Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
O presente artigo foca na etapa de orçamento de obras civis, abordando as
principais diferenças entre a orçamentação tradicional e a orçamentação utilizando a
metodologia BIM, além de suas diversas vantagens e algumas restrições.
Adicionalmente, o autor traz um fluxo de trabalho com sugestão de ferramentas
(softwares), equipe com competência adequada e procedimentos para uma
orçamentação em BIM. Em um contexto de insurgência do BIM e da iminente
exigência dos órgãos públicos em sua utilização, essa análise se mostra essencial
no âmbito de disseminação das informações, visando a quebra da cultura
conservadora que se encontra o Brasil de 2021. Dessa forma, conclui-se que essa
metodologia tem o potencial de ser mais vantajosa no quesito técnico e também
financeiro, sendo o maior entrave deste avanço a falta de conhecimento, falta de
mão de obra especializada e a resistência cultural.
1. Introdução
No Brasil de 2021, a metodologia BIM já vem sendo discutida no mercado da
construção civil por um restrito grupo de profissionais, principalmente do meio
acadêmico. Algumas empresas nacionais já estão, inclusive, utilizando-a com
sucesso. Mas, em contraste, a maioria das empresas ainda têm dificuldade de
implementar o BIM por diversos fatores, como a necessidade de adaptar a equipe
para trabalhar no novo modelo e os altos custos iniciais envolvidos com
infraestrutura – aquisição de softwares, máquinas e meios de armazenamento de
dados – e treinamentos.
Nesse cenário, já existem iniciativas públicas que têm como objetivo fomentar o
mercado BIM no Brasil. Nesse quesito, o Governo Federal estabeleceu o Decreto nº
10.306, de 2 de abril de 2020, que estipula a implementação gradual do BIM em
construções públicas. A primeira etapa está relacionada a projetos referentes a
construções novas, ampliações ou reabilitações relevantes. Nas próximas etapas,
estipula-se a ampliação do uso BIM para outras etapas do ciclo de vida do
empreendimento, como execução, gestão e manutenção. Entre as metas
estipuladas, está o aumento da implantação do BIM, de forma que 50% do PIB da
Construção Civil tenha adotado a metodologia até 2024.
No que se refere à orçamentação com o uso da metodologia BIM, o cenário está
insipiente, já que para realização de um orçamento BIM 5D, há o pré-requisito do
projeto ter sido modelado em 3D utilizando a metodologia BIM. Ou seja, a
orçamentação BIM seria o próximo passo na disseminação da metodologia. Porém,
atualmente, apenas 9,2% das empresas do setor da construção utilizam o BIM
2
2. Orçamento
A orçamentação de uma obra, independentemente de seu tipo ou finalidade, é
indispensável para o sucesso de um empreendimento, uma vez que definirá a
viabilidade financeira do projeto em sua fase preliminar, servirá como ferramenta
essencial para acompanhamento dos custos despendidos ao decorrer do projeto,
ajudará na definição de métodos construtivos mais vantajosos financeiramente,
dentre diversas outras possíveis atribuições.
Para Mattos, o conceito de orçamentação, no ponto de vista do construtor, é o
seguinte:
3
No entanto, segundo Dias (2006), alguns parâmetros devem ser seguidos para que
se tenha um orçamento justo, isto é, exato e legítimo, como a existência de um
projeto bem desenvolvido e especificações rígidas de serviços e materiais. Ou seja,
para que um orçamento seja de qualidade é essencial que se tenha um bom projeto
e que as suas informações possam ser extraídas corretamente.
Figura 2 – Processo de orçamentação com uso do BIM durante o ciclo de vida do empreendimento
Fonte: Eastman (2011)
Com relação a opinião das empresas e profissionais que implantaram esse fluxo, a
McGraw Hill Construction (2014) relata que mundialmente 75% dos agentes
reportam um retorno positivo no investimento utilizando esse método nos seus
processos. No Brasil, esse número sobe para 85% (sendo 36% retorno muito
positivo, 49% moderado e 15% sem retorno ou negativo). Ainda nas pesquisas, os
agentes relatam que as maiores oportunidade que o método traz são a redução dos
erros e as omissões durante os processos de projeto e construção, a colaboração
entre os agentes, a melhoria da imagem da empresa no mercado e a diminuição dos
retrabalhos.
De modo geral, para orçamentação com uso do BIM, existem as mesmas etapas já
apresentadas anteriormente: visitação técnica do local do empreendimento,
desenvolvimento da EAP, levantamento de quantidades, elaboração das
Composições de Preço Unitárias, cotação dos insumos, definição e aplicação dos
impostos, taxas e bonificações e validações também deverão ser realizadas durante
esse processo. A diferença está no fato de que esse ciclo poderá ser realizado de
maneira mais automatizada, com auxílio de um software, como o OrçaFascio, Vico
Estimator, Presto, entre outros, de forma mais rápida e assertiva.
A maior diferença dos processos de orçamentação, está na estração de
quantitativos. Eastman et al. (2011) apresentam três principais procedimentos de
extração de quantitativos a partir de modelos 3D: (1) Exportação de quantidades do
modelo para software de orçamento por meio de tabelas; (2) Conexão direta dos
objetos do modelo com o software de orçamento; (3) Extração de quantitativos com
uso de ferramentas BIM específicas do orçamento. Na tabela abaixo há a correlação
dos softwares e o procedimento de atuação para orçamentação que utiliza, mais
especificamente, o processo de extração de quantitativos.
8
O tipo de procedimento a ser utilizado dependerá do software que está sendo usado,
sendo que todos os métodos deverão atender ao objetivo de extrair os quantitativos
de maneira precisa e automatizada, sem muitos acertes manuais.
Apesar dos inúmeros benefícios do método BIM, existem algumas restrições que
devem deter a atenção do orçamentista. Primeiramente, é importante escolher os
softwares de modelagem e orçamentação adequadamente, de forma que haja
interoperabilidade. Caso contrário, o processo pode ser mais demorado ou complexo
que o necessário, ou até impossibilitar a comunicação assertiva entre os softwares.
Além disso, deve-se ter cautela na parametrização dos objetos para extração de
quantitativos, devendo possuir um conhecimento aprofundado da modelagem e de
orçamento para que elementos não sejam contabilizados em duplicidade ou deixem
de ser contabilizados. Por exemplo, em alguns casos, janelas com pequenas áreas
não são descontadas da área da alvenaria para fins de pagamento da mão de obra
por avanço. Nessa situação, a parametrização para o cálculo das áreas das paredes
deve ser realizada de modo a serem acrescentadas as áreas de alvenaria às áreas
destas janelas.
Por fim, a modelagem deve ser desenvolvida sabendo-se que será utilizada também
para orçamentação. Dessa maneira, os elementos deverão ser modelados no LOD
(Nível de Desenvolvimento) adequado para extração das informações necessárias, a
modelagem dos objetos deve retratar o componente real, entre outras
recomendações. Na Tabela 2, foram levantadas diretrizes de modelagem julgadas
como boa prática para desenvolvimento de um orçamento preciso e assertivo,
segundo Fenato (2017).
9
estados brasileiros, e que pode ser associado ao modelo desenvolvido no Revit por
meio de um plug in.
Vale ressaltar que existem diversos outros softwares que atendem a estes usos BIM,
ou seja, podem ser usados com esses mesmos objetivos. Dentre eles podem ser
citados para modelagem o AutoCAD Civil 3D e SketchUp e para orçamentação o
Vico 4D BIM Scheduling, Arquimedes, PriMus, Presto e ECBIM. Existe uma
infinidade de softwares disponíveis no mercado, alguns mais limitados ou mais
específicos, outros mais abrangentes; neste trabalho, foram indicados softwares
mais amplamente utilizados no meio apenas com o objetivo de ilustrar o processo.
Dentre a equipe proposta para realização do processo está um grupo de arquitetos e
engenheiros projetistas, que teriam como função a modelagem do projeto, sendo
que os arquitetos desenvolveriam a arquitetura do empreendimento, enquanto os
engenheiros projetistas desenvolveriam os projetos complementares, tais quais,
projeto estrutural, projeto hidro sanitário, projeto elétrico, dentre outros. Os projetos
complementares seriam desenvolvidos em softwares especialistas e incorporados à
arquitetura em um modelo federado. Já para a realização do orçamento, foi proposta
uma equipe de engenheiros orçamentistas. Também foi proposto para o processo,
um BIM Manager, agente responsável por liderar, coordenar e gerenciar os
processos BIM nas atividades relacionadas ao projeto.
O gerente BIM, ou BIM Manager é um personagem importante neste contexto:
E por fim, quando a vinculação é por fórmula, deverá ser escolhida a categoria e
desenvolver uma fórmula utilizando os parâmetros relacionados àquela categoria. O
comprimento de verga e contraverga das janelas, por exemplo, poderá ser calculada
criando-se a fórmula paramétrica: 2* [(comprimento da janela) + 20*2]. Nesse caso,
está sendo adotado que todas as janelas terão verga na parte superior da janela
ultrapassando 20cm de cada lado do comprimento da janela e contraverga na parte
inferior seguindo a mesma premissa.
13
5. Conclusão
Tendo em vista os aspectos observados, conclui-se que o uso do BIM na
orçamentação tem o potencial de trazer inúmeros benefícios ao processo, tais quais
maior agilidade, diminuição do tempo gasto no processo e por consequência seu
custo com mão de obra e maior precisão e rastreabilidade à informação.
Porém, essas vantagens estão condicionadas a uma série de cuidados que devem
ser tomados ao implantar o método. Para evitar a ocorrência de equívocos, é
recomendada a implantação de procedimentos bem definidos, em que as
responsabilidades de cada profissional sejam atribuídas de acordo com suas
competências.
Esse processo deverá ser delimitado traçando diretrizes a serem seguidas, como
métodos de modelagem para determinados objetos, nível de desenvolvimento
necessário, detecções de interferências, entre outros, que deverão estar bem
documentadas na Matriz de Modelagem e no BEP.
14
Por fim, vale ressaltar que apesar de toda a facilidade proporcionada pela
metodologia BIM, quem irá realizar os serviços e analisar criticamente seu resultado,
serão os profissionais da área capacitados para tal. Portanto, no final, para se
desenvolver um bom orçamento, ainda é indispensável um bom orçamentista.
Referências
DIAS, Paulo Roberto Vilela. Novo Conceito de BDI. 2. ed. Rio de Janeiro, 2008.
EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. BIM Handbook: a guide to
building information modeling for owners, managers, designers, engeneers
and contractors. 2nd edition. USA, 2011.
MATTOS, Aldo Dórea. Como Prepara Orçamentos de Obras. 4. ed. São Paulo:
Pini, 2006.
Anexo A - Fluxograma do procedimento de orçamentação BIM utilizando os softwares Revit e OrçaFascio para
modelagem e orçamento, respectivamente