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Tratamento e aproveitamento de resíduos da indústria de alimentos

1. Introdução
A indústria de alimentos (IA) no Brasil é, sem dúvidas, um dos setores que mais
despontam em termos de importância econômica. Segundo dados da ABIA (Associação
Brasileira das Indústrias de Alimentos), o Brasil possuía em 2022 mais de 38 mil
empresas no ramo de alimentos e bebidas, as quais eram responsáveis por mais de 1,8
milhão de empregos e por 58% do processamento da produção agropecuária nacional.
O crescimento do setor alimentício no país é notável. De acordo com os dados
mais recentes da ABIA, o faturamento da IA cresceu 16,9% e a produção aumentou em
1,3% em 2021 em relação a 2020. Além disso, instituições como a Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos (USDA) vêm reiterando que, em dez anos, a produção de alimentos
no mundo precisará crescer 20% para ser capaz de alimentar todo o planeta. E, para que
isso aconteça, o Brasil terá que aumentar sua produção em 40%.
Como qualquer outra atividade industrial, o setor de produção de alimentos é
responsável pela geração de diversos resíduos e, para atender às leis ambientais
vigentes e minimizar o impacto dessa atividade, todos devem ser encaminhados para um
tratamento que vá de encontro às normas e padrões instituídos pelos órgãos ambientais.
Neste contexto, serão abordados aqui os conceitos e os tipos de resíduos gerados pela
IA, a legislação vigente, os principais tratamentos para gerenciamento de resíduos sólidos
e efluentes, e as principais formas de aproveitá-los e contribuir para uma economia mais
sustentável.

2. Conceito e tipos de resíduos gerados pela IA


O termo “resíduos” pode ser atribuído à parte restante do processo produtivo de
humanos e animais ou às atividades produtivas, como matéria orgânica, lixo doméstico,
águas residuais e gases liberados de processos industriais ou motores. Os principais
resíduos produzidos pela IA são efluentes industriais (biológicos e químicos) e resíduos
sólidos produzidos no processo de produção de alimentos.
Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), efluente é o termo
utilizado para caracterizar os despejos líquidos provenientes de diversas atividades ou
processos. Podem ser caracterizados como efluentes industriais, inerentes aos processos
das indústrias ou esgoto sanitários provenientes de hábitos higiênicos e das necessidades
fisiológicas. Os efluentes do setor alimentício são de diferentes origens como, por
exemplo:
• resíduos de manutenção, como solventes e óleos lubrificantes.
• Água residuária proveniente do processo de lavagem de pisos e instalações;
• Efluentes sanitários;
• Líquido proveniente de limpeza de caixa de gordura industrial e restaurante;
• água proveniente de abates.

Por sua vez, resíduo sólido industrial é todo o resíduo que resulte de atividades
industriais e que se encontre nos estados sólido, semi-sólido, gasoso - quando contido, e
líquido - cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgoto ou em corpos d`água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente
inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Os resíduos sólidos das unidades de
processamento de alimentos incluem tanto os resíduos orgânicos quanto os resíduos de
embalagens. Os resíduos orgânicos incluem cascas de frutas e vegetais, sementes, pele
e ossos. Resíduos sólidos precisam de gerenciamento congruente de resíduos orgânicos
por biodegradação porque podem causar sérios problemas de saúde. Após a utilização,
as embalagens precisam ser descartadas de maneira responsável e enviadas para
reciclagem sempre que possível.

3. Legislações para gestão de resíduos


Com o intuito de proteger o meio ambiente e reduzir ao mínimo as consequências
de ações devastadoras, a legislação ambiental brasileira é considerada como uma das
mais completas e avançadas do mundo, reunindo um conjunto de normas que
determinam as práticas adequadas a serem adotadas. Essas leis ambientais definem
tanto as diretrizes quanto às infrações e suas penalidades. Por essas e outras razões
devem ser conhecidas, entendidas e praticadas especialmente pelas indústrias, que são
empreendimentos potencialmente poluidores. Entre as principais leis ambientais, pode-se
citar a Política Nacional do Meio Ambiente, a Política Nacional dos Recursos Hídricos e a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Para reduzir o impacto dos resíduos sólidos no meio ambiente, em 2010 foi
instituída no Brasil a PNRS, uma Lei Federal que determina uma série de diretrizes e
metas de gerenciamento ambiental que devem ser cumpridas em todo o território
nacional. O não cumprimento pelas organizações pode gerar punições, incluindo penas
passíveis de prisão. Indústrias e outras empresas podem ser autuadas em valores que
vão de R$ 500,00 a R$ 2 milhões.
A lei que dispõe sobre a PNRS (12.305/2010) estabelece uma relação de
prioridade para gestão de resíduos sólidos, representada na Figura 1.

Figura 1. Ordem de prioridade de gestão de resíduos estabelecida pela Política Nacional


de Resíduos Sólidos.

Entre os tipos de resíduos contemplados estão os industriais, resíduos de


saneamento público, da construção civil, da saúde, agropecuários, domiciliares e até os
perigosos, como corrosivos e tóxicos. Os únicos tipos não abrangidos pelo PNRS são os
radioativos, que possuem uma legislação própria.
Na prática, isso quer dizer que todo resíduo deve ser processado adequadamente
antes da destinação final. Entre as soluções estão a reciclagem, práticas de educação
sanitária e ambientais, logística reversa, coleta seletiva e compostagem. Ou seja, as
empresas são responsáveis por evitar que resíduos sejam descartados de maneira
incorreta ou transformados em lixo quando poderiam ser reutilizados, assim como
também devem criar estratégias para minimizá-los. Além dos impactos diretos para as
organizações, como citado, a falta de um gerenciamento apropriado pode prejudicar tanto
o meio ambiente quanto a população.
A lei prevê que os responsáveis pela gestão de resíduos e de cumprimento das
exigências da PNRS são todos os que participam do ciclo de vida de um produto. Isso
quer dizer que desde a produção até o consumo, todos os atores desse ciclo, fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores, possuem diferentes
responsabilidades. Para garantir que os devidos deveres sejam cumpridos de fato, a
PNRS define um instrumento de monitoramento e fiscalização ambiental, sanitária e
agropecuária.
Além da PNRS, que é considerada a principal diretriz para empresas no que diz
respeito ao tratamento e descarte de resíduos sólidos, outras normas também devem ser
observadas para uma correta gestão ambiental. A NBR 10004/04 contém diretrizes sobre
a classificação de resíduos quanto a seus possíveis contaminantes para o meio ambiente
e saúde pública. Além disso, estabelece que resíduos sólidos de origem industrial,
doméstica ou agrícola não podem ser lançados em esgotos públicos e corpos hídricos.
Entre as demais normas, se destacam algumas resoluções do CONAMA.
Além das legislações citadas, também é importante que as empresas tenham
conhecimento da legislação específica de seu estado. Isso porque, de acordo com
entendimento dos Tribunais, em casos de divergências entre leis federais, estaduais e
municipais, deverá prevalecer aquela que for mais restritiva e que melhor resguarde o
meio ambiente.

4. Tratamentos de resíduos da IA
A destinação e o tratamento corretos dos resíduos pelas IA’s promovem diversos
benefícios, tais como:
● cumprimento das legislações ambientais, evitando punições e prejuízos
econômicos decorrentes de multas;
● permitem uma otimização dos processos internos;
● conferem vantagem competitiva frente a indústrias que não se preocupam com
seus impactos socioambientais, uma vez que há uma tendência de valorização
crescente de marcas que prezam pela sustentabilidade;
● contribuem de forma relevante para minimização dos impactos ambientais, para a
correta gestão dos recursos naturais e para a redução dos resíduos sólidos que se
acumulam nos lixões e já se tornaram um grave problema ambiental e social;
● colaboram com a saúde pública, visto que o descarte indiscriminado de resíduos
muitas vezes resulta na proliferação de diversas doenças nos centros urbanos.

A seguir, serão abordados os métodos predominantes de tratamento de efluentes e


de resíduos sólidos da IA.

4.1. Tratamento de águas residuais (pág. 60 do livro Monika)


A água contendo 0,1% ou mais de sólidos pode ser denominada como água
residual. No caso do tratamento de águas residuais sempre cabe a pergunta: “O que
remover?” A resposta pode ser “do grosso ao fino”, tal como apresentado a seguir:

• Sólidos grosseiros em suspensão;


• Sólidos em suspensão sedimentáveis ou não;
• Óleos e gorduras;
• Metais pesados;
• Matéria orgânica solúvel biodegradável (DBO-demanda bioquímica de oxigênio);
• Nitrogênio amoniacal (DBO nitrogenada);
• Nitrato e nitrito;
• Fósforo;
• Matéria orgânica não biodegradável (DQO (demanda química de oxigênio) residual);
• Toxicidade.

Normalmente, o tratamento de águas residuais inclui a coleta das águas residuais


em uma área centralizada, onde são submetidas a diferentes métodos de tratamento. A
Figura 2 sumariza o processo de tratamento de águas residuais.

Figura 2. Esquema do processo de tratamento de águas residuais.

4.1.1. Pré-tratamento
O tratamento preliminar tem como objetivo principal a redução de sólidos
grosseiros em suspensão. Não há praticamente remoção de DBO (5-25%), pois consiste
na preparação do efluente (condicionamento) para o tratamento posterior, evitando
obstruções e danos em equipamentos eletromecânicos da planta de tratamento. As
seguintes técnicas são empregadas nesta fase de tratamento:
• gradeamento
• peneiramento
• desarenação
• equalização e neutralização

4.1.1.1. Gradeamento
O gradeamento objetiva a remoção de sólidos bastante grosseiros, com diâmetro
superior a 10 mm, como materiais plásticos e de papelões constituintes de embalagens,
pedaços de madeira e metal, etc. Os dispositivos de remoção de sólidos grosseiros
(grades) são constituídos de barras de ferro ou aço paralelas, posicionadas
transversalmente no canal de chegada dos efluentes na estação de tratamento,
perpendiculares ou inclinadas, dependendo do dispositivo de remoção do material retido.
As grades devem permitir o escoamento dos efluentes sem causar grandes perdas de
carga.

4.1.1.2. Peneiramento
Peneiras revestidas com uma tela fina retêm sólidos grosseiros e suspensos mais
finos (com diâmetros superiores a 1 mm) como cascas, penas, fios, fibras, etc.
previamente ao tratamento biológico para reduzir entupimentos ou a carga orgânica dos
efluentes. As peneiras estáticas são bastante utilizadas no pré-condicionamento de
efluentes antes do lançamento em emissários submarinos e também no tratamento de
efluentes de matadouros e frigoríficos, dentre outras aplicações. As peneiras rotativas
também são bastante utilizadas no tratamento de efluentes líquidos industriais. O
material depositado é removido por jatos de água, sendo o entupimento e a necessidade
de limpeza frequente inconvenientes desses sistemas.

4.1.1.3.Desaneração (caixas de retenção de areia)


A "areia" que infiltra no sistema de esgotos sanitários e alguns efluentes industriais
pode danificar equipamentos eletromecânicos. Esta “areia” é constituída de partículas de
areia (e outros materiais abrasivos como carvão, terra diatomácea, pó de pedra e
similares). Estas partículas sedimentam-se individualmente nas caixas, por ação da
gravidade, com velocidade média de 2 cm/s. O uso dos desarenadores protege as
bombas contra abrasão; evita entupimento e obstáculos em dutos e válvulas, a formação
de depósitos de materiais inertes nos decantadores, tanques de aeração, etc.

4.1.1.4. Equalização e neutralização


A neutralização é uma etapa necessária para o ajuste de pH para o tratamento secundário (pH 7,0) ou pa

4.1.2. Tratamento primário

O tratamento primário é empregado para a remoção de sólidos suspensos e


material flotante e também para o condicionamento do efluente para o tratamento
secundário ou para descarga. Esse tratamento pode remover de 40 a 70% dos sólidos
em suspensão e cerca de 35% da DBO. As seguintes técnicas são empregadas nesta
fase de tratamento:
• sedimentação
• coagulação/floculação
• flotação

4.1.2.1. Sedimentação
A sedimentação permite remover o material particulado sedimentável que se
encontra no efluente (remoções superiores a 70-80%). A remoção dos sólidos suspensos
depende da capacidade operacional do decantador e pode variar de 40 a 70%. A
remoção de DBO associada ao material particulado, em geral, fica na faixa de 30 a 40%.
Valores inferiores a esta faixa indicam má operação. Nos decantadores primários é
comum existir dispositivos para remover gordura e escuma que não foram removidos nos
tratamentos preliminares. O processo de sedimentação é governado principalmente pela
concentração das partículas em suspensão. Quanto mais concentrado for o meio, maior
é a resistência à sedimentação. Em suspensões bastante diluídas prevalece a
sedimentação do tipo I (individual ou discreta). Aumentando-se a concentração de sólidos
em suspensão, passa a prevalecer a sedimentação do tipo II, também chamada de
sedimentação floculenta. Neste caso, a maior concentração de partículas permite a
formação de emaranhados ou flocos de maior velocidade de sedimentação ao longo de
suas trajetórias. Aumentando-se ainda mais a concentração da suspensão, passa a
prevalecer a sedimentação do tipo III (também chamada de sedimentação zonal), em que
a concentração de sólidos é muito elevada e passa a ocorrer dificuldade de saída de
água em contracorrente para possibilitar a sedimentação dos sólidos. A sedimentação do
tipo IV, também chamada de sedimentação por compressão, ocorre no fundo dos
decantadores secundários e nos adensadores de lodo. Neste caso, a suspensão é tão
concentrada que a "sedimentação" dá-se pelo peso de uma partícula sobre a outra,
provocando a liberação de água intersticial.

4.1.2.2. Coagulação/floculação
Processo que visa remover material coloidal e partículas muito finas que
sedimentam muito lentamente. Os colóides podem ser formados por micro-organismos,
gorduras, proteínas, e argilas. Define-se Coagulação como o processo de
desestabilização de colóides e Floculação como o processo de agregação e
neutralização de colóides mas, geralmente, estes processos ocorrem simultaneamente
chamando-se assim o processo de Coagulação/Floculação. A desestabilização de
colóides pode ser conseguida por diversos meios: calor, agitação, adição de agentes
coagulantes químicos, processos biológicos, passagem de corrente elétrica
(eletrocoagulação), ou ainda a eletrocoagulação com a adição de coagulantes químicos.
O Teste dos Jarros é utilizado para determinar a dosagem ótima de coagulante, bem
como a influência e melhor faixa de pH a ser utilizada.
4.1.2.3. Flotação
O processo de flotação visa a remoção de partículas em suspensão e/ou
flutuantes (fase dispersa) de um meio líquido (fase contínua) para o caso em que a
densidade da fase dispersa é menor que a da fase contínua. Trata-se de processo físico
muito utilizado para a clarificação de efluentes e a consequente concentração de lodos,
tendo como vantagem a necessidade reduzida de área e como desvantagem um custo
operacional mais elevado devido à mecanização.
A flotação deve ser aplicada principalmente para efluentes com altos teores de
óleos e graxas e/ou detergentes, como os oriundos de indústrias petroquímicas, de
pescado, frigoríficas, laticínios e de lavanderias.

4.1.3. Tratamento secundário - tratamento biológico


O termo tratamento secundário engloba todos os processos biológicos de
tratamento de efluentes, tanto os de natureza aeróbia quanto os de natureza anaeróbia, e
visam essencialmente converter a matéria orgânica biodegradável dos efluentes em
gases e sólidos inorgânicos (sulfatos, hidróxidos, etc..) e material biológico sedimentável,
que podem ser separados do efluente por sedimentação. Na maioria das vezes, esses
processos são empregados em conjunto com processos físicos e químicos utilizados no
pré-tratamento e tratamento primário do efluente. Os seguintes processos se destacam
nesta fase de tratamento:
• lodos ativados
• lagoas aeradas
• lagoas de estabilização
• filtros biológicos
• digestores anaeróbios

Os processos de tratamento biológico têm como princípio utilizar a matéria


orgânica dissolvida, coloidal e em suspensão (DBO carbonácea) como substrato para
micro organismos como bactérias, fungos e protozoários, que a transformam em gases,
água e novos micro-organismos. Os micro-organismos, através de mecanismos de
produção de exopolímeros, formam flocos biológicos mais densos que a massa líquida,
da qual se separam com facilidade; ou formam filmes aderentes a superfícies sólidas. A
capacidade de adesão e/ou floculação desses micro-organismos serve de base para a
classificação dos biorreatores. Assim, há os biorreatores com biomassa em suspensão
(lodos ativados, lagoas aeradas) e aqueles com biomassa aderida a suportes – biomassa
fixa (filtros biológicos, discos biológicos, leitos fluidizados).
Nos processos aeróbios, um consórcio de micro-organismos (predominantemente
bactérias aeróbias e facultativas) atua de forma a promover a degradação dos poluentes
orgânicos, gerando CO2, alguns produtos de metabolismo e novas células microbianas.
A produção de novas células pode ser intensa, gerando um lodo biológico que deverá ser
processado e ter um destino final. Nos processos anaeróbios, um consórcio microbiano
(bactérias e archaeas) assegura a transformação dos poluentes, pelas vias hidrolítica e
fermentativa, em compostos de um a dois átomos de carbono (CO2, metano, acetato,
formiato), além de hidrogênio. O processo gera um gás, que no caso de efluentes com
alta DBO, contem alto teor de metano e CO2. A produção de novas células é, neste
processo, muito menor do que no processo aeróbio.
Os processos biológicos também são empregados para a remoção de DBO
nitrogenada. Numa primeira etapa, o nitrogênio amoniacal (presente no efluente ou
formado no processo de degradação de matéria orgânica nitrogenada) é transformado
em nitrato por um consórcio microbiano constituído principalmente por bactérias
autotróficas aeróbias dos gêneros Nitrobacter e Nitrosomonas. Com isso, reduz-se a
demanda de oxigênio e a toxicidade associada a teores mais elevados de amônia. O
nitrato, resultante dessa transformação (nitrificação) contribui para acelerar o processo de
eutrofização de sistemas aquáticos mais estagnados, como lagos e lagoas. Assim, numa
segunda etapa, o nitrato é transformado em nitrogênio gasoso por bactérias
heterotróficas aeróbias facultativas, sob condições anóxicas, ou seja, num meio sem
oxigênio dissolvido (desnitrificação). Uma fonte de carbono deve ser fornecida a este
consórcio microbiano. Portanto, a sequência convencional de tratamento para a remoção
de DBO carbonácea e nitrogenada inclui: processo aeróbio ou anaeróbio (remoção de
DBO carbonácea), seguido de processo aeróbio (nitrificação) e, caso a remoção de
nitrato seja desejada, de um processo anóxico (desnitrificação).

4.1.4. Tratamento terciário


O tratamento terciário é a etapa final do tratamento de efluentes, que é responsável
pela remoção de mais de 99% das impurezas da água efluente e a torna apta para
descarte. O tratamento terciário, também conhecido como tratamento avançado, consiste
numa série de processos destinados a melhorar a qualidade de efluentes provenientes
dos tratamentos primário e/ou secundário. Geralmente, o tratamento terciário pode ser
empregado na redução de: sólidos em suspensão, carga orgânica biodegradável e não
biodegradável, micropoluentes, cor, sais minerais e nutrientes, através dos seguintes
processos:
• lagoas de maturação
• filtração
• adsorção com carvão ativado
• troca iônica
• processos com membranas (ultrafiltração, osmose inversa)
• oxidação química

Esses processos não têm sido amplamente aplicados a nível industrial no


tratamento de efluentes, porém seu emprego em maior escala está previsto, devido a
exigências crescentes de qualidade dos efluentes e pela possibilidade de reciclagem e
reuso tanto da água como de outros insumos.

4.1.4.1. Lagoas de maturação


São utilizadas para o tratamento terciário de efluentes oriundos de processos
biológicos de tratamento, tais como filtros biológicos, lodos ativados e lagoas facultativas.
A finalidade é produzir um efluente de alta qualidade através da remoção de sólidos em
suspensão, da diminuição do número de bactérias e das concentrações de nitratos e
fosfatos e, em pequena proporção, de uma redução adicional da DBO.

4.1.4.2. Filtração
O uso da filtração por gravidade, similar ao empregado nas instalações de
tratamento de águas, pode ser utilizado para remover sólidos em suspensão e bactérias
que não foram removidos no decantador secundário (polimento). Os filtros de areia ou
areia e antracito, além de filtros rotativos, são os mais empregados.

4.1.4.3. Adsorção com carvão ativado


Frequentemente, depois do tratamento secundário, coagulação, sedimentação e
filtração, ainda temos presente no efluente compostos orgânicos solúveis que não são
biodegradáveis e que são responsáveis por odores e sabores não desejáveis. Esses
compostos, em geral, podem ser detectados pelo teste de DQO, podendo ser removidos
por adsorção em carvão ativado. Além desses compostos, o processo de adsorção em
carvão ativado pode ser empregado na redução de micropoluentes orgânicos e metais
pesados (prata e mercúrio são completamente removidos, já o chumbo e o cobre são
reduzidos a níveis aceitáveis).

4.1.4.4. Troca iônica


O processo de troca iônica tem sido aplicado na recuperação e purificação de
materiais radioativos existentes em resíduos radioativos, bem como na remoção de
poluentes de efluentes industriais (sulfato de zinco, cádmio, níquel, etc. e cromatos). A
utilização de resinas de troca iônica para a remoção de poluentes em efluentes industriais
tem um grande potencial de aplicação.

4.1.4.5. Processos de separação com membranas


São processos utilizados para a remoção de partículas de um solvente
(filtração).•Utilizam se da tecnologia de membranas semipermeáveis, que funcionam
como um filtro, deixando a água passar por seus poros, impedindo a passagem de
sólidos dissolvidos. Em todos os processos de separação com membranas o transporte
de uma dada espécie, através da membrana, ocorre devido a existência de uma força
motriz. A força motriz para estes processos é o gradiente de pressão, sendo empregados
para concentrar, fracionar e purificar suspensões e soluções diluídas ou dispersões
coloidais. Quanto menor o poro da membrana, maior terá que ser a pressão exercida,
logo maior o custo.

4.1.4.6. Oxidação química


A separação física de sólidos suspensos e óleos e graxas e os tratamentos
biológicos têm se mostrado sistemas extremamente confiáveis e econômicos na maioria
dos casos (águas residuárias municipais, efluentes do processamento de alimentos, etc.).
Existem, contudo, casos em que a eficiência destes tratamentos é bastante reduzida
(substâncias solúveis na separação física, substâncias não biodegradáveis e/ou tóxicas
nos processos biológicos). Neste último caso, comum em águas residuárias da indústria
química, diferentes processos químicos, a maioria deles baseados em reações de oxi-
redução, estão sendo aplicados. Nos processos de oxidação química, os mecanismos de
reação mudam a estrutura e as propriedades químicas das substâncias orgânicas. As
moléculas são quebradas em fragmentos menores e elevadas porcentagens de oxigênio
aparecem nestas moléculas na forma de álcoois, ácidos carboxílicos, etc. que, na maioria
dos casos, são mais facilmente biodegradáveis do que os compostos de origem.

4.2. Tratamento de resíduos sólidos

4.2.1. Aterros
O aterro refere-se ao despejo de materiais na terra, o que resulta em uma
ascensão do nível do solo. Os aterros sanitários são o método mais utilizado de
disposição de resíduos e obtêm cerca de 80% dos resíduos sólidos que são descartados.
Um local sanitário moderno é um local planejado para coleta, construção e atividade de
forma a minimizar os impactos ambientais.
A oxidação ocorre durante o processo e a decomposição dos resíduos acaba
levando à produção de metano (gás de efeito estufa) e à poluição dos lençóis freáticos,
devido à presença de compostos orgânicos e metais pesados. O desenvolvimento de um
novo aterro sanitário é difícil não por falta de terra, mas sim por causa da oposição pública
em uma posição adequada onde o solo é apropriado e as condições hidrogeológicas são
adequadas. Cidadãos se opõem a aterros devido a questões de incômodo (por exemplo,
poeira, ruído, transporte, odor), questões estéticas e problemas ecológicos (por exemplo,
contaminação de águas subterrâneas por lixiviados de aterros sanitários, movimento de
gás de aterro para propriedades adjacentes, usos agrícolas).
4.2.2. Biorreatores
Os biorreatores na gestão de resíduos têm muitos benefícios em relação aos
métodos tradicionais de disposição de resíduos. Até agora, quatro tipos de depósitos de
biorreatores foram desenvolvidos: aeróbicos, anaeróbicos, híbridos e facultativos.
Depósitos de biorreatores anaeróbios apresentaram menor degradação que outros, e
outro achado importante foi a alta concentração de nitrogênio amoniacal. Normalmente, o
aterro aeróbico mostra mais extração de nitrogênio do amônio. A taxa de produção de
metano de resíduos alimentares processados por pré-tratamento aeróbico foi investigada
em quantidades significativas. Pela primeira vez, foi realizado um início rápido para digerir
o hidrolisado de resíduos alimentares anaeróbicos em escala semi-piloto para a
fabricação de biogás. No estágio posterior da digestão anaeróbica, mais de 85% da
demanda química de oxigênio se deteriorou para mais de 90%. A digestão anaeróbica foi
iniciada em breve, e a digestão anaeróbica de resíduos alimentares hidrolisados tem
encontrado viabilidade e atratividade para tratamento de resíduos alimentares industriais
e processamento de biogás.

4.2.3. Vermicompostagem
A vermicompostagem é um processo muito eficiente pelo qual as minhocas
transformam os resíduos agrícolas em uma substância semelhante ao húmus. Produz
uma biomassa capaz de melhorar as propriedades estruturais do solo, aumentando sua
capacidade de retenção de água, aumentando seus nutrientes, sustentando espécies
vivas do solo e eventualmente fornecendo materiais orgânicos de volta ao solo. Os
requisitos subseqüentes para maximizar o comportamento biológico são temperatura, pH,
proporção de carbono/nitrogênio, oxigênio e umidade.

5. Aproveitamento de resíduos da IA
Com o crescimento do setor alimentício, já mencionado anteriormente, a gestão
dos resíduos produzidos pela IA surge como um debate cada vez mais pontuado no
contexto atual, em que o desenvolvimento econômico só pode ser considerado se a ele
for somado o fator sustentável. Na era da logística reversa, dos selos ecológicos e da
sustentabilidade como valor urgente em um planeta degradado pela atividade humana, é
essencial passar a encarar os resíduos da indústria como parte indispensável de uma
produção que visa não só o lucro, mas também a otimização dos processos, a proteção
ao meio ambiente e o atendimento à legislação ambiental.
A melhor abordagem sustentável é evitar o desperdício e maximizar a utilização de
resíduos alimentares das indústrias. A utilização de resíduos alimentares pode reduzir
significativamente os níveis de resíduos alimentares e criar novas oportunidades e
benefícios para todos os envolvidos no sistema de produção alimentar. Reduzir o
desperdício de alimentos através da recuperação de seus valiosos componentes é,
portanto, uma forma importante de aumentar a sustentabilidade. As organizações de
processamento de alimentos e os sistemas de produção de alimentos em particular não
podem mais ignorar a necessidade de agir de maneira sustentável.
Para utilização de co-produtos (produtos secundários obtidos da fabricação de um
produto primário) da IA, estes devem ser estabilizados contra deteriorações microbianas e
a reação de autólise para evitar o odor desagradável e evitar a perda do status de grau
alimentício. Alguns exemplos de aproveitamento de co-produtos são dados a seguir:
● As fibras solúveis e insolúveis de resíduos de maçã, tomate, cenoura e cascas de
frutas cítricas podem ser extraídas e utilizadas na indústria alimentícia como
aglutinante devido à sua natureza absortiva e à capacidade de formar géis;
● O material fibroso dos grãos gastos pode ser usado na construção de fibras, onde
pode ser usado como enchimento e material estrutural;
● Grãos gastos de resíduos de cervejaria podem encontrar aplicação no processo de
secagem de tijolos, onde ajudam a isolar termicamente os tijolos para melhorar sua
resistência;
● Resíduos de abatedouros, gorduras parcialmente retiradas, podem ser utilizados
nas indústrias química e cosmética;
● O bagaço após o processo de fermentação pode ser usado como fertilizante e
pode ser extraído o óleo de semente de uva, que possui alto valor nutricional e
encontra inúmeras aplicações. A grappa pode ser produzida a partir do bagaço;
● O soro de leite e o leitelho da indústria de leite podem ser utilizados na indústria de
bebidas. Métodos em que o soro de leite é fermentado para produzir álcool e
lactose também podem ser extraídos do soro de leite e podem ser usados em
indústrias de confeitaria. Leitelho, co-produto da produção de manteiga, pode ser
utilizado em substituição a leite desnatado em diversos produtos, tais como
sorvetes, bolos, produtos de confeitaria, etc.

Adicionais formas de aproveitamento de resíduos da IA incluem processamento de


ração animal, compostagem para geração de fertilizantes ricos em nutrientes, digestão
anaeróbica para produção de biogás, coleta de resíduos para uso em outros setores,
alimentação de alimentos excedentes para pessoas necessitadas.
Resíduos sólidos como embalagens devem ser enviados para reciclagem sempre
que possível. Reciclar significa fabricar um novo produto usando itens derivados como
matéria-prima do lixo. A reciclagem ocorre em três fases: primeiro, os resíduos são
separados e recicláveis coletados, em segundo lugar, a matéria-prima é criada a partir de
material reciclável classificado e, finalmente, na terceira fase, um novo produto é
produzido a partir de matérias-primas derivadas.

6. Considerações finais
Como visto anteriormente, os resíduos da IA são complexos e consistem de
resíduos sólidos e líquidos. Os resíduos alimentares de cada tipo de indústria alimentar
têm características específicas e por isso necessitam de tratamentos, por exemplo, lagoas
aeróbias e anaeróbias, procedendo-se à respectiva vermicompostagem. Junto com isso, o
uso de resíduos alimentares pode reduzir significativamente os níveis de desperdício de
alimentos e criar novas oportunidades e benefícios para todos os envolvidos no sistema
de produção de alimentos. Reduzir o desperdício de alimentos através da recuperação de
seus valiosos componentes é, portanto, uma forma importante de aumentar a
sustentabilidade. A necessidade de uma abordagem sustentável não pode mais ser
negligenciada pelas empresas de produção de alimentos e outros stakeholders do
sistema de produção de alimentos. O sistema sustentável de gerenciamento de resíduos
alimentares é a única maneira de reduzir os resíduos desenvolvidos.

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