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Juscelino Rodrigues Mariano

IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETO-PILOTO PARA UTILIZAÇÃO DE


FERRAMENTAS BIM PARA ELABORAÇÃO DE CRONOGRAMAS MAIS
ASSERTIVOS EM OBRAS PÚBLICAS

Lagoa Santa, 02 de agosto de 2022


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1 INTRODUÇÃO

No Brasil, pesquisas e dados existentes apontam para um cenário em que a


maioria dos empreendimentos acaba por não cumprir os limites de prazo por motivos
relacionados à deficiência no planejamento e no controle das atividades e recursos
de uma obra (ABDI, 2017).
Para auxiliar nesse campo, o BIM (Building Information Modeling) contribui
através da utilização de recursos tecnológicos que aprimoram as atividades de
planejamento e gestão da construção. Trata-se das ferramentas 4D do BIM, que
significa a adição do componente “tempo” ao modelo 3D, possibilitando a
visualização do mesmo em diferentes estágios da construção, a simulação de
etapas construtivas, a análise da construtibilidade e o planejamento dos fluxos de
trabalho na construção. Como resultado, temos cronogramas mais sólidos e
confiáveis.
Será objeto de estudo do presente trabalho a busca de alternativas para a
implantação de metodologia BIM para a obtenção de cronogramas mais assertivos
para as obras da Prefeitura Municipal de Lagoa Santa, com a indicação da obra de
reforma e ampliação da Escola Municipal Messias Pinto Alves como proposta de
projeto-piloto. O objetivo específico deste projeto-piloto é desenvolver competências
e capacitar a equipe interna na utilização de ferramentas BIM relacionadas ao
planejamento da construção.

1.1. PROBLEMA E OBJETIVO

As obras públicas municipais apresentam cronogramas pouco exequíveis,


elaborados exclusivamente para complementação da documentação mínima exigida
para licitação. Os cronogramas não levam em conta o planejamento, logística do
canteiro e possíveis entraves e peculiaridades de cada empreendimento durante a
execução.
As obras públicas do município de Lagoa Santa são de responsabilidade da
Diretoria de Obras, setor vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Urbano. O setor é composto basicamente pelo Diretor de Obras, coordenadores de
infraestrutura e manutenção, engenheiros fiscais, um engenheiro orçamentista e
uma arquiteta, além dos agentes administrativos. No que diz respeito às
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ferramentas de arquitetura e engenharia, o setor é equipado com os softwares da


Autodesk Autocad e Revit. Os cronogramas e planilhas orçamentárias são
elaborados com o software Libreoffice Calc.
Apenas a arquiteta conta com o software Autodesk Revit em sua estação de
trabalho e é usado basicamente para modelagens com a finalidade de levantamento
de quantitativos de algumas obras de manutenção, estudos de platôs para
terraplenagem e modelagens para melhor visualização de arquiteturas mais
complexas. Os projetos das obras a serem licitadas não são desenvolvidos na
Diretoria de Obras pois a Secretaria de Desenvolvimento Urbano conta com um
setor específico para este fim. Contudo os profissionais desse setor ainda não
trabalham com a plataforma BIM, sendo todos os projetos elaborados em 2D.
Por ainda utilizar métodos tradicionais, as documentações de projetos em
arquivos em 2D são os pontos de partida para que a Diretoria de Obras desenvolva
as suas tarefas de orçamentação e planejamento. Esses processos feitos
manualmente consomem tempo e são suscetíveis a erros. Por essa razão, os custos
e prazos são frequentemente extrapolados, fazendo com que praticamente todas as
obras só sejam concluídas após inúmeros termos aditivos de valor e de prazo. O
objetivo do presente trabalho é fazer um estudo de caso propondo a implementação
de um projeto-piloto com o objetivo de desenvolver competências da equipe interna
para o emprego do BIM na elaboração de cronogramas mais assertivos

2 BASE CONCEITUAL

Leusin (2018) afirma que não basta “comprar” os projetos desenvolvidos em


processos BIM, sendo necessário também que a organização tenha em quadro
profissionais capacitados, softwares e infraestrutura tecnológica adequada e, o mais
importante, que seus procedimentos e controles administrativos sejam adequados
às características e demandas do processo BIM.
A natureza gráfica das ferramentas BIM possibilita um planejamento mais
adequado em relação ao uso de áreas, melhora a gestão de riscos e a
comunicação, sendo as informações oferecidas pelo mesmo capazes de atender
diferentes finalidades em um projeto (COSTA E FERREIRA, 2019). Um modelo
eficiente deve apresentar não só as construções futuras, mas também as rotas, vias
de acesso e infraestrutura, fixa ou temporária, que possam vir a afetar o projeto.
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Segundo Sacks et al (2021) o BIM permite que planejadores criem, revisem e


alterem modelos 4D com mais frequência, levando à implementação de
cronogramas melhores e mais confiáveis. O emprego de simulações oferece uma
visão mais dinâmica da construção, possibilitando que haja uma discussão dos
prováveis cenários ao longo das fases da execução, evitando assim possíveis
conflitos entre rotas e fluxos de trabalho, representando uma economia de tempo e
custo.
De acordo com Sacks et al (2021) cronogramas frequentemente são
impactados por atividades que envolvem altos riscos, dependências múltiplas ou
sequências complexas de atividades. Não é raro que isso ocorra em projetos como
reformas onde a construção precisa ser coordenada com a operação normal do
edifício. Simulações 4D funcionam principalmente como ferramentas para revelar
possíveis gargalos. Os responsáveis pelo planejamento da construção podem
revisar simulações 4D para certificar-se de que o planejamento é viável e o mais
eficiente possível.
Para SACKS et al (2021) as funções que automatizam os processos de
criação de links entre os objetos do modelo e as atividades do cronograma são
importantes quando as modificações no modelo acontecem com frequência. A
necessidade de revisar os links sempre que há uma alteração no modelo faz a
manutenção do cronograma 4D ser bastante trabalhosa. Para COSTA E FERREIRA
(2019) o grau de detalhamento dos modelos depende da sua finalidade e a
utilização de modelos simplificados é justificada quando o processo construtivo, o
canteiro e seus fluxos são analisados de forma geral, com o propósito somente de
identificar e localizar os elementos e serviços que estão sendo realizados na obra.
A escolha da solução dos softwares de planejamento deve ser consciente e
criteriosa já que as diferenças entre as ferramentas são significativas, seja nos
conceitos, seja nos recursos. A seguir são apresentados exemplos de ferramentas
de modelagem 4D:
 Revit (Autodesk): Cada objeto Revit inclui parâmetros que permitem aos
usuários atribuí-lo a uma determinada fase, podendo-se usar um filtro de
visualização para mostrar diferentes fases e criar vistas 4D. No entanto, não é
possível gerar animações.
 Tekla Structures: Software que permite a associação de objetos do modelo a
uma ou mais tarefas do diagrama de Gantt. É possível gerar animação entre
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datas, e os objetos podem ser codificados com cores de acordo com atributos
que dependem do tempo.
 Autodesk Navisworks: O software em que é possível fazer a integração a
cronogramas do MS-Project e Oracle Primavera permitindo a atualização do
cronograma e do modelo 3D. (ABDI, 2017).
 Synchro: Trata-se de uma solução 4D, baseada no Método de Caminho
Crítico (PERT-CPM) que possui funcionalidades sofisticadas de gestão e
planejamento, porém os usuários precisam ter conhecimentos avançados de
planejamento para usufruir de toda capacidade da ferramenta (ABDI, 2017).
 Vico Office Schedule Planner: É um sistema de planejamento da construção
em que as informações de um cronograma podem ser importadas do
Primavera ou do MS Project e as alterações feitas no sistema de
planejamento são refletidas na visualização 4D.

3. ANÁLISE DA SOLUÇÃO

As boas práticas da implementação BIM recomendam o estabelecimento de um


projeto-piloto escolhido para que represente os casos mais típicos da organização,
não sendo nem muito complexo nem muito simples (CBIC, 2016). Assim sendo, foi
escolhida a obra de reforma e ampliação da Escola Messias Pinto Alves, em Lagoa
Santa – MG como projeto-piloto, por se tratar de um caso típico em que a área que
necessita de intervenção não poderá ser desocupada, sendo necessária a execução
em etapas.
No quadro a seguir são apresentados os dados necessários para se iniciar o
projeto-piloto proposto. Referem-se aos primeiros passos para a implementação BIM
(anexo I), conforme as recomendações da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção no volume 2 da Coletânea Implementação do BIM para Construtoras e
Incorporadoras (CBIC, 2016)

Quadro 1 – Determinações necessárias para implementação do projeto-piloto


Definição da Fase do No caso da Diretoria de Obras interessa as fases de
empreendimento orçamentação, planejamento, licitação, contratação e
construção
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Definição do Objetivo O objetivo será elaboração de cronogramas mais


assertivos, reduzindo a margem de erro para 01 mês
Definição da Equipe, A equipe deverá ser composta por:
Papéis Organizacionais - Coordenador do projeto-piloto
e Responsabilidades - Engenheiro Civil fiscal de contratos
- Engenheiro Civil (orçamento e planejamento)
- Arquiteta (responsável pela modelagem paramétrica)
- Consultor 01 (representante do software 4D para
treinamento)
- Consultor 02 (Construtor)
-Consultor 03 (representante dos usuários da edificação)
Definição do Caso de Planejamento 4D
usos BIM
Fonte: Elaborado pelo autor

A escolha das ferramentas a serem utilizadas no projeto-piloto deve ser feita de


forma prudente levando-se em conta o objetivo do mesmo e a atual condição do
órgão em relação ao BIM. Para a modelagem será utilizado o Autodesk Revit, por
ser um programa que a Prefeitura Municipal já possui. Como ferramenta 4D sugere-
se a utilização do Navisworks por sua capacidade de importação de cronogramas e
por conter recursos para detecção de conflitos espaço-tempo, a ferramenta MS
Project para a elaboração do cronograma devido á interoperabilidade com o
Navisworks e por ser um software de uso amplo.
A seguir será relatada a sequência de atividades do projeto-piloto:
A arquiteta da equipe executará a modelagem paramétrica, utilizando objetos
mais simples, pois o objetivo é estabelecer as posições e sequências de construção.
Na modelagem deverá conter também as estruturas temporárias. No caso em
questão pode-se separar a obra em três etapas (apêndice I), sendo uma de
construção e duas de reforma, alternando a ocupação dos espaços à medida que o
trabalho evolua.
Os engenheiros civis têm a função de elaborar o planejamento da sequência das
atividades utilizando a ferramenta MS Project. Essa atividade deverá ser feita com a
colaboração do consultor 02, construtor. É importante frisar que este trabalho deve
ser feito em conjunto com a modelagem, principalmente para a divisão das etapas.
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Deve-se levar em conta que a obra não pode afetar o funcionamento da escola, de
forma que não seja reduzido o número de salas e que os fluxos das atividades da
construção não conflitem com o fluxo de alunos e funcionários. Faz necessário
nessa etapa a participação do consultor 03, representante dos usuários da
edificação, que no caso pode ser a diretoria da escola.
O passo seguinte é fazer a exportação do modelo 3D para o Navisworks e
integrá-lo ao planejamento criado pelos engenheiros. Nessa fase é fundamental a
participação do consultor 01 - consultoria especializada na ferramenta BIM 4D –
para reduzir o desperdício de tempo na descoberta de recursos do sistema e evitar a
criação de vícios de utilização. O planejamento deve ser importado a partir do
software MS Project e ter suas tarefas associadas aos objetos do modelo 3D,
criando-se um link para gerar uma simulação 4D. Após a geração da simulação o
arquivo será exportado para um formato de vídeo que poderá ser visualizado em
outros programas e dispositivos e apresentado aos interessados.
É importante lembrar que a principal vantagem da utilização das ferramentas
BIM 4D é a praticidade na realização de simulações diversas, de forma a escolher a
que melhor se adequa aos prazos, recursos e limitações do projeto como um todo.

4. CONCLUSÃO

Uma obra normalmente tem um forte componente de pressão por prazos e


controle de custos sem que se perca a qualidade, e qualquer esforço para controlá-
los é válido para se atingir o resultado esperado. Como a obra é resultado do
esforço de várias equipes heterogêneas em que todas devem trabalhar de forma
sincronizada e harmônica, o uso de relatórios visuais contendo imagens e
animações auxilia na obtenção de um entendimento comum do processo de
construção do empreendimento, evitando interpretações distintas e distorcidas sobre
um mesmo assunto.
A transição para a plataforma BIM requer investimentos substanciais em
aquisição de licenças, treinamento gestão e processos. Espera-se que a experiência
do projeto-piloto proposto proporcione encurtamento do prazo de retorno sobre o
investimento a ser realizado, uma vez que os profissionais envolvidos adquirirão
maior produtividade e assertividade no processo de planejamento.
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Em geral, os objetivos de uma implementação BIM são mais amplos, com a


definição de uma maior quantidade de casos de usos que os definidos como meta
para o primeiro projeto-piloto. Dessa forma, ao longo do processo de transição para
a plataforma BIM, certamente serão necessários outros projetos-piloto para a
implementação das demais dimensões.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL. BIM na


Quantificação, orçamentação, planejamento e gestão de serviços da construção:
Coletânea Guias BIM. Brasília, DF: ABDI, v.2, 2017.

CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Implementação BIM -


Parte 2: Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras - Brasília: CBIC,
v.2, 2016

COSTA, C.F; FERREIRA, E.A.M. Projeto de Canteiro de Obras com o Auxílio de


Ferramentas BIM. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO, 2., 2019, Campinas, SP.
Anais[...]. Porto Alegre: ANTAC, 2019. Disponível em:
https://antaceventos.net.br/index.php/sbtic/sbtic2019/paper/view/120

LEUSIN, Sergio R. Gerenciamento e Coordenação de Projetos BIM . Rio de Janeiro.


Grupo GEN, 2018. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595153820/. Acesso em: 20
jun. 2022.

SACKS, Rafael; EASTMAN, Carlos; TEICOLZ, Paulo; LEE, Gang. Manual de BIM:
Um Guia de Modelagem da Informação da Construção para Arquitetos,
Engenheiros, Gerentes, Construtores e Incorporadores. Porto Alegre. Grupo A,
2021. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582605523/. Acesso em: 27
jun. 2022.
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APÊNDICE I

Figura 1 - Planejamento das etapas do projeto-piloto proposto

Fonte: Elaborado pelo autor baseado em projeto do acervo da Secretaria de Desenvolvimento Urbano
de Lagoa Santa
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ANEXO I

Figura 2 – Ilustração demonstrando os principais passos para um projeto de


implementação BIM

Fonte: (CBIC, 2016,v.2, p.30)

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