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AGROECOLOGIA

I. CONCEITO

A Agroecologia surgiu como uma alternativa para minimizar os impactos provocados pela
Revolução Verde. Durante este processo vários conceitos surgiram, e diversos autores
colaboraram para definir este conhecimento, entre eles temos:

“Segundo Gliessman, 2000, a agroecologia corresponde a aplicação dos conceitos e


princípios da ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis”. (Jorge, R.
T. de L.; Marco Antonio, B.F., 2006).

“De acordo com Altiere, 1995, é uma ciência ou disciplina científica que apresenta uma
série de princípios, conceitos e metodologias para estudas, analisar, dirigir, desenhar e
avaliar agroecossistemas, com o propósito de permitir a implantação e o desenvolvimento
de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade no curto, médio e longo
prazo.”( Caporal, Francisco R.; José A. Costabeber, 2000).

“Um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de


desenvolvimento rural e de agricultura convencionais para estilos de desenvolvimento rural
de agriculturas sustentáveis.”(Caporal, Francisco R.; José A. Costabeber, 2007).

“Uma valorização do conhecimento tradicional como base para a evolução dos processos
tecnológicos utilizados. Um redesenho dos sistemas de produção, com o reconhecimento da
importância de diferentes interações ecológicas para a produção agrícola de forma a
minimizar a necessidade de insumos externos ao agroecossistemas. (Araújo, João Batista
Silva; Fonseca, Maria F. de A. Costa, 2005).

II. HISTÓRICO

Agricultura convencional teve um avanço a partir do século XIX com o surgimento


da “Lei do Mínimo” postulada por Justus Von Liebig (1803-1873). Segundo esta teoria as
plantas podiam desenvolver-se até a maturidade na ausência de matéria orgânica na medida
em que estas utilizavam para sua nutrição elementos minerais.
De acordo com o autor, para Liebig os rendimentos dos cultivos agrícolas era função
diretamente proporcional à quantidade de nutrientes minerais fornecidos às plantas, sendo
possível calculá-la.
Relata ainda o autor, que independente dos equívocos, como a de que os fertilizantes
orgânicos seriam inúteis, as conclusões de Liebig fizeram com que a monocultura se
viabilizasse sem a necessidade do emprego dos métodos tradicionais de fertilizantes

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orgânicos. Desta forma, a química agrícola foi amplamente disseminada pelo mundo deste o
final do século XIX e durante o século XX.
Com a Revolução Verde a agricultura convencional atingiu aumentos inequívocos de
produtividade, causando sérios problemas ambientais. (Araújo, João B. & Fonseca, Maria F
de A. C., 2005).
Para tentar solucionar os problemas ocasionados pela Revolução Verde, buscaram-se
alternativas menos impactantes ao meio ambiente. Na Europa surgem a Agricultura
Biodinâmica, iniciada por Rudolf Stein em 1924, a agricultura Orgânica, criada por Albert
Howard entre 1925 e 1930, e a Agricultura Biológica, idealizada por Hans Muller no
mesmo período. (Luciano, Mattos et al, 2006).
Em 1935, surge no Japão a Agricultura Natural, fundamentada nas idéias de Fukuoka
e Mokiti Okada. A permacultura, a Agricultura Ecológica, a Agricultura Ecologicamente
apropriada, a agricultura Regenerativa, a Agricultura de Baixos Insumos, a Agricultura
Renovável, Sunshine, Mazdaznan e Macrobiótica foram outras correntes citadas pelo autor.
Posteriormente, em 1970, começa a se desenvolver a experiência da Agricultura
Ecológica. Já em 1980, com a realização dos Encontros Brasileiros de Agricultura
Alternativa, se desencadeiam vários projetos de produção, bem como a mobilização de
organizações de agricultores ecológicos, relata o autor.
Assim sendo, estas foram as correntes que influenciaram o surgimento deste novo
modelo de agricultura, que procura produzir alimentos de forma mais sustentável.

III. PRINCÍPIOS E CONCEITOS DAS DIFERENTES CORRENTES

A partir da Década de 1920, vários movimentos contrários ao modelo agroquímico


surgiram formando diferentes correntes favoráveis aos processos biológicos e que
valorizavam a adição de matéria orgânica ao solo. ( João B. S. Fonseca; Costa, Maria F. A.,
2004). Dentro deste contexto, transcrevemos as principais correntes citadas pelo autor
referenciado:

3.1. Agricultura orgânica

Originou com Sir Albert Howard, agrônomo inglês que, trabalhando na Índia, no
período de 1899 a 1940, teve contato com uma forma de agricultura que estava baseada na
manutenção de níveis elevados de matéria orgânica no solo. Desenvolveu o processo Indore
de compostagem. ( João B. S. Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).
Os trabalhos de Albert Howard ressaltaram a importância da matéria orgânica nos
processos produtivos e mostraram que o solo não deve ser entendido apenas como um
conjunto de substâncias, tendência proveniente da química analítica, pois nele ocorre uma
série de processos vivos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas. (Henz, Gilmar P.;
Flávia, A. A; Resende, Francisco V, 2007).
Ressalta-se que a agricultura orgânica foi difundida nos EUA, em 1940. Tendo como
base da agricultura o manejo do solo com o uso da compostagem em pilhas, de plantas de
raízes profundas, capazes de explorar as reservas minerais do subsolo, e da atuação de
micorrizas na profundidade e “saúde das culturas”. (Henz, Gilmar P.; Flávia, A. A; Resende,
Francisco V, 2007).

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Assim sendo, a Agroecologia surge como uma ciência que norteia os sistemas
orgânicos de produção, ao passo que a agricultura orgânica é a aplicação prática dos
conhecimentos gerados pela agroecologia e abrange todas as linhas de base ecológica, como
biodinâmica, natural, conservacionista. (Henz, Gilmar P.; Flávia, A. A; Resende, Francisco
V, 2007).
Sr. Claudelino – Cidade de Terezópolis-GO

Plantio orgânico de cenoura.

Sr. Néri – Fazenda Agroecológica Santa Branca – Terezópolis-GO


Capim elefante como
quebra-vento.

Repolho consorciado com abobrinha


orgânicos.

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Plantio de repolho e alface orgânicos.
3.2. Agricultura biodinâmica

Criada em 1924, a partir do trabalho de Rudolf Steiner, fundador da antroposofia


(conhecimento do ser humano). A agricultura biodinâmica apresenta um forte foco
filosófico e espiritual, trabalhando com as energias que criam e mantém a vida, e com certos
princípios que garantem solos e plantas sadios. Procura equilíbrio e harmonia entre cinco
elementos básicos: terra, plantas, animais, influências cósmicas e o homem. ( João B. S.
Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).
Utiliza-se de preparados biodinâmicos borrifados sobre as plantas ou adicionados aos
adubos, que é o primeiro ponto que mais distingue este sistema das demais correntes aqui
comentadas. Ressalta-se ainda que as atividades agrícolas sejam realizadas de acordo com
um calendário astrológico ( João B. S. Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).

Fonte: www.ufg.br

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3.3. Agricultura biológica

A Agricultura biológica foi criada na década de 1930, pelo suíço Hans Peter Muller
que a partir de trabalhos com fertilidade do solo e microbiologia, estabeleceu os princípios
da agricultura organo-biológica. Com forte cunho sócio-econômico e político, preocupando-
se com questões relacionadas à autonomia do agricultor e à comercialização direta, somente
teve uma difusão maior na década de 1960, quando o médico austríaco Hans Peter Rusch,
interessado nas relações entre dieta alimentar e saúde humana, sistematizou e divulgou suas
idéias. ( João B. S. Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).
Este sistema agrícola tem como princípio primeiro o fato de que a agricultura tem
como base principal a ciência biológica, sendo definida como um sistema que tenta manter o
equilíbrio ambiental. A manutenção da fertilidade do solo e o controle de pragas e doenças
são feitos pelo uso de processos e ciclos naturais, com um gasto somente moderado de
energia e recursos, mantendo uma boa produtividade. (João B. S. Fonseca; Costa, Maria F.
A., 2004).
A agricultura organo-biológica teve um grande desenvolvimento na França, sendo
denominada agricultura biológica. Claude Aubert enfatizava a importância da manutenção
da saúde dos solos para a manutenção da saúde das plantas e. assim, dos alimentos que
teriam, em conseqüência, seu valor nutritivo preservado, cunhando a idéia de valor
biológico dos alimentos e sua importância para a saúde humana. (João B. S. Fonseca; Costa,
Maria F. A., 2004).
O trabalho de Claude Aubert foi influenciado pelas idéias do biólogo francês Francis
Chaboussou em sua teoria da trofobiose em que este, partindo da preocupação com a
proteção das culturas do ataque de fitoparasitas, volta-se mais sobre a planta doente que
sobre o agente causal direto da doença. De acordo com Chaboussou, a análise volta-se então
para a questão da nutrição vegetal equilibrada e que tenha por base um solo vivo como
forma de se obter resistência às fitomoléstias. O autor afirma ainda que a grande maioria das
fitomoléstias originaram-se do tratamento de outras doenças. (João B. S. Fonseca; Costa,
Maria F. A., 2004).

Fonte: www.cf-sebastiao-gama.rcts.pt/.../trabal22.jpg

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3.4. Agricultura natural

Esta corrente tem um forte cunho filosófico, tendo suas bases sido estabelecidas
como um dos alicerces de uma religião (Igreja Messiânica), criada pelo filósofo japonês
Mokiti Okada, por volta de 1930. Seu princípio fundamental é que as atividades agrícolas
devem respeitar o meio ambiente. (João B. S. Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).
Segundo Myasaka & Nakamura, 1989, a Agricultura Natural é definida como um
sistema de exploração agrícola que se fundamenta no emprego de tecnologias alternativas
que procuram tirar o máximo proveito da natureza, isto é, da ecologia e dos recursos
naturais locais.(João B. S. Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).
De acordo com o autor referenciado as técnicas de cultivo da agricultura natural
fundamentam-se no método natural de formação do solo, contando com a força da natureza
e com todos os conhecimentos técnicos científicos adquiridos ao longo da evolução humana.
Assim, preconiza-se na agricultura natural a adoção de um sistema de exploração agrícola
que vem acelerar o processo de reversão do solo desgastado. Essa recuperação do solo é
processada durante a fase de exploração agrícola, afim de que o trabalho de reversão não
seja antieconômico. (João B. S. Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).
Posteriormente, Masanobu Fukuoka defendeu a ideia de artificializar o menos
possível o sistema de produção agrícola, mantendo este o mais parecido possível com o
sistema natural anterior.
Desta forma, estabeleceu os seguintes princípios:
1) Não cultivar o solo;
2) Não utilizar fertilizantes;
3) Não capinar;
4) Não utilizar agrotóxico.
O objetivo é de aproveitar os processos que já ocorrem espontaneamente na natureza,
com menor gasto possível de energia.

Método Agricultura Natural (Sem Adubos)

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Fonte: anjosdaagricultura.zip.net

3.5. Agricultura alternativa

Desenvolvida por Robert Rodale, nos E.U.A., no início da década de 1980, ao


estudar os processos de regeneração dos sistemas agrícolas ao longo do tempo, sendo um
termo ligado à possibilidade de produzir recuperando os solos. (João B. S. Fonseca; Costa,
Maria F. A., 2004).
Segundo o autor, o termo Agricultura Alternativa surgiu a partir da década de 70. Os
sistemas alternativos são em geral, diversificados e enfatiza o manejo; as ligações
biológicas, como as existentes entre a praga e o predador, os processos naturais como a
fixação biológica de nitrogênio ao invés de métodos químicos intensivos.
Relata ainda o autor, que o objetivo é sustentar e intensificar ao invés de reduzir e
simplificar as interações biológicas, das quais depende a produção agrícola.

Sistema alternativo de produção em capoeiras sem uso de fogo sendo implantado em


Santa Luzia do Paruá-MA

Fonte: www.ma.gov.br/dados/imagens/Foto_1_-_Sistema_..

3.6. Agricultura ecológica

A agricultura ecológica surge ao final dos anos 70 e parte de uma visão unitária e
sistêmica, isto é, de uma visão de conjunto, na qual a propriedade agrícola é encarada como
uma “Unidade Funcional” de um sistema maior – a natureza, e propõe soluções alternativas
aos modelos hoje em dia ensinados e praticados quase que globalmente. (João B. S.
Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).

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Tem a Unidade de produção agrícola como organismo independente, trata, por
exemplo, fertilidade do solo e saúde das plantas como fatores inseparáveis.
De acordo com Lutzenberger, 1983, a preocupação fundamental do agricultor
ecológico é a melhoria e manutenção da fertilidade natural do solo, sabendo que esta está
muito relacionada com sua micro vida, possibilitando a obtenção de plantas saudáveis, e,
portanto, em condições de suportarem e reagirem a pragas e agentes patogênicos. (João B.
S. Fonseca; Costa, Maria F. A., 2004).

A vantagem do sistema ecológico é conciliar a produção comercial com a preservação


ambiental. "Minha plantação está no meio das árvores", explica o assentado
Benjamim Muniz,

Fonte: www. agrosoft.org.br/agroarquivos/1212927221.jpg

3.7. Permacultura

Foi desenvolvido na Austrália por Bill Mollison, nas décadas de 1970 e 1980,
procura estabelecer um sistema de manejo permanente, com cultivo alternado de gramíneas
e leguminosas, e a manutenção da palha como cobertura de solo.
A partir de uma visão holística da agricultura, procura integrar a unidade de produção
agrícola e o ecossistema como um modelo de sucessão de cultivos, procurando aliar
maximização da produção e conservação dos recursos naturais. (João B. S. Fonseca; Costa,
Maria F. A., 2004).

Trata-se de uma metodologia para o desenvolvimento de comunidades sustentáveis, que


também emprega práticas ecologicamente corretas na agricultura familiar.
Sebrae firmou parceria com o Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (Ipec), que fica
em Pirenópolis (GO). Com isso, cerca de 100 técnicos e consultores do Sebrae que atuam no programa
Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais) foram treinados em Permacultura;

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Fonte: www.fbb.org.br/.../imagem/1183123372796.jpg

IV. TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA

A transição agroecológica é o processo de conversão nas formas de manejo e gestão


dos agroecossistemas, de forma a promover a passagem de um sistema de produção
convencional para outro sistema de produção que incorpore os princípios, métodos e
tecnologias com base mais ecológicas. Este processo de ecologização implica não somente
uma maior racionalização produtiva em base às especificidades biofísicas de cada
agroecossistema, mas também uma mudança de atitude e valores dos atores sociais em
relação ao manejo dos recursos naturais e à conservação do meio ambiente. (Costabeber,
José A, 1998).
De acordo com Gliessman, 2000, este processo passa por uma transição interna e
outra externa. A interna refere-se a redução e racionalização do uso de insumos químicos,
reduzindo os custos de produção; substituição de insumos químicos por outros de origem
biológica, reduzindo a níveis mínimos os impactos ambientais; o manejo da biodiversidade
e o redesenho dos sistemas produtivos. (Mattos et al, 2006). Já a externa necessita de um
conjunto de condições mais amplas a ser construído pela sociedade e pelo Estado para que
ela ocorra, tais como: a expansão da consciência pública, a organização dos mercados e
infra-estrutura, as mudanças institucionais na pesquisa, ensino e extensão, a formulação de
políticas públicas com enfoque agroecológico e as inovações referentes legislação
ambiental. (Mattos et al, 2006).
Desta forma, a transição interna aos sistemas de produção não teria sentido sem uma
mudança geral nos padrões de desenvolvimento. Políticas de crédito e extensão rural,
pesquisa agropecuária e floresta e reforma agrária são condições fundamentais para avançar
à sustentabilidade plena e duradoura. (Mattos et al, 2006).

V. A AGROECOLOGIA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A Agroecologia, a partir do enfoque sistêmico adota o agroecossistema como


unidade de análise, tendo como propósito, em última instância, proporcionar as bases

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científicas (princípios, conceitos e metodologias) para apoiar o processo de transição do
atual modelo de agricultura convencional para estilos de agricultura sustentáveis. (Caporal,
Francisco R; José A. Costabeber, 2007).
Dentro deste contexto é de fundamental importância entender o que é ecossistema e
agroecossistemas:

“Ecossistema é compreendido como o sistema natural, formado por um conjunto de


organismos que busca o equilíbrio, que ainda não foi artificializado pela intervenção
humana”. (Jorge, R. T. de L.; Marco Antonio, B.F ).

“Segundo Guzmán, 2000, a agroecossistema é um ecossistema artificializado pela ação


humana, para obter produtos com finalidade alimentares e de mercado”. (Jorge, R. T. de
L.; Marco Antonio, B.F ).

Desta forma, quando se refere a Agroecologia, nos referimos a contribuições que vão
muito além de aspectos meramente tecnológicos ou agronômicos de produção, incorporando
dimensões mais amplas e complexas, que incluem tanto variáveis econômicas, sociais e
ambientais, como variáveis culturais, políticas e éticas da sustentabilidade. (Caporal,
Francisco R; José A. Costabeber, 2007).
Dentro desta perspectiva, a Agroecologia se consolida como enfoque científico na
medida em que este campo de conhecimento se nutre de outras disciplinas científicas, assim
como de saberes, conhecimentos e experiências dos próprios agricultores, o que permite o
estabelecimento de marcos conceituais, metodológicos e estratégicos com maior capacidade
para orientar não apenas o desenho e manejo de agrossistemas sustentáveis, mas também
processos de desenvolvimento rural sustentável. (Caporal, Francisco R; José A. Costabeber,
2007).
Segundo o autor, a agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico,é
aquela que, tendo como base uma compreensão holística dos agroecossistemas, seja capaz
de entender, de maneira integrada, os seguintes critérios:
- baixa capacidade de insumos comerciais;
- uso de recursos renováveis localmente acessíveis;
- utilização dos impactos benéficos ou benignos do meio ambiente local;
- aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes que a dependência da intensa
ou tentativa de controle sobre o meio ambiente;
- manutenção a longo prazo da capacidade produtiva;
- preservação da diversidade biológica e cultural;
- utilização do conhecimento e da cultura da população local;
- produção de mercadorias para o consumo interno e para a exportação.
Desta forma a Agroecologia surge como uma alternativa viável para o
desenvolvimento rural e para alcançar a sustentabilidade dos ecossistemas. Ela adota como
princípios básicos a menor dependência possível de insumos externos e a conservação dos
recursos naturais.

VI. A AGROECOLOGIA E A EXTENSÃO RURAL

A Política Nacional de ATER frente aos desafios impostos pela necessidade de


implantar estratégias de produção agropecuária compatíveis com os ideais do

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desenvolvimento sustentável. Propõem uma mudança no modelo extencionista baseado na
Teoria da Difusão de Inovações e nos tradicionais pacotes da “Revolução Verde”,
substituindo-os por novos enfoques metodológicos, que sirvam como base para que a
extensão rural pública possa alcançar novos objetivos.
Dentro desta perspectiva, estabeleceu-se como princípio adotar uma abordagem
multidisciplinar e interdisciplinar, estimulando a adoção de novos enfoques metodológicos
participativos e de um paradigma tecnológico baseado nos princípios da Agroecologia.
A rede temática de Agroecologia foi criada para apoiar e implementar a Política
Nacional de Ater e tem como ações: incentivar estratégias de transição agroecológicas;
sistematizar experiências exitosas e propor ações nos convênios de ATER voltados ao tema
da Agroecologia.
No Estado de Goiás, a Instituição responsável por implantar a Política Nacional de
Ater é a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás-SEAGRO,
sendo a Supervisão de Agroecologia e Meio Ambiente a responsável pelas ações relativas a
Agroecologia, tendo como atividades capacitação de técnicos e produtores rurais em
agroecologia, sistematização de experiências e participação nas discussões da rede temática
de agroecologia do sistema ATER.

VII AGROFLORESTA IMPLANTAÇÃO

Porque o uso de SAFs

- alta densidade de pequenas propriedades em certas regiões;


- bacias hidrográficas desordenadas e que servem para abastecimento para pequenos e grandes
municípios;
- êxodo rural decorrente de grandes áreas com agricultura intensiva;
- redução drástica da biodiversidade nas áreas de produção agropecuária;
- extensas áreas de pastagem sem árvores de sombra;
- ausência de tradição na suplementação alimentar de animais baseada em forragem obtida de
espécies arbóreas;
- práticas de conservação de solo deficientes e/ou inexistente;
- recomposição florestal de áreas de recarga hídrica;
- recomposição e proteção da paisagem nativa.

Como implantar uma Agrofloresta

Tradicionalmente já se planta no roçado, principalmente as culturas anuais como milho,


feijão, mandioca e, dependendo do lugar, planta-se inhame consorciado com feijão. Noutras áreas
se planta o milho junto com o feijão.
O princípio da agrofloresta é fazer com que a produção seja a mais diversificada possível, e
que o solo seja produtivo durante o ano todo. Para chegar a uma agrofloresta produtiva,
diversificada, o caminho pode ser seguido aos poucos, ano após ano, de modo que neste caminho se
aprende muito sobre a natureza e sobre como fazer uma agricultura que não destrua os recursos
naturais como o solo, a água, as plantas e os animais. A natureza é a melhor professora para o
agricultor e agricultora.
Assim, o desenho e a implantação da Agrofloresta partem da realidade das famílias
agricultoras, do que elas costumam cultivar. Para exemplificar melhor, lembre-se das culturas que
normalmente se planta no roçado, que podem ser o milho, o feijão, a fava, a abóbora.Além dessas
culturas, pode-se plantar espécies produtoras de forragem para os animais, como a palma forrageira,
e espécies para adubação do solo como o feijão-guandu, o feijão-de-porco, a leucena, o nim, pois

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são essas plantas que vão deixar o solo mais produtivo. Essas adubadeiras podem ser plantadas em
fileiras, assim como as espécies nativas que sejam adaptadas a sua região, como o pau d`arco, o
cedro, a sucupira, a aroeira, entre outras.
Não podemos esquecer de plantar as espécies frutíferas nativas ou que sejam adaptadas a
nossa região. Entre as frutíferas temos o mamão, a manga, o caju, o cajá, a laranja, o limão, a
banana, o abacata, entre tantas outras que existem e que podem ser plantadas na agrofloresta. Se o
agricultor ou a agricultora tiver esterco curtido disponível é importante colocar em torno de três pás
em cada cova, para ajudar no desenvolvimento e crescimento mais rápido das mesmas. Isso deve
ser feito no primeiro ano de trabalho, pois garante um avanço muito positivo no desenvolvimento da
agrofloresta.
É importante que cada tipo de lavoura plantada para produzir alimentos para a família, deve
ser plantado um tipo de planta adubadora. Por exemplo: para o milho, planta-se o feijão-de-porco;
para a fava, planta-se a leucena; para a palma, planta-se o feijão-guandu e assim por diante.
A organização da área é feita de modo que garanta todos os espaçamentos entre as plantas
do mesmo tipo, sendo que, os espaçamentos entre plantas diferentes podem ser o menor possível.
Como exemplo o milho e a fava são plantados na mesma cova; o feijão pode ser plantado
entre as covas da palma. Entre as covas de feijão-guandu podem ser plantadas espécies adubadeiras,
as frutíferas e as nativas, que podem ser em fileiras, considerando os espaçamentos próprios de cada
espécie. O plantio das adubadeiras feito forma irá proporcionar uma qualidade suficiente de sombra
que as frutíferas e as nativas precisam para se desenvolver durante o primeiro ano, e posteriormente
poderão ser podadas para produção de matéria orgânica ou produção de lenha e estacas. Não
podemos esquecer que o plantio deve ser feito de forma sincronizada, ou seja, tudo ao mesmo
tempo, para ajudar no melhor desenvolvimento da agrofloresta. No caso do feijão-de-porco, este só
deverá ser plantado após a primeira capina, porque seu crescimento é rápido. Se plantá-lo no
mesmo tempo que as culturas, pode abafar e sufocar as outras espécies.
Experiências que se aproximam da agrofloresta são os quintais das casas dos sítios. Lá são
plantadas várias frutíferas juntas e plantas ornamentais e todas conseguem crescer e produzir.

Fotos de pesquisas e experiências agroecológicas na Fazendinha da Embrapa Arroz e Feijão

Foto: Café orgânico consorciado com adubo verde

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Foto: Banana orgânica

Foto: Adubo verde

1
Foto: Adubo verde

Foto: Banana orgânica

Foto: Mandioca

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Foto: Adubo verde

Foto: Feijão sem adubação química e agrotóxico

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Foto: Café orgânico

Foto: Arroz e Milho em sistema agroecológico

Foto: Adubo verde

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Araújo, João Batista Silva; Fonseca, Maria F. de A. Costa. In.: Agroecologia e agricultura
orgânica: cenários, atores, limites e desafios. Campinas:CONSEPA,2005).

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Caporal, Francisco R; José A. Costabeber. In.: Agroecologia e Desenvolvimento Rural
Sustentável: perspectivas para uma Nova Extensão Rural. Revista Agroecológica e
Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v.1,n1. jan./mar.2000.

Caporal, Francisco R; José A. Costabeber. In.: Extensão Rural e Agroecologia. Brasília


2007.

Costabeber, José A. In.: Transição Agroecológica: do produtivismo à ecologização. Tese de


Doutorado de José Antônio Costabeber (1998): Acción colectiva y processos de transição
agroecológica em Rio Grande do Sul, Brasil.

Didonet, Agostinho Dirceu. In.: Sistemas agroflorestais: segurança alimentar, produtos e


serviços associados – Santo Antônio de Goiás: Embrpa Arroz e Feijão, 2010.

Henz, Gilmar P; Flávia, A. A; Resende, Francisco V. In.: Produção orgânica de hortaliças: o


produtor pergunta, a Embrapa responde – Brasília, DF, 2007.

Jorge, R. T. de L.; Marco Antonio, B.F.In.: Extensão rural, desafios de novos tempos:
agroecologia e sustentabilidade, Recife, 2006.p 37.

Luciano, Mattos et al. In.: Marco referencial em agroecologia. Empresa Brasileira de


Pesquisa Agropecuária-Brasilia, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2006.

Ministério do Desenvolvimento Agrário. Política Nacional de Assistência Técnica e


Extensão Rural, Brasília, 2007.

Sousa, Joseilton Evangelista de. In.: Agricultura agroflorestal ou agrofloresta - Recife:


Centro Sabiá, 2007.

Supervisão de Agroecologia e Meio Ambiente


Equipe:

Léo Lince do Carmo Almeida – Engº Florestal – Supervisor


Eduardo Villela Rocha - Engº Agrônomo
Lino Carlos Borges – Engº Agrônomo
Leila de Morais Coelho – Bióloga
Luciene Ribeiro da Silva – Engª Agrônoma
Telefones: (62) 3201 – 8729

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