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Conceitos Psicanalíticos à luz da

Neurociência
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Psicanálise e neurociência: convergentes ou
divergentes?
Os debates na psiquiatria e na psicologia são costumeiramente caracterizados pela tensão
entre as concepções biológicas e as psicossociais acerca da vida mental. Historicamente,
a relação entre psicanálise e medicina foi construída em oposição e divergências. Em sua
prática, o psicanalista parte do pressuposto de que o inconsciente rege o funcionamento
psíquico das pessoas; já o médico busca o saber com base na doença, sustentando-se na
objetividade e na cientificidade em seu método. As manifestações psíquicas muitas vezes
são tratadas como manifestações biológicas, sendo a psicanálise vista então como um
tratamento de menor importância quando comparada a terapias medicamentosas e
comportamentais. Entretanto, nos últimos tempos, o estudo do cérebro tomou uma
dimensão bastante multidisciplinar. Surgem cada vez mais cursos universitários com base
em metodologias ativas e de integração do conhecimento, com atividades voltadas à
comunidade e à humanização na formação em saúde (BARRETO, 2016; PINHEIRO,
HERZOG, 2017).

A relação entre psicanálise e neurologia


A psicanálise, fundada por Freud, um renomado neurologista, instituiu um modo
revolucionário de pensar o humano e praticar a clínica. Como base da criação de Freud, os
principais conceitos que inauguram a Psicanálise são:

A existência do inconsciente;
As resistências;
A importância dos sonhos;
A teoria sexual e o princípio do prazer e de desprazer;
A teoria das pulsões;
A noção de aparelho psíquico;
A psicopatologia histérica.

Dentre os conceitos citados, o mais amplamente estudado é o inconsciente: um campo de


nossa psique que permanece com difícil acesso de forma convencional. Este é o campo no
qual estão nossos desejos, vontades reprimidas e sonhos. A psique não se reduz à
consciência – há a mente inconsciente povoada por fantasmas psíquicos – e as patologias
somáticas não excluem a expressão subjetiva do humano.

A perspectiva de Freud e da psicanálise vai muito além dos atendimentos voltados para a
saúde mental dos sujeitos, mas argumenta também sobre o pensar a cultura e a
civilização de modo psicanalítico, fazendo com que as instituições que constituem a vida
social na contemporaneidade passem pelo crivo da reflexão psicanalítica. Nesse
raciocínio, a psicanálise e a medicina, concebidas como instituições distintas em termos
de objeto, podem criar interfaces e haver grande contribuição no desenvolvimento da
neuropsicanálise (DAVIDOVICH, WINOGRAD, 2010; PINHEIRO, HERZOG).

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Contribuições da psicanálise à neurociência
Diversas são as investigações científicas que apontam contribuições pertinentes da
psicanálise ao avanço das neurociências. Numa dimensão clínica, os pesquisadores Eizirik
e Hauck (2008) comentam que a psicanálise visa a uma expansão da capacidade
intrapsíquica referente a um aumento do conhecimento acerca de si mesmo; também
falam de efeitos sintomatológicos e das possibilidades de escolha das pessoas. Por sua
vez, Molen e Lang (2007) enfatizam a importância das habilidades de escuta para o
profissional da medicina em relação aos silêncios, perguntas, parafrasear conteúdos,
refletir sentimentos etc. Soussumi (2004) aponta que a neuropsicanálise é uma forma de
verdadeiramente integrar a psicanálise e a neurociência, área que apresenta relevância,
por exemplo, na investigação psicanalítica de pacientes com lesões neurológicas focais,
além de apontar a intervenção psicanalítica como sendo capaz de contribuir para reabilitar
inúmeras desordens de personalidade, motivação e emoção, associadas a dano focal
neurológico, salientando a importância da conceituação psicanalítica.

Por sua vez, Barreto (2011), aborda um caso de uma criança com prematuridade, quadro
de hidrocefalia com histórico de inúmeras neurocirurgias, que apresentou um
desenvolvimento muito positivo devido ao trabalho terapêutico complementar ao
tratamento. Bocchi e Manzoni-de-Almeida (2013), falam de conceitos psicodinâmicos em
modelos neurobiológicos acerca da mente e do cérebro, referindo-se também a recursos
de neuroimagem que sustentam essa associação ao ser possível identificar mudanças de
funcionamento mental em casos de lesões cerebrais, tumores, acidentes vasculares, entre
outros aspectos (BARRETO, 2016).

A neurociência demonstra que nossas decisões vêm do inconsciente, mostrando que


processos não conscientes formam a base do psiquismo, informações já foram declaradas
pela Psicanálise, que através de estudos e casos clínicos, comprova que o inconsciente
existe e é de maior frequência e significado no funcionamento mental. Sendo assim,
ambas as áreas, cada vez mais, caminham juntas em busca do desenvolvimento científico
comum que beneficie a evolução do ser humano.

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Referências
BARRETO, Ricardo Azevedo. Contribuições da psicanálise à neurologia. Estud. psicanal.,
Belo Horizonte, n. 46, p. 143-150, dez. 2016.

DAVIDOVICH, Marcia Moraes; WINOGRAD, Monah. Psicanálise e neurociências: um mapa


dos debates. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 4, p. 801-809, 2010.

PINHEIRO, Elaine; HERZOG, Regina. Psicanálise e neurociências: visões antagônicas ou


compatíveis? Tempo psicanal. Rio de Janeiro, v. 49, n. 1, p. 37-61, 2017.

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