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UMA ANÁLISE QUALITATIVA DE ORÇAMENTO BIM E


TRADICIONAL NAS ESFERAS: FLUXO DE TRABALHO,
EQUIPE E SOFTWARES
Mariana Salazar Vello – marianasvello@hotmail.com
Processos BIM: Operação e Gestão
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Vitória, ES, 06 de outubro de 2021

Resumo
O presente artigo foca na etapa de orçamento de obras civis, abordando as
principais diferenças entre a orçamentação tradicional e a orçamentação utilizando a
metodologia BIM, além de suas diversas vantagens e algumas restrições.
Adicionalmente, o autor traz um fluxo de trabalho com sugestão de ferramentas
(softwares), equipe com competência adequada e procedimentos para uma
orçamentação em BIM. Em um contexto de insurgência do BIM e da iminente
exigência dos órgãos públicos em sua utilização, essa análise se mostra essencial
no âmbito de disseminação das informações, visando a quebra da cultura
conservadora que se encontra o Brasil de 2021. Dessa forma, conclui-se que essa
metodologia tem o potencial de ser mais vantajosa no quesito técnico e também
financeiro, sendo o maior entrave deste avanço a falta de conhecimento, falta de
mão de obra especializada e a resistência cultural.

Palavras-chave: Orçamento. BIM. Procedimento.

1. Introdução
No Brasil de 2021, a metodologia BIM já vem sendo discutida no mercado da
construção civil por um restrito grupo de profissionais, principalmente do meio
acadêmico. Algumas empresas nacionais já estão, inclusive, utilizando-a com
sucesso. Mas, em contraste, a maioria das empresas ainda têm dificuldade de
implementar o BIM por diversos fatores, como a necessidade de adaptar a equipe
para trabalhar no novo modelo e os altos custos iniciais envolvidos com
infraestrutura – aquisição de softwares, máquinas e meios de armazenamento de
dados – e treinamentos.
Nesse cenário, já existem iniciativas públicas que têm como objetivo fomentar o
mercado BIM no Brasil. Nesse quesito, o Governo Federal estabeleceu o Decreto nº
10.306, de 2 de abril de 2020, que estipula a implementação gradual do BIM em
construções públicas. A primeira etapa está relacionada a projetos referentes a
construções novas, ampliações ou reabilitações relevantes. Nas próximas etapas,
estipula-se a ampliação do uso BIM para outras etapas do ciclo de vida do
empreendimento, como execução, gestão e manutenção. Entre as metas
estipuladas, está o aumento da implantação do BIM, de forma que 50% do PIB da
Construção Civil tenha adotado a metodologia até 2024.
No que se refere à orçamentação com o uso da metodologia BIM, o cenário está
insipiente, já que para realização de um orçamento BIM 5D, há o pré-requisito do
projeto ter sido modelado em 3D utilizando a metodologia BIM. Ou seja, a
orçamentação BIM seria o próximo passo na disseminação da metodologia. Porém,
atualmente, apenas 9,2% das empresas do setor da construção utilizam o BIM
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em suas rotinas de trabalho, de acordo com pesquisa e estudos da Fundação


Getúlio Vargas (FGV), apresentada no Decreto.
Os dados apresentados mostram-se paradoxiais aos grandes benefícios que a
metodologia pode trazer aos processos da empresa. A esse fato podem ser
atribuídas como causas principais a falta de conhecimento em larga escala, a
aversão típica do brasileiro a mudanças culturais, o preconceito existente e o receio
ocasionado por tentativas inadequadas da implentação do BIM.
Sendo assim, justifica-se a elaboração desse trabalho, uma vez que traz a discussão
o método tradicional e a metodologia BIM na orçamentação. O objetivo geral do
artigo será a elaboração de procedimento para execução de orçamentação
executiva vinculada a modelo 3D utilizando a metodologia BIM. E os objetivos
específicos, discutir as principais diferenças entre a metodologia tradicional e o
método automatizado, entender os benefícios que o uso deste método traz para o
orçamento, enumerar cuidados e considerações a serem realizados ao utilizar o
método, exemplificar ferramentas que podem ser utilizadas nesse processo e definir
funções, responsabilidades e profissionais adequados para execução do processo.
Além disso, pretende-se fomentar o debate e aumentar o conhecimento sobre o
tema, buscando aos poucos desmistificar alguns conceitos/métodos e, por
consequência, quebrar a aversão de certos profissionais ao método.
Para tanto, o trabalho foi dividido em cinco capítulos. O primeiro trará uma pequena
introdução sobre o cenário atual do BIM no Brasil como um todo e no âmbito da
orçamentação, enumerará os objetivos do artigo e descreverá como ele foi dividido.
No segundo capítulo será abordada toda a teoria necessária ao entendimento de
uma orçamentação tradicional, dentre os assuntos estão o conceito de
orçamentação de uma obra, os custos diretos e indiretos envolvidos, os tipos de
orçamento e as etapas para sua elaboração. O terceiro capítulo, por sua vez, irá
tratar da parte de uso do BIM para orçamentação, também nomeado como BIM 5D,
onde trará as grandes vantagens e restrições que o BIM traz ao orçamento,
mostrando fluxo de trabalho e diretrizes presentes na literatura. No quarto capitulo, o
autor trará um procedimento de utilização do BIM na orçamentação, definindo
profissionais necessários à sua execução, processos e sujerindo softwares. Por fim,
será concluído o trabalho tendo em vista todo o assunto abordado.
Para a execução do presente trabalho foi realizada uma pesquisa exploratória, onde
foram realizados estudos e análises de referências bibliográficas relevantes no meio
acadêmico, além de familiarização e testes com os softwares Revit, Orçafascio e
Plug-in do OrçaFascio no Revit. O método de pesquisa utilizado foi a pesquisa
bibliográfica com coleta de dados indireta (documental). Sendo que a análise
realizado foi do tipo qualitativa, enfatizando, correlacionando e interpretando as
experiências, opiniões, comportamentos e contextos sociais dos autores citados.

2. Orçamento
A orçamentação de uma obra, independentemente de seu tipo ou finalidade, é
indispensável para o sucesso de um empreendimento, uma vez que definirá a
viabilidade financeira do projeto em sua fase preliminar, servirá como ferramenta
essencial para acompanhamento dos custos despendidos ao decorrer do projeto,
ajudará na definição de métodos construtivos mais vantajosos financeiramente,
dentre diversas outras possíveis atribuições.
Para Mattos, o conceito de orçamentação, no ponto de vista do construtor, é o
seguinte:
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O orçamento é a descrição de todos os insumos necessários à obra,


devidamente quantificados e multiplicados pelos respectivos custos
unitários, acrescidos das despesas indiretas – cuja somatória define o custo
total, ou seja, o desembolso do construtor –, mais o lucro e os impostos,
gerando, então, o preço total, que é a quantia que o construtor receberá
para fazer a obra (MATTOS, 2006).

Dessa forma, o orçamento consistirá no somatório dos custos diretos – relacionados


à produção do serviço, como a mão de obra direta, equipamentos e materiais – com
os custos indiretos – itens necessários para gestão da obra, sem estar ligados à
execução propriamente dita, como custos com mobilização, administração local e
afins. Sobre esses custos totais (diretos e indiretos), deverão ser incididas as
alíquotas de impostos, taxas e bonificações, tais quais PIS (Programa de Integração
Social), COFINS (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), ISS
(Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza), lucro, despesas financeiras, entre
outros.
O Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo publicou, em 2017, um manual para
elaboração de orçamentos para obras públicas. Neste documento dispõe:

A Composição de Custos Unitários dos itens da Planilha de Quantidades é


a etapa de identificação e precificação dos insumos e serviços necessários
para a execução de uma unidade de cada serviço levantado, sendo a
atribuição dos custos feita, preferencialmente, através de Referenciais de
Custos. Quando algum insumo ou serviço não for encontrado nos
Referenciais de Custos, deve-se realizar Cotação no mercado.
Após o levantamento de todos os custos, o preço final da obra é dado pela
aplicação dos Benefícios e Despesas Indiretas (BDI), que são os impostos,
o lucro e despesas diversas que incidirão sobre o custo da obra (IOPES,
2017).

As vantagens de um controle de custos do empreendimento bem executado, através


do gerenciamento, com avaliações constantes do desempenho físico e financeiro da
obra, vão muito além do barateamento dos custos, podendo melhorar o atendimento
dos prazos e a qualidade dos serviços (GOLDMAN, 2004).
Existem, pelo menos, três tipos de orçamento, a estimativa de custos ou orçamento
voltado para viabilidade, orçamento preliminar ou convencional e orçamento
analítico ou operacional.
A estimativa de custo tem como objetivo principal fornecer um valor global
aproximado, sendo normalmente executado com base em dados históricos de
custos, comparações com projetos similares e utilizando-se de índices médios
praticados pelo mercado. Geralmente, este tipo de orçamento é realizado quando
ainda não há projetos elaborados (MATTOS,2006).
O orçamento preliminar ou convencional, por outro lado, já é elaborado a partir de
projetos básicos e algumas especificações técnicas. Este, tem como objetivo o
cálculo dos custos da construção, desconsiderando fatores como dificuldades
inerentes ao local de execução do serviço e alterações climáticas que possam
influenciar a produtividade (CABRAL, 1998; MARCHIORI, 2009).
Já o orçamento analítico caracteriza-se por representar com alta precisão o
processo de produção do empreendimento. Este orçamento, normalmente, é
executado juntamente com o planejamento executivo da obra, de forma a seguir
uma abordagem operacional, decompondo os serviços conforme as operações
intrínsecas a sua execução (CABRAL, 1988; SKOYLES, 1968; ASHWORTH;
SKITMORE, 2005).
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Cada tipo de orçamento descrito possui uma margem de erro aceitável do


orçamento executado e os elementos básicos necessários a formulação assertiva
deste. Essas variáveis e índices não sendo alcançados, ter-se-ia um indicativo de
um orçamento mal executado, com possíveis erros. Na tabela abaixo, é possível
contemplar os elementos necessários e a margem de erro para cada grau do
orçamento.

Tabela 1 – Tipos de orçamento de obra


Fonte: Cabral (1998)

A elaboração de um orçamento preliminar ou analítico inicia-se pela análise de toda


a documentação existente referente ao empreendimento – projetos, especificações
técnicas, planos de qualidade e segurança. Tendo-se as informações do
empreendimento, é recomendada uma visita técnica ao local em que ocorrerá a
obra. Neste momento, serão identificadas possíveis interferências, a disponibilidade
de recursos locais e as condições de acesso.
Com base nos conhecimentos adquiridos, é estruturada a EAP (Estrutura Analítica
de Projeto), onde todos os serviços necessários à execução do projeto são listados
e organizados em uma planilha. Posteriormente, é realizado o levantamento de
quantitativos de cada serviço com base nos projetos disponíveis.
A próxima etapa consiste na composição dos custos diretos e indiretos da obra
(CPU’s – Composições de Preço unitárias), ou seja, haverá a alocação de recursos
distribuídos por atividade. De posse de todos os insumos necessários à execução da
obra e suas respectivas quantidades, faz-se as cotações no mercado.
Neste ponto, os custos de cada atividade já estão devidamente orçados, devendo
ser verificados e validados. Por fim, há a definição dos impostos, taxas e benefícios
que incidirão sobre os custos, para ser então fechado o valor de venda do
empreendimento. Na figura a seguir, é possível visualizar as etapas genéricas de um
processo de orçamentação.
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Figura 1 – Processo de execução de um orçamento


Fonte: Mattos (2006)

No entanto, segundo Dias (2006), alguns parâmetros devem ser seguidos para que
se tenha um orçamento justo, isto é, exato e legítimo, como a existência de um
projeto bem desenvolvido e especificações rígidas de serviços e materiais. Ou seja,
para que um orçamento seja de qualidade é essencial que se tenha um bom projeto
e que as suas informações possam ser extraídas corretamente.

3. Uso do BIM para Orçamentação


O BIM – Building Information Modeling possibilita a ampliação dos horizontes no
quesito de projeto e acompanhamento de obra, agregando informações a um
modelo 3D que vão além da geometria e propriedades técnicas de materiais.
Dependendo do uso a que se destina um modelo, pode-se inserir dados de tempo e
custo, por exemplo (EASTMAN, 2011).
Uma das grandes vantagens da utilização do BIM para orçamentação é o acesso
rápido e centralizado às informações necessárias no decorrer do processo, além da
maior facilidade de sua atualização frente a evolução do projeto ou até mesmo
mudanças e/ou adequações posteriores.
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Na figura a seguir, vê-se um fluxograma desenvolvido por Eastman et al. (2011) do


processo de orçamentação com o uso do BIM durante o ciclo de vida do
empreendimento. A partir dele pode-se verificar que o levantamento de quantitativos
é realizada em várias fases do projeto e também durante as etapas da construção.

Figura 2 – Processo de orçamentação com uso do BIM durante o ciclo de vida do empreendimento
Fonte: Eastman (2011)

Esse processo de levantamento de quantidades é uma das grandes vantagens do


uso de BIM na orçamentação, pois se trata de procedimento mais precisos e com
menor tempo para realização do processo quando comparado ao método tradicional,
ou seja, também com menor gastos com horas-homem.
Nesse sentido, SAKAMORI; SCHEER (2016) afirma:

No modelo tradicional de projeto, o levantamento dos quantitativos é uma


atividade que consome muito tempo e recursos. Com a utilização do BIM,
porém, os quantitativos dos elementos construtivos são calculados
automaticamente pelo software, eliminando erros causados pela incorreta
interpretação dos projetos. Em um ambiente colaborativo, onde as partes
interessadas trabalham sobre um único modelo, o processo de
quantificação de todos os elementos se torna simples, possibilitando
verificar a evolução dos custos à medida que o modelo é desenvolvido. As
quantidades extraídas do modelo apresentam grande precisão, que
aumenta conforme o modelo se desenvolve. Na fase do desenvolvimento
dos projetos executivos, as quantidades levantadas do modelo são
praticamente iguais às quantidades executadas no empreendimento.

Outro ponto favorável à utilização da metodologia BIM é o investimento de tempo e


recursos nas etapas de projeto básico e detalhado. Isso faz com que possíveis
problemas possam ser previstos e consertados antes do início de sua execução.
Dessa forma, a curva MacLeamy é deslocada para esquerda, ou seja, no fluxo de
trabalho BIM há aplicação de maiores esforços nas etapas que possuem menores
custos para que nas etapas mais custosas não haja necessidade de dispender mais
custos do que o necessário.
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Figura 3 – Curva de MacLeamy


Fonte: CBIC (2016)

Com relação a opinião das empresas e profissionais que implantaram esse fluxo, a
McGraw Hill Construction (2014) relata que mundialmente 75% dos agentes
reportam um retorno positivo no investimento utilizando esse método nos seus
processos. No Brasil, esse número sobe para 85% (sendo 36% retorno muito
positivo, 49% moderado e 15% sem retorno ou negativo). Ainda nas pesquisas, os
agentes relatam que as maiores oportunidade que o método traz são a redução dos
erros e as omissões durante os processos de projeto e construção, a colaboração
entre os agentes, a melhoria da imagem da empresa no mercado e a diminuição dos
retrabalhos.
De modo geral, para orçamentação com uso do BIM, existem as mesmas etapas já
apresentadas anteriormente: visitação técnica do local do empreendimento,
desenvolvimento da EAP, levantamento de quantidades, elaboração das
Composições de Preço Unitárias, cotação dos insumos, definição e aplicação dos
impostos, taxas e bonificações e validações também deverão ser realizadas durante
esse processo. A diferença está no fato de que esse ciclo poderá ser realizado de
maneira mais automatizada, com auxílio de um software, como o OrçaFascio, Vico
Estimator, Presto, entre outros, de forma mais rápida e assertiva.
A maior diferença dos processos de orçamentação, está na estração de
quantitativos. Eastman et al. (2011) apresentam três principais procedimentos de
extração de quantitativos a partir de modelos 3D: (1) Exportação de quantidades do
modelo para software de orçamento por meio de tabelas; (2) Conexão direta dos
objetos do modelo com o software de orçamento; (3) Extração de quantitativos com
uso de ferramentas BIM específicas do orçamento. Na tabela abaixo há a correlação
dos softwares e o procedimento de atuação para orçamentação que utiliza, mais
especificamente, o processo de extração de quantitativos.
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Tabela 2 – Diretrizes de modelagem de orçamento em BIM


Fonte: adaptado de Arditi (2010); Eastman (2011); Firat, Forgues et al. (2012) por Fenato (2017)

O tipo de procedimento a ser utilizado dependerá do software que está sendo usado,
sendo que todos os métodos deverão atender ao objetivo de extrair os quantitativos
de maneira precisa e automatizada, sem muitos acertes manuais.
Apesar dos inúmeros benefícios do método BIM, existem algumas restrições que
devem deter a atenção do orçamentista. Primeiramente, é importante escolher os
softwares de modelagem e orçamentação adequadamente, de forma que haja
interoperabilidade. Caso contrário, o processo pode ser mais demorado ou complexo
que o necessário, ou até impossibilitar a comunicação assertiva entre os softwares.
Além disso, deve-se ter cautela na parametrização dos objetos para extração de
quantitativos, devendo possuir um conhecimento aprofundado da modelagem e de
orçamento para que elementos não sejam contabilizados em duplicidade ou deixem
de ser contabilizados. Por exemplo, em alguns casos, janelas com pequenas áreas
não são descontadas da área da alvenaria para fins de pagamento da mão de obra
por avanço. Nessa situação, a parametrização para o cálculo das áreas das paredes
deve ser realizada de modo a serem acrescentadas as áreas de alvenaria às áreas
destas janelas.
Por fim, a modelagem deve ser desenvolvida sabendo-se que será utilizada também
para orçamentação. Dessa maneira, os elementos deverão ser modelados no LOD
(Nível de Desenvolvimento) adequado para extração das informações necessárias, a
modelagem dos objetos deve retratar o componente real, entre outras
recomendações. Na Tabela 2, foram levantadas diretrizes de modelagem julgadas
como boa prática para desenvolvimento de um orçamento preciso e assertivo,
segundo Fenato (2017).
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Tabela 3 – Diretrizes de modelagem de orçamento em BIM


Fonte: Fenato (2017)
4. Processo de Orçamentação BIM
O BIM é sustentado por três pilares fundamentais igualmente relevantes, sendo eles:
Tecnologia, Processos e Pessoas. No âmbito da tecnologia, haverá softwares em
constante atualização e inovação que servirão como meio para se alcançar os
objetivos propostos; neste caso, uma orçamentação com etapas automatizadas e
integradas a um modelo 3D. No âmbito de processos, haverá a necessidade de
definição de fluxos de trabalho, especificação de entregáveis, métodos de
comunicação, nível de detalhamento, dentre outros, a fim de criar procedimentos
bem definidos. Já no âmbito de pessoas, a metodologia proporcionará um workflow
mais colaborativo e com maior facilidade de compartilhamento de informações.
Dessa forma, criou-se um fluxo de trabalho, com sugestão de softwares que
poderiam ser utilizados e profissionais que teriam competência para realização das
atividades.
Para criação do modelo 3D, foi indicado o Revit, um software da Autodesk que
permite a modelagem multidisciplinar e a coordenação de projetos. Já para
orçamentação, foi indicado o OrçaFascio, um sistema em plataforma web que
contempla um extenso banco de dados de insumos e composições de diversos
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estados brasileiros, e que pode ser associado ao modelo desenvolvido no Revit por
meio de um plug in.
Vale ressaltar que existem diversos outros softwares que atendem a estes usos BIM,
ou seja, podem ser usados com esses mesmos objetivos. Dentre eles podem ser
citados para modelagem o AutoCAD Civil 3D e SketchUp e para orçamentação o
Vico 4D BIM Scheduling, Arquimedes, PriMus, Presto e ECBIM. Existe uma
infinidade de softwares disponíveis no mercado, alguns mais limitados ou mais
específicos, outros mais abrangentes; neste trabalho, foram indicados softwares
mais amplamente utilizados no meio apenas com o objetivo de ilustrar o processo.
Dentre a equipe proposta para realização do processo está um grupo de arquitetos e
engenheiros projetistas, que teriam como função a modelagem do projeto, sendo
que os arquitetos desenvolveriam a arquitetura do empreendimento, enquanto os
engenheiros projetistas desenvolveriam os projetos complementares, tais quais,
projeto estrutural, projeto hidro sanitário, projeto elétrico, dentre outros. Os projetos
complementares seriam desenvolvidos em softwares especialistas e incorporados à
arquitetura em um modelo federado. Já para a realização do orçamento, foi proposta
uma equipe de engenheiros orçamentistas. Também foi proposto para o processo,
um BIM Manager, agente responsável por liderar, coordenar e gerenciar os
processos BIM nas atividades relacionadas ao projeto.
O gerente BIM, ou BIM Manager é um personagem importante neste contexto:

Sendo uma empresa de pequeno ou grande porte, no início do processo se


faz necessário a definição ou contratação de um Gerente BIM. Este
profissional é, por definição um especialista em BIM, entendendo de forma
considerável a ferramenta principal e os demais programas relacionados.
Deve também conhecer os processos de levantamento, orçamento,
planejamento e coordenação de obras (COSTA, 2016).

Destaca-se que o tamanho de cada equipe, número de profissionais de cada área,


deveria ser dimensionado de acordo com a extensão e complexidade do projeto,
sendo tratado no presente trabalho as equipes de maneira qualitativa apenas.
Dessa forma, com as equipes montadas e os softwares definidos, indicou-se um
fluxo de trabalho para o processo de orçamentação em BIM (5D), que pode ser
analisado no Anexo A.
O processo é iniciado em duas vertentes, a de projetos e a de orçamentação. A
vertente dos projetos, naturalmente, inicia-se primeiro. Os arquitetos e engenheiros
projetistas, tendo conhecimento do BEP – Plano de Execução BIM – desenvolvido
especificamente para o empreendimento, Manuais BIM da empresa, Caderno de
Especificações de Projeto em BIM e Matriz de Modelagem iniciam a modelagem do
projeto em 3D, no Revit.
A medida que os projetos vão sendo desenvolvidos, o BIM Manager vai realizando
as compatibilizações e Clash Detections, enviando aos projetistas os problemas
detectados para resolução. Esse processo cíclico é continuado até a validação do
projeto.
Enquanto isso, os engenheiros orçamentistas, de posse das informações do projeto,
criam um orçamento no OrçaFascio e definem os parâmetros para o
empreendimento – Banco de Dados a ser utilizado, encargos sociais, se a mão de
obra será desonerada ou não, etc. Nesse momento, também com base no relatório
de Visita Técnica, é criada a EAP – Estrutura Analítica de Projeto, em que todas as
atividades necessárias à execução do projeto são listadas e categorizadas.
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Em seguida, ainda no OrçaFascio, é feita a associação das Composições de Preços


Unitários referentes às atividades pertencentes da EAP. Sendo que as composições
de preços que não constarem nos bancos de dados deverão ser compostas de
acordo com a expertise do engenheiro orçamentista.
Tendo posse da EAP finalizada com as composições associadas, poderá ser feita a
vinculação do orçamento ao modelo. Essa etapa poderá ser realizada utilizando o
plug-in do OrçaFascio no Revit pelo próprio engenheiro orçamentista, que deverá
vincular as atividades da EAP aos objetos de projeto do modelo para que os
quantitativos sejam calculados automaticamente pelo Revit. Essa associação poderá
ser feita por um dos seguintes critérios: por categoria, por material ou por fórmula
paramétrica.
Quando a vinculação é realizada por categoria, deve-se primeiramente selecionar a
categoria a qual o objeto pertence e em seguida, realizar um filtro de família. Um
exemplo de uso dessa situação é o caso de um serviço do tipo “Fornecimento e
instalação de cuba de embutir oval de louça branca”. Neste caso, seria selecionada
a categoria “Peças Hidráulicas” e em seguida, um filtro para “Cuba de embutir oval
de louça branca”, conforme Figura 3.
Realizando esse processo, o Revit já faz o levantamento de todas as cubas de
embutir oval de louça branca e já associa a quantidade à planilha orçamentária.

Figura 4 – Método de vinculação por categoria no plug-in do OrçaFascio no Revit


Fonte: Carvalho (2021)

Quando a vinculação é por material, deve-se escolher primeiramente a categoria ao


qual aquele material está associado e em seguida selecionar o material referente.
Um exemplo de uso dessa situação é o caso de um serviço do tipo “Fornecimento e
execução de chapisco”. Neste caso, seria selecionada a categoria “Paredes” (pois o
chapisco é um dos materiais que estão compondo a parede) e em seguida, o
material “Chapisco”, conforme Figura 4.
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Figura 5 – Método de vinculação por material no plug-in do OrçaFascio no Revit


Fonte: Carvalho (2021)

E por fim, quando a vinculação é por fórmula, deverá ser escolhida a categoria e
desenvolver uma fórmula utilizando os parâmetros relacionados àquela categoria. O
comprimento de verga e contraverga das janelas, por exemplo, poderá ser calculada
criando-se a fórmula paramétrica: 2* [(comprimento da janela) + 20*2]. Nesse caso,
está sendo adotado que todas as janelas terão verga na parte superior da janela
ultrapassando 20cm de cada lado do comprimento da janela e contraverga na parte
inferior seguindo a mesma premissa.
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Figura 6 – Método de vinculação por fórmula no plug-in do OrçaFascio no Revit


Fonte: Carvalho (2021)

Concluída a vinculação, o BIM Manager deverá realizar a validação do orçamento,


para então fazer a exportação da planilha para o OrçaFascio.
Por fim, de posse do orçamento vinculado ao modelo, o orçamento pode ser
recalculado toda vez que ocorrer uma mudança de quantitativos por alteração de
projeto de forma fácil e rápida. Porém, se a alteração de projeto ocasionar a inclusão
de serviços ao empreendimento, esta atividade deverá ser incluída na EAP e
vinculada manualmente.

5. Conclusão
Tendo em vista os aspectos observados, conclui-se que o uso do BIM na
orçamentação tem o potencial de trazer inúmeros benefícios ao processo, tais quais
maior agilidade, diminuição do tempo gasto no processo e por consequência seu
custo com mão de obra e maior precisão e rastreabilidade à informação.
Porém, essas vantagens estão condicionadas a uma série de cuidados que devem
ser tomados ao implantar o método. Para evitar a ocorrência de equívocos, é
recomendada a implantação de procedimentos bem definidos, em que as
responsabilidades de cada profissional sejam atribuídas de acordo com suas
competências.
Esse processo deverá ser delimitado traçando diretrizes a serem seguidas, como
métodos de modelagem para determinados objetos, nível de desenvolvimento
necessário, detecções de interferências, entre outros, que deverão estar bem
documentadas na Matriz de Modelagem e no BEP.
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Por fim, vale ressaltar que apesar de toda a facilidade proporcionada pela
metodologia BIM, quem irá realizar os serviços e analisar criticamente seu resultado,
serão os profissionais da área capacitados para tal. Portanto, no final, para se
desenvolver um bom orçamento, ainda é indispensável um bom orçamentista.

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Execução. 1. ed. São Paulo: Pini, 2006
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Anexo A - Fluxograma do procedimento de orçamentação BIM utilizando os softwares Revit e OrçaFascio para
modelagem e orçamento, respectivamente

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