Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Exercícios preparatórios - 1ª semana - Dia 3
Exercícios preparatórios - 1ª semana - Dia 3
Por ter sido ela mesma preservada do pecado original, Maria - muito mais
profundamente do que nós - é capaz de compreender nossa miséria moral. E
toda sua compaixão materna não quer nada mais do que nos auxiliar.
II
Com a ciência infusa, o pecado original nos fez perder, outrossim, o domínio
das paixões. A vontade do Adão inocente, fortalecida de modo especial pela
graça, preservava facilmente a ordem entre as tendências das potências
inferiores. "Tal era a verossimilhança da imagem de Deus na alma, que ela
mantinha tudo no seu devido lugar", escreveu Bossuet. O corpo se submetia à
alma, assim como a alma se submetia a Deus.
Suprimida a graça, desaparecia com ela o domínio das paixões.
Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! (Rm 7, 19-25).
Virgem Maria a seus servos fieis na hora da morte: "eles são felizes em sua
morte, que é doce e tranquila, e na qual eu os assisto, para os conduzir às
alegrias da eternidade" (Tratado, 200).
Sem dúvidas nossa natureza não é corrupta em si. As expressões, muitas vezes
fortes, da tradição cristã sobre o pecado original devem ser entendidas do
homem em relação a sua condição primeira, não da natureza considerada em si
mesma. Esta, mesmo após o pecado, não é inerentemente má; guarda seu livre
arbítrio e ainda é capaz de algum bem em sua ordem. Nós somos, porém, seres
enfraquecidos, empobrecidos, degradados, desfigurados, privados de dons
magnifi-cos: a natureza foi feita pela graça. Privação significa que algo está
faltando, que deveria estar, mas não está. E, por aí mesmo, é um mal, uma
desordem o fato de faltar. É uma desordem perante Deus, a desordem do pecado
original que envolve todas consequências indicadas. Embora, pessoalmente, não
sejamos culpados, devemos nos humilhar. É a atitude que nos convém:
ajudar-nos-á, agora, a conhecer as más tendências que predominam em nós e se
opõem à aquisição das virtudes e que são a causa mais comum de nossos
pecados atuais.
Estas tendências, comumente chamadas defeitos dominantes, não são nada mais
do que o apego a si mesmo, enraizado mais fortemente em uma ou outra das três
concupiscências que nos inclinam ao mal: a soberba, a concupiscência da carne
e a dos olhos. Devemos conhecê-las bem para estarmos em condições de melhor
combatê-las.
Da soberba
A soberba é um amor excessivo de si mesmo, que se manifesta de diversas
formas: egoismo, vaidade, presunção e ambição com desejo de dominar.
Algumas pessoas são acentuadamente egoístas, sempre prontas para colocar seu
"eu" em primeiro lugar. Circunscrevem tudo ao redor de si, só se preocupam e
só se inquietam consigo. Encerram-se e cen-tram-se em si mesmas. Não pensam
nos outros, não há interesse, nao simpatizam com eles. Este defeito causa muito
sofrimento às pessoas de seu convívio. Não podem dizer nada, nenhuma tristeza
ou uma alegria, nem evocar uma lembrança ou narrar suas impressões sem que
sejam atravessados pelo egoísta, que redireciona toda a conversa para si: o que
viu, viveu, conheceu, sofreu - eu isso, eu aquilo... É sempre o "eu" na frente!
Da concupiscência da carne
A concupiscência da carne leva-nos a amar o corpo mais do que o necessário: é
uma tendência muito pronunciada a buscar a si mesmo nas satisfações que o
afetam.
Aqueles dominados por essa concupiscência devem lutar mais do que os outros
contra: preguiça, gula e luxúria.
A gula manifesta um abuso, uma desordem do prazer legítimo que Deus quis
unir à comida e à bebida: seja comendo/bebendo sem necessidade, fora de hora,
pelo prazer em si de se satisfazer; seja procurando as melhores refeições, os
melhores pratos, as melhores bebidas, tal como fazem os gourmets; seja
ingerindo uma quantidade enorme de alimento, sob o risco de comprometer a
saúde (quantas doença não decorrem dos excessos à mesa!); seja ainda no modo
de comer/beber, avidamente, como animais que avançam sobre o que lhes é
dado. Quantas faltas não são cometidas desse modo contra a mortificação!
Todos esses defeitos não são pecados em si, mas nos faz cometer muitas faltas,
a maioria veniais. E à medida que são saciados por nós, fortalecem-se e
tornam-se cada vez mais exigentes. Podem, então, nos levar a pecar gravemente
e até mesmo se transformar em vícios tirânicos. É assim então que as
consequências acentuadas de nossos pecados pessoais vão se unir às do pecado
original.
Renunciar aos atos precipitados que nos fazem ceder ao ímpeto do momento, à
exaltações ou mesmo aos automatismos da rotina. Não refletimos antes de agir,
não nos perguntamos o que Deus quer de nós.
Renunciar, também, a este outro medo que é o respeito humano: com medo das
críticas ou das zombarias dos outros, confiamos menos no julgamento de Deus,
o único que importa: fica, assim, enfraquecida nossa vontade.
Quanto aos maus exemplos, devemos resistir-lhes com força, porque nos
induzem quanto mais corresponderem a uma propensão da nossa natureza.
Vimos em nossas meditações dos dias preliminares: é a Nosso Senhor que
devemos imitar, não o mundo.
Eis como usamos desse mundo como se dele não usássemos (cf. 1Cor 7, 31):
sabendo que tudo é passageiro, breve, efêmero. É o que São Paulo chama
morrer todos os dias (cf. 1 Cor 15, 31).
Tenhamos, pois, a coragem, com a graça divina, de não recuar jamais perante o
preceito austero da renúncia de si: ele é a condição primeira e impreterível da
nossa marcha rumo ao Divino Mestre.
Mas, como a graça divina só nos é dado por Maria, as meditações que seguirão -
todas para descobrir nossas misérias - nos mostrarão o quão poderoso é o
auxílio da Virgem Santíssima, se soubermos aproveitar de seu papel
providencial de Medianeira. Longe de confiar em nossos próprios esforços
pessoais, estaremos dispostos a recorrer continuamente à sua ajuda e
intercessão. Assim, manteremos e desenvolveremos em nós a virtude da
humildade. E Maria se fará muito presente para fortificar nossa vontade na luta
contra nós mesmos e contra os inimigos que vão de encontro ao avanço
espiritual.