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DIREITO DO TRABALHO

Publicado em: 26/04/2024

Material elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações

VALE-TRANSPORTE
Beneficiários, Custeio, Transporte Próprio, Intervalo, Concessão em Dinheiro, Multas

1. Introdução
A concessão do vale transporte é regulamentada atualmente pelo Decreto n° 10.854/2021, nos artigos 106 e seguintes, segundo o qual o empregador, seja pessoa física ou
jurídica, deve fornecer ao seu empregado, de forma antecipada, o benefício que visa cobrir as despesas com deslocamento da residência para o trabalho e vice-versa.

A princípio, esse deslocamento deve ser realizado por meio de transporte coletivo público urbano municipal, intermunicipal ou interestadual, nos termos do artigo 108 do
Decreto n° 10.854/2021, o que inclui ônibus, trens, metrôs, entre outros, sendo excluídos apenas os meios de transporte seletivos e especiais.

Portanto, verifica-se que a concessão não é facultativa ao empregador, de modo que, existindo despesas por parte do empregado para o deslocamento (residência para o
trabalho e vice-versa), o empregador é obrigado a fornecer o vale-transporte.

Entretanto, deixará de ser obrigatória a concessão caso o empregador proporcione outros meios para esse deslocamento ou quando o empregado, por sua vontade, utilizar
meio próprio de transporte, conforme dispõe o artigo 109 do Decreto n° 10.854/2021.

2. Beneficiários
Como dito anteriormente, é dever do empregador pessoa física, jurídica ou a esse equiparado, o fornecimento do benefício do vale-transporte para ser utilizado no
deslocamento de ida e volta da residência para o trabalho, por meio de transporte público urbano em linhas regulares, excetuando os serviços especiais e seletivos, porventura
existentes, devendo ser observadas as tarifas fixadas pela entidade pública responsável.

Nesse ponto, destaca-se que são beneficiários do vale transporte os trabalhadores em geral, na forma do artigo 106 do Decreto n° 10.854/2021:

a) empregados (artigo 3° da CLT);

b) empregados do subempreiteiro, o subempreiteiro e o empreiteiro principal (artigo 455 da CLT);

c) trabalhadores temporários (artigo 2° da Lei n° 6.019/74);

d) atletas profissionais (Lei n° 9.615/98);

e) empregados domésticos (artigo 1° da Lei Complementar n° 150/2015);

f) empregados a domicílio, para os deslocamentos que são fundamentais para prestação do trabalho e para percepção de salários e os necessários ao desenvolvimento
das relações com o empregador.

3. Declaração
Segundo o artigo 112 do Decreto n° 10.854/2021, para ter direito à concessão do benefício, o empregado deve firmar um termo de compromisso, no qual se compromete a
utilizar o vale- transporte exclusivamente para o seu deslocamento trabalho-residência/residência-trabalho.

O referido documento deve ser escrito ou por meio eletrônico e deve conter as seguintes informações:

– indicação do endereço residencial;

– serviços e meios de transporte mais adequados ao deslocamento (residência-trabalho e vice-versa), o que abrange as modalidades de transporte coletivo público urbano
municipal, intermunicipal ou interestadual (ônibus, trens, metrôs, entre outros).

O ideal é que se atualize o banco de dados do empregador quando ocorrer alguma alteração nas informações anteriormente repassadas, que possam gerar a desnecessidade da
utilização do benefício, aumento ou diminuição de tarifas etc.

3.1. Declaração Falsa ou Uso Indevido do Vale-transporte


Como explicado previamente, a concessão do benefício de vale transporte é exclusiva para empregados que tenham custo com deslocamento residência- trabalho e vice-versa,
englobando todas as espécies de transportes coletivos públicos urbanos.

Logo, se o empregado declarar que necessita do benefício falsamente, ou prestar alguma informação que acarrete no aumento de seu valor de forma indevida, ou gere uma
destinação diferente daquela indicada na lei quanto ao vale transporte recebido, entende-se que tal conduta é irregular e fraudulenta.

Nesses casos, uma vez constatada a falta grave por parte do colaborador, o empregador pode aplicar-lhe uma advertência, suspensão ou mesmo utilizar tal conduta para
fundamentar uma rescisão por justa causa, pautada em ato de improbidade, conforme alínea “a” do artigo 482 da CLT e artigo 112, § 3° do Decreto n° 10.854/2021.

Um exemplo de tal conduta fraudulenta é o empregado que declara necessitar do vale-transporte falsamente e depois o comercializa ou concede para terceiros; ou mesmo o
empregado que declara falsamente que necessita pegar três ônibus para chegar ao trabalho e na realidade utiliza tão somente dois “passes”.

4. Custeio
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Conforme dispõe o artigo 114 do Decreto n° 10.854/2021, o custeio do vale-transporte é repartido entre empregador e empregado da seguinte forma:

a) pelo beneficiário empregado, na parcela equivalente a 6% de seu salário básico ou vencimento, excluídos quaisquer adicionais ou vantagens.

b) pelo empregador, no que exceder a 6% do salário básico ou vencimento do trabalhador.

Assim sendo, mensalmente cabe ao empregador descontar do empregado beneficiado até 6% do salário básico recebido no mês de competência, caso os valores do vale-
transporte alcancem esse patamar.

Já nos casos dos trabalhadores que sejam remunerados exclusivamente por meio de tarefas, comissões, percentagens, gratificações ou equivalentes, tais valores serão a base de
cálculo para apuração do desconto de 6% do vale-transporte, visto que não possuem um salário fixo.

Por fim, destaca-se que o desconto de 6% não é facultativo, e sim obrigatório, salvo previsão em norma coletiva que preveja um desconto menor e mais favorável ao
empregado.

Inexistindo norma coletiva específica, caso seja efetuado o pagamento do vale transporte sem o respectivo desconto de 6% do empregado, haverá o risco de aplicação de multa
administrativa, bem como de ser declarada a natureza salarial dos valores pagos em eventual reclamatória trabalhista.

4.1. Empregados com Remuneração Variável


De acordo com o artigo 117, inciso II, do Decreto n° 10.854/2021, os empregados que recebem remuneração exclusivamente por meio de tarefas, comissões, percentagens,
gratificações ou equivalentes, estes valores serão a base de cálculo para apuração do desconto de 6% do vale-transporte, uma vez que não possuem um salário fixo.

Ou seja, a remuneração variável do empregado será a base de cálculo para o desconto de 6% a título de vale-transporte na folha de pagamento do empregado.

Exemplo 1

Empregado comissionista puro no mês de março de 2024 recebeu a seguinte remuneração:

Comissões: R$ 2.000,00

DSR sobre comissões: R$ 384,61 TOTAL

= R$ 2.384,61

Logo, o desconto de vale-transporte será de R$ 2.384,61 x 6% = R$ 143,07.

Exemplo 2

Empregado horista com salário-hora de R$ 15,00 no mês de março de 2024 trabalhou por 80 horas e recebeu a seguinte remuneração: Horas trabalhadas:

R$ 1.200,00

DSR sobre as horas trabalhadas: R$ 177,78 TOTAL =

R$ 1.377,78

Logo, o desconto de vale-transporte será de R$ 1.377,78 x 6% = R$ 82,66

4.2. Despesa Inferior a 6%


Observa-se que a lei determina o desconto equivalente a 6% da remuneração do empregado, ou seja, esse é o percentual máximo a ser descontado.

Entretanto, caso o custo do deslocamento do empregado (residência-trabalho, vice-versa) seja inferior a esse percentual, o empregador só poderá efetuar o desconto específico
dos valores utilizados pelo empregado.

Exemplo

Empregado com salário de R$ 2.000,00 ficou de licença remunerada no mês de março de 2024, do dia 01.08.2024 até 30.08.2024, tendo ido trabalhar
somente no dia 31.04.2024.

Dessa forma, será necessário pagar apenas um dia de vale transporte. Valor da

tarifa do ônibus: R$ 3,85

Valor gasto com transporte no mês de agosto: R$ 7,70 (R$ 3,85 para ida e mais R$ 3,85 para o retorno) 6% sobre o

salário: R$ 120,00 (valor máximo a ser descontado do empregado)


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Oportuno esclarecer ainda que, caso a despesa com o deslocamento seja inferior a 6%, o empregado pode optar pelo recebimento antecipado do vale- transporte, sendo
esse valor integralmente descontado quando do pagamento do respectivo salário (artigo 116 do Decreto n° 10.854/2021).

4.3. Despesa Superior a 6%


No caso de a despesa do empregado ser superior a 6% do salário base da competência, os descontos devem se restringir ao percentual indicacado em lei, arcando a
empresa com o custo da diferença

Exemplo

Empregado com salário de R$ 2.000,00 que optou pelo vale-transporte, trabalha de segunda a sexta, tendo uma despesa de R$ 3,85 por dia com o transporte
coletivo (ônibus), ou seja, tem um custo total de R$ 7,70 por dia de trabalho (ida e volta).

No mês de dezembro de 2024 houve 22 dias trabalhados.

Custo total do mês com deslocamento público = R$ 169,40 (22 dias x R$ 7,70)

6% sobre o salário: R$ 120,00 (R$ 2.000,00 x 6%).

Observação: Esse último é o valor máximo que pode vir a ser descontado do empregado.

Ou seja, somente será possível descontar do empregado R$120,00, devendo o empregador arcar com o valor da diferença (R$ 49,40) a título de subsídio.

5. Transporte Próprio ou Contratado


Quando o empregador optar pelo fornecimento do deslocamento dos trabalhadores, por meios de transporte próprios ou através de terceiros, com veículos adequados ao
transporte coletivo, ou ainda quando houver a complementação do vale transporte, cumpre esclarecer que, pelo Decreto n° 10.854/2021, não há previsão acerca do desconto
de 6% sobre a remuneração.

Essa hipótese de desconto da participação do empregado era permitida pelo decreto anterior (Decreto n° 95.247/87), mas o atual, como mencionado, é omisso acerca de tal
possibilidade.

6. Intervalo Destinado à Alimentação


Não há disposição legal que obrigue o empregador a efetuar a concessão de vale-transporte no intervalo de descanso indicado no artigo 71 da CLT (intrajornada), que é de no
mínimo uma hora e no máximo duas dentro da jornada de trabalho, razão pela qual, entende-se que o benefício não cobre essas despesas.

Nesse sentido, tem-se ainda o posicionamento já adotado anteriormente pela Secretaria do Trabalho através do Precedente Administrativo n° 80, conforme transcrito a seguir:

VALE TRANSPORTE. NÃO CONCESSÃO PARA DESLOCAMENTO DO EMPREGADO NO PERÍODO DO INTERVALO INTRAJORNADA.
INFRAÇÃO
INEXISTENTE. Não se depreende da Lei n° 7.418/85, alterada pela Lei n° 7.619/87, que o empregador esteja obrigado ao fornecimento do vale transporte para
a ida e retorno do empregado à sua residência para refeição.

Entretanto, é importante que se verifique o teor da norma coletiva da categoria, existindo previsão mais favorável ao empregado em convenção ou acordo
coletivo, essa deve ser observada, por força do inciso XXVI do artigo 7° da Constituição Federal e do artigo 611-A da CLT.
Por outro lado, o empregador pode conceder, por mera liberalidade, o vale-transporte no período de repouso destinado à alimentação, desde que arque com os custos.

7. Concessão de Vale-transporte em Dinheiro – Vedação


Dispõe o artigo 110 do Decreto n° 10.854/2021 que é vedado ao empregador efetuar a antecipação do vale transporte em dinheiro, salvo seja observada a falta ou
insuficiência de estoque de vale-transporte necessário ao atendimento da demanda e ao funcionamento do sistema.

Nesse caso, o empregado que tenha gastado valores por conta própria para deslocamento de sua residência para o trabalho e vice-versa será ressarcido pelo empregador
diretamente na folha de pagamento.

Para o empregado doméstico, a obrigação pode ser substituída por dinheiro a critério do empregador para pagamento dos respectivos valores das passagens necessárias ao
deslocamento residência-trabalho e vice-versa, mediante o recibo (artigo 19, parágrafo único, da Lei Complementar n° 150/2015).

7.1. Posição da RFB – Contribuição Previdenciária sobre o Vale-transporte


Em 30.06.2020 foi publicado o Decreto n° 10.410/2020, o qual alterou o Decreto n° 3.048/99, incluindo ao texto do artigo 214, § 9°, do Decreto n° 10.410/2020 uma
disposição específica sobre o vale transporte:

Art. 214. (...)


§ 9° Não integram o salário-de-contribuição, exclusivamente:
VI - a parcela recebida a título de vale-transporte, ainda que paga em dinheiro, na forma da legislação própria;
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Diante do disposto acima, ainda que haja a concessão do vale-transporte em dinheiro através da folha de pagamento (apenas nos casos autorizados), esses valores não são
utilizados na base de cálculo da contribuição previdenciária, pois não integram o salário de contribuição.

Vale destacar que, para não haver a incidência do INSS, o valor concedido deve ser correspondente estritamente ao que se faz necessário ao deslocamento do empregado,
conforme posicionamento já exarado pela Receita Federal, através das Solução de Consulta COSIT n° 313/19 e Solução de Consulta DISIT n° 4.023/21, transcritas abaixo:

SOLUÇÃO
SOLUÇÃO DE CONSULTA
DE CONSULTA COSIT À
VINCULADA N°SOLUÇÃO
313, DE 19DE
DECONSULTA
DEZEMBRON°DE
1432019
- COSIT, DE 27 DE SETEMBRO DE 2016.
Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias. VALE-TRANSPORTE. VALE-COMBUSTÍVEL.
ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAS PREVIDENCIÁRIAS VALE-TRANSPORTE. VALE-COMBUSTÍVEL. NÃO INCIDÊNCIA.
NÃO INCIDÊNCIA.

Não incide
Não incide contribuição
contribuição previdenciária
previdenciária sobre sobre os valores
os valores pagospagos a título
a título de vale-transporte
de vale-transporte por meio
por meio de vale-combustível
de vale-combustível ou semelhante.
ou semelhante. A nãoAincidência
não incidência
da da
contribuição está limitada ao valor equivalente ao estritamente necessário para o custeio do deslocamento residência-trabalho e vice-versa,
contribuição está limitada ao valor equivalente ao estritamente necessário para o custeio do deslocamento residência-trabalho e vice-versa, em transporte em transporte
coletivo,
coletivo, conforme
conforme prevê prevê o art.
o art. 1° da 1°
Leida
n°Lei n° 7.418,
7.418, de 16 de
de 16 de dezembro
dezembro de 1985.
de 1985.

O empregador
O empregador somente
somente poderápoderá suportar
suportar a parcela
a parcela que exceder
que exceder a seis apor
seiscento
por cento do salário
do salário básicobásico do empregado.
do empregado. Caso Caso
deixe deixe de descontar
de descontar este percentual
este percentual do do
saláriosalário do empregado,
do empregado, ou desconte
ou desconte percentual
percentual inferior,
inferior, a diferença
a diferença deverádeverá ser considerada
ser considerada como como
saláriosalário indireto
indireto e sobree sobre ela incidirá
ela incidirá contribuição
contribuição previdenciária
previdenciária e e
demaisdemais tributos.
tributos.

Dispositivos
Dispositivos Legais:
Legais: Lei n°Lei n° 7.418,
7.418, de 16 de
de 16 de dezembro
dezembro de 1985,
de 1985, artigosartigos 1° eAto
1° e 4°; 4°;Declaratório
Ato Declaratório
n° 4, n°
de 4,
31 de
de 31 de março
março de 2016,
de 2016, da Procuradoria
da Procuradoria Geral Geral
da da
Fazenda
Fazenda Nacional;
Nacional; SúmulaSúmula
AGU AGU
n° 60,n°
de60, dedezembro
8 de 8 de dezembro de 2011.
de 2011.
SOLUÇÃO
SOLUÇÃODE CONSULTA
DE CONSULTAVINCULADA À SOLUÇÃO
SRRF04/DISIT DE CONSULTA
N° 4.023, DE 16 DE AGOSTO N° 313 - DE
COSIT,
2021DE 19 DE DEZEMBRO DE 2019.
ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS VALE-TRANSPORTE. PAGAMENTO EM PECÚNIA. NÃO INCIDÊNCIA.

Não incide contribuição previdenciária sobre os valores pagos em dinheiro a título de vale-transporte. A não incidência da contribuição está limitada ao valor
pago em dinheiro estritamente necessário para o custeio do deslocamento residência-trabalho e vice-versa, em transporte coletivo, conforme prevê o art. 1° da
Lei n° 7.418, de 1985.

Dispositivos Legais: Lei n° 10.522, de 2002, art. 19, inciso II e § 4°; Ato Declaratório n° 4, de 31 de março de 2016, da Procuradoria Geral da Fazenda
Nacional. Súmula AGU n° 60, de 8 de dezembro de 2011.

7.2. Posição da Secretaria de Inspeção do Trabalho – Incidência do FGTS


Conforme mencionado no item anterior, ainda que a empresa tenha o respaldo de não recolher a contribuição previdenciária sobre o vale-transporte quando pago em dinheiro,
nos moldes já delineados, esse posicionamento não se aplica em relação ao FGTS, bem como quanto à integração dos referidos valores no 13° salário e nas férias do
empregado.

Inclusive a Secretaria de Inspeção do Trabalho tem exigido o recolhimento do FGTS sobre o valor do vale-transporte quando pago em dinheiro e, caso haja fiscalização, pode
o Auditor-Fiscal do Trabalho proceder com as autuações pertinentes, nos termos da Instrução Normativa MTP n° 002/2021.

Ainda, vale salientar que, em eventual reclamatória trabalhista, existe o risco de ser decretado pelo juiz da causa a natureza salarial da parcela caso o pagamento seja efetuado
em dinheiro, o que poderá ocasionar reflexos salariais em DSR, férias, 13° salário, FGTS etc.; ainda que não haja incidência de INSS.

Portanto, cabe ao empregador analisar os riscos apresentados e, por meio do seu poder diretivo (artigo 2° da CLT), decidir se pagará ou não o vale-transporte em dinheiro aos
empregados.

8. Não Integração Salarial


O vale-transporte, desde que concedido dentro dos termos legais, não possui natureza salarial, razão pela qual não integra a remuneração para qualquer fim, o que inclui
FGTS e INSS, bem como não configura rendimento tributável, conforme dispõe o artigo 111 do Decreto n° 10.854/2021.
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8.1. Auxílio-combustível
Entende-se com o auxílio-combustível o benefício concedido pelo empregador ao seu empregado, seja em dinheiro ou mesmo cartão, em razão da utilização de veículo
próprio.

O auxílio-combustível em si não é ilícito, entretanto, para não ser entendido como uma verba de natureza salarial, e sim uma ajuda de custo, é necessário que o empregado
beneficiado utilize os valores para a realização de seu serviço, ou seja, os utilize para a realização de seu trabalho, como é o caso do vendedor externo que utiliza seu próprio
veículo.

É muito comum os empregadores buscarem “converter” os valores de vale-transporte em auxílio-combustível a fim de beneficiar os empregados que optam por não utilizar o
transporte público para o deslocamento de suas residências até o trabalho e vice-versa. Ocorre que, nesse caso, tal conduta encontra-se vedada pelo artigo 110 do Decreto n°
10.854/2021.

Logo, tem-se duas possíveis consequências dessa conversão:

– Na primeira, para os empregados que necessitam e utilizam o transporte público: caso a empresa conceda vale-transporte em dinheiro ou através de maneira não prevista no
Decreto n° 10.854/2021 (convênio com postos de combustíveis ou fornecimento de vale combustível), ainda assim estaria obrigada
a conceder o vale transporte em ticket ou cartão, de modo que o empregado teria direito a ambos os benefícios, um por determinação legal (vale-transporte)
e o outro por ter sido concedido por liberalidade pelo empregador, integrando sua remuneração.
– Na segunda, para os empregados que não utilizam o transporte público: caso a empresa conceda vale-transporte em dinheiro, tais valores terão natureza salarial, gerando a
necessidade de aplicação de reflexos em férias, 13° salário, INSS, FGTS etc.

Caso haja a concessão do auxílio-combustível por meio de norma coletiva (convenção coletiva ou acordo coletivo), por força do artigo 611-A da CLT, tal previsão é
válida.

9. Desconto por Ausência do Empregado


Conforme dispõem os artigos 107 e 109 do Decreto n° 10.854/2021, o empregador está obrigado a adquirir o vale-transporte de forma antecipada em quantidade e tipo de
serviço que melhor se adequar ao deslocamento do beneficiário.

Assim, no caso de faltas durante o mês, independentemente do motivo para tanto, sejam faltas justificadas ou injustificadas, uma vez que não houve qualquer custo para
deslocamento do empregado para o trecho residência-trabalho e vice-versa, poderá o empregador compensar esses dias de falta no mês subsequente.

Em outras palavras, o empregador irá verificar o saldo não utilizado no mês em que o empregado faltou ao trabalho e, no momento em que tiver que adiantar os valores do
vale-transporte do mês seguinte, efetuar o pagamento a menos, pois o empregado ainda pode utilizar os “passes” inutilizados do mês anterior.

Nesse ponto, é importante lembrar que tal conduta não se encontra expressa na legislação, mas como já dito previamente o empregado não pode utilizar os valores
depositados do vale transporte para outra coisa que não cobrir os custos de seu deslocamento para o trabalho (ida e volta). Assim, mesmo em caso de faltas, esse é o
procedimento mais lógico e que não ensejará a utilização indevida da diferença de valores pelo empregado.

Exemplo

No mês de março de 2024, o empregador adianta o vale-transporte para o empregado com 42 “passes”, que seriam para o seu deslocamento em 21 dias úteis de
trabalho.

Entretanto, o empregado falta um dia no mês. Consequentemente, ele não utiliza 2 “passes” dos 42 depositados.

Logo, para o mês de abril de 2024, ao invés de adiantar 46 passes (para percurso de ida e volta em 23 dias úteis), o empregador irá depositar somente a diferença
computado o que sobrou do mês passado, ou seja: 44 (46-2).

9.1. Desconto em Rescisão


Pela Portaria MTE n° 1.057/2012, era conferida ao empregador a possibilidade de descontar o valor do vale-transporte adiantado e não restituído (campo 106) na ocasião de
rescisão do contrato. No entanto, a referida Portaria foi revogada pela Portaria MTP n° 671/2021, e a norma vigente não traz previsão a respeito.

No entanto, mesmo que não tenha disposição expressa, o artigo 114 do Decreto n° 10.854/2021 autoriza o desconto do empregado no percentual de 6%, conforme já
explanado nos itens acima.

10. Alteração do Valor da Tarifa de Vale-transporte


Ocorrendo a alteração do valor da tarifa de transporte, há duas hipóteses que podem ser adotadas, trazidas pelo artigo 131 do Decreto 10.854/2021, quais sejam:

a) o usuário (nesse caso o empregado) poderá utilizar o saldo no prazo estabelecido pela concedente (a empresa de transporte);

b) sem qualquer custo para o empregador, ele poderá realizar a troca do vale-transporte, observando o prazo de 30 dias a partir da alteração do valor da tarifa.

11. Multa Administrativa


Em caso de não serem observadas as normas legais referentes ao vale-transporte, o empregador estará sujeito ao pagamento de multa administrativa a ser aplicada pela
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fiscalização do Ministério do Trabalho e Previdência, no valor de R$ 170,26 por empregado prejudicado, conforme consta no Anexo I da Portaria MTP n° 667/2021.

Esse valor poderá ser dobrado em caso de reincidência, conforme inciso V do artigo 3° da Lei n° 7.855/89.

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