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Cristina Padilha Lemos

Sandra Rejane Soares Ferreira

Grupo da Longevidade
Viva a Vida
três décadas de história

Porto Alegre, RS
Marcon Brasil
Novembro de 2021
Copyright das autoras

REVISÃO
MARIANE BRASIL
PROJETO GRÁFICO
EVANDRO MARCON
EDIÇÃO E PRODUÇÃO
marcon.brasil Comunicação Direta
correio@marconbrasil.com.br
ISBN EDIÇÃO
978-65-89266-05-1

Novembro/2021
Catalogação na Fonte
L557g
Lemos, Cristina Padilha.
Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de
história / Cristina Padilha Lemos, Sandra Rejane Soares
Ferreira . – Porto Alegre : Marcon Brasil, 2021.
224 p. ; 23 cm.

ISBN: 978-65-89266-05-1

1. Grupo da Longevidade Viva a Vida – História.


2. Idosos – cuidado com a saúde. 3. Atividades físicas –
idosos. I. Ferreira, Sandra Rejane Soares. II. Título.

CDD: 618.97
CDU: 613.98

BIBLIOTECÁRIO RESPONSÁVEL
Ginamara de Oliveira Lima - CRB 10/1204

A edição deste livro foi financiada pelo Conselho Municipal do Idoso (Comui) e
pelo Fundo Municipal do Idoso (Fumid), por meio do edital de chamamento públi-
co nº 01/2020, projeto Viva Mais Feliz. O financiamento da edição da publicação
encontra-se descrito no projeto do grupo Viva a Vida, cadastrado
sob o nº 20.0.000099303-5, e selecionado para financiamento.
SUMÁRIO

DEDICATÓRIA......................................................................... 1
AGRADECIMENTOS.............................................................. 3
PREFÁCIO............................................................................. 11
APRESENTAÇÃO.................................................................. 15
1 O GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA: UMA
HISTÓRIA DE AMOR........................................................ 19
2 O CONTEXTO DA CRIAÇÃO DA UNIDADE
DE SAÚDE CONCEIÇÃO E DO GRUPO DE
CONVIVÊNCIA DE IDOSOS............................................ 29
3 A ESTRUTURAÇÃO E OFICIALIZAÇÃO DO GRUPO
DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA..................................... 39
4 ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DA
SAÚDE NO GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA VIDA...... 51
5 OS BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA NO GRUPO
DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA......................................67
6 ATIVIDADES CULTURAIS, ARTÍSTICAS,
FILANTRÓPICAS E DE SOCIALIZAÇÃO DO GRUPO
DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA..................................... 89
7 AS VIAGENS DO GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA
A VIDA.............................................................................. 111
8 AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES E A ESPIRITUALIDADE.............. 125
9 O TRABALHO INTERSETORIAL E AS PARCERIAS
DO GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA............... 147
10 O ENSINO E A PESQUISA NO GRUPO DA
LONGEVIDADE VIVA A VIDA.......................................... 175
11 O IMPACTO DAS ATIVIDADES DO GRUPO NA
VIDA DOS PARTICIPANTES.......................................... 187
12 O GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA
EM 2020: DESAFIOS PARA MANTER A
CONECTIVIDADE.......................................................... 205
DEDICATÓRIA

Este livro é dedicado a tod@s os idos@s, foco do nosso


cuidado em saúde e motivo da existência do Grupo da Longevi-
dade “Viva a Vida”. Em especial, uma homenagem póstuma, a
Francisco Caputto, também conhecido como “o Chiquinho” ou
“Chico”, que foi um dos fundadores do grupo. Ele prestou, por mais
de 30 anos, de forma constante, o apoio inequívoco para a con-
tinuidade e fortalecimento do grupo. Grande entusiasta, persistia
no trabalho até alcançar as metas e encorajava a comunidade para
participar das atividades. Foi presidente de honra e fez do grupo
sua segunda família. O Chico tinha gosto, orgulho de pertencer
ao “Viva a Vida”. Ele sempre desejou que fosse escrito um livro
sobre a trajetória do grupo. Nossa gratidão pela inspiração, carinho
e dedicação ao Grupo da Longevidade Viva a Vida.
Dedicamos este livro a todas as pessoas que participaram,
em algum momento, do Grupo da Longevidade Viva a Vida. Não
será possível nominar todos os colaboradores, voluntários, lideres
comunitários, profissionais e estudantes, pessoas maravilhosas que
enriqueceram nossos encontros e nos trouxeram mais vida e alegria.
Dedicamos este livro a todos os profissionais que apoiam
e acreditam na importância e na riqueza de formar e reunir um
grupo de idos@s, que estimulam as atividades coletivas, comuni-
tárias e de construção de cidadania, a todos que de alguma forma
nos apoiaram, nutriram com seu afeto e fortaleceram este espaço
de encontro de pessoas, possibilitando que hoje exista uma bela
história para ser contada.
Dedicamos este livro aos nossos familiares que sempre
apoiam nossas iniciativas e o investimento do nosso tempo e
energia em projetos que nos dão muito trabalho, mas nos trazem
prazer e alegria na sua realização.
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos idos@s do Grupo da longevidade “Viva a


Vida”, pela presença, solidariedade, compreensão, companheiris-
mo que sempre tiveram durante nossa trajetória e convívio. Não
fosse a presença constante dos participantes o trabalho em grupo
não existiria.
Agradeço a tod@s integrantes do grupo que atuaram na
diretoria do Grupo da Longevidade “Viva a Vida” pela dedicação
do seu tempo e pelo constante cuidado e responsabilidade para dar
conta da diversidade de compromissos e atribuições que compõem
o escopo de ser uma liderança comunitária com o propósito de
construir, manter e estimular o crescimento do grupo.
Agradeço a tod@s os voluntários que de modo incansável com
seu conhecimento, bagagem artística, sensibilidade contribuíram e
contribuem para o crescimento e força desse grupo, nas diversas áreas
da saúde, entre elas a enfermagem, medicina, geriatria, gerontologia,
serviço social, psicologia, odontologia, nutrição, fonoaudiologia e
fisioterapia. Também, de outras áreas como arte, yoga, atividade
física, pilates, espiritualidade, reiki, meditação, segurança, direito,
legislação, justiça e cidadania, artesanato, pintura, turismo, trânsito,
meio ambiente, entre outros.
Agradeço ao Conselho Municipal do Idoso (Comui) e
ao Fundo Municipal do Idoso (Fumid) pelo financiamento da
edição deste livro que ocorreu por meio do edital de chamamento
público nº 01/2020, projeto Viva Mais Feliz.
Agradeço à Gerência de Saúde Comunitária (GSC) do
Grupo Hospitalar Conceição (GHC) e a todos os gerentes que por
lá passaram, ao longo de todos estes anos. Eles apoiaram tanto a
iniciativa de formação do grupo quanto a continuidade das ações
desenvolvidas no grupo pelos profissionais desta instituição. So-
mos gratas pela disponibilização da carga horária dos profissionais
de diferentes áreas para participarem das atividades promovidas,
como: workshops, palestras, oficinas, atividades recreativas, rela-
xamento, meditação, campanhas de vacinação dos idosos contra
a gripe anualmente realizada no grupo, desde o inicio das campa-
nhas. Ainda, a disponibilização de recursos como, por exemplo;
impressão de documentos, de cartilhas, de folders, de pôsteres, a
confecção de camisetas, a disponibilização de coffee break para
as comemorações, entre outros.
Agradeço aos colegas da Unidade Conceição e da Ge-
rência de Saúde Comunitária que em diversos momentos e de
diferentes formas se dispuseram a ajudar e continuam ajudando
na manutenção das atividades no grupo.
Agradeço à Associação dos Amigos da Praça Irani Berteli
(ASCOPIB), em especial ao Presidente da Associação Luiz Car-
los Baldy, que há anos acolhe o grupo para realização de todas as
suas atividades na sede da entidade; situada na Rua Coronel João
Correa, nº 210, Bairro Passo D´Areia, Porto Alegre-RS.
Agradeço ao Conselho Local de Saúde da Unidade de
Saúde Conceição particularmente ao Sr. João Gomes Branquinho,
Sra. Vanilda Andrade, Sr. Gilberto Binder, Ana Lucia Branquinho,
Léo Prondzynski, entre outros tantos que de forma voluntária tem
trabalhado em parceria com o grupo na busca constante de recur-
sos públicos para a comunidade e para o grupo, bem como para
a melhoria no acesso à saúde e a medicamentos. Também, pela
busca exaustiva de um local para a sede do grupo e nas questões
referentes à criação de Políticas de Atenção a Pessoa Idosa.
Agradeço de forma anônima, mas com profunda gratidão, às
pessoas que ao tomar conhecimento da ideia do livro apoiaram
este projeto, incentivaram, ouviram, opinaram, criticaram, esti-
mularam, sugeriram. Algumas delas, inclusive, contribuíram com
a produção de textos. Não será possível nomear todas as pessoas
e peço desculpas por isso. Entretanto não poderia deixar de citar
os nomes de alguns colaboradores e participantes do grupo, os
quais realizaram inúmeras atividades. Sem o apoio de cada um
certamente não teria sido possível tornar esse sonho realidade.
Por isso agradeço à(ao):
Alceu Ribeiro Martins (In memoriam ao nosso querido
“Fefeu”) e Maria do Carmo Famer – Estiveram presentes no
grupo, por mais de 30 anos, assumindo diversos papéis, atuando
em diferentes espaços, contribuindo na trajetória do grupo. Agra-
decimento especial ao “Fefeu” que sempre esteve participando
nas atividades da diretoria assumindo diversas responsabilidades
por bens do grupo, como administração do local das reuniões e,
fundamentalmente, participando como parceiro das atividades
artísticas animando e enriquecendo as apresentações.
Carlos Alberto de Souza – professor do Centro de Refe-
rência de Assistência Social da Região Noroeste (CRAS) parceiro
do grupo no fortalecimento de vínculos entre os grupos de terceira
idade da região Noroeste, contribuindo com palestras e promoção
de vivências nas atividades regulares desenvolvidas.
Esmeraldino Figueiredo (Dino) – odontólogo, amigo muito
querido de todos do grupo há mais de 20 anos e que sempre cola-
borou prestando informações esclarecedoras sobre a saúde oral do
idoso, a importância do cuidado dos dentes, reflexos na autoestima
e na saúde, inclusive do coração. Também um agradecimento es-
pecial ao Dino por em diversas ocasiões contribuir com o grupo
fazendo parte da diretoria e por toda alegria que proporcionava
contando piadas sempre muito esperadas e apreciadas.
Eduardo de Souza – agente de fiscalização de trânsito da
EPTC Porto Alegre. Nosso grande parceiro no quesito “Educação
para Mobilidade da EPTC” que tem participado em muitos mo-
mentos do grupo com oficinas educativas e orientação para um
trânsito mais seguro para os idosos.
Eleonora Spinato e Silvio Leal – Coordenação do Idoso
da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte que
de forma muito especial tem prestigiado o Grupo da Longevidade
Viva a Vida em suas atividades em Porto Alegre, incluindo apre-
sentações regulares do grupo no projeto “se vira nos 60”.
Ellen Sampaio – professora de educação física que de
forma incansável tem sido parceira do grupo em suas atividades,
orientando o grupo da dança, ensinando e praticando pilates,
auxiliando na diretoria do grupo e apoiando a sua condução em
momentos difíceis. Tornou-se uma pessoa muito querida de todos
e uma liderança.
Eraci Ferreira – técnica de enfermagem do Serviço de Saú-
de Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição. Agradecimento
especial pelo incansável auxílio e parceria que foi prestado ao
grupo tanto nas questões de logística quanto nas questões técnicas
das diversas campanhas de vacinação realizadas ao longo dos anos.
Gratidão pela disponibilidade e auxílio aos idosos com dificuldades
de locomoção para obter acesso a medicamentos e atendimento
na Unidade de Saúde.
Felix Giambastiani da Costa e Diane Londero de Souza
– técnicos de enfermagem do Serviço de Saúde Comunitária do
Grupo Hospitalar Conceição que muito representam para o grupo
pela presença em diversos encontros, pelos ensinamentos, pelas re-
flexões relacionadas à espiritualidade, pelas práticas de meditação e
relaxamento. Atividades sempre bem-vindas e que tanto ajudaram
os participantes a relaxarem em ambiente de muita paz e alegria.
Lais Merkel – professora de dança que ingressou no grupo
em 2019 e se tornou muito querida, uma jóia preciosa. Ela tem
conduzido o grupo por novos e reconhecidos espaços orientando
o grupo em ritmos e estilo musical incluindo a ginástica e o mo-
vimento apropriado e adaptado para o grupo junto com a dança.
Léo Fernando Prondzynski – companheiro do grupo de
muitos anos ajudou em diversas frentes tanto sob o ponto de vista
de representatividade do grupo junto ao Conselho Municipal do
Idoso, como em questões técnicas nos bastidores das apresenta-
ções e performances do grupo, apoiando o uso de tecnologia com
computadores, vídeos, som, entre outros. Nos bastidores cuidou
de detalhes importantíssimos nas apresentações do grupo, oficinas
e palestras com grande público, detalhes e apoio que fazem tudo
dar certo e ficar muito mais bonito.
Lidice Zaniratti – professora de artes e dança. Foi uma das
primeiras professoras de atividade física e por ser bailarina e professora
de dança trouxe ao grupo contribuições também na parte artística e
cultural abrindo espaço para participação do grupo em desfiles de
modas, aulas de etiqueta, entre outras atividades que trouxeram mui-
ta alegria, socialização e movimento ao grupo que conquistou mais
espaço na comunidade.
Lorilei Zago e Vital Jorge Cristani – em parceria com ou-
tros reikianos(as), auxiliaram muito os idosos do grupo, ao longo
do tempo, prestando o cuidado através das sessões de Reiki, tanto
para o grande grupo quanto sessões individuais. Essas práticas
tiveram ótimos resultados no alívio de dores, ansiedade, estresse,
distúrbios variados do trato digestivo, segundo os depoimentos
dos participantes.
Margareth Djanira da Rocha Jackle – (Lindinha) – técnica
de Recreação Hospitalar Infantil/contadora de histórias. Compa-
nheira de muitos anos do grupo realizando “contação de histórias”
as quais muito contribuíram com os idosos pela possibilidade de
se colocarem no papel de personagens e conhecer outras realida-
des e possibilidades. Criou vínculo e oportunidades para que eles
compartilhassem com outras pessoas suas memórias, resgatando
as boas lembranças da sua vida e contribuindo positivamente para
a melhoria da qualidade de vida dos participantes do grupo.
Maria de Fátima Rodrigues Graziottin (In memoriam) –
professora de biodança do grupo e que vem acrescentando muito
a maturidade emocional, a empatia, a generosidade e a alegria
de viver que transmite a todos através de seus ensinamentos por
intermédio do convívio com o grupo e suas aulas de biodança.
Marilda Kersting – professora de artes e dança parceira
do grupo há mais de 20 anos que em todos momentos contribuiu
com sua criatividade e arte na criação de figurinos, danças, arte e
práticas culturais integrativas, especialmente para a celebração de
datas especiais como Natal, Páscoa, Dia do amigo, Dia da Mães,
Festa de Haloween, entre outras tantas. Sempre presente em di-
versos momentos, inclusive fazendo parte da diretoria do grupo.
Maurília dos Santos Soares – agente comunitária de saúde
na Unidade Conceição que tem colaborado com o grupo, há vários
anos, nas mais diversas atividades. Prestando durante os encontros
auxílio na acessibilidade de alguns de nossos participantes com
mais vulnerabilidade ou maior dependência ou dificuldade de
locomoção. Colaboradora nas atividades de retaguarda e bastido-
res das apresentações, desenvolveu com seu carisma elo entre os
participantes e a comunidade em diversos eventos de apresentação
e socialização do grupo.
Nabil Kansão e Dibe – casal de parceiros do grupo que em
diversas ocasiões abrilhantaram e alegraram as reuniões e festas
do grupo com apresentações, canções árabes e dança do ventre,
além de representar o grupo em diversos eventos. Agradecimento
especial à Dibe que sempre esteve presente e pronta para ajudar
a preparar os locais para as apresentações fazendo parte também
dos bastidores das apresentações.
Sandra Rejane Soares Ferreira – enfermeira do Setor
de Monitoramento e Avaliação de Ações de Saúde da GSC do
GHC, colaboradora do Grupo da Longevidade Viva a Vida com a
promoção de práticas integrativas nas reuniões do grande grupo
e com o trabalho de construção das cartilhas educativas para o
envelhecimento saudável.
Silvia Kiest – professora e diretora da Escola Municipal de
1º Grau, na Vila São Martin, em São Sebastião do Caí. Grande
companheira das atividades em São Sebastião do Cai que reali-
zou diversas intervenções educativas, artísticas e comunitárias
no Grupo Viva a Vida, bem como atividades de ensino, troca
de experiência, valorização e incentivo do uso de chás e plantas
medicinais, remédios caseiros e alimentação alternativa com os
participantes do grupo.
Simone Valvassori – enfermeira da Unidade Conceição
GSC-GHC, colaboradora do “Viva a Vida”, tanto sob o ponto
de vista de educação em saúde, vacinação dos idosos, como pro-
fessora da Universidade Federal de Ciências da Saúde, trazendo
acadêmicos da enfermagem, da psicologia e do Projeto Rondon
que realizaram seminários, palestras e atividades interativas que
nos enriquecem pela diversidade e qualidade dos temas. Gratidão
pelos incontáveis momentos de atuação como apoiadora da gestão
do grupo e como companheira muito especial, em todas as ocasiões
que necessitamos de representação do grupo nas atividades de
filantropia, solidariedade e de auxílio ao próximo.
Thais Pedroso Ferreira – agradecimento especial a educa-
dora física que ao tempo de estudante da Faculdade de Educação
Física do IPA com especialização em ginástica para Terceira Idade,
muito contribuiu nos primeiros passos do grupo com o trabalho
de atividade física e dança. Estimulando e motivando os idosos a
trabalhar com o corpo, a ouvir e gostar de todos tipos de música e
dançar no ritmo, em apresentações oficiais do grupo em eventos
do Grupo Hospitalar Conceição e em diversos espaços da cidade.
Zhélide Quevedo Hunter – nosso agradecimento em nome
do grupo à querida Zhélide, psicóloga, sexóloga, gerontóloga, dire-
tora e uma das fundadoras da Associação Nacional de Gerontologia
do Rio Grande do Sul, que por muitos anos acompanha o trabalho
do “Viva a Vida” contribuindo com palestras sobre diversos temas
particularmente sobre sexualidade na envelhescência, bem como no
estímulo da participação cidadã dos idosos em áreas importantes
e de referência nas políticas de atenção à pessoa idosa.
PREFÁCIO

O livro “Grupo da Longevidade Viva


a Vida: três décadas de história” é uma
demonstração da importância de caracte-
rísticas essenciais da Atenção Primária de
coordenação, atenção integral e continui-
dade. Eu fui convidado para escrever este
prefácio, por ter contribuído em ter dado
os primeiros passos desta longa e muito
bem-sucedida trajetória.
Eu conheço a Dra. Cristina Lemos há muito tempo, ini-
cialmente como preceptora da Unidade Sanitária Murialdo da
Secretaria de Saúde do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande
do Sul, onde eu fiz a minha residência na especialidade de medi-
cina geral e comunitária. Percebi logo, nas primeiras conversas
com ela, que tínhamos muitas características em comum. A nossa
amizade aumentou ainda mais quando iniciamos a trabalhar como
os primeiros médicos de família e comunidade contratados na
Unidade Conceição, vinculado ao Grupo Hospitalar Conceição
(GHC) a partir do ano de 1984.
Além das minhas atividades clínicas, eu sempre tive muito
interesse por atividades de extensão comunitária e uma das ativi-
dades que mais apreciava era conduzir o grupo de autoajuda para
pessoas com hipertensão e com outras doenças crônicas. O grupo
possibilitava uma troca de experiências entre os pacientes e os
profissionais de saúde e também era um estímulo para a adesão
ao tratamento dos pacientes.
A comunicação efetiva é indispensável para a prática clínica.
Considerando que mesmo que o diagnóstico e o tratamento sejam
adequados, se a mensagem não for transmitida com clareza, tanto
o médico quanto o paciente podem ter limitações na compreensão
dos seus problemas e por isto o grupo de autoajuda tem um papel
importante neste processo.
No ano de 1989, eu fui selecionado para realizar o curso de
mestrado em saúde comunitária para países em desenvolvimento
em Londres no Reino Unido na instituição London School of
Hygiene and Tropical Medicine (LSTM). Como tarefas para reor-
ganização das minhas agendas na Unidade Conceição era essencial
que encontrasse uma colega que me substituísse na coordenação
do grupo. Ao apresentar a proposta para a Cristina, ela se colocou
disponível e ao apresentar para o grupo, eu percebi que foi amor à
primeira vista - o grupo ficou encantado com a forma espontânea
e cativante da Cris.
O curso na LSTM mostrou-me que eu tinha interesse em con-
tinuar a minha carreira acadêmica. Ainda que continue a trabalhar
no Hospital Conceição, eu exerço atividades de ensino e pesquisa e,
em 1999, ingressei na carreira de professor da Universidade Federal
de Ciências da Saúde de Porto Alegre, o que consolidou ainda mais
o meu interesse em buscar responder perguntas identificadas no
atendimento individual e coletivo por meio de pesquisa e estimular
o ensino da prática da medicina de família e comunidade. Portanto,
combinei com a Cristina que ela deveria continuar a coordenação
do grupo de autoajuda, que neste momento já estava muito bem
encaminhado.
Este livro é uma forma de reflexão, que todos nós possamos
recuperar a história de nossas experiências de atividades na co-
munidade as quais representam um modelo de atendimento para
auxiliar no aumento da qualidade de vida dos nossos pacientes.
O recorte apresentado neste livro deve-se ao reconhecimento
do que foi uma das marcas da história do Serviço de Saúde Comu-
nitária (SSC) do GHC: o compromisso com atividades coletivas
que complementavam o cenário assistencial, com o intuito de
aprimorar os serviços de saúde da cidade de Porto Alegre.
O livro reflete as iniciativas que o grupo de profissionais do
SSC do GHC, particularmente a Cristina, em buscarem adequar
as ações de acordo com as necessidades da população atendida,
identificando os determinantes sociais em saúde e construindo de
forma coletiva estratégias efetivas e inovadoras para implementar
práticas para ampliar e aperfeiçoar a interação com a comunidade.
O leitor se depara com os registros em que vêm à tona as
ideias, as paixões e principalmente as alegrias do convívio entre os
pacientes e a coordenadora do grupo, que mobilizou sentimentos que
levaram a ficarem juntos como grupo de pessoas com resiliência,
que aprenderam como conviver ao longo dos anos e, também, en-
contravam neste ambiente um porto seguro. O exemplo deste grupo,
também pauta para mim estratégias que podem ser estimuladas ao
longo das minhas atividades acadêmicas como referência para a prá-
tica clínica, para o ensino dos estudantes e também para a pesquisa.
A Atenção Primária tem como funções: resolver a grande
maioria dos problemas de saúde da população; organizar os fluxos
dos usuários pelos diversos pontos de atenção à saúde, no sistema
de serviços de saúde; e também responsabilizar-se pela saúde dos
usuários em quaisquer pontos de atenção à saúde em que estejam.
As práticas desenvolvidas neste grupo possibilitaram, com uma
experiência singular um ambiente propício para desenvolver uma
Atenção Primária de alta qualidade.
Ao ler a história deste grupo, observa-se que este empreendi-
mento transcende o interesse local e a responsabilidade do grupo,
pois o encontro transformou a vida de cada participante que ao
buscar informação no grupo percebeu, também, a possibilidade
de ter prazer na convivência com seus pares e que as intervenções
efetivas recebidas tiveram uma repercussão na construção de maior
qualidade de vida dos componentes do grupo, da sua família e rede
social. Ainda possibilitaram manter a Cristina por mais tempo como
médica neste serviço de saúde. Este livro é o resgate da memória
de cada um dos membros deste grupo, mas também um exemplo
para toda a sociedade, como exemplo de experiência bem-sucedida,
onde o cuidado realizado com carinho e atenção possibilitou que
por meio das redes estabelecidas em nossas relações muitas pessoas
pudessem se beneficiar, inclusive aquelas que não estiveram nas
inúmeras reuniões que ocorreram. Boa leitura de uma trajetória
que é um exemplo para todos nós.

Airton Tetelbom Stein


Médico de Família e Comunidade
Professor Titular de Saúde Coletiva da Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
Doutor em Ciências Médicas pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
APRESENTAÇÃO

Cada um de nós compõe a sua história


Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz;
Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora.
(Almir Sater).

O livro “Grupo da Longevidade Viva a Vida: três dé-


cadas de história” foi escrito com a ajuda de várias pessoas,
especialmente participantes e colaboradores que escreveram seus
depoimentos e nos enviaram. Também, por meio da coleta de
informações nos documentos de constituição do grupo e nos re-
gistros das reuniões, encontros e atividades realizadas. Ainda, sob
o prisma da Médica de Família Cristina Padilha Lemos que atuou
por mais de 30 anos como Coordenadora Técnica deste grupo de
convivência de idosos e sentiu-se motivada a divulgar o trabalho
no qual participou ativamente desde seus primeiros passos e tem
sido motivo de crescimento pessoal e profissional.
Se você está se perguntando: por que escrever um livro sobre
grupo de idosos? Com certeza nossa resposta seria: escrevemos
para poder contar uma história de amor e de cuidado que aconteceu
durante mais de 30 anos!
Destaca-se que a escrita deste livro, na maioria dos capí-
tulos, está na primeira pessoa porque a autora principal, Cristina
Padilha Lemos, vivenciou cada um desses momentos relatados
junto com Grupo da Longevidade Viva a Vida. Ela faz um relato
emocionado sobre a grandeza de um grupo de senhoras e senhores
que realizaram de forma conjunta uma infinidade de atividades,
pelos idos@s, pelas políticas públicas voltadas para os idos@s,
pela comunidade, pelo serviço de saúde, por si e seus familiares,
sem ajuda financeira de nenhuma instituição, sem sede própria,
mas com uma tenacidade capaz de tecer de forma coletiva uma
rede de muito afeto, alegria, respeito, solidariedade e esperança.
A motivação para contar a história do Grupo da Longevidade
Viva a Vida se deve entre muitas razões ao valor que ele teve e tem
na vida das pessoas, à medida que proporcionou realizar coletiva-
mente uma série de pequenos e incontáveis passos para constituir
um espaço seguro de convivência entre os idosos, onde todos (re)
conquistam respeito, estima pessoal, amizades, escuta, afeto e são
estimulados e fortalecidos pelos seus pares para (re)assumirem o
protagonismo na comunidade e na sociedade, para a melhoria da
qualidade de vida e de seus relacionamentos.
É difícil expressar de forma escrita a dimensão que o grupo
alcançou, como instrumento que inspira, motiva e dignifica seus
inúmeros participantes, idosos, profissionais e estudantes que por
ele passam. São tantos colaboradores que saem desse espaço “me-
xidos”, agradecidos, gratificados pela experiência junto aos idosos
do Viva a Vida. Foram muitas as conquistas que os participantes
do grupo alcançaram junto com seus apoiadores e os resultados
desses encontros podem ser presenciado na vida das pessoas e
nas atividades que realizavam e realizam cotidianamente. Por
isso, querido(a) leitor(a), é uma alegria poder contar pra você um
pouco dessa experiência.
O objetivo ao organizar este livro foi relatar e registrar esta
história e compartilhar um pouco da trajetória de vida e do legado
imaterial que foi produzido pelos diversos participantes do Grupo
da Longevidade Viva a Vida. Cristina Lemos afirma que “contar
essa história, é também contar minha história; me permite ex-
pressar a gratidão por ter tido o privilégio de ser coordenadora
técnica do grupo, por ter me tornado uma apoiadora dentro de
diferentes contextos. Ainda, por permitir ao longo do tempo o en-
trelaçamento da minha história com inúmeras histórias de vida.
Contar é falar dos desafios, acertos, erros, perdas e ganhos que
o trabalho em conjunto nos proporcionou.” A autora assegura
que relatar a experiência na coordenação do grupo, após tantos
anos de convivência, foi um desafio e um presente. É uma alegria
descrever um pouco a riqueza de vida que existe no movimento
participativo desses idosos, nos encontros e atividades ao longo
da trajetória de mais de 30 anos, sem interrupções.
Os relatos dos participantes e avaliações das atividades
do grupo poderão mostrar aos leitores(as) que a participação no
Grupo da Longevidade Viva a Vida foi e tem sido uma terapia,
uma estratégia de devolver ao idoso seu papel social, um espaço
de interação, um remédio bom para muitos males, principalmente
a solidão e a baixa autoestima, entre outros que adoecem o corpo e
a alma. Cristina Lemos e seus colaboradores(as) contam histórias
construídas por muitos personagens, alguns não estão mais fisica-
mente entre nós, mas muitos estão neste espaço há mais de 20 anos
e outros foram chegando nos últimos anos e permanecem conosco.
As histórias, depoimentos e informações coletadas nos
registros foram organizadas em 12 capítulos, nos quais busca-se
associar, dentro do possível, personagens aos ciclos e episódios
marcantes da vida do Grupo da Longevidade Viva a Vida, mesmo
os personagens que não estão mais entre nós pertencem ao grupo e
vivem nas nossas memórias. O livro deseja resgatar um pouco da
história das pessoas, o envolvimento social, a representatividade
e o protagonismo que tiveram na comunidade e na constituição
do seu espaço de encontros semanais.
O primeiro capítulo discorre sobre a motivação em contar
a história do grupo e todos os sentimentos que permearam esse
processo de construção do livro. O capítulo 2 relata como nasceram
a Unidade Conceição e o Grupo de Convivência de Idosos, dentro
do contexto social, político e econômico do campo da saúde, nos
anos 80. O capítulo 3 apresenta o processo de estruturação e ofi-
cialização jurídica do grupo e a constituição das suas diretorias.
O capítulo 4 conta como foi organizado o trabalho de educação e
promoção da saúde no grupo. O capítulo 5 aborda os benefícios da
atividade física para os idosos e apresenta as diversas modalidades
de atividade física oferecida aos participantes do grupo. O capítulo
6 relata as incontáveis atividades culturais, artísticas, filantrópicas
e de socialização promovidas pelo Viva a Vida e a participação
dos idosos em diversos eventos públicos em Porto Alegre e outras
cidades. O capítulo 7 nos leva a viajar com o grupo de idosos por
diversos municípios em busca de lazer, companheirismo e diver-
são. O capítulo 8 expõe como foi realizada a abordagem do tema
espiritualidade e das Práticas Integrativas e Complementares em
Saúde (PICS) no grupo com o objetivo de prestar uma atenção cada
vez mais integral para os idosos. O capítulo 9 narra as histórias
relacionadas à busca de instituições e serviços para realização de
trabalho intersetorial e o sucesso obtido com diversas parcerias
que o grupo construiu. O capítulo 10 apresenta como o ensino e
a pesquisa passaram a fazer parte da história e trajetória do grupo
e como este espaço coletivo se tornou uma referência enquanto
campo de pesquisa para estudos de pós-graduação sobre o enve-
lhecimento. O capítulo 11 apresenta os impactos que a participação
nas atividades do grupo trouxe para a vida das pessoas e como
estas atividades tem se mostrado como uma importante estratégia
para a promoção da saúde. Por fim, no capítulo 12 aborda-se os
desafios e as implicações da Pandemia da Covid-19 na vida do
grupo e dos idosos pela impossibilidade de encontros presenciais,
ainda os desafios e caminhos que começaram a trilhar para apren-
der a conviver no mundo digital, bem como a busca de parcerias
para apoiar essa experiência e possibilitar aos idosos acompanhar
a transição digital que o mundo exige neste momento de crise
sanitária mundial.
O livro conta lindas histórias, abrangentes, complexas, mas
muito alegres, cheias de empatia e de encontros que fizeram e
fazem bem para o corpo e para a alma.
Esperamos que vocês apreciem a leitura!
1 O GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA:
UMA HISTÓRIA DE AMOR
“Procurem um grande amor na vida e cultivem-no.
Sem amor, a vida se torna um rio sem nascente,
um mar sem ondas, uma história sem aventura!
Mas, nunca esqueçam, em primeiro lugar tenham
um caso de amor consigo mesmos.”
(Augusto Cury).

“O amor é a melhor parte de qualquer história.”


(Stephenie Meyer).

Quando o desejo de contar a história do Grupo de Longevidade Viva a


Vida se transformou na decisão de escrever o livro, diversas ideias me ocor-
reram sobre como fazer isso e iniciei a busca de registros e relatos sobre a
criação do grupo e as atividades por ele desenvolvidas na tentativa de fazer
uma reconstituição da sua história. Ao começar a recolher material para
redigir o livro percebi que certamente descrever a trajetória do Grupo da
Longevidade “Viva a Vida” poderia se desdobrar na necessidade de escrever
mais de um livro de forma a contemplar todas as suas dimensões. Também,
percebi que a reconstituição da história do grupo não poderia ser realizada
como um relato linear, isto é, desde a sua fundação até seus dias atuais, pois
grande parte dos registros obtidos são parte da (re)construção realizada com
base na memória dos participantes e em registros dos encontros e reuniões
da diretoria do grupo. Portanto, certamente haverá a ausência de fatos, de
relatos e de algumas atividades realizadas. Perdoem-me se a memória e/ou o
registro dos encontros falharam em algum momento não permitindo incluir
todas as ações realizadas, pois foram muitas reuniões, palestras, eventos que
o grupo participou, representação em instituições, entre tantas outras ativi-
dades desenvolvidas. Destaco que é um privilégio contar essa maravilhosa
história de amor, companheirismo, suporte social e superação. História
onde não há personagens principais, todos são personagens fundamentais.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 19


Diversas vezes me peguei refletindo sobre o que deveria contar, qual seria
a abordagem. Também, como recompor a trajetória do grupo, como coletar
os registros, relatar as histórias das pessoas, dos lugares, dos encontros, das
produções, das comemorações, das ações políticas e de cidadania. Por fim,
decidi me ater à narrativa da história realizada de acordo com a minha memória
e a dos participantes. Na intenção de uma abordagem que pudesse incluir o
maior número relatos e depoimentos para o livro, fiz um plano de trabalho
prevendo encontros com as pessoas que fizeram parte do grupo desde o seu
início e de muitas outras que ainda participaram de suas atividades. O primei-
ro movimento foi convidar algumas pessoas para um café, para conversar,
recordar e decidir em conjunto o que seria importante contar sobre o grupo
no livro. Foram vários encontros e reencontros, garimpando na memória os
depoimentos e nos registros as informações escritas sobre o grupo. A cada
encontro e reencontro com as pessoas foi como realizar uma viagem no tem-
po, revivemos juntas diversos momentos do grupo. Foram dias felizes com
muitas histórias de vida, lembranças das conquistas, dos planos e do fazer
juntos. Também foram realizadas ligações para coletar memórias dos idosos
que participaram do grupo e não puderam participar do encontro presencial.
Cada encontro, cada troca de mensagens, telefonemas, foi um reviver, uma
constante emoção. Houve muitos depoimentos afetivos. O afeto foi sempre
presente, nosso maior presente durante todo o convívio. Cada telefonema e
reencontro tinham a potência de abrir uma caixa de tesouros, de histórias cheias
de vida, de reencontros, de saberes e a certeza que ao longo do caminho a
estrada foi construída com dedicação e amor à vida. Muitos momentos felizes
foram revividos por meio desses depoimentos. Isto por si só, foi emocionante!
Solicitei a todos interessados nesse projeto que cada um descrevesse
o significado de participar do grupo, registrasse os fatos que vinham na
lembrança e que consideravam importantes. Inicialmente fiz uma lista de
tópicos relacionados às atividades e áreas de atuação do grupo e tentei dividir
os tópicos entre os que se dispuseram a participar dessa atividade. Após a
coleta destas informações comecei a pensar, a estudar, a estabelecer um
método para organizar os relatos e contar um pouco dessa história. Quanto à
metodologia do trabalho decidi dividir os conteúdos por capítulos de forma

20 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


a relatar a história contemplando, dentro do possível, os depoimentos dos
participantes. No processo de organização do material do livro, por meio
dos movimentos para a coleta dos conteúdos pude refazer vínculos, resgatar
e viver novamente as histórias compartilhadas. E assim, como uma colcha
de retalhos feita coletivamente por várias mãos foi realizada a (re)constru-
ção das memórias deste grupo que é cheia de detalhes, várias histórias de
envolvimento comunitário, solidariedade, dedicação, amizade, enfim, uma
história de amor. Uma história do meu amor pelo grupo, do amor do grupo
por mim e do amor do grupo pelo grupo.
É interessante destacar que à medida que eu buscava os registros do
começo do trabalho, que lia os relatos enviados, via fotos, documentos,
papéis que estavam praticamente esquecidos em arquivos, fui (re)vivendo
tantos momentos e sentindo a falta de tantas pessoas que já não estão mais
conosco. Pude (re)ver nesse processo a diversidade de ações desenvolvidas e
de parcerias envolvidas em cada momento. História onde obtivemos ganhos
para ambos os lados, para quem participou como membro do grupo como
para aqueles que contribuíram nas atividades doando seu tempo, comparti-
lhando seu conhecimento, dividindo suas experiências e refletindo de forma
conjunta como envelhecer mantendo a qualidade de vida e nutrindo todos
os valores e amores que a vida nos deu. E tem sido assim desde o começo,
há 34 anos. Fazendo o caminho à medida que caminhávamos. As memórias
afetivas que tenho do Grupo de longevidade Viva a Vida são muito intensas
e valiosas e percebi nesse processo de construção do livro que este grupo
sempre teve uma história de amor comigo e que grande parte dos capítulos
que compartilho são “memórias de afeto”.
A época que participei do grupo foi a melhor época. Era aqui perto de
casa e era uma coisa muito boa. Eu adorava frequentar o grupo. Fazia
ginástica que era com a Marilda e tinha também uma outra professora que
não lembro o nome, depois meu marido morreu e eu comecei a viajar. Ia
muito com o grupo da minha irmã. Só gente da terceira idade. Conheço
todo o nordeste hoje não saio mais de casa, só ando com o andador. Meus
filhos são incansáveis, me cuidam em tudo e não me deixam faltar nada. A

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 21


Teresinha é minha vizinha que é incansável não deixa um dia sem me ver,
saber o que eu preciso, sempre me trazendo uma coisinha boa.
(Madalena Trindade, 84 anos – membro do grupo)

Quero cumprimentar você, Dra. Cristina, por essa longa caminha-


da, uma jornada de vida, tornando esse grupo, referência de convívio
social entre idosos. Parabéns a todos que passaram por ele e aos que
continuam no grupo. Parabéns à atual diretoria! Sou muito grata a
todos vocês por me permitirem evoluir e vencer minhas barreiras pes-
soais de timidez, de receio de falar em público e outras dificuldades.
Vocês me ajudam a vencê-las com muito afeto, paciência, carinho,
cuidado e respeito. O retorno que tenho das aulas de Biodanza ao
perceber o grupo cada vez mais solto em seus movimentos internos
e externos, verificar cada vez mais as expressões autênticas de afeto
e de respeito entre os membros do grupo, assim como a alegria de
participar das atividades, tornam a minha caminhada com vocês
leve, alegre, amorosa, prazerosa e muito mais fácil. Sou só gratidão!
(Maria de Fátima Grazziotin – in memoriam - professora de biodança)

O grupo Viva a Vida nos proporcionou muitas coisas. Nós partici-


pamos de muitas viagens, festas temáticas, dança, música, passeios,
almoços, chás, jogos, artesanato, etc. Aprendemos com diversos pa-
lestrantes com os mais variados temas. Mas o grupo nos proporcionou
principalmente afeto, amor, respeito, anos de vida social saudável,
com convivência e aprendizado.
(Marli Joejhson – membro do grupo)

Essas memórias de afeto, presente em minha vida, com certeza também


impregnaram muitas vidas, tanto dos profissionais voluntários e estagiários
quanto dos idosos que estiveram conosco. Essa forma afetiva de ser do
grupo, também cativou gestores da nossa instituição, a Gerência de Saúde
Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição, e finalizamos esse capítulo
com o depoimento poético e afetivo enviado, em julho de 2020, pelo Antônio

22 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Fernando Selistre que foi gerente do serviço de saúde comunitária, no pe-
ríodo de outubro de 2017 a maio de 2019:
Ao receber o convite para falar sobre o Grupo de Longevidade
Viva a Vida, ligado a Unidade de Saúde Conceição, da Gerência
de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição, da qual
tive a oportunidade ímpar de ser o gerente de outubro de 2017 a
maio de 2019, fiquei muito lisonjeado.
O fato de ter sido escolhido pela Dra. Cristina entre tantos que já
passaram pelo serviço me deixou bastante emocionado, provocan-
do lágrimas incontidas de carinho e felicidade. Transportei-me às
tardes em que o grupo se reunia no “galpão” para o chá, danças e
conversas, muitas vezes, me devolvendo a saúde que as atribuições
para sobreviver acabam por nos roubar.
No meu primeiro dia como gerente, fui almoçar num restauran-
te próximo, o qual, carinhosamente, meus colegas colaboradores
chamavam de “Gringo”. Lá, fui apresentado a duas médicas que o
tempo não lhes roubará a juventude, que contavam seus planos de
aposentadoria e, ao mesmo tempo, o orgulho pelo serviço prestado
à comunidade. Imediatamente nos tornamos amigos.
“Não sei...Se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que
nada do que vivemos, tem sentido se não tocarmos o coração das pes-
soas.” Esse verso de Cora Coralina, que ouso replicar, demonstra a
força da vida e seu objetivo principal, a sensibilidade da convivência.
Neste período, apreendi muito, conscientizei-me da minha igno-
rância referente ao conceito de saúde, descobri que a doença está
além de reações orgânicas e que a cura está acima de um simples
diagnóstico clínico.
Os trabalhadores da saúde comunitária são mágicos, um misto de
fadas, duendes e magos, em sua maioria, verdadeiros super-heróis;
personagens que acreditava existir somente em histórias infantis.
Talvez esse seja o motivo pelo qual profissionais de outras áreas
buscam, muitas vezes, desacreditarem do seu trabalho. Esses grupos
falam de práticas integrativas, plantas medicinais e, sobretudo, de
atenção às pessoas, são “gestores do cuidado”. Nesse universo, está
inserido o Grupo da Longevidade Viva a Vida, cujo principal objetivo

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 23


é resgatar a autoestima e socialização dos idosos com simples atos
de afeto e respeito.
A idade vai trazendo limites e como é regra para todos achar que
a juventude não vai nunca acabar, a velhice chega de mansinho, e
aquela pessoa ativa, que criou seus filhos, às vezes sobrinhos e ou-
tros próximos, foi líder social, proativa, pessoa linda e desejável em
todos os aspectos, passa a ser um incômodo, a família cochicha para
ver quem cuida, a sociedade não tem mais tempo ou paciência para
ouvi-la e a morte se antecipa pela falta de objetivo de querer viver.
Os Serviços da Gerência de Saúde Comunitária do Grupo
Hospitalar Conceição, ainda engatinhando nos seus projetos, lá em
1984, antecipou-se a todos os conceitos, deixando o atendimento
clínico tradicional, para efetivamente criar uma relação entre os
profissionais e aqueles que acessavam o serviço, como hoje nas pa-
lavras do Médico Psiquiatra e amigo Dr. Luiz Ziegelmann (da nossa
comunitária) preocupando-se em “chegar antes do adoecimento”.
Passam a atender com um olhar carinhoso, explorando o potencial
individual daqueles que buscam, muitas vezes, apenas um abraço, e
assim nasce o Grupo da longevidade Viva a Vida, apresentando nos
34 anos de atividade com muitos resultados positivos: as dores no
corpo foram substituídas por dias de dança, as medicações excessivas,
por chás e salgadinhos e a depressão, por longos papos e amizades.
O grupo passou a lutar pelos interesses da comunidade e pela
qualificação dos serviços; o tempo deixou de ser em vão para ferti-
lizar a vida com a experiência adquirida e com a certeza de que a
vida sempre tem muito para ser vivida e todos temos o que ensinar
e o que aprender.
Fico imaginando o protagonismo desse grupo, composto de pesso-
as que não se limitaram a suas obrigações profissionais e descobriram
que a convivência pautada em respeito resgata a dignidade humana
e fortalece o indivíduo e, mesmo com o fluxo adverso, não desistiram
de lutar pelo reconhecimento da importância desse serviço e por
um espaço para realizações. Empenharam-se para acontecer num
mundo que se mostra tão cético. Meu pensamento direciona-se ao
que testemunhei, o congraçamento de pessoas trocando ensinamen-
tos, sejam os idosos que acessaram o serviço, sejam os profissionais

24 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


voluntários que se doaram para que tudo acontecesse: o ciclo da
vida em sua plenitude.
Hoje posso afirmar que muitos leitos hospitalares deixaram de ser
ocupados e as filas nas Unidades diminuíram consideravelmente e,
o principal, que muitos que por lá passaram, tiveram sua dignidade
resgatada. Essa experiência me permitiu apreender e compreender
que a vida deve ser pautada por uma convivência que proporcione
todo crescimento espiritual e qualidade de saúde mental e de saúde
física possível.
Encerro exaltando o amor descoberto, em sua essência, em um
olhar, ou um toque, que essa troca que conviver permite, que qua-
lifica a cada dia o serviço de saúde, pelo resgate da dignidade, ou
seja, dos idosos que lá se reúnem, ou dos profissionais que lá atuam
e absorvem essa sabedoria e se renovam. E, mais uma vez, cito Cora
Coralina: “E isso não é coisa do outro mundo, é o que dá sentido à
vida, é o que faz com que ela não seja curta, nem longa demais, mas
que seja intensa, verdadeira, pura...enquanto durar.”
Agradeço a esse grupo, pioneiro no exemplo, forte no acolhimento,
pelo carinho, abraços, conversas, pratinhos de doce, e sobretudo, pelo
que me ensinaram: a felicidade está sempre tão perto: no próximo.
(Antônio Fernando Selistre – gerente de saúde
comunitária de outubro de 2017 a maio de 2019)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 25


26 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 27
28 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
2 O DECONTEXTO DA CRIAÇÃO DA UNIDADE
SAÚDE CONCEIÇÃO E DO GRUPO
DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS
“É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a
proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas
sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável
e em condições de dignidade.” (Estatuto do Idoso).

“Saúde é o resultado das condições de alimentação,


habitação, educação, renda, ambiente, trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e
posse da terra e acesso aos serviços de saúde.”
(8ª Conferência Nacional de Saúde – 1986).

O Hospital Nossa Senhora Conceição (HNSC) do Grupo Hospitalar


Conceição (GHC) criou, em 1983, o Serviço de Saúde Comunitária e
o Programa de Residência em Medicina de Família e Comunidade, em
Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Essa Unidade de Saúde instituída no
quarto andar do ambulatório do HNSC foi a primeira de 12 unidades or-
ganizadas pela instituição, na zona norte e leste do município. A proposta
de um Serviço e Residência em Saúde da Família nasceu em um contexto
de escassez de serviços públicos de saúde, pois havia na cidade poucos
“postinhos de saúde” nos bairros periféricos e apenas os trabalhadores
com “carteira assinada” tinham acesso à assistência à saúde que ocorria por
meio do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Portanto, nesse
período, essa modalidade de atenção à saúde e de formação especializada,
por meio da Residência Médica, iniciada no HNSC foi bastante inovadora.
A proposta de atuação do Serviço de Medicina de Família e Comunidade
e da formação de Médicos de Família foram embasadas no Modelo Inglês
de Atenção Primária à Saúde (APS).

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 29


Para compreendermos esse protagonismo é interessante contar um pouco
da história da constituição do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 1983,
a Previdência Social começou a fazer convênios com as prefeituras e o
nome desses convênios era “Ações Integradas em Saúde (AIS) ”. Quando
o Governo Federal passou a colocar uma parte do dinheiro nas prefeituras
todo mundo ganhou porque com as AIS, as prefeituras quase dobraram seu
orçamento. Foi o início da descentralização da atenção à saúde. Então se
começou a perceber que o país poderia organizar o atendimento à saúde de
forma descentralizada e hierarquizada de modo que a previdência entraria
num sistema único (MATHIAS, 2018). Com as discussões sobre a refor-
ma sanitária e as conferências de saúde no país, no decorrer do tempo, as
AIS foram sendo aperfeiçoadas e deram origem ao Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (SUDS) que após a promulgação da Constituição
de 1988 deu origem ao nosso atual SUS (MATHIAS, 2018).
O movimento da Reforma Sanitária Brasileira ampliou o conceito de
saúde e possibilitou melhor atenção à saúde da população este foi um fator
importante que contribuiu ao longo do tempo com a melhoria das condições
de saúde da população e aumento da longevidade brasileira. O movimento
da reforma sanitária contribuiu para um novo entendimento sobre saúde
que passou a ser entendida não somente como ausência de doença, mas,
sobretudo como um processo resultante das condições de alimentação,
habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego,
lazer, liberdade, acesso a terra e aos serviços de saúde (BRASIL, 1986).
Continuando nossa contextualização, em nível populacional, nesse
período, vinha ocorrendo no Brasil o processo de transição demográfica
que se iniciou a partir da década de 40 nos estados mais desenvolvidos do
nosso País, incluindo o Rio Grande do Sul (RS). A população idosa do RS
vinha aumentada de modo significativo nesse período. Historicamente, no
estado a expectativa de vida passou de 52,7 anos em 1903 para 66,7 anos
em 1972, para 68,8 em 1980 e, para 75 anos em 2007 (GOTTLIEB, 2011).
Segundo o IBGE (2020), em 2019, a expectativa de vida dos brasileiros do
sexo masculino passou para 73,1 anos e a das mulheres para 80,1 anos, uma
média de 76,6 anos. No Rio Grande do Sul a média da expectativa de vida é

30 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


78,8 anos (IBGE, 2020). O fato das pessoas viverem mais é uma excelente
notícia, mas pressupõe reflexão e mudanças de atitude, especialmente das
políticas públicas e dos serviços de saúde para promover qualidade de vida.
A população de idosos e de pessoas com hipertensão arterial que viviam
no território atendido pela Unidade de Saúde Conceição já era significativa,
em 1983, e exigia acompanhamento continuo da equipe de saúde. Os cuida-
dos das condições crônicas de saúde incluem um importante e determinante
fator: promover o autocuidado, isto é, o preparo e estímulo da pessoa para
envolver-se no cuidado da própria saúde. Nesse sentido a equipe da Unidade
de Saúde Conceição identificou a necessidade de implementar um processo
de educação e promoção da saúde em grupo, para estes usuários do serviço.
Em abril de 1986, o Médico de Família e Comunidade Dr. Airton
Tetelbom Stein, em parceria com a equipe, iniciou o trabalho educativo
com um grupo de pessoas com hipertensão com o propósito de cuidar dessa
demanda. O grupo era composto em sua maioria de idosos e a proposta
do trabalho foi realizar atividades educativas em saúde para a promoção
do autocuidado. Com o passar do tempo “os hipertensos” tornaram-se um
grupo de convivência de idosos. O nome escolhido naquele momento foi
“Grupo de promoção da saúde e do envelhecimento saudável” que é como
se identificam até hoje o “Grupo da Longevidade Viva a Vida”.
Desde a sua formação, em 1986, o “Grupo da Longevidade Viva a Vida”
desenvolve atividades educativas em saúde, de formação e desenvolvi-
mento comunitário, de promoção do autocuidado, de convivência social,
entre outros. As atividades desenvolvidas sempre visaram à promoção do
envelhecimento saudável e do autocuidado com recursos pedagógicos e de
apoio ao autocuidado disponibilizadas pela unidade de saúde Conceição
com a retaguarda do HNSC.
Na época em o grupo foi fundado, a Unidade de Medicina de Família
Conceição funcionava no 4º andar do ambulatório do HNSC. Participaram da
fundação e ficaram alguns anos no grupo o Sr. Francisco Caputto (In memo-
riam) e as senhoras Madalena e Regina. Em 1989, o Dr Airton Tetelbom Stein
foi estudar fora do Brasil e eu, Cristina Padilha Lemos, assumi a ­coordenação

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 31


técnica do grupo. Nessa época não tínhamos um local específico para realizar
as reuniões e, algumas vezes ocupávamos o espaço do mezanino do hospital,
em outros momentos realizávamos os encontros em diferentes salas, dentre
os mais diversos setores do Hospital que nos emprestavam o espaço. Na
sala de reuniões do setor da Medicina de Família, nos consultórios, tendo
sempre de administrar previamente a disponibilidade do lugar e manter os
participantes informados de onde aconteceria o encontro. Os participantes
do grupo eram na sua maioria senhoras e senhores de idade, alguns com
dificuldade de se locomover e circular nos diferentes setores do hospital
a procura da sala onde seria o grupo. Para identificação dos participantes
do grupo e para que pudessem circular pelos distintos setores do Hospital
Conceição, confeccionamos crachás, para facilitar o acesso pela portaria,
mas isso, nem sempre significava que achariam com facilidade a sala onde
acontecia a reunião.
Em um segundo momento da história do grupo, realizávamos as reuniões
na sede da Associação dos Funcionários do Grupo Hospitalar Conceição
(ASERGHC) o que implicava sempre em envolvimento prévio de acerto
com a diretoria da entidade para o empréstimo do local. Lembro, que em
uma ocasião tivemos de fazer a reunião na rua porque houve uma questão de
urgência para ser resolvida entre os funcionários e tivemos que desocupar o
espaço. Realizamos a reunião na calçada, buscando a descontração daquela
situação constrangedora e aproveitamento do momento em que estávamos
juntos. Tivemos vários percalços para encontrar um local de fácil acesso para
os encontros. Também a situação de que, em diferentes momentos, tínhamos de
mudar de sala uma vez que a prioridade de ocupação do espaço não era nossa.
Houve uma temporada que fomos ocupando diferentes espaços conce-
didos para nossos encontros, alguns realizados na sede do Sindicato dos
Metalúrgicos. Depois tivemos outros endereços ao sair do Sindicato dos
Metalúrgicos. Algumas vezes por falta de ter onde fazer as reuniões, nos
reunimos na casa da Mariazinha, na Rua Alvares Cabral. Na época que o
presidente do grupo foi o Sr. Jair durante anos fizemos as reuniões na rua
João Wallig, coincidindo com a época em que iniciamos a prática de pilates
com a professora Ellen. As aulas eram dadas dentro de casa, organizávamos

32 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


o espaço mexendo nos móveis e ao final tudo era recolocado para seguirmos
tendo a disponibilidade do local. Conto esses fatos no sentido de registrar
que já nos primeiros passos do grupo, o local onde se encontrar foi uma
barreira, mas sempre a superamos para realizar nosso encontro.
Atualmente, tendo em vista a pandemia da Covid-19 que iniciou, em
março de 2020, no Brasil, o grupo não realiza mais reuniões presenciais e
passa por um processo de reorganização para encontros mediados por meio
digital que será descrito em outro capítulo. As necessidades e a realidade
modularam a história e a trajetória do grupo composto de pessoas muito
criativas e que sempre estiveram e continuam colaborando na solução de
problemas tanto da unidade de saúde quanto da comunidade.
Quando entrei no grupo, fazia parte de uns cursos que tinha no
Hospital Conceição. A senhora (Dra. Cristina) me tratava no posto
e me convidou para fazer parte do grupo. Já no começo a gente fazia
passeatas, caminhada no comércio, da Assis Brasil e da Francisco
Trein, nas farmácias, nas lojas pelo bairro, arrecadando dinheiro
para comprar material para a Unidade de Saúde. Uma das primeiras
compras que ajudamos, foi comprar um refrigerador para guardar as
vacinas do posto. A geladeira que tinha, era muito pequena e preci-
sava uma maior. Lembro que saiamos com a camiseta que, naquela
época, o Hospital nos dava, depois a senhora mandou fazer nossas
camisetas do grupo.
(Teresinha do Nascimento – membro do grupo)

O Grupo de Longevidade Viva a Vida surgiu no contexto da Reforma


Sanitária Brasileira e se fortaleceu ao longo do tempo e essa trajetória de su-
cesso só foi possível porque desde a sua fundação envolveu muitos atores que
trabalharam e lutaram, lado a lado, para conquistar um espaço de encontros
na comunidade com o objetivo de produzir saúde, autocuidado, solidariedade
e cidadania. Junto com a formação do grupo aconteceu a construção de uma
rede que se estendeu e, ainda se estende, por diversas áreas da instituição, por
meio da formação de lideranças atuantes na comunidade, um grupo onde todos
são atores e não existem papéis secundários ou de coadjuvantes.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 33


O crescimento da população idosa é tido como uma das mais relevantes tran-
sições demográficas, o qual acontece de modo rápido e abrupto, sobretudo nos
países em desenvolvimento, sem um adequado acompanhamento do progresso
social e econômico (BARBOSA, OLIVEIRA e FERNANDES, 2019). Destaca-
se que o Brasil está em franco processo de envelhecimento da população. Dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2018) mostram que,
em 2018, o número de jovens (0-14 anos) caiu para 44,5 milhões e o de idosos
(60 anos ou mais) subiu para 28 milhões, ficando o índice de envelhecimento
(IE) em 63 idosos para cada 100 jovens. A tendência de envelhecimento da
população vem se mantendo há alguns anos. Nesse cenário, a expectativa é de
que o número de pessoas com 60 anos ou mais praticamente triplique, chegando
a 70 milhões em 2055 – o equivalente a 25,5% da população.
Paralelamente ao envelhecimento da população estão o surgimento e
agravo das doenças crônicas como doenças cardiovasculares, obesidade,
hipertensão, diabetes, entre outras e as complicações podem surgir e acen-
tuar-se em decorrência do estilo e hábitos de vida adotados. Portanto, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta a importância de ações que
promovam o estilo de vida saudável, educação em saúde, o envelhecimento
ativo e o cuidado das condições crônicas de saúde (WHO, 2005).
O aumento da proporção de idosos na população brasileira suscita a
discussão acerca da necessidade de instrumentos e modelos teóricos que
direcionem a prática em relação à saúde do idoso e compreendam a sua am-
plitude e complexidade. Para tanto, no contexto da Atenção Primária à Saúde
é fundamental a utilização do conceito da vulnerabilidade para o trabalho com
essa população, o qual pode ser definido como o indivíduo que não neces-
sariamente sofrerá danos, mas apresenta-se mais suscetível visto que possui
desvantagens significativas, sobretudo na qualidade de vida. Ressalta-se que
o estado de vulnerabilidade se associa a situações e contextos individuais e,
sobretudo, coletivos (BARBOSA, OLIVEIRA e FERNANDES, 2019).
O conceito de “envelhecimento ativo” surgiu no fim da década de 1990,
quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a compreender o
processo de envelhecimento como algo além dos cuidados com a saúde. Esse
conceito envolve políticas públicas que promovam melhora da qualidade

34 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


de vida em todos os aspectos. Implementar essa nova forma de enxergar
o processo de envelhecimento demanda mudança de conceitos: o enfoque
deixa de ser baseado em necessidades e, consequentemente, deixa de colocar
a pessoa idosa como alvo passivo (WHO, 2005).
O Grupo de Longevidade Viva a Vida vem realizando ao longo de 34 anos
as ações recomendadas pela OMS (promoção do estilo de vida saudável e
envelhecimento ativo, educação em saúde e o cuidado das condições crônicas
de saúde). A proposta de trabalhar o autocuidado ocorreu desde os primeiros
momentos e esse objetivo abriu a porta para a abordagem de uma diversidade
de assuntos e ações com a comunidade. Sempre que fui convidada a participar
como palestrante, preparava minha abordagem de forma interativa utilizando
dinâmicas de grupo e considerando as características das pessoas, para realizar
as orientações e educação em saúde sobre os mais diversos temas escolhidos
de acordo com a necessidade do grupo ou em decorrência de acontecimentos
no campo da saúde ou do contexto da comunidade.

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Keylla Talitha Fernandes; OLIVEIRA, Fabiana Maria Rodrigues
Lopes de; FERNANDES, Maria das Graças Melo. Vulnerabilidade da pessoa
idosa: análise conceitual. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 72, supl. 2, p. 337-
344, 2019 Acesso 30 nov. 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
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BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Ministério da Previdência e Assistência
Social. Relatório Final da 8a Conferência Nacional da Saúde. Brasília: MS;
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saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_8.pdf
GOTTLIEB, Maria Gabriela Valle et al. Envelhecimento e longevidade no
Rio Grande do Sul: um perfil histórico, étnico e de morbimortalidade dos ido-
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36 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 37
38 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
3 A GRUPO
ESTRUTURAÇÃO E OFICIALIZAÇÃO DO
DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA
A Sociedade é definida por um conjunto de pessoas
(chamadas de atores sociais) que compartilham
interesses e valores num determinado espaço social.
Em outras palavras, a sociedade é uma totalidade
formada por diversos grupos que interagem entre si.
Cada sociedade possui uma estrutura social definida por
valores e comportamentos dos indivíduos constituintes,
os quais desempenham diversos papéis sociais.
(https://www.todamateria.com.br/estrutura-social/).

O nascimento do Grupo de Longevidade Viva a Vida, em 1986, no


Serviço de Saúde Comunitária, ocorreu no contexto da promoção de ações
coletivas e de educação em saúde que eram oferecidas para pessoas com
hipertensão na Unidade de Saúde Conceição. O grupo inicialmente coor-
denado por profissionais de saúde da unidade foi sendo estimulado a se
organizar de forma independente e autônoma tendo em vista seu crescimento
numérico. Embora não existam registros oficiais, de acordo com o relato de
participantes, em 1987, o grupo passou a ter uma coordenação formada por
pessoas da comunidade e seus objetivos e público alvo foram ampliados. O
grupo passou a ser um espaço para pessoas com idade superior a 60 anos
(terceira idade) e que estavam cadastradas como usuárias da Unidade de
Saúde Conceição. Nesse momento, ocorreu a ampliação do escopo de ações
do grupo para além da educação em saúde e cuidados com a hipertensão e
doenças do coração.
Neste capitulo apresenta-se os depoimentos dos idosos sobre a gestão
do grupo, sua administração, constituição de diretorias, existência jurídica,
eleições, estatuto, estímulo à identificação e formação de lideranças. Ainda,
um pouco do perfil dos diretores que fizeram e fazem parte do processo.
Também contar sobre alguns momentos difíceis e sobre outros que foram

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 39


fáceis e gratificantes durante a administração do grupo em diferentes pe-
ríodos e contextos. Nesses relatos destaca-se uma característica marcante
das diretorias do grupo que foi estar sempre buscando o engajamento das
pessoas, de atuar com entusiasmo e comprometimento motivando seus
participantes, o que propiciou ao longo do tempo sempre obter apoio para
sua manutenção e sobrevivência, mesmo nas conjunturas mais adversas
possíveis.

3.1. FORMAÇÃO DA DIRETORIA


Ao longo do tempo o grupo foi incluindo novos associados e percebendo
a importância do estabelecimento de normas básicas de relacionamento e
convivência. Os participantes sentiram a necessidade da formação de uma
diretoria para coordenar o grupo, para liderar e levar adiante as propostas
que eram definidas nas reuniões.
A formação da primeira diretoria do grupo, segundo depoimento de uma
das fundadoras, Regina Lima, foi composta pelo Chico (Francisco Caputo)
como diretor-presidente e a Alba como vice-diretora. Regina Lima conta
que ela sempre foi “muito festeira” e por isso assumiu o cargo de diretora
social. Também relata que chamou a Mariazinha Zancani para compor a
diretoria, por saber que ela era uma pessoa comprometida e que “gostava
muito de trabalhar”.
As primeiras diretorias foram eleitas por reconhecimento espontâneo
da atuação e liderança dentro do grupo e a oficialização ocorria nas reu-
niões sem grandes formalidades. Portanto, durante treze anos (até 2000) o
grupo funcionou sem um estatuto ou registro formal (CNPJ) e a Unidade
Conceição foi a mediadora, fornecendo sempre que necessário, o caráter
oficial e institucional do grupo. Havia uma forte vinculação dos participan-
tes do grupo com os profissionais da Unidade Conceição, especialmente
comigo. Inicialmente os participantes se identificavam como o “Grupo de
idosos do Hospital Conceição” e não se denominavam como “Grupo da
Longevidade Viva a Vida”.
De acordo com a Regina Lima, a diretoria do grupo trabalhou e trabalha

40 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


muito. Refere ter participado de mais de uma gestão e que, para consegui-
rem realizar todas as atividades promovidas eles trabalharam juntos, pois
se relacionavam muito bem e havia harmonia no grupo gestor. Sempre
combinavam tudo para dividir a demanda de trabalho.
Eu tenho todas as fotos nossas do grupo. A diretoria trabalha
muito. Nós trabalhávamos muito e a gente se dava muito bem, com-
binava tudo. Eu sei bem direitinho como tudo se passava. Quando a
diretoria era eu, a Alba e o Chico, éramos nós três, e ouvimos falar
de ti, nós que te convidados para ser nossa coordenadora. Nós três
que nos reunimos e te convidamos. Nós precisávamos de palestras. A
gente fazia as reuniões lá dentro do hospital. Tinha que ser do Posto
de Saúde, nós lembramos de ti porque tinha as idosas que já consul-
tavam contigo. O Chico consultava contigo e deu a ideia que a gente
precisava de um coordenador técnico e deu a ideia que a gente devia
te convidar. Então começou a ser tu, nossa primeira coordenadora
técnica e tu também participava da diretoria. As reuniões sempre
foram às quartas feiras. O nosso grupo de diretoria mudou muito,
muita gente já saiu do grupo.
(Regina Lima – ex-diretora do grupo)

Regina conta que os cargos naquela época foram criados à medida que o
grupo identificava a necessidade. Foi assim que os três decidiram me con-
vidar para ser a profissional que apoiaria a coordenação e a realização das
atividades do grupo. Nessa época o grupo realizava as reuniões em salas que
ficavam dentro do Hospital Conceição e foi fundamental ter os profissionais
da unidade para ajudar a organizar as palestras e garantir o espaço físico
para os encontros dentro da instituição. Tendo em vista estas demandas a
diretoria do grupo criou a função de coordenadora técnica.
De acordo com os relatos de participantes do grupo os profissionais da
equipe de saúde da Unidade Conceição, onde me incluo, sempre foram
muito engajados no apoio para a manutenção das atividades. Assim como,
ao longo do tempo, nas diversas situações que o serviço de saúde precisou

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 41


de apoio comunitário o grupo de idosos esteve na liderança da comunidade
para prestar seu apoio. Os idosos dessa comunidade sempre deram retorno
para a unidade de saúde e manifestaram o quanto a participação nas ativi-
dades grupais contribuía com sua saúde, qualidade de vida e ampliação das
redes de amizade, apoio e valorização social entre pares.

3.2. CRIAÇÃO DO ESTATUTO E FORMAÇÃO JURÍDICA DO


GRUPO
À medida que o grupo crescia e amadurecia, foi ficando evidente a
importância da formalização jurídica, tendo em vista a multiplicidade de
elementos que se desdobram para manter o grupo funcionando de forma
autônoma e com a infraestrutura necessária (espaço de reunião, busca de
sede própria, entre outros). Foi então que o já maduro Grupo de Longevidade
Viva a Vida, na diretoria da Sra. Benoci Kersting construiu e encaminhou
para registro o seu estatuto, bem como os demais documentos necessários
para sua existência jurídica. Superadas todas as dificuldades para oficiali-
zação legal o Grupo da Longevidade Viva a Vida, no dia 6 de dezembro
de 2000, passou a ser considerado “pessoa jurídica de direito privado, sob
forma de associação sem fins lucrativos, recebendo seu CNPJ e abrindo
sua conta bancária”. Mais tarde, em 8 de julho de 2010, foi realizada na
Sede da Sociedade Recreativa Progresso (Avenida João Wallig nº 880) uma
reunião sob a presidência da Mariazinha Zancani, com o objetivo de realizar
alterações no estatuto adequando-o a novas regras para obter consonância
com o código civil (lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002).
A oficialização jurídica do grupo enquanto associação sem fins lucrati-
vos foi fundamental para que pudessem participar dentro de outros espaços
como, por exemplo, o Conselho Municipal do Idoso (COMUI) no qual pode
inscrever projetos para captação de recursos do Fundo Municipal do Idoso
quando da abertura de editais. Dessa forma o grupo pode obter recursos para
seus projetos de trabalho junto com os idosos e com grupos de convivência.
Entre os conteúdos do estatuto do grupo está a eleição da diretoria, que
deve ser realizada a cada dois anos. A diretoria é composta por nove (9)
membros que ocupam os seguintes cargos: um diretor-presidente; um vice-

42 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


-presidente; dois tesoureiros (1ª e 2ª tesoureiro); três membros do conselho
fiscal; uma diretoria social e uma diretora de patrimônio.
O Grupo da Longevidade Viva a Vida teve, após a sua oficialização ju-
rídica, os seguintes associados como diretores(as)-presidente(a), a maioria
exercendo a função durante vários mandatos:
• 1ª Diretor-presidente: Francisco Caputo
• 2ª Diretor-presidente: Vicenzo Amato
• 3ª Diretora-presidente: Benoci Kersting
• 4ª Diretor-presidente: João Martim
• 5ª Diretora-presidente: Miriam Walssaimer
• 6ª Diretor-presidente: Antônio Jayr Gomes dos Santos
• 7ª Diretora-presidente: Mariazinha Zancani
• 8ª Diretora-presidente: Cristina Padilha Lemos

Regina relembra pessoas que participaram da diretoria do grupo e o


quanto ela foi se modificando, muita gente saiu do grupo, por problemas
de saúde e até por falecimento como o Chico, mas foram muitas atividades
conjuntas. Segue relembrando que uma vez fizeram um galeto para o ani-
versário da Unidade Conceição, outro para homenagear o Dr. Felipe Matos.
Ele atendia muitos idosos e eles gostavam muito dele. Outra vez fizeram
uma reunião na casa do Chico para um programa de televisão com objetivo
de homenagear o Dr. Carlos Grossman no aniversário dele. O programa foi
ao ar na TV domingo de noite. Regina comenta: “recebemos muitas coisas
do Conceição, mas a gente também sempre fez muito pelo Conceição”.
Mariazinha Zancani relembra em seu relato as pessoas que foram presi-
dentes do grupo e destaca que quando o Jayr era presidente, no momento que
estava acabando a gestão dele, ela perguntou o que ele achava da ideia dela
se candidatar para ser a próxima presidente e se ela poderia se candidatar.
Jayr deu todo o apoio e ela começou a montar uma diretoria. Com o apoio
recebido se sentiu mais forte e confiante para organizar um grupo e assumir
a gestão. Mariazinha lembra-se do processo eleitoral para a sua gestão, que
ocorreu num almoço de encerramento do ano, na entrada cada participante
recebeu uma cédula para votar. Foi assim que ela se elegeu com um grande
número de votantes. Relata que nesse dia, disse ao grupo que faria tudo pelo

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 43


sucesso da gestão e assim fez cumprindo a promessa. Informa que ficou oito
anos presidindo o grupo. O sucesso alcançado pelo grupo nessa trajetória é
fruto do compromisso que sempre foi demonstrado pelas sucessivas diretorias.
Foram anos de entrega, empenho, dedicação, união dos componentes da dire-
toria e da coordenação técnica que resultaram na trajetória de protagonismo.
Todas as diretorias que o grupo teve realizaram “o trabalho dos bas-
tidores” de forma adequada com o objetivo de manter a funcionalidade
e promover a participação dos idosos. Entre estas atividades destaca-se
o planejamento de atividades, a organização das reuniões mantendo sua
regularidade, a criação de estratégias e dinâmicas para que as reuniões
atendessem melhor os participantes, a definição prévia de conteúdos que
seriam trabalhados a cada encontro e os recursos necessários, a organização
de atividades artísticas e culturais, a garantia de local para o encontro, a
articulação de pessoas para escrever ou desenvolver projetos, providenciar
a documentação exigida para se candidatar a um edital público, entre outras.
Todas as atividades do grupo demandam previamente tempo e dedicação,
pois sem o trabalho prévio dos bastidores muitas atividades jamais teriam
acontecido.

3.3. SUCESSIVAS GESTÕES COMPROMETIDAS COM A


MANUTENÇÃO DO GRUPO
O Grupo da Longevidade Viva a Vida contou ao longo de todo tempo
com pessoas extremamente dedicadas e comprometidas, desde a sua pri-
meira diretoria. Nos relatos é possível observar que o grupo tem um lugar
especial na vida de cada um dos seus participantes, especialmente para
aqueles que foram da diretoria, os quais incluíram as atividades necessárias
à manutenção do grupo na sua rotina. Elas passaram a fazer parte dos seus
compromissos e isso contribuiu para a construção dessa trajetória exitosa.
O grupo sempre teve e tem um lugar especial na vida dos seus participantes.
Tenho tido a felicidade e o privilégio ao longo de mais de 30 anos fazer
parte da caminhada do grupo e lembro de muitos desafios enfrentados, da
diversidade de frentes de trabalho que foram abertas de forma conjunta,
do estímulo aos idosos para participarem de forma ativa nas atividades do

44 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


grupo e na comunidade, da luta por um espaço para reuniões e do sonho de
ter uma sede própria. Sinto orgulho da trajetória de Coordenadora Técnica
e do sucesso das ações realizadas em conjunto.
Além do engajamento da diretoria e dos participantes outro aspecto
muito importante que se destaca nas relações do grupo é a comunicação
objetiva e transparente, sem níveis hierárquicos, clareza para que tudo ocorra
como planejado. A comunicação efetiva da diretoria com os participantes e
colaboradores tem sido fundamental e assim todos se sentem parte do todo
e responsáveis. Para conseguir uma diretoria unida, ativa, engajada e entu-
siasmada foi e tem sido necessário prestar atenção em alguns pontos, entre
eles a identificação das lideranças que acabam surgindo de forma espontâ-
nea dentro do grupo, buscar pessoas com disponibilidade para atividades
voluntárias, observar o que cada pessoa gosta de fazer, o que cada um sabe
fazer, o que a pessoa gostaria de compartilhar, quem conhece e pode convidar
alguém que ajude em determinada atividade. E, assim, fomos construindo
uma relação de valorização das potencialidades dos integrantes do grupo e
dessa maneira tem sido há mais de 30 anos com atividades ininterruptas e
com a passagem de muitos diretores e colaboradores.
O combustível fundamental do funcionamento do grupo tem sido a
motivação, o engajamento e a valorização de cada colaboração e colabora-
dor. Isso é fundamental para gestão de pessoas com afeto para a produção
coletiva e colaborativa. Parece-nos que os resultados têm sido positivos,
pois não tem faltado pessoas para participar e/ou apoiar as atividades no
grupo desde os seus primeiros passos.
Minha experiência como coordenadora técnica do grupo, no contato
direto com todas as diretorias que o grupo teve, foi e continua sendo muito
enriquecedora, pois acompanhei o amadurecimento do grupo ao longo dos
anos. Na troca de cada uma das diretorias foi possível observar que todos
buscavam dar uma continuidade nas atividades e fazer melhorias acrescen-
tando novas contribuições para o fortalecimento do grupo. A continuidade do
trabalho, a flexibilidade para o acréscimo ou para fazer as mudanças neces-
sárias, tais como alterações do estatuto, redação de documentos, entre outras
foi muito importante, especialmente no período de transição das diretorias.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 45


3.4. U M A A D M I N I S T R A Ç Ã O F L E X Í V E L E AT E N TA A O S
DIFERENTES CONTEXTOS
É claro que como toda relação grupal, houve momentos com avanços
e outros com recuos, momentos de (re)adequação e de negociação entre
desejos pessoais convergentes/divergentes relacionados as questões organi-
zativas e questões normativas ou jurídicas fundamentais ao funcionamento
do grupo. A criação do estatuto, do CNPJ e conta no banco são exemplos
desse movimento. Recordo que certa vez para recolher dinheiro para uma
das viagens do grupo, perceberam a necessidade de ter uma conta bancária
para depósito dos valores do custo das viagens, estadias e depois, também
para os depósitos das mensalidades que pagavam para ter recursos para o
chá, café, material de limpeza entre outros.
Atribuo o sucesso na administração do grupo ao “cuidado” que possuem
uns com os outros nos mais diversos contextos, cuidado das relações entre
pares, cuidado dos detalhes na preparação dos encontros, cuidado na promo-
ção da interação entre os convidados e participantes do grupo, cuidado para
manter a harmonia na convivência, na distribuição de atividades e papéis,
na construção de parcerias e trabalho intersetorial (instrutores convidados,
alunos de diversos cursos, profissionais voluntários, conselho local de saúde,
gestores do GHC e o COMUI, entre outros). O sucesso alcançado é resultado
de todas essas interações entre os múltiplos personagens que participaram
do grupo em diferentes contextos ao longo do tempo.

3.5. A CRISE DE LIDERANÇA E O ESTÍMULO À PARTICIPAÇÃO


Nos últimos anos o Grupo Viva a Vida passou por uma crise de liderança,
pois houve dificuldades para se identificar pessoas dispostas a assumir a
sua direção, situação evidenciada pelo período de oito anos que Mariazinha
Zancani teve a renovação do seu mandato. A cada novo processo eleitoral,
ela se dispunha por não haver novos candidatos à presidência. Entretanto,
em dezembro de 2015, quando a Mariazinha precisou deixar a presidência
do grupo sem tempo prévio para preparar sua substituição na função, essa
crise ficou mais evidente, pois tivemos dificuldade de compor uma nova
diretoria para dar continuidade a gestão do grupo. A nova composição era

46 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


fundamental para manter a funcionalidade jurídica do grupo e por solici-
tação dos participantes nesse momento Cristina Lemos saiu do papel de
Coordenadora Técnica e assumiu a presidência do grupo com o objetivo de
reestruturar e oficializar uma nova diretoria. Como primeira medida da nova
gestão foi solicitado auxílio do Serviço de Psicologia da Unidade Conceição
e da Psicóloga Maria Amália que disponibilizou estagiários da psicologia
para fazerem um trabalho junto ao grupo e trabalhar a questão da liderança.
Os estagiários de psicologia passaram a participar dos encontros do grupo e
a seguir se propuseram a trabalhar com os participantes, temáticas relacio-
nadas com a estrutura e identidade do grupo, o papel das lideranças, entre
outros. A partir dessa pactuação realizaram um cronograma de atividades e
a primeira ação realizada foi a confecção de um crachá personalizado que
cada participante fez a partir da colagem de figuras, desenhos feitos à mão
ou palavras escritas que representassem sua percepção sobre a identidade no
grupo e o que este representava para eles. Após a confecção dos crachás foi
solicitado que eles representassem o que haviam desenhado e alguns idosos
falaram de seus sentimentos a respeito do grupo, importância e significação
com base no que haviam construído. Na sequência, em outros encontros
foi realizado o resgate da história do grupo articulando-a com as memórias
sobre o significado do grupo, ainda foi trabalhado as expectativas quanto a
continuidade do grupo e os conceitos que os participantes tinham sobre o
grupo e os papéis desempenhados por seus membros.
O objetivo desta série de encontros com os profissionais da psicologia
foi estimular novas lideranças para o grupo para preparar uma nova diretoria
para 2020. Entretanto, a pandemia da Covid-19 e a crise sanitária instalada
em todo país interromperam o planejamento, pois o grupo não pode mais
ter reuniões presenciais. As próximas eleições estão previstas para 2021,
assim que a pandemia da Covid-19 esteja controlada e os idosos vacinados
para que os encontros ocorram sem qualquer risco. A interatividade atual
do grupo e da sua diretoria se dá por meio de um grupo de WhatsApp e do
Facebook.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 47


48 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 49
50 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
4 ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO E
PROMOÇÃO DA SAÚDE NO GRUPO DA
LONGEVIDADE VIVA VIDA
“Por aprendizagem significativa, entende-se tudo aquilo
que provoca profunda modificação no indivíduo. Ela é
penetrante, e não se limita a um aumento de conhecimento,
mas abrange todas as parcelas de sua existência.”
(Carl Rogers)

“O propósito do aprendizado é crescer, e nossas


mentes, diferentes de nossos corpos, podem continuar
crescendo enquanto continuamos a viver.”
(Mortimer Adler)

Neste capítulo será abordado como foi realizado o trabalho de educação


e promoção da saúde no grupo da Longevidade Viva a Vida, dentro do que
foi possível recuperar sobre os 34 anos de atividades desenvolvidas. Estarei
falando, também, da importância do planejamento e da organização dos
encontros, das características das atividades, da multiplicidade de temas
desenvolvidos, bem como da importância do envolvimento de inúmeros
facilitadores, profissionais e colaboradores cuja participação tem contribuído
muito na construção da trajetória do grupo. Para melhor ilustrar o trabalho
desenvolvido vou relatar algumas atividades como aulas, palestras, semi-
nários, oficinas e a diversidade dos conteúdos destes encontros.
Cabe destacar que todo o trabalho desenvolvido com o grupo sempre
esteve embasado em um conceito amplo de saúde como o proposto na 8ª
Conferência Nacional de Saúde (CNS), em 1986. Esse conceito rompeu com
o entendimento limitado de saúde enquanto ausência de doença e contribuiu
para uma visão mais ampla da saúde e seus determinantes. A 8ª CNS definiu
saúde como “resultante das condições de alimentação, habitação, educação,

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 51


renda, ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e
posse da terra e acesso aos serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o
resultado das formas de organização social de produção, as quais podem
gerar grandes desigualdades nos níveis de vida” (BRASIL, 1986). Este
conceito, embora não abarque a totalidade de determinantes das condições
de saúde, ampliou o conceito aproximando-o mais da complexidade que o
constitui (Stedile et al, 2015).
Conforme relatado no capítulo 2, as atividades com o grupo começa-
ram com o objetivo de desenvolver educação em saúde para promover o
autocuidado de pessoas com hipertensão. Inicialmente, havia a indicação
de reforçar/complementar o cuidado oferecido pela unidade de saúde por
meio de orientações/informações sobre doenças crônicas, especialmente
hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus que tem em sua gênese
múltiplos fatores, o que demanda uma abordagem multifatorial contem-
plando questões como estilo saudável de vida, além dos conteúdos sobre
fisiologia da doença, uso de medicamentos, aferição periódica dos níveis
tensionais e glicêmicos, entre outros. A busca da integralidade na atenção
fez com que houvesse desdobramentos dos encontros e o desenvolvimento
de diversas atividades complementares que passaram a abordar as questões
relacionadas ao estilo de vida, como a alimentação saudável, a atividade
física regular, o controle do estresse, redes de apoio familiar e comunitário,
questões psicológicas e emocionais, entre outros.
As doenças crônicas podem surgir e acentuarem-se com complicações
em decorrência do estilo de vida, isto é, dos comportamentos adotados.
Portanto, o processo educativo em saúde requer o desenvolvimento de
metodologias participativas contextualizadas na situação concreta de vida
dos idosos, adequando-se tempo, narrativas pessoais e recursos pedagógicos
às condições que se disponha no momento. Ao longo do tempo procura-
mos estimular os idosos a desenvolverem competências para modificar ou
abandonar comportamentos prejudiciais à saúde e ao controle das doenças
e adquirirem hábitos que poderiam auxiliar na manutenção da saúde. Por
exemplo, alimentação saudável, diferentes tipos de dieta, atividade física,
uso adequado de medicação, prevenção de quedas, trabalho de manutenção

52 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


e melhoria da memória, autoestima, como lidar com as emoções, alívio do
estresse, espiritualidade, entre outros.

4.1. ATENÇÃO À SAÚDE NO TRABALHO COM O GRUPO VIVA


A VIDA
Para escrever este livro fui pesquisar os registros das atividades de-
senvolvidas com o Grupo da Longevidade Viva a Vida e ao selecionar
aquelas relacionadas com a temática da saúde fiquei impressionada com a
diversidade dos temas e a abrangência das áreas envolvidas nesse proces-
so. De acordo com a nossa compreensão de que saúde-doença não é um
estado, mas sim um processo e em consonância com o conceito de saúde
inicialmente apresentado, verifica-se que as atividades desenvolvidas com
o grupo envolveram diversas áreas do conhecimento, pois muitas delas
possuem intersecções e entrelaçamento. O objetivo foi buscar promover a
integralidade do cuidado em nossas ações. A maioria das ações educativas
e de promoção da saúde envolveu a parceria do grupo com o Serviço de
Saúde Comunitária e com os profissionais do Grupo Hospitalar Conceição.
Particularmente minha formação em Medicina de Família muito contribuiu
neste trabalho que tem como uma de suas principais metas promover o
autocuidado de forma integral, por isso é muito gratificante relatar as ações
educativas e de promoção da saúde, embora essa não seja uma tarefa fácil
devido a complexidade dessa temática. Mas, foi gratificante relembrar o
que foi realizado com a ajuda dos registros, depoimentos dos participantes
e colaboradores do grupo.
A condução do grupo buscou seguir sempre o que foi solicitado pelos
participantes, em 1986, em sua fundação o processo de educação em saúde
estava articulado com as ações de cuidado, atenção integral da saúde (con-
sultas, exames periódicos, entre outros), promoção da integração social e
cidadania, muitas festas, confraternizações e passeios. No cuidado das pes-
soas com hipertensão buscou-se aliar ao procedimento tradicional ofertado
nas consultas ambulatoriais e tratamento medicamentoso a educação em
saúde em grupo, isto é, a frequência ao grupo como sendo parte da terapia.
A iniciativa dos Médicos de Família da Unidade de Saúde Conceição de

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 53


realizar a abordagem educativa em grupo com regularidade, junto com a
disponibilidade de medicamentos e avaliação clínica e laboratorial come-
çaram a dar melhores resultados no controle da doença e na satisfação dos
usuários do serviço. Registra-se nesse período o início da caminhada do
“Grupo de Hipertensos” que veio a dar origem ao Grupo de convivência
de idosos e a seguir ao Grupo da Longevidade Viva a Vida. Esta iniciativa
realizada precocemente nas Unidades de Saúde da Família do GHC foi
estimulada em todo país a partir de 2003 pelo Estatuto do Idoso (Brasil,
2003) como recurso terapêutico.
Acredito que a minha formação em Medicina de Família, assim como a
do meu colega Airton Stein e demais colegas da Unidade de Saúde, ajudou
muito na construção e fortalecimento do Grupo Viva a Vida. Por definição “o
Médico de Família provê cuidado compreensivo, personalizado e contínuo
aos pacientes e seus familiares em todas as faixas etárias independente da
presença do problema de saúde ou das queixas apresentadas” (RAKEL &
PISACANO, 1984). O Médico de Família se responsabiliza, junto com a
equipe de saúde, pelo manejo de todas as necessidades frequentes em saúde
do indivíduo, família e comunidade. Essa característica de nossa formação
se reflete na forma com que trabalhamos e, desde o início do grupo de hi-
pertensos, percebemos que as pessoas com hipertensão se beneficiariam da
abordagem em grupo e do olhar integral de forma a atender os participantes
em toda sua complexidade.

4.2. PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E EXECUÇÃO DOS


ENCONTROS COM O GRUPO
Desde o início do trabalho com o grupo procuramos embasar cienti-
ficamente todas as atividades, tanto a metodologia que seria utilizada no
desenvolvimento das atividades educativas e de promoção da saúde quanto
nos conteúdos que seriam desenvolvidos. O conhecimento científico foi
sendo traduzido e ajustado aos diversos ambientes socioculturais onde os
profissionais da saúde realizavam a atuação. O grupo passou a ser mais um
recurso de atenção à saúde do idoso promovido pela instituição. Nestes
mais de trinta anos de atividades temos visto e vivenciado o envelhecimento

54 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


demográfico brasileiro e este fenômeno junto com diversos fatores vem de-
terminando um incremento na prevalência de doenças crônicas da população.
Estas pautas têm sido ao longo do tempo nosso mote para a programação
de atividades com o Grupo da Longevidade Viva a Vida.
Os encontros do grande grupo sempre foram semanais, nas quartas-feiras,
até março de 2020, quando as reuniões presenciais foram canceladas em
função da crise sanitária ocasionada pela pandemia do novo Coronavírus
(Sars-cov-2). O número de participantes por encontro variou entre 40-50
idosos, em média. Entretanto, em função de inúmeras outras atividades que
foram sendo requisitadas ou sugeridas pelos participantes ou pela coorde-
nação técnica, outros encontros começaram a acontecer durante a semana
e foram ofertados aos idosos entre eles: aulas de dança, atividade física
voltada para a terceira idade, aulas de pilates, yoga, sessões de meditação,
aulas de artesanato, pintura, computação, alimentação saudável, entre outros,
os quais em algumas situações e períodos também foram realizados junto
com a atividade regular para os idosos nas quartas-feiras.
Para realizar os encontros é fundamental um espaço físico adequado
e esse tem sido o calcanhar de Aquiles ao longo da trajetória do grupo. A
falta de uma sede do grupo, de um espaço legítimo, tem feito com que os
encontros, reuniões e atividades do grupo tenham ocorrido em diversos
endereços ao longo do tempo. Esse fato evidencia a força de vontade e de-
terminação do grupo pela continuidade do trabalho, que enfrentou ao longo
do tempo os mais diversos obstáculos para garantir um local para realizar as
reuniões. Destaca-se a determinação das diversas diretorias para negociar
e garantir espaço para os encontros e fundamentalmente à participação dos
componentes do grupo. Os encontros com o grupo ao mesmo tempo em que
tem sido prazeroso, também tem sido um desafio no quesito espaço físico.
A organização dos encontros do grupo envolve diversos elementos,
entre eles: o local das reuniões e o preparo deste para receber as pessoas, a
disponibilidade de pessoas para preparar o lugar, a acomodação adequada
dos participantes, a definição prévia do tema a ser trabalhado, a seleção e
garantia do material para ser distribuído no encontro, a definição dos papéis
de cada pessoas nos encontros (coordenador, secretário, quem acolhe as

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 55


pessoas, quem prepara e organiza o lanche), o responsável por cuidar do
horário estabelecido, a realização do convite oficial ao palestrante, a pro-
vidência de equipamentos (computador, data show, microfone, etc), enfim,
toda a infraestrutura necessária para realizar a atividade de forma efetiva.

4.3. MULTIPLICIDADE DE TEMAS E DE COLABORADORES DO


GRUPO
Tendo em vista nossa compreensão sobre a complexidade do trabalho
de educação e de promoção da saúde percebemos que para a sua realização
de forma integral havia a necessidade de incluir no processo diferentes
áreas profissionais. Segundo Starfield, a integralidade exige que a atenção
primária reconheça, adequadamente, a variedade completa de necessidades
relacionadas à saúde das pessoas e disponibilize os recursos para abordá-las.
Também que a atenção seja organizada de tal forma que o cidadão tenha
todos os serviços de saúde necessários para a resolução de problemas, sejam
orgânicos, funcionais ou sociais (STARFIELD, 2002). Nesta perspectiva,
ao longo do tempo, diversas pessoas de diferentes categorias profissionais
colaboraram promovendo a abordagem das inúmeras atividades realizadas
no grupo. Além de profissionais do GHC, profissionais voluntários de diver-
sas áreas, muitos indicados pelos próprios participantes do grupo, entre eles:
familiares, amigos, conhecidos que trabalhavam com biodança, atividade
física, dança, espiritualidade, cidadania, entre outros.
Na condução do trabalho percebemos que a qualidade de vida está
interligada com as condições de vida (habitação, educação, infraestrutura
e renda) e com o acesso a cuidados em saúde. Também, está interligada
com fatores associados ao bem-estar físico e mental, como a construção de
hábitos saudáveis, lazer, espiritualidade, autoestima e para os idosos, princi-
palmente, à manutenção da sua capacidade funcional e da independência nas
atividades cotidianas. As questões associadas ao envelhecimento saudável
demandam vários esforços no sentido de manter o idoso inserido no meio
social e comunitário para que possa permanecer participativo. O grupo de
idosos estimula e propicia espaço para desenvolver este tipo de potenciali-
dade. Durante todos esses anos percebemos que são muitas as alternativas

56 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


que podem ser trabalhadas com os idosos nos diferentes espaços sociais,
visando a promoção da qualidade de vida e do seu reconhecimento como
cidadão, como membro da comunidade, além de ser membro de uma família.
Os temas abordados nos encontros de modo geral são sugeridos pelos
participantes já nos primeiros encontros de cada ano. O objetivo tem sido
desenvolver ações de promoção e educação em saúde que contribuam de
forma positiva para o autocuidado, os cuidados em saúde e a qualidade de
vida dos idosos. Os temas são desenvolvidos de forma dinâmica com os
idosos, por cerca de 2 horas com a participação, em média, de 40 pessoas.
A regularidade das atividades educativas sempre contou com a participação
de convidados sugeridos pelos participantes ou por convite da Coordenadora
Técnica ou de outros profissionais que participam do grupo. Desde o início
do trabalho sempre procuramos entender o envelhecimento humano em suas
múltiplas dimensões: biológica, psicológica, cultural e social; legislações
destinadas ao público idoso; informações sobre o cuidado com uma pessoa
idosa; o envelhecimento na perspectiva da cidadania, reflexões sobre maus-
-tratos e violência contra idosos, entre tantos outros temas. Foi difícil fazer
um resgate de todos os temas desenvolvidos durante esses anos e apresenta-
-se o que foi possível resgatar nos registros e na memória dos participantes.
O Grupo Viva a Vida sempre esteve aberto a participação de pessoas
que participavam em outros grupos de convivência, de associações de
bairro, de conselheiros de saúde e de outras lideranças comunitárias. Um
dos objetivos do grupo foi de conhecer e criar estratégias de prevenção
com foco inovador no cuidado do idoso e na atenção integral. Para isso,
foi necessário oferecer aos participantes do grupo atividades diversificadas
como, por exemplo; diferentes modalidades de atividades físicas (ginástica,
yoga, pilates, dança), tipos de dieta e sua função bioquímica, saúde da boca e
cuidado com os dentes, diferentes formas de viver a espiritualidade, ativida-
des de estímulo da memória, administração financeira, interação ecológica,
reflexão existencial, saúde mental, possibilidades na comunidade para ter
atividades culturais e de lazer, importância de lideranças da terceira idade,
socialização, interação com outros grupos, encontros temáticos, incentivo

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 57


ao voluntariado, conhecimento de recursos socioassistenciais do município,
mudança comportamental, superação de preconceitos, questões relativas à
segurança e atividades voltadas ao conhecimento do corpo e a beleza exis-
tente no envelhecer com saúde e qualidade de vida. Foram muitos os temas
abordados com o grupo durante os encontros e para apresentá-los aqui foi
necessário pesquisar, lembrar, garimpar, selecionar entre os registros his-
tóricos dispersos, entre relatos das pessoas que participaram das diretorias,
dos depoimentos de participantes, do registro de avaliações, da escuta de
palestrantes e convidados. Para promover este trabalho tão diversificado a
diretoria do grupo com a coordenadora técnica obtiveram apoio de muitos
colaboradores ao longo do tempo.
Os encontros do grupo têm tido uma ampla participação de profissionais
das mais diversas áreas o que tem contribuído com as atividades no grupo
que promove palestras, oficinas, cursos, atividades de recreação, lazer e
viagens. Percebe-se no grupo uma interação e disponibilidade evidente de
criar alternativas para realização das atividades das mais diversas áreas, de
ajudar a resolver problemas. Tem sempre alguém que conhece uma pessoa
para indicar, seja alguém que possa ensinar exercícios adequados ou realizar
orientação alimentar, orientação espiritual, atividades de alívio do estresse,
entre outras.
Nesta trajetória de busca contínua da manutenção das atividades direcio-
nadas ao estímulo de um envelhecimento saudável o grupo teve a felicidade
de encontrar durante sua caminhada, na forma de voluntários, inúmeros pro-
fissionais, estudantes, estagiários de diversas áreas, ao longo de mais de 34
anos de atividades ininterruptas. Todos(as) foram muito especiais, entre eles:
profissionais da segurança pública e trânsito, assistência social, pedagogia,
etiqueta e moda, dança, contação de história, professores, estudantes, artis-
tas, advogados, atores, educadores físicos, escritores, músicos, pedagogos,
profissionais de saúde das mais diversas áreas (assistentes sociais, agentes
comunitário de saúde, enfermagem, farmacêuticas, fonoaudiologia, medi-
cina, nutrição, odontologia, psicologia, psiquiatras, entre outros), religiosos,

58 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


yôgues, ecologistas, entre outros. Cada participante contribuiu dentro da
sua área de atuação de modo a prover aos idosos do grupo uma gama de
informações que poderiam auxiliar nas demandas diárias que a vida lhes
traz, bem como capacitá-los para a agir de forma a promoverem sua saúde
e alcançar qualidade de vida.
Os colaboradores relatam alegria e crescimento pessoal na participação/
convivência que tiveram no grupo de idosos:
Iniciei na Unidade de Saúde Conceição (UC), em 2011, após ter
trabalhado em 2010, no Hospital da Criança Conceição. Um dos mo-
tivos que me fizeram vir para a Unidade de Saúde foi o trabalho mais
próximo da comunidade, como as ações de Educação e Promoção
de Saúde aos usuários. Havia vários grupos na UC, como: Arteiras,
Tabagismo, Gestante, Saúde Bucal, Grupo Dente de Leite, Saúde no
Prato, Grupo de Caminhada, todos de grande importância para a
comunidade, mas havia um em especial que apresentava um vínculo
muito forte e importante com os moradores e continua presente até
hoje, que é o Grupo Viva Vida. Tive a felicidade de ser convidada
algumas vezes como técnica de saúde bucal para realizar atividades
com o grupo; não que necessitasse de convite, pois o grupo sempre
está de portas abertas para quem quiser participar. Sempre que
estive presente no Grupo Viva a Vida, percebi a alegria de todos,
só por estarem ali naquele momento de reencontro, descontração,
amizade e integração. As atividades que realizei foram de promoção
da saúde bucal. Desde a minha chegada fui muito bem acolhida, o
grupo se apresentou muito interessado participando das atividades
e levantando muitas dúvidas, que foram sendo respondidas durante
a conversa. A responsável técnica pelo grupo era a Dra. Cristina
Lemos, no modo como ela organizava, orientava e conversava com
o grupo percebi o amor pela profissão e como isto influenciava e
influência até hoje na união do Viva Vida. Me sinto orgulhosa de ter
participado em alguns momentos da história deste grupo.
(Lisiane Passos Veleda – técnica de saúde bucal e
assistente de coordenação da Unidade Conceição em 2020)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 59


Comecei a trabalhar no posto de saúde em 2013 e foi indicado
neste momento que cada agente comunitário de saúde participasse
de um grupo. Eu fui convidada pela enfermeira Simone Valvassori
para participar do grupo de idosos Viva a Vida. Chegando ao grupo
fui apresentada e imediatamente fiquei apaixonada. Todos me re-
ceberam de braços abertos, a Dra. Cris, um amor de pessoa como
sempre, todos tinham um grande respeito e grande carinho. Todas
as quartas-feiras era uma grande alegria e aprendi muito com todos,
cada semana eles ensinavam além de questões de saúde, o amor ao
próximo a gentileza de cada um. Neste grupo conheci e fiz grandes
amigas, como a Marliese e a Josefa aonde passei fazer parte da famí-
lia. Aprendi tomar chá e para que, cada chá servia. Os medicamentos
para doenças crônicas, como eram tomados, para ter uma vida me-
lhor e mais saudável, também uma alimentação adequada para eles.
Com o passar do tempo já fazia parte da minha vida. Conheci dois
guerreiros Francisco conhecido o Chico, também seu Osmar com sua
gentileza adorável. Mas a vida continua e tenho grandes saudades
deles. Se Deus quiser ainda vou visitar muitas vezes o grupo e sou
muito grata por ter participado.
(Maurília dos Santos Soares – agente comunitária)

4.4. METODOLOGIAS E INSTRUMENTOS DE APOIO AO


TRABALHO COM O GRUPO
Para trabalhar com os idosos de forma abrangente e com a abordagem dos
diferentes temas relacionados ao envelhecimento, como por exemplo, as do-
enças crônicas, o autocuidado, entre outras temáticas, foram utilizadas diversas
metodologias de ensino-aprendizagem como: palestras, oficinas, aprendizagem
baseada em problemas e/ou em projetos, workshops, cursos, discussão e reflexão
sobre filmes, encontros temáticos, gincanas educativas, entre outros. O objetivo
foi informar e refletir sobre os diversos aspectos relacionados ao autocuidado, do
cuidado do idoso e do controle de doenças crônicas, bem como outros aspectos
implicados com a proposta de envelhecimento saudável.
Uma iniciativa foi a criação de um instrumento para apoiar o trabalho de

60 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


promoção da saúde; as cartilhas educativas. A primeira cartilha foi lançada
em 2009 com o título “Promoção do envelhecimento saudável: vivendo bem
até mais que 100!”, com a abordagem sobre hábitos saudáveis para a promo-
ção da saúde. Essa cartilha tem duas versões, uma para o idoso e outra para
os profissionais de saúde que trabalham com grupos de idosos (BRASIL,
2009a e 2009b). O propósito foi de compartilhar informações e refletir
sobre como trabalhar na Atenção Primária à Saúde (APS) para auxiliar na
compreensão das mudanças biopsicossociais do envelhecimento e preve-
nir os problemas de saúde e doenças que podem ocorrer. As informações
buscavam auxiliar na compreensão e manejo das situações mais frequentes
no processo de envelhecimento contribuindo efetivamente na prevenção
de doenças por meio do estabelecimento de um estilo saudável de vida. A
segunda cartilha foi lançada, em 2012, com o nome de “Cartilha de apoio
ao autocuidado para pessoas com problemas crônicos de saúde: cartilha do
usuário - autocuidado o ingrediente essencial no cuidado à saúde” (BRASIL,
2012). As cartilhas foram impressas pelo Grupo Hospitalar Conceição e
disponibilizadas gratuitamente para os grupos de idosos. Elas, também estão
disponíveis online, em pdf., na página da instituição na internet.
Os conteúdos foram desenvolvidos em linguagem acessível no formato de
“dicas” e com exercícios e atividades didáticas e interativas para serem desen-
volvidas em casa pelo idoso e em grupo. O usuário era estimulado a registrar
suas condições de saúde e percepções em relação a diversas temáticas com o
objetivo de estimular o autocuidado. Os participantes levavam a cartilha para
casa e na semana seguinte traziam com os registros sobre a atividade que seria
discutida. As temáticas da cartilha foram desenvolvidas na forma de oficinas
e atividades no grupo e para sua realização tivemos apoio de um incontável
número de profissionais de diversas áreas que foram parceiros durante essa
trajetória. Os conteúdos das cartilhas foram baseados em estudo e pesquisa
sobre a saúde da pessoa idosa, envelhecimento saudável, autocuidado como
atitude cotidiana, cuidados básicos com a saúde, cuidados com o orçamento,
espiritualidade, sono, prevenção de quedas, entre outros. Por exemplo, na
abordagem de temas relacionados a cidadania e direitos dos idosos foi dis-
tribuído e discutido o Estatuto do Idoso. Também, em diversos momentos

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 61


trabalhamos com a orientação e o preenchimento da “Caderneta da Saúde da
Pessoa Idosa” que o Ministério da Saúde lançou por meio da Coordenação de
Saúde da Pessoa Idosa. A carteira foi distribuída e os participantes do grupo
puderam ir se apropriando dos seus conteúdos a cada encontro, também rea-
lizavam o registro na carteira de informações sobre suas condições de saúde,
dados pessoais, sociais e familiares, hábitos de vida, tipo de residência, acesso
fácil a farmácias e serviços de saúde, condições econômicas e o recebimento
de aposentadoria, convivência diária com amigos e familiares, presença de
doenças crônicas, acidentes, quedas, cirurgias, entre outros.
As palestras nas reuniões eram com objetivo de aprendizagem,
mais do que conhecimento dos assuntos eram coisas para a aplica-
ção na nossa vida para uma vivência com saúde e muito mais feliz.
(Therezinha Lopes – membro do grupo)

Os temas das palestras nas tardes de quarta-feira sempre foram


muito proveitosos! As palestras marcam a vida de gente. Sempre tra-
zem uma coisa nova e sempre a gente leva uma coisa boa para casa.
(Maria da Graça Hahn – membro do grupo)

Outra metodologia de trabalho utilizada com o Grupo Viva a Vida é


promover o envolvimento e participação em eventos de saúde promovidos
pelo GHC, um exemplo, tem sido a participação ativa nas Campanhas
Nacionais de vacinação dos idosos, promovidas pelo Ministério da Saúde,
desde 1999. Os membros do grupo recebem capacitação e atuam na cons-
cientização da importância da vacinação de forma regular. Voluntários do
grupo apoiam a iniciativa dos técnicos da Unidade de Saúde Conceição e
participam das campanhas.
Entendemos que o envelhecimento humano é um processo fluido, mas
cambiável; pode ser acelerado ou ter sua marcha reduzida por algum tempo e
até mesmo revertido em algumas situações. As descobertas científicas realizadas
nos últimos 30 anos por meio da pesquisa comprovam que o ritmo de enve-
lhecimento depende do indivíduo, do seu ambiente, comportamento e estilo de
vida. Nosso trabalho com o grupo tem sido sobre como aprender a envelhecer

62 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


mantendo a qualidade de vida e autonomia cotidiana. Todas as nossas ações
influenciam esse processo, desde o modo como trabalhamos, dormimos, res-
piramos, nos alimentamos, nos exercitamos, convivemos com nossos pares na
família, trabalho e comunidade. Até a percepção da nossa autoimagem influencia
no processo, por isso a proposta ao longo destes anos foi trabalhar junto aos
idosos de forma a compartilhar experiências e informações para aprendermos
a viver de maneira favorável à ampliação da saúde e da qualidade de vida.
Temos visto que o trabalho promovido no grupo pode ajudar as pessoas
a permanecerem independentes nas atividades diárias de vida e ativas à
medida que envelhecem. Portanto, os conteúdos educativos e de promoção
da saúde desenvolvidos extrapolam a área da saúde, pois isto é fundamental
para uma abordagem integral da saúde e para a promoção de novos compor-
tamentos, por exemplo, os idosos realizaram visitas a lugares escolhidos na
comunidade junto com os palestrantes para conhecerem outras experiências
(ações preventivas no trânsito, galpão de reciclagem de lixo, instituições de
idosos, casa de cultura, organizações não governamentais, serviços públicos,
entre outros). As ações são planejadas e organizadas com o propósito de
oferecer experiências, esclarecer, empoderar, fortalecer os idosos investindo
na promoção da independência e autonomia. E tem sido assim, ao longo
de toda essa trajetória, todos se desenvolvendo juntos, procurando uma
equalização de oportunidades de aprendizagem individual e comunitária.
O trabalho tem sido diverso, buscando diferentes enfoques que auxiliem na
conquista do envelhecimento saudável e no bem-estar dos idosos.

REFERÊNCIAS
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Social. Relatório Final da 8a Conferência Nacional da Saúde. Brasília: MS;
1986. [internet]. [Acessado 8 Agosto 2020]. Disponível em: http://conselho.
saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_8.pdf
BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Cartilha de apoio ao
autocuidado para pessoas com problemas crônicos de saúde: cartilha do usuário
autocuidado: o ingrediente essencial no cuidado à saúde; organização Cristina
Padilha Lemos, Sandra R. S. Ferreira; Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da
Conceição, 2012. 68p. Disponível em: http://online.pubhtml5.com/azza/tuct/#p=4

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 63


BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Promoção do en-
velhecimento saudável: vivendo bem até mais que 100!: cartilha do profissional
de saúde. Cristina Padilha Lemos, Sandra R. S. Ferreira; ilustrações de Maria
Lúcia Lenz. Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2009a. 80p.
Disponível em: https://www.portaldaenfermagem.com.br/downloads/cartilha-
-promocao-envelhecimento-profissional-saude.pdf
BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Promoção do
envelhecimento saudável: vivendo bem até mais que 100!: cartilha do usuário.
Cristina Padilha Lemos, Sandra R. S. Ferreira; ilustrações de Maria Lúcia Lenz.
Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2009b. 42p. Disponível
em: http://online.pubhtml5.com/azza/iwyn/#p=6
BRASIL. Senado Federal. Estatuto do Idoso. Dispositivos Constitucionais
pertinentes a Lei n.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003. Brasília: Secretaria
Especial de Editoração e Publicações do Senado Federal. Subsecretaria de
Edições Técnicas, 2003. 66 p. [Acesso 8 Agosto 2020]. Disponível em: https://
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70326/672768.pdf
STARFIELD, Bárbara. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de
saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde, 2002.
726p. [Acesso 8 Agosto 2020]. Disponível em: https://www.nescon.medicina.
ufmg.br/biblioteca/imagem/0253.pdf
STEDILE, Nilva Lúcia Rech et al. Contribuições das conferências na-
cionais de saúde na definição de políticas públicas de ambiente e infor-
mação em saúde. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2015, v. 20, n. 10
[Acessado 8 Agosto 2020] , pp. 2957-2971. Disponível em: <https://doi.
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Textbook of Family Practice. 4º ed. Canada-Toronto: W. B. Saunders Company,
1984. pg 3-20.

64 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 65
66 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
5 OSGRUPO
BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA NO
DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA
“O melhor caminho para uma vida
saudável é saber ouvir o próprio corpo.”
(Deepak Chopra).

“Nós não paramos de brincar porque envelhecemos.


Nós envelhecemos porque paramos de brincar.”
(George Bernard Shaw).

O Grupo da Longevidade Viva a Vida promoveu e promove inúmeras


atividades para o bem-estar dos idosos. Neste capítulo vou contar sobre a
promoção de atividade física que está entre os hábitos mais recomendados
para uma vida saudável. A falta da prática de atividade física é um perigo
crescente na sociedade, gerando riscos à saúde e aumentando o índice de obe-
sidade, doenças cardíacas, e a taxa de mortalidade. Por isso, a Organização
Mundial da Saúde (WHO, 2010), passou a tratar a inatividade física (o
sedentarismo) como um problema de saúde pública. Fazer exercícios físi-
cos de forma contínua e moderada pode trazer inúmeros benefícios, como
controlar o peso; diminuir o risco de desenvolver doenças crônicas (como
diabetes, hipertensão, depressão, doenças cardiovasculares) ou atenuar seus
sintomas. Gera o fortalecimento muscular e aumenta a sensação de bem-es-
tar, equilibrando-se assim saúde física e mental (WHO, 2018).
A terceira idade é uma época da vida humana em que o organismo sofre
muitas alterações como: a diminuição da força, alterações no ânimo e dis-
posição para as atividades, modificações da estética corporal, entretanto, o
envelhecimento sozinho não provoca incapacidades que comprometam o
processo vital. Em virtude desses aspectos, acredita–se que a participação do
idoso em programas de exercício físico regular pode influenciar no processo
de envelhecimento, com impacto sobre a qualidade e expectativa de vida,

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 67


melhoria das funções orgânicas, garantia de maior independência pessoal
e um efeito benéfico no controle, tratamento e prevenção de doenças como
diabetes, enfermidades cardíacas, hipertensão, arteriosclerose, varizes,
enfermidades respiratórias, artrose, distúrbios mentais, artrite e dor crônica.
Existem diversos tipos de exercícios e modalidades relacionadas aos
benefícios da saúde, porém os mais indicados para população de idosos
podem variar entre uma caminhada, corrida, hidroginástica, natação, mus-
culação, entre outros. Cada tipo de exercício físico tem uma abrangência
mais específica, para que se enquadre dentro dos objetivos de cada pessoa
e de suas condições físicas no momento.
No Grupo Viva a Vida, ao longo do tempo, várias modalidades de ativi-
dades físicas foram sendo propostas para os idosos, entre elas, a ginástica
(exercícios adaptados a terceira idade), o pilates, o yoga, as caminhadas
orientadas, as sessões de alongamento, aulas de biodança e de dança. Vamos
apresentar depoimentos dos participantes sobre as repercussões da prática
regular de atividade física no seu bem-estar. O enfoque deste capítulo é
relatar as ações de promoção de atividade física, especialmente o pilates
e a dança, e suas repercussões na melhoria e manutenção da saúde, além
de enumerar outras ações educativas que contribuíram para a incentivar os
idosos a saírem da zona de sedentarismo. A prática de atividade física na
terceira idade é importante para reduzir os danos causados pelo tempo, como
o enfraquecimento dos músculos, perda de equilíbrio, perda da agilidade,
da flexibilidade e da resistência muscular, fundamentais para a manutenção
da autonomia nas atividades diárias, especialmente daqueles que vivem
sozinhos. Ter uma rotina de exercícios impacta no bom funcionamento do
organismo.
As alterações físicas relacionadas ao envelhecimento junto com o
sedentarismo podem afetar significativamente o nível de autonomia e de
independência dos idosos, ao dificultar a realização de atividades da vida
diária, levando a uma progressiva incapacidade funcional. Além disso, nessa
idade, muitas pessoas sentem a necessidade de ter convívio com pessoas da
mesma faixa etária e a prática do exercício físico em grupo pode ser uma
excelente opção para essas duas questões, bem como, prevenir a depressão

68 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


e outras doenças. O exercício físico com a orientação de um educador físico,
de acordo com a faixa etária da pessoa, faz com que as capacidades físicas
melhorem para se obter uma qualidade de vida melhor. (BRASIL, 2014).

5.1. BENEFÍCIOS DA PRATICA DE ATIVIDADE FÍSICA


Segundo o Ministério da Saúde entre os principais benefícios propor-
cionados pela atividade física na terceira idade estão (BRASIL, 2006):
• Melhora o funcionamento corporal, diminuindo as perdas funcionais,
favorecendo a preservação da independência;
• Redução do risco de morte por doenças cardiovasculares;
• Melhora do controle da pressão arterial, do perfil lipídico e da utilização
da glicose;
• Manutenção da densidade mineral óssea, com ossos e articulações
mais saudáveis;
• Melhora da postura e do equilíbrio;
• Melhora da enfermidade venosa periférica;
• Auxilia no controle do peso e melhora a função intestinal;
• Melhora dos quadros de dor em geral;
• Melhora a resposta imunológica;
• Ampliação do contato social;
• Correlações favoráveis com redução do tabagismo e abuso de álcool
e drogas;
• Diminuição da ansiedade, do estresse, melhora do estado de humor,
da autoestima;
• Melhora da qualidade do sono.
Envelhecer é um processo que ocorre gradativamente, quanto mais cui-
darmos da saúde física e mental menores serão as chances de desenvolver
doenças crônicas, que necessitam de acompanhamento continuo. O exercício
físico na terceira idade ajuda a prevenir e a combater varias doenças e evitar
doenças do coração (WHO, 2010).

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 69


A recomendação da OMS (WHO, 2010) é que a partir dos 65 anos,
seja realizada uma atividade física moderada, de preferência em grupo, no
mínimo três dias por semana e em intensidade que varia de acordo com as
condições de saúde e de mobilidade de cada pessoa. De forma geral, por
semana, são suficientes 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos
de atividade intensa. Para todas as idades, vale a lembrança de que o au-
mento do tempo de atividade física potencializa os resultados no bem-estar
e saúde, bem como os exercícios em grupos incluem os benefícios sociais,
ainda, as atividades lúdicas aumentam a alegria. A prática regular de uma
atividade física produz endorfinas, serotonina, hormônios que proporcionam
a sensação de bem-estar (WHO, 2010).
Ao longo de todo o trabalho com o grupo sempre houve orientação e
prática de atividade física orientada por profissionais da área. O grupo pode
contar, ao longo do tempo, com o trabalho voluntário de profissionais da
área da educação física, do yoga e da dança. Tivemos oportunidade de ter
aulas de dança do ventre em algumas épocas, dança circular, caminhadas
orientadas, entre outras práticas. As atividades físicas regulares ao longo da
existência do grupo foi a dança, a atividade de ginástica adaptada, a prática
de pilates e as caminhadas orientadas.

5.2. O PILATES
O pilates é um método criado para exercitar o controle muscular e foi
desenvolvido por Joseph Pilates, na década de 1920, sob influência do Yoga,
das artes marciais e da meditação. A maioria dos exercícios é executado com
a pessoa deitada. É atualmente uma técnica reconhecida para tratamento e
prevenção de problemas na coluna vertebral (FERNANDES & LACIO,
2011). Seu sucesso baseia-se no peculiar respeito a cada ser humano como
ser integral e único, uma vez que visa o reequilíbrio, o domínio e a cons-
ciência corporal, que levarão à harmonia entre corpo e mente e bem-estar
aos seus praticantes. Sua prática pode fazer com que o indivíduo reconheça
suas limitações pessoais, conscientizando-se das próprias capacidades, o
que é muito valioso para a pessoa idosa. Os idosos devem ser estimulados
à apropriação e ao reconhecimento de seu corpo e sua maturidade, sendo

70 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


esses os primeiros passos para aceitação de sua nova realidade de vida,
uma vez que as mudanças corporais e emocionais tornam-se mais nítidas
(FERNANDES & LACIO, 2011).
Eu tive a indicação de uma médica para fazer pilates devido a um pro-
blema de dor na região lombar e articulações. Tinha lido a respeito, sabia de
pessoas que por conta da prática de pilates se sentiam muito melhor, então
resolvi me informar em uma academia perto da minha casa que me indica-
ram. Foi neste espaço que conheci a professora de pilates Ellen Sampaio.
Comecei a fazer pilates com a orientação dela e minhas dores acabaram.
Convidei ela para conhecer o Grupo Viva a Vida e fazer uma aula com o
pessoal. Foi assim que começou a participação da Ellen no grupo, em 2008,
e sua atuação se estende até hoje. O pilates com a Ellen se transformou
numa referência para o grupo e a professora tem sido mais que uma mestra
e orientadora; ela é parte do grupo com seu companheirismo, integração,
com atuação fundamental também no apoio a gestão do grupo. A Ellen
atuou como professora de pilates de forma voluntária de 2008 até 2016,
quando tivemos a aprovação de um projeto, junto ao Conselho Municipal
do Idoso (COMUI), para custear as atividades de pilates. Esse projeto de
financiamento da prática de pilates previu, além da remuneração da pro-
fessora, recursos para a compra do material necessário para as aulas, tais
como, colchonete, fitas elásticas, alteres, entre outros.
Nos conhecemos (Ellen e Cristina) em torno de 2007-2008 no meu
estúdio de pilates que ficava em cima do Centro Cultural Chinês ali
na Lima e Silva. Em julho de 2008, no inverno tu me convidou para
ir lá no grupo fazer uma palestra sobre pilates e atividade física
para idosos. As reuniões do grupo ainda eram lá na João Wallig,
880. Comecei a ir contigo, uma vez e outra passei a te acompanhar
nas palestras e, em 2009, surgiu a oportunidade e foi pedido que eu
começasse a dar aulas para eles. Surgiu a demanda e eu como vo-
luntária comecei a dar aulas 1 vez por semana. E assim foi de 2009
até o final de 2013 quando dei uma parada, foi quando eu ganhei o
Pedro (filho). Retornei em 2014 para trabalhar com o grupo e, em
2016, a gente conseguiu aprovação do projeto do pilates no COMUI.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 71


Foi quando começamos a ter as aulas pagas duas vezes por semana.
Já estávamos com o grupo no galpão na João Correa. No período de
tempo quando ainda não tínhamos o galpão e desmancharam a sede
da João Wallig e fazíamos as aulas na casa da Mariazinha. A gente
tirava os móveis da sala do lugar e abria espaço e depois quando
terminava a aula arrumávamos tudo de novo. Naquela época lembro
que faziam as aulas a Zefa, a Geni, o marido da Gládis, a Teresa
(sobrinha da Zefa), a Maria Schefer e o Rubem. O Erni também
participava e ele foi meu aluno antes da Nelci. Eu fiquei motivada
[a fazer o trabalho voluntário], acho que no fundo mesmo porque
eu me formei com o PróUNE, minha faculdade toda foi paga pelo
governo federal, eu fiquei sentindo que devia devolver isso para a
sociedade em trabalho voluntário. A convivência com os idosos e
com o pessoal da Medicina Comunitária me inspirou a fazer minha
pós-graduação em Atenção Geriátrica Integrada. Já inspirada com
o trabalho que fiz com o Grupo da Longevidade Viva a Vida fiz minha
pós em Atenção Geriátrica Integrada.
(Ellen Sampaio – professora de pilates)

A prática de pilates tem sido muito valorizada pelos idosos, pois se


preocupa em levar às pessoas, de qualquer idade, para um aprofundamen-
to na compreensão de seus corpos e de sua existência perante o mundo,
transportando seus benefícios e transformações para além da sala de aula.
A professora Ellen Sampaio tem contribuído muito todos esses anos com
sua dedicação, competência, compromisso e carinho pelas pessoas. Esse
trabalho, sem dúvida, tem auxiliado na caminhada dos idosos em busca da
conquista e manutenção de um envelhecimento ativo, interativo, alegre,
mais sadio, independente e solidário com o grupo.
Sempre estive no pilates. As reuniões eram na João Wallig. A gente
fazia aquela ginástica. Sempre fiz ginástica, a gente precisa fazer. Antes
da Ellen eu fazia ginástica com a professora Elsa e depois yoga. O
Pilates começou a ser definitivo quando passou para a João Corrêa. Os
benefícios são muitos. A gente precisa fazer para melhorar a circulação,
ajuda as juntas (articulações) a melhorarem, funcionarem direito. Eu

72 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


quando fiquei ruim da coluna perguntei para o médico sobre o pilates
e ele disse que poderia fazer “se for terapêutico", mas o pilates que a
Ellen dá para nós sempre foi terapêutico. Eu sempre fiz aquilo que eu
podia e continuo fazendo. Agora eu faço exercício em casa. De manhã
faço deitada na cama e de noite eu faço na frente da televisão.
(Geni Barros – membro do grupo)

Nós fomos consultar contigo (Dra. Cristina) e tu recomendou


para o Erni que fosse no grupo. A gente pagava uma contribuição
pra Ellen. Ela vinha de longe. Eu comecei com o Erni e acabei
ficando. Ele saiu porque trabalhava não podia ir. Nossa, o Pilates
faz muito bem para a gente. Eu sempre trabalhei muito, mas não
fazia ginástica e o pilates fez bem para minha saúde, fez bem para
tudo. Comecei em 2016 e nunca mais parei. Quem entrou meio junto
comigo foi a Jussara.
(Nelci Godoy – membro do grupo)

Eu sempre participei das aulas de ginástica. Eu fazia yoga no


Sindicato e depois com a filha de uma amiga minha ginástica com
elástico e cabo de vassoura. Também, fizemos ginástica com o
Professor Telmo no sindicato, depois veio a época da professora
Elsa quando as reuniões eram na João Wallig. Ela dava ginástica de
manhã. Depois começou o pilates com a Ellen e não pude continuar
porque tinha problema na coluna.
(Mariazinha Zancani – ex-presidente do grupo)

Comecei no Pilates em 2017/18 para fazer uma atividade física


junto com o grupo que eu já conhecia e só falavam maravilhas. E
foi muito bom. A professora Ellen atenciosa, enérgica e dinâmica em
suas aulas, sempre se preocupava em atender as necessidades das
alunas, adaptando exercícios, explicando a finalidade de cada um
corrigindo tudo isso num clima de amizade, brincadeira. As aulas
eram ótimas com sol, chuva ou frio, todas estavam lá. Como não ir se
a Ellen vinha sempre com o Dieguinho a tiracolo, mamando no peito,

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 73


as vezes com os dois filhos e sempre disposta. As aulas de pilates além
da atividade física eram momentos de descontração. Ouvir as colegas
falarem dos netos, das dores, das festas. Às vezes saia correndo para
fazer almoço, mas feliz, sem dor e já pronta para a próxima. E tudo
isso agradeço ao grupo que nos proporcionou essa atividade e a
excelente profissional que não media esforços para manter as aulas
e o nosso bem-estar. Hoje apesar das dificuldades a Ellen ainda se
preocupa conosco e se esforça adaptando horários para dar uma
aula online e eu estou presente lá. Presente porque me faz tão bem!
(Rosa Lucas – membro do grupo)

O pilates é muito bom para nós. É um exercício físico e ela se doa


de coração e ela está os ajudando muito. Nós estamos na pandemia
e para a cabeça da gente é bom o contato. A gente se fala, se vê, a
gente ri e ela enxerga a gente e corrige os exercícios. É muito bom
e é um exercício e assim, é como se a gente estivesse junto mesmo.
Muito bom a gente pode se vê. É difícil ter uma pessoa como a Ellen.
Estamos tendo um baita acompanhamento.
(Vera Piacianini – membro do grupo)

Eu estou há pouco tempo no grupo. Fiquei sabendo por intermédio


de uma amiga da minha filha que recomendou uns grupos da prefei-
tura. Me orientou a ir na Cia De Artes na Rua da Praia que iria ter
uma apresentação artística e eu fui. Não sei o que houve, mas estava
fechado naquele dia e estavam lá a Zefa, a Nelci, a Maria Teresa
a Marilda. A Zefa me convidou para participar do grupo. Peguei o
endereço pq eu moro bem perto do CTG. Comecei a participar e fui
ficando, isso era novembro do ano passado [2019]. Participei pouco
do Pilates porque aí começou a pandemia. Eu gostava muito das
reuniões, das palestras dos encontros. Acho maravilhoso o pilates
que eu já conhecia há muitos anos. Eu morava em Gravataí e já
fazia lá. Parei por 5 anos. Sempre praticava, me sentia muito bem,
fazia muito bem para minha saúde. Fiquei sem fazer o Pilates, mas
sempre fazia outros exercícios, caminhadas, andar de bicicleta, fazer
alongamento. Eu noto que faz muito bem para a gente principalmente

74 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


para o cérebro. Eu sou massoterapeuta, trabalhava em pé muitas
horas, fazia muitos movimentos específicos, mas sentia a necessidade
de fazer exercício para meu bem-estar. Eu precisava estar bem para
passar bem-estar para as minhas clientes. Dias antes da pandemia
eu quebrei meu celular aí tive de comprar outro que é muito mais
moderno e então pude participar das aulas da Ellen pelo celular. Eu
quebrei muito a cabeça para lidar com o celular. A Ellen é maravi-
lhosa, muito disponível e disposta a ajudar a gente e desde o começo
da pandemia está fazendo as aulas pelo celular. Ela chama a gente.
(Eva Aparecida dos Santos Costa – membro do grupo)

No início de abril de 2017 a Marilda se ausentou do grupo por


problema de saúde e a Zefa também ficou um tempo fora. Nós pensa-
mos em fazer uma homenagem na forma de dança para elas quando
retornassem para o grupo. Foi assim que surgiu a ideia do “Banho
de Lua”, com o figurino e a dança; e eu tive de assumir o grupo
das pilateiras e me envolvi com a dança. Com o tempo eu fui tendo
cada vez mais inserção em outras atividades do grupo porque houve
o distanciamento da Simone por questões de outros compromissos
no posto, o Léo deixou de nos representar no COMUI e veio a tua
aposentadoria (Dra. Cristina). Em função de eu ser mais nova elas
se sentem muito apoiadas em mim, não conseguem desabafar com
os filhos, eu sou como filha para elas. Noto que a prática do pilates
ajudou muito na diminuição das dores, nas queixas de incontinência
urinária, que se não melhorou 100%, reduziu muito. Na socializa-
ção, nas conversas, ficam cada vez mais próximas umas das outras
e comigo. A partir do final de março quando iniciou a pandemia do
corona vírus e não podemos mais nos encontrar de forma presencial
eu comecei a postar um vídeo por semana com exercícios conforme
as queixas que tinham. A partir de maio passamos a fazer as aulas
de pilates online. Bastante alongamento, práticas restaurativas, mon-
tando as aulas em cima das diferentes queixas. O grupo no WhatsApp
das pilateiras foi criado para passar possíveis recados, mas se tornou
uma rede de apoio, de amizade, muito rica onde postamos rotinas de
nossas vidas, atividades com filhos e netos! Elas são umas queridas!
(Ellen Sampaio – professora de pilates)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 75


5.3. A DANÇA
Por iniciativa dos próprios participantes do grupo surgiu a ativida-
de física como recurso terapêutico a ser incluído nas atividades com o
grupo. E a dança iniciou com aulas ministradas por colaboradores que
sempre vieram apoiar o grupo. A dança é uma forma de atividade física
capaz de gerar uma série de benefícios para a promoção da qualidade de
vida dos idosos. E tem sido assim, a dança ajuda a trabalhar a atenção,
concentração, percepção, ritmo, memória recente, orientação espacial,
estimulando diversas habilidades psicomotoras e cognitivas, coordenação
motora e condicionamento físico associados à sensação de satisfação física
e emocional dos idosos.
Diversos professores de atividade física e idosos que participam das
atividades de dança têm relatado benefícios para o corpo e para a mente. Na
terceira idade o corpo é afetado de um modo geral, sendo que os membros
inferiores são os mais prejudicados, pois com o passar do tempo surgem
limitações ligadas ao declínio das capacidades físicas, perdas na aptidão
funcional, entre outras, e a dança pode beneficiar os idosos, retardando esses
fatores que comprometem sua condição física (FRITZEN, 2015).
As aulas de dança no grupo aconteceram em decorrência das atividades
físicas que começaram praticamente desde o início do grupo e continuam
funcionando até hoje. As alunas afirmam que foi nas aulas de ginástica da
professora Thais que aprenderam a trabalhar e a valorizar mais o próprio
corpo e a vida. Tudo isso com muito mais alegria e descontração. Elas
também dizem que não querem mais largar as professoras de jeito nenhum,
pois juntas formam um time vencedor na valorização da vida.
Quando Thais Pedroso Ferreira, 20 anos, estudante da FEF do
IPA foi convidada a trabalhar com os idosos do Grupo Viva a Vida da
Unidade de Saúde da Família do Hospital Conceição nem ela sabia
da experiência de vida gratificante que teria a partir daí. Ela conta
que esse trabalho mudou a maneira de sentir e valorizar a própria
vida. “Aprendi também a amar e entender muito mais as pessoas
idosas. ” A recíproca é verdadeira, pois é admirada por todos sendo
considerada a professora querida das avós que fazem ginástica duas

76 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


vezes por semana na Sede dos Funcionários do Hospital Conceição
que emprestada para atividades do grupo Viva a Vida. Segundo Thais
no início foi um pouco difícil porque o grupo não estava acostumado
a trabalhar com o corpo, mas agora as vovós aprenderam a dançar
no ritmo, ouvir e gostar de todos os tipos de música, da Banda Eva
ao pagode passando pelo regionalista. O grupo se apresenta em
qualquer lugar sem nenhum constrangimento, ou seja, completamente
feliz e descontraídas.
(Noticia do Jornal Região Norte 31 de agosto de 1999)

Foi muito gratificante ser professora do grupo de idosos do Viva


a Vida, lembro da alegria no dia em que todas tiveram que em usar
um vestido de prenda. São todas gaúchas, mas nunca haviam usado
um vestido típico. Hoje, com muito orgulho e satisfação, dançamos as
músicas tradicionais gaúchas. A partir da vivência que vamos tendo
a cada aula eu mais aprendo do que ensino e não pretendo deixar
de trabalhar com a 3ª idade.
(Thais Pedroso Ferreira – professora de dança).

O Hospital Nossa Senhora da Conceição em parceria com Lions


Clube Barão do Cahy promoveram o 3º ano consecutivo do dia da
Saúde do Idoso, com a participação de escoteiros e a Banda da
Escola Dolores Alcaras Caldas. Em clima de muita alegria e des-
contração a comunidade da região foi aos poucos se juntando aos
idosos e foi um dia foi de muita festa. Apresentaram-se os grupos
de 3ª Idade do Jardim Itu (Alegria de Viver) com a dança Polonesa
e o da Medicina de Família do Hospital Conceição (Viva a Vida)
com música country tendo a frente a professora Thais Pedroso
Ferreira. No final da apresentação do Viva a Vida a animação era
tanta e a música tão convidativa que o público animou-se a dançar
com os componentes do grupo, transformando o pátio do hospital
num gostoso salão de baile.
(Noticia do Jornal Região Norte 31 de outubro de 1999)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 77


Sou aposentada e aos 71 anos sou orientadora de dança e mo-
mentos artísticos e realizo atividades em eventos, asilos, casas lares,
em serviços de saúde e escolas. Nosso grupo de dança faz parte do
Grupo da Longevidade Viva a Vida. As aulas têm uma duração de
duas horas semanais, sendo necessário mais horários de ensaio em
outros dias e horários quando temos apresentações para fazer. A
dança tem como objetivo vincular a saúde do corpo mental e emo-
cional dos idosos sendo como fazer recreação em movimentos para
descontrair e unir o grupo. Os idosos alcançam mais desenvoltura,
desembaraço, atitudes firmes e alegria. Cada um respeitando seus
limites. A respiração e o alongamento são sempre a abertura dos
nossos encontros. O grupo tem algumas pessoas desde 2000, mas
sempre chegam novos frequentadores porque a música e a dança
contribuem para um envelhecer com mais saúde e dignidade. Os
idosos se valorizam mais e vivem mais felizes também.
(Marilda Kersting Soares – orientadora de dança)

Iniciei as aulas para o Grupo de Dança Viva a Vida em abril de


2019, logo nos primeiros encontros me chamou a atenção a alegria,
energia e disposição deste grupo. Busquei num primeiro momento
músicas já conhecidas, nossa primeira apresentação foi com “Tiro ao
Álvaro” cantada por Adoniran Barbosa e Elis Regina. Foi maravilho-
so! Após, buscando ampliar os desafios, acreditando e incentivando
que “podemos mais”, incluí passos de Balet, Jazz, com músicas
novas, de diferentes ritmos, que eram desconhecidos por muitas das
alunas; ampliando assim o conhecimento e propondo a descobertas
de novos movimentos corporais. A nossa segunda apresentação foi
um tango contemporâneo da Banda Bajofondo. Foi uma alegria ver a
motivação e empenho para realizar tudo sempre melhor! São apenas
alguns exemplos que ilustram a capacidade e o interesse das alunas
do grupo. Sempre dispostas a aprender, cooperando umas com as
outras, aceitando todas as propostas que levo para as aulas. É muito
gratificante conviver com este grupo.
(Laís Merker – professora de educação física formada pela
ESEF/UFRGS com cursos de extensão em dança ESEF/UFRGS)

78 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Embora o exercício regular tenha sido uma maneira de ajudar os idosos
a se manterem mais fortes física e mentalmente, conforme relatam e de-
monstram, que a dança tem sido para eles uma forma valiosa de atividade
física prazerosa e alegre. Aqueles que dançam regularmente mostram que
a dança parece ter certos efeitos antienvelhecimento até mais substanciais
do que os benefícios propiciados pela ginástica, conforme demonstram os
depoimentos dos participantes e dos instrutores de dança do grupo:
Eu comecei a dançar no grupo com a Marilda. Depois ela ficou
doente, ficou um tempo sem poder ensaiar conosco e a professora
de pilates Ellen entrou para dar aula de dança, além da aula de
pilates, porque as gurias pediram. A gente começou a ensaiar uma
música para homenagear a Marilda quando ela voltasse. Fizemos
uma apresentação. Mandei fazer a saia da apresentação e mandamos
fazer uma, bem igualzinha pra Marilda para dar de presente para ela.
Ninguém queria substituir a Marilda, mas foi acontecendo dela não
conseguir mais ensaiar conosco. Acho que foi quando ela mesma tinha
decidido não ensaiar mais. A criação dos figurinos sempre depende
da música. A da saia com bolinhas é musica dos anos 60, tem a do
cowboy e da bota preta, tem a do gaúcho. Tem a da saia preta que
é da dança do forró. Depois que eu entrei acho que são essas que
lembro. Com a Lais foi com a calça jeans e as camisetas e fizemos
as camisetas coloridas. Tem, também, nos nossos figurinos roupa
de prenda, o vestido rosa da valsa. São uns sete figurinos e no natal
tem as saias vermelhas com blusa branca das mamães Noel. A gente
inventou e tem usado esses figurinos nas apresentações. Dançamos
sempre nos encontros do “Se vira nos 60” e já foram uns quantos,
não lembro de todos. Dançamos os cowboys no aniversário do Posto
de Saúde Conceição, no pátio do posto.
(Nelci Godoy – aluna de dança)

“No grupo tinha dança, os passeios, eu sempre gostei de fazer


coisas diferentes. Entrei na dança com a Marilda. Eu sempre parti-
cipei das apresentações de dança que o grupo fez; só não participei
quando eventualmente eu estava com a mãe no hospital, aí eu não

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 79


pude ir. Agora com a Lais também é maravilhoso. Com a Marilda
era muito bom também. A Laís vai montando os passos.”
(Inês Balestri – membro do grupo de dança)

Agora temos nossa querida professora Ellen do pilates. Ela é


muito especial, excelente profissional. Tem muita paciência com
nós. Às vezes ela tem de pegar o apito e dar uma apitada para a
gente parar de falar nas aulas de tanto que fofocamos. Ela sempre
me ajudou. Quando operei meu joelho fazia ginástica separada das
colegas depois também me ajudou quando operei meu ombro. Não
tenho palavras para lhe dizer o quanto essa pessoa é capaz de exercer
essa profissão. Ela é muito pacienciosa e eu amo ela do fundo do
meu coração. Depois junto a nós vieram os dois amores, os filhinhos
dela que sempre estavam em aula conosco. Sempre foi muito lindo
e depois ela dando aula de dança para nós. Fantástico. A Ellen é
capaz de tudo, é uma profissional perfeita, tem jeito para tudo. Não
existe outro grupo como esse nosso, igual a esse, tanto amor, tanto
carinho. A senhora (Dra. Cristina), também sempre junto nos dando
apoio, faz de tudo para nós, as palestras, o carinho as palavras cari-
nhosas para nós estarmos sempre unidas. Também tem a professora
Marilda, minha amiga muito querida que nos deu aula tantos anos,
muitas apresentações. Uma vez fizemos apresentação de dança numa
casa de idosos na Avenida do Forte. Dançamos com eles, tomamos
café da tarde. Naquela época a Mariazinha era a presidente. São 20
anos que estou no grupo.
(Maria Josefa Ferreira – membro do grupo)

O grupo é muito bom, é lazer, é diversão. Eu senti não poder par-


ticipar mais, me atacou a coluna e tive de parar. Gosto muito, toda a
vida gostei. Na ginástica eu comecei a participar quando ainda era
lá no Sindicato com a Marilda, a gente sempre aproveitou muito. A
Marilda é muito comunicativa e sempre participei muito das danças
das apresentações. Sempre participei.
(Maria do Carmo Famer – membro do grupo)

80 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


A gente sempre teve atividade física. Nós tínhamos a Biodança. Toda
semana a gente fazia. Era bom demais para a mente, para o corpo,
uma beleza. Quem fazia muita ginástica com a gente era a Marilda. A
Marilda é a pessoa numero 1 do grupo, ela era maravilhosa. Depois
da dança a gente fazia ginástica. Ela explicava os exercícios bons para
respiração, para tudo. A Marilda sempre trabalhou de graça. Sempre
foi voluntária fazia muito para nós, a gente deve muito para ela. Ela
fazia sacrifícios para estar com a gente porque ela tinha um filho que
tinha problema de saúde que ela cuidava e mesmo assim dava um jeito
de participar e fazia a gente se movimentar. Todo mundo adorava ela
e as danças então nem me fala. Nosso grupo era muito bom.
(Regina Lima – membro do grupo)

As aulas e apresentações de dança tem sido uma atividade que contribui


para a socialização, autoestima e recreação dos idosos. Os convites para re-
alizarem apresentações públicas começaram e nunca pararam o que coroou
os esforços da professora de dança. O grupo tem realizado diversas apre-
sentações em eventos sociais, em instituições, em festas de comemoração
do dia dos idosos, como por exemplo:
• Apresentação do grupo de dança na Associação do Centro Cultural,
em 20 de outubro de 2017;
• Apresentação do grupo de dança com um grupo de bailarinos profis-
sionais, em 27 de outubro de 2017;
• Apresentação do grupo em evento da comunidade, em 17 de maio de
2018;
• Apresentação grupo da dança com orientação da Professora Marilda e
a professora Ellen em 28 de setembro de 2018;
• Apresentação de dança “Anos Dourados” sob a coordenação da
Professora Ellen, em 28 de outubro de 2018;
• Apresentação do grupo da dança com o figurino de “Mamãe Noel”,
em 29 de novembro de 2018;
• Apresentação de dança no evento “O idoso na cultura e na arte”, após
as palestras do diretor da Cia de Dança professor Airton Tomazzoni e
da professora Lais Merker, em 30 de maio de 2019;

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 81


• Apresentação do grupo da dança sob a coordenação da professora Lais
na Cia de Artes, em 31 de maio de 2019;
• Apresentação de dança na festa de encerramento do mês do idoso, em
30 de outubro de 2019;
• Apresentação do grupo da dança, sob orientação das professoras Ellen
e Lais, tendo entre as dançarinas a participação da professora de dança
Marilda Kersting, em 1º de novembro de 2019;

Não me envolvi com as aulas de dança, mas lembro que fui a


Cidreira com o grupo da dança para uma apresentação. Era época
em que o Jair ainda estava na direção e a Ieda iria viajar com uma
parte do grupo e o Jair me pediu para ir com as gurias pra Cidreira.
O grupo foi homenageado por um CTG que tinha lá. Todos os anos
elas iam dançar, mas nestas andanças eu não acompanhei. Arrumei
para elas se apresentarem na igreja do Cristo Redentor. Fizeram
a apresentação da Nossa Senhora que era com os casaquinhos
brancos Outra vez eu consegui espaço para apresentação no chá do
Apostolado da Oração na igreja do Cristo. Depois teve mais outro
chá e era promovido pelo apostolado. O grupo teve outras apresen-
tações, lembro ainda de duas ou três vezes que foi lá no Posto Jardim
Leopoldina na Baltazar. Fui com o grupo da dança a convite do Félix.
(Mariazinha Zancani – ex-presidente do Viva a Vida)

Realizamos uma apresentação muito gratificante numa festa de


natal para as crianças do Hospital da Criança Conceição, nós fomos
vestidas de mamãe Noel e a minha neta Karine, de 7 anos, foi de anjo
com uma roupa que fiz para ela com um papel brilhante transparente.
As mamães Noel dançaram e davam bombons para as crianças e a
Karine entregava para os pais um saquinho com uma mensagem.
Também, dançamos para a direção do hospital e até hoje tem gente
na direção que lembra disso.
(Benoci Kersting – membro do grupo de dança)

82 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Lembro que os participantes e a professora do grupo de dança do
Viva a Vida fizeram uma apresentação no aniversário de comemora-
ção bodas de prata do Grupo da Longevidade Viva a Vida (25 anos).
Parabéns a todos componentes do grupo, tanto do passado como do
presente, são pessoas que deram muito de sua alegria e experiência
e viram o nosso grupo ganhar corpo e abrir caminhos distribuindo
sorrisos e conforto.
(Marilda Kersting – orientadora de dança)

Acompanhei os participantes do grupo de dança, ao longo do tempo,


muitos como meus pacientes na clínica, e foi evidente a mudança das
pessoas à medida que participavam e praticavam atividade física e dança
com regularidade. Percebo que a dança não é só uma maneira divertida de
mexer o corpo elas referem ajuda no combate ao stress, melhora da memó-
ria, reforço dos músculos, melhora de dores e limitações nas articulações,
melhora da flexibilidade, do equilíbrio e da postura. Quando elas dançam é
necessário um esforço maior para memorizar a sequência dos passos, maior
concentração e percepção corporal para não invadir o espaço do parceiro.
Além disso, se lembram de experiências e sensações vividas no passado,
quando a música as remete à juventude. Identificam-se, ainda, nos relatos
a importância do convívio social que a dança propicia.
Estudos confirmam todos os benefícios relatados pelas participantes do
grupo de dança Viva a Vida. De acordo com CASSIANO et. al. (2009) a
dança sênior é uma atividade socializante, saudável, benéfica, mantém a
boa saúde e ajuda a conduzir as limitações da idade, estimula a motricidade
dos músculos e a mobilidade das articulações, proporcionando uma melhor
coordenação motora e maior segurança através do domínio do corpo. Através
da dança o idoso poderá ter maior adesão à prática de atividades físicas
passando de sedentário a ativo. Pois, além de ter benefícios psicológicos
e sociais, melhora as capacidades físicas como: o equilíbrio, flexibilidade
e agilidade. SOUZA e METZNER (2010) afirmam que a dança como
atividade recreativa aparece como uma alternativa de trabalho coletivo,
que estimula a solidariedade, fazendo com que haja uma diminuição das

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 83


tensões e das angústias, e consequentemente incentiva o idoso a buscar a
socialização e o prazer de estar com pessoas da mesma faixa etária.
Conforme MERQUIADES et al (2009), os dados de estudos que enfa-
tizaram a relação entre atividade física e qualidade de vida demonstraram
que idosos mais ativos vivem com mais satisfação, pois encontram na
prática da atividade física um modo de terem suas vidas com a quantidade
de doenças minimizadas, um bem-estar físico e mental, melhor convívio
social e maior disposição na realização de tarefas diárias. O que tem sido
evidente nas práticas do Grupo Viva a Vida, seja através da dança de salão
com diversos ritmos (forró, bolero, valsa, entre outros), bem como aulas de
tango que tivemos por um período com um professor Uruguaio. O grupo
já experimentou danças circulares, biodança, dança do ventre, entre outras
modalidades ofertadas por voluntários que dedicaram tempo para conviver e
dançar com os idosos do Viva a Vida. Sempre foi evidente nos participantes
a alegria, descontração e o prazer de estarem juntos dançando e praticando
atividade física.

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Disponível em: https://aps.saude.gov.br/biblioteca/visualizar/MTE5NQ==
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84 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


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Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 85


86 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 87
88 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
6 ATIVIDADES CULTURAIS, ARTÍSTICAS,
FILANTRÓPICAS E DE SOCIALIZAÇÃO DO
GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA
“Envelhecer é o destino de todos, então,
não há nada melhor do que tornar essa
experiência mais bonita possível.”
(Beatriz Mello)

“A Felicidade é o melhor remédio


contra as doenças cardíacas.”
(Fernando Lucchese)

“A alegria evita mil males e prolonga a vida.”


(William Shakespeare)

Neste capítulo vou falar um pouco das incontáveis atividades culturais,


artísticas, filantrópicas e de socialização promovidas pelo Viva a Vida e da
participação e envolvimento dos idosos em diversos eventos que o grupo
se fez representar em diferentes momentos de sua trajetória. No capítulo
5 falei das atividades físicas como a ginástica, o pilates e a dança e neste
capítulo vou relatar uma série de outras atividades que movimentavam o
cotidiano dos participantes do Viva a Vida. O grupo promoveu e participou
de homenagens, de celebrações, como o Dia Internacional dos idosos, de
apresentações artísticas, apresentação de música e dança, de intervenções
teatrais, entre outras que compuseram o mosaico de festividade, integra-
ção e alegria. Vamos conhecer as formas criativas que o grupo, a diretoria
e seus convidados inventaram para promover interação social, cultura e
principalmente alegria.
As inúmeras atividades culturais e artísticas que movimentam os ido-
sos dependem e demandam de ações de retaguarda e infra-estrutura como

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 89


transporte, figurino, local adequado para os ensaios e para o evento final,
decoração do ambiente, equipamentos de som e imagem (projetor, microfo-
ne, etc), seleção de músicas, organização dos lanches, entre outros recursos.
Estas ações exigem o envolvimento tanto da diretoria quanto dos apoiadores,
dependem de um processo de organização, de liderança e de empenho cole-
tivo, e foram realizadas pelo grupo de forma prioritária porque sabidamente
as atividades culturais são um estímulo à vida ativa na terceira idade.
Na construção deste capítulo utilizei diversas fontes como os registros de
diferentes épocas do grupo, memórias de atividades que participei ajudando
na organização ou como plateia, registros encontrados em jornais antigos,
reportagens sobre as apresentações realizadas, fotos e depoimentos de
alguns participantes. A cada depoimento lido, a cada foto ou registro visto
eu revivia as histórias, emoções e me gratificava com a riqueza do trabalho.
O grupo fazia muitas atividades. Tinha os passeios, muito bom de
fazer os passeios. Fui sempre que podia, quando minha mãe esteve
internada não pude ir. É tudo muito bom no grupo. Ajudar a fazer
roupinhas, tricô, costura, não sou habilidosa nestas atividades, mas
apoiava. As oficinas, nas de nutrição não podia participar, estava
louca para fazer as oficinas da nutrição. Todos os assuntos são ótimos.
Os convidados, os temas, todos são muito bons.
(Inês Balestri – membro do grupo)

6.1. ATIVIDADES CULTURAIS E DE SOCIALIZAÇÃO


O tempo que envelhecer era sinônimo de idoso de pijamas, em casa e
cuidando dos netos já passou. Os participantes do Grupo da Longevidade
Viva a Vida tem sido estimulados a se integrar em atividades culturais na
cidade. Também, a se integrar nas atividades sociais na comunidade de
forma ativa e independente. Neste sentido, a cada ano os idosos realizam o
planejamento para a participação de atividades culturais que consistem em
visitas guiadas à museus e exposições artísticas, cinema, teatros e viagens.
Também, realizam a promoção de manifestações artísticas como apresen-
tação de coral e dança. Ainda, são promovidos encontros literários sobre

90 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


temas diversos como música, literatura, cinema, poesia, teatro, oficinas de
artesanato, cursos de culinária e alimentação saudável, jogos interativos de
memória e recreação, entre outros.
Os passeios são realizados em locais da cidade previamente agendados
com finalidade educativa em temas como tratamento da água, tratamento
e destino adequado do lixo, segurança do idoso no trânsito e transporte
público. As ações são escolhidas a partir da demanda do próprio grupo e
passaram a seguir o calendário de eventos da cidade.
As atividades de celebração de aniversários também são frequentes
no Grupo Viva a Vida, a cada mês se comemora de forma coletiva os ani-
versários daquele mês, durante o momento o chá com salgados e doces,
organizados para o momento de socialização de cada encontro.
Lembro sempre dos festejos dos aniversariantes do mês. A mesa
era longa e a fartura de doces e salgados deixavam tapada a cor da
toalha festiva. A gente comia e bebia e, além disso, levava para casa
uma bandeja de salgadinhos e doces para o lanche da noite. Assim,
caia por terra os ensinamentos nutritivos das palestras de quarta
(risos). Inutilidades e futilidades são necessárias para a vida ficar
mais leve (risos). Viva a Vida!
(Lidice Zanirati - Professora de dança e atividade física)

Lembro das atividades de encerramento do ano, sempre com


almoços especiais com a participação de muitas pessoas, idosos e
colaboradores, uma grande confraternização.
(Terezinha Lopes – membro do grupo)

Adoro também participar das campanhas e ajudar como nos


chás, oportunidade que eu procuro sempre auxiliar no que me for
requisitado e dar o melhor de mim e das minhas possibilidades. Sem
contar nas apresentações do grupo, sempre uma diversão nos ensaios,
o planejamento da roupa, toda a expectativa é uma festa até o dia
da apresentação.
(Maria Teresa Soares – membro do grupo)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 91


Esse grupo é tudo para mim. Amo todas as pessoas que a gente
convive no grupo, as suas palestras (Dra. Cristina) nas quartas feiras
são fantásticas, os nossos ensaios de dança são muito bons, ainda
mais, que eu adoro dançar. Quando fui para esse grupo, foi porque
me falaram das reuniões, que eram muito boas e das danças e depois
vieram as aulas de ginástica com aquela moreninha que esqueci
o nome dela. Ela acabou falecendo. Ela era muito boa, querida
atenciosa e muito pacienciosa com a gente e depois veio o professor
Antônio que dava aulas de tango. Tínhamos também o coral, com a
Neida, que era muito bom. Tivemos passeios muito divertidos, todas
as colegas participando das coisas, todas muito unidas.
(Maria Josefa Ferreira – membro do grupo)

6.2. PROMOÇÃO DA ARTE


Desde a formação do grupo, realizar atividades para a manutenção da
qualidade de vida, da independência e da autonomia dos idosos foi uma
preocupação constante em todas as atividades propostas. É fundamental
o fortalecimento da autoestima, o incentivo para o envolvimento social e
comunitário, o fortalecimento do seu papel na família e na sociedade e as
atividades artísticas podem contribuir na promoção de todos esses benefícios.
Participar do grupo é uma oportunidade para que os idosos saiam de
casa e interajam com outras pessoas. Nos encontros eles riem, brincam e
dançam, minimizando a solidão, descontraindo e desligando das ansieda-
des e angústias do cotidiano. A participação nas atividades artísticas ajuda
a reduzir o estresse e depressão, pois compartilhar seu dia com pessoas da
mesma geração favorece o bem-estar, relaxa e facilita uma maior aproxima-
ção entre as pessoas. O Grupo Viva a Vida participou de diversos projetos e
atividades artísticas, seja na plateia aproveitando o espetáculo ou no palco
encantando espectadores, como por exemplo:
• Concerto gratuito da Banda Municipal de Porto Alegre, no Centro
Municipal de Cultura Teatro Renascença, em comemoração ao Mês
do Idoso, em 21 de outubro de 2019. O repertório incluiu diversos

92 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


c­ ompositores como Adoniran Barbosa, Chico Buarque e Ary Barroso, e
clássicos brasileiros como Águas de Março e Brasileirinho. Na ocasião,
o solista Sabiá (ex-componente da banda), com 86 anos, foi convidado
especial e se apresentou com o grupo.
• Apresentação do Grupo da Longevidade Viva a Vida no especial de
abertura do mês do idoso, Projeto “Se vira nos 60”, no Museu de Porto
Alegre Joaquim Felizardo, em 29 de setembro de 2019: Também, se
apresentaram neste evento o Coral Cuca Legal, o Grupo Vocal do CIEE,
o Coral Cantar Encanta, o Grupo Turma do Samba, entre outros.

6.3. O TEATRO
Com o objetivo de desenvolver atividades que estimulassem a criativi-
dade dos idosos do grupo, criamos esquetes teatrais e músicas com temas
ligados ao cotidiano do idoso, ao processo de envelhecimento e a saúde.
Utilizávamos, por exemplo, temáticas como: a importância do bom humor
e do otimismo na vida, a alimentação saudável, entre outros,
Os esquetes teatrais valorizam os idosos e estimulam a troca de ex-
periências, a expressão corporal e verbal, a memorização, as habilidades
motoras na confecção de adereços, a melhora da autoestima e da interação
em equipe. Estas atividades contaram com a colaboração e participação de
diferentes profissionais das áreas de educação física, dança, entre outros
que se envolveram e os que atualmente estão envolvidos nas apresentações
teatrais do grupo. Desde que essas atividades começaram a ser realizadas
surgiram convites para apresentações em conferências, congressos, escolas,
instituições de saúde filantrópicas, asilos, creches, dentre outros espaços de
socialização.
As práticas de encenação teatral e de dança fazem parte da trajetória do
grupo e estimulou o interesse pela arte e de acordo com os depoimentos
dos participantes passaram a ser considerada muitas vezes uma terapia. O
processo de construção coletiva estimula a participação, por exemplo, o
roteiro do texto, surgiu a partir de depoimentos durante as reuniões do grupo.
A variedade de temas permitia uma ampla participação e eles utilizavam

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 93


como inspiração os conteúdos abordados no grupo por meio de oficinas e
palestras sobre autocuidado, alimentação, obesidade, hipertensão, estresse,
sentimentos positivos e negativos, auto estima, todos relacionados com o
envelhecimento e o cotidiano de vida. Lembro-me de um esquete teatral,
no qual os idosos fizeram o papel dos profissionais de saúde, o que auxilia
no exercício de empatia. Em determinada época me atrevi a criar os perso-
nagens e alguns enredos para organizarmos um esquete teatral e eles foram
colaborando com o roteiro e construindo novas perspectivas para esses per-
sonagens. A ideia central nessa proposta foi que os idosos pudessem criar um
roteiro de falas (aberto a improvisações) utilizando suas histórias de vida,
o que aprendiam ou aproveitavam dos encontros com o grupo, seja o con-
teúdo das palestras, oficinas ou a própria interação grupal. As experiências
no grupo foram transformadas em fonte de inspiração para que pudessem
ser contadas, evidentemente do ponto de vista dos que naquele momento
formavam o grupo, e também transformadas por meio da arte de representar.
As técnicas de representação foram utilizadas para diversão, mas também
como uma ferramenta de terapia, um recurso metodológico para trabalhar
melhoria na qualidade de vida, pois todo o processo de elaboração de textos,
montagem do cenário, escolha de personagens, a representação em si, a in-
teração com o grupo, ajudaram os idosos a reviver memórias, reapresentar
cenas de suas histórias de vida, trazendo de volta o prazer, a sensação de
pertencimento, a superação de imagens pessimistas sobre si mesmos, o for-
talecimento de vínculos de amizade, o aumento da autoestima e a motivação
para continuar criando. Lembro de duas peças de teatro intituladas: Dona
Redonda (Fininha) e Parasitas do Espírito que apresentamos em diversas
ocasiões na sala de Cultura Mario Quintana. A lembrança que tenho é que
esse evento foi muito gratificante. Tivemos que acertar a disponibilidade do
local, sala, horário, divulgação, preparo do palco e depois o grande momento
do pessoal se apresentando e toda a plateia rindo muito. Alguns depoimentos
ajudam a entendermos o valor que os idosos dão a essa atividade.
Eu me lembro de um palco, uma mesa, um médico e uns 6 ou 7
colegas do grupo com problemas de saúde, relatando seus sintomas,
e o médico dava sua orientação etc, etc.… Era cômico, eu era a

94 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


e­ nfermeira, (risos)... Outra apresentação não me lembro bem, mas eu
era uma policial... Uma vez fizemos o coral dos bigodudos, eu era o
maestro com a varinha na mão... Em um dado momento, todos caíram
no chão, era muito engraçado. É o que me lembro. Todos riram muito.
(Terezinha Lopes – membro do grupo)

6.4. DESFILES DE MODAS


Não temos registro com as datas dos eventos, mas ocorreram no final dos
anos 80 e início dos 90. A professora Lidice Zaniratti, que na época também
era professora de ginástica e de dança propôs para os idosos do grupo par-
ticiparem de um desfile de modas. Ela organizou e orientou a atividade. O
desfile foi organizado para estimular a socialização, melhorar a autoestima,
reforçar o sentimento de valorização, mostrando que os idosos podem ocupar
um espaço social até então considerado apenas para jovens, um novo lugar
para mostrar a vitalidade da maturidade. O evento trouxe empolgação, mas
também nervosismo e desassossego para algumas das senhoras.
A emoção foi tão intensa que algumas precisaram consultar nos dias que an-
tecederam o desfile para aliviar a ansiedade pela exposição pública. Passavam
no meu consultório pedindo um calmante, mas estavam felizes, envaidecidas
e com medo dos resultados do evento público. A neta de uma das senhoras
veio ao meu consultório se queixar: “a vó agora não para mais em casa!”.
O desfile de modas da terceira idade rendeu convites em prol do grupo
e atingiu o público de mulheres maduras e dos empresários de butiques da
cidade. Foram vários desfiles de modas que foram realizados com sucesso
na trajetória do Grupo Viva a Vida. Seguem alguns depoimentos:
Foi por conta do Julio que eu conheci o grupo. Tu (Dra. Cristina)
atendia ele e me convidou para ir lá e levar a mãe e a Didi. A gente
conversou e eu comecei a pensar como é que poderia ajudar. Vi que
tinham muito problemas com respiração e postura e foi difícil para
elas me atenderem. Começamos as atividades físicas com exercícios
de postura. A cada quarta eu colocava mais exercícios de postura,
levantar e sentar. Lembro que tinha de subir uma escada enorme para

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 95


ir as reuniões e eu tinha de ajudar eles a subirem. Tinha até um casal
que vinha com muito sacrifício. Lembro que uma das vezes que fizemos
nosso desfile que alguém arrumou aquela butique da Assis Brasil, elas
desfilariam para uma butique, então elas só queriam ensaiar. Eu dizia:
gente nós temos que fazer uns exercícios. Lembro que tu me pediu pra
fazer umas aulas de etiqueta, como se portar em restaurantes e festas.
Tive que aprender e estudava para passar para elas. Uma coisa que
tenho facilidade é de transmitir. Aprendi lendo um livro eu que tinha.
(Lidice Zanirati - Professora de dança e atividade física)

Véspera de natal a gente se apresentava no pátio do hospital. Os


figurinos nós mesmo que fazíamos. A Marilda sempre fez muito bem.
Ela foi demais. Quando foi para um desfile de modas, para uma loja
quem arrumou foi a Marilda, ela que fazia essas coisas. Eu tenho
todas as fotos nossas do grupo. Para o desfile de modas e etiqueta a
Lidice se prontificou a nos dar aula.
(Regina Lima – membro do grupo)

O Grupo Viva a Vida também participou do Projeto “Se vira nos 60”,
uma promoção da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e
Esporte, em 26 de julho de 2019, realizando um desfile de moda com ves-
tidos de festa da Cia de Artes. Nesta ocasião aconteceu junto ao evento uma
sessão de embelezamento realizado pelas alunas do curso de maquiagem
do C1 Rubem Berta. O evento contou ainda com apresentação do grupo de
Dança do Ventre do SINAPERS, aula de Stand Up com João Carlos Ferreira,
palestra de Ivana Lima e Luis Fernando Zamboim sobre “protagonismo e
empoderamento: ações positivas para pessoa idosa”.
Eu trabalhava no Conceição na UTI Neo Natal e não conseguia
participar muito das reuniões. Participei mais quando eram na sede
dos funcionários do Conceição. A professora de dança era a Lidice que
também nos ensinou sobre etiqueta, como colocar a manta no pescoço,
como colocar o casaco. Eu participei do desfile modas. Lembro das
apresentações no corredor e no pátio do Hospital. Eu descia para as-
sistir a dança. Participei de viagens, fomos para São Sebastião do Caí

96 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


e dançamos no pátio da escola que a senhora trabalhava lá. Foi muito
bonito. Outra vez a gente apresentou a dança aqui no Conceição. Não
tinha programação, aí resolvemos com a Marilda fazer um desfile de
modas. Fizemos com roupa de festa. Eu usei um vestido prateado-cinza.
O primeiro desfile foi organizado por mim, a Zefa, a Marilda, no galpão,
sem ensaio. Estava a Dalva que foi com um conjuntinho e o Silvio da
Secretaria do Idoso estava na festa e nos convidou para o outro desfile
que foi na Cia de Artes no projeto “Se vira nos 60". Lá eu fui com vestido
dourado. A gente ensaiou um dia só com a professora Lais.
(Geni Barros – membro do grupo)

6.5. CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS


Contar histórias é uma habilidade que acompanha o ser humano desde os
tempos mais remotos. Através de histórias contadas, as tradições e o passado
de um povo são transmitidos de geração em geração. Acende uma chama no
coração dos idosos permitindo que eles vivenciem no conto as suas próprias
experiências. Ao ouvir um conto, os mais velhos são capazes de resgatar
antigas lembranças, criando neles um sentimento de prazer e empatia. Esse
resgate de memórias contribui positivamente para a melhoria da qualidade
de vida dos idosos. (BEDRAN, 2012; MELLON, 2006).
Há alguns anos o Grupo da Longevidade Viva a Vida tem o prazer e
a graça de contar entre nossos colaboradores com a Margarete Jackel, co-
nhecida como “Lindinha”. A Lindinha é uma profissional da contação de
histórias e se tornou parceira do grupo, desde que chegou nunca nos deixou,
e vem enriquecendo nossas tardes e nossos dias com suas histórias mara-
vilhosas. Lindinha, a contadora de histórias, tem regularmente através dos
anos contribuído de forma extremamente enriquecedora com o trabalho do
grupo através de seu trabalho de contar histórias. As histórias são adaptadas a
determinados contextos ou demandas do grupo. Temos observado resultados
extraordinários de aproveitamento entre os participantes.
Com a Lindinha, a gente aprendeu muito com ela. Contou a
história, ensinou as bonequinhas, me emocionei demais depois fiz

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 97


16 bonequinhas com minhas amigas. A história das formiguinhas.
Eu me emocionei demais. Aprendi muito.
(Maria Scheffer – membro do grupo)

O que eu acho legal na contação de história é que ela coloca o que


é seu para fora. Todas vezes que fui lá, saí com a alma lavada. Elas
curtem eu percebo isso da história mexer consigo, principalmente no
idoso. Quando fazemos isso, mexer com o idoso, temos de ter muito
cuidado para não mobilizar coisas, as quais não teremos como dar
suporte. O objetivo é integração, curtição, se conhecerem e apertar
os laços que a gente vê que existem.
(Margareth Jackle - Lindinha – contadora de histórias)

Os benefícios da “contação de histórias” são muitos, por exemplo:


a) Estímulo as funções cognitivas: Por terem vivido mais tempo e pos-
suírem mais experiência de vida são muito bons ouvintes e escutam com
atenção cada frase proferida. O vínculo com a história faz com que se
coloquem no lugar das personagens do conto e cria oportunidades para
que ele compartilhe com outras pessoas suas memórias, resgatando as
boas lembranças da sua vida. Alguns idosos passam de ouvintes para
contadores de histórias, retomando assim, sua importância na sociedade.
No processo de “Contação de Histórias” é retomado o hábito da leitura e
novas habilidades são desenvolvidas, estimulando as funções cognitivas
dos idosos como fala, percepção, memorização, atenção e dramatização.
(BEDRAN, 2012; MELLON, 2006).
b) Diminui o risco de depressão: Contar histórias é uma atividade capaz
de renovar e romper as barreiras do tempo, independente da evolução
da humanidade. Por se tratar de uma atividade coletiva, na contação de
histórias o idoso socializa com outras pessoas e se sente menos sozinho.
(BEDRAN, 2012; MELLON, 2006).
c) Desenvolvimento de novas habilidades e exercitam a capacidade de
imaginação: Além do desenvolvimento cognitivo com o aprendizado das
técnicas de recitação de poesias, do exercício da leitura, das técnicas e

98 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


do exercício de contar histórias os idosos desenvolvem ou aprimoram
sua capacidade de imaginação ao se transportarem para diversos lugares.
Observa-se que os participantes desenvolvem durante esses encontros
novas habilidades e utilizam as técnicas de contar história de forma que,
muitas vezes, surpreendem o grupo e a eles próprios por desconhecerem
seu potencial. (BEDRAN, 2012; MELLON, 2006).
d) Conhecer outras culturas e hábitos: as histórias permitem que os
idosos conheçam culturas diferentes, pois as histórias os transportam
para lugares distantes, muitos deles desconhecidos. As histórias têm o
poder de encurtar distâncias e fazer com que sejamos um só povo, uma
só nação. Essas informações ampliam seus horizontes e a visão que eles
têm do mundo. Durante a audição da história os idosos passam a fazer
parte daquele mundo. A prática de contar/ouvir histórias contribui para
deixar os idosos mais participativos e atualizados. (BEDRAN, 2012;
MELLON, 2006).
e) Permite extravasar emoções de forma positiva e segura: Ao conta-
rem, participarem ou ouvirem as histórias, os idosos sentem a fundo
as emoções da narrativa, que despertam neles sentimentos importantes
como tristeza, alegria, raiva, medo, irritação e vários outros. Trazer esses
sentimentos à tona é de extrema importância para os idosos, pois eles
conseguem extravasar emoções reprimidas. A prática de contar/ouvir
histórias refrigera a alma e melhora consideravelmente o humor do idoso
através do imaginário. (BEDRAN, 2012; MELLON, 2006).
Lembro de um encontro que contei para elas a história sobre as
mães africanas que para acalentar seus filhos durante as terríveis
viagens a bordo dos navios (que realizava o transporte de escravos
entre África e Brasil) rasgavam retalhos de suas saias e com os reta-
lhos criavam pequenas bonecas, feitas de tranças e nós. As bonecas
que ficaram conhecidas como Abayomi, termo que significa “encontro
precioso”, serviam como amuleto de proteção. As bonecas, também
simbolizam a mulher africana e sua resistência, a tradição e o poder
feminino. Depois da história da Abayomi cada uma fez a construção

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 99


da sua Abayomi e o grupo abraçou essa história. Montei com elas
as bonecas e depois elas iriam fazer para os netos.
(Margarete Jackel - Lindinha – contadora de histórias)

Tem pessoas que ficam muito preocupadas como se tivesse que


se ter histórias específicas pra idosos. Elas adoram as histórias in-
fantis, revivem. Lembro uma vez que fiz com elas a assembleia dos
bichos onde se cantava cantigas de roda durante a história. Elas me
abraçavam. Uma me abraçou e chorou dizendo como tinha sido bom
relembrar, viver a história. Os idosos se emocionam.
(Margarete Jackel - Lindinha – contadora de histórias)

Outra história muito legal, em que elas se portaram de uma ma-


neira fantástica foi a história do posto. Me lembro que a enfermeira
me pediu por conta de um evento sobre a unidade. Ela me pediu que
contasse no grupo a história do funcionamento do posto. Ela me deu
os dados e eu contei a história. Fiz uma espécie de crachá. Um idoso
era o enfermeiro, outro o médico, outros eram os idosos chegando
no posto. Fui narrando e elas entrando no posto. Se comportaram
como responsáveis pelo funcionamento, cada uma num papel e foi
muito gratificante. Muito fácil quando tu fala de um posto. Eu era
da Comunitária. Antes eu tinha trabalhado três anos na neuro com
idosos. Amei trabalhar lá. Eram pessoas com problemas sérios, se-
quelas de AVC, eram muito sérios os problemas. Eles tinham alta e
voltavam. Voltavam em uma situação mais precária. Eram cuidados
paliativos. Meus pacientes iam e voltavam e aí surgiu a possibilidade
de ir para a Comunitária. Teve seleção e eu me inscrevi e fui aprovada.
Lembro que fui eu e um outro colega que era do mesmo setor que eu.
E foi sempre pura emoção. Os idosos sempre participaram muito das
histórias. Sempre procurei contar histórias que eles se envolvessem,
construíssem e pudessem colocar amor naquela história. É legal, eu
vejo a contação de história como uma continuidade. Quem ouviu,
mexeu, quer levar aquilo adiante. É pra levar pra casa, levar pros
outros, levar o que aprendeu e sentiu adiante. Todas as vezes que

100 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


trabalhei com o grupo elas curtiram. Fiz elas fazerem a sua bruxa
e levei papéis, dobradura, palito de churrasco. Cada uma fez a sua
e deu nome para sua bruxa. Separei a turma em grupos de cinco e
elas tinham de inventar a sua história na apresentação da sua bruxa,
pura diversão.
(Margarete Jackel - Lindinha – contadora de histórias)

Observa-se em nossos encontros com o grupo que a “contação de his-


tórias” serve como um espaço de descobertas, de alegria, um alívio para o
estresse e preocupações, também libera sentimentos relacionados ao mau
humor, a irritação e a inquietude que de certa forma são frequentes nesta
etapa da vida.
No grupo, nosso projeto é preparar os idosos para que eles sejam con-
tadores de histórias. Este estímulo para os idosos faz com que busquem
conhecer novas tecnologias que os prepare para transmitir as histórias para
as outras pessoas. Percebemos que a “contação de histórias” estimula a
relação intergeracional entre avós e netos. Estimulamos que os avós con-
tem histórias para os pequenos, seja para acalmá-los, para descontrair ou
até mesmo para transmitir às novas gerações as tradições da família e da
sociedade em que vivem.
Nesse contexto a “contação de histórias” pode ser vista como uma forma
de aproximar a família, reunindo em volta da mesa de jantar ou sobre uma
confortável cama no final do dia, gerações diferentes, como avós, filhos e
netos. E tem sido assim as reuniões do grupo quando a Lindinha atua, uma
alegria contagiante e, sempre, um aprendizado riquíssimo.

6.6. PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS DE PORTO ALEGRE


Anualmente o Grupo Viva a Vida participa de atividades que fazem
parte do calendário de eventos da cidade, as quais são escolhidas pelos
idosos do grupo. Vou relacionar alguns eventos em que participamos e que
os relatos estavam disponíveis, entre muitos que foram acontecendo ao
longo do tempo:

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 101


• Participação no Encontro do “Grupo da Maior Idade”, no Grêmio
Náutico União, em Porto Alegre, dia 15 de setembro de 1998;
• Participação com certificado de agradecimento ao Grupo Viva a Vida
no “I Encontro Estadual do Cidadão Idoso”, promovido pelo Deputado
Estadual Divo do Canto, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul, em Porto Alegre, dia 27 de agosto de 1998;
• Participação do 2º Desfile Cívico em Comemorações da Semana
da Pátria no Bairro Jardim Barão do Cajy, promoção da Associação
Internacional de Lions Clubes, em Porto Alegre, dias 1 e 2 de setembro
de 2000;
• Participação do Evento Atenção Integral à Saúde do Idoso, com o tema
“Autocuidado Apoiado”, em Porto Alegre, dia 2 de outubro de 2012;
• Participação na Jornada Atenção integral à saúde do idoso, promovida
pelo Grupo Hospitalar Conceição, em comemoração ao dia do idoso,
realizada dia 7 de outubro de 2009;
• Participação do Seminário Municipal do Idoso do Conselho Municipal
do Idoso (COMUI), em Porto Alegre, em 2015;
• Participação da 3ª Caminhada da pessoa idosa de Porto Alegre, pro-
movida pela Secretaria Adjunta do Idoso (SMDH) que ocorreu em 26
de setembro de 2016. Foi realizada uma caminhada desde a Praça da
Alfândega, na Rua dos Andradas, na Esquina Democrática, na Av. Borges
de Medeiros e encerrada no Largo do Paço Municipal;
• Participação no evento “Protagonismo e empoderamento: ações positi-
vas para a pessoa idosa”, promovido pela Secretaria de Desenvolvimento
Social e Esportes/ Diretoria Geral de Direitos Humanos/Unidade de
Direitos do Idoso/Unidade de políticas Públicas para Juventude, em
Porto Alegre, dia 25 de julho de 2019.
• Participação da Palestra “Envelhecer com Qualidade de Vida: um
caminho para a mobilidade segura”, promovida pela Coordenação
de Educação para mobilidade da Empresa Pública de Transporte e
Circulação (EPTC) do município de Porto Alegre, no Projeto “EPTC
Educa”, no dia 26/07/2019, no Auditório da EPTC.

102 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


6.7. ATIVIDADES DE SOLIDARIEDADE E FILANTROPIA
Originada no Francês Solidarité, solidariedade significa se identificar com
o sofrimento do outro e, principalmente, se dispor a ajudar a(s) pessoa(s) a
solucionar ou amenizar o problema enfrentado. Já a filantropia ela significa
"profundo amor à humanidade", "desprendimento", "generosidade para com
outrem" e "caridade". (HOUAISS, 2015). Em geral, as entidades filantrópi-
cas reúnem voluntários que prestam serviços às pessoas ou famílias carentes
de recursos, sejam materiais, sociais, estruturais, psicológicos, entre outros.
O Grupo da Longevidade Viva a Vida, ao longo da sua existência, tem pro-
tagonizado ações de solidariedade e de filantropia, devido ao seu compromisso
com as pessoas e com a comunidade na qual está inserido. Os participantes
têm um olhar inclusivo e de solidariedade com aqueles que precisam de ajuda
ou apoio. Os seres humanos, a despeito de todos os possíveis defeitos, são
seres sociais, capazes de desempenhar atos providos de empatia, altruísmo e
generosidade para com nossos semelhantes. As atividades solidárias e filan-
trópicas engrandecem o grupo enquanto pessoas que buscam tornar o mundo
um lugar melhor, mais receptivo e mais aprazível de viver.
Essa forma empática de ver e agir no mundo tem motivado o Grupo da
Longevidade Viva a Vida a realizar inúmeras ações em diversos locais como
hospitais, casas geriátricas, casas de apoio a população vulnerável, creches,
entre outros. O grupo tem participado de atividades em favor do coletivo e
da comunidade, entre elas: campanhas de solidariedade para arrecadação de
fundos para a compra de material necessário ao funcionamento da Unidade
de Saúde Conceição; campanha de arrecadação de alimentos para entidades
filantrópicas ou grupos populacionais vulneráveis; campanhas de confecção
de agasalhos e enxovais para recém-nascidos do berçário da maternidade do
Hospital Criança Conceição; campanhas para arrecadar brindes e brinquedos
para as crianças carentes da comunidade em ocasiões como Natal, Dia da
Criança, Páscoa, entre outras; campanha para arrecadação de recursos para
compra de material e confecção de máscaras para proteção durante a pan-
demia do Covid-19 dos profissionais de saúde do Hospital de Clínicas, da
Unidade de Saúde Conceição, do Hospital Conceição; para profissionais e
moradores da casa lar de idosos Calábria, para profissionais e moradores da

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 103


Associação de Cegos Luis Braile, para profissionais e crianças em situação
de vulnerabilidade social acolhidos na Casa SOS Acolhida; campanhas de
arrecadação de alimentação e agasalhos para os moradores da Associação
Educacional e Beneficente Emanuel.
As atividades ocorreram em diferentes situações, algumas na forma
de campanhas e outras de forma mais continua, como exemplo, a forma-
ção de um grupo de voluntários para trabalhar com os moradores da Vila
Chocolatão, em março 2010, com o objetivo de desenvolver atividades
educativas em diversas áreas para o desenvolvimento pessoal/trabalho, para
o resgate de valores, da cultura, da auto-estima, entre outros. Apresenta-se
alguns relatos das participantes que demonstram a grandiosidade dessas
ações coletivas de filantropia e solidariedade na comunidade.
Comecei a frequentar o grupo quando ainda era lá nos metalúrgi-
cos. Foi casualmente fiquei sabendo de um passeio que uma amiga me
convidou e a diretora era a Benoci. Nunca pude ajudar na diretoria
por ter épocas difíceis na minha vida como perda do marido quando
ele tinha 48 anos. Os três filhos não eram formados ainda, essa época
não foi fácil. Depois assumi o cuidado da sogra, durante 20 anos, que
faleceu com 103 anos no ano passado (2019). Assim foi minha vida
por um tempo. Quanto as palestras nas tardes de quarta os temas
sempre foram muito proveitosos. As palestras marcam a vida da gente.
Sempre trazem uma coisa nova e sempre a gente leva uma coisa boa
para casa. Sempre adorei o grupo e reservei as quartas para estar
lá. Também, me dediquei a fazer roupinhas, travesseiros com lençóis
para serem doadas para as crianças no hospital. Gostei muito desta
função. Quando comecei a fazer os pijaminhas para as crianças, o
grupo ainda pertencia ao posto do Conceição. Fiz umas camisolas
para minha irmã que ficou doente, cuidei durante 12 anos, faleceu ano
passado (2019) e meu cunhado me devolveu elas. Arrumei as camisolas
e deixei bem direitinho, então doei para a Inês que tem a mãe doente
numa geriatria. Adoro fazer doação. Estou sempre olhando e fazendo
por quem precisa de ajuda. Fui esses dias a Ilha dos Marinheiros
levar doações. Em uma casinha bem humilde conheci a Rita dei a ela
roupas que costurei. Levei lençóis, fronhas roupinhas de criança e pedi
à Rita que ela levasse e desse as pessoas que mais precisavam. A Rita

104 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


moradora do lugar conhece quem precisa. Também fiz agasalhos para
doar para moradores da Associação de Mudos e Surdos no galpão dos
Brigadianos. E estou empenhada em fazer mais: preparando na costura
pijamas para ajudar aquecer o pessoal da Associação, especialmente
nestes dias de inverno rigoroso.
(Maria da Graça Hahn – membro do grupo)

A gente fazia visitas para as crianças internadas no Hospital da


Criança. Na páscoa a gente se vestia de coelhinho e dançava no
corredor para as crianças. Fazíamos roupinhas para os bebês re-
cém-nascidos. No começo cada uma fazia o que podia e nós mesmas
levávamos e entregávamos para as mães, depois a gente entregava
para a enfermeira. Mais adiante começamos a fazer a campanha
da lã para juntar e começamos a fazer o enxoval completo. Já era
então na época da Benoci na diretoria. Depois veio um tempo que
cuidei do meu filho que adoeceu. Eu cuidava dele na Oncologia e
quando perdi meu filho fiquei muito em casa, não conseguia ir mais
lá porque lembrava muito dele. Continuei fazendo as roupinhas só
não entregava. Fiquei muito tempo sem sair mais de casa.
(Teresinha do Nascimento – membro do grupo)

A gente fazia roupinhas paras crianças. Eu sempre estava muito


ocupada e então dava retalhos que sobravam das minhas costuras
para a Odete fazer as roupinhas.
(Maria Josefa Ferreira – membro do grupo)

Lembro que a gente fazia roupinhas de lã, bermudinhas de retalhos


para as crianças do hospital.
(Maria Nerci Amato – membro do grupo)

Fizemos trabalhos especiais com cantos e danças em hospitais,


asilos, com doações de comestíveis não perecíveis (leite, arroz, feijão,
sucos etc). Muitas atividades para ajudar as pessoas que precisavam.
(Therezinha Lopes - membro do grupo)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 105


Sempre fizemos trabalho para ajudar as pessoas. Lembro da gente
fazer roupinhas para as crianças da maternidade. Fizemos campa-
nhas e entrava quem podia e quem sabia fazer crochê ou tricô para
fazer as roupinhas, outras traziam roupinhas prontas, outras traziam
lã para fazer as roupinhas. Outras traziam roupas de banho, cadeira
de rodas, ranchos de alimentação. Quando o Erni morreu eu tinha
gasto quase 800 reais em medicação. Doei os remédios que sobraram.
(Nelci Godoy – membro do grupo)

Na época da Mariazinha a gente sempre fez esses trabalhos para a


comunidade, fazíamos roupinhas para as crianças, enxovais e fomos
num asilo de idosos no Jardim Itu. Lá a gente fez uma apresentação
para os idosos. Eles ficaram muito faceiros. Fizemos a apresentação
com a orientação da Ellen da dança “Banho de Lua”. Lembro que
era uma casa muito chic.
(Geni Barros – membro do grupo)

Quando entrei no grupo era a Benoci a presidente. A Regina já


me conhecia e fazia uns três meses que eu estava no grupo. A Regina
me convidou para trabalhar na parte social, na parte de doações. Ela
sabia que eu gostava muito, que eu gostava de ajudar. Eu sempre gos-
tei de fazer para dar, aí me entusiasmei. Uma vez fomos no Hospital
Conceição e eu passei muito mal. Via os nenenzinhos com soro pen-
durado fiquei muito preocupada e aí eu fui um dia para entregar umas
roupinhas que a minha mãe sempre fazia com as amigas dela para
dar e eu comecei a fazer e dava no Hospital Conceição. Comecei a
entusiasmar o pessoal para trazerem novelos de lã e foi indo até que
chegou naquele brechó que nos montamos para vender e ter dinheiro
para fazer as roupinhas e também, pra comprar os ranchos pra entregar
no fim do ano. Fizeram a campanha do leite, conseguimos um ônibus
e arrumamos não sei quantos litros de leite para levar no Asilo Padre
Cacique. Quando chegamos lá a pessoa que nos recebeu mandou jogar
as caixas no chão. Eu fiquei com muita raiva. Nem deram bola para
nós e nós fomos para dentro e daí a Marilda da dança fizeram uma
apresentação para eles. Outra vez a Zhélide arrumou para ir na SPAM

106 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


e fomos lá fazer doação e o pessoal da dança fez a apresentação para
aqueles vovôs e vovós e depois cada pouco de roupa que sobrava dos
nossos brechós eu levava com meu carro lá na SPAM.
(Mariazinha Zancani - ex-diretora do Viva a Vida)

Nós íamos no Asilo Padre Cacique. A gente levava caixas e caixas


de leite e rancho. Fazíamos roupas para as crianças. A gente fazia
as roupinhas e levava no hospital. A Orzina fazia sapatinhos e casa-
quinhos de tricô. Fizemos isso muitas vezes. Nosso grupo fez muita
coisa. Muitas. Também, o nosso grupo ajudou muito esse Conceição.
Uma vez fizemos um galeto para o aniversário da unidade Conceição
e para homenagear o Dr. Felipe Matos. Ele atendia muitos idosos
que gostavam muito dele. Fizemos uma reunião na casa do Chico que
foi um programa de televisão para homenagear o Dr. Grossman no
aniversário dele. Saiu na TV domingo de noite. Nem sempre fomos
valorizados. Eu recebi uma placa de prata.
(Regina Lima – ex-diretora do Viva a Vida)

Sobre as roupinhas para os bebês, a gente levava roupas e fazia


brechós para arrecadar dinheiro e comprar os enxovaizinhos para as
crianças do Conceição. As vendas do brechó eram nosso jeito para ar-
rumar dinheiro e comprar as roupinhas para as crianças. Fazíamos vi-
sitas tanto no Hospital Conceição quanto no Hospital Cristo Redentor.
(Maria do Carmo Famer – membro do grupo)

REFERÊNCIAS
BEDRAN, B. A arte de cantar e contar histórias: narrativas orais e processos
criativos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
MELLON, N. A arte de contar histórias. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
HOUAISS, Antônio. Pequeno Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Porto
Alegre: Editora Moderna, 2015.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 107


108 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 109
110 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
7 ASLONGEVIDADE
VIAGENS DO GRUPO DA
VIVA A VIDA
“Viajar nos torna pessoas melhores, pois ficamos mais
sociáveis, mais humildes, mais confiantes, melhores na
arte de conversar, mais adaptáveis, mais aventureiros,
mais espertos, mais felizes, mais pró-ativo, mais
independente, mais ouvinte e menos materialista.”
(Eduardo Vieiro).

“Viajar é educativo, uma oportunidade de aprender na


prática sobre novas culturas e idiomas, uma oportunidade de
aprender mais sobre história, arquitetura, arte, música, moda,
tecnologia e tantas outras coisas. É como uma enciclopédia
melhorada, já que a leitura é substituída por vivências únicas.”
(https://blogdointercambio.stb.com.br).

Já nos seus primeiros encontros viajar juntos para diversos lugares


sempre foi um desejo do Grupo da longevidade Viva a Vida e este objetivo
está descrito na sua ata de formação. Esta foi uma demanda proposta pelos
participantes e que se tornou uma das ações, realizadas anualmente, pela
diretoria do grupo. Desde então, as viagens acontecem evidenciando que
viajar ajuda os idosos a estabelecerem novas amizades, a fortalecer os re-
lacionamentos e sua rede social.
Ao planejar os capítulos do livro, sobre a história do Grupo da
Longevidade Viva a Vida, fui listando as diversas áreas, nas quais foram
propostas e realizadas atividades. Portanto, não poderia deixar de ter um
capitulo para relatar as histórias das viagens que o grupo tem feito. Tentei de
maneira leve, alegre, descontraída contar como tem sido a promoção destas
viagens em grupo e foi muito bom lembrar de fatos pitorescos, alguns dos
quais tive oportunidade de participar.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 111


Para contar essas histórias reuni os relatos de participantes sobre as lem-
branças de viagens, registros em jornais, folhetos com roteiros e programação
de passeios, propaganda dos locais e empresas que promoveram a atividade,
relato sobre atividades realizadas e sobre as atrações dos lugares visitados,
relato sobre as motivações para o itinerário e a escolha de alguns lugares, nos
quais a apresentação do grupo estava incluída entre as atrações da viagem.

7.1. O PLANEJAMENTO DAS VIAGENS


À medida que fui conversando com ex-diretores e com os participantes
atuais e ex-participantes do grupo, fui coletando informações sobre os
diferentes tipos de viagens realizadas, entre elas excursões para diversos
lugares turísticos, passeios pela cidade, visitações a determinados lugares
em Porto Alegre ou próximos a capital, viagens para o grupo se apresentar
em eventos, entre outros.
Participei de várias viagens e posso dizer que aprendi a viajar com essa
turma, também que para qualquer deslocamento com o grupo era neces-
sário planejamento e muita responsabilidade. A Diretoria sempre teve um
papel importante e muita responsabilidade pela condução do grupo, tanto
nas viagens de curta duração quanto as mais longas, especialmente sob o
ponto de vista distância de Porto Alegre, o tempo de permanência, os custos
por pessoa, a forma de acerto dos valores previamente, a programação do
coletivo durante a estadia nestes lugares.
Nos depoimentos aparecem detalhes de todas essas etapas, os prepa-
rativos, a pactuação do local e do roteiro, as dificuldades relacionadas a
questões econômicas ou de se ausentar em casa, decisões sobre o destino,
custos, contratos, o compromisso dos responsáveis pelo grupo, as divisões
das acomodações no lugar de destino, a companhia até no assento de viagem
do ônibus, entre outros.
Para as viagens que nós conduzimos, eu e uma turminha que me
ajudava, cada uma pegava uma turma de umas 20 mulheres e cuidava
delas. Para cuidar do bem-estar nos lugares onde a gente ia, para se
manterem juntas, para não comerem demais (risos). Tudo era conver-
sado. Eu era o anjo da guarda, cuidava delas nos passeios. No meu

112 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


tempo eu fazia sanduíches para levar nas excursões. Fomos à Ilha
da Pintada, fizemos uma festa lá, foi maravilhoso. Era no tempo do
Vicente. Viagens com festa de encerramento do ano.
(Regina Lima – ex-diretora do Viva a Vida)

O pessoal sempre preferiu passeios curtos, ir e voltar no mesmo dia


era o mais frequente, foi o que mais fizemos mais durante o tempo que
estive na diretoria. Nós viajamos muito, fizemos muitas viagens jun-
tas. Fomos à Nova Petrópolis, Gramado, Canela, Veranópolis, Bento
Gonçalves (Maria Fumaça), Caldas do Prata, Quinta da Estância
Grande, Santo Antônio da Patrulha (Parque da Guarda), Termas do
Gravatal (Santa Catarina), Tubarão (termas da Guarda), Piratuba
(termas de Piratuba), Machadinho (termas de Machadinho), Itá (termas
de Itá), Treze Tílias (Santa Catarina), Marcelino Ramos, Curitiba, São
Paulo, Rio de Janeiro, Parati, Espírito Santo, Guarapari, Cachoeira do
Bom Jesus, Ilha Redonda, Rio Grande, Pelotas, São Lourenço, Santana
do Livramento, Rivera (Uruguai), Tramandaí (Jogos da Terceira Idade)
Itapeva, Torres (Sítio recanto das Palmeiras). Foram muitos lugares.
(Mariazinha Zancani – ex-diretora do Viva a Vida)

Quando a senhora (Dra. Cristina Lemos) foi para o Timor Leste,


eles ficaram inconsoláveis, vi que nas reuniões mesmo que houvéssemos
combinado o que seria abordado e que a senhora passava os assuntos
por e-mail, não era o mesmo clima. Era uma lamúria, uma choradeira.
Resolvi então fazer um questionário, perguntar qual era o sonho deles,
o que gostariam de fazer. E o sonho de todos era viajar. Meu marido
naquela época tinha conhecidos e estava na diretoria da ADESBAM
e tinha colônia de férias em Florianópolis e podíamos conseguir hos-
pedagem nos apartamentos da Associação do Banco do Brasil por
um preço simbólico e a despesa foi só com o ônibus e a excursão saiu
por 5 vezes para o mesmo lugar. Começávamos a pagar 6 a 8 meses
antes da viagem. E as viagens para Florianópolis aconteceram muitas
vezes. Outros grupos da cidade e de Canoas quiseram ir também, então
o Viva a Vida organizava e levava esse pessoal todo para as viagens.
(Benoci Kersting – ex-diretora do Viva a Vida)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 113


Acredito que a maioria dos idosos tem histórias para contar a respeito
das viagens feitas com o grupo, tenham sido elas longas, curtas ou passeios
de um dia. Para não tornar esse capítulo apenas uma lista com tópicos sobre
viagens, destinos, datas como se fosse um relatório resolvi ir atrás de depoi-
mentos dos participantes sobre essas viagens. A ideia é contar essas histórias
e seus aspectos pitorescos na forma de depoimentos, como uma linha do
tempo conduzida pelas memórias dos participantes sobre as viagens que o
grupo realizou. É uma tentativa de tornar a leitura do capítulo mais leve,
divertida, descontraída, como foram essas viagens para o grupo.
Lembro de muitas passagens e cada uma das viagens tem suas
passagens. Algumas foram muitas engraçadas, mas houve outras que
foram pesadas e que nos causavam preocupação porque a gente era
responsável por elas. Havia uma senhora que só viajava se fosse no
primeiro banco. A Ieda me ajudava a cuidar. Houve uma ocasião que
tivemos compromisso com o grupo para apresentar dança em Cidreira
na mesma data que tinha uma excursão para Gravatal. A Ieda foi
com a turma para Gravatal e, também, essa senhora que só viajava
se fosse deixado para ela o banco da frente. Foi o maior problema,
essa pessoa não dormiu a noite inteira, passou o tempo todo pedindo
para voltar e a Ieda teve de ligar para filha dela esperar a pessoa
na rodoviária de Porto Alegre, colocou ela num ônibus, no primeiro
banco, e mandou ela de volta para Porto Alegre. Quando tu organi-
za uma viagem, tem de pensar em tudo até no que os participantes
vão esquecer. Sempre se chamava atenção para não esquecerem
os remédios que tomavam, deixá-los a mão. Mas, mais de uma vez,
aconteceu de ter que pedir para o motorista parar o ônibus no meio
da viagem e ir ao porta malas para pegar a mala e daí pegar os
remédios que a pessoa deixou. Esqueceu de ter a medicação à mão
na hora de tomar. Ao mesmo tempo em que aconteciam essas inco-
modações comuns, também aconteceu da pessoa não gostar do lugar
na chegada, reclamar do banho ou então a queixa mais comum que
era reclamar da comida. Mas para compensar tem aquelas parcei-
ras que são engraçadas, leves como, por exemplo, as que adoravam
perambular pelos hotéis para ir aos bailes. Tiveram algumas que até

114 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


saíram do local e foram parar em outro baile. Finalizada a noite,
nós esperando e nada das companheiras aparecerem. Foram parar
em outros bailes que descobriram em outros hotéis e não avisaram.
Fomos uma vez a um lugar muito longe, viagem longa, Ilha Redonda
(Santa Catarina). Não tinha nada de diversão, baile ou atividades
que “entretecem” e lembro que nós inventamos o que fazer, foi uma
diversão. Fizemos e apresentamos para os outros hóspedes uma peça
de teatro. Nos fantasiamos de diferentes personagens, eu lembro que
eu fiz um personagem que engravidava e, no dia seguinte, na continui-
dade da brincadeira eu peguei emprestado da filha do dono do hotel
uma boneca e apresentei a turma como se meu bebê tivesse nascido
(risos). Pai desconhecido. A turma achava muita graça. Sempre al-
guém inventava alguma brincadeira, alguma coisa para fazer com
todo mundo e poder se divertir, procurar o lugar mais apropriado
até porque todo mundo queria era diversão, alegria, descontração.
(Mariazinha Zancani – ex-diretora do Viva a Vida)

Geni conta que guardou todos os panfletos sobre os locais para onde as
viagens foram realizadas:
Tudo era muito organizado para as viagens. Eu fiz muitas viagens.
Conta Lembro das viagens com os detalhes de datas, horários e pro-
gramação. Como as que fizemos para São Lourenço do Sul, do passeio
ao Parque da Guarda em Santo Antonio da Patrulha, as termas de
Machadinho, entre outras. Em São Lourenço do Sul (RS) teve passeio
nas praias, visitação ao centro de artesanato, ao centro da cidade,
ao museu. Visitamos, também a casa de cucas caseiras, a fábrica de
chocolate, a igreja e outros atrativos como passeio de barco até a
fazenda com sobrado antigo - Casa de Donana (Ana Joaquina, irmã
de Bento Gonçalves). Também, teve passeio de charrete e almoço
campeiro e à noite, após o jantar no hotel, nos divertimos com música
e dança. No Passeio ao Parque da Guarda Santo Antonio da Patrulha
(RS) passamos um dia maravilhoso junto a natureza, conhecemos um
pouco da cultura da colonização Açoriana. Desfrutamos de atividades
como passeio de trenzinho dentro da estrutura do parque. Ainda, teve
peça de teatro, uma parada na Moenda Antiga para tomar caldo de

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 115


cana gelado. Visitamos o Museu da Cachaça e Alambique, tivemos
aula de hidroginástica, andamos de pedalinho. O passeio contou
ainda com baile e jogo de bingo. Na Viagem a Machadinho (RS)
estivemos hospedados em um hotel que oferecia 5 refeições diárias
e acesso ao parque de águas termais com várias piscinas e jogo de
boliche. Momentos incríveis.
(Geni Barros – membro do grupo)

No dia 26 de novembro de 2019, fizemos um passeio no Vila


Ventura, foi assim, no princípio não queriam ir, mas depois, quem
não foi se arrependeu. Gostaram muito das brincadeiras, danças e
do divertimento. A mesa foi farta com muita coisa gostosa no café da
tarde desfrutado pelos grupos reunidos no passeio. O Vila Ventura
(Viamão-RS) é um lugar bonito e foi explorado, curtido durante todo
o dia de passeio. Desde o percurso para lá o grupo foi só alegria
contagiante e muita descontração. Esses passeios são assim, acabam
terminando em festa. Todo mundo se entrosa, os amigos aparecem. Já
nos primeiros momentos dos encontros a cada ano já querem saber
quando vai ter festa, quando vai reiniciar as viagens.
(Nelci Godoy – membro do grupo)

Os passeios foram muito bons. Uma vez fizemos um passeio num


lugar lá no Guaíba. Fizemos uma festa durante nosso almoço.
(Maria Nerci Amato – membro do grupo)

A gente fazia muitos passeios, lembro da colônia de férias da


ADESBAN. Tinha muita diversão, mas os conflitos nas viagens
também aconteciam. Fomos duas vezes para Ilha Redonda, águas
termais de Santa Catarina. Uma vez ficamos 8 dias num lugar que
não tinha diversão, então a gente fazia peças de teatro. O José sempre
gostou muito de humor, então ele fazia representação da Escolinha do
Professor Raimundo e o pessoal adorava. Uma vez foram 2 ônibus,
eram 90 pessoas. A Alzira se apresentava conosco, mas já andava
bem atrapalhada e não achava as coisas dela. Uma vez passou to-

116 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


dos os dias procurando as coisas que ela dizia que tinha levado e o
pessoal não acreditava, achavam que ela estava era atrapalhada.
No último dia, quando eu passava de porta em porta das casinhas
onde estávamos acomodadas, chamando o pessoal para irem para o
ônibus e a maioria já estavam prontas e com as malas feitas na porta,
eu enxerguei no fundo de uma das cabanas uma mala que não era de
ninguém. Era a mala da Alzira que passou os 8 dias procurando as
coisas dela e o pessoal achando que ela estava variando.
(Jessi Nunes da Silva – membro do grupo)

Lembro que o José descobriu um lugar com preços bem acessíveis


na Ilha Redonda (Santa Catarina), colônia de águas térmicas. Hotel
simples, não tinha mármore, não tinha frescura. Isso desagradou
algumas que providenciaram outro hotel na cidade. A maioria ado-
rou aquele lugar simples. Fizemos viagens para as águas termais de
Piratuba. No dia que fomos, a previsão era que choveria como de
fato aconteceu e o programa alternativo era ir ao Santuário da Santa
Paulina com a turma toda para assistir à missa. Tu não imagina o
que foi aquilo! Emoção, choravam de emocionadas e Santa Paulina
passou a ser viagem obrigatória. Fomos abril, junho, julho, agosto,
setembro, novembro. Três viagens por ano, duas para Florianópolis
e outra para Ilha Redonda. Tanto fazia o lugar, queriam era viajar.
A primeira vez que fomos a Florianópolis tu não tem noção de como
foi a emoção, choradeira dentro do ônibus. Entramos pela ponte
antiga, elas se emocionaram demais por estar lá pela primeira vez
entrando em Florianópolis.
(Benoci Kersting – ex-diretora do Viva a Vida)

As viagens eram muito boas, lembro da época que a diretora era


a Benoci. Ela era presidente e, em 2002, fomos fazer um passeio pra
Florianópolis nos hospedamos na ADESBAM em Cachoeira do Bom
Jesus. Então fomos conhecer o centro de ônibus de linha. A Benoci
separou a turma de 10 em 10 para a gente não se perder recomendou
que não era para nos separarmos. Fomos na igreja no centro nas lojas

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 117


e depois tinha de pegar o ônibus para voltar para o lugar onde a gente
estava. A Benoci recomendou para nós conhecermos as igrejas, fazer
compras e depois pegar um ônibus e todo mundo esperar na parada
no fim da linha onde era para a gente se encontrar. Lembro que teve
uma turma que passou da parada e a Benoci se vira e cadê a fulana,
a fulana e a fulana. Ainda bem que esperaram lá no fim da linha e
no fim deu tudo certo. A gente era muito foliona e estava louca por
um baile. Fomos atrás do baile e não achamos. Vou lhe contar esse
passeio depois eu conto outro. Tinha uma pousada em que fomos divi-
didas em 5 para cada quarto. Os que eram casais que estavam acom-
panhadas com os maridos ficavam separadas. Fiquei com a Regina
a Neida, a Germina e a Teresinha. A gente comprava pizza de uma
mocinha que vinha na porta dos quartos vender e dividia. Quando
a gente passeava comprava doce de leite, rosca e salgados e sempre
dividia. Teve uma vez que a Regina disse vamos comer uma coisa
mais forte, uma coisa de sustância. Vamos comer ovo frito. Pensei não
vamos comprar azeite só por causa disso. A Regina arrumou o azeite
com uma vizinha e fritamos os ovos com salsicha e pão. Oferecemos
pra Teresinha, mas ela não quis, tinha as coisas dela. De tarde não
tinha nada para fazer e nós não queríamos mais ficar na piscina. A
mulherada toda sentada tomando chimarrão e eu disse pra Regina e
a Neida vamos fazer alguma coisa. Vamos fazer uma coisa no nosso
quarto e pensei numa coisa psicodélica, um desfile de lingerie. Eu
tinha levado um biquíni bem pequenininho, vermelho, arrumei uma
flor vermelha para botar no cabelo e as gurias me emprestaram um
robe vermelho, a Regina de cor-de-rosa, a Germina toda de roxo e
a Neida era a mãe do bordel. Puxamos um cortinado no quarto. A
Neida chamou as gurias e nós nos apresentamos. Essas gurias se
mataram de tanto rir. Nós temos de inventar coisas para fazer. À
noitinha todo mundo nos seus quartos nada para fazer, então eu e a
Regina inventamos de fazer uma serenata para incomodar os casais.
Pegamos de tudo lata tampa, pandeiro, inventamos uns instrumentos
e andamos na volta dos quartos cantando que “beijinho doce que
você tem” (risos). A Benoci ficou louca! Como vocês são medonhas,
vão se sossegar, vão dormir. Fizemos isso lá porque não tinha nada

118 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


para fazer (risos). Na volta a turma descia nas tendas na estrada
para fazer compras e a Eloisa aceitava e pedia pedaços de linguiça
que ofereciam de tira gosto. Comeu tanto, mas tanto que depois ficou
com o apelido de Eloisa Linguiça. Isso foi em Florianópolis.
(Maria Josefa Ferreira – membro do grupo)

Todo o ano fizemos alguns passeios os quais são oportunidades


de relaxar, sair da rotina, ter contato com a natureza, estreitar laços
com os amigos. Como o passeio a Viamão (Vila Ventura), em que
foram todos os grupos da terceira idade da zona norte. Adorei tam-
bém o passeio ao parque da guarda. Estar nessa caminhada com os
amigos do Viva Vida tem sido só motivo de comemoração e de alegria
para minha vida. Muito obrigada Dra. Cristina por me acolher e me
proporcionar tantas alegrias.
(Maria Teresa Soares – membro do grupo)

Em viagens, especialmente excursões, nem sempre tudo foi alegria,


também aconteceram contratempos, alguns imprevistos leves outros preo-
cupantes, mas que em geral conseguimos resolver e superar. Lembro que
fui com o grupo para uma participação nos Jogos de Integração das Pessoas
Idosas (integração de gerações), em Tramandaí. O nosso presidente na
época, o Chico, acertou com um restaurante para servir o almoço para o
grupo. Esse mesmo restaurante, também, se comprometeu a servir a diversos
ônibus de excursões de idosos, de vários lugares, não conseguindo servir o
almoço a todos que chegavam. A administração dos grupos passou a ajudar
tentando conseguir acomodar as pessoas para esperar pelo almoço, uma
vez que o pessoal do restaurante se via em situação difícil que precisava
ser contornada. Após ajudar na busca de cadeiras e mesas na prefeitura,
entre outros, me acomodei na sala de entrada do restaurante para descansar
e esperar minha vez para ir almoçar, quando o pessoal do grupo já tivesse
sido servido. Esperava que se a situação não tivesse sido resolvida, pelo
menos estaria aliviada em parte. Então, uma senhora do Viva a Vida passa
por mim muito contrariada e cheia de queixas pelo serviço do restaurante,
mas já tendo almoçado e me diz “para comer sagu de sobremesa eu fico

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 119


em casa!”. Superado os contratempos do almoço e já na hora de voltarmos,
depois de ter sido avisado e combinado o horário do retorno, e que todos
deveriam estar no ônibus nota-se que faltava uma senhora. Cadê a fulana:
ficara na Igreja! Muitos dos nossos passeios foram verdadeiros desafios
organizacionais, de convívio, de tolerância com a diversidade e com os
imprevistos do local, do tempo e do comportamento individual dentro do
coletivo, mas persistimos e a cada ano buscávamos mais excelência na
promoção das viagens.
Outra história que merece um relato foi uma das viagens do grupo que
foi ao meu sítio Recanto da Palmeiras, em Itapeva (Torres-RS). Foi no ano
em que eu e meu companheiro (Rudi) havíamos construído uma hospeda-
ria no local. É um lugar lindo no litoral, fazendo divisa com a mata que é
parte da Reserva Estadual de Itapeva. Planejamos o passeio, acertamos o
horário, planejamos como seria o almoço, lanches, etc. Uma colega minha a
Dra. Mary que cozinha muito bem veio com o marido e toda a estrutura de
panela e fogão para fazermos um almoço para cinquenta e poucas pessoas.
Tudo combinado, ambiente preparado ficamos esperando e daqui a pouco
começaram uma série de telefonemas, o ônibus com a turma tinha tomado
uma direção diferente e foi bem atrapalhada a chegada. Como o sítio fica
no final de uma estradinha de chão batido o ônibus acabou entrando no
pátio do sítio vizinho. Como toda a área em frente ao sítio do vizinho era
um campo com terreno arenoso o ônibus atolou. Foi muita dor de cabeça
para resolver a questão do ônibus atolado no pátio do vizinho que saiu na
porta da casa sem saber do que se tratava. Tinha um ônibus atolado no pátio
dele de onde saiam em sequência idosos muito felizes por finalmente terem
chegado ao destino e encantados com o lugar. Desculpei-me com o vizinho
e expliquei a situação e ao longo do dia entre os afazeres para preparar
muita coisa boa para comer e acompanhar os idosos nos passeios pelo local,
tivemos a tarefa de desatolar o ônibus para que pudessem voltar no fim do
dia. Muitas desceram preocupadas com a volta e foram tranquilizadas. Não
foi fácil a façanha de retirar o ônibus. O motorista era muito gordo e não
conseguia entrar embaixo do ônibus para engatar o macaco. Foi feita uma
certa escavação no terreno, mas não resolveu. Foi preciso ser providenciado

120 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


um trator para ajudar desatolar o ônibus. Naquele dia o dono do trator estava
num rodeio, então meu companheiro, o Rudi, precisou ir ao tal rodeio para
pegar a chave do trator e finalmente à tarde desatolaram o ônibus. Rudi, o
motorista e o Ciro (marido da Eraci) participaram ativamente da façanha
de desatolar o ônibus. Resolvido os acidentes de percurso, a sequência dos
acontecimentos foi uma verdadeira alegria, brincadeiras, caminhadas e
contentamento por conhecerem o sítio da Dra. Cristina. Por conta da irregu-
laridade de algumas partes do terreno e, também, porque algumas senhoras
tinham dificuldade de caminhar, a Mariazinha que era nossa presidente na
ocasião, recomendou muito cuidado para retornar ao ônibus, o que não foi
observado, pois algumas senhoras, muito apressadas, saíram praticamente
correndo para entrarem no ônibus e garantirem os primeiros lugares e uma
delas caiu. Nos deu um susto, mas felizmente foi só uma escoriação no
joelho e o dia acabou com todo mundo indo embora feliz!
Finalizando essa história eu comprei um presente para o meu vizinho de
sítio e ficou tudo bem, apesar do pátio dele ter ficado todo esburacado. As
viagens foram momentos muito importantes para os idosos, uma oportuni-
dade de sair, conhecer lugares, conviver com pessoas diferentes, enfrentar
novos desafios e por isso são relatadas com tanto entusiasmo e, mesmo os
contratempos enfrentados nunca desestimularam o seu planejamento. As
diretorias e seu grupo de apoio para viagens, foram se tornando especialis-
tas na condução de passeio com idosos e na prevenção de intercorrências.
Finalizo o capítulo com mais alguns depoimentos que falam dessa riqueza:
O trabalho de realizar passeios com o grupo sempre foi muito
intenso, às vezes desgastante, mas muito gratificante. Lembro da fes-
ta de 80 anos da Edi, foi na colônia de férias da ADESBAM. Quase
todas nunca tinham entrado numa piscina. São momentos que ficam
muito vivos na lembrança da gente, tanta emoção, são lembranças
muito gratificantes. O trabalho também exigia muita responsabilidade.
Lembro que os filhos de algumas senhoras me davam o dinheiro para
ir administrando aos poucos durante a viagem. Tinham algumas que
precisavam ser controladas, senão compravam tudo, no primeiro dia
gastavam tudo que tinham. Era uma tremenda responsabilidade. Teve

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 121


o caso de uma das senhoras que a filha me deu o cartão dela para eu
controlar os gastos. Ela voltou de um passeio com uns 20 vestidos que
queria comprar de uma moça que vendia na praia. Veio pedir para
que pagasse com o cartão dela. Menti que tinha esquecido a senha e
pedi para a vendedora que voltasse mais tarde. Trabalho muito inten-
so, desgastante, mas muito gratificante. Ver a felicidade das pessoas,
ver o bem que se está fazendo para alguém, isso nos faz feliz também.
(Benoci Kersting – ex-diretora do grupo)

A Neida do João, dava aula de canto. Tinha pasta com tudo or-
ganizado para as apresentações em viagens. Em Piratuba fizeram
uma apresentação muito legal. O grupo do coral se apresentava com
capinha godê todas iguais, que a Josefa fazia, e calça preta”
(Benoci Kersting – ex-diretora do grupo)

Sobre viajar, foi muito bom. Podíamos ir pra Águas termais e


outros passeios. Acho que o grupo melhorou muito com o esforço
dessa diretoria em levar as pessoas para fazer passeios.
(Lorena Medina – membro do grupo)

No grupo tinha os passeios, sempre muito bons. Alguns não pude


ir porque foi quando dava de ser nos dias que minha mãe estava in-
ternada. Sempre que pude, fui e achei muito bom de fazer os passeios.
(Inês Balestro – membro do grupo)

Lembro de uma vez que fomos a Tramandaí naquela época partici-


pava o João e a Neida. Estava a Regina, a Josefa e a Norma (sobrinha
dela). A Regina estava no quarto comigo. Estávamos em uma colônia
de férias. De noite elas foram para o baile. Tinha de pegar um ônibus.
Eu não fui junto. Fechei o quarto e esqueci da Regina que quando
voltou do baile arrombou a janela para poder entrar e dormir. Na
noite seguinte fizeram a mesma coisa, saíram para os bailes. Eram
medonhas. As viagens, os passeios eram um festival, muita alegria.
(Ismélia Walssaimer – membro do grupo)

122 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 123
124 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
8 ASE PRÁTICAS INTEGRATIVAS
COMPLEMENTARES E A
ESPIRITUALIDADE
“A espiritualidade constitui-se em poderoso fator de suporte
para enfrentar desafios, frustrações e sofrimentos, além de
melhorar consideravelmente a saúde e a qualidade de vida.”
(Cristina Lemos).

“A saúde espiritual impacta a vida como um


todo, por isso é importante o desenvolvimento
espiritual para a manutenção do bem-estar.”
(Alessandra Guimarães).

Neste capitulo vamos contar sobre como se deu a abordagem no grupo de


idosos do tema espiritualidade e das Práticas Integrativas e Complementares
em Saúde (PICS). Estas temáticas foram introduzidas com o objetivo de
prestar uma atenção cada vez mais integral para aos participantes do grupo
de idosos, utilizando-se recursos disponíveis na comunidade, por meio do
trabalho voluntário. Não será possível relatar todas as PICS e trabalhos
relacionados à está temática porque muitas atividades, embora citadas nas
atas de reunião do grupo não foram registradas de forma detalhada.
No Brasil, o debate sobre as PICS começou a despontar no final de década
de 70, após a declaração de Alma Ata e validada, principalmente, em meados
dos anos 80 com a 8ª Conferência Nacional de Saúde, um espaço legítimo
de visibilidade das demandas e necessidades da população por uma nova
cultura de saúde que questionasse o ainda latente modelo hegemônico de
ofertar cuidado, que excluía outras formas de produzir e legitimar saberes
e práticas (BRASIL, 2018).
A construção da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
no SUS (PNPIC) iniciou-se a partir do atendimento das diretrizes e ­recomendações

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 125


de várias Conferências Nacionais de Saúde e das recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS). Em junho de 2003, representantes das associações
nacionais de Fitoterapia, Homeopatia, Acupuntura e Medicina Antroposófica
reuniram-se com o então ministro da Saúde, ocasião em que, por solicitação
dele, foi instituído um grupo de trabalho, coordenado pelo Departamento de
Atenção Básica, da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS), e pela Secretaria-
Executiva, com a participação de representantes das secretarias de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos e de Gestão do Trabalho e Educação na
Saúde, do Ministério da Saúde (MS); Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa); e associações brasileiras de Fitoterapia, Homeopatia, Acupuntura e
Medicina Antroposófica, para discussão e implementação das ações, no sentido
de elaborar-se a política nacional (BRASIL, 2015).
O Ministério da Saúde aprovou a PNPIC institucionalizando no Sistema
Único de Saúde (SUS) 29 práticas, são elas: apiterapia, aromaterapia, ar-
teterapia, ayurveda, biodança, bioenergética, constelações familiares, cro-
moterapia, dança circular, geoterapia, hipnoterapia, homeopatia, imposição
de mãos, medicina antroposófica/antroposofia aplicada à saúde, medicina
tradicional chinesa/acupuntura, meditação, musicoterapia, naturopatia,
osteopatia, ozonioterapia, plantas medicinais/fitoterapia, quiropraxia, refle-
xoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária integrativa, terapias florais,
termalismo social/crenoterapia e yoga (BRASIL, 2015).
Segundo o Ministério da Saúde, a política tem como objetivos (BRASIL,
2015):
• Incorporar e implementar as PICs no SUS, na perspectiva da prevenção
de agravos e da promoção e recuperação da saúde, com ênfase na atenção
básica, voltada ao cuidado continuado, humanizado e integral em saúde;
• Contribuir ao aumento da resolubilidade do Sistema e ampliação do
acesso à PNPIC, garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança
no uso;
• Promover a racionalização das ações de saúde, estimulando alternativas
inovadoras e socialmente contributivas ao desenvolvimento sustentável
de comunidades e;

126 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


• Estimular as ações referentes ao controle/participação social, promo-
vendo o envolvimento responsável e continuado dos usuários, gestores
e trabalhadores nas diferentes instâncias de efetivação das políticas de
saúde.
Essas práticas envolvem abordagens que buscam estimular os mecanis-
mos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de
tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desen-
volvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o
meio ambiente e a sociedade. Outros pontos compartilhados pelas diversas
abordagens abrangidas nesse campo são a visão ampliada do processo
saúde-doença e a promoção global do cuidado humano, especialmente do
autocuidado (BRASIL, 2015). Com a descentralização e a participação
popular, os estados e municípios ganharam maior autonomia na definição de
suas políticas e ações em saúde, vindo a implantar as experiências pioneiras.
Todo o trabalho realizado junto ao grupo por meio destas abordagens e
do uso de diferentes terapias propiciou novas formas de produzir e legitimar
saberes e práticas da comunidade.

8.1. PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES NO


GRUPO VIVA A VIDA
Desde o início do trabalho, na organização do grupo para promoção do
autocuidado e do cuidado da hipertensão arterial, ficava evidente que pre-
cisaríamos abordar, além das questões relacionadas à cultura e aos hábitos
de vida, as questões relacionadas às emoções, sentimentos, autoestima,
alívio do estresse, crenças, espiritualidade e os benefícios das práticas para
o resgate e manutenção da saúde. Estes temas têm sido importantes para
os idosos e compõem o mosaico da vida estando relacionado ao processo
de saúde-adoecimento.
Para relatar de forma mais fidedigna apresentam-se os depoimentos de
participantes e, também, de profissionais de diversas áreas que atuaram como
colaboradores no grupo contribuindo com seu trabalho e conhecimento. Por
haver consenso sobre os benefícios e a importância das práticas integrativas

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 127


e complementares no cuidado integral à saúde, iniciamos estas abordagens
com o apoio de profissionais voluntários que tinham conhecimento, vontade
e disponibilidade de promover encontros e oficinas com os idosos. Este
trabalho contou com atividades de diversas áreas, entre elas: xamanismo,
meditação, terapia do abraço, reflexologia, relaxamento, visualizações,
medicina tradicional chinesa, acupuntura, reiki, yoga, plantas medicinais,
fitoterapia, terapia de florais, biodança, dança circular, entre outras. A for-
mação da rede de profissionais e colaboradores foi muito importante para
realização destas atividades ao longo do tempo. Cada uma das práticas com
seus recursos específicos, ajudou na abordagem de emoções, sentimentos,
crenças, estresse e suas repercussões na saúde e qualidade de vida.
Destaca-se que os idosos aceitaram muito bem o auxílio que cada uma
das abordagens mostrava e relatam a utilização em seu cotidiano destes
recursos terapêuticos que foram aprendidos. Essas práticas tradicionais
auxiliam na prevenção de problemas como a depressão, contribuem na
redução dos níveis tensionais da pressão arterial, promovem a redução do
estresse, melhoram a qualidade do sono, entre outros benefícios.
As Práticas Integrativas e Complementares, desde os primeiros anos
do trabalho, foram bem recebidas e apreciadas pelos idosos. Percebe-se
um consenso no grupo sobre a importância destas práticas e tivemos nos
encontros oportunidade de conhecer diversas abordagens. As atividades
foram um sucesso e muito proveitosas, conforme depoimentos dos parti-
cipantes, todos os colaboradores foram muito bem-vindos e contribuíram
com a compreensão vivencial dessa proposta.

8.2. COLABORADORES QUE POSSIBILITARAM AS VIVÊNCIAS


COM AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES E
REFLEXÕES SOBRE ESPIRITUALIDADE
O Grupo Viva a Vida vem tendo a colaboração voluntária de profissionais
de diversas áreas, tanto de pessoas que trabalham com as práticas integrativas
e complementares quanto profissionais que auxiliam as pessoas na reflexão
sobre a espiritualidade e promovem práticas para ampliar a conexão interior.
A espiritualidade constitui-se em poderoso fator de suporte para enfrentar

128 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


desafios, frustrações e sofrimentos, além de melhorar consideravelmente a
saúde e qualidade de vida.
Nos encontros do grupo, nas quartas-feiras, apresentam-se informações e
propostas de trabalho com profissionais que são voluntários para desenvolver
atividades com os idosos. Essas proposições podem ter dias, horários e locais
diferentes dos dias e horários da reunião fixa do grupo. Nessa reunião veri-
fica-se o número de interessados na atividade, bem como a disponibilidade
para as datas proposta pelo voluntário. Com o grupo de interessados são
feitas as combinações específicas. Algumas práticas precisam de tempo e
continuidade, portanto precisam de um espaço especifico fora das reuniões
gerais, como por exemplo, a meditação, o reiki, o yoga. Essas atividades
aconteceram em dias e horários específicos conforme interesse dos idosos,
disponibilidade de local e do profissional voluntário.
Considerando o desejo do grupo e interesse em participar, houve em alguns
momentos a realização de práticas no grande grupo, na quarta-feira. O obje-
tivo foi de propiciar um primeiro contato com a prática para que pudessem
conhecer um pouco mais de forma vivencial. Neste sentido ocorreram sessões
de reiki, meditação orientada, relaxamento conduzido, exercícios guiados de
visualização, dança, entre outros, nos encontros das quartas-feiras.
Neste trabalho com temas relacionados à conexão interior, meditação
e a espiritualidade o grupo teve contato com vários profissionais, em geral
fazendo uma exposição sobre a temática e a seguir promovendo uma vivencia
relacionada ao tema trabalhado. Citarei aqui nomes de profissionais que rea-
lizaram atividades continuas no grupo, por um período mais longo, como os
Técnicos de Enfermagem Félix Geambastiani e Diane Londero; o Residente
Médico da UBS Conceição Roberto Lehmkuhl a Enfermeira Sandra Rejane
Soares Ferreira da Gerência do Serviço de Saúde Comunitária; as instru-
toras de yoga Maria Nazaré Cavalcanti e Gisane Valenzuela; os reikianos
Benoci Kersting, Lorile Zago e o Vital Jorge Cristani. Ainda, o técnico em
educação do Grupo Hospitalar Conceição Rodrigo de Oliveira Azevedo
(escola dos sentimentos), o Bacharel em educação física Telmo Flores
(Xamanismo); a professora Silvia Kiest (fitoterapia); a professora Maria
de Fátima Grazziotin (Biodança). Peço desculpas e agradeço de coração

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 129


aos profissionais que participaram do grupo em atividades mais pontuais e
esporádicas porque não foi possível, nessa publicação, citar nominalmente
todos que participaram e contribuíram voluntariamente nas atividades do
grupo Viva a Vida. Foram muitos colaboradores e pedimos desculpas porque
não conseguimos realizar, ao longo do tempo, um registro adequado que
contemplasse todas as memórias do grupo.
Os temas, em geral, foram trabalhados com a apresentação prévia de
informações sobre estudos, pesquisas e experiências relacionadas à prática
que seria desenvolvida e os benéficos para saúde e bem-estar. Também,
foram apresentados vídeos, como por exemplo, experiências com grupos
de oração à distância, poder da fé, entre outros. Nos encontros, ainda, foi
realizada a distribuição de material impresso sobre os temas trabalhados,
especialmente aqueles que continham exercícios e práticas que poderiam
ser realizadas em casa junto com a família.

8.3. ESCOLA DOS SENTIMENTOS: CAMINHOS PARA O AUTO


AMOR
As oficinas “Escola dos sentimentos: caminhos para o auto amor”, com
o técnico em educação do Grupo Hospitalar Conceição, Rodrigo de Oliveira
Azevedo, fizeram muito sucesso no grupo. Foram vários encontros com
ações educativas que tinham por objetivo o reconhecimento, desenvolvi-
mento e expressão dos sentimentos. Embora esta oficina utilize em seus
fundamentos teóricos procedentes da psicologia, da psiquiatria de áreas afins,
ela não pretendeu se caracterizar como atividades terapêuticas destinadas ao
tratamento de pessoas acometidas por agravos de saúde mental.
A temática central trabalhada com o grupo foi “caminhos para o auto amor”
que foi dividida em seis encontros e se propôs a trabalhar na prevenção de
agravos de saúde mental e na promoção do bem-estar. A oficina abordou, com
suas dinâmicas, a identificação, aceitação e manejo de diversos sentimentos,
como por exemplo: inferioridade, superioridade, auto julgamentos, julgamento
dos outros, culpas, alto nível de exigência, medo de rejeição, relações afetivas
com pares, acomodação, entre outros que podem afetar a saúde e o bem-estar.
O trabalho desenvolvido veio ao encontro de uma necessidade do Grupo

130 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Viva a Vida e foi plenamente aproveitado estimulando a reflexão acerca
dos sentimentos e práticas sociais que contribuem para que as pessoas se
percebam mais próximas ou distantes em relação aos outros, no estímulo
aos participantes a se amarem e se aceitarem exatamente com são.

8.4. FORTALECENDO A AUTOESTIMA


Sabidamente pessoas que mantém sua autoestima em alta são pessoas
que mantém o foco em suas conquistas, que seguem seus projetos e desejos,
que gostam de si mesmas e que são resilientes mesmo quando encontram
adversidades. Em geral, são pessoas que tem um envelhecimento muito
mais saudável e se mantém mais independentes.
A autoestima é definida pelo valor que você dá a si mesmo e para trabalhar
essa temática com o grupo contamos em diversas ocasiões com a Psicóloga
Marta Bassani. Lembro-me de um seminário sobre autoestima realizado com
ela em novembro de 2019. No seminário foram abordadas as atitudes que
fortalecem a autoestima. Todos participaram ativamente, com entusiasmo,
dedicação e criatividade na confecção de um brasão e do grito de guerra
do grupo, bem como nas outras dinâmicas. Neste encontro, por meio de
dinâmicas de grupo, como a terapia do abraço, ela trabalhou a expressão de
afetividade uns para com os outros. Também, promoveu a reflexão sobre os
benefícios da terapia do abraço e da autoestima. Finalizando o encontro foi
realizada a reflexão sobre comportamentos que podem ser praticados para
manter a saúde física e mental:
1. Valorizar suas qualidades (gostar mais de si mesmo);
2. Ter pensamentos positivos;
3. Ter alguns hobbies (passatempos prazerosos);
4. Cultivar amizades (vida social);
5. Fazer planos para futuro/sonhar;
6. Cuidar de si mesmo (em todas as áreas da vida);
7. Não deixar que as críticas alheias lhe derrubem;
8. Aprender com os erros;
9. Perdoar aos outros e a si mesmo;
10. Desenvolver o sentimento de gratidão pela vida.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 131


8.5. A TERAPIA DO ABRAÇO
O grupo teve a oportunidade de contar por um tempo com o trabalho
voluntário da enfermeira Sandra Rejane Soares Ferreira do SSC-GHC.
Foram realizadas palestras, vivências e dinâmicas relacionadas a meditação,
ao relaxamento, a dança circular e seus benefícios para nosso bem-estar.
Entretanto, a atividade mais marcante para o grupo foi o dia em que a
temática abordada foi a terapia do abraço. O grupo de forma lúdica e por
meio de brincadeiras e representações pode experimentar diferentes formas
de abraçar: abraço materno; abraço consolador; abraço demorado; abraço
caminhante; abraço sanduíche (3 ou mais pessoas) e o abraço surpresa.
Dessa forma os participantes puderam sentir que o abraço é uma expressão
do corpo, conectado com o coração, e que por meio dele é possível demons-
trar diversos sentimentos como amor, carinho, apoio, segurança, confiança,
união, amizade e cuidado. O objetivo foi (re)aprender a abraçar que é um
ato que nos conecta com outras pessoas, através de emoções e sensações.
Experimentamos ir perdendo a inibição de abraçar com todo o corpo e com
o coração, para não abraçar mais por formalidade ou obrigação porque sem
essa conexão com o coração o abraço pode se tornar apenas um gesto físico.
É necessário estar conectado com as suas emoções para fazer conexão com
as emoções do outro.
Nesse encontro nos movimentamos, abraçamos, rimos muito e conver-
samos sobre o poder terapêutico do abraço que passou a ser recomendado
por especialistas e que atualmente conta com diversos livros publicados.
A terapia do abraço pode ser praticada por indivíduos de todas as idades,
sexo, gênero, e possui muitos benefícios, entre eles (KEATING, 2012):
• Diminui os riscos de doença cardíaca;
• Reduz os níveis de hormônios do estresse;
• Ajuda no controle da ansiedade;
• Fortalece o sistema imunológico
• Libera a oxitocina, que é o hormônio da felicidade;
• Rejuvenesce, pois melhora a oxigenação do sangue;
• Promove a produção de hormônios do bem-estar, que possuem função
curativa;

132 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


• Promove a empatia, pois é um ato de reciprocidade;
• Melhora a autoestima;
• Evita a depressão;
• Melhora a memória;
• Acalma e transmite segurança a bebês e crianças;
• Faz bem para o coração;
• Traz sensação de tranquilidade;
• Eleva os níveis de serotonina, o que aumenta o bom humor;
• Relaxa os músculos e libera as tensões;
• Equilibra o sistema nervoso;
• Ajuda a prevenir doenças;
• Auxilia no tratamento de alexitimia (dificuldade de expressar emoções
e sentimentos);
• Alivia a sensação de dor.
O abraço é um gesto de acolhida, que permite que energias e sensações
sejam trocadas entre as pessoas envolvidas. Ele também é uma forma de
comunicação não verbal. Muitas coisas podem ser expressas através do gesto
de abraçar. O apoio a alguém em uma hora difícil, um sentimento afável. O
abraço também pode ser o que uma pessoa busca para se reestabelecer em
uma situação delicada. Pode ser ainda uma forma de celebrar uma boa notícia
ou uma conquista importante. Por tudo que ele representa, o abraço é algo
bastante poderoso (KEATING, 2012). É importante dizer que essa terapia
do abraço não é algo que deva ser aplicado somente em situações ruins,
ela também é recomendada em momentos em que os indivíduos se sentem
bem e querem compartilhar, de forma mútua, bons sentimentos e energias.
Desde o dia da terapia do abraço passamos a nos abraçar muito mais no
grupo, de forma conectada um com o outro e percebendo a receptividade.

8.6. REIKI
O grupo teve a oportunidade de contar com os reikianos Benoci Kersting,
Lorilei Zago, Vital Jorge Cristani, entre outros, em diversos momentos,
tanto para sessões coletivas de reiki quanto para atendimentos individuais.
O reiki é considerado uma energia curativa divina descoberta no Japão há

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 133


mais de um século e que traz benefícios às pessoas não somente em seus
corpos físicos como em seus corpos emocionais, mentais e espirituais. A
contribuição de voluntários reikianos tem tido muita receptividade e os
idosos são muito gratos pelo trabalho inestimável que tem prestado ao longo
do tempo. Segundo depoimento de um grande reikiano, que tem colaborado
com o grupo, os encontros são um momento terapêutico onde os idosos além
de receberem essa energia de cura tem um espaço de escuta e acolhimento.
O problema mais frequente das pessoas é solidão. Tenho escutado
e cheguei a conclusão que as pessoas procuram recursos para pode-
rem falar, ter quem lhes escute. As pessoas mais conhecidas eu faço
uma sessão, atendimento mais curto e as que atendo pela primeira
vez o atendimento é mais demorado, dou tempo para elas falarem.
Os problemas de modo geral são queixas de dores e que os médicos
não lhes dão tempo, atenção, escuta, as vezes nem as examinam. As
pessoas, principalmente as mais velhas, querem conversar. Minha
sugestão para o grupo seria fazer uma vez por mês uma terapia
para todos participarem. Cada um contaria seu problema. É claro
que muitos problemas não serão resolvidos ali no grupo, mas acho
que todos iriam gostar de ter um espaço para poder falar de seus
problemas, sentimentos, angustias, ter alguém que as escute.
(Vital Jorge Cristani – voluntário reikiano)

8.7. A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA


O Grupo Viva a Vida teve palestras sobre a Medicina Tradicional Chinesa
(MTC) promovidas por profissionais voluntários. A MTC caracteriza-se por
um sistema médico integral, originado há milhares de anos na China. Utiliza
linguagem que retrata simbolicamente as leis da natureza e que valoriza a
inter-relação harmônica entre as partes visando à integridade. Como fun-
damento, aponta a teoria do Yin-Yang, divisão do mundo em duas forças
ou princípios fundamentais, interpretando todos os fenômenos em opostos
complementares.
Segundo Dr. Antonio Debortoli, Doutor em Medicina Tradicional

134 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Chinesa em palestra para o grupo explicou que o objetivo desse conheci-
mento é obter meios de equilibrar essa dualidade presente em nossa vida e
na natureza. Ele falou ainda da teoria dos cinco movimentos (madeira, fogo,
terra, metal, água) que atribui a todas as coisas e fenômenos, na natureza,
assim como no corpo, a presença das cinco energias e/ou a predominância
de um tipo energia. O palestrante realizou exercícios com o grupo para
se sintonizarem com os cinco tipos de energia e os idosos apreciaram
muito, tanto as informações quanto as dinâmicas. A MTC inclui diversas
modalidades de tratamento, entre elas: acupuntura, tratamento com plantas
medicinais (fitoterapia), dietoterapia, práticas corporais e mentais, as quais
tiveram espaço exclusivo nos encontros do grupo.

8.8. RELAXAMENTO CONDUZIDO E MEDITAÇÃO


Segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
no SUS, a meditação é uma prática mental, individual, milenar (descrita por
diferentes culturas tradicionais), que consiste em treinar a focalização da
atenção de modo não analítico ou discriminativo, a diminuição do pensa-
mento repetitivo e a reorientação cognitiva, promovendo alterações favorá-
veis no humor e melhora no desempenho cognitivo, além de proporcionar
maior integração entre mente, corpo e mundo exterior (BRASIL, 2015).
A meditação amplia a capacidade de observação, atenção, concentração e
a regulação do corpo-mente-emoções; desenvolve habilidades para lidar
com os pensamentos e observar os conteúdos que emergem à consciência;
facilita o processo de autoconhecimento, autocuidado e autotransformação;
e aprimora as inter relações – pessoal, social, ambiental – incorporando a
promoção da saúde à sua eficiência (BRASIL, 2015).
As práticas de relaxamento e meditação foram conduzidas pelo Técnico
de Enfermagem do SSC-GHC Félix Giambastiani da Costa, utilizando fundo
musical, algumas vezes utilizando músicas clássicas e em outras ocasiões gra-
vações que conduziram as práticas. Também foram desenvolvidas atividades
reflexivas sobre diversos temas como: a parábola do burro e do rei, poesia de
Victor Hugo (a importância de nossos desejos), fundamentos para aquietar a
mente e o coração, a bondade, a mentalização, a importância da respiração e

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 135


do controle da mente, como distensionar o corpo sem tensionar. Em alguns
encontros a prática foi de visualização ou mentalização, como por exemplo,
a escuta do CD de Divaldo Pereira sobre a resolução e a valorização que
damos aos problemas da vida diária, a importância do perdão, entre outros.
Também foram realizados encontros de relaxamento e meditação sob
a orientação da Técnica de Enfermagem do SSC-GHC Diane Londero
de Souza e do residente da Medicina de Família e Comunidade Roberto
Lehmkuhl. Em uma ocasião ela desenvolveu com auxílio de residentes e
estagiários, que sempre se fazem presentes no grupo, uma sessão coletiva
de massagem com óleos essenciais. Os participantes receberam massagem
no couro cabeludo, face, e ombros de modo que pudessem relaxar, em um
ambiente seguro, com música suave. Os idosos referiram que além de sentir
o relaxamento dos músculos experimentaram os benefícios do toque, do
contato físico e, também, expressaram os sentimentos de muita paz e alegria.
As práticas e temáticas trabalhadas têm sido muito abrangentes amplian-
do os horizontes como, por exemplo, relaxamento conduzido, técnicas de
visualização criativa para mobilizar energias de cura, exercícios para cana-
lização de energia, exercício sobre energização e limpeza energética para
aumento da imunidade e da cura, práticas para colocar-se em contato com a
natureza, com nossa mãe terra (texto de Suzan Andrews da revista Época).
As atividades relacionadas ao relaxamento e meditação sempre tiveram
muita aceitação e pedidos de continuidade do trabalho. Os relatos ao final
dos encontros sempre foram positivos, citamos alguns que foram registrados
no final de encontros de meditação:
• “Senti bem-estar após os encontros, muita emoção, carinho, sensação
de pertencimento, de estar ligado, conectado no mundo.”
• “Me proporciona paz e que eu possa me centrar no meu eu.”
• “A meditação é um ato de nos encontrarmos com nós mesmos, ou melhor
é um encontro com o nosso Deus interior, com o nosso eu verdadeiro.”
• “A meditação me proporciona que eu possa me centrar em mim.”
• “A meditação me ajuda muito, estou buscando em primeiro lugar parar
para pensar, ficar, quieta, ouvir a voz do coração, aprendi a técnica de
respiração que faz muito bem.”

136 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


• “A meditação pode me ajudar através da interiorização que eu procuro
valorizar o meu eu verdadeiro-perfeito, saudável, feliz, alegre e expulsar
o fenômeno que é um homem imperfeito, infeliz, tristeza e doença.”
• “Eu acredito que a meditação pode e está me ajudando a controlar
a ansiedade.”
• “Diversas reuniões especializadas em trabalhos que nos levaram a
espiritualidade, meditação conduzida por pessoas doutoras no assunto.
É muito bom.”
• “Sinto algo infinitamente ótimo. (risos).”

8.9. ACUPUNTURA E AURICULOTERAPIA


A palestra e práticas de acupuntura no Grupo Viva a Vida foi promovida
por uma Médica de Família da Unidade Conceição Manoela Coelho. A
acupuntura, originária da MTC, é uma tecnologia de intervenção em saúde
que aborda de modo integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser hu-
mano, podendo ser usada isolada ou de forma integrada com outros recursos
terapêuticos. Ela compreende um conjunto de procedimentos que permitem
o estímulo preciso em locais anatômicos definidos por meio da inserção de
agulhas filiformes metálicas para promoção, manutenção e recuperação da
saúde, bem como para prevenção de agravos e doenças.
Nos encontros do Grupo Viva a Vida, além de palestras sobre o tema,
foi ofertada a experiência de realizar uma sessão de auriculoterapia (esti-
mulação mecânica de pontos específicos do pavilhão auricular para aliviar
dores e/ou tratar problemas físicos e psíquicos) com diversos voluntários
que foram convidados para participar da reunião do grupo. As práticas de
acupuntura e auriculoterapia, também foram ofertadas de forma individual
para os idosos, na Unidade de Saúde Conceição.

8.10. FITOTERAPIA
Quando trabalhei em São Sebastião do Caí, em uma Unidade Básica de
Saúde que funcionava junto a Escola Municipal de 1º Grau David Canabarro,
na Vila São Martin, conheci muitas pessoas da comunidade e da Escola.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 137


As professoras eram extremamente focadas e interessadas nas questões de
saúde. Entre elas a diretora da escola, a Professora Silvia Kiest, sempre
muito dedicada ao ensino e a valorização do uso de chás, remédios caseiros
e alimentação alternativa. Encantada com o trabalho realizado por Silvia
na escola, decidi convidá-la para vir a Porto Alegre e realizar oficinas para
abordagem dessa temática no grupo de idosos.
Silvia Kiest veio a Porto Alegre e participou das reuniões do Viva a
Vida, realizou oficinas onde ensinou e trocou experiência sobre fitoterapia,
abordando os tipos de plantas, o uso de chás, remédios caseiros, alimentação
alternativa com uso de grãos e sementes no enriquecimento do preparo da
alimentação (complementar nutrientes), entre outros. Ela fez um imenso
sucesso e contou sua experiência na utilização da multimistura no preparo
e enriquecimento da alimentação das crianças na escola.
O pessoal de São Sebastião do Caí esteve no nosso grupo. A Silvia
veio nos dar aula de como fazer xarope caseiro, pomada. Foram um
sucesso todas as aulas.
(Regina Lima – ex-diretora do Viva a Vida)

O encontro com o grupo da terceira idade onde tratamos do


conhecimento e reconhecimento das plantas medicinais foi muito
produtivo, pois houve uma troca de conhecimentos. A maioria dos
participantes conhecia plantas medicinais e o seu uso principalmente
em chás. O que proporcionei foi a confecção de um álbum herbário
onde havia as indicações e contraindicações das plantas reconheci-
das (as participantes levaram as plantas que conheciam e eu levei
algumas da nossa região para o reconhecimento), também, fizemos
umas aulas práticas onde aprenderam a fazer pomadas e tinturas
para o uso seguro, assim como fazem nas pastorais da saúde.
(Silvia Kiest – voluntária)

Lembro que também nos encontramos em outra ocasião para um


curso de alimentação alternativa onde o principal objetivo era o me-
lhor aproveitamento dos alimentos usando talos, folhas e sementes.

138 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Fizemos nesta ocasião um almoço usando estas técnicas. Apresentei
nesta ocasião um vídeo onde mostrava todo o processamento que
estes alimentos precisam para serem aproveitados de maneira segu-
ra, principalmente as folhas verdes secas como as de aipim que são
tóxicas). Tiveram acesso as receitas da multimistura que é composta
basicamente de farelo de arroz e trigo, pó de folhas e pó de algumas
sementes. A multimistura enriquece a alimentação de uma forma
barata e segura sendo muito boa, principalmente para idosos e
crianças. Na escola em São Sebastião do Caí, durante o período na
qual fui diretora, foi utilizada na merenda escolar”
(Silvia Kiest – voluntária)

Estudos relatam que 80% da população mundial utiliza plantas ou pre-


parações destas para o cuidado em saúde. O Brasil possui grande potencial
para o desenvolvimento da fitoterapia no âmbito da saúde pública tendo
em vista que possui a maior diversidade vegetal do mundo. Entretanto são
necessárias políticas públicas para estudar essa diversidade, como fazer o
uso adequado das plantas medicinais, promover estudos que vinculem o
conhecimento tradicional e as tecnologias atuais capazes de validar cienti-
ficamente este conhecimento (FIGUEIREDO et al, 2014).
O interesse popular e de profissionais vem crescendo no sentido de forta-
lecer a Fitoterapia no SUS o que vem pressionando os órgãos para a criação
de políticas públicas, as quais ainda são incipientes. A partir da década de 80,
diversos documentos foram elaborados enfatizando a introdução de plantas
medicinais e fitoterápicos na atenção básica no sistema público, entre elas
destaca-se a Resolução Ciplan Nº 8/88, que regulamenta a implantação da
fitoterapia nos serviços de saúde e cria procedimentos e rotinas relativas
à sua prática em unidades de saúde do SUS (FIGUEIREDO et al, 2014).

8.11. YOGA
Segundo a instrutora de yoga Gisane Valenzuela, que tem uma longa
caminhada de muito estudo e dedicação no Centro de Estudos Budistas e
Bodisatva (CEBB) e foi uma das profissionais que ajudou o grupo quanto

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 139


aos ensinamentos e prática dos benefícios do yoga, essa disciplina ajuda
no físico, na mente, nas emoções, na psique, energeticamente e também
nos planos mais sutis. Ela nos mostrou que o yoga trabalha muito além das
posturas do corpo, nos unindo ao universo.
Na ocasião que a instrutora esteve com o grupo ela apresentou informa-
ções e ministrou aulas práticas de yoga. Somos os responsáveis pela nossa
saúde e nas aulas foi possível experimentar diversos momentos entre eles a
prática das posturas, exercícios de alongamento e momentos de relaxamento
profundo, os quais estão dentro dos quatro pilares do yoga:
1. Pensamento positivo;
2. Pensar bem do outro;
3. Respiração profunda e completa;
4. Relaxamento profundo;
A professora recomendou fazermos do yoga uma prática de vida, pois
“yoga é prática integral: mente, corpo e universo” e enviou um agrade-
cimento bem especial para o grupo pelo tempo de convívio que tiveram:
Agradeço ao grupo pela receptividade. Adorei esta experiência. Fazer
o bem nos faz bem! Foi uma experiência muito gratificante porque além
de eu ter estado no grupo vivendo essa experiência tenho a oportunidade
de aquietar, por pelo menos um minuto, a mente o corpo, sentir uma
quietude, um silêncio interno e repousar no espaço do corpo. O yoga
faz bem para todos, mesmo aqueles que nesse momento não puderam
fazer alguns ássanas, para mim é muito bom estar com o grupo. Foi
muito bom fazer essa troca porque foi uma coisa que eu fiz de coração.
Yoga quer dizer união e então faz parte das nossas vidas em todos os
momentos estando ou não conectados. A cada momento que passa a
gente vivencia, vai se comunicando com o nosso interior e isso vai nos
dando leveza, tranquilidade, calma, espaço para acolher no coração a
todos porque yoga não é só os ássanas, os mantras, é também, saber
compartilhar amor, esperar, se harmonizar, ter mais saúde mental e física.
As pessoas que estão nesse grupo foram muito queridas e acolhedoras,
animadas, divertidas e tu (Cristina Lemos) és uma pessoa especial. Fazer
parte desse grupo tantos anos trazendo esses momentos de alegria para
essas pessoas. O que eu tenho para dizer é que foi uma experiência que

140 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


me deixou muito feliz. É uma coisa do oferecer para o outro, se doar e
como a gente recebe em troca. Tu vê a alegria do outro e isso te deixa
muito feliz e isso é yoga. Um grande abraço e gratidão!
(Gisane Valenzuela – professora de yoga)

8.12. A BIODANÇA
A biodança é uma forma de expressão corporal que promove vivências
integradoras por meio da música, do canto, da dança e de atividades em
grupo, visando restabelecer o equilíbrio afetivo e as renovações orgânicas,
necessárias ao desenvolvimento humano. Utiliza exercícios e músicas que
trabalham a coordenação e o equilíbrio físico e emocional, por meio dos
movimentos da dança, a fim de induzir experiências de integração, aumen-
tar a resistência ao estresse, promover a renovação orgânica e melhorar a
comunicação e o relacionamento interpessoal.
No Viva a Vida fomos iluminados pela presença e pelas experiências
promovidas pela nossa colaboradora Maria de Fátima Grazziotin, profes-
sora de biodança. A 1ª aula foi, em 31 de maio de 2017, com apresentação
do sistema biodança e práticas lúdicas. Desde então, o grupo tem contado
com esse recurso de forma regular até o advento da pandemia da covid-19.
Maria de Fátima Grazziotin conta como ela veio, de forma voluntária,
dar aulas de biodança para o grupo:
Fiquei sabendo da existência do Grupo da Longevidade Viva a Vida
através da minha querida amiga Lorena Medina, biodanceira, minha mestra
de reiki e terapeuta floral. Então, em 2017, ela sugeriu para eu falar com
você, Dra. Cristina, para fazer um trabalho voluntário de biodança nesse
grupo. Adorei a ideia. Você me acolheu com carinho e logo acertamos o dia
que eu iniciaria. Passei a frequentar o grupo todas as quartas-feiras, pois
achei importante conhecer as pessoas no seu contexto normal de atividades
e também me situar nas atividades e dinâmicas do grupo. A biodança tra-
balha a Saúde, potencializando o que há de saudável no indivíduo naquele
momento de sua vida, proporcionando o emergir da luz de cada um, a sua
identidade e a alegria de viver. O ambiente é afetivo e receptivo e todos são
acolhidos do jeito que estão ou do jeito que são. Todos são iguais, como a

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 141


roda da biodança. Ninguém é obrigado a fazer nada que não deseje ou que
não possa. A autorregulação é uma premissa fundamental da biodança. Em
princípio, não há julgamentos e interpretações. As falas servem para cada
qual se expressar, desabafar, aprender, tirar dúvidas, comentar. Enfim, é um
ambiente em que dificilmente alguém não se sente aceito.
(Maria de Fátima Grazziotin – professora de biodança)

A biodança trabalha, por meio da música e do movimento, o contato


com as emoções e sua expressão. Os encontros trabalham com cinco linhas
de vivência, são elas: criatividade, afetividade, sexualidade, vitalidade,
transcendência e inovação. Em geral, as aulas seguem uma temática espe-
cífica, dentro de uma das cinco linhas, relacionada ao foco que se deseja
trabalhar. Por exemplo, como no Viva a Vida os encontros eram mensais, a
professora utilizava como ponto de partida os eventos relacionados a cada
mês explorando em cada um deles os aspectos das cinco linhas de vivência:
• Aula alusiva ao dia da criança, com objetivo de trabalhar as emoções
e a expressão da criança interior.
• Aula alusiva às festas juninas, com objetivo de trabalhar a alegria e a
fartura. As festas juninas são comemorações pagãs, difundidas há mais de
2 mil anos com o intuito de comemorar a colheita, o solstício de verão (no
hemisfério norte) e de inverno (no hemisfério sul). Durante estes rituais,
fogueiras eram acesas e haviam muitas danças e comidas tradicionais.
• Aula alusiva à Revolução Farroupilha, com objetivo de trabalhar os
valores gauchescos: lealdade, honestidade, sinceridade, autoconfiança,
alegria, entre outros.
• Aula alusiva à idade dourada, com objetivo de trabalhar os valores
da idade do ouro, a sabedoria, o pensamento livre, trabalhar emoções
relacionadas às recordações desse período de vida.
• Aula alusiva ao encerramento do ano e início de um novo ciclo, com
objetivo de trabalhar valores como a amizade, união, harmonia, parcerias,
o fechamento de ciclos e a abertura de novas etapas na vida.
Após alguns meses de trabalho com o Viva a Vida tive uma crise
pessoal sobre a validade de fazer biodança mensal. Mas, comecei a

142 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


perceber que as pessoas estavam começando a ter mais manifestações
de afeto entre si, os abraços já faziam parte do grupo e o sentimento
de amizade entre todos os participantes já estava mais perceptível.
Pareceu-me que as pessoas também começaram a se ver e se sentir
como um grupo mais forte, mais poderoso, mais criativo e ativo, com
mais alegria de viver, tendo como base o afeto. Esse é o terceiro ano
que trabalho com eles a biodança e me sinto muito grata a você, Dra.
Cristina, à Lorena e a todo o grupo por me permitirem participar
desse trabalho que me traz tanta satisfação e que me desafia sempre
a crescer, a fazer um trabalho cada vez melhor. Sinto-me honrada de
dar aulas mensais de biodança e de pertencer a esse grupo, tendo em
vista a caminhada iluminada de 36 anos de atividades, completados
agora no mês de abril de 2020. Quero cumprimentar você, querida,
pela iniciativa, coragem, persistência, perseverança, resiliência,
atenção, cuidado e entrega, nesses 36 anos de atividades com esse
grupo lindo, o VIVA A VIDA!
(Maria de Fátima Grazziotin – in memoriam - professora de biodança)

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde (CNPICS) e da Coordenação-Geral de Documentação
e Informação (CGDI/SAA/SE). Glossário Temático: Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2018. Disponível
em: https://aps.saude.gov.br/biblioteca/visualizar/MTM0Ng==
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e complemen-
tares no SUS: atitude de ampliação de acesso. 2. ed., Brasília: Ministério da
Saúde, 2015. 96 p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
politica_nacional_praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf
FIGUEREDO, Climério Avelino de; GURGEL, Idê Gomes Dantas; GURGEL
JUNIOR, Garibaldi Dantas. A Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos: construção, perspectivas e desafios. Physis, Rio de Janeiro, v. 24, n.2,
p.381-400, 2014. [accesso 30 Nov. 2020). Disponível em: http://www.scielo.br/scie-
lo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312014000200381&lng=en&nrm=iso
KEATING, Kathleen. A terapia do Abraço 2. 13ª edição, São Paulo: Editora
Pensamento, 2012.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 143


144 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 145
146 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
9 O ASTRABALHO INTERSETORIAL E
PARCERIAS DO GRUPO DA
LONGEVIDADE VIVA A VIDA
“As pessoas se unem por um propósito, e essa parceria é baseada
na confiança e na necessidade de cooperar para alcançá-lo.”
(Roger Scruton).

“Eu quero, para a gente, um pouco de tudo. De parceria, de


lealdade, de amizade, de confiança, de paixão, de felicidade.
Um pouco de você. Um pouco de mim. E muito de nós.”
(Ana Paula Zandoná).

A intersetorialidade é a articulação de diferentes serviços de uma insti-


tuição, de diferentes instituições e/ou diferentes setores da política pública
para trabalhar em prol de objetivos comuns e estabelecer os respectivos
papéis bem como as intervenções necessárias para o enfrentamento mais
articulado dos problemas sociais. Este tipo de trabalho permite a articulação
de saberes e experiências no planejamento, realização e avaliação de ações
para alcançar efeito convergente em situações complexas visando ao desen-
volvimento coletivo e a superando da exclusão social (FERREIRA, 2005).
A intersetorialidade lida diretamente com a soma de potencialidades e
não com a divisão, revela-se como estratégia social de superação de pro-
blemas complexos, cuja resolução depende da conjunção de esforços de
diversos atores sociais e do compartilhamento de suas competências. Trata-
se, em seu sentido mais rico, de um “atrevimento” de romper com posturas
reducionistas na resolução de situações complexas e com a presunção de
achar que um setor sozinho dá conta de questões relacionadas às vulnera-
bilidades, nas suas dimensões sociais, individuais e programáticas, bem
como as questões multicausais que se apresentam na atualidade, entre elas:
violência, desigualdade social, desemprego, problemas de saúde, falta de
saneamento básico, habitação inadequada, a fome, etc. (FERREIRA, 2005;

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 147


BERTOLOZZI, 2009). Essa soma de esforços estrutura-se no paradigma dos
Direitos Humanos, é nessa estrutura que as alianças em prol da qualidade
de vida dos idosos (população vulnerável por razões multifatoriais) sempre
se realizaram no Grupo Viva a Vida.
A concepção de vulnerabilidade denota a multideterminação de sua gê-
nese não estritamente condicionada à ausência ou precariedade no acesso à
renda, mas atrelada também às fragilidades de vínculos afetivo-relacionais e
desigualdade de acesso a bens e serviços públicos. O ser humano vulnerável,
por outro lado, é aquele que, conforme conceito compartilhado pelas áreas
da saúde e assistência social, não necessariamente sofrerá danos, mas está
a eles mais suscetível uma vez que possui desvantagens para a mobilidade
social, não alcançando patamares mais elevados de qualidade de vida em
sociedade em função de sua cidadania fragilizada. Assim, ao mesmo tempo,
o ser humano vulnerável pode possuir ou ser apoiado para criar as capacida-
des necessárias para a mudança de sua condição. É com base nessa última
afirmação que concordamos que não se trata, a vulnerabilidade, apenas de
uma condição natural que não permite contestações. Isso porque percebemos
que o estado de vulnerabilidade associa situações e contextos individuais e,
sobretudo, coletivos (CARMO e GUIZARDI, 2018).
O envelhecimento implica em aumento do risco para o desenvolvimento
da vulnerabilidade, visto que a senescência é um processo permeado por
crescentes mudanças, as quais envolvem um conjunto de aspectos indivi-
duais e coletivos que exercem influência nas condições de vida e saúde do
indivíduo. Para enfrentar adequadamente a vulnerabilidade é necessário
realizar/promover um trabalho multidisciplinar e intersetorial para que, em
conjunto, sejamos capazes de avaliar as situações e identificar os idosos
vulneráveis tanto em relação aos níveis de saúde quanto as questões so-
ciais, considerando que o processo de envelhecimento constitui um evento
multidimensional e multideterminado, onde aspectos individuais, coletivos
e contextuais podem favorecer o adoecimento e dificuldades em acessar os
recursos de proteção disponíveis na sociedade (BARBOSA, OLIVEIRA e
FERNANDES, 2019).

148 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Neste capítulo, vou relatar com ajuda dos depoimentos de colaboradores
e membros do grupo, um pouco das histórias relacionadas a nossa constante
busca para realização de um trabalho intersetorial e do sucesso obtido com
as parcerias que construímos ao longo do tempo. As contrapartidas e apoio
recebidos em uma diversidade de espaços. Os depoimentos de participantes
mostram um pouco de como foi o trabalho do grupo, a pluralidade de fatos,
as diversas participações e interseções realizadas ao longo da nossa trajetória.
As inúmeras atuações e o protagonismo do grupo em ações de interesse de
sua própria saúde, da qualidade de vida, de interesses da comunidade e de
políticas de atenção à saúde do idoso, da elaboração de projetos de educação
em saúde, a busca de soluções para questões sociais, políticas, de segurança,
trânsito, meio ambiente e cidadania. A participação no Conselho Local de
Saúde da Unidade Conceição, no Conselho Municipal do Idoso (COMUI),
na Secretaria Municipal do Idoso para elaboração de políticas públicas para
a atenção ao idoso e para o trabalho comunitário.

9.1. A CONSTRUÇÃO DE PARCERIAS


Para realizarmos com sucesso encontros semanais e atividades em di-
versas áreas para o grupo de idosos, durante 34 anos, foi necessário agregar
pessoas (voluntários), instituições e serviços. O grupo teve a felicidade de
procurar e encontrar, ao longo do caminho, muitos parceiros voluntários
que propiciaram as mais diversas experiências com seus recursos pessoais,
técnicos, profissionais, cognitivos, intuitivos, enriquecendo a bagagem de
conhecimento dos idosos e estimulando mudanças positivas no estilo de vida.
Graças a esse suporte efetivo e amoroso que o nosso trabalho recebeu
de cada um dos colaboradores voluntários, instituições e serviços, ao longo
de décadas, foi possível construir essa diversidade de projetos e eventos. As
diversas contribuições, em diferentes momentos, ajudaram a nortear nossas
atividades com o grupo. É visível que as pessoas e instituições que passam
pelo grupo são tocadas pelo afeto e somos gratos(as) pela dedicação ao
trabalho que nos ajuda a crescer juntos.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 149


9.2. A PRIMEIRA PARCERIA: SERVIÇO DE SAÚDE COMUNITÁRIA
DO GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO
A relação do Serviço de Saúde Comunitária do GHC e do Grupo da
Longevidade Viva a Vida existe desde sua concepção, porque foi neste es-
paço institucional que ocorreu sua fundação, por meio da parceria da equipe
de saúde da Unidade Conceição com o conjunto de pessoas com hipertensão
e idosos da comunidade. Nossa primeira parceria, não poderia ser diferente,
foi a Unidade de Saúde Conceição. Esta tem sido uma relação duradoura com
apoio de ambos os lados para as necessidades, tanto do serviço quanto dos
idosos da comunidade. Entretanto essa parceria com a Unidade Conceição
foi envolvendo diversos setores da instituição Grupo Hospitalar Conceição
(GHC). Por meio da Unidade Conceição foi possível que o apoio local se
transformasse em apoio institucional realizado pela Gerência de Saúde
Comunitária (GSC) e, a seguir, com a Direção do GHC e diversos setores
da instituição que participaram e/ou promoveram atividades para o grupo de
idosos. Nos últimos anos, também, foi estabelecida uma profícua parceria
com a Escola GHC e o espaço de encontros e promoção de atividades do
grupo se transformou em campo de ensino e de pesquisa.
O espaço do grupo e suas atividades têm sido referência para capacitação
de profissionais para o trabalho com idosos, tanto nas áreas de graduação
quanto da pós-graduação, nos transformamos em campo de formação, está-
gios de estudantes de diversas áreas da saúde do GHC e outras instituições de
ensino. Também, passamos a ser espaço de pesquisa e trabalhos de conclusão
de curso de graduação e pós-graduação, em diversas áreas (saúde e outras).
A Unidade Conceição constituiu com os idosos um espaço de promoção e
educação em saúde para o envelhecimento ativo e a qualidade de vida e, por
todo o trabalho histórico de representatividade do grupo, frente à instituição,
continua sendo um espaço de referência no cuidado dos idosos em grupos.
Ao mesmo tempo a Unidade Conceição tem sido a interlocutora junto com
a diretoria do Grupo Viva a Vida na articulação do trabalho com outros
serviços do GHC, com outras instituições e com profissionais voluntários
de diversas áreas, particularmente da enfermagem que tem atuado de forma
contínua nas atividades regulares do grupo.

150 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


9.3. A COMUNIDADE E O CONSELHO LOCAL DE SAÚDE
O Conselho Local de Saúde é um órgão colegiado, de caráter permanente
e deliberativo, que tem poder de decisão, participação e colaboração nos
programas e ações que são desenvolvidas nas unidades de saúde do GHC. A
Unidade Conceição, assim como, as outras 11 unidades básicas de saúde do
GHC, possui um conselho local de saúde. Ele é composto de forma paritária
entre os três segmentos representativos de área de saúde; 50% usuário, 25%
trabalhador em saúde 25%, gestores e prestadores de serviços de saúde.
O Grupo da Longevidade Viva a Vida tem tido representatividade neste
espaço o que permite ampliar o conhecimento da realidade vivida pelos
trabalhadores em saúde, administradores, usuários e os problemas relacio-
nados ao adequado funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS), mais
especificamente a Rede Municipal de Saúde de Porto Alegre.
Os idosos do Grupo da Longevidade Viva a Vida, participam do Conselho
Local de Saúde da Unidade Conceição, desde a sua formação, por meio de
seus representantes nas reuniões que realizam as discussões e deliberações.
O grupo tem estado junto com o conselho em diversos momentos, buscando
com as demais lideranças soluções para as demandas de saúde tanto dos
profissionais quanto da comunidade, relacionadas à falta de recursos ou
a problemas administrativos na Unidade de Saúde Conceição, da qual, a
maioria dos participantes do grupo, são cadastrados e recebem assistência.
Também, tem tido pessoas do grupo que assumem o papel de representantes
da comunidade e passam a compor o colegiado do conselho, com destacado
protagonismo, auxiliando na resolução de diversos problemas referentes aos
interesses e demandas da comunidade.
O grupo já organizou e organiza muitos eventos em favor da Unidade
de Saúde, por exemplo, trabalhou na mobilização da comunidade usuária
da Unidade Conceição para que pudessem ajudar a buscar solução para
as questões referentes a mudança do local da unidade e locação de espaço
físico para instalar a Unidade. Também, foram ativos na mobilização da
comunidade para a identificação e aquisição de um terreno para a constru-
ção da área física da Unidade, tendo em vista que, desde que a Unidade
Conceição foi transferida do prédio do Hospital Nossa Senhora da Conceição

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 151


para uma casa alugada, que não tem uma estrutura adequada para propiciar
os atendimentos de saúde necessários, a comunidade, há alguns anos, vem
lutando para que essa situação seja resolvida.
O Grupo da Longevidade Viva a Vida também participa do Fórum dos
Usuários do SUS (FUSUS) e do Fórum Estadual dos Trabalhadores em
Saúde (FETS) que são um conjunto de entidades e movimentos que se
articulam com a finalidade de fortalecer os interesses da população que
representam e de lutar pela qualificação do SUS e de condições adequadas
para o trabalho. Nesses encontros os representantes discutem diversos as-
suntos relacionados à saúde no município que são encaminhados para eles,
como por exemplo: conhecer os recursos humanos, materiais e financeiros
e programas desenvolvidos nos serviços de saúde, decidindo as prioridades;
fiscalizar e acompanhar o desenvolvimento das ações e serviços de saúde;
estimular a participação comunitária no controle social, manutenção e
desenvolvimento das ações de saúde; criar mecanismo de ouvidoria que
permitam a população apresentar suas sugestões; entre outros.
O grupo tem tido engajamento na busca de soluções para as questões
relacionadas com à saúde e, também, para problemas que impactam a vida
da comunidade como, por exemplo, questões com mobilidade urbana e a
melhoria na segurança no trânsito nos espaços da comunidade. A participação
e auxílio se dá desde questões cotidianas relacionadas ao funcionamento do
serviço de saúde, como encontrar uma forma melhor das pessoas encaminha-
rem e acessarem suas renovações de receitas de medicação de uso continuo
até em mobilizações que são necessárias para obterem disponibilidade
(acesso), em nível local, da mediação que deve ser dispensada pelo SUS.
Sobre o Conselho Local a concentração se dava no posto (Unidade
Conceição), o conselho foi instituído ali, a gente tinha eleições. O
Grupo Viva a Vida sempre encabeçava a divulgação, o chamamento
da comunidade para as atividades. O chamamento maior foi em 2004
muita gente participou. Sempre houve participação do grupo junto
com o conselho cumprindo uma missão. No início não tínhamos a
conexão que temos hoje (redes sociais) mas desde o começo lutamos,
os movimentos eram para se conseguir uma sede para o posto. Nós

152 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


que começamos o movimento lamentamos que não temos sede até
hoje. Os outros postos nasceram muito depois de nós e todos os 11
postos tem sede própria. Sempre muita política.
(João Gomes Branquinho – liderança da comunidade)

Sempre tive muita participação no grupo, nos movimentos e reu-


niões. Lembro a reunião com prefeito Fortunati, com conselho do
idoso da Zona Norte, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Fui
a conselheira mais aplaudida - temos fotos em álbum comprovando”
(Therezinha Lopes – membro do Grupo Viva a Vida)

No momento não tenho participado das reuniões, pois coloquei


uma marmitaria pela manhã e ficou difícil para mim sair, mas quero
participar do livro contando a experiência que tivemos quando dos 30
anos do posto (Unidade Conceição). Nós fizemos um chá beneficente
para adquirir um ar-condicionado para o posto e o Grupo Viva a Vida
participou muito. Tivemos 1.245 pessoas da comunidade no chá. Essa
lembrança eu tenho com muita gratidão. Também, lembro que nos 35
anos da Unidade Conceição conseguimos trazer toda a diretoria do
GHC no posto e o grupo fez uma apresentação espetacular de dança
country. Sempre o conselho local de saúde tem um pedido para a gente
e ele é recebido com carinho pelo Viva a Vida. É importante dizer que
o conselho local de saúde com o Viva a Vida sempre foi muito ativo nas
coisas que se precisa para dentro do posto. Para conseguir recursos tem
sempre se empenhado em fazer brechós, chás, ajuda nas campanhas de
vacinação, na organização das filas, distribuição das fichas, na organiza-
ção do posto. Também, ajuda a comprar coisas que são necessárias, por
exemplo, comprou macas para a enfermagem, TV para sala de espera.
Há mais ou menos 3 anos o prefeito com as questões da prefeitura não
tem promovido mais eleição no conselho, mas nós estamos seguindo.
Mesmo quando não houve na chapa, na época, representação do mu-
nicípio. Com a atual Gerência da Saúde Comunitária temos notado de
novo uma valorização do conselho inclusive tem nos convidado para
participar de reuniões, da recepção dos residentes novos e das reuniões

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 153


do grupo de trabalho. O conselho já foi muito considerado pelo posto e
notamos que a valorização de nosso trabalho e o espaço de representa-
ção depende muito da equipe do posto e de quem está na coordenação.
(Vanilda Andrade – Conselho Local de Saúde)

O grupo se movimenta para a reivindicação de seus direitos e para soli-


citar a execução de projetos que possam melhorar a sua qualidade de vida e
da comunidade onde vivem. Observa-se que a participação no Grupo Viva
a Vida influenciou e influencia os idosos a retomarem seu papel de cidadão
na comunidade, o fortalecimento da autoestima é um incentivo à vida ativa,
para a expressão de desejos e sentimentos e para buscarem mais qualidade
de vida. Nas reuniões do grupo, o encontro afetivo com seus pares, as trocas
de ideias, valores, cultura faz com que se sintam empoderados, renasce uma
força e emergem seus potenciais anestesiados o que tem dado ao grupo uma
espécie de “energia social”. Percebe-se que os idosos saem dos encontros
sentindo-se fortalecidos, legitimados para levar adiante suas ideias, ir atrás da
realização das demandas do grupo. O apoio e suporte recebido no grupo têm
sido fundamentais o que lhes dá disposição para novos movimentos e para
exercitarem sua cidadania e participação nos diferentes espaços coletivos
da comunidade. Em diversos espaços na comunidade é notório o fortaleci-
mento que ocorreu na representatividade dos idosos, eles têm conquistado
mais espaço, o que demonstra que o aprendizado no coletivo transcende o
espaço das reuniões semanais, ele vai para as casas, para as famílias e para
a comunidade. O grupo vem trabalhando de mãos dadas com a comunidade.
Tenho visto que o grupo tem participado ativamente em diversos espaços
na construção de uma nova realidade com ações de interesse da comuni-
dade. Esse movimento participativo dos idosos ao mesmo tempo em que
auxilia na resolução de problemas comuns provoca uma sensibilização da
sociedade para que cada vez mais reconheça que a velhice é uma etapa da
vida que requer respeito, valorização bem como a efetivação de direitos
sociais específicos desta fase de vida que incluam o resgate e a manutenção
da autonomia e da cidadania do idoso. Comprovam isso alguns relatos sobre
a atuação do Grupo Viva a Vida, em diferentes espaços da comunidade, em
ações de saúde, lazer e cidadania.

154 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Em 18 de julho de 1997 o Grupo da Longevidade Viva a Vida par-
ticipou da Feira de Ciências da Escola Municipal de 1º Grau General
David Canabarro, em São Sebastião do Caí. Os alunos abordaram
assuntos como ecologia, alimentação alternativa, remédios caseiros,
desenvolvimento dos seres vivos, higiene bucal, vacinação entre outros.
Na ocasião, a comunidade de São Sebastião do Caí, além de assistir
à apresentação dos trabalhos dos alunos puderam assistir a um espe-
táculo de dança e a uma representação teatral do Grupo Viva a Vida,
coordenados pela Dra. Cristina. O grupo veio também acompanhado
da enfermeira do posto de Saúde Conceição e outros convidados, em
geral, o grupo totalizou umas 80 pessoas. Foi incrível a apresentação.
(Silvia Kiest – diretora da Escola David Canabarro)

No dia da Saúde do Idoso, outubro de 1999, foi feita uma promoção


do Hospital N. Sra. da Conceição em parceria com Lions Clube Barão
do Cahy com diversas atividades: exercícios de alongamento, cami-
nhada com os idosos, palestras, apresentação de dança, entre outros.
Juntando a comunidade da região com a participação do grupo de
escoteiros, a banda da Escola Dolores Alcaraz Caldas, os idosos do
grupo Viva a Vida, foi muita gente. Um grande evento. A festa durou
todo dia, foi pátio do HNSC e teve a participação de diferentes equipes
de profissionais do hospital que palestraram enfatizando promoção da
saúde do idoso, prejuízos do fumo para a saúde, orientação sobre pos-
tura física, cuidados com a boca (equipe da odontologia) e orientação
sobre a higiene bucal e prótese dentária, foi divulgado que no hospital
há um atendimento especial da odontologia para pessoas da 3ª Idade.
A equipe de residentes e enfermeiros realizaram a medida da pressão
arterial e o exame de glicemia. Equipes de integrantes do Lions Clube
prestaram assessoria em várias áreas como atendimento jurídico,
recadastramento do CPF e outras orientações sobre os direitos dos
idosos. Também, houve apresentação artística dos grupos de terceira
idade do Serviço de Saúde Comunitária do GHC. O grupo Viva a Vida
representando a Unidade Conceição apresentou-se dançando música
country com a regência da professora Thais.
(Silvia Kiest – diretora da Escola David Canabarro)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 155


Lembro da participação do grupo no “VII Festival da Integração
da 3ª Idade” que ocorreu dia 28 de novembro de 2001. O evento foi
no auditório Oscar Machado do IPA. O auditório estava lotado, mais
de 500 pessoas, teve a participação do Grupo Reviver de Carazinho
divulgando os trabalhos das Faculdades IPA-IMEC com a 3ª idade.
Foi uma tarde de espetáculo contínuo com cânticos, danças, ence-
nações teatrais, diversas expressões artísticas encantaram a plateia.
O Grupo Viva a Vida participou do evento como visitante apresen-
tando-se como “Anjos”.
(Benoci Kersting – membro do grupo)

O Grupo Viva a Vida sempre se faz presente nas atividades refe-


rentes à celebração do Outubro Rosa. Desde o início desta Campanha
do Instituto Nacional do Câncer (INCA), essas atividades entraram
no calendário de atividades do grupo. Os idosos participam dos
eventos técnicos e educativos, dos debates, seminários, apresentações
culturais e das caminhadas pelas ruas da cidade com o intuito de
alertar a população para a importância da prevenção e do diagnós-
tico precoce do câncer de mama.
(Documentos do Grupo Viva a Vida)

O Grupo da Longevidade Viva a Vida participa sempre de atividades


relacionadas ao Dia Internacional do idoso (1º de outubro) como, por
exemplo, a “Caminhada dos Idosos”. Este dia foi instituído, em 1991,
pela Organização das Nações Unidas (ONU) visando chamar atenção
do mundo para os direitos dos idosos e para promover espaços de debate
sobre a importância de preservar o respeito e a dignidade dessas pessoas.
O grupo aproveita essa data para prestar oficialmente uma homenagem a
todos os idosos, mas comemora o dia do idoso todos os dias. Compreende
que para a legislação existente “sair do papel” é necessário viabilizar ações
contínuas que promovam um envelhecimento com dignidade e qualidade
de vida. Por isso, semanalmente nos encontros do grupo, ocorrem palestras,
workshops, atividades de interação com demais grupos da cidade, diversas
atividades relacionadas as questões do envelhecimento. O grupo vem ao

156 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


longo do tempo ocupando espaços, conquistando respeito e valorização,
lutando por um lugar digno na sociedade. Enfim, exercendo sua cidadania
e fundamentalmente aproveitando e repassando a sabedoria conquistada
ao longo dos anos.
Na Constituição Federal Brasileira (BRASIL, 1988), em seu artigo 230,
diz que: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as
pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo
sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”. O Estatuto
do Idoso, lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, é a legislação que dispõe
sobre os direitos que devem ser assegurados às pessoas com idade igual ou
superior aos 60 anos (BRASIL,2003). Para que essa legislação garanta na
prática esses direitos aos idosos é necessário que cidadãos e governantes
tenham clareza sobre os papéis sociais que devem desempenhar. Desde
o respeito e auxílio aos indivíduos idosos, até políticas e estratégias nos
variados setores que precisam ser implementadas. Tendo em vista esse
entendimento o Grupo Viva a Vida busca participação nestes espaços onde
é possível discutir essas políticas e sua implementação, por exemplo:
Reuniões preparatórias da Pré-conferência Municipal das
Pessoas Idosas, realizada em 31 de agosto e 18 de setembro de 2018,
realizadas na Escola Técnica Mesquita, na Avenida do Forte, 77.
Representantes do Viva a Vida, participaram junto com representan-
tes de outros grupos de idosos da região noroeste de Porto Alegre e
representantes do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)
e Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC).
(Documentos do Grupo Viva a Vida)

O Grupo da Longevidade Viva a Vida participou da Pré-


conferência Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa realizada em 18
de outubro de 2018. Participação do grupo no espaço democrático de
discussão e articulação coletiva em torno de propostas e estratégias
que apontam diretrizes voltadas para garantia dos direitos da pessoa
idosa. Foram debatidos: Os direitos fundamentais na construção e
efetivação das políticas públicas, enfrentamento da violação dos

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 157


direitos humanos da pessoa idosa, saúde, assistência social, previ-
dência, transporte, moradia, educação, cultura, esporte. Os conselhos
de direitos: seu papel na efetivação e no controle social na geração
e implementação das políticas públicas.
(Documentos do Grupo Viva a Vida)

“O grupo teve participação ativa no Fórum Social Mundial da


Pessoa Idosa, Pessoas com Deficiência e Diversidade, realizado de
28 de janeiro a 1º de fevereiro de 2019, em Porto Alegre. A progra-
mação foi intensa com a presença de escritores, autoridades políticas,
profissionais da saúde, artistas, profissionais de diversas áreas. As
atividades que mais gostaram incluem: palestras sobre inclusão
social e digital; arte, cinema e turismo para pessoas idosas e com
deficiência; envelhecimento no século XXI; sustentabilidade do pla-
neta; diversidade sexual; violência contra os idosos; alimentação e
saúde; prática segura no uso de medicamentos; meditação e yoga
como recurso terapêutico; cuidado com as doenças crônicas. Ainda,
peças de teatro, sessão de autógrafos, exposição de fotos, cerimônia
inter-religiosa e a maravilhosa caminhada na orla do Guaíba.
(Documentos do Grupo Viva a Vida)

No dia 7 de novembro, de 2012, os delegados do Orçamento


Participativo da Região Noroeste, lideranças comunitárias, repre-
sentante da CAR Noroeste levaram uma solicitação ao Secretário
Municipal Busatto de que se tenha um lugar apropriado na região
para desenvolver atividades com os idosos. Dra. Cristina Lemos es-
tava junto e apresentou um projeto com estrutura física e atividades
para apreciação. O secretário então colocou que era uma excelente
iniciativa e solicitou aos representantes presentes que enviassem
endereços de áreas públicas na região para que pudessem ser
apreciadas. Também, orientou que os grupos de idosos deveriam se
cadastrar-se no COMUI para captar recursos para a construção.
(Documentos do Grupo Viva a Vida)

158 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


9.4. ATUAÇÃO COM O CONSELHO MUNICIPAL DO IDOSO
A participação política exige do cidadão conhecimento sobre o que ocorre
em seu estado e em seu país. Todos os cidadãos deveriam despertar para a im-
portância de uma participação ativa na vida da sociedade e engajar-se na luta
por melhorias coletivas, seja por maior interesse pelo que acontece ao seu redor,
informando-se e discutindo com familiares e amigos a situação mundial, do seu
país, da sua cidade e do seu bairro. No Grupo Viva a Vida o entendimento de
que tudo que nos cerca e como as coisas acontecem dependem das políticas
estabelecidas fez com que o engajamento em diversos espaços fosse cada vez
mais efetivo. Especialmente, a vigília sobre as práticas e políticas públicas rela-
cionadas à atenção da pessoa idosa e a participação nos espaços que influenciam
a elaboração das políticas públicas relacionadas aos idosos. Trabalhar com
os idosos as questões relacionadas ao que é cidadania tem sido uma temática
frequente no grupo. Conhecer mais sobre seus direitos e deveres para fazer
sua parte como cidadão tem sido tema de interesse. Percebe-se o interesse em
manter-se informado, ler, discutir e entender as medidas governamentais para
ter condições de avaliar se estão corretas e/ou se são adequadas para atender as
demandas e necessidades das comunidades e dos idosos.
Sobre o COMUI, como começou não tenho datas exatas, mas
lembro que foram a Sra. Cristina Lemos, o Sr. Gilberto, a Ana
Branquinho e o Sr. Léo na prefeitura pedir um espaço para falar da
terceira idade e do Grupo Viva a Vida. Fomos atendidos pelo então
vice-prefeito da época, hoje falecido, Dr. César Busatto. Ele nos fa-
lou do COMUI que recebia verbas para projetos com os idosos. Daí
começou esse processo nosso com o COMUI. Lembro que a Aninha
registrou até ata naquele dia.
(Vanilda Andrade – Conselho Local de Saúde)

O Grupo da Longevidade Viva a Vida participou no dia 30 de mar-


ço de 2000, no Salão Nobre do Paço Municipal, na praça Montevidéu,
a convite da prefeitura de Porto Alegre da Cerimônia de sanção da
Lei Complementar nº 444/2000, que autoriza a criação do Conselho
Municipal do Idoso.
(Documentos do Grupo Viva a Vida)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 159


O Conselho Municipal do Idoso (COMUI) de Porto Alegre é um órgão
de caráter público, sem fins lucrativos, com prazo indeterminado de dura-
ção, formado por um colegiado, com vínculo administrativo à Secretaria
Municipal de Governança Local (SMGL). Possui diversas funções: articu-
ladora, consultiva, deliberativa, propositiva, fiscalizadora e normativa de
políticas sociais para o idoso do município. Tem por finalidade congregar
e conjugar esforços dos órgãos públicos e entidades não governamentais,
estabelecendo diretrizes de políticas sociais para o idoso do município, entre
outras competências. É composto por 17 conselheiros titulares e seus res-
pectivos suplentes: sete representantes do Poder Executivo Municipal, dez
representantes de entidades não governamentais de atendimento ao idoso.
As entidades não governamentais são escolhidas por meio de votação no
Fórum Municipal do Idoso e indicam seus representantes titular e suplente.
Desde a fundação do COMUI o Grupo Viva a Vida tem partici-
pado deste órgão, tendo o Fórum Municipal do Idoso escolhido o Sr. Léo
Fernando Prondzynski como conselheiro. Ele atuou como conselheiro do
COMUI por 4 anos representando o Grupo Viva a Vida. Foi difícil para a
o grupo dar continuidade na sua representação como membro do COMUI.
Houve um pouco de relutância dos idosos que iam sendo indicados a as-
sumirem esse papel de representação. A participação no COMUI exige do
representante compromisso de presença e frequência com regularidade e,
durante os últimos anos, foi difícil manter um representante por períodos
mais longos. Houve desistências por diversos motivos, problemas de saúde,
o lugar das reuniões foi descrito como estranho, a comunicação nas reuniões
foi considerada complexa, com alguns discursos difíceis, não acessíveis ou
não sintonizado com o cotidiano de muitos idosos que tentaram ocupar essa
posição de representatividade no COMUI pelo grupo.
Comecei a participar do COMUI quando eles estavam organizan-
do a mudança para a rua ao lado, depois do incêndio do Mercado
Público (2013). Trabalhava na direção do COMUI a Dilce Omar con-
tratada pela prefeitura de Porto Alegre para reorganizar o COMUI.
Haviam trocado a administração após as eleições. Foi feito um novo
regulamento, o estatuto do COMUI e eleita a Comissão de Projetos

160 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


que tem o papel de avaliar os projetos para acessar os recursos, para
a distribuição das verbas do Fundo Municipal do Idoso. As pautas
das reuniões tinham a ver com regulamento e na sequência se reto-
mava assuntos tratados em reuniões anteriores e os novos assuntos.
A linguagem dos participantes tem a ver com o regulamento. As
pessoas querem participar sem ler o regulamento daí não entendem
ou acham que o linguajar é muito técnico. É difícil principalmente
se a pessoa não tem uma regularidade de participação nas reuniões.
(Léo Fernando Prondzynski – membro do Viva
a Vida e representante do grupo no COMUI)

Não lembro direito a quanto tempo, mas lembro que era uma
tarde ensolarada de quarta-feira quando o Silvio Leal me convidou
para visitar um grupo de idosos lá perto do Hospital Conceição.
“Vamos? É o grupo coordenado pela Dra. Cristina. Conheces? O
grupo que seu Léo representa no Conselho do Idoso”, dizia o Silvio.
Fazia pouco que eu era conselheira no COMUI pela Associação de
Moradores do Jardim Ipiranga. Conhecia pouco os demais grupos da
Região Noroeste. Um quê de resistência velada dissipou-se no instante
seguinte. Aceitei o convite e lá fomos nós. No caminho, Silvio contou
que o grupo participou da criação do Conselho Municipal do Idoso,
com origem no Serviço de Saúde Comunitária do GHC. Continuamos
nosso caminho e, após algumas quadras vencidas rapidamente, entre
quebradas de esquina avistamos o hospital, logo depois a escola, a
praça, e ali à esquerda, a Brigada Militar. É sempre bom conhecer a
comunidade do entorno. A teia que permeia o bairro. Eis que surge um
galpão de CTG. E ali estava reunido o Grupo da Longevidade Viva
a Vida! Entre a curiosidade para saber quem são essas mulheres e o
receio de estar interrompendo a atividade, seguimos a passos lentos.
O trajeto parecia extenso demais. Abrimos a porta lateral com muito
cuidado para não perturbar aquela fala que parecia ser muito cara
para o grupo. Uma senhora miúda, de óculos e muito alegre cha-
mada Jussara nos recebeu com um “Sejam bem-vindos! ”. No salão
havia muitas mulheres ouvindo atentas a senhora magra, alta, com

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 161


fala agradável e uma vivacidade no olhar. “Esta é a Dra. Cristina”,
apresentou Silvio. Na frente da copa, sentado, estava seu Léo, e mais
adiante outro senhor. Histórica e tradicionalmente as mães contam
histórias para seus filhos e netos, os buscam na escola, os visitam e
estas mulheres o que será que estão pensando aqui neste salão? Era
a dúvida que persistia. Elas me ouviram atentamente enquanto falava
sobre Conselho Municipal do Idoso (COMUI), contaram que nesta
gestão não estariam no pleno. Foram pouco a pouco me deixando à
vontade enquanto faziam perguntas. Nos acolheram com um gostoso
chá com bolos. Em seguida começou a música, e rapidamente o salão
viu saias e vestidos rodopiando. Contaram sobre seus passeios, dança,
sobre pilates, muitas histórias. Saí com a certeza de que voltaria. E,
voltei várias vezes. Continuo voltando e sempre encontro mulheres
determinadas. Todas muito diferentes: prestativas, preocupadas,
atrevidas, caladas. Todas lutadoras. Há também as muito engraçadas
que sabem manter a leveza como marca registrada dos encontros.
Encontros que priorizam a informação, o conhecimento, o entendi-
mento dos direitos que o idoso tem e não são raras as vezes que os
idosos as desconhecem. A preocupação não é só com o bem-estar das
amigas do Grupo Viva a Vida, mas com todos os idosos da cidade.
Atuam nos movimentos, como no engajamento ao alerta ao câncer
de mama, ao combate à violência à pessoa idosa e aos movimentos
de reivindicação de políticas públicas para o idoso. Estes são alguns
dos meios pelos quais elas interagem em seu território e na cidade. A
participação efetiva no Fórum Municipal do Idoso de Porto Alegre
e nas Conferências Municipais, buscando com o coletivo serviços
na saúde, no transporte, em questões de moradia e educação e em
alternativas, tornam o grupo uma importante referência na região.
Ah! E as quartas-feiras iluminadas! Esperam ansiosamente por esta
rede social tecida com linhas e brilhos, com o alimento gostoso, a
música indispensável, com os sonhos, as conquistas e as descobertas.
Aprendi a conhecê-las e, a cada semana, suas “viagens” divertidas,
fantásticas e encantadas. Muito palco! Sempre atentas, disponíveis,
cores, panos, brilhos. Nada é difícil, estão sempre prontas para as

162 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


apresentações de danças, tudo sempre diferente. Mudam porque se
arriscam a rir, a chorar, a perder, a fracassar, a vencer e a partilhar.
Assim, ao final de cada visita eu retorno ao meu lar, fecho a porta
acinzentada do galpão e caminho a passos lentos.... Sim, isso é viver
a vida. É o Grupo da Longevidade Viva a Vida”.
(Eleonora Kehles Spinato – Coordenação do Idoso da
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte)

Fui me entrosando no grupo e daí a senhora Cristina Lemos


me pediu pra ajudar. Comecei a ir no COMUI com a Rosa. Lá no
COMUI a gente aprende muito para ajudar as entidades, a gente
tem de estar sempre se informando porque a gente tem direitos. A
pessoa de idade tem direitos e lá a gente aprende todos os diretos
para a terceira idade. Também, se ajuda asilos para conseguir re-
médios, cadeiras de rodas, para tudo o COMUI ajuda. A gente tem
de frequentar o COMUI então eles ensinam os trâmites para a gente
conseguir as coisas para os idosos. Foi maravilhoso e tem também a
experiência das pessoas que trabalham lá. São pessoas fora de série,
cada trabalho bonito que tem lá! Graças a vocês estou aprendendo
mais coisas, me informando, querendo sempre fazer alguma coisa.
(Odete Maria Baladão – membro do Viva a
Vida e representante do grupo no COMUI)

O COMUI foi uma surpresa para mim. Eu e a Odete chegamos


lá receosas, sem saber nada de nada, e eu acabei gostando. Vi que é
muito importante o que fazem e a nossa participação neste Fórum.
Através deles temos acesso ao conhecimento das leis, dos direitos e os
grupos podem apresentar projetos que venham acrescentar benefícios
aos idosos. Acho que é isso...
(Rosa Lucas – membro do Viva a Vida e
representante do grupo no COMUI)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 163


9.5. INTEGRAÇÃO COM A EMPRESA PÚBLICA DE TRANSPORTE
E CIRCULAÇÃO (EPTC)
A parceria do grupo com a EPTC para um trabalho conjunto de educação
no trânsito para os idosos e para a população em geral teve início em março
2010. Trabalhamos juntos em uma campanha sobre o “Trânsito Seguro” com
a EPTC. O objetivo foi propiciar educação sobre segurança no trânsito para
a população, observância, obediência e respeito à faixa de segurança para
pedestres. Orientação das pessoas sobre a forma e os cuidados necessários
para atravessar ruas e avenidas. Junto com o grupo fizemos uma lista de
dados a serem preenchidos por quem quisesse ser voluntário no trabalho
desenvolvido junto a EPTC. Então, realizamos uma capacitação com os
idosos voluntários. Nos encontros se discutia o que fazer, como fazer, quem
fazia, quando, levantávamos a disponibilidade de tempo para participar. O
trabalho deveria ser feito em pequenos grupos. Realizamos um encontro
da direção do grupo e responsáveis pela campanha da EPTC, no dia 22 de
março, no meu consultório na Unidade Conceição para acordar os detalhes.
Num segundo momento convidamos outros grupos de idosos do Serviço
de Saúde Comunitária para participar da capacitação. Como resultado das
capacitações resultaram diversas intervenções nas ruas do bairro com o
pessoal todo vestindo camisetas doadas pela EPTC e com faixas nas esqui-
nas e cruzamentos de diversas avenidas da zona norte. Desde então todos
os anos temos tido atividades desenvolvidas pelo pessoal da educação do
trânsito da EPTC com o grupo. Em setembro 2019 o grupo foi convidado e
participou de atividade educativa para terceira idade em ação no Piquete da
EPTC no Acampamento Farroupilha, em Porto Alegre, foi uma excelente
oportunidade.
Senti-me muito honrado ao receber a ligação da Dra. Cristina,
pedindo-me que fizesse um breve relato a respeito de nossa parceria
ao longo dos anos. Falar sobre os momentos que tivemos com o
Grupo da Longevidade Viva a Vida é fácil, porque foram momentos
muito aprazíveis, com boas conversas, reflexões importantes sobre
segurança no trânsito, risadas, músicas, dança e, principalmente,
mesa farta… De pronto, consultei meus colegas aqui da Coordenação

164 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


de Educação para a Mobilidade da EPTC (Virlei, Julio, Luciana,
Castro e outros), para saber sobre toda a nossa trajetória com o
grupo, pois estou vinculado ao trabalho com este público há apenas
5 anos. Todos ressaltaram uma característica em especial para esse
grupo: a alegria. E, de fato, o sorriso fácil é flagrante, mesmo quando
recebo aqueles questionamentos ferrenhos sobre alguma demanda
viária não atendida...rsrsrsrs... A EPTC tem um trabalho específico
com a pessoa idosa há bastante tempo. São muitos os grupos e as
instituições que nos acompanham nessa trajetória. Com certeza, há
uma amizade especial com nossos amigos do Grupo Viva a Vida,
temos registros de atividades que remontam mais de 12 anos de
parceria. Muitas memórias vieram à tona: (a) Encontros no próprio
Hospital Conceição, em que, através de esquetes teatrais, refletía-
mos sobre o papel da pessoa idosa no trânsito. Talvez alguém ainda
lembre do nosso personagem Rosalino, um caipira um tanto cético
com as solucões apresentadas pelo cientista; (b) Logo passamos a
nos encontrar no galpão do 11º BPM, sede atual, em que participa-
mos de muitas atividades: reuniões, almoços comemorativos, ações
externas de conscientização social. A ferramenta do teatro continuou
sendo bastante utilizada nessa sede. Com certeza, o gaudério Mário
e suas soluções nada ortodoxas para o trânsito está na lembrança do
pessoal do grupo; (c) Apresentação de dança em nosso piquete, por
ocasião do Acampamento Farroupilha…. Enfim, momentos realmente
marcantes que ainda vamos repetir por muito tempo. Particularmente,
por fazer parte de um grupo de trabalho que qualifica as informações
referentes aos acidentes de trânsito em Porto Alegre, o programa
Vida no Trânsito, pude descobrir que o público 60+ requer atenção
especial por parte de todos. Os atropelamentos de pessoas idosas
são bastante significativos nas estatísticas de Porto Alegre e aspectos
relacionados a autocuidado (puxão de orelha) e ao respeito à con-
dição peculiar da fase idosa são fundamentais para a redução desse
tipo de violência. Assim, minha colega Luciana e eu começamos a
percorrer os grupos da cidade para falar especificamente sobre esse
tema. O Viva a Vida foi um dos primeiros grupos que conheci. Foi um
teste e tanto, viu! Pois o pessoal é bastante ativo e participativo; de

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 165


sorriso fácil, mas com críticas pertinentes. Acho que foi “encanta-
mento” à primeira vista. Nós da EPTC, em especial da Coordenação
de Educação, consideramos um privilégio desfrutar da amizade de
todos os participantes do grupo. E estamos sempre à sua disposição.
(Eduardo de Souza – educador e agente
de fiscalização de trânsito da EPTC)

9.6. INTEGRAÇÃO COM O DEPARTAMENTO MUNICIPAL DE


ÁGUA E ESGOTOS (DMAE)
O Grupo Viva a Vida teve a alegria de ter entre seus parceiros o
Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) e sua equipe de
Educação Ambiental. Esta parceria rendeu muitos encontros, oficinas,
palestras, passeios para conhecer lugares onde a equipe do DMAE promo-
ve ações que estimulam os cidadãos de Porto Alegre a adotarem práticas
responsáveis em relação ao meio ambiente e a cidade, no que diz respeito
às questões referentes à água e ao esgoto.
Nosso primeiro encontro foi em junho de 2016, com a Neorides Biachini,
para a apresentação do trabalho técnico e social do DMAE. Esse foi o Início
de uma excelente parceria. Desde então, diversos encontros foram realizados
para abordagem de diversos assuntos, entre eles, o destino adequado do lixo,
a reciclagem, a mudança de hábitos cotidiano que auxiliam na preservação
dos recursos naturais e podem tornar nosso planeta mais saudável.
Nos encontros a equipe de educação ambiental sempre trouxe dicas e
informações que permitiam a todos participar no cuidado com a água, com
a saúde de nosso planeta e com a limpeza de nossa cidade. Em 31 de julho
de 2016, no seminário com a Neurides e equipe, foram dadas preciosas
informações sobre saneamento e saúde. As atividades educativas mostra-
vam de forma prática a importância das pequenas atitudes cotidianas para
o cuidado com o meio ambiente. Por exemplo, com o aproveitamento de
sobras de alimentos é possível fazer delícias. Eles trouxeram bolo feito de
casca de banana que foi muito apreciado pelos participantes e em vídeo foi
dado o passo a passo da preparação da receita.

166 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Nesses espaços eram reforçadas as orientações sobre ações respon-
sáveis no uso da água como: (a) fechar bem as torneiras após o uso (a
torneira aberta durante 1 minuto gasta 3 litros de água); (b) fechar a tor-
neira enquanto escova os dentes ou faz a barba (uma torneira gotejando
gasta 46 litros de água/dia; um filete desperdiça de 180 a 750 litros/dia;
e uma torneira jorrando gasta de 25 mil a 45 mil litros/dia); (c) desligar
o chuveiro para se ensaboar e reabrir para se enxaguar. Evitar banhos
demorados. O chuveiro aberto durante 15 minutos gasta 60 litros de água;
(d) Antes de lavar a louça, remover restos de comida dos pratos e das
panelas; (e) evitar lavar as calçadas com mangueira. Usar a vassoura; (f)
molhar plantas e jardins ao entardecer ou amanhecer, utilizando o regador
em vez de mangueira. Isso evita a evaporação rápida da água; (g) evitar
que as crianças brinquem de tomar banho com mangueira; (h) ficar atento
aos vazamentos em pias, chuveiros e vasos sanitários. Consertar imedia-
tamente os vazamentos e fugas d´água, trocando as partes danificadas das
canalizações. Não fazer remendos provisórios. Nessa ocasião a equipe do
trabalho social do DMAE apresentou as informações com vídeo e ofertou
mimos e peças de artesanato.
Lembro que por ocasião da nossa participação no Seminário de Educação
Ambiental, em dezembro de 2016 o grupo realizou uma visita à estação
de tratamento da água (Rua 24 de Outubro) para conhecer todas as etapas
de tratamento da água e depois realizamos um lanche coletivo no pátio da
estação de tratamento. Outro seminário marcante foi em março de 2017 e
foi abordado o descarte adequado de óleo de cozinha reforçando as orien-
tações de não jogar óleo no vaso sanitário, na pia da cozinha, entre outros.
Também, foi abordado o reaproveitamento do óleo de cozinha. Mais uma
vez, no final do encontro, fomos agraciadas com um lanche delicioso orga-
nizado pela equipe do DMAE.
O Grupo Viva a Vida teve a oportunidade de receber educação am-
biental sobre diversos temas, de acordo com os registros, destacam-se: (a)
orientações e alerta sobre preservação dos mananciais de água, cuidado
com meio ambiente, preservação da saúde e dos recursos da comunidade,
implantação de redes coletoras de esgoto no Arroio Areia e benefícios

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 167


(22 de julho de 2017); (b) oficina sobre cidadania e meio ambiente como
informações sobre o lago Guaíba e os rios que o formam. Ainda, sobre
os arroios que deságuam no Guaíba e a carga poluidora de varias nature-
zas que vem junto, causando variações na qualidade da água do Guaíba
(julho de 2018); (c) participamos com a equipe do DMAE da mateada
na Praça Irani Bertiel. Rodada de chimarrão, distribuição de mudas de
flores, erva e sabão ecológico (28 de setembro de 2018); (d) palestra sobre
as principais doenças causadas pela água: como hepatite, cólera, febre
tifóide, verminoses, malária e leptospirose (dezembro de 2018). Houve
outros encontros, alguns com música e integração entre os vizinhos na
comunidade.

9.7. INTEGRAÇÃO COM O 11º BATALHÃO DA BRIGADA MILITAR


Diante do aumento de diversos tipos de violência, em Porto Alegre,
essa temática tem sido motivo de grande preocupação e sentimento de
insegurança entre os idosos. Diariamente, nos meios de comunicação, são
noticiados crimes, atentados, roubos, entre outras situações de violência
que nos surpreendem e assustam. Esta preocupação levou o Grupo Viva a
Vida a buscar contato com o 11º Batalhão da Brigada Militar para solicitar
orientações que pudessem ajudar o grupo como cidadãos, principalmente,
por pertencerem a um grupo populacional vulnerável, devido a idade avan-
çada. Por entenderem que seria muito importante orientação nessa área foi
solicitada a realização de palestras e tivemos a aprovação desta atividade por
parte do Comandante do 11º Batalhão da Brigada Militar Tenente Coronel
Waldeci Antunes dos Santos. Os encontros realizados em setembro de
2016 com o grupo auxiliaram na identificação das principais situações e
comportamentos que podem nos expor a um perigo maior. Os educadores
da Brigada Militar orientaram os idosos para buscarem um comportamento
com a menor exposição possível, também exemplificaram comportamentos
e situações que devemos evitar para prevenir situações de violência e tornar
a vida menos estressante e arriscada.

168 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


9.8. CONSULTORIA NA ELABORAÇÃO E INSCRIÇÃO DE
PROJETOS PARA CAPTAÇÃO DE RECURSOS
A diretoria do Grupo da Longevidade Viva Vida com as diversas expe-
riências que teve percebeu que precisava começar a buscar apoio financeiro
para dar sustentabilidade aos projetos que a entidade desejava desenvolver
com os idosos. A primeira experiência para buscar recursos para executar
projetos aconteceu em julho de 2015. O grupo inscreveu junto ao COMUI,
para obter financiamento, o projeto “Atividade Física na promoção do
Envelhecimento Saudável”. O grupo tinha autorização para captação de
recursos com pessoas físicas e jurídicas, doações dedutíveis do imposto de
renda. Em 2016, o grupo decidiu buscar apoio profissional com a “Projectar
Assessoria de Gestão Social” para elaborar projetos e conseguir ampliar a
captação de recursos.
Em 2016, fomos procurados pela presidente do Grupo da
Longevidade Viva Vida, Dra. Cristina Padilha Lemos, que buscava
alternativas para a organização e sustentabilidade da entidade. O
Grupo da Longevidade Viva a Vida tinha um longo tempo de existên-
cia, mas precisava assumir sua independência do Hospital GHC e
obter reconhecimento da comunidade, como uma associação capaz de
se manter de forma independente e organizada com uma gestão admi-
nistrativa, social e financeira, com domínio na captação de recursos
financeiros. A assessoria elaborou um plano de ação para intervenção
na gestão do grupo diretivo capacitando-o com ferramentas e suporte
técnico que oportunizassem a organização da gestão de forma clara
e transparente na busca da sustentabilidade. Naquele momento era
muito importante a preparação dos 8 membros da diretoria executiva
para que coordenassem as atividades sociorrecreativas e culturais,
divulgando suas atividades e ações nas redes sociais, em desenvol-
vimento, ao mesmo tempo que se preparavam para serem capazes
de buscar diferentes formas a captação de recursos financeiros, com
domínio e expertise, principalmente no Fundo Municipal do Idoso de
Porto Alegre. Entre os assuntos abordados na consultoria trabalha-
mos a gestão financeira, a elaboração de um plano de comunicação

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 169


e sustentabilidade, a busca de editais de financiamento, o acesso aos
processos do COMUI (cartilha de elaboração de projetos, documen-
tação e prestação de contas), a elaboração da Cartilha de Gestão, a
montagem de novos projetos, entre outros. Também, a organização
da documentação da entidade; análise e estruturação estatuto; ela-
boração do regimento interno; organização e registro das reuniões
e das atividades em atas; organização de reuniões; orientação sobre
e gestão de pessoas; desenvolvimento de oficinas socioculturais e
recreativas e o planejamento do trabalho com a montagem de um
plano anual de atividades.
(Cristina Pozzer – Projectar Assessoria de Gestão Social)

De fevereiro a junho de 2017 a empresa Projectar Assessoria de Gestão


Social, de Cristina Pozzer e Karla Buzzacaro, elaborou um plano de ação
para realizar oficinas para o grupo diretivo capacitando-os com ferramentas
e suporte técnico que oportunizassem a organização da gestão e dos seus
projetos. Com esse apoio e aprendizado a diretoria do grupo passou a elaborar
projetos que foram submetidos a apreciação do COMUI, conforme editais
desse período, com o intuito de obter recursos financeiros para sua execução.
Durante 2017 a direção do grupo trabalhou muito na construção de
projetos para aquisição de material para ser usado nos encontros do grupo
e teve um projeto aprovado na chamada pública realizada pelo COMUI.
Esse Projeto aprovado pelo COMUI garantiu recursos, em 2018, para a
realização das oficinas culturais e educativas, para as sessões de cinema,
para os coffee breaks das reuniões do grupo.
A diretoria desde 2015 busca a elaboração e submissão de projetos a
editais públicos para captação de recursos para seus projetos, especialmente
aos editais do COMUI. Foi por meio de um projeto submetido ao COMUI
que conseguimos recursos para a publicação desse livro contando nossa
trajetória de atuação.

170 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


REFERÊNCIAS
BARBOSA, Keylla Talitha Fernandes; OLIVEIRA, Fabiana Maria Rodrigues
Lopes de; FERNANDES, Maria das Graças Melo. Vulnerabilidade da pessoa
idosa: análise conceitual. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 72, supl. 2, p. 337-
344, 2019 Acesso 30 nov. 2020. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672019000800337&lng=en&nrm=iso
BERTOLOZZI, Maria Rita et al. Os conceitos de vulnerabilidade e adesão na
Saúde Coletiva. Rev Esc Enferm USP, 2009; 43(Esp 2):1326-30. Acesso 30 nov.
2020. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43nspe2/a31v43s2.pdf
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:
2016. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf
BRASIL. Senado Federal. Estatuto do Idoso. Dispositivos Constitucionais
pertinentes a Lei n.º 10.741, de 1.º de outubro de 2003. Brasília: Secretaria
Especial de Editoração e Publicações do Senado Federal. Subsecretaria de
Edições Técnicas, 2003. 66 p. [Acesso 8 Agosto 2020]. Disponível em: https://
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70326/672768.pdf
CARMO, Michelly Eustáquia do; GUIZARDI, Francini Lube. O conceito de vul-
nerabilidade e seus sentidos para as políticas públicas de saúde e assistência social.
Cad. Saúde Pública, 2018; 34(3):e00101417. Acesso 30 nov. 2020. Disponível
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FERREIRA, VSC., and SILVA, LMV. Intersetorialidade em saúde: um estudo
de caso. In: HARTZ, ZMA., and SILVA, LMV. orgs. Avaliação em saúde: dos
modelos teóricos à prática na avaliação de programas e sistemas de saúde
[online]. Salvador: EDUFBA; Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005, pp.
103-150. ISBN: 978-85-7541-516-0. Acesso 30 nov. 2020. Disponível em:
http://books.scielo.org/id/xzdnf/epub/hartz-9788575415160.epub

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 171


172 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 173
174 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
10 DAO ENSINO E A PESQUISA NO GRUPO
LONGEVIDADE VIVA A VIDA
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo,
os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.”
(Paulo Freire).

“O saber a gente aprende com os mestres e os livros. Já


a sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes.”
(Cora Coralina).

O ensino e pesquisa acompanham a trajetória do Grupo da Longevidade


Viva a Vida. Ele nasceu dentro de uma instituição de ensino e pesquisa, o
Grupo Hospitalar Conceição. Neste capítulo relato alguns momentos em
que o grupo foi campo de ensino e de pesquisa na área da saúde do idoso.
Destaco, também, que o grupo se tornou uma referência na cidade, enquanto
campo de pesquisa para estudos de pós-graduação que abordavam questões
relacionadas ao envelhecimento.

10.1. O ENSINO NA INSTITUIÇÃO E AS INFLUENCIAS NO GRUPO


DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA
O Serviço de Saúde Comunitária (SSC), conforme relatado no capítulo
2, nasceu para ser o campo de atuação do Programa de Residência em
Medicina de Família e Comunidade. Com o passar do tempo e o crescimento
do serviço à instituição sentiu-se a necessidade de ampliar a formação de es-
pecialistas em Atenção Primária e, em 2004, criou o Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da Família ampliando a formação para as áreas
da enfermagem, odontologia, serviço social e psicologia. Posteriormente,
houve nova ampliação para as áreas de nutrição e farmácia. O SSC, histo-
ricamente, também, tem sido campo de estágio para estudantes de diversas
áreas da saúde, tanto para cursos de graduação de diversas universidades
quanto de cursos técnicos, especialmente para a área da enfermagem.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 175


Os estudantes das diversas áreas e residentes que estão nos campos da
Atenção Primária, especialmente aqueles lotados na Unidade Conceição,
costumam participar do grupo de convivência de idosos. Vários estudan-
tes, estagiários e residentes utilizaram essa experiência junto ao Grupo da
Longevidade Viva a Vida como campo para estudo e suas pesquisas de
conclusão de curso. A participação dos estudantes sempre foi voluntária e
a passagem pelo grupo durante o estágio é opcional, nosso objetivo é dis-
ponibilizar e/ou agregar a experiência com grupo de idosos na bagagem de
conhecimento e prática dos residentes, estagiários e estudantes de graduação
e pós-graduação das diversas instituições.
No período que eu atuava como docente no curso de pós-graduação na
Saúde do Idoso da Escola GHC os alunos me acompanhavam no atendimento
aos idosos no ambulatório da Unidade Conceição e, também, nas reuniões
do Grupo Viva a Vida. Essa disponibilidade para receber estudantes no
grupo de idosos nos permitiu a convivência com diversos profissionais que
estavam fazendo pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) e
com estudantes de graduação de diversas áreas, os quais têm contribuído
de forma muito especial com o grupo, pois trazem informações e diferentes
abordagens e perspectivas sobre o envelhecimento saudável.
O Grupo da Longevidade Viva Vida é um local muito importante para
interação e desenvolvimento de atividades de estudantes em formação e/ou
em aperfeiçoamento, pois essa é uma habilidade que precisa ser desenvol-
vida tendo em vista a tendência global de envelhecimento da população. O
crescente número de idosos na sociedade se dá em parte pelo aumento da
expectativa de vida, sendo que a faixa etária de 80 anos ou mais, é a que
mais cresce no mundo. (OPAS, 2018).
As colegas da Unidade Conceição, companheiras de trabalho, Maria
Amália (psicóloga) e Simone Valvassori (enfermeira) fazem parte dessa cons-
trução coletiva que tem sido a trajetória de ensino e pesquisa junto ao grupo.
Tornar o espaço do grupo um campo de estágio da psicologia foi uma ideia da
Maria Amália que muito nos ajudou. Também, a iniciativa da Simone de trazer
os estudantes da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
(UFCSPA) para realizar palestras e oficinas de promoção da saúde dos idosos.

176 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


O grupo é campo para desenvolvimento de atividades do Programa
Educação para o Trabalho – PET Saúde e Projeto RONDON da UFCSPA,
desde 2009. Este projeto tem como objetivo contribuir para a formação in-
tegral dos estudantes, por meio de ações de promoção, prevenção e atenção
à saúde, com vistas ao enfrentamento das vulnerabilidades sentidas pelo
idoso, que vivencia um período marcado por mudanças físicas, psíquicas e
sociais. Nesse período da vida destaca-se a importância do envolvimento
social, de se relacionar e se sentir prestativo (importante) para os outros e
para a sociedade (papel que o grupo desenvolve com êxito), ainda de realizar
atividades que auxiliem a manutenção da autonomia, tendo em vista que as
pessoas vão ter ainda um longo período de vida, no qual podem reavaliar,
retomar antigos projetos ou se dedicar a novos interesses.
A enfermeira Simone Valvassori lembra que a sociedade, de forma geral,
ainda tem visões muito negativas sobre a velhice, associando-a ao final da
vida, a doenças e à morte. Essa percepção negativa tem promovido o afas-
tamento dos idosos da vida social levando-os ao isolamento. Entretanto, os
idosos possuem um enorme potencial de vida, de enriquecimento e atualiza-
ção, no qual é possível redescobrir-se continuar aprendendo e experienciando
coisas novas, especialmente quando se sentem integrados ao seu contexto
social e familiar. Os estudantes e profissionais que passam pelo Grupo Viva
a Vida se sentem privilegiados e felizes com essa oportunidade de convívio.
Era início de 2016. Eu, recém-formado na Faculdade de Medicina
da PUCRS, esperava ansioso pelas primeiras semanas da minha
Residência em Medicina de Família e Comunidade. Não sabia muito
bem o que esperar, mas tinha alguma ideia. Sabia que seria alocado
em um posto de saúde da zona norte de Porto Alegre e, além dos
atendimentos ambulatoriais, teria atividades complementares. Entre
as atividades complementares, estavam os grupos comunitários, onde
ocorria a convivência dos profissionais com os idosos e se abordavam
diversos temas, como, por exemplo, hipertensão, diabetes, gestação,
entre outros. Logo na primeira semana da residência médica, mal ha-
víamos começado a atender nossos pacientes e já ouvimos falar do tal
“Grupo viva a vida” da Dra. Cristina (que na época também era uma

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 177


de nossas preceptoras). Muita gente falava desse grupo. Diziam que o
grupo já tinha muitos anos e era um dos mais conhecidos do serviço,
quiçá de toda a zona norte. Mas o que esse grupo tinha de tão especial?
Em breve eu e minhas colegas de residência descobriríamos. Conforme
os dias passaram, fui convidado para participar de um dos encontros
semanais do “Grupo Viva a Vida”. Chegando lá, no Galpão do CTG
da Brigada Militar, me deparei com uma porção de pessoas, cerca de
40, em sua maioria mulheres idosas. Algumas com sorrisos no rosto,
algumas com rosto fechado, outras que gargalhavam. Muitas estavam
bem maquiadas. Dava para perceber claramente que aquele evento
representava parte importante da vida de várias pessoas que estavam
lá. A Dra. Cristina, com o ânimo que lhe é característico, orquestrava
o encontro. Além das notícias semanais e dos avisos ao grupo, sempre
trazia algum tipo de atividade interativa. Ocorriam aulas a respeito de
algum tema pertinente, como, por exemplo, o envelhecimento saudável.
Ocorriam comemorações aos aniversariantes. Algumas idosas tinham
até um grupo de dança e se encontravam em outros dias da semana
para ensaios. Também eram organizadas viagens periódicas. Enfim, era
uma festa. Aos poucos, comecei a gostar daquilo e, quando eu percebi,
o grupo estava fazendo bem para mim também. Após aquelas várias
horas semanais de trabalho que todo médico residente tem de enfrentar,
eu encontrava ali um momento de diversão, de valorização da vida,
de leveza, e de absorver exemplos e aprendizados com pessoas mais
experientes. Muitas das pessoas participantes do grupo eram também
minhas pacientes no consultório, e isso foi fundamental para um en-
tendimento mais integral daquela pessoa, podendo ajudá-la da melhor
forma possível. Além disso, em eventuais momentos, a Dra. Cristina não
podia comparecer ao grupo e então nós, residentes, organizávamos o
encontro. Isso também acabou sendo uma experiência muito importante
na minha formação. Creio que o Grupo viva a vida, além do enorme
benefício que gera aos seus participantes ao longo de todos esses anos,
também contribui de maneira substancial na formação acadêmica dos
alunos e residentes que passaram e ainda passam por ele. A formação
não está só nos livros e dentro do consultório. Também está fora dele,
junto à comunidade. Vida longa ao Grupo Viva a Vida!
(Eduardo Portz – médico de família e comunidade)

178 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Minha experiência no grupo de idosos foi em 2014 e, em 2016.
No primeiro encontro, em 2014, eu participei como aluna do curso de
especialização em gestão da saúde do idoso do GHC. Observei como
era a dinâmica do grupo, qual a idade aproximadamente dos partici-
pantes, como eles interagiam com a Dra. Cristina e o que ela levava de
conhecimento, alegrias e experiências para os idosos. Já em 2016, eu
fui como fisioterapeuta para dar uma palestra sobre exercícios para a
coluna e postura. Neste dia, além de transmitir meu conhecimento, eu
interagi com alguns idosos e observei como a maioria era independente,
porém, outros eram dependentes de cuidados e auxílio de familiares
e profissionais da saúde. Enfim, todos os idosos ali presentes estavam
muito felizes e fazia parte da rotina deles a presença no grupo, além da
participação com perguntas, relato de experiências e interação entre
eles. Nestes dois encontros que eu tive eu percebi que o grupo de idosos
traz uma saúde física e mental para os participantes, e principalmente,
traz orientações sobre o autocuidado em saúde sob a condução da Dra.
Cristina e com participações de diversos profissionais. Todos idosos
sempre curiosos em aprender e cuidar da sua saúde. Sou muito grata
em ter participado.
(Marina Branco Stein – fisioterapeuta)

10.2. A PESQUISA NO GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA A VIDA


O Grupo Viva Vida além de colaborar como campo de formação em saúde
do idoso para profissionais de diversas áreas, também tem sido campo de
pesquisa na área de saúde do idoso e educação em saúde. O grupo possui
um grande número de participantes que mantêm uma frequência constante.
Desde os primeiros anos de trabalho com o grupo para mim se tornou evi-
dente que pertencer a um grupo de idosos, ter orientações sobre qualidade de
vida e problemas frequentes que afetam essa faixa etária, esclarecer dúvidas,
ter horas de convívio com pessoas que enfrentam problemas semelhantes
se refletia na qualidade de vida dos participantes.
De acordo com a OMS (WHO, 2005) estimular o envelhecimento ativo é
fundamental para a qualidade de vida dos idosos, e para mim, pelo tempo que
realizo o acompanhamento do grupo, foi se tornando evidente os resultados

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 179


das ações realizadas no Grupo Viva a Vida no cotidiano dos idosos. Essa
observação me instigou a fazer uma pesquisa com os idosos sobre os reflexos
das atividades em grupo na aderência ao tratamento de problemas de saúde
e identificar a influência dessa participação na qualidade de vida dos idosos.
Com essa ideia em mente busquei auxílio do pessoal da epidemiologia
e organizamos o projeto de pesquisa: “Grupo de Hipertensos do Serviço de
Saúde Comunitária do GHC: a importância do apoio social na aderência ao
tratamento sob o ponto de vista dos usuários e da coordenação do grupo”.
O objetivo do estudo foi de avaliar o papel do apoio recebido no grupo e
seus reflexos na adesão ao tratamento da hipertensão.
Alguns anos depois já havia outros grupos de convivência de idosos nas
Unidade de Saúde da GSC do GHC e com a participação de uma colega da
Comunitária, a enfermeira Sandra Rejane Soares Ferreira, organizamos um
projeto de pesquisa com base na Política Nacional de Saúde do Idoso denomi-
nada: “Avaliação de uma intervenção educativa para promover qualidade
de vida em grupos de idosos”. A pesquisa foi realizada durante os meses de
maio a novembro de 2009 e o objetivo do estudo foi avaliar se um grupo de
idosos do Serviço de Saúde Comunitária que desenvolvia “atividades edu-
cativas de forma tradicional” influenciava na melhoria da qualidade de vida
dos idosos que o frequentam e comparar esses resultados com os dados de
um grupo de idosos do mesmo serviço que implantou “atividades educativas
sistemáticas focadas em situações e necessidades de saúde frequentes em
idosos”. Em ambas metodologias de trabalho (tradicional e sistemática) foram
identificados benefícios com a oferta de atividades educativas e da oferta de
informações relacionadas à saúde, especialmente no nível de conhecimento e
do reconhecimento dos fatores de riscos associados as condições crônicas de
saúde e da importância das medidas de prevenção e da adesão ao tratamento.
Entretanto, o trabalho realizado por meio de “atividades educativas sistemáti-
cas focadas em situações e necessidades de saúde frequentes em idosos”, com
apoio de cartilha educativas (Brasil, 2012; Brasil, 2009a; Brasil, 2009b), foi
mais efetiva ao ajudar a promover mudança de hábitos e estilos de vidas não
saudáveis; a aumentar a prática de atividades físicas (ofertadas pelo grupo);
a adotar uma alimentação saudável; a evitar o tabagismo.

180 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Como meio de promover a qualidade de vida na terceira idade, a atividade
física está entre os principais fatores por apresentar efetividade para todas
as populações, melhorar a saúde e facilitar os contatos sociais, desde que
seja adaptada à faixa etária do indivíduo (WHO, 2005). Esses resultados
podem ter sido positivos devido à interação entre atividade física, vida social
e saúde mental, pois, ao incentivar a prática de atividades físicas como ação
de educação em saúde, promove-se a interação do idoso com outras pessoas
e estimulam-se as atividades mentais através da sua participação ativa.
Outra experiência relevante para o grupo foi a pesquisa realizada pelo
professor Telmo Alberto Flores que inicialmente atuou no grupo como convi-
dado para ministrar palestras sobre filosofia dos povos indígenas. Após esse
contato identificou a riqueza do campo de trabalho com as pessoas idosas e
retornou, em 2007, como voluntário da UNISINOS e desenvolveu o projeto
“Fortalecimento do assoalho pélvico com atividade física e a prevenção e
melhora da incontinência urinária”. Essa pesquisa foi seu trabalho de con-
clusão do curso de educador físico. Telmo promoveu atividade física de
fortalecimento da musculatura pélvica duas vezes por semana durante três
meses. Para ter um local adequado para as práticas solicitamos uma sala ao
Sindicato dos Metalúrgicos para que Telmo realizasse as atividades físicas
com o grupo. O convite para participar da experiência foi realizado durante
os encontros do grande grupo nas quartas-feiras. Os idosos manifestavam
o interesse em participar durante a reunião e a seguir eu agendava uma
avaliação clínica de forma a estabelecer previamente ao início da pesquisa
e das práticas dos exercícios o grau de incontinência urinária de cada idoso.
A cada uma das participantes foi aplicada a versão em português do “King’s
Health Questionnaire” (KHQ), com perguntas que avaliavam como a pessoa
descrevia sua saúde, como os problemas de bexiga afetavam sua vida, se
tinha enurese, qual o grau de incontinência, a frequência de ir ao banheiro,
se o problema de bexiga podia afetar o sono ou as atividades diárias, se
havia limitações físicas ou sociais, se o problema afetava o relacionamento
com o seu parceiro.
Nas consultas clínicas realizadas quase todas as pacientes avaliadas
apresentavam algum grau de incontinência urinária. Muitas tinham prolapso

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 181


genital em diferentes graus (inclusive grau IV), musculatura do períneo flácida,
queixas de constrangimento social por conta da incontinência, entre outros
desconfortos. Após a prática dos exercícios por três meses, conforme avalia-
ção do pesquisador, todas apresentaram melhora dos seus sintomas e houve
uma melhora significativa na qualidade de vida das participantes. A melhora
alcançada foi proporcional ao grau de dificuldade apresentada previamente
à prática dos exercícios. Todas as participantes referiram aproveitamento da
prática regular dos exercícios orientados, especialmente na melhoria do tônus
muscular do períneo e da qualidade de vida diária. Os exercícios prescritos,
praticados e supervisionados levavam em conta o correto posicionamento do
corpo, a contração e o relaxamento da musculatura abdominal e perineal, bem
como orientações sobre respiração entre outros aspectos contemplados nas
práticas visando à efetividade dos exercícios nos músculos do períneo para
auxiliar no controle de incontinência nos seus diversos graus.
O Grupo da Longevidade Viva a Vida foi campo de inúmeros trabalhos
de conclusão de curso (TCR) da graduação e pós-graduação, infelizmente
não temos o registro nos documentos do grupo de todas essas experiências
e de todos os estudantes que acolhemos e que desenvolveram atividades
educativas e de pesquisa com os idosos. Mas, encerramos esse capítulo com
o relato de uma estudante muito especial para o grupo, pois ela nos conheceu
na infância e retornou ao grupo como profissional.
Tive a felicidade de conhecer o grupo ainda pequena quando ia ao
colégio e no contra turno ficava com minha avó, Beverly Cordeiro Goyer.
Ela era participante do grupo e me levava junto aos encontros semanais.
Para mim era um acontecimento à parte: “velhinhos” reunidos, con-
versando, dançando, aprendendo e a presença de uma médica incrível e
acessível, aquilo me encantava. Cresci e escolhi seguir o caminho da área
da saúde ingressando no curso de farmácia em 2004. Durante a escolha
do tema do meu trabalho de conclusão de curso não tive dúvidas: queria
estudar e contribuir para aquele grupo que conheci quando era pequena.
Entrei em contato com a Dra. Cristina que me recebeu com todo carinho
que lhe é característico e expliquei meus objetivos: realizar um projeto
de pesquisa com os idosos que se mostrassem interessados e oferecer
palestras sobre farmacologia no dia a dia deles. Tive uma receptividade

182 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


enorme e pude concluir meu projeto, mas principalmente contribuir para
aquele grupo que tantas coisas boas levou para a minha avó e para mim.
Quero fazer um agradecimento a todos os idosos que contribuíram com
meu crescimento profissional e pessoal e em especial a Dra. Cristina, uma
pessoa ímpar de uma generosidade e empatia singulares.
(Tassiana Gulias – farmacêutica)

10.3. O BANCO DE ALIMENTOS E O GRUPO VIVA A VIDA


Ao participar do Fórum de entidades de idosos, a nutricionista do Banco
de Alimentos, Adriana da S. Lockmann, conheceu a educadora física Ellen
Sampaio, professora de pilates do Grupo Viva a Vida, e incentivou a partici-
pação do Viva a Vida nos projetos de educação alimentar e de saúde do Banco
de Alimentos. Nesse encontro as profissionais agendaram uma reunião com a
professora Ellen e a diretoria do Grupo Viva a Vida para propor essa parceria.
A reunião ocorreu dia 16/07/2019 com as nutricionistas Adriana Lockmann
e Estela Scariot que apresentaram a proposta do grupo participar no estudo
de doutorado e mestrado delas, um projeto conjunto do Banco de Alimentos
e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
A pesquisa, um ensaio de campo randomizado, buscou avaliar o efeito
de diferentes programas de educação alimentar sobre os conhecimentos
dos idosos em nutrição, estado nutricional e consumo alimentar. Entre os
programas de educação alimentar avaliados estavam os projetos: (a) Passos
da longevidade: uma equipe multiprofissional (Nutrição e Psicologia) realiza
atividades de educação alimentar utilizando o lúdico como processo tera-
pêutico epistemológico; (b) Oficina do sabor: realiza atividades de educação
alimentar tendo como estratégia a preparação e degustação dos alimentos.
No dia 31/07/2019 as pesquisadoras apresentaram a proposta do estudo
para o grupo de idosas Viva Vida e estas foram convidadas a participar.
Inicialmente 24 idosas aceitaram participar e foram randomizadas nos
dois projetos. Um dos passos do estudo foi realizar a avaliação nutricional,
antropométrica e de conhecimentos em nutrição no local onde o grupo se
reúne. As atividades programadas por cada um dos projetos ocorreram
semanalmente e duraram 12 semanas (3 meses).

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 183


Devido a excepcionalidade da pandemia da Covid-19 o Grupo de
Longevidade Viva a Vida teve suas atividades presenciais suspensas e passou
a conversar em um grupo de WhatsApp que continua ativo até o momento.
Mas, desde o final do ano de 2020 o grupo se reestruturou e passou a realizar
encontros semanais por meio da plataforma virtual do Google Meet. Ainda,
no segundo semestre de 2021 estruturou um conjunto de oficinas abordando
diversas temáticas que serão realizadas online. Entretanto, esperamos que
tudo isso passe para que o grupo possa voltar a se encontrar presencialmente
e compartilhar seus abraços carinhosos que aquecem nosso coração.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Cartilha de apoio ao
autocuidado para pessoas com problemas crônicos de saúde: cartilha do usuário
autocuidado: o ingrediente essencial no cuidado à saúde; organização Cristina
Padilha Lemos, Sandra R. S. Ferreira; Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da
Conceição, 2012. 68p. Disponível em: http://online.pubhtml5.com/azza/tuct/#p=4
BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Promoção do en-
velhecimento saudável: vivendo bem até mais que 100!: cartilha do profissional
de saúde; Cristina Padilha Lemos, Sandra R. S. Ferreira; ilustrações de Maria
Lúcia Lenz. Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2009a. 80p.
Disponível em: https://www.portaldaenfermagem.com.br/downloads/cartilha-
-promocao-envelhecimento-profissional-saude.pdf
BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Promoção do
envelhecimento saudável: vivendo bem até mais que 100!: cartilha do usuário;
Cristina Padilha Lemos, Sandra R. S. Ferreira; ilustrações de Maria Lúcia Lenz.
Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2009b. 42p. Disponível
em: http://online.pubhtml5.com/azza/iwyn/#p=6
ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE (OPAS). Brasil. Banco de
Notícias. Folha informativa - Envelhecimento e Saúde. Fevereiro de 2018. [Acesso 8
Agosto 2020] Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_con-
tent&view=article&id=5661:folha-informativa-envelhecimento-e-saude&Itemid=820
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Envelhecimento ativo: uma
política de saúde; tradução Suzana Gontijo. Brasília: Organização Panamericana
da Saúde, 2005. 60p. [Acesso 8 Agosto 2020] Disponível em: https://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf

184 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 185
186 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
11 OGRUPO
IMPACTO DAS ATIVIDADES DO
NA VIDA DOS PARTICIPANTES
“Não imaginas o bem que me faz o bem que te quero.”
(Mario Quintana).

“Cada um de nós é constituído em grande parte pela coletividade


em que nasceu e em que vive: é formado e informado por ela.”
(José Ortega y Gasset).

O Grupo da Longevidade Viva a Vida tem se mostrado um espaço pri-


vilegiado de convivência entre os idosos, de rede de apoio, de discussão
das situações vivenciadas no dia a dia, da descoberta de potencialidades,
de novos experimentos, de socialização e de crescimento. Neste capitulo
de forma muito amorosa, sincera e muitas vezes emocionada, será relata-
do o que as pessoas que construíram e mantêm o grupo em sua trajetória
constante escreveram sobre o bem que pertencer a esse grupo fez e faz. É
consenso que os encontros com o Grupo Viva a Vida, trazem repercussões
na vida de cada idoso em particular e do coletivo de idosos e destes com
seus círculos familiares e de amigos. Mas, como parte da coordenação desse
trabalho também desejo falar do bem que esse grupo me fez e me faz e dessa
reciprocidade na nossa relação amorosa.
O Viva a Vida propiciou a ampliação da rede de amigos e tem favorecido
o suporte social e emocional, tem ampliado a autoestima, tem mantido os
idosos ativos, mais alegres e solidários. A participação tem sido um remédio
para muitos males, principalmente a depressão, o sentimento de invalidez e
a solidão. Alguns idosos relatam que o grupo repercutiu nas suas questões
de identidade porque depois da aposentadoria, depois que os filhos ficaram
independentes e foram construir suas vidas e/ou residir em outros lugares,
depois que perderam seus pares e/ou familiares, sentiram o ninho vazio e a
vida sem sentido, mas nos encontros com o grupo suas vidas se encheram
de alegria e novas perspectivas em relação a (re)construção de uma nova

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 187


identidade. É sobre isso que estaremos falando a seguir, da química que
existe no participar, do remédio que é pertencer ao grupo e, também, de
como tem sido maravilhoso o envolvimento dos voluntários, profissionais
e estudantes, que participam do grupo, doam e recebem muito afeto.

11.1. O G R U P O : A M B I E N T E D E T R A N S F O R M A Ç Õ E S
SIGNIFICATIVAS
A experiência com o trabalho, nesses 34 anos, junto ao Viva a Vida,
tem se mostrado uma importante estratégia para a promoção da saúde dos
idosos. Nesta trajetória foi possível testemunhar verdadeiras transformações
em muitos idosos. O ambiente alegre e afetivo tem sido, ao longo do tem-
po, um estimulo para o convívio e para o desenvolvimento de habilidades
desconhecidas como, por exemplo, representar em esquetes teatrais, contar
histórias, cantar, dançar, entre outras inovações. A diversidade de experiên-
cias e o convívio amoroso permitiram aos idosos, olhar para o seu processo
de envelhecimento como uma experiência positiva. A convivência com seus
pares é sem dúvida uma contribuição importante para o envelhecimento
ativo, saudável e com mais qualidade de vida.
A constituição do grupo propiciou a formação de uma rede ampla que
se estendeu por diversas áreas da instituição, da comunidade e da cidade
de Porto Alegre. A socialização e o compartilhamento de informações e
experiências, muito antes das redes sociais invadirem nossas vidas, foi
característica comum entre os componentes do grupo. Nessa época não
tínhamos disponíveis tantos recursos de comunicação como dispomos
hoje, mas a rede se constituía no boca a boca, na visita à vizinha para levar
um recado, no cartaz em lugares chaves da comunidade. Nos encontros
as pessoas se viam, se tocavam, ficavam próximas, dividiam problemas
e preocupações, refletiam sobre possíveis soluções, reforçando o valor da
amizade, da confiança, do companheirismo e do sentimento de integração
e de pertencimento.
O grupo tem cumprido uma função singular ao suprir necessidades que
são de todos os seres humanos, pertencimento, convívio, manutenção das
relações sociais, apoio emocional, espaço de escuta. Tenho observado que

188 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


a participação no grupo vem ao encontro das necessidades dos idosos de
estabelecerem relações pessoais e compartilharem momentos em comum.
A convivência agradável com demonstração de amabilidade, empatia pelo
outro, respeito e generosidade é um verdadeiro remédio às preocupações
e angústias do cotidiano, especialmente quando se vive só. Com o desen-
volvimento do trabalho percebemos a importância da convivência grupal
para os idosos, o que permite a eles novas experiências nessa fase de vida,
de forma que continuem seus processos de desenvolvimento. Sentir-se
aceito(a), respeitado(a) e importante no grupo, ajuda muitas vezes na rea-
proximação com sua família, na reconstrução de suas relações e na certeza
de que merecem respeito de todos, inclusive dos seus familiares, dos quais
algumas vezes relatavam receber críticas e discriminação. Através do grupo,
pôde-se perceber que os idosos tiveram seus vínculos familiares e de ami-
zades fortalecidos, ainda que a oportunidade de compartilhar experiências,
rever a própria história e dar a ela um novo significado é um estímulo para
continuar a viver cada vez melhor, consigo mesmo e com os outros. Vimos
que à medida que as pessoas frequentam o grupo começam a se envolver
uns com os outros e com o contexto da comunidade, a partir desse encontro
as transformações nos seus cotidianos acontecem.
Não sei esclarecer muito bem, mas esse grupo é tudo para mim.
Amo todas as pessoas que a gente convive no grupo, as suas palestras
Dra. Cristina, nas quartas-feiras, são fantásticas, os nossos ensaios
de dança são muito bons, ainda mais que eu adoro dançar. São 20
anos que estou no grupo. Naquela época que entrei, a Mariazinha era
a presidente. A gente tem muita coisa boa para contar desse grupo.
Esse grupo levantou meu astral eu adoro vocês e não saio por nada.
Para mim sair só por uma causa muito grave.
(Maria Josefa Ferreira – membro do grupo)

No grupo a gente preenche o tempo. É lazer e é trabalho ao mesmo


tempo. Acho legal a gente ajudar, ajudar quem precisa. Temos de
dar um retorno, participar. Quando a gente recomeçar as atividades
vamos nos organizar, ter um objetivo. Já realizamos coisas como

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 189


o­ rganizar material escolar pra crianças carentes, buscar auxílios
para alimentação. Tem muitas pessoas que querem ajudar. Eu falo
para o pessoal sobre o grupo. Ficam muito empolgadas em fazer
cursos de educação em saúde. A Sra. não tem ideia do bem que me
fazem essas reuniões, frequentar o grupo é uma terapia.
(Gladis Regina Silveira Ferreira – membro do grupo)

Eu entrei no grupo em 2004. Eu era paciente da Dra. Cristina e


na trajetória de minha separação comecei a ficar muito deprimida,
comecei a tomar medicação e fazer terapia com a psicóloga Maria
Amália. A senhora (Dra. Cristina) me convidou, comecei a frequentar
o grupo, escutar os depoimentos dos outros e interagir. Com a minha
separação eu tinha muito medo de não dar continuidade a minha
situação financeira. Tinha muito medo de ficar sozinha e que minha
filha escolhesse ficar com o pai. Eu era técnica de enfermagem em
uma clínica Lassalista (particular). Minha filha escolheu ficar comigo
e 18 anos depois minha filha precisava de mim no cuidado com meus
netos e eu ainda tinha de cuidar minha mãe. Já cuido dela há 14 anos.
Faz todo esse tempo que estou na estrada com ela. Tenho dois irmãos
e uma irmã só, que trabalha e a irmã mora fora. O grupo me ajudou
a lidar melhor com todas essas fases da minha vida.
(Inês Balestri – membro do grupo)

11.2. O GRUPO: ESPAÇO DE DOAÇÃO E DE CONFIANÇA


Desde o começo das suas atividades o grupo contou com contribuição
voluntária de profissionais de diferentes áreas e de estudantes, isto permitiu
que pudéssemos abordar os mais diversos temas e desenvolver uma gama
imensa de atividades com conhecimento técnico, alegria, bom humor, serie-
dade e comprometimento. A promoção dessa variedade de atividades ajudou
na manutenção do interesse e da presença contínua dos(as) participantes que
têm se mostrado muito disponíveis. O grupo é considerado pela maioria
dos(as) idosos(as) como um lugar de integração, um espaço terapêutico.
Percebemos que no envolvimento com as ações do grupo acontece o ­vínculo,

190 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


a aproximação e a amizade. Isto tem sido um ingrediente fundamental na
vida dos(as) idosos(as), construir relações significativas que ajudam na
confiança pessoal, no nível de satisfação com a vida e na capacidade de
enfrentar problemas.
Nos encontros, desde o início, trabalhamos com atividades que estimu-
lam a autoconfiança, promovam o empenho em manter a independência e
o autocuidado (saber se preservar para se manter saudável, física e emocio-
nalmente). O envelhecimento traz consigo mudanças físicas, psicológicas
e emocionais que podem afetar a autonomia e a independência, por isso, o
envelhecimento ativo e o autocuidado são fatores extremamente importantes,
os quais podem ajudar a reduzir os impactos das mudanças que acontecem
ao envelhecer. Percebemos que os idosos que resgatam a autoestima e o
respeito próprio, no envolvimento com atividades no grupo, sentem-se mais
úteis e vêem novos sentidos para a vida, o que motiva para o autocuidado. O
processo de envelhecimento também pode significar continuar aprendendo
a aproveitar a vida e viver cada minuto com a intensidade que ele merece.
Vou falar um pouco do início desta caminhada quando os idosos
vieram aprender a se cuidar, a usar a medicação necessária e a fazer
seus exercícios. Nesse espaço se conheciam e fazíamos passeios. Eles
eram criação e cuidado da Dra. Cristina, sempre que pude participei
e apoiei. Tinha a época das vacinas no grupo para eles não preci-
sarem vir no posto ou enfrentar fila. A gente percebia o quanto eles
ficavam felizes. Chegavam faziam suas atividades brincavam e no dia
da consulta diziam o quanto estavam bem e que pouco precisavam da
consulta. Ficavam maravilhados, encantados com tudo que podiam
fazer e ouvir no grupo. Faziam tudo que precisava, combinavam pas-
seios, encontros e chegavam no posto sempre arrumadas e cada vez
melhores. Não podiam ficar doentes porque estava chegando aquele
dia que tinham de estar lá nas atividades do grupo. Diminuíam as
consultas e eles ficavam muito bem. Foi uma coisa muito importante
e é até hoje. Ficaram muito bem, homens e mulheres fizeram de tudo
com o grupo para viver uma vida melhor. Viver melhor.
(Eraci Ferreira – técnica de enfermagem
da Unidade Conceição - GHC)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 191


Quando eu entrei no grupo eu já era viúva (1988). Em 1995 eu
perdi meu filho Sidnei com 29 anos com diabetes. Ele deixou uma
sementinha que foi o Luis Felipe com 5 aninhos que agora está com
29 anos formado em direito. Passado 17 anos perdi minha querida
filha Dulce Helena, em 2012, era professora. Estava com 52 anos e
morreu de câncer. Deixou 2 filhos maravilhosos. O Talhes com 25 anos
que trabalha num navio cruzeiro e a Tainá tirando uma faculdade
com 22 anos. Então eu só tenho a agradecer a esse Grupo Viva a Vida
que sempre me deu muita coragem para seguir tocando a vida. Quem
me trouxe para esse grupo foi minha amiga e conterrânea Regina no
ano 2000. A presidente era a Maria Nerci, a professora de dança era
a Thais e o professor de tango o Antonio. Sempre fui muito guerreira
e minha filha também era muito guerreira e ela gostava muito desse
grupo. O grupo me deu suporte para seguir em frente.
(Maria Josefa Ferreira – membro do grupo)

11.3. OS BENEFÍCIOS QUE O GRUPO DEU PARA O GRUPO


Participar, fazer parte de, compartilhar experiências e o seu tempo
com outros idosos trouxe vários benefícios para os participantes do Grupo
Viva a Vida e para seus colaboradores voluntários. Nos depoimentos dos
participantes, realizados de forma espontânea ou por entrevista, sobre a
participação no grupo, ao longo dos anos, retratam o quanto o fator psi-
cossocial foi significativo na melhoria da confiança pessoal, da satisfação
com a vida e da capacidade de enfrentar problemas, relatam gratificação e
orgulho de fazer parte. A OMS define como fatores psicossociais todos os
aspectos relacionados a interação subjetiva entre as pessoas e/ou entre elas
e seus grupos sociais e/ou de trabalho, as quais interferem no bem-estar, na
qualidade de vida e, também, nos processos de saúde, seja mental ou física.
No grupo os idosos reafirmam o seu ingresso nessa nova etapa de vida
e se permitem vivenciar o processo com alegria e com orgulho por tudo
que já foi vivido. Abrem-se para outros propósitos e possibilidades, ofe-
recem seu aprendizado e aprendem novas formas de viver e se relacionar
com seus pares. O envolvimento grupal naturalmente cria novos vínculos,

192 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


amigos, parcerias para diversas atividades, o que tem sido um ingrediente
fundamental para manter a independência, o autocuidado e a qualidade de
vida dos idosos. Na convivência afetiva ocorre um resgate da autoestima,
sentem-se úteis e descobrem novos sentidos para a vida. Percebem que o
envelhecimento não significa estar parado em casa esperando a morte chegar
e que podem aproveitar cada minuto dessa nova fase da vida. À medida
que as pessoas frequentam o grupo, começam a se envolver com os outros
e com a comunidade, nesse processo a transformação acontece.
A abordagem proposta para o grupo, desde seus primeiros passos, foi
de trabalharmos pela mudança do atual paradigma sobre o envelhecimento,
construído pela sociedade de produção e consumo, na qual o idoso deixa de ser
alguém útil, produtivo e, portanto, para suas atividades, deixa de ter uma vida
significativa tornando-se frágil e dependente até adoecer gravemente e morrer.
Este modo de ver as coisas tem sido apropriadamente chamado por Deepak
Chopra de “hipnose do condicionamento social”, uma ficção na qual coletiva-
mente concordamos em acreditar e participamos coletivamente do processo, a
crença influencia a mente que influencia cada célula existente em nosso corpo
e aceleramos esse processo. No grupo nosso trabalho parte do entendimento
de que o envelhecimento humano é um processo fluido e cambiável; pode ser
acelerado, reduzido, parar por algum tempo e até mesmo reverter-se. Existem
centenas de descobertas científicas, fruto de pesquisas realizadas nos últimos
30 anos, que comprovam que o envelhecimento é muito mais dependente do
indivíduo do que jamais se sonhou. Desde o início do trabalho estamos juntos
empenhados nesse novo aprender a envelhecer. Sabemos que o modo como
nos relacionamos com os outros e com o mundo, como dormimos, respiramos,
trabalhamos e até mesmo a opinião sobre nós mesmos, influencia na forma de
viver e envelhecer. Sob este ângulo nos propomos trabalhar junto aos idosos
a possibilidade de (re)aprender a viver de uma maneira que possa contribuir
com a ampliação da nossa saúde e jovialidade. O trabalho com grupos pode
ajudar as pessoas a permanecerem independentes e ativas à medida que en-
velhecem. Pela participação e exemplo de alguns idosos, outros se sentirão
encorajados a realizar um maior investimento nas atividades que auxiliam
no envelhecimento saudável, no bem-estar, na manutenção da saúde física e

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 193


mental. Ainda, o ativismo dos idosos no campo das políticas de promoção da
saúde e de prevenção de doenças, especialmente aquelas direcionadas aos mais
velhos, tem sido uma importante oportunidade de participação na sociedade
com reconhecimento por sua contribuição, o que eleva os sentimentos de
valorização, respeito e segurança.
Nos depoimentos coletados por meio de entrevistas nos encontros que
ocorreram antes da pandemia da Covid-19, por telefone, por e-mail e no
levantamento dos registros do grupo sobre essa temática foi possível iden-
tificar o bem que o grupo faz aos seus participantes. Eles contam como
souberam da existência do grupo, se houve incentivo para que participassem,
há quanto participam ou participaram dos encontros e atividades, quais os
benefícios que identificam com essa participação e como compartilham os
conhecimentos adquiridos. Foi um trabalho carinhoso de escuta e registro
das histórias pessoais, das preocupações, dos desabafos, das mudanças que
obtiveram em suas vidas, os quais respeitosamente procuro relatar.

O que o grupo representa para você?


• Alegria e convívio social;
• Alegria. Companheirismo;
• Amizade, aprendizado, alegria;
• Amizade, coleguismo. Me sinto ótima no grupo. Adoro participar do
grupo, é tudo de bom. As pessoas são especiais para mim. Os passeios
são maravilhosos, as reuniões nas quartas-feiras. O pilates, a professora
Ellen é nota 10;
• Aprendizado, saúde, aceitação das nossas diferenças, um lugar para
pensar em um bom envelhecimento;
• Através do grupo saí da depressão;
• Convivência, alegria, informação, novas amizades, trocar ideias e
receber muito carinho de todos;
• Convívio social, encontro com amigos queridos;
• Diversão, alegria, integração. Fomos visitar diversos lugares e passa-
mos a participar mais. É muito importante. Passamos horas de alegria;
• Diversão, amizade e convivência;

194 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


• Encontro, lazer, conhecimento, colo, aconchego, participação, ami-
zade, alegria;
• Este grupo é tudo de bom para mim, pois nas minhas horas tristes,
nas minhas perdas, foi este grupo maravilhoso que levantou meu astral.
Obrigada de coração, amo vocês;
• Felicidade. O grupo me trouxe muitas amigas.
• Gosto muito e me sinto útil dentro do grupo;
• Interação com as pessoas, encontrar amigas, realizar passeios;
• O grupo ensina e conforta. Convívio social;
• Representa muitas coisas boas;
• Representa socialização, conhecer o dia a dia das pessoas da minha
comunidade, principalmente os idosos;
• Representa tudo. Apoio emocional, amizades, movimento e autoestima;
• Representa uma família. Muito amor, integração, convívio e tudo de
positivo para minha vida;
• Tudo de bom, uma das melhores coisas que já fiz;
• Tudo de bom. Levanta meu astral. Fiz muitas amizades. Amo cada
pessoa deste grupo. Me sinto feliz com minhas amigas do grupo de dança;
• Tudo. Alegria, saúde, amizade, afeto;
• Tudo. Apoio emocional, amizades, reforço na autoestima;
• Tudo. Integração, amizade, distração, convivência com outras pessoas;
• Um maravilhoso grupo de amizade. Adoro, adoro o grupo. Muita
informação e aprendizado de humanidade;
• Uma maneira de descontrair, aprender e ter boas companhias.

Como soube da existência do grupo (houve incentivo) e há quanto


tempo participa das atividades?
• Foi há alguns anos em uma consulta com a Dra. Cristina. Ela que me
indicou para o grupo. Resumo, agradeço tudo a Dra. Cristina;
• Há 1 ano. Vim com a Antonia, Odete e Rosa;
• Há 1 semana. A Odete, Antonia e a Vera;
• Há 10 anos. Quando levei meu pai para consultar com a Dra. Cristina;
• Há 14 anos. Foi indicação da Dra. Cristina;

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 195


• Há 19 anos. Pela Regina, minha conterrânea de Arroio dos Ratos;
• Há 2 anos e meio. Dos vizinhos do condomínio, a Geni;
• Há 3 anos e meio. Através da Zoila. Fazer pilates a Antonia nos con-
vidou;
• Há 3 anos. Indicação de uma amiga, a Elizabete;
• Há 3 anos. Por indicação do posto de saúde;
• Há 3 anos. Pertenço a unidade Conceição e fui indicada por Cristina
Lemos, médica;
• Há 4 anos. Através de uma amiga, a Inês;
• Há 4 anos. A Dra. Cristina na Unidade de Saúde Conceição convidou
e a Lorena me falou que tinha pilates;
• Há 4 anos. Por indicação da Dra. Cristina Lemos ao meu marido;
• Há 4 meses. Indicação de uma amiga de minha filha;
• Há 5 Anos por indicação da Dra. Cristina no posto Conceição;
• Há 5 anos. Soube por acaso. Moro perto;
• Há 6 anos eu soube deste maravilhoso grupo, vim visitar e gostei. Uma
amiga que nos convidou;
• Há 6 anos. Indicação da Dra. Cristina.
• Há 6 anos. Meu marido faleceu e eu estava bem deprimida. Daí a
Gládis que era minha amiga me convidou;
• Há 6 anos. Soube do grupo pela colega Adina Losch;
• Há 6 meses, conheci uma pessoa que se tornou minha amiga e me
convidou para participar do grupo, a Gládis;
• Há 9 meses. Por meio de Jussara Duarte;
• Há uns 15 anos. Pela Dra. Cristina no Posto Conceição;
• Participo há 4 anos por indicação da Dra. Cristina;
• Participo por indicação da Marlieze, há alguns anos;
• Vim através da minha amiga Antonia há algum tempo.

Qual o impacto e/ou benefícios e/ou mudanças ocorridas na sua vida


a partir da participação no grupo?
• Ainda não tenho história específica para contar pelo fato de fazer pouco
tempo que frequento, mas no todo me faz muito bem. Os benefícios que

196 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


o grupo me traz é que voltei a viver após 5 anos;
• Ajuda e colaboração do grupo na organização e diretoria;
• Através do grupo consegui me descontrair. É muito bom sair com as
amigas para conversar;
• Através do grupo sai da depressão;
• Benefícios? Muitos, principalmente boa camaradagem de todos;
• Cheguei muito triste, deprimida e recebi colo, carinho, sai muito bem.
Os benefícios que o grupo me traz é diminuir a depressão;
• Fiz muitas viagens maravilhosas e aprendizado de vida de humanidade;
• Me traz muita alegria após a recuperação de uma doença que fui
curada, graças a Deus;
• Melhora meu humor e minha saúde;
• Minha história é de amizade, conheci várias pessoas legais. Que o
grupo continue cada vez melhor. Para mim está tudo ótimo. A diretoria
é nota 10, pessoas dedicadas e sempre dispostas;
• Muitas coisas, participar dos encontros, de algumas surpresas com as
amigas, dos passeios;
• Muitas histórias, muitas coisas boas, nas viagens principalmente;
• Na amizade da turma eu sempre encontro conforto;
• Não sabia dançar agora danço e estou mais leve;
• O grupo entrou na minha vida e transformou minha existência. A
partir do momento que convivemos com pessoas que nos trouxeram
experiências, palestras e nos ajudaram a ver que podemos conviver em
grupo apesar das diferenças;
• O grupo me traz tudo de bom;
• O maior benefício foi que eu aceitei a maturidade com alegria pelas
experiências e convívio com o grupo. Observo que quando chego, deixo
algumas pessoas felizes porque danço e faço palhaçadas;
• Participação nos eventos, harmonia, reflexão e convívio;
• Quando cheguei no grupo já me senti em casa, fui muito bem acolhida.
Envelhecer com bom humor e aceitar melhor a idade sem sofrer com isso;
• São tantas histórias maravilhosas porque são 19 anos, para falar tudo
vai faltar papel. (risos).

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 197


À medida que lia os depoimentos, escutava as conversas por telefone,
resgatava os registros dos encontros, pude ver que a participação dos idosos
no grupo, por si só, havia propiciado diversos benefícios: diminuir a solidão,
propiciar amizades, aumentar a autoestima, socializar, melhorar a integração
com familiares, resgatar valores pessoais e sociais, oferecer suporte social e
apoiar a adoção de um estilo ativo e saudável de vida. Durante todos esses
anos nos quais acompanho o Viva a Vida, como responsável técnica do
grupo, tive a felicidade de ver e acompanhar cada um dos participantes e
me sinto parte da conquista de cada e de muitos acontecimentos importantes
para o grupo. O Viva a Vida se tornou uma família que muito marcou minha
vida não só pelas mudanças que causou e causa em seus participantes quanto
por tudo que tem contribuído para nosso crescimento pessoal e meu desen-
volvimento profissional. Finalizando esse capítulo eu descreveria o trabalho
de mais de 30 anos com o Grupo da longevidade Viva a Vida como difícil,
fácil, emocionante e fundamentalmente gratificante. As conclusões sobre
essa longa jornada até o presente momento são surpreendentes, pois o que
faz as pessoas felizes de verdade é o afeto e os relacionamentos construídos
ao longo dos anos. Encerro o com alguns depoimentos que tenho certeza
que também tocarão o coração de vocês.
Fiquei sabendo do grupo pela Lorena. Ela faz biodança há muitos
anos e ela me falou desse grupo e me disse: quem sabe tu faz um
trabalho voluntário lá? Isso é muito importante por causa da minha
questão familiar e tem sido meu único meu contato presencial nesse
momento. Faço muito é dar aulas e encontros, mas é virtual. Para
mim é muito importante o grupo. Muito especial. O grupo é muito
ativo, aceita mudanças. Se abraçam mais, tem muito carinho entre
elas, isso se vê bem nas aulas e eu pretendo continuar por causa da
minha formação e também porque esse participar é importante para
mim como pessoa.
(Maria de Fátima Graziottin – professora de biodança)

Eu entrei no grupo acho que foi em 2010. Eu levava meu pai


para consultar com a Dra. Cristina e ela indicou que levasse ele no

198 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


grupo. Eu fui e gostei, meu pai não gostava dessas coisas. Eu fui e
gostei, gostava das palestras, eu tinha tempo, tinha me aposentado,
tinha vergonha de me apresentar. Aprendi a relaxar, todo mundo era
da minha idade eu aprendi a dançar e também me ajudou de outras
maneiras, eu sou outra pessoa. Novas amizades, muito queridas,
aquele grupo é uma família que a gente tem lá. Só em casa eu sentia
muita falta. Ajuda a gente a se apresentar em público. Jamais eu
iria me apresentar em público. Meu filho diz: “mãe no meu tempo
tu não fazia isso”. Eu era uma pessoa muito contida, tinha de fazer
tudo certinho, tinha de ser perfeita em tudo. Tinha medo de errar.
Esses 30 anos de trabalho em escola de freiras me marcaram. As
irmãs exigiam de mim e tinha que estar sempre certa. No grupo eu
consegui relaxar. Tinha vergonha de colocar uma saia daquelas e eu
achava uma palhaçada. Cada dia, fui aprendendo. Até na ginástica
eu tinha vergonha de ser ridícula. O grupo me ajudou bastante, me
tirou daquele vazio que eu sentia de ficar só em casa depois que me
aposentei. Também, me aliviou daquela rotina de casa. No grupo a
gente preenche o tempo com coisas novas. É lazer e é trabalho ao
mesmo tempo. Acho legal a gente ajudar, ajudar quem precisa. Temos
de dar um retorno participar. Quando a gente recomeçar (depois da
pandemia) deve se organizar, definir nossos objetivos, por exemplo,
organizar material escolar pra crianças carentes, auxiliar na ali-
mentação de quem precisa. Tem muitas pessoas que querem ajudar.
Eu falo para o pessoal sobre o grupo. Ficam muito empolgadas em
fazer cursos de educação. A Sra. (Dra. Cristina) não tem ideia do
bem que me fazem essas reuniões. Esse livro vai valorizar mais os
grupos. Acho que não tem nenhum assim sobre os grupos. Eu indiquei
várias pessoas. Indiquei pra Marli, pra Nilda. O grupo foi excelente
para elas. É bom que a Sra. fale com ela. Ela é muito inteligente. Ela
trabalhava na Câmara em Ijuí, com deputados, daí veio para Porto
Alegre para cuidar dos netos e ficou deprimida. Veio me pedir para
bordar uma toalha para ela eu indiquei o grupo. A Sra. não faz ideia
do bem que fez, ela estava no último de depressão e o grupo fez um
bem enorme para ela.
(Gládis Regina Silveira Ferreira – membro do grupo)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 199


Desde que entrei no grupo, foi tu que me convidou (Dra. Cristina),
minha vida mudou. Foi numa consulta eu estava deprimida e tu me
convidou e eu comecei no grupo. Eu não tinha meta, foi muito bom.
Sou muito feliz e te agradeço demais por isso porque foi muito bom
na minha vida. Assim que eu entrei tinha o pilates e eu comecei
a participar e depois acho que foi a Marilda me convidou para a
dança. As gurias me convidaram também e quando eu vi, eu estava
dançando. Sinto falta demais disso. Eu adoro a dança tanto com a
Marilda como com a Lais. Mudou meu astral, eu melhorei 100%. Eu
adoro tanto a dança como os passeios, as viagens as reuniões, então,
são tudo para mim. E eu adoro também as tuas palestras.
(Dalva Madrid Peres – membro do grupo)

Em uma tarde de novembro de 2013, após um dia de trabalho


voluntário no Hospital Conceição, fui na cafeteria da Eloá com uma
amiga e conheci a Marliese que fez o convite para gente participar do
Grupo Viva Vida. Eu fazia trabalho voluntário no Hospital Conceição
com uma amiga. A gente costumava sair às cinco e meia e passava
na Eloá pra tomar um cafezinho com pão de queijo e conversar. Eu
sempre quis participar de um grupo depois que me aposentei. Já era
novembro e ela disse que agora iriam encerrar, mas que poderíamos
ir para conhecer e depois no ano seguinte começar. Na quarta-feira
seguinte eu fui. A Mariazinha veio me receber, me recebeu muito bem
e me explicou como é que funcionava. Achei muito bom, fiquei até o
final da reunião e sai feliz da vida. Me achei. Desde o primeiro dia
fui muito bem recebida por todos. Esse grupo..., são mulheres muito
fortes, ativas, guerreiras. Eu entrei no grupo, em 2014, no penúltimo
ano da Mariazinha. Quando chegou março convidei a Lourdes para
ir e já no primeiro dia as gurias já me convidaram para participar da
dança. Minha amiga não se encontrou. Ela é mais paradinha, ela disse
que não ia ir mais. Ali me achei, me encontrei, fui muito bem recebida,
fiquei muito feliz. Minha mãe sempre me dizia que a gente conquista
as pessoas com doçura, carinho, que a gente sempre precisa estabe-
lecer um meio termo para se relacionar e eu sempre fiz isso. Sempre
teve uma amiga ou outra no grupo, fiz amizades, fui me entrosando.

200 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Fazendo os chás, participando das danças. Sempre uma alegria, expe-
rimentar as roupas que a Zefa fazia para a gente se apresentar, para
as apresentações de dança. E desde que cheguei tive muita afinidade
com todos, o que foi uma grande alegria para minha vida. Aquela feliz
coincidência de conhecer a Marliese preencheu a minha vida. Me fez
me sentir mais alegre, mais feliz e ganhar grandes amigas. Adoro as
palestras, dos diversos assuntos que sempre são tratados no grupo, e
as brincadeiras com os estudantes residentes e orientações. Os dias de
biodanza. A Lindinha quando vai contar historias e interagimos com
ela. A abordagem da Dra. Cristina, as suas orientações e a palavra
sempre amiga nas horas certas. Eu acho que faço tão pouco pelo muito
que recebo. Sinto falta das amigas, do aconchego. A gente empresta
o ouvido para ouvir desabafo. No grupo a gente desabafa e escuta.
(Maria Teresa Soares – membro do grupo)

Eu não ia a grupo nenhum. Dai conheci uma mulher que era


mãe de um colega do meu filho e ela me falou do grupo onde fazia
ginástica. Me disse que eu devia participar do grupo. Nunca fui e os
anos passaram e meu marido faleceu. Um dia a Gládis me convidou
porque eu estava muito triste pela perda do meu marido com 63 anos.
Então, eu comecei. Não lembro bem, mas faz mais ou menos 6 anos.
Comecei a ir no grupo e adorei. Bastante coisas, os chás, as amiza-
des, participava dos passeios. Muito bom tudo. Me ajudou muito e
nunca mais parei de ir. Tem amigas que parece que são mais de casa
da gente, conhecem muito bem a gente e na rua são muitas amizades
boas. Eu adoro as pessoas, a gente pega aquele compromisso e no
domingo mesmo já começa a pensar na quarta-feira. É muito bom
esse grupo a gente vê pessoas que moram sozinhas, que moram em
apartamento e ficam bem isolados e o grupo faz muito bem para a
cabeça da gente. As palestras são muito boas a gente aprende muito.
Não pode acabar. Eu conheci uma pessoa no pilates, a Soraia. Ela
mora bem perto de mim e ela hoje é minha filha. Ela está sempre me
ligando para sair com eles. Ganhei uma filha. Ela é um amor que a
gente tem desde que nos conhecemos no grupo. Foi no pilates.
(Marli Martiz Roose – membro do grupo)

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 201


Gratidão, esse grupo é só gratidão, pois recebemos as aulas de
medicina para os cuidados com o nosso envelhecimento. A Dra.
Cristina nos orientou em suas palestras como melhor administrarmos
a chegada da “terceira idade”. É uma alegria a convivência com as
pessoas da minha geração. Participamos juntos de viagens, festas
temáticas, dança, música, passeios, almoços, chás, jogos, artesanato,
etc. Diversos palestrantes com os mais variados temas. São anos de
saudável convivência e aprendizado. Obrigado.
(Marli Joejhson – membro do grupo)

Eu conheci o grupo por teu intermédio Dra. Cristina. Na verdade,


fui me inscrever para participar do pilates e para poder fazer o pilates
tinha de frequentar o Viva a Vida e foi uma coisa muito boa que me
aconteceu. Isso foi há 8 anos e desde lá eu participo do grupo. Útil
para tirar a gente de dentro de casa, é uma terapia, uma aprendi-
zagem. A gente sozinha acha que sabe tudo, com a convivência fica
mais humilde, tolerante, mais amistosa. A gente aprende muito no
grupo. As pessoas necessitam carinho. O grupo mostra o quanto a
convivência tem feito bem para nós. Quanto mais gente no grupo
melhor para as pessoas. O grupo foi um achado na vida das pessoas.
Me acho muito útil. Os benefícios que o grupo faz para as pessoas
da nossa idade é muito importante. As pessoas chegam precisando
de serem escutadas, querem desabafar e sempre tem alguém para
escutar a gente. A gente não para e tem bastante atividade. Nós somos
uma gente diferente. A gente conta piada, dá muita risada. Eu levei
umas 5 amigas para o grupo. Levo pessoas ativas. Eu levei a Rosa,
a Dinorá. Achei tão benéfico, que olho para uma pessoa e sei que
participar do grupo seria bom para ela também. Vai se beneficiar.
(Maria Antonia Guimarães – membro do grupo)

202 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 203
204 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
12 AO VIDA
GRUPO DA LONGEVIDADE VIVA
EM 2020: DESAFIOS PARA
MANTER A CONECTIVIDADE
“Quando tudo nos parece dar errado, acontecem coisas
boas que não teriam acontecido, se tudo tivesse dado certo.”
(Renato Russo).

“Agora que a velhice começa, preciso aprender com


o vinho a melhorar envelhecendo e, sobretudo, a escapar
do terrível perigo de, envelhecendo virar vinagre.”
(Dom Hélder Câmara).

Quando estávamos finalizando o processo de escrita para edição deste


livro e aguardando o financiamento do COMUI, em março de 2020, fomos
surpreendidas pelo decreto da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre
a pandemia da Covid-19. Desde as primeiras análises sobre o impacto da
doença na população, em vários países, foi identificado que pessoas maiores
de 60 anos estão mais vulneráveis e podem desenvolver quadros mais graves
da doença, bem como possuem maior risco de morte pela doença. Portanto,
em março de 2020, o grupo teve sua trajetória de encontros semanais e suas
inúmeras atividades físicas presenciais interrompidas. A pandemia trouxe
inúmeras mudanças na forma de viver e de se relacionar na sociedade, no
trabalho, com nossos amigos e nossa família. Sendo os idosos grupo de risco
para a o agravamento da doença não foi mais possível realizar os encontros
presenciais, fomos obrigados(as) a vivenciar o distanciamento social, cada
um(a) em sua casa, com o objetivo de manter-nos protegidos(as) da infecção
por este vírus.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou aos países que na
medida em que o vírus se espalhasse aqueles países com sistemas de saúde
e proteção sociais mais debilitados teriam uma taxa de mortalidade maior

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 205


para os idosos. Além da grande ameaça à vida, a pandemia colocou as pes-
soas idosas em maior risco de pobreza, perda de suporte social, trauma por
estigma, discriminação e isolamento.
Questões como o distanciamento social, a invisibilidade, o luto e o
abandono durante a pandemia da Covid-19 se arrastam há mais de um ano
e preocuparam e ainda preocupam as pessoas que compõem a diretoria do
Grupo Viva a Vida, bem como idosos do grupo e profissionais que apoiavam
as atividades.
Felizmente, como alternativa abriu-se a possibilidade de conhecermos e
experimentarmos o mundo digital e solicitarmos ajuda e apoio para a criação
de produtos que pudessem ser utilizados com mais facilidade pelos idosos.
O movimento foi buscar ajuda para gerar estratégias que permitissem aos
idosos acompanhar a transição digital que o mundo exige para dar esperança
de continuidade do grupo e construirmos planos para o futuro. A pandemia da
Covid-19 trouxe mudanças que vão precisar permanecer por um longo perí-
odo, portanto foi necessário considerar a necessidade de fazer o movimento
para o aprendizado digital. Trabalhamos para conseguir apoio e recursos
para um trabalho mediado por tecnologias digitais, tanto para a diretoria
quanto para os(as) voluntários(as) e para os idosos em isolamento social.
Nesta busca de parceria tivemos o apoio da Universidade Federal de
Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), do Conselho Municipal do
Idoso (COMUI) e do Banco de Alimentos de Porto Alegre para a criação de
uma Cartilha de Letramento Digital “Bê á Bá Digital” que foi finalizada no
seu formato impresso e digital sendo disponibilizada para todos(as) os(as)
participantes do grupo. A cartilha veio apoiar o propósito de dar continuidade
ao contato e encontros com os idosos de forma virtual oferecendo informação
e conhecimento com a adequação cultural necessária para apoiar os idosos
a utilizar as mídias digitais para reunião e para conversar com seus pares.
Esse trabalho a distância tem como objetivo favorecer a manutenção do
grupo e continuar ajudando as pessoas a realizarem as atividades que são
importantes para o seu bem-estar físico, social, psicológico e mental e que,
mesmo que mediadas pelas ferramentas digitais possam manter o espaço
de afetuoso convívio.

206 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


As atividades de pilates e dança continuaram acontecendo online, desde
o início da pandemia, entretanto a maior parte dos idosos ainda não está
familiarizada com as ferramentas digitais, plataformas para reuniões, cha-
madas de vídeo, entre outras. Atualmente, estão sendo oferecidas oficinas e
encontros online para preparar os idosos para utilizarem essas ferramentas e
foi estimulado que os idosos busquem apoio dos familiares, especialmente
os mais jovens, filhos, netos, sobrinhos para apoiar os idosos a ingressarem
de forma facilitada nas plataformas de reunião e isto tem sido importante
nesse processo de inclusão digital.
A interatividade do grupo e da sua diretoria continuou ocorrendo des-
de o encerramento das atividades presenciais por meio de um grupo de
WhatsApp e do Facebook. Depois, no segundo semestre de 2020, a diretoria
do grupo iniciou reuniões e encontros mediados na plataforma virtual do
Google Meet. Estar juntos em grupo, participar da sociedade de acordo
com nossas possibilidades, desejos, capacidades e necessidades é tudo que
sempre fizemos no Viva a Vida e que amamos fazer. Entretanto para que
possamos continuar mantendo nossa rede de apoio mútuo o desafio agora é
aprender sobre essas tecnologias digitais que nos desafiam. Criar condições
estruturais para que todos os idosos tenham acesso a essas novas formas de
aproximação para redução do isolamento social, pois com o agravamento
da pandemia que ocorreu, no Brasil, no primeiro semestre de 2021 e com
o surgimento de novas variantes do vírus não temos ideia de quando será
seguro voltarmos a nos reunir presencialmente.
A pandemia da Covid-19, também interrompeu o planejamento da diretoria
do grupo que não pode ter reuniões presenciais e por isso decidiu que faria
as suas próximas eleições somente quando a crise sanitária terminasse e/ou
encontrasse uma forma segura de fazer o processo eleitoral. A atual diretoria
do grupo tem muita preocupação com cada um e com todos os idosos do
Viva a Vida e estão se empenhando para buscar os recursos necessários para
promover mais atividades online e incentivar a rede próxima aos idosos para
que apóie, auxilie e ensine a utilização das ferramentas digitais de modo a
ampliar a participação naquelas atividades que já começaram a ser desenvol-
vidas à distância (virtual) até que se possa voltar a conviver com segurança.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 207


O processo de imunização contra a Covid-19 foi iniciado, no Brasil,
em janeiro de 2021 priorizando-se a aplicação das vacinas nos idosos e
profissionais de saúde. Mas, embora as vacinas tenham renovado nossas
esperanças de sair da crise sanitária sabemos que a maioria da população
precisa ser imunizada e que elas não garantem 100% de eficácia contra o
coronavírus Sars-CoV-2, nenhum imunizante ou medicamento tem esse
poder. Assim, os cuidados com a higienização das mãos, o uso de máscaras
e o distanciamento social continuam sendo extremamente necessários, mes-
mo para aqueles que já se vacinaram. A alta circulação do vírus no Brasil
e as novas variantes, fazem o risco de infecção crescer. Mesmo em países
com mais de 60% da população imunizada, como é o caso da Inglaterra, de
Israel e dos EUA, os casos voltaram a subir em julho de 2021, após meses
de queda. Essa alta é atribuída a uma das variantes do o coronavírus (Sars-
CoV-2) e estamos vendo que mesmo indivíduos totalmente imunizados
podem adoecer, isso porque a maioria das vacinas desenvolvidas até agora
protegem contra o agravamento do quadro ou o óbito pela doença, mas não
tem o poder de conter totalmente o contágio. Ainda, existem muitos aspectos
relacionados a imunização e a doença que não conhecemos e estão sendo
estudados à medida que o processo de imunização avança para as faixas
etárias mais jovens.
A pandemia da Covid-19 trouxe com ela perdas incalculáveis, medos e
sofrimento, especialmente para a população idosa. As notícias nos meios
de comunicação falam diariamente dos altos índices de óbitos em idosos,
fazendo menção aos casos de pessoas com 80 anos ou mais, que tem uma
mortalidade cinco vezes maior do que a mortalidade global. Este risco
eminente é altamente ansiogênico e tem levado muitas pessoas a quadros de
depressão. As doenças mentais também estão no centro das preocupações
dos organismos internacionais como ONU, a OMS e a OPAS. Os idosos
enfrentam dificuldades reais para acessar as plataformas digitais de comu-
nicação, o que pode acabar impactando em um isolamento ainda maior em
uma época em que o recomendado é a ausência do contato físico.
Os idosos, ainda que mais vulneráveis à situação de saúde mundial,
não devem ser tratados como invisíveis ou inúteis, sendo inegável, a ne-

208 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


cessidade de que ocorra empatia social, a fim de que haja a preservação
da saúde física e mental dos idosos da melhor forma possível. Entretanto,
o apoio e/ou formas de proteção não podem ser revestidas de atitudes que
retirem dos mais velhos a sua autonomia para tomar todas as decisões que
puderem tomar e para executar todas as atividades que se sintam capazes de
realizar. É preciso compreender que a proteção não deve jamais se revestir
de qualquer ordem de violação, transgressão ou supressão de direitos. Mas,
o impacto da pandemia nas nossas vidas, os recentes encontros virtuais do
grupo, bem como os desafios de mantermos nossa conectividade são parte
de uma história que começou a ser construída e que provavelmente irá nos
render novos capítulos para os livros que futuramente vamos escrever.
Nesse momento estamos finalizando o processo de escrever sobre a
trajetória do Grupo da Longevidade Viva a Vida de 1986 a 2020. Com essa
publicação é possível conhecer os pilares com os quais foi estruturado e
desenvolvido por 34 anos nosso trabalho em grupo, junto com os idosos.
Iniciamos nossa história com um grupo de pessoas que tinham a proposta de
realizar educação em saúde, para problemas específicos como a hipertensão,
a diabetes, dentro de um espaço institucional, mas o propósito evoluiu, se
ampliou, desenvolveu-se e cresceu graças à ampla participação comunitária.
O trabalho realizado com base em um conceito amplo de saúde permitiu o
desenvolvimento de uma nova visão sobre o processo de envelhecimento e
as necessidades das pessoas idosas o que ampliou nossa visão sobre atuação
social e intersetorial fazendo deste espaço coletivo um lugar de promoção
da vida no qual estão intensamente imbricados sentimentos, afetos, co-
nhecimentos, informações, solidariedade, militância pela causa do idoso
e promoção da saúde. O grupo transformou-se gradativamente, cresceu,
ampliou suas responsabilidades e sua atuação, agrupou idosos sem qualquer
menção a patologias ou problemas de saúde, incluiu todos que se sentissem
motivados a co-criarem um espaço de encontro entre as pessoas, um local
para dar e receber informação, para aprender e ensinar, para discutir seu
papel na sociedade, para ser um cidadão consciente, para cantar e dançar,
para conhecer novos movimentos físicos como o pilates e a biodança, para
conhecer novos lugares, para ter companhia para viagens, para ouvir e contar

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 209


histórias, para colher e dar afeto, para rir e gargalhar e dessa forma obter
qualidade de vida e um espaço muito especial na comunidade.
Foi muito prazeroso lembrar de todas estas histórias e do protagonismo
do grupo que abriu espaço para seus integrantes se expressarem das mais
diversas formas. Um grupo que incentivou e promoveu a participação social
ajudando muitos idosos a (re)encontrarem seu legítimo lugar na comuni-
dade, seu espaço de participação e de atuação que deu mais sentido à vida,
as suas ações e intervenções tanto nas famílias quanto na comunidade.
Segundo Heidi Cramer (In memoriam), que foi membro do grupo por 10
anos e uma grande entusiasta destes encontros, participar do Viva a Vida
lhe trouxe muitas coisas positivas e, por isso, ela incluía essa vivência e as
amizades que encontrou no grupo na sua receita de como chegar aos 90
anos “de bem com a vida”.
Como prometi, escrevo esta carta para revelar a vocês como cheguei
aos 90 anos de bem com a vida. Tudo começou com uma infância feliz
com meus pais e irmãos. Nasci em Salvador do Sul, em 1918. Casei aos
20 anos. Vim para Porto Alegre feliz com meu marido, com quem tive
quatro filhos. Em 1952 meu marido faleceu repentinamente. E com 34
anos e 4 filhos menores fui trabalhar em Canoas. Depois de 30 anos
de trabalho me aposentei aos 65 anos de idade. A minha vida seguiu
normalmente até os 71 anos, quando perdi meu filho mais velho que
estava com 50 anos. Foram os momentos mais tristes da minha vida.
A vida é um eterno caminhar e neste caminhar, nós temos os nossos
momentos felizes e tristes. Agradeço a Deus todos os dias pela vida.
Ainda tenho uma família, filhos, netos e bisnetos que me dão muita
alegria. Tenho, ainda, uma irmã, três cunhadas e um cunhado, muito
queridos, sempre presentes na alegria e nas horas amargas. Tenho
inúmeros sobrinhos e sobrinhas e uma legião de amigas e amigos
que me dão muita alegria.
No Grupo Viva a Vida, do qual faço parte há 10 anos, o convívio
sempre foi muito bom. Tem muita alegria, muita amizade, palestras,
dança, ginástica, reiki, yoga, viagens e tudo mais que a terceira idade

210 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


merece. Neste grupo aprendi, cresci, fui para a frente chegando mais
perto das informações sobre saúde, alimentação e lazer. O grupo é
uma das coisas boas que aconteceu na minha vida, onde construí
amizades sólidas.
Enfim, para concluir vou revelar meu segredo: para chegar aos
90 anos com alegria é preciso ter amor, saúde, muitos amigos, fé,
esperança e coragem. Lutar para mudar o que pode ser mudado e
aceitar o que não pode ser mudado. É isso, E VIVA A VIDA!
(Heidi Cramer – membro do Viva a Vida - In memoriam)

A lista de benefícios identificados ao longo do tempo é grande, mas


destaca-se a agregação e o suporte social entre pares fazendo do envelhecer
para seus participantes uma experiência ativa e positiva. Nessa trajetória
do grupo e no seu trabalho não há personagens principais, nem idosos e
nem profissionais ou convidados. O nome deste grupo de convivência de
idosos declara por si só seu maior objetivo, conviver, viver com as pessoas,
estar com as pessoas que tem necessidades similares pela fase de vida, que
possuem muita experiência de vida e muita alegria para compartilhar com
todos que queiram participar do seu círculo de ensino-aprendizagem, desse
ambiente de afeto. Essas são algumas das razões que me fazem ter certeza
da importância de divulgar essa experiência que fez parte da minha vida,
pelo bem que a coordenação técnica me fez, pelo crescimento pessoal e
profissional que ela me proporcionou.
Escrever um livro sobre a trajetória deste grupo nos proporcionou
alegria, prazer, gratificação e orgulho. Sinto ainda como um dever, uma
obrigação partilhar com os leitores esse trabalho que vem se fortalecendo
e enriquecendo muitas pessoas ao longo do tempo. Ao realizar a leitura
do livro é possível ir identificando a quantidade de áreas que as atividades
em grupo alcançaram, seja em questões específicas no campo da saúde,
quanto em questões amplas relacionadas à vida em sociedade. Atuou-se
na busca de respeito e cidadania para os idosos, para ampliar a participa-
ção nas instâncias da comunidade, para a construção de políticas públicas
para os idosos, para propiciar uma aproximação com diversas artes, para

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 211


encontrar lazer, companhia, amizade e afeto. Foi uma trajetória conduzida
por diretorias comprometidas e extremamente responsáveis, focada nas
inúmeras possibilidades de crescimento e desenvolvimento do grupo que
se constituía e se ampliava.
Esperamos que você tenha gostado da leitura e agradecemos por ter nos
acompanhado até aqui. Que as reflexões sobre a potência dessas práticas
tenham tocado seu coração e lhe emocionado com as histórias de convívio,
amor e afeto.

“Partindo da premissa de que a velhice é uma construção


social desejamos viver de forma plena nossa “envelhescência”
e isto significa quebrar paradigmas transformando “a
vivência da velhice em uma experiência criativa, que subverte
as noções anteriores de declínio e degeneração, e apontam
para uma relação criativa do envelhecer e da reconstrução
da história pessoal por meio de novas experiências.”
(Manoel Berlinck, 1996).

212 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história


Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 213
214 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história
AUTORAS

CRISTINA PADILHA LEMOS


Autora principal do livro. Relata a história do
Grupo da Longevidade Viva a Vida na primeira
pessoa, por ter vivenciado durante 34 anos o papel
de sua coordenadora técnica. Médica de Família
e Comunidade pelo Programa de Residência do
Murialdo (ESP/RS), especialista em gerontologia
pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-
RS), especialista em saúde pública pela Escola
de Saúde Pública (ESP-RS), curso de Medicina
Natural em Adelaide (Austrália), curso de Medicina de Família em Miami,
Flórida (USA). Trabalhou 34 anos na Unidade de Saúde Conceição do
Serviço de Medicina de Família e Comunidade, atualmente denominado
Gerência de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição. Trabalhou
32 anos na Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul onde atuou
em unidades básicas de saúde e na 2ª Coordenadoria de Saúde do Estado
do Rio Grande do Sul na área de doenças crônicas e medicina de família.

Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história 215


SANDRA REJANE SOARES FERREIRA
Participou da organização do livro realizando
a leitura do conjunto de relatos, a organização e
revisão dos tópicos e conteúdos que constituem
os capítulos, auxiliando na escrita e na definição
de estilo da publicação. Enfermeira do Setor de
Monitoramento e Avaliação de Ações de Saúde da
Gerência de Saúde Comunitária (GSC) do Grupo
Hospitalar Conceição (GHC) de Porto Alegre.
Mestre em Enfermagem pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em saúde pública
pela UFRGS, especialista em saúde coletiva e recursos humanos pela
Escola de Saúde Pública da Secretaria Estadual de Saúde (ESP/SES/RS),
especialista em educação popular pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS/RS). Formação em ensino à distância pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Licenciada em
Enfermagem pela Faculdade de Educação da UFRGS. Lecionou na gradu-
ação da enfermagem durante 12 anos nas universidades ULBRA-Canoas,
PUC-RS e UFRGS. Coordenou a implantação do Programa de Residência
Integrada em Saúde – ênfase em Saúde da Família e Comunidade na
GSC-GHC e atuou como preceptora e tutora do Programa de Residência.
Experiência em teleconsultoria no TelessaúdeRS (UFRGS). Experiência
em ensino à distância. Autora e organizadora de livros e protocolos assis-
tenciais para o Sistema Único de Saúde do Brasil nas áreas de enfermagem,
diabetes, hipertensão, tuberculose e cartilhas para trabalho educativo com
idosos, doenças crônicas para profissionais e população.

216 Grupo da Longevidade Viva a Vida: três décadas de história

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