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A NETIQUETA NOS PROCESSOS COMUNICACIONAIS NA

MODALIDADE DE ENSINO A DISTÂNCIA

Profa. Dra. Christiane Ferreira Lemos Lima


cfllima@ifma.edu.br
Profa. Ma. Carolina Pereira Nunes
carolina.nunes@ifma.edu.br

RESUMO: No ensino a distância (EaD), em que a interação nos Ambientes Virtuais de


Aprendizagem (AVA) ocorre por meio de mails, fóruns de discussão e chats, entre outros, percebe-
se que essas interações podem gerar incompreensões entre os agentes envolvidos por falta da
aplicação de regras de condutas (netiqueta). Nessa perspectiva, este artigo objetiva: apresentar
um diagnóstico sobre a forma de interação no AVA em três cursos de Licenciatura de uma
Instituição Pública e a sua influência no processo de ensino e aprendizagem; propor melhorias a
partir do diagnóstico encontrado. A pesquisa é exploratória-descritiva, de abordagem
quantitativa e qualitativa, tendo como instrumento de investigação um questionário on-line
aplicado aos coordenadores de curso e mediadores. Os resultados apontam para: a importância
do o uso de netiqueta na interação no AVA; e a necessidade de ter uma formação sobre regras
de netiqueta para os atores envolvidos com o EaD.
Palavras-chave: netiqueta, ensino a distância, ambiente virtuais de aprendizagem.

ABSTRACT: Considering the model of distance education (DE), where interaction in Virtual
Learning Environments (VLE) occurs through emails, discussion forums and chats, among others,
it is clear that these interactions can lead to misunderstandings between agents involved due to
the unfamiliarity of rules of conduct (netiquette). From this perspective, this article aims: to present
a diagnosis about the ways of interaction in VLE in three undergraduate courses of a Public
Institution and its influence on teaching and learning process; and to propose improvements
based on the diagnosis found. Furthemore, this is an exploratory and descriptive research with
quantitative and qualitative approach, and has an online questionnaire applied as an investigation
tool to the coordinators and mediators of the course. The results point out: the relevance of using
netiquette in VLE; and the need of having a training on netiquette rules for the participants
involved with DE.
Keywords: netiquette, distance learning, virtual learning environment.
Introdução
As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) promovem uma significativa
influência no panorama educacional, especialmente nos cursos a distância, em que a utilização
adequada de recursos tecnológicos pode proporcionar um aprendizado evolutivo e uma
interação constante por meio de ambientes virtuais.
De fato, conforme Santos et al. (2012), a modalidade de ensino a distância (EaD) apresenta
algumas características favoráveis ao processo de ensino e aprendizagem, dentre as quais

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destacam-se: maior flexibilidade de tempo, maior interatividade; quebra de barreiras geográficas;
múltiplas linguagens; emissão e recebimento instantâneo de materiais e amplitude de fontes de
pesquisa. Em vista disso, tornam-se indiscutíveis as transformações sociais e culturais impostas
aos sujeitos envolvidos nos processos didáticos na modalidade EaD.
Assim, os professores, tutores (aqui chamados de mediadores) e estudantes do ensino a distância,
por intermédio de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), participam de fóruns de discussão,
chats, e-mail, entre outros meios de comunicação, os quais permitem a circulação do
conhecimento e a troca de informação. Contudo, segundo Oliveira e Santos (2013, p. 206), “a
comunicabilidade envolvida entre os atores desse processo requer grande atenção, pois será a
partir dos diversos meios de interação que a aprendizagem, a construção do conhecimento, será
compartilhada por tutores e alunos”.
Portanto, assim como nos ambientes presenciais de ensino, os Ambientes Virtuais de
Aprendizagem precisam de uma comunicação com o uso de linguagem adequada, cordial e sem
ruídos. Dessa forma, a incorporação de normas de etiqueta nas comunicações, aqui chamadas de
netiqueta, podem permitir que os participantes convivam harmoniosamente e evitem formas de
desrespeito que prejudiquem o processo de ensino e aprendizagem.
O significado de etiqueta está relacionado com uma espécie de convenção social sobre como um
indivíduo deve se comportar em determinadas circunstâncias, pois seriam ações dotadas de
significado social (RIBEIRO, s. d.). Da mesma forma, tem-se a definição de netiqueta:
O conjunto de regras de comportamento na Internet, a netiqueta, tem origem na
fusão das palavras net (em inglês – rede) e etiqueta (regras de comportamento -
etiquette). A expressão traduz um conceito de bom uso da internet, sugestões e
recomendações para usar as ferramentas e-mails, blogs, sites de relacionamento
e demais ambientes virtuais (BISCALCHIN e ALMEIDA, 2011, p. 198).
Ramos (2012) afirma que o termo netiqueta (em inglês, netiquette) foi criado em 1988, pela norte-
americana Judith Kallos, uma consultora do wordpress, que se tornou especialista em etiqueta
para Internet. Entretanto, o “RFC5 1855, Diretrizes Netiqueta” (Hambridge, 1995), divulgado em
1995, é considerado o documento formal que definiu regras básicas de etiqueta na Internet.
A partir dos pressupostos definidos pelos autores supracitados, para a modalidade de ensino a
distância, pode-se concluir que netiqueta é um conjunto de regras informais de conduta usadas
na interação entre os indivíduos no ambiente virtual, sobretudo quando o objetivo da interação
for educacional, norteada pelo respeito aos direitos e aos deveres de cada um, a fim de evitar
conflitos desnecessários e improdutivos no uso dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem.
Pelo exposto, tem-se que o uso de regras de netiqueta no AVA é imprescindível no contexto
educacional. Todavia, o que se questiona continuamente é se as instituições de ensino estão
preparando seus professores, mediadores e estudantes para usarem de forma eficaz estas regras,
para usufruir de seus benefícios.
Com o intuito de conhecer se os agentes do EaD em uma Instituição de Ensino Pública, por meio
de sua oferta dos cursos de Licenciatura, estão atendendo a essa necessidade, realizou-se este
estudo para avaliar as interações que ocorrem no Ambiente Virtual de Aprendizagem da referida

5 RFC - acrônimo de Request for Comments ("Pedido para Comentários" , em português). Os RFCs são
documentos técnicos desenvolvidos e mantidos pelo IETF (Internet Enginnering Task Force), instituição
que especifica as orientações e os padrões que serão implementados e utilizados na Internet.

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instituição e, caso necessário, propor melhorias. Para sua sustentabilidade, o estudo foi realizado
a partir dos seguintes questionamentos:
• As coordenadorias de curso e os mediadores conhecem e usam regras de
netiqueta?
• A Instituição de Ensino inclui na formação dos mediadores e estudantes o uso de
netiqueta?
• Ocorrem ruídos e falhas de comunicação no AVA por falta de uso de netiqueta?
• Qual a opinião das coordenadorias de curso e dos mediadores sobre a
importância do uso de netiqueta no processo de ensino e de aprendizagem?
Nesse contexto, o objetivo principal deste estudo é apresentar um diagnóstico sobre a forma de
interação dos estudantes e mediadores no AVA em três cursos de Licenciatura, ofertados por uma
instituição de ensino pública e analisar se essa interação influencia no processo de ensino e
aprendizagem.
Para alcance dos objetivos traçados neste trabalho, foi realizado um estudo exploratório-
descritivo de abordagem quali-quantitativa, com o objetivo de identificar como ocorre o processo
comunicacional entre os estudantes e os mediadores. Os dados da pesquisa foram obtidos tendo
como instrumento de investigação a aplicação de um questionário on-line.
Este artigo está organizado da seguinte forma: na Seção 2 uma revisão de literatura , destacando
as regras de netiqueta que devem ser usadas no AVA; na Seção 3 é abordada a metodologia
aplicada nesta pesquisa. Já a Seção 4 apresenta os resultados encontrados. Por fim, têm-se as
considerações finais deste estudo.
Revisão de Literatura
É muito comum no cotidiano do ensino a distância, o surgimento de ruídos e falhas nas
comunicações por pequenos deslizes cometidos pelos sujeitos envolvidos no processo. Isso é
passível de ocorrer porque, em geral, em um ambiente virtual, as pessoas não estão se vendo,
nem ouvindo a entonação da voz empregada, para inferir sobre os sentimentos e ideias que estão
contidos nas entrelinhas de uma mensagem, que é a forma mais utilizada na comunicação no
ambiente virtual.
Portanto, a cordialidade, a clareza do texto, bem como a sua escrita correta e objetiva são
determinantes para uma comunicação eficaz na modalidade a distância, uma vez que esta ocorre,
basicamente, por meio da escrita de textos e mensagens. Fonseca e Ulbanere (2016) reforçam
que:
O intercâmbio de informações nas redes sociais, serviços de e-mails ou trocas de
arquivos, pode gerar incompreensões entre os agentes por falta de aplicações de
regras e condutas. O receptor da mensagem deve ter justa compreensão das
intenções do emissor, evitando-se momentos de constrangimento ou
interpretação errônea (FONSECA e ULBANERE, 2016, p.1).
A afetividade também é vista como um diferencial e contribui para que a construção de
conhecimento ocorra. Segundo Marcondes e Degásperi (2014):
A afetividade promove um ambiente mais propício e acalentador ao aluno,
facilitando assim o desenvolvimento da capacidade desse discente de se
expressar com maior precisão e facilidade, sentindo-se mais a vontade para expor
e apresentar os seus conhecimentos, dúvidas, sugestões e dificuldades
encontradas no desenrolar do curso (MARCONDES; DEGÁSPERI, 2014, p. 1).

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Contudo, percebe-se que, às vezes, os problemas ocorrem por falta de conhecimento sobre como
se deve comportar e interagir no ambiente virtual. Dessa forma, é necessário incorporar regras
básicas de netiqueta na formação dos agentes envolvidos no modelo de ensino a distância
mediados pelas TDICs. Nesse contexto, a seguir, serão abordadas algumas regras de netiqueta
para serem utilizadas na interação do AVA, baseadas em (LIMA, 2018; HAMBRIDGE, 1995).
Como regra básica de netiqueta, defende-se a necessidade de criar um ambiente em que haja
uma relação de empatia entre os agentes envolvidos, pois isso é um fator determinante para o
sucesso do ensino e da aprendizagem no EaD, conforme abordado anteriormente. Portanto,
acredita-se que a cordialidade deve se fazer presente nas interações.
Além disso, a linguagem presente nas referidas interações deve favorecer o entendimento, então,
textos com erros ortográficos, com falhas de pontuação, erros de concordância, com palavras ou
frases abreviadas (por exemplo, “Ler pff”, que significa “Ler, por favor”) ou em outro idioma podem
dificultar o entendimento e, consequentemente, poderão proporcionar erros de interpretação na
comunicação.
Os emoticons (que expressam emoções, por meio de caracteres tipográficos, tais como :-), :-( ou
:'( ), emojis (que expressam uma imagem que transmite a ideia de uma palavra ou frase completa)
e gírias, quando bem empregados, trazem a aproximação que as relações a distância necessitam.
Contudo, o seu uso exagerado, inclusive como elementos do próprio texto, também pode não
expressar corretamente a intenção do emissor e, por isso, é necessário ter cuidado ao utilizá-los.
Textos muito longos, com uso excessivo de cores, com letras maiúsculas, devem ser evitados, pois
são cansativos e dificultam a leitura. Na linguagem da Internet, enviar um texto todo em CAIXA
ALTA significa que a pessoa está sendo agressiva. Como sugestão, o uso moderado do negrito e
do sublinhado deve prevalecer, sendo utilizado somente quando necessário. Essas ações podem
determinar uma melhor interação entre mediadores e estudantes.
Mensagens de propagandas não solicitadas, correntes, notícias de fontes duvidosas e outras
mensagens que não sejam de cunho pedagógico não são bem-vindas no AVA. Ademais,
mensagens exasperadas, desrespeitosas, ofensas, piadinhas direcionadas ao grupo ou para
interlocutores em particular e críticas que causam constrangimento podem gerar, entre outros
enquadramentos acadêmicos, processos judiciais.
Uma recomendação dada por Hambridge (1995, p. 7) é que deve-se ter cuidado ao responder
mensagens de correio eletrônico (e-mails). Em geral, as respostas são encaminhadas de volta ao
endereço que originou a mensagem, porém, em muitos casos o endereço é de um grupo ou lista
e, acidentalmente, uma resposta pessoal pode ser enviada a um grande número de pessoas,
envergonhando todos os envolvidos. Então, é melhor digitar o endereço ao invés de apenas
confiar no reply.
Em relação aos fóruns de discussão, enfatiza-se que as regras deste recurso pedagógico devem
estar claras a todos os participantes. A seguir têm-se algumas regras de netiqueta aplicadas ao
referido recurso:
• Não usar o ambiente virtual para resolver questões pessoais;
• Tópicos em fóruns com títulos muito chamativos e escandalosos devem ser
evitados;
• Discussões “acaloradas” e/ou discussões diferentes do tema proposto no fórum
precisam ser evitadas pelos estudantes e gerenciadas pelos mediadores;

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• Todos merecem o mesmo nível de atenção e respeito. Portanto, os mediadores e
estudantes não devem dar tratamento diferenciado (nem favorecer, nem
desprestigiar) a uma determinada pessoa ou grupo de pessoas, pois podem causar
mal-estar e afetar o processo de ensino e aprendizagem;
• Outro ponto que não pode ser negligenciado, pelo mesmo motivo citado
anteriormente, é deixar de responder aos questionamentos e solicitações das
pessoas, um fato muito comum no dia a dia, porém, muito desmotivador,
especialmente em um ambiente educacional. Portanto, devem ser tratadas em
tempo hábil;
• Para manter a organização e clareza das discussões nos fóruns, ao participar, há a
necessidade de mencionar qual mensagem está sendo respondida, indicando
quem disse o quê, fazendo citações.
Interagir, ser participativo nas atividades e compartilhar conhecimento e dúvidas com os
professores, mediadores e colegas faz parte dos processos avaliativos. Entretanto, a timidez,
dificuldades técnicas, desinteresse e problemas pessoais podem levar o estudante ao silêncio
virtual e o mediador, no exercício da sua função, precisa conhecer o que essa situação significa
para poder interagir e ajudar a minimizar ou resolver o problema. Isso porque, por exemplo, cada
estudante tem seu próprio tempo para refletir e se expressar. Uma orientação para os estudantes
é que, sempre que possível, mantenham um diálogo franco com os mediadores sobre os motivos
de seu silêncio ou de sua ausência no AVA. Dessa forma, não estarão sozinhos para vencer suas
barreiras e buscar soluções.
Outra regra da netiqueta é em relação aos direitos autorais dos materiais publicados, os quais
devem ser respeitados. Tal prática pode induzir ao insucesso e ocasionar problemas graves no
processo de ensino e aprendizagem.
Além disso, a maioria dos países possui leis específicas sobre direitos autorais (propriedade
intelectual). No Brasil, a Lei nº 9.610/1998 – dos Direitos Autorais – que dispõe sobre os direitos
do autor e do registro, diz que qualquer tipo de produção intelectual produzida, seja ela
registrada ou não, publicada ou não, está protegida.
Consequentemente, o plágio pode ocasionar reprovações e, em casos mais graves, a revogação
do diploma, ocasionando a perda da titulação acadêmica, entre outras sanções cabíveis no
ambiente educacional. Em vista disso, ao fazer qualquer tipo de citação, é obrigatório seguir as
normas da ABNT, referenciando o autor, a obra, ano de publicação, entre outros elementos
exigidos na referida norma.
Portanto, refletir sobre o tema e conhecer o cenário das interações no AVA em cursos de
licenciatura, constitui uma importante frente de investigação, pois pode levar a uma série de
constatações, podendo incitar problemas. Para discuti-los é preciso compreender conceitos e
definições, rever posturas e vincular o uso de netiqueta às relações virtuais pedagógicas, pela sua
capacidade de promover a aprendizagem, a participação e a motivação dos integrantes nesta
modalidade de ensino.
3. Metodologia
Quanto aos procedimentos técnicos, a metodologia utilizada no desenvolvimento da presente
pesquisa envolveu as seguintes etapas:

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• Realização de um estudo exploratório-descritivo de abordagem quali-quantitativa,
com o objetivo identificar como se dá a interação dos estudantes e mediadores no
AVA em três cursos de Licenciatura e analisar como essa interação está
influenciando no processo de ensino-aprendizagem.
• Propor melhorias sobre a interação, a partir do diagnóstico da pesquisa.
A pesquisa define-se como exploratória, por estabelecer maior contato com um problema de
incipiente investigação no âmbito acadêmico, e descritiva, conforme Gil (2002, p. 42), por
trabalhar a “descrição das características de uma determinada população ou fenômeno [...]
estabelecendo relações entre variáveis”, buscando “levantar opiniões, atitudes e crenças de uma
população”.
A amostragem do estudo foi não probabilística, selecionada por conveniência, formada pelas
coordenadorias e mediadores dos cursos de licenciatura. Este tipo de amostra foi a escolhida pela
facilidade de acesso das pesquisadoras aos entrevistados. Dessa forma, a população-alvo desta
pesquisa foi constituída de um total de cinco mediadores e três coordenadores de curso.
A pesquisa realizada teve uma abordagem qualitativa, por meio da observação, análise e pesquisa
em referências bibliográficas e teve uma abordagem quantitativa por meio do uso de recursos e
técnicas estatísticas.
O instrumento de investigação utilizado nesta pesquisa foi um questionário on-line aplicado às
coordenadorias e mediadores dos referidos cursos, incluindo questões abertas, fechadas e de
múltipla escolha.
O referido questionário foi subdividido em duas partes: a primeira consiste na caracterização geral
dos participantes da pesquisa sexo, faixa etária, nível de educação formal, experiência na área de
ensino e experiência no EaD; a segunda parte do questionário refere-se à percepção dos
pesquisados em relação ao uso de netiqueta na interação do AVA.
Os dados da pesquisa foram registrados por meio de um formulário eletrônico (optou-se pelo
Google Forms), construído e disponibilizado em uma URL. Em relação à natureza dos dados, o
estudo foi qualitativo, pois buscou saber detalhes do objeto estudado, bem como traçar um perfil
dos mediadores e estudantes entrevistados, e quantitativo, pois permitiu análises estatísticas e
tabulações a partir do questionário aplicado.
Para a formulação de duas das questões, foi usada a Escala Likert (Mattar, 2012), um tipo de escala
de resposta psicométrica usada comumente em questionários, sendo uma das escalas mais
utilizadas em pesquisas de opinião. Ao responderem a um questionário baseado nesta escala, os
respondentes especificam seu nível de concordância com uma afirmação (discordo totalmente;
discordo parcialmente; não concordo, nem discordo; concordo parcialmente; concordo
totalmente). Assim, por meio dessa escala, é possível medir atitudes e comportamentos, utilizando
opções de respostas que variam de um extremo a outro. Por meio da Escala Likert pode-se
descobrir níveis de opiniões, sendo útil à temática deste trabalho.
4. Apresentação de resultados

A produção dos dados desta pesquisa contou com a participação de oito sujeitos: três
coordenadores e cinco mediadores (tutores) de três cursos de licenciatura ofertados por uma
instituição de ensino pública. O percentual de participantes por curso, sendo que 50% do curso I
(um coordenador e três mediadores), 25% do curso II (um coordenador e um mediador) e 25%

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do curso III (um coordenador e um mediador). Em relação à titulação dos pesquisados, 50%
possuem especialização e os demais informaram possuir Mestrado.
Ressalta-se que a escolha pelos cursos de licenciatura supracitados se deu em virtude de estarem
sendo ofertados pela primeira vez na modalidade a distância pela instituição, ou seja, não
possuíam experiência com EaD, e o diagnóstico desta pesquisa poderá servir de base para futuras
capacitações relacionadas ao processo de comunicação no AVA.
De acordo com os resultados obtidos, 75% dos participantes da pesquisa são do sexo feminino.
No tocante à faixa etária dos coordenadores e mediadores, 75% têm mais de 35 anos, reforçando
a pesquisa do Inep (2018) de que o professor é um profissional de meia idade.
Todos os participantes informaram possuir experiência docente tanto no Ensino Médio quanto
no Superior. Contudo, em relação às suas experiências com EaD, 25% dos pesquisados estavam
trabalhando pela primeira vez como mediadores, 62,5% não possuíam experiência como docente
e 37,5% informaram não terem participado como estudantes em cursos a distância. Assim, de
acordo com essas informações, verifica-se que a amostra é heterogênea, característica que
assegura as condições favoráveis à análise dos dados.
Quando foram questionados a respeito do seu conhecimento sobre netiqueta, 75% informaram
conhecer a temática abordada, sendo que adquiriram esse conhecimento ao ingressarem no
ensino a distância ou no AVA da instituição de ensino a qual estão vinculados. Esses resultados
demonstram que havia um desconhecimento entre 25% dos pesquisados sobre as regras da
netiqueta, o que desperta para a necessidade de incluir essa temática nas capacitações e no
ingresso desses profissionais no ensino a distância da instituição pesquisada.
Os pesquisados tiveram a oportunidade de citar as regras de netiqueta que conhecem e, como
resultado, estes destacaram: evitar textos em caixa alta (o mais citado); a importância da
cordialidade; esmero com a linguagem; usar parágrafos; ser claro e objetivo; evitar escrever em
outros idiomas; excesso de emoticons; não enviar propagandas; evitar discussões desnecessárias.
Com essa questão aberta, foi possível perceber o nível de informação dos respondentes, que
apresentaram conhecimento e apontaram corretamente sobre regras de netiqueta. Contudo,
conforme já apontado anteriormente, 25% não citaram nenhuma regra de netiqueta por
desconhecimento, reforçando a necessidade de uma capacitação.
Em relação à preocupação com a cordialidade e objetividade nas interações do AVA, a pesquisa
revelou que 12,5% não se preocupam em ser respeitosos, claros e objetivos, uma informação
alarmante por se tratarem de mediadores e coordenadores de curso. Porém, todos sentem a
necessidade de serem abordadas em suas formações as regras da netiqueta.
Esse dado reforça a importância dos atores do EaD desenvolverem as suas competências
comunicativas, fator primordial para o sucesso desta modalidade de ensino. Segundo Martins
(2002), a relação educativa pode ser entendida como uma dinâmica comunicacional, isso porque
o mediador no EaD tem como objetivo auxiliar o discente no estabelecimento das suas rotas
educativas e uma comunicação eficaz é essencial para o estabelecimento dessas rotas.
A comunicação nos AVAs pode acontecer de diversas formas, dentre as quais se destaca o
feedback, que consiste em um ato de comunicação, descrito por Abreu-e-Lima e Alves (2011, p.
189) com base em Mory (2004) como sendo “qualquer procedimento ou comunicação realizada
para informar o aprendiz sobre a acuidade de sua resposta, geralmente relacionada a uma
pergunta instrucional”.

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Mas o feedback pode ter outras funções que não sejam avaliativas. Ele pode servir como uma
estratégia de estabelecimento de vínculo entre os mediadores e os estudantes, contribuindo para
a solidificação da percepção de pertencimento a um grupo.
Todavia, mais uma vez a importância de formações direcionadas para este tema aparece, pois um
feedback tanto pode contribuir para estabelecimento de vínculos positivos quanto pode ser
negativo, a depender da forma como foi escrito no AVA.
Willians (2005) apud Flores (2009) classificou o feedback em quatro tipos: positivo, corretivo,
insignificante e ofensivo, sendo os dois primeiros considerados os modelos ideais a serem
seguidos. O feedback ofensivo é considerado totalmente inadequado, pois este tipo de feedback
não orienta, não permite a aprendizagem pelo erro e não motiva, além de gerar conflitos.
Ao serem questionados sobre se já se sentiram ofendidos, ou receberam uma resposta
inadequada, entre outras situações negativas, que atrapalharam o processo de ensino e/ou
aprendizagem nos AVAs, conforme apresentado na Figura 1, 12,5% informaram que sempre
ocorrem essas situações, seguido de 37,5% que revelaram passar por esta situação raramente.
Percebe-se aqui elementos que afetam diretamente no processo de ensino e aprendizagem e que
precisam ser evitados.
Figura 1 – Você já se sentiu ofendido(a), ou recebeu uma resposta inadequada, entre outras
situações negativas, que atrapalharam o seu processo de ensino e/ou aprendizagem nos AVAs?

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base na pesquisa realizada.

Os pesquisados apontaram situações negativas que já vivenciaram ou que vivenciam no AVA,


em uma questão de múltipla escolha, na ordem das mais votadas, conforme a seguir:
• 75% identificaram textos com erros ortográficos, com falta de pontuação e erros
de concordância;
• 50% indicam que há pessoas que não interagem no ambiente e não informam os
motivos;
• 37,5% verificam: mensagens de propagandas não solicitadas, notícias de fontes
duvidosas, correntes; textos usando apenas letras maiúsculas; pessoas que não
respondem aos questionamentos feitos; discussões diferentes do tema proposto
no fórum;
• 25% já identificaram: cópias de trabalhos de terceiros, caracterizando plágio; textos
muito longos e cansativos;
• 12,5% já se defrontaram com as seguintes situações no AVA: textos, frases ou
palavras em outros idiomas que dificultam o entendimento; uso exagerado de

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emoticons como elementos do próprio texto; textos com emojis, gírias e/ou
palavras abreviadas que dificultam o entendimento do texto; discussões negativas
e ofensas.
O primeiro ponto já traz uma exigência extremamente relevante para a comunicação escrita: o
uso correto da Língua Portuguesa. Como a maior parte das interações no AVA ocorre através de
textos, o domínio (ou não) da norma culta pode ser determinante na comunicação.
A forma como falamos e/ou escrevemos é fundamental para a interpretação da mensagem que
se quer transmitir. Isso inclui uma série de variáveis que vão desde a entonação da voz, até o uso
correto das palavras e das normas gramaticais.
Isso se relaciona com os outros pontos apresentados, uma vez que, se não há segurança no uso
da Língua Portuguesa, haverá uma probabilidade maior de se utilizar de mensagens escritas
inadequadas (propagandas, exagero nos estrangeirismos, dentre outros) e de ocorrerem plágios.
As situações positivas também foram elencadas pelos pesquisadores, sendo elas:
• 37% indicaram que as pessoas usam a cordialidade ao se comunicarem no
ambiente e costumam mencionar qual mensagem estão respondendo no fórum
de discussão, indicando quem disse o quê;
• 25% informaram que as respostas dos fóruns são embasadas com citações ou
outros recursos teóricos;
• 24% dos pesquisados informaram que há um documento ou texto orientativo
sobre as regras de convivência no AVA.
Ao serem questionados sobre a utilização de regras de netiqueta no processo de ensino e
aprendizagem no EaD, a grande maioria dos pesquisados (87,5%) concorda parcialmente ou
concorda totalmente dizendo que: facilita o processo de ensino; facilita o processo de
aprendizagem; aumenta a interação mediador/estudante; aumenta a interação estudante-
estudante; aumenta a participação do estudante; aumenta a colaboração entre os estudantes;
facilita o desenvolvimento das atividades.
Entretanto, chamou a atenção o fato de um pesquisado discordar parcialmente de todos os itens,
o que nos faz refletir sobre a necessidade de uma intervenção, como forma de garantir que todos
os envolvidos no processo (coordenadores de curso e mediadores) compreendam a importância
de se usar as regras da netiqueta nas relações virtuais.
Considerações Finais
A partir da análise dos dados produzidos nesta pesquisa foi possível constatar que, apesar do
tema “netiqueta” ser conhecido pela maioria dos entrevistados, isso não quer dizer que não
precise mais ser trabalhado com este público, pois a temática precisa ser conhecida pela
totalidade. Ademais, mesmo aqueles que sinalizaram conhecimento sobre as regras de etiqueta
no AVA, demonstraram, por meio de suas respostas, não ter domínio sobre o tema abordado.
A presença recorrente de mensagens consideradas inadequadas, faz com que se conclua que, se
essas mensagens existem, é porque tanto o emissor quanto o receptor não estão conseguindo
identificá-las ou barrá-las na dinâmica comunicacional.
Os processos comunicativos são complexos e quando ocorrem em um AVA, a ausência da
presença física entre emissores e receptores deve ser superada por intermédio da troca de
mensagens coesas e coerentes, objetivas e que façam uso de regras de etiqueta comunicacional.

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Para que isso ocorra da forma desejada, é necessário que, primeiramente, os atores envolvidos
no EaD (mediadores, coordenadores e estudantes) interajam no AVA. A interação é o ponto de
partida e de chegada, pois não há como saber se a netiqueta é usada ou não, se não houver
interação.
Por fim, destaca-se a premência da disponibilização de formação sobre este tema tão
imprescindível para todos os sujeitos envolvidos na EaD, para que os seus conceitos possam ser
cada vez mais difundidos, colaborando para que o ensino e a aprendizagem no EaD se
solidifiquem cada vez mais.
Referências

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