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Ficha 4 | Os Maias, de Eça de Queirós

Lê o excerto do capítulo XVII d’Os Maias, de Eça de Queirós.

Ega, com um suspiro, resumiu a sua longa história. E findou por dizer que o
importante, o decisivo ali era este homem, o Guimarães, que não tinha interesse em
mentir e só por acaso, puramente por acaso, falara em tais coisas – conhecia essa
senhora, desde pequenina, como filha de Pedro da Maia e de Maria Monforte. E nunca a
5 perdera de vista. Vira-a crescer em Paris […].
– Enfim – interrompeu Carlos –, viu-a ainda há dias, numa carruagem, comigo e com o
Ega… […]
Carlos, que remexera sobre a mesa, adiantou-se com um papel na mão:
– Aqui tem o avô a declaração de minha mãe.
1 O velho […] leu o papel devagar, empalidecendo mais a cada linha, respirando
0 penosamente; ao findar deixou cair sobre os joelhos as mãos, que ainda agarravam o
papel, ficou como esmagado e sem força. As palavras, por fim, vieram-lhe apagadas,
morosas. Ele nada sabia… O que a Monforte ali assegurava, ele não o podia destruir…
Essa senhora da Rua de S. Francisco era talvez, na verdade, sua neta… Não sabia
mais… […]
1 […] O avô, testemunha do passado, nada sabia! Aquela declaração, toda a história do
5 Guimarães aí permaneciam inteiras, irrefutáveis. […]. Maria Eduarda era, pois, sua irmã!…
E um defronte do outro, o velho e o neto pareciam dobrados por uma mesma dor –
nascida da mesma ideia.
Por fim, Afonso […], lentamente, passando a mão pela testa:
– Nada mais sei… Sempre pensámos que essa criança tinha morrido… […]
2 Teve um gesto vago de resignação, acrescentou, depois de respirar fortemente:
0 – Bem! Tudo isto tem de ser mais pensado… Parece-me bom tornar a chamar o
Vilaça… Talvez seja necessário que ele vá a Paris… […]
Depois deu dois passos para a porta, tão lentos e incertos que Ega correu para ele:
– Tome Vossa Excelência o meu braço…
Afonso apoiou-se nele, pesadamente. Atravessaram a antecâmara silenciosa, onde a
2 chuva contínua batia os vidros. Por trás deles caiu o grande reposteiro, com as armas dos
5 Maias. E então Afonso, de repente, soltando o braço do Ega, murmurou-lhe junto à face,
no desabafo de toda a sua dor:
– Eu sabia dessa mulher!… Vive na Rua de S. Francisco, passou todo o verão nos
Olivais… É a amante dele! […]
E afastou-se, todo dobrado sobre a bengala, vencido enfim por aquele implacável
3 destino que, depois de o ter ferido na idade da força com a desgraça do filho – o
0 esmagava ao fim da velhice com a desgraça do neto.
Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2021, pp. 659-661 (texto com supressões)
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1. Mostra a importância de Guimarães para o desenrolar da ação.

2. Explicita dois dos sentimentos de Afonso da Maia ao ler a declaração da mãe de Carlos.

3. Demonstra as implicações do monólogo interior de Ega (linhas 15 a 18) para o desenrolar da intriga.

4. Mostra de que forma a longa história de Ega abalou Afonso da Maia.

5. Comenta a expressividade da repetição do vocábulo “desgraça” (linhas 33 e 34).

6. Aponta duas das marcas de linguagem e estilo de Eça de Queirós, fundamentando a tua resposta com
elementos textuais pertinentes.
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Soluções

Educação Literária

Ficha 4
1. De acordo com o excerto, Guimarães é a única pessoa que
sabe que Maria Eduarda é filha de Pedro da Maia, tendo em
conta a intimidade que tinha com Maria Monforte, a ponto de
esta lhe ter confiado os documentos que identificavam a filha.
Por isso, a personagem é a portadora da verdade que
destruirá a felicidade de Carlos e Maria Eduarda.

2. Afonso mostrava-se hesitante e temeroso com a informação


que recebera. Por isso, os seus gestos são lentos – “O velho
[…] leu o papel devagar” (l. 10), procurando adiar a verdade
que o “papel” lhe trazia. Mostra-se, ainda, incrédulo perante o
que lê – “empalidecendo mais a cada linha” (l. 10).
Finalmente, sentia-se esmagado pela verdade irrefutável –
“ao findar deixou cair sobre os joelhos as mãos, que ainda
agarravam o papel, ficou como esmagado e sem força.” (ll. 11-
12).

3. Ega é esclarecedor quanto à identidade de Maria Eduarda e


essa certeza terá consequências trágicas: a relação de Carlos
e Maria Eduarda será destruída, uma vez que ambos são
irmãos.

4. Afonso da Maia ficou muito perturbado com a história de


Ega, mostrando-se resignado – “gesto vago de resignação” (l.
21). Para além disso, mostra-se “[…] vencido […] por aquele
implacável destino […]” (ll. 32-33).

5. A palavra “desgraça” é repetida para acentuar o destino


trágico que provoca uma dor indescritível a Afonso, atingido
na “idade da força” (l. 33) pela desgraça do filho e vencido
pela vergonha, na velhice, com a desgraça do neto.

6. Por exemplo:
– o uso expressivo do advérbio – “respirando penosamente”
(ll. 9-10);
– o uso expressivo da dupla adjetivação – “As palavras, por
fim, vieram-lhe apagadas, morosas.” (l. 12);
– o discurso indireto livre – “O avô, testemunha do passado,
nada sabia!” (l. 15); “Maria Eduarda era, pois, sua irmã!…”
(l. 16).

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