A Vitrine - Katherine Laccom't

Você também pode gostar

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 402

Aqui,

 conhecemos  Letícia  e  Zachary.  


Ela,  acha  que  não  foi  feita  para  ser  amada...  
Ele,  acredita  que  não  foi  feito  para  amar...  
 Em   meio   a   aposta,   tramas   e   chantagens,   esse   casal   encontra-­‐se   no   amor   mais
sublime  que  o  ser  humano  pode  viver.  
 Considerada  uma  das  executivas  mais  importantes  pelas  revistas  de  negócios,
 
Letícia  é  convidada  a  apresentar,  “A  Vitrine”,  um  evento  que  em  cada  edição,
 reúne   seis   dos   maiores   empresários   mundiais   no   Brasil.   Um   desaLio   que   ela
 cumpre   perfeitamente,   consolidando   assim   seu   nome   no   mundo   dos
negócios.  
 Paralelamente,   quatro   dos   seis   empresários,   não   só   se   rendem   a   persuasão
 empresarial   dela,   mas   a   desejam   ardentemente,   fazendo   assim   uma   aposta
 
onde  o  primeiro  que  a  levar  para  cama  ganhará  dez  milhões  de  dólares.  Mas
com  uma  condição,  o  encontro  terá  que  ser  assistido  pelos  outros  cinco.  
 A  vitrine  é  um  sucesso  e  Letícia  tem  a  atenção  e  o  coração  arrebatado  por  um
 dos  quatro  homens,  e  durante  uma  noite  cheia  de  luxúria,  sente-­‐se  observada
 trazendo   assim   à   tona   o   segredo   dos   empresários.   Os   eventos   dessa   noite,
mudarão  os  rumos  de  suas  vidas,  trazendo  consequências  inimagináveis.
Prólogo
— Como andam os arranjos para a Vitrine?
— Muito bem, senhora presidente. Nesta edição contaremos com seis
empresários que investem no ramo de entretenimentos, hotéis, resorts,
fabricação de bebidas e um deles é da construção civil.
— E quem você chamará para apresentar os projetos, Kevin? Lembre-se
que esses encontros são muito importantes para trazer investimentos para
o país.
— Presidente...
— Presidenta!
— Então senhora presidenta, escolhi a melhor executiva que trabalha
para mim...
— Resume a ópera, Kevin.
— O nome dela é Letícia Sophie Barros, trinta anos. — Ele abre uma
revista. — Como a senhora pode ver, ela foi eleita uma das melhores
executivas do país. Ela vem se destacando em negociações, negocia com os
credores, fornecedores, ou qualquer outro assunto das empresas que
auxiliamos com a consultoria. Mas a Letícia ainda faz um trabalho por fora,
ela é contratada para negociações difíceis como uma fusão de
multinacionais, por exemplo. Eu garanto a senhora que ela pode vender
aparelhos de ar condicionado na Antártida.
— Ótimo!
Kevin Stevenson Cooper, um empreendedor americano que mora há
alguns anos no Brasil, presidente da Globalspace Consultoria &
Investimentos LTDA, uma empresa voltada a reerguer outras empresas.
Acostumado a lidar com as personalidades mais difíceis, está suando frio
em frente à Presidente da República, que como sabemos, não é nada fácil o
seu trato.
Ele é um visionário, viu na Vitrine uma enorme oportunidade de
expandir seus serviços, como também ajudar o país que lhe acolheu de
braços abertos, a captar investimentos para o seu crescimento.
Então, duas vezes ao ano, ele promove um encontro que reúne os mais
importantes empresários do mundo, para lhes apresentar projetos de
investimentos no Brasil e esse encontro é conhecido como, A Vitrine.
A Vitrine é um projeto da Global em parceria com a Presidência, para
cada reunião são convidados dez empresários, mas, somente os seis
primeiros que confirmam, estarão presentes. Kevin traçou alguns quesitos
que são levados em conta para figurar entre os convidados, estarem em
listas como grandes investidores, quantas franquias e sucursais tem pelo
mundo e o ramo de negócios que investem, são alguns dos exemplos.
Assim que a reunião no Palácio do Planalto encerra, Kevin acomoda-se
em sua poltrona na primeira classe do avião que o levará de volta ao Rio de
Janeiro. Com seu notebook a postos, ele lista os detalhes do encontro, para
entregar tudo pronto nas mãos de Letícia.
Mas seu maior trabalho ainda estava por vir, conversar com a mulher de
ferro e dizer que ela apresentará essa edição da Vitrine. É difícil
argumentar com alguém que tem resposta para todos os argumentos,
respostas essas que, causam calafrios em Kevin, só de pensar.
— A parte mais difícil será convencer a Letícia. — Ele se dá conta de que
está afrouxando a gravata e abrindo o primeiro botão, olha para seu
assistente Jônatas que está na poltrona do outro lado do corredor. — Ela já
deixou bem claro que não negocia em qualquer projeto que o governo
esteja envolvido, não será nada fácil.
— Acredito que ela aceitará bem. É o tipo de projeto que ela gosta. Sobre
o governo, não há necessidade que se torne de seu conhecimento.
— Verdade, seja o que Deus quiser!
Capítulo 1
Letícia

O dia não começou nada fácil, o condomínio sem energia elétrica eu tive
que descer dez andares de saltos altos, como se só isso não bastasse, o
trânsito estava completamente parado. Olho para o relógio.
— Putz! — Buzino na intenção de um milagre acontecer, estou atrasada
tenho uma reunião com Kevin há uma hora! Aquele americano não me
engana, o tom de voz me diz que voltou de viagem com alguma ideia
mirabolante, que provavelmente serei eu a responsável pela execução.
Estaciono meu carro na garagem do edifício da Global e saio em
disparada para o elevador, como não posso fazer essa coisa subir mais
rápido e nem posso teletransportar, vou passando a lista de tudo o que
tenho para fazer, e acredite coisas para fazer é o que não me falta.
Sou executiva com uma carreira meteórica, trabalhava para uma
indústria de descartáveis em Minas Gerais e em uma feira de negócios,
Kevin acompanhou de longe algumas negociações minhas, de oito contratos
que eu queria para aquele dia, fechei doze. Pouco tempo depois entrou em
contato comigo, oferecendo-me uma “nota preta” para trabalhar na
Globalspace. Sempre fui muito grata à empresa que me deu a chance de
desenvolver meu potencial e por essa gratidão, fiquei quase um mês
pesando prós e contras. Mas aqueles que um dia me contrataram porque
viram futuro em mim, disseram que não seria justo impedir-me de alçar
grandes voos e me deram carta branca, então assinei contrato com Kevin.
Um ano se passou e hoje, figuro entre os dez executivos mais importantes
do país.
Ocupo um lugar onde os homens são maioria, ser de pele clara é quase
uma regra, mas tenho orgulho em dizer, eu sou a contradição! Estudei
muito, batalhei o dobro, para estar onde estou. Nada veio de graça e nem da
cama de ninguém. Minha pele é negra, meus olhos castanhos amarelados se
destacam, meu sorriso é minha marca. Para mim, sorrir, é o primeiro passo
para ser feliz. Mas não meço palavras, todos sabem que não devem cruzar
meu caminho, costumo ser amiga e não boba, é bom não confundirem.
As portas do elevador se abrem e no caminho para minha sala vou
cumprimentado as pessoas que encontro, alguns se tornaram grandes
amigos, outros se tornaram minha família. Assim que entro em minha sala,
a secretária já vem em meu encalço.
— Letícia, o senhor Cooper está te esperando há quarenta e cinco
minutos.
— Lorena, o mundo não está cooperando comigo, por favor, pelo menos
você tem que me ajudar. — Coloco minha pasta e minha bolsa em cima na
mesa e já vou em direção à sala do Kevin.
Vi que há uma nova secretária para a presidência, qualquer dia desses
tenho que perguntar para alguém o porquê dessa rotatividade de morenas,
tipo dançarinas de Funk. Aproximo-me da nova menina
— Bom dia. Tenho um horário com o Kevin.
Ela sorri como uma boneca... Plastificada
— Senhorita Letícia? — Assim que a moça termina de falar, o presidente
da empresa sai de sua sala.
— Bom dia, Lê. Como está?
— Já tive manhãs melhores... — Ele estende seu braço para mim
— Mandei preparar um café da manhã especial na sala de reuniões,
venha.
— É bom que esse café valha a pena, senhor presidente. — Olho para ele
com descrença, não pelo café, mas pelo café na sala de reunião. Isso é uma
tática que usamos quando temos negociações difíceis
— Valerá, Lê.
Kevin tem por volta de quarenta e cinco anos, bem cuidado, pele clara,
cabelos escuros, olhos verdes, alto, um corpo esbelto para idade e aquela
barba bem cuidada o deixa muito charmoso. Sempre impecável na maneira
de se vestir e no modo com que trata as pessoas, gentil e generoso. Sua
esposa é uma graça, seus filhos não saíram diferente dos pais.
Entramos na sala de reuniões, que é toda em vidro transparente, no
meio do décimo andar, como se fosse uma bolha, ao centro da sala há uma
mesa retangular com doze lugares e um lindo café da manhã disposto.
Kevin senta na cabeceira e Jônatas seu assistente, puxa a cadeira à direita
para mim, uma das secretárias da diretoria entra para servir o café,
enquanto me dizem o motivo dessa reunião.
É tanta coisa gostosa que perco até o foco, mas a curiosidade está me
corroendo.
— Vai soltar a bomba agora no café ou vai esperar para o almoço?
— Preciso da sua ajuda com essa edição da vitrine.
— Você não me trouxe croissant de chocolate para pedir ajuda com a
vitrine, é o meu trabalho. — Pego mais um croissant, mas dessa vez de
chocolate.
— Quero que você seja a apresentadora dessa edição.
— Sabia que tinha alguma coisa por trás desse café, mas não acho que
seja sensato, não sou a pessoa mais indicada para isso.
— Quando se trata de negociação, você é a melhor e realmente preciso
da sua ajuda. — ele diz entre um gole e outro de seu café.
— Já te falei que não trabalho para o governo e nem com ele.
— A vitrine é um trabalho social para ajudar o seu país, trago grandes
empresários para investir aqui. — Kevin vira sua cadeira para ficar de
frente para mim e começa. — Você sabe disso, nos ajudou com algumas
parcerias que não só abriram mais vagas de empregos como também
pudemos ajudar toda a comunidade em torno dos projetos. Lembra-se
daquele projeto que você insistiu que adicionar o orfanato que tinha
próximo dali? A empresa não só reformou como adotou e hoje aquele lugar
é referência.
Agora o conterrâneo do Tio Sam pegou pesado, órfãos são meu ponto
fraco. Perdi meus pais muito cedo, como ambos eram filhos únicos, fui
morar com minha avó materna até que Deus a levou, eu tinha quatorze
anos. Um casal amigo da vovó me acolheu por dois anos. Meus pais e avó
me deixaram alguns bens, uma conta que me ajudou com os estudos e de lá
para cá venho me virando sozinha. Eu sei o quanto é difícil não ter família,
não ter um colo de mãe ou um irmão para implicar. Lembro-me de ter
chorado uma vez, minha avó disse que eu tinha que ser forte, porque a vida
não seria fácil, então não me recordo da última vez que chorei.
Graças a Deus nunca tive dificuldades financeiras, consegui dobrar o
patrimônio, vivi muito bem com o que me deixaram, até o dia em que
conheci o João Paulo. Eu estava terminando a faculdade de Direito, uma
romântica sonhadora, que fazia planos em se formar, casar, ter filhos, como
qualquer pessoa que passou boa parte da vida sozinha. João Paulo era meu
parceiro de estudos, estávamos sempre juntos, ele era lindo, loiro dos olhos
castanhos, pele bronzeada, me conquistou com seu senso de humor.
Começamos a namorar, depois de alguns meses ele veio morar comigo,
eu fazia tudo por ele, absolutamente tudo. No seu aniversário de vinte e
sete anos eu dei o carro dos seus sonhos, como meu dinheiro era aplicado,
tive que comprar financiado, mas qualquer sacrifício para o amor era
válido, assim pensava eu. Uma semana depois o telefone tocou, era um cara
querendo os documentos do carro que ele havia comprado do João.
Naquele momento percebi que não estava vivendo um conto de fadas e
piorou no dia seguinte, depois de um dia exaustivo no estágio, passei no
supermercado para comprar meu jantar e me deparei com uma cena de
horror. Uma das caixas estava comemorando a gravidez, dizendo que o seu
namorado comprou uma casa linda para morarem. Inocente, fui
cumprimentá-la, fiquei tão feliz por aquela menina, até que a mãe do João
entrou com uma caixa de presente linda com laço azul e entregou para a
menina no exato momento em que ele, João Paulo, pedia sua mão em
casamento para todos os que estavam no mercado ouvirem.
Meu mundo ruiu...
Eles não tinham me visto lá, eu precisava saber de toda a história e
principalmente, precisava saber qual era a casa. Fiquei esperando o
mercado fechar e ela sair, ela me conhecia só que não sabia que meu
namorado era ele. Convidei-a para jantar, ela aceitou e fomos para um
restaurante perto de onde estávamos. Em três anos do meu casamento, ele
estava com ela há um ano, as famílias conviviam juntas, faziam planos para
o futuro dos dois.
Meu Deus, até onde vai à maldade das pessoas?
Engoli todo o ódio e a vergonha de ter fracasso. Perguntei da casa e ela
detalhou a casa que terminamos de construir a poucos dias. Nós, não, eu
construí, sozinha, um belíssimo sobrado em um bairro muito valorizado em
Três Corações. Pensei seriamente que seria meu fim, doía tanto!
Corri para casa, eu tinha que encontrar os documentos que provavam
que as coisas eram minhas e tive outra surpresa, do pouco que eu dividia
com ele, nada mais era meu. Cogitei a ideia de me matar, de esperar ele
chegar da suposta viagem e tirar tudo a limpo.
Mas para que tudo isso se a maior prejudicada seria eu?
Ele sabia da casa em que moramos e da que foi construída, a primeira
estava em seu nome e a segunda no nome da garota grávida. Eu não sabia o
que sentia, tinha vontade de morrer, de matar, de gritar, mas eu apenas
chorava. Passei uma noite inteira me lamentando, perguntando-me como
nunca percebi sua falta de caráter e no fim das contas vi que não adiantava
chorar, eu tinha que agir.
Eu não tinha muitas coisas para juntar, nunca fui uma pessoa de guardar
lembranças, o pouco que tinha era o suficiente para mim. Arrumei minhas
malas, reservei um hotel e comprei uma passagem para Belo Horizonte. A
casa recém-construída era financiada, se ele pagasse, ficaria nela, caso
contrário o banco a tomaria. A casa em que morávamos eu não pude fazer
nada, mas tinha dinheiro o suficiente para mandar alguém fazer.
E mandei, não sobrou nada que ele pudesse lembrar.
Os dias que se seguiram, foram os piores da minha vida, trancada em um
hotel, num lugar que não conhecia ninguém, sem vontade de sair na rua
para caminhar, era apenas eu e eu, mais uma vez. Meu coração sangrava,
perdi peso, me tornei um fantasma, estava à esperada de algo acontecer,
seja para o bem ou para o mal.
Uma das camareiras do hotel sentiu pena de mim, ela trazia minhas
refeições, falava sempre palavras de carinho. Com o tempo fui me abrindo e
contando tudo o que vivi até ali, ela me abraçou enquanto eu colocava o
resto das minhas amarguras para fora e tudo mudou quando ela disse: —
Agora que seu luto se dissipou você pode voltar a viver. Você é mais forte
do que pensa menina, chegou a hora de renascer.
Eu nunca me esqueci disso. Daquelas palavras!
E como se alguém tivesse ligado o interruptor da minha vida, eu renasci.
Sai do hotel, aluguei um pequeno flat, conheci pessoas, distribui
currículos e voltei a ser eu!
Em poucos dias fui contratada para trabalhar no departamento de
recursos humanos de uma indústria de descartáveis, fiz a prova da Ordem
dos Advogados, peguei minha carteira e fui promovida pela primeira vez.
Usei o meu sofrimento para crescer, trabalhei meu psicológico ao
máximo para que as más experiências não rejam minha vida e consegui.
Hoje sou inteira, tenho as rédeas da minha vida, sou bem resolvida, sem
ressentimentos, sem amarguras e sem um coração partido, esse último que
não pretendo dar a chance de se arrebentar uma segunda vez.
Volto para a realidade e vejo o brilho nos olhos do meu chefe,
aguardando a resposta.
— Eu vou Kevin, farei o meu melhor porque adoro um desafio. Mas não
me chantageie com os órfãos no futuro, já usou toda sua cota disso.
Jônatas coloca algumas pastas a minha frente.
— Aí estão todas as informações sobre os convidados, um mini dossiê
para você se ambientar melhor.
— Vou apresentar projetos ou serei espiã?
— Lê, obrigado por aceitar a participar desse projeto. — Kevin coloca
sua mão em cima da minha. — Sei que você está cheia de compromissos e
terá que abrir mãos de alguns para fazer isso. Vou te recompensar muito
bem...
— Meu querido, nada de recompensas, sou profissional demais para
isso. — Dou duas batidinhas na mão dele. — Meus serviços têm preço,
meus honorários são caros. Não vou só apresentar os projetos, vou
convencê-los de que o Brasil, mesmo em crise é um dos melhores lugares
do mundo para investir. Já tem data marcada?
— O encontro acontecerá daqui dez dias.
— Será aqui no Rio mesmo?
— As negociações começam na quinta-feira e serão aqui sim. No sábado
embarcam para Fortaleza para o final de semana, na segunda-feira
almoçarão com a Presidenta, então, voltaremos ao Rio para os acertos dos
investimentos. Se tivermos algum interessado, claro.
— Que confiança, hein? Senti daqui a positividade. — Pego as pastas e
mais um croissant e vou para minha sala organizar meus compromissos.
Não será fácil trazer os seis para cá, se eu conseguir pelo menos dois com
esse cenário político, já ficarei satisfeita.
No meio tarde fiquei curiosa sobre meus convidados, abrindo a primeira
pasta, começo a rir, um sheik de quarenta e cinco anos, com oito esposas.
Investimento de risco é com ele mesmo.
Se os outros seguirem a mesma linha, será uma Vitrine muito divertida,
vou deixar para estudar as personalidades em casa, muita coisa para
assimilar e várias estratégias a traçar.

——ooOoo——

Meu apartamento é o meu refúgio. Aqui me sinto protegida do mundo.


Escolhi um apartamento pequeno de dois quartos, bem aconchegante,
localizado na Barra na Tijuca à beira mar. Tomar café da manhã com essa
vista é maravilhoso, mas naqueles dias em que o mundo está caindo nas
minhas costas, ou quando acho que alguma coisa não tem solução, olho
para o mar e percebo que para Deus não há limites, só o infinito e isso
renova minhas forças.
Depois de uma semana exaustiva, sento no sofá ainda de pijama, com
uma caneca de café na mão e olho as pastas que tenho que examinar. Venho
adiando esse momento há dias, não sei por que, algo anda me
incomodando, só não sei o que é.
Ouço três batidas e logo Lorena coloca seu rostinho de anjo na porta.
— Bom dia, Lê.
— Bom dia, Lolo. Que sacolas são essas?
— Nada demais, umas comidinhas para gente e uns docinhos para nos
alegrar neste final de semana.
Lorena é uma moça linda, baixinha e invocada! Cabelos lisos na altura
dos ombros, pele branquinha como a neve, olhos castanhos, uma
verdadeira boneca. Ela é daquelas pessoas que ama todo mundo, não vê o
lado negativo de nada e nem ninguém, foi isso que me conquistou. Não me
conhecia e mesmo assim abriu os braços como se já me conhecesse a vida
inteira.
Além de minha secretária é minha melhor amiga, desde que cheguei
aqui ela e sua mãe me acolheram como se eu fosse da família. Ela tem a
chave do meu apartamento, a única pessoa em quem confiaria isso. Depois
que aquele namorado gigolô terminou o relacionamento, ela tem se
refugiado no trabalho, então se ofereceu para me ajudar com esse projeto
da Vitrine.
— Olha isso. — digo quando abro a pasta do sheik. — Um sheik árabe,
Hassan Mohamed Aziz Bashir, quarenta e cinco anos, seu patrimônio está
avaliado em vinte e cinco bilhões de dólares, oito esposas, doze filhos e três
netos. Investe em todos os ramos que desponta. De hotéis a clubes de
futebol, seus hobbies... Fazer filho? Procurar outra esposa para o harém?
— Olha a foto dele. — Lorena começa a rir.
— Realmente o dinheiro é tudo nessa vida! Um homem baixinho, gordo
e que usa vestido, não deve ser grande coisa na cama. Pela cara austera, não
sorri muito, tempo com os filhos é o que menos deve ter, número de
esposas é status. Ele não negocia com mulher, acha que fomos feitas
somente para dar prazer... E filhos. Ele não se importa com os riscos, desde
que tenha uma boa chance de retorno.
— O que foi criatura? — Lolo está me olhando de boca aberta.
— Como você sabe de tudo isso só olhando uma foto?
— Ter oito esposas não é para qualquer um. — Dou de ombros, porque
esse tipo de análise é fácil para mim, às imagens podem nos mostrar muita
coisa. — Só em um país onde as mulheres não têm voz e vez, aceitariam ser
mais uma na cama daqueles que as deveriam venerar como únicas.
— Verdade, mas na carência que ando, se um daqueles sheiks bonitinhos
aparece por aqui, eu me jogo no harém sem problema nenhum.
— Sua boba. — Jogo uma bola de papel nela.
— Italianos, hum. Esses homens foram criados para o pecado, delícia. —
Ela pega a segunda pasta, tira a foto e me dá os outros papéis.
— Menos hormônios, Lolo. Esse italiano é Martino Nicolazzi Rossi,
quarenta anos, seu patrimônio está avaliado em treze bilhões de dólares,
uma esposa e cinco filhos, outro que investe em vários segmentos.
Envolvido em escândalos com prostitutas de luxo, modelos, atrizes, vidinha
bem agitada. Deixa-me ver a cara do sujeito.
Esses italianos têm um charme especial, eles podem não ser lindos, mas
esse “jeito italiano” de ser é o suficiente para cair em escândalos com eles.
— Está babando no italiano, não é? Eu sabia que não iria resistir
também. — Lorena me tira do devaneio.
— Esse será um dos investidores, com as armas certas somos capazes de
fazê-lo não só construir um hotel, mas também investir em outros
empreendimentos. Percebeu como ele é parecido com aquele jogador
italiano Buffon? Muito nham... nham....
Pego a terceira pasta e abro, um calafrio percorre meu corpo e quando
focalizo aqueles olhos azuis, meu coração falha uma batida. Rapidamente
fecho e jogo a pasta em cima da mesa.
— O que houve, Lê? Está pálida, está sentindo alguma coisa? — Ela senta
ao meu lado e abraçando-me — Que tal voltar para a cama, minha flor?
— Não foi nada, só um mal estar. Vamos continuar a conhecer os bofes
endinheirados?
— Vamos! — Ela sorri.
Alcanço outra pasta e abro com cuidado.
— Muito interessante, grego, quarenta e dois anos, esposa e três filhos,
seu patrimônio é de aproximadamente dezoito bilhões de dólares, seu
ramo de investimentos é a hotelaria. Sebastian Khristophoros, erradicado
nos Estados Unidos há mais de vinte anos, ele compra hotéis de médio e
grande porte que estão à beira da falência e os transformam em cinco
estrelas, ele não costuma mudar o nome dos estabelecimentos, aqui diz,
que prefere manter a tradição de cada casa.
Olho para Lorena que está quase tendo um orgasmo com a foto do grego
na mão.
— Ele é bonito assim, Lorena? — Ela joga a foto no meu colo, me deparo
com um verdadeiro Deus grego.
— Para de babar, Letícia! — Ela ri.
— Ele é lindo! — Não posso deixar de constatar o fato em voz alta.
— E gostoso... E rico... E comível. Ai, ai...
— Negociar com gregos não é fácil, está na mesma linha do sheik.
— Deixa que a Lolinha aqui negocia com o bonitão.
Paramos para almoçar e descansar um pouquinho e logo voltamos ao
trabalho. A cada pasta aberta, anotações eram feitas, saber algumas
características é fundamental quando pretendemos negociar com grandes
cacifes.
Passamos para a pasta de um empresário americano que já tive a
oportunidade de conhecer, Ethan Scott, trinta e cinco anos, solteiro
disputadíssimo nos Estados Unidos. Olhos azuis, uma boca perfeita, barba
rala, cabelos bem curtos, seu corpo parece ter sido esculpido, é um
verdadeiro atleta e muito arrogante.
O conheci em uma feira na Argentina, o cara adora um rabo de saia, não
pode ver uma brasileira que já se assanha, acha que o mundo gira em torno
do seu umbigo, mas compensa com seu bom humor. Seu patrimônio gira
em torno de treze bilhões de dólares, seu principal ramo de investimentos
é a Construção Civil, tem participação na sociedade de grandes marcas
mundiais e não abre mão de brincar na bolsa, o que já lhe deu perdas de
patrimônio e ganhos incalculáveis. Segundo a Lorena, seu futuro marido.
Liam Larkin, irlandês, trinta e nove anos, viúvo e sem filhos. Seu
patrimônio é de vinte bilhões de dólares, seu ramo de investimentos é
basicamente hotelaria, turismo e bebidas. Ele tem participação em várias
indústrias cervejeiras e de várias bebidas em todo mundo. Um ruivo de
olhos verdes, com aparência doce, parece ser uma pessoa tolerante, não
perde a calma muito fácil e há uma pontinha de tristeza. Tristeza não,
solidão. Lorena também vai casar com ele e trazer mais cor a sua vida,
como sonha.
— Esquecemos-nos de um, gata. — Já era noite quando terminamos de
organizar um arquivo sobre o encontro, já estava guardando a papelada
quando Lorena falou. — Zachary Thorton O´Brian, americano, trinta e nove
anos, divorciado, sem filhos, com um olhar de fazer qualquer mulher ovular
e uma boca desenhada para o pecado.
— Passa-me somente a ficha, por favor. Aqui diz que seu patrimônio é
de trinta e um bilhões de dólares, empreendedor nato, compra empresas
falidas, faz prosperar e vende pelo dobro do preço, não tem um segmento
prioritário, aqui estão listadas as empresas e marcas do mundo todo que
ele possui participações. Esse sem dúvida não seguirá com as negociações,
na melhor das hipóteses, ele ficará só tempo de terminar a apresentação
dos projetos.
— Você já viu a foto dele? “Jesus-Luz” me abane!
— Lolo eu estou bem cansada, vamos deixar o resto para outro dia. Que
tal um filme?
— Aproveita e faz pipoca com chocolate, Creusa, eu ficarei por aqui
admirando meu futuro marido número três, Zachary.
— Doida.
No meio da noite tive um sonho estranho, estava em um local escuro,
vestido de festa, caminhando sozinha. Sentia alguém me observando,
olhava para os lados, mas só via escuridão. De repente sinto meus cabelos
da nuca arrepiar, um arrepio estranho me percorrer, olho para trás e
encontro somente um par de olhos azuis escuros, quase violetas. Fiquei
paralisada, o medo não me permitia mexer. Uma voz disse para correr, me
livrar daquele olhar, eu queria correr, sair dali, mas eu não tinha forças,
porque aqueles olhos me hipnotizaram e estavam cada vez mais perto. Com
a aproximação o ar ficou frio, meu corpo em alerta e ele cada vez mais
perto, eu queria gritar, pedir socorro, até tentava, só que nada acontecia.
Quando ele chegou a minha frente, meu corpo ficou mole, ele vai me
matar...
Acordei em um sobressalto, a televisão ligada, Lorena deitada do meu
lado, o dia quase amanhecendo. Fui até a sala, peguei a bendita pasta,
sentei, respirei fundo e abri pronta para confirmar que já tinha visto
aqueles olhos dos meus sonhos, mas para minha surpresa, não era. Tinha
outra foto, outros olhos, remexi a pasta inteira, será que eu estou ficando
louca? Eu tinha certeza que... Devo estar trabalhando demais.
Vesti uma roupa de ginástica, o tênis e fui correr na praia, espairecer
desse sonho louco. Durante a corrida fiquei tentando entender a loucura de
ontem à noite. Eu tinha certeza que os olhos do sonho eram o mesmo que
tinha visto na foto senti até o mesmo calafrio. É muita loucura para uma
pessoa só
Chego ao apartamento e sinto um cheirinho de café. Ah, que delícia! Se eu
ficar muito tempo com areia na pele, me dá coceira, então vou direto ao
quarto para tomar banho. Lavo-me, coloco roupa e vou para a cozinha,
encontro a mãe da Lolo fazendo tapioca.
— Bom dia, tia, madrugou? — Abraço-a bem apertado.
— Bom dia, Lê. Já são dez horas da manhã. Liguei mais cedo para a
Lorena e ela disse que você tinha saído para correr, eu sei que a senhorita
só corre quando está com problemas, então vim fazer um mimo para
minhas meninas. Abracei-a mais forte ainda.
— Longe de mim reclamar, tia. Adoro quando você vem aqui, mas não
estou com problemas, só a cabeça cheia, por causa dos projetos
mirabolantes do Kevin.
— Mãe. — Lolo senta em outra cadeira. — Depois do café vou mostrar
para a senhora seus três futuros genros. — Comecei a rir, essa menina é
demais.
E assim foi meu domingo, tranquilo, com a família, recarregando as
energias para mais uma semana de batalha.
Capítulo 2
A segunda-feira foi tensa na empresa. Um dos clientes achou que
esconder o fato de ter tido um caixa dois não era muito importante, para
piorar a amante tinha acesso à conta e renovou o guarda roupa com a
metade, em Miami. Um dos piores tipos para lidar, velhos babões amantes
de ninfetinhas com a empresa da família beirando a falência.
O contrato não é da minha responsabilidade, mas fiquei com dó do
Camargo, um senhor de sessenta e cindo anos que aparenta ter dez anos a
mais por causa de clientes assim. Ele é muito bom no que faz, mas também
é tolerante demais. As pessoas com o rei na barriga acham que podem
tratar os outros de qualquer maneira, não pode!
Kevin tentou intervir na discussão, mas não conseguiu acalmar o tiozin
ali, minha paciência estava por um fio. O cara conseguiu atrapalhar o
serviço de todo mundo, até que eu entrei na sala.
Kevin estava de pé virado para janela, o Camargo estava olhando uma
papelada, o advogado do senhor exaltado e uma mulher, que pelo seu jeito
de que não está nem aí, deve ser a responsável por esvaziar o caixa dois.
— Qual o problema, Kevin? — Dirijo-me direto para o presidente da
Global.
— O senhor Monteiro está insatisfeito com nosso trabalho, quer que
troquemos o consultor, porque segundo ele, o Camargo não serve nem para
limpar banheiros.
Fui até o Camargo, pedi licença e perguntei onde o problema estava
acontecendo.
— Lê, ele não mencionou que a secretária também tinha um cartão
corporativo de outro banco. Com os boatos de falência foi o suficiente para
o credor não querer renegociar, até porque não é o banco principal. Mas,
com a auditoria, veio à tona uma conta com saldo suficiente para quitar
essa dívida, só que ele não quer. Segundo o senhor Monteiro, se usarmos
para quitar esse rombo, ele não terá como sobreviver.
Nós temos alguns códigos como, segunda ou terceiras são amantes,
sobrevivência é a família, quando usamos a palavra: Rombo é porque o
estrago é tão grande quanto um buraco negro e por aí vai. Peguei a pasta,
folheei por alguns minutos.
— Quem é ela? — O tiozin pergunta.
— Sou sua nova consultora. — falei antes que Kevin pudesse responder.
— Era só o que me faltava, tirar um velho e colocar uma mulher, é trocar
seis por meia dúzia.
— O que me faltava senhor Monteiro. — Usei toda minha educação. — É
você estar à beira da falência e achar que ainda pode exigir alguma coisa.
Aqui na Global aquele ditado que o “cliente sempre tem razão” não
funciona, se nos procuraram é porque estão com a corda no pescoço. Então,
o senhor deve ficar bem tranquilo e nos deixar fazer o que estamos sendo
pagos para fazer. E comigo, educação não está no pacote. Pelo que vi aqui,
sua amante gastou mais do que deveria e o senhor não quer que sua família
saiba desse pequeno detalhe. Eu compreendo, contar para eles que estão
prestes a ficarem pobres por causa da péssima administração e ainda que a
amante tenha mais gastos que eles, não será bem recebido.
— Você não pode falar assim comigo, quem você pensa que é? — ele se
levanta e fala mais alto.
— Eu sou aquela que vou salvar sua empresa da falência, bom, depende.
O senhor quer sair do buraco?
— Por qual outro motivo eu estaria aqui ainda? — Visivelmente irritado
ele responde.
— Ótimo, então estamos de acordo pelo menos em uma coisa. Camargo.
Concordo com você. Vamos usar o dinheiro do desvio para quitarmos a
dívida, confiscar o cartão e encerrar a conta da secretária...
— Opa, meu cartão? Por quê? — A secretanha, mistura de secretária com
piranha, pergunta.
— Porque você é secretária, não precisa...
— Eu faço compras para o Monteiro, sabia?
— Não sabia que o seu patrão andava de saltos Louboutin, senhorita. —
Olho uma das cópias da fatura. — Camargo. Também acho interessante
fazer algumas mudanças no quadro de funcionários, começando pela a
secretária do dono. Se como amante ela não sabe economizar, como
secretária será pior ainda.
— Se vocês não se incomodam, pretendo continuar com o consultor. —
Monteiro senta ajeitando sua gravata enquanto fala.
Pisco para o Kevin, que concorda, e saímos da sala conversando.
— Por que você deixou aquele homem surtar daquela maneira? Nossa
obrigação é salvar a empresa e não ser condescendentes com eles.
— Lê, você sabe que não gosto de expor nossos clientes. A amante é uma
parte privada da vida dele, não cabe a mim trazer isso à tona. Podemos
violar a privacidade.
— Aprenda Kevin, aqui não é como no seu país, onde as crianças de seis
anos gritam com os pais porque violaram sua privacidade. Aqui, o máximo
de privacidade é ir ao banheiro com a porta fechada. Bom, mudando de
assunto, preciso que você dê uma olhada em um arquivo que fiz para enviar
aos empresários que estarão na Vitrine.
— Arquivo?
— Com os principais projetos... — viro a tela do computador para ele
quando entramos na minha sala e estamos acomodados.
— Estou vendo que você incluiu os meninos do software.
— Há uns dias atrás os aconselhei a abrir uma empresa para
desenvolver os softwares. Esses meninos são muito bons, o aplicativo que
fizeram para a Global, se for adaptado pode ser usado em qualquer
multinacional. Eles merecem essa chance e empresas de informática estão
em alta.
— Gostei, está aprovado.
— Mandarei somente doze horas antes de desembarcarem aqui, ficarão
mais ansiosos.
— Lê, o Ricardo está aqui e quer dar uma palavrinha com você. —
Lorena entra na sala e avisa.
— Pode mandar entrar, Lolo.
— Faço muito gosto na sua relação com o Ricardo, — Kevin fala. — Às
vezes te acho muito solitária Letícia. Merece alguém que a faça feliz.
— Obrigada, senhor presidente, mas ele e eu não temos nada...
A porta se abre e um belo exemplar masculino entra, Ricardo é diretor
do departamento jurídico da Global, um belo homem, olhos castanhos,
cabelos curtos e bem penteados para trás, sempre elegante com seus
ternos, alto, corpo bonito e desfrutável. Nós temos um casinho, de vez em
quando a gente sai para jantar e algo mais, mas nada de relacionamento,
não estou pronta para me envolver com ninguém, ainda.
— Boa tarde. — Ricardo encontra Kevin na porta e apertão as mãos. —
Não sabia que estava aqui, teria vindo mais tarde.
— Já estou de saída. Até mais tarde, pessoal.
Levanto para recebê-lo, porque educação é tudo. Ele me dá um beijo que
educadamente viro para pegar na bochecha, respeitar o local de trabalho
também é tudo!
— Bom dia Ricardo, que bons ventos trazem o galã da empresa até
minha sala? Sente-se, por favor.
— Vim te ver, estava com saudades.
Homens de ternos me atraem, demonstra elegância e às vezes poder, no
caso do Ricardo, charme e elegância, ele sabe como usar isso quando quer.
— Cansou da nova secretária? — Falo rindo. — As conversas correm.
Ele descruza as pernas e se ajeita na cadeira, sinal de nervosismo.
— Não sei o que falaram, mas é mentira, eu não...
— Meu querido. — Abro um sorriso e levanto a mão. — Não se preocupe
não me importo, não temos um relacionamento, apenas gostamos da
companhia um do outro, não há porque você deixar de sair com outras
pessoas.
— Você está saindo com outra pessoa, Letícia?
— Não. — Ele sorri. — Mas não por sua causa, tenho trabalhado demais
e saído de menos e os que aparecem não valem tanto a pena assim.
— Vamos sair hoje?
— Pode ser quarta-feira? Tenho algumas coisas para colocar em dia.
— Tudo bem, um jantar na quarta. Eu te busco às oito, pode ser?
— Perfeito!
— Você tem uma reunião na sala três daqui dez minutos. — Ele sai e
Lorena entra. — No final da tarde marquei com o gerente de Copacabana
Palace, o senhor Kevin disse que irá também. Aqui estão as listas do que
cada um pede em seus aposentos e que tipos de comida querem.
— Quanta frescura. Só idiotas viriam ao Brasil e não experimentariam
feijoada.
— Tenho um encontro hoje à noite! — Ela fala com um sorriso enorme e
pulando. — Com o Diego da contabilidade. Estou tão ansiosa, não saio com
ninguém desde o Rogério.
— Hoje à noite promete. — Levanto e dou um abraço nela. — Já estava
na hora, Lolo. Quando sairmos para o hotel, você também pode ir.
— Obrigada!
Volto a me concentrar no arquivo que enviarei aos investidores, acabo
perdendo a hora da reunião. Logo após, fomos ao hotel acertar os detalhes
das suítes e da sala de conferência, tivemos que reservar um andar inteiro
para o conforto deles e de seus assessores. Ainda bem que disponibilizaram
um chefe para atendê-los exclusivamente.
Interessante que, o tal do Zachary Thorton não pediu nada extravagante,
apenas a suíte presidencial, como todos pediram a mesma, o hotel se
propôs montar algumas para nos ajudar. Ainda tento entender o que houve
aquele dia que abri a pasta dele e vi outra imagem, só de lembrar fico toda
arrepiada novamente. A foto que está naquela pasta é de um homem jovem
e sorridente e não parece ter trinta e nove anos, estranho. Mesmo assim,
estou cuidando de cada detalhe pessoalmente para não termos surpresas.
Não quero dar o braço a torcer, mas estou ansiosa, não vejo a hora de
chegar o dia em que ficarei de frente com os seis dos maiores empresários
do mundo. Meu receio é não conseguir alcançar a meta que o Kevin quer.
Pelo menos dois investidores e desses dois, um tem que investir na
restauração de um prédio tombado pelo patrimônio histórico, que hoje é
um hotel ou era. Deus dá uma forcinha aí, tô precisada!

——ooOoo——

— Bom dia, minha Deusa de Ébano! — Lorena entra em minha sala.


— De manhã cedinho, com essa empolgação toda, significa que a noite
rendeu. Como foi seu encontro, Lolo?
— Foi ó!
— Fico fe...
— Horrível! — Ela faz uma careta e se joga na cadeira à minha frente. —
Tarado, nem queria me levar para jantar, já queria ir direto ao motel. Entrei
no carro, me deu oi e a mão boba criou vida, teve uma hora que até
desconfiei que tivesse mais gente dentro daquele carro, era muita mão pelo
meu corpo.
Tentei me segurar, mas não foi possível, ri demais.
— Um polvo?
— O Lula Molusco do desenho do Bob Esponja, não tem tanta habilidade
com seis tentáculos, como aquele protótipo de nerd tem com as duas mãos.
Ri ainda mais.
— Garota, só você para me fazer rir uma hora dessas.
— Quando você vai sair com o Ricardão?
— Hoje à noite. — Ela se levanta e vai indo para a porta. — Aonde você
vai, Lorena? Nem passou meus recados ainda.
— Vou procurar seu ânimo, deve ter deixado cair em algum lugar. O
deus do sexo está atrás de você para te dar um créu e você aí com essa
empolgação. Só por Deus mesmo.
— Desde quando o Ricardo é deus do sexo?
— Informações das peguetes dele pelos corredores.
Enquanto ela conta de onde ouviu esses absurdos, abro as pastas
novamente para fazer anotações.
— Desculpa te interromper, Lolo, só quero saber se estas pastas estão
todas organizadas como te pedi.
Ela folheia cada uma e retira alguma coisa, deve ser algum rascunho.
— Isso não é daqui.
O dia passou rápido demais para o meu gosto, assim que saí da minha
última reunião, fui para casa me arrumar para o encontro. Já tomada
banho, vou para o closet escolher uma roupa. Não sou muito ligada em
moda, prefiro algo elegante e confortável, opto por um vestido de frente
única floral, scarpin e clucht verde, brincos e pulseira de ouro e o look está
pronto. Eu adorava meus cachos, até descobrir a praticidade dos cabelos
lisos, então alisei e fiquei ainda mais apaixonada pelos meus cabelos, que
vão até o meio das costas.
Eu não me lembro da última vez que tive prazer com um homem, entre
abraços e beijos, mão naquilo e aquilo na mão, nada acontece, é como se
desligassem o interruptor do desejo. Sozinha, tocando-me, tenho orgasmos,
só que nada se compara a sentir uma pessoa dentro de mim.
Já fui a médicos e todos me disseram a mesma coisa, é psicológico, mas
nem os psicólogos conseguiram me ajudar.
Já sai com o Ricardo algumas vezes e com outros homens também, na
hora H tenho que fingir um orgasmo, não é justo ferir o orgulho do cara
porque me tornei frígida, ou quase. Mas a verdade é que ninguém me
desperta, por mais que eu tente.
Encontro Ricardo à minha espera no hall de entrada do condomínio, ele
me cumprimenta com dois leves beijos no rosto.
— Boa noite, Lê você está linda como sempre.
— Boa noite, galã. Você também está muito bem.
Ele abre a porta para mim como um verdadeiro cavalheiro que é. No
caminho para o restaurante eu tento me concentrar, mas desde que delirei
com aqueles olhos azuis, que só existem nos meus sonhos, não consigo
prestar atenção em nada.
— Letícia?
— Oi?
— Está distraída, princesa. Algum problema?
— Não, está tudo bem.
— Estou sabendo que você apresentará a próxima Vitrine. Se bem te
conheço, está se dedicando totalmente para isso.
— Se não for assim, não teremos êxito.
— Quando fui o apresentador, o sheik Baschir estava presente e já
adianto, não é fácil.
— Imagino. — Desconverso, sou muito fechada para ficar trocando
figurinhas sobre negócios.
O jantar foi muito agradável e Ricardo uma ótima companhia, assim que
entramos no carro para irmos embora, ele me beija e o clima esquenta.
Dessa vez vai...
No meio do beijo resolvo abrir os olhos e vejo que um par de olhos azuis
intensos. Não me assustei, não senti medo e nem calafrio, eu o desejei. Um
calor há tanto tempo desconhecido, volta a queimar dentro de mim. Eu
quero mais...
— Nossa princesa. Eu sabia que você estava com saudades de mim.
E todo encanto se acabou.
Abri os olhos e encontrei os olhos castanhos do Ricardo. Meu Deus! Acho
que estou ficando louca.
— Me desculpa não sei o que me deu.
— Para sua casa ou para minha?
— Eu para minha e você para sua...
— Mas achei que iríamos passar a noite juntos, o clima estava
esquentando.
— Eu não estou me sentindo bem. Se for incômodo, posso pedir um táxi.
— Calma gata eu vou levar você até em casa. Quem sabe você não muda
de opinião até lá.
Sorrio e viro para fora, não me conhece mesmo, aliás, nem eu me
reconheço. O que está acontecendo comigo? De onde esses benditos olhos
saíram e não me deixam em paz?
Assim que ele estaciona na frente do prédio, me despeço e subo
correndo para o meu refúgio. Preciso colocar a cabeça no lugar, agora, aqui,
sozinha, penso naquele olhar e meu corpo volta a dar sinal de vida. Como
isso é possível?
Caço meu celular na bolsa, vou ligar para a Lorena.
— Lolo. Acho que estou ficando louca!
— Oi para você também, amore. Por que acha isso?
— Desculpa, oi. Está ocupada?
— Estou vendo filme, então, não, não estou ocupada. Agora me diz, por
que a loucura?
— De uns dias para cá ando sonhando com um par de olhos azuis...
— E quem é o dono desses olhos poderosos, a ponto de fazer nossa
amazona achar que está louca?
— Não sei...
— Não sabe?
— Não. Eu vi em algum lugar e de lá para cá sonho quase todos os dias
com ele.
— Ele quem?
— Eu não sei... Não me lembro do rosto, somente dos olhos.
— Você deveria estar com o Ricardão e não sonhando.
— Eu estava com o Ricardo, beijando ele, então abri os olhos e vi aqueles
olhos azuis...
— O Ricardão não tem olhos azuis, criatura.
— Mas eu vi e aqueles olhos acenderam uma coisa diferente em mim,
molestei o homem com aquele beijo. Daí ele falou alguma coisa, quebrou o
clima na hora.
— Que estranho, Lê. Não sei como te ajudar nisso.
— Nem eu... Desculpa por te incomodar, essa Vitrine deve estar
acabando com meus neurônios. Volta para o filme e eu vou deitar. Beijos e
boa noite, flor.
— Beijos. Cuida-se!
Troco de roupa e deito para dormir, cada dia que passa estou indo deitar
cada vez mais cedo, não quero admitir, mas, quero encontrar aquele olhar,
mais uma vez...

——ooOoo——

Estou correndo entre as árvores, é noite, piso em meu vestido branco que é
longo demais e caio, enquanto um arrepio corre o meu corpo. Olho para os
lados porque sei que ele está por perto e sei que ele está aqui por mim. Olho
para o meu pé descalço e um pouco machucado, lágrimas brotam dos meus
olhos e as palavras saem da minha boca.
— Eu preciso tanto de você... Por favor...
Uma mão toca no meu rosto, para secar minhas lágrimas, sinto-me
confortada. Levanto a cabeça e vejo aqueles olhos que me prendem, passo a
mão por aquele rosto desconhecido e novamente as palavras saem sem
permissão.
— Eu preciso de você...
Mãos fortes rasgam meu vestido, meu corpo fica à mostra. Todo o lugar
que estava no breu, é iluminado por uma luz vermelha e a luxuria toma conta
do meu corpo. Assalto sua boca sem piedade e ele ao meu corpo, toma de mim
o que quer, quando eu estava prestes a ter um orgasmo, toda a cena muda.
Tudo voltou a ficar escuro, aquele ser me empurra e acabo caindo no chão,
com o rosto no pó.
Não entendo o que acontece, por que isso?
Abro os olhos e me dou conta que foi somente um sonho ou um
pesadelo, levanto e sento-me na espreguiçadeira que fica na sacada, ouço o
barulho mar que me acalma. A brisa resfria meu corpo que estava quente
por causa daqueles olhos azuis, novamente.
Preciso encontrar um psiquiatra, isso sim!
Não fui para empresa de manhã, preferi ficar em casa e trabalhar nos e-
mails para os empresários de lá. Chequei o conteúdo que cada um irá
receber, são iguais na maior parte do arquivo, mas tem algumas
peculiaridades em cada mensagem, programei o dia e a hora para serem
enviados automaticamente.
Assim que sento na minha cadeira no escritório, Lorena me aparece com
um café.
— Obrigada, estava precisando.
— Está tudo certinho, Lê?
— Tudo na santa paz.
— Ah, antes que eu me esqueça, minha mãe mandou um recado, disse
que quando temos esse tipo de encontro, é um sinal do destino. Esses olhos
têm dono e provavelmente ele está vindo ao seu encontro também.
— De onde sua mãe tira essas coisas? — Ela dá de ombro.
— Não sei, mas, ela costuma acertar. Deixa-me terminar o pensamento
dela, a missão de ambos é encontrar-se e quando esse encontro acontecer,
seu destino será selado.
Um calafrio sacudiu meu corpo e eu me benzo.
— Credo! Sua mãe tem que parar de falar essas coisas e você têm que
parar de me falar essas coisas.
— Já parei! O senhor Kevin esteve à sua procura, como você não estava,
deixou um recado. Os convidados começaram a chegar quarta-feira pela
manhã, as reuniões continuam como foram programadas, a primeira na
quinta-feira às duas horas da tarde.
— Ok, obrigada.
— Que desanimo, qual é o problema, Lê?
— Nenhum. Não dormi direito. Lorena dá uma olhada na minha agenda,
tenho quase certeza de que tenho uma reunião importante por esses dias.
Se caso tiver, remarque, por favor.
— Ok.
— Lolo, minha agenda está muito cheia agora à tarde?
— Não, só algumas ligações.
— Vou fazê-las agora e depois nós duas vamos sair, vamos às compras!
Lorena pula como uma menina, ela é tão bonequinha, que dá vontade
apertar. De repente me olha séria e pergunta:
— O que vamos comprar?
— Hoje acordei precisando me sentir sexy, pensei em irmos aquela loja
do shopping ver algumas lingeries, ir aquela boutique da sua amiga e
depois um lanche, o que acha?
— Se prepare para a primeira ligação Xena. — Xena é personagem do
seriado, “Xena, a Princesa Guerreira”, onde ela se redime do seu passado
violento, ajudando quem precisa. Desde o dia em que começamos a assistir
o seriado, Lorena me chama de Xena ou amazona.
Logo me passa as primeiras ligações, entre uma e outra, vou
respondendo alguns e-mails. Do nada, veio uma vontade de saber a
procedência daqueles olhos azuis, se nossos destinos forem selados,
melhor eu tomar conhecimento da peça logo. Assim que digito Homens com
olhos azuis intensos, se abrem várias imagens e no meio delas, aquele que
tem me perseguido. Exatamente na hora em que eu clico em cima da
imagem, meu computador desliga.
— Isso só pode ser brincadeira — Levanto-me e vou até a porta saber o
que anda acontecendo. — Lolo, o que houve?
— O que houve aonde?
— Seu computador está funcionando?
— Normal.
Volto, sento na minha cadeira e fico a olhar o computador reiniciando.
Eu não acredito em espíritos e fantasmas, mas estou repensando
seriamente minha opinião.
Ou eu sou apenas muito azarada mesmo...
Capítulo 3
Os dias passam voando e os trabalhos para a Vitrine, se intensificando.
Vou ao encontro de Kevin na sua sala.
— Boa tarde Kevin.
— Boa tarde, Lê. — Ele se levanta para me cumprimentar. — Tudo certo
para irmos ao hotel? Ethan vai desembarcar lá pelas três da tarde, ele é o
primeiro a chegar.
— Tenho uma reunião importante do Grupo Rebouças, mas Lorena vai
com você. Ela está por dentro de tudo, cada detalhe.
— Ótimo, mas no jantar você estará presente, não é?
— Claro que sim! Ethan já me mandou um e-mail antes de embarcar,
exigindo minha presença.
Lolo é meu braço direito, esquerdo e as duas pernas, somos uma equipe.
Kevin já tentou promovê-la diversas vezes, outros departamentos a
procuraram, mas a menina não me larga por nada. Sua formação acadêmica
permite que ela seja promovida a executiva, mas por escolha, ela prefere
me ajudar. Há pastas que só faço negociações, o resto é com ela. Há
contratos que levam a assinatura dela também, uma excelente profissional,
não haveria porque limitá-la. Nos meus trabalhos fora da Global, ela está
comigo também e às vezes tenho a impressão que muitos preferem lidar
com ela a lidar comigo.
Nos despedimos e fui para minha reunião, passei a tarde inteira
negociando novos contratos e renegociando dívidas, pode não parecer, mas
é muito cansativo, ainda mais quando somos contratados somente para
isso.
Já em casa, tomo um banho, enrolo-me no roupão e sento na varanda
com uma xícara de café, ainda bem que deu tempo para descansar. Meus
pensamentos viajam e os olhos azuis aparecem. Chega! Esses delírios estão
acabando comigo.
Vou para o closet escolher uma roupa, de preferência bem comportada,
Ethan não é confiável perto de brasileiras. Olho entre meus pretinhos
básicos, até porque a cor combina com meu humor. Peguei um vestido de
um ombro só, a parte de cima franzido, acinturado, saia godê, na altura do
joelho. Cabelos soltos, um pequeno brinco, pouca maquiagem, pulseira,
anéis de ouro e sapato azul bic.
Prefiro pegar um táxi para ir ao hotel, não gosto da ideia de dirigir tarde
da noite, ainda mais aqui no Rio. No caminho vou absorta nos meus
pensamentos, jamais pensei um dia ser quem sou, estar onde estou, nunca
pensei que sobreviveria. Sempre encarei minha vida sendo curta, não faço
planos em longo prazo, no máximo três meses. Estou sempre com um pé
atrás com todo mundo e com um pé na frente dos negócios.
O táxi para na frente do hotel, alguém abre a porta para mim, desço e
vou até o saguão. Enquanto estou esperando alguém me atender, um
arrepio corre pelo meu corpo e reconheço que é o que sinto nos meus
sonhos.
Olho para os lados a procura daqueles olhos azuis, meu coração
disparado e meu corpo em alerta, me dizem que tem algo por aqui. Viro em
direção aos elevadores e o vejo, o dono do olhar que me persegue há dias.
Ele existe!
Fico estática, chocada, sem conseguir desviar os olhos dele. As postas do
elevador se fecham e meus pés sem ordem nenhuma começam a marchar
para o elevador.
— Letícia!
Assusto-me e olho na direção da voz, é Lorena.
— Lolo, ele existe... — Ela segura em meu braço.
— Lê, você está pálida. Quem existe? — Aponto para o elevador.
— Os olhos azuis, o dono dos olhos que te falei, está aqui no hotel...
— Estão te esperando no restaurante mulher, o senhor Scott, aquele
gostoso não para de perguntar por você. — fecho os olhos e concordo. Vim
aqui a trabalho, não posso me distrair...
Dirigimos-nos até o restaurante, lá encontro o Kevin e a esposa, Ethan e
um de seus assistentes. Assim que ele me vê, levanta-se e vem em minha
direção de braços abertos.
— Letícia — Aquele jeito de falar dele, português americanizado é um
charme.
— Como está, Ethan?
— Melhor agora com você nos meus braços.
Desvencilho-me do seu abraço pegajoso e cumprimento os outros da
mesa. Conversamos, fizemos nossos pedidos e não gostei nada dos olhares
trocados entre Lorena e Ethan.
O jantar estava agradável, mas tive que lutar muitas vezes para não me
levantar dali e sair em busca daquele homem.
— Letícia?
— Oi?
— Que tal prestar atenção aqui um pouquinho? — ela baixa a voz,
somente eu a ouço. — Quer que eu vá investigar onde o olhos azuis está?
— Desculpem-me. — Todos da mesa estão olhando para nós, que
vergonha. — O dia foi cheio e estou um pouco cansada.
Kevin e sua esposa se despedem e saem o assistente do Ethan, Mark,
também se despede e parte. Nós fomos para a parte aberta do restaurante,
as noites do Rio são agradáveis demais para ficarmos enfornados na parte
interna.
Estou gostando de ver Lolo rir, flertar, se não fosse ele, eu faria muito
gosto. Mas o senhor Scott só quer saber de brincar e Lorena é menina para
compromissos sérios.
Já estava para me despedir, quando alguém aparece.
— Ethan — Todo meu corpo respondeu na hora.
Viro-me para ver quem era e dou de cara com aqueles olhos azuis, que
nessa iluminação ficam mais escuros e assustadores, eu os reconheceria até
na intensa escuridão. O homem é alto e forte, seu perfume toma conta do
lugar, estou... Hipnotizada...
— Hei cara, não sabia que já estava aqui, se soubesse teria convidado
você para jantar conosco. — Ethan fala.
— Você sabe que não misturo negócios com prazer. — Os dois homens
se cumprimentam. Ele me olha dos pés à cabeça. — Apesar de que suas
amiguinhas são lindas. Quantas vezes falei para não envolver as
acompanhantes em viagens de negócios, quer tê-las na sua cama tudo bem,
mas expor, pode ser um problema.
— Lê, é impressão minha ou esse aí está nos chamando de prostitutas?
— Lorena me cutuca e pergunta.
— Não foi impressão.
— Se você subir comigo, garota, eu te darei uma noite inesquecível e a
recompensarei muito bem. — O homem dos misteriosos olhos azuis se
aproxima, passa seu dedo pelo meu rosto e propõe.
Aproximo-me mais, passo as mãos pela sua camisa.
— Seria um prazer cuidar de você, senhor. Mas infelizmente não tenho
mais horário, agenda cheia. Sabe como é! — Despeço-me do Ethan, pego
Lorena pelo braço e saímos dali.
— Letícia de Deus, o que você fez?
— Não sei, era aquilo ou tapa na cara.
— Lê...
— Vamos para casa, estou cansada, não consigo pensar direito e a
decepção foi grande. Só de pensar que quando o encontraria seria mágico,
que aqueles olhos azuis seriam minha perdição. Eu tenho o dedo podre
mesmo...
— Ele é o cara dos olhos que você anda sonhando?
— Sim...
— Você não sabe quem ele é?
— Não, agora não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
Dois táxis encostam ao mesmo tempo, dou um abraço em Lolo e vou
embora frustrada, porque eu queria aquela noite inesquecível, queria
aquelas mãos pelo meu corpo. Tenho que esquecer isso e me focar no meu
trabalho, a partir de amanhã pelos próximos dias, respirarei a Vitrine, até
todos partirem de volta para seus países.
Assim que entro em casa, tiro a roupa e vou para o banho quente, não
resisto e me toco. Aquele olhar, aquelas mãos, aquele um milésimo de
toque no meu rosto foi o suficiente para me desestabilizar.

——ooOoo——

Minha noite foi agitada, virando de um lado para o outro sem parar.
Levanto antes de o meu despertador tocar, coloco uma roupa confortável,
um tênis e vou correr na praia, gastar minhas energias. Alterno entre
caminhar e correr. Alongo-me e continuo meus exercícios. Minha finalidade
é me esfriar, entrar no papel de executiva, me focar no profissionalismo.
Estou saindo do chuveiro e ouço meu celular tocar, olho no visor e vejo
que é Kevin.
— Bom dia, boss, em que posso ajudá-lo?
— Bom dia, Letícia. A que horas pretende chegar ao hotel?
Pelo tom de voz a coisa não está boa. Olho a hora.
— Daqui duas horas, Kevin. Combinei de almoçar com a Lorena antes da
reunião.
— Tudo bem, se puder chegar antes para conversarmos, agradeceria
muito.
— Estarei aí em uma hora. Até daqui a pouco.
Não sei o motivo do mal humor, está tudo conforme o planejado, nada
saiu errado até aqui, deve ser o nervosismo. Não estou nervosa, estou
ansiosa, não vejo à hora de começar. A corrida me ajuda justamente nisso,
não há nada mais letal para negociações do que a ansiedade, isso faz com
que a gente ceda antes do necessário, não enxergue melhores
oportunidades. Quando vamos enfrentar os grandes, como é o meu caso
hoje, não pode mostrar ansiedade, até porque em qualquer sinal de
fraqueza, eles me devorarão.
Escolho um tailleur e saia lápis em preto, sapatos altos, apenas um
brinco, a sobriedade faz muita diferença. O cabelo preso em rabo de cavalo,
maquiagem básica e a autoconfiança lá em cima.
Assim que chego ao hotel, vou ao encontro do Kevin na sala de
conferências reservadas para a Vitrine. Os seguranças já estão a postos e
fazendo seu trabalho, perfeito! Eu me preocupei com cada detalhe desse
encontro, até ajudei a selecionar os seguranças, acompanhei a varredura do
local ontem, outra deve ser feita daqui a pouco, temos a polícia em alerta
fora do local e tudo está indo perfeitamente bem, graças a Deus!
— Oi, Lê, senhor Cooper está tenso, o homem vai enlouquecer meio
mundo. — Lorena vem ao meu encontro. — Já pensei em providenciar
camisa para o coitado...
— Letícia!
— Boa sorte! — Lorena levanta me cutuca e fala.
— Oi Kevin, estamos tendo problemas?
— Não, por isso estou nervoso, nada dá errado, isso é um mau sinal.
Como pode ser mau sinal as coisas darem certo?
— Vem comigo, vamos beber algo e comer alguma coisa, senhor
presidente. Está muito tenso.
— Não estou com fome, Letícia. Prefiro ficar aqui até começar a reunião.
— Nada disso Kevin, você almoçará comigo e Lorena. Temos seus dois
assistentes de olho naquilo, se algo der errado, nos procurarão. Você já
deveria ter aprendido que comigo as coisas são assim, nada passa em
branco, cada detalhe, cada nuance está conferido.
— Em todas as edições tivemos problemas ou imprevistos e esse está
tudo... — Ele arruma o terno. — Certo. Está tudo certo, para mim é difícil.
Enquanto vocês se sentam, vou ao toalete.
— Lorena? — ela está mais distraída do que de costume.
— Sim?
Analiso-a de cima a baixo e os olhos brilhantes entregam a boneca.
— Qual é o nome do boy?
— Hã?
Começo a rir, isso é o que falamos quando queremos ganhar mais tempo
para pensar em uma boa desculpa.
— Nomes Lolo.
— Promete não ficar brava comigo? — Ela junta as mãos como se fosse
rezar — Por favorzinho?
— Prometo não surtar.
— Ethan...
Eu deveria ter imaginado, sorrio e aceno. Neste momento, Kevin volta à
mesa e fazemos nossos pedidos.
— Sábado pela manhã embarcamos para Fortaleza, reservei toda a
primeira classe para levá-los. Segunda- feira nós teremos um almoço com a
Presidente em Brasília, depois retornaremos ao Rio. Se algum deles se
interessar pelos projetos, terça- feira voltaremos as negociações.
— Só uma coisa, eu não precisarei ir a Fortaleza e nem para Brasília, não
é?
— Não precisará assim vocês descansam um pouco.
— Obrigada, senhor Cooper. — Lolo agradece.
O almoço só não foi mais tranquilo porque o Kevin não parava de
balançar a perna, isso estava me irritando já. Mas meus pensamentos
estavam voltados a Lorena e Ethan, eu me preocupo com ela e levando em
consideração como ele é não sei se será uma boa ideia. Deus a proteja de
qualquer mal.
— Antes que eu me esqueça Letícia. Reservei um quarto, se quiser
descansar ou mesmo passar a noite durante esses dias, é seu e da Lorena.
Por essa eu não esperava.
— Obrigada Kevin.

——ooOoo——

O momento de abrir a Vitrine estava perto, me ajeitei, arrumei as pastas,


conferi os equipamentos, respiro fundo. Olho em volta e vejo a
grandiosidade da coisa, esse pode ser um grande passo para o sucesso ou
para a decadência.
O salão Azul foi uma excelente escolha para esse evento. As mesas e
cadeiras formam um grande “U”, as janelas amplas com cortinas
impecáveis, preenchem todo o espaço com luz natural, tornando-o perfeito
para a apresentação. Todo o lugar foi arrumado para tornar as horas mais
confortáveis, o hotel teve o cuidado de arrumar uma parte com cafés, sucos
e frutas. O acesso à sacada do hotel proporciona aos participantes um
espaço para apreciar deslumbrante vista para a praia.
O primeiro convidado chega, o grego Sebastian Khristophoros, bem
vestido com calça cinza e camisa branca, bem ajustada ao corpo. Moreno
bronzeado com feições fortes, queixo quadrado, boca bem desenhada,
olhos castanhos-esverdeados, cabelos negros e lisos no ponto certo para
ser puxado. Kevin o recebe, ele também me cumprimenta e o meu
pensamento de profissional foge de mim.
— Seja bem-vindo, senhor Khristophoros.
Os gregos e sua mania de cumprimentar com beijos no rosto. Não acho
ruim, nem um pouco!
— Estou muito bem, senhorita?
— Letícia Sophie Barros.
— Sophie é o nome da minha segunda filha. Difícil esquecer. — Lorena o
acompanha até a cadeira de escolha dele e o acomoda no primeiro assento.
Logo entra o sheik Hassan Mohamed Aziz Bashir, meio metro de pura
falta de elegância, a beleza passou a quilômetros dali. Baixinho, cheinho,
nariz grande, com kandurah que é o nome da veste longa branca muito
parecido com um vestido e em sua cabeça o gutra. Um aceno de cabeça e a
Lolo também o acompanha até o seu lugar.
Ethan com seu bom humor, já chega me beijando no rosto.
— Boa tarde, senhorita Letícia.
— Boa tarde senhor Scott. Sinta-se à vontade.
Ele passa seu braço pela cintura da minha amiga, que está com um
sorriso bobo e vão em direção a cadeira.
— Boa tarde, signorina.
Olho para as duas personalidades que estão diante de mim, o italiano
Martino Nicolazzi Rossi, elegante em seu terno Armani preto. Ele é um
homem não muito bonito, mas muito charmoso. Olhos claros, nariz
avantajado, parecido com um jogador de futebol, o Buffon.
— Boa tarde Signori Rossi, seja bem-vindo. Lorena o acompanhará até
um assento.
— Gracie.
Eu reconheceria aquele irlandês em qualquer lugar, porte inglês, olhos
verdes claros, cabelos loiros levemente avermelhados, pele claríssima. Por
debaixo daquela camisa branca justa, tem um corpo escultural. A elegância
não passa despercebida.
Sem pensar, adianto-me e estendo a mão. — Boa tarde, senhor Larkin.
Seja bem-vindo a Vitrine!
Elegantemente, ele a toma e a beija.
— É um prazer estar aqui e, por favor, chame-me de Liam.
Eu aceno em sinal de respeito e o acompanho até a terceira cadeira
lateral, à esquerda de quem apresentará. — Qualquer coisa que precisar,
pode chamar a Lorena. — Aponto para a Lolo.
Os assessores e assistentes dos empresários, foram tomando seus
lugares nos assentos em volta do grande “U” que os principais convidados
formavam.
— Espero que eu também tenha o direito da senhorita Letícia me
acompanhar até minha cadeira.
Não acredito que ele está aqui...
Capítulo 4
Fico estática, sinto o calor tomar conta e a minha pele queimar. Viro-me
mais devagar possível.
— Desculpe-me essa é uma reunião particular, só para convidados...
— Senhor Zachary Thorton O´Brian. — Lorena corre para corrigir meu
deslize. — Essa é a executiva que será a oradora dessa edição, Le...
— Letícia, eu sei. — Ele termina a frase de Lolo.
Fico muda, chocada, de boca aberta, pasma, descrente e todos os outros
adjetivos cabíveis e possíveis.
Aquela boca deliciosa continua a se movimentar e dessa vez faço um
esforço para ouvir.
— Então Letícia, me acompanha?
Claro que sim!
— Lorena o fará, com licença.
Viro-me e vou para onde minha mesa está arrumada e me preparo para
começar a apresentação, mesmo sem jeito. Kevin se coloca ao meu lado e dá
início a reunião.
— Sejam bem-vindos a sexta edição da Vitrine. Fico honrado por terem
aceitado nosso convite para estarem presentes. Espero que os projetos
apresentados alcancem os gostos de alguns e assim poderemos concretizar
fortes parcerias. Deixo vocês agora com a competente Letícia, que fará a
apresentação dos projetos.
Em meio aos aplausos, tomo meu lugar e começo minha jornada.
— Obrigada senhor Cooper e boa tarde a todos. É um prazer tê-los aqui...
— O prazer é todo nosso, signorina. — O italiano com um sorriso galante
fala.
O infeliz do Zachary olhos azuis, se sentou de frente para mim, ele está
em linha reta de onde estou. Deus, agora sou eu que preciso da sua proteção.
Como posso me concentrar em frente a um loiro, alto, com olhos azuis
intensos e detestavelmente lindo? Cabelos compridos bem cortados um
pouco abaixo do ombro, barba rala e estrategicamente mal feita
contornando aquela boca que com toda certeza, foi desenhada para o
pecado, lábios finos repuxados em um sorriso de canto. Jesus, ele é
parecido com Jesus... E que Jesus, Xesus!
Ele tira seu terno e a sua secretária, o pega. Pacientemente, ele dobra as
mangas, abre mais um botão da camisa, recosta-se para trás com aquele
sorriso sarcástico nos lábios.
— Gostou senhorita Letícia?
Só então me dou conta de que assisti o showzinho de boca aberta.
Sacudo a cabeça para desanuviar e começo meu discurso.
— A frente de vocês há uma pasta para que acompanhem as
apresentações, quaisquer dúvidas que possam ter, estejam à vontade para
perguntar a qualquer momento.
Olhar diretamente nos olhos das pessoas é um ponto a favor de quem
está negociando, isso mostra força e determinação. Tento olhar a cada um,
mas quando chego a Zachary, desvio, aquele olhar é hipnótico.
Faço um sinal para ligarem o retroprojetor.
— Nosso primeiro projeto é uma empresa de software. Dois jovens
desenvolvem aplicativos de trabalho para smartphones, eles adaptam a
funcionalidade de cada unidade e tipo de serviços.
Foram quatro horas seguidas e três projetos transmitidos, cada detalhe
esboçado e explicado, perguntas sendo feitas, discussões sobre ideias
florescendo. Até aqui tudo absolutamente perfeito! Agora é hora de dar um
tempo para respirar e descansar.
Pego um copo de suco e vou para a sacada ver a praia, essa cidade é
linda tanto de dia quanto a noite e o som do mar, acalma-me. Movimento
meu pescoço em círculos, meus ombros doem, a tensão é grande.
— Uma massagem pode ser uma boa saída agora.
Olho para ver o irlandês gato escorar-se no parapeito da sacada. É
impossível não sorrir para ele, Liam é diferente, emana paz.
— Não seria nada mal.
— Você foi muito bem Letícia, foi imponente com o sheik. A hora que
você falou sobre o aplicativo para organizar as visitas das esposas, não
pude me conter. Ri muito.
Entreguei o copo a um dos garçons e pedi outro suco.
— Ele se mostrou difícil o tempo inteiro, chegou uma hora que foi
impossível de continuar.
Ele se aproxima e seu braço encosta no meu.
— Você é muito persuasiva, Letícia, o modo de apresentar e dar ideias
para incrementar, faz toda a diferença.
— Obrigada senhor Larkin...
— Chame-me de Liam, gostaria de jantar comigo mais tarde, Letícia?
— Não, ela não gostaria Larkin. — Zachary me entrega um copo. — Seu
suco. A agenda da nossa executiva prodígio está lotada, não é mesmo
Letícia?
Pego o copo.
— Não, não está cheia e será um prazer jantar com você Liam.
Nisso Kevin aparece na sacada.
— Letícia. Encerraremos por hoje, retornaremos amanhã a partir das
dez da manhã. E mais uma coisa, parabéns. Você foi magnífica.
Aceno para ele com sincera gratidão.
— Obrigada, senhor Cooper.
Saio para encontrar Lolo e a encontro de cochichos com Ethan.
— Você me empresta ela, Ethan? Obrigada.
A puxo dali antes que ele tivesse tempo para alguma reação.
— Agora que o papo estava ficando quente.
Faço uma careta e ela volta a olhá-lo.
— Foco Lorena! Preciso de um favor.
— Meus ouvidos são todos seus Lê...
— O senhor Larkin me convidou para jantar. Eu não ia aceitar, mas o
Zachary apareceu e acabei aceitando.
— Zachary. Sei... — ela me olha com um sorriso debochado.
— Mui amiga senhorita Lorena. Poderia correr no meu apartamento e
pegar roupas para mim? Eu deixei um conjunto branco em cima da cama,
tenho quase certeza que deixei peças íntimas que combine com a roupa no
mesmo lugar. A minha nécessaire está no banheiro, lá já tem tudo o que eu
preciso para higiene e não esqueça do meu perfume, aquele do vidro rosa
em formato de flor, é mais fraco, perfeito para a manhã. Ah, não esqueça de
trazer um pijama.
— Vou num pé e volto no outro Lê.
— Obrigada.
Lorena passa por Ethan que a segura, ela fala algo e os dois olham para
mim, ele sorri e faz sinal de positivo com o polegar na minha direção. Ah,
não, o que ela falou?

——ooOoo——

— Nossa mesa está esperando, Letícia. — Liam toca meu braço com
delicadeza. — Vamos?
Examino o salão para ver se tudo está em ordem. Quase todos os
convidados já se recolheram aos seus quartos, sobrando apenas Zachary e
Ethan confabulando em um canto, alguns de nossos assistentes estavam
organizando as coisas para a reunião pela manhã e o lindo irlandês
esperando-me para jantar.
Fomos até um dos melhores restaurantes da cidade que fica no próprio
hotel. Nos levaram até uma mesa de canto, onde poderíamos ter um pouco
de privacidade.
Liam é um cavalheiro, seu sorriso aquece meu coração, muito doce.
— Fico feliz que tenha aceitado meu convite Letícia. Fiquei encantado
com esses olhos, há momentos que parece amarelo ou dourado, como olhos
de gato.
— Obrigada, mas falar assim me deixa pouco à vontade.
— Não pude deixar de perceber que seu inglês é perfeito e pelo modo
com que fala, deduzo que já morou na América. — ele segura meu olhar.
— Fiz um curso de Relações Internacionais durante três meses lá. Os
melhores dias da minha vida e desde então, sempre que tenho folga, é para
lá que vou.
Meu sonho era conhecer Nova York, andar pela Quinta Avenida e
trabalhar na Wall Street. Para mim, Letícia, esse é o ápice que um executivo
pode alcançar: Ser bem-sucedido na capital do mundo.
Há alguns anos atrás fiz inscrição para um curso de extensão em
Harvard, sem pretensão alguma. Na verdade, na minha pobre concepção,
era só pelo prazer de que tinha boas notas para tentar, só por isso fiquei
uma semana com um sorriso besta no rosto.
Então, em um belo dia recebi uma carta de uma das instituições de
ensino mais importante do mundo, dizendo que fui aceita para fazer o
curso de Relações Internacionais. A alegria era tão grande que chorei e
pensei nos meus pais, eles estariam orgulhosos da filha que tinham.
Estariam...
Naquele dia, fui até Kevin, decidida a pedir demissão para fazer o curso,
eu iria para os Estados Unidos de qualquer maneira. Ele não somente me
apoiou como exigiu que eu me hospedasse em seu apartamento. Era
pequeno, mas muito bem localizado. Lorena embarcou comigo nessa
jornada estudantil, aprimoramos nosso inglês, até porque saímos daqui só
sabendo o básico para comer, egg, milk, water, bacon e bread. De fome
ninguém morreria.
Bons tempos, bons contatos e ótimos passeios. Jurei a mim mesma que
um dia moraria lá e estou no caminho de adquirir meu primeiro imóvel em
Nova York, mas especificamente de frente para o Central Park.
Com a crise lá, os valores dos imóveis despencaram e Kevin acha que
está na hora de se desfazer do apartamento, logo farei minha proposta para
comprá-lo. Nesse meio tempo, também descobri que adoro a bolsa de
valores, aprendi como jogar e não é que deu certo? É meu passatempo
preferido. Ninguém sabe que tenho um bom dinheiro, nem mesmo a Lolo.
Mas posso me dar o luxo de fazer o que bem entender na vida. Sou sozinha,
não sei se terei a oportunidade de ter filhos e quando chegar minha hora de
partir dessa vida terei a certeza de que aproveitei tudo o que quis. Tudo
bem que se o Kevin me vender o apartamento serei pobre novamente, mas
uma pobre em Nova York!
O garçom se aproxima e tira-me do devaneio, fizemos nosso pedido e ele
se retira. De repente, todo ambiente muda, o restaurante fica em silêncio.
Ouço risadas, olho para minha esquerda e ele estava lá, muito próximo
da sua assistente, aliás, até onde pude perceber a única mulher entre
quatro homens que vieram na delegação dele.
Zachary não é um tipo comum, os traços delicados contrastam com a
força. O seu olhar é forte e sua boca, seus lábios finos, o deixa ainda mais
poderoso.
— Pelo jeito Zach está aproveitando a viagem. — Liam fala.
— O hotel é lindo, a cidade é maravilhosa, seria um pecado vir ao Rio de
Janeiro e não aproveitar.
— Vocês se conhecem há quanto tempo?
— O conheci hoje. — essa conversa não está indo para um bom lugar.
— Interessante. Tive a impressão de que se conheciam há mais tempo.
Aonde o irlandês gostoso quer chegar? Arrumo-me na cadeira, e cruzo
minhas mãos no colo.
— Todos são cheios de impressões e achismos.
— Talvez. —Liam olha além de mim e fala. — Zachary é um daqueles
tipos que se devem ter distância. Ele não se importa de passar por cima de
tudo e de todos para conseguir o que deseja. Ele é bom colega, mas no que
se refere às mulheres e aos negócios, ele é implacável. Gostaria de saber por
que ele não tira os olhos de você.
— Porque sou a hostess mais sexy que já tiveram ou talvez seja apenas o
fato de um milionário jantar com uma pobre mortal. — Meu coração bate
um pouco mais forte que o normal e controlo-me ao máximo para não me
certificar de que ele está falando a verdade. Prefiro só dar uma resposta e
mudar de assunto.
Liam solta uma risada deliciosa.
— Você é mortal, mas não nesse sentindo — Ele pisca para mim,
levando-me a sorrir também.
Depois do jantar, estávamos parados em frente aos elevadores, assim
que a porta se abre Lolo sai.
— Já ia te procurar, Lê. Suas coisas estão na suíte, aqui a chave. — Ela
me dá um abraço. — Desculpa, mas tenho um compromisso.
Não deu tempo nem de agradecê-la, pois ela saiu apressadamente.
Estranho. Algumas pessoas entraram conosco no elevador, o que o deixou
cheio de mais, Liam ficou ao meu lado, mas um pouco mais a frente.
Quem se colocou atrás de mim, ficou próximo demais. Não precisei olhar
para quem era, eu já sabia, reconheceria esse perfume em qualquer lugar.
Meu coração acelerado não estava me ajudando, passei a mão no
pescoço, o desconforto estava grande. Fechei meus olhos e tentei não
respirar, porque ele mexe com algo em mim que não entendo.
— Espero que o casal tenha tido um bom jantar. — sua voz reverbera
pelo meu corpo, fazendo os cabelos da minha nuca se arrepiar.
— Nosso jantar foi excelente, Zach e pelo visto o seu também. — Liam
responde.
— O meu foi prazeroso, Larkin.
O elevador para no meu andar e saio sem dizer uma palavra a ninguém e
assim que as portas fecham solto minha respiração que nem tinha
percebido que estava segurando. Corro para a segurança da suíte, preciso
tomar um banho, relaxar e pensar.
Já deitada, peço para a recepção passar a ligação para o quarto do Liam,
foi muita falta de educação da minha parte fugir daquela maneira, ele
merecia uma explicação.
— Suíte do senhor Larkin. — Um homem atende.
— Boa noite, Liam se encontra?
— Neste momento ele está em videoconferência, gostaria de deixar
recado?
— Poderia dizer que a Letícia ligou para dar boa noite? Obrigada.
Viro para o lado e fecho os olhos na intenção de dormir. O que demora a
acontecer e logo aquele espetáculo de homem, com aqueles olhos azuis
figuram no palco do meu sonho, fazendo-me despertar ofegante.
Eu não sei como isso é possível e não faço a menor ideia do que está
acontecendo comigo. Mas de uma coisa tenho absoluta certeza, tenho que
me afastar de Zachary Thorton O´Brian, senão, ele será minha sentença de
morte!
Capítulo 5
Acordo com o meu celular despertando, são raras essas ocasiões, mas
minha noite não foi tranquila, acordei várias vezes.
— Bom dia flor do dia!
Lorena me fala com bom humor, e eu a retribuo com menos empolgação.
— Bom dia.
— Cheguei cedo, você ainda estava dormindo, então pedi seu café da
manhã no quarto.
— Obrigada Lolo. Minha noite foi agitada, estou um pouco ansiosa.
Ela me alcança um lindo buquê de flores do campo.
— Chegou agora pouco para você, do senhor Larkin.
Pego o cartão para ver o que diz, acredito que essa seja sua caligrafia, é
muito elegante.

Adorei o nosso jantar. Você é uma companhia fantástica. Espero que


tenhamos uma nova oportunidade. Beijos.
“Liam Larkin”

Alguém bate na porta, não me dou o trabalho de trocar de roupa e vou


atender. Kevin me olha de cima a baixo.
— Noite ruim, Lê? Bom dia. — Passa me dando um beijo no rosto.
— Bom dia. Só estou um pouco ansiosa.
Tranco-me no banheiro para fazer minha higiene, saio ainda de pijama e
me sento à mesa para tomar café. Ambos sentam de frente para mim e
passam os detalhes da reunião e do almoço me olhando com o canto dos
olhos. Vou trocar de roupa porque os dois estão me irritando. Mas antes
tenho que perguntar uma coisa a Lolo.
— Lorena? — ela olha-me surpresa.
— Sim?
— Eu sei com quem você estava ontem.
Jogo verde e ela cai.
— Ethan queria conhecer outro lugar... — Ela se cala com a realização.
— Merda, você jogou verde.
— E colhi maduro. — pisco para ela e vou para o banheiro com a roupa
no cabide.
Preparo-me psicologicamente para a segunda rodada de apresentações
da Vitrine. Kevin e Lorena descem antes de mim, fico para trás com a
intenção de protelar o meu encontro com aquele homem. Depois de meia
hora escondendo-me na suíte, desço e vejo um chefe vermelho de nervoso.
— Letícia, você está bem?
— Sim, senhor.
— Então porque a demora? — Ele fala mais alto do que deveria me
assustando.
— Desculpa senhor Kevin. Não queria causar estresse. — Falo fazendo
uma careta e passando por ele. Homens!
Coloco minha pasta em cima da mesa que foi preparada para mim a abro
e retiro os papéis que preciso. Tento parecer calma, mas meu corpo, assim
que passou pela porta, ficou em alerta. A porta do salão é fechada e esse é
meu sinal para começar.
— Bom dia senhores, espero que a noite de vocês tenham sido boa.
Tenho...
— Eu tive uma noite maravilhosa — Ethan se recosta na cadeira e cruza
as pernas. Ele olha para a Lolo e dá uma piscada e volta a me olhar. — Mas
pelo jeito você não Letícia.
Eu sorrio e continuo.
— Tenho mais dois projetos para apresentar. Peço que as perguntas
sejam feitas após a apresentação de cada projeto.
E assim foi, duas horas em cima de um projeto, a apresentação foi
rápida, mas o debate que houve logo após foi demorado e muito proveitoso.
Alcanço um copo com água que levaram para mim e continuo a
apresentação.
— Esse último não está na lista que repassei para vocês, mas o preparei
com carinho e deixei por último pela sua grandiosidade.
Eles me olham com muita atenção, principalmente Kevin com olhar de
traído. Ele supera!
— Por favor, Jônatas, coloque as imagens do resort. — as imagens
aparecem no telão que foi instalado atrás de mim. — Essa é uma das
paisagens mais lindas que já vi e acredito que vocês também... — todos
concordam e continuo. — Esse lugar é no Nordeste brasileiro, como podem
perceber é ermo. Nessa região moram apenas cento e poucas pessoas, não
mais que isso. Um espanhol descobriu a localização, comprou parte das
terras, tirou licenças para construir um resort de luxo, só que ele não
contava com a falência. Ele me procurou alguns dias atrás para negociar e a
oportunidade é essa. Aqui, pode-se construir um hotel e nessa parte de trás,
pode ser feito o maior condomínio de luxo para férias existente, podendo
receber artistas, empresários, todos aqueles que querem suas férias em
casas como se fossem a sua, com toda tecnologia disponível e o principal,
sem fotógrafos. Há mil e quinhentos metros da costa, há um banco de areia,
lugar ideal para um bar exclusivo. — Falo por mais vinte minutos
apresentando cada detalhe desse lugar, as vantagens que teriam e as
condições que incluí como a manutenção da escola local.
— O projeto é muito bom, a ideia é excelente, mas paraíso como esse,
nós temos em várias partes do mundo, alguns são famosos. Por que
investiríamos nesse? — O galã grego, Sebastian me questiona.
— Porque o Brasil pode oferecer uma coisa que os outros não. — Olho-o
com veemência. — O clima e a baixa probabilidade de catástrofes naturais.
A sala silencia, olho para cada um, desviando apenas de Zachary. Eu não
suportaria seu olhar para o meu falhar. Abaixo minha cabeça para guardar
meus papéis me xingando mentalmente, na minha estúpida opinião, seria o
mais disputado. Mas me enganei.
— Eu tenho duas perguntas, a primeira é, se eu embarcar nesse projeto,
que não é pequeno, você será responsável por ele? — Zachary levanta de
sua cadeira e enquanto está se servindo de alguma coisa e pergunta.
Eu abro a boca, mas ele levanta a mão para me parar.
— Só mais uma pergunta senhorita Letícia. Todos nós teremos uma hora
com você ou isso é um privilégio de poucos? — Ele aponta para Liam. —
Porque Larkin teve duas horas com você no jantar de ontem, Ethan teve
mais tempo na noite anterior.
Os outros se voltam para mim esperando uma resposta. Isso não está
acontecendo. Respiro fundo e respondo.
— Sobre a primeira pergunta, se caso contratarem a Global para
intermediar, pode ser que o senhor Cooper me coloque nisso. Sobre a
segunda pergunta... — olho para o Kevin, um pouco nervosa e ele acena em
positivo. — Podemos resolver esse impasse indo almoçar todos juntos
agora...
— Não! — O italiano me corta. —Eu não quero dividir meu horário com
mais ninguém.
Os outros concordam com ele e fazem algumas observações. Eu não as
ouço porque estou planejando como vou matar Zachary, que está me
olhando com deboche. Kevin vem até mim e começa a falar, mas Zachary
toma a frente.
—Senhores, senhores, calma. Vamos organizar isso agora. Quem irá
almoçar com ela daqui a pouco?
Aí o rebuliço começa, olho para o Kevin chocada, sem acreditandar no
que está acontecendo. Gesticulo para resolver aquela bagunça, ele apenas
dá de ombros. Zachary para a discussão.
— Silêncio agora! Algum assistente anota, ficará assim: Rossi almoça
com ela mais tarde. O Sheik ficará com o jantar dessa noite. O almoço de
amanhã será com o Sebastian e o jantar comigo.
— Vocês embarcarão para o Ceará hoje no final da tarde... — Reúno a
força que me resta e digo com muita vergonha.
— E? — Sebastian pergunta.
— Eu não irei. Não está nos planos a minha ida com vocês nessa viagem.
— Então refaça seus planos Cooper, porque ela vai!
— Se a menina tocar esse projeto, eu embarco. Bashir tem que resolver
algumas coisas e convido os outros camaradas para demandar sobre essa
ideia. — O Sheik fala enquanto se levanta.
— Senhores, o carro os pegará às 16 horas. — Kevin eleva sua voz. —
Seus assistentes têm todas às coordenadas para nossa viagem. Agradeço a
todos e que tenhamos um bom dia.
— Letícia... — Volto-me para o dono da voz, cuja pessoa que acabou de
me oferecer de bandeja para os tubarões. — Se eu fosse você doçura, não
perdia tempo conversando. Tem um almoço daqui a pouco e mala para
arrumar.
O filho de uma boa mãe sai rindo com Ethan.
Kevin me pega pelo braço e me arrasta para a varanda, minha paciência
que já não era muito, esgotou.
— Por que você não parou aquilo, senhor Cooper? E já vou avisando, não
irei para lugar algum.
Respiro fundo várias vezes, a brisa da noite toca meu rosto e fecho meus
olhos.
Por que Zachary fez aquilo?
Vingança?
Argh! Ele está fodendo com a minha cabeça.
— Letícia, acalme-se. — Por um momento tinha esquecido que o Kevin
estava aqui. — Eu não posso obrigá-la a viajar e nem ter um momento com
eles. Só que você terá oportunidade de fazer contato diretamente com cada
nome, já parou para pensar nisso? Você é uma das melhores negociadoras
que existem, essas conversas podem render bons contratos. E se caso
aceitar ir nessa viajem, será sua folga, faça o que quiser lá. Deixa eu te dizer
uma coisa, parabéns pelo último projeto. Na hora fiquei chateado por não
saber de nada, mas durante a apresentação fiquei maravilhado, você é
muito boa no que se dispõe a fazer e obrigado por incluir a Global, mesmo
sendo um projeto particular.
— Está de brincadeira comigo não é Kevin? — Ele está com aquela cara
de “Onde está Wally”. Respiro fundo mais uma vez, conto até dez. — Eu te
mandei um e-mail pedindo autorização para apresentar algo inédito, fiz
uma breve explanação do que seria. Admito que muita coisa ficou no
escuro, mas quanto menos pessoas soubessem seria melhor.
— Desculpa pela falha, Letícia.
— Esquece. Vou procurar o senhor Rossi para combinarmos o horário
do bendito almoço, tenho que ir para casa arrumar as malas e você Kevin,
procure a Lolo e avise-a que ela também é obrigada a ir.
Ele sorri e acena, viro-me e saio à caça de Martino Nicolazzi.
——ooOoo——
Depois de combinar o horário do nosso encontro, vou para casa arrumar
minha mala. Lolo vem comigo para conversar.
— Promete não ficar chateada comigo, Lê?
— Prometo não surtar.
— É sobre Ethan. Ai Lê, ele é tão carinhoso comigo, estou nas nuvens.
Ontem à noite fomos dar um passeio pela cidade, caminhamos na praia.
Não resisti e dormi com ele. Não me mata por favorzinho.
Dou risada da sua carinha de anjo. Jamais ficaria brava com a felicidade
dela, jamais.
— Então me conta como o senhor Scott é na cama.
— Ele é tão fofo e quente. Na hora que ele tirou a calça fiquei choquida,
porque chocada era pouco. Achei que não caberia, juro para você, senti o
trem lá no útero, mais um pouquinho chegava à garganta. — tenho uma
crise de riso, não consegui falar mais nada, apenas rir. Essa minha amiga é
impagável, o que eu faria sem o senso de humor dela? Lorena continua a
contar sua saga. — A noite foi louca, estou toda dolorida. O cara tem
pegada, me virou, girou, jogou, puxou, eu era apenas uma boneca em suas
mãos. Por falar em mãos, que mãos!
Mais de uma hora depois, estou de volta ao hotel para encontrar-me com
o italiano bonitão. Peço para levarem minhas coisas para a suíte e me
encaminho para o restaurante. Uma das secretárias de Martino estava à
minha espera na porta, ela apenas aponta onde ele está sentado e o
concierge me escolta até lá.
— Signorina Letízia... — Ele se levanta para me cumprimentar.
Bom Senhor, esse homem sabe como ser charmoso.
— Boa tarde, senhor Rossi. Desculpa meu atraso, é que as coisas saíram
um pouco do meu controle hoje.
— Tutto bene, ragazza. Parla italiano?
— No. Em inglês, por favor. — Misericórdia. Italiano não é minha praia.
— És uma belíssima mulher, Letízia. — Esse “z” naquela boca, é um
pecado. — Posso saber sua idade?
— Obrigada pelo elogio, você é um homem muito charmoso. Tenho
trinta anos.
— Fiquei muito impressionado com seu currículo profissional, já pensou
em mudar de empresa? Você poderia ser muito bem remunerada e de
quebra morar na Itália.
— No momento, o meu único interesse é levá-los a fechar negócios, amo
o Brasil e meus planos incluem não sair daqui. — dou meu melhor sorriso
amarelo.
Eu poderia contar para ele que meu sonho é morar fora, mas o que ele
tem a ver com isso? Aliás, quanto menos pessoas souberem, melhor é. Eu
sinto alguém me observar, olho para os lados, mas não vejo ninguém
suspeito.
O almoço corre bem, Martino é hilário, gosta de contar suas proezas que
me garantiram boas risadas. A sensação de ser observada continuou lá,
todo o tempo, deixando-me incomodada.
— Estou encantado com você, Letízia. Sua pele é linda, seu sorriso
contagiante. — Distraída, sinto o calor da sua mão na minha, levanto meu
olhar até encontrar o seu. Estou em estado de choque, não esboço nenhuma
reação. Ele leva minha mão até a sua boca, e a beija. — Eu gostaria de
passar mais um tempo com você, de preferência a sós.
O ar no ambiente já estava tenso, por um momento senti que a
temperatura caiu alguns graus. Retiro minha mão da sua delicadamente,
arrumo o guardanapo no meu colo e o olho.
— Sinto muito se passei uma impressão errada quanto a esse... Arranjo.
— sim, porque isso tudo é arranjo do Zachary para dar o troco. Olho para o
meu relógio. — Logo partiremos e ainda tenho que organizar algumas
coisas para que tudo seja perfeito. Obrigada pelo almoço, eu me diverti
muito. Com licença.
Saio do restaurante sem olhar para trás, no começo me senti lisonjeada
com alguns de seus elogios, só que agora, me sinto ofendida. Não que sair
com homens bonitos, seja ruim, é que, ele é casado, essa coisa de uma noite
só, não é para mim. Eu quero mais...

——ooOoo——

Pedi autorização para Lolo e eu seguirmos no carro dos assistentes,


estava cheio, apertado, mas ainda assim, era o melhor lugar. Estou
correndo léguas dos convidados, principalmente dele, Zachary. Quando
estamos no mesmo ambiente não consigo ser eu, fico nervosa,
constrangida, assim como uma adolescente.
Já no aeroporto na hora do embarque, sei que estou na primeira classe.
Isso não é ruim, nem um pouco, mas só quero distância. Continuo a discutir
com o Jônatas.
— Eu não importo de pegar o próximo voo, só me tira da primeira
classe.— Continuo a discutir com o Jônatas. Ele balança a cabeça não
entendo nada.
— Letícia Barros, fumou maconha, foi? Quem em sã consciência não
quer viajar na primeira classe, mulher? — Lolo se aproxima. — Vamos
fazer o seguinte, eu vou para o lugar dela Jô e ela pode ficar no meu assento
atrás.
Suspiro aliviada graças a Deus alguém joga no meu time. Eu sei que ela
quer ir perto do Ethan e por ela trocar comigo, Ethan já ganhou alguns
pontos. Tudo resolvido, todos embarcados, coloco meus fones para ouvir
minha música preferida e ler.
Há alguns dias sinto vontade de ler esses romances água com açúcar que
a Lorena e a mãe dela costumam ler. Ela teve a bondade de emprestar seu
leitor digital para mim, já li dois e estou encantada com a literatura Hot e
admito, deixaram os romances água com açúcar, muito melhores.
Estava empolgada lendo “Amor sem Limites — Abbi Glines”, encantada
com a Blaire e o Rush, que homem! Já imaginei ele com aquelas tatuagens,
superprotetor e sexy. Suspiro como uma menina idealizando seu príncipe
encantado.
Estou bem apertada, levantei-me para ir ao banheiro do avião, que
detesto por sinal, encontro Zachary saindo. Dou um passo para trás na
intenção de escapar dali sem que ele perceba, mas como o destino não me
ajuda, ele me viu. Com a minha melhor cara de paisagem, aproximo para
entrar no banheiro.
— O que houve com o banheiro da realeza, interditou? Deixe-me
adivinhar, o ego de alguém caiu e acabou entupindo tudo — Falo com
deboche.
— Ethan monopolizou tudo por lá.
Deveria ter imaginado.
Entro, faço o que tenho que fazer, lavo minhas mãos e saio. Encontro-o
escorado naquele espaço apertado, ficamos mais próximos do que eu
gostaria. Ele está com uma calça jeans desbotada, contornando suas coxas,
uma camiseta justa com decote “V” branca e bem ajustada. Tudo me leva a
crer que ele malha, porque o seu corpo é escultural, seus músculos são bem
visíveis. Vejo parte de uma tatuagem contornando seu braço, imagino que
seja uma tribal ou qualquer coisa assim.
Estou praticamente babando em cima do homem, sua boca atraiu toda
minha atenção. Um pequeno sorriso se espalha por aqueles lábios, belos
dentes aparecem e para piorar a situação, ele passa a ponta da língua pelos
lábios. Todo meu corpo aquece, estou a um passo de pular nele e beijá-lo.
Zachary se aproxima, passa os dedos por uma mexa do meu cabelo.
Minha respiração acelera, ele aproxima da minha orelha, sua respiração faz
com que me arrepie dos pés à cabeça.
— Fico feliz que tenha gostado.
— Gostado do que? — alguém se aproxima para usar um dos banheiros
e ele se afasta para deixar passar. Ele ri e aquele som pode ser o mais novo
hit que embala meus sonhos.
— Espero que tenha gostado da parte de trás, também. — Ele se vira, dá
alguns passos em direção ao seu assento e diz antes de sumir da minha
vista.
Enfim veio minha realização, ele estava rindo porque eu estava babando
sobre ele. Posso ser mais decadente? Não, acho que não. Volto ao meu
assento e uma das assistentes do Ethan está ao meu lado, ela é muito
querida, gostei de conversar com ela e queria algumas informações sobre o
dono daqueles olhos azuis.
— Kimy, você conhece o senhor Zachary Thorton?
— Oh sim, todos conhecem ele. A Candace ali, já saiu com ele umas duas
vezes, disse que o homem é um deus na cama. Mas ele também é conhecido
pela sua arrogância, não se preocupa em passar por cima das pessoas,
desculpa não está no seu vocabulário, quase todas as matérias que ele
figura na América é descrito como implacável. — Ela faz uma careta e
continua. — Ele era noivo de uma das herdeiras Wilkinson, até pegá-lo em
flagrante em uma das festas do senhor Scott, festa do tipo orgia. Algumas
pessoas dizem que ela surtou e começou a quebrar tudo e ele bateu nela,
mas nunca ninguém provou isso e o rompimento partiu dele.
— Muita informação.
Balanço a cabeça.
— Vi sua cara a hora que o senhor O´Brian começou a te arrumar
encontros. Desculpa, mas era hilária. Mas olha pelo lado bom...
— E há um lado bom nisso? — pergunto descrente.
— Claro que sim, ele também está na sua lista de encontros.
— Ainda estou tentando ver o lado bom.
— Ele e o senhor Scott são muito amigos, também já vi ele com Larkin e
Khristophoros. Por falar em Larkin, estou sabendo que ele está bem
interessado em você.
. — Não é bem assim, as pessoas exageram. — Desconverso, porque isso
já está virando fofoca. Coloco meus fones e volto para o livro, vou tentar
esquecer um tatuado lendo a história de outro.
O resto da viagem corre muito bem, sem turbulências, sem apreensão e
sem Zachary.
Capítulo 6
A viagem foi rápida, mas eu não suportava mais ficar dentro daquele
avião, já estava surtando, andando de um lado para o outro. Escolheu a
dedo o local, um resort do tipo “All inclusive” um pouco distante da cidade,
de frente para a praia.
Levaram-nos para o apartamento que foi reservado para Lorena e eu, há
uma sala separando as duas suítes e todos os cômodos são voltados para o
mar. Kevin se redimiu com a escolha da minha suíte, a vista é
absolutamente linda e o banheiro digno de uma princesa. Adorei!
— Lê, não quero ser chata, mas seu jantar com o sheik é daqui há uma
hora e pouco. — Lolo entra em meu quarto dizendo.
— Ah não.
— Zachary está fazendo isso para te obrigar a se encontrar com ele.
Quem me dera que fosse verdade.
— Acho que é vingança por ter falado com ele daquela maneira, quando
nos conhecemos.
— Vá tomar um banho e descansar um pouquinho, também farei o
mesmo. O secretário do sheik virá te buscar aqui às nove.
Lorena beija minha cabeça e sai. Tiro a roupa, encho a banheira, deito-
me e fecho os olhos. A porta do banheiro abre e Zachary entra somente de
calça jeans desgastada, o botão aberto e o cabelo preso. Seus olhos
percorrem meu corpo.
— Está pronta para mim, Letícia?
Ele senta na beirada da banheira e corre suas mãos pela minha nudez,
por onde suas mãos passam sinto minha pele queimar, bastou seu olhar
intenso para que eu esteja pronta para ele. Ele toma minha boca em um
beijo apaixonado e...
— LETÍCIA! — Lorena está quase arrebentando a porta. — Por favor,
abra essa porta. Ai meu Deus!
Desesperada, saio da banheira e mal enrolo a toalha no corpo, antes de
abrir a porta.
— O que foi Lolo?
Ela tira as mãos do rosto pálido, me olha de cima a baixo e as coloca no
quadril.
— Letícia Sophie Barros, o que você estava fazendo naquele banheiro?
— Tomando banho, ué.
— Por uma hora e meia?
— Não foi mais que dez minutos...
— Então porque o secretário do sheik está na nossa porta te esperando?
— Ela me entrega o celular com o relógio iluminado.
Minha boca está tão aberta que meu maxilar dói.
— Xesus! Estarei pronta em cinco minutos.
— Na próxima encarnação vou conversar de perto com quem distribui a
beleza, porque nessa não foi justa comigo. Eu demoro meia hora para ficar
apresentável e a mulher que dorme na banheira precisa só de cinco
minutos. Tsc tsc tsc.
Logo que cheguei guardei as poucas roupas que trouxe, escolhi um
vestido longo rosa bebê, na frente decote canoa e atrás o decote é um pouco
mais ousado, nada demais, para os pés uma rasteirinha no estilo gladiadora
dourada. Não vou ficar mais alta que o homem, seria injusto. Solto o cabelo
e dou uma penteada rápida, um pouco de perfume e estou pronta.
Seu secretário acompanha-me até o restaurante que tem um espaço ao
ar livre, logo que entro o vejo naquele vestido de mangas compridas.
Respiro aliviada quando o bendito secretário senta conosco.
— Boa noite, Sheik Bashir.
— Boa noite, menina Letícia. — ele pega minha mão e a beija.
Logo que o garçom se apresenta pedimos bebidas e os ajudei a escolher
seus pratos. Eu não sou muito de bebidas alcoólicas, só que hoje é questão
de necessidade. Eu preciso! Trazem uma taça de vinho suave para mim e o
árabe a minha frente sorri, provavelmente achando que depois disso serei
fácil. Deixa achando!
— Gostei muito dos projetos, mas Bashir tem um investimento em
mente e gostaria da sua ajuda. — Ótimo o ego é tão grande que tem que ser
tratado na terceira pessoa.
— Se eu puder, farei com prazer. — Péssima escolha de palavras Letícia.
Esse negócio de terceira pessoa contagia.
— Bashir quer investir em jogadores brasileiros de futebol. — Ele sorri
não muito agradavelmente. — Não em times, apenas em jogadores, talvez
construir um lugar onde eles possam estudar e desenvolverem seus
talentos.
— Eu não trabalho no segmento dos esportes, mas conheço quem o faz,
posso apresentá-lo caso queira.
— Bashir gostaria que a menina Letícia dirigisse esse projeto.
— Senhor Bashir, minha participação nisso pode ser esquematizando
toda a organização. Local, o que vão precisar selecionar os colaboradores,
isso para mim é fácil. Mas o senhor precisará de olheiros especialistas, e
nisso não posso ajudar, mas conheço quem o faça.
O jantar seguiu como planejado até o sheik ficar confiante demais e
ultrapassar todos os limites.
— Bashir quer saber se menina Letícia quer passar a noite com ele. —
começo a rir e balanço a cabeça em negativa. Ele continua a falar. — Posso
dar o que você quiser jóias, mordomias...
— Senhor Bashir, agradeço-lhe pelo jantar. — tomo minha água,
levanto-me.
Saio o mais rápido que posso, penso em ir para o meu quarto, mas
desisto e vou caminhar a beira mar. Estou me sentindo um lixo, eu sabia
que isso não daria certo.
Que tipo de impressão eu estou passando a eles?
— Posso te fazer companhia?
— Que susto Liam! — Coloco a mão no peito. — Eu não sou uma boa
companhia nesse momento, mas se quiser arriscar, será um prazer.
— O que se passa Letícia?
Sentamos-nos na areia. E eu olho o mar tranquilo que arrebenta
devagar.
— Só acho que esses almoços e jantares não estão me fazendo bem.
Tudo vai bem, até que acham que podem me levar para a cama. Isso tem me
deixado para baixo, me feito mal.
— Não é legal, eu sei. Você é linda, tem senso de humor e é inteligente.
Qualquer um se encanta por você.
Estamos nos encarando próximos demais, ele está a meio caminho de
me beijar...
O ar gela, um calafrio percorre meu corpo e eu afasto-me de Liam.
— Desculpe-me.
Ele coloca seu dedo embaixo do meu queixo, obrigando-me a olhá-lo.
— Não há porque se desculpar. Não vou mentir que queria...
— Espero não estar atrapalhando.
Liam solta meu rosto e olhamos para Zachary, que está na areia de
bermuda jeans, camiseta preta e braços cruzados. Seu olhar é tão poderoso
sobre mim, que me sinto na obrigação de afastar-me de Liam e dar
satisfação a ele.
— Não está atrapalhando, senhor O´Brian. Se me derem licença, vou para
o meu quarto, preciso descansar.
Fujo sem olhar para trás e corro para minha suíte, bato a porta e escoro,
desejando que fosse Zachary.
— Boa noite Letícia.
Viro-me para dar de cara com Ethan, nu na antessala.
— Sério Ethan? Pelo amor de Deus, vá colocar pelo menos uma cueca.
— Vai dizer que não gostou? — Ele levanta uma sobrancelha.
— Já vi maiores. — Deixo ele para trás falando um “ah” revoltado. O que
esperar dele, não é?
Coloco minha camisola curta, deito, mas tenho medo de fechar os olhos.
Essa coisa de ficar sonhando até dentro da banheira, não é normal. Só que
quando estou perto dele, tudo se transforma.

——ooOoo——

Minha noite foi tranquila, sem sonhos, dormi feito um anjo. Eu


realmente precisava descansar, a correria foi grande e estou toda dolorida.
Alguém bate na porta e logo Lolo coloca sua carinha de anjo.
— Bom dia, flor. Quer ir tomar café e depois ir à praia comigo?
— Claro, me dá uns minutos. — Levanto-me para colocar meu biquíni e
converso com ela. — Ontem vi seu príncipe nú, você tem que incentivá-lo a
colocar pelo menos uma peça de roupa enquanto estiver aqui.
— Ele me falou, revoltado porque você disse que já viu maiores.
Graças a Deus, não encontramos ninguém da vitrine no salão principal,
onde tomamos nosso café. Adorei o fato de a praia ser privativa. Há tendas
com tecidos brancos na areia, espreguiçadeiras e uns lugarzinhos bem
legais que são as cadeiras dentro do mar, como essas não tinham
sombreiros, escolhemos a tenda.
Adoro sol, praia e esse lugar é lindo!
— E aí meninas, o que vão fazer por aqui? — Jônatas aparece e senta
conosco.
— Eu tenho encontros, depois vou me lamentar por cada um deles e
descansar. — Respondo. Lolo ri.
— Eu não sei quando essa mulher começou a ser dramática. Eu vou
olhar a vida sobre as ondas e foder Ethan. E você secretário, o boss te deu
folga?
— Que nada, essa hora é minha única folga, depois tenho que estar as
voltas com os senhores feudais açoitando meu lombo.
Esse menino é um fofo, o adoramos, nunca o vimos com menina alguma.
Esse cabelo desarrumado e olhos claros fazem as estagiárias do escritório
suspirarem por ele.
— Oh escravo Isauro, passa protetor nas minhas costas! — Lolo fala com
ele.
Recosto-me na espreguiçadeira e contemplo a oitava maravilha do
mundo moderno, Zachary Thorton O´Brian saindo do mar, sua tatuagem
que começa no ombro e desce para o braço direito, uma tribal, com uma
sunga azul retratando o que com certeza é a nona maravilha do mundo. Se
aquilo mole é daquele tamanho, imagina em posição de combate?
Percebo que há alguma agitação em algum lugar, mas quem quer saber
de agitação quando se tem um homem alto, brutalmente forte, de cabelos
compridos e olhos azuis misteriosos correndo em nossa direção?
Já estava abrindo um sorriso, quando ele passou direto por mim. Olho
para trás e vejo Zachary segurando um Ethan raivoso, Lorena na frente do
Jônatas que está pálido.
— Por que esse verme estava com as mãos em cima de você, Lorena?
— Estava apenas passando protetor nos meus ombros, porque você,
Ethan, se meteu em algum lugar sem me avisar!
— Lolo, por que você e Ethan não vão para o quarto conversar? — Entro
no meio da discussão, e olho para Ethan. — Jônatas é um cavalheiro, jamais
se aproveitaria dela e mais, eu estava aqui.
Zachary o solta, Lorena arrasta ele para o hotel e Jônatas está tão pálido
que parece que vai vomitar. Passo a mão pelos seus ombros em um gesto
de carinho.
— Vai dar um mergulho e caminhar, você merece uma folga e eu estou te
dando. Depois falo com o Kevin.
Ele acena para mim, mas não tira os olhos de Zachary. O pobre do
menino ficou traumatizado. Zachary se senta na espreguiçadeira que eu
estava, coloca meus óculos escuros. Puxei o rosto e a atenção do Jô de volta
para mim.
— Fica tranquilo, vá aproveitar sua folga.
Ele acena e se vai, estou a um passo da cadeira onde Lolo estava, até que
braços fortes abraçam-me.
— Se bem me lembro, essa cadeira é sua, divida-a comigo.
Parte do meu corpo ficou em cima dele, nada desconfortável, a não ser
pelos tremiliques que eu estava tendo, meu corpo todo aquecido. Um
garçom surgiu do nada e Zachary pede duas águas de coco.
— O que deu em Ethan? — Quebro o silêncio.
— Ciúmes. Se não fosse por isso, ele teria percebido que o menino é gay.
Olho com a boca aberta para ele.
— Jônatas não é gay! — Se for não tem o menor problema e justificaria
algumas coisas. Só não acho legal ficar rotulando as pessoas.
Ele levanta a sobrancelha, acho que está me questionando, mas como
está de óculos escuros, não tenho certeza. Trouxeram os cocos, ele me
alcança um, que tomo com muito gosto.
— Falta muito tempo para o seu próximo compromisso? — ele me
pergunta.
— Bem lembrado. Por que você fez isso, senhor O´Brian? — Largo o coco
na mesinha e sento na outra cadeira de frente para ele.
— Chame-me por Zach. — Ele toma mais um pouco da sua água. — Fiz o
que, Letícia?
— Você me ofereceu para os outros. — Está tirando com a minha cara,
só pode — Foi por vingança?
Zachary se senta, ficando de frente e muito perto de mim. Meu coração
acelera mais do que já estava. Ele tira os óculos e me olha.
— Não foi por vingança, apenas... — Ele passa a mão pelo cabelo
molhado e eu acompanho cada movimento seu. — Era a única maneira de
fazer você se encontrar comigo, para me desculpar pelo nosso primeiro
encontro.
Seus olhos travaram nos meus e ficamos ali duelando, sem pressa. Tento
ler alguma coisa em seu olhar, só que não consigo, ele é fechado demais e
lindo demais.
Rendo-me abaixando minha cabeça, pego meus óculos e levanto.
— Preciso ir, tenho um almoço com Khristophoros. — Zachary se
levanta encosta seu corpo ao meu e sinto aquele arrepio familiar. Ele
encosta sua boca e fala em meu ouvido.
— Estou ansioso para te encontrar mais tarde, senhorita Letícia. — Ele
beija meu rosto e se afasta, deixando-me quente e querendo mais.
Vou para o meu quarto colocar outra roupa. Do jeito que a carruagem
anda, é melhor me cobrir para o próximo encontro. Tudo bem que o grego é
um gato...
Coloco um vestido azul de alças, acima do joelho. Uma rasteirinha com
perolas para combinar com os brincos. Alguém bate na porta, quando abro,
vejo um charmoso grego escorado no batente da porta com uma flor na
mão.
— Boa tarde, Letícia. Pronta?
— Sim.
Ele estende seu braço em um gesto de gentileza. Quem sabe dessa vez eu
possa aproveitar a companhia sem que ele tente me levar para cama.
O restaurante é no hotel, mas um pouco afastado, as mesas são dentro
da água, uma delícia. Sentamos um de frente ao outro, seus olhos são verde
escuros, com manchas douradas, ele é muito charmoso.
— Fico muito feliz que eu possa ter um tempo para te conhecer melhor.
Seu namorado não quis vir nessa viagem? Ele não deveria deixar uma
mulher como você viajar sozinha.
— Uma mulher como eu...
— Uma linda mulher.
Concentro-me no cardápio e faço meu pedido. Sebastian não para de me
olhar a ponto de me deixar constrangida.
— Então senhor Khristophoros, está gostando do passeio?
— O Brasil me lembra à Grécia. — Pois é. Ambos beirando a falência. Ele
continua a falar. — O calor do povo, essa hospitalidade generosa, tudo é
motivo para festejar. País que mesmo em crise, consegue ser feliz. Os
americanos e europeus são frios, tudo deles gira em torno do umbigo do
capitalismo. Já foi a Grécia, princesa?
— Ainda não, mas com certeza um dia irei. É o item número três da
minha lista de desejos.
— Na sua lista de desejos há beijo de um grego?
Wow, esse foi direto ao ponto.
— Não senhor, inclui apenas conhecer a Grécia.
Esquivei-me do homem o almoço todo, pelo menos ele foi mais delicado
nas suas abordagens. Se não fosse casado, com certeza pensaria melhor. Só
que isso é uma viagem de negócios. A esposa e filhos dele, o estão
esperando em casa com saudades. Sei exatamente o quanto pesa a dor da
traição.
Após o jantar, fui novamente caminhar na praia, ver a paisagem, relaxar.
Depois de algum tempo andando, sentei para pensar em Lolo e Ethan, eu
oro todos os dias para que ela encontre o amor verdadeiro, alguém que
cuide dela como uma boneca de porcelana.
Será que um dia encontrarei alguém que cuidará de mim também?
Meu coração aperta e uma lágrima escorre. Eu quero amar e
principalmente, ser amada, cuidada. Alguém que queira estar por mim,
protegendo-me, porque cansa ser forte o tempo todo. Um abraço, um colo,
um cafuné enquanto assistimos TV. Ouvir: Eu te amo ou Você é minha! Para
me deixar feliz.

——ooOoo——

— Oi minha boneca, o que está fazendo aqui? Cadê seu príncipe


possessivo?
Ela sorri. Já é final de tarde quando eu encontro Lolo.
— Aquele príncipe está mais para sapo... Boi, sapo boi. Aff! Eles foram
chamados para uma reunião.
— Reunião? Que estranho, não estou sabendo de nada.
— Eu estava com ele quando um assistente do sheik foi à suíte convidá-
lo para uma reunião com a vossa alteza real das arábias. Ethan disse que
estão empolgados com aquele projeto, provavelmente vão conversar sobre
isso.
— Deve ser...
Assim que entramos, o serviço de quarto entregou um buquê enorme de
rosas brancas e lilás, absurdamente lindo. Em cima figurava um pequeno
cartão,
Infelizmente terei que adiar nosso encontro anjo.
Amanhã nosso dia será especial, eu prometo.
Beijos Zach.
— Ele deve estar na reunião também. Ethan contou que ele estava
ansioso para esse encontro. Parece que o belo dono dos olhos azuis quer te
perseguir fora dos sonhos. Ah, sabe o que lembrei?
— Tenho medo de perguntar...
— O que minha mãe mandou dizer sobre isso, alguma coisa de selar o
destino...
— Pode ir parando. — Corro para o banheiro e ligo as torneiras para
encher a banheira. — Já que a senhorita está livre essa noite, que tal
jantarmos no centro da cidade? Chamamos um táxi e vamos bater pernas
por lá.
Ela levanta os braços em sinal de rendição.
— Ótima ideia! Fico pronta em meia hora.
Mais de uma hora depois descemos em frente ao restaurante de comida
japonesa, indicado como um dos melhores da cidade. Nossa conversa foi
basicamente sobre Ethan, o que é, como se alimenta, como vive e como se
reproduz. Adoro esse senso de humor dela, o brilho no olhar e o grande
sorriso, se ele faz tudo isso com ela, eu só posso apoiar.
— É meia noite e dez. — respondo quando Lorena pergunta a hora.
— O que foi, Lê? Sua mão está gelada.
— Não sei... Só um aperto no peito.
— Pode ser aqueles olhos azuis.
Olho para fora da janela.
— Ou o meu destino sendo selado...
Capítulo 7
Zachary

Esses coquetéis de homenagens são um saco. Se não fosse pela minha


assessoria insistir, jamais estaria aqui. Alguns bajuladores para variar,
outros que só querem uma foto ao meu lado para falar que me conhecem,
principalmente às mulheres. Destas, eu não reclamo, se alguma delas quiser
fotografar minha cama, levarei com o maior prazer.
— Cara, me mata, por favor! Por que ainda frequentamos esses lugares?
Tenho muitos conhecidos, alguns colegas e poucos amigos, sou
reservado, Ethan Scott é um dos amigos mais próximos. Nossos pais se
conheciam desde muito novos, estudaram juntos desde a faculdade. Minha
amizade com Ethan começou ainda na barriga, pode-se dizer.
Todos sabem o quanto que ele é mulherengo irremediável, um evento
desse é só para ele se embebedar e traçar alguma mulher desconhecida.
Olho para ele que já troca seu copo meio vazio por outro completamente
cheio de whisky.
— Porque temos nomes a zelar.
Duas mulheres bonitas, com atributos peitorais deslumbrantes se
aproximam para bater foto conosco. Minha vida não é tão difícil assim.
Ethan já pegou o telefone das duas, prometendo que as chamaria para uma
festinha particular onde eu estaria.
— Zach, aqueles documentos da fusão estão prontos. Vou mandar
amanhã para você lê-los, faça as alterações que forem necessárias.
— Manda aquela sua assistente ruiva me entregar às sete, no
apartamento da Upper East Side.
— Candace? Cara para de foder minhas assistentes. Sabe como é difícil
achar gente competente para fazer o que ela faz?
— Sei Ethan. Por isso a pedi.
— Por falar em apartamento, vou começar uma obra lá no prédio. Vou
derrubar a parede e fazer um apartamento só.
Uma das coisas que mais quis, foi um prédio residencial em Manhattan.
Logo que ele foi construído, eu e outros amigos adquirimos apartamentos
lá. Excelente localização, os imóveis são bons, tanto que quis o prédio
inteiro. Com a crise econômica, os preços dos imóveis despencaram, foi a
oportunidade perfeita para fazer uma oferta.
São dez andares, dois apartamentos por andar. Reformei toda a
cobertura, reformulei a fachada do prédio, modernizei os elevadores.
Aquele lugar é o meu refúgio.
— Sabe se tem algum apartamento para vender no prédio? — Ethan
chama minha atenção.
— Ouvi comentários que o Cooper estava pensando em se desfazer do
dele.
— Por falar no Kevin, recebi um convite para participar da Vitrine.
— Você vai?
— Cara, é no Brasil. Já estou lá! — Uma modelo loira se aproxima e ele a
puxa para o seu colo. — Senta aqui, gracinha.
Despeço-me e vou para casa, isso aqui já deu o que tinha que dar. Uma
das coisas que mais gosto é dirigir, a cidade há essa hora está quase
deserta, perfeito para pensar na vida enquanto rodo com meu possante.
A inquietação mais uma vez está de volta, nos últimos meses mal tenho
dormido, aparentemente sem motivo, já perdi as contas de quantas noites
passei em claro. Sempre trago mulheres para me alegrar, mesmo fodendo a
noite toda, o sono não aparece. Então, mando-as de volta para casa e vou
nadar.
Assim que entro em casa, vou para a piscina dar algumas braçadas,
quem sabe o cansaço me ajude a dormir. Dou algumas voltas e entro para
tomar um banho e deitar.

——ooOoo——

Dias depois de confirmar a presença na Vitrine, recebo um e-mail com


todos os detalhes desse encontro. Achei a ideia bem interessante, reunir
pretensos investidores e apresentar-lhes projetos que podem render bons
frutos. O idealizador é Kevin Cooper, um amigo que possui uma consultora
de investimentos aqui nos Estados Unidos e no Brasil.
Ele já me ajudou com suas consultorias em compra, venda e
investimentos, já me livraram de empresas bombas e de investimentos
fadados ao fracasso. Tenho Cooper em alta conta, se ele me convidou é
porque tem algo que provavelmente chamará minha atenção.
— Vem para cama, senhor O´Brian.
Daqui onde estou sentado, na poltrona que fica de frente para a enorme
cama que ocupa boa parte do quarto, assisto a linda assistente ruiva do
Ethan, dançar nos meus lençóis. Ela é uma delícia de mulher, mas durante o
sexo soltou que estava se apaixonando. Duas fodas e já acha que vou casar.
Essa será nossa última noite.
— Princesa acho melhor você se arrumar. Um táxi encostará daqui dez
minutos para te levar para casa.
Ela sai da cama nua e fica na minha frente com as mãos na cintura.
— Está me dispensando? Acha que pode usar e abusar e depois
descartar?
Fico em silêncio, discutir com mulheres já é ruim, discutir com uma
mulher indignada, é conversa para uma noite inteira e realmente não estou
afim. Ela sabia no que estava se metendo quando transou a primeira vez
comigo, não tenho porque ficar ouvindo essas baboseiras. Coloco meu
notebook debaixo do braço e vou para a sala, isso já está virando um circo e
a minha enxaqueca está apontando.
Encontro o remédio que o médico receitou para essas dores de cabeça
que estão se tornando constante, disse que é falta de sono. Se eu tomar
dois, pode ser que consiga deitar e cochilar. Sento no sofá e volto a ler o
arquivo do Cooper. Quando confirmei minha participação, tive a sensação
de que era o certo e até dormi aquela noite.
A bela assistente do Ethan sai do quarto pisando duro, olha para mim e
depois sai batendo a porta atrás de si. Mulheres! Não entendo porque
pensa que podem mudar um homem, juro que não entendo. Em pleno
século XXI e ainda esperam um conto de fadas? Príncipes não existem,
somos todos uns canalhas que tem por finalidade, o sexo.
Há aqueles que se apaixonam, outros dizem que amam, é verdade, mas a
direção dos sentimentos que são equivocadas. Amamos sexo, quando
encontramos alguém muito boa no que faz, não queremos larga-las tão
cedo, então, um eu te amo vem a calhar.
É hilário ver meus amigos sendo territorialistas, marcando em cima,
crises de ciúmes descabidas. Nunca encontrei alguém que desperte isso e
também não sei se um dia encontrarei. Enquanto a vida não me dá esse
presente de grego, vou procurando à minha maneira.
Ter dinheiro acaba atraindo pessoas de índole duvidosa e nos
transformam em pessoas inescrupulosas. Eu sou poderoso, já nasci rico,
mas trabalho bastante para multiplicar minha fortuna. Dizem por aí que
dinheiro atrai dinheiro, talvez seja verdade, a única certeza disso tudo é
que, as jogadas são mais altas. Gosto do jogo do poder, porque eu posso...
Tudo!
Não existe impossível para mim, se tiver, eu faço e se ainda não der,
então eu compro. Todos querem algo de mim, as que dizem que me amam,
amam o que tenho não o que eu sou. Fui talhado para ser inatingível, cresci
assistindo o que uma mulher interesseira pode fazer com um trouxa que
pensava que tinha achado a boceta da sua vida.
Meu pai foi casado com a minha mãe durante quarenta anos, um dia
chegou com a notícia do divórcio, porque segundo ele, tinha encontrado o
amor da sua vida, alguém que o compreendia e blábláblá...
Nessa época eu já comandava as organizações da família, agradeço a
Deus por isso, não tenho dúvidas que ele colocaria tudo a perder. Depois do
divórcio, ele se aposentou definitivamente e resolveu se mudar para os
Hamptons com sua nova mulherzinha. Todos sabem que a garota transa até
com a perna da mesa se deixar, mas o amor não permite que o imbecil
enxergue.
Depois da separação, minha mãe também resolveu colocar as asinhas de
fora. Alguns meses à frente, ela foi para Las Vegas e em cinco dias voltou
casada com um gigolô. Sempre fomos uma família distante, por isso não
sinto falta deles, também, como poderia sentir falta daquilo que nunca tive?
Hoje ela mora em Miami com o seu personalfodedor.
É repassados lucros das organizações para ambos, dando-lhes a
oportunidade de fazer qualquer besteira que der na telha. A mim restou
olhar a história deles para saber que amor de homem/mulher, não existe. A
verdade é, o quanto estão dispostos a suportar para ter a vida que desejam
e isso tem por nome, amor.
Em uma época passada da minha vida, andei fazendo uma loucura atrás
da outra. Festas, orgias, brigas, até o dia em que fui preso por dirigir meu
Ferrari bêbado e avançar dois sinais vermelhos. Ferrari sim, porque todo
rico que se preza tem uma. Idiotice.
Bom, meu departamento de relações públicas veio com a ideia esdrúxula
de casamento, para mostrar as pessoas que me regenerei e sou um novo
homem. Nessa época eu estava transando com a Amber Wilkinson, uma das
herdeiras mais gostosa que já peguei, socialite desocupada, que até hoje
espera o príncipe que casará com ela sem ser pela sua fortuna.
Uni o útil ao agradável e a pedi em casamento. Fiz uma festa monstruosa
para ela desfilar como o diamante enorme que dei. A ideia não era chamar a
atenção? Então fiz meu dever de casa. Só que depois disso a mulher surtou,
vieram cobranças, choros descontrolados, crises de ciúmes violentas, eu já
não suportava mais.
Ethan tinha me convidado para uma de suas festas particulares, Amber
tinha surtado e eu queria distância da loucura dela e fui a festa, que na
verdade era uma orgia. Lembro que bebi muito, as meninas vinham dançar
e se esfregar no meu colo. Sexo já tinha se tornado escasso depois do
noivado. Então matei minha fome.
Logo ouvi gritos e coisas sendo quebradas. Amber apareceu no exato
momento que uma garota me chupava e outra esfregava seus peitos na
minha cara. Ela tirou as duas pelos cabelos, foi hilário. Não me movimentei
nem para fechar as calças, estava sem condições alguma de me manter em
pé. Dois caras fortes me levaram para casa, não tenho lembrança nenhuma
de quem seja.
Acordei com uma ressaca dos infernos, ouvi gritos agudos vindo da sala.
Da maneira que estava, fui ver o que acontecia e mandar calarem a boca.
Amber estava descontrolada e seu pai tentando acalmá-la.
Assim que entrei ele veio para cima de mim, me deu um soco e quebrou
a mão. Fui para o banheiro tomar um banho e quando me senti inteiro
novamente, encontrei os pais dela e ela ainda ali.
— Já que estão todos aqui, falarei de uma vez só. Esse noivado está
terminado. —Acabei com aquele circo de uma vez. Amber teve um ataque
histérico e se jogou aos meus pés.
— Não! Por favor, não me deixa, eu te amo. Por tudo o que é mais
sagrado, não me deixa Zachary. Eu sei que você tem um jeito diferente de
amar, mas eu o perdoo, vamos esquecer tudo e continuar juntos.
— Perdoa exatamente pelo que, Amber? — Como um cavalheiro,
levantei-a. — Por ter quebrado metade da casa do Ethan? Por dia, após dia
ter inesgotáveis crises de ciúmes? Por atrapalhar reuniões de trabalho? —
Olho para os seus pais. — Procure uma ajuda profissional para sua filha. O
pai dela veio para cima de mim novamente, só que eu sou o dobro dele em
altura e músculos e estava muito sóbrio. Segurei seu braço. — Uma vez eu
permiti Wilkinson, a segunda eu revidarei. Então mantenha distância.
Depois disso se espalhou a fofoca de que a agredi. Amber nunca
desmentiu, eu nunca toquei no assunto e a notícia correu mais rápido que o
Papa Léguas.

——ooOoo——
Sou um empresário de trinta e nove anos, um metro e noventa e dois de
altura, corpo bem definido, músculos firmes. Eu sei que sou bonito, já
figurei capas das revistas mais badaladas, também tenho participação
especial nas listas de mais rico, mais bonito, mais disputado e mais sexy.
Não sou do tipo que se “acha”, apenas sou realista, tenho espelho, sei
exatamente com sou.
E um detalhe muito importante sobre mim: Adoro desenhos animados.
O verão é uma época de eventos, jantares, recepções, leilões em prol de
alguma causa, hoje é um jantar para agradecimento. Eu e mais alguns
empresários reformamos um hospital e estamos apoiando financeiramente
os Médicos Sem Fronteiras.
Os organizadores já sabem que não gosto de sentar com desconhecidos,
com políticos, só em último caso. Minha acompanhante é uma modelo da
Victoria Secret´s, loira, pernuda, seios pequenos, mas com uma boquinha
que promete fazer loucuras.
Na minha mesa está Ethan e sua acompanhante, mais dois colegas de
golfe, um com sua amante e outro com uma prostituta de luxo. Roney, um
playboy herdeiro do petróleo com sua esposa grávida e Liam Larkin, viúvo
com tendência a santo. Depois que sua esposa morreu não o vi com mais
ninguém. Ele não é de festas e baladas, nunca se meteu em briga, nem se
envolveu em escândalos. Gosto dele, principalmente pela sua discrição e é
um bom parceiro de negócios.
— Zach, recebeu o e-mail da apresentadora da Vitrine? Nessa edição,
estão fazendo uma coisa bacana, mandaram a lista de projetos que serão
apresentados e colocaram uma apresentadora gostosa. — Ethan diz.
— Vocês também vão? — Larkin entra na conversa.
— Vamos. Não vi o e-mail ainda.
— A apresentadora é a Letícia. — Ethan se empolga. — Uma mulata dos
sonhos de qualquer homem.
— Achei uma aposta arriscada colocá-la para apresentar algo assim. —
Larkin fala. — Ela tem trinta anos, tem um currículo impressionante, mas
não acho que tenha pulso para levar algo assim.
— A mulher vai te surpreender. — Reviro meus olhos, porque tudo que
tenha mulheres bonitas envolvidas é óbvio que Ethan está dentro,
geralmente dentro delas.
— Não me diga que você já a pegou? Eu não quero ir para uma reunião
de investidores, tendo uma maluca tentando te comer ou te matar. E mais
uma coisa, nada de acompanhante barraqueiras. Toda vez que me lembro
de Bora Bora passo mal. — falo com uma careta.
Fomos para Bora Bora, comemorar um contrato gigantesco, só que no
resolveram fazer uma reunião de última hora para rever alguns detalhes.
Uma das acompanhantes de Ethan entrou e se ofereceu para todos que
estavam ali, não satisfeita, tentou chupar um senhor de setenta e cinco
anos. Foi um pesadelo.
— Cara eu estou indo ao Brasil, tudo o que preciso tem lá. — Ethan
responde. — E não, não peguei a Letícia. Faltou vontade por parte dela. Só
que, desde a conheci, a tenho sempre em contato, quando tenho contratos
complicados, é a ela a quem recorro para finalizá-los.
Interessante, fiquei curioso. Assim que chegar em casa vou checar esse
e-mail e ver quem ela é. Bons profissionais hoje em dia estão escassos e se a
garota for boa como ele diz, talvez seja minha nova aquisição.
A noite só não foi melhor porque a menina parecia um robô na cama, a
boca dela quase compensou, quase. Depois que mandei meu motorista
levá-la, nadei até a exaustão me tomar, tomei um banho quente e lembrei-
me de olhar meus e-mails. Assim que localizei o arquivo da Vitrine, abri.
Realmente mandaram uma lista com projetos especificados e detalhados,
isso mostra transparência e coragem para dar suas cartas sem medo da
concorrência.
Veio uma breve apresentação sobre a senhorita Letícia Sophie Barros e
como Larkin disse, seu currículo é impressionante. Abro o Google para
pesquisar sobre ela, encontro apenas uma imagem em que não dá para vê-
la direito.
O sono que há dias não vem, agora bate com força. Antes de desligar o
computador, leio mais uma vez seu e-mail. Mal caio na cama e capoto em
um sono profundo.
Os dias têm passado muito rápidos e quanto mais vai chegando o dia do
embarque para o Brasil, eu vou ficando mais ansioso. Já pensei em ir antes
da data prevista. Não sou um cara que acredita em pressentimentos, mas a
sensação de que algo vai acontecer lá é forte. A falta de sono está
prejudicando meu bom senso.
Raramente viajo com assistentes, geralmente só a minha secretária
pessoal, Maggie, me acompanha. Ela sabe mais da minha vida do que eu
mesmo. Só que para essa viagem agreguei mais dois financeiros para ver a
viabilidade de investimento rapidamente e mais dois seguranças.
— Maggie já fez o esquema de locomoção? — Reuni a equipe para
conversarmos. — O Rio é uma cidade um pouco violenta não quero ser
surpreendido.
Maggie é loira dos olhos verdes, uma mulher é muito bonita, mas que
não me apetece sexualmente, às vezes tenho a impressão que ela pode ser
frígida.
— A Globalspace mandou todos os detalhes, por incrível que pareça, a
segurança é forte, os hotéis são seguros e estão todos prontos a recebê-los.
Estou esperando a lista do pessoal que estará envolvido diretamente para
fazermos uma verificação de antecedentes.
— Perfeito. Precisarei de um tradutor?
— Não, senhor. — Maggie ajeita seus óculos rosa. — O idioma oficial
será o inglês. Já enviei para eles uma lista das coisas de sua preferência.
—Joe e Ted, tudo certo? Prontos para conhecerem o Brasil? — Olho para
os dois financistas.
Ambos acenam que sim e sorrio para eles. Contratei Ted porque ele foi o
primeiro de sua classe desde o Ensino Médio e em Harvard se formou com
louvor em Economia. Joe além de ser um crânio com números, ele é um dos
melhores hackers que já encontrei. Depois que ele cumpriu pena por
invadir os computadores da Casa Branca, eu o contratei, ajudei-o a
terminar sua faculdade. Hoje, é um dos meus braços direitos.
Outro que está no mesmo patamar de confiança, é o Kingston. Além de
meu amigo, é meu chefe de segurança. King era atirador de elite da SWAT,
até o dia que um de seus parceiros foi morto por outro policial. O homem
surtou e arrumava briga em todo lugar que chegava. Depois de um dos
meus porres memoráveis, acordei com King deitado do meu lado na piscina
do Ethan. Lembro que houve uma briga e ele tomou minhas dores, de lá
para cá, somos quase inseparáveis.
O outro segurança que nos acompanhará, é Lennon. Foi contratado há
pouco tempo. Segundo King, ele é o melhor em artes marciais e um
excelente motorista de fuga. Não que eu esteja pensando em roubar alguma
coisa. Só que já escapei de duas tentativas de assassinato e quem sabe
quando precisamos fugir de uma mulher louca?
— Senhor. Ainda afirmo que devemos levar mais dois seguranças. —
King se adianta. — Partirei amanhã para acompanhar a varredura do local
e Lennon irá com vocês. Acho insuficiente.
— É o suficiente. — Levanto da minha cadeira. — Vocês podem nos dar
licença, por favor? Amanhãs estarão de folga para viajarem descansados.
Todos saem e fica somente King.
— Algum problema, Zach?
— Não. Quero que você investigue Letícia Sophie Barros, quero saber
tudo sobre ela. Se seu passado, presente e provável futuro. Se tiver algum
companheiro, investigue-o também, se mora com os pais, investigue-os.
— Estou começando a ficar preocupado, Zach.
— Não se preocupe. Se ela é tão boa quanto Ethan disse, pretendo
contratá-la. Outra coisa investigou a nova esposa do meu pai?
— Sim. Viúva, professora, dois filhos de dezoito e vinte anos. Eles
moram fora, um está terminando a faculdade de Programação e Tecnologia
e o outro é cientista. Ela é idônea, mulher exemplar, do tipo que não se
interessa pelo seu pai.
Não é que o meu papai achou alguém que valha a pena? Só espero que
dure. Esses divórcios estão levando muito dinheiro para o meu gosto.
— Obrigado, King. Mais um favor, descubra quem é os outros
empresários que participarão desse encontro.
— Desculpa interromper, senhor. — Maggie entra novamente. — Mas
tenho que saber se levará uma acompanhante.
— Não. Maggie ligue para a Ruth e avise da viagem, fala dia e hora, para
que ela arrume minha bagagem.
— Sim, senhor.
Olho para ela e vejo um largo sorriso.
— Qual o motivo desse sorriso bonito, Mag?
— Nada... — Ela balança a cabeça e suspira. Eu hein!
— Eu quero aquele levantamento da nova fábrica na minha mesa ainda
hoje. Também quero os relatórios do hotel de Vegas, quero o extrato da
minha conta secundária. Ligue para o Philip e diga que quero aqueles
documentos para ontem e a próxima que ele atrasar, não precisa nem vir, já
estará no olho da rua. Mag localize o Joe e mande o vir aqui novamente.
Logo que eles saem, Joe entra.
— Mandou me chamar, senhor?
— Sim. Eu soube que aquela empresa de telecomunicações vai abrir seu
capital. Confirme isso e especule para ver as ofertas como serão, se caso for
certo, chame Ted e bolem uma oferta irrecusável para comprar o lote
fechado.
— Ok!
— Eu soube que tivemos problemas nos computadores, o que foi? —
Apesar de eu não atribuí-lo ao departamento de informática, ele controla
tudo para mim.
— Alguém tentou burlar o sistema para ver pornografia, executou
alguns comandos para tentar burlar o filtro e acabou caindo em uma teia.
— Ele fala sorrindo.
— Certo. Obrigado, Joe.
Os dois dias que seguem foram corridos. Tenho pessoas da minha inteira
confiança para gerir os departamentos da organização, só que como dono,
eu gosto de saber tudo o que se passa para manter o controle.

——ooOoo——

Já dentro do meu avião, porque tenho um, lógico, vou trabalhando.


Lendo os relatórios trimestrais da organização, assinando documentos,
revendo contratos. Meu tempo é precioso e a viagem é longa.
— Senhor, King pediu para falar sobre a moça. — Lennon se aproxima e
eu aceno para ele continuar. — Ela é órfã, seus pais morreram cedo, morou
com a avó durante um tempo, mas também faleceu. Mais tarde, ela morou
com cara e não deu certo. Desde então, ela trabalha na Global, ficha limpa.
— Obrigado, Lennon.
A viagem correu tranquila. Assim que desembarcamos, vimos carros a
nossa espera. No trajeto, pude ter uma noção da beleza da cidade. Já estive
no Brasil, em São Paulo para firmar acordos, mas não tive a oportunidade
de conhecer nada.
Cooper está a minha espera na recepção.
— Como vai, Zachary?
— Estou bem e você, sua família, como estão?
— Estamos todos bem, obrigado. Espero que seu voo tenha sido
agradável.
— Foi. Só quero descansar em uma cama se for possível.
Uma inquietação bate, fico agoniado, enquanto ando para o elevador
avisto uma mulher e meu coração falha uma batida. Ela está procurando
alguém, tão inquieta quanto eu. Antes das portas do elevador se fechar seus
olhos encontram o meu.
Ela é linda...
Preciso saber quem é, antes de entrar no quarto, chamo King.
— Acabei de ver uma mulher no hall e quero que descubra quem é e que
quarto está.
Ele faz uma careta.
— Sim, senhor. Como ela é?
— Pele negra, cabelos lisos. Tive a impressão de que seus olhos são
claros. É só o que sei, descubra-a.
Ele acena e se vai.
Tomo um banho demorado e deito para descansar. A imagem dela não
sai da minha cabeça e eu quero aquela gostosa na minha cama. Minha
barriga ronca e me dou conta que estou há horas sem comer. Visto uma
roupa, encontro Lennon e King na sala, discutindo alguma coisa
importante.
— Estou descendo para comer, vão comigo?
— O senhor não prefere pedir algo para comer aqui?
— Não.
Estamos indo em direção ao restaurante e vejo Ethan com duas
mulheres, a baixinha eu não conheço, mas reconheceria aquela mulata de
longe. Se elas estão com Ethan só pode ser uma das acompanhantes dele e
isso me incomoda.
— King é ela.
— Essa é a...
— Esquece, deixa que eu mesmo descubro quem é.
Aproximo-me do grupo para cumprimentar, chego mais perto dela
propositalmente. Ela se vira para mim, seus olhos estão arregalados, como
se estivesse hipnotizada. Eu sei o efeito que tenho sobre as mulheres, com
ela não seria diferente. Admito que será uma decepção se essa mulher
estiver com ele. Enquanto cumprimento Ethan e falo que não era para
trazer sua diversão em uma viagem de negócio, ela continua a me olhar.
Bom, se ela for acompanhante, Ethan poderia me dá-la. Não havia muito
espaço entre nós dois, mas dei um jeito de chegar mais perto. Passo meus
dedos pelo seu rosto, admirando sua pele, é impecável. Seu perfume é
embriagador, poderia ficar assim com ela a noite toda.
— Se você subir comigo, garota, eu te darei uma noite inesquecível e a
recompensarei muito bem.
Por uma fração de segundos ela fica tensa, logo relaxa e encosta-se a
mim. Meu corpo reage a sua presença. Ela passa a mão pela minha camisa e
fala:
— Seria um prazer cuidar de você, senhor. Mas infelizmente não tenho
mais horário, agenda cheia. Sabe como é!
Desgraçada!
— Está perdendo o jeito garanhão.
Sentamos, fiz meu pedido e continuei a conversa com Ethan.
— Quem é ela?
— Letícia Barros...
— A garota que vai apresentar a Vitrine?
— Yeah... — Olho para o King, ele dá de ombros. Ethan pede uma bebida
e continua — E aquela gracinha pequenininha ali. — Ele apontou a menina.
— Vou pegá-la para mim. Só espero que a Letícia não seja uma empata-
foda.
Ela não é acompanhante, mas com certeza já passou pela cama dele. Se
fosse outra, não me importaria, mas uma ponta de decepção apareceu.
— Por que ela seria? Já saiu com ela?
— A Letícia não caiu nas minhas graças, por falta de vontade. Vontade
dela, obviamente. Mas ela me conhece bem e a Lorena é a melhor amiga
dela, então pode ser que a patroa atrapalhe.
— Pode ser...
Durante o jantar, não consegui tirar a mulher da minha cabeça, preciso
me desculpar pelo que falei a ela. A cor de seus olhos é diferente, a deixa
exótica e muito bonita. Enquanto ela estava me encarando, vi um misto de
emoções em seus olhos e neste momento senti o desejo de abraçá-la.
Que porra de pensamento é esse?
Ela é louca, isso sim!
Onde já se viu falar daquela maneira comigo? Quem ela pensa que é? Eu
sou ZacharyThorton O´Brian, se eu quiser tê-la na minha cama, eu terei!
Solto os talheres com força e empurro o prato. Era só o que me faltava
uma mulherzinha tirar uma com a minha cara, ela conseguiu acabar com
meu apetite. Posso transformar a vida dela em um inferno, Letícia não
perde por esperar.
— Zach? — Noto cautela na voz do Ethan.
— Estou indo. Boa noite.
Vou para a suíte trocar de roupa e no meio do caminho encontro Maggie,
vestida com um vestido curtíssimo. Ela tem pernas bonitas, não tinha
percebido ainda.
— Boa noite, senhor — Ela bateu os cílios para mim ou foi impressão
minha?
— Boa noite, Mag. Onde vai produzida assim?
— Estava a sua procura para repassarmos algumas coisas.
— Oookaay... — Eu realmente fui pego de surpresa. Abro a porta da
suíte e dou lugar para ela passar, mas acho que a porta estreitou, porque a
menina esfregou tudo o que podia para passar por mim.
A minha suíte é quase um apartamento, tem uma sala grande com sofás,
poltronas, mesa e um espaço para reuniões. O quarto é ainda maior e o
banheiro também. Ela senta-se no sofá e cruza as pernas, revelando muito
mais do que eu gostaria de ver.
— Diga Mag. — Ela está agitada com receio de falar. — O que está
acontecendo, Mag? Estou começando a ficar preocupado.
Ela se levanta e vem em minha direção, nesse momento King entra e faz
uma cara de que porra é essa? para mim. Olho novamente para Mag que está
mais branca do que já é. Agora tenho certeza que algo está acontecendo
com ela. Pego-a pelo braço e a sento no sofá novamente, ajoelho-me diante
dela, seguro sua mão. — Você está bem? Precisa de alguma coisa?
Ela abre um sorriso e coloca sua mão em cima da minha e aperta,
quando abre a boca para falar, King interrompe.
— Maggie, vá para o seu quarto, antes que o resto da sua dignidade
escorra pelo ralo.
Ela vai sem dizer uma palavra.
Volto-me para ele esperando uma resposta para aquilo tudo.
— Vai me dizer que você não percebeu?
— Percebi que ela não estava bem e você a colocou para fora...
King ri alto.
— Ela queria se deitar com você.
— Não. Não. Nãooo. Até acho que a mulher é lésbica.
Ele consegue rir mais alto.
— Cara, já é o segundo fora que você dá essa noite. — O celular dele
apita e levanta para mim. — E o ar do Brasil deve ser um afrodisíaco
poderoso, está deixando as menininhas a ponto de ebulição, tenho que dar
assistência para algumas delas. Mag é apaixonada por você.
— Nisso, não posso ajudá-la. Costumo transar apenas com as assistentes
dos outros, as minhas mantenho-as bem longe da minha cama. Vou
procurar a piscina para nadar.
— Lá se foi minha noite de manutenção. Vamos, vou nadar também.
King sem dúvida é meu melhor amigo, sabe que eu não gosto que fique
no meu pé o tempo todo. Mas essa vinda para o Brasil, está deixando-o
neurótico.
Seu físico pode assustar qualquer um. Ele é mais alto que eu, um muro
negro de dois metros e mais dois de largura. O cara é tão grande, que me
sinto pequeno perto dele. Mas tudo o que esse monstro tem de tamanho,
seu coração tem de generosidade.
Eu confio minha vida a ele, sem sombras de dúvidas.
Capítulo 8
Acordei indisposto e com dor de cabeça. Depois de nadar, resolvi tomar
um remédio para dormir. Agora que acordei tenho que tomar um para dor
de cabeça. Esse é o problema dos medicamentos, eles se tornam um ciclo
vicioso. Fizeram a gentileza de trazer meu café aqui, ainda bem.
Vou para o banheiro e tomo um banho demorado, assim que me sento só
de toalha para tomar o café, Mag entra sem bater. Desde quando meus
funcionários estão tendo essa liberdade? Até parece que não mando mais
em nada...
— Bater na porta antes de entrar virou artigo de luxo entre os meus
funcionários.
Ela me olha de cima a baixo e se concentra no volume da minha toalha.
— Desculpe-me, senhor. Já é costume ir entrando e resolvendo as
coisas...
Minha enxaqueca não permite muita conversa.
— O que tenho para resolver antes da reunião?
— Nada, até porque a reunião começa em quinze minutos. Foi por isso
que entrei a toda, tinha que acordá-lo.
— Ok. Pode sair.
Reuniões de negócios requer roupa condizente. Pego um terno e calça
azul marinho, camisa azul clara. Um pouco quente para o clima do Rio. Saio
com cara de poucos amigos, meus assistentes olham e já me conhecem o
suficiente para saberem que a coisa está feia. Meu humor normal já não é
simpático, meu mau humor é muito pior.
Chego ao salão da reunião exatamente na hora que a Letícia está
acompanhando o Larkin até seu assento. Hoje não é um bom dia para
brincar, só que não vou deixar qualquer oportunidade passar em branco.
— Espero que eu também tenha o direito da senhorita Letícia me
acompanhar até minha cadeira.
Ela pareceu um tanto chocada, mas logo se recupera.
— Desculpe-me essa é uma reunião particular, só para convidados...
Sua amiga empalidece e tenta consertar a situação.
— Senhor Zachary Thorton O´Brian, essa é a executiva que será a
oradora dessa edição, Le...
— Letícia, eu sei.
Letícia continua a me olhar, seus olhos se mudam para minha boca.
Engraçado, ela não sabia quem eu sou? Bom, agora sabe e darei a
oportunidade para que corrija a situação.
— Então Letícia, me acompanha?
Ela me dá um lindo sorriso.
— Lorena o fará, com licença.
Mulherzinha difícil, ainda ofendida por ontem. Enquanto ela vai para
frente da sala, eu fico olhando-a, a mulher é sexy pra caramba e está muito
gostosa naquela roupa. A calça que ela veste parece uma segunda pele.
A baixinha fica me olhando apreensiva, estendo meu braço para ela em
sinal de paz, até porque a menina não tem nada haver com a situação.
— Me acompanhe senhorita... — Ela cora e baixa os olhos, muito linda
mesmo. Não é à toa que o Ethan a quer.
— Lorena. O senhor pode escolher qualquer uma das cadeiras restantes.
— Vou ficar nessa, no campo de visão da senhorita Letícia. — Pisco para
ela.
— Que merda é essa, Zach? — Ethan aparece puxando a menina para
longe de mim.
— Calma, só estava falando para ela que quero ficar de frente para a
amiga dela.
Ele beija sua têmpora. Um gesto que não combina em nada com ele, deve
estar fazendo o impossível para pegar a boneca. Essas coisas nunca dão
certo, depois ele vai embora e deixa um coração partido para trás. E essa
menina é tão delicada, é até pecado fazer isso.
Letícia começa seu discurso, quando tiro o terno, ganho sua atenção e
me aproveito disso. Lentamente, tiro o paletó, Mag atenciosamente pega
das minhas mãos. Dobro cada manga da camisa até o cotovelo, com ela
assistindo minha pequena apresentação.
— Gostou senhorita Letícia?
Ela se recompõe e volta para a apresentação. A reunião se estende por
quatro horas e nesse tempo pude prestar atenção nela. Seu perfil de
executiva é clássico, inteligente, coerente, firme em suas ideias. Cada
projeto foi não só estudado, mas trabalhado por ela, para mim esse tipo de
coisa fala pelo profissional. Seria uma aquisição de peso para minha equipe.
O sheik infernizou o tempo todo. Puta que pariu, que homem chato. Uma
hora Letícia perdeu a paciência e acabou falando.
— O senhor acha que os aplicativos são desnecessários. Tudo bem viver
na Idade da Pedra, mas garanto que um aplicativo desses iria facilitar sua
vida, organizando data, hora e o tempo da visita das suas oito esposas.
Todo mundo da sala riu. Gostei, são de pessoas assim que estamos
precisando, não abaixa a cabeça para qualquer tubarão. Depois disso a
reunião segue sem interrupções.
Passaram-se quatro horas, estávamos cansados e a Letícia aparentava
desgaste, fui o primeiro a levantar para fazermos uma pausa e os outros me
seguiram. Joe se aproxima e passa um relatório rápido sobre suas
impressões, todos estavam impressionados com os projetos apresentados.
Procuro por Letícia e a encontro com o Larkin na sacada. Vi que o
garçom trouxe seu copo e o encheu novamente. Peguei da sua mão e fui
para sacada, chegando justamente quando Larkin a convida para jantar.
Infelizmente ela não vai irlandês.
— Não, ela não gostaria, Larkin. Seu suco. A agenda da nossa executiva
prodígio está lotada, não é mesmo Letícia?
Eu torci para que ela concordasse comigo, como sabemos, isso não
aconteceu...
— Não, não está cheia e será um prazer jantar com você Liam.
Kevin aparece para avisar que continuaremos amanhã e a parabenizou.
Seus olhos brilharam de gratidão, mas o sorriso não o alcançou. Eu queria
fazê-la sorrir só para ver seus olhos brilharem de alegria.
O caralho que quero!
Quero ver a raiva fervilhando, isso sim. Vou até a minha equipe e os
convido para jantar comigo no principal restaurante do hotel. Eu não sei o
que essa mulher desperta em mim, a única certeza que tenho é que vou ter
essa queda de braço com ela.
Ethan me convida para tomar alguma coisa no bar do hotel. Chamo King.
— Quando a hostess chegar com o imbecil do Larkin, me avise e nós
iremos jantar.
Ele acena e se junta com os outros. Eu vou até o bar com meu amigo,
tomar alguma coisa para relaxar. Sento-me ao lado dele.
— Onde está sua boneca? — Pergunto.
— Letícia passará a noite no hotel, Lorena foi buscar roupas enquanto
ela janta com alguém. Quando ela voltar, iremos passear. — Isso está
começando a ficar estranho.
— Passear? Ethan Scott passear com uma conquista?
— Eu passeio com a língua pelo corpo dela e ela passeia com a boca pelo
meu.
— Explicado. — Falo sem sorrir.
Larkin está me irritando, por que não continua se guardando para a
falecida? Não, claro que não... Ele tinha que atravessar o caminho da Letícia
e eu quero a mesma na minha cama, só na minha cama, na de mais
ninguém. Depois se ele quiser, pode entrar na fila, antes não.
— Por que diabos você está bufando como um touro que viu vermelho?
— Tinha esquecido que Ethan estava aqui.
— Aquela mulher está me irritando.
— Que mulher?
— A Letícia. — Ethan arqueia a sobrancelha.
— Terá que ser mais específico, Zach. Por que ela está te irritando? Até
onde sei vocês nem se conhecem. A Lorena me falou que a Letícia tem uma
queda por você. Falei que vocês não se conheciam, ela disse, ele não a
conhecia, mas ela o conhecia dos seus sonhos. O que isso quer dizer, já não
sei.
Eu sou o homem dos sonhos de muitas e de alguns muitos, isso não é
novidade. Só não entendi, ela deu a entender que não sabia quem eu era a
própria Lorena estava apresentando. Por que ela falaria ao Ethan que
Letícia me conhecia dos seus sonhos? E mais, pelo que vi dela até agora, ela
já sabia quem era cada um antes mesmo de chegarmos aqui.
— Cara, está difícil falar com você hoje. — Mais uma vez não presto
atenção ao que Ethan fala.
— Desculpa.
— Tudo ok, senhor. Podemos ir.
— Quer jantar conosco, Ethan? — Convido.
— Não, obrigado. Estou esperando a minha boneca no quarto. Preparei
algo especial.
Começo a rir.
— Especial como? Se cobrir de chocolate para ela lamber diretamente
da fonte?
Ethan levanta o copo.
— Lamber, chupar, por aí. Sobre a Letícia, vai com calma. Ela é boa
pessoa, merece o melhor.
Encontro minha equipe na porta. Abro mais dois botões da minha
camisa e Mag me encara como seu fosse o último biscoito. Da porta, vejo a
proximidade de Letícia e o babaca do Larkin. Ofereço meu braço para Mag,
que aceita com muito prazer.
Nos acomodamos em um lugar estratégico, à esquerda deles. Cada vez
que ela for olhar para o lado, dará de cara comigo. Fizemos nossos pedidos,
Lennon conta uma piada que todos riem, eu não escuto, mas ri por
educação. Os olhos de Letícia encontram com os meus, ela fala com Larkin
olhando para mim. Ela fala alguma coisa que faz o cara rir. Imbecil!
Em certo momento do jantar, senti uma mão na minha virilha, muito
perto do meu parque de diversão, acompanho a mão para ver a dona, Mag.
Tiro com delicadeza, a menina bebeu uma pouco mais do que é
acostumada, não é sensato chamar sua atenção na frente de todos.
Passei o resto do jantar me esquivando das bolinadas dela. Mulher
quando resolve ser atrevida, nem o diabo pode!
— Pessoal, estou indo.
A ideia é subir, descansar um pouco e descer para nadar. King apressa o
passo e segura o elevador, tive a grata surpresa de a Letícia estar com o sem
graça. Apertamos-nos para caber todos e me coloquei atrás dela, tão
encostado que não passaria um fio de cabelo entre nós.
— Espero que o casal tenha tido um bom jantar.
Aquele pão com molho está muito concentrado nela. Pergunto algo para
quebrar isso. De propósito sim, ele não tem que ficar admirando o que vai
ser meu.
— Nosso jantar foi excelente, Zach e pelo visto o seu também.
Minha vontade é tirar esse sorriso besta dele.
— O meu foi prazeroso, Larkin — O elevador abre as portas e ela sai sem
olhar para trás, deixando um clima estranho. — Você tanto babou que a
garota fugiu.
— Se é nisso que quer acreditar. Eu apostaria que você a assustou.
— Duvido muito. Só assusto as mulheres quando tiro a calça, antes disso
sem chance.
Fomos obrigados a rir. Somos infantil, nós sabemos, mas foi engraçado.
— Parece que você está interessado nela. Acertei Zachary? Só me deixe
avisar-lhe, eu a quero. Então é melhor não alimentar esperanças quanto a
isso.
Não me contenho e dou risada.
— Ah, Larkin. Essa sua confiança o deixa mais interessante, mas se eu a
quiser, não há homem na face da Terra que me impedirá de tê-la.
Despedimos-nos como cavalheiros que somos e cada um vai para sua
suíte. Corajoso da parte dele me enfrentar por causa de uma mulher. Quem
diria que o casto irlandês se interessaria por alguém a ponto de entrar em
uma disputa? O único problema é que não haverá disputas, eu a quero e ele
não terá a menor chance.
Essa noite não quis tomar remédio para dormir, a ressaca que senti essa
manhã foi pior que as das festas do Ethan. Desço para a piscina com Lennon
no meu encalço. Entro na água e faço minhas voltas até a exaustão. Saio e
me dirijo para o quarto, tomo um banho e caio na cama morto de cansado.

——ooOoo——

Na madrugada, sinto alguém se esgueirando ao meu lado. A pele macia


que passa por mim é de mulher, Letícia... Busco-a com prazer, a quero
tanto, meu corpo acorda com a possibilidade de saboreá-la. Ela beija meu
pescoço, baixa para o meu peito e está me deixando louco. Viro-a rápido
para ficar embaixo de mim e...
— Maggie? — Pulo da cama como se estivesse pegando fogo. Acendo a
luz e vejo que ela está nua. — O que... O que... Caralho, Mag. Eu quase... Eu
achei... — Viro o rosto para não vê-la daquela maneira — Vista sua roupa
antes de tudo, eu vou esperá-la na sala. — como durmo só de boxer, pego o
roupão e saio.
O que essa maluca fez? Merda. Eu quase transei com a minha assistente
achando que era a porra da Letícia, que agora não sai da minha cabeça.
Sirvo-me de uma dose tripla de whisky. Mag sai do quarto e vai em direção
à porta.
— Onde a senhorita pensa que vai? Senta agora nesse sofá para
conversarmos. — Ela senta e continuo. — Enlouqueceu, Maggie Olive
Carlson? Onde estava sua cabeça quando fez essa proeza? Meu Deus, você é
minha assistente, te considero minha irmã mais nova, mulher.
Ela balança a cabeça em negativa.
— Não quero ser sua...
— CALADA! Não quero ouvir mais uma palavra. Porque se continuar a
falar, terei que te demitir e realmente, não quero. Você é importante para
mim. — Respiro fundo, ando de um lado para outro, me sirvo mais uma
dose e conto até dez. Vou até a janela e contemplo o mar. — Não faça mais
isso, na próxima vez não serei complacente. Você mais do que ninguém
sabe que não costumo ser bonzinho e muito menos dar segunda chance
para quem quer que seja. Inferno! — Respiro fundo mais uma vez para me
acalmar. — Vamos esquecer que isso aconteceu...
King apareceu do nada armado.
— Todo mundo parado!
Pronto, o mundo enlouqueceu!
Maggie dá um pulo e coloca a mão no peito com o susto e eu fico parado
olhando a cena. Surreais esses meus funcionários. Uma tenta me atacar
sexualmente enquanto o outro aparece de cueca com arma em punho.
— Fiquei cego! Onde estão suas roupas, King?
— Não deu tempo de vestir. O que aconteceu aqui? Ouvi seu grito, Zach.
— Mag entrou no meu quarto sem bater. — Rezei para ele entender sem
precisar explicar em detalhes.
Ele vira para ela.
— Mag, Mag...
— Bom... Ambos estão dispensados. Podem voltar para os seus quartos e
me deixarem em paz. Uma coisa antes de irem, de hoje em diante, batam
antes de entrar, por favor.
Ouço a porta bater atrás de mim e me acalmo. Abro as portas que dão
para a varanda e me sento lá, para ouvir o som do mar. Eu deveria fazer
isso mais vezes. Tenho casas em quase todas as partes do mundo, mas não
tenho uma à beira mar. Comprar uma no Brasil pode ser um bom negócio,
vou pedir para o Joe ver alguma coisa na internet.
Letícia...
Agora a ideia de senti-la não sai da minha cabeça, eu preciso, eu quero!
Ter aquele corpo quente embaixo do meu, aquelas mãos com unhas afiadas
correndo pelas minhas costas, arranhando minha pele, gemendo em meu
ouvido, gritando o meu nome enquanto estou dentro dela.
Letícia...
Letícia...
Repito o nome dela mentalmente várias vezes, como se em um passe de
mágica, ela se materializasse aqui, para mim.
Abro as cortinas da suíte para assistir o nascer do sol, há muito tempo
não faço isso e ainda consigo me surpreender com tal beleza. A melancolia
toma conta e nesse momento, somente nesse momento, desejo ter alguém
aqui para dividir esse espetáculo da natureza comigo. Raras vezes a solidão
aperta, mas geralmente logo passa.
Tomo meu café tranquilamente lendo as notícias pelo o computador. Um
sentimento inesperado surge, o de vigiar Letícia. Da onde isso saiu não faço
ideia, mas só de pensar que terá uma pessoa para informar cada passo dela,
me faz sentir melhor.
Assim que termino, vou até a porta e chamo King para conversar. Ele
entra.
— Diga chefe.
— King, eu quero te pedir um favor, só que eu não quero que ninguém
saiba. Converse com algum desses seguranças, selecione o melhor e
coloque-o para acompanhar Letícia, de longe. E peça que me informe tudo o
que ela faz, aonde vai, com quem...
— Desculpa Zach. Você é meu amigo e me sinto no dever de falar, isso é
exagero, está se deixando levar por uma disputa com o Larkin. Você não
conhece a garota, ele chegou primeiro, por que não esquece isso?
Olho para o mar.
— Por que alguma coisa nela me faz querer... Estar com ela. Pode ser que
seja uma disputa de ego, ou apenas para provar quem mija mais longe, seja
o que for, eu quero que alguém olhe por ela e me diga cada passo.
— Tudo bem, será feito.
— Obrigado, King. — Como de costume, batemos nossos antebraços.
Termino de me arrumar e desço para a reunião. Encontro Lorena aflita e
Kevin ansioso
— O que se passa pessoal?
— Só estamos ansiosos. — Lorena responde.
Aceno e entro, sei que há algo de errado, mas se não querem
compartilhar, fazer o que? Cumprimento os outros e tomo meu lugar. Ia
falar com Ethan quando a Letícia entrou com pressa e já iniciou a reunião.
Antes que ela pudesse prosseguir, Ethan se engraça.
— Eu tive uma noite maravilhosa, mas pelo jeito você não Letícia.
Ela dá um meio sorriso e continua sua apresentação. Sinto que está
tensa ou talvez esteja só cansada. Hoje, são apenas dois projetos, o primeiro
foi discutido em duas horas. Ela está muito bem preparada para as dúvidas
que surgem. Um importante debate foi feito em torno disso, foi interessante
ver que os projetos apresentados, não é apenas para um investidor. Todos
nós podemos investir no mesmo, então não há disputas, mas sairá boas
parcerias.
O segundo projeto foi ainda melhor, talvez tenha sido o melhor. Um
resort em um paraíso tropical, um condomínio de luxo para férias, sem
mídia por perto. Acredito que todos nos empolgamos com a ideia, o fato de
ser no Nordeste do Brasil, onde a temperatura é propícia para férias o ano
inteiro. O projeto foi incrementado com um resort de um lado, um
condomínio no outro, restaurantes com comidas típicas, um heliporto, uma
pista de pouso para pequenas aeronaves, sensacional. Muito bem
esquematizado.
— O projeto é muito bom, a ideia é excelente, mas paraíso como esse,
temos em várias partes do mundo, alguns são famosos. Por que
investiríamos nesse? — Sebastian Khristophoros pergunta.
— Porque o Brasil pode oferecer uma coisa que os outros não, o clima e
a baixa probabilidade de catástrofes naturais. — Letícia responde com
categoria.
Todos se calaram porque não tinham pensado nisso. Todos os
convidados que estavam ali, voltaram aos seus assistentes para discutir
detalhes. Pelo menos foi o que eu fiz.
No meio da apresentação tive uma ideia, ela vai ficar furiosa, só que é a
única maneira dela não fugir de mim. Levanto para pegar um copo com
água e aproveito para falar.
— Eu tenho duas perguntas, a primeira é, se eu embarcar nesse projeto,
que não é pequeno. — aponto para ela. — Você será responsável por ele?
— Antes que ela fale, a paro. — Só mais uma pergunta, senhorita Letícia.
Todos nós teremos uma hora com você ou isso é um privilégio de poucos?
Porque Larkin teve duas horas com você no jantar de ontem, Ethan teve
mais tempo na noite anterior.
A cara dela era hilária. Escoro-me na mesa e a ouço.
— Sobre a primeira pergunta, se caso contratarem a Global para
intermediar, pode ser que o senhor Cooper me coloque nisso. Sobre a
segunda pergunta, podemos resolver esse impasse indo almoçar todos
juntos agora...
Rossi atropela dizendo que não dividiria seu horário com ninguém, os
outros começam em uma discussão acalorada, Letícia olha para o Cooper
pedindo socorro. E o salão virou um circo todos falando ao mesmo tempo.
Vou até o centro da sala e mando calarem a boca.
— Silêncio agora! Algum assistente anota, ficará assim: Rossi almoça
com ela mais tarde. O Sheik ficará com o jantar dessa noite. O almoço de
amanhã será com o Sebastian e o jantar comigo.
— Vocês embarcarão para o Ceará hoje no final da tarde. Eu não irei.
Não está nos planos a minha ida com vocês nessa viagem.
— Então refaça seus planos Cooper, porque ela vai!
O sheik se levanta e já de saída fala que se a Letícia for responsável pelo
projeto, ele participa. Ela ainda está de boca, olhando para o Kevin, que
neste momento passa o horário da viagem.
— Letícia! — O olhar dela para mim é mortal. — Se eu fosse você doçura,
não perdia tempo conversando. Tem um almoço daqui a pouco e mala para
arrumar.
— Ela vai querer sua cabeça.
— Tenho uma coisa melhor para ela.
— Ela vai te matar. Agora me diz, por que fez isso?
— Porque quero transar com ela. Vamos para o bar beber alguma coisa,
só me deixa dar um toque no King.
— Conseguiu o que pedi?
— Tudo conforme o combinado.
Aceno e vou para o bar do hotel, Ethan está sentado com sua boneca no
colo. Logo que me avista, ela fica sem jeito, tenta sair e ele a prende em seus
braços.
— Por favor, Ethan, deixe-me ir. Se alguém nos vir assim, posso ser
demitida.
Beijo sua face, em sinal de amizade. Ethan e eu somos amigos há muitos
anos, se ele está assim com ela, nada mais normal que ela ser minha amiga
também. E um dia ela poderá ser útil para que eu possa chegar à amiga.
— Como está, Lorena? Fica tranquila, ninguém falará nada.
— Muito bem, senhor O´Brian...
— Zach, por favor. E aí, Ethan tem se comportado com você? Caso não
esteja, é só me chamar e mando King dar um jeito.
— Se o King me der um tapa na cara com aquela mão, gamo e fico sem
nenhum dente na boca. — Ele acaricia a perna dela. — Estou cuidando
muito bem dela, ontem até passeamos na praia.
Agora é minha vez de ficar com a boca aberta. Quem diria, Ethan Scott,
um dos maiores playboys da América fazendo tudo para conquistar uma
mulher.
— Muito bem.
— Vou procurar a Lê que essa altura deve estar querendo socar alguém.
— Ela olha veemente para mim.
— Por falar nisso, quando chegarmos a nosso destino, precisamos
conversar sobre o que ela gosta. Quero surpreendê-la.
— Responda-me, você não vai se encontrar com ela só para irritá-la, vai?
Porque se for Zach, peço que não o faça. Ela já passou por muitos
momentos difíceis na vida, não piore.
— Fica tranquila, serei um cavalheiro.
— Acho que estou apaixonado por essa mulher. — Ethan desabafa.
— Você já tinha me chocado com o passeio sob a luz do luar, agora estou
ficando preocupado. Acho que o sol desse lugar fritou seu cérebro.
— Estou bem. Ela me faz rir, é meio doidinha e muito carinhosa. Não
pede nada em troca, apenas prazer.
— Tudo bem. Só lembre-se que, você partirá em breve e ela vai ficar não
faça promessas levianas para depois deixá-la.
— Estou pensando em esticar minha estadia, quem sabe alugar um
imóvel. Por falar em imóvel, gostei desse último projeto se alguém mais
entrar embarco nessa.
— Pois é, gostei também, estou pensando seriamente em entrar nisso.
— ainda mais se a adorável mulata tocar o projeto. A ideia de estender a
estadia no Brasil não é uma má ideia. Eu poderia comprar uma casa aqui e
vir de vez em quando para recarregar as baterias. Quem sabe ver ela...
— Zach?
—Sim.
— Pelo jeito não ouviu o que falei.
— Estava me lembrando de que iria mandar alguém procurar imóveis,
seria uma boa ter uma casa aqui para descansar.
— Verdade.
Despedimos-nos e fui em direção aos elevadores. Passei pelo
restaurante e o segurança estava lá atento. Estava passando direto, mas em
um impulso fui até a porta e olhei Letícia e o Rossi conversando. Minha
vontade é ir lá e acabar com o sorriso dele, mas a ideia foi minha e por um
momento, arrependo-me dessa bendita ideia. Minha cabeça está
estourando, preciso descansar um pouco para viajar.
Tiro a roupa e vou para o banho, a água fria alivia a enxaqueca.
Enquanto me ensaboo, Letícia vem em meus pensamentos, fecho os olhos e
vejo aquele corpo moreno nu, seios fartos em minhas mãos e sem perder
tempo, toco-me. Eu preciso experimentá-la, saber qual é o seu gosto, ouvir
seus gemidos. Saio do banheiro direto para a cama e com Letícia nos meus
pensamentos, adormeço, como há muito tempo não havia feito.
Acordo com Mag passando a mão no meu peito e por algum motivo
estou descoberto, o que só complica as coisas, porque dormi nu. Já que
estava sem roupa, de pau duro e ela provavelmente me molestou, levanto e
vou para o banheiro.
— Mag, por que caralho dos infernos você não bate na porta?
— Faltam menos de vinte minutos para sairmos do hotel para o
aeroporto e bati várias vezes, mas não atendeu. Fiquei preocupada.
— Já acordei, está dispensada.
— Preciso arrumar suas coisas, senhor.
— Enquanto me visto, procure o King e mande-o vir aqui.
As coisas foram tumultuadas, acordei atrasado, outros também
desceram atrasados e o sheik estava dando chilique como uma
mulherzinha. Por fim, cada um foi em um carro para o aeroporto. Procurei
Letícia para oferecer-lhe carona, mas não a encontrei.
Como de costume, dividi o carro com Ethan.
— Poderíamos ter falado para o Liam vir conosco, já que os assistentes
foram em outro carro.
Lá vem ele com suas ideias mirabolantes.
— Nada de Larkin. Ele está me irritando...
Ethan ri.
— Olha o bullying. E até onde sei, você é chegado em uma ruiva. Por que
isso? Sempre foram bons amigos.
— Ele está na minha lista negra. Mudando de assunto, onde está a
Lorena?
— Letícia queria ir com os assistentes e a levou junto.
Logo que chegamos ao aeroporto, fomos levados direto a aeronave.
Toda a primeira classe foi reservada para os convidados e os assistentes
foram na classe executiva. O serviço de bordo é muito bom e as aeromoças
são lindas, com certeza escolheram a dedo para esse voo. Achei que a
Letícia viria para cá, até parece que está fugindo. Um sorriso se abre no
meu rosto, se ela está incomodada, é sinal que mexo com ela.
Muito bom!
Trouxe alguns relatórios para analisar, depois daquele descanso, minha
enxaqueca desapareceu. Uma das assistentes do Ethan me passou uma lista
de imóveis para dar uma olhada, ele realmente está levando isso a sério.
Levanto-me para ir ao banheiro e na entrada um segurança, que se não
estou enganado é do Ethan, me barra, era só o que me faltava.
— Algum problema sério para o seu chefe interditar todos os banheiros?
— Nada grave, só não estão disponíveis.
O cara está se superando com essa história. Tenho certeza que ele está
comendo a Lorena aí dentro. Encaminho-me para o banheiro da classe
executiva. Na saída vejo Letícia parada, ela pode não admitir, mas cada vez
que me vê algo acontece com ela. É possível perceber porque sua
respiração muda.
— O que houve com o banheiro da realeza, interditou? Deixe-me
adivinhar, o ego de alguém caiu e acabou entupindo tudo.
Não me contenho e dou risada.
— Ethan monopolizou tudo por lá.
Ela entra e eu a aguardo, encostado na parede, serei a primeira coisa que
verá quando sair. Assim que sai, ela olha cada detalhe do meu corpo com
desejo estampado nos seus olhos. Como já falei, sei o efeito que tenho sobre
as mulheres. Passo a língua pelos meus lábios e uma sombra de sorriso
sombrio aparece.
Ela está ofegante. Aproximo-me e passo a mão pelos seus cabelos.
— Fico feliz que tenha gostado.
Letícia me olha ainda atordoada.
— Gostado do que?
Ela fica ainda mais bonita assim. Viro-me para voltar ao meu assento
rindo e antes de sair do seu campo de visão.
— Espero que tenha gostado da parte de trás, também.
Sento-me novamente e pego meus papéis. Tento me concentrar, mas a
imagem daquele rosto não sai da minha cabeça. Gostei de saber que ela me
acha atraente, isso vai tornar sua ida para minha cama mais fácil.
O resto da viagem foi tranquilo, rimos com algumas lógicas do sheik, o
homem é um ogro, chega a ser piada. Martino Rossi também não fica atrás
com suas tiradas, se um dia me contarem que a casa do italiano foi alvo de
um homem-bomba, logo saberei quem fez e por que.

——ooOoo——

Desembarcamos e fomos para o hotel, um belo lugar por sinal e o clima


está ameno. Penso em ir direto ao mar, mas Mag fala que temos algumas
coisas da empresa para resolver. Ted também já está a postos para
trabalhar enquanto King se responsabiliza pelo resto.
— Os balanços da fábrica em Kentucky não estão batendo. — Entrego os
papéis para o Ted. — Descubra onde erraram e envie de volta com uma
nota dizendo que não tolero esse tipo de erro.
— Sim, senhor. — Ele pega e logo já faz anotações.
— Senhor, quer que eu reserve uma mesa para nós no restaurante ou
quer que mande servir aqui? Poderia pedir para todos nós e comemos aqui.
— Nenhuma coisa, nem outra. Assim que eu tiver fome, resolvo o que
faço. — Gosto de passar um tempo com eles, mas depois dos últimos
acontecimentos, prefiro evitar.
— Sim, senhor.
— Mag tenho um serviço para você. Ethan me passou essa relação de
imóveis e quero que você faça uma pesquisa na internet sobre os imóveis.
Veja se alguma delas já teve acontecimentos que me impeçam de fazer uma
oferta.
— Ok!
Depois de trabalhar e tomar banho, vou para a sala e vejo que os
assistentes ainda estão lá. O telefone de King toca. Ele fala um português
enrolado e indecifrável. Assim que desliga, fala:
— Areia, praia, Larkin.
Ela não deveria estar com o sheik? Alcanço uma camiseta e saio na
corrida, com Lennon no meu encalço. Esse irlandês dos infernos quer
realmente entrar nessa disputa comigo? Se quiser, então, vamos brincar.
Não tenho medo de duendes que moram em potes de ouro. Pego o pote e
amasso o duende.
Olho para todos os lados para ver onde estão, Lennon me aponta um
casal muito próximo um do outro. Não, merda! Apresso o passo e vejo que o
corpo dela enrijece. Será que ele falou alguma coisa que ela não gostou? Se
for, amasso o duende agora mesmo. Aproximo-me mais, a tempo de vê-lo
levantar o rosto dela, pronto para dar o bote.
Vamos acabar com essa palhaçada.
— Espero não estar atrapalhando. — Espero sim!
Larkin à solta, ela levanta seus lindos olhos para mim.
— Não está atrapalhando, senhor O´Brian. Se me derem licença, vou
para o meu quarto, preciso descansar.
Lá vai ela fugindo novamente.
— Satisfeito, Zach? Ela está longe de mim o suficiente? Esse número de
mágica de aparecer e desaparecer, não combina com você.
Dou risada.
— Larkin, Larkin, porque não aceita que ela será minha, primeiro?
— Porque será minha. Por muito pouco você não testemunhou um beijo.
— Ele fala.
— Vai sonhando. Já jantou?
— Ainda não.
O que há de mal chamar um oponente para jantar? Nenhum.
— Vamos comer? — Ele se aproxima.
— Isso não passa de um jogo para você, não é Zachary? — Olho para o
mar.
— Talvez. Vamos jantar.
Encontramos Sebastian sentado em uma mesa.
— Sentem comigo, é ruim comer sozinho. Contem-me, o que estão
achando sobre a viagem?
— Melhor impossível. — Larkin responde.
— Perseguindo a hostess, só pode estar bom mesmo. — Falo e levanto o
copo de whisky.
Enquanto jantávamos, Ethan aparece com Martino.
— Estamos indo conhecer uma boate, estão a fim?
— Estou dentro! — Sebastian se manifesta.
— Eu vou, mas só depois de jantar. — Respondo.
— Eu passo — Larkin responde.
— Deixa de ser velho, Larkin. Bora mexer o esqueleto e ver as mulheres
brasileiras se requebrarem.
Aceno para o segurança.
— Lennon, nós vamos sair.
— Minha equipe já esteve no local e disse que é seguro. — Ethan fala.
Dirigimo-nos ao local que já estava lotado, a música rolando. Assim que
entramos, fomos escoltados até a ala VIP, bebidas e mulheres já estavam a
postos. As garotas eram muito bonitas e excessivamente prestativas, se
falássemos para ficar de joelhos naquele momento, não tenho dúvidas que
o fariam.
Larkin e eu passamos boa parte do tempo olhando o movimento.
Martino dançava com duas, Sebastian estava atracado com uma mulher que
mais parecia um homem e Ethan, o responsável que nos arrastou para cá,
não sai do celular.
— Ethan, cadê a boneca? — Pergunto.
— Nós brigamos porque ela não quer ir embora. Eu avisei que ela iria
morar em Nova York comigo e ela surtou. — Seus olhos já indicam um grau
de embriaguez. O cara enlouqueceu.
— Falando assim, eu também não iria. Por que simplesmente não a
convidou para passar uns dias com você nas férias ou visitá-lo sempre que
quiser?
— Porque a quero comigo todo o tempo.
— Você realmente está gostando dela, não é?
— Estou gostando mais do que deveria. — Ele passa a mão pelo cabelo.
— Eu sei que tudo é muito rápido, só que eu a quero, caralho.
Coloco a mão no ombro dele.
— Então faça ela sentir vontade de estar com você e não imponha suas
vontades. Coloque as dela acima da sua, mesmo que você seja um bastardo
egoísta. Vamos para casa, estou cansado.
No caminho de volta para o hotel, vou pensando no que Ethan falou. Eu
não acho possível gostar tanto de uma pessoa assim em tão pouco tempo.
Também acho que, o que move o mundo são os interesses e os interesses
sexuais para alguns, vem depois do dinheiro. Só que o fato dela não querer
se jogar de cabeça nessa loucura a faz ganhar uns pontos no meu conceito.
Lembro-me das poucas informações que tenho da Letícia, a morte dos
seus pais, o fato de estar sempre sozinha e o principal, porque o seu único
relacionamento não deu certo. Não costumo me enganar no julgamento das
pessoas e os olhos dela são cheios de sinceridade. O problema é que não
confio em ninguém quando se trata de amor e dinheiro. Ninguém...
Capítulo 9
Passei a noite em claro, cansado, virei de um lado para outro o tempo
todo. Quando voltar a Manhattan, vou ao médico novamente, ele tem que
dar um jeito nisso ou receitar um remédio que não me deixe atordoado
quando acordo.
Minha suíte está silenciosa, todos devem estar dormindo ainda. Levanto,
visto minha sunga e vou caminhar na areia, dar um mergulho, quem sabe
na volta posso cochilar.
No meu caminho para a praia, algumas meninas me param para tirar
fotos. Falam sem parar e não pude entender nada, a única coisa que senti,
foi uma mão boba na minha bunda. Essa linguagem é universal, sorrio
comigo mesmo e continuo meu caminho.
Enquanto ando pela orla, esvazio minha cabeça, bloqueio meus
pensamentos, respiro fundo, faço algum alongamento e isso faz com que eu
me sinta bem, um pouco relaxado. Na volta, mergulho e dou algumas
braçadas mar adentro. As águas são calmas e quentes, a paisagem é
estonteante, a soma dos fatores tem um poder calmante.
Saindo do mar sinto ser observado e logo encontro quem o está. Letícia
está sentada em uma cadeira de praia, com um biquíni branco moldando os
seios como se fossem mãos. Um movimento atrás dela chama minha
atenção, Ethan pega um rapaz pelo pescoço. Merda, ele vai mata-lo. Corro e
tiro Ethan da garganta do rapaz.
— Por que esse verme estava com as mãos em cima de você, Lorena?
— Estava apenas passando protetor nos meus ombros, porque você,
Ethan, se meteu em algum lugar sem me avisar!
Lorena responde aos berros, atraindo a atenção de todos a nossa volta.
— Lolo, por que você e Ethan não vão para o quarto conversar? —
Letícia tenta apaziguar a situação. — Jônatas é um cavalheiro, jamais se
aproveitaria dela e mais, eu estava aqui.
Se fosse minha, o rapaz mesmo com indicações luminosas que não gosta
da mesma fruta que eu, teria o mesmo destino. Mas vou ficar quieto na
minha. Solto Ethan e Lorena o leva para dentro, Letícia dá folga para o
menino se recuperar do trauma. Tenho vontade de rir quando ele olha para
mim parando no meu material e a Letícia falando como se ele estivesse com
medo de mim. Será que ela não percebeu o arco-íris?
Enquanto ela o acalma, deito em sua espreguiçadeira e coloco seus
óculos. Assim que ele se vai, puxo-a para perto de mim.
— Divida-a comigo. — Ela dividiu, mas o arrepio da sua pele não passou
despercebido.
Aceno para um garçom e peço duas águas de coco. Ela se acomoda em
mim e pergunta.
— O que deu em Ethan?
— Ciúmes. Se não fosse por isso, ele teria percebido que o menino é gay.
Ela me olha de boca aberta.
— Jônatas não é gay!
O garçom traz os cocos e passo um para ela. Nesse calor ela precisa se
hidratar. Gostei de tê-la perto, sua pele quente na minha.
— Falta muito tempo para o seu próximo compromisso?
— Bem lembrado. Por que você fez isso, senhor O´Brian?
— Chame-me por Zach. Fiz o que, Letícia?
— Você me ofereceu para os outros. Foi por vingança?
Essa mulher não sabe o que causa nas pessoas. Endireito-me e tiro os
óculos para ficar olho-no-olho com ela.
— Não foi por vingança, apenas... — Faço uma pausa para achar as
palavras corretas. — Era a única maneira de fazer você se encontrar
comigo sem fugir, para me desculpar pelo nosso primeiro encontro.
Ficamos encarando-nos, seus sentimentos e perguntas estão ali, naquele
olhar. Por um instante desejei acreditar que existe destino, que existe o
amor...
Ela pega seus óculos e se levanta.
— Preciso ir, tenho um almoço com Khristophoros.
Uma força me atrai a ela, é como se existisse um campo magnético entre
nós, onde os opostos se atraem. Falo em seu ouvido e a beijo no rosto.
— Estou ansioso para te encontrar mais tarde, senhorita Letícia.
Ela se vai sem olhar para trás. Sua saída de banho transparente me
propicia a visão do paraíso, uma cintura fina, quadril largo e uma bunda
perfeita. Vou dar mais um mergulho para esfriar, não é elegante sair por aí
de pau duro para todo mundo ver.

——ooOoo——
Volto para minha suíte, abro a porta e vejo que estão trabalhando.
— Vocês poderiam fazer o favor de trabalhar em outro lugar? Vou
dormir e quero silêncio. Entro no banheiro para tomar banho e me
masturbar imaginando Letícia aqui, tocando-me.
Acordo com a Mag em cima de mim novamente.
— Senhor... Senhor acorda.
— Que inferno, Mag? — Ela se afasta.
— Ligaram da suíte do Sheik Bashir, solicitando sua presença para uma
reunião.
— Falaram o motivo da reunião?
— Sim, senhor. O secretário do sheik falou que é sobre o projeto do
resort.
— Que horas são? — Ela olha seu telefone. — São dezenove horas e dez
minutos.
Caralho, dormi a tarde toda.
— Diga que não vou. Tenho um compromisso. — Viro para o outro lado.
A mulher não arreda o pé.
— Senhor, eu sei que tens grande interesse nesse projeto. Não é melhor
cancelar seu compromisso com a senhorita Barros? Ela pode vê-lo em
outro momento.
Mag sempre foi uma assistente excepcional, de uns dias para cá tem
passado do limite. Sento-me e a olho.
— Quem é o chefe aqui?
— O senhor...
— Bom. Quem manda?
Ela troca de pé, sinal de incômodo.
— O senhor...
— Já que deixamos isso bem claro, vou fazer a gentileza de repetir. Diga
que tenho um compromisso e não vou encontrá-los. — Mesmo nervosa a
garota continua parada. — Vou te dar cinco segundos para virar as costas e
sair, senhorita Carlson. Se não o fizer, será demitida imediatamente.
Agora ela entendeu o recado. Entro no banheiro para tomar um banho e
despertar. Pego uma calça branca de tecido leve, camisa branca e chinelos.
Saio do quarto e vejo toda a corja de investidores ali, sentados na sala da
minha suíte.
— O que vocês estão fazendo aqui?
— Menino Zachary, achamos melhor vir até você para conversarmos
sobre o projeto que é algo importante. Se não resolvermos isso hoje, com
certeza outros virão.
Chamo Mag.
— Quero que envie um grande buquê de rosas para a senhorita Letícia,
as mais bonitas que tiverem. Vou escrever um cartão para enviar junto.
— Pode começar sheik.
Ele aspira no narguilé.
— Tenho certeza que vocês viram o potencial daquele projeto de resort
e condomínio de luxo. Quero saber se mais alguém está interessado em
entrar nesse barco comigo. É um projeto audacioso, construir uma
minicidade e conseguir que ela fique longe do conhecimento das pessoas
não é algo simples.
— Acredito que podemos fazer melhor. A ideia inicial é que cada nativo
do lugar tenha seu restaurante, quem for se hospedar pode pegar comida
desses lugares. Não há necessidade de construirmos shoppings e
supermercados, se alguém quer algo de fora, pode ir buscá-lo ou podemos
ter pessoas para esses tipos de compras. — Expus minhas ideias.
— Eu estou dentro. — Ethan fala. — Poderíamos solicitar uma visita ao
local, deve ser por aqui.
— Boa ideia. — Sebastian diz.
Ficamos discutindo por mais de duas horas, Cooper foi chamado para
organizar uma excursão até o local e logo saiu para acertar os detalhes.
Segundo eles, não é muito longe daqui, talvez uns dez ou quinze minutos de
helicóptero. Quando sobrevoarmos o local, teremos a real dimensão da
área, projetar a partir daí será mais fácil.
— Já que todos estão interessados, teremos que redigir um contrato de
sociedade...
Martino Rossi que está babando em cima da assistente ruiva do Ethan,
propõe.
— Poderíamos formar uma companhia, se esse empreendimento for um
sucesso como prevemos abrir mais em outros lugares do mundo será uma
possibilidade. — Eu contra proponho já pensando mais além. É assim que
funciona minha mente. Todos concordam e eu continuo a explicação. —
Vamos manter a Letícia como a cabeça do projeto, mas um de nós terá que
assinar pelo grupo.
Nesse meio tempo foi servido um jantar enquanto discutíamos os
detalhes da nossa futura organização. Mas queria mesmo era saber da
Letícia, o que ela está fazendo nesse momento.
— Sabe alguma coisa dela? — pergunto a King.
— Sim senhor. Ela saiu com a menina do senhor Scott, estão em um
restaurante no centro da cidade.
— Bashir acha mais sensato que menino Zachary tome a frente do
grupo. — O Sheik Bashir tem a palavra novamente.
Não quero mais um compromisso...
— Fico lisonjeado, mas não quero mais um compromisso desse porte. Eu
voto no Larkin. Ele é arquiteto, poderá liderar e até fazer os projetos.
Ethan se levanta e vai até um dos seus seguranças. Alguma coisa está se
passando, sua testa franzida diz que algo está errado.
— Eu voto no Zach. — Ele diz. — Porque, de todos nós, sem dúvidas
nenhuma é o melhor administrador. Estamos falando de uma construção
gigantesca e sabemos que pode sair do controle orçamentário com
qualquer deslize.
Todos concordam, mas ninguém perguntou para mim o que acho. Ethan
senta ao meu lado.
— Alguma coisa de errado? — Pergunto e ele faz uma careta.
— Não. É só que não encontraram a Lorena no hotel.
— Formaremos o grupo para construção desse empreendimento, tendo
como presidente Zachary O´Brian e a menina Letícia como diretora geral, o
arquiteto Liam Larkin será o responsável pela autorização de cada planta.
— O sheik faz um resumo do nosso acerto. — Todos concordam?
Todos concordaram e volto-me para Ethan.
— Ela está com a Letícia, foram jantar em um restaurante do centro da
cidade. — Ethan me olha espantado.
— Como sabe disso?
— Tenho alguém de olho em Letícia...
— Está de olho em quem? — Sebastian se aproxima atravessando a
conversa.
— Na Letícia. — Ethan responde.
— Todos nós estamos de olho na Letícia. Cara, aquele almoço só serviu
para me atiçar mais. — Sebastian sorri e eu não estou gostando do rumo
dessa conversa.
— Se contenta com a sua esposa, Sebastian. Letícia é minha! — Larkin
aparece.
— Sua o cacete! Já te falei que ela será minha.
Martino começa a rir.
— Tenho pena dos cavalheiros, a mulher está rendida aos encantos
desse italiano aqui.
— Vocês são completamente loucos. — Ethan tem uma crise de riso. —
Por que não apostam? Seria hilário ver a disputa.
Eu estava rindo até perceber que todo mundo se calou. Ficamos uns
olhando para os outros por alguns instantes.
— Aposta feita! — Sebastian é o primeiro a falar. — Porque eu terei a
mulher na minha cama em breve.
— Aposto dois milhões de dólares que levarei a menina para cama. — O
sheik se mete.
Larkin se levanta e se serve com whisky.
— Vocês são insanos. Estou fora e não vou permitir que leiloem Letícia.
— Ele diz.
Gostei, pode ser uma boa ideia.
— Eu estou dentro!
Ethan levanta e se coloca no meio da sala.
— Senhores, vamos organizar. Quem participará? — Sebastian, Martino,
o Sheik e eu levantamos as mãos. — Vamos fazer uma aposta de gente
grande...
— Cem mil dólares para quem levá-la primeiro para cama. — Martino
palpita.
Dou risada.
— Tenho garrafas de whisky mais caro que isso.
— Antes de tudo, todos os assistentes e seguranças saiam, ficando
somente os chefes da segurança de cada um. Os outros esperem na porta,
por favor — Ethan toma a palavra novamente. Todos se retiram e ele
continua. — Vamos fazer disso um jogo de cachorro grande. Dos seis que
estão aqui, somente quatro participarão diretamente na disputa, caberá a
cada um o valor de dois milhões e quinhentos mil dólares, aquele que a
comer primeiro leva os dez milhões.
— Vamos tornar isso mais interessante. Só levará o montante se o resto
de nós assistirmos o ato. — Sebastian se levanta.
— Por mim está fechado. — Eu digo. Esse tipo de jogo é comum para
nós, nunca disputamos uma mulher, mas já fiz por coisas banais e tenho
certeza que todos que estão aqui, já participaram de alguma coisa parecida.
Não somos santos e gostamos de mulheres. A Letícia é o troféu que todos
nós queremos levar para cama.
— Mas eu quero assistir também e para tudo isso dar certo, Larkin tem
que participar, senão ele estragará tudo contando a ela. — Ethan fala.
Olhamos todos na direção do Liam Larkin, que estava escorado na janela
bebendo.
— Eu não vou participar e também não vou permitir...
— Não falei? — Ethan interrompe.
O sheik se aproxima dele.
— Irlandês você vai participar por bem ou por mal. Caso você dê para
trás, serei o primeiro a contar a ela que essa ideia partiu da sua pessoa.
— O caralho que vai, seu velho doente! Por que está participando,
Bashir? Acha que tem chance contra esses homens? Se enxerga! — Larkin
fala furiosamente.
— Bashir pode não ser bonito, mas Bashir é rico, pode dar o que ela
quiser em ouro e como sabemos todo mundo tem um preço. — o sheik olha
para nós. — Em quem a menina acreditará: Em um irlandês que está
nitidamente interessado nela ou nos outros cinco empresários e suas
idoneidades? Pensa bem, Larkin. Talvez seja mais sensato participar da
brincadeira.
— Quem guardará a quantia? — Martino pergunta.
— Poderíamos abrir uma conta e depositarmos. Ethan ou Liam ficam
como responsáveis pela conta e fazer a transferência assim que o jogo for
finalizado. — Eu respondo.
O sheik ainda desconfiado de Larkin aponta para ele.
— Larkin fica como responsável pela conta. Mais um motivo para ele
ficar de boca fechada.
— Então será um milhão de quem assistir e dois milhões de quem
participa, de acordo? — Ethan fala novamente. Todos assentem. Ele aponta
para o segurança de cada empresário. — Eles estão aqui para serem nossas
testemunhas. Alguém pode me dizer a hora?
— Meia noite e dez.
— Então, Zachary, Martino, Sebastian e Bashir participarão da disputa e
cada um repassará o valor de dois milhões de dólares para a conta
estipulada. Liam e eu apenas assistiremos e repassaremos o valor de um
milhão de dólares para a mesma conta. O primeiro que levar a Letícia
Sophie Barros para cama e consumar o ato, levará o montante de dez
milhões de dólares e os outros cinco assistirão o ato sendo consumado.
Assim que acontecer, Liam Larkin fará a transferência do valor para o
ganhador, vamos às regras. Senhores façam uma disputa limpa como
cavalheiros, nada de um fazer a caveira do outro, sabotar as ideias do outro.
Estão livres para conquistar seu tempo com ela, mas é terminantemente
proibido forçá-la a fazer qualquer coisa que a mulher em questão não
queira. O tempo será indeterminado, mas, por favor, senhores, não
estendam nossa angústia. No caso de algum de vocês a maltratar física ou
emocionalmente, me encarregarei de acertar as contas seja com quem for.
Tenham isso sempre em mente.
Larkin joga seu copo na parede pegando todo mundo de surpresa.
— Não acredito que estão me obrigando a participar desse negócio sujo!
— Larkin joga seu copo na parede pegando todo mundo de surpresa. —
Vocês são um bando de filhos da puta sem alma. Se aquela mulher
descobrir essa imundície, nunca mais olhará na minha cara ou pior, poderá
destruir cada um de nós por vingança.
Sou obrigado a rir do jeito bom moço dele.
— Calma Larkin. Quando ela estiver em meus braços relaxada depois
dos orgasmos que darei a ela, faço questão de fazer propaganda da sua
pessoa como bom partido. — Todos riem menos ele.
— Bastardo idiota. Espero que você não ganhe, na verdade, espero que
você morra.
— Larkin se conforma. Se tudo o que tínhamos que acertar já foi feito,
me dão licença que quero descansar.
Depois que todos deixam meu apartamento, chamo meus assistentes
para uma conferência.
— Mag, o Cooper já falou à hora que faremos a excursão amanhã?
— Ainda não, senhor.
— Amanhã quero que o meu dia com a Letícia seja perfeito.
Providenciem uma mesa em um lugar afastado da praia, onde teremos
privacidade. Uma comida leve, prato de entrada, principal e sobremesa.
Arranjem uma daquelas tendas com tecido branco, caprichem nos arranjos
de flores, acredito que o hotel pode auxiliá-los nisso. Arrumem um local
para descansar, bem confortável com almofadas e coisas do tipo.
Certifiquem-se de que não serei incomodado por ninguém. E mais uma
coisa, não se esqueçam de confirmar com o Cooper o horário do passeio e
programem meus horários conforme isso. Assim que souberem como serão
meus horários avisem a mim e a Letícia.
— Sim, senhor.
— Mag, assim que você acordar encomende um café para a senhorita
Letícia e mande entregar com esse cartão. — Coloco o envelope em sua
mão. — Vocês estão dispensados. Boa noite.
Abro as cortinas e a janela e deito na rede que tem na varanda. A lua em
sua majestade, o céu estrelado, a brisa da noite e o som do mar, transforma
o lugar em paraíso, acalmando-me. E com Letícia nos meus pensamentos,
adormeço.
Capítulo 10
Acordei bem-disposto, o sol lá em cima indicando que o dia será tão
pleno quanto ele. King aparece na varanda.
— Bati na sua porta várias vezes e você não atendeu, fui obrigado a
entrar.
— Acabei dormindo aqui.
— O helicóptero partirá dentro de trinta minutos. O voo durará em
média duas horas, pelos meus cálculos, vocês pousarão perto do meio dia.
Lennon estará a sua disposição para levá-los até o lugar do almoço.
— Perfeito.
— Já que você exige privacidade, tomei a liberdade de dispensar Mag,
então, eu serei seu garçom e Lennon o motorista.
Levanto e vou para o banheiro, tomo um banho e faço minha higiene.
Vejo o meu reflexo, sou um homem bonito e segundo dizem, a cor dos meus
olhos representa meu coração que é de gelo. Considero-me uma boa
pessoa, só não sou idiota, sei exatamente como o mundo funciona.
Sento na sala para tomar café, faço um lanche leve e King me escolta até
o lugar da decolagem. Todos já estavam em seus assentos. O piloto estava
afivelando o cinto da Letícia, muito próximo a ela. O único assento
disponível é ao lado dela e vou de muito bom grado.
— Bom dia, senhorita Letícia.
— Bom dia, senhor O´Bri... — Arqueio a sobrancelha e ela corrige-se. —
Bom dia, Zach. Como foi sua noite?
— Foi boa. — Aproximo-me dela. — Dormi com você em meus
pensamentos.
Senti seu corpo se agitar, seguro sua mão e aperto-a. Os motores são
ligados e começamos nossa viagem de reconhecimento de campo. Depois
de algum tempo, ela nos aponta onde começam as terras que vamos
comprar, também aponta outras que devemos negociar para ampliar o
resort. Há uma encosta muito bonita.
— Se algum de vocês quiser uma casa dentro do resort, poderiam
construir uma vila com as seis casas, terão sua privacidade longe dos
hóspedes. A nossa direita; observem as fundações da construção, são
novas, acredito que é possível o reaproveitamento.
O voo durou menos de duas horas e em todo tempo sua mão estava na
minha. Ficamos mais interessados depois de vermos o lugar, é
simplesmente fantástico! Desembarcamos e fomos direto ao apartamento
do sheik, prontos para acertar os detalhes e contar a ela da formação do
consórcio.
— Então senhores, o que acharam do lugar?
— Belíssimo; cara mia. — Martino responde.
— Letícia. Ontem nos reunimos e acertamos algumas coisas. — Começo.
— Como todos ficaram interessados no projeto; resolvemos formar uma
organização, um grupo construtor, encabeçado por mim que serei
responsável por tudo. Larkin é responsável pelos projetos e você, que será
nossa porta voz e claro, tão responsável pela execução do que qualquer
outro. — Ela balança a cabeça. — Antes que você pense em negar é bom
que saiba, só faremos se você estiver à frente. Cooper já foi informado e
concordou com tudo.
— Aceito com algumas condições: Primeiro, que o grupo seja
responsável pela manutenção da escola. Segundo, que os restaurantes
sejam dos nativos daquele lugar e que tenham a liberdade de venderem
seus artesanatos. Terceiro, que grande parte da mão de obra seja deles
também. Nem que para isso teremos que abrir turmas de formação e
especialização. Não quero que simplesmente cheguem lá, tomem conta de
tudo e pronto, temos que trabalhar em unidade. É isso ou nada feito!
— Você não vai negociar sua parte nisso? Afinal, você trabalhará mais do
que qualquer um. — Ethan pergunta.
Letícia olha para o Cooper.
— Sou funcionária da Global, vocês contratarão a empresa para
consultoria e o senhor Kevin me escalará para trabalhar. Então, qualquer
valor deve ser tratado com ele e consequentemente, ele tratará comigo.
— Não esperaria menos de você, mademoiselle. — Larkin a elogia. —
Todos estão de acordo com seus termos.
— Vou mandar o meu escritório fazer a documentação, enviarei para
que cada um possa analisar e fazer as alterações desejadas. — Digo. —
Depois, enviem para alguns dos meus assistentes e faremos a
documentação final para aprovação de todos. Bom, acho que por hoje é só.
Tenham um bom dia.
Puxo Letícia pela mão até a varanda para termos privacidade.
— Está pronta para passar o resto do dia comigo? — Ela fica me
olhando. Isso não parece bom. — Letícia?
Ela sorri timidamente.
— Desculpe-me, estava distraída. Eu quero passar o dia com você, só
não sei se é uma boa ideia...
— Ei. Olha para mim... — emolduro aquele seu rosto perfeito com
minhas mãos e o levanto. — Estou ansioso por esse encontro, garanto a
você que é o certo. Confia em mim. — ela acena um sim.

——ooOoo——

Lennon nos conduz até um buggy e leva-nos há um lugar incrível. Todo


arborizado, uma tenda montada na areia branca e uma mesa bem colocada
a nossa disposição. Estava tudo impecável.
— Letícia, promete não fugir de mim? Porque eu realmente desejo estar
com você.
— Eu prometo.
Não resisto e dou um beijo no canto da sua boca.
— Venha, vamos almoçar. Espero que goste do que prepararam.
A tenda é coberta por um tecido leve esvoaçante, uma mesa enfeitada
com flores e com duas cadeiras ao centro. À esquerda colocaram tapetes
com almofadas, logo a frente um aparador com a refeição.
Puxo a cadeira para Letícia e me sento a sua frente, King aparece nos
servindo com água e vinho branco. Ela abre um lindo sorriso para ele.
— Obrigada, senhor Kingston.
— King, seu criado. — Faz tempo que não vejo King sorrir, posso ver
daqui todos os seus sessenta dentes. Exagero? Não, nunca vi tantos dentes
em uma boca só.
— Ótimo King. Deixe a garrafa e nos dê licença. — Antes que esse sorriso
desça ao coração dele, dispenso-o.
— Não precisa falar assim com ele. Aff! Você tem que tratar todos
grosseiramente o tempo todo?
— Eu nunca vi o King sorrir daquela maneira para ninguém. Se eu
permitisse, ele puxaria uma cadeira e eu serviria a mesa.
— Ok.
— Queria te pedir desculpas pelo nosso primeiro encontro. É que Ethan
já nos fez passar por momentos constrangedores com as acompanhantes.
Pode-se esperar qualquer coisa, vindo dele, mas a última coisa que quis, foi
ofendê-la.
— Imagino.
— Desculpa-me?
— Sim.
— Essa salada de entrada é um mix de folhas verdes, queijo coalho.
Acredito que seja esse o nome. — King e Lennon aproximam-se com um
prato cada um, King explica. — Pepinos, nozes, sementes de girassol e
morangos.
Ela olha com admiração para o King e algo aperta em mim.
— Estou impressionada, King. Está muito bonito.
Comemos e conversamos. Descobri que Letícia tem um senso de humor
incrível. Contou-me sobre sua vida, mas deixou de fora o único
relacionamento que teve.
— Com licença. — Retiraram os pratos de entrada para a colocação do
principal. E lá vem mais uma explicação do chef King. — O prato principal é
uma adaptação de Pad Thai tailandês. Com macarrão de arroz cozido,
camarões e substituímos o tofu pela ricota, broto de feijão, alho, chilli e os
ovos foram colocados somente como decoração. — Ele se retira com um
sorriso mais besta do que chegou.
Ela continuou a falar sobre a sua entrada na Global e da sua amizade e
gratidão para com Lorena e sua mãe, que a acolheram mesmo sem a
conhecer. Fiquei impressionado com sua ascensão profissional e triste por
saber que esteve todo esse tempo sozinha. Seus olhos por vezes refletiam
uma tristeza que não deveria estar ali, não combina com ela. Não entendo
que em algumas vezes ela freava, é como se sentisse mal por estar ali, mas
cada vez que toquei sua mão, ela relaxava.
A sobremesa foi o ponto alto, a hora que ela viu o que era, bateu palmas
e sorria como uma menina.
Eu adorei vê-la assim, sem barreiras, sem mistérios, apenas uma menina
que ama doce. Eu a levo pela mão e a ajudo a sentar-se no chão, recostada
nas almofadas. Peguei um morango recheado com creme de avelã e coberto
com chantilly, levo até seus lábios que fecham em meus dedos e meu amigo
lá embaixo reage.
Deveria ser pecado comer daquela maneira. Quando uma gota de
chocolate cai entre seus seios, minha língua coçou para limpá-la, foi difícil
controlar, mas como sou um gentleman, pego um guardanapo e a limpo.
— Posso fazer uma pergunta, Letícia?
— Quanta quiser...
— Por que você sempre foge de mim?
Ela se senta e olha para o mar por alguns minutos.
— Parece que o campo gravitacional ao seu redor me absorve e isso é
assustador. Não te conheço, nunca te vi antes, mas há algo em você que
poderia dizer que já conheço há muito tempo. Parece loucura...
— Olha para mim, Letícia...
Puxo-a para deitar em meu braço. Mal sabe ela que, por algum motivo
também sinto necessidade de tê-la.
O cenário é perfeito. Nós deitados em uma praia deserta, onde mini
tochas foram acesas, tornando o ambiente digno de filmes. Minha mão
acariciando seu rosto e a outra alisando sua pele quente.
Sob aquele céu estrelado, tudo parecia certo.
Sentia sua respiração acelerada, em seus olhos pude ver que ela queria
isso tanto quanto eu. Estou tão focado nela, que todo o resto desaparece. Eu
a quero aqui e agora, que se foda a aposta. Em um impulso tomo sua boca
em um beijo desesperado. E ela responde gemendo em minha boca.
Há muito tempo uma mulher não despertava essa fome em mim. Quanto
mais a beijava, mais queria dela. Por um nano segundo, desejei tudo, seu
corpo, seu coração e sua alma. Mas sou um cara muito racional para esse
tipo de sentimentalismo, preferindo seu corpo e seus desejos.
— Temos um problema, senhor! — Mag...
Eu queria matar, não, eu vou matar Mag. Caralho, ela é minha assistente,
ela sabe que esses momentos eu não estou para nada, todos são proibidos
de me atrapalhar. Tem que me ajudar nesse negócio, merda. Viro atirando
punhais com meu olhar. — Espero que o motivo que a trouxe aqui seja caso
de vida ou morte, porque não pretendo sair daqui por nada.
Letícia tenta sair dos meus braços, eu a seguro, mas seu olhar implora e
a solto. Ela levanta-se e vai até a mesa onde há água e se serve. Volto minha
atenção a minha assistente.
— Estou esperando, senhorita Carlson.
Ela está visivelmente nervosa.
— Uma ligação da matriz, houve uma explosão na Script´s Holding...
Ah infernos! Levanto-me rápido, pego Letícia pela mão, Mag e King vem
no meu encalço e nos conduzem até o hotel.
— Desculpa, anjo. Eu não esperava um problema desse tamanho. —
Assim que descemos do automóvel, falo para a Letícia. — Provavelmente
embarcarei a qualquer momento para os Estados Unidos, para ver os
estragos de perto. Se não nos virmos mais, saiba que adorei o nosso
encontro e tentarei entrar em contato em breve. — Beijo sua boca e me
vou. Por motivos desconhecidos, odiei o fato de deixá-la para trás.
Entro rapidamente no quarto, não tinha ninguém.
— Mag localize Ted e Joe, rápido.
Ligo o notebook e faço um vídeo-chamada para a fábrica. Noah Austin,
diretor-chefe me atende.
— Boa noite, senhor Thorton...
— Noah, vamos resumir, qual foi a proporção da explosão? Quantos
feridos? Houve mortos?
Ele faz uma careta.
— Acredito que as informações não chegaram corretamente até o
senhor. Tivemos um problema com uma das máquinas, na hora que travou,
saiu faíscas e deu um estrondo muito forte. Esvaziamos a linha de produção
por segurança, os técnicos já estão resolvendo o problema. Mandei um
memorando informando a necessidade de chamarmos os técnicos da
empresa que construíram a máquina, porque eles saberão lidar com
eventuais problemas ou troca de peças. Então, resolvi ligar para a matriz
para informar o ocorrido e pedir urgência na aprovação do serviço, já que
os técnicos são do Tennessee e levarão certo tempo para chegarem aqui.
Respiro fundo porque a raiva está crescendo.
— Alguém se machucou, Noah?
— Não, senhor. Não tinha pessoas próximas, são máquinas operadas
remotamente.
— Já aprovaram a contratação?
— Sim, senhor. Não se preocupe, está tudo em ordem.
Estou tentando manter meu controle.
— Obrigado, Noah. Tenha uma boa noite.
Todos os meus assistentes estão em pé a minha frente. Dirijo-me
primeiro o Ted.
— Você sabia desse problema na Script´s?
— Sim, senhor. Ligaram-me informando sobre o ocorrido e queriam
falar-lhe, expliquei que era impossível. Desculpe senhor Thorton, mas não
julguei necessário tirá-lo de seu compromisso, por algo banal. Eu mesmo
aprovei a contratação.
— Como foi a linha de produção daquele medicamento novo, tomei a
liberdade de providenciar o voo para os técnicos chegarem lá o mais rápido
possível. — Joe toma a palavra.
Ando pela sala, vou até a vidraça e contemplo o mar. O perfume da
Letícia ainda está em mim, o calor do seu corpo ao meu é inigualável. Eu
poderia estar com ela nos meus braços, ou dentro dela. Com esse
pensamento, meu corpo acorda e pede por ela.
Minha irritação cresce ao mesmo tempo em que a vontade de vê-la
também aumenta.
— Vocês podem me dar licença? Mag e King ficam. Ted?
— Sim, boss!
Pego um papel timbrado que estava em cima da mesa, rabisco qualquer
coisa e entrego para ele dobrado.
— Quero que envie muitas dúzias das mais belas flores que encontrar
para a Letícia. Coloque esse papel em um envelope e envie junto com as
flores. Não economize, eu quero tudo perfeito!
— Que flores eu compro?
— Você é um dos melhores hackers que conheço, é impossível que com
todas as suas habilidades, não consiga comprar flores!
Ficamos somente King, Mag e eu, sento-me na poltrona de frente para os
dois que estão em pé.
— Senhorita Carlson, como você tomou conhecimento sobre o que
houve na Script´s?
— É... Hum... Então... Hã... Vi a agitação deles, achei melhor chamá-lo
para resolver pessoalmente...
Com os anos, King e eu aperfeiçoamos a tática de conversar apenas com
olhar. Ficamos ali chegando à conclusão que, ela fez o que fez, para
atrapalhar intencionalmente.
— Mag, de uns tempos para cá, você vem dando um fora atrás do outro.
Mas a de agora pouco, você ultrapassou todos os limites. Minha confiança
em você está abalada, sendo assim, te darei a segunda e última advertência,
depois disso, será a demissão.
— Mas se...
— Apenas vá, Mag, e pense no que falei. Se achar que as coisas estão
demais para você, basta me avisar e colocarei outra no seu lugar. Eu vou
sentir muito por isso, você sempre foi uma grande aliada, mas lembre-se de
que ninguém é insubstituível.
— Com licença. — Ela vira as costas e sai.
King me serve com um whisky enche um para ele e senta.
— As mulheres apaixonadas são loucas e as rejeitadas são perigosas. As
apaixonadas-rejeitadas são loucas-perigosas...
— Bela teoria.
— Mag se encaixa na última, ela trabalha com você todo o tempo, tem
acessos que outras não têm. Quando os seus casos de uma noite vão
embora, ela fica. Está entendo o quero dizer?
Tomo um gole da bebida.
— Que eu deveria demiti-la?
— Que deve ter cuidado para não acordar castrado! Elas nos acham no
inferno, se quiserem. Mudando de assunto, gostou dela, não foi? Só que se
os outros tomarem conhecimento do que rolou, vão querer sua cabeça.
Letícia...
— Eu a quero para mim!
Ele levanta o copo.
— Parabéns, você a tem!
Capítulo 11
Letícia

Depois daquele encontro com Zachary, volto para a minha suíte um


pouco confusa. Ele é muito...
Intenso.
Sem fazer muito ele pode me ter e isso me assustou muito. Do nada
contei toda a minha vida para ele, deixando de fora o meu relacionamento
desastroso, tenho vergonha de tudo o que aconteceu durante meu tempo
com o João.
Quando Zachary ou Zach se despe da sua arrogância, ele se torna um
irresistivelmente sedutor.
Para quem estou mentindo?
Quanto mais arrogante, mais gostoso é. Só que eu não esperava aquele
jeito carinhoso, o cuidado, me senti protegida, pela primeira vez desde que
os meus pais morreram.
— Olha o tamanho desse sorriso. — Saindo do banho encontro Lolo
sentada na minha cama. — O homem dos olhos azuis fez você revirar os
olhinhos? — Reviro os olhos e ela vê pelo espelho. — Eu sabia! — Ela bate a
mão na cama. — Senta aqui e conta tudo para titia, em detalhes.
Coloco minha camisola e deito.
— Foi bom... Muito bom...
Olho para o teto e relembro seu beijo, suas mãos pelo meu corpo, aquele
olhar intenso desnudando minha alma. Naquele momento eu daria tudo o
que ele quisesse, eu me daria de corpo, alma e coração.
— LETÍCIA SOPHIE BARROS!
— O que foi garota? — Lolo estava com um pijama do Bob Esponja me
chacoalhando.
— O que aquele homem delicioso fez com você a ponto de tirar o foco da
nossa amazona guerreira Xena? — Jogo um travesseiro nela.
— Boba. Ele foi um gentleman, atencioso, um ótimo ouvinte. Ah, acho
que foi o King que cozinhou, a comida estava uma delícia...
— Aquele nego já é lindo parado, cozinhando deve ser um estrago. Dava
facin para ele.
— E Ethan?
— Dou também! Mas não muda de assunto. Conta tudo do Zachary, o
tesudo. Ops! O tesouro. — Recosto-me na cama.
— Nos levaram a uma parte da praia mais afastada e deserta. Colocaram
uma daquelas tendas de tecidos, parecidas com aquelas de novela. Uma
mesa bem arrumada, flores por todos os lados, conforme o sol baixava,
Lennon ia acendendo mini tochas. A sobremesa foi morango recheado com
creme de avelã, deitados no chantilly. — Lorena se joga ao meu lado.
— Ai... Ai... Não é que ogro dos olhos misteriosos é porreta. Um dia no
Ceará e já sou quase uma nordestina arretada.
— Eu estou com medo, Lolo. — Ela aperta minha mão.
— Medo do que, minha flor?
— De me apaixonar...
Nesse momento alguém bate na porta, Lorena corre com seu pijama
amarelo. Ouço barulhos e nada dela. Vou até a sala e sou recebida por
muitas tulipas, gérberas, rosas, lírios, de todas as cores e tamanho.
— A senhorita Barros pode assinar? — O entregador pede.
Assino e procuro um cartão no meio de tantas flores, localizo-o no meio
das rosas vermelhas:

“Eu daria tudo para tê-la em meus braços nesse momento”.


Boa noite, meu anjo.
Z

Eu nunca desejei estar nos braços de alguém, o tanto quanto desejei que
Zachary me tomasse naquela praia. Eu não me importaria se alguém visse
ou ouvisse, bastava ele estar ali. Durante aquele beijo, várias cenas
obscenas passaram pela minha cabeça e em todas elas, estávamos nus,
entrelaçados como se fossemos um só.
Lorena arranca o cartão das minhas mãos.
— Até eu me apaixonei agora. Menina, o que você fez para o homem lhe
mandar Holambra* inteira? Amanhã você o leva para a cama e mostra como
a gente agradece aqui no Brasil. — Eu dou risada.
— Boba! Eu não ouvi muito bem, só entendi que houve uma explosão em
algum lugar e a presença dele é imprescindível. Ele saiu correndo dizendo
que embarcaria o mais rápido possível. Mas, duvido que Ethan já não fez
algo muito maior para você...
Ela encosta-se a mim e coloca a cabeça em meu ombro.
— Ele enjoou do brinquedinho e jogou de canto. Não quer mais saber de
mim, desde sexta à noite mal fala comigo.
— O que houve boneca Lolo? — Passo meu braço
pelos ombros dela.
— Depois daquela cena com Jô, Ethan surtou e saiu com a brilhante ideia
de me levar aos Estados unidos para morar com ele.
— Isso não é bom? — Lorena vira de frente para mim.
— Não vou mentir que adoraria, mas como será, Lê? Conheço o cara
apenas há uns dias, o que sei da sua vida, é o que todos sabem. Vou para um
lugar que mal conheço, com uma pessoa que acabei de conhecer e? — Ela
dá de ombros, baixa a cabeça e prende o cabelo. — E quando ele se cansar
de mim, como será, Lê? Mandará arrumar minhas malas e me colocará em
um avião de volta como se nada tivesse acontecido? E eu? E meu coração?
— Uma lágrima rola pelo seu rosto. — O pior de tudo isso é, acho que estou
apaixonada por ele.
— Lolo... — Ela levanta a mão.
— Deixa eu terminar, Letícia. Conheço a fama do Ethan, eu sei que as
mulheres para ele não passam de objetos e ainda assim me arrisquei. No
começo foi uma brincadeira, eu estava adorando e então, do dia para a
noite. — ela coloca a mão em cima do coração. — Me apaixonei. Ele está
distante de mim, não me procura mais. Talvez seja melhor assim, eu já vou
me acostumando à dor. — Abraço-a.
— Não mandamos no coração, boneca Lolo. Lembro que minha avó
sempre dizia que, “quando é para acontecer, não há tempo, distância que
possa impedir o coração de amar”. Eu não sou um bonitão de olhos claro e
charmoso, mas estou aqui para você, sempre. Vem, vamos para a cama. —
Fomos para a minha cama, ela se deitou comigo.
— Lê, antes que eu me esqueça, o Jônatas esteve aqui e passou nossos
roteiros. Embarcaremos amanhã às dez da manhã para Brasília. Você, os
convidados e seus seguranças desembarcarão lá e almoçarão com a
Presidente. O resto de nós, continuaremos o voo até o Rio.
— Não mesmo. Eu continuarei no voo com você e o Kevin se vira com
Jônatas. — seguro sua mão. — Você precisa de mim e estarei sempre para
você.
— Obrigada, minha flor. Mas não quero atrapalhar. Eu sei a importância
que a Vitrine tem e o sucesso desse ano é devido a você. Terão muitas
coisas a discutir e você será apresentada a Presidente...
— Pode parando. Nada disso tem importância se você está infeliz a
ponto de chorar. Vamos direto para o Rio e preencheremos nossas cabeças,
organizando tudo para a volta deles. Assunto encerrado.
— Yes, boss!
Deitamos juntas com o cartão do Zach junto a mim. Meu sono não vem
facilmente, talvez porque ele já tenha poder até nisso. Eu não deveria me
empolgar com isso, me apaixonar por ele seria um erro. Misturar minha
vida pessoal com a profissional seria ainda pior. Eu não sei o que fazer já
que meus pensamentos estão tomados por ele e sua boca.

——ooOoo——

Estou no meio de um salão de festas, com um vestido lindo de gala, tipo


princesa azul bebê. Estou tão feliz, porque é justamente o vestido que queria
ter usado na minha festa de debutante que nunca tive.
O salão estava repleto de pessoas desconhecidas, mas do outro lado, com o
braço estendido, estava Zachary. Lindo em seu smoking. Eu sabia que ele
viria, eu sabia que ele seria meu príncipe...
Zach me toma em seus braços e dançamos a valsa dos filmes que assistia
com a minha mãe. Ela estaria orgulhosa agora, vendo-me com o meu
príncipe, dançando com o amor da minha vida...
— Você está linda, Letícia.
— Você é o homem dos sonhos de qualquer mulher, Zachary. Estonteante
a ponto de roubar a cena, forte para proteger e generoso para me amar...
Ele se afasta e começa a rir, todos ao redor riem as gargalhadas.
— Achou mesmo que eu amaria alguém como você? Garota, você é a
minha diversão como todas as outras.
No palco onde a banda tocava, as cortinas se abriram e algumas pessoas
conhecidas surgiram, rindo e apontando para mim. Eu queria sair dali
correndo, mas para onde? Não vejo saídas. No meio do desespero vejo Liam
com o rosto contorcido como se estivesse com dor, estendendo o braço para
mim, chamando-me. Será que devo confiar?
Olho mais uma vez para Zachary, que já está com uma loira em seus
braços e ambos rindo de mim. Em meio às lágrimas corro até Liam.
— Por tudo o que é mais sagrado, tire-me daqui, pelo amor de Deus! —
Alguém grita não e entra na nossa frente, impedindo nossa passagem, vi que
é Ethan e imploro. — Por favor, Ethan. Deixe-me passar...
Ele apenas ria... Eles riam... Todos riam...
——ooOoo——
— Letícia, acorda! Por favor, minha flor, abre os olhos... — Lolo, ela
jamais riria de mim. Abro meus olhos com dificuldade e vi que tudo não
passava de um pesadelo. Mas meus olhos estavam molhados como se
estivesse chorado. — Graças a Deus, você acordou, Lê. Estava chorando e
soluçando, gritava não, se remexia muito, repetiu várias vezes o nome do
Zachary.
— Desculpa Lolo. Acho que foi um pesadelo, só que não consigo me
lembrar do que era e também não me lembro de Zachary estar nele. Enfim,
desculpa por te acordar. — Ela já estava trocando de roupa.
— Sem problemas, quase perdemos a hora. Vamos tomar café antes de
arrumarmos as malas?
— Você faz muita questão de ir ao salão principal tomar café? Não
poderíamos pedir aqui enquanto arrumamos as coisas?
Antes de eu ter terminado de falar, ela já estava no telefone pedindo
nosso café. Agradeço a Deus todos os dias por ter colocado ela e sua mãe
em minha vida, são minha família, meu coração.
Serviram o café na varanda da suíte, tudo impecável e delicioso. Nada
finas comemos como duas desesperadas, sofrimento e ansiedade dão fome.
Ouvi Lorena contar às coisas que fez com Ethan, tudo o que ele fez para ela,
uma pontinha de inveja veio e tratei de esquecer minhas frustrações para
me focar somente nela.
Eu já saí com alguns homens e amei apenas um, justamente aquele que
me roubou uma vida. João não levou apenas bens, levou parte da minha
juventude, minha fé nas pessoas, acabou com meus desejos e roubou-me o
poder de amar. Sofri, chorei, sangrei, mas superei, tenho alguns trincados
em minha armadura, mas isso é sinal de um combate vitorioso. Assim
penso eu.
— Havia momentos que ele me fazia acreditar que realmente me queria.
— Voltei minha atenção a ela. — Quando ele atacou o coitado do Jô, não vou
mentir me senti o máximo. Alguma coisa dentro de mim falava que ele
estava na mesma página que eu.
— Então mulher maravilha, com todas as suas suposições, você já
cogitou que o Jô é gay?
— Já desconfiei algumas vezes, mas nunca liguei. Algum problema ele
ser da turma do arco-íris?
— Claro que não. Só que às vezes o achei muito fechadão, estranhava já
que ele é muito querido e também achei engraçado, a maneira que Zach
falou dele.
— É difícil se assumir gay em uma família evangélica, onde todos
esperam um estereótipo do homem perfeito. Másculo, religioso, bem
sucedido, com esposa e filhos. Jônatas está na fase de se aceitar, a partir daí
as coisas serão mais fáceis.
Terminamos de arrumar nossas coisas e saí à procura do Kevin, achei-o
ainda em sua suíte resolvendo alguns pepinos. Ele abre a porta com sua
elegância de sempre.
— Bom dia, Letícia. Entre.
— Estamos todos atrasados e não quero te atrapalhar, vou direto ao
assunto. Kevin eu não vou descer em Brasília, vou direto ao Rio de Janeiro.
Assim posso organizar os detalhes para quando vocês chegaram e fizermos
a última rodada do encontro.
— Não quer conhecer a Presidente?
— Não.
— Tudo bem. Boa viagem para nós.
Estava quase entrando no elevador, quando ouço gritos no corredor.
Alguém falava em inglês e os outros falavam um por cima do outro. Vou em
direção a discussão e vejo Ethan escorado na parede fazendo gestos com os
braços e dois funcionários, do hotel, um homem e uma mulher. Aproximo-
me deles.
— Algum problema?
— Estamos tentando ajudá-lo a chegar ao seu quarto, mas não
entendemos o que ele fala. — O funcionário responde. — Tentamos segurá-
lo, mas ele se debateu, ficamos preocupados com seu bem estar...
— Ethan? — Ele levanta seus olhos vidrados, que indicam embriaguez
além da conta e sua fala arrastada confirmam a bebedeira.
— “Letíxia, essstão tentando me arrastarr para lonxe dela...”
Ele está completamente bêbado e provavelmente falando da Lorena.
Olho para os lados e aceno para as duas pessoas que permaneciam ali, para
ajudar-me a levá-lo para sua suíte que é em outro andar.
— Ethan, eu preciso da sua ajuda. Essas duas pessoas farão a gentileza
de levá-lo a suíte. Coloque seu braço no ombro dele. — Ele balança a cabeça
em negativo.
— Tem o cheiro dela lá. — Como uma criança “birrenta” aperta o nariz
com dois dedos para não sentir cheiro e aproxima do meu rosto para falar
baixinho, com aquele bafo de onça — “O cheiro dela essstá porrr todo lado.
Aquela dessgraçada...”
Ele é muito grande e pesado, para nós, não será fácil. Tentamos
caminhar com ele escorado mais em mim do que no outro, ainda assim,
quase caímos. Um de seus seguranças aparece e rapidamente tirando-o dos
meus ombros.
— Ele deu um perdido na gente, estávamos todos à sua procura.
— Leve o nosso bebezão para tomar um banho frio. Eu vou providenciar
um café forte, já está quase na hora de embarcarmos.
O segurança sorri para mim.
— Obrigado, senhorita.
Volto a minha suíte apressadamente, ligo para a copa e peço para
enviarem um café para a suíte do Ethan rapidamente. Procuro a Lorena
para contar o último babado, mas não a encontro. Onde essa criatura se
meteu?
Alguns minutos depois ela entra no quarto com os carregadores, olho
pela janela para me despedir desse lugar que é o paraíso e olhar para as
areias onde ele me beijou pela primeira vez.
— Letícia Sophie Barros? — Estou junto com os assistentes
encaminhando-me para o portão de embarque, quando um dos policiais me
barra.
— Sim, sou eu. — Ele aponta para frente.
— Acompanhe-me, por favor.
Empalideci na hora. Minha vontade era ajoelhar na frente dele e
implorar perdão por tudo o que fiz, mesmo não tendo feito nada. Olhei para
Lolo desesperada e ela vem em meu socorro.
— Eu vou com ela.
Andamos um passo na frente do policial, no caminho rezei todas as
orações que vovó me ensinou. Pedi proteção a Trindade Divina, mas como
o desespero era grande, apelei para todos os santos. Chegamos à frente de
uma porta azul, o policial abriu a porta, eu entrei e ele barrou a Lolo.
— Somente ela fica aqui. Caso a senhorita queira, pode esperá-la aqui
fora.
A porta é fechada e eu estou a ponto de desmaiar quando a porta se abre
novamente e Zachary entra, vestindo uma calça social preta e uma camisa
rosa, que fica um pouco justa em seus braços fortes. Meu alívio é tão grande
que minhas pernas chegam a falhar.
— Graças a Deus é você. — Ele me pega pelo braço, senta no sofá e me
coloca em seu colo.
— Qual o problema, anjo? Fizeram algum mal para você? — Meu
coração aquece com tamanha proteção.
— Não. Só me assustei com a abordagem.
— Seu cheiro me enlouquece... — Zach sorri, enfeitiçando-me. Passa a
mão pelo meu rosto, contornando minha boca, descendo pelo meu pescoço
e um arrepio percorre meu corpo. Ele pega um punhado do meu cabelo da
nuca e puxa com força, passa o nariz. E toma minha boca. Eu não sei se
devo abraçá-lo ou não, apenas coloco minhas mãos em seus braços para me
apoiar. Então, nos beijamos até ficarmos sem ar.
Abri os olhos e me deparei com aquele azul que me perseguia em sonhos
e agora ele está aqui, tocando-me.
— Achei que você tinha partido ontem.
— O problema não era tão sério assim e durante a noite, fui até a porta
várias vezes para ir até seu quarto. Por fim as horas se passaram, King me
avisou que Ethan estava dando um show no bar da praia e fui ver isso.
— O encontrei bêbado hoje antes de virmos para cá. Ele sempre foi
assim?
— Sua amiga fodeu a cabeça dele. — Zachary responde olhando para
minha boca e coloca suas mãos abaixo dos meus seios, tocando-os de leve
com o polegar.
Nesse momento não sabia nem de quem ele falava, apenas emoldurei
seu rosto e o beijei. Quando o toco meu corpo acorda, renasce depois de
anos e eu quero sentir mais, muito mais. Ele passa uma das minhas pernas
por ele e fico escanchada em seu colo, sinto sua ereção roçar meu centro de
prazer e como se em um clique, ligassem meus desejos novamente, sinto-
me umedecer. Ele acaricia minhas costas e continua seu caminho e aperta
minha bunda, meu corpo é totalmente controlado por ele.
— Assim, anjo. Dança para mim. — Ele fala ao meu ouvido e meu corpo
atentamente rebola mais. — Alguém bate fortemente na porta e a abre.
Rapidamente saio do seu colo me desequilibrando e caindo em seu colo
novamente. — Calma anjo. É só o King.
King abre um largo sorriso para mim.
— É sempre bom vê-la, senhorita Barros.
— Me chame de Letícia ou Lê, ficarei menos constrangida.
— Só faltam vocês para partirmos. — King acena e sai.
— Que tal sentar do meu lado no avião?
— Não é uma boa ideia...
— Eu darei um jeito de te atacar na próxima parada.
— Não ficarei em Brasília, vou direto ao Rio de Janeiro.
Seu olhar que estava tão terno, de repente gela, assustando-me.
— O que tem no Rio de Janeiro que é mais importante que eu? — Fico
sem ação, não esperava aquela reação dele.
— Zachary... — Ele se levante e me corta.
— Esquece. — Zachary sai batendo a porta atrás de si. E eu fico ali
parada, tentando entender o que aconteceu.
Lolo ainda estava me esperando fora da sala.
— O que houve, Lê? O homem entra todo gostoso sorrindo e sai todo
nervoso e sexy. Como esses homens conseguem ficar ainda mais bonitos
quando estão bravos? Vai eu ficar brava e fazer careta, vão me chamar de
Zangado dos sete anões e me colocarem em algum jardim por aí. Corremos
para embarcar e quando sentamos, dou de ombros.
— Eu não sei o que aconteceu, falei que não iria ficar em Brasília, que ia
direto ao Rio e ele surtou. — Lorena coloca sua cabeça em meu ombro.
— Me conta tudo o que aconteceu. Não é justo me deixar roendo as
unhas.
— Na praia rolou um beijo e a assistente dele chegou dando a notícia
que o fez sair correndo e naquela sala, bom... Rolou beijos também, mas
foram mais quentes.
— Gente, que babado! Temos que voltar mais vezes a Fortaleza.

*Holambra: cidade no Estado de São Paulo, considerada o maior centro de


produção de flores e plantas ornamentais da América Latina.
Capítulo 12
O voo foi tranquilo, minha única preocupação era com a Lolo. Ela
resolveu tomar um remedinho para relaxar, em alguns momentos peguei-a
secando as lágrimas e isso cortou meu coração.
Amar não deveria machucar tanto!
Também fiquei com dó da assistente do Ethan correndo de um lado para
o outro, para satisfazer os caprichos do chefe. Teve uma hora que me irritei
e fui ter um papo com ele na primeira classe. Ele estava deitado com os
olhos tapados, puxei aquilo e coloquei para cima.
— Bom dia, senhor Scott.
— Que merda, Letícia! Me deixa em paz. — E fechou os olhos
novamente.
— Ethan, qual é o seu problema?
— Nenhum...
— Você está matando a Kimy de cansaço, as comissárias de bordo não te
suportam mais e fora esse cheiro horroroso. Entenda que ninguém tem
nada a ver com seus problemas de garoto mimado, se a sua vida não está da
maneira que você queria, arrume-a, mas deixe todo mundo fora disso.
Levanto para voltar ao meu lugar e encontro o olhar de Zachary sobre
mim e dentro deles posso ver a parede de gelo que há. Um calafrio percorre
meu corpo, desvio meu olhar e volto para o meu assento ler o gostoso do
Rush novamente. Ele sim vale toda minha atenção.
Distraída, não percebo que a Lorena sai do meu lado e Liam senta.
— Saudades de você, Letícia. — Ele dá um beijo no meu rosto.
— Achei que tinha arranjado uma linda cearense e resolvido fixar
residência no paraíso. — Falo rindo. Liam é um homem muito bonito, e sua
risada é contagiante.
— Realmente é um paraíso e eu ficaria somente se você ficasse comigo.
— Sorrio para ele.
— Assim posso me apaixonar, senhor Larkin. — Ele junta suas mãos
como se fosse rezar.
— Oxalá!
— Veio até a classe econômica por saudades de mim ou Ethan interditou
tudo com seu mau humor? — Mudo de assunto rapidamente.
— Ontem no bar entre dez palavras que ele falava, sete era ela.
Deduzimos que ela, era a sua amiga. Para quem nunca se apaixonou
acordar um dia e descobrir que não pode viver mais sem aquela pessoa,
pode não ser uma coisa fácil.
Faço uma careta.
— Eu amei uma vez, mas não fui amada... — Liam entrelaça seus dedos
aos meus
— Eu amei e fui muito amado. O meu amor era tão grande que quando
minha esposa faleceu, eu não me sentia só, porque o sentimento me
amparou. — Aperto sua mão.
— Nossa Liam. Nunca ouvi ninguém falar assim. Faz muito tempo que
ela faleceu? — Ele respira fundo.
— Quatro anos.
— Desculpa minha inconveniência, Liam. Não queria ser invasiva.
— Gosto de conversar com você. — ele sorri. — Você é a única mulher
em anos que me desperta interesse.
Olhamo-nos durante um tempo e nos seus olhos pude ver satisfação.
Liam desperta o melhor em mim, gosto de estar em sua companhia, das
conversas.
— Eu também gosto de conversar com você, Liam.
— Hã... Hã... Senhor Larkin, estão solicitando sua presença na primeira
classe. — Se não estou enganada, esse cara é segurança do Sebastian, mas
não me recordo bem.
— Algum problema? — Pergunto.
— Acredito que seja alguma coisa para conversar com sua Presidente
logo mais. — Ele beija o canto da minha boca. — Depois nos falamos.
Assim que ele desaparece do meu campo de visão, Lolo reaparece.
— Hum, o irlandês gatão está caidinho pela nossa Xena. Na hora que o
Mister Gostoso souber, será um duelo de titãs. — Olho pela janela do avião.
— Sou um brinquedo que dois meninos ricos querem, um duelo de egos.
— Ela coloca sua cabeça em meu ombro. — Está sabendo que Ethan está
aterrorizando meio mundo com seu mau humor? Hoje antes de
embarcarmos, encontrei-o bêbado como um gambá, Zachary e Liam
assistiram ao showzinho dele no bar ontem. Ele está mal, Lolo, acho que
você deveria falar com ele. — Ela nega com a cabeça.
— Nos encontramos no corredor ontem, ele fingiu não ter me visto.
Acho que isso já diz tudo, só não esperava que ele fosse tão infantil.
O avião fez sua primeira parada. Uma hora mais tarde, estávamos
voando novamente. Não vi Zachary ou Liam, mas me entregaram uma caixa
de chocolate suíço em nome de Martino. Dividi com todos que estavam
perto de mim, até porque eram muitos bombons. Havia um pequeno
cartão...

“Spero ti piaccia questo símplice regalo,


Come mi piacevi.
M.R.”

Como a pessoa vai adivinhar italiano agora?


Caço meu celular na bolsa para ver se encontro um aplicativo tradutor.
Hoje em dia tem tudo nesses telefones, impossível não ter algum que me
diga o que esse italiano está tentando me dizer. Não é que tem? Digito
rapidinho e logo vem à tradução...
“Espero que gostes deste singelo presente,
Assim como eu gostei de você.
M. R.”
— Amém, igreja? — Falo entregando o cartão para Lorena. — Ela lê.
— Amém irmã! Letícia de Deus, o Kevin falou para você convencê-los a
investir em projetos e não a investir em você. — A criatura fala e cai na
risada, não me contenho e rio também.
Acordo com a comissária de bordo chamando por mim e Lorena.
Deveríamos estar horríveis, a cara da menina falava por si só. Lorena com
seu cabelo arrepiado e eu com certeza igual.
Lolo estava naquela fossa e a coloquei em um táxi para sua casa,
descansar será melhor para ela. Eu acompanhei os assistentes e os auxiliei
no hotel. Assim que tudo estava em ordem, fui para o meu apartamento.
Estava morrendo de saudades do meu cantinho.

——ooOoo——

Abri as janelas, as cortinas e sentei na varanda para contemplar o mar, o


meu mar. Quer saber? Vou trocar de roupa e correr a beira mar e foi o que
fiz, por duas horas. Alonguei-me, caminhei, corri, tomei água de coco,
respirei esse ar puro e em nenhum momento Zachary saiu dos meus
pensamentos, nem Liam e até o Martino se infiltrou depois daqueles
benditos chocolates.
Eu sei que todos eles vieram ao Brasil por causa da Vitrine, mas posso
apostar que as brasileiras ajudaram na decisão de aceitarem nosso convite.
Por isso repito, sou um brinquedo que os garotos querem disputar. Esse
tipo de coisa fortalece seus egos. Algumas das assistentes que acompanham
são verdadeiras modelos, a tal da Candace, é uma ruiva alta, com um corpo
de dar inveja e impecável no seu jeito de andar.
Sinto-me lisonjeada em flertar com eles, sei que não uma modelo TOP.
As pessoas dizem que sou exótica. E para mim exótico é quando não
queremos chamar alguém de feio. Cresci sabendo que meus olhos, ora
amarelados, ora esverdeados, não são bonitos. Minha boca é grande demais
para o meu rosto que é anguloso em excesso.
Liam é o homem perfeito, o genro que toda mãe gostaria de ter. Martino
é o cafajeste sedutor, que toda mulher quer ter na cama e Zachary, é o
pecado que se eu continuar a me envolver será minha morte.
Zachary é o tipo de homem que sabe exatamente o que quer e ataca sem
dó. Ele sabe como enredar uma mulher em sua teia, sabe o poder que tem
sobre cada fêmea que está ao seu redor e até mesmo à distância. A sua
beleza é devastadora e aquele olhar azul profundo como a cor do mar
Mediterrâneo, leva qualquer um para suas profundezas.
Gosto de analisar as pessoas, muitas vezes elas são tão previsíveis, que
posso preceder seus pensamentos e atos. Ethan por exemplo, um dos
jovens mais ricos do mundo, acha que manda no mesmo, pois sem o seu
dinheiro o mundo quebraria. Tenho certeza que ele não pediu a Lolo para
acompanhá-lo até os Estados Unidos, ele apenas a avisou que iria com ele.
Porque Ethan não costuma pedir, acha que tudo é dele. Só que não é difícil
lidar com esse tipo de ego, saber seu ponto fraco é o caminho para o
sucesso, mas jamais bata de frente com os homens que se acham o rei do
mundo, eles passam por cima sem piedade.
Posso estar enganada, só que Zachary é pior. Ele não tem pontos fracos e
se os tiver, trata de fortalecê-los, mesmo que para isso ele precise cortar
algo importante da sua vida. Acredito que ele não tenha ligações fortes,
nem mesmo com a família. A docilidade se torna ira em um piscar de olhos,
coisa exclusiva de quem não tem afinidade com o amor. Porque variar do
amor ao ódio é simples, para odiar, basta amar. A ira não, ela é um dos
piores sentimentos existentes nos seres humanos, poucos conseguem irar-
se, podem odiar e o ódio te impede de fazer uma coisa ou outra, a ira não!
Ela faz com que as pessoas destruam outras sem motivo algum,
aparentemente.
Quando vi o gelo em seu olhar no aeroporto, se formou um nó no meu
peito. Ali tive a certeza de que eu sou apenas a disputa dele com Liam, ele
não se importa se será bom, o que importa é ganhar do outro. Eu queria
ceder com Liam facilmente como acontece com Zachary, mas é impossível.
É como se Deus me fizesse somente para Zachary, talvez, só ele tenha o
poder de me possuir e se de alguma maneira isso for assim, grande parte da
minha história poderá ser escrita com lágrimas de sangue.
Tenho que parar com esses delírios. Faço meu alongamento e volto para
casa, tomo um banho, faço um lanche e deito para um cochilo. Estava
sonhando que tinham colocado uma fonte de chocolate para mim, quando
ouço meu telefone. Que injustiça, gente! Justamente quando eu estava
bebendo chocolate direto da fonte.
— Alô... — Com voz de sono, atendo.
— Letícia. Precisamos de você aqui, agora! — Lógico que precisa, todos
precisam da Letícia para resolver algum pepino.
— Primeiro diga quem é depois tenha a gentileza de dizer o que quer e
tenha o espírito forte para ouvir minha resposta.
— É o Jôna... — Acho que o telefone ficou mudo, não estou ouvindo mais
nada e estou vendo tudo branco. — Letícia! Letícia por favor! Não acredito
que ela cochilou no telefone... LETÍCIA!
O pior é que cochilei mesmo...
— Desculpa Jô, o que posso fazer pela sua pessoa?
— O senhor Scott está dando uma festa na suíte e o hotel está
ameaçando a chamar a polícia. Tenho medo de que saiam todos algemados
daqui, Lê. Não achei o senhor Cooper em lugar nenhum, me ajuda, por
favor.
— Eles já retornaram?
— Sim.
— Estou indo, cara pálida.
Tomo um banho para despertar, coloco uma roupa para aterrorizar as
pessoas. Pego uma calça de couro preta justa, uma camisa e um tailleur da
mesma cor, uma bota cano médio de saltos altíssimos. Estou saindo
conforme meu humor, eles terão que me suportar. Vou para a garagem e
um dos seguranças do condomínio me cumprimenta.
— Boa noite, senhorita Letícia. Algum problema? — Acho estranho sua
pergunta desde quando precisa acontecer alguma coisa para sair de casa?
— Trabalho. — ele faz uma careta. Sujeitinho petulante. — Algum
problema eu sair a essa hora para trabalhar?
— É que são três e sete da manhã e é muito perigoso sair sozinha.
Eu nem parei para olhar para o relógio. Ethan está fora de controle
mesmo, sabe Deus o que vou encontrar naquela suíte, deve estar rolando
um verdadeiro bacanal naquele lugar. Meu Deus, e se tiver drogas?
Saio dirigindo como uma louca da Nascar pelas avenidas do Rio de
Janeiro. Entro no hotel e no hall já dou de cara com o gerente e um bando
de seguranças a postos para intervir. Converso com eles rapidamente,
prometendo que resolveria aquilo.
— O senhor permite que dois de seus seguranças subam comigo?
— Sim, senhora. — Vou acabar com o bundalelê, mesmo que para isso
tenha que jogar uma bomba de gás lacrimogêneo.
Logo que as portas se abriram, me assusto com o som alto, conversas e
gemidos. Na porta tinham quatro seguranças dos convidados. Como me
conhecem e provavelmente acham que fui convidada, eles abrem espaço
para que eu entre. Assim que coloco os pés lá dentro, tenho a impressão de
que entrei no portal do inferno, mulheres seminuas, bebidas, fumaça, um
verdadeiro bordel.
Tento localizar Ethan, mas não o vejo, achei de onde aquele som sai, fui
até o dock station e joguei-o no chão, com isso metade das pessoas me
deram sua atenção.
— Ah que pena, a festa acabou cambada! Retirem-se.
— Que porra está acontecendo? — Ethan surge nu na sala gritando. Ele
passa o olhar pelo lugar todo até me encontrar, com as mãos na cintura. —
Letícia...
— Sou eu mesma. — Aponto para os seguranças do hotel. — Por favor,
escoltem as moças para fora. E você Ethan, coloque uma roupa.
Acredito que todos ficaram meio chocados com a minha aparição,
começaram a se ajeitar. Vi Martino e Sebastian surgirem com três meninas
de algum lugar, vi o sheik rodeado por interesseiras. Pedi ao Jônatas para
providenciar um café forte para todos em outra suíte e liguei solicitando a
limpeza nesta aqui.
Quando todos se retiraram, ficando apenas Ethan e eu, fui de cômodo
em cômodo para ver o estado que as coisas tinham ficado até me deparar
com a cena que me matou, Zachary estava transando de forma selvagem
com a ruiva assistente do Ethan.
Ela estava de quatro no meio da cama, ele a segurava pelos quadris
enquanto a penetrava com força. Ele é muito grande e forte, seus músculos
são definidos e o suor que escorria, deixava-os mais evidente. Seu cabelo
estava preso em um coque samurai.
— Puta que pariu! — Assustei-me com Ethan falando atrás de mim, o
que acabou chamando a atenção do casal.
— Vocês poderiam nos dar licença? Estamos um pouco ocupados aqui.
— O olhar de Zachary passou de luxúria a frieza em um piscar de olhos. A
mulher não fez questão nenhuma de se cobrir e ainda teve coragem de
falar.
Não esperei ela terminar, empurrei Ethan e sai dali correndo. Ouvi
alguém me chamar, mas a última coisa que queria era estar aqui. Desci
pelas escadas, o elevador demoraria demais, no meio do caminho não
suportei o aperto no peito, sentei e chorei. Não percebi quando alguém
sentou ao meu lado, quando me virei, vi o King. Um homem negro de mais
de dois metros, uma parede de músculos, que me permitiu ver em seus
olhos, sua alma e seu coração, que é tão grande quanto ele. Ofereceu-me um
lenço e seu ombro. Mais um, que mesmo sem me conhecer, quer me ajudar.
Ele ficou comigo o tempo todo, até me recuperar do choque.
— Eu não tenho palavras para te agradecer. Também não sei por que
tive essa reação, eu nem aos menos os conheço...
— Letícia, há coisas na vida que não fazem sentindo. Se me permite,
gostaria de lhe dizer uma coisa. — Aceno que sim e ele continua. —
Conheço Zachary há muitos anos, ele era o playboy riquinho, metido a besta,
família poderosa. Eu era o oposto, negro, de família pobre, dissidente da
SWAT, não estava muito bem desde que perdi meu parceiro. O imbecil e
seus amigos se meteram em uma briga, num lugar barra pesada, tanto eu
quanto ele estávamos bêbados e ainda assim o defendi. Só sei que
acordamos na beirada da piscina do Ethan. — Eu sorri tentando imaginar a
cena e um saudoso King continuou a história. — A partir daquele dia nos
tornamos amigos, ele me ajudou, me deu um emprego. O que eu estou
tentando dizer é: Ele é uma boa pessoa, só que a vida dele não foi muito
fácil. Zachary até hoje é babá dos pais, a vida o ensinou que as pessoas não
valem a pena, mas um dia ele descobrirá que existe aquela pessoa que
valerá por toda uma vida.
— Você gosta muito dele, não é? — King sorri e bate no peito.
— Ele é o meu irmão, fez coisas por mim que outro jamais faria. — Dou
um beijo em seu rosto.
— Ele tem muita sorte de ter você por perto, King. — Levanto-me. —
Sempre que precisar de mim é só chamar. Obrigada por conversar comigo.
Voltei à suíte para pegar minha bolsa e encontrei Ethan e Zachary
sentados no meio daquela zona conversando, vestidos.
— Desculpem-me, achei que estavam limpando o lugar. Só vim pegar
minha bolsa. — Ethan aponta para Zachary e vejo que minha bolsa está ao
seu lado.
— Letícia. Quero te pedir desculpas por tudo.
— Não há porque se desculpar, senhor Scott. Só quero minha bolsa,
tenho que ir pra casa para depois voltar. Nossa reunião começará às duas
da tarde e já estou atrasada.
— Aceita tomar um café conosco, senhorita Letícia? — Zachary fala. Fui
para pegar minha bolsa e me aproximei demais. Seu perfume penetrou meu
nariz e correu pelas minhas veias.
— Acho que não... — Ethan me tira do delírio.
— Por favor, Letícia. Assim poderemos nos desculpar direito.
Ouço um pof pof pof de saltos e a ruiva sai de um dos quartos terminando
de abotoar a camisa. Olho para os dois e para a mulher, tudo indica que
quando eu saí daqui, Ethan se juntou a festinha particular, afinal, estamos
falando do rei das orgias de Manhattan. Puxo minha bolsa com tanta força,
que ela vem direto no meu rosto.
— Eu não quero atrapalhar a reunião dos senhores com a senhorita...
Esquece. Até mais tarde.
O que eu esperava dele?
Que se ajoelhasse e me pedisse perdão? Pelo que?
Por ter fodido a assistente número dois do Ethan, que segundo o
assistente número um, é corriqueiro?
Que o homem se tornasse santo e pensasse só em mim?
Desgraçado!
— Desculpa senhores. Eu estava distraída... — Esbarro em Sebastian e
Martino no corredor
— O que se passa Letícia? — Sebastian me pergunta.
— Acabar com a festinha de vocês consumiu todas as minhas energias.
— Sebastian tem um olhar fascinante, somado a sua conversinha mole, se
torna um encantador de serpentes.
— São sete horas da manhã, gostaria de tomar café conosco?
Aquela piscadinha do Martino faz mal para qualquer mulher, imagina
para uma que é quase uma donzela porque não transa há muito, muito
tempo, que acabou de ver um casal como dois animais no cio. Jesus! É
melhor eu ficar longe desse italiano.
— Só se for no salão principal. — Se a minha fome não tivesse tão
grande e ele não fosse tão charmoso, juro que iria embora.
O café foi rápido e eles galantes demais. Falamos sobre a ideia deles para
o projeto do resort, quais dos outros projetos que eles investirão e por um
momento, achei que o Sebastian estava dando em cima de mim. Despedi-
me e fui para o carro, encontrando Liam no hall com seus assistentes e
seguranças.
— Bom dia, algum problema, Liam?
— Bom dia, ma chérie. Sem problemas e como você está?
— Um pouco cansada, mas bem. Estou indo para casa arrumar-me para
a reunião de logo mais.
— Posso ir com você? Prometo me comportar. Assim conheço um pouco
mais a cidade e onde você habita. — Ele fala perto do meu ouvido.
— Será um prazer. — Liam é adorável, não há como dizer não. E ter ele
por perto me faz bem.
Ele já estava pedindo um carro quando o silenciei, se quiser ir comigo,
terá que ser no meu carro e sem seguranças.
Não aguento mais ver essas paredes humanas a minha volta, alguns me
assustam. Quando o sheik entra com aqueles caras, tenho a impressão que
um deles vai gritar homem-bomba a qualquer momento.
Capítulo 13
Durante o caminho Liam me falou que estava encantado com a
hospitalidade brasileira. Que mesmo o país em crise, as pessoas são alegres
e não deixam de fazer festas. Segundo ele, os brasileiros são calorosos a
ponto de querer morar aqui. Isso porque o irlandês ainda não viu o nosso
carnaval.
— Liam, quer alguma coisa para beber? — Assim que entrei no meu
apartamento abri as cortinas e as janelas, ele ficou encantado com a vista.
— Só água, por favor.
Minha cozinha é tipo americano, a bancada é revestida de mármore
negro que também uso como mesa. As banquetas altas têm os pés em
alumínio e o assento vermelho, dão um toque especial. Liam se sentou em
uma, enquanto eu o servia.
— Vou pedir comida de um restaurante, Liam. Não tenho tempo para
cozinhar.
— Sem problemas.
Peço um peixe e uma salada para não fazer feio com o homem, por mim
tinha descongelado uma lasanha daquela e comido inteira, sozinha.
Enquanto esperávamos a entrega, convidei-o para sentar no sofá da
varanda comigo.
— A vista da sua casa é sensacional, Letícia. Assim como você...
— O bonito aqui é você, muito por sinal. — Ele alcança minha mão.
— Gostaria que você olhasse para mim como olha para o Zach. — Viro-
me para ele.
— Está vendo coisa onde não existe, Liam e eu não gostaria de estragar
esse momento falando dele.
— Não está mais aqui quem falou. Só preciso saber de algo... — Liam me
puxa pela mão e me dá um beijo inesperado. O beijo é tão doce e carinhoso
quanto ele, mas não me despertou. Ele me solta e passa as mãos pelo meu
rosto. — Tenho vontade de te beijar desde a primeira vez que a vi.
— A nossa comida chegou! — A campainha toca me tirando do clima.
Corro até a porta e dou de cara com as últimas pessoas que eu gostaria de
ver no momento, Ethan e Zachary, com seus respetivos seguranças. — O
que a dupla dinâmica está fazendo aqui?
Eles olham por cima de mim e Zachary fala com um sorriso debochado,
colocando-me de lado e entrando na minha casa.
— Estávamos passando por aqui e resolvemos entrar para ver como
você estava, já que se negou a tomar café conosco.
Que cara de pau!
Eles entram como se já fossem de casa, Ethan, King e Kaleb me dão um
beijo no rosto, Zachary só passa se esfregando, fazendo com que meu corpo
acorde. Filho da mãe...
Liam e eles se olhavam tão estranhamente que deduzi que estavam
conversando entre si com os olhares e claro, todos ignorando a Letícia. A
porta se abre e a Lorena entra falando alto, não se dando conta de que não
estou só.
— Letícia, Jônatas me contou da merda que Ethan fez. O que ele... —
Então ela se tocou de que todos estavam ali. — Ah, Merlin do Carvalho! —
Ela aponta para eles.
— O que estão fazendo aqui? — Ela acena para o segurança do Ethan. —
Oi, Kaleb.
A campainha toca novamente e fui atender orando para que fosse a
comida. Porque pelo andar da carruagem pode ser até o Papai Noel. Abri a
porta, recebi o pedido e o coloquei em cima da mesa, não daria nem para o
cheiro. Tirei minhas lasanhas e pizzas do congelador, metade foi para o
forno e a outra metade para o microondas.
Zachary veio para minha pequena cozinha com a desculpa de me ajudar
enquanto Ethan discutia com Liam e olhava de canto para Lolo. Em um
momento em que todos estavam distraídos, Zachary se acomodou atrás de
mim, colocando suas mãos em meu quadril e puxou para si, levou suas
mãos sobre as minhas e as prendeu na pia. Eu já estava trêmula, tentando
disfarçar, mas estava impossível e tudo piorou quando ele encostou sua
boca na minha orelha, mordiscou o lóbulo.
— Mais tarde, nós dois conversaremos. — Tentei ser corajosa.
— N-não...
— Não estou perguntando, estou avisando. Mais tarde conversaremos.
— Antes de me soltar, ele dá uma leve mordida no meu pescoço. Minhas
pernas falham e ele me segura, chamando a atenção de todos. — Cuidado,
Letícia!
— É só cansaço. Vamos nos servir? King e Kaleb, por favor, se sirvam.
Enquanto todos comiam meus arranjos culinários, Lolo estava comigo
no quarto trocando de roupa.
— Letícia Sophie Barros, porque parte da gangue dos dentes de ouro está
aqui? — Dou de ombros.
— Liam se ofereceu para vir comigo e veio, os outros apareceram
depois... — Lolo estava sentada na beirada da minha cama.
— Lê, eu soube do que aconteceu na suíte do Ethan. Seja sincera comigo,
ele estava com alguém?
Só de lembrar-me daqueles fatos, meu estomago embrulha. Não vou
mentir para minha melhor amiga, só que eu não vi Ethan com ninguém.
— Eu não o vi com ninguém na cama, Lorena. Mas tinham muitas
mulheres, bebidas, aquilo estava um verdadeiro caos.
Tomo banho rápido, vou para closet pegar um vestido tubinho preto
bem-comportado, sem mangas, três dedos abaixo do joelho e justo como a
saia lápis. Para combinar, peguei um tailleur de mangas três quartos na cor
salmão.
Saio do closet com os sapatos na mão.
— Eu vi Zachary transando com a assistente ruiva do Ethan. — Lolo
estava terminando de abotoar sua camisa, olha-me pelo espelho com a boca
em formato de O.
— Não creio. E o que ele fez quando te viu?
— Continuou.
— Eu não sei quais são seus sentimentos por ele, mas sei que é algo
muito forte, a ponto de você sonhar antes mesmo de vê-lo.
— Fiquei muito mal, Lolo e acabei chorando no ombro do King. — Ainda
abraçadas, ela dá batidinhas nas minhas costas. — Pode me soltar, Lorena.
Já estou conformada.
— Tinha até esquecido que estava te segurando, Lê. Meus pensamentos
foram tomados por imagens daquele homem nu. Acho que até gozei! — Às
vezes tenho a impressão de que Lorena não é normal. — O que, Letícia? Vai
me dizer que em nenhum momento você se imaginou no lugar da
desbotada? Porque vamos ser sinceras, a garota mora no centro das
tecnologias estéticas e não arranjou um produto que deixe o cabelo com
vida.
Eu não tinha imaginado, só que agora... Alguém bate na porta e minha
fantasia evapora.
— Estamos atrasados, honeys. — Era Ethan. Lorena mostra seu dedo do
meio e a língua como se ele pudesse ver.
Daquele momento em diante até chegar ao hotel, foi uma loucura. Liam,
Ethan e Zachary insistiam que iriam comigo no carro. Consequentemente,
King e Kaleb tinham que ir com seus chefes, não caberia todos no carro,
porque os caras são uns monstros de grandes. Por fim, o trio e Lolo foram
comigo e o táxi com os seguranças veio logo atrás.
Eu não sei se houve algum problema entre Liam e Zachary, mas o clima
de amistoso passou a tenso. Quando Liam comentou sobre meu
apartamento, vi a tempestade nos olhos de Zachary e tenho quase certeza
que foi nesse momento que o tempo na cidade nublou.
Quando cheguei ao hotel, larguei todos para trás e fui para o salão Azul,
onde acontecerá a última reunião. Kevin estava sentado em uma das
cadeiras, muito pálido.
— Meu Deus, Kevin. Está tudo bem?
— Estou mal. Fiquei no hospital desde que desembarquei, fugi da
internação só para essa reunião.
— Eu sei que a Vitrine é importante para você, mas morto não poderá
fazer nada! Deveria ter ficado no hospital, eu cuidava do resto. — Ele
segura minha mão.
— Eu sei e te devo por isso. Fiquei sabendo sobre a festinha do Ethan,
obrigado por resolver.
— Esse é o meu trabalho, senhor Cooper. Fica tranquilo, eu conduzo a
despedida.
Todos começaram a entrar e tomar seus assentos. Os empresários, seus
assistentes e seguranças, lotaram o salão azul. Venho tentando não pensar
muito nesse momento, porque agora é o momento em que eles me dirão se,
se interessaram por alguma coisa ou não.
Olho para Liam e sorrio me despedir dele será ruim, adorei conhecê-lo.
Eu daria tudo para me apaixonar por ele, tenho certeza que seria muito
feliz. Ele é daqueles homens que zelam pelo seu amor, cuidam, protegem,
daria o mundo pela sua companheira. Qualquer mulher no mundo será feliz
ao lado dele.
Olho para cada um e sinto um prazer enorme em conhecê-los.
Sorrio para o King, espero vê-lo um dia novamente. Continuo a olhar ao
redor até parar em um par de olhos azuis fixos em mim. Zachary é um
homem forte, mas com sua postura, se torna poderoso, chegando a me
fazer temer. Ele é absurdamente lindo, daqueles que vemos e temos certeza
que Deus o esculpiu tudo em seu devido lugar, cada músculo, cada pêlo.
Mas de longe se percebe que não é um homem de brincadeira, do tipo que
não joga para perder, passaria por cima da própria mãe se precisasse.
Ele é o oposto de Liam, jamais colocaria o bem-estar da mulher acima do
seu. Relacionamento sério não combina com ele, seria mais, um casamento
por interesses comerciais.
O amor de Zachary Thorton é ele mesmo, qualquer um que venha
conviver com ele, terá que se contentar em ser o último item das suas
prioridades.
Desvio o olhar e balanço a cabeça, porque, mesmo sabendo de tudo isso,
foi justamente ele que cruzou meu caminho e me tocou. Eu já tive o
desprazer de viver com um protótipo de Zachary, estive no inferno, comi o
pão que o diabo amassou, foi minha quase morte. Agora o destino traz
minha provável morte, muito irônico! Será fácil esquecê-lo depois que ele
partir, provavelmente nunca mais nos veremos novamente.
Chegou a hora.
— Boa tarde. Senhores como muitos já têm voos planejados para hoje à
noite, serei breve. Logo que nos reunimos, foi entregue aos vossos
assistentes, uma pasta que continham alguns documentos para a boa
realização da reunião. Nesse momento eu preciso que me entreguem o
documento restante da pasta, que é o Contrato de Investimento, onde
deverá constar, o nome do projeto de seu interesse, o valor do investimento
e a assinatura do pretenso investidor.
Lorena e Jônatas receberam todas as pastas e me entregaram.
— Enquanto abro as pastas, deixo a palavra com Kevin, para fazer suas
considerações.
Kevin faz o seu melhor, levanta e faz um belo discurso enquanto abro e
me surpreendo com os resultados. Todos os projetos foram contemplados e
mais, o sheik quer investir pesado na formação de jogadores e colocou isso
no papel. Respiro fundo e agradeço a Deus em silêncio. Agora, tenho que
colocar um intermediário competente para ficar responsável por cada
parceria.
— Menina Letícia. — o Sheik chama minha atenção.
— Sim? — Ele se levantou e continuou.
— Bashir e os demais amigos estiveram conversando sobre o projeto do
resort e chegamos à conclusão de que todos nós vamos participar.
Formaremos um grupo construtor, o responsável pelos projetos de
arquitetura será o Larkin, mas o grupo será liderado pelo Zachary. — Eu
estava tão emocionada e já ia comemorar quando ele continuou. — Só que
temos uma condição e essa condição é que você complete essa diretoria
junto com os dois. Conversamos com o Cooper e ele disse que não haveria
pessoa melhor para o serviço.
O sorriso no rosto de Zachary era demoníaco e aquele olhar me disse
tudo o que eu não queria.
Você está ferrada!
Liam pelo contrário é o anjo em pessoa, será um prazer trabalhar com
ele. — Volto para a realidade.
— Tão logo que eu prepare os documentos, começaremos... — O sheik
me interrompe.
— A documentação já está quase pronta. O escritório do Zachary cuidou
de tudo. Reuniremos-nos daqui duas semanas para assinarmos nossa
parceria em Abu Dhabi, em uma grande festa.
Fico sem palavras diante da grandiosidade que está para acontecer. Os
seis dos empresários mais ricos do mundo se uniram para formar uma das
maiores organizações construtora e a primeira obra será aqui, no Brasil.
— Fico imensamente honrada, sheik Bashir. Mas acredito que o próprio
Kevin, seja a pessoa ideal para fazer parte dessa equipe de gigantes. —
Zachary se levanta.
— Não queremos mais ninguém além de você e isso já é assunto
resolvido, senhorita Barros. Você nos passou um valor estimado de quanto
queriam pelas terras, achamos o preço razoável, pode fechar o negócio. Se
ele quiser um sinal, entre em contato comigo e providenciarei isso.
Também tenho aqui... — Ele abre um mapa e vejo que está demarcado. —
Nós também queremos essa parte aqui. Como eu sei que no Brasil as coisas
são um pouco burocráticas para se saber quem é o proprietário, tomei a
liberdade de descobrir. Os donos vivem naquela região, são nativos e tenho
certeza que pedirão um valor baixo, se não pedirem, convença-os. — Isso é
o que me irrita nesses homens, querem tirar proveito das pessoas.
— Senhor O´Brian, vou pagar a eles o real valor das terras, porque eles
sim merecem. Quando lhes apresentei o projeto, passei-lhes minhas
condições e uma delas é fortalecer aquele povoado e não destruí-lo. Caso
isso não seja do seu agrado, retiro-me do projeto... — Martino pede calma.
— Essa mulher foi a escolha mais acertada disso. Letízia tenha calma,
cara mia. Negocie da maneira que achar melhor. Temos certeza que você
será sensata nisso, não é Zachary? — O infeliz sorri.
— Talvez. — Será um martírio trabalhar com esse homem. — O sheik
volta a falar.
— Menina Letícia, Bashir quer que você vá aos Emirados Árabes para
ver tudo o que espero no projeto da minha casa. Assim a menina tem a
oportunidade de conhecer a terra das mil e uma noites.
— Acho que todos nós queremos que você conheça os nossos costumes
para poder passar para o complexo. Até porque quero minha vila o mais
parecido possível com a que tenho na Itália.
Todos concordam e minha ficha cai, eles já decidiram absolutamente
tudo, a mim só cabe executar.
— Já tenho data para cada visita? — A assistente do Zachary se adianta e
me entrega um cronograma.
— Suas passagens também já estão compradas, você não precisa se
preocupar com nada, apenas comparecer. Sua primeira viagem será para
Abu Dhabi, seu embarque será daqui a doze dias, a permanência será de no
máximo cinco dias. As passagens não têm datas, mas preciso que você me
avise no máximo doze horas de antecedência sua partida para a próxima
visita que será para Cala Dogana, na Itália. O senhor Khristophoros irá
encontrar-se com você em Atenas, na Grécia e de lá irão aos Estados
Unidos, onde você se reunirá com o senhor O´Brian. — Olho para Zachary.
— Sim, senhor. — Se foi a secretária do Mister ego ali que me passou
meu roteiro, tenho certeza que ele se ocupou pessoalmente do meu
itinerário. E isso me irrita de uma maneira... Eu faço meus horários, eu
controlo tudo. — Tem mais uma coisa... — Ele levanta a mão.
— A Lorena também vai. — Ele se adiantou. — Você precisará de
alguém e ninguém melhor do que sua amiga para te auxiliar. — Odeio esse
homem!
— Já que o senhor O´Brian resolveu tudo, acredito que não tenhamos
mais nada à acertar. — Realmente, odeio esse homem...
Eu estava espumando de raiva, ignorei sua presença enquanto pude.
Conversei com cada um sobre seus investimentos, no caso da empresa de
software, dois deles investiriam simultaneamente e por livre e espontânea
pressão, fiquei responsável por intermediar todos. Nesses casos já
tínhamos contratos pré-prontos e pudemos assinar três. Como sou
intermediária, vou repassando os recursos aos poucos aos destinados e
repassando um relatório para cada investidor.
— Estou ansioso para reencontrá-la, Letícia. — Sebastian foi o primeiro
a se despedir de mim
— Não entendi por que vamos nos encontrar na Grécia. Você não mora
nos Estados Unidos?
— No nosso encontro, a senhorita me disse que um dos itens de sua lista
de desejos era conhecer a Grécia e eu posso lhe proporcionar isso, em
retribuição de como fomos recebidos em seu país. — Ele pega minha mão e
a beija. — Será um enorme prazer. Até a vista.
— Quer, por favor, desfazer essa cara de desgosto? — Lorena me pega
pelo braço e me leva a um canto. — Todo mundo já reparou na sua careta.
Olha, Zachary é assustador, mas fiquei excitada...
— Oi? Ficou excitada com o que exatamente? Por ele ser um arrogante e
um puto controlador ou por ele ter me enfiado nisso sem ao menos
convidar?
— Com tudo! E se você me contar que além dele ser assim, ele também é
grande lá, eu me apaixono. Sabe como é, tenho tendência a me apaixonar
por psicóticos.
— Estou preocupada com Ethan, Lolo. Ele não parou de beber...
— Quero que o senhor Scott se foda! — Ela faz uma careta. — Que roupa
eu tenho que levar para Abu Dhabi?
Doidinha de pedra. Eu sei que essa é a forma dela sofrer, fingir que não
está nem aí com a situação, mas também sei que aquele coração está
doendo de ver ele assim. Será que ele está com problemas ou... Não... Será?
Será que ele se apaixonou por ela?
Sou puxada para mais uma conversa, dessa com vez com o sheik, depois
se tornou uma correria só. Tivemos que fazer uma estimativa aproximada
de todos os investimentos, dar atenção a quase todos os assistentes e me
despedir de quem partia.
De todos, só fiz questão de me despedir em particular de Liam, saímos
do salão e fomos para outra sala que o gerente gentilmente nos cedeu.
— Foi um prazer te conhecer. — Liam me abraça. — Mesmo se eu não
tivesse fechado nenhum negócio, ainda teria valido a pena, só por te
conhecer, Letícia.
— Digo o mesmo, Liam. — olho em seus olhos. — Adorei te conhecer. —
Por um momento achei que vi dor em seus olhos e não entendi o que ele
falou logo em seguida.
— A vida nem sempre é justa, só tenha uma coisa sempre em mente, por
mais que as coisas pareçam ruins, pode não ser o que parece.
— A parte que a vida não justa, é o lema da minha vida, mas não entendi
o resto, Liam.
— Eu te adoro, Letícia. Conte comigo para o que precisar, sempre! — Ele
balança a cabeça, beija minha testa e meu rosto
Era noite quando restaram no salão somente Ethan, Zachary e seus
respectivos seguranças. Ethan estava entre a sobriedade e a embriaguez,
com mau humor e com ideias loucas.
— Letícia, eu tenho uma lista de imóveis que quero comprar aqui no Rio,
Zachary também, queremos que você se encarregue disso. — Gosto do
Ethan, mas isso não foi um pedido, foi uma ordem e até onde sei, tenho que
responder a Zachary somente quando forem as coisas sobre a organização.
— Vou pegar o nome de alguns corretores de imóveis e passarei a
Kimy... — Ele não muda sua postura e Ethan arrogante é insuportável.
— Não! Eu quero que você faça, ninguém negocia como Letícia Barros.
— As coisas ficarão muito pesadas para mim, Ethan, tente compreender.
— Tento explicar.
— Você é a melhor e a quero, simples assim. — Debruço-me em frente a
ele.
— Ok, senhor Scott, farei uma oferta por cada imóvel listado. Só para
lembrá-lo, meus honorários são caros e cobrarei cada segundo em que
estiver nessa negociação. — Ele acena.
— Que assim seja Letícia.
Depois de conversar com os assistentes de ambos, falei com Kevin e saí à
francesa para fugir de Zachary. Estava muito cansada, cabeça cheia, tenho
que preparar um relatório detalhado para apresentar amanhã de manhã.
A última coisa que precisava era uma conversa com aquele homem.
Capítulo 14
Chego em casa, tomo um banho, preparo uma garrafa de café, porque a
noite será longa. Abro meu computador e começo a jogar os dados no
programa que gerará os gráficos e tabelas. Distraio-me com o pôster de
Nova York que tenho no meu escritório em casa, se Deus quiser e Ele há de
querer, muito em breve terei uma casa lá.
Não sei quanto tempo demorei, mas terminei, agora é só imprimir. Envio
a impressora ao mesmo tempo em que a campainha toca. Deve ser tarde da
noite, ninguém sobe sem ser anunciado, algo importante está acontecendo.
Abro a porta e dou de cara com Zachary.
— Boa noite, baby. Trouxe o seu jantar. — Viro as costas e entro
deixando a porta aberta.
— Eu não acredito que você controlará até a minha comida, senhor O
´Brian? Que merda! — Ele está sorrindo de canto, daquele jeito que o diabo
gosta e tirando minha atenção.
— Lorena me disse que provavelmente você estaria trabalhando e não
tinha comido ainda. Ela acertou? — Lorena não me ajuda em nada mesmo.
— Acertou.
Ele foi em direção a minha cozinha, colocou as sacolas em cima da pia,
abriu todos os armários, pegou os pratos, as taças de vinho e os talheres. Eu
estava tão choquida como diz Lorena, que fiquei parada só olhando a
desenvoltura daquele homem.
— Peguei uma comida do restaurante do hotel, foi a Lorena que pediu.
Se não gostar, cobra dela. — ele pisca para mim e eu molhei. Merda! —
Sente-se, Letícia, vou te servir. — Sentei em uma banqueta.
— Tem notícia do Ethan? — Zachary abre a geladeira e tira alguns
molhos para salada que tenho, coloca no balcão. Abre o vinho tinto que
trouxe e serve duas taças, estende uma para mim.
— Ethan partiu essa noite e deixou essa lista para você. — A coisa é mais
séria que pensei.
— Fiquei preocupada com ele, algo muito sério deve estar acontecendo.
— Ele coloca um prato de salada caesar para mim.
— Ethan está sofrendo de uma grave doença. — Essa notícia me pega de
surpresa, coloco a mão no pescoço porque se formou um nó na minha
garganta.
— Meu Deus, Zachary. E o que ele tem?
— Paixão. Ele está apaixonado por sua amiga Lolo. — Olho de cara feia,
mas ele não se intimida e continua. — A paixão, senhorita Letícia, pode ser
letal. As pessoas acham que podem fazer as piores atrocidades, falar que foi
por amor e tudo será perdoado. Sentimento para os fracos. Esse é um dos
motivos porque quero distância do tal amor.
Não sei por que meu coração aperta e vem uma vontade chorar que
engulo rapidamente. Ultimamente coisas sem motivos andam mexendo
comigo.
— O amor é para os fortes, senhor O´Brian, só se entrega de verdade
quem tem coragem de viver. O resto é balela. — Zachary aproxima seu
rosto do meu até ficarmos uma respiração de distância.
— Você é forte ou fraca, Letícia? — Minha vontade era responder, o que
você quiser que eu seja, mas ainda não enlouqueci. Desvio meu rosto.
— Não sei. — E tomo longo gole de vinho.
A comida estava ótima e ele uma excelente companhia. Fiquei sabendo
sobre seu breve noivado que acabou por ciúmes, seus pais são divorciados
e ambos gostam de viver novos romances.
Passei um cafezinho e fomos sentar no sofá.
— Sei que a sua vida é corrida, Zachary, mas o que gosta de fazer para se
distrair?
— Nadar, jogar golfe, viajar. Coisas simples. E você, menina dos olhos
dourados?
— Gosto muito de correr a beira mar, ler também. Agora, quando estou
em casa de pernas para o ar eu assisto... — Coloco a mão na boca, quase
soltei meu segredo para esse infeliz.
Ele tira a minha mão da boca.
— Diga, estou curioso.
— É vergonhoso, não vou falar. — Ele passa a mão pelo meu rosto,
desliza seu polegar pelos meus lábios.
— Nada que sai daqui pode ser vergonhoso. — Perco completamente a
noção da realidade. Por onde seus dedos passam, brasas se acendem na
minha pele, fazendo-me suar.
— Desenhos animados... — Zachary está com olhos arregalados. —
Nossa Zachary. Eu sei que é chocante, mas não é para tanto. Eu amo
desenhos animados, tenho pijamas de vários deles.
— Você é surpreendente e linda. — Seu olhar intenso penetra-me.
— Beije-me, Zachary. — Ele coloca meu rosto entre suas mãos.
— Com prazer.
O beijo é inexplicável, um misto de sensações passa pelo meu corpo. Ele
me puxa para o seu colo, me abraça forte e me sinto protegida. Não
contenho meus gemidos, seus lábios fazem o caminho do pescoço e
voltando para a boca. Suas mãos percorrem meu corpo sobre a roupa, o
calor é tão intenso que mesmo com os tecidos entre nós, suas mãos
queimam.
— Tenho que abrir a porta... — A campainha quebra o clima, mas
Zachary continua a me abraçar junto ao seu corpo.
— Não. Quem quer que seja, pode esperar. — A campainha insiste,
desvencilho-me dele e vou atender. King está na minha porta sem jeito.
— Desculpa incomodar, Letícia. — Ele olha acima de mim. — Temos que
ir senhor.
— Porra, King! Só vou me despedir dela e já vou.
Zachary fecha a porta e me coloca contra ela, seus olhos travam no meu
e sua boca na minha. Levanta minhas pernas e as enrolo na cintura dele.
Não há espaços entre nós, meu corpo foi feito para encaixar no seu. Com
muito custo separo minha boca da sua.
— Não quero te atrasar. — Mordo seu lábio inferior. Seu olhar tem um
poder sobrenatural sobre mim, capaz de fazer me submeter a qualquer
coisa que ele queira, que me desconcerta.
— Eu te verei em breve. — Ele me coloca no chão, abre a porta e antes
de ir me dá mais um beijo — Sonhe comigo, anjo.
Desde quando precisa que ele mande sonhar, para sonhar com ele? O
infeliz gostoso invadia meus sonhos mesmo antes de conhecê-lo, já me
tinha antes mesmo de eu saber que ele existia.

——ooOoo——

Minha noite foi tranquila, dormi como uma pedra.


Como de costume, levantei antes do despertador, coloquei minha roupa
e fui correr na praia. Uma corrida rápida porque estou ansiosa para chegar
no escritório e fazer minha proposta de compra para o Kevin. Deus, pouco
nessa vida te pedi, aceitei as coisas me dadas da melhor maneira possível. Só
que hoje, preciso da sua ajuda, aquele apartamento é o meu sonho, ajude-me
a conquistá-lo, por favor.
Chego em casa e encontro Lolo e a sua mãe, um cheirinho gostoso de
café e minha barriga pede comida.
— Bom dia mulheres da minha vida, vamos comemorar alguma coisa?
Esperem, vou tomar um banho. — Faço todo meu ritual de beleza, coloco
um conjunto de camisa e saia, volto para a cozinha. Estou morrendo de
fome. Abraço a dona Aurora.
— Viemos parabenizá-la. Eu soube que você foi um sucesso. — Lorena
está com olheiras horríveis, aponto para seus olhos.
— Suas olheiras criaram vida, algum problema? — Ela me dá um sorriso
amarelo.
— Só uma noite mal dormida...
— Lorena chorou a noite toda. — A mãe dela interrompe.
Eu já sabia o motivo... Ethan.
— Vai passar. — Sinto pequenos tremores, o que significa que ela está
chorando. Minha vontade é de pegar um avião e quebrar a cara dele.
Babaca!
Meu dia estava muito cheio e eu precisava da ajuda da Lorena para ver
as casas, como eu ia dizer que uma delas seria para Ethan, aí já não sei.
Chegamos à empresa e fomos direto para nossas mesas.
— Lolo, eu preciso de um favor. Preciso que você descubra a imobiliária
que esses imóveis estão cadastrados e agende uma visita ainda essa
semana. Vou entregar os relatórios para o Kevin agora e se as visitas
puderem começar depois do almoço agradeço.
— Essas casas não fazem seu tipo, Lê.
— Não são para mim. Alguns empresários amaram o Rio, então vamos
fazer esse favor a eles.
— Ok. — Vou para a sala do Kevin e encontro Jônatas no meio do
caminho.
— Como está seu chefe hoje, Jô?
— De ótimo humor. — Jônatas abre a porta para que eu entre. Kevin
realmente estava melhor, está até corado.
— Bom dia, chefe. Vejo que está bem melhor. — Ele dá a volta na mesa e
me cumprimenta com um beijo no rosto como de costume.
— Estou bem sim, só não esperava você aqui hoje pela manhã.
— Vim te entregar os relatórios. Atrás coloquei os gráficos e fiz uma
tabela para detalhar todos os dados. Nossa estimativa inicial é de quase
cem milhões de dólares em investimentos. Mas, se o sheik concretizar os
planos sobre a instituição em busca e lapidação de talentos desportivos,
nós podemos ultrapassar a casa dos cento e vinte milhões.
— Foi a melhor edição da Vitrine. Fico muito feliz que tenhamos
alcançado grandes investimentos, Letícia. Tenho que te agradecer pelo
excelente trabalho que você fez. Para todos os apresentadores da Vitrine,
dou um bônus de acordo com o valor das negociações. — Ele me alcança
um pedaço de papel.
— Kevin, é muito alto. Dois milhões e meio é muita coisa. — O valor
escrito me deixa um pouco chocada. Eu sabia que os bônus eram bons, mas
não esperava nada disso.
— Muito merecido. Você trabalhou muito para que tudo saísse perfeito,
teve a delicadeza de entrar na onda de encontros que Zachary te colocou.
É agora ou nunca.
— Kevin, você ainda pensa em vender aquele seu apartamento da Upper
East Side? — Ele cruza os braços em cima da mesa.
— Tinha me esquecido. Por que, tem alguém em vista?
— Sim, tenho. O valor continua o mesmo? — Ele acena que sim. Recosto-
me na cadeira. — Você tem tempo para ouvir uma história, senhor Cooper?
— Ele sorri.
— As suas, sempre.
Levanto-me e vou até a janela e começo minha história.
— Essa pessoa teve muitas perdas durante sua vida. Mas a cada perda,
um sonho ia se fortalecendo, o de ser alguém na vida. Seu maior sonho
sempre foi estar em Nova York, onde as cosias acontecem. Ela trabalhou
muito, adquiriu algum dinheiro, tendo sempre em mente que um dia iria
adquirir um imóvel na terra de seus sonhos. — Viro-me para ver sua
expressão e fiquei consternada com a emoção em seus olhos. Mesmo assim
continuei. — Ter aquele apartamento é a concretização dos seus sonhos.
Mesmo que depois ela tenha que trabalhar mais uma vida para juntar
dinheiro para viver. Só que a realização de um sonho não tem preço, a
satisfação da vitória, vale uma vida de perdas.
Ele se levanta e me dou conta que seus olhos estavam umedecidos.
— Eu conheço essa história e muitas vezes quando as coisas estão mal,
olho para essa pessoa e vejo o real significado de superação e perseverança.
O apartamento é seu, Letícia.
Dessa vez sou eu que não contenho as lágrimas. Ninguém imagina o que
se passa no meu coração, ninguém faz ideia do quanto isso é importante
para mim. Obrigada, Deus. Obrigada por esse presente!
— Só temos que negociar o valor e o pagamento, Kevin. Tenho algumas
aplicações...
— Eu já tinha te passado algum valor? — Respondo empolgada.
— Lembro que você pediu para providenciarem uma avaliação e nos
retornaram com o valor de um milhão e cento e cinquenta mil dólares. Mas
a minha proposta é de novecentos e noventa mil, Kevin. Porque os tramites
da transferência de propriedade ficam por conta do comprador.
— Vendido, senhorita Letícia Sophie Barros! — Ele sorri.
— Você não sabe o que isso significa para mim, Kevin. É a realização de
uma vida.
— Eu sei. Vou mandar o pessoal de Nova York dar entrada na papelada
para você assinar quando estiver lá e a transferência do valor será na hora
que você assinar e pegar as chaves. Você realmente gostou daquele
apartamento, não é?
— Foi amor à primeira vista...
Kevin volta a se sentar e mexe em alguns papéis.
— Não querendo estragar sua felicidade. Você viaja daqui uns dias, tem
que negociar com o espanhol proprietário daquelas terras. O que me faz
lembrar outro assunto, o acordo do grupo que será formado.
— Terei um aumento? — Obrigada Deus. Muito, muito obrigada!
— Não... — Comemorei cedo demais. — Letícia, você receberá como
acionista do grupo, a Global também receberá até o término da obra.
— Não entendi... — Eu sou inteligente, mas minha cabeça deu um
branco.
— Você será um deles, mandará tanto quanto eles, mas trabalhará mais
também. Será mais ou menos assim, será aquela sócia que entrará com o
trabalho, entendeu? Vocês repassarão todos os itens do contrato em Abu
Dhabi. — O telefone na mesa dele toca e ele atende. — Sim. Estou passando
para ela, Lorena. — Ele me entrega o fone. — Lorena quer falar com você.
— Oi...
— Lê, como os imóveis são muito próximos uns dos outros e são da
mesma corretora, você terá um corretor para visitá-los hoje ainda,
inclusive aqueles da Barra.
— Tudo bem, eu só preciso almoçar antes de ir e você irá comigo.
— Ok. — Desligo e olho para Kevin.
— Ethan e Zachary vão comprar casas aqui, me deram uma lista de
imóveis para visitar e fazer ofertas. Tenho que levar Lolo porque desconfio
que a intenção do Ethan seja essa.
— Boa sorte.
Vou em direção a porta e me viro para Kevin.
— Você realizou o sonho da minha vida, serei eternamente grata, senhor
Cooper. — Ele balançou a cabeça em negativa.
— Não. Você conquistou o seu sonho. Vá comemorar você merece!

——ooOoo——

Volto correndo para minha sala e carrego Lolo comigo. Ela coloca a mão
na cintura.
— O que você fez, Letícia? De quem é o corpo que teremos que
esconder?
— Primeiro quero saber qual é o seu maior sonho. — Ela pensa e
responde.
— Reformar o apartamento da mamãe e dar a viagem que ela sempre
sonhou para Portugal.
— E para você? — Ajoelho-me diante dela.
— Esse é meu sonho, Lê. Ver minha mãe feliz...
— Então considere seu sonho realizado! — Lolo fica me olhando sem
entender. Pego sua mão e continuo. — Lembro-me quando cheguei à cidade
e o meu primeiro dia aqui na empresa, você não me conhecia e foi
designada a minha secretária. Os dias que se seguiram você me fazia rir,
não sabia a importância de cada palavra que saia da sua boca. Levou-me
para sua casa e sua mãe me acolheu como filha, ela me ama da mesma
maneira que ama você, me adotou de coração e cuidou de mim desde então.
Vocês me ajudaram emergir do fundo do poço, devo muito a vocês duas. —
Uma lágrima escorreu dos olhos dela.
— Espero que você tenha um bom motivo para me fazer chorar. —
Sorrio.
— Eu tenho. Lorena, eu sempre tive um sonho, nunca contei a ninguém
porque as pessoas achariam loucura...
— Nossa Letícia. Segredos para mim?
— Lolo, sabe aquelas coisas que a gente sonha acordada como um conto
de fadas? Coisas impossíveis, que fazem parte do nosso imaginário? Então,
meu sonho era um desses. Lembra do apartamento do Kevin, aquele em
que ficamos hospedadas? — Ela acena que sim. — Desde o dia que
entramos lá, ele se tornou meu sonho. Venho guardando tudo o que posso,
tenho aplicações que rendem um bom dinheiro, mas ainda era pouco, eu
tinha que contar com a boa vontade dele financiar o resto para mim. Com o
bônus da Vitrine, eu pude comprar o apartamento à vista, Lorena.
Ela coloca as mãos na boca e depois me abraça.
— Parabéns, parabéns, parabéns!
— Só consegui tudo isso porque tenho uma família que me apoia e me
ama. Nada faz sentido se eu não puder compartilhar com vocês duas. —
Começamos a pular juntas dentro da minha sala. — Comemoraremos
depois, tenho que ligar para o espanhol e temos que ver os imóveis.
Passei a tarde vendo casas e no telefone negociando com o empresário.
O cara resolveu pedir mais já que percebeu que havia gente grande atrás. O
que ele não sabia era que eu poderia ser osso duro de roer nas negociações.
Apaixonei-me de cara pela quinta casa, ela tem a cara de Zachary. Mesmo
não conhecendo muito bem, posso garantir, ele vai adorar.
A casa é enorme, como é construída em uma encosta, tem quatro
andares. O quarto principal tem uma grande varanda em estilo deck com
parapeitos em vidro e aço, dois banheiros e dois closets. Cada andar possui
dois quartos menores que o principal, mas não menos lindos, a varanda de
todos eles dão uma visão espetacular para a praia de Ipanema e Arpoador.
Uma sala de jantar com varanda e vista para o mar e jardim, muito ampla
com teto alto. Há uma sala de cinema, outra ampla com lareira e acesso ao
jardim com piscina, jacuzzi, sauna e uma área de lazer ao ar livre com
churrasqueira e cozinha extra. Todos os andares da casa estão ligados por
um elevador interno. No último andar, um grande deck, parcialmente
coberto com uma cozinha e área de jantar extra. Uma plataforma dá acesso
privado à praia. Nenhuma casa de filme ou novela faz jus a essa, é fora de
qualquer realidade que eu poderia ter. Bati fotos para enviá-las a ele logo a
noite, tenho certeza que vai aprovar. Fiz uma oferta generosa levando em
consideração a crise no mercado imobiliário.
Enquanto ia para a última visita do dia, liguei pela última vez para o
Ramón Santiago para dar as boas notícias de que compraremos seu ex
quase futuro empreendimento pelo preço acordado na minha última
ligação e o muchacho queria negociar até as licenças, vê se pode?
— Senhor Santiago entenda, a minha proposta final é essa, caso não
esteja satisfeito, lhe desejo boa sorte para conseguir outro comprador. —
Adoro meu trabalho, mas lidar no mundo dos negócios não é fácil, é muita
podridão, pessoas de péssima índole. O cara está com a corda no pescoço e
ainda quer tirar tudo o que pode, fiz minha proposta. Não precisei mais do
que isso para fechar negócio. Faço mais uma anotação para enviar a
Zachary, deixando-o a par de que consegui um preço melhor e para
transferir o sinal para o espanhol.
A última visita era há cinco casas daquela que gostei para Zachary, só
que também não estava preparada para ver essa, é espetacular. Como
estava anoitecendo as luzes exteriores eram azuis e ligavam uma a uma,
nos dando uma visão esplendorosa do lugar.
Ela também foi construída na encosta e tem três andares, entramos pelo
andar do meio, diretamente na sala de estar com lareira. Esse andar existe
um amplo salão principal com vários ambientes internos e externos como
sala de jantar, salão de jogos, um lindo jardim de inverno e uma suíte
maravilhosa. No andar inferior vimos uma adega, cozinha com integração
para outra sala com Home-Theater, um escritório enorme todo em vidro e a
área de piscina. A área de deck externo tem lareira, gente estou me
sentindo naquelas casas dos famosos de Hollywood. A piscina com cascata
é uma obra de arte e ao canto onde se vê muitas plantas, entramos por uma
porta de vidro e vimos outra suíte.
Não há palavras para descrever a beleza do andar superior, lindo é
muito pouco. São três suítes, todas com varanda, a suíte Master é
espetacular, a cama é enorme! Uma das paredes é toda em vidro que se
abre para uma varanda privada, tem uma jacuzzi e deck de frente para o
mar. O banheiro é quase meu apartamento, uma hidromassagem do
tamanho da minha cama. Olha, eu morava aqui sem problema nenhum, é
impecável. Todos os cômodos da casa têm uma vista avassaladora para o
mar e para o verde.
Encontrei a Lorena na piscina toda iluminada.
— Algum problema, Lolo?
— É simplesmente lindo, Lê. Olha essa vista, da piscina dá para ver o
mar. A boba aqui ficou emocionada. — Era tudo o que eu precisava para
fazer uma oferta.
Ethan vai adorar o lugar.
Depois das visitas, fui deixar Lorena em casa para fazer os planos de
reforma com a mãe. Mal sabem elas que contratarei o melhor arquiteto e
decorador para o trabalho. Tomo um banho e com uma garrafa de café,
sento no meu mini escritório para trabalhar. Depois de ver tanta casa mega,
qualquer coisa que eu ver agora, será mini ou micro.
Não tenho os telefones e nem e-mail pessoal do Zachary, o único contato
é com a sua secretária Maggie. Que por sinal, não vou nem um pouco com a
aquela carinha de sonsa e como minha avó dizia, as sonsas são sempre as
piores. Envio dois e-mails com assuntos diferentes, para Ethan eu ligo
várias vezes, mas dá desligado. Ligo para Kimy que atende no terceiro
toque.
— Olá, Kimy. É a Letícia Barros. Tudo bem?
— Oi, Letícia. Tudo bem e com você?
— Estou bem graças a Deus. Desculpa se te acordei, tentei ligar várias
vezes para o Ethan, mas ele não atendeu e eu precisava passar as
informações sobre o imóvel.
— O senhor Scott surtou na viagem de volta. Ninguém entendeu o que
ele dizia somente Kaleb. A única coisa que sei é que há uma hora ele
embarcou para algum lugar, só não sei para onde.
— Tudo bem. Vou enviar um e-mail para Ethan. Obrigada, flor. Boa
noite. — Ethan está me deixando cada vez mais preocupada.
— Boa noite Letícia.
Algo me diz que coisa grande está vindo por aí.
Ai, ai...
Capítulo 15
Acordei atrasada, nem o despertador conseguiu me tirar dos braços de
Morfeu. Olho para o relógio e vejo que são onze horas da manhã. Ligo para
Lolo e aviso que irei para empresa só na parte da tarde. Faço café, pego
meu computador e vou para a varanda, não é todos os dias que posso
trabalhar de frente para o mar. Abro meu e-mail e vejo dois da Maggie, abro
na esperança de ter alguma coisa relacionada a Zachary, mas não há nada.
Ouço meu interfone, vou atender.
— Bom dia, dona Letícia. Tem dois gringos aqui querendo falar com a
senhora.
— Qual o nome dele, Almeida?
— Virgimaria dona Letícia, sei perguntar isso não. Ele só fala Letixia,
Letixia e acabei interfonando para a senhora. — Dou risada.
— Aponta para ele e fala name.
Ouço ele perguntar e ao fundo ouço o som da voz do Ethan.
— Ele tá dizendo “Itan”, dona.
— Traga-o até aqui, Almeida. É Ethan, meu amigo.
— Sim, senhora.
Assim que a minha campainha toca, corro para abrir a porta.
— Ethan... — Ele e Kaleb entram e fecho a porta. O homem que está a
minha frente é um rascunho daquele de dois dias atrás, com olheiras,
marcas de expressões, sem sorriso. Mais velho do que realmente é. — O
que houve Ethan? — Ele começa a chorar. Sim, chorar.
— Eu preciso dela, Letícia. Eu preciso dela...
— Precisa de Lorena? — Pergunto.
— Sim...
— Há quanto tempo ele está assim? — Pergunto para Kaleb.
— Há dias, mesmo antes de irmos para a América. Só que no meio do
voo de volta para casa, ele queria que o piloto voltasse a todo custo.
Consegui convencê-lo de ir para casa e pensar antes de voltar. Está
bebendo demais e pelo jeito nem tomou banho.
A mãe da Lolo sempre me dá um daqueles remedinhos que fazem a
gente dormir contra nossa vontade, eu os chamo de milagrosos. Procurei
um no meu armário e dou a Ethan, que logo fica quieto. Peço para Kaleb o
levar para o meu quarto.

— Kaleb, você fica com o quarto de hóspedes para descansar. Enquanto


isso eu vou providenciar algo para vocês comerem.
Depois que os dois adormeceram, desci ao mercado e comprei tudo o
que precisava. Ethan me deixou assustada por ver tanta dor em seus olhos
e por que veio até mim, se poderia ter ido diretamente a ela? Apesar de
tudo, fiquei muito feliz por ele vir atrás dela, isso só mostra o quanto o
sentimento é forte. Eu acredito que o amor seja poderoso e pode chegar a
ser devastador quando não dá certo.
Enquanto estou na fila do caixa tenho uma ideia legal, ligo para a tia
Aurora e conto toda a história da Lolo e Ethan. Falo para ela que ele está no
Brasil para ver a Lorena e armamos um plano. No começo a tia ficou com
receio, afinal, ele era o motivo das lágrimas do bebê dela. Volto para casa e
ligo para a Lorena explicando que não poderei ir hoje à empresa, ela ficou
preocupada, desconversei e marquei um jantar com ela em um restaurante
chique. Lolo achou estranho, mas concordou numa boa.
Recebo os e-mails da imobiliária dizendo que os proprietários aceitaram
a proposta, em seguida envio para Maggie os detalhes da negociação e o
valor final. No meio dos afazeres vem a imagem de Zachary batendo na
minha porta para me ver, com a mesma intensidade de Ethan. Não nessa
vida que ele faria isso, mas não custa sonhar.
Nosso último encontro não sai da minha cabeça, lembro de cada
sensação que senti com suas mãos no meu corpo e com a sua boca na
minha. Eu não sou uma pessoa muito romântica, mas tenho meus
momentos carência. Eu sonho com um amor, que cuide de mim, que me
queira somente para si. Quero um amor para chamar de meu e sou como
todas que esperam seu príncipe encantado, mesmo que ele seja um sapo.
No final da tarde Ethan acorda, toma um banho e senta no sofá. Passo
um café quentinho e coloco um lanche na mesinha da sala para ficarmos
mais à vontade.
— Agora vamos conversar senhor Scott. Pode me dar o relatório
completo da sua situação passional.
— Quando me dei conta de que estava apaixonado por ela, surtei. Bebi
feito um louco, a afastei, atormentei todo mundo e fui embora. E desde que
fui, queria voltar. Estou há dias sem dormir e comer, sem o efeito da bebida
a dor fica pior, rasga meu peito, então voltei. Eu preciso dela, Letícia. —
Passo a mão no seu ombro.
— Fico muito feliz que você tenha voltado por ela. Mas Ethan, o coração
dela não é um objeto que você pode pegar e soltar a todo o momento. Tem
certeza de que a quer de verdade? Para fazê-la feliz de verdade? Ela é
minha irmã, Ethan, minha boneca Lolo, não vou permitir que ela sofra mais
do que já sofreu, mesmo tendo que passar por cima de você, querido. — Ele
sorri.
— Eu sei e gostei do apelido, boneca Lolo, é a cara dela.
— É sim. Eu vou te ajudar a encontrá-la hoje, mas não faça me
arrepender, senhor Scott.
Nesse momento o celular dele toca e vou para a cozinha.
— Oi. Estou no Rio. Sim. Na casa da Letícia. Sim. Não. Vai tomar no cu,
Zach! Tenho vivido um inferno por causa dessa mulher e preciso da Letícia
para encontrá-la. Cara, tranca a mulher em seu quarto... — É Zachary. Por
que estão discutindo? Finjo-me de estátua para ouvir mais um pouquinho.
— Como você pode ser tão possessivo com uma pessoa que nem é sua? Vá
se foder, Zach. Vou ficar aqui até ter o que eu quero.
Ethan desliga o telefone e se joga no sofá.
— Tudo bem, Ethan? Algum problema? — Ele olha para mim com certa
descontração.
— Você não faz ideia do quanto é divertido atormentar o Zach. — O
telefone dele toca novamente e ele atende mais calmo. — Isso tudo é
saudade do meu pau, cara? Vou passar. — Ele coloca o telefone na minha
mão. — Ligação para você, senhorita Letícia. — E sai rindo em direção ao
quarto.
— Alô? — Ouço uma voz conhecida e profunda que me faz arrepiar.
— Letícia... — Eu não sabia que estava com saudades até ouvi-lo.
— O-oi...
— Como está menina dos olhos dourados?
— Estou bem e você? — Ele faz um som de nojo.
— Só não estou melhor porque Ethan está aí. — Sorrio.
— Ele veio reconquistar seu amor, deixe-o. Precisava falar com você,
mas não tenho seus contatos pessoais. — Essa voz de adolescente é minha?
De onde saiu?
— Passa-me seu e-mail, que em minutos respondo com todos esses
detalhes. O que quer falar comigo?
— Sobre os imóveis... Hum... Então, eu achei um especial, fiz uma oferta
que foi aceita. Enviei as fotos e os detalhes da negociação para a Maggie.
Zachary?
— Sim, little girl.
— Tenho certeza de que vai gostar.
— Eu sei... — E o telefone desliga.
NÃÃÃÃOO! Olho para o aparelho e vejo que a bateria acabou.
Ai Deus, por quê?
Vou até o quarto, encontro Ethan deitado na minha cama muito à
vontade e jogo o celular para ele.
— Você sabia que existe uma coisa chamada carregador? — Ele ri.
— Pelo jeito a ligação foi cortada.
— Vem para a sala, quero te mostrar algo. — Mostro a língua para ele.
Alcanço meu celular e mostro as fotos que bati da casa que fiz uma oferta
para ele.
— Muito boa, gostei. — Tomei o aparelho da mão dele.
— Saiba que olhei todos, era uma casa melhor que a outra, mas quando
entrei nessa, eu soube que tinha sido feita para você e minha confirmação
veio com essa imagem.
Era da Lorena sorrindo enquanto as luzes da piscina iam acendendo. No
momento eu estava fazendo uma anotação, mas a imagem era tão bela, que
tinha que registrar e sabia que Ethan ia gostar.
— Tão perfeita quanto ela. A casa é minha! — Não falei?
Conversamos durante um tempo sobre o valor e como toda a negociação
aconteceria. Ele prefere que eu seja sua representante legal para isso,
então, já mandei um e-mail para o corretor fechando o negócio.
Arrumamos-nos para ir ao restaurante. O Ethan queria alugar um carro
com motorista a todo custo.
— Não mesmo, eu dirijo. Minha cidade, minhas regras, senhor Scott.
Assim que entramos, Lorena já percebeu quem estava atrás de mim e em
questão de segundos, ela se levantou da cadeira e saiu correndo em direção
a nós, me empurrando para chegar a Ethan e se joga em seus braços. Todos
no restaurante aplaudiram a cena, eu fiquei emocionada, é tão lindo!
Uma pontinha de inveja apareceu, mas tratei de eliminá-la no mesmo
momento, a felicidade dela é muito importante para mim. Sentamos a mesa
com a intenção de comer, o que demorou uma vida já que os dois queriam
namorar. Fiz prometerem que só iam se pegar quando estivessem a sós,
porque pelo andar da carruagem, os coelhos ali iam se pegar em qualquer
lugar.
Enquanto eles descansavam essa tarde, tratei de fazer as reservas das
suítes e do carro, já imaginava que o casal iria virar a noite um nos braços
do outro. Voltei para o meu apartamento solitário como sempre, pensei em
ligar o computador e trabalhar, mas uma tristeza bateu e fui para cama. É
ruim estar sozinha, a solidão às vezes maltrata. Cada dia que passa, me
sinto mais distante de um amor, apesar de ter uma fagulha aqui dentro. Eu
sei que vou amar só que sei que não serei amada, não por Zachary.

——ooOoo——

Os dias seguintes foram corridos e muito divertidos. Ethan foi conhecer


a mãe da Lorena e como sempre, conquistou a mulher de primeira. A
imobiliária aceitou que ele entrasse no imóvel mediante um caução até a
transferência ser concluída. A casa já era toda mobiliada e já tinha um
quadro de funcionários completo, a mudança de Ethan foi mais fácil do que
imaginávamos. Como ele tem um império para cuidar, voltou para os
Estados Unidos e combinaram de se encontrar nos Emirados Árabes, em
quatro dias.
Os dias não passaram, eles simplesmente voaram. Corri como uma louca
para dar conta de tudo, Lorena teve um pequeno imprevisto com seu
passaporte, mas no fim tudo deu certo, graças a Deus. O embarque foi
muito tranquilo, eu só não entendi por que faríamos uma conexão em
Londres, sendo que há voos diretos para Abu Dhabi de São Paulo.
A primeira parte do voo foi tranquila, ri muito com a Lorena, li um
romance que me deixou nas nuvens, literalmente e dormi um pouco. Assim
que desembarcamos em Londres, um motorista estava nos esperando e de
limusine fomos até outra parte do aeroporto, onde tinha um jatinho nos
esperando. O motorista nos disse que pertence ao sheik Bashir e que estava
aqui especialmente para nos levar a Abu Dhabi. Não precisamos passar por
nenhum tipo de revista ou burocracia. Como é fácil ser muito rico.
O jatinho por dentro era extravagante demais, dourado demais, cheguei
demais, mas era ouro! Serviram-nos champanhe e caviar, alguns pratos
típicos dos Emirados. Enfim, fomos tratadas como rainhas, só a reação da
Lolo não era digna da realeza.
— Eu prefiro espumante, cidra, essas coisas, são docinhas. Esse Dom
Perdigão não é para mim...
— Dom Perignon, Lorena. — Ela já tinha bebido um pouquinho demais.
— Pode ser Perdigão, Seara, Sadia, detestei da mesma maneira. Gente,
como alguém pode comer ova de peixe e pagar caro por isso? Prefiro um
pirão de caldo de peixe...
— Eis a futura senhora Ethan Scott, chiquérrima, elegante, o orgulho da
Glorinha Khalil no Brasil. — Começo a rir.
— Cala a boca, Letícia, eu nasci para ser rica. Olha para mim, sou a cara
da riqueza.
Depois dela colocar todo o caviar que comeu para fora e se embebedar
com um vinho, caiu em um sono profundo, enquanto isso eu trabalhei um
pouco. Mas com Zachary na minha cabeça foi impossível. Eu não me lembro
de algum homem ter esse efeito sobre mim, mesmo meu ex.
Zachary...
Será que ele virá para a assinatura do contrato? Eu realmente desejo
muito vê-lo, já que a casa no Rio, eu fiquei como sua representante legal, ele
não precisou ir para assinar. Fiquei um pouco decepcionada, esperava que
ele fosse pelo menos para conhecer a casa e quem sabe me ver...
Capítulo 16
Desembarcamos em Abu Dhabi, em um clima muito quente e seco, havia
um Rolls Royce nos aguardando. Fomos para o hotel e a paisagem com que
fomos presenteadas não tem preço. Uma alegria imensa invadiu meu peito,
jamais pensei em chegar aqui. Já era final de tarde quando nos
aproximamos do hotel Emirates Palace e fiquei impressionada com a
grandiosidade do lugar.
A entrada era ladeada por palmeiras com o majestoso hotel ao fundo,
mais iluminado do que uma cidade inteira.
— É muita luz para minha ressaca. — Lorena tirou seus óculos escuros
da bolsa.
— Sejam bem-vindas a Abu Dabhi, senhoritas. — Fomos recepcionadas
pelo secretário do sheik, Hamdan. — É um prazer tê-las em nossa terra,
faremos tudo para que vossa estadia seja confortável.
— Obrigada, Hamdan — Lorena somente acena e dá um sorriso torto. —
Desculpe-a. ela não está passando muito bem. — Ele acena em
entendimento.
— Os carregadores levarão suas coisas ao apartamento em que ficarão
instaladas. Acompanhem-me, por favor.
Fomos escoltadas até o apartamento em que vamos ficar. Quando
Hamdan abriu as portas duplas, fiquei maravilhada, o apartamento era um
apartamento mesmo! Na sala de estar há dois sofás marfim com detalhes
dourados, uma mesa centro, as cortinas eram cinza pálido deixando todo o
lugar delicado. O próximo cômodo é a sala de jantar com uma mesa de
mármore marfim e quatro cadeiras que mais pareciam poltronas, de tão
fofas, o tecido do estofado era o mesmo dos sofás. Tudo impecável.
Minha suíte é linda!
Uma cama enorme, sua cabeceira ocupa meia parede toda em detalhes
dourados. Há pilares revestidos de mármore rosado dos dois lados da
cama. Um grande sofá, marfim com dourado, uma escrivaninha e uma mesa
compõem os móveis do quarto. O teto é alto, tipo uma abóboda, pintado de
cinza pálido com detalhes em marfim, as cortinas seguem o mesmo padrão.
Há um closet com sofá e cadeiras. Ainda no quarto, abre-se uma porta de
vidro para a varanda que dá para um dos jardins e ao fundo o golfo, um
lindo lugar para se tomar café. O banheiro é digno de um sheik, a banheira
fica de canto, de onde caem águas como uma cascata, todo em marfim.
Estou maravilhada com a imponência do lugar.
A suíte da Lorena é uma cópia da minha. Não tínhamos percebido que do
outro lado da sala, há um barzinho com mesa de bilhar, tudo com muita
elegância.
— Lê, tem certeza que esse luxo todo é de graça? Estou perguntando por
que nada na vida é de graça, vai que o sheik nos tranca como escravas para
pagar?
Cada ideia que essa garota tem...
— Dá um tempo, Lorena...
— Nossa alternativa é dar um rim. O seu é mais forte, poderemos pedir
um bom dinheiro nele.
— Senhoritas, vocês serão assistidas por Zharan. — Fomos
interrompidas por Hamdan. Um rapaz em torno de vinte e poucos anos dá
um passo à frente. — Qualquer coisa que queiram, ele as atenderá. O sheik
almoçará com a senhorita Letícia amanhã, acredito que hoje esteja muito
cansada para enfrentar mais um compromisso. Lembrando-as que, amanhã
à noite terá uma grande festa para a concretização do contrato. Será no
salão principal do hotel. Qualquer serviço estético que queiram no térreo
ou aqui, basta falar para Zharan que ele providenciará. O mesmo vale para
os trajes que devem ser de gala, caso vocês não tenham um vestido para a
noite, o hotel conta com as lojas das principais grifes mundiais.
Após várias tentativas mal sucedidas em assimilar tudo que Hamdan
falou, tomei um relaxante muscular, tomei um delicioso banho naquela
banheira, dei um beijo em Lolo e fui deitar. Eu estava cansada e para piorar,
a noite foi permeada com imagens do Zachary em meus sonhos. Realmente
não sei se estou me apaixonando ou ficando louca, apesar de que tudo dará
no mesmo, se apaixonar por ele é loucura!
— Alô. — Acordo com o telefone do quarto tocando. Procuro o bendito
telefone e acabo derrubando tudo.
— Letícia, cadê a Lorena? — A única coisa que passa na minha cabeça é...
Aff!
— A Letícia não está, deixe seu recado após o bip. — Estou tão grogue
que não reconheço a voz. Desligo o telefone porque o meu sono é mais
importante do que tudo nesse momento.
Quem quer que fosse, estava disposto a me acordar.
— Letícia, cadê a Lolo?
— Quanta delicadeza, nem sequer me dá bom dia. — A pessoa ri.
— É o Ethan. Cadê a Lorena?
— Eu não sei, estava dormindo. — Tento me sentar, mas o colchão é fofo
demais me atrapalhando e acabo de sentir um corpo. Tiro a coberta de cima
e vejo Lolo. — Acabei de achar...
— Estou subindo e já pedi um café para a gente. Sebastian está subindo
comigo. Vocês têm cinco minutos para se arrumarem. — E desliga o
telefone. Povo sem educação!
— Seu namorido está subindo e disse que você tem cinco minutos para
se arrumar. — Chacoalho Lorena.
Ela dá um pulo se enrola nas cobertas e acaba caindo fazendo minha
alegria. Ela corre para sua suíte e eu viro para dormir novamente. Mal
fecho os olhos, ouço o barulho da campainha, que não para e está me
irritando. Levanto mal-humorada e vou atender da maneira que estou,
assim que coloco o pé na sala, Zharan está abrindo a porta. Ethan e
Sebastian entram e param ao olhar para mim.
— Você dorme vestida de Bob Esponja?
Mostro a língua e vou para o quarto pelo menos para escovar os dentes e
os cabelos. Vou ficar assim mesmo, estou cansada, se eles estiverem
incomodados, a porta da rua é serventia da casa. Volto para a sala, e não
encontro ninguém.
— Senhorita, eles estão aqui. — Zharan vai até uma das cortinas e a puxa
se abrindo a visão para uma varanda enorme com piscina e uma linda mesa
posta para tomar comer.
Coloquei meus óculos escuros e fui para a varanda vestida de Bob
Esponja mesmo. Lorena está impecável como uma princesa ao lado do seu
príncipe. Sebastian se adianta me cumprimenta com dois beijos no rosto,
Ethan me dá um beijo na testa e sentamos para comer. Zharan me serve
com um café muito forte, tem tanta coisa gostosa nessa mesa que não sei o
que comer, sendo assim, eu experimento um pouquinho de cada.
— Letícia está tudo bem? — Sebastian pergunta.
— Tudo ótimo!
Durante todo o café fico quieta, um mau humor baixou em mim e
quando estou assim, qualquer coisa que sair da minha boca pode ser
considerado como um coice. Fico ouvindo os planos da Lorena e Ethan que
vai de andar de camelo no deserto, conhecer um mercado de pulgas a
passear por Dubai e comprar lembrancinhas para a mãe dela e tudo isso me
inclui. Eu só concordo com a cabeça e pronto, discutir com gente doida é só
para passar raiva. Imagina aquela pele branquinha no deserto árabe, só a
Lorena mesmo.
— Senhorita Letícia, Hamdan quer falar-lhe. — Zharan vem até mim
com um telefone dourado.
— Oi Hamdan.
— Bom dia senhorita. Estou ligando para lembrá-la do almoço com o
sheik daqui a meia hora.
Meia hora?
Engasgo-me com o que estou comendo, Sebastian gentilmente dá
batidinhas nas minhas costas e consigo responder.
— Sim...
— Alguém irá buscá-la. Até mais.
— Obrigada. O almoço com o sheik é dentro de meia hora e eu com essa
cara de panda. — Entrego o telefone para o Zharan.
— Vai de Bob Esponja, ele vai adorar. — Sebastian fala. — Eu gostei.
— Claro que vai gostar, com essas coxas descobertas. — Ethan balança a
cabeça. Ele olha para mim. — Há pessoas que matariam se soubessem que
você está na nossa frente com esse pijama.
Todo mundo se olha, eu imagino quem, mas não toco no assunto.
— Nos vemos mais tarde? — Eles acenam que sim. — Vou me arrumar e
preciso de você, Lorena.
— Volta logo, boneca Lolo. — Ethan a beija na boca. Procuro minhas
malas e Lolo já vai direto ao closet.
Assim que saímos do quarto, veio uma equipe de limpeza que arrumou
as coisas. Vida difícil essa que a gente tem aqui em Abu Dhabi... Escolhi um
vestido longo azul e sandálias altas da mesma cor. Fui para o banheiro,
escovei meu cabelo e dei um jeito na olheira.
— Mermã, tu tá de sacanagi! — Lolo fala. Assusto-me e olho para ela que
está com as mãos na cintura. — Filha, você está em Abu Dhabi, podendo se
vestir como a Carrie Bradshaw de Sexy in the City e escolhe esse vestidinho
de praia. Ow baixa-renda, minha avó já dizia, Podemos sair da breguice,
mas a breguice nunca sai da gente!
— Pobreza... — Corrijo.
— Que seja. Volta lá e escolha outra roupa!
Volto para o closet e olho... Olho... Por fim decido por um macacão de
seda estampada em tons de rosa e azul bebê. De gola alta, mas sem mangas,
cintura bem marcada e a calça da peça é em estilo palazzo pants, são
aquelas pantalonas que parecem saias. Uma sandália alta dourada para
entrar no clima do deserto com uma bolsa de mão da mesma cor. Prendo
meu cabelo em um alto rabo de cavalo, brincos discretos, maquiagem
somente para cobrir as olheiras.
— Arrasou! Lê preciso ir com você? Sei que estou aqui a trabalho, mas
você até agora não me disse nada. — Vou até ela, passo meu braço pelos
seus ombros e vamos caminhando de volta a varanda.
— Esse almoço é somente de boas-vindas, eu me viro e você, vá se
divertir com Ethan. Só preciso de você mais tarde, para nos arrumarmos
para a tal festa. — Assim que Sebastian me vê, se coloca de pé.
— Quando você sorri, o mundo se ilumina. Eu estou com inveja do
Bashir.
— Obrigada, Sebastian. — Faço uma mesura como se estivesse de
vestido.
Ethan puxa-me de canto e chama Kaleb também, que se aproxima e
entrega um celular para ele.
— Letícia, eu quero que leve esse telefone com você...
— Já tenho um, Ethan.
— Letícia, por favor, não discuta comigo. — Ele fala em um tom sério. —
Você não está no seu país e eu me preocupo com a sua segurança. Na
discagem rápida há o meu número e o do Kaleb, se acontecer qualquer
coisa, ligue para um de nós, entendeu? —Levanto uma sobrancelha, na
intenção de pedir explicações e ele continua. — Mulher difícil! Sabe aquele
sentimento que você tem em proteger a boneca Lolo? Eu tenho por
proteger você.
— Eu não entendi nada, senhor Scott. Mas se assim você ficar mais
tranquilo, eu farei.
— Obrigado. — Ele suspira em alívio.
Logo outro rapaz veio me buscar em nome do secretário do sheik. Ele
me levou até o restaurante e na porta já encontramos Hamdan.
Atravessamos o salão e acabamos em um salão menor e privativo, lá estava
o Sheik Bashir e mais dois homens que por dedução devem ser seguranças.
— Menina Letícia. — O sheik se levanta e me cumprimenta com um
beijo na mão — É um prazer recebê-la em meu país. Providenciei para que
tudo seja perfeito em sua estadia.
— O prazer é meu, Sheik Bashir. — Hamdan puxa a cadeira para mim. —
E até aqui, tudo está em perfeita ordem, obrigada pelas acomodações, são
lindas.
— Mulheres como você, merecem o mundo de luxo que o dinheiro pode
dar. Quais são os seus desejos para que eu possa realizá-lo, menina Letícia?
Que olhar é esse? Uma mistura de “olhar 43” do Paulo Ricardo com o
estrabismo daquele cantor sertanejo. Desejos? Dou meu melhor sorriso.
— Não se preocupe com os meus desejos, senhor. Zharan foi designado
para que eles se realizem.
O banquete que colocaram a nossa frente cheirava muito bem. A mesa
era enorme e forraram de pratos típicos, a maioria deles com carne de
cordeiro como base. Esses eu dispensei, mas houve um em especial que
achei muito bom, o shawarma, feito com pão sírio recheado com legumes,
molhos e carne grelhada, que me garantiram ser carne bovina.
Durante o almoço não falamos de negócios, mas estou tendo a ligeira
impressão de que ele está dando em cima de mim. Começaram um desfile
de sobremesas, escolho o umm ali, muito parecido com o pudim de pão,
com nozes, pistaches e amêndoas. Bashir é um homem austero, seus traços
o tornam ainda mais sério, seus olhos pretos demonstram sagacidade e sua
boca ligeiramente torta, o deixa meio sexy. Ele até pode ficar bonito em
algum momento do dia...
Em pouco tempo a ligeira impressão se tornou fato, ele realmente estava
dando em cima de mim. Eu não sei lidar com esse tipo de situação, fico
constrangida, sei que no fundo todos querem sexo e eu não sou a mulher
que gosta de apenas sexo, eu quero mais. Fora que o cara já tem oito
esposas, como elas conseguem? No Brasil, um homem mal da conta de uma.
— Espero que tenha apreciado nossa culinária. — Entre a sobremesa e o
café, o sheik pega minha mão.
— Gostei muito e estou satisfeita. Fiquei honrada com o convite para
almoço, senhor. — Solto-a com delicadeza.
— A honra toda minha, menina.
Fiquei impressionada com a visão de negócios que ele tem isso fez com
que o sheik subisse no meu conceito. Contou-me que é tradição a família ter
chefes, os tornando clãs e que ele era chefe da sua. Todos devem obediência
a ele, desde os irmãos, que são mais novos, até os primos mais distantes.
Ele sabe exatamente o que cada filho ou filha faz. Outra coisa que me
impressionou, Bashir conhece os filhos e convive com eles em harmonia. O
encanto durou até ele dizer que a mulher foi feita para servir seu marido e
não para trabalhar fora. Sendo assim, suas filhas são educadas para serem
excelentes esposas.
— Está na minha hora. Obrigada pelo almoço, estava delicioso. — Depois
de uma tarde de conversa e comida, levanto-me da mesa.
— Está cedo, eu quero mais tempo com você... — Ele levanta e se coloca
ao meu lado.
— Tenho que rever algum trabalho e não quero me atrasar para o jantar
de logo mais. — Dou um passo para a esquerda.
— Tudo bem. Contento-me em vê-la no jantar.
Despeço-me e vou ao encontro de Zharan, que estava me esperando na
entrada do salão privado, ele me acompanhou até o apartamento. Não tinha
me dado conta de que estava tarde assim, Lolo estava me esperando para
começarmos nos arrumar. Fui para o banheiro, enchi a banheira e me
afundei.

——ooOoo——

Os questionamentos começaram. Acredito que outras mulheres ficariam


encantadas por ter um príncipe das Arábias interessados por elas, eu não! A
maneira como o sheik me olhava, teve momentos que fiquei constrangida
com suas investidas. E mais, não é bom misturar negócios com prazer e tem
as viagens. Sei lá, isso pode não dar certo. Se um deles sentir rancor pelo
fato de eu não querê-los, levará todas as negociações, por água a baixo.
— Onde a cabeça da minha flor está passeando? No corpo do homem
dos olhos azuis? Porque nele até eu já me peguei passeando, Ethan que não
me ouça. — Lorena senta na beirada da banheira e passa a mão no meu
cabelo.
— Não, só um pouco desanimada, talvez cansaço. Não sei se foi boa ideia
ter vindo para Abu Dhabi, estou começando a me questionar, se fazer parte
desse projeto também seja uma boa ideia...
— Por que isso Lê?
— Não sei... Insegurança... Mudando de assunto, estou gostando de ver
esse relacionamento, o senhor Scott está apaixonado pela boneca Lolo. Fico
muito, muito feliz com isso, minha amiga.
— Estou tão feliz, Lê. Agora sai daí e vamos nos arrumar. Ameixas secas
não são bonitas. — Ela abre um grande sorriso.
Sou uma pessoa muito discreta, roupas extravagantes não são para mim.
Às vezes Lorena fala que sou invisível, pois sempre opto por roupas claras,
tons pastéis, preto ou branco. Para essa noite em especial, escolhi um
vestido tomara que caia longo, todo em renda branca com fundo de seda
rosa, uma faixa marcando a cintura e terminando em um laço. A parte de
cima é todo bordado em pedras, uma verdadeira obra de arte. O vestido se
ajustou tão bem ao meu corpo, que dava a impressão de que foi feito
especialmente para mim, um scarpin rosa bebê completa o traje.
Como estamos no Oriente e aqui é a terra das extravagâncias, escolhi um
par de maxi-brincos dourados com pedras marrons, como os brincos já são
exagerados, optei por ir sem colar, compondo apenas com um anel em cada
mão e um bracelete dourado, todo trabalhado com as mesmas pedras do
brinco.
Fiz grandes cachos nas pontas dos cabelos e os prendi somente de um
lado. Do outro, os grandes cachos caiam sobre o ombro. Uma maquiagem
mais forte do que de costume, os olhos com sombras roseadas e douradas,
um delineador para marcar o olhar e um batom nude.
— LETÍCIA!
Saio correndo em direção a seu quarto. Chego lá e vejo a cena, Lorena de
roupão, com os dedos, indicador e polegar grudados no olho que estava
fechado.
— O que houve com seu olho? — Fui em sua direção para ajudar.
— Essa bosta de cílios postiços, grudaram!
— Desde quando você precisa disso, Maria? — Lolo e eu éramos viciadas
em novelas mexicanas, as famosas Maria do Bairro, Maria Mercedes,
Marimar, nos fascinavam e os protagonistas como o Luís Fernando,
também! Quando uma de nós faz drama, nos chamamos de Maria.
— Desde quando eu não tenho cílios longos, corpo longo, pernas longas
como certa pessoa. Para de rir, preciso de ajuda, estou muito atrasada.
Nossa mas você está boa, hein? Até eu te comeria. — Ela disse assim que
conseguiu abrir o olho.
Ajudei-a tirar aquelas coisas dos olhos, voltei para terminar de me
arrumar. De frente para o espelho que ocupava quase uma parede do
closet, fiquei olhando-me, estou bem na foto. Será que Zachary vem? Estou
ansiosa para vê-lo. Muito, muito ansiosa. Formaríamos um belo par nessa
festa.
Zharan bate na minha porta dizendo que Ethan já está nos esperando.
No caminho passo pela suíte de Lorena e ela está linda. Um vestido longo
vermelho, estilo tomara que caia com decote coração e do meio desse
decote, sai uma faixa bordada com pérolas e pedras prateadas. Uma
sandália preta com solado vermelho, que mesmo aparecendo pouco, faz
toda diferença.
O conjunto de brincos e pulseira era de strass, mas a tiara que passava
por seus cabelos não tinha cara de strass e sim de diamantes. A maquiagem
de olhos esfumaçados e bem marcados. Sua boca estava com um batom tão
vermelho quanto seu vestido, contrastando com a pele branca e a fez ficar
deslumbrante.
— Você está linda, boneca Lolo. Vamos? Ethan já está aí.
Vamos para a sala e mal se olham e já estão nos braços um do outro. Dá
gosto de vê-los juntos. Meu coração apertadinho fazendo par com a minha
cabeça nos questionamentos. Será que é pecado desejar alguém que sinta
por mim, o mesmo que Ethan sente por Lorena?
— Kaleb sou um homem de sorte ou não? — Ethan oferece um braço
para mim e outro para a boneca.
— Muito! — O segurança sorri com gentileza.
O salão principal estava lindo. Mesas longas bem-postas em formato de
“U”. A louça era divina, branca com beiradas douradas, talheres dourados. A
decoração era basicamente vermelha, tecidos que caiam do teto também
eram vermelhos, alguns trabalhados em outras cores.
— Meu Deus! Estou me sentindo parte da decoração. Me pendura ali que
posso ser um lustre, branca desse jeito ilumino maravilhosamente bem. —
Lolo brinca e nós rimos.
Uma banda tocando músicas belíssimas de fundo parecia que estávamos
em um filme.
— Ela até pode sentar ao lado do sheik, mas na outra cadeira estarei eu
ou Liam. —Ethan diz a Hamdan quando fomos levados até uma ponta, e eu
estava prestes a me sentar. Entendi que o sheik queria que eu sentasse ao
seu lado durante o jantar. Hamdan acena e sai para nos assentar perto do
sheik, que me recebeu alegrinho demais.
— Conseguiu ficar ainda mais bonita, menina. — E beija minha mão.
Essa cortesia toda tem me incomodado, dou um meio sorriso e me sento.
Lorena troca de lugar com Ethan para ficar ao meu lado. Assim que senta,
ela pega minha mão.
— O que foi, Lê? Você já voltou estranha do almoço, agora essa mão
gelada. Estou preocupada. — Tento disfarçar com um sorriso.
— Não é nada, vamos aproveitar a festa. — Como poderia explicar sem
nem eu mesma sei o que está acontecendo comigo? Talvez seja o jeito do
sheik me olhar, talvez seja o fato de que Zachary não sai da minha cabeça,
talvez porque tenho me sentido cada vez mais solitária. Não sei...
Procuro-o entre todos os convidados e não o vejo. Martino e Sebastian
vem até mim para cumprimentar. Eles são muito queridos, Martino me faz
rir com suas caretas e Sebastian com suas histórias. Quando avistei Liam,
não pude me conter e fui de encontro a ele, que me recebeu de braços
abertos.
— Liam... — Ele me solta e coloca a mão no coração.
— Você está ainda mais linda. Como está mon petit? — Ele está com
barba por fazer e isso o deixou mais apetitoso.
— Você também, impecável nesse smocking. Estou bem, com saudades
suas.
— Se me ligasse mais vezes...
O silêncio no salão se tornou evidente, as pessoas se viravam para ver
algo, um ar frio passa por mim, fazendo meu corpo arrepiar. Liam olha para
alguma coisa também, então me viro e vejo Zachary. Lindo ou maravilhoso,
são adjetivos que não fazem jus a sua beleza, não é à toa que o lugar parou
quando ele com sua bela acompanhante entraram e meu coração parou.
Pela altura e beleza, posso dizer sem dúvida de que é uma modelo e os
dois juntos, formam um casal acima da média. Fico mais tensa do que já
estava, com o coração mais apertado do que já estava. Liam pergunta no
meu ouvido se eu estava bem, aceno que sim e volto para o meu lugar na
mesa.
Não, eu não estava bem.
Sentei e as luzes se apagaram, apenas uma ficou acesa no centro do
salão. A banda começou a executar uma música típica e uma dançarina
entrou. Fui reportada para outro lugar, era surreal...
A dançarina estava completamente coberta por véus e se movimentava
conforme a batida da música. O salão ficou todo em meia luz e eu encantada
com tudo que se passava na minha frente. O sheik se aproximou e me
contou o significado da dança.
— Diz a lenda que a origem da Dança dos Sete Véus, surgiu no antigo
Egito e era executada pelas sacerdotisas em homenagem à Deusa Ísis,
conhecida como a deusa do amor e da magia. A dança representava um
ritual de autoconhecimento. A dançarina envolve-se com os sete véus,
seguindo a ordem de cores, vermelho, laranja, verde, azul, lilás, branco. A
beleza dessa dança é o mistério e graça que a dançarina passa para o
público.
E assim foi. Quando a mulher tirou o último véu, a batida da música
mudou, ela pegou um dos lenços que estava no chão e voltou a dançar algo
mais sensual, a Dança do Ventre. É incrível a maneira com que ela envolve
todo o lugar, as expressões faciais, seu olhar marcante. Divino.
As luzes acenderam, fazendo-me piscar. No meio dos aplausos, encontro
com o olhar intenso de Zachary na minha direção, sua acompanhante beija
seu rosto, ele vira-se para ela e a beija. Nesse momento o sheik se levanta e
começa seu discurso.
— É uma noite de muita alegria, Bashir está feliz por ter família e amigos
dividindo esse momento especial comigo e meus convidados, Martino
Rossi, Sebastian Khristophoros, Liam Larkin, Ethan Scott e Zachary O´Brian,
que além de amigos, agora são meus sócios. O projeto que estamos
iniciando, é algo grande, mas queremos o fazer inesquecível para nós e,
para quem desfrutar do paraíso no Sul das Américas. Essa é uma festa de
agradecimento a Alá e de boas-vindas a prosperidade. E para encerrar meu
discurso, quero agradecer a pessoa responsável pela formação dessa nova
organização. — Ele vira para mim. — Menina Letícia, que gentilmente nos
proporcionou tal privilégio. Obrigado.
Fui pega de surpresa e sorrio sem graça, chutando-me em pensamento.
Voltando a festa, a alegria que permeia o lugar é contagiante, muita música,
dança, todos rindo e conversando. O povo árabe sabe como receber seus
convidados, a hospitalidade com que nos recebem é emocionante. A fartura
foi algo que chamou minha atenção, eles não se importam com desperdício,
uma pena.
Fugi para a varanda, a música alta estava me incomodando, os sapatos
me matando. Não consegui prestar atenção nas conversas, minha cabeça
estava em outro lugar, em outra pessoa, que provavelmente estava com
outra pessoa em seus pensamentos. Respirei fundo algumas vezes...
— A vista daqui é tão bonita quanto você.
Aquele tom me faz vibrar, é como se a voz de Zachary fosse palpável,
percorrendo meu corpo e o despertando. A imagem da loira que chegou
com ele, vem e caio na realidade, meu coração aperta. Queria correr e
abraçá-lo, mas fiquei parada, olhando a paisagem.
— A palavra certa para descrever esse lugar é extraordinário. — Mesmo
sem olhar, eu sei que ele está se aproximando. Meu corpo detecta o calor do
seu, de longe.
— Como você está, Letícia?
— Estou bem e você?
— Com saudades de você. — Solto uma risada sarcástica.
— Ok. Vou fingir que acredito.
Zachary me puxa fazendo-me virar para ele, que está com uma cara não
muito amigável. Mas o canalha quanto mais bravo, mais bonito.
— Eu não minto...
— Mas também não fala a verdade, senhor O´Brian. Se me der licença...
— Ele me segura mais forte.
— Você não vai a lugar nenhum, Letícia. — Tento sair do seu aperto.
— Vamos fazer o seguinte, finjo que acreditei e fica tudo certo. Agora me
solta, por favor. — Digo isso da boca para fora, suas mãos em mim, lembra-
me do calor do seu toque.
— Não!
— Que merda, Zachary! Como você quer que eu acredite que sentiu
minha falta? Você é um dos homens mais poderosos do mundo, conseguir
um número de telefone não é nada para você. Temos amigos em comum,
negócios em comum e mesmo assim nenhum contato. Eu não sou idiota...
— Olha para mim, Letícia. — Fiz a besteira de olhar e fui hipnotizada. —
Eu realmente senti falta de conversar com você. — Nenhuma palavra saiu
de nossas bocas, apenas respirávamos e nos aproximávamos até que...
— Zach, o que está acontecendo aqui?
Zachary, ainda olhando para mim, responde rápido demais para o meu
desgosto.
— Nada.
Senti como se tivessem socado meu estômago. Ela é sua namorada ou
até mesmo noiva, Zachary não colocaria tudo a perder por causa de um
flerte.
— O senhor O´Brian estava me cumprimentando pelo projeto que deu
início a tudo isso. — Estendo minha mão para ela. — Letícia Barros. Sou
executiva da Building Paradise Company.
— A Letícia é uma das sócias diretoras da companhia. — Zachary me
interrompe.
— Valery Fowler. — A mulher sorri e responde. — Que bom ter outra
mulher nessa viagem, estava chateada que iria ficar no meio dos homens
ouvindo sobre negócios. — Ela o abraça. — Apesar de que as viagens com
Zachary são sempre cheias de promessas...
— Imagino. — Eu queria gritar de raiva, bater naquele rosto lindo e
deixar um daqueles olhos azuis, roxo. Sem coragem de fazer qualquer uma
dessas coisas, digo que eles aproveitem a festa.
Saio dali rapidamente, enquanto vou indo para o apartamento, teclo a
mesma mensagem para Ethan e Kaleb.
“Estou indo deitar. Avise a Lorena”.
Chego na suíte, tiro o vestido, jogo-o em um canto, tiro meus sapatos e
jogo-os na parede, vou ao banheiro e tiro a maquiagem grosseiramente e
deito, cubro minha cabeça para tentar não ouvir nada da festa. Queria ter o
poder de tirá-lo da minha cabeça, chega de expectativas, chega de Zachary!
Capítulo 17
Fiquei trancada no quarto o dia inteiro, só mandei mensagens para
todos. Graças à Deus a Lorena entendeu que eu não queria ver ninguém. Eu
sei que tinha uma reunião da nova companhia, mandei uma mensagem a
Ethan dizendo que não estava passando bem. Quando criei coragem para
levantar, já era noite. Pedi comida a Zharan e tomei um banho, quando saí
do banheiro, Lorena estava sentada na minha cama.
— Seu jantar está ali. Letícia, eu não vou sair daqui até me dizer o que
está acontecendo com você. Ontem você sumiu da festa, hoje nem foi à
reunião, isso não combina com você.
— Andei incomodada com algumas atitudes do sheik e ontem quando vi
Zachary com a namorada, fiquei mal. — Sento na escrivaninha onde foi
colocado o meu jantar.
— Está gostando dele.
— Estava atraída, mas tive uma conversa com o meu coração e
decidimos em comum acordo que, estamos fechados para balanço. — Como
um pedaço de pão.
— E por que não tentar? Já pensou que ele pode gostar de você também?
Lê, você é minha irmã e me sinto na obrigação de falar, para de arranjar
motivos para ser solitária. Abra o seu coração e permita-se amar e ser
amada.
— Amar é tão fácil quanto fazer café, o complicado é ser amada.
— Não é fácil, dói, machuca, tem dias que a gente quer se matar, mas
tudo é compensado quando vemos o brilho no olhar da pessoa quando está
com a gente. Muitas vezes, não dá certo, nós duas passamos por isso e
demos a volta por cima, continuamos vivas. Isso prova que amor não mata,
ensina a viver.
— Viu a acompanhante dele?
— Vi e para sua informação, ela não é nada dele, apenas acompanhante.
— Você não entende Lorena. Zachary é aquele tipo de homem que não
ama ninguém a não ser a si mesmo. Não tem bom coração, se é que tem um.
Ele passa por cima de qualquer um para ter o que quer.
— Ele pode ser melhor do que você imagina flor. Mesmo assim, Letícia.
Há outras pessoas que podem surpreendê-la.
— Chega de falar de coisas ruins, cadê o príncipe, boneca Lolo?
— Foi jantar com os meninos. Por falar neles, também estão
preocupados com você. Zachary deu uma surtada legal quando o Martino
fez um comentário sobre você, Ethan e Liam tiveram que intervir.
— Senhorita Letícia, preciso falar-lhe. — Zharan bate na porta.
— Entre Zharan.
— O senhor Sheik Bashir mandou avisar-lhe que amanhã pela manhã
vocês sairão em excursão. Servirei seu café por volta das sete da manhã. —
Ele acena, pega a bandeja do meu jantar e sai.
— Desde quando chegamos, algumas coisas no sheik têm me
incomodado, seus olhares, suas insinuações... — Falo para a Lolo.
— Normal. Você é bonita, te desejar faz parte do processo. Você sempre
se sai bem dessas situações. Estou com sono, vou dormir aqui.
— Lolo... — Falo depois de fazer minha higiene e deitar na cama.
— Diga princesa.
— Ele disse que sentiu saudades de mim...
— Isso é bom, não é?
— Se sentiu, por que não me procurou?
— Não sei, Lê e vou te dar um conselho de irmã, não fica questionando
os porquês da vida, não nos leva a nada. Só saberá o porquê, quando
perguntar.
Acordei com uma cara horrorosa depois de uma péssima noite de sono.
Dormia e acordava, dormia e acordava. Tive oportunidade de colocar maus
pensamentos em dia e chegar a uma conclusão, vou viver! Estou em um
lugar lindo, tenho que aproveitar, o resto deixo para quando tiver que me
preocupar, até lá, viverei cada dia como se fosse único.
Tomo um banho para ver se melhoro a aparência e para amenizar as
olheiras, mas pouco adiantou. Vou para o closet em silêncio para não
acordar Lorena, olho todas as peças de roupa que trouxe muitas por
insistência da dorminhoca ali. Pego uma calça tipo pantalona estampada
com cores vibrantes, um top de alças na cor branca para usar por baixo da
camisa da mesma cor, um cinto largo vermelho e uma sandália rasteira
também vermelha. Amarro meus cabelos em um rabo de cavalo, pego um
chapéu, coloco protetor solar na bolsa e vou para sala.
— Bom dia, senhorita Letícia. — Levo um susto quando ouço Zachary.
— O que você está fazendo no meu apartamento uma hora dessas,
senhor o´Brian? — Vejo King ao lado da porta e vou até ele para
cumprimentá-lo. Desde o dia que secou minhas lágrimas, ele virou meu BFF
(Best Friend Forever). Vamos e convenhamos, para suportar Zachary e
ainda adorá-lo como King o adora só um santo com um nobre coração. —
Bom dia. Como está, príncipe negro?
— Estou bem... — Ele abre um sorriso tão grande como ele
— Então a nossa executiva está boa para abraçar todo mundo e para sair
a passeio com o sheik, mas para ir a uma reunião da nova companhia está
mal? — Ele se levanta e vai até a janela que dá para a varanda e continua a
falar. — Eu esperava mais de você, Letícia.
— Ontem eu realmente não estava bem, só que hoje acordei disposta.
— Falta de profissionalismo da sua parte, senhorita.
— Olha caro senhor, até onde sei, não lhe devo satisfações, pois não fui
contratada pela Paradise ainda, até assinarem os documentos, sou livre.
Então, Zachary, dá um tempo! Você não tem outra pessoa para atormentar?
Quem sabe a loira oxigenada que veio com você, por exemplo.
— Verdade. Tenho uma linda modelo nua à minha espera na cama. Onde
a deixei depois de uma noite de intensa atividade.
— Senhor O´Brian, vai querer me convencer que com sua idade, ainda
suporta uma noite de intensas atividades? Faça-me rir.
— Eu poderia te surpreender...
— Já surpreendeu e não foi nada bom. — Estúpido! A campainha toca e
Zharan prontamente atende a porta, estou ficando mal-acostumada com
isso. Liam e um de seus seguranças entram, ele vem em minha direção e
beija minha testa.
— Bom dia, Letícia. Como se sente? — Ele olha interrogativamente para
Zachary — Bom dia, Zach. Já de pé?
— Bom dia, Liam. Estou muito bem... — Respondo.
— Tão bem que vai se encontrar com Bashir — Zachary fala para Liam,
que olha para mim com cara de poucos amigos.
— Me diz uma coisa, o que vocês vieram fazer aqui uma hora dessas?
Desde quando dei liberdade para ambos cobrarem ou não alguma coisa? —
Aponto para os dois. — Quer saber? Vão se catar!
Pego minhas coisas e saio sem olhar para trás. Ah, faça-me o favor,
primeiro Ethan me obrigando a levar o celular para todos os lados, agora as
gracinhas achando que devo alguma satisfação. Idiotas!
— Bom dia, senhorita Letícia. Estava indo buscá-la. — As portas do
elevador se abrem e dou de cara com Hamdan.
— Hamdan eu preciso tomar café. Meu apartamento foi invadido por
abutres...
— Abutres? Aqui?
— Modo de falar. Estou com fome.
— Zharan não está lhe servindo direito? Podemos trocá-lo...
— Não! Gosto muito dele. Hoje tive visitas inesperadas e acabei saindo
sem comer e estou com muita fome.
Ele me levou a um dos restaurantes do hotel e mandou me servirem um
serviço de café completo. Depois fomos para a entrada onde quatro
caminhonetes nos esperavam, ele abriu a porta da terceira e o sheik estava
lá, no banco de trás.
— Bom dia, menina Letícia. Preparada para o nosso passeio?
Apenas sorrio e aceno. O carro andou durante alguns minutos e pude
vislumbrar parte da cidade com construções contemporâneas contrastando
com a história. Enquanto percorríamos a cidade, o sheik Bashir ia me
falando o significado das coisas, a história de cada lugar, como as coisas
funcionavam. Eu conhecia Abu Dhabi pela televisão, onde mostraram que
até as paradas de ônibus são climatizadas e realmente é verdade. É tudo
muito bonito!
Os prédios modernos e a civilização foram ficando para trás e eu não
tinha a menor ideia de onde íamos, só curti o passeio e fiquei me
perguntando, o que foi aquele chilique do Zachary logo cedo. Às vezes
tenho a impressão de que ele me detesta, nas outras que me adora a ponto
de me querer, me manda sinais confusos ou não me manda sinal nenhum e
eu que sou a louca. A certeza de tudo é: Eu estou muito interessada nele, eu
queria estar no lugar daquela loira. Durante a noite me peguei imaginando
como seríamos nós dois juntos. Droga!

——ooOoo——

— Se hidrate sempre e não esqueça o protetor solar. — O sheik fala


assim que as portas se abriram depois que a viagem durou uma hora e
meia e nós fomos parar no meio do deserto em um acampamento.
Olho ao redor e fico hipnotizada com a beleza do lugar.
Várias barracas coloridas, ligadas uma a outra formam um círculo.
Passamos pela única entrada que tinha e fomo direto ao centro do lugar.
Havia várias pessoas em uma roda de música, alguns homens e mulheres
completamente cobertos no meio dançando e cantando, todos batiam
palmas, era uma festa. Aproximamos-nos e o sheik foi recebido com
reverência.
Um jovem se levantou e veio até nós. Eles se cumprimentaram em árabe,
depois se voltou para mim e falou em um inglês quase perfeito.
— Prazer, sou Heidrun, filho mais velho da casa do meu pai Bashir.
— Letícia Barros.
Ficamos olhando aquela roda durante algum tempo, eu estava
deslumbrada com tudo aquilo até sentir minha primeira tontura.
Rapidamente providenciaram água e tudo ficou bem. Mais ao canto havia
uma bela mesa arrumada elegantemente, havia muitas frutas e pães. O
sheik me levou até lá, sentei e logo apareceram duas mulheres para nos
servir.
— Assim que a menina se recuperar, vamos fazer um pequeno passeio
pelo deserto para você ver a beleza e o poder das nossas terras.
O passeio foi estranho, enjoei muito em cima do camelo e por isso nosso
passeio foi encurtado. Voltamos para o acampamento, ele me fez comer
novamente e tomar muito suco. No meio da tarde, me levou para fazer um
tour pelas barracas e fiquei surpresa ao ver as acomodações de luxo que
havia. Os quartos com lindos tapetes e colchas de peles, adornos em ouro e
prata espalhados por todos os lugares. Impressionante.
Paramos na última tenda, em uma sala espaçosa, muitos tapetes e
grandes almofadas bordadas pelo chão. Ele me assentou em uma que mais
parecia um colchão, onde descansei confortavelmente.
— O que está achando do nosso passeio, menina?
— Estou encantada com tudo e com todos.
— Você é boa companhia, seu sorriso faz com que tudo valha a pena.
Não sou um homem de rodeios, Letícia, então vou direto ao ponto. Estou
interessado em você.
Eu não sabia como responder aquilo. Ele é um homem de personalidade
forte, mas não faz meu tipo. Aliás, qualquer um que tenha uma esposa não
faz meu tipo, imagine oito. Sento-me e pego sua mão com carinho.
— Fico muito lisonjeada, mas infelizmente não é recíproco.
— Eu sei que não sou um homem bonito, mas sou rico e quero colocar o
mundo aos seus pés.
— Não se trata de beleza ou de dinheiro, Bashir. Comigo, as coisas são
diferentes. Tenho princípios e um deles é não me envolver com homens
casados.
Ele tenta me beijar e viro meu rosto porque aí já é demais. Afastei-me
dele rapidamente porque sabia que aquilo não daria certo. Estou no meio
do deserto, sem comunicação com ninguém, ele poderia me forçar a fazer
qualquer coisa.
— Há alguma chance de mudar de ideia?
— Nenhuma. — Seu olhar baixo me fez chegar perto dele novamente.
Coloco uma mão em seu ombro. — Agradeço por tudo que vens me
proporcionando, a viagem, os passeios e principalmente o conhecimento.
Dessa estadia pude tirar ideias maravilhosas para o projeto, para as casas.
Obrigada de coração...
— Fico imensamente feliz com isso e desejo que sejas feliz. Que Alá em
sua sabedoria a guie nessa jornada da vida.
A viagem de volta foi mais demorada ou eu que estava cansada demais.
O ar muito seco teve efeitos colaterais, como espirros, boca e garganta seca
e um cansaço tenebroso. Já era noite quando chegamos ao hotel, Bashir e
seus seguranças me acompanharam até o apartamento.
— Antes que eu me esqueça, marcamos a assinatura do contrato às dez
da manhã de amanhã. Descanse.
Despedimos-nos e entro no apartamento escuro e em silêncio. Vou até o
quarto da Lorena que está vazio, ela deve estar com Ethan. Vou em direção
ao meu quarto, fecho a porta e acendo a luz. Sento na beirada da cama e tiro
os sapatos e minha roupa, vou para o banheiro tomar uma ducha.
Deito na cama somente de toalha e caio no sono.
Capítulo 18
— Letícia Sophie Barros! Estão te esperando para a reunião, mulher!
ACORDA!
Sonolenta, tento tirar as cobertas de cima de mim, mas não é possível, a
preguiça me domina. Por fim, caí da cama batendo na mesinha de cabeceira
e machucando as costas. Merda! Faço minha higiene em tempo recorde,
pego um uma calça jeans desbotada, uma camisa azul e um tailleur, escolho
uma sandália baixa. Não consigo nem erguer os braços direito, dói onde
bati.
Lolo está com seu habitual terninho preto. Pronta para o trabalho.
— Letícia, pega uma fruta e vamos. Não dará tempo de comer, já são dez
e cinco. Ethan me mandou mensagem dizendo que só falta você.
Percebi que havia um segurança na nossa porta e está nos
acompanhando, Ethan deve ter providenciado para Lorena. Eu não fazia a
menor ideia onde seria a reunião, eu nem sei o que anda acontecendo
comigo. Sempre fui excelente profissional, nunca deixei nada de lado
quando se trata do meu trabalho.
— Minhas costas estão doendo...
— Desculpa, acho que a culpa foi minha. Vou providenciar alguma coisa
para você comer, Lê e um remédio também.
Avisto uma grande porta com muitos seguranças, a reunião deve ser ali.
Entramos em um escritório espaçoso, com sofás de veludo verde escuro,
uma mesa redonda, que acredito eu que seja de mogno.
— Bom dia, senhores. Desculpe minha demora, caí e acabei me
machucando.
— Mas está tudo bem? Precisa de um médico? — Martino estava ao meu
lado, pegou minha mão e me conduziu até uma poltrona.
— Não, obrigada.
Maggie e King entram na sala com algumas pastas e as distribuem.
Zachary toma a frente do discurso.
— Ficamos honrados com a sua presença, princesa Letícia...
— A princesinha do sertão... — Ouço a voz da Lorena de fundo.
— Acredito que todos já tenham conhecimento sobre o contrato, até
porque o formulamos juntos, faltando somente a Letícia tomar partido
disso tudo. — Ele fala diretamente a mim. — Letícia Sophie Barros, quando
nos reunimos para discutir as cláusulas desse contrato, nós chegamos à
conclusão de que você era muito importante para ser meramente uma
funcionária. Então, de comum acordo, acertamos que você será uma das
acionistas do grupo e os lucros serão divididos por igual. Queremos que
esteja na frente de todos os trabalhos que a Building Paradise Company
venha executar. Você ocupará o cargo de diretora geral, reportando-se
somente a mim quando for necessário.
— Muito obrigada, farei de tudo para que vocês venham ter orgulho de
mim e do meu trabalho. — Eu fiquei emocionada e sem palavras, olhando a
todos agradeço.
Foram duas horas de conversas e acertos, assinaturas e discussões, não
estava mais aguentando a dor.
— Acho que preciso de um médico, não suporto mais a dor.
— Vou pedir para o Luck te acompanhar até a suíte e eu vou procurar
médico.
— Quem é Luck? — Pergunto.
— O segurança. Agora fica quietinha.
Tentei me levantar, mas a dor não permitiu, acabei gemendo alto
demais, atraindo a atenção de todo mundo. Todos começaram a perguntar
ao mesmo tempo e tentei responder, mas a dor estava forte demais. Não
demorou muito e apareceu um médico para me examinar.
— Vocês poderiam dar licença para eu poder examiná-la?
— Não! — Em um coro responderam. Olho para o médico e vejo pelo seu
olhar que ele pensa a mesma coisa que eu, “ninguém merece”. O doutor me
toca por cima da camisa de tecido fino. — A senhorita pode me contar o
que aconteceu?
— Eu caí...
— Vai ver que o sheik foi ensinar alguma posição do kamasutra e acabou
machucando ela.
O que eu fiz para ele me odiar tanto? O médico me olha com uma cara de
entendimento. Ai meu Deus! De princesa do sertão, serei conhecida como a
vadia do oriente.
— NÃO! Claro que não. Eu acordei atrasada. — Olho para Zachary. — E
sozinha, me levantei e meu pé acabou enroscado nas cobertas e caí,
batendo as costas na mesinha de cabeceira. Na hora doeu tanto que chegou
a me faltar ar, mas levantei mesmo assim.
— Teremos que levá-la para a clínica e fazer algumas radiografias para
confirmar a provável quebra de uma costela.
Mas gente como consegui isso?
Foi um tombinho de nada. Levaram-me para o hospital e tiraram
algumas radiografias e constataram que somente trincou uma costela.
Deram-me muitos remédios a ponto de me sedar. Não lembro como voltei
para o hotel e nem quanto tempo dormi.
— Acho que um segurança é pouco, temos que colocar mais dois e ficar
mais ligados nesse negócio. Eles são capazes de se matarem, viu como
Martino foi para cima do sheik? — Acordei ao som da voz de Liam.
— Preocupo-me mais com a reação do Zachary, ele pode ser uma
ameaça quando quer e ninguém o segurará. — Essa é a voz do Ethan e do
que eles estão falando? Mal assinaram um acordo e já estão se matando?
Não faz sentido, também não faz sentido eu conseguir a proeza de trincar
uma costela.
Tento me mexer, sinto dor, está mais fraca, só que ainda dói pra
caramba! Faço um esforço para me levantar, mas só consigo gemer. Abro os
olhos e encontro os dois homens em cima de mim e reviro os olhos. Para
que tudo isso?
— Oi, minha flor. Esses lindos cavalheiros a ajudarão a sentar-se para
comer. — Lorena senta do outro lado da cama com uma bandeja.
Liam me descobriu, colocou um de seus braços atrás do meu joelho e o
outro nas costas. Acabei tocando-o e tendo a noção de seus músculos. Com
isso percebi que estava enfaixada na altura da costela machucada. Lorena
me passou os remédios e coloca a bandeja no meu colo.
As cortinas estão abertas, o sol brilha lá fora. Estranho, deveria ser
noite...
— Dormi por quanto tempo? — Pergunto.
— Dezesseis horas. Quando voltamos da clínica, você estava grogue,
dormia e acordava a todo o momento. A noite sua dor piorou porque você
tentou levantar, o médico veio e deu outra injeção. Ele disse que você
poderá andar normalmente, só não poderá fazer muito esforço e nem pegar
peso.
Odeio incomodar as pessoas e não me lembro de ter me tornado tão
desastrada. Vejo carinho nos olhos de cada um, mesmo assim fico
incomodada com o trabalho que estou dando. Tento comer alguma coisa,
mas meu estômago não está legal. Zharan bate e anuncia Sebastian. Ele
entra com lindas flores amarelas.
— Como está, Letícia? — E me entrega e beija minha face.
— Obrigada, são lindas. Estou melhor.
Lolo prontamente pega o ramalhete, entregando para Zharan colocar em
um vaso. Liam e Ethan não fazem menção de sair, o que me deixa
desconfortável. Devo estar com uma aparência horrível, cabelos
desgrenhados, nem escovei os dentes.
— Vocês poderiam me dar licença? Eu gostaria de me ajeitar, depois
encontro-os na sala.
— Acha que consegue andar Lê?
— Consigo só me ajuda a levantar.
Fui para o banheiro e tomei uma ducha, lavei e sequei o cabelo, escovei
os dentes. Meu corpo está dolorido, mas consigo suportar. Lorena me
enfaixou novamente, o que me deu certo alívio da dor, trouxe um vestido
longo preto e chinelos. Estou me sentindo muito melhor.
— Está com uma carinha boa, Letícia. Ficamos preocupados...
— Como nossa menina está se sentindo? — Nesse momento Martino
entra e se ajoelha na minha frente, pega minha mão e a beija.
— Mimada dessa maneira, estou ótima. Martino foi bom você ter vindo,
queria saber se está indo direto para Itália.
— Estou indo direto, vai comigo?
— Sim. Tem algum problema para você? Posso ir depois...
— Fico mais tranquilo você indo comigo, é melhor assim. Devemos
partir amanhã à noite.
Conversamos sobre o projeto, me contaram que em vinte dias a equipe
de topografia já estará no local fazendo um levantamento mais detalhado
do terreno. Eles falam dessa primeira obra com muito orgulho, tenho
certeza que será um sucesso e fazer parte disso, é uma honra.
— Senhores, vamos descer para jantar? A Letícia deve estar cansada e
elas têm que arrumar suas coisas para viajarem amanhã. — Ethan sugere.
Eles se despedem e se vão. Lorena e eu começamos a fazer uma agenda
para que eu possa colocar todos os meus trabalhos em dia. Desde que
cheguei aqui, só tenho passeado, trabalhar que é bom, nada! Liam apareceu
para se despedir de mim, disse que nos encontraríamos na Itália, já que ele
tem um projeto com Martino e a reunião estava marcada para daqui a
alguns dias.
A campainha toca e Lolo atende, Zachary entra mais lindo do que nunca,
com uma calça jeans muito justa e uma camiseta branca tão justa quanto a
calça. A visão dele enche meus olhos e me aquece, ele tem esse poder de me
fazer deseja-lo. Elegantemente entra e toma conta do lugar e senta-se ao
meu lado.
— Pelo que vejo, a senhorita está bem.
Grosso!
— Estou ótima. Se for para tirar conclusões, já tirou. Pode se retirar.
— Lê, estou indo jantar na suíte do Ethan, qualquer coisa é só mandar
uma mensagem. Zachary, os remédios que ela deve tomar dentro de meia
hora estão naquela mesinha. Ela não pode se cansar, se perceber que está
se esforçando, leve-a para cama. Não para comer, Zach, somente para
dormir. Entendeu bonitão? — Ela coloca a mão no quadril. — Gente, eu não
me conformo com a beleza desse homem! Por favor, tenham juízo. Não
quebre mais nenhum osso.
Ficamos durante um tempo em silêncio, ele segurando minha mão. Puxo
a mão e quebro o silêncio.
— O que você quer, Zachary? — Ele acaricia meu rosto.
— Quero passar um tempo com você, saber que está sendo bem cuidada.
— Provavelmente para saber se ainda posso trabalhar. Não se preocupe,
estou bem e logo começo nos meus afazeres.
— Às vezes é complicado falar com você, Letícia.
— Você não é do tipo que cuida de alguém, muito menos de mim. Você
me detesta!
— Quem disse que te detesto?
— Você é sempre estúpido comigo, tirando aquele dia lá no Brasil, você
está sempre gritando ou me questionando. — Ele se aproxima de mim e
beija meu rosto.
— Eu detesto o fato de você sempre ter algum homem ao seu lado. —
Beija minha testa. — Detesto até mesmo o King ter mais contato com você
do que eu. — Beija o outro lado do meu rosto. — Detesto a maneira com a
qual você mexe comigo, mas jamais te detestaria, baby.
Ele toma minha boca em um beijo quente me arremetendo ao céu, para
ver o show de estrelas que se forma quando ele chupa meu lábio inferior.
Zachary puxa meu cabelo da nuca para controlar o ritmo do beijo, fazendo-
me gemer. Quando penso que vai parar, ele morde meu lábio e acaricia com
a língua, me destruindo para qualquer outro homem do mundo e me
fazendo querer mais, sempre mais...
Somos interrompidos pela campainha, Zachary levanta e vai até a porta,
King entra com uma mesinha.
— O jantar está servido. — Ele se aproxima. — Está pronta para outra
briga? — Dou risada, porque é vergonhoso a pessoa contar que trincou
uma costela saindo da cama.
— Estou quase...
— King o jantar já foi servido e você já pode ir. — Zachary fala sem
cerimônia. King pisca para mim e se vai.
— Espero que esteja ao seu gosto.
— Obrigada. — A última coisa que eu queria era jantar, mesmo assim
tratei de mastigar e engolir cada coisa servida naquele prato. — Zachary...
— Ele olha para mim. — Obrigada por cuidar de mim.
— Não há porque agradecer, eu realmente quero estar aqui. E eu
infelizmente sou assim, Letícia. Não faço o tipo gentil como Liam, mas vou
tentar ser mais tranquilo a sua volta. — Ele se levanta. — Estou ansioso
para ir ao Brasil conhecer minha nova propriedade. Quero que você vá ficar
comigo.
Enquanto comíamos falamos sobre tudo e fizemos planos para quando
eu estiver nos Estados Unidos. Contei a ele que comprei um apartamento lá,
que foi a realização de um sonho, mas não contei detalhes, ele não precisa
saber de tudo. Comecei a sentir dores, ele me pegou no colo e me levou
para a cama. Deitado, vira-se para mim e ficamos nos olhando por um bom
tempo. Memorizei cada traço seu. Cada nuance. Cada peculiaridade.
A cor azul escura dos seus olhos é diferente e nos faz ter a impressão de
mergulhar em um mar escuro e revolto. Não me contenho e o toco. Passo a
minha mão pelo seu rosto, com meu dedo contorno seu lábio.
— Bonito não faz jus a você.
Ele tira seu celular do bolso, mexe em alguma coisa e a música Earned it
do The Weeknd começa a tocar. No mesmo ritmo ele passa a mão pelo meu
corpo.
— Nem a você...
Zachary vem para cima de mim lentamente como um predador que já
deu o bote em sua presa e está prestes a saborear o banquete. Ele tira meu
vestido deixando meus seios à mostra, trilha com sua boca o caminho do
meu corpo, começando pela minha orelha, minha boca, meu pescoço. Desce
ao meu seio, morde, suga, mas não toca em meu mamilo fazendo-me
reclamar.
Quero a boca dele em todo meu corpo, assim como quero saboreá-lo por
inteiro. Ele dá pequenos beijos sobre a faixa e continua a descer, rodeando
meu umbigo com sua língua, deixando-me mais desejosa. Seus dedos
acariciam minha pele em volta da calcinha, até passar seu dedo pelo meio
dela e eu, estou dominada pelo desejo, mergulhada em sensações. Com sua
boca ele desce sobre o tecido rendado, me sugando e me tocando com seus
dedos. Estou tão molhada que chega a ser vergonhoso. Nenhum homem me
fez sentir assim, somente ele...
Zachary sai da cama e leva minha calcinha com ele, então começa um
belíssimo show. Na batida da música ele tira cada peça, sem tirar seus olhos
dos meus e a minha morte foi decretada, estou apaixonada por Zachary
Thorton O´Brian. Um preservativo aparece de algum lugar. Ter um homem
como aquele, colocando uma camisinha no seu membro, deveria ser uma
cena grotesca, mas não, não Zachary... Foi a cena mais deliciosa que já vi.
Ele vem sobre mim com cautela.
— Eu estou tentando ser cuidadoso, só que fantasiei você nua tantas
vezes e nenhuma delas chegou perto da beleza que é na realidade. Eu
preciso sentir seu cheiro, seu sabor, mas preciso estar dentro de você para
continuar a viver em paz.
E com essa declaração, entra em mim em um gesto carnal de posse, sem
delicadezas e eu amei cada centímetro seu dentro de mim. O ritmo é lento e
forte a cada arremetida, sua boca era cadenciada com suas batidas. Fui me
afundando no mar dos seus olhos, na força do seu corpo. Fechei os olhos
para não mostrar-lhe o que se passava dentro de mim, porque eu era só
amor e ele, somente prazer.
Ele para e eu abro os olhos.
— Por favor, não pare... — Foi só o que consegui balbuciar.
Ele toma um seio em sua boca, fazendo com que eu chame seu nome
consequentemente.
— Goza comigo, anjo. Vem...
Não precisou falar a segunda vez, eu já estava entregue gritando seu
nome. Esse homem será meu céu e meu inferno, será a minha ruína.
Zachary toma minha boca e me beija com paixão até ficarmos sem ar. Deita
ao meu lado e acaricia meus cabelos até nos recuperarmos.
Com dificuldade, me levanto e vou ao banheiro me lavar. Tiro a faixa em
frente ao espelho e vejo minha pele roxa. Ele entra no banheiro se
colocando atrás de mim, passou a mão pela ferida, abaixou-se e beijou cada
centímetro do lugar. Sentou-me na bancada de mármore fria, abriu a
torneira de água quente, pegou uma toalha e me limpou no meio das
pernas, fazendo me colocar uma em cima da pia. Ele enrola a toalha como
uma bola e coloca entre minhas costas e o espelho.
Sem dizer uma palavra, tendo como fundo a música que repete sem
parar, “... Então eu vou cuidar de você. Eu vou cuidar de você, você, você...”, ele
passa sua língua sobre meu clitóris, entra em mim com dois dedos. O prazer
é inebriante, os gemidos que saem da minha boca eram um estímulo para
ele, que impulsionava mais e mais sua língua e seus dedos. Meu segundo
orgasmo veio em seguida e logo, a dor me tirou da nuvem de tesão.
— Puta que pariu! Esqueci-me dos seus remédios. — Ele liga as
torneiras da banheira e volta para me abraçar. — Vou colocá-la na banheira
e vou pegar os medicamentos para você tomar, depois colocaremos a
bandagem novamente e você irá para cama.
— Sim senhor, senhor! Ai... — Bato continência.
— Não faça esforço. — Ele passa seus braços pela minha cintura, eu
coloco os meus em volta do seu pescoço e nos beijamos. Eu ficaria aqui
para sempre.
O banho foi revigorante, Zachary fez questão de lavar cada parte do meu
corpo. Depois de seca e vestida, fomos para sala, para ajudar-me com a
faixa. Mas, algo aconteceu enquanto ele me ajudava a colocar o curativo,
seus olhos não estavam mais doces como antes, aquela parede de gelo
estava novamente em seu lugar. Não havia mais sorrisos e nem palavras
gentis, somente aquele velho Zachary grosso como sempre.
Deve ter se arrependido de ter se deitado comigo, não há outro motivo
para uma mudança tão brusca assim. Também, o que eu esperava? Ele tem
uma das mulheres mais bonitas do mundo esperando por ele, com certeza
veio aqui dar uns pegas na assistente para ela ficar “felizinha”. Perco minha
paciência e falo com deboche
— O que houve, Zachary? Arrependeu-se de ter se deitado comigo?
— Sim... Não! Ah, caralho! Arrependo-me porque sou um homem de
palavra, nunca volto atrás no que falo. Mas não mudaria nada essa noite...
Não consigo segurar minha gargalhada de desgosto, mesmo com dor
levanto e vou para a janela.
— Eu já imaginava. Veio fazer a alegria da assistente machucada e se
arrependeu. Eu já deveria saber que para você, sou uma mulher qualquer
que serve para se divertir.
— Não Letícia. Não, não, não! Não é isso, é só que...
Não dá e nem quero segurar minhas lágrimas...
— Esquece.
Maggie, a assistente do Zachary entra sem pedir licença e sem ser
convidada. Seco minhas lágrimas para que a nojenta não as enxergue. Meu
apartamento parece uma pensão, todo mundo entra e sai sem permissão,
achando que estão em casa.
— Boa noite, senhores. Letícia eu vim confirmar sua partida com o
senhor Rossi amanhã à noite.
— O que? — O olhar de Zachary para mim era mortal. Ele anda de um
lado para o outro sem parar. — Eu não acredito que... Merda! Por que não
me disse...
— Está confirmado Maggie. Agora vocês dois podem se retirar do meu
apartamento.
Ele balança a cabeça e fala com raiva.
— Eu não vou sair daqui, enquanto não falarmos sobre a sua viagem
com aquele italiano safado.
— VOCÊ, SUA ASSISTENTE E O DIABO A QUATRO VÃO PARA O QUINTO
DOS INFERNOS! SAIAM DAQUI, AGORA! — Eu grito.
Assim que a porta se fechou, eu caí no chão, com a minha dor, com
minhas lágrimas e com meu resto de esperança indo pelo ralo. Pela
segunda vez, a vida me presenteia com desgosto. Eu não fui feita para ser
amada, somente para amar e ser deixada.
Deus, o problema sou eu?
O que você fez de errado quando me criou?
Por que tenho que perder todos que amo?
Por que não posso ser amada?
Por quê? Por quê?
Por que dói tanto?
Capítulo 19
Zachary

Que caralho aconteceu naquele quarto? Estou até agora tentando


entender como uma deliciosa transa virou um inferno. Martino não perde
por esperar, aquele italiano filho da puta tirando a Letícia daqui antes de
terminar o prazo do sheik.
— Nossa aquela mulher é grosseira, não sei como vocês a aturam. Os
outros mesmo babam em cima dela. Credo!
— A Letícia está tendo dias difíceis. Outra coisa, você não pode falar
assim dela, entendeu? Educação cabe em todo lugar.
— Sim, senhor.
— Cadê o King e o outro segurança? Eles não deveriam estar guardando
aquele apartamento?
— Não sei. Quando cheguei a porta estava livre.
Vou matar o King! Onde inferno ele se meteu? Vou para o meu
apartamento com uma enxaqueca de cão. Entro e encontro Valery fazendo
ioga no meio da sala, passo direto e vou para o quarto pensar. Toda essa
viagem foi um desastre, não... Desde que conheci Letícia, o desastre está a
um passo. O que era certo passou a ser incerto. O que estava no lugar, não
está mais e eu não sei o que fazer nesse caso, porque nunca passei por isso
antes.
Desde que voltei para casa da viagem ao Brasil, minha vida está nesse
caos. Venho dia após dia tentando tirar a desgraça daquela mulher dos
meus pensamentos. Nunca uma foda se tornou obsessiva, até Letícia.
Acreditei que estando a mais de dez mil quilômetros de distância, as coisas
esfriariam, não foi o que aconteceu. O dia em que Ethan surtou e sumiu, fui
o primeiro a localiza-lo no apartamento da Letícia. Aquele dia, falei com ela
por alguns minutos e bastou para querer embarcar de volta ao Brasil
também.
Inferno!
Essa coisa com ela estava indo longe demais. Eu sei o que me espera no
final da linha, Letícia com os bolsos cheios de dinheiro e eu enganado pelo
meu próprio tesão, achando que era amor. Tento manter em mente que
meu objetivo com ela é a minha cama, nada mais. Assim que eu conseguir
isso, bye bye baby!
Os dias do Ethan no Brasil foi um calvário. Não fazia ideia do por que ele
batia fotos dela e me enviava e também não faço ideia do por que tenho
cada uma delas guardada no meu telefone. Não satisfeito, também me
enviava parte das conversas deles, principalmente aquelas em que ela ria.
Com o passar dos dias, descobri que o som da sua risada me fazia dormir
profundamente, de lá para cá, não tenho tomado medicamento para pegar
no sono, o seu riso me conforta. Não sei qual a ligação, mas é assim que
funciona.
Isso tudo tem me incomodado profundamente. Nunca permiti que
mulher nenhuma estivesse tão perto de mim. Mas, mesmo de longe, Letícia
conseguia estar perto demais e isso não está certo, tinha que fazer alguma
coisa. Então, comecei a sair com todas as mulheres que chegavam até mim,
no começo foi bom, mas com o passar dos dias perdeu a graça e voltei à
estaca Letícia.
Por diversas vezes eu pensei em ligar, mas desisti de todas elas, porque
a partir do momento que eu tomar a iniciativa de procura-la, eu sei que
estarei abrindo uma porta que não se fechará facilmente. Sou um homem
realista e coerente, conheço limites apesar de não respeita-los e manter
essa porta fechada é o certo a se fazer.
Dois dias antes de embarcar para Abu Dhabi, King chamou minha
atenção.
— Zach, está difícil de te suportar, cara. Uma das suas assistentes está
chorando há dez minutos. O que está acontecendo? Nos últimos dias você
está mais nervoso do que de costume. — Eu não tinha percebido que meu
estresse tinha sido tão perturbador.
— Não sei o que está acontecendo comigo. Deve ser o cansaço.
— Então tira férias, porque ninguém mais quer ficar a sua volta.
Eu sabia o que me incomodava, só não quero admitir. Eu já vi essa
novela com outras pessoas e em nenhuma das vezes deu certo. Os caras
encontram a foda da sua vida, viram uns tapados incapazes de ver a
realidade a um palmo de seus narizes. As mulheres por sua vez, enrolam os
“paus nervosos” em volta dos seus dedinhos pintados de esmalte vermelho
e os fazem de palhaços. No meu caso não é amor, é uma competição para
ver quem a leva para a cama primeiro. Estou obcecado com a ideia de
ganhar, só isso. Sou um jogador nato, desafios me revigoram.
Fui a um coquetel e Valery estava lá. Já saímos algumas vezes e se eu não
estou enganado, já viajou uma ou duas vezes em minha companhia e isso
me deu a brilhante ideia de traze-la para o Oriente. Era a companhia
perfeita, uma linda modelo de lingeries, alta, loira, que não faz muito meu
tipo, só que manda muito bem na cama. Quando a convidei, tinha tudo
muito bem planejado, ela não sairia do meu lado por nada e enquanto
estivéssemos no quarto, eu não sairia de dentro dela, com isso, a Letícia se
manteria longe. O que eu não contava é que eu não conseguiria manter
distância dela.
E tem mais aquela aposta, ainda não me decidi se estou arrependido ou
não. Entrei nessa putaria porque tinha certeza que iria ganhar, meu único
rival é Larkin, ele é o único que pode tira-la de mim. É sabido que a partir
do momento que ela deitar na cama de alguém, eu não vou mais atrás dela.
Se for Larkin, pior ainda, porque ele a quer para casar, está apaixonado. Eu
falei para ele, “case-se com ela depois da minha noite”. Só que o cara é
teimoso e está disposto a acabar com a festa de todo mundo. Mas ele está
tão enrolado nisso quanto nós, é tarde demais para voltar atrás e fazer
papel de bom moço. Ela jamais o perdoaria.
Eu soube que senti saudades no momento em que coloquei meus olhos
nela. Letícia estava linda com aquele vestido branco, dava a impressão que
tinha sido costurado no corpo de tão perfeito que era o seu ajuste e seus
olhos se destacaram com a maquiagem, fazendo-a ainda mais
impressionante. Naquela noite decidi que me afastaria dela, Letícia pode
ser minha ruína.
Meu telefone toca tirando-me do devaneio, olho o visor e vejo que é
Ethan.
— Oi, E...
— E, o cacete! Que porra você fez com a Letícia, seu filho da puta? — Ele
estava gritando ao telefone. — Fico em alerta quando ouço o nome dela.
— Do que você está falando?
— Quando voltamos ao apartamento, a Letícia estava no chão chorando,
Zachary, ela não tinha forças nem para se levantar e foram dois calmantes
para acalmá-la. — Caralho!
— Estou indo vê-la.
— Não, não vai e se for não passará da segurança. Eles têm ordens
expressas para ninguém passar, principalmente você. Então, traga esse
traseiro arrogante até o meu apartamento, agora ou, eu mesmo irei
quebrar sua cara aí na sua suíte.
Ele desliga e eu fico olhando o telefone na mão. Eu deveria ter mais
cuidado, ela não está em condições de briga. Deus, não queria prejudica-la,
ela é preciosa demais para ser ferida. Saio do quarto e encontro King
sentado no meu sofá.
— Onde você estava Kingston? — Ele me olha com deboche.
— Estou aqui.
— Enquanto eu estava na suíte da Letícia você estava aonde, idiota? —
Ele fecha a cara.
— Um dos assistentes me telefonou dizendo que estava com problemas,
deixei instruções claras para o Luck e fui ver o que era. O que aconteceu?
Onde está indo?
— Estou indo ao apartamento do Ethan, diga ao Lennon para ir até o
apartamento da Letícia e conseguir informações sobre o estado dela. O
Luck não estava lá também quando saí. — King fica pensativo por um
momento.
— Ok.
Enquanto King falava com Lennon, íamos em direção ao apartamento do
Ethan. Chegando lá, ele abre a porta com um copo de whisky na mão.
Aponta o sofá para mim.
— O que caralho você fez com ela, Zach? — Ele aponta para o Kaleb. —
Ele viu o estado que a encontramos, conte para esse babaca. — Kaleb olha
para mim.
— A senhorita Letícia estava chorando encolhida no chão. Corta o
coração só de relembrar. Uma mulher tão forte naquele estado... é triste.
King, Kaleb e Ethan olham para mim esperando uma resposta,
— Eu transei com a Letícia. — Os três chiam. — Aconteceu, não tinha
como controlar, quando vi já estava dentro dela. Então me lembrei da
aposta, meu humor mudou e ela achou que eu tinha me arrependido de
estar com ela. Na verdade, ela acha que a detesto e me expulsou aos gritos
de lá. — Os três balançavam a cabeça. — Se eu soubesse que ela ficaria mal,
não teria saído de lá. — Ethan se joga em um dos sofás.
— Filho da puta! Pelo que a Lorena me falou a Letícia é encantada com
você. Sonhava com os seus olhos mesmo sem nunca ter te visto. Eu não sei
se é destino ou não, mas ele já tratou de fodê-la quando te jogou no
caminho dela, mas você poderia não piorar a situação. — Ele vai até o
barzinho, enche o seu copo e outro, depois volta para o seu discurso. —
Você não pode contar para os outros por causa do acordo. A ideia das
viagens foi sua, animal, para que cada um tivesse seu tempo sem correr o
risco de interromper o tempo do outro. Eu só não abrirei o bico para os
outros, porque eu sabia que você ganharia essa porra de aposta. — Estou
me sentindo mal com essa situação.
— Eu não quero machucar a Letícia, mas tem a aposta e eu não sou
homem de voltar atrás com minha palavra. Não me arrependi de tê-la, não
sei de onde aquela mulher tirou essa ideia absurda. Não há como explicar
isso a ela, Ethan.
— Seja como for, amanhã ela embarca com o Rossi para a Itália. Ele
alugou uma casa em... Esqueci o nome. Só sei que é uma das ilhas mais
bonitas de lá. — Ethan termina sua bebida. — Rossi é a menor das minhas
preocupações agora.
— Ela não ficará com o Rossi, assim como foi com o Bashir, é casado e
isso a impede de levar adiante. — Ethan coloca o copo na mesa de centro.
— Eu acho que você não se deu conta das coisas, vou fazer o favor de te
esclarecer. A Letícia não é tão frágil assim e mulher quando quer se vingar
meu amigo, o capeta é nada perto delas. Então, ela pensa que o cara dos
seus sonhos a usou, no consenso geral das mulheres, ela não tem nada a
perder e Rossi é um puta de um encantador de calcinhas. Então de agora
em diante, tudo pode acontecer. Até mesmo Bashir voltou a ter chances.
Isso me fez beber todo o conteúdo do copo em um gole só. Eu não
suporto a imagem de outro homem a tocando, possuindo-a como eu fiz.
Dessa vez sou eu quem vai até o bar encher o copo. King olhava com
reprovação para mim, ele também é protetor com ela. Isso é uma das coisas
que me incomoda, ela desperta esse carinho nas pessoas e com a minha
experiência, sei que pessoas assim sempre têm segundas intenções, elas
não conquistam ninguém à toa.
— Ela está bem. — Lennon entra e fala.
— Um segurança para ela é pouco. Vocês devem aumentar o contingente
antes do mundo tomar conhecimento da nova companhia, a partir daí ela
será alvo fácil.
— Nós já tínhamos pensado nisso. Durante o restante da viagem ela
estará protegida e Luck estará com ela. Depois disso King, já tenha mais
dois seguranças contratados para protegê-la. — Respondo.
— Terei que ir ao Brasil fazer as entrevistas, não há lógica de
mandarmos três estrangeiros com ela. Manterei Luck e contratarei mais
dois pessoalmente. — Ele fala já pegando o celular.
Conversamos mais um tempo sobre toda a logística da vida da Letícia.
King e Kaleb serão responsáveis pela segurança dela também, assim fico
mais tranquilo. Enquanto todos falam, perco-me em meus pensamentos. O
fato de tê-la machucado está me incomodando, eu não deveria me sentir
assim, já passei por situações piores e nenhuma delas me afetou, só ela...
Eu queria matar o sheik quando ela estava pálida de dor na reunião. Até
Letícia esclarecer que caio tentando sair da cama, deu trabalho para
controlar a vontade de bater naquele bastardo. Todos nós estávamos
nitidamente preocupados, mas me contive. Ethan me ligava de hora em
hora para dizer como ela estava, sei que a noite o médico teve que dar mais
remédio por causa da dor. Ela passou o dia dormindo e eu ansioso para vê-
la, não suportava que Valery ficasse tocando em mim, fui para a academia e
depois para a piscina, até King me falar que Letícia estava acordada.
— Como ela está? — Liguei para Ethan para saber.
— Está bem, sentada na sala conversando.
Ouço vozes e risadas no fundo, como se estivessem em uma festa.
— Quem está aí?
— Sebastian e Rossi babando em cima dela.
— Ethan eu preciso que você tire eles daí, vou pedir comida e irei jantar
com ela.
— Ok.
Em seguida liguei para Mag, mandei-a providenciar na cozinha para que
servissem um jantar para duas pessoas na suíte da Letícia. Vou para o
quarto com King no meu encalço.
— Você vai ficar guardando aquela porta para que ninguém entre. Quero
meu tempo sozinho com ela, King.
— Certo.
Entro no apartamento e encontro Valery de bico no sofá.
— Zachary, onde você estava? Estou te esperando para jantar...
— Pode ir jantar, eu já tenho compromisso.
Não dou tempo para questionamentos. Tomo um banho, coloco uma
roupa e vou para o quarto atender ao telefone.
— Zachary, falando.
— O senhor Larkin está na suíte da Letícia, peço comida para três? —
Maggie avisa.
— Não. Avise-me quando ele for embora. — Eu tiro o Larkin de lá a
socos se for preciso. Desligo e abro meu computador para ler meus e-mails.
Quinze minutos se passaram e nada da Mag ligar. Larkin não vai sair de
perto dela tão cedo. Vou à procura de King e o encontro no barzinho do
apartamento.
— King, liga para o Luck e mande-o ver o que está acontecendo no
apartamento da Letícia.
Prontamente ele liga para Luck, franze a testa e desliga o telefone.
— Ele disse que está tudo bem. Depois que o Ethan saiu com os outros, o
Larkin esteve com ela, mas saiu poucos minutos depois e desde então ela
está com a Lorena na sala.
Mag está a cada dia mais relapsa tenho que ter outra conversa séria com
essa garota.
— Enquanto pego uma camiseta, faça um favor para mim, ligue para a
Mag e peça para mandarem servir o jantar dentro de dez minutos no
apartamento da Letícia.
Quando cheguei lá, nem sinal do Larkin e essa coisa da Mag se esquecer
das minhas ordens, está estranho.
Voltando as minhas doces lembranças com a mulher dos olhos
dourados, ter aquele momento com ela, foi a melhor coisa que me
aconteceu durante dias. A imagem dela nua não sai da minha cabeça, seus
gemidos são repetidos como se alguém tivesse apertado a tecla repeat. Seus
olhos eram tão claros, que davam para ver sua alma, eu lia cada sentimento
que se passavam neles e gostei de cada um, me incomodaria em outros
tempos, ou em outras mulheres, mas não em Letícia, nada nela me
incomoda. Ainda posso sentir seu gosto na minha boca, é possível uma
mulher ser doce assim? O cheiro da sua excitação me deixou como um
animal faminto. É impossível ter uma mulher daquelas e não querer mais.
Um sorriso desponta em mim ao lembrar-me do preservativo rasgado. A
foda foi tão intensa, que o preservativo não aguentou. Eu deveria entrar em
pânico, mas há dois meses no meu check-up de rotina, o médico reafirmou
o que vem acontecendo há algum tempo, minha contagem de esperma
estava baixa, seria difícil engravidar uma mulher na primeira tentativa e eu
teria que fazer um tratamento para ter filhos, também não tenho doença
alguma e tenho absoluta certeza que a Letícia também não. Não haveria
porque contar a ela e estragar o momento, porque com toda a certeza, ela
surtaria.
A hora que ela se levantou para ir ao banheiro, desfilando nua, eu já
estava pronto para mais uma rodada. Fui atrás dela e a peguei tirando a
faixa do seu corpo. Impulsivamente me abaixei e beijei a marca, um corpo
tão bonito daqueles, não deveria ter feridas. A Letícia é magra, cintura fina,
mas seus quadris são mais largos que o padrão, suas pernas são mais
grossas e seus seios mais fartos. Não é um corpo proporcional e nem
dentro de padrões estéticos que estamos acostumados a ver. Só que eu não
mudaria nada nela, ela é simplesmente perfeita e gostosa para caralho!
— Zach... — Olho na direção da voz de Ethan.
— O que?
— Aposto toda minha fortuna que você estava pensando na transa com
a Letícia. — Ele fala sorrindo.
— Você pode perder. — Seu sorriso fica maior.
— Ninguém se perde em seus pensamentos depois de uma cagada e tem
um sorriso desse tamanho. — Mostro o dedo do meio para ele.
— Aposta isso, imbecil.
Capítulo 20
Eu não fui maduro o suficiente para esperar ela partir com Rossi para a
Itália, tinha que sair de lá antes deles. Depois da conversa com o Ethan,
milhões de imagens povoaram minha cabeça e em nenhuma delas eu
estava. Em algumas era Sebastian sobre Letícia a tomando, outras eram
Martino a beijando, mas as que mais mexeram comigo, foram as de Larkin
de braços dados com ela. Odiei cada uma, odiei a Letícia por estar em todas,
odiei por não estar em nenhuma e odiei estar agindo como um obsessivo.
Durante o voo de volta para casa, tive que ouvir a playlist horrível da
Valery, enquanto ela lia um desses romances que fazem sucesso. Não
conseguia me concentrar em nada, fiquei durante um tempo olhando para a
tela do meu computador desligado, comecei a prestar atenção na letra da
música que estava tocando no momento.
“...Lembra daquelas paredes que construí, bem elas estão desmoronando.
Elas nem tentaram ficar em pé, nem fizeram um som e eu achei um jeito de
deixá-lo entrar. Mas eu nunca tive dúvida, sob a luz de sua auréola, eu tenho
meu anjo agora. É como se eu estivesse despertando, todas as regras que eu
tinha, você está quebrando. É o risco que eu estou correndo...”.
Reconheço a voz da interprete, Beyoncé, mas não sei o nome da música.
— Valery, que música é essa?
— Halo da Beyoncé. Gostou? — Ela vem desfilando e senta no meu colo.
— Que tal irmos para o quarto no fundo do avião para podermos discutir
melhor sobre as suas paredes. — Aproxima-se do meu ouvido. — Que tal a
gente derrubar essa parede de roupas e fodermos até desmaiar? Você está
me devendo, Zach. Nessa viagem, você está distante.
Em outro tempo, ela não teria terminado a frase e já estaria nua no meio
do meu avião e eu a fodendo na frente de todo mundo. Em outros tempos,
quando Letícia ainda não existia. Tiro-a do meu colo, ligo o computador e
volto ao trabalho. A viagem é longa, estou revoltado comigo mesmo por não
conseguir tirar aquela mulher da minha cabeça. E como se não faltasse
mais nada, até as músicas da Beyoncé estão mexendo comigo, daqui a pouco
posso colocar um vestido e ficar de quatro, porque já virei mulherzinha.
Desde que pousamos não saio de casa, mais especificamente, do
escritório de casa, tudo o que tenho que fazer é feito por aqui. Não tenho
dormido porque cada vez que fecho os olhos, o olhar dourado daquela
mulher aparece. Apaguei todas as imagens que tinha dela, todos os áudios,
preciso de distância. Eu não serei dominado por um sentimento medíocre
de ilusão, porque tudo o que se trata de coração é ilusão. Preciso de uma
mulher, urgente. Uma não. Quem sabe duas. Talvez Ethan esteja
organizando uma festinha?
— Então, o senhor O´Brian resolveu aparecer, ninguém tem notícias
suas há quase dez dias. Como está e onde está? — ligo para ele.
— Estou trabalhando em casa. Preciso ir a uma daquelas suas festas.
— A coisa é séria. Primeiro; não faço mais esse tipo de festa. Estou com a
Lorena e não quero que nada dê errado. Segundo; você nunca esteve
desesperado assim a ponto de me ligar. Agora desembucha o que está
acontecendo?
— Preciso me divertir, tenho trabalhado demais. Esquece! Deixa que eu
mesmo arrumo as garotas.
Desligo o telefone para que ele não fale nada que vá botar meus planos a
perder. Repasso todos os nomes dos meus contatos e acho as meninas
perfeitas. Duas morenas de origem latina, cabelos cumpridos, com bocas
que fazem um estrago. Ligo para ambas e mando um carro busca-las.
Enquanto isso, tomo meu whisky, sentado na varanda do meu apartamento
em Manhattan, onde posso ver parte da cidade iluminada.
Quando as garotas chegaram, eu já estava alto. As levei para o quarto de
hóspedes, porque o meu é sagrado, não há motivos para levar fodas
esporádicas lá. Liguei o som e deitei. Logo elas vieram por cima de mim,
cada uma tomando em suas bocas a parte do meu corpo que lhes
convinham.
Em meio a transa, eu não sei que porra aconteceu. A música do The
Weeknd começou a tocar e fui reportado de volta à noite em que transei
com a Letícia. Não vi mais nada a não ser ela, linda como sempre, ao som da
mesma música que a possuí.
— Letícia... — Eu não sei quantas vezes transei com ela, mas tive tudo o
que queria. Dormi exausto, quando o sol nascia trazendo brilho para vida
que provavelmente já não me pertencia mais.
Acordo com cabelos no meu rosto que não eram meus, apalpo e sinto um
corpo em cada lado. Que merda eu fiz? Abro os olhos e vejo as duas
mulheres dormindo tranquilamente. Bastou abrir os olhos para a minha
enxaqueca ou ressaca me atravessar, mal conseguia manter os olhos
abertos. Saí da cama e fui para o banheiro tomar banho, coloquei roupa e
fui achar um remédio ou uma faca, o que achar primeiro.
Encontro a Mag com o rosto vermelho e pelo tamanho da tromba está
zangada. King estava falando ao telefone concentrado.
— Mas está tudo bem com ela? Já está na Grécia então... Ok. Até. — Eu
sei que ele estava falando da porra da mulher que está acabando com a
minha vida.
— Ela está bem? — Sento no sofá, peço café e remédio a Ruth. King ficou
olhando sério para a Mag, até ela se tocar e se retirar.
— A Letícia teve uma discussão séria com o Rossi. Luck me falou que
quando chegou, ela já tinha esbofeteado o cretino e embarcou para a Grécia
ontem. — Ruth traz meu café, água e meus remédios.
— Aquele bastardo merece uma surra. — King espera ela se retirar.
— Zach, até quando você vai levar essa autodestruição adiante? Ela pode
ser a sua chance de ser feliz, mulheres como ela, foi criada para que caras
como nós tenhamos uma chance de redenção. Aquela menina é um anjo
que caiu na sua vida, não seja um bastardo egoísta e bote tudo a perder,
porque a vida vai te cobrar caro por machucar um anjo como aquele.
— Não sei do que você está falando... — Desconverso.
— Sabe, você sabe. Ela foi feita para você, qualquer um enxerga isso. Mas
se você preferir ficar assim deixe-a ir. Ela não merece um cretino como
você.
Ouço vozes alteradas vindo do quarto de hóspedes, King e eu corremos
para lá e vimos as duas moças colocando roupas enquanto a Mag fervia de
raiva e gritava com elas, estava completamente descontrolada. King retirou
as moças e as mandou para casa e eu fui com Mag para o escritório, hoje era
dia para a conversa, mesmo com uma ressaca dos infernos.
Recosto-me na minha cadeira.
— Seu descontrole está passando de todos os limites. Que show foi
aquele? — Ela retira seus óculos e secou as lágrimas.
— Elas me insultaram quando pedi para elas se vestirem porque o
motorista estava esperando-as. Zach eu trabalho para você por tanto
tempo, eu não mereço ser tratada assim pelas suas amantes. — Isso cortou
meu coração. Dei a volta na mesa e peguei sua mão.
— Eu sei Mag e peço desculpas. Você não tem que lidar com as minhas
merdas o tempo todo. — Ela sorri.
— Obrigada.
— Localize o Ted para mim e mande-o vir agora.
— Sim, senhor. — E se retira.
Meu escritório foi projetado entre os dois apartamentos da cobertura. A
parede que fica atrás de mim, é toda em vidro escuro, daqui posso ver outra
parte da cidade. Perco-me nos meus pensamentos, o que King falou mexeu
em alguma coisa em mim que eu nem sabia que existia. É inegável que
tenho um interesse obsessivo por Letícia e só piorou depois de ter sentido
seu gosto, de memorizar cada pedacinho do seu corpo.
— Queria falar comigo, senhor? — Ted aparece na porta.
— Fecha a porta e sente-se. Ted é possível recuperar arquivos excluídos
do celular?
— Na maioria das vezes é. Posso ver o aparelho? — Alcanço para ele,
que mexe, mexe, mexe demais. — É possível sim. Alguma coisa específica,
senhor?
— Não. Recupere tudo e me entregue o mais rápido possível.
— Posso ficar trabalhando aqui? Em pouco tempo já conseguirei
entregar-lhe os arquivos.
— Logo jantaremos. Então corra.
— Não diga uma palavra sobre isso a ele, Mag... — Passando pela sala
ouço King discutindo com a Mag.
— Ele tem que saber afinal King, ele é quem paga todo mundo para
repassar as informações...
— Mulher, você não sabe o que está falando...
— Não dizer nada a quem? — Pego os dois de surpresa. — Mag sorri
enquanto King faz uma careta.
— Luck passa um relatório para o King todo final de tarde. Estava
dizendo a ele que é nosso dever o deixar informado. Já que é o senhor quem
nos paga.
— Podemos conversar em particular, Zach? — King fala a contragosto.
— Vamos para o meu quarto.
— O que você tem para me contar, King? — Sento na poltrona que fica
de frente para a minha cama.
— Antes de qualquer coisa, eu não acho certo a Mag dormir aqui sempre
que quiser. Não concordo que ela tenha livre acesso em todos os cômodos
do apartamento, incluindo o meu quarto e meu escritório.
— De uns tempos para cá você tem ficado incômodo com ela. Por quê? O
que ela te fez? — Ele me olha.
— Mag tem estado estranha, Zach...
— Prossiga. — Ele senta na beirada da cama.
— Luck me envia um relatório no final de cada dia. Nele contém as
informações do que a Letícia fez quem teve acesso a ela, essas coisas. Nós
que somos chefes de segurança, gostamos de ter esses pequenos detalhes,
porque se houver algum problema, as respostas podem estar nesses
detalhes. A Letícia ficou mais tempo do que o esperado na Itália...
Isso me fez pensar que Martino deve ter conseguido alguma coisa.
— Verdade... — Ele balança seu dedo indicador.
— Negativo, não é o que está pensando. Ela precisou ir para Roma fazer
um tratamento para amenizar a dor na costela, ela não podia ter viajado
aquele dia. Depois o Rossi a levou para a sua casa na Sicília, na verdade é
em uma pequena ilha, onde ela pôde descansar por uns dias. E o Larkin
esteve dois dias com ela sem a presença do anfitrião, o que gerou a ira do
italiano, que foi tirar satisfações com a Letícia, acabou nocauteado e ela
com a mão machucada. Agora está com a costela e a mão enfaixada. — Vou
até a vidraça que dá para a parte leste da cidade. Larkin está trabalhando
arduamente para atrapalhar tudo. Isso não dará certo. King continua o
relatório. — Não aconteceu nada entre ela e o Larkin.
— Como você sabe disso? — Ele se coloca ao meu lado.
— Porque todos os chefes de segurança estão com receio de que passem
seus patrões para trás nessa bendita aposta. Então de comum acordo,
passamos relatórios uns para os outros. Zach, eu sei que você acha que ela é
como as outras, só que não é. Ela não quer o empresário, ela quer você, com
suas grosserias, com seus erros. A Letícia não cederá aos outros porque
está apaixonada por você.
— Chega King! Você está velho demais para bancar o cupido e me
conhece muito bem para saber que não acredito em amor ou paixão. Então
esqueça esse assunto. — Ele se afasta.
— Eu vou parar por aqui, só que vou te dar um aviso, deixe-a ir. Seja
homem e saia dessa aposta, você já experimentou para saber o gosto, agora
a deixe viver a vida dela longe de você.
Ouço a porta bater atrás de mim e solto a respiração que nem tinha
percebido que estava segurando. Eu deveria ser homem o suficiente para
deixa-la ir, mas não sou, nem por ela, nem pela aposta. Se ela realmente
estiver sendo sincera e se apaixonou por mim, só tenho que lastimar por
ela, não sou homem de paixões.
Larkin é um bom homem, gentil, educado, quase um santo. Desde que
sua esposa faleceu, nunca foi visto com outras mulheres. Faz o papel do
bom moço solitário, é o sonho de consumo de qualquer sogra na face da
Terra. É o homem ideal para Letícia, ele poderia dar amor, casamento,
filhos, tudo o que ela deseja. Só tem dois problemas nisso, um, ele não sou
eu. Dois, ela não é dele. Sou egoísta, eu não vou deixa-la ir e vou tê-la
novamente quantas vezes forem necessárias para satisfazer meus desejos.
No jantar, Ted me dá um cartão de memória com os arquivos
recuperados. Já deitado na minha cama, acho o arquivo de áudio com a
risada dela. Não me contenho e sorrio diante daquele som que de alguma
maneira me conforta, me faz sentir... Em casa.
Capítulo 21
Minha noite de sono foi tranquila, levantei de bom humor como não
acontecia há muito tempo. Acordei disposto a dar uma chance a essa coisa
com a Letícia, seja lá o que for. Só de pensar nela, sorrio. Sentei a mesa para
tomar café e Mag entra com pastas em seus braços.
— Bom dia, Mag. Já tomou café?
— Ainda não.
— Sente-se e coma. Enquanto isso me conta o que está te deixando com
essa carinha séria.
— Eu não sei se devo contar senhor. — Agora ela ganhou toda minha
atenção.
— Tome seu café e vamos para o meu escritório. Você vai me contar seja
o que for. — Entramos no escritório, fecho a porta e a sento no sofá a minha
frente. — Diga-me tudo do assunto que for Mag.
— É sobre a senhorita Letícia. — Pego uma cadeira e sento rosto a rosto
com ela.
— Conta de uma vez.
— Eu sei que King contou o que tinha naqueles relatórios, mas não
posso omitir alguns detalhes que ele deixou de fora, como a visita do
senhor Liam Larkin. Fiquei curiosa com os relatórios que o King recebia do
Luck todos os dias e quando li que o senhor Larkin esteve lá, pedi a um
amigo detetive para investigar o ex-marido dela. Quando recebi os
relatórios, fiquei chocada com o que tinha lá, depoimentos de vizinhos e
familiares dele, o que ela tinha feito para causar a separação. — Alguma
coisa estava me dizendo que isso não era bom. Minha voz saiu em um
sussurro.
— E onde estão esses documentos, Mag? — Ela me entrega uma pasta.
— O profissionalismo dela é incontestável, mas ela não é o anjo que
aparenta ser. Meu santo nunca bateu com o dela, mas achava que era por
cautela. Hoje, tive a certeza de que ela não é uma pessoa boa, é falsa e
dissimulada. — Mag coloca sua mão sobre a minha — Eu me preocupo com
você, Zach.
— Obrigado, Mag. Agora vamos trabalhar.
Volto para o quarto, tranco a pasta no cofre. Coloco um terno e vou para
o escritório. Se a Letícia é uma mau caráter como Mag insinuou, King me
deve explicações do porque esse protecionismo para cima dela. Alguma
coisa não se encaixa, eu vi sinceridade nos olhos da Letícia, será que ela era
tão boa atriz assim, a ponto de me enganar?
Passei o dia no escritório debruçado sobre a documentação da obra da
Paradise. A todo o momento me pegava pensando no que Mag havia me
contado e cada vez tenho mais certeza de que não estava errado em relação
a Letícia. Ela não é diferente das outras...
Quando voltei para casa dei ordens para ninguém me incomodar e me
tranquei no quarto com uma garrafa de whisky. Pego a pasta, encho um
copo, sento na poltrona e a giro para ficar de frente para a cidade. Seja o
que tiver aqui dentro, sei que ela pagará muito caro por posar de boa moça
para mim. Primeiro olho o selo de autenticação, como todo bom escritório
de investigação deve ter. Depois abro a pasta e na primeira página tem a
foto com o nome do ex-marido, João Paulo Azevedo, 33 anos, casado, dois
filhos.
Precisei encher outro copo para continuar. As próximas páginas
contavam sobre o relacionamento deles. Segundo diz aqui, Letícia sempre
foi uma mulher empenhada no trabalho, mas gostava de gastar demais, seu
marido trabalhava somente para pagar suas contas. Ela ganhou um carro
de aniversário e dias depois o vendeu sem avisar o cara.
O pobre coitado foi enrolado direitinho pela safada. Ele a pegou com um
amante na própria cama e ainda a perdoou. Idiota. Ela não se conformou e
continuou sua vida devassa paralelamente, até o dia em que ele se cansou e
saiu de casa sem dar satisfações, deixando tudo para trás. Dias depois a
mãe dele aparece para ver como ela está e vê a casa arruinada, ela destruiu
até a televisão que não estava paga ainda.
Depois disso ninguém mais soube dela, lógico que não, Letícia tinha que
achar outro infeliz para fazê-lo de otário e arrancar seu dinheiro. Terminei
de examinar a papelada depois de uma hora e meia, esvaziei a garrafa para
conseguir chegar ao final dessa história imunda. Mau caráter não a
descreve, ela é um demônio que por onde passa traz a ruína.
Para aquela puta dos infernos, a Vitrine não passou de um meio de
chegar até os idiotas ricos. Segurou a máscara de boa moça para conseguir
agarrar um rico e roubar, direitinho. Desgraçada! Eu deveria ter confiado
mais em meus instintos. Mas ela não perde por esperar, vou conquista-la,
ganhar a porra da aposta, expô-la para aqueles tarados e desmascara-la na
frente de todos. Não a quero na companhia, não a quero perto de mim e
perto de nada do que é meu. Levanto da poltrona, tonto com tanta
informação e jogo meu copo na parede de ódio por aquela mulher. Como eu
pude ser tão idiota?
Agora tenho que acertar contas com King. Saio pelo apartamento à caça
dele e o encontro em seu escritório. Sento-me na cadeira de frente a ele.
— Vamos conversar Kingston. — Ele me olha.
— Sobre o que? — Jogo a pasta em cima da sua mesa.
— Sobre isso. — Ele pega, abre a pasta e passa algumas folhas.
— Isso aqui não deve ser verdade... — Dou risada.
— Será mesmo? Deixa eu te contar uma coisa, tenho certeza que é
verdade. Eu só quero saber por que você a defende tanto? Ela está saindo
com você também? Sabia que estava defendo uma vagabunda?
— Se há uma coisa que eu conheço na vida, são pessoas boas, de bom
coração. Eu não tenho dúvidas quanto à índole da Letícia, mas duvido de
quem fez esse dossiê, que por sinal, nem profissional é. Outra coisa, eu não
vou permitir que você fale assim dela...
— Você é mais ingênuo do que eu pensei, não está vendo que ela não
passa de uma boa atriz? Safada, golpista, interesseira, não passa de uma
vagabunda...
— Seu bastardo de merda, lava sua boca para falar dela, entendeu? — E
me solta novamente na cadeira. — Eu sempre serei leal a você, Zachary.
Independente de qualquer coisa ou situação, eu sempre estarei ao seu lado.
Vou continuar meu trabalho como seu chefe de segurança, mas a partir de
hoje Lennon e Mike serão seus guardas costas permanentes, eu estarei
trancado aqui todo o tempo coordenando tudo.
— King... — Ele pega a pasta e joga de volta para mim.
— O dia que você confiar em mim ou na minha equipe de verdade, nós
podemos conversar novamente. Até lá, serei somente seu funcionário. E
não se esqueça de ligar para essa firma de investigação e pedir seu dinheiro
de volta, o serviço foi muito mal feito. Se me der licença, tenho que verificar
alguns documentos.
Ele baixa a cabeça e pega um papel para ler, me ignorando
completamente. Não era essa conversa que eu queria, King é o meu melhor
amigo, mas não é justo ele viver na fantasia de que a Letícia é aquele anjo
que ele imagina. Eu confio minha vida a Kingston, ele é o meu melhor
amigo, não é certo que essa mulherzinha abra esse abismo na minha
equipe. Inferno!
— Posso servir o jantar, senhor?
— Não vou comer. Boa noite, Ruth — Vou até o bar e pego uma garrafa
de vodca, vou para o meu quarto, me divertir com a minha amiga vodca, até
ela me dar doces sonhos com lindas mulheres.

——ooOoo——

Os dias se passam e eu tenho um plano perfeitamente confabulado para


conquista-la novamente. Eu soube que ela ficou oito dias na Grécia, teve
que voltar ao Brasil por mais um monte de dias e chegou a Manhattan há
dois dias. Ela e Lorena estão hospedadas no apartamento do Kevin, três
andares abaixo do meu. Cooper me decepcionou, ninguém emprestaria um
apartamento desse para usufruto de um funcionário, a não ser que esse
funcionário lhe dê algo mais que boa produtividade.
Ethan virá buscá-las para jantarem em um restaurante badalado da
cidade e me convidou. Está na hora de colocar meu plano “Bye Bye Letícia”
em ação. Sei que ela gosta do meu corpo, então escolho uma calça jeans
ajustada e uma camisa mais justa na cor lilás. Vou ao lugar e sou escoltado
até a mesa onde eles estavam sentados. Ela sorri quando me vê, mas logo
seu sorriso desaparece.
A boneca Lolo também não está muito feliz em me ver, mesmo assim
vou até ela e a beijo na testa.
— Como vai, boneca Lolo?
— Estou bem e você?
— Vou ficar melhor se a sua amiga me cumprimentar. — Dou meu
melhor olhar para ela e falo no seu ouvido. — Como está, Letícia?
A pele dela se arrepia e a respiração muda. Ela responde em um
sussurro.
— Estou bem.
— Vamos pedir de uma vez. Estou faminto.
— Como está sua costela? Eu soube que também machucou sua mão. —
Fizemos o pedido e enquanto esperamos, puxo conversa com Letícia. Ela
mostra a mão com unhas impecáveis pintadas de vermelho.
— Tanto minha costela quanto minha mão, estão ótimos. Obrigada pela
preocupação, senhor O´Brian.
— Zachary ou Zach...
— Prefiro senhor O´Brian. — Observo-a. Ela sabe ser boa atriz, eu
também sei ser um bom ator.
— Eu queria conversar com você sobre o que aconteceu em Abu Dhabi.
— Faço cara de cachorro que caiu da mudança. — Por favor, me dê a
oportunidade de explicar. — Ela me analisa.
— Ok. Só marcar o dia.
— As obras começam segunda-feira, estão ansiosos como eu? — Ethan
chama a gente para a conversa geral.
— Não! — Tanto eu quanto Letícia respondemos juntos. Ethan faz uma
careta.
— Não? — Ele olha para a Lorena que está sorrindo. — Viu esses dois?
Não estão empolgados. Vão à merda. Os dois.
— Eu não estarei presente. Estou em outro projeto e esse merece minha
atenção nessa etapa, mas a Lorena e o Kevin estarão lá.
— Para mim já basta. — Ethan diz e beija a boneca. — Não que você não
seja importante, Letícia. Mas ela é a mulher da minha vida.
As duas ficam claramente emocionadas. Não, a Lorena fica emocionada,
aqueles olhos brilhantes da Letícia são para o dinheiro do Ethan que ela
alcançará através da amiga inocente dela.
— Teremos um casamento em breve? — Falo com ironia.
— Sim. Algum problema? — Ethan não gosta e responde
grosseiramente. As coisas ficaram um pouco tensas. Levanto as mãos em
sinal de rendição.
— Não. Nenhum. Fico muito feliz pelos dois.
— Ethan, ainda não se acostumou ao sarcasmo do senhor O´Brian? —
Letícia fala rindo.
— Isso me machucou, princesa.
— Menos, bem menos. Ninguém te machuca, Mister Ego.
Durante todo o jantar não tirei meus olhos de Letícia, a filha da puta
estava linda. Uma saia rodada curtinha branca, uma blusa de renda verde
clara e saltos pretos. Imaginei todas as posições que a colocaria, tiraria toda
a sua roupa e a deixaria somente com os sapatos.
Ela me olha com seu olhar dourado e falsa ingenuidade. Não suporto
tamanho cinismo e quebro o olhar. Há uma parte de mim, lá no fundo, bem
lá no fundo que se nega a acreditar que ela seja a mulher que estava
descrita naqueles papéis. Meu corpo não se controla em sua presença e
minha cabeça viaja nas imagens daquela noite em que a tomei. Merda!
— Aceita uma carona, Letícia? Estamos indo para o mesmo lugar. — Na
porta do restaurante soube que a Letícia dormiria sozinha no apartamento
do Cooper, Lorena iria ficar com Ethan.
— Ótimo! — Ela beija a amiga no rosto. — Até amanhã, crianças. Juízo. E
você senhor O´Brian, cuide-se, não esqueci o que aconteceu nas Arabias.
— Cadê o King? — Lennon encosta o carro e Mike abre a porta para nós.
Ela olha para o novo segurança e para mim.
— King agora fica só no QG. E cadê os seus seguranças?
— Hum. É só o Luck e hoje é noite de folga dele.
— Nossa princesa tem tendência de se machucar. Vamos protegê-la. —
Passo o cinto por ela e fecho-o. — Conte-me seus planos para os próximos
dias.
— Tenho que assinar alguns papéis da transferência do imóvel que
comprei amanhã pela manhã. E depois de amanhã, na sexta-feira, irei a
Thorton Holding Internacional...
— Na Holding? Fazer o que? — Estranho eu não saber que ela tem
compromissos na minha empresa.
— Tenho que assinar alguns papéis da Paradise. Não sabe o que acontece
nas suas empresas, senhor O´Brian?
— Parece que não. — Foi minha vez de olhar para fora. Por que a Mag
não me falou nada? A partir de amanhã as coisas mudarão. Nunca fui
relapso com meus negócios, sempre estive a frente de tudo e não pretendo
mudar. — E depois daqui vai ver um projeto onde?
— Em São Paulo. Ethan vai para o Rio e vou de carona.
Boa oportunidade para ir ao Brasil e dar mais um passo do meu plano. O
carro estaciona na frente do prédio. Mike abre a porta para mim e eu
estendo a mão para ajudar Letícia a sair.
— Também embarco no sábado à noite. Primeiro vou ao Rio de Janeiro
para me instalar na nova casa e depois vou para o Ceará. Por falar em casa
nova, poderia me ajudar a contratar empregados? Ninguém melhor que...
— A casa já conta com um quadro de funcionários que entraram nas
negociações. Sua casa está pronta para recebê-lo.
— Desculpa Letícia. Mas vi todas as minhas despesas e planilhas dos
imóveis e não constava nada a não ser a segunda e última parcela da
compra da casa. — O elevador para no andar dela e eu seguro a porta.
— Você tem que ver isso com o seu financeiro ou com a Mag, é para ela
que mando os e-mails com a documentação e os recibos. Você me deu uma
boa comissão pela compra da casa, que dispensei, cheguei a enviar um e-
mail para sua assistente dizendo que eu iria devolver. Como não houve
resposta por parte de vocês, paguei a empresa que administra os
funcionários da casa. — Ela coloca a mão no meu braço. — Eu tenho toda a
documentação em casa. Assim que estiver no Brasil, ligue-me e levarei tudo
até você.
— Obrigado. Podemos conversar amanhã? Comemorar sua casa nova?
— Pego suas mãos e as beijo com real agradecimento. Ela acena que sim.
— Boa noite, senhor O´Brian. — Solto a porta do elevador e vou até a
cobertura.
— Boa noite, Zach. — Assim que saio do elevador a porta do meu
apartamento se abre, King estava à minha espera. — Estava com a Letícia,
você não falou nenhuma merda para ela, falou? Juro por tudo o que é mais
sagrado que te...
— Não, King. — Balancei a cabeça. — A Letícia está salva, pelo menos
por enquanto. Sabe se Mag está?
— Não sei. Boa noite.
Desde aquela conversa, eu não tenho mais meu amigo, até nisso aquela
infeliz se meteu. Vou para o meu quarto colocar meus pensamentos em
perspectiva, porque definitivamente há alguma coisa de errado.
Sem sono, volto para o escritório e repasso alguns balanços e realmente
não tinha nada. Estranho, como eu não percebi antes?
Capítulo 22
Não preguei os olhos essa noite. Estou cansado e meu humor voltou ao
nível zero. Dispenso o café da manhã e fui direto ao escritório do King, abro
a porta e o encontro de frente para as telas. Assim que percebe minha
presença, ele se levanta.
— Bom dia, chefe.
— Bom dia. Podemos conversar como amigos? — Ele acena que sim e eu
continuo a falar. — Ontem na minha conversa com a Letícia, fiquei sabendo
que ela tem um horário na Holding amanhã para assinar alguma coisa. Mais
tarde eu soube que a Letícia vem cobrindo os salários dos funcionários da
casa do Rio. King, eu trabalho dia e noite, conheço cada detalhe das minhas
empresas, sei até a fração de variação por dia de cada ação, por que eu não
sabia dessas coisas?
Ele não toma café pela manhã, somente leite. É engraçado a gente ver
um grandalhão desse, com uma caneca do Batman, tomando leite.
— Quem cuida desses assuntos? Por que até onde eu sei, a Letícia ficou
responsável pela casa do Rio e Mag que lidava diretamente com ela.
Quando cheguei na casa para fazer as entrevistas, nenhum funcionário
tinha conhecimento da minha chegada. Tive que ligar para a Letícia, que
estava na Itália, para resolver isso e eu entrar na casa.
— Será que a Mag está tendo problemas e não quer nos contar nada?
— Maggie trabalha para você há mais ou menos seis anos, não é? Não
tem notado nada de diferente em seu comportamento?
— Não notei nada. Ela é uma excelente assistente, sempre foi muito
competente e é leal a mim, isso é o que importa. — Quando se é quem eu
sou e tem o que eu tenho, temos dificuldades de encontrar bons
funcionários que não querem tirar proveito da nossa intimidade. Mag
nunca errou comigo. — Ela está com problemas... — Ele começa a rir.
— Cego de tudo. Mag é negligente quando se trata somente da Letícia.
Não é problema, é ciúme! Não é de hoje que falo que ela anda estranha.
Chama o Ted e manda ele abrir o e-mail dela para ver se ela tomou
conhecimento ou não sobre as informações que a Letícia lhe passou.
— Eu farei isso agora de manhã. Obrigado por me ouvir. — Estendo a
mão para ele. — King a aperta.
— Sempre ao seu dispor, chefe.
Sigo para o escritório e já passo instruções ao Ted e Joe, quero tudo
pronto quando chegar lá. Ligo para Ruth e peço para ela fazer um lanche da
tarde especial para duas pessoas e servir no terraço. Ligo e peço ao King
que não permita ninguém em casa depois do almoço e para ele dizer a
Letícia me encontrar na cobertura às dezesseis horas. Hoje tenho que dar
mais um passo do meu plano em relação a Letícia.
Quando chego a minha sala, Ted já está a postos me esperando e Mag
reclamando.
— Mag, o que diabos você já está reclamando à uma hora dessas? —
Coloco minha pasta em cima da mesa.
— Ele não pode entrar aqui e ficar sem permissão. — Ela fala irritada.
Minha cabeça está doendo demais para ficar ouvindo reclamações.
— Foram ordens minhas Mag. Agora nos dê licença. Assim que Joe
chegar, mande-o entrar direto. Não quero ser interrompido em hipótese
alguma. Entendeu?
— Sim, senhor — Ela arruma seus óculos e se retira.
— Agora você, garoto dos computadores. Conseguiu o que pedi?
— Isso é como tirar um doce de um bebê para mim. Então, todos os e-
mails enviados do Brasil foram lidos, todos, sem exceção. — Ele estica o
braço e me entrega alguns papéis. — São as cópias dos e-mails. Entrei na
conta da senhorita Barros e identifiquei que ela transferiu para a Holding,
sessenta e cinco por cento do valor que a Holding repassou a ela. O que
restou ela transferiu para uma empresa de serviços...
Joe entra me trazendo os papéis que a Letícia virá assinar amanhã. Tudo
está a cargo da Mag, por que essa garota está negligenciando isso? Não
pode ser ciúmes, ela nunca correu risco de ser substituída. Repasso alguns
documentos com Joe e Ted, passamos do almoço revisando números, até eu
me sentir no controle novamente.
— Venha a minha sala. — Chamo Mag. Ela entra e aponto a cadeira para
ela. — Mag, você sabe que é importante para minha equipe, não sabe?
— Sim senhor... — Mexo em alguns papéis.
— Por que eu não tomei conhecimento sobre a negociação da
propriedade no Brasil? — Ela me olha com espanto.
— O senhor tomou, assim que assinou os documentos eles foram
reenviados à Letícia.
— Você sabia que a casa já tinha um quadro de funcionários contratado?
— Pergunto analisando-a. Ela ajusta os óculos no rosto.
— Sim, sabia. Mas tomei a liberdade de investigar a empresa e cada um
dos funcionários. Não vou repassar um dólar para a Letícia sem saber quem
está lá. — Ela tem um ponto. Levanto, pego meu terno e vou em direção a
porta.
— Mais uma coisa, por que eu não soube que ela viria a empresa assinar
documentos da Paradise? — Ela também se levanta.
— Quando chegamos de Abu Dhabi, o senhor pediu que não o
incomodasse com assuntos pequenos. São documentos de rotina, todos os
sócios devem assinar.
Não sei por que duvidei da Mag, ela é muito competente e leal.
— Obrigado.
Lennon é minha sombra agora, mas admito que está difícil de me
acostumar, esse era o lugar do King. Mike me aguarda na frente da empresa
com a porta aberta, entro e vamos para o meu apartamento. Estou ansioso
para encontrar a Letícia, quero saber as histórias mirabolantes que ela irá
me contar. Esse plano só tem uma falha, eu não resisto a aquela mulher, é
como se ela tivesse poder sobre o meu pau.
O trânsito estava um caos, demoramos mais do que de costume e acabei
me atrasando para o encontro. Entro no apartamento e pergunto para Ruth
se está tudo em ordem.
— O lanche será servido assim que o senhor mandar. Estarei na cozinha
esperando suas ordens. O King recebeu sua visita e a levou para o jardim de
inverno enquanto o senhor não chegava.
— Obrigado, Ruth. Já sirva o lanche, por favor. — Com King fazendo sala,
corro para tomar um banho e tirar essas roupas pesadas. Faço tudo em
tempo recorde e vou de encontro a princesa. Esbarro em King, que está
saindo do jardim. — Há mais alguém aqui além de você e Ruth? —
Pergunto.
— Há os seguranças no hall, devidamente instruídos para que ninguém
passe. — Ele me para com sua grande mão, porque é grande pra cacete e
diz: — Pensa bem o que você vai fazer a ela e lembre-se, você é meu chefe,
mas isso não significa que não farei o mesmo que você fizer a ela. — King
arruma seu terno e se vai.
Quando decidi unir os dois apartamentos que compõe a cobertura, fui
contra a ideia do arquiteto em fazer esse jardim de inverno que fica do lado
oposto ao escritório. Para que eu queria um jardim de inverno? Hoje, vendo
Letícia sentada no banco, não tive dúvidas que tê-lo feito, foi a decisão
certa.
— Desculpe-me. O trânsito estava parado e acabei me atrasando. —
Aproximo-me e a beijo no rosto.
— King me fez companhia e ficar aqui, nesse jardim, é um presente. —
Sento ao seu lado e ela se afasta como não a quero longe, passo meu braço
por trás de seus ombros.
— Então, podemos comemorar a casa nova?
— Sim. — Essa resposta monossilábica diz que ela não está à vontade
comigo e eu preciso que ela fique, assim facilita a volta dela para minha
cama.
— Quero te pedir desculpas pelo que aconteceu em Abu Dhabi... — Ela
baixa a cabeça e eu levanto seu rosto com um dedo sob seu queixo. — Olha
para mim, anj... Letícia. Eu fiquei atordoado com o que você me falou e
acabei me expressando de maneira errônea. Eu não me arrependi de ter
transa... feito amor com você, em nenhum momento se quer. Mas depois,
me toquei que você estava machucada e te obriguei a fazer esforço, isso foi
o motivo de eu ter ficado mal humorado, esse foi meu único
arrependimento.
— Desculpa pelo meu chilique, eu também passei dos limites. — Minha
vontade é de beijá-la, rasgar peça por peça da sua roupa, jogar na minha
cama e fodê-la em cinquenta posições diferentes.
— O lanche está servido... — Ruth aparece.
— Oi, Ruth — Letícia se levanta sem equilíbrio e eu a seguro. Quando se
recupera vai cumprimentar minha governanta.
— Você não tem comido direito, Lê. Tem que se cuidar. — Isso me deixa
com a pulga atrás da orelha, como ambas sabem quem são?
— Está doente, Letícia? E de onde se conhecem?
— Eu tive uma intoxicação alimentar alguns dias atrás, desde então, meu
estômago não aceita muita coisa. No dia que cheguei a Ruth teve o
desprazer de ficar trancada comigo no elevador. Depois ela ajudou com as
bagagens, eu estava muito fraca e ela teve compaixão de mim. — Ruth é
uma senhora de quarenta e sete anos, trabalha comigo há mais de dez. Ela e
King são meus pilares.
— Então você sabia que eu morava aqui?
— Soube que você morava aqui no dia seguinte, quando a Ruth mandou
King me levar uma canja. — Essa mulher é muito ardilosa. Ela abraça Ruth.
— Mais uma vez obrigada, Ruth.
— Quer que eu chame um médico? Você está pálida. — Puxo a cadeira
para ela, que balança um não com a cabeça. Ninguém no mundo pode
simular estar mal dessa maneira, eu acredito que ela não esteja mesmo
bem. Talvez, esteja começando a pagar pelos seus pecados. A mesa está
farta, tem tudo o que eu gosto. Minha barriga roncou. — Estou faminto.
Passei o dia apenas com café e água.
Durante a refeição falamos sobre o início das obras, a casa do Rio e
outras amenidades. Não deixei de tocá-la em momento nenhum, no começo
ela se incomodou, depois acabou acostumando. Eu havia esquecido como é
divertido conversar com ela, mulheres com bom humor são excelentes
companhias. Quando a noite caiu, fomos para a sala, ela estava com ar de
cansaço, a sua fragilidade era evidente.
— Eu ainda sinto seu gosto na minha boca. — Ela me encara e foco na
sua boca. Ela recostou sua cabeça no sofá e eu, em um impulso, acaricio seu
rosto. Passo meu nariz pelo seu pescoço, seu perfume é suave, mas não
menos marcante. — Estar dentro de você foi a melhor sensação que já tive
na vida.
Tomo sua boca sem pedir licença ou permissão. Meu autocontrole vai
pelo ralo quando estou com ela. Sua pele, seu cheiro, seu gosto, tudo o que é
referente ao seu corpo me deixa louco! Ela geme na minha boca, o que me
atiça ainda mais. Letícia se afasta, ficando de pé e fica tonta novamente,
apresso-me para segurá-la.
— Sente-se aqui, anjo. — Ela insiste em ficar de pé e sai do meu braço.
— N-não, obrigada. Vou para casa. — Letícia sai apressada e vai para o
lado errado.
— Desculpa pelo beijo... — Alcanço-a e a escolto até a porta, chamo o
elevador.
— Não fala nada, por favor... — As portas do elevador se abrem e ela se
vai.
— Algum problema, King?
— Só estou tentando entender porque você está fazendo isso. Para você,
ela não passa de uma safada interesseira, porque está a cercando, Zach? —
Aproximo-me dele e o encaro.
— Eu é que não entendo o porquê dessa superproteção em relação a ela.
Por que, King? Diga-me, está apaixonado por ela? Letícia o seduziu? — Ele
ri.
— Cada dia que passa Zachary, você consegue ficar mais imbecil. Você
tem seus pais vivos, não sabe o que é perder ninguém próximo, nasceu
tendo tudo. Ela perdeu todos muito cedo, a vida dela foi complicada. Não
precisa estar apaixonado para querer proteger os amigos, você sabe disso.
Mesmo sendo um bastardo filho da puta, você é meu melhor amigo, Zach,
eu o protegeria com a minha vida, mesmo você sendo o maior cretino da
Terra. Eu vi aquela menina chorar e nada vai tirar essa imagem da minha
cabeça, ela parecia uma menininha perdida. — King se levanta. — Falar
esse tipo de coisa para você é perda de tempo. Você nasceu com um
Napoleão na barriga, nunca vai entender.
— Ela pode não ser quem você pensa... — Digo. Ele abotoa seu terno.
— Ela é exatamente o que eu penso. Uma pobre infeliz que teve o
desgosto de cruzar o seu caminho. Só isso já é punição o suficiente para
qualquer alma.
— O jantar está servido. — Conheço Ruth como ninguém, as suas rugas
na testa mostram que ela está descontente com alguma coisa. Deve ter
escutado a conversa.
— Boa noite, Zach — Mag entra sem ser anunciada. Ela não olha para
King e nem para Ruth, que também a ignoram. — Estou cansada de esperar.
Os seguranças não permitiram a minha entrada até segunda ordem. O que
estava acontecendo aqui?
— Nada da sua conta, Maggie. — Ela sorri como se não tivesse mais
ninguém na sala.
— Pelo cheiro, o jantar está servido. Estou morrendo de fome! — Ruth
revira os olhos e King sai da sala. O mundo resolveu enlouquecer? Eu não
vou ficar no meio disso.
— Ruth, sirva meu jantar no quarto.
Dormi pensando naquele beijo, que não sai da minha cabeça e o cheiro
dela que não se dissipa do meu nariz. Seja o que aquela mulher fez, ela me
tem e guardar esse segredo não é fácil. Estar perto de alguém que você
daria a vida e disfarçar com indiferença está ficando insuportável. Tenho
necessidade de Letícia.
Tarde da noite, sinto puxarem minha coberta e um corpo macio
encostar-se ao meu, mãos passeiam pelo meu corpo e pés quentes alisam
minhas pernas.
Letícia...
Sonolento, viro-me e puxo aquele corpo para perto do meu, a abraço
forte para ela não escapar. As mãos voltam a tatear meu corpo até
encontrar meu pau, que já está duro, pensar em Letícia, o deixa assim.
O desejo é intenso, as mãos macias acariciando meu membro me faz
gemer. Ela encosta sua boca no peito e vai descendo, trilhando seu caminho
com a língua e meus gemidos ficando cada vez mais alto. Antes que ela me
tome em sua boca, quero beija-la, fazê-la minha. Puxo-a para cima, vou me
aproximando até sentir sua respiração.
— Cada dia que passa, te desejo mais, Letícia. — Beijo-a com força para
sentir seu gosto...
Empurro quem quer que seja que esteja ali ao meu lado, porque não é
Letícia. Acendo a luz do abajur e vejo Mag nua. Merda! Merda! Merda!
— Mag, Mag, Mag. Cubra-se pelo amor de Deus.
— Zach, eu sei que você me deseja. — Ela é louca.
— Meu Deus, de onde você tirou isso? — Ela deixa o lençol cair, seus
pequenos seios de fora.
— Eu sinto... — Vou ao banheiro, enrolo-me em uma toalha e pego o
roupão. Volto para o quarto e jogo para ela.
— Cubra-se e saia da minha cama. — Ela faz o que eu mando.
— Zach, você me quer, eu senti seu pau duro. Você me deseja.
— Eu te chamei pelo nome de outra. Qualquer mulher no mundo teria
surtado com isso...
— Zach...
— Cala a boca, Mag!
— Está tudo bem, Zach? — King bate na porta e pergunta. Abro a porta
para ele ver com seus próprios olhos.
— Não, não está bem. Mag vem invadindo meu quarto há algum tempo,
mas hoje ela passou de qualquer limite. — Ela surta e começa a gritar.
— Você está tão cego por aquela puta que não consegue enxergar que eu
sou perfeita para ficar ao seu lado. Eu sou apaixonada por você desde...
Sempre!
— Eu avisei. Estranha. — King olha para mim. Tenho que tomar
providências.
— A partir de hoje você está proibida de passar a noite aqui nesse
apartamento, Mag. Também a proíbo da livre circulação, aqui é minha casa,
minhas regras e eu ainda mando nessa porra, só virá aqui quando eu
solicitar. Ainda a quero como minha assistente, mas de agora em diante
haverá limites. Esquece esse sentimento que acha que sente por mim e eu
vou tratar de esquecer o que houve aqui. King vai providenciar sua ida para
casa. Até amanhã, senhorita Carlson.
— Eu avisei. — King fala antes de sair. Mostro o dedo do meio e ele sai
rindo.
Capítulo 23
— Podemos conversar Zach? — Estava tomando café, quando Ruth se
aproxima.
— Sempre. — Aponto a cadeira para ela. Ruth é importante para mim,
em alguns momentos difíceis, foi ela quem segurou minha mão.
— Eu trabalho com você há algum tempo e lhe tenho como um filho.
Sempre que precisou e mesmo quando achava que não precisava, estive
perto de você. Eu te amo como se tivesse saído de mim...
— Eu sei e sou eternamente grato por isso. Por mim, você já teria se
aposentado e ido morar na casa que te dei em Long Island. Mas você é
teimosa. — Ela sorri.
— Ontem eu ouvi sua conversa com o King sobre a Letícia e fiquei muito
chateada em saber que você pensa aquilo dela. — Solto a sua mão.
— Ruth...
— Não, Zach. Deixa-me falar, serei rápida. — Eu aceno e ela continua. —
Aquela menina não é o que você falou, pode ser um pouco intransigente às
vezes, eu conheço mulher de negócios à distância. Mas não é por mal, foi
assim que a vida as ensinou ser. Você disse para o grandão que, talvez ela
não seja quem ele pensa e repito a mesma coisa a você, ela não é quem você
pensa. Você é um homem poderoso, pode fazer o que quiser, por que você
mesmo não tira a vida dela a limpo? Era só o que eu tinha para te dizer.
Com licença. Tenha um bom dia.
— Bom dia, senhor empata-sono.
Alguma cosia me impulsiona a descer e bater na porta do apartamento
dela. É cedo, provavelmente está dormindo. Estou prestes a virar as costas,
quando a Lorena abre a porta de pijama. Sorrio e lhe dou um beijo na testa.
— Bom dia, boneca Lolo. A Letícia está acordada?
— Graças a Deus não. — Franzo a testa.
— Algum problema? — Lorena responde bocejando.
— Ela passou a noite vomitando e está muito fraca. Dormiu faz pouco
tempo.
— Chamaram um médico? — Tiro o celular do bolso para ligar se for
necessário.
— Consultamos um médico antes de embarcarmos para cá. Ele disse que
era uma intoxicação alimentar e ela teria alguns dias ruins. O problema é
que esses dias estão demorando a passar.
— Ontem lá em casa, ela teve tonturas. É normal? — Ela escora na porta.
— Por causa da fraqueza. Mas ela já está melhor, Zach, consegue comer
uma refeição inteira antes de colocar para fora. — Tiro um cartão com
meus contatos e entrego para ela.
— Se precisar de alguma coisa, me chama. A Letícia tem que assinar
alguma coisa na empresa, eu vou mandar trazerem para que ela não
precise sair de casa.
— Serei grata.
Vou para empresa enfrentar o dia que está por vir. Tomei todas as
providências necessárias para que as obras iniciem na segunda-feira sem
imprevistos e isso tomou quase meu dia inteiro. Mandei Joe levar a
documentação para que Letícia assinasse em casa. Quando estava prestes a
ir embora, Ethan é anunciado e peço que ele entre. Ele está com cara de
cansado, barba por fazer, com a roupa amassada, dando a impressão de que
está com ela há muito tempo.
— Bom dia, E. Por que você está assim?
— Passei a noite bebendo no escritório. — Inquieto, responde.
— Por que, E? Qual é o problema?
— Vou pedir Lorena em casamento. — Ele tira uma caixinha de veludo
azul escrito Tiffany & Co.
— Não acha cedo demais?
— Eu sou um homem de trinta e poucos anos que nunca encontrou
quem o fizesse se sentir em casa cada vez que sorri. Eu comecei a acreditar
em felizes para sempre, desde o primeiro beijo.
— Acho loucura, mas se isso é o que você quer, vá em frente.
— Só tem um problema.
— Qual?
— Eu preciso sair da aposta. Não! Melhor. Eu preciso que essa aposta
seja desfeita.
— Nem pensar!
— A Lorena e a Letícia nunca me perdoarão se souberem que participei
disso. Eu vou pedir a Lolo em casamento quando estivermos no Brasil, não
quero ser atormentado mais por essa merda de aposta.
— Lorena nunca saberá. Ninguém nunca saberá. — Vou até o barzinho
do escritório e encho dois copos com whisky. Entrego um a ele
— Eu vou saber. Como você consegue olhar para ela e não sentir
remorso? A Letícia não é qualquer uma Zach.
— A Letícia não é o anjo que todo mundo quer que ela seja. Letícia é
como qualquer outra mulher, safada e interesseira.
— Nunca mais fala assim dela, seu bastardo. — Ele solta o copo no chão
e me dá um soco no rosto. — Você acima de todos deveria protegê-la da
merda que está por vir e não desrespeitá-la dessa maneira.
— Você é outro iludido por ela, Ethan. — Lennon e Kaleb entram na
minha sala e se colocam entre nós dois. Sinto algo escorrer do canto da
minha boca, passo a mão e vejo que é sangue. — Você não sabe o que eu sei,
não sabe nada da vida dela. Eu não vou desfazer nada, essa aposta vai até o
final e acabou. Você mesmo idiota, amarrou de uma forma que ninguém
pode fazer nada.
— Se a Lorena souber disso, eu mesmo te matarei. — Ele vira as costas e
sai do meu escritório. Mag entra correndo com gelo.
— O senhor Scott está louco.
— Lennon, avise ao motorista que estou pronto para ir.
Pego minhas coisas, entrego a bolsa de gelo para Mag e vou para casa.
Tenho que pensar rapidamente, Ethan pode colocar tudo a perder. Inferno!
Isso é hora para ter crise de consciência? Tenho que me apressar se quero
desmascara-la na frente de todos. Não acredita em mim, então verão com
os próprios olhos.
Vou para casa, troco de roupa e vou para a piscina nadar. Não sei quanto
tempo fiquei dando voltas naquela piscina. Minha esperança era ficar
exausto e me desligar do mundo. Mas não foi o que aconteceu. Tomo uma
ducha quente, coloco uma roupa leve e vou para o escritório. Pensei
seriamente no que Ethan falou, seria um desastre se a Lorena tomasse
conhecimento da aposta e o cara é o meu melhor amigo além do Kingston.
Tenho que confirmar a viagem para o Brasil. Ligo para King que
prontamente vem ao meu escritório.
— Fala chefe.
— Odeio quando me chama de chefe. A viagem para o Brasil está
confirmada?
— Tudo em ordem. Embarcaremos no final da tarde e desembarcaremos
no Ceará nove horas depois. Assim teremos tempo para descansar em um
hotel na capital.
— Não. Quero ir ao Rio de Janeiro primeiro...
— Claro que ele vai complicar. O dia que Zachary Thorton O´Brian
facilitar a vida de alguém, será o Armagedon. — Sou obrigado a rir. Ele tira
o celular do bolso e liga para meu piloto. Conversam durante um tempo e
volta a falar comigo. — O Bob disse que o voo entre o Rio e o Ceará é de
mais ou menos duas horas. Assim que ele retornar à ligação, faço o
planejamento. Tenho que falar com a Letícia sobre o helicóptero que sairá
da capital para ir até o resort. Indo.
— King?
— Sim.
— Você viajará comigo?
— Não vou deixar você ir ao Brasil sozinho. Por mais que eu deseje te
matar ultimamente, não posso permitir que outra pessoa faça isso por mim
e tenho muitas contas a pagar, o que garante sua vida intacta por mais
alguns anos.
King acena e se retira. Sei que ele não está do meu lado, acredita que a
Letícia seja um anjo e acha que eu posso destruí-la. O que ele não sabe é
que esse demônio de mulher pode me destruir e eu tenho que lutar contra
isso. Decido ligar para os outros apostadores, para ver a que pé anda as
coisas com eles. Disco para o Sebastian.
— Sebastian falando.
— É o Zachary. Como estão as coisas por aí?
— Tudo indo. Estou me sentindo privilegiado por receber uma ligação
do gostosão.
— Eu queria conversar sobre a aposta.
— Vamos fazer o seguinte, vou chamar os outros dois e conversaremos
em conferência.
Em menos de cinco minutos estávamos todos rindo em uma única
ligação. Volto a focar no motivo que me fez ligar.
— Ethan vai se casar e teme que a menina descubra a aposta. Acredito
que ele procurará cada um de vocês para desfazer a aposta.
— Sinceramente, depois que passei uns dias com ela, pensei seriamente
em sair dessa aposta. A Letícia me ajudou com a minha esposa, ela salvou o
meu casamento. Mas quando recebi o dossiê, voltei atrás. Quero mais é que
ela se foda!
Será que é o mesmo que me deram? Então não estou sozinho nessa.
— Bashir, Sebastian e vocês?
— Também não gostei do que li. Se ela realmente é uma golpista, por
que não ficou com um de nós? — Bashir responde.
— Não está claro? — Martino começa. — Entre nós quatro está um dos
três homens mais ricos do mundo. Porque ela ficaria conosco sendo que
pode conquistar a cama do cara mais rico? Ela quer Zachary, se não fosse
por isso, ela teria cedido a qualquer um de nós antes ou até mesmo para o
Larkin.
— Tudo continua como está. Mulheres como ela não são dignas de
compaixão. — Sebastian fala.
— Responda-me uma coisa, todos vocês receberam um dossiê sobre ela?
— Fiquei curioso sobre o dossiê.
— Sim! — Eles responderam junto.
Conversamos por mais alguns minutos e desliguei o telefone convencido
de que não estou sozinho. Recosto-me na minha cadeira para pensar mais.
Por mais que eu não queira admitir, sou obrigado, estou decepcionado
comigo mesmo por não perceber quem ela era antes de me deixar envolver
demais. Eu queria que eles me convencessem a fazer o que Ethan quer,
porque acreditam que ela seja o anjo que King acha que ela é.

——ooOoo——

Chega de ficar aqui me lastimando, o negócio entre eu e a Letícia, agora é


pessoal. Levanto da cadeira para ir ao apartamento em que as meninas
estão hospedadas. Isso me faz lembrar que tenho que mandar investigar
onde é o imóvel que a Letícia adquiriu e o dinheiro de quem ela usou para
comprar.
Letícia atende a porta com pijama dos Minions. A blusa justa, retratando
aqueles seios fartos, o short curto, deixando as pernas grossas à mostra,
fazendo a minha imaginação viajar.
— Você atende a porta vestida dessa maneira? — Saiu mais grosseiro do
que eu queria.
— Eu sabia que era você e meu pijama não é escandaloso. Já vi coisas
piores andando pelas ruas de Nova York. — Letícia leva sua mão até o
inchaço no canto da minha boca. — Quem teve coragem de estragar essa
obra de arte que é o seu rosto? Entre.
— Alguém que está surtando. Está sozinha? — Deus, faça com que ela
esteja sozinha...
— Sim, estou. — E a visão da bunda dela há um palmo de distância me
faz gemer. Ela virá para trás. — Algum problema, Zach? — Apenas balanço
a cabeça. Se eu abrir a boca não sei o que sairá.
— Cadê a Lorena? — Sentamos no sofá que é bem confortável, na
televisão passa a Liga da Justiça. Um dos meus desenhos favoritos. Ela senta
no canto do sofá e coloca as pernas embaixo de si.
— Ethan não está muito bem e ela foi cuidar dele.
Assistimos alguns desenhos e descobrimos que somos ótimos críticos de
animação. A fome bateu e pedi a Ruth que nos trouxesse sopa e suco de
limão a pedido de Letícia, que não está muito legal do estômago. Voltamos a
assistir, dessa vez a trouxe para perto de mim, passei meus braços por ela e
a coloquei no meu colo, foi a pior besteira que fiz.
O cheiro dela tomou conta de mim, não resisti e a deitei enquanto a
beijava. Fiquei por cima, em meio as suas pernas, baixei sua blusa e seus
fartos seios pularam para fora fazendo minha felicidade. Os massageio com
vigor e a beijo sem parar, seus gemidos me deixam louco e bloqueiam
qualquer pensamento coerente que poderia ter.
— Zachary, por favor... — Ela me empurra e sai correndo com a mão na
boca.
Vou atrás dela e a encontro no banheiro, prostrada no vaso vomitando
pálida e suando frio. Pego uma toalha, molho e coloco em sua testa, não sei
se resolve, mas assisti em alguns filmes e lá dava certo. Sem graça, Letícia
escova os dentes e voltamos para a sala.
— Letícia, isso não é normal para uma intoxicação alimentar.
— Eu fiz os exames que o médico pediu, falou que foi uma intoxicação e
que iria ficar mais uns dias mal. Vamos esquecer. Olha, desculpa você não
precisa ver aquilo...
— Estou feliz por estar aqui e te ajudar. Olha para mim. — Ela levanta
seu olhar. Eu preciso saber o que ela quer, qual é o seu jogo. Ela seria tão
boa atriz a ponto de demonstrar sentimentos que não existem em seu
olhar? — Ontem você não falou que me perdoava pelo que aconteceu no
Oriente e mesmo assim, hoje, estou com você no meu colo. Achei que nunca
mais olharia na minha cara. Diga-me, Letícia, foi fácil me perdoar?
— Eu não tenho porque perdoá-lo por nada, você foi sincero e isso me
basta. Na hora fiquei mais chateada com a entrada surpresa da sua
assistente do que propriamente com a discussão. Por dias fiquei magoada,
admito. Mas tive tempo para amadurecer e cheguei à conclusão que de
agora em diante só viverei o momento, o resto deixarei para depois.
Não sei o que está acontecendo comigo, mas eu queria acreditar. Daria
minha vida para que essa mulher maravilhosa que está no meu colo
existisse, verdadeira, sem máscaras, sem interesses. Colo minha testa na
sua e fecho os olhos.
— Eu trocaria toda minha fortuna pela verdade que fantasio Letícia.
— Não entendi Zachary...
— Não é nada. Só estou cansado.
O sofá era grande e cabíamos nós dois deitados. Letícia ficou no canto e
abraçados pegamos no sono enquanto assistíamos a um filme. Fazia tempo
que não tinha um sono tranquilo, sem acordar várias vezes durante a noite,
sem sonhos ou pesadelos. Não tenho dúvidas de que é por causa da Letícia,
ela me faz sentir como Ethan se sente em relação a Lorena, tê-la em meus
braços me faz sentir em casa. A diferença entre nós dois é que a mulher por
quem sinto isso não é um anjo como a dele.
— Desgraçado filho da puta! — Aperto Letícia junto a mim para protegê-
la, não sei quem xingou, nem sei onde estou.
Abro os olhos e vejo Lorena nos olhando com um pequeno sorriso no
rosto.
— Desculpa Zachary. Não queria acordar vocês, mas Ethan está
estressado e acabou falando alto demais.
Letícia abre os olhos encontrando os meus e naquele momento, eu sabia
que estava mais fodido do que antes.
— Bom dia, menina dos olhos dourados. Como se sente?
— Estou bem. Obrigada por cuidar de mim. — Lorena ainda nos olhando
com aquele sorriso de boneca.
— Vocês são tão lindos juntos, parecem àqueles casais de revistas...
— Menos, Lolo. Bem menos...
Levanto para ajudá-la a sair do sofá e ela vai para o banheiro. Viro-me
para a Lolo.
— Esse negócio da Letícia é sério. Tem certeza que foi somente uma
intoxicação?
— Eu fui ao médico com ela, Zachary, esse foi o diagnóstico. Só que eu
acho que ela pegou uma virose que acabou por piorar a situação. De
qualquer maneira, está medicada. — Ela faz uma pausa antes de continuar.
— Zachary? — Olho para Lorena que está com os olhos cheios de lágrimas.
— Você é o melhor amigo do meu namorado, então me responda o que
está acontecendo com o Ethan? Essa noite ele só dormiu porque dei um dos
remédios da Letícia, todos a sua volta estão estranhando seu
comportamento é autodestrutivo. Eu não sei o que fazer... — Faço-a sentar
no sofá e me abaixo na frente dela.
— Ethan está muito apaixonado por você e isso é novo para ele,
assustador. Às vezes ele acha que está te tirando da Letícia e a soma de
tudo deixa-o inseguro, nervoso, estressado. Você o ama, boneca Lolo?
— Mais do que tudo... — Essa menina é uma graça.
— Então, somente ame-o, isso será o suficiente. — Ela me abraça.
— Obrigada, Zach. E obrigada por cuidar da Lê para mim.

——ooOoo——

— Bom dia, Zachary. Não queria te acordar, mas nosso voo parte daqui
duas horas e elas irão comigo — A entonação forte de elas irão comigo, não
passou despercebida.
— Bom dia, E. Sem problema. — Aponto para a direção dos quartos. —
Só vou me despedir da Letícia. — Ethan entra na minha frente.
— Eu não acho que seja necessário.
— E eu não acho que seja da sua conta. — Dou um passo em sua direção
e o encaro.
— Qual o problema de vocês? Tenho que colocá-los no cantinho da
disciplina? — Lorena chama nossa atenção, ela aponta para mim. — Você
vai falar com ela e você, mocinho. — Ela aponta para Ethan. — Vem comigo.
Vou olhando de porta em porta para encontrar onde Letícia está.
Encontro-a no último quarto, fechando uma mala.
— Te deixei sozinho na sala, que grosseria a minha. Mas vamos viajar
daqui a pouco e não queria me atrasar mais...
Aproximo-me, emolduro seu rosto com minhas mãos e a beijo de leve.
— Embarco para o Brasil hoje. Daria-me a honra de ficar comigo? — Ela
sorri lindamente.
— Sim. Telefone-me assim que chegar.
Abraço Letícia com toda minha força, a beijo como se dependesse disso
para viver. Eu a quero tanto, que chega a doer, mas a vida não é justa. Foi a
primeira lição que recebi do meu pai, “Aprenda enquanto eu estiver vivo, a
vida não é e nunca será justa. Conforme-se, Zachary”.
Capítulo 24
Subo pelo elevador de serviço, assim que entro
pela porta da cozinha, ouço gritos vindos da sala.
Vou andando devagar para saber que caralho estava
acontecendo na minha casa. Nos últimos dias, as
pessoas estão enlouquecidas, começando pelos
meus funcionários, um fica contra mim por causa de
uma mulher e a outra invade a minha cama nua.
Reconheço a voz da Mag.
— Claro que eu vou. Sou a assistente pessoal dele, minha obrigação é
acompanha-lo em todos os lugares...
— Sua obrigação é manter a agenda dele organizada e não sair por aí
agindo como esposa traída. Não há necessidade de você ir nessa viagem. —
King fala.
Ela ri.
— Está brincando, não é? Há coisas daquele projeto que só eu sei.
— Como as coisas da Letícia, que você vem negligenciando por despeito?
— Com a menção do nome da Letícia, Mag surta.
— Para de pensar com a cabeça do seu pau, cretino e deixa aquela vadia
fora disso. A vida não gira em torno dela. Sou mais indispensável que você,
aliás, nos últimos dias tem sido o céu com a sua ausência. Eu vou acordá-
lo...
— Não vai. — King a interrompe. — Ele deixou bem claro que você não
tem mais livre acesso a esse apartamento. Entro na sala e vejo King
barrando a passagem para as escadas que dá acesso ao segundo andar,
onde fica meu quarto. Mag parada a frente dele pronta para passar por
cima.
— Saia da minha frente, King. — Ele cruza os braços.
— Para você tirar a roupa e pular em cima dele novamente? Esquece
Mag. Ele ainda está traumatizado com a última vez. E como você soube que
adiantamos a partida?
— É minha obrigação saber tudo o que acontece na vida dele e como,
não te interessa. — É a vez dela cruzar os braços. — Zach precisa rever o
quadro de funcionários urgentemente. Você é uma pedra no nosso
caminho, Kingston. — Ele sorri.
— Nisso concordamos, senhorita Carlson. O senhor O´Brian precisa
rever os assistentes dele, talvez contratar uma que não tente estuprá-lo
enquanto dorme. E sim, sou uma pedra no seu caminho, até porque você é
uma desequilibrada do caralho!
Ruth não tinha me visto e quando se dá conta, grita de susto, fazendo
com que todos se voltem na nossa direção.
— Não o vi, desculpa. Aqui está sua mala.
— Ruth há quanto tempo eles estão nessa gritaria?
— Uns dez minutos, mais ou menos. — Ela olha para Mag com clara
reprovação.
— Enlouqueceram? — Pergunto. — Bater boca na minha casa como
duas lavadeiras à uma hora dessas? Eu deveria demitir os dois agora
mesmo.
— Está chegando de onde, Zach? — Mag coloca as mãos na cintura e
pergunta.
— Perdeu a noção do perigo, senhorita Carlson? — Falo com voz baixa,
naquele tom que as pessoas dizem que me torno ameaçador. Ela dá um
passo para trás. — Desde quando alguém tem permissão para me
questionar? Essa é sua última chance para continuar a trabalhar comigo,
não a desperdice. E lembre-se, você é importante, mas não é insubstituível.
Ninguém é. — Olho para King. — Minha casa não é suas festas de Hip Hop,
controle-se. Se não consegue mais ter controle sobre as situações que
permeiam sua rotina, então está na hora de se aposentar. — Aponto para
ambos. — Conhecem-me o suficiente para saberem que posso fazer com
que nenhum consiga outro emprego nesse e em mais setenta países. Tenho
certeza que não vão querer me desafiar. Embarcaremos daqui a quanto
tempo?
— Na hora do almoço. — King responde.
Aceno e subo as escadas, troco de roupa, volto para nadar. Com a Letícia
na minha cabeça, não sobra espaço para outras coisas. Meus funcionários
sempre se deram bem, não sei o que está acontecendo. É só falar o nome da
Letícia e todo mundo ao redor surta. Estou cansando disso e tenho que dar
um basta. Essa mulher será a causa da minha ruína. Minha razão diz que
estou no caminho certo, quem sabe quando desmascara-la, o resto de mim
se convença de que ela não é quem gostaríamos que ela fosse.
Decolamos no horário e a viagem foi tranquila. Preferi tomar um
remédio e passei mais tempo no quarto dormindo, do que dividindo um
ambiente com as duas lavadeiras. Adquiri essa aeronave recentemente, é
um jato de luxo Boeing Jet2, com capacidade de levar até dezoito pessoas e
comporta cinco ambientes. Uma suíte no fundo, uma sala de estar e outro
ambiente para jantar, um escritório e um banheiro social. Tudo foi
decorado por uma das designers mais famosas do mundo, que por acaso
frequentou minha cama também.
Desembarcamos no Rio de Janeiro, nove e quarenta e cinco da noite.
Chegamos a casa, um pouco depois das dez, fiquei impressionado com o
imóvel. Já tinha visto por fotos que a Letícia mandou, mas pessoalmente é
muito melhor. King indica meu quarto que ocupa quase todo o terceiro
andar, dividindo espaço com outra suíte menor que essa. Lugar perfeito
para hospedar Letícia.
Deito na cama, tiro meu celular do bolso e teclo seu número. Ela atende
com aquela voz doce.
— Olá.
— Olá menina dos olhos dourados. A fim de conhecer a minha casa
nova?
— Já conheço sua casa nova, senhor Zachary.
— Comigo aqui as coisas ficam diferentes. A casa fica mais... Atrativa.
— Acredito. Mas você deve estar cansado da viagem...
— Não, está tudo bem. E você descansou da viagem?
— Sim. Desembarcamos eram cinco horas da tarde. Se o movimento
estiver tranquilo chego aí em menos de uma hora.
— Luck está com você? — Ela suspira contrariada.
— Ethan e Liam insistiram que devo ter mais dois ou três, então, tenho
uma equipe comigo.
Alívio toma conta, o que não gosto, é de ouvir o nome daquele irlandês
filho da puta.
— Peça para um deles te trazer aqui. Enquanto jantamos,
conversaremos sobre a sua segurança.
A casa é enorme, desisto de ir procurar King e ligo para o seu telefone.
— Preciso de você aqui.
— Ainda está no seu quarto? — Ele pergunta.
— Sim.
— Ok. Estou indo.
Para que dois banheiros? Se fosse um só era mais fácil. Escolho o maior
que é em tons escuros. Tomo um banho, coloco uma bermuda azul marinho
e uma camisa branca de algodão, perfeita para as noites do Rio.
— Em que posso ajuda-lo, chefe.
— Eu vi que aqui em cima tem um ambiente para cozinhar e tem lugar
para descansar.
— Isso mesmo.
— Providencie que façam um jantar para dois e sirvam aqui em cima,
ficando somente quem for servir. Para mim podem cozinhar...
— Eles têm o seu cardápio, seus gostos e preferências, a Letícia se
encarregou disso logo que comprou a casa. — King me interrompe.
— Certo. Não quero que ninguém passe do segundo andar, esse andar é
estritamente pessoal, não quero nenhum visitante sem autorização
circulando por aqui, só quem faz a limpeza e os seguranças. Você esteve no
Brasil para contratar a equipe de segurança da Letícia pessoalmente, não
foi?
— Foi.
— Todos eles foram contratados ou algum da equipe foi exigência do
Larkin?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Todos foram contratados e a exigência de conversar com um foi do
Ethan, mas esse um é Luck.
— Estou esperando a Letícia para jantar. Vou pedir para Mag que
providencie alguém para preparar essa suíte ao lado para a Letícia passar a
noite.
King levanta a mão.
— Eu mesmo faço isso, já conheço os funcionários e não quero aquela
maluca zanzando por aqui, ainda mais com a Letícia por perto. O barzinho
do terraço está abastecido caso queira ir sentar lá e contemplar a vista da
cidade. Zach, foi uma das melhores aquisições que você já fez, não faz ideia
da vista que tem.
Os andares são ligados por elevador, mas prefiro subir as escadas. A casa
é diferente de tudo que possuo e tenho a sensação de ter vivido aqui há
muito tempo, ela foi construída para mim, a vista aqui de cima é
deslumbrante. Perto de onde a mesa de jantar está, há um aparador com
um dock station. Vou até ele, programo minha playlist preferida e coloco
meu celular para reproduzir em todo ambiente.
Ouço alguém se aproximar e vejo que é o chef e uma das empregadas,
eles acenam para mim.
— Boa noite, senhor — Falam inglês perfeito! — Gostaria de beber
alguma coisa?
— Boa noite. Quero uma dose de whisky sem gelo. — Ele acena e se
afasta, fala com a moça, que vai preparar e logo trás para mim. — Obrigado.
— No canto do deck há um ambiente com sofás que fica de frente para a
praia, lugar silencioso, perfeito para pensar na vida e a música Secret do
Maroon 5 que está tocando, diz exatamente o que penso, “...Eu sei, eu não
conheço você, mas eu te quero tanto. Todos possuem um segredo. Eles podem
mantê-lo? Oh não, não podem...”
Distraído, não percebi de imediato a presença da Letícia, que senta ao
meu lado, mais linda do que nunca. Um vestido preto acima do joelho, sem
mangas e sandálias altas azuis. Traje muito comportado, em outra mulher
não seria sedutor, só que no corpo dela é de matar qualquer um.
Puxo-a pela mão, aproximando-a de mim. Sem dizermos nada um ao
outro tomo sua boca. Puxo seu cabelo levando-a no meu ritmo e para que
ela ceda a mim. Se eu não me controlar, ela será minha ruína, se já não o é.
— Boa noite, princesa, como diz a Lorena. — Separo minha boca da sua
com dificuldade.
— Bem-vindo ao Brasil, senhor O´Brian. — Ela sussurra no meu ouvido.
Isso me deixa louco, essa mulher me deixa louco, transtornado. Sou
capaz de tomá-la aqui na frente dos funcionários. Tento me contentar com
outro beijo.
— Obrigado, senhorita Letícia.
— Como foi a viagem?
— Tranquila.
A menina que está servindo se aproxima e cumprimenta Letícia que de
muito bom humor a abraça e vai até o chefe que a recebe de braços abertos.
O que essa mulher tem que as pessoas simplesmente a amam? Trocam duas
palavras e já se entregam a ela? Que inferno! A desgraçada é linda...
— Você conhece todos que trabalham aqui?
— Entrevistei um por um, contei-lhes como é trabalhar para você, o que
provavelmente você espera deles e com isso conheci cada um deles.
— Esse seu perfeccionismo é um charme. — A voz do Seal enche o lugar
cantando Stand by Me. Levanto e a tiro para dançar, ela vem para os meus
braços sorrindo. Nos mexemos ao compasso da música, a giro e a trago
novamente para junto de mim, sempre sorrindo. Cantarolo em seu ouvido.
— “Quando a noite chegar, a terra estiver escura e a lua for a única luz que
veremos, eu não vou ter medo. Não, eu não vou ter medo, contanto que você
fique comigo. Então querida, fique comigo, oh, fique comigo. Se o céu que
vemos lá em cima desabar e cair, ou as montanhas desmoronarem no mar, eu
não vou chorar. Não, eu não vou derramar uma lágrima, contanto que você
fique comigo...”
— Uau. Você canta muito bem...
— Só para moças incrivelmente bonitas. — Mordo o lóbulo da sua
orelha, beijo o seu pescoço, seu queixo e encontro sua boca. Tudo está
perfeito, a mocinha nos braços do mocinho como nos filmes, tendo como
fundo, a música do Savage Garden. — Truly, Madly, Deeply. Quando me dou
conta a solto rapidamente, a vida não é justa e muito menos perfeita. A
mocinha é uma interesseira e o mocinho um babaca que está se deixando
levar pelo seu pau.
O olhar dela é confuso. Já o vi uma vez, no dia em que me expulsou aos
gritos em Abu Dhabi. Antes que ela pudesse chegar a alguma conclusão, a
abraço e esfrego minha ereção para que ela sinta.
— Se eu continuasse o beijo, acabaria rasgando sua roupa e a possuindo
na frente dos meus novos funcionários. Isso não é muito elegante.
Letícia ri com gosto e o som me enche de alegria.
— Desculpa Zach.
O chef anuncia que o jantar está pronto, estendo meu braço para ela e a
acompanho até a mesa. O chef puxa a cadeira para que Letícia sente e nos
serve o jantar.
— Zachary, a Ruth me falou que você não gosta dos três pratos quando
está em casa, você não é um admirador de saladas, mas ela coloca porque
sempre belisca. Disse que você prefere na maioria das vezes um bom filé e
para variar, prefere o peixe. Então instruí o chef a ter um prato de salada
caesar com tomate, sempre a sua disposição. Também organizamos uma
agenda com suas comidas favoritas e algumas criações dele que são pratos
brasileiros e tenho certeza que você vai adorar. Seu filé está pronto, mas eu
gostaria que você experimentasse esse prato que ele trará.
— Ok. — Fico a observando falar, é como se já fizesse parte da minha
vida.
— Aqui no Brasil chamamos de escondidinho de carne seca. — Ela tira
sua mão da minha e o prato é colocado a minha frente, o conteúdo parece
uma torta e uma porção de salada ao lado. Letícia explica. — É colocado
purê de batata, o chef deu seu toque adicionando um molho branco
especial, a carne seca refogada e mais uma camada de purê, finalizando
com queijo.
— Parece delicioso. Obrigado.
— Espero que goste.
A comida não era boa, era simplesmente espetacular. Minha comida
preferida era a italiana até vir ao Brasil e conhecer a variedade de delícias.
Quando estive no Nordeste a primeira vez, Letícia providenciou que
fossemos servidos com tapioca, baião de dois, carne de sol e a minha
preferência, bolo de macaxeira. A sobremesa servida foi petit gateau de
doce de leite com sorvete de creme. Fantástico!
— No telefone você pareceu incomodada quando perguntei sobre os
seguranças.
— Não gosto das mudanças que estão acontecendo. Liam insiste que eu
vá morar em um apartamento maior, porque agora tenho que abrigar uma
equipe com quatro seguranças... Três porque dispensei um.
— Você conversou com o Larkin sobre isso?
— Sim. Ele esteve no Brasil para resolver isso comigo. Estava cansada de
discutir com Ethan. Então Liam veio me convencer que, de agora em diante,
minha vida seria essa.
Minha taça de vinho estava cheia, bebi de uma vez só para continuar a
conversa.
— Larkin ficou muito tempo?
— O suficiente para me convencer a não despedir os outros dois. Por
mim teria ficado somente com o Luck, agora tenho ele, mais um pitbull e
um motorista.
Letícia não é um tipo fácil de convencer, ele deve ter sido o motivo dela
ficar doze dias aqui antes de ir aos Estados Unidos. Ela está jogando
conosco, se não conseguir um, terá o outro para se satisfazer. É mais
esperta do que imaginei, acha que tem dois idiotas comendo na sua mão.
Ela não perde por esperar.
— Sinceramente, Zachary, eu detestei. Não quero isso para mim, é
desnecessário...
— Não, não é desnecessário. Você agora faz parte de uma companhia
junto com empresários que tem destaque mundial. Assim que a notícia se
espalhou, tenho certeza que as coisas mudaram na sua rotina.
— Não. Quando a notícia ganhou destaque nas manchetes, meu nome
não apareceu em nenhum lugar, graças a Deus!
— Princesa, você será alvo como nós somos, isso é jogo de gente grande.
—Estranho que uma mulher interessada em dinheiro, não esteja frustrada
porque não saiu nas manchetes. — Todos nós pensamos iguais quando se
trata da sua segurança. Acostume-se!
— Liam falou a mesma coisa.
Para mim a conversa acabou, nada mais vai descer. Estou com nojo de
mim, com nojo dela e de toda essa situação, está na hora de finalizar a
porra dessa aposta. Logo que me despedir dela, irei providenciar o local e
avisar os outros três, Ethan e Larkin serão avisados em cima da hora para
evitarmos aborrecimentos.
— Desculpa Letícia, estou quebrado da viagem e vou deitar. Vou pedir
que a levem para casa.
— Não é necessário, tenho quem me leve. Desculpa minha
inconveniência, eu deveria ter ido assim que o jantar acabou.
Eu não sei que merda de nojo é esse que sinto, que a minha vontade é
levá-la para minha cama e comê-la. Beijo-a com força.
— Durma aqui, tem um quarto preparado para você.
— Não...
— Fique. Amanhã à noite embarco para o Ceará e quero ficar até o
último minuto com você.
Vamos em direção às escadas, descemos três degraus e saímos da vista
dos funcionários. Jogo Letícia na parede e a beijo, seus braços passam pelo
meu pescoço, puxo uma de suas pernas para cima e esfrego minha ereção
em sua excitação. Ela puxa meus cabelos me deixando frenético e coloco
sua calcinha de lado, sem perda de tempo enfio dois dedos nela e seu
gemido se torna um grito de prazer. Viro-a de frente para a parede, suas
costas em meu peito, fecho sua boca com uma das mãos, enquanto a
penetro com a outra.
— Você é como droga, vicia...
Seu corpo contrai, ela fecha os olhos e quando seu orgasmo explode, ela
grita na minha mão e suas pernas cedem, seguro-a ainda de costas e
encosto minha cabeça na sua. No que eu fui me meter, Senhor? Não tenho
coragem de olhá-la mais, não tenho controle sobre o meu corpo em sua
presença. Preciso me afastar imediatamente.
Caminhamos em silêncio até a porta da suíte em que ela vai passar a
noite. Beijo sua testa.
— Boa noite, princesa.
— Boa noite, Zachary...
Capítulo 25
Depois de deixá-la na porta do seu quarto, entro tranco a porta do meu,
vou ao banheiro e tranco a porta de lá também. Tiro minha roupa, abro o
chuveiro de água fria e me jogo em baixo para me masturbar como um
moleque de quinze anos com a sua primeira revista playboy. Gozei duas
vezes e continuo de pau duro, caralho! Uma fúria me domina e rasgo todos
os tecidos que encontro; roupas, toalhas, qualquer merda que eu possa
extravasar e ninguém ouvir.
Entre os trapos, acho um short inteiro e vou procurar a academia da
casa, eu sei que tem, só não sei onde fica. Procuro, procuro e nada. Da sala
vejo a plataforma que dá acesso à praia, é para lá que vou. Não sei quanto
tempo corri e fiz exercícios, perdi as contas de quantas vezes praguejei por
não conseguir tirá-la da cabeça. Encostei-me a uma pedra e bati com a
cabeça várias vezes para ver se ela saia. A única coisa que aconteceu foi
descobrir que estou louco, digno de uma camisa de força.
Tiro o celular do bolso e ligo para a única pessoa que restou em
Manhattan que fará o que eu mando sem questionar.
— Ted. Preciso que você faça algumas coisas para mim sem perguntas.
— Sim, senhor.
— Sabe o quarto principal da ala oeste?
— Sim...
— As portas daquele closet são de vidro, quero que você mande
substituir por espelhos. Quem estiver dentro do closet pode ver o que
acontece no quarto, mas quem estiver no quarto, não verá o que tem dentro
do closet. Quero isso para ontem, entendeu?
— Sim...
— Também quero que coloque cinco poltronas confortáveis e as
disponha de um jeito que todos que sentar possam ver o que acontece
dentro do quarto. Assim que desligar me mande sua conta pessoal, farei
uma transferência do valor aproximado e um bônus.
— Não é necessário, senhor. Tenho prazer em ajudá-lo...
— Não se preocupe com a segurança barrar a sua entrada, eu darei
instruções para que eles o recebam e ajudem caso for necessário. Mais uma
coisa; amanhã enviarei para você data e horário. Compre um celular pré-
pago e ligue para o Rossi, Khristophoros e Bashir, dê-lhes a data e local em
meu nome. É muito importante que seja em meu nome. Não deixe recados
com terceiros, é para falar diretamente com eles. Antes que eu me esqueça,
o local é o meu apartamento.
— Mais alguma coisa, senhor?
— Talvez o mais importante, você não está autorizado a contar a
ninguém. Absolutamente ninguém deve saber o que você está fazendo. Se
alguém perguntar, desconverse.
— Sim, senhor.
— Até mais, Ted.
Eu sei que é tarde da noite, toda a casa está apagada, somente os
seguranças do turno da noite em pé. Passando em frente à suíte que Letícia
está, ouço um barulho estranho. Verifico se a porta está aberta, está, entro e
vejo que ela não está na cama. A luz do banheiro está acesa, vou ver o que
está acontecendo e a avisto dobrado no chão e vomitando. Seu cabelo
estava amarrado como se ela já esperasse por isso.
Espero ela terminar, ajudo-a levantar e fazer sua higiene.
— Ah Letícia, não gosto de te ver assim. Quando voltarmos a Manhattan
você irá ao meu médico.
— Não...
— Sim, voltará comigo e consultaremos um médico de verdade. Quando
você poderá viajar?
Ela caminha de volta para o quarto somente de calcinha e sutiã. Aquele
corpo farto de antes, está magro, suas costelas expostas, mas os seios estão
do mesmo tamanho ou maiores.
— Volto de São Paulo na terça-feira. — Letícia deita e eu a cubro.
— Vou ver minha programação e discutiremos isso amanhã. Vou tomar
um banho e já volto para deitar com você até pegar no sono.
Corro para tomar um banho, coloco uma cueca boxer limpa e volto para
deitar ao seu lado. A minha última lembrança foi do corpo dela encaixar
perfeitamente no meu.

——ooOoo——

Acordo e encontro os olhos mais bonitos que já vi.


— Bom dia, menina dos olhos dourados.
— Bom dia, menino dos olhos azuis. — Tiro uma mecha de cabelo do seu
rosto.
— Você é linda quando acorda. — Ela sorri.
— Não mais que você. — Quebro o olhar antes de fazer alguma besteira,
levanto.
— Vou escovar os dentes e nos encontramos lá embaixo para tomar café.
Ela apenas concorda com a cabeça, sabendo que tem algo estranho, mas
dessa vez não posso consertar, eu só tenho que sair daqui de uma vez.
Demoro tempo o suficiente para ela fazer sua higiene e descer antes de
mim. Desço as escadas e a encontro lá fora conversando com King, Luck e
uma mulher de terninho preto. Trabalhar assim nesse calor deve ser uma
droga.
— Bom dia. — Aproximo-me de Letícia e a beijo na testa. — Já tomou
café?
— Não estou com fome. — Faço uma careta.
— Está sim. Você vomitou essa noite...
— Sério? Letícia, ainda com isso? — Agora foi a vez de King falar. —
Você tem que ir a outro médico.
— Ela vai. Vamos sincronizar nossas agendas para que ela consulte o
Phillip em Manhattan.
King olha-me com desconfiança, mas cede visto a situação da mulher.
— Perfeito!
Letícia ainda balançando a cabeça e sorrindo aponta para a mulher do
terninho.
— Zachary, essa é a Constância sua governanta. — Ela fala em português
para a governanta. — Constância, esse é seu patrão, Zachary Thorton O
´Brian.
Damos-nos as mãos, ela tem um aperto firme, o que fala muito sobre a
pessoa. Se ela tem um aperto firme, tem palavra de comando.
— Letícia, diga a ela que não precisa trabalhar de terno, até eu passo mal
vendo ela com essa roupa. Mande-a vestir algo mais despojado.
Letícia repete minhas palavras em português e a mulher sorri aliviada,
eu imaginava, deve estar cozinhando ali dentro. King fala puxando Letícia
pelo braço.
— Não adianta disfarçar e tirar o foco de você, senhorita. Já para mesa
comer.
Dou risada quando a vejo emburrada sentada na mesa, fica ainda mais
linda com aquele bico, revira os olhos a cada palavra do King. A cena me faz
rir muito, eu poderia viver com eles para sempre. Contrariada, ela começa a
comer frutas.
— Nossa volta para Nova York está programada para quando, Kingston?
— Segunda logo depois do almoço chefe. Você tem uma reunião na
terça-feira.
— Letícia voltará de São Paulo somente na terça.
— Ela poderá ir com Ethan, ele embarcará terça à noite, segundo Kaleb.
Se ela puder remanejar seus compromissos, poderá voltar na segunda à
noite.
— Acha que consegue estar pronta para viajar na terça-feira? — King
pergunta para Letícia.
Ela fica calada olhando para a praia, nos ignorando. King e eu trocamos
olhares, ele irritado e eu achando graça.
— Letícia? — Nada.
— Letícia. — King a chama e nada. Ele insiste. — Letícia, deixa de ser
menina mimada. — Ela mostra a língua para ele me fazendo rir alto.
A menina que nos serviu ontem a noite se aproxima nos
cumprimentando e falando com Letícia, que responde e nega com a cabeça.
Ela traduz para mim.
— A Constância queria saber se eu queria alguma coisa em especial para
comer. Respondi que não e agradeci.
Nesse momento, Mag aparece e Letícia fecha a cara.
— Não tomo café preto e não gosto de leite frio, esquente. Ah, e os meus
croissants devem ter manteiga de amendoim.
A menina olha perdida para Letícia, que a ajuda falando o que Mag quer.
Ela acena e sai, voltando pouco tempo depois com o leite, mas sem os
croissants, o que faz Mag chiar.
— Mag, não tem manteiga de amendoim. Aqui no Brasil não
costumamos comer, mas será providenciado o mais rápido possível. Pode
ser alguma outra coisa, geleia talvez?
— Tão competente para umas coisas e tão desleixada para outras. —
Mag olha feio para a Letícia. — Os funcionários deveriam saber o que eu
como, afinal sou assistente pessoal do Zach, virei aqui constantemente com
ele.
— Exatamente Mag. — Letícia morde um morango fazendo com que seja
mais sensual do que rebolar. — Você é assistente pessoal dele, deveria ter
se encarregado de tudo para recebê-lo, até porque eu não trabalho para ele
e sim com ele. Vai querer o que para comer com os croissants?
— Tem geleia de morango?
Letícia pergunta em português para a moça que acena que sim.
— Tem...
— Ótimo. — Mag fala com deboche.
— Viu, Letícia? — King fala olhando para Mag. — Ficou de cara feia e
atraiu coisa ruim.
— Cala a boca, Kingston. — Mag fica vermelha de raiva.
— Eu não tenho nada haver com isso, senhor Sean Kingston. — Letícia
responde e começa a cantar a música Beautiful Girls do cantor Sean
Kingston, levando King a cantar e a dançar.
Fazia muito tempo que eu não ria tanto. Esses dois juntos são uma peça,
se olham como irmãos. Gostei de ver, pena que logo ele descobrirá que ela
não é a irmãzinha que sonhava.
— Eu consigo embarcar com Ethan na terça-feira. Se me derem o nome
do médico, posso agendar... — Depois do número musical do King, Letícia
fala.
— Não, eu mesmo marco. Se não for eu, é capaz de te agendarem para o
ano que vem.
— Vou ligar agora para o Kaleb para deixar tudo encaminhado. — King
levanta.
— Vamos dar uma volta, Letícia?
— Eu vou junto, estou doida para conhecer a praia. — Antes dela abrir à
boca, Mag se mete e se levanta já tirando o vestido e deixando o corpo à
mostra. Letícia desvia o olhar para mim.
— Podem ir. Meu mal-estar ainda não melhorou e o sol só piora. —
Estendo a mão para ela.
— Vem, vamos voltar para cama.
Quando entramos na casa, Letícia foi à cozinha dar instruções sobre o
almoço e aproveitei para mandar mensagem ao Ted:

“Quarta-feira, 18h”.

No momento em que enviei a mensagem, uma dor no peito cintilou.


Estou quase arrependido. Quase!
— É triste saber que o senhor prefere a companhia de uma vadia
aproveitadora do que a minha. Enquanto o senhor está fazendo planos para
levá-la para cama, ela provavelmente está no telefone fazendo Larkin ter as
mesmas ideias. — Mag entra na casa e envenena mais ainda.
Mag não deixa de ter razão, Letícia já deu inúmeros motivos para não
confiar nela e mais aquele dossiê.
Infelizmente Letícia eu tenho que fazer isso. Se eu não tirar essa sua cara
de boa moça, perderei meus amigos e a mim mesmo. Cada dia que passo com
você, vendo o seu sorriso, o sentimento só aumenta, por isso tenho que acabar
com isso de uma vez.
Letícia vem em minha direção e desisto de levá-la para o quarto. Só a
deitarei na minha cama quando for a noite que ganharei a aposta, antes
disso é burrice, porque até a minha força tem limite.
Capítulo 26
Letícia

O domingo com Zachary foi... Sonolento. Ele desistiu de ir para o quarto e


fomos para a sala assistir desenho animado. No meio da história do Shrek
pegamos no sono, acordando horas depois. Quem diria que um homem
daquele tamanho gostava de desenhos animados como eu? Ele me disse
que tem cueca do Batman, não aguentei e tive uma crise de riso. Não dá
para imaginar um modelo de cuecas da Calvin Klein com uma cuequinha de
um super-herói.
Esses últimos dias com Zachary foi surreal, me senti tão protegida e
cuidada, como se pertencesse a aquele lugar. Eu não queria que o dia
acabasse não queria me despedir. É por enquanto, logo estarei com ele
novamente.
— Adoro esse hotel, Lê. — Lorena sai do banheiro e deita do meu lado.
— Lolo, me responde uma coisa.
— Sim.
— Por que estamos dormindo no mesmo quarto e na mesma cama? Não
tinha outro quarto vago em um hotel desse tamanho?
— Está se desfazendo de mim porque não sou um gostosão de quase
dois metros e de olhos azuis. Não quero te deixar sozinha estando doente e
sinto falta de abraçar alguém enquanto durmo.
— Vira esse anel para lá, essa pedra reluzente está me deixando cega. —
Falo.
— Será que é o certo, Lê? — Ela levanta a mão e olha o anel em seu dedo.
— Você o ama?
— Com toda minha alma...
— Então é o certo.
Ontem assim que cheguei da casa do Zachary, Lorena e Ethan
apareceram para me contarem que ele a pediu em casamento e ela aceitou.
Mostrou o lindo solitário retangular de ouro branco com rubi encrustado
de diamantes, a cara da nossa boneca Lolo. Ela estava eufórica, mas Ethan
estava estranho, quieto, se não fosse pelo brilho em seus olhos cada vez que
olhava a Lorena, diria que ele estava triste.
Era para ela ter ido para o Ceará, mas resolveu acompanhar-me por
causa desses mal-estares meus. Madrugamos em São Paulo para acertar os
últimos detalhes da instituição do Bashir. O local foi todo adaptado para
receber jovens promessas do futebol, há uma equipe de profissionais como
médico, psicólogo, orientadores, para que esses meninos tenham suporte
para conquistarem seus sonhos. Kevin teve a delicadeza de assumir a
frente do projeto, junto com Aldo, um especialista em investimentos
desportivos. Tudo estava quase pronto para receber a primeira turma de
futuros craques. Fiz de tudo para que os mais carentes sejam contemplados
em maior número, essa instituição pode tirar muita gente da linha da
pobreza. Só isso já acalenta meu coração.
No final da tarde, estávamos arrumando nossas coisas para ir ao
aeroporto, meu estômago resolveu atacar, vomitei muito e a fraqueza
voltou. Tenho tomado isotônico, mas o que mais me ajuda é o suco de limão
ou soda limonada. Passamos a noite no hotel porque eu não tinha
condições nenhuma de voltar para o Rio. Tive que parar com o
anticoncepcional porque cada vez que tomava um, parecia que meu
estômago virava em um vulcão prestes a explodir.
Na terça-feira cedinho, embarcamos de volta ao Rio e fui surpreendida,
com Liam me buscando para almoçar, achei que todos já tinham partido
ontem mesmo. Ele se tornou um dos meus melhores amigos, é tão fácil
conversar com ele, que acabei abrindo o livro da minha vida. Adoro Liam.
— Estou feliz que você pôde estender a viagem mais um pouquinho para
me ver.
— Para você sempre tenho tempo, Lê. O que me trouxe aqui foi sua
saúde. Estamos preocupados com você, esses seus mal-estares, tonturas,
náuseas, não é normal. Vou te fazer uma pergunta e quero que me
responda com sinceridade.
Fecho a cara porque esse tipo de afirmação me deixa raivosa. Pedem-me
para ser sincera como se eu nunca fosse.
— Desde quando você precisa me pedir sinceridade, Liam? Diga logo, o
que você quer saber.
— Desculpa, hoje não está sendo um bom dia. Lê, há alguma
possibilidade de estar grávida?
— Não! Não? Não...
— Letícia é sério.
A última vez que transei foi com Zachary e ele estava com preservativo,
antes dele foi com Ricardo há meses atrás, mas todas elas também foram
com preservativos. Na contagem da minha menstruação não dá para
confiar, porque ela só vem quando quer.
— Não, Liam. Não há nenhuma possibilidade de estar grávida. — O
alívio dele é perceptível.
— Mais uma vez, desculpa. Mas eu tinha que perguntar, porque faz dias
que você está assim.
— Eu sei. Por que você está agitado assim, Liam? Algum problema? —
Os olhos dele estão tristes.
— Recebi uma ligação agora pouco que me deixou atordoado.
— Você não está atordoado. Pode estar triste, apavorado, chateado, mas
não atordoado. Você sabe que pode contar comigo, é só chamar e resolvo
seus problemas.
— Lê, sempre fui sincero sobre o fato de estar interessado por você. Com
o passar do tempo, nossa amizade estreitando, sinto-me na obrigação de
cuidar de você, mas sinto que falhei.
— Não entendi Liam. Falhou em que?
— Não sei como explicar, mas seja como for, nunca se esqueça que eu te
adoro.
Conversamos por mais algum tempo e fomos embora. Ele falou que
estava embarcando para os Estados Unidos em pouco tempo, tinha uma
reunião amanhã por lá. Convidei-o para conhecer meu apartamento, achei
estranho ele ter desconversado. Mas preferi ficar na minha, Liam não fica
assim por pouca coisa, algo sério está acontecendo. Apressei-me porque
tenho que encontrar Lolo para ir ao médico e meu tempo é curto.
No caminho vou pensando em Liam, posso estar enganada, mas acredito
que o motivo que fez Liam ficar “atordoado” é o mesmo que está deixando
Ethan estressado. Se entendo alguma coisa da personalidade de ambos, sei
que é quase impossível reagirem a uma situação da mesma forma. Ethan é
do tipo explosivo e Liam do jeito introvertido. Lorena me contou que esses
dias atrás Ethan chorava como um menino, o que também é estranho,
porque ele não é do tipo que chora e sim do tipo que briga. Será que
fizeram algum negócio indevido e agora estão com a faca no pescoço?
Encontrei-me com a Lorena na recepção do consultório médico. Meu
estômago não pode estar normal, há dias que o cheiro do café é o suficiente
para me fazer vomitar. Se eu não tivesse visto Zachary colocar o
preservativo, cogitaria estar grávida, mas eu vi e não deve ter acontecido
nenhum acidente, senão ele teria surtado. O doutor me passou alguns
exames que deveriam ser feitos em jejum, contei que estava indo viajar
novamente e não daria tempo para fazer os exames. Então, me receitou um
remédio para enjoo e disse para ter sempre em minha bolsa bolacha de
água e sal, isso poderá me ajudar.
Lorena foi para casa se despedir da sua mãe, que está empolgadíssima
com a reforma e fazendo planos para seu tour na Europa. Descolei um
pacote excelente para a tia conhecer o velho continente, ela merece!
Entrando no prédio encontro Ethan sentado na recepção, cabeça baixa
entre as mãos. Vou até ele.
— Ethan?
— Lê...
Olho para os lados e vejo Kaleb no canto oposto. O rosto do Ethan
mostrava marcas de que não dormia há dias, seus olhos vermelhos me
diziam que chorou.
— Vamos subir. Levei-o para o meu apartamento e esquentei água para
fazer um chá para ele. Sentou-se no sofá e eu na mesinha de centro para
conversarmos, olho no olho. — Ethan diga para mim o que está
acontecendo, por favor. Estou preocupada com você. Há dias você está
assim, a Lorena está desesperada imaginando besteiras.
Ele segura minha mão e uma lágrima escorre.
— Eu amo a boneca Lolo mais do que a mim mesmo. Algo sério está para
acontecer e eu não consegui parar, Letícia. Eu não consegui... — Agora ele
chora copiosamente. — Quando ela souber vai me deixar. — O que esse
cara andou fazendo? Tento ser racional.
— Olha para mim, você a traiu?
— Não. — Ele nega com a cabeça.
— Você fez alguma coisa que venha prejudicá-la?
— Não.
Vou até a cozinha, pego o chá e volto.
— Tome, está bem docinho. Minha avó dizia que para acalmar o coração,
nada melhor que um chá docinho. — Ele pega e toma. — Ethan, não há
nada que o amor não possa superar, o que não dá para engolir é a traição.
Converse com ela e conte o que está se passando, te garanto que a Lorena
não só vai entender como vai te ajudar a sair dessa.
— Todos dizem que o amor não acontece do dia para a noite — Ele se
levanta e vai até a varanda. Ethan se vira para mim com um sorriso triste.
— Isso porque não conheceram a Lorena. Cada vez que ela sorri para mim,
tenho mais certeza que estava esperando por ela.
Eu o abraço, emocionada, não consegui manter o controle e as lágrimas
caíram.
— Estou muito feliz por vocês dois. — Ele aperta seus braços ao meu
redor.
— Nos conhecemos há um bom tempo e eu não acredito que perdi a
oportunidade de te conhecer a fundo como a conheço agora. É como se
você fosse minha irmã caçula. Eu sempre estarei aqui para você, Letícia.
Para o que vier para o que precisar, para tudo, basta me chamar e estarei
aqui.
Minhas lágrimas aumentam e beijo seu rosto.
“Deus obrigada por colocar pessoas maravilhosas na minha vida...”
— Digo o mesmo para você. Agora, esquece isso e faça sua noiva feliz.
— Eu farei. — Lorena chegou de mau humor, colocou meu remédio em
cima da mesa e olhou para Ethan.
— Por que eu estou sendo seguida; senhor Scott? — Comecei a rir e
Ethan tentou se explicar.
— Eu te falei que daqui a pouco as pessoas saberão do nosso
compromisso e virão atrás de você. Insisti para que tivesse um segurança,
só um Lorena, você não quis. Você terá segurança e fim de conversa.
Ela coloca as mãos na cintura.
— Já não basta eu ter que aguentar o Luck fungando no meu pescoço,
agora tenho mais um? É o fim!
— Lolo, se eu, que só trabalho com eles, tenho três, por que você não
pode ter um? Ethan só quer cuidar de você. Então vamos fazer um esforço e
livrar o mundo do mau humor do seu príncipe. — Tento amenizar.
Em pleno voo formamos uma equipe de trabalhadores, cada um em seu
computador, perdidos em seus mundos. Os dois são tão workaholics quanto
eu, por isso sei que não estão jogando. Olho e vejo Kaleb e Luck fazendo
anotações e isso me faz lembrar um assunto.
— Ethan, podemos conversar? — Falo, tirando sua atenção do
computador.
— Sim.
— Sobre a minha segurança...
— De novo não...
— Espera eu terminar de falar, por favor? — Ele volta a se sentar. —
Ethan, eu não tenho dinheiro para bancar uma equipe de segurança. — Ele
já ia abrindo a boca e eu o paro. — Não, me deixa falar. Eu recebi um bom
dinheiro de bônus, mas comprei o apartamento de Nova York, estou
reformando o apartamento da tia e mais algumas coisas. Tenho
investimentos, um bom salário que era melhor devido as comissões, mas
não sou rica. E sei que eles ganham muito bem para ficar na minha cola.
Juro por Deus que se você falar que tem alguém pagando por isso que não
seja eu, me jogo daqui. Não aceito que ninguém pague nada para mim.
— Mulheres, sempre complicando tudo. Eles estão na folha de
pagamento da companhia. Quando sentamos para discutir sobre esses
assuntos, a segurança entrou nisso, para nós, são apenas negócios, Letícia.
Diferente do segurança da Lorena, como é pessoal, então é pago por mim.
Oferecemos um cargo para a Lorena, mas ele não quis.
— Ela vai ser sua esposa, quer cargo mais alto que esse? — Falo rindo.
— Assim fico mais tranquila. Liam só me enrolava quando o assunto era
pagamento.
— Não gostamos de falar de dinheiro, por incrível que pareça. Quando a
gente quer, fazemos e pronto. Não ficamos vendo quem vai pagar, se é para
pagar...
— Claro, são podres de rico! E sinceramente, não sei por que
contrataram seguranças, se meu nome não foi...
— Ainda. Seu nome não apareceu, ainda. Jornalistas e especuladores são
como abutres, sentem a carniça de longe. E quando isso acontecer, sua
segurança já estará pronta.
— Ok. Obrigada por cuidar disso para mim.
— Sempre as ordens.
Sua assistente passa por mim com um perfume horrível e mal deu
tempo de chegar ao banheiro para vomitar. Depois de colocar tudo para
fora, volto ao meu assento e uma das comissárias de bordo já me aguardava
com água para tomar remédio. Lorena senta de um lado e Ethan do outro,
ambos me olhando como se nunca tivessem me visto. Ela fala
— Vamos conversar querida.
— O que? — Quando Lolo começa com querida, sei que está brava.
— Lê, já pensou que você pode estar grávida?
— A única pessoa com quem transei nos últimos meses, usou
preservativo. E se aconteceu algum incidente de furar ou qualquer coisa do
tipo ele teria me contado e surtaríamos juntos. Também tem o fato de estar
tomando anticoncepcional, você sabe que levo isso à risca porque me ajuda
a diminuir as cólicas.
O remédio começou a fazer efeito e cochilei, nem percebi que me
levaram para o quarto que tem na aeronave. Acordei com a Lorena me
chamando para sentar e colocar o cinto para pousarmos. Desembarcamos
já era madrugada em Nova York, estava exausta, parece que vim andando.
Assim que entramos no carro, liguei meu telefone e fui presenteada com
uma mensagem do Zachary.

Zachary: “Avisa-me quando desembarcar”.


Eu: “Acabamos de chegar”.
Zachary: “Vai ficar onde?”
Eu: “No apartamento do Kevin. Você não deveria estar dormindo uma
hora dessas, senhor Zachary?”.
Não estou pronta para contar que comprei aquele apartamento. Por um
milagre divino, ninguém a não ser Lolo e a mãe dela tomou conhecimento
disso.
Zachary: “Deveria, mas certa menina de olhos dourados não sai da minha
cabeça”.
Eu: “Sorte dessa menina habitar seus pensamentos. O meu caso é mais
sério, há meses venho sonhando com olhos azuis misteriosos”.
Zachary: “Para o seu bem, espero que esses olhos azuis sejam os meus.
Não costumo dividir o que é meu, nem em sonho”

Fico sem resposta e encontro dois olhares em mim, Ethan e Lorena.


— Por que estão me olhando dessa maneira?
— Nada. — Ambos respondem ao mesmo tempo.
O celular indica que outra mensagem chegou e sorrio aparentemente
sem motivo. Estão me achando louca, só pode.

Zachary: “Acredito que tenha ficado sem resposta, o que é um milagre.


Você é minha Letícia e de ninguém mais. Às 19h você tem um compromisso
comigo”.
Eu: “Sim senhor, senhor!”

Olho a cidade onde tanto desejei morar, é um sonho estar indo dormir
na minha casa em Manhattan. Se eu morresse hoje, não poderia estar mais
feliz. E também tem Zachary, não sei no que isso vai dar e se dará em
alguma coisa, mas eu vou até o fim, quero saber onde isso vai acabar.
Capítulo 27
Ethan

Segunda-feira...

Não sei se suportaria morar no Brasil com esse calor o ano inteiro. Gosto
do frio, de pisar na neve, de esquiar. Debaixo do sol escaldante, vemos as
máquinas trabalhando para concretizar nosso novo projeto. As pessoas que
moram na aldeiazinha, compareceram em peso, para nos conhecer. É um
povo muito simpático, os brasileiros no geral o são.
Olho para o quarteto, pronto para mandar uma dessas máquinas, passar
por cima e matá-los um a um. Os últimos dias estão sendo o inferno na
Terra para mim, cada vez que penso na merda de aposta que fizemos, meu
estômago contrai. Já imaginei como matar cada um deles, Bashir, eu
mandaria largá-lo no deserto. Martino, eu entregaria para a máfia.
Sebastian o estrangularia com aquele kombolói, o terço grego que ele vive
segurando e Zachary, esse mandava castrar, sem direito a anestesia.
Depois que conversei com ele, não me restou mais nada a não ser
chorar. Alguma coisa estava me dizendo que a minha felicidade está prestes
a acabar. Eles não entendem que eu perderei Lorena se isso vier à tona, as
duas jamais me perdoarão. E acho que não serei capaz de continuar
vivendo sem aquela mulher na minha vida, até porque ela se transformou
no meu mundo!
Eu não irei testemunhar aquele filho da puta transar com a Letícia. Meu
Deus, ela se tornou alguém mais que especial para mim, como vou levar
isso até o fim? Minha esperança é convencer o Rossi, Sebastian e o sheik a
não entrar nessa. Será que esses bastardos não sentem nada por ela a
ponto de continuar com essa loucura?
Eu me arrependi horas depois...
Observo Liam Larkin a minha frente, outro atormentado. Ele nunca se
conformou de termos o envolvido nisso, eu também não me perdoo.
Afundado na minha miséria, não percebo quando King, o chefe de
segurança do Zachary se aproximar e fala comigo.
— Podemos conversar senhor Scott? — Aceno e nos encaminhamos a
um ponto mais distante do pessoal. — Eu sei que não deveria abrir a boca
sobre isso, mas tenho que me arriscar.
— Diga King.
— É sobre a aposta envolvendo a Letícia. Por favor, Ethan, não permita
que levem isso adiante. Estou há dias sem dormir por causa disso, estou de
mãos atadas sem poder fazer nada.
— Fui conversar com Zach, mas aquele cretino está irredutível, chegou a
me dizer que ela não é quem eu penso. Cara, a Letícia é a... Letícia, não
precisa de mais explicação.
— Acho que isso tem haver com um dossiê que ele recebeu. Zach até
tentou me mostrar, mas joguei para ele de volta. Só que agora não tenho
mais acesso para saber quem fez aquilo.
— Dossiê?
— Outro dia ele apareceu com um relatório sobre a Letícia. Alguém deve
ter enviado para ele, porque temos uma excelente equipe para esse tipo de
serviço e não foi pedido a ninguém, então veio de fora.
— Estão fugindo do sol? — Liam se aproxima e eu tenho uma ideia.
— Liam, vamos reunir Martino, Bashir e Sebastian para o almoço e
tentar convencê-los de não continuar nisso. — Penso em Lorena sorrindo
para mim. — Se isso continuar eu vou perder a mulher da minha vida.
— Podemos falar na frente dele? — Liam olha para King, mas fala para
mim.
— É sobre isso que estou conversando com o senhor Scott. Deve ter um
jeito de pararmos isso. — King mesmo responde.
— Seu chefe é um bastardo filho da puta. — Liam fala veementemente.
— Qual a novidade nisso? O nosso segundo nome é bastardo. Menos o
seu, que é santo. O senhor perfeição.
— Sem brincadeira, E. Alguém sabe se a Letícia está melhor? — Liam
pergunta.
— Os vômitos têm diminuído, mas ainda não cessaram. Percebi que há
gatilhos como, alguns perfumes, algumas comidas...
— Como grávidas... — King sugere.
King e eu nos entreolhamos com a mesma pergunta, Será?. Nós somos os
únicos que sabem que os dois transaram em Abu Dhabi.
Ah merda! Merda! Merda! Agora, fodeu de vez!
Volto o foco da conversa para a aposta, King nos disse que Zachary
embarcará daqui uma hora, será o primeiro a nos deixar. Será perfeito,
sobrando somente os outros três para convencermos. E tem que ser rápido!
Ficou combinado que Liam levaria os três até a suíte dele para
conversarmos e que King faria de tudo para Zach não perceber a
movimentação.
A imprensa estava em peso nesse pontapé inicial das obras, a maioria
era da Europa e da América do Norte. Zachary é um modelo nos negócios e
em beleza, como presidente, respondeu perguntas sobre a Paradise com
desenvoltura. Perguntaram sobre tudo e ficamos preocupados que eles
sabiam muito sobre a vida da Letícia, perguntou o motivo da sua ausência,
qual o motivo que nos levou a fazer sociedade com ela e outras coisas
invasivas e inconvenientes. Ela irá odiar isso tudo. Posamos de gostosos
para as fotos, cada um estufando seu peito para parecer mais alto e mais
forte.
Somos uma piada.

——ooOoo——

Zachary é um dos meus melhores amigos, temos nossas desavenças, nos


socamos de vez em quando, mas depois rimos um do outro e dos olhos
roxo. Eu achei que ele entenderia a importância da Lorena na minha vida,
acreditei que ele estava gostando da Letícia, mas tudo não passa de teatro.
Admito que, antes de encontrar Lorena, eu também não era o tipo genro
que toda sogra queria ter, usava as mulheres ao meu bel prazer. Elas
gostavam de serem usadas por mim, das festas, do glamour que eu posso
proporcionar.
O dia que beijei Lorena, tudo isso ficou para trás. Aquela baixinha
conquistou-me riso a riso, piada a piada e quando vi, já estava de quatro.
Lorena me tem por inteiro, ela detém meu mundo em suas mãos. Mundo
esse que está prestes a ruir por causa dessa aposta dos infernos. A ideia de
pedi-la em casamento veio quando vi aquele anel. Tinha pedido ao
joalheiro para vir mostrar-me brincos, quando ele abriu seu estojo, o anel
me chamou a atenção. Imediatamente, a imagem do anel na mão da minha
boneca passou diante dos meus olhos, era o sinal que eu precisava. Esperei
essa mulher por trinta e cinco anos, cedo ou não, é ela quem eu quero para
minha vida. Nunca me importei com a opinião dos outros e não pretendo
começar a me importar agora.
Mais tarde, Rossi, Sebastian e Bashir se reuniram conosco para
conversarmos na suíte do Liam. Me sirvo com uma dose de vodca porque é
a coisa mais forte a minha mão.
— O que vocês querem conversar? — Sebastian pergunta.
— Queremos acabar com a aposta. — Eu tomo a frente para responder.
— Nada feito! — Rossi fala.
— Não pensaram nos sentimentos da Letícia um minuto se quer? —
Aponto para o italiano safado. — Ela ajudou você a salvar seu casamento,
cretino. Impossível terem passado um tempo com ela e não verem a
besteira que estão prestes a fazer...
Martino estava abatido, abriu a boca para responder, mas se calou.
— Estão não, estamos. Querendo ou não, Scott, vocês dois estão nessa
conosco. Letícia se mostra uma boa mulher, só que é fachada, mulheres
como ela merecem uma lição. — Bashir me interrompe.
— Que tipo de mulher ela é, Bashir? Uma que não cedeu a sua fortuna?
— Liam fica furioso.
— Não cedeu a minha, mas cedeu ao mais rico de todos nós.
Coincidência? Não, inteligência. — Bashir se levanta.
— Lave a sua boca para falar dela, seu filho da puta. — Liam não pensa
duas vezes antes de socar a cara do sheik
— Sebastian, você é um homem bem casado, sua esposa é importante
para você assim como Lorena é para mim. Se ela tomar conhecimento
disso, me deixará e Deus, sabe lá o que a Letícia fará conosco.
— Não poderei te ajudar nisso amigo, não vou desistir da aposta. — Ele
balança a cabeça.
Todas as minhas esperanças estão indo embora e em um acesso de raiva
jogo o copo na parede, todos olham para mim.
— O que vocês têm contra a Letícia para levar esse inferno até o final?
— Toda essa raiva é por causa da sua menina? Ela pode ser uma
interesseira como a Letícia, abra o olho idiota. — Foi o tempo de atravessar
a sala e jogá-lo na parede.
— Como é italiano de merda? Por um acaso você insinuou que a Lorena
é interesseira? — Aperto sua garganta. Quase posso sentir sua traqueia se
fechar. Os outros tentam me tirar da garganta dele, mas não tenho vontade,
pelo contrário, quero apertar mais.
— Repete filho da puta. Repete para que eu tenha o prazer de te mandar
para Itália em uma mala tamanho P.
Vi alguma coisa nos olhos de Martino que não consegui identificar.
Dor?
— Faça isso, Ethan e acaba com a minha agonia. Morrer hoje é lucro.
Liam e Sebastian me puxam para trás e Rossi cai no chão já roxo, quase
sem ar.
— Ethan, fique calmo. — Liam fala. — Bater nele não vai adiantar nada.
— Scott, a menina nunca saberá o que aconteceu. E aconselho aos dois
estarem lá no dia e local indicado, porque senão, ela saberá que a ideia
partiu de vocês. — Bashir vem até nós.
— Isso poderá demorar Ethan e capaz de não acontecer. — Liam coloca
a mão no meu ombro.
— Pelo jeito vocês não foram informados ainda, a data, o local e a hora já
estão marcados. O celular de vocês tocará em breve, acredito eu. Estou
indo, tenho que estar em território americano em pouco tempo. Buonasera.
— Rossi debochadamente ri.
— Senhor está na nossa hora. — Kaleb entra.
— Vou mandar uma mensagem para o King, dizendo que não deu certo.
Quem sabe ele não tem uma ideia que nos tire da lama. Até. — Digo ao
Liam.
Meu voo de volta para o Rio de Janeiro foi um inferno. Para piorar,
recebi uma mensagem da Lorena dizendo que dormiriam em São Paulo
porque a Letícia não estava bem. Letícia...
Eu pensei várias vezes em tirá-la de cena por uns tempos, contar a ela ou
a Lorena. Mas como vou falar que a ideia partiu de mim? E a hora que ela
souber que o interesse de Zachary na verdade é pela aposta, seu coração
quebrará.
Merda!
O que eu posso fazer?
Meu Deus, e se essa mulher estiver grávida do Zach?
Sua vida será um inferno, porque se bem conheço a peça, ele será capaz
de tomar a criança dela. Meu peito aperta ainda mais.
Passei a noite acordado, bebendo e quebrando as coisas da minha casa
no Rio. Chorei como um moleque e gritei como se tivesse morrendo e em
nenhum momento Deus me disse o que fazer.
Vou perder Lorena!
E mais uma vez as lágrimas não cessam.
Não permiti que Lorena viesse aqui antes de limparem e reporem as
coisas que quebrei, fui ao encontro dela em sua casa. Assim que a mãe dela
abriu a porta, minha boneca veio correndo e se jogou nos meus braços.
Aperto-a de encontro a mim, como se pudéssemos nos fundir e nunca mais
nos separarmos. Cumprimento sua mãe que está em cima do pessoal que
está reformando sua casa.
— Está pronta para embarcarmos?
— Já? Achei que íamos essa noite.
— Tem alguma coisa para fazer?
— Sim. Ir ao médico com a Letícia. Ela foi almoçar com o Liam e depois
vamos nos encontrar no consultório. Ela não está bem e não sei mais o que
fazer.
— Eu soube que ela vai consultar com o Phillip assim que chegar a
Manhattan. Ele é o melhor, não se preocupe.
Meu telefone toca, olho o visor e vejo que não conheço o número, só sei
que é da área onde moramos. Solto a minha boneca e vou até a sacada
atender.
— Alô.
— Boa tarde. Senhor Scott estou ligando da parte do senhor Zachary
Thorton O´Brian para lhe passar um recado. Amanhã, às dezoito horas, no
apartamento do senhor Zachary. Ele disse que você saberia o motivo.
Meu peito começa a doer.
— Ok.
— Passar bem. — Desligam.
Será que se eu me jogar daqui, morrerei? Ligo para o Liam, mas ele não
me atende, deve estar com a Letícia. O que eu vou fazer agora? Lorena fala
que está atrasada para encontrar a Letícia, falei para ela ir que mais tarde
eu a encontrarei. Saí de lá e fui para a minha casa, tomar um banho,
descansar e beber. Meu telefone toca, é Liam.
— Oi.
— Ligaram-me há pouco tempo, foi marcado para amanhã. — Ele está
tão arrasado, quanto eu.
Meu celular emite um sinal de que há uma chamada em espera, volto a
falar com Liam.
— Lorena está me chamando, já retorno sua ligação. — Atendo minha
boneca. — Diga-me o que quer amor da minha vida.
— Só liguei para falar o quanto te amo.
— Eu te amo mais que a mim mesmo, boneca Lolo. Já saíram do médico?
— Sim. Estou indo para casa, nos vemos mais tarde. Te amo Ethan.
— Me too, little girl.
Não tinha me dado conta que as horas tinham passado rápido. A merda
do telefonema que me deu as informações, não sai da minha cabeça. Viro a
garrafa que estava na minha mão e vejo que já está vazia. Tenho que
encontrar Letícia.
O motorista nos levou e ficamos no hall de entrada a esperando. Por
mais que eu tentasse manter o controle, era impossível, estava
desesperado. Estou a um dia de perder tudo de bom que demorei uma vida
para encontrar.
Letícia chegou, viu meu estado e ficou preocupada, não sabendo o que
está prestes a acontecer. Eu sou um bastardo de merda, precisava de apoio
e ela me deu, me abraçou e disse que posso contar com ela para o que
precisar. Deus, que tipo de monstro eu me tornei?
No final da tarde, enquanto nos preparávamos para embarcar, meu
telefone toca. Atendo sem ver quem é.
— Ethan falando.
— Tenho pouco tempo, falarei rápido. Tive uma ideia idiota, mas é uma
ideia. Amanhã, quando aquela palhaçada começar, desligarei as luzes do
prédio, ninguém verá nada. Se fizerem... Fizeram, se não fizeram, dou um
jeito para não haver uma próxima vez. Mesmo que para isso eu tenha que
perder meu emprego e meu amigo.
King fala seu plano e desliga. Isso não vai dar certo, mas se der, promovo
King a chefe da minha vida. Mando uma mensagem com o plano
mirabolante para o Liam ficar por dentro. Enfim, por algumas horas
consigo respirar e curtir Lorena sem desespero.
Capítulo 28
Letícia

Quarta-feira...
— O que aconteceu? — Acordei atordoada com os gritos da Lorena.
Levanto rapidamente para saber o que está acontecendo.
— Acabaram de entregar essa caixa com esse cartão para você. — Ela
senta na minha cama com uma caixa marfim e laço azul nas mãos.
— Para mim? De quem?
— Do gostoso da cobertura.
Merda! Merda! Merda! Coloco a mão na cabeça.
— Me esqueci do encontro. Sabe que horas são?
— Dezessete horas e... — Ela olha meu celular na mesinha de cabeceira.
Pulo da cama.
— Caramba! Dormi demais...
— Zachary te ligou cinco vezes e mandou oito mensagens. Ele está
ansioso para esse encontro, hein? Agora seja legal com sua melhor irmã e
abra essa caixa de uma vez!
A bendita caixa não era muito grande, mas indica que é de boutique.
Abro e encontro uma verdadeira obra de arte em renda, o sutiã é forrado
com um tecido rosa e a renda por cima branca bordado com pérolas, a
calcinha é da mesma maneira, apenas com perolas no laço atrás. É lindo...
Um detalhe me chamou a atenção, a lingerie parece ter sido feita com os
mesmos tecidos do vestido que usei no jantar em Abu Dhabi. Junto com as
peças tinha um pequeno cartão que dizia:

“Estou ansioso para ver você. Vista e venha me encontrar às 19h”.

— Isso não vai servir em mim, Lolo. Meu sutiã não é o mesmo tamanho
da calcinha, meus peitos são grandes e tenho a sensação que estão
aumentando. Meu quadril é largo, essa calcinha vai ficar micro... — Um
calafrio percorre meu corpo e a insegurança toma conta. Lorena revira os
olhos.
— Dá um tempo, Letícia. Tenho certeza que quando vocês estão juntos
ele mede seus seios com a boca. Outro dia achei que ele cairia dentro da sua
blusa de tanto que olhou. Sobre a calcinha ficar micro em você, desde
quando suas calcinhas são macro? Vai ficar linda, vá tomar um banho
porque já está tarde.
— Cadê Ethan? Quando vocês estão na mesma cidade, raramente vemos
separados.
— Ele tem uma reunião agora noite. Então, Luck e eu marcamos um
campeonato de Xbox.
Desde que nos conhecemos, Lolo e eu investimos pesado em videogames
para meninas. Tenho dó do Luck, não sabe na enrascada que se meteu, é
difícil jogar com a Lorena. Sorrindo termino meu banho, seco meu cabelo e
vou para o closet. Não sei o que vou colocar por cima da lingerie, se
tivessem me entregue mais cedo, poderia sair e comprar alguma coisa.
Minha respiração acelera, a insegurança está cada vez maior. Será que ele
gostará?
Crio coragem e visto, olho-me no espelho e vejo a perfeição das peças no
meu corpo. Ficou perfeito, como se estivessem sido feitas para mim.
Lembro-me de algo que posso colocar por cima, vou ao closet e vasculho os
armários até encontrar o casaco branco que comprei quando estive em
Nova York a primeira vez. Ele é de um tecido bem pesado, forrado com seda
branca, perfeitamente cinturado e transpassado com seis botões pretos.
Fechado, pode ser usado como vestido.
Volto para frente do espelho para me contemplar, fico satisfeita com o
resultado, assim que calço o scarpin rosa.
— Está linda, Lê. Venha para sala que quero te mostrar uma coisa que o
Ethan mandou para mim.
— Coisa boa eu espero. Meu estômago está a um passo de começar a
dançar Macarena e meu casaco é branco demais para manchá-lo de sangue,
caso tenha que matar esse inútil.
— Olhe...
— Lorena. É fantástico!
A sala do meu apartamento está repleta de flores, de todos os tipos, de
todas as cores, um verdadeiro mar de rosas.
— Eu sei...
— Se você tinha alguma dúvida sobre o sentimento dele, agora não tem
mais.
— Ou ele fez uma cagada muito grande.
— Não pense assim. Só me faça um favor, coloque Luck no meio
daquelas orquídeas para jogar e bata foto dele com os meus fones rosa.
— Que maldade, Lê.
Tiro meu celular do bolso do casaco e olho as mensagens que Zachary
mandou para mim.

“Como está se sentindo hoje?”


“Responda-me”
“Deve estar descansando. Ótimo, sua noite será longa”
“Mandei algo e quero que vista hoje à noite”
“Letícia...”
“Atende a porra do celular”
“A hora que resolver falar comigo, ligue-me”
“19h Letícia, nem um minuto a mais ou eu vou te buscar”

Sorrio lendo suas mensagens, a grosseria sempre presente. Às vezes


acho que sou masoquista, esse lado bruto dele o deixa mais sexy e me
excita. Teclo uma mensagem:

“Estou subindo”.

Beijo Lolo e entro no elevador. Meu coração está batendo tão rápido,
minha respiração está acelerada. Antes das portas se abrirem, respiro
fundo algumas vezes para acalmar-me.
Assim que as portas do elevador se abrem, encontro Zachary à minha
espera, vestido elegantemente com uma calça de alfaiataria preta e camisa
lilás tudo feito sobre medida.
— Venha. — Olha-me de cima a baixo com aprovação em seus olhos.
Estende a sua mão na minha direção.
— Seu apartamento é deslumbrante.
— Obrigado. Quer beber alguma coisa?
— Não...
— Esqueci-me de pegar seu casaco. Falha minha.
— Há mais alguém? Ruth? King?
— Não há ninguém por enquanto, somente você e eu. Por quê?
— Linda menina... Linda. — Uma ousadia toma conta de mim e
lentamente abro meu casaco, ele acompanha a abertura de cada botão e
fala com uma voz rouca.
Zachary pega minha mão e apressadamente caminhamos pelo
apartamento até chegarmos ao quarto, parando na porta.
— Eu deveria ser um cavalheiro, ir devagar, jantarmos, conversarmos e
depois te levar para a cama. — Zachary beija meu pescoço. — Mas não sou
um cavalheiro, Letícia. Essa é sua última oportunidade de sair...
Eu não quero sair, pelo contrário, quero ficar, o quero, quero tudo. Nós
nos encaramos por alguns segundos.
— Possua-me...

——ooOoo——

Ele praticamente arrombou a porta, entramos e ele me coloca no meio


do quarto, que era impecável. A decoração era em tons de cinza, mesclados
entre prata e grafite. A cabeceira da cama era alta e toda trabalhada em
alumínio, o papel de parede faz fundo para a cabeceira dando a impressão
de uma grande tela. A cama era grande e alta, a colcha que a cobria
combinava com o papel de parede. Aliás, aqui, tudo combina. No canto
oposto tem duas poltronas confortáveis e uma pequena mesa de vidro e
alumínio entre elas. O carpete, os tapetes e as paredes, pareciam de um
tecido só.
Mas o que me chamou a atenção foi um grande espelho que há na parede
leste do quarto, ele ocupa quase toda a parede. Esse apartamento é um
espetáculo em arquitetura e decoração. Dinheiro e bom gosto combinados
com sofisticação.
Zachary anda em torno de mim e se coloca atrás, enquanto tira o meu
casaco, dá pequenos beijos em meu ombro nu. A antecipação é
enlouquecedora, minhas respirações saem em pequenos suspiros. Ele
abaixa-se atrás de mim, suas mãos acariciam meus tornozelos, subindo,
passa pelas coxas e beija minha bunda. Zachary vira-me de frente para ele,
coloca seu rosto no meio das minhas pernas.
— Seu cheiro é enlouquecedor...
Aplica pequenos beijos na minha barriga enquanto sobe e toma minha
boca em beijo tranquilo. Ele se afasta e começa a desabotoar sua camisa,
viro-me para ficar de costas para o enorme espelho que ocupa quase toda a
parede do quarto. Zachary me para.
— Não. Fique parada aí.
Paro de escutar qualquer coisa quando contemplo o corpo dele, quase
babei. A aquele cabelo cumprido perfeito para puxar, emoldura a perfeição
que é o seu rosto e nada se compara a sensação na pele causada pela barba
por fazer.
— Está na hora de saboreá-la... — Ele deita-me no meio da cama e vem
por cima, somente de calça aberta.
Passo minhas mãos pelos seus braços fortes, ele devora minha boca e
todas as luzes se apagam...
— Aaaaahhhh... — Ouço e fico estática, gélida.
De quem são essas vozes? Começo a tremer.
— Zachary? Que foi isso?
Ele está tenso, posso sentir pelos seus músculos.
— Deve ser um blecaute... — Ele fala.
— Não. Estou falando das vozes.
— Por favor, Letícia, fique parada.
Como posso ficar parada sabendo que tem alguém na merda desse quarto?
— Zachary, tem mais alguém nesse quarto?
— Letícia...
Nesse exato momento a luz volta e viro-me na direção que Zachary está
olhando, o espelho que antes estava inteiro, agora está aberto como se
fosse uma porta. Encaro Zachary que está branco como papel. Começo a me
debater, ele aperta meus pulsos na cama, então, dou uma joelhada em sua
virilha. Ele cai ao meu lado e alcanço a sua camisa, visto-a e vou em direção
àquela porta.
Minha cabeça processou todas as possibilidades de cenas que poderia
estar acontecendo, mas nada me preparou para aquilo, jamais cogitaria tal
coisa no mundo real. Nenhum cenário que a minha cabeça imaginou, chega
perto dessa imundície. Ethan e Liam estavam em pé ao fundo do closet,
Bashir e Martino estavam na frente e um pouco mais de canto Sebastian.
Fechei meus olhos e voltei a abrir para ter certeza que aquilo não era um
delírio. Ethan com seus olhos vermelhos, Liam angustiado, Martino parecia
que ia ter um AVC, Bashir tinha dor em seus olhos, Sebastian não me
encarava e eu...
Anestesiada.
O silêncio era a única coisa que se ouvia, naquele momento. Eu tinha que
comprovar o que se passava ali entrei no closet e fechei as portas. Via-se
tudo o que passava no quarto, a cama estava disposta de um modo que
veriam tudo o que aconteceria. Olhei nos olhos de cada um e sai antes de
matá-los com minhas mãos.
Olhei para o homem que estava de pé no quarto e uma dor no peito
cruzou tão forte que tive que colocar a mão para ver se aliviava. Eu tinha
que perguntar, mas minha voz mal saiu.
— Por quê? — Lágrimas caiam dos meus olhos enquanto meu coração
sangrava. Eu não precisava perguntar o que era aquilo, eu sabia, eu era o
novo brinquedinho deles. Meu estômago começou a doer muito, minhas
pernas estavam tão trêmulas que não tinham forças para me sustarem em
pé.
Ethan se abaixou ao meu lado, vi que chorava muito, só que não fazia a
menor diferença porque não sei se são reais.
— Letícia... — Com a mão no estômago, afasto-me dele.
— Por que, Ethan? — Olhei para os outros. — O que eu fiz para vocês me
odiarem tanto? — Liam tenta se aproximar.
— Letícia por favor me deixa explicar. — Olhá-lo ali, me fez desacreditar
do mundo.
— Explicar o que, Liam? Que os vídeos pornôs perderam a graça e agora
querem ao vivo? Eu confiei a minha vida a você Liam.
— Eu não queria... — Ethan.
— Não queria o que, Ethan? Que eu não descobrisse que tínhamos
plateia? Meu Deus, vocês são doentes.
— Não era... — Eu estava prestes a desmaiar com tudo isso. Martino
chega perto de mim.
Antes que ele terminasse de responder, ouvimos um tiro.
Os que estavam dentro do closet saíram rapidamente se colocando ao
meu lado, Zachary entra na minha frente ficando entre eu e a porta, Liam
também se aproximou e Ethan me ajudou a ficar em pé.
— Vou ver o que aconteceu. — Sebastian fala.
— Não sabemos quem está atirando, é melhor esperarmos até alguém
vir nos dar alguma notícia. — Zachary o segura.
O único movimento que há, é de alguém fechando a porta. Meu estômago
estava ficando cada vez pior, eu estava tremendo sem parar e alguém
colocou o casaco sobre mim. Toda aquela situação era insuportável, eu
queria gritar, bater, sair dali e não podia, não sabia o que acontecia lá fora.
Ouvimos passos e Zachary deu um passo para trás me cobrindo
totalmente. Batem na porta.
— Zach, sou eu, a Mag. Por favor, abra.
Todos olham para ele que não arreda o pé da minha frente. Sebastian
toma a frente e abre. Por entre os ombros, vejo Kaleb entrando com as
mãos para cima e logo atrás dele, Maggie apontando a arma para a cabeça
do segurança.
Acredito que todos tenham ficado mais chocados do que eu. As palavras
de Zachary pingavam descrença.
— O que você está fazendo, Mag? — Ela sorri.
— Eu vim fazer o que sempre faço cuidar de você e de seus interesses. —
Ela balança a cabeça. — Tsc, tsc, tsc. Eu sabia que aquele King Kong
estragaria tudo apagando a luz.
— Você atirou no King? — Zachary fala e seu tom nervoso é perceptível.
Com a arma em punho ela se aproxima dele.
— Aquele tiro foi no segurança da Letícia. Apareceu na hora que não
devia. — Ela deu de ombros. — Tive que atirar.
— Cadê os outros, Mag? — Zachary tentava manter a voz calma.
— Estão lá embaixo com a anã de jardim da Lorena sob a mira de outra
arma para que nenhum idiota tente nenhuma gracinha.
Ethan dá um passo à frente, levando meu braço junto e quase me
fazendo cair.
— Se você machucar a Lorena eu juro por Deus que te matarei com
minhas próprias mãos, cadela.
Mag era uma loira não muito alta, daquelas mulheres com corpo
excessivamente magro, mas era bonita. Olhos verdes, nariz pequeno com
sardas delicadas por ele, seus traços de garota doce ficaram para trás.
Naquela roupa preta justa, com uma arma na mão, ela era ameaçadora. Ela
ri.
— Se você não ficar quieto, ambos se encontrarão no céu, se é que você
vai para lá, senhor Scott. Vamos parar de gracinha e arrumar essa bagunça?
Todos se afastem da Letícia. — Ela faz cara de nojo assim que me olha.
Martino e Bashir foram os únicos que se afastaram de mim. — Eu não estou
para brincadeira, se acham que não usarei minha arma estão enganados. —
Ela atira no pé de Kaleb me fazendo ofegar de me medo.
Ela realmente não estava para brincadeira. Todos se afastam, inclusive
Ethan e eu caio. Ela aponta a arma para minha cabeça.
— Deem mais um passo e atiro na cadela. — Mag se aproxima de mim e
chuta minhas pernas. — Eu sabia que você colocaria tudo a perder, puta do
cacete. Você sempre estraga tudo Letícia, mais uma vez, meus planos foram
por água abaixo por sua causa.
— Que planos? — Zachary fala. Ela olha para ele sem tirar a mira de
mim.
— Você transou com ela, para eles verem? — Ele responde.
— Não...
— Pois é; já era de se esperar, não é Chatícia? Você sabe o duro que tive
que dar para a merda dessa aposta acontecer?
— Aposta? — Minha vez de perguntar. Sua gargalhada é tenebrosa.
— Oh yeah! Eles apostaram dez milhões para ver quem te comeria
primeiro. — A dor do meu estômago piora e coloco a mão na boca para não
vomitar aqui. Ela continua. — Mas não se sinta diva, querida, porque as
antas já tinham esquecido a merda no outro dia.
Como alguém poderia se sentir diva sendo a aposta do cara que estava
apaixonada? A mulher está completamente louca.
— Como assim? — Foi a única coisa que consegui perguntar.
Ela mexia a arma para lá e para cá. De longe se via que dominava bem
uma arma, mas aqueles balanços estavam me deixando em pânico.
— Pergunta se eles se lembraram de depositar o dinheiro na conta
citada? Melhor, pergunta para o Larkin se ele abriu a merda da conta? Eu
respondo, não, eles não lembraram! Sabe por quê? Porque não estavam
ligando para a aposta. Ethan só pensava naquela anã, Liam revoltado
porque foi obrigado a participar, Martino estava preocupado em comer
metade do hotel, Sebastian em ser comido por alguém, Bashir em
frequentar bordel e Zachary obcecado em te ter. — Mag puxa uma cadeira e
senta-se ainda apontando a arma para mim. — Em Abu Dhabi, eu vi que
Zach estava louco por você. Aproximei-me do Martino, depois do sheik e,
por fim, do Sebastian, transei com cada um e conquistei sua confiança. Eu
sabia de alguma forma, que precisaria desses imprestáveis mais tarde. No
começo, sua presença era suportável, sabia que ele a comeria e depois a
descartaria. Só que percebi que ele. — Ela aponta para Zachary. — Estava
apaixonado por você. Eu tinha que fazer alguma coisa, trabalho há anos
para ele, fazia tudo por ele, eu o amo e não ia deixar que uma negra do
terceiro mundo tirasse o amor da minha vida. Então, decidi te tirar do meu
caminho. — Tento processar tudo, mas está difícil. Ela continua. — Graças a
essa coisa que Zach tem que nenhuma mulher presta, eu pude manipulá-lo
para que tivesse nojo de você. Mas conhecemos os homens, não é? Não deu
certo. Lembrei-me da bendita aposta que fizeram, eu te conheço, sabia que
quando soubesse que Zach te comeu para os outros assistirem, você nunca
mais o olharia. Então, comecei a articular, me encontrei com os três e filmei
as transas. Martino gosta de uma sacanagem sadomasoquista, apanhar na
cara, levar chute no saco, essas coisas. Sebastian gosta de ser comido, ele
carrega um vibrador e tive que o comer com aquilo. Nojento! E Bashir me
chupou, não parece grande coisa, mas isso na terra dele é uma ofensa grave
ao sagrado alguma coisa. O homem jamais deve chupar as mulheres, ainda
mais um sheik e também tinha uma filmagem num bordel no Ceará. Enviei
uma cópia dos vídeos, dizendo que jogaria na internet e enviaria aos
principais programas de televisão, se caso eles desistissem da aposta. E
claro, deveriam convencer Zach de que o dossiê era verdadeiro. Graças aos
pais do Zach, pouco tive que fazer para ele querer se vingar de você,
levando essa aposta à diante. Encomendei um dossiê, que por sinal foi
muito bem feito, com informações um pouquinho alteradas e bastou para
fazê-lo acreditar que você era uma interesseira. A sua ex-sogra é uma
cobra, Letícia. Venderia o próprio filho por alguns dólares. Ela gentilmente
me ajudou a montar essa história, em troca de algum dinheiro.
Por um momento ela parou de falar. Olhou para o Zachary e voltou sua
atenção a mim.
— Até então, eu só queria você longe, mas no dia em que Zach estava
comigo na cama e chamou por você, sua morte foi decretada.
Que mulher diabólica! Minha cabeça girava, eram muitas informações
para ser assimilada naquela situação, eu já não sabia se estava ouvindo
direito ou se era alucinação, a história toda é surreal. Minhas lágrimas
aumentam a dor também, só não sei o que dói mais, o coração ou o
estômago. Dou-me por vencida.
— Parabéns, Maggie. Você conseguiu o que queria... — Ela balança a
cabeça negativamente.
— Não consegui. Eu queria mais, queria que você fosse usada e
humilhada na frente deles, depois escorraçada daqui por ele. — Meu
sorriso era amargo.
— Eu fui usada e humilhada. No dia que você entrou na minha suíte em
Abu Dhabi, o seu amor estava falando que tinha se arrependido de transar
comigo. — Achei que Maggie iria comemorar, pelo contrário, ela surtou e
aos berros falou.
— Você transou com essa desgraçada? — Transtornada andava de um
lado para outro. — Eu não acredito que você transou com essa puta, Zach.
Agora terá que tomar banho com desinfetante.
O que aconteceu a seguir foi muito rápido. King entrou e bateu na cabeça
dela com um revolver e Maggie foi ao chão. Toda a movimentação foi na
velocidade da luz.
Os seguranças entraram, Lorena correu ao meu encontro, braços me
ergueram e colocaram-me na cama. Abracei a Lorena e choramos juntas. E
como em filmes, a mulher que estava no chão, alcança a arma e atira.
Minha única reação foi me jogar em cima da Lorena. Então, não senti
mais nada e adormeci vendo o rosto da boneca Lolo.
Capítulo 29
Zachary

Ver a Letícia ferida e desacordada foi a pior coisa da minha vida. No


momento em que o tiro a atingiu, eu morri mil mortes. Não pensei duas
vezes, corri e a tirei de cima da Lorena que gritava. Ethan a pegou tentando
acalmá-la. King me levou até a poltrona e ali fiquei embalando-a até o
socorro chegar.
Policiais encheram o quarto, algemaram a Mag que estava
descontrolada. Lorena chorava muito e os outros, assim como eu, se
lamentava por Letícia pagar o preço do nosso capricho.
Deus, eu sei que não sou digno dela, mas não a puna dessa maneira, dou
minha vida pela dela...
Enquanto rezava, lágrimas caiam selando minha proposta ao Todo
Poderoso. Ninguém faz ideia do tamanho da dor que sinto, prefiro a morte
a sentir isso.
— Senhor, pode soltá-la, estamos aqui para socorrê-la.
— Promete que fará tudo para salvar a vida dela?
— Nós não descansaremos enquanto não trouxermos ela de volta. Mas o
tempo está contra nós, senhor.
Entrego meu coração para os paramédicos. Eles não sabem ninguém
sabe, mas Letícia tem meu coração em suas mãos. King joga uma camisa
para mim e subo na ambulância. Tudo o que acontece em volta, está em
segundo plano, toda minha atenção está nela.
— A pulsação dela está muito fraca. Acelera, senão vamos perdê-la. — O
meu desespero só aumentava com a conversa dos paramédicos. Cheguei
pertinho do seu ouvido.
— Você não pode ir, o mundo precisa do anjo de olhos dourados. Eu
preciso de você para respirar... — Falei.
Chegamos no hospital e a levaram direto ao centro cirúrgico, não tinha
mais nada que eu pudesse fazer, só rezar. Procurei a capela, ajoelhei-me e
baixei a cabeça.
Eu não tenho nada para te oferecer, Senhor, sou um homem quebrado,
mas humildemente te peço, salva a Letícia. Por tudo que é mais sagrado,
salve-a, porque eu não se posso viver em um mundo em que aquele anjo não
exista...
Fiquei ali até não ter mais lágrimas para secar. Voltei a sala de espera à
procura de notícias, encontrei o lugar mergulhado no caos.
Os seguranças tentavam conter a imprensa, Ethan estava ao lado da
Lorena, mas não se tocavam, Sebastian estava no telefone, Martino, Liam e
Bashir estavam conversando no canto.
— Boa noite, tem alguma informação da moça que entrou baleada? —
Encaminho-me até o balcão.
— Ela ainda está em cirurgia, senhor O´Brian. — A enfermeira abre um
grande sorriso assim que me reconheceu.
— Obrigado.
— Hum... senhor? Poderia assinar a revista para mim? — A enfermeira
de meia-idade bate seus cílios para mim.
— Assino com prazer, se você me fizer um favor. — Ela sorri mais que
prestativa. — Quero informações sobre a menina que está na sala de
cirurgia.
— Assim que souber de alguma coisa, eu lhe comunicarei.
Pego o exemplar da Vogue que ela colocou em cima do balcão.
— Obrigado. Seu nome?
— Mary... — Assino e devolvo a revista. King se aproxima.
— Como ela está?
— Não sei ninguém traz notícias. Na confusão, acabei deixando tudo
para trás. Levaram a Mag?
— Levaram. Mas antes destilou o veneno na Lorena, contou sobre a
aposta. — Ele passa a mão na cabeça. — Por mim teria matado aquela
vagabunda...
— Os seguranças feridos foram socorridos?
— Sim...
— Senhores. Para maior conforto, gostaria de convidar-lhes a aguardar
em outra sala. — O diretor do hospital se aproxima e tem nossa atenção. —
Lá vocês ficarão mais à vontade, está difícil conter a imprensa e até a polícia
chegar, poderemos ter algum incidente.
Fomos para uma sala em outra parte do hospital, os seguranças
guardavam as portas e corredores que davam acesso à sala. King continuou
a passar o relatório.
— O parceiro da Mag, que manteve a Lorena na mira, era um segurança
que Ethan contratou recentemente. Antes que a polícia fosse a casa dela,
pedi a Ted e um dos meus homens para ir até lá procurar os vídeos e
apagarem qualquer coisa que tiverem de vocês.
— Como ela soube da aposta? — Isso na saia da minha cabeça.
— Ela sabia tudo sobre você, porque tinha livre acesso a sua casa, Zach.
Olho para King com arrependimento evidente.
— Você é meu melhor amigo, eu jamais deveria ter duvidado da sua
palavra. Talvez me desculpe, seja pouco para me redimir, mas estou
pagando os meus pecados o suficiente por uma vida inteira, King. Se
alguma coisa acontecer a ela, eu não me perdoarei nunca!
— Esqueça cara. Ela é forte, vai sair dessa ilesa.
— Quem são os parentes da menina que levou o tiro.
— Eu! — Todos que estavam ali falaram em uníssono.
— Vocês o cacete! — Lorena vem à frente e vira para todos com a mão
na cintura. — É justamente por causa de vocês que ela está lá. Eu sou a mais
próxima, ela é minha irmã.
— Ela está bem, a bala não atingiu nenhuma área delicada e já foi
retirada do braço. Ela desmaiou devido à fraqueza e no caso dela, qualquer
perda de sangue pode ser grave. O que está nos preocupando é a fraqueza
em que ela se encontra, fizemos alguns exames e até os resultados
chegarem, a manteremos internada. Ela já está no quarto, dormindo
tranquilamente. Você poderá ir vê-la e ficar com ela se quiser. Alguém
deverá preencher a papelada da internação junto à recepção.
— Eu faço isso. — Eu digo.
— Vai preencher a ficha com que dados? — Lorena olha-me com
descrença. — Com os que a sua assistente maluca passou para você? Idiota.
Não se esqueça de pagar o melhor que esse hospital tem a oferecer, é por
sua causa que ela está lá. Babaca.
Cada palavra dela equivaleu a uma facada. A verdade é cruel, eu sou
culpado pelo sofrimento da Letícia. Dar o melhor tratamento a ela é o
mínimo que posso fazer no momento. Vou até o balcão da recepção e
preencho toda a papelada e acerto a transferência dela para o quarto
particular com atendimento de primeira. Também ligo para Phillip vir
acompanhar o caso dela.
— Conseguimos conter a imprensa dizendo que um de vocês daria uma
declaração sobre o que aconteceu. Ficarei grato se alguém for lá e disser o
que se passa. — O diretor do hospital aparece novamente.
Ninguém estava em condições de fazer isso. Cada um de nós estava
afundado no remorso e na vergonha. Cada um de nós estava pedindo ao seu
Deus, que livrasse a Letícia da morte, para vivermos sem carregar essa
culpa nas costas.
— Eu vou. — Todos me olham apreensivos e continuo. — É minha
obrigação.
King e mais três seguranças me acompanham até onde a coletiva foi
organizada. Não tinha ideia da proporção que isso tomou, há muitos
jornalistas e fotógrafos esperando como abutres cheirando a carniça.
Coloco-me de frente para a plateia de câmeras e microfones e logo começa
a chover perguntas.
Como não tinha ideia por onde começar, respondi a primeira pergunta
que foi:
O que aconteceu?
— Estávamos em reunião e uma psicopata invadiu e atirou em dois
seguranças. Foi um ataque premeditado e partiu de um dos nossos
funcionários. Todos passam bem, não houve nenhuma desgraça além do
psicológico abalado.
— Senhor O´Brian, temos informação de que a senhorita Barros foi
atingida e deu entrada no hospital desacordada. O senhor confirma isso?
— Ela passa bem. Boa noite.
Tenho que chamar minha assessoria e mandar conter o alastramento de
informações, essa história vai rodar o mundo amanhã cedo, a família dos
outros entrarão em desespero e tenho a impressão de que essa merda vai
ser maior do que deveria.
Sento em uma cadeira na sala de espera, que estava mergulhada no
silêncio do desespero. Liam fala para que todos nós ouçamos a história.
— A Letícia perdeu os pais, muito jovem viveu com a avó que logo em
seguida também faleceu. Apesar de estar vivendo com pessoas próximas,
trilhou sua vida sozinha. Logo conheceu um cara na faculdade e foi morar
junto com ele, Letícia deu tudo o que tinha para ele. Um belo dia descobriu
que o cara tinha uma namorada paralela e que a menina estava grávida, a
família do canalha sabia de tudo, mas preferiram a que ia dar o neto
esperado. Letícia tinha construído uma casa praticamente sozinha, já que
ele não colocava dinheiro em nada. A casa estava no nome dele e quando o
bastardo se casasse, iria levar a garota para morar nela. No desespero,
Letícia fugiu para outra cidade, ficou em depressão profunda e se não estou
enganado, deixou de comer para morrer definhando...
Meu Deus. O que eu fiz?
Não suportava mais ouvir aquilo, eu não fazia ideia do que foi a vida
dela. Que tipo de monstro eu me tornei? Meu peito doía, a dor era física. Eu
sei que mereço e pretendo aguentar como homem, mesmo que isso me
destrua. Liam continuou.
— Ela conheceu Lorena quando chegou ao Rio pouco tempo depois.
Lorena e a mãe acolheram Letícia e formaram uma família. Eu não sei o que
tinha no dossiê, mas somos maduros o suficiente para reconhecer quando
uma pessoa é ou não aquilo que diz.
— Você não faz ideia do que isso me custou, Larkin. Não faz ideia do
inferno que tenho passado desde o dia que recebi o vídeo. Se acontecesse
alguma coisa com a Letícia, eu não me perdoaria nunca... — Martino fala.
— Tem notícias da senhorita Letícia? — Kaleb entrou mancando.
— Ela está bem, fora de perigo, já está no quarto. — Ethan responde.
— Graças a Deus.
Não sei quanto tempo ficamos ali, acho que viramos à noite sentados na
sala, ninguém dormiu, ou saiu. Levantei-me e fui ver o sol nascer na janela,
uma enfermeira entrou com um carrinho de café da manhã para nos
alimentarmos. Só queríamos saber da Letícia
— A senhorita Letícia acordou ainda muito fraca, mas poderá receber
visitas. Alguém quer ir vê-la? — Uma enfermeira anunciou.
Pergunta idiota, é claro que queríamos, só não tínhamos coragem de
encará-la.
Os primeiros foram Sebastian e Martino, ficaram mais ou menos dez
minutos e saíram direto para voltar as suas casas. O seguinte foi Bashir e
Ethan, ficaram mais ou menos esse tempo também. O sheik se despediu e
partiu, Ethan continuou ali. Pela cara dele, não aconteceu coisa boa lá
dentro.
Os próximos foi King, Kaleb e Luck. Estava quase invadindo o quarto
quando eles saíram, estava muito ansioso, queria vê-la de uma vez. A
enfermeira acompanhou Liam e eu até o quarto. Letícia estava sentada,
abatida e linda como um anjo. A emoção de vê-la viva foi tão grande que
não contive minhas lágrimas. Tinha medo de me aproximar e ela me
repelir, a essa altura do campeonato, eu não suportaria. Fiquei de longe
vendo Liam segurar e beijar sua mão, incontáveis vezes. E pela primeira
vez na minha vida, estava com inveja.
— Eu não deveria te perdoar, cretino. — Lorena que não deixou o
quarto um momento se quer. — Mas se a Letícia os perdoou por terem
acreditado na vaca da Mag, quem sou eu para ficar guardando mágoa.
— Ethan não teve culpa, Lorena. Tanto ele quanto o Larkin foram
obrigados a estar nessa. Ele vem se consumindo na culpa nos últimos dias...
— Não o culpo sobre o desfecho, não culpo nenhum de vocês. Vocês
foram manipulados, chantageados, isso eu compreendo. O que não dá para
engolir é o tipo de brincadeira onde se fazem apostas como essas, se não
fosse com a Letícia, seria com outra. Vocês crescem em um mundo onde
tudo tem preço, Zachary. Nós crescemos em um mundo onde tudo tem
valor. Consegue ver a diferença? O dinheiro te dá poder sobre coisas e não
sobre a vida das pessoas. Sei que o mundo de vocês é sujo, conheço um
pouco da sua história, consigo até entender. Só que levará um tempo para
perdoá-los.
Liam desocupa a cadeira ao lado da Letícia e eu sento. Pego sua mão,
acaricio e beijo.
— Como se sente?
— Dolorida, mas estou bem. O médico disse que me liberará daqui a
pouco.
— Lá fora ele disse que estavam esperando o resultado de exames. Já
ficaram prontos?
— Sim. Só faltou o resultado de um.
— Espero que você me perdoe um dia. — Beijo sua mão mais uma vez e
falo sem coragem de encará-la. Ela passa a mão pelos meus cabelos.
— Não deveria te perdoar nunca. Sabe eu não sei o que dói mais, o tiro
ou fato de você ter saído comigo por causa de uma aposta...
Balanço a cabeça negativamente.
— Nisso você está enganada. — Olho-a desnudando a minha alma. — Te
desejei desde a primeira mancada que dei quando nos encontramos no
Brasil, quando você passou a mão na minha camisa e disse que sua agenda
estava cheia. Desde aquele momento, eu te desejei cada minuto e quanto
mais tempo ficava com você, mais te queria. Sei que não sou digno do seu
perdão, sou homem o suficiente para assumir meu erro e dizer que me
arrependi amargamente. Mas, se você permitir, eu passarei o resto da
minha vida tentando compensá-la por tudo. Só que preciso do seu perdão
para viver e cumprir minha nova tarefa.
— Te perdoei no momento em que acordei viva.
— Onde você esteve que não te encontrei antes?
— Bom dia a todos. — O médico entrou no quarto e se dirige para
Letícia. — Pronta para ir para casa? Vim lhe dar uma boa notícia e alta.
Bom, houve um detalhe que a senhorita e nem ninguém mencionou que
faria toda a diferença. E foi a sua negligência que a fez ficar fraca.
— Que detalhe eu não contei enquanto estava desacordada?
O médico entendeu a ironia.
— A gravidez, senhorita Letícia. A gravidez é o detalhe que tem lhe
deixado fraca.
— Não pode ser...
— Tanto pode quanto é. Você não sabia?
— Quando estivemos no médico a primeira vez, ele falou que era uma
intoxicação alimentar. — Letícia abria a boca, mas não saia nada, Lorena
sentou ao seu lado e respondeu por ela. — Passou alguns medicamentos e
pronto. Só que ela continuou mal.
— Sua menstruação não atrasou? — O médico volta a falar com Letícia.
Ela balançou a cabeça em negativo e Lorena voltou a falar.
— O ciclo da Letícia não é constante.
— Para ficar grávida você teria que ter relações sexuais ou inseminação.
— O doutor insiste. — Pela sua reação vamos descartar a inseminação,
agora me responda, você usou preservativo na sua última relação sexual?
Ela olha para mim ainda pálida, na hora não entendi que fui sua última
relação.
— Eu usei preservativo e... Rasgou.
— E você não pensou em me contar? — Letícia de chocada passou à
raivosa. — Não achou que seria um detalhe importante? — Ela tenta se
levantar.
— Calma Letícia...
— Calma o caralho! Como você tem coragem de me pedir calma?
— Você a usou, engravidou e a expôs. — Larkin me dá um soco. — Teve
mais alguma coisa que fez para prejudicá-la, imbecil?
O soco me faz raciocinar a situação e olho no fundo dos olhos dele.
— Eu não sou o pai do filho dela, você é! — A minha raiva era tanta que
soquei o nariz dele.
Seguranças entram e nos separam. Minha vontade é arrebentar esse
filho da puta, quebrar parte por parte do corpo dele, esquartejar e espalhar
as partes pelo mundo para não haver chance de vela-lo inteiro, bastardo
dos infernos.
— Não há a menor chance do Liam ser o pai de um filho meu, Zachary.
— Letícia entra na minha frente.
Encaro-a e bloqueio todo pensamento que me faça duvidar dela
novamente, mas infelizmente não podia ser meu.
— Por mais que eu quisesse, não pode ser meu.
— Por quê? — Letícia fala baixinho, como se tivesse medo de ouvir a
resposta.
— Porque não posso ter filhos.
Capítulo 30
Letícia

— Como assim não pode ter filhos? E o que está dentro de mim? — Ele
passa a mão pelo meu cabelo.
— No meu último check-up, o médico voltou a dizer que para ter filhos,
terei que fazer tratamento. Esse filho que você espera, não é meu.
Sento na cama a procura de uma explicação lógica. Zachary foi único
homem com quem deitei há meses. Não existe outro.
Depois de tudo o que aconteceu, será que acreditarão em mim? Não,
principalmente ele, que já está determinado a não acreditar na minha
palavra, assim como foi todo esse tempo. Até poucas horas atrás, sua
concepção sobre mim era a pior possível, acreditava que eu era uma
interesseira atrás do seu dinheiro. Acreditava não, acredita. Não adiantará
discutir, ele jamais se convencerá que essa criança é dele.
O médico passa as vitaminas que eu devo tomar e me dá alta,
aconselhando-me a fazer o pré-natal em breve, visto que eu já estava
entrando na sétima semana de gravidez, coincidindo com o tempo que
estive com ele em Abu Dhabi.
Peço licença para trocar de roupa e sair o quanto antes. Liam e Lorena
saem, deixando Zachary e eu sozinhos. Ele me segura.
— Eu sei que você não é interesseira. Realmente transamos e acho que
se eu estivesse no seu lugar, também optaria por aquele que pode dar tudo
ao meu filho... — Em um impulso, bati na cara dele com o braço livre e com
toda a força que me restava.
— Escute bem, seu cretino, da próxima vez que ousar abrir a boca para
falar uma asneira dessa novamente, eu arrebento essa carinha de modelo.
Eu não preciso de homem nenhum para sustentar meu filho e jamais
escolheria um que aposta a vida de outras pessoas. Quem me garante que
não esteja dando uma desculpa barata para não assumir? Afinal, sou uma
vaca negra de terceiro mundo, poderia pegar mal para os Thorton O´Brian.
— Jamais repita uma asneira como essa entendeu? — Ele fala alto,
puxando seus próprios cabelos. Seus olhos são amargurados. — Você é
linda como poucas pessoas nesse mundo. — Ele beija minha testa e vai em
direção à porta. — Você está fraca, acabou descobrir que está grávida, não é
hora para discussão. Outro dia conversamos. — Sai fechando a porta atrás
dele.
Minha raiva é tão grande que levanto da cama sem ajuda e com um dos
meus braços enfaixados, jogo tudo o que está à minha frente no chão. Liam
entra e tenta me conter enquanto me debatia, quando minha força se
esvaiu de vez, restou só o choro e a ferida do meu braço sangrando.
Ele me abraçou e me deixou chorar por tudo, pela aposta, pelo ódio da
Maggie e pelo meu filho sem pai. Tive certeza de que não nasci para ser
feliz e não quero que essa criança seja fadada ao mesmo desastre que eu,
farei o mundo dela colorido, onde ela será tão amada que não sentirá falta
de ter um pai.
O médico e a enfermeira voltaram e eles refizeram meu curativo, Lorena
ajudou-me a vestir a roupa que trouxe e me preparei para sair. Havia
alguns seguranças na porta do meu quarto, soube que sairíamos pelos
fundos porque a imprensa ainda estava em peso esperando minha saída. Os
seguranças fizeram uma barreira ao meu redor até entrar em um carro com
vidros pretos.
Havia muitos fotógrafos na frente do prédio, por segurança, fui levada
para um hotel um pouco distante dali. Não estou acostumada a esse tipo de
assédio e acho desnecessário porque não sou ninguém. No caminho vou
digerindo tudo o que aconteceu desde ontem. Se outra pessoa tivesse me
contado, não acreditaria.
Quando Martino e Sebastian entraram no quarto em que eu estava, achei
que o italiano iria ter um treco. Ele se jogou no chão ao lado da cama
repetindo perdonami. Sebastian tão arrependido quanto o outro, também
me pediu perdão, disse que não se perdoaria se Maggie tivesse me matado.
Eu os perdoei, depois do que aconteceu, duvido muito que queiram apostar
alguma coisa outra vez.
Ethan era o mais arrependido de todos. Vi tristeza e até arrependimento
nos olhos dos outros, mas dor, só nos do Ethan. Toda vez que Lorena estava
por perto a dor dele era evidente. Ele sentou na cadeira ao lado da cama e
colocou a cabeça no meu colo e ali, chorou, copiosamente. Como um
menino que tinha perdido seu melhor amigo, como um homem que perdeu
a coisa mais importante da sua vida. Ethan já vinha sofrendo demais,
começou a pagar pelos seus pecados, antes de ser julgado.
Eu não deveria perdoá-los, mas o fiz assim que vi a carinha de cada um
depois que acordei. Talvez, eu até devesse me vingar, mas não consigo, não
sei ser assim. Depois que a Maggie contou tudo o que fez, a aposta era
quase nada. Cedo aprendi que carregar mágoas, é como carregar pedras,
cansa, torna o caminho mais difícil. Prefiro coloca-las de lado para que não
atrapalhe o caminho do próximo. E mais, não quero gerar outra vida
afundada em rancores, quero que ele ou ela, conheça o amor em sua
plenitude.
Quando chegamos ao hotel, fui instalada em uma excelente suíte. O
quarto era espaçoso, havia duas camas de casal, a decoração era delicada
em tons pastéis. Havia uma poltrona no canto e ao lado uma mesinha
redonda com duas cadeiras e da sacada dava para ver toda a cidade. O
banheiro era praticamente outro quarto, amplo, com uma banheira branca
de um lado, a ducha de outro e a bancada que ocupava toda uma parede,
em mármore rosado.
— Qualquer coisa que precisar, eu estarei na suíte ao lado. Há
seguranças na saída do elevador e guardando sua porta. — Liam fala.
— Eu preciso de respostas, Liam.
— Lê, você acabou de sair do hospital. Vamos fazer isso outra hora.
— Não. Vamos fazer isso agora. Sente-se Liam, por favor. — Assim que
ele se senta, continuo. — Me fala sobre a aposta.
— Letícia...
— Por favor, Liam. Me fala sobre a aposta.
— Zachary e eu estávamos tentando te conquistar, Martino e Sebastian
também falaram do interesse, afinal, você é uma mulher bonita, inteligente.
No meio da discussão que até era bem-humorada, Ethan deu a ideia da
aposta...
— A ideia absurda só poderia ter saído de uma cabeça absurda. —
Lorena fala.
— Ele não falou aquilo a sério, só fez um comentário tirando com a
nossa cara. Mas Sebastian levou a brincadeira um pouco mais a sério e
falou que topava. Mas Ethan e eu não iríamos participar da disputa,
somente assistir... O ato. — Percebi que Liam não queria me olhar. — O que
a ex-assistente do Zachary falou é verdade, eu deveria ter aberto uma conta
e eles deveriam ter depositado, mas nada disso foi à frente. O mais
interessado era Zachary, mas não pela aposta e sim por você. Assim como
eu, ele te quis desde que te viu. Pensando bem, o que a garota falou explica
muita coisa...
— O que?
— Ethan e eu nos reunimos com o Martino, Sebastian e o Bashir. Fomos
ver se conseguíamos dissuadi-los da aposta, eles nem quiseram ouvir muita
coisa, disseram que não e, pronto. Ethan voou no pescoço do Martino e por
muito pouco não fez uma loucura. — Ele pega minha mão e olha sério para
mim. — Eu não quero justificar o erro e nem defender ninguém, por mais
que eu não quisesse estar ali, poderia ter feito qualquer coisa e não fiz. Não
acredito que falarei isso, mas, Zachary está apaixonado por você, ele só não
sabe lidar com isso.
— Não acredito e também não quero falar disso. Vocês sabem como
estão Luck e Kaleb?
— Estão bem, te mandaram um beijo e Luck disse que em breve estará
conosco.
— E a Maggie?
— Ela foi autuada e levada para fazer exames psicológicos. Dependendo
do resultado, eles a levarão a uma prisão adequada. Mudando de assunto,
vocês duas embarcarão para Dublin comigo, amanhã. — Liam estende um
cartão na minha direção. — Esse é um dos melhores médicos daqui, caso
queira se consultar com ele antes de viajarmos. Pedi isso a um amigo e ele
já deixou tudo encaminhado, é difícil conseguir uma consulta com o Phillip,
ele é muito requisitado. De qualquer maneira, estão esperando sua ligação
para encaixa-la amanhã mesmo se for preciso. Letícia, talvez você não goste
que eu tenha tomado à frente, mas lá, é o único lugar que a imprensa não irá
te caçar.
Não tenho nada a perder em tirar folga dessa loucura...
— Sem problemas, Liam. É bom ter alguém para cuidar das coisas para
mim neste momento.
— Vou acertar os detalhes da viagem e descansar. Vocês duas também
descansem. — Ele beija minha testa e a da Lorena.
— Obrigada, Liam... — Ele pisca e se vai.
— Lolo, nós não temos roupa para trocar e nem para viajar...
— Por enquanto a gente fica pelada e você vai se despedindo desse
corpo magro. King me disse que a situação está complicada, os fotógrafos
não saem de lá por nada. Então, combinamos que ele me colocaria para
dentro pelos fundos, pegarei roupas para mim e para você. E vou agendar
seu médico para amanhã. — Ela coloca a mão na minha barriga. — Temos
que cuidar desse bebezinho.
— Lolo, lá no hospital, Zacha...
— Esqueça tudo isso. De agora em diante, pensaremos somente nessa
criança. Já tenho planos, se for menina, vou repassar todo meu
conhecimento para ela pisar na cabeça desses imbecis.
— E se for menino?
— Ensinaremos como não ser um imbecil.
— Você será a melhor tia do mundo.
— Sou mesmo. Não esqueça que você tem que contar para dona Aurora
que ela vai ser avó e não quero estar perto.
— Ai! Estou toda dolorida.
— Toma um banho e deita para descansar, deixa o resto comigo e meu
assistente.
— Assistente?
— Ah sim, me deram um assistente chamado King.
— King é um gigante gentil. Lorena, eu sei que não é da minha conta e
não quero ser inconveniente, mas Ethan está sofrendo demais... — Ela
coloca as mãos na cintura.
— Que morra! O dia que ele crescer e se tornar um homem de verdade,
quem sabe, talvez, um dia, poderemos conversar. Até lá, nada de Ethan.
— Ok.
Tomo um banho, enrolo-me na toalha e deito na cama quentinha. Meus
pensamentos vão até Zachary, eu daria tudo para estar nos seus braços
agora. Daria qualquer coisa para ele me amar e acreditar que não quero
saber do seu dinheiro. Mais uma vez, a vida me mostrou que o amor não
está ao meu alcance. Passo a mão pela minha barriga, o amor está dentro de
mim, sendo gerado. Sorrio como uma boba com pensamentos incoerentes.
Adormeço repetindo... Eu vou ser mãe.

——ooOoo——

Sinto alguém passando a mão no meu cabelo.


— Lê?
— Oi... — Acordo um pouco atordoada.
— Está quase na hora de ir ao médico e você ainda tem que tomar café
da manhã.
Café da manhã? Meu Deus. Estou desmaiada desde ontem?
— Quanto tempo eu dormi?
— Um pouco mais de quatorze horas. Vamos levantar mamãe.
Levanto contra todas as minhas vontades, vou para o banheiro
arrastando os pés e ligo o chuveiro no quente, quase fervendo. A água corre
pelo meu corpo levando o cansaço embora, mas ainda sinto dores. Ensaboo
minha barriga demoradamente, como se pudesse sentir o bebê e ainda não
dá para acreditar que há uma vida dentro de mim.
Depois de me arrumar e tomar um bom café da manhã, eu sou escoltada
até o carro e de lá ao médico. Tive que entrar pelos fundos novamente, os
fotógrafos poderiam saber do meu paradeiro. E realmente isso não é para
mim, não sou celebridade, nem reconhecida e muito menos rica. De
qualquer maneira, não me ouvem mesmo, faço o que me mandam e fico na
minha.
Sou levada a uma sala decorada em azul claro, não parece um
consultório convencional. No lugar de cadeira, havia poltrona, a cama para
exames, não era maca convencional. E olhando daqui, minha cama perde
feio para essa. Uma enfermeira pede que eu tire a roupa e coloque o
roupão.
— O doutor já está a caminho para lhe examinar, senhorita Barros.
Lorena entrou comigo, ainda não é o momento de ficar sozinha,
encontro-me em estado de choque com tudo que aconteceu nos últimos
dias, tê-la aqui, segurando a minha mão, é muito importante.
— Olá, senhoritas. — O médico entra e nos cumprimenta. — Sou o
doutor Phillip. — Esse nome não é estranho... Ele é um daqueles doutores
de rosto dócil, basta olhar para os seus olhos para se sentir acolhida. Deve
ter por volta de sessenta anos, alto, cabelos grisalhos, olhos verde e magro.
Ele olha alguns papéis e vira-se para mim. — Então, temos uma mamãe,
senhorita Barros...
Estranho, por um acaso tem um outdoor luminoso na minha testa?
— Como sabe que eu sou a Letícia Barros? — Doutor Phillip sorri.
— Você já tinha uma consulta agendada comigo para dois dias atrás e
hoje, aqui em Nova York, todos sabem quem é a Letícia Barros.
— Doutor, menos detalhes, por favor? — Lorena o interrompe. —
Estamos tentando poupar a criatura do estresse.
— Certo. Zachary tinha...
— Doutor! Assim o senhor não está ajudando ninguém.
Puxo-a pelo casaco e faço-a ficar de boca fechada.
— Por favor, nos perdoe. Lorena é superprotetora, de vez em quando ela
perde a compostura e esquece que a irmã mais velha sou eu. — Ele acena
de cara feia para a Lorena.
— De qualquer maneira, quando King me ligou para agendar essa
consulta, eu já estava a par do que tinha acontecido menos da sua gravidez,
senhorita Barros. — Ouvir senhorita a essa altura do campeonato é até
piada.
— Letícia, por favor. Mas, o senhor é obstetra?
— Bom, Letícia, eu fiz especialização em obstetrícia, mas o meu pai era
um médico famoso entre as famílias tradicionais de Manhattan. Quando me
formei, vim trabalhar com ele e acabei ficando em seu lugar. Hoje em dia,
para fazer minha parte, por uma sociedade melhor, trabalho dois dias por
semana em um hospital na periferia como obstetra. Voltando ao seu
histórico, que o hospital enviou-me. Aqui diz que você está na sétima
semana de gravidez e seus exames apontaram um quadro de anemia
importante, que se não for bem cuidada, será grave e prejudicará sua
gravidez. — Ele retira os óculos. — É importante que de agora em diante
você se cuide de verdade. Tomar as vitaminas que receitarei alimentar-se
adequadamente e muito repouso. Deite-se ali naquela mesa, vou fazer a
ultrassonografia e você poderá ouvir o coração do seu bebê.
Ninguém me disse que eu teria que abrir as pernas assim, sem um
carinho, sem um beijinho... Que vergonha!
— Letícia, relaxa. Vou fazer uma ultrassonografia transvaginal. Vou
inserir esse instrumento. — Ele mostra um treco que parece um pinto
envergado, com camisinha e lubrificante. Gente eu não estou preparada
para isso...
— Você sentirá um leve incomodo. — Ele introduz, mexe e remexo.
Então ouço as batidas do coração do bebê. Minhas lágrimas brotaram
instantaneamente, a emoção é tão grande que não consigo me conter.
Lolo se aproxima de mim e beija meu rosto, tão emocionada quanto eu.
— Parabéns, mamãe.
— Essa massinha cinza aqui, é o seu bebê. Ele é mais ou menos do
tamanho de uma uva.
— A uva mais linda do mundo! — Lorena fala passando a mão na tela.
A consulta foi demorada, ele examinou tudo que era possível. O exame
de toque é desnecessário, vai que me apaixono pelo doutor? Vai que, não é?
Ele me passou algumas vitaminas, alimentos que devo evitar e outros que
devo ter sempre em casa e principalmente, muito repouso por esses dias,
porque os três primeiros meses é mais delicado e o risco de aborto é alto.
— Mais uma pergunta doutor.
— Pode falar Letícia.
— Viajaremos para Dublin essa noite, tem algum problema?
— Está tudo bem, pode ir sem medo. Mas sigam à risca minhas
recomendações e a sua próxima consulta pode ser na volta para sabermos
se o nosso bebê está bem.
A enfermeira entra com uma caderneta linda, toda decorada. Ah, eu
quero uma dessa! Como se tivesse lido meus pensamentos, ela me alcança
junto com pequenas radiografias.
— Essa é a caderneta do seu pré-natal, mantenha sempre com você.
Todas as suas informações necessárias para ser atendida em outro lugar
estão aqui e o doutor a preencherá de acordo com as consultas. Essas são
as imagens do seu filho...
— Ou filha! — Lorena corta a enfermeira.
— Oi Lê. Como a nossa mamãe está sentindo? — Saindo do consultório
encontramos King.
— Estou bem. Você como está?
— Vendo você bem, estou bem também. Eu sei que você está com
pressa, vou ser rápido. Eu odeio o fato de não poder tirar esses filhos da
puta de perto de vocês, queria fazer alguma coisa, mas estou de mãos
atadas. Os infelizes estão acampados na frente do Solarium...
— De onde? — Gostei desse nome, lembra-me um desenho... King ri.
— Bem que Zach queria mudar, mas a lista dele é pior do que o nome
atual. Já pensou? Com a loucura dele por desenhos, seria Springfield,
Greyscow, Gotham ou mesmo Thundercats, sei lá.
Dou risada como a muito não faço.
— Solarium é perfeito, ainda mais com aquele jardim dentro do
apartamento.
— Lê, não sou o homem mais feliz com sua partida para Dublin, só que
lá, no momento, é mais seguro. Dê-me notícias para que eu fique tranquilo,
se cuida e cuida dessa criança que é muito esperada.
— Ah, King... — Uma lágrima correu dos meus olhos.
— Não chora princesa. Se aquele irlandês fizer alguma coisa que você
não gostar, me ligue. Eu voo para a Irlanda, parto ele em dois e te trago de
volta.
— Obrigada...
— Zach está tentando te ver, mas a boneca ali está barrando a entrada.
Ele te mandou um beijo e disse que qualquer coisa, basta ligar e ele
providenciará. Esse é o jeito dele de falar que te quer...
— Não estou preparada para falar do Zachary ainda.
— Vai com Deus, princesa.
Como é difícil se despedir de quem amamos, meu coração aperta e por
um minuto, eu pensei seriamente em desistir da viagem. Com isso,
lembranças começaram a vir como uma enxurrada, eu tive que bloquear
algumas, mas as imagens da noite em que meu bebê foi concebido, veio
rasgando caminho junto com lágrimas. Então caiu minha ficha, meu bebê é
fruto de uma brincadeira entre meninos grandes e eu, a ingênua,
apaixonou-se pelo perpetuador da sua vergonha.
Parabéns, Letícia, você merece o Nobel de Trouxa do ano, amar uma
pessoa que não ama ninguém, somente a ele mesmo.
Coloco a mão na minha barriga para sentir o presente que a vida me deu,
mesmo Zachary sendo um cafajeste, ele me deu um presente que não tem
preço. Não mais estarei sozinha nessa vida, Deus me deu alguém para que
eu pudesse dar todo o meu amor, incondicionalmente.
Capítulo 31
O voo até Dublin foi horrível! Ainda tivemos que fazer uma escala em
Londres para piorar meu cansaço e enjoo. Dividi meu tempo de voo entre
dormir e vomitar, meus pés incharam e meu mau humor estava mais afiado
que nunca.
— Sério Liam? Vai e se joga, para ver se eu choro. — Liam foi fazer uma
brincadeira em hora mais que imprópria e quando vi, infelizmente já tinha
falado. Todos ficaram em silêncio e eu chorei. Porque agora sou essa
bagunça, durmo, choro, vomito, choro, durmo e por aí vai... Por causa dessa
resposta mal criada, chorei por quase duas horas.
Mal desembarcamos e já estávamos novamente dentro do carro para
irmos até onde ficaríamos hospedadas. Da janela, pude ter uma ideia da
cidade, parece ser incrível, mas o cansaço era maior. Passamos pelo centro
da cidade, um bairro residencial, e o carro continuou a seguir, vi a cidade
ficando para trás. Logo, pudemos avistar grandes campos verdes, parecia
uma pintura de tão perfeito, também se pode ver pequenos vales e lindas
casas construídas entre eles.
O carro fez uma curva em uma estrada secundária e em seguida vimos
uma bela casinha no fundo daquela imensidão de campo. Havia algumas
árvores ladeando a passagem, tudo era absurdamente lindo e frio. A casa
que no começo parecia pequena, foi ficando maior conforme nos
aproximamos. Pude contemplar a arquitetura vitoriana de séculos,
conservada. Não há como descrever a não ser como um palacete.
— O que nós esperávamos do Liam? O cara é um lorde, esse jeito
principezinho pira o cabeção das meninas. E para um príncipe. — Lorena
pensa alto e aponta para a casa que mais parece um palacete. — Um
palácio.
— Essa casa pertence a minha família há séculos, sou descendente dos
primeiros vikings. — Ele fala para a Lorena.
— Dá para ser menos perfeito, Liam? Já está me enjoando.
Assim que ele acenou as pessoas se aproximaram e o cumprimentaram,
em uma língua que parece um inglês mais enrolado, como um dialeto. Ele
responde no mesmo idioma para cada um, que sorriam com prazer.
— Esses são empregados, estão aqui para ajudá-las no que for
necessário.
Os empregados carregam nossas bagagens e entramos no palácio de
Liam. Por dentro é ainda mais impressionante, achei que encontraria uma
casa toda em madeira de mogno ou cerejeira, móveis antigos, cabeças de
animais empalhados.
Mas não havia nada disso, o hall de entrada era bem iluminado e
quentinho, seguindo chegamos a primeira sala. Ficamos minúsculas perto
da grandiosidade do lugar, o espaço era dividido em três ambientes de
estar.
O primeiro com sofás marfim e almofadas em vermelhas, o tapete era
marfim com vermelho, duas poltronas vermelhas e uma mesinha de centro
de vidro. Da porta por onde entramos, pudemos ver duas grandes escadas
ao fundo desse ambiente. O segundo ambiente também tinhas sofás em
tons de areia com detalhes em dourados, tipo mais clean, com poltronas na
mesma cor, mas com detalhes em alumínio. O terceiro ambiente andava
entre o marfim e verde, com alguns detalhes em vermelho. Pode parecer
um carnaval, mas não, quem decorou essa imensidão de sala, fez um
trabalho espetacular. Não posso de deixar o barzinho que há em um dos
cantos, todo em vidro.
— Letícia? — Liam me chama.
— Oi?
— Está tudo bem?
— Estou... É só que... Desculpa, acho que o voo, somado aos sintomas da
gravidez, está me afetando. Estou bem, só estava impressionada com a sua
casa.
— Fico feliz que tenha gostado. Vou levá-las aos seus quartos, que ficam
na ala oeste da casa. Acho que ficarão mais à vontade lá, já que quando a
família vem para cá, eles ocupam a ala leste. E vão por mim, são
barulhentos, a ponto de eu ter mudado meu escritório para a ala oeste.
— Liam, já pensou em comprar carrinhos de golfe para se movimentar
aqui dentro? — Lorena brinca. Ele ri, porque só rindo mesmo depois de
ouvir essas coisas.
— Boa ideia. — Ele aponta a primeira porta. — Boneca Lolo, esse é o seu
quarto. Já havia mandado preparar tudo para a sua chegada. Se caso faltar
alguma coisa, telefone lá para baixo. Bastar discar o dois e eles a atenderão.
A porta ao lado é o meu quarto. Liam abre a porta e acena para que eu
entre primeiro. Por que as pessoas têm fixação com tamanho grande, neste
caso gigantesco? O Quarto é lindo, dispensa comentários, todo em preto e
branco. A cabeceira da cama é de couro preto, os lençóis brancos
contrastando com a colcha em preto. As poltronas em veludo preto com pés
em madeira, as cortinas eram brancas como neve e colocadas
impecavelmente, em todas as janelas.
— Venha ver. — ele chama.
Aproximo-me da janela e vejo o pequeno quintal que há nos fundos da
casa, a propriedade deve ocupar metade de Dublin. Há uma piscina ampla,
logo mais à frente uma fonte e dois jardins separados por um corredor.
— É demais. Você mora sozinho aqui?
— Não, mas é raro quando estão em casa. Meus pais preferem a fazenda
em outra cidade, minhas irmãs e suas famílias, ficam na cidade dias da
semana e sexta- feira todos vem para cá. O único que aparece com menos
frequência é o meu irmão caçula, ele mora em Amsterdã.
— Quantos irmãos você tem?
— Brigite e Aghna, são as mais velhas. Depois eu, Katrina e por fim,
Owen. Todos são casados e com filhos.
— Sua família parece linda... — Deve ser bom ter uma família grande
assim.
— O almoço está servido, mister Liam. — Neste momento uma das
senhoras que trabalham na casa, aparece na porta.
— Obrigado, Abigail. — ele olha para mim. — Vamos comer? Você
precisa se alimentar.
Descemos para a sala de jantar, logo em seguida Lorena se juntou a nós e
comemos. Boa parte da refeição eu fiquei quieta fingindo comer. Estou sem
fome, sem cabeça e com o coração apertado, sentimentos confusos. Feliz
por estar grávida do homem que amo e triste porque o homem que amo,
não me ama.
— Está tudo bem, Letícia? — Lorena me tira de dentro da floresta
selvagem que é minha cabeça.
— Estou cansada. — Olho para uma das senhoras que nos serviram. —
Obrigada, estava delicioso. Com licença.
Subi as escadas rapidamente, tranquei a porta do quarto, deitei e chorei.
Eu daria tudo para ter minha mãe ou minha avó, para me ensinarem como
a ser mãe, para me dar colo quando a dor do coração partido piorar. Não
costumo falar que a vida é injusta, mas nesse momento, é só o que passa
pela minha cabeça. Não é justo que eu me sinta tão só assim, me sentir
pequena diante do mundo.
Acordei com batidas delicadas na porta, levanto e vou ver quem é. Era
uma das senhoras que trabalha para o Liam, Abigail se eu não me engano.
— Oi.
— Desculpa incomodar, senhora. Mas o mister Liam disse que a
senhorita está grávida e não é certo que pule refeições. Como a senhora
perdeu o jantar, trouxe esse lanchinho. Se não for incomodo, a senhorita
poderia fazer uma lista do que gosta de comer, eu me encarregarei de
trazer algo para comer de três em três horas.
Ela entra e coloca a bandeja em cima da mesinha que há perto da janela.
A comida estava cheirosa e parecia muito boa, uma sopa para esquentar o
coração.
— Obrigada, Abigail.
— Imagina senhorita. Queremos que sinta bem.
— Está melhor? — Lorena entra logo depois que a senhora sai. Aceno
que sim e vou para a mesinha me alimentar, agora tenho que aumentar
minhas forças, somos em dois. E se essa criança puxar a mãe, ela vai comer,
muito. — Seu silêncio me preocupa, Lê. Se não estiver se sentindo bem
aqui, voltaremos imediatamente para o Brasil...
— Não, Lolo. Sinto-me bem, mas tenho muita coisa para digerir e acho
que levará certo tempo. Só tenha paciência comigo.
— Promete para mim que se a dor piorar, você me chama para chorar
com você? — meus olhos umedecem e acredito que os dela também. — Eu
te amo tanto, Lê. Não me deixa de fora. Ok?
— Ok, boneca Lolo.
Depois de jantar, tomo um banho e volto para a cama. Os remédios que o
médico me passou dão muito sono, ou sou eu que estou fraca demais. Por
falar em remédio, vivemos em um mundo em que a tecnologia é de ponta e
esse complexo B tem esse gosto? É horrível! Poderiam ter dado uma
evoluída nele. Cada vez que o tomo, meu estômago grita pedindo socorro.

——ooOoo——

Nos três dias que se seguiram, eu não saí do quarto para nada, comi
muito pouco, pensei muito e chorei muito mais. Acredito que tenha
chegado ao fundo do poço, levantei apenas para tomar banho, porque
deprimida tudo bem, mas fedida é exagero. Liam e Lorena vinham e logo
saiam, respeitaram meu momento, sabiam que eu precisava disso. Dona
Abigail, vinha, trocava a bandeja de comida, muitas intocadas, mas sempre
deixava uma frutinha.
Na noite passada tive um pesadelo onde Zachary tomava meu filho
depois dele nascer e meu coração apertou ainda mais. Hoje, lembro-me de
que sonhei com algo parecido com aquela noite fatídica da aposta,
provavelmente Deus me mostrando o futuro. Ele não teria coragem de tirar
o meu bebê de mim, teria?
— Boa tarde, princesa... — Em meio ao meu delírio, sinto alguém
mexendo no meu cabelo, abro os olhos e vejo a tia Aurora, mãe da Lolo.
Não esperei ela terminar de falar e abracei tão forte quanto podia. Mais
uma vez o choro se manifestou com força. E eu achando que não tinha mais
lágrimas.
— Desculpa por isso... — Ela seca minhas lágrimas e beija minha testa.
— Como uma das minhas meninas está grávida e eu só fiquei sabendo
agora?
Olho para ela e encontro um sorriso acolhedor, como o de mãe.
— Foi tudo tão rápido e não tinha cabeça...
— Eu sei, Lê e vim para cuidar de você. — Ela me abraça novamente. —
Parabéns minha filha, ser mãe é maravilhoso e você será uma ótima mãe.
— Tia Aurora coloca a mão na minha barriga. — Essa criança te trará
muitas alegrias.
— Obrigada...
— Então, vamos tomar um banho e comer alguma coisa? Por falar em
comer, terei que colocar um vestido de gala para jantar na mesa do castelo?
Que casa é essa?
Começo a rir, Lorena puxou o senso de humor da mãe.
— Não. Todos são muito simples por aqui.
Depois do meu período de luto que se estendeu por mais um dia, decidi
levantar e viver. Não dá para ficar me lamentando para sempre. A mãe da
Lorena era minha companhia para as caminhadas pelos jardins, algumas
vezes Abigail nos acompanhava também. Na volta de uma das minhas
andanças, vou ao escritório do Liam e bato na porta.
— Pode entrar.
Abro a porta e o encontro em uma mesa trabalhando, aproximo-me em
silêncio para não atrapalhar. O lugar é muito bonito, talvez escuro demais
por causa dos móveis que é de uma madeira escura e provavelmente antiga
de alguma realeza viking.
— Oi. Não queria te atrapalhar.
— Você nunca atrapalha. Fico feliz que você esteja se sentindo bem,
estávamos muito preocupados.
— Eu precisava de um tempo...
— Eu sei, não é fácil. — ele estende a mão para mim. — Venha ver o que
estou fazendo.
— O que é?
— Projeto da casa do Martino. Enquanto eu não comecei, ele não me
deixou em paz. Ficará naquela encosta em que você apontou para fazer a
vila dos sócios. — Liam vai até um armário e pega um tubo, lá de dentro
tira outro projeto. — Esse aqui é o hotel principal, venho projetando há
meses.
— É perfeito! — Nossos olhares se encontram. — Não esperava menos
de você.
— Estou feliz por ter a Letícia de volta, sorrindo. Ouvi sua risada quando
estavam na piscina e agradeci aos deuses por você estar se recuperando.
Se eu pudesse escolher por quem me apaixonar, sem dúvidas escolheria
Liam. Ele é gentil, íntegro, honrado, o tipo de homem ideal para se
constituir uma família, além de charmoso e muito bonito. A mulher que se
casar com ele, ganhará na loteria de homens.
— Letícia?
— Desculpa, me perdi em meus pensamentos. Liam estava pensando
que eu poderia voltar a ocupar minha cabeça com o trabalho, começando
pelo resort. Com a saída da Mag, acredito que o Zac... Zachary esteja um
pouco perdido. Então, eu poderia trabalhar nisso e deixar para ele somente
aquilo que for imprescindível que ele faça. O que acha?
— Acho uma excelente ideia. Mas está mesmo pronta para isso?
— Sim.
A partir daquele sim e dos dias que passaram Lorena e eu trabalhamos
no escritório com Liam incansavelmente. Ele e eu estamos muito próximos,
acho que ontem à noite até rolou um clima ou eu que vi demais.
Consegui colocar todas as minhas coisas em dia e ligar para Zachary,
estou há dias criando coragem e me preparando psicologicamente para
isso. Por mais que eu esteja pronta para falar com ele, não sei se estou
pronta para ouvi-lo. Só de pensar nele, meu corpo acorda com uma
facilidade incrível e meu coração, mesmo partido, bate no ritmo acelerado.
Pedi licença para todos e fui para o meu quarto ligar, não vou fazer isso
para que todos vejam como ele me afeta ainda. Preferi ligar para empresa, é
mais impessoal.
— Thorton Holding International boa tarde.
— Boa tarde. Eu gostaria de falar com o senhor O´Brian, por favor.
— Em nome de quem?
— Letícia Barros sobre a Paradise.
— Ah sim, senhorita Letícia. Tenho ordens para repassá-la. Só um
momento.
Mal foram dois toques e ouço aquela voz que faz meu corpo arrepiar em
antecipação.
— Letícia... — Abro a boca, mas fecho rapidamente para que meu
coração não saia por ela. Balanço a cabeça, concentro-me e falo de uma vez
antes que a minha voz suma.
— Boa tarde, Zachary. Estou te ligando para te fazer uma proposta.
— Diga. — Respiro fundo.
— Acredito que com a saída da sua assistente, você ainda não conseguiu
tempo para ver o andamento das obras que a Paradise está tocando. Então,
queria ficar à frente disso e repassar para você os relatórios, claro e as
coisas que só você pode resolver. O que acha?
— Antes de tudo, como você está?
— Estou bem e você? — Como pode me afetar tanto?
— Já tive dias melhores. Não acha muita coisa para você se preocupar?
Agora tem... A gravidez...
— Eu dou conta. Poderia pedir a sua nova assistente para me enviar os
arquivos da Maggie, por e-mail? — Fecho os olhos e imagino seu sorriso e
logo a cena dele me dizendo que não era pai do meu filho.
— Eu não tenho novos assistentes, mas vou pedir ao Ted e ao Joe para
que te auxiliem nisso. Letícia...
— Por favor, Zachary, não fala nada. Obrigada. Tchau.
— Bye.
Desligo o telefone antes que ele pudesse perceber que minhas lágrimas
caiam. Lorena entra no quarto, seco as lágrimas rapidamente.
— Letícia, não acha que está na hora de pensar em você? Liam está ali ao
lado cheio de amor para dar.
— Ainda não estou pronta...
— Não está pronta, porque não quer estar. Você sofrerá de qualquer
maneira, mas sofra na cama de alguém que a faça bem. Eu te conheço, vai
virar aquelas mães loucas que vivem apenas para os filhos. Os coitados não
podem fazer nada, só respirar.
— Não serei...
— Ha! Duvido. Pelo menos faça um teste, não tens nada a perder.
— Falei com Zachary.
— E?
— E nada. Falei o que tinha para falar e desliguei.
— Estou sabendo que aquele lá, está pagando todos os pecados. — Ela
abre um sorriso maligno.
— Sorriso diabólico esse. Por que você está sorrindo dessa maneira?
— De que maneira, Letícia?
— Tipo o Coringa do Batman.
— Porque ele tem que sofrer para crescer. Sabe que adoro o Zachary?
Ele sempre foi muito querido comigo, acabei me acostumando à companhia
dele. E cá entre nós duas, que homem é aquele? Vai ser lindo assim na casa
do ca...
— Lorena! Não quero você falando palavrão perto dessa criança.
Ela levanta as mãos.
— Ok. Agora se arruma e vai dar mole para o irlandês.
Acompanho Lorena sair do meu quarto e fico a pensar. Será?
Capítulo 32
Mais tarde, depois daquela conversa absurda com a Lorena, Liam me
chama para conversar na piscina. Continuo a pensar seriamente no que
aquela doida falou e acho que vou seguir seu conselho. Lembro que foi a
Lorena que escolheu minhas roupas, já que não tive oportunidade de fazer
minhas malas pessoalmente, tenho até medo do que vou encontrar.
Procuro uma roupa descentemente sexy, encontro um vestido longo, frente
única, estampado com cores vivas, nada haver com a Europa, mas tudo
bem.
Deveriam disponibilizar um mapa para andar dentro dessa casa, eu não
faço ideia de onde estou. Encontrei Conley, o mordomo, que fez a gentileza
de me acompanhar até a piscina. Por falar em gentileza, o povo irlandês é
muito simpático e receptivo. Vejo Liam sentado na beirada da piscina toda
iluminada, a noite está linda, perfeito para namorar.
Ele se vira assim que percebe minha presença.
— Você está linda.
— Você também. — Sorrio e Liam estende uma mão para mim.
— Quer caminhar comigo? O jardim é todo iluminado.
Coloco minha mão sobre a sua e saímos para caminhar. Sinto-me uma
princesa de contos de fadas, um castelo, um jardim e um príncipe.
Entrelaçamos nossos dedos e caminhamos por minutos, sem dizer uma
palavra. Eu estava encantada com a beleza do lugar, quanto mais
andávamos, mais flores apareciam. Paramos em um lugar que é tomado por
flores lilás com amarelo, seu perfume era diferente e delicioso.
— Se eu estiver ultrapassando qualquer limite, por favor, me avise.
— Não está...
— Esses últimos dias trabalhando juntos, só serviram para aguçar ainda
mais meu interesse por você. Eu sei que está passando por um momento
delicado, mas se você permitir. — ele acaricia meu rosto. — Eu ficarei ao
seu lado. Não é certo que uma mulher como você, tenha que passar por isso
sozinha.
Quando ouço a expressão mulheres como você, fico apreensiva.
— Uma mulher como eu. E como eu sou Liam?
— Você é guerreira, inteligente e linda. — ele coloca sua outra mão no
meu rosto e me dá um pequeno beijo nos lábios.
No começo eu apenas o olho, sem reação, acho que preciso de mais para
tirar alguma conclusão.
Coloco meus braços em volta do seu pescoço e o beijo. Liam beija muito
bem, mas não me desperta. Meu corpo continua inerte, gélido, não há
desejo. Separei minha boca da dele e o brilho dos seus olhos me fez sentir
culpada. Ele coloca um dedo embaixo do meu queixo e levanta meu rosto.
— Ei, olha para mim. — Levanto meu rosto. — Não vou te forçar a nada,
muito menos exigir.
— Obrigada, Liam.
Fizemos nosso caminho de volta e encontramos seus pais chegando.
Muito sem jeito, fico mais atrás quando Liam cumprimenta seus pais. Eles
são um casal de idade, sua mãe tem um rosto angelical como de uma vovó
de histórias infantis, baixinha, bochechas rosadas e coque. Seu pai é alto,
forte, Liam é a sua cópia.
Liam coloca sua mão nas minhas costas e me força a andar.
— Pai, mãe, essa é a Letícia, a executiva brasileira que falei para vocês.
— Seja bem-vinda minha filha. — Sua mãe vem ao meu encontro e me
abraça. — Espero que esteja sendo bem cuidada. Liam não se incomoda
nem em mandar servir a comida. — Seu pai aperta minha mão.
— Tenho ouvido coisas boas ao seu respeito, fiquei impressionado com
o projeto do resort e com a nova companhia. Parabéns.
— Obrigada aos dois. Fico feliz que o senhor tenha gostado do projeto.
Fomos para a sala de jantar, Lolo e a mãe dela se juntaram a nós, graças
a Deus! Eu já não sabia mais onde enfiar a cara. Durante o jantar apenas
respondi as perguntas que me faziam e foram muitas. Uma de suas irmãs
chegou com o marido e cinco filhos, realmente uma linda família. Então fiz a
pior coisa que poderia fazer, imaginei seus outros irmãos com suas
famílias, Liam e a esposa que já morreu. Meu coração apertou, porque é
justamente isso o que eu queria para o meu bebê, uma enorme e
barulhenta família. Nem isso eu poderei dar a ele...
Com esse pensamento, voltei a me sentir mal, pedi licença e fui em
direção ao meu quarto. Liam vem ao meu encalço.
— O que houve? Está se sentindo bem? — Se eu me virar, ele verá que
estou chorando e o que eu menos quero agora, é estragar seu jantar em
família.
— É só um enjoo, Liam. Volte para a mesa. — Antes que ele pudesse
dizer qualquer coisa, subo as escadas rapidamente.
— Está melhor? — Mais tarde, Lorena bate na porta e entra. Aceno que
sim. — Vai me contar o que aconteceu?
— Lembra que uma vez te contei que era frígida?
— Você é muito sexy para ser frígida. Você me contou que tinha
dificuldade de ficar excitada.
— Mesmo com o João Paulo, eu não sentia aquele calor que faz a gente
subir pelas paredes, pelo menos sentia alguma coisa. Desde que me separei,
não conseguia ter prazer com homem algum. Fui a médicos, psicólogos e
todos me disseram a mesma coisa, é psicológico.
— Conseguia?
— Sim...
— Porque agora consegue?
— Consegui. — Tento me manter séria. Ela colocou um braço sobre meu
ombro
— Deixa eu adivinhar, bastou aqueles olhos azuis misteriosos, como o
Mar Mediterrâneo, te olhar e você gozou. Daí, naquela noite dramática em
Abu Dhabi, a senhorita com a costela quebrada, fodeu ele até arrebentar a
perseguida. Acertei?
Aceno que sim e ela continua.
— Noite essa, que foi concebida o nosso bebê. Certo?
— Sim...
— Garota de sorte e safadinha. Nós todos preocupados e a senhorita
dançando a dança da cobra com o bonitão. Inveja me define agora. — Ri
muito. Sei que ela fala essas besteiras mais para me alegrar. Eu a amo por
isso, por cuidar de mim, por ser hiper protetora, amo-a por ser Lolo.
Ao apagar as luzes e de volta a solidão, Zachary volta aos meus
pensamentos, às imagens do seu sorriso, imagens daquela noite. Como
pude amar alguém tão intensamente? Ao ponto de esquecer tudo o que fez
para mim e desejá-lo a cada minuto. Só de reviver esses momentos em
minha cabeça, meu corpo se desperta com as lembranças, passo a mão pelo
meu corpo como ele fez e enquanto me toco, as cenas daquela noite de
luxuria passam repetidamente, fazendo com que eu alcance o orgasmo.
Que loucura!

——ooOoo——

Os dias passam rapidamente. Trabalhei muito, passeei muito, fiquei


maravilhada com a cidade e com o povo irlandês. Liam e eu temos nossos
momentos, mas cada dia que passa ele percebe que não dará certo e eu
tenho mais certeza de que Zachary me tomou por inteira. E também há as
ligações do Ethan querendo notícias da Lorena. Tenho que conversar com
ela sobre isso, mas isso não é assunto para se tratar na casa dos outros.
Estou trancada no escritório trabalhando e decido que está na hora de ir
embora. Envio uma mensagem a Lorena para ela me encontrar aqui. Antes
que ela pudesse aparecer Liam entra para me dizer que há visitas.
— Letícia, Martino e a esposa estão lá embaixo, eu não queria chamá-la,
mas eles insistem em falar com você.
— Por que você não queria? — Ele passa a mão no cabelo pressentindo
que vem bomba.
— Queria te poupar, te proteger. Sei lá.
— Não vá por esse caminho, Liam. Ainda comando minha vida. É lógico
que vou recebê-los, adoro a Fiorela.
— Então vamos.
Não reconheci Martino à primeira vista. Aquele homem que está logo a
frente é apenas o rascunho dele, não havia vida em seus olhos, estava
magro, mas vestido impecavelmente, estilo Martino de ser. Recebo Fiorela,
sua esposa de braços abertos. Gostei de conhecê-la, mulher forte, muito
engraçada, além de linda e uma excelente dona de casa, poderia dizer
invejável. Fiorela é alta, loira, um belíssimo corpo, nada de magreza, pelo
contrário, suas curvas são salientes e exuberantes.
— Letízia, come stai?
— Estou bem e você?
— Tutto bene grazie a Dio.
— Oi, Letízia. — Esse Letízia na boca desse homem é um pecado.
— Não estou bem, infelizmente. — Ele empalidece. Ai meu Deus, eu não
queria desesperar o homem. — Vou começar a me sentir melhor quando
receber um abraço.
— Eu estava preocupado que você não quisesse me ver. — O seu alívio
foi visível, até a cor de seu rosto voltou ele me abraça apertado.
— Você jamais correrá o risco de ficar sem minha chatice, Martino. A
casa não é minha, mas, por favor, sentem-se e me contem, o que os trouxe a
Irlanda?
— Viemos te ver e aproveitar para ver como está o andamento do
projeto da minha casa. Quero tirar do papel o mais breve possível.
— Já esteve no Brasil? — Volto-me para Fiorela.
— Não. Estou ansiosa para isso.
— Vou tratar disso em breve. Liam e eu estávamos conversando sobre
construir uma casa grande para ter onde ficarmos quando formos
obrigados a ficar por lá. Assim poderão levar a família sempre que quiser.
— Belíssima ideia, cara mia. — Martino saindo com Liam ainda
responde.
— Letízia, eu gostaria de falar de um assunto delicado com você.
— Claro.
— Eu sei sobre a aposta e tudo que aconteceu antes e depois. — Ela
percebeu que eu empalideci, rapidamente pegou minha mão e segurou com
carinho. — Está bem? Posso continuar? — Aceno que sim e ela continua. —
Logo que tudo aconteceu, Martino chegou em casa muito estranho. Não
comia, não dormia, estava constantemente se lamentando, coisas que não
são da sua natureza. Um dia ele não suportou mais e me contou chorando
sobre a aposta, sobre a moça dos vídeos que o chantageou e
principalmente, da culpa que ele sente por ter te machucado. Ele não se
perdoa por isso. Admito que, na hora foi um choque para mim, mas vê-lo
daquela maneira, como um menino perdido, cortou meu coração.
— Quando ele foi me ver no hospital, estava muito mal. Eu o perdoei
assim que acordei viva. Eu ouvi de primeira mão o que aquela mulher fez
com eles e sinceramente, não sei como não surtaram. Olha Fiorela, doeu,
machucou, mas nada comparado ao que eles sentiram, Sebastian era ainda
pior. Se os vídeos caíssem na internet, os marcariam para sempre.
— Acho que eu teria me matado se isso se tornasse público antes de eu
tomar conhecimento. Eu vi o vídeo do Martino e não foi fácil.
— Eu sei que não foi fácil, acredite, eu sei. O que você mais queria, não
era justamente que ele compartilhasse mais?
— Mas à suas custas? Isso é cruel, Letízia.
— Não pense assim e esqueça o que passou. Guarde somente as coisas
que interessam como, no momento em que ele achava que ia te perder,
você mostrou a mulher forte que é e está ajudando-o a atravessar esse
inferno, pelos seus filhos, por vocês. Se algum dia o elo entre vocês tinha
trincado, foi restaurado...
— Você não existe, Lê.
— Agora me conta como estão as coisas com Martino?
— Molto bene! Andei pesquisando sobre fantasias sexuais e acabei
descobrindo que gosto da ideia. Outro dia amarrei Martino e o fiz gritar de
prazer.
— Uau, Fiorela. Agora você me chocou.
— Tudo, graças a você. Eu jamais vou esquecer o que fizestes por nós, eu
estava desesperada, pronta para pedir o divórcio, não entendia o que se
passava na cabeça do Martino. Até você abrir meus olhos e mostrar que
agradar a quem amamos não é pecado, o prazer não é pecado, é redenção.
No nosso caso foi a salvação. E admito Le, estou muito mais confiante e me
achando mais bela.
— Se achando não, você é uma das mulheres mais bonita que conheci.
Diga a Martino que o que passou, passou. Eu não fico remoendo essas
coisas. — coloco a mão na barriga. — Não vale a pena.
Fiorela arregala aqueles belos olhos verdes.
— Ma che? Está grávida?
— Sim!
— Você e Liam serão muito felizes...
— Liam não é pai do meu bebê. — Ela acha minha reação estranha. Bom,
até eu achei. Baixo a cabeça e respondo. — Foi produção independente.
— Desde quando uma mulher precisa de produção independente?
— Fiorela, eu te adoro, mas não estou preparada para falar disso ainda.
— Eu que fui invasiva demais. Desculpa.
Nisso os homens voltam à sala, Lorena e a mãe dela também aparecem.
Eu estava cansada com todas essas conversas, só queria ir para o quarto e
dormir. Aliás, tenho dormido muito e ainda assim fico sonolenta
constantemente. Meus seios estão inchados, eu acho, estão pesados demais.
Não é cedo para aumentar o tamanho? E se aumentarem muito eu terei que
usar duas sacolas plásticas amarradas no pescoço.
Despeço-me de todos e vou para o meu quarto, Lorena e a mãe dela vêm
comigo. Está na hora de conversar com a boneca Lolo sobre o príncipe
Ethan. As duas entram e sentam na minha cama. Então começo meu
discurso.
— Vou reservar as passagens para gente ir embora amanhã à noite ou
no máximo depois de amanhã. Faz dezoito dias que estamos aqui, está na
hora de voltar para casa.
— Vou reservar as passagens...
— Não. Agora nós vamos conversar sobre o Ethan.
— Não mesmo!
— Senta aí, Lorena Maria Trancoso e nos ouça. Aquele rapaz está um
trapo, outro dia o encontraram machucado porque caiu da escada, bêbado.
Eu sei que ele errou, mas se até a Letícia o perdoou, porque você não o
perdoa?
— Ele está bem? Machucou-se muito?
— Ele está bem, levou cinco pontos no supercílio direito e três no
queixo. Lolo, você está desperdiçando a chance de ter algo que eu daria o
mundo para ter, amor. Ethan te ama loucamente...
— Acha mesmo que vou amar alguém que brinca de apostar quem come
mais?
— Todos nós erramos Lorena. Uma hora na vida todos nós
escorregamos ou escorregaremos, somos seres humanos a procura de ser
melhor, mas nunca seremos perfeitos e culpar o Ethan por tudo o que
aconteceu, é errado. Não gaste a sua vida guardando rancores, Lolo, não
compensa. Uma hora a felicidade pode cansar e te deixar. Pense nisso com
carinho.
— E você, meu bem? Acha mesmo que pode levar essa história com Liam
adiante? — Tia Aurora aproxima-se.
— Não... — Ela segura minha mão firme.
— Presta atenção nessa velha, vá atrás da sua felicidade, menina. O
homem dos olhos com os quais você sonhava, é o pai do seu filho, não é?
Quando vou voltar a controlar minhas lágrimas?
Essa gravidez está acabando com a minha fama de mal.
— Como a senhora sabe?
— Porque existe uma coisa chamada destino...
— Ele disse que não pode ter filhos... — Sinto suas mãos acariciando
minhas costas.
— A vida tem modos estranhos de cuidar das coisas. Nem sempre
entendemos os planos de Deus para as nossas vidas e acho que nem é bom
entendermos, mesmo. Só siga o seu coração e o mantenha aberto para que
a felicidade chegue até você.
— Estou atrapalhando? — Liam aparece na porta. Lorena e a mãe saem
nos deixando sozinhos.
— Não atrapalha nada, Liam. Foi bom você ter vindo, temos que
conversar.
— Algum problema?
— Não. Quero te agradecer por ter cuidado de mim por todo esse tempo,
por ter trago a mãe da Lorena no momento que eu mais precisava... — Ele
se aproxima de mim e passa a mão pelos meus cabelos.
— Não fui eu quem trouxe a mãe da Lorena, mas o faria de qualquer
maneira.
— Bom, de qualquer maneira, obrigada por ter nos hospedado. Mas,
agora está na hora de voltar para a casa e trabalhar de verdade. Em breve
tenho minha próxima consulta e tenho que embarcar para os Estados
Unidos.
Ele pega minha mão e leva-me até a cama e sentamo-nos juntos.
— Você é sempre bem-vinda.
— Liam, sobre esses últimos dias... — Ele coloca seu dedo sobre minha
boca.
— Não precisa dizer nada, Letícia. Esses dias serviram para você colocar
a cabeça em ordem e eu fico imensamente honrado por poder contribuir
em algum momento. Eu sei que esse coração já tem dono e... — Ele sorri. —
Não acredito que vou falar isso, mas, esse filho da puta de sorte que tem seu
coração, também te ama. — Passo minha mão sobre a sua.
— Você é o homem dos sonhos de qualquer mulher, mas não é qualquer
mulher que é digna de te ter. Você é único, Liam.
— Essa criança terá a melhor mãe do mundo. — Nos abraçamos.

“Dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o


amor da amizade.
Cícero”
Capítulo 33
Zachary

— É para isso que eu te pago, Joe?


— Se...
— Para fazer um serviço porco dessa maneira?
— Não, senhor... — Jogo os papéis em cima da mesa.
— Depois de velho começou a desaprender as coisas? Vá e refaça esse
relatório.
Há dias, que desconfio que eles estejam fazendo esses absurdos,
somente para me irritar. O estão pensando? Minha cabeça está a ponto de
explodir, não lembro a última vez que tive um sono descente. Meus dias
estão sendo infernais cheios de problemas e tenho a impressão de carregar
o mundo nas costas.
— Zach, o que está acontecendo com você? Que você é um chute no saco
a gente sabe, mas está assustando todo mundo. — King senta-se a minha
frente com mais papéis na mão. Outra merda de problema, só pode.
— Seja o que for que você tenha a me dizer, diga de uma vez. Minha
enxaqueca está a ponto de me enlouquecer.
— É sobre o seu pai... — Respiro fundo.
— O que ele quer agora?
— Seu pai ligou e insistiu que você vá jantar...
— Não! — King levanta, dá a volta na mesa e empurra minha cadeira
para o canto com violência.
— Eu só estou te aturando esses dias, porque você é meu chefe, mas está
foda, Zach. Eu sei o motivo de tudo isso, mas vamos relembrar o que
aconteceu? Você fodeu com tudo quando levou aquele inferno de aposta
adiante. A louca da Mag é um bônus da sua arrogância de merda. E mais,
você a deixou partir por causa de um orgulho besta, agora aguente as
consequências como homem. — Ele vai em direção a porta e fala. — O
jantar na casa do seu pai é as sete, vamos sair de casa as seis. Não se atrase.
E descubra porque ele está transferindo metade da mesada para conta da
sua mãe.
King se vai deixando-me chocado, nunca o vi assim.
E por que o meu pai está dando dinheiro para minha mãe?
O que esses sem-juízos estão aprontando agora?
Como será que a Letícia está? Essa mulher tem acabado com qualquer
pensamento coerente que eu possa ter. Sinto falta de ouvir sua voz, da sua
risada, do seu jeito doce, sinto falta do seu corpo no meu.
Sinto falta dela...
Semana passada eu a vi saindo do elevador do Solarium, absurdamente
linda como sempre, toda vestida de branco como um anjo. Raramente entro
pela entrada principal, geralmente desço na garagem, por questões de
segurança pego um elevador privado para não correr riscos de encontrar
ninguém indesejado. Mas aquele dia, eu estava angustiado, mal pararam o
carro na frente do prédio e logo desci. Então a encontrei saindo do elevador
com o seu segurança levando a mala. Ela não falou nada, apenas sorriu e
isso bastou para mexer com toda a minha estrutura.
Quando eu soube que ela embarcaria para Dublin com aquele irlandês,
minha vontade era de ir buscá-la e trancá-la em casa.
Eu queria cuidar dela, me redimir por tudo o que anda acontecendo. No
dia em que o King me contou sobre a ligação da Lorena, quase surtei. Ela
contou a ele que a Letícia estava a dois dias trancados em um quarto que
não saia da cama e que mal comia. Que preferia ficar quietinha, isso acabou
comigo. Eu não podia suportar a ideia de tê-la sofrendo, então liguei para a
mãe da Lorena e contei que a Letícia estava grávida e o que se passava com
ela em Dublin. Imediatamente, mandei meu avião buscá-la no Brasil e
partir para a Irlanda.
Sinceramente, pensei em ir também, mas como eu poderia competir com
o provável pai do seu filho? Ou o Cooper? Isso vem rodando na minha
cabeça há tempos, quem deixaria um funcionário usar seu apartamento de
luxo quando quiser, na Upper East Side em Manhattan? A Letícia é uma
profissional de alto nível, mas isso, já seria exagero. A não ser que ela lhe dê
outro tipo de atendimento, o profissionalismo dela não passa esse tipo de
impressão sobre a sua vida. Mas...
— Só vindo aqui para ter notícias suas. — Ethan entra com Kaleb.
Nos últimos dias, Ethan tem vivido num inferno, a ausência da Lorena
está sendo terrível para ele. Alguns dias atrás ele caiu da escada de tão
bêbado que estava Kaleb nos disse que já está virando rotina encontrá-lo
machucado e bêbado, fora o dia que quase se afogou na piscina. As
mulheres têm um poder devastador quando se trata de destruir um
homem. Ainda bem que algumas delas não fazem ideia do estrago que
podem causar, senão, estaríamos todos na merda!
— Estou vendo que já se recuperou do seu último acidente doméstico,
Ethan. — Digo ironicamente.
— Hahaha. Muito engraçado. E você? Tentando quebrar o recorde do
Bin Laden no esconde-esconde? Só temos notícias suas pelo King.
Finjo que organizo os papéis para evitar perguntas difíceis.
— Tenho trabalhado mais do que de costume. Quer beber alguma coisa?
— Não. Resolvi trocar meu jato, só que o novo ainda não passou pela
vistoria e não quero me arriscar. Como não pretendo ir em um voo
comercial, vim saber se você pode me dar uma carona. — Isso despertou
minha curiosidade.
— Vai para onde?
— Brasil.
— Não pretendo ir para lá tão cedo. Vai atrás da Lorena? — Não estou a
fim de abrir o jogo e contar que estive no Brasil há alguns dias. Fui direto ao
Ceará sabendo que a Letícia estava lá supervisionando as obras. Quando
cheguei lá tive uma péssima surpresa, Liam estava com ela.
— Vou. Falei com a Letícia e ela me aconselhou a ir o quanto antes para
reconquistar minha boneca. E você deveria fazer o mesmo, Zach.
— Não tenho ninguém para reconquistar. O avião é seu, depois o Kaleb
acerta os detalhes com o King.
— Obrigado. Voltando a falar da Letícia, quem é o pai daquela criança?
— Ele fica me olhando com aquela cara de investigador de departamento
de polícia de shopping.
— Pode ser de qualquer um, inclusive seu ou até mesmo do Cooper.
— Entre todos, quem tem a maior probabilidade de ser pai dessa
criança, é você Zach. — O defensor incansável da menina órfã, King o gentil,
se manifesta. — Mesmo com essa história patética de não poder ter filhos.
— Por que você citou o Cooper? — Dou uma risada amarga.
— Cada vez que a Letícia vem para cá, é no apartamento do Cooper que
ela fica. Por quê? Nunca pararam para pensar nisso? Estamos falando de
um apartamento de luxo...
Os três se entreolham e depois olham para mim. King vem até minha
mesa e vasculha meus papéis bagunçados. Encontra o que queria.
— Você não tem lido os relatórios, se tivesse saberia que a Letícia
comprou aquele apartamento do Kevin há tempos atrás. — Não tenho
olhado relatório algum, somente aqueles sobre as consultas da Letícia.
Tive que usar toda minha persuasão para que Phillip repassasse um
relatório de cada consulta dela. Preciso saber se ela está bem e alimentar
essa obsessão descabida por uma mulher que nunca será minha.
— Você é um idiota, arrogante, filho da puta, tapado, só que é meu amigo
e em minha opinião, a Letícia é a mulher certa para você. — Ethan se
levanta. — Estou indo para casa, quero ver se desembarco no Brasil
amanhã.
Todos saem deixando-me com a informação de que a Letícia comprou o
apartamento do Kevin. Claro, o imóvel que ela falou na primeira vez que
esteve no meu apartamento, era a realização do seu sonho. Como pude
deixar isso passar em branco? Volto para os meus afazeres para tentar
aplacar as lembranças que tenta me afogar.
— King, para que lugar você está me levando? — Estávamos indo na
direção de qualquer lugar, menos da casa do meu pai.
— Na casa do seu pai.
— Desde quando ele vive aos redores de Manhattan?
— Há mais ou menos dois meses.
Durante anos meu pai figurou entre os mais ricos do país sempre deixou
sua marca na história da aristocracia dos Estados Unidos. Depois que se
separou e eu assumi os negócios, piorou seus luxos e caprichos juntamente
com os de suas parceiras, eram comentados pelas revistas de fofoca.
O que diabos aquele homem veio fazer para cá?
Chegamos a um condomínio de elegantes casas, com cercas baixas
brancas, ruas arborizadas, praça, parquinhos. Mike estaciona o carro na
frente de uma casa branca com azul, não é a maior daqui e nem a mais
elegante. Estou ficando cada vez mais intrigado com isso. Mal me aproximo
da porta e uma mulher clara de cabelos pretos, estatura mediana abre a
porta sorrindo.
— Olá. Você deve ser o Zachary.
— Eu mesmo. Muito prazer senhora...
— Mary Ann. Entre.
A casa por dentro é muito bem arrumada, cores claras, nada de
decorações extravagantes, apenas um lar como conheço de filmes. Meu pai
entra na sala e se coloca a frente dela, como em um gesto de proteção.
Diferente de tudo que já vi meu pai fazer, ela deve ser importante para ele.
Ele estende sua mão para mim.
— Como está, Zachary?
— Estou bem e o senhor?
— Melhor agora. — Ele vira-se para ela. — Querida, vou conversar com
o meu filho no escritório enquanto você termina o jantar. Ok?
Ele a beija na testa e caminha a minha frente até o destino.
— Estou tentando entender porque o meu pai, um dos caras mais ricos
do mundo, está morando no subúrbio. — Entramos em um escritório
simples, ele aponta o sofá.
— Quando a gente se dá conta que o dinheiro não traz a felicidade,
passamos a ver que as coisas simples, são as melhores. Estou te achando
mais magro, abatido, o que anda acontecendo?
Meu pai nunca foi relapso, mas era distante, depois da separação ele e a
minha mãe surtaram cada um foi para o seu lado, deixando-me mais
sozinho que antes.
— Trabalhando demais. Por que a insistência para esse jantar, alguma
ocasião especial?
— A única coisa especial é a sua vinda, eu sinto saudades suas Zach.
Desde o divórcio você nos ignora se distanciou de mim e da sua mãe, não
liga, não responde e-mails, nada.
— Por falar na mamãe, por que diabos você está depositando dinheiro
na conta dela?
— Você não tem lido seus e-mails pelo jeito. Eu recebo muito dinheiro e
não preciso de tudo que ganho. A sua mãe prefere uma vida mais luxuosa,
se eu posso proporcionar isso a ela, por que não fazê-lo?
— Pai, eu sei que você quer me falar alguma coisa, então vá direto ao
ponto.
— Zachary, sua mãe e eu temos conversado sobre você e acho que essa
conversa deveria ter acontecido antes. Eu sei que você me culpa pelo o
divórcio, afinal, sua mãe e eu fomos casados por quarenta anos. O que você
não sabe é que, o nosso casamento foi por interesses financeiros das duas
famílias. Nós éramos jovens, eu estava assumindo a empresa do seu avô e
sua mãe estava na idade de casar, filha única, alguém tinha que gerir a
empresa do pai dela. Foi assim que nasceu a Thorton-O´Brian Enterprises,
que alguns anos atrás você alterou para Thorton Holding Internacional.
Fomos muito felizes durante anos, mas como se vive uma vida sem amar?
Então, cada um tinha seus passatempos, ambos sabíamos que saiam com
pessoas diferentes, só que chegou um dia que não dava mais.
— Não é essa a história que eu me lembro, pai...
— E nem poderia, porque você sempre estava fora, nos ignorava sempre
que possível e queríamos te poupar da vida infeliz que tínhamos. Mas
sempre olhamos por você Zachary, nunca entendemos de onde vinha essa
sua autossuficiência. Logo começou a trabalhar na empresa, subiu todos os
degraus rapidamente e quando menos esperei, já estava no topo comigo.
Depois que encontrei Mary Ann, muita coisa dentro de mim vem mudando,
a principal é querer estar mais perto do meu filho.
— Desculpa, mas não estou conseguindo acompanhar a história. Por que
não vai direto ao ponto? — Passo a mão pelo meu cabelo que está
amarrado em um coque samurai apertado demais.
— Sua mãe sofre com a sua ausência e com o fato de você ignorá-la, está
na hora de olhar um pouco para ela, meu filho. Ela foi parar no hospital com
a história da sua assistente ter atirado dentro do seu apartamento, você
não se deu o trabalho de nos ligar para dizer que estava bem. Se não fosse
pelo King, sua mãe ainda estaria internada. Nós só queremos nosso filho
por perto, não podemos voltar no tempo e reescrever o que já passou, mas
podemos construir uma boa relação a partir daqui.
Isso não está me cheirando bem.
— Ok.
Nesse momento a atual esposa do meu pai nos chamou para jantar. Ela é
uma mulher muito simpática, mas o que chamou minha atenção foi o brilho
de admiração no olhar do meu pai. Ele tem orgulho da mulher que tem e o
mais inesperado de tudo, é mútuo.
A comida me lembrou o tempo que eu era criança e a cozinheira era uma
senhora de Porto Rico, ela fazia comidas fantásticas para mim, sabia de
todos os meus gostos e vontades. Interessante como os sentimentos podem
mudar as pessoas, até pouco tempo atrás eu diria que era interesse, nesse
momento, não posso dizer mais, o que vejo no olhar da Mary Ann é sincero.
E acho que estou com uma pontinha de inveja do meu pai.
Depois do jantar me despedi da Mary Ann e o meu pai me acompanha
até o carro.
— Fiquei muito feliz com sua vinda, minha casa estará sempre aberta
para você, meu filho.
— Pai, se você e a Mary fossem mais jovens e quando se conhecessem
ela estivesse grávida, ainda assim iria atrás dela? — O que veio a seguir foi
inesperado. Abri a boca para dizer uma coisa e veio outra.
— Claro que sim. Porque no fundo todos nós reconhecemos o nosso;
felizes para sempre assim que o encontramos. Não deixe pormenores
atrapalhar sua felicidade, não permita que o orgulho tire a sua chance de
amar. Pode ser que isso aconteça só uma vez na vida e sinceramente
Zachary, não espere quarenta anos como seu pai, pois passará outros
quarenta se arrependendo de não ter feito antes.
No caminho para casa vou com as palavras do meu pai martelando em
meus pensamentos. O que eu sinto pela Letícia não é amor, só uma louca
obsessão de tê-la toda para mim. Sentir seu cheiro, seus beijos, ser dono
dos seus gemidos e do seu desejo. Tornei-me um louco quando ameacei o
médico da minha família só para ter o acompanhamento da gravidez dela,
leio cada relatório como se fosse o livro da minha vida. Sei exatamente
como ela está nos seus três meses de gestação, seus enjoos já cessaram, seu
sono aumentou a fome também. Eu não tenho nada a ver com isso, mas
quando se trata da Letícia, eu não sei o que acontece comigo.
Simplesmente, enlouqueço!
O celular indica que chegou um e-mail, tirando-me da minha loucura.
Então eu li:

“Aguardo todos vocês para o jantar do meu noivado com a mulher da


minha vida. Escolhemos a casa grande do resort, porque foi esse lugar que
nos uniu.”
Abraços
Liam Larkin

E o meu mundo parou.


Capítulo 34
Três meses depois...

Letícia

— Ai que coisa boa, tia Aurora...


— Meu Deus Lê. — Lorena bate na minha mão. — Come devagar e deixa
um bolinho de chuva para mim. Eu queria ver a cara daquele povo do The
New York Times, Forbes, Al Qaeda, Al Jazeera que estão insistindo em fazer
entrevistá-la, quando visse você falando com a boca cheia dessa maneira.
— Al Qaeda é um grupo terrorista. Al Jazira é uma emissora de televisão.
E acredito que nenhuma das duas esteja atrás de mim.
— Vai saber. — Abre a boca com a comida mastigada, fina como sempre.
— Quando você embarca para os Estados Unidos, Lê? — Tia Aurora
pergunta.
— Em quatro ou cinco dias.
— Não dá para acreditar que já se passaram seis meses. Você está uma
grávida muito bonita, minha rosa. — Ela passa a mão pelos meus cabelos.
— A beleza dela acaba quando ela come tudo e deixa a gente sem nada.
— Lorena implica rindo. Mostro a língua porque sou adulta e dessa vez
minha boca nem está cheia.
— Não sei se é normal, mas sinto muita fome, depois das minhas
cochiladas. Antes que eu me esqueça, Ethan ligou e disse que vocês têm
uma reunião daqui uns dias e ele não poderá vir ao Brasil, a senhorita terá
que ir até ele.
Noto o brilho em seus olhos, eu sei que é tudo o que ela quer, mas vem
enrolando o coitado há meses. Também sei que eles se pegam
constantemente, ele para mais aqui no Brasil do que nos Estados Unidos.
Ethan amadureceu muito, continua com o mesmo senso de humor, só que
agora pensa duas vezes antes de falar qualquer abobrinha e não menos
importante, provou de todas as maneiras que a ama.
Nesses meses que se passou, Lorena deixou de ser minha assistente e
agora é diretora executiva da Paradise. Depois de muita insistência do Liam
e de Ethan, ela aceitou o cargo e vem mostrando todo seu potencial. Estou
muito feliz, porque quando o Mateus nascer, ela se ocupará da minha parte
também e eu terei uma licença longa.
Ah sim, meu bebê é um menino.
Descobri aos quatro meses, quando tive um sangramento inesperado
depois de uma reunião estressante. Phillip fez uma ultrassonografia para
saber se estava tudo certo e acabou vendo que a Pérola, nome escolhido
caso fosse uma menina, na verdade era Mateus.
É o nome provisório do meu bebê, eu preciso ver a carinha dele para ter
certeza se combina.
Tenho trabalhado em um ritmo bem acelerado, viajo muito entre
Fortaleza, Nova York e Rio de Janeiro. Depois que os enjoos cessaram tudo
ficou mais fácil, na maioria das vezes acordo muito disposta e com muita
fome. Tenho sido muito assediada pela imprensa, todos querem saber da
minha vida e isso vem me incomodando constantemente. Outro dia para
dar uma acalmada nos ânimos, a assessoria de imprensa do Zachary entrou
em contato comigo, incentivando-me a dar apenas uma entrevista. Gostei
da ideia, mas para contrariar todo mundo, optei por uma revista brasileira
especializada em finanças, e pasmem, não é que a revista sobre dinheiro
queria saber da minha vida pessoal como uma revista de fofoca? Eles
ganharam um lindo sorriso, uma cara de paisagem e um sem comentários.
Zachary ainda me persegue em meus sonhos. Nos últimos dias, ando
tendo sonhos eróticos com ele e já perdi as contas de quantas vezes acordei
no meio de um orgasmo. Eu realmente não sabia que isso era possível. Às
vezes vem àquela dor insuportável do amor não correspondido, a dor
porque falhei como mãe em não dar um pai para o meu filho. Cada dia que
passou, eu tive esperança que uma hora meu telefone tocaria com ele
falando que estava com saudades, eu sei que é patético, mas eu desejei.
Parei de desejar quando ele passou a não responder meus e-mails e nem
as ligações sobre a Paradise, seus assistentes que o fazem.
Ouço meu celular tocar em algum lugar e saio para procurá-lo e
encontro-o na mesinha de centro da sala. Olho o visor e vejo que é o King.
— Oi, big boy.
— Olá, anjo. Como está a mamãe mais bonita que conheço?
— Estou bem, tirando a fome e o sono, estou ótima.
— Fico muito feliz. — Seu tom passou de gentil a sério rapidamente. —
Lê quero lhe pedir algo.
— Sou todo ouvido.
— É sobre o Zachary...
Eu o interrompo porque não é justo vir falar dele agora, justamente
quando estou me acostumando a ideia da rejeição.
— Não...
— Por favor, Letícia, pelo menos me escuta. — Ele respira fundo, mas
mantém a calma.
— Você é melhor que isso, Lê. Mantenha seu coração aberto. — Nesse
exato momento a Lorena e sua mãe entram na sala e a tia diz.
Pelo jeito é sério e todos têm conhecimento.
— Diga, King.
— Há meses ele vem apresentando um comportamento estranho, mas
até aí tudo bem, porque Zach sempre foi excêntrico. Mas nos últimos dias a
coisa piorou, começou com comportamentos autodestrutivos e passou a
não trabalhar, não vai a empresa, não come, não dorme, apenas vegeta.
Vários médicos passaram por aqui e diagnosticaram como depressão e
Phillip começou a temer por sua vida.
— Olha o exagero, King. — Falei apreensiva.
— Eu gostaria que fosse princesa. Eu realmente queria, mas
infelizmente...
Isso o que King disse; me fez voltar anos atrás e me ver naquele quarto
de hotel, vegetando, definhando para morrer a qualquer momento e é
triste. O vazio é doloroso, os sentimentos que nos cercam são horríveis. Eu
sei exatamente como é e não é certo que ele passe por isso. Merda, ele é o
pai do meu filho. Lágrimas caem com a lembrança do meu passado.
— Você é nossa última esperança, anjo. Por favor, não lhe dê as costas.
Eu sei que o seu coração é grande...
— O que você quer que eu faça King?
— Venha vê-lo, por favor. — Sua voz passa a impressão que ele está
cansado.
— No que isso o ajudaria?
— Eu não sei se ajudaria em alguma coisa. Só que você é minha última
esperança.
— Ok. Tenho que estar nos Estados daqui a quatro dias...
— Não pode ser antes? Eu terei um jato pronto para partir em horas, se
caso for possível...
— Certo King. Vou arrumar minhas coisas e você me liga quando tudo
estiver acertado.
— Obrigado. Obrigado. Obrigado. Mil vezes obrigado. Já retorno à
ligação.
— Vocês sabiam o que estava acontecendo?
— King ligou há dois dias atrás contando que o Zach não saia do quarto
passa o dia deitado, não quer falar com ninguém, não dorme, não come,
perdeu muito peso. Ele queria saber se você aceitaria ir vê-lo, talvez Zach
reagisse a sua presença. Eu sei o inferno que você passou por causa dele, só
que ninguém merece ficar assim, Lê. — Lorena diz. Seus olhos umedecem.
— Ele é um idiota, mas eu o adoro...
— Você foi sábia, até porque já tens conhecimento de causa. Vá e faça o
possível pelo pai do seu filho. — Tia Aurora diz.
Quinze minutos depois, King me liga dizendo que o avião está pronto
para partir e que um carro estava vindo nos buscar. Eu não posso fazer
nada sem minha equipe de segurança que para essa viagem será reduzida a
um homem, apenas Luck partirá comigo e claro, a Lorena. Arrumei uma
pequena mala em tempo recorde, tenho muitas coisas no apartamento de
lá, então não há necessidade de levar uma bagagem completa, somente o
necessário.

——ooOoo——

Entre embarque, desembarque e tempo de voo, foram dez horas até


chegarmos ao meu apartamento para descansar. King foi nos receber no
aeroporto e não passou despercebido seu abatimento.
Durante o caminho até o Solarium, ele falou muito pouco e isso foi
estranho, não combina com aquele gingante alegre. Não tocou no assunto,
talvez por receio que eu desista e vá embora.
Meus pés estavam inchados, eu estava cansada, com fome e com muito
sono. Eu não poderia ir direto vê-lo até porque era tarde da noite, eu
precisava dormir para ter uma conversa coerente com qualquer um. Meu
coração está apreensivo, por que Zachary está assim? O que aconteceu para
que aquele homem forte se entregasse dessa maneira? Deus, não o deixe
ceder à tentação da morte, eu já estive lá e não era bom. Ajude o pai do meu
bebê...
Acordei com o som típico do barulho do trânsito de Manhattan, que
adoro. Minha noite foi regada a sexo e orgasmos múltiplos, estrelado por
Zachary, que rasgava minha roupa e me tomava em vários cenários
diferentes. O mais vívido era o que ele chegava no escritório em que eu
estava, puxava-me da cadeira e rasgava minha roupa, me colocava em cima
da mesa e me penetrava com força. A imagem daquele homem musculoso,
cabelos molhados de suor, olhando-me com aqueles intensos olhos azuis
enquanto me tomava, sugava meus mamilos, puxando meus cabelos, era
demais. E acho que vou gozar novamente...
Tomo um banho para esfriar a ideia de cima e de baixo, pego um vestido
longo bem confortável azul claro, um casaquinho de tricô branco e uma
sapatilha estampada com florzinhas, penteio meu cabelo que está longo
demais e estou pronta para a missão. Passo em direção a porta e a Lorena
me para.
— Onde a mocinha vai sem comer?
— Não estou com fome... — Ela arregala os olhos e coloca a mão na
minha testa.
— Está com febre só pode.
— Estou ansiosa.
— Eu sei, mas ele precisa de você forte e o seu filho também.
Respiro fundo criando coragem para subir, Luck acompanha-me até o
elevador. Assim que as portas se abrem, encontro o King me esperando.
— Bom dia, princesa. — Ele me beija no rosto.
— Bom dia, King.
Assim que entro em seu apartamento, começo a tremer de nervoso. Eu
sou tão forte para certas coisas, não entendo porque isso está mexendo
assim comigo. King caminha comigo até a sala aonde encontro Ruth, que
vem em minha direção com braços abertos.
— Letícia, que saudade! — Ela passa a mão sobre a minha barriga. —
Essa barriga está cada vez mais linda e grande. Será um meninão!
Uma mulher muito bonita desce as escadas elegantemente e meu
coração se ataca no ritmo do Olodum. Balanço a cabeça na tentativa de
bloquear qualquer pensamento que me faça desistir do que vim fazer. Ela
aproxima-se de mim com um sorriso gentil e quando está frente a mim a
reconheço, a mãe do Zachary. São muito parecidos, seus olhos são os
mesmos, mas ela é nova demais, não aparenta ter um filho de quase
quarenta anos.
Ela estende sua mão.
— Olá, eu sou Margaret, mãe do Zach e você deve ser a tão famosa
Letícia.
— Prazer, senhora Thorton...
— Não. Chame-me por Margaret, por favor. Você é ainda mais bonita do
que o King falou e a gravidez, só te beneficiou.
— Obrigada.
Vendo-a assim de perto, noto suas olheiras, um abatimento em seus
traços, ainda assim, é muito bonita. Mais alta que eu, um corpo compatível
com uma mulher que malha e se cuida bastante, seu rosto tem algumas
marcas de expressão e rugas, nada muito marcante. Acho que eu tenho
mais marcas de expressões que ela.
— Letícia, pode subir quando quiser. Ele está no quarto. — King
interrompe.
Então veio a lembrança da aposta, da Mag apontando a arma para mim.
Sinto uma mão no meu ombro.
— Lê? — É Ruth falando com voz baixa para não me assustar. — Vou
acompanhá-la até lá. Venha. — Aceno para ela e a sigo. Não fomos para
aquele fatídico quarto e como se ela lesse meus pensamentos, fala. —
Zachary mandou isolar o quarto de hóspedes daquela ala, removeu os
espelhos e só entram para limpar. — Ruth para em frente a uma grande
porta e pega a minha mão. — Você é a nossa última esperança. — Seus
olhos enchem de lágrimas. — Ajuda meu menino.
— Vou ver o que posso fazer.
Bato na porta e entro.
O quarto está mergulhado na escuridão, mas posso ter uma ideia do
tamanho que é. Encontro o interruptor e acendo a luz.
— Seja quem for, saia e apague a luz. Já falei que não quero falar com
ninguém. — Aproximo-me da cama e vejo-o deitado de lado, seu corpo nu
da cintura para cima, muito mais magro do que da última vez que o vi. Seus
cabelos estão muito compridos e sua barba está enorme. — Eu ainda posso
demitir quem eu quiser, é melhor sair daqui rápido. Estou de saco cheio de
ficar repetindo, não quero ninguém aqui.
— Nem mesmo eu? — Mesmo com o coração saindo pela boca, as mãos
suando e meu corpo trêmulo, sento na beirada da sua cama que é e-nor-me!
Muito maior que o tamanho king size que conhecemos. Coloco um
travesseiro nas minhas costas, ajeito-me confortavelmente. Então, encontro
aqueles olhos azuis que me perseguem até mesmo fora dos meus sonhos.
— Olá, menino dos olhos azuis.
— Olá, menina dos olhos dourados. Como está? — Ele me dá um meio
sorriso.
— Estou bem e você? — Percebo que ele faz força para se levantar, está
fraco.
— Estou bem... — Encaro-o.
— Não, não está. E vim ver com os meus próprios olhos o que estão
dizendo por aí.
— O que estão dizendo? — Seu olhar era de interrogação.
— Que você se trancou em uma tumba, não podia ver a luz do sol, blá blá
blá...
— Drácula?
— Pior, muito pior. Crepúsculo. — E ele riu... E relembrei que seu riso
era minha música favorita. — O que está acontecendo Zachary?
— Nada.
— Eu sei que às vezes a depressão não tem um motivo, aparentemente,
pelo menos. Mas você é o tipo de pessoa que só uma coisa séria te colocaria
aqui. Não adianta negar, porque eu já estive aí e sei que não é fácil.
— Esteve aonde?
— No fundo do poço...
— E tem saída?
— Acredito que tenha; pelo menos eu tive.
Zachary olha para mim e seu olhar era de um homem quebrado.
— Me diz como sair daqui. — Pego a sua mão.
— Olhe a sua volta, há pessoas que te amam a ponto de alugarem um
jatinho para me trazer para te encher a paciência. Há outros tantos que
dependem da sua liderança para crescer profissionalmente e fora as
famílias que dependem diretamente do seu tato para negócios. Você tem
amigos que estão preocupados como Ethan e King, pessoas que te adoram
como a boneca Lolo e mãe dela e tem... Eu.
Zachary acaricia minha mão, absorto em seus pensamentos.
— É difícil quando falta alguma coisa...
— Seja o que for, agradeça aos céus por você ainda ter como buscar o
que te falta. Você está vivo, forte e enquanto respirar, ainda terá esperança.
Só por favor, não se entregue mais.
— Senti saudades. — Mesmo com a minha razão gritando para ficar
longe, aproximei e beijei seu rosto.
— Eu também...
Ficamos nos olhando por um bom tempo, até minha barriga se
manifestar. Que vergonha!
— Está com fome? Você comeu alguma coisa pelos menos?
— Não...
— Ele pega o telefone da sua mesinha de cabeceira. — Ruth prepara um
lanche para mim e para a Letícia. Estamos descendo.
— Não precisa... — Zachary leva a mão em direção a minha barriga, mas
não encosta esperando permissão. — Estou ficando grande. — Alcanço sua
mão e a coloco sobre a minha barriga. Ele acaricia.
— Você está... — Nós sentimos um movimento. Não, não, não... — É o
bebê? — Enquanto ele pergunta, a criança chuta novamente.
— Sim...
— É a primeira vez que ele chuta? — Aceno que sim e por mais que eu
tente segurar minhas lágrimas, eu não consigo. Meu filho chutou a primeira
vez ouvindo a voz do seu pai. Zachary seca minhas lágrimas. — Esse é o
milagre da vida, não é anjo? — Aceno novamente. — Então não chore,
sorria. Vou tomar um banho e já desceremos para comer.
Enterrada nos meus pensamentos, seco meus olhos e vou em direção a
uma das janelas, abro as cortinas e sou brindada com uma visão fantástica
da cidade. Abri as outras também para clarear esse quarto.
Deus, por que permitiste que o meu bebê se movimentasse justamente
aquele momento? É tão difícil para eu saber que o filho reconhece o pai, mas
o pai não o reconhece. Minha culpa só aumenta como eu pude fazer isso com
um ser inocente? Todos merecem ter um pai... O que farei meu Deus? O que
fa...
— Está tudo bem, Letícia?
Viro-me para Zachary e meus olhos vão passeando em sua boca,
descendo por aquele peitoral que mesmo mais magro, ainda é bem
definido. Continuo em direção a cintura onde está a toalha azul marcando...
Passo a mão no canto da boca para limpar a saliva que provavelmente
está pingando. Ele vai para o que deve ser o closet, saindo do meu campo
de visão e dando-me a chance de recuperar o resto de dignidade que me
resta.
Como pode eu desejar alguém nessa intensidade?
Zachary sai com uma calça branca de um tecido solto e uma camiseta
preta. Estende seu braço para mim.
— Vamos? — Aceito seu braço e saímos em direção a sala. Ele olha
minha mão com atenção e pergunta. — Cadê seu anel?
— De vez em quando meus dedos incham, preferi adotar a moda nude.
Coloco apenas para ocasiões especiais.
— Como está o Larkin? — Ele pergunta em voz baixa.
— Está muito bem. — Eu não vou contar que Liam se apaixonou pela
Júlia, minha nova assistente, assim que botou os olhos nela. Zachary foi
convidado para o noivado que foi há três meses e não teve a coragem nem
de ligar para parabenizá-lo.
Encontramos toda a sua comitiva com sorrisos largos na sala. Sua mãe
corre para ele em lágrimas.
— Não acredito que estou te vendo fora daquela cama, meu filho. — Ela
vira-se para mim e me abraça. — Acabei de te conhecer e já lhe devo muito.
Obrigada, Letícia, de mãe para mãe, obrigada.
— Imagina. Ele só precisava de palavras de incentivo. Bom, já que está
tudo certo, eu vou indo...
— Onde a senhora pensa que vai? — Mal dou dois passos e Zachary me
segura.
— Embora...
— Não vai a lugar algum antes de comer. — Ele me puxa em direção a
sala em que uma bela mesa farta está posta, puxa uma cadeira para que eu
sente e, fala. — Vou ali falar com o King e já volto e você, coma! Mãe fica de
olho nela, essa aí é danada para dar um perdido.
Ruth aparece e me traz um cappuccino, coisa que ando viciada e brioche
com queijo. Minha barriga ronca outra vez.
— Está de quantos meses? — Pergunta.
— Seis...
— Você está muito bem. Olhando-a de costas, não dá para dizer que está
grávida. Já sabe o sexo?
Eu sei que estou comendo como uma desesperada, mas ela não para de
perguntar.
— Um menino...
— Desculpa a minha inconveniência, como não estou vendo nenhum
anel, tenho que perguntar, você é casada ou tem alguém? Quem sabe o pai
do bebê?
Engasgo-me com o brioche, juro que um pedaço do queijo grudou nas
vias respiratórias.
— Sou solteira e meu filho é produção independente. — Não pude
escapar do seu olhar analítico.
— Você e Zach são muito amigos pelo jeito, estou certa?
— Seu filho e eu temos algumas coisas em comum e somos sócios... —
Aonde ela indo com essa conversa?
— Minha mãe está contando suas pérolas? — Zachary volta e senta na
cabeceira da mesa.
— Não, estava perguntando sobre a vida dela. Com essa beleza toda, a
vida dela deve ser bem melhor que a minha. Sabe Letícia, estive no Brasil
há anos atrás e amei, prometi que voltaria, mas nunca cumpri.
Graças a Deus ela mudou de assunto.
— Zachary tem uma linda casa no Rio de Janeiro e construímos uma
casa grande dentro da propriedade do resort, perto do mar, deve ir o mais
breve possível, será uma honra recebê-los.
— Zach não aceita meu casamento, não suporta meu atual marido,
prefiro evitar.
— Não é bem assim mãe...
— É exatamente assim.
— Zachary já é bem grandinho para esse tipo de birra. O que importa é
se o seu marido a faz feliz e pelo seu sorriso e a sua pele, eu tenho certeza
que és bem casada. — Falo pegando outro brioche para comer. Que fome!
— Adorei essa menina. Quando ele encontrar o amor, entenderá o quão
feliz eu sou, antes disso não adianta ficar dando murro em ponta de faca.
Um casal entra na sala, Zachary levanta e aproxima-se para
cumprimentá-los. Primeiro ele abraça a pequena mulher.
— Como está Mary Ann? — Ela está visivelmente emocionada e eu
muito curiosa.
— Muito melhor agora vendo você assim Zach.
— Olá pai. — Ele estende a mão para o senhor.
Ah sim, olhando bem, dá para perceber que alguns traços do Zachary são
do seu pai. O homem passa um braço peor seu ombro.
— Oi, meu filho. Nem acredito que estou te vendo sem ser naquela
escuridão.
Margaret se levanta e os cumprimenta como amigos de longa data,
conversa como amigas com a atual esposa do seu ex-marido.
— Mary Ann, essa é a Letícia, responsável por tirar Zach do quarto.
— Prazer, Mary Ann. — Estendo a mão para o seu pai. — Muito prazer,
senhor O´Brian.
Ele me abraça. Hoje é o dia do vamos abraçar a Letícia!
— Não tenho palavras, apenas, obrigado.
— Vocês têm muito que conversar. E eu tenho que trabalhar. Com
licença.
— Não vá. — Zachary me acompanha até a porta.
— Eu preciso tirar um dos meus cochilos.
— Qual é a sua agenda?
— Vou trabalhar em casa por esses dias, daqui dois dias tenho uma
consulta e depois eu não sei.
— Vamos nos ver mais tarde, então.
— Eu daria tudo para ter os meus pais vivos, ter um colo de mãe, ter um
pai para me proteger. Eu não os tenho, mas você tem, valorize-os. Não
desperdice seu tempo com eles por pequenos detalhes. O importante não é
a felicidade deles? Então, para ver o quanto a sua mãe é feliz, basta olhar o
brilho em seus olhos e o tamanho do seu sorriso. E meça o quanto ela te
ama, a ponto de deixar a razão daquele brilho para traz só para cuidar de
você.
Capítulo 35
Depois do encontro com o Zachary outro dia, passei o resto do tempo
tentando me recuperar da força que ele exerce sobre mim, pensando como
a família dele é linda, a importância que ele tem para os pais. Ontem
durante o dia ele me mandou quatro mensagens dizendo que estava tudo
bem, que já estava olhando alguns relatórios. Isso me deixou muito feliz.
Eu queria saber o que levou ele a cair dessa maneira, o que aconteceu
para tirar o chão dele? Zachary é muito fechado, não deixa ninguém entrar,
será impossível descobrir o que se passa. Cada vez que penso nele, vem a
imagem dele saindo do banheiro enrolado na toalha e novamente estou
excitada. Isso não pode ser normal.
Lorena entra na cozinha com o roupão das meninas superpoderosas.
— Bom dia, senhorita Lorena. Não a vejo há dois dias, tudo certinho?
— Bom dia Lê.
— Bom dia, senhor e senhora Scott.
— Não é bem assim... — ela responde e agora é ele quem faz uma careta.
— Sentem-se e comam. Estou indo para minha... — Nesse momento a
campainha toca. Encaminho-me até a porta e abro. Zachary está impecável
em seu terno azul marinho — Bom dia, senhor O´Brian. Em que posso
ajudá-lo?
— Soube que vai na consulta sozinha. Cadê o Larkin?
Que cisma com o Liam, isso deve ser amor mal resolvido.
— Liam está no Brasil tocando as obras. — Ethan aparece seminu para
cumprimentar Zachary.
— Cara, nem acredito que estou te vendo em pé. — Eles batem os seus
antebraços.
— Vamos?
Lorena entra na sala com o cabelo todo bagunçado, com a sua pantufa
verde de tartaruga que é maior que ela e o roupão rosa pink. Vai direto ao
encontro de Zachary e o abraça. Desde quando são tão próximos?
— Fico feliz que tenha criado juízo e saído da cama. Agora só falta
recuperar aquele corpo de deus grego. Esse mirradinho não faz bem aos
meus olhos.
— Zachary, não precisa ir comigo.
— Mas irei.
No caminho para o consultório do Phillip, olho a cidade que passa e vou
perdida em meus pensamentos como sempre. Não sei se é uma boa ideia se
manter perto dele assim, eu deveria odiá-lo, manter distância de um
continente, mas como fazer isso se o bebê se mexe quando está perto dele?
Depois de repetir tantas vezes que era produção independente, acabei
acreditando na minha própria fantasia. Para mim, Mateus é somente meu.
— Como está se sentindo? — Pergunto.
— Vamos dizer que estou menos desiludido. Não tenho vontade de fazer
muita coisa, sinto-me um pouco cansado mentalmente...
Nenhum de nós olhava um para o outro.
— Com o tempo tudo vai entrando no lugar, nada muda do dia para a
noite.
— Nunca pensei que poderia querer tanto uma coisa, se tornou quase
uma obsessão. — Seu desabafo ganhou minha atenção. — Só que havia
poréns que me impediam de manifestar meu desejo. Um dia descobri que
eu não poderia ter o que tanto desejei. Sempre tive tudo o que quis. Não me
lembro de alguma coisa ter sido negada a mim. Achei que poderia viver
sem aquilo, afinal, era apenas uma coisa banal, há tantas coisas parecidas e
disponíveis. Então, entendi que por mais que eu procurasse, por mais que
tenha experimentado; nada tinha aquele gosto peculiar e tudo foi perdendo
a graça.
O que é essa coisa que ele queria tanto? Não uma coisa... Uma pessoa. E
as palavras saem da minha boca sem controle, constatando um fato.
— Você se apaixonou. — Logo que as palavras saíram, uma dor no peito
veio tomando conta devagarzinho, um nó se formando na garganta. Ele se
apaixonou...
— Não acho que seja paixão, está mais para obsessão.
Minha vontade era abrir essa porta e me jogar do carro. Eu já tinha
decidido que não ficaria mais com ele, só que o meu coração não entende
como o negócio funciona e insiste bater por alguém que não se importa
conosco. A vida realmente não é justa.
— Eu sei como é, Zachary. Eu sei exatamente como é.
Bendita hora em que o motorista dele estacionou o carro em frente ao
prédio em que está localizado o consultório. Antes que alguém pudesse
abrir a porta, eu já estava fora do carro caminhando até a entrada. Logo,
King e Zachary estavam no meu encalço. Assim que entro no consultório,
peço para os dois me esperassem, mas foi o mesmo que falar com um
cachorro, os dois entraram.
Entro no consultório com as duas sombras atrás, o doutor fica mais
chocado que eu. Bom, ele conhece Zachary há mais tempo que eu; já deve
ter conhecimento da insanidade dele.
— Quando me ligou não acreditei que poderia se recuperar tão rápido.
Mas ainda está fraco, tome as vitaminas para acelerar a reposição, nada de
exercícios forçados — O doutor Phillip aproxima-se do Zachary e o abraça.
Ele olha para mim. — Não fiz o parto desse rapaz, mas o vi nascer. Tenho
grande carinho por sua família.
Meu sorriso era mais forçado que os exercícios que Zachary não deveria
fazer. Afinal, a consulta é minha.
— Que legal! — Falo com ironia. — Podemos começar a minha consulta?
— Eles estão com você, Letícia?
— Eles me deram uma carona, mas não, não estão comigo.
— Podem esperá-la lá fora. — Phillip aponta a porta para os dois. —
Tudo tem limite, Zachary. — Fui só eu que achei estranho essa conversa?
Os dois saíram da sala a contragosto, deixando-me aliviada. Sigo a minha
rotina de me pesar, verificar a pressão, apresentar o exame de sangue que
ele solicitou e então me deitei na cama para fazer a ultrassonografia. É
sempre uma alegria ver o meu Mateus...
— Você está entrando no sétimo mês de gestação, está tudo bem com o
Matthew, o seu ganho de peso é mínimo até aqui, mas de agora em diante,
ele crescerá mais rápido, automaticamente, você engordará mais. O sono e
o cansaço também devem ser mais presentes. Está na hora de diminuir as
viagens, ir acalmando sua rotina, delegar funções para que tudo esteja
acertado quando você entrar de licença e fixar residência aqui na América.
— Ok.
Meu coração acelera em saber que a chegada do meu bebê está se
aproximando.
A enfermeira entra e me entrega a ultrassonografia e o médico continua
o seu sermão.
— A vitamina D é muito importante, uma caminhadinha no sol da
manhã fará bem a você e a ele. De agora em diante, vamos ser mais atentos,
ok? Qualquer coisa que venha sentir, me liga. Seja o que for Letícia, mesmo
um desconforto.
Acho interessante que o doutor Phillip sempre anota todas as indicações
que passa para mim. Olho sério para ele.
— Está tudo bem mesmo? O senhor está me deixando apreensiva...
— É só precaução.
— Estou pronta. — Saio do consultório e vejo Zachary e King
concentrados em alguns papéis.
— Cadê o Luck? — Vamos para o carro que nos aguarda em frente ao
prédio e graças a Deus, há dias nenhum fotógrafo me persegue. Zachary
pergunta.
— Hoje é aniversário da mãe dele. Dei folga.
— E você viria sozinha? Eu não acredito, é assim que você se cuida e
cuida do seu filho? O que merda, aquele água de salsicha está fazendo que
não desse às caras aqui?
Coitado do Luck. Coloco a mão no ouvido e faço uma careta.
— Ninguém merece.
— Isso foi irresponsabilidade da sua parte, Letícia. Você deveria pensar
no seu filho e não eu!
— Eu não pedi para você cuidar de ninguém, muito menos pediria para
alguém que não cuida nem de si mesmo. Para esse carro.
— Não para, Mike ou eu te demito.
— Para o carro agora ou eu saio com ele em movimento.
— Você não teria cora...
Antes que ele pudesse terminar, eu abro a porta. O motorista freia
bruscamente e eu desço do carro no meio da rua e vou andando. Zachary
puxa-me pelo braço.
— Solta-me, agora.
— Entra no carro...
— Não entro!
— Entra Letícia. — Zachary passa a mão pelos cabelos.
— Não.
As buzinas já eram ensurdecedoras, não demoraria muito tempo para
algum policial aparecer.
— Entra nesse carro, agora. — sua voz era assustadoramente sexy nesse
tom baixo — Se não entrar, vou colocá-la a força.
— Você não teria cora...
Que coisa idiota de se fazer, dizer que justamente ele não tem coragem.
Ele entra no carro comigo no colo, King fecha porta e Mike arranca
cantando pneus. Seu olhar para mim é mortal.
— Você acaba com a minha paciência. — Tento me soltar do seu aperto,
mas ele não me dá chance. — Quieta!
— Idiota. — Desanimada, mas deliciosamente satisfeita por estar aqui,
encosto minha cabeça em seu obro e olho a cidade que tanto amo, passar,
até pegar no sono.
— Shhh, menina dos olhos dourados. Durma... — E dormi.
Acordo em um lugar estranho, mas em uma cama extremamente
confortável. Abro os olhos e tento situar onde estou. Reconheço os poucos
móveis, a cama gigantesca e o perfume inconfundível, é o quarto do
Zachary.
Agarro-me com força ao travesseiro que tem o seu cheiro. Eu tentei
odiá-lo por diversas vezes, fiquei martelando a ideia de que ele não nos
quer em sua vida, me convencendo que agiu de má fé, mas tudo foi em vão.
Ele me deu a coisa mais preciosa do mundo, meu filho. Como poderia
odiar? Também não queria amar, porque dói demais amar alguém que está
apaixonado por outra, a ponto de entrar em depressão.
Fixar residência no prédio dele não é uma boa ideia, eu não sei se
poderei suportar vê-lo com outra pessoa. Talvez eu devesse procurar outro
lugar para morar, só que isso faria com que eu abrisse mão do meu sonho,
que é o meu apartamento.
Deus, o que eu vou fazer?
Sinto a cama baixar e viro-me para ver aquele espetáculo de homem
perto de mim. Como pode ser tão bonito? Ele sorri, aquecendo meu
coração.
— Olá, menina dos olhos dourados.
Meus olhos exprimem toda dor, logo que o imaginei falando assim com a
sua paixão. Viro e levanto-me para que ele não veja minha emoção.
— Desculpa ter dormido no seu colo e depois aqui. O meu sono às vezes
é incontrolável.
— Olha para mim, Letícia.
— Obrigada por ter ido comigo, Zachary. — Vejo a minha bolsa na
poltrona, a pego e encaminho-me para a porta.
Ele entra na minha frente, levanta o meu rosto, não me contenho mais e
choro. Ele me abraça apertado, colocando minha cabeça em seu ombro.
— O que foi anjo? O que está te atormentando? — Zachary tem um efeito
muito forte sobre mim, qualquer coisa que ele me peça, eu farei, é
automático. É como se ele fosse meu dono e controlasse tudo o que há em
mim.
— Estou com medo... — Ele acaricia minhas costas, incentivando a
continuar a falar — Medo de não ser o suficiente para mais alguém. — Ele
me solta, seca as minhas lágrimas e encara-me, fazendo o meu corpo
acordar.
— Não há a menor possibilidade de você não ser insuficiente para
alguém. O Matthew é o cara mais sortudo do mundo, ele tem a mãe mais
bonita, a mais inteligente e a mais sexy...
Ficamos ali, olhando um para o outro, desço meus olhos para sua boca
deliciosa e como se ele pudesse ler meus pensamentos, encosta-me na
parede e me beija. Eu sinto tanta fome dele, que chega a ser desesperador.
Puxo seus cabelos e devoro sua boca, ele geme. Quero sentir o gosto da sua
pele, faço uma trilha de beijos molhados até o seu pescoço, mordendo o
lóbulo da sua orelha, chupando seu lábio, mordendo o seu queixo. Ter a
lembrança da sua barba na minha pele, gravar seu cheiro em minha mente
para que quando estiver longe, lembrar que um dia já estive nos braços
dele.
O celular do Zachary toca sem parar, tirando-me da nuvem de luxuria. Se
eu ficar agarrada nesse homem por mais tempo, ele me acusará de estupro,
estou a um passo de rasgar essa camisa e lambê-lo.
Aproveito a distração da ligação e saio de fininho.
Ando o mais rápido possível e desço as escadas quase que correndo.
Assim que entro no elevador, solto a respiração que estava presa.
— O que foi que eu fiz? — Olho-me no espelho e pergunto.

——ooOoo——

Alguns dias se passam sem que nenhum de nós entre em contato com o
outro. Mas nesse tempo uma pergunta ficou me perseguindo, como Zachary
sabia que era um menino e como ele sabia o nome? Ele não faz perguntas
sobre a minha gravidez, às vezes tenho a impressão que ele até ignora.
Hoje estou em um desanimo só, levantei tarde, só escovei os dentes e
lavei o rosto. Fui para a cozinha de camisola, escrito “Keep calm... Download
97%” e pantufa. Luck e Lorena estavam na mesa da cozinha trabalhando
cada um em seu computador. Ele provavelmente está cantando alguém em
algum chat. Outro dia eu passei pelo seu notebook que estava ligado e
aberto para todo mundo ver e contemplei sua proteção de tela, uma mulher
seminua mandando beijo. Se a proteção já é assim, imagina o que tem lá
dentro? Ethan também está na mesma mesa com o computador e falando
no telefone. Isso aqui virou central dos trabalhadores agora.
— Bom dia, Lê. — Luck me serve uma caneca de chá. — Noite ruim?
— Sonhos que me perseguem. Onde vou tomar café?
— Aqui, patroa. — Lorena me pega pela mão e vai levando-me para a
sala.
— Obrigada, escrava branca.
— O que foi, Lê? Está tudo bem?
— Estou acordando ainda.
— Você tem trabalhado demais, seus horários estão trocados, assim é
complicado.
— Tenho dormido demais, isso sim.
Hoje, pretendo colocar muita coisa em ordem, começando por organizar
a mudança da tia Aurora para cá, antes dela viajar para a Grécia. A mulher
resolveu conhecer o mundo, agora ninguém segura. Tenho que ver como
ficará minha situação na Global, provavelmente terei que dar um pulo no
Brasil para resolver esses detalhes. E, não menos importante, arrumar o
quarto do Mateus.
Terminado de tomar café, vou para o banho para espantar a preguiça e
vou para o closet, caçar alguma coisa para colocar. Como não pretendo sair
de casa, pego um conjunto de moletom dois tamanhos menores do que
estou atualmente, um camisetão para cobrir a barriga e tênis. Estou
cansada de ser chique para os fotógrafos, quero minha vida sem sal de
volta.
Contemplo a vista da janela do meu quarto, adoro o outono em Nova
York, é diferente do outono no Brasil, aqui as cores são diferentes, as flores
também são. Quando eu tinha dez quilos a menos eu costumava caminhar
pelo Central Park, agora, mal consigo caminhar do quarto para a cozinha.
Ouço vozes na sala e vou até lá para ver quem é e dou de cara com
Zachary. Se arrependimento matasse, provavelmente eu já estaria morta.
— Olá, Zachary. — Cumprimento de longe.
Só que ele não fica satisfeito, aproxima-se e beija meu rosto. Tranco
minha respiração para não cair tentação.
— Boa tarde, menina dos olhos dourados. — Basta ouvir a voz do seu
pai e o bebê começa a sambar na minha barriga.
Olho para Lorena e Ethan que estavam no sofá.
— Que horas são?
— Duas horas da tarde.
— Meu Deus, eu não tenho dormido e sim desmaiado.
— Normal mamãe.
Eu tenho que perguntar ao Phillip sobre isso. Preciso me certificar de
que realmente é normal, estou ultrapassando o limite do sono, tenho
dormido cada vez mais. Ouço-os rindo e viro-me para ver o que é.
— Por que estão rindo?
— Ficou gostosa com essa calça, Lê.
— Aff! Nada mais me serve. — Aponto para a direção do meu mini
escritório. — Eu vou trabalhar lá. Com licença.
Saio rapidamente da sala e solto a respiração assim que fecho a porta
atrás de mim. Nesse momento em que os meus hormônios estão
descontrolados, corro um grande risco de fazer uma besteira e ferrar com o
meu coração novamente, como foi na última vez, que passei três dias
chorando o fato dele amar outra.
Sento, ligo meu computador e vou diretamente responder meus e-mails
que não são poucos. Em seguida ligo para o Kevin e converso com ele sobre
como irá ficar minha posição na Global.
— Não acho correto você pedir demissão agora. Vamos fazer o seguinte,
fica de licença e quando der para você voltar, resolveremos como vai ser.
— Obrigada, Kevin. Sinto saudades do pessoal, manda um beijo para sua
família.
— Mandarei sim. Cuide-se. Até.
Minha próxima tarefa é ligar para a mãe da Lolo para passar a data da
viagem e passar a lista do que ela precisa trazer para mim. Canso de ficar
sentada e levanto para me alongar, vou até a janela e perco a noção do
tempo. Não vi e nem ouvi entrarem no escritório. Antes que eu pudesse me
virar, tapam minha boca, encostam-me na janela, tomando cuidado com a
minha barriga.
— Eu venho tentando ser uma boa pessoa, reunindo todas as minhas
forças para ser um homem honrado, mas cada vez que te vejo, eu fico cego
de desejo. — Aquela voz grave no meu ouvido, a mão na boca, toda a cena
me faz desejosa, sentindo fome de Zachary. — Eu sei que você é proibida
para mim e isso torna tudo mais gostoso.
Ele tira a mão que estava na minha boca e desce pela lateral do meu
corpo, alcançando o meio das minhas pernas.
— Isso. Quanto mais você aperta as pernas, mais molhada fica. — Seu
membro esfregando na minha bunda está me enlouquecendo...
— Letícia? — Alguém bate na porta e me chama. Como um raio ele me
solta.
Não reconheço a voz de imediato e pergunto na esperança de convencer
quem está lá fora a não entrar e ao Zachary para continuar o que estava
fazendo.
— Quem é?
— É o Liam, Lê. Posso entrar?
Olho para Zachary e seu olhar me dá medo, aquele velho e conhecido
iceberg, está de volta. Ele abre a porta, acena para o Liam e sai. Já não fico
mais chocada com essas atitudes dele, eu sei que ele me quer apenas para
uma transa, mesmo grávida, talvez seja algum tipo de fetiche, mas não
passa disso. Ele tem a sua paixão e está se contentando em me pegar.
Tento disfarçar minha decepção, abraço Liam apertado.
— Que bom que você veio.
— Está tudo bem? Por que o Zachary saiu daquela maneira?
— Não faça pergunta difícil. Eu não sei quem é mais fora da casinha, ele
ou eu. Cadê a Julia?
— Está na cozinha com a Lorena. Eu tenho uma reunião amanhã pela
manhã, mas sem hora para acabar. Trouxe uma documentação para você
dar uma olhada e perguntar se a Júlia pode ficar aqui enquanto estou preso
com essa negociação.
— Claro. Tudo certo para o casório?
— Marcamos para a primavera.
Lorena e Julia entram e ela vem me abraçar. Adoro a Julinha, essa
menina é uma excelente assistente, uma amiga para todas as horas e a
mulher perfeita para o lindo irlandês, Liam Larkin. Fora que ela é linda,
uma bela morena com cabelos longos e lisos, olhos castanhos e puxados, os
cabelos e os olhos são traços indígenas e a deixa ainda mais bonita. Alta,
com um bonito corpo, voz mansa e uma tranquilidade de dar inveja.
— Está com uma carinha de cansada, Lê.
— Trabalha demais. Ué, cadê o Zach? — Lorena pergunta.
— Do jeito que ele saiu, achei que a Letícia tinha o expulsado.
— Não expulsei ninguém...
— Queria tanto conhecer o senhor O´Brian. — Julia senta no colo do
Liam.
— Não perdeu nada.
Olhando-os sorrindo e apaixonados, vem o bichinho traiçoeiro da inveja.
Sou feliz por eles, eu torço por todos eles, que merecem ser felizes tanto
quanto eu. Mas eles não se dão conta do quanto são felizes por terem
alguém que os ame, mesmo com seus defeitos, seus caprichos.
Passo a mão sobre a minha barriga, percebendo o quanto eu sou sortuda
por tê-los em minha vida.
Capítulo 36
Zachary

— King, fala para ela que eu a quero aqui em quinze minutos. — Ele faz
uma careta para mim. Como coisa que me assusta.
— Ela está grávida e tem que ir com calma, Zach. — Esse protecionismo
com a Letícia me irrita.
— Quatorze minutos, Kingston. — Seu bom senso o fez ligar e dar o meu
recado.
Desde aquele dia que quase a fiz trair o Larkin, o que seria bem
merecido, Letícia e eu nos encontramos somente para falar de negócios e
sempre aqui na empresa. Eu não consigo manter distância dela, algo me
puxa para aquela mulher. Inúmeras vezes eu já me peguei a observando de
longe, como um adolescente descobrindo o sexo com a empregada, fica se
masturbando quando olha pela fechadura. Essa é minha situação...
Continuo a acompanhar sua vida de longe, seus horários, suas consultas;
sei que ela está comendo bem, mas o cansaço está a incomodando muito.
Sua barriga está grande, seus pés incham frequentemente, então, foi
obrigada a substituir o salto pelas rasteirinhas.
Só que ela é noiva de um filho da puta que resolveu enterrar o umbigo
no Brasil com a desculpa de que está supervisionando as obras, enquanto
ela fica aqui sozinha. E isso tem tirado o meu sono, o Larkin sempre foi
responsável, parecia apaixonado por ela e agora foge como se não tivesse
responsabilidade nenhuma. Bastardo. Se não é o pai da criança, porque
resolveu casar com ela? É justamente essa hora que ela precisa de
cuidados.
Letícia é meu ponto fraco, ela tem o poder de tirar qualquer coisa de
mim. No dia que acabei falando o que se passava, ela me disse que eu
estava apaixonado. Não acredito que seja paixão, acho que está mais para
loucura. Passei dias pensando e cheguei a seguinte conclusão, estou louco
por uma mulher grávida e que vai se casar com um dos meus sócios.
Parabéns, Zachary, você está cada vez mais perto de ganhar o troféu
“Trouxa do Ano”.
Ficar perto dela e não poder tocá-la exige muito de mim. Gosto das
nossas conversas, eu adoro irritá-la. Seus seios estão cada vez maiores;
aquela bunda está do tamanho certo para mim. A última vez que a coloquei
contra a parede, eu estava disposto a ir até o fim, sentir o seu corpo contra
o meu, me deixou maluco, mas aquele infeliz teve que aparecer. Costumo
agir como homem, transar com as mulheres dos meus colegas ou sócios,
não está na minha lista, só que a Letícia lançou a merda de um feitiço sobre
mim. Por mais que eu queira, não resisto a ela.
King entre na minha sala com uma Letícia abatida, andando lentamente
e suas pantufas do caracol do desenho do Bob Esponja, não passaram
despercebidas.
— Boa tarde, senhora Letícia. Andou fazendo o que não deveria para
estar nessa situação? — Ela senta com cuidado.
— Andei dando para quem não devia ter dado. Vamos direto ao assunto,
quero voltar para casa. Como você pode perceber, eu não estou muito bem.
— Se eu soubesse, não teria...
— Claro que teria idiota. Você faz as cosias para me irritar, para me
punir por alguma frustração sua. Sei lá.
— Quer voltar para casa? — King me olha de cara feia e fala para ela.
— Não, agora vou trabalhar aqui. Senhor O´Brian, avisa sua secretária
que quero um chocolate quente, um queijo quente, duas torradas com
creme de amendoim e presunto.
— Tem certeza que essa combinação de alimentos, fará bem a você?
— Você é o meu médico para ficar dando palpites? Ai... — ela se ajeita na
cadeira com dificuldade.
— O que foi?
— O Mateus está se mexendo demais e desde ontem está doendo
quando isso acontece.
— Você vai mesmo chamá-lo de Matthew? — Falo sorrindo. Detestei o
nome.
— Mateus... — Ela repete.
— Foi o que falei...
— Não, não foi. Não é Matthew porque o meu filho é brasileiro, então é
Mateus e assunto encerrado porque não é da sua conta!
Essa não é a Letícia, ele não age dessa maneira. É sempre muito doce e
agradável, o sorriso é o seu cartão de visitas. Viro-me para King.
— Prepare o carro. Estamos indo ao médico.
— Eu não vou a lugar algum com você. — King e eu trocamos olhares,
ele acena e sai. Eu ajudo a levantá-la.
— Consegue andar?
— Estou grávida e não inválida. — Ela coloca a mão na barriga. — Ai...
Doeu.
Pego-a no colo, passo pela minha secretária.
— Pega minhas coisas rápido e chama o elevador. — Enquanto
descíamos, passei instruções. — Não voltarei ao escritório, o que for
urgente, repasse ao Ted ou para o Joe.
— Sim, senhor.
Fomos até a garagem, King estava nos esperando de porta aberta.
— Phillip já está nos esperando.
— Então vamos.
Letícia tenta sair do meu aperto, eu não permito. Ela começa a me
estapear no peito e lágrimas caem de seus olhos.
— Por que você faz isso comigo? Eu te odeio Zachary.
— Pode me odiar. Cadê o cretino do Larkin que não está aqui?
— O que você tem com o Liam? Amor mal resolvido? Que cisma!
— Ele deveria estar com você...
— Ele não tem obrigação nenhuma de estar comigo, assim como você.
Eu não te pedi nada, Zachary. Se não queria estar perto de mim, bastava me
evitar. Passei uma vida toda sozinha, eu não preciso de ninguém... — Sua
voz quebra na última frase.
— Você nunca mais estará sozinha. Terá o seu filho, seus amigos, a dona
Aurora que te ama como filha, a Lorena como irmã. Você tem o Luck, o King
que te idolatram e tem a mim...
Luck abre a porta para descermos. Somos recebidos na entrada
secundária do prédio, uma enfermeira está com uma cadeira de rodas, que
dispenso, ela não saíra do meu colo. Assim que entramos no consultório,
Phillip aponta para a cama perto do ultrassom.
Ele rapidamente mede a pressão da Letícia, examina sua barriga.
— O que houve Letícia?
— Venho sentindo dores...
— Onde?
— Quando o bebê se mexe, causa um desconforto grande, dói.
O consultório estava lotado, King, Luck, eu, Mike e a enfermeira. Silêncio
era sepulcral. Phillip levanta a camisa dela, passa um gel e logo uma
imagem cinza aparece na tela. Meu coração acelerou, minha garganta deu
um nó, não suporto a emoção e viro-me para a janela.
— O bebê está bem, o problema é que ele já quer sair. Ele já está virado e
essas dores se dão pelo fato dele estar encaixando. Ali, está vendo? — Ela
acena que sim. Por mais que eu tente evitar a imagem da tela, não consigo.
— Seu bebê está grande, bem desenvolvido, sem nenhum problema.
— Tem certeza, doutor? — Ele sorri para confortá-la.
— Tenho a mais absoluta certeza. Quer ouvi-lo? — Logo um som de
batimento preenche toda a sala, ficando ainda mais estranho. — Ele é
grande, forte e está muito bem. — Phillip vira para nós. — Vocês podem me
dar licença? Eu tenho que examinar a mamãe.
Sou o primeiro a sair, desconcertado com esses sentimentos estranhos.
Sentei, peguei o celular e comecei a ler meus e-mails. Eu não sei lidar com
toda essa situação, a Letícia, a criança, Larkin. Por falar nesse merda, vou
ligar para ele e ter uma conversa de homem para homem.
— Liam falando.
— Eu gostaria de saber por que você não está aqui, filho da puta?
— Oi para você também, Zach. Deixei passar algum compromisso?
— Olha aqui, Larkin, ela não pode estar sozinha nesse momento. Seja
homem e venha atender as necessidades dela.
— Zachary, eu não estou entendo...
— Quer saber, idiota? Cansei de ser um bom homem, se ela passar mal
mais uma vez e você não estiver, vou a sua caça e te arrebento inteiro —
Desligo o telefone.
Não sei de onde surge essa necessidade de estar perto, de querer
amparar. Caralho, no dia que ela falou que o filho era meu, deveria ter me
distanciado definitivamente dela, parar de desejá-la. Mas quanto mais o
tempo passa, mais a quero por perto, a empatia por esse bebê é grande. E
de onde ela tirou Mateus? Eu não daria um nome assim para o meu filho,
nunca.
Phillip abre a porta e a Letícia sai com um rostinho um pouco melhor.
Vou de encontro a eles.
— Está tudo bem?
— Sim...
— King, leve-a para o carro, vou dar uma palavra com Phillip e já
encontro vocês.
— Ok. Venha, mamãe, vamos dar um passeio.
A enfermeira entrega um envelope grande e a senta em uma cadeira de
rodas. Entro na sala com o médico para saber o que houve.
— Ela realmente está bem?
— Por que esse interesse, Zach? Pelo que ela falou você não é o pai dessa
criança. — Phillip cruza os braços e me pergunta.
— Ela é minha sócia, minha amiga, eu só quero o seu bem. Agora me
responde, ela está bem?
— Ela está bem, mas já está com três dedos de dilatação, o bebê já está
encaixado para nascer...
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que se ela não tomar cuidado, o bebê pode nascer a
qualquer momento antes do tempo. Em todos esses anos, eu não vi uma
criança tão grande assim, exceto você. No seu parto, lembro que todos
ficaram chocados com o seu tamanho, o Mateus será parecido.
— Não é melhor levá-la para o hospital? E se essa criança nasce antes do
tempo?
— Calma. Mas de agora em diante, a Letícia está em repouso absoluto. Só
sairá da cama para ir ao banheiro, nenhum esforço, nenhum estresse. A
partir de agora, o bebê ficará mais quieto, ela dormirá mal por causa do
desconforto que o tamanho do bebê, provoca. É importante que ela não
coma comidas pesadas e apimentadas, não fique muito tempo em pé e está
proibida de fazer sexo, ou qualquer coisa do tipo. Vamos fazer de tudo para
conseguirmos alcançar as trinta e oito semanas.
— De quantas semanas ela está?
— Trinta e seis.
— Obrigado.
Encontro-os no carro à minha espera, assim que entro, Mike entra no
trânsito. Pego a sua mão e a beijo, ela coloca sua cabeça em meu ombro e
vamos assim, calados, até o Solarium. Levo-a no colo até o seu apartamento,
a mãe da Lorena abre a porta.
— O que houve com a minha filha?
Olho para a mulher nos meus braços e seu olhar perdido, corta meu
peito.
— Onde você quer ficar, anjo?
— Na minha cama... — Fui até o seu quarto, coloquei-a delicadamente
sobre a cama, tirei seu casaco, suas pantufas e a cobri.
— Eu vou até em casa trocar de roupas e já volto.
— O que você fez com a minha filha?
— Calma. Ela está bem, pelo que entendi, o bebê é grande e quer nascer.
— Sério? — Os olhos dela brilham e ela coloca mão na boca. Dona
Aurora me abraça. — Eu vou ser avó.
— Uma linda avó. Mas a Letícia tem que ficar em repouso absoluto, só
deverá se levantar da cama para ir ao banheiro. Eu vou à minha casa trocar
de roupa, comer alguma coisa e já volto.
— Venha comer aqui. Lorena e Ethan ligaram agora pouco dizendo que
estão a caminho e que tem novidades. Partindo deles a gente tem até medo.
— Saio rindo. A Lorena tem a quem puxar, a mãe dela é uma graça tanto
quanto a filha. A Letícia tem sorte de tê-las em sua vida.
Vou para casa, tomo um banho, faço algumas ligações, organizo os
papéis que trouxe e volto para o apartamento da Letícia. Achei que a
encontraria dormindo, mas ela estava sentada em sua cama vendo
televisão. Sento na beirada da cama e percebo que no chão ao lado há
alguns livros sobre maternidade.
— Leu algum desses?
— Não.
— Vamos ler para sermos boas mães.
— Pegou pesado.
Seu riso me dá paz. Deito ao lado dela e começo a ler um manual, eu
acho como a mulher deve proceder quando sentir as contrações. Depois de
algumas páginas, estou muito concentrado e vem a primeira imagem, tenho
certeza que depois disso, minha vida nunca mais será a mesma. Não sei se
conseguirei ver uma vagina e não pensar naquela imagem. É assustador. Li
sobre as técnicas de relaxamento para o parto aprendi a respirar como
cachorrinho, como o parceiro deve se portar durante o trabalho de parto.
Pronto, só com esse livro, estou graduado para a primeira batalha do bebê,
o nascimento.
Olho para o lado para ver como a minha companheira de leitura está e a
encontro dormindo abraçada a um grande travesseiro, coloco a coberta por
cima dela e vou para a sala. A mãe da Lolo me pega pelo braço.
— Venha ver uma coisa.
Fomos até o quarto ao lado em que a Letícia está dormindo, ela abre a
porta e entro em um ambiente todo em azul claro, com vários personagens
de desenho animados nas paredes, um berço branco com nuvens azuis e
um móbile de super-homem. Olho para ela emocionado.
— Ela fez tudo sozinha?
— Cada detalhe.
— Impressionante.
— Ficou lindo o quarto do meu sobrinho, não é Zach? — Pergunta
Lorena.
— Ficou... — Respondi.
— Só falta a gente convencer aquela teimosa, a trocar o nome da criança.
Passo braço pelos ombros da boneca, beijo sua cabeça.
— Até que enfim, alguém que concorde comigo.
— Cadê a Letícia?
— Ela está dormindo.
— O Zachary a levou no médico e ficamos sabendo que o bebê já quer
sair e que de agora em diante ela está em repouso absoluto. —Dona Aurora
diz. — Não pode fazer nada para o neném não nascer antes do tempo.
Fomos para a sala e a Letícia estava sentada no sofá.
— Estou morrendo de fome...
— Como se sente? — Sento ao lado dela.
— Bem.
Lorena senta a mãe dela do meu lado e fica em pé ao lado de Ethan, de
frente para nós. A mãe dela pega minha mão.
— Meu filho, eu vou segurar sua mão, porque segurar na mão de homem
bonito a gente sofre menos. E esses dois vão me dar um AVC antes de um
neto.
— Ai mãe!
— Eu pedi a mulher da minha vida em casamento novamente e ela
aceitou. O jantar para oficializar será esse final de semana.
A boneca Lolo mostra seu anel de noivado, que é muito bonito e que deu
um trabalho desgraçado para achar. Acredito que nós vimos todos anéis
que existiam em Nova York, Ethan estava desesperado porque não queria
dar aquele que já esteve com ela, porque segundo ele era amaldiçoado.
Nossa busca chegou ao fim quando o pai dele nos indicou um judeu em
Long Island. Realmente ele tinha joias bárbaras, assim que Ethan bateu o
olho em um solitário de ouro branco, com uma safira e cravado de
diamantes, não restaram dúvidas, era a cara da Lorena, diferente de
qualquer outra coisa que vimos.
— Antes de me levantar daqui com todo esse peso, quero saber, dessa
vez é para valer ou economizo minha levantada para a próxima? — Letícia
brinca.
— É para valer, bocó. E deixa que eu vá até aí te abraçar. Vai que o meu
sobrinho nasce no meio do caminho.
— Lembra-se do que te falei logo que nos conhecemos? — Intercepto ela
no meio do caminho e a abraço. — Se ele fizer algo, ligue para mim que
mandarei o King socar ele. Ainda está valendo. Parabéns, Lolo. Desejo toda
a felicidade do mundo.
— Obrigada, Zach. É muito importante você estar aqui e obrigada por
estar do lado dela nesse momento.
As palavras dela me tocam — Eu que agradeço por permitir que eu
esteja aqui nesse momento tão especial.
— Estou com fome, o jantar sai ou não? E pelo amor de Deus, nesse
jantar de noivado, não vão me levar naquele restaurante francês Daniel sei
lá o que.
— Que tal o Olive Garden?
— Sim!
Fomos para a mesa e a dona Aurora serviu uma lasanha de pão sírio e
molho e branco de dar água na boca.
— Minha sogra, a senhora morará conosco só para cozinhar para o seu
genro preferido. — Ethan, muito educado fala de boca cheia.
— Você é o único, idiota. — Falo sem pensar.
A dona Aurora me dá um beliscão.
— Estava doida para fazer isso nesse homem lindo. — Ela vira para
mim. — Tem o marido da Letícia...
— Desculpe dona Aurora. Esqueci-me da sua preciosa...
— Cabeção. Na hora de comer não se esqueceu da preciosa.
Letícia se engasga com a comida, rapidamente acaricio suas costas para
ajudá-la.
— Calma...
— Lorena eu juro por Deus que vou te matar... — O olhar da Letícia para
a Lorena é mortal.
— Se formos fazer uma lista com quem essas duas já dormiram, vamos
escrever a próxima Bíblia.
Ethan e eu não nos contemos e começamos a rir, Lorena ficou tão
vermelha a ponto de passar mal.
— Aprendemos com a melhor. Na primeira consulta que foi comigo, já
saiu com o telefone do doutor Phillip.
— Mentira... — Lorena jogou para fora todo o vinho que estava em sua
boca, molhando Ethan.
— Sério. Os dois ficaram a consulta toda trocando sorrisos. — Letícia
fala séria.
Todos nós olhamos para a mãe da Lorena que come pacificamente, como
se estivéssemos falando de outra pessoa. Depois de um tempo ela levanta
os olhos.
— Isso pode ser um choque para vocês, mas pessoas velhas também
namoram, sabia?
— A senhora está namorando, mãe?
— Estamos nos conhecendo.
— Essa minha sogra é um perigo. — Ethan fala.
Foi o melhor jantar que tive em anos, com amigos, queridos que é quase
uma família, conversa leve, comida boa e muitas histórias para contar.
Letícia começa a se mexer na cadeira e coloca a mão na barriga.
— O papo está bom, mas vou deitar. O Mateus está se mexendo muito e
tem momentos que dói.
— Por falar em Mateus, Lê, O Ethan e o Zach querem falar uma coisa
para você. — Lorena começa. Ele e eu nos olhamos, depois olhamos para a
Lorena que dá de ombros. — Alguém tem que falar e eu elegi vocês dois.
— Mateus não é um nome bonito, quem sabe Andrew, Cole...
— Ethan... — Interrompo.
— Zachary. São bons nomes e somos bons exemplos.
— Vou pensar no caso de vocês. Agora, preciso deitar.
— Lê, estou achando sua barriga baixa demais, meu bem. — A mãe da
Lorena passa a mão na barriga da Letícia.
— E o que isso quer dizer? — Eu pergunto.
— Que está chegando a hora.
— Vai ficar bem? — Acompanho Letícia até o quarto. — Tenho algum
trabalho para fazer em casa e...
— Está tudo bem, Zachary. Obrigada por tudo. Boa noite.
— Boa noite, menina dos olhos dourados.
Ela não sorri, não acena e desvia seu olhar. Sei que sua situação não é
cômoda, seja lá o que se passa entre nós, ela também sente, mas entendo
que há Larkin no meio disso. Encosto minha cabeça na porta do seu quarto
do lado de fora me perguntando o que estou fazendo, porque a insistência
de ficar perto dela, sendo que não é justo com nenhum de nós.
Nos dias que se seguiram a minha rotina era ir para empresa, voltar no
meio da tarde e ir ler os livros com a Letícia. A barriga dela está cada vez
maior e ela mais cansada, faço massagem em seus pés até que ela durma
pacificamente e depois vou para casa.
Adaptei-me tão bem a isso, que chega a ser estranho. Meu sono voltou,
não tenho mais crises de enxaqueca, seja qual for o efeito que a Letícia
causa em mim, isso em breve terminará.
Capítulo 37
Hoje é o jantar de noivado do Ethan e ainda estou preso no escritório
resolvendo problemas na China. Com a crise que a China vem enfrentando,
a bolsa está tendo mais baixos que altos e está na hora de movimentar as
ações que tenho. Esse jogo é cruel, se desfazer das erradas, pode me custar
milhares de dólares... Por hora.
Eu tinha combinado de levar a Letícia e a dona Aurora, mas com esse
pepino, tive que mandar um carro para buscá-las. Continuo a achar que a
Letícia não deveria sair de casa, aquela gravidez está estranha, agora ela
está mancando dizendo que sente dor na virilha. Phillip a examinou e disse
que a criança está grande, vai nascer com quase cinco quilos. E isso é
possível? Outro dia minha mãe veio visitá-la e falou que eu nasci com cinco
quilos, disse que o parto foi difícil por eu ser grande demais. Só tenho uma
coisa a dizer... Coitada.
Corro para casa, tomo um banho, coloco meu terno e voo para o
restaurante. Ethan reservou um salão privado anexo ao salão principal,
para poucas pessoas. Estão os seus pais, a mãe da Lorena, Letícia, o imbecil
do Larkin, a morena que está ao lado dele é desconhecida para mim,
Martino e a esposa, Sebastian e a esposa também vieram.
Enquanto abro o botão do meu terno, olho para a Letícia que está um
pouco pálida e linda. Ela veio com um vestido de mangas longas marfim,
com um decote de fazer qualquer sacerdote pecar. Sento entre o pai do
Ethan e Sebastian, que me cumprimenta.
— Como está, Zach?
— Estou indo e você?
— Estou muito bem.
Fico de frente para o Larkin e o olhar que vi entre ele e a morena,
deixou-me irado. O filho da puta não tem vergonha de agir dessa maneira
na frente da noiva que está grávida? Olho para a Letícia que parece um
anjo, a gravidez a fez ainda mais bonita e mais desejável. Em todos esses
dias que estivemos próximos, não houve um dia se quer que eu não tenha
me masturbado pensando nela. Eu conheço o seu gosto, sei exatamente
como é estar dentro dela, não há como esquecer isso.
— Fala Ted. — Meu celular toca e vejo que é o Ted, levanto e saio para
atender
— É só para comunicá-lo que parte das ações de Xangai foi colocada à
venda e... — Vejo Letícia sair do salão principal encurvada com a mão na
parte de baixo da barriga.
— Depois te ligo. — Vou em sua direção e King corre junto comigo para
ajudá-la — Qual é o problema, Letícia?
Ela segura a minha mãe forte e tranca os dentes.
— Aaah! Acho que são as contrações... Ai.
— Não é melhor irmos para o hospital? — King pergunta ao mesmo
tempo em que vemos água escorrer no chão.
— O que é isso?
— Acho que a minha bolsa estourou. — Agora somos dois homens
desesperados e perdidos.
— King, pega o carro... Não... Eu vou chamar a Lorena e...
— Não! Hoje é o dia dela, não quero estragar. Ai.
— Se nós não chamarmos a Lorena e a mãe dela, teremos um
nascimento e duas mortes. — Digo.
— Aquela baixinha invocada sabe ser cruel... — King completa.
Deixo-a com o King e vou avisar a Lorena. Entrando no salão, vejo o
Larkin no canto aos beijos com a morena e fico cego de ódio, vou matar
esse irlandês. Entro no meio dos dois e soco seu rosto. A garota que está
com ele grita.
— Sua noiva tendo o filho e você agarrado com outra? Você é um
canalha, Larkin. Enganou a todos nós com essa cara de santo...
— Liam, querido está bem? — A morena corre para ele.
— Se ele estiver bem é porque o meu soco não atingiu o objetivo.
Lorena, Ethan e Kaleb aparecem.
— O que está acontecendo aqui?
— Pergunta para o Zachary. Porque francamente, não entendi porque
apanhei.
— Não entendeu? Você não entendeu porque está com a cabeça na
bunda dessa aí.
— Se controla caralho! Cadê a Letícia?
— Ela está em trabalho de parto ali fora... — Todos me olham estáticos e
grito. — Vamos se mexer, a Letícia vai ter o bebê.
— Zachary e Liam levam ela, Julia vai junto para evitar que as madames
aqui se agarrem novamente. Kaleb vai me levar em casa para pegar as
coisas dela e do bebê e vamos para o hospital. — A Lorena volta a
realidade.
Todos nós saímos correndo e encontramos o King branco como uma
vela e a Letícia gritando.
— Você não sabe o que é dor, seu infeliz! — Ela nos vê chegando. —
Mais um pouco achei que ia dar à luz aqui. Ai!
Entramos todos dentro do carro e Mike arranca. Larkin resolve tirar a
história a limpo agora.
— Por que diabos você me bateu, seu bastardo?
— Você ainda me pergunta porquê? Merece que eu arrebente a sua cara.
A sua noiva tendo um filho e você de beijo com a safada ali, que tenho
certeza que sabe da sua relação.
— O que? — Ela agarra o colarinho da minha camisa e fala entre os
dentes. — Enlouqueceu? Ela é a noiva dele, idiota! Ai... ai...
— Olha para mim, Letícia. Vamos respirar como estava nos livros.
— Que livros? Eu não posso. Ai...
— Letícia, você leu algum daqueles livros?
— Não!
— O que você fazia enquanto eu lia? — Pergunto.
— Eu dormia. Ai meu Deus, vou ser uma péssima mãe.
— Não, não será. Olha para mim, vamos respirar juntos, ok? — Ela
acena. — Se concentra em mim, respira comigo.
Quando chegamos no hospital, abro a porta e saio com a Letícia gritando
nos meus braços e King atrás de nós.
— O que está acontecendo aqui? — Um enfermeiro nos para e pergunta
grosseiramente.
— Estamos comemorando que te encontramos, idiota. O que você acha
que é? Meu filho está nascendo. — Antes que eu pudesse responder, Letícia
responde.
Uma enfermeira aparece com uma cadeira de rodas.
— Vamos prepará-la, mamãe.
— Aqui papai, vamos colocar essa roupa para ver o bebê vir ao mundo.
— O enfermeiro me arrasta para outra sala.
Antes que eu pudesse responder que não sou o pai, o enfermeiro maluco
praticamente arranca meu terno e coloca uma um vestido verde, uma
máscara e uma coisa tipo toucas para os pés, sei lá o que é isso. Entro em
uma sala toda branca, Letícia está em uma cama estranha com os pés para
cima, gritando de dor.
King entra na sala vestido como eu se aproxima de mim.
— Cara, não aguento vê-la gritar dessa maneira.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto curioso. — Vim avisar que
a imprensa está lá fora, tiramos dois paparazzi aqui de dentro do hospital.
— Enquanto eu estou parindo um ser humano, as comadres ficam de
cochicho. Que lindo! Estão confortáveis? Aiiiiiiiiii...
— Calma...
— Se você me mandar ter calma mais uma vez, eu quebro a sua cara,
cretino. Já não basta aquela história de falar que Liam era meu noivo.
— Eu passei os últimos meses longe de você porque achei que estava
noiva dele.
— Estou te odiando ainda mais, Zachary. Ai...
— O bebê já está coroando, Letícia. Respiro fundo, se concentra, na
próxima contração você tem que fazer bastante força, ok? Vamos trazer
essa criança para conhecer o mundo.
— Eu vou sair antes... — Ele cai na besteira de olhar para onde o médico
está e não deu outra, tínhamos um homem de dois metros e mais de cem
quilos desmaiado no chão.
Letícia grita, aperta minha mão com uma força descomunal.
— Isso. Respira. Vamos para a próxima... — O médico fala.
E a próxima quase quebrou minha mão de tanto que ela apertou.
Lembro que li em algum livro que o papel do parceiro é incentivar.
— Bom trabalho Lê. Respira comigo, vamos. Isso.
— Vai à merda com o seu bom trabalho, Zachaiiiiiiiiii...
— Respira anjo.
— Mais força, Letícia. Vamos lá, mamãe...
E em menos de cinco minutos, ouvimos o choro mais bonito que existe.
A enfermeira aproxima-se de mim e coloca um pacote azul grande em meus
braços.
— Parabéns, papai. Seu meninão nasceu.
Naquele momento eu tive a certeza, ele era meu filho.
A emoção que me percorreu foi tão devastadora que as lágrimas caiam
sem controle. Não há palavras para descrever o que essa criança passa a
representar na minha vida... Não, ele passa a ser minha vida! E esse tempo
todo que cuidei da Letícia, na verdade, mesmo que inconsciente, cuidava do
meu filho. Olho para a Letícia que tinha lágrimas nos olhos; aproximo-me
dela, tiro a máscara e beijo sua testa.
— Obrigado, menina dos olhos dourados. — E entrego Nathan para a sua
mãe.
Entre lágrimas, tiro o telefone do meu bolso e fotografo esse momento.
Preciso falar com alguém, disco um número enquanto contemplo a mulher
mais linda do mundo com o meu filho no colo.
— Pai, o senhor é vovô.
Uma enfermeira pede que eu vá esperar ela no quarto que logo a
levarão. No meio do caminho encontro o King, ainda um pouco atordoado.
— Está melhor, grandão?
Ele passa a mão na cabeça.
— Cara, eu vi coisas que homem nenhum deveria ver. Vou lá para frente
ver como está a segurança e avisar aos demais... — Meus olhos umedecem.
King me segura pelos ombros. — O que foi Zach?
— O filho é meu, King. Eu tenho certeza, é meu.
Ele me puxa em um abraço apertado.
— Parabéns, Zach. Vou mandar comprar charutos agora. Eu te disse
inúmeras vezes, ela é o anjo que Deus mandou para você, cuide bem da sua
família, cara.
King é meu brother. Me solto dele porque isso já está ficando estranho.
— Vou esperar a Letícia no quarto. — Falo já saindo.
Não consigo ficar sentado, estou ansioso demais, minha cabeça trabalha
para entender como isso tudo aconteceu. Hoje é o dia mais feliz da minha, a
hora que vi aquele menino, não tive nenhuma dúvida, é meu. O fruto da
nossa noite de loucura em Abu Dhabi. Me pego sorrindo com a lembrança
do Nathan nos meus braços. Nada de Mateus, meu filho será Nathan.
Os enfermeiros trazem a Letícia para o quarto e a colocam na cama.
Apesar de todo esforço que fez e de toda a dor que passou, está mais linda
do que nunca. Assim que eles saem, Letícia me encara e não era esse o olhar
que eu estava esperando.
— Que história é essa que seu pai será avô? — Sento na beirada da
cama.
— Nathan é meu, Letícia. — Ela empalidece.
— Você vai tirá-lo de mim? — Sua voz era apenas um sussurro.
— Claro que não. Jamais faria isso. Mesmo a mãe do meu filho sendo
uma cabeça dura. — Ela cruza os braços.
— Você só pode estar de brincadeira, Zachary. Eu não acredito que você
ignorou isso todo esse tempo e agora se sente no direito de vir reivindicar.
Nath... Droga! O meu filho não se chamará Nathan.
— Escuta-me, por favor. Depois que as crises de enxaqueca se tornaram
constantes, fiquei neurótico com a possibilidade de ter qualquer doença.
Comecei a fazer check-up geral a cada três ou quatro meses. Nas últimas
vezes o médico disse que a minha contagem de esperma era baixa e que se
eu quisesse ter filhos, teria que fazer um tratamento. — Phillip escolhe esse
momento para entrar e eu aponto para ele. — Ele é o meu médico, viu meus
exames e pode confirmar.
— Confirmar o que? — Phillip pergunta.
— Que eu não posso ou não poderia ter filhos.
Phillip colocou a prancheta na mesinha.
— Sua contagem de esperma estava baixa e disse que para ter uma
concepção mais efetiva, deveria fazer um tratamento. Mas em nenhum
momento disse que não poderia ter filhos. Você pode, é saudável, apto, só
que talvez não fosse de primeira, poderia levar mais tempo e lembro-me de
ter chamado a sua atenção para se cuidar, porque tudo isso é causado pelo
estresse da vida que você leva. Por que esse assunto agora? — Ele olha
entre Letícia e eu. — Você é o pai da criança.
— Nathan... Arghhh! Que merda! Olha o que você fez, Zachary. — Letícia
fala mais alto do que esperávamos. Sorrio como um bobo. Letícia encosta
sua cabeça para trás. — Estou cansada desses maus entendidos.
— Eu o conheço desde que nasceu, acompanhei seu crescimento, vi a
primeira das muitas namoradas, estive na sua formatura. Apesar de ser
arrogante ao extremo, é um bom homem e o mais importante, tem caráter.
Zachary jamais fugiria da responsabilidade de ser pai e mesmo achando
que não era, foi ao meu consultório ameaçar-me para ter todos os
relatórios dos seus atendimentos. Ele tem todas as ultrassonografias que
você fez todas as receitas que passei. Tudo, Letícia. E acredito que você
deveria dar crédito a ele, Nathan tem um pai e precisará dele.
— Ele não se chamará Nathan. — Ela fecha os olhos. — Acabei de parir
uma criança de quatro quilos, estou exausta e o meu filho é produção
independente.
— Seu filho nasceu com quatro quilos e cem gramas, cinquenta e quatro
centímetros. É forte e saudável, o fato de ser seu filho já indica que esse
tamanho é genético. — Ele bate no meu ombro. — Boa sorte.
— Você está linda. — Aproximo-me dela e acaricio seu rosto. Ela retira
minha mão do seu rosto e abre os olhos.
— Você ainda não é pai do meu filho... — Chego mais perto do seu rosto,
ficando a uma respiração de distância, encarando-a.
— Eu vou chamar os meus advogados e faremos o DNA...
— Não!
Estou tão perto dela, que os nossos lábios quase se encostam.
— Vou perguntar e você vai responder, caso você minta novamente, eu
chamarei um juiz e um promotor, faremos o DNA e tomarei todas as
providências para que essa criança tenha um pai. Entendeu? — Ela acena
que sim. — Boa menina. Nathan é meu filho, não é, Letícia?
Uma lágrima cai de seus olhos, ela apenas acena que sim e eu a beijo
como se não houvesse amanhã, como um louco sedento por ela.
Passei meses sem tocar outras mulheres, me masturbando no chuveiro,
com a consciência pesada de estar traindo o Larkin. Ela é minha, o filho é
meu, é a minha família.
Eu os quero para mim e para sempre!
— Olha bebê, papai e mamãe estão te esperando. — Uma enfermeira
traz Nathan para o quarto. Ele está embrulhado em um cobertor azul claro.
— Está na hora dele mamar, mamãe.
A enfermeira a auxilia com a primeira mamada e é a visão mais bonita
que tive em tempos. A beleza de uma mãe amamentando, é incomparável, é
um dos milagres da vida. Ela me olha tão emocionada tanto quanto eu
estou.
Nosso encanto família acabou quando Lorena, Ethan e a dona Aurora
entraram no quarto.
— Ele é lindo, Lê. O grandão da titia. — Lorena é a primeira a falar.
— Nathan. — Eu falo. — O nome dele é Nathan O´Brian. — Letícia faz
careta.
Dona Aurora vem até mim e me abraça.
— Parabéns, papai. — No meu ouvido ela fala. — Eu sabia que eu não
estava enganada sobre você, meu filho.
— Parabéns, Zach. Seu filho é lindo. — Lorena olha para mim.
— Obrigado, boneca Lolo.
— Cara, você me fez tio. Vou ensinar tudo o que sei a ele... — Ethan me
dá um abraço.
— Vai ensinar a apostar? — Lorena fala. Era para o clima ficar pesado,
mas Ethan tem saídas estratégicas.
— Mulher da minha vida, eu apostei todas as minhas fichas em você e
ganhei. Por que eu não ensinaria isso a ele? Vai que ele encontra uma
Boneca assim.
Batem na porta, Larkin e a noiva entram.
— Vamos esperar lá fora para o quarto ficar tranquilo. — Dona Aurora
fala. — Lê, eu venho passar a noite...
— Não. Eu ficarei com eles, dona Aurora. Obrigado. — Ela abre um
grande sorriso e pisca para mim.
— Ele é lindo, Lê. Parabéns, minha for. Você será uma ótima mãe.
— Obrigada, Julinha.
— Desculpa-me por socar o seu noivo. — Estendo minha mão para ela.
— Prazer, eu sou Zachary.
— Eu entendo. Prazer, senhor O´Brian. Eu sou a Julia, assistente da
Letícia e noiva do Liam.
— Eu te devo uma explicação...
Ele responde passando a mão em cima do inchaço no canto da boca.
— Deve mesmo.
Sento ao lado da Letícia com Nathan ainda mamando. Moleque sortudo!
— Eu soube que a Letícia foi para Dublin logo que saiu do hospital e
ficou um bom tempo com você. Sabia que vocês trabalhavam
incansavelmente no resort juntos, eu estive lá e vi a cumplicidade entre
vocês dois. Então recebi o seu e-mail convidando para o noivado, deduzi
que você se acertou com ela. Por meses, fiquei frustrado. Quando ela veio
me socorrer, me tirar do fundo do poço, não consegui ficar longe dela.
Passei dias e dias com a consciência pesada por desejar a mulher do meu
sócio...
— Por isso aquela ligação sem pé e sem cabeça.
— Yeah.
— Que ligação? — Letícia pergunta.
— O dia que te levei ao médico, eu estava furioso por ele não estar com
você. Liguei e acho que não falei coisa com coisa para ele. — Volto meu
olhar para o Larkin. — Eu só queria o melhor para a Letícia e para o
Nathan. Se ela tinha te escolhido, então você era o melhor para ela naquele
momento. Eu não me arrependo de nada, eu acompanhei a gravidez dela,
eu estava com o meu filho desde o começo.
Ele veio até mim apertou minha mão e me abraçou.
— Parabéns, cara. Seu filho é lindo.
— Nathan é um nome lindo. — Julia diz.
— Viu o que você fez? — Letícia me olha.
— Eu sei que você gostou. — Ela boceja. — A hora da visita acabou.
Letícia está cansada.
— Que falta de educação, Zachary. — Letícia arregala os olhos.
— Não. — Julia passa Nathan para mim. — Ele está certo e só quer
cuidar do que é dele. Foi um prazer te conhecer senhor O´Brian.
— Chame-me por Zach. — Ela assente.
Despedimos-nos e eles saem.
Acomodo Nathan que está dormindo na caminha que a enfermeira
trouxe. Ajudo a Letícia acomodar-se para dormir e a cubro. Beijo sua testa.
— Obrigado, menina dos olhos dourados.
— Ele é lindo, não é?
— Como a mãe dele.
— O pai dele é que detém a beleza da família.
— O pai dele é gostoso, a mãe linda. Combinação perfeita. Agora, durma
anjo.
Desde a primeira consulta, já tinha reservado esse quarto de luxo para
esse dia. Eu sempre quis que Nathan fosse meu, perdi as contas de quantas
vezes falei com Deus, que desejava aquela criança. Acho que Deus vai com a
minha cara, depois de tudo o que fiz para a Letícia, Ele ainda me deu a
oportunidade de acompanhar o nascimento do meu filho e cuidar da
mulher que sou completamente obcecado.
O quarto é grande, há um sofá-cama muito confortável, uma poltrona no
canto, um banheiro muito bom e um armário. Sento no sofá e mando uma
mensagem para a Ruth arrumar uma maleta para mim e aproveito para
mandar a foto com a legenda:
Nathan nasceu.
Mando a mesma imagem para King e peço para mandar alguém buscar
minhas coisas.
Eu sou o filho da puta mais sortudo do mundo!
Capítulo 38
Letícia

Não dá para acreditar que três meses se passaram desde o nascimento


do Nathan, que está cada vez maior, mais inteligente e mais lindo. Admito
que eu rezei durantes dias, para que ele se parecesse comigo, mas a
genética não quis assim, Nathan é a cópia do pai. Meu reizinho veio para
colorir minha vida, ele é a razão do meu existir.
Os pais de Zachary são muito presentes na vida do bebê e seus cônjuges,
não ficam para trás, todos são avós babões. Lembro que, ainda no hospital,
depois do primeiro sono, o pai dele estava lá com a sua esposa. Sua mãe
chegou no outro dia com o marido e vieram direto ao meu apartamento. Eu
adoro a Margaret e o marido dela, Tyler é uma pessoa extraordinária. Ela
me mostrou álbuns do Zachary quando criança e ficamos chocados com a
semelhança do Nathan com ele.
Richard e Mary Ann também são incríveis, ela mora em meu coração.
Nos dias em que Nathan estava com cólicas horríveis que me faziam chorar
também, por vezes ela veio me ajudar. As vacinas do bebê eram uma novela
à parte, a primeira Nathan não chorou, eu chorei. A segunda, Nathan quis
chorar, eu chorei. Na terceira, Zachary resolveu leva-lo e pelo que King me
contou, a enfermeira escapou ilesa por pouco.
Zachary é um excelente pai, está sempre presente, ajuda-me sempre, até
quando não é necessário. Nos primeiros dias, foi um pouco tumultuado
porque Zachary não queria sair daqui. Muitas vezes eu acordava e
encontrava Ethan e Lorena dormindo na sala, tia Aurora no quarto e
Zachary na minha cama. Inúmeras vezes Zach pai e Zach filho dividiam a
cama comigo. O primeiro passeio do bebê, foi conhecer o apartamento do
seu pai, quinze minutos depois, ligam-me com um Nathan nervoso de fome.
Ver meu filho adormecer deitado no peito do seu pai, foi a coisa mais linda
que já presenciei.
A escolha do nome do bebê foi uma comédia. Zachary convocou seus
pais, Ethan, Tia Aurora, Lorena, Ruth, King, Kaleb e Luck para fazer uma
votação. Achei aquilo o fim da picada! Todos já o chamavam de Nathan,
ainda assim, Zachary fez uma votação que ficou em doze contra um. Tia
Aurora, não contente com o circo, fez seu discurso:
— Eu acho que o Nathan deveria levar o nome do pai dele, Zachary é um
nome forte, digno do nosso reizinho.
Todos, absolutamente todos, concordaram, restando a mim, apenas
aceitar. Por fora, eu era um bloco de gelo, por dentro, mais derretida do que
margarina no sol. Ver todos reunidos como uma família, conversas, risos,
tudo o que sempre desejei.
Minha relação com o pai do meu filho é a mais amistosa possível. Ainda
sonho com aquele homem dia após dia, mas decidi que vou viver a minha
vida e nela, não cabe Zachary, ou pelo menos, não deveria caber.
Ele tem respeitado isso, o que eu acho muito estranho. Talvez, depois de
tudo, eu não seja a mulher da sua vida. Odeio quando toma banho aqui e sai
de toalha para me provocar, detesto quando se esfrega sem querer quando
está próximo, tudo isso mexe comigo. Meu corpo pede por ele.
Outro dia coloquei Nathan no berço dormindo para tomar um banho,
nisso Zachary entra no meu quarto sem bater e vai tirando a roupa.
— Vou tomar um banho, Lê. — Ele se despiu no banheiro com a porta
aberta de propósito, tenho certeza, da minha cama, eu o vi nu entrando no
chuveiro. Quase gozei. O corpo dele é de fazer qualquer uma pirar, aquele
cabelo comprido o deixa ainda mais másculo.
Que delícia de homem!
Poucas semanas após o nascimento do Nathan, veio a primeira bomba,
nada me preparou para a mordacidade da imprensa. Havia imagens nossas
sendo veiculadas em todos os lugares, ignorei até onde pude. Um dia, fui
para a sala e vi a matéria que passava em um canal de celebridades, a
mulher estava dizendo que a nova sócia garantiu seu investimento gerando
a ação mais cara do país, um filho de um dos empresários mais ricos do
mundo. A comentarista, uma senhora de idade ainda disse: — “A mocinha
escolheu muito mal, não é? Além do cara ser rico, ainda é um dos mais
bonitos do mundo. Querida, se você estiver me assistindo, por favor, nos dê as
dicas de onde investir”.
Aquilo foi um tapa na minha cara.
Lorena desligou a televisão, mas não adiantava mais, eu já tinha ouvido
o que estão pensando de mim. Corri para internet e digitei Zachary O´Brian
e filho e fiquei chocada com o tanto de imagens do Nathan que estavam lá.
Na sacada do meu apartamento, no terraço do apartamento do Zachary,
com Lorena e Ethan, comigo e Zachary. Meu Deus!
— Você nunca ligou para esse tipo de notícia e agora não é hora de
começar. — Zachary entra e desliga meu computador.
— Tem fotos de Nathan...
— Eu sei e minha equipe está cuidando disso, ok? Nathan é novidade,
logo todos esquecerão. A segurança de vocês foi reforçada, para evitar esse
tipo de assédio.
— Você viu o que eles pensam de mim?
— Olha para mim. Eles não pensam nada porque eles não pagos para
pensar, são pagos para especular e acabam noticiando essas besteiras. Você
é muito, muito especial.
— Obrigada por ficar do meu lado, Zachary.
— Eu sempre estarei aqui, anjo. — Desde então ele não se tornou apenas
pai do meu filho, mas meu melhor amigo.

——ooOoo——

Quando Nathan completou dois meses, voltei a trabalhar em casa. Passei


dias me inteirando de tudo o que foi feito, respondendo e-mails entre
mamadas e arrotos dele. Eu falava que ia contratar uma babá e todos
surtavam, principalmente Zachary. E tudo ficou pior quando cheguei em
casa e falei que tinha um encontro.
Para que?
O homem quase subiu pelas paredes.
Ele veio para cozinha atrás de mim com Nathan no colo.
— Você saiu para ir ao médico e voltou com um encontro marcado? —
Aceno que sim. — Eu não acredito Letícia. E como Nathan vai ficar nessa
história?
— Nathan vai ficar com a tia Aurora, já que o pai não está fazendo
questão. — Respondo enquanto pego as coisas para fazer um lanche.
Luck mal entra na cozinha e já é interrogado por Zachary.
— O que você estava fazendo enquanto a sua chefe estava por aí
arrumando encontros. — Ele fala a última palavra com uma careta de
desgosto.
— Estava com ela, senhor.
— Qual o nome do idiota, Luck?
— Rober...
— Deixa que eu falo Luck. Robert Cooper, sobrinho do Kevin. Antes que
derrame seu caminhão de besteiras em mim, eu já o conhecia há muito
tempo, desde a minha primeira viagem a Nova York. — Pego Nathan e vou
para a sala amamentá-lo. — Vem com a mamãe, meu homenzinho. Está com
fome?
— Não foge do assunto...
— Seu pai está um pouco agitado. — A cor dos olhos de Nathan, é
idêntica ao do seu pai. — O que mais você quer saber, Zachary?
Ele observa Nathan no meu peito e pergunta em tom baixo.
— Você já saiu com ele?
— Sair, sair ou sair transar? — Abro um sorriso debochado. Ele fica
bravo e sai gritando pelo King. Homens!
No café da manhã do outro dia, sento a mesa e observo Zachary
conversando com Nathan e rindo, ele olha para mim e pisca. Qualquer
mulher no mundo gostaria de estar no meu lugar agora, o que elas não
sabem é que aquele coração já é ocupado por uma mulher misteriosa.
— Bom dia, mamãe. — ele vira Nathan para mim.
— Bom dia, papai. Bom dia, meu reizinho. Hoje é o dia do meu encontro,
você ficará com ele ou pedirei a tia Au...
— Eu fico com ele. Zach pai e Zach filho têm planos, não é garotão?
Isso não é bom, ontem ele estava surtando e hoje sorrindo. Se eu não o
conhecesse poderia achar que ele aceitou numa boa. Mas o conheço e sei
que ele está escondendo alguma coisa. E isso, realmente não é bom, quando
se trata de Zachary, definitivamente, não é bom!
Zachary foi para a empresa e eu fiquei trabalhando em casa com Nathan.
Ainda tiro cochilo no meio da tarde, quando o bebê resolve dar descanso
para a mãe. O dia passa rápido e a noite chega e vou me arrumar para o
meu primeiro encontro depois de muito tempo. Escolhi uma saia da cintura
alta preta e uma camisa de seda rosa, preciso disfarçar todas as minhas
aderências da gravidez. A saia de cintura alta aperta colocando quase tudo
no lugar e o que não foi para o lugar com a saia, é disfarçado com a camisa.
Para os pés, um scarpin nude completa o look.
Minha maquiagem é leve, cabelos soltos e pequenos brincos, uma fina
pulseira e um colar delicado, para fechar o look. Vou para a sala e encontro
Nathan no colo do King, Ethan e Zachary conversando e Kaleb no telefone.
King adora Nathan e o sentimento é recíproco, Nathan reconhece a voz do
nosso gigante gentil.
— Boa noite, meninos. — Todos voltam sua atenção para mim.
— Está gostosa, hein mamãe? É bom que esse cara se comporte. Se eu
souber que deu um de engraçadinho, mandarei ensinarem uma lição.
— Sabe quem é? — Ethan olha para ele e acena que não com a cabeça.
Zachary continua. — É o sobrinho do Cooper, aquele da bolsa de valores.
Os dois caem na risada e vejo King e Kaleb disfarçarem suas risadas.
— Algum problema com ele?
— Desde quando aquele cara faz seu tipo? Aliás, é muito mais fácil o tipo
dele ser o Zachary. — Ethan responde.
— Robert é um cara sensível, mas não é gay, se é isso o que você quer
dizer. — Tento defender meu encontro.
— Como Ethan falou, não faz seu tipo. Mas vá para o seu encontro,
divirta-se. Luck já está te esperando em frente do prédio.
— Mamãe já volta reizinho. Cuida desses descabeçados para a mamãe,
ok? — Beijo-o mais uma vez e olho para eles. — Há leite na geladeira, basta
aquecer, você sabe. Outra coisa juízo, não vai apostar meu filho.
Eles ficam reclamando e eu saio rindo, esse assunto está mais que
superado depois que eu vi o estado que cada um ficou. Bom, agora vou ao
meu encontro, mesmo com o coração apertado de deixar aquela casa, o
meu filho e o homem dos meus sonhos. A minha realidade atual, é tudo o
que sonhei casa cheia sempre, amigos, família, Nathan e Zachary.
O combinado com Robert era em um restaurante perto do Solarium, não
estava pronta para ir muito longe de casa e nem precisava de um carro,
mas nas atuais circunstâncias, todo cuidado é pouco.
Cheguei ao lugar combinado e ele já estava me esperando. Robert é um
homem bonito, muito elegante, mas nada comparado ao Zachary. Também
é loiro, olhos verdes, um corpo esguio, unhas bem cuidadas, cabelo bem
penteado e uma excelente companhia.
Assim que percebe minha presença, levanta-se e beija meu rosto.
— Boa noite, Letícia. Bonita como sempre.
— Obrigada, Robert. Como está?
— Estou bem e você? Está com uma carinha ótima.
— Obrigada.
Conversamos um pouco sobre negócios até fazermos o pedido. De cinco
em cinco minutos, mandava uma mensagem para Zachary para saber como
as coisas iam com o Nathan e sua resposta era sempre uma foto dos dois.
No final da nossa refeição me assusto com a chegada de Zachary com o
Nathan.
— Boa noite pombinhos, não querendo incomodar, mas já incomodando,
tive que trazer Nathan, porque ele não estava conformado com a ausência
da mãe, não gosta da mamadeira. Espero que você entenda... Qual é o seu
nome mesmo?
Não acredito que Zachary está fazendo uma coisa dessas, sabe quem é o
cara, merda. Ele puxa uma cadeira de outra mesa e senta conosco. Olho
entre ele e o bebê e como mãe posso dizer com absoluta certeza, Nathan
nem lembrava que eu existia.
Robert abre um sorriso luminoso e estende a mão.
— Cooper, Robert Cooper, você é amigo do meu tio Kevin Cooper,
Zachary Thorton O´Brian, uma das lendas de Wall Street.
Zachary olha para mim.
— Não só em Wall Street. — Ele vira-se para Robert e continua. — Esse é
Nathan, meu filho. Você faz o que da vida?
— Sou corretor da bolsa de valores, senhor. — O brilho nos olhos de
Robert não passou despercebido. Não era por causa da beleza do Zachary,
muito menos admiração, mas sim um contato para se dar bem na vida.
Afinal, quem não quer conhecer alguém que figura a lista dos mais ricos do
mundo, de ano em ano?
Fiquei um pouquinho decepcionada com isso. Gosto de pessoas que não
veem vantagens em tudo, pessoas normais que saem umas com as outras
pelo simples interesse de conhecê-las. Mas como não vou me casar com
Robert, vou aproveitar para passar meu tempo. Eu comecei a pensar que
serei refém eterna dos encantos de Zachary, o único que desperta meus
desejos, apenas com um olhar.
Zachary continua sua conversa com Robert.
— As coisas não estão fáceis com essa crise da China, não é? Estamos
fazendo malabarismos para aplacar parte do prejuízo.
— Muita gente está correndo para vender as ações que tem em mãos e
isso está tendo efeitos colaterais, como as quedas das outras bolsas.
Pego Nathan do colo de Zachary e ele golfa. Isso significa que Nathan
está cheio ainda.
— Achei que ele não quis a mamadeira. — Zachary sorri ironicamente.
— Zach filho é como o Zach pai, gosta das coisas diretas da fonte. —
Onde tem um buraco fundo para me enterrar? Que vergonha!
Robert olha com curiosidade.
— Zach pai, Zach filho? — Zachary olha para mim.
— Não faz o tipo, não adianta... — Reviro os olhos e me volto para
Robert.
— Já ouviu falar do desenho animado Augie Doggie and Doggie Daddy?
— Não. — Ele responde.
— Cara, de que planeta você é? Nunca assistiu Augie Doggie and Doogie
Daddy? O que assistia? The Power Rangers? — Robert acena que sim e
Zachary me olha. — Você me decepcionou.
Volto a revirar os olhos. Esse homem não tem jeito.
— No Brasil, esse desenho é conhecido como Bibo pai, Bobi filho e fez
parte da minha infância, assim como fez parte da infância do Zachary.
Robert olha entre mim e Zachary.
— Como é a relação de vocês?
— Letícia e eu somos mais que amigos, somos pais do Nathan e o
criamos juntos. Formamos uma espécie de pacote. — Abro a boca para
responder, mas Zachary se adianta.
— O que ele quer dizer é que mantemos uma boa relação por causa do
bebê.
— Vocês são assediados, vivem nos noticiários. Sempre juntos um do
outro, outras com o bebê. Mas sempre juntos.
O clima do lugar esfria e tenho certeza que o olhar de Zachary nesse
momento é de um iceberg. Já reconheço suas mudanças, porque elas
influenciam tudo ao redor dele.
— Algum problema para você, Robert?
— N-não, pelo contrário, acho muito honrado da sua parte dar
assistência ao seu filho.
— Bom. Porque a minha assistência vai além de Nathan, Robert, ele
contempla a Letícia. Então é melhor pensar duas vezes antes de fazer
qualquer coisa que você não queira que seja feita com você. — Zachary se
levanta e pega Nathan. — Boa noite.
— Desculpa Robert. As notícias têm deixado a gente um pouco tensos,
por causa do assédio em torno do bebê.
Ele alcança minha mão e a beija.
— Sem problemas. Quer sobremesa?
Logo depois do jantar resolvi ir para casa tirar satisfação com Zachary.
Quem ele acha que é para fazer esse papel comigo? Poxa, não me ama e não
quer que os outros façam? Entro no meu apartamento e não os vejo na sala,
vou para o meu quarto e também não o encontro lá. Onde foram?
Vou até a cozinha e encontro tia Aurora esquentando leite. Essa adquiriu
o hábito americano rapidinho.
— Cadê os meninos?
— Zachary passou aqui e pegou mais uma mamadeira para o Nathan e
subiu. O que houve, Lê?
— Acredita que ele foi ao meu encontro e levou Nathan?
— Aquele menino nunca me decepciona.
— Não é justo tia. Preciso encontrar alguém que gosta de mim, que me
queira por perto por me amar.
— Você já tem. — Ela responde.
— Sim, ele cuida de mim, por causa do Nathan e deixou isso claro na
mesa, mas não me ama.
— Eu não penso assim, minha filha. Mas vocês jovens e jovens tem
mania de complicarem as coisas.
Depois da rápida conversa com a tia, entro no elevador e vou até a
cobertura. King abre a porta para mim e me abraça.
— Boa noite, princesa.
— Boa noite, King. Cadê Zachary e Nathan?
— Estão no quarto dele.
— Obrigada.
Vou em direção ao quarto, bato na porta de leve e ninguém responde.
Abro a porta e me aproximo da cama para ver os dois homens da minha
vida dormindo na mesma posição, barriga para cima e uma mão em cima
da barriga. Lindos. A cama é enorme, cabe uma família com sete pessoas
nela. Vou ao closet, pego uma de suas camisetas do Batman e deito ao lado
de Nathan, que assim que me aproximo, já sente meu cheiro e se agita para
mamar. Amamento-o, faço arrotar e deitamos para dormir, ao lado do seu
pai.
Hoje, vou me encontrar com Robert, para irmos a uma apresentação do
Il Divo em uma casa de show aqui em Nova York. Já saímos há algum tempo,
mesmo depois daquela “pataquada” do Zachary no nosso primeiro
encontro. Nos últimos encontros tem rolado uns beijinhos, mas não adianta
aquele bastardo do Zachary me matou para o mundo, ele consegue com um
olhar, o que os outros não conseguem com as maiores façanhas.
Zachary tem se mostrado paciente, até me incentiva a sair, apesar de
que, de vez em quando ele faz uma careta. Ontem, ele chegou e me
presenteou com dois ingressos para o show do grupo porque sabia que sou
fã de carteirinha. Quando estive na Itália, Martino e a Fiorela quiseram me
levar, mas infelizmente minha costela estava dando mais problemas do que
deveria e não pude ir.
Zachary assistia jornal com Nathan ao seu lado quando entrei na sala.
Ele me segurou, fazendo meu corpo todo se aquecer. E isso não é justo.
— Letícia, eu tenho dois ingressos para o show de um grupo italiano,
você quer?
— Grupo italiano? — Pergunto.
— Il Divo. Acho que é música clássica.
— Il Divo? Sério? Ah Zachary, eu os amo! Eles cantam ópera rock, na
verdade. Quando estive na Itália não pude ir, fiquei tão triste.
— Só não sei se os lugares são bons para você, é a cadeira de frente para
o palco.
— Não acredito, é um sonho! — Abraço-o com tanta força que o deixei
sem ar.
Para ir ao show, escolhi uma calça de couro, uma camisa azul clara para
cobrir o quadril e uma jaqueta de couro curta. Para os pés, optei por uma
ankle boot preto de camurça e com detalhes plinçados dourados que variam
de grande para pequeno.
Hoje estou para o rock´n roll.
Passo pela sala para me despedir do Zachary e de Nathan.
— Estou indo...
— Você está linda, mamãe.
— Obrigada, papai. — Beijo meu bebê. — Boa noite, reizinho da mamãe.
— Zachary me olha de uma maneira diferente, como se estivesse se
emocionado com alguma coisa. — Algum problema? — Pergunto.
— A cada dia que passa você fica mais bonita. — Ele beija minha testa.
— Obrigada, Zachary. — Saio antes que eu abra minha boca e acabe
falando mais do que deveria.
Capítulo 39
Combinei com Robert, de encontrá-lo na frente da casa de shows. Com
todos esses fotógrafos na minha cola, prefiro ser mais discreta com esses
encontros. Várias vezes eu pego Luck me olhando pelo retrovisor. — Quer
me falar alguma coisa, Luck?
— Você está muito bonita, Lê.
— Obrigada. Agora me diga o que é.
— De todos com quem já trabalhei de longe você é a melhor, senhorita.
Sou muito honrado em servi-la.
Emociono-me, mas definitivamente há algo de errado. Quando estive no
apartamento do Zachary mais cedo, eu sabia que ele estava com visitas,
mas o comportamento do King foi muito estranho. Por um momento achei
que ele queria me falar algo, então Ruth apareceu e ficaram se olhando e
sorrindo. Na hora falei tudo louco. Mas... Tudo está tão... Estranho.
— Fico muito feliz com isso. Diga-me uma coisa.
— Sim.
— Você vai morrer?
— Como é?
Vasculho minha pequena bolsa a procura do meu telefone.
— Você nunca fala mais que duas palavras e agora está se declarando
para a sua chefe. Provavelmente um de nós dois está morrendo e o outro
quer se despedir.
— Não. É por essas e outras que você é a melhor. Desejo toda sorte para
a senhora.
Ele desce, abre a porta para mim e eu o abraço.
— Eu sempre gostei muito de você, Luck. Hoje, te tenho como da família,
quero que Nathan sempre o tenha por perto.
Sigo meu caminho antes que esse me faça falar mais do que deveria
também. Encontro Robert na entrada principal.
— Boa noite, desculpa pelo atraso.
Ele me dá um selinho na boca.
— Você é daquelas mulheres que valem a pena esperar.
Sorrio em agradecimento. Ele coloca a mão na parte de baixo das minhas
costas e somos escoltados até a nossa mesa, que fica de frente para o palco.
Não acredito que verei Il Divo de perto, outro sonho que realizei... Que
Zachary realizou para mim sem saber.
Distraída conversando com Robert, não percebi que um menino se
aproximou com uma rosa branca.
— Senhorita Letícia?
— Sim. E você quem é?
O menino deveria ter em torno de uns doze anos.
— Sou o portador de uma mensagem, senhorita. — Ele limpa a garganta
e continua. — Essa rosa branca representa a pureza e a inocência do meu
sentimento por você.
Ele me entrega a rosa e sai sem dar nenhuma explicação. Na hora até
pensei que era do Robert, mas seu comentário a seguir fez-me descartar a
ideia rapidamente.
— Letícia arrasando o coração até dos mais jovens.
Às luzes se apagam e uma daquelas vozes poderosas do quarteto começa
a cantar, todos eles entram e a ansiedade toma conta. A primeira música do
repertório é um clássico americano, Amazing Grace. Emociono-me por estar
aqui nesse momento, concretizando mais um sonho. Para muitos parece
uma coisa boba, mas para mim, estar aqui nessa cidade e ter o prazer de
ouvi-los ao vivo, é tão grandioso, que jamais pensei que pudesse se tornar
realidade. No meio da segunda música, uma menina de oito ou nove anos
vem até mim com uma rosa lilás.
— Sabe o que significa a rosa de cor lilás?
— Não...
— Significa amor à primeira vista. E eu vim para te dizer, que me
apaixonei desde que te vi pela primeira vez, só não consegui perceber isso
a tempo. — Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, a menina se
vai.
Olho ao redor para tentar identificar alguém ou alguma coisa que me dê
uma pista do que está acontecendo, mas não vejo nada. Não sei quem está
me enviando essas flores, mas está tornando meu espetáculo quase
perfeito. Só não está perfeito, porque queria compartilhar esse momento
com outra pessoa, Zachary. As luzes se acendem e um dos cantores me tira
do saudosismo.
— Para nós, é sempre um prazer cantar em Nova York, lugar que nos
recebe muito bem toda vez que nos apresentamos. Mas a apresentação de
hoje é especial, estamos aqui com uma missão, convencer alguém do
quanto ela é amada.
Todos na plateia têm a mesma reação que eu, “Aaah, que lindo”! Nesse
exato momento, um menino maior, de uns quinze anos me entrega uma
rosa amarela.
— Essa cor significa amor entre amigos e meu recado é: Letícia, por
diversas vezes tentei ser somente seu amigo. Mas como posso ser somente
amigo a amando tanto?
Antes que ele pudesse ir, puxo sua mão.
— Por favor, me diga quem está mandando essas flores?
— Não posso dizer senhorita. Até logo.
Robert visivelmente incomodado.
— Eu não estou gostando do que está para vir, Letícia. Seja quem for o
imbecil que está enviando isso, está passando dos limites.
— E o que está por vir, Robert? — Volto minha atenção para o palco,
segurando as rosas com força. — Vamos assistir ao show.
— Atualmente, estamos em turnê pela Europa e dias atrás, recebemos
uma ligação de um amigo, que nos contou uma história de amor. — Um dos
cantores fala. — Disse-nos que a ama e precisa de um desfecho à altura,
para o seu felizes para sempre. Como todos sabem, os italianos têm paixão
correndo nas veias, somos passionais ao extremo e não é sempre que
temos a oportunidade de fazer parte de uma história assim. Essa é nossa
missão, transformar um simples show, em um felizes para sempre!
Eu estava emocionada com o tamanho do amor que essa pessoa sente.
Inveja me define nesse momento... Nessas horas, percebo o quanto sou
carente, não de amor, mas de ser amada. Porque amor, eu tenho para dar e
vender, só que não é válido amar por dois, isso nunca dá certo. Desejo que
esse casal conquiste o seu final feliz, que a jornada de ambos seja repleta de
amor e companheirismo.
Os acordes da música Regresa a Mí soam nos altos falantes e meu
coração dispara. Essa música mexe comigo, não sei se é a letra ou mesmo a
história de um amor que se foi, sei lá... É simplesmente lindo.
“Não me abandone assim, falando sozinho de ti. Enfim, venha e me devolva
o riso que se foi. Uma vez mais, tocar sua pele quando suspiravas.
Recuperemos o que foi perdido. Regressa a mim, queira-me outra vez. Apague
a dor que você me causou, quando se separou de mim. Diga-me que sim, eu
não quero chorar. Volta para mim”.
Antes que a música pudesse terminar, uma moça me traz uma rosa
vermelha e diz:
— A rosa vermelha não significa só paixão, mas também, respeito e
devoção. Letícia eu te admiro como mulher, tenho orgulho de quem você se
tornou mesmo passando por tantas adversidades na vida. Eu sou
completamente apaixonado por você. — A moça sai com um lindo sorriso.
Meu Deus, seja quem for, está me deixando encantada. Robert estava
inquieto e não era para menos, mas essa altura do campeonato, não queria
mais saber de nada. Foram poucos momentos na minha vida que me senti
tão desejada, não vou deixar esse momento passar assim, sem curtir. Olho
para o lado e vejo um casal de mãos dadas, seus cabelos brancos indicam
que estão em idade avançada. O brilho no olhar deles me diz que estão em
vigor e o sorriso, mostra que são felizes.
Eles vêm em minha direção e entregam-me uma rosa laranja. O senhor
pega a mão da sua senhora e a beija, olha-me e diz:
— Muitos dizem que com o passar do tempo, o amor se transforma em
comodidade. Não é verdade. Hoje, eu a amo. — Ele olha para ela. — Muito
mais que a amava há cinquenta e seis anos atrás.
A senhora olha para mim.
— Essa é a cor do fogo, que queima, arde, esquenta. Assim como é o meu
amor por ele. — Ela aponta para o seu marido. E eu estou em lágrimas, por
mais que eu tente me controlar, é impossível. Ela continua. — Nosso recado
é: Letícia, eu sou fascinado por você. Cada vez que fecho meus olhos, eu
posso descrever cada pedaço seu, cada detalhe, até mesmo as manchinhas
verdes em seus olhos, que só é possível enxergá-las quando você olha para
o sol.
O senhor pega minha mão.
— Ele te descreveu assim, ela tem os olhos de uma tigresa e a
personalidade de uma leoa. Ouça esse velho, minha filha, quando um
homem fala que a mulher da sua vida é uma leoa e ainda sorri, é porque
realmente há amor. Seja feliz, Letícia. — Ele beija minha mão antes de
pegar sua esposa e partir.
Antes que eu pudesse esboçar alguma reação, além de chorar, um dos
cantores fala: — Every time I Look At You, é uma declaração de amor em
música. Acredito que não há letra melhor, nesse momento. E para você que
está emocionada, ouça e sinta com o seu coração. — Soam os acordes do
piano e eles começam a cantar. — “Estou tentando dizer que me arrependo.
Eu não queria quebrar seu coração. Há muitas coisas que quero te dizer, mas
eu não sei por onde começar e eu não sei o que faria, se você se fosse. Oh
querida, eu tentei fazer isto, mas eu fiquei perdido no meio no caminho. Toda
vez que eu olho para você, não importa pelo que eu estou passando, é fácil de
ver. E toda vez que eu te abraço, as coisas que eu nunca te falei parecem que
chegam mais fáceis. Porque você é tudo para mim. Eu nunca realmente quis,
deixar você entrar em meu coração. Queria acreditar que isto logo iria
acabar. Eu pensava que não importaria se nós nos separássemos, mas agora
eu descobri que estava só fingindo. Oh, querida eu sei que machuquei, mas
você ainda acredita em mim, porque toda vez que eu olho para você, não
importa pelo que eu estou passando, é fácil de ver. E toda vez que eu te
abraço, as coisas que eu nunca te falei, parecem que chegam mais fáceis
porque você é tudo para mim. Vai levar um tempo para eu te mostrar o que
você significa para mim. Parece que quanto mais eu vou te conhecendo, mais
eu preciso fazer você ver, que você é tudo o que preciso...”.
— Você está chorando? — Robert me interrompe.
— Você não está emocionado?
— E por que estaria? Trouxe minha gata para ver um show e ela não
para de receber flores que não são minhas. E essa história de amor que
mais parece novela, não acaba nunca.
— Você é muito insensível.
— Era só o que me faltava... — Ouço-o dizer.
Acompanho seu olhar até o palco e fico surpresa com o que vejo.
Zachary e Nathan, vestidos iguais e com uma rosa azul. Ambos estavam
de terno cinza e com camisa azul, o mesmo tom dos olhos dos dois. Sem
reação, sentei e fiquei admirando os dois homens da minha vida no palco,
em frente a centenas de pessoas. Com dois cantores em cada lado, Zachary
pega o microfone, enquanto Nathan segura a rosa, que para o bem do pai
dele, deve estar sem espinhos.
— Boa noite. Para quem não me conhece, eu sou Zachary Thorton O
´Brian e esse é o meu filho, Nathan...
— Gostoso. Dou casa comida e roupa lavada para pai e filho. — Vozes
femininas sobressaem.
Em meio aos risos e meu estado de choque, ele continua seu discurso.
— Obrigado, fico lisonjeado com as propostas. Só que hoje estou aqui
para contar uma história, a minha história. Eu era um homem cético em
relação ao amor, vi situações onde apenas um dos lados levava vantagem e
o outro, padecia. E por isso, acabei tornando-me um cafajeste. — Ouviu
assobios e mulheres gritando, venha ser cafajeste comigo, gostoso. — Sim,
admito, não é bonito, mas era assim que eu via as pessoas, sempre com
segundas intenções. Acredito que alguma força superior tenha olhado para
o vazio que eu era e resolveu me dar uma lição. Um dia conheci uma
mulher, não qualquer mulher, ela era diferente. — Nathan mexe no
microfone e dá uma risadinha que encanta todo mundo e Zachary continua.
— Quando me dei conta que aquela menina tinha meu mundo nas mãos,
me desesperei e acabei metendo os pés pelas mãos. Aquele ser superior
olhou mais uma vez para mim e decidiu mostrar-me que a dor pela perda
de um amor, é pior do que a morte. Então, o destino me fez acreditar que
tinha perdido o meu primeiro amor e a minha existência, perdeu todo o
sentido. Parece infantil, mas nunca me apaixonei até ela aparecer. O que eu
faria em um mundo, onde o meu coração pertence a alguém, que não
pertence a mim? Por dias tentei responder isso, então veio Nathan e
conheci o amor incondicional.
Lágrimas corriam livremente pelo meu rosto, jamais pensei em ouvir
Zachary dizer essas coisas. Ele caminha até a divisão entre o palco e o
público e fica de frente para mim, já que é um palco baixo. Percebo que
todos aqueles que me entregaram as rosas se aproximam. Volto meu olhar
para eles, para saber o que vem a seguir.
— Eu sei que a maior parte do tempo, eu fui um idiota. Fiz você passar
por momentos desagradáveis, eu tentava bravamente achar um motivo
para não te amar. Só não tinha ideia que já era tarde demais, estava tomado
por você! Você não sabia, mas acompanhei a sua gravidez desde o princípio
e quando você embarcou para Dublin, meu inferno astral começou. O
mesmo ser superior que me deu a lição, fez com que eu estivesse durante o
parto para ser o primeiro a pegar Nathan nos braços. Naquele momento,
como vou explicar... Foi o momento mais real que já vivi e você, Letícia, foi a
responsável por tudo isso. — Zachary fala olhando diretamente para mim,
enquanto Nathan come a rosa azul.
A essa altura, devo parecer um panda, com a maquiagem escorrendo.
Olho ao meu redor e vejo olhos úmidos, tanto quanto os meus. Aquela
conhecida parede de gelo assustadora que Zachary tem em seu olhar,
ergue-se e logo se desfaz.
— Robert você faz parte disso. Ela só saiu com você porque eu permiti. A
Letícia tinha que ver com os próprios olhos que eu sou o único homem para
ela. — Ele se volta para mim e pisca. — Eu sou o homem dos sonhos dela.
Aliás, somos os homens da vida dela. — Zachary olha para Nathan e recebe
um sorriso, como se ambos tivessem combinado tudo antes. — Eu já estava
no seu destino e você no meu. Pode se aproximar Letícia? Por favor... —
Vou até o palco e ele entrega-me a rosa azul. — A rosa azul é rara, assim
como você. E significa amor eterno, perfeita para a única mulher que me
tirou a venda dos olhos. Aquela qual que possui o meu coração em suas
mãos. Eu te amo, Letícia e a cada dia que passa esse sentimento mal cabe
dentro de mim. — Margareth, mão de Zachary, aparece de algum lugar e
pega Nathan. Nisso, Zachary estende a mão para mim, subo no palco. —
Não há como competir com o homem dos sonhos de uma mulher. Só que eu
não quero ser apenas dos seus sonhos, quero ser o homem da sua vida,
aquele que terá como missão, fazê-la feliz.
Eu tentei abrir a boca algumas vezes, mas não saia nada, apenas as
lágrimas. Daqui, desse palco, posso ver muitas pessoas emocionadas,
mulheres em pleno choro, homens batendo palmas. Vi Lorena e Ethan,
Liam e Julia, Martino e Fiorela, aproximando-se. Sinto alguém tocar meu
braço e vejo a tia Aurora emocionada, ao seu lado estão Richard e Mary
Ann.
Olho para Zachary.
— Tudo isso... — Aponto para o lugar.
— Eu precisava de testemunhas. — Todos riem.
— É loucura...
— Você não viu nada, ainda. — Zachary coloca-se de joelho. Enquanto
fala, tira um pequeno estojo de veludo azul do bolso e o abre, dentro, um
anel magnífico. Ele é de ouro todo cravejado de diamantes, que sustenta um
pavê em forma de coroa composta de diamantes maiores. O anel é tão
imponente quando Zachary. — Letícia Sophie Barros, dona de tudo o que
sou, aceita-me como seu marido?
Tento absorver tudo, o lugar, as pessoas e suas reações, guarda-las
dentro do meu coração. Eu não sabia que seria possível um ser humano ser
tão feliz como estou nesse momento. Ver o homem que amo, cada dia mais
lindo, de joelhos ante mim, pedindo-me para ser sua.
— Letícia, responde de uma vez que está ficando feio... — Ethan fala no
meu ouvido.
— Sim!
Em meio aos aplausos, ele coloca o anel no meu dedo, abraça-me e fala
ao meu ouvido.
— Eu te amo.

——ooOoo——
Seus olhos encontram os meus e tudo o que nos cerca, volta a
desaparecer. É como se eu estivesse em um dos meus sonhos, só que dessa
vez, o par de olhos azuis misteriosos, tinha um rosto, o rosto mais perfeito
que já vi. Zachary toca meu rosto e inclino-me para encontrar a maciez de
sua mão. Passo meus braços por seu pescoço, entrelaço meus dedos em seu
cabelo, miro sua boca e a trago para encontrar-se com a minha.
Eu poderia ficar em seus braços para sempre. Mas a realidade nos puxa
para ela novamente.
— Acho que te amei desde o dia que vi seus olhos pela primeira vez.
— Não tenho dúvidas de que nunca amei ninguém, porque estava te
esperando.
As pessoas comemoravam com tanto ardor, que dava a impressão de
que faziam parte de toda nossa história. Bom, de certa forma, todos, agora,
fazem parte. Estou chocada, ainda sem palavras, apenas minha emoção e as
lágrimas.
Se eu estou feliz? Não... Estou extasiada!
Ouço Nathan resmungar e fico impressionada com a alegria que ele fica
quando King o pega. Descemos do palco e nos sentamos-nos à mesa onde
eu estava com o...
Ai meu Deus! Larguei o Robert aqui e fui aceitei me casar com outro.
— Eu providenciei uma surpresa agradável para o engomadinho. Essa
hora ele deve estar se esbaldando em algum motel por aí.
Il Divo retomou o show e fizeram uma apresentação belíssima.
Dedicaram músicas a nós e fora que tive a oportunidade de conhecer cada
um, depois do show, em um coquetel. Mais um presente do meu futuro
marido, que me surpreende a cada minuto com algo novo.
As surpresas não pararam por aí. Quando chegamos no Solarium,
Zachary entrega Nathan para sua mãe e Tyler. E escoltou-me até a
cobertura.
— Por que Nathan ficou com a sua mãe? Por que sua mãe está aqui?
Aonde ela e Tyler vão à uma hora dessas? Nathan tem que...
Ele pressiona-me contra a parede do hall e coloca uma mão na minha
boca.
— Como essa minha mulher fala. — Eu me derreto ao ouvir, minha
mulher. Sou um caso perdido. — Eu queria ficar sozinho com você; então
minha mãe e Tyler se ofereceram para ficar com Zach filho. Eles dormirão
no apartamento do Ethan que é logo abaixo da cobertura. Nathan não tem
que mamar, ele tem a mamadeira e o seu cheiro. Fica tranquila e se
concentra em mim. Ok?
Aceno que sim e ele substitui sua mão pela boca, fazendo meu corpo
despertar para vida, em chamas. Por onde suas mãos passam, vai deixando
um rastro de calor, que me faz gemer. Zachary me traz para perto do seu
corpo como se pudéssemos nos fundir. Ele tira minha jaqueta de qualquer
maneira e rasga minha blusa...
— Zachary! — Ele termina de despedaçá-la.
— Eu compro quantas você quiser. Agora vamos tirar essa calça antes
que ela tenha o mesmo fim da camisa.
Ele leva suas mãos para o cós da calça e eu saio do seu alcance.
— Cuidado, Zachary.
Ele puxa-me novamente, mas dessa vez me coloca de frente para a
parede. Pressionada entre ele e a parede, minhas costas em seu peito.
— Passei meses esperando por você, sua roupa é o de menos, Letícia.
Zachary morde o lóbulo da minha orelha e desce para o pescoço
alternando entre pequenas mordidas e chupões. Uma de suas mãos aperta
meu seio e a outra continua sua descida até o meio das minhas pernas.
— Eu tinha planejado te levar até o jardim de inverno, mas não sei se
sou capaz de me controlar, preciso te sentir. — Zachary coloca as minhas
mãos na parede. — Não as tire daí. — Levanta meu cabelo e beija minha
nuca, desce para minhas costas, abre meu sutiã e continua seu caminho.
Sinto suas mãos contornando a cintura da calça e logo ele a baixa,
deixando-me apenas de calcinha. — Você não faz ideia do quanto esperei
por isso, menina. — Ele me vira de frente e encosta seu nariz no “v” entre
minhas coxas. — Depois de sentir seu gosto, não tem mais volta para
homem nenhum. Você é pura droga. — Sem me dar chance de responder,
ele passa sua língua por cima da calcinha, fazendo um calafrio de
antecipação percorrer meu corpo. Olho para baixo, para o ver subir em
uma trilha de beijos e logo toma um dos meus mamilos em sua boca.
Minhas pernas fraquejam e ele me segura. Passa suas mãos pelos meus
braços. — Está arrepiada, sente frio?
Antes mesmo que eu pudesse responder, ele tira seu terno e sua camisa,
colocando-a em mim. Eu estava tão tomada pelo desejo, que senti decepção
quando ele me pegou pela mão.
— Vamos até o jardim, que há algo preparado para nós lá.
O jardim deve ter mais ou menos o tamanho de um quarto e é todo em
vidro fotocromático. Daqui é possível ver parte da cidade e as estrelas,
cenário perfeito para uma noite de amor. Há muitas plantas, parte do
ambiente é gramado e há mini palmeiras lindas de se ver. No canto
esquerdo há um banco para duas ou três pessoas, para contemplar o resto
do lugar. Há muitas flores, principalmente lilases e o verde é predominante.
Mas hoje, estava especialmente diferente, há uma mesa, com duas cadeiras
e ao fundo uma cama de ferro preto com dossel de tecidos brancos caídos.
— Seu apartamento é lindo, mas esse ambiente é especial. Não sei como
explicar.
Ele para ao meu lado.
— Ter um jardim desse tamanho em um apartamento, não é muito legal,
mas admito que se superaram nesse projeto. Fico feliz que goste desse
lugar. — Ele me puxa até a mesa. — Tenho que ligar para a decoradora,
provavelmente você quer mudar tudo por aqui.
Olho-o com curiosidade.
— Por que eu mudaria alguma coisa por aqui?
Ele coloca dois pratos a nossa frente, com filé de peixe, salada e batatas
souté.
— A casa será sua depois que nos casarmos...
— Você acabou de me pedir em casamento. Vamos com calma.
— Mulher, acha mesmo que vou ter calma? Casaremos-nos o mais tardar
em três semanas.
— Em duas semanas será o casamento do Ethan...
Zachary passa a mão pelo cabelo.
— Merda. Tinha esquecido. Temos que conversar sobre outra coisa,
Letícia.
Vejo seriedade no seu olhar. Tomo a água que foi colocada para mim.
— Diga.
— Sobre a suíte principal da outra ala... — Ele fala pausadamente para
me dar a chance de interrompê-lo. Aceno e ele prossegue. — Eu o fechei,
não entrei lá desde... Aquele dia e...
Depois daquele fatídico dia, já tive tantas alegrias que acabei
esquecendo pelo que passei lá. Zachary está apreensivo, esperando uma
resposta minha.
— Vamos com calma? Dê-me tempo para amadurecer a ideia que vou
casar com o homem dos meus sonhos. — Falo sorrindo.
Zachary se levanta sério, dá a volta na pequena mesa, puxa o cabelo da
minha nuca e me beija. Essa rudez dele excita-me e nada de beijos castos, é
puramente carnal, assim como ele, pura luxuria. Me pega no colo e me leva
para cama que está disposta no jardim, coloca-me no chão. Aos pés da
cama, há um caminho de flores, todas brancas, rosas, orquídeas, lírios.
Antes que eu pudesse esboçar alguma reação.
— De hoje em diante é assim que serás recebida.
Emocionada, vou até a vidraça contemplar a cidade, o silêncio estava
ensurdecedor. Zachary se coloca atrás de mim e abre minha camisa botão
por botão. Assim que ele a tira, viro-me o contemplando. Mesmo sem abrir
a boca, mesmo sem palavras, eu soube que seus sentimentos eram
verdadeiros, pois seus olhos disseram tudo o que eu queria saber. Jogo-me
em seus braços sem reservas, sem barreiras, apenas uma menina
apaixonada pelo homem dos seus sonhos.
— Faça-me sua, Zachary...
— Já és...
Meu corpo pede por ele... Meu sangue ferve por ele... Meus desejos
afloram por ele... Enfim, Zachary possui meu corpo, alma e coração. Ele
deita-me na cama, tirando minha calcinha e beijando minha barriga. Com
sua boca, venera-me. Com seus olhos, adora-me. E com suas mãos, marca-
me como sua.
Continuando seu caminho pelo meu corpo, ele deita-se sobre mim e
beija meu pescoço, para em meus seios, tomando um em sua boca quente e
com uma de suas mãos no meio das minhas pernas. Seus dedos habilidosos
exploram o centro do meu prazer, fazendo-me gemer e pedir por mais.
Zachary toma outro mamilo para dar a mesma atenção. Morde e meu
gemido se torna mais agudo. A necessidade dele dentro de mim é quase
insuportável.
— Por favor, Zachary...
— O que você quer, Letícia?
— Você... — Faminta, devoro sua boca e corro minha mão até o seu
membro. — Quero você dentro de mim, agora. — Eu não sei em que
momento ele tirou a calça, o que eu sei é que ele está nu e o quero dentro
de mim, urgentemente.
Zachary beija minha barriga, abre minhas pernas.
— Primeiro quero o seu gosto na minha boca e depois que eu saciar um
pouco a minha sede de você, então, a devorarei.
Ele morde minha coxa e desce sua boca em meu clitóris. Mal encosta a
boca e já grito de prazer, a sensação é maravilhosa. Sua língua é hábil, leva-
me ao frenesi rapidamente. Tento desvencilhar-me daquele turbilhão que o
tesão me causa, mas ele me segura e enfia dois dedos para preencher-me.
Grito pelo prazer que se rompe dentro de mim e faz meu corpo contorcer,
por fim o orgasmo.
Zachary, sem perder tempo penetra-me com força, gemendo junto
comigo.
— Você é minha, Letícia. Somente minha!
Vira-me, fazendo com que eu fique de quatro e volta a me preencher
duro e assim, sinto-me plena, inteira. Cada movimento, cada estocada sua,
cada puxão de cabelo, faz com que eu me sinta viva. Faz com que todos
esses anos que o meu desejo ficou adormecido, retorne com força total,
tornando-me uma mulher completa.
Suas mãos percorrem meu corpo, encosto minhas costas em seu peito,
com seu membro ainda dentro de mim. Sua mão em meu pescoço e sua
boca em meu ouvido.
— Isso, minha menina. Geme para mim.
Com uma mão parada em meu pescoço, a outra desce encontrando meu
clitóris. Com seu dedo faz círculos na minha sensibilidade, fazendo-me
contorcer ainda mais e gritar. Ele não alivia, pelo contrário, aumenta o
ritmo e a força. Todas essas sensações se tornam um furacão dentro de
mim. Minhas palavras não são coerentes, nem sei se posso dizer que são
palavras, talvez só choramingos pedindo por mais.
Zachary muda de posição novamente. Ainda dentro de mim,
penetrando-me com força.
— De agora em diante será assim, faremos tudo juntos. Não será apenas
Zachary ou Letícia, seremos nós. Entendeu? Agora, quero que você goze
junto comigo, sem tirar seus olhos dos meus.
Ele por cima de mim e enrolo minhas pernas em sua cintura, sua boca
volta para os meus seios. Suas estocadas mais rápidas, mais ritmadas e eu
quase nas nuvens. Seu dedo vai ao clitóris novamente, então, dali em
diante, não tinha mais salvação.
Olhando em seus intensos e profundos olhos azuis, pereci de prazer nos
braços do homem dos meus sonhos.
Satisfeita, livre, protegida e muito...
Muito amada!
Capítulo 40
Zachary

Ver Letícia adormecida em meus braços, não tem preço! Depois de uma
louca noite de amor, deixei que ela descansasse enquanto guardo seu sono.
Não tenho dúvidas que ela é a mulher da minha vida. Fiz amor várias vezes
e em cada uma delas, fiz questão de deixar que ela soubesse o que sentia
através dos meus olhos. Quero que ela tenha certeza do que sinto e que é
real, tenho que compensar os meses que a fiz sofrer por egoísmo meu.
As lembranças dos últimos meses vêm em minha mente como um
turbilhão. Quando ela quis voltar a trabalhar, mesmo em casa, foi motivo
para discutirmos, Nathan precisa dela em tempo integral. Mas nada se
compara o dia que ela saiu para ir a uma consulta e voltou com um
encontro marcado, esse dia eu queria matar Luck, King e o infeliz que
conseguiu chegar nela. Na mesma hora mandei King descobrir quem é e ter
um relatório sobre a vida do cara. Duas horas depois já estava com a ficha
corrida do tal Robert e o que li só me fez rir, Letícia dará um pé na bunda
desse infeliz logo.
Admito que naquela noite eu quase não dormi direito. Fiquei pensando
no fato de que o cara poderia conquistá-la, tirando-me do jogo. Eu sei que
ele queria somente sair nas notícias em companhia dela, queria status,
talvez fama. Mas ele não tem boa reputação entre as mulheres, algumas que
já passaram por sua cama, falaram que o cara é um idiota de marca maior.
Por outro lado, eu precisava que Letícia se convencesse de que eu sou o
único que posso a fazer feliz. Para isso eu teria que me arriscar deixando
que ela saísse com aquele babaca. King e eu conversamos durante horas
sobre como manter o cretino sobre controle, mesmo assim, o risco ainda
era grande. Arrisquei-me. Cuidei do Nathan para que ela pudesse se
divertir e a cada vez que ela chegava, eu tinha certeza que estava certo em
fazer isso. Robert não despertava nada nela, era apenas um modo de
escapar de mim.
Outro dia, Ethan, Martino, Liam, Sebastian, Bashir e eu, estávamos em
uma videoconferência para decidirmos sobre um novo projeto para a
Paradise na Europa. Martino perguntou se não tínhamos tempo para dar
um pulo na Itália para ver o show que a Letícia queria muito ir, mas quando
esteve lá, não foi possível. Ele falou que era um grupo chamado Il Divo e que
ela era muito fã. Logo uma ideia estalou-me.
— Você tem o contato do agente deles, Martino?
— Tenho, o cara é primo da minha mulher.
Ele me passou o contato e logo liguei para um amigo próximo, dono de
uma das casas de show mais famosas de Nova York. Prontamente ele se
interessou em trazer o grupo para uma apresentação e eu seria o
patrocinador.
Perfeito.
Pesquisei, ouvi várias músicas deles e fiquei impressionado com o estilo
musical, é música clássica. Sempre achei que a Letícia fosse mais rock´n
roll.
Os dias que seguiram foram agitados por causa desse show e eu queria
ir além, queria pedi-la em casamento na frente de todos que estivessem
presentes. Três dias antes, Hunter, dono da casa de show, liga para dizer
que os ingressos já estavam esgotados e que os lugares que pedi, foram
reservados. Navegando pela internet, deparei-me com uma página que
falava sobre rosas, especificamente sobre o significado de cada cor de rosa.
Outra ideia veio a calhar.
No dia, tudo foi perfeito, sem erros, sem imprevistos e o resultado foi
melhor que cogitei, hoje, tenho a mãe do meu filho, minha futura esposa
nos meus braços. Letícia e Nathan marcam uma nova fase da minha vida,
uma fase em que as coisas se tornaram concretas, sou outro homem por
causa deles. Antes, tudo era superficial, mulheres entravam e saiam da
minha cama, tudo era igual. Muitas vezes parecia que eu estava
desempenhando um papel de ator pela vida, nada me emocionava.
As coisas começaram a mudar quando conheci Letícia e tudo mudou
definitivamente com o nascimento do Nathan. A vida passou a ter sentido e
eu passei a ser real! Seja Deus, ou a força do universo, ou qualquer outra
divindade, eu só tenho a agradecer por tudo que passei para merecê-los
hoje.
Sinto-me observado e a encontro olhando para mim.
— Bom dia, menina dos olhos dourados.
— Bom dia, meninos dos olhos azuis. — Tiro uma mexa de cabelo do seu
rosto.
— Meninos dos olhos azuis, agora é Nathan e eu sou o homem dos seus
sonhos.
— Por falar nisso, como você sabe dessa história? — Viro-me de lado
para ficar de frente para ela.
— Ethan me falou várias vezes sobre isso, ele disse que soube por
Lorena. Um dia, fui até a casa dele para conversar, ela estava lá e puxei
assunto, ela contou.
— Tenho que perguntar, porque vindo da Lorena, tenho receio. O que
ela te contou? — Passo a mão pelo seu rosto.
— Ela falou que você sonhava com um par de olhos azuis misteriosos,
sempre os mesmos olhos estavam presentes nos seus devaneios e isso a
incomodava de vez em quando. — Ela solta o ar aliviada.
— Zachary, esses dias eu soube que você tem insônia e nenhum médico
até hoje descobriu a causa. Não acha que isso contribuiu para a sua
depressão? Ainda me preocupo com aquilo. — Beijo sua mão.
— Quando Ethan foi atrás da Lorena no Brasil e ficou na sua casa, ele
mandava-me áudios de algumas conversas e sua voz, seu riso, sempre me
passava à sensação de conforto e acabava adormecendo. Fui até Phillip
saber a relação que isso tinha, mas nem ele soube explicar. A depressão.
Bom, achei que tinha perdido você e foi a pior dor que senti até aqui. Desde
que você e Nathan entraram na minha vida, tudo faz sentido e durmo bem.
Mesmo Zach filho querendo brincar às três da manhã, ainda assim durmo
muito bem. — A risada dela é melodia para os meus ouvidos. — Outra
coisa, temos que decidir a data do casamento. — Ela coloca a mão nos
olhos.
— Novamente isso? — Tiro a mão de seus olhos.
— Sim e não vou parar até decidirmos. Acredito que daqui a quatro
semanas seja uma data boa.
— Ethan e a Lorena estarão em lua de mel, Zachary.
— Eles podem adiar... — Letícia se levanta e vai em direção ao meu
quarto.
— Não, Zachary, eles não adiarão a lua de mel por causa do seu capricho.
Se eu quiser adiam!
Mas não vou me desentender com ela agora. Vou até o banheiro e levo-a
para o chuveiro junto comigo.
— Tenho uma proposta para você, Letícia. — Ela entra debaixo de uma
das duchas.
— Tenho até receio de perguntar...
— Você e Nathan se mudam para cá o mais rápido possível e marcamos
o casamento para daqui seis semanas.
— Tenho alternativa?
Passo meus braços pela sua cintura e trago a sua boca para minha.
— A única alternativa que você tem agora, é fazer amor comigo aqui.
Antes que ela pudesse responder, a beijo novamente até ficarmos sem
ar. Levanto uma de suas pernas e penetro-a sem aviso. É assim que eu
gosto e eu preciso estar dentro dela de uma vez. Nosso banho foi
intercalado entre ensaboar, transar, enxaguar e chupar. Eu não sei se algum
dia eu terei o suficiente dela, até lá, aproveito cada segundo.
Depois de lavar e chupar cada parte da minha mulher nós nos secamos e
fomos para a sala tomar café. Ontem já não jantamos e não quero que ela
pule refeições, ela ainda amamenta Nathan, precisa estar forte.
Encontramos Ruth terminando de colocar o café na mesa.
— Bom dia, casal. Estou muito feliz de vê-los juntos, só não gostei de ver
não comeram nada ontem. — Pisco para Letícia.
— Eu comi. — Uma vermelhidão toma conta do rosto dela e fica sem
jeito.
King entra trazendo-me os jornais, logo que vê Letícia ele sorri.
— Bom dia, Lê.
— Bom dia, príncipe negro. — Ela sorri para ele. Aponto uma cadeira
para ele.
— Toma café conosco, tenho algumas coisas para te passar. — King
senta ao meu lado e de frente para a Letícia. — A Letícia e o Nathan se
mudarão para cá, providencie a mudança dela para hoje à tarde... — Letícia
se engasga.
— Zachary, você tem que parar com isso...
— Com isso, o que?
— De planejar e executar tudo sem me consultar. — Pego a sua mão e a
beijo.
— Se eu deixar por você, não fará tão cedo. — Volto-me para King. —
Faça isso. Outra coisa, nós nos casaremos daqui a seis semanas, quero que
você reserve o Grand Ballroom do Plaza e consiga o contato do
cerimonialista da Lorena...
— Dá um tempo, Zachary! Para, por favor. — Letícia solta a xícara com
mais força do que deveria. — Decidimos nos casar ontem e hoje você quer
tudo pronto...
— Eu me decidi casar com você há meses atrás. Eu não tenho culpa que
você não esteja na mesma página que eu.
Minha mãe e seu marido chegam com Nathan nos braços.
— Bom dia, meus amores. — Minha mãe fala. Ela olha para a Letícia. —
O que foi minha filha?
Nathan estica os braços para sua mãe e já mira o seio. Oh moleque de
sorte! Letícia tenta o distrair com outra coisa, mas porra, ele é meu filho,
queremos peito! Trago Nathan para o meu colo porque não quero os
marmanjos que estão aqui, de olho nos seios da minha mulher.
— Zachary já decidiu o nosso casamento inteiro, cabe a mim, apenas
comparecer.
— Zachary... — Minha mãe me olha de cara feia. Vejo desapontamento
em seu olhar e isso aperta meu peito.
— Letícia, eu só quero te dar o mundo. Do que adianta eu ser rico se não
posso fazer o casamento dos sonhos da minha mulher.
— Eu não quero o mundo e o casamento dos meus sonhos é simples,
poucas pessoas, apenas a quem amo. Já não basta ter que lidar com a vida
pública a toda hora? Quero que o momento seja só nosso. Entende?
— Lê, acho que posso te ajudar com o lugar. — Minha mãe se mete
novamente. — No Rockfeller Center, tem um lugar chamado Loft & Garden, é
um terraço maravilhoso, não muito grande, mas com muito verde e a noite
a iluminação é estupenda. E sobre a cerimonialista, posso te indicar
alguém... — Os olhos da Letícia brilham.
— Gostaria de conhecer o lugar. Margaret, eu não quero o mesmo
organizador que a mãe do Ethan contratou, ela é exagerada. Meu sonho é
uma cerimônia pequena, só com família e alguns amigos mais próximos, em
um lugar aconchegante e decorado com pequenas flores.
— E se eu organizar seu casamento? Haveria algum problema?
Os olhos da Letícia umedecem. Não era essa a reação que esperávamos.
Não suporto a ideia de vê-la chorar. Antes que eu pudesse alcançá-la, ela
levanta e abraça minha mãe.
— Você faria isso por mim, Margaret? — Agora é a vez da minha mãe se
emocionar.
— Tem dúvidas? Olha pelo que você é responsável. — Minha mãe a vira
na minha direção. — Você me deu o neto mais lindo do mundo, ensinou ao
meu filho o que é o amor e hoje posso desfrutar de um café da manhã com
meu marido e filho na mesma mesa. Eu te devo tanto, Letícia.
Nesse momento, meu pai e Mary Ann entram com os braços cheios de
jornais e revistas. Meu pai olha para as duas que estão abraçadas chorando
e depois para mim.
— O que está acontecendo? — Aponto uma cadeira.
— Senta porque a história é longa. Resolveu reciclar, pai? Para que esse
tanto de papel?
— Seu pedido de casamento está em todos os jornais, até mesmo nos de
economia, há revistas que também conseguiram fazer matéria de capa. —
Mary Ann responde.
— Mary Ann gostaria de me ajudar a organizar o casamento dos
meninos?
— Oh, meu Deus! Sério? Mas eu sou tão brega...
— Ninguém cozinha melhor que você, mas quero que você experimente
cada buffet que a Margareth te levar. — Letícia diz. — Só peço que me
passem uma relação para que eu aprove. O resto vocês estão liberadas.
Letícia pega Nathan do meu colo e vão em direção à sala, provavelmente
aquele moleque de sorte enfim terá seu alimento. Pego algumas revistas e
folheio, todas tinham imagens de mim, ajoelhado em frente à Letícia. Minha
preocupação é que eles interpretassem tudo errado. A mídia
sensacionalista pode ser muito cruel e a Letícia ainda não é acostumada a
isso. Se caso eles aborrecem minha mulher com notícias más em relação ao
nosso casamento, eu compro, fecho e lacro as portas do lugar. Posso fazer
com que o dono tenha que vender um rim para me pagar a indenização.
Nessa confusão toda, nós não tomamos café ainda. Chamo Ruth e peço
para servir café para elas na sala. Volto-me para o King.
— Vê o Loft & Garden para mim? Se eu depender da Letícia nos
casaremos o ano que vem.
— O que tem o Loft?
— Letícia não quer um casamento grande, então a mãe deu a ideia desse
lugar.
— O dono do lugar é meu conhecido, vou dar um telefonema e resolvo
isso.
— Obrigado, pai.
— Para o meu filho, tudo. Sempre! — Meu pai fala com alguém
rapidamente e volta-se para mim. — Data?
— Daqui a seis semanas. Só que a Letícia quer ir conhecer o lugar antes,
veja se é possível e peça para não divulgar.
— Temos que ver com quem elas lidarão nessa organização para
mandar documentos de sigilo para todos assinarem. — King fala. — Outra
coisa, temos que ver quem terá entrada direta até vocês para verificarmos.
Não quero surpresas.
— Faça o seguinte, King, oriente cada uma delas. Assim você terá
controle sobre tudo.
Depois de um café da manhã cheio, Nathan resolveu tirar um cochilo e
nós sentamos no meu escritório para trabalharmos. Com esse novo projeto
da Paradise, Letícia e eu temos gasto muito tempo procurando o lugar
perfeito para o nosso novo empreendimento, muito parecido com o do
Brasil que está de vento em polpa, mas será somente um luxuoso
condomínio de férias.
Distraio-me pensando sobre sua mudança para cá, será fácil, Nathan já
tem seu quarto e ela ficará comigo. Mas a sensação ruim daquele quarto
lacrado ainda se faz presente em mim.
— Zachary? — Sua voz me tira da nebulosidade.
— Sim.
— Algum problema? — Balanço a cabeça em negação. — Compartilhe
comigo o que está pensando?
— Não sei se você vai querer falar sobre isso...
Ela se levanta, dá a volta e senta em minha mesa.
— Diga-me, depois eu decido.
Analiso-a e convencido de que ela forte para levar isso.
— Sobre aquele quarto...
Letícia pega-me pela mão e vai em direção a porta.
— Se isso é importante para você, resolveremos isso já!
Puxo-a para mim e emolduro seu rosto com minhas mãos. Olho no fundo
dos seus olhos, para que ela veja minha sinceridade.
— Aquele foi o lugar que te fiz sofrer e que quase te perdi; entrar lá é
como enfiar uma faca no peito. Quero que saiba que eu me arrependo
amargamente de tudo o que aconteceu se pudesse voltar no tempo e mudar
tudo, eu faria. Perdoa-me?
— Eu te perdoei no segundo que vi seu olhar. Agora vamos até o quarto.
Cada passo que eu dava, meu coração apertava. No fundo, tenho medo
que ela relembre tudo e desista de ficar comigo. Eu não sei se suportaria
isso.
Quando chegamos na porta, mais uma vez paro e olho para ela.
— Tem certeza?
Ela acena que sim e eu abro a porta. Fico esperando sua reação, mas
nada... Letícia entra e me puxa junto.
— Você retirou os espelhos. — Ela me olha com um brilho diferente. —
Você me daria esse quarto para fazer o que quiser?
— Sim. Tudo o que quiser é seu. — Eu estou muito apreensivo. Ela anda
pelo quarto, passa a mão na cama. — Eu daria toda a minha fortuna por um
pensamento seu...
Letícia vem em minha direção, tira minha camiseta e desabotoa minha
calça.
— Vou te dar uma pista. — Ela baixa minha calça e toma-me em sua
boca. Essa mulher será minha morte!
Ela me suga, extraindo de mim tudo o que pode quanto mais ela ouvia
meus gemidos, mais força aplicava na boca. Vê-la ali, ajoelhada diante de
mim, tomando-me em sua boca, é a visão do paraíso. Seguro seus cabelos
para ditar o ritmo e já estava prestes a vir.
— Letícia, eu vou gozar... Ahh! — Ela segurou em minhas pernas com
mais força, aumentou seu ritmo até que eu não resisti e vim. Dei tudo o que
ela queria, sou dela de corpo, alma e coração.
Sem perda de tempo a puxo para os meus braços e a beijo.
— Eu te amo, Letícia.
— Eu te amo, Zachary. Contaria uma coisa para mim?
— Qualquer coisa que quiser. — Coloco minha calça novamente e
deitamos na cama, um ao lado do outro.
— Eu sempre quis te perguntar isso, por que você achava que eu estava
com Liam?
— Logo depois que fui um cretino filho da puta com você no hospital,
soube que tinhas partido com Liam para Dublin. Na minha cabeça, ele era o
pai da criança, porque estava sempre te cercando. Eu sabia que o bastardo
era louco por você e faria de tudo para tê-la. Tentei me convencer que ele
era o melhor para você e o bebê. Um dia, meu pai insistiu que fosse até a
sua casa, eu não queria ir, mas King me obrigou...
— Santo Sean Kingston.
— Pois é. Vi um homem completamente diferente daquele que tinha em
minha cabeça. Não parecia meu pai, sem luxo, sem caprichos, apenas um
homem na sua simplicidade. Conversando com ele, acabei descobrindo que
o problema nunca foram eles, sempre fui eu. Acreditava na imagem que
tinha projetado na minha mente há muitos anos atrás. O que mais chamou
minha atenção foi o modo com que ele olhava Mary Ann. Se eu via amor em
cada gesto entre eles e ela me recebeu muito bem. Aquele dia eu conversei
com ele sobre essas coisas, perguntei se ele lutaria por ela mesmo com
impedimentos, ele sem pestanejar respondeu que sim. Sai de lá decidido a
te reconquistar. Então eu li o e-mail do Larkin dizendo que tinha
encontrado a mulher da vida dele...
— Julia...
— Um tempo antes, eu tive no resort e vi vocês juntos. Segundo os
relatórios, ele sempre estava com você e eu também não sabia da existência
da Julia.
— Quando fui te visitar, você perguntou sobre o anel. Era sobre o anel
de noivado?
— Sim. — Ela coloca um braço sob a cabeça para elevar-se.
— Está me dizendo que ficou meses sendo um escroto comigo por achar
que eu estava noiva de Liam e dando mole para você?
— Não. Eu não acho que você tenha dado mole para mim, apesar de que
eu sempre soube que você responde muito bem a mim... — Letícia balança
a cabeça.
— Como pode um ser humano ser tão convencido assim? — Beijo-a.
— Eu sei do meu poder de persuasão. Mas, eu tinha essa necessidade
maluca de estar perto, de saber sobre o bebê e eu era escroto porque a
queria perto de mim, mesmo sabendo que estava comprometida. Letícia,
cada dia que passou, eu desejei que Nathan fosse meu, desejei aquilo que eu
achava que o Larkin teria.
— Nunca pensei que pudesse ouvir isso de você, Zachary. Eu sou a
mulher mais feliz do mundo. — Ela desce sua mão pelo meu corpo. — E a
mais sortuda também.
— Agora vou cuidar de você, mamãe. — Coloco-a sob mim.
— Então venha, papai. — Ela abre as pernas para me receber. Como se
Zach filho pudesse nos ouvir, ele chora fazendo-nos parar.
— Você ou eu?
— Eu vou. — Ela se levanta. — Mas antes, posso te pedir uma coisa?
— Qualquer coisa.
— Dê uma chance ao marido da sua mãe. Tyler é uma ótima pessoa e
será um bom avô para Nathan.
Zach filho é o menino mais sortudo do mundo! Ele tem dois padrinhos,
King e Ethan, uma madrinha doidinha, a Boneca Lolo, que o mima demais.
De avós tem a dona Aurora e Phillip que está pegando gosto em ser
chamado de avô por nós, tem meu pai e Mary Ann e minha mãe e Tyler.
Gente para satisfazer seus caprichos, não faltará.
— Eu farei — Ela pisca para mim.
Vendo-a sair para atender o bebê, lembro-me da primeira febre que
Nathan teve, foi um verdadeiro inferno para mim. Letícia falava que era da
vacina, fazia compressas, medicava, mas ele continuava ardendo de febre.
Liguei para Phillip às três e meia da manhã para ele vir ver Nathan, a
Letícia queria me matar. O médico confirmou o que ela tinha dito era da
merda da vacina. Lembro que eu só dormi depois que disseram que a febre
tinha ido embora. É minha obrigação cuidar de ambos e protegê-los de
tudo, afinal, eles são a minha vida!
Capítulo 41
Lorena

— Eu acho que devemos adiar esse casamento, gentem! — Olho-me no


espelho e vejo meu vestido feito com muito carinho pela minha tia que
mora no interior de São Paulo. A mãe do Ethan quase teve um treco quando
soube. Para a tiazinha Scott, tinha que ser uma Vera Yang. — Vera por Vera,
fico com a minha tia.
O vestido ficou lindo, não tem aquelas armações enormes que deixam a
noiva parecida com um balão prestes a voar. Ele é todo em seda com renda
no corpete e na barra da saia. Decote tipo princesa, corpete todo bordado
com pedras que mais pareciam pequenos diamantes. A cintura marcada,
até parecia um cinto cravejado de diamantes. O véu era de um tule
finíssimo e longo, muito, muito longo. É muito tecido para uma pessoa de
um metro e meio.
Adoro a mãe do Ethan, mas a mulher com todas essas frescuras de vez
em quando pede para levar uma resposta. Enquanto ela não conseguiu
fazer do meu casamento um circo, a mulher não parou de me encher.
Vamos nos casar na Catedral Saint Patrick, porque segundo ela, Ethan é um
príncipe e merece toda pompa e circunstância. Foram convidadas mais de
quinhentas pessoas, quatrocentos delas confirmaram presença. E eu, a
noiva, conheço no máximo vinte, que são meus parentes que puderam vir; a
Letícia e o Zach, os pais de Zachary, Liam e Julinha, Sebastian e a esposa,
Martino e Fiorela, o Sheik Bashir teve que escolher uma das esposas para
vir e pelo jeito escolheu a mais bonita.
Por mim, teria sido menor, apenas quem eu conheço e prezo a amizade,
o resto, dispenso. Ethan também não tem muitos parentes, na grande
maioria são políticos, amigos endinheirados do clube de campo, alguns
artistas que nunca vi filmes e por aí vai. A festa será no salão principal do
Hotel Four Seasons. O espaço fechado para o jantar e a parte descoberta,
que é da piscina, ficará a pista de dança.
O salão é lindo, as mesas são de vidros e pés de ferro trabalhado e assim
são as cadeiras, todas em ferro preto, o encosto trabalhado em dourado e
assentos brancos. O ambiente é tão preparado para esse tipo de evento, que
qualquer outra cor além de branco, tornaria cheguei. Então, optamos pelo
branco para contrastar com o lugar. Os arranjos das mesas são grandes
tulipas de cristal com orquídeas brancas e folhas verdes e algumas têm
cristais descendo por elas.
A mesa principal em formato de “U”, onde nos sentaremos juntamente
com nossos pais e padrinhos. Por falar em padrinhos, Ethan e eu quase nos
divorciamos antes mesmo de casar, porque a gracinha queria os mesmos
que o meu; a Lê e o Zach. Decidimos que teríamos nossos padrinhos a todo
custo, do meu lado a Lê e do lado dele, Zach.
Como damas de honra, além da Letícia, convidei a Julinha e a Fiorela.
Ethan chamou seus respectivos maridos. Escolher os vestidos das damas
foi de moer, porque a Letícia só quer cor desbotada, Fiorela a italiana
ousada queria vermelho e a Julinha ficava no meio das duas, só rindo. Por
fim, depois de dias, encontramos os vestidos perfeitos. Segundo a metida
da estilista, são vestidos coordenados, eles não são do mesmo modelo e
nem da mesma cor, mas se completam. Nesse caso, a Letícia ficou com um
rosa-claro, as alças trançadas, as mesmas tiras cruzavam nas costas e
marcavam a cintura. A Julia ficou com o rosa mais escuro, frente única, as
alças que passavam pelo pescoço, cruzavam nas costas e também
marcavam a cintura. Fiorela ficou com o vermelho delicado, de um ombro
só e cintura marcada. Todos eram de seda longo, com ótimo caimento e
lindos!
Letícia se coloca ao meu lado na frente do espelho, olho sua beleza
exótica e vejo um brilho lindo em seus olhos, brilhos esse que eu nunca
tinha visto. Por mais que eu tenha receio de Zach com ela, ele a faz muito
feliz e só por esse motivo, eu o perdoei por tudo. Os cabelos dela estavam
presos em uma espécie de coque frouxo, do tipo “mal feito”, alguns cachos
caindo e pequenas flores da mesma cor do vestido, na lateral esquerda.
— Ninguém vai adiar nada! Você vai entrar lá, desfilar deslumbrante até
o seu noivo e vai transformar Ethan em um homem comprometido.
— Vamos ter essa mesma conversa daqui há três semanas, onde você
estará no meu lugar, dona encrenca.
Minha mãe que está linda por demais.
— Tudo dará certo. É só nervosismo de noiva. Normal...
Depois que veio para Nova York, a dona Aurora abriu as asinhas. Ela
começou a namorar o médico da Letícia, que na verdade é médico de todo
mundo. De lá para cá, mal vemos a vozinha, ela está sempre com o doutor
Phillip sei lá das quantas... aff! Outra que anda revirando os olhinhos por aí,
conheço esse brilho, pele boa, é a mesma que fico depois de uma boa transa
com Ethan.
Alguém bate na porta e anuncia que já está na hora da noiva ir. O frio na
barriga aumenta, o nervosismo piora. Minha vontade é de fugir, mas daí
vem a imagem daquele homem gostoso, com lindos olhos e um pau enorme,
a vontade de fugir some. As meninas acompanham-me até a porta por onde
vou entrar.
Primeiro a Julia e Fiorela com Liam e Martino, agora, é minha vez...
Um dia, reclamei com a Lê, sobre o fato de não saber quem chamar para
entrar comigo na igreja.
— Por que não entra com a sua mãe? Foi ela quem te criou, foi seu pai,
seu irmão, ela é tudo para você. Acho que não existe pessoa melhor. — Ela
me sugeriu.
E assim foi. Minha mãe, linda, compartilhando desse momento comigo.
Ninguém melhor que a mãe para estar ao nosso lado em uma igreja
enorme, repleta de pessoas desconhecidas, para entregar-me ao amor da
minha vida, que me espera impaciente no altar.
Conforme caminho para Ethan, tenho mais certeza de que tudo isso é
certo, a cada passo que estou dando, estou aproximando-me do meu felizes
para sempre. Que eu espero e para o bem de Ethan, que seja para sempre,
porque eu não aceito menos que isso!
Ele está lindo naquele fraque de seda preto e gravata verde escura. Os
pajens também estavam de fraque, mas era grafite com gravata cinza e suas
cartolas debaixo do braço. Esse detalhe fez toda a diferença, até mesmo na
postura deles.
Ao nos aproximarmos do altar, Ethan vem ao nosso encontro, beija a
mão da minha mãe e a entrega a Phillip. Volta-se para mim, beija minha
testa, coloca minha mão em seu braço e nos aproximamos do sacerdote.
Meu buquê era diferente, optei por um mix de rosas brancas e joias.
Quando coloquei os olhos nele, sabia que era o que queria flores reais
alternadas com broches de pedras e pérolas, formando uma verdadeira
preciosidade. Entrego-o para a Julia, que o segura com um sorriso lindo.
A cerimônia foi rápida e muito bonita. Na hora das alianças, soou uma
música suave, um tenor cantando Ave Maria à capela. Zach com sua cartola
embaixo do braço segurava Nathan de fraque e cartola, um mini Zachary,
lindo! As lágrimas que eu bravamente segurei até aqui, agora corriam
livremente. Eles param no meio do corredor e a Letícia, entra segurando
um pequeno estojo de vidro. Assim que ela os alcança Zach
inesperadamente beija a testa da Lê e eles caminham em nossa direção. Só
quem está no altar pode ver a cumplicidade que presencio; o retrato da
família feliz.
Depois dessa cena, eu sei que a minha vida será tão feliz quanto a dela.
Eles se aproximam e a Letícia abre o estojo para que o sacerdote
abençoe as alianças. Assim que ele o faz, ela estende a caixa para Ethan que
pega a aliança e enquanto coloca em meu dedo, cita seus votos.
— Eu não sou muito bom com palavras, mesmo assim, nenhum voto que
encontrei é digno do que você significa para mim. O dia que te encontrei foi
o dia em que renasci, passei a ver a vida com outros olhos, percebi pela
primeira vez que tudo a minha volta estava colorido, não mais preto e
branco como era antes. Você é minha vida, meu tudo, meu mundo. Eu te
amo e serei seu para sempre!
Ele coloca a aliança em meu dedo e eu tento controlar as lágrimas. A Lê
estende o estojo para mim, retiro a aliança.
— Esse não era o meu voto, mas não vejo nada melhor para expressar o
que sinto em relação a você. Você, Ethan Scott, é minha vida, meu mundo,
meu tudo. Eu te amo e sempre serei sua!
— E nesse momento, eu vos declaro marido e mulher. Você pode beijar a
noiva. — O sacerdote diz.
Ethan me puxa para si e me dá um beijo de novela, daqueles de fazer o
mundo rodas. Paramos ao nos dar conta dos aplausos e assobios. Viramos
para sair da igreja.
— Não vejo a hora de arrancar esse vestido de você, senhora Scott.
Discretamente temos um diálogo pornográfico enquanto saímos da
igreja sorrindo para os convidados desconhecidos.
— Eu quero que me pegue com o vestido. Tenho uma tara com vestido
de noiva, senhor Scott.
— Podemos resolver isso dentro da limusine. O que acha senhora Scott?
— Vamos de uma vez!
A minha sogra queria se meter e ir conosco no mesmo carro que o
príncipe dela. AFF! Aja saco! Ethan a dispensou cordialmente com Zachary,
que ficou com a bomba vintage nas mãos, para levar ao salão. Corremos
para o carro, ele instruiu o motorista para fazer o caminho mais longo até o
hotel e fechar a repartição para a nossa privacidade. Subo em seu colo com
aquela montoeira de tecidos na cintura.
— Vou rasgar sua calcinha, Lolo.
— Rasgue...
E assim ele o faz e já me toca com seus dedos longos. Rebolo em cima da
sua mão, porque perda de tempo não é comigo, por mim a minha lua de mel
começava agora. Desajeitadamente eu encontro o zíper da sua calça e o
abro, tiro seu membro para fora e sento sobre ele. Gememos ao mesmo
tempo. Nosso beijo cada vez mais rápido, mais guloso, indicava que ambos
já estavam quase prontos para virem.
Ethan me segura com força e estoca fundo, fazendo com que eu grite e
acorde metade de Nova York.
— Isso, senhora Scott. Deliciosa. Venha comigo.
Seu dedo encontrou meu clitóris e não precisou muito para gozarmos.
Nós nos limpamos rapidamente e dois minutos depois, o motorista
estacionava na frente do hotel. Ele me ajuda a arrumar o vestido.
— Eu te amo tanto, minha boneca Lolo. Amo você mais que a minha
própria vida.
— Oh, vida. Eu também. — Pulo em seu colo novamente, com lágrimas
nos olhos. — Você é um homem maravilhoso e eu sou a mulher mais
sortuda do mundo por tê-lo só para mim. Espera... — Olho seria para ele. —
Sou a única, não é, Ethan? Porque vai ser estranho você morrer logo após o
nosso casamento. Porque tenho um lema, querido, viúva sim, corna jamais!
Pense nisso antes de cogitar a ideia de colocar esse pau em outro buraco.
— Você é única!
O motorista abre a porta para nós e Ethan me ajuda a sair do carro.
Letícia deveria estar aqui como o combinado, mas não a vejo. Tivemos que
entrar pela entrada secundária porque há muitos fotógrafos na entrada
principal. Tiveram que montar uma barreira ao redor da igreja, não sei se
era só para os paparazzis, acredito que Kaleb fez tudo isso por causa das
mulheres que já passaram pela cama de Ethan. Vai que uma revoltada tenta
me matar como a doida da Maggie fez?
Credo, até me arrepiei...
Entramos e somos escoltados até uma sala privada. No caminho
encontro Zach e Letícia saindo de uma sala se ajeitando. Eles nos olham
sem jeito e com cara de sexo. Coloco as mãos na cintura.
— Eu não acredito que vocês estavam transando no meio do meu
casamento...
Letícia revira os olhos e Zach fala apontando para o meu cabelo.
— Esse cabelo desarrumado é por que você veio correndo da igreja até
aqui?
— Ela veio quicando. — Ethan rindo responde. Os dois caem na risada e
batem os antebraços. Dois moleques, aff.
Letícia sorrindo, me pega pelo braço e entramos na sala que eles saíram.
— Lolo, eu queria te dar um presente. Iria dar antes do casamento, mas
você não aceitava nada dizendo que não iria ceder às tradições dos
americanos. — Ela estende um estojo. — Semanas após nos conhecermos,
fomos a uma feirinha hippie e compramos duas pulseiras de bijuteria com
um símbolo de infinito. Eu sei que não é grande coisa, mas significou muito
para mim, é como se você tivesse jurado estar comigo para sempre.
Uma lágrima solitária cai de seus olhos e eu a seco.
— Saiba que foi exatamente isso...
Letícia abre o estojo e encontro uma pulseira com símbolo de infinito
cravejado de diamantes. A gente é rica agora, podemos tudo!
— Obrigada por tudo, Boneca Lolo.
— Não é justo me fazer borrar a merda dessa maquiagem agora. Se a
doida da mãe do Ethan querer me maquiar como uma palhaça, eu te mato!
— Estendo meu pulso para ela colocar.
— Não. Não vai combinar...
— Coloca essa porra aí agora, Maria! Quero você comigo para sempre.
Não que eu vou te deixar em paz, afinal, moraremos na mesma cidade,
nossos maridos são melhores amigos e Nathan é meu afilhado.
— Eu sei. Só queria que você soubesse, sempre estarei aqui para você,
Boneca Lolo e eu te amo muito.
— Eu também te amo, Lê.
Letícia ajudou a me recompor e saímos para encontrar os rapazes. Zach
e Lê entraram antes e fecharam as portas. Seguro a mão do meu marido e a
aperto. Ele olha para mim sério.
— Algum problema, amor?
— Não... Eu te amo Ethan.
— Também te amo, Lorena. Você é a mulher da minha vida. — Ele passa
a mão sobre a minha nova pulseira. — É linda.
— A Letícia que me deu.
As portas se abrem e somos recebidos pelos aplausos dos convidados.
Caminhamos até o centro do salão, Letícia, Fiorela e Julia se colocam ao
meu lado e Ethan se solta e vai para o palco. Martino, Liam, Sebastian,
Kaleb, King e Zach com Nathan no colo, todos de óculos escuros, se colocam
ao lado dele. Microfones são colocados para cada um deles e Ethan fala:
— Somos péssimos cantores, por favor, não se apeguem a esse detalhe.
— Ele aponta para mim. — Boneca Lolo, my girl, essa é para você.
A banda começa a tocar a música My Girl. — The Temptations. Os
meninos se balançam e estalam os dedos no ritmo da música e Nathan sorri
com o balanço do seu pai. Ethan começa a cantar e eles repetem. Nós,
gritamos como loucas, meus olhos ficaram umedecidos.
Eu amo esse homem!
Ele desce do palco e fica de frente para mim, cantando com a mão no
coração.
— Eu não preciso de nenhum dinheiro fortuna ou fama, eu tenho todas as
riquezas, baby, que um homem possa exigir. Bom, eu suponho que você pensa.
O que pode me fazer sentir deste jeito? Minha garota. Falando sobre minha
garota, eu tenho a luz do sol num dia nublado. Com minha garota, eu tenho
até o mês de Maio. Com minha garota.
Ethan termina de cantar e me beija tira os óculos, os meninos descem e
uma nova música soa pelo salão. O vocalista anuncia que é a dança dos
noivos e Always do Bon Jovi toma conta do lugar. Isso tudo é novidade para
mim, porque Ethan falou que queria cuidar pessoalmente disso, foi tudo
planejado por ele.
Testei mais uma vez a palavra marido.
— Ethan Scott, meu marido...
— Eu te amo Senhora Scott. E não há preço que eu não pagaria para
fazê-la feliz!

Capítulo 42

Letícia

Véspera do meu casamento e eu aqui, sentada no chão do banheiro,


depois de colocar o pouco que tinha comido para fora. Esse mal-estar já é
velho conhecido meu, lembro exatamente como me senti naqueles dias.
Logo que cheguei ao hotel, paguei a uma das camareiras para correr na
farmácia e comprar todos os testes de gravidez existentes.
Lorena insistiu para que passássemos a noite anterior ao casamento em
um hotel, que fica de frente para o local da cerimônia. Zachary e eu
decidimos não fazer grandes despedidas de solteiro. Optamos por reunir
alguns amigos e Ethan fez questão que fosse na casa dele, conversamos,
rimos, jantamos, eu vim para o hotel com Nathan e Zachary voltou para
casa.
Um dos testes apita e o pego para olhar apreensiva. Eu realmente não
gostaria de passar o que passei quando descobri que estava grávida de
Nathan, não sei como Zachary reagirá e por falar em Nathan, meu filho tem
apenas seis meses, dois filhos em seguida? Estamos pior que coelhos.
Deus... Deu positivo...
Uma felicidade toma conta de mim e logo vem o mal-estar novamente.
Parabéns, mamãe! Bem-vinda de volta ao mundo dos enjoos. Lorena entra
rapidamente no banheiro.
— Letícia, o que está... — As palavras dela morrem quando ela vê três
palitos de teste de gravidez em cima da pia. — É o que eu acho que é?
Aceno que sim, ela me abraça e começos a gritar que nem loucas, até ela
parar e ficar tonta.
— Está se sentindo bem, Lorena?
— Foi apenas tontura, já passou. Deve ter sido a bebida que tomei no
jantar.
— Lorena, eu não vi você beber.
— Porque eu não bebi. Eu acho... Não sei...
Voltamos para o quarto e sento-a na beirada da cama.
— Lolo, você tem se sentido estranha ultimamente? Mal-estares,
tonturas, estômago embrulhado.
— Acredita que fiquei ruim com aquele perfume que eu adoro do Ethan?
Não sei, fiquei muito mal, enjoada...
Puxo-a de volta para o banheiro e entrego um teste.
— Faça!
— Eu não posso estar grávida. Meu ciclo está em dia, à última vez que
menstruei foi há... — Ela faz as contas nos dedos e quantos mais dedos
usava para contar, seu olhar ficava arregalado. — Meu Deus... — Lorena
pega os testes e se tranca no banheiro.
Fico andando de um lado para outro sorrindo, porque eu sei que ela está
grávida. Ouço um grito.
— LETÍCIA! — Corro para a porta e ela abre.
— Já fez? — Ela olha para mim.
— Não tenho coragem de olhar...
Aproximo-me para ver os palitos alinhados em cima da pia ao lado dos
meus positivos.
— Por quê?
— Por quê? Por quê? Você ainda me pergunta por quê? Eu tenho dó de
Nathan por ter uma madrinha-tia como eu imagine meus filhos? Eu não
nasci para ser mãe, não sei se saberei educar, se eles chorarem como vou
saber o que querem? Ai meu Deus, se forem gêmeos? — Abraço-a.
— Calma, uma coisa por vez. Primeiro; Nathan é o bebê mais sortudo do
mundo por ter você como madrinha-tia. Segundo; seus filhos serão ainda
mais sortudos por ter uma mãe como você. Terceiro; não se preocupe, por
experiência própria posso te dizer, as mães sempre sabem reconhecer o
choro dos seus filhos. — Um dos testes apita e olho. — Boneca Lolo. — Ela
me olha apreensiva. — Parabéns! Você será mamãe.
Abro meus braços para abraçá-la e ela corre para o vaso vomitar.
— Ah sim, bem-vinda ao mundo dos enjoos.
Depois de uma noite um pouco conturbada, hoje acordei melhor.
Lembrei-me do remédio que Phillip tinha receitado quando estava grávida
de Nathan, Lorena e eu tomamos e dormimos como pedras. Minha sorte é
que Nathan é uma criança que dorme a noite toda, de vez em quando
acorda querendo um mamazinho. Acordei com leves olheiras, cabelo
horrível e com cara de poucos amigos.
Anime-se, Letícia, hoje é o seu casamento! E jogo-me na cama
novamente.
Os preparativos do casamento tomaram todo o meu tempo, não sei, se
trabalhava, se cuidava do Nathan ou dormia. Desde o pedido de casamento,
Zachary não me deu folga, enquanto não me mudei definitivamente para a
cobertura, ele fez questão de me infernizar. A mudança aconteceu dois dias
depois do pedido. Estamos sob o mesmo teto há seis semanas e um dia
após o outro tem sido maravilhoso.
Zachary é um pai dedicado e um marido exagerado, mas não mudaria
nada.
Margaret e Mary Ann se revelaram ótimas parceiras de um futuro
negócio que pode ser muito lucrativo, venho incentivando as duas a
pensarem no caso. Mary Ann entende de comida como ninguém e tem um
trato especial para lidar com qualquer tipo de pessoa. Margaret tem a
elegância arraigada em seu DNA, tem contatos importantes e um grande
bom gosto, sem contar o talento para decoração. Foi a decisão mais
acertada colocar as duas nisso.
O terraço onde será o casamento é lindo demais, um lindo jardim bem
cuidado, completo com uma piscina e fonte. Tem uma vista extraordinária
da Quinta Avenida e para Catedral de St. Patrick. Zachary e eu decidimos
fazer o casamento ao entardecer, o jantar, será em um dos salões fechados.
Enquanto o jantar acontece, uma equipe aprontará o jardim para receber a
pista de dança. A iluminação é um espetáculo à parte, luzes coloridas
contrastando com a iluminação azul de led da piscina.
O lugar não exige grandes arranjos de flores, então, Margaret e eu
escolhemos mini cerejeiras com flores rosa e branca, tecidos brancos
transparentes esvoaçantes para dar um ar leve. As cadeiras são brancas
com detalhes dourados e no encosto, todas levam o brasão Z&L.
O altar será uma tenda em formato de coreto, decorada com orquídeas,
gérberas e rosas.
Assim que os convidados chegam, eles passam por um corredor com
fotos nossas, assinam um livro de presença e depois de confirmar o convite
pela segunda vez, são escoltados até o terraço, onde darão de cara com o
jardim e a piscina, que foi delicadamente decorada para o casamento, com
velas e pequenos arranjos de lilases.
Prepararam um andar do hotel em frente ao Rockfeller para nos
arrumarmos. Zachary também está aqui, mais precisamente, no final de
corredor. Ele sairá antes para que não veja a noiva. Tradição dispensável
para nós, eu acredito que tudo o que tinha para dar errado entre nós. Já
deu!
Meu vestido é simples, mas muito especial. Escolhi a cor marfim, pois já
tenho Nathan, acho que o branco não cairia bem. O corpete é de renda todo
bordado a mão com pérolas e pedrarias, pequenas alças com broches de
pérolas, bem marcado na cintura e a saia de chiffon, que se abre muito
pouco, somente para fugir do justo. Atrás, ele é inteiramente aberto até a
cintura. As finas alças descem na lateral toda bordada. A calda começa na
cintura e vai abrindo formando uma calda não muito aberta, apenas o
suficiente para franzir o tecido. Optei por sandálias altas de tiras finíssimas
de cor dourada.
Meus cabelos foram presos em um coque bagunçado, com muitos fios
soltos e uma falsa franja de lado. Margaret insistiu que eu usasse a grinalda
que sua mãe usou; uma peça de diamantes e pérolas que fica por todo o
coque. Minha maquiagem foi discreta, olhos bem marcados, sombras, verde
esmeralda com preto esfumaçado. Nada extravagante, apenas para
destacar a cor dos meus olhos. Blush terracota deu outra vida e o batom,
optei por um vermelho para contrastar com o resto.
As joias é uma história a parte. Quando me mudei para o seu
apartamento, reformei aquele quarto do terror e o transformei em um
ambiente de luxuria. Zachary causa isso em mim, perto dele sou ousada,
sinto-me sexy, por vezes devassa, sou uma mulher plena.
Pintei as paredes de vermelho púrpuras coloquei espelho no teto e
recoloquei as portas no closet novamente, não portas de espelhos, mas de
vidro, quem está lá dentro tem a impressão de estar em frente a uma
Vitrine. Coloquei um pole dance no canto esquerdo e substitui os tecidos
claros do dossel, por tecidos negros. A iluminação é programável,
controlada por um pequeno controle ou por comandos de voz.
Para a inauguração do meu projeto, convidei-o para ir ao quarto. O levei
para trás do vidro, ele sentou na poltrona, visivelmente agitado. Ele odeia
não saber o que vai acontecer a seguir, esse é o Zachary, controlador. Liguei
as luzes que iluminavam o pilar, e o resto do quarto ficou em meia luz. Uma
música que embalou nossa primeira transa soou pelo ambiente, Earned it.
— The Weeknd. Minha roupa se resumia a um vestido justo preto, curto,
meia-calça fina até o meio da coxa, cintas-ligas e salto. As joias que uso para
o meu casamento hoje, aluguei naquele dia.
Quando fiquei nua, mantive as joias e o sapato. Antes que a música
chegasse ao fim, Zachary já estava atrás de mim, tomando-me para si.
— Esse é o seu traje para a noite de núpcias, Letícia. Somente isso e
saltos. — Nas vésperas do nosso casamento, ele aparece com elas. Quando
abri a caixa, tive uma crise de riso e o chamei de maluco. Porque não
comprei as joias pelo preço absurdo que elas valiam. Mas Zachary é
Zachary, seu ego faz com que ele conquiste o impossível.
Os brincos são pequenas argolas de ouro cravejado com pequenos
diamantes, terminando em uma pérola. Em uma mão, um anel em formato
de flor, sendo que cada pequena pétala é uma pedra de diamante e o miolo
uma pérola. Do anel, sai um cordão swarovski trabalhado que liga a uma
pulseira que tem pequenas folhas e flores em diamantes e pérolas. O colar é
tipo back necklace, aqueles colares que caem nas costas, o meu é de ouro
com pérolas espaçadas.
Assim que todos terminaram de me arrumar, pedi que me dessem
licença para que eu ficasse sozinha, eu preciso respirar. Queria ter a chance
de ter um abraço da minha mãe e da minha avó, de ter o meu pai levando-
me até o altar, mas não os tenho. Sei que de onde estão eles zelam por mim
e tenho certeza que por Nathan também.
Estou me sentindo tão sozinha... Por mais que eu tente controlar, minhas
lágrimas caem.
As pessoas sempre me elogiaram pela minha força, o que elas não sabem
é que, nunca fui forte. Sou apenas uma sobrevivente de uma vida de perdas.
Sou consciente e muito grata a Deus por colocar pessoas maravilhosas em
meu caminho, por me dar um filho lindo e um noivo atencioso, mas nada
substitui a ausência de família. Às vezes sinto que não tenho identidade,
não tive irmãos para implicar, primos para bagunçar, tios para serem
semelhantes a mim, não tive nada.
Um soluço escapa da minha boca e logo a Lorena entra pela porta como
um furacão.
— Lê? O que houve princesa? Fala comigo.
Abro a minha boca, mas as palavras não saem. Apenas mais soluços
descontrolados.
— Lê, está lembrando-se dos seus pais, não é? Logo, tia Aurora,
Margaret e Mary Ann entram, perguntando o que houve. Lorena as
interrompe.
Aceno que sim.
— Eu sei que não sou sua mãe, mas me considero como tal e saiba que
tenho orgulho da filha que tenho! Eu te amo, Letícia. Amo-a como se tivesse
saído de mim. — A abraço apertado.
Margaret pega um lenço e começa a remover parte da minha
maquiagem borrada, porque os a prova de água, não são tão a prova de
água assim.
— Desde a primeira vez que a vi, eu sabia que você era a mulher certa
para o meu filho e eu não estava errada. Ele passou meses muito mal,
ninguém conseguia o tirar daquele quarto, ele não comia ou bebia, estava
vegetando. Você chegou e em pouco tempo, vi o meu único menino descer
as escadas para comer depois de dias sem se alimentar. Letícia, eu também
te amo como filha, jamais duvide disso.
— Obrigada...
— É por sua causa que hoje somos uma família, aproximou Zachary, nos
deu Nathan. — Mary Ann pega minha mão. —Richard e eu, Margaret e
Tyler, Aurora e Phillip, Lorena e Ethan, King, até mesmo o Kaleb, somos
uma unidade porque você nos proporcionou isso. Eu só tenho que te
agradecer e sim, eu também te amo.
Lorena vai em direção à porta.
— Vou chamar o maquiador para consertar essa cagada e depois
mulher, vai lá e busca seu homem, que por sinal está muito gato! Margaret,
você tem que nos ensinar como se faz filhos como aquele.
Logo o maquiador dá um jeito e fui em direção ao meu casamento. Hoje,
é o dia que selarei meu destino, para sempre! Vou até o hall, ajeitam-me
mais uma vez e antes das portas se abrirem, entregam-me meu buquê,
composto por rosas coloridas, as mesmas cores que Zachary enviou-me no
dia em que me pediu em casamento, envolvidos em uma renda marfim todo
bordado.
As portas se abrem para que eu entre. Escolhi entrar sozinha, nada e
nem ninguém pode substituir quem eu queria que estivesse aqui.
Emociona-me logo nos primeiros passos, assim que avisto Zachary com um
terno cinza e camisa branca e gravata borboleta azul escura. Sua beleza ao
sol fica ainda mais evidente, seus olhos dão a impressão de estarem mais
azuis e seus cabelos mais claros. Ele vem até o meio do corredor para
encontrar-me, beija minha testa e estende-me seu braço.
Caminhamos para o altar ao som de The only Exception. — Paramore,
interpretado por uma mulher de voz doce e suave.
O sacerdote foi muito breve em seu discurso e na hora das alianças,
tenho uma surpresa. Ao som da música tema da Bela e a Fera, Nathan no
auge dos seus seis meses, vestido com a mesma roupa do seu pai, entra em
um carrinho todo decorado acompanhando de seus avós, Richard e
Margaret.
O estojo das alianças estava em suas mãos, todo molhado,
provavelmente aquilo estava na sua boca. Quando Zachary vai tirar o estojo
da sua mão, ele ri e todos riem com ele. Mas a hora que ele se deu conta que
seu pai não devolveria, o choro começou.
Zachary não suporta o ver chorar, logo, tira Nathan do carrinho e fica
com ele em seu colo. Pega minha mão, olha para Nathan e depois para mim.
— Somos uma família, não é? — Ele solta minha mão e a passa em meu
rosto. — Uma linda família, por sinal. — Ele volta a segurar minha mão. —
Eu vivi na escuridão por muitos anos, não acreditava que o amor pudesse
transformar, não acreditava na existência daquele ser especial que poderia
mudar minha vida. É como se eu estivesse adormecido por trinta e nove
anos, vivendo uma vida sem sentido. Então, você apareceu, mudou todos os
meus conceitos e preceitos. Em nenhum momento quis me convencer sobre
o amor, fez muito mais, você simplesmente, me amou. Você e Nathan é o
sentido da minha vida e a minha missão é fazê-los felizes. Passarei o resto
dos meus dias os protegendo, cuidando para que nada os falte, zelando pelo
seu sono e amando-a cada dia da minha existência. Você não é apenas meu
grande amor, você é o meu primeiro amor também, é única. — Zachary
coloca a aliança meu dedo. — Letícia, razão da minha existência. Recebo-a
como minha esposa para todos os momentos, você é o meu suporte, a força
que me faz emergir da escuridão. Prometo colocar a minha família em
primeiro lugar sempre, resguarda-los de todo sofrimento, tê-los sempre ao
meu lado. Eu te amo e prometo te amar para sempre!
Ele seca minhas lágrimas, pego a aliança do estojo, alcanço sua mão e a
beijo antes de colocar o anel.
— Nas minhas conversas com Deus, eu falava que queria uma família,
aquelas pessoas com quem me identificasse, porque muitas vezes a dor de
ser sozinha era insuportável. Então, ele me deu Nathan e você, para que os
meus dias sejam repletos de amor. Primeiro você apareceu nas minhas
noites, tornando-se o homem dos meus sonhos. Depois, você me deu
Nathan e se tornou pai do meu filho e por fim, entrou como um furacão
declarando-se para mim e se tornou o homem da minha vida. Zachary, eu
prometo fazer da nossa casa um lar, ser sua parceira para todos os
momentos, compartilhar alegrias e tristezas. Quero ser seu refúgio para
onde corres quando precisares, eu quero ser seu amor para uma vida
inteira. Eu te amo e prometo te amar para sempre!
— Você pode beijar a noiva.
Zachary entrega Nathan para Lorena, beija minha testa, depois minha
boca e como nos filmes, ele inclina-me pra trás.
— Você não se livrará mais de mim, senhora O´Brian.
— Oh, Senhor O´Brian...
Sem perda de tempo ele me beija com paixão e sinto algo macio caindo
pelos meus braços, ouço exclamações e aplausos dos convidados. Ele ergue-
me e vejo uma chuva de pétalas de rosas vermelhas caindo em cima de nós.
Fiquei maravilhada com a cena dos convidados aplaudindo e se abraçando
sob as flores.
Enquanto éramos fotografados, os convidados foram escoltados até o
salão interno. Em seguida Zachary e eu entramos e ele me levou até o
centro do salão de frente para um pequeno palco. Fotos dele começaram a
aparecer no telão, em seguida fotos dele e de Nathan com a mesma idade.
Todos, absolutamente todos, ficaram chocados com a semelhança. Por um
momento, fiquei triste, eu não tenho fotos minhas de quando era pequena,
elas foram perdidas.
Outra música suave começa a tocar e imagens minhas quando era
criança, com os meus pais, minha avó, começaram a surgir na tela. Nada me
preparou para aquele momento, se não fosse por Zachary me sustentar, eu
já teria cedido e caído. Meu coração batia tão acelerado, que pensei que
passaria mal ali.
Quando cessaram aquelas imagens, virei-me para o meu marido.
— Obrigada! Obrigada! — Abraço-o com tanta força, que quase o mato
asfixiado.
— Para a mulher da minha vida, tudo! Ainda não acabou...
Vejo um casal de meia idade aproximando-se, assim que chegam bem
pertinho, lembranças brotam como cascata, o casal que cuidou de mim
quando vovó morreu. Pulo nos braços da dona Guilhermina, que me abraça
com toda sua força e seu marido Jonas, logo nos cobre com seus longos
braços.
— Você se transformou em uma mulher tão linda, Letícia. Seus pais e
avó onde estiverem com certeza estão orgulhosos da pessoa que você se
tornou. — Dona Guilhermina abraça Zachary. — Obrigada por me dar esse
presente, menino. Cuida bem dela e do pequeno. Vocês formam um casal
lindo e que a felicidade seja eterna. Ah sim, quero a cópia dessas fotos, não
esqueçam.
Eles se afastam para uma das mesas e volto-me para Zachary.
— Você é maravilhoso...
Uma voz conhecida entra cantando Love´s Divine. No meio dos gritos e
aplausos, vejo Seal, no meu casamento. Cubro minha boca com as mãos e
mais lágrimas. Zachary coloca-se atrás de mim e abraça-me, sinto o amor e
a proteção que procurei durante toda minha vida.
Assim que a música termina Seal desce do palco e vem até nós.
Cumprimenta Zachary.
— Eu não acredito que está se casando, milagres existem. — Ele pega
minha mão a beija e diz. — Não é à toa que ele te arrastou para o altar.
Parabéns, que a jornada de vocês seja repleta de amor e tranquilidade para
enfrentar a diversidade da vida. Pode emprestar-me seu marido por um
momento, senhora Zachary O´Brian? — Aceno que sim e Seal pega Zachary
pelo braço. — Vamos fazer um número bonito para a mulher que fez o
homem de gelo derreter.
Todos riem e eles sobem ao palco, Seal vai para um piano e Zachary pega
o microfone.
— Antes que vocês comecem a reclamar, eu canto melhor que Ethan. —
Lorena, Julia, Fiorela, todos os que de alguma forma estão na minha vida, se
colocaram ao meu lado para curtir esse momento. — Letícia, nenhuma
palavra ou expressão, pode expressar o que sinto por você.
Ele começa a cantar a música Secret em dueto com Seal, se eu estou
chorando? Não, quase nada. Apenas estou desidratando-me ouvindo meu
marido cantar para mim.
— “Bem, eu pertenço a você. Eu pertenço a você. Eu pertenço a você e você
pertence a mim...”
Zachary termina seu número e volta a ficar do meu lado. A banda
começa a tocar a música Truly, Madly, Deeply — Savage Garden.
— Agora é a tão esperada dança dos noivos. — Seal fala. — Essa música
foi exigência do noivo e ele me pediu para contar porque essa música. Bom,
segundo meu amigo agora muito bem casado e amarrado, parabéns Letícia,
você conseguiu o impossível. Voltando ao motivo, Zachary me contou que
um dia vocês estavam dançando em um terraço no Rio de Janeiro e essa
música tocou. A letra era exatamente aquilo que ele não queria admitir,
mas o sentimento já estava ali, então ele não permitiu que a música
chegasse até o final. Hoje, a música será cantada até o final e que as
palavras caiam sobre vocês como promessas divinas.
“Serei seu sonho, serei seu desejo, serei sua fantasia, serei sua esperança,
serei seu amor, serei tudo o que você precisa. Eu te amo mais a cada
respiração. Verdadeiramente, loucamente e intensamente. Serei forte, serei
fiel, pois estou contando com um novo recomeço, uma razão para viver, um
sentido mais profundo, sim! Quero ficar com você no alto de uma montanha,
quero me banhar contigo no mar, quero deitar juntinho assim para sempre
até que o céu caia sobre mim. E quando as estrelas estiverem a luzir seu
brilho no céu aveludado, farei um pedido, enviarei para o céu. Então te farei
querer chorar lágrimas de alegria por todo o prazer e certeza, de que somos
rodeados pelo conforto e proteção. Oh, será que você não consegue enxergar,
amor? Não precisa fechar os olhos porque está bem diante de você. Tudo o
que você deseja há de se concretizar. Serei seu sonho, serei seu desejo, serei
sua fantasia. Serei sua esperança, serei seu amor, serei tudo o que você
precisa. Eu te amo mais a cada respiração. Verdadeiramente, loucamente e
intensamente”.
Dancei olhando nos olhos do homem da minha vida. Zachary fez essa
noite inesquecível para mim, mesmo eu repetindo incansavelmente que
não queria surpresa e muito menos nada extravagante. Quando
conversamos sobre quem tocaria no casamento, ele me pediu com
delicadeza se poderia ser alguns amigos dele, eu, na minha ingenuidade,
respondi que sim. Não imaginava que seu amigo era o Seal.
Depois, em outra música, todos os convidados também vieram dançar e
Zachary me tira do salão discretamente. Fomos em direção ao jardim, onde
estavam terminando de arrumar a pista de dança, que por sinal achei
exagerada.
— Por que estamos aqui, Zachary? — Ele me beija e aquele sorriso de
canto diabólico se forma em sua boca. Por experiência própria, eu sei que
vem bomba por aí.
— Uma pessoa em particular me pediu para falar com você. Como sou
um homem com bom coração...
— Bom coração, Zachary? Com esse sorriso? Duvido...
Ele coloca a mão sobre o peito.
— Essa doeu, Senhora O´Brian. — Ele olha por cima de mime fecha a
cara. Viro-me para ter a maior surpresa da noite. Em frente, nada mais,
nada menos que João Paulo e uma garota que me parece conhecida, mas
não tenho certeza. Zachary passa a mão pela minha cintura e fala. — Ele
queria te dizer umas palavras e eu permiti.
A cara do João Paulo era hilária, via-se medo em seu olhar para o meu
marido. De longe, vejo King, Luck, Mike e Kaleb, todos prestando atenção ao
que acontecia.
— Como vai, Letícia? — João fala. Sorrio. Eu não sinto nada por ele, nem
mesmo pena. Apenas sinto pela mulher que se envolveu com um tipo como
ele.
— Estou muito bem e você?
— Bem... Então... Eu... Hum... Queria te pedir perdão por tudo o que te fiz
no passado...
— Se for para fazer isso, faça direito. Diga claramente os motivos a
serem perdoados. — Zachary o interrompe. João empalidece. Será que
Zachary o coagiu para vir fazer isso? Tenho receio de pensar nisso. João
continua.
— Poderia me perdoar por ter te enganado e traído, por vender as
coisas que você comprou com muito custo, por engravidar outra enquanto
somente você trabalhava para nos sustentar. E por...
— Termine a frase. — Zachary pressiona.
— Por colocar a casa em meu nome e levar outra mulher para viver lá,
enquanto você sofria por esse mundo, sozinha.
Zachary vira-me de frente para ele.
— Está tudo bem, anjo? Acha que pode continuar a conversa com esse
imbecil?
— Você foi atrás dele, Zachary? — Não pude deixar de perguntar. Ele
sorri.
— Fui. Porque esse filho da puta tem que aprender a ser homem de
verdade! E fui somente atrás dele, porque não soube de outro que a tenha
feito sofrer. Bom, tenho eu, mas paguei caro por isso. — Beijo-o
apaixonadamente.
— Você é completamente insano, marido e eu sou louca por você. —
Viro-me para o João. — Como não iria te perdoar? Olha ao seu redor, olhe
tudo o que a vida me deu. Espero que você amadureça. — Aponto para a
sua acompanhante. — E a faça feliz, assim como eu sou.
João respira aliviado que até a cor volta para a sua face. Zachary escolta-
me de volta para o salão e sentamos à mesa principal. Olho para ele com a
pergunta na ponta da língua, mas antes que eu pudesse sequer abrir a
boca...
— Eu falei para aquele babaca que, se você não o perdoasse, ele daria
uma volta por Manhattan com os seguranças. — Ele fala e cai na risada. —
Ele ficou com medo.
— Medo? Ele estava apavorado! — Pego suas mãos e as beijo. — Foi um
pouco exagerado da sua parte, fazer justiça por mim, mas, eu te amo por
ser assim, te amo por tudo o que você faz por mim, te amo por ter me dado
nossos filhos e eu te amo por me amar. Obrigada por ser o homem da
minha vida!
Os olhos de Zachary umedecem.
— Sou eu que tenho que agradecer aos céus por ter te colocado na
minha vida... — Ele arqueia uma sobrancelha. — Filhos?
Chuto-me mentalmente por ter deixado escapar. Falo com cuidado.
— Sim... Filhos. — Uma lágrima corre de seu olho.
— Você está grávida? — Aceno que sim. Ele me abraça apertado. — Eu
sou a porra do homem mais sortudo do mundo! Eu te amo, mulher. — E
grita. — Eu vou ser pai!
De longe avistamos Ethan no jardim, não parecia se sentir bem. Fomos
de encontro a ele e Lorena no jardim. Ele olha para Zachary.
— Cara, eu vou ser pai. — Meu marido sorri e passa os braços pelo seu
ombro.
— Será a maior experiência da sua vida e sem dúvida nenhuma, a mais
prazerosa.
Os dois caminham até o parapeito, e gritam juntos.
— Eu vou ser pai! — Entreolham-se e gritam novamente. — Vamos ser
pais!
Abraço a Lorena.
— Nossos meninos não vão crescer nunca.
Ela sorri.
— Não vão.
Capítulo 43
Ainda estou me recuperando da festa do meu casamento há dois dias.
Não saímos diretamente em lua de mel porque temos negócios para serem
tratados com certa prioridade. Zachary decidiu trabalhar em casa, eu tive
que vir para a Holding de qualquer maneira.
Meu coração anda apertado desde que acordei. Não sei, acho eu que
alguma coisa não está certa nesse dia. Já liguei para Zachary algumas vezes
e não ouve resposta, deve estar com Nathan no jardim. Ele vem insistindo
na ideia de passar a trabalhar definitivamente em casa, diz que não é certo
deixar Nathan por muitas horas. Ligo para King e também não obtenho
resposta. Onde esse povo se meteu?
Estou na sala de Zachary, a vista daqui é incrível. Eu não trabalho na
Holding, meu negócio hoje, se resume apenas a Paradise. Só que o meu
marido quer que eu trabalhe aqui, ao invés de ter um escritório só para
mim.
As lembranças da nossa noite de núpcias vêm em minha mente. Depois
da festa, que acabou quando o sol já estava lá em cima, Zachary e eu fomos
para a suíte presidencial do Mandarim Hotel. O quarto foi caprichosamente
decorado, acredito que cada pétala solta daquela, foi estrategicamente
colocada ali. Tinha muitas flores, uma garrafa de champanhe com duas
taças em um balde de gelo, cesta de frutas, de chocolates e uma caixa de cor
rosa em cima da cama.
Andei até a cama, ainda com meu vestido de noiva, abro-a e vejo uma
pequena camisola branca. Olho para Zachary.
— Acha mesmo que eu não comprei nada para a nossa núpcia?
Ele vem até mim afrouxando a gravata.
— Eu sei que comprou, mesmo falando que a queria somente com as
joias e o salto. Mas essa tem uma finalidade.
— Posso perguntar qual?
— Tire o vestido e coloque-a. Agora!
— Sim, senhor!
Ele me ajuda a abrir o vestido, vou ao banheiro, o tiro e coloco a
camisola. Ela é de renda branca, justa e curta, alças finas e com decote
coração. Atrás é completamente aberto até o final das costas. Mantenho as
joias e o sapato, assim volto para o quarto.
Ele vem até mim, anda em minha volta e beija meu rosto.
— Está mais linda do que imaginei que ficaria. Agora vamos soltar esse
cabelo, gosto dele solto para puxar. — Zachary leva a mal ao coque e retira
alguns grampos, fazendo com que o meu cabelo caia pelos ombros. —
Agora sim perfeita! Dance para mim.
Uma música com batida sexy soa pelo quarto e começo a me remexer
esfregando-me nele. Vou até o canto e pego uma cadeira e a coloco no meio
do quarto, dançando conforme a música. Zachary retira o colete, a camisa e
desabotoa a calça enquanto me vê dançar.
A certa altura, viro-me de costas e o sinto passar as mãos pelas laterais
do meu corpo. Desço até o chão rebolando rente a ele.
— A finalidade é essa — Ele fala e rasga a camisola em um puxão só,
fazendo-a em duas.
Sem me dar tempo para me lamentar sobre a peça, ele aperta meus
seios, desce as mãos e rasga minha calcinha. Vira-me de frente para ele e
toma minha boca em um beijo desenfreado. Senta na cadeira que está ao
nosso lado e coloca-me sobre seu colo, toma um seio em sua boca e o suga,
fazendo-me delirar.
— Zachary...
Ele abre sua calça e me faz sentar sobre seu membro duro. Sua boca
desce pelo meu pescoço em uma trilha de beijos.
— Sou louco por você, Letícia.
Zachary leva-me para cama, tira a calça e vem entre minhas pernas. Ele
desce em meu clitóris com delicadeza, mas aumenta o ritmo da sua língua
em mim. Peço por ele dentro de mim, eu preciso senti-lo, carne na carne
para saciar minha vontade de Zachary. Ele cede aos meus apelos e penetra-
me com paixão, sem tirar seus olhos de mim, mostrando-me tudo o que se
passava em seu coração.

——ooOoo——

Volto a minha realidade e percebo que estou com um sorriso. Meu


devaneio é interrompido por uma ligação de Ethan.
— Lê, cadê o Zach?
— Deve estar em casa, E. Quando eu saí ele me disse que passaria o dia
com Nathan. Por quê?
— Estou tentando falar com ele há horas...
Meu coração aperta mais uma vez.
— Eu também...
— Devem estar dormindo. Mais tarde eu tento novamente. Bye.
— Bye.
A secretária entra na sala e tento mais uma vez ligar para Zachary e
King, mas ninguém atende. Pego o telefone da mesa para telefonar para
casa e uma dor lancinante passa pelo meu peito. Coloco a mão em cima
como se eu pudesse aplacar a dor. A secretária olha para mim preocupada.
— Tudo bem, senhora O´Brian?
Tenho dificuldade para respira.
— Ligue para minha casa, por favor.
Ela vai saindo e eu peço para ela telefonar daqui, também não houve
resposta. Algo está acontecendo. Quando penso em Nathan e Zachary, meu
coração aperta de tal maneira que não consigo conter as lágrimas. Alcanço
minha bolsa e saio desesperada. Eu preciso ver meu marido e meu filho,
preciso que eles me respondam.
Encontro Luck já me esperando em frente ao prédio.
— Algum problema, Lê?
— Por um acaso você conseguiu falar com alguém de casa?
— Não...
Olho para ele, estou nervosa.
— Leve-me para o Solarium.
No meio do caminho, junto minhas mãos para fazer uma prece. Deus
proteja minha família. Não permita que nenhum mal venha sobre eles. Eu
não suportaria perde-los, Deus. Não consigo imaginar minha vida sem eles.
Por favor, proteja minha família...
O carro mal para e eu já desço, indo em direção ao elevador. As coisas
pelo hall estão normais, perguntei para um segurança sobre Zachary e ele
respondeu que King e Zachary estão em reunião fechada desde cedo. As
portas do elevador se abrem, entro na cobertura chamando por Zachary ou
King, não houve resposta. Fui até a cozinha e também não encontro
ninguém.
Alguma coisa me diz para andar com calma. Passo pela sala novamente e
vejo um pé, aproximo-me e vejo King deitado com um tiro na barriga,
sangrando muito. Meu estômago se manifesta, mas não tenho tempo para
isso agora. Procuro o seu celular pelos bolsos e o encontro, mando uma
mensagem para Luck dizendo que há alguém armado no apartamento.
Meu coração está doendo, a ponto de sufocar-me, mas preciso saber do
meu marido e meu filho. Indo em direção aos quartos da ala oeste, onde se
localizam nossos aposentos, vejo Mike caído, também baleado na cabeça.
Tento bloquear as cenas que estão querendo passar pela minha mente.
Deus, não permita que os tirem de mim... Olho cada quarto com cautela e
nada.
Vou em direção ao escritório e passando pelo jardim, vejo Maggie com
uma arma, brincando com Nathan em seu colo. Fico paralisada pelo medo e
se ela matar o meu filho? Eu não teria mais motivos para viver...
Ela está vestida com um uniforme de alguma empresa, levanta os olhos,
que estão cheios de ódio.
— Olha quem apareceu, Zach filho, a chatícia. — Maggie aponta para o
lado e fala. — Entra e vê onde está o amor da minha vida. Está aqui aos
meus pés me adorando com o seu filho. — Seu modo de falar indica
desequilíbrio, ela não está bem.
Dou alguns passos para dentro e vejo Zachary deitado, com vários
machucados no rosto e um tiro no braço, ele me olha angustiado e com
tristeza. Volto meu olhar para ela.
— Como está, Maggie?
— Estou ótima. Estou com o homem que amo e seu filho. Vou cuidar
muito bem deles para você, Letícia. Vou contar ao Nathan como a sua
mamãe era.
— Fico muito feliz que esteja bem...
Ela balança a arma para cima e para baixo.
— Sabe o que é pior, cretina? É que eu sei que você pode estar feliz por
mim de verdade, mesmo tendo atirado no seu marido. Esse seu jeito de ser
é o que me deixa mais irritada, sabe.
— Como você entrou? — Ainda parada na entrada, pergunto com calma.
— Alguns apartamentos do Solarium são limpos por uma empresa
terceirizada. Bastou um pouco de charme e consegui o uniforme e a carona
para entrar no prédio.
Se eu perder o controle, ela vai atirar em algum de nós e não acredito
que ela tenha piedade nem mesmo de Nathan. Respiro fundo.
— O que você quer Maggie? — Ela ri.
— O que eu quero? Quero você morta. Vou pegar de volta aquilo que era
para ser meu!
— Você já me tem aqui. Por que não entrega Nathan para o papai dele e
resolve essa história comigo de uma vez? — Ela passa a arma pela cabeça
na tentativa de arrumar o cabelo. Vai até Zachary e entrega Nathan.
— Fica com o papai amorzinho. — Ela olha para mim. — A mamãe
Maggie vai tirar alguns insetos do nosso caminho. — Ela vem em minha
direção e me bate no rosto. — Isso é para você saber que não se toma as
coisas dos outros. — Torna a me bater com mais força. — E esse é porque
gostei de ver as marcas dos meus dedos nessa carinha.
Percebo a movimentação de Zachary e a cena muda rapidamente. Ele dá
uma rasteira nela que desequilibra e eu aproveito para desviar da sua mira.
Tento ir em direção a ele, mas ela me segura pelo pescoço e aponta a arma
para minha cabeça.
— Pensou que iria escapar puta dos infernos? Agora tenho que matar os
dois. Que pena! Mas prometo que cuidarei do Zach filho como se fosse meu.
Maggie aponta a arma para Zachary, então vejo Nathan logo atrás dele.
Se ela errar o alvo, pode acertar o meu filho. Em um impulso, acerto-a
jogando minha cabeça para trás e ouço algo sendo quebrado,
provavelmente seu nariz. Com a força da pancada, fico tonta e meu
estômago embrulha. Zachary a derruba novamente a arma dela vai longe.
Ouço o grito dele e vejo-a apertando sua ferida para tentar fazer com
que ele a solte. Uma força inexplicável toma conta da minha mente e do
meu corpo, não penso duas vezes e vou para cima dela, acha que não sei
bater? Pego-a pelos cabelos e aplico outro soco em seu nariz que já jorrava
sangue.
— Jamais tente tomar um filho de sua mãe, cadela. — Chuto-a na
barriga. — Nunca ameace o amor da vida de uma mulher que já perdeu
muito.
Sempre me disseram que não se deve chutar quem está no chão, mas
nesse caso, acredito que seja exceção. Chuto-a várias vezes colocando toda
a minha raiva para fora, até sentir uma mão no meu ombro, assusto-me
chutando quem fez isso.
— Puta que pariu! — Coloco a mão na boca.
— Perdoa-me Luck. Perdoa-me. Eu me assustei e... — Ele coloca a mão
no meu ombro novamente.
— Calma, Lê. Acabou. — Olho para Maggie desacordada no chão e um nó
se forma na minha garganta e lágrimas cegam-me.
— Eu a matei? — Ele sorri.
— Não. Mas acho que ela não acordará tão cedo.
Zachary vem mancando até mim com Nathan chorando nos seus braços.
Não tinha visto que ele também tinha sido atingido na perna. Ele me abraça
e choro. Abraço os homens da minha vida e o beijo cada um deles sem
parar.
Eu quase os perdi e sinceramente, não sei se poderia viver se eles se
fossem.
Obrigada, Deus...
— Você salvou nossas vidas, anjo.
Os seguranças do prédio tomaram conta do lugar juntamente com a
polícia. Luck nos informa que a Ruth foi encontrada trancada e
desacordada na sala de mantimentos. King já tinha sido socorrido, já estava
a caminho do hospital e que Mike infelizmente veio a falecer. Vimos Maggie
ser retirada desacordada pelos paramédicos. Logo a polícia começa a fazer
perguntas para nós, mas eu não estava em condições de responder nada.
Tudo a minha volta começou a girar e fui ao chão, a última coisa que ouço, é
o choro do meu filho. Eu queria voltar para ele, mas infelizmente, não pude.
Abri os olhos e vi que não estava em casa, acho que é o hospital. Tento
virar minha cabeça para ver ao redor, mas isso exige mais força do que eu
tenho e sinto dores por todo o corpo. Mais uma vez, fecho os olhos, respiro
fundo e tento novamente olhar. Preciso saber do meu filho e de Zachary. Ao
canto do quarto, vejo Lorena dormir no colo de Ethan, ao lado deles, vejo
Margaret com Nathan dormindo tranquilamente em seus braços e Tyler ao
seu lado.
— Olá, Leticia. — Ouço uma voz tranquila e conhecida. — Olho para os
conhecidos olhos de Richard.
— Oi... Cadê... — Respiro fundo. — Cadê Zachary? — Ele dá um passo
para o lado e vejo meu marido na cama ao lado.
— Ele disse que só permitiria que o atendessem se vocês pudessem ficar
no mesmo quarto, porque ele precisava cuidar da esposa grávida. — Passo
a mão pela minha barriga.
— Será que está tudo bem?
— O médico nos disse que seu desmaio foi porque a adrenalina baixou
rapidamente. Desde que entrou no hospital, está no soro com vitaminas. —
Richard responde.
— Como está King? — Contemplo Zachary dormir pacificamente. Eu o
amo tanto, que chega a doer. Pergunto novamente para o meu sogro.
— Passou por uma pequena cirurgia para retirar a bala e está fora de
perigo. Já acordou querendo vim ver vocês e enquanto não viu Nathan, não
parou de se mexer. — Esse é o meu príncipe negro.
— E a Ruth?
— Ruth está bem. Não quis sair da cobertura até colocar tudo em ordem
novamente. Luck assumiu a segurança até o King voltar e já tomou as
providências para reforçar a segurança do Solarium.
Margaret se aproxima da cama e coloca Nathan nos meus braços. Não
consigo me conter e choro, mas dessa vez é de alívio.
— Ele está à espera da mamãe desde ontem. — Ela beija minha testa e
percebo que seus olhos estão vermelhos. — Obrigada por salvar a vida do
meu filho pela segunda vez.
— Como se sente, Lê? — Luck entra no quarto, vem até mim.
— Como se eu tivesse sido atropelada por um caminhão. E mais uma
vez, desculpe-me pelo chute. — Ele balança a cabeça.
— Não tenho porque desculpar. Você foi muito corajosa. Agora
descanse, quero levar vocês para casa o mais rápido possível. — Luck pisca
para mim e faz sinal para Richard e Ethan. Alguma coisa está acontecendo e
não acho justo eu ficar de fora.
— Luck. — Ele olha para mim. — Quero que você diga para mim o que
dirá para eles.
— Não acho... — Ele começa a falar.
— Não tem que achar nada. Apenas diga. — Ele me olha e acena.
— Maggie tentou fugir do hospital hoje e foi morta por um policial.
Eu sei que deveria sentir remorso, ódio, mas só sinto alívio. Será que sou
uma pessoa ruim por ficar aliviada com a morte de um ser que me trouxe
tantos problemas? Se for, peço que Deus me perdoe, mas eu, Letícia, só
viveria tranquila se Maggie não existisse.
— Algum problema? — Pergunto quando percebo seus olhares
apreensivos.
— Só temia pela sua reação. — Luck responde.
— Estão dando uma festa? Poderiam dar-nos licença? — Zachary fala
desviando nossa atenção para ele. — Quero ver minha mulher e meus
filhos.
Nesse momento, Phillip entra no quarto e pelo jaleco, deduzo que está
em serviço.
— Boa noite, pessoal. — Ele vem até mim. — Como está mamãe?
— Bem, eu acho... — Ele vai até Zachary.
— Seus ferimentos foram superficiais. Os arranhões mais profundos do
rosto não precisaram de pontos e os tiros foram de raspão. Amanhã pela
manhã já os libero para irem para casa.
— Zachary tem que ficar de repouso por pelo menos vinte e quatro
horas. Se liberarem antes, ele não fará isso... — Interrompo-o.
— Vocês estão aqui a mais de vinte quatro horas. Tivemos que sedá-la
porque ficamos com receio de acordar agitada e nos preocupamos com a
gravidez. Você sabe que os primeiros três meses são delicados.
— E King, como está? — Zachary pergunta.
— Reclamando, muito. Mas está bem, devo liberá-lo amanhã na parte da
tarde. Só que ele terá que fazer repouso por pelo menos vinte dias, nada de
esforço ou agitação.

——ooOoo——

Na manhã seguinte, fomos liberados e pudemos voltar para a cobertura.


Fomos recebidos em nossa casa com festa pela família. Ganhamos muitos
chamegos, abraços e até colo. Sentamos no sofá, Zachary e eu, Nathan
estava no colo da sua madrinha, contemplamos nossa família nada
disfuncional, é muita alegria para uma pessoa só e por vezes, não me acho
merecedora disso tudo. Os hormônios da gravidez se manifestam em
emoção, meus olhos umedecem, meu coração alegra em saber que eles
fariam qualquer coisa por nós.
Zachary coloca seu dedo sob meu queixo e traz meu olhar para
encontrar-se com o dele.
— O que foi anjo? — Desvio o olhar e balanço a cabeça.
— Nada... — Ele torna a trazer meu rosto novamente.
— Eu te conheço melhor que isso, minha esposa. Compartilha comigo o
que se passa nesse coração. — Seco minhas lágrimas.
— Eu sempre desejei ter uma família grande e barulhenta... — Ele
aponta para frente.
— Você tem. Olha esse bando de malucos. — Rimos. Ele pega minha mão
e a beija. — Por falar em maluco, estou pensando em ir morar em outra
propriedade. Acho que aqui já deu o que tinha que dar.
Seus olhos parecem tristes. Sei que comprar o Solarium foi uma
conquista para ele, também sei que ele cuidou de cada detalhe dessa
cobertura que é enorme.
— Não, aqui não deu o que tinha que dar. Aqui é nossa casa, Zachary,
ninguém pode ser tão importante a ponto de nos tirar do nosso lar. Tudo o
que aconteceu aqui, será apagado com muito amor. — Seus olhos brilham.
— Quando eu acho que não podes mais surpreender-me, você vem e faz.
Eu não sei se te mereço, Letícia, mas porra, eu sou o homem mais feliz do
mundo!
Epílogo
— Mãe, por favorzinho, vai falar com papai, peça para ele e o tio pararem
de assustar o Colin e o Paul.
Olho para o desespero da minha filha de dezesseis anos.
— Você sabe como seu pai e seu tio são superprotetores, Emma. Tenha
paciência. — Ela olha-me com seus grandes olhos verdes e fica com aquela
carinha de cachorro que caiu do caminhão da mudança.
— Eu gosto do Colin, mamãe. E se ele desistir de namorar comigo por
causa do meu pai?
Levanto seu lindo rosto, os ângulos lembram os meus, mas os de Emma
são perfeitos. Sua pele morena e seus olhos verdes com manchas
amareladas tem feito sucesso.
— Meu amor, se um cara desistir só porque o seu pai fez cara feia, é
porque não era forte o suficiente para você. — Abraço-a e descemos em
direção à sala da cobertura. — O que os homens da minha vida estão
aprontando? — Dirijo-me para os rapazes. — Você deve ser Colin e você o
Paul, acertei? — Ambos acenam que sim para mim. Estendo minha mão. —
Sejam bem-vindos.
Colin é um menino em torno de dezessete anos, alto para sua faixa etária,
cabelos castanhos claros e olhos castanhos, uma boca bem desenhada.
Emma tem bom gosto. Ele se levanta e estende-me sua mão.
— Sim, senhora. Agora sei de onde Emma herdou tanta beleza.
— Sério? — Sorrio e antes que eu falasse alguma coisa, Zachary se
manifesta. — Já não é o suficiente vir aqui cortejar minha filha de dezesseis
anos, agora você está cantando minha mulher? E você, rapaz, está aqui para
defender seu amigo? — Reviro os olhos.
— Não liguem para eles, meninos. Ava já deve estar chegando. — Volto-
me para os três homens que estão sentados no sofá tripudiando em cima
do nervoso dos rapazes. Via-se diversão nos olhos deles. — Até você
Nathan?
— Eu estou aqui só zoando, o papai e o padrinho King estão tirando com
os caras. — Zach Filho, como gosta de ser chamado, fala. Nathan está com
dezessete anos, ele é extremamente alto para qualquer média e músculos já
vem marcando seu corpo. Ele é tão loiro quanto seu pai, os olhos idênticos,
um senso de humor digno de um O´Brian. Esse garoto vem me dando dor
de cabeça, muitas meninas o procuram e bom, ele é filho de Zachary O
´Brian, conhecido por suas facetas com as mulheres. Aviso Nathan dia após
dia que é melhor ele se cuidar, sou nova demais para ser avó.
Nisso, Ethan, Lorena e Ava, entram. Minha afilhada é linda como a sua
mãe e alta como o pai. Ava também tem dezesseis anos, cabelos lisos,
pretos e brilhantes até o meio das costas, olhos verdes e uma pele
branquinha como a sua mãe. Os meninos são a cara do Ethan, Joshua e
Noah, hoje com doze anos, são terríveis. São nossa fonte de risos com seus
experimentos, são muito inteligentes, peraltas e lindos.
Kaleb entra com os meninos nos ombros e ostentando sua grande
aliança de casado. Sim, Kaleb se casou com a assistente ruiva do Ethan.
Sinceramente? Eu não casaria, mas... Ele coloca os meninos no chão se
coloca ao lado de King na porta de saída e cruzam os braços. Eu tenho dó
dos meninos que tentarem namorar essas garotas, esses pais, tios,
padrinhos são completamente insanos. Ava vem desfilando elegantemente
até mim e me abraça.
— Obrigada pela bolsa, madrinha, adorei!
— Fico feliz, minha flor. Emma e Ava, levam seus amigos até o jardim,
logo mando servir um lanche. — As duas me dão um beijo e se vão
animadas com os meninos. Vejo duas sombras se movimentando. — Podem
parar aí, senhores. Ninguém vai a lugar nenhum. Deixem as meninas em
paz lá em cima.
King caiu de amores pela minha assistente, já falei que assim abrirei
uma agência de casamentos. Lembro-me do dia que contratei Julia, eu
estava com alguns problemas para resolver rapidamente e a Lorena tinha
vindo aos Estados Unidos enquanto eu resolvia do Brasil. Julia estava de
férias no vilarejo e se prontificou a me servir, debaixo daquele sol. Mas ela
mostrou seus talentos burocráticos e então a amei a segunda vista. Liam, a
viu dois dias depois e foi amor à primeira mesmo.
Julia passou de minha assistente a executiva da Paradise, com isso, tive
que contratar uma nova assistente. Uma estagiária na Holding me chamou a
atenção pela sua organização e timidez.
Yume é uma linda japonesa, formada com honras em boas faculdades do
Japão e Estados Unidos, mas não tem ambição. Entrou na Holding e estava
feliz com apenas o estágio, roubei-a para mim e ela me surpreendeu. E
claro, surpreendeu a King também, devido ao trabalho, passavam muitas
horas juntos, muitas viagens e compromissos. Descobri sobre a paixão dos
dois por um acaso, não muito acaso, peguei os dois no maior amor em um
dos corredores da cobertura. Três meses depois, casaram-se, hoje, dez anos
depois, eles têm dois meninos lindos que amamos.
Ruth nos serviu até poucos anos atrás. Mas ela passou grande parte da
sua vida servindo a família de Zachary e achamos justo que ela fosse viver
sua vida. Isso durou até ela ir para o resort no Nordeste do Brasil, ela bateu
o pé e agora trabalha lá. Sim, porque Ruth é teimosa e não quer deixar de
trabalhar. Sorte a nossa, porque ela comanda as camareiras do resort e esse
setor foi premiado três vezes em seguida por causa dela.
Com a saída de Ruth, contratamos Lurah, uma recatada governanta
costa-riquenha de quarenta e poucos anos, mas muito enxuta para sua
idade e nem tão recatada assim. Bom, um dia comecei a perceber que Luck
não era mais o mesmo, andava cabisbaixo, até que um dia ouvi Zachary
conversando com King sobre o fato de Luck estar comendo minha
governanta, fiz os dois me contarem a história em detalhes.
Sei que o meu segurança poderoso ameaçou se matar porque a mulher
não arreda o pé para oficializar a relação. Homens! Depois de formar três
casais desisti de contratar funcionárias, sabe-se lá quem eu casarei em
breve.
Lorena e eu vamos para a sala de jantar, conversarmos enquanto os
homens ficam na sala.
— Por onde anda a tia Aurora e Phillip?
— Estão na África. Estou tentando convencê-los a voltar e espero que
você me ajude nisso.
— Não sei se será uma boa para Phillip. O trabalho é sua vida, com
aquela idade ainda tem pique para ir para África cuidar de pessoas e sua
mãe adora isso. De qualquer forma, conversarei com ambos.
Ethan e Zachary sentam ao nosso lado.
— Tenho uma surpresa para você daqui a quatro dias, Lê. — Zach fala.
— Surpresas vindas de você, ainda me assustam, marido.
— Lorena está a par de tudo, só siga as instruções. Pode me prometer
isso, amor meu?
— Posso... Acho que posso... Vou tentar. — Olho para Ethan e Lorena que
sorriem com tal cumplicidade que é bonito de se ver.
——ooOoo——
Quatro dias se passaram e sábado chegou. Lorena disse-me ontem que
eu deveria ter uma boa noite de sono e arrumar um pequeno nécessaire
com produtos de higiene. Ela passou pelo Solarium, por volta das onze da
manhã e fomos direto para um famoso salão de beleza de Manhattan. Eu
estava mais aflita do que curiosa.
Durante a tarde, recebi rosas coloridas com bilhetes, eu não precisava
ler para saber o que tinha, porque as cores das flores foram às mesmas do
dia que ele me pediu em casamento. Emocionei-me em cada rosa entregue
e a cada bilhete lido.
Em todos esses anos de casamento, Zachary tem cuidado de mim, zelado
pela nossa família. Mostrou ser o homem dos sonhos de qualquer mulher,
sempre me colocando como prioridade em sua vida. Nossos filhos tem o
melhor pai do mundo e ele os mima como se ainda fosse bebê.
Nathan é o rascunho de seu pai e Emma, parece-se muito pouco comigo,
mas lembra Zachary em tudo.
Depois de horas entre massagens, manicure, pedicura, cabeleireiro,
maquiador e pouca comida, levam-me até uma sala reservada, onde
encontrei o meu vestido de casamento e mais uma vez emocionei-me.
Lá, estavam expostos os mesmos sapatos, as mesmas joias e a mesma
grinalda que eu usei. Dentro de uma caixa entreaberta, estava uma peça de
lingerie bem parecida com a que eu tinha aquele dia.
Olho para a Lorena.
— Oh, meu Deus, Lolo! Será que ainda entro nesse vestido?
Ela também bastante emocionada vem até mim, pega as minhas mãos.
— Cabe sim, até porque mandamos reajustá-lo. Lê se fossemos colocar
tudo o que vivemos em papel, ganharíamos milhões com o livro. Tantas
histórias, tantas aventuras e desventuras. Agora, anos depois, estamos
novamente a um dos momentos mais importantes da sua vida. Eu continuo
te amando como irmã, amo aquelas pestes dos meus sobrinhos, que são
lindos como os pais. Seu marido é o louco mais fofo que conheço e o amo
por cuidar tão bem de você. Eu não posso falar nada do que te espera, mas
posso te adiantar, prepare o seu coração.
Abraçamo-nos e nos emocionamos juntas, como sempre. Ela ajudou a
me arrumar, foi fácil porque um pouco antes da maquiagem, estressei-me
com a lerdeza da pedicure e fui tomar um banho daqueles de lavar a alma.
Tiveram que arrumar o cabelo novamente. Fui para frente do espelho e me
vi há dezesseis anos, com Nathan sentado quietinho e eu grávida de Emma;
a caminho de selar o meu destino com o homem da minha vida.
Lorena estava com um vestido roxo, porque ela pode! Roxo é uma
daquelas cores que não cai bem em qualquer um e mais, se não souber que
peça usar, um pobre mortal como eu, pude sair de berinjela ambulante por
aí. Ela ainda ostenta o seu corte Chanel com muita elegância. Seu vestido é
longo, de um ombro só em renda.
Luck é o cavalheiro responsável por nos escoltar até o lugar, seja ele
onde for. Ele olha-me e beija minha face.
— Linda como no dia em que se casou.
No banco do carro, tinha um buquê de rosas coloridas à minha espera.
Enquanto rodávamos pela cidade, imagens da minha vida passavam pela
minha mente como em um filme. A gravidez de Nathan, meu casamento, o
nascimento de Emma e pela segunda vez um Zachary desesperado. O dia
em que ele chorou porque sua princesinha fez um presente de dia dos pais,
o dia em que Nathan foi pego com sua namorada em nosso quarto, Zachary
falou horrores e por fim, quando o menino saia na porta sem jeito, ele
levanta o antebraço e os dois batem dizendo “Mandou bem, filhão”. Quando
Tyler teve um acidente e viramos a noite em vigília junto com Margaret,
não arredamos do hospital enquanto ele não abriu os olhos. As
apresentações de sapateado da Emma, os jogos de basquete de Nathan, os
jantares em família...
Paramos em frente ao Rockfeller Center e olho para Lolo que pisca para
mim. Nossa equipe de segurança escolta-me até o terraço onde me casei.
Chegando à entrada, encontro King que me recebe de braços abertos.
— Hoje, sou eu que te levo princesa. E lembre-se, você pode desistir a
qualquer momento, te darei cobertura.
As portas se abrem e fico deslumbrada com o lugar, Zachary conseguiu
refazer a mesma decoração e a mesma música toca para minha entrada, The
Only Exception — Paramore.
Enquanto faço minha caminhada até o altar, vou revendo aqueles que
fizeram parte da minha história, Richard e Mary Ann, Margaret e Tyler, Tia
Aurora e Phillip, Ruth, Martino e Fiorela, Liam e Julia, Sebastian e seu novo
affair, depois de seu divórcio, ele passou por um momento confuso, agora
está se assentando. Sheik Bashir que mesmo velho, não perdeu a mania de
desfilar com suas novas esposas. Kaleb e sua esposa, Luck e Lurah, King a
Yume, Lorena, Ethan e seus filhos e por fim, meus filhos e meu marido a
quem amo com minha vida.
Zachary ainda continua muito bonito, seus olhos azuis tão brilhantes
como antes. Seus cabelos, agora um pouco mais curto, mas não menos
cumprido. As mechas prateadas saindo de suas têmporas, o deixa ainda
mais sexy. Seu corpo bem definido e sua boca que foi especialmente
desenhada para mim. Não é à toa que as revistas ainda o procuraram para
fotografarem. Meu marido, no auge dos seus cinquenta e poucos anos,
continua presente nas listas dos homens mais bonito e sexy. Um marido
devoto e exagerado, um pai dedicado e grudento. Sorrio ao lembrar que em
nossa casa ele instituiu como regra que todos façam as refeições juntos,
salvo em dias de atividades escolares. Ele zela por mim e mesmo depois de
todo esse tempo, ainda vela pelo meu sono.
Ele vem ao meu encontro, aperta a mão de King, beija minha testa e
estende-me seu braço. Caminhamos até o mesmo altar em que minha
cerimônia foi feita. Apertei a mão de Zachary, porque eu precisava senti-lo
ali, protegendo-me, como sempre nestes últimos anos. Sou dependente dele
emocionalmente, preciso saber que ele está bem para que eu esteja bem.
Tenho a constante necessidade de agrada-lo em tudo e ele a mim. Tenho
consciência de que não somos seres perfeitos, mas somos perfeitos um
para o outro.
A cerimônia de renovação dos votos foi bonita, houve uma parte em
especial do seu sermão que tocou meu coração.
— Estamos aqui para que Zachary e Letícia renovem não só os votos
matrimoniais, mas também, para afirmarem que uma vida juntos e felizes
em um casamento abençoado, é possível quando as duas partes se
empenham para isso. Mesmo sendo quem são eu nunca deixaram que a
essência da família fosse rompida, coisa difícil no mundo atual. Eu posso
ver nos olhos de ambos, o mesmo brilho que vi há tantos anos atrás no
casamento de vocês...
A hora das alianças foi especial. Nathan e Emma entram trazendo as
alianças ao som da música tema da Bela e a Fera, Emma entrega a sua ao
seu pai, que pega minha mão.
— Eu sou um dos poucos homens da Terra que pode dizer que casou
com seu primeiro e grande amor, tornando-o assim, único amor de sua
vida. Cada dia nesses anos que vivemos juntos eu tive certeza de que fostes
feita para mim. — Ele passa a mão pelo meu rosto. — Você hoje é ainda
mais bonita do que há dezesseis anos atrás, quando te desposei. Letícia, eu
te admiro como esposa e mãe, orgulho-me da mulher que és. Você fez da
nossa casa um lar, tu és o meu porto seguro para onde corro quando
preciso. Você não é o amor da minha vida, isso é muito pouco. Tu és o amor
da minha eternidade. Eu te amo e para sempre te amarei.
Não fiz questão nenhuma de secar minhas lágrimas, esse momento é
especial demais. Deixe que minhas lágrimas rolem e confirme a ele o
quanto o amo. Zachary leva a mão para seca-las, eu o paro e beijo-a.
— Não as seque, tenho que colocar essa alegria para fora de alguma
forma. — Nathan estende-me uma aliança e beija minha mão. — Amo a
vida que construímos juntos, amo a família que me destes, amo cada
momento, por menores que forem que me proporciona todos os dias.
Obrigada por ser meu companheiro de uma vida e me dar minhas
preciosidades. Agradeço a Deus todos os dias por tê-lo colocado em meus
sonhos e oro para que ele te proteja e o traga de volta para mim, todos os
dias. Eu te amo, Zachary O´Brian e sempre te amarei.
— Meu discurso seria, “pelo poder a mim investido, eu os declaro”. Mas já
declarei, agora quero abençoar vosso futuro. — O sacerdote fala. — Que o
nosso Senhor Jesus Cristo, mantenha a chama do amor em vossos corações.
Que essa nova etapa da jornada seja tão abençoada quanto a jornada
passada. Que o amor entre vocês continue crescendo e envolvendo a todos
em sua volta. Vocês são a prova de que, o que Deus uniu, o homem não
pode separar. Você pode beijar a noiva.
Zachary emoldura meu rosto com suas mãos.
— Eu queria te dizer tudo o que sinto usando todas as palavras
existentes, mas não é possível. Eu te amo é muito pouco e eu te amo tanto,
que o amor não cabe dentro de mim. Bendita Vitrine... — Ele beija-me com
paixão.
Diferente do dia do casamento, fomos direto para o salão juntos com os
convidados, as músicas não eram as mesmas, as fotos não eram as mesmas.
Mas, nenhum de nós é os mesmos de anos atrás. Zachary levou-me até a
mesa principal, que antes fomos cercados por nossos pais, agora temos
nossos filhos.
Distraio-me admirando meu marido, quando ouço um tilintar. Era
Nathan batendo um garfo na taça.
— Há dezessete anos, era o meu padrinho E. Quem fez o discurso. — Ele
aponta para Ethan. — Padrinho, eu te amo, mas aquele discurso foi
horrível. Minha madrinha gata arrasou. — Ele pisca para a Lorena. Meu
Deus eu tenho outro Zachary em casa. — Bom, achamos justo que fossem
Emma e eu porque somos testemunhas oculares da história dos meus pais.
Eu poderia passar horas aqui se tivesse que falar tudo, então, eu vou tentar
ser breve. Durante todos esses anos, nunca vimos nossos pais brigarem e
aprendi cedo com o meu velho, que a mamãe sempre tem razão... — Todos
riem e ele continua. — O que mais chamava minha atenção e ainda chama,
é o amor com que eles se olham até hoje. É como se ainda fossem
namorados. Somos a porra dos filhos...
— Nathan! — Repreendo-o.
— Desculpa mãe...
— Deixa o menino relembrar suas origens. — Ethan grita. — Foi daí que
ele veio mesmo.
Virou piada. Nathan continua.
— Somos as pessoas mais sortudas do mundo e as mais privilegiadas
por sermos seus filhos. Obrigado por existirem. Mais uma coisa. — Ele olha
para Zachary. — Eu tenho amigos que são gamados na coroa, se cuida
velho!
Emma se levanta seus longos cabelos castanhos, caindo em belos cachos.
— Minha mãe é exigente demais, mas não seríamos quem somos se não
fosse pelo seu empenho em nos fazer pessoas melhores. Sempre imaginei
os príncipes das histórias como o meu pai, que ia lá e regatava a princesa,
que nos meus sonhos, era minha mãe. — Ela seca suas lágrimas. — Eu amo
muito vocês...
Zachary a abraça e a coloca em seu colo. Ele a trata como uma menina de
dois anos.
— Eu também te amo bebê.
Nathan abraça-me com força, coloco minhas mãos em seu rosto.
— Obrigada por ser esse filho especial. Eu amo vocês, mais do que amo a
mim mesma!
Emma pula em meus braços.
— Eu te amo tanto, mamãe.
— Eu também, minha princesa.
Se me perguntarem se sou feliz, responderei sem pestanejar, eu sou a
mulher mais feliz do mundo!
Deus em sua graça compensou-me cada perda que tive; cada sofrimento
que vivi. Deu-me pessoas a quem amo e me amam, como sou, sem mudar
nada. Eu sou a prova viva que o amor pode superar tudo, até mesmo uma
aposta.
Sou sobrevivente de uma história cheia de perdas e privilegiada por ter
outros tantos ganhos.
A vida é difícil? Sim, ela é.
Mas viveria mil vidas se fosse possível.
Essa é a Vitrine da minha felicidade. FIM

Você também pode gostar