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Meteorologia
Radiação Solar e
Terrestre e o Balanço
de Energia Global
Rita Yuri Ynoue
Michelle S. Reboita
Nathalie T. Boiaski
Tércio Ambrizzi
Gyrlene A. M. da Silva
2.1 Introdução
2.2 Energia e suas formas
2.3 Mecanismos de transferência de energia
2.3.1 A radiação solar e terrestre
2.4 Balanço de energia global
Referências
2.1 Introdução
O Sol é a principal fonte de energia para os processos atmosféricos. Neste texto, veremos
que a energia do Sol chega à Terra na forma de radiação eletromagnética e estudaremos os
vários processos que ocorrem com essa radiação no momento em que ela interage com a
atmosfera e com a superfície terrestre. Esses processos são importantes para explicar alguns
fenômenos óticos que ocorrem na atmosfera, bem como o efeito estufa, o balanço de energia
global, os conceitos básicos das mudanças climáticas, entre outros.
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K = °C + 273,15 2.1
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Toda matéria que tem temperatura acima de 0 K emite radiação devido à vibração
dos elétrons que a compõem. Assim, os comprimentos de onda das radiações que cada
objeto emite dependem basicamente de sua temperatura. Quanto maior sua temperatura,
mais rápido vibrarão os elétrons e, portanto, menores serão os comprimentos de onda das
radiações emitidas. A Figura 2.5a ilustra os comprimentos de onda associados a diferentes
tipos de radiação. Radiações de comprimentos de onda menores são mais energéticas que
radiações de comprimentos de onda maiores. Assim, podemos dividir o espectro eletromag-
nético em regiões com propriedades características. A região dos raios X tem comprimento
de onda característico em torno de 10-9 m. Essa radiação é muito mais energética que a
região das ondas de rádio, que têm comprimento de onda característico da ordem de 100 m.
Figura 2.5: a. Comprimentos de onda associados a diferentes tipos de radiação; b. Espectro eletromagnético
e suas diferentes faixas.
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E = σ .T4 2.2
2897
λ max = 2.3
T
onde o comprimento de onda máximo (λmax) é expresso em µm e a temperatura, em K.
Com isso, a uma dada temperatura, a emissão em cada comprimento de onda de um corpo
negro é a máxima possível. Essa distribuição espectral de energia emitida de corpos negros
com diferentes temperaturas pode ser visualizada na Figura 2.6. Nota-se que o pico de
radiação emitida tem comprimentos de onda menores para corpos com temperaturas maiores.
Um corpo a 6000 K, como o Sol, por exemplo, tem emissão máxima no comprimento de onda
de aproximadamente 0,5 µm, região do espectro eletromagnético correspondente à radiação
visível, enquanto que para um corpo a 300 K, como a Terra, esse comprimento de onda é
aproximadamente 10 µm, região do infravermelho.
Em resumo, todos os corpos (portanto, tanto a Terra quanto o Sol), emitem radiações.
A Terra, por ter uma temperatura menor, emite a maior parte de sua radiação em
comprimentos de onda relativamente longos ou na faixa do infravermelho, entre 5 µm e
25 µm. Já o Sol, com uma temperatura maior, emite radiação principalmente nos compri-
mentos de onda menores que 2 µm. Por essa razão, denominamos a radiação terrestre como
Radiação de Onda Longa (ROL) e a radiação solar como Radiação de Onda Curta
(ROC). A radiação solar viaja entre o Sol e o topo da atmosfera terrestre praticamente sem
interferência. A quantidade de radiação ao interceptar uma superfície que forme ângulos
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efeito natural, mas tem sido agravado nas últimas décadas com a emissão antropogênica de
gases de efeito estufa. Os problemas de poluição e de mudanças climáticas associadas a essas
emissões serão abordados nos textos finais desta disciplina. Através da Figura 2.7 ainda é
possível perceber que entre 8 μm e 12 μm há uma região definida como janela atmosférica,
que é uma região transparente, com exceção da banda de 9,6 μm, onde o ozônio absorve
fortemente. As radiações ultravioletas são absorvidas na estratosfera basicamente pelo O2 e O3.
Para obter mais informações sobre a radiação ultravioleta, acesso o site: http://satelite.cptec.
inpe.br/uv/ e em seguida, na aba informações que encontra-se à esquerda da tela, clique em:
O que é radiação UV? e Radiação UV e Saúde.
Além da absorção seletiva dos gases atmosféricos, a radiação solar também sofre espalhamento,
ou seja, a energia incidente em linha reta e é desviada da orientação original. Moléculas,
partículas de aerossol e nuvens contendo gotas e cristais de gelo podem causar seu espalhamento,
cujo processo é responsável pela maior parte da luz que percebemos e explica alguns fenômenos
óticos vistos na atmosfera.
Relembre!
Tais fenômenos já foram abordados na disciplina Luz e Ondas Eletromagnéticas.
Como recurso, é recomendável que você revise a seção Fenômenos atmosféricos
desta disciplina.
A radiação solar, ao atingir a superfície terrestre, pode sofrer reflexão. A relação entre a
quantidade de radiação solar refletida pela superfície de um objeto e o total de radiação inci-
dente sobre ele recebe o nome de albedo. O albedo depende das características da superfície,
como cor, textura e umidade. Por essa razão, podemos estimar o albedo através de uma análise
visual dessas propriedades. Na (Tabela 2.1), estão listados os albedos de algumas superfícies.
Superfícies com cores mais claras possuem maior albedo e superfícies mais escuras possuem
menor albedo. Porém, o albedo também varia com o ângulo solar, ou seja, se o ângulo é grande,
há uma tendência da radiação ser mais absorvida, diminuindo o poder de reflexão da superfície.
Se o ângulo é pequeno, o albedo torna-se maior.
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Figura 2.7: Absorção de radiação da atmosfera terrestre pelos gases óxido nitroso (N2O), oxigênio (O2),
ozônio (O3), vapor d’água (H2O), dióxido de carbono (CO2). A área em cinza representa a porcentagem
de radiação absorvida por cada gás.
Tundra 0,18-0,25
transitória 0,15-0,20
Floresta
conífera 0,05-0,15
ângulo zenital
0,03-0,10
pequeno
Água
ângulo zenital
0,01-1,00
grande
antiga 0,40-
Neve
fresca 0,95
marítimo 0,30-0,45
Gelo
glaciares 0,20-0,40
espessa 0,60-0,90
Nuvens
fina 0,30-0,50
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absorvida ou refletida pela superfície da Terra. A radiação solar é transformada em calor sensível,
calor latente (considerando as diferentes fases da água), energia potencial e energia cinética
antes de ser emitida como radiação de onda longa.
Em termos relativos, podemos entender esse balanço da seguinte forma: se 100 unidades de
energia solar atingem o topo da atmosfera terrestre (Figura 2.8), aproximadamente 30% dessa
radiação volta para o espaço como radiação de onda curta (albedo planetário): 6% espalhada
pela atmosfera, 20% refletida pelas nuvens e 4% refletida pela superfície da Terra. A atmosfera
absorve 19% dessa radiação solar, restando 51% da radiação solar que chegou ao topo da atmos-
fera para ser absorvida pela superfície da Terra, ou seja, 51% da radiação solar foi transmitida
através da atmosfera, conseguindo atingir a superfície.
Figura 2.8: Interação da atmosfera e superfície terrestre com a radiação solar. / Fonte: Adaptado de Ahrens, 2009.
Observando a Figura 2.9, vemos que dessas 51 unidades de radiação solar transmitidas, 23
são utilizadas na evaporação da água (transformação de energia solar em calor latente) e 7 nos
processos de condução e convecção. Sobrariam, então, 21 unidades para serem armazenadas
na superfície e emitidas na forma de radiação infravermelha. Entretanto, a superfície terrestre
emite 117 unidades. Isso ocorre porque, além da radiação solar que a superfície recebe durante
o dia, ela recebe continuamente radiação infravermelha da atmosfera dia e noite. Da energia
emitida pela superfície da Terra, a atmosfera permite que apenas 6 unidades a atravessem.. A maior
parte, 111 unidades, é absorvida principalmente pelos gases de efeito estufa e pelas nuvens. Dessa
absorção, 96 unidades são reemitidas para a superfície (efeito estufa), completando as 147 unidades
absorvidas (51 da radiação solar e 96 da radiação emitida pela atmosfera). Assim, as 147 unidades
de energia perdidas na superfície da Terra ficam balanceadas pelas 147 unidades de energia ganha.
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Referências
Aguado, E.; Burt, J. E. Understanding weather and climate. 5. ed. New York: Prentice
Hall, 2010.
Ahrens, C. D. Meteorology today: an introduction to weather, climate, and the environment.
9. ed. Belmont: Brooks/Cole, 2009.
Ayoade, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. 3. ed. São Paulo: Bertrand do
Brasil, 1991. 332 p.
Lutgens, F. K.; Tarbuck, E. J. The atmosphere: an introduction to meteorology. 11. ed.
New York: Prentice Hall, 2010.
Trenberth, K. E.; Fasullo, J.T.; Kiehl,J. Earth’s global energy budget. American Meteorological
Society, Washington, p. 311-323, mar. 2009.
Glossário
Convecção: Transformação da energia solar em calor sensível.