Você está na página 1de 8

O nascimento de Zahy: Versão apresentada por Kuza’i Tembé

Lenda Tembé Salão Tembé, na UFPA.

1
Verônica Tekwem Tembé. Filha de Marcilene Tembé (Kuza’i), neta
de Verônica Tembé.
1
Às minhas filhas Wendy e Dafne, que cresçam e Cacique Zequinha Tembé - Aldeia Frasqueira
Cacique Antônio Tembé - Aldeia Pakotyw
revigorem a luta pelo fortalecimento cultural
Cacique Kamirã Tembé - Aldeia São Pedro
dos povos da Amazônia, em especial a nação Cacique Neto Tembé - Aldeia Zakare (Jacaré)
Tembé. Cacique Cláudio Tembé - Aldeia Pirah
Cacique Naldo Tembé - Aldeia Sede
À minha esposa Audicleia, pela parceria de Cacique Pedro Soares - Aldeia Ituaçu (cachoeira)
Cacique Francisco Tembé - Aldeia Ypyhun
vida!
Cacique Antônio Pastana - Aldeia Yarape
Cacique Edivaldo Tembé - Aldeia Pino’a
Cacique João Pedro - Aldeia Itahu (cumaruzeiro)
Aos Professores: Cacique Indinho Tembé - Aldeia Taraku’atyw
Cacique Pedro Teófilo - Aldeia Itaputyr
Bewari Tembé Farias, Marcilene Kunza’i
Tembé, Gecy Tembé (Nonô) e Kamiran Tembé.
À toda a nação Tembé!
À Verônica Tembé, in memorian.

Teko hapo. Somos Raízes!

Às autoridades indígenas de Santa luzia do Pará


e suas respectivas aldeias
Cacique Clementino Tembé - Aldeia Zawar (onça)
Cacique Zé Grande - Aldeia Tawari
2
Zane ipy mehe zane muzamuzang wà heta zekwehe amo Zahy foi criado para ser o próximo cacique, era um menino
tuihaw wà. Ikatu zekwehe wakamarar pe. A’e wemiriko rehe esperto, alegre e bonito. Ele fazia muitas coisas boas. Mas,
nuwerekoz Wa’yr wà, a’e rupi uzemumik wà. A’e wemiriko infelizmente, o jovem rapaz desejou sua tia. Para os
rehe nuwerekoz Wa’yr wà, a’e rupi. uzemumik wà. Amo ar Tenetehara, Zahy não podia ficar com sua tia.
mehe uhem zekuwehe Mair pe, upytywà zekuwehe tuihaw Zahy kwaharer mehe huriwate puràgete a’e no. Zahy
hemiriko rehe wuhem zekwehe Zahy. zekwehe teko, katu ma’ e uzapo wakamarar Wanupe.
No tempo de nossos antepassados, existiu um cacique que foi
muito bom para nosso povo. Ele e sua mulher viviam muito
tristes, porque não tinham filho. Maíra, então, resolveu
ajudá-los. E quando ninguém mais esperava, nasceu Zahy.

3
Wkamarar wanupe Zahy nupuner kwaw u’aw pà uzaihe Pyhaw Zahy u’aw oho uzaihe puhe. Upy’a hya’u ze’eg hau
puhe. Zahy utemarahy. Amo ar mehe pyhawu’aw zekwehe rehe. Upu’i Zahy pe na’arihe upyhyk Zekwehe zanipaw wà
izaihe puhe. Izaihe uputar katu awa u’aw haw ipuhe. uzepuez ipo upihyw Zahy rua rehe.
Tuehe Zekwehe Zahy u’aw izaihe puhe. Izaihe nukwaw a’e Sem saber de nada, à noite, Zahy foi deitar de novo com a
awa Zahy à. tia. Mas antes, ela pediu pra ele esperar, e molhou a mão no
Zahy teimava muito e, à noite, sem que lhe vissem, passou a jenipapo. Passou várias vezes os dedos molhados de jenipapo
ir deitar com sua tia. Mesmo sem saber que era, a tia gostou no rosto do sobrinho.
muito daquele homem. Ela não sabia que o homem era
Zahy. Todas as noites, os dois passaram a deitar juntos.

4
De manhã Zahy foi lavar o rosto, mas a mancha do jenipapo Todos ficaram com raiva de Zahy. A velha índia, o cacique,
não saiu. Lavou muitas vezes, até que entendeu o que havia a tia e Maíra também. Mesmo com muita tristeza, decidiram
acontecido. Zahy olhou seu rosto pintado com muita tristeza. mandar Zahy sair da terra. O que ele fez era muito grave e
Agora toda a gente saberia que ele dormia com a tia. deveria ser punido.
Pyhawate Zahy oho Zekwehe `y pe. Zahy uwexak huwa ky’a Upaw piàiw Zahy rehe w’à: ...Hya’u ma’e à... Tuihaw wà...
haw wà uzemumyk Zekwehe. Uzuhez Zekwehe huwa Izaihe à... Mair Zekwehe no... Omonokar Zekwehe Zahy
Nuze’ok Kwaw zanipaw izuwi. Zahy uzemumyk ma’e pà teko-haw wi wà.
huwa rehe. Upaw Zekwehe ukwaw wà Zahy u’aw haw
uzaihe puhe.

5
Zahy, muito envergonhado, foi embora para o céu e se Essa história foi minha vó que me contou há muito tempo...
transformou na lua. A parte pintada nunca saiu. Ainda É a história do nascimento de Zahy.
hoje, Zahy lava seu rosto. Por isso chove quando a lua nasce. Ang maé mumeú hau. Hezary mume’u auwer hawe. Kwehe
mehe zekwehe.
Maranugar Zahy oho kwez ywak pe. Ko tary ar, Zahy zuhez
wer huwa. A’e rupio àmàn ukyr pyhaw. Kom ukyr àmàn a’e
Zahy zai’o hini.

6
Antonio Edson Farias (Quilombola), filho de seu Raimundo Nogueira,
casado com Katiane Tembé. “Deo” e Katiane tem três filhos, Ywyter
(significa Pau D’arco) e Ywytir (significa ladeira) e Heté (significa
Doce) todos residentes na aldeia sede do Alto Rio Guamá.

7
Esta é uma pequena contribuição para o ensino de
Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Artes e Língua
Tembé.
Espero que esta iniciativa fomente outras formas de
apreender essa rica cultura formada pelo que temos de
mais maravilhoso que são as formas como entendemos e
explicamos o mundo. Um abraço!
Prof. Ms. Edson Farias

Antonio Edson Farias Prof. Kamirã Tembé


Cacique da Aldeia São Pedro, Historiador (UEPA)
Pai da Wendy e da Dafne; Mestre em Linguagens e
Saberes na Amazônia/UFPA, 2017; Licenciado em Prof. Gecy Tembé (Nonô)
Letras, (UFPA, 1997); Graduado em História (UFPA, Prof. de Artes e Língua Tembé, Peagogia (UNIASSELVI)
2016); Graduado em Espanhol (UFPA, 2019);
Prof. Marcilene Tembé (Kuza’i)
Especialista em História da Amazõnia (UnB, 2022);
Filha de Verônica Tembé, mãe de Verônica Tekwem
Especialista em Saberes e Linguagens na Amazônia
Tembé, Prof. de Língua Tembé.
(UFPA, 2013); Especialista em Abordagem textual
(UFPA, 2000); Historiador das Letras, na luta pelo Prof. Bewari Tembé
fortalecimento da Rota Quilombola e da Amazõnia Prof. de Língua Tembé, estudante de Letras (FAEL).
Quintinista. Coordenador do Grupo Raízes de Estudos,
Pesquisas, Debates e Publicações.

Você também pode gostar