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Não vejo muito bem como se pode negar que o feto seja vida. Na
verdade, empregar a palavra "feto" já é tirar um pouco da vida da
criança que está lá na barriga da mãe. Toda essa terminologia
científica, que foi feita para coisas, acaba nos encobrindo a realidade
pessoal. Não bastasse isso, fala-se em "interrupção" da gravidez... um
pause no controle do vídeo, mas que - no caso - não tem como ser
revertido.
Nós somos pessoas corpóreas, não corpos. Quando a mãe está grávida
diz: "estou grávida". Não dizemos (ainda): "Olha! Aquele corpo
engravidou". Dizemos que a Renata, a Fabiana, a Malu etc., está
grávida. Que vai ser mãe. Que Fulano vai ser pai. Trata-se de vida
pessoal, de projetos, de trajetórias pessoais.
Mas, então, por que não se matar crianças mais velhas que estão
dando trabalho? Talvez as crianças de rua, os menores abandonados?
Qual a diferença?
A diferença só pode ser que nesse caso estamos vendo que se trata de
alguém. No caso do aborto, não é tão fácil de se ver. O que os olhos
não vêem, o coração não sente.
Temos que nos esforçar para ver vida pessoal em alguém que ainda
não nasceu. Ainda mais, se esse alguém for mongolóide, cego, surdo,
enfim, tiver algum defeito físico. Temos que imaginar um cego
crescido, um Stevie Wonder, um mongolóide que conhecemos e, que
nunca pensaríamos em matar etc. Só, desse modo, veríamos que se
trata de uma loucura, de um crime.