Você está na página 1de 18

DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.

610

Artigo

Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes


Filho e sua Nova Teoria da Comunicação
Why it is not possible not to study Ciro Marcondes Filho and his New Theory of
Communication

Por qué no es posible no estudiar a Ciro Marcondes Filho y su Nueva Teoría de


la Comunicación
Luiz Signates
Universidade Federal de Goiás
<signates@ufg.br>

Resumo Abstract Resumen


Trata este trabalho do percurso de- this work shows the development Este trabajo trata de la trayectoria desar-
senvolvido pelo professor e pensador by Ciro Juvenal Marcondes Filho, rollada por el profesor y pensador Ciro
Ciro Juvenal Marcondes Filho, da Uni- from the University of São Paulo, in Juvenal Marcondes Filho, de la Univer-
versidade de São Paulo, na construção the construction of New Theory of sidad de São Paulo, en la construcción
de sua Nova Teoria da Comunicação. Communication. In this intellectual de su Nueva Teoría de la Comunicación.
Nesse percurso intelectual, busca-se journey, we seek to demonstrate the En esta trayectoria intelectual, buscamos
demonstrar o vigor teórico da pro- theoretical strength of the proposal demostrar la solidez teórica de la pro-
positura feita por esse autor, oriundo made by this author, arising from puesta realizada por este autor, fruto del
do diálogo que empreendeu com os the dialogue with the main thinkers diálogo que entabló con los principales
principais pensadores da filosofia e of philosophy and the human and pensadores de la filosofía y las ciencias
das ciências humanas e sociais, desde social sciences, since ancient Greece. humanas y sociales, desde la Antigua
a Grécia antiga. Destacam-se ainda We also demonstrate the originality Grecia. También se destaca la originali-
a originalidade e a fundamentação of the concepts and categories crea- dad y fundamentación de los conceptos
dos conceitos e categorias criados ted by Marcondes Filho, especially y categorías creados por Marcondes
por Marcondes Filho, especialmente the strong notion of communica- Filho, especialmente la noción fuerte de
a noção forte de comunicação, a feno- tion, the phenomenology of reason comunicación, la fenomenología de la
menologia da razão durante, a aber- during, the opening of theory to the razón durante, la apertura de la teoría a
tura da teoria para a investigação do investigation of the new and the re- la investigación de lo nuevo y el “cuasi-
novo e o “quase-método” decorrente. sulting “quasi-method”. However, we -método” resultante. Además, se exami-
Assim, examinam-se as principais re- exam the main repercussions of his nan las principales repercusiones de sus
percussões de suas ideias e a fraca for- ideas and the weak critical fortune ideas y la débil fortuna crítica obtenida,
tuna crítica obtida, para, finalmente, obtained, in order, finally, to defend para, finalmente, defender la indispen-
defender a indispensabilidade de seu the indispensability of their study by sabilidad de su estudio en el campo de
estudo pelo campo da comunicação. the field of communication. la comunicación.
Palavras-chave: Ciro Marcondes Filho. Keywords: Ciro Marcondes Filho. New Palabras clave: Ciro Marcondes Filho.
Nova Teoria da Comunicação. Episte- Theory of Communication. Epistemo- Nueva Teoría de la Comunicación. Episte-
mologia da comunicação. logy of communication. mología de la comunicación.

São Paulo, v. 6, n. 11, jan./jun. 2022


62 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

Não é incomum em qualquer meio cul- LHO, 2010), ele compôs essa trajetória em
tural ou acadêmico os grandes autores se- três fases distintas: a primeira foi iniciada em
rem reconhecidos apenas postumamente. 1989, assim que ele concluiu os estudos so-
No Brasil, isso não raro ocorre mais amiú- bre psicanálise da comunicação, quando ele
de, em razão de problemas históricos que começou a ministrar uma série de 23 cursos
perpassam uma cultura de baixa autoesti- de pós-graduação voltados para a nova teo-
ma e pouca tradição cidadã. ria; em 1992, ele cria o NTC1 – Núcleo de
Nesse sentido, vez por outra surpreen- Estudos e Pesquisas em Novas Tecnologias,
demos trabalhos dignos de nota, merecedo- Comunicação e Cultura, e lança a revista
res de destaque pela originalidade ou pelo Atrator Estranho, que publicou 47 volumes,
vigor de pensamento, serem ignorados ou a partir de 45 encontros e debates havidos; e,
superficialmente criticados, restando a seus por fim, em 2000, o NTC dá lugar ao Filo-
autores uma luta penosa por legitimação com, após o que as principais obras da Nova
ou, ao menos, tratamento sério, digno do Teoria da Comunicação são publicadas.
trabalho que apresentam. Reproduzo neste trabalho trechos do
Neste trabalho, trataremos do percurso relato ainda inédito, feito pelo próprio
de um desses autores. Ciro Juvenal Mar- Ciro Marcondes Filho, no dia 20 de abril
condes Filho, professor da ECA-USP, au- de 2019, em mensagem enviada dentro
tor de meia centena de obras e criador da das tratativas para o estágio de pós-douto-
Nova Teoria da Comunicação (NTC), fale- ramento que iniciei em 2020 e que foi in-
cido em novembro de 2020, foi sem dúvida terrompido por sua morte. Nesse texto, ele
um dos maiores e mais densos intelectuais contou as principais atividades do percurso
do campo da comunicação do Brasil. que fez e que culminou na proposta teórica
O objetivo aqui é percorrer, rápida e que temos a estudar.
sinteticamente, a construção da sua obra se- O primeiro trecho do relato dá conta de um
minal e, com isso, a partir da análise alguns fato pouco sabido, mas importante para um
de seus insights originais e contribuições estudo criterioso da obra de Ciro Marcondes
teóricas, ressaltar a enorme contribuição Filho: a de que a sequência das suas publica-
de seu pensamento para o debate teórico e ções nem sempre confere com a cronologia do
epistemológico da comunicação no Brasil. desenvolvimento de seu pensamento.

Na década de 1990, desenvolvi vários


Percurso erudito de uma construção cursos de pós-graduação na ECA sob
teórica o título “Nova Teoria da Comunica-
Poucos sabem a história da construção ção”. Na época, discutia-se o Anti-
da Nova Teoria da Comunicação (NTC). -Édipo, de Deleuze e Guattari, A críti-
Em uma de suas obras (MARCONDES FI- ca da razão cínica, de Peter Sloterdijk,

1 Importante chamar a atenção aqui para a coincidência da sigla “NTC”, originalmente referente ao Núcleo de pesquisas, e que este trabalho
utiliza para designar, de forma econômica, a própria teoria de Marcondes Filho. Para todos os efeitos, sempre que nos referirmos a “NTC”,
estaremos designando “Nova Teoria da Comunicação”, exceto nos casos em que se referir ao Núcleo, quando, para efeito de clareza, faremos
acompanhar, como neste momento, da sua designação completa.

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM • DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.610 63

O antiquismo do homem, de Günther tacam, no livro que citou. De Nietzsche,


Anders, alguns textos de Kamper, Marcondes Filho colhe o protesto dioni-
Bataille, Nietzsche, Heidegger, Eco, síaco contra os sentidos apolíneos de uma
muitos deles reunidos na obra A arte racionalidade instrumental, mas não deixa
de envenenar dinossauros, publicada de perceber as contradições do pensamento
tardiamente em 2014, pela Casa das nietzscheniano. E em Heidegger, ele discu-
Musas, de Brasília. Mas, nesse tempo, tirá a velha questão da técnica, dentro do
ainda não havia chegado a uma ideia escopo de sua filosofia do ser e do ente, que
do que seria uma “nova teoria”. seria metafísica consumada, na medida em
que “configura decisivamente a imagem do
A NTC não emergiu de uma mera insa- mundo e estabelece a priori o modo como
tisfação teórica ou epistemológica. Seu em- as coisas aparecem” (MARCONDES FI-
brião foi um receio profundo do eventual LHO, 2014, p. 99). No grande filósofo ale-
retorno dos “répteis”, a que Marcondes mão, nosso autor percebe, apesar das con-
denominava “dinossauros”, representados trovérsias entre os seus intérpretes, “uma
sobretudo pela sombra do golpe de 1964, postura de crença nas possibilidades do
que até hoje espreita a política brasileira. homem, apesar do mundo da angústia, ape-
Essa indignação profunda transformada sar do mundo marcado pela preocupação”
em debate, emergiu em textos em que a (MARCONDES FILHO, 2014, p. 101).
teorização em comunicação, incluindo al- Essa esperança forrada de crítica erudi-
guns debates sobre estética, foi combinada ta, Ciro Marcondes Filho devagar vai trans-
com o sereno protesto contra as diferentes formando em uma busca teórica específica,
formas de violência. pelo especificamente comunicacional.
À parte disso, algumas intuições enun-
ciavam o que seria a NTC. O fascínio do No ano de 1999, durante meu estádio de
olhar estético apropriado à fotografia, como pós-doc em Grenoble, me veio à mente
elemento de abertura para o sentido do uma intuição a respeito da comunica-
objeto, isto é, como possibilitador de seu ção, a que eu chamei, para desenvolvê-
aparecimento, bem como os aspectos de -la, de “caminho do meio”. Segundo
negação de possibilidades implícitos na es- ela, (a) comunicação é um enigma; (b)
tética da publicidade e da televisão. A pro- posições consolidadas em ciência neces-
cura por uma comunicação não espelhada, sariamente reprimem o novo, em espe-
isto é, em que o outro não fosse idealizado cial, o mutante, o instável; (c) é preciso
como reflexo do eu. E, sobretudo, a defesa dar-se legitimidade ao transitório; e,
de um “quase-método” para os estudos de finalmente, (d) apostar no “durante”;
comunicação, no qual Ciro Marcondes Fi- toda essa proposta sintetizada no livro
lho efetua um intenso debate com os prin- O espelho e a máscara.
cipais epistemólogos do século XX.
Destaca-se, também, o diálogo que A referência específica é ao Capítulo 6
empreendeu desde o início com a filosofia do livro citado, em que Marcondes Filho
contemporânea. Dois exemplos se des- assume a ideia de que o modo de legitima-

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


64 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

ção da ciência não cabe por inteiro para o essa primeira hipótese de trabalho. Esse
campo da comunicação, por conta da ne- trabalho preliminar está exposto num li-
cessidade de descobrir o novo que é própria vreto meu chamado Até que ponto, de
dos estudos dessa área. Desvela-se, então, fato, nos comunicamos?, publicado em
pela primeira vez, para o autor, a natureza 2004, pensado para os alunos ingressantes
performática da comunicação, que o fez nas faculdades de comunicação, onde se
propor uma leitura fenomenológica cen- tenta fazer uma panorâmica das transfor-
trada no “real-enquanto-tal” (MARCON- mações do pensamento filosófico ociden-
DES FILHO, 2002, p. 220), ancorada tal desde os antigos gregos até o presente.
numa racionalidade da “coisa funcionan- Nesse mesmo livro, na sequência, há em
do” (MARCONDES FILHO, 2002, p. esboço uma discussão sobre a evolução da
221), a razão durante. Na sequência desse ideia de comunicação nesse mesmo espaço
texto, Ciro Marcondes estabelece os limites de tempo, segundo os filósofos.
de várias dicotomias – ordem e caos, repou-
so e movimento, estrutura e processo – e Num livro de bolso, de pouco mais de
opta por uma epistemologia da indetermi- cem páginas, escrito para graduandos, Ciro
nação, da complexidade, da mudança. Marcondes Filho demarcou o ponto central
Estava lançada a pedra fundamental da da NTC. Após percorrer em textos breves,
NTC. Restava agora dar solidez às bases sintéticos e didáticos, praticamente toda a
filosóficas da nova proposta e isso ele fez história da filosofia, dos pré-socráticos aos
num debate minucioso com os filósofos, contemporâneos, culminando num deba-
com o objetivo de consolidar um conceito te em que refuta a tournée linguistique, que
de comunicação suficientemente sólido e submete todo o humano à linguagem, ele re-
bem definido, para cumprir o papel de pi- cupera uma certa historiografia da comuni-
lar central da construção a ser feita. Esse cação e efetua a pergunta fundamental: “Até
foi o empreendimento da primeira década que ponto, de fato, nos comunicamos?”
do século XXI, com a criação do Filocom, Cinco “teses” são defendidas por ele,
o Núcleo de Estudos Filosóficos da Comu- ao final. Fortes e polêmicas, situam aquilo
nicação, “herdeiro intelectual do NTC – que será a marca central da NTC: a da in-
Centro de Estudos e Pesquisas em Novas comunicabilidade como característica fun-
Tecnologias, Comunicação e Cultura, fun- damental em tudo o que se pensa e se diz
dado em 1995 e extinto em 2000” (FILO- sobre comunicação. Numa rápida síntese,
COM, s.d.). Marcondes Filho verbera contra a comu-
nicabilidade inscrita na própria linguagem;
Em março do ano 2000, com a criação apoia a tese luhmanniana da psiquê huma-
do FiloCom, iniciou-se a elaboração da na como sistema fechado, incapaz, pois, de
Nova Teoria a partir dessa intuição ini- se comunicar; e estabelece o extralinguísti-
cial, começando com a pesquisa do con- co – o sentimento, a sensação, o sensível, a
ceito de comunicação na história da filo- percepção em Merleau-Ponty – como fun-
sofia. Era preciso fazer todo esse percurso damento da experiência comunicacional
em busca dos olhares que legitimassem genuína.

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM • DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.610 65

Paradoxo da comunicação: revelamos Luhmann, reproduzida num livro por-


tudo o que temos, pensamos, sentimos tuguês, apresentado por J. Pissarra, A
pelo nosso olhar, pelo nosso rosto, pela improbabilidade da comunicação, de
nossa pele. Eles são a superfície porosa 1992, de que “comunicação – ao con-
que mostra nosso interior, que nos põe trário do que se imagina – é um fenôme-
a nu, que nos revela, que nos trai. Ao no raro”. A investigação dessa tese deu
mesmo tempo, forjamos, disfarçamos, novo alento à pesquisa da Nova Teoria.
dissimulamos, pomos uma máscara, Esse foi o início ou a “intuição conduto-
tentamos manipular a impressão que ra” de minhas pesquisas até sua consoli-
o outro tem de nós por meio de mano- dação em 2008.
bras claras e pensadas de nosso rosto,
de nossos olhares, de nossa postura A ideia de raridade do fenômeno da co-
corporal. A linguagem é como uma municação rendeu um significativo debate
roupa (social, pretensamente comu- entre Ciro Marcondes Filho e José Luiz
nicativa) com que cobrimos a trans- Braga, em textos publicados sobretudo
parência de nosso corpo nu. (MAR- na revista Matrizes, da USP, entre 2010 e
CONDES FILHO, 2004, p. 96). 2014. Retornaremos a essa rica e histórica
polêmica, neste trabalho.
É nesse ponto que Ciro Marcondes Fi- O investimento de Marcondes Filho
lho efetua a disjunção entre comunicação no estudo da filosofia ao longo da história
e interação. Para ele, os relacionamentos e dos autores contemporâneos em geral não
humanos constituem obstáculos, que com- pode ser subestimado. Sua pertinácia por
provam e reforçam o solipsismo e a ilusão construir um conceito forte de comunica-
das formas modernas de contato. A comu- ção, que desse base para uma teoria nova e
nicação, assim, estaria além da norma, além atual, é claramente demonstrada da enorme
das convenções, além dos meios. A regra é a erudição construída ao longo de 30 anos de
incomunicação, seja por definição, seja por estudos e debates.
abrangência. A comunicação só é possível
pela intersecção dos sentimentos e, ainda O percurso foi marcado pela consulta ao
assim, quando há um impacto, o momento pensamento antigo e às filosofias orien-
qualitativo da percepção, da sensibilidade, tais, presentes no Tomo I, v. 3, da Nova
do arrebatamento pelo outro. Teoria, onde eu discuto os antigos e sua
Mas, evidentemente, a construção do ideia de comunicação. Nessa mesma
conhecimento teórico não pararia por aí. A obra, discutem-se, em caráter introdu-
generalização da incomunicação – circula- tório, a teoria da percepção de Maurice
ção majoritária de sinais e informações, sem Merleau-Ponty, em Henri Bergson e as
comunicação – seria reforçada pelos estudos concepções de Jean-François Lyotard,
que Marcondes Filho empreendeu da teoria em Discurso, Figura.
de sistemas sociais de Niklas Luhmann.
O que se acrescentou às ideias iniciais O projeto revela sua extraordinária am-
nessa época foi a proposição de Niklas bição logo nas primeiras linhas da Nota

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


66 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

Introdutória. A NTC seria “a primeira Na sequência, Tomo II, do v. 3, retoma-


tentativa de agregar todos os fenômenos co- -se a Escola de Frankfurt, revendo seus
municacionais [...] sob um único e mesmo 4 principais pensadores: Horkheimer,
paradigma teórico e de pesquisa” (MAR- Adorno, Benjamin e Habermas. Em se-
CONDES FILHO, 2010, p. 19), e, para guida trago Klages, Lorenzer e Anders,
isso, propunha uma ontologia e, também, autores pouco conhecidos no Brasil, mas
uma nova epistemologia para a comunica- de influência considerável na formação
ção. Em outras palavras, Ciro Marcondes do pensamento crítico europeu em rela-
jamais se conformou com posições como ção à comunicação e à cultura. Por fim,
a de Braga que considerou comunicação nessa mesma obra falo daqueles que eu
“aquilo que chamamos de comunicação no denominei teóricos “neo-heideggeria-
senso comum – nesse espaço, não precisa nos”, por suas concepções críticas em
ser explicada” (BRAGA, 2016, p. 19). relação às imagens, aos mass media e à
O que é óbvio não satisfaz Ciro Mar- cultura contemporânea: Flusser, Kittler
condes. Então, ele foi às tradições eruditas e Kamper.
do pensamento humano em busca do con-
ceito. Esse esforço produz descobertas ex- A Escola de Frankfurt e sua influên-
traordinárias, até hoje não adequadamente cia sobre as ciências sociais no Brasil são
valorizadas pelo campo. Do diálogo com o por demais conhecidas. De Horkheimer e
pensamento oriental e, especialmente, com Adorno a Benjamin e Habermas, grande
o budismo, ele retira a ideia do “durante”, parte da formação à esquerda na sociologia
o “caminho do meio”, respaldado pela no- e na ciência política do Brasil adveio dos
ção heraclitiana de movimento. Em plena conceitos frankfurtianos de primeira e se-
articulação com essas ideias, de Heidegger, gunda gerações. Na área da comunicação,
Ciro Marcondes adota o conceito de “acon- não foi diferente, consignando o que os au-
tecimento” (Ereignis), que ele traduz como tores dos manuais de teoria da comunicação
“acontecimento-apropriação”, com um denominaram como sendo o “paradigma
triplo significado: “acontecer, apropriar-se crítico” ou “dialético” (TEMER; NERY,
de, captar com o olhar” (MARCONDES 2004; POLISTCHUK; TRINTA, 2003).
FILHO, 2010, p. 112). Ciro Marcondes Filho, claro, percorre o
Sua trajetória pelos pensamentos de caminho desses pensadores fundamentais,
Husserl, Merleau-Ponty, Derrida e Berg- mas não se detém neles e perscruta outros
son é fundadora de um diálogo bastan- autores alemães. Em Ludwig Klages, ele
te consistente com as fenomenologias da investiga um acontecimento que não coin-
consciência e da percepção, os estudos de cide com o Ereignis heideggeriano, assim
espacialidade e linguagem, e as questões da como a crítica de Klages àquilo que se opõe
duração, da sucessão e do movimento. ao acontecimento, na fixação dos conceitos,
Em seguida, a construção da NTC se das identidades e do “mundo dos objetos”,
dirige para o campo das reflexões provoca- momento em que Marcondes Filho efetua
das pela teoria social crítica ou, especifica- uma interessante correlação com as teo-
mente, a Escola de Frankfurt. rias freudianas. Em Alfred Lorenzer, Ciro

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM • DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.610 67

Marcondes percebe uma fenomenologia de do, o metáporo (MARCONDES FILHO,


tipo “acontecimental” da percepção, cons- 2011a, p. 288).
truída contra Freud, na medida em que de- Essa sequência de resenhas, efetivada
fende uma participação ativa do histórico e pela extraordinária erudição de Ciro Mar-
do social na constituição do psiquismo ou condes Filho, nem sempre está ligada por
uma “produção social da inconsciência” uma reflexão sistemática, que faz emergir
(MARCONDES FILHO, 2011a, p. 173). conceitos ou opere escolhas com clareza
E, por fim, Marcondes Filho avalia a “ou- teórica. Mas, revela um esforço de leitura e
tra” indústria cultural, no pensamento de análise realmente invejável. Segundo o nos-
Günther Anders, que, junto com Marcu- so autor, o passo seguinte de seus estudos
se, teria sido ignorado por Horkheimer e passou a ser a complexa herança das teorias
Adorno, mas, mais do que ele, seria esque- cibernéticas, da qual irá repontar Niklas
cido também pelos intelectuais que vieram Luhmann, uma das mais fortes influências
depois. Para Ciro Marcondes, Anders foi sobre a NTC.
“um dos maiores pensadores da comuni-
cação e da técnica do século 20” (MAR- O volume seguinte, do Círculo Ciberné-
CONDES FILHO, 2011a, p. 193), tendo tico, joga novas luzes sobre o conceito de
influenciado Sartre, Sontag, Baudrillard, comunicação, retomado mais tarde pelo
Flusser, Eco e Sfez, e teria sido o verdadei- olhar de Luhmann, a saber, o do cons-
ro autor da famosa frase de McLuhan, “o trutivismo radical, em pensadores que
meio é a mensagem”. trabalham nos Estados Unidos do pós-
Em acréscimo, Marcondes Filho aborda -guerra na pesquisa do funcionamento
a prolífera e original obra do tcheco natura- de nossa mente e das astúcias e ambigui-
lizado brasileiro Vilém Flusser, inserindo-o dades da comunicação. A cibernética de
entre os “alemães”, e extraindo dele uma segunda ordem irá separar comunicação
teoria praticamente completa da comunica- de informação, questionar os usos que se
ção, desde os estudos da tecnoimagem até dá a esses dois termos, dizendo que eles,
as questões de dialogicidade. No grupo da em princípio, não existem, são relações
nova crítica alemã, Ciro Marcondes apre- constituídas entre indivíduos, que po-
senta também os trabalhos de Friedrich dem ou não acontecer.
Kittler, teórico saxão da literatura que se
interessou pelos estudos dos meios técni- O percurso é extenso. Marcondes Filho
cos, do qual Marcondes Filho destaca o de- remete aos filósofos do Círculo de Viena e
senvolvimento de uma “psicanálise ciber- à tournée linguistique de Wittgenstein, para
nética” (MARCONDES FILHO, 2011a, recuperar em seguida os autores principais
p. 239). E, por fim, destaca-se Dietmar das várias fases da teoria cibernética, que
Kamper, em cuja noção de “quiasma”, uma culminaram em Luhmann.
“confluência que agrega opostos e parado- O primeiro deles é Heinz von Foerster,
xais, junta consciente com inconsciente, que exerceu enorme influência no pensa-
desejados e não desejados”, Marcondes Fi- mento marcondiano, especialmente pela
lho enxerga um esboço do seu quase méto- contribuição que lhe trouxe à distinção entre

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


68 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

sinalização, informação e comunicação. Vem A relevância de Gregory Bateson para a


deste autor a ideia de que os sinais não car- NTC pode ser considerada discutível. Afi-
regam mensagem alguma, de que a informa- nal, Bateson defende que tudo se comunica
ção não é coisa nem substância e de que uma e não é possível não se comunicar, na me-
teoria da comunicação não pode ser uma teo- dida em que considera que comunicação é
ria do compartilhamento, pois os seres vivos um comportamento e a recíproca também
são sistemas fechados, autorreferentes, razão é verdadeira, isto é, comportamento é co-
pela qual “somente a aceitação do outro – da municação. Como não é possível não se
verdade da existência do outro – pode per- comportar, não é, igualmente, possível não
mitir que eu constitua a minha identidade” se comunicar.
(MARCONDES FILHO, 2011b, p. 44). Nesse sentido, Marcondes Filho evi-
Ao biólogo chileno Humberto Matura- dencia sua discordância teórica:
na, Ciro Marcondes Filho dedica boa par-
te do Tomo III da NTC. Após criticá-lo O corpo está sempre se comunicando,
duramente por sua retomada cartesiana e dizem eles. Talvez mais correto seria
nominalista, irá assumir sua ideia, também dizer que o corpo está sempre emitin-
existente em Von Foerster, de que a lingua- do sinais, já que, segundo a forma de
gem não transmite informações, por ser, na definir a comunicação adotada nesta
verdade, um sistema de comportamento obra, a comunicação pressupõe a troca
orientador. Mas discordará da ideia de que mais densa, com resultados novos en-
as palavras são apenas nós ou meras fabri- tre os comunicantes e uma percepção
cações autistas dos organismos autopoiéti- homóloga das consciências. (MAR-
cos. CONDES FILHO, 2011b, p. 112).

De fato, cada um diz o que diz e ouve Entretanto, Ciro Marcondes Filho sub-
o que ouve segundo sua própria de- mete as categorias de Bateson aos critérios
terminação estrutural, mas o que ele da NTC, ao identificar o que define como
diz ou o que ele ouve não são meras emissão de sinais às formas analógicas em
fabricações autistas de seu organismo Bateson, caracterizadas por um processo
autopoiético, são elementos de uma primário do psiquismo, tanto quanto as
linguagem compartilhada. (MAR- manifestações inconscientes.
CONDES FILHO, 2011b, p. 83).
A maturação maior da Nova Teoria – e
Gregory Bateson, dentro desse mes- em complemento com o que veio evoluin-
mo cenário, trabalhará a comunicação do dessas discussões anteriores – vem
como um jogo, em que sua compreensão com o tomo seguinte do volume 3 da
deverá ser dar a partir do deciframento Nova Teoria, Tomo 4, em que entram
dos componentes analógicos (a saber: em discussão o diálogo, a alteridade, o
das formas de enunciação) e não do ca- sagrado, trazendo Levinas, Buber, Ba-
ráter meramente verbal dos enunciados, taille e Foucault. O cerne da proposta
seu componente “digital”. da Nova Teoria constitui-se dessa con-

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM • DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.610 69

jugação das teses do Círculo Cibernético que pretende dar sustentabilidade a uma
naquilo que conflui para as proposições visão da comunicação que lhe garanta
dos autores que falam do diálogo, da al- uma certa legitimidade epistemológica
teridade, do rosto e do olhar. nas ciências humanas. A obra é dividida
em duas seções distintas: a ontológica e a
A articulação comunicacional da ciber- epistemológica. A primeira tem como “su-
nética de sistemas com a filosofia da alteri- gestão empírica” a obra de Marcel Proust,
dade é uma das grandes e mais originais rea- Em busca do tempo perdido. A segunda
lizações eruditas de Ciro Marcondes Filho. conta com Lewis Carroll e Alice no país
E mais: é algo que somente um pensamento das maravilhas e Através do espelho.
em comunicação poderia fazer. A obra teó-
rica é monumental, tanto quanto dificílima, É no Tomo V que se encontra de fato o
pois se trata de forjar um conceito de comu- núcleo amadurecido da NTC. Metade des-
nicação que seja capaz tanto de atender à exi- te livro é exclusivamente dedicada ao con-
gência cibernética do fechamento sistêmico, ceito de comunicação (denominada por ele
isto é, de que não há comunicação entre os de seção “ontológica”), e a outra metade, às
sistemas estruturalmente fechados, quanto discussões epistemológica e metodológica
de considerar a possibilidade da ética, da do enorme esforço teórico empreendido.
responsabilidade, do amor e da transforma-
ção na interação intersubjetiva. A primeira parte faz a separação entre
E ele obtém isso pela percepção de que os conceitos de sinalização, informação
a noção cibernética não é senão a infinitude e comunicação, trata da alteridade, do
do outro, ante o qual ocorre a “irritação” no extralinguístico, do sentido e da razão
âmbito do acoplamento estrutural dos sis- durante. A segunda parte trata da pes-
temas entre si, que, na filosofia levinasiana, quisa da comunicação entrosada com
é o “rosto” do outro, algo inatingível que, essa proposta teórica, a saber, o metá-
no entanto, eu percebo e que me convoca poro, considerando as formas de pesqui-
à responsabilidade, à entrega, ao perder-se sa em diferentes cenários e contextos.
do amor sem conteúdos (MARCONDES
FILHO, 2011c).
A ideia de comunicação como transfor- O vigor da Nova Teoria
mação de mim, como permissão para a pe- A consistência da NTC é indiscutível
netrabilidade indizível e profunda, estava e se revela em pelo menos dois sentidos. O
pronta. Restava-lhe apenas constituir-se primeiro, extraído de uma imensa trajetória
como teoria da comunicação capaz de con- de estudos sobre praticamente todo o repo-
ferir-lhe a legitimidade das ciências huma- sitório de conhecimento da civilização hu-
nas. E este será o empreendimento seguinte mana, pervadindo inclusive algumas tradi-
de Ciro Marcondes Filho. ções orientais, é o desenvolvimento de um
conceito forte de comunicação. Trata-se da
O último tomo do Volume 3 tenta fundir noção de comunicação como relação dialó-
esse conjunto de proposições numa lógica gica ao outro (Lévinas), como abertura do

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


70 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

Ser (Heidegger), como abertura ao mundo O debate sobre o Acontecimento, em


(Merleau-Ponty), como encontro erótico Marcondes Filho, é repleto de erudição. Ele
(Bataille), como percepção para as formas tensiona a noção de Ereignis em Heidegger
do sentir (Kamper) ou como conversa cós- e o conceito de événement, de Deleuze, para
mica (Flusser). referir-se à ligação entre o que foi descrito
Trata-se não apenas de uma interação como uma ocorrência fora de toda a triviali-
especial ou uma tipologia ao sabor aristo- dade para demarcar o “si próprio” e a ideia
télico, e sim um evento, um acontecimen- do ser em movimento, que pode ser propi-
to, a partir da formulação de Heráclito ciada mesmo depois da técnica, sob o impé-
atualizada por Heidegger, na qual a ideia rio da razão e da racionalidade. A noção de
do sentido, tal como proposta por Deleu- evento em Deleuze, para ele, tem a mesma
ze, ultrapassa as ideias linguageiras da de- significação do noema, de Husserl, e reme-
signação (o que se fala), da manifestação te à questão da temporalidade em Merleau-
(quem fala) ou da significação (do que se -Ponty, à do espaço vazio aberto pelo dese-
diz), mas “remete a uma dimensão já não jo em Lyotard e, sobretudo, ao espírito da
mais linguística” e que remete à dimensão alteridade de Lévinas e à ideia de impacto,
de “como eu sinto” (MARCONDES FI- surpresa e transformação de Klages.
LHO, 2010a, p. 83). Nessa confluência, Ciro Marcondes Fi-
A dimensão do sentido é a do Aconteci- lho ultrapassará a abrangência de seu tra-
mento, que ocorre dentro da temporalida- tamento ao conceito de comunicação do
de da razão durante: “o sentido não existe a restrito espaço da relação interface, para
priori, não é algo que está lá por antecipa- alcançar a comunicação irradiada (veículos
ção, mas algo que se constrói no evento tradicionais de “massa”) e a comunicação
do acontecer da coisa” (MARCONDES espectral (virtual, articulada pela internet).
FILHO, 2010a, p. 84, grifos do original). É então que Marcondes Filho rompe com
o esquematismo cibernético de Luhmann,
Razão durante é o princípio segundo sem, contudo, dispensá-lo, para abranger,
o qual o acontecimento comunicacio- de forma crítica, os conceitos habermasia-
nal tem sua existência, seu efeito e sua nos de opinião pública, esfera pública, en-
força na fração de tempo exata de sua gajamento e mudança social, num guarda-
realização [...]. Daí, o caráter contin- -chuva conceitual amplo que ele denomina
gente, permanentemente transitório “contínuo atmosférico comunicacional”,
do acontecimento comunicacional marco da nova realidade medial das socie-
[...]. Sem começo nem fim, espécie de dades (MARCONDES FILHO, 2010a, p.
vetor, veículo, sentido, direção, seta 105 e seguintes).
do tempo, índice de movimento e de No âmbito da comunicação irradiada, o
transformação. [...] Razão durante é contínuo se subdivide em três subsistemas
a interpretação da comunicação como de funcionamento: o entretenimento, que é
fenômeno que ocorre enquanto esta- operacional; a publicidade, como subsiste-
mos vivendo. (MARCONDES FI- ma de manutenção; e o jornalismo, sistema
LHO, 2010a, p. 91-92). de alarme. Cada um deles funciona com

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM • DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.610 71

uma lógica própria e tensiona modos regula- espaço a outros sentidos a serem supe-
dores, que provêm dessas regras de atuação, rados. Sentidos que são a única resis-
e efeitos desreguladores, advindos dos pro- tência, nossa arca de Noé diante dessa
dutos, quando promovem a desestabilização inundação absoluta e incontível de
social (livros, filmes críticos etc.). nossas vistas cansadas. (MARCON-
Ao mesmo tempo, a comunicação es- DES FILHO, 2010a, p. 188-189).
pectral disputa espaço no contínuo mediá-
tico atmosférico através da internet, que Eis que o forte conceito de comunicação
opera fornecendo acesso e incorporando proposto constitui uma teoria que se abre
alterações na qualidade da comunicação. para a diferença, para o novo, para o eman-
Nesse ponto, Ciro Marcondes Filho per- cipatório. E, nesse desdobramento, produz
cebe a insuficiência dos teóricos clássicos, o segundo sinal de vigor teórico e, desta
como Luhmann e Habermas, na inconsis- vez, caracterizadamente epistemológico: o
tência de seus conceitos para dar conta de seu próprio método – ou “quase método”,
um “espaço do jogo lúdico com a escrita como gostava de afirmar o próprio autor –, o
e a linguagem em geral, de um tagarelar metáporo. Ou, como disse o próprio autor,
sem acoplamento necessário com uma sig- “o Princípio da Razão Durante constitui-se
nificação” ou de “uma atividade que vive de uma ontologia e de uma epistemologia”
somente da própria performance e não (MARCONDES FILHO, 2010a, p. 191).
obrigatoriamente de alguma necessidade A ideia do metáporo como desdobra-
de comunicar” (MARCONDES FILHO, mento da NTC não é trivial. É exatamente
2010a, p. 161). a especificidade do conceito de comunica-
Nessa esteira, Marcondes Filho irá bus- ção que leva Marcondes Filho a buscar uma
car novos valores para se pensar a comuni- prática de pesquisa que lhe seja adequada.
cação no âmbito do afeto e das imagens, es- O debate epistemológico é claro, correto
capando dos reducionismos manipulacio- e justo: um sentido de comunicação como
nistas de certas tradições de pensamento. uma processualidade performática, situa-
da no tempo presente – o princípio da ra-
O mundo das imagens nos torna cegos. zão durante –, impede que o objeto possa
Cegos e incapazes da percepção de ou- ser percebido como coisa. Como um filme,
tro mundo que não o dos espelhos e a comunicação seria como a narrativa, que
das imagens que se repicam a si mes- estaria não no congelamento de um ou ou-
mas. Mundo alucinante e frenético. tro frame, e sim na passagem deles, sendo,
Aparentemente, o único mundo. Mas pois inapreensível por definição fora do
não. Há outros mundos possíveis, que movimento que a torna possível.
não precisam ser as imagens de de- Esta condição leva Ciro Marcondes Fi-
vastação, miséria, do branco, preto e lho a contestar o próprio conceito de “mé-
cinzento das cidades destruídas, como todo”, que ele identifica como “caminho
sugere Matrix (Wachowski, 1999). já traçado” (MARCONDES FILHO,
Um mundo onde as imagens são vis- 2010a, p. 191), e buscar um caminho do
tas com economia, porque têm de dar meio, um “quase método”. Trata-se de

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


72 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

um programa ambicioso de pesquisa, pois mar o vivido em depoimento, em tes-


busca romper tanto com o “apreender” temunho vivencial. (MARCONDES
das ciências empírico-analíticas, quanto FILHO, 2010a, p. 263).
com o “compreender” das ciências his-
tórico-hermenêuticas. Aliás, é bastante Em seguida, Ciro Marcondes Filho
significativo que ele, neste ponto, afirme passa ao trabalho de apresentação e busca
que o trabalho de compreensão caberia por interlocução de sua proposta teórica
às ciências correlatas, que ele denomina, e metapórica. Nos anos seguintes, pro-
sintomaticamente, de “paracomunicacio- moveu eventos, acionou alunos desde a
nais”: “a sociologia, a história, a psicolo- graduação para a produção de experiên-
gia, a psicanálise e as teorias linguísticas, cias vivenciais e relatos metapóricos e,
semióticas e semiológicas” (MARCON- sejamos justos, colheu muito pouco. Ou,
DES FILHO, 2010a, p. 194). pelo menos, muito menos do que espera-
Ciro Marcondes pretende uma ciência va colher.
do transitório, do efêmero, do instável, da
impermanência e da imprevisibilidade. E, Todo esse trabalho foi exposto à comu-
nesse sentido, inspira-se na tese doutoral nidade acadêmica no seminário “10
de uma orientanda sua, Danielle Naves de anos FiloCom nos 44 Anos de ECA: A
Oliveira (2006), para estabelecer a noção proposta da Nova Teoria da Comunica-
epitelial de “poro” como lugar do quase- ção”, de 2010, em que colegas eminentes
-método. A ideia é a de que os procedi- de várias partes do país foram convida-
mentos de pesquisa sejam uma forma de dos para debate a proposta, além de
desbravamento, no sentido de Derrida, ou convidados internacionais.
de passagem, um “entre-ser”, como a pele,
que “supõe um ato de permitir o acesso, de Em uma aula-debate promovida por
deixar entrar, de liberar, de hospedar o ou- Ciro Marcondes, a convite do autor deste
tro, de me atravessar” e no qual “o próprio artigo, ao PPGCOM da Universidade Fe-
observador se ‘porifica’” (MARCONDES deral de Goiás, no dia 31 de agosto de 2020,
FILHO, 2010a, p. 263). cerca de três meses antes de sua morte, ele
respondeu a uma pergunta sobre a recepção
Pesquisar aquilo que não se conhece, da NTC e, na oportunidade, comentou os
o que está sempre em movimento, um resultados desse seminário:
objeto que nos foge a todo momento,
que nos escapa pelos dedos, pesquisar O seminário foi muito interessante,
o transitório, essa é a estratégia me- em termos de palestras e exposições,
tapórica. É um novo olhar ao evento mas eu constatei que ninguém, na ver-
comunicacional, é igualar-se em sua dade, se preparou para esse seminário
velocidade, é sentir e pensar, viver e ou se preparou para comentar a Nova
trabalhar o vivido, ter a experiência no Teoria. As pessoas foram para falar de
próprio corpo e dela extrair descrições, seus próprios projetos. E daí [...] ela
relatos, exposições, textos; transfor- não teve o resultado que eu imaginava

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM • DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.610 73

e que eu gostaria que tivesse. No ano da comunicação na cibercultura, na qual ele


seguinte, eu encaminhei à Compós2 tratará da questão da não comunicabilidade
o primeiro texto, já comentando as a partir de Winnicott e do espaço transi-
pesquisas feitas sobre a Nova Teoria cional, em Merleau-Ponty, além de textos
e isso repercutiu mais do que o evento sobre alteridade e as patologias da comuni-
que eu desenvolvi [...]. Nos anos se- cação.
guintes, quase todos os anos, eu venho Um conjunto de respostas aos críticos,
com uma nova pesquisa metapórica, Ciro Marcondes reuniu no livro Das coisas
que tem a ver com a nossa proposta que nos fazem pensar, de 2014. Na sequên-
teórica, tentando comprovar aos co- cia, produziu livros em que buscou deta-
legas que essa pesquisa tem a mesma lhar aspectos e sínteses da NTC, tais como
seriedade, a mesma acuidade, é uma O rosto e a máquina (2014), Comunicação e
pesquisa que traz informações, novi- as aventuras estranhas (2017), Comunica-
dades, dados importantes e é qualita- ção ou mediologia? (2018a) e Comunicação
tiva. Então, eu senti que demorou e do sensível (2019), além de seu já conheci-
continua demorando... eu acho que até do Dicionário de Comunicação (2014), em
agora ainda a área não absorveu, não cujos verbetes já assinala a visada da NTC.
digeriu a Nova Teoria. (MARCON- De todos os debates entre Ciro Mar-
DES FILHO, apud SIGNATES, condes Filho e os intelectuais do campo
2020, 22min33-25min10). brasileiro da comunicação, um deles des-
pontou pela repercussão e pela extensão.
Aquele que ele manteve entre os anos de
Reverberações e atualizações da 2010 e 2013 com o prof. José Luiz Braga,
Nova Teoria da Comunicação especialmente na revista Matrizes, da USP,
A pouca fortuna crítica de Ciro Mar- centrado numa questão específica e pecu-
condes à NTC certamente não se deveu liar da NTC: a da raridade do fenômeno
à falta de esforço dele. Enquanto viveu, comunicacional.
ensinou, participou de eventos, dentre os Quem deu início ao debate foi José Luiz
quais privilegiou o GT Epistemologia da Braga, motivado talvez pelo convite que lhe
Comunicação, e publicou respostas, revi- fizera Ciro Marcondes Filho de palestrar na
sões e debates. Em 2008, produziu o livro USP, em evento promovido por ele, no qual
Para entender a Comunicação: contatos an- procurava interlocução para as novas ideias.
tecipados com a Nova Teoria, pela Editora O texto de Braga foi uma crítica às cinco te-
Paulus, a principal editora de suas publica- ses propostas no livreto Até que ponto, de
ções mais recentes, objetivando o diálogo fato, nos comunicamos? (2004) e recebeu o
didático com estudantes de graduação. Em título de “Nem rara, nem ausente – tentati-
2012, veio à luz a obra Fascinação e miséria va” (BRAGA, 2010). Contra a ideia de ra-

2 O texto a que se refere Ciro Marcondes teve o título “De repente, o prédio falou comigo: anotações sobre experiências metapóricas em Teoria
da Comunicação” (MARCONDES FILHO, 2011d), foi apresentado ao GT Epistemologia da Comunicação, em 2011, e relatado pelo autor deste
artigo. A réplica aos comentários feitos por esse relato foi posteriormente publicada no livro Das coisas que nos fazem pensar (MARCONDES
FILHO, 2014, p. 37-50).

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


74 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

ridade da comunicação, que Ciro defendia Ciro Marcondes também contesta a


por conta da relevância que colocava nas ideia de “tentativa”, de Braga. Afirma tra-
consequências do fenômeno, para a defini- tar-se de um conceito pobre, pré-luhman-
ção do próprio conceito, Braga propunha niano, de comunicação.
a noção de que a interação comunicativa é
uma possibilidade que, mesmo malograda, Ainda não saímos do jardim da infân-
não deixa de ser comunicacional. cia discutindo que termos devemos
A réplica de Ciro Marcondes Filho viria usar, como sermos mais claros, de que
no ano seguinte, com o texto, publicado na recursos utilizar para que nosso interlo-
própria Matrizes, “Duas doenças infantis da cutor entre na mesma linha de sintonia
comunicação: a insuficiência ontológica e a conosco. O fenômeno da comunicação
submissão à política. Uma discussão com ainda está a léguas de distância. (MAR-
José Luiz Braga”. Nesse texto, Marcondes CONDES FILHO, 2011, p. 174).
acusa Braga de lidar com um conceito que, à
época da publicação do livro, ainda era pro- O veemente artigo de Ciro Marcondes
visório e que já havia se desenvolvido – e, de Filho receberá uma tréplica de José Luiz
fato, como vimos neste trabalho, o percurso Braga, novamente na Matrizes, em 2012,
de estudos, desenvolvimentos teóricos e pu- com o texto “Interação como contexto
blicações da NTC avançou em muito para da comunicação”, no qual busca conferir
além do livreto de 2004. Entretanto, Ciro clareza às concordâncias e discordâncias.
Marcondes em sua réplica reafirmou a tese Braga afirma não discordar da ideia de co-
da raridade do fenômeno, ancorado na de- municação como mudança,3 mas procura
finição que lhe empresta, de interação “pela não restringir o conceito a esse aspecto, e
qual surge alvo verdadeiramente novo” confere relevo ao que ele acredita serem os
(MARCONDES FILHO, 2011, p. 171). pontos em comum de ambos: a relação en-
De fato, em textos posteriores, Ciro tre comunicação e interação, e a relevância
Marcondes Filho evoluiu de um conceito de da escuta para o processo comunicacional.
comunicação em que presumia a possibili- Uma forte discordância de Braga a Mar-
dade de fugir à imposição incomunicacional condes está no critério radical deste autor
estabelecida pela sociedade da comunicação, para a definição de comunicação, no sen-
para a noção de produção da alteridade, re- tido de ser um evento que é ou não é, que
lacionada à emergência de “emoções novas, ocorre ou não ocorre, não havendo meios
experiências novas, fatos que interfiram em termos. Em Braga, há gradientes qualitati-
nosso cotidiano criativamente para arejá-lo, vos, de valor, isto é, elementos de incerteza,
renová-lo, refrescá-lo, ventilá-lo” (MAR- de incontrolabilidade.
CONDES FILHO, 2009, p. 88). A noção Jamais houve consenso entre ambos.
de raridade, contudo, manteve-se incólume. No ano seguinte, em 2013, Marcondes Fi-

3 Em outro texto dessa época, sob o título “O que a comunicação transforma?”, publicado num livro organizado e aparentemente não lido por
Marcondes Filho, Braga (2013) irá reforçar essa posição, afirmando concordar com ele, em relação à ideia de que a comunicação é transforma-
dora e posicionando: “Embora não adote a exigência da radicalidade, considero que ocorre sempre um processo inevitável de solapamento e
assoreamento posto em ação nas interações” (BRAGA, 2013, p. 156).

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM • DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.610 75

lho publicaria um último artigo, reafirman- aqui também a proposição de que a baixa
do a ideia da comunicação como um evento fortuna crítica da NTC não se deve à falta
raro e citando Braga no resumo do trabalho. de esforço do seu autor, nem ao vigor teó-
Sob o sugestivo título “Ensaio sobre a inco- rico da proposição que faz. Em nenhum
municação”, trazido à luz pela Revista da intelectual, a caracterização definidora da
ALAIC, em fevereiro de 2014. Entretanto, comunicação como diferença e mudança
neste trabalho, o autor parece ter ignorado encontra um nível tão alto de respaldo fi-
o texto de 2012 de Braga, já que republicou losófico e, em geral, as teorizações geradas
os mesmos argumentos de resposta conti- pelo campo ou em outros campos do saber
dos no artigo de réplica. raramente possuem consistência a ponto de
O debate escrito estava encerrado, mas se desdobrarem em propostas nos âmbitos
prosseguiria em eventos, como o 1º Quin- epistemológico e metodológico.
ta Essencial, em 2014, evento do Filocom; Talvez seja possível dizer que a NTC
represente não “a” nova teoria e sim,
a 6ª Aula Magna de Referência Interpro-
“uma” nova teoria. Isso porque, apesar de,
gramas, promovida em 2016 pelo Fórum
com certeza, não ser uma obra exógena ao
de PPGs em Comunicação de São Paulo,
campo da comunicação, sequer toca o pro-
sediado na Faculdade Cásper Líbero, em
blema da dispersão teórica da área. Trata-
conjunto com o 2º Quinta Essencial, do Fi-
-se, certamente, de uma propositura teóri-
locom; as entrevistas concedidas por ambos
ca, que pode ser compartilhada com outros
à Revista Panorama da PUC-Goiás (RO- olhares, sem que precisemos de defendê-la
DRIGUES et al., 2017; BORGES et al., contra os demais olhares.
2019); e, às vésperas de seu falecimento, o Destarte, por representar uma vigorosa
Seminário Internacional de Midiatização, proposta teórica disponível e efetuar alguns
promovido pela Unisinos em outubro de debates e superações que devem ser leva-
2020. dos a sério pelos estudiosos e pensadores
em teoria da comunicação, a NTC possui
qualidades que tornam possível defender
Considerações finais que não é possível não dialogar com
Este trabalho procurou demonstrar uma Ciro Marcondes Filho e sua Nova Teo-
tensão específica entre o desenvolvimento ria da Comunicação. Releituras, críticas,
teórico do campo da comunicação no Brasil adoções parciais ou totais dos conceitos es-
e a baixa recepção de uma teoria apresenta- tabelecidos, trata-se de um esforço teórico
da ao campo. Ante esta tensão, assume-se irrenunciável.

Referências bibliográficas
BORGES, R; BORGES, D.; MOREIRA, S.; SIGNATES, L.; FÉLIX, N.; FERNANDES, L.
C.; CUNHA, A. C. B. A comunicação como um processo cotidiano. Entrevista com José Luiz
Braga. Panorama, v. 9, n. 2, p. 38-42, jul./dez. 2019.
BRAGA, José L. O que é comunicação? Líbero, v. 19, n. 38, p. 15-20, jul./dez. 2016.

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


76 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

BRAGA, José L. W. Interação como contexto da comunicação. Matrizes, v. 6, n. 1, p. 25-41,


jul./dez. 2012.
BRAGA, José L. W. Nem rara, nem ausente – tentativa. Matrizes, ano 4, n. 1, p. 65-81, jul./
dez. 2010.
BRAGA, José L. W. O que a comunicação transforma? In: BRAGA, J. L. W.; FERREIRA, J;
FAUSTO NETO, A.; GOMES, P. G. 10 perguntas para a produção do conhecimento em
comunicação. São Leopoldo-RS: Editora Unisinos, 2013. p. 156-171.
FILOCOM. Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação. Site. Disponível em: htt-
ps://sites.google.com/site/ecafilocom/home/filocom.
LUHMANN, Niklas. A improbabilidade da comunicação. Lisboa: Editora Vega, 2013.
LYOTARD, Jean-François. The postmodern Condition: A Report on Knowledge. Minnea-
polis: University of Minnesota Press, 1984.
MARCONDES FILHO, Ciro J. O espelho e a máscara: o enigma da comunicação no cami-
nho do meio. Ijuí: Editora Unijuí, 2002.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Até que ponto, de fato, nos comunicamos? São Paulo:
Paulus, 2004.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Para entender a comunicação: contatos antecipados com a
Nova Teoria. São Paulo: Paulus, 2008.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Comunicação. In: Dicionário da comunicação. São Paulo:
Paulus, 2009. p. 86-89.
MARCONDES FILHO, Ciro J. O princípio da razão durante: comunicação para os anti-
gos, a fenomenologia e o bergsonismo: nova teoria da comunicação III. São Paulo: Paulus, 2010.
Tomo I.
MARCONDES FILHO, Ciro J. O princípio da razão durante: o conceito de comunicação e
a epistemologia metapórica: nova teoria da comunicação III. São Paulo: Paulus, 2010a. Tomo V.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Duas doenças infantis da comunicação: a insuficiência on-
tológica e a submissão à política. Uma discussão com José Luiz Braga. Matrizes, v. 5, n. 1, p.
169-178, jul./dez. 2011.
MARCONDES FILHO, Ciro J. O princípio da razão durante: da Escola de Frankfurt à crí-
tica alemã contemporânea: nova teoria da comunicação III. São Paulo: Paulus, 2011a. Tomo II.
MARCONDES FILHO, Ciro J. O princípio da razão durante: o círculo cibernético: o ob-
servador e a subjetividade: nova teoria da comunicação III. São Paulo: Paulus, 2011b. Tomo III.
MARCONDES FILHO, Ciro J. O princípio da razão durante: diálogo, poder e interfaces
sociais da comunicação: nova teoria da comunicação III. São Paulo: Paulus, 2011c. Tomo IV.

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM • DOI: https://doi.org/10.31657/rcp.v6i11.610 77

MARCONDES FILHO, Ciro J. De repente, o prédio falou comigo: anotações sobre expe-
riências metapóricas em Teoria da Comunicação. Anais do 20º Encontro Anual da Compós
2011, GT Epistemologia da Comunicação. Porto Alegre: UFRGS, 14-17/06/2011d.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Fascinação e miséria da comunicação na cibercultura.
Porto Alegre: Sulina, 2012.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Ensaio sobre a incomunicação. Revista Latinoamericana
de Ciencias de la Comunicación, v. 9, n. 17, p. 40-49, 2014.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Das coisas que nos fazem pensar: o debate sobre a nova
teoria da comunicação. São Paulo: Ideias e Letras, 2014.
MARCONDES FILHO, Ciro J. A arte de envenenar dinossauros. Brasília: Casa das Mu-
sas, 2014.
MARCONDES FILHO, Ciro J. O rosto e a máquina: o fenômeno da comunicação visto
pelos ângulos humano, medial e tecnológico. São Paulo: Paulus, 2014.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Comunicação e aventuras estranhas: ensaios sobre arte,
cinema, filosofia e comunicação. São Paulo: ECA-USP, 2018.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Comunicação ou mediologia? A fundação de um campo
científico da comunicação. São Paulo: Paulus, 2018a.
MARCONDES FILHO, Ciro J. Comunicação do sensível: acolher, vivenciar, fazer sentir.
São Paulo: Portal de Livros Abertos da USP, 2019.
OLIVEIRA, Danielle N. Poros – ou as passagens da comunicação. Tese (doutorado) – Escola
de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, 2006.
POLISTCHUK, Ilana; TRINTA, Aluízio R. Teorias da comunicação: o pensamento e a
prática da comunicação social. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
RODRIGUES, A; CUNHA, A. C.; COELHO, B.; GOOS, C.; IZIDORO, C. Z.; ALEIXO,
C.; VIANA, C.; BORGES, D.; COVEM, E.; DE LISITA, E.; HIDEMI, L.; FERNANDES,
L. C.; FÉLIX, N.; QUITERO, P.; BORGES, R.; MOREIRA, S. Comunicação: um evento
raro e improvável. Entrevista com Ciro Marcondes Filho. Panorama, v. 7, n. 2, p. 42-45, ago./
dez. 2017.
SIGNATES, Luiz. Epistemologia da comunicação: Aula 10 – Nova Teoria da Comunica-
ção. Debate com Ciro Marcondes Filho. Vídeo. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=HknkW6MqqZ8&t=1519s
SIGNATES, Luiz. Por uma metateoria das tensões comunicacionais: fundamentos para um
objeto metateórico da comunicação. Compós 2022 – GT Epistemologia da Comunicação.
São Luiz – MA: UFMA, 2022.

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022


78 Por que não é possível não estudar Ciro Marcondes Filho e sua Nova... • Luiz Signates

TEMER, Ana C. R. P.; NERY, Vanda C. A. Para entender as teorias da comunicação.


Uberlândia: Asppectus, 2004.

Data do recebimento: 15/05/2022


Data do aceite: 15/06/2022

Dados do autor
Luiz Signates
Docente efetivo do PPG Comunicação da Universidade Federal de Goiás e do PPG Ciências da Religião da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás. Doutor em Comunicação (ECA-USP).

São Paulo, v. 6, n. 11, jul./dez. 2022

Você também pode gostar