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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Instituto de Ciências Exatas


Departamento de Matemática
Programa de Pós-Graduação em Matemática para Professores

O NÚMERO DE OURO:
Representação da beleza matemática

Cristiano Gonçalves Augusto

Belo Horizonte
2009
Cristiano Gonçalves Augusto

O NÚMERO DE OURO:
Representação da beleza matemática

Monografia apresentada ao Departamento


de Ciências Exatas da Universidade Federal
de Minas Gerais como requisito para
obtenção do Grau de Especialista em
Matemática do Ensino Básico.

Orientador: Paulo Antônio Fonseca Machado

Belo Horizonte
2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Instituto de Ciências Exatas
Departamento de Matemática
Programa de Pós-Graduação em Matemática para Professores

Monografia intitulada “O Número de Ouro: representação da beleza matemática”, de


autoria do pós-graduando Cristiano Gonçalves Augusto, aprovada pela banca examinadora
constituída pelos seguintes professores:

Prof. Dr. Paulo Antônio Fonseca Machado – Orientador

Prof. Dr. Alberto Berly Sarmiento Vera

Prof. Me. Jorge Sabatucci

Prof. Dr. Alberto Berly Sarmiento Vera

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Matemática para Professores: UFMG

Belo Horizonte, 26 de março de 2009.


Av. Antônio Carlos, 6627 – Belo Horizonte, Mg – 31270-901 – Brasil
Dedico este trabalho a minha família,

presença constante na minha caminhada.


Agradecimentos

Agradeço a Deus, pela vida, pela saúde e, em especial, pela inspiração no decorrer deste
trabalho.

Agradeço, carinhosamente, aos meus pais, Conceição Gonçalves Augusta e Ramiro Sérvulo
Augusto, pelo amor incondicional, pela dedicação, pelos ensinamentos e pelo apoio em todos
os momentos de minha vida.

Agradeço ao meu orientador, Paulo Antônio Fonseca Machado, por ter me apoiado e
acreditado que este trabalho era pertinente e possível de se realizar. Obrigado pela paciência,
pelos “puxões de orelha” nas horas de maior desespero, pelas anotações de grande valia.
Tenho certeza de que não poderia ter percorrido este caminho em melhor companhia.

Agradeço, igualmente, a todos os meus amigos, por entenderem meu súbito desaparecimento
e, em algumas vezes, meu stresse.
A matemática, quando a compreendemos
bem, possui não somente a verdade,
mas também suprema beleza – uma beleza
fria e austera, como a da escultura.

Bertrand Russel
Resumo

A
razão áurea é uma intrigante mistura da relação comparativa de tamanho ou
quantidade e da igualdade descrita matematicamente. Percebemos, no entanto, que
embora presente em vários lugares, a razão áurea é um assunto pouco difundido.
Mostrar sua importância matemática, defini-la e contribuir para sua divulgação é o objetivo
proposto neste trabalho.

Palavras-chave: Razão áurea; seqüência áurea, espiral.

Abstract
The Golden Ratio is na instigating mixture of the comparative relation about size or
qunatity and of equality mathematically described. Despite of ist has ben present in many
places even so it is not a very well spread out subject. The main aim of this work is showing
its mathematical importance; defining it, and contributing for its spreading.

Key – words: Golden Ratio, golden section, spiral.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Divisão de um segmento na razão áurea........................................................11

Figura 2 – Pentagrama.....................................................................................................13

Figura 3 – Prolongamento do segmento segundo a razão áurea......................................22

Figura 4 – Construção da razão áurea em um segmento dado........................................28

Figura 5 – Construção de um triângulo áureo.................................................................29

Figura 6 – Construção de um pentágono regular dado o seu lado...................................31

Figura 7 – Construção de um Pentágono Regular inscrito em uma circunferência dado


raio..................................................................................................................................32

Figura 8 – Construção de um pentágono regular, dada uma diagonal............................33

Figura 9 – Sofisma Geométrico.......................................................................................41

Figura 10 – Solução do Sofisma Geométrico..................................................................46

Figura 11 – Retângulo Áureo..........................................................................................48

Figura 12 – Espiral Retangular........................................................................................55

Figura 13 – Espiral Logarítmica......................................................................................63

Figura 14 – Construção aproximada espiral logarítmica, dado o retângulo áureo..........64

Figura 15 – Espiral Áurea Triangular..............................................................................65


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................10

1- Conceitos Básicos .................................................................................................................11

2- Razão Áurea .........................................................................................................................21

3- Construções ..........................................................................................................................27

4 - Razão Áurea e Aplicações ...................................................................................................34


4.1 - Leonardo Fibonacci ....................................................................................................34

5 - Retângulo Áureo ..................................................................................................................48

6 - A espiral retangular .............................................................................................................55

7 - A Espiral Logarítmica .........................................................................................................63

8 - Onde podemos encontrar a Razão Áurea? ...........................................................................66

10 - Considerações finais .........................................................................................................67

11 - Referências ........................................................................................................................68
10

Introdução

Neste trabalho, nos propomos mostrar um pouco sobre as propriedades geométricas e


algébricas da razão áurea. Um dos motivos da escolha, além de ser um assunto bastante
atrativo, é o fato de ser algo pouco conhecido e, embora poucos saibam, bastante utilizado.
A fim de fazer com que a razão áurea seja entendida, seguiremos os seguintes passos:
num primeiro momento, apresentaremos o conceito de razão áurea, partindo de alguns
conceitos básicos da geometria euclidiana plana. Sem tais conceitos torna-se pouco provável a
compreensão do assunto. Em seguida, contaremos um pouco da história dessa razão,
apresentando, ainda, algumas de suas propriedades algébricas e geométricas, sendo estas,
dentro da geometria euclidiana plana. Objetivando uma análise mais profunda, ressaltaremos
as aplicações da razão áurea, bem como a sua relação com a Seqüência de Fibonacci
(explicitada no cap. 4). Uma outra abordagem interessante volta-se para a análise do retângulo
áureo e da espiral retangular - ambas construídas em função da razão áurea. Além disso, vale
fazer uma abordagem sobre o estudo das espirais, que possuem certa aproximação com a
razão áurea e se faz notável pelas diversas formas como aparece na natureza. E por último,
falaremos um pouco mais sobre a razão áurea, principalmente sobre os vários lugares nos
quais ela pode ser encontrada como: pintura, música, escultura, construções, natureza – fauna
e flora – e outros.
O nosso objetivo, no decorrer de todo o trabalho é reforçar a importância matemática e
a beleza da razão áurea em situações diversas.
Se nos propuséssemos a falar sobre a razão áurea, baseando-nos apenas no nosso
conhecimento de mundo, tal assunto pareceria vago, impreciso. Tampouco faria sentido para
aqueles que apenas se simpatizam com a matemática. No entanto, para os amantes e
conhecedores da matemática, a razão áurea é algo singular, merecedora de um estudo bem
aprofundado. E, para uma análise mais precisa, elegemos como aparato teórico Huntley[2]
(1985), Lívio [3] (2007) e Wagner [4] (2007), em cujas idéias nos amparamos para clarear e
reforçar nossas proposições.
11

Capítulo 1
1- Conceitos Básicos

É possível apreciar a beleza que existe na matemática ou no mundo físico observando


apenas uma proporção que é capaz de gerar um número surpreendente? Muitos matemáticos,
filósofos, artistas e outros diriam que sim.
Há um número ou uma proporção que desperta a curiosidade, somente observando-se
os seus vários nomes desde o seu descobrimento como: número áureo, razão áurea, seção
áurea, número de ouro representado pela letra grega (Ф), proporção divina. Embora seja a
razão áurea o foco deste trabalho, haverá outras definições a fim de proporcionar melhores
esclarecimentos sobre o tema.

Notação 1.1. Em todo o trabalho, um segmento de reta de extremidades A e B será denotado


por AB e quando congruente a outro segmento denotaremos por AB ≡ CD . Também
representaremos a medida de um segmento em certa unidade, por AB. E o ângulo ABC de
vértice B por ∠ABC .
Segue a definição de razão áurea.
Definição 1.2. Dizemos que um segmento AB está dividido pela razão áurea, quando
tomamos sobre ele um ponto C de tal forma que, AB está para AC assim como AC está para
CB, ou seja,
AB AC
= .
AC CB

FIGURA 1

Para Huntley [2] (1985, p. 41-42) é quase certo que boa parte do trabalho que levou à
definição e à compreensão da razão áurea foi realizada durante os anos que antecederam a
abertura da Academia de Platão1 e durante o período de funcionamento dessa Academia.

1
Também chamada Academia Antiga. Fundada por Platão, aproximadamente em 387 a.c, é considerada a
primeira escola de filosofia.
12

Platão, um dos primeiros teóricos autênticos, relacionou os sólidos regulares aos


elementos básicos (terra, água, ar e fogo) e ao universo como um todo. Os sólidos platônicos
são: tetraedro, cubo, octaedro, dodecaedro, icosaedro.
A figura-chave que estava por trás dos teoremas geométricos referentes à razão áurea
era, provavelmente, Theaetetus2 que, segundo a coleção binzantina Suidas, foi o primeiro a
construir os cinco chamados sólidos platônicos.
Ainda segundo o autor, os pitagóricos que se interessavam por tais assuntos
consideravam o dodecaedro digno de respeito especial, pois esse poliedro possui faces
pentagonais, que estão intimamente ligadas à razão áurea. Por esse fato, determinaremos
alguns conceitos básicos do pentágono regular. Partiremos da definição:

Definição 1.3. Um polígono convexo é regular se, e somente se, tiver todos os seus lados
congruentes e todos os seus ângulos internos congruentes.

Sendo assim, temos abaixo a definição de pentágono regular.

Definição 1.4. O pentágono regular é um polígono regular convexo de cinco lados.

Considere o pentágono regular A, B, C, D, E (FIG. 1). Denotemos seus ângulos


internos por ∠ EDC, ∠ DCB, ∠ CBA e ∠ BAE. Temos então:

Proposição 1.5. Todo pentágono regular é inscritível em uma circunferência.

Demonstração. Pelos pontos A, B e C tracemos a circunferência w de centro O. Provemos


que a circunferência passa pelos pontos D e E do polígono, demonstrando então essa
proposição.

2
Matemático grego (417 – 369 a.c). Uma das suas principais contribuições foi provar que há, precisamente,
cinco poliedros convexos.
13

FIGURA 2

Comecemos provando que o ponto D pertence à circunferência w . Consideremos os


triângulos OCD e OBA. Temos que esses triângulos são congruentes pelo caso LAL, pois
DC ≡ BA por serem lados do polígono. Da mesma forma OC ≡ OB por serem raios da
mesma circunferência. E considerando o triângulo isósceles BOC, e ainda, que os ângulos
internos ∠ DCB e ∠ CBA são congruentes pela definição de pentágono regular, por diferença
decorre que os ângulos ∠ OCD e ∠ OBA são congruentes.
Portanto, se OA ≡ OD , então o ponto D pertence à circunferência w . De modo
análogo determinamos que o ponto E pertence à circunferência w .
No caso geral temos que, a unicidade da circunferência que passa por A, B e C sai a
unicidade da circunferência por A, B, C, D, ..., M, N. Ou seja, dado um polígono regular,
existe uma única circunferência que passa pelos seus vértices.
Quando traçamos as diagonais do pentágono regular (FIG. 2), formamos os triângulos
DCB, CBA, BAE, AED e EDC. Veremos no corolário abaixo que esses triângulos são
congruentes.

Corolário 1.6. Os triângulos DCB, CBA, BAE, AED, e EDC são congruentes entre si.

Demonstração. Pelo caso LAL os triângulos DCB, CBA, BAE, AED e e EDC são
congruentes.

Com os conceitos abordados anteriormente, prova-se a propriedade que se segue:


14

Propriedade 1.7. Em um pentágono regular os ângulos internos formam ângulos de 108°.

No triângulo isósceles DAB de base AB (FIG. 2) denotemos os ângulos da base igual


θ e o ângulo ∠ ADB por γ . Do mesmo modo, no triângulo DCB de base DB, denotemos os
ângulos da base por β e o ângulo ∠ DCB por α .

Podemos então, pela propriedade de soma de ângulos internos de um triângulo, obter a


seguinte relação no triângulo DCB:

α +2 β = 180° (1)

De modo análogo, encontramos no triângulo DAB:

γ +2 θ = 180° (2)

Porém, as diagonais DB e DA dividem o ângulo α da seguinte forma:

β + θ = α e 2 β +γ = α .

Logo, iniciando pelo vértice C, a soma dos ângulos internos do Pentágono regular é
representada por:

S = α +( β + θ )+( θ + β )+ α +(2 β + α ),

reagrupando temos,

S = ( α +2 β )+( α +2 β )+( γ +2 θ ) (3)

Substituindo (1) e (2) em (3) encontramos,

S = 540°
15

Como o pentágono regular é composto por cinco ângulos internos congruentes, cuja
soma é 540°, temos que cada ângulo interno tem o valor de 108°.
O triângulo AED é isósceles e, além disso, possui o ângulo AED igual a 108°. Logo,
subtraindo por 180° e posteriormente dividindo por dois, encontramos o ângulo ∠ADE = 36° .
De forma análoga encontramos os ângulos dos triângulos DCB, CBA, BAE.
Quando um pentágono regular é circunscrito por uma circunferência, ele determina
cinco arcos. Além disso, em uma circunferência, cordas congruentes subentendem arcos
congruentes, como as cordas DC, CB, BA, AE e ED (FIG. 2). Então os arcos DOC, BOA,
AOE, EOD, e BOC da mesma figura, são congruentes e correspondem a um valor de 72°
cada, sendo conhecidos como ângulos centrais.
Note que, quando traçamos as diagonais do pentágono regular (FIG. 2), formamos
uma estrela, conhecida também como “pentagrama” ou pentágono estrelado. A partir dos
conceitos e propriedade analisados, podemos encontrar todos os ângulos do pentagrama.
Mas existe ainda uma outra relação do pentagrama com o pentágono regular. As
diagonais formam um pentágono menor no centro, e as diagonais desse pentágono formam
um pentagrama e um pentágono ainda menor, e assim sucessivamente, formando pentágonos
e pentagramas sempre menores.
Os pitagóricos utilizavam o pentagrama como “símbolo e emblema da Sociedade de
Pitágoras” e por essa insígnia eram reconhecidos como membros associados (Huntley, 1985,
p. 39).
Veremos até o final deste capítulo algumas relações entre o pentagrama e a razão
áurea, tendo como referência a FIG. 2.

FIGURA 2
16

Proposição 1.8. O ponto K divide a diagonal AD , de forma que encontramos a razão áurea
AD AK EC KC
= . E também divide a diagonal EC , formando a razão áurea = .
AK KD KC EK

Demonstração. Determinando os ângulos do pentagrama (FIG. 2), verifica-se que os


triângulos ADC de base DC e AKE de base KE possuem os ângulos da base congruentes,
logo são semelhantes. Então:

AD DC
= .
AK KE

Temos também que os segmentos DC e EA são lados do mesmo pentágono regular, portanto
são congruentes. Logo obtemos que:
AD EA
= .
AK KE

Verifica-se também que, após determinarmos os ângulos do pentagrama (FIG. 2), o triângulo
EAK é isósceles. Sendo assim DC ≡ AK . Também DC ≡ EA . Assim temos, por
transitividade, que EA ≡ AK . Substituindo temos

AD AK
=
AK KE

Note ainda que o triângulo EKD é isósceles, isto é, KE ≡ KD . Portanto:

AD AK
=
AK KD

EC KC
De maneira análoga encontramos a razão áurea = .
KC EK

Do mesmo modo podemos encontrar essa relação para os outros pontos de interseção entre
duas diagonais não consecutivas do pentágono regular (FIG 2).
17

FIGURA 2

Proposição 1.9. A razão entre lado e raio do pentágono ABCDE (FIG. 2) é igual a
2
DC  EC 
= 4−  .
OB  DC 

Demonstração: Quando traçamos a altura DI do triângulo DAB, forma-se os triângulos CJD


e OIB.

Verifica-se, após determinarmos os ângulos do pentagrama, que esses triângulos são


semelhantes. Então:

DC JD
=
OB IB

1
Por sua vez o segmento IB = AB e o segmento AB ≡ DC . Logo encontramos:
2

DC JD
=
OB DC
2

Ou então:
DC 2 JD
= (4)
OB DC
18

No triângulo CJD temos:


2 2 2
( DC ) = ( JD ) + ( JC )

Mas EC = 2 JC , pois o triângulo EDC de base EC é isósceles, implica que, o segmento DJ é


a mediana desse triângulo. Logo:
2
2 2  EC 
( JD ) = ( DC ) −  
 2 

2
Dividindo ambos os lados da equação por ( DC ) , determinamos:

2 2
( JD )  EC 
= 1− 
2 
( DC )  2 DC 

No entanto, após algumas simplificações encontramos:

2
 EC 
4− 
 DC 
JD = DC ×
2

Sendo assim podemos substituir em (4), obtendo:

2
 EC 
4− 
 DC 
2 × DC ×
DC 2
=
OB DC

Ou ainda:
2
DC  EC 
= 4−  .
OB  DC 

EC
Veremos mais abaixo (na propriedade 1.12), que a razão , isto é, a relação entre a
DC
diagonal e o lado do pentágono regular, está diretamente relacionada com a razão áurea.
19

Temos ainda um triângulo isósceles - conhecido como triângulo áureo - determinado


pelo pentagrama ABCDE (FIG. 2). Em princípio esse triângulo não demonstra tantas
surpresas, no entanto, com um olhar mais atento, encontramos propriedades únicas que o
torna um triângulo especial. Definimos o triângulo áureo como:

Definição 1.10. Um triângulo isósceles AFB de base FB é um triângulo áureo se, e somente
se, possuir os ângulos da base igual a 2α e o ângulo oposto à base igual a α .

Anteriormente verificamos que o triângulo isósceles ADB (FIG. 2), possui o ângulo
∠ADB igual 36° e os ângulos ∠DAB e ∠DBA iguais a 72°. Segue da definição 1.10 que
esse triângulo é áureo, cujas propriedades analisaremos a seguir.

FIGURA 2
Propriedade 1.11. Se traçarmos a bissetriz do ângulo ∠DAB , determinaremos o triângulo
AFB que também é triângulo áureo.

Demonstração. Considerando o triângulo isósceles ADB (FIG. 2) e sabendo que o segmento


AF é a bissetriz do ângulo ∠DAB , então o ângulo ∠FAB é igual a 36°. Note ainda que o
triângulo AFD de base AD possui os ângulos da base igual a 36°. Então, o ângulo ∠AFB é
igual a 72° por ser ângulo externo do triângulo isósceles AFD. Sendo assim, os ângulos
∠AFB e ∠ABF são iguais a 72°.
Da mesma forma, se bissectarmos um dos dois ângulos de base 72°, podemos
encontrar outros triângulos áureos.
DB DA
Propriedade 1.12. Os lados dos triângulos áureos DAB e AFB formam a razão = .
FD AB
20

DB
Demonstração. Em princípio consideramos a razão . Sabemos que DA ≡ DB e
FD
DB DA
FD ≡ FA ≡ AB . Sendo assim, a razão é proporcional à razão . Dessa forma, essa
FD AB
relação pode ser escrita mais exatamente por:
DB DA
= .
FD AB

Note ainda que essa razão está intimamente ligada à razão áurea.
21

Capítulo 2

2- Razão Áurea

No cap. 1 definimos a razão áurea. A partir de agora, buscaremos examinar, na


medida do necessário para este estudo, um pouco de sua história, de seus conceitos e de suas
propriedades. E também veremos como tal razão foi definida por Euclides3, citado por Lívio
(2007, p.96).
Para descrever de uma maneira clara e completa a história da razão áurea seria
necessário um outro trabalho. Deixamos claro que esse não é o objetivo desta pesquisa,
embora acreditamos que conhecer um pouco mais sobre essa razão é importante para se
entender melhor o nosso estudo.
O que um arranjo de pétalas numa rosa, um abacaxi, uma concha de um molusco, uma
árvore genealógica de um zangão, podem ter em comum? A razão áurea. Essas aparições
inesperadas intrigam, há séculos, muitos apreciadores da beleza matemática.
Buscando a história da razão áurea, observa-se algumas discordâncias entre os
estudiosos do assunto, principalmente se os povos egípcios, babilônios ou outras civilizações
antigas tinham algum conhecimento sobre essa razão. Entre essas discussões questiona-se se a
razão áurea foi ou não usada na construção da Grande Pirâmide de Khufu e em construções
gregas, como exemplo o Partenon -“o lugar da virgem” em grego (LIVIO, 2007, p.57-78).
Ainda de acordo com o autor, todos esses questionamentos podem ser explicados
porque a razão áurea, com suas propriedades matemáticas e suas aparições inesperadas, pode
gerar um entusiasmo nas pessoas, que é capaz de esconder a verdade, principalmente quando
mede as dimensões de uma estrutura relativamente complicada. Pode-se ter a disposição uma
séria inteira de comprimentos da qual se pode escolher, desde que se possa ignorar,
convenientemente, parte do objeto que está sendo examinado. E ainda, se tiver paciência para
manipular e fazer truques com os números de várias maneiras, pode-se encontrar alguns
números interessantes bem próximos da razão áurea.
A associação da razão áurea com o pentágono, a simetria quíntupla, os sólidos
platônicos é interessante por si mesma, o que despertou a curiosidade nos antigos gregos. O
interesse pitagórico pelo pentágono e pelo pentagrama, somada ao interesse de Platão pelos
sólidos regulares e sua crença de que estes representavam entidades cósmicas fundamentais,

3
Euclides é o mais proeminente matemático da antigüidade, mais conhecido pelo seu tratado de Geometria "Os
Elementos".
22

incitou gerações de matemáticos a trabalhar na formulação de teoremas referentes à razão


áurea.
Mais uma vez recorremos a Lívio (2007, p.96), que cita o livro Elementos de
Euclides4, no qual a razão áurea aparece em vários lugares. A primeira definição da razão
áurea aparece nos livros II e VI como “razão extrema e média”. No livro IV, Euclides usa essa
razão especialmente na construção do pentágono, e no livro XIII, na construção do icosaedro
e do dodecaedro.
No início deste trabalho definimos a razão áurea. Vejamos agora como Euclides a
definiu em seu livro VI: “(segmento maior)/(segmento menor) é igual a (linha
inteira)/(segmento maior)”. Em outras palavras:

FIGURA 3

AC BA
= .
CB AC

Considerando a definição de razão áurea do capítulo anterior e a FIG. 3, podemos


provar a proposição abaixo:

Proposição 2.1. Se prolongarmos o segmento BA até D, de forma que o segmento CA seja


congruente ao segmento AD , encontraremos neste caso a razão áurea. Mais exatamente,

BD BA
=
BA AD

FIGURA 3

4
Os Elementos é constituído por 13 "livros" (a antiga denominação para capítulos). Os seis primeiros tratam
essencialmente de geometria no plano. Os livros VII a IX tratam questões de aritmética e teoria de números. O
livro IX contém o resultado conhecido como “segundo teorema de Euclides” em que é provada a existência de
infinitos números primos. No livro X analisam-se vários aspectos de grandezas irracionais e os livros XI a XIII
estudam questões relacionadas com a geometria dos sólidos.
23

Demonstração. Temos da definição 1.2 de razão áurea que:

AC BA
= . (5)
CB AC

Então, por hipótese, o segmento AC é congruente ao segmento AD . Substituindo em (5):

AD BA
= .
CB AD

Sendo assim obtemos a razão:

CB AD
= .
AD BA

Do mesmo modo escrevemos:

CB + AD AD + BA
= .
AD BA

Porém CB+AD=BA e AD + BA = BD , então:

BA BD
= .
AD BA
Podemos então escrever que,

BD BA
= .
BA AD
24

Sugeriu-se no início do século XX, que a letra grega φ , a letra inicial do nome de
Fìdias5, fosse adotada para designar a razão áurea (HUNTLEY, 1985, p.37). O valor numérico
do φ pode ser calculado da seguinte forma:

Na FIG. 3 tomemos o comprimento do segmento menor, CB , como sendo y unidades,


e o comprimento do maior, AC , como sendo x unidades.
Da definição da razão áurea determinamos a relação:

x x+ y
=
y x

Segue da relação acima que:


x x y
= + .
y x x

x
Considere agora a razão equivalente à m unidades.
y
Portanto:
1
m = 1+ .
m

Ou ainda:

m2 = m + 1 ,

que equivale à equação quadrática

m2 − m − 1 = 0 (6)

Após desenvolver a equação acima, encontramos duas soluções:

5
Escultor grego (490-430 a.C.). Considerado o maior escultor grego do período clássico, é o criador do
Parthenon e das estátuas dos deuses gregos.
25

1+ 5 1− 5
(i) m´ = e (ii) m´´ = .
2 2

1+ 5
A solução positiva = 1,61803398874989484820458... que é o valor mais
2
adotado para a razão áurea, denotaremos por φ. E a solução negativa

1− 5
= −0, 61803398874989484820458... denotaremos por φ ' .
2

Então, substituindo em (6), temos as duas equações quadráticas escrita de uma forma
diferente:
2
(i) φ 2 − φ − 1 = 0 e (ii) φ ' − φ '− 1 = 0 .

Mas a razão áurea não teria alcançado popularidade se não fosse por suas propriedades
algébricas verdadeiramente únicas. Sendo elas:

2.2. A solução negativa φ ' é o recíproco negativo da solução positiva φ , isto é,


1
− =φ '.
φ

1
Demonstração. Já sabemos os valores de φ e φ ' , então, substituindo em − o valor da
φ
solução positiva, encontraremos a razão:
1

1+ 5
2

Portanto, após desenvolvermos, obteremos o valor :

1− 5
,
2

que corresponde ao valor de φ ' .


26

De forma análoga à propriedade 2.5, provamos as propriedades abaixo.

1
2.3. Diminuindo em uma unidade o φ , torna-se o seu próprio recíproco, ou seja, φ − 1 = .
φ
2.4. A soma das soluções positiva e negativa é igual a 1, isto é, φ + φ ' = 1 .

'
2.5. O produto das soluções positiva e negativa é igual a -1, temos então, φ .φ = −1 .
27

Capítulo 3

3- Construções

Parafraseando Wagner (2007, p.1), “as construções com régua e compasso já


aparecem no século V a.c, época dos pitagóricos, e têm enorme importância no
desenvolvimento da matemática grega”. Na época de Euclides uma idéia nova apareceu: as
grandezas, no lugar de serem associadas a números, passaram a ser associadas a segmentos de
reta. Assim, o conjunto dos números continuava discreto e o das grandezas contínuas passou a
ser tratado por métodos geométricos. Nasce então, nesse período, uma nova álgebra,
completamente geométrica, onde a palavra resolver era sinônimo de construir.
Como a construção do pentágono foi o principal motivo do interesse dos gregos pela
razão áurea, apresentaremos a seguir algumas construções do pentágono regular. No entanto,
para a construção do pentágono regular utilizaremos o triângulo áureo, e para construção
desse triângulo temos que determinar, primeiramente, o ponto que divide um segmento em
razão áurea. Neste caso temos:

Construção 3.1. Determinar sobre um segmento DB um ponto C tal que este ponto divide o
segmento em razão áurea.

Tracemos, inicialmente por B, uma reta r perpendicular a DB , onde marcamos um


1
ponto F tal que BF = ⋅ DB .
2
Em seguida, sobre o lado FD, marcamos o ponto E tal que FE ≡ BF .
Agora tracemos uma circunferência de centro D e raio DE que cortará DB no ponto
C. Então, C é o ponto que divide o segmento em razão áurea.
28

FIGURA 4

Demonstração. Como vimos, o triângulo DBF é um triângulo retângulo. Então,

2 2 2
( DF ) = ( DB ) + ( BF ) .

Como DF = DE + EF , obtemos:

2 2 2
( DE + EF ) = ( DB ) + ( BF ) .

Por outro lado, no triângulo retângulo acima os segmentos DE ≡ DC por serem raios
da mesma circunferência. Da mesma forma, BF ≡ EF . Logo:

2 2 2
( DC + BF ) = ( DB ) + ( BF )

1
Assim, o segmento BF = DB . Então:
2

2 2
 DB  2  DB 
 DC +  = ( DB ) +  
 2   2 

Daí determinamos que:


29

DB DC
=
DC DB − DC

Ora, se DB − DC = CB , então:

DB DC
=
DC CB

que, por definição, será a razão áurea.

Construção 3.2. Construir um triângulo áureo dado o seu lado.

Vamos construir um triângulo áureo DAB de base AB , dado o seu lado DB . De


maneira análoga à construção da FIG. 4, tomamos sobre DB um ponto C tal que esse ponto
divida esse segmento em razão áurea, de modo que C esteja mais próximo de B.
Em seguida, com raio CD , traçamos as circunferências r e s, tendo como centro os
pontos C e B, respectivamente.
Se A é um dos pontos de interseção das duas circunferências, então podemos formar o
triângulo áureo DAB.

FIGURA 5

Demonstração. Já sabemos que


30

DB DC
= .
DC CB

Mas, por construção DC ≡ AB . Então,

DB AB
= .
AB CB

Além disso, o ângulo ∠DBA é comum para os triângulos DBA e ABC . Logo, esses
triângulos são semelhantes. Isso implica que o triângulo DAB , de base AB , é um triângulo
isósceles. Nesse caso temos que DB ≡ DA . Logo:

DA AB
=
AB CB

Ou ainda:
DA DC
=
AB CB

DC DB
Como = então:
CB DC

DA DB
=
AB DC

Então, pela propriedade 1.12 esse triângulo é um triângulo áureo.

Construção 3.3. Construção de um pentágono regular dado o seu lado.

Seja FG um lado dado do pentágono regular. Como vimos, se um triângulo áureo está
inscrito em uma circunferência, os seus vértices coincidem com os vértices do pentágono
regular, também inscrito na mesma circunferência. Assim, para construir o pentágono regular
basta construir um triângulo áureo de base FG .
31

Se ACB é um triângulo áureo de base CB (FIG. 5), então transportemos os ângulos de


sua base sobre o lado FG formando o triângulo áureo KFG. Seja L o ponto de interseção das
mediatrizes do triângulo KFG, tracemos a circunferência t de centro em L e raio LF .
Tracemos, em seguida, a circunferência v de centro G e raio FG .
Então M é um dos pontos de interseção das circunferências t e v. De maneira análoga
encontramos o ponto N.
Logo o polígono K, N, F, G e M é um pentágono regular.

FIGURA 6

Construção 3.4. Construção de um Pentágono Regular inscrito em uma circunferência de raio


dado MN .

Sobre uma reta r marcamos o ponto O. Em seguida traçamos uma circunferência de


raio MN e centro em O.
Seja AFB um triângulo áureo de base FB . Sabemos que os ângulos de sua base são
iguais a 72°. Transportemos, então, o ângulo ∠AFB sobre a reta r no ponto O, formando o
ângulo central ∠DOC .
32

Unindo os pontos D e C formamos o triângulo DOC, onde DC é o lado de um


pentágono regular. Logo, de maneira análoga, encontramos os outros lados do pentágono
regular.

FIGURA 7

Construção 3.5. Construção de um pentágono regular, dada uma diagonal.

Seja AB a diagonal dada. Sobre ela construamos o triângulo áureo ABD de base BD
(FIG.5). E, de maneira análoga à FIG. 6, determinamos o pentágono regular da FIG. 7.
33

FIGURA 8
34

Capítulo 4

4 - Razão Áurea e Aplicações

4.1 - Leonardo Fibonacci

Leonardo de Pisa (em latim, Leonardus Pisanus), também conhecido como Leonardo
Fibonacci6, tornou-se famoso pelo seguinte problema contido no cap. 12 do seu livro Líber
Abaci: “Um homem pôs um par de coelhos num lugar cercado por todos os lados por um
muro. Quantos pares de coelhos podem ser gerados a partir deste par em um ano se,
supostamente, todo mês cada par dá à luz um novo par, que é fértil a partir do segundo mês” (
(Fibonacci in Livio,2007, p.116)
A resposta desse problema gera a seqüência 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89... na qual
cada termo - começando com o terceiro - é igual à soma dos dois termos anteriores. Tal
seqüência - chamada de seqüência de Fibonacci, no século XIX, pelo matemático francês
Edouard Lucas - não representa somente o problema de reprodução de coelhos. Pode ser
encontrada, também, em uma variedade inacreditável de fenômenos, aparentemente sem
relação, como na óptica dos raios de luz, na árvore genealógica de um zangão, etc.
A seqüência de Fibonacci é uma sequência recursiva, ou seja, seqüência de números
na qual a relação entre termos sucessivos pode ser expressa por uma fórmula matemática.
Sendo assim:

Notação 4.2. Representaremos o conjunto dos números naturais por tal que
= {0,1, 2,3, 4,5...} .

Notação 4.3. Denotaremos por ( an ) n a sequência a0 , a1 , a2 , a3 , ... an ... tal que a ∈ e

n∈ .

Definição 4.4. A sequência de Fibonacci é a sequência ( f n )n tal que:

6
Foi o primeiro o grande matemático na Europa, durante a Idade Média. Em 1202 produziu o seu primeiro livro
Líber Abaci (o livro do cálculo), que marca o ressurgimento da matemática na Itália.
35

0, se n = 0;

f n = 1, se n=1;
 f + f se n > 1.
 n −1 n − 2

Observe que, se começarmos com 0 e 1 então encontraremos o próximo número


somando os dois anteriores. Portanto, continuando esse processo determinaremos a sequência:
0,1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89....
Essa sequência possui algumas propriedades que estão intimamente relacionadas a φ .
f n +1
Por exemplo, se fizermos a razão entre dois termos consecutivos dessa sequência, isto é,
fn
para n ≥ 1 , encontramos algumas relações interessantes. Vejamos:

f10 55
= = 1, 61764705882352941... (7)
f 9 34

f15 610
= = 1, 6180371352785145... (8)
f14 377

Mas no cap. 2 encontramos que,

1+ 5
φ= = 1, 6180339887498948482045...
2

Então note que o número encontrado em (7) é igual a φ até a segunda casa decimal; já
em (8) é igual até a terceira casa decimal. Mas quando utilizamos valores ainda maiores para
n , determinamos números mais próximos de φ . Ou seja,

f 20 6765
= = 1, 618033963166706... (8)
f19 4181

f 25 75025
= = 1, 618033988957902... (9)
f 24 46368
36

Observe que em (8) a aproximação é até a sétima casa decimal, e em (9) é até a nona
casa decimal. Portanto, se utilizarmos um valor suficientemente grande para n , então
encontraremos um número muito próximo de φ . Na verdade pode-se mostrar que:

f n +1
lim =φ
n →∞ fn

A maioria dos estudantes que aprecia a matemática não teria dificuldade em formar
uma sequência de acordo com a propriedade f n +1 = f n −1 + f n . Nem tampouco acharia difícil

g n +1
formar uma sequência pela propriedade = r para qualquer valor de n ∈ tal que
gn

r, gn ∈ − {0} . Mas suponhamos que a exigência fosse para se formar uma sequência que

possuísse ambas as propriedades simultaneamente.

Entretanto há uma sequência assim. Trata-se da sequência áurea:

1, φ , 1 + φ , 1 + 2φ , 2 + 3φ , 3 + 5φ ...

Definição 4.4. A sequência áurea é a sequência ( g n )n tal que:

1, se n = 0;
gn =  (10)
 f n −1 + f nφ se n ≥ 1.

Ou ainda:

 g0 = 1, g1 = φ g = 1
  0
 e (11) ou  e (12)
 g = g + g para n ≥ 1 g
 n +1 n −1 n
 n +1 = φ para n ≥ 0
 g n

Proposição 4.5. As definições (10), (11) e (12) são equivalentes.


37

Demonstração. Vamos provar que (10) ⇒ (11).

Então para g0 = 1 , g1 = φ e n ≥ 1 :

g n −1 + g n = ( f n − 2 + f n −1φ ) + ( f n −1 + f nφ )

Reagrupando os termos encontramos:

g n −1 + g n = ( f n + f n −1 )φ + ( f n − 2 + f n −1 )

Daí determinamos que:

g n −1 + g n = f n +1φ + f n

Sendo g n +1 = f n + f n +1φ , logo:

g n +1 = g n −1 + g n

Agora vamos provar que (10) ⇒ (12).

Temos que:
φ g n = f n −1φ + f nφ 2 onde n ≥ 1 e g0 = 1

Porém φ 2 = φ + 1 (PAG. 25). Neste caso:

φ g n = f n −1φ + f nφ 2 = f n −1φ + f nφ + f n

Desenvolvendo, obtemos:

φ g n = φ ( f n −1 + f n ) + f n
38

Como f n −1 + f n = f n +1 temos:

φ g n = φ f n +1 + f n

Já que g n +1 = f n + f n +1φ então:

g n +1
g n +1 = φ g n ou =φ
gn

Em seguida temos que (11) ⇒ (12)

Então:

g n +1 = g n −1 + g n se n ≥ 1 e g 0 = 1 e g1 = φ

Vimos anteriormente que:

g n +1 = g n −1 + g n = φ f n +1 + f n

Também vimos que:

φ g n = φ f n +1 + f n .

Portanto,

g n +1
g n +1 = φ g n ou =φ
gn

Corolário 4.6. Seja ( g n )n a sequência áurea. Então,

gn = φ n .
39

Demonstração. Para provar essa propriedade, utilizaremos o método da indução.

Iniciaremos provando que a propriedade vale para n = 1. Portanto se g n = f n −1 + f nφ então:

g1 = f 0 + f1φ = 0 + 1φ = φ

Isto é:
g1 = φ

Agora, vamos supor que a propriedade vale para n = k tal que k ≥ 1 , ou seja:

g k = f k −1 + f kφ = φ k .

Então, provaremos que a propriedade vale para o sucessor de k:

g k +1 = f k + f k +1φ = φ k +1.

Na potência φ k +1 temos a igualdade:

φ k +1 = φ kφ

Mas por hipótese de indução f k −1 + f kφ = φ k , logo:

φ k +1 = φ kφ = ( f k −1 + f kφ ) φ

Vimos anteriormente que ( f k −1 + f kφ ) φ = φ f k +1 + f k . Sendo assim:

φ k +1 = ( f k −1 + f kφ ) φ = f k + f k +1φ .

Já que por definição g k +1 = f k + f k +1φ , então:


40

g k +1 = f k + f k +1φ = φ k +1.

Podemos concluir pelo corolário acima que:

1+ φ = φ 2
1 + 2φ = φ 3
2 + 3φ = φ 4
3 + 5φ = φ 5
M

Logo, a sequência áurea pode ser reescrita da seguinte maneira:

1, φ , φ 2 , φ 3 , φ 4 , φ 5 , φ 6 ...

4.7. Sofisma Geométrico

Na concepção de Huntley (1985, p.56-58), uma outra ligação entre a razão áurea e a
Sequência de Fibonacci diz respeito a um sofisma7 geométrico, que foi apresentado pela
primeira vez por Sam Loyd (1841 – 1911), o criador de quebra-cabeças matemático.
Esse sofisma baseia-se na construção de um quadrado cujos lados têm comprimento
igual a soma de dois números consecutivos da Sequência de Fibonacci. Se recortarmos o
quadrado nas partes indicadas e encaixá-las, obteremos um retângulo. Verifica-se, a partir
disso, que as áreas do quadrado e do retângulo diferem em uma unidade. Dependendo do
número escolhido, o quadrado terá a maior área ou o contrário.
A explicação para esse paradoxo é que o encaixe ao longo das diagonais dos
retângulos não é exato. Às vezes fica uma “folga” de uma unidade quadrada e, outras vezes,
há uma sobreposição de uma unidade quadrada.
A seguir, a descrição sistematizada desse sofisma:
Seja o quadrado ABCD dado e f n o enésimo termo da Sequência de Fibonacci, então
o lado deste quadrado tem o comprimento igual à soma de dois números consecutivos da
Sequência de Fibonacci, isto é, AB = f n + f n +1 tal que n ∈ . Tracemos, então, o segmento

EF paralelo a AD onde AE = f n +1 e EB = f n . Agora tracemos o segmento PQ obtendo os

7
Em Filosofia é um raciocínio aparentemente válido, mas inconclusivo, pois é contrário às suas próprias leis.
41

trapézios PAEO e QFDP de tal forma que sejam congruentes entre si, e ainda,

AP = QF = f n +1 e EQ = DP = f n . Tracemos o segmento EC , formando os triângulos EBC e


CFE , sendo esses também congruentes entre si. Agora, recortemos o quadrado pelos
segmentos EF , PQ e EC e, com os polígonos formados, construímos o retângulo JGHI tal
que os trapézios JGLM e HINK sejam congruentes ao trapézio PAEO e os triângulos
MLH e KNJ também sejam congruentes ao triângulo EBC .

Demonstraremos que o encaixe ao longo da diagonal JH não é exato.


Inicialmente vamos provar um caso particular e, em seguida, o caso geral. Como
exemplo tomemos f 5 = AE = 5 e f 4 = EB = 3 . Então:

FIGURA 9

No retângulo JGHI temos GH = 13 e GJ = 5 . Logo, se os pontos J , M , K e H


fossem colineares, os polígonos JMHG e MKHL seriam triângulos. Sendo assim,
∠JGH ≡ ∠MLH e teríamos o ∠MHL comum aos dois triângulos. Isso implica que eles
seriam semelhantes. Logo:

GH GJ
= ,
LH LM

o que é absurdo, pois:


42

GH 13 5 GJ
= ≠ =
LH 8 3 LM
Então, os pontos J , M , K e H não podem ser colineares.

Vamos provar o caso geral.

Seja AB = f n + f n +1 , então de maneira análoga ao exemplo anterior formamos o


retângulo JGHI tal que:

GH = f n +1 + ( f n + f n +1 ) = f n +1 + f n + 2 = f n +3 e HI = f n +1 .

Então, se os pontos J , M , K e H fossem colineares, os polígonos JMHG e MKHL


seriam triângulos. Do mesmo modo que anteriormente, eles seriam semelhantes, logo:

GH GJ
= ,
LH LM

o que é absurdo, pois:

f n+3 f
≠ n +1 .
fn+2 fn

Então os pontos J , M , K e H não podem ser colineares.

Em seguida, vamos provar que o quadrilátero JMHK é um paralelogramo.

Como vimos os triângulos JNK e HLM são congruentes, donde, ∠LHM ≡ ∠NJK e
JK ≡ HM . Temos também que os trapézios JGLM e HINK são congruentes, o que implica,
∠GJM ≡ ∠IHK e JM ≡ HK . Temos então que ∠KJM ≡ ∠KHM , logo o quadrilátero
JMHK é um paralelogramo.

Portanto, provamos que o encaixe ao longo da diagonal JH não é exato.


Temos também que quando utilizamos os valores f 4 = 3 e f5 = 5 obtemos a área do
quadrado e do retângulo, respectivamente, igual a:
43

AQ = 64 e AR = 65

Mas pode acontecer o contrário, ou seja, a área do quadrado ser maior que área do
retângulo em uma unidade quadrada . Por exemplo:

Para os números 13 e 21:

AQ ' = 34 ⋅ 34 = 1156 e AR ' = 55 ⋅ 21 = 1155 .

Mas esses exemplos não provam, de uma maneira geral, o que realmente acontece
quando utilizamos todos os números da Sequência de Fibonacci. Então, segue abaixo o caso
geral.
Primeiro vamos provar a seguinte proposição.

Proposição 4.8. Seja f n o enésimo termo da sequência de Fibonacci, então

2
( f n+1 ) = f n ⋅ f n + 2 + (−1)n para todo n ≥ 0 .

Demonstração. Para provar essa propriedade utilizaremos o método da indução.


2
Iniciaremos provando que a propriedade vale para n = 0 . De fato se ( f n +1 ) = f n ⋅ f n + 2 + (−1)n ,

então:

2 2
( f1 ) = (1) = 1

Temos também que:

f 0 ⋅ f 2 + (−1)0 = 0 ⋅1 + 1 = 1

Logo a propriedade vale para n = 0 .


Agora vamos supor que a propriedade vale para n = k tal que k ≥ 0 , isto é:

2
( f k +1 ) = f k ⋅ f k + 2 + (−1) k
44

Então provaremos que a propriedade vale para o sucessor de k, isto é:

2
( fk +2 ) = f k +1 ⋅ f k +3 + (−1) k +1 .

Sendo assim:

2
f k +1 ⋅ f k +3 + (−1) k +1 = f k +1 ⋅ ( f k +1 + f k + 2 ) + (−1) k +1 = ( f k +1 ) + f k +1 ⋅ f k + 2 + (−1) k +1

2
Por hipótese de indução ( f k +1 ) = f k ⋅ f k + 2 + (−1) k . Então:

2
( f k +1 ) + f k +1 ⋅ f k + 2 + (−1)k +1 = f k ⋅ f k + 2 + (−1)k + f k +1 ⋅ f k + 2 + (−1) k +1

Note que:
(−1) k +1 + (−1) k = 0 para k ≥ 0 .

Logo:

2
f k ⋅ f k + 2 + f k +1 ⋅ f k + 2 = f k + 2 ( f k + f k +1 ) = f k + 2 ⋅ f k + 2 = ( f k + 2 ) .

Portanto:

2
( f n+1 ) = f n ⋅ f n + 2 + (−1)n

Agora voltaremos ao nosso objetivo.


Vimos anteriormente que quando AB = f n + f n +1 = f n + 2 , formamos o retângulo JGHI tal que

GH = f n +1 + ( f n + f n +1 ) = f n +1 + f n + 2 = f n +3 e HI = f n +1 .

Portanto as áreas quadrado e do retângulo são respectivamente igual a:


2
AQ '' = ( f n + 2 ) e AR '' = f n +3 ⋅ f n +1
45

Então, para n ímpar temos pela proposição 4.8 que:

2
f n +3 ⋅ f n +1 = ( f n + 2 ) + 1

Ou ainda:

AR '' = AQ '' + 1

Agora, para n par temos que:

2
( f n+1 ) = f n+ 2 ⋅ f n + 1

Ou seja:

AQ ''' = AR ''' + 1 .

Essa propriedade foi descoberta pelo matemático e astrônomo Johannes Kepler. Mas,
será que esse sofisma tem solução? Veremos que sim.
Vimos anteriormente a sequência áurea. Essa sequência proporciona no paradoxo
explicitado anteriormente um encaixe exato no retângulo formado.
Então, construiremos um quadrado cujos lados tenham comprimento igual à soma de
dois números consecutivos quaisquer da sequência áurea, e, verificaremos que as áreas do
quadrado e do retângulo serão iguais.
Nesse caso, sabemos que g n é o enésimo termo a sequência áurea. Então, se

tomarmos AE = g n +1 e EB = g n , temos o lado do quadrado dado ABCD (FIG. 10) igual a:

AB = g n +1 + g n = g n + 2 para n ≥ 0 .

Logo formamos, do mesmo modo que anteriormente, o retângulo JGHI , tal que:

GH = g n + 3 , LH = g n + 2 , GJ = g n +1 e LM = g n
46

FIGURA 10

Então, se os pontos J , M , K e H fossem colineares, os polígonos JMHG e MKHL


seriam triângulos. Sendo assim, seria ∠JGH ≡ ∠MLH e teríamos o ∠MHL comum aos dois
triângulos, o que implica que eles seriam semelhantes. Logo:

GH g n +3 g n +1 GJ
= = =
LH g n + 2 gn LM

E isso é verdade pela definição 4.4. Então, os pontos J , M , K e H são colineares.

A seguir, provaremos para o caso geral que as áreas do quadrado e do retângulo são
iguais.

Seja o lado do quadrado igual a Q = g n +1 + g n então a sua área é igual a:

2 2
DQ = ( g n +1 + g n ) = ( g n + 2 ) para n ≥ 0 .

Porém, pelo corolário 4.6 g n + 2 = φ n + 2 . Logo:

2
DQ = (φ n + 2 ) = φ 2 n + 4

Por sua vez, a área do retângulo é igual a:


47

TR = ( g n + 3 )( g n +1 )

Sendo assim:

TR = ( g n +3 )( g n +1 ) = (φ n + 3 )(φ n +1 ) = φ 2 n + 4

Portanto, DQ = TR .
48

Capítulo 5

5 - Retângulo Áureo

Um leigo em matemática, ao observar o retângulo áureo, verá apenas uma figura


relativamente simples e, ao mesmo tempo, bela pelas suas dimensões. Mas a verdadeira
beleza são as propriedades existentes nesse polígono que impressiona, há séculos,
matemáticos, artistas e outros.

Definição 5.1. Definimos como retângulo áureo um retângulo AFED tal que:

DE

EF

FIGURA 11

Baseamos nas idéias de Huntley (1985, p.100), para mostrar que, utilizando o
quadrado ABCD, podemos determinar uma sequência infinita de retângulos. Posteriormente,
na proposição 5.4, verificaremos que esses retângulos são, na verdade, retângulos áureos.
Então, dado esse quadrado, construímos o retângulo AFED e, consequentemente,
determinamos o retângulo BFEC . Em seguida, seccionamos desse retângulo o quadrado
HGEC , determinando o retângulo BFGH . E se deste for seccionado o quadrado IFGJ ,
temos o retângulo BIJH . Podemos supor que esse processo seja repetido indefinidamente, até
que se chegue ao retângulo-limite, indistinguível de um ponto. Segundo o matemático
49

Clifford A. Pickover, citado por Livio (2007, p.104) esse “ponto retangular”, é “O Olho de
Deus”, devido às propriedades “divinas” atribuídas à razão áurea.
Partindo da FIG. 11, vamos supor que CE = 1 . Logo, encontramos DC = φ (ver p.
17-18). Então, se observarmos os lados dos retângulos áureos, determinaremos uma sequência
áurea “recíproca” com os seguintes valores:

φ , 1, φ − 1, 2 − φ , 2φ − 3, 5 − 3φ , 5φ − 8, 13 − 8φ , 13φ − 21, 34 − 21φ ...

Definição 5.2. A sequência áurea “recíproca” é a sequência ( xn )n , tal que:

φ , se n = 0;
xn =  (13)
 f n − f n −1φ se n ≥ 1.

Ou ainda:

 x0 = φ , x1 = 1 x = φ
  0
 e (14) ou  e (15)
 x = x − x para n ≥ 1 x 1
 n +1 n −1 n
 n +1 = para n ≥ 0
 xn φ

Proposição 5.3. As definições (13), (14) e (15) são equivalentes.

Demonstração. Vamos provar que (13) ⇒ (14).

Então,

xn −1 − xn = f n −1 − f n − 2φ − f n − f n −1φ para n ≥ 2 e x0 = φ , x1 = 1 .

Porém, nessa igualdade, temos dois casos. Daí, quando n é par:

f n −1 − f n − 2φ > f n − f n −1φ ,

e quando n é impar:
50

f n −1 − f n − 2φ < f n − f n −1φ .
Agora considere n par:

se f n −1 − f n − 2φ > f n − f n −1φ então f n −1 − f n − 2φ > 0 e f n − f n −1φ < 0 .

Logo:

xn −1 − xn = f n −1 − f n − 2φ − f n − f n −1φ = ( f n −1 − f n − 2φ ) + ( f n − f n −1φ )

Podemos, então, reagrupar os termos para obter a seguinte igualdade:

xn −1 − xn = ( f n −1 − f n − 2φ ) + ( f n − f n −1φ ) = ( f n −1 + f n ) − φ ( f n − 2 + f n −1 )

Sendo assim:
xn −1 − xn = ( f n −1 + f n ) − φ ( f n − 2 + f n −1 ) = f n +1 − f nφ

Ora, se xn +1 = f n +1 − f nφ então:

xn +1 = xn −1 − xn

Agora, para n ímpar:

se, f n −1 − f n − 2φ < f n − f n −1φ então, f n −1 − f n − 2φ < 0 e f n − f n −1φ > 0 .

Mas por construção:


f n −1 − f n − 2φ > f n − f n −1φ

Portanto:
xn −1 − xn = f n −1 − f n − 2φ − f n − f n −1φ = ( f n −1 − f n − 2φ ) + ( f n − f n −1φ ) .

De maneira análoga, obtemos:


51

xn +1 = xn −1 − xn
Em seguida vamos provar que (13) ⇒ (15)

Temos que (15) é igual a:

xn = xn +1φ se x0 = φ e n ≥ 0

No entanto:
xn +1φ = f n +1 − f nφ φ = f n +1φ − f nφ 2 .

Como φ 2 = φ + 1 , então:

xn +1φ = f n +1φ − f nφ 2 = f n +1φ − f n − f nφ .

Sendo assim:

xn +1φ = f n +1φ − f n − f nφ ) = ( f n +1 − f n )φ − f n ) .

Já que f n −1 = f n +1 − f n logo:

xn +1φ = ( f n +1 − f n )φ − f n ) = f n −1φ − f n .

No entanto, por definição:

xn = f n − f n −1φ .

Portanto:
xn +1 1
xn = xn +1φ ou = .
xn φ
Agora temos que (14) ⇒ (15).
52

Seja:

xn +1 = xn −1 − xn se n ≥ 1 e x0 = φ , x1 = 1

Por definição:

xn = xn −1 − xn +1 = f n − f n −1φ

Mas vimos anteriormente que:

xn +1φ = f n −1φ − f n

Logo:

xn = xn +1φ

Corolário 5.4. Seja ( xn )n tal que n ≥ 1 a sequência áurea “recíproca”. Então:


1
xn =
φ n −1

Demonstração. Iniciaremos provando que a propriedade vale para n = 1. Então:

1
x1 = =1
φ0

Agora vamos supor que a propriedade vale para n = k.

1
xk =
φ k −1

Então, provaremos que a propriedade vale para o sucessor de k. Ou seja,


53

1
xk +1 =
φk
1
Por hipótese de indução xk = , logo:
φ k −1

1 1 φ
xk = k −1
= k
=
φ φ φk
φ

Ou ainda:

φ
φk = (16)
xk

1
Se substituirmos (16) em obtemos:
φk

1 1 xk
= = (17)
φ k
φ φ
xk

Pela proposição 5.3, temos:

xk
= xk +1 (18)
φ

Sendo assim por (17) e (18):

1
xk +1 =
φk

Por exemplo:
54

1
1 φ −1 φ 1
ü x3 = 2 − φ = 1 + 1 − φ = 1 − = = = 2
φ φ φ φ
1

1 1 1 1−φ 1 φ −1 + φ 1
ü x4 = 2 φ 3= φ − 1 + φ − 1 + (−1) = + −1 = + = + = 2
= 3.
φ φ φ φ φ φ φ φ

É interessante observar que pelos Corolários 4.6 e 5.4 podemos formar uma “sequência
áurea completa”, isto é:

1 1 1 1 1 1
...φ 6 , φ 4 , φ 3 , φ 2 , φ , 1, , 2 , 3 , 4 , 5 , 6 ...
φ φ φ φ φ φ

ou ainda:

...φ 6 , φ 5 , φ 4 , φ 3 , φ 2 , φ , 1, φ −1 , φ −2 , φ −3 , φ −4 , φ −5 , φ −6 ...

Vimos neste capítulo que a sequência áurea “recíproca” é formada quando


construímos uma sequência de retângulos áureos, sendo estes cada vez menores até
encontrarmos um ponto “retangular” limite, o ponto-limite P . Mas, se tivéssemos construído
retângulos áureos cada vez maiores, ou seja: se tomássemos o retângulo MNLJ da figura 11,
de dimensões 1 e φ , construiríamos o retângulo KLJH tal que KL = 1 + φ , em seguida o

retângulo HBIJ para HB = 1 + 2φ e assim sucessivamente, sendo todos retângulos áureos.


Isso implicaria a sequência áurea vista no Capítulo IV, ou seja:

1, φ , 1 + φ , 1 + 2φ , 2 + 3φ , 3 + 5φ ...

Que é igual a:

1, φ , φ 2 , φ 3 , φ 4 , φ 5 , φ 6 ...

Logo a “sequência áurea completa” pode ser vista como uma sequência de retângulos
áureos cada vez menores ou maiores.
55

Capítulo 6

6 - A espiral retangular

Do ponto-de-vista estético a espiral abaixo possui a capacidade de dimensionar a


beleza. Parece que, de uma maneira suave e ao mesmo tempo concreta, todos os seus lados
estão em harmonia. Mas, para entendermos o que está implícito nela, temos que mudar o
nosso olhar ingênuo para um olhar mais crítico, um olhar matemático. Então, tomemos um
segmento A0 A1 tal que A0 A1 = 1 . Pelo ponto A1 traçamos uma perpendicular a esse segmento

A0 A1
e marcamos sobre ela um ponto A2 de tal forma que = φ . Logo A1 A2 = φ . Pelo ponto
A1 A2

A2 traçamos a perpendicular ao segmento A1 A2 e marcamos sobre ela um ponto A3 de tal

A0 A1 1 AA 1
forma que = φ 2 , então A2 A3 = 2 . Do mesmo modo, temos 0 1 = φ 3 e A3 A4 = 3 .
A2 A3 φ A3 A4 φ

A0 A1 1
De uma forma geral obtemos = φ n e An An +1 = n .
An An +1 φ

FIGURA 12

A0 A1
Note ainda que pela razão = φ n para n ≥ 1 podemos formar a sequência:
An An +1

1, φ , φ 2 , φ 3 , φ 4 , φ 5 , φ 6 ...
56

1
E ainda, se An An +1 = para n ≥ 0 podemos também formar a sequência:
φn

1 1 1 1 1 1
1, , 2 , 3 , 4 , 5 , 6 ...
φ φ φ φ φ φ

Isso que vimos não esgota nosso olhar crítico sobre a espiral, então veremos a seguir
algumas propriedades. Destaco aqui aquela que acredito ser a mais bela de todas.
Se continuarmos infinitamente o processo descrito no inicio deste capítulo,
determinaremos uma espiral retangular, cujos anéis diminuem, indefinidamente, até um
ponto-limite P , denominado “O olho de Deus”.
Para demonstrar as propriedades a seguir, vamos definir um sistema de coordenadas
cartesianas tal que o eixo x é a reta que contém os pontos A0 e A1 , e o eixo y é reta

perpendicular ao eixo x no ponto A0 . Onde A0 = (0, 0) e A1 = (1, 0) .

Proposição 6.1. Seja An = ( un , vn ) de modo que n ∈ , então:

i. as séries ( un )n e ( vn )n são convergentes.


ii. An An + 2 → 0

Demonstração. Primeiramente provaremos (i). Na espiral retangular temos:

An +1 An + 2 1
=
An An +1 φ

Então, vamos analisar as coordenadas de An para n ≥ 2 . Logo:

 1  1 1
A2 = 1 ,  e A3 = 1 − 2 ,  ,
 φ  φ φ

 1 1 1  1 1 1 1
A4 = 1 − 2 , − 3  e A5 =  1 − 2 + 4 , − 3  ,
 φ φ φ   φ φ φ φ 
57

 1 1 1 1 1   1 1 1 1 1 1 
A6 = 1 − 2 + 4 , − 3 + 5  e A7 = 1 − 2 + 4 − 6 , − 3 + 5  ,
 φ φ φ φ φ   φ φ φ φ φ φ 
M

Desta forma, encontramos para n ≥ 1 :

 1 1 1 1 1 1 1 
A2 n = 1 − 2 + 4 L 2 n − 2 , − 3 + 5 L 2 n −1 
 φ φ φ φ φ φ φ 

 1 1 1 1 1 1 1 1 
A2 n +1 = 1 − 2 + 4 − 6 L 2 n , − 3 + 5 L 2 n −1 
 φ φ φ φ φ φ φ φ 

Tomando as abscissas dos pontos A2 n e A2 n +1 temos as séries:

1 1 1 1 1 1 1
u2 n = 1 − 2
+ 4
L 2n−2
e u2 n +1 = 1 − 2
+ 4
− 6
L
φ φ φ φ φ φ φ 2n

1
Note que são duas progressões geométricas de razão − . Logo:
φ2

1 1 1 1 φ2 φ2
lim u2 n = lim 1 − + L = = ⇒ lim u2 n =
n →∞ n →∞ φ2 φ4 φ 2n−2 1+
1 φ 2 +1 n →∞ φ 2 +1
2
φ
e

1 1 1 1 1 φ2 φ2
lim u2 n +1 = lim 1 − + − L = = ⇒ lim u2 n +1 =
n →∞ n →∞ φ2 φ4 φ6 φ 2n 1+
1 φ 2 +1 n →∞ φ 2 +1
φ2

Portanto:
58

lim u2 n = lim u2 n +1 .
n →∞ n →∞

Agora, se tomarmos as ordenadas dos pontos A2 n e A2 n +1 , temos as séries:

1 1 1 1 1 1 1 1
v2 n = − 3
+ 5
L 2 n −1
e v2 n +1 = − 3
+ 5
L 2 n −1
φ φ φ φ φ φ φ φ

Logo:
1
1 1 1 1 φ φ φ
lim v2 n = lim − 3
+ 5
L 2 n −1
⇒ lim v2 n = = 2
⇒ lim v2 n = 2
n →∞ n →∞ φ φ φ φ n →∞ 1 φ +1 n →∞ φ +1
1+ 2
φ
De modo análogo:

φ
lim v2 n +1 = 2
n →∞ φ +1

Sendo assim:

lim v2 n = lim v2 n +1
n →∞ n →∞

Já que

lim u2 n = lim u2 n +1 e lim v2 n = lim v2 n +1


n →∞ n →∞ n →∞ n →∞

Então as séries ( un )n e ( vn )n são convergentes.

Em seguida vamos provar (ii).

Note que os segmentos A2 k A2 k + 2 para k ≥ 0 determinam uma sequência de triângulos

retângulos da forma A2 k A2 k +1 A2 k + 2 de hipotenusa A2 k A2 k + 2 . Logo:


59

2 2
 1   1 
A2 k A2 k + 2 =  2 k  +  (2 k + 2) −1 
φ  φ 

Desenvolvendo, encontramos:

1  φ 2 +1
A2 k A2 k + 2 =  
φ 4k  φ 2 

De forma análoga, obtemos para os segmentos A2 k +1 A2 k +3 que

1  φ 2 +1
A2 k +1 A2 k +3 =  
φ 4k  φ 4 

Sendo assim:

1  φ 2 +1  1  φ 2 +1 
lim   =0 e lim   =0
k →∞ φ 4k  φ 2  k →∞ φ 4k  φ 4 

Então An An + 2 → 0 .

Mas ainda não foram respondidas algumas perguntas essenciais, tais como:
Quem realmente é o ponto P ? Onde ele se localiza? Qual a sua relação com a espiral?
Tentaremos responder essas perguntas nas seguintes propriedades:

Proposição 6.2. Se A0 A2 ∩ A1 A3 = { P} então:

iii. os segmentos A0 A2 e A1 A3 são mutuamente perpendiculares.

 φ φ 
iv. P = φ 2 , 2  .
 φ +1 φ +1 
60

v. P ∈ An An + 2 ∀ n ∈

Demonstração. Inicialmente demonstraremos (iii). No triângulo A0 A1 A2 e A1 A2 A3 temos,


respectivamente:

A0 A1 A1 A2
=φ e =φ .
A1 A2 A2 A3

Mas, ∠A0 A1 A2 e ∠A1 A2 A3 são ângulos retos. Logo, os triângulos A0 A1 A2 e A1 A2 A3 são

semelhantes. Temos então que o ângulo ∠A2 A0 A1 é congruente ao ângulo ∠A3 A1 A2 . Nesse
caso:

∠A3 A1 A2 = α ⇒ ∠PA1 A0 = 90° − α

Daí encontramos que:

∠A0 PA1 = 90°

Agora provaremos (iv).

Sabemos que
An = ( un , vn ) e lim An = P para n ∈ .
n →∞

Então, pela proposição 6.1:


 φ φ 
P = φ 2 , 2 .
 φ +1 φ +1 

Em seguida, (v).

Para provar, demonstraremos que as coordenadas de P estão entre as coordenadas de An e

An + 2 .
61

Temos An = (un , vn ) . Então pela proposição 6.1, un é uma progressão geométrica de razão

1
− logo:
φ2
n n
 1   1 
 − φ 2  −1  − φ 2  −1
un =   = −φ2  
2
para n ≥ 0
1 1 + φ
− 2 −1
φ

Do mesmo modo para vn :

n n
1 1   1 
 − 2  −1  − φ 2  −1
φ φ   
vn = = −φ 2
para n ≥ 0
1 1 + φ
− 2 −1
φ

E para An + 2 = ( un + 2 , vn + 2 ) encontramos de modo análago:


n+ 2 n+ 2
 1   1 
 − φ 2  −1  − φ 2  −1
un + 2 =  = −φ2  
2
para n ≥ 0
1 1 + φ
− 2 −1
φ
e
n+ 2 n+ 2
1 1   1 
 − 2  −1  − φ 2  −1
φ φ   
vn + 2 = = −φ 2
para n ≥ 0
1 1 + φ
− 2 −1
φ

Agora para P = ( u, v ) e n par, temos:

un < u < un + 2 e vn < v < vn + 2

E ainda, para n ímpar:

un + 2 < u < un e vn < v < vn + 2


62

Então:
P ∈ An An + 2

Proposição 6.3. Se o segmento A0 A1 = 1 então, o comprimento da espiral de A1 a P é φ .

Demonstração: Temos por construção que os lados da espiral retangular formam a


sequência:

1 1 1 1 1 1
1, , 2 , 3 , 4 , 5 , 6 ...
φ φ φ φ φ φ

Daí encontramos:

1
∑φ
n =0
n
= φ +1

Portanto, o comprimento da espiral iniciando-se pelo ponto A1 é φ .


63

Capítulo 7

7 - A Espiral Logarítmica

Baseando-nos na concepção de Lívio (2007, p.111-145), vamos falar um pouco sobre


a espiral logarítmica - uma das mais belas curvas matemáticas, que pode ser encontrada na
natureza, tanto na fauna como na flora – também designada por Descartes como Espiral
Equiangular. O nome foi derivado da forma como o raio cresce quando nos movemos ao
longo da curva. O matemático Jacques Bernoulli, um dos grandes estudiosos dessa espiral,
dedicou-lhe um tratado intitulado Spira Mirabilis (Espiral Maravilhosa). Bernoulli escreveu
que essa espiral “pode ser usada como um símbolo, tanto de vigor e constância na adversidade
quanto do corpo humano o qual, após todas as mudanças, até mesmo após a morte, será
restaurado ao seu exato e perfeito ser.” O matemático ficou tão impressionado com a beleza
da curva que pediu que essa forma e o lema que atribuiu a ela - “Eadem mutato resurgo”
(embora mudado, ressurjo o mesmo) - fossem gravados em seu túmulo. O lema descreve uma
propriedade fundamental exclusiva da espiral logarítmica: mesmo que o seu tamanho
aumente, ela não altera o seu formato, característica essa conhecida com auto-similaridade.
Dado o ponto O, a espiral logarítmica é uma curva tal que a amplitude do ângulo
uuur
formado pela tangente em qualquer dos seus pontos P com a semi-reta OP é constante, ou
seja, α é constante durante todo trajetória da espiral.

Temos como a equação genérica da espiral a equação polar r = aeθ cot α . Onde r
é o raio da espiral e a é o raio associado para θ = 0 , tal que θ é o ângulo em radianos
formado entre r e o eixo x .

FIGURA 13
64

Um erro comum é pensarmos que a espiral logarítmica está inscrita no retângulo


áureo. A verdade é que ela é aproximadamente igual à espiral formada pela sequência de
retângulos áureos (FIG.11), pelo fato de estarmos admitindo arcos circulares como uma
aproximação da curva real. Segue então o exemplo abaixo:

Construção 7.1. Construção aproximada da espiral logarítmica, dado o retângulo áureo.

Traçamos no retângulo ABCD dado, uma circunferência de centro em F e raio FD ,


determinando o arco DE . Em seguida, com centro em H e raio HE , traçamos uma
circunferência determinando o arco EG, e assim sucessivamente. Construímos, então, a
espiral logarítmica.

FIGURA 14

Existem, também, outros tipos de espirais como a espiral áurea triangular, (FIG.15),
que é formada pela uma sequência de triângulos áureos.
65

FIGURA 15

Essa espiral possui várias propriedades. Citaremos duas:

I) Dado o triângulo áureo FGH , se começarmos com o segmento HG tal que HG = 1 ,


verificamos que os lados dos triângulos áureos formam a sequência áurea vista anteriormente,
ou seja:

GF = 1φ
FE = 1φ + 1
ED = 2φ + 1
DC = 3φ + 2
CB = 5φ + 3
BA = 8φ + 5

II) Se traçarmos em cada triângulo áureo a mediana relativa ao vértice que contém o ângulo
72°, então os comprimentos dessas medianas formarão uma seqüência com as mesmas
propriedades da sequência áurea.
66

CAPITULO 8

8 - Onde podemos encontrar a Razão Áurea?

Buscamos essa resposta em Lívio (2007, p.79-145). As folhas, ao longo do galho de


uma planta, ou os talos, ao longo de um ramo, tendem a crescer em posições que otimizariam
sua exposição ao sol, à chuva e ao ar. À medida que um talo vertical cresce, ele produz folhas
em pontos com espaçamento bem regular. A passagem de uma folha para a seguinte (ou de
um talo para o seguinte ao longo dos ramos) é caracterizada por espaçamentos do tipo
parafuso em volta do ramo. Arranjos semelhantes de unidades que se repetem podem ser
encontrados nas camadas de uma pinha ou nas sementes de um girassol. Esse fenômeno é
chamado de phyllotaxis - em grego, arranjos de folhas. Também podemos encontrar um
conjunto de linhas espirais - conhecido como parastichies - em algumas plantas, como nas
camadas de uma pinha ou de um abacaxi.
Através de pesquisas, o botânico Karl Friedric Schimper e o seu amigo Alexander
Braun, e o cristalógrafo Auguste Bravais e seu irmão botâncio Louis, descobriram a regra
geral de que os quocientes filotáxicos poderiam ser expressos por razões de termos da série de
2 3
Fibonacci (como , duas voltas completas para passar por cinco ramos; ou , três voltas
5 8
completas para passar por oito ramos). Notaram, também, a aparição de números de Fibonacci
consecutivos nos parastichies de pinha e de abacaxis (a maioria dos abacaxis tem cinco, oito,
treze ou vinte e uma espirais de inclinação crescente na sua superfíce).
Outro exemplo é o náutilo, que cresce dentro de uma concha. Ele constrói câmaras
cada vez maiores, fechando as menores, que não são mais usadas. Cada aumento no
comprimento da concha é acompanhado de um crescimento proporcional no raio, de modo
que a forma permanece inalterada. Assim como a forma da espiral logarítma.
O biólogo Vance A. Tucker da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, EUA
descobriu que os falcões mantêm a cabeça em linha reta e seguem uma espiral logarítma.
Devido à propriedade eqüiangular da espiral, esse caminho lhes permite manter seu alvo à
vista enquanto maximiza a velocidade. Esse padrão espiral também pode ser percebido em
galáxias.
Muitos pintores também utilizavam ou utilizam a razão áurea em suas pinturas.
Podemos destacar: Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech - 1º Marquês de Púbol,
conhecido como Salvador Dali, Piero della Francesca, Leornardo da Vinci e o alemão
67

Albrecht Dürer. O matemático mais ativo deste trio ilustre foi Piero della Francesca, que teve
três trabalhos preservados: De Prospectiva pingendi (Sobre a perspectiva na pintura), Libellus
de Quinque Corporibus Regularibus (Livro curto sobre os cinco sólidos regulares), e Trattato
d’Abaco (Tratado sobre o ábaco). De Prospectiva pingendi - escrito em meados da década de
1470 até meados da década de 1480 - contém numerosas referências aos Elementos e à Óptica
de Euclides, pois ele estava decidido a demonstrar que a técnica para se obter a perspectiva
em uma pintura recaía firmemente na base científica da percepção visual. Já nos outros dois
trabalhos, Piero apresenta uma vasta gama de problemas (e suas soluções) que envolvem o
petágono e os cinco sólidos platônicos. Ele calcula os comprimentos dos lados e das
diagonais, além de áreas e volumes. Muitas das soluções envolvem a Razão Áurea e algumas
das técnicas representam um pensamento inovador e original.

Considerações finais

No momento em que nos propusemos conhecer um pouco mais sobre a razão áurea,
não sabíamos, exatamente, o tamanho do desafio. Tampouco tínhamos noção que esse era um
assunto não muito abordado. Mas, embora não tenhamos encontrado um vasto material
teórico, o que encontramos deu-nos a oportunidade de uma pesquisa interessante, ainda que
limitada.
Pudemos perceber, no decorrer deste trabalho, que a razão áurea tem a característica
de aparecer em lugares inesperados, talvez pelo fato de possuir propriedades únicas. Também
é um assunto capaz de despertar nas pessoas um entusiasmo muito grande. Percebemos,
ainda, que essa razão não é somente uma forma de relacionar a matemática ao mundo real,
mas também é a representação da vida através de um número. O certo é que estudiosos, não
sendo apenas de matemática, dedicaram-se durante muito tempo a desvendar os mistérios da
razão áurea.
Fica-nos a convicção de que este trabalho apenas demonstra uma pequena parte de
tudo que realmente a razão áurea é capaz de expor para os verdadeiros apreciadores do
mistério matemático. Ela é capaz de quantificar e qualificar a beleza.
68

Referências

[1] BOYER, Carl Benjamin. História da Matemática. São Paulo: Edgard Blucher, 1996.

[2] HUNTLEY, H.E. A divina proporção: um ensaio sobre a beleza na Matemática. Tradução
de Luís Carlos Ascêncio Nunes. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985. Título
original: The divine proportion: A study in mathematical beauty.

[3] LIVIO, Mario. Razão Áurea: A história de Fi, um número surpreendente. 2.ed. Rio de
Janeiro: Record, 2007.

[4] WAGNER, Eduardo. Construções Geométricas. 6.ed. Rio de Janeiro: Sociedade


Brasileira de Matemática, 2007.

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