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Tecnologia de Tratamento de

Resíduos
Cristina Aparecida Vilas Bôas de Sales
Oliveira
Cristiano Alves de Carvalho
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SUMÁRIO

1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS ........................................................... 3


2 ACONDICIONAMENTO E COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS ...................... 26
3 PROCESSO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ...................................................... 45
4 TRATAMENTO TÉRMICO DE RESÍDUOS .................................................. 69
5 RESÍDUOS INDUSTRIAIS ......................................................................... 81
6 DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS........................................................... 93

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1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS

Apresentação

A gestão dos Resíduos Sólidos tem por objetivo solucionar a grave problemática
relacionada ao tema desde a sua produção, coleta, tratamento e disposição final. É o
desafio da sociedade contemporânea minimizar os resíduos produzidos, diminuir a
exploração dos recursos naturais e aplicar o tratamento adequado. Neste Bloco vamos
entender a problemática da geração de resíduos no Brasil. Verificaremos os principais
conceitos envolvendo os resíduos sólidos, como as definições, classificação e
caracterização dos resíduos, além dos aspectos legais como a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS). Ao final deste bloco, você deverá ser capaz de discutir sobre
os problemas relacionados aos Resíduos Sólidos, fazer uma análise crítica sobre a
PNRS, bem como diferenciar e entender os principais conceitos relacionados ao tema.

1.1 Problemática da geração de resíduos

O Brasil possui uma área de 8.514.876,599 km2 sendo o 5º maior país em extensão
territorial do mundo, com uma população que supera a marca de 200 milhões de
habitantes de acordo com relatório do IBGE de 2020 (IBGE, 2020). A quantidade de
resíduos produzidos é diretamente proporcional ao crescimento populacional,
resultante do processo de urbanização, do padrão de qualidade de vida voltado ao
consumismo, e do aumento do poder de compra da população.

De acordo com o relatório da ABELPRE (2019), entre 2017 e 2018 houve um acréscimo
de 1% na produção de resíduos no Brasil o que significa em números absolutos
aproximadamente 217 mil toneladas. A produção média de resíduos por habitante no
Brasil está em torno de 1 kg/hab.dia. O questionamento que se faz acerca dessa
realidade é o que fazer com este número expressivo de resíduos produzidos
diariamente, encontrar uma forma de reaproveitarmos estes materiais nos processos
produtivos e como descartá-los sem ocasionar grandes impactos ambientais. Um dos
grandes desafios do mundo moderno é destinar adequadamente os resíduos sólidos
produzidos nos processos industriais, nas residências, da limpeza urbana, dos
estabelecimentos comerciais e hospitalares, entre outros.

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No Estado de São Paulo são produzidas cerca de 40 mil toneladas diárias de resíduos
sólidos domiciliares. A falta de tratamento ou a disposição final precária desses
resíduos podem causar problemas sanitários, ambientais e sociais, tais como a
disseminação de doenças, a contaminação do solo e das águas subterrâneas e
superficiais, a poluição do ar pelo gás metano e o favorecimento da presença de
catadores.

O atual cenário de desenvolvimento econômico e da sociedade de consumo


demonstram uma exploração acelerada dos recursos naturais e, portanto, uma
alteração do equilíbrio ecológico. Estudos apontam que o descarte inadequado de
resíduos é um grande problema de poluição ambiental uma vez que pode contaminar
o solo e os recursos hídricos além de aumentar a emissão de gases e material
particulado à atmosfera (Santaella, 2014).

A utilização de aterros sanitários para destinação dos resíduos é uma técnica muito
antiga e menos dispendiosa, sendo muito praticada em vários países incluindo o Brasil,
que ainda conta com um número expressivo de lixões e aterros controlados. Embora
seja uma tecnologia estabelecida na Política Nacional de Resíduos Sólidos para a
disposição final de resíduos, há uma grande preocupação devido aos passivos
ambientais inerentes do processo, como por exemplo a produção de lixiviados e
emissão de metano para a atmosfera além da utilização de grandes áreas por longos
períodos. Um aterro sanitário é um reservatório de resíduos, construído e implantado
sob condições estruturais e operacionais que visam minimizar os impactos
relacionados a contaminação do solo, dos recursos hídricos e da atmosfera, porém os
riscos potenciais são inerentes as atividades. (Lima, 2012).

O processo de decomposição da matéria orgânica nos aterros sanitários produz um


liquido de cor marrom denominado chorume que pode contaminar o solo e as águas
subterrâneas e superficiais, gera um gás composto basicamente por metano (CH 4) que
tem um potencial de aquecimento global superior ao dióxido de carbono (CO 2)
contribuindo de forma significativa com as mudanças climáticas, além dos locais de
disposição de resíduos serem fontes de atração de vetores e agentes transmissores de
doenças (Gouvêa, 2012).
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Uma alternativa ao aterro sanitário, muito utilizada principalmente em países


desenvolvidos, é a incineração que também apresenta aspectos negativos. O processo
requer condições específicas para o tratamento dos resíduos, como por exemplo o
teor de umidade e suas características são aspectos limitantes a utilização dos
incineradores. Este processo consiste num tratamento térmico a alta temperatura, que
acarreta na formação de substâncias tóxicas como as dioxinas e furanos, devido a
presença de elementos precursores de sua formação, por exemplo o cloro presente
nos plásticos. (Lima, 2012, Lora, 2013). Este tipo de tecnologia é recomendado ao
tratamento de resíduos industriais e de serviços de saúde devido a periculosidade que
os mesmos apresentam.

No Brasil a maior porcentagem de contribuição dos resíduos é a matéria orgânica, e


para tanto tem se disponível a compostagem, que tem por objetivo a produção de um
composto fertilizante a partir da decomposição aeróbia da fração orgânica dos
resíduos. Este processo requer o controle das condições ambientais para obtenção de
um produto de qualidade e garantir a eficiência do processo. Este processo requer a
instalação de um sistema de drenagem de percolados produzidos nas leiras de
decomposição e encaminhamento ao tratamento (Barros, 2012).

Para que as tecnologias descritas acima atinjam o seu objetivo principal é necessário
que seja implantado um programa de coleta seletiva que consiste na separação de
materiais em função da sua composição e características direto da fonte geradora.
Este programa visa destinar os resíduos para o reaproveitamento e a reciclagem, de
forma que possa ser utilizado na cadeia produtiva poupando os recursos naturais. As
vantagens da reciclagem são inúmeras como, por exemplo, a preservação de recursos
naturais; a geração de emprego e renda aos catadores de recicláveis e conscientização
da população para a preservação do meio ambiente. De acordo com CEMPRE (2018), o
Brasil possui mais de 700 municípios que implantaram um programa de coleta seletiva,
entretanto o custo do beneficiamento dos recicláveis é considerado superior ao custo
de matéria-prima primária inviabilizando o processo.

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1.2 Resíduos Sólidos: Definição, Classificação e Características

1.2.1 – Definição

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT, em sua NBR 10004/2004,


resíduos sólidos podem ser definidos como os materiais nos estados sólido e
semissólidos, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Incluem-se nesta categoria os lodos
provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e
instalações de controle de poluição, líquidos cujas características se tornem inviáveis
de lançamento na rede pública de esgotos ou recursos hídricos, ou aqueles materiais
que requerem soluções técnica e economicamente inviável diante das tecnologias
atualmente disponíveis (ABNT, 2004).

A política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) promulgada pela Lei 12305/2010 e


regulamentada pelo Decreto 7.004/2010 define resíduos como todo material ou
substância resultante de atividades antrópicas, podendo estar nos estados sólido ou
semissólido, gasoso ou líquido cujas características inviabilizem o seu lançamento na
rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou que exijam, para isso, soluções
técnicas para adequá-las ao lançamento ou disposição final ambiental adequada.
(Brasil, 2010 a; Brasil, 2010b).

A Lei 12305/2010 estabelece uma diferença entre resíduos e rejeitos. Os rejeitos são
os materiais que sobram dos resíduos sólidos após o seu reaproveitamento ou
reciclagem. Na PNRS a definição de rejeitos é dada por qualquer resíduo que após
esgotadas todas as possibilidades economicamente viáveis de reaproveitamento,
tratamento e recuperação, não oferece nenhuma possibilidade de utilização, restando
apenas a disposição final ambientalmente adequada em aterros, observando as
normas operacionais específicas para o descarte (Brasil, 2010a).

Conhecer os diferentes tipos de resíduos, as características e a classificação são


essenciais para o adequado gerenciamento, que serão importantes nas etapas de
acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final. O conhecimento
sobre as origens, características e periculosidade dos resíduos auxilia nas tomadas de
decisão por parte dos responsáveis pelo correto encaminhamento dos mesmos.
(Mambeli Barros, 2012).
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A seguir serão apresentadas as classificações baseadas na origem e periculosidade, as


características físicas, químicas e biológicas para efeitos de manejo, tratamento e a
disposição final ambientalmente adequadas.
1.2.2 Classificação em relação a origem e periculosidade
Os resíduos, devido as suas características, podem ser classificados em função da sua
origem e periculosidade conforme estabelecido nas normas NBR 10004 da ABNT e a
Lei 12305/2010 conforme exemplificado na Tabela 1.1 (ABNT, 2004; Brasil, 2010a)
Tabela 1.1. Classificação dos resíduos de acordo com as legislações vigentes
Classificação Tipos
a) resíduos domiciliares: Originários de atividades domésticas
(sobras de alimentos, garrafas de vidro, plásticos, embalagens,
papel higiênico, fraldas, descartáveis, entre outros resíduos
tóxicos como pilhas, baterias, solventes, inseticidas, etc.).
b) resíduos de limpeza urbana: resíduos de varrição, limpeza de
logradouros e vias públicas (folhas, galhos de árvores, terra,
areia).
c) resíduos sólidos urbanos: contempla os resíduos domiciliares e
de limpeza urbana.
d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de
serviços: Gerados nessas atividades, com exceção dos resíduos
Política Nacional de Resíduos Sólidos

domiciliares, de limpeza urbana, serviços de saúde, construção


civil, transporte. Contemplam os materiais de escritório, papel,
papelão, plástico, embalagens em geral.
Lei 12305/2010 –

e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico:


contemplam os lodos das Estações de tratamento de água e
Quanto à esgoto.
origem: f) resíduos industriais: Gerados nos processos produtivos e
instalações industriais. Sujeitos a implementação de plano de
gerenciamento de resíduos devido à importância desta categoria
de resíduos.
g) resíduos de serviços de saúde: Gerados nos serviços de saúde
(hospitais, clinicas, unidades de saúde). Sujeitos a implementação
de plano de gerenciamento de resíduos devido à importância
desta categoria de resíduos.
h) resíduos da construção civil: Gerados nas construções,
reformas, reparos e demolições de obras de construção civil,
incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos
para obras civis (contemplam os tijolos, concretos, madeira,
cerâmica, tintas e solventes, solos, argamassa, entre outros. Esta
classe de resíduos recebe uma classificação específica conforme
Resolução Conama nº307/2002) - Sujeitos a implementação de
plano de gerenciamento de resíduos devido à importância desta
categoria de resíduos

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i) resíduos agrossilvopastoris: Gerados nas atividades


agropecuárias e silviculturais (Contemplam resíduos perigosos
como embalagens de fertilizantes químicos e pesticidas). Estão
sujeitos a implementação de plano de gerenciamento de resíduos
devido à importância desta categoria de resíduos
j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos,
aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e
passagens de fronteira. Estão sujeitos a atendimento de medidas
sanitárias pelo risco de transmissão de doenças e disseminação
de pragas.
k) resíduos de mineração. São gerados na atividade de pesquisa,
extração ou beneficiamento de minérios. Para esta classe de
resíduos há normas específicas para remoção de poluentes como
bário, sulfetos, arsênios, óleos e graxas, chumbo, cádmio,
cianetos entre outros.
a) resíduos perigosos: Aqueles que, em razão de suas
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e
Quanto à
mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou
periculosid
à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma
ade:
técnica.
b) resíduos não perigosos: aqueles não enquadrados na alínea
“a”.
CLASSE I - PERIGOSOS: São resíduos que apresentam
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
toxicidade ou patogenicidade, com possibilidade de acarretar
riscos à saúde pública
CLASSE II – NÃO PERIGOSOS: São subdivididos em duas classes:

 Resíduos Classe II A- Não inertes = passíveis de apresentar


características de combustibilidade, biodegradabilidade ou
NBR 10.004 da ABNT

solubilidade, com possibilidade de acarretar riscos à saúde


Quanto ou ao meio ambiente, não se enquadrando nas
aos Riscos classificações de resíduos Classe I –Perigosos – ou Classe II
Potenciais B – Inertes.
 Resíduos Classe II B- Inertes = são resíduos que, ao serem
amostrados conforme NBR 10007 e submetidos a um
contato estático ou dinâmico com água destilada ou
deionizada, a temperatura ambiente, conforme teste de
solubilização segundo a norma NBR 10.006, não
apresentou nenhuma alteração de seus constituintes a
concentrações superiores aos padrões de potabilidade da
água, exceto aos padrões relacionados ao aspecto, cor,
turbidez e sabor conforme estabelecido na NBR 10.004.
Quanto a Lixo doméstico ou residencial
Natureza Lixo comercial
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ou Origem Lixo público


Lixo domiciliar especial: Entulho de obras, Pilhas e baterias,
Lâmpadas fluorescentes, Pneus.
Lixo de fontes especiais: Lixo industrial, Lixo radioativo, Lixo de
portos, aeroportos e terminais rodoferroviários, lixo agrícola,
resíduos de serviços de saúde.

1.2.3 Características dos resíduos

Os resíduos sólidos possuem características física, químicas e biológicas distintas entre


si e seu prévio conhecimento contribui para o correto gerenciamento dos mesmos.
Algumas dessas caraterísticas são influenciadas por aspectos como número de
habitantes por município, poder aquisitivo, escolaridade e hábitos da população
residente bem como as condições climáticas (CEMPRE, 2018).

Os parâmetros de geração consistem na taxa de geração por habitante (taxa per


capita) bem como o nível de abrangência de atendimento dos serviços públicos. A
composição gravimétrica do resíduo é obtida pela determinação do porcentual de seus
componentes como vidro, plástico, papel, metais, matéria orgânica, entre outros.

1.2.3.1 Características Físicas

As características físicas são importantes para o correto gerenciamento de resíduos, o


dimensionamento das unidades envolvidas no processo, as possibilidades de
reciclagem e tratamento mais adequadas além da disposição final. A seguir são
apresentadas algumas das características físicas mais relevantes.

Composição Gravimétrica

Característica que aponta as porcentagens das frações do lixo como por exemplo
papel, papelão, plástico matéria orgânica, metal, vidro, dentre outros. A caracterização
por frações apresenta o potencial econômico dos resíduos devido as possibilidades de
aproveitamento de materiais e avalia o melhor método para tratamento como, por
exemplo, a compostagem ou incineração.

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Para a caracterização gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos, a CETESB (1990)

recomenda o método do quarteamento que consiste em uma mistura em que a

amostra bruta é dividida em quatro partes iguais, denominadas de quartis. Dessas

quatro divisões, soma-se o conteúdo de dois quartis opostos entre si formando

novamente uma amostra, que será submetida a um novo processo de quarteamento

até que se obtenha uma amostra de volume desejável para a caracterização

gravimétrica ou físico química. Para a coleta das amostras devem ser contempladas as

diferentes áreas da cidade (regiões residenciais e comerciais, de bairros nobres e com

menos recursos) e também dias diferentes da semana (épocas de festas) (Barros,

2012).

As características dos resíduos variam em função da geração per capita, do grau de

desenvolvimento social e econômico. Verifica-se também uma diferença entre a

composição gravimétrica de alguns países como mostra na Tabela 1.2 (HABITZREUTER,

2008, Maciel (2009), (CEMPRE, 2018).

Tabela 1.2. Composição gravimétrica de RSU em diferentes países

Mat. Papel,
Países Plástico Metais Vidros Outros
orgânica papelão.
Estados Unidos 29 35,6 7,3 8,9 8,4 10,8
Japão 22,2 31,1 15,5 6,4 13,8 11
Reino Unido 23,4 33,9 4,2 7,1 14,4 17
Itália 42,1 22,3 7,2 3 7,1 18,3
Austrália 23,6 39,1 9,9 6,6 10,1 10,7
Coreia do Sul (Seul) 22,3 16,2 9,6 4,1 10,6 37,2
Áustria (Viena) 23,3 33,6 7 3,7 10,4 22
França (Paris) 16,3 40,9 8,4 3,2 9,4 21,8
Brasil (São Paulo) 64,4 14,4 12 3,2 1,1 4,9
México 54,4 20 3,8 3,2 8,2 10,4
Índia 78 2 0 0,1 0,2 19,7

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 Geração per capita

Esta propriedade mensura a quantidade diária de resíduos produzidos pela população


em um período específico. Geralmente refere-se à quantidade de lixo efetivamente
coletada pelos serviços públicos de limpeza urbana e a parte da população atendida.
Este parâmetro é extremamente importante para o dimensionamento da frota de
veículos coletores, das instalações e equipamentos necessários ao sistema de
gerenciamento dos resíduos. Conforme mencionado anteriormente, o padrão de
consumo da população influencia na contribuição per capita (Barros, 2012). Observa-
se também uma diferença na geração per capita entre as distintas regiões do Brasil,
notando inclusive valores distintos entre bairros de uma mesma cidade. No Brasil a
contribuição per capita varia entre 0,4 a 1,0 kg/hab.dia (Abelpre, 2019).

De acordo com o CEMPRE (2018) uma estimativa da quantidade de resíduos produzida


pela população atual e futura pode ser determinada a partir das equações a seguir:

 Geração de RSU atual: A x B x C0 (kg/dia);

 Previsão de geração de RSU futura: [A x (1 + D)n] x [B x (1 + E)n] x Ct (kg/dia).

Onde:

A – População atual;

B – Geração per capita de lixo (kg/hab.dia);

C0 – Nível de atendimento atual dos serviços de coleta de lixo (%);

D – Taxa de crescimento populacional (%);

E – Taxa de incremento da geração per capita de lixo (%);

Ct –Parcela de atendimento dos serviços de coleta após n anos (%);

n –Tempo considerado em anos.

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 Peso específico aparente

É uma propriedade dada pela relação entre o peso do resíduo (kg) não compactado (in
natura, sem compactação) e o volume ocupado (m3) cuja unidade é dada por kg/m3
conforme apresenta a equação abaixo:

Peso Específico (kg/m3) = Peso da Amostra (kg)/Volume do recipiente(m3)

A partir deste parâmetro é possível determinar a capacidade volumétrica dos veículos


de coleta de resíduos, transporte e no dimensionamento de unidades de disposição
final ambiental adequada (aterros sanitários), (Mambeli Barros, 2012). Quando não for
possível determinar o peso específico dos resíduos pode se utilizar os valores de
230kg/m3 para resíduos domiciliares, de 280kg/m 3 para resíduos de serviços de saúde
e de 1.300kg/m3 para entulhos (Monteiro, 2001).

 Teor de Umidade

Parâmetro que representa a quantidade de água contida na massa de resíduos sendo


mensurada a partir da relação entre o peso da amostra úmida (in natura) (a) em kg e o
peso da amostra após um processo de secagem (b) em kg conforme apresentado na
equação abaixo:

Umidade (%) = [(a-b)/a]*100

Esta característica é essencial para o correto dimensionamento dos equipamentos de


coleta, influencia no poder calorífico dos resíduos quando do aproveitamento
energético dos mesmos, na densidade e ainda na velocidade de decomposição da
fração biodegradável. Este parâmetro varia de acordo com a composição gravimétrica
dos resíduos bem como com a estação do ano, índice pluviométrico. Em média, o teor
de umidade dos resíduos varia entre 30 a 40% (Barros, 2012).

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 Grau de compressividade

Este parâmetro indica o grau de compactação ou redução de volume de uma


determinada massa de resíduos ao ser compactada. De acordo com Monteiro (2001),
ao ser submetida à pressão equivalente a 4kg/cm2, o volume de resíduos pode ser
reduzido em torno de um terço a um quarto do volume inicial. É importante
determinar este parâmetro para fins de dimensionamento da capacidade volumétrica
dos veículos de coleta e transporte de resíduos e da capacidade do aterro sanitário.

1.2.3.2 Características Químicas

 Poder Calorífico:

Segundo Nogueira & Lora (2003), o poder calorífico de um material corresponde ao


conteúdo de energia térmica liberada durante as reações químicas de combustão
completa para uma unidade de massa ou volume. A unidade representativa deste
parâmetro pode ser expressa em kJ/kg, kJ/m³, kcal/m³ ou kcal/kg.

A fração de matéria orgânica dos resíduos no Brasil varia em torno de 60% conferindo
a este, portanto, um bom potencial energético. De acordo com Lora (2008), o Poder
Calorífico Inferior (PCI) médio do resíduo domiciliar é de 1.300 kcal/kg (5,44 MJ/kg).

Deve -se ressaltar que o Poder calorífico varia muito em função das características dos
resíduos, por exemplos resíduos com alto teor de plástico apresentam alto poder
calorífico se comparado a resíduos com maior predominância de matéria orgânica.
(Barros, 2013). É um parâmetro essencial no dimensionamento de equipamentos
como incineradores pois quanto maior o poder calorífico, maior será a energia liberada
no reator para geração de energia, quando se pretende o aproveitamento energético
dos resíduos (CEMPRE, 2018, Barros, 2012).

 Composição química

Refere-se aos teores de cinzas, matéria orgânica, carbono, nitrogênio, potássio, cálcio,
fósforo, resíduo mineral total, resíduo mineral solúvel e gorduras. Resíduos orgânicos
apresentam maiores teores de C, H, N, S, O. Este parâmetro indica a tecnologia de
tratamento de resíduos mais adequada, especialmente se o objetivo for a
compostagem, incineração ou mesmo a disposição final ambiental adequada (aterros)
(Barros, 2012).
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 Relação C/N

O parâmetro carbono/nitrogênio indica o grau de decomposição da matéria orgânica


de resíduos quando submetidos a tratamento e ou disposição final. Em geral, essa
relação encontra-se na ordem de 35/1 a 20/1. (Barros 2013, CEMPRE, 2018). De
acordo com Barros (2012) uma alta relação C/N está diretamente relacionada a maior
degradabilidade dos resíduos. Este parâmetro é essencial para o controle da
decomposição de resíduos através de tratamento biológico, como por exemplo a
compostagem.

 Potencial hidrogeniônico (pH)

Os resíduos apresentam um teor de acidez e alcalinidade que varia em função da sua


composição química. Este parâmetro é denominado potencial hidrogeniônico (pH) que
indica o teor de acidez ou alcalinidade dos resíduos que varia entre 5 a 7.

Este parâmetro é extremamente importante para o processo de digestão dos resíduos


uma vez que variações inibem ou aceleram o processo de decomposição da massa de
resíduos quando dispostos em aterros sanitários ou em processos de tratamento,
como a compostagem por exemplo.

1.2.3.3 Características Biológicas

As características biológicas dos resíduos estão relacionadas aos tipos de


microrganismos e de agentes patogênicos presentes. Devido à presença e ao
metabolismo dos microrganismos, é possível traçar as tecnologias de tratamento e
disposição final ambientalmente adequada, uma vez que estes organismos
desempenharão um papel importante nas fases de decomposição dos resíduos. Os
tipos microrganismos presentes nos resíduos podem favorecer a decomposição
aeróbia (presença de oxigênio) ou anaeróbia (ausência de oxigênio) e, portanto,
influencia a tecnologia de tratamento e disposição final mais adequada (Mambeli
Barros, 2012; Monteiro, 2001).

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A caracterização biológica dos microrganismos presentes nos resíduos é essencial para


o caso de haver a necessidade de aplicar inibidores de cheiro em veículos de coleta
e/ou para acelerar ou retardar a decomposição da matéria orgânica presente no lixo.

1.3 Política Nacional de Resíduos Sólidos

A Lei 12.305, de agosto de 2010, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos que
passou a contar com instrumentos jurídicos para a gestão de resíduos no Brasil. Esta
política integra a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei 6.938/81), a Política Nacional
de Educação Ambiental (Lei 9.795/99) complementando a de Saneamento Básico (Lei
11.445/07) (Brasil, 2010 a).

A PNRS, em seu primeiro artigo, dispõe sobre princípios, objetivos e instrumentos


estabelecendo diretrizes para o gerenciamento dos resíduos sólidos, delega
responsabilidades aos geradores ao poder público e a sociedade bem como designa
instrumentos econômicos voltados ao setor. A PNRS torna todos os envolvidos no
processo como responsáveis pelo ciclo de vida dos produtos e, portanto, da gestão dos
resíduos. Esta lei trata de todos os tipos de resíduos com exceção dos rejeitos
radioativos que possui uma legislação específica (Lei nº 10.308/ 2001) (Brasil, 2020).

A PNRS estabelece os princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes para a gestão de


resíduos sólidos conforme apresentado na 1.3.

Tabela 1.3. Designações da Política Nacional de Resíduos Sólidos

Parâmetros Significado Principais exemplos


A prevenção e a precaução,
A visão sistêmica que considere as variáveis ambiental,
social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde
pública
Poluidor-pagador e o protetor-recebedor
Ideias básicas
Princípios Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
da Lei
produtos;
Reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e
reciclável como um bem econômico e de valor social,
geração de emprego e renda e promoção de inclusão
social;

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Proteção da saúde pública e da qualidade ambiental


Não geração, redução, reutilização, reciclagem e
tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição
O que se visa final ambientalmente adequada dos rejeitos
Objetivos alcançar com Adoção de padrões sustentáveis de produção e
esta lei consumo de bens e serviços
Utilização de tecnologias limpas
Gestão integrada de resíduos sólidos
Incentivo à indústria da reciclagem
Planos de resíduos sólidos
Coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras
ferramentas relacionadas à implementação da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
Procedimentos produtos
a serem
Educação ambiental;
utilizados para
Instrumentos Cooperação técnica e financeira entre os setores
se alcançar os
objetivos público e privado para o desenvolvimento de pesquisas
pretendidos de novos produtos, métodos, processos e tecnologias
de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de
resíduos e disposição final ambientalmente adequada
de rejeitos;
Pesquisa científica e tecnológica
Na gestão de resíduos deve ser seguida uma ordem de
Trata-se da prioridade: não geração, redução, reutilização,
linha de reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e
Diretrizes
trabalho a ser disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
seguida Cabe ao Distrito Federal e dos Municípios a gestão dos
resíduos sólidos
Fonte: (Brasil, 2020)

Compete ao poder público local o gerenciamento dos resíduos sólidos produzidos em


seus municípios, sendo este o responsável pela elaboração do Plano Municipal de
Gestão Integrada. O poder público local é o responsável por contratar os serviços de
coleta, transporte, tratamento e disposição final. A população possui a
responsabilidade de acondicionar adequadamente os resíduos para o bom
funcionamento do sistema de coleta.

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De acordo com a Lei 12.305/2010 a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida


do produto (que se refere às etapas de desenvolvimento do produto, da obtenção de
insumos e matérias-primas, o processo produtivo, o consumo final bem como a
disposição final) é um conjunto de atribuições a todos os envolvidos no processo,
desde fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores
finais até aos prestadores de serviços públicos de limpeza urbana, para reduzir a
quantidade de resíduos e rejeitos produzidos de forma a minimizar os impactos a
saúde pública e ao meio ambiente.

A responsabilidade compartilhada é uma espécie de responsabilidade solidária, que


tem por objetivo central garantir maior efetividade na proteção ambiental tornando
todos responsáveis pela gestão dos resíduos, promovendo a redução dos resíduos
gerados através do reaproveitamento e reciclagem; o estímulo para o
desenvolvimento de produtos e processos derivados de materiais recicláveis; e o
estímulo a boas práticas de sustentabilidade.

Dentre os instrumentos previstos na PNRS, a logística reversa caracteriza-se por um


conjunto de ações e procedimentos destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial após o consumo. Estes resíduos devem ser
reaproveitados no próprio ciclo produtivo ou como matérias primas em outros ciclos,
ou ainda quando não for possível sua utilização deve ser encaminhada a destinação
final ambientalmente adequada.

A Lei prevê que haja investimento no desenvolvimento de produtos aptos a reciclagem


e reaproveitamento com menor geração de resíduos e o devido recolhimento dos
resíduos remanescentes após o uso para reutilização e ou a destinação final
ambientalmente adequada.

A grande maioria dos resíduos encontrados no meio ambiente advém do setor de


embalagens e a PNRS estabelece que estas devem ser fabricadas com materiais que
propiciem a reutilização ou a reciclagem, que possuam volume e peso
correspondentes às dimensões necessárias para a proteção do produto, porém de
forma a minimizar a quantidade de resíduos.

17
,

De forma a garantir os objetivos previstos na Lei 12305/2010 os fabricantes,


importadores, distribuidores e comerciantes de embalagens e produtos considerados
perigosos ou tóxicos conforme listados abaixo ficam obrigados a implementar um
sistema de logística reversa, independente do serviço público de limpeza urbana.

 Agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, outros produtos considerados


perigosos;

 Pilhas e baterias;

 Pneus;

 Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

 Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;

 Produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

A logística reversa pode ser implementada em parceria com cooperativas de catadores


de materiais recicláveis e, desde que apresente viabilidade econômica, pode se
estender a outros tipos de embalagens como, por exemplo, vidro, metal e plástico
(Brasil, 2010 a).

De acordo com Santos (2017) inúmeros são os benefícios da logística reversa,


principalmente aqueles voltados à proteção ao meio ambiente, devido a redução da
extração de recursos naturais, diminuição de resíduos com a reutilização e reciclagem
de produtos; redução do consumo de água e energia nos processos de fabricação de
insumos primários, melhoria da imagem da empresa perante o mercado acarretando
em marketing verde, observa-se um aumento nos lucros da empresa, pois a prática de
reutilização de resíduos (matéria-prima) promove a redução de custos de compra de
insumos.

A Fonte: Adaptado de Soares, 2016

Figura 1.1 apresenta um esquema do sistema de logística reversa e responsabilidade


compartilhada, conforme previsto na PNRS.

18
,

Fonte: Adaptado de Soares, 2016

Figura 1.1. Logística reversa e responsabilidade compartilhada

Segundo Oliveira (2013) a coleta seletiva e a reciclagem são instrumentos previstos na


PNRS que são essenciais para a implantação da responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos e a promoção da inclusão social. A coleta seletiva é definida
como a coleta de resíduos previamente separados de acordo com sua composição
gravimétrica e destinados ao reaproveitamento e reciclagem. Vale ressaltar a
importância estratégica da coleta seletiva para atender os princípios da
sustentabilidade através de programas de educação ambiental, da geração de trabalho
e renda à população menos favorecida.

A reciclagem é um processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a


alteração de suas propriedades física, química ou biológica, de forma a transformá-los
em insumos para novos produtos ou no mesmo ciclo produtivo original. A reutilização,
ao contrário da reciclagem, trata do aproveitamento dos resíduos sem sua
transformação.

19
,

A coleta seletiva e a reciclagem contribuem para a proteção do meio ambiente devido


a redução do consumo de energia e água dos processos produtivos, redução da
extração de recursos naturais, aumento da vida útil dos aterros, promove a redução do
desperdício, reduz os recursos financeiros destinados a limpeza urbana, proporciona
benefícios econômicos às indústrias que aproveitam materiais primas recicláveis mais
baratas, além de ter uma apelo social significativo com a geração de emprego e renda
pela comercialização dos recicláveis.

A PNRS prevê que os resíduos sejam submetidos a tratamento para redução de volume
e periculosidade. O tratamento de RSU consiste de uma série de procedimentos
físicos, químicos e biológicos de forma a reduzir a carga poluidora, reduzir os impactos
sanitários negativos além de promover o beneficiamento econômico do resíduo. No
Brasil, a prática utilizada com os resíduos é a disposição em aterros sanitários,
enquanto em países desenvolvidos tiveram um avanço tecnológico significativo que
proporcionou o aproveitamento energético de matérias primas na cadeira produtiva e
inúmeros ganhos ambientais. A Tabela 1.4 apresenta as principais tecnologias de
tratamento disponíveis para a destinação adequada de resíduos sólidos (Jucá, 2014).

Tabela 1.4. Tecnologias de Tratamento de Resíduos

Tecnologia de
Tratamento Processo Evolução Produtos Inovação
Recuperação dos
Coleta Seletiva, Matéria-
resíduos - Energia
Tratamento Prima para
Triagem Físico Derivada dos
Mecânico - reciclagem
Resíduos (Waste to
Biológico e energia
Energy- WTE)
Agricultura e Energia
Biodigestores Composto
Tratamento derivada dos
Biológico Anaeróbios, orgânico e
biológicos resíduos (Waste to
Compostagem Energia
Energy)
Vapor e Energia Derivadas
Físico- Tratamento
Incineração Energia dos Resíduos (Waste
Química Térmico
Elétrica to Energy)
Energia Derivadas
Físico, Reator Anaeróbio, Biogás
Aterros dos Resíduos (Waste
Químico e Tratamento da (Energia) e
Sanitários to Energy) e
Biológico Matéria Orgânica lixiviado
Fertilizantes

20
,

A PNRS conceitua destinação final ambientalmente adequada como aquela que inclui a

reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento

energético ou outras destinações como, por exemplo, a disposição final desde que

atendam aos requisitos legais para evitar riscos à saúde pública e ao meio ambiente.

Ao serem esgotadas as possibilidades de reutilização, reciclagem e tratamento, a lei

estabelece que os resíduos, agora categorizados como rejeitos, devam ser dispostos de

forma ambientalmente correta, através do que conceitua como disposição final

ambientalmente adequada. Esta disposição trata da distribuição ordenada de rejeitos

em aterros sanitários, observando as normas operacionais específicas de forma a

evitar danos à saúde pública e ao meio ambiente.

Para atender os objetivos propostos na lei, a PNRS estabelece alguns instrumentos

econômicos como, por exemplo, a instituição de linhas de financiamento para

empresas que visam a prevenção e redução da geração e resíduos, aquelas destinadas

ao desenvolvimento de produtos que gerem menor impacto ambiental, às iniciativas

de implantação de infraestrutura destinada a associação de catadores de recicláveis e

a coleta seletiva e logística reversa, os planos de gerenciamento de resíduos (Brasil,

2010a).

A Lei 12.305/2010 estabelece a elaboração de Planos de Gerenciamento de Resíduos

Sólidos aos geradores de resíduos de Serviços Públicos de Saneamento Básico,

Resíduos Industriais, de Serviços de Saúde e de Mineração, aos estabelecimentos

comerciais que produzam resíduos perigosos ou de grande volume como é o caso dos

resíduos da Construção Civil e, por fim, os resíduos derivados dos serviços de

transporte e do segmento agrosilvopastoris (Becker, 2013).

21
,

De acordo com a PNRS um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos deve

descrever o empreendimento ou atividade; apresentar um diagnóstico dos resíduos

sólidos gerados informando a origem, o volume e a caracterização dos mesmos; e

incluir os passivos ambientais relacionados ao desempenho das atividades. O plano

deve contemplar ainda os envolvidos no processo apontando os responsáveis pelas

etapas do gerenciamento; os procedimentos operacionais; apresentar a identificação

das soluções compartilhadas com outros geradores se for o caso; descrever as ações

preventivas e corretivas em casos de emergências; as metas previstas para redução da

geração de resíduos; e as ações relacionadas a responsabilidade compartilhada pelo

ciclo de vida dos produtos. O plano de Gerenciamento de resíduos sólidos constitui

item obrigatório da documentação necessária para obtenção das licenças ambientais

do empreendimento (Brasil, 2010 a, Becker, 2013).

Conclusão

Neste bloco você aprendeu os principais conceitos envolvendo a temática resíduos


sólidos, a problemática envolvendo o descarte inadequado, o quanto o desperdício
promove a geração descontrolada de resíduos e como impactam o meio ambiente.
Foram apresentadas as principais características físicas, químicas e biológicas e a
classificação dos resíduos quanto a origem e periculosidade. Por fim foram abordados
os principais aspectos da Política Nacional dos Resíduos Sólidos que vem estabelecer
as diretrizes.

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das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. 2019. Disponível em:
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Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador
para a Implantação dos sistemas de Logística Reversa e dá outras providências. Diário
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_____. Lei N° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
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2005.

25
,

2. ACONDICIONAMENTO E COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS

O acondicionamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) é uma etapa essencial no


processo de gestão dos mesmos e consiste em prepará-los para a coleta de forma
sanitariamente adequada, compatível com o tipo e quantidade de resíduos. As etapas
de acondicionamento dos RSU, o sistema de coleta e transporte devem priorizar a
qualidade, produtividade e o baixo custo. (CEMPRE, 2018; Monteiro, 2001).

Apresentação

Neste bloco veremos as formas de acondicionamento, a coleta de resíduos sólidos e


sua importância estratégica para o bom gerenciamento de resíduos, especialmente
quando se pretende a reciclagem dos materiais presentes no lixo. A coleta seletiva
constitui uma alternativa eficaz na preservação do meio ambiente e na geração de
renda para a população. No decorrer deste material serão apresentados os parâmetros
necessários para o dimensionamento do serviço de coleta de resíduos e os principais
aspectos relacionados a unidade de triagem de resíduos e unidades de transferência.

2.1 Acondicionamento de Resíduos

De acordo com Barros (2013), o acondicionamento deve ser realizado no ponto de


geração dos resíduos, em recipientes mecânica-quimicamente compatíveis com as
suas características, ressaltando, portanto, a necessidade de se conhecer a origem e
características dos mesmos.

Geralmente, os resíduos urbanos são acondicionados em sacos plásticos comuns,


entretanto, deve se levar em consideração a estanqueidade e resistência dos
recipientes para evitar rompimentos, vazamentos entre outros aspectos (Barros,
2013).

A etapa de coleta e transporte dos resíduos depende do processo de


acondicionamento, armazenamento e da disposição dos recipientes no local, dia e
horários estabelecidos pelo sistema de limpeza urbana do município. Todos os
envolvidos no processo, desde os estabelecimentos comerciais, industriais, de serviço
de saúde, incluindo a população, são responsáveis pelo correto acondicionamento.

26
,

De acordo com Monteiro (2001) o correto acondicionamento evita acidentes; a


proliferação de vetores reduz o impacto ambiental, promove a homogeneização dos
resíduos quando aplicada a segregação e coleta seletiva além de facilitar; e a coleta e
transporte dos mesmos.

Embora seja uma prática recomendada, ainda se observa em diversas regiões o


descarte inadequado de resíduos, com pontos de acúmulo a céu aberto, tornando-se
fontes para atração de animais que podem rasgar os sacos plásticos e espalhar os
resíduos, ocasionando danos ao meio ambiente e à saúde pública (Monteiro, 2001,
Barros, 2013).

Do ponto de vista epidemiológico, os resíduos sólidos são uma fonte de transmissão de


doenças através de macro e microrganismos presentes nos resíduos ou que possa ser
atraído por eles, uma vez que podem fazer uso destes como fontes de alimentos ou
abrigo. Entre os vetores mais comuns destacam-se os ratos, baratas, moscas, vermes,
bactérias, fungos entre outros patogênicos. Outro aspecto relacionado a transmissão
de doenças pelo acondicionamento inadequado, se dá através do contato da
população ou dos profissionais da área de limpeza pública, com organismos
patogênicos no manuseio dos resíduos. (Barros, 2012). Os profissionais que atuam
diretamente com sistema de limpeza devem utilizar Equipamentos de Proteção
Individual (EPI) e ser vacinados contra tétano e hepatite para o caso de ocorrer algum
acidente na atividade desenvolvida (Barros, 2012).

O acondicionamento de resíduos sólidos urbanos geralmente é realizado através de


diferentes recipientes, entre eles os sacos plásticos (sacolinhas), vasilhames metálicos
(latas) ou plásticos (baldes), caixotes de madeira ou caixas de papelão, contêineres
metálicos ou plásticos (lixeiras) localizados nas calçadas das ruas, entre outros. Deve se
destacar que a capacidade do recipiente deve atender os critérios de resistência e
volume de resíduos a serem armazenados, da putrescibilidade dos orgânicos que varia
entre regiões, da durabilidade e da frequência da coleta (Barros, 2013; Barros, 2012).

27
,

O acondicionamento de resíduos em sacolas plásticas possui inúmeras vantagens


como, por exemplo, a vedação dos resíduos, o custo, a praticidade, entretanto, devido
à baixa degradabilidade deste material torna-se um grande problema ambiental. O
plástico, devido à baixa velocidade de degradação, ainda retarda a decomposição dos
materiais acondicionados em seu interior, uma vez que dificulta a entrada de oxigênio,
quando se pretende a decomposição aeróbia dos resíduos (Barros, 2012).

Barros (2013) ressalta que os domicílios produzem resíduos classificados como


perigosos tais como pilhas; baterias; óleos e graxas; lâmpadas; lubrificantes; dentre
outros, que a luz da PNRS, devido a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
dos produtos, enquadra o consumidor e ou produtor/comerciante como responsável
por sua correta destinação final. Para atender os requisitos da PNRS existem os Locais
de Entrega Voluntária dos resíduos considerados perigosos em comércios e
revendedores de tais produtos. Para acondicionar as pilhas, recomenda-se a utilização
de sacos plásticos individuais para prevenir eventuais vazamentos de substâncias. Para
as lâmpadas fluorescentes devem ser armazenadas em recipientes rígidos para evitar
quebra e com a indicação da potência que está diretamente relacionada com a
quantidade de mercúrio.

O gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos é de incumbência do município,


entretanto, os grandes geradores são os responsáveis pela gestão dos seus resíduos,
inclusive o acondicionamento e coleta mediante licenciamento do órgão ambiental. Os
recipientes de acondicionamento dependem das características dos resíduos gerados.

Os resíduos da construção civil, devido ao volume e peso específico, devem ser


armazenados em contêineres metálicos ou de PEAD (Polietileno de Alta Densidade),
sendo de responsabilidade do gerador.

De acordo com Santos (2017), os resíduos de serviço de saúde provenientes de


unidades de atendimento médico assistencial, clinicas, centros de pesquisa,
necrotérios, funerárias, de barreiras sanitárias e medicamentos, correspondem a 3%
dos Resíduos sólidos produzidos no Brasil considerando uma produção diária de
1kg/hab.

28
,

Por se tratar de resíduos com teor de periculosidade, o acondicionamento dos


resíduos de serviços de saúde (RSS) deve ser acondicionado, de forma a evitar riscos
ocupacionais nos ambientes de trabalho ou qualquer tipo de contaminação à
população, conforme disposto na RESOLUÇÃO RDC Nº 222/2018. (Brasil/ ANVISA,
2018).

Estes resíduos possuem uma classificação própria em decorrência das suas


características, e o acondicionamento deve ser compatível para atender os requisitos
na legislação conforme descrito na Tabela 2.5. (Santos, 2017; Brasil/ANVISA, 2018;
Barros, 2012). A RDC estabelece que os recipientes de armazenamento de resíduos
atingirem 2/3 da sua capacidade devem ser descartados, não podendo ser
reaproveitados.

Tabela 2.5. Acondicionamento de resíduos de serviço de saúde

Classe de Resíduos de
Serviço de Saúde Tipos de resíduos Acondicionamento
Sacos plásticos brancos
leitosos (os que não
Sondas, curativos, luvas de
precisam de
A- Resíduos procedimentos, culturas e os
tratamento) e vermelho
Biológicos- estoques de microrganismo, peças
(quando requer
Potencialmente anatômicas, linhas arteriais,
tratamento),
Infectantes endovenosas e dialisadores, Órgãos,
identificados com
tecidos e fluidos orgânicos
símbolo universal de
substâncias infectantes
Produtos farmacêuticos, Sacos plásticos brancos
desinfetantes, materiais contendo leitosos, identificados
metais pesados; reagentes para com símbolo universal
B- Resíduos Químicos
laboratório, processadores de de substâncias
imagem (reveladores e fixadores), inflamáveis, tóxicas e
resíduos de análises clínicas corrosivas
Recipientes blindados,
Rejeitos radioativos de laboratórios identificados com o
C- Resíduos
de análises clínicas, serviços de símbolo de substâncias
Radioativos
medicina nuclear e radioterapia radioativas e tempo de
decaimento
Sacos plásticos preto,
preferencialmente de
D- Resíduos Comuns Equivalente aos resíduos domiciliares forma segregada para
encaminhamento a
coleta seletiva

29
,

Recipientes rígidos
(caixa de papelão
amarela padronizadas
E- Resíduos Agulhas, seringas, lâminas de bisturi, ou em bombonas de
Perfurocortantes ampolas de medicamentos PVC) identificadas com
o símbolo de
substâncias
perfucortantes

Os resíduos de serviço de saúde são transportados internamente para um local de


armazenamento temporário, denominado Sala de Resíduos para que aguardem o
envio para o local de armazenamento externo. Na sala de resíduos, os sacos plásticos
não podem ficar armazenados diretamente no chão, e os de rápida decomposição
devem ser refrigerados. O armazenamento externo dessa classe de resíduos deve ser
composto por contêineres instalados em salas de fácil acesso aos veículos coletores.
Neste local os sacos plásticos devem ser armazenados no interior dos recipientes
(Brasil/ ANVISA, 2018).

Os resíduos industriais possuem características diversas, geralmente são subprodutos


de processos de transformação, resíduos perigosos o que requer o acondicionamento
em recipientes que garantam a estanqueidade, resistência mecânica e química para
evitar vazamentos.

A NBR 12235/1992 (ABNT, 1992) estabelece os requisitos para o acondicionamento de


resíduos classificados como perigos como forma temporária para ser encaminhado a
reciclagem, recuperação, tratamento ou a disposição final em aterros deve ser
realizado em contêineres, tambores, tanques e/ou a granel.

As maneiras mais usuais de acondicionamento de resíduos sólidos são através de


tambores metálicos de 200 litros para resíduos sólidos sem características corrosivas,
bombonas plásticas para resíduos sólidos com características corrosivas, sacos de
polipropileno trançado com capacidade de armazenamento superior a 1m 3,
contêineres plásticos padronizados com possibilidade de reutilização, caixas de
papelão indicados para resíduos destinados a incineração (Monteiro, 2001).

30
,

A NBR 12235/1992 determina que os locais de armazenamento de resíduos perigosos


sejam em áreas cobertas, com boa ventilação, instalados sob estruturas de concreto
de forma que os lixiviados gerados não atinjam o lençol freático, contaminem o solo
ou recursos hídricos superficiais. Os resíduos perigosos, dependendo das suas
características, não devem ser acondicionados juntos, devido ao risco de reações
química provocarem explosões, liberar gases tóxicos, promover a lixiviação de
substâncias tóxicas (ABNT, 1992).

2.2 Coleta e transporte de Resíduos

O serviço de coleta de resíduos consiste em reunir os resíduos previamente


acondicionados e encaminhar a destinação final, que pode ser a unidade de
tratamento ou o aterro sanitário. A coleta de resíduos domésticos, comerciais e dos
públicos é de responsabilidade da prefeitura, os resíduos de grandes geradores e
envolve.

O sistema de coleta de resíduos sólidos considera o porte da cidade, a topografia do


município, o plano viário, as condições de tráfego, a estrutura dos pavimentos das
ruas, as diferenças de regiões dentro do município (zona residencial, comercial e
industrial), as quantidades e características dos resíduos a serem coletadas e a
destinação final. Em função de todos os aspectos relacionados à coleta de resíduos,
especialmente os custos envolvidos, deve se implantar um sistema de coleta seletiva,
preferencialmente na fonte geradora, para melhorar a eficiência do processo de
gestão dos resíduos.

De acordo com Barros (2012), o sistema de coleta de resíduos pode ser dividido em
quatro categorias: sistema regular ( destinado a residências e comerciais e industriais
de pequeno porte para coleta em intervalos previamente determinados), a coleta
especial (realizada mediante escala ou por demanda), coleta pelo próprio gerador
(indicada para recolha de grandes volumes de resíduos, geralmente os industriais,
entulhos) e a coleta seletiva (consiste na separação dos materiais por categorias
diretamente na fonte geradora, os recicláveis devem ser encaminhados as unidades de
reciclagem ou tratamento).

31
,

Com a publicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), (Brasil, 2010a) que
reconhece o resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem de valor econômico e
social, tem-se observado a implantação de programas de coleta seletiva de forma a
promover inclusão social, aumentar a renda da população e ainda diminuir os
impactos ambientais com a redução da extração de recursos naturais, diminuir os
riscos de contaminação do meio ambiente aumentar a vida útil do aterro sanitário
(Conke, 2018).

A coleta seletiva se baseia na tecnologia para realização da segregação e reciclagem,


no mercado para comercialização dos recicláveis e na sensibilização da população que
é essencial na etapa de separação e acondicionamento adequado dos resíduos
(Cempre, 2018).

Um bom sistema de coleta seletiva requer a participação de todos os envolvidos no


ciclo de vida dos produtos. A coleta seletiva proporciona inúmeras vantagens como,
por exemplo, a obtenção de recicláveis de boa qualidade evitando a contaminação
com outros materiais, reduz a quantidade de resíduos direcionadas aos aterros
prolongando a vida útil do mesmo, possibilita agregar valor econômico e social aos
materiais recuperáveis gerando renda aos catadores. Para atender os objetivos
propostos com a coleta seletiva são necessários recursos e materiais, aumentando os
gastos nesta etapa do gerenciamento dos resíduos e os recicláveis precisam ser
segregados na fonte para evitar contaminações (Cempre, 2018).

No que diz respeito ao aumento da vida útil do aterro sanitário é possível mensurar o
benefício da coleta seletiva através de um indicador denominado taxa de desvio do
lixo, que considera a taxa de lixo domiciliar e a quantidade de recicláveis, sendo
expressa pela equação a seguir:

Equação 2.1 Taxa de desvio do lixo

32
,

A coleta seletiva pode ser realizada de Porta a Porta, Postos de Troca ou através dos
Pontos de Entrega Voluntária (PEV). A coleta porta a porta promove o recolhimento
dos recicláveis diretamente na fonte geradora, pelo poder público ou catadores, sendo
necessários equipamentos e veículos adequados. Geralmente a coleta seletiva na
modalidade porta a porta ocorre em dias distintos da coleta convencional. A coleta
através de pontos de entrega voluntária consiste em disponibilizar contêineres ou
recipientes específicos com o nome do reciclável a ser disposto, em locais estratégicos
para que o cidadão possa encaminhar os resíduos neste ponto. No caso da coleta em
postos de troca é um tipo de recolha de recicláveis baseado na troca do material por
um bem ou benefício como, por exemplo, alimentos, vale transporte, descontos, entre
outras formas. (Cempre, 2018, Barros, 2012). Cada tipo de coleta seletiva apresenta
vantagens e desvantagens como, por exemplo, na entrega porta a porta a
disponibilidade do serviço é considerada fraca, pois depende da frequência de coleta.
Já para a modalidade ponto de entrega voluntária é permanente, pois depende do
cidadão se dirigir ao local indicado. No que diz respeito a adesão da coleta seletiva, a
modalidade porta a porta apresenta um percentual maior, pois o sistema de coleta
diretamente na fonte geradora, favorece que o mesmo colabore com o sistema e
ainda pode se contar com o incentivo por parte de vizinhos ou administradores de
condomínios por exemplo. No PEV a adesão é progressiva, pois depende muito de
ações de sensibilização da comunidade para aderir ao programa, o que, neste caso, é
um processo mais lento (Barros, 2012).

De acordo com Barros (2012) a frequência e horário de coleta de resíduos sólidos


urbanos são parâmetros importantes no processo de gerenciamento dos resíduos. A
frequência representa o número de vezes que o sistema de limpeza urbana recolhe os
resíduos em um determinado setor da cidade. O estabelecimento da frequência da
coleta deve considerar a quantidade de resíduos gerados, a periculosidade e
putrescidade dos mesmo para minimizar odores e presença de animais. O horário de
coleta deve considerar o trafego da cidade, especialmente em horários de picos em
grandes centros, das características dos veículos e estrutura viária do município e dos
recursos financeiros disponíveis para o atendimento da demanda.

33
,

A coleta realizada no período diurno é mais barata, possibilita fiscalização dos serviços
prestados, entretanto impacta no tráfego de veículos e é menos produtiva devido as
baixas velocidades de trânsito. A coleta noturna é recomendada para áreas comerciais
e turísticas devido à baixa circulação de pessoas neste horário, não interfere no
transito local, como podem desenvolver maiores velocidade promovem maior
produtividade do serviço, entretanto pode causar incômodo aos residentes devido ao
ruído, dificulta a fiscalização dos serviços prestados, maior custo de mão de obra
devido aos encargos trabalhistas, dentre outros aspectos (Barros, 2012).

A NBR 12810/2020 (ABNT, 2020a) estabelece as diretrizes para a coleta de resíduos de


serviço de saúde. Por se tratar de resíduos contaminados, contagiosos, a coleta deve
ser realizada diariamente, assim como o transporte externo dos mesmos à unidade de
tratamento ou disposição final, tomando todos os cuidados para evitar contaminação,
acidentes de trabalho, preservando a integridade dos colaboradores e a conservação
do meio ambiente. Os resíduos industriais classificados como perigosos seguem as
diretrizes da NBR 7500:2020 (ABNT, 2020b) que estabelece as condições de transporte
terrestre de produtos perigosos.

Para o bom planejamento do serviço de coleta devem ser levados em conta o


dimensionamento da frota de veículos e equipamentos, o quadro de colaboradores, a
regularidade dos serviços prestados, os horários da coleta, os itinerários e os pontos
de destinação baseados na estimativa de resíduos a serem coletados. Deve-se levar em
conta a necessidade de ampliação dos serviços baseados na projeção futura de
geração de resíduos no município.

Segundo Cempre (2018), o dimensionamento da frota de veículos deve considerar:

 Mapa geral do município;

 Veículos da frota e respectivas capacidades;

 Localização de pontos importantes do serviço como garagem de veículos,


ponto de descarga, grandes geradores;

 Determinação do volume e peso específico dos resíduos;


34
,

 Definição dos setores de coleta;

 Estimativa da quantidade de resíduos por setor;

 Parâmetros operacionais do serviço por setor (distância entre a garagem e o


ponto de coleta; distância do setor de coleta ao ponto de descarga ou unidade
de transbordo; extensão das vias do setor; velocidade média dos veículos
coletores).

O dimensionamento da frota de veículos coletores de resíduos é dado pela formulação


matemática representada pela Equação, que considera o tempo necessário para a
coleta dividido pelo tempo da jornada de trabalho. O tempo necessário para a coleta é
dividido em três partes, o tempo total de percurso para coleta (L/Vc); o tempo de
percurso entre a garagem e o setor de coleta e o retorno do veículo (2(Dg/Vt)); e o
tempo de ida e volta ao local de destinação final para descarga dos veículos, que
considera o tempo de ida e volta (2(Dg/Vt)) multiplicado pelo número de viagens
necessárias pela descarga (Q/C) (Cempre, 2018).

Onde:

 Ns: Número de caminhões necessários para atender a um determinado setor;

 J (horas): duração útil da jornada de trabalho;

 L (km): extensão total das vias (ruas e avenidas) do setor de coleta;

 Vc (km/h): velocidade média de coleta;

 Dg (km): distância entre a garagem e o setor de coleta;

 Vt (km/h): velocidade média de transporte (da garagem até o setor e do setor


até a descarga em vice-versa);

35
,

 Dd (km): distância entre o setor de coleta (centro geométrico) e o ponto de


descarga;

 Q (t ou m3): quantidade total de lixo a ser coletada no setor;

 C (t ou m3): capacidade dos veículos de coleta. Considera-se um valor que


corresponde a 70% da capacidade nominal.

A frota total não corresponde ao somatório de veículos utilizados em cada setor, pois a
coleta pode ser realizada em dias e horários alternados. Deve-se considerar o maior
número de veículos utilizados simultaneamente, ou seja, a quantidade necessária em
um mesmo dia e horário, além de considerar um adicional de 10% para reserva e
manutenção e emergências.

Exercício de aplicação

A cidade de Delfim Moreira está localizada no estado de Minas Gerais e é subdividida


em 3 setores de coleta, “1”, “2” e “3”, que representam regiões homogêneas em
termos de geração de lixo per capita e uso e ocupação do solo. O setor “1” e “2” são
áreas residenciais, e o setor “3” área comercial. A coleta no setor “1” e “2” é diurna e
alternada e no setor “3” é noturna e diária. No setor “1” coleta-se 90% do resíduo
gerado, no setor “2” coleta-se 60% e no setor “3” coleta-se 100%. No setor 3 são
gerados mais 2,0 t/dia de resíduos comerciais sob responsabilidade da prefeitura.

A seguir os dados da cidade de Delfim Moreira que deverão ser considerados no


cálculo da frota.

 População atendida:

 Setor 1 - 2.375 habitantes;

 Setor 2 - 1.500 habitantes;

 Setor 3 – 1.000 habitantes;

36
,

 Extensão das vias de coleta:

 Setor 1 - 8,0 km;

 Setor 2 - 11 km;

 Setor 3 - 6,0 km;

 Produção percapita: 1,0 kg/hab.dia;

 Distância da garagem ao setor de coleta:

 Setor 1 - 4,5 km;

 Setor 2 - 5,0 km;

 Setor 3 – 2,4 km;

 Distância do setor à estação de transbordo:

 Setor 1 - 4,5 km;

 Setor 2 - 6,4 km;

 Setor 3 - 2,0 km;

 Velocidade média de coleta e transporte:

 Vc = 4,0 km/h;

 Vt = 30,0 km/h.;

 Duração da jornada: 7 horas:

 Capacidade do caminhão compactador: C = 10 m3:

 Use 70% do total de capacidade:

 Peso específico lixo compactado = 600 kg/m3.

37
,

Calcule a geração total de resíduos coletados por setor e a frota total necessária para
seu atendimento.

Setor 1 Setor 2 Setor 3


QS1 = 2375*1,0 = 2375 QS2 = 1500*1,0 = 1500 QS3 = 1000*1,0 = 1000
kg/dia kg/dia kg/dia

Setor 1: coleta alternada: a cada 2 dias (2ª, 4ª e 6ª feiras)

O total de RSU coletado é dado pela quantidade gerada multiplicado por 2, uma vez
que o enunciado afirma que é realizado em dias alternados (dia sim e dia não), o que
indica um acúmulo de resíduos correspondente a dois dias. O enunciado afirma que
90% dos resíduos são coletados, portanto, deve multiplicar por esta porcentagem.

Total coletado no setor 1- S1 = QcoletadoemS1 = 2QS1. = 4750 kg x90% = 4275 kg

Aplicando os valores na fórmula acima temos:

NS1 = 1/7{(8/4)+2*(4,5/30)+2*((4,5/30)(( 4275/600)/(10*0,70))= 0,372  1 caminhão.

Setor 2: coleta alternada: a cada 2 dias (3ª, 5ª e sábado).

Total coletado no setor 2 = QcoletadoemS2 = 2QS2. = 3000 kg x60% = 1800 kg

NS2 = 1/7{(11/4)+2*(5/30)+2*((6,4/30)((1800/600)/(10*0,70))= 0,467  1 caminhão

Setor 3: coleta diária (2ª a sábado).

Neste setor a coleta é realizada diariamente e 100% dos resíduos são coletados.

Total coletado em S3 = QcoletadoemS3 = QS3+2t/dia = 1000 kg+2000kg = 3000 kg

38
,

NS3 = 1/7{(6/4)+2*(2,4/30)+2*((2/30)((3000/600)/(10*0,70))= 0,251  1 caminhão

Para o cálculo da frota total devemos considerar o maior número de veículos que
precisam operar simultaneamente, ou seja, em um mesmo dia e horário além de
considerar um adicional de 10% para reserva e manutenção.

Portanto, o maior número de veículos necessários por dia é 1, já que a coleta nos
setores é realizada em dias alternados e em turnos diferentes, entretanto, como
devemos considerar 10% para segurança e emergências o total estimado para frota
atender o município é de 2 caminhões.

2.3 Unidades de Triagem e Transferência de Resíduos Sólidos Urbanos

As usinas de triagem são importantes para a separação dos materiais recicláveis


proveniente da coleta e transporte convencional. A central de triagem deve ser
equipada com mesas de catação para a separação criteriosa dos materiais para
encaminhar a comercialização dos recicláveis, prensas para enfardamento de resíduos
de menor peso específico como papeis, plásticos para facilitar o estoque e transporte
dos mesmos.

As Usinas de Triagem têm por objetivo reduzir a quantidade de resíduos enviados ao


aterro o qual pode-se alcançar valores da ordem de 50%, quando bem gerenciadas,
não há necessidade de alteração no sistema de coleta convencional e ainda possibilita
o aproveitamento da fração orgânica para a compostagem. (Cempre, 2018, Monteiro,
2001). A central de triagem requer investimento em equipamentos de separação de
materiais e capacitação de colaboradores para realizar a atividade de segregação.

Para se determinar a eficiência da usina de triagem utiliza-se um indicador


denominado taxa de desvio que considera o somatório da quantidade de resíduos
orgânicos encaminhada à compostagem com a parcela de recicláveis dividido pela
quantidade total de resíduos processados pela usina conforme expresso na Equação
1.2. No Brasil estima-se uma taxa de desvio da ordem de 50% (Cempre, 2018).

39
,

Equação 1.2 Taxa de desvio

Além das unidades de triagem, o sistema de gerenciamento de resíduos conta com as


unidades de transbordo ou transferência que consistem em pontos intermediários
para armazenamento temporário dos resíduos coletados no município. Estas unidades
são essenciais em grandes centros devido, principalmente, as distâncias entre o
gerador e o local de disposição final (aterros). Dependendo da distância do gerador e
do local de destinação final, torna-se inviável o transporte de resíduos de forma direta
e, portanto, recomenda-se utilizar estas unidades intermediarias. A coleta de RSU nos
centros urbanos é realizada com veículos de pequeno ou médio porte por conta da
estrutura viária, ao trafego de veículos e por outros aspectos econômicos.

Geralmente, as estações de transbordos são localizadas em pontos estratégicos para


que os veículos coletores de médio e pequeno porte possam retornar à atividade de
recolha dos RSU. Os materiais das unidades de transferência são dispostos em
caminhões ou carretas de grande porte e direcionados as unidades de tratamento, se
for o caso, ou a disposição em aterros sanitários que geralmente são afastados da
fonte geradora. Estas unidades apresentam vantagens econômicas no que diz respeito
a logística de transporte dos RSU, porém podem provocar a rejeição da população
residente próximo a usina devido aos odores, ruídos de caminhões, trafego de veículos
pesados entre outros aspectos. Como os aterros sanitários são instalados em
localidades distantes das fontes geradoras, além dos custos com o transporte, observa-
se uma redução na produtividade dos veículos de pequeno e médio porte, devido ao
tempo ocioso para a descarga de RSU e retorno ao setor de coleta, tornando
necessário o aumento da frota de veículos para atender a demanda do município.

Em grandes centros torna-se vantajosa a implantação de uma unidade de transferência


conforme apontado a seguir:

40
,

 Proporciona economia de transporte, pois os resíduos são coletados em


veículos de pequeno e médio porte e encaminhados aos aterros em veículos
maiores e, por consequência, transporta maior quantidade de resíduos.

 Economia de trabalho pois será necessário apenas um motorista, os demais


colaboradores (garis) podem desempenhar suas atividades de coleta.

 Economia de energia com combustível.

 Redução de custos relacionados a manutenção de veículos coletores.

 Possibilita a recuperação de materiais destinados a reciclagem.

A implantação da área de transbordo deve levar em consideração aspectos como a


localização estratégica para que fique no centro das rotas de coleta e dos locais de
destinação final, o zoneamento para minimizar os impactos ambientais, econômicos e
sociais atendendo as regulamentações vigentes, as condições de acesso pelos veículos
devendo estar localizada em vias principais, deve ser respeitada a opinião pública,
pois, em muitos casos, há resistência por parte da população da vizinhança e os custo
com a área escolhida (terreno) (Barros, 2012).

Conclusão

Neste bloco você aprendeu os principais conceitos envolvendo a temática resíduos


sólidos, a importância do correto acondicionamento dos resíduos, como deve ser
realizado, os serviços de coleta e coleta seletiva, bem como as unidades de triagem e
transferência. Ainda foram apresentados os principais parâmetros de
dimensionamento da frota de veículos coletores de resíduos.

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2005.

44
,

3 PROCESSO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), é recomendado uma


ordem de prioridade que destaca a não geração e a máxima redução da geração de
resíduos. Dada a inevitabilidade da produção de resíduos recomenda-se minimizar,
reduzindo na fonte a geração de resíduos e a reciclagem através da recuperação ou
reutilização dos mesmos, de forma a agregar valor a este recurso (Barros, 2012).

O princípio dos 3R’s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) consiste em uma alternativa para o
problema dos resíduos. Reduzir implica em consumir menos produtos ou optar por
aqueles que possibilitem a geração de menor quantidade de resíduos. Reutilizar prevê
a introdução dos resíduos no mesmo ciclo produtivo ou outro diferente daquele que
foi proposto anteriormente. Reciclar consiste na transformação de resíduos em
matérias primas para outros ciclos produtivos (Barros, 2013, Barros, 2012).

A PNRS define reciclagem como um processo de transformação dos resíduos sólidos


mediante alteração nas características físicas, químicas e biológicas para obter matéria
prima para outros ciclos produtivos. A reutilização é o aproveitamento dos resíduos
sem a transformação.

Apresentação

Neste bloco veremos os principais conceitos relacionados ao processamento de


resíduos, a reciclagem, as vantagens e requisitos para um processo eficiente. Serão
apresentados os processos de reciclagem de alguns materiais e, por fim, a reciclagem
de matéria orgânica, a compostagem, os principais conceitos, o dimensionamento de
pátios de compostagem.

3.1 Reciclagem

A reciclagem consiste no reaproveitamento de materiais, considerados matérias


primas de novos produtos. Este processo de transformação permite que os resíduos
voltem ao estado original, podendo ser transformados em produtos, ou como
matérias-primas. (Santos, 2017).

45
,

Dentre os benefícios da reciclagem pode-se destacar a redução da exploração de


recursos naturais mediante o reaproveitamento dos materiais que foram utilizados em
outros processos e produtos; e minimização da poluição do solo, do ar e dos recursos
hídricos, uma vez que o processo de reciclagem faz uso de materiais já extraídos e,
portanto, requer menos energia e água, aumenta a vida útil do aterro sanitário através
da quantidade de resíduos aproveitados em outros ciclos, propicia maior eficiência no
processo de compostagem, gera emprego e renda a população menos favorecida,
apresenta possibilidades de novos negócios e estimula a economia e principalmente
exercita a conscientização ambiental da população. (Barros, 2102, Monteiro, 2001).

Para o bom desempenho da reciclagem é fundamental a etapa de segregação dos


resíduos, principalmente na fonte geradora para evitar contaminação dos recicláveis.
Os resíduos, muitas vezes, são coletados nas cidades e direcionados para uma unidade
de triagem para separação dos recicláveis e para o encaminhamento a disposição final
apenas os rejeitos. A parcela orgânica é utilizada na compostagem para produção de
um composto fertilizante (Barros, 2012).

3.2 Reciclagem de materiais

3.2.1 Reciclagem do papel

De acordo com Cempre (2018) o papel corresponde a 13,1% dos resíduos gerados no
Brasil, sendo, portanto, uma quantidade expressiva que requer a correta destinação do
mesmo, priorizando sempre a reutilização e a reciclagem dos produtos.

O papel é fabricado a partir da laminação de uma pasta de fibras vegetais de celulose


da madeira (pasta celulósica). Além da madeira o papel pode ser fabricado a partir do
bambu e de fibras sintéticas como do próprio papel e papelão, através do processo de
reciclagem o qual recebe o nome de aparas (Cempre, 2018, Barros, 2012).

A fabricação do papel inicia com a produção da pasta celulósica (pasta fibrosa) seguida
da purificação da celulose a um nível que depende do uso final pretendido. Os
métodos de obtenção desta pasta são determinantes na qualidade da matéria prima
para fabricação do papel.

46
,

Além da pasta celulósica são necessários outros elementos como aditivos (agentes de
colagem, branqueadores, pigmentos) para a fabricação do papel comum e do reciclado
como mostra a Figura 3.1 (Cempre, 2018).

Figura 3.1. Processo de fabricação do papel

Existem diversos métodos que se dispõe atualmente para obter pastas celulósicas com
propriedades variada. A escolha do método empregado influenciará na qualidade da
pasta obtida. Dentre os métodos mais empregados, pode-se destacar o mecânico,
termomecânico, químico-mecânico, químico, e uma combinação dos dois processos
conforme descrito a seguir (Klock, 2013).

O processo mecânico consiste em tritura um pedaço de madeira úmida em um


equipamento denominado desfibrador obtendo-se uma pasta mecânica, sendo que as
fibras não possuem forma ou tamanho definidos. O processo termomecânico
condiciona a madeira a um ambiente de vaporização a 130ºC de forma que fica
amolecida e posteriormente segue para o desfibrador.

47
,

Outra forma de amolecer a madeira é submergi-la em uma solução de soda cáustica


(NaOH) diluída por algumas horas para posteriormente passar por um desfibrador.
Neste processo a solução de NaOH rompe as forças adesivas existentes na fibra da
madeira facilitando o processo de separação da celulose. Este processo é denominado
químico-mecânico (Klock, 2013).

Os processos mecânicos ou a combinação de mecânico e químico produzem uma pasta


celulósica com maior rendimento por tonelada de madeira do que os processos
químicos, entretanto, devido a trituração, compactação e as altas temperaturas que as
fibras são submetidas, estas são danificadas.

No processo químico a madeira é submetida a condições específicas de pressão,


temperatura e de reagentes para a separação das fibras da madeira. O processo
químico mais conhecido é o Kraft que consiste em submergir os cavados de madeira
num licor a base de sódio e aquecer a mistura numa pressão para dissolver a lignina
das fibras. Este licor que contem grandes quantidades de lignina pode ser queimado
para obtenção de energia elétrica. Neste caso a planta, ao invés de adquirir
eletricidade da rede, pode produzir sua própria energia. Embora apresente esta
vantagem energética o processo tem baixo rendimento se comparado com os
mecânicos.

Os gastos energéticos e de extração de madeira para obtenção do papel são


significativos e, como a participação deste resíduo na composição gravimétrica é
expressiva, o reaproveitamento das aparas reduz os gastos com estes insumos,
preservando os recursos naturais. A utilização de aparas na fabricação de papel
promove uma redução de 23 a 74% do consumo de energia, dependendo do método a
ser empregado, 58% do consumo de água, promove a diminuição da poluição
atmosférica e dos recursos hídricos em torno de 74% e 35% respectivamente.
(Cempre, 2018).

A pasta celulósica produzida a partir de aparas é realizada a partir de métodos que


dependem da qualidade da apara e do produto que se pretende obter, o que, de
forma geral, é composto pelas etapas apresentadas na Figura 3.2 (Adaptado de
Cempre, 2018).

48
,

Adição de fibras
Aparas Refinação da pasta virgens se
necessário

Desagregação das Pasta celulósica de Adição de produtos


aparas fibras secundárias químicos

Limpeza e Remoção da tinta e


Papel/ Polpa
depuração da massa alvejamento
Moldada
de celulose quando necessário

Figura 3.2. Etapas de produção de pasta celulósica a partir de fibras secundárias

O processo de produção de pasta celulósica a partir de aparas apresenta alguns


problemas como a falta de homogeneidade dos materiais, muitas vezes não é possível
remover as impurezas presentes, além da limitação do número de vezes que as fibras
celulósicas podem ser recicladas, uma vez que a cada processo perdem a qualidade.
Outro aspecto desfavorável a reciclagem do papel é a flutuação do mercado de aparas,
a logística de transporte desta matéria-prima, as fibras celulósicas secundárias têm
qualidade inferior as fibras virgens.

Em contrapartida, a utilização de fibras secundárias promove um benefício ambiental


significativo, pois uma tonelada de papel reciclado consome 1,2 toneladas de aparas, 2
mil litros de água e cerca de 1 a 2,5 MWh de energia, enquanto que o papel produzido
a partir de fibras virgens consome 5MWh de energia, 100 mil litros de água e 50 a 60
árvores (eucaliptos) (Cempre, 2018).

Alguns tipos de papéis não podem ser reciclados por não permitirem a hidratação de
sua polpa como é o caso do papel vegetal; papel com substâncias impermeáveis; papel
-carbono; papel higiênico, papel toalha e guardanapo usados; papel com teor de
gordura ou com produtos químicos; dentre outros. Para que se obtenha um bom
rendimento e viabilidade econômica no processo de reciclagem, é necessário que seja
implementada a coleta seletiva em grande escala.

49
,

As embalagens denominadas longa vida (Tetra Pack) possuem componentes plásticos,


metal e papel nas suas camadas. Estas embalagens são muito empregadas no Brasil
para armazenamento de diversos produtos devido a garantia de assepsia, segurança e
durabilidade dos produtos armazenados. De acordo com Barros (2013) essas
embalagens são constituídas por cerca de 75% de papel duplex, 5% de alumínio e 20%
de polietileno de baixa densidade. Estes resíduos podem ser reciclados a partir de um
processo de hidropolpeamento seguido de processos térmicos. O hidropolpeamento
consiste na hidratação das embalagens possibilitando a separação das finas camadas
de plástico e alumínio e fibras celulósicas (papel). As fibras celulósicas recuperadas são
empregadas na fabricação de papel, cartão, papelão, entre outros e o plástico e
alumínio podem ser tratados em incineradores e gerar energia, como podem ser
processados para obtenção de produtos plásticos.

3.2.2 Reciclagem do Plástico

O alto consumo de plástico se deve principalmente à sua versatilidade, durabilidade,


resistência que são empregados em diversos segmentos gerando, portanto, um
problema ambiental primeiro por se tratar de um derivado do petróleo, um
combustível fóssil que utiliza grandes quantidades de energia para extração, e ainda
esbarras na melhor forma de destinação final em virtude da baixa velocidade de
degradação (Barros, 2012).

Existem diversos tipos de resinas plásticas disponíveis no mercado o polietileno de alta


densidade, polietileno de baixa densidade, poliestireno, polietileno tereftalato, dentre
outros. O segmento conta com os plásticos considerados termoplásticos que podem
tomar uma determinada forma após submetidos a um processo de fusão e são
passíveis de reciclagem. Os termofixos não são passíveis de reciclagem pois uma vez
moldados não podem ser fundidos novamente (Cempre, 2018).

No que diz respeito a reciclagem de plásticos, podemos dividir em 4 tipos principais:


(Cempre, 2018; Barros, 2013; Barros 2012).

50
,

 Reciclagem primária ou reextrusão: consiste na utilização do plástico no


próprio processo produtivo da fonte geradora, por exemplo as aparas que são
novamente introduzidas no processamento.

 Reciclagem secundária ou mecânica: processo de conversão de resíduos


plásticos presentes nos RSU em produtos que tenham uma menor exigência de
qualidade do que os originais. Neste processo, os plásticos são submetidos a
algumas etapas como a seguir: (i) corte e trituração na qual há o cisalhamento
das peças para diminuir a sua granulometria, (ii) em seguida os contaminantes
passam por um sistema do tipo ciclone para remoção de poeiras e outros
materiais aderidos. (iii) Os diferentes tipos de plásticos são separados em
função da diferença de densidade por meio de flutuação, (iv) depois de
separados os materiais são moídos num processo de fresagem. (v) Os
polímeros passam por uma etapa de pré-lavagem com água e uma lavagem
com reagentes químicos para remoção de substâncias indesejáveis seguido da
secagem para evitar hidrólise durante o processamento. (vi) Formulação que
consiste em adicionar pigmentos ou aditivos. (vii) Extrusão dos materiais para
posterior peletização para formação de polímero mais simples e, finalmente,
(viii) têmpera que consiste no resfriamento do plástico através de água para
obtenção do produto final. Estudos indicam que há um limite para a reciclagem
mecânica de PET, em torno de 3 vezes, devido às mudanças nas características
do polímero em comparação com a matéria prima original, enquanto que para
os PP o limite é um pouco maior.

 Reciclagem terciária ou química: processo que transforma os produtos


plásticos em seus constituintes básicos ou em produtos petroquímicos, através
de processos termoquímicos (pirólise, gaseificação ou conversão catalítica). Os
materiais provenientes da reciclagem química servem de matéria prima para
produção de novas resinas ou em gases e óleo combustíveis.

51
,

 Reciclagem Quaternária (Recuperação energética): processo de queima de


resíduos plásticos que possuem alto poder calorífico para geração de energia
através da incineração. Este processo gera efluentes gasosos como o CO 2, NOx,
SOx, compostos orgânicos voláteis e material particulado.

A reciclagem de embalagens PET já são consolidadas e podem ser divididas em três


grandes etapas conforme descrito a seguir (CEMPRE, 2015):

 Fase de Recuperação: as embalagens devem ser separadas seguindo o critério


da coloração para que o produto final tenha uma uniformidade e,
posteriormente, devem ser prensadas para viabilizar o transporte.

 Fase de Revalorização: as embalagens passam por um processo de moagem


resultando em um produto constituído de flocos ou pellets para
posteriormente ser transformados em novos produtos. A vantagens de formar
pellets é que, por conta de se tornar um produto condensado, otimiza o
transporte.

 Fase de Transformação: consiste em transformar os flocos ou pellets em novas


embalagens ou em outros produtos.

3.2.3 Reciclagem do Metal

O metal é o resíduo mais reciclado devido principalmente a economia de energia


embutida no processamento dos recicláveis em comparação à matéria prima virgem. O
metal já é reciclado na própria siderúrgica mediante ao derretimento das sucatas para
produção de novos produtos.

O metal apresenta características muito importantes como a durabilidade, resistência


e é fácil conformação. É empregado em diversos segmentos como na fabricação de
equipamentos, construção civil, embalagens, produtos domésticos, entre outros. O
metal é classificado em duas categorias: os ferrosos constituídos de ferro e aço e não
ferrosos como o alumínio, cobre, chumbo, zinco entre outros.

52
,

Para a fabricação do metal primário é necessária a redução do minério ao estado


metálico, que é realizado a altas temperaturas, sendo uma atividade energética
intensiva. O metal secundário, aquele produzido a partir de sucata, requer uma menor
quantidade de energia para o seu beneficiamento, uma vez que exclui do processo a
etapa de extração e redução do minério. A principal vantagem da reciclagem se dá,
principalmente, pela economia no consumo de energia e do transporte do minério,
bem como do próprio valor dos materiais. Estes materiais possuem a característica de
manter suas propriedades físicas após serem submetidos ao processo de reciclagem,
possibilitando seu aproveitamento como materiais prima em diversos segmentos. No
Brasil utiliza-se cerca de 40% de sucata para a produção de aço (CEMPRE, 2018).

De acordo com Barros (2013), o processo de reciclagem do metal inicia com a


separação dos diferentes tipos metais encontrados nos RSU, através de uma triagem
eletromagnética (esteira). Posteriormente, os metais separados são prensados,
classificados e encaminhados para a reciclagem. Nas unidades de reciclagem os metais
são triturados, derretidos, fundidos em lingotes para serem reintroduzidos no ciclo
produtivo como matéria-prima.

O processo de reciclagem da lata de alumínio é similar aos dos demais metais. A etapa
inicial se dá através da Coleta seletiva e a triagem que consistem na separação prévia
dos resíduos sólidos de forma a garantir a homogeneidade do material. A Preparação
do material consiste em etapas como a limpeza, prensagem e enfardamento. Os fardos
são encaminhados às indústrias recicladoras que irão iniciar o processo de
beneficiamento que contempla a limpeza magnética, trituração, remoção das tintas e
vernizes para serem transformadas em novos produtos através dos processos de
fusão, do tratamento do material líquido, vazamento, solidificação e, finalmente, a
fabricação de novas latinhas. O metal é derretido em fornos sob alta temperatura e
posteriormente transformados em lingotes de alumínio que são vendidos para os
fabricantes de lâmina que o transformam em chapas para as indústrias de lata.

A reciclagem é bem difundida, pois não danifica a estrutura do metal permitindo que
esta seja reutilizado com o mesmo nível de qualidade do material original.

53
,

3.3 Reciclagem da Matéria Orgânica – Compostagem

Os resíduos sólidos no Brasil são constituídos por cerca de 50% de matéria orgânica,
uma quantidade expressiva que requer o tratamento adequado para evitar que seja
destinado aos aterros sanitários, reduzindo sua vida útil.

Para a destinação dos resíduos orgânicos pode-se contar com alguns tratamentos
como a vermicompostagem (com minhocas), biodigestão, disposição em aterros
sanitários, incineração e compostagem.

A compostagem é definida como um processo biológico de conversão de matéria


orgânica em condições controladas de forma a produzir dióxido de carbono, vapor
d’água, minerais e um produto orgânico estabilizado, denominado composto orgânico.
É uma maneira de reduzir a quantidade de materiais encaminhados aos aterros
sanitários, e minimizar as emissões atmosféricas pois o processo de decomposição de
matéria orgânica nos aterros ocorre de forma anaeróbia produzindo gás metano (CH4)
que tem um potencial de aquecimento global 21 vezes superior ao dióxido de carbono
(CO2), além de produzir o chorume que pode contaminar o solo e os recursos hídricos
(Barros, 2012).

A compostagem, além de minimizar os impactos sobre o meio ambiente, ainda


possibilita a produção de um subproduto (composto orgânico) que pode ser
empregado na agricultura substituindo o emprego de fertilizantes sintéticos (Barros,
2013).

De acordo com Cempre (2018) a compostagem apresenta alguns benefícios como por
exemplo:

 Reduz cerca de 50% do lixo destinado ao aterro e, portanto, aumento da vida


útil do aterro;

 Aproveitamento agrícola da matéria orgânica;

 Reciclagem de nutrientes para o solo;

54
,

 Processo simples e seguro;

 Reduz a presença de organismos patogênicos;

 Promove uma economia de tratamento de efluentes gerados em outros


processos como por exemplo o chorume e gases produzidos em aterros
sanitários.

3.3.1 Etapas do processo de compostagem

O processo ocorre em duas grandes etapas, a física com a preparação dos resíduos
através da triagem, trituração e homogeneização para facilitar a etapa biológica que
consiste na fermentação ou decomposição dos compostos orgânicos (Barros, 2012).

De acordo com Recesa (2007), o tratamento biológico é dividido em duas fases: a


biodegradação ativa (fermentação) que é subdividida em mesófila e termófila por
conta da variação de temperatura e a fase de maturação (cura), como apresentado na
Figura 3.3 (Cempre, 2018).

Figura 3.3.Fases de decomposição da matéria orgânica através da


compostagem

De acordo com WWF (2015), a primeira fase do processo de compostagem


(bioestabilização) pode ser dividida em decomposição mesófila, decomposição
termófila e decomposição mesófila de esfriamento. A segunda fase do processo é
denominada de maturação conforme descrito abaixo.
55
,

Na Decomposição Mesófila os resíduos se encontram em temperatura ambiente e os


microrganismos produtores de ácidos transformam alguns compostos como açúcares e
aminoácidos em ácidos orgânicos diminuindo o pH da mistura e ocasionando uma
elevação da temperatura em torno de 40ºC -45ºC em dois ou três dias. Na fase
mesófila, a relação C/N é alta devido a presença de material rico em carbono ainda
não degradado. Na fase termófila as temperaturas podem chegar a níveis acima de
60ºC-70ºC e, nesta etapa, os microrganismos convertem o nitrogênio em amônia
(NH3), reduz ainda mais o pH da mistura, tornando o ambiente alcalino. Esta fase tem
duração média de 12 a 16 dias, sendo a responsável pela eliminação dos patógenos
presentes nos resíduos. Após esta etapa inicia-se o resfriamento da temperatura do
processo a níveis próximos de 40- 45ºC e observa-se uma relação C/N baixa, em torno
de 18:1. Esta fase da biodegradação ativa é denominada mesófila tem duração média
de 15 a 20 dias.

Na fase de maturação ou cura ocorre a formação de húmus e a decomposição dos


ácidos orgânicos e de partículas maiores como celulose e lignina. Esta fase tem
duração de cerca de 30 dias, dependendo da quantidade de resíduos a serem tratados.
A temperatura é próxima do ambiente e a relação C/N nesta fase varia entre 15 e 20.

3.3.2 Controle dos parâmetros da compostagem

A compostagem é um processo biológico na qual há a necessidade de controle das


condições ambientais para que os microrganismos possam desempenhar suas
atividades.

A compostagem ocorre em um ambiente de condições ideais controladas


(porcentagem de umidade, oxigênio e de nutrientes, e a relação C/N, a temperatura, a
granulometria, o pH) para favorecer a decomposição dos resíduos evitando a atração
de vetores de doenças e a presença de patógenos. O controle das condições ideais
promove uma maior diversidade de microrganismos (bactérias, fungos) no maciço de
resíduos de forma que a degradação ocorra de forma acelerada produzindo um
material com aspecto homogêneo denominado composto orgânico (Brasil, 2018).

56
,

Os principais parâmetros operacionais para o controle do processo de compostagem e


para a produção de um composto de qualidade são apresentados a seguir: (Barros,
2012; Cempre, 2018; Monteiro, 2002, Recesa, 2007).

 Umidade: O controle da umidade é necessário, pois o excesso de água pode


ocasionar anaerobiose (quando o excesso de água ocupa os espaços vazios
[porosidade] do material o oxigênio não consegue circular no maciço de
resíduos e pode haver a formação de gases e chorume) e a falta de umidade
inibe a atividade microbiana, pois diminui a velocidade de decomposição. O
ideal é um teor de umidade na ordem de 50%. Para o controle deste
parâmetro. Quando há alto teor de umidade deve-se adicionar um material
absorvente como, por exemplo, vegetais secos (folhas, capins, gramas ou o
próprio composto maturado), implantar leiras mais baixas e revolvê-las com
maior frequência. Quando se tem uma condição de baixa umidade deve-se
adicionar água ou outros resíduos orgânicos com elevado teor de umidade e
para sua homogeneização fazer o revolvimento.

 Aeração: como o processo de compostagem se dá através de decomposição


aeróbia o fornecimento de oxigênio no processo, é fundamental para garantir a
estabilidade do material. O teor de oxigênio no processo depende da
granulometria, da agregação e da umidade dos resíduos. No processo de
compostagem, quanto menor for a granulometria da partícula, maior será a
superfície de contato com o oxigênio e, portanto, haverá uma diminuição do
tempo de compostagem, entretanto partículas muito finas tendem a se
compactar e dificultar a circulação de oxigênio no maciço. O lodo proveniente
das instalações de tratamento de água e esgoto é um tipo de resíduo que
apresenta uma granulometria fina que, quando desidratado, tem um aspecto
pastoso impossibilitando a circulação de ar no maciço e, neste caso,
recomenda-se a junção com outros resíduos de maior granulometria para
aumentar os espaços vazios e a difusão de ar. A aeração pode ocorrer de forma
natural (com o reviramento manual das leiras) ou forçada (através de
máquinas). Durante o processo de revolvimento da leira o calor é liberado na
forma de vapor d’água e, neste momento, o teor de umidade pode ser
corrigido através da inserção de água. Recomenda-se que o período para
revolvimento da pilha deva ser realizado de 3 em 3 dias até que o maciço tenha
atingido a fase de maturação, ou seja 60ºC.

57
,

 pH: Os RSU possuem um caráter ácido com pH entre 4,5 e 5,5 e, no início do
processo, sofre uma redução desses valores em decorrência das reações
exotérmicas. O composto orgânico estabilidade possui pH entre 7,0 a 8,0,
sendo considerado um ótimo condicionador para os solos que apresentam alta
acidez. Embora o pH e a temperatura sejam parâmetros condicionados por
outras variáveis, o monitoramento é fundamental para o acompanhamento do
processo e a verificação da fase da compostagem (bioestabilização ou
humificação).

 Temperatura: é o parâmetro indicativo da eficiência do processo uma vez que a


compostagem é um processo exotérmico que gera calor e cada microrganismo
envolvido nas reações se desenvolve em uma temperatura ideal. A
temperatura ideal do processo é de 55ºC a 65º C, valores superiores a 70ºC
podem alterar a comunidade bacteriana e reduzir a degradação dos resíduos
orgânicos. Os principais fatores que influenciam o controle da temperatura são
as características e quantidade dos resíduos, os parâmetros operacionais e a
configuração geométrica das leiras. O monitoramento da temperatura é muito
importante e deve ser realizado em vários pontos da leira, sendo que na fase
termófila recomenda-se a aferição diária para melhor controle do processo e
na fase mesófila o monitoramento pode ser realizado duas vezes na semana.

 Nutrientes e Relação C/N: A atividade microbiológica dos decompositores é


diretamente relacionada à diversidade e concentração dos nutrientes. Uma
maior diversidade de resíduos orgânicos a serem compostados propicia uma
maior variedade de nutrientes e, consequentemente, promove uma maior
diversidade de microrganismos. O carbono é a parte energética para o
desempenho das atividades vitais e o nitrogênio corresponde ao elemento
básico do material celular. Este equilíbrio é o responsável pela fixação dos
nutrientes e garantir a eficiência do processo. Dessa forma a relação
carbono/nitrogênio (C/N) ideal para o início da compostagem é de 30/1 a 40/1
podendo atingir valores de 10/1 no final da compostagem. Os materiais ricos
em carbono são os vegetais secos (palhas), devendo ser inseridos em
quantidades controladas, pois em excesso retardam o processo de
compostagem. O nitrogênio proveniente de legumes frescos e restos de comida
são geralmente úmidos e também precisam ser controlados, pois o excesso
deste elemento provoca a volatilização da amônia, causando maus odores no
processo de compostagem.
58
,

 Tamanho das partículas: uma menor granulometria dos materiais favorece


uma maior superfície de contato com o oxigênio, estimulando o processo de
decomposição. Recomenda-se partículas em torno de 20-50mm. Para garantir a
granulometria adequada os resíduos são submetidos a processo de trituração e
peneiramento. A correção do tamanho das partículas favorece a
homogeneização do maciço de resíduos, melhora a porosidade e diminui a
compactação, facilitando a difusão de oxigênio e a superfície de contato com o
mesmo. Ainda no que diz respeito a preparação dos materiais a serem
compostados, deve-se separar do maciço de resíduos os materiais de origem
inorgânica ou aqueles que não são biodegradáveis, vidros, metais, plásticos,
papéis, papel higiênico, fraldas, excrementos de animais, medicamentos, entre
outros para que os mesmos não atrapalhem a atividade microbiana.

3.3.3 Dimensionamento de pátios de Compostagem

Os sistemas de compostagem podem ser classificados em três categorias: Sistemas de


leiras revolvidas, de leiras estáticas aeradas e sistemas fechados ou reatores
biológicos. O sistema de leira consiste em distribuir os resíduos em leiras ou pilhas e o
fornecimento de oxigênio é realizado através de revolvimento. O sistema de leiras
estáticas ou aeradas difere do anterior, pois o maciço de resíduos é disposto em uma
tubulação perfurada com o fornecimento de oxigênio automatizado não havendo a
necessidade de revolvimento mecânico ou manual. A última categoria denominada
sistema fechado consiste em dispor os resíduos em um recipiente fechado para que se
possa fazer o controle das condições operacionais com mais eficiência. O sistema de
leiras é o mais simples, menos dispendioso e amplamente utilizado no tratamento de
resíduos orgânicos (Recesa, 2007).

A compostagem de baixo custo deve ser realizada em pátios onde os materiais serão
dispostos em pilhas ou leiras para serem estabilizados. A implantação de um sistema
de compostagem por leiras revolvidas requer o dimensionamento de pátios de
compostagem especialmente para verificar a disponibilidade de espaço.

59
,

Para o dimensionamento de pátios de compostagem devem ser considerados o


número de habitantes e produção diária de resíduos, a forma geométrica (leiras ou
pilhas), a forma de reviramento (mecânica ou manual). As pilhas são indicadas quando
há uma baixa produção de resíduos orgânicos e possui uma configuração no formato
de cone com dimensões aproximadas de raio (R) entre 0,75 e 1,0m e altura (H) em
torno de 1,6m. As leiras são recomendadas para alta produção de resíduos, possuindo
um formato de prisma de seção triangular com dimensões aproximadas de 2,0 a 4,0m
de base e altura entre 1,4 e 1,8m.

Se o revolvimento for mecanizado, com uso de tratores, deve-se considerar uma área
maior (área de folga) para o movimento das máquinas entre as leiras, se o reviramento
for manual a área entre as leiras será menor.

As leiras devem ser implantadas em terrenos impermeabilizados e com declividade em


torno de 2% para evitar acúmulo de água e a formação de chorume com possibilidade
de contaminação do solo ou lençol freático.

O dimensionamento do pátio de compostagem deve seguir alguns passos:

1) Levantamento de dados:

 População (número de habitantes);

 Quantidade resíduos orgânicos produzidos em quilos (Q);

 Seleção da forma geométrica de disposição dos RSU: leira ou pilha;

 Adotar a densidade da mistura - (D);

 Tempo de compostagem em dias - (d);

 Adotar um fator de segurança (está em torno de 10%) - (f).

60
,

2) Escolha da forma geométrica

LEIRA

 Leira: (Base = B, Altura = H);

 Determinar a área da seção:

 Se for triangular :As = (B x H)/2;

 Se for trapezoidal: As = (Bmaior + bmenor) x H/2

 Determinar o volume da leira: Volume = V = Q/D;

 Determinar o comprimento da leira: Comprimento = L = V/As;

PILHA

 Pilha: (diâmetro da pilha = π, raio = r e Altura = H);

 Determinar a área da base e volume:

o Área da base = Ab = πr2;

o Volume de cada pilha = V = 1/3πr2H;

o Volume total de resíduos gerados = V1 = Q/D.

 -Número total de pilhas = V1/V

No caso de forma geométrica como o cone, a área total deve ser o somatório
da área da base e da área superficial inclinada. No que diz respeito a área
necessário para implantação de pátio de compostagem apenas a área da base
é interessante.

3) Cálculo do pátio:

 Determinar a área da base da leira: Ab = B x L;

 Determinar a área de folga para revolvimento da leira;

61
,

 Adotar Af = Ab;

 Determinar a área útil: Au = (Ab + Af) x d;

 Determinar a área extra devido ao fator de segurança: Ae = Au x f;

 Calcular a área total destinada a implantação do pátio: At = Au + Ae.

Exercício de aplicação: Dimensionamento pátio de compostagem

Sabe-se que a Companhia de Limpeza Urbana do município de Maria da Fé (MG)


recolhe diariamente uma média de 17.000 kg de resíduos orgânicos. O município
produz cerca de 4.000 kg de materiais palhosos (gramas, capins, podas de árvores etc)
por dia. Admitindo-se que a densidade de mistura desses materiais seja de 700 kg/m 3,
pode-se dimensionar uma unidade de compostagem de baixo custo para tratamento e
reciclagem desses resíduos.

Considere uma única leira de seção reta triangular com 1,70 m de altura e 1,80 m de
largura com todo material e que este fica 80 dias maturando.

Solução

Dados: Geração de resíduos = 17000 kg e Materiais palhosos = 4000 kg.

Densidade dos resíduos = 700kg/m3.

 Cálculo das Dimensões da Leira de Compostagem

Adotar leira de seção reta triangular com 1,70 m de altura e 1,80 m de largura.

 Cálculo do comprimento da leira (L)

Área da seção reta

As= (1,8 x 1,7)/2=1,53 m2

 Cálculo das Dimensões da Leira de Compostagem

 Volume da leira de compostagem (V)

62
,

V= (Res. Orgânicos (kg) + Palhosos (kg)) / densidade (kg/m3)

V= (17000+ 4000) / 700= 30m3

 Comprimento da leira (L)

L= V/As=30/1,53=19,6 m

Dessa forma as dimensões da leira são: 1,7 x 1,8x20 m

 Cálculo da Área do Pátio de Compostagem

Área da base da leira (Ab) = largura x comprimento

Ab= 1,8 x 20=36 m2

 Área de Folga para o Reviramento da Leira (Af)

Admite-se a área de folga para o reviramento da leira igual à da base da leira.

Af= Ab= 36m2

Admite-se que cada leira ocupará:

Ab+ Af= 72 m2

Como o material ficará por um período de 80 dias (entre as fases de


bioestabilização e maturação) e suponha que seja montada uma leira por dia a
área útil será de:

 Cálculo da área útil

Área útil= Au = (Ab + Af) x d

Au= 72x80 = 5760 m2

Coeficiente de segurança devido a circulação e estacionamento de 10%.

63
,

 Determinar a área extra devido ao fator de segurança:

Ae = Au x f

Ae=5760x 10%= 576 m2

 Cálculo da área total do pátio de compostagem

At = Au + Ae

At= 5760 + 576= 6336 m2

Conclusão

Neste bloco você aprendeu os principais conceitos envolvendo a reciclagem a começar


pela importância de se estabelecer a coleta seletiva e a aplicação dos 3Rs: reduzir,
reutilizar e reciclar. A reciclagem tem grande importância no contexto brasileiro, uma
vez que promove a inclusão social com geração de emprego e renda. Foram
apresentados os principais aspectos relacionados a reciclagem de diversos tipos de
materiais que possuem uma participação expressiva na composição gravimétrica do
lixo no Brasil. Neste bloco abordamos a compostagem como técnica de disposição de
resíduos sólidos. A compostagem é um processo aeróbio de tratamento de matéria
orgânica na qual é produzido um composto estabilizado que pode ser utilizado como
biofertilizante. Para a produção de um composto de qualidade e seguro para o meio
ambiente torna-se necessário o controle de diversos parâmetros como temperatura,
umidade, aeração, dentre outros para evitar a geração de gases que causem mau
cheiro. Ainda neste bloco aprendemos a dimensionar um pátio de compostagem de
baixo custo.

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68
,

4 TRATAMENTO TÉRMICO DE RESÍDUOS

De acordo com Barros (2013) os principais tratamentos de resíduos sólidos são a


incineração, pirólise, gaseificação, micro-ondas, autoclave, sendo atualmente uma
tendência o aproveitamento energético dos resíduos a partir de processos térmicos. As
usinas para recuperação energética de resíduos sólidos urbanos são denominadas
waste to energy (WtE), sendo uma importante alternativa na gestão sustentável dos
RSU apresentando inúmeros benefícios ambientais e energéticos.

Apresentação

Neste bloco veremos os principais conceitos relacionados ao tratamento térmico o


qual abrange a tecnologias de tratamento a alta temperatura como a incineração,
pirólise, tecnologia de plasma, e as tecnologias em baixa temperatura como o micro-
ondas, autoclave. Neste bloco serão apresentados os principais conceitos envolvendo
os tratamentos, os princípios básicos de funcionamento, as vantagens e desvantagens,
limitações e aspectos ambientais dos processos.

4.1 Incineração

A incineração é um tipo de tratamento de resíduos que consiste em um processo de


combustão na presença de oxigênio e um combustível auxiliar realizado em um reator
fechado denominado incinerador produzindo cinzas, gases e líquidos (Barros, 2013).
De acordo com Lora (2002), a incineração utiliza a decomposição térmica via oxidação
para minimizar o volume e a periculosidade dos resíduos sendo realizado em
condições operacionais controladas.

O processo apresenta como grande vantagem a capacidade de reduzir a massa de


resíduos em torno de 70% e o volume em 90% através das reações de combustão
controladas. O material remanescente, as cinzas, deverá ser descartado em aterro
sanitário (Barros, 2012).

69
,

A incineração é recomendada para o tratamento de resíduos de serviço de saúde e


resíduos industriais devido a periculosidade ou quando o transporte de resíduos até a
disposição final seja economicamente inviável. Este processo emite a atmosfera uma
série de gases poluentes que requer o tratamento adequado dos efluentes gasosos
para evitar danos à saúde pública e ao meio ambiente.

O processo de tratamento de resíduos através da incineração requer algumas etapas


conforme descrito a seguir:

 Preparo do resíduo para a combustão;

 Combustão dos resíduos;

 Tratamento do efluentes gasosos;

 Tratamento dos efluentes líquidos;

 Acondicionamento e disposição final dos resíduos gerados no processo de


incineração.

Dentre as vantagens da tecnologia de incineração destacam-se:

 Redução da periculosidade;

 Redução de massa e volume;

 Redução imediata uma vez que não precisa do tempo de residência como
ocorre no tratamento biológico;

 Não requer transporte dos resíduos pois o tratamento pode ser realizado na
fonte geradora;

 É possível realizar a recuperação energética dos resíduos sólidos para geração


de energia;

 A área para instalação de uma unidade de incineração é muito menor que um


aterro sanitário;

 Não há formação de lixiviados como em aterros sanitários.

70
,

Como desvantagem a incineração apresenta alguns fatores como por exemplo:

 Nem todos os resíduos podem ser incinerados;

 Há restrição do teor de umidade;

 Há necessidade de tratamento dos efluentes gasosos;

 A tecnologia requer investimento elevado;

 Há necessidade de pessoal qualificado;

 Há necessidade de combustível auxiliar para ignição do processo;

 Há emissão de poluentes cancerígenos como furanos e dioxinas.

Os gases gerados no processo, ao passarem pela chama na parte interna do reator, são
submetidos a altas temperaturas e os compostos orgânicos são convertidos nos
átomos constituintes. Os átomos constituintes reagem com o oxigênio formando gases
estáveis como, por exemplo, o dióxido de carbono e o vapor d’água, porém devido a
composição dos resíduos variável e as condições operacionais, pode haver a formação
de outros compostos como o monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, cloreto de
hidrogênio, o cloro entre outros (Barros, 2013).

No processo de incineração, devido as condições operacionais inadequadas, por


exemplo, condições sub-estequiométricas, e a presença de cloro na composição dos
resíduos há uma predisposição a formação de dioxinas e furanos que tem potencial
cancerígeno sendo, portanto, uma tecnologia sujeita ao processo de licenciamento
ambiental e regulamentada por normas específicas.

As dioxinas e furanos pertencem a classe das substâncias organocloradas que incluem


dibenzeno-p-dioxinas (PCDD) e dibenzeno-p-furanos (PCDF) compostas por cerca de
210 variações (congêneres) devido a posição do composto cloro na cadeia. Desse total,
cerca de 17 apresentam alta toxicidade, o que gera grande resistência à aceitação por
parte dos órgãos ambientais e de saúde para utilização desta tecnologia.

71
,

De acordo com Barros (2013) apud USEPA (1999) existem três teorias para justificar a
formação destes compostos, a primeira supõe que estas substâncias estejam
presentes nos resíduos a serem incinerados, a segunda sinaliza que há a formação
desses elementos a partir da decomposição térmica e rearranjo molecular de
precursores com estrutura molecular similar a dioxinas e furanos e, pôr fim, a última
teoria sugere que são formados por substâncias que reagem com o átomo de cloro
livre para formar precursores de formação das substâncias organocloradas.

Para minimizar e controlar a formação de substâncias indesejáveis, o controle e


monitoramento das condições operacionais é essencial. Dentre os requisitos a serem
controlados destacam-se a velocidade de alimentação de resíduos no reator e a
velocidade do gás de combustão de forma a garantir a turbulência (número de
Reynolds superior a 10.000) adequada no interior da câmara de combustão e
favorecer a mistura entre os resíduos e gás de combustão para a decomposição. A
temperatura também é um parâmetro importante no controle do processo, pois uma
temperatura muito baixa não garante a combustão completa e, portanto, há formação
de outras substâncias que causam danos ao meio ambiente e ou a saúde pública.
Temperaturas muito elevadas também promovem a formação de gases indesejáveis.
Temperaturas em torno de 500 e 800ºC favorecem a formação de PCDD e
temperaturas acima de 900ºC são responsáveis pela destruição destes compostos. O
tempo de residência no interior das câmeras de combustão e a temperatura são
parâmetros inversamente proporcionais para o controle da formação de dioxinas.
Temperatura alta requer menor tempo de residência, por exemplo para 1000ºC o
tempo de residência recomendado é de um segundo, enquanto que para 850ºC os
gases precisam permanecer no interior da câmara por dois segundos. Outro parâmetro
muito importante no processo de incineração é a concentração de oxigênio que deve
ser em condições acima da estequiométrica, ou seja, com excesso de oxigênio (mínimo
de 7% em volume) para garantir a combustão completa e evitar a formação de
precursores de dioxinas e furanos (Barros, 2012).

72
,

De forma a atender os padrões de emissões de efluentes gasosos para a atmosfera, a


incineração deve ser realizada em duas etapas, a combustão primária e a combustão
secundária (Lora, 2002).

 Combustão Primária

 Esta etapa deve ter duração em torno de 30 a 120 minutos sob temperatura
a cerca de 500 a 800ºC;

 As fases dessa etapa são: secagem, aquecimento, liberação de substâncias


voláteis e conversão do resíduo sólido em cinzas;

 Produto final limita-se a carbono não-queimado, compostos minerais de


alto ponto de vaporização e metais;

 Uma parcela dos metais presentes sai pela corrente gasosa sendo
necessária a remoção através de um sistema de remoção de material
particulado e a outra parcela permanece nas cinzas sendo necessário o
descarte adequado.

 Combustão Secundária

 Os gases, vapores e o material particulado produzido na combustão


primária são encaminhados para a câmara de combustão secundária;

 Esta fase tem um tempo de residência em torno de 2 segundos sob


temperatura de 1000ºC ou superior para a destruição de substâncias
voláteis e de uma parte do material particulado.

O processo de incineração prevê a destruição térmica de resíduos industriais e a


resolução CONAMA nº316/2002 estabelece que o sistema deve apresentar uma taxa
de eficiência de destruição e remoção (EDR) de no mínimo 99,99% para o composto
orgânico perigoso que foi determinado a partir do teste de queima que consiste em
avaliar a eficiência do equipamento. Trata-se de uma queima experimental antes da
operação em escala normal ou para tratar resíduo que não tenha sido especificado na
licença de operação conforme estabelece a NBR 11175/1990 (ABNT, 1990).
73
,

As usinas de incineração são conhecidas como plantas waste to energy (WtE) com o
objetivo de produzir energia. Um sistema composto por caldeira, turbina, gerador
produz calor e o converte em eletricidade e vapor.

O calor da combustão dos resíduos é utilizado para produzir o vapor, que é o


combustível para uma turbina a vapor que fará a conversão em eletricidade e/ou calor.
Dependendo das características dos resíduos é possível usar até 80% da energia dos
resíduos. Também é possível utilizar o calor para aquecimento residencial combinado
com a geração de eletricidade sendo realizado através de uma turbina de
contrapressão. Estima-se que, para cada tonelada de RSU, é possível produzir cerca de
2 a 3 MWh de eletricidade e 2 MWh de aquecimento urbano (RENOSAN, 2006).

Este sistema conta também com controle da poluição atmosférica que faz a limpeza
dos gases de combustão antes de emiti-los para a atmosfera através de uma chaminé.

Uma usina de incineração tem capacidade para processar entre 50.000 e 300.000
toneladas de resíduos por ano.

Os combustíveis (resíduos) mais comuns de serem convertidos em energia a partir da


incineração são:

• Resíduos Sólidos Urbanos (RSU);

• Resíduos Industriais e Comerciais;

• Combustível Derivado de Resíduos (CDR).

De acordo com MAOTE (2014) os Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR) são


produzidos a partir de resíduos não perigosos de origem residencial, comercial e
mesmo industrial, com o objetivo de produzir energia a partir dos processos de
incineração.

A utilização do CDR com o objetivo de produção de energia está diretamente


relacionada com a minimização do impacto ambiental decorrente da disposição final
dos resíduos em aterros e com o aumento das taxas de reciclagem.

74
,

O CDR pode ser do tipo:

 Fluff – consistem em resíduos de baixa densidade do tipo material solto;

 Pellets – consistem em materiais soltos aglomerados podendo ter o formato de


cubo, disco ou cilindro, com dimensões aproximadas a 25 mm de diâmetros;

 Briquettes – consistem em blocos ou cilindros produzidos a partir de materiais


soltos que apresentam diâmetros superior a 25mm.

As usinas WtE geralmente fazem a recuperação energética de resíduos “soltos” sem a


transformação, entretanto a utilização de resíduos do tipo CDR abre novas
possibilidades para a recuperação do seu potencial energético, seja através da
incineração ou mesmo utilizando tecnologia de gaseificação ou pirólise (CNI, 2019).

O processo de incineração devido a formação de gases poluentes e material


particulado requer um sistema de limpeza de gases que são compostos principalmente
por lavagem e filtração.

A Tabela 4.6 apresenta as tecnologias comumente aplicadas para o tratamento dos


principais efluentes gasosos gerados no processo de incineração e outros métodos de
controle.

Tabela 4.6. Tecnologia de limpeza de gases

Redução de
Poluente Método de controle emissões
Redução catalítica seletiva
Óxidos de Nitrogênio Redução seletiva não catalítica
10% a 60%
(NOx) Controle do processo de
Combustão
Lavador de Gases úmido e a seco 50% a 85%
Gases e Material
Filtro de Manga 70% a 95%
particulado
Precipitador Eletrostático 95% a 99,9%
Controle do processo de
Monóxido de Carbono Combustão 50% a 90%
Lavador de Gases úmido e a seco 50% a 85%
Metais Pesados Filtro de Manga 70% a 95%
Precipitador Eletrostático 95% a 99,9%

75
,

4.2 Outros tratamentos a alta temperatura

4.2.1 Pirólise

De acordo com Lora (2002) a pirólise é definida como um processo de decomposição


térmica a alta temperatura na ausência de oxigênio, gerando como subprodutos
substâncias líquidas, gases combustíveis, óleos e sólido carbonáceo. O processo ocorre
em temperatura em torno de 500ºC a 1.000ºC em condições de não oxidação de forma
a quebrar as ligações químicas dos compostos produzindo compostos de baixo peso
molecular (Barros, 2013).

O processo de pirólise ocorre através de uma reação endotérmica, ao contrário da


combustão, na qual ocorre o fracionamento gradual das substâncias sólidas (resíduos)
à medida que estas passam pelas diferentes zonas de calor no interior do reator
pirolítico.

Os produtos da pirólise são:

 Gases compostos por Hidrogênio, metano, e monóxido e dióxido de carbono,


entre outros;

 Fração líquida constituída por um bio-óleo, ou óleo pirolítico, que consiste


numa mistura de água, oxigênio e diversos compostos hidrocarbonados de
estruturas complexas;

 Fração sólida constituída por carvão, estrutura de carbono porosa (aprox. 85%
de carbono), vidros, metais e alguns materiais inertes.

Cada uma das frações acima descritas depende das características dos resíduos como,
por exemplo, a umidade e das condições operacionais do reator, como temperatura,
pressão e velocidade de transferência de calor para a câmara de pirólise.

76
,

O processo de pirólise apresenta como vantagens:

 Redução de peso e volume dos resíduos;

 Obtenção de combustíveis e a geração de energia elétrica;

 Aproveitamento dos gases gerados.

Entre as desvantagens do processo de pirólise pode-se citar:

 Custo de investimento inicial e operação alto;

 Restrição no aproveitamento de RSU devido a variação de teor de umidade,


poder calorífico e teor de sólidos voláteis que influencia no controle do
processo, apresentando instabilidade do sistema e redução da eficiência.

4.2.2 Tecnologia de Plasma

O plasma consiste na utilização de um gás inerte ionizado por uma corrente elétrica
para formar um arco elétrico e atingir temperaturas em torno de 5000 a 15000ºC
(Lora, 2002). Os resíduos são tratados pela tecnologia de plasma de duas maneiras:
aproveitar o arco elétrico como uma fonte de calor para as reações de combustão ou
pirólise ou adicionando os resíduos diretamente no plasma para decomposição do
mesmo. Os produtos do processo são vapor d’água, gás carbônico, os metais são
convertidos em pedra vitrificada, escória, metal fundido e gases.

De acordo com IBRAHIN (2015) a tecnologia de plasma apresenta como vantagem a


rápida e completa decomposição dos resíduos devido as altas temperaturas, possibilita
a vitrificação de algumas substâncias inorgânicas, redução de volume e peso. Esta
tecnologia possibilita o tratamento de uma série de resíduos industriais perigosos,
resíduos sólidos urbanos, resíduos de serviço de saúde sendo capaz de reduzir em
torno de 99% do volume inicial.

77
,

A tecnologia apresenta como desvantagem o elevado custo de instalação e operação,


além de requerer pessoal altamente qualificado. O plasma requer tratamento de
efluentes gasosos, embora seja gerada uma menor quantidade de efluentes se
comparado a outros processos de tratamento como a incineração por exemplo.

4.3 Outros tratamentos a baixa temperatura

4.3.1 Micro-ondas

A micro-ondas é uma tecnologia de tratamento térmico que utiliza energia radiante


(ondas eletromagnéticas) para aquecer as moléculas de água presente nos resíduos
em torno de 100ºC por um determinado período de tempo. Este tratamento é
recomendado para resíduos de serviço de saúde de forma a reduzir a carga biológica
atendendo aos padrões estabelecidos na legislação. É recomendada ao tratamento de
pequenas quantidades de resíduos para que os mesmos possam entrar em contato
com o vapor produzido pelo aquecimento da água.

Geralmente para a utilização de micro-ondas no tratamento de resíduos, estes devem


ser previamente triturados e direcionados a uma câmara para serem submetidos a
injeção de vapor a alta temperatura para serem umedecidos. Após esta etapa os
resíduos são submetidos a um campo de micro-ondas (as ondas eletromagnéticas)
para agitação das moléculas de água presente no maciço de resíduos. Os resíduos
permanecem no reator por cerca de 30 minutos para redução da carga biológica,
redução do peso e volume.

Nesta técnica há emissão de efluentes gasosos (material particulado), podendo conter


substâncias orgânicas perigosas, tem um alto custo de implantação se comparado a
autoclave, apresenta limitação de quantidade de resíduos a serem tratados. Como
vantagem a utilização de micro-ondas tem alto grau de eficiência, apresenta boa
descaracterização dos resíduos (Barros, 2013, Cempre, 2018).

78
,

4.3.2 Autoclave

De acordo com Barros (2013) a autoclave é uma tecnologia que se assemelha a uma
panela de pressão com o objetivo de eliminar os microrganismos presentes nos
resíduos utilizando-se vapor a alta pressão e temperatura (50 a 250ºC). A autoclave
geralmente é utilizada no tratamento de resíduos de serviço de saúde como os
perfurocortantes, resíduos cirúrgicos, materiais contaminados, resíduos de hospitais e
clinicas de saúde em geral e de laboratórios antes da disposição final.

Uma autoclave é composta por um reator de metal hermeticamente fechado com


aplicação de vapor saturado sob pressão superior à atmosférica, na qual o resíduo
permanece por cerca de 40 minutos em alta pressão e temperatura para remoção dos
organismos patogênicos. Posteriormente os resíduos poderão ser triturados e
dispostos em aterros sanitários. Como o processo requer que toda massa de resíduos
esteja em contato com o vapor, esta tecnologia não é recomendada ao tratamento de
uma grande quantidade de materiais (Cempre, 2018).

Conclusão

Neste bloco você aprendeu os principais conceitos envolvendo as tecnologias de


tratamento de resíduos a alta e baixa temperatura, como a incineração, pirólise,
tecnologia de plasma, autoclave e micro-ondas. Foram apresentadas as principais
vantagens, desvantagens, aplicações e limitações.

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2013.

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80
,

5 RESÍDUOS INDUSTRIAIS

Apresentação

Neste bloco veremos os principais conceitos relacionados aos resíduos industriais,


como as características, classificação, as etapas de gerenciamento de resíduos como o
acondicionamento, transporte interno, armazenamento bem como as principais
técnicas de tratamento e disposição final ambientalmente adequada.

5.1 Definição, Características e Classificação dos resíduos industriais

De acordo com Barros (2013) os resíduos industriais são aqueles provenientes de


processos industriais que apresentam características e periculosidade variáveis que
dependem da diversidade de matéria prima utilizada, da eficiência do processo e dos
produtos gerados. Muitos processos produtivos podem gerar resíduos perigosos que
podem causar danos à saúde e ao meio ambiente e que, portanto, precisam de um
tratamento e disposição final ambientalmente adequada.

Os resíduos industriais possuem uma grande diversidade. Dentre eles podem ser
citados as cinzas, lodos, óleos, plásticos, papel, madeira, fibras, borracha, metal,
escórias, vidros, cerâmicas.

Devido a diversidade dos resíduos estes são classificados em Classe I (perigosos) e


Classe II (não perigosos), sendo que esta segunda classificação se subdivide em duas:
Classe II a (não inerte) e Classe II b (inerte) (Brasil, 2010a; Cempre, 2018).

Um resíduo é classificado como perigoso por apresentar algumas das características a


seguir: periculosidade, inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e/ou
patogenicidade de acordo com o estabelecido na NBR 10004/ 2004 (ABNT, 2004).

A classificação dos resíduos como perigosos é realizada a partir das análises físico-
químicas sobre o extrato lixiviado da amostra bruta do material a ser caracterizado
conforme estabelece a NBR 10005/2004 (ABNT/2004). O teste de lixiviação consiste
em separar as substâncias presentes nos resíduos por meio de lavagem. A classificação
em Classe II a e Classe II b é realizada por meio do teste de solubilização como
preconiza a NBR 10006 (ABNT, 2004).

81
,

O conhecimento sobre as características e periculosidade dos resíduos, natureza da


toxicidade, concentração dos componentes perigosos, riscos de contaminação do meio
ambiente, persistência das substâncias perigosas no meio, capacidade de
bioacumulação são fundamentais para se estabelecer as melhores práticas de
manuseio, tratamento e disposição final ambiental adequada. (Santos, 2017). Algumas
características dos resíduos industriais requerem maior atenção devido aos potenciais
danos ao meio ambiente e a saúde pública:

 Lixiviabilidade: alguns resíduos podem produzir lixiviados com potencial de


substâncias nocivas como metais pesados, hidrocarbonetos, compostos
fenólicos em concentrações críticas.

 Radioatividade: alguns processos industriais e de serviços de saúde podem


produzir resíduos com presença de substâncias radioativas que podem
ocasionar danos à saúde pública e ao meio ambiente. Estes tipos de resíduos,
devido a sua peculiaridade, são de competência da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN).

 Teratogenicidade: alguns resíduos possuem em sua composição substâncias


que podem ocasionar danos ao feto como deformações ou mesmo interromper
o processo gestacional.

 Mutagenicidade: alguns resíduos podem causar mutações no material genético


de células.

 Carcinogenicidade: algumas substâncias presentes nos resíduos podem ser


precursoras de tumores malignos.

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Brasil, 2010a) alguns
segmentos industriais estão sujeitos a elaboração de plano de gerenciamento de
resíduos que deve contém informações sobre a descrição da atividade, diagnósticos
dos resíduos, ações preventivas e corretivas para o bom gerenciamento dos resíduos,
procedimentos de minimização dos resíduos gerados, ações de responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida, informações sobre programa de reciclagem, medidas
mitigadoras dos passivos ambientais, entre outras.

82
,

A Resolução CONANA 313/2002 (CONAMA, 2008) estabelece a elaboração do


Inventário Nacional dos Resíduos Industriais para determinados segmentos industriais
como, por exemplo, as indústrias de preparação de couro, combustíveis, indústria
metalúrgica, petrolífera, produção de álcool, produtos químicos, entre outros
segmentos previstos na Classificação Nacional de Atividades Econômicas do IBGE. O
Inventário Nacional de Resíduos Industriais compreende informações sobre a geração,
características dos resíduos, armazenamento, transporte, formas de reutilização e
reciclagem, tecnologias de tratamento e disposição final.

5.2 Etapas da gestão dos resíduos industriais

As etapas de gestão de resíduos industriais contemplam o acondicionamento, coleta,


transporte interno, armazenamento temporário, transporte externo, tratamento e ou
disposição final.

Os resíduos são coletados no ponto de geração (geralmente na linha de produção) e


verificada a possibilidade de reutilização no próprio processo produtivo ou como
matéria prima de outros podendo ser encaminhados a reciclagem.

O acondicionamento dos resíduos industriais deve ser realizado em recipientes


prevendo a capacidade volumétrica e a carga, o tipo de transporte a ser submetido e a
forma de tratamento indicada. Os recipientes de acondicionamento devem ser
compatíveis com os resíduos a serem condicionados, ter resistência física para evitar
rompimentos e possíveis vazamentos, ter compatibilidade com os sistemas de
transporte no que diz respeito ao volume e peso. Geralmente utiliza-se tambores
metálicos, bombonas, sacos plásticos ou papel, contenedores para acondicionar os
resíduos industriais.

Depois de acondicionados os resíduos industriais passam pela etapa de transporte


interno realizada através de equipamentos como carrinhos de mão, empilhadeiras,
caminhões de diversas categorias para armazenagem temporária. As rotas para o
transporte interno dos resíduos devem ser planejadas identificada e sinalizada para
evitar acidentes.

83
,

O armazenamento dos resíduos é de caráter temporário e indicado para locais


devidamente autorizados pelo órgão de controle ambiental para que seja
encaminhado a reciclagem ou reutilização, tratamento ou disposição final
ambientalmente adequada. A NBR 12235/1992 estabelece as diretrizes para o
armazenamento de resíduos sólidos perigosos. De acordo com a norma nenhum
resíduo pode ser armazenado sem o conhecimento das suas propriedades físicas e
químicas.

O local destinado a armazenamento dos resíduos perigosos deve prever a minimização


dos riscos de contaminação ambiental, a aceitação da população, causar mínimas
alterações ecológicas e estar de acordo com o zoneamento ambiental da região. O
armazenamento dos resíduos deve ser realizado em locais distantes de recursos
hídricos para evitar contaminação de águas superficiais e subterrâneas.

Os resíduos no estado líquido devem ser armazenados em bacias de conteção de


maneira que se houver algum vazamento o material seja contido nestes tanques e
drenados. A bacia de contenção deve possuir resistência mecânica e quimica e ser
compatível com o resíduo a ser armazenado. A área de armazenagem de resíduos, que
geralmente é localizada no interior da indústria, deve ser coberta, protegida das
intemperies e impermeabilizada, dotada de sistema de monitoramento de vazamentos
e drenagem.

A PNRS estabelece que o gerador busque minizar a geração de resíduos em suas


instalações visando reduzir o volume e toxicidade dos mesmos e quando possível
encaminhe-os a reutlização e reciclagem.

5.3 Tratamento de resíduos industriais e Disposição Final

5.3.1 Tratamento dos resíduos sólidos industriais

O tratamento de resíduos sólidos industriais consiste na remoção da periculosidade


das substâncias presentes e na redução do volume. O tratamento pretende
descaracterizar o resíduo para que o mesmo deixe ser classificado como perigoso. O
tratamento aplicado aos resíduos depende das características, da matéria prima
empregada, dos processos envolvidos, dos custos embutidos e das determinações
legais.

84
,

Dentre as alternativas tecnológicas para tratamento de resíduos sólidos industriais


podem-se citar:

Incineração é um processo de queima controlada na presença de oxigênio, no qual os


materiais à base de carbono são reduzidos a gases e materiais inertes (cinzas e escórias
de metal) com geração de calor. Os detalhes sobre o processo de incineração foram
apresentados no capítulo anterior.

Co-processamento: consiste no aproveitamento dos resíduos produzidos na própria


unidade geradora como fonte energética (queima), ou como insumos e matérias
primas de outros processos, como no caso particular da indústria cimenteira. O
aproveitamento dos resíduos como fontes de energia a baixo custo desperta o
interesse das fontes geradores por verem nessa alternativa uma forma de minimizar o
problema da gestão de seus resíduos. Considera-se o co-processamento em fornos de
cimento (clínquer) como um processo de tratamento de resíduos similar a incineração,
porém com tempos de residência e temperatura maiores. Dentre os resíduos passíveis
de co-processamento podemos destacar aqueles com características similares aos
processos de clínquer, com presença de cálcio, sílica, alumínio, ferro, resíduos com alto
poder calorífico como lodos de Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), plásticos,
papéis, dentre outros. De maneira geral, os resíduos com alto poder calorífico são
indicados para o co-processamento para fornecer a energia térmica ao processo.

O co-processamento de resíduos é uma atividade sujeita ao processo de licenciamento


ambiental conforme estabelecido pela Resolução Conama 264/1999 de forma a
garantir a qualidade ambiental, evitar danos e riscos à saúde e atender aos padrões de
emissão previstos na legislação. Dentre as vantagens do co-processamento podemos
destacar a minimização dos impactos ambientais, é uma alternativa a recuperação dos
resíduos, redução no curso de fabricação de cimento devido ao aproveitamento dos
resíduos em fornos clínquer, economia e preservação de recursos naturais e fontes
energéticas, dispensa a disposição de cinzas em aterros além de aspectos financeiros.

85
,

Landfarming pode ser definido como um sistema de tratamento de resíduos através


de um processo biotecnológico na qual a população de microrganismos presentes no
solo é responsável pela decomposição da fração orgânica dos resíduos. Através dessa
técnica as bactérias aeróbias presentes na camada superior do solo (em torno de 15-
20cm) faz uso do carbono do resíduo como fonte de energia para o seu metabolismo e
desenvolvimento. O processo é realizado em algumas etapas como a degradação
biológica volatilização, percolação e lixiviação sendo os resíduos submetidos a uma
biorremediação in situ (no próprio local). A biorremediação requer o fornecimento de
oxigênio através da aração do solo e de nutrientes para que as bactérias aeróbias
possam realizar a biodegradação da fração orgânicas dos compostos produzindo
dióxido de carbono (CO2). O carbono remanescente permanece no solo como fonte de
energia para bactérias anaeróbias realizarem a decomposição de outros resíduos ali
dispostos. Quando o solo se encontra saturado de substâncias não biodegradáveis
como os metais pesados por exemplo, a camada superficial de solo deve ser
encaminhada ao aterro industrial (Francisco, 2007).

A norma NBR ISO 13.894/1997 (ABNT, 1997) estabelece os critérios de projeto,


construção, operação e manutenção da técnica de tratamento no solo Landfarming.
Esta norma preconiza que deve elevar ao máximo a degradação, a transformação e
imobilização dos compostos na camada reativa do solo. Estabelece ainda critérios de
declividade inferior a 5%, distanciamento de recursos hídricos de no mínimo 200m e
pelo menos 3 metros acima do lençol freático, instalação em áreas não sujeitas a
alagamento e de acordo com a lei de zoneamento da região.

É uma tecnologia empregada para tratamento de resíduos de petróleo, resíduos


oleosos os quais devem ser incorporados ao solo através de equipamentos com
dispositivos propícios para realizar a aeração do solo, em condições controladas para
facilitar o processo de degradação dos poluentes.

Para o bom desempenho do processo devem ser adicionados nutrientes (a base de


nitrogênio, fósforo e potássio), realizar o ajuste do pH do solo (adição de óxidos de
cálcio e magnésio), umidificá-lo, e garantir a aeração por meio de arado (Barros, 2012).

86
,

A técnica de Landfarming embora possa tratar uma grande variedade de resíduos


perigoso é um processo lento promovendo o acúmulo de metais pesados na camada
superior do solo necessitando a remoção e disposição em aterros industriais (Barros,
2013).

Estabilização e Encapsulamento a estabilização se trata de um processo de pré-


tratamento que consiste em reduzir o potencial de periculosidade do resíduo através
da adição de agentes estabilizadores e produtos químicos de forma promover reações
químicas transformando-os em materiais de baixa capacidade de lixiviação, alterar as
características dos resíduos para facilitar o manuseio, transporte, acondicionamento e
a disposição final e principalmente fixar os poluentes. Esta técnica busca imobilizar os
contaminantes, minimizar a formação de lixiviados, e aumentar a resistência dos
resíduos para evitar vazamentos.

O encapsulamento consiste em aplicar um material para revestir o resíduo para


garantir que o mesmo esteja em um invólucro, de forma a selar as substâncias
perigosas impedindo vazamentos de lixiviado. Dentre os materiais mais utilizados para
o encapsulamento pode-se destacar polímeros orgânicos ou materiais inertes. A
escolha dos resíduos sujeitos ao encapsulamento deve levar em consideração que
alguns componentes podem reagir entre si e com os materiais dos encapsulamentos
devendo, portanto, ser evitado.

Os processos estabilização e encapsulamento são métodos não destrutivos que


pretendem imobilizar os elementos perigosos dos resíduos e não a destruição e
remoção destes constituintes.

5.3.2 Disposição Final dos Resíduos- Aterros de Resíduos Perigosos

Os processos produtivos acarretam na geração de resíduos que requerem tratamento


e destinação adequados, sendo que muitos destes materiais contêm substâncias
tóxicas e algumas com propriedades bioacumulativas, podendo entrar na cadeia
alimentar dos seres vivos.

87
,

De acordo com Barros (2012) os aterros de resíduos perigosos são similares aos
aterros sanitários que consiste no depósito de resíduos em um local adequado, sendo
que sua construção deve obedecer a critérios de engenharia respeitando as normas e
legislações vigentes, de forma a confinar os resíduos de uma maneira segura,
minimizando os impactos ambientais.

A NBR 10157 (ABNT, 1987) estabelece alguns requisitos para o confinamento de


resíduos em aterros como o projeto e operação prevenindo impactos aos recursos
hídricos no entorno como, por exemplo, planos de emergência, plano de inspeção e
manutenção preventiva e plano de fechamento do aterro.

 Plano de Emergência: para casos de ocorrência de um incidente ou acidente a


NBR requer um plano de ações para conter situações indesejáveis como
incêndios, explosões, vazamentos de substâncias, emissão de gases com
informações sobre as técnicas e equipamentos a serem utilizados nestes casos
e a indicação do responsável pelo plano de emergência.

 Plano de Inspeção e Manutenção Preventiva: neste plano devem ser descritas


as atividades de manutenção periódica e a capacitação de colaboradores.

 Plano de Fechamento: Ao final da vida útil do aterro deve haver um plano de


fechamento contemplando algumas medidas de desativação, manutenção do
passivo, informações sobre a quantidade e qualidade dos resíduos ali dispostos
bem como indicações de utilização após o encerramento das atividades.

 Plano de Emergência: para casos de ocorrência de um incidente ou acidente a


NBR requer um plano de ações para conter situações indesejáveis como
incêndios, explosões, vazamentos de substâncias, emissão de gases com
informações sobre as técnicas e equipamentos a serem utilizados nestes casos
e a indicação do responsável pelo plano de emergência.

 Plano de Inspeção e Manutenção Preventiva: neste plano devem ser descritas


as atividades de manutenção periódica e a capacitação de colaboradores.

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,

 Plano de Fechamento: Ao final da vida útil do aterro deve haver um plano de


fechamento contemplando algumas medidas de desativação, manutenção do
passivo, informações sobre a quantidade e qualidade dos resíduos ali dispostos
bem como indicações de utilização após o encerramento das atividades.

Um aterro de resíduos perigosos requer a impermeabilização da base que consiste na


deposição de camadas de materiais de forma a impedir que ocorra infiltração no solo
dos lixiviados que são produzidos pela decomposição dos resíduos. Além das obras de
impermeabilização deve contemplar o monitoramento dos gases gerados no processo
mediante a análise da concentração e vazão dos gases produzidos pelo maciço de
resíduos. O aterro também deve contemplar um sistema de monitoramento de águas
subterrâneas através de rede de poços para verificar a qualidade das águas do lençol
freático (Barros, 2013).

A implantação de um aterro requer um estudo prévio sobre a melhor localização


disponível, segregação dos resíduos, monitoramento dos efluentes gasosos e recursos
hídricos superficiais e subterrâneos, inspeção, fechamento da instalação e treinamento
de pessoal (Cempre, 2018).

A disposição de resíduos industriais requer uma análise das propriedades físico


químicas dos materiais a serem confinados, pois muitos deles têm incompatibilidade
entre si, podendo apresentar características de inflamabilidade ou reatividade. Em
casos como os citados acima os resíduos precisam ser submetidos a um tratamento
prévio de diluição, absorção, neutralização para poderem ser dispostos em aterros.

Conforme apresentado na NBR 10157 (ABNT, 1987), alguns resíduos como por
exemplo lama de acetileno, líquidos fortemente alcalinos, soluções de cal, soluções de
soda cáustica em contato com outros tipos de resíduos como lamas ácidas, ácido
sulfúrico, ácidos de baterias, ácidos corrosivos podem reagir entre si e gerar calor. A
mistura dessas substâncias citadas acima com alumínio, cálcio, sódio, magnésio, lítio e
outros metais reativos ou hidretos metálicos podem ocasionar explosões, incêndios ou
produzir gás hidrogênio que é altamente inflamável.

89
,

Portanto o recebimento de resíduos industriais em aterros deve ser precedido de uma


análise das características dos resíduos para evitar a ocorrência desses efeitos
indesejáveis.

Outro aspecto preconizado na NBR 10157 (ABNT, 19870) é sobre o monitoramento das
águas subterrâneas e superficiais que deve ser precedido de um bom sistema de
impermeabilização da base do aterro. A camada impermeabilizante deve ser composta
de materiais compatíveis com o resíduo, de espessura e resistência adequados de
forma a evitar rupturas devido as pressões hidrostáticas e hidrogeológicas, do contato
físico com o resíduo e lixiviado, resistente as condições climáticas e as tensões as quais
são submetidas.

O monitoramento deve ocorrer desde a fase de implantação, de operação e após o


encerramento das atividades uma vez que os lixiviados continuam a ser gerados
mesmo após o fechamento do aterro por pelo menos 20 anos ou quando a produção
de lixiviado cessar. Os poços de monitoramento devem ser dotados de tampas para
evitar contaminação, de fácil manuseio para coleta de amostras e instalados a
montante e a jusante do sentido do escoamento da água subterrânea. A qualidade da
água deve atender os padrões de potabilidade estabelecidos pelas regulamentações
vigentes.

O encerramento das atividades deve prever medidas para minimizar a necessidade de


manutenções e intervenções e reduzir as emissões de gases para a atmosfera e
percolado para lençol freático ou recursos hídricos superficiais (Barros, 2013).

Conclusão

Neste bloco você aprendeu os principais conceitos envolvendo os resíduos industriais,


a classificação, os impactos decorrentes do descarte e gestão inadequada dos
resíduos. As formas de acondicionamento, transporte e armazenamento. Neste bloco
ainda foram apresentadas as principais tecnologias de tratamento de resíduos
industriais e a disposição final ambientalmente adequada para esta classe de resíduos.

90
,

REFERÊNCIAS

BARROS, R. M. Tratado Sobre Resíduos Sólidos. Interciência. Ex. 2. Rio de Janeiro,


2013.

BARROS, R. T. V. Elementos de gestão de resíduos sólidos. Belo Horizonte: Tessitura,


2012.

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para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólido. Rio de Janeiro. ABNT, 2004.

_____. Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT - NBR 10006: Procedimento


para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro. ABNT, 2004.

____. Associação Brasileira de Normas Técnicas- ABNT - NBR 10157: Aterros de


Resíduos Perigosos - Critérios para projeto, construção e operação. Rio de Janeiro:
ABNT, 1997.

_____. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT- NBR 11175: Incineração de


Resíduos Sólidos Perigosos – Padrão de Desempenho - Procedimento. Rio de Janeiro.
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_____. Lei N° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Diário Oficial da União. Brasília, 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso
em: 19 jun. 2020.

_____. Manual De Gerenciamento Integrado. 4.ed. São Paulo: Instituto de Pesquisa


Tecnológicas (IPT), Compromisso Empresarial para Reciclagem - CEMPRE. 2018.

_____. Ministério do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO CONAMA nº 313, de 29 de outubro


de 2002. Dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais do
CONAMA. Diário Oficial da União. Brasília, 2012.

91
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Confederação Nacional da Indústria. Recuperação energética de resíduos sólidos: um


guia para tomadores de decisão. Brasília: CNI, 2019.

Francisco, J. L.; França, K. C. Métodos de Tratamento de resíduos de Petróleo. Dossiê


Técnico. Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro- REDETEC. 2007

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de Resíduos: Gerenciamento de resíduos e Tratamento de efluentes. 1ª. ed. São Paulo:
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LORA, E. E. S. Prevenção e Controle da Poluição nos Setores Energético, Industrial e


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SANTOS, M. A. Poluição do Meio Ambiente. 1 Edição. Rio de Janeiro: LTC, 2017.

92
,

6 DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS

A última etapa do sistema de gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) é conhecida


como disposição final.

Parte dos resíduos sólidos urbanos produzidos nas cidades tem sido disposta no solo
em aterro sanitário, aterro controlado e lixão. O Aterro Controlado consiste em um
local de disposição de resíduo sólido que exclui o sistema de impermeabilização da
base, o tratamento do chorume e coleta do biogás. Os resíduos são confinados com
uma camada de material inerte ao final da operação diária. O Lixão é um local de
depósito de resíduo sólido a céu aberto que não promove a proteção à saúde pública e
ao meio ambiente. Este tipo de descarte acarreta em problemas sanitários decorrentes
da proliferação de doenças, geração de maus odores, poluição hídrica através da
infiltração para o lençol freático e contaminação de água superficiais, poluição do ar e
do solo.

Apresentação

Neste bloco veremos os principais conceitos relacionados as Formas de Disposição de


Resíduos Sólidos. Além disso, serão apresentados os principais componentes de um
aterro como o sistema de impermeabilização, drenagem de gases e chorume,
drenagem de águas superficiais, sistema de cobertura de aterro. Será apresentado o
dimensionamento de um aterro sanitário e os principais conceitos relacionados ao
aproveitamento energético do biogás.

6.1 Aterros sanitários

De acordo com Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) a disposição final


ambientalmente adequada consiste na distribuição ordenada de rejeitos em aterros
sanitários, respeitando as normas operacionais minimizando riscos à saúde pública e
ao meio ambiente. (Brasil, 2010a). A PNRS foi sancionada com o intuito de implantar
um sistema de gerenciamento adequado dos resíduos sólidos de forma que evitem o
descarte inadequado como em lixões e aterros controlados.

93
,

O aterro sanitário é um sistema de disposição de resíduos que utiliza princípios de


engenharia para confinar os resíduos sólidos em uma menor área possível reduzindo
seu volume a níveis adequados, cobrindo-os com uma camada de terra ao final de
cada jornada de trabalho. Nos aterros sanitários os resíduos são compactados no solo
e dispostos em camadas cobertas periodicamente por terra ou outro material inerte
dando a origem a uma célula do aterro.

A localização de um aterro sanitário deve prever a proteção ambiental e segurança


sanitária de forma a possuir condições satisfatórias dos aspectos hidrogeológicos,
geotécnico e topográfico, distanciamento de centros populacionais e estar de acordo
com o estabelecido na lei de zoneamento ambiental da região. A NBR 13987/1997
estabelece que o projeto de aterros sanitário tenha uma vida útil de pelo menos 10
anos. O estudo de áreas requer o levantamento de dados: (Cempre, 2018; ABNT,
1997).

 Geológico-geotécnicos: que consiste na obtenção das características estruturais


(falhas e fraturas) e tipos de rochas (permeabilidade), do local onde se
pretende implantar o aterro.

 Pedológicos: informações sobre as características e distribuição dos solos (solos


arenosos, argilosos ou siltosos) bem como disponibilidade de materiais que
possam ser utilizados para garantir a impermeabilização e cobertura do aterro.
Recomenda-se a utilização de materiais com coeficiente de permeabilidade
inferior a 10-6 cm/s e uma zona não saturada com espessura de no mínimo 3, 0
m.

 Geomorfológicos: informações sobre o relevo da área de implantação do aterro


(áreas de morros, colinas, planícies, encostas, etc.), sobre a declividade que se
recomenda variar entre. Recomendam-se locais com declividade superior a 1%
e inferior a 30%; e ocorrência de processos erosivos, de inundações, entre
outros.

94
,

 Águas subterrâneas e superficiais: devem ser analisados dados da profundidade


do lençol freático, da zona de recarga das águas subterrâneas, e levantamento
das principais bacias e mananciais subterrâneos e superficiais de interesse ao
abastecimento público. De acordo com as normas vigentes recomenda-se que
o aterro seja implantado em área com distancia de pelo menos 200 metros de
qualquer recurso hídrico.

 Climatológicos: dados sobre precipitação, temperaturas e ventos são


importantes para as estimativas de geração de chorume, dimensionamento dos
sistemas de águas pluviais e dispersão de gases, poeira, ruído e odores.

 Legislação aplicável: referem-se as legislações ambientais, pois se trata de uma


atividade que gera impacto ambiental. Dentre as principais informações a
serem consideradas, destaca-se a delimitação das áreas de proteção ambiental,
áreas de proteção de mananciais, parques, reservas e áreas tombadas e
zoneamento urbano.

 Dados socioeconômicos: servem de base para a tomada de decisões técnico-


políticas para a seleção da área para implantação do aterro. Dentre as
principais informações relevantes citam-se o uso e ocupação do solo, valor da
terra, distanciamento de centro urbanos de pelo menos 500 metros,
infraestrutura básica e aceitação da população.

Os dados técnicos apontados acima são critérios, conforme apresentado na Tabela 6.7,
que devem ser ponderados para a tomada de decisão sobre a área mais recomendada
à implantação do aterro sanitário dentre as áreas previamente selecionadas.

Tabela 6.7. Critérios para seleção de áreas para implantação de aterro sanitário

Dados Necessários CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS


Adequada Possível Não-recomendada
Vida Útil Maior que 10 Menor que 10 anos (a critério do órgão
anos ambiental)
Distância populacional 5-20 km 5 km < distância > 20
km

95
,

Zoneamento Áreas sem restrições no zoneamento Unidades de


ambiental ambiental conservação
ambiental e
correlatas
Zoneamento urbano Vetor de Vetor de Vetor de crescimento
crescimento crescimento principal
mínimo intermediário
Densidade Baixa Média Alta
populacional
Uso e ocupação das Áreas devolutas ou pouco utilizadas Ocupação intensa
terras
Valor da terra Baixo Médio Alto
Aceitação da Boa Razoável Oposição severa
população e de
entidades ambientais
não-governamentais
Declividade do 3 ≤ declividade 20 ≤ declividade ≤ Declividade < 3 ou
terreno (%) ≤ 20 30 declividade >30
Distância aos cursos Maior que 200 Menor que 200 m, com aprovação do
d'água (córregos, m órgão ambiental responsável
nascentes, etc)
Fonte: Cempre, 2018

O confinamento de resíduos em aterros pode ser realizado através de três métodos


dependendo das condições topográficas e das características citadas acima (Cempre,
2018; Barros, 2013).

 Método da trincheira ou vala: consiste na abertura de valas para disposição


dos resíduos seguido da cobertura com solo. As trincheiras possibilitam a
operação de forma manual ou através de equipamentos. É recomendado para
terrenos planos ou com pouca inclinação e o nível do lençol freático deve ter
uma profundidade maior em relação a superfície. Este método é recomendado
quando há interesse no excedente do solo para recobrimento da massa de
resíduos, não deseja alteração da topografia do terreno e quando se pretende
construir camadas de resíduos acima das valas de formar a aproveitar o
terreno.

96
,

 Método da rampa: método empregado em terrenos com topografia


acidentada. Os resíduos são descarregados nas áreas planas possíveis de serem
escavadas e o próprio solo é utilizado na coberta do maciço. Este método é
conhecido como escavação progressiva sendo muito utilizado em áreas de
encostas.

 Método da área: método empregado em terrenos de topografia plana de


forma não promover alteração da topografia e com nível de lençol freático
raso. Neste método de operação os resíduos são dispostos em camadas
sobrepostas acima da superfície do terreno.

Em aterros de grande porte geralmente é empregado mais de um método de operação


de forma a aproveitar as características topográficas do terreno.

O aterro envolve o confinamento de resíduos compactados, o recobrimento diário dos


resíduos, manutenção de acessos a equipamentos de compactação e disposição dos
rejeitos, monitoramento de águas subterrâneas e drenos de gases e a verificação das
características dos resíduos para evitar incompatibilidade dos mesmos.

A seguir são apresentados os componentes obrigatório num aterro sanitário:

 Sistema de cobertura do lixo;

 Impermeabilização de base;

 Drenagem e escoamento das águas superficiais;

 Sistema de drenagem do chorume;

 Sistema de tratamento do chorume;

 Sistema de drenagem dos gases.

A implantação de um aterro sanitário segue as diretrizes das normas ABNT NBR


13896/1997 e ABNT NBR 8419/1992. A primeira estabelece condições mínimas para o
projeto, a implantação e a operação dos aterros atendendo os requisitos necessários
para proteção dos recursos hídricos superficiais e subterrâneas os colaboradores e a
população circunvizinha. A NBR 8419/1992 trata das condições mínimas exigíveis para
a apresentação dos projetos de aterros.
97
,

Sistema de Impermeabilização:

De acordo com as normas vigentes um aterro sanitário deve conter um sistema de


impermeabilização que consiste na deposição de camadas de materiais que impeça a
contaminação do subsolo e aquíferos pela migração de percolados e/ou biogás.

Um sistema de impermeabilização deve apresentar as seguintes características:

 Estanqueidade;

 Durabilidade;

 Resistência mecânica;

 Resistência às intempéries;

 Compatibilidade físico-química-biológica com os resíduos.

Os materiais comumente empregados para a impermeabilização da área de


implantação são os solos argilosos e argilas compactadas e as geomembranas
sintéticas. As geomembranas mais recomendadas devido à resistência mecânica,
durabilidade, compatibilidade com os resíduos é o polietileno de alta densidade
(PEAD) e também as geomembranas de PVC (Cempre, 2018).

Sistema de cobertura dos resíduos

O sistema de cobertura (diária, intermediária e final) tem por objetivo proteger a


célula de armazenamento de resíduos, minimizar os impactos ambientais, diminuir a
proliferação de vetores, reduzir a geração do chorume, evitar que a população faça
buscas no aterro atrás de produtos, facilitar o tráfego de veículos coletores no interior
do aterro, evitar queima de resíduos e o vazamento de biogás. A cobertura final do
aterro deve ser resistente a erosão e de forma que possibilite utilização após o seu
fechamento. A cobertura final deve prever uma camada de proteção vegetal de forma
a harmonizar o ambiente com a região local, aumentar a evapotranspiração, reduzir a
quantidade de precipitação que infiltra no maciço de resíduos e, portanto, a geração e
chorume, além de melhorar a estabilidade do terreno evitando processo erosivos.

98
,

A cobertura diária é realizada ao final da jornada de trabalho e deve possuir uma


camada de 20cm de solo, a intermediária é destinada a áreas do aterro que ficarão
inativas por períodos prolongados em função da necessidade do aterro.

Sistema de drenagem de águas pluviais

O sistema de drenagem de águas pluviais tem objetivo de interceptar o escoamento


superficial das águas pluviais de forma a reduzir a entrada de águas de chuva para o
interior do aterro, com o intuito de minimizar a geração de chorume e o escoamento
superficial que pode provocar processos erosivos nos taludes do aterro e
comprometer o funcionamento das camadas de cobertura final.

Para o dimensionamento da rede de drenagem deve se considerar principalmente a


vazão de águas pluviais e como se trata de pequena bacia, recomenda-se utilizar o
método Racional.

Q=CxixA

Onde:

Q = vazão a ser drenada na seção considerada (m3/s);

C = coeficiente de escoamento superficial (valor empírico dado em função do tipo de


cobertura do solo e declividade) (Adimensional);

A = área da bacia contribuinte (m2);

i = intensidade de chuva (m/s).

Uma rede de drenagem de águas pluviais deve ser distinta do sistema de drenagem de
percolados uma vez que o chorume precisa ser encaminhado a um tratamento
complexo antes de ser lançado nos corpos hídricos. A água pluvial, dependendo das
características físico químicas poderão ser lançadas diretamente no corpo d’água
receptor.

99
,

Sistema de drenagem de gases

O processo de decomposição da matéria orgânica no interior do aterro produz gases


que precisam ser removidos do maciço e tratados. O sistema de drenagem de gás tem
a função de drenar os gases produzidos evitando sua migração através dos meios
porosos que constituem o aterro e que podem ser acumular e ocasionar explosões
uma vez que a concentração de metano pode chegar a 50% dependendo das
características do resíduo depositado. A rede de drenagem deve ser implantada em
locais estratégicos que contemple toda extensão do aterro, podendo ser constituída de
drenos verticais e horizontais interligados desde a base do aterro até a cobertura. Esse
sistema de drenagem pode ser interligado a rede de drenagem de percolados para
aproveitar a estrutura implantada.

Os drenos de captação de biogás são constituídos de tubulações perfuradas


sobrepostos e revolvidos por uma camada de brita de diâmetro similar ao diâmetro da
tubulação de coleta. Recomenda-se a instalação de drenos verticais a cada 50 a 100
metros sendo que na extremidade da tubulação devem ser instalados queimadores de
gases. Os queimadores têm por objetivo evitar maus odores gerados no processo de
decomposição e redução a emissão de metano à atmosfera.

A decomposição dos resíduos orgânicos dispostos em aterros sanitários gera um


biogás, cujo principal componente é o metano (CH4) que é considerado um gás que
intensifica o efeito estufa (GEE), promovendo o aquecimento global. Alguns aterros
possuem um sistema de captação de biogás para combustão ou produção de energia.
Esse é um projeto que visa a obtenção de créditos de carbono no mercado com a
redução das emissões de metano à a atmosfera.

Sistema de drenagem de chorume

O sistema de drenagem de percolado consiste em remover o lixiviado gerado no


interior do aterro para fora de forma que se reduz as pressões sobre a massa de
resíduos e minimize potenciais riscos de contaminação do solo e lençol freático. O
chorume produzido pela decomposição da matéria orgânica ocasiona danos as
estruturas do aterro como por exemplo na camada impermeabilizante e os possíveis
problemas de instabilidade. O sistema de drenagem constituiu-se na implantação de
drenos com materiais filtrantes numa tubulação perfurada para direcionar os lixiviados
a um tanque de acúmulo para serem encaminhados ao tratamento.

100
,

A drenagem de chorume deve ser implantada em todos as camadas de resíduos e


geralmente os drenos são constituídos por linhas de canaletas escavadas diretamente
no solo, ou sobre a camada de aterro e preenchidas com material filtrante. Podem
apresentar configuração similar a uma espinha de peixe ou um colchão drenante. A
espinha de peixe tem menor custo e menor eficiência, já o colchão drenagem por
envolver uma maior área é mais dispendiosa.

De acordo com Jaramillo (2002) a geração de lixiviado em um aterro sanitário depende


de fatores como:

• Precipitação na área do aterro;

• Escoamento superficial e/ou infiltração subterrânea;

• Evapotranspiração;

• Umidade natural dos resíduos;

• Grau de compactação dos resíduos;

• Capacidade do solo e dos RSU para reter umidade).

Existem alguns modelos matemáticos de previsão da geração de percolados no aterro


sanitário. Entre eles podem se destacar o método Suíço que considera a precipitação
média anual, a área superficial do aterro e um coeficiente que depende do grau de
compactação do resíduo conforme apresenta a equação abaixo (Jaramillo, 2002).

Onde:

Q = vazão média de lixiviado ou líquido percolado (L/seg);

P = Precipitação média anual (mm/ano);

A = Área superficial do aterro (m2);

101
,

t = número de segundos em um ano (31.536.000 seg/ano);

K = coeficiente que depende do grau de compactação do lixo.

Dependendo da compactação do aterro deve-se adotar um coeficiente k, conforme


apresentado na Tabela 6.2.

Tabela 6.8. Coeficiente K para aplicação no Método Suíço.

Peso específico dos resíduos no aterro K (admensional)

0,4 a 0,7 t/m3 (pouco compactados) 0,25 a 0,5

> 0,7 t/m3 (bem compactados) 0,15 a 0,25

A partir do cálculo da vazão de lixiviados, é possível dimensionar os drenos conforme


expressão abaixo (Recesa, 2008):

Q=kxixA

Onde:

 Q= a vazão de projeto para a seção do dreno de lixiviado considerada (m3/s);

 K= coeficiente de permeabilidade do meio drenante (brita) (m/s);

 i= gradiente hidráulico, que pode ser aproximado pela declividade do dreno no


trecho considerado (m/m);

 A= área de contribuição do aterro para o dreno considerado (m2).

Tabela 6.9. Coeficiente de permeabilidade do meio drenante

Permeabilidade
Material ou meio drenante
K (m/s)
Brita nº 5 (75 – 150 mm) 1
Brita nº 4 (50 – 75 mm) 0,8
Brita nº 3 (38 – 50 mm) 0,45
Brita nº 2 (25 – 38 mm) 0,25
Brita nº 1 (19- 25 mm) 0,15
Brita nº 0 e pedrisco (9,5 – 19 mm) 0,5
Areia grossa (4,8 – 6,3mm) 0,01 a 10-3

102
,

Com a área do dreno calculada, define-se a forma da seção (retangular ou trapezoidal)


e calculam-se suas dimensões a partir de uma largura mínima: 40 cm. A declividade
recomendada deve ser entre 1% ou 2%: 0,01< i<0,02 m/m para um melhor
escoamento do chorume.

Exercício de Aplicação:

Considere um aterro sanitário com área útil de 5 há, recebendo cerca de 400 t/dia de
resíduos. Suponha que o aterro esteja localizado em um município onde a precipitação
média anual é de 110 mm/mês. Calcule:

a) A vazão média de lixiviado gerado, utilizando o Método Suíço considerando um


k de 0,5.

b) O número de drenos que deverá ser instalado, considerando um raio de


influência de 20 m cada um. Adote Brita nº3 (38-50 mm) = 0,45.

Solução:

Dado a equação para o cálculo da produção de lixiviado e substituindo os valores


dados no enunciado temos:

a) Vazão de chorume

Q= (110 x 50000 x 0,5) / 2592000= 1,06 l/s

b) Cálculo da área e dimensão do dreno

Q  kiA

Q
A
k i

-3
A= (1,06 x 10 )/(0,45x0,015)= 0,157m2

103
,

Adotar a seção como retangular ou quadrada.

Neste exercício vamos adotar seção quadrada.

A=L2 => L2= 0,15  L= 0,40m

Raio de influência do dreno= 20m

Nº drenos= Au/A  2
)

Nº drenos= 50.000/ (3,1416*202) = 39,8

Adotar 15% a mais  Nº drenos= 39,8*1,15=46 drenos

6.2 Dimensionamento de um Aterro Sanitário

6.2.1 Cálculo do Volume de aterro necessário

De acordo com Jaramillo (2002) os requisitos para dimensionamento do aterro


sanitário dependem de alguns fatores como:

 Da produção total de resíduos;

 Da cobertura da coleta no município;

 Da densidade dos resíduos estabilizados no aterro;

 Da quantidade de material de cobertura (20-25%) do volume compactado de


RSM.

Cálculo da quantidade de resíduos produzidos

Para o dimensionamento do aterro sanitário é necessário calcular a geração diária de


resíduos sólidos que pode ser expressa de acordo com a equação abaixo:

GRS diária= Pop x I

104
,

Onde:

 GRS diária= produção diária de resíduos (kg);

 Pop= nº de habitantes;

 I= geração per capita.

Cálculo do Volume de resíduos sólidos

A partir do cálculo da quantidade de resíduos gerados pode se calcular o volume diário


e anual de resíduos recém compactados e estabilizados que se deseja depositar no
aterro.

Vdiário =DCp /D

Vanual compactado = Vdiário x 365

Onde:

 Vdiário = Volume de resíduos dispostos em um dia (m3/dia);

 Vanual = Volume de resíduos dispostos em um ano(m3/ano);

 DCp = Quantidade de resíduos produzidos (kg/dia);

 365 = Equivalente a um ano (dias);

 D= Densidade dos resíduos recém compactados (400-500 kg/m3) e estabilizado


(500-600 kg/m3);

O parâmetro densidade dos resíduos é um dos mais importantes no dimensionamento


dos aterros sanitários. A Tabela 6.10 apresenta a densidade de projeto da célula diária
para resíduos recém compactados e resíduos já estabilizados.

105
,

Tabela 6.10. Densidade dos resíduos

Tipos de resíduos Densidade (kg/m3)


Resíduos recém compactados 400 - 500
Resíduos estabilizados 500 - 600

Cálculo do material de cobertura

O material de cobertura corresponde à camada de solo que cobrirá o maciço de


resíduos após o fechamento da célula.

m. c. = Vanual compactado x (0,20 ou 0,25)

Onde:

 m. c. = material de cobertura equivale a 20 a 25% de volume de resíduos recém


compactados.

Cálculo do Volume do Aterro Sanitário

A partir das informações calculadas acima é possível determinar o volume do aterro


sanitário para o primeiro ano de funcionamento.

VRS = Vanual estabilizado + m. c.

Onde:

VRS = Volume do aterro sanitário (m3/ano);

m. c. = material de cobertura (20 a 25% de volume de resíduos recém compactados).

Para saber o volume total ocupado durante a vida útil do aterro, utiliza-se a equação
abaixo:

106
,

Onde:

 VASvu = volume do aterro sanitário durante a vida útil (m3);

 n = número de anos.

6.2.2- Cálculo da área requerida

A partir dos cálculos do volume de resíduos pode-se determinar a área requerida para
a implantação do aterro sanitário. Para o cálculo da área é necessário o levantamento
da quantidade de resíduos a se dispor no terreno, quantidade de material de
cobertura, a densidade de compactação dos resíduos e a profundidade ou altura do
aterro sanitário, bem como incluir áreas adicionais para os trabalhos de manobra.

ARS =VRS/ hRS


Onde:
 VRS = volume do aterro (m3/ano);
 ARS = área para aterrar (m2);
 hAS = altura ou profundidade média das valas do aterro (m).

A área total requerida para implantação do aterro será:

AT = ARS x F
Onde:
 AT= área total requerida (m2);
 F= Fator adicional (reformas, construções, pátio de manobras). (20 a 40 % da
área para aterrar).

Utilizando o método das trincheiras (valas), como o sistema operacional do aterro,


para o dimensionamento deve-se determinar o volume da trincheira através da
equação matemática abaixo que considera a vida útil da mesma em torno de 60 a 90
dias (Jaramillo, 2002).

A partir da informação referente a vida útil da trincheira é possível determinar o


volume de escavação conforme Equação abaixo:

107
,

Onde:
 Vv = Volume da vala (m3);
 t = Tempo (vida útil) (dias);
 DSc = Quantidade de resíduos coletada (kg/dia);
 m. c. = Material de cobertura (20-25% do volume compactado);
 Drsm = Densidade dos resíduos no aterro (kg/m3).

A profundidade da vala varia de 2 a 4 metros e depende do nível do lençol freático, do


tipo de solo e envolve custos de equipe e de escavação. A largura da vala varia entre 3
e 6 metros. O tamanho da trincheira é condicionado ao tempo de duração ou vida útil
da vala.

Onde:
 l = Tamanho ou longitude da vala (m);
 VV = Volume da vala (m3);
 a = Largura (m);
 hV = Profundidade (m).

O método de trincheira possibilita determinar a vida útil do terreno escolhido a partir


do número de valas possíveis de serem escavadas na área. Recomenda-se que a
distância entre as valas seja de um metro para maior estabilidade (Jaramillo, 2002).

108
,

Exercício 2: A cidade de Itajubá-MG pretende construir um aterro sanitário para dispor


seus resíduos por um período de 10 anos. Pode-se calcular a área necessária para
dispor os resíduos durante o período da vida útil para que em seguida seja escolhida a
melhor área disponível na região. Utilize os dados abaixo para o dimensionamento da
área necessária para a implantação do aterro.

Geração diária de resíduos: 10.000 kg/dia.

Densidade dos resíduos sólidos:

 Recém compactados: 400 kg/m3;

 Estabilizados: 500 kg/m3.

Assumir uma profundidade média de 6 metros e um fator de aumento F para as áreas


adicionais de 30%.

Solução:

Determinar o volume diário recém compactado e estabilizado:

DC p
Vdiário 
Drsm

Recém compactado: Vdiário= 10000 (kg) /450 (kg/m3) = 22,22 m3

Estabilizado: Vdiário= 10000 (kg) /500 (kg/m3) = 16,67 m3

Vanual compactado  Vdiário  365

Vanual compactadoestabilizado= V diário estabilizado x 365 = 16,67*365 = 6083,33 m3/ano

Vanual compactadorecémcompactado= V diário recémcompactado x 365 = 22,22*365 = 8111,11 m3/ano

Determinar o volume material de cobertura (20 a 25% do RS recém compactado):

m.c.  Vanual compactado  (0,20 a 0,25)

109
,

m.c.= 8111,11*0,30= 1622,22 m3/ano

Cálculo do volume do aterro sanitário para o primeiro ano:

VAS= Vanual estabilizado + mc

VAS=6083,33 m3/ano + 1622,22 m3/ano=7.705,56 m3/ano

Vida útil de 10 anos:

VAS= 7705,56 m3/ano * 10 anos = 77.055,6 m3

Cálculo da área do aterro:

VAS
AAS 
hAS

AAS= 77055,6(m3)/6(m) = 12842,59 m2

Área de ampliação = área *F (Fator 20 a 40% - dado exercício de 30%)

Área de ampliação = 12842,59*0,30

Área de ampliação = 3852,78 m2

Atotal= AAS+ A ampliação= 12842,59 +3852,78 = 16.695,37m2

Exercício 3: A cidade de São Lourenço - MG dispõe de um terreno plano para


construção de um aterro sanitário pelo método de trincheiras. Determine o volume de
uma trincheira e suas dimensões para 60 dias de duração.

110
,

População: 30.000 habitantes;

Geração Per capita: 0,5 kg/hab.dia;

Cobertura da coleta: 75%;

Densidade: 500 kg/m3;

Material de cobertura= 1,2 (20%).

Solução:

Volume da
trincheira-
t  DSc  m.c.
dimensões para 60 VV 
dias de duração Drsm

Vgerado = 30.000 hab* 0,5kg/hab.dia= 15.000kg/dia

Vcoletado = 15.000*0,75=11250 kg/dia

VV= (60*11250*1,2)/500= 1620 m3

Dimensões da vala (trincheira);

Profundidade= 2 a 4 metros – depende do lençol freático;

Largura = entre 3 e 6 metros.

O tamanho da trincheira é condicionado ao tempo de duração (60 a 90 dias) ou a vida


útil da vala.

VV
I
a  hV
Neste exercício vamos adotar: Profundidade = 4 metros e Largura = 6 metros

I = 1620(m3)/( 6m*4m)= 67,5 m

111
,

6.3 Aproveitamento energético de biogás

6.3.1 – Produção de Biogás

A disposição de resíduos sólidos em aterros sanitários é submetida ao processo de


decomposição anaeróbia produzindo um biogás. O biogás é uma mistura de gases
gerados pela volatilização de compostos químicos e pela biodegradação exotérmica da
matéria orgânica, devido à ação de bactérias, fungos e protozoários, na ausência de
oxigênio. Dos subprodutos da decomposição da matéria orgânica destaca-se o gás
metano (CH4). Além do metano o biogás é constituído por dióxido de carbono (CO2),
oxigênio (O2), ácido sulfídrico (H2S), amônia (NH3), hidrogênio (H2), nitrogênio (N2) e
outros gases em menores concentrações. O metano e o dióxido de carbono são os
gases predominantes na composição do biogás, correspondendo, em média, a cerca de
40 - 60% (Guedes, 2007).

A produção de biogás está diretamente relacionada com a participação de fração


orgânica dos resíduos além de aspectos como a geometria do aterro, características
dos resíduos, entre outros. Uma maior compactação dos resíduos auxilia no processo
anaeróbio e promove maior geração de biogás. Os compostos ricos em carbono são
degradados mais rapidamente do que os elementos que possuem lignina como, por
exemplo, o papel. Alguns parâmetros como a umidade, pH, temperatura e a presença
de certas substâncias como, por exemplo, metais pesados, podem favorecer ou inibir a
produção e biogás. Para maximizar a formação de biogás a umidade deve estar em
torno de 20 a 40%, o pH ideal é o neutro, a temperatura favorável a produção de
biogás varia em torno de 35 a 45ºC (Guedes, 2007).

O processo de decomposição da matéria orgânica dos resíduos é realizado em 5


etapas.

Etapa 1: Hidrólise: ocorre no início da disposição dos resíduos no aterro. Nesta fase
ainda há presença de oxigênio na parte recém implantada e as bactérias convertem a
matéria orgânica em moléculas menores. Nesta fase ocorre a liberação de dióxido de
carbono.

112
,

Etapa 2: Transição: Nesta etapa inicia a fase anaeróbia e o pH começa a diminuir


devido a conversão de matéria orgânica em ácidos orgânicos da fase anterior.

Etapa 3: Acidogênese: Ocorre a formação de ácido acético, hidrogênio e CO2. Nesta


fase se dá o início da geração de metano pela atuação das bactérias acetogênicas.

Etapa 4: Metanogênese: esta fase corresponde à geração do metano que se inicia


alguns após a deposição dos resíduos e pode durar muitos anos. Nesta fase, os
subprodutos da etapa anterior são convertidos em metano, CO 2, H2S e NH3. Esta fase é
marcada por maiores temperaturas devido as reações exotérmicas, podendo atingir a
valores próximos de 70ºC. Nesta etapa o pH tende a voltar a neutralidade.

Etapa 5: Maturação: Nesta fase, a maior parte da matéria orgânica já foi estabilizada
tendendo ao encerramento da produção de biogás e iniciando a formação de
nitrogênio. Um indicativo de que o processo de formação de metano está finalizando é
o aumento do pH.

6.3.2 – Sistema de Extração do Biogás

O biogás possui cerca de 50% de metano e possui diversas aplicações energéticas,


como combustível em um motor de combustão interna a gás para geração de energia
elétrica, pode ser utilizado na produção de calor de processo, na secagem de grãos em
atividades agrícolas, na secagem de lodo em Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs),
queima em caldeiras, entre outras. Para o aproveitamento energético do biogás
produzido em aterros sanitários, é necessário implantar um sistema para a extração do
biogás do interior do aterro (ICLEI, 2009).
O sistema de captação do biogás é composto por drenos horizontais e verticais,
sopradores/ aspiradores, filtros para a remoção de material particulado tanques para
separação do condensado para proteger os sopradores aumentando a vida útil destes
equipamentos.

113
,

Em toda a área do aterro são instalados poços de captação de biogás que consiste de
drenos verticais que atravessam todo o perfil do aterro desde a parte inferior (fundo
do aterro) até a superfície. Estes poços podem ser de concreto ou PEAD (Polietileno de
Alta densidade) perfurado para que o biogás possa entrar no interior desta tubulação e
em volta são revestidos por materiais granulares para facilitar o processo de
drenagem. Os drenos possuem diâmetros desde 50 até 150 cm, dependendo das
características do aterro e da vazão de biogás. Cada poço de captação tem uma área
de influência que varia em torno de 15 a 30 m dependendo da profundidade do aterro
como mostra a Figura 6.4.

Figura 6.4. Distribuição de poços de captação de biogás

O sistema de extração de biogás utiliza tubulações individuais para cada poço de


captação, ou grupos de poços, para drenar o gás e encaminhá-los as Estações de
Regularização de fluxo também denominados manifolds. Estas estações são
distribuídas em toda a extensão do aterro de forma estratégica para facilitar o
processo de coleta do biogás.

114
,

As estações de Regularização são ligadas diretamente as tubulações que constituem os


coletores principais e são dotadas de válvulas na saída de cada manifold para controle
da vazão de biogás encaminhado a central de biogás para o uso final. Recomenda-se
que cada estação de regularização tenha uma média de 10 poços interligados.

As estações devem ter pontos de amostragem de forma a monitorar a velocidade,


temperatura e umidade do gás através de analisadores portáteis. A tubulação deve ser
instalada de forma que haja um caimento de no mínimo 3% para facilitar o
escoamento do percolado.

6.3.3 Sistema de Queima em Flare e Geração de Energia

O biogás de capturado deve ser encaminhado para uma central de biogás que tem por
objetivo remover o percolado remanescente e destinar o biogás para queima em Flare
ou para geração de energia elétrica (ICLEI, 2009).

Um Flare é constituído de um reator de aço carbono e isolado internamente com fibra


cerâmica, com queimadores internos instalados em um coletor inferior o qual o duto
do biogás é conectado. O duto de biogás tem uma bifurcação que direciona parte do
gás aos sistemas de geração de energia. A ignição é realizada através de um queimador
piloto que é acionado com GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) como combustível inicial.

Para a geração de energia elétrica utiliza-se um sistema constituído de motor a gás de


ciclo Otto, pois apresenta maior rendimento e menor custo acoplado a um gerador
elétrico. A grande vantagem do aproveitamento energético do biogás de resíduos é
que possibilita a geração de energia para o próprio aterro ou, dependendo da
quantidade de biogás, é possível abastecer uma cidade. Gera economia, pois não
precisa utilizar energia da concessionaria, permite a venda de excedente de energia e
há possibilidade de obtenção de créditos de carbono. O sistema de aproveitamento
energético de biogás de aterro é dispendioso de forma que não poderá substituir
outras fontes de energia comumente utilizadas no Brasil.

115
,

Outra alternativa para a geração de energia elétrica é através de microturbinas no qual


o ar é injetado no interior da turbina à alta velocidade e pressão e, ao misturar com o
combustível, no caso o biogás do aterro, ocorrerá a combustão. Os gases quentes
resultados da reação de combustão expandem-se na turbina e o calor residual é
utilizado no aquecimento do ar de combustão (ICLEI, 2009).

Conclusão

Neste bloco você aprendeu os principais conceitos envolvendo a disposição final de


resíduos sólidos em aterros sanitários. Foram apresentados os principais componentes
de um aterro sanitário, sistema de impermeabilização, drenagem de águas pluviais,
drenagem de percolado, sistema de drenagem de gases do aterro. Foram
apresentados os principais parâmetros de dimensionamento de um aterro sanitário,
bem como o aproveitamento energético do biogás.

REFERÊNCIAS

BARROS, R. M. Tratado Sobre Resíduos Sólidos. Interciência. Ex. 2. Rio de Janeiro,


2013.

BRASIL. Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT - NBR 10157: Aterros de


Resíduos Perigosos - Critérios para projeto, construção e operação. Rio de Janeiro:
ABNT, 1997.

_____. Lei N° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Diário Oficial da União. Brasília, 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso
em: 19 jun. 2020.

_____. Manual De Gerenciamento Integrado. 4.ed. São Paulo. 2018. Instituto de


Pesquisa Tecnológicas (IPT), Compromisso Empresarial para Reciclagem - CEMPRE.

116
,

_____. Manual para aproveitamento do biogás: volume um, aterros sanitários. ICLEI -
Governos Locais pela Sustentabilidade, Secretariado para América Latina e Caribe,
Escritório de projetos no Brasil, São Paulo, 2009.

_____. Resíduos sólidos: projeto, operação e monitoramento de aterros sanitários.


Guia do profissional em treinamento: nível 2. Ministério das Cidades. Secretaria
Nacional de Saneamento Ambiental (org.). Belo Horizonte: ReCESA, 2008.

Confederação Nacional da Indústria. Recuperação energética de resíduos sólidos: um


guia para tomadores de decisão. Brasília: CNI, 2019.

GUEDES, V. P. Estudo do fluxo de gases através do solo de cobertura de Aterro de


Resíduos Sólidos Urbanos. Tese (Mestrado em Engenharia Civil) - Coordenação dos
Programas de Pós-Graduação de Engenharia - COPPE, UFRJ. Rio de Janeiro, 2007.

JARAMILLO, J. Guía Para El Diseño, Construcción Y Operación De Rellenos Sanitarios


Manuales: Una solución para la disposición final de residuos sólidos municipales en
pequeñas poblaciones. Colombia: Universidad de Antioquia, Centro Panamericano de
Ingeniería Sanitaria y Ciencias del Ambiente, 2002. OPS/CEPIS/PUB/02.93. 287 p.

117

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