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A Vitrine - Katherine Laccom't
A Vitrine - Katherine Laccom't
A Vitrine - Katherine Laccom't
O dia não começou nada fácil, o condomínio sem energia elétrica eu tive
que descer dez andares de saltos altos, como se só isso não bastasse, o
trânsito estava completamente parado. Olho para o relógio.
— Putz! — Buzino na intenção de um milagre acontecer, estou atrasada
tenho uma reunião com Kevin há uma hora! Aquele americano não me
engana, o tom de voz me diz que voltou de viagem com alguma ideia
mirabolante, que provavelmente serei eu a responsável pela execução.
Estaciono meu carro na garagem do edifício da Global e saio em
disparada para o elevador, como não posso fazer essa coisa subir mais
rápido e nem posso teletransportar, vou passando a lista de tudo o que
tenho para fazer, e acredite coisas para fazer é o que não me falta.
Sou executiva com uma carreira meteórica, trabalhava para uma
indústria de descartáveis em Minas Gerais e em uma feira de negócios,
Kevin acompanhou de longe algumas negociações minhas, de oito contratos
que eu queria para aquele dia, fechei doze. Pouco tempo depois entrou em
contato comigo, oferecendo-me uma “nota preta” para trabalhar na
Globalspace. Sempre fui muito grata à empresa que me deu a chance de
desenvolver meu potencial e por essa gratidão, fiquei quase um mês
pesando prós e contras. Mas aqueles que um dia me contrataram porque
viram futuro em mim, disseram que não seria justo impedir-me de alçar
grandes voos e me deram carta branca, então assinei contrato com Kevin.
Um ano se passou e hoje, figuro entre os dez executivos mais importantes
do país.
Ocupo um lugar onde os homens são maioria, ser de pele clara é quase
uma regra, mas tenho orgulho em dizer, eu sou a contradição! Estudei
muito, batalhei o dobro, para estar onde estou. Nada veio de graça e nem da
cama de ninguém. Minha pele é negra, meus olhos castanhos amarelados se
destacam, meu sorriso é minha marca. Para mim, sorrir, é o primeiro passo
para ser feliz. Mas não meço palavras, todos sabem que não devem cruzar
meu caminho, costumo ser amiga e não boba, é bom não confundirem.
As portas do elevador se abrem e no caminho para minha sala vou
cumprimentado as pessoas que encontro, alguns se tornaram grandes
amigos, outros se tornaram minha família. Assim que entro em minha sala,
a secretária já vem em meu encalço.
— Letícia, o senhor Cooper está te esperando há quarenta e cinco
minutos.
— Lorena, o mundo não está cooperando comigo, por favor, pelo menos
você tem que me ajudar. — Coloco minha pasta e minha bolsa em cima na
mesa e já vou em direção à sala do Kevin.
Vi que há uma nova secretária para a presidência, qualquer dia desses
tenho que perguntar para alguém o porquê dessa rotatividade de morenas,
tipo dançarinas de Funk. Aproximo-me da nova menina
— Bom dia. Tenho um horário com o Kevin.
Ela sorri como uma boneca... Plastificada
— Senhorita Letícia? — Assim que a moça termina de falar, o presidente
da empresa sai de sua sala.
— Bom dia, Lê. Como está?
— Já tive manhãs melhores... — Ele estende seu braço para mim
— Mandei preparar um café da manhã especial na sala de reuniões,
venha.
— É bom que esse café valha a pena, senhor presidente. — Olho para ele
com descrença, não pelo café, mas pelo café na sala de reunião. Isso é uma
tática que usamos quando temos negociações difíceis
— Valerá, Lê.
Kevin tem por volta de quarenta e cinco anos, bem cuidado, pele clara,
cabelos escuros, olhos verdes, alto, um corpo esbelto para idade e aquela
barba bem cuidada o deixa muito charmoso. Sempre impecável na maneira
de se vestir e no modo com que trata as pessoas, gentil e generoso. Sua
esposa é uma graça, seus filhos não saíram diferente dos pais.
Entramos na sala de reuniões, que é toda em vidro transparente, no
meio do décimo andar, como se fosse uma bolha, ao centro da sala há uma
mesa retangular com doze lugares e um lindo café da manhã disposto.
Kevin senta na cabeceira e Jônatas seu assistente, puxa a cadeira à direita
para mim, uma das secretárias da diretoria entra para servir o café,
enquanto me dizem o motivo dessa reunião.
É tanta coisa gostosa que perco até o foco, mas a curiosidade está me
corroendo.
— Vai soltar a bomba agora no café ou vai esperar para o almoço?
— Preciso da sua ajuda com essa edição da vitrine.
— Você não me trouxe croissant de chocolate para pedir ajuda com a
vitrine, é o meu trabalho. — Pego mais um croissant, mas dessa vez de
chocolate.
— Quero que você seja a apresentadora dessa edição.
— Sabia que tinha alguma coisa por trás desse café, mas não acho que
seja sensato, não sou a pessoa mais indicada para isso.
— Quando se trata de negociação, você é a melhor e realmente preciso
da sua ajuda. — ele diz entre um gole e outro de seu café.
— Já te falei que não trabalho para o governo e nem com ele.
— A vitrine é um trabalho social para ajudar o seu país, trago grandes
empresários para investir aqui. — Kevin vira sua cadeira para ficar de
frente para mim e começa. — Você sabe disso, nos ajudou com algumas
parcerias que não só abriram mais vagas de empregos como também
pudemos ajudar toda a comunidade em torno dos projetos. Lembra-se
daquele projeto que você insistiu que adicionar o orfanato que tinha
próximo dali? A empresa não só reformou como adotou e hoje aquele lugar
é referência.
Agora o conterrâneo do Tio Sam pegou pesado, órfãos são meu ponto
fraco. Perdi meus pais muito cedo, como ambos eram filhos únicos, fui
morar com minha avó materna até que Deus a levou, eu tinha quatorze
anos. Um casal amigo da vovó me acolheu por dois anos. Meus pais e avó
me deixaram alguns bens, uma conta que me ajudou com os estudos e de lá
para cá venho me virando sozinha. Eu sei o quanto é difícil não ter família,
não ter um colo de mãe ou um irmão para implicar. Lembro-me de ter
chorado uma vez, minha avó disse que eu tinha que ser forte, porque a vida
não seria fácil, então não me recordo da última vez que chorei.
Graças a Deus nunca tive dificuldades financeiras, consegui dobrar o
patrimônio, vivi muito bem com o que me deixaram, até o dia em que
conheci o João Paulo. Eu estava terminando a faculdade de Direito, uma
romântica sonhadora, que fazia planos em se formar, casar, ter filhos, como
qualquer pessoa que passou boa parte da vida sozinha. João Paulo era meu
parceiro de estudos, estávamos sempre juntos, ele era lindo, loiro dos olhos
castanhos, pele bronzeada, me conquistou com seu senso de humor.
Começamos a namorar, depois de alguns meses ele veio morar comigo,
eu fazia tudo por ele, absolutamente tudo. No seu aniversário de vinte e
sete anos eu dei o carro dos seus sonhos, como meu dinheiro era aplicado,
tive que comprar financiado, mas qualquer sacrifício para o amor era
válido, assim pensava eu. Uma semana depois o telefone tocou, era um cara
querendo os documentos do carro que ele havia comprado do João.
Naquele momento percebi que não estava vivendo um conto de fadas e
piorou no dia seguinte, depois de um dia exaustivo no estágio, passei no
supermercado para comprar meu jantar e me deparei com uma cena de
horror. Uma das caixas estava comemorando a gravidez, dizendo que o seu
namorado comprou uma casa linda para morarem. Inocente, fui
cumprimentá-la, fiquei tão feliz por aquela menina, até que a mãe do João
entrou com uma caixa de presente linda com laço azul e entregou para a
menina no exato momento em que ele, João Paulo, pedia sua mão em
casamento para todos os que estavam no mercado ouvirem.
Meu mundo ruiu...
Eles não tinham me visto lá, eu precisava saber de toda a história e
principalmente, precisava saber qual era a casa. Fiquei esperando o
mercado fechar e ela sair, ela me conhecia só que não sabia que meu
namorado era ele. Convidei-a para jantar, ela aceitou e fomos para um
restaurante perto de onde estávamos. Em três anos do meu casamento, ele
estava com ela há um ano, as famílias conviviam juntas, faziam planos para
o futuro dos dois.
Meu Deus, até onde vai à maldade das pessoas?
Engoli todo o ódio e a vergonha de ter fracasso. Perguntei da casa e ela
detalhou a casa que terminamos de construir a poucos dias. Nós, não, eu
construí, sozinha, um belíssimo sobrado em um bairro muito valorizado em
Três Corações. Pensei seriamente que seria meu fim, doía tanto!
Corri para casa, eu tinha que encontrar os documentos que provavam
que as coisas eram minhas e tive outra surpresa, do pouco que eu dividia
com ele, nada mais era meu. Cogitei a ideia de me matar, de esperar ele
chegar da suposta viagem e tirar tudo a limpo.
Mas para que tudo isso se a maior prejudicada seria eu?
Ele sabia da casa em que moramos e da que foi construída, a primeira
estava em seu nome e a segunda no nome da garota grávida. Eu não sabia o
que sentia, tinha vontade de morrer, de matar, de gritar, mas eu apenas
chorava. Passei uma noite inteira me lamentando, perguntando-me como
nunca percebi sua falta de caráter e no fim das contas vi que não adiantava
chorar, eu tinha que agir.
Eu não tinha muitas coisas para juntar, nunca fui uma pessoa de guardar
lembranças, o pouco que tinha era o suficiente para mim. Arrumei minhas
malas, reservei um hotel e comprei uma passagem para Belo Horizonte. A
casa recém-construída era financiada, se ele pagasse, ficaria nela, caso
contrário o banco a tomaria. A casa em que morávamos eu não pude fazer
nada, mas tinha dinheiro o suficiente para mandar alguém fazer.
E mandei, não sobrou nada que ele pudesse lembrar.
Os dias que se seguiram, foram os piores da minha vida, trancada em um
hotel, num lugar que não conhecia ninguém, sem vontade de sair na rua
para caminhar, era apenas eu e eu, mais uma vez. Meu coração sangrava,
perdi peso, me tornei um fantasma, estava à esperada de algo acontecer,
seja para o bem ou para o mal.
Uma das camareiras do hotel sentiu pena de mim, ela trazia minhas
refeições, falava sempre palavras de carinho. Com o tempo fui me abrindo e
contando tudo o que vivi até ali, ela me abraçou enquanto eu colocava o
resto das minhas amarguras para fora e tudo mudou quando ela disse: —
Agora que seu luto se dissipou você pode voltar a viver. Você é mais forte
do que pensa menina, chegou a hora de renascer.
Eu nunca me esqueci disso. Daquelas palavras!
E como se alguém tivesse ligado o interruptor da minha vida, eu renasci.
Sai do hotel, aluguei um pequeno flat, conheci pessoas, distribui
currículos e voltei a ser eu!
Em poucos dias fui contratada para trabalhar no departamento de
recursos humanos de uma indústria de descartáveis, fiz a prova da Ordem
dos Advogados, peguei minha carteira e fui promovida pela primeira vez.
Usei o meu sofrimento para crescer, trabalhei meu psicológico ao
máximo para que as más experiências não rejam minha vida e consegui.
Hoje sou inteira, tenho as rédeas da minha vida, sou bem resolvida, sem
ressentimentos, sem amarguras e sem um coração partido, esse último que
não pretendo dar a chance de se arrebentar uma segunda vez.
Volto para a realidade e vejo o brilho nos olhos do meu chefe,
aguardando a resposta.
— Eu vou Kevin, farei o meu melhor porque adoro um desafio. Mas não
me chantageie com os órfãos no futuro, já usou toda sua cota disso.
Jônatas coloca algumas pastas a minha frente.
— Aí estão todas as informações sobre os convidados, um mini dossiê
para você se ambientar melhor.
— Vou apresentar projetos ou serei espiã?
— Lê, obrigado por aceitar a participar desse projeto. — Kevin coloca
sua mão em cima da minha. — Sei que você está cheia de compromissos e
terá que abrir mãos de alguns para fazer isso. Vou te recompensar muito
bem...
— Meu querido, nada de recompensas, sou profissional demais para
isso. — Dou duas batidinhas na mão dele. — Meus serviços têm preço,
meus honorários são caros. Não vou só apresentar os projetos, vou
convencê-los de que o Brasil, mesmo em crise é um dos melhores lugares
do mundo para investir. Já tem data marcada?
— O encontro acontecerá daqui dez dias.
— Será aqui no Rio mesmo?
— As negociações começam na quinta-feira e serão aqui sim. No sábado
embarcam para Fortaleza para o final de semana, na segunda-feira
almoçarão com a Presidenta, então, voltaremos ao Rio para os acertos dos
investimentos. Se tivermos algum interessado, claro.
— Que confiança, hein? Senti daqui a positividade. — Pego as pastas e
mais um croissant e vou para minha sala organizar meus compromissos.
Não será fácil trazer os seis para cá, se eu conseguir pelo menos dois com
esse cenário político, já ficarei satisfeita.
No meio tarde fiquei curiosa sobre meus convidados, abrindo a primeira
pasta, começo a rir, um sheik de quarenta e cinco anos, com oito esposas.
Investimento de risco é com ele mesmo.
Se os outros seguirem a mesma linha, será uma Vitrine muito divertida,
vou deixar para estudar as personalidades em casa, muita coisa para
assimilar e várias estratégias a traçar.
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
Estou correndo entre as árvores, é noite, piso em meu vestido branco que é
longo demais e caio, enquanto um arrepio corre o meu corpo. Olho para os
lados porque sei que ele está por perto e sei que ele está aqui por mim. Olho
para o meu pé descalço e um pouco machucado, lágrimas brotam dos meus
olhos e as palavras saem da minha boca.
— Eu preciso tanto de você... Por favor...
Uma mão toca no meu rosto, para secar minhas lágrimas, sinto-me
confortada. Levanto a cabeça e vejo aqueles olhos que me prendem, passo a
mão por aquele rosto desconhecido e novamente as palavras saem sem
permissão.
— Eu preciso de você...
Mãos fortes rasgam meu vestido, meu corpo fica à mostra. Todo o lugar
que estava no breu, é iluminado por uma luz vermelha e a luxuria toma conta
do meu corpo. Assalto sua boca sem piedade e ele ao meu corpo, toma de mim
o que quer, quando eu estava prestes a ter um orgasmo, toda a cena muda.
Tudo voltou a ficar escuro, aquele ser me empurra e acabo caindo no chão,
com o rosto no pó.
Não entendo o que acontece, por que isso?
Abro os olhos e me dou conta que foi somente um sonho ou um
pesadelo, levanto e sento-me na espreguiçadeira que fica na sacada, ouço o
barulho mar que me acalma. A brisa resfria meu corpo que estava quente
por causa daqueles olhos azuis, novamente.
Preciso encontrar um psiquiatra, isso sim!
Não fui para empresa de manhã, preferi ficar em casa e trabalhar nos e-
mails para os empresários de lá. Chequei o conteúdo que cada um irá
receber, são iguais na maior parte do arquivo, mas tem algumas
peculiaridades em cada mensagem, programei o dia e a hora para serem
enviados automaticamente.
Assim que sento na minha cadeira no escritório, Lorena me aparece com
um café.
— Obrigada, estava precisando.
— Está tudo certinho, Lê?
— Tudo na santa paz.
— Ah, antes que eu me esqueça, minha mãe mandou um recado, disse
que quando temos esse tipo de encontro, é um sinal do destino. Esses olhos
têm dono e provavelmente ele está vindo ao seu encontro também.
— De onde sua mãe tira essas coisas? — Ela dá de ombro.
— Não sei, mas, ela costuma acertar. Deixa-me terminar o pensamento
dela, a missão de ambos é encontrar-se e quando esse encontro acontecer,
seu destino será selado.
Um calafrio sacudiu meu corpo e eu me benzo.
— Credo! Sua mãe tem que parar de falar essas coisas e você têm que
parar de me falar essas coisas.
— Já parei! O senhor Kevin esteve à sua procura, como você não estava,
deixou um recado. Os convidados começaram a chegar quarta-feira pela
manhã, as reuniões continuam como foram programadas, a primeira na
quinta-feira às duas horas da tarde.
— Ok, obrigada.
— Que desanimo, qual é o problema, Lê?
— Nenhum. Não dormi direito. Lorena dá uma olhada na minha agenda,
tenho quase certeza de que tenho uma reunião importante por esses dias.
Se caso tiver, remarque, por favor.
— Ok.
— Lolo, minha agenda está muito cheia agora à tarde?
— Não, só algumas ligações.
— Vou fazê-las agora e depois nós duas vamos sair, vamos às compras!
Lorena pula como uma menina, ela é tão bonequinha, que dá vontade
apertar. De repente me olha séria e pergunta:
— O que vamos comprar?
— Hoje acordei precisando me sentir sexy, pensei em irmos aquela loja
do shopping ver algumas lingeries, ir aquela boutique da sua amiga e
depois um lanche, o que acha?
— Se prepare para a primeira ligação Xena. — Xena é personagem do
seriado, “Xena, a Princesa Guerreira”, onde ela se redime do seu passado
violento, ajudando quem precisa. Desde o dia em que começamos a assistir
o seriado, Lorena me chama de Xena ou amazona.
Logo me passa as primeiras ligações, entre uma e outra, vou
respondendo alguns e-mails. Do nada, veio uma vontade de saber a
procedência daqueles olhos azuis, se nossos destinos forem selados,
melhor eu tomar conhecimento da peça logo. Assim que digito Homens com
olhos azuis intensos, se abrem várias imagens e no meio delas, aquele que
tem me perseguido. Exatamente na hora em que eu clico em cima da
imagem, meu computador desliga.
— Isso só pode ser brincadeira — Levanto-me e vou até a porta saber o
que anda acontecendo. — Lolo, o que houve?
— O que houve aonde?
— Seu computador está funcionando?
— Normal.
Volto, sento na minha cadeira e fico a olhar o computador reiniciando.
Eu não acredito em espíritos e fantasmas, mas estou repensando
seriamente minha opinião.
Ou eu sou apenas muito azarada mesmo...
Capítulo 3
Os dias passam voando e os trabalhos para a Vitrine, se intensificando.
Vou ao encontro de Kevin na sua sala.
— Boa tarde Kevin.
— Boa tarde, Lê. — Ele se levanta para me cumprimentar. — Tudo certo
para irmos ao hotel? Ethan vai desembarcar lá pelas três da tarde, ele é o
primeiro a chegar.
— Tenho uma reunião importante do Grupo Rebouças, mas Lorena vai
com você. Ela está por dentro de tudo, cada detalhe.
— Ótimo, mas no jantar você estará presente, não é?
— Claro que sim! Ethan já me mandou um e-mail antes de embarcar,
exigindo minha presença.
Lolo é meu braço direito, esquerdo e as duas pernas, somos uma equipe.
Kevin já tentou promovê-la diversas vezes, outros departamentos a
procuraram, mas a menina não me larga por nada. Sua formação acadêmica
permite que ela seja promovida a executiva, mas por escolha, ela prefere
me ajudar. Há pastas que só faço negociações, o resto é com ela. Há
contratos que levam a assinatura dela também, uma excelente profissional,
não haveria porque limitá-la. Nos meus trabalhos fora da Global, ela está
comigo também e às vezes tenho a impressão que muitos preferem lidar
com ela a lidar comigo.
Nos despedimos e fui para minha reunião, passei a tarde inteira
negociando novos contratos e renegociando dívidas, pode não parecer, mas
é muito cansativo, ainda mais quando somos contratados somente para
isso.
Já em casa, tomo um banho, enrolo-me no roupão e sento na varanda
com uma xícara de café, ainda bem que deu tempo para descansar. Meus
pensamentos viajam e os olhos azuis aparecem. Chega! Esses delírios estão
acabando comigo.
Vou para o closet escolher uma roupa, de preferência bem comportada,
Ethan não é confiável perto de brasileiras. Olho entre meus pretinhos
básicos, até porque a cor combina com meu humor. Peguei um vestido de
um ombro só, a parte de cima franzido, acinturado, saia godê, na altura do
joelho. Cabelos soltos, um pequeno brinco, pouca maquiagem, pulseira,
anéis de ouro e sapato azul bic.
Prefiro pegar um táxi para ir ao hotel, não gosto da ideia de dirigir tarde
da noite, ainda mais aqui no Rio. No caminho vou absorta nos meus
pensamentos, jamais pensei um dia ser quem sou, estar onde estou, nunca
pensei que sobreviveria. Sempre encarei minha vida sendo curta, não faço
planos em longo prazo, no máximo três meses. Estou sempre com um pé
atrás com todo mundo e com um pé na frente dos negócios.
O táxi para na frente do hotel, alguém abre a porta para mim, desço e
vou até o saguão. Enquanto estou esperando alguém me atender, um
arrepio corre pelo meu corpo e reconheço que é o que sinto nos meus
sonhos.
Olho para os lados a procura daqueles olhos azuis, meu coração
disparado e meu corpo em alerta, me dizem que tem algo por aqui. Viro em
direção aos elevadores e o vejo, o dono do olhar que me persegue há dias.
Ele existe!
Fico estática, chocada, sem conseguir desviar os olhos dele. As postas do
elevador se fecham e meus pés sem ordem nenhuma começam a marchar
para o elevador.
— Letícia!
Assusto-me e olho na direção da voz, é Lorena.
— Lolo, ele existe... — Ela segura em meu braço.
— Lê, você está pálida. Quem existe? — Aponto para o elevador.
— Os olhos azuis, o dono dos olhos que te falei, está aqui no hotel...
— Estão te esperando no restaurante mulher, o senhor Scott, aquele
gostoso não para de perguntar por você. — fecho os olhos e concordo. Vim
aqui a trabalho, não posso me distrair...
Dirigimos-nos até o restaurante, lá encontro o Kevin e a esposa, Ethan e
um de seus assistentes. Assim que ele me vê, levanta-se e vem em minha
direção de braços abertos.
— Letícia — Aquele jeito de falar dele, português americanizado é um
charme.
— Como está, Ethan?
— Melhor agora com você nos meus braços.
Desvencilho-me do seu abraço pegajoso e cumprimento os outros da
mesa. Conversamos, fizemos nossos pedidos e não gostei nada dos olhares
trocados entre Lorena e Ethan.
O jantar estava agradável, mas tive que lutar muitas vezes para não me
levantar dali e sair em busca daquele homem.
— Letícia?
— Oi?
— Que tal prestar atenção aqui um pouquinho? — ela baixa a voz,
somente eu a ouço. — Quer que eu vá investigar onde o olhos azuis está?
— Desculpem-me. — Todos da mesa estão olhando para nós, que
vergonha. — O dia foi cheio e estou um pouco cansada.
Kevin e sua esposa se despedem e saem o assistente do Ethan, Mark,
também se despede e parte. Nós fomos para a parte aberta do restaurante,
as noites do Rio são agradáveis demais para ficarmos enfornados na parte
interna.
Estou gostando de ver Lolo rir, flertar, se não fosse ele, eu faria muito
gosto. Mas o senhor Scott só quer saber de brincar e Lorena é menina para
compromissos sérios.
Já estava para me despedir, quando alguém aparece.
— Ethan — Todo meu corpo respondeu na hora.
Viro-me para ver quem era e dou de cara com aqueles olhos azuis, que
nessa iluminação ficam mais escuros e assustadores, eu os reconheceria até
na intensa escuridão. O homem é alto e forte, seu perfume toma conta do
lugar, estou... Hipnotizada...
— Hei cara, não sabia que já estava aqui, se soubesse teria convidado
você para jantar conosco. — Ethan fala.
— Você sabe que não misturo negócios com prazer. — Os dois homens
se cumprimentam. Ele me olha dos pés à cabeça. — Apesar de que suas
amiguinhas são lindas. Quantas vezes falei para não envolver as
acompanhantes em viagens de negócios, quer tê-las na sua cama tudo bem,
mas expor, pode ser um problema.
— Lê, é impressão minha ou esse aí está nos chamando de prostitutas?
— Lorena me cutuca e pergunta.
— Não foi impressão.
— Se você subir comigo, garota, eu te darei uma noite inesquecível e a
recompensarei muito bem. — O homem dos misteriosos olhos azuis se
aproxima, passa seu dedo pelo meu rosto e propõe.
Aproximo-me mais, passo as mãos pela sua camisa.
— Seria um prazer cuidar de você, senhor. Mas infelizmente não tenho
mais horário, agenda cheia. Sabe como é! — Despeço-me do Ethan, pego
Lorena pelo braço e saímos dali.
— Letícia de Deus, o que você fez?
— Não sei, era aquilo ou tapa na cara.
— Lê...
— Vamos para casa, estou cansada, não consigo pensar direito e a
decepção foi grande. Só de pensar que quando o encontraria seria mágico,
que aqueles olhos azuis seriam minha perdição. Eu tenho o dedo podre
mesmo...
— Ele é o cara dos olhos que você anda sonhando?
— Sim...
— Você não sabe quem ele é?
— Não, agora não quero saber e tenho raiva de quem sabe.
Dois táxis encostam ao mesmo tempo, dou um abraço em Lolo e vou
embora frustrada, porque eu queria aquela noite inesquecível, queria
aquelas mãos pelo meu corpo. Tenho que esquecer isso e me focar no meu
trabalho, a partir de amanhã pelos próximos dias, respirarei a Vitrine, até
todos partirem de volta para seus países.
Assim que entro em casa, tiro a roupa e vou para o banho quente, não
resisto e me toco. Aquele olhar, aquelas mãos, aquele um milésimo de
toque no meu rosto foi o suficiente para me desestabilizar.
——ooOoo——
Minha noite foi agitada, virando de um lado para o outro sem parar.
Levanto antes de o meu despertador tocar, coloco uma roupa confortável,
um tênis e vou correr na praia, gastar minhas energias. Alterno entre
caminhar e correr. Alongo-me e continuo meus exercícios. Minha finalidade
é me esfriar, entrar no papel de executiva, me focar no profissionalismo.
Estou saindo do chuveiro e ouço meu celular tocar, olho no visor e vejo
que é Kevin.
— Bom dia, boss, em que posso ajudá-lo?
— Bom dia, Letícia. A que horas pretende chegar ao hotel?
Pelo tom de voz a coisa não está boa. Olho a hora.
— Daqui duas horas, Kevin. Combinei de almoçar com a Lorena antes da
reunião.
— Tudo bem, se puder chegar antes para conversarmos, agradeceria
muito.
— Estarei aí em uma hora. Até daqui a pouco.
Não sei o motivo do mal humor, está tudo conforme o planejado, nada
saiu errado até aqui, deve ser o nervosismo. Não estou nervosa, estou
ansiosa, não vejo à hora de começar. A corrida me ajuda justamente nisso,
não há nada mais letal para negociações do que a ansiedade, isso faz com
que a gente ceda antes do necessário, não enxergue melhores
oportunidades. Quando vamos enfrentar os grandes, como é o meu caso
hoje, não pode mostrar ansiedade, até porque em qualquer sinal de
fraqueza, eles me devorarão.
Escolho um tailleur e saia lápis em preto, sapatos altos, apenas um
brinco, a sobriedade faz muita diferença. O cabelo preso em rabo de cavalo,
maquiagem básica e a autoconfiança lá em cima.
Assim que chego ao hotel, vou ao encontro do Kevin na sala de
conferências reservadas para a Vitrine. Os seguranças já estão a postos e
fazendo seu trabalho, perfeito! Eu me preocupei com cada detalhe desse
encontro, até ajudei a selecionar os seguranças, acompanhei a varredura do
local ontem, outra deve ser feita daqui a pouco, temos a polícia em alerta
fora do local e tudo está indo perfeitamente bem, graças a Deus!
— Oi, Lê, senhor Cooper está tenso, o homem vai enlouquecer meio
mundo. — Lorena vem ao meu encontro. — Já pensei em providenciar
camisa para o coitado...
— Letícia!
— Boa sorte! — Lorena levanta me cutuca e fala.
— Oi Kevin, estamos tendo problemas?
— Não, por isso estou nervoso, nada dá errado, isso é um mau sinal.
Como pode ser mau sinal as coisas darem certo?
— Vem comigo, vamos beber algo e comer alguma coisa, senhor
presidente. Está muito tenso.
— Não estou com fome, Letícia. Prefiro ficar aqui até começar a reunião.
— Nada disso Kevin, você almoçará comigo e Lorena. Temos seus dois
assistentes de olho naquilo, se algo der errado, nos procurarão. Você já
deveria ter aprendido que comigo as coisas são assim, nada passa em
branco, cada detalhe, cada nuance está conferido.
— Em todas as edições tivemos problemas ou imprevistos e esse está
tudo... — Ele arruma o terno. — Certo. Está tudo certo, para mim é difícil.
Enquanto vocês se sentam, vou ao toalete.
— Lorena? — ela está mais distraída do que de costume.
— Sim?
Analiso-a de cima a baixo e os olhos brilhantes entregam a boneca.
— Qual é o nome do boy?
— Hã?
Começo a rir, isso é o que falamos quando queremos ganhar mais tempo
para pensar em uma boa desculpa.
— Nomes Lolo.
— Promete não ficar brava comigo? — Ela junta as mãos como se fosse
rezar — Por favorzinho?
— Prometo não surtar.
— Ethan...
Eu deveria ter imaginado, sorrio e aceno. Neste momento, Kevin volta à
mesa e fazemos nossos pedidos.
— Sábado pela manhã embarcamos para Fortaleza, reservei toda a
primeira classe para levá-los. Segunda- feira nós teremos um almoço com a
Presidente em Brasília, depois retornaremos ao Rio. Se algum deles se
interessar pelos projetos, terça- feira voltaremos as negociações.
— Só uma coisa, eu não precisarei ir a Fortaleza e nem para Brasília, não
é?
— Não precisará assim vocês descansam um pouco.
— Obrigada, senhor Cooper. — Lolo agradece.
O almoço só não foi mais tranquilo porque o Kevin não parava de
balançar a perna, isso estava me irritando já. Mas meus pensamentos
estavam voltados a Lorena e Ethan, eu me preocupo com ela e levando em
consideração como ele é não sei se será uma boa ideia. Deus a proteja de
qualquer mal.
— Antes que eu me esqueça Letícia. Reservei um quarto, se quiser
descansar ou mesmo passar a noite durante esses dias, é seu e da Lorena.
Por essa eu não esperava.
— Obrigada Kevin.
——ooOoo——
——ooOoo——
— Nossa mesa está esperando, Letícia. — Liam toca meu braço com
delicadeza. — Vamos?
Examino o salão para ver se tudo está em ordem. Quase todos os
convidados já se recolheram aos seus quartos, sobrando apenas Zachary e
Ethan confabulando em um canto, alguns de nossos assistentes estavam
organizando as coisas para a reunião pela manhã e o lindo irlandês
esperando-me para jantar.
Fomos até um dos melhores restaurantes da cidade que fica no próprio
hotel. Nos levaram até uma mesa de canto, onde poderíamos ter um pouco
de privacidade.
Liam é um cavalheiro, seu sorriso aquece meu coração, muito doce.
— Fico feliz que tenha aceitado meu convite Letícia. Fiquei encantado
com esses olhos, há momentos que parece amarelo ou dourado, como olhos
de gato.
— Obrigada, mas falar assim me deixa pouco à vontade.
— Não pude deixar de perceber que seu inglês é perfeito e pelo modo
com que fala, deduzo que já morou na América. — ele segura meu olhar.
— Fiz um curso de Relações Internacionais durante três meses lá. Os
melhores dias da minha vida e desde então, sempre que tenho folga, é para
lá que vou.
Meu sonho era conhecer Nova York, andar pela Quinta Avenida e
trabalhar na Wall Street. Para mim, Letícia, esse é o ápice que um executivo
pode alcançar: Ser bem-sucedido na capital do mundo.
Há alguns anos atrás fiz inscrição para um curso de extensão em
Harvard, sem pretensão alguma. Na verdade, na minha pobre concepção,
era só pelo prazer de que tinha boas notas para tentar, só por isso fiquei
uma semana com um sorriso besta no rosto.
Então, em um belo dia recebi uma carta de uma das instituições de
ensino mais importante do mundo, dizendo que fui aceita para fazer o
curso de Relações Internacionais. A alegria era tão grande que chorei e
pensei nos meus pais, eles estariam orgulhosos da filha que tinham.
Estariam...
Naquele dia, fui até Kevin, decidida a pedir demissão para fazer o curso,
eu iria para os Estados Unidos de qualquer maneira. Ele não somente me
apoiou como exigiu que eu me hospedasse em seu apartamento. Era
pequeno, mas muito bem localizado. Lorena embarcou comigo nessa
jornada estudantil, aprimoramos nosso inglês, até porque saímos daqui só
sabendo o básico para comer, egg, milk, water, bacon e bread. De fome
ninguém morreria.
Bons tempos, bons contatos e ótimos passeios. Jurei a mim mesma que
um dia moraria lá e estou no caminho de adquirir meu primeiro imóvel em
Nova York, mas especificamente de frente para o Central Park.
Com a crise lá, os valores dos imóveis despencaram e Kevin acha que
está na hora de se desfazer do apartamento, logo farei minha proposta para
comprá-lo. Nesse meio tempo, também descobri que adoro a bolsa de
valores, aprendi como jogar e não é que deu certo? É meu passatempo
preferido. Ninguém sabe que tenho um bom dinheiro, nem mesmo a Lolo.
Mas posso me dar o luxo de fazer o que bem entender na vida. Sou sozinha,
não sei se terei a oportunidade de ter filhos e quando chegar minha hora de
partir dessa vida terei a certeza de que aproveitei tudo o que quis. Tudo
bem que se o Kevin me vender o apartamento serei pobre novamente, mas
uma pobre em Nova York!
O garçom se aproxima e tira-me do devaneio, fizemos nosso pedido e ele
se retira. De repente, todo ambiente muda, o restaurante fica em silêncio.
Ouço risadas, olho para minha esquerda e ele estava lá, muito próximo
da sua assistente, aliás, até onde pude perceber a única mulher entre
quatro homens que vieram na delegação dele.
Zachary não é um tipo comum, os traços delicados contrastam com a
força. O seu olhar é forte e sua boca, seus lábios finos, o deixa ainda mais
poderoso.
— Pelo jeito Zach está aproveitando a viagem. — Liam fala.
— O hotel é lindo, a cidade é maravilhosa, seria um pecado vir ao Rio de
Janeiro e não aproveitar.
— Vocês se conhecem há quanto tempo?
— O conheci hoje. — essa conversa não está indo para um bom lugar.
— Interessante. Tive a impressão de que se conheciam há mais tempo.
Aonde o irlandês gostoso quer chegar? Arrumo-me na cadeira, e cruzo
minhas mãos no colo.
— Todos são cheios de impressões e achismos.
— Talvez. —Liam olha além de mim e fala. — Zachary é um daqueles
tipos que se devem ter distância. Ele não se importa de passar por cima de
tudo e de todos para conseguir o que deseja. Ele é bom colega, mas no que
se refere às mulheres e aos negócios, ele é implacável. Gostaria de saber por
que ele não tira os olhos de você.
— Porque sou a hostess mais sexy que já tiveram ou talvez seja apenas o
fato de um milionário jantar com uma pobre mortal. — Meu coração bate
um pouco mais forte que o normal e controlo-me ao máximo para não me
certificar de que ele está falando a verdade. Prefiro só dar uma resposta e
mudar de assunto.
Liam solta uma risada deliciosa.
— Você é mortal, mas não nesse sentindo — Ele pisca para mim,
levando-me a sorrir também.
Depois do jantar, estávamos parados em frente aos elevadores, assim
que a porta se abre Lolo sai.
— Já ia te procurar, Lê. Suas coisas estão na suíte, aqui a chave. — Ela
me dá um abraço. — Desculpa, mas tenho um compromisso.
Não deu tempo nem de agradecê-la, pois ela saiu apressadamente.
Estranho. Algumas pessoas entraram conosco no elevador, o que o deixou
cheio de mais, Liam ficou ao meu lado, mas um pouco mais a frente.
Quem se colocou atrás de mim, ficou próximo demais. Não precisei olhar
para quem era, eu já sabia, reconheceria esse perfume em qualquer lugar.
Meu coração acelerado não estava me ajudando, passei a mão no
pescoço, o desconforto estava grande. Fechei meus olhos e tentei não
respirar, porque ele mexe com algo em mim que não entendo.
— Espero que o casal tenha tido um bom jantar. — sua voz reverbera
pelo meu corpo, fazendo os cabelos da minha nuca se arrepiar.
— Nosso jantar foi excelente, Zach e pelo visto o seu também. — Liam
responde.
— O meu foi prazeroso, Larkin.
O elevador para no meu andar e saio sem dizer uma palavra a ninguém e
assim que as portas fecham solto minha respiração que nem tinha
percebido que estava segurando. Corro para a segurança da suíte, preciso
tomar um banho, relaxar e pensar.
Já deitada, peço para a recepção passar a ligação para o quarto do Liam,
foi muita falta de educação da minha parte fugir daquela maneira, ele
merecia uma explicação.
— Suíte do senhor Larkin. — Um homem atende.
— Boa noite, Liam se encontra?
— Neste momento ele está em videoconferência, gostaria de deixar
recado?
— Poderia dizer que a Letícia ligou para dar boa noite? Obrigada.
Viro para o lado e fecho os olhos na intenção de dormir. O que demora a
acontecer e logo aquele espetáculo de homem, com aqueles olhos azuis
figuram no palco do meu sonho, fazendo-me despertar ofegante.
Eu não sei como isso é possível e não faço a menor ideia do que está
acontecendo comigo. Mas de uma coisa tenho absoluta certeza, tenho que
me afastar de Zachary Thorton O´Brian, senão, ele será minha sentença de
morte!
Capítulo 5
Acordo com o meu celular despertando, são raras essas ocasiões, mas
minha noite não foi tranquila, acordei várias vezes.
— Bom dia flor do dia!
Lorena me fala com bom humor, e eu a retribuo com menos empolgação.
— Bom dia.
— Cheguei cedo, você ainda estava dormindo, então pedi seu café da
manhã no quarto.
— Obrigada Lolo. Minha noite foi agitada, estou um pouco ansiosa.
Ela me alcança um lindo buquê de flores do campo.
— Chegou agora pouco para você, do senhor Larkin.
Pego o cartão para ver o que diz, acredito que essa seja sua caligrafia, é
muito elegante.
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Sou um empresário de trinta e nove anos, um metro e noventa e dois de
altura, corpo bem definido, músculos firmes. Eu sei que sou bonito, já
figurei capas das revistas mais badaladas, também tenho participação
especial nas listas de mais rico, mais bonito, mais disputado e mais sexy.
Não sou do tipo que se “acha”, apenas sou realista, tenho espelho, sei
exatamente com sou.
E um detalhe muito importante sobre mim: Adoro desenhos animados.
O verão é uma época de eventos, jantares, recepções, leilões em prol de
alguma causa, hoje é um jantar para agradecimento. Eu e mais alguns
empresários reformamos um hospital e estamos apoiando financeiramente
os Médicos Sem Fronteiras.
Os organizadores já sabem que não gosto de sentar com desconhecidos,
com políticos, só em último caso. Minha acompanhante é uma modelo da
Victoria Secret´s, loira, pernuda, seios pequenos, mas com uma boquinha
que promete fazer loucuras.
Na minha mesa está Ethan e sua acompanhante, mais dois colegas de
golfe, um com sua amante e outro com uma prostituta de luxo. Roney, um
playboy herdeiro do petróleo com sua esposa grávida e Liam Larkin, viúvo
com tendência a santo. Depois que sua esposa morreu não o vi com mais
ninguém. Ele não é de festas e baladas, nunca se meteu em briga, nem se
envolveu em escândalos. Gosto dele, principalmente pela sua discrição e é
um bom parceiro de negócios.
— Zach, recebeu o e-mail da apresentadora da Vitrine? Nessa edição,
estão fazendo uma coisa bacana, mandaram a lista de projetos que serão
apresentados e colocaram uma apresentadora gostosa. — Ethan diz.
— Vocês também vão? — Larkin entra na conversa.
— Vamos. Não vi o e-mail ainda.
— A apresentadora é a Letícia. — Ethan se empolga. — Uma mulata dos
sonhos de qualquer homem.
— Achei uma aposta arriscada colocá-la para apresentar algo assim. —
Larkin fala. — Ela tem trinta anos, tem um currículo impressionante, mas
não acho que tenha pulso para levar algo assim.
— A mulher vai te surpreender. — Reviro meus olhos, porque tudo que
tenha mulheres bonitas envolvidas é óbvio que Ethan está dentro,
geralmente dentro delas.
— Não me diga que você já a pegou? Eu não quero ir para uma reunião
de investidores, tendo uma maluca tentando te comer ou te matar. E mais
uma coisa, nada de acompanhante barraqueiras. Toda vez que me lembro
de Bora Bora passo mal. — falo com uma careta.
Fomos para Bora Bora, comemorar um contrato gigantesco, só que no
resolveram fazer uma reunião de última hora para rever alguns detalhes.
Uma das acompanhantes de Ethan entrou e se ofereceu para todos que
estavam ali, não satisfeita, tentou chupar um senhor de setenta e cinco
anos. Foi um pesadelo.
— Cara eu estou indo ao Brasil, tudo o que preciso tem lá. — Ethan
responde. — E não, não peguei a Letícia. Faltou vontade por parte dela. Só
que, desde a conheci, a tenho sempre em contato, quando tenho contratos
complicados, é a ela a quem recorro para finalizá-los.
Interessante, fiquei curioso. Assim que chegar em casa vou checar esse
e-mail e ver quem ela é. Bons profissionais hoje em dia estão escassos e se a
garota for boa como ele diz, talvez seja minha nova aquisição.
A noite só não foi melhor porque a menina parecia um robô na cama, a
boca dela quase compensou, quase. Depois que mandei meu motorista
levá-la, nadei até a exaustão me tomar, tomei um banho quente e lembrei-
me de olhar meus e-mails. Assim que localizei o arquivo da Vitrine, abri.
Realmente mandaram uma lista com projetos especificados e detalhados,
isso mostra transparência e coragem para dar suas cartas sem medo da
concorrência.
Veio uma breve apresentação sobre a senhorita Letícia Sophie Barros e
como Larkin disse, seu currículo é impressionante. Abro o Google para
pesquisar sobre ela, encontro apenas uma imagem em que não dá para vê-
la direito.
O sono que há dias não vem, agora bate com força. Antes de desligar o
computador, leio mais uma vez seu e-mail. Mal caio na cama e capoto em
um sono profundo.
Os dias têm passado muito rápidos e quanto mais vai chegando o dia do
embarque para o Brasil, eu vou ficando mais ansioso. Já pensei em ir antes
da data prevista. Não sou um cara que acredita em pressentimentos, mas a
sensação de que algo vai acontecer lá é forte. A falta de sono está
prejudicando meu bom senso.
Raramente viajo com assistentes, geralmente só a minha secretária
pessoal, Maggie, me acompanha. Ela sabe mais da minha vida do que eu
mesmo. Só que para essa viagem agreguei mais dois financeiros para ver a
viabilidade de investimento rapidamente e mais dois seguranças.
— Maggie já fez o esquema de locomoção? — Reuni a equipe para
conversarmos. — O Rio é uma cidade um pouco violenta não quero ser
surpreendido.
Maggie é loira dos olhos verdes, uma mulher é muito bonita, mas que
não me apetece sexualmente, às vezes tenho a impressão que ela pode ser
frígida.
— A Globalspace mandou todos os detalhes, por incrível que pareça, a
segurança é forte, os hotéis são seguros e estão todos prontos a recebê-los.
Estou esperando a lista do pessoal que estará envolvido diretamente para
fazermos uma verificação de antecedentes.
— Perfeito. Precisarei de um tradutor?
— Não, senhor. — Maggie ajeita seus óculos rosa. — O idioma oficial
será o inglês. Já enviei para eles uma lista das coisas de sua preferência.
—Joe e Ted, tudo certo? Prontos para conhecerem o Brasil? — Olho para
os dois financistas.
Ambos acenam que sim e sorrio para eles. Contratei Ted porque ele foi o
primeiro de sua classe desde o Ensino Médio e em Harvard se formou com
louvor em Economia. Joe além de ser um crânio com números, ele é um dos
melhores hackers que já encontrei. Depois que ele cumpriu pena por
invadir os computadores da Casa Branca, eu o contratei, ajudei-o a
terminar sua faculdade. Hoje, é um dos meus braços direitos.
Outro que está no mesmo patamar de confiança, é o Kingston. Além de
meu amigo, é meu chefe de segurança. King era atirador de elite da SWAT,
até o dia que um de seus parceiros foi morto por outro policial. O homem
surtou e arrumava briga em todo lugar que chegava. Depois de um dos
meus porres memoráveis, acordei com King deitado do meu lado na piscina
do Ethan. Lembro que houve uma briga e ele tomou minhas dores, de lá
para cá, somos quase inseparáveis.
O outro segurança que nos acompanhará, é Lennon. Foi contratado há
pouco tempo. Segundo King, ele é o melhor em artes marciais e um
excelente motorista de fuga. Não que eu esteja pensando em roubar alguma
coisa. Só que já escapei de duas tentativas de assassinato e quem sabe
quando precisamos fugir de uma mulher louca?
— Senhor. Ainda afirmo que devemos levar mais dois seguranças. —
King se adianta. — Partirei amanhã para acompanhar a varredura do local
e Lennon irá com vocês. Acho insuficiente.
— É o suficiente. — Levanto da minha cadeira. — Vocês podem nos dar
licença, por favor? Amanhãs estarão de folga para viajarem descansados.
Todos saem e fica somente King.
— Algum problema, Zach?
— Não. Quero que você investigue Letícia Sophie Barros, quero saber
tudo sobre ela. Se seu passado, presente e provável futuro. Se tiver algum
companheiro, investigue-o também, se mora com os pais, investigue-os.
— Estou começando a ficar preocupado, Zach.
— Não se preocupe. Se ela é tão boa quanto Ethan disse, pretendo
contratá-la. Outra coisa investigou a nova esposa do meu pai?
— Sim. Viúva, professora, dois filhos de dezoito e vinte anos. Eles
moram fora, um está terminando a faculdade de Programação e Tecnologia
e o outro é cientista. Ela é idônea, mulher exemplar, do tipo que não se
interessa pelo seu pai.
Não é que o meu papai achou alguém que valha a pena? Só espero que
dure. Esses divórcios estão levando muito dinheiro para o meu gosto.
— Obrigado, King. Mais um favor, descubra quem é os outros
empresários que participarão desse encontro.
— Desculpa interromper, senhor. — Maggie entra novamente. — Mas
tenho que saber se levará uma acompanhante.
— Não. Maggie ligue para a Ruth e avise da viagem, fala dia e hora, para
que ela arrume minha bagagem.
— Sim, senhor.
Olho para ela e vejo um largo sorriso.
— Qual o motivo desse sorriso bonito, Mag?
— Nada... — Ela balança a cabeça e suspira. Eu hein!
— Eu quero aquele levantamento da nova fábrica na minha mesa ainda
hoje. Também quero os relatórios do hotel de Vegas, quero o extrato da
minha conta secundária. Ligue para o Philip e diga que quero aqueles
documentos para ontem e a próxima que ele atrasar, não precisa nem vir, já
estará no olho da rua. Mag localize o Joe e mande o vir aqui novamente.
Logo que eles saem, Joe entra.
— Mandou me chamar, senhor?
— Sim. Eu soube que aquela empresa de telecomunicações vai abrir seu
capital. Confirme isso e especule para ver as ofertas como serão, se caso for
certo, chame Ted e bolem uma oferta irrecusável para comprar o lote
fechado.
— Ok!
— Eu soube que tivemos problemas nos computadores, o que foi? —
Apesar de eu não atribuí-lo ao departamento de informática, ele controla
tudo para mim.
— Alguém tentou burlar o sistema para ver pornografia, executou
alguns comandos para tentar burlar o filtro e acabou caindo em uma teia.
— Ele fala sorrindo.
— Certo. Obrigado, Joe.
Os dois dias que seguem foram corridos. Tenho pessoas da minha inteira
confiança para gerir os departamentos da organização, só que como dono,
eu gosto de saber tudo o que se passa para manter o controle.
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
Volto para minha suíte, abro a porta e vejo que estão trabalhando.
— Vocês poderiam fazer o favor de trabalhar em outro lugar? Vou
dormir e quero silêncio. Entro no banheiro para tomar banho e me
masturbar imaginando Letícia aqui, tocando-me.
Acordo com a Mag em cima de mim novamente.
— Senhor... Senhor acorda.
— Que inferno, Mag? — Ela se afasta.
— Ligaram da suíte do Sheik Bashir, solicitando sua presença para uma
reunião.
— Falaram o motivo da reunião?
— Sim, senhor. O secretário do sheik falou que é sobre o projeto do
resort.
— Que horas são? — Ela olha seu telefone. — São dezenove horas e dez
minutos.
Caralho, dormi a tarde toda.
— Diga que não vou. Tenho um compromisso. — Viro para o outro lado.
A mulher não arreda o pé.
— Senhor, eu sei que tens grande interesse nesse projeto. Não é melhor
cancelar seu compromisso com a senhorita Barros? Ela pode vê-lo em
outro momento.
Mag sempre foi uma assistente excepcional, de uns dias para cá tem
passado do limite. Sento-me e a olho.
— Quem é o chefe aqui?
— O senhor...
— Bom. Quem manda?
Ela troca de pé, sinal de incômodo.
— O senhor...
— Já que deixamos isso bem claro, vou fazer a gentileza de repetir. Diga
que tenho um compromisso e não vou encontrá-los. — Mesmo nervosa a
garota continua parada. — Vou te dar cinco segundos para virar as costas e
sair, senhorita Carlson. Se não o fizer, será demitida imediatamente.
Agora ela entendeu o recado. Entro no banheiro para tomar um banho e
despertar. Pego uma calça branca de tecido leve, camisa branca e chinelos.
Saio do quarto e vejo toda a corja de investidores ali, sentados na sala da
minha suíte.
— O que vocês estão fazendo aqui?
— Menino Zachary, achamos melhor vir até você para conversarmos
sobre o projeto que é algo importante. Se não resolvermos isso hoje, com
certeza outros virão.
Chamo Mag.
— Quero que envie um grande buquê de rosas para a senhorita Letícia,
as mais bonitas que tiverem. Vou escrever um cartão para enviar junto.
— Pode começar sheik.
Ele aspira no narguilé.
— Tenho certeza que vocês viram o potencial daquele projeto de resort
e condomínio de luxo. Quero saber se mais alguém está interessado em
entrar nesse barco comigo. É um projeto audacioso, construir uma
minicidade e conseguir que ela fique longe do conhecimento das pessoas
não é algo simples.
— Acredito que podemos fazer melhor. A ideia inicial é que cada nativo
do lugar tenha seu restaurante, quem for se hospedar pode pegar comida
desses lugares. Não há necessidade de construirmos shoppings e
supermercados, se alguém quer algo de fora, pode ir buscá-lo ou podemos
ter pessoas para esses tipos de compras. — Expus minhas ideias.
— Eu estou dentro. — Ethan fala. — Poderíamos solicitar uma visita ao
local, deve ser por aqui.
— Boa ideia. — Sebastian diz.
Ficamos discutindo por mais de duas horas, Cooper foi chamado para
organizar uma excursão até o local e logo saiu para acertar os detalhes.
Segundo eles, não é muito longe daqui, talvez uns dez ou quinze minutos de
helicóptero. Quando sobrevoarmos o local, teremos a real dimensão da
área, projetar a partir daí será mais fácil.
— Já que todos estão interessados, teremos que redigir um contrato de
sociedade...
Martino Rossi que está babando em cima da assistente ruiva do Ethan,
propõe.
— Poderíamos formar uma companhia, se esse empreendimento for um
sucesso como prevemos abrir mais em outros lugares do mundo será uma
possibilidade. — Eu contra proponho já pensando mais além. É assim que
funciona minha mente. Todos concordam e eu continuo a explicação. —
Vamos manter a Letícia como a cabeça do projeto, mas um de nós terá que
assinar pelo grupo.
Nesse meio tempo foi servido um jantar enquanto discutíamos os
detalhes da nossa futura organização. Mas queria mesmo era saber da
Letícia, o que ela está fazendo nesse momento.
— Sabe alguma coisa dela? — pergunto a King.
— Sim senhor. Ela saiu com a menina do senhor Scott, estão em um
restaurante no centro da cidade.
— Bashir acha mais sensato que menino Zachary tome a frente do
grupo. — O Sheik Bashir tem a palavra novamente.
Não quero mais um compromisso...
— Fico lisonjeado, mas não quero mais um compromisso desse porte. Eu
voto no Larkin. Ele é arquiteto, poderá liderar e até fazer os projetos.
Ethan se levanta e vai até um dos seus seguranças. Alguma coisa está se
passando, sua testa franzida diz que algo está errado.
— Eu voto no Zach. — Ele diz. — Porque, de todos nós, sem dúvidas
nenhuma é o melhor administrador. Estamos falando de uma construção
gigantesca e sabemos que pode sair do controle orçamentário com
qualquer deslize.
Todos concordam, mas ninguém perguntou para mim o que acho. Ethan
senta ao meu lado.
— Alguma coisa de errado? — Pergunto e ele faz uma careta.
— Não. É só que não encontraram a Lorena no hotel.
— Formaremos o grupo para construção desse empreendimento, tendo
como presidente Zachary O´Brian e a menina Letícia como diretora geral, o
arquiteto Liam Larkin será o responsável pela autorização de cada planta.
— O sheik faz um resumo do nosso acerto. — Todos concordam?
Todos concordaram e volto-me para Ethan.
— Ela está com a Letícia, foram jantar em um restaurante do centro da
cidade. — Ethan me olha espantado.
— Como sabe disso?
— Tenho alguém de olho em Letícia...
— Está de olho em quem? — Sebastian se aproxima atravessando a
conversa.
— Na Letícia. — Ethan responde.
— Todos nós estamos de olho na Letícia. Cara, aquele almoço só serviu
para me atiçar mais. — Sebastian sorri e eu não estou gostando do rumo
dessa conversa.
— Se contenta com a sua esposa, Sebastian. Letícia é minha! — Larkin
aparece.
— Sua o cacete! Já te falei que ela será minha.
Martino começa a rir.
— Tenho pena dos cavalheiros, a mulher está rendida aos encantos
desse italiano aqui.
— Vocês são completamente loucos. — Ethan tem uma crise de riso. —
Por que não apostam? Seria hilário ver a disputa.
Eu estava rindo até perceber que todo mundo se calou. Ficamos uns
olhando para os outros por alguns instantes.
— Aposta feita! — Sebastian é o primeiro a falar. — Porque eu terei a
mulher na minha cama em breve.
— Aposto dois milhões de dólares que levarei a menina para cama. — O
sheik se mete.
Larkin se levanta e se serve com whisky.
— Vocês são insanos. Estou fora e não vou permitir que leiloem Letícia.
— Ele diz.
Gostei, pode ser uma boa ideia.
— Eu estou dentro!
Ethan levanta e se coloca no meio da sala.
— Senhores, vamos organizar. Quem participará? — Sebastian, Martino,
o Sheik e eu levantamos as mãos. — Vamos fazer uma aposta de gente
grande...
— Cem mil dólares para quem levá-la primeiro para cama. — Martino
palpita.
Dou risada.
— Tenho garrafas de whisky mais caro que isso.
— Antes de tudo, todos os assistentes e seguranças saiam, ficando
somente os chefes da segurança de cada um. Os outros esperem na porta,
por favor — Ethan toma a palavra novamente. Todos se retiram e ele
continua. — Vamos fazer disso um jogo de cachorro grande. Dos seis que
estão aqui, somente quatro participarão diretamente na disputa, caberá a
cada um o valor de dois milhões e quinhentos mil dólares, aquele que a
comer primeiro leva os dez milhões.
— Vamos tornar isso mais interessante. Só levará o montante se o resto
de nós assistirmos o ato. — Sebastian se levanta.
— Por mim está fechado. — Eu digo. Esse tipo de jogo é comum para
nós, nunca disputamos uma mulher, mas já fiz por coisas banais e tenho
certeza que todos que estão aqui, já participaram de alguma coisa parecida.
Não somos santos e gostamos de mulheres. A Letícia é o troféu que todos
nós queremos levar para cama.
— Mas eu quero assistir também e para tudo isso dar certo, Larkin tem
que participar, senão ele estragará tudo contando a ela. — Ethan fala.
Olhamos todos na direção do Liam Larkin, que estava escorado na janela
bebendo.
— Eu não vou participar e também não vou permitir...
— Não falei? — Ethan interrompe.
O sheik se aproxima dele.
— Irlandês você vai participar por bem ou por mal. Caso você dê para
trás, serei o primeiro a contar a ela que essa ideia partiu da sua pessoa.
— O caralho que vai, seu velho doente! Por que está participando,
Bashir? Acha que tem chance contra esses homens? Se enxerga! — Larkin
fala furiosamente.
— Bashir pode não ser bonito, mas Bashir é rico, pode dar o que ela
quiser em ouro e como sabemos todo mundo tem um preço. — o sheik olha
para nós. — Em quem a menina acreditará: Em um irlandês que está
nitidamente interessado nela ou nos outros cinco empresários e suas
idoneidades? Pensa bem, Larkin. Talvez seja mais sensato participar da
brincadeira.
— Quem guardará a quantia? — Martino pergunta.
— Poderíamos abrir uma conta e depositarmos. Ethan ou Liam ficam
como responsáveis pela conta e fazer a transferência assim que o jogo for
finalizado. — Eu respondo.
O sheik ainda desconfiado de Larkin aponta para ele.
— Larkin fica como responsável pela conta. Mais um motivo para ele
ficar de boca fechada.
— Então será um milhão de quem assistir e dois milhões de quem
participa, de acordo? — Ethan fala novamente. Todos assentem. Ele aponta
para o segurança de cada empresário. — Eles estão aqui para serem nossas
testemunhas. Alguém pode me dizer a hora?
— Meia noite e dez.
— Então, Zachary, Martino, Sebastian e Bashir participarão da disputa e
cada um repassará o valor de dois milhões de dólares para a conta
estipulada. Liam e eu apenas assistiremos e repassaremos o valor de um
milhão de dólares para a mesma conta. O primeiro que levar a Letícia
Sophie Barros para cama e consumar o ato, levará o montante de dez
milhões de dólares e os outros cinco assistirão o ato sendo consumado.
Assim que acontecer, Liam Larkin fará a transferência do valor para o
ganhador, vamos às regras. Senhores façam uma disputa limpa como
cavalheiros, nada de um fazer a caveira do outro, sabotar as ideias do outro.
Estão livres para conquistar seu tempo com ela, mas é terminantemente
proibido forçá-la a fazer qualquer coisa que a mulher em questão não
queira. O tempo será indeterminado, mas, por favor, senhores, não
estendam nossa angústia. No caso de algum de vocês a maltratar física ou
emocionalmente, me encarregarei de acertar as contas seja com quem for.
Tenham isso sempre em mente.
Larkin joga seu copo na parede pegando todo mundo de surpresa.
— Não acredito que estão me obrigando a participar desse negócio sujo!
— Larkin joga seu copo na parede pegando todo mundo de surpresa. —
Vocês são um bando de filhos da puta sem alma. Se aquela mulher
descobrir essa imundície, nunca mais olhará na minha cara ou pior, poderá
destruir cada um de nós por vingança.
Sou obrigado a rir do jeito bom moço dele.
— Calma Larkin. Quando ela estiver em meus braços relaxada depois
dos orgasmos que darei a ela, faço questão de fazer propaganda da sua
pessoa como bom partido. — Todos riem menos ele.
— Bastardo idiota. Espero que você não ganhe, na verdade, espero que
você morra.
— Larkin se conforma. Se tudo o que tínhamos que acertar já foi feito,
me dão licença que quero descansar.
Depois que todos deixam meu apartamento, chamo meus assistentes
para uma conferência.
— Mag, o Cooper já falou à hora que faremos a excursão amanhã?
— Ainda não, senhor.
— Amanhã quero que o meu dia com a Letícia seja perfeito.
Providenciem uma mesa em um lugar afastado da praia, onde teremos
privacidade. Uma comida leve, prato de entrada, principal e sobremesa.
Arranjem uma daquelas tendas com tecido branco, caprichem nos arranjos
de flores, acredito que o hotel pode auxiliá-los nisso. Arrumem um local
para descansar, bem confortável com almofadas e coisas do tipo.
Certifiquem-se de que não serei incomodado por ninguém. E mais uma
coisa, não se esqueçam de confirmar com o Cooper o horário do passeio e
programem meus horários conforme isso. Assim que souberem como serão
meus horários avisem a mim e a Letícia.
— Sim, senhor.
— Mag, assim que você acordar encomende um café para a senhorita
Letícia e mande entregar com esse cartão. — Coloco o envelope em sua
mão. — Vocês estão dispensados. Boa noite.
Abro as cortinas e a janela e deito na rede que tem na varanda. A lua em
sua majestade, o céu estrelado, a brisa da noite e o som do mar, transforma
o lugar em paraíso, acalmando-me. E com Letícia nos meus pensamentos,
adormeço.
Capítulo 10
Acordei bem-disposto, o sol lá em cima indicando que o dia será tão
pleno quanto ele. King aparece na varanda.
— Bati na sua porta várias vezes e você não atendeu, fui obrigado a
entrar.
— Acabei dormindo aqui.
— O helicóptero partirá dentro de trinta minutos. O voo durará em
média duas horas, pelos meus cálculos, vocês pousarão perto do meio dia.
Lennon estará a sua disposição para levá-los até o lugar do almoço.
— Perfeito.
— Já que você exige privacidade, tomei a liberdade de dispensar Mag,
então, eu serei seu garçom e Lennon o motorista.
Levanto e vou para o banheiro, tomo um banho e faço minha higiene.
Vejo o meu reflexo, sou um homem bonito e segundo dizem, a cor dos meus
olhos representa meu coração que é de gelo. Considero-me uma boa
pessoa, só não sou idiota, sei exatamente como o mundo funciona.
Sento na sala para tomar café, faço um lanche leve e King me escolta até
o lugar da decolagem. Todos já estavam em seus assentos. O piloto estava
afivelando o cinto da Letícia, muito próximo a ela. O único assento
disponível é ao lado dela e vou de muito bom grado.
— Bom dia, senhorita Letícia.
— Bom dia, senhor O´Bri... — Arqueio a sobrancelha e ela corrige-se. —
Bom dia, Zach. Como foi sua noite?
— Foi boa. — Aproximo-me dela. — Dormi com você em meus
pensamentos.
Senti seu corpo se agitar, seguro sua mão e aperto-a. Os motores são
ligados e começamos nossa viagem de reconhecimento de campo. Depois
de algum tempo, ela nos aponta onde começam as terras que vamos
comprar, também aponta outras que devemos negociar para ampliar o
resort. Há uma encosta muito bonita.
— Se algum de vocês quiser uma casa dentro do resort, poderiam
construir uma vila com as seis casas, terão sua privacidade longe dos
hóspedes. A nossa direita; observem as fundações da construção, são
novas, acredito que é possível o reaproveitamento.
O voo durou menos de duas horas e em todo tempo sua mão estava na
minha. Ficamos mais interessados depois de vermos o lugar, é
simplesmente fantástico! Desembarcamos e fomos direto ao apartamento
do sheik, prontos para acertar os detalhes e contar a ela da formação do
consórcio.
— Então senhores, o que acharam do lugar?
— Belíssimo; cara mia. — Martino responde.
— Letícia. Ontem nos reunimos e acertamos algumas coisas. — Começo.
— Como todos ficaram interessados no projeto; resolvemos formar uma
organização, um grupo construtor, encabeçado por mim que serei
responsável por tudo. Larkin é responsável pelos projetos e você, que será
nossa porta voz e claro, tão responsável pela execução do que qualquer
outro. — Ela balança a cabeça. — Antes que você pense em negar é bom
que saiba, só faremos se você estiver à frente. Cooper já foi informado e
concordou com tudo.
— Aceito com algumas condições: Primeiro, que o grupo seja
responsável pela manutenção da escola. Segundo, que os restaurantes
sejam dos nativos daquele lugar e que tenham a liberdade de venderem
seus artesanatos. Terceiro, que grande parte da mão de obra seja deles
também. Nem que para isso teremos que abrir turmas de formação e
especialização. Não quero que simplesmente cheguem lá, tomem conta de
tudo e pronto, temos que trabalhar em unidade. É isso ou nada feito!
— Você não vai negociar sua parte nisso? Afinal, você trabalhará mais do
que qualquer um. — Ethan pergunta.
Letícia olha para o Cooper.
— Sou funcionária da Global, vocês contratarão a empresa para
consultoria e o senhor Kevin me escalará para trabalhar. Então, qualquer
valor deve ser tratado com ele e consequentemente, ele tratará comigo.
— Não esperaria menos de você, mademoiselle. — Larkin a elogia. —
Todos estão de acordo com seus termos.
— Vou mandar o meu escritório fazer a documentação, enviarei para
que cada um possa analisar e fazer as alterações desejadas. — Digo. —
Depois, enviem para alguns dos meus assistentes e faremos a
documentação final para aprovação de todos. Bom, acho que por hoje é só.
Tenham um bom dia.
Puxo Letícia pela mão até a varanda para termos privacidade.
— Está pronta para passar o resto do dia comigo? — Ela fica me
olhando. Isso não parece bom. — Letícia?
Ela sorri timidamente.
— Desculpe-me, estava distraída. Eu quero passar o dia com você, só
não sei se é uma boa ideia...
— Ei. Olha para mim... — emolduro aquele seu rosto perfeito com
minhas mãos e o levanto. — Estou ansioso por esse encontro, garanto a
você que é o certo. Confia em mim. — ela acena um sim.
——ooOoo——
Eu nunca desejei estar nos braços de alguém, o tanto quanto desejei que
Zachary me tomasse naquela praia. Eu não me importaria se alguém visse
ou ouvisse, bastava ele estar ali. Durante aquele beijo, várias cenas
obscenas passaram pela minha cabeça e em todas elas, estávamos nus,
entrelaçados como se fossemos um só.
Lorena arranca o cartão das minhas mãos.
— Até eu me apaixonei agora. Menina, o que você fez para o homem lhe
mandar Holambra* inteira? Amanhã você o leva para a cama e mostra como
a gente agradece aqui no Brasil. — Eu dou risada.
— Boba! Eu não ouvi muito bem, só entendi que houve uma explosão em
algum lugar e a presença dele é imprescindível. Ele saiu correndo dizendo
que embarcaria o mais rápido possível. Mas, duvido que Ethan já não fez
algo muito maior para você...
Ela encosta-se a mim e coloca a cabeça em meu ombro.
— Ele enjoou do brinquedinho e jogou de canto. Não quer mais saber de
mim, desde sexta à noite mal fala comigo.
— O que houve boneca Lolo? — Passo meu braço
pelos ombros dela.
— Depois daquela cena com Jô, Ethan surtou e saiu com a brilhante ideia
de me levar aos Estados unidos para morar com ele.
— Isso não é bom? — Lorena vira de frente para mim.
— Não vou mentir que adoraria, mas como será, Lê? Conheço o cara
apenas há uns dias, o que sei da sua vida, é o que todos sabem. Vou para um
lugar que mal conheço, com uma pessoa que acabei de conhecer e? — Ela
dá de ombros, baixa a cabeça e prende o cabelo. — E quando ele se cansar
de mim, como será, Lê? Mandará arrumar minhas malas e me colocará em
um avião de volta como se nada tivesse acontecido? E eu? E meu coração?
— Uma lágrima rola pelo seu rosto. — O pior de tudo isso é, acho que estou
apaixonada por ele.
— Lolo... — Ela levanta a mão.
— Deixa eu terminar, Letícia. Conheço a fama do Ethan, eu sei que as
mulheres para ele não passam de objetos e ainda assim me arrisquei. No
começo foi uma brincadeira, eu estava adorando e então, do dia para a
noite. — ela coloca a mão em cima do coração. — Me apaixonei. Ele está
distante de mim, não me procura mais. Talvez seja melhor assim, eu já vou
me acostumando à dor. — Abraço-a.
— Não mandamos no coração, boneca Lolo. Lembro que minha avó
sempre dizia que, “quando é para acontecer, não há tempo, distância que
possa impedir o coração de amar”. Eu não sou um bonitão de olhos claro e
charmoso, mas estou aqui para você, sempre. Vem, vamos para a cama. —
Fomos para a minha cama, ela se deitou comigo.
— Lê, antes que eu me esqueça, o Jônatas esteve aqui e passou nossos
roteiros. Embarcaremos amanhã às dez da manhã para Brasília. Você, os
convidados e seus seguranças desembarcarão lá e almoçarão com a
Presidente. O resto de nós, continuaremos o voo até o Rio.
— Não mesmo. Eu continuarei no voo com você e o Kevin se vira com
Jônatas. — seguro sua mão. — Você precisa de mim e estarei sempre para
você.
— Obrigada, minha flor. Mas não quero atrapalhar. Eu sei a importância
que a Vitrine tem e o sucesso desse ano é devido a você. Terão muitas
coisas a discutir e você será apresentada a Presidente...
— Pode parando. Nada disso tem importância se você está infeliz a
ponto de chorar. Vamos direto para o Rio e preencheremos nossas cabeças,
organizando tudo para a volta deles. Assunto encerrado.
— Yes, boss!
Deitamos juntas com o cartão do Zach junto a mim. Meu sono não vem
facilmente, talvez porque ele já tenha poder até nisso. Eu não deveria me
empolgar com isso, me apaixonar por ele seria um erro. Misturar minha
vida pessoal com a profissional seria ainda pior. Eu não sei o que fazer já
que meus pensamentos estão tomados por ele e sua boca.
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
Volto correndo para minha sala e carrego Lolo comigo. Ela coloca a mão
na cintura.
— O que você fez, Letícia? De quem é o corpo que teremos que
esconder?
— Primeiro quero saber qual é o seu maior sonho. — Ela pensa e
responde.
— Reformar o apartamento da mamãe e dar a viagem que ela sempre
sonhou para Portugal.
— E para você? — Ajoelho-me diante dela.
— Esse é meu sonho, Lê. Ver minha mãe feliz...
— Então considere seu sonho realizado! — Lolo fica me olhando sem
entender. Pego sua mão e continuo. — Lembro-me quando cheguei à cidade
e o meu primeiro dia aqui na empresa, você não me conhecia e foi
designada a minha secretária. Os dias que se seguiram você me fazia rir,
não sabia a importância de cada palavra que saia da sua boca. Levou-me
para sua casa e sua mãe me acolheu como filha, ela me ama da mesma
maneira que ama você, me adotou de coração e cuidou de mim desde então.
Vocês me ajudaram emergir do fundo do poço, devo muito a vocês duas. —
Uma lágrima escorreu dos olhos dela.
— Espero que você tenha um bom motivo para me fazer chorar. —
Sorrio.
— Eu tenho. Lorena, eu sempre tive um sonho, nunca contei a ninguém
porque as pessoas achariam loucura...
— Nossa Letícia. Segredos para mim?
— Lolo, sabe aquelas coisas que a gente sonha acordada como um conto
de fadas? Coisas impossíveis, que fazem parte do nosso imaginário? Então,
meu sonho era um desses. Lembra do apartamento do Kevin, aquele em
que ficamos hospedadas? — Ela acena que sim. — Desde o dia que
entramos lá, ele se tornou meu sonho. Venho guardando tudo o que posso,
tenho aplicações que rendem um bom dinheiro, mas ainda era pouco, eu
tinha que contar com a boa vontade dele financiar o resto para mim. Com o
bônus da Vitrine, eu pude comprar o apartamento à vista, Lorena.
Ela coloca as mãos na boca e depois me abraça.
— Parabéns, parabéns, parabéns!
— Só consegui tudo isso porque tenho uma família que me apoia e me
ama. Nada faz sentido se eu não puder compartilhar com vocês duas. —
Começamos a pular juntas dentro da minha sala. — Comemoraremos
depois, tenho que ligar para o espanhol e temos que ver os imóveis.
Passei a tarde vendo casas e no telefone negociando com o empresário.
O cara resolveu pedir mais já que percebeu que havia gente grande atrás. O
que ele não sabia era que eu poderia ser osso duro de roer nas negociações.
Apaixonei-me de cara pela quinta casa, ela tem a cara de Zachary. Mesmo
não conhecendo muito bem, posso garantir, ele vai adorar.
A casa é enorme, como é construída em uma encosta, tem quatro
andares. O quarto principal tem uma grande varanda em estilo deck com
parapeitos em vidro e aço, dois banheiros e dois closets. Cada andar possui
dois quartos menores que o principal, mas não menos lindos, a varanda de
todos eles dão uma visão espetacular para a praia de Ipanema e Arpoador.
Uma sala de jantar com varanda e vista para o mar e jardim, muito ampla
com teto alto. Há uma sala de cinema, outra ampla com lareira e acesso ao
jardim com piscina, jacuzzi, sauna e uma área de lazer ao ar livre com
churrasqueira e cozinha extra. Todos os andares da casa estão ligados por
um elevador interno. No último andar, um grande deck, parcialmente
coberto com uma cozinha e área de jantar extra. Uma plataforma dá acesso
privado à praia. Nenhuma casa de filme ou novela faz jus a essa, é fora de
qualquer realidade que eu poderia ter. Bati fotos para enviá-las a ele logo a
noite, tenho certeza que vai aprovar. Fiz uma oferta generosa levando em
consideração a crise no mercado imobiliário.
Enquanto ia para a última visita do dia, liguei pela última vez para o
Ramón Santiago para dar as boas notícias de que compraremos seu ex
quase futuro empreendimento pelo preço acordado na minha última
ligação e o muchacho queria negociar até as licenças, vê se pode?
— Senhor Santiago entenda, a minha proposta final é essa, caso não
esteja satisfeito, lhe desejo boa sorte para conseguir outro comprador. —
Adoro meu trabalho, mas lidar no mundo dos negócios não é fácil, é muita
podridão, pessoas de péssima índole. O cara está com a corda no pescoço e
ainda quer tirar tudo o que pode, fiz minha proposta. Não precisei mais do
que isso para fechar negócio. Faço mais uma anotação para enviar a
Zachary, deixando-o a par de que consegui um preço melhor e para
transferir o sinal para o espanhol.
A última visita era há cinco casas daquela que gostei para Zachary, só
que também não estava preparada para ver essa, é espetacular. Como
estava anoitecendo as luzes exteriores eram azuis e ligavam uma a uma,
nos dando uma visão esplendorosa do lugar.
Ela também foi construída na encosta e tem três andares, entramos pelo
andar do meio, diretamente na sala de estar com lareira. Esse andar existe
um amplo salão principal com vários ambientes internos e externos como
sala de jantar, salão de jogos, um lindo jardim de inverno e uma suíte
maravilhosa. No andar inferior vimos uma adega, cozinha com integração
para outra sala com Home-Theater, um escritório enorme todo em vidro e a
área de piscina. A área de deck externo tem lareira, gente estou me
sentindo naquelas casas dos famosos de Hollywood. A piscina com cascata
é uma obra de arte e ao canto onde se vê muitas plantas, entramos por uma
porta de vidro e vimos outra suíte.
Não há palavras para descrever a beleza do andar superior, lindo é
muito pouco. São três suítes, todas com varanda, a suíte Master é
espetacular, a cama é enorme! Uma das paredes é toda em vidro que se
abre para uma varanda privada, tem uma jacuzzi e deck de frente para o
mar. O banheiro é quase meu apartamento, uma hidromassagem do
tamanho da minha cama. Olha, eu morava aqui sem problema nenhum, é
impecável. Todos os cômodos da casa têm uma vista avassaladora para o
mar e para o verde.
Encontrei a Lorena na piscina toda iluminada.
— Algum problema, Lolo?
— É simplesmente lindo, Lê. Olha essa vista, da piscina dá para ver o
mar. A boba aqui ficou emocionada. — Era tudo o que eu precisava para
fazer uma oferta.
Ethan vai adorar o lugar.
Depois das visitas, fui deixar Lorena em casa para fazer os planos de
reforma com a mãe. Mal sabem elas que contratarei o melhor arquiteto e
decorador para o trabalho. Tomo um banho e com uma garrafa de café,
sento no meu mini escritório para trabalhar. Depois de ver tanta casa mega,
qualquer coisa que eu ver agora, será mini ou micro.
Não tenho os telefones e nem e-mail pessoal do Zachary, o único contato
é com a sua secretária Maggie. Que por sinal, não vou nem um pouco com a
aquela carinha de sonsa e como minha avó dizia, as sonsas são sempre as
piores. Envio dois e-mails com assuntos diferentes, para Ethan eu ligo
várias vezes, mas dá desligado. Ligo para Kimy que atende no terceiro
toque.
— Olá, Kimy. É a Letícia Barros. Tudo bem?
— Oi, Letícia. Tudo bem e com você?
— Estou bem graças a Deus. Desculpa se te acordei, tentei ligar várias
vezes para o Ethan, mas ele não atendeu e eu precisava passar as
informações sobre o imóvel.
— O senhor Scott surtou na viagem de volta. Ninguém entendeu o que
ele dizia somente Kaleb. A única coisa que sei é que há uma hora ele
embarcou para algum lugar, só não sei para onde.
— Tudo bem. Vou enviar um e-mail para Ethan. Obrigada, flor. Boa
noite. — Ethan está me deixando cada vez mais preocupada.
— Boa noite Letícia.
Algo me diz que coisa grande está vindo por aí.
Ai, ai...
Capítulo 15
Acordei atrasada, nem o despertador conseguiu me tirar dos braços de
Morfeu. Olho para o relógio e vejo que são onze horas da manhã. Ligo para
Lolo e aviso que irei para empresa só na parte da tarde. Faço café, pego
meu computador e vou para a varanda, não é todos os dias que posso
trabalhar de frente para o mar. Abro meu e-mail e vejo dois da Maggie, abro
na esperança de ter alguma coisa relacionada a Zachary, mas não há nada.
Ouço meu interfone, vou atender.
— Bom dia, dona Letícia. Tem dois gringos aqui querendo falar com a
senhora.
— Qual o nome dele, Almeida?
— Virgimaria dona Letícia, sei perguntar isso não. Ele só fala Letixia,
Letixia e acabei interfonando para a senhora. — Dou risada.
— Aponta para ele e fala name.
Ouço ele perguntar e ao fundo ouço o som da voz do Ethan.
— Ele tá dizendo “Itan”, dona.
— Traga-o até aqui, Almeida. É Ethan, meu amigo.
— Sim, senhora.
Assim que a minha campainha toca, corro para abrir a porta.
— Ethan... — Ele e Kaleb entram e fecho a porta. O homem que está a
minha frente é um rascunho daquele de dois dias atrás, com olheiras,
marcas de expressões, sem sorriso. Mais velho do que realmente é. — O
que houve Ethan? — Ele começa a chorar. Sim, chorar.
— Eu preciso dela, Letícia. Eu preciso dela...
— Precisa de Lorena? — Pergunto.
— Sim...
— Há quanto tempo ele está assim? — Pergunto para Kaleb.
— Há dias, mesmo antes de irmos para a América. Só que no meio do
voo de volta para casa, ele queria que o piloto voltasse a todo custo.
Consegui convencê-lo de ir para casa e pensar antes de voltar. Está
bebendo demais e pelo jeito nem tomou banho.
A mãe da Lolo sempre me dá um daqueles remedinhos que fazem a
gente dormir contra nossa vontade, eu os chamo de milagrosos. Procurei
um no meu armário e dou a Ethan, que logo fica quieto. Peço para Kaleb o
levar para o meu quarto.
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
——ooOoo——
— Bom dia, Zachary. Não queria te acordar, mas nosso voo parte daqui
duas horas e elas irão comigo — A entonação forte de elas irão comigo, não
passou despercebida.
— Bom dia, E. Sem problema. — Aponto para a direção dos quartos. —
Só vou me despedir da Letícia. — Ethan entra na minha frente.
— Eu não acho que seja necessário.
— E eu não acho que seja da sua conta. — Dou um passo em sua direção
e o encaro.
— Qual o problema de vocês? Tenho que colocá-los no cantinho da
disciplina? — Lorena chama nossa atenção, ela aponta para mim. — Você
vai falar com ela e você, mocinho. — Ela aponta para Ethan. — Vem comigo.
Vou olhando de porta em porta para encontrar onde Letícia está.
Encontro-a no último quarto, fechando uma mala.
— Te deixei sozinho na sala, que grosseria a minha. Mas vamos viajar
daqui a pouco e não queria me atrasar mais...
Aproximo-me, emolduro seu rosto com minhas mãos e a beijo de leve.
— Embarco para o Brasil hoje. Daria-me a honra de ficar comigo? — Ela
sorri lindamente.
— Sim. Telefone-me assim que chegar.
Abraço Letícia com toda minha força, a beijo como se dependesse disso
para viver. Eu a quero tanto, que chega a doer, mas a vida não é justa. Foi a
primeira lição que recebi do meu pai, “Aprenda enquanto eu estiver vivo, a
vida não é e nunca será justa. Conforme-se, Zachary”.
Capítulo 24
Subo pelo elevador de serviço, assim que entro
pela porta da cozinha, ouço gritos vindos da sala.
Vou andando devagar para saber que caralho estava
acontecendo na minha casa. Nos últimos dias, as
pessoas estão enlouquecidas, começando pelos
meus funcionários, um fica contra mim por causa de
uma mulher e a outra invade a minha cama nua.
Reconheço a voz da Mag.
— Claro que eu vou. Sou a assistente pessoal dele, minha obrigação é
acompanha-lo em todos os lugares...
— Sua obrigação é manter a agenda dele organizada e não sair por aí
agindo como esposa traída. Não há necessidade de você ir nessa viagem. —
King fala.
Ela ri.
— Está brincando, não é? Há coisas daquele projeto que só eu sei.
— Como as coisas da Letícia, que você vem negligenciando por despeito?
— Com a menção do nome da Letícia, Mag surta.
— Para de pensar com a cabeça do seu pau, cretino e deixa aquela vadia
fora disso. A vida não gira em torno dela. Sou mais indispensável que você,
aliás, nos últimos dias tem sido o céu com a sua ausência. Eu vou acordá-
lo...
— Não vai. — King a interrompe. — Ele deixou bem claro que você não
tem mais livre acesso a esse apartamento. Entro na sala e vejo King
barrando a passagem para as escadas que dá acesso ao segundo andar,
onde fica meu quarto. Mag parada a frente dele pronta para passar por
cima.
— Saia da minha frente, King. — Ele cruza os braços.
— Para você tirar a roupa e pular em cima dele novamente? Esquece
Mag. Ele ainda está traumatizado com a última vez. E como você soube que
adiantamos a partida?
— É minha obrigação saber tudo o que acontece na vida dele e como,
não te interessa. — É a vez dela cruzar os braços. — Zach precisa rever o
quadro de funcionários urgentemente. Você é uma pedra no nosso
caminho, Kingston. — Ele sorri.
— Nisso concordamos, senhorita Carlson. O senhor O´Brian precisa
rever os assistentes dele, talvez contratar uma que não tente estuprá-lo
enquanto dorme. E sim, sou uma pedra no seu caminho, até porque você é
uma desequilibrada do caralho!
Ruth não tinha me visto e quando se dá conta, grita de susto, fazendo
com que todos se voltem na nossa direção.
— Não o vi, desculpa. Aqui está sua mala.
— Ruth há quanto tempo eles estão nessa gritaria?
— Uns dez minutos, mais ou menos. — Ela olha para Mag com clara
reprovação.
— Enlouqueceram? — Pergunto. — Bater boca na minha casa como
duas lavadeiras à uma hora dessas? Eu deveria demitir os dois agora
mesmo.
— Está chegando de onde, Zach? — Mag coloca as mãos na cintura e
pergunta.
— Perdeu a noção do perigo, senhorita Carlson? — Falo com voz baixa,
naquele tom que as pessoas dizem que me torno ameaçador. Ela dá um
passo para trás. — Desde quando alguém tem permissão para me
questionar? Essa é sua última chance para continuar a trabalhar comigo,
não a desperdice. E lembre-se, você é importante, mas não é insubstituível.
Ninguém é. — Olho para King. — Minha casa não é suas festas de Hip Hop,
controle-se. Se não consegue mais ter controle sobre as situações que
permeiam sua rotina, então está na hora de se aposentar. — Aponto para
ambos. — Conhecem-me o suficiente para saberem que posso fazer com
que nenhum consiga outro emprego nesse e em mais setenta países. Tenho
certeza que não vão querer me desafiar. Embarcaremos daqui a quanto
tempo?
— Na hora do almoço. — King responde.
Aceno e subo as escadas, troco de roupa, volto para nadar. Com a Letícia
na minha cabeça, não sobra espaço para outras coisas. Meus funcionários
sempre se deram bem, não sei o que está acontecendo. É só falar o nome da
Letícia e todo mundo ao redor surta. Estou cansando disso e tenho que dar
um basta. Essa mulher será a causa da minha ruína. Minha razão diz que
estou no caminho certo, quem sabe quando desmascara-la, o resto de mim
se convença de que ela não é quem gostaríamos que ela fosse.
Decolamos no horário e a viagem foi tranquila. Preferi tomar um
remédio e passei mais tempo no quarto dormindo, do que dividindo um
ambiente com as duas lavadeiras. Adquiri essa aeronave recentemente, é
um jato de luxo Boeing Jet2, com capacidade de levar até dezoito pessoas e
comporta cinco ambientes. Uma suíte no fundo, uma sala de estar e outro
ambiente para jantar, um escritório e um banheiro social. Tudo foi
decorado por uma das designers mais famosas do mundo, que por acaso
frequentou minha cama também.
Desembarcamos no Rio de Janeiro, nove e quarenta e cinco da noite.
Chegamos a casa, um pouco depois das dez, fiquei impressionado com o
imóvel. Já tinha visto por fotos que a Letícia mandou, mas pessoalmente é
muito melhor. King indica meu quarto que ocupa quase todo o terceiro
andar, dividindo espaço com outra suíte menor que essa. Lugar perfeito
para hospedar Letícia.
Deito na cama, tiro meu celular do bolso e teclo seu número. Ela atende
com aquela voz doce.
— Olá.
— Olá menina dos olhos dourados. A fim de conhecer a minha casa
nova?
— Já conheço sua casa nova, senhor Zachary.
— Comigo aqui as coisas ficam diferentes. A casa fica mais... Atrativa.
— Acredito. Mas você deve estar cansado da viagem...
— Não, está tudo bem. E você descansou da viagem?
— Sim. Desembarcamos eram cinco horas da tarde. Se o movimento
estiver tranquilo chego aí em menos de uma hora.
— Luck está com você? — Ela suspira contrariada.
— Ethan e Liam insistiram que devo ter mais dois ou três, então, tenho
uma equipe comigo.
Alívio toma conta, o que não gosto, é de ouvir o nome daquele irlandês
filho da puta.
— Peça para um deles te trazer aqui. Enquanto jantamos,
conversaremos sobre a sua segurança.
A casa é enorme, desisto de ir procurar King e ligo para o seu telefone.
— Preciso de você aqui.
— Ainda está no seu quarto? — Ele pergunta.
— Sim.
— Ok. Estou indo.
Para que dois banheiros? Se fosse um só era mais fácil. Escolho o maior
que é em tons escuros. Tomo um banho, coloco uma bermuda azul marinho
e uma camisa branca de algodão, perfeita para as noites do Rio.
— Em que posso ajuda-lo, chefe.
— Eu vi que aqui em cima tem um ambiente para cozinhar e tem lugar
para descansar.
— Isso mesmo.
— Providencie que façam um jantar para dois e sirvam aqui em cima,
ficando somente quem for servir. Para mim podem cozinhar...
— Eles têm o seu cardápio, seus gostos e preferências, a Letícia se
encarregou disso logo que comprou a casa. — King me interrompe.
— Certo. Não quero que ninguém passe do segundo andar, esse andar é
estritamente pessoal, não quero nenhum visitante sem autorização
circulando por aqui, só quem faz a limpeza e os seguranças. Você esteve no
Brasil para contratar a equipe de segurança da Letícia pessoalmente, não
foi?
— Foi.
— Todos eles foram contratados ou algum da equipe foi exigência do
Larkin?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Todos foram contratados e a exigência de conversar com um foi do
Ethan, mas esse um é Luck.
— Estou esperando a Letícia para jantar. Vou pedir para Mag que
providencie alguém para preparar essa suíte ao lado para a Letícia passar a
noite.
King levanta a mão.
— Eu mesmo faço isso, já conheço os funcionários e não quero aquela
maluca zanzando por aqui, ainda mais com a Letícia por perto. O barzinho
do terraço está abastecido caso queira ir sentar lá e contemplar a vista da
cidade. Zach, foi uma das melhores aquisições que você já fez, não faz ideia
da vista que tem.
Os andares são ligados por elevador, mas prefiro subir as escadas. A casa
é diferente de tudo que possuo e tenho a sensação de ter vivido aqui há
muito tempo, ela foi construída para mim, a vista aqui de cima é
deslumbrante. Perto de onde a mesa de jantar está, há um aparador com
um dock station. Vou até ele, programo minha playlist preferida e coloco
meu celular para reproduzir em todo ambiente.
Ouço alguém se aproximar e vejo que é o chef e uma das empregadas,
eles acenam para mim.
— Boa noite, senhor — Falam inglês perfeito! — Gostaria de beber
alguma coisa?
— Boa noite. Quero uma dose de whisky sem gelo. — Ele acena e se
afasta, fala com a moça, que vai preparar e logo trás para mim. — Obrigado.
— No canto do deck há um ambiente com sofás que fica de frente para a
praia, lugar silencioso, perfeito para pensar na vida e a música Secret do
Maroon 5 que está tocando, diz exatamente o que penso, “...Eu sei, eu não
conheço você, mas eu te quero tanto. Todos possuem um segredo. Eles podem
mantê-lo? Oh não, não podem...”
Distraído, não percebi de imediato a presença da Letícia, que senta ao
meu lado, mais linda do que nunca. Um vestido preto acima do joelho, sem
mangas e sandálias altas azuis. Traje muito comportado, em outra mulher
não seria sedutor, só que no corpo dela é de matar qualquer um.
Puxo-a pela mão, aproximando-a de mim. Sem dizermos nada um ao
outro tomo sua boca. Puxo seu cabelo levando-a no meu ritmo e para que
ela ceda a mim. Se eu não me controlar, ela será minha ruína, se já não o é.
— Boa noite, princesa, como diz a Lorena. — Separo minha boca da sua
com dificuldade.
— Bem-vindo ao Brasil, senhor O´Brian. — Ela sussurra no meu ouvido.
Isso me deixa louco, essa mulher me deixa louco, transtornado. Sou
capaz de tomá-la aqui na frente dos funcionários. Tento me contentar com
outro beijo.
— Obrigado, senhorita Letícia.
— Como foi a viagem?
— Tranquila.
A menina que está servindo se aproxima e cumprimenta Letícia que de
muito bom humor a abraça e vai até o chefe que a recebe de braços abertos.
O que essa mulher tem que as pessoas simplesmente a amam? Trocam duas
palavras e já se entregam a ela? Que inferno! A desgraçada é linda...
— Você conhece todos que trabalham aqui?
— Entrevistei um por um, contei-lhes como é trabalhar para você, o que
provavelmente você espera deles e com isso conheci cada um deles.
— Esse seu perfeccionismo é um charme. — A voz do Seal enche o lugar
cantando Stand by Me. Levanto e a tiro para dançar, ela vem para os meus
braços sorrindo. Nos mexemos ao compasso da música, a giro e a trago
novamente para junto de mim, sempre sorrindo. Cantarolo em seu ouvido.
— “Quando a noite chegar, a terra estiver escura e a lua for a única luz que
veremos, eu não vou ter medo. Não, eu não vou ter medo, contanto que você
fique comigo. Então querida, fique comigo, oh, fique comigo. Se o céu que
vemos lá em cima desabar e cair, ou as montanhas desmoronarem no mar, eu
não vou chorar. Não, eu não vou derramar uma lágrima, contanto que você
fique comigo...”
— Uau. Você canta muito bem...
— Só para moças incrivelmente bonitas. — Mordo o lóbulo da sua
orelha, beijo o seu pescoço, seu queixo e encontro sua boca. Tudo está
perfeito, a mocinha nos braços do mocinho como nos filmes, tendo como
fundo, a música do Savage Garden. — Truly, Madly, Deeply. Quando me dou
conta a solto rapidamente, a vida não é justa e muito menos perfeita. A
mocinha é uma interesseira e o mocinho um babaca que está se deixando
levar pelo seu pau.
O olhar dela é confuso. Já o vi uma vez, no dia em que me expulsou aos
gritos em Abu Dhabi. Antes que ela pudesse chegar a alguma conclusão, a
abraço e esfrego minha ereção para que ela sinta.
— Se eu continuasse o beijo, acabaria rasgando sua roupa e a possuindo
na frente dos meus novos funcionários. Isso não é muito elegante.
Letícia ri com gosto e o som me enche de alegria.
— Desculpa Zach.
O chef anuncia que o jantar está pronto, estendo meu braço para ela e a
acompanho até a mesa. O chef puxa a cadeira para que Letícia sente e nos
serve o jantar.
— Zachary, a Ruth me falou que você não gosta dos três pratos quando
está em casa, você não é um admirador de saladas, mas ela coloca porque
sempre belisca. Disse que você prefere na maioria das vezes um bom filé e
para variar, prefere o peixe. Então instruí o chef a ter um prato de salada
caesar com tomate, sempre a sua disposição. Também organizamos uma
agenda com suas comidas favoritas e algumas criações dele que são pratos
brasileiros e tenho certeza que você vai adorar. Seu filé está pronto, mas eu
gostaria que você experimentasse esse prato que ele trará.
— Ok. — Fico a observando falar, é como se já fizesse parte da minha
vida.
— Aqui no Brasil chamamos de escondidinho de carne seca. — Ela tira
sua mão da minha e o prato é colocado a minha frente, o conteúdo parece
uma torta e uma porção de salada ao lado. Letícia explica. — É colocado
purê de batata, o chef deu seu toque adicionando um molho branco
especial, a carne seca refogada e mais uma camada de purê, finalizando
com queijo.
— Parece delicioso. Obrigado.
— Espero que goste.
A comida não era boa, era simplesmente espetacular. Minha comida
preferida era a italiana até vir ao Brasil e conhecer a variedade de delícias.
Quando estive no Nordeste a primeira vez, Letícia providenciou que
fossemos servidos com tapioca, baião de dois, carne de sol e a minha
preferência, bolo de macaxeira. A sobremesa servida foi petit gateau de
doce de leite com sorvete de creme. Fantástico!
— No telefone você pareceu incomodada quando perguntei sobre os
seguranças.
— Não gosto das mudanças que estão acontecendo. Liam insiste que eu
vá morar em um apartamento maior, porque agora tenho que abrigar uma
equipe com quatro seguranças... Três porque dispensei um.
— Você conversou com o Larkin sobre isso?
— Sim. Ele esteve no Brasil para resolver isso comigo. Estava cansada de
discutir com Ethan. Então Liam veio me convencer que, de agora em diante,
minha vida seria essa.
Minha taça de vinho estava cheia, bebi de uma vez só para continuar a
conversa.
— Larkin ficou muito tempo?
— O suficiente para me convencer a não despedir os outros dois. Por
mim teria ficado somente com o Luck, agora tenho ele, mais um pitbull e
um motorista.
Letícia não é um tipo fácil de convencer, ele deve ter sido o motivo dela
ficar doze dias aqui antes de ir aos Estados Unidos. Ela está jogando
conosco, se não conseguir um, terá o outro para se satisfazer. É mais
esperta do que imaginei, acha que tem dois idiotas comendo na sua mão.
Ela não perde por esperar.
— Sinceramente, Zachary, eu detestei. Não quero isso para mim, é
desnecessário...
— Não, não é desnecessário. Você agora faz parte de uma companhia
junto com empresários que tem destaque mundial. Assim que a notícia se
espalhou, tenho certeza que as coisas mudaram na sua rotina.
— Não. Quando a notícia ganhou destaque nas manchetes, meu nome
não apareceu em nenhum lugar, graças a Deus!
— Princesa, você será alvo como nós somos, isso é jogo de gente grande.
—Estranho que uma mulher interessada em dinheiro, não esteja frustrada
porque não saiu nas manchetes. — Todos nós pensamos iguais quando se
trata da sua segurança. Acostume-se!
— Liam falou a mesma coisa.
Para mim a conversa acabou, nada mais vai descer. Estou com nojo de
mim, com nojo dela e de toda essa situação, está na hora de finalizar a
porra dessa aposta. Logo que me despedir dela, irei providenciar o local e
avisar os outros três, Ethan e Larkin serão avisados em cima da hora para
evitarmos aborrecimentos.
— Desculpa Letícia, estou quebrado da viagem e vou deitar. Vou pedir
que a levem para casa.
— Não é necessário, tenho quem me leve. Desculpa minha
inconveniência, eu deveria ter ido assim que o jantar acabou.
Eu não sei que merda de nojo é esse que sinto, que a minha vontade é
levá-la para minha cama e comê-la. Beijo-a com força.
— Durma aqui, tem um quarto preparado para você.
— Não...
— Fique. Amanhã à noite embarco para o Ceará e quero ficar até o
último minuto com você.
Vamos em direção às escadas, descemos três degraus e saímos da vista
dos funcionários. Jogo Letícia na parede e a beijo, seus braços passam pelo
meu pescoço, puxo uma de suas pernas para cima e esfrego minha ereção
em sua excitação. Ela puxa meus cabelos me deixando frenético e coloco
sua calcinha de lado, sem perda de tempo enfio dois dedos nela e seu
gemido se torna um grito de prazer. Viro-a de frente para a parede, suas
costas em meu peito, fecho sua boca com uma das mãos, enquanto a
penetro com a outra.
— Você é como droga, vicia...
Seu corpo contrai, ela fecha os olhos e quando seu orgasmo explode, ela
grita na minha mão e suas pernas cedem, seguro-a ainda de costas e
encosto minha cabeça na sua. No que eu fui me meter, Senhor? Não tenho
coragem de olhá-la mais, não tenho controle sobre o meu corpo em sua
presença. Preciso me afastar imediatamente.
Caminhamos em silêncio até a porta da suíte em que ela vai passar a
noite. Beijo sua testa.
— Boa noite, princesa.
— Boa noite, Zachary...
Capítulo 25
Depois de deixá-la na porta do seu quarto, entro tranco a porta do meu,
vou ao banheiro e tranco a porta de lá também. Tiro minha roupa, abro o
chuveiro de água fria e me jogo em baixo para me masturbar como um
moleque de quinze anos com a sua primeira revista playboy. Gozei duas
vezes e continuo de pau duro, caralho! Uma fúria me domina e rasgo todos
os tecidos que encontro; roupas, toalhas, qualquer merda que eu possa
extravasar e ninguém ouvir.
Entre os trapos, acho um short inteiro e vou procurar a academia da
casa, eu sei que tem, só não sei onde fica. Procuro, procuro e nada. Da sala
vejo a plataforma que dá acesso à praia, é para lá que vou. Não sei quanto
tempo corri e fiz exercícios, perdi as contas de quantas vezes praguejei por
não conseguir tirá-la da cabeça. Encostei-me a uma pedra e bati com a
cabeça várias vezes para ver se ela saia. A única coisa que aconteceu foi
descobrir que estou louco, digno de uma camisa de força.
Tiro o celular do bolso e ligo para a única pessoa que restou em
Manhattan que fará o que eu mando sem questionar.
— Ted. Preciso que você faça algumas coisas para mim sem perguntas.
— Sim, senhor.
— Sabe o quarto principal da ala oeste?
— Sim...
— As portas daquele closet são de vidro, quero que você mande
substituir por espelhos. Quem estiver dentro do closet pode ver o que
acontece no quarto, mas quem estiver no quarto, não verá o que tem dentro
do closet. Quero isso para ontem, entendeu?
— Sim...
— Também quero que coloque cinco poltronas confortáveis e as
disponha de um jeito que todos que sentar possam ver o que acontece
dentro do quarto. Assim que desligar me mande sua conta pessoal, farei
uma transferência do valor aproximado e um bônus.
— Não é necessário, senhor. Tenho prazer em ajudá-lo...
— Não se preocupe com a segurança barrar a sua entrada, eu darei
instruções para que eles o recebam e ajudem caso for necessário. Mais uma
coisa; amanhã enviarei para você data e horário. Compre um celular pré-
pago e ligue para o Rossi, Khristophoros e Bashir, dê-lhes a data e local em
meu nome. É muito importante que seja em meu nome. Não deixe recados
com terceiros, é para falar diretamente com eles. Antes que eu me esqueça,
o local é o meu apartamento.
— Mais alguma coisa, senhor?
— Talvez o mais importante, você não está autorizado a contar a
ninguém. Absolutamente ninguém deve saber o que você está fazendo. Se
alguém perguntar, desconverse.
— Sim, senhor.
— Até mais, Ted.
Eu sei que é tarde da noite, toda a casa está apagada, somente os
seguranças do turno da noite em pé. Passando em frente à suíte que Letícia
está, ouço um barulho estranho. Verifico se a porta está aberta, está, entro e
vejo que ela não está na cama. A luz do banheiro está acesa, vou ver o que
está acontecendo e a avisto dobrado no chão e vomitando. Seu cabelo
estava amarrado como se ela já esperasse por isso.
Espero ela terminar, ajudo-a levantar e fazer sua higiene.
— Ah Letícia, não gosto de te ver assim. Quando voltarmos a Manhattan
você irá ao meu médico.
— Não...
— Sim, voltará comigo e consultaremos um médico de verdade. Quando
você poderá viajar?
Ela caminha de volta para o quarto somente de calcinha e sutiã. Aquele
corpo farto de antes, está magro, suas costelas expostas, mas os seios estão
do mesmo tamanho ou maiores.
— Volto de São Paulo na terça-feira. — Letícia deita e eu a cubro.
— Vou ver minha programação e discutiremos isso amanhã. Vou tomar
um banho e já volto para deitar com você até pegar no sono.
Corro para tomar um banho, coloco uma cueca boxer limpa e volto para
deitar ao seu lado. A minha última lembrança foi do corpo dela encaixar
perfeitamente no meu.
——ooOoo——
“Quarta-feira, 18h”.
Olho a cidade onde tanto desejei morar, é um sonho estar indo dormir
na minha casa em Manhattan. Se eu morresse hoje, não poderia estar mais
feliz. E também tem Zachary, não sei no que isso vai dar e se dará em
alguma coisa, mas eu vou até o fim, quero saber onde isso vai acabar.
Capítulo 27
Ethan
Segunda-feira...
Não sei se suportaria morar no Brasil com esse calor o ano inteiro. Gosto
do frio, de pisar na neve, de esquiar. Debaixo do sol escaldante, vemos as
máquinas trabalhando para concretizar nosso novo projeto. As pessoas que
moram na aldeiazinha, compareceram em peso, para nos conhecer. É um
povo muito simpático, os brasileiros no geral o são.
Olho para o quarteto, pronto para mandar uma dessas máquinas, passar
por cima e matá-los um a um. Os últimos dias estão sendo o inferno na
Terra para mim, cada vez que penso na merda de aposta que fizemos, meu
estômago contrai. Já imaginei como matar cada um deles, Bashir, eu
mandaria largá-lo no deserto. Martino, eu entregaria para a máfia.
Sebastian o estrangularia com aquele kombolói, o terço grego que ele vive
segurando e Zachary, esse mandava castrar, sem direito a anestesia.
Depois que conversei com ele, não me restou mais nada a não ser
chorar. Alguma coisa estava me dizendo que a minha felicidade está prestes
a acabar. Eles não entendem que eu perderei Lorena se isso vier à tona, as
duas jamais me perdoarão. E acho que não serei capaz de continuar
vivendo sem aquela mulher na minha vida, até porque ela se transformou
no meu mundo!
Eu não irei testemunhar aquele filho da puta transar com a Letícia. Meu
Deus, ela se tornou alguém mais que especial para mim, como vou levar
isso até o fim? Minha esperança é convencer o Rossi, Sebastian e o sheik a
não entrar nessa. Será que esses bastardos não sentem nada por ela a
ponto de continuar com essa loucura?
Eu me arrependi horas depois...
Observo Liam Larkin a minha frente, outro atormentado. Ele nunca se
conformou de termos o envolvido nisso, eu também não me perdoo.
Afundado na minha miséria, não percebo quando King, o chefe de
segurança do Zachary se aproximar e fala comigo.
— Podemos conversar senhor Scott? — Aceno e nos encaminhamos a
um ponto mais distante do pessoal. — Eu sei que não deveria abrir a boca
sobre isso, mas tenho que me arriscar.
— Diga King.
— É sobre a aposta envolvendo a Letícia. Por favor, Ethan, não permita
que levem isso adiante. Estou há dias sem dormir por causa disso, estou de
mãos atadas sem poder fazer nada.
— Fui conversar com Zach, mas aquele cretino está irredutível, chegou a
me dizer que ela não é quem eu penso. Cara, a Letícia é a... Letícia, não
precisa de mais explicação.
— Acho que isso tem haver com um dossiê que ele recebeu. Zach até
tentou me mostrar, mas joguei para ele de volta. Só que agora não tenho
mais acesso para saber quem fez aquilo.
— Dossiê?
— Outro dia ele apareceu com um relatório sobre a Letícia. Alguém deve
ter enviado para ele, porque temos uma excelente equipe para esse tipo de
serviço e não foi pedido a ninguém, então veio de fora.
— Estão fugindo do sol? — Liam se aproxima e eu tenho uma ideia.
— Liam, vamos reunir Martino, Bashir e Sebastian para o almoço e
tentar convencê-los de não continuar nisso. — Penso em Lorena sorrindo
para mim. — Se isso continuar eu vou perder a mulher da minha vida.
— Podemos falar na frente dele? — Liam olha para King, mas fala para
mim.
— É sobre isso que estou conversando com o senhor Scott. Deve ter um
jeito de pararmos isso. — King mesmo responde.
— Seu chefe é um bastardo filho da puta. — Liam fala veementemente.
— Qual a novidade nisso? O nosso segundo nome é bastardo. Menos o
seu, que é santo. O senhor perfeição.
— Sem brincadeira, E. Alguém sabe se a Letícia está melhor? — Liam
pergunta.
— Os vômitos têm diminuído, mas ainda não cessaram. Percebi que há
gatilhos como, alguns perfumes, algumas comidas...
— Como grávidas... — King sugere.
King e eu nos entreolhamos com a mesma pergunta, Será?. Nós somos os
únicos que sabem que os dois transaram em Abu Dhabi.
Ah merda! Merda! Merda! Agora, fodeu de vez!
Volto o foco da conversa para a aposta, King nos disse que Zachary
embarcará daqui uma hora, será o primeiro a nos deixar. Será perfeito,
sobrando somente os outros três para convencermos. E tem que ser rápido!
Ficou combinado que Liam levaria os três até a suíte dele para
conversarmos e que King faria de tudo para Zach não perceber a
movimentação.
A imprensa estava em peso nesse pontapé inicial das obras, a maioria
era da Europa e da América do Norte. Zachary é um modelo nos negócios e
em beleza, como presidente, respondeu perguntas sobre a Paradise com
desenvoltura. Perguntaram sobre tudo e ficamos preocupados que eles
sabiam muito sobre a vida da Letícia, perguntou o motivo da sua ausência,
qual o motivo que nos levou a fazer sociedade com ela e outras coisas
invasivas e inconvenientes. Ela irá odiar isso tudo. Posamos de gostosos
para as fotos, cada um estufando seu peito para parecer mais alto e mais
forte.
Somos uma piada.
——ooOoo——
Quarta-feira...
— O que aconteceu? — Acordei atordoada com os gritos da Lorena.
Levanto rapidamente para saber o que está acontecendo.
— Acabaram de entregar essa caixa com esse cartão para você. — Ela
senta na minha cama com uma caixa marfim e laço azul nas mãos.
— Para mim? De quem?
— Do gostoso da cobertura.
Merda! Merda! Merda! Coloco a mão na cabeça.
— Me esqueci do encontro. Sabe que horas são?
— Dezessete horas e... — Ela olha meu celular na mesinha de cabeceira.
Pulo da cama.
— Caramba! Dormi demais...
— Zachary te ligou cinco vezes e mandou oito mensagens. Ele está
ansioso para esse encontro, hein? Agora seja legal com sua melhor irmã e
abra essa caixa de uma vez!
A bendita caixa não era muito grande, mas indica que é de boutique.
Abro e encontro uma verdadeira obra de arte em renda, o sutiã é forrado
com um tecido rosa e a renda por cima branca bordado com pérolas, a
calcinha é da mesma maneira, apenas com perolas no laço atrás. É lindo...
Um detalhe me chamou a atenção, a lingerie parece ter sido feita com os
mesmos tecidos do vestido que usei no jantar em Abu Dhabi. Junto com as
peças tinha um pequeno cartão que dizia:
— Isso não vai servir em mim, Lolo. Meu sutiã não é o mesmo tamanho
da calcinha, meus peitos são grandes e tenho a sensação que estão
aumentando. Meu quadril é largo, essa calcinha vai ficar micro... — Um
calafrio percorre meu corpo e a insegurança toma conta. Lorena revira os
olhos.
— Dá um tempo, Letícia. Tenho certeza que quando vocês estão juntos
ele mede seus seios com a boca. Outro dia achei que ele cairia dentro da sua
blusa de tanto que olhou. Sobre a calcinha ficar micro em você, desde
quando suas calcinhas são macro? Vai ficar linda, vá tomar um banho
porque já está tarde.
— Cadê Ethan? Quando vocês estão na mesma cidade, raramente vemos
separados.
— Ele tem uma reunião agora noite. Então, Luck e eu marcamos um
campeonato de Xbox.
Desde que nos conhecemos, Lolo e eu investimos pesado em videogames
para meninas. Tenho dó do Luck, não sabe na enrascada que se meteu, é
difícil jogar com a Lorena. Sorrindo termino meu banho, seco meu cabelo e
vou para o closet. Não sei o que vou colocar por cima da lingerie, se
tivessem me entregue mais cedo, poderia sair e comprar alguma coisa.
Minha respiração acelera, a insegurança está cada vez maior. Será que ele
gostará?
Crio coragem e visto, olho-me no espelho e vejo a perfeição das peças no
meu corpo. Ficou perfeito, como se estivessem sido feitas para mim.
Lembro-me de algo que posso colocar por cima, vou ao closet e vasculho os
armários até encontrar o casaco branco que comprei quando estive em
Nova York a primeira vez. Ele é de um tecido bem pesado, forrado com seda
branca, perfeitamente cinturado e transpassado com seis botões pretos.
Fechado, pode ser usado como vestido.
Volto para frente do espelho para me contemplar, fico satisfeita com o
resultado, assim que calço o scarpin rosa.
— Está linda, Lê. Venha para sala que quero te mostrar uma coisa que o
Ethan mandou para mim.
— Coisa boa eu espero. Meu estômago está a um passo de começar a
dançar Macarena e meu casaco é branco demais para manchá-lo de sangue,
caso tenha que matar esse inútil.
— Olhe...
— Lorena. É fantástico!
A sala do meu apartamento está repleta de flores, de todos os tipos, de
todas as cores, um verdadeiro mar de rosas.
— Eu sei...
— Se você tinha alguma dúvida sobre o sentimento dele, agora não tem
mais.
— Ou ele fez uma cagada muito grande.
— Não pense assim. Só me faça um favor, coloque Luck no meio
daquelas orquídeas para jogar e bata foto dele com os meus fones rosa.
— Que maldade, Lê.
Tiro meu celular do bolso do casaco e olho as mensagens que Zachary
mandou para mim.
“Estou subindo”.
Beijo Lolo e entro no elevador. Meu coração está batendo tão rápido,
minha respiração está acelerada. Antes das portas se abrirem, respiro
fundo algumas vezes para acalmar-me.
Assim que as portas do elevador se abrem, encontro Zachary à minha
espera, vestido elegantemente com uma calça de alfaiataria preta e camisa
lilás tudo feito sobre medida.
— Venha. — Olha-me de cima a baixo com aprovação em seus olhos.
Estende a sua mão na minha direção.
— Seu apartamento é deslumbrante.
— Obrigado. Quer beber alguma coisa?
— Não...
— Esqueci-me de pegar seu casaco. Falha minha.
— Há mais alguém? Ruth? King?
— Não há ninguém por enquanto, somente você e eu. Por quê?
— Linda menina... Linda. — Uma ousadia toma conta de mim e
lentamente abro meu casaco, ele acompanha a abertura de cada botão e
fala com uma voz rouca.
Zachary pega minha mão e apressadamente caminhamos pelo
apartamento até chegarmos ao quarto, parando na porta.
— Eu deveria ser um cavalheiro, ir devagar, jantarmos, conversarmos e
depois te levar para a cama. — Zachary beija meu pescoço. — Mas não sou
um cavalheiro, Letícia. Essa é sua última oportunidade de sair...
Eu não quero sair, pelo contrário, quero ficar, o quero, quero tudo. Nós
nos encaramos por alguns segundos.
— Possua-me...
——ooOoo——
— Como assim não pode ter filhos? E o que está dentro de mim? — Ele
passa a mão pelo meu cabelo.
— No meu último check-up, o médico voltou a dizer que para ter filhos,
terei que fazer tratamento. Esse filho que você espera, não é meu.
Sento na cama a procura de uma explicação lógica. Zachary foi único
homem com quem deitei há meses. Não existe outro.
Depois de tudo o que aconteceu, será que acreditarão em mim? Não,
principalmente ele, que já está determinado a não acreditar na minha
palavra, assim como foi todo esse tempo. Até poucas horas atrás, sua
concepção sobre mim era a pior possível, acreditava que eu era uma
interesseira atrás do seu dinheiro. Acreditava não, acredita. Não adiantará
discutir, ele jamais se convencerá que essa criança é dele.
O médico passa as vitaminas que eu devo tomar e me dá alta,
aconselhando-me a fazer o pré-natal em breve, visto que eu já estava
entrando na sétima semana de gravidez, coincidindo com o tempo que
estive com ele em Abu Dhabi.
Peço licença para trocar de roupa e sair o quanto antes. Liam e Lorena
saem, deixando Zachary e eu sozinhos. Ele me segura.
— Eu sei que você não é interesseira. Realmente transamos e acho que
se eu estivesse no seu lugar, também optaria por aquele que pode dar tudo
ao meu filho... — Em um impulso, bati na cara dele com o braço livre e com
toda a força que me restava.
— Escute bem, seu cretino, da próxima vez que ousar abrir a boca para
falar uma asneira dessa novamente, eu arrebento essa carinha de modelo.
Eu não preciso de homem nenhum para sustentar meu filho e jamais
escolheria um que aposta a vida de outras pessoas. Quem me garante que
não esteja dando uma desculpa barata para não assumir? Afinal, sou uma
vaca negra de terceiro mundo, poderia pegar mal para os Thorton O´Brian.
— Jamais repita uma asneira como essa entendeu? — Ele fala alto,
puxando seus próprios cabelos. Seus olhos são amargurados. — Você é
linda como poucas pessoas nesse mundo. — Ele beija minha testa e vai em
direção à porta. — Você está fraca, acabou descobrir que está grávida, não é
hora para discussão. Outro dia conversamos. — Sai fechando a porta atrás
dele.
Minha raiva é tão grande que levanto da cama sem ajuda e com um dos
meus braços enfaixados, jogo tudo o que está à minha frente no chão. Liam
entra e tenta me conter enquanto me debatia, quando minha força se
esvaiu de vez, restou só o choro e a ferida do meu braço sangrando.
Ele me abraçou e me deixou chorar por tudo, pela aposta, pelo ódio da
Maggie e pelo meu filho sem pai. Tive certeza de que não nasci para ser
feliz e não quero que essa criança seja fadada ao mesmo desastre que eu,
farei o mundo dela colorido, onde ela será tão amada que não sentirá falta
de ter um pai.
O médico e a enfermeira voltaram e eles refizeram meu curativo, Lorena
ajudou-me a vestir a roupa que trouxe e me preparei para sair. Havia
alguns seguranças na porta do meu quarto, soube que sairíamos pelos
fundos porque a imprensa ainda estava em peso esperando minha saída. Os
seguranças fizeram uma barreira ao meu redor até entrar em um carro com
vidros pretos.
Havia muitos fotógrafos na frente do prédio, por segurança, fui levada
para um hotel um pouco distante dali. Não estou acostumada a esse tipo de
assédio e acho desnecessário porque não sou ninguém. No caminho vou
digerindo tudo o que aconteceu desde ontem. Se outra pessoa tivesse me
contado, não acreditaria.
Quando Martino e Sebastian entraram no quarto em que eu estava, achei
que o italiano iria ter um treco. Ele se jogou no chão ao lado da cama
repetindo perdonami. Sebastian tão arrependido quanto o outro, também
me pediu perdão, disse que não se perdoaria se Maggie tivesse me matado.
Eu os perdoei, depois do que aconteceu, duvido muito que queiram apostar
alguma coisa outra vez.
Ethan era o mais arrependido de todos. Vi tristeza e até arrependimento
nos olhos dos outros, mas dor, só nos do Ethan. Toda vez que Lorena estava
por perto a dor dele era evidente. Ele sentou na cadeira ao lado da cama e
colocou a cabeça no meu colo e ali, chorou, copiosamente. Como um
menino que tinha perdido seu melhor amigo, como um homem que perdeu
a coisa mais importante da sua vida. Ethan já vinha sofrendo demais,
começou a pagar pelos seus pecados, antes de ser julgado.
Eu não deveria perdoá-los, mas o fiz assim que vi a carinha de cada um
depois que acordei. Talvez, eu até devesse me vingar, mas não consigo, não
sei ser assim. Depois que a Maggie contou tudo o que fez, a aposta era
quase nada. Cedo aprendi que carregar mágoas, é como carregar pedras,
cansa, torna o caminho mais difícil. Prefiro coloca-las de lado para que não
atrapalhe o caminho do próximo. E mais, não quero gerar outra vida
afundada em rancores, quero que ele ou ela, conheça o amor em sua
plenitude.
Quando chegamos ao hotel, fui instalada em uma excelente suíte. O
quarto era espaçoso, havia duas camas de casal, a decoração era delicada
em tons pastéis. Havia uma poltrona no canto e ao lado uma mesinha
redonda com duas cadeiras e da sacada dava para ver toda a cidade. O
banheiro era praticamente outro quarto, amplo, com uma banheira branca
de um lado, a ducha de outro e a bancada que ocupava toda uma parede,
em mármore rosado.
— Qualquer coisa que precisar, eu estarei na suíte ao lado. Há
seguranças na saída do elevador e guardando sua porta. — Liam fala.
— Eu preciso de respostas, Liam.
— Lê, você acabou de sair do hospital. Vamos fazer isso outra hora.
— Não. Vamos fazer isso agora. Sente-se Liam, por favor. — Assim que
ele se senta, continuo. — Me fala sobre a aposta.
— Letícia...
— Por favor, Liam. Me fala sobre a aposta.
— Zachary e eu estávamos tentando te conquistar, Martino e Sebastian
também falaram do interesse, afinal, você é uma mulher bonita, inteligente.
No meio da discussão que até era bem-humorada, Ethan deu a ideia da
aposta...
— A ideia absurda só poderia ter saído de uma cabeça absurda. —
Lorena fala.
— Ele não falou aquilo a sério, só fez um comentário tirando com a
nossa cara. Mas Sebastian levou a brincadeira um pouco mais a sério e
falou que topava. Mas Ethan e eu não iríamos participar da disputa,
somente assistir... O ato. — Percebi que Liam não queria me olhar. — O que
a ex-assistente do Zachary falou é verdade, eu deveria ter aberto uma conta
e eles deveriam ter depositado, mas nada disso foi à frente. O mais
interessado era Zachary, mas não pela aposta e sim por você. Assim como
eu, ele te quis desde que te viu. Pensando bem, o que a garota falou explica
muita coisa...
— O que?
— Ethan e eu nos reunimos com o Martino, Sebastian e o Bashir. Fomos
ver se conseguíamos dissuadi-los da aposta, eles nem quiseram ouvir muita
coisa, disseram que não e, pronto. Ethan voou no pescoço do Martino e por
muito pouco não fez uma loucura. — Ele pega minha mão e olha sério para
mim. — Eu não quero justificar o erro e nem defender ninguém, por mais
que eu não quisesse estar ali, poderia ter feito qualquer coisa e não fiz. Não
acredito que falarei isso, mas, Zachary está apaixonado por você, ele só não
sabe lidar com isso.
— Não acredito e também não quero falar disso. Vocês sabem como
estão Luck e Kaleb?
— Estão bem, te mandaram um beijo e Luck disse que em breve estará
conosco.
— E a Maggie?
— Ela foi autuada e levada para fazer exames psicológicos. Dependendo
do resultado, eles a levarão a uma prisão adequada. Mudando de assunto,
vocês duas embarcarão para Dublin comigo, amanhã. — Liam estende um
cartão na minha direção. — Esse é um dos melhores médicos daqui, caso
queira se consultar com ele antes de viajarmos. Pedi isso a um amigo e ele
já deixou tudo encaminhado, é difícil conseguir uma consulta com o Phillip,
ele é muito requisitado. De qualquer maneira, estão esperando sua ligação
para encaixa-la amanhã mesmo se for preciso. Letícia, talvez você não goste
que eu tenha tomado à frente, mas lá, é o único lugar que a imprensa não irá
te caçar.
Não tenho nada a perder em tirar folga dessa loucura...
— Sem problemas, Liam. É bom ter alguém para cuidar das coisas para
mim neste momento.
— Vou acertar os detalhes da viagem e descansar. Vocês duas também
descansem. — Ele beija minha testa e a da Lorena.
— Obrigada, Liam... — Ele pisca e se vai.
— Lolo, nós não temos roupa para trocar e nem para viajar...
— Por enquanto a gente fica pelada e você vai se despedindo desse
corpo magro. King me disse que a situação está complicada, os fotógrafos
não saem de lá por nada. Então, combinamos que ele me colocaria para
dentro pelos fundos, pegarei roupas para mim e para você. E vou agendar
seu médico para amanhã. — Ela coloca a mão na minha barriga. — Temos
que cuidar desse bebezinho.
— Lolo, lá no hospital, Zacha...
— Esqueça tudo isso. De agora em diante, pensaremos somente nessa
criança. Já tenho planos, se for menina, vou repassar todo meu
conhecimento para ela pisar na cabeça desses imbecis.
— E se for menino?
— Ensinaremos como não ser um imbecil.
— Você será a melhor tia do mundo.
— Sou mesmo. Não esqueça que você tem que contar para dona Aurora
que ela vai ser avó e não quero estar perto.
— Ai! Estou toda dolorida.
— Toma um banho e deita para descansar, deixa o resto comigo e meu
assistente.
— Assistente?
— Ah sim, me deram um assistente chamado King.
— King é um gigante gentil. Lorena, eu sei que não é da minha conta e
não quero ser inconveniente, mas Ethan está sofrendo demais... — Ela
coloca as mãos na cintura.
— Que morra! O dia que ele crescer e se tornar um homem de verdade,
quem sabe, talvez, um dia, poderemos conversar. Até lá, nada de Ethan.
— Ok.
Tomo um banho, enrolo-me na toalha e deito na cama quentinha. Meus
pensamentos vão até Zachary, eu daria tudo para estar nos seus braços
agora. Daria qualquer coisa para ele me amar e acreditar que não quero
saber do seu dinheiro. Mais uma vez, a vida me mostrou que o amor não
está ao meu alcance. Passo a mão pela minha barriga, o amor está dentro de
mim, sendo gerado. Sorrio como uma boba com pensamentos incoerentes.
Adormeço repetindo... Eu vou ser mãe.
——ooOoo——
——ooOoo——
Nos três dias que se seguiram, eu não saí do quarto para nada, comi
muito pouco, pensei muito e chorei muito mais. Acredito que tenha
chegado ao fundo do poço, levantei apenas para tomar banho, porque
deprimida tudo bem, mas fedida é exagero. Liam e Lorena vinham e logo
saiam, respeitaram meu momento, sabiam que eu precisava disso. Dona
Abigail, vinha, trocava a bandeja de comida, muitas intocadas, mas sempre
deixava uma frutinha.
Na noite passada tive um pesadelo onde Zachary tomava meu filho
depois dele nascer e meu coração apertou ainda mais. Hoje, lembro-me de
que sonhei com algo parecido com aquela noite fatídica da aposta,
provavelmente Deus me mostrando o futuro. Ele não teria coragem de tirar
o meu bebê de mim, teria?
— Boa tarde, princesa... — Em meio ao meu delírio, sinto alguém
mexendo no meu cabelo, abro os olhos e vejo a tia Aurora, mãe da Lolo.
Não esperei ela terminar de falar e abracei tão forte quanto podia. Mais
uma vez o choro se manifestou com força. E eu achando que não tinha mais
lágrimas.
— Desculpa por isso... — Ela seca minhas lágrimas e beija minha testa.
— Como uma das minhas meninas está grávida e eu só fiquei sabendo
agora?
Olho para ela e encontro um sorriso acolhedor, como o de mãe.
— Foi tudo tão rápido e não tinha cabeça...
— Eu sei, Lê e vim para cuidar de você. — Ela me abraça novamente. —
Parabéns minha filha, ser mãe é maravilhoso e você será uma ótima mãe.
— Tia Aurora coloca a mão na minha barriga. — Essa criança te trará
muitas alegrias.
— Obrigada...
— Então, vamos tomar um banho e comer alguma coisa? Por falar em
comer, terei que colocar um vestido de gala para jantar na mesa do castelo?
Que casa é essa?
Começo a rir, Lorena puxou o senso de humor da mãe.
— Não. Todos são muito simples por aqui.
Depois do meu período de luto que se estendeu por mais um dia, decidi
levantar e viver. Não dá para ficar me lamentando para sempre. A mãe da
Lorena era minha companhia para as caminhadas pelos jardins, algumas
vezes Abigail nos acompanhava também. Na volta de uma das minhas
andanças, vou ao escritório do Liam e bato na porta.
— Pode entrar.
Abro a porta e o encontro em uma mesa trabalhando, aproximo-me em
silêncio para não atrapalhar. O lugar é muito bonito, talvez escuro demais
por causa dos móveis que é de uma madeira escura e provavelmente antiga
de alguma realeza viking.
— Oi. Não queria te atrapalhar.
— Você nunca atrapalha. Fico feliz que você esteja se sentindo bem,
estávamos muito preocupados.
— Eu precisava de um tempo...
— Eu sei, não é fácil. — ele estende a mão para mim. — Venha ver o que
estou fazendo.
— O que é?
— Projeto da casa do Martino. Enquanto eu não comecei, ele não me
deixou em paz. Ficará naquela encosta em que você apontou para fazer a
vila dos sócios. — Liam vai até um armário e pega um tubo, lá de dentro
tira outro projeto. — Esse aqui é o hotel principal, venho projetando há
meses.
— É perfeito! — Nossos olhares se encontram. — Não esperava menos
de você.
— Estou feliz por ter a Letícia de volta, sorrindo. Ouvi sua risada quando
estavam na piscina e agradeci aos deuses por você estar se recuperando.
Se eu pudesse escolher por quem me apaixonar, sem dúvidas escolheria
Liam. Ele é gentil, íntegro, honrado, o tipo de homem ideal para se
constituir uma família, além de charmoso e muito bonito. A mulher que se
casar com ele, ganhará na loteria de homens.
— Letícia?
— Desculpa, me perdi em meus pensamentos. Liam estava pensando
que eu poderia voltar a ocupar minha cabeça com o trabalho, começando
pelo resort. Com a saída da Mag, acredito que o Zac... Zachary esteja um
pouco perdido. Então, eu poderia trabalhar nisso e deixar para ele somente
aquilo que for imprescindível que ele faça. O que acha?
— Acho uma excelente ideia. Mas está mesmo pronta para isso?
— Sim.
A partir daquele sim e dos dias que passaram Lorena e eu trabalhamos
no escritório com Liam incansavelmente. Ele e eu estamos muito próximos,
acho que ontem à noite até rolou um clima ou eu que vi demais.
Consegui colocar todas as minhas coisas em dia e ligar para Zachary,
estou há dias criando coragem e me preparando psicologicamente para
isso. Por mais que eu esteja pronta para falar com ele, não sei se estou
pronta para ouvi-lo. Só de pensar nele, meu corpo acorda com uma
facilidade incrível e meu coração, mesmo partido, bate no ritmo acelerado.
Pedi licença para todos e fui para o meu quarto ligar, não vou fazer isso
para que todos vejam como ele me afeta ainda. Preferi ligar para empresa, é
mais impessoal.
— Thorton Holding International boa tarde.
— Boa tarde. Eu gostaria de falar com o senhor O´Brian, por favor.
— Em nome de quem?
— Letícia Barros sobre a Paradise.
— Ah sim, senhorita Letícia. Tenho ordens para repassá-la. Só um
momento.
Mal foram dois toques e ouço aquela voz que faz meu corpo arrepiar em
antecipação.
— Letícia... — Abro a boca, mas fecho rapidamente para que meu
coração não saia por ela. Balanço a cabeça, concentro-me e falo de uma vez
antes que a minha voz suma.
— Boa tarde, Zachary. Estou te ligando para te fazer uma proposta.
— Diga. — Respiro fundo.
— Acredito que com a saída da sua assistente, você ainda não conseguiu
tempo para ver o andamento das obras que a Paradise está tocando. Então,
queria ficar à frente disso e repassar para você os relatórios, claro e as
coisas que só você pode resolver. O que acha?
— Antes de tudo, como você está?
— Estou bem e você? — Como pode me afetar tanto?
— Já tive dias melhores. Não acha muita coisa para você se preocupar?
Agora tem... A gravidez...
— Eu dou conta. Poderia pedir a sua nova assistente para me enviar os
arquivos da Maggie, por e-mail? — Fecho os olhos e imagino seu sorriso e
logo a cena dele me dizendo que não era pai do meu filho.
— Eu não tenho novos assistentes, mas vou pedir ao Ted e ao Joe para
que te auxiliem nisso. Letícia...
— Por favor, Zachary, não fala nada. Obrigada. Tchau.
— Bye.
Desligo o telefone antes que ele pudesse perceber que minhas lágrimas
caiam. Lorena entra no quarto, seco as lágrimas rapidamente.
— Letícia, não acha que está na hora de pensar em você? Liam está ali ao
lado cheio de amor para dar.
— Ainda não estou pronta...
— Não está pronta, porque não quer estar. Você sofrerá de qualquer
maneira, mas sofra na cama de alguém que a faça bem. Eu te conheço, vai
virar aquelas mães loucas que vivem apenas para os filhos. Os coitados não
podem fazer nada, só respirar.
— Não serei...
— Ha! Duvido. Pelo menos faça um teste, não tens nada a perder.
— Falei com Zachary.
— E?
— E nada. Falei o que tinha para falar e desliguei.
— Estou sabendo que aquele lá, está pagando todos os pecados. — Ela
abre um sorriso maligno.
— Sorriso diabólico esse. Por que você está sorrindo dessa maneira?
— De que maneira, Letícia?
— Tipo o Coringa do Batman.
— Porque ele tem que sofrer para crescer. Sabe que adoro o Zachary?
Ele sempre foi muito querido comigo, acabei me acostumando à companhia
dele. E cá entre nós duas, que homem é aquele? Vai ser lindo assim na casa
do ca...
— Lorena! Não quero você falando palavrão perto dessa criança.
Ela levanta as mãos.
— Ok. Agora se arruma e vai dar mole para o irlandês.
Acompanho Lorena sair do meu quarto e fico a pensar. Será?
Capítulo 32
Mais tarde, depois daquela conversa absurda com a Lorena, Liam me
chama para conversar na piscina. Continuo a pensar seriamente no que
aquela doida falou e acho que vou seguir seu conselho. Lembro que foi a
Lorena que escolheu minhas roupas, já que não tive oportunidade de fazer
minhas malas pessoalmente, tenho até medo do que vou encontrar.
Procuro uma roupa descentemente sexy, encontro um vestido longo, frente
única, estampado com cores vivas, nada haver com a Europa, mas tudo
bem.
Deveriam disponibilizar um mapa para andar dentro dessa casa, eu não
faço ideia de onde estou. Encontrei Conley, o mordomo, que fez a gentileza
de me acompanhar até a piscina. Por falar em gentileza, o povo irlandês é
muito simpático e receptivo. Vejo Liam sentado na beirada da piscina toda
iluminada, a noite está linda, perfeito para namorar.
Ele se vira assim que percebe minha presença.
— Você está linda.
— Você também. — Sorrio e Liam estende uma mão para mim.
— Quer caminhar comigo? O jardim é todo iluminado.
Coloco minha mão sobre a sua e saímos para caminhar. Sinto-me uma
princesa de contos de fadas, um castelo, um jardim e um príncipe.
Entrelaçamos nossos dedos e caminhamos por minutos, sem dizer uma
palavra. Eu estava encantada com a beleza do lugar, quanto mais
andávamos, mais flores apareciam. Paramos em um lugar que é tomado por
flores lilás com amarelo, seu perfume era diferente e delicioso.
— Se eu estiver ultrapassando qualquer limite, por favor, me avise.
— Não está...
— Esses últimos dias trabalhando juntos, só serviram para aguçar ainda
mais meu interesse por você. Eu sei que está passando por um momento
delicado, mas se você permitir. — ele acaricia meu rosto. — Eu ficarei ao
seu lado. Não é certo que uma mulher como você, tenha que passar por isso
sozinha.
Quando ouço a expressão mulheres como você, fico apreensiva.
— Uma mulher como eu. E como eu sou Liam?
— Você é guerreira, inteligente e linda. — ele coloca sua outra mão no
meu rosto e me dá um pequeno beijo nos lábios.
No começo eu apenas o olho, sem reação, acho que preciso de mais para
tirar alguma conclusão.
Coloco meus braços em volta do seu pescoço e o beijo. Liam beija muito
bem, mas não me desperta. Meu corpo continua inerte, gélido, não há
desejo. Separei minha boca da dele e o brilho dos seus olhos me fez sentir
culpada. Ele coloca um dedo embaixo do meu queixo e levanta meu rosto.
— Ei, olha para mim. — Levanto meu rosto. — Não vou te forçar a nada,
muito menos exigir.
— Obrigada, Liam.
Fizemos nosso caminho de volta e encontramos seus pais chegando.
Muito sem jeito, fico mais atrás quando Liam cumprimenta seus pais. Eles
são um casal de idade, sua mãe tem um rosto angelical como de uma vovó
de histórias infantis, baixinha, bochechas rosadas e coque. Seu pai é alto,
forte, Liam é a sua cópia.
Liam coloca sua mão nas minhas costas e me força a andar.
— Pai, mãe, essa é a Letícia, a executiva brasileira que falei para vocês.
— Seja bem-vinda minha filha. — Sua mãe vem ao meu encontro e me
abraça. — Espero que esteja sendo bem cuidada. Liam não se incomoda
nem em mandar servir a comida. — Seu pai aperta minha mão.
— Tenho ouvido coisas boas ao seu respeito, fiquei impressionado com
o projeto do resort e com a nova companhia. Parabéns.
— Obrigada aos dois. Fico feliz que o senhor tenha gostado do projeto.
Fomos para a sala de jantar, Lolo e a mãe dela se juntaram a nós, graças
a Deus! Eu já não sabia mais onde enfiar a cara. Durante o jantar apenas
respondi as perguntas que me faziam e foram muitas. Uma de suas irmãs
chegou com o marido e cinco filhos, realmente uma linda família. Então fiz a
pior coisa que poderia fazer, imaginei seus outros irmãos com suas
famílias, Liam e a esposa que já morreu. Meu coração apertou, porque é
justamente isso o que eu queria para o meu bebê, uma enorme e
barulhenta família. Nem isso eu poderei dar a ele...
Com esse pensamento, voltei a me sentir mal, pedi licença e fui em
direção ao meu quarto. Liam vem ao meu encalço.
— O que houve? Está se sentindo bem? — Se eu me virar, ele verá que
estou chorando e o que eu menos quero agora, é estragar seu jantar em
família.
— É só um enjoo, Liam. Volte para a mesa. — Antes que ele pudesse
dizer qualquer coisa, subo as escadas rapidamente.
— Está melhor? — Mais tarde, Lorena bate na porta e entra. Aceno que
sim. — Vai me contar o que aconteceu?
— Lembra que uma vez te contei que era frígida?
— Você é muito sexy para ser frígida. Você me contou que tinha
dificuldade de ficar excitada.
— Mesmo com o João Paulo, eu não sentia aquele calor que faz a gente
subir pelas paredes, pelo menos sentia alguma coisa. Desde que me separei,
não conseguia ter prazer com homem algum. Fui a médicos, psicólogos e
todos me disseram a mesma coisa, é psicológico.
— Conseguia?
— Sim...
— Porque agora consegue?
— Consegui. — Tento me manter séria. Ela colocou um braço sobre meu
ombro
— Deixa eu adivinhar, bastou aqueles olhos azuis misteriosos, como o
Mar Mediterrâneo, te olhar e você gozou. Daí, naquela noite dramática em
Abu Dhabi, a senhorita com a costela quebrada, fodeu ele até arrebentar a
perseguida. Acertei?
Aceno que sim e ela continua.
— Noite essa, que foi concebida o nosso bebê. Certo?
— Sim...
— Garota de sorte e safadinha. Nós todos preocupados e a senhorita
dançando a dança da cobra com o bonitão. Inveja me define agora. — Ri
muito. Sei que ela fala essas besteiras mais para me alegrar. Eu a amo por
isso, por cuidar de mim, por ser hiper protetora, amo-a por ser Lolo.
Ao apagar as luzes e de volta a solidão, Zachary volta aos meus
pensamentos, às imagens do seu sorriso, imagens daquela noite. Como
pude amar alguém tão intensamente? Ao ponto de esquecer tudo o que fez
para mim e desejá-lo a cada minuto. Só de reviver esses momentos em
minha cabeça, meu corpo se desperta com as lembranças, passo a mão pelo
meu corpo como ele fez e enquanto me toco, as cenas daquela noite de
luxuria passam repetidamente, fazendo com que eu alcance o orgasmo.
Que loucura!
——ooOoo——
Letícia
——ooOoo——
——ooOoo——
Alguns dias se passam sem que nenhum de nós entre em contato com o
outro. Mas nesse tempo uma pergunta ficou me perseguindo, como Zachary
sabia que era um menino e como ele sabia o nome? Ele não faz perguntas
sobre a minha gravidez, às vezes tenho a impressão que ele até ignora.
Hoje estou em um desanimo só, levantei tarde, só escovei os dentes e
lavei o rosto. Fui para a cozinha de camisola, escrito “Keep calm... Download
97%” e pantufa. Luck e Lorena estavam na mesa da cozinha trabalhando
cada um em seu computador. Ele provavelmente está cantando alguém em
algum chat. Outro dia eu passei pelo seu notebook que estava ligado e
aberto para todo mundo ver e contemplei sua proteção de tela, uma mulher
seminua mandando beijo. Se a proteção já é assim, imagina o que tem lá
dentro? Ethan também está na mesma mesa com o computador e falando
no telefone. Isso aqui virou central dos trabalhadores agora.
— Bom dia, Lê. — Luck me serve uma caneca de chá. — Noite ruim?
— Sonhos que me perseguem. Onde vou tomar café?
— Aqui, patroa. — Lorena me pega pela mão e vai levando-me para a
sala.
— Obrigada, escrava branca.
— O que foi, Lê? Está tudo bem?
— Estou acordando ainda.
— Você tem trabalhado demais, seus horários estão trocados, assim é
complicado.
— Tenho dormido demais, isso sim.
Hoje, pretendo colocar muita coisa em ordem, começando por organizar
a mudança da tia Aurora para cá, antes dela viajar para a Grécia. A mulher
resolveu conhecer o mundo, agora ninguém segura. Tenho que ver como
ficará minha situação na Global, provavelmente terei que dar um pulo no
Brasil para resolver esses detalhes. E, não menos importante, arrumar o
quarto do Mateus.
Terminado de tomar café, vou para o banho para espantar a preguiça e
vou para o closet, caçar alguma coisa para colocar. Como não pretendo sair
de casa, pego um conjunto de moletom dois tamanhos menores do que
estou atualmente, um camisetão para cobrir a barriga e tênis. Estou
cansada de ser chique para os fotógrafos, quero minha vida sem sal de
volta.
Contemplo a vista da janela do meu quarto, adoro o outono em Nova
York, é diferente do outono no Brasil, aqui as cores são diferentes, as flores
também são. Quando eu tinha dez quilos a menos eu costumava caminhar
pelo Central Park, agora, mal consigo caminhar do quarto para a cozinha.
Ouço vozes na sala e vou até lá para ver quem é e dou de cara com
Zachary. Se arrependimento matasse, provavelmente eu já estaria morta.
— Olá, Zachary. — Cumprimento de longe.
Só que ele não fica satisfeito, aproxima-se e beija meu rosto. Tranco
minha respiração para não cair tentação.
— Boa tarde, menina dos olhos dourados. — Basta ouvir a voz do seu
pai e o bebê começa a sambar na minha barriga.
Olho para Lorena e Ethan que estavam no sofá.
— Que horas são?
— Duas horas da tarde.
— Meu Deus, eu não tenho dormido e sim desmaiado.
— Normal mamãe.
Eu tenho que perguntar ao Phillip sobre isso. Preciso me certificar de
que realmente é normal, estou ultrapassando o limite do sono, tenho
dormido cada vez mais. Ouço-os rindo e viro-me para ver o que é.
— Por que estão rindo?
— Ficou gostosa com essa calça, Lê.
— Aff! Nada mais me serve. — Aponto para a direção do meu mini
escritório. — Eu vou trabalhar lá. Com licença.
Saio rapidamente da sala e solto a respiração assim que fecho a porta
atrás de mim. Nesse momento em que os meus hormônios estão
descontrolados, corro um grande risco de fazer uma besteira e ferrar com o
meu coração novamente, como foi na última vez, que passei três dias
chorando o fato dele amar outra.
Sento, ligo meu computador e vou diretamente responder meus e-mails
que não são poucos. Em seguida ligo para o Kevin e converso com ele sobre
como irá ficar minha posição na Global.
— Não acho correto você pedir demissão agora. Vamos fazer o seguinte,
fica de licença e quando der para você voltar, resolveremos como vai ser.
— Obrigada, Kevin. Sinto saudades do pessoal, manda um beijo para sua
família.
— Mandarei sim. Cuide-se. Até.
Minha próxima tarefa é ligar para a mãe da Lolo para passar a data da
viagem e passar a lista do que ela precisa trazer para mim. Canso de ficar
sentada e levanto para me alongar, vou até a janela e perco a noção do
tempo. Não vi e nem ouvi entrarem no escritório. Antes que eu pudesse me
virar, tapam minha boca, encostam-me na janela, tomando cuidado com a
minha barriga.
— Eu venho tentando ser uma boa pessoa, reunindo todas as minhas
forças para ser um homem honrado, mas cada vez que te vejo, eu fico cego
de desejo. — Aquela voz grave no meu ouvido, a mão na boca, toda a cena
me faz desejosa, sentindo fome de Zachary. — Eu sei que você é proibida
para mim e isso torna tudo mais gostoso.
Ele tira a mão que estava na minha boca e desce pela lateral do meu
corpo, alcançando o meio das minhas pernas.
— Isso. Quanto mais você aperta as pernas, mais molhada fica. — Seu
membro esfregando na minha bunda está me enlouquecendo...
— Letícia? — Alguém bate na porta e me chama. Como um raio ele me
solta.
Não reconheço a voz de imediato e pergunto na esperança de convencer
quem está lá fora a não entrar e ao Zachary para continuar o que estava
fazendo.
— Quem é?
— É o Liam, Lê. Posso entrar?
Olho para Zachary e seu olhar me dá medo, aquele velho e conhecido
iceberg, está de volta. Ele abre a porta, acena para o Liam e sai. Já não fico
mais chocada com essas atitudes dele, eu sei que ele me quer apenas para
uma transa, mesmo grávida, talvez seja algum tipo de fetiche, mas não
passa disso. Ele tem a sua paixão e está se contentando em me pegar.
Tento disfarçar minha decepção, abraço Liam apertado.
— Que bom que você veio.
— Está tudo bem? Por que o Zachary saiu daquela maneira?
— Não faça pergunta difícil. Eu não sei quem é mais fora da casinha, ele
ou eu. Cadê a Julia?
— Está na cozinha com a Lorena. Eu tenho uma reunião amanhã pela
manhã, mas sem hora para acabar. Trouxe uma documentação para você
dar uma olhada e perguntar se a Júlia pode ficar aqui enquanto estou preso
com essa negociação.
— Claro. Tudo certo para o casório?
— Marcamos para a primavera.
Lorena e Julia entram e ela vem me abraçar. Adoro a Julinha, essa
menina é uma excelente assistente, uma amiga para todas as horas e a
mulher perfeita para o lindo irlandês, Liam Larkin. Fora que ela é linda,
uma bela morena com cabelos longos e lisos, olhos castanhos e puxados, os
cabelos e os olhos são traços indígenas e a deixa ainda mais bonita. Alta,
com um bonito corpo, voz mansa e uma tranquilidade de dar inveja.
— Está com uma carinha de cansada, Lê.
— Trabalha demais. Ué, cadê o Zach? — Lorena pergunta.
— Do jeito que ele saiu, achei que a Letícia tinha o expulsado.
— Não expulsei ninguém...
— Queria tanto conhecer o senhor O´Brian. — Julia senta no colo do
Liam.
— Não perdeu nada.
Olhando-os sorrindo e apaixonados, vem o bichinho traiçoeiro da inveja.
Sou feliz por eles, eu torço por todos eles, que merecem ser felizes tanto
quanto eu. Mas eles não se dão conta do quanto são felizes por terem
alguém que os ame, mesmo com seus defeitos, seus caprichos.
Passo a mão sobre a minha barriga, percebendo o quanto eu sou sortuda
por tê-los em minha vida.
Capítulo 36
Zachary
— King, fala para ela que eu a quero aqui em quinze minutos. — Ele faz
uma careta para mim. Como coisa que me assusta.
— Ela está grávida e tem que ir com calma, Zach. — Esse protecionismo
com a Letícia me irrita.
— Quatorze minutos, Kingston. — Seu bom senso o fez ligar e dar o meu
recado.
Desde aquele dia que quase a fiz trair o Larkin, o que seria bem
merecido, Letícia e eu nos encontramos somente para falar de negócios e
sempre aqui na empresa. Eu não consigo manter distância dela, algo me
puxa para aquela mulher. Inúmeras vezes eu já me peguei a observando de
longe, como um adolescente descobrindo o sexo com a empregada, fica se
masturbando quando olha pela fechadura. Essa é minha situação...
Continuo a acompanhar sua vida de longe, seus horários, suas consultas;
sei que ela está comendo bem, mas o cansaço está a incomodando muito.
Sua barriga está grande, seus pés incham frequentemente, então, foi
obrigada a substituir o salto pelas rasteirinhas.
Só que ela é noiva de um filho da puta que resolveu enterrar o umbigo
no Brasil com a desculpa de que está supervisionando as obras, enquanto
ela fica aqui sozinha. E isso tem tirado o meu sono, o Larkin sempre foi
responsável, parecia apaixonado por ela e agora foge como se não tivesse
responsabilidade nenhuma. Bastardo. Se não é o pai da criança, porque
resolveu casar com ela? É justamente essa hora que ela precisa de
cuidados.
Letícia é meu ponto fraco, ela tem o poder de tirar qualquer coisa de
mim. No dia que acabei falando o que se passava, ela me disse que eu
estava apaixonado. Não acredito que seja paixão, acho que está mais para
loucura. Passei dias pensando e cheguei a seguinte conclusão, estou louco
por uma mulher grávida e que vai se casar com um dos meus sócios.
Parabéns, Zachary, você está cada vez mais perto de ganhar o troféu
“Trouxa do Ano”.
Ficar perto dela e não poder tocá-la exige muito de mim. Gosto das
nossas conversas, eu adoro irritá-la. Seus seios estão cada vez maiores;
aquela bunda está do tamanho certo para mim. A última vez que a coloquei
contra a parede, eu estava disposto a ir até o fim, sentir o seu corpo contra
o meu, me deixou maluco, mas aquele infeliz teve que aparecer. Costumo
agir como homem, transar com as mulheres dos meus colegas ou sócios,
não está na minha lista, só que a Letícia lançou a merda de um feitiço sobre
mim. Por mais que eu queira, não resisto a ela.
King entre na minha sala com uma Letícia abatida, andando lentamente
e suas pantufas do caracol do desenho do Bob Esponja, não passaram
despercebidas.
— Boa tarde, senhora Letícia. Andou fazendo o que não deveria para
estar nessa situação? — Ela senta com cuidado.
— Andei dando para quem não devia ter dado. Vamos direto ao assunto,
quero voltar para casa. Como você pode perceber, eu não estou muito bem.
— Se eu soubesse, não teria...
— Claro que teria idiota. Você faz as cosias para me irritar, para me
punir por alguma frustração sua. Sei lá.
— Quer voltar para casa? — King me olha de cara feia e fala para ela.
— Não, agora vou trabalhar aqui. Senhor O´Brian, avisa sua secretária
que quero um chocolate quente, um queijo quente, duas torradas com
creme de amendoim e presunto.
— Tem certeza que essa combinação de alimentos, fará bem a você?
— Você é o meu médico para ficar dando palpites? Ai... — ela se ajeita na
cadeira com dificuldade.
— O que foi?
— O Mateus está se mexendo demais e desde ontem está doendo
quando isso acontece.
— Você vai mesmo chamá-lo de Matthew? — Falo sorrindo. Detestei o
nome.
— Mateus... — Ela repete.
— Foi o que falei...
— Não, não foi. Não é Matthew porque o meu filho é brasileiro, então é
Mateus e assunto encerrado porque não é da sua conta!
Essa não é a Letícia, ele não age dessa maneira. É sempre muito doce e
agradável, o sorriso é o seu cartão de visitas. Viro-me para King.
— Prepare o carro. Estamos indo ao médico.
— Eu não vou a lugar algum com você. — King e eu trocamos olhares,
ele acena e sai. Eu ajudo a levantá-la.
— Consegue andar?
— Estou grávida e não inválida. — Ela coloca a mão na barriga. — Ai...
Doeu.
Pego-a no colo, passo pela minha secretária.
— Pega minhas coisas rápido e chama o elevador. — Enquanto
descíamos, passei instruções. — Não voltarei ao escritório, o que for
urgente, repasse ao Ted ou para o Joe.
— Sim, senhor.
Fomos até a garagem, King estava nos esperando de porta aberta.
— Phillip já está nos esperando.
— Então vamos.
Letícia tenta sair do meu aperto, eu não permito. Ela começa a me
estapear no peito e lágrimas caem de seus olhos.
— Por que você faz isso comigo? Eu te odeio Zachary.
— Pode me odiar. Cadê o cretino do Larkin que não está aqui?
— O que você tem com o Liam? Amor mal resolvido? Que cisma!
— Ele deveria estar com você...
— Ele não tem obrigação nenhuma de estar comigo, assim como você.
Eu não te pedi nada, Zachary. Se não queria estar perto de mim, bastava me
evitar. Passei uma vida toda sozinha, eu não preciso de ninguém... — Sua
voz quebra na última frase.
— Você nunca mais estará sozinha. Terá o seu filho, seus amigos, a dona
Aurora que te ama como filha, a Lorena como irmã. Você tem o Luck, o King
que te idolatram e tem a mim...
Luck abre a porta para descermos. Somos recebidos na entrada
secundária do prédio, uma enfermeira está com uma cadeira de rodas, que
dispenso, ela não saíra do meu colo. Assim que entramos no consultório,
Phillip aponta para a cama perto do ultrassom.
Ele rapidamente mede a pressão da Letícia, examina sua barriga.
— O que houve Letícia?
— Venho sentindo dores...
— Onde?
— Quando o bebê se mexe, causa um desconforto grande, dói.
O consultório estava lotado, King, Luck, eu, Mike e a enfermeira. Silêncio
era sepulcral. Phillip levanta a camisa dela, passa um gel e logo uma
imagem cinza aparece na tela. Meu coração acelerou, minha garganta deu
um nó, não suporto a emoção e viro-me para a janela.
— O bebê está bem, o problema é que ele já quer sair. Ele já está virado e
essas dores se dão pelo fato dele estar encaixando. Ali, está vendo? — Ela
acena que sim. Por mais que eu tente evitar a imagem da tela, não consigo.
— Seu bebê está grande, bem desenvolvido, sem nenhum problema.
— Tem certeza, doutor? — Ele sorri para confortá-la.
— Tenho a mais absoluta certeza. Quer ouvi-lo? — Logo um som de
batimento preenche toda a sala, ficando ainda mais estranho. — Ele é
grande, forte e está muito bem. — Phillip vira para nós. — Vocês podem me
dar licença? Eu tenho que examinar a mamãe.
Sou o primeiro a sair, desconcertado com esses sentimentos estranhos.
Sentei, peguei o celular e comecei a ler meus e-mails. Eu não sei lidar com
toda essa situação, a Letícia, a criança, Larkin. Por falar nesse merda, vou
ligar para ele e ter uma conversa de homem para homem.
— Liam falando.
— Eu gostaria de saber por que você não está aqui, filho da puta?
— Oi para você também, Zach. Deixei passar algum compromisso?
— Olha aqui, Larkin, ela não pode estar sozinha nesse momento. Seja
homem e venha atender as necessidades dela.
— Zachary, eu não estou entendo...
— Quer saber, idiota? Cansei de ser um bom homem, se ela passar mal
mais uma vez e você não estiver, vou a sua caça e te arrebento inteiro —
Desligo o telefone.
Não sei de onde surge essa necessidade de estar perto, de querer
amparar. Caralho, no dia que ela falou que o filho era meu, deveria ter me
distanciado definitivamente dela, parar de desejá-la. Mas quanto mais o
tempo passa, mais a quero por perto, a empatia por esse bebê é grande. E
de onde ela tirou Mateus? Eu não daria um nome assim para o meu filho,
nunca.
Phillip abre a porta e a Letícia sai com um rostinho um pouco melhor.
Vou de encontro a eles.
— Está tudo bem?
— Sim...
— King, leve-a para o carro, vou dar uma palavra com Phillip e já
encontro vocês.
— Ok. Venha, mamãe, vamos dar um passeio.
A enfermeira entrega um envelope grande e a senta em uma cadeira de
rodas. Entro na sala com o médico para saber o que houve.
— Ela realmente está bem?
— Por que esse interesse, Zach? Pelo que ela falou você não é o pai dessa
criança. — Phillip cruza os braços e me pergunta.
— Ela é minha sócia, minha amiga, eu só quero o seu bem. Agora me
responde, ela está bem?
— Ela está bem, mas já está com três dedos de dilatação, o bebê já está
encaixado para nascer...
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que se ela não tomar cuidado, o bebê pode nascer a
qualquer momento antes do tempo. Em todos esses anos, eu não vi uma
criança tão grande assim, exceto você. No seu parto, lembro que todos
ficaram chocados com o seu tamanho, o Mateus será parecido.
— Não é melhor levá-la para o hospital? E se essa criança nasce antes do
tempo?
— Calma. Mas de agora em diante, a Letícia está em repouso absoluto. Só
sairá da cama para ir ao banheiro, nenhum esforço, nenhum estresse. A
partir de agora, o bebê ficará mais quieto, ela dormirá mal por causa do
desconforto que o tamanho do bebê, provoca. É importante que ela não
coma comidas pesadas e apimentadas, não fique muito tempo em pé e está
proibida de fazer sexo, ou qualquer coisa do tipo. Vamos fazer de tudo para
conseguirmos alcançar as trinta e oito semanas.
— De quantas semanas ela está?
— Trinta e seis.
— Obrigado.
Encontro-os no carro à minha espera, assim que entro, Mike entra no
trânsito. Pego a sua mão e a beijo, ela coloca sua cabeça em meu ombro e
vamos assim, calados, até o Solarium. Levo-a no colo até o seu apartamento,
a mãe da Lorena abre a porta.
— O que houve com a minha filha?
Olho para a mulher nos meus braços e seu olhar perdido, corta meu
peito.
— Onde você quer ficar, anjo?
— Na minha cama... — Fui até o seu quarto, coloquei-a delicadamente
sobre a cama, tirei seu casaco, suas pantufas e a cobri.
— Eu vou até em casa trocar de roupas e já volto.
— O que você fez com a minha filha?
— Calma. Ela está bem, pelo que entendi, o bebê é grande e quer nascer.
— Sério? — Os olhos dela brilham e ela coloca mão na boca. Dona
Aurora me abraça. — Eu vou ser avó.
— Uma linda avó. Mas a Letícia tem que ficar em repouso absoluto, só
deverá se levantar da cama para ir ao banheiro. Eu vou à minha casa trocar
de roupa, comer alguma coisa e já volto.
— Venha comer aqui. Lorena e Ethan ligaram agora pouco dizendo que
estão a caminho e que tem novidades. Partindo deles a gente tem até medo.
— Saio rindo. A Lorena tem a quem puxar, a mãe dela é uma graça tanto
quanto a filha. A Letícia tem sorte de tê-las em sua vida.
Vou para casa, tomo um banho, faço algumas ligações, organizo os
papéis que trouxe e volto para o apartamento da Letícia. Achei que a
encontraria dormindo, mas ela estava sentada em sua cama vendo
televisão. Sento na beirada da cama e percebo que no chão ao lado há
alguns livros sobre maternidade.
— Leu algum desses?
— Não.
— Vamos ler para sermos boas mães.
— Pegou pesado.
Seu riso me dá paz. Deito ao lado dela e começo a ler um manual, eu
acho como a mulher deve proceder quando sentir as contrações. Depois de
algumas páginas, estou muito concentrado e vem a primeira imagem, tenho
certeza que depois disso, minha vida nunca mais será a mesma. Não sei se
conseguirei ver uma vagina e não pensar naquela imagem. É assustador. Li
sobre as técnicas de relaxamento para o parto aprendi a respirar como
cachorrinho, como o parceiro deve se portar durante o trabalho de parto.
Pronto, só com esse livro, estou graduado para a primeira batalha do bebê,
o nascimento.
Olho para o lado para ver como a minha companheira de leitura está e a
encontro dormindo abraçada a um grande travesseiro, coloco a coberta por
cima dela e vou para a sala. A mãe da Lolo me pega pelo braço.
— Venha ver uma coisa.
Fomos até o quarto ao lado em que a Letícia está dormindo, ela abre a
porta e entro em um ambiente todo em azul claro, com vários personagens
de desenho animados nas paredes, um berço branco com nuvens azuis e
um móbile de super-homem. Olho para ela emocionado.
— Ela fez tudo sozinha?
— Cada detalhe.
— Impressionante.
— Ficou lindo o quarto do meu sobrinho, não é Zach? — Pergunta
Lorena.
— Ficou... — Respondi.
— Só falta a gente convencer aquela teimosa, a trocar o nome da criança.
Passo braço pelos ombros da boneca, beijo sua cabeça.
— Até que enfim, alguém que concorde comigo.
— Cadê a Letícia?
— Ela está dormindo.
— O Zachary a levou no médico e ficamos sabendo que o bebê já quer
sair e que de agora em diante ela está em repouso absoluto. —Dona Aurora
diz. — Não pode fazer nada para o neném não nascer antes do tempo.
Fomos para a sala e a Letícia estava sentada no sofá.
— Estou morrendo de fome...
— Como se sente? — Sento ao lado dela.
— Bem.
Lorena senta a mãe dela do meu lado e fica em pé ao lado de Ethan, de
frente para nós. A mãe dela pega minha mão.
— Meu filho, eu vou segurar sua mão, porque segurar na mão de homem
bonito a gente sofre menos. E esses dois vão me dar um AVC antes de um
neto.
— Ai mãe!
— Eu pedi a mulher da minha vida em casamento novamente e ela
aceitou. O jantar para oficializar será esse final de semana.
A boneca Lolo mostra seu anel de noivado, que é muito bonito e que deu
um trabalho desgraçado para achar. Acredito que nós vimos todos anéis
que existiam em Nova York, Ethan estava desesperado porque não queria
dar aquele que já esteve com ela, porque segundo ele era amaldiçoado.
Nossa busca chegou ao fim quando o pai dele nos indicou um judeu em
Long Island. Realmente ele tinha joias bárbaras, assim que Ethan bateu o
olho em um solitário de ouro branco, com uma safira e cravado de
diamantes, não restaram dúvidas, era a cara da Lorena, diferente de
qualquer outra coisa que vimos.
— Antes de me levantar daqui com todo esse peso, quero saber, dessa
vez é para valer ou economizo minha levantada para a próxima? — Letícia
brinca.
— É para valer, bocó. E deixa que eu vá até aí te abraçar. Vai que o meu
sobrinho nasce no meio do caminho.
— Lembra-se do que te falei logo que nos conhecemos? — Intercepto ela
no meio do caminho e a abraço. — Se ele fizer algo, ligue para mim que
mandarei o King socar ele. Ainda está valendo. Parabéns, Lolo. Desejo toda
a felicidade do mundo.
— Obrigada, Zach. É muito importante você estar aqui e obrigada por
estar do lado dela nesse momento.
As palavras dela me tocam — Eu que agradeço por permitir que eu
esteja aqui nesse momento tão especial.
— Estou com fome, o jantar sai ou não? E pelo amor de Deus, nesse
jantar de noivado, não vão me levar naquele restaurante francês Daniel sei
lá o que.
— Que tal o Olive Garden?
— Sim!
Fomos para a mesa e a dona Aurora serviu uma lasanha de pão sírio e
molho e branco de dar água na boca.
— Minha sogra, a senhora morará conosco só para cozinhar para o seu
genro preferido. — Ethan, muito educado fala de boca cheia.
— Você é o único, idiota. — Falo sem pensar.
A dona Aurora me dá um beliscão.
— Estava doida para fazer isso nesse homem lindo. — Ela vira para
mim. — Tem o marido da Letícia...
— Desculpe dona Aurora. Esqueci-me da sua preciosa...
— Cabeção. Na hora de comer não se esqueceu da preciosa.
Letícia se engasga com a comida, rapidamente acaricio suas costas para
ajudá-la.
— Calma...
— Lorena eu juro por Deus que vou te matar... — O olhar da Letícia para
a Lorena é mortal.
— Se formos fazer uma lista com quem essas duas já dormiram, vamos
escrever a próxima Bíblia.
Ethan e eu não nos contemos e começamos a rir, Lorena ficou tão
vermelha a ponto de passar mal.
— Aprendemos com a melhor. Na primeira consulta que foi comigo, já
saiu com o telefone do doutor Phillip.
— Mentira... — Lorena jogou para fora todo o vinho que estava em sua
boca, molhando Ethan.
— Sério. Os dois ficaram a consulta toda trocando sorrisos. — Letícia
fala séria.
Todos nós olhamos para a mãe da Lorena que come pacificamente, como
se estivéssemos falando de outra pessoa. Depois de um tempo ela levanta
os olhos.
— Isso pode ser um choque para vocês, mas pessoas velhas também
namoram, sabia?
— A senhora está namorando, mãe?
— Estamos nos conhecendo.
— Essa minha sogra é um perigo. — Ethan fala.
Foi o melhor jantar que tive em anos, com amigos, queridos que é quase
uma família, conversa leve, comida boa e muitas histórias para contar.
Letícia começa a se mexer na cadeira e coloca a mão na barriga.
— O papo está bom, mas vou deitar. O Mateus está se mexendo muito e
tem momentos que dói.
— Por falar em Mateus, Lê, O Ethan e o Zach querem falar uma coisa
para você. — Lorena começa. Ele e eu nos olhamos, depois olhamos para a
Lorena que dá de ombros. — Alguém tem que falar e eu elegi vocês dois.
— Mateus não é um nome bonito, quem sabe Andrew, Cole...
— Ethan... — Interrompo.
— Zachary. São bons nomes e somos bons exemplos.
— Vou pensar no caso de vocês. Agora, preciso deitar.
— Lê, estou achando sua barriga baixa demais, meu bem. — A mãe da
Lorena passa a mão na barriga da Letícia.
— E o que isso quer dizer? — Eu pergunto.
— Que está chegando a hora.
— Vai ficar bem? — Acompanho Letícia até o quarto. — Tenho algum
trabalho para fazer em casa e...
— Está tudo bem, Zachary. Obrigada por tudo. Boa noite.
— Boa noite, menina dos olhos dourados.
Ela não sorri, não acena e desvia seu olhar. Sei que sua situação não é
cômoda, seja lá o que se passa entre nós, ela também sente, mas entendo
que há Larkin no meio disso. Encosto minha cabeça na porta do seu quarto
do lado de fora me perguntando o que estou fazendo, porque a insistência
de ficar perto dela, sendo que não é justo com nenhum de nós.
Nos dias que se seguiram a minha rotina era ir para empresa, voltar no
meio da tarde e ir ler os livros com a Letícia. A barriga dela está cada vez
maior e ela mais cansada, faço massagem em seus pés até que ela durma
pacificamente e depois vou para casa.
Adaptei-me tão bem a isso, que chega a ser estranho. Meu sono voltou,
não tenho mais crises de enxaqueca, seja qual for o efeito que a Letícia
causa em mim, isso em breve terminará.
Capítulo 37
Hoje é o jantar de noivado do Ethan e ainda estou preso no escritório
resolvendo problemas na China. Com a crise que a China vem enfrentando,
a bolsa está tendo mais baixos que altos e está na hora de movimentar as
ações que tenho. Esse jogo é cruel, se desfazer das erradas, pode me custar
milhares de dólares... Por hora.
Eu tinha combinado de levar a Letícia e a dona Aurora, mas com esse
pepino, tive que mandar um carro para buscá-las. Continuo a achar que a
Letícia não deveria sair de casa, aquela gravidez está estranha, agora ela
está mancando dizendo que sente dor na virilha. Phillip a examinou e disse
que a criança está grande, vai nascer com quase cinco quilos. E isso é
possível? Outro dia minha mãe veio visitá-la e falou que eu nasci com cinco
quilos, disse que o parto foi difícil por eu ser grande demais. Só tenho uma
coisa a dizer... Coitada.
Corro para casa, tomo um banho, coloco meu terno e voo para o
restaurante. Ethan reservou um salão privado anexo ao salão principal,
para poucas pessoas. Estão os seus pais, a mãe da Lorena, Letícia, o imbecil
do Larkin, a morena que está ao lado dele é desconhecida para mim,
Martino e a esposa, Sebastian e a esposa também vieram.
Enquanto abro o botão do meu terno, olho para a Letícia que está um
pouco pálida e linda. Ela veio com um vestido de mangas longas marfim,
com um decote de fazer qualquer sacerdote pecar. Sento entre o pai do
Ethan e Sebastian, que me cumprimenta.
— Como está, Zach?
— Estou indo e você?
— Estou muito bem.
Fico de frente para o Larkin e o olhar que vi entre ele e a morena,
deixou-me irado. O filho da puta não tem vergonha de agir dessa maneira
na frente da noiva que está grávida? Olho para a Letícia que parece um
anjo, a gravidez a fez ainda mais bonita e mais desejável. Em todos esses
dias que estivemos próximos, não houve um dia se quer que eu não tenha
me masturbado pensando nela. Eu conheço o seu gosto, sei exatamente
como é estar dentro dela, não há como esquecer isso.
— Fala Ted. — Meu celular toca e vejo que é o Ted, levanto e saio para
atender
— É só para comunicá-lo que parte das ações de Xangai foi colocada à
venda e... — Vejo Letícia sair do salão principal encurvada com a mão na
parte de baixo da barriga.
— Depois te ligo. — Vou em sua direção e King corre junto comigo para
ajudá-la — Qual é o problema, Letícia?
Ela segura a minha mãe forte e tranca os dentes.
— Aaah! Acho que são as contrações... Ai.
— Não é melhor irmos para o hospital? — King pergunta ao mesmo
tempo em que vemos água escorrer no chão.
— O que é isso?
— Acho que a minha bolsa estourou. — Agora somos dois homens
desesperados e perdidos.
— King, pega o carro... Não... Eu vou chamar a Lorena e...
— Não! Hoje é o dia dela, não quero estragar. Ai.
— Se nós não chamarmos a Lorena e a mãe dela, teremos um
nascimento e duas mortes. — Digo.
— Aquela baixinha invocada sabe ser cruel... — King completa.
Deixo-a com o King e vou avisar a Lorena. Entrando no salão, vejo o
Larkin no canto aos beijos com a morena e fico cego de ódio, vou matar
esse irlandês. Entro no meio dos dois e soco seu rosto. A garota que está
com ele grita.
— Sua noiva tendo o filho e você agarrado com outra? Você é um
canalha, Larkin. Enganou a todos nós com essa cara de santo...
— Liam, querido está bem? — A morena corre para ele.
— Se ele estiver bem é porque o meu soco não atingiu o objetivo.
Lorena, Ethan e Kaleb aparecem.
— O que está acontecendo aqui?
— Pergunta para o Zachary. Porque francamente, não entendi porque
apanhei.
— Não entendeu? Você não entendeu porque está com a cabeça na
bunda dessa aí.
— Se controla caralho! Cadê a Letícia?
— Ela está em trabalho de parto ali fora... — Todos me olham estáticos e
grito. — Vamos se mexer, a Letícia vai ter o bebê.
— Zachary e Liam levam ela, Julia vai junto para evitar que as madames
aqui se agarrem novamente. Kaleb vai me levar em casa para pegar as
coisas dela e do bebê e vamos para o hospital. — A Lorena volta a
realidade.
Todos nós saímos correndo e encontramos o King branco como uma
vela e a Letícia gritando.
— Você não sabe o que é dor, seu infeliz! — Ela nos vê chegando. —
Mais um pouco achei que ia dar à luz aqui. Ai!
Entramos todos dentro do carro e Mike arranca. Larkin resolve tirar a
história a limpo agora.
— Por que diabos você me bateu, seu bastardo?
— Você ainda me pergunta porquê? Merece que eu arrebente a sua cara.
A sua noiva tendo um filho e você de beijo com a safada ali, que tenho
certeza que sabe da sua relação.
— O que? — Ela agarra o colarinho da minha camisa e fala entre os
dentes. — Enlouqueceu? Ela é a noiva dele, idiota! Ai... ai...
— Olha para mim, Letícia. Vamos respirar como estava nos livros.
— Que livros? Eu não posso. Ai...
— Letícia, você leu algum daqueles livros?
— Não!
— O que você fazia enquanto eu lia? — Pergunto.
— Eu dormia. Ai meu Deus, vou ser uma péssima mãe.
— Não, não será. Olha para mim, vamos respirar juntos, ok? — Ela
acena. — Se concentra em mim, respira comigo.
Quando chegamos no hospital, abro a porta e saio com a Letícia gritando
nos meus braços e King atrás de nós.
— O que está acontecendo aqui? — Um enfermeiro nos para e pergunta
grosseiramente.
— Estamos comemorando que te encontramos, idiota. O que você acha
que é? Meu filho está nascendo. — Antes que eu pudesse responder, Letícia
responde.
Uma enfermeira aparece com uma cadeira de rodas.
— Vamos prepará-la, mamãe.
— Aqui papai, vamos colocar essa roupa para ver o bebê vir ao mundo.
— O enfermeiro me arrasta para outra sala.
Antes que eu pudesse responder que não sou o pai, o enfermeiro maluco
praticamente arranca meu terno e coloca uma um vestido verde, uma
máscara e uma coisa tipo toucas para os pés, sei lá o que é isso. Entro em
uma sala toda branca, Letícia está em uma cama estranha com os pés para
cima, gritando de dor.
King entra na sala vestido como eu se aproxima de mim.
— Cara, não aguento vê-la gritar dessa maneira.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunto curioso. — Vim avisar que
a imprensa está lá fora, tiramos dois paparazzi aqui de dentro do hospital.
— Enquanto eu estou parindo um ser humano, as comadres ficam de
cochicho. Que lindo! Estão confortáveis? Aiiiiiiiiii...
— Calma...
— Se você me mandar ter calma mais uma vez, eu quebro a sua cara,
cretino. Já não basta aquela história de falar que Liam era meu noivo.
— Eu passei os últimos meses longe de você porque achei que estava
noiva dele.
— Estou te odiando ainda mais, Zachary. Ai...
— O bebê já está coroando, Letícia. Respiro fundo, se concentra, na
próxima contração você tem que fazer bastante força, ok? Vamos trazer
essa criança para conhecer o mundo.
— Eu vou sair antes... — Ele cai na besteira de olhar para onde o médico
está e não deu outra, tínhamos um homem de dois metros e mais de cem
quilos desmaiado no chão.
Letícia grita, aperta minha mão com uma força descomunal.
— Isso. Respira. Vamos para a próxima... — O médico fala.
E a próxima quase quebrou minha mão de tanto que ela apertou.
Lembro que li em algum livro que o papel do parceiro é incentivar.
— Bom trabalho Lê. Respira comigo, vamos. Isso.
— Vai à merda com o seu bom trabalho, Zachaiiiiiiiiii...
— Respira anjo.
— Mais força, Letícia. Vamos lá, mamãe...
E em menos de cinco minutos, ouvimos o choro mais bonito que existe.
A enfermeira aproxima-se de mim e coloca um pacote azul grande em meus
braços.
— Parabéns, papai. Seu meninão nasceu.
Naquele momento eu tive a certeza, ele era meu filho.
A emoção que me percorreu foi tão devastadora que as lágrimas caiam
sem controle. Não há palavras para descrever o que essa criança passa a
representar na minha vida... Não, ele passa a ser minha vida! E esse tempo
todo que cuidei da Letícia, na verdade, mesmo que inconsciente, cuidava do
meu filho. Olho para a Letícia que tinha lágrimas nos olhos; aproximo-me
dela, tiro a máscara e beijo sua testa.
— Obrigado, menina dos olhos dourados. — E entrego Nathan para a sua
mãe.
Entre lágrimas, tiro o telefone do meu bolso e fotografo esse momento.
Preciso falar com alguém, disco um número enquanto contemplo a mulher
mais linda do mundo com o meu filho no colo.
— Pai, o senhor é vovô.
Uma enfermeira pede que eu vá esperar ela no quarto que logo a
levarão. No meio do caminho encontro o King, ainda um pouco atordoado.
— Está melhor, grandão?
Ele passa a mão na cabeça.
— Cara, eu vi coisas que homem nenhum deveria ver. Vou lá para frente
ver como está a segurança e avisar aos demais... — Meus olhos umedecem.
King me segura pelos ombros. — O que foi Zach?
— O filho é meu, King. Eu tenho certeza, é meu.
Ele me puxa em um abraço apertado.
— Parabéns, Zach. Vou mandar comprar charutos agora. Eu te disse
inúmeras vezes, ela é o anjo que Deus mandou para você, cuide bem da sua
família, cara.
King é meu brother. Me solto dele porque isso já está ficando estranho.
— Vou esperar a Letícia no quarto. — Falo já saindo.
Não consigo ficar sentado, estou ansioso demais, minha cabeça trabalha
para entender como isso tudo aconteceu. Hoje é o dia mais feliz da minha, a
hora que vi aquele menino, não tive nenhuma dúvida, é meu. O fruto da
nossa noite de loucura em Abu Dhabi. Me pego sorrindo com a lembrança
do Nathan nos meus braços. Nada de Mateus, meu filho será Nathan.
Os enfermeiros trazem a Letícia para o quarto e a colocam na cama.
Apesar de todo esforço que fez e de toda a dor que passou, está mais linda
do que nunca. Assim que eles saem, Letícia me encara e não era esse o olhar
que eu estava esperando.
— Que história é essa que seu pai será avô? — Sento na beirada da
cama.
— Nathan é meu, Letícia. — Ela empalidece.
— Você vai tirá-lo de mim? — Sua voz era apenas um sussurro.
— Claro que não. Jamais faria isso. Mesmo a mãe do meu filho sendo
uma cabeça dura. — Ela cruza os braços.
— Você só pode estar de brincadeira, Zachary. Eu não acredito que você
ignorou isso todo esse tempo e agora se sente no direito de vir reivindicar.
Nath... Droga! O meu filho não se chamará Nathan.
— Escuta-me, por favor. Depois que as crises de enxaqueca se tornaram
constantes, fiquei neurótico com a possibilidade de ter qualquer doença.
Comecei a fazer check-up geral a cada três ou quatro meses. Nas últimas
vezes o médico disse que a minha contagem de esperma era baixa e que se
eu quisesse ter filhos, teria que fazer um tratamento. — Phillip escolhe esse
momento para entrar e eu aponto para ele. — Ele é o meu médico, viu meus
exames e pode confirmar.
— Confirmar o que? — Phillip pergunta.
— Que eu não posso ou não poderia ter filhos.
Phillip colocou a prancheta na mesinha.
— Sua contagem de esperma estava baixa e disse que para ter uma
concepção mais efetiva, deveria fazer um tratamento. Mas em nenhum
momento disse que não poderia ter filhos. Você pode, é saudável, apto, só
que talvez não fosse de primeira, poderia levar mais tempo e lembro-me de
ter chamado a sua atenção para se cuidar, porque tudo isso é causado pelo
estresse da vida que você leva. Por que esse assunto agora? — Ele olha
entre Letícia e eu. — Você é o pai da criança.
— Nathan... Arghhh! Que merda! Olha o que você fez, Zachary. — Letícia
fala mais alto do que esperávamos. Sorrio como um bobo. Letícia encosta
sua cabeça para trás. — Estou cansada desses maus entendidos.
— Eu o conheço desde que nasceu, acompanhei seu crescimento, vi a
primeira das muitas namoradas, estive na sua formatura. Apesar de ser
arrogante ao extremo, é um bom homem e o mais importante, tem caráter.
Zachary jamais fugiria da responsabilidade de ser pai e mesmo achando
que não era, foi ao meu consultório ameaçar-me para ter todos os
relatórios dos seus atendimentos. Ele tem todas as ultrassonografias que
você fez todas as receitas que passei. Tudo, Letícia. E acredito que você
deveria dar crédito a ele, Nathan tem um pai e precisará dele.
— Ele não se chamará Nathan. — Ela fecha os olhos. — Acabei de parir
uma criança de quatro quilos, estou exausta e o meu filho é produção
independente.
— Seu filho nasceu com quatro quilos e cem gramas, cinquenta e quatro
centímetros. É forte e saudável, o fato de ser seu filho já indica que esse
tamanho é genético. — Ele bate no meu ombro. — Boa sorte.
— Você está linda. — Aproximo-me dela e acaricio seu rosto. Ela retira
minha mão do seu rosto e abre os olhos.
— Você ainda não é pai do meu filho... — Chego mais perto do seu rosto,
ficando a uma respiração de distância, encarando-a.
— Eu vou chamar os meus advogados e faremos o DNA...
— Não!
Estou tão perto dela, que os nossos lábios quase se encostam.
— Vou perguntar e você vai responder, caso você minta novamente, eu
chamarei um juiz e um promotor, faremos o DNA e tomarei todas as
providências para que essa criança tenha um pai. Entendeu? — Ela acena
que sim. — Boa menina. Nathan é meu filho, não é, Letícia?
Uma lágrima cai de seus olhos, ela apenas acena que sim e eu a beijo
como se não houvesse amanhã, como um louco sedento por ela.
Passei meses sem tocar outras mulheres, me masturbando no chuveiro,
com a consciência pesada de estar traindo o Larkin. Ela é minha, o filho é
meu, é a minha família.
Eu os quero para mim e para sempre!
— Olha bebê, papai e mamãe estão te esperando. — Uma enfermeira
traz Nathan para o quarto. Ele está embrulhado em um cobertor azul claro.
— Está na hora dele mamar, mamãe.
A enfermeira a auxilia com a primeira mamada e é a visão mais bonita
que tive em tempos. A beleza de uma mãe amamentando, é incomparável, é
um dos milagres da vida. Ela me olha tão emocionada tanto quanto eu
estou.
Nosso encanto família acabou quando Lorena, Ethan e a dona Aurora
entraram no quarto.
— Ele é lindo, Lê. O grandão da titia. — Lorena é a primeira a falar.
— Nathan. — Eu falo. — O nome dele é Nathan O´Brian. — Letícia faz
careta.
Dona Aurora vem até mim e me abraça.
— Parabéns, papai. — No meu ouvido ela fala. — Eu sabia que eu não
estava enganada sobre você, meu filho.
— Parabéns, Zach. Seu filho é lindo. — Lorena olha para mim.
— Obrigado, boneca Lolo.
— Cara, você me fez tio. Vou ensinar tudo o que sei a ele... — Ethan me
dá um abraço.
— Vai ensinar a apostar? — Lorena fala. Era para o clima ficar pesado,
mas Ethan tem saídas estratégicas.
— Mulher da minha vida, eu apostei todas as minhas fichas em você e
ganhei. Por que eu não ensinaria isso a ele? Vai que ele encontra uma
Boneca assim.
Batem na porta, Larkin e a noiva entram.
— Vamos esperar lá fora para o quarto ficar tranquilo. — Dona Aurora
fala. — Lê, eu venho passar a noite...
— Não. Eu ficarei com eles, dona Aurora. Obrigado. — Ela abre um
grande sorriso e pisca para mim.
— Ele é lindo, Lê. Parabéns, minha for. Você será uma ótima mãe.
— Obrigada, Julinha.
— Desculpa-me por socar o seu noivo. — Estendo minha mão para ela.
— Prazer, eu sou Zachary.
— Eu entendo. Prazer, senhor O´Brian. Eu sou a Julia, assistente da
Letícia e noiva do Liam.
— Eu te devo uma explicação...
Ele responde passando a mão em cima do inchaço no canto da boca.
— Deve mesmo.
Sento ao lado da Letícia com Nathan ainda mamando. Moleque sortudo!
— Eu soube que a Letícia foi para Dublin logo que saiu do hospital e
ficou um bom tempo com você. Sabia que vocês trabalhavam
incansavelmente no resort juntos, eu estive lá e vi a cumplicidade entre
vocês dois. Então recebi o seu e-mail convidando para o noivado, deduzi
que você se acertou com ela. Por meses, fiquei frustrado. Quando ela veio
me socorrer, me tirar do fundo do poço, não consegui ficar longe dela.
Passei dias e dias com a consciência pesada por desejar a mulher do meu
sócio...
— Por isso aquela ligação sem pé e sem cabeça.
— Yeah.
— Que ligação? — Letícia pergunta.
— O dia que te levei ao médico, eu estava furioso por ele não estar com
você. Liguei e acho que não falei coisa com coisa para ele. — Volto meu
olhar para o Larkin. — Eu só queria o melhor para a Letícia e para o
Nathan. Se ela tinha te escolhido, então você era o melhor para ela naquele
momento. Eu não me arrependo de nada, eu acompanhei a gravidez dela,
eu estava com o meu filho desde o começo.
Ele veio até mim apertou minha mão e me abraçou.
— Parabéns, cara. Seu filho é lindo.
— Nathan é um nome lindo. — Julia diz.
— Viu o que você fez? — Letícia me olha.
— Eu sei que você gostou. — Ela boceja. — A hora da visita acabou.
Letícia está cansada.
— Que falta de educação, Zachary. — Letícia arregala os olhos.
— Não. — Julia passa Nathan para mim. — Ele está certo e só quer
cuidar do que é dele. Foi um prazer te conhecer senhor O´Brian.
— Chame-me por Zach. — Ela assente.
Despedimos-nos e eles saem.
Acomodo Nathan que está dormindo na caminha que a enfermeira
trouxe. Ajudo a Letícia acomodar-se para dormir e a cubro. Beijo sua testa.
— Obrigado, menina dos olhos dourados.
— Ele é lindo, não é?
— Como a mãe dele.
— O pai dele é que detém a beleza da família.
— O pai dele é gostoso, a mãe linda. Combinação perfeita. Agora, durma
anjo.
Desde a primeira consulta, já tinha reservado esse quarto de luxo para
esse dia. Eu sempre quis que Nathan fosse meu, perdi as contas de quantas
vezes falei com Deus, que desejava aquela criança. Acho que Deus vai com a
minha cara, depois de tudo o que fiz para a Letícia, Ele ainda me deu a
oportunidade de acompanhar o nascimento do meu filho e cuidar da
mulher que sou completamente obcecado.
O quarto é grande, há um sofá-cama muito confortável, uma poltrona no
canto, um banheiro muito bom e um armário. Sento no sofá e mando uma
mensagem para a Ruth arrumar uma maleta para mim e aproveito para
mandar a foto com a legenda:
Nathan nasceu.
Mando a mesma imagem para King e peço para mandar alguém buscar
minhas coisas.
Eu sou o filho da puta mais sortudo do mundo!
Capítulo 38
Letícia
——ooOoo——
——ooOoo——
Seus olhos encontram os meus e tudo o que nos cerca, volta a
desaparecer. É como se eu estivesse em um dos meus sonhos, só que dessa
vez, o par de olhos azuis misteriosos, tinha um rosto, o rosto mais perfeito
que já vi. Zachary toca meu rosto e inclino-me para encontrar a maciez de
sua mão. Passo meus braços por seu pescoço, entrelaço meus dedos em seu
cabelo, miro sua boca e a trago para encontrar-se com a minha.
Eu poderia ficar em seus braços para sempre. Mas a realidade nos puxa
para ela novamente.
— Acho que te amei desde o dia que vi seus olhos pela primeira vez.
— Não tenho dúvidas de que nunca amei ninguém, porque estava te
esperando.
As pessoas comemoravam com tanto ardor, que dava a impressão de
que faziam parte de toda nossa história. Bom, de certa forma, todos, agora,
fazem parte. Estou chocada, ainda sem palavras, apenas minha emoção e as
lágrimas.
Se eu estou feliz? Não... Estou extasiada!
Ouço Nathan resmungar e fico impressionada com a alegria que ele fica
quando King o pega. Descemos do palco e nos sentamos-nos à mesa onde
eu estava com o...
Ai meu Deus! Larguei o Robert aqui e fui aceitei me casar com outro.
— Eu providenciei uma surpresa agradável para o engomadinho. Essa
hora ele deve estar se esbaldando em algum motel por aí.
Il Divo retomou o show e fizeram uma apresentação belíssima.
Dedicaram músicas a nós e fora que tive a oportunidade de conhecer cada
um, depois do show, em um coquetel. Mais um presente do meu futuro
marido, que me surpreende a cada minuto com algo novo.
As surpresas não pararam por aí. Quando chegamos no Solarium,
Zachary entrega Nathan para sua mãe e Tyler. E escoltou-me até a
cobertura.
— Por que Nathan ficou com a sua mãe? Por que sua mãe está aqui?
Aonde ela e Tyler vão à uma hora dessas? Nathan tem que...
Ele pressiona-me contra a parede do hall e coloca uma mão na minha
boca.
— Como essa minha mulher fala. — Eu me derreto ao ouvir, minha
mulher. Sou um caso perdido. — Eu queria ficar sozinho com você; então
minha mãe e Tyler se ofereceram para ficar com Zach filho. Eles dormirão
no apartamento do Ethan que é logo abaixo da cobertura. Nathan não tem
que mamar, ele tem a mamadeira e o seu cheiro. Fica tranquila e se
concentra em mim. Ok?
Aceno que sim e ele substitui sua mão pela boca, fazendo meu corpo
despertar para vida, em chamas. Por onde suas mãos passam, vai deixando
um rastro de calor, que me faz gemer. Zachary me traz para perto do seu
corpo como se pudéssemos nos fundir. Ele tira minha jaqueta de qualquer
maneira e rasga minha blusa...
— Zachary! — Ele termina de despedaçá-la.
— Eu compro quantas você quiser. Agora vamos tirar essa calça antes
que ela tenha o mesmo fim da camisa.
Ele leva suas mãos para o cós da calça e eu saio do seu alcance.
— Cuidado, Zachary.
Ele puxa-me novamente, mas dessa vez me coloca de frente para a
parede. Pressionada entre ele e a parede, minhas costas em seu peito.
— Passei meses esperando por você, sua roupa é o de menos, Letícia.
Zachary morde o lóbulo da minha orelha e desce para o pescoço
alternando entre pequenas mordidas e chupões. Uma de suas mãos aperta
meu seio e a outra continua sua descida até o meio das minhas pernas.
— Eu tinha planejado te levar até o jardim de inverno, mas não sei se
sou capaz de me controlar, preciso te sentir. — Zachary coloca as minhas
mãos na parede. — Não as tire daí. — Levanta meu cabelo e beija minha
nuca, desce para minhas costas, abre meu sutiã e continua seu caminho.
Sinto suas mãos contornando a cintura da calça e logo ele a baixa,
deixando-me apenas de calcinha. — Você não faz ideia do quanto esperei
por isso, menina. — Ele me vira de frente e encosta seu nariz no “v” entre
minhas coxas. — Depois de sentir seu gosto, não tem mais volta para
homem nenhum. Você é pura droga. — Sem me dar chance de responder,
ele passa sua língua por cima da calcinha, fazendo um calafrio de
antecipação percorrer meu corpo. Olho para baixo, para o ver subir em
uma trilha de beijos e logo toma um dos meus mamilos em sua boca.
Minhas pernas fraquejam e ele me segura. Passa suas mãos pelos meus
braços. — Está arrepiada, sente frio?
Antes mesmo que eu pudesse responder, ele tira seu terno e sua camisa,
colocando-a em mim. Eu estava tão tomada pelo desejo, que senti decepção
quando ele me pegou pela mão.
— Vamos até o jardim, que há algo preparado para nós lá.
O jardim deve ter mais ou menos o tamanho de um quarto e é todo em
vidro fotocromático. Daqui é possível ver parte da cidade e as estrelas,
cenário perfeito para uma noite de amor. Há muitas plantas, parte do
ambiente é gramado e há mini palmeiras lindas de se ver. No canto
esquerdo há um banco para duas ou três pessoas, para contemplar o resto
do lugar. Há muitas flores, principalmente lilases e o verde é predominante.
Mas hoje, estava especialmente diferente, há uma mesa, com duas cadeiras
e ao fundo uma cama de ferro preto com dossel de tecidos brancos caídos.
— Seu apartamento é lindo, mas esse ambiente é especial. Não sei como
explicar.
Ele para ao meu lado.
— Ter um jardim desse tamanho em um apartamento, não é muito legal,
mas admito que se superaram nesse projeto. Fico feliz que goste desse
lugar. — Ele me puxa até a mesa. — Tenho que ligar para a decoradora,
provavelmente você quer mudar tudo por aqui.
Olho-o com curiosidade.
— Por que eu mudaria alguma coisa por aqui?
Ele coloca dois pratos a nossa frente, com filé de peixe, salada e batatas
souté.
— A casa será sua depois que nos casarmos...
— Você acabou de me pedir em casamento. Vamos com calma.
— Mulher, acha mesmo que vou ter calma? Casaremos-nos o mais tardar
em três semanas.
— Em duas semanas será o casamento do Ethan...
Zachary passa a mão pelo cabelo.
— Merda. Tinha esquecido. Temos que conversar sobre outra coisa,
Letícia.
Vejo seriedade no seu olhar. Tomo a água que foi colocada para mim.
— Diga.
— Sobre a suíte principal da outra ala... — Ele fala pausadamente para
me dar a chance de interrompê-lo. Aceno e ele prossegue. — Eu o fechei,
não entrei lá desde... Aquele dia e...
Depois daquele fatídico dia, já tive tantas alegrias que acabei
esquecendo pelo que passei lá. Zachary está apreensivo, esperando uma
resposta minha.
— Vamos com calma? Dê-me tempo para amadurecer a ideia que vou
casar com o homem dos meus sonhos. — Falo sorrindo.
Zachary se levanta sério, dá a volta na pequena mesa, puxa o cabelo da
minha nuca e me beija. Essa rudez dele excita-me e nada de beijos castos, é
puramente carnal, assim como ele, pura luxuria. Me pega no colo e me leva
para cama que está disposta no jardim, coloca-me no chão. Aos pés da
cama, há um caminho de flores, todas brancas, rosas, orquídeas, lírios.
Antes que eu pudesse esboçar alguma reação.
— De hoje em diante é assim que serás recebida.
Emocionada, vou até a vidraça contemplar a cidade, o silêncio estava
ensurdecedor. Zachary se coloca atrás de mim e abre minha camisa botão
por botão. Assim que ele a tira, viro-me o contemplando. Mesmo sem abrir
a boca, mesmo sem palavras, eu soube que seus sentimentos eram
verdadeiros, pois seus olhos disseram tudo o que eu queria saber. Jogo-me
em seus braços sem reservas, sem barreiras, apenas uma menina
apaixonada pelo homem dos seus sonhos.
— Faça-me sua, Zachary...
— Já és...
Meu corpo pede por ele... Meu sangue ferve por ele... Meus desejos
afloram por ele... Enfim, Zachary possui meu corpo, alma e coração. Ele
deita-me na cama, tirando minha calcinha e beijando minha barriga. Com
sua boca, venera-me. Com seus olhos, adora-me. E com suas mãos, marca-
me como sua.
Continuando seu caminho pelo meu corpo, ele deita-se sobre mim e
beija meu pescoço, para em meus seios, tomando um em sua boca quente e
com uma de suas mãos no meio das minhas pernas. Seus dedos habilidosos
exploram o centro do meu prazer, fazendo-me gemer e pedir por mais.
Zachary toma outro mamilo para dar a mesma atenção. Morde e meu
gemido se torna mais agudo. A necessidade dele dentro de mim é quase
insuportável.
— Por favor, Zachary...
— O que você quer, Letícia?
— Você... — Faminta, devoro sua boca e corro minha mão até o seu
membro. — Quero você dentro de mim, agora. — Eu não sei em que
momento ele tirou a calça, o que eu sei é que ele está nu e o quero dentro
de mim, urgentemente.
Zachary beija minha barriga, abre minhas pernas.
— Primeiro quero o seu gosto na minha boca e depois que eu saciar um
pouco a minha sede de você, então, a devorarei.
Ele morde minha coxa e desce sua boca em meu clitóris. Mal encosta a
boca e já grito de prazer, a sensação é maravilhosa. Sua língua é hábil, leva-
me ao frenesi rapidamente. Tento desvencilhar-me daquele turbilhão que o
tesão me causa, mas ele me segura e enfia dois dedos para preencher-me.
Grito pelo prazer que se rompe dentro de mim e faz meu corpo contorcer,
por fim o orgasmo.
Zachary, sem perder tempo penetra-me com força, gemendo junto
comigo.
— Você é minha, Letícia. Somente minha!
Vira-me, fazendo com que eu fique de quatro e volta a me preencher
duro e assim, sinto-me plena, inteira. Cada movimento, cada estocada sua,
cada puxão de cabelo, faz com que eu me sinta viva. Faz com que todos
esses anos que o meu desejo ficou adormecido, retorne com força total,
tornando-me uma mulher completa.
Suas mãos percorrem meu corpo, encosto minhas costas em seu peito,
com seu membro ainda dentro de mim. Sua mão em meu pescoço e sua
boca em meu ouvido.
— Isso, minha menina. Geme para mim.
Com uma mão parada em meu pescoço, a outra desce encontrando meu
clitóris. Com seu dedo faz círculos na minha sensibilidade, fazendo-me
contorcer ainda mais e gritar. Ele não alivia, pelo contrário, aumenta o
ritmo e a força. Todas essas sensações se tornam um furacão dentro de
mim. Minhas palavras não são coerentes, nem sei se posso dizer que são
palavras, talvez só choramingos pedindo por mais.
Zachary muda de posição novamente. Ainda dentro de mim,
penetrando-me com força.
— De agora em diante será assim, faremos tudo juntos. Não será apenas
Zachary ou Letícia, seremos nós. Entendeu? Agora, quero que você goze
junto comigo, sem tirar seus olhos dos meus.
Ele por cima de mim e enrolo minhas pernas em sua cintura, sua boca
volta para os meus seios. Suas estocadas mais rápidas, mais ritmadas e eu
quase nas nuvens. Seu dedo vai ao clitóris novamente, então, dali em
diante, não tinha mais salvação.
Olhando em seus intensos e profundos olhos azuis, pereci de prazer nos
braços do homem dos meus sonhos.
Satisfeita, livre, protegida e muito...
Muito amada!
Capítulo 40
Zachary
Ver Letícia adormecida em meus braços, não tem preço! Depois de uma
louca noite de amor, deixei que ela descansasse enquanto guardo seu sono.
Não tenho dúvidas que ela é a mulher da minha vida. Fiz amor várias vezes
e em cada uma delas, fiz questão de deixar que ela soubesse o que sentia
através dos meus olhos. Quero que ela tenha certeza do que sinto e que é
real, tenho que compensar os meses que a fiz sofrer por egoísmo meu.
As lembranças dos últimos meses vêm em minha mente como um
turbilhão. Quando ela quis voltar a trabalhar, mesmo em casa, foi motivo
para discutirmos, Nathan precisa dela em tempo integral. Mas nada se
compara o dia que ela saiu para ir a uma consulta e voltou com um
encontro marcado, esse dia eu queria matar Luck, King e o infeliz que
conseguiu chegar nela. Na mesma hora mandei King descobrir quem é e ter
um relatório sobre a vida do cara. Duas horas depois já estava com a ficha
corrida do tal Robert e o que li só me fez rir, Letícia dará um pé na bunda
desse infeliz logo.
Admito que naquela noite eu quase não dormi direito. Fiquei pensando
no fato de que o cara poderia conquistá-la, tirando-me do jogo. Eu sei que
ele queria somente sair nas notícias em companhia dela, queria status,
talvez fama. Mas ele não tem boa reputação entre as mulheres, algumas que
já passaram por sua cama, falaram que o cara é um idiota de marca maior.
Por outro lado, eu precisava que Letícia se convencesse de que eu sou o
único que posso a fazer feliz. Para isso eu teria que me arriscar deixando
que ela saísse com aquele babaca. King e eu conversamos durante horas
sobre como manter o cretino sobre controle, mesmo assim, o risco ainda
era grande. Arrisquei-me. Cuidei do Nathan para que ela pudesse se
divertir e a cada vez que ela chegava, eu tinha certeza que estava certo em
fazer isso. Robert não despertava nada nela, era apenas um modo de
escapar de mim.
Outro dia, Ethan, Martino, Liam, Sebastian, Bashir e eu, estávamos em
uma videoconferência para decidirmos sobre um novo projeto para a
Paradise na Europa. Martino perguntou se não tínhamos tempo para dar
um pulo na Itália para ver o show que a Letícia queria muito ir, mas quando
esteve lá, não foi possível. Ele falou que era um grupo chamado Il Divo e que
ela era muito fã. Logo uma ideia estalou-me.
— Você tem o contato do agente deles, Martino?
— Tenho, o cara é primo da minha mulher.
Ele me passou o contato e logo liguei para um amigo próximo, dono de
uma das casas de show mais famosas de Nova York. Prontamente ele se
interessou em trazer o grupo para uma apresentação e eu seria o
patrocinador.
Perfeito.
Pesquisei, ouvi várias músicas deles e fiquei impressionado com o estilo
musical, é música clássica. Sempre achei que a Letícia fosse mais rock´n
roll.
Os dias que seguiram foram agitados por causa desse show e eu queria
ir além, queria pedi-la em casamento na frente de todos que estivessem
presentes. Três dias antes, Hunter, dono da casa de show, liga para dizer
que os ingressos já estavam esgotados e que os lugares que pedi, foram
reservados. Navegando pela internet, deparei-me com uma página que
falava sobre rosas, especificamente sobre o significado de cada cor de rosa.
Outra ideia veio a calhar.
No dia, tudo foi perfeito, sem erros, sem imprevistos e o resultado foi
melhor que cogitei, hoje, tenho a mãe do meu filho, minha futura esposa
nos meus braços. Letícia e Nathan marcam uma nova fase da minha vida,
uma fase em que as coisas se tornaram concretas, sou outro homem por
causa deles. Antes, tudo era superficial, mulheres entravam e saiam da
minha cama, tudo era igual. Muitas vezes parecia que eu estava
desempenhando um papel de ator pela vida, nada me emocionava.
As coisas começaram a mudar quando conheci Letícia e tudo mudou
definitivamente com o nascimento do Nathan. A vida passou a ter sentido e
eu passei a ser real! Seja Deus, ou a força do universo, ou qualquer outra
divindade, eu só tenho a agradecer por tudo que passei para merecê-los
hoje.
Sinto-me observado e a encontro olhando para mim.
— Bom dia, menina dos olhos dourados.
— Bom dia, meninos dos olhos azuis. — Tiro uma mexa de cabelo do seu
rosto.
— Meninos dos olhos azuis, agora é Nathan e eu sou o homem dos seus
sonhos.
— Por falar nisso, como você sabe dessa história? — Viro-me de lado
para ficar de frente para ela.
— Ethan me falou várias vezes sobre isso, ele disse que soube por
Lorena. Um dia, fui até a casa dele para conversar, ela estava lá e puxei
assunto, ela contou.
— Tenho que perguntar, porque vindo da Lorena, tenho receio. O que
ela te contou? — Passo a mão pelo seu rosto.
— Ela falou que você sonhava com um par de olhos azuis misteriosos,
sempre os mesmos olhos estavam presentes nos seus devaneios e isso a
incomodava de vez em quando. — Ela solta o ar aliviada.
— Zachary, esses dias eu soube que você tem insônia e nenhum médico
até hoje descobriu a causa. Não acha que isso contribuiu para a sua
depressão? Ainda me preocupo com aquilo. — Beijo sua mão.
— Quando Ethan foi atrás da Lorena no Brasil e ficou na sua casa, ele
mandava-me áudios de algumas conversas e sua voz, seu riso, sempre me
passava à sensação de conforto e acabava adormecendo. Fui até Phillip
saber a relação que isso tinha, mas nem ele soube explicar. A depressão.
Bom, achei que tinha perdido você e foi a pior dor que senti até aqui. Desde
que você e Nathan entraram na minha vida, tudo faz sentido e durmo bem.
Mesmo Zach filho querendo brincar às três da manhã, ainda assim durmo
muito bem. — A risada dela é melodia para os meus ouvidos. — Outra
coisa, temos que decidir a data do casamento. — Ela coloca a mão nos
olhos.
— Novamente isso? — Tiro a mão de seus olhos.
— Sim e não vou parar até decidirmos. Acredito que daqui a quatro
semanas seja uma data boa.
— Ethan e a Lorena estarão em lua de mel, Zachary.
— Eles podem adiar... — Letícia se levanta e vai em direção ao meu
quarto.
— Não, Zachary, eles não adiarão a lua de mel por causa do seu capricho.
Se eu quiser adiam!
Mas não vou me desentender com ela agora. Vou até o banheiro e levo-a
para o chuveiro junto comigo.
— Tenho uma proposta para você, Letícia. — Ela entra debaixo de uma
das duchas.
— Tenho até receio de perguntar...
— Você e Nathan se mudam para cá o mais rápido possível e marcamos
o casamento para daqui seis semanas.
— Tenho alternativa?
Passo meus braços pela sua cintura e trago a sua boca para minha.
— A única alternativa que você tem agora, é fazer amor comigo aqui.
Antes que ela pudesse responder, a beijo novamente até ficarmos sem
ar. Levanto uma de suas pernas e penetro-a sem aviso. É assim que eu
gosto e eu preciso estar dentro dela de uma vez. Nosso banho foi
intercalado entre ensaboar, transar, enxaguar e chupar. Eu não sei se algum
dia eu terei o suficiente dela, até lá, aproveito cada segundo.
Depois de lavar e chupar cada parte da minha mulher nós nos secamos e
fomos para a sala tomar café. Ontem já não jantamos e não quero que ela
pule refeições, ela ainda amamenta Nathan, precisa estar forte.
Encontramos Ruth terminando de colocar o café na mesa.
— Bom dia, casal. Estou muito feliz de vê-los juntos, só não gostei de ver
não comeram nada ontem. — Pisco para Letícia.
— Eu comi. — Uma vermelhidão toma conta do rosto dela e fica sem
jeito.
King entra trazendo-me os jornais, logo que vê Letícia ele sorri.
— Bom dia, Lê.
— Bom dia, príncipe negro. — Ela sorri para ele. Aponto uma cadeira
para ele.
— Toma café conosco, tenho algumas coisas para te passar. — King
senta ao meu lado e de frente para a Letícia. — A Letícia e o Nathan se
mudarão para cá, providencie a mudança dela para hoje à tarde... — Letícia
se engasga.
— Zachary, você tem que parar com isso...
— Com isso, o que?
— De planejar e executar tudo sem me consultar. — Pego a sua mão e a
beijo.
— Se eu deixar por você, não fará tão cedo. — Volto-me para King. —
Faça isso. Outra coisa, nós nos casaremos daqui a seis semanas, quero que
você reserve o Grand Ballroom do Plaza e consiga o contato do
cerimonialista da Lorena...
— Dá um tempo, Zachary! Para, por favor. — Letícia solta a xícara com
mais força do que deveria. — Decidimos nos casar ontem e hoje você quer
tudo pronto...
— Eu me decidi casar com você há meses atrás. Eu não tenho culpa que
você não esteja na mesma página que eu.
Minha mãe e seu marido chegam com Nathan nos braços.
— Bom dia, meus amores. — Minha mãe fala. Ela olha para a Letícia. —
O que foi minha filha?
Nathan estica os braços para sua mãe e já mira o seio. Oh moleque de
sorte! Letícia tenta o distrair com outra coisa, mas porra, ele é meu filho,
queremos peito! Trago Nathan para o meu colo porque não quero os
marmanjos que estão aqui, de olho nos seios da minha mulher.
— Zachary já decidiu o nosso casamento inteiro, cabe a mim, apenas
comparecer.
— Zachary... — Minha mãe me olha de cara feia. Vejo desapontamento
em seu olhar e isso aperta meu peito.
— Letícia, eu só quero te dar o mundo. Do que adianta eu ser rico se não
posso fazer o casamento dos sonhos da minha mulher.
— Eu não quero o mundo e o casamento dos meus sonhos é simples,
poucas pessoas, apenas a quem amo. Já não basta ter que lidar com a vida
pública a toda hora? Quero que o momento seja só nosso. Entende?
— Lê, acho que posso te ajudar com o lugar. — Minha mãe se mete
novamente. — No Rockfeller Center, tem um lugar chamado Loft & Garden, é
um terraço maravilhoso, não muito grande, mas com muito verde e a noite
a iluminação é estupenda. E sobre a cerimonialista, posso te indicar
alguém... — Os olhos da Letícia brilham.
— Gostaria de conhecer o lugar. Margaret, eu não quero o mesmo
organizador que a mãe do Ethan contratou, ela é exagerada. Meu sonho é
uma cerimônia pequena, só com família e alguns amigos mais próximos, em
um lugar aconchegante e decorado com pequenas flores.
— E se eu organizar seu casamento? Haveria algum problema?
Os olhos da Letícia umedecem. Não era essa a reação que esperávamos.
Não suporto a ideia de vê-la chorar. Antes que eu pudesse alcançá-la, ela
levanta e abraça minha mãe.
— Você faria isso por mim, Margaret? — Agora é a vez da minha mãe se
emocionar.
— Tem dúvidas? Olha pelo que você é responsável. — Minha mãe a vira
na minha direção. — Você me deu o neto mais lindo do mundo, ensinou ao
meu filho o que é o amor e hoje posso desfrutar de um café da manhã com
meu marido e filho na mesma mesa. Eu te devo tanto, Letícia.
Nesse momento, meu pai e Mary Ann entram com os braços cheios de
jornais e revistas. Meu pai olha para as duas que estão abraçadas chorando
e depois para mim.
— O que está acontecendo? — Aponto uma cadeira.
— Senta porque a história é longa. Resolveu reciclar, pai? Para que esse
tanto de papel?
— Seu pedido de casamento está em todos os jornais, até mesmo nos de
economia, há revistas que também conseguiram fazer matéria de capa. —
Mary Ann responde.
— Mary Ann gostaria de me ajudar a organizar o casamento dos
meninos?
— Oh, meu Deus! Sério? Mas eu sou tão brega...
— Ninguém cozinha melhor que você, mas quero que você experimente
cada buffet que a Margareth te levar. — Letícia diz. — Só peço que me
passem uma relação para que eu aprove. O resto vocês estão liberadas.
Letícia pega Nathan do meu colo e vão em direção à sala, provavelmente
aquele moleque de sorte enfim terá seu alimento. Pego algumas revistas e
folheio, todas tinham imagens de mim, ajoelhado em frente à Letícia. Minha
preocupação é que eles interpretassem tudo errado. A mídia
sensacionalista pode ser muito cruel e a Letícia ainda não é acostumada a
isso. Se caso eles aborrecem minha mulher com notícias más em relação ao
nosso casamento, eu compro, fecho e lacro as portas do lugar. Posso fazer
com que o dono tenha que vender um rim para me pagar a indenização.
Nessa confusão toda, nós não tomamos café ainda. Chamo Ruth e peço
para servir café para elas na sala. Volto-me para o King.
— Vê o Loft & Garden para mim? Se eu depender da Letícia nos
casaremos o ano que vem.
— O que tem o Loft?
— Letícia não quer um casamento grande, então a mãe deu a ideia desse
lugar.
— O dono do lugar é meu conhecido, vou dar um telefonema e resolvo
isso.
— Obrigado, pai.
— Para o meu filho, tudo. Sempre! — Meu pai fala com alguém
rapidamente e volta-se para mim. — Data?
— Daqui a seis semanas. Só que a Letícia quer ir conhecer o lugar antes,
veja se é possível e peça para não divulgar.
— Temos que ver com quem elas lidarão nessa organização para
mandar documentos de sigilo para todos assinarem. — King fala. — Outra
coisa, temos que ver quem terá entrada direta até vocês para verificarmos.
Não quero surpresas.
— Faça o seguinte, King, oriente cada uma delas. Assim você terá
controle sobre tudo.
Depois de um café da manhã cheio, Nathan resolveu tirar um cochilo e
nós sentamos no meu escritório para trabalharmos. Com esse novo projeto
da Paradise, Letícia e eu temos gasto muito tempo procurando o lugar
perfeito para o nosso novo empreendimento, muito parecido com o do
Brasil que está de vento em polpa, mas será somente um luxuoso
condomínio de férias.
Distraio-me pensando sobre sua mudança para cá, será fácil, Nathan já
tem seu quarto e ela ficará comigo. Mas a sensação ruim daquele quarto
lacrado ainda se faz presente em mim.
— Zachary? — Sua voz me tira da nebulosidade.
— Sim.
— Algum problema? — Balanço a cabeça em negação. — Compartilhe
comigo o que está pensando?
— Não sei se você vai querer falar sobre isso...
Ela se levanta, dá a volta e senta em minha mesa.
— Diga-me, depois eu decido.
Analiso-a e convencido de que ela forte para levar isso.
— Sobre aquele quarto...
Letícia pega-me pela mão e vai em direção a porta.
— Se isso é importante para você, resolveremos isso já!
Puxo-a para mim e emolduro seu rosto com minhas mãos. Olho no fundo
dos seus olhos, para que ela veja minha sinceridade.
— Aquele foi o lugar que te fiz sofrer e que quase te perdi; entrar lá é
como enfiar uma faca no peito. Quero que saiba que eu me arrependo
amargamente de tudo o que aconteceu se pudesse voltar no tempo e mudar
tudo, eu faria. Perdoa-me?
— Eu te perdoei no segundo que vi seu olhar. Agora vamos até o quarto.
Cada passo que eu dava, meu coração apertava. No fundo, tenho medo
que ela relembre tudo e desista de ficar comigo. Eu não sei se suportaria
isso.
Quando chegamos na porta, mais uma vez paro e olho para ela.
— Tem certeza?
Ela acena que sim e eu abro a porta. Fico esperando sua reação, mas
nada... Letícia entra e me puxa junto.
— Você retirou os espelhos. — Ela me olha com um brilho diferente. —
Você me daria esse quarto para fazer o que quiser?
— Sim. Tudo o que quiser é seu. — Eu estou muito apreensivo. Ela anda
pelo quarto, passa a mão na cama. — Eu daria toda a minha fortuna por um
pensamento seu...
Letícia vem em minha direção, tira minha camiseta e desabotoa minha
calça.
— Vou te dar uma pista. — Ela baixa minha calça e toma-me em sua
boca. Essa mulher será minha morte!
Ela me suga, extraindo de mim tudo o que pode quanto mais ela ouvia
meus gemidos, mais força aplicava na boca. Vê-la ali, ajoelhada diante de
mim, tomando-me em sua boca, é a visão do paraíso. Seguro seus cabelos
para ditar o ritmo e já estava prestes a vir.
— Letícia, eu vou gozar... Ahh! — Ela segurou em minhas pernas com
mais força, aumentou seu ritmo até que eu não resisti e vim. Dei tudo o que
ela queria, sou dela de corpo, alma e coração.
Sem perda de tempo a puxo para os meus braços e a beijo.
— Eu te amo, Letícia.
— Eu te amo, Zachary. Contaria uma coisa para mim?
— Qualquer coisa que quiser. — Coloco minha calça novamente e
deitamos na cama, um ao lado do outro.
— Eu sempre quis te perguntar isso, por que você achava que eu estava
com Liam?
— Logo depois que fui um cretino filho da puta com você no hospital,
soube que tinhas partido com Liam para Dublin. Na minha cabeça, ele era o
pai da criança, porque estava sempre te cercando. Eu sabia que o bastardo
era louco por você e faria de tudo para tê-la. Tentei me convencer que ele
era o melhor para você e o bebê. Um dia, meu pai insistiu que fosse até a
sua casa, eu não queria ir, mas King me obrigou...
— Santo Sean Kingston.
— Pois é. Vi um homem completamente diferente daquele que tinha em
minha cabeça. Não parecia meu pai, sem luxo, sem caprichos, apenas um
homem na sua simplicidade. Conversando com ele, acabei descobrindo que
o problema nunca foram eles, sempre fui eu. Acreditava na imagem que
tinha projetado na minha mente há muitos anos atrás. O que mais chamou
minha atenção foi o modo com que ele olhava Mary Ann. Se eu via amor em
cada gesto entre eles e ela me recebeu muito bem. Aquele dia eu conversei
com ele sobre essas coisas, perguntei se ele lutaria por ela mesmo com
impedimentos, ele sem pestanejar respondeu que sim. Sai de lá decidido a
te reconquistar. Então eu li o e-mail do Larkin dizendo que tinha
encontrado a mulher da vida dele...
— Julia...
— Um tempo antes, eu tive no resort e vi vocês juntos. Segundo os
relatórios, ele sempre estava com você e eu também não sabia da existência
da Julia.
— Quando fui te visitar, você perguntou sobre o anel. Era sobre o anel
de noivado?
— Sim. — Ela coloca um braço sob a cabeça para elevar-se.
— Está me dizendo que ficou meses sendo um escroto comigo por achar
que eu estava noiva de Liam e dando mole para você?
— Não. Eu não acho que você tenha dado mole para mim, apesar de que
eu sempre soube que você responde muito bem a mim... — Letícia balança
a cabeça.
— Como pode um ser humano ser tão convencido assim? — Beijo-a.
— Eu sei do meu poder de persuasão. Mas, eu tinha essa necessidade
maluca de estar perto, de saber sobre o bebê e eu era escroto porque a
queria perto de mim, mesmo sabendo que estava comprometida. Letícia,
cada dia que passou, eu desejei que Nathan fosse meu, desejei aquilo que eu
achava que o Larkin teria.
— Nunca pensei que pudesse ouvir isso de você, Zachary. Eu sou a
mulher mais feliz do mundo. — Ela desce sua mão pelo meu corpo. — E a
mais sortuda também.
— Agora vou cuidar de você, mamãe. — Coloco-a sob mim.
— Então venha, papai. — Ela abre as pernas para me receber. Como se
Zach filho pudesse nos ouvir, ele chora fazendo-nos parar.
— Você ou eu?
— Eu vou. — Ela se levanta. — Mas antes, posso te pedir uma coisa?
— Qualquer coisa.
— Dê uma chance ao marido da sua mãe. Tyler é uma ótima pessoa e
será um bom avô para Nathan.
Zach filho é o menino mais sortudo do mundo! Ele tem dois padrinhos,
King e Ethan, uma madrinha doidinha, a Boneca Lolo, que o mima demais.
De avós tem a dona Aurora e Phillip que está pegando gosto em ser
chamado de avô por nós, tem meu pai e Mary Ann e minha mãe e Tyler.
Gente para satisfazer seus caprichos, não faltará.
— Eu farei — Ela pisca para mim.
Vendo-a sair para atender o bebê, lembro-me da primeira febre que
Nathan teve, foi um verdadeiro inferno para mim. Letícia falava que era da
vacina, fazia compressas, medicava, mas ele continuava ardendo de febre.
Liguei para Phillip às três e meia da manhã para ele vir ver Nathan, a
Letícia queria me matar. O médico confirmou o que ela tinha dito era da
merda da vacina. Lembro que eu só dormi depois que disseram que a febre
tinha ido embora. É minha obrigação cuidar de ambos e protegê-los de
tudo, afinal, eles são a minha vida!
Capítulo 41
Lorena
Capítulo 42
Letícia
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