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As It Was in the Days of Noah Copyright © 2014 by Jeff Kinley Published by Harvest House Publishers Eugene, Oregon 97402

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Editor: Sebastian Steiger Tradução: Doris Körber Revisão: Chamada Capa e diagramação: Rômulo Spier do Nascimento Conversão para ePub: SCALT Soluções Editoriais Salvo

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Lumos Assessoria Editorial - Bibliotecária: Priscila Pena Machado CRB-7/6971

Kinley, Jeff.

K55 Como foi nos dias de Noé : advertências da profecia bíblica sobre a futura tempestade global / Jeff Kinley ; [tradução Doris Körber]. – 1. ed. – Porto

Alegre : Chamada, 2021.

Tradução de: As it was in the days of Noah

ISBN 978-65-89505-04-4

1. Noé (Patriarca hebreu). 2. Bíblia - Profecias - Fim do mundo. 3. Fim do mundo - Ensino bíblico. 4. Dilúvio - Ensino bíblico. I. Köber, Doris. II.

Título CDD 220.15


Para meus quatro “ouvintes”, que, como Noé,
agiram de acordo com os propósitos de Deus.
A fé de vocês me inspira.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS

INTRODUÇÃO

1. OS DIAS DE NOÉ

2. O ÚLTIMO HOMEM (JUSTO) NA TERRA

3. ENXURRADA

4. PROFETA CARPINTEIRO

5. UM MUNDO ÍMPIO

6. UM HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA

7. CINQUENTA TONS DE IMORALIDADE

8. DIAS TERRÍVEIS

9. VINDO COM AS NUVENS

10. A PORTA ABERTA

NOTAS
AGRADECIMENTOS
Autores estão sempre buscando seu próximo projeto literário. No entanto,
neste caso o livro encontrou o autor. Este projeto começou com uma “ideia
maluca” que rapidamente se transformou num grande passo de fé. Devo um
grande agradecimento ao meu agente, Bill Jensen, que inicialmente teve a
visão para o livro e sugeriu que eu o escrevesse. Sou grato a minha esposa,
Beverly, que orou fervorosamente comigo sobre assumir este projeto. Eu
também não conseguiria escrever este livro sem o auxílio de meu “escriba”
Stuart Kinley, que digitou incansavelmente minhas revisões e edições
originais, servindo também como um segundo par de olhos. Por fim, estou
em dívida com toda a equipe da Harvest House, que viu Como foi nos dias
de Noé como um livro oportuno para esta geração.
INTRODUÇÃO
Talvez não haja nenhum outro relato antigo na história humana que cative
tanto a nossa atenção quanto a narrativa a respeito de Noé e do grande
Dilúvio. A aventura da arca é tão antiga quanto o próprio tempo e, ao longo
das eras, cerca de 270 versões dela passaram de geração em geração em
culturas do mundo inteiro. Da Assíria-Babilônia ao Antigo Egito, China e
até mesmo Havaí, cada relato diluviano apresenta semelhanças marcantes
com a narrativa bíblica. Um aspecto especialmente espantoso é o fato de que
a maioria fala de uma população má, de um solitário homem justo, de uma
destruição universal pela água e de uma arca.
Os céticos apresentam esses “mitos do Dilúvio” como prova de que a
Bíblia não tem direito de exclusividade sobre essa alegoria pré-histórica tão
frequentemente contada. Alegam que Moisés (ou “quem quer que realmente
tenha escrito Gênesis”) provavelmente tomou emprestado um mito comum,
adaptando-o à cultura judaica e ao seu próprio conceito de Deus. Defendem
que a história de um homem que constrói um navio de carga gigante para
proteger sua família de uma divindade irada que quer destruir a humanidade
não passa de uma fábula fossilizada. Um conto de fadas. É claro que a
explicação alternativa é complicada – que a descrição bíblica seria 100%
acurada, inclusive nos menores detalhes, e que o Criador embutiu esse relato
em virtualmente todas as culturas antigas como testemunho de sua
veracidade. Mas Deus deu um passo além, providenciando para que o evento
fosse documentado para nós por meio de um livro.
Jesus Cristo acreditava em Noé. E no Dilúvio. E na arca. Na verdade, em
lugar algum da Escritura encontraremos a menor insinuação de que o
homem Noé, sua história ou o Dilúvio global seriam apenas uma metáfora,
um conto mitológico, uma parábola moralista ou uma obra de ficção. Pelo
contrário, ela estabelece a realidade do evento do Dilúvio com muita firmeza
(2Pe 3.5-6). Mas é claro que se esperaria isso da Bíblia, não é? No entanto,
ainda mais espantoso é que Jesus associe a historicidade de Noé e de sua
arca à certeza de eventos proféticos futuros e sua volta física a este planeta
(Mt 24.1-3,36-39).
Além disso, Jesus introduziu suas afirmações a respeito de Noé
declarando suas próprias palavras como tão verdadeiras que sobreviveriam a
céus e terra (Mt 24.35). Ou, em outras palavras, “tudo o que eu digo vai
acontecer”, garantiu, “e vocês podem contar com essa verdade”.
Para descartar ou negar a realidade de Noé e do Dilúvio, basta refutar a
pessoa de Jesus Cristo e sua reivindicação à divindade, coisa que mortal
nenhum conseguiu realizar com sucesso nos últimos dois mil anos. A
confiabilidade histórica da Escritura (e, com isso, do Dilúvio) está
inseparavelmente ligada ao caráter e à identidade do próprio Deus. E,
embora seja possível produzir um registro histórico acurado sem a ajuda do
Senhor, é impossível ter profecias ou o sobrenatural sem ele. Não há dúvida
de que Noé é a história quintessencial de profecia, intervenção divina e
juízo.
Com uma precisão de dar calafrios, a Bíblia reconta esse evento épico que
levou bilhões para uma cova de água.1 O que aparece na Escritura vai muito
além de qualquer blockbuster de Hollywood. Não há aqui nenhuma cena
gerada em computador, em 3D ou com efeitos especiais. Nem um filme de
ficção que atropela nossos sentidos com imagens gigantescas e sons
ensurdecedores, retratando o horror de um apocalipse aquático global.
Em vez disso, trata-se de algo muito pior.
Como foi nos dias de Noé levará você de volta a um mundo difícil de
reconhecer. Talvez você ache as cenas e os sons do mundo pré-diluviano
perturbadores. Essa história redirecionará sua perspectiva da humanidade e
desafiará até mesmo sua percepção a respeito do próprio Deus. Mas também
é minha esperança que você use a narrativa do Dilúvio como uma lente para
analisar o mundo de hoje, oferecendo-lhe um vislumbre pelo visor de Deus,
porque é através do estudo desse evento do passado que podemos entender
melhor o presente e nos preparar com mais eficácia para o futuro.
Quero encorajá-lo a pesquisar pessoalmente a Escritura enquanto você lê
este livro. Esse tal Noé é muito mais do que um personagem antigo em um
livro, e a classificação indicativa dessa história definitivamente não deveria
ser “livre”. As páginas a seguir contêm a versão sem cortes de um capítulo
tão perturbador da história humana que você pode ficar se perguntando se
realmente aconteceu da forma como a Bíblia descreve. Este livro desvela o
coração do homem e a santidade de Deus. Por isso, navegaremos com
reverência. Dito isso, o mar pode ficar agitado; portanto, se você estiver
pronto, suba a bordo, agarre seu colete salva-vidas e segure-se firme.
Você está prestes a descobrir como uma antiga história de escola bíblica
dá um salto no tempo, lançando luz sobre a geração de hoje e ligando-se a
outro juízo global ainda futuro. Mas, à medida que você mergulha na história
de Noé, também encontrará um reservatório de esperança.
E um Deus que espera com a porta aberta.
Jeff Kinley
Little Rock, Arkansas
1

OS DIAS DE NOÉ
... estou triste por havê-los feito.
Gênesis 6.7 (NAA) Está vindo um dilúvio. Deus vai destruir essa terra, incluindo você, a não ser que você se arrependa.

Essa era a essência da mensagem de Noé. Simples. Objetiva. Sem


enrolação. O sermão desse pastor é franco, direto, e ele até usa uma ação
prática para ilustrar o principal ponto da mensagem – a construção de um
barco bem grande. O sermão audiovisual de Noé durou 120 anos.
E então veio o Dilúvio e destruiu a todos.
Simples assim.
Mas há mais coisa nessa história. Na descrição do drama do Dilúvio, o
que muitas vezes desaparece em meio aos relatos sobre um homem idoso e a
arca, seus habitantes de duas, quatro ou mais patas e o terrível juízo pela
água é a percepção de como Deus se sentiu a respeito de tudo isso. Sabemos
que a história termina com seu juízo, mas esquecemos de mencionar que
todo esse catastrófico evento não brotou de um punho irado, mas de um
coração partido. O Espírito de Deus estava profundamente entristecido. Ele
experimentou sofrimento real, o que é um conceito incomum, especialmente
no contexto de um julgamento. Mas há determinadas facetas do
relacionamento de Deus com a humanidade que o afetam emocionalmente,
causando dor e arrependimento ao seu Espírito (Ef 4.30). Isso acontece
porque Deus não é uma divindade estoica, fria, distante, mas um Pai que tem
sentimentos. Ele não é um velho ranzinza, de cara amarrada, que grita com
as crianças da vizinhança que estão fazendo barulho. Ele não está sentado
em algum lugar do cosmos nos vigiando e procurando uma forma de nos
punir por cada erro que cometemos.
Pelo contrário: seu coração é mais terno do que qualquer palavra mortal é
capaz de descrever. Mais afetuoso do que qualquer ser humano é capaz de
imaginar. De modo extraordinário, ele é ao mesmo tempo compassivo e
santo, gracioso e honrado, misericordioso e justo, perdoador e irado. E não
há qualquer contradição ou inconsistência em todos esses atributos. Suas
infinitas qualidades complementam umas às outras de forma harmoniosa, em
um nível que vai muito além da nossa compreensão humana. Este é o
mistério da divindade. Ele é Deus – transcendente, mas pessoal. Invisível,
mas íntimo. Eterno, mas sempre presente ao nosso lado. O Deus que inunda
também perdoa. Normalmente ofuscado pelos animais e por uma arca, o
personagem principal desse drama antigo é, na verdade, o próprio Yahweh.
Ele é o ator principal e o diretor, já que a história começa e termina com ele.
Sua presença é o pano de fundo para todas as cenas.
Na narrativa do Dilúvio, a ação é pausada como que em câmera lenta ou
em cenas congeladas. A história parece paralisar-se, e esses instantes
parentéticos nos dão vislumbres de quem Deus realmente é. Somos levados a
espiar seu coração, vendo seu caráter com uma clareza revigorante e bem
definida. Como acontece em muitos episódios épicos descritos na Escritura,
Deus nos oferece aqui uma perspectiva multifacetada de um único incidente.
Por meio desses posicionamentos verbais registrados para nosso benefício,
vemos o que ele vê. A história de Noé nos dá acesso a todos esses ângulos
de câmera. Neste campo de visão encontramos, entre outras coisas, um Deus
enlutado, de coração partido pela decadência e loucura moral de sua criação
(Is 63.10; Mt 23.37; Ef 4.30). Vemos como o pecado lhe causa sofrimento e,
neste caso, como essa dor dá início a uma profecia de juízo. Em uma irônica
virada, descobrimos que a única forma de Deus salvar a humanidade era
destruí-la e começar de novo.
Foi assim que aconteceu.
Ao conduzir alguns milhões de judeus para fora da escravidão no Egito,
Moisés (um ex-pastor de ovelhas transformado em libertador) rompe 400
anos de maré de azar para o povo de Deus. Durante os próximos quarenta e
tantos anos, ele peregrina com eles por uma desabitada terra de ninguém,
mais conhecida como deserto do Sinai.
Sentado em sua tenda, o resgatador de Israel pega uma pena de junco e
uma folha de papiro e começa a escrever a história de Deus e da humanidade
– o relato oficial. Ele descreve as maravilhas da criação: os céus, a terra, as
estrelas, até mesmo o conceito da própria luz. Ele registra a criação dos
mares, da vegetação, das criaturas na água, terra e ar, concluindo com a obra
mais criativa de todas – o ser humano feito à sua própria imagem e
semelhança, em cujas narinas inspira então o sopro de vida. Esta seria a
maior realização de Deus. Sua magnum opus. Sua obra-prima (Sl 8.3-6).
Mas não demorou muito para que os primeiros seres humanos da história,
dotados de livre-arbítrio por seu Criador, usassem sua liberdade para buscar
autogratificação em vez de Deus. É neste ponto do relato que a tinta da
caneta de Moisés assume uma tonalidade bem mais escura. O coro festivo da
criação agora transita para um refrão pesaroso, à medida que descreve a
queda vertiginosa do ser humano em pecado e ruína. O Criador da vida teria
preferido um enredo diferente, no qual Adão e Eva escolhessem obedecer
em vez de acreditar numa mentira. Mas não era para ser. E uma evidência
contínua disso aparecia diante dos olhos de Moisés quando ele afastava a aba
de sua tenda para observar os milhões de israelitas que tinham feito a mesma
escolha no deserto – abandonar a fé num Deus bom para seguir os seus
próprios desejos e planos.
E assim Moisés descreve, talvez com o coração pesado, os detalhes a
respeito da condição do planeta há mais de quatro mil anos. Graças a ele,
Gênesis 6 é o nosso passaporte para ver os bastidores do passado – um tour
particular do que havia por trás de uma era que alguns negam que tenha
existido, enquanto outros se esforçam ao máximo para esquecê-la. É um
capítulo da história humana que até mesmo alguns cristãos têm dificuldade
para aceitar. Mas ele existe, como uma mancha permanente em nosso
passado. A “ficha” da humanidade que registra nossos crimes, ofensas e
falhas passadas. Um episódio constrangedor da nossa história familiar.
Aquele parente do qual não gostamos de falar. O tio preso. O primo
degenerado. O parentesco que você não reivindica. A ovelha negra da
família. Mas não há como escapar. E quando nossa família humana
continuou crescendo, cada geração ia ficando sucessivamente pior que a
anterior. Não demorou muito para atingirmos um ponto sem volta.

Sexo, Demônios e Depravação Voltando


ao jardim do Éden, Deus ordenou a Adão e
Eva: “Sejam férteis e multipliquem-se!
Encham... a terra” (Gn 1.28). Esse era um
mandamento que nem eles nem seus
descendentes teriam dificuldade em obedecer.
O sexo era bom; e a procriação, abundante.
Em nosso mundo de perversão e pornografia,
é fácil esquecer que foi Deus quem inventou
o sexo. Somos pressionados a pensar que a
experiência sexual é algum instinto primário
nascido a partir da evolução ou um alívio
químico cronometrado pelo cérebro. Nada
mais do que hormônios. Ou, pior ainda, que é
uma ideia terrível, satânica. Mas isso não é
verdade. O sexo é um presente maravilhoso
diretamente do coração de Deus. Ele o criou.
É invenção dele. Ele recebe o crédito. Ele
também desenhou nossos corpos, mentes e
emoções para realmente gostar dessa
experiência, e até ficar exultantes com ela.
Ele criou a sexualidade como algo desejável,
natural e realmente bom (Gn 2.18,23-25).
Depois de constatar isso, Moisés resume cerca de 1 500 anos de vida na
terra afirmando que “os homens começaram a multiplicar-se na terra e lhes
nasceram filhas” (Gn 6.1). Considerando que a média da expectativa de vida
do homem naquela época era de várias centenas de anos, os descendentes de
Adão e Eva tiveram muito tempo para procriar. E aparentemente fizeram um
ótimo serviço, causando um aumento explosivo da população mundial, que
cresceu exponencialmente.
Como o envelhecimento naquela época era bem mais gradual e as pessoas
viviam bem mais tempo, havia muitos bebês nascendo. Mas será possível
também que os efeitos de longo prazo do pecado hoje tenham destruído
totalmente o corpo e a mente do ser humano, de forma que o sexo naquela
época era ainda mais agradável do que é atualmente? Será que a queda de
Adão e Eva no pecado nos impediu de ter experiências ainda melhores na
intimidade física? Seja como for, toda essa atividade sexual resultou na
procriação natural e prolífica, sem que ninguém pensasse em limitar o
tamanho de sua família. Dessa forma, a população pré-diluviana na época de
Noé pode facilmente ter chegado a ter entre 7 e 10 bilhões de pessoas.2 Mas
o que desagradou a Deus não foi a explosão populacional. Afinal, ele tinha
encarregado sua criação de tratar disso (Gn 1.28). Era outra coisa que pesava
no coração do Criador. Gênesis 6.5 declara: “O SENHOR viu que a maldade das
pessoas havia se multiplicado na terra e que todo desígnio do coração delas
era continuamente mau” (NAA).
Espere aí, será que lemos direito? Era realmente isso que Moisés queria
escrever? Ele de fato afirma que todo pensamento de todas as pessoas era
mau? Continuamente? O tempo todo? Será que isso é possível?
Aparentemente sim, e eis o porquê: Quando se trata de moralidade, nossa
reação típica é comparar-nos a outras pessoas. Coloque-se ao lado de Hitler,
de um terrorista ou um predador sexual e pronto: imediatamente você acha
que é um santo. Mas quando somos comparados à santidade e aos padrões
puríssimos de Deus, você e eu ficamos muito mal (Rm 3.23). Na verdade,
Deus repete várias vezes ao longo de toda a Bíblia que o coração do homem
é cheio de pecado, chegando ao ponto de descrevê-lo como “mais enganoso
que qualquer coisa” e “extremamente perverso” (Jr 17.9, NVT). Uau, Deus –
nada como ser sincero, hein?! Faz sentido então concluir que, se o poço
(coração) está contaminado, a água colhida no balde (nossas ações) também
estará.
Os teólogos chamam essa verdade de “depravação total”. Mas isso não
significa necessariamente que cada indivíduo no planeta aja a todo momento
de forma tão pecaminosa ou má quanto seria capaz. Nem todo mundo passa
todos os seus dias, inteiros, atingindo seu “potencial máximo” em termos de
pecado. É verdade, no entanto, que o vírus mortal atinge cada canto e
componente de nosso ser – corpo, mente e alma. Em outras palavras: assim
como a lei da gravidade, a lei do pecado nos domina, determinando e
influenciando certos aspectos da nossa vida. Ela arrasta nossos pensamentos,
emoções e desejos. Esse narcisismo egocêntrico informa e impacta nossas
decisões, relacionamentos, famílias, comunidade e, em última análise, nossa
nação e nosso mundo. Considere vários bilhões de pessoas tomando essa
droga chamada pecado, e os efeitos colaterais serão devastadores. Assim, o
que Gênesis 6.5 efetivamente afirma é que este era um planeta de viciados
absolutamente perdidos. Um desfile de depravação total. Muito antes do
juízo divino recair sobre essas pessoas, elas já estavam ocupadas em encher
a terra com seu pecado e maldade. Na verdade, elas eram tão más quanto
poderiam ser – o tempo todo.
Além disso, Gênesis 6 destaca uma área específica da vida afetada por
essa droga estimulante chamada pecado. Talvez não haja nenhum outro
impulso do desejo humano (exceto respirar e viver) que seja tão forte e
intoxicante quanto o sexo. E, como já vimos, ele é bom e foi criado por
Deus. Ainda assim, o apetite sexual é também um entorpecente natural, que,
misturado à maldade, se transforma em uma droga potente e letal. Nesse
mundo pré-diluviano já enlouquecido pela overdose de desejos pecaminosos,
é fácil imaginar um vale-tudo sexual global. Se a Bíblia estiver correta ao
afirmar que a população mundial inteira pensava no mal 24 horas por dia,
sete dias por semana, esses pensamentos maus certamente incluíam
promiscuidade sexual, adultério e perversão, assim como estupro,
prostituição, homossexualismo, lesbianismo e pedofilia. Essa ideia lhe
parece extrema ou forçada? Considerando que a maioria dessas aberrações e
perversões existem entre nós desde os dias de Noé, não é forçado imaginar o
quanto elas terão sido proeminentes num mundo sem qualquer padrão ou
restrição moral. Talvez tenha sido pior do que nossa imaginação mais louca.
O mundo antes do Dilúvio apresentava tal nível de degradação sexual que
faria até mesmo um pervertido dos dias de hoje corar. Moisés espera mais
doze capítulos em Gênesis antes de falar especificamente sobre o que Deus
pensava a respeito de uma sociedade que promovia a prática descaradamente
aberta do homossexualismo (Gn 19.1-29).3
O enredo de um filme recente retrata uma sociedade futurista onde, uma
vez por ano, todo e qualquer comportamento, incluindo o criminoso, é
permitido durante doze horas.4 Imagine o que seria o nosso mundo
atualmente se não houvesse absolutamente nenhuma restrição em termos de
sexualidade. Se você quer algo, vá em frente. Se você deseja, faça. Ninguém
pode lhe dizer não. Como seria a vida em um mundo assim? Como seriam o
sexo e a sexualidade se as piores e mais vis ideias humanas fossem
permitidas, até mesmo encorajadas (Rm 1.32)? Considere também a
ausência de qualquer dilema moral, de limites conjugais ou restrições de
idade. Já deu para entender, não é? O mundo na época de Noé era uma orgia
gigantesca. Despedidas de solteiro todas as noites. Ressacas todas as
manhãs. Bilhões de pessoas, jovens e idosas, lançando fora os trapos
rasgados dos ideais do Éden, permitindo-se todo tipo de experiência, teste e
perversão sexual.
Sim, eles de fato eram maus a esse ponto.
Se você acredita na Escritura, eventualmente chegará numa cena mental
que desafia os limites da civilidade e da decência humanas. “Toda
inclinação. Somente para o mal. Continuamente.”
Mas ainda há evidências de uma segunda camada nesta anarquia moral. É
um lado oculto da perversão sexual inconcebível até mesmo para a
pecaminosa mente humana. Moisés conta: “Os filhos de Deus viram que as
filhas dos homens eram bonitas, e escolheram para si aquelas que lhes
agradaram” (Gn 6.2).
Há um debate entre teólogos e estudiosos da Bíblia em torno de quem
exatamente seriam esses “filhos de Deus”. Alguns sugerem que a frase se
refere aos descendentes de Sete, descritos como homens que invocavam o
Senhor (Gn 4.26). Sete era filho de Adão, um ancestral direto de Noé, que
também aparece na genealogia de Jesus (Lc 3.23-28). Assim, alguns veem
em Gênesis 6.2 simplesmente uma referência a numerosos casamentos
dentro do clã temente a Deus de Sete. Mas também existe outra
interpretação. Logo depois dessa declaração, Deus disse: “Por causa da
perversidade do homem, meu Espírito não contenderá com ele para sempre;
ele só viverá cento e vinte anos”. Naqueles dias, havia nefilins na terra, e
também posteriormente, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos
homens e elas lhes deram filhos. Eles foram os heróis do passado, homens
famosos. (Gn 6.3-4) Não faz sentido que Deus retirasse seu Espírito da
humanidade simplesmente porque homens tementes a ele tinham se casado
com mulheres bonitas.5 O que, então, o motivaria a retirar seu Espírito e
começar uma contagem regressiva de 120 anos para o juízo? A implicação, à
parte da maldade global galopante mencionada logo mais no versículo 5, é
que essa união matrimonial específica contribuiu, de alguma forma, para a
decadência moral descontrolada no mundo, levando, por fim, à vingança de
Deus.
Quem então seriam esses “filhos de Deus”? Este título (hebraico: bene
Elohim) é usado em outra parte para referir-se a seres sobrenaturais, ou
anjos, de forma que muitos concluem que esses “filhos de Deus” seriam
seres angelicais, ou, mais especificamente, entidades demoníacas (Jó 1.6;
2.1; 38.7; Dn 3.25). Dessa forma, Moisés queria dizer que demônios estavam
tendo relações sexuais com mulheres mortais. Seja qual for a abordagem
escolhida, é uma ideia bizarra e estranha. Ainda assim, o Novo Testamento
aparentemente dá apoio ao último ponto de vista, indicando que a punição
para esse ato antinatural foi lançar esses demônios “no inferno, prendendo-
os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo” (2Pe 2.4-
5; ver tb. Jd 6). Judas 6 também menciona anjos demoníacos “que não
conservaram suas posições de autoridade mas abandonaram sua própria
morada”, aos quais Deus “tem guardado em trevas, presos com correntes
eternas para o juízo do grande Dia”. Parte dos anjos foi expulsa do céu
porque se aliou a Lúcifer em sua rebelião (Is 14.12-15; Ez 28.12-19). Por
causa disso, não há mais redenção possível para o exército de demônios (Mt
25.41; Lc 12.48; 1Co 6.3; Hb 2.14-16; 2Pe 2.4; Ap 20.10).6 E o próprio mal
se origina em seus espíritos.
Dada a sua natureza corrupta, não há nada que dê mais prazer aos
demônios do que perverter os planos de Deus para a sua amada humanidade.
Por meio de suas uniões sexuais depravadas, estes demônios tentaram imitar
o que o próprio Deus tinha feito – criar um ser à sua imagem (Gn 1.26). Era
sua tentativa de replicar o que a criação de Deus (homens e animais)
conseguia fazer – reproduzir descendentes à sua semelhança. Esta foi uma
segunda tentativa de fazer-se “como o Altíssimo” (Is 14.14).
Se Satanás, o estrategista-mor do pecado, tivesse obtido sucesso em
corromper toda a raça humana por meio dessa infusão demoníaca, ele
teoricamente poderia ter impedido a vinda do Messias pela “descendência”
da mulher (Gn 3.15).7 Teria sido um plano realmente engenhoso e astucioso
– se tivesse se concretizado.
Mas é claro que sabemos que demônios são seres espirituais, sem corpo
físico. Além disso, Jesus afirmou que os anjos “não se casam” (Mt 22.30).8
Ainda assim, a Escritura deixa claro que eles podem habitar, possuir e
assumir a forma de corpos humanos (Gn 18.1-2,8; 19.1,5). De fato, anjos
assumiram forma humana a ponto de poder andar, comer e até mesmo ter
contato físico com homens mortais (Gn 19.1-3). E, do ponto de vista dos
habitantes masculinos de Sodoma, esses corpos habitados por anjos eram
plenamente capazes de manter atividade sexual (Gn 19.5). Sendo assim, é
perfeitamente possível que essas criaturas demoníacas vis e odiosas tenham
assumido forma humana ou possuído homens a fim de ter relações sexuais
(talvez forçadas) com mulheres. Seja como for, isso ilustra ainda mais a
profundidade da corrupção e maldade humanas nos dias de Noé. Você
consegue ver a involução do ser humano?
Sexo no casamento.
Sexo fora do casamento.
Sexo desenfreado.
Sexo pervertido.
Sexo abusivo.
Sexo depravado.
Sexo demoníaco.
Não há como ser mais perverso do que isso.
Qual terá sido o ambiente espiritual nos dias de Noé se os demônios
estavam fazendo sexo com mulheres? Ou que nível de depravação seria
necessário para que os homens fossem de tal forma dominados por espíritos
demoníacos? E, pressupondo que não eram forçadas a isso, que tipo de
mulher aceitaria ou desejaria tal união?
Moisés continua seu relato mencionando os nefilins que viviam na terra.
Essa palavra aparece apenas mais uma outra vez na Bíblia, referindo-se a um
povo de gigantes que vivia na Terra Prometida (Nm 13.33). A simples
menção ao fato de que esses nefilins tinham sido vistos trouxe tal medo no
acampamento israelita que desencorajou todo o povo a entrar no território
que Deus lhes prometera. Em vez disso, sujeitaram-se a andar pelo deserto
como nômades durante 40 anos.
Será que os nefilins (cuja raiz significa “cair”) de Gênesis 6 eram uma
raça de gigantes antediluvianos resultante da união entre demônios (ou
homens por eles possuídos) e mulheres mortais? Ou não tinham relação com
as uniões demoníacas, sendo simplesmente homens poderosos, tiranos cruéis
que oprimiam e dominavam os demais? Seja qual for a resposta, tudo isso
continua apontando para a presença de uma imoralidade descontrolada e
pandêmica tomando conta da terra inteira. Praticamente não havia nenhum
lugar na terra em que o pecado não tinha penetrado e pervertido a
humanidade.
Você está começando a ver isso?

Planeta Terror Mas Moisés ainda não


terminou, pois registra para nós mais uma
característica degradante e condenável da
humanidade à época de Noé: “Ora, a terra
estava corrompida aos olhos de Deus e cheia
de violência... toda a humanidade havia
corrompido a sua conduta” (Gn 6.11-12,
ênfase acrescentada).
Bilhões de pessoas, que há tempo tinham alijado o Criador de suas
consciências, tornaram-se violentas em seu relacionamento umas com as
outras. Não havia leis discerníveis ou governos instituídos. E esse vácuo de
liderança e estrutura social foi preenchido por um espírito raivoso de caótica
violência. Por todo lado, o homem resolvia seus problemas e disputas pela
força. Hostilidade. Brigas. Brutalidade e crueldade. Leis sanguinárias. A
selvageria tornara-se o padrão. Deus diz que a terra estava “cheia” desse tipo
de violência, ou seja, estendia-se por toda parte. Em cada comunidade. Cada
tribo. Onde quer que houvesse pessoas, havia também violência e terrorismo
humano. Não havia nenhum lar seguro, talvez nem mesmo para os próprios
membros da família. Não é difícil imaginar a disseminação generalizada de
violência doméstica numa sociedade tão selvagem. Considerando que se
passariam milhares de anos antes que a posição da mulher melhorasse,
imagine como os homens não devem ter tratado o sexo oposto nessa cultura
universal de machismo e pecado. Abuso verbal, emocional e físico.
Opressão violenta sobre as mulheres. Surras violentas. Estupros violentos.
Homicídios violentos.
Mas a maré alta do pecado não se limitava a um só gênero. As mulheres
não eram parte inocente nos dias de Noé; antes, estavam igualmente
escravizadas pelo mal em todas as suas variações femininas.9 Elas eram tão
culpadas quanto os homens no que dizia respeito a maldade, malícia e pouco
caso à decência. Não faltavam “diabas” nesse mundo relativamente novo.
Provérbios 29.16 afirma: “Quando os ímpios prosperam, prospera o pecado,
mas os justos verão a queda deles”. Simplificando, quanto mais pecadores
houver, mais pecado haverá. Era esse o caso nos dias de Noé. Pessoas
machucando umas às outras. Muito. Lutando. Ferindo. Matando. E era
violento. Qualquer homicídio era considerado justificado pelo simples fato
de que alguém desejava cometer o ato. O mantra assassino deles era: “O que
é seu é meu, e vou matar você para consegui-lo”. As pessoas matavam por
vingança, por prazer, por curiosidade ou simplesmente por lazer. As mortes
eram aleatórias. Sem motivo. Por impulso. Selvagens. Massacres de famílias
inteiras ou mesmo povos como um todo.
Parece difícil de acreditar, não é? Soa como uma ficção científica
primitivamente apocalíptica. Como o ser humano pôde ter se tornado tão
mau? Como ele foi capaz de perder todo e qualquer vestígio de dignidade e
decência, passando a agir dessa forma? Será que em algum momento não
acabaria despertando algum tipo de instinto de sobrevivência nascido do
bom senso, trazendo novamente alguma forma de ordem a um mundo tão
decaído? Aparentemente, não. Mas por quê? A resposta está, em parte, em
entender algo a respeito do pecado em si.

Crescimento Exponencial Não levou muito


tempo para que o ciúme e a agressividade
passassem a controlar o ser humano, uma vez
que o primeiro homem nascido aqui se
transformou num assassino frio e calculista. O
primogênito de Adão e Eva, Caim, levantou-
se contra seu irmão caçula e tirou-lhe a vida.
Mas como? E por quê? Ele o estrangulou no
campo? Apunhalou-o com uma vara afiada?
Quebrou-lhe o crânio com uma pedra do
tamanho de um punho?
A Escritura não conta exatamente como Caim inaugurou a violência na
terra com esse assassinato, mas encontramos pistas a respeito da sua
motivação. A Bíblia conta que os dois irmãos apresentaram cada qual sua
oferta a Deus – um ritual de adoração sacrificial que sem dúvida lhes fora
ensinado por seus pais. Depois da incursão de Adão e Eva no pecado ainda
no jardim, Deus providenciou peles de animal para o primeiro casal da terra,
cobrindo assim o símbolo de seu pecado e vergonha – sua nudez (Gn 3.21).
Deus sacrificou um animal (talvez um cordeiro) para que isso fosse possível.
O objetivo? É necessário um derramamento de sangue para tirar o pecado;
uma vida inocente morrendo para simbolicamente cobrir o pecado e
restaurar o relacionamento com Deus. E esse ritual tornou-se o padrão
prescrito por Deus até o momento do sacrifício definitivo realizado na cruz
(1Jo 2.2).
Abel era “pastor de ovelhas”, enquanto Caim se tornou “agricultor” (Gn
4.2). Duas ocupações necessárias naquele mundo agrário primitivo. Assim,
quando chegou o momento de trazer uma oferta ao Senhor, cada um trouxe o
que tinha – Abel, um cordeiro cuidadosamente escolhido, e Caim, uma parte
de sua colheita. Mas Deus aceitou a oferta de Abel enquanto que rejeitava a
de Caim. A Escritura diz que o cordeiro oferecido por Abel era “superior”
aos frutos de Caim, e que ele o ofereceu pela fé (Hb 11.4).
A natureza da oferta (animal ou cereal) não importava tanto quanto o fato
de um ser oferecido com fé e o outro, mais por obrigação ou busca por
mérito. O cordeiro de Abel era das “primeiras crias”, isto é, um dos melhores
animais do rebanho, ao passo que o cereal que Caim trouxe era apenas uma
parte do que ele tinha colhido (Gn 4.3-4).
No entanto, a semente do assassinato foi plantada pela resposta de Caim
diante da rejeição de Deus à sua oferta. Ele “se enfureceu” e “seu rosto se
transtornou” (Gn 4.5). Em outras palavras, ficou com inveja, furioso e
emburrado. E é justamente nesse ponto que Deus estende sua graça a Caim.
O Senhor sabe para onde isso levará, por isso oferece uma saída a Caim. E
um pouco de esperança. O Senhor mostra-lhe que ele não tem motivo real
para ficar com raiva, mas que basta mudar seu coração (em relação a Deus) e
sua atitude (em relação à sua oferta). Se Caim, pela fé, desse a Deus seu
melhor sacrifício, em vez de guardá-lo para si mesmo, ele experimentaria
felicidade e não desânimo.
“Mas”, avisa Deus, de forma pertinente, “se não o fizer, saiba que o
pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo”
(Gn 4.7).
Essa breve afirmativa contém em si uma dose compacta e potente de
teologia prática. Deus diz a Caim (e a nós) que o pecado é um princípio
“vivo”, uma força maligna poderosa que fica à espreita, como um leão feroz
escondido no capim alto, só esperando para atacar. O Senhor acrescenta que
“[o pecado] deseja conquistá-lo”. Esse termo hebraico teshuqah refere-se a
um desejo muito intenso de dominar.10 Deus detalha o conceito a Caim no
contexto dessa conversa.
“Você não pode deixar que o pecado domine você, Caim. Pelo contrário,
você deve controlá-lo.”
Nesse ponto, o primogênito da história encontra-se diante de uma
bifurcação na estrada, tendo de tomar uma decisão muito importante. Ele
pode permitir que a raiva e a decepção se inflamem e se espalhem em seu
coração ou então assumir o controle de suas emoções e dominar o pecado
que está só esperando para devorá-lo.11 Infelizmente, nem mesmo o próprio
Deus pôde convencer Caim a abrir mão do seu pecado, tamanha a força da
dependência deste. Ao encontrar seu irmão mais novo no campo (talvez até
espreitando sorrateiramente, como o pecado tinha feito com ele), satisfez sua
raiva cometendo um assassinato brutal.
E a violência nasceu.
Nos bastidores estava escondido o próprio Satanás, no papel de cúmplice
e conspirador desse primeiro homicídio da história. Mais tarde, o apóstolo
João escreveu que Caim “pertencia ao Maligno” (1Jo 3.12, ênfase
acrescentada). Satanás, nas palavras de Jesus, “foi homicida desde o
princípio” (Jo 8.44, ênfase acrescentada). Ele é o parceiro silencioso na
violência, o instigador invisível da brutalidade e do derramamento de
sangue.
Assim, ira, ciúme e assassinato nasceram já na alvorada da civilização,
espalhando-se em pouco tempo pelo mundo inteiro e, por fim, prevalecendo
sobre a humanidade inteira. Às vezes, pode parecer que inveja, ciúme ou
raiva são emoções relativamente inofensivas. Normais. Esperadas.
Toleradas. Até bem-vindas. Mas, quando permitimos que elas criem raízes
em nosso coração, o resultado costuma ser desastroso. Mais tarde, Jesus
comparou a ira ao próprio homicídio (Mt 5.21-22). Esse espírito violento,
qual centelha acesa logo no começo da humanidade, logo se espalhou como
um incêndio em uma campina ressecada, engolindo por fim o planeta como
um todo.
A violência nos dias de Noé ilustra o poder apavorante do pecado.
Imagine que você vá ao médico e uma radiografia de rotina constata que há
um tumor do tamanho de uma bola de tênis crescendo na sua barriga.
Provavelmente você ficaria alarmado com isso, certo? Isso acontece porque
você dispõe de uma prova física, a radiografia, algo que você mesmo
consegue ver. Além disso, um profissional médico especializado está lhe
informando sobre sua situação. Seria tolice simplesmente desmerecer a
informação e ignorar a radiografia, como se fosse algo que o médico
inventou para assustar você. Pelo contrário, é quase certo que você vai
acreditar nas palavras dele e levar a sua condição muito a sério. O problema
com o pecado, no entanto, é que não achamos que ele seja tão grave assim.
O que Deus chama de pecado muitas vezes são coisas que nós
menosprezamos, achamos engraçadinho ou até mesmo cultivamos como se
fosse um animalzinho de estimação.
Hoje em dia, falta-nos um respeito saudável pelo perigo, poder e
influência do pecado – tanto o que vemos no mundo quanto o que reside
dentro da nossa própria natureza pecaminosa. Tal como um dependente
químico iludido, achamos que temos tudo “sob controle”. Afinal de contas,
não somos assassinos nem criminosos violentos, certo? Portanto,
considerando isso (e especialmente em comparação com o mundo de Noé),
até que a raça humana está indo bem. Aparentemente. Mas o que deixamos
de compreender é que Deus colocou algumas restrições no mundo que na
verdade estão impedindo que as ondas do pecado se espalhem demais. Esses
diques morais não existiam na época de Noé. Falaremos mais sobre isso
adiante.
Na humanidade antes do Dilúvio, o pecado tornou-se um vírus mortal,
uma praga transmitida de pai para filho e de uma pessoa para outra. Estava
como que “escrito” em seu DNA. E manifestava-se em perversão sexual,
maldade, ódio, agressividade e comportamento violento. Os contemporâneos
de Noé estavam dominados por ele. Isso consumia a todos – homens e
mulheres, meninos e meninas. Ninguém era imune. Não havia limites
geográficos. Controlava tanto as mulheres quanto os homens. Corria como
um rio por cada cidade e aldeia, como se fosse sua única fonte de água;
bebiam-na durante o dia e embebedavam-se com ela à noite.
Não era um mundo agradável de viver. O mal reinava. As pessoas
odiavam umas às outras, e o planeta inteiro odiava o seu Criador. Era um
carnaval inflado com anabolizantes. Cada dia consistia em rejeição rebelde e
amotinada contra aquele que os fizera. Insanidade e anarquia mandavam.
Não havia direitos humanos – apenas erros humanos. Na ausência da justiça,
o vácuo era preenchido por sensualidade, violência e atividade demoníaca.
As criaturas que carregavam a semelhança de Yahweh tinham se
transformado numa multidão global de caos moral e maldade. A magnífica
criatura humana feita por Deus era agora uma história absolutamente
fracassada.
Tais são a força, a abrangência e a potencial realidade da vida sem Deus.
2

O ÚLTIMO HOMEM (JUSTO) NA


TERRA
Porém Noé encontrou favor aos olhos do SENHOR.
Gênesis 6.8 (NAA) Em meio a todo esse pecaminoso frenesi global, Deus encontrou um homem que se destacou entre bilhões. “Porém Noé encontrou favor aos olhos do

SENHOR” (Gn 6.8, NAA). Descrito como “homem justo, íntegro entre o povo da sua época”, Noé era um homem que “andava com Deus” (Gn 6.9). Mesmo não sendo perfeito, Noé

tinha integridade. E, ainda que certamente não fosse isento de culpa, Noé ainda era inocente, ou um homem de alto caráter e reputação morais. Em contraste com o caráter perverso,

odioso e violento de seus pares, ele se manteve puro, decente e civilizado. Não havia sujeira na vida de Noé. Ele sentia a pressão de se conformar à impiedade de sua geração, mas

também se sentia chamado a ser diferente dela em caráter e estilo de vida (ver 2Co 6.14-18).

O desafio de viver na cultura do mundo envolve não se deixar consumir


pelo pecado inerente a ela. Não há dúvida que nós cristãos estamos
destinados a viver neste mundo, mas não derivamos dele nossa identidade
nem nossos valores porque não pertencemos a ele (Jo 17.16). Usando a
sabedoria, podemos nos manter conectados com as pessoas e a sociedade
sem permitir que atitudes, crenças e condutas ímpias nos moldem ou
influenciem (Jo 17.11,14-18; Rm 12.2). Em sua essência, o cristão não é
nem um pouco melhor que qualquer outra pessoa, e Jesus condena aqueles
que exibem sua fé com uma atitude de arrogância (Mt 23). Somos chamados
a demonstrar humildade, amor e compaixão, mesmo em relação àqueles de
quem discordamos veementemente. Esse equilíbrio pode ser difícil de
alcançar, e muitas vezes significa ter uma voz dissidente e isolada. Ou ser o
único justo. Em geral, significa não se deixar levar pela correnteza, mas
nadar contra ela. Seguir a Deus pode até acarretar decisões e
comportamentos que gerem ridicularização, zombaria e mesmo ódio.
Noé sabia como era.
Ele era justo em “sua época”. Seguia a Deus aqui e agora, respondendo
ao contexto de sua própria geração. Decidido a andar com Deus, manteve-se
limpo em meio a um mundo poluído – não por sua própria justiça; antes,
para se preservar. Ele era justo. Mas o que exatamente fazia de Noé alguém
tão justo aos olhos de Deus? Qual era sua história? Como Noé se tornou
“Noé”?

Contexto Familiar Noé tinha 480 anos e já


era justo antes da construção da arca, por isso
obviamente tinha alguma história de fé
anterior. Ao estudar a genealogia de Noé,
chega-se a uma interessante revelação.
Descobrimos uma longa e forte linha de
ancestrais fiéis a Deus. Essa herança chegou a
Noé por intermédio de seu pai, Lameque. A
Escritura registra uma declaração incomum
de Lameque quando seu filho nasceu.
Referindo-se ao bebê, observou: “Ele nos
aliviará do nosso trabalho e do sofrimento de
nossas mãos, causados pela terra que o SENHOR
amaldiçoou” (Gn 5.29).12
Essa afirmação dá-nos uma ideia de quem era esse homem. Não apenas
estabelece um contraste rigoroso com outro homem de mesmo nome, mas
também indica que o pai de Noé era um profeta que anteviu grandes coisas
para seu filho.13 A profecia de Lameque lamentava a maldição do pecado e
esperava de Deus o alívio por meio de seu filho, Noé.
Também é significativo que Lameque reconheceu Yahweh como Deus.
Essa referência direta ao Senhor mostra que Noé tinha um pai que cria.
Considerando o ambiente espiritual de seus dias, Noé sem dúvida recebeu
sua primeira instrução na fé por meio de seu pai. Muitos anos depois, o
Senhor instruiu Israel a transmitir a fé dentro do contexto da família (Dt 6.4-
9). Temente a Deus, o pai de Noé viveu até a idade “perfeita” de 777 anos, e
então morreu.
Voltando mais uma geração, o pai de Lameque tornou-se uma lenda por
seus próprios méritos, mas por razões bem diferentes. De acordo com o
registro bíblico, Matusalém exibe a distinção de ter sido o ser humano de
vida mais longa em toda a história. Morreu aos 969 anos, faltando apenas
alguns poucos anos para completar um milênio.14 (Contudo, há algo ainda
mais fascinante a respeito de Matusalém, que descobriremos no próximo
capítulo.) A espantosa linha de ancestrais continua com Enoque, o pai de
Matusalém. Como Noé, ele também “andou com Deus” e, ao que parece,
levou uma vida quase perfeita. Diferente de todos os outros homens nas
genealogias registradas por Moisés, Enoque “andou com Deus; e já não foi
encontrado, pois Deus o havia arrebatado” (Gn 5.24).
Esse homem vivia tão próximo de Deus que a Escritura diz que ele não
precisou passar pela morte! O escritor de Hebreus confirma essa alegação de
Moisés.15 Que tipo de homem Enoque deve ter sido para que isso fosse
possível? E o que exatamente ele fez para agradar de tal forma a Deus,
qualificando-se para tal arrebatamento? De acordo com Hebreus 11, isso
tinha muito a ver com exercitar fé.
Lembre-se que Enoque viveu no mesmo mundo selvagem e mau que seu
bisneto Noé. Manter a fé em um ambiente hostil e ímpio não é um modo de
vida fácil. Mas Enoque era mais do que apenas um bom exemplo para a sua
geração. Ele também abria a boca e falava em favor do seu Deus. A
Escritura descreve Enoque como um homem que profetizava a respeito da
segunda vinda de Jesus Cristo (Jd 14-15). Você consegue imaginar a fé
corajosa desse homem? Ele foi o primeiro profeta mencionado na Bíblia,
anunciando o juízo que aconteceria no fim dos tempos. No entanto,
considerando o contexto e o ambiente moral de sua época, a profecia de
Enoque era uma espada de dois gumes que cortava o coração de sua própria
geração. Com confiança e ousadia, ele defendia a honra de Deus em um
mundo mau (Jd 11).16 As palavras de Enoque pintam um retrato sombrio do
julgamento sobre “todos os ímpios” por causa dos “atos de impiedade que
cometeram impiamente”. Esses pecadores ímpios também cuspiam palavras
de ódio contra Deus. Essa descrição da geração dos tempos finais
corresponde às palavras de Moisés em Gênesis 6.5 sobre a maldade
incessante na época de Noé.
O arrebatamento desse homem aos céus é um dos grandes mistérios da
Bíblia, e essa “fraternidade dos sem morte”, fundada por Enoque, tem
apenas mais um outro membro (2Rs 2.3,5). Considerando a natureza
contundente da sua profecia, é possível que Deus o tenha arrancado do
mundo para salvá-lo de uma morte cruel nas mãos dos mesmos ímpios
contra os quais ele profetizava.
Recuando ainda mais na linhagem de Noé, chegamos a um homem
chamado Enos, filho de Sete e neto de Adão. Foi durante a vida dele que o
ser humano começou a invocar o nome do Senhor (Gn 4.26). Perdida na
rebelião de Caim e ausente devido à morte de Abel, a fé de Adão e Eva
retorna com força por meio de seu filho Sete e do neto Enos. Apesar de tudo,
o que emerge dessa árvore genealógica é a presença clara e forte de homens
piedosos. Uma corrente aparentemente contínua de fé passa de geração em
geração, até que o bastão da fé chega às mãos de Noé, que o agarra com
firmeza. Seus ancestrais tinham deixado como modelo um relacionamento
forte com o Senhor, e esse é o principal motivo pelo qual Noé “andava com
Deus”. Que legado a herdar! A fé tem a tendência de diminuir com o passar
das gerações. Não foi o caso com Noé. Como um bem de valor incalculável,
a fé era um tesouro familiar transmitido de geração em geração.
Apesar de obviamente não terem sido perfeitos, os ancestrais de Noé
foram homens fiéis em tempos difíceis, seguindo a Deus cada qual em sua
própria geração.17 A transmissão da verdade e da espiritualidade no contexto
familiar e por meio de exemplos da vida real é especialmente significativa
em um mundo hostil a Deus.
Do ponto de vista prático, foi assim que Noé se tornou Noé. Sua fé veio
daqueles que viveram antes dele. E é a esse homem justo que Deus anuncia
as palavras mais estranhas já ditas a um ser humano em toda a breve história
da terra.

A Voz Às vezes, temos dificuldade para


formar uma imagem mental dos eventos
bíblicos porque eles aconteceram em outra
época, cultura e língua. Eles também
ocorreram durante uma fase histórica única,
na qual Deus se relacionava com seus
seguidores de uma forma nitidamente
diferente do que faz hoje em dia. Não há
notícias recentes sobre rios que se dividem,
mortos que ressuscitam ou pessoas
caminhando sobre a água. Você
provavelmente nunca viu o sol parar no céu
ou cinco mil homens jantarem cinco pães e
dois peixinhos. E você provavelmente nunca
ouviu de fato a voz de Deus. Mesmo que não
haja dúvida de que Deus continua realizando
milagres hoje em dia, agora não há mais
profetas bíblicos e apóstolos executando
sinais sobrenaturais para autenticar a
mensagem. Na era da igreja, Paulo deixou
bem claro que a simples verdade sobrenatural
do “Cristo crucificado” seria a principal
mensagem milagrosa de Deus (1Co 1.22-
25).18 Não tenha dúvida: sinais e maravilhas
voltarão com força nos últimos dias do
planeta Terra, e os milagres sobrenaturais
voltarão a ser ocorrência comum.
Mas Deus, de forma sobrenatural, fala diretamente com Noé, e Moisés
registra esse incidente como se fosse algo comum (Gn 6.13) – o que com
certeza era comum para ele, uma vez que ele era Moisés.19 Quando nos
transportamos mentalmente de volta a esse mundo pré-diluviano, é
fascinante pensar na comunicação entre Deus e ser humano, tanto em
natureza quanto em frequência. Como deve ter sido a sensação de realmente
ouvir a voz de Deus? Como o ouvido humano podia receber palavras
provenientes diretamente do Criador? E a voz dele era absolutamente
inconfundível, já que em nenhum momento Noé questiona quem estaria
falando com ele.
Sendo Noé um homem justo, que andava com Deus, provavelmente essa
não foi a primeira vez que ele ouviu a voz do Senhor. Ele e Deus tinham um
relacionamento. Portanto, o aspecto estranho aqui não é o fato de Deus ter
falado, mas antes o conteúdo de suas palavras. Ao longo de toda a Bíblia, há
ocasiões em que Deus pede que seus filhos façam algo incomum. Às vezes
suas ordens parecem inexplicáveis, até bizarras.20 Uma análise superficial
desses exemplos passa a impressão de que Deus é arbitrário, esquisito e um
tanto experimental em sua forma de tratar o ser humano. No entanto, uma
verificação mais acurada desses relatos em seus respectivos contextos
permite reconhecer um propósito discernível por trás de cada um deles. Deus
nunca faz nada sem propósito e objetivo divinos, ainda que, vamos ser
sinceros, seus planos nem sempre são imediatamente visíveis ou
compreensíveis. Todas as suas propostas nascem de uma mente de infinita
inteligência, e a nossa incapacidade de compreendê-las só serve para
destacar a abrangência e o entendimento limitados das nossas mentes finitas.
Isaías faz uma referência a essa realidade: “Pois os meus pensamentos não
são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus
caminhos”, declara o Senhor. “Assim como os céus são mais altos do que a
terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos; e
os meus pensamentos, mais altos do que os seus pensamentos.” (55.8-9,
ênfase acrescentada) Com isso, Deus está dizendo: “Eu não penso do mesmo
jeito que vocês. E vocês não pensam como eu penso”. Na verdade, o
conhecimento que a nossa mente consegue conservar caberia em uma caixa
de fósforos, enquanto que a sabedoria e a compreensão de Deus são como o
universo – gigantescas! É uma diferença imensurável em termos de
capacidade. E, mesmo assim, continuamos achando que nossas ideias para a
vida e como vivê-la são melhores que as dele.
Vai entender.
Então Deus fala com Noé. E essa sua ordem bizarra, a primeira de todas,
explica como ele destruirá a humanidade por causa da sua corrupção e
maldade. Ele então encarrega Noé de algo que nunca tinha sido feito antes,
algo tão esquisito e fora do normal que Noé forçosamente se tornaria motivo
de zombaria para toda a sua geração. Yahweh entrega ao seu homem justo
plantas detalhadas para a construção do que parecia ser um monumento à
loucura. Mais especificamente, o projeto serviria para construir uma
estrutura gigantesca que salvaria Noé e sua família do julgamento vindouro.
O plano mostrava um navio enorme, com 135 metros de comprimento, 22,5
metros de largura e 13,5 metros de altura. A título de comparação, ele seria
uns 30 metros mais comprido que um campo de futebol americano. Essa
descomunal caixa retangular tem a mesma capacidade de 522 vagões de
carga comuns, capaz de carregar 125 mil animais do porte de uma ovelha.
Com três andares no total, cada um com 3,5 metros de altura, seria feito de
“madeira de Gofer”.21 Depois de cortada, medida e aplainada, a madeira seria
selada com piche, uma substância pegajosa produzida a partir de resina.22
Dessa forma, a arca seria totalmente impermeabilizada.
A razão para essa ordem aleatória e aparentemente ridícula era que Deus
“destruir[ia] todos eles [os seres humanos] e também a terra!” (Gn 6.13,
NVT).
Depois de passar as medidas da arca a Noé, Deus repete a razão para sua
ordem estranha: “Eis que vou trazer águas sobre a terra, o Dilúvio, para
destruir debaixo do céu toda criatura que tem fôlego de vida. Tudo o que há
na terra perecerá” (Gn 6.17).
O juízo global de Deus pela água iria matar tudo o que respirasse. Ele
também promete fazer uma aliança especial com Noé e seus descendentes
após o Dilúvio. Mas nesse momento há trabalho a fazer. Muito trabalho.
Depois de construir esse objeto colossal, Noé deveria fazer “entrar na arca
um casal de cada [animal]... macho e fêmea...” (Gn 6.19). O versículo
seguinte acrescenta que o próprio Deus levaria os animais até a arca. No que
talvez fosse uma exibição do primeiro instinto migratório que já existiu,
dezenas de milhares de animais seguiriam o convite de Deus para obter
segurança e sobrevivência.23 Uma vez na entrada do enorme barco, todos
passariam pela única porta deixada na lateral, sem dúvida subindo por uma
longa rampa. Se Deus pode falar por meio de uma mula e direcionar um
grande peixe, se Jesus pode controlar cardumes inteiros, certamente essas
criaturas não teriam nenhuma dificuldade em responder ao seu Criador (Nm
22.28; Jn 1.17; Jo 21.5-6). Infelizmente, os animais muitas vezes são bem
mais inteligentes nesse aspecto do que o ser humano (Is 1.3).
Agora, tudo o que Noé precisava fazer era construir um monstruoso
zoológico flutuante.

Um Homem Diferente O que Deus pediu a


esse homem justo já era suficientemente
doido, mas havia ainda mais um detalhe
importante em tudo isso: nunca tinha chovido
na terra. Jamais (Gn 2.5). Em vez disso, conta
a Escritura, havia um enorme corpo de água
no céu, suspenso por cima da terra como uma
tenda (Gn 1.6). Esse dossel servia para filtrar
os raios ultravioleta prejudiciais da luz solar,
também contribuindo para a expectativa de
vida humana bem mais extensa antes do
Dilúvio. Antes que o pecado se manifestasse,
a morte não fazia parte do projeto da
humanidade. Se não tivéssemos pecado,
nunca morreríamos (Gn 3.3-4; Rm 3.23;
6.23). Fomos feitos para viver com Deus para
sempre.
Correspondendo a esse toldo de água nos céus, Deus também criou uma
neblina que subia regularmente do chão, irrigando vegetação, plantas e
cultivos (Gn 2.5-6). Mais tarde, essas duas reservas forneceriam a enorme
quantidade de água necessária para o Dilúvio.
Assim, embora nunca tivesse caído uma única gota de água sobre a terra,
Deus ordena a Noé que construa um barco, que naquela época seria o maior
objeto já feito por mãos humanas. Ao que tudo indica, até aquele momento
ninguém jamais tinha imaginado algo como um barco. Era uma ideia
estranha, absurda e desnecessária, assim como teria sido a construção de um
foguete na época de Jesus. Considerando a natureza dessa tarefa, o contexto
na qual foi dada e a quantidade de tempo que seria necessária para cumpri-la
de forma realista, o fato de Noé ter aceitado essa missão é prova inequívoca
e indubitável de uma coisa.
Esse homem tinha fé.
E esse único fato era suficiente para torná-lo tão estranho e excêntrico
quanto a arca-estábulo em si.
O empreendimento de Noé não seria um simples trabalho manual, algo
para fazer nas férias ou que ele pudesse ir encaixando em suas horas vagas
no fim de semana ou à noite. Lembre-se que naquela época não havia
lenhadores. Ou motosserras. Ou ferramentas elétricas. Ou caminhões de
carga. Ou serrarias. Ou estaleiros. Ou lojas de material de construção! Ou
guindastes ou trabalhadores especializados. Esse serviço enorme teria de ser
realizado na base do “muque”. Ah, também não havia centenas de
funcionários trabalhando em turnos, dia e noite, para terminar esse bote
salva-vidas tamanho família. Apenas Noé e seus três filhos, que a essa
altura, no entanto, ainda levariam mais 20 anos para nascer (Gn 5.32)!24
Assim, quais expectativas Noé poderia ter? Qual era sua perspectiva de
futuro? O que essas ordens excêntricas de Deus representariam para ele? Em
resumo, essa tarefa do tamanho do mundo exigiria trabalho duro e esforço
exaustivo. Ele precisava derrubar árvores. Cortar madeira. Arrastar troncos.
Medir tábuas. Serrar. Levantar. Martelar. Planejar. Revestir com piche.
Repetir o processo. De novo e de novo. Durante 120 anos! Isso dá um total
de 1 440 meses de bolhas e dores nas costas, ou uns 43 200 longos dias de
trabalho duro. O equivalente a terminar em 2014 um projeto iniciado em
1894, ou começar em 2014 e trabalhar ininterruptamente até 2134!
Você pode apostar que, ao longo daqueles 120 anos, a geração de Noé
reparou no que ele fazia. Sem dúvida, aquele projeto de construção estava na
boca de todo o povo da região – e, quem sabe, do mundo inteiro. Era
impossível não ver. Com certeza tornou-se um ponto de referência, e as
pessoas talvez dissessem coisas como: “Vire à esquerda depois daquela
‘coisa, tipo uma arca’, e aí é só seguir a rua por meio quilômetro que você
chegará na minha casa”. Qualquer que tenha sido o plano de Noé para a
segunda metade da sua vida, Deus obrigou-o a deixar isso de lado. Sua
agenda foi substituída por um cronograma alheio. Sua missão tinha vindo
direto “da presidência”. O plano de Deus para o futuro e a esperança de Noé
envolvia um bocado de trabalho duro.
A tarefa entregue a Noé era difícil e desafiadora, exigindo dele “dedicação
total”. Fé genuína e audaciosa raramente é confortável ou conveniente. Para
Noé, não haveria tempo para férias ou passeios, pois o seu envio na missão
de Deus seria de longo prazo. Certamente o classificariam como tolo por sua
obediência. Não há dúvida de que sua geração o taxaria de idiota. Um
completo palhaço. Diriam que ele estava desperdiçando sua vida. Vivendo
uma ilusão. Que lhe estavam faltando alguns parafusos. Construindo uma
caixa de madeira inútil para um deus imaginário.
Além disso, que tipo de Deus era esse que colocava um peso tão grande
sobre um homem bom como Noé? Por que Deus destruiria a vida de Noé
desse jeito, transformando-o em um escravo-carpinteiro? Mais do que isso,
que Deus seria tão cruel a ponto de destruir sua própria criação? E que tipo
de arrogância teria dominado Noé, levando-o a pensar que ele era o único
que sabia o que aconteceria ao mundo? Quem era ele para prever o futuro?
Quem era ele para condenar os demais, alegando que o seu Deus era o único
caminho para a salvação? Isso não era justo, nem razoável, nem amoroso.
Portanto, sem dúvida as pessoas zombaram de Noé, ridicularizando tanto
a ele quanto ao seu Deus. Mas, depois de várias décadas de construção
contínua, será que começaram a ignorar Noé e seu trabalho, ou teria sido
impossível resistir à chance de lançar uma gozação cada vez que se passasse
por ali? Será que gangues e tribos lançavam insultos contra ele e sua
família? Será que havia pais trazendo seus filhos para ficar olhando “a
loucura de Noé”? Será que o viam como o chimpanzé do zoológico local –
divertido, mas inofensivo? Será que ele era o alvo fácil para qualquer pessoa
que estava precisando rir um pouco?
No entanto, a despeito da certeza da impopularidade e do ridículo, Noé
perseverou, levando a sério a tarefa que Deus lhe dera. Preparou a arca com
“santo temor”, à luz da advertência celestial a respeito do Dilúvio que viria
(Hb 11.7). Ele acreditava em coisas que ainda não tinham acontecido.
Mesmo assim, não se limitou a apenas construir um barco; também procurou
preparar a sua geração, inclusive proclamando a verdade (sobre o Dilúvio e
o juízo) às pessoas à sua volta (1Pe 3.19-20 – Cristo pregou por meio de Noé
àquela geração). Por isso recebeu o título de “pregador da justiça” (2Pe 2.5).
Serrando. Levantando. Martelando. Içando. Perseverando. Proclamando.
Pregando.
Crendo.
Das duas, uma: ou esse homem era absolutamente maluco ou muito
diferente. Fora da casinha. Certamente não havia outra explicação para seu
comportamento bizarro, incomum. Exceto talvez uma.

Fé Resistente Noé estava plenamente


convencido da realidade de algo que ainda
não conseguia enxergar. E é exatamente isso
que a fé faz. Ela capacita aqueles que creem
para ver o invisível. A conhecer o “ainda
não”. A ir em frente em confiante obediência,
independentemente do quanto isso o faça
parecer esquisito, ridículo ou controverso. E
Deus honra aqueles que escolhem os seus
caminhos “ridículos” em detrimento da
“sabedoria” convencional do ser humano
(1Co 1.18-29).
Um único homem ou mulher com fé consegue resistir a um exército de
antagonistas. E havia uma legião de opositores em torno de Noé. A
desvantagem era de bilhões para um.
Mas será que, diante das implicações físicas, espirituais e sociais de sua
hercúlea tarefa, Noé alguma vez experimentou momentos de dúvida? Terá o
filho de Lameque em algum momento vacilado na fé enquanto trabalhou
durante um século, dia após dia, naquele projeto? Se o rei Davi, o apóstolo
Pedro e João Batista tiveram momentos importantes em que sua fé
praticamente faltou, é razoável assumir que Noé também tenha enfrentado
esses momentos. Ele certamente passou várias noites em claro durante
aqueles 120 anos, com dores lancinantes nas costas, machucados nas pernas
ou mãos inchadas e feridas, pensando: “Deus, será que tudo isso realmente
vale a pena? Será que esse dilúvio realmente vai acontecer, ou eu imaginei
tudo isso? Será que meu barco vai flutuar, ou será que vou afundar e me
afogar com os demais? Tu realmente falaste comigo anos atrás, ou estou aqui
desperdiçando meu tempo e minha vida? Será que os céticos e cínicos têm
razão no que dizem a meu respeito? Será que todos verão que sou um tolo?
Essa é realmente a única maneira de nos salvar? Não tem um jeito mais fácil
de realizar tua vontade?”.
Mesmo que não tenha passado por dúvidas crônicas e contínuas, Noé,
como todos os crentes, com certeza teve ataques satânicos e de insegurança.
É provável que sua própria natureza pecaminosa também tenha agido,
inundando sua mente com apreensão ocasional e ondas de autopiedade. Ele
também ficava cansado. Exausto de usar machados, serras e martelos. E os
milhares de insultos lançados regularmente em sua direção ameaçavam
desgastar a camada de fé que protegia seu coração. Afinal de contas, Noé
continuava sendo apenas um ser humano. Mas, a despeito de suas limitações
mortais, com o tempo ele aprendeu a desenvolver e exercitar o seu músculo
da fé. Era a sua fé forte que o tirava da cama a cada manhã. O exercício da fé
ajudava-o a suportar a dor e o cansaço. Ela protegia-o contra as afiadas setas
verbais daqueles que o ridicularizavam.
Acreditar em Deus por causa de algo grande soa muito nobre. Alguns até
consideram isso admirável. Tentar fazer uma obra grande para o Senhor é
algo bom. Mas a realidade da vida em um mundo cheio de pecado é que essa
fé real muitas vezes fica ensanguentada e suja, difícil e desafiadora. Esse é o
tipo de fé que vai além da pura teoria e alcança a ação. Ela vai da cabeça e
do coração para suas mãos, pés e boca. Esse não é o tipo de fé sobre o qual
se fala ou escreve. Esse é o tipo de fé que se vive (ver Tg 2.14-26). Não é
hipotética, mas prática. Embora invisível, outros podem enxergá-la. É uma
fé que trabalha. Se necessário, ela sacrifica e sofre. É uma fé manchada de
sangue. Daquele tipo marcado por feridas e cicatrizes. Um pouco desfiada
nas pontas. Rasgada e lacerada em alguns lugares. Batida, mas não
estragada. Com aparência de quem levou uma surra, mas ainda ousada.
Aparentemente derrotada, mas mantendo-se determinada. E – o melhor de
tudo – é sua. Como um par favorito de sapatos: quanto mais é usado, mais
confortável lhe parece.
Essa é a fé aprovada na batalha.
Não é atraente, mas com certeza é linda.
Nossos ideais românticos sobre ser um crente forte adquirem perspectiva
quando a corrida da nossa fé atinge a marca dos 10 ou 20 quilômetros. Quão
forte seria sua fé se todas as pessoas à sua volta estivessem contra você? Se
cada ser humano vivo em torno de você o julgasse um tolo? E se quisessem
tirar sua vida por causa da sua fé? Ou se sabotassem seus esforços para
cumprir a missão dada por Deus? Será que Noé sofreu com sabotadores?
Será que houve prejuízos porque alguém colocou fogo numa pilha de
madeira ou roubou ferramentas e materiais? De qualquer forma, ele continua
fazendo o que Deus lhe pedira, até nos menores detalhes (Gn 6.22). É isso
que a fé faz. Ela obedece. E não há nada de glamoroso nisso. Apenas
glorioso.
Noé tinha fé.
Nossa geração quer soluções rápidas, sem espera e com comunicação
instantânea. Tamborilamos os dedos com impaciência quando esperamos os
30 segundos necessários para esquentar um prato no micro-ondas. Passamos
a compra no cartão porque separar as notas demora demais. Obrigamo-nos a
ser eficientes. Esperamos resultados imediatos. Queremos o que queremos,
para já! E muitos cristãos abraçaram essa mentalidade, ainda que de forma
subconsciente. Esperamos resolução imediata para os nossos problemas e
ficamos espiritualmente fracos quando ela demora a chegar. Queremos
reparos rápidos para os conflitos conjugais, mesmo se levamos anos para
chegar à perigosa enrascada em que nos encontramos. Procuramos atalhos
para o conhecimento bíblico, a maturidade e a sabedoria que outros levaram
décadas para adquirir. Pastores desejam crescimento e maturidade em suas
igrejas, mas não investem a enorme quantidade de tempo necessária para de
fato fazer discípulos. Também no nosso crescimento pessoal queremos criar
músculos espirituais sem fazer os exercícios correspondentes. Achamos que
temos o direito de conquistar ou ter o sucesso que nos promove das
categorias de base ao nível profissional.
Se fosse possível adquirir maturidade e discipulado em um drive-thru, os
cristãos formariam filas quilométricas. Mas até isso demoraria demais, e
iríamos querer que fosse possível obtê-lo por meio de um aplicativo para o
celular. Perdemos o fôlego quando precisamos participar de alguma corrida
de longa distância na fé. Com frequência, contentamo-nos com a aparência
de conhecimento, maturidade e força espirituais. Desejamos todos os
benefícios, mas nenhuma das lutas. Queremos as vantagens sem a dor.
Progresso sem persistência. Sucesso sem sofrimento. Queremos ser
espiritualmente bonitos e ter uma bela fé, mas não queremos sangue, suor ou
lágrimas. Ou pelo menos não durante muito tempo. Queremos apenas o
barco gigantesco e uma história interessante de como isso foi algo “de
Deus”. Estamos fracos e fora de forma. E é por isso que não é preciso muito
sofrimento para soterrar o cristão médio debaixo de uma pilha de derrotas e
depressão. Somos espiritualmente preguiçosos, o que fica claro no fato de
que a maioria dos cristãos passa anos ou mesmo décadas sem compartilhar
sua fé. Fico pensando: quanta perseguição real seria necessária para destruir
a igreja ocidental? Quanta pressão seria suficiente para nos levar a desistir?
Honestamente, queremos apenas montar uma fantástica arca pré-fabricada
para impressionar nossos amigos e postar no Facebook, e tudo isso sem criar
qualquer bolha ou desconforto. Mas isso não é cristianismo. E esse tipo de fé
não aparece em lugar algum da Bíblia. Na “galeria da fama” de Deus
encontramos heróis com fé genuína, em estado bruto.25 Ali há sofrimento,
sacrifício, obediência e homens e mulheres que viveram como estrangeiros
numa terra estranha. Encontramos pessoas que não receberam em vida o que
Deus lhes prometera. Homens que renunciaram ao prazer para suportar a dor
com o povo de Deus. Mulheres que superaram um passado difícil. Homens
que conquistaram reinos, agiram com justiça em meio a pessoas injustas,
escaparam da execução e inspiraram medo em seus inimigos. Descobrimos
gente que resistiu a tortura, zombaria, surras e prisão. Alguns foram
apedrejados por multidões furiosas, enquanto outros foram serrados ao meio.
Suportaram dificuldades financeiras e físicas em nome de quem os amou.
E fizeram tudo isso por causa de uma fé que hoje em dia poucos
conhecem.
Deus disse que eram pessoas das quais este mundo não era digno (Hb
11.38).
Os cristãos sabem falar bonito a respeito de Deus e da fé. Fazemos
promessas ao Senhor que não cumprimos. Dominamos a linguagem, somos
fluentes em “crentês”, convencendo os outros de que temos crenças
profundas, fortes e sinceras. Mas muitas vezes acabamos vivendo uma
ilusão, enganando a maioria das pessoas na maior parte do tempo, às vezes
até a nós mesmos. Tornamo-nos ateus funcionais, reconhecendo a Deus com
os lábios enquanto o coração se contenta em satisfazer nossa própria
vontade. Como se Deus nem existisse.
Noé não teve essa opção.
A missão e as circunstâncias enfrentadas pelo idoso carpinteiro exigiram
que ele se comprometesse no longo prazo, sem chance de se dedicar apenas
de forma ocasional. Afinal, não haveria como “falsificar” uma arca, certo?
Em algum momento, Deus e todas as pessoas à sua volta ficariam sabendo se
a fé de Noé era genuína ou não. Não havia atalhos que ele pudesse tomar.
Nenhum jeitinho. Nem rota alternativa. Era tudo ou nada.
Isso é o que viver na época de Noé faz com sua fé. É como uma peneira,
separando logo qualquer imitação. Somos forçados a declarar a fé com a
boca e logo em seguida confirmá-la com a vida. Noé não tinha ninguém para
impressionar. Sabia que sua fé seria ofensiva aos seus pares e que sua
profecia a respeito do juízo vindouro não seria bem aceita por seus
contemporâneos. E, como se isso não bastasse, teria de construir um navio
colossal como um lembrete perpétuo ao mundo de que Deus não estava nada
satisfeito.
Noé estava longe de entrar na lista do “Top 10” da sua geração.
Muitas vezes, afirmamos displicentemente que Deus nos dará a graça
necessária quando os momentos difíceis chegarem. Dizemos isso porque
ficamos apavorados com a ideia de que na verdade é preciso desenvolver os
músculos da fé necessários para sobreviver às lutas e tempestades futuras da
vida. No entanto, a fé resistente (aquela que nos impede de implodir ou de
nos autodestruir nos momentos difíceis e desgastantes da vida) não é algo
que Deus distribui como se fosse amostra grátis de um novo produto. Em
vez disso, ela amadurece, fortalece-se e é refinada ao longo de muito tempo,
por meio de milhares de pequenos passos diários em que decidimos confiar
no Senhor.
A fé de Noé era mais do que construir uma arca. Era a caminhada diária
até a floresta para derrubar mais uma árvore. Preparar piche. Cortar tábuas.
O que importava eram as coisas “diárias”. A fé forte é forjada na caminhada
com Deus pelos altos e baixos rotineiros da vida. Nasce da dependência dele
nos detalhes aparentemente insignificantes com que lidamos todos os dias. É
alimentada e cultivada por riscos cada vez maiores que corremos em nome
de Deus. Uma fé grande quase sempre exige escolhas difíceis. Requer que se
reconheça que este mundo não é nosso lar (ver Fp 3.20). Fé “aqui e agora”
olha para além do hoje. Confiança legítima em Deus é uma prova de
determinação, que demonstra se a sua crença é realmente a parte mais real,
verdadeira e valiosa da sua vida.
Noé tinha uma fé forte.
Ele se acostumou a viver pela fé e andar diariamente com Deus ao longo
de 120 anos de pregação e perseverança. Esse longo processo solidificou sua
fé. O resultado disso foi que Yahweh tornou-se sua motivação, fonte de
força, rede de segurança e recompensa. E, com o passar do tempo, seu
trabalho duro começou a mostrar seu valor à medida que o enorme projeto
tomava forma. Seu lugar de trabalho já não era mais apenas um amontoado
de troncos, pilhas de tábuas e montes de serragem. Aos poucos, o contorno
do casco do navio começou a ficar visível, crescendo em meio à planície
verde. E cada martelada era um chamado ao arrependimento e à fé ecoando
pela terra. Um povo desviado recebeu mais de um século de advertências
diárias e audíveis. E então chegou o momento em que o lunático filho de
Lameque fincou o último prego.
Chegara o momento.
A arca de Noé estava terminada.
Por ordem de Deus, o construtor e toda a sua família subiram a longa
rampa, entrando na segurança de seu barco. Atrás deles seguia um desfile de
casais de animais que Deus conduzira a ele (Gn 7.2; 8.20). Por sete dias
inteiros antes da chuva começar, Noé e sua família receberam animais,
acomodaram-se na arca e prepararam seus passageiros para a longa viagem
que tinham pela frente. O dia da graça terminou. Deus esperara
pacientemente durante 120 anos. A mensagem tinha sido entregue. Não
haveria desculpas nem segundas chances.
Depois que tudo foi construído e protegido, o próprio Deus fechou a porta
da arca sobrenaturalmente, indicando que o tempo de salvação tinha se
esgotado oficialmente (Gn 7.1,4-5,15-16). E, no entanto, mesmo com a porta
da arca cerrada e selada, os maus habitantes da terra ainda não conseguiam
conceber o que aconteceria a seguir. Bilhões de pessoas levavam sua vida
normalmente. A escravizadora obsessão consigo mesmos e com o pecado
deixara-os tão cegos à verdade que simplesmente continuaram a viver como
de costume, sem se preocupar com Noé, sua mensagem ou o fato de que
todos estavam para morrer.
E não havia nada que se pudesse fazer para impedir isso.
3

ENXURRADA
Então veio o Dilúvio e os destruiu a todos.
Lucas 17.27b Para Noé e sua família, aqueles sete dias na arca antes do Dilúvio foram repletos de trabalho – era preciso embarcar cerca de 50 mil animais e organizá-los em seus

cercados, distribuir forragem e limpar a sujeira – algo que em breve se tornaria um trabalho de tempo integral por toda a duração de sua aventura aquática.26 O coração se enchia de

expectativa enquanto se preparavam para, pela primeira vez na história, viajar por “águas desconhecidas”. Mas a jornada ao inexplorado também trazia consigo um profundo senso de

alívio e reverência. Mesmo tendo imaginado esse dia durante 120 anos, nada poderia realmente ter preparado Noé e seus companheiros de viagem para a experiência que estavam para

enfrentar. Ele deve ter refletido sobre como seria esse juízo iminente, sonhando com isso à noite e com os pensamentos cheios de cenas de água, vento e ondas durante o dia. Mas ele

nunca teria sido capaz de realmente visualizar a realidade da destruição que estava para cair sobre o planeta Terra. Será que o barco ao qual ele dedicara tantos anos realmente flutuaria e

resistiria ao teste das águas revoltas? Sobreviveria à onda esmagadora da ira do Onipotente?

Faltava pouco para descobrir.


Fazendo uma pausa para descansar as mãos calejadas, Noé pensou sobre a
perigosa viagem. Não havia mais nada a fazer dentro do barco do que
acender mais uma luz e esperar.27
Não havia mais tempo para pregar um último sermão, na esperança de que
alguém – qualquer pessoa – reagisse à mensagem de arrependimento e
salvação. Se nós pudéssemos escolher, talvez votássemos em dar mais uma
chance à geração de Noé. Afinal, isso parecia justo... vai que alguém muda
de ideia a respeito de Deus. É isso que um Deus bom e amoroso faz, não é?
Ele precisa esticar o dia da graça até o último segundo possível.
Será mesmo?
Embora Deus seja mais gracioso, compassivo e misericordioso do que a
mente humana consiga conceber, a Escritura também nos diz que a sua
paciência tem limite (1Pe 3.20). Quem se recusa teimosamente a se
arrepender lida com a paciência e bondade de Deus de forma leviana e
acumula ira sobre si mesmo (Rm 2.4-6). Quando a oferta gratuita de graça é
rejeitada, resta apenas juízo. O arrependimento é sempre urgente. A justiça
de Deus é sempre severa.
Para a maioria das pessoas, essa é uma verdade muito inconveniente.
Deus entende bem a natureza do coração humano (Jr 17.9; Jo 2.24; Rm
3.10-12). Escolher Deus não é algo natural para nós, porque o pecado
escravizou as nossas mentes, emoções e desejos. Nossas mentes estão
impregnadas de raciocínios que não agradam ao Senhor, mas buscam dar
prazer a nós mesmos. Temos uma forte aversão a Deus e a suas regras
“restritivas”. As pessoas da época de Noé ressentiam-se de Deus e eram até
abertamente hostis a ele (ver Rm 8.7). Seus corações cheios de pecado
tornavam-nas alérgicas ao Onipotente. Não tinham vontade de obedecer-lhe.
E não havia o menor desejo de se submeter a ele. Se não tinham se voltado
para o Senhor depois de 120 anos de convites incessantes, não seria agora,
diante da finalização da insana construção de Noé, que seus corações
mudariam de uma hora para outra.
Em vez de dar uma última chance à humanidade, Deus deu-lhe uma
chance bem longa. Cento e vinte anos de oportunidade. Mais de 43 mil
alvoradas e crepúsculos para considerar a oferta de salvação apresentada por
Noé. Na cabeça das pessoas, o dia em que Noé entrou na arca estava tão
longe de ter qualquer sinal do juízo iminente quanto o dia em que, tantos
anos atrás, derrubara a primeira árvore. A vida na terra continuava como
sempre tinha sido. Não havia mais nuvens ameaçadoras do que antes. Nada
de tensão nos ares. Nem trovão nem relâmpago. Nenhum sinal de alerta.
Nenhuma sirene. Nada de pânico nas ruas. Nenhuma razão adicional para
acreditar em Noé, o Louco, não mais do que ontem ou há cem anos. Nada
mudara. A vida era a mesma de sempre. Não havia nenhum motivo
convincente para que a geração de Noé de repente mudasse de atitude e
caísse de joelhos em arrependimento.
E Deus sabia disso.
Por fim, no final da longa rampa de acesso, o último animal cruzou o
batente da arca. Noé estava parado na porta, um símbolo de salvação para
qualquer um que passasse por ela (ver Jo 10.9). Agora que todos estavam em
segurança dentro da arca, Noé lança um último olhar sobre sua casa, sua
oficina e o mundo cujo terreno estava para ser definitivamente transformado.
A terra nunca mais seria a mesma. Foi seu último olhar sobre a vida antes do
Dilúvio. Todos aqueles anos gastos na construção da arca pela fé. Agora ele
tinha entrado nela pela fé. E, enquanto a porta é lenta e sobrenaturalmente
fechada pelo Doador e Tomador da vida, talvez Noé tenha percebido, com o
canto dos olhos, uma jovem passando à distância. Ele olha para ela, e os
olhares se cruzam rapidamente. A moça sorri, abanando a cabeça por causa
daquele velho maluco e esquisitão que tinha se tornado o escárnio do mundo
conhecido. O motivo de todas as piadas. Um tolo como poucos. Um
contador de histórias. Inventor de fábulas. Um profeta fatalista como
Enoque, seu antepassado.
A enorme porta fecha com uma pancada ensurdecedora. Os sete dias
terminaram. Chegou o Dia D. A Hora H.
Um dos momentos mais tristes na história humana.

Inferno Líquido A Escritura traz um relato


não censurado do Dilúvio, e um mais violento
e perturbador do que qualquer outro evento
que já tenhamos visto. Moisés escreveu: “E,
depois dos sete dias, as águas do Dilúvio
vieram sobre a terra. No dia em que Noé
completou seiscentos anos, um mês e
dezessete dias, nesse mesmo dia todas as
fontes das grandes profundezas jorraram, e as
comportas do céu se abriram. E a chuva caiu
sobre a terra quarenta dias e quarenta noites”
(Gn 7.10-12).
Moisés certificou-se de que todas as gerações e civilizações seguintes
saberiam o dia e a forma exata em que o Dilúvio chegou. Certamente
nenhuma geração futura seria ignorante ou arrogante a ponto de sugerir que
essa enxurrada global nunca tenha acontecido, certo? Por garantia, Moisés
registrou, para todo o sempre, o dia exato em que ele ocorreu,
documentando assim um relato preciso e eterno de quando o Senhor destruiu
o mundo.28
E a inundação veio – de repente, inesperada e furiosa, trazendo
condenação ao mundo. O dia da ira de Yahweh chegara. E, enquanto os
anjos observavam com santo temor e tremor, a terra tremeu.29
De forma fiel, a Escritura reconta precisamente como o Dilúvio
aconteceu. Primeiro, “todas as fontes das grandes profundezas jorraram”.
Deslocamentos sísmicos sobrenaturalmente induzidos abriram os
reservatórios ocultos de água que ficavam abaixo da superfície da terra.
Essas gigantescas reservas rebentaram, cuspindo quantidades inimagináveis
de água na atmosfera por enormes buracos no solo.30 Gêiseres de água
irromperam por essas aberturas, tanto na terra seca quanto no fundo dos
oceanos. Isso causou uma subida imediata e rápida do nível do mar,
inundando as áreas de baixa altitude e talvez impelindo tsunamis causados
pelo terremoto, que provavelmente mataram milhões de pessoas. A irrupção
desses gêiseres submarinos aumentou as profundidades oceânicas, criando
depósitos de água que permanecem até hoje.31
Depois dessas fontes subterrâneas, “as comportas do céu se abriram”.32
Juntas, a liberação da água guardada nesse toldo de vapor global e as fontes
das grandes profundezas respondem pela inundação mundial. Formou-se um
verdadeiro mundo de água à medida que a superfície terrestre simplesmente
desaparecia debaixo da enxurrada – levando consigo casas, plantações,
construções, oficinas, gado e florestas. Montanhas também. Nada escapou às
poderosas torrentes de água.
Este evento pegou a população da terra completamente de surpresa. A
despeito das repetidas advertências, a simples insinuação de uma ocorrência
tão catastrófica era considerada absurda. As únicas pessoas que acreditaram
eram fanáticos religiosos. Para os não crentes, realidade e verdade eram
determinadas pela maioria ou pela opinião popular. Totalmente intoxicados
consigo mesmos, não havia espaço em suas vidas para um Criador. E apenas
os “doidos” acreditaram naquele ridículo conto de juízo que Noé apresentou.
Quando alcançaram idade suficiente, os filhos de Noé tornaram-se parte
indispensável da equipe de construção do pai. Mas será que outros membros
da família também ajudaram? Lameque, o pai de Noé, ainda viveu 115 anos
depois do início da construção; portanto, é possível que ele tenha ajudado.
E ainda havia Matusalém.

Diga Meu Nome Já encontramos Matusalém


antes, mas ainda não esgotamos sua história –
e sua conexão direta com o Dilúvio.
Matusalém tinha 849 anos quando Deus falou
com seu neto sobre a construção da arca.33
Não sabemos quanto lhe sobrava de força
física a essa altura, mas sabemos que ele já
tinha deixado para trás cerca de 88% da sua
vida.34 Portanto, não há como saber se ele
ajudou – seja carregando ferramentas,
arrastando madeira, tirando medidas, usando
um martelo ou aplicando piche – ou se ele
simplesmente ficou sentado em um toco de
árvore ali por perto, em silêncio, um avô de
longa barba branca e bengala na mão que
observava o neto se esfalfando. Mas, com ou
sem martelo, Matusalém teve um papel
central na narrativa do Dilúvio.
Deus, o Supremo Contador de Histórias, inseriu uma reviravolta sutil no
roteiro bíblico. E nós, que temos o luxo de contemplá-lo em retrospectiva,
temos condições de apreciar e compreender isso de forma ainda melhor.
Mesmo que Matusalém tenha vivido mais do que qualquer outro homem,
não é a extensão da sua vida que merece tamanho destaque.35 Em vez disso,
há algo no seu nome que chama nossa atenção. “Matusalém” pode significar
“depois dele será enviado”, ou “sua morte o trará”. Mas trará o quê? O que
será enviado depois que Matusalém se for? Ao examinar a lista de
nascimentos em Gênesis, descobrimos que o Dilúvio ocorreu quando Noé
completou 600 anos. Isso não tem nada de mais – até o momento em que
percebemos que também foi esse o ano exato em que Matusalém morreu.
Isso não é um código secreto ou oculto na Bíblia. É matemática pura e
simples.36
Sua morte o trará.
Deus não enviou seu alerta à terra por meio de um painel publicitário de
rua ou uma faixa na frente de alguma igreja; em vez disso, embutiu-o no
nome de um homem. Indiscutivelmente entre os mais velhos dos bilhões de
pessoas que viviam na sua época, mesmo assim a notoriedade de Matusalém
veio de seu nome. Um profeta como seu pai, Enoque, Matusalém previa o
futuro sem nem precisar abrir a boca.37
Enquanto Matusalém estivesse vivo, não haveria Dilúvio. Enquanto ele
respirasse, o juízo estaria suspenso. Toda vez que alguém mencionava seu
nome, a profecia ali incrustada era anunciada à sua cultura. A cada vez que
se ouvia Matusalém, Deus anunciava uma mensagem de graça à raça
humana. Noé entendeu o significado desse nome, e talvez até se referisse a
ele em sua proclamação. Conviver com o avô dava a Noé confiança
crescente de que Deus o levaria a terminar a arca em tempo. Mesmo assim,
imagino que alguns na sua família ficassem inquietos toda vez que
Matusalém ficava doente, especialmente já mais para o final.
Enquanto Matusalém estivesse vivo e respirando, ainda havia esperança e
graça. Novecentos e sessenta e nove anos de portas abertas à salvação. Isso é
muito mais do que os 120 necessários para construir a arca. É o equivalente
a aproximadamente 350 mil dias. Bem mais do que um quarto de milhão em
chances de crer e ter esperança. Graça estendida muito além do concebível.
Juízo adiado bem além da necessidade. E, mesmo assim, nem uma única
alma reagiu. A mensagem da graça tem pouca importância para quem não
quer acreditar no anúncio do juízo. Se você não acredita que está doente,
uma oferta de cura não significará nada para você.
A Bíblia não diz exatamente como nem quando Matusalém passou deste
mundo para o próximo. Será que Noé tinha acabado de baixar o corpo quase
milenar de seu avô para a sepultura quando ouviu a voz de Deus ordenando-
lhe que entrasse na arca? Ou ele terá sido assassinado por alguma gangue
ímpia que estava cheia de ouvir aquele nome associado ao seu próprio
julgamento? Se foi isso, será que esse ato foi o que drenou a última gota de
paciência do coração de Deus? Terá sido a morte de Matusalém que
desencadeou os últimos sete dias que antecederam a grande inundação? Ou
será que Deus foi ainda mais preciso? Será que as primeiras águas do
Dilúvio coincidiram com o último suspiro de Matusalém, que observava seu
neto dando-lhe um solene adeus da porta da arca?
Tudo o que sabemos com certeza é que o Dilúvio veio exatamente no ano
em que Matusalém morreu. Exatamente como expressava essa profecia de
969 anos. Coincidência?
Eu não acho.
O juízo pelo Dilúvio chegou como um tsunami mundial, e a carnificina foi
mais horrível do que qualquer outro desastre humano anterior ou posterior. A
irrupção de milhares de represas subterrâneas coincidiu com torrentes
celestiais de chuva, despejando quantidades maciças de água sobre a terra.
Isso continuou ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites. A devastação
foi brutal. O pânico, generalizado. A contagem dos mortos, indescritível.
Você consegue imaginar o terror que acometeu as almas daqueles que
tinham zombado do construtor de navios aparentemente senil? Engolidas por
ondas monstruosas, amaldiçoaram Noé e seu Deus enquanto escalavam
freneticamente as montanhas em busca de salvação. Será que as multidões
acorreram em massa à arca, batendo na porta e exigindo que ela se abrisse?
Será que outros nadaram como podiam na direção do enorme barco de
madeira, implorando, suplicando, agarrando-se a ele com todas as forças
enquanto os pulmões se enchiam de água? Ou será que simplesmente não
houve tempo para isso, tamanha foi a natureza catastrófica desse evento?
A abrangência e a magnitude desse desastre divino despertaram um irado
temor nos corações calejados. Quando há algum desastre natural hoje em
dia, sempre há alguma personalidade religiosa alegando que tal calamidade
seria um juízo direto de Deus, decorrente do declínio moral galopante.
Costumamos classificar tais pessoas como gente que quer publicidade,
fanáticos religiosos, malucos ou incitadores de ódio. E com razão.
Mas isso era diferente. Muito diferente.
Neste caso, sabemos. Deus disse.
Para os bilhões que se afogaram do lado de fora da arca e em todo o
mundo, isso não era um desastre natural causado por formações
meteorológicas, desequilíbrios ecológicos ou alterações climáticas. Não,
aqui era coisa da ira de Deus, e todos sabiam disso. Pela primeira (e última)
vez, a população da terra captou a gravidade de sua depravação e a
magnitude de suas ofensas contra o santo Criador. E, embora recebessem
exatamente o que merecessem, nenhum crente com discernimento seria
capaz de se alegrar com esse tipo de julgamento. Em vez disso, trememos
em reverência enquanto choramos a perda dessas almas não arrependidas
(ver Ez 18.32; 33.11; Rm 9.1-3).
E as águas continuaram subindo. Elas se acumularam rapidamente, por
fim levantando o enorme navio de carga do solo seco, fazendo-o flutuar (Gn
7.17). A descomunal porta continuava firmemente fechada, trancada como
um cofre de banco do qual apenas Deus tinha a combinação. E foi assim que
todo ser vivo que continuava na terra foi morto.
Você acha que isso parece uma história para crianças?

Que Tipo de Deus Faria Isso?


Algumas pessoas encaram o relato do Dilúvio como uma espécie de chilique
divino, como se Deus tivesse pavio curto ou problemas para controlar sua
raiva. Tudo parece ser tão duro e cruel. Tão exagerado. Um uso excessivo de
força. Que tipo de Deus faria algo assim com sua própria criação? E como
conciliar a percepção comum a respeito dessa divindade veterotestamentária
cheia de ira com o Jesus manso e suave do Novo Testamento? Essa
destruição total da humanidade realmente era necessária? Era justificada?
Como entender esse ato à luz da instrução de Cristo de “amem os seus
inimigos” (Mt 5.44)? Será que Deus tem um manual de regras para nós e
outro para si mesmo? Ou será que isso é apenas um exemplo de uma fábula
religiosa aterrorizante, destinada a levar pessoas a obedecerem por medo?
Um resumo superficial dos fatos realmente pode dar essa impressão. No
entanto, como acontece com qualquer verdade profunda e difícil, precisamos
colocar os pés no chão e cavar um pouco mais fundo para conseguir
descobrir a real história por trás dos eventos. É preciso um certo grau de
abertura e honestidade para fazer isso. Portanto, vamos pegar uma pá e
começar o trabalho.
É óbvio que há duas alternativas: ou o Dilúvio aconteceu exatamente
como a Bíblia o descreve, ou não. Se você concluir que ele não é
historicamente plausível ou não agrada ao seu paladar teológico, você está
livre para escolher seu caminho e continuar a sua vida assim. Se, no entanto,
você deseja entender como um Deus amoroso pôde destruir aqueles que
fizera à sua imagem e semelhança e como o Deus que você adora pode ser
ao mesmo tempo gracioso e vingativo – se você quer saber por que o amor
não prevaleceu sobre a ira – então continue lendo.
Inquestionavelmente, o Dilúvio oblitera todos os outros episódios de
retribuição divina registrados na Escritura – ganha das dez pragas, de
Sodoma e Gomorra e daquela vez em que Deus fez a terra se abrir para
engolir pessoas (Nm 16.31-33). Jesus Cristo confirma e ratifica que os
eventos da época de Noé aconteceram, que “veio o Dilúvio” e “os destruiu a
todos” (Lc 17.26-27). Se você acredita que Jesus era Deus em carne humana,
não lhe restam muitas opções. Crer nele associa você com a verdade a
respeito do Dilúvio. Do contrário, seu Jesus era um mentiroso, um
enganador ou simplesmente não sabia do que estava falando.38 Em qualquer
um desses cenários, ele não teria condições de ser um Salvador sem qualquer
pecado, mas seria apenas um rabi judaico, caído e pecador como todos nós.
Talvez gentil e amoroso, sim, mas com certeza não Deus. Apenas um
Messias fajuto, equivocado. Mas, como ele acreditava no relato sobre o
Dilúvio, ele também entendia que não havia contradição entre as ações de
Deus naquela época e seus próprios ensinos no primeiro século.
Portanto, uma vez que Jesus concorda com esse negócio de arca, como
nós entendemos Deus e suas ações aqui? Como extrair sentido do massacre
mundial dos povos, independentemente de condição social, idade ou gênero?
Jovens e velhos. Mulheres e crianças. Até os animais! Inclusive pássaros e
insetos. Tudo o que respirava. Todos morreram. Como aceitar isso sem achar
que Deus é algum tipo de monstro sádico?
A. W. Tozer escreveu: “O que nos vem à mente quando pensamos sobre
Deus é a coisa mais importante a respeito de nós mesmos”.39 Os autores da
Escritura entendiam isso, e escreveram para nos mostrar quem Deus é. Para
começar, a Bíblia descreve Yahweh como o único Deus.
Eu sou o Senhor, e não há nenhum outro; além de mim não há Deus. (Is
45.5) Observe que “Deus” está escrito com D maiúsculo, indicando que
não há ninguém igual a ele ou equivalente a ele (ver Is 40.25). Basta
essa única ideia para confrontar os limites da correção política e
religiosa da pós-modernidade, em choque direto com uma era que
abraça todas as religiões e fés como igualmente válidas. Infelizmente
para outras crenças, esse Deus Trino (Pai, Filho, Espírito) reivindica
exclusividade em termos de divindade, tornando todas as demais
religiões, buscas espirituais e sistemas filosóficos inválidos, criações da
mente humana ou, na pior das hipóteses, demoníacos em sua origem. Se
a divindade de Jesus for efetivamente desmontada, nada mais na
Escritura ou no cristianismo fará sentido. E esse mesmo Deus declara
ter criado o universo, a terra e a humanidade com seu poder divino (Gn
1.1,26; Is 40.12-14,21,26). Essa verdade elementar sobre nosso Deus
Criador está embutida na natureza e também na própria humanidade –
abundantemente exibida nos céus e indelevelmente gravada no coração
do ser humano (Sl 19.1-6; Rm 1.18-23; 2.14-16). Assim, ele permanece
sozinho como o único Deus e Criador.
Deus também é soberano, o que significa que ele controla todo o universo
e todas as coisas (Sl 103.19; 115.3; 135.5-6; Dn 4.35). Ele governa sobre
todos, supervisionando a humanidade sem violar a habilidade humana de
escolher. Soberania significa que ele é Rei e que não há na terra outro
governante, presidente, primeiro-ministro, déspota ou ditador que lhe seja
remotamente comparável (Is 40.23-25; Ap 19.16). É diante deste monarca
que todo o joelho se dobrará e cada alma será pesada (Fp 2.10-11; Ap 20.11-
15).
Portanto, se isso realmente for verdade, quão digno deve ser esse Rei para
merecer a adoração sincera de incontáveis bilhões de pessoas? Afinal, quem
é esse Deus?
A Escritura retrata-o como aquele que define os conceitos de majestosa
realeza e soberania. Como aconteceu com Jó, essa compreensão profunda
nos leva a reconhecer que Deus está muito, mas muito acima de nós. E nós
simplesmente colocamos a mão sobre a boca, nos calamos e nos prostramos
diante dele em reverência (ver Jó 40.3-4). Como esse Deus é maravilhoso!
Ele é tão soberano, sábio e poderoso que pode usar até mesmo o pior pecado
já cometido pelo ser humano e transformá-lo em grande bem para nós (At
2.22-23; 4.28-29).
Mas a Escritura também retrata Deus como santo, honrado e justo –
palavras muito usadas na igreja, mas raramente explicadas. Sua natureza
santa significa que ele é completamente diferente de nós e o modelo da
perfeição moral. E esse seu caráter santo dita e dirige todas as suas ações.
Por isso, tudo o que Deus faz é, por definição, “justo” (Sl 119.137; 145.7).
Sua santidade e sua honradez são inseparáveis. A santidade de Deus refere-
se ao seu caráter (quem ele é) e sua honradez refere-se à sua conduta (agindo
em harmonia com seu caráter). Assim, justiça é Deus administrando as
consequências correspondentes a quem guarda ou desobedece aos seus
padrões retos. Pelo fato de não termos o conhecimento e a sabedoria de
Deus, sua justiça pode parecer desconectada com o nosso cronograma ou
vontade. Às vezes ela parece ser suave demais, tardia ou mesmo inexistente;
ao passo que em outros momentos a percebemos como dura e pesada demais
(como no Dilúvio).
Esse mesmo Deus também é irado e gracioso. No entanto, esses conceitos
não são contraditórios; em vez disso, harmonizam-se perfeitamente à luz de
seu caráter e boa vontade. O Dilúvio é um exemplo claro da ira de Deus,
despejando o desagrado do Senhor sobre um planeta perverso. Ao mesmo
tempo, vemos sua abundante graça ao salvar e preservar um remanescente da
humanidade. Deus também teria sido igualmente justo se tivesse eliminado
toda a humanidade, para recomeçar do zero com um novo Adão e uma nova
Eva. Ou ele poderia ter optado por simplesmente chutar a ideia da
humanidade para longe de uma vez por todas. E, se ele tivesse feito isso,
você e eu não estaríamos aqui. Que tipo de Deus faria isso? Um Deus
soberano, santo, honrado, justo, irado e gracioso. A verdade perturbadora a
respeito de Noé e do grande Dilúvio tem suas raízes no próprio Deus.

Que Tipo de Pessoa


Mereceria Isso?
Entender a natureza de Deus é apenas um lado da moeda. Na verdade, há
uma relação de causa e efeito entre a nossa compreensão a respeito de Deus
e a percepção correta a respeito de nós mesmos. A forma como vemos Deus
tem impacto direto sobre como vemos a nós mesmos. À medida que
contemplamos o Único, podemos ver claramente o outro. Vivemos numa
cultura que evita palavras como mau e pecaminoso, especialmente quando
aplicadas a pessoas. Elas são desconfortáveis. Termos como bom e mau não
são definidos por algum padrão divino imutável, mas antes pela forma como
nos sentimos a respeito de algo. É justamente esse tipo de raciocínio que faz
com que muitos de nós vejam a ideia de um Dilúvio global como um ato
maldoso, insensível, odioso e nojento cometido por um Deus cruel e sem
amor. Por quê? Porque não conseguimos imaginar que uma população
terrestre inteira pudesse merecer tal destino. Por isso, a mera sugestão de que
aqueles que morreram no Dilúvio de fato mereciam essa sorte (e coisa muito
pior) é dispensada como insensível e até mesmo sádica.
No entanto, é exatamente esse tipo de objeção que a Escritura previa ao
dar a seguinte descrição da raça humana: Assim, eu digo a vocês, e no
Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na
inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no
entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que
estão, devido ao endurecimento do seu coração. Tendo perdido toda a
sensibilidade, eles se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda
espécie de impureza. Todavia, não foi isso que vocês aprenderam de Cristo.
(Ef 4.17-20, ênfase acrescentada) Em outras palavras, sem Deus nossos
pensamentos são infrutíferos, vãos e fúteis. Somos incapazes de ver ou
entender a verdade. Não temos vida de fato em nós (Ef 2.1-3). Não sabemos
nada sobre os caminhos de Deus. Nossos corações estão duros e calejados
pelas repetidas recusas em nos submeter ao Senhor. Não parece muito a
descrição da geração de Noé? Assim, é mesmo tão espantoso que a realidade
de Deus e de suas ações sejam tão repulsivas a quem não tem Cristo e
compreensão da Bíblia? Por causa do pecado, somos cegos à realidade e por
isso inventamos a nossa própria. Dizemos coisas como: “Deus nunca faria
isso...”. E por isso temos dificuldade para aceitar a verdade, especialmente
quando ela é perturbadora e desagradável.
Também resistimos por natureza ao direito inerente de Deus de fazer o
que ele deseja. Sempre que ele faz ou permite algo com que não
concordamos, ficamos intimamente hostis, rejeitando-o em favor das nossas
próprias ideias – supostamente bem melhores – de como o mundo deveria
funcionar. Como pecadores, exigimos liberdade de escolha, mas negamos
esse mesmo direito ao Deus perfeito e infinitamente sábio. Mesmo como
cristãos, muitas vezes não gostamos de tê-lo como Chefe, especialmente
quando se trata de algo desconfortável ou inconveniente. Quando a vida nos
confunde ou frustra, secretamente questionamos suas motivações e
habilidades de tomar decisões. Agimos assim porque temos um problema
profundamente arraigado: o fato de pensarmos que somos mais espertos do
que Deus. A declaração casual de que “ele é Deus, mas eu não sou” vai
muito mais além do que apenas dizer isso. Ela significa aceitar a verdade de
ser parte de uma raça caída. Finita. Estragada. Míope. Egoísta. Pecaminosa.
E merecedora da ira. Cada um de nós (Jo 3.36; Rm 5.12; 6.23).
Mesmo assim, o Dilúvio não estava no roteiro original de Deus para a
humanidade. Sua primeira versão desejava que a criação lhe respondesse
com amor, intimidade, relacionamento e obediência. Nosso Deus não ficou
esfregando as mãos, deliciado, ao ver a destruição daqueles que o rejeitaram
(ver Ez 18.23,32; Jo 5.40; 1Tm 2.4; 2Pe 3.9). Pelo contrário, seu juízo pelo
Dilúvio foi um cálice que misturava tristeza, ira e graça – terrivelmente
trágico e ao mesmo tempo milagrosamente coerente com seu caráter divino.
No entanto, sua tolerância com a rebelião do ser humano tinha chegado ao
fim. Assim, “todos os seres vivos foram exterminados da face da terra” (Gn
7.23).
E chegara a hora de começar novamente.

Um Novo Começo Depois de 40 dias de


chuva ininterrupta e muitos dias mais de
inundação, Deus cumpre sua promessa a Noé,
e as águas começaram a baixar lentamente
(Gn 7.12,24; 8.4). A arca por fim pousou
sobre uma montanha de Ararate, num ponto
cuja localização exata é desconhecida até
hoje.40 Setenta e quatro dias depois, os topos
das montanhas ficam visíveis e um novo
sistema hidrológico começa a enviar a água
acumulada no solo de volta para a atmosfera,
pela evaporação. Por fim, com a terra
suficientemente seca, Noé sai da arca e
encontra um mundo muito diferente daquele
que deixara para trás um ano antes.41 A
quantidade de terra habitável diminuíra com o
aumento dos oceanos. Agora o ser humano
passaria a viver a mudança de estações (Gn
8.22), incluindo tempestades, climas severos,
frio congelante e calor causticante, terremotos
e outros desastres naturais.
Mas nada disso importava naquele momento. Noé estava ansioso para sair
de sua casa flutuante tamanho família, e a primeira coisa que faz ao
desembarcar é construir um altar para Deus. Usando os animais puros que
levara consigo, ele oferece um sacrifício de louvor e ação de graças,
presumivelmente um ritual que ele e sua família tinham praticado durante
gerações (Gn 7.2-3; 8.20). Isso agradou tanto ao Senhor que o levou a
declarar: Nunca mais amaldiçoarei a terra por causa do homem, pois o seu
coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância. E nunca mais
destruirei todos os seres vivos como fiz desta vez. (Gn 8.21) Em
conformidade com sua declaração anterior (Gn 6.18), Deus promete nunca
mais exterminar a humanidade dessa forma. Logo em seguida, uma série de
precedentes adicionais relativos ao futuro da humanidade é estabelecida,
sendo que o mais conhecido destes é a criação do sinal do arco-íris.42
Agora Noé troca o martelo e a serra pelo arado e pela roda de oleiro.
Depois de plantar um vinhedo e fazer a colheita no tempo devido, toma da
fruta fermentada e fica bêbado – não, na verdade cai de bêbado. O vinhateiro
acaba nu e desmaiado em sua tenda, em seu estupor alcoólico.
Foi assim que Cam, o filho caçula de Noé, encontrou seu embriagado pai.
A Bíblia diz que ele “viu a nudez do pai” (Gn 9.22) e então contou isso aos
irmãos. Por isso, Noé amaldiçoou a descendência do filho de Cam, Canaã,
profetizando assim humilhação e escravidão para eles (Gn 9.25).43 Mas o que
Cam fez de tão mau ao seu pai que o levasse a amaldiçoar seus próprios
netos? A Bíblia não especifica, mas há duas possibilidades principais, sendo
que nenhuma delas é muito boa.44
Qualquer que tenha sido a real natureza das ações de Cam contra seu pai,
elas foram suficientemente sérias para que Noé basicamente condenasse um
ramo inteiro da genealogia desse filho. Seu castigo por desonrar Noé seria
ter um filho que o desonrasse. A Bíblia registra que os cananeus mais tarde
seriam sujeitados pelo general Josué e, depois, pelo rei Salomão (1Rs 9.20-
21). Como os cananeus foram extintos, essa maldição obviamente não existe
mais hoje em dia.
O ato de Noé e a reação de seu filho ilustram quão profundamente as veias
do pecado correm dentro de nós. Mas o incidente também demonstra com
clareza que pessoas justas, não importa o quanto tenham sido devotadas ou
sinceras em sua obediência passada, nunca estão imunes à tentação e à
sedução prazerosa do pecado. Uma das características mais revigorantes da
Bíblia é o fato de ela nunca se intimidar diante do relato dos pecados de seus
santos. Em vez disso, apresenta-os de forma detalhada e explícita.
O Dilúvio demonstra que Deus, embora paciente, não tolerará o pecado
para sempre. Ele determinou um limite para sua tolerância. E, mesmo sendo
devastador e mortal, seu juízo continua sendo justo e reto. O mundo de Noé
estava corrompido além do imaginável e redimível, e a ira de Deus sobre
seus habitantes era merecida. O Dilúvio nos ajuda a entender quão má e
perdida pode ser a humanidade. Ele ensina lições difíceis sobre a contínua
falibilidade do coração humano e nossas próprias lutas contra o pecado. Ele
mostra que, mesmo depois do juízo global da parte de Deus, a humanidade
não melhorou como num passe de mágica. Isso é prova convincente de que
continuamos precisando desesperadamente de um Salvador.
4

PROFETA CARPINTEIRO
Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do
homem.
Mateus 24.37

Avançamos cerca de dois mil anos, e o homem de quem Enoque falava agora
caminha sobre a terra. É uma terça-feira, primavera de 30 d.C.45 O cenário é
uma encosta popular nas imediações de Jerusalém. Jesus, o Cristo, reuniu
um punhado de seus discípulos mais próximos para um encontro particular,
muito diferente das crescentes multidões que normalmente atraía. É a última
semana de sua vida na terra, e por isso ele se afastou dos holofotes para ficar
na companhia de seus seguidores mais íntimos. Ele sabe que na próxima
quinta-feira à noite virá o grande momento – a hora para a qual ele se
preparou e se esforçou nesses últimos três anos. Todos os ensinos, viagens e
tempo passado com os discípulos. Cada palavra dita, cada passo dado, até o
próprio propósito de seu nascimento, tudo encontrará seu auge na sexta-feira
pela manhã, em uma névoa sangrenta de chicotes, punhos e pregos.
Diferentemente de seus amigos discípulos, Jesus sabia muito bem o que
esperava por ele na cruz. Sabia que agonia e tortura excruciantes desabariam
sobre ele como uma onda de tormento, e que Deus lidaria com ele como se
ele fosse o pecado personificado (2Co 5.21). Faltavam poucos dias para que
ele cumprisse seu papel de Cordeiro de Deus, nosso Substituto bem-disposto
(1Jo 2.2). Ele nunca tinha experimentado qualquer ruptura em sua comunhão
com o Pai. Mas tudo isso mudaria na sexta-feira pela manhã, quando Deus
abandonaria seu Filho e o golpearia com toda a fúria do inferno.
Esse momento logo chegaria. Mas, por ora, ele estava ansioso pelo tempo
de qualidade com os homens aos quais tinha confiado a verdade nesses
últimos três anos. Por isso, esses últimos dias eram particularmente especiais
para Jesus. Assim, reclinado na encosta do monte das Oliveiras, ele lhes
concede um rico tesouro em informações para ser passado adiante aos
futuros discípulos.46
Curiosos, eles perguntam: “Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E
qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?” (Mt 24.3).
Jesus tinha acabado de informá-los que seu amado templo judaico, que
naquela época ainda estava em construção, seria totalmente destruído.47 A
despeito de tudo o que ele já lhes ensinara, continuavam esperando que o
reino e domínio terreno de seu Mestre chegassem imediatamente (Lc 19.11).
Assim, a profecia de Jesus sobre o templo não combinava muito bem com a
ideia que tinham sobre o fim dos tempos – daí a pergunta. Mas, em vez de
falar sobre o quando (momento) da sua vinda, Jesus se concentra nos sinais
que precederão seu retorno definitivo. Os discípulos não conseguiam
conceber a ideia de que seu Senhor os deixaria, nem eram capazes de
compreender o conceito da era da igreja. Assim, ao tratar de sua pergunta,
ele dá um salto para a frente, para um tempo que os Doze nunca veriam
pessoalmente e que nunca teriam sido capazes de imaginar.
Jesus explica que uma série de sinais se manifestará nos dias anteriores à
sua volta. Esses sinais lembrarão “dores de parto” (Mt 24.8, NVT). As dores
de parto manifestam-se bem no final da gravidez, começando com
ocorrências esporádicas e então aumentando em frequência e intensidade até
o bebê nascer. Jesus diz que essas dores de parto ocorrerão durante um
período de sete anos conhecido como tribulação (Dn 7.25; 9.27; 12.1,7; Mt
24.21; Ap 11.3; 12.6; 13.5).48 A Escritura descreve esse terrível capítulo da
história mundial como um tempo em que Deus mais uma vez trará juízo
global sobre a humanidade. No entanto, diferentemente do Dilúvio, não será
um evento único, mas uma série de ocorrências (algumas simultâneas) no
mundo inteiro durante um período de sete anos. Embora não aborde cada
profecia ou detalhe, Jesus dá aos seus discípulos um resumo esclarecedor
sobre as coisas futuras. E, à medida que ele descrevia esse apocalipse,
certamente os olhos de seus amigos arregalavam-se cada vez mais, enquanto
seus queixos barbados caíam.
Mateus 24 desvela para nós alguns dos sinais que precederão a segunda
vinda de Jesus: 1º Sinal: Falsos Cristos (v. 4-5) Em tempos de incerteza, os
oportunistas são rápidos em tirar proveito dos medos e das inseguranças das
pessoas (você ainda se lembra do medo do bug do milênio?). A Escritura diz
que, imediatamente antes dessa tribulação, Jesus recolherá sua noiva (a
igreja), levando-a para longe da “ira que há de vir”. Milhões de pessoas
desaparecerão do planeta de forma repentina, sem qualquer advertência
prévia. Os cristãos chamam esse evento de arrebatamento (1Ts 1.10; 4.13-
18; 5.8-9).49 Esse momento é um catalisador que inaugurará os sete anos da
tribulação. Ele afundará nosso mundo em grande confusão emocional,
econômica e espiritual. Nessa escuridão, o vazio atrairá uma exorbitância de
autoproclamados deuses e gurus, cada um com suas próprias reivindicações
em termos de verdade, conhecimento e profecia.
Mais tarde, Jesus diz que alguns desses deuses e gurus terão poder
demoníaco, capazes de realizar “grandes sinais e maravilhas para, se
possível, enganar até os eleitos” (Mt 24.24). Atualmente, nosso mundo não
sofre de carência de falsas fés e filosofias, messias equivocados, gurus
espirituais, místicos sábios e conselheiros charlatães. O apóstolo João
advertiu que “o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido.
Por isso sabemos que esta é a última hora” (1Jo 2.18). À medida que nos
aproximamos dos últimos dias, é preciso preparar-se para um aumento de
falsos profetas e imitações de cristos, mesmo nas culturas permeadas por
céticos e ateus. Até lá, recomenda João, “examinem os espíritos” para ver se
eles confessam Jesus como o Cristo (1Jo 4.1-3).

2º Sinal: Guerras e Rumores de Guerras (v. 6-8) O fim dos tempos


será marcado por fortes conflitos militares internacionais. Parte
deles poderá resultar de um colapso econômico global após o
arrebatamento, no qual as potências mundiais tratarão de
incorporar os países mais fracos mediante o uso de força.
Considerando o atual ambiente econômico e geopolítico do mundo,
não fica difícil imaginar isso acontecendo enquanto ainda estamos
vivos. Neste momento, grandes países estão deixando de cumprir
suas obrigações financeiras, praticamente entrando em falência e
tornando-se dependentes de ajuda externa para sobreviver
economicamente. Até mesmo os Estados Unidos estão flertando
com o colapso financeiro devido às suas dívidas astronômicas e seu
potencial de inadimplência.
Mas essa situação econômica não é nada em comparação com o potencial
do aumento de guerras em nosso mundo. Um único ato de terrorismo,
atentado suicida ou míssil lançado por um regime rebelde ou líder
enlouquecido pode, da noite para o dia, catapultar-nos para um mundo em
guerra. É possível que algumas dessas futuras guerras até tenham
motivações racistas ou religiosas. Mas não importa o motivo: nenhum país
está seguro contra a ameaça do conflito armado. Mesmo hoje, as relações
instáveis entre determinadas nações transformaram a paz num bem frágil que
pode ser facilmente destruído pela menor das provocações.

3º Sinal: Fomes e Terremotos (v. 7) Estima-se que todos os anos


ocorram cerca de 1 300 000 terremotos em todo o planeta, sendo
que mais de 1 600 deles atingem magnitudes de 5.0 ou mais na
Escala Richter. Somente o terremoto de 2010 no Haiti matou mais
50

de 150 mil pessoas. O próprio solo realmente está instável e


imprevisível. Para o fim dos tempos, Jesus profetiza terremotos “em
vários lugares”, e Apocalipse 6.12 menciona um “grande
terremoto” tão poderoso que causará uma enorme reação em
cadeia de erupções vulcânicas. As cinzas e os detritos escurecerão
51

a atmosfera, causando um blackout mundial. A combinação de


múltiplas guerras e terremotos devorará a reserva mundial de
alimentos, causando fome global (Ap 6.3-6). Milhões de pessoas
serão realocadas sem fontes de alimento ou água potável. Os rostos
de crianças esfaimadas, tão comumente associados aos países
subdesenvolvidos, serão vistos também nos países desenvolvidos.
O coração dos discípulos acelerou ainda mais com as palavras seguintes
de Jesus. Ele advertiu que isso será apenas o começo. O pior ainda estará por
vir (ver Mt 24.8).

4º Sinal: Perseguição aos Cristãos (v. 9) Quando me perguntam se


as pessoas se tornarão cristãs durante a tribulação, minha resposta
é um convicto “sim!”. Mesmo que o juízo de Deus comece a cair
sobre os habitantes do planeta, o Senhor ainda não terá terminado
sua obra salvadora. Não sabemos como exatamente o
arrebatamento afetará as pessoas que ficarem para trás, mas
podemos afirmar com segurança que esse evento global com
certeza vai chamar a atenção da população. Muitos podem
finalmente se convencer de que aqueles “malucos de Jesus” tinham
razão o tempo todo. Desesperados, clamarão a Deus por salvação,
e ele não rejeitará ninguém (Jo 6.37; Rm 10.13). Mas a fé em Cristo
terá um alto preço naqueles últimos dias. Olhando os rostos
fascinados de seus discípulos, Jesus anuncia: “Então eles os
entregarão para serem perseguidos e condenados à morte, e vocês
serão odiados por todas as nações por minha causa”.
Durante a tribulação, haverá um ódio pandêmico internacional aos
cristãos, com o apoio de “todas as nações”. Por causa do arrebatamento e do
subsequente caos econômico e bélico, aqueles que se tornarem cristãos
durante a tribulação talvez sejam transformados em bodes expiatórios de
todos os males do mundo.52 Na verdade, essa animosidade é apenas uma
demonstração palpável da fúria incandescente do mundo contra Jesus Cristo.
Em vez de impelir as pessoas a se ajoelharem, como seria de esperar, esses
eventos perturbadores dos últimos dias levarão muitos a amaldiçoar a Deus
com veemência (Ap 16.10-11).
Exatamente como foi nos dias de Noé.
Estima-se que cerca de 100 mil cristãos sejam assassinados anualmente
por causa de sua fé.53 Isso equivale a centenas de mortes todos os dias, sem
considerar os crentes mortos em países sem comunicação com o mundo
exterior. Há um exército de mártires morrendo em obscuridade e
anonimidade, cujo destino só Deus conhece. Mas, assim como foi com o
primeiro mártir, Estêvão, o próprio Jesus se levanta para honrá-los e recebê-
los em sua chegada ao lar. Não sabemos quantos serão martirizados nos
últimos dias (ver At 7.55; Ap 6.9-11). O que sabemos, no entanto, é a forma
de execução escolhida nesse período: decapitação (ver Ap 20.4).54
Mesmo hoje, as sementes do ódio contra os cristãos já criaram raízes.
Basta dizer algo contra a imoralidade, e já odeiam você. Defenda o
casamento tradicional, e classificam você como preconceituoso ou repressor.
Diga que Jesus é o único caminho para Deus, e você passa a ser um fanático
de mente fechada. Ou seja, não é difícil imaginar essa animosidade
anticristã, hoje em fogo baixo, atingindo o ponto de ebulição depois do
arrebatamento. Até lá, a situação ficará cada vez pior, com os cristãos cada
vez mais marginalizados na sociedade, seus pontos de vista e valores cada
vez mais impopulares e até desprezados. Apesar de ser nosso dever buscar a
paz com todas as pessoas, a nossa fé poderá, involuntariamente, incitar o
ódio de alguns. Jesus diz para contarmos com isso (ver Jo 7.7; 15.18-21; Rm
12.18). Nunca devemos retribuir ódio com ódio, mas também não podemos
abrir mão da lealdade ao nosso Salvador.

5º Sinal: Apostasia e Traição (v. 10-13) A perseguição sempre


separa os verdadeiros crentes daqueles com fé apenas nominal.
Nesse futuro de intensa perseguição aos cristãos, “muitos” crentes
falsos se afastarão da fé. Nos primeiros dias da tribulação, vários
aparentemente se arrependerão e confiarão em Cristo. Porém,
quando a perseguição e a ameaça de morte baterem às suas portas,
a máscara de fé cairá, deixando para trás um coração interessado
apenas na autopreservação. Mesmo hoje, a menor oposição à fé
muitas vezes já leva pessoas que se dizem cristãs a abandonarem
sua lealdade a Cristo e sua igreja. Devemos contar com isso, pois,
como Jesus já demonstrou anteriormente aos seus seguidores, não
são as decisões que tornam alguém um discípulo, mas a devoção
(Mc 4.1-20; Lc 14.25-35). Uma forma de confirmar a veracidade da
nossa fé é ver como o objeto do nosso amor deixa de ser o eu e
passa a ser Jesus. Esses falsos crentes do futuro exibirão sua
verdadeira natureza, entregando seus amigos cristãos e até mesmo
seus parentes, levando-os a serem presos e assassinados (Mt 10.17-
23; 24.13; 1Pe 1.5). Numa perseguição inspirada por Satanás,
55

aqueles que estiverem instigando esse massacre usarão métodos


muito persuasivos para motivar as pessoas a denunciar os cristãos.
A recusa em fazê-lo poderá acarretar multas, perda de benefícios
legais ou mesmo morte.
As palavras de Jesus soam muito irreais. É difícil imaginar algo tão
distorcido e bárbaro acontecendo em uma sociedade civilizada como a
nossa. Mas, falando do ponto de vista histórico, toda geração tende a
minimizar as tragédias mundiais e atrocidades humanas do passado, e às
vezes até as trivializa. Quanto menores esses acontecimentos ficam no nosso
retrovisor, mais diminui seu significado. Como fotografias desbotadas ou
velhos filmes em preto e branco, sua importância faz parte de outro tempo e
geração, não da nossa época. Assim, esquecemos coisas como o Holocausto
judeu e datas históricas como 6 de agosto de 194556 porque não nos afetam
mais.
Da mesma forma, é difícil imaginar um futuro com perseguição global aos
cristãos. Quando se fala disso, o cristão médio costuma pensar no que
aconteceu durante o Império Romano. No entanto, ao longo de toda a
história houve muitos outros crentes martirizados em perseguições
oficialmente sancionadas. Contudo, nenhuma delas se comparará à maciça
tortura e chacina de cristãos nos primeiros meses da tribulação.
Algo que faz com que essa previsão de Jesus seja ainda mais difícil de
acreditar é o fato de não conseguirmos entender o quanto o mundo já detesta
os cristãos e seu Deus. Este espírito está prevalecendo hoje em dia,
acumulando-se como nuvens escuras de tempestade. Essa hostilidade
atingirá um pico inédito naqueles dias. Junte a natureza pecaminosa coletiva
dos habitantes da terra com um ódio global pelos cristãos, e um novo
genocídio nascerá.
Vai correr sangue.
Contribuirão com isso, acrescenta Jesus, os muitos falsos profetas que se
levantarão para enganar as multidões, possivelmente incluindo aqueles que
anteriormente tinham professado fé em Cristo (2Tm 2.11-12; Hb 3.12).57 Os
mestres dessa nova era convencerão as multidões a se distanciar daquilo que
alegam ser a religião bárbara e sangrenta de um Messias crucificado.
Diabolicamente inspirados, darão às pessoas o que elas realmente querem –
um senso de segurança, significado, esperança e propósito em tempos
difíceis. Algumas dessas religiões incluirão adoração real a demônios, vários
tipos de ídolos e magia induzida por drogas (Ap 9.20-21). Parece absurdo,
não é? No entanto, até pouco tempo atrás havia uma livraria pagã a poucos
quarteirões da minha casa vendendo ídolos e instrumentos mágicos para
contatar e adorar espíritos demoníacos. Provas e mais provas de que Satanás
está vivo e ativo no planeta Terra. Por fim, com o desaparecimento da
moralidade e dos valores bíblicos, a maldade e a anarquia aumentarão (Mt
24.12). O amor em si será mercadoria rara. Como foi nos dias de Noé.

6º Sinal: O Evangelho Pregado no Mundo Inteiro (v. 14) Em meio a


este pandemônio planetário, Deus mais uma vez demonstrará a sua
graça, apresentando o evangelho e assim oferecendo uma “saída”
à humanidade. Há muito tempo os crentes tentam imaginar se em
algum momento será possível saturar o mundo inteiro com o
evangelho. A igreja treina, consagra e envia milhares de
embaixadores do evangelho por todo o mundo, tendo hoje mais
recursos missionários à sua disposição do que em qualquer outro
momento da história. Dispomos de viagens mais rápidas, internet,
formas de comunicação avançadas e até programas de tradução da
Bíblia de última geração. Mesmo assim, o campo continua arável,
com mais de três bilhões de pessoas no planeta (42,5% da
população mundial) que continuam sem jamais ter ouvido o nome
de Cristo! Como Deus quer realizar essa façanha hercúlea em um
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período tão curto, principalmente considerando que ele já terá


levado todos os seus porta-vozes (os cristãos) para o céu e que os
crentes restantes estarão sendo abatidos como gado?
De acordo com Apocalipse, Deus usará três formas de proclamação do
evangelho durante a primeira metade da tribulação. Em primeiro lugar,
enviará dois homens, divinamente ungidos e confirmados, como seus
profetas pregadores. Chamando-os de “minhas duas testemunhas”, ele os
capacitará com poder sobrenatural, incluindo a capacidade de lançar fogo
com a boca para repelir qualquer pessoa que tente feri-los ou impedir sua
missão! Também terão o poder de suspender a chuva, de transformar água
em sangue e de ferir o mundo com as mais diversas pragas, conforme
desejarem (Ap 11.3-6).
Eles andarão vestidos de pano de saco, e sua mensagem naqueles dias
desesperados será de arrependimento e salvação. Então, ao final dos 1 260
dias de seu ministério (3½ anos), Deus permitirá que o Anticristo os mate.59
O Anticristo deixará seus corpos mortos nas ruas de Jerusalém por três dias e
meio e, enquanto isso, o mundo inteiro festejará a morte deles, chegando ao
ponto de trocar presentes para comemorar a ocasião (Ap 11.7-10)!60 Será um
feriado internacional. Um Natal profano. Nosso teimoso planeta estará tão
endurecido e mau que chegará ao ponto de jubilar pelo assassinato daqueles
que proclamam o evangelho de Jesus!
Mas Deus tem a última palavra. Depois desses três dias e meio, o Senhor
soprará vida no corpo morto das testemunhas e elas se levantarão,
aterrorizando aqueles que estiverem festejando em torno de suas sepulturas
temporárias. Então as duas testemunhas ascenderão ao céu à vista de todos,
um evento que sem dúvida será transmitido ao vivo em cadeia internacional
de televisão e compartilhado online por milhões de pessoas. Isso despertará
espanto mundial diante do acontecido. Como que acrescentando um ponto
de exclamação, o Senhor causará um terremoto em Jerusalém, matando sete
mil pessoas. Aqueles que escaparem o farão dando glórias a Deus (Ap 11-
11-13)! Isso provavelmente será o cumprimento parcial da profecia de Paulo
sobre a salvação dos judeus (Rm 11.25-26).
Alguns acreditam que uma dessas duas testemunhas é Enoque. Como
alguém que nunca experimentou a morte, Enoque, que profetizou o primeiro
juízo global nos dias de Noé, é citado como aquele que retornará para fazer o
mesmo antes do juízo final sobre a terra. No entanto, por causa do poder
sobrenatural e de outras semelhanças, creio que essas duas testemunhas
serão Moisés e Elias (ver Êx 7.10; 8.1–12.29; 1Rs 17.1; 18.41-45; 2Rs 1.10-
12).
A segunda forma pela qual Deus proclamará o evangelho no mundo
inteiro nesse período será por meio dos 144 mil evangelistas judeus. Esses
jovens rapazes serão escolhidos, protegidos e enviados por Deus – doze mil
de cada uma das doze tribos de Israel (Ap 7.3-8). Eles terão o nome do
próprio Deus escrito em suas testas como testemunho adicional de seu
propósito (Ap 7.3).61 Esses homens também serão sexualmente puros,
honestos, de conduta irrepreensível e ferozmente leais ao Cordeiro Jesus
Cristo (Ap 14.3-5). Nossa geração necessita urgentemente do mesmo tipo de
compromisso e lealdade hoje em dia; precisamos ser homens e mulheres
íntegros, que vivem para a honra do Cordeiro! Chamados de “primícias”,
esse exército judeu de proclamadores do evangelho talvez se constitua dos
primeiros convertidos pelo ministério das duas testemunhas. Eles viverão
com um único propósito – anunciar as boas novas de arrependimento e
salvação por intermédio do Messias.62 O que aconteceria hoje se mesmo uma
pequena fração de cristãos professos encarasse suas vidas e bens com o
mesmo fervor, como instrumentos para espalhar o evangelho?
Em terceiro lugar, nesse tempo de novos sinais e milagres, Deus revestirá
a terra com a proclamação final da mensagem do evangelho. Ele não se
autolimitará a usar uma voz humana; em vez disso, enviará um anjo dos céus
para fazer o anúncio (Mt 24.14; Ap 14.6-7). Esse anjo especial, cuja
identidade hoje se desconhece, proclamará as boas novas com “alta voz”,
que será ouvida em todo o planeta (Ap 14.6-7)!63 Deus, que tudo pode,
providenciará para que cada ouvido humano ouça esse convite à salvação em
sua própria língua – pois será transmitida a toda nação, toda tribo, toda
língua e todo povo. Nunca mais alguém perguntará: “E aqueles que nunca
ouviram falar de Jesus?”.64 Nenhum único indivíduo poderá se levantar no
dia do juízo para dizer: “Mas eu nunca ouvi a respeito de ti, Senhor!”.
E a mensagem desse anjo? “Temam a Deus e glorifiquem-no, pois chegou
a hora do seu juízo. Adorem aquele que fez os céus, a terra, o mar e as fontes
das águas” (Ap 14.7).
O sermão do anjo será curto e objetivo: deixe de confiar em si mesmo e
curve-se diante do Deus Criador. Tema aquele cujo juízo está sobrevindo ao
mundo. Adore-o! O anjo identifica esse Deus como aquele que criou os céus
e a terra. Pedro profetizou que nos últimos dias as pessoas negariam que
Deus é o Criador (2Pe 3.3-7). A Bíblia repetidamente afirma que foi Deus
quem criou o mundo, o universo e a humanidade, eliminando assim outras
teorias sobre as origens. Se a Bíblia não estiver correta em relação a como
surgimos e quem somos, como poderíamos confiar nela em outros aspectos?
65
Pedro também associa esse espírito dos últimos dias com a época de Noé,
afirmando que a mesma água usada para criar o mundo foi usada por Deus
para destruí-lo. Mas desta vez, diz Pedro, Deus não usará água, mas fogo
para trazer o juízo mundial (2Pe 3.5-7,10-13). Esqueça o aquecimento
global. Seja bem-vindo ao incêndio global!
Estes três meios – as duas testemunhas, os 144 mil evangelistas judeus e o
anjo que proclamará o evangelho no mundo todo – garantirão que a
identidade do Deus a quem anunciam seja inconfundível. Ele é o mesmo
Deus adorado por milhões de cristãos arrebatados e o Deus do Antigo e do
Novo Testamentos. O nome deste Deus é Jesus. E não há ninguém além dele
(Is 45.5; 46.9-10; Jo 8.58; 10.30; Hb 1.2-3).
Essa será a “última chamada” de Deus para a salvação. A oportunidade
final para que os habitantes da terra se arrependam de seu ódio contra os
céus e de seu amor pelo pecado e por si mesmos. Não haverá outra chance
depois dessa, uma vez que os corações se tornarão duros como pedra na
segunda metade da tribulação (Ap 16.9,11,21). Esse evento final,
globalmente audível e sobrenatural selará de forma definitiva o destino
daqueles que teimosamente se recusarem a crer. Os céticos frequentemente
argumentam contra o teísmo e o cristianismo afirmando que, se Deus
realmente existisse, faria algo milagroso para provar isso. Essa visitação
angélica no final dos tempos calará para sempre quem argumenta dessa
forma (Lc 16.19-31).66 Ela certamente se qualifica como milagrosa e
suficientemente convincente. E a oferta não será repetida.

7º Sinal: O Sacrilégio Terrível (v. 15-21) Neste ponto, Jesus


introduz um vislumbre do que será a segunda metade da tribulação,
um tempo em que o juízo na terra ficará tão intenso que ele passa a
chamá-lo de “grande tribulação” (v. 21, ênfase acrescentada). Esta
fase começará quando um líder mundial, a quem o próprio Satanás
concederá poder, entrar no templo judeu reconstruído para
proclamar a si mesmo como Deus (Dn 9.27; Lc 21.20-24; 2Ts 2.4;
Ap 13.7-8,14-15). Seus exércitos cercarão Jerusalém para
apropriar-se militarmente da cidade (Lc 21.20-22). Esse homem
proferirá blasfêmias contra o Deus dos judeus, exigindo e
demandando, por fim, que o mundo inteiro o adore.
Ele é o Anticristo. E ele fará Adolf Hitler parecer Walt Disney.
De acordo com Apocalipse, durante aqueles últimos três anos e meio a
vida no planeta Terra também incluirá guerras, pragas, feridas em todos os
que adorarem a besta, rios transformando-se em sangue, ondas de calor
causticante, eclipses, ataques demoníacos contra seres humanos, sinais
sobrenaturais, pedras de granizo de mais de trinta quilos caindo do céu,
desastres econômicos e mudanças de clima cataclísmicas.
Os detalhes exatos sobre a natureza, o cumprimento e o momento de
ocorrência desses eventos permanecem incertos. No entanto, como
aconteceu também com profecias bíblicas que já se cumpriram, muitos
desses sinais ficam mais claramente discerníveis à medida que nos
aproximamos deles. Como placas distantes na estrada, eles se tornam cada
vez mais fáceis de ler enquanto avançamos. Da mesma forma, quanto mais
perto estamos da volta de Jesus, mais clara será nossa compreensão a
respeito dos eventos do fim dos tempos.

A Geração-Sósia No meio do seu longo


discurso, Jesus volta a tratar da pergunta
inicial de seus discípulos: “Dize-nos, quando
acontecerão essas coisas?” (Mt 24.3, ênfase
acrescentada). Para ilustrar sua resposta, Jesus
fala da relação que há entre o surgimento das
folhas na figueira e a chegada do verão.
Quando se vê uma coisa, sabe-se que a outra
não demora mais. Ele afirma: “... não passará
esta geração [i.e., a geração que testemunhar
esses sinais] até que todas estas coisas
aconteçam” (v. 32-34). Da mesma forma
como as dores de parto mencionadas
anteriormente (v. 8), estes sinais significam
que Cristo “está próximo, às portas” (v. 33).
Então Jesus torna-se mais descritivo e histórico em sua exposição sobre
seu retorno. Sobre o dia e a hora exatos, ele declara: “Ninguém sabe, nem os
anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (v. 36).67
Ele também explica: Como foi nos dias de Noé, assim também será na
vinda do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao Dilúvio, o povo vivia
comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que
Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o Dilúvio e os
levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem. (Mt 24.37-39)
De todas as analogias possíveis que Jesus poderia ter escolhido para
descrever os últimos dias, por que ele terá optado por Noé e pelo Dilúvio?
Uma das razões para isso é que Noé viveu o “fim dos tempos” de seu
próprio mundo e geração. Em segundo lugar, a vida e a obra de Noé foram
um prelúdio que levou a um juízo global. Em terceiro lugar, havia
numerosas profecias observáveis na época de Noé e nas gerações anteriores
ao Dilúvio. E, por último, a situação da humanidade dos dias de Noé é a que
melhor ilustra como será a vida à medida que se aproxima o retorno de
Cristo.
Jesus diz especificamente que, como na época de Noé, as pessoas do fim
dos tempos viverão suas vidas como se tudo estivesse perfeitamente normal.
Viverão para si mesmas, sem desperdiçar um segundo que seja pensando em
Deus. As pessoas do tempo de Noé escolheram ignorar e rejeitar a
mensagem de Deus a respeito do juízo iminente. Da mesma forma, o
julgamento futuro virá quando os descrentes menos esperarem. Dilúvio,
juízo, eternidade – nada disse chamava a atenção deles.
Jesus pode não ter mencionado cada uma das semelhanças entre a geração
de Noé e a humanidade que a Bíblia descreve para o final dos tempos. No
entanto, ao examinar a Escritura como um todo, descobrimos mais ligações
entre essas duas “últimas gerações”. E, enquanto isso, vamos descobrindo
que há uma semelhança sinistra entre a geração de Noé e a nossa própria.
5

UM MUNDO ÍMPIO
Não têm o menor temor de Deus.
Romanos 3.18 (NVT) Poucos mistérios da vida são tão intrigantes quando a problemática tensão entre a soberania de Deus e o livre-arbítrio humano. A forma como eles se

relacionam e interagem é um enigma perturbador – um que força os limites da mente. É uma daquelas verdades ocultas das quais recebemos apenas vislumbres ocasionais. Um dia esse

mistério será esclarecido. Mas por enquanto ainda não (1Co 13.12-13).

De posse da dádiva da escolha, todos os contemporâneos de Noé tomaram


a mesma decisão. Rejeitaram o Criador – a tal ponto que essa geração estava
essencialmente desprovida de Deus. Era como se ele nem existisse (Sl
139.7-12).68 De forma unânime, expulsaram Deus de suas vidas, eliminando-
o completamente da equação. A humanidade estava suspensa pelo frágil fio
de uma linhagem fiel a Deus. Mesmo em bilionária desvantagem numérica,
era a pequena família de Noé que impedia o juízo divino.
Os dias de Noé nos oferecem um vislumbre do que vem pela frente, como
um trailer do filme sobre a humanidade dos últimos dias. A geração que
presenciou a construção da arca era uma raça que odiava o Senhor e que
retornará no final dos tempos. Os contemporâneos de Noé ignoraram a
mensagem dos céus e seus mensageiros. Continuaram sua vida dia após dia,
ano após ano, século após século – comendo, bebendo e cultivando seus
relacionamentos – sem dar a menor atenção ao seu Criador ou refletir sobre
sua responsabilidade diante dele.
Deletaram Deus do disco rígido humano, apagaram-no de sua consciência
coletiva e cultura. E cada geração acompanhava a anterior sem hesitação.
Iguais produzindo iguais, à sua imagem e semelhança. “Diga-me com quem
andas – e pecas – e te direi quem és.” Mas o que essas pessoas realmente
sabiam sobre Deus? Naquela época não havia Bíblias nem igrejas. Nem
pastores ou livros cristãos. Nem os Dez Mandamentos. Que informação eles
tinham?
Conhecendo Deus Na ausência de uma
revelação mais completa sobre Deus, que só
viria bem mais tarde por intermédio de
Moisés, dos profetas e de Jesus, a geração de
Noé mesmo assim sabia da existência do
Criador. Mesmo que sejamos incapazes de ver
Deus, a Escritura diz que há determinadas
informações sobre ele que toda pessoa tem.
Ele não deixou a humanidade na ignorância;
em vez disso, generosamente revelou fatos a
respeito de si a todas as pessoas. Em
Romanos 1, Paulo escreveu: “Pois o que de
Deus se pode conhecer é manifesto entre
eles”, a saber, cada ser humano. A razão pela
qual podemos afirmar isso, diz ele, é “porque
Deus lhes manifestou [isso]” (v. 19, ênfase
acrescentada). Portanto: o que ele revelou, e
onde está a prova desse conhecimento?
A primeira testemunha que Deus deu à humanidade é a própria criação.
Embora o mundo antes do Dilúvio fosse radicalmente diferente em muitos
aspectos (geografia, topografia, clima e beleza), há certas constantes que
transcendem o tempo. Paulo diz que “desde a criação do mundo [ainda
muito antes de Noé] os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua
natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio
das coisas criadas...” (v. 20, ênfase acrescentada). Várias coisas chamam a
atenção nessa declaração. Em primeiro lugar, cada pessoa no planeta tem
conhecimento da existência de Deus pela simples observação da criação. Ela
compreende especificamente que ele é poderoso e divino. Em outras
palavras, ao olhar para o que está à nossa volta (terra, mares, céu, universo
etc.), podemos captar algo a respeito daquele que nos fez. Somente um
Criador poderoso poderia ter trazido tudo isso à existência. “Os céus
declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Sl
19.1). Houve quem se referisse às estrelas que atravessam o céu noturno
como os “pregadores itinerantes de Deus”.69 Sem qualquer palavra, esses
luminares proclamam um sermão não verbal, testificando a respeito da
grandeza de nosso Senhor. A criação proclama o magnífico poder de Deus.
Mas a criação também dá prova da natureza divina do Senhor. Por meio
de tudo o que foi criado, percebemos que ele é um ser supremo, muito maior
do que nós e, por isso, merecedor da nossa atenção e adoração. Romanos
1.20 dá duplo crédito a Deus por criar o mundo. Negar ou ignorar essa
realidade óbvia torna-nos “tolo[s]” aos olhos de Deus (Sl 10.4; 14.1; 53.1).
Esse desrespeito pelo Deus Criador deles explica a corrupção moral na
época de Noé.70
Como homem de fina educação, o apóstolo Paulo escolheu
cuidadosamente as palavras usadas em Romanos 1.19-20, recorrendo a
termos como “manifesto”, “claramente” e “compreendido”. Se Deus for real,
ele certamente seria capaz de providenciar provas visíveis de sua existência
de uma forma que sua criação fosse capaz de compreender, certo? Por isso,
por causa dessa documentação divina irrefutável, diz Paulo, todos os homens
são “indesculpáveis”. Em outras palavras: nenhum indivíduo poderá jamais
alegar, com razão, que não sabia da existência de Deus. O Senhor certificou-
se disso ao suspender nos céus um sinal permanente, do tamanho de uma
galáxia. Essa percepção é natural e inegável.
Mas há ainda outra prova convincente a respeito do conhecimento de
Deus. Esta não requer que se olhe para longe, para as estrelas ou para a
criação. Lemos que o Criador também inseriu esse conhecimento em nós, de
forma que não há necessidade de um testemunho externo. Romanos 2.14-15
afirma que a humanidade “naturalmente” conhece a diferença entre o certo e
o errado, porque esse conhecimento está “gravad[o] em seu coração” por
meio da “consciência”. Como um alarme ético de fábrica, nossa consciência
está programada para fornecer alertas relacionados a aspectos morais básicos
– como mentir, roubar, matar – que Deus incluiu na Lei de Moisés. É uma
instalação padrão, como um sistema operacional básico, pré-programado, no
computador. Esse conhecimento elementar a respeito de Deus é chamado de
revelação geral e, a despeito do nosso estado caído e pecaminoso, existe em
cada um de nós.
Cada ser humano em qualquer época, independentemente de idade, gênero
ou etnia, sabe disso automaticamente. No entanto, se isso for verdade, como
é possível que ainda haja pessoas que negam a existência e o papel de Deus
na criação? Por que não seguem o código moral primitivo instalado em suas
mentes? Paulo antecipa-se a essa questão, fornecendo uma resposta logo no
começo de sua argumentação. Ele diz que aqueles que negam essa realidade
(a respeito de Deus e de si mesmos) “suprimem a verdade pela injustiça”
(Rm 1.18). Em outras palavras: escolhem ignorá-la. Esse conhecimento de
Deus é como uma luz que ilumina quem ele é e quem nós somos. Quando
tomamos consciência desses aspectos básicos a respeito dele (sua existência
e seus atributos), entendemos que somos criação dele, e não o próprio Deus
Criador.
Mas, como ao mesmo tempo também nos tornamos viciados em nós
mesmos, essa verdade a respeito de Deus torna-se desconfortável e malvista,
como uma luz que se acende de repente no escuro. Conscientes de que
somos decaídos, instintivamente recuamos da obrigação de lhe prestar
contas. Se Deus existe, isso automaticamente levanta uma série de questões
– pecado, morte, eternidade, moralidade, estilo de vida, amor, autoimagem,
segurança etc. “O que fazer com esse Deus?” torna-se a questão essencial da
vida. Quem é ele? Como buscar mais conhecimento a respeito dele? E se eu
me submeter e ele então me pedir algo arriscado ou difícil? E se o plano dele
não combinar com o meu? E se ele quiser se envolver em todos os detalhes
da minha vida? E se ele exigir que eu morra para mim mesmo? O que fazer
então?

Evoluções, Involuções e Negações À


medida que essas questões bombardeiam
nossa mente, Deus passa a ser visto como
ameaça. Assim, depois de considerar a
perspectiva de não estar no controle da nossa
própria vida, optamos pelo plano B – isto é,
ignorar o que já sabemos a respeito de Deus.
Olhamos para outro lado, escolhendo
esquecer dele. Ou, usando as palavras de
Paulo: “suprim[imos] a verdade”, seguindo,
em vez disso, o caminho da “injustiça”
(obedecendo ao ego e ao pecado). Como
alguém que tenta forçar uma bola inflável
debaixo da superfície da água, tentamos
afogar a verdade e, uma vez que conseguimos
removê-la das nossas vistas, torna-se mais
fácil ignorá-la. Apagamos a luz oferecida
porque preferimos viver na escuridão com
nós mesmos.
Isso é parte daquela “liberdade de escolha” que mencionamos
anteriormente. Perfeitamente legal. Perfeitamente permissível. E
perfeitamente tolo. Pois, embora tenhamos a liberdade de ignorar a Deus,
infelizmente essa escolha é seguida por uma diminuição da liberdade. Como
assim? Paulo diz que a primeira coisa a desaparecer é a nossa percepção da
realidade em si. Depois que lançamos Deus ao mar, passamos a navegar por
conta própria, à mercê da nossa imaginação (ou à de outra pessoa) na hora
de tentar entender a vida e a realidade. Dessa forma, inventamos nossas
próprias explicações. Fingimos que Deus não existe, tentando novamente
empurrar a bola para baixo da água. Mas, por sermos uma raça inteligente,
percebemos que esse novo sistema de crenças possui problemas inerentes e
contraditórios. Sabemos que o barco está cheio de buracos, mas
simplesmente fechamos os olhos para a água que insiste em entrar.
Desajeitadamente, tentamos explicar a origem do universo, a vida e o fato de
que há um código moral básico (estranhamente semelhante aos Dez
Mandamentos e Rm 2.14-15) presente em cada cultura da terra. Nesse estado
de negação, afirmamos enfaticamente que não há absolutos morais, embora
essa simples declaração seja, em si mesma, um absoluto moral! E lá vem a
bola inflável de novo, saltando da água e atingindo-nos no rosto.
Continuamos a lutar com questões fundamentais como “por que existe algo
em vez de absolutamente nada”? Mas esses problemas nos levam a pensar
novamente em “Deus”, causando ainda mais desconforto.
Alguns optam por fazer um upgrade em sua filosofia de vida, passando de
ateus (“Com certeza não há Deus”) a agnósticos (“Talvez haja um Deus. Eu
não sei”). Um agnóstico é, basicamente, um ateu honesto disposto a admitir
que o ateísmo é uma posição indefensável. Outros escolhem uma filosofia
mais religiosa ou mundana, inventando seu próprio deus – usando ídolos de
madeira, pedra, ouro ou prata que representem seres humanos ou animais
(Rm 1.23). Adoram a natureza em si, a criação em vez do Criador –
homenageando a Mãe Terra, cristais, energias ou a “consciência divina” da
humanidade. Na ausência de Deus, veneram algum valor ou forma de
encarar a vida (uma filosofia). Em vez de adorar o Deus eterno, escolhem
algo com prazo de validade.
O ser humano faz isso porque foi feito para adorar. Não temos como não
adorar, não importa o quanto nos esforcemos. É impossível evitar.
Precisamos servir algo. Isso está no DNA da nossa alma. E, na falta de Deus,
somos forçados a “inventar” (Rm 1.21, NVT) sobre a vida, dando tiros ao
léu no escuro e de olhos vendados. Uma tentativa fútil de acertar alguma
coisa que dê um senso de propósito às nossas vidas passageiras e vazias. E,
se estivermos suficientemente desesperados, qualquer coisa servirá.
Infelizmente, em vez de nos mostrarmos sábios e eruditos, Deus diz que
acabamos nos tornando novamente “tolos” (Rm 1.22, NAA).
No entanto, no caso de alguém escolher não seguir essa rota religiosa ou
filosófica, há sempre a possibilidade de simplesmente fazer o que o deixa
feliz, atitude também conhecida como hedonismo ou autoadoração. É aqui
que a velocidade da derrocada aumenta dramaticamente. Quando a pessoa
chega ao ponto de buscar o prazer pessoal como sendo a forma máxima de
existência, chega também o momento em que Deus solta o freio de mão e a
deixa correr livremente. É uma escolha que temos total liberdade para fazer,
e Deus vai honrá-la. Depois de ser tratado como não existente, distante,
irrelevante ou intrometido, Deus graciosamente se afasta da vida da pessoa e
a entrega oficialmente aos seus próprios desejos (Rm 1.24,26,28).
Uma vez que Deus saiu totalmente do caminho, a pessoa pode, então,
viver sem limites, tendo como balizas apenas as que ela mesma escolher.
Normalmente, o resultado habitual é “impureza”, uma palavra que o
apóstolo Paulo sempre associa à imoralidade sexual (2Co 12.21; Gl 5.19; Ef
5.3; 1Ts 4.7). Essa decisão judicial de Deus de entregar é, na verdade, uma
sentença. “Se você realmente quer que eu deixe você em paz”, diz Deus,
“farei isso”. É um abandono divino, a verdadeira definição de solidão. O que
sobra depois que Deus sai de uma vida são as paixões e desejos de um
coração pecaminoso (Rm 1.24). E as possibilidades são infinitas à medida
que essas pessoas continuam descendo, nível após nível, na sua vida sem
Deus. Deus as abandona, permitindo que persigam todo e qualquer impulso
físico ou emocional que as domina, incluindo a homossexualidade.71 A
Escritura descreve isso como trocar “relações sexuais naturais por outras,
contrárias à natureza” (Rm 1.26-27), classificando esses desejos e ações
como “paixões vergonhosas”.
A sexualidade que envolve homem e mulher é natural. A
homossexualidade não é natural, mesmo que mente e espírito marcados pelo
pecado acreditem sinceramente nisso. Mas tanto Deus quanto a criação
refutam sua moralidade e legitimidade. Tais indivíduos acabam abraçando
(por várias razões) um estilo de vida contrário ao plano e à ordem da própria
natureza.72 Essa decadência em direção à loucura moral e à autoadoração
pode acarretar consequências inesperadas, incluindo doenças físicas (v. 27).
Mas a coisa ainda piora.
Em meio ao que parece ser um buraco sem fundo de pecados, Deus
permite que aqueles que continuam nesse processo de autoadoração se
afundem ainda mais nessa insanidade espiritual. É neste ponto, em que Deus
já foi rejeitado há muito tempo, que o ego e o pecado terminam por dominar
a pessoa como um todo. O Criador afasta-se totalmente, entregando essas
pessoas a uma “disposição mental reprovável” (Rm 1.28). Crenças a respeito
da vida, dos relacionamentos e das paixões agora são totalmente absorvidas
pelo buraco negro de um coração consumido pelo câncer do pecado. Paixões
controlam a razão, em vidas agora cheias “de toda sorte de injustiça,
maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio,
rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de
Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam maneiras de praticar o
mal; desobedecem a seus pais; são insensatos, desleais, sem amor pela
família, implacáveis” (Rm 1.29-31, ênfase acrescentada).73
Toda essa decadência começou quando Deus foi ignorado, seguido pela
recusa de se submeter a ele, produzindo, no final, “inimigos de Deus”. Essas
pessoas ímpias ficam tão hábeis no pecado (por causa de toda a prática que
já tiveram) que são descritas até como gente que inventa “maneiras de
praticar o mal”! Mais que isso, apoiam entusiasmadamente todos aqueles
que praticam esses pecados (Rm 1.32). É como se seus vis vícios tivessem
seus próprios “fã-clubes”. E tudo isso acontece mesmo que lá bem no fundo,
enterrada debaixo de camadas de negação, esteja a consciência da existência
de Deus e de seu padrão justo. É por isso que Paulo diz que são
“indesculpáveis”. E é pelo mesmo motivo que, ao advertir os tessalonicenses
em relação aos tempos finais, ele constata que o Anticristo virá com “todas
as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto
rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão Deus lhes
envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e sejam
condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram prazer na
injustiça” (2Ts 2.10-12).
Paulo dá a esses crentes um alerta em relação aos “últimos dias” ou
“últimos tempos”, expressões que falam do período entre a primeira e a
segunda vindas de Cristo (1Tm 4.1; 2Tm 3.1; Hb 1.1-2; 1Jo 2.18 chega a
chamar essa época de “última hora”). Ele lhes mostra que parte da punição
imposta a quem repetidamente rejeita a Deus é que a consciência fica
amortecida e o coração calejado contra o amor de Deus proclamado no
evangelho. Um coração endurecido para Deus traz consequências
devastadoras e indesejadas. Isso explica por que essas pessoas são incapazes
de acreditar na verdade ou receber seu amor. Em vez disso, abraçam
mentiras. O faraó é um exemplo disso no Antigo Testamento. Rejeitando
desafiadoramente a palavra de Deus enviada por intermédio de Moisés, ele
argumenta: “Quem é o SENHOR, para que eu lhe obedeça e deixe Israel sair?
Não conheço o SENHOR... Voltem ao trabalho!” (Êx 5.2,4). O texto bíblico conta
que Deus endureceu o coração do faraó para que assim pudesse demonstrar
seu poder e fama em toda a terra (Rm 9.17-18).74 No total, o coração do faraó
endureceu-se 20 vezes. Nem mesmo o juízo derramado mediante as dez
pragas foi capaz de amolecê-lo ou quebrar sua arrogância e teimosia.75
O exemplo do faraó antecipa o ser humano que teimosamente recusará
submissão a Deus durante a tribulação, mesmo diante das piores pragas e em
meio aos mais dolorosos juízos (Ap 16.10-11,21). Mas as pessoas que
viveram na época de Noé também tinham corações de pedra. Ao longo de
toda a história, encontramos este padrão: pessoas rejeitando a Deus mesmo
ao enfrentar o juízo. Caim. A geração de Noé. Egito. Israel. Últimos dias.
Tribulação. Rejeição proposital à salvação de Jesus, o que por fim trará o
julgamento divino (Hb 10.26-31). Cada vez que alguém ignora Deus ou sua
verdade, isso só contribui para que na próxima vez isso seja ainda mais fácil.
Até mesmo os crentes são advertidos a prestar atenção aos sinais de estarem
desenvolvendo um coração duro e incrédulo (Hb 3.7-12). Dessa forma, o
capítulo 1 de Romanos revela, de um ponto de vista panorâmico, a espiral
descendente daqueles que rejeitam a Deus e abraçam o pecado. Abandonar
Deus (v. 18-21) leva à idolatria (v. 22-23), que leva à imoralidade (v. 24-27),
que por sua vez produz hostilidade (v. 28-32).
É essa rejeição contínua a Deus que desencadeia a liberação gradual de
seu juízo sobre a humanidade (v. 18). A consequência dessa ira inclui
permitir o cumprimento da lei da semeadura e da colheita. Além disso, a ira
de Deus também se mostra quando ele abandona homens e mulheres a seus
próprios desejos, permitindo-lhes que se dediquem totalmente a essa busca
do eu e do pecado. Parece com o que aconteceu na época de Noé – e com o
que também está acontecendo em nossos dias.
Por fim, a ira de Deus atingirá seu apogeu definitivo na tribulação futura e
na própria eternidade (Ap 20.11-15).

A Ordem de Restrição de Deus Ao


comparar a humanidade antes do Dilúvio com
o mundo após o arrebatamento, vê-se
claramente que o coração humano não mudou
muito. Mesmo o observador mais desatento
perceberá que, como raça, a humanidade não
melhorou, nem mesmo quando o Dilúvio lhe
forneceu uma nova oportunidade. Somos uma
criação corrompida. Uma raça arruinada.
Como um carro desgovernado, guinamos de
um lado para o outro na estrada. Como o
cachorro, voltamos ao próprio vômito,
repetindo nossas tolices vez após vez após
vez (Pv 26.11). Embora a humanidade seja
capaz de realizar boas obras, não somos e
nunca seremos inerentemente bons, já que
nem mesmo nos nossos melhores momentos
humanos chegamos aos pés dos padrões
justos de Deus (Is 64.6).
É por isso que precisamos de um Salvador. Alguém que possa fazer por
nós o que somos incapazes de fazer por nós mesmos. Precisamos de alguém
que nos limpe e nos declare justos. Alguém que conquiste a salvação para
nós, que andamos cegos e mortos em pecado (Is 53.6; 2Co 4.4; Ef 2.1).
Enquanto isso, a impiedade continua vazando pela barragem da decência,
aumentando em volume e intensidade. Em algum momento a represa
certamente romperá, derrubando a última muralha de virtude. Acredito que o
arrebatamento da igreja é o evento que desencadeará essa inundação final de
impiedade. Paulo diz que nos últimos dias será revelado o Anticristo, um
homem descrito como agindo “segundo a ação de Satanás”, um “homem do
pecado” e “filho da perdição”. Ele terá poder para realizar “sinais e...
maravilhas enganadoras”. Mas ele não pode se levantar até que “seja
afastado aquele que agora o detém” (2Ts 2.3-9). Creio que este é o Espírito
Santo.76 É verdade que grande parte de sua obra no mundo acontece por meio
dos crentes, porque o Espírito Santo habita em todos os cristãos (Rm 8.9,11;
Jo 14.17,23). Sua presença e poder na igreja realizam grande parte da obra
de Cristo aqui na terra. É ele quem atualmente retém a impiedade,
impedindo o avanço global do pecado até os últimos dias. E ele está nos
usando nesse processo! No entanto, como estamos presenciando isso ao
vivo, pode ser difícil ver que diferença os cristãos fazem simplesmente por
estarem aqui.
Quando apresentou pela primeira vez o conceito da igreja em Mateus 16,
Jesus anunciou três verdades poderosas e fundamentais a respeito dela. Em
primeiro lugar, seria construída sobre a rocha da verdade, que é o próprio
Cristo. Em segundo lugar, é ele quem assume a responsabilidade por
construir sua igreja. E, em terceiro lugar, as “portas do Hades” não
prevaleceriam contra ela.77 Em outras palavras, a morte (nosso inimigo
definitivo) não tem poder sobre aqueles que confiam em Cristo, porque a
morte e a ressurreição de Jesus derrotaram a morte e o túmulo (Jo 11.25; Rm
6.9; 1Co 15.54-57; Hb 2.14; Ap 1.18)! Cristo usou essas palavras para
encorajar e consolar seus discípulos, especialmente em vista da sua futura
crucificação e daqueles que seriam martirizados por causa de sua fé. “Nem
mesmo a morte pode impedir o avanço da minha igreja!”, declarou.78
No começo de seu ministério, Jesus descreveu seus seguidores como “sal”
e “luz”, que, como tais, exerceriam função de preservação e iluminação no
mundo (Mt 5.13-14). Assim, a verdadeira questão é: que benefício real os
cristãos estão sendo para o mundo? E o que acontecerá quando nós (e o
Espírito Santo em nós) formos tirados daqui? Em primeiro lugar, precisamos
entender a diferença entre a igreja como instituição e a igreja como
seguidores autênticos de Cristo. A igreja é pessoas, não prédios ou
organizações. A instituição igreja tem recebido a culpa por muitos dos males
no mundo (preconceito, opressão, abuso de poder, má conduta sexual, desvio
de dinheiro e até mesmo uma parte das guerras).79 Mas ela também já
realizou muitas obras boas – estabelecendo orfanatos, fundando hospitais,
fornecendo alimentos e roupas para os pobres e providenciando recursos de
ajuda humanitária em diversos desastres no mundo todo; frequentemente,
está na linha de frente ao ajudar pessoas em situação crítica. Indivíduos
cristãos também já contribuíram significativamente para a humanidade, com
descobertas científicas pioneiras, promovendo educação avançada e
contribuindo para as artes e para mudanças sociais.80 Mas os ateus não fazem
isso também? E pessoas de outras crenças e religiões? Eles também não
ajudam a tornar este mundo um lugar melhor para viver? Sem dúvida.81 Mas,
como cristãos, nosso valor no mundo vai além de apenas realizar boas obras.
Como, então, o Espírito Santo em nós retém o mal e impede o espírito do
Anticristo antes da volta de Jesus para buscar sua noiva, a igreja?
Um dos ministérios do Espírito Santo é convencer as pessoas de sua
necessidade de salvação em Cristo e do juízo futuro (Jo 16.7-11).82 Essa
mudança de coração que ele opera é a principal forma como ele restringe o
pecado no mundo. À medida que nós, crentes, conversamos com outros a
respeito de Cristo, participamos dessa obra. Outra forma de contribuir é por
meio da nossa influência positiva e piedosa na cultura.
Tenho um amigo que é um dos dublês mais conhecidos de Hollywood –
ele trabalhou em muitos filmes campeões de bilheteria. Certa vez, perguntei-
lhe quão difícil era ser cristão na indústria cinematográfica, e sua resposta
me surpreendeu. Contou-me a respeito de vários cristãos muito fiéis
espalhados neste meio. Fiquei sabendo que há dublês, atores e diretores que
participam ativamente de estudos bíblicos e igrejas. Por incrível que pareça,
o mesmo vale para a capital dos EUA, onde senadores e congressistas que
servem a Deus e o país lutam por decência e moralidade. Outro amigo
próximo tocava numa banda famosa. As festas para as quais eram
convidados após os shows sempre incluíam muitas ofertas de pecado. Mas
quando este fiel era convidado, ele gentilmente recusava e, em vez disso,
optava por conversar sobre a vida, família e Jesus com esses fãs mais
influentes.
Como cristãos, é fácil desanimar quando vemos como as injustiças e os
erros só aumentam no mundo. Talvez até sejamos tentados a concluir que
Deus já nos abandonou, entregando a humanidade à ruína. Mas o Senhor
ainda não terminou sua obra no mundo. Ele está atuando por toda parte, em
todas as nações. Onde quer que haja gente, há também filhos de Deus e seu
Espírito trabalhando neles e por meio deles, impedindo o pecado e
promovendo seu reino. As palavras de João continuam sendo verdadeiras:
“... aquele que está em vocês é maior do que aquele que está no mundo” (1Jo
4.4).

Exterminando Deus Mesmo assim, Satanás


não vai simplesmente hastear a bandeira
branca da rendição. Ele também está
trabalhando duro para executar seu plano de
transformação para este planeta, a fim de
torná-lo um lugar totalmente ímpio (2Co 4.4).
Mas impiedade é mais do que apenas eliminar
a oração das escolas ou tirar os crucifixos das
repartições públicas. E, por mais honroso que
seja lutar por bons valores na nossa
sociedade, esquecemos que no primeiro
século os cristãos floresceram debaixo dos vis
e cruéis regimes romanos. Em países
cristianizados como os Estados Unidos e o
Brasil, a complacência e a liberdade muitas
vezes são ameaças bem maiores do que um
governo hostil. Proibir que se mencione Deus
nas escolas públicas ou banir os presépios das
decorações nos shoppings são apenas ecos
distantes da verdadeira estratégia de Satanás;
talvez nem passem de cortinas de fumaça ou
táticas para desviar nossa atenção. Na
verdade, seu principal plano de batalha
determina que ele e seu reino de soldados
demoníacos ataquem o coração do ser
humano. Sua estratégia continua sendo a que
Paulo delineia em Romanos 1 – levar as
pessoas a ignorar Deus (ver tb. 2Co 4.4).
Satanás estimula a humanidade a simplesmente dizer “vá embora, Deus”.
Ele alimenta um ambiente moral que se torna cada vez mais acessível a
praticamente qualquer coisa, enquanto se torna cada vez mais avesso e
verbalmente hostil aos cristãos e seu Cristo. À medida que a cultura e o
mundo se distanciam cada vez mais de Deus, aqueles que professam fé em
Jesus serão cada vez mais depreciados e excluídos. A questão da tolerância
será invertida, e os crentes se verão como objetos de escárnio e desprezo (Jo
15.18-27).
O que vemos atualmente é Deus sendo sistematicamente removido da
nossa cultura. Por todo o mundo, o ideal cristão está sendo estrangulado. Em
algumas áreas é mais sutil do que em outras, e em alguns países
praticamente não há mais qualquer vestígio de consciência a respeito de
Deus.
Certa vez, estava contando a história de Jesus a uma classe de
adolescentes europeus, e fiquei chocado ao descobrir que esses estudantes
nunca tinham sequer ouvido falar a respeito de Jesus ou Deus, e não tinham
nenhum conceito a respeito de quem ou mesmo do que ele é. As verdades
mais básicas que compartilhei eram informações totalmente novas para eles.
Apesar de ser surpreendente, percebo que isso também acontece em uma
nova geração de adolescentes e jovens adultos de meu próprio país. Muitos
cresceram em igrejas evangélicas e frequentaram regularmente cultos e
reuniões de jovens, e mesmo assim não têm conhecimento real sobre Jesus
ou sobre a Bíblia. Encontro esse fenômeno dentro da minha própria
comunidade, em que falta até mesmo uma compreensão rudimentar a
respeito de Deus. Em vez disso, há um amontoado de fatos mal comunicados
e mal compreendidos, verdades parciais e até mesmo mentiras descaradas
sobre Jesus. E praticamente nenhum conhecimento sobre o cristianismo, a
Bíblia e como ir para o céu... se é que ele existe. A “igreja” deles é seu grupo
de amigos. Sua bíblia é a internet. Seu pastor, as redes sociais. E seu deus
normalmente é uma mistura de filosofias e fé, ou alguma moralidade pessoal
relacionada à vida que mais parece uma colcha de retalhos. Ou, pior ainda,
estão profundamente concentrados em si mesmos, já tendo percorrido um
bom pedaço no caminho que leva ao abandono total por Deus.
Mas, em vez de acusar o governo, as escolas, o liberalismo e a agremiação
local de ateus, o verdadeiro culpado por essa expulsão cultural de Deus é a
própria igreja. Contentamo-nos em comer uma vez por semana no bufê
dominical de verdades onde também encontramos nossos amigos, mas nos
mantemos em silêncio e distantes das vidas de nossos conhecidos que estão
perdidos. O motivo pelo qual as pessoas de hoje sabem tão pouco a respeito
de Deus é porque os cristãos que conhecem (se é que conhecem algum)
sofrem de uma misteriosa amnésia e laringite seletiva quando se trata de
falar de Jesus aos outros. Ou não têm informações ou habilidades suficientes
para ajudar alguém a conhecer Cristo. Achamos que basta não tomar porres
no bar da esquina ou não dormir com meio mundo para que os não cristãos
notem a diferença e comecem a acorrer à nossa igreja aos domingos para ter
o que nós temos. Pensamos que testemunhar de Jesus é compartilhar
postagens de blogs conservadores ou algum videozinho sentimental de uma
página cristã. Estamos contentes por levar vidas boas, lançando, de vez em
quando, uma granada evangélica por cima do muro... a uma distância segura,
claro.
Enquanto isso, o mundo continua correndo ladeira abaixo, sem noção da
tempestade global que está se formando.
Embora os cristãos sejam, por natureza, sal e luz, também somos craques
em esconder o saleiro e diminuir a luminosidade das lâmpadas. No entanto,
como a maré da impiedade continua subindo, talvez descubramos que
simplesmente jogar um salva-vidas evangélico a quem está se afogando
provavelmente será inócuo e tarde demais. Como um cadáver, nosso mundo
está se decompondo lentamente, em um processo atrasado apenas pelo
Espírito de Deus trabalhando em seus povo, adiando o juízo inevitável.83
O mundo de Noé não começou sem Deus, mas certamente terminou
assim.
Olhe em volta. Para onde você acha que estamos indo?
E o que você está fazendo a respeito?
6

UM HISTÓRICO
DE VIOLÊNCIA
Saiba disto: nos últimos dias... os homens serão... cruéis...
2Timóteo 3.1-3

Não é segredo que, ao longo dos tempos, a nossa civilização manteve-se


mergulhada em sangue e horror. Nações bárbaras antigas e grupos
populacionais inteiros massacraram uns aos outros em nome da
sobrevivência ou da conquista. Na Mesopotâmia e entre os maias, eram
comuns os sacrifícios humanos aos deuses. Reinos medievais criaram uma
cultura de medo em que tanto criminosos como dissidentes eram torturados,
estripados, esquartejados ou pendurados numa forca. Os vikings
atravessavam oceanos para queimar aldeias, pilhar vilarejos e estuprar
mulheres. Passamos por lutas civis, guerras mundiais, revoluções e conflitos
regionais. De tribos em guerra a cartéis de drogas latino-americanos a
atentados a bomba em eventos públicos, é difícil encontrar um lugar ou povo
no planeta que já não tenha sido obrigado a enfrentar violência.
Mas não é necessário viajar para Medellín ou Detroit para encontrar
derramamento de sangue. Ela se manifesta no nosso próprio quintal, uma
vez que nem mesmo os moradores de cidades menores estão a salvo de
tragédias como tiroteios aleatórios em escolas.
O solo está suficientemente vermelho de sangue.
A contagem histórica de mortos só aumenta, já atingindo os bilhões.
Alguém pode argumentar que, de forma geral, somos mais civilizados que
nossos antecedentes bárbaros. Mas, ainda que não queimemos mais pessoas
em praça pública, os governos de alguns países, como o Irã e a Coreia do
Norte, continuam promovendo execuções públicas brutais.84 Ainda assim,
muitos pensam que estamos melhorando, que hoje há menos violência do
que em qualquer outro momento da história.85 Esse otimismo humanista
brota de uma perspectiva evolutiva ultrapassada, que por fim nos dá um
senso equivocado de falsa esperança. É como a proclamação de Neville
Chamberlain em 1938, acenando com o Acordo de Munique: “Paz para o
nosso tempo”. Menos de um ano depois, o Reino Unido entrava na Segunda
Guerra Mundial. Na verdade, é quando a bandeira da paz tremula com
orgulho que enfrentamos as maiores ameaças. Será que não aprendemos
nada de todos esses anos de história registrada?
A violência em escala mundial pode até oscilar, mas, a despeito dos
nossos melhores esforços em busca da paz, os conflitos sangrentos
continuam existindo em parte porque o mal e as pessoas más existem. A paz
mundial é um alvo digno, mas paz mundial absoluta é praticamente
impossível. Na verdade, diz-se que, ao longo dos últimos 3 421 anos, houve
apenas 268 sem guerra.86 Isso significa que o mundo enfrentou guerras em
mais de 92% do tempo! Aparentemente, a sede de sangue não é limitada a
vampiros. Mas, no ponto em que a psicologia da evolução falha, a verdade
bíblica assume seu dever, evitando que sejamos seduzidos à complacência
ou que caiamos na armadilha do raciocínio equivocado de que as pessoas
estão ficando melhores. Nós não apenas não estamos melhorando, como
estamos nos aproximando do nosso pior momento em toda a história. Nossa
espécie continua plenamente capaz de todo tipo de selvageria, como
demonstram alguns dos atuais países do Oriente Médio. E ainda veremos
que nós, ocidentais, apreciamos nossa dose de barbárie acompanhada de
sofisticação e ciência. Podemos ser mais civilizados, mas não somos mais
gentis.
Não muito tempo atrás, ao visitar El Paso, no Texas, eu dirigia pela US-
85, acompanhando o rio Grande. Do ponto onde estava, via com clareza a
Ciudad Juárez, no México. Na beira do rio, uma cerca alta e uma estrada
estreita são tudo o que separam os EUA daquela que, até recentemente, era
chamada de “a cidade mais perigosa do mundo”. Em 2010, registrou-se em
Ciudad Juárez o número recorde de mais de três mil homicídios, a maior
parte em decorrência da violência dos cartéis de drogas.87 Enquanto isso, em
El Paso, do outro lado da fronteira, é de conhecimento geral que as
montanhas próximas estão pontilhadas pelas casas dos chefes menores
desses cartéis, ostentando os frutos de sua violência. Esses chefões da
cocaína geraram uma cultura de violência que chega às raias da pura
selvageria. Cidades como Juárez nos deixam incrédulos e cheios de medo,
assim como fazem também outras cidades perigosas na América Latina e
nos EUA. Essas capitais do crime se levantam na paisagem como vulcões de
violência, com erupções repentinas e inesperadas, e quem vive nas suas
proximidades está debaixo de um constante e sinistro mau presságio. Para a
maioria de nós, no entanto, essa atividade violenta é mais aleatória que
regular, algo que normalmente “só acontece com os outros”. E isso nos dá
um senso de segurança e estabilidade. Pelo menos por enquanto.
Contudo, as páginas da história estão manchadas de sangue, pois nossa
raça está familiarizada demais com matanças e carnificinas. Dificilmente
passa um dia sem que sejamos bombardeados com notícias a respeito de
algum tipo de comportamento violento – homens-bomba, ataques terroristas,
tiroteios entre gangues, homicídios, assaltos a mão armada, crimes de ódio
de motivação racial ou abuso doméstico. Esse comportamento é tão
disseminado que dificilmente ficamos chocados ou surpresos ao vê-lo nas
manchetes. Por outro lado, também nos tornamos uma cultura de
observadores curiosos, chegando até a desenvolver um certo apetite
voyeurístico por violência. E nosso anseio foi ouvido: a indústria da mídia
gasta milhões de dólares para produzir filmes, reality shows sobre policiais,
documentários sobre assassinos em série e relatos sobre crimes passionais.
Tudo isso é enviado via cabo diretamente para as nossas salas, onde
interrompemos nossos afazeres com mórbida curiosidade para sermos
entretidos por esses programas. Talvez fiquemos chocados com o que vemos
– mas aparentemente não o suficiente para mudar de canal. Há quem
argumente que essa cultura midiática violenta acaba inspirando os
imitadores na vida real.
Mas de onde vem essa dessensibilização? Por que somos tão indiferentes
à violência humana? Como ficamos tão anestesiados? Ainda que façamos
dos filmes e dos jogos de computador violentos os nossos bodes expiatórios,
por mais culpados ou cúmplices que sejam, não são eles, por si sós, que
empunham a arma. Nossa tolerância por violência gratuita não pode ser
atribuída à mídia. Afinal, a violência produz manchetes, e esse tipo
sensacionalista de “últimas notícias” praticamente garante picos altos de
audiência. Os produtores de mídia jornalística, filmes e programas de TV
alegam que estão apenas fornecendo o que o público quer ver. Enquanto
esses programas e filmes continuarem dando lucro, eles continuarão a ser
feitos. Seja como for, nossa obsessão por tirar a vida vai bem mais fundo, já
que a violência parece correr em nossas veias como o próprio sangue.
Vida Banalizada Um dos muitos efeitos
colaterais de ignorar Deus é o fato de que isso
sem dúvida desvaloriza a vida humana. Se
não há Deus, então também não há um
Criador Supremo que dê ao ser humano o seu
valor intrínseco. Resta apenas um valor
relativo. Em outras palavras, longe de Deus, o
real valor de uma pessoa é determinado por
um padrão variável baseado nas leis e na
moralidade da sociedade ou civilização. Por
exemplo: há meros 150 anos, afro-americanos
eram comprados e vendidos como
propriedade nos Estados Unidos.88 Ao longo
da história, a escravidão humana existiu de
alguma forma em praticamente todas as
culturas e povos. Quando uma etnia ou classe
consegue dominar sobre outra, determinados
grupos étnicos ou nacionalidades acabam
sendo classificados como tendo menos valor
que outros, sendo então relegados a uma
posição de segunda classe, considerados
inferiores e menos dignos. Os sistemas de
valor flutuantes defendidos por diferentes
culturas ou grupos são o que supostamente
justificam a dominação e os maus tratos
impostos a outros, ou, no mínimo, o que
promove forte preconceito e discriminação.
No entanto, a não ser que haja uma autoridade absoluta determinando um
padrão de valor universal para toda a humanidade, essa atitude e a
desvalorização da vida continuarão. A nossa geração atribui valor (ou
ausência dele) a determinadas pessoas com base em sua utilidade ou em
nossa percepção a respeito de seu mérito. Algumas pessoas simplesmente
são vistas como mais valiosas. E, quando Deus fica de fora da equação,
nossa compreensão a respeito da dignidade humana é naturalmente
distorcida. Em casos assim, a lei e a prática da sociedade são determinadas
pela opinião popular ou pelo partido político que tiver os melhores
defensores.
No fim das contas, essa prática conduz a uma inversão do bom senso e à
cauterização da consciência humana. De que outra forma poderíamos
explicar uma civilização que defende vigorosamente o prolongamento da
vida de hediondos assassinos em série ao mesmo tempo em que luta para ter
o direito de colocar um fim nas vidas de crianças inocentes? Marchamos
para impedir que homens maus sejam executados enquanto impomos
sentenças de morte a bebês não nascidos pelo simples fato de existirem.
Antes mesmo que o bebê tenha a chance de respirar, nós furiosamente
defendemos o “direito” da mulher de tirar a vida de seu filho indesejado.
Tristemente, a advogada designada para proteger e cuidar dessa vida (a mãe)
torna-se cúmplice dessa sentença de morte, interrompendo o trabalho de
Deus (Sl 139.13-16).89 Os defensores da liberdade de escolha costumam citar
os exemplos extremos do estupro ou do incesto como justificativa para o
aborto.90 É claro que estupro é errado. Sempre. Sem exceção. E a Bíblia o
condena de forma explícita (Dt 22.13-29). E o incesto é moralmente
deplorável. Sempre. Sem exceção (Lv 18.6; 20.11-14). No entanto, até o
estuprador tem direito a um julgamento, a um advogado e a se defender. Mas
quem é que fala pelos que ainda não sabem falar? Quem assume seu caso e
defende seu direito à vida? Aborto é um assunto controverso, e ele não
desaparecerá. Assim como não desaparecerá a desvalorização das pessoas
nem a violência contra a humanidade. Como vimos no capítulo 4, virá o dia
em que os próprios cristãos serão considerados como seres que não merecem
viver.
Embora políticos, ativistas e a mídia tenham politizado o aborto como
sendo uma questão do direito da mulher, ele é, essencialmente, mais uma
questão da vida em si do que da escolha feminina. Quando se desconsidera
Deus, as pessoas se tornam descartáveis porque não há padrão divino para
determinar seu valor. A história ensina que normalmente é o governo e o
espírito da época que decidem quanto as pessoas valem. Em caso de dúvida,
basta lembrar dos judeus na Alemanha nazista ou consultar quem
testemunhou o massacre de um milhão de tutsis no genocídio de Ruanda, em
1994.91 Ambos eram grupos indesejados. Foram classificados como sub-
humanos ou não merecedores de vida. Repito: sem o padrão de Deus, resta-
nos apenas uma escala variável de moralidade humana. É por isso que Deus
teve de ordenar que não matássemos uns aos outros, enfatizando em especial
que não se deve derramar sangue de inocentes (ver Pv 6.17; 31.8-9). Sem o
Senhor, acabaríamos por aniquilar uns aos outros.
Em 2008, mais de 43 milhões de crianças não nascidas foram destruídas
no mundo todo.92 A China chega a praticar o aborto forçado.93 É um assunto
volátil e polêmico, que desperta opiniões fortes de ambos os lados. Mas que
tipo de nação inclui em sua lei escrita a regra de que a escolha de uma
pessoa prevalece sobre o direito à vida de outra? O fato de simplesmente ser
indesejado, não planejado e não nascido é justificativa suficiente para ser
exterminado? Esse tema delicado causa uma divisão séria entre nós, mas por
quê? Por que não há uma resposta simples e óbvia para esse problema?94
Desde 1980, mais de um bilhão de vidas inocentes já foram tiradas, por
terem sido consideradas indignas de viver. Será que suas almas estão no céu,
clamando a Deus por justiça? Quantos bebês não nascidos ainda vão morrer
antes que Deus vingue o sangue deles e dê início ao seu dia do juízo?95 Não
matamos em apenas 34 anos mais bebês do que as pessoas de todas as idades
que a geração de Noé matou ao longo de centenas de anos? Isso é prova do
que acontece com uma civilização que joga a santidade divina da vida pela
janela. É outro exemplo de Romanos 1 – ignorar Deus e amar a si mesmo.
A etiqueta de preço da vida humana está sendo alterada: enquanto em
alguns casos o valor aumenta muito, outros vão sendo jogados no cesto da
liquidação. Hoje há pessoas que festejam como bom o direito de dar fim à
vida – como parte dos direitos da mulher. Isaías advertiu seu próprio povo
em relação à sua moralidade degradada, declarando: “Ai dos que chamam ao
mal bem e ao bem, mal...” (Is 5.20; ver tb. Pv 17.15). A moralidade está de
cabeça para baixo, e Deus punirá isso.
É ingenuidade pensar que isso não levará ao ponto de que tal
desvalorização seja estendida também a outras vidas – separando pessoas
por idade, etnia, religião, deficiências físicas ou mentais – qualquer um cuja
“qualidade de vida” ou valor para a sociedade esteja abaixo da nossa sábia
avaliação. Se isso aconteceu no passado, por que não poderia acontecer
novamente? E vai acontecer. Quando seres humanos de qualquer idade,
etnia, religião ou condição física se tornam “indesejáveis”, nós nos tornamos
iguais a quem justifica genocídios. Assassinar um bilhão de pessoas de
várias etnias por acaso nos torna melhores que o ditador maligno que mata
sete milhões de uma só? Por acaso a humanidade de hoje é menos
merecedora de juízo do que aqueles que Deus destruiu no Dilúvio?
É verdade que não há caminho de volta, e o direito de interromper a
gravidez é protegido por lei. Recusando-nos a aceitar o padrão moral divino,
redefinimos quando a vida em si começa. Alteramos a escala e mais uma vez
remarcamos os preços. Hoje em dia, seria mais fácil reinstituir a Lei Seca
nos EUA do que banir o aborto. Ele veio para ficar, mas, da mesma forma,
permanecem presentes aqueles que continuarão lutando por leis favoráveis
aos não nascidos e por ajuda para jovens mulheres que enxergam o valor e a
beleza da vida humana.
No que talvez seja um dos versículos mais tristes da Bíblia, o autor de
Juízes relata: “Naqueles dias, Israel não tinha rei; cada um fazia o que
parecia certo a seus próprios olhos” (Jz 21.25, NVT, ênfase acrescentada).
Na ausência de um governo sábio, submisso a Deus e justo, que honre o
Criador, a moralidade é leiloada ao maior lance e à opinião da maioria.

Cortando Mais Fundo Quando entregou a


Moisés as diretrizes básicas para a vida da sua
época, Deus as dividiu em dois grupos –
relacionamento com Deus e relacionamento
com o próximo. O primeiro e principal desses
relacionamentos humanos é a relação entre
pais e filhos. Honrar pai e mãe era primário
porque o Senhor queria que a percepção da
criança a respeito de Deus viesse da mamãe e
do papai. Embora a ordem em si seja dirigida
aos filhos, este quinto mandamento implicava
uma grave responsabilidade paterna.
Imediatamente após seu primeiro
mandamento sobre os relacionamentos
humanos, Deus ordena que seus filhos não
matem uns aos outros. Ele sabia que a
violência é a solução-padrão do coração
pecaminoso para resolver conflitos, desabafar
a frustração, vingar o ciúme e satisfazer a ira.
Jesus também entendia isso, e ampliou o
mandamento, revelando assim a raiz bem
mais profunda da inclinação humana à
brutalidade: Vocês ouviram o que foi dito aos
seus antepassados: “Não matarás”, e “quem
matar estará sujeito a julgamento”. Mas eu
digo a vocês que qualquer que se irar contra
seu irmão estará sujeito a julgamento.
Também, qualquer que disser a seu irmão:
“Racá”, será levado ao tribunal. E qualquer
que disser: “Louco!”, corre o risco de ir para
o fogo do inferno. (Mt 5.21-22) Com essas
palavras registradas no Sermão do Monte,
Jesus nos oferece um tremendo entendimento
a respeito da principal motivação de Deus
para dar os Dez Mandamentos. Seu plano
original pretendia mais do que apenas
controlar comportamentos maus ou violentos.
Ele não estava apenas demonstrando nossa
incapacidade de obedecer consistentemente
aos padrões morais mais primitivos. O
objetivo de Deus era, e sempre foi, alcançar o
coração. E por quê? Porque todos nós temos
um problema no coração.
Em 2011, ocorreram mais de 1 200 000 crimes violentos na América, e a
cada ano registram-se cerca de 15 mil homicídios.96 Isso inclui violência
doméstica, conflitos armados, brigas entre gangues, assaltos e praticamente
todo tipo de violência que cause morte.
Desde o princípio, a predisposição humana ao comportamento violento
não era mais do que uma expressão exterior de um problema interior bem
mais sério. Somos inclinados à brutalidade. E, ainda que as leis e as punições
sejam freios bons e necessários na sociedade civilizada, Deus vê mais do que
apenas números e estatísticas criminais. Ele enxerga o coração da
humanidade.
A verdadeira espiritualidade não se concentra tanto na restrição de ações
exteriores quanto na transformação do interior da pessoa. Nosso problema
vai bem além do mau comportamento. O problema está na situação das
nossas almas. É isso que a liderança religiosa da época de Jesus não
conseguiu entender. Suas tradições rabínicas davam atenção excessiva ao
comportamento exterior, deixando de lado as escrituras do Antigo
Testamento que se dirigiam ao coração (Sl 51.6; 1Sm 16.7).
É por isso que Jesus equipara ira e menosprezo ao próximo com
assassinato. Mas de que forma essas coisas estão relacionadas? O que elas
têm em comum?
Como já vimos, o primeiro ato violento no planeta foi um homicídio
brutal (ver Gn 4.8). O assassinato de Abel demonstra que havia algo de
errado conosco desde o momento em que Adão e Eva caíram em pecado.
Nossa inclinação humana para o comportamento violento deriva de um
estado “desesperadamente corrupto” (Jr 17.9, NAA). O ataque mortal de
Caim ao seu irmão brotou de um coração consumido pela inveja e pela
amargura. Estas rapidamente evoluíram para o ódio, que levou à violência.
Mas Caim não seria o último criminoso violento, e certamente não o único
personagem bíblico famoso a cometer homicídio. Tanto Moisés quanto Davi
fazem parte desse grupo. Se aplicarmos o padrão de Jesus a outros
personagens das Escrituras, muitos mais cometeram o mesmo pecado em sua
ira interior. Da perspectiva divina, nossas posturas e emoções importam
porque são o que nos motiva a agir como agimos, para o bem ou para o mal.
Além disso, na maioria das vezes, é a ira que gera o pecado do assassinato.
Ao nos chamar para seguir um padrão mais elevado, Jesus desafiou o
status quo de seus dias. Os líderes religiosos de sua geração estavam muito
mais preocupados de que suas ações fossem vistas como justas do que seus
corações. Bem mais tarde em seu ministério, Jesus dirigiu-se diretamente a
esses líderes, declarando: Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas!
Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão
cheios de ossos e de todo o tipo de imundície. Assim são vocês: por fora
parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e
maldade. (Mt 23.27-28) Fica claro que o objetivo de Jesus não era
conquistar o favor dos fariseus nem ganhar competições de popularidade.
Por causa de sua divina e completa dependência do Pai, ele via além da
fachada exterior deles (Jo 14.10,31). Os cristãos podem se sentir tentados a
pensar que são melhores do que outras pessoas apenas por apoiarem os
direitos de não nascidos ou por não serem violentos. Mas essa é a armadilha
dos fariseus, que o próprio Satanás prepara. Ao mesmo tempo em que
mantemos uma aparência e um estilo de vida respeitáveis, nós cristãos
podemos, sim, abrigar vícios ocultos e atitudes cáusticas em relação a outras
pessoas. E somos muito capazes de cultivar ódio. Os cristãos estão sujeitos a
ter momentos e até fases de ira. Às vezes, o farisaísmo e o ódio fazem com
que a linha que divide crentes de não crentes se torne indistinguível. Eles
podem manifestar-se contra muçulmanos, minorias, homossexuais e pessoas
de opiniões políticas divergentes. Podem até demonstrar raiva contra outros
cristãos – ao mesmo tempo em que mantêm uma ilusão exterior de
espiritualidade e santidade (ver 2Tm 3.5). Embora esses pensamentos e
emoções cheios de ódio possam não nos acarretar uma acusação legal de
assassinato ou agressão, aos olhos de Jesus estamos no mesmo nível
daqueles que cometem esses atos. Ao mesmo tempo, entristecemos o
coração do próprio Deus (ver Ef 4.30-31).
Se não reconhecermos a fonte do nosso pecado, passaremos a vida
aplicando curativos cristãos e receitas religiosas ao nosso comportamento,
mas nada disso curará o coração. Será como tentar apagar um incêndio
florestal com uma pistola de água. Em Marcos 7, Jesus também trata do
cerne deste problema. E, mais uma vez, seu alvo são nossos falsos amigos,
os fariseus. Depois de chamá-los de “hipócritas” e amadores que torcem,
distorcem e interpretam mal a Palavra de Deus (v. 6-8,13), ele dá o golpe
final, afirmando que o verdadeiro problema deles era o fato de terem
corações maus (v. 15).
Essa doeu.
Mais tarde, os discípulos de Jesus interpelam-no em particular a respeito
do que ele tinha dito, levando-o a elaborar a ideia: O que sai do homem é
que o torna impuro. Pois do interior do coração dos homens vêm os maus
pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os
adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a
calúnia, a arrogância e a insensatez. Todos esses males vêm de dentro e
tornam o homem impuro. (Mt 7.20-23, ênfase acrescentada) Jesus apresenta
aqui uma lista e tanto de pecados. Ele afirma que o mesmo coração produz
tanto a insensatez quanto a imoralidade sexual. Pensamentos invejosos e o
mal vêm do mesmo lugar. Assim como orgulho e assassinato. Cada uma
dessas coisas não provém do mundo malvado ou do Diabo, mas de dentro do
coração do homem. “E é isso”, diz Jesus, “que deixa vocês impuros”. Como
seres humanos, nosso problema não é primariamente algo “lá fora”, mas o
que está “aqui dentro”.
Não são eles. Somos nós.97
Derramamento de sangue e violência no mundo não passam de sintomas
da violência epidêmica no coração humano. João advertiu os cristãos de sua
época: “Quem odeia seu irmão é assassino...” (1Jo 3.15). Ira, ódio e
amargura são uma trindade profana de pecados do coração, tão potentes
como veneno. E igualmente mortais.
É claro, vemos a violência exterior em nossa cultura e, como cristãos,
ansiamos por uma solução, colocando nossas esperanças em um monte de
coisas erradas, como governo, legislações, boicotes e partidos políticos. O
problema é que nada disso tem o poder de realizar a única coisa de que
nosso mundo realmente precisa – transformar corações.
Porém, como mudar corações requer arregaçar as mangas e sujar as mãos,
muitos de nós preferimos nos manter a uma distância segura. Continuamos
presos ao espírito farisaico em nós. Gostamos de nos sentir bem a respeito de
nós mesmos, especialmente quando isso faz com que nos sintamos
“melhores” que outros. É por isso que é muito mais fácil escrever um textão
nas redes sociais do que começar um relacionamento significativo com um
não cristão. Dá muito menos trabalho postar um tuíte conservador do que dar
apoio a uma adolescente solteira e grávida. É mais simples reclamar dos
males da violência do que trabalhar como voluntário em alguma instituição
que atenda jovens em situação de risco. Mais fácil repreender do que escutar.
Mais fácil compartilhar sua opinião do que sua fé. Desabafar sobre o que
acontece de errado talvez nos ajude a nos sentir bem, mas não produz
mudança real.
Uma das razões específicas para Deus ter mandado o Dilúvio era a
violência pandêmica na terra durante a vida de Noé. Na ausência de Deus e
das restrições morais, a violência estava desenfreada. As pessoas atacavam e
matavam umas às outras por toda parte. Com a carnificina fora de controle, o
solo ficou rubro. E Deus teve de limpar tudo, lavando-o com as águas do
juízo. Mas, do ponto de vista espiritual, este era apenas um planeta repleto
de corações podres exibindo todo o seu egoísmo de formas palpáveis e
destrutivas. A violência irrestrita era a manifestação exterior de um mundo
cheio de almas ímpias e permeadas de pecado. A ira coletiva da humanidade
e as subsequentes agressões provocaram a fúria justa de Deus. E,
considerando a extensão de sua violência, estavam em risco a preservação e
a sobrevivência da humanidade em si. Deus teve de fazer algo.
Ao debater o problema da violência no contexto moderno, pacifistas
extremados muitas vezes posicionam-se como tendo uma moralidade mais
elevada e mais nobre até do que a encontrada nas Escrituras, em especial no
Antigo Testamento. Mas, como demonstra Deus, infelizmente às vezes a
violência é necessária para interromper a ação dos maus ou para preservar
uma nação.98 Se não se recorresse a guerras justificadas ou ao uso de força
para defender vidas inocentes, apenas os maus venceriam. Vivemos em um
mundo no qual, a despeito das nossas leis e da pressão social, não é possível
proteger-se totalmente contra o ódio e a violência. Quando a humanidade
deixa de reconhecer a existência de Deus, desrespeitando a autoridade divina
e a humana também, é inevitável que haja derramamento de sangue.
O ódio epidêmico e descontrolado e a violência injusta da época de Noé
atraíram e incitaram a vingança divina. Essa magnitude de morte só será
equiparada pela carnificina profetizada para os tempos finais.99 A questão é:
quanto falta para esse momento chegar?, e: considerando a nossa cultura de
violência, tanto a aceita quanto a condenada, estamos nos aproximando do
juízo? O veredito já foi decidido. Assim como foi nos dias de Noé, o mundo
de hoje é culpado de assassinato, mas quando a sentença será executada? Por
quanto tempo poderemos continuar nessa brutalidade antes que Deus diga:
“Chega!”, e a fúria final comece?
7

CINQUENTA TONS
DE IMORALIDADE
Saiba disto: nos últimos dias... os homens serão... amantes dos
prazeres...
2Timóteo 3.1-3

Se você fosse o Diabo e quisesse destruir o plano do Criador para a


humanidade, o que faria para atingir seu objetivo? Qual seria seu plano?
Como você implementaria sua estratégia? Devido à armadilha bem-sucedida
de Satanás no Éden, a humanidade caiu, transformando duas pessoas
perfeitas naquilo que se tornaria um verdadeiro planeta de pervertidos. Sua
história ficou assim: Ora, a terra estava corrompida aos olhos de Deus e
cheia de violência. Ao ver como a terra se corrompera, pois toda a
humanidade havia corrompido a sua conduta, Deus disse a Noé: “Darei fim
a todos os seres humanos, porque a terra encheu-se de violência por causa
deles. Eu os destruirei com a terra”. (Gn 6.11-13, ênfase acrescentada) A
palavra hebraica do Antigo Testamento traduzida como “corrompido” é
shachath, que literalmente significa “destruir”, “arruinar-se” ou
“deteriorar”.100 Ao se corromper, o ser humano também arruinou a terra,
poluindo com o pecado o mundo que Deus tinha providenciado para a
humanidade. Moisés faz aqui um jogo de palavras, usando o mesmo termo
para descrever o que o ser humano tinha feito a si mesmo (destruir,
corromper) e o que Deus faria com ele (destruir). Em outras palavras: “Você
destruiu minha terra e aqueles a quem eu criei, por isso vou destruir você
junto com a terra”.
A mesma palavra aparece novamente mais tarde, para descrever a nação
de Israel quando Moisés desceu do monte Sinai. “Então o SENHOR disse a
Moisés: ‘Desça, porque o seu povo, que você tirou do Egito, corrompeu-se’”
(Êx 32.7, ênfase acrescentada).
Durante os 40 dias que Moisés passou no topo da montanha, que foram
uma espécie de seminário, os israelitas no acampamento estavam
promovendo uma embriagada orgia nacional, corrompendo a si mesmos.101
Infelizmente, não seria a última vez que a nação se dedicaria à imoralidade
sexual em massa.102
Considerando a extensão da corrupção humana durante os dias anteriores
ao Dilúvio e as perversões vis e demoníacas que vimos no capítulo 1 deste
livro, o que se forma aqui é um retrato de libertinagem global. O sexo
saturava todas as sociedades, e as pessoas pensavam constantemente nisso
(Gn 6.5). Era o que ditava suas ações e determinava seus relacionamentos. A
trilha sonora de suas vidas pecaminosas.
O plano de Satanás estava funcionando e tudo corria dentro do prazo. Isso
acontece porque ele conhece a humanidade, e essas informações
privilegiadas o ajudaram a traçar sua estratégia de corrupção. Mas que
informação especial era essa? Ao estudar a criação original, descobrimos
três verdades fundamentais a respeito da humanidade: 1. O homem foi
criado à imagem de Deus – pensamos, sentimos, escolhemos e temos a
capacidade de cultivar relacionamentos; 2. O gênero masculino foi criado de
forma única e distinta do gênero feminino; 3. O homem foi feito para a
mulher, e a mulher, para o homem – tanto física quanto emocionalmente.
Assim, se você é o anjo mais importante já criado e foi expulso do céu por
causa de um motim fracassado, é natural que agora cultive um ódio mortal
contra Deus e tudo o que está ligado a ele. E nada está mais próximo do
coração do Criador do que sua criação e aqueles a quem ele ama (Dt 32.10-
11; Is 43.4; Zc 2.8; Jo 3.16; Rm 5.8). Atinja seus amados, e você terá
atingido Deus bem no coração.
Portanto, essa entidade maligna, espreitando furtivamente o Éden, calcula
desde o começo com inteligência o seu plano para destruir o ser humano. Em
primeiro lugar, planta sementes de dúvida em relação à bondade e provisão
de Deus: “Foi isto mesmo que Deus disse...?” (Gn 3.1, ênfase acrescentada).
Em seguida, vem uma mentira descarada, adoçada com alguns borrifos de
verdade – “Certamente não morrerão... vocês, como Deus, serão
conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.4-5).
O casal do Éden mordeu a isca, devastando não apenas a si mesmos, mas
também o lindo reino e as criaturas que Deus tinha feito para eles. A
primeira fase do plano de Satanás estava completa. Vamos agora à segunda
fase. Se você quer destruir alguém, não perca tempo com questões
periféricas. Em vez disso, vá direto na jugular. Destrua sua identidade. Nesse
inédito roubo de identidade na história, o pecado agora ludibria Adão e Eva
a acreditarem em uma mentira a respeito de si mesmos, o que lhes acarreta
amnésia espiritual. Depois da Queda, em vez de correrem para pedir ajuda
do Pai, eles se apressam para se esconder dele. Em vez de confiarem na
identidade que ele lhes dera, criaram identidades substitutas para si com
folhas de figueira (Gn 3.7-8). Em vez de crerem que eram amados, seus
corações se encheram de medo (Gn 3.10).
Com a confusão instalada, a cabeça de Adão e Eva ficou desorientada em
relação a quem eles eram. Havia uma avaria em seu raciocínio. Nasceu o
vício no pecado. E essa família ainda sofreria uma recaída antes de se
estabilizar.103 Enquanto isso, Satanás, a despeito de ter sido amaldiçoado por
Deus, não serpenteou para longe, em completa derrota. Em vez disso, seu
ódio apenas aumentou, em especial em relação às mulheres (Gn 3.15). A
corrupção espalhou-se pela raça humana, com velocidade cada vez maior,
multiplicando-se nas mais variadas mutações e perversões. O plano
magistral de Satanás estava tomando forma.
Como vimos, o cerne da identidade do ser humano é que fomos criados à
imagem de Deus. Fomos feitos para nos conectar naturalmente com ele e
entender a vida a partir dele. Mas o pecado causa um curto-circuito que nos
desconecta de Deus. Não dispostos a encontrar nossa verdadeira identidade
nele, somos forçados a inventar uma ou encontrar outra que “sirva”. Começa
a terceira fase da estratégia de Lúcifer para estragar a humanidade. Dando
ainda mais vazão ao seu ódio mortal contra Deus, ele passa a mirar em nossa
identidade sexual. Se conseguir semear confusão em nós a respeito de quem
e o que somos, os efeitos de longo prazo serão devastadores. E a sexualidade
é a janela perfeita para ele se esgueirar, plantando dúvidas adicionais a
respeito da bondade de Deus e do que traz realização à nossa vida.
Somos criados como seres sexuais, e Deus quer que experimentemos
nossa sexualidade. Esse Criador infinitamente sábio também projetou um
contexto para ela (Gn 2.22-25). É óbvio que homem e mulher foram feitos
um para o outro, tornando-se “uma só carne” por meio do sexo, uma bela
imagem de intimidade. No entanto, os planos de Satanás requerem uma
alteração nesse projeto, e para isso ele usa um ilusionismo verbal idêntico ao
que aplicou no jardim. “Deus realmente fez você para uma só mulher? Deus
realmente criou você para o sexo oposto? Será que você realmente é um
homem... por dentro? Veja, Deus sabe que você vai encontrar verdadeira
realização se procurar satisfazer o que você sente.” Dessa forma, o Diabo
persuade a humanidade a buscar a realização sexual fora do projeto original
do Senhor. Ele pega um desejo natural e bom e tenta a humanidade a usá-lo
de forma ímpia. Além disso, do ponto de vista físico, o sexo é bom
independentemente de quem é o parceiro. Seu corpo não tem como saber se
você está na noite de núpcias, em um quarto de hotel, em uma viagem de
negócios ou dentro de um carro. Só sua mente e seu espírito sabem essas
coisas.

Relatório da Situação Outra razão para que


Satanás mire nossa identidade sexual é
porque o desejo físico por sexo é muito forte,
muitas vezes ficando atrás apenas do respirar
e do comer. A poluição humana pré-histórica
da sexualidade combinava confusão e
curiosidade temperadas com luxúria. Na
época de Noé, certamente já havia todo tipo
de corrupção, incluindo a homossexualidade.
Poucas centenas de anos depois do Dilúvio, a
mesma corrupção já se espalhara novamente,
como se vê na acusação que a Escritura faz a
uma civilização de cidades-gêmeas ao sul do
mar Morto. Assim como com Noé, havia
apenas um homem justo ali. Seu nome era Ló.
De acordo com o precedente fixado
anteriormente no Dilúvio, o plano de Deus
demandava o resgate do justo antes de enviar
o catastrófico juízo. O Senhor disse: “As
acusações contra Sodoma e Gomorra são
tantas e o seu pecado é tão grave” (Gn 18.20).
Os homens de Sodoma eram descritos como “extremamente perversos e
pecadores contra o SENHOR” (Gn 13.13). Judas conta: “De modo semelhante a
esses, Sodoma e Gomorra e as cidades em redor se entregaram à
imoralidade e a relações sexuais antinaturais. Estando sob o castigo do fogo
eterno, elas servem de exemplo” (Jd 7, ênfase acrescentada).
Seu pecado é tão grave. Perversos. Imoralidade. Relações sexuais
antinaturais.
Isso combina com a descrição neotestamentária de Paulo daqueles que
exibiam “paixões vergonhosas... suas mulheres trocaram suas relações
sexuais naturais por outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os
homens também abandonaram as relações naturais com as mulheres e se
inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos
indecentes, homens com homens...” (Rm 1.26-27, ênfase acrescentada).104
Sodoma e Gomorra não tinham um “bairro gay”. Em vez disso, a
homossexualidade prosperava em cada quarteirão e área. Esses homens eram
dominados pelo desejo sexual. Sua luxúria era tão intensa que a população
inteira de Sodoma (jovens e velhos) apareceu à porta de Ló, exigindo que ele
lhes entregasse seus visitantes angélicos para que a multidão pudesse
violentá-los num brutal estupro coletivo.105 Recusando a oferta imoral de Ló,
que tentou apaziguá-los oferecendo-lhes suas duas filhas (que belo pai!),
insistiram em sua compulsão pelo sexo com esses anjos. Aumentando a
aposta, ameaçaram fazer coisas ainda piores com Ló (Gn 19.9). Nesse ponto,
os mensageiros de Deus deram um basta. Puxando Ló para dentro, atingiram
os homens com cegueira. Mesmo assim, o desejo deles por satisfação sexual
era tão abrasador que eles procuraram a porta até ficarem fisicamente
exaustos (Gn 19.11, NAA)!
Uau.
Cegos e ainda ardendo de desejo, os moradores dessas cidades eram
escravos das mentiras de Satanás e de suas próprias paixões degradantes. O
que acontece a seguir só pode ser descrito como apocalíptico – Deus cria
uma explosão maciça que faz chover fogo e enxofre sobre o vale,
incinerando todos os seres humanos que estavam ali (Gn 19.23-26).106
Condenados e reduzidos a cinzas incandescentes, esses homens sem
“princípios morais”, que tinham oprimido Ló com “procedimento libertino”,
foram deixados como exemplos para as gerações futuras (2Pe 2.6-7). E por
quê? Porque a imoralidade sexual viola o projeto básico de Deus para a
criação.
Nesse sentido, a homossexualidade é um pecado único. Os pecados não
são todos iguais.107 Deus não inundou a terra porque as pessoas estavam
mentindo umas para as outras ou porque estavam se extorquindo na venda de
rebanhos de cabras. Ele exterminou a humanidade por causa de pecados que
destruíram (corromperam) de forma fundamental a essência do projeto e da
criação do próprio ser humano. Para que Deus chegasse ao ponto de obliterar
a população inteira da terra, esse pecado devia ter sido excepcionalmente
depravado. Pessoas simpáticas à homossexualidade reinterpretam as
Escrituras (e com isso redefinem o caráter de Deus) numa tentativa de
acomodar essa opção de vida. Mas Deus não hesitou ao tratar desse
assunto.108 Podemos discordar o quanto quisermos da Bíblia. Podemos dizer
que ela é irrelevante para o nosso mundo e a nossa “era iluminada”. Mas
uma coisa que não podemos fazer é afirmar que ela não condena a
homossexualidade.109
Mesmo assim, quando comparado à rejeição teimosa do evangelho, a
homossexualidade não é o pior pecado que alguém pode cometer. Escolher
ser homossexual não vai mandar ninguém para o inferno. Escolher rejeitar a
Jesus vai. Há vários graus de pecado, que carregam níveis variados de
consequências. O próprio Jesus falou de Sodoma para ilustrar esse ponto,
afirmando claramente que rejeitar o Senhor traz maior juízo do que o pecado
de Sodoma (Mt 11.20-24; Lc 10.10-13).110
No entanto, essa afirmativa de Jesus não atenua a posição divina em
relação ao pecado de Sodoma. Por conhecer bem o Antigo Testamento,
Cristo tinha perfeita consciência das razões pelas quais Deus destruiu a
cidade. Em toda a Escritura, Sodoma é retratada como o pináculo da
depravação (Is 3.9; Jr 23.14; Lm 4.6; Ez 16.44ss). E Jesus menciona essa
cidade mais uma vez, comparando-a com os dias que precederão a sua volta
(Lc 17.28-30). Mas também vale reafirmar que, embora seja uma questão
moral, a homossexualidade é, em primeiro e principal lugar, uma distorção
da imagem de Deus em nós. Ela desfigura a identidade e o propósito da
humanidade, traindo a própria criação como nenhum outro pecado. Se não
houvesse Deus, a biologia e a fisiologia ainda assim argumentariam
contrariamente às uniões de mesmo sexo. Frequentemente, como acontece
também no caso de outras pessoas que lutam com sua sexualidade, a questão
envolve uma busca mais profunda por intimidade e amor. Deus nos criou
para relacionamentos humanos intensos, e nossa sexualidade tem um papel
importante nisso. Assim, quando recorrem a meios antinaturais para obter
essa satisfação, as pessoas estão substituindo a identidade que Deus lhes deu
por outra.
Em segundo lugar, há muitos motivos que levam as pessoas a
experimentar a sexualidade ou um estilo de vida sexualmente imoral. É um
pouco mais complicado que: “Ei, você é gay! Pare com isso!”. Cada pessoa
é um indivíduo e torna-se quem é por uma miríade de razões. Como cristãos,
vemos alguns pecados com compaixão e compreensão, mas infelizmente
nem todos.
Em terceiro lugar, os cristãos sinceros tendem a adotar posições extremas
nessa questão. Por um lado, alguns pensam que condenar os homossexuais é
o caminho para agradar a Deus. Tragicamente, pessoas más e equivocadas,
disfarçadas de seguidores de Cristo, mancharam a igreja de Jesus nesse
aspecto, fazendo com que os homossexuais vejam os cristãos como gente
preconceituosa, cheia de ódio e ofensiva.111 Por outro lado, alguns cristãos
têm dificuldade em aceitar as denúncias da Bíblia contra a
homossexualidade porque têm tantos amigos gays “realmente legais”. Por
não quererem parecer preconceituosos nem perder seus amigos, eles
atenuam a dura retórica das Escrituras. Os dois tipos passam muito longe do
alvo.
Em quarto lugar, vivemos em um mundo caído e moralmente deteriorado.
Mesmo que muitas pessoas ainda respeitem limites morais básicos, as
rachaduras do alicerce da sociedade parecem não ter mais conserto. Vivemos
em uma cultura que, de modo geral, aceita todo tipo de expressão sexual. O
espírito da época exige que agora os heterossexuais aceitem a
homossexualidade como algo normal e moralmente apropriado. A
controvérsia sobre o casamento gay veio para ficar. Na verdade, ela ganhará
ainda mais impulso nos últimos dias. Por isso, os cristãos precisam aprender
a conviver e amar seus vizinhos, companheiros de trabalho, colegas de aula e
amigos homossexuais. Deus não vai fazer chover fogo e enxofre sobre a
comunidade gay da sua cidade. Nossos amigos e conhecidos homossexuais
não são leprosos. Na verdade, muitos de fato são pessoas boas. Não
precisamos concordar com eles para sermos agradáveis. Cristo morreu por
eles e, se Deus lhes mostrou amor, nós devemos fazer o mesmo. Não há
contradição entre ficar com a verdade e amar aqueles que não têm Cristo.
Nenhuma. E a igreja precisa ser um lugar onde quem está buscando ajuda
seja bem-vindo a processar sua jornada espiritual independentemente de seu
pecado.
Por fim, muitos cristãos genuínos lutam com sua identidade sexual,
incluindo vários tipos de pecados sexuais. O trabalho de santificação de
Deus nos envolve em um processo de crescimento em direção à semelhança
de Cristo que às vezes é tortuoso e bagunçado. Algumas tentações e lutas
que assombravam as pessoas podem simplesmente desaparecer, enquanto
outras permanecem, atormentando-as. Praticamente todos os homens
cristãos que conheci lutavam contra a luxúria.112 Alguns, por diferentes
razões, lutam contra o desejo homossexual. Para eles, essa é simplesmente a
área de maior vulnerabilidade. Assim, o corpo de Cristo precisa ajudá-los,
encorajando-os e preparando-os para crescer e ser parte de uma comunidade
de fé amorosa. Precisamos amar fervorosamente aqueles que batalham
contra sua sexualidade, amparando-os (e a nós mesmos) firmemente na
beleza do caráter de Deus e da verdade bíblica eterna (Gl 6.1-3).

Conteúdo Adulto
Já vimos que a homossexualidade não era a única corrupção sexual no
mundo antigo. A perversão heterossexual era igualmente disseminada. Ao
discutir os tons de imoralidade de Satanás, é fácil apontar o dedo para o
pecado alheio enquanto lutamos contra nossos próprios demônios. E, mesmo
vivendo num mundo ímpio, não podemos simplesmente condenar a cultura.
As experimentações sexuais da década de 1960 podem ter alimentado uma
revolução de carnalidade e erotismo, mas não podemos jogar toda a culpa na
geração hippie. O problema é bem mais profundo, encontrando sua
verdadeira gênese na crescente rejeição social aos padrões morais de Deus e
na confusão universal em relação à sexualidade.
Como nos dias de Noé, nosso mundo ama o sexo, e hoje em dia ele é
usado para vender de tudo, de goma de mascar a carros. O sexo está por toda
parte. Filmes. Revistas. Televisão.113 Comerciais. Livros. Videogames. E, é
claro, na internet, como demonstram as estatísticas a seguir: • A pornografia
é uma indústria de 10 bilhões de dólares ao ano; em 2006, arrecadou cerca
de 13 bilhões de dólares. Isso é mais do que os lucros reunidos das ligas
nacionais de futebol americano, basquete e beisebol dos EUA.114
• Uma em cada oito buscas online é por conteúdo erótico. Uma em
cinco buscas em celulares é por pornografia.
• Homens têm 543% mais probabilidade de olhar pornografia.
• Dois terços dos estudantes universitários homens e metade das moças
dizem que assistir à pornografia é uma forma aceitável de expressar sua
sexualidade.
• A indústria pornográfica para celulares já recolhe mais de um bilhão
de dólares em assinaturas.
• Mais da metade de todos os meninos e um terço das meninas veem a
primeira imagem pornográfica antes dos 13 anos, sendo que a
popularidade do “sexting” cresce cada vez mais.
• Cinquenta e oito por cento dos homens reconhecem que assistem à
pornografia no mínimo uma vez por semana.
• Uma pesquisa de agosto de 2006 relatou que 50% dos homens cristãos
e 20% das mulheres cristãs são viciados em pornografia. Na mesma
pesquisa, 60% das mulheres admitiram ter dificuldades consideráveis
para lidar com a luxúria, e 40% admitiram que se envolveram em
pecado sexual no ano anterior.115
• Pessoas que se autoidentificam como “fundamentalistas” têm 91%
mais de probabilidade de olhar pornografia.
Estamos vendo muita pornografia. Em casa. Nos nossos quartos. No
trabalho. Até na escola. E os resultados são devastadores.116 Em nossa
sociedade saturada por sexo, até mesmo os pré-adolescentes estão sendo
expostos à pornografia, o que contribui para despertar curiosidade,
compulsão e até mesmo vício em tenra idade.
De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA, “nunca antes na
história da mídia de telecomunicação da nação houve tamanha quantidade de
material indecente (e obsceno) acessível com tanta facilidade a tantos
menores de idade em tantos domicílios do país com tão poucas restrições”.117
Não se pode subestimar o impacto da pornografia sobre a degradação e
desvalorização das mulheres – inclusive (mas não só) o abuso sexual.118 A
promiscuidade é tão comum na nossa cultura que, hoje em dia, a declaração
aberta de ser virgem acarreta a mesma ridicularização e estigmatização que
pessoas imorais sofriam em eras passadas. Certa vez, presenciei um
conselheiro de jovens, ex-membro de uma gangue, desafiando os estudantes
do Ensino Médio no colégio da sua região a se abster de sexo na noite da
festa de formatura. Centenas de jovens riram a plenos pulmões, zombando
com assobios e provocações enquanto ele tentava explicar as vantagens de
uma noite sem sexo. Nos dias de hoje, a pureza não é uma virtude apreciada,
e quem a abraça é visto como “perdendo alguma coisa” ou como esquisito.
Sexo sem compromisso, sexo com desconhecidos ou “juntar as escovas de
dente” são comportamentos comuns. Fazer sexo é considerado normal e,
muitas vezes, até esperado. Ao contrário da pureza.
O espírito prevalente de hoje retrata as mulheres como pouco mais que
objetos sexuais a serem explorados por homens famintos de desejo. E
aparentemente algumas delas nem se importam com isso, desde que sejam
consideradas lindas, sensuais ou desejáveis. Essa cultura obcecada por sexo
engana as meninas ao levá-las a pensar que seu valor como pessoa está na
sua capacidade de atrair homens. O que elas não conseguem entender é que
o homem em geral costuma pensar apenas em satisfazer suas fantasias
sexuais, e não em apreciar a mulher pela pessoa que ela é. Eles não se
importam com a mulher como ser humano, apenas como brinquedo. Apenas
como um meio para uma finalidade depravada. Não é de admirar que o
tráfico sexual e a escravização sexual estejam prosperando e que durante
grandes eventos esportivos (como o Super Bowl e a Copa do Mundo) a
demanda por moças jovens aumente dramaticamente. Em alguns casos,
espera-se dessas mulheres que tenham relações com até 50 homens por dia.119
Nos Estados Unidos, o tráfico sexual interestadual de menores de idade está
aumentando.120 De acordo com o FBI, a quantidade de escravas sexuais chega
aos milhões em lugares como a Rússia, o sudeste asiático e os Estados
Unidos. Estupros coletivos, surras e perversões inimagináveis são coisas
rotineiras para meninas presas no tráfico e na escravidão sexual.
Oferece-se sexo tanto com a fragrância sedutora da mídia convencional
quanto com o fedor nojento do esgoto da pornografia hardcore e da
escravidão sexual. Ele corre nas veias do mundo inteiro e flui livremente.
Mas por que essa área específica do pecado humano é tão disseminada? Por
que a nossa geração parece apresentar constantemente essa febre sexual? Por
que o sexo é tão popular e sedutor? Até mais que outros pecados?

Verdade Nua e Crua


A compreensão a respeito da obsessão humana com o sexo significa
entender por que ele é tão atraente e sedutor. Você já parou para analisar de
onde vêm suas informações e ideias sobre o sexo? Que fontes ensinaram
você a respeito de quem você é e o que o sexo é? Quem falou com você
sobre isso? Como se desenvolveu o seu entendimento a respeito da sua
própria identidade sexual? De onde você tirou seus conceitos de
masculinidade, feminilidade, romance, relacionamentos, sexualidade e o
sexo em si? E como você sabe se essas fontes são realmente confiáveis? Elas
são “especialistas” no assunto, ou estarão simplesmente propagando suas
próprias opiniões ou ideias alheias? Como ter certeza de que nossas ideias
sobre sexualidade estão corretas? Elas podem ser reais. Mas serão
verdadeiras? Em quem podemos confiar? Filmes? Televisão? A internet?
Livros? Revistas? “Sexpecialistas” com doutorados? Amigos? Professores?
Pastores? Familiares? Nós mesmos? Como ter certeza de que nossos
sentimentos e experiências em relação ao sexo e à sexualidade são
legítimos?
Para entender nossa sexualidade, é preciso ir além da simples questão de
“certo ou errado”. Crianças entendem “tire a mão daí” ou “pare com isso”,
mas cristãos maduros querem mais. Querem saber por que o sexo é um
assunto tão quente, e uma das razões para isso é que desejo e sexo nos dão o
que queremos. Um produto vende com base na demanda percebida pelo
mercado, e o sexo é um produto que nunca sairá de moda. Estamos
convictos de que precisamos dele, e ele pode ser encontrado por qualquer
pessoa disposta a procurá-lo. É como a droga cuja primeira dose é gratuita. E
é muito estimulante.121 Sexo é atraente e prazeroso!122 Ele nos dá algo – um
senso de satisfação. O sentimento de sermos desejados ou amados.
Satisfação mental. Prazer físico. Até mesmo euforia. A dra. Judith Reisman
escreve: “A pornografia desencadeia uma miríade de drogas naturais
endógenas, que imitam a ‘viagem’ da droga química”, acrescentando que são
como “alucinógenos produzidas pela mente do próprio observador”.123
Afinal, se não fosse bom, não iríamos gostar nem praticar. Até mesmo do
ponto de vista psicológico, o sexo pode fazer com que nos sintamos bem ou
experientes.
Em segundo lugar, o sexo se alimenta de desejos naturais dados por Deus.
Ele quis que fosse algo atraente, e até preparou nossos corpos para desfrutar
do processo. Infelizmente, no entanto, a nossa cultura pressiona as crianças a
enfrentar questões sexuais muito antes de suas jovens mentes e corpos serem
capazes de lidar com essas informações. Exige-se que as meninas se vistam
para parecer mais velhas do que são, acelerando o despertamento de seu sex
appeal com a desculpa de ficarem mais “bonitas”. Os meninos são expostos
a informações e imagens de mulheres nuas, forçando suas mentes pré-
adolescentes a processar esses significados e implicações. Embora a
puberdade prepare o corpo de forma natural para relacionamentos e sexo, a
sociedade acelera esse processo.
Ainda assim, a atração pelo sexo oposto é natural. O desejo sexual e o
anseio por receber satisfação em um relacionamento natural é algo bom.
Satanás sabe disso e, usando uma das estratégias que se tornaram sua marca
registrada, ele nos tenta a satisfazer um desejo legítimo dado por Deus de
forma ilegítima e antes da hora determinada pelo Senhor. Ele apresenta
mentiras descaradas combinadas com meias-verdades inofensivas sobre o
sexo. Como um astucioso traficante, porém, ele deixa de avisar que o
“suficiente” nunca “bastará”. Ninguém sente desejo apenas uma vez.
Ninguém desfruta da estimulação sexual e então pensa: “Muito bem, mais
uma coisa para riscar da minha lista de coisas a fazer antes de morrer. Vamos
à próxima”. Pelo contrário, o fascínio do sexo pode se tornar praticamente
insaciável, e isso com certeza também vale para o desejo.124 Isso explica por
que a pornografia pode ser tão viciante. É interessante que a palavra grega
do Novo Testamento para imoralidade sexual seja porneia.125
Em terceiro lugar, o sexo contribui para o anseio genuíno por intimidade.
Toda pessoa quer amar e ser amada. Deus planejou a união sexual para
ajudar a atender essa necessidade. É por isso que se tornar sexualmente ativo
com alguém intensifica em muito o relacionamento e a conexão que você
tem com essa pessoa. Sexo é uma conexão literal entre dois corpos,
tornando-os um só. Não tem como chegar mais perto ou se tornar
fisicamente mais íntimo de alguém do que pela união sexual com o corpo
dessa pessoa!
Por fim, nossa cultura ama o sexo porque é mais uma forma que a nossa
natureza pecaminosa encontra de se satisfazer fazendo algo que Deus proíbe.
Nossa velha natureza não melhora com o tempo, só piora.126 O coração
humano é a fonte de todo pecado sexual (Mc 7.18-23). Consequentemente,
acabamos desvalorizando o sexo e redefinindo a sexualidade; nossas
consciências calejadas entorpeceram nosso entendimento, transformando o
sexo em algo casual.
Assim, o sexo nos dá algo. A sensação é boa. Gostamos da felicidade
temporária que ele nos traz. Ele está disponível. Ele nos dá a sensação de
sermos amados e ficarmos satisfeitos. E é um desejo dado por Deus. Mas
quando abandonamos o projeto de Deus para o sexo, o desejo é explorado, e
somos forçados a lidar com a sexualidade de acordo com nossa própria
bússola moral.

Pureza ou Paixão?
Diante disso, o que os seguidores de Cristo devem fazer com essa
informação? Como viver numa cultura sobrecarregada de sexo que corre
furiosamente em direção aos últimos dias? O que Deus espera de nós? Com
certeza o seu conselho deve ser mais profundo do que “Não faça isso!”,
“Espere!” e “Ok, agora vá em frente!”. Ocorre que as Escrituras têm muito a
dizer sobre o tema da sexualidade, e 1Tessalonicenses 4.3-8 é uma passagem
que trata diretamente dela.
Em primeiro lugar, Paulo nos admoesta: “Abstenham-se da imoralidade
sexual” (v. 3b). A chave para isso, diz ele, é “aprender a controlar o próprio
corpo” (v. 4, NVT). A palavra principal aqui é “aprender”. Ninguém nasce
sabendo quem é ou como lidar com a puberdade e a sexualidade. Ninguém
sabe inerentemente como olhar para o sexo oposto ou como administrar o
desejo sexual. Cada indivíduo precisa aprender isso, de preferência com uma
fonte confiável.127 E há muitos aspectos envolvidos neste aprendizado. Ele
começa na convivência com pessoas que demonstrem o que é ser homem e o
que é ser mulher. Parte dele também tem relação com o ambiente – coisas
que você assiste ou às quais é exposto, definição de limites e prestação de
contas.128 Adicionalmente, tem relação com seu círculo de influência –
amigos, companheiros de equipe, colegas de trabalho.
Contudo, mesmo com obstáculos externos bem posicionados, eles não são
suficientes para supervisionar totalmente o coração. Podemos guardar os
nossos olhos, mas proteger o nosso íntimo é outra coisa. Este é o objetivo
maior, pois só assim é possível impedir que os nossos desejos vaguem por aí.
Isso começa com uma decisão diária de submeter nossa vontade a Cristo (Tg
4.7-8). Na verdade, trata-se de uma escolha que precisamos fazer várias
vezes ao longo do dia, por muitas razões diferentes. Um coração totalmente
rendido a Deus é a melhor defesa contra o desejo. Se nos deleitarmos no
Senhor – intencional e mentalmente –, ele colocará os seus desejos em nosso
coração (Sl 37.4).
A vitória sobre essa batalha requer também reconhecer tentações e
fraquezas. Cada pessoa tem áreas específicas – e às vezes únicas – nas quais
é suscetível ao pecado. Conhecer-se bem ajuda a identificar essas áreas
quando elas surgem. Dessa forma, você não é surpreendido nem se vê
derrotado por desobediência recorrente. Uma coisa é ferir-se durante a luta,
outra bem diferente é ser derrubado por um franco-atirador. Descubra em
que pontos e momentos você fica vulnerável, de forma que você possa
enfrentar suas batalhas com honestidade e preparo. E saiba quando pedir
ajuda por meio de um acompanhamento saudável.
Em terceiro lugar, preencha sua mente com pensamentos que promovam
pureza. Escolha meditar no que é útil, não no que lhe faz mal. Este é um
princípio de vida: o que preenche nossos pensamentos moldará nosso caráter
e influenciará nossas ações. Isso é importante no que diz respeito à
sexualidade, porque você não entrará em nenhuma atividade imoral se não
pensar nela primeiro, certo? E naqueles momentos em que seu corpo
provocar algum impulso, sua mente será capaz de controlá-lo porque você se
submeteu a Cristo (2Co 10.5). Isso é parte do que Paulo quis dizer com
“controlar o próprio corpo”. Permitir que os pensamentos de Deus (a
Escritura) ocupem sua mente traz paz e ajuda a vencer o pecado (Sl 119.11;
Fp 4.8). Ao tratar desse assunto, Jesus se concentrou no coração e na mente
(Mt 5.27-28).
Paulo afirma que exercitar esse tipo de controle contribui para a nossa
santificação e honra nossos corpos. Ele contrasta isso com o fato de que os
que não conhecem a Deus vivem em “desejos desenfreados” (1Ts 4.5). “Não
se aproveitem do próximo, roubando e enganando sexualmente o outro dessa
forma”, acrescenta.129 Uma conduta sexual impura importa porque vai contra
o plano de Deus, além de atrair a sua disciplina. Para o cristão, a pureza
sexual não é apenas uma boa ideia, mas um chamado (1Ts 4.7).
Se tirarmos Deus do contexto da nossa sexualidade, o resultado é que
passamos a ser dominados por nossas próprias paixões. Foi exatamente essa
advertência que Paulo fez a Timóteo em relação aos tempos do fim. Na sua
carta derradeira, escreveu: “Saiba disto: nos últimos dias... os homens serão
egoístas... sem domínio próprio... mais amantes dos prazeres do que amigos
de Deus” (2Tm 3.1-4, ênfase acrescentada). A expressão “amantes dos
prazeres” combina duas palavras gregas – phileo e a palavra da qual
derivamos o termo hedonismo, isto é, a crença de que o prazer é o maior
bem que o ser humano pode obter. É a filosofia que diz: “Se algo é agradável
ou me dá prazer, vou buscar e desfrutar disso. Já que é gostoso ou me traz
alegria, deve ser bom”. É assim que, de acordo com Paulo, os não cristãos
viverão nos últimos dias. A busca pelo prazer pessoal dominará suas mentes
e ações, levando a toda a variedade de imoralidade.
Especificamente as relações homossexuais tentam imitar o plano original
de Deus para a humanidade. Sexualmente, elas imitam o modelo da criação,
mas substituem a intimidade bíblica com uma experiência falsificada. De
acordo com antigos mestres judeus, a homossexualidade era uma prática
global antes do Dilúvio. Esses respeitados mestres alegam que na época de
Noé havia contratos de casamento celebrados entre homossexuais, e que
havia até mesmo cânticos compostos especialmente para essas ocasiões.130 Se
estiverem corretos, isso é algo que ainda não foi legitimado em nenhuma
civilização desde antes do Dilúvio, e pode acrescentar um significado
especial às palavras de Jesus sobre aqueles que “da[vam]-se em casamento”
nos dias de Noé (Mt 24.38).131 Os mesmos rabinos também registraram que o
reconhecimento oficial concedido aos casamentos homossexuais serviu para
desencadear o juízo de Deus por meio do Dilúvio.
A geração corrupta da época de Noé incitou um motim sexual que
produziu um planeta mergulhado em sensualidade. A mesma obsessão por
sexo caracterizará também a humanidade do fim dos tempos (Ap 9.21).132
Satanás continua sendo o grande falsificador. Um mestre em manipular a
verdade. Em distorcer a realidade. E em nenhuma outra área a sua
especialidade brilha com tanta força do que na sexualidade. Por definição,
cair numa mentira significa que você não sabe disso, e por isso acredita ser
sincero e ter razão. É isso que Satanás fez em relação à nossa consciência
global sobre o sexo. Seu projeto caminha conforme o planejado.
Tragicamente, vivemos agora num mundo que celebra o casamento
homossexual e envergonha aqueles que defendem o plano de Deus. É um
mundo que considera como heróis corajosos aqueles que “exibem seu
pecado como o povo de Sodoma” (Is 3.9, NVT).
Mesmo que seja impossível, irresponsável e tolo fazer previsões em
relação ao tempo exato dos últimos dias, parece-me que estamos vendo as
nuvens da tempestade se acumulando no horizonte. O planeta intoxicado
com seus passatempos e perversões sexuais é um sinal certo de que estamos
mais próximos do fim agora do que jamais estivemos no passado.
8

DIAS TERRÍVEIS
Saiba disto: nos últimos dias... os homens... tendo aparência de
piedade, mas negando o seu poder...
2Timóteo 3.1-5

Algumas coisas na vida acontecem de repente. Da noite para o dia. Num


piscar de olhos. Instantaneamente, como um relâmpago. Nós percebemos
quando acontecem. Elas chamam nossa atenção e cativam nosso olhar.
Memorizamos a data. Como o nascimento de um filho ou a formatura da
faculdade, podemos documentá-las, capturando o momento em uma foto.
Eles são descritos como eventos ou acontecimentos. São óbvios. Claros e
inegáveis.
Mas há outros aspectos da vida que não são tão fáceis de discernir. Eles se
aproximam sem percebermos. Não chamam a atenção porque acontecem
gradualmente ao longo de um período mais longo. Pouco a pouco, em um
progresso tão lento que às vezes nem é possível observar as mudanças. E, a
não ser que seu olho seja treinado para isso, elas não são detectadas. Um dia
você acorda, e de repente se vê trocando de roupa para participar da
formatura de sua filha no colégio. Você vira as costas, e seu filho está
dirigindo. Você fica pensando como todos aqueles anos de faculdade
conseguiram passar tão depressa, ou como foi possível que você tenha
passado de magro a “não tão magro” ao longo do tempo.
Não somos bons em observar as micromudanças que acontecem na nossa
vida. Por isso, muitas vezes estamos alheios às transformações menores ou
graduais – tanto as boas quanto as ruins – que acontecem à nossa volta ou
com o passar dos anos.
Hoje em dia, ninguém diz que a Universidade de Harvard é um peso-
pesado conservador na defesa do cristianismo, mas isso nem sempre foi
assim. Essa instituição tão famosa deve suas origens ao evangelho de Jesus
Cristo. Na verdade, a maioria das faculdades de elite dos EUA (a chamada
Ivy League) surgiu primariamente para formar ministros da Palavra. E os
primeiros presidentes de Harvard insistiam que não havia verdadeiro
conhecimento ou sabedoria sem Jesus Cristo.
As “Normas e Preceitos” que Harvard adotou em 1646 incluíam os
seguintes pontos essenciais: Cada indivíduo deve ter como principal objetivo
de sua vida e estudos o conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, que é a vida
eterna [...] cada indivíduo deve buscar a Sua sabedoria em oração sincera e
secreta [...] em ler as Escrituras duas vezes ao dia para estar pronto a prestar
contas de sua proficiência a este respeito, tanto em observações teóricas
sobre linguagem e lógica quanto nas verdades práticas e espirituais...133
Menos de cinquenta anos depois, fundava-se a Universidade de Yale, em
parte porque havia pessoas pensando que o ambiente espiritual de Harvard já
não era mais como tinha sido anteriormente. Seguiram-se outras faculdades
– Princeton, Dartmouth, Columbia, William and Mary, Rutgers e Brown.
Praticamente todas as instituições fundadas nas colônias americanas antes da
independência dos EUA foram estabelecidas por algum braço da igreja
cristã.134 Hoje em dia, no entanto, nenhuma delas é conhecida por produzir
pregadores do evangelho. Como essas escolas passaram de formadoras de
ministros a baluartes da teologia liberal? A resposta é fácil.
Mudanças graduais ao longo do tempo.
Durante algum tempo, minha esposa participou da diretoria de uma
organização cristã nacional dedicada ao desenvolvimento espiritual de
moças. Na época em que ela assumiu sua posição, já não havia qualquer
ênfase espiritual na organização. Não havia nem mesmo moças! Só algumas
senhoras mais velhas fazendo artesanato e hidroginástica em uma piscina
enorme. Não demorou para que isso também desaparecesse. A organização
perdera seu propósito e identidade, e o escritório local na nossa cidade
acabou sendo fechado.
Como nas já mencionadas faculdades da Ivy League, chegou o momento
em que não se parecia mais nem um pouco com a instituição original.
Mas isso não acontece apenas com as universidades cristãs. Este padrão
vale para a fé em si. Ao longo de 1 656 anos, é possível acompanhar o
renascimento da fé por meio de Sete, filho de Adão, até o último homem da
linha, Noé. Mas, com o passar do tempo, algo aconteceu a esse legado de fé.
Por que o povo fiel a Deus estava praticamente extinto nos dias de Noé? A
Bíblia não traz uma genealogia completa da raça humana, mas menciona
apenas aqueles que são relevantes à história contada por Deus. Mesmo
assim, sabemos que havia uma linhagem de fé forte de Sete a Enos até
chegar em Enoque. Certamente outros dessa linhagem também abraçaram a
fé. Não faria sentido que, de todas essas famílias, apenas uma única pessoa
de cada geração a adotasse. Deve ter havido outros – esposas, filhos e filhas
– que invocavam o nome do Senhor. Só não sabemos quem eram e por que a
herança deles desapareceu.
Mesmo que não seja possível ter certeza a respeito da natureza exata desse
abandono da fé, isso não nos impede de ver um padrão em formação – a
humanidade começa bem, mas com o tempo muda de rota. Até Noé entrar
em cena, a linhagem piedosa tinha se reduzido a um punhado de gente. Não
havia mais ofertas sacrificiais. Não se praticava mais oração, e o conceito de
que crianças são presentes de Deus tinha se perdido (ver Gn 4.25).
Desaparecera a devoção a Yahweh como estilo de vida. Gradualmente e de
forma imperceptível, os pais deixaram de passar sua fé aos filhos. As mães
negligenciaram o dever de educar suas filhas. E, com o aumento exponencial
da impiedade no mundo inteiro, começou a ficar cada vez mais fácil
acompanhar a maioria. E a linhagem de Adão ficou reduzida a alguns
poucos fiéis (Gn 4.17-26).135
Na verdade, essa decadência pode muito bem ter acontecido, em parte,
devido à enorme pressão e influência de uma civilização que se tornava cada
vez mais ímpia. Como a água é atraída pela esponja, as pessoas se deixaram
absorver cada vez mais pela cultura à sua volta. Arrastadas para o pecado
por uma corrente irresistível, simplesmente se afastaram. Mas a vida de Noé
estabelecia um forte contraste com as demais pessoas à sua volta. Em meio a
um furacão de atividade pecaminosa, ele permaneceu ancorado a uma
esperança sólida como rocha (ver Hb 6.19). E, à medida que crescia
enormemente a proporção de maus em relação aos bons, o juízo tornou-se
inevitável.

Os Desviados De acordo com Paulo, haverá


uma grande “apostasia” (desvio ou rebeldia
agressivos) durante a futura tribulação (2Ts
2.3-4).136 Esse ponto alto naqueles eventos
envolverá o Anticristo, que celebrará um
pacto (aliança) com Israel no começo da
tribulação. Mostrando-se simpático à causa
dos judeus, dará a impressão de ser um
homem de fé.137 Mas, na metade desse
período de sete anos, ele quebrará essa
aliança ao profanar o templo. Naquilo que a
Escritura chama de “sacrilégio terrível”, o
Anticristo entrará no templo reconstruído dos
judeus e proclamará a si mesmo como Deus
(Dn 9.27; 11.31; Mt 24.15).138 Esse filho da
destruição impelido por Satanás vai se opor e
exaltar a si mesmo “acima de tudo o que se
chama Deus ou é objeto de adoração,
chegando até a assentar-se no santuário de
Deus, proclamando que ele mesmo é Deus”
(2Ts 2.4). Esse ato será a afronta máxima ao
Deus dos judeus. Será a tentativa final de
Satanás de sentar-se no lugar de Deus. E o
braço direito do Anticristo, o Falso Profeta
capaz de realizar milagres, ordenará ao
mundo que faça uma estátua à besta
(Anticristo), que ele fará viver, falar e até
matar quem se recusar a adorar o Anticristo
(Ap 13.11-15).
“Essa profanação do templo”, diz Jesus aos irmãos judeus que viviam na
sua época, “será o sinal para que vocês CORRAM!” (ver Mt 24.15-20).
No entanto, Paulo diz que nos últimos dias também veremos um outro
tipo de apostasia, ainda antes do arrebatamento, que é mais um processo do
que um evento. “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns
abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios”
(1Tm 4.1, ênfase acrescentada).
Como nos dias de Noé, as pessoas abandonarão a fé autêntica.
Atualmente, alguns oram fervorosamente por um reavivamento na igreja, e
nos últimos tempos de fato poderá haver um despertamento final no corpo de
Cristo. No entanto, a Escritura não menciona nem profetiza nenhum
avivamento desse tipo. O que ela garante, por outro lado, é um crescente
afastamento da fé. Paulo usa a expressão “a fé” para referir-se ao corpo
básico de doutrinas “uma vez por todas confiada aos santos” (Jd 3). O
conteúdo dessa fé consta de forma completa nas Escrituras. Não há nada que
precise ser acrescentado a esse conjunto de ensinos, o que inclui relatos de
supostas visitas ao céu ou novas revelações (Ap 22.18-19). Os fiéis são
advertidos a ficarem atentos a quem tentar (mesmo sem intenção) enganá-los
com uma mensagem verbal, algo escrito ou mesmo com alguma profecia,
especialmente no que diz respeito aos tempos do fim (2Ts 2.2).
A profecia de Paulo sobre a apostasia vem do próprio Espírito Santo, que
nos adverte contra “espíritos enganadores”. Uma das grandes ameaças à
igreja ou ao cristão não é afastar-se da fé original por quilômetros, mas de
centímetro em centímetro. Essa sutileza indetectável pode levar anos para
produzir uma mudança mensurável. É por isso que ele chama tais espíritos
de “enganadores”. Por definição, uma pessoa enganada não tem consciência
disso, a ponto de até negar que isso tenha acontecido. O engano não vem por
meio de uma mentira flagrante, mas com leves nuances de distorção que vão
desgastando o alicerce da verdade bíblica.
O Espírito também diz que parte das pessoas atraídas para essa apostasia
dará atenção a “doutrinas de demônios”. Já vimos algumas das tentativas
evidentes de Satanás para corromper a humanidade em geral, mas esta
apostasia em particular afeta aqueles que estão dentro da igreja. Essas
doutrinas demoníacas não envolvem tentações que levam à impiedade,
violência ou imoralidade, mas são de natureza religiosa. Satanás não tem
nenhum problema com pessoas religiosas. A religião é uma de suas armas
mais eficazes, sendo usada para impedir que as pessoas tenham um
relacionamento íntimo com Cristo. Tudo gira em torno de esforço pessoal,
de trabalhar para obter méritos e conquistar o favor de Deus. E foi para nos
salvar de tudo isso que Jesus morreu (Rm 3.20; 8.3-8; Ef 2.8-9). Mas não
existe um único ato, por mais religioso que pareça ser, capaz de melhorar
nossa posição diante de Deus. Jesus já conquistou tudo para nós. Precisamos
apenas descansar e permanecer naquilo que ele proveu. Enquanto pensar que
alguma ação de sua parte pode mudar seu posicionamento diante de Deus, a
pessoa continuará falhando e permanecerá escravizada à mentalidade da
salvação por obras.
Paulo advertiu Timóteo contra homens que acrescentam regras religiosas à
fé numa tentativa de parecerem mais espirituais. Ele cita duas formas de
fazer isso: renúncia ao casamento e autonegação por meio de dieta alimentar.
O apóstolo já tinha informado aos colossenses que a observação de regras,
especialmente as que envolvem dietas e leis religiosas, não tem
absolutamente nenhum poder de nos deixar mais santos. Era um engano,
destinado a melhorar as aparências, que levava as pessoas a pensarem que
eram sábias e espirituais (Cl 2.20-23). Ele combateu essa crença declarando
que todos os alimentos foram criados “para serem recebidos com ação de
graças pelos que creem e conhecem a verdade” (1Tm 4.3). A implicação
direta era que quem prescrevia essas regras só pensava que sabia do que
estava falando no que dizia respeito às questões da fé. Mas Paulo denunciou-
os como o que realmente eram – apóstatas com entendimento prejudicado
que promoviam heresias.
Paulo também explicou de onde vinham tais ensinos errados. Ele declarou
que essas pessoas tinham a “consciência cauterizada” (1Tm 4.2). A
consciência é a parte de nós que distingue entre o certo e o errado. É como
uma sentinela de vigia na entrada da nossa mente. Quando alguém é
confrontado com uma informação ou uma escolha, sua consciência o ajuda a
discernir se aquilo é certo ou errado. Mas algumas pessoas anulam sua
consciência porque entendem que a verdade é simples demais ou
insuficiente. Para elas, as singelas verdades a respeito de Deus como Criador
e de Cristo como Salvador são elementares demais. E, por se verem como
intelectuais, rejeitam essas verdades.
Paulo tinha experiência em primeira mão com pessoas assim (At 17.17-
18,32). É por isso que ele insistiu com os cristãos de Corinto para que não se
deixassem enganar e afastar da “sincera e pura devoção a Cristo” (2Co 11.3).
Pelo mesmo motivo, fez questão de que eles entendessem a profundidade e a
sabedoria que havia nessa simplicidade (1Co 1.18-25). Dessa forma, a
verdade às vezes é rejeitada porque parece simplória demais.
Mas a verdade divina também ofende algumas pessoas. E há outras que
não gostam dela porque ameaça seu estilo de vida (Jo 3.18-20). Ensinos
religiosos podem confortar e aliviar a alma, e na verdade muitas doutrinas
cristãs destinam-se a dar encorajamento e consolo, mas os ensinos de Cristo
nem sempre são tão mansos e pacíficos. Algumas de suas palavras foram
muito difíceis de aceitar (Mt 19.9-11). Em outros momentos, suas palavras
eram exigentes, fazendo com que muitos de seus seguidores o deixassem e
desistissem de andar com ele (Jo 6.41-66).
Assim, ao serem confrontados com a verdade divina em estado bruto,
alguns preferem suprimi-la ou então condimentá-la de forma que se adapte
melhor ao seu paladar. Dessa forma, a consciência é “cauterizada”, como
que queimada a ferro. Aqui Paulo se referia ao costume de cauterizar feridas,
como se fazia com soldados feridos em batalha ou como um médico tratava
de feridas abertas. Ao aplicar um ferro quente ao ferimento, queimavam-se
os terminais nervosos, tornando-os insensíveis ao toque. Portanto, ao rejeitar
ou modificar a verdade de Deus, as pessoas estão, em última análise,
anestesiando-se. Ficam insensíveis à verdade de Deus e acabam inventando
suas próprias crenças, o que inclui qualquer coisa que se adeque às suas
preferências pessoais.

A Selfie Perfeita Uma das características da


apostasia que se espalhará nos últimos dias
será que as pessoas acrescentarão coisas à
Palavra de Deus ou a alterarão. Essas
modificações derivam do fato de
questionarem a confiabilidade da Palavra em
si. Portanto, precisamos ficar atentos a quem
omite ou mexe com doutrinas específicas das
Escrituras. Mas isso não é tudo – ainda tem
mais. Numa segunda carta ao jovem Timóteo,
Paulo continua descrevendo as características
desse desvio: Saiba disto: nos últimos dias
sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão
egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes,
blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos,
ímpios, sem amor pela família,
irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio
próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores,
precipitados, soberbos, mais amantes dos
prazeres do que amigos de Deus, tendo
aparência de piedade, mas negando o seu
poder. Afaste-se desses também. (2Tm 3.1-5)
Paulo descreve esses dias como “terríveis”,
referindo-se a uma época em que, mais uma
vez – como foi nos dias de Noé –, a
autogratificação dominaria tanto dentro
quanto fora da igreja. A principal
característica dessas pessoas, a mais
dominante delas, é que serão “egoístas”. Têm
uma opinião muito elevada a respeito de si
mesmas e de suas opiniões. E esse defeito de
caráter essencial mancha todo o resto.
Enamoradas de si mesmas, essas pessoas começarão a abrir o caminho em
direção à apostasia. Até mesmo a fé que professam ter existe para servir o
seu ego. Pastores com mensagens que massageiam o ego apregoam o amor a
si mesmo como uma virtude elevada, mesmo que esse ensino não apareça
em lugar nenhum da Bíblia.139 Nossa maior necessidade hoje em dia não é de
uma “boa autoimagem”; mesmo assim, esse tema parece impulsionar um
bocado das mensagens cristãs atuais. Não obtemos o melhor da vida ao
inflar nossa autoestima, mas quando nos vemos como realmente somos –
pecadores diante de Deus, e mesmo assim profundamente amados. É só
assim que sua graça e salvação podem ser corretamente entendidas e
apreciadas. Só quando captamos o nosso incrível valor aos olhos de Deus
(ver 1Co 6.20).
O maior presente na vida é aceitar o gigantesco amor que Deus tem por
nós. Isso produz, de forma natural, amor a ele e ao próximo, e não paixão
por nós mesmos. Pelo contrário, nosso lema deve ser o mesmo de João
Batista: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Amor a si
mesmo é o ápice da depravação, causando mais conflitos interpessoais,
divisões e heresias na igreja do que qualquer outra coisa. Também é um sinal
claro da apostasia dos últimos dias.
Quem ficar preso nessa apostasia também amará o dinheiro (que, sem
dúvida, gastarão consigo mesmos). Materialismo. Objetos. Coisas. Bens.
Cada um deles destinado a melhorar ainda mais a fachada do eu. Nunca
estarão satisfeitos. Ou contentes (ver Fp 4.10-13; 1Tm 6.8). Isso não
significa que os cristãos precisem fazer voto de pobreza ou rejeitar um
emprego que pague mais. Há cristãos ricos, tanto na Escritura quanto nos
dias de hoje, entre as pessoas mais generosas e piedosas do mundo. O
problema não é possuir riquezas. O verdadeiro problema é quando as
riquezas possuem você. O dinheiro é um servo maravilhoso, mas um senhor
cruel. Controlado por um coração egoísta, produz todo tipo de males (1Tm
6.10,17-19).
As pessoas dos últimos dias também serão arrogantes. Elas vão se gabar.
Muito. Principalmente de si mesmas – do que têm, do que fizeram ou de
seus contatos e amizades. Estarão constantemente competindo umas com as
outras ou tentando derrubar o próximo enquanto exaltam a si mesmas. Não
se submeterão a autoridades, especialmente do tipo familiar. Qualquer
tentativa de prejudicar seu autogoverno terá oposição como resposta.
Levarão essa atitude desafiadora para a sala de aula, para o trabalho, para
casa e para a igreja. Já vemos isso acontecendo hoje em dia. Quando foi a
última vez que você ouviu alguém dizendo que estava “debaixo da
autoridade” de seu pastor (1Co 16.16; 1Ts 5.12-13; Hb 13.7,17,24; 1Pe 5.1-
3)? Parece coisa de fanático, não é? No entanto, poucos se consideram
submissos a qualquer tipo de supervisão espiritual, optando por administrar
sua espiritualidade... por conta própria, claro.
Por causa de seu orgulho inato, aqueles que se afastarem gradualmente
terão dificuldade para serem realmente gratos. Interiormente, e talvez até
demonstrando isso de forma visível, serão indecentes e ímpios. Ao
desconsiderarem a autoridade de Deus e buscarem seu próprio prazer, seu
amor pelo próximo esfriará, exatamente como Jesus previu (Mt 24.12).
Assim, continuam agradando apenas a si mesmos. Não se disporão à
reconciliação em seus relacionamentos e se recusarão a mudar de atitude em
relação a si mesmos. A culpa nunca é deles; em vez disso, estarão
constantemente acusando outros. Terão orgulho em dizer: “Não importa que
me odeiem...”, uma desculpa que lhes permite dizer e fazer o que lhes der na
telha, sem se envergonhar ou se importar com o que as outras pessoas vão
pensar ou falar. Seu estilo de vida impulsivo e soberbo anuviará seu
raciocínio, cegando-os para suas próprias falhas enquanto fazem questão de
apontar os defeitos dos outros. Serão cruéis, sempre prontos para atacar com
violência, ansiosos para despedaçar alguém com suas palavras. A palavra
grega para “caluniadores” é diaboloi, de onde derivamos o termo diabólico.
É também a mesma palavra que o Novo Testamento usa para se referir ao
Diabo em 34 trechos. Eles desprezarão tudo o que é bom e decente.
Paulo conclui sua longa lista descrevendo a geração dos últimos dias
como sendo de gente que ama os prazeres em vez de ser amiga de Deus. Seu
maior deleite estará em fazer apenas aquilo que lhes traz alegria e satisfação.
“Dar” não será seu ponto forte. Em vez disso, consumirão. A postura padrão
é buscar o que alimenta o insaciável “monstro do eu” que mora dentro deles.
Esse será o foco de sua atenção o tempo inteiro. Nada terá maior importância
que o eu. Ele reinará supremo em seu trono de autoridade no salão real dessa
fortaleza. Novamente, “amantes dos prazeres” refere-se ao hedonismo, isto
é, à crença de que o prazer pessoal é a mais alta forma de bem. E, ainda que
a pessoa talvez não tatue a palavra em seu braço, o hedonismo corre solto
em suas veias. Essa atitude defende que “tudo gira em torno de mim”. De
forma subconsciente, essas pessoas pensam que tudo existe por uma única
razão – agradar o eu. Uma satisfação momentânea. Uma excitação
temporária ou elação passageira que dura apenas até o próximo estímulo.
Assim, como o amor a si mesmo e o prazer são altamente monopolizadores,
não sobra lugar no coração para amar a Deus. Não cabem duas pessoas
naquele trono.
Ao mesmo tempo, tais indivíduos podem ser pessoas admiráveis na
superfície. Nem sempre exibem sua impiedade de forma visível aos demais.
Na verdade, talvez sejam pessoas religiosas, possivelmente membros de
igrejas. Terão “aparência de piedade, mas negando o seu poder”. Sabem
como tudo funciona. Parecem respeitáveis. Dominam o jargão cristão e são
excelentes na arte de fingir. Mas, como aconteceu com os fariseus na época
de Jesus, nem mesmo perceberão que não sabem de nada. Esses cristãos
falsificados estarão tão iludidos que pensarão que são muito justos,
especialmente quando se comparam com pessoas “realmente ruins”. Mas a
sua piedade será uma ilusão, um trote autoinfligido. Um estratagema
religioso. Um mecanismo interno que projeta uma imagem holográfica a
respeito de si mesmo. A pessoa que eles pensam ser não passará de um
fantasma. Uma aparição. Um mito gerado pela mente. Terão a capacidade de
assumir a forma de qualquer tipo de “cristão” que precisarem ser. Serão
mutantes, camaleões que se adaptam ao ambiente conforme seu instinto de
autopreservação e prazer determinar.
Serão imitações. Hipócritas da pior espécie.
E estarão por toda parte.
Nos últimos dias, alguns dessa galeria de malandros religiosos se
apresentarão como mestres, desejando ter seus próprios seguidores.
Espreitarão os fracos, cativando sua atenção, mentes e corações com falsos
ensinos. Mas mesmo que preencham a vida com estudos, nem eles nem seus
seguidores alcançarão, em algum momento, real conhecimento da verdade.
Buscarão mais educação religiosa, mas serão impedidos de receber
conhecimento de Deus (2Tm 3.6-7). A verdade bíblica pura e simples não
será suficiente para eles. Sentindo-se impelidos a ir além da Bíblia, estarão
continuamente escavando em algum lugar, mas encontrarão apenas ouro de
tolos. Sempre aprendendo, nunca sabendo. Lendo livros e escrevendo textos,
mas nunca atinando com a verdade. Posando de intelectuais ou de crentes
sinceros e devotos, não passarão de meras fachadas. Como o cenário pronto
para uma peça de teatro, parecerão verdadeiros, mas não haverá nada por
trás deles. Apenas uma fina camada de verniz espiritual.
Jesus encontrou gente desse tipo quando estava na terra e profetizou a
respeito deles. “Só porque alguém me chama de ‘Senhor’ não significa que
realmente me pertence ou que vá para o céu”, disse (ver Mt 7.21).
Aparentemente, falar será fácil até o último dia. De fato, essas pessoas não
apenas saberão blefar bem, mas também agirão de acordo com isso.
Algumas até terão “profecias”, parecerão expulsar demônios e realizar
muitos milagres (Mt 7.22).140 Mas o Senhor tem uma palavra de condenação
especial para essas pessoas que o declaram como Senhor e fazem boas obras
em seu nome: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês que praticam o
mal!” (Mt 7.23; ver tb. Ap 20.15).
Cristo também avisou que, aqui na terra, crentes e descrentes coexistiriam
na mesma família espiritual (a igreja), e será difícil diferenciar um do outro.
No fim dos tempos, no entanto, ovelhas e bodes serão separados – as ovelhas
irão para a vida eterna, e os bodes, para o fogo eterno (Mt 25.31-46).
O comentário mais trágico a respeito dessas pessoas é que o tempo todo
elas pensavam que eram cristãs. Em geral, a apostasia é sutil, vindo até de
pessoas bem-educadas. Mas o alarme precisa soar em alto e bom som na sua
cabeça sempre que um alegado cristão questiona a Palavra de Deus, a
divindade de Cristo, sua expiação vicária ou sua ressurreição física. Estes
são os aspectos inegociáveis da fé.

A Bela e o Bufê O afastamento da fé


normalmente vem de mãos dadas com a
paixão por si mesmo, e até as igrejas são
vulneráveis a essa apostasia. Numa tentativa
sincera de alcançar a cultura em que vivemos,
as igrejas podem ficar obcecadas em oferecer
aos seus frequentadores aquilo que eles
querem em vez do que precisam, criando uma
cultura consumista dentro de suas próprias
paredes. Conveniência e conforto dominam
quando os frequentadores da igreja se
acostumam a esperar certas amenidades e
vantagens disponíveis também no shopping
do bairro. Com ônibus fretados, cafeterias e
até terminais bancários, cada vez mais igrejas
estão fazendo um tremendo esforço para
agradar ao consumidor. Oferecem até mesmo
um “cardápio de locais” para quem prefere
algum estilo específico de adoração.
Muitas igrejas transformaram-se em supermercados eclesiásticos, com
departamentos e corredores para todo tipo de pessoa, não importa seu gosto
ou preferência pessoal. Como o governo, dispõem de programas
implementados para atender toda e qualquer necessidade do público pagante.
Especializaram-se em distribuir bens e serviços religiosos. Produzem
musicais ao estilo da Broadway e da Disney, cujo objetivo é sempre entreter,
educar e trazer mais pessoas para dentro de seus prédios. Mais pessoas
significa que talvez consigam pagar a construção daquele enorme edifício ou
mesmo construir um ainda maior. Têm sistemas de som milionários, lustres
de cristal, estúdios de produção televisiva de última geração e, é claro,
“camarins” com os lanches favoritos de seus “astros”. E quando a produção
do domingo é especialmente boa, a igreja talvez receba uma “gorjeta-
dízimo” daqueles 20% de membros que têm o costume de agir assim, seja
por obrigação ou por amor sincero a Deus.141
É óbvio que o cenário descrito não vale para todas as igrejas
contemporâneas. Mas, em muitos círculos, esse é o tipo de comportamento
exibido como modelo necessário para se tornar uma igreja bem-sucedida.
Algumas dessas igrejas abrem até mesmo franquias, para que outros tenham
o privilégio de ser como elas e usar sua “marca”.
Estamos cada vez mais próximos dos últimos dias, e temo que perdemos a
essência do cristianismo clássico. Fomos domados e domesticados, e muitas
igrejas se transformaram em corporações gigantes, latifundiárias e
instituições multimilionárias que “fornecem serviços” a seus membros e à
comunidade. “Ajudamos você para ajudar os outros” é o lema delas. Mas
será que estamos realmente apascentando as ovelhas, ou estamos apenas
entretendo bodes religiosos? Passamos mais tempo ensaiando modulações e
transições em cânticos do que orando. Mais tempo para elaborar um
ambiente com iluminação bonita do que servindo uns aos outros de forma
sacrificial. Investimos milhões em prédios e apresentações, em vez de em
pessoas. Esquecemos que somos um corpo com membros, não uma empresa
com diretoria; um organismo vivo, não uma organização. Estamos mais
preocupados em encher nossas atividades com consumidores do que em
praticar a única coisa que Jesus nos ordenou – fazer discípulos. Contratamos
consultores de marketing para nos orientar em vez de depender
devotadamente do Espírito Santo e da oração. Elegemos homens abastados
com empresas de sucesso para as nossas diretorias, frequentemente deixando
de lado homens cheios de fé e do Espírito. Temos CEOs em vez de
cuidadores. “Líderes direcionais” em vez de pastores. Onde fomos parar?
Alguns anos atrás, numa segunda-feira à noite, recebi uma ligação
urgente. Um amigo me avisava que Ellen, uma querida menina de 13 anos
que estava participando do ministério de adolescentes que eu liderava, tinha
sido levada ao pronto-socorro.142 Essa jovem linda era produto de um lar
quebrado. A mãe lutava para cuidar de Ellen e de suas irmãs menores. Mas a
mulher também tinha outros problemas, não por último a tendência de fazer
péssimas escolhas em termos de namorados. Já tinha tido vários, e o mais
recente era um verdadeiro traste.
Felizmente, o hospital ficava a menos de dois quilômetros da minha casa,
e assim pude pular no carro e ir para lá imediatamente. Correndo para dentro
do pronto-socorro, perguntei à enfermeira onde estava Ellen, e ela me
apontou um corredor. Passei rapidamente pelos quartos, olhando pelas portas
abertas em busca dela, mas não consegui encontrá-la em lugar algum. Dos
três quartos em uso, um era ocupado por uma mulher grávida, outro por uma
senhora idosa e o terceiro, por um homem de certa idade.
Voltei ao posto de enfermagem e perguntei mais uma vez onde Ellen
estava recebendo tratamento. Ela apontou novamente para o mesmo
corredor, e então pedi-lhe educadamente para ser mais específica.
“Quarto 2”, respondeu.
“Mas já fui lá”, expliquei. “Só tem uma senhora idosa ali.”
“É esse quarto mesmo, senhor”, retrucou ela, seca, já um pouco irritada.
Confuso, voltei ao quarto, olhando cuidadosamente pela porta. A mulher
estava sentada na cama, usando uma camisola de hospital. O cabelo estava
emaranhado e os olhos, fechados de tão inchados. O rosto estava
ensanguentado e cheio de hematomas, com quase o dobro do tamanho
normal.
Era Ellen.
Quando outras pessoas chegaram, fiquei sabendo do que tinha acontecido.
O namorado tinha ficado com raiva da mãe de Ellen e começou a bater
naquela mulher solteira com três filhas. Ellen interveio para defender a mãe,
e então o homem despejou toda a sua fúria sobre a adolescente, espancando-
a repetidamente até que ela por fim desmaiou. Diante disso, ele fugiu, e
então finalmente a polícia e uma ambulância apareceram. Foi assim que uma
menina linda como Ellen foi parar no quarto 2 de um pronto-socorro.
Já se passaram mais de 20 anos, mas ainda me lembro como se fosse
ontem da cena da jovem Ellen sentada na cama. Ainda vejo seu rosto
enquanto ela tentava enxergar algo pelas pálpebras inchadas. À primeira
vista, eu não a vi, porque a confundi com outra pessoa. Não a reconheci
porque ela não se parecia em nada consigo mesma.
Se pudéssemos viajar no tempo de volta para o primeiro século e
visitássemos a igreja em Colossos, o que será que veríamos? Ao entrar na
casa que servia de igreja no domingo à noite, provavelmente veríamos
pessoas que tinham acabado de chegar do trabalho, já que naquela época o
domingo era um dia de trabalho equivalente à nossa segunda-feira. Veríamos
todo tipo de gente – diferentes demografias, etnias e classes. Velhos e
jovens, ricos e pobres. Todos reunidos para estar com quem os ama e apoia.
Há uma refeição conjunta, oração, palavra de um mestre ou pastor, a
lembrança de que o Senhor morrera por eles, provavelmente um cântico, e
depois todos vão para casa. O que tornava esse grupo marcante não era tanto
o que faziam, mas a razão de se encontrarem. Não se juntavam apenas
porque era “hora de ir à igreja”. Estavam ali porque realmente precisavam
uns dos outros. Ansiavam pela comunhão e por encontrar alívio de um
mundo hostil. Tinham fome de ouvir o que Deus falaria por intermédio de
seus apóstolos ou de sua palavra escrita. Não tinham vindo para se divertir,
mas para estar com sua família espiritual. Para serem fortalecidos e
edificados. Era simples e sem fanfarra. Todo o foco estava em Jesus.
Se fôssemos participar de uma reunião assim, será que iríamos para casa
questionando se realmente tínhamos estado em uma igreja? Será que
julgaríamos com sutileza a sua falta de preparo, ou criticaríamos aquelas
acomodações rudes? Esnobaríamos a música deles (ou a falta dela)?
Ficaríamos entediados pela fala pouco educada do preletor? Ou, invertendo
os papéis, e se um membro comum da mesma igreja colossense visitasse
uma das nossas igrejas atuais? O que diria? Como se sentiria? Seria bem-
vindo? Que impressão teria – não da música no palco ou da apresentação do
pastor, mas do “espírito” em si da igreja? Será que reconheceria que se trata
de uma igreja? Será que iria embora confuso ou talvez até entristecido?
A intenção não é beatificar os cristãos do primeiro século e da igreja
primitiva, como se ocupassem um status todo especial. Da mesma forma,
também não queremos desmerecer ou demonizar o uso de criatividade,
tecnologia, humor ou excelência profissional na igreja atual.143 A questão não
é forma ou tipo de culto, ou se usamos projetores de alta definição ou
câmeras digitais. Nosso verdadeiro dilema está no fato de que a igreja corre
o perigo de perder sua alma. Comparado ao que vemos da igreja na
Escritura, hoje em dia ela se tornou praticamente irreconhecível em alguns
lugares.
O que aconteceria se no domingo nós apenas nos reuníssemos para fazer
coisas simples? O que aconteceria se, durante um ano inteiro, não
promovêssemos entretenimento nem fizéssemos elaboradas apresentações
multimídia e multissensoriais? É bem possível que algumas pessoas – ou
mesmo muitas – deixassem de aparecer. Criamos um monstro faminto que
agora exige ser alimentado. Ao nos concentrarmos em dar às pessoas o que
achamos que elas querem em vez do que precisam, concebemos uma cultura
cristã de recebedores. As pessoas vêm para ganhar os brindes, os presentes
espirituais que pensam ter direito.
E nós trememos na base ao pensar no que aconteceria se o sistema de som
falhasse ou o café acabasse antes da hora.
Em outras palavras: ficamos muito bons em fazer igreja em nossa cultura,
mas esquecemos como simplesmente ser igreja, especializando-se naquilo
que realmente importa.
Paulo advertiu Timóteo: Pois virá o tempo em que não suportarão a sã
doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para
si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar
ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. (2Tm 4.3-4, ênfase
acrescentada) Paulo usa a mesma palavra – “tempo” (era, idade) – que já
tinha usado nessa carta para falar dos “tempos terríveis” dos últimos dias
(2Tm 3.1). Um dos sinais da apostasia futura é o abandono da sã doutrina.
Nessa era que rejeita abertamente a verdade desconfortável da Palavra de
Deus, os cristãos serão tentados a “mudar” seus sistemas de crenças para ir
ao encontro de sua cultura e do pensamento popular. A pressão para suavizar
certas verdades bíblicas ou para redefini-las aumentará. E quando a sã
doutrina ficar cada vez mais impopular, o mesmo acontecerá com aqueles
que a defendem. Cristãos, igrejas e denominações inteiras continuarão a
transformar a verdade em mito para “coçar” os ouvidos das pessoas. Na
carta anterior, Paulo tinha descrito essas pessoas que se desviam da verdade
como indivíduos com estilos de vida que se “opõe[m] à sã doutrina” (1Tm
1.9-10). Tais pessoas querem uma igreja que sempre lhes traz bons
sentimentos.
A advertência de Paulo aplica-se aos filósofos de poltrona e aos pretensos
teólogos que advogam doutrinas diferentes das encontradas nas Escrituras.
Os ensinos deles levarão outras pessoas à impiedade. Tais pessoas,
obcecadas com tópicos controversos e minúcias teológicas, debaterão e
discutirão todo tipo de detalhe – bem parecido com os muitos blogueiros
supostamente cristãos de hoje que se apresentam como teólogos e
especialistas em Bíblia. Paulo diz com muita franqueza que eles são
“orgulhoso[s] e nada entende[m]” (1Tm 6.3-5; exatamente como os homens
em At 17.21). Quanto mais perto chegarmos dos dias finais, esses perversos
e impostores “irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2Tm 3.12-
13). Contudo, diferentemente da carnalidade desenfreada tão evidente no
mundo à nossa volta, esse afastamento de Deus é sutil e enganoso, e sua
manifestação na comunidade de fé é um sinal seguro dos últimos dias.
O chamado para afastar-se do abismo da apostasia não se refere apenas a
guardar a sã doutrina e fazer discípulos, mas também é um chamado para
que a igreja simplesmente seja ela mesma. A voltar para o que Jesus a
chamou para fazer. A recapturar sua beleza original, simples, profunda,
inocente e pura.
Na realidade, não precisamos de uma máquina do tempo que nos permita
visitar a igreja primitiva. Podemos encontrá-la (junto com todas as suas
imperfeições) em todo o Novo Testamento. Também podemos reconquistar o
coração de Jesus para sua noiva. Este é o ideal pelo qual ansiamos – ser
completamente dele. Tornar-nos como ele em todos os aspectos. Sempre que
nos preocupamos demais em construir e manter a igreja, há o alerta de que
chegou a hora de repensar nosso propósito e existência.
Jesus ainda ama sua igreja. Ele anseia apaixonadamente por ela, e quer
ajudar a protegê-la contra aqueles que tentam feri-la, machucá-la ou
desfigurá-la, mudando sua beleza original.
“Sobrevirão tempos terríveis”, previu Paulo. E esse abandono da doutrina
e da fé caracterizará os últimos dias até a volta de Jesus.
O remédio, diz Paulo, é continuar crescendo e sendo convencido pela
verdade encontrada nas Escrituras, que é “útil” e capaz de tornar alguém
“apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.14-17).
Esse é o melhor remédio.
9

VINDO COM
AS NUVENS
O tempo está próximo.
Apocalipse 1.3

Há alguns anos, em visita a uma pequena cidade na Inglaterra, tive o


privilégio de participar de um almoço com um grupo de homens e mulheres
aposentados. Ao meu lado havia uma senhora idosa, e logo começamos a
conversar. Em pouco tempo, descobri que era aniversário dela.
“Quantos anos a senhora está completando?”, perguntei.
Ao ouvir minha pergunta, todos ao redor da mesa levantaram os olhos de
suas xícaras de recém-servido chá inglês.
“Estou fazendo cem anos hoje”, respondeu ela.
“Uau”, comentei, sem saber se a cumprimentava ou se pedia um
autógrafo. Em vez disso, optei por fazer mais uma pergunta: “Diga-me, que
memórias em especial se destacam nesses cem anos? Quais são as suas
lembranças mais vivas?”.
Mexendo seu chá com delicadeza, a mulher pensou por um momento e
então respondeu com naturalidade: “Bem, eu lembro das bombas alemãs que
caíram sobre a nossa cidade em 1940”. Então olhou para mim e declarou,
naquele distinto sotaque britânico: “Mas acho que uma das minhas
lembranças mais antigas deve ser do naufrágio do Titanic. Lembro muito
bem disso”.
Como um menino diante de seu ídolo esportivo, passei os 30 minutos
seguintes em silêncio, escutando com grande atenção as histórias que essa
querida mulher narrava. Nunca me esqueci daquele almoço, mas nenhuma
de suas histórias impressionou-me tanto quanto suas lembranças do Titanic.
O naufrágio deste navio é um dos maiores desastres marítimos da história,
e desde então o nome Titanic passou a ser sinônimo de tragédia. No dia 10
de abril de 1912, o maior navio de cruzeiro da época deixou o porto de
Southampton e começou sua viagem inaugural – a travessia do Atlântico
Norte – com mais de 2 200 almas a bordo. O capitão, Edward Smith, era um
navegador experiente, e corriam rumores de que ele se aposentaria depois
dessa viagem. Depois de quatro dias, tudo corria conforme o planejado. Os
passageiros estavam se divertindo, fazendo o que as pessoas fazem em um
cruzeiro de luxo – comendo, bebendo, jogando, descansando. O céu havia
permanecido limpo e o mar, calmo, tornando a viagem tranquila e sem
imprevistos. Perigo era a última coisa que passava pela cabeça daquelas
pessoas. Na verdade, os 1 316 passageiros do Titanic pensavam exatamente
o contrário, cheios de certeza e confiança devido às garantias de todos os
especialistas de que aquele navio era “impossível de afundar”. Mas a
experiência da pequena Eva Hart, de sete anos, foi outra. Inicialmente, a
família Hart tinha comprado passagens para outro navio, mas o mau tempo
impediu que eles viajassem no Philadelphia. Assim, Eva e seus pais
receberam a oferta de viajar em uma cabine de segunda classe do Titanic.
Mas a mãe de Eva, a quem todos descreviam como uma mulher muito
equilibrada, sentia-se perturbada pelo mau pressentimento de que algo
terrível aconteceria.
Na manhã do dia 14 de abril, domingo, o navio recebeu um aviso por
rádio do SS Caronia, relatando a presença de icebergs poucas milhas ao
norte do curso traçado para o Titanic. Mais tarde no mesmo dia, o Titanic
recebeu avisos adicionais a respeito do gelo. Um deles veio do navio a vapor
Baltic, às 13:40, informando que estava “passando por icebergs e grandes
quantidades de campo de gelo”.144 Esta mensagem incluía coordenadas
específicas que indicavam a localização das massas de gelo. Outra
mensagem veio do Californian, informando que havia gelo cerca de 30
quilômetros ao norte do caminho do Titanic. Também dava as coordenadas
correspondentes. O transatlântico alemão Amerika mandou uma mensagem
que relatava a presença de dois grandes icebergs. Por fim, entrou mais um
aviso, novamente do Californian, declarando: “Paramos e estamos cercados
de gelo”, ao que o operador de rádio do Titanic respondeu: “Cale-se. Estou
ocupado”!145
Mais tarde, o mundo descobriu que o maior transatlântico da humanidade
atingiu um iceberg às 23:40 do dia 14 de abril de 1912, a uma velocidade de
38 quilômetros por hora. A pequena Eva, que dormia naquela hora, mais
tarde ouviu de sua mãe que a colisão não parecia ter sido mais do que uma
pequena pancada. Mesmo assim, a mãe de Eva acordou o marido, que,
depois de ter subido de elevador ao deque, voltou imediatamente para buscar
a esposa e a filha. Enrolando a menina em um grosso cobertor, ele
rapidamente guiou a família para cima. Naquele momento, pouco após a
colisão, não havia pânico nem sensação de perigo no ar. Ainda assim, Eva e
a mãe foram preventivamente colocadas em um bote salva-vidas, onde
ficaram esperando no ar congelante da noite.
Depois de avaliar os danos e receber relatórios da casa de máquinas do
navio, o capitão Smith confirmou que o navio estava afundando e deu ordens
para embarcar os passageiros nos botes salva-vidas.
Foi então que o pânico começou.
O Titanic afundou em duas horas e quarenta minutos, levando consigo 1
512 almas nas geladas águas do Atlântico Norte, que naquele ponto têm
quase quatro quilômetros de profundidade. Eva Hart e a mãe sobreviveram,
mas ela nunca mais viu o pai. A garotinha viu o enorme navio se inclinar,
submergir e então quebrar ao meio antes de afundar completamente. A cena
ficaria gravada em sua memória para sempre.
No dia do naufrágio do Titanic, a programação previa uma simulação do
uso dos botes salva-vidas, mas por algum motivo desconhecido o capitão
cancelara o exercício. Ainda tinham chegado mais avisos de gelo e icebergs
de outros navios que estavam na área. Alguns foram considerados, outros
não.
Depois do naufrágio do Titanic, os navios de cruzeiro passaram a adotar
medidas de segurança que incluem procedimentos de evacuação e
regulamentações que não existiam anteriormente. Infelizmente, muitos
pereceram para que essas lições fossem aprendidas.
Mensagens. Advertências. Tragédia.
À semelhança daqueles avisos sobre icebergs em abril de 1912, as
profecias bíblicas nos alertam em relação aos tempos do fim. Elas nos
advertem contra o perigo iminente e dão pistas para evitar a catástrofe. Se
observadas, salvam vidas. Se ignoradas, o desastre será inevitável. Já vimos
algumas semelhanças entre os dias de Noé e os tempos finais do planeta
Terra. Também já observamos o quanto a nossa geração se parece com
ambas. Enxergar esses paralelos não significa que estamos para ser
arrebatados, assim como ver um iceberg não significa que o navio vá
afundar.
Mas significa que estamos no mesmo rumo.
E disso temos certeza. Estamos cercados de icebergs por todos os lados.
Mesmo não concordando nos detalhes, creio, como a maioria dos estudiosos
da Bíblia e especialistas em profecias, que a humanidade segue em rota de
colisão com o juízo futuro de Deus e a iminente volta de seu Filho, Jesus
Cristo. Estamos seguindo em frente a toda velocidade pela noite, em direção
a uma catástrofe global. Numerosas evidências morais, culturais,
geopolíticas e bíblicas convincentes demonstram que podemos estar muito
próximos dos tempos do fim descritos nas Escrituras. Alguns desses sinais e
pistas podem parecer tão improváveis quanto um bloco de gelo ser capaz de
derrubar um transatlântico à prova de naufrágio. Há quem diga que as
chances de que esses eventos proféticos realmente aconteçam são tão
minúsculas que chegam a ser ridículas. Tão absurdas quanto uma arca que
salva uma família e alguns animais de um dilúvio mundial. Mas, para quem
tem discernimento, há uma percepção cada vez mais forte de que o nosso
mundo está se aproximando do fim de sua jornada. E não precisamos de
premonições para entender isso.
Quando observamos a humanidade pela lente interpretativa das Escrituras,
encontramos uma geração muito parecida com aquela da época de Noé.
Como naqueles tempos, o nosso mundo está cheio de bilhões de pessoas
nem um pouco interessadas ou preocupadas com um juízo futuro já
anunciado. Na verdade, hoje a maioria nem mesmo acredita que já houve um
julgamento desse tipo. Para eles, a história de Noé, da arca, do Dilúvio e da
obliteração da humanidade é pura ficção. Uma grande ideia para um filme,
mas não material histórico real. Eles não acreditam, como fazem os cristãos,
que a previsão do tempo é de 100% de certeza para chuva. Não acreditam
porque, a seu ver, não há uma única nuvem no céu. Não há nada em seu
radar que indique que o mundo vai acabar. Nada que os convença que
demônios serão liberados para atormentar a humanidade. Nenhum sinal
iminente de que em breve a terra será devastada por terremotos, guerras e
fomes. Ou de um governo mundial único ou de um mítico e vil Anticristo. E,
acima de tudo, nenhuma prova empírica de que um rabi galileu de dois mil
anos atrás voltará à terra uma segunda vez.
Para eles, isso tudo é material de ficção científica apocalíptica – do tipo
Resident Evil, O Dia Depois de Amanhã ou O Livro de Eli. Dá uma boa
história de terror para contar ao pé da fogueira, mas nada mais que isso. Essa
geração não se considera ímpia porque Deus nem existe. E, se ele existe,
nunca seria tão duro a ponto de destruir o mundo e seus habitantes. Não
consideram que a violência esteja descontrolada ou epidêmica. Não veem o
aborto como um homicídio brutal.
Além disso, há muitas pessoas boas no mundo para compensar aqueles
que de fato cometem crimes. Também não há nenhum problema sexual,
especialmente no que diz respeito a “perversões” sexuais sistêmicas. E ficam
ofendidos pelo fato de haver gente que julga e condena “pessoas boas”
apenas porque estas nasceram com uma orientação sexual diferente ou
dormem com a namorada. Por que alguém se importaria com isso? Afinal,
vivemos em um país livre, não é? Consideram os pontos de vista cristãos
sobre sexualidade como repressivos e vitorianos. E irrealistas. Na cabeça
deles, todo esse cenário apocalíptico é apenas uma estratégia manipuladora
para vender alguns livros, arrecadar grandes bilheterias e, quem sabe,
assustar alguns indivíduos de mente fraca que então se refugiariam na fé.
Caso você realmente acredite em todas essas superstições escatológicas,
você é rotulado de “burro” e “não científico”. Talvez também um tantinho
maluco. Você pode ser uma pessoa legal, mas a sua credibilidade cairá
vertiginosamente se começar a falar sobre outro futuro juízo global. Aliás,
Deus não ama todo mundo? Portanto, guarde suas opiniões para você
mesmo, que assim as pessoas não vão achar que você está
irremediavelmente doido.
Está se sentindo como Noé?

Código Fonte Como já dissemos, grande


parte dos eventos profetizados para o futuro
ainda não está clara. É por isso que os
aparentes sinais da aproximação do fim dos
tempos parecem mais nuvens de tempestade
se acumulando do que um calendário
definido. Talvez ainda não estejamos vivendo
as dores de parto que Jesus falou em Mateus
24, mas está cada vez mais óbvio que a
“gravidez está avançada”. Como seguidores
de Jesus, nossas principais crenças a respeito
do futuro não se baseiam em opiniões ou
especulações, mas na Palavra de Deus.
Extraímos nossas informações e nossa certeza
da verdade que o Senhor registrou para nós de
forma sobrenatural (2Pe 1.20-21). E a
veracidade e a confiabilidade da Bíblia estão
inseparavelmente ligadas com a fidelidade do
próprio Deus. Desconsiderar uma significa
desconsiderar a outra. Para o cristão, as
promessas simples e claras de Jesus são
suficientes: “Vou preparar lugar para vocês.
E, quando eu for… voltarei.” (Jo 14.2b-3)
“Sim, venho em breve!” (Ap 22.20) É nisto
que está nossa esperança, não no sentido de
“tomara que...”, mas no de “aguardo com toda
certeza...” (ver At 24.15; Rm 8.5; 15.4; Tt
2.13; Hb 6.19). A Escritura diz que todos
esses eventos do fim dos tempos “deve[m]
acontecer” (Ap 4.1, ênfase acrescentada).
Uma vez que até aqui a Escritura e Jesus
registram 100% de precisão nas profecias já
cumpridas, eles também são a aposta segura
para o futuro.
Para bilhões de pessoas, no entanto, isso é simplesmente irreal. Não
entendem isso porque Deus diz que anteriormente suprimiram a verdade a
respeito dele. Não esperam que algo aconteça no futuro porque estão
ocupados demais desfrutando (ou se estressando) com o agora. Como
resultado, estão absolutamente despreparados para o que vai acontecer. Para
eles, a vida é sempre a mesma coisa.
Consumidos pelo eu e pela autossatisfação, esses zombadores dos últimos
dias ridicularizam a simples ideia da volta de Jesus (2Pe 3.3-4). Sua
motivação e racionalização (além de retratar os cristãos como tolos e
simplórios) é dupla: “Não é assim que o universo funciona”, e: “Não há um
Deus que inundou a terra, portanto é impossível que haja um que a destruirá
no futuro” (ver 2Pe 3.5-6). Essa tentativa fútil de argumentar com lógica
recorre a leis observáveis da ciência e aplica-as retroativamente às
civilizações antigas. Isso pressupõe, é claro, que não há Deus e que, se ele
existisse, certamente não atravessaria a barreira de tempo/espaço para
suspender as leis da natureza e interferir nos assuntos da humanidade. E por
que acreditam nisso? Porque, depois de suprimir a verdade evidente a
respeito de Deus, ficaram “obscurecidos no entendimento e separados da
vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao
endurecimento do seu coração” (Ef 4.18). Assim, são forçados a inventar
uma explicação alternativa para o universo e para o motivo pelo qual a
Palavra de Deus não pode ser verdade (ou ao menos esperam que não seja).
É um caso clássico e extremo de negação, tanto que não conseguem nem
mesmo conceber a ideia de que a Palavra de Deus seja verdadeira, em
especial no que diz respeito aos tempos finais. E essa negação é deliberada
(2Pe 3.5). Eles não são estúpidos. Apenas tolos (Sl 14.1; Pv 1.7,22; 13.16;
18.2; 29.9; Mt 7.26; 1Co 1.27).
O que, no entanto, é inegável tanto para cristãos quanto para não cristãos é
o fato de que as fronteiras globais estão desaparecendo e que nosso planeta
caminha rapidamente para tornar-se uma única grande sociedade. A
globalização está unindo a humanidade, criando uma comunicação e uma
integração que o ser humano não experimentava desde a torre de Babel (ver
Gn 11.1-9). Como aconteceu com o Titanic, iniciamos a viagem e estamos
indo a algum lugar. Mas nenhum meteorologista consegue prever essa
tempestade global futura de forma precisa. Não há radar doppler que consiga
detectar esse evento meteorológico profético. Da mesma forma como
acontece com a previsão de tornados, a única coisa que sabemos é quando as
condições estão favoráveis. Céu escurecido, nuvens baixas, redemoinhos de
detritos e grandes pedras de granizo em geral indicam a proximidade de um
tornado. E se então o ar de repente ficar parado e você ouvir um barulho
semelhante a um trem de carga, é praticamente certo que o tornado é
iminente e que é preciso abrigar-se imediatamente. A profecia bíblica é
parecida, indicando-nos os sinais que advertem contra eventos iminentes.
É muito provável que as condições morais, espirituais e econômicas da
terra ficarão cada vez piores quanto mais nos aproximarmos do
arrebatamento. Depois disso, começará uma nova fase da justiça divina, em
que “semeadura e colheita” darão espaço a uma ira diferente – do tipo
apocalíptico.
Mesmo que não possamos especular em relação aos detalhes, podemos ter
certeza de uma coisa – Jesus Cristo vai retornar para este planeta (Ap 1.7;
22.7,12,20). Exatamente como ele disse que faria. Sua volta triunfante
incluirá um exército de redimidos a cavalo, conduzidos à batalha por seu
vitorioso Rei. Entre esses guerreiros há anjos e crentes. Em Apocalipse
19.11-16, João descreve sua visão profética desse evento. Nela, descobrimos
que o Jesus que se manifestará no fim da tribulação é muito diferente
daquele ao qual nos acostumamos. Este Cristo, que ressuscitou, ascendeu
aos céus e foi glorificado, estava sentado à direita do Pai desde que deixou o
mundo em 30 d.C. Estava no céu, mas não de braços cruzados. Em vez
disso, ocupou-se de suas funções de Soberano, Mediador, Intercessor e
Construtor de Casas (Hb 12.2; 1Tm 2.5; Hb 7.25; Jo 14.2). Até agora ele já
passou cerca de dois mil anos preparando um lugar especial para sua noiva, a
igreja. Seu amor pela igreja é um romance sem paralelos e sem igual na
terra. Durante a tribulação, os crentes levados no arrebatamento já se
acomodarão em sua nova casa celestial, celebrando a ceia nupcial do
Cordeiro e recebendo sua recompensa do próprio Jesus (Ap 19.7-9; 1Co
3.10-15; 4.5; 2Co 5.9-10).
Mas agora chegou a hora do juízo. Esse é um compromisso irrevogável de
Cristo com a humanidade. A segunda vinda de Jesus é ainda mais certa que a
própria morte. A humanidade tem um encontro marcado com o acerto de
contas. Mas esse julgamento não é simplesmente uma explosão de raiva ou
uma crise temperamental de alguma divindade esquentadinha. Em vez disso,
é a execução da justiça sobre os maus por um Rei Justo.
A Bíblia diz que Satanás, seu Anticristo e seu segundo oficial, o Falso
Profeta, reunirão os exércitos do mundo em um lugar chamado Armagedom
(Ap 16.16). Imediatamente ao sul de Nazaré, a cidade em que Jesus cresceu,
Armagedom (ou o vale de Jezreel) será o cenário dessa épica batalha final.146
Na verdade, essa será a última fase de uma série de campanhas bélicas que
acontecerão durante os últimos dias da tribulação.147
O local exato em que Jesus tocará a terra novamente será o monte das
Oliveiras (Zc 14.4). Isso é significativo por pelo menos dois motivos: (1)
esse é o mesmo lugar de onde ele subiu aos céus (At 1.6-12); e (2) é o
mesmo lugar onde estava com os seus discípulos quando lhes falou sobre os
eventos dos últimos dias (Mt 24) – ver capítulo 4. A Bíblia diz que, quando
ele voltar, seus pés tocarão o monte das Oliveiras, dividindo-o de leste a
oeste, criando assim um vale largo pelo qual os judeus sobreviventes
poderão fugir para um lugar seguro. O interessante é que sismólogos já
documentaram falhas na crosta terrestre exatamente nessa região, afirmando
que as condições são favoráveis para um grande terremoto que pode ocorrer
a qualquer momento.148
Jesus irromperá pelo céu, dessa vez não sobre um humilde jumento, mas
um corcel branco. O “seu nome é Palavra de Deus” (Ap 19.13), a revelação
visível do Deus invisível (Jo 1.1-3; Cl 1.15; Hb 1.3). Jesus advertiu as
gerações futuras contra falsos cristos, como que dizendo: “Não se deixem
enganar por pessoas fingindo ser o Cristo. Acreditem em mim. Quando eu
voltar, garanto que vocês me reconhecerão”. Quando Jesus aparecer, ele se
manifestará em pessoa, e todo olho o verá (Zc 12.10; Ap 1.7). Ele não virá
como um bebê indefeso, mas como um guerreiro triunfante. A guerra que ele
conduzirá é justa, e a sentença que ele executará estará fundamentada em sua
santidade e caráter justo (Ap 19.11). O Juiz de toda terra o ordenou.149
Ele vem para vencer. E para matar.
Seus olhos são descritos como “chamas de fogo” e em sua cabeça haverá
muitas coroas (Ap 19.12), substituindo, há muito, a coroa de espinhos que
usou na crucificação. Seu sofrimento terminou. Seu reinado começou. João
também vê sobre ele um “nome” que ninguém mais além dele mesmo
conhece. Esse nome misterioso talvez lhe tenha sido dado pelo Pai, e é um
que apenas a Divindade entende. Mas há também um outro nome, um que
João, o exército celestial e todo habitante terrestre entendem. Este nome está
escrito em seu manto e em sua coxa (talvez na forma de uma insígnia) –
“REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16).
Esse título proclama a soberania absoluta de Jesus sobre todas as coisas,
anunciando o seu direito de julgar, guerrear e vencer seus inimigos. A ponta
de seu manto está mergulhada em sangue, possivelmente um símbolo de
vitórias passadas, mas com certeza um anúncio de sua futura vitória no
Armagedom.
Nessa batalha épica, Jesus será acompanhado pelos redimidos de todas as
eras e por um exército angelical (Zc 14.5; Mt 25.31; 1Ts 3.13; 2Ts 1.7; Jd
14; Ap 17.14; 19.11,14). Vestidos de justiça, incontáveis milhões – incluindo
os arrebatados antes do início da tribulação – o seguirão, também montados
em cavalos brancos. Jesus também é chamado de “Fiel e Verdadeiro” (Ap
19.11). Ele prometeu vir para receber sua noiva, o que fez no arrebatamento
(Jo 14.3; 1Ts 4.13-18). Ele prometeu retornar a este mundo, outra promessa
que ele cumprirá nesse momento (Mt 25.31; At 1.9-11). Jesus nunca deixa
de fazer o que promete; ele realiza cada palavra proferida (Mt 24.35). Ao
descer das nuvens, Jesus aparentemente será o único guerreiro armado nessa
luta. Mas a sua arma é suficiente. Trata-se da Palavra, que procede da sua
boca e é descrita como “espada afiada” (Ap 19.15). Os exércitos do mundo
cairão aos seus pés diante das palavras que saírem de sua boca. Não sabemos
o que ele dirá, mas provavelmente será o pronunciamento do juízo.
Não haverá disputa.
Ao descrever esse julgamento, João recorre à metáfora de um vinhateiro
que pisa as uvas com seus pés, espremendo assim o suco que vai enchendo o
lagar. Só que aqui é o “furor da ira do Deus todo-poderoso” que pisa os
perversos (Ap 19.15). Em um acontecimento mais brutal que Coração
Valente e mais sangrento que o Dia D, milhões incontáveis serão aniquilados
pela Palavra penetrante e poderosa de Deus. Esse juízo derramará uma
quantidade inimaginável de sangue, que correrá numa distância de cerca de
300 quilômetros (Ap 14.19-20)!
A mera lembrança da ira de Deus deveria despertar santo temor em nós.
Ela não somente nos lembra que ele é justo e pune os perversos, mas
também nos adverte a não fazer caricaturas mentais a respeito dele,
acentuando demais o seu amor em detrimento de sua santidade, ou vice-
versa (Pv 11.21; Is 13.11). É difícil saber o que sentiremos quando
acompanharmos nosso Rei nessa batalha. Como seres humanos, talvez
imaginemos que vamos nos retrair ou até nos sentir repelidos por tamanha
carnificina da humanidade. Com certeza Noé também sentiu isso. Talvez ele
tenha escutado os terríveis sons das pessoas se afogando fora da arca
enquanto a chuva descia e as águas subiam. Talvez tenha cogitado, por um
momento, se o juízo de Deus não estava sendo duro demais. Mais tarde,
quando saiu da arca e se conscientizou de que ele e sua família de oito
cabeças eram os únicos humanos ainda vivos na terra, a realidade da ira de
Deus deve ter ficado marcada com força em sua memória.
Assim, quando pensamos no futuro banho de sangue no Armagedom,
talvez também fiquemos cogitando se haveria a possibilidade de ficar em
casa no céu enquanto os outros vão à guerra. Talvez baste que aqueles
cristãos mais “guerreiros” acompanhem Jesus nessa missão. Mas há algo que
pode nos servir de consolo: naquele momento, já teremos sido glorificados
em Cristo e nossa salvação estará completa (Rm 8.30). Já teremos sido
transformados e teremos novos corpos. Não sofreremos mais nenhuma das
limitações de nossos velhos corpos físicos, incluindo doenças e tentação. Em
vez disso, teremos um corpo ressuscitado igual ao de Cristo, não limitado
por tempo e espaço (ver Jo 20.19; 1Co 15.42-49; Fp 3.21).
Além dessa transformação física, também seremos mudados em espírito.
Não apenas nossa natureza pecaminosa finalmente terá sido erradicada, mas
seremos “como ele”, uma vez que agora o processo de sermos conformados
à sua imagem (que começou na salvação) já terá sido finalizado (Rm 8.29;
1Jo 3.2). Nesse estado glorificado, teremos a mente de Cristo, o que significa
que entenderemos tudo a partir do seu ponto de vista. Isso inclui a habilidade
de equilibrar e administrar corretamente não apenas a terrível ira de Deus,
mas também a alegria indescritível do céu. Antes de chegarmos lá, é
impossível entender completamente nem o amor nem a ira de Deus. Mas
tudo fará sentido quando estivermos seguindo o Senhor naquele dia, e não
haverá medo – apenas a celebração triunfante da vitória conquistada por
nosso glorioso Salvador.
Mas a experiência será totalmente diferente para quem permanecer aqui
na terra. Esse será o juízo final sobre a terra, o mais sangrento de toda a
história. A Bíblia diz que três espíritos demoníacos realizarão sinais
milagrosos para atrair os reis da terra ao vale de Jezreel (Ap 16.14). Os
exércitos do mundo inteiro serão persuadidos a reunir-se aqui com um único
propósito – “guerrearão contra o Cordeiro”. No entanto, “o Cordeiro os
vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis”, e os que estiverem
com ele são os “chamados, escolhidos e fiéis” (Ap 17.14).
Mais uma vez, Deus destruirá aqueles que o rejeitam e ignoram,
corrompendo-se com autoadoração e com sua relação amorosa com o pecado
e a sensualidade. Arco-íris serão substituídos por justiça retributiva. Quem
amava a escuridão em vez da luz enfrentará o juízo que desce dos céus (Jo
3.19-20). A zombaria do mundo a respeito do Filho cessará. As bocas dos
céticos serão caladas para sempre. As únicas bocas abertas serão as das aves
previamente convocadas por um anjo para fartar-se com os corpos de reis,
generais e poderosos (Ap 19.17-18). Essas aves de rapina famintas vão se
empanturrar dos cadáveres daqueles que desafiaram o Senhor que fez os
céus e a terra. Sete anos antes, os santos reuniram-se no céu para celebrar o
“banquete do casamento do Cordeiro” (Ap 19.9). Esse grande banquete após
o Armagedom é chamado de “grande banquete de Deus” (Ap 19.17). Um
banquete celebra a graça; o outro, o juízo. E, como as vítimas anteriores da
ira da tribulação, os que morrerem nessa batalha final também o “merecem”
(Ap 16.4-7).
As palavras do anjo de Deus que anuncia o evangelho soarão com clareza
chocante: “Temam a Deus e glorifiquem-no, pois chegou a hora do seu
juízo” (Ap 14.7).
É isso que acontecerá na segunda tempestade global.
Como aconteceu com as gerações anteriores ao Dilúvio, a ira de Deus
acumulou-se durante milhares de anos. Parte de seu juízo ao longo dos
tempos é permitir que o ser humano faça suas próprias escolhas e que esse
pecado tome a rota normal de causa e efeito. A humanidade semeou vento,
mas colherá tempestade (Os 8.7). Ao se embriagarem de si mesmos, as
pessoas colherão mais do que esperam pelo fato de terem expulsado Deus de
suas vidas. Consequentemente, a tremenda ira futura de Deus será uma
bebida fermentada e forte (Ap 16.19).
A era da graça em que vivemos terá um fim repentino, e o que vem depois
representará o fim alucinante e catastrófico da civilização que conhecemos.
Mas, até lá, há algo que Jesus quer que você faça.
10

A PORTA ABERTA
O Espírito e a noiva dizem: “Vem!”
Apocalipse 22.17

Em 7 de dezembro de 1941, milhões de americanos estavam sentados em


casa, atentos ao rádio e esforçando-se para acompanhar todos os relatos que
chegavam a respeito do que tinha acontecido em uma obscura base naval de
uma remota cadeia de ilhas chamada Havaí. No dia seguinte, o presidente
Franklin Roosevelt dirigiu-se ao Congresso dos EUA no que provavelmente
foi o discurso mais memorável de seus quatro mandatos, pedindo uma
declaração de guerra. No fim de sua fala, recebeu aplausos estrondosos e a
confirmação unânime de sua requisição.
Os quatro anos seguintes seriam uma dura prova para o ânimo e a
determinação dos americanos, à medida que a nação inteira se sacrificava em
prol dos esforços de guerra. As famílias tinham de se virar sem a quantidade
normal de mantimentos, uma vez que o racionamento limitava as
quantidades de compra de alimentos como carne, açúcar, manteiga, vegetais
e frutas. Para compensar, muitos cultivavam suas próprias hortas em casa,
patrioticamente chamadas de “jardins da vitória”. Não havia muita gasolina
para comprar. Era muito difícil encontrar doces. Escoteiros coletavam papel,
enquanto outras crianças juntavam borracha, roupas, alumínio – qualquer
coisa que pudesse ser usada para promover a causa. Algumas igrejas
chegaram a fundir seus sinos para que o metal fosse usado em outras
necessidades. As mulheres tornaram-se a força motriz do operariado
americano, trabalhando em fábricas e montando aviões, tanques, navios de
guerra, rifles e munição.
E, é claro, havia os soldados e marinheiros. Os homens não hesitavam em
se alistar, e os escritórios de recrutamento estavam lotados de jovens
ansiosos para lutar por seu país. Milhares de adolescentes, como meu pai,
mentiram sua idade para ter o privilégio de entrar para o exército. Esse
conflito, que ameaçava o futuro da própria civilização, garantia que
praticamente todo indivíduo seria, de alguma forma, afetado. Alguns
trabalharam. Outros combateram. Todos oravam.
Tempos de guerra ou crise nacional impactam todas as áreas da vida. Todo
mundo faz sua parte. É como em caso de furacão ou tornado, quando
milhares de pessoas instintivamente correm para ajudar as vítimas.
Simplesmente agimos assim. É o certo a fazer. De alguma forma, as pessoas
automaticamente sabem que é hora de auxiliar. O homem mais sábio que já
viveu escreveu: “Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para
cada propósito debaixo do céu” (Ec 3.1).
Como cristãos, enfrentamos agora uma era singular da história humana.
Em nenhum outro momento desde a primeira vinda de Cristo as profecias
sobre o fim dos tempos pareceram tão realizáveis. Os eventos que as
Escrituras descrevem em relação aos últimos dias não estão mais relegados a
fantasias futuristas ou aos falatórios religiosos de supostos profetas
orbitando na periferia do cristianismo tradicional. Aquele típico profeta
apocalíptico de esquina, portando uma placa que diz “O FIM ESTÁ
PRÓXIMO”, pode continuar parecendo um pouco excêntrico, mas a
mensagem já não é mais tão absurda quanto parece. Desde que a igreja
primitiva recebeu as cartas originais do Novo Testamento, há esse espírito de
expectativa entre os estudiosos da Bíblia e de profecia.
Antes da Segunda Guerra Mundial, era difícil imaginar como algumas das
profecias de Apocalipse poderiam se tornar realidade. Hoje não é mais
assim. Muita coisa mudou desde então. Avanços exponenciais na tecnologia.
O movimento coletivo em direção a um governo único na Europa. A
crescente evolução em direção a uma economia global. Relações voláteis
entre nações adversárias. E – talvez o ponto mais significativo – o retorno do
povo judeu a Israel em 1948, o que pela primeira vez desde 70 d.C. tornou
grande parte da profecia plausível!150 O dr. Mark Hitchcock, especialista em
profecia, afirma: “Praticamente todos os eventos-chave dos últimos tempos
dependem da existência da nação de Israel”, classificando a volta desse povo
à sua terra como um “supersinal” do fim dos tempos. Ele acrescenta: “Uma
vez que a tribulação começa oficialmente quando o Anticristo celebrar um
tratado de sete anos com Israel (Dn 9.27) [...] é óbvio que, para que isso seja
possível, é preciso que Israel exista. Os judeus precisam estar de volta à sua
terra”.151 É o que está acontecendo agora. Hoje em dia, Israel é o lugar com a
maior concentração de judeus no mundo inteiro, ficando atrás apenas dos
Estados Unidos.152
Além disso, quando se pesquisa nas Escrituras, percebe-se que não há
mais nenhuma outra profecia que ainda precise ser cumprida para que o
arrebatamento ocorra. Nada que seja necessário para desencadear esse futuro
evento profético. Ele é a próxima data importante no calendário de Deus.
Este simplesmente dará a ordem, e Jesus descerá dos céus (1Ts 4.16).153 O
arcanjo (Miguel) o seguirá, também fazendo-se ouvir. Então ressoará a
“trombeta de Deus”. Deus usa trombetas para anunciar juízo (Ap 8–11), mas
essa trombeta específica soa para celebração, convocando a noiva de Cristo
para o banquete nupcial. Os cristãos mortos ressuscitarão de seus túmulos, e
seus corpos se reunirão aos respectivos espíritos que descem dos céus. Quem
estiver vivo nesse momento será “arrebatado” com eles para “o encontro
com o Senhor nos ares” (1Ts 4.15-17). Ao mesmo tempo, nossos corpos
serão transformados e glorificados (1Co 15.51-54). Tudo isso acontecerá
“num abrir e fechar de olhos” (1Co 15.52). Esse é o jeito de Deus dizer que
isso acontecerá com muita rapidez, instantaneamente. É por isso que o
arrebatamento muitas vezes é descrito ou representado como o
“desaparecimento” dos crentes.
Não precisaremos de aviões, trens nem carros para essa viagem. O
transporte para encontrar Jesus no céu será sobrenatural, à velocidade da luz.
Outro motivo para ter certeza de que o arrebatamento será o próximo
grande evento da profecia bíblica é o fato de a igreja primitiva tê-lo
considerado como iminente. Em outras palavras, criam que ele podia
acontecer a qualquer momento. Alguns críticos desse ponto de vista dizem
que essa crença é relativamente recente, derivando dos ensinos de um
evangelista do século XIX. No entanto, há passagens bíblicas demais
indicando o contrário (Fp 3.20; 1Ts 1.10; Tg 5.7-9; Jd 21; Ap 3.11;
22.7,12,20). A igreja do primeiro século esperava o retorno de Cristo a
qualquer momento!
Paulo escreveu sobre “aguarda[r] a bendita esperança: a gloriosa
manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.13,
ênfase acrescentada). O autor de Hebreus declarou: “Também Cristo foi
oferecido como sacrifício uma só vez para tirar os pecados de muitos. Ele
voltará, não para tratar de nossos pecados, mas para trazer salvação a todos
que o aguardam com grande expectativa” (Hb 9.28, NVT, ênfase
acrescentada).
Por que alguém “aguardaria” algo “com grande expectativa” se não
houvesse a probabilidade de isso acontecer a qualquer momento? Os
primeiros cristãos viviam em constante espera. Acreditavam que seu
Salvador poderia retornar a qualquer momento para salvá-los da ira
vindoura. Não há outra forma de explicar essa ampla e disseminada atitude
de expectativa na igreja primitiva – a não ser, é claro, que a Escritura em si
esteja errada e eles tenham se enganado. Esse aguardar pelo arrebatamento
iminente é o que Tito 2.13 chama de “bendita esperança”. Esse espírito de
espera afeta os cristãos, mudando a forma como eles se relacionam com
Deus, uns com os outros, com a igreja e com o mundo.

Num Piscar de Olhos Durante a faculdade,


participei de uma grande organização
estudantil cristã. Certo dia, um palestrante
visitou nosso grupo e falou sobre o
arrebatamento, enfatizando que ele poderia
ocorrer a qualquer momento. Depois do
encontro, uma moça foi diretamente para seu
quarto e começou a se desfazer de todas as
suas joias (e aquelas meninas tinham muitos
penduricalhos!). Ela fez isso porque
interpretou as palavras daquele preletor de
forma literal, na expectativa de que Jesus
voltasse imediatamente. O que essa minha
amiga não entendeu é que essa expectativa
não exigia que ela se desfizesse de todos os
seus bens materiais. Além disso, o que essa
ação dela revelava a respeito de como ela via
suas colegas?! Assim que ela percebeu que
tinha interpretado mal as Escrituras, ela foi
atrás de suas amigas para reaver suas joias.
Até hoje dou risada quando a imagino
passando pelos quartos, explicando porque
precisava que lhe devolvessem seus colares e
brincos. “Hum, então, parece que no fim
Jesus não vai voltar essa semana, e eu meio
que preciso desses brincos para uma festa na
sexta... ahn... se você não se importar...
obrigada”.
Portanto, se não precisamos nos livrar de todos os nossos bens nem nos
reunir no topo de alguma montanha para esperar por Jesus, o que devemos
fazer? Por definição, acreditar que o retorno de Cristo para buscar sua noiva
é iminente significa que não sabemos quando isso acontecerá. Talvez ele
volte antes de você terminar este livro. Ou daqui a um ano, ou daqui a 10 ou
50 anos. Ninguém sabe. Só Deus tem essa informação.
Apesar de falar claramente sobre a iminência do arrebatamento, o Novo
Testamento também está suficientemente cheio de verdades e ensinos para
nos manter ocupados enquanto esperamos. Saber que Cristo vai buscar sua
noiva antes que a ira vindoura seja derramada deveria nos motivar a estar
pronto. Ao longo dos anos, celebrei cerca de 75 casamentos. Uma das
alegrias de ser pastor é desempenhar esse papel importante na união de duas
vidas, e tive algumas experiências maravilhosas com isso; contudo, embora
tanto a noiva quanto o noivo esperam ansiosamente por esse dia, a noiva
geralmente gasta esse tempo preparando a si mesma. Já o noivo ocupa-se em
providenciar uma casa ou apartamento limpo e arrumado, e organizar as
finanças ou a logística de sua futura vida conjunta. (Ele também fica orando
para que o arrebatamento não ocorra antes da noite de núpcias!) No que diz
respeito ao arrebatamento, Cristo quer que sua noiva esteja pronta para ele.
Como uma noiva antes do dia de seu casamento, Jesus quer que sejamos
puros (2Co 11.2; 1Jo 3.3). O apóstolo João diz que a razão disso é “para que,
quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos envergonhados
diante dele na sua vinda” (1Jo 2.28). Se um homem espera que sua noiva não
se deite com outros durante o período do noivado, ninguém pensa que ele
está sendo controlador ou injusto com a futura esposa. Ele simplesmente a
ama, e ambos se prometeram exclusivamente um ao outro. Da mesma forma,
as ordens de Jesus em relação ao preparo e à pureza nascem de um coração
cheio de amor pela sua noiva. Ele deseja que tenhamos vidas dignas. É por
isso que ele pede que fiquemos perto dele, pratiquemos a justiça e
permaneçamos em seu amor (1Jo 2.29–3.1).
Outra coisa que Deus quer de nós é que continuemos a viver normalmente
como seguidores de Cristo. Se soubéssemos que Jesus voltaria nesta quinta-
feira, às 18:31, provavelmente contaríamos isso a todos os nossos
conhecidos – e então ficaríamos orando, cantando, celebrando e aguardando
a hora chegar. Seria uma espera realmente intensa (talvez até nos
desfizéssemos de algumas de nossas joias). Mas, já que não sabemos nem o
dia nem a hora do arrebatamento, precisamos continuar a cumprir as nossas
responsabilidades. Martinho Lutero, o grande reformador, resumiu bem esse
sentimento escrevendo o seguinte: “Mesmo que eu soubesse que amanhã o
mundo acabaria, ainda assim plantaria minha macieira”. O que Deus deseja é
simplesmente que sejamos obedientes naquilo que devemos fazer hoje. Em
outras palavras: “Espere por Jesus, mas continue vivendo”.
Ao mesmo tempo, precisamos tomar cuidado para não viver como se ele
nunca fosse voltar. Deus quer que sejamos mordomos fiéis daquilo que nos
confiou. Ao falar sobre sua volta, Jesus contou aos discípulos uma parábola
sobre servos que investiram o que seu senhor lhes tinha dado para cuidar. Os
servos que investiram de forma sábia foram recompensados, enquanto que
aquele que não fez nada com os recursos de seu senhor foi repreendido e
castigado (Mt 25.14-30). Antes disso, Jesus já tinha alertado seus discípulos:
“Portanto, vigiem, porque vocês não sabem o dia nem a hora!” (Mt 25.13).
Essas palavras destacam não apenas o nosso dever de sermos fiéis com o que
recebemos, mas também a necessidade de viver com um constante senso de
urgência.
Há muito a fazer enquanto esperamos ansiosamente pela volta de Jesus.
Coisas importantes. Coisas do dia a dia. Família. Trabalho. Escola. Igreja.
Coisas da vida. Coisas boas. Coisas de Deus. Noé não sabia o dia exato em
que o Dilúvio começaria, embora tivesse boas razões para crer que não
chegaria antes que ele terminasse a arca. Mas mesmo depois disso não sabia
precisamente quando começaria. Também sabia que o nome de Matusalém
era profético, mas não fazia ideia de quando o velho homem morreria ou
quanto tempo se passaria para que chegasse “o que” viria. Portanto, o que
fazer? Ficar sentado contemplando as nuvens? Filosofar a respeito do futuro
e do juízo? Reclamar da maldade? Nada disso. Noé tinha trabalho a fazer.
Tinha uma missão. Entendeu que Deus lhe dera uma tarefa muito especial e
que, a fim de cumpri-la, teria que se ocupar e permanecer ocupado,
concentrando-se nas coisas que realmente importavam. Ele simplesmente
trabalhou duro e esperou para ouvir a voz de Deus (Gn 6.22–7.1).
Noé sabia quem ele era, porque estava ali e para onde caminhava sua
vida. Um número muito grande de cristãos está à deriva na vida, sem
qualquer direção. Levantam-se pela manhã. Vão à escola ou ao trabalho.
Voltam para casa. E repetem a mesma rotina monótona dia após dia. Enchem
seu tempo com amigos, passatempos, entretenimento ou família. Talvez uma
ou duas vezes por semana dediquem alguma atenção a Deus na igreja ou em
alguma outra atividade cristã, mas esses momentos são antes floreios em
suas vidas, e não a essência dela. A maioria dos crentes contenta-se em saber
que Jesus pagou pela passagem deles na arca. Estão absolutamente
satisfeitos em ter um assento reservado no Expresso do Arrebatamento e que
há uma casa no céu com o nome deles na caixa de correspondência. Mas a
vida eterna é muito mais do que apenas o que vem pela frente. Ela também
afeta o hoje. Para que nossa vida aqui na terra valha a pena, é preciso
entender quem somos, que dons recebemos e o que temos a oferecer ao
corpo de Cristo e ao mundo. Viva como alguém com propósitos!
Dificilmente Deus lhe pedirá para construir um gigantesco zoológico
flutuante. Mas há algo que ele está lhe pedindo para fazer. Ele fez você
como alguém único e especial. E existem coisas que só você, e mais
ninguém, pode fazer. Você possui uma “fragrância” única; sua vida tem uma
impressão digital, uma marca memorável a deixar neste mundo (ver 2Co
2.15-16). Ainda que a sua missão não inclua martelo e serra, ela certamente
envolve construir algo. Para a maioria das pessoas, isso começa com uma
família, e então cresce a partir disso. Deus quer que você construa uma vida
que convide outras pessoas a abraçar a salvação que ele oferece. Por meio
das suas palavras, do seu exemplo e dos seus relacionamentos, sua vida
representa esperança para aqueles que precisam de refúgio diante da futura
tempestade do juízo. Algumas pessoas podem não gostar da vida que você
está construindo. Seu trabalho de fé talvez atraia mais torcida contra do que
a favor. É possível que a sua crença na moralidade bíblica ou na pessoa e
obra de Cristo desperte até mesmo a ira de alguns.
Talvez xinguem você.
Talvez considerem você como alguém preconceituoso ou um
fundamentalista de mente fechada. Talvez digam que você é maluco. Que
você acredita em mitos. Que você é mesquinho por dizer que Jesus é o único
caminho para o céu. Que você é burro e inculto por confiar na Bíblia. Mas
nós, os cristãos, precisamos criar resistência a essas opiniões. Ao mesmo
tempo, precisamos conservar um coração sensível.
Um coração sensível.
Essa não é uma frase que se ouve com frequência quando se fala a
respeito do fim do mundo. Também não é um dos típicos pontos principais
de sermões sobre os últimos dias. É só mencionar o juízo de Deus no
Dilúvio, a situação atual do nosso mundo ou a tribulação futura, e a última
coisa que as pessoas dirão sobre você é que você tem um coração sensível.
Como já vimos, nos últimos dias os cristãos e suas crenças serão cada vez
mais vilipendiados e demonizados. Nossos pontos de vista e valores se
tornarão cada vez mais impopulares e até proibidos – socialmente falando.
Mas não se surpreenda. Jesus avisou que isso aconteceria (Jo 15.18-21). Não
alimente expectativas irrealistas em relação àqueles que não conhecem a
Cristo. Não espere que eles “entendam”. Não vão compreender e, de acordo
com Jesus e Paulo, nem conseguem fazê-lo sem ajuda divina (Jo 6.44; 1Co
2.14).
Há mais uma razão para você precisar de um coração sensível. Este livro
começou com um olhar sobre o coração partido de Deus por causa de sua
criação. Seu Espírito ficou profundamente entristecido quando viu o quanto
a humanidade tinha ficado depravada. Ela ficou tão corrupta que Deus até
mesmo lamentou tê-la criado. E, por causa de seu caráter justo, teve de
enviar juízo e pagar ao ser humano o salário de seu pecado. Contudo, até
mesmo naquele momento ele ofereceu esperança. Até mesmo naquele
momento ele mostrou paciência. Não há paciência igual à de Deus. Ninguém
está tão disposto a suportar quanto ele. Enquanto havia fôlego de vida nos
pulmões de Matusalém, ainda havia esperança. Enquanto Noé usava o
martelo, era possível encontrar salvação. Enquanto a porta da arca estava
aberta, ainda havia a opção de ser libertado do juízo. Este é o coração
sensível do nosso Deus compassivo.
Você e eu precisamos ter a mesma atitude de coração. Ao olhar para a
nossa geração, como Noé também fez, vemos um mundo de pessoas –
perdidas, cegas, sensualizadas, violentas, ímpias e egoístas. Algumas são vis,
imorais e sem fé; outras, religiosas e decentes. No entanto, frequentemente
as pessoas “boas” são as que têm mais dificuldade para se convencer de que
precisam de um Salvador. Mas não importa de que forma um indivíduo leve
sua vida sem Deus: não há pecado ou pecados grandes demais para Jesus
perdoar (1Co 6.9-11). Jesus Cristo lava todos os pecados daquele que confia.
Idólatras? Expiados. Homossexuais? Justificados. Bêbados? Ganham nova
chance. Adúlteros? Limpados. Fornicadores? Perdoados. Hipócritas
conservadores de direita? Transformados. Membros praticantes da igreja?
Novas criaturas.
Recentemente, tive um compromisso em Colchester, na Inglaterra. Com
uma história que data do primeiro século, Colchester é considerada, de
forma geral, a cidade mais antiga da Grã-Bretanha. Ao passear pela região
com um pastor local, visitamos as ruínas romanas da área, incluindo uma
muralha que antigamente protegia a cidade. Também vimos os resquícios do
que se acredita ter sido a primeira igreja cristã na Inglaterra, datando do
quarto século. Mas havia um lugar que me intrigou ainda mais. Trata-se de
um pequeno e obscuro edifício, praticamente invisível da pequena rua onde
se localiza. Em 1850, era o lar de uma pequenina igreja metodista primitiva.
No dia 6 de janeiro daquele ano, num domingo, uma tempestade de neve
cobriu Colchester. Naquela manhã, Charles Spurgeon, um adolescente de 15
anos, tinha saído de casa para ir ao culto em Tollesbury, a quase 20
quilômetros dali, onde seu pai estava atuando como pastor. Mas a
tempestade de neve impediu sua viagem e Charles saiu em busca de um
culto local para participar. Por causa do frio e da neve, acabou entrando por
uma rua menor e encontrou a pequena capela.
Havia apenas cerca de doze pessoas presentes naquele domingo de mau
tempo e, sendo visitante, o jovem Spurgeon chamou a atenção. A pequena
congregação cantava com tanta força que ele ficou com dor de cabeça, mas
não se importou. Estava feliz demais por ter achado um abrigo contra o frio.
O pastor da comunidade estava ausente naquele dia, e um homem simples,
sem formação, o substituía. Uma figura magra. Mais tarde, Spurgeon
comentou que pensou que se tratava de um sapateiro ou alfaiate. O sermão
do homem foi simples. “Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês,
confins da terra; pois eu sou Deus, e não há nenhum outro” (Is 45.22). O
homem era tão simplório que nem mesmo pronunciava corretamente as
palavras. No entanto, Spurgeon estava tão faminto por salvação que isso não
fez diferença. O pregador convidado continuou: Volte-se para mim; estou
suando grandes gotas de sangue. Volte-se para mim; estou pendurado na
cruz. Volte-se para mim; estou morto e enterrado. Volte-se para mim; vou
ressuscitar. Volte-se para mim; estou subindo aos céus. Volte-se para mim;
estou sentado à direita do Pai. Ó pobre pecador, volte-se para mim! Volte-se
para mim!154
Em seguida, o pastor olhou para o pequeno grupo à sua frente e, fixando
os olhos no rapazinho adolescente, disse: “Meu jovem, você está com uma
cara miserável e vai continuar assim – na vida e na morte – se não obedecer
ao meu texto; mas, se você obedecer agora, neste momento, será salvo”.
Então, levantando as mãos, gritou: “Rapaz, olha ‘pra’ Jesus Cristo. Olha!
Olha! Olha! ‘Ocê’ não tem que fazer mais nada senão olhar e viver!”.
Mais tarde, Spurgeon contou que repentinamente entendeu o caminho da
salvação. Orientado por um homem sem educação formal, foi levado a olhar
para Cristo e assim foi salvo. Veio a ser depois o maior pregador de língua
inglesa, sendo que alguns estimam que ele tenha pregado para até dez
milhões de pessoas durante sua vida. Até hoje, é um dos pregadores mais
lidos da história, com muitos livros sendo continuamente impressos e
publicados no mundo inteiro.
O chamado de Deus à salvação é simples. Ele simplesmente diz “Venha!”
a qualquer um que precise de libertação do pecado. Olhe para ele e seja
salvo.
O evangelho de Jesus Cristo é boa nova para os pecadores, e qualquer um
que invocar o nome do Senhor será salvo (Rm 10.13). Ainda não é tarde
demais. Ainda é possível ser resgatado. Ainda não começou a “chover”, e
você não vai querer que seus familiares, amigos e outros percam esse barco.
Jesus é a porta para a arca e a própria arca! E você é o porta-voz de Deus
para a sua geração (ver Rm 10.14-15). Alguns podem achar que essa verdade
sobre o julgamento iminente não passa de uma tática para despertar medo e
forçar uma resposta. Esse é um autoengano trágico, e não há dúvida de que
as pessoas da época de Noé o viveram. Alguém certa vez definiu o inferno
como “a verdade reconhecida tarde demais”. E, no caso de muitos, nem
mesmo um dilúvio seria capaz de convencê-los. Mas não precisa ser assim.
A profecia a respeito dos tempos finais é um alarme inquietador que alerta
a humanidade para o juízo vindouro. Deus já ofereceu a solução para o
problema humano, e o caminho para escapar da condenação está disponível.
Ainda há chance e muita esperança! Até aqui, ouve-se o virar das páginas
como pancadas de martelo, ecoando a verdade profética a respeito da nossa
posição na história. Qualquer crente que dá atenção a essas palavras da
Escritura leva o espírito de Noé e a mensagem de Jesus à sua geração.
Insisto para que você não seja como aqueles cristãos cuja falta de
conhecimento e entendimento bíblicos os torna insensíveis à profecia e à
bendita esperança que têm em Jesus. Não seja como os muitos membros de
igreja que não conseguem traçar um esboço genérico a respeito do fim dos
tempos nem reconhecer qualquer sinal que aponte para ele. Eles estão tão
envolvidos nesta vida e em seus próprios objetivos que esse assunto
simplesmente não é prioridade para eles. Isso é lamentável. Para o cristão, o
som do juízo galopante de Deus que se aproxima não é uma história
qualquer de terror apocalíptico. É um chamado para a prontidão. Para
manter-se puro. Para viver com objetivos claros. E para oferecer o evangelho
em ações e palavras.
A geração de Noé não ficou sem testemunhas. Deus teceu um painel
inteiro de evidências para o ser humano. Deu-lhe criação e consciência.
Enviou mensageiros. Até mesmo construiu uma gigantesca ilustração de
madeira. E, durante 120 anos, esperou.
Hoje em dia temos mais revelações específicas a respeito de Deus do que
havia na época de Noé. Temos conhecimento dos julgamentos do passado e
do retorno futuro de Jesus. Sabemos que a Escritura está completa e como as
profecias dos últimos dias estão se cumprindo. Se o conhecimento limitado
disponível na época do Dilúvio já era suficiente para responsabilizar os que
morreram então, como será a condenação da geração de hoje à luz de tudo o
que já foi revelado por Deus (ver Lc 12.48)?
A porta da arca ficou aberta durante muito tempo, simbolizando esperança
e salvação. E Deus está segurando a porta aberta hoje. Neste exato momento
(ver 2Co 6.2). Jesus envia um convite escrito em sangue para a nossa
geração. Ele anseia por poupar o descrente da ira futura. Insiste para que este
veja não apenas a sua carência e o juízo vindouro, mas, acima de tudo, seu
grande amor pelas pessoas (ver Jo 3.16,36; 16.7-11). Ele quer torná-lo
inteiro (ver Jo 10.10), torná-lo parte da sua noiva.
Essa antiga história sobre um grande barco tem muito mais relação com a
nossa vida do que talvez imaginemos. A arca está emergindo das águas da
história como um lembrete final de que Deus é paciente e está pronto para
salvar pessoas da vindoura tempestade global.
Enquanto isso, escuto marteladas.
NOTAS
1. A lenda chinesa fala de um homem chamado Fuhi, que, com sua esposa e três filhos, escapa de um grande dilúvio e depois começa a repovoar a terra na condição de única família

sobrevivente. O relato havaiano conta de um homem chamado Nu-u, que construiu uma canoa gigante, colocou uma casa nela e a encheu de animais. Então, a água cobriu a terra,

e só Nu-u e sua família se salvaram.

2. Tom Pickett, “Population of the PreFlood World”, Lambert Dolphin’s Library, 7 out. 2004. Disponível em: <http://www.ldolphin.org/pickett.html>. “The Great World Wide Flood”,

Bible-truth.org, s.d. Disponível em: <https://www.bible-truth.org/GEN6.HTM>.

3. A devastação das cidades gêmeas Sodoma e Gomorra ocorreu cerca de 500 anos após o Dilúvio e do recomeço da humanidade por intermédio de Noé. É evidente que a maldade

humana rapidamente passou por nova deterioração em escala internacional, resultando num julgamento divino catastrófico. A Bíblia diz que os homens de Sodoma ansiavam com

tal intensidade por relações homossexuais que, mesmo depois de serem cegados pelos anjos do Senhor, eles “se cansaram à procura da porta”, tentando entrar na casa de Ló para

molestar os anjos (que tinham assumido forma de homens). Logo cedo no outro dia, conta a Escritura, “o SENHOR, o próprio SENHOR, fez chover do céu fogo e enxofre sobre

Sodoma e Gomorra” (Gn 19.24), destruindo as cidades, seus habitantes e toda a vegetação.

4. Uma Noite de Crime, Universal Pictures, 2013.

5. Essa linha de interpretação entende que as “mulheres bonitas” eram parte da linhagem ímpia de Caim. Assim, os homens se casaram com mulheres de fora da linhagem aprovada por

Deus, corrompendo a moral da descendência de Sete e acarretando assim o resultado descrito em Gênesis 6.5 (declínio moral, pecado contínuo etc.).

6. Esses versículos fundamentam diversas verdades: (1) a salvação não é oferecida a anjos caídos, que, portanto, não podem ser salvos; (2) Deus não tem nenhuma intenção de salvar

anjos; (3) anjos estão sujeitos a um padrão mais alto por causa de sua posição elevada; (4) os cristãos participarão do julgamento dos anjos; (5) o Diabo será atormentado dia e

noite para sempre; e (6) o inferno foi original e especificamente criado para o Diabo e seus anjos caídos.

7. Por causa do Dilúvio, Deus preservou, de forma eficaz, um remanescente da humanidade que temia a Deus e não tinha sido contaminado pela influência satânica, como os

contemporâneos de Noé tinham sido. O Messias acabou vindo pela linhagem de Noé.

8. Nessa passagem, Jesus não distingue entre anjos bons e maus (demônios). Mais uma vez: depois da rebelião celestial de Satanás, todos os seres angelicais foram “selados” em seu

estado pós-rebelião, impedindo assim que os anjos maus fossem redimidos e que os anjos bons se tornassem maus. Se nesse verso Jesus estava se referindo apenas aos anjos bons,

então ele estava simplesmente afirmando que eles (em seu estado divino) não eram capazes de manter relacionamentos conjugais (bem como relacionamentos sexuais) com

mortais. Ele não aborda se demônios em forma humana são capazes de ter relações sexuais. Ou então ele está falando apenas do casamento em geral, sem implicar qualquer

conotação sexual.

9. Em Gênesis 3.16, Deus diz para Eva que o efeito do pecado para as mulheres seria um desejo antinatural de dominar (“governar”) os homens. A combinação do machismo brutal no

homem com o desejo desafiador de dominar nas mulheres causou um conflito explosivo entre os sexos, acompanhado de violência. Mesmo assim, certamente havia em ambos os

gêneros aqueles que, como hoje, aceitam ser dominados (sexual, emocional e fisicamente) por outros.

10. Teshuqah é a mesma palavra que Moisés usa em Gênesis 3.16 ao explicar a maldição que o pecado de Eva trouxe para as mulheres. Ele diz que o seu “desejo” seria para o seu

marido. Esta não é uma referência à intimidade sexual, mas uma alusão ao desejo de “dominar ou controlar”, como explicita a frase seguinte: “e ele a dominará”.

11. Sem salvação e sem o Espírito, somos totalmente incapazes de obedecer à lei de Deus (Rm 8.6-8). Mesmo assim, Caim poderia ter escolhido o caminho de vencer por “fazer o bem”,

submetendo sua vontade a Deus (Gn 4.7). Mesmo um não crente pode abrir mão do controle de seu próprio coração – especialmente quando o próprio Deus diz: “Você pode fazer

isso!”.
12. O nome Noé significa “descanso”.

13. O Lameque que descendeu de Caim inaugurou a prática da bigamia (ter mais de um companheiro). Ele também teve três filhos, que se tornaram os pioneiros da pecuária, da música

e da metalurgia. Depois de anunciar às suas esposas que tinha matado um jovem, ele se gaba de que, caso alguém tentasse puni-lo por esse homicídio, sua morte seria vingada dez

vezes mais que a de seu antepassado Caim (Gn 4.23-24). Depois de apelar a Deus, Caim ouviu do Senhor que qualquer pessoa que o matasse sofreria uma vingança sete vezes

pior (Gn 4.15). Essa atitude arrogante é radicalmente diferente da do outro Lameque (o pai de Noé).

14. A expressão “velho como Matusalém” é comum para referir-se a uma pessoa muito idosa. Há registros dessa expressão já no século XIV. Cita-se uma alusão a ela por volta de 1390

na obra Minor Poems, de F. J. Furnivall (1901): “... se um homem puder viver aqui tanto quanto o tal Matusalém”.

15. Hebreus 11.5: “Pela fé Enoque foi arrebatado, de modo que não experimentou a morte; ‘e já não foi encontrado, porque Deus o havia arrebatado’, pois antes de ser arrebatado

recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus”.

16. Judas aplica a profecia de Enoque aos falsos profetas do primeiro século, aos que seguem “o caminho de Caim” e àqueles que se rebelam contra a verdade e a autoridade de Deus.

Como na época de Enoque a rebeldia era galopante, ele com certeza aplicava esse aviso também a eles, de forma que sua profecia tinha significado contemporâneo.

17. Quando Noé nasceu, Matusalém e várias gerações de seus ancestrais ainda viviam, incluindo Enos (Enoque já tinha sido arrebatado ao céu). Todos eles morreram durante a vida de

Noé.

18. Embora Jesus e Paulo tenham realizado milagres, a intenção destes era que fossem medidas temporárias até que a verdade do evangelho começasse a ser proclamada. Ao ler o Novo

Testamento, vemos um decréscimo gradual dos milagres usados para autenticar a mensagem cristã. Em seu lugar, o amor de Cristo pelo mundo e a verdade do evangelho

proclamados através dos cristãos tornaram-se os métodos escolhidos por Deus. Isso continua assim até o fim dos tempos (Ap), quando os milagres de Deus serão usados para

trazer juízo. As pessoas não são convencidas a crer em Jesus por verem um milagre. Antes, são levadas à fé quando veem Jesus nos cristãos e quando o evangelho as convence de

que também precisam dele.

19. O mesmo acontece em Gênesis 3 quando a serpente fala com Eva. Ela responde ao animal exatamente como falaria com qualquer outra pessoa, sem o menor vestígio de surpresa em

sua voz. Eva conduz seu diálogo com a serpente diabolicamente possuída como se fosse um evento corriqueiro. O Senhor também aparece falando audivelmente a Adão, e o

homem responde de forma correspondente.

20. Por exemplo: Deus mandou um general do exército conquistar uma cidade com uma banda marcial de tocadores de trombeta (Js 6.1-5). Em outra ocasião, orientou o profeta Eliseu a

ordenar que um leproso simplesmente tomasse banho no rio Jordão para ser curado (2Rs 5.1-14). Ao ser questionado sobre o pagamento da taxa do templo, Jesus mandou que

Pedro lançasse um anzol na água e recolhesse o primeiro peixe que conseguisse fisgar. Ele obedeceu, e o peixe obtido tinha uma moeda na boca, a quantia exata para pagar a taxa

para duas pessoas (Mt 17.24-27). Deus mandou Isaías andar nu durante três anos (Is 20.2-3). Ele ordenou a Ezequiel que ficasse deitado sobre seu lado esquerdo durante 390 dias

enquanto profetizava, e depois fazer a mesma coisa deitado sobre o lado direito, durante mais 40 dias (Ez 4.1-8).

21. Gênesis 6.14 fala literalmente em “madeira de Gofer” (NVT), possivelmente se referindo a cedro ou cipreste, supostamente abundante nas montanhas da antiga Armênia e Caldeia.

Como não sabemos exatamente onde Noé vivia, é difícil afirmar isso com certeza. Também é possível que fosse uma referência ao método pelo qual a madeira era preparada ou

usada.

22. Veja http://creation.com/the-pitch-for-noahs-ark. Como esse site explica, piche nem sempre foi extraído de alcatrão e petróleo. Durante mais de mil anos, construtores europeus

usaram resina para selar e impermeabilizar seus barcos. É possível que Noé tenha usado esse método.

23. Devido ao tamanho gigantesco da arca (cerca de 40 mil m3), estima-se que ela poderia ocupar 125 mil ovelhas. Atualmente há cerca de 18 mil espécies de animais (ver p. ex.

http://www.icr.org/article/1105/) e, mesmo que essa quantidade tenha sido duas vezes maior na época de Noé, com macho e fêmea, chegaríamos a um total de 72 mil animais, o

que deixava espaço suficiente para armazenar alimento tanto para os animais quanto para a família de Noé.

24. Deus falou com Noé quando este tinha 480 anos, 120 anos antes do Dilúvio. Seus filhos nasceram quando ele tinha 500, portanto presume-se que teriam passado uns 30 anos de

construção antes que eles tivessem idade para começar a ajudar.

25. Hebreus 11 lista alguns grandes homens e mulheres de fé.


26. Essa grande quantidade de trabalho explica o motivo para Deus mandar que embarcassem na arca sete dias antes do começo do Dilúvio.

27. Moisés registra os eventos anteriores ao Dilúvio em seu característico estilo resumido: Deus ordena a Noé que entre na arca (Gn 7.1); Noé obedece ao Senhor (Gn 7.5,7,9,13,16);

passam-se sete dias (Gn 7.4,10); Deus fecha a porta da arca (Gn 7.14-16); e o Dilúvio começa (Gn 7.6,10-12,17).

28. Uma vez que Moisés escreveu o Pentateuco (os primeiros cinco livros da Bíblia) especificamente para o povo de Israel, ele provavelmente usou um calendário judaico para esse tipo

de definição de data. Caso positivo, o momento do Dilúvio coincidiria aproximadamente com o nosso mês de maio, há uns 4 362 anos. Esses cálculos baseiam-se no registro e nas

genealogias bíblicas, e derivam de uma interpretação literal, gramatical, histórica e abrangente da Escritura.

29. Os anjos estão bem informados sobre a ação de Deus na terra, já que muitas vezes são enviados para cumprir sua vontade. A Escritura diz que o exército angelical celebra quando

um pecador se arrepende (Lc 15.7,10). Se os anjos demonstram tanta alegria quando Deus salva um pecador, qual terá sido o clima no céu quando o Senhor destruiu bilhões?

Ficaram perturbados? Pesarosos como Deus? Será que choraram a perda da criação e da humanidade? E teriam tremido em reverente temor diante da santidade e da justiça de

Deus?

30. Evidências nos registros fósseis sugerem que esse evento desencadeou uma série de erupções vulcânicas em todo o globo, lançando lava, detritos e vapores a quilômetros de altura

no céu. O dr. John Morris observa: “Até 70% do que sai dos vulcões hoje em dia é água, muitas vezes na forma de vapor”.

31. Se a superfície terrestre atual, com todas as suas montanhas e fossas oceânicas, fosse completamente aplanada, a enorme quantidade de água presente no planeta cobriria o globo

inteiro com uma camada de mais de 2,7 quilômetros de profundidade! (Ken Ham e Tim Lovett, “Was There Really a Noah’s Ark & Flood?”, Answers in Genesis, 11 out. 2007.

Disponível em: <https://answersingenesis.org/the-flood/global/was-there-really-a-noahs-ark-flood/>.) 32. Nosso planeta era muito diferente antes do Dilúvio, como se fosse de

fato outro mundo. Temperaturas, climas e atmosfera eram muito mais favoráveis à vida e à longevidade. O renomado cientista Henry Morris escreveu (baseado em Gn 1.7) que

por cima da terra havia um “vasto cobertor invisível de vapor de água, transparente à luz das estrelas, que produzia um maravilhoso efeito estufa responsável por manter

temperaturas amenas de polo a polo, de forma a impedir a circulação atmosférica e a chuva decorrente (Gn 2.5). Com certeza, essa cobertura também contribuiria de forma eficaz

para filtrar a radiação prejudicial proveniente do espaço, reduzindo significativamente a taxa de mutações somáticas em células vivas, o que, por sua vez, diminuiria drasticamente

a taxa de envelhecimento e morte” (Henry Morris, Scientific Creationism [San Diego, CA: Master Books, 1984], p. 211). A magnitude desse dossel em torno de todo o globo

explicaria como o céu seria capaz de produzir 40 dias e noites de chuva constante. Esse escudo de água em torno da terra também explicaria como os organismos eram capazes de

sobreviver durante muito mais tempo nessa atmosfera rica em oxigênio. Isso responde pelo tempo de vida médio pré-diluviano de 910 anos para determinados indivíduos listados

em Gênesis. A cobertura de água também teria facilitado a distribuição uniforme de calor em todo o planeta, uma prevenção contra a formação de tempestades. Experimentos

modernos com câmaras de biosfera hiperbárica que tentam recriar os níveis pré-diluvianos de oxigênio e proteção contra radiação ultravioleta resultaram na triplicação da

expectativa de vida de alguns organismos (“The Hyperbaric Biosphere”, Genesis Park, s.d. Disponível em: <https://www.genesispark.com/exhibits/early-earth/hyperbaric/>).

33. Noé tinha 480 anos quando Deus falou com ele e 600 quando o Dilúvio veio, 120 anos depois; Matusalém tinha 969 (ver Gn 5.27).

34. Proporcionalmente, era como um homem de 70 anos com expectativa de vida de 80.

35. De acordo com Gênesis 5.20, Matusalém quebrou o recorde de longevidade de 962 anos, que pertencia ao seu avô Jarede, ultrapassando-o em sete anos.

36. Gênesis 5.25 informa que Matusalém tinha 187 anos quando nasceu seu filho Lameque (o pai de Noé), e que Lameque estava com 182 quando Noé nasceu. 187 + 182 = 369. Ou

seja, Matusalém tinha 369 anos quando Noé nasceu. Gênesis 7.6 afirma que o Dilúvio veio 600 anos depois do nascimento de Noé, resultado que faz Matusalém ter 969 quando o

Dilúvio começou, o exato ano de seu falecimento. Por isso, “sua morte o trará”.

37. Ao chamar seu filho de “sua morte o trará”, o pai de Matusalém talvez tenha inaugurado seu próprio ministério profético. Terá sido essa outra razão para Deus levar Enoque ao céu

prematuramente – para poupá-lo de testemunhar o devastador cumprimento de seu próprio oráculo divino?

38. Alguém poderia tentar argumentar que Jesus nunca disse nada sobre Noé, e que seus discípulos simplesmente “acrescentaram” esse versículo. Mas discordam disso 2 000 anos de

Escritura, história da igreja, crítica literária, teologia e lógica.

39. A. W. Tozer, Knowledge of the Holy (Nova York: HarperOne, 2009), p. 1.


40. A busca por vestígios da arca continua com expedições periódicas nas montanhas de Ararate. Se o relato bíblico estiver correto, mesmo assim é possível que a arca tenha

desaparecido com mudanças e movimentações de geleiras ao longo de milhares de anos, que quebraram a madeira do navio de forma a impossibilitar sua identificação. Também é

possível que Noé e sua família tenham desmontado a arca para usar a madeira como lenha. Deus pode ter duas razões para não permitir que a arca seja encontrada: (1) ele prefere

que acreditemos pela fé no testemunho de sua Palavra e de seu Filho; (2) ele sabe que o coração inerentemente religioso do ser humano exploraria a descoberta, comercializando

ou transformando o barco (ou partes dele) em objetos de veneração e adoração idólatra. Se, no entanto, Deus permitir que esses restos sejam definitivamente descobertos e

confirmados, isso pode ser uma prova final dos últimos dias a respeito da veracidade da Escritura e mais um alerta à pecaminosa raça humana para que se lembre do Dilúvio e se

arrependa.

41. Noé passou um total de 377 dias dentro da arca (John F. Walvoord e Roy B. Zuck, eds., The Bible Knowledge Commentary [Wheaton, IL: Victor Books, 1983], p. 39).

42. A saber: (1) confirmação da ordem: “Sejam férteis, multipliquem-se e encham a terra” (Gn 8.17; 9.1); (2) renovação do domínio sobre o reino animal (9.2); (3) liberação para comer

carne de animais, exceto o sangue (9.3-4). É possível que uma das hediondas ofensas praticadas pela humanidade pré-diluviana tenha sido o consumo de sangue (humano e

animal) em rituais pagãos ou como símbolo da conquista de tribos vizinhas ou inimigas. Mais tarde, Deus dedicaria uma parte da Lei Mosaica a proibições ao consumo do sangue

de animais. Sangue representa vida, e por isso é sagrado para Deus. Ingerir sangue é desrespeitar a vida. Ele também era símbolo de expiação e de sacrifício pelos pecados, e por

isso precisava ser tratado com respeito (Lv 17; Dt 12.16,23-25; 1Sm 14.32-33; Hb 9.12-14; 1Pe 1.18-19); (4) estabelecimento da pena capital para quem cometesse assassinato.

Aparentemente, na sociedade pré-diluviana tinha havido poucas – se é que houve – repercussões legais para assassinatos. Agora deveria haver uma punição justa e equilibrada

para quem injustificadamente tirasse a vida dos seres criados à imagem de Deus (Gn 9.6); (5) estabelecimento de uma aliança (conhecida como aliança noaica), na qual Deus

promete a Noé e seus filhos que nunca mais enviaria uma inundação para destruir a terra (9.8-11); (6) criação do arco-íris como sinal visível dessa aliança (9.12-17). A existência

desse arco multicolorido era impossível antes do Dilúvio. Mas agora, com a nova infusão de luz solar e as condições atmosféricas pós-Dilúvio, tornou-se possível. É o símbolo

divino da promessa à humanidade; e (7) recomeço da raça humana pelos três filhos de Noé. Na genética desses três homens estavam as características físicas de toda a raça

humana. Cada ser humano vivo hoje descende, em última instância, da linhagem desses três homens (Gn 9.18-19).

43. Ver também Êxodo 20.5-6, onde, dentro da Lei Mosaica, Deus pune os filhos pelos pecados de seus pais.

44. Aqui há duas interpretações principais possíveis: (1) Cam olhou para a nudez do pai com grande prazer, chegando ao ponto de realizar algum tipo de ato sexual com o homem

inconsciente, por estimulação oral ou manual (ver Lv 18.6-18; 20.17, onde o mesmo autor, Moisés, trata dos relacionamentos sexuais imorais entre o povo de Deus). Gênesis 9.24

diz que, ao acordar de sua bebedeira, Noé soube “o que seu filho caçula lhe havia feito”. Isso nos levaria a concluir que ele definitivamente tinha sido submetido a algum ato

sexual. Também é possível que Canaã, o filho de Cam, foi amaldiçoado porque (a) acompanhou o pai nesse ato ou (b) simplesmente porque era o favorito de Cam. Lembre-se de

que os filhos de Noé nunca foram chamados de “retos” ou “justos” diante de Deus como o pai. Embora tivessem, pela fé, ajudado a construir a arca, a Bíblia nunca diz que eles

“andaram com Deus” como Noé tinha feito. Eram filhos de um homem reto, mas não há nenhuma garantia de que também buscassem a Deus, ao menos da forma como o pai o

fazia (ver Gn 19.31-36, onde essa espécie de incesto paterno também acontece com as filhas de Ló, que embebedaram o pai para dormir com ele e engravidar). Pelo contrário, é

altamente provável que os filhos de Noé ainda carregassem consigo parte da influência e moralidade da cultura pré-diluviana. Ao menos neste caso, Cam exibiu comportamento

correspondente. Também contribui para isso o fato de que Cam, como seu pai, tinha natureza pecaminosa. Cada pessoa é atraída ao pecado de uma forma bem individual. Se foi

isso o que aconteceu, aparentemente os descendentes de Cam herdaram sua moral sexual, uma vez que Deus é insistente ao advertir os israelitas para que evitassem as práticas

imorais dos cananeus (Êx 23.23-24; Lv 18.1-18). (2) Outra possibilidade é que Cam tenha causado grande vexame a Noé, ridicularizando sua embriaguez e zombando de sua

nudez. Isso soa um tanto tolo hoje em dia, visto que o respeito pelos pais (na verdade, por qualquer figura de autoridade) é tão desprezado. Na época de Noé (e em especial nessa

família de pessoas tementes a Deus), no entanto, a nudez muito provavelmente ainda era vista como símbolo de vergonha e pecado, um conceito transmitido de pai para filho

desde o Éden. A nudez também era vergonhosa na cultura hebraica posterior, e a desonra ao pai ou à mãe podia até mesmo justificar uma pena de morte (Êx 21.15,17; Dt 21.18-

21; 27.16). Honrar os pais era um dos dez princípios mais importantes que Deus deu ao seu povo escolhido (Êx 20.12). A indisposição de Cam em cobrir a vergonha de seu pai,

optando em vez disso em olhar para ele, talvez o tenha levado a ridicularizar ou zombar de seu pai diante dos irmãos. Os irmãos de Cam, no entanto, demonstraram respeito pelo

pai, cobrindo-o e tomando o cuidado de não olhar para seu corpo nu (Gn 9.23).
45. De acordo com Lucas 21.37, esses discursos particulares na verdade podem ter acontecido ao longo de dois dias durante a Semana da Paixão (terça e quarta).

46. O discurso encontrado em Mateus 24.1–25.46 é conhecido como o Discurso do Monte das Oliveiras e contém parte do material profético mais fascinante e importante de toda a

Bíblia.

47. A profecia de Jesus cumpriu-se literalmente 40 anos mais tarde, no ano 70 d.C., quando o general romano Tito sitiou Jerusalém. E, exatamente como Cristo previu, ele não deixou

pedra sobre pedra no templo.

48. Algumas tradições interpretativas entendem essas profecias como simbólicas e não literais, enquanto outras defendem que esses eventos apocalípticos já aconteceram no primeiro

século. Confira também a próxima nota.

49. A palavra arrebatamento se trata de um termo escatológico usado para referir-se ao evento mencionado em 1Tessalonicenses 4.17. A palavra grega que Paulo usa deriva do verbo

harpazo, que significa “arrancar para fora” ou “arrancar para longe”. O contexto desse trecho da Escritura (1Ts 4.13–5.11) é o final dos tempos e a salvação dos crentes da ira de

Deus no “Dia do Senhor” (1Ts 5.2; 2Ts 2.2; 2Pe 3.10). Seja como for, alguns cristãos, teólogos e denominações não creem em um evento específico de arrebatamento; em vez

disso, têm uma interpretação mais simbólica de Apocalipse e dos últimos dias. As cinco principais linhas de pensamento sobre o arrebatamento são: (1) já aconteceu no primeiro

século, no ano 70 d.C., mas foi de natureza espiritual, e não literal; (2) é puramente simbólico, não real; (3) é essencialmente o mesmo evento que a segunda vinda (arrebatamento

pós-tribulacionista); (4) ocorrerá no meio da tribulação (arrebatamento meso-tribulacionista); e (5) ocorrerá imediatamente antes do início da tribulação (arrebatamento pré-

tribulacionista). Esta última linha é a única que entende que o retorno de Cristo para buscar sua noiva é iminente (ou que pode acontecer a qualquer momento sem outra

advertência). As outras escolas tornam esse momento bastante previsível.

50. “Earthquakes: Lists, Maps, and Statistics”, Serviço Geológico dos Estados Unidos, s.d. Disponível em: <https://on.doi.gov/3dKo1FO>.

51. Junto à costa da Itália está o vulcão Marsili, o maior vulcão submarino da Europa, apelidado de “Monstro”. Vulcanólogos dizem que suas paredes são frágeis, tornando-o “instável”

e suscetível a erupção iminente. Uma erupção dessas causaria um tsunami que ameaçaria todo o sul da Itália. Será que esse gigante – e centenas de outros como ele – despertará

durante a tribulação para ser usado como parte do juízo de Deus sobre a terra?

52. Quando Roma foi incendiada no ano 64 d.C., Nero culpou os cristãos. Os judeus receberam a culpa pela Peste Negra. Satanás não precisa de muitos motivos para perseguir aqueles a

quem Deus ama, e qualquer razão servirá em seus últimos dias na terra.

53. “Number of Christian martyrs continues to cause debate”, World Watch Monitor, 13 nov. 2013. Disponível em: <https://www.worldwatchmonitor.org/2013/11/number-of-christian-

martyrs-continues-to-cause-debate/>.

54. Atualmente, extremistas muçulmanos usam essa forma nas execuções públicas de cristãos, judeus e outros “infiéis”, usando basicamente dois métodos: cortar a cabeça com um

golpe de espada preciso e rápido ou serrando lenta e barbaramente o pescoço com uma faca. Esses assassinatos e martírios, frequentemente filmados e exibidos na internet, são

apenas uma prévia da terrível morte que os crentes sofrerão nas mãos de seus perseguidores depois do arrebatamento.

55. Seja como for, Jesus afirma que aquele que perseverar durante essa perseguição demonstrará que sua fé é genuína.

56. Lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima. (N. T.)

57. Os ensinos desses falsos profetas podem incitar ainda mais ódio a quem professa fé em Jesus durante a tribulação.

58. “Global Statistics”, Joshua Project. Disponível em: <https://bit.ly/2z9TBhq>. Acesso em: 5 jun. 2020.

59. Renomados estudiosos da Bíblia e das profecias debatem se esse ministério das tuas testemunhas (Zc 4.12-14) ocorrerá durante a primeira ou durante a segunda metade da

tribulação. Pessoalmente, entendo que Apocalipse 11.3-7 afirma que os dois serão mortos pelo Anticristo depois de 1 260 dias de ministério. Um ato público dessa magnitude

combinaria bem com o “sacrilégio terrível” no meio dos sete anos de tribulação, quando o Anticristo quebrar seu pacto com os judeus (Mt 24.15; Dn 9.27), profanar o templo

judeu reconstruído em Jerusalém e exigir que o mundo inteiro o adore. Por isso, entendo que o ministério das duas testemunhas se iniciará no começo da tribulação.

60. Se o mapa de Israel daquela época for remotamente parecido com a geografia atual (com países árabes cercando-o por todos os lados), a morte das duas testemunhas judias que

pregavam um Messias judeu será amplamente celebrada pelos muçulmanos, tanto local quanto globalmente (assim como por outros povos).
61. Essa marca identificadora talvez também seja um contraste com a futura marca da besta mencionada em Apocalipse 13.16-18, que, de forma semelhante, identificará os seguidores

do próprio Anticristo.

62. Eles também contribuem para o cumprimento de Romanos 11.25-26.

63. O texto diz que o anjo voará “pelo céu”, muito possivelmente circulando em torno da terra enquanto anuncia a última oferta de salvação da parte de Deus.

64. Essa pergunta tão frequente normalmente tenta lançar dúvidas sobre a justiça de Deus ao condenar aqueles que morrem sem Cristo. Não haverá nenhuma desculpa possível para

aqueles que viverem durante a tribulação, uma vez que todos ouvirão as boas novas e terão a oportunidade de se arrepender. Mas há igual responsabilidade para aqueles que

viveram antes disso. Deus deu a cada pessoa uma consciência íntima que lhe diz que há um Deus, além de exibir seus atributos nos céus e na criação (Rm 1.18-23; 2.14-16). A

rejeição ao evangelho não é o único fundamento para a condenação proferida por Deus. O simples fato de ser pecador já nos qualifica para o juízo. Mesmo assim, qualquer pessoa

que queira conhecer esse Deus não terá negada a oportunidade de encontrá-lo, e ninguém que o invocar por salvação será rejeitado (Is 55.6-7; Jo 6.37; Rm 10.13-17; 2Pe 3.9).

Quando o anjo do final dos tempos falar, não restará nenhuma dúvida a respeito de quem é esse Deus (ver Sl 2.8-10; Fp 2.9-11).

65. A Bíblia já comprovou estar certa em vários assuntos relacionados à história e à ciência. A ciência é uma ótima ferramenta que já ajudou a humanidade em muitas áreas. Mas ela

também já nos deixou na mão. Ela não é capaz de dar explicações boas ou satisfatórias sobre a origem ou o significado da vida, de curar muitas doenças (incluindo o câncer) nem

de prolongar a vida indefinidamente. A ciência não pode falar com autoridade a respeito de assuntos fora de sua área de especialização. É um campo de estudos com limites e

fronteiras inerentes. A Bíblia, no entanto, mesmo não sendo um livro científico, mostrou-se 100% precisa cada vez que aborda assuntos da ciência, antecipando até mesmo muitas

descobertas científicas modernas. Por exemplo: a forma redonda da Terra e cosmologia (Is 40.22); a extensão quase infinita do universo (Is 55.9); a lei da conservação de massa e

energia (2Pe 3.7); o ciclo hidrológico (Sl 135.7; Ec 1.7); o vasto e incontável número de estrelas (Jr 33.22); a lei da entropia crescente – segunda lei da termodinâmica (Sl 102.25-

27); a importância do sangue nos processos vitais – circulação sanguínea (Lv 17.11); a circulação atmosférica (Ec 1.6); o campo gravitacional, ou o fato de que a Terra está

suspensa no espaço (Jó 26.7); a força misteriosa nas subestruturas do átomo (Cl 1.17). Obviamente, Deus é um cientista brilhante!

66. Hoje em dia, quem procura provas da existência de Deus por meio de sinais e milagres ficará decepcionado. Isso não significa que o Senhor não os realize, mas que, de acordo com

Jesus, enviar sinais sobrenaturais não é a principal forma pela qual ele convence as pessoas de sua existência ou da realidade da vida após a morte. Nem mesmo ressuscitar

alguém dos mortos será capaz de derreter a frieza do coração humano e convencer a sua mente. A verdadeira prova, diz Jesus, está na própria Palavra de Deus (Lc 16.30-31).

67. Durante seu tempo na terra, Jesus escolheu depositar total confiança no Pai em todas as áreas (Jo 8.28; 12.49-50; 14.31). Voluntariamente, abriu mão (deixou de lado) determinados

privilégios e poderes da divindade, como onipresença, glória e a adoração dos anjos (Fp 2.5-8; 2Co 8.9; Hb 2.9; Is 6.3; Ap 4.8-11; 5.6-14). Viveu como servo, revelando aos seus

discípulos apenas aquilo que o Pai revelava a ele (Jo 15.15), voluntariamente restringindo seu conhecimento durante o período de seu ministério terreno. Agora glorificado nos

céus, ele sabe de tudo, inclusive o momento exato de sua volta.

68. Ao mesmo tempo em que a onipresença de Deus determina que não há um único lugar no qual seu Espírito não esteja, o Senhor não se manifesta ou revela em todos os lugares em

que está.

69. C. H. Spurgeon, The Treasury of David, vol. 1 (Peabody, MA: Hendrickson, s.a.), p. 271.

70. Essa negação e desprezo a Deus como Criador ficam óbvios em Gênesis 6.5,11-12 (ver tb. Sl 14.1-3; Rm 3.10-12).

71. A questão da homossexualidade é uma controvérsia inflamada em nossa cultura e mundo. Embora a Escritura seja clara em relação a esse assunto, a igreja tem reagido

(especialmente nas últimas décadas) de forma desajeitada àqueles que abraçam esse estilo de vida. Fora o argumento moral óbvio e o fato de que se trata de uma escolha, há

outros fatores mais complexos que contribuem para que alguém adote a homossexualidade ou alguma outra orientação sexual. Componentes físicos, familiares, relacionais,

sociais e emocionais também influenciam. Esse assunto complicado leva muitas pessoas a conclusões erradas e não bíblicas. Deus ama todos os homossexuais e deseja que eles

encontrem sua identidade no Senhor e sua salvação em Jesus. Isoladamente, a homossexualidade em si não é o que impede que alguém vá para o céu; o problema é, antes, o

princípio pecaminoso embutido nela. Da mesma forma, simplesmente abandonar a homossexualidade (ou o adultério, o roubo etc.) não torna alguém automaticamente justo.

Paulo enumera esses pecados específicos como evidências de que há um problema de pecado maior no coração dessas pessoas. Um estilo de vida marcadamente pecaminoso (a

que Paulo se refere em 1Co 6.9-11) é simplesmente o fruto exterior de um coração repleto de pecado. E, embora essa escolha de pecado em especial seja uma contradição direta à
ordem natural criada dos gêneros masculino e feminino (diferentemente, por exemplo, do que acontece com ciúme ou ira), nosso problema real é “o” pecado, não os pecados. A

descrição de Paulo em Romanos 1 ilustra a verdade de que a sexualidade humana está relacionada à criação fundamental de Deus e à própria identidade da humanidade, o que

explica a severidade do juízo divino sobre ela. Por fim, muitos cristãos lutam com pensamentos, sentimentos e ações homossexuais assim como lutam com muitas outras tentações

– incluindo vários tipos de pecado sexual.

72. O fato de a homossexualidade ser contrária à natureza não é uma conclusão que requeira a existência de Deus. Em outras palavras, mesmo não incluindo Deus na discussão, ainda

assim natureza, biologia, fisiologia e lógica argumentam contra a justificação da homossexualidade.

73. Cada uma dessas características autoalimentadas afeta os relacionamentos humanos.

74. O faraó endureceu seu coração dez vezes (Êx 7.13,14,22; 8.15,19,32; 9.7,34,35; 13.15) e Deus endureceu o coração do faraó dez vezes (Êx 4.21; 7.3; 9.12; 10.1,20,27; 11.10;

14.4,8,17). Em sete dessas ocasiões, o faraó endureceu o próprio coração antes de Deus endurecê-lo.

75. Na verdade, o coração do faraó há muito tempo já tinha se revestido de uma dura incredulidade. Ele seguiu quase que ao pé da letra todo o padrão descrito em Romanos 1, da

rejeição à revelação de Deus na natureza e na consciência, passando pela idolatria egípcia, até chegar, por fim, à crença de que ele mesmo era deus. Isso acarretou o abandono

total por parte de Deus, junto com o juízo consequente.

76. Outra linha de pensamento entende que essa restrição é representada pelo governo, uma vez que o Anticristo terá de guerrear e vencer reinos em sua ascensão ao poder (Dn 7.23-24;

Ap 6.2; 17.12-14).

77. “Hades” era um eufemismo judeu para a morte (Jó 38.17; Is 38.10; Mt 16.18).

78. Ao longo da história, a perseguição aos cristãos só serviu para promover a causa de Cristo.

79. Robin Schumacher, Matt Slick (ed.), “The Myth that Religion is the #1 Cause of War”, Christian Apologetics & Research Ministry, 22 abr. 2012. Disponível em:

<http://carm.org/religion-cause-war>.

80. James F. Williams, “The Social and Historical Impact of Christianity”, Probe for answers, 27 mai. 2000. Disponível em: <http://probe.org/the-social-and-historical-impact-of-

christianity/>. Leia também “The Impact of Christianity”, FAITH facts, s.d. Disponível em: <http://www.faithfacts.org/christ-and-the-culture/the-impact-of-christianity>.

81. Muitas organizações não cristãs realizam serviços positivos para a humanidade, especialmente em termos de socorro a pessoa carentes, melhoria da qualidade de vida e promoção da

paz.

82. Ver também 2Coríntios 5.16-17, onde Deus muda a percepção de Paulo a respeito de Cristo, tornando-o uma nova criação em Jesus. A sentença sobre Satanás foi selada na cruz (Jo

12.31), assim como o juízo sobre os descrentes que não aceitarem a salvação (Jo 3.36).

83. Em 1Coríntios 7.14, Paulo diz que uma esposa crente exerce uma influência residual positiva sobre seu marido e seus filhos, tornando-os “santificados” ou “santos”. Da mesma

forma, indivíduos cristãos e igrejas autênticas levam uma influência santificadora a seus amigos e comunidades, junto com um ambiente de graça e decência. Mas quando esses

valores piedosos forem removidos, o que dominará serão conveniência moral e impiedade. De forma misteriosa, é a presença do Espírito Santo no mundo e em nós que retarda o

juízo divino, como aconteceu com Matusalém, Noé e Ló. Quando o Espírito (e os crentes) forem removidos, nada mais poderá deter o pecado ou desviar a ira de Deus.

84. Saeed Kamali Dehghan, “Iran public execution outrages human rights groups”, The Guardian, 22 jul. 2011. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2011/jul/22/iran-

public-execution-human-rights>.

85. Steven Pinker, The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined (Nova York: Penguin, 2012). Neste livro de 800 páginas, o autor, professor de psicologia em Harvard,

argumenta que somos uma raça muito melhor do que aqueles que vieram antes de nós. Entre outras causas, ele atribui essa evolução em bondade ao comércio internacional, aos

direitos das mulheres, à alfabetização e à razão científica.

86. Will Durant e Ariel Durant, The Lessons of History (Nova York: Simon & Schuster, 2010), p. 81.

87. Nick Valencia e Arturo Chacon, “Juarez shedding violent image, statistics show”, CNN, 5 jan. 2013. Disponível em: <https://edition.cnn.com/2013/01/05/world/americas/mexico-

juarez-killings-drop>. Entre 2007 e 2011, mais de nove mil pessoas foram assassinadas, sendo que o auge ocorreu no ano de 2010, quando Juárez registrou o número recorde de 3

116 homicídios, ou cerca de oito assassinatos por dia, de acordo com números públicos pela Procuradoria do Estado de Chihuahua.
88. Muitos membros da igreja americana antes da Guerra de Secessão toleravam essa prática, visto que a escravidão era comum. Neste sentido, a igreja era apenas um produto de seu

tempo, refletindo os valores culturais correspondentes. E, embora os cristãos do primeiro século tenham nascido em uma cultura que conhecia a escravidão, estes crentes eram

ensinados a tratar os escravos como irmãos e indivíduos iguais a si mesmos (ver Gl 3.28; Fm 15-16).

89. Deus está intricadamente envolvido no desenvolvimento e na formação do bebê dentro do útero. Interromper intencionalmente essa obra divina de criação ao tirar a vida da criança é

usurpar o direito e o papel de Deus diante da humanidade.

90. Menos de 1% dos abortos acontecem por causa de estupro ou incesto. Disponível em: <http://www.operationrescue.org/about-abortion/abortions-in-america/>.

91. Esse número estimado de assassinados aconteceu em apenas três meses. Disponível em: <http://survivors-fund.org.uk/resources/rwandan-history/statistics>.

92. Disponível em: <http://www.guttmacher.org/pubs/fb_IAW.html>.

93. Hoje em dia, a China aborta 13 milhões de bebês todos os anos, cerca de 35 mil por dia. Na maior parte dos casos, os abortos são forçados. Dados da Comissão Nacional de

Planejamento Familiar da China, conforme relatado pelo jornal China Daily e citados em Vicky Jiang, “Of the 13 Million Abortions a Year in China, Most Are Forced”, The

Epoch Times, 31 ago. 2009. Disponível em: <https://www.theepochtimes.com/one-child-policy-abortions-in-china-most-are-forced_1521296.html>.

94. Mesmo nos casos mais extremos (gravidez resultante de estupro ou incesto), torna-se moralmente correto punir a criança, ou punir o estuprador?

95. Apocalipse 6.10 confirma o princípio justo de vingar a morte de pessoas assassinadas. O próprio Deus introduziu esse princípio em Gênesis 9.6.

96. Disponível em: <https://ucr.fbi.gov/crime-in-the-u.s/2011/crime-in-the-u.s.-2011/violent-crime/violent-crime>; <http://www.unodc.org/unodc/en/data-and-analysis/homicide.html>.

97. Deus deseja que seus filhos busquem a paz com todos os homens na medida do possível e que nunca retribuam o mal com mal (Rm 12.14-21). O agravamento é natural; o desarme,

não. Precisamos do Santo Espírito de Deus para nos impelir em direção à paz, seja essa reconciliação familiar, racial ou relacional.

98. Algumas pessoas questionam: “Mas Deus não aceitava e ordenava atos violentos no Antigo Testamento, até mesmo contra crianças?”. Sim. Não há como negar que Deus instruiu

Israel a matar os moradores da terra cuja propriedade ele prometera ao povo. A nação da sua aliança precisava ser separada e santa, livre das influências malignas das nações

pagãs vizinhas. Naquela era histórica específica, Deus considerou o matar como justificado dos pontos de vista prático e moral. O contexto histórico também justificava isso, visto

que Israel vivia numa cultura de terrorismo, cuja mentalidade era “mate ou seja morto”. Deus também ordenou apenas a vingança retaliatória (1Sm 15.3; Sl 135.8; 136.10; 137.9).

O Dilúvio também foi um ato muito violento. Deus destruiu um mundo que tinha se tornado violento e corrupto. No entanto, o Novo Testamento (nova aliança ou acordo)

introduziu uma nova perspectiva, à medida que Jesus nos desafia a concentrar nossa atenção em mudar o coração, não matar os inimigos. No Sermão do Monte, ele mostra um

lado mais profundo do espírito por trás da lei moral de Deus (os Dez Mandamentos). Ainda assim, nem Jesus nem o restante do Novo Testamento negam ou escondem o legado

de Israel em termos de conquista violenta e guerra. Pelo contrário, alguns desses atos e indivíduos são honrados e louvados porque “conquistaram reinos” e foram “poderosos na

batalha” (Hb 11.33-34). Os próprios discípulos de Jesus esperavam que ele os liderasse numa revolta contra a opressão de Roma, estabelecendo seu reino pela força. Fica claro

que a preocupação com o pacifismo não era a mentalidade prevalente na cultura do primeiro século nem na igreja primitiva. Paulo reconhecia que o governo tinha o direito

divinamente de “porta[r] a espada” (pena capital) e de “punir quem pratica o mal” a fim de manter a ordem pública e proteger os cidadãos de bem (Rm 13.4). Os argumentos a

seguir podem ajudar a esclarecer o assunto: (1) Nosso entendimento humano tem dificuldades para apreender a ideia de um Deus que é tanto justo quanto gracioso. É o mesmo

princípio de Jó 2.10, que reconhece que tanto o bem quanto o “mal” vêm de Deus. Êxodo 34.6 fala da compaixão, da graça e do perdão do Senhor, enquanto o versículo

imediatamente seguinte declara que nenhum culpado ficará sem punição (ver tb. Rm 11.22). (2) Algumas pessoas usam a Bíblia para defender violência pessoal (ou nacional)

injustificada. Essas pessoas não compreendem a Bíblia. (3) Violência e força física não eram coisas desconhecidas para Jesus. Ele expulsou os cambistas do templo pela força,

usando um chicote (Jo 2.15). Ele também foi vítima de brutalidade, violência física e crueldade. A crucificação foi uma experiência violenta para Cristo, e o Pai despejou sua ira

violenta sobre seu próprio Filho. (4) A volta de Jesus à terra será intensamente violenta, pois ele arrasará brutalmente seus inimigos (Ap 19.11-16). (5) A violência é inevitável

num mundo envolto em pecado e pessoas pecadoras. E isso tudo só piorará. (6) A violência justifica-se em alguns casos, como por exemplo: a) atos diretos de Deus (conforme

demonstrado em Apocalipse); b) Israel (no Antigo Testamento); c) razões atuais que justifiquem conflito militar; d) para defender a si mesmo ou a família; e) punição

governamental para assassinos. (7) Deus (por ser Deus) tem a prerrogativa de tirar qualquer vida que desejar, ou dar ordens para que ela seja tirada de acordo com sua justa
vontade (como no Antigo Testamento). O desagrado de Deus vai além da simples questão da violência, alcançando a eliminação não autorizada da vida humana. Sua ira sobre a

cultura antes do Dilúvio brotou do fato de que as pessoas tiravam as vidas umas das outras pela força, e essa violência galopante perturbou o coração de Deus.

99. De acordo com Apocalipse 6.4, a carnificina violenta será ampla e universal durante a tribulação.

100. Francis Brown, Edward Robinson, S. R. Driver e Charles A. Briggs, “Shachath”, A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament (Oxford, Inglaterra: Brown, Clarendon Press,

s.d.). Esta palavra é usada 136 vezes no Antigo Testamento, e os vários usos e o significado da raiz da palavra podem ser encontrados nas páginas 1007-1008.

101. Êxodo 32.6b: “O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra”. Tanto o contexto imediato quanto outros usos dessa palavra sugerem enfaticamente

que se tratava de atividade sexual ilícita (cf. Gn 26.8). Paulo faz referência a este evento em 1Coríntios 10.7.

102. Antes de atravessar o rio Jordão, o povo de Deus contaminou-se sexualmente com mulheres moabitas e seus deuses pagãos. Por causa disso, Deus enviou uma praga, que matou 24

mil israelitas (Nm 25.1-9). Em 1Coríntios 10.8, Paulo cita dois incidentes diferentes da imoralidade de Israel para ilustrar a ira de Deus em relação a este pecado. Diante da

idolatria sexual no Sinai, Moisés ordenou que os filhos de Levi purificassem Israel dos principais responsáveis, e eles mataram três mil pessoas (Êx 32.25-28).

103. Embora perdoados e restaurados, sua família foi abalada pela tragédia do fratricídio. Só quando o terceiro filho nasceu é que eles começaram a ver novamente fruto espiritual

positivo. As consequências do pecado estendem-se enquanto a humanidade lida com as suas maldições, que foram lançadas sobre ela (Gn 3.14-20).

104. Paulo usa duas palavras gregas específicas para descrever homossexuais (1Co 6.9; 1Tm 1.10). Uma delas refere-se aos homossexuais praticantes; a outra, a pessoas mais

efeminadas, passivas, que permitem que outras se aproveitem dela sexualmente, como era o caso dos prostitutos cultuais.

105. A palavra encontrada aqui é o mesmo termo hebraico yada usado para descrever o sexo entre um homem e uma mulher (Gn 4.1; 38.26; Jz 19). No presente trecho, é uma referência

óbvia ao sexo entre homens.

106. Charles Ryrie escreve: “Depósitos de enxofre e asfalto (ou betume, cf. Gn 14:10) têm sido encontrados naquela região” (A bíblia anotada: edição expandida, ed. rev. e expandida

[São Paulo: Mundo Cristão; Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007], p. 25). Grandes depósitos de enxofre, assim como restos de uma civilização antiga, foram

encontrados próximo à extremidade sul do mar Morto. Disponível em: <http://www.arkdiscovery.com/sodom_&_gomorrah.htm>.

107. É verdade que todo pecado fere o padrão de Deus. Mas nem todo pecado é igual, porque nem todos os comportamentos pecaminosos acarretam as mesmas consequências naturais

ou divinas. Você não será despedido por roubar um clipe de papel do escritório, mas será demitido se embolsar fundos da empresa.

108. Algumas pessoas, no desejo de justificar a homossexualidade, o fazem alegando que Deus destruiu Sodoma e Gomorra por sua “falta de hospitalidade”. O problema dessa

interpretação risível é que não há absolutamente nenhuma justificação para ela em qualquer parte da Bíblia, nem mesmo naquele único verso arrancado de seu contexto para ser

usado como argumento (Gn 19.9). Além disso, ninguém diria que não ser hospitaleiro é um pecado “extremamente perverso”, levando Deus a aniquilar aquelas cidades.

109. Os defensores da homossexualidade às vezes ressaltam que Jesus não disse nada sobre isso. Mas isso não é verdade. Ao falar sobre o divórcio, Jesus cita especificamente Gênesis

1.27; 2.24; 5.2, confirmando não apenas que Deus criou gêneros distintos, mas também o padrão judaico aceito em seus dias – a saber, que o homem foi feito para a mulher, e que

ambos foram projetados para ser “uma só carne”. O argumento do silêncio sempre é insuficiente, uma vez que Cristo também não trata diretamente de outros pecados sexuais,

como pedofilia ou bestialidade. Mas ele fala do adultério entre homem e mulher.

110. Se os milagres que Jesus realizou em Cafarnaum tivessem acontecido em Sodoma, a cidade teria sido poupada do juízo. No entanto, Deus não o fez, optando em vez disso por

destruí-la. O objetivo de Jesus era enfatizar que pecado pior era não acreditar nele, e que aqueles que o rejeitam por isso sofrerão juízo ainda mais severo. Recusar fé na provisão

de Deus para o problema do pecado elimina qualquer esperança de salvação, perdão e céu, sendo este o “pecado imperdoável” (Mt 12.31-32). De forma sobrenatural, os anjos

cegaram a multidão. Tristemente, esse milagre antes do juízo não foi suficiente para amolecer seus corações repletos de luxúria. O Espírito Santo convence o indivíduo de que

necessita de Cristo, e por isso o pecado da incredulidade é chamado de “blasfêmia contra o Espírito”.

111. Ações, atitudes e palavras raivosas de determinados grupos religiosos mancharam o nome de Jesus. Deus não odeia os homossexuais. Em um movimento típico, Satanás usa tais

grupos para desviar a atenção da mensagem de Cristo sobre a salvação do coração. Esses grupos temperam suas mensagens de ódio com versículos bíblicos, o que faz com que as

pessoas pensem que sejam realmente cristãos.

112. A palavra neotestamentária traduzida como “luxúria” significa “desejo intenso” e, neste contexto, desejo sexual intenso.
113. Horário nobre da TV, canais a cabo e pay-per-view para maiores de idade – todos transmitem programação com insinuações sexuais, atos sexuais, nudez e pornografia dos mais

variados graus. Há pouco tempo, estreou na TV japonesa um reality show intitulado Orgasm Wars [Guerras de orgasmo], ver Ron Dicker, “‘Orgasm Wars’ In Japan Features Gay

Man Trying To Make Straight Man Climax (NSFW VIDEO)”, HuffPost, 15 nov. 2013. Disponível em <http://www.huffingtonpost.com/2013/11/15/orgasm-wars-video-japan-

gay-straight-man-orgasm_n_4282083.html>.

114. Salvo indicação em contrário, todas as estatísticas apresentadas aqui foram extraídas deste site: http://www.covenanteyes.com/pornstats.

115. Disponível em: <http://www.thetawellnesscenter.com/pornography-addiction/how-to-break-porn-addiction.html>.

116. Homens felizes no casamento têm 61% menos probabilidade de ver pornografia; 56% dos casos de divórcio envolvem situações em que uma das partes tem um interesse obsessivo

em sites pornográficos.

117. Departamento de Justiça dos EUA, Posthearing Memorandum of Points and Authorities, art. l (ACLU v. Reno, 929 F. Supp. 824, 1996).

118. Judith Reisman, “Pornography’s link to rape”, WND, 29 jul. 2006. Disponível em: <www.wnd.com/2006/07/37244>.

119. Eleanor Goldberg, “Super Bowl Is Single Largest Human Trafficking Incident In U.S.: Attorney General”, HuffPost, 3 fev. 2013. Disponível em:

<https://www.huffpost.com/entry/super-bowl-sex-trafficking_n_2607871>. Cerca de 10 mil prostitutas foram levadas a Miami para o Super Bowl de 2010. Esses eventos em

grande escala não passam da ponta do iceberg quando se trata do que realmente acontece com mulheres jovens em todo o mundo.

120. Amanda Walker-Rodriguez e Rodney Hill, “Human Sex Trafficking”, FBI Law Enforcement Bulletin, 1 mar. 2011. Disponível em: <https://leb.fbi.gov/articles/featured-

articles/human-sex-trafficking>.

121. Gênesis 3.6 descreve o fruto proibido como “agradável”, “atraente” e “desejável”.

122. Hebreus 11.25 enfatiza que o pecado é prazeroso. Se não fosse, quem iria querê-lo ou ser atraído por ele?

123. Disponível em: <http://www.drjudithreisman.com/archives/Senate-Testimony-20041118_Reisman.pdf>.

124. Provérbios 27.20: “O Sheol [morte] e a Destruição [túmulo] são insaciáveis, como insaciáveis são os olhos do homem”. Essa verdade certamente vale para a luxúria.

125. Porneia é usado 25 vezes no Novo Testamento grego.

126. Efésios 4.22 diz que o “velho homem” se “corrompe” continuamente.

127. De preferência, pais que conhecem a Deus, conhecem seu filho e também entendem a si mesmos.

128. Recomendo www.covenanteyes.com para ajudar na vigilância sobre o uso da internet.

129. Esta é a essência de 1Tessalonicenses 4.6.

130. Disponível em: <http://www.brandeis.edu/projects/fse/judaism/docs/essays/same-sex-marriage.pdf>.

131. Ou seja, também homens, e não apenas mulheres, eram dados em casamento.

132. Aqui, a imoralidade (grego: porneia) universal é citada entre os pecados mais frequentes dos quais a humanidade recusa-se a deixar no fim dos tempos.

133. Benjamin Peirce, A History of Harvard University (Cambridge, MA: Brown, Shattuck, and Co., 1833), Apêndice, p. 5, Regras de 1636.

134. De The Rebirth of America, publicado pela Arthur S. DeMoss Foundation.

135. A Escritura deixa claro que desde o início a linhagem de Caim tomou um outro rumo.

136. A palavra “apostasia” refere-se a desviar-se da fé ou abandoná-la, partindo do princípio de que antes houve um “abraçar da fé”.

137. Por causa do aparente apoio do Anticristo à fé judaica e à luz de sua profanação do templo, Paulo chama esse evento de “apostasia”.

138. Essa profecia contém um cumprimento próximo e um distante, referindo-se originalmente ao rei Antíoco Epifânio, que em 186 a.C. invadiu Jerusalém, entrou no templo e

transformou o altar num santuário a Zeus, posteriormente sacrificando porcos sobre ele.

139. Em Mateus 22.37-39, Jesus diz que o segundo mandamento é “ame o seu próximo como a si mesmo”. O que Jesus queria enfatizar aqui é que não devemos nos concentrar em nós

mesmos, mas nos outros. Mas nós colocamos isso de cabeça para baixo, invertendo o significado pretendido. Uma vez que entendia o quanto nossa natureza é egoísta e quanto
afeto dedicamos a nós mesmos, Jesus estava simplesmente dizendo: “Deem aos outros a mesma atenção que vocês dão a si mesmos com tanta naturalidade”.

140. Alguns desses milagres podem até ser reais, realizados por poderes demoníacos.

141. Melissa Steffan, “An Inside Look at Church Attenders Who Tithe the Most”, Christianity Today, 17 mai. 2013. Disponível em:

<http://www.christianitytoday.com/gleanings/2013/may/inside-look-at-church-attenders-who-tithe-most.html>.

142. Ellen é um nome fictício.

143. Minha intenção não é criticar o uso de apresentações ultramodernas, a busca por excelência ou desprezar o trabalho feito nos diversos ministérios e programas. É preciso ter

pessoas liderando e servindo. Mas estamos realmente exercitando nossos dons espirituais, ou apenas fazendo trabalho voluntário em uma igreja? Estamos servindo os programas

ou a Deus? Não estará o rabo abanando o cachorro?

144. “United States Senate Inquiry: Report”, Titanic Inquiry Project, s.d. Disponível em: <http://www.titanicinquiry.org/USInq/USReport/AmInqRep04.php>.

145. A mensagem completa na verdade era: “Cale-se. Estou ocupado. Estou falando com Cabo Race”. Durante a viagem, o Titanic manteve contato constante com Cabo Race (província

de Terra Nova, Canadá).

146. Esse vale também foi o cenário de várias batalhas do Antigo Testamento, incluindo a vitória de Baraque sobre os cananeus (Jz 4) e da luta de Gideão contra os midianitas (Jz 7).

147. Para uma descrição mais detalhada dessas batalhas, ver Mark Hitchcock, The End: A Complete Overview of Bible Prophecy and the End of Days (Carol Stream, IL: Tyndale House

Publishers, 2012).

148. Brian Thomas, “Rapid Rifting Presages Future Events”, Institute for Creation Research, 19 nov. 2009. Disponível em: <http://www.icr.org/article/5107/>.

149. Compare esse cenário e o caráter de Deus no juízo com Gênesis 18.25.

150. Para que certos eventos escatológicos ocorram, é necessário que Israel esteja estabelecido como nação e o povo volte para a sua antiga terra (Jr 30.1-5; Ez 34.11-24; 37; Zc 10.6-

10).

151. Hitchcock, The End, p. 111ss.

152. Desde a publicação da obra original, o número de judeus em Israel ultrapassou o daqueles vivendo nos EUA (Fonte: JTA, “Global Jewish population hits 14.7 million”, The

Australian Jewish News, 21 abr. 2020. Disponível em: <https://ajn.timesofisrael.com/global-jewish-population-hits-14-7-million/>.). (N. E.) 153. A Escritura não diz que ordem

será essa. Talvez seja algo como: “Venham para cá!”. Ninguém sabe. Mas o que sabemos é que todo crente verdadeiro reconhecerá a sua voz (Jo 10.27-28; ver tb. 5.28; 11.43).

154. C. H. Spurgeon, Susannah Spurgeon e Joseph Harrald, The Autobiography of Charles H. Spurgeon: 1834-1854, vol. 1 (Londres: Passmore & Alabaster, 1897), p. 106.
Jeff Kinley

(Th.M. Dallas Theological Seminary)

já escreveu mais de 30 livros e é convidado para falar em diversas igrejas e conferências. Seu ministério equipa igrejas e cristãos a fim de que possam discernir os tempos e

viver com confiança. Seu podcast semanal, Vintage Truth, é escutado em mais de 70 países. Também é um dos apresentadores do podcast The Profecy Pros. Ele e sua esposa

vivem em Little Rock, Arkansas, e têm três filhos adultos Seu site é jeffkinley.com.
Table of Contents
ROSTO
CRÉDITOS
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO
1. OS DIAS DE NOÉ
2. O ÚLTIMO HOMEM (JUSTO) NA TERRA
3. ENXURRADA
4. PROFETA CARPINTEIRO
5. UM MUNDO ÍMPIO
6. UM HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA
7. CINQUENTA TONS DE IMORALIDADE
8. DIAS TERRÍVEIS
9. VINDO COM AS NUVENS
10. A PORTA ABERTA
NOTAS
SOBRE O AUTOR

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