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Regime Próprio de Previdência dos Servidores

Prof. Thiago Alencar Alves Pereira

Descrição

Análise do Regime Próprio de Previdência Social, a partir de seus


conceitos fundamentais e de uma abordagem comparatista com o
regime geral de previdência.

Propósito

O Regime Próprio de Previdência Social, conhecido como regime de


previdência dos servidores públicos, integra o sistema público de
proteção social, ao lado do regime geral de previdência social. O
sistema de proteção previdenciário faz parte do macrossistema de
proteção social, a seguridade social, em que são espécies, ainda, a
saúde e a assistência social. Conhecer o instituto é fundamental para o
operador do Direito.

Preparação

Antes de iniciar os estudos, tenha em mãos a Constituição Federal, as


Leis nº 9.717/1998, 10.887/2004, 8.212/1991 e 8.213/1991.

Objetivos
Módulo 1

A seguridade social

Reconhecer os conceitos fundamentais da previdência do servidor


público.

Módulo 2

Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)

Analisar as principais regras e os benefícios previdenciários do RPPS.


Introdução
O regime de previdência social do servidor público vem sofrendo
enormes transformações desde que foi introduzido na
Constituição Federal de 1988. Assim, os servidores públicos e os
militares viram seu regime de proteção social contributivo sofrer
alterações advindas da EC 03/1993, 19/1998, 20/1998, 41/2003,
47/2005, 70/2012 e 103/2019, além de diversas decisões
judiciais que deram sentido a palavras, expressões e
conteúdos indeterminados a dispositivos constitucionais e
legais.

O caput do artigo 40 da Constituição dispõe que "o Regime


Próprio de Previdência Social dos servidores titulares de cargos
efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante
contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos,
de aposentados e de pensionistas, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial”.

Portanto, o Regime Próprio de Previdência Social tem como


benefícios mínimos a aposentadoria e pensão por morte
previstos no art. 40 da Constituição Federal e, no máximo, os
mesmos benefícios previstos no Regime Geral de Previdência
Social.

1 - A seguridade social
Ao inal deste módulo, você será capaz de reconhecer os conceitos fundamentais da
previdência do servidor público.

Ligando os pontos

Você sabe o que é seguridade social? Conseguiria identificar as


diferenças entre saúde, assistência social e previdência social? Vamos
lá.

Em junho de 2019, entrou em vigor, na cidade do Rio de Janeiro, a Lei


nº 6.603, que institui o Programa de Fornecimento de Absorventes
Higiênicos nas escolas públicas do Município. A proposta origina-se no
Projeto de Lei nº 798, de 2018, do vereador Leonel Brizola Neto, que o
submeteu à apreciação da Câmara Municipal.

A iniciativa consiste no fornecimento de absorventes higiênicos para


estudantes do sexo feminino, visando à prevenção de doenças, bem
como à evasão escolar. A distribuição será feita por meio de máquinas
de reposição instaladas nos banheiros das escolas públicas da rede
municipal. Poderia, igualmente, ser distribuída em cestas básicas, por
meio do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan),
já que se trata de item de higiene pessoal ligada à assistência social.

É que a seguridade social, dividida em saúde, assistência social e


previdência, tem como espécies não contributivas a saúde (todos) e
assistência social (apenas vulneráveis), podendo algumas políticas sair
por uma ou outra, a depender do público que se deseja tocar.

Em matéria publicada no Jornal O Globo, de 14 de junho de 2019, o


autor da proposta e presidente da Comissão de Direitos da Criança e do
Adolescente da Câmara Municipal esclareceu que a demanda partiu das
próprias famílias. Em visitas feitas pela Comissão às escolas públicas,
essas famílias relataram dificuldades financeiras para a compra dos
produtos e situações de constrangimento vividas pelas alunas, que
resultam em sucessivas faltas às aulas. É um problema real para as
adolescentes, configurando a chamada precariedade menstrual.

A falta de acesso a produtos de higiene para lidar com o período


menstrual traz enormes riscos à saúde dessas jovens, muitas vezes em
virtude das soluções precárias e insalubres a que recorrem. É o caso de
Anita, moradora do bairro Pedrinhas, Rio de Janeiro. Ela vive em
situação de extrema pobreza e mensalmente falta às aulas porque não
tem condições de adquirir absorventes.

Anita por diversas vezes buscou a Secretaria de Estado da Saúde para


ter acesso ao absorvente, mas foi informada de que se trataria de
política de assistência social. Da forma como foi confeccionada a Lei nº
6.603/2019 do Rio de Janeiro, o Programa de Fornecimento de
Absorventes Higiênicos nas escolas públicas do município é destinado
apenas a pessoas em situação de vulnerabilidade.

Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos


ligar esses pontos?

Questão 1

O tema da distribuição de absorventes tomou conhecimento


nacional com a Lei nº 14.214, de 6 de outubro de 2021, que institui
o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. A
necessidade de Anita, no Rio de Janeiro, pode ser atendida pela Lei
nº 6.603/2019. De acordo com o caso e com olhos na Lei nº
6.603/2019 do Rio de Janeiro, você, na condição de gestor,
decidiria por:
conceder a distribuição de absorventes como uma
A
política pública pertencente à previdência social.

conceder a distribuição de absorventes a mulheres


B vulneráveis como uma política pública estritamente
pertencente à saúde.

conceder a distribuição de absorventes nas cestas


básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional
C de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), como
uma política pública pertencente à previdência
social, pois apenas quem contribui tem direito.

conceder a distribuição de absorventes nas cestas


básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional
D
de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), como
uma política pública pertencente à saúde.

conceder a distribuição de absorventes nas cestas


básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional
E de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), como
uma política pública pertencente à assistência
social.

Parabéns! A alternativa E está correta.

A seguridade social, dividida em saúde, assistência social e


previdência social, tem como subsistema contributivo a previdência
social, sendo a saúde e assistência social não contributivos.
Entretanto, a assistência social é vocacionada apenas a pessoas
em situação de vulnerabilidade social. A distribuição de
absorventes a mulheres vulneráveis é uma política da assistência
social que pode ser feita no âmbito do Sistema Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan).

Questão 2
O tema da distribuição de absorventes tomou conhecimento
nacional com a Lei nº 14.214, de 6 de outubro de 2021, que
institui o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. A
necessidade de Anita pode ser política de saúde ou de assistência
social. De acordo com o caso e com olhos na Lei nº 14.214/2021,
você, na condição de gestor, decidiria por:

conceder a distribuição de absorventes como uma


A
política pública pertencente à previdência social.

conceder a distribuição de absorventes a mulheres


B vulneráveis como uma política pública pertencente
à saúde.

conceder a distribuição de absorventes nas cestas


básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional
C de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), como
uma política pública pertencente a previdência
social, pois apenas quem contribui tem direito.

conceder a distribuição de absorventes nas cestas


básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional
D
de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), como
uma política pública pertencente à saúde.

conceder a distribuição de absorventes nas cestas


básicas entregues no âmbito do Sistema Nacional
E de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), como
uma política pública pertencente à assistência
social.

Parabéns! A alternativa B está correta.

A seguridade social, dividida em saúde, assistência social e


previdência social, tem como subsistema contributivo a
previdência social, sendo a saúde e assistência social não
contributivos. A Lei nº 14.214, de 6 de outubro de 2021, inclui a
distribuição de absorventes como política de saúde, o que denota
acesso a todos, independentemente da condição de
vulnerabilidade.
Questão 3

Imagine que você é consultor jurídico de determinado deputado e ele


peça uma análise jurídica sobre projeto lei que visa incluir a distribuição
de camisinhas femininas gratuitamente no carnaval. Pretende o
deputado que as camisinhas sejam distribuídas tão somente a mulheres
vulneráveis, de modo a reduzir o impacto orçamentário e financeiro da
medida. Em breves linhas, qual a sua recomendação?

Digite sua resposta aqui

Chave de resposta

A seguridade social, dividida em saúde, assistência social e


previdência social, tem como subsistema contributivo a
previdência social, sendo a saúde e assistência social não
contributivos. Entretanto, a assistência social é vocacionada
apenas a pessoas em situação de vulnerabilidade social, de modo
que, para haver distribuição apenas a pessoas vulneráveis, o
programa deve sair pela assistência social.

Sob o ponto de vista da saúde, qualquer mulher, vulnerável ou não,


teria direito à camisinha feminina. Portanto, a recomendação é
que a distribuição das camisinhas femininas ocorra a quem não
possui condições financeiras, utilizando-se do Cadastro Único
(CadÚnico), que é um conjunto de informações sobre as famílias
brasileiras em situação de pobreza e extrema pobreza. Essas
informações são utilizadas pelo Governo Federal, pelos estados e
municípios para implementação de políticas públicas capazes de
promover a melhoria da vida dessas famílias.

Conceito e origem de seguridade


social
A seguridade social está conceituada no art. 194 da Constituição
Federal como conjunto de ações do Poder Público e da sociedade,
possuindo três espécies de proteção: saúde, assistência e previdência.
Eis a dicção do dispositivo:

Conjunto integrado de ações


de iniciativa dos Poderes
Públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência
social.
(Art. 194 da CF)

O termo seguridade social é um conceito estruturante das políticas


sociais, cuja principal característica é expressar o esforço de garantia
universal da prestação de benefícios. A evolução da proteção estatal
contra os riscos sociais, que podem levar o povo à miséria, pondo em
risco a paz social, deve ser contada dentro do contexto do nascimento e
desenvolvimento do Estado social, após a queda dos modelos
absolutistas e liberais. A proteção social iniciou-se no Brasil e no mundo
com tímidas medidas de assistência social, culminando com o
nascimento do sistema de seguridade social brasileiro em 1988, com
a promulgação da atual Constituição, abarcando a previdência, a
assistência e a saúde.

A expressão seguridade social é de origem anglo-saxônica, tendo por


referência certas políticas do início do século XX. Mas ela aparece pela
primeira vez no documento de lançamento do Social Security Act, que
instituiu a Previdência Social norte-americana, em 1935. Sua base de
financiamento é bem mais ampla que a do seguro social, conceito que
orientou a política previdenciária brasileira desde os anos de 1920,
organizada sob inspiração do modelo alemão, criado por Bismark na
segunda metade do século XIX.
Otto Von Bismarck (1815-1898)

As primeiras iniciativas de benefícios previdenciários que vieram a


constituir a seguridade social no século XX nasceram na Alemanha, no
final do século XIX, mais precisamente em 1883, durante o governo do
chanceler Otto Von Bismarck, em resposta às greves e pressões dos
trabalhadores.

O modelo bismarckiano é considerado um sistema de seguros sociais,


porque suas características assemelham-se às de seguros privados
(BOSCHETTI; SALVADOR, 2006, p. 25-57). Observe a seguir:

No que se refere aos direitos, os benefícios cobrem


principalmente (e às vezes exclusivamente) os trabalhadores.

O acesso é condicionado a uma contribuição direta anterior, e o


montante das prestações é proporcional à contribuição
efetuada.

Quanto ao financiamento, os recursos são provenientes,


fundamentalmente, da contribuição direta de empregados e
empregadores, baseada na folha de salários.

Em relação à gestão, teoricamente (e originalmente), cada


benefício é organizado em caixas, que são geridas pelo Estado,
com participação dos contribuintes, ou seja, empregadores e
empregados.
Em outro contexto econômico e político, durante a Segunda Guerra
Mundial, mais precisamente em 1942, é formulado na Inglaterra o Plano
Beveridge, que apresenta críticas ao modelo bismarckiano vigente até
então e propõe a instituição do Welfare State. No sistema
beveridgiano, os direitos têm caráter universal, destinados a todos os
cidadãos incondicionalmente ou submetidos a condições de recursos,
mas garantindo mínimos sociais a todos em condições de necessidade.
O financiamento é proveniente dos impostos fiscais, e a gestão é
pública, estatal. Os princípios fundamentais são a unificação
institucional e uniformização dos benefícios.

Com a publicação do Relatório Beveridge, em 1942, Social security


passou a apresentar um significado mais próximo do atual. De
acordo com o relatório, foi encomendado pelo governo inglês ao
renomado economista Sir. William Beveridge que desenhasse uma
política de libertação das pessoas da condição pobreza. Esse
movimento, que desembocou nas reformas sociais inglesas de 1945-
1948, também resultou na inscrição da seguridade social como um
dos direitos fundamentais na Carta dos Direitos Humanos de 1948, com
a fundação das Nações Unidas.

Evolução legislativa no Brasil


No Brasil, a doutrina atribui ao Decreto-legislativo nº 4.682/1923 (Lei
Eloy Chaves) o início da proteção social. O decreto criou, em cada uma
das empresas de estradas de ferro existentes no país, uma caixa de
aposentadoria e pensões para os respectivos empregados.

A Constituição de 1824 é considerada a primeira a tratar de matéria


securitária no Brasil. Estabeleceu a instituição das Casas de Socorros
Públicos, consideradas embriões das Santas Casas de Misericórdia.
Após os atos normativos citados, vieram outros:
Constituição de 1937 - Primeira a utilizar a expressão "Seguro
Social".

Constituição de 1946 - Primeira a empregar a expressão


"Previdência Social".

Lei nº 3.807/1960 - LOPS - Responsável pela uniformização da


legislação previdenciária dos diversos Institutos Previdenciários.

LC nº 11/1971 (FUNRURAL) - Previdência Social dos trabalhadores


rurais.

Lei nº 5.859/1972 (domésticos) - Inicio da proteção social para os


trabalhadores rurais e domésticos.
Lei nº 6.439/1977 - SINPAS (Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social): IAPAS - INAMPS - INPS - LBA - CEME -
DATAPREV (ainda existe) - FUNABEM.

Constituição de 1988 - Inaugurou o Sistema de Seguridade Social,


formado pelos subsistemas Assistência Social, Previdência Social e
Saúde.

Lei nº 8.029/1990 - Criação do INSS: fusão do INPS (benefícios)


com IAPAS (custeio).

Lei nº 8.212/1991 - Disciplina o Custeio da seguridade social.

Lei nº 8.213/1991 - Disciplina o Plano de Benefícios do Regime


Geral da Previdência Social.

Com a subida dos militares ao poder, em 1964, ocorreu uma mudança


nas relações entre o Estado e a classe trabalhadora. Atingidos a partir
de então pela intervenção federal, os sindicatos e os institutos de
aposentadoria foram pouco a pouco conduzidos à despolitização. O
novo regime procurou imprimir à previdência social o domínio do
princípio administrativo-tecnocrático, excluindo a participação e a
influência dos líderes trabalhistas e dos segurados nas decisões da
política previdenciária.

A unificação dos institutos de aposentadoria e pensões, além de


constituir uma tentativa de solução para a crise política, financeira e
organizacional que a previdência vinha enfrentando desde o final da
década de 1950, permitiria que ela se tornasse mais facilmente uma
questão administrativa da competência do Estado.

Assim, foi criado o órgão pelo Decreto nº 72, de 21 de novembro de


1966, como resultado da fusão dos institutos de aposentadoria e
pensões do setor privado então existentes:

IAPM
Institutos de aposentadoria e pensões do setor marítimo.

IAPC
Institutos de aposentadoria e pensões dos comerciários.

IAPB
Institutos de aposentadoria e pensões dos bancários.
IAPI
Institutos de aposentadoria e pensões dos industriários.

IAPETEC
Institutos de aposentadoria e pensões dos empregados em transportes
e cargas.

IAPFESP
Institutos de aposentadoria e pensões dos ferroviários e empregados
em serviços públicos.

Além disso, também houve a criação dos serviços integrados e


comuns a todos esses institutos, entre os quais:

SAMDU
Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência.

SAPS
Serviço de Alimentação da Previdência Social.

Ressalta-se que, de acordo com a Lei nº 11.457/2007, a Secretaria da


Receita Federal do Brasil (SRFB) passou a arrecadar e fiscalizar as
contribuições previdenciárias.

Organização e princípios da
seguridade social
A organização da seguridade social brasileira vem no tripé saúde,
assistência e previdência social.

Apenas a previdência social é contributiva, ou seja, exige


contraprestação pecuniária do beneficiário do regime. A saúde e
assistência social não exigem contribuição específica para usufruir dos
serviços e benefícios. Entretanto, em que pese não exigir contribuição, a
assistência social impõe que somente vulneráveis (hipossuficientes)
terão acesso ao sistema protetivo.

Princípios da seguridade social
Veja a seguir os princípios regentes da seguridade social.

Os princípios-chave que orientam a política de seguridade social estão


explicitados no art. 194 da Constituição, sendo eles:

Universalidade da cobertura e atendimento

O princípio compreende a universalidade como sinônimo de


todos. Ou seja, todas as coberturas - passado (prevenção),
presente (proteção propriamente dita) e futuro (recuperação), e
todos os atendimentos - todos no território nacional, inclusive
os estrangeiros, conforme entendimento do STF, têm direito
subjetivo a alguma das formas de proteção do tripé da
seguridade social.

Uniformidade e equivalência dos benefícios rurais e


urbanos

A uniformidade é vista como igualdade nos benefícios de rurais


e urbanos, de modo que o valor das prestações pagas a
urbanos e rurais deve ser proporcionalmente igual, tendo em
vista o custeio (equivalência).

Seletividade e distributividade na prestação de


serviços

A seleção de contingências se refere às necessidades e


à distribuição de proteção social a quem mais
necessitar.
Irredutibilidade no valor dos benefícios

O art. 201, § 4º, da CF garante o reajustamento dos benefícios


para preservar-lhes o valor real, conforme critérios
estabelecidos em lei. Portanto, é garantia que o valor do
benefício não será reduzido. Entretanto, o Supremo Tribunal
Federal entende que o que deve ser preservado é o valor
nominal e não o real.

Diversidade da base de inanciamento

Aqui observamos a aplicação do princípio da solidariedade,


que impõe a todos os segmentos sociais — Poder Público,
empresas e trabalhadores — a contribuição na medida de suas
possibilidades.

Equidade na forma de participação no custeio

Pilar do sistema contributivo, a equidade exige que haja justiça


contributiva. Quanto maior a probabilidade de a atividade
exercida gerar contingências com cobertura, maior deverá ser a
contribuição.

Caráter democrático dos seus subsistemas


(previdência, saúde e assistência)

A gestão da seguridade social é quadripartite, permitindo que


os trabalhadores, os empregadores, os aposentados e o Poder
Público participem. É um reflexo da democracia participativa.

Compreendido os conceitos fundamentais da previdência do servidor


público, vamos testar nossos conhecimentos para então avançarmos
nossos estudos para o entendimento das principais regras e benefícios
previdenciários do RPPS.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

A formação de um sistema de proteção social no Brasil, a exemplo


do que se verificou na Europa, deu-se por um lento processo de
reconhecimento da necessidade de que o Estado intervenha para
suprir deficiências da liberdade absoluta — postulado fundamental
do liberalismo clássico —, partindo do assistencialismo para o
seguro social, e deste para a formação da seguridade social. Na
evolução histórica do direito previdenciário brasileiro, observou-se
diversos institutos e regras, até a consolidação do que temos
atualmente. Assinale a opção correta no que se refere à evolução
legislativa nacional:

Ocorreram inúmeras modificações na organização


administrativa previdenciária brasileira ao longo de
seu desenvolvimento, tais como a transformação do
A
Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador
Rural em INPS e, em seguida, mediante a CF, a
transformação deste em INSS.

O ordenamento jurídico brasileiro coexistiu com


inúmeros regimes previdenciários específicos até a
B edição do Decreto-lei nº 72/1966, mediante o qual
foram unificados os institutos de aposentadorias e
centralizada a organização previdenciária no INPS.

O Decreto Legislativo n.º 4.682/1923, também


conhecido como Lei Eloy Chaves, é considerado um
C marco do direito previdenciário brasileiro, devido ao
fato de, por meio dele, ter sido criado o Ministério
da Previdência e Assistência Social.

Ao longo de décadas, o Estado brasileiro deixou de


conceder diversos direitos sociais a seus cidadãos,
D
tendo sido instituídos benefícios previdenciários ao
trabalhador apenas com a promulgação da CF.

A Constituição Federal de 1934 é considerada


retrocedente quanto à proteção ao trabalhador, haja
E vista terem sido dela excluídos os benefícios de
proteção à maternidade e os provenientes de
acidente de trabalho.

Parabéns! A alternativa B está correta.

Até o Decreto nº 72, de 21 de novembro de 1966, havia diversos


institutos de aposentadoria e pensões do setor privado — o dos
marítimos (IAPM), o dos comerciários (IAPC), o dos bancários
(IAPB), o dos industriários (IAPI), o dos empregados em transportes
e cargas (IAPETEC) e o dos ferroviários e empregados em
serviços públicos (IAPFESP) — e dos serviços integrados e comuns
a todos esses institutos — entre os quais o Serviço de Assistência
Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU) e o Serviço de
Alimentação da Previdência Social (SAPS).

O Decreto nº 72/1966 unificou os institutos de aposentadoria e


pensões em uma tentativa de solução para a crise política,
financeira e organizacional que a previdência vinha enfrentando
desde o final da década de 1950.

Questão 2

Com relação à seguridade social e a seus princípios, assinale a


opção correta.

A seguridade social compreende um conjunto


integrado de ações de iniciativa dos poderes
A públicos e da sociedade destinado a assegurar os
direitos relativos ao trabalho, à saúde, à
previdência e à assistência social.

A gestão tripartite do sistema previdenciário, com


participação dos trabalhadores, dos empregadores
e dos aposentados e decorrente do caráter
B
democrático e descentralizado da administração,
garante a segurança e a moralidade na
administração desse sistema.

O equilíbrio financeiro e atuarial do sistema


previdenciário consiste na observação dos critérios
que preservem a sua solvência financeira, de modo
C
a fornecer segurança e tranquilidade aos segurados
e garantir o fomento público em situações de
instabilidade econômica.

Constituem objetivos da seguridade social a


universalidade e a uniformidade da cobertura e do
D
atendimento e a inequidade na forma de
participação no custeio.

Segundo a jurisprudência majoritária do STF, o


princípio da irredutibilidade do valor dos
benefícios refere-se apenas ao valor nominal
desses
E
benefícios, não resultando na garantia da concessão
de reajustes periódicos, característica relativa à
preservação do valor real.

Parabéns! A alternativa E está correta.

O princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios prevê a


manutenção do valor real, de modo a permitir o poder aquisitivo do
segurado. Entretanto, a intepretação dada pelo Supremo Tribunal
Federal é no sentido de manutenção do valor nominal.

2- Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)


Ao inal deste módulo, você será capaz de analisar as principais regras e os benefícios
previdenciários do RPPS.

Ligando os pontos
Você percebeu que, desde sua origem, a Constituição Federal de 1988
sofreu diversas intervenções no sistema previdenciário? Notou que ele
cada dia vem se aproximando mais do Regime Geral de Previdência
Social?

Até a EC 20/1998 não era exigida a contribuição, mas apenas o tempo


de serviço, com exceção dos servidores federais, uma vez que a EC
03/1993 ordenou a contribuição aos servidores federais. A EC 20/1998,
para evitar discussões sobre a contributividade, ordenou que o tempo
de serviço seria contado como de contribuição.

João é servidor público estadual desde janeiro de 1995, ingressando,


portanto, pouco tempo antes das emendas à Constituição nº 20/1998,
41/2003 e 47/2005, possuindo expectativa de direito a proventos pela
integralidade e reajuste pela paridade. Até o momento, o estado em
que João é servidor não fez sua reforma previdenciária conforme a
emenda Constitucional nº 103/2019. A ele foi assegurado regra de
transição, posteriormente revogada pela emenda à constituição nº
41/2003, que trouxe outras regras de transição.

Não bastassem os períodos de pedágio que passaram a ser exigidos, a


Emenda à Constituição nº 103/2019 inovou mais uma vez, trazendo
regras ainda mais duras. João nasceu em janeiro de 1972 e, caso não
houvesse alterações nas regras, ele se aposentaria. Com base na
redação original da Constituição Federal de 1988, João se
aposentaria com 35 anos de tempo de serviço, com integralidade e
paridade. Com as novas regras trazidas pela Emenda à Constituição nº
103/2019, João precisaria de 35 anos de contribuição, 60 anos de
idade, 20 anos de efetivo exercício no serviço público, 5 anos de
cargos efetivos em que se der a aposentadoria, podendo optar pelo
sistema de pontos ou de pedágio.

Não há mais as regras de transição das emendas à Constituição


anteriores, revogadas expressamente. Todavia, o governo federal, com
a finalidade de administrar e executar planos de benefícios de caráter
previdenciário complementar para os servidores públicos, criou a
Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal
(FUNPRESP), por meio do Decreto nº 7.808/2012. O servidor que migrar
para o regime complementar passará a ter proventos limitados ao teto
do Regime Geral de Previdência Social e o reajuste por índice do RGPS.

Após a leitura do case, é hora de aplicar seus conhecimentos! Vamos


ligar esses pontos?

Questão 1
As diversas reformas previdenciárias mudaram o sistema de
proteção social dos servidores públicos, trazendo novas regras que
aumentaram o tempo de serviço e de contribuição. A Emenda à
Constituição nº 20/1998 tornou possível a contributividade para
todos os entes da federação, algo já existente no serviço público
federal desde 1993, quando a EC nº 03 passou a viger. A EC nº
41/2003 permitiu proventos pela integralidade e reajuste pela
paridade apenas em regras de transição, excluindo do corpo da
constituição. Sobre as reformas, assinale a correta:

De janeiro de 1995 até a EC nº 20/1998, o tempo de


serviço de João será contado como tempo de
A
contribuição, desde que ele faça os recolhimentos
de contribuição previdenciária do período.

Desde a nova ordem constitucional, instituída em 5


de outubro de 1984, os servidores federais somente
B
se aposentavam se houvesse contribuição e idade
mínima.

Desde a Emenda Constitucional nº 20/1988, exige-


C se apenas contribuição para os servidores
públicos poderem se aposentar.

A Emenda Constitucional nº 03/1993 estabeleceu a


D contribuição obrigatória para os servidores públicos
e não apenas o tempo de serviço.

A Emenda Constitucional nº 41/2003 acabou com a


integralidade e paridade, assegurando-as apenas em
E
regras de transição para os que ingressaram até a
data de vigência da emenda, como é caso de João.

Parabéns! A alternativa E está correta.

João ingressou no serviço público federal em janeiro de 1995, já no


sistema contributivo, pois a Emenda Constitucional nº 03/1993
passou a exigir contribuição apenas de servidores federais. Como
ingressou antes da Emenda Constitucional nº 20/1998 (16 dez.
1998), foram asseguradas a João as regras de transição com
proventos pela integralidade e reajuste pela paridade, tanto pela
Emenda Constitucional nº 41/2003 quanto pela nº 47/2005.

Questão 2

Observando as alterações constitucionais ao longo da história, é


notável que a Emenda Constitucional nº 41/2003, art. 6º, e a
Emenda Constitucional nº 47/2005, art. 3º, asseguraram
integralidade dos proventos e paridade nos reajustes. Podemos
dizer que João terá direito a aposentadoria:

pelas regras da Emenda Constitucional nº 20/1998,


A que acabou com os proventos integrais e com a
paridade.

pelas regras da Emenda Constitucional nº 41/2003,


B que acabou com os proventos integrais e com a
paridade.

pelas regras de transição da Emenda Constitucional


C
nº 41/2003, que manteve apenas a “integralidade”.

pelas regras da Emenda Constitucional nº 47/2005,


que trouxe, no artigo 3º, regra de transição
aplicável aos servidores que ingressaram em cargo
público até a data em que a EC nº 20/1998 foi
publicada. De acordo com essa regra, os servidores
que
D
cumprissem os requisitos ali presentes poderiam se
aposentar com proventos equivalentes à última
remuneração, além de fazerem jus ao reajuste no
mesmo índice dos servidores ativos, aplicando-se o
mesmo às pensões.

pelas regras da Emenda Constitucional nº 41/2003


E ou da nº 47/2005, uma vez que se exige,
para ambas, ingresso até 17 dez. 1998.
Parabéns! A alternativa D está correta.

Como João ingressou antes de 16 dez. 1998, é possível aplicar a


ele tanto o art. 6º da Emenda Constitucional nº 41/2003, que
previu aposentadoria com integralidade e paridade, mas não o fez
para as pensões, quanto o art. 3º da Emenda Constitucional nº
47/2005, que corrigiu a distorção e passou a prever que os
pensionistas dos servidores ingressos até 16 dez. 1998 teriam
direito à integralidade e paridade.

Questão 3

Levando em consideração as transformações citadas no caso, oriente


qual o melhor benefício a ser concedido a João, servidor público
estadual desde janeiro de 1995, ingressando, portanto, pouco tempo
antes da emendas à Constituição nº 20/1998, nº 41/2003 e nº 47/2005,
possuindo expectativa de direito a proventos pela integralidade e
reajuste pela paridade.

Digite sua resposta aqui

Chave de resposta

O Servidor poderá optar tanto pela regra de transição da Emenda


Constitucional nº 41/2003 (art. 6º) como pela da Emenda
Constitucional nº 47/2005 (art. 3º). Ao optar por esta, deverá
cumprir mais 10 anos de efetivo exercício público e tempo na
carreira, já que a regra exige 60 anos de idade, 35 anos de
contribuição, 25 anos de efetivo exercício público, 15 anos de
tempo na carreira e 5 anos de tempo no cargo. Aqui seus
pensionistas terão paridade.

Se optar pela regra do art. 6º da EC nº 41/2003, precisará de mais


5 anos, pois a regra exige 60 anos de idade, 35 anos de
contribuição, 20 anos de efetivo exercício público, 10 anos de
tempo na carreira e 5 anos de tempo no cargo. Aqui seus
pensionistas não terão paridade.
Conceito do Regime Próprio de
Previdência Social (RPPS)
O Regime Próprio de Previdência Social é o sistema de proteção social
dos servidores públicos, previsto no artigo 40 da Constituição Federal.

O caput do artigo 40 da Constituição prevê que o regime será


direcionado "aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios, incluídas suas autarquias
e fundações”, sendo “de caráter contributivo e solidário, mediante
contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos
e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial”.

Podemos conceituar o Regime Próprio de Previdência Social como


um sistema de proteção social, de caráter contributivo, destinado
apenas a servidores ocupantes de cargo efetivo, excluídos os
militares, com financiamento solidário mediante contribuição do
respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos
pensionistas.

Princípios do Regime Próprio de


Previdência Social (RPPS)

Sendo o Regime Próprio de Previdência Social parte do sistema de


seguridade social, os princípios gerais aplicáveis à seguridade social
também informam esse regime. No mais, alguns dos princípios se
encontram no caput do art. 40 da Constituição Federal. É o que
veremos a seguir.
Princípio da contributividade

Previsto no caput do art. 40 e art. 201 da CRFB, a contribuição é marca


do sistema de previdência, diversamente do que ocorre com a saúde e
assistência social. Assim, a concessão de todo e qualquer benefício
depende da contribuição prévia pelo segurado. A contributividade
garante, ainda, o equilíbrio financeiro e atuarial.

A contribuição previdenciária tem natureza tributária e, portanto,


submete-se às regras do Código Tributário Nacional (CTN). Essa é a
orientação do plenário do Supremo Tribunal Federal no julgamento
do RE 556.664/RS, do qual se extrai que “as contribuições, inclusive
as previdenciárias, têm natureza tributária e se submetem ao regime
jurídico-tributário previsto na Constituição” (RE 556664, Relator(a):
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 12/06/2008,
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-216 DIVULG 13-11-2008 PUBLIC
14-11-2008 EMENT VOL-02341-10 PP-01886).

Princípio do equilíbrio inanceiro e atuarial

Como primeiras palavras, é importante saber a diferenciação entre os


equilíbrios financeiros e atuarial:

 
Equilíbrio financeiro Equilíbrio atuarial
Consiste em regra de Envolve variáveis
ouro do direito
financeiro (receitas, financeiras,

pelo menos, iguais as


 demográficas,
econômicas e
despesas). O equilíbrio
probabilísticas,
financeiro é voltado ao
avaliando um horizonte
curto prazo.
de longo a médio prazo.

Entretanto, o estudo de impacto para fins de equilíbrio financeiro e


atuarial não impede o aumento de contribuição previdenciária. O tema
foi analisado pelo Supremo Tribunal Federal, que decidiu que a
previsão contida no caput do artigo 40 da Constituição Federal quanto à
exigência de estudo atuarial específico e prévio à edição de lei que
aumente a contribuição previdenciária dos servidores públicos não
implica vício de inconstitucionalidade, mas mera irregularidade. Ou
seja, o vício pode ser sanado pela demonstração do déficit financeiro ou
atuarial no futuro, mediante justificativa que autorize o aumento do
tributo. Portanto, o aumento do tributo sem o estudo prévio de impacto
não configura confisco e nem afronta ao princípio da razoabilidade.
(ARE 875958 RG, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno,
julgado em 16/02/2017, DJe-037 DIVULG 23-02-2017 PUBLIC 24-02-
2017).

Princípio da precedência de fonte de custeio


(preexistência ou antecedência)
Está previsto no art. 195, § 5º, da Constituição Federal. Esse dispositivo
dispõe que nenhum benefício da seguridade social poderá ser criado,
majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total, ou
seja, o servidor público deve realizar a contribuição para o custeio do
sistema de previdência. Uma gestão responsável exige a preexistência
de recurso para gerar um benefício.

O princípio da precedência da fonte de custeio total, também conhecido


como postulado da contrapartida - que mantém íntima conexão com o
critério do equilíbrio atuarial - visa garantir a equação econômico-
financeira do sistema de previdência e traduz exigência que, além de
configurar requisito operacional que vincula o legislador e o aplicador da
legislação previdenciária, qualifica-se como pressuposto constitucional
necessário à viabilização da própria existência e funcionalidade do
sistema de seguridade social e, em especial, do sistema previdenciário
nacional.

Daí a precisa observação feita na lição de Ivan Kertzman (2020, p. 73-


74):

Preexistência do custeio em relação aos


benefícios e serviços significa que, para ser
possível a criação ou ampliação de qualquer
benefício ou serviço, deve haver
anteriormente a previsão da fonte dos
recursos que financiará a nova prestação. Um
novo benefício deve ser financiado por uma
nova fonte, não bastando apenas indicar
recursos já existentes, sob o risco de padecer
de inconstitucionalidade. Mesmo os
benefícios e serviços da saúde e da
assistência social devem atender a este
princípio. Os benefícios recentemente criados
foram sempre acompanhados da instituição
de nova fonte de custeio. Foi o que ocorreu
com o benefício de aposentadoria especial
para os trabalhadores filiados a cooperativas,
que foi acompanhada de uma nova
contribuição social (Lei 10.666/2003).
Interessante ressaltar que o Supremo
Tribunal Federal tem posicionamento
firmado de que o princípio da preexistência
do custeio em relação aos benefícios e
serviços, previsto no art. 195, § 5º, da
Constituição Federal, não se aplica à
previdência privada, mas, apenas, à
seguridade social que é financiada por toda
a sociedade.

(Agravo Regimental no RE 583.687/RS)

Princípio do tempus regit actum

Não previsto expressamente na Constituição, indica que se aplica a


lei que vigia quando o direito nasceu. Não autoriza o uso de lei a
mera expectativa de direito. Em relação à pensão, destaca-se a Súmula
nº 340 do STJ: A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por
morte é aquela vigente na data do óbito do segurado.

Sobre o tema, vale destacar a clareza contida na lição de Frederico


Amado:

Trata-se de um princípio geral do Direito


[‘tempus regit actum’] que pontifica que os
atos jurídicos deverão ser regulados pela lei
vigente no momento da sua realização,
normalmente não se aplicando os novos
regramentos que lhe são posteriores, salvo
previsão expressa em sentido contrário. [...]
Conquanto não esteja explicitamente
previsto na legislação da previdência social
como princípio informador, entende-se que
ele integra o seu rol, sendo muitas vezes
usado para definir o regime jurídico dos
benefícios previdenciários, pois deverá ser
aplicada a lei vigente na data do nascimento
do direito à prestação previdenciária.

(Frederico Amado, 2017, p. 261)

Princípio da solidariedade

Para fins do regime próprio, a solidariedade indica a ampliação do


critério subjetivo do tributo “contribuição”, ou seja, o sujeito passivo da
obrigação não apenas o segurado, mas também o respectivo ente
público, os servidores inativos e os pensionistas.

Sobre o tema, Thiago Alencar Alves Pereira (2021. p. 34) trata do


assunto desta forma:

[...] no RE n.º 593068 foi fixada em


repercussão geral a seguinte tese:
‘Não incide contribuição
previdenciária sobre verba não
incorporável aos proventos de
aposentadoria do servidor público,
tais como ‘terço de férias’,
‘serviços extraordinários’, ‘adicional
noturno’ e ‘adicional de
insalubridade’.

(BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 593068,


Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal
Pleno, julgado em 11/10/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-056 DIVULG
21-03-2019 PUBLIC 22-03-2019.)

Para os ministros do STF, a regra matriz de incidência tributária, em


seu critério quantitativo (base econômica do tributo), não pode sofrer
inovações do princípio da solidariedade. A solidariedade apenas
ampliou o critério subjetivo relacionado ao sujeito passivo, passando a
exigir contribuições dos inativos e pensionistas.

Princípio da irredutibilidade dos benefícios

Em que pese a Constituição Federal prever a manutenção do valor real,


o que não é possível é a redução nominal do benefício (art. 194,
parágrafo único, IV, da CRFB).

Essa compreensão é extraída do entendimento da maioria do Supremo


Tribunal Federal que assentou a presunção de constitucionalidade da
legislação infraconstitucional e a adequação, como fator de reajuste,
do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), ao invés de decidir
a favor da preservação do poder aquisitivo da moeda quanto aos
benefícios a que o cidadão tem jus.

Consta da parte final do voto do Relator:

Em suma: os índices adotados para o


reajuste dos benefícios foram superiores ao
INPC - Índice Nacional dos Preços ao
Consumidor. Apenas no reajuste de 2001, é
que houve diferença para menor, da ordem de
0,07%, diferença, está-se a ver, desprezível. De
outro lado, verifica-se que o índice mais
adequado para correção dos benefícios é
mesmo o INPC, dado que ‘a população-
objetivo’ deste ‘é referente a famílias com
rendimentos compreendidos entre 1 (um) e 8
(oito) salários mínimos, cujo chefe é
assalariado em sua ocupação principal...’,
entrando ‘na composição do INPC’ ‘as
variações sentidas no preço da alimentação e
bebidas, habitação, artigos de residência,
vestuário, transportes, saúde e cuidados
pessoais, despesas pessoais, educação e
comunicação, em média ponderada. Trata-se
de índice de preços ao consumidor, não
abarcando, diretamente, as flutuações de
preços típicos do setor empresarial’.
(Recurso Extraordinário nº 376.846)

Princípio da opção pelo benefício mais


vantajoso
Para o cálculo da renda mensal inicial, cumpre observar o quadro mais
favorável ao beneficiário, pouco importando o decesso remuneratório
ocorrido em data posterior ao implemento das condições legais para a
aposentadoria. (Recurso Extraordinário nº 630.501, sob a sistemática da
repercussão geral, relatora ministra Ellen Gracie).

Emendas Constitucionais nº 03/1993,


nº 20/1998, nº 41/2003 e nº 47/2007
Até a reforma previdenciária implementada pela Emenda Constitucional
nº 20/1998, o regime previdência social não exigia contribuição, ou seja,
bastava tempo de serviço para que o servidor público conquistasse o
benefício previdenciário. Desse modo, o servidor tinha direito à
inatividade remunerada após determinado tempo de serviço, inexistindo
idade mínima.

Em uma análise sistemática, levando em consideração as alterações


posteriores promovidas pelas emendas à Constituição, nota-se que o
constituinte não adjetivou o substantivo “servidor”, possibilitando que
tanto o ocupante de cargo efetivo quanto o de cargo em comissão
pudessem se aposentar.

Comentário

É isso mesmo, ocupante de cargo em comissão podia se aposentar


pelo regime próprio de previdência.

Para os servidores federais, a mudança começou com a Emenda


Constitucional nº 03/1993. Ela estabeleceu a contribuição obrigatória
para os servidores públicos federais e não apenas o tempo de serviço. A
segunda mudança sobreveio com a Emenda Constitucional nº 20/1998,
que promoveu mudanças maiores no RPPS, fixando o caráter
contributivo e ainda:
I. Estabeleceu idade mínima (55 anos para mulheres e 60 anos para
homens) para o gozo de aposentadoria voluntária integral no
RPPS;
II. Restringiu o rol dos filiados ao RPPS (apenas servidores titulares
de cargo efetivo, incluindo suas autarquias e fundações);

III. Extinguiu a aposentadoria por tempo de serviço nos regimes


próprios e a transformou em aposentadoria por tempo de
contribuição, visando à existência de uma equivalência (mesmo
que inexata) entre o período de contribuição e o benefício a ser
concedido;

IV.Proibiu a contagem de tempo de contribuição fictício;

V.Vedou expressamente a percepção de duas pensões, salvo no


caso de acumulação de cargos autorizada constitucionalmente;

VI. Vedou a filiação ao RGPS, na qualidade de segurado facultativo,


de pessoa participante de RPPS.

Quanto às demais emendas constituconais:

 EC nº 20/1998

A Emenda Constituconal nº 20/1998, embora tenha


trazido relevantes alterações, manteve a
integralidade (remuneração do cargo efetivo em
que se deu a aposentadoria) e paridade (extensão
aos proventos e pensões dos reajustes concedidos
aos servidores ativos) do benefício de
aposentadoria.

 EC nº 41/2003

A Emenda Constituconal nº 41/2003 veio com a


intenção de tornar o sistema previdenciário
equilibrado econômico e financeiramente, bem
como corrigir a forma de fixação do benefício e de
seu reajuste. Foi extirpada a regra da integralidade
e da paridade, respeitando direitos adquiridos e
prevendo regras de transição (arts. 2º e 3º da EC nº
41/2003).

Ademais, a Emenda Constituconal nº 41/2003 estabeleceu nova


sistemática no cálculo do benefício de aposentadoria (que passou a ser
calculado com base média aritmética simples das maiores
remunerações, utilizadas como base para as contribuições do servidor
aos regimes de previdência a que esteve vinculado, correspondentes a
80% de todo o período contributivo desde a competência julho de 1994
ou desde a do início da contribuição, se posterior àquela competência,
e não mais com base na remuneração do cargo em que se desse a
aposentadoria, a integralidade) e o reajuste passou a preservar o seu
valor real (afastando-se a paridade); estreitou-se ainda mais a relação
contribuição/benefício previdenciário. A Lei Federal nº 10.887/2004
regulamentou essa alteração.

Atenção!

A regra dos proventos pela integralidade (valor da última remuneração)


opõe-se à regra dos proventos pela média (80% das maiores
remunerações utilizadas como base para as contribuições
previdenciárias, na forma da Lei Federal nº 10.887/2004), tratando-se
de alteração da base de cálculo. Da mesma forma, os proventos
integrais (coeficiente de 100%) opõem-se aos proventos proporcionais
(coeficiente inferior à 100%).

Além disso:
I. Autorizou a cobrança de contribuições previdenciárias sobre
aposentadorias e pensões, desde que em valor acima do teto de
benefícios pago pelo Regime Geral de Previdência Social;

II. Previu o redutor de pensão por morte equivalente a 30% sobre a


quantia que excedesse o teto do Regime Geral de Previdência
Social;

III. Criou o abono de permanência (instituto distinto da “isenção”


de contribuição previdenciária, prevista pela EC 20/1998) para
servidores que já tivessem preenchido os requisitos para
aposentadoria voluntária com proventos integrais;

IV.Vedou a existência de mais de um RPPS para os servidores


titulares de cargos efetivos e mais de uma unidade gestora no
respectivo ente.

Buscando proteger expectativas de direito aos servidores que foram


atingidos pelas modificações implementadas pelas Emendas
Constitucionais nº 20/1998 e 41/2003, a Emenda Constitucional nº
47/2005 trouxe, no artigo 3º, regra de transição aplicável aos servidores
que ingressaram em cargo público até a data em que a EC nº 20/1998
foi publicada. De acordo com essa regra, os servidores que cumprissem
os requisitos ali presentes poderiam se aposentar com proventos
equivalentes à última remuneração, além de fazerem jus ao reajuste
pela paridade.
Seguindo nas regras de transição (PEREIRA, 2021, p. 85-86), lembre-se
de que:
I. os aposentados antes da EC 20/1998 possuem direito adquirido
às regras previstas na redação original da CF/88, com
integralidade e paridade;

II. os ingressos antes da EC nº 20/1998 e aposentados antes da EC


nº 41/2003 poderão optar por uma das regras autorizadas na EC
nº 20/1998, quais sejam: a) Art. 40, inciso III, alínea “a” da
Constituição Federal na redação dada pela EC nº 20/1998; b) Art.
40, inciso III, alínea “b” da Constituição Federal na redação dada
pela EC nº 20/1998; c) Art. 8º, § 1º da EC nº 20/1998 (proventos
proporcionais de no mínimo 70% e reajuste pela paridade) -
revogado pela EC nº 41/2003; d) Art. 8º, caput, da EC nº 20/1998
(integralidade e paridade);

III. ingressos em cargo efetivo até 16 de dezembro de 1998 e em


exercício atualmente: a) Art. 2º da EC 41/2003: provento integral
e reajuste índice legal - aplica-se redutor; b) Art. 3º da EC
47/2005: proventos integralidade e paridade (pensões paritárias);

IV.ingressos em cargo efetivo até 31 de dezembro de 2003 e em


exercício atualmente: artigo 6º da EC 41/2003 (integralidade
e paridade).

Emendas Constitucionais nº 70/2012,


nº 88/2015 e nº 103/2019
A Emenda Constitucional nº 70/2012, ao incluir o art. 6º-A à EC nº
41/2003, previu que servidores que ingressaram no serviço público até a
data da publicação da EC nº 41/2003 teriam, caso se aposentassem por
invalidez, os proventos calculados com base na última remuneração no
cargo efetivo, os quais seriam reajustados pela paridade com os
servidores da ativa. Corrigiu distorção não prevista pela EC 41/2003.
A Emenda Constitucional nº 88/2015 alterou tão somente a idade limite
para aposentadoria compulsória de servidores públicos, prevista no
inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição, passando de 70 para 75
anos, deliberando que os proventos serão calculados proporcionalmente
ao tempo de contribuição.

A referida emenda foi regulamentada pela Lei Complementar Federal


nº 152/2015, fixando, em regra, a idade limite de 75 anos para
aposentadoria no serviço público.

Já a Emenda Constitucional nº 103/2019 assegurou direito adquirido ao


servidor vinculado do RPPS que implementasse requisitos para obter
qualquer espécie de aposentadoria antes da EC 103/2019, podendo
pedir benefício a qualquer tempo (art. 3º da EC), garantindo-se cálculo e
reajuste com base na legislação vigente à época em que foram
cumpridos os requisitos (art. 3º, §§ 1º e 2º da EC).

Previu a EC 103/2019, como regra de transição no RPPS (art. 4º da EC),


aposentadoria aos 30 anos de contribuição (mulher) e 35 (homem),
sendo 20 de efetivo exercício no serviço público e 5 anos no cargo em
que se der aposentadoria, desde que cumpra com idade mínima de 56 e
61 anos, respectivamente, além de somatório de idade e do tempo de
contribuição equivalente a 86 pontos (mulher) e 96 (homem) (art. 4º,
caput, incisos I a V, da EC).
A idade mínima aumenta a partir de 1º de janeiro de 2022 para 57
(mulher) e 62 (homem) (art. 4º, §1º da EC), assim como a pontuação
será acrescida em 1 ponto a partir de 1º de janeiro de 2020 até atingir
100 (mulher) e 105 (homem) (art. 4º, §2º da EC).

O cálculo garante a integralidade e a paridade da remuneração para


quem ingressou no serviço público até 31 de dezembro de 2003 (data
de vigência da EC 41/2003), mas desde que tenha no mínimo 62 anos
(mulher) e 65 anos (homem) (art. 4º, § 6º, inciso I, da EC), além de
cumprir com o somatório referenciado, que pode acarretar idade
superior a essas (art. 4º, § 7º, inciso I, da EC); e para servidor que
ingressou após referida data, garantido valor correspondente a 60% da
média de todos os salários mais 2 pontos percentuais a cada ano que
exceder 20 anos de contribuição (art. 26, § 2º, inciso I, da EC).

Para o professor, a EC 103/2019 diz que todos esses parâmetros são


reduzidos em 5 anos ou 5 pontos (art. 4º, § 4º, da EC), exceto quanto ao
limite máximo do somatório da mulher professora, que chegará a 92
pontos (art. 4º, § 5º, da EC 103/2019).

Especiicidades da Emenda
Constitucional
A EC 103/2019 veda a instituição de novos RPPS e determina que lei
complementar federal institua regras de responsabilidade previdenciária
(art. 40, § 22, da CF), veda a utilização de recursos do fundo de
previdência para realização de despesas distintas do pagamento de
benefícios previdenciários (art. 167, inciso XII, da CF) e que a
transferência voluntária de recursos, concessão de avais, garantias e
subvenções pela União, bem como empréstimos por instituições
federais para entes subnacionais que descumpram regras de
funcionamento de seus respectivos RPPS (art. 167, inciso XIII, da CF).
Essas proibições têm como escopo preservar a integridade atuarial e
financeira do sistema.

A EC 103/2019 também retira o direito constitucional ao abono de


permanência, mas autoriza a concessão por lei do ente federativo (art.
40, §19º). Como regra transitória, o abono de permanência continua
para todos os servidores públicos federais e inova ao prever
expressamente a concessão desse abono desde o implemento dos
requisitos também para aposentadoria especial e aposentadoria da
pessoa com deficiência (art. 8º da EC), algo inexistente nas emendas
anteriores, embora a concessão fosse autorizada pelo TCU.

O teto do RGPS como limite máximo no RPPS passa a ser


impositivo, não mais uma faculdade dos entes federados.

Continuando com a EC 103/2019, podemos identificar normas não


autoaplicáveis e normas autoaplicáveis. São exemplos de normas não
autoaplicáveis:
Art. 40, § 15 da Constituição c/c art. 33 da Emenda Constitucional
nº 103/2019 (Administração, por entidade aberta de previdência
complementar, de planos de benefícios patrocinados pelos entes
federados, que depende de regulamentação mediante lei
complementar da União);

Art. 149, §§ 1º-B e 1º-C da Constituição c/c art. 9º, § 8º, c/c art.
36, inciso II da Emenda Constitucional nº 103/2019 (Instituição de
contribuição extraordinária, por meio de lei, cuja regulamentação no
âmbito dos estados, Distrito Federal e municípios somente poderá
ser editada quando a alteração de redação dada pela reforma ao
art. 149 da Constituição Federal tiver vigência em relação a esses
entes, o que dependerá de publicação de lei estadual, distrital ou
municipal que referende integralmente a alteração promovida
nesse artigo da Constituição).

Já as normas de aplicabilidade imediata são, por exemplo:


Art. 22, XXI da Constituição (Competência privativa da União para
editar normas gerais sobre inatividades e pensões das polícias
militares e corpos de bombeiros militares);

Art. 37, § 14 da Constituição e art. 6º da Emenda Constitucional nº


103/2019 (Preceito segundo o qual a utilização de tempo de
contribuição de cargo público e de emprego ou função pública,
ainda que se trate de tempo de contribuição para o RGPS, acarreta
o rompimento do vínculo com a Administração Pública,
ressalvando-se a concessão de aposentadoria pelo RGPS até a data
de entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 103/2019);

Art. 37, § 15 da Constituição c/c o art. 7º da Emenda Constitucional


nº 103/2019 (Vedação de complementação de aposentadorias de
servidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes,
que não seja decorrente da instituição do regime de previdência
complementar a que se referem os §§ 14 a 16 do art. 40 da
Constituição ou que não seja prevista em lei que extinga RPPS,
ressalvadas as complementações de aposentadorias e pensões já
concedidas); dentre outras.

A EC nº 103/2019 previu, no art. 35, que ficam revogados:


Os seguintes dispositivos da Constituição Federal: a) o § 21 do art. 40;
b) o § 13 do art. 195.


Os arts. 9º, 13 e 15 da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro
de 1998.


Os arts. 2º, 6º e 6º-A da Emenda Constitucional nº 41, de 2003; IV - o art.
3º da Emenda Constitucional nº 47, de 2005.

Para os regimes próprios de previdência social dos estados, do Distrito


Federal e dos municípios, quanto às revogações dos arts. 2º, 6º e 6º-A
da Emenda Constitucional nº 41/2003, e do art. 3º da Emenda
Constitucional nº 47/2005, somente ocorrerão na data de publicação de
lei de iniciativa privativa do respectivo Poder Executivo e desde que as
referende integralmente (art. 36 da EC 103/2019).

Enquanto não houver o referendo integral dos mencionados dispositivos


da reforma, por meio de lei estadual, distrital ou municipal, continua a
valer o parágrafo 21 do art. 40 da Constituição, bem como valem os
arts. 2º, 6º e 6º-A da Emenda Constitucional nº 41/2003, e o art. 3º da
Emenda Constitucional nº 47/2005, sendo aplicável, quanto ao art. 149
da Constituição, a redação anterior à data de entrada em vigor da EC nº
103/2019.

Consideram-se ainda vigentes para os entes subnacionais as regras de


transição dos arts. 2º, 6º e 6º-A da Emenda Constitucional nº 41/2003, e
do art. 3º da Emenda Constitucional nº 47/2005, nessa hipótese de
ausência de lei que referende integralmente a alteração do art. 149 da
Constituição Federal e a cláusula de revogação da alínea a do inciso I e
dos incisos III e IV do art. 35 da EC nº 103/2019.

Diante desse histórico, é possível perceber que o sistema previdenciário


dos servidores públicos sofreu alterações substanciais ao longo dos
últimos anos. A aposentadoria passou de uma benesse, um “prêmio”,
visando manter o padrão de vida do ex-servidor, para se tornar um
benefício contraprestacional, com vistas a atingir o equilíbrio
econômico-financeiro do RPPS, aproximando-se a cada dia do RGPS.

Comentário

Note que está mantida, nos termos do art. 42 da CF, a competência dos
estados para dispor, em lei estadual específica, tanto sobre as matérias
do art. 142, § 3º, X (entre outras, a que trata da transferência do
militar para a inatividade) quanto sobre as pensões militares. Por
conseguinte, os estados deverão adaptar suas leis específicas ao que
vier a ser disposto em lei de caráter nacional da União sobre normas
gerais de inatividades e pensões das polícias militares e corpos de
bombeiros militares, sob pena de invalidade.

O art. 201, §9º, Constituição Federal de 1988, assegura, para fins de


aposentadoria a contagem recíproca do tempo de contribuição entre o
Regime Geral de Previdência Social e os regimes próprios de previdência
social, e destes entre si, observada a compensação financeira, de
acordo com os critérios estabelecidos em lei.

Benefícios

Benefícios do RPPS
Veja a seguir os benefícios do Regime Próprio de Previdência Social.

O RPPS concederá, no máximo, os mesmos benefícios do RGPS (Art. 5º


da Lei Federal nº 9.717/1998 - Os regimes próprios de previdência social
dos servidores públicos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios, dos militares dos estados e do Distrito Federal não poderão
conceder benefícios distintos dos previstos no Regime Geral de
Previdência Social, de que trata a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991,
salvo disposição em contrário da Constituição Federal) e, no mínimo,
aposentadoria e pensão (portaria nº 402, de 10 de dezembro de 2008.
Art. 2º Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) é o regime de
previdência, estabelecido no âmbito da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios que assegura, por lei, aos servidores titulares
de cargos efetivos, pelo menos, os benefícios de aposentadoria e
pensão por morte previstos no art. 40 da Constituição Federal).

A previsão constitucional do art. 40, com redação dada pela EC


103/2019, é pela concessão, aos servidores ocupantes de cargo efetivo,
de aposentadoria:
I. por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo em que
estiver investido, quando insuscetível de readaptação, hipótese em
que será obrigatória a realização de avaliações periódicas para
verificação da continuidade das condições que ensejaram a
concessão da aposentadoria, na forma de lei do respectivo ente
federativo;

II. compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de


contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e
cinco) anos de idade, na forma de lei complementar;
III. no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade,
se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se
homem, e, no âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios, na idade mínima estabelecida mediante emenda
às respectivas constituições e leis orgânicas, observados o
tempo de contribuição e os demais requisitos estabelecidos
em lei complementar do respectivo ente federativo.

A aposentadoria voluntária prevista no art. 40, inciso III CFRB é


aplicada apenas aos servidores federais, diversamente da
aposentadoria por incapacidade permanente e da aposentadoria
compulsória, que se aplica a todos os entes da federação. Isso
significa que, na aposentadoria voluntária, cada estado e município
legislará sobre a idade (via emenda à constituição estadual), tempo
de contribuição e outros requisitos (via lei complementar) de seus
respectivos servidores, denotando uma desconstitucionalização das
regras previdenciárias.

Com a reforma previdenciária anotada pela EC nº 103, de 2019, a


aposentadoria “por invalidez permanente” passa a denominar-se
aposentadoria “por incapacidade permanente para o trabalho”. A EC nº
103, de 2019, constitucionaliza a exigência de avaliações periódicas
para verificação da continuidade das condições que ensejaram a
concessão da aposentadoria, bem como a condição de o servidor ser
insuscetível de readaptação, conferindo nova redação ao inciso I do § 1º
do art. 40 da Constituição.

Recomendação

Para melhor compreender as regras de cada estado e município, realize


a leitura atenta das reformas em cada ente federado, como o estado de
Sergipe (Lei Complementar nº 338, de 27 de dezembro de 2019) e o
estado da Bahia (Emenda Constitucional nº 26, de 31, de janeiro de
2020).
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

As reformas previdenciárias trazem consigo dificuldades quanto à


aplicação da lei aos segurados que se encontram em determinado
momento. Há regras permanentes e de transição. Quanto à
aplicação da lei previdenciária no tempo, assinale a opção correta.

Independentemente do benefício pretendido, aplica-


se o princípio tempus regit actum: a lei do tempo em
A
que se preencheram todos os requisitos para a
concessão do benefício pretendido pelo segurado.

Com exceção das aposentadorias por tempo de


contribuição e por idade, aplica-se a lei em vigor à
B
época em que o segurado ingressou no sistema
previdenciário.
Aplica-se o princípio lex posterior derrogat priori para
os benefícios devidos aos segurados,

C
independentemente de ser mais ou menos
vantajoso; aplicando-se entretanto, a lei em vigor
na
data de ingresso do segurado no sistema
previdenciário para os benefícios devidos aos
dependentes.

Independentemente do benefício pretendido,


será adotada a interpretação que mais se
aproxima do
D ideal de justiça, pautada em princípio valorativo
e finalístico, segundo o qual se aplica a lei mais
vantajosa ao segurado.

Aplica-se o princípio lex posterior derrogat


priori, com a ressalva de que, havendo
alteração da lei
E após o ingresso do trabalhador ao sistema
previdenciário, será adotada a lei mais vantajosa
ao beneficiário segurado ou dependente.

Parabéns! A alternativa A está correta.

O princípio impõe que seja aplicada a lei quando os requisitos do


benefício foram cumpridos. A expectativa de direito não é motivo
para aplicação de lei. O STJ consagrou o princípio na Súmula nº
340: A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte
é aquela vigente na data do óbito do segurado.

Questão 2

O sistema de cálculo e reajuste de proventos do servidor público


segurado do Regime Próprio de Previdência Social foi bastante
modificado nos últimos anos, sendo correto afirmar:

Os proventos de aposentadoria e as pensões, por


ocasião de sua concessão, não poderão exceder a
A remuneração do cargo efetivo em que se deu a
aposentadoria ou que serviu de referência para
a concessão da pensão.
No sistema de média, para o cálculo dos proventos
de aposentadoria, por ocasião da sua concessão,
B serão consideradas as remunerações utilizadas
como base para as contribuições do servidor
aos regimes próprio e geral, na forma da lei.

É assegurado o reajustamento anual dos benefícios


C para preservar-lhes, em caráter permanente, o
valor real, conforme índice do IPCA.

No sistema de média, todos os valores de


remuneração considerados para o cálculo do
D
benefício serão devidamente atualizados pela
SELIC.

Os servidores que ingressaram no serviço público


após a Emenda Constitucional Nº 41/2003 podem
E
optar pelo direito a reajuste de seu benefício
previdenciário pela regra da paridade.

Parabéns! A alternativa B está correta.

O art. 201, §9º, Constituição Federal de 1988, assegura, para fins de


aposentadoria, a contagem recíproca do tempo de contribuição
entre o Regime Geral de Previdência Social e os regimes próprios de
previdência social, e destes entre si, observada a compensação
financeira, de acordo com os critérios estabelecidos em lei.

Considerações inais
Como vimos, é preciso ter especial atenção às inúmeras e
enormes transformações que vêm afetando o regime de previdência
social do servidor público desde a sua introdução na Constituição
Federal de 1988. São muitas as normas e, por consequência, os
regimes de
transição que são impostos para evitar uma mudança abrupta nas
regras.

Em especial, merecem a nossa atenção as Emendas Constitucionais


nº 70/2012, 88/2015 e, notadamente, a 103/2019.

Além disso, para a melhor compreensão do assunto, mostra-se


necessário identificar as suas especificidades em relação ao chamado
Regime Geral. Por isso, buscamos delimitar neste estudo os conceitos
fundamentais da previdência própria, além de analisar as principais
regras e os benefícios previdenciários que o compõem.


Podcast
Para encerrar, ouça um resumo sobre RPPS e suas principais regras.

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AMADO, F. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 15. ed.,


Salvador: Juspodivm, 2022.

BALERA, W. Noções preliminares de direito previdenciário: atualizado


com a reforma da previdência. São Paulo: Quartier Latin, 2010.

MARTINS, B. S. F. Direito Constitucional Previdenciário Do Servidor


Público. 2. ed. São Paulo: LTr, 2018
Referências
AMADO, F. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 15ª ed.,
Salvador: Juspodivm, 2022.

AMADO, F. Direito e processo previdenciário sistematizado. 3. ed.


Salvador: Juspodivm, 2012.

BALERA, W. Curso de direito previdenciário. Homenagem a Moacyr


Velloso Cardoso de Oliveira. 5. ed. São Paulo: LTR, 2002.

BALERA, W. Noções preliminares de direito previdenciário: atualizado


com a reforma da previdência. Imprenta: São Paulo: Quartier Latin,
2004.

BANDEIRA DE MELLO, C. A. Curso de direito administrativo. 20. ed.


São Paulo: Malheiros, 2006.

BANDEIRA DE MELLO, C. A. Regime dos servidores da administração


direta e indireta: (direitos e deveres). 3. ed. rev. atual. e ampl. São
Paulo: Malheiros, 1995.

BOSCHETTI, I.; SALVADOR, E. S. Orçamento da seguridade social e


política econômica: perversa alquimia. Serviço Social e Sociedade. São
Paulo, v. 87, p. 25-57, 2006.

CASTRO, C. A. P.; LAZZARI, J. B. Manual de direito previdenciário.


20. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

DAL BIANCO, D. et al. Previdência de servidores públicos. São Paulo:


Atlas, 2009.

DE FARIA, L. A. G. Teto de Remuneração do Servidor Público: Agora


é pra Valer?. Revista da Esmafe, v. 6, p. 31-46, 2004.

DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

FURTADO, L. R. Curso de Direito Administrativo. 3. ed. Belo Horizonte:


Fórum, 2012.

GOES, H. M. Manual de direito previdenciário. 4. ed. Rio de Janeiro:


Ferreira, 2011.

HARADA, K. Contribuição para custeio da iluminação pública. Revista


Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 65, 1 maio 2003. ISSN 1518-4862.
Acesso em: 2 ago. 2021.

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JORGE, T. N. Elementos de direito previdenciário - Custeio. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2005.

JUSTEN FILHO, M. Curso de direito administrativo. 4 ed. São Paulo:


Saraiva, 2009.

KERTZMAN, I. Curso prático de direito previdenciário. 7. ed. Salvador:


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MARINELA, F. Direito Administrativo. 7. ed. Niterói: Impetus, 2013.

MARTINEZ, W. N. Princípios de direito previdenciário. São Paulo: LTr,


2001. 576 p.

MARTINS, B. S. F. Direito Constitucional Previdenciário Do Servidor


Público. 2. ed. São Paulo: LTr, 2018.

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militares – imposição constitucional para adoção de regime próprio
aos militares estaduais – inteligência dos artigos 40, §20, 42 e 142, §
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MEDAUAR, O. Direito Administrativo moderno. 21. ed. Belo Horizonte:


Fórum, 2018. p. 281.

MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 34. ed. São Paulo:


Malheiros, 2008.

MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. 25. ed. São Paulo:


Malheiros, 2008.

MENDONÇA, V. Direito Previdenciário e Concursos Públicos. Vinicius


Mendonça Concursos, [s. l.], 2018. Acesso em: 1 ago. 2021.

MOREIRA NETO, D. F. Curso de direito administrativo: parte


introdutória, parte geral e parte especial. 16. ed. rev. e atual. Rio de
Janeiro: Forense, 2014.

PEREIRA, T. A. A. Noções de Regime Próprio de Previdência Social:


uma análise das teses jurídicas na evolução constitucional. 1. ed.
Curitiba: Appris, 2021.

SANTOS, M. F. dos. Direito previdenciário esquematizado. São


Paulo: Saraiva, 2011.

SAVARIS, J. A. Direito processual previdenciário. 7. ed. rev. atual.


Curitiba: Alteridade, 2018.

SILVÉRIO, A. G. A Concessão de Aposentadorias e Pensões no Serviço


Público. Ribeirão Preto: IBRAP, 2005.
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