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AULA MAGNA

A produção
acadêmica
brasileira em
Comunicação:
perspectivas dos
Novos Tempos1 1 Introdução

RESUMO O CAMPO DAS Ciências da Comunicação


Este texto, proferido como Aula Magna na abertura do existe na sociedade brasileira há 50 anos,
Doutorado da FAMECOS/PUCRS, em agosto de 1999, desde quando foram instalados os primei-
constitui um inventário e uma projeção dos estudos em ros cursos superiores de Jornalismo e de-
Comunicação no Brasil. pois da criação dos pioneiros institutos de
pesquisa de audiência da mídia. Sua fisio-
ABSTRACT nomia corresponde inicialmente a uma
This lecture examines the history of Brazilian communication produção intelectual de natureza ensaísti-
studies. It stresses its internal conflicts, intellectual ca, estocando e sistematizando os saberes
challenges, identity, and institutional process of legitimation, oriundos do mundo profissional (impren-
as well as the international recognition of the communication sa, propaganda, opinião pública).
field; and, most importantly, it gives an idea of the A ampliação para incorporar novos
consolidation of the field within the Brazilian academic segmentos comunicacionais (cinema, edito-
environment. ração, relações públicas, radio-teledifusão,
lazer, divulgação científica, extensão rural)
somente ocorre a partir dos anos 60. Verifi-
ca-se ao mesmo tempo uma mudança nos
espaços de geração de conhecimentos no-
vos: as emergentes escolas de comunicação
iniciam atividades regulares de pesquisa.
Este é o momento em que começa a se
configurar uma comunidade acadêmica
constituída por professores-pesquisadores.
Os cursos de pós-graduação em comunica-
ção, encravados nas universidades, absor-
vem os primeiros doutores diplomados em
instituições estrangeiras ou titulados no
próprio país.
Conforma-se, portanto, uma comuni-
dade de cientistas da comunicação, dotada
de perfil híbrido. Alguns pertencem aos di-
ferentes setores da comunicação de massa
(com hegemonia do jornalismo), outros
procedem das disciplinas conexas (huma-
José Marques de Melo2 nidades e ciências sociais).
Prof. Dr. da Universidade Metodista de São Paulo Mas é sem dúvida a criação de socie-

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dades científicas aglutinadoras de tais pes- fases, ressaltando seus indicadores mais re-
quisadores acadêmicos (UCBC, ABEPEC, presentativos.
INTERCOM e mais recentemente ABE-
COM e COMPÓS) que vai delinear os tra-
ços definidores dessa comunidade ascen- 3 Desbravamento
dente. No âmbito profissional surgiriam
também entidades corporativas, reunindo Esta fase começa quando a imprensa se con-
os pesquisadores mercadológicos (SBPM, verte em objeto de pesquisa e termina quan-
ABEPEM e ANEP). do o jornalismo começa a ser pensado como
Os dois segmentos, tanto o acadêmico campo de ensino. Seus protagonistas são
quanto o profissional, tratariam de estabe- inicialmente os intelectuais que se valem
lecer vínculos internacionais, respectiva- da imprensa para disseminar idéias e co-
mente com a IAMCR e a ESOMAR. nhecimentos. O contato permanente com o
Trata-se de uma comunidade que, veículo acentua-lhes a dimensão do seu
pouco a pouco, vem adquirindo visibilida- impacto social. Naquela época os jornais
de social. Traçar o seu perfil sociocultural é diários iniciavam uma trajetória vertigino-
a intenção do presente ensaio. Vamos fazer sa, adquirindo feição industrial e dese-
o resgate da sua trajetória histórica, anotan- nhando a fisionomia da sociedade de mas-
do evidências que permitem compreender sas, na Europa4 e na América do Norte.5
sua luta pela subsistência, os conflitos in- Daí o interesse em pesquisar seus antece-
ternos, os desafios intelectuais, a busca da dentes em território brasileiro.
identidade científica, o processo de legiti- Tudo começa em 1859, quando o Cô-
mação institucional, o reconhecimento in- nego Fernandes Pinheiro6 publica, no Rio
ternacional, delineando também suas pers- de Janeiro, um artigo sobre a imprensa bra-
pectivas de consolidação no panorama uni- sileira, numa revista cultural, atribuindo
versitário. aos holandeses, colonizadores de porções
do território nordestino no século XVII, a
2 Cronologia do campo primazia da implantação da imprensa no
Brasil.7 Ao destacar esse detalhe, o autor
Não obstante o campo venha se notabili- punha lenha na fogueira dos que critica-
zando a partir dos anos 40, isto não signifi- vam o “obscurantismo” da colonização
ca dizer que a mídia nunca tenha sido obje- portuguesa no Brasil e exaltavam a ousadia
to de estudo científico no Brasil. Ao contrá- “progressista” do Conde Maurício de Nas-
rio, temos evidências de pesquisas anterio- sau. A ausência da imprensa em nossa his-
res, valorizando os fenômenos midiáticos e tória colonial constituía, portanto, indica-
procurando elucidá-los no bojo da nossa dor expressivo dessa defasagem entre os
sociedade.3 dois projetos coloniais.8 Essa linha de argu-
Por isso mesmo, a história das ciênci- mentação foi sendo reforçada por Moreira
as da comunicação pode ser organizada em de Azevedo,9 Souza Martins10 e outros his-
cinco fases, de acordo com a seguinte cro- toriadores vinculados ao Instituto Histórico
nologia: Brasileiro, sediado no Rio de Janeiro. Tais
versões se fundamentavam no livro do his-
Desbravamento 1873-1922 toriador francês P. M. Netscher,11 reiteradas
Pioneirismo 1923-1946 posteriormente na obra do Visconde de
Fortalecimento 1947-1963 Porto Seguro,12 cujas pesquisas estavam an-
Consolidação 1964-1977 coradas em fontes não suficientemente con-
Institucionalização 1978-1999 fiáveis.
A tese incomodava bastante os histori-
Vamos caracterizar cada uma dessas adores pernambucanos, cuja motivação

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principal, ao criarem o seu próprio Institu- às páginas do Diário de Pernambuco para
to Histórico, tinha sido justamente a de va- publicar artigos, resenhas, comentários.
lorizar o “nativismo” da Restauração Per- Permanece o interesse pela tentativa holan-
nambucana que culminou com a Batalha desa de fazer funcionar prelos no Recife,
dos Guararapes.13 Esse episódio resultara durante o Governo de Nassau. Mas volta-
da coalizão entre índios, negros e lusitanos se também para as tentativas frustradas de
para expulsar o “invasor” holandês, cuja implantação da imprensa, que ali ocorre-
longa permanência em nosso litoral sempre ram durante o regime colonial português.
foi creditada à vacilação da realeza ibérica, Em 1891, Pereira da Costa15 divulga
então dominando Espanha e Portugal e os resultados das suas pesquisas sobre as
seus territórios coloniais. “clandestinas” tipografias pernambucanas
Os debates sobre a controvérsia relati- de 1706 e 1816, imediatamente seqüestra-
va à imprensa induzem os intelectuais per- das pelo governo português. Apesar dessa
nambucanos a desqualificá-la, taxando-a de atitude censória, o historiador ressalta a
“inverdade histórica”. Para comprovar a hi- precedência lusitana na história da nossa
pótese, encorajam um de seus pares, José imprensa, minimizando assim a iniciativa
Higino Duarte Pereira a empreender uma dos holandeses, ousada mas não consuma-
missão científica nos arquivos holandeses, da. Para reforçar sua argumentação, menci-
o que efetivamente foi realizado a partir de ona a existência de “impressos” que com-
1873. A imprensa se converte, portanto, em provam a atividade da tipografia de 1706,
objeto de pesquisa científica. principalmente orações devotas e letras de
Na busca de evidências capazes de câmbio. No entanto, ele encontrou maiores
restaurar o orgulho ferido da pernambuca- evidências documentais sobre a tipografia
nidade, o professor poliglota recebe subsí- de 1816, a qual ficou inativa até o ano se-
dios federais para pesquisar nos Arquivos guinte, quando os revolucionários republi-
das Índias Ocidentais, distribuídos em vá- canos de 1817 a utilizaram para editar seus
rias cidades holandesas. Seu desafio era di- proclamos ao povo pernambucano. Além
rimir a polêmica histórica sobre a “mítica” de registrar fatos vinculados às primeiras
tipografia holandesa de 1642. Essa penosa tipografias pernambucanas, Pereira da Cos-
investigação foi coroada de êxito científico. ta anota evidências sobre as demais tipo-
Mas ela acarretou prejuízos ao pesquisa- grafias e jornais existentes na Província até
dor, vítima de perseguições políticas, o a década de 1830, anexando documentos
que determinaria seu retorno ao país antes que comprovam suas pesquisas.
de concluir o projeto. Anos depois, Alfredo de Carvalho16
De qualquer maneira, as evidências retomaria a questão da imprensa holande-
coletadas foram suficientes para refutar a sa. Ele refaz o itinerário interrompido por
tese sobre a existência da imprensa no Bra- Duarte Pereira nos arquivos holandeses,
sil Holandês. Em sessão solene do Instituto esclarecendo definitivamente o episódio.
Histórico Pernambucano, Duarte Pereira Robustece a tese de que, durante o Gover-
apresenta exaustiva comunicação sobre no de Maurício de Nassau, em Pernambu-
suas pesquisas, anexando a tradução dos co, não funcionou nenhuma tipografia no
documentos consultados. A publicação in- Recife. Elucidou de forma convincente a
tegral desse convincente relatório se faria origem do equívoco histórico, ou seja, a cir-
em edição especial da Revista da socieda- cunstância de haver Nassau solicitado um
de.14 tipógrafo e um prelo a Amsterdã. Consul-
É sintomático que a curiosidade pela tando a correspondência oficial trocada en-
imprensa continuaria viva nesse grupo de tre os governantes holandeses no Brasil e a
historiadores pernambucanos, doubleurs de direção da Companhia das Índias Ociden-
jornalistas, que compareciam regularmente tais, conservada no Arquivo Real de Haia,

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o jornalista/historiador encontrou inúme- prensa. Antes dela, outra pesquisa fora rea-
ras referências ao pedido, às respostas, lizada por Alfredo de Valle Cabral,19 inven-
bem como às reiterações para o envio do tariando a produção impressa brasileira
prelo, mesmo depois da viagem do tipó- durante o regime colonial, basicamente li-
grafo Pieter Janszoon e do anúncio da sua vros e opúsculos, mas incluindo as gazetas
morte durante o trajeto marítimo. Não há editadas sob o jugo da Censura Régia.
qualquer comprovação de que Amsterdã Tais mostras e catálogos funcionaram
tenha atendido ao pleito, apesar dos diri- como testemunho coletivo da pujança da
gentes holandeses no Brasil continuarem imprensa brasileira na passagem do século,
reclamando a tipografia. Esta nunca chegou que deixara de ser mero instrumento políti-
ao Brasil. No entanto, circularam folhetos co-partidário para se transformar em em-
na Europa supostamente impressos no Re- presa comercialmente auto-sustentável.
cife, datados de 1645. Estes haviam sido Esse ambiente legitimador do papel social
originalmente escritos no Brasil, mas con- da mídia impressa certamente influenciaria
cluídos na Holanda, onde foram impressos. o jornalista Gustavo de Lacerda a fundar,
A indicação do Recife como local de publi- no ano do centenário, a Associação Brasilei-
cação representou estratagema para evitar ra de Imprensa (ABI), desafiando a nova
sanções legais aos autores pelo caráter de- entidade a manter uma escola profissional
nunciativo dos opúsculos. Ao concluir seu destinada a formar jornalistas.20
artigo, diz Carvalho: “...cremos haver en- O projeto da escola de jornalismo fi-
cerrado o debate sobre a tão disputada cou no esquecimento, depois da morte pre-
questão do estabelecimento da imprensa matura de Gustavo de Lacerda, sendo reto-
em Pernambuco pelos holandeses, tendo mado somente em 1918, quando a ABI pro-
provado que realmente foi tentado, mas, move o I Congresso Brasileiro de Jornalis-
não chegou a se realizar”. tas. O ensino profissionalizante ainda era
Liquidada essa fatura, dedicou-se Al- uma inovação difícil de ser assimilada,
fredo de Carvalho17 a inventariar os pro- num país dominado pelo bacharelismo.21
gressos da imprensa brasileira, mobilizan- Mas o clima reinante na intelectuali-
do pesquisadores nas diversas unidades dade da capital federal, espraiando-se por
da Federação para apresentar seus resulta- todo o país, era francamente propício à
dos durante a efeméride comemorativa da pesquisa e à reflexão sobre a mídia impres-
introdução oficial da imprensa no Brasil sa. Tanto assim que encontramos, nesse pe-
pelo Corte de D. João VI, que aqui aporta ríodo, vários estudos sobre os fenômenos
em 1808. Trata-se do primeiro projeto de da comunicação massiva, assinados por au-
“pesquisa integrada” realizada no Brasil, tores do porte de Ruy Barbosa,22 A. da Cu-
repertoriando informações sobre a impren- nha Barbosa,23 Max Fleuiss,24 Felix Pache-
sa de todo o país, no século passado e pri- co,25 Ernesto Senna,26 José Veríssimo,27 etc.
meira década deste século. Na condição de Estamos, ainda, no território restrito do en-
líder da equipe, Alfredo de Carvalho18 es- saísmo, produzindo conhecimento oriundo
creve alentada monografia sobre a trajetó- da análise documental, mesmo assim anco-
ria histórica da imprensa brasileira, incenti- rado em fontes secundárias. São poucas as
vando seus colaboradores a produzir perfis incursões pelos documentos primários, tal
regionais. como fizeram os desbravadores pernambu-
Essa iniciativa teve também um com- canos no final do século passado.
ponente daquilo que hoje se chamaria “ex-
tensão comunitária”, pois os documentos
principais foram exibidos publicamente no 4 Pioneirismo
Rio de Janeiro, através de uma exposição
comemorativa do centenário da nossa im- A segunda fase acena em direção ao empi-

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rismo, apesar de persistir uma certa hege- Qual o diferencial dessa obra, se compara-
monia ensaística. da a outras do gênero, produzidas antes ou
O divisor de águas é o estudo realiza- depois? Além da metodologia jornalística
do pelo jornalista Barbosa Lima Sobrinho28 que o autor emprega para construir a agen-
sobre a liberdade de imprensa. Escrito em da temática e tecer a argumentação, ele re-
ritmo de reportagem, o livro foi pensado corre a conhecimentos históricos e jurídicos
como uma contribuição para o debate em sem neles deixar-se enredar. Na verdade,
torno da lei de imprensa que tramitava no Barbosa Lima Sobrinho escreve o primeiro
Congresso Nacional, mais conhecida pelo tratado de teoria do jornalismo brasileiro, fa-
nome do seu autor, o senador paulista zendo generalizações e extrapolações que
Adolpho Gordo.29 foram se confirmando com o passar dos
Revelando grande erudição, o pesqui- anos. Nesse sentido é um estudo que nas-
sador pernambucano traça um panorama ceu clássico. Tanto assim que, ao ser reedi-
do desenvolvimento da imprensa para nele tado, 65 anos depois, raríssimas alterações
situar a problemática da sua regulamenta- o autor teve necessidade de fazer.
ção legal. Ele faz uma exegese completa Trata-se de um exercício de reflexão
das teses que compunham o arcabouço da jornalística realizado segundo a ótica pecu-
Lei Adolpho Gordo. liar ao campo profissional. Daí a sua longe-
Fugindo ao padrão dos tratados jurí- vidade e credibilidade, criando um padrão
dicos ou dos textos históricos, o autor se que seria continuado décadas à frente por
propõe a elucidar cada questão com muita estudiosos como Danton Jobim, Luiz Bel-
simplicidade e bastante clareza, construin- trão ou Juarez Bahia.
do uma espécie de manual para o fortaleci- Estavam criadas as condições para o
mento da cidadania. Ele se vale da argu- surgimento de um campo singular de pes-
mentação jornalística para explicar os fatos, quisas que, apesar de ungido pela interdis-
sugerindo soluções consentâneas com a tra- ciplinaridade, adquire fisionomia própria.
dição liberal. Em substituição aos mecanis- Ela advém da utilidade que enseja ao mun-
mos autoritários propostos pelo legislador, do do trabalho, possibilitando aos jornalis-
ele advoga posturas que correspondem ao tas e outros profissionais midiáticos a iden-
amadurecimento da sociedade, muito pró- tificação de variáveis fundamentais para
ximas da auto-regulamentação e da respon- sedimentar as rotinas produtivas ou para
sabilidade social. engendrar novos instrumentos de ação co-
Seu último capítulo sinaliza em dire- dificadora, difusora ou retro-alimentadora.
ção à educação coletiva, sugerindo que a Situam-se nesse mesmo conjunto as contri-
maior garantia para a liberdade da impren- buições que brotariam em territórios limí-
sa está na vigilância exercida pelos própri- trofes, como as de Santos Leitão30 no âmbi-
os cidadãos, enquanto editores, jornalistas to da fotografia, Mendes de Almeida31 no se-
ou leitores. Ela não deixa, contudo, de di- tor de cinema, Macedo de Carvalho32 no
agnosticar a transição que se operava na segmento da publicidade, Rubens Porto33 no
imprensa brasileira, passando a cultivar plano das artes gráficas.
um tipo de jornalismo em que a informa- Num patamar mais avançado, porque
ção perde a sua destinação política para as- adentrando o universo do empirismo, es-
sumir o perfil de mercadoria. tão aquelas pesquisas realizadas segundo
Vislumbrávamos, então, o limiar do os procedimentos da economia, sociologia
jornal-empresa, cuja fisionomia só seria in- ou psicologia social, porém destinados a
corporada nacionalmente a partir dos anos desvendar a natureza comunicacional de
50. Mas Barbosa Lima Sobrinho fareja seu objetivos essencialmente midiáticos. Elas
movimento, alertando para as conseqüênci- incluem a primeira pesquisa de mercado
as da mutação em processo. patrocinada, em 1934, pela agência de pro-

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paganda N. W. Ayer, sob a direção de Em 1942, cria-se um curso no Rio de
Francisco Orlandi e Charles Dulley, com a Janeiro, por iniciativa da Associação dos
finalidade de incrementar o consumo de Jornalistas Católicos.39 Em 1943, funda-se
café no território nacional.34 Mas também em São Paulo um curso livre de jornalis-
os estudos sobre os fundamentos psicoló- mo, dirigido por Vitorino Prata Castelo
gicos dos anúncios, promovidos por Aniela Branco, que inova duplamente: experimen-
Ginsberg, no período 1939-199, os quais ta o modelo de ensino à distância (curso
muito influiriam nas estratégias persuasi- por correspondência)40 e produz o nosso
vas usadas pelas nossas primeiras agências primeiro manual de estudos jornalísticos.41
de propaganda.35 Contudo, as pesquisas de Nesse mesmo ano, o Ministro da Educação
maior impacto foram aquelas realizadas Gustavo Capanema viabiliza o ensino de
por Gilberto Freyre, no Recife, tomando os jornalismo no Brasil, vinculando-o ao siste-
anúncios de jornais como fonte de pesquisa ma de ensino superior. Oficializado desde
social.36 Além de usá-los para a demonstra- 1938 por decreto do presidente Getúlio
ção de suas hipóteses de trabalho científi- Vargas, atendendo ao pleito formulado
co, desde o estudo pioneiro realizado ABI, o projeto dependia de regulamenta-
como monografia de pós-graduação à obra ção.42
clássica Casa Grande e Senzala, publicada em A culminância dessa fase coincide
1935, mas também nas que se seguiram, ele com a publicação do primeiro tratado de
ousa até mesmo criar uma nova disciplina história da mídia impressa, resultado de
no território fronteiriço entre as Ciências uma pesquisa erudita e bem documentada,
Sociais e as Ciências da Comunicação, de- realizada pelo jornalista Carlos Rizzini.43
nominando-a Anunciologia.37 Apesar de escrita fora da academia, essa
Mas a fase do pioneirismo não se res- obra logo seria legitimada pela comunida-
tringe à pesquisa. Ela se projeta também no de intelectual, tal o seu valor científico.
âmbito do ensino. Enquanto a ABI continu- Tal qual fizera Barbosa Lima Sobri-
ava a reivindicar do Ministério da Educa- nho, duas décadas atrás, Rizzini demonstra
ção fosse criada uma escola profissional de a possibilidade de reconstituir a história
Jornalismo, a idéia de Gustavo de Lacerda empregando procedimentos rigorosamente
viria a ser implementada por Anísio Teixei- jornalísticos. Trata-se de uma reportagem
ra, em 1935. Ele cria a nossa primeira Cáte- em profundidade, desvendando a trajetória
dra de Jornalismo, integrando-a à Universi- da informação pública, desde os protótipos
dade do Distrito Federal e designando pré-tipográficos aos modelos que caracteri-
como seu titular o jornalista Casta Rego, zariam a chamada “galáxia de Gutenberg”.
então diretor do jornal “Correio da Ma- Por isso mesmo, o livro converteu-se em
nhã”.38 Mas o projeto foi efêmero, pois a clássico precoce, esgotando-se rapidamente
UDF vem a ser fechada pouco depois, ten- e passando à categoria de obra rara, dispu-
do em vista a deposição do Prefeito Pedro tada pelos bibliófilos. Em compensação,
Ernesto, na esteira dos acontecimentos que seu autor foi cooptado pelos primeiros cur-
marcaram a intentona comunista. sos superiores de jornalismo que funciona-
As circunstâncias favoreciam os cen- ram regularmente em universidades brasi-
tros de formação para jornalistas. A moder- leiras, tanto no Rio quanto em São Paulo.
nização e a multiplicação das empresas do Ali continuaria suas pesquisas comunicaci-
ramo apontavam em direção ao esgotamen- onais, dotadas de extremo rigor metodoló-
to do modelo caracterizado pelo treina- gico, brindando também os estudantes de
mento de recursos humanos dentro das jornalismo com aulas marcadas pela serie-
próprias redações. Tanto assim que vão dade intelectual e pela qualidade didática.
surgir, fora da universidade, as primeiras Pode-se afirmar, sem sombra de dúvi-
escolas de jornalismo. da, que Carlos Rizzini é o primeiro scholar

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brasileiro do campo das ciências da comu- sua visita às escolas de jornalismo dos Es-
nicação.44 tados Unidos e de lá trazendo idéias do
pragmatismo pedagógico que marcou a fi-
sionomia do modelo aqui testado e acultu-
5 Fortalecimento rado.47 O segundo aspecto transparece com
nitidez na ação desenvolvida por Danton
Este período tem a universidade como ce- Jobim, scholar cujo brilhantismo merece o
nário. Instalam-se e aperfeiçoam-se os nos- reconhecimento de universidades norte-
sos primeiros cursos de Jornalismo.45 Pri- americanas48 e européias, que o convidam
meiro em São Paulo, com o funcionamento para proferir conferências ou ministrar cur-
da Escola de Jornalismo Cásper Líbero sos, disseminando a perspectiva brasileira
(1947), criada mediante convênio entre a de análise do jornalismo.49 Tanto assim que
Fundação Cásper Líbero (mantenedora do Jobim fincaria a bandeira brasileira na soci-
grupo midiático pilotado pelo jornal A Ga- edade mundial das ciências da comunica-
zeta) e a Pontifícia Universidade Católica de ção – IAMCR – criada em Paris, em 1957.50
São Paulo. Depois, no Rio de Janeiro (1948), Mas o fortalecimento do campo tra-
com a implantação do Curso de Jornalismo duz-se principalmente pela ampliação da
da Universidade do Brasil, hoje denomina- rede institucional dedicada ao ensino da
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, comunicação. Em 1951, Rodolfo Lima Mar-
produto dos esforços desenvolvidos pela tensen busca o apoio do empresário Assis
ABI junto ao Governo Federal desde o con- Chateaubriand para criar a nossa primeira
gresso dos jornalistas de 1918. escola de propaganda, 51 hoje conhecida
Essas duas instituições funcionariam pela sigla ESPM - Escola Superior de Pro-
como matrizes das atividades de ensino e paganda e Marketing. Em 1953, a Fundação
pesquisa, posteriormente expandidas para Getúlio Vargas (RJ), promoveria uma série
todo o território nacional. Profissionais de cursos e conferências, além da edição de
guindados à condição de professores siste- livros, disseminando o conhecimento inter-
matizam conhecimentos empíricos e os nacional sobre as Relações Públicas.52 No
transmitem às novas gerações de jornalistas ano seguinte cria-se em São Paulo a Associ-
ou os convertem em livros, monografias, ação Brasileira de Relações Públicas –
apostilas, ampliando a sua circulação no ABRP – cujo núcleo fundador era integrado
espaço e no tempo. por especialistas que vinham promovendo
O caso paulista é singular, pois a Fa- cursos e seminários profissionais no Insti-
culdade Cásper Líbero contava com o apa- tuto de Organização Racional do Trabalho -
rato gráfico do jornal A Gazeta, permitindo IDORT53. Iniciativas semelhantes ocorreri-
aos seus professores a transformação das am no segmento da Cinematografia, sob a
aulas em manuais didáticos, que ganharam égide do movimento cineclubista princi-
amplitude nacional, sendo usados pelos palmente respaldado pela Igreja Católica.54
docentes das instituições similares criadas Mas até o início da década de 60 o Jornalis-
em outras cidades brasileiras.46 mo permanecia como o único setor comu-
Fenômeno distinto opera-se no Rio de nicacional legitimado pela universidade
Janeiro, onde a equipe docente busca esta- brasileira. Os demais setores cresciam fora
belecer conexões internacionais. Tanto no dos muros acadêmicos. Sua assimilação
sentido de buscar inspiração para aperfei- universitária só se daria em 1963, quando
çoar os métodos de ensino e pesquisa Pompeu de Souza cria na Universidade de
quanto na projeção do embrionário pensa- Brasília a primeira Faculdade de Comuni-
mento comunicacional brasileiro. O primei- cação de Massa, articulando os estudos de
ro aspecto pode ser ilustrado pela mono- Jornalismo, Publicidade, Cinema e Rádio-
grafia escrita por Carlos Rizzini, relatando Televisão.55

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Se Brasília iria sediar a nossa primeira dos a ocupar Cátedras naquela instituição:
escola de comunicação, a cidade do Recife Danton Jobim59 e Luiz Beltrão.60 Eles são
acolheria o primeiro centro brasileiro de responsáveis pela disseminação das estra-
pesquisa na área. Em dezembro de 1963, tégias que caracterizam a pedagogia brasi-
Luiz Beltrão oficializaria a entidade cientí- leira da comunicação social, dando-lhes
fica que criara em convênio com a Universi- amplitude latino-americana.
dade Católica de Pernambuco. Trata-se do
ICINFORM – Instituto de Ciências da Infor-
mação, em grande parte inspirado no mo- 6 Consolidação
delo do CIESPAL, com a finalidade de de-
senvolver pesquisas, realizar cursos e man- A consolidação do campo vai se dar num
ter publicações acadêmicas. Dois anos de- contexto em que a indústria cultural desen-
pois, começaria a circular a primeira revista volve-se a pleno vapor em território nacio-
científica brasileira do campo das ciências nal. Traçando um “panorama da cultura de
da comunicação, denominada Comunicações massa no Brasil”, José Salomão David
& Problemas, cujo modelo foi assimilado da Amorim61 anota, com perspicácia: “as ex-
congênere norte-americana Journalism Quar- pressões cultura de massa e comunicação es-
tely.56 tão em moda, entre nós. Proferi-las confere
Antes do ICINFORM eram raras no prestígio”. E completa o quadro com deta-
Brasil as pesquisas científicas sobre os fe- lhes que nos permitem entender melhor o
nômenos comunicacionais, a não ser aque- fenômeno. “De repente, toma-se consciên-
las desenvolvidas por institutos profissio- cia dessa nova e proveitosa maneira de
nalizados, como IBOPE, IPOM ou MAR- abordar antigos problemas. Há uma grande
PLAN, cujos estudos de audiência da mí- procura de obras sobre o assunto. Em vári-
dia e das tendências da opinião pública os campos de atividade se coloca a ques-
respaldavam as decisões estratégicas das tão. A realidade para os artistas pop (...) é a
empresas comerciais ou dos grupos indus- comunicação de massa. A frase de publici-
triais.57 Uma dessas exceções é a primeira dade, a rodovia, a placa de trânsito, os car-
análise de conteúdo da imprensa brasileira, tazes, os automóveis e veículos espaciais
efetuada pelo intelectual mineiro Pedro Pa- são uma realidade mais importante nas vi-
rafita Bessa. Ela certamente passou desper- das das cidades e na vida moderna do que
cebida dos então estudantes e professores a própria natureza. Se pudéssemos definir
de jornalismo, pois foi publicada, em 1952, o estilo de preocupação predominante em
num veículo distanciado da corporação grande parte das obras da Bienal de 67, tal-
p r o f i s s i o n a l . 58 vez pudéssemos dizer: a de fazer uma arte
O fortalecimento do campo também é de comunicação. (...) As histórias em qua-
atestado pela presença destacada de pes- drinhos tornaram-se preocupação dos inte-
quisadores brasileiros no CIESPAL. O cen- lectuais...62 (...) Nas listas de atividades con-
tro de estudos do jornalismo que a UNES- sideradas mais importantes no futuro, apa-
CO e a OEA estimularam em Quito, Equa- recem com freqüência profissões como re-
dor, tornou-se rapidamente um espaço de lações públicas e publicidade”.
convergência das correntes comunicológi- Referindo-se à projeção desse novo
cas oriundas da Europa e dos Estados Uni- ambiente cultural no interior da vida aca-
dos com as embrionárias experiências cog- dêmica, diz Amorim: “Nas universidades,
nitivas processadas na América Latina. o ensino de jornalismo passa por profun-
Nesse ambiente, o Brasil projetou-se pela das transformações. As escolas ou faculda-
acervo de estudos em desenvolvimento nas des de jornalismo mudam o nome para fa-
suas escolas de jornalismo. Dois pesquisa- culdades de comunicação. Isso acontece em
dores brasileiros são prontamente convida- várias cidades do Brasil. Muitas das mu-

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danças são apenas de fachada. Certas facul- um corpo docente permanente, em regime
dades, todavia, já aprofundaram um pouco de tempo integral, possibilitando sua dedi-
suas experiências como faculdades de co- cação concomitante ao ensino e à pesquisa.
municação, abriram centros de pesquisa, e Mais do que isso: implantou uma sólida
nelas há sinais animadores de maior ênfase infra-estrutura laboratorial, incentivando a
no estudo de televisão, publicidade, rela- pesquisa de formatos comunicacionais.
ções públicas...“. Rompeu, desta maneira, o círculo vicioso
O interesse pela pesquisa dos fenô- das experiências beletristas,64 dominantes
menos comunicacionais ganha espaço não nas pioneiras escolas de jornalismo, incen-
apenas nas universidades, mas contamina tivando os novos profissionais a mesclar
também as empresas do ramo, em acelera- conhecimentos científicos, artísticos e tec-
do processo de modernização. Sintoma nológicos, de modo a intervir adequada-
dessa preocupação em recorrer a balizas ci- mente na nossa emergente indústria cultu-
entíficas para a tomada de decisões trans- ral, produzindo mudanças de natureza
formadoras é a decisão de empresas brasi- profissional e intelectual.
leiras no sentido de publicar revistas dedi- É bem verdade que a primeira inicia-
cadas à divulgação de conhecimentos em- tiva nesse âmbito coube à Universidade de
píricos ou de reflexões críticas sobre comu- Brasília - UnB, onde Pompeu de Souza
nicação de massa. Sua meta é a qualificação criou a nossa primeira Faculdade de Co-
profissional, possibilitando o acesso das municação (1963), posteriormente reformu-
novas gerações a estudos e pesquisas capa- lada por Luiz Beltrão (1966), que ali injetou
zes de orientá-las a trilhar novos caminhos a inovatividade experimentada no Recife.
na complexa engrenagem midiática . A UnB teve o primeiro grupo de docentes
O carro-chefe foi o periódico Cadernos em tempo integral e os incentivou a con-
de Jornalismo e Comunicação, criado em 1965 quistar competência acadêmica. Para isso,
por Alberto Dines na empresa Jornal do criou programas de pós-graduação, titulan-
Brasil (Rio de Janeiro). Ele seria acompa- do os primeiros doutores e mestres em co-
nhado por revistas similares: Bloch Comuni- municação do país.65 Mas a crise que devo-
cação (Editora Bloch, Rio de Janeiro), Aldeia rou aquela universidade, no rastro dos
Global (Rede Globo de Televisão, Rio de Ja- acontecimentos provocados pelo golpe mi-
neiro), Comunicação – Cadernos de Jornalismo litar de 1964 e pela instauração de um pro-
e Comunicação de Massa (A Tribuna de San- longado ciclo autoritário, acabariam por in-
tos, São Paulo), Caderno de Jornalismo (Jornal viabilizar o projeto Pompeu de Souza/
do Commercio do Recife).63 Luiz Beltrão, arrefecendo o ímpeto renova-
Contudo, o marco principal dessa ten- dor da pioneira instituição.66
dência foi a decisão da mais importante Na mesma conjuntura, nasce em São
universidade brasileira, a USP – Universi- Paulo o Centro de Pesquisas da Comunica-
dade de São Paulo, no sentido de criar uma ção Social, criado pela Faculdade de Jorna-
unidade voltada exclusivamente para as lismo Cásper Líbero, precocemente desati-
comunicações, abrangendo todos os seus vado pela crise que abateu sua entidade
aspectos: informação, persuasão, documen- mantenedora, a Fundação Cásper Líbero.67
tação e difusão cultural. Originalmente de- Com salários atrasados e congelados, al-
nominada Escola de Comunicações Cultu- guns docentes dessa instituição migraram
rais e depois transformada em Escola de para a USP, onde se criavam incentivos à
Comunicações e Artes – ECA – essa insti- pesquisa e à produção científica.
tuição desempenhou papel fundamental na Ocupando plenamente o vazio acadê-
sedimentação do campo acadêmico da co- mico deixado pelas instituições que antes
municação no Brasil. Foi sem dúvida a pri- se dedicaram ao fortalecimento do campo –
meira instituição universitária a contratar UNICAP, UnB e Cásper Líbero – mas assi-

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 15


milando alguns de seus quadros docentes Caminho diverso seria palmilhado pela
e de suas idéias inovadoras,68 a arrojada UnB, cuja identidade da área permanecia
Escola de Comunicações da USP assume a enraizada nos ideais de Pompeu de Souza
liderança nacional e lança novos paradig- e Luiz Beltrão, lançando um projeto de
mas pedagógicos ou científicos. Sua princi- Mestrado em Comunicação para o Desen-
pal iniciativa, capaz de motivador pesqui- volvimento robustecido pela cooperação
sadores e aglutinar docentes em início de internacional. Para tanto, a instituição, re-
carreira, foi a criação de um Programa de temperada pelas crises vividas durante o
Doutorado, de acordo com os padrões eu- auge do autoritarismo brasileiro e tendo
ropeus então vigentes. Inscreveram-se cer- um departamento de comunicação forma-
ca de duas dezenas de professores vincula- do por docentes legitimados pela atuação
dos aos diferentes segmentos comunicacio- profissional ou acadêmica no próprio cam-
nais, sob a tutoria de Professores-Doutores po, buscou a assessoria de três doutores
titulados em outros ramos do saber (princi- em Comunicação diplomados em universi-
palmente Letras, Humanidades e Ciências dades norte-americanas – Juan Diaz Borde-
Sociais). Com duração de cinco anos (traba- nave, Luiz Fonseca e John Fett. Eles traba-
lhos programados e pesquisas supervisio- lharam em conjunto com Mestres e Douto-
nadas), o Programa titulou, no biênio res da própria universidade (os últimos
1972/73, os primeiros doutores em disci- pertencentes a disciplinas das Ciências So-
plinas como Jornalismo, Propaganda, Rela- ciais). A finalidade explícita do novo curso
ções Públicas, Radiodifusão, Teledifusão, era formar “especialistas para exercer fun-
Cinematografia, Documentação, etc.69 ções técnicas específicas em comunicação,
São estes doutores titulados no pró- além de capacitá-los em metodologia da
prio campo que vão dar identidade ao pri- pesquisa”.71 Ou seja, não priorizava os re-
meiro programa de Mestrado em Ciências cursos humanos para as universidades,
da Comunicação do país, implantado na buscando atender às demandas do setor
ECA em 1972, cujo corpo docente fora cons- público, carente de profissionais de alto ní-
tituído endogenamente por pesquisadores vel, capazes de gerir processos comunicaci-
originários de outros campos do saber, onais nos setores de educação, saúde, agri-
agregando, com raras exceções, doutores cultura etc. O novo programa foi iniciado
em comunicação diplomados em universi- em 1974, recrutando PhDs em Comunica-
dades estrangeiras, o que lhe deu inicial- ção, especialmente brasileiros interessados
mente uma fisionomia interdisciplinar.70 em retornar ao país.
Na mesma ocasião, a Universidade Federal É justamente no interior dos progra-
do Rio de Janeiro iniciaria também o seu mas de pós-graduação e dos centros de
programa de Mestrado em Comunicação, pesquisa das escolas de comunicação que
adotando idêntica estratégia à da USP, qual se vão configurando núcleos de trabalha-
seja a de aglutinar doutores titulados em dores intelectuais que assumem o perfil de
outros campos do conhecimento (principal- comunicólogos. Alguns são profissionais
mente Letras e Filosofia) interessados em da área que fizeram estudos pós-gradua-
questões informais e comunicacionais. Tan- dos e outros são pesquisadores oriundos
to o programa da UFRJ quanto o da USP se de áreas afins que se interessaram pelos fe-
destinavam a formar docentes/pesquisa- nômenos comunicacionais, a cujo estudo
dores para o sistema universitário, acolhen- passaram a se dedicar plenamente. Tal con-
do jovens professores de todo o país, que tingente vai sendo acrescido, pouco a pou-
ali buscaram sedimentação acadêmica para co, pelos egressos da própria área, detento-
atuar nos inúmeros cursos de graduação res de títulos de mestre e doutor em ciênci-
em comunicação social, proliferando-se em as da comunicação.
todas as regiões brasileiras. A maioria deles trabalha como docen-

16 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral


te nos cursos de graduação em Comunica- 7 Institucionalização
ção Social. Mas há também os que passa-
ram a disputar empregos nas empresas mi- Existindo em todo o país, durante a segun-
diáticas ou nos organismos públicos dedi- da metade deste século, uma massa crítica
cados à formulação e análise de estratégias de comunicólogos “ilhados” dentro dos
comunicacionais. campi não demorou muito que eles sentis-
Contudo, o mercado mais importante sem a necessidade de intercomunicar-se e
continuou a ser o acadêmico, tendo em vis- de intercambiar experiências. Isto, apesar
ta o crescimento do número de universida- das dificuldades criadas pelo regime mili-
des ou instituições de ensino superior que tar, que desencorajava os associativismos e
criaram cursos ou departamentos de comu- punia exemplarmente suas eventuais lide-
nicação. ranças.
Na década de 40 somente 2 universi- Os primeiros ensaios ocorrem no Re-
dades incluíram a Comunicação em seu cife, no primeiro trimestre de 1964, durante
elenco de cursos. Esse número quadrupli- o I Curso Nacional de Ciências da Informa-
cou na década seguinte, passando a 8. Tri- ção, promovido por Luiz Beltrão, reunindo
plicou nos anos sessenta, atingindo 23. E jovens pesquisadores de vários estados
continua a se expandir até hoje: década de brasileiros e professores de universidades
70-58; década de 80-66: década de 90-120.72 que se dedicavam ao estudo embrionário
Não se trata, porém, de uma prolifera- dos fenômenos comunicacionais. Mas o
ção uniforme em todo o território nacional. golpe militar de abril esboçou um cenário
A situação presente indica uma concentra- pouco propício à continuidade do movi-
ção de tais unidades de ensino/pesquisa mento. O que dele restou foi uma espécie
na região sudeste (onde se localiza mais da de comunidade virtual agregada em torno
metade). Eis o quadro regional: Norte – 7; da revista Comunicações & Problemas, sob a
Centro-Oeste – 8; Nordeste – 20; Sul – 20; liderança de Luiz Beltrão e do seu ICIN-
Sudeste – 65. FORM.75
O mapa se amplia consideravelmente Mudando-se para Brasília e assumin-
quando computamos todas as carreiras ofe- do, em 1966, a direção da Faculdade de Co-
recidas (habilitações profissionais). Ao municação da UnB, Luiz Beltrão ganha mo-
todo, existem hoje cerca de 309 cursos de bilidade nacional, articulando-se com gru-
comunicação no Brasil, sendo 282 de bacha- pos de estudiosos do Rio de Janeiro, São
relado, 22 de mestrado e 5 de doutorado.73 Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte. Seu
E já se anunciam novos cursos, previstos trabalho ganha repercussão e suscita o inte-
para funcionar até o final do século. Cresce resse dos núcleos de pesquisadores articu-
tanto o setor de graduação quanto o de lados nas principais cidades brasileiras.
pós-graduação. Tanto assim que ele começou a cogitar a
Do ponto de vista da segmentação idéia de um encontro nacional de profes-
profissional, a distribuição dos cursos de sores de comunicação, criando condições
graduação é a seguinte: Jornalismo – 100; para a sua realização em Brasília.
Publicidade e Propaganda – 96; Relações Contudo, esse evento frustrou-se em
Públicas – 53; Radialismo e Televisão – 23; face da crise da FACUNB,76 que culminou
Cinema e Vídeo – 6; Produção Editorial – 3; com o afastamento do próprio Beltrão e de
Produção Cultural – 1.74 sua equipe da universidade. O I Encontro
A população estimada da comunida- de Professores de Comunicação foi efetua-
de acadêmica de comunicação em todo o do,77 em dezembro de 1967, culminando
Brasil é da ordem 126 mil pessoas, consti- com uma declaração genérica e protocolar,
tuída por 6 mil professores/pesquisadores que esboçou a fisionomia da nossa emer-
e 120 mil alunos. gente comunidade acadêmica: frágil, con-

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flituosa, fragmentada.78 mica de comunicólogos brasileiros foi a
Nova tentativa de aglutinação só viria UCBC,79 embora anos tarde ela trilhasse
a ocorrer em 1970, quando a ABI – Associa- por caminhos específicos, mais ligados à
ção Brasileira de Imprensa – promove no militância comunicacional nas comunida-
Rio de Janeiro o I Congresso Brasileiro de des eclesiais de base e aos movimentos de
Comunicação. Convidado por Danton Jo- leitura crítica da comunicação.80
bim e Barbosa Lima Sobrinho para coorde- Finalmente em 1972, cria-se a primeira
nar um dos grupos de estudos do evento, associação acadêmica da área. Trata-se da
procurei reunir aquele contingente de pes- ABEPEC – Associação Brasileira de Ensino
quisadores que se destacavam pelo poten- e Pesquisa da Comunicação. Fundada em
cial de publicação dos seus estudos em São Paulo, durante evento promovido no
suas revistas nacionais ou livros especiali- campus da USP,81 realiza em julho do ano
zados. Nessa ocasião, os grupos principais seguinte o I Congresso Brasileiro de Ensino
estavam localizados em São Paulo, Rio de e Pesquisa da Comunicação, em Belo Hori-
Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Ale- zonte, no campus da PUC-MG, e publica
gre, Recife e Fortaleza. Eu os pude identifi- uma revista periódica denominada Revista
car pela posição privilegiada ocupada na da ABEPEC. Essa entidade teve, contudo,
Editora Vozes, como coordenador de uma vida curta. A estrutura mista adotada pelo
coleção de livros destinados ao público estatuto, aglutinando tanto instituições: es-
universitário. Embora tivesse discutido colas, departamentos ou cursos (represen-
com vários colegas a necessidade de for- tados pelos seus dirigentes eventuais)
mar uma entidade nacional destinada a quanto por pessoas (pesquisadores e pro-
abrigar os estudiosos da comunicação, sen- fessores), acabou por comprometer sua le-
ti nas entrelinhas o receio de alguns deles. gitimidade acadêmica. Afloraram, no seu
O ambiente de terror disseminado pelo interior, conflitos entre grupos, disputas re-
golpe-dentro-do-golpe (AI-5, 1968) desen- gionalistas, intolerâncias ideológicas, o que
coraja iniciativas do gênero. antecipava a pouca maturidade atingida
Nesse mesmo ano se instalava no Rio pela nossa comunidade acadêmica. De
de Janeiro uma entidade que, embora ten- qualquer maneira, durante o tempo em que
do perfil e vocação profissional, assumiu funcionou, a ABEPEC realizou congressos
uma fisionomia acentuadamente acadêmi- nacionais em Fortaleza, Caxias do Sul, Rio
ca na sua primeira fase. Trata-se da UCBC – de Janeiro, São Luiz do Maranhão, cuja me-
União Cristã Brasileira de Comunicação So- mória não foi devidamente preservada.82
cial, fundada em São Paulo, em 1969, por Além disso, representou o Brasil na consti-
lideranças vinculadas ao mundo universi- tuição das duas entidades acadêmicas lati-
tário. Contando com o beneplácito da Igreja no-americanas da área: ALAIC (associação
Católica, através da CNBB – Conferência de pesquisadores, fundada em Caracas em
Nacional dos Bispos do Brasil – essa asso- 1978) e FELAFACS (federação de associa-
ciação manteve um espírito ecumênico, en- ções de faculdades de comunicação, funda-
corajando a participação de pesquisadores da em Melgar, Colômbia, em 1981).83 Ape-
da comunicação nem sempre organicamen- sar dos esforços aglutinadores desenvolvi-
te ligados às instituições eclesiais. A con- dos por seus primeiros presidentes – Lelio
juntura era marcada pela repressão e pelo Fabiano do Santos, José Salomão David
arbítrio. Vários comunicólogos encontra- Amorim, Antonio Firmo de Oliveira Gon-
ram aí ambiente fértil para aprofundar suas zalez e Roberto Amaral - a entidade foi per-
reflexões e formular projetos de estudos, dendo força, sob o comando de lideranças
nem sempre determinados por critérios ou pouco expressivas. Seus debates privilegia-
motivações religiosas. Assim sendo, pode- ram questões curriculares, deixando de
se dizer que a primeira organização acadê- lado a pesquisa científica e os temas da

18 Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral


agenda pública nacional. Ela acabou por Stumpf e Caparelli, 1998;103 Marques de
auto-dissolver-se em reunião realizada em Melo & Castelo Branco, 1999104) fornecem
Belo Horizonte, em 1985. indicadores da pujança da comunidade
O vácuo deixado pela ABEPEC, bem brasileira das ciências da comunicação.
como a dificuldade de conciliar os interes- A institucionalização da área, que se
ses das instituições educativas com as de- torna nítida nos anos 80, completa-se na dé-
mandas dos pesquisadores comunicacio- cada atual. Como diz LOPES:105 “Essa con-
nais ensejam o aparecimento de novas as- solidação se confirma nos anos 90, pelo fato
sociações brasileiras. Em 1977, cria-se em de mais de 50% da produção científica de
São Paulo a INTERCOM – Sociedade Brasi- comunicação realizar-se de 1990 a 1995, ou
leira de Estudos Interdisciplinares da Co- seja, nos primeiros 6 anos da década de
municação.84 Em 1984 funda-se em Brasília 90.” A autora se baseia na levantamento bi-
a ABECOM – Associação Brasileira de Es- bliográfico realizado pelo PORT-COM106
colas de Comunicação.85 A primeira agluti- que inventariou 6.175 documentos, dos
nando pesquisadores, professores e profis- quais 0,6% haviam sido produzidos até
sionais interessados em estudar os fenôme- 1959, 1,8% na década de 60,9% na década
nos comunicacionais. A segunda reunindo de 70, 35,8% na década de 80 e 52,8% na
os diretores das faculdades, departamentos década de 90.
ou cursos de graduação em comunicação No que se refere especificamente aos
existentes nas universidades. Anos depois trabalhos de pós-graduação (mestrado e
(1990), seria criada uma terceira entidade, a doutorado), foram produzidas nos últimos
Associação Nacional dos Programas de 5 anos (período de 1992-1996), nos cursos
Pós-Graduação em Comunicação – COM- credenciados pela CAPES, 754 pesquisas.107
PÓS.86 Trata-se de uma comunidade multifa-
A existência dessas três associações cetada, que inclui desde os produtores de
nacionais, reunindo pesquisadores acadê- conhecimento sobre os processos midiáti-
micos (INTERCOM), diretores de cursos de cos, aos analistas de discursos e aos pes-
graduação (ABECOM) e docentes e estu- quisadores dos entornos e mediações cul-
dantes dos programas de pós-graduação turais que marcam o perfil dos fenômenos
(COMPÓS), atesta cabalmente a institucio- da reprodução simbólica na sociedade. Daí
nalização da comunidade acadêmica da o seu grande dilema na atualidade: confi-
área. Seus congressos, publicações, bancos gurar-se enquanto comunidade autônoma,
de dados e fluxos informacionais atestam a com identidade própria. “O desafio que se
maturidade atingida pelas ciências da co- coloca é saber, dentro de uma variedade de
municação no Brasil, amparadas pelas incitações, trabalhar com aquelas que le-
agências públicas de fomento científico. vem ao fortalecimento do campo da Comu-
nicação e não à sua diluição”.108
Enquanto se desenvolve essa busca
8 Perspectivas de personalidade auto-identificadora no
bojo da comunidade acadêmica nacional,
Os balanços periódicos efetuados por siste- os cientistas brasileiros da comunicação
matizadores do campo (Beltrão, 1968;87 buscam projetar-se, ocupando espaços e
Marques de Melo, 1971;88 Amorim, 1975;89 ganhando o reconhecimento da comunida-
Caparelli, 1980;90 Peñuela, 1982;91 Marques de científica internacional. Seu palco privi-
de Melo, 1983,92 198493 e 1985;94 Dencker, legiado tem sido a IAMCR – International
1988; 95 Caparelli e Marques de Melo, Association for Media and Communication
1990;96 Lopes, 1990;97 Kunsch, 1992;98 Faus- Research -, cujos congressos mundiais reú-
to Neto, 1995;99 Lopes, 1997;100 Kunsch e nem, a cada dois anos, amostragem das
Dencker, 1997;101 Marques de Melo, 1998;102 tendências da pesquisa na área.

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Não obstante o Brasil venha marcando dade Metodista de São Paulo. Co-fundador e ex-diretor
presença nesse cenário internacional desde da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
1957, somente a partir de 1988, com a res- São Paulo. ex-presidente da ALAIC – Associación
tauração da nossa vida democrática, os co- Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación.
municólogos brasileiros aprenderam o ca- Presidente da LUSOCOM – Federação Lusófona de Ciên-
minho da IAMCR e passaram a freqüentar cias da Comunicação.
seus congressos, em Barcelona e Bled. Essa
presença tornou-se tão visível109 que a dire- 3 MARQUES DE MELO, José - Inventário da Pesquisa em Co-
toria da sociedade decidiu converter o Bra- municação no Brasil, 1883-1983, São Paulo, INTERCOM,
sil em palco da conferência mundial de 1984.
1992. O evento foi realizado em Guarujá/
SP.110 Já nessa ocasião, a comunidade nacio- 4 Para melhor compreender o panorama europeu, nessa
nal despontava como uma das mais produ- conjuntura, vale e pena consultar os livros de OLSON,
tivas, perfilando-se em igualdade de condi- Keneth E. – The History Makers: the press of Europe from its
ções com a Grã-Bretanha, a Dinamarca, a beginnings through 1965, Baton Rouge, Louisiana State
França e o Canadá. University Press, 1966; e VARIN D’AINVELLE,
Embora permanecesse no top dos paí- Madeleine – La Presse en France: genèse et evolution de ses
ses que lideram a comunicologia mundial, fonctions psycho–sociales, Paris, Presses Universitaires de
o Brasil passou a ocupar patamares inter- France, 1965.
mediários nos rankings de Seul (1992) e Sid-
ney (1994). Mas no congresso deste ano, em 5 O panorama norte-americano dessa época está bem
Glasgow, Escócia, a delegação brasileira reconstituído nas seguintes fontes: MOTHER, Frank
surpreendeu pela quantidade e pela juven- Luther – American Journalism, a History: 1690-1960, New York,
tude. Os pesquisadores verde-amarelos lo- Macmillan, 1941 e TEBBEL, John – Breve Historia del Periódi-
graram a inscrição de 52 comunicações ci- co Norte-Americano, Barcelona, Montaner y Simon, 1967.
entíficas, selecionadas pelos referees dos di-
ferentes grupos temáticos. Esse volume foi 6 FERNANDES PINHEIRO, J. C. – “A imprensa no Brasil”,
superado apenas pela contribuição dos Jornal Ilustrado (revista popular noticiosa, científica, industrial, his-
EUA, líder inconteste da área, que inscre- tórica, literária, anedáotica, musical etc.), Rio de Janeiro, 1(4):
veu 115 trabalhos.111 217-224, 1859
Trata-se, agora, de transformar quanti-
dade em qualidade e de motivar não ape- 7 A primeira referência a essa tese, no plenário do Instituto
nas os jovens pesquisadores, mas também Histórico Pernambucano, foi feita pelo Dr. Antonio do
os comunicólogos dotados de maturidade Nascimento Feitosa, na oração póstuma dedicada ao
acadêmica, para que se lancem à arena in- Comendador Manuel Figueiroa de Faria, proprietário do
ternacional, disseminando os resultados da Diário de Pernambuco e também sócio-fundador daquela en-
pesquisa realizada em nosso país ■ tidade. Fica patente que as fronteiras entre História e
Jornalismo, naquela conjuntura, eram muito tênues.
Vide: NASCIMENTO FEITOSA, Antonio Vicente – “Dis-
Notas curso do Orador do Instituto, na Assembléia Geral de
Aniversário, em 27 de janeiro de 1867”, Revista do Instituto
1 Aula Magna de abertura do Curso de Doutorado em Arqueológico e Geográfico Pernambucano, No. 11, Recife, 1867,
Comunicação do Programa de Pós-Graduação em Co- p. 517.
municação Social da FAMECOS – Faculdade dos Meios
de Comunicação da PUCRS– Pontifícia Universidade Ca- 8 Essa polêmica está bem documentada na minha tese de
tólica do Rio Grande do Sul - Porto Alegre, Rio Grande do doutorado, cuja versão editorial foi publicada pela Edi-
Sul. 18 de agosto de 1999. tora Vozes de Petrópolis. Vide: MARQUES DE MELO,
José – Sociologia da Imprensa Brasileira, Petrópolis, Vozes,
2 Titular da Cátedra UNESCO de Comunicação. Universi- 1972, p. 92-108.

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9 MOREIRA DE AZEVEDO – “Origem e Desenvolvimento 16 CARVELHO, Alfredo – “Da introdução da imprensa em
da Imprensa no Rio de Janeiro”, Revista do Instituto Histórico, Pernambuco pelos holandeses”, Revista do Instituto Arqueológi-
Geográfico e Etnográfico do Brasil, tomo XXIX, parte II, Rio de co e Geográfico Pernambucano, No. 53, Recife, 1899, p. 710-716.
Janeiro, Typographia de Pinheiro & Comp., 1865, p. 169/
224. 17 CARVALHO, Alfredo – “Gênese e Progressos da Impren-
sa Periódica no Brasil”, Revista do Instituto Histórico e Geográ-
10 SOUZA MARTINS, Francisco de – “Progresso do Jorna- fico Brasileiro, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 2 vols.
lismo no Brasil”, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Bra-
sileiro, tomo VIII, Rio de Janeiro, 1867, p. 262/263. 18 Ele também assumiu a tarefa de inventariar a imprensa
pernambucana, divulgando o conjunto da pesquisa no
11 NETSCHER, P. M. – Les Hollandais au Brésil, Paris, 1853. livro Annaes da Imprensa Periódica Pernambucana (1801-1908),
Recife, Typografia do Jornal do Recife, 1908.
12 PORTO SEGURO – As Lutas do Holandeses no Brasil, Rio de
Janeiro, 1871. 19 VALLE CABRAL, Alfredo de – Anais da Imprensa Nacional
do Rio de Janeiro, de 1808 a 1822, Rio de Janeiro, Tipografia
13 Desde 1868, os historiadores pernambucanos tentavam Nacional, 1881.
obter recursos públicos para a edição de obras que res-
taurassem a “verdade histórica”, criando uma coleção de 20 SÁ, Victor – “A Escola de Jornalismo”, Um repórter na ABI,
“Biografias de alguns poetas e homens ilustres de Rio de Janeiro, Editora A Noite, 1955, p. 220-225.
Pernambuco” subsidiada por fundos provenientes da lo-
teria provincial. Na sessão de 5 de setembro de 1872, o 21 Em sua tese de doutorado em História (UFF, 1997) sobre
historiador Regueira Costa fazia discurso para justificar a imprensa brasileira do final do século passado e come-
essa estratégia. “Numa época em que sido tão adultera- ço deste, a professora Marialva Barbosa descreve o ambi-
da a nossa história, especialmente no que respeita aos ente jornalístico do Rio de Janeiro naquela época. Um dos
movimentos políticos do país, não se deve adiar a publi- indicadores expressivos é a formação jurídica da maioria
cação de quaisquer livros que restabeleçam a verdade dos jornalistas em exercício, justificando até mesmo a
dos fatos, à luz de uma crítica conscienciosa...” REGUEI- existência de disciplinas em algumas faculdades de direi-
RA COSTA, João Baptista – “Discurso na 179a. Sessão to que se destinavam a preparar os futuros advogados
do IAGP”, Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico para a ocupação de espaços nesse mercado alternativo.
Pernambucano, N. 25, Recife, 1872, p. 8. Não é de estranhar que tais instituições tenham funciona-
do como núcleos de resistência sutil à criação dos cursos
14 Antes dessa consagração pública, realizada em 9/5/ superiores de jornalismo, processo que se arrastaria até a
1886, tendo o caráter de desagravo pelas injustiças go- década de 40, apesar da persistência da ABI na defesa
vernamentais acarretadas ao pesquisador durante sua dessa tese lançada pelo seu fundador.
missão holandesa, Duarte Pereira publicara um artigo-
síntese, dirimindo a controvérsia sobre o folheto Brasilsche 22 BARBOSA, Ruy – A imprensa e o dever da verdade, Salvador,
Gelt-Sack. Ele conclui que o opúsculo foi impresso na s.e., 1920.
Holanda e não no Brasil, como foram induzidos a pensar
alguns historiadores brasileiros. DUARTE PEREIRA, José 23 CUNHA BARBOSA, A. da – “Origem e desenvolvimento
Higino – “Advertência”, Revista do Instituto Arqueológico e da imprensa colonial brasileira”, Revista do Instituto Histórico
Geográfico Pernambucano, N. 28, Recife, 1883, p. 121-126. A e Geográfico Brasileiro, tomo XLIII, parte II, Rio de Janeiro,
íntegra do seu relatório, incluindo outras questões históri- Imprensa Nacional, 1902, p. 239-262.
cas, além daquela referente à imprensa, foi publicada na
edição No. 30, datada de junho de 1886. 24 FLEUISS, Max – “A imprensa no Brasil”, Diccionario
Historico, Gographio e Ethnographico do Brasil (Comemorativo
15 PEREIRA DA COSTA, F. A – “Estabelecimento e Desen- do Primeiro Centenário da Independência), 1o. vol., Rio de
volvimento da Imprensa em Pernambuco”, Revista do Insti- Janeiro, Imprensa Nacional, 1922, p. 1550-1585
tuto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, No. 309, Recife,
1891, p. 25-50. 25 PACHECO, Felix – “Um Francês-brasileiro: subsídios

Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 11 • dezembro 1999 • semestral 21


para a história do Jornal do Commercio”, Hercules Florence e 39 GOMES, Pedro Gilberto – “Escola Superior de Jornalis-
Pedro Plancher, Rio de Janeiro, Jornal do commercio, 1917, mo”, In: PESSINATTI, Nivaldo Luiz – Comunicação e Reli-
p. 59-62. giosidade, Londrina, INTERCOM, 1996, p. 11.

26 SENNA, Ernesto – O Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 40 MARQUES DE MELO, José – “Pedagogia da Comunica-
Impr. Do Jornal do Commercio, 1901. ção: as experiências brasileiras”, Contribuições para uma Pe-
dagogia da Comunicação, São Paulo, Paulinas, 1974, p. 19.
27 VERÍSSIMO, José – “A instrução e a imprensa, 1500-
1900”, Livro do Centenário, Rio de Janeiro, Imprensa Nacio- 41 CASTELO BRANCO, Vitorino Prata – Curso de Jornalismo,
nal, 1900, vol. 1. São Paulo, Tipografia Cultura, 1945.

28 BARBOSA LIMA SOBRINHO, Alexandre José – O proble- 42 NUZZI, Erasmo – “40 anos de ensino de jornalismo no
ma da imprensa, Rio de Janeiro, Alvaro Pinto, 1923. Brasil: relato histórico”, In: KUNSCH, Margarida – O ensi-
no de comunicação, São Paulo, ABECOM, 1992, p. 23.
29 GORDO, Adolpho – Lei de Imprensa – Discursos pronunciados
no Senado Federal, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1924. 43 RIZZINI, Carlos – O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, Rio
de Janeiro, Kosmos, 1946.
30 SANTOS LEITÃO, B. dos – Compêndio de fotografia para ama-
dores, Rio de Janeiro, Giannini Friedrich & C., 1926. 44 MARQUES DE MELO, José – “Carlos Rizzini, pioneiro
da midiologia brasileira”, Comunicarte, Campinas,
31 MENDES DE ALMEIDA, J. Canuto – Cinema contra cinema, PUCCAMP, 1998 (no prelo).
São Paulo, Nacional, 1931.
45 MARQUES DE MELO, José – Contribuições para uma pedago-
32 MACEDO DE CARGALHO, Ernani – Publicidade e Propa- gia da comunicação, São Paulo, Paulinas, 1974, p. 13-69.
ganda, São Paulo, Nacional, 1940.

33 PORTO, Rubens – O homem, o meio e a técnica na Imprensa 46 Para uma visão dos primórdios da instituição vale a
Nacional, 3 vols., Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1941. pena consultar o documentário reunido pelo Prof.
Erasmo de Freitas Nuzzi em seu livro História da Faculdade
34 COSTA EDUDARO, Octávio da – “O desenvolvimento de Comunicação Social Cásper Líbero, São Paulo, 1998.
da pesquisa de propaganda no Brasil”, In: CASTELO
BRANCO e outros – História da Propaganda no Brasil, São 47 RIZZINI, Carlos – O ensino do jornalismo, Rio, MEC, 1953.
Paulo, IBRACO, 1990, p. 99.
48 LINS DA SILVA, Carlos Eduardo – O adiantado da hora,
35 GIESBERG, Aniela – Fundamentos Psicológicos do Anúncio, São Paulo, summus, 1991, p. 77-78.
São Paulo, USP, Faculdade de Ciências Econômicas e
Administrativas, Instituto de Administração, 1949. 49 JOBIM, Danton – Introduction au Journalisme Contemporain,
Paris, Nizet, 1957.
36 MARQUES DE MELO, José – “A imprensa como objeto
de estudo científico no Brasil: contribuições de Gilberto 50 MARQUES DE MELO, José – Teoria da Comunicação:
Freyre e Luiz Beltrão”, Estudos de Jornalismo Comparado, São paradigmas latino-americanos, Petrópolis, Vozes, 1998, p. 171.
Paulo, Pioneira, 1972, p. 29-46.
51 MARTENSEN, Rodolfo Lima – “O ensino da propaganda
37 FREYRE , Gilberto – O escravo nos anúncios de jornais brasilei- no Brasil”, In: IBRACO – História da Propaganda no Brasil,
ros do século XIX. 2a. ed., São Paulo, 1979. São Paulo, TAQ Editor, 1990, p. 31-38.

38 MARQUES DE MELO, José – “Pedagogia da Comunica- 52 MARQUES DE MELO, José – “Relações Públicas: essên-
ção: as experiências brasileiras”, Contribuições para uma Pe- cia e aparência”, Para uma leitura crítica da comunicação, são
dagogia da Comunicação, São Paulo, Paulinas, 1974, p. 17. Paulo, Paulinas, 1985, p. 151-155.

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53 ANDRADE, Candido Teobaldo de Souza – Panorama Histó- preço de ser o estudo de jornalismo em nível universitário
rico das Relações Públicas, São Paulo, ECA-USP, 1972, p. 22. um fenômeno recente. Na maioria, nasceram ligadas a
faculdades de filosofia e tiveram a tutela deformadora
54 LOGGER, Guido – Educar para o cinema, Rio de Janeiro, de professores de Literatura ou gramáticos. Não possu-
Agir, 1965. em quadros de professores preparados para o ensino e a
pesquisa, mas jornalistas profissionais e, dentre esses,
55 SOUZA, Pomeu – “Faculdade de Comunicação de Mas- nem sempre os que teriam alguma contribuição a dar. A
sa”, Cadernos de Jornalismo, N. 2, Rio de Janeiro, Jornal do inteligentsia do jornalismo brasileiro, com raras exceções,
Brasil, 1965, p. 53-64. não está nas faculdades. A bibliografia é restrita, apesar
dos sintomas de maior movimento editorial. As escolas
56 BENJAMIN, Roberto – Itinerário de Luiz Beltrão, Recife, AIP que deveriam ter um papel importante na formulação e
/UNICAP, 1998, p. 72-79. solução de problemas que se apresentam para os meios
de comunicação se limitam a uma posição discreta. E,
57 MARQUES DE MELO, José – Teoria da comunicação: em vez de ditarem os padrões que delas se esperam, mal
paradigmas latino-americanos, Petrópolis, Vozes, 1998, p. 34- conseguem cumprir a tarefa de ensinar”. AMORIM, José
38. Salomão David – “Panorama da Cultura de Massa no
Brasil”, In: WRIGHT, Charles – Comunicação de Massa, Rio
58 BESSA, Pedro Parafita – “Uma análise de conteúdo dos de Janeiro, Bloch, 1968, p. 155.
jornais”, Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, 1952.
65 Os docentes pioneiros que conquistaram títulos acadêmi-
59 JOBIM, Danton – Pedagogia del Periodismo – Métodos de cos em nível de pós-graduação na área de Comunicação
Enseñanza Orientados para la Prensa Escrita, Quito, CIESPAL, na Universidade de Brasília, em 1967, são Luiz Beltrão
1960. (primeiro Doutor) e José Salomão David Amorim (pri-
meiro Mestre). Tratava-se de sistema de titulação por
60 BELTRÃO, Luiz – Métodos de la Enseñanza de la Técnica del defesa de tese, semelhante ao vigente outrora nas univer-
Periodismo, Quito, CIESPAL, 1963. sidades européias, sem a necessidade de freqüência a
cursos e seminários, como ocorre no sistema norte-ameri-
61 AMORIM, José Salomão David – “Panorama da Cultura cano. Pertenciam a esse grupo de pós-graduandos, entre
de Massa no Brasil”, In: WRIGHT, Charles – Comunicação outros, os seguintes professores: Eugenio Malanga,
de Massa, Rio de Janeiro, Bloch, 1968, p. 123-174. Marcello de Ipanema, Wilson Aguiar (candidatos ao
Doutorado), Gilvandro G. Raposo, Eleonora Rennó, José
62 Nesse mesmo ano, um intelectual italiano ainda não ba- Seixas Patriani (candidatos ao Mestrado). O inventário
fejado pela fama que iria adquirir anos depois – desse episódio ainda permanece na obscuridade, tal a
UMBERTO ECO – ministraria um curso de extensão cul- natureza conflituosa da dissolução do grupo, tragado
tural na Universidade Mackenzie sobre as histórias em pelo fisiologismo que o caracterizou. Alguns indícios des-
quadrinhos, contribuindo para retirar esse filão da indús- sa crise aparecem de forma fragmentada na obra coletiva
tria cultural da condição de gênero renegado pelos edu- organizada por Roberto BENJAMIN – Itinerário de Luiz
cadores brasileiros. Beltrão, Recife, AIP / UNICAP, 1998.

63 MARQUES DE MELO, José; PEREIRA DA LUZ, Inez e 66 No plano editorial, a UnB daria continuidade ao primeiro
ALVARES PEREIRA, Lívia – Periódicos Brasileiros de Comu- periódico científico da área, a revista Comunicações & Pro-
nicação das Décadas de 60 e 70, São Paulo, PORT-COM / blemas, editada em convênio com o ICINFORM, sociedade
INERCOM, ALAIC, 1992. civil sediada em Recife, Pernambuco. Com a crise de
1967, que culminou com a saída de Luiz Beltrão da uni-
64 O panorama das pioneiras escolas de jornalismo traçado versidade, a UnB criou uma nova revista, dirigida por
por AMORIM permite uma melhor compreensão da con- Eugênio Malanga e Wilson Aguiar, sob o título de Revista
juntura: “Neste resumo dos esforços que se fazem na Brasileira de Comunicação, da qual circularam apenas duas
área dos estudos de comunicação, ainda caberia uma edições em 1968. A publicação desapareceria imediata-
observação sobre as escolas e faculdades. Pagam elas o mente após a defenestração dos seus diretores do quadro

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docente da UnB. Por sua vez, a revista Comunicações & municação organizacional etc.
Problemas sobreviveu até 1969, completando 12 edições, as
últimas das quais foram publicadas graças ao esforço 75 BENJAMIN, Roberto – “Vida, paixão e morte do
pessoal de seu diretor, Luiz Beltrão, que as custeou com ICINFORM”, In: Itinerário de Luiz Beltrão, Recife, AIP /
recursos próprios. UNICAP, 1998, p. 72-75.

67 MARQUES DE MELO, José – “O curso da Fundação 76 A descrição desse episódio está contida no artigo de
Cásper Líbero”, Contribuições para uma Pedagogia da Comunica- BELTRÃO, Luiz – “A demolição de uma faculdade”,
ção, São Paulo, Paulinas, 1974, p. 19-29. Comunicações & Problemas, Brasília, ICINFORM, 1968, p. 48-
55. Seu contexto pode ser melhor compreendido no arti-
68 As áreas que mais assimilaram tais contribuições foram go-depoimento de MARQUES DE MELO, José – “Nos
as de Jornalismo e de Cinema, através de docentes que tempos da gloriosa”, Revista Brasileira de Comunicação, vol.
migraram daquelas instituições para a USP, como, por XX. N. 2, 1997, p. 13-27.
exemplo: Paulo Emilio Salles Gomes, Jean Claude
Bernardet, José Marques de Melo, Francisco Gaudencio 77 Da memória desse evento restaram apenas as palestras
Torquato do Rego. de abertura e encerramento, proferidas pelos professores
Eugenio Malanga e Wilson Aguiar, reproduzidas inte-
69 Depoimentos sobre o fato encontram-se reproduzidos na gralmente no primeiro número da Revista Brasileira de Comu-
“Mesa Redonda – Primeiros Professores da ECA”, Revista nicação, Brasília, UnB, 1968.
Comunicações & Artes, N. 17, São Paulo, ECA-USP, 1983, p.
11-58. 78 O encontro de Brasília foi marcado pela presença de ape-
nas duas delegações: a da própria UnB (então constituí-
70 PEÑUELA CANIZAL, Eduardo – “Diversidade e da por um grupo heterogêneo, corroído por conflitos in-
Interdisciplinaridade”, In: MARQUES DE MELO, José, ternos) e a da USP (liderada pelo diretor da Escola de
org. – Pesquisa em Comunicação no Brasil, São Paulo, Cortez Comunicações Culturais, Júlio Garcia Morejón, e integra-
/INTERCOM, 1983, p. 121-127. da por representantes dos principais cursos). Mas a luta
intestina que acirrava os ânimos dos promotores do even-
71 UnB – Ante-Projeto do Curso de Pós-Graduação em Comunicação, to acabou por transformá-lo num encontro descon-
Brasília, 1972. fortável para os visitantes. Durante o dia, as reuniões se
realizavam formalmente no campus da UnB e em outros
72 As estimativas aqui apresentadas foram feitas a partir espaços fociais, contando com a presença majoritária do
de dados contidos no Guia do Estudante da Editora Abril, grupo local anti-Beltrão; durante a noite, os debates
combinados com outras fontes semelhantes. prosseguiam na sala de visitas do apartamento de Luiz
Beltrão, onde os visitantes confraternizavam com os seus
73 O cômputo dos cursos de pós-graduação (mestrado e discípulos e convidados. A delegação paulista evitou
doutorado) não se restringe àqueles credenciados pela posicionar-se sobre a crise interna da UnB, enquanto ali
CAPES – órgão do Ministério da Educação – mas inclui permaneceu, uma vez que os fatos eram recentes e não
todos os programas em funcionamento, nos termos da estavam evidentes todas as suas nuanças. Mas isso não
legislação vigente (LDB), que confere autonomia às uni- significou neutralidade, pois a Escola de Comunicações
versidades para criar novos cursos, independentemente da USP fizera questão de prestigiar o Prof. Luiz Beltrão,
da tutela do MEC. o primeiro brasileiro a defender tese de Doutorado na
área, convidando-o para proferir a conferência inaugural
74 Com a nova LDB, que estimula o surgimento de cursos do seu primeiro Ciclo e Debates Curriculares, promovido
não enquadrados nas estruturas curriculares do MEC, no auditório da Biblioteca Municipal Mário de Andrade.
esboçam-se carreiras distintas daquelas demarcadas pe- O texto dessa conferência foi integralmente publicado no
las profissões tradicionais do mundo da comunicação. primeiro número da revista da escola. Vide: BELTRÃO,
Algumas universidades estão planejando o lançamento Luiz – “Jornalismo pelA televisão e pelo rádio: perspecti-
de cursos em áreas-fronteira: comunicação cultural, co- vas”, Revista da Escola de Comunicações Culturais, n. 1, São
municação educativa, comunicação mercadológica, co- Paulo, ECC-USP, 1967, p. 101-119.

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79 A coletânea publicada em 1976 reúne ensaios que eviden- política, por ato corajoso do Reitor José Goldemberg.
ciam o perfil dessa emergente comunidade acadêmica,
cujos principais protagonistas desempenhariam depois 82 Ademais das duas edições da Revista da ABEPEC,
papel destacado nas associações de comunicólogos de- publicadas em 1975, há uma coletânea reunindo textos
pois formadas. MARQUES DE MELO, José - Comunicação/ do grupo hegemônico na entidade antes do seu declínio
Incomunicação no Brasil, São Paulo, Loyola, 1976. intelectual. Vide: AMARAL, Roberto, org. - Comunicação de
Massa: o impasse brasileiro, Rio de Janeiro, Forense Universi-
80 O livro de Pedro Gilberto GOMES - A comunicação cristã em tária, 1978. Mencione-se também a pesquisa nacional so-
tempo de repressão: a história da UCBC de 1970 a 1983, São bre televisão, realizada em 1978, cujos dados principais
Leopoldo, UNSINOS, 1995 - oferece pistas estimulantes foram depois retomados e interpretados em livros dos
para compreender o papel da UCBC nesse contexto. seus analistas. Vide: CAPARELLI, Sérgio - Televisão e Capi-
talismo no Brasil, Porto Alegre, L&PM, 1982 e MARQUES
81 Desde 1969, o Departamento de Jornalismo da ECA-USP DE MELO, José - Para uma leitura crítica da comunicação, São
vinha realizando anualmente suas Semanas de Jornalismo, Paulo, Paulinas, 1985 (capítulos 5, 6 e 7).
que se converteram em eventos nacionais. Em 1972, acor-
reram ao evento mais de mil estudantes e professores de 83 A representação brasileira nessas entidades seria posteri-
jornalismo de todo o país. Entendi que este era o momen- ormente ocupada pela INTERCOM (na ALAIC) e pela
to para lançar a idéia de uma associação nacional desti- ABECOM (na FELAFACS).
nada a congregar os estudiosos brasileiros da comunica-
ção. Convidei as principais lideranças para uma reunião 84 A conjuntura em que foi criada a INTERCOM e suas
no meu gabinete de diretor do Departamento de Jornalis- primeiras ações intelectuais foram resgatadas por FARO,
mo da ECA-USP, fundando a ABEPEC. Mas esta J. S. - A universidade fora de si: a Intercom e a organização dos
afoiteza custou-me a interrupção da carreira acadêmica estudos de comunicação no Brasil, São Paulo, INTERCOM,
na USP, pois os órgãos de segurança da ditadura militar 1992. Sua primeira manifestação acadêmica está contida
interpretaram minha iniciativa como parte de um na coletânea organizada por MARQUES DE MELO,
fantasioso projeto de reaglutinação das esquerdas uni- FADUL e LINS DA SILVA - ideologia e Poder no Ensino de
versitárias. Logo em seguida à reunião de fundação da Comunicação, São Paulo, Cortez & Moraes, 1979.
ABEPEC, comecei a ser perseguido pela agência de vigi-
lância política instalada na Reitoria da USP. Fui proibido 85 Para a compreensão histórica do papel desempenhado
de comparecer aos congressos mundiais da IAMCR e da pela ABECOM, torna-se útil a consulta ao documentário
UCLAP, realizados em Buenos Aires, e também à assem- do seu primeiro congresso nacional. Vide: KUNSCH,
bléia destinada a aprovar os estatutos da sociedade que Margarida, org. - O ensino de comunicação no Brasil: análises,
surgira por minha iniciativa. O golpe de misericórdia foi tendências e perspectivas, São Paulo, ECA-USP, 1992.
o meu enquadramento no Decreto-Lei 477, processo que
objetivava minha expulsão da vida universitária por 5 86 A plataforma de atuação da COMPÓS e sua agenda de
anos. Não fosse a solidariedade recebida de muitos ami- trabalho está esboçada na memória do seu primeiro en-
gos., dentre eles Luiz Beltrão, eu teria sido condenado contro nacional. Vide: PEREIRAA, Carlos Alberto
sem direito de defesa. Mas a sensatez do Ministro Jarbas Messeder e NETO, Antonio Fausto, orgs. - Comunicação e
Passarinho acabou por prevalecer e eu fui absolvido nes- Cultura Contemporâneas, Rio de Janeiro, Notrya Editora,
se processo kafkiano. Aconselhado por autoridades 1992.
uspianas, resolvi passar uma temporada fora do país,
obtendo uma bolsa de pós-doutorado da FAPESP. Passei 87 BELTRÃO, Luiz - “A pesquisa nos meios de comunica-
um ano estudando na University of Wisconsin. Contudo, ção e a Universidade”, Panorama atual da pesquisa em comuni-
os porões da ditadura não perdoaram minha ousadia. cação, São Paulo, Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero,
Quando retornei ao país, em 1974, para reassumir mi- 1968, p. 20-30 (mim.).
nha cátedra na ECA-USP fui surpreendido pela “cassa-
ção branca” (ato reitoral suspendendo unilateralmente o 88 MARQUES DE MELO, José - “A pesquisa em comunica-
meu contrato de trabalho, sem qualquer indenização). A ção: panorama brasileiro”, Comunicação Social: Teoria e Pes-
injustiça só foi reparada em 1979, no bojo da anistia quisa, Petrópolis, Vozes, 1971, p. 99-105.

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89 AMORIM, José Salomão David de - “A pesquisa em co- 101 KUNSCH, Margarida e DENCKER, Ada, orgs. - Produção
municação”, Revista da ABEPEC, vol. l, n. 2, Brasília, Científica Brasileira em Comunicação - década de 80, São Paulo,
ABEPEC, 1975, p. 3-10. EDICON / INTERCOM, 1997.

90 CAPARELLI, Sérgio - “Situação da pesquisa em comuni- 102 MARQUES DE MELO, José - “Ciências da Comunicação
cação na América Latina e no Brasil”, Comunicação de massa no Brasil”, Teoria da Comunicação: paradigmas latino-americanos,
sem massa, São Paulo, Cortez, 1980, p. 105-113. Petrópolis, Vozes, 1998, p. 85-144.

91 PEÑUELA, Eduardo - “Comunicação”, Avaliação & pers- 103 STUMPF, Ida e CAPARELLI, Sérgio , orgs. - Teses e Disser-
pectivas, vol. 1, Brasília, CNPq, 1982, p. 428-437. tações em Comunicação no Brasil, 1992-1996, Porto Alegre,
PPGCom/UFRGS.
92 MARQUES DE MELO, José, org. - Pesquisa em Comunicação
no Brasil: tendências e perspectivas, São Paulo, Cortez/ 104 MARQUES DE MELO, José & CASTELO BRANCO,
INTERCOM, 1983. Samantha, orgs. - Pensamento Comunicacional Brasileiro: o gru-
po de São Bernardo, São Bernardo do Campo, UMESP, 1999.
93 MARQUES DE MELO, José, coord. - Inventário da Pesquisa
em Comunicação no Brasil: 1883-1983, São Paulo, PORT-COM 105 LOPES, Maria Immacolata V. de - “O estado da pesqui-
/INTERCOM, 1984. sa de comunicação no Brasil”, Temas contemporâneos de comu-
nicação, São Paulo, EDICON/INTERCOM, 1997, p. 16.
94 MARQUES DE MELO, José - “A pesquisa da comunica-
ção na transição política brasileira”, Comunicação e transição 106 Centro de Documentação da Comunicação nos Países de
democrática, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1985, p. 264- Língua Portuguesa, órgão criado pela INTERCOM em
280. 1982 para sistematizar as bibliografias de comunicação
que vinham sendo realizadas pela entidade desde 1978.
95 DENCKER, Ada de Freitas Manetti - “A configuração da
pesquisa em comunicação no Brasil” (dissertação de 107 STUMPF, Ida e CAPARELLI, Sergio - Teses e Dissertações
mestrado), São Paulo, ECA-USP, 1988. em Comunicação no Brasil (1992-1996), Porto Alegre, UFRGS/
PPGCom, 1998, p. 6.
96 CAPARELLI, Sérgio e MARQUES DE MELO, José - “A
pesquisa em comunicação de massa no Brasil: avaliação 108 LOPES, Maria Immacolata V. de - “O estado da pesqui-
e perspectivas (CNPq)”, Revista Brasileira de Comunicação, n. sa de comunicação no Brasil”, Temas contemporâneos de comu-
62/63, São Paulo, INTERCOM, p. 5-46. nicação, São Paulo, EDICON/INTERCOM, 1997, p. 18.

97 LOPES, Maria Immacolata V. de - “Organização 109 As contribuições dos comunicólogos brasileiros ao con-
institucional da pesquisa em comunicação”, Pesquisa em gresso mundial de Bled, cidade localizada na antiga Iu-
Comunicação: formulação de um modelo metodológico, São Paulo, goslávia, hoje incrustada no território da Eslovênia, foi
Loyola, 1990, p. 61-76. reunido por MARQUES DE MELO, José em Communication
and Democracy - Brazilian Perspectives, São Paulo, ECA-USP,
98 KUNSCH, Margarida – O ensino de comunicação, São Paulo, 1991.
ABECOM, 1992.
110 A memória da participação brasileira nesse evento está
99 NETO, Antonio Fausto - “Situação da pesquisa no siste- contida na coletânea organizada por MARQUES DE
ma de pós-graduação em Comunicação”, Anais do III MELO, José em Communication for a New World, São Paulo,
Simpósio da Pesquisa em Comunicação na Região Sul, Porto Ale- ECA-USP, 1993.
gre, INTERCOM, 1995.
111 MARQUES DE MELO, José - “Destaque brasileiro em
100 LOPES, Marfia Immacolata V. de - “O estado da pesqui- Glasgow”, Imprensa, n. 132, São Paulo, Imprensa Editori-
sa de comunicação no Brasil”, Temas contemporâneos de comu- al, 1998, p. 99-101.
nicação, São Paulo, EDICON/INTERCOM, 1997, p. 13-27.

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