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RESUMO
Com os avanços tecnológicos no setor produtivo da construção civil, a eficiência em custos tornou-se
essencial nas empresas, à medida que tem grande impacto em todo o ciclo de vida das construções,
desde o estudo de viabilidade até execução da obra. Diante da exigência dos projetos ligados aos custos
e prazos de execução, constata-se que a metodologia tradicional não atende de forma satisfatória às
exigências de mercado quando empregada no processo de orçar. Já a metodologia BIM surge como
uma alternativa que permite a obtenção dos dados orçamentários. Assim, o presente trabalho teve como
objetivo analisar, comparativamente, orçamentos desenvolvidos via metodologia tradicional e em BIM
por meio de um estudo de caso de uma habitação popular, escolhido por se dispor de orçamento e
projetos elaborados na metodologia tradicional – CAD. Para tal, recorreu a uma base bibliográfica que
permitiu compreender aspectos inerentes de ambas as metodologias. A partir disso, foi realizado na
metodologia BIM a modelagem parametrizada da habitação e em seguida compatibilizou-se os projetos
arquitetônico, estrutural, elétrico e hidrossanitário. Após isso, realizou-se o orçamento com o auxílio
de um plug-in Orçafascio que permitiu a integração dos projetos à planilha orçamentária. Finalmente,
confrontaram-se os orçamentos obtidos pelas metodologias, no qual os custos totais obtiveram uma
pequena diferença de 1,11%, mostrando ser viável o emprego do BIM para a orçamentação, além de
ser uma metodologia mais automatizada, porém constatou-se ainda que, independentemente da
ferramenta empregada (se CAD ou BIM) os orçamentos tenderam a convergir.
ABSTRACT
With the technological advances in construction productivity, cost efficiency has become essential in
companies, as it has a major impact on the entire construction life cycle, from feasibility study to
construction work. However, it can be observed that the traditional methodology does not satisfactorily
meet market criteria when it comes to the budgeting process in terms of costs and time. Thus, this
paper aims to analyze, comparatively, budgets developed through traditional methodology and in BIM
through ...elaborated with traditional methodology - CAD. For such, database research was conducted
to allow better comprehension of aspects inherent to both methodologies. From this, the housing was
modeled using BIM methodology and consequently, the architectural, structural, electric and hydro-
sanitary projects were compatibilized. After that, the budget was calculated with the help of a plug-in
(Orcafascio) that allowed the projects to be fully integrated into the budget spreadsheet. Finally, the
budgets obtained by the two methodologies were compared and the total costs displayed a small
difference of 1.11%, besides the automated method, what shows that the use of BIM for budgeting was
feasible because regardless of the method employed (whether CAD or BIM) the budgets converged.
1 INTRODUÇÃO
O setor produtivo da construção civil vem sofrendo significativas mudanças nos últimos anos.
Com o surgimento de novas tecnologias, aumento do grau de exigência dos clientes e a reduzida
disponibilidade de recursos financeiros, as empresas perceberam que é inevitável investir em gestão de
custo e controle de processos (MATTOS, 2006). Desta forma, a eficiência em custos tornou-se
essencial nas empresas, à medida em que tem grande impacto em todo o ciclo de vida das construções,
desde o estudo de viabilidade até execução da obra.
Os fatores fundamentais para a execução de uma obra é existência de um projeto e seu
orçamento. Com base nessas documentações é possível prever o que será construído, os quantitativos,
materiais, equipamentos e mão de obra necessária. No entanto, quando não há esse tipo de informação
ou há, entretanto, repleta de omissões e falhas, problemas e irregularidades tendem a ocorrer (BRITO,
2017).
Atualmente, o processo de orçamentação ainda é realizado de maneira tradicional, ou seja, com
auxílio de projetos impressos e/ou com o sistema Computer Aided Design – CAD. No entanto, essa
ferramenta de representação considera apenas parâmetros geométricos do empreendimento a ser
construído e permite, tão somente, visualizações fragmentárias de peças gráficas (plantas, cortes,
fachadas etc.). Nesse contexto Andrade (2012) afirma que, essa metodologia depende,
majoritariamente, da atenção humana, pois, qualquer alteração em algum documento impõe a
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necessidade de que se revejam todos os outros documentos distintos. Winter (2017) ressalta que o
desenvolvimento de orçamentação ainda é muito manual, tornando-se, em muitos casos, um trabalho
árduo, já que o orçamento engloba todo o empreendimento.
Nesse cenário, a Modelagem de Informações da Construção, ou como conhecido por sua
terminologia em língua inglesa Building Information Modeling – BIM – apresenta-se como uma
alternativa que otimiza os processos acima descritos. Essa metodologia permite desenvolver um
modelo virtual da construção que contenha precisão geométrica e informações sobre todas as etapas da
obra. Além disso, se implementada adequadamente, facilita o processo de integração entre projeto e
obra que resulta em uma construção de melhor qualidade, reduzindo erros, retrabalhos, e,
consequentemente, o tempo global de execução (EASTMAN, 2014).
De acordo com Assunção (2017), a aplicação dessa metodologia permite que toda alteração de
projeto seja atualizada no modelo, de modo automático, caso se processe qualquer alteração no modelo
não será necessário refazer todo o orçamento. Além disso, os softwares BIM, na fase de orçamentação,
possibilitam também efetuar cálculos de forma instantânea e precisa de todos quantitativos necessários
para obras. (BRADA, 2012).
Diante da exigência dos projetos ligados aos custos e prazos de execução, constata-se que a
metodologia tradicional não atende de forma satisfatória quando empregada no processo de orçar.
Visando contornar isso, a metodologia BIM surge como uma alternativa que permite a obtenção dos
dados orçamentários, porém ainda poucos são os escritórios que implementaram essa metodologia.
Logo, a questão problema que se pretende enfrentar é: como a metodologia BIM pode potencializar a
orçamentação de obras comparado com a metodologia tradicional?
Buscando confrontar tal questão, este estudo tem como objetivo geral analisar,
comparativamente, orçamentos desenvolvidos via metodologia tradicional com outros em BIM, a fim
de verificar a viabilidade do uso dessas metodologias. Através de métodos comparativos, confrontou-
se os dados orçamentários dos projetos de obra coletados num Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)
apresentado na Coordenadoria de Engenharia Civil (COEC) do Instituto Federal de Sergipe - Campus
Aracaju/IFS no ano de 2018.
Para alcançar o objetivo geral, os seguintes objetivos específicos tiveram de ser,
necessariamente, desenvolvidos: Realizar as modelagens paramétricas dos projetos de diferentes
disciplinas; Compatibilizar as modelagens parametrizadas dos projetos; Efetuar a orçamentação na
metodologia BIM; Analisar e comparar os resultados dos orçamentos obtidos via modelagem em BIM
com aquele realizado em metodologia CAD.
2 ESTADO DA ARTE
A preocupação com os custos começa na fase de concepção da obra, quando o orçamento é
realizado para obter os prováveis custos de execução (MATTOS, 2006). Segundo Goldman (2004),
todo empreendimento, requer gastos consideráveis na sua construção que, por isso, devem ser
quantificados para que se possa ter uma análise de viabilidade prévia. Assim, o processo de
orçamentação de obras é fundamental ao êxito do empreendimento.
O orçamento pode ser definido como os gastos necessários para a realização de um projeto, de
acordo com um plano de execução previamente estabelecido, gastos esses traduzidos em termos
quantitativos (LIMMEN, 1997, p.86). Avila, Librelotto e Lopes (2004) completa afirmando que a
orçamentação é o processo de quantificar insumos, mão de obra, equipamentos necessários à realização
de uma obra ou serviço, bem como os respectivos custos e o tempo de duração. Para Mattos (2006), o
orçamento não se confunde com orçamentação, pois o orçamento é o produto, já orçamentação é o
processo de determinação.
De maneira geral, um orçamento é composto pela somatória dos custos diretos, custos indiretos,
benefícios e despesas indiretas (BDI) para que se obtenha o preço de venda. Por basear-se em previsões,
todo orçamento é aproximado e isso ocorre pelo fato dele possuir muitas variáveis. Um orçamento pode
até não ser exato, porém, necessita ser preciso, e para isso é necessário a experiência de um bom
profissional (MATTOS, 2006). Sendo assim, é necessário que o orçamentista considere todos os
detalhes que possam impactar em custos durante toda a execução de um empreendimento (LOSSO,
1995).
Segundo Baeta (2012), existem três tipos de orçamento: estimativa de custo, orçamento
preliminar e orçamento analítico, conforme é apresentado na Figura 1. A distinção entres eles estão no
grau de detalhamento ou precisão, que pode variar a depender do objetivo de quem o elabora.
A estimativa de custo é uma avaliação realizada com base em dados históricos de projetos
semelhantes. Este tipo de orçamento tem o intuito de dar uma ordem de grandeza do custo do
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que dão suporte a esse conceito, o que fornece a construção de uma nova abordagem para a coordenação
de todas as etapas da obra (AZEVEDO, 2009).
As modelagens paramétricas são representações computacionais de determinado produto
construídas a partir de entidades que podem ser de origem geométrica ou não. (SANCHO e
HERNANDEZ, 2006). Uma modelagem dessa categoria requer que esses segmentos sejam agrupados
em componentes definidos por parâmetros que possam ser programados em conformidade com a
necessidade do usuário.
Vale ressaltar que, enquanto na metodologia CAD todas as características da geometria de um
objeto devem ser editadas manualmente, na metodologia BIM, a forma e a geometria de um objeto
paramétrico se ajustarão de maneira automática às mudanças realizadas no contexto no qual ele está
inserido, o que permite que as representações do projeto sejam atualizadas automaticamente à medida
que as informações dos parâmetros são atualizadas, incluindo materiais, quantitativos e custos. Como
exemplo, ao inserir uma parede é possível dizer o tipo de material com o qual ela foi formulada, a
resistência dos blocos, os revestimentos, o fornecedor, entre tantos outros tipos de parâmetros,
conforme é ilustrado na Figura 2.
propiciar a troca de informações entre os diversos programas sem a perda de dados e de maneira
eficiente, a indústria de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) criou um formato de linguagem
conhecido como Industry Foundation Classes (IFC). A aplicação do IFC possibilita utilizar qualquer
plataforma BIM, e que se obtenha acesso direto e imediato às informações do projeto. Essa facilidade
é capaz de gerar um aumento na qualidade do projeto, já que o empreendimento será construído
virtualmente antes de ser executado, antecipando a descoberta das incompatibilidades na fase de projeto
(ASSUNÇÃO, 2017).
O BIM tem sido uma das maneiras de suporte ao processo de orçamentação. Com um banco de
dados visual dos componentes do empreendimento, ele pode fornecer a quantidade de forma
automatizada e ajudar na redução significativa da variabilidade dos custos (SABOL, 2008). Cabe ao
orçamentista a responsabilidade de identificar qual método para o seu processo de orçamentação
específico. Assim, é necessária a transferência dos dados do modelo para uma ferramenta externa por
formatos IFC ou por transferência direta (plug-in: programa de computação usado para adicionar
funções a outros softwares maiores, provendo alguma funcionalidade específica.), quando os softwares
fazem uso do mesmo formato de definição de dados.
3 MATERIAL E MÉTODOS
Para o alcance dos objetivos propostos, a metodologia adotada para esse trabalho desenvolveu-
se conforme o fluxograma apresentado pela Figura 3 e detalhada posteriormente.
.
Fonte: Andrade (2018).
Com todas as informações necessárias, o modelo foi concebido de acordo com os requisitos
necessários para a obtenção dos quantitativos e integração ao sistema de orçamento OrçaFascio. Foi
necessário realizar a modelagem do projeto arquitetônico no software Autodesk Revit que serviu de
base e vínculo para os projetos complementares. Com os projetos vinculados é possível garantir que,
ao realizar uma mudança em um modelo, essa repercuta na atualização dos projetos vinculados.
O processo de modelagem das paredes, diferentemente do que seria feito no Autocad, traçando
duas linhas com espessura da parede, no Revit definiram-se as propriedades do tipo de material em
cada camada nela empregado. É importante destacar que, de acordo com a função atribuída para cada
camada existe um grau de prioridade variando entre 1 a 5, sendo que (1) é alta prioridade e (5) baixa
prioridade. Ou seja, quanto menor o valor, maior foi o grau de prioridade com relação aos outros
elementos. Assim, as conexões entre as camadas de parede, piso, laje etc. foram realizados conforme
os seus respectivos níveis de prioridade.
Após a modelagem das paredes e pisos, inseriu-se as esquadrias. Para as esquadrias foi
necessário a parametrização dos elementos conforme as especificações. E, a partir disso, foi possível
editar as informações da altura, largura, espessura e materiais. Por fim, modelou-se o forro, cobertura,
dentre outros elementos. A Figura 6 mostra o modelo arquitetônico.
Com base na modelagem arquitetônica, procedeu-se com a modelagem estrutural. Para isso,
num novo arquivo foi vinculado ao projeto arquitetônico, de modo que se utilizasse a geometria desse
projeto como base, sem que houvesse a necessidade de carregar todas as informações congregadas, a
fim de deixar o arquivo mais leve. Posteriormente modelou-se os elementos estruturais (radier, pilares,
lajes, vigas, cintamento superior). Na Figura 7 apresenta o modelo estrutural e o detalhamento das
armaduras dos pilares, vigas e radier, respectivamente.
Semelhante ao que foi feito no projeto estrutural, procedeu-se com o de instalações: vinculou-
se o arquitetônico com um arquivo novo, construindo, virtualmente, o modelo. Para isso, lançou-se os
pontos de tomadas, interruptores, quadro geral, pontos de iluminação, e por fim, a modelagem dos
eletrodutos. Vale lembrar que, para a modelagem das instalações elétricas, os componentes utilizados
foram parametrizados de acordo com as especificações. A Figura 8 apresenta a modelagem do projeto
elétrico.
a) b)
Fonte: Autora (2019).
Para identificar as interferências entre os diferentes projetos fez-se uso da ferramenta Clash
Detective, que permite detectar os elementos que ocupam o mesmo espaço físico. Para isso, adicionou-
se um teste de interferência, definiu-se as regras para o teste, identificando-se as interferências
geométricas.
Por fim, visualizou-se os resultados das interferências, cujas interferências e as medidas de
soluções adotadas são apresentadas, sucintamente, no Quadro 1.
Com a planilha pronta, o orçamento foi vinculado na nuvem com a modelagem desenvolvida
no Revit. Para isso, foi necessário utilizar o plugin OrçaBim que pode linkar diretamente o orçamento
com o modelo BIM, conforme a Figura 12. Sendo assim, quantificou-se os elementos desse modelo,
interligados às quantificações diretamente com o banco de dados de custo Orse e Sinapi.
Além disso, pode-se adicionar a taxa de perdas para esse determinado insumo devido ao
manuseio e transporte impróprios. No entanto, caso fosse necessário adicionar alguma regra para o
levantamento da área de alvenaria por questão do tempo que o pedreiro leva para construir uma
alvenaria inteira e vazada, bastaria acrescentar o critério de fórmula. E assim, o procedimento de
quantificação foi realizado para os outros insumos seguindo a classificação por categorias.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Serão apresentados de forma comparativa os quantitativos e os custos obtidos tanto pela
metodologia tradicional de projeto como pela BIM. Visando analisar, de uma forma mais aprofundada,
o desempenho de um e do outro método, utilizou-se duas planilhas de orçamento: a primeira extraída
do trabalho de Andrade (2018) analisado e que foi elaborado recorrendo às técnicas de CAD – via
Autocad -, com o desenvolvido nesse estudo recorrendo, às técnicas BIM - via Revit - com auxílio do
plugin ORÇABIM.
Para que pudessem ser comparadas apenas questões orçamentárias e assim analisar a eficiência,
buscou-se empregar os mesmos critérios de medição para ambas as metodologias.
4.1 QUANTITATIVOS
Para comparar e analisar os quantitativos criou-se a Tabela 2 que apresenta em ordem
decrescente, de diferença percentual, os serviços para os quais se constataram variações em
quantitativos, com a finalidade de evidenciar as possíveis diferenças entre os métodos. Os valores dessa
diferença foram acrescidos ou decrescidos, de acordo com a metodologia BIM. Ou seja, quando o valor
é negativo, o quantitativo da metodologia BIM é menor que da tradicional, já quando o valor é positivo,
o inverso. Já os demais serviços que não constam na Tabela 2 foram iguais para as duas metodologias.
METODOL METO
DISCIPLINA DESCRIÇÃO DOS UND. DIFERENÇA
OGIA DOLO
SERVIÇOS %
TRADICIO GIA
NAL BIM
Por meio da Tabela 2, observa-se que, na disciplina de estrutura, o serviço de “armação de pilar
ou viga de estrutura” apresenta uma diferença bastante significativa, de 316,32%. O quantitativo
extraído na metodologia BIM apresentou um valor muito menor que na tradicional, essa variação
ocorreu, possivelmente:
i. pelo baixo nível de detalhamento encontrado no projeto CAD, gerando, consequentemente,
uma superestimação desses valores;
ii. pela dificuldade em quantificação.
Quanto aos serviços de instalações hidráulicas e sanitárias, as máximas variações de
quantitativos verificadas, e que equivaleram a 100%, foram percebidas nos serviços de tubulações e
conexões. Já os serviços de instalações elétricas apresentaram menores variações com uma diferença
percentual máxima de 36,60% para o serviço de eletroduto flexível corrugado. Apesar dos projetos em
CAD estarem com um bom nível de detalhamento, essa diferença possivelmente pode ser justificada
pela dificuldade em estabelecer as quantificações desses elementos somente pela visualização desses
itens no CAD.
Os serviços arquitetônicos foram os que obtiveram as menores variações entre as metodologias,
com diferenças menores que 10%, sendo o serviço de “pintura de acabamento com aplicação de duas
demãos de verniz” o item de maior diferença. Percebeu-se que, enquanto no método tradicional foi
considerada a área bruta das portas, no método BIM quantificou-se também o caixão da porta para
pintura, sendo a diferença nesse quantitativo da ordem de 8,33% se comparado com a anterior. Já em
relação aos serviços de chapisco, reboco interno e externo, esses tiveram uma redução de 6,43%, 6,28%
e 6,02%, respectivamente.
Além disso, percebeu-se que, com o auxílio da modelagem BIM, alguns serviços precisaram
ser ora acrescentados, ora retirados: apesar de constarem no orçamento, não foi possível identificá-los
nos projetos em CAD, mostrando que o processo de levantamento seria menos rigoroso em termos de
procedimento. Sendo assim, os itens da Tabela 2, na cor verde, representam os itens adicionados, já os
itens grifados em azul, esses não constaram no projeto hidrossanitário e elétrico do CAD.
4.2 CUSTOS
Para a determinação do custo, em ambos os métodos se adotou como padrão os preços dos
serviços encontrados no trabalho de Andrade (2018). Porém, vale ressaltar que não se considerou os
quantitativos do serviço de “armadura de pilar e viga da estrutura”, pois este teve bastante discrepância
entre metodologias o que poderia interferir nas análises, bem como os serviços de instalações
hidrossanitário e elétrico que foram encontrados em apenas um dos métodos.
Para uma melhor análise, o Gráfico 1 segue o resumo da comparação dos custos por etapa via
método tradicional e BIM. Observa-se que houve pequenas diferenças percentuais entre as
metodologias, obtendo variações menores que 10%. Isso mostra que ambas as metodologias
apresentaram quantitativos próximos. A etapa que obteve maior variação foi a de instalações sanitárias,
com uma redução de 8,83% na metodologia BIM perante a tradicional.
A Tabela 3 apresenta o resumo do orçamento com os custos totais das metodologias analisadas
sem a adição do serviço de “armadura de pilar e viga da estrutura”. O custo total da construção da
unidade habitacional via metodologia tradicional, conforme obtido no TCC analisado, foi o de R$
53.613,78, já o custo aqui obtido na metodologia BIM, em emprego, foi o de R$ 53.025,14,
apresentando uma variação entre os métodos de 1,11%.
Percebeu-se que apenas analisando os custos finais obtidos, houve uma pequena diferença entre
as metodologias, que não necessariamente era o previsto, pois mesmo utilizando os mesmos critérios
de orçamentação, ainda assim era esperada uma maior redução por parte metodologia BIM visto a
precisão que essa proporciona quanto à extração de quantitativos.
Dessa forma, é enfatizada a importância de um bom orçamentista, pois independente da sua
ferramenta, os resultados tendem a convergir. Além disso, essas constatações não podem ser assumidas
de modo simplista e devem ser tanto expandidas como relativizadas.
Sabendo-se da importância do serviço de armação estrutural no custo de uma obra, a Tabela 4
apresenta o resumo do orçamento com os valores totais conforme metodologias analisadas,
considerando, agora, o serviço “armação de pilar ou viga de estrutura”.
Tabela 4 - Comparativo de custo total por metodologias considerando o serviço “armação de pilar ou viga de estrutura”.
CUSTO
DIFERENÇA
METODOLOGIA TOTAL
R$ %
TRADICIONAL 57.509,91
6,58
BIM 53.961,06
Fonte: Autora (2019).
O custo total obtido no trabalho de Andrade (2018) no qual se trabalhou com a metodologia
tradicional foi de R$ 57.509,91, já no presente, desenvolvido em BIM, obteve-se o de R$ 53.939,14.
A diferença entre esses valores implicou numa variação, entre métodos, da ordem de 6,58 %.
Logo, percebeu-se que houve um acréscimo considerável ante a anterior diferença de
percentuais que havia sido de apenas 1,11%. Explica-se: caso essa habitação seja replicada meras 20
vezes, esses 6,58% implicarão em um custo final de R$ 1.079.221,20 para um orçamento realizado em
BIM frente ao de R$ 1.150.198,20 obtido via metodologia tradicional. A diferença seria, portanto, de
R$ 70.977,00, valor nem um pouco desprezível no escopo de uma obra. Ou seja, a diferença seria
considerável no custo final quando comparados os procedimentos de levantamento desenvolvido via
BIM com o tradicional. Tentou-se explicar, graficamente, tal discrepância, no Gráfico 2 a seguir.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo das análises comparativas dos orçamentos neste presente trabalho, conseguiu-se
chegar a algumas conclusões a respeito do emprego das metodologias estudadas em procedimentos de
orçamentação.
Quanto à orçamentação tradicional - em CAD -, percebeu-se que, apresenta-se pouco eficiente
em relação ao processo orçamentário. Seus procedimentos são inteiramente manuais e permissíveis,
não alertando a possíveis falhas que venham a surgir ao longo de seu manuseio, o que demanda um
maior esforço para a detecção e devida correção.
Já quanto à metodologia BIM, observou-se que foi possível vincular os quantitativos dos
projetos a um software de orçamento de maneira automatizada, possibilitando uma melhor integração
entre projeto e orçamento. Isso a apresenta como uma metodologia mais intuitiva, que eventualmente
venha a diminuir as chances de erros por parte do operador. No entanto, isso tudo só é possível se tal
metodologia for adequadamente implementada: com projetos devidamente parametrizados e com nível
de detalhamento adequados a uma boa orçamentação.
Outro ponto importante a ressaltar foi a compatibilização dos projetos. A análise das
interferências entre tais no âmbito orçamentário mostrou-se bastante vantajosa, pois a visualização
gerada pelo modelo possibilitou a antecipação de tomada de decisões que só seriam notadas,
provavelmente, no canteiro de obras. Assim, é possível minimizar erros e obter um orçamento mais
preciso sem a necessidade de futuras mudanças no orçamento.
Na maioria dos serviços foi encontrado uma similaridade entre os quantitativos das
metodologias. Nesse caso, poder-se-ia afirmar que a extração de quantitativos na metodologia BIM
seria condizente com os quantitativos da tradicional. Ou seja, seria possível extrair, através de ambos
os métodos, quantitativos equivalentes, desde que se tenha uma quantificação adequada em relação ao
nível de exigência necessário.
Sobre os custos totais, as metodologias tiveram uma variação percentual de 1,11%. Observou-
se que houve uma pequena redução dos custos na metodologia BIM, que mesmo não sendo o esperado,
foi condizente pelo fato da adoção de critério de orçamentos iguais entre as metodologias.
Porém, quando se considerou o serviço de armação do projeto estrutural, obteve-se uma
variação percentual de 6,58% que em uma situação hipotética de se vir a replicar a habitação, em 20
vezes por exemplo, percebeu-se que, uma simples falha acaba repercutindo em valores de maiores
escalas.
Ante ao exposto, a partir desse trabalho, sugere-se uma série de estudos posteriores que possam
dar continuidade à temática abordada:
• Analisar a velocidade do processo de orçamentação entre as duas metodologias;
• Realizar estudos comparativos entre um empreendimento de maior porte;
Diante disso, conclui-se que, independente da metodologia utilizada pode-se chegar a um
resultado satisfatório. O que irá variar entre elas são os procedimentos demandados, no qual na
metodologia tradicional tende a requerer processos mais manuais que, uma vez empregado o método
BIM, tendem a ser mais automatizados.
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