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Crença Alzamora
Crença Alzamora
31º Encontro Anual da Compós, Universidade Federal do Maranhão. Imperatriz - MA. 06 a 10 de junho de 2022.
Abstract: We address the spread of misinformation in the context of the covid-19 pandemic,
considering the practical effects of the anti-vaccine discourse. The conceptions of
truth and belief are recovered according to Charles Peirce and Algirdas Greimas.
In Peirce's pragmatism, truth has an ontological property that submits it to reality.
Thus, science must observe these effects and correct the directions of the semiosis
chains, in order to reach an ideal point of convergence, which is the truth. In
Greimas’ discursive semiotics, the truth is not characterized by its ontological
feature, subordinated to reality. Instead, it is considered by the contract of
veridiction that depends, on the one hand, on the persuasive action of the
enunciator, that is, the make-believe, and, on the the other, of the interpretive doing
of the enunciatee, that is, believing. Both currents emphasize that belief is
predominant in actions, to the detriment of what is understood as truth.
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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Práticas Interacionais, Linguagens e Produção de Sentido na
Comunicação do 31º Encontro Anual da Compós, Universidade Federal do Maranhão, Imperatriz - MA. 06 a 10
de junho de 2022.
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Professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG, doutor em Comunicação e Semiótica
(PUC-SP), danielmeloribeiro@gmail.com.
3
Professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da PUC Minas, Doutor em Semiótica e
Linguística Geral (USP), conradomendes@gmail.com.
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Professora do Departamento Comunicação Social da UFMG, doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP),
geanealzamora@gmail.com.
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1. Introdução
Desinformação é um conceito relativamente recente, sendo normalmente relacionado
a universo semântico de informações falsas ou distorcidas, o que inclui termos afins como:
disinformation, quando criada intencionalmente para provocar dano, misinformation, sem
intenção de causar danos, e mal information, baseada em dados da realidade, mas produzida
para causar danos (WARDLE; DERAKHSHAN, 2017).
A natureza disforme, flexível e expansível da desinformação a torna fenômeno de
relevância inquestionável na contemporaneidade: “A desinformação é um problema
verdadeiramente global, estendendo-se além da esfera política a todos os aspectos da
informação, incluindo mudanças climáticas, entretenimento etc." (IRETON; POSETTI, 2018,
p. 21). Desde 2020, a desinformação tem impactado sobremaneira o combate à pandemia de
covid-19, a tal ponto que a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a designar de
infodemia a explosão de informações - falsas e verdadeiras - sobre o assunto (ALZAMORA;
RIBEIRO; MENDES, 2021).
Nas mais diversas áreas, o fenômeno da desinformação se caracteriza por um
processo comunicacional em rede que opera de modo semelhante: produção difusa,
distribuição multiplataforma e expansão oblíqua, efetuada pela ação social impulsionada por
algoritmos em conexões digitais.
Em perspectiva mais ampla, pode-se dizer que a desinformação sublinha a passagem
da sociedade da informação (CASTELLS, 1999), na qual as interações em rede surgem como
produto do avanço das tecnologias no século 20, para a sociedade da desinformação
(MARSHALL, 2017), caracterizada pela emergências das informações falsas no século 21
como fenômeno endêmico da sociedade contemporânea. Não haveria ruptura entre a
sociedade da informação e a sociedade da desinformação, "mas tênue passagem entre um
regime hegemônico a outro por meio de camadas de mediação cada vez mais densas, tensas e
complexas” (ALZAMORA; RIBEIRO; MENDES, 2021, p. 18).
Buscando abordar o fenômeno da desinformação não por suas variadas
especificidades empíricas (aspecto já abordado pelos autores deste artigo em momentos
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anteriores), mas por um prisma epistemológico mais amplo, indaga-se: por que a informação
falsa ou distorcida se propaga de modo tão amplo e heterogêneo nas conexões digitais?
Como já dito, essa questão inscreve-se nas particularidades comunicacionais da
desinformação relacionadas à combinação entre suas dimensões de produção, distribuição e
expansão digital. Porém, entende-se que, para além das intenções que delineiam a dimensão
produtiva da desinformação e de sua distribuição multiplataforma impulsionada por
algoritmos, aspectos recorrentemente mencionados em análises do assunto, deve-se
considerar um aspecto menos discutido, nem por isso menos importante: como as crenças
impactam nos processos de significação social da desinformação?
Para discutir essa questão acionamos duas correntes: a semiótica fenomenológica de
Charles Sanders Peirce (1839-1914) e a semiótica discursiva de Algirdas Julien Greimas
(1917-1992). Acreditamos que a configuração semiótica de um fenômeno complexo, como é
o caso da desinformação, se beneficia do esforço conjugado de perspectivas semióticas
distintas. Por causa disso, apresentamos as noções de crença e verdade em ambas as correntes
e, a seguir, discutimos como tais noções impactam no processo de significação social da
desinformação a partir de uma breve discussão empírica do tema.
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A sigla EP2 corresponde ao volume 2 da publicação Essential Peirce, organizada pelo Peirce Edition Project.
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A sigla CP corresponde aos Collected Papers de Charles Peirce. O primeiro número indica o volume, seguido
do parágrafo.
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esforço desempenhado para sair de um estado de dúvida e alcançar um novo estado de crença
é chamado por Peirce de investigação (PEIRCE, 2008, p. 45). Em outras palavras, crenças já
fixadas podem ser revistas diante de dúvidas que estimulam nossa reflexão em busca de um
novo estado de estabilidade.
Desse modo, perseguimos crenças que pensamos serem verdadeiras, a fim de
estabilizar nosso estado de inquietação. O problema é que as crenças geradas podem ser
falsas. “Tão logo uma crença é firmemente alcançada, ficamos inteiramente satisfeitos, quer a
crença seja verdadeira ou falsa.” (PEIRCE, 2008, p. 45). Ou seja, podemos nos fixar em
crenças equivocadas, que não possuem correspondência com os fatos, mas que nos causam
uma sensação de conforto. Assim, o apego a certas crenças irá gerar consequências na
maneira como pensamos e agimos.
Em um de seus textos mais conhecidos, A Fixação da Crença, de 1878 (PEIRCE,
2008), Peirce procurou distinguir quatro métodos para lidar com as crenças que variam em
termos de efetividade. O primeiro método é o da tenacidade, no qual as crenças são fixadas
por repetição e insistência. Por meio desse método, o indivíduo se apega a uma determinada
crença, ignorando qualquer indício que possa perturbar esse estado confortável. Trata-se do
método mais rudimentar de fixação de crenças, mas que, de maneira surpreendente, ainda é
bastante comum. O segundo método é o da autoridade, através do qual uma crença é fixada
por força ou influência de uma autoridade externa (política, religiosa, corporativa, estatal
etc.), responsável por repreender um pensamento dissonante. O terceiro método é conhecido
como a priori, através do qual as crenças são fixadas por caprichos ou preferências que
possuem uma aparente racionalidade, mas que, na verdade, refletem preferências individuais.
Nesse método, as crenças fixadas são agradáveis à razão: acreditamos em algo que estamos
inclinados a acreditar, por gosto ou afinidade. Por fim, o método mais eficiente de fixação de
crenças, segundo Peirce, é o método científico, por meio do qual conclusões mais próximas
da verdade podem ser alcançadas, ainda que de maneira provisória.
Segundo Peirce (2018. p 54), a ciência é o único procedimento que estimula que as
inferências obtidas sejam independentes de nossas opiniões. Ou seja, as premissas e as
conclusões que envolvem o raciocínio guiado pelo método científico precisam corresponder à
realidade, e não necessariamente às nossas crenças particulares. Para isso, o método científico
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requer mecanismos para garantir que nossas conclusões sejam externalizadas e colocadas à
prova pelo teste da experiência, mediante a avaliação de uma comunidade de investigadores.
Afinal, nossas crenças individuais estão, muito provavelmente, recheadas de erros e
imperfeições. O próprio Peirce reconhece que “toda a história do pensamento mostra que
nossas crenças instintivas, em sua condição original, estão tão misturadas com o erro que
nunca podem ser confiáveis até que tenham sido corrigidas pela experiência” (CP 1.404).
A partir dessa reflexão sobre as crenças e sobre o método científico, é possível
delinear o propósito inicial do pragmatismo, que consiste na compreensão dos efeitos
provocados por um certo conceito (digamos, como exemplo, o conceito de desinformação).
No texto chamado Como Tornar Nossas Ideias Claras (PEIRCE, 2008), Peirce nos convida a
olhar para os efeitos práticos provocados por um objeto da nossa concepção. “Para
desenvolver seu significado, temos, portanto, simplesmente que determinar quais hábitos ele
produz, pois o que uma coisa significa é simplesmente quais hábitos ela envolve” (CP 5.400).
Como vimos, as crenças são tipos de hábitos que guiam nossas ações, gerando efeitos
práticos no mundo. Na medida em que investigamos esses variados efeitos, estaríamos nos
aproximando, de modo sempre parcial e incompleto, mas cada vez mais aprimorado, da
verdade. Dessa maneira, o pragmatismo pode ser entendido como estudo sobre a maneira
como os conceitos se relacionam com a nossa conduta (EP2, p. 332-333).
Retomando o exemplo, o problema contemporâneo da desinformação poderia ser
tratado, à luz do pragmatismo, a partir da observação empírica de seus efeitos em nossa
realidade. A desinformação sobre a pandemia de covid-19 gera consequências que se
manifestam em inúmeras instâncias, como a negação de vacinas, a crença em tratamentos
ineficazes, a proliferação de fake news sobre teorias conspiratórias (AGGIO, 2021) e assim
por diante. Daí a relevância do estudo desses efeitos da desinformação, que se materializam
em diferentes signos, no âmbito das pesquisas em comunicação, a fim de que possamos nos
aproximar de uma compreensão mais apurada desse fenômeno. É importante ressaltar que o
método pragmático não se resume a experimentos individuais: Peirce insiste na ideia de que
os efeitos práticos de uma investigação sobre nossa conduta e o significado real dos conceitos
encontram-se no futuro. Ou seja, indivíduos diferentes podem partir de hipóteses distintas
diante de uma dúvida. Porém, a soma coletiva dos resultados apontam para a verdade, caso as
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condições para esses experimentos sejam amparadas pelo rigor da ciência e tais experimentos
sejam levados adiante de modo cada vez mais consistente.
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Nesse quadrado, aquilo que é e parece é verdade; aquilo que é e não parece é segredo; o que parece mas não é
é mentira; e, finalmente, aquilo que não parece e nem é é falsidade.
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enunciatário, que pode ou não aderir a tal contrato: “compreende-se, então, por que, em
condições como essas, o conceito de verdade esteja cada vez mais substituído pelo de
eficácia” (GREIMAS, COURTÉS, 2008, p. 531). Ou ainda: “não se espera mais do sujeito da
enunciação a produção de um discurso verdadeiro, mas de um discurso que gere um efeito de
sentido de ‘verdade’” (GREIMAS, COURTÉS, 2014, p. 122). Assim, é com base em um
regime veridictório que um texto pode ser lido como falso, por exemplo, como em uma
história de pescador, ou verdadeiro, como o discurso jornalístico ou científico. Desse modo,
Para Greimas (2014, p. 123), existem duas formas de manipulação discursiva que,
apesar de opostas, visam ao mesmo objetivo, ou seja, a adesão do enunciatário. A primeira é
a camuflagem subjetivante, em que o sujeito da enunciação se instaura no discurso e ali se
projeta como um eu, fiador da verdade. A segunda forma de manipulação discursiva é a
camuflagem objetivante, em que o sujeito da enunciação não se projeta no discurso e é
apagado por meio de construções impessoais. Demuru, Fechine e Lima (2021), ao realizarem
pesquisa sobre desinformação no WhatsApp durante a pandemia de covid-19, elencam alguns
procedimentos gerais em que se ancora a camuflagem subjetivante. Para os autores, o
discurso em primeira pessoa e o discurso interpelativo constituem dois procedimentos
relacionados:
[...] se existe uma primeira pessoa marcada no enunciado (um narrador) há também,
logicamente, uma segunda pessoa a quem ela se dirige (narratário). Basta tão
somente a explicitação do “eu” para que o “tu” para o qual este fala seja igualmente
inscrito no enunciado de modo direto ou não (DEMURU; FECHINE; LIMA, 2021,
p. 12)
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Somos obrigados a constatar que o saber instalado não consegue expulsar o crer,
mas que o crer às vezes repousa, e mesmo se consolida, sobre a negação do saber.
Tudo se passa como se o crer e o saber estivessem alinhados em uma estrutura
elástica que no momento extremo de tensão se polarizasse produzindo uma
oposição categórica, mas que ao se relaxar chegasse ao ponto de confundir os dois
termos (GREIMAS, 2014, p. 128).
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vacina8. No mesmo dia, segundo levantamento realizado pela Agência CNN, com base em
dados enviados pelas secretarias estaduais de saúde das unidades da federação, pelo menos 12
estados do país estavam com a porcentagem de vacinação da dose de reforço em adultos
abaixo de 20%9. A questão se torna ainda mais grave quando observada por um prisma
global. De acordo com informações divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
vacinar pelo menos 70% da população mundial é o único meio de conter a pandemia de
covid-1910.
Em 16 de fevereiro de 2022, a Agência Fiocruz de Notícias divulgou nota técnica
sobre a preocupante lentidão na cobertura vacinal de primeira dose das crianças no contexto
de retorno das atividades escolares. O documento cita o crescente movimento antivacina no
país e enfatiza a necessidade de maior esclarecimento da sociedade acerca da importância,
efetividade e segurança das vacinas11. No mesmo dia, o presidente da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, afirmou que diretores e técnicos do
órgão receberam 458 ameaças desde que entrou em pauta no Brasil a vacinação das crianças
contra covid-1912. Os efeitos práticos de crenças dissonantes relativas à vacina de covid-19
podem ser devastadores, como se observa nos episódios mencionados, ocorridos em apenas
dois dias.
Em uma perspectiva peirciana, a resistência social à vacina, a despeito da recorrente
divulgação científica de seus benefícios, demonstra a incidência do método da tenacidade na
fixação da crença antivacina. O método da autoridade também se evidencia nesse contexto,
na medida em que o argumento contrário à vacina é endossado por figuras públicas de
8
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10
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11
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5. Conclusão
Há uma diferença substancial nas abordagens semióticas de Peirce e de Greimas sobre
o conceito de verdade. Do ponto de vista da semiótica de Peirce, a verdade apresenta uma
propriedade ontológica que se submete à força da realidade. Ou seja, as representações
sígnicas - que são, por essência, recortes parciais dos objetos do mundo - são confrontadas
com seus efeitos práticos na realidade. Nesse sentido, cabe à ciência observar esses efeitos e
corrigir os rumos das cadeias de semiose, de modo a almejar um ponto de convergência ideal,
que é a verdade. Trata-se de uma concepção pragmática da verdade, pois esta seria uma
espécie de ideal autocorretivo que age no aprimoramento contínuo das crenças
(ALZAMORA; ANDRADE, 2019).
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Já pela semiótica discursiva, a verdade não se caracteriza por seu vínculo ontológico,
próprio da natureza do referente e, portanto, subordinado à realidade. Tal conceito pode ser
substituído pelo conceito de eficácia (GREIMAS, 2014), a partir do estabelecimento do
contrato de veridicção entre enunciador e enunciatário. Este para aderir ao contrato proposto
por aquele compara o antigo ao novo e recorre a um universo cognitivo, formado por duas
variantes: o crer e o saber. No contexto da desinformação, o enunciatário parece valer-se tão
somente da variante fiduciária, ligada ao crer, e prescindir da variante lógica, ligada ao saber.
Tal adesão, ainda, é ligada às emoções daquele que realiza o fazer interpretativo e, por isso,
tem base estésica, ligada ao sentir.
Por outro lado, há uma interseção significativa entre as duas abordagens, que reside
no papel que as crenças desempenham nas trocas discursivas e na construção do sentido. De
maneira congruente, ambas as perspectivas explicitam que o entendimento da verdade passa
por um sistema cognitivo ligado à construção de crenças dos indivíduos Desse modo, pela
perspectiva peirciana, a crença é uma espécie de hábito que direciona condutas, mesmo
diante de evidências que questionem a sua veracidade. Já pela perspectiva greimasiana, o
discurso da desinformação parece obter a sanção fiduciária fundada sobretudo no crer do
enunciatário.
Assim, em um contexto de reflexões sobre a desinformação, as crenças se apresentam
como uma variável que não pode ser ignorada. Neste estudo, procuramos enfatizar que as
pesquisas que tratam da desinformação na comunicação não podem prescindir dos efeitos
práticos que as crenças exercem nas manifestações discursivas. Sustentados por um olhar
semiótico, argumentamos que essas crenças podem ser categorizadas tanto a partir de seus
diferentes modos de fixação, bem como em sua relação com o próprio saber, como variantes
constitutivas do universo cognitivo do enunciatário.
Outras conexões e confrontos entre essas perspectivas semióticas sobre a
desinformação também podem ser explorados em reflexões futuras. Apontamos, por
exemplo, as bases estésicas da crença na desinformação que, com base na sociossemiótica de
Landowski (2014), podem estar relacionadas com o regime do ajustamento ou a uma
sobreposição dos regimes da manipulação e do ajustamento, ou seja, àquilo que o autor
chama de manipulação por contágio (LANDOWSKI, 2008). Por sua vez, a estética também
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www.compos.org.br