinaturas dos deputados e 1/3 de assinaturas dos senadores. ATENÇÃO:
não há deliberação plenária. Em nome das minorias, as assinaturas são suficientes, não
se sujeitando ao plenário da casa (porque isso esmagaria a minoria parlamentar).
É preciso esclarecer, porém, que apenas o relatório conclusivo dos trabalhos da CPI é
enviado ao MP e à AGU para que promovam a responsabilidade civil ou criminal por
infrações apuradas. Isso quer dizer o que? Quer dizer que os relatórios parciais não são
encaminhados. O MP não teria acesso a cada ato da CPI. O relatório final é que, se o
órgão decidir, será encaminhado ao MP.
Outro ponto importante é falar da CPI nos Estados e Municípios. Do mesmo modo que
a CPI federal, estados e municípios também podem criar as suas CPIs. Agora, muita
atenção... em nome do princípio federativo, uma CPI municipal não pode ser aberta
para apurar uma regularidade estadual, assim como uma CPI estadual não pode ser
aberta para apurar uma regularidade federal... e assim sucessivamente. Porque, senão,
nós teríamos uma ofensa clara ao pacto federativo. Cada uma apura questões relativas
à sua esfera. Uma lei do estado de SP determinou que as assinaturas de 1/3 dos
membros da assembleia legislativa seriam submetidas ao crivo do plenário da casa
legislativa. E aí essa lei foi alvo de uma ADIN. E o STF decidiu que essa lei era
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O que é que a CPI pode fazer por ato próprio (desde que por decisões fundamentadas
e pela vontade da maioria dos seus membros – esses dois requisitos são decorrentes
do entendimento do STF)? A CPI pode determinar a quebra dos sigilos bancário, fiscal
e telefônico do investigado. Então, a CPI não precisa pedir autorização judicial alguma
para decretar a quebra do sigilo de dados bancário, fiscal e telefônico. Lembre-se que
sigilo telefônico não se confunde com interceptação telefônica. A interceptação é a
captação da conversa telefônica, e isso a CPI não pode fazer, porque esse sigilo é
protegido pela reserva de lei, de jurisdição... mas a CPI pode, por ato próprio,
determinar a quebra do sigilo de dados telefônicos (ter acesso ao histórico das contas,
àquilo que está documentado a respeito da ligação, de onde partiu o telefonema,
quanto tempo durou a ligação, quanto custou a conta...).
A CPI também pode pedir auxílio ao TCU para realização da fiscalização contábil,
alguma auditoria necessária... Então, ela também pode pedir o auxílio do TCU nessa
assessoria mais técnica/contábil por ato próprio.
A CPI pode transportar-se para qualquer localidade do país, desde que haja
necessidade (para colher depoimentos, por exemplo).
A CPI também pode requisitar documentos de autoridades, realizar atos que não são
protegidos pela reserva de jurisdição, viabilizando justamente um bom fechamento do
inquérito parlamentar que, se for o caso, será entregue ao MP para as providências
seguintes.
Todos os atos que a CF reservou ao judiciário não podem ser realizados pela CPI. Por
exemplo, dentro do art. 5º, XII, destacamos a INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. A CPI não
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A CPI também não pode determinar, na forma do art. 5º, XI, a violação de domicílio.
Ela não pode, por exemplo, determinar uma busca e apreensão com violação da casa.
Por quê? Porque é um ato protegido pelo princípio da reserva de jurisdição.
O art. 5º, XIX, também acrescenta à nossa lista a questão da suspensão ou dissolução
das atividades da associação. Então, dissolver ou suspender atividades de uma
associação são atos que dependem de ordem judicial, não podendo ser procedidos
pela CPI.
Destacamos, ainda, o art. 5º, LXI, sobre a prisão. A CPI não pode expedir mandado de
prisão contra ninguém. A única modalidade que pode ocorrer durante a audiência da
CPI é a prisão em flagrante (que pode ocorrer em qualquer lugar, aliás). Então, não há
mandado de prisão preventiva, temporária... expedido pela CPI, porque também
violaria o art. 5º, LVI, da CF.
A CPI não pode impedir que uma pessoa deixe uma localidade ou até mesmo que ela
deixe o país. A CPI não tem poderes para restringir esse tipo de liberdade de
locomoção.
Magistrados podem ser convocados a participar de CPIs? Sim. Mas eles não são
obrigados a revelar questões funcionais, porque isso violaria o princípio da separação
de poderes. Então, configura constrangimento ilegal, com ofensa ao princípio da
separação de poderes, a convocação de magistrado pela CPI para que preste
depoimento em razão de decisões de conteúdo jurisdicional atinentes ao fato
investigado. Convocar magistrado é possível, mas os magistrados não são obrigados a
responder sobre questões funcionais relacionadas à sua atividade jurisdicional, porque
isso violaria o princípio da separação de poderes.