Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Material elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações
VALE-TRANSPORTE
Beneficiários, Custeio, Transporte Próprio, Intervalo, Concessão em Dinheiro, Multas
1. Introdução
A concessão do vale transporte é regulamentada atualmente pelo Decreto n° 10.854/2021, nos artigos 106 e seguintes, segundo o qual o empregador, seja
pessoa física ou jurídica, deve fornecer ao seu empregado, de forma antecipada, o benefício que visa cobrir as despesas com deslocamento da residência
para o trabalho e vice-versa.
A princípio, esse deslocamento deve ser realizado por meio de transporte coletivo público urbano municipal, intermunicipal ou interestadual, nos termos do
artigo 108 do Decreto n° 10.854/2021, o que inclui ônibus, trens, metrôs, entre outros, sendo excluídos apenas os meios de transporte seletivos e especiais.
Portanto, verifica-se que a concessão não é facultativa ao empregador, de modo que, existindo despesas por parte do empregado para o deslocamento
(residência para o trabalho e vice-versa), o empregador é obrigado a fornecer o vale-transporte.
Entretanto, deixará de ser obrigatória a concessão caso o empregador proporcione outros meios para esse deslocamento ou quando o empregado, por sua
vontade, utilizar meio próprio de transporte, conforme dispõe o artigo 109 do Decreto n° 10.854/2021.
2. Beneficiários
Como dito anteriormente, é dever do empregador pessoa física, jurídica ou a esse equiparado, o fornecimento do benefício do vale-transporte para ser
utilizado no deslocamento de ida e volta da residência para o trabalho, por meio de transporte público urbano em linhas regulares, excetuando os serviços
especiais e seletivos, porventura existentes, devendo ser observadas as tarifas fixadas pela entidade pública responsável.
Nesse ponto, destaca-se que são beneficiários do vale transporte os trabalhadores em geral, na forma do artigo 106 do Decreto n° 10.854/2021:
f) empregados a domicílio, para os deslocamentos que são fundamentais para prestação do trabalho e para percepção de salários e os necessários ao
desenvolvimento das relações com o empregador.
3. Declaração
Segundo o artigo 112 do Decreto n° 10.854/2021, para ter direito à concessão do benefício, o empregado deve firmar um termo de compromisso, no qual se
compromete a utilizar o vale- transporte exclusivamente para o seu deslocamento trabalho-residência/residência-trabalho.
O referido documento deve ser escrito ou por meio eletrônico e deve conter as seguintes informações:
– serviços e meios de transporte mais adequados ao deslocamento (residência-trabalho e vice-versa), o que abrange as modalidades de transporte coletivo
público urbano municipal, intermunicipal ou interestadual (ônibus, trens, metrôs, entre outros).
O ideal é que se atualize o banco de dados do empregador quando ocorrer alguma alteração nas informações anteriormente repassadas, que possam gerar a
desnecessidade da utilização do benefício, aumento ou diminuição de tarifas etc.
Logo, se o empregado declarar que necessita do benefício falsamente, ou prestar alguma informação que acarrete no aumento de seu valor de forma
indevida, ou gere uma destinação diferente daquela indicada na lei quanto ao vale transporte recebido, entende-se que tal conduta é irregular e fraudulenta.
Nesses casos, uma vez constatada a falta grave por parte do colaborador, o empregador pode aplicar-lhe uma advertência, suspensão ou mesmo utilizar tal
conduta para fundamentar uma rescisão por justa causa, pautada em ato de improbidade, conforme alínea “a” do artigo 482 da CLT e artigo 112, § 3° do
Decreto n° 10.854/2021.
DIREITO DO TRABALHO
Publicado em: 26/04/2024
Material elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações
Um exemplo de tal conduta fraudulenta é o empregado que declara necessitar do vale-transporte falsamente e depois o comercializa ou concede para
terceiros; ou mesmo o empregado que declara falsamente que necessita pegar três ônibus para chegar ao trabalho e na realidade utiliza tão somente dois
“passes”.
4. Custeio
Conforme dispõe o artigo 114 do Decreto n° 10.854/2021, o custeio do vale-transporte é repartido entre empregador e empregado da seguinte forma:
a) pelo beneficiário empregado, na parcela equivalente a 6% de seu salário básico ou vencimento, excluídos quaisquer adicionais ou vantagens.
Assim sendo, mensalmente cabe ao empregador descontar do empregado beneficiado até 6% do salário básico recebido no mês de competência, caso os
valores do vale-transporte alcancem esse patamar.
Já nos casos dos trabalhadores que sejam remunerados exclusivamente por meio de tarefas, comissões, percentagens, gratificações ou equivalentes, tais
valores serão a base de cálculo para apuração do desconto de 6% do vale-transporte, visto que não possuem um salário fixo.
Por fim, destaca-se que o desconto de 6% não é facultativo, e sim obrigatório, salvo previsão em norma coletiva que preveja um desconto menor e mais
favorável ao empregado.
Inexistindo norma coletiva específica, caso seja efetuado o pagamento do vale transporte sem o respectivo desconto de 6% do empregado, haverá o risco de
aplicação de multa administrativa, bem como de ser declarada a natureza salarial dos valores pagos em eventual reclamatória trabalhista.
Ou seja, a remuneração variável do empregado será a base de cálculo para o desconto de 6% a título de vale-transporte na folha de pagamento do
empregado.
Exemplo 1
TOTAL = R$ 2.384,61
Exemplo 2
Empregado horista com salário-hora de R$ 15,00 no mês de março de 2024 trabalhou por 80 horas e recebeu a seguinte remuneração:
TOTAL = R$ 1.377,78
Entretanto, caso o custo do deslocamento do empregado (residência-trabalho, vice-versa) seja inferior a esse percentual, o empregador só poderá efetuar o
desconto específico dos valores utilizados pelo empregado.
DIREITO DO TRABALHO
Publicado em: 26/04/2024
Material elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações
Exemplo
Empregado com salário de R$ 2.000,00 ficou de licença remunerada no mês de março de 2024, do dia 01.08.2024 até 30.08.2024, tendo ido
trabalhar somente no dia 31.04.2024.
Valor gasto com transporte no mês de agosto: R$ 7,70 (R$ 3,85 para ida e mais R$ 3,85 para o retorno)
Considerando que os R$ 7,70 são inferiores aos R$120,00, o valor a ser descontando em folha de pagamento do empregado será de apenas R$
7,70.
Oportuno esclarecer ainda que, caso a despesa com o deslocamento seja inferior a 6%, o empregado pode optar pelo recebimento antecipado do vale-
transporte, sendo esse valor integralmente descontado quando do pagamento do respectivo salário (artigo 116 do Decreto n° 10.854/2021).
Exemplo
Empregado com salário de R$ 2.000,00 que optou pelo vale-transporte, trabalha de segunda a sexta, tendo uma despesa de R$ 3,85 por dia com
o transporte coletivo (ônibus), ou seja, tem um custo total de R$ 7,70 por dia de trabalho (ida e volta).
Custo total do mês com deslocamento público = R$ 169,40 (22 dias x R$ 7,70)
Observação: Esse último é o valor máximo que pode vir a ser descontado do empregado.
Ou seja, somente será possível descontar do empregado R$120,00, devendo o empregador arcar com o valor da diferença (R$ 49,40) a título de
subsídio.
Essa hipótese de desconto da participação do empregado era permitida pelo decreto anterior (Decreto n° 95.247/87), mas o atual, como mencionado, é
omisso acerca de tal possibilidade.
Nesse sentido, tem-se ainda o posicionamento já adotado anteriormente pela Secretaria do Trabalho através do Precedente Administrativo n° 80, conforme
transcrito a seguir:
VALE TRANSPORTE. NÃO CONCESSÃO PARA DESLOCAMENTO DO EMPREGADO NO PERÍODO DO INTERVALO INTRAJORNADA. INFRAÇÃO
INEXISTENTE. Não se depreende da Lei n° 7.418/85, alterada pela Lei n° 7.619/87, que o empregador esteja obrigado ao fornecimento do vale
transporte para a ida e retorno do empregado à sua residência para refeição.
Entretanto, é importante que se verifique o teor da norma coletiva da categoria, existindo previsão mais favorável ao empregado em convenção ou acordo
coletivo, essa deve ser observada, por força do inciso XXVI do artigo 7° da Constituição Federal e do artigo 611-A da CLT.
DIREITO DO TRABALHO
Publicado em: 26/04/2024
Material elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações
Por outro lado, o empregador pode conceder, por mera liberalidade, o vale-transporte no período de repouso destinado à alimentação, desde que arque com
os custos.
Nesse caso, o empregado que tenha gastado valores por conta própria para deslocamento de sua residência para o trabalho e vice-versa será ressarcido pelo
empregador diretamente na folha de pagamento.
Para o empregado doméstico, a obrigação pode ser substituída por dinheiro a critério do empregador para pagamento dos respectivos valores das
passagens necessárias ao deslocamento residência-trabalho e vice-versa, mediante o recibo (artigo 19, parágrafo único, da Lei Complementar n° 150/2015).
Diante do disposto acima, ainda que haja a concessão do vale-transporte em dinheiro através da folha de pagamento (apenas nos casos autorizados), esses
valores não são utilizados na base de cálculo da contribuição previdenciária, pois não integram o salário de contribuição.
Vale destacar que, para não haver a incidência do INSS, o valor concedido deve ser correspondente estritamente ao que se faz necessário ao deslocamento
do empregado, conforme posicionamento já exarado pela Receita Federal, através das Solução de Consulta COSIT n° 313/19 e Solução de Consulta DISIT n°
4.023/21, transcritas abaixo:
Não incide contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de vale-transporte por meio de vale-combustível ou semelhante. A não
incidência da contribuição está limitada ao valor equivalente ao estritamente necessário para o custeio do deslocamento residência-trabalho e
vice-versa, em transporte coletivo, conforme prevê o art. 1° da Lei n° 7.418, de 16 de dezembro de 1985.
O empregador somente poderá suportar a parcela que exceder a seis por cento do salário básico do empregado. Caso deixe de descontar este
percentual do salário do empregado, ou desconte percentual inferior, a diferença deverá ser considerada como salário indireto e sobre ela incidirá
contribuição previdenciária e demais tributos.
Dispositivos Legais: Lei n° 7.418, de 16 de dezembro de 1985, artigos 1° e 4°; Ato Declaratório n° 4, de 31 de março de 2016, da Procuradoria
Geral da Fazenda Nacional; Súmula AGU n° 60, de 8 de dezembro de 2011.
Não incide contribuição previdenciária sobre os valores pagos em dinheiro a título de vale-transporte. A não incidência da contribuição está
limitada ao valor pago em dinheiro estritamente necessário para o custeio do deslocamento residência-trabalho e vice-versa, em transporte
coletivo, conforme prevê o art. 1° da Lei n° 7.418, de 1985.
Dispositivos Legais: Lei n° 10.522, de 2002, art. 19, inciso II e § 4°; Ato Declaratório n° 4, de 31 de março de 2016, da Procuradoria Geral da
Fazenda Nacional. Súmula AGU n° 60, de 8 de dezembro de 2011.
DIREITO DO TRABALHO
Publicado em: 26/04/2024
Material elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações
Não incide contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de vale-transporte por meio de vale-combustível ou semelhante. A não
incidência da contribuição está limitada ao valor equivalente ao estritamente necessário para o custeio do deslocamento residência-trabalho e
vice-versa, em transporte coletivo, conforme prevê o art. 1° da Lei n° 7.418, de 16 de dezembro de 1985.
O empregador somente poderá suportar a parcela que exceder a seis por cento do salário básico do empregado. Caso deixe de descontar este
percentual do salário do empregado, ou desconte percentual inferior, a diferença deverá ser considerada como salário indireto e sobre ela incidirá
contribuição previdenciária e demais tributos.
Dispositivos Legais: Lei n° 7.418, de 16 de dezembro de 1985, artigos 1° e 4°; Ato Declaratório n° 4, de 31 de março de 2016, da Procuradoria
Geral da Fazenda Nacional; Súmula AGU n° 60, de 8 de dezembro de 2011.
SOLUÇÃO DE CONSULTA VINCULADA À SOLUÇÃO DE CONSULTA N° 313 - COSIT, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2019.
Inclusive a Secretaria de Inspeção do Trabalho tem exigido o recolhimento do FGTS sobre o valor do vale-transporte quando pago em dinheiro e, caso haja
fiscalização, pode o Auditor-Fiscal do Trabalho proceder com as autuações pertinentes, nos termos da Instrução Normativa MTP n° 002/2021.
Ainda, vale salientar que, em eventual reclamatória trabalhista, existe o risco de ser decretado pelo juiz da causa a natureza salarial da parcela caso o
pagamento seja efetuado em dinheiro, o que poderá ocasionar reflexos salariais em DSR, férias, 13° salário, FGTS etc.; ainda que não haja incidência de INSS.
Portanto, cabe ao empregador analisar os riscos apresentados e, por meio do seu poder diretivo (artigo 2° da CLT), decidir se pagará ou não o vale-transporte
em dinheiro aos empregados.
8.1. Auxílio-combustível
Entende-se com o auxílio-combustível o benefício concedido pelo empregador ao seu empregado, seja em dinheiro ou mesmo cartão, em razão da utilização
de veículo próprio.
O auxílio-combustível em si não é ilícito, entretanto, para não ser entendido como uma verba de natureza salarial, e sim uma ajuda de custo, é necessário que
o empregado beneficiado utilize os valores para a realização de seu serviço, ou seja, os utilize para a realização de seu trabalho, como é o caso do vendedor
externo que utiliza seu próprio veículo.
É muito comum os empregadores buscarem “converter” os valores de vale-transporte em auxílio-combustível a fim de beneficiar os empregados que optam
por não utilizar o transporte público para o deslocamento de suas residências até o trabalho e vice-versa. Ocorre que, nesse caso, tal conduta encontra-se
vedada pelo artigo 110 do Decreto n° 10.854/2021.
– Na primeira, para os empregados que necessitam e utilizam o transporte público: caso a empresa conceda vale-transporte em dinheiro ou através de
maneira não prevista no Decreto n° 10.854/2021 (convênio com postos de combustíveis ou fornecimento de vale combustível), ainda assim estaria obrigada
a conceder o vale transporte em ticket ou cartão, de modo que o empregado teria direito a ambos os benefícios, um por determinação legal (vale-transporte)
e o outro por ter sido concedido por liberalidade pelo empregador, integrando sua remuneração.
– Na segunda, para os empregados que não utilizam o transporte público: caso a empresa conceda vale-transporte em dinheiro, tais valores terão natureza
salarial, gerando a necessidade de aplicação de reflexos em férias, 13° salário, INSS, FGTS etc.
Caso haja a concessão do auxílio-combustível por meio de norma coletiva (convenção coletiva ou acordo coletivo), por força do artigo 611-A da CLT, tal
previsão é válida.
Assim, no caso de faltas durante o mês, independentemente do motivo para tanto, sejam faltas justificadas ou injustificadas, uma vez que não houve
qualquer custo para deslocamento do empregado para o trecho residência-trabalho e vice-versa, poderá o empregador compensar esses dias de falta no mês
DIREITO DO TRABALHO
Publicado em: 26/04/2024
Material elaborada conforme a legislação vigente à época de sua publicação, sujeita a mudanças em decorrência das alterações
subsequente.
Em outras palavras, o empregador irá verificar o saldo não utilizado no mês em que o empregado faltou ao trabalho e, no momento em que tiver que adiantar
os valores do vale-transporte do mês seguinte, efetuar o pagamento a menos, pois o empregado ainda pode utilizar os “passes” inutilizados do mês anterior.
Nesse ponto, é importante lembrar que tal conduta não se encontra expressa na legislação, mas como já dito previamente o empregado não pode utilizar os
valores depositados do vale transporte para outra coisa que não cobrir os custos de seu deslocamento para o trabalho (ida e volta). Assim, mesmo em caso
de faltas, esse é o procedimento mais lógico e que não ensejará a utilização indevida da diferença de valores pelo empregado.
Exemplo
No mês de março de 2024, o empregador adianta o vale-transporte para o empregado com 42 “passes”, que seriam para o seu deslocamento em
21 dias úteis de trabalho.
Entretanto, o empregado falta um dia no mês. Consequentemente, ele não utiliza 2 “passes” dos 42 depositados.
Logo, para o mês de abril de 2024, ao invés de adiantar 46 passes (para percurso de ida e volta em 23 dias úteis), o empregador irá depositar
somente a diferença computado o que sobrou do mês passado, ou seja: 44 (46-2).
No entanto, mesmo que não tenha disposição expressa, o artigo 114 do Decreto n° 10.854/2021 autoriza o desconto do empregado no percentual de 6%,
conforme já explanado nos itens acima.
a) o usuário (nesse caso o empregado) poderá utilizar o saldo no prazo estabelecido pela concedente (a empresa de transporte);
b) sem qualquer custo para o empregador, ele poderá realizar a troca do vale-transporte, observando o prazo de 30 dias a partir da alteração do valor da
tarifa.
Esse valor poderá ser dobrado em caso de reincidência, conforme inciso V do artigo 3° da Lei n° 7.855/89.