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Remoção de microplástico de efluente sintético através de adsorventes

tratados com microemulsão

Andrey Costa de Oliveira


Tese de Doutorado
Natal/RN, Outubro de 2023

1
ANDREY COSTA DE OLIVEIRA

REMOÇÃO DE MICROPLÁSTICO DE EFLUENTE


SINTÉTICO ATRAVÉS DE ADSORVENTES TRATADOS
COM MICROEMULSÃO

Tese de doutorado submetida ao


Programa de Pós-Graduação em
Química da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como parte dos
requisitos para obtenção do título de
Doutor em Química

Orientadora: Profa. Dra. Tereza


Neuma Castro Dantas

NATAL/RN

OUTUBRO/2023

2
3
Andrey Costa de Oliveira

REMOÇÃO DE MICROPLÁSTICO EM ÁGUA ATRAVÉS DE ADSORVENTESTRATADOS COM


MICROEMULSÃO.

Tese apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Química da UniversidadeFederal
do Rio Grande do Norte, em cumprimento as
exigências para obtenção do título de Doutor em
Química.

Aprovada em: 13 de setembro de 2023

4
OLIVEIRA, Andrey Costa de – Remoção de microplástico de efluente sintético através de
adsorventes tratados com microemulsão, Tese de Doutorado, UFRN, Programa de Pós-
Graduação em Química, Área de Concentração: Química. Rio Grande do Norte, Natal – RN,
2023.
Orientadora: Profa. Dra. Tereza Neuma de Castro Dantas

RESUMO: O acúmulo de plásticos no meio ambiente vem se tornando cada vez mais uma
preocupação global. Pauta no relatório da ONU de outubro de 2021 e de outros órgãos
importantes, é perceptível a necessidade de se discutir sobre o tema e buscar soluções. Dentre
os impactos desses materiais, os microplásticos (partículas com dimensões inferiores a 5 mm)
vem ganhando destaque devido a presença, muitas vezes imperceptível, no ambiente. Nos
oceanos, são confundidos com alimentos pela fauna e muitas vezes não são devidamente
removidos nas estações de tratamento de água e esgoto (ETAE). Desse modo, esse trabalho
buscou estudar formas de remover esse contaminante de efluentes. A forma estudada foi através
do uso de adsorventes tratados com tensoativos utilizando a decantação para separá-los, uma
vez que, devido à estrutura do tensoativo e dos adsorventes, estes poderiam ter alguma interação
com os microplásticos, tornando possível sua extração. O efluente utilizado nos testes foi obtido
através da contaminação de água destilada por microplásticos adquiridos sinteticamente.
Contudo, foram comparados através do espectro do FTIR com microplásticos reais, retirados
da ETE da UFRN. Dentre os tensoativos testados, foi escolhido o Tween 80, pois, além da baixa
toxicidade, ele apresentou eficiente interação com o plástico, que foram comprovadas via
análise por FTIR. Quanto aos adsorventes, foram selecionados: bentonita, diatomita, bagaço de
coco, de cana e da casca da banana; todos eles passaram pelo tratamento com microemulsão
para posterior aplicação no tratamento do efluente. A quantificação de microplástico foi feita
através do espectro do FTIR da área de pico para diferentes massas de microplástico que variava
com a absorbância. Para os testes de adsorção, foi necessário aplicar o método NOAA para
separar os microplásticos dos adsorventes após a remoção. Como resultado, tem-se que o
bagaço da casca de banana apresentou a maior eficiência dentre os adsorventes não tratados:
70%. Já entre os adsorventes tratados, o bagaço de cana apresentou quase 80% de microplástico
removido. Logo, observa-se que a adsorção pode ser um método viável e eficiente para a
remoção de microplásticos de efluentes contaminados.

Palavras-Chave: tensoativo, microemulsão, microplásticos, adsorção.

5
ABSTRACT

The accumulation of plastics in the environment is increasingly becoming a global concern. As


part of the UN report of October 2021 and other important organizations, the need to discuss
the issue and seek solutions is noticeable. Among the impacts of these materials, microplastics
(particles smaller than 5 mm) have been gaining prominence due to their often imperceptible
presence in the environment. Because, in the oceans, they are mistaken for food by the fauna
and are often not properly removed in wastewater treatment plants (WTP). Thus, this work
researched ways to remove this contaminant from effluents. The way studied was through the
use of adsorbents treated with surfactants using decantation to separate them. According to the
structure of the surfactant and the adsorbents, these could have some interaction with the
microplastics, making their extraction possible. The effluent used in the tests was obtained
through the contamination of distilled water by synthetically acquired microplastics. However,
they were compared through the FTIR spectrum with real microplastics, taken from the UFRN
WTP. Among the surfactants analyzed, Tween 80 was chosen because, in addition to its low
toxicity, it showed efficient interaction with plastic, proven via FTIR analysis. As for
adsorbents, five were selected: bentonite, diatomite, coconut bagasse, sugarcane, and banana
peel; all of them underwent microemulsion treatment. The quantification of microplastic was
done through the FTIR spectrum of the peak area for different masses of microplastic that varied
with absorbance. For adsorption tests, it was necessary to apply the NOAA method to separate
microplastics from adsorbents after removal. As a result, banana peel bagasse presented the
highest efficiency among untreated adsorbents: 70%. Among treated products, sugarcane
bagasse had almost 80% of plastic removed. Therefore, it is observed that adsorption can be a
viable method for the removal of microplastics in water.

Keywords: surfactante, microemulsion, microplastics, adsorption.

6
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a


Deus, pois sem ele me dando forças
para continuar jamais teria chegado
onde cheguei.

Aos meus pais Ana Sandra Fonseca da


Costa e Arlindo Delfino de Oliveira por
todo apoio e por acreditarem sempre no
meu potencial, bem como incentivo para
continuar.

7
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela força, perseverança e coragem que me destes para
conclusão deste trabalho.

Agradeço aos meus pais Ana Sandra Fonseca da Costa e Arlindo Delfino de Oliveira, pelo
apoio pessoal, sempre me encorajando a seguir em frente.

Agradeço especialmente a Professora Tereza Neuma de Castro Dantas por toda sua paciência,
comprometimento, colaboração, conselho e orientação neste trabalho, tornando-o realmente
possível.

Agradecer à Banca examinadora Dra. Maria Carlenise Paiva de Alencar Moura, José Luiz
Cardoso, Tamyris Thaise Costa de Souza e José Ribeiro dos Santos Junior.

Aos amigos do Laboratório de Tecnologia em Tensoativos e do NUPEG, por toda


compreensão, ensinamentos, colaboração, risadas e apoio.

Ao NUPEG e LTT, pela estrutura, sendo possível a elaboração do trabalho.

8
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 02
2. ASPECTOS TEÓRICOS E ESTADO DA ARTE ................................................... 06
2.1. ASPECTOS TEÓRICOS.......................................................................................... 06
2.1.1. INDÚSTRIA DO PLÁSTICO ............................................................................... 06
2.1.2. CONSIDERAÇÕES E CLASSIFICAÇÃO DOS POLIMEROS ............................ 09
2.1.2.1. Forma molecular ou tipo de cadeia................................................................. 09
2.1.2.2. Origem .......................................................................................................... 10
2.1.2.3. Configuração ................................................................................................. 10
2.1.2.4. Conformação ................................................................................................. 10
2.1.2.5. Fusibilidade ................................................................................................... 10
2.1.2.6. Comportamento mecânico ............................................................................. 11
2.1.2.7. Polimerização por etapa ................................................................................. 11
2.1.2.8. Polimerização por cadeia ............................................................................... 11
2.1.3. PRINCIPAIS TIPOS E APLICAÇÕES DOS PLÁSTICOS MAIS PRESENTES
EM CORPOS D’ÁGUA ................................................................................................. 12
2.1.3.1. Polietileno (PE) ............................................................................................. 12
2.1.3.2. Polipropileno (PP) ......................................................................................... 13
2.1.3.3. Policloreto de vinila (PVC) ............................................................................ 13
2.1.3.4. Poliestireno (PS) ............................................................................................ 14
2.1.3.5. Politeraftalato de etileno (PET) ...................................................................... 14
2.1.4. NANOPLÁSTICOS E MICROPLÁSTICOS ......................................................... 15
2.1.5. IMPACTOS .......................................................................................................... 16
2.1.6. ADSORÇÃO......................................................................................................... 20
2.1.6.1. Área superficial ............................................................................................. 21
2.1.6.2. Propriedade do adsorvente e adsorvato .......................................................... 21
2.1.6.3. Temperatura .................................................................................................. 21
2.1.6.4. Potencial hidrogeniônico (pH) ....................................................................... 21
2.1.7. TENSOATIVOS ................................................................................................... 23
2.1.7.1. Classificação dos tensoativos ......................................................................... 24

9
2.1.7.1.1. Tensoativos iônicos ................................................................................ 24
2.1.7.1.2. Tensoativos não-iônicos ......................................................................... 24
2.1.7.1.3. Tensoativos anfóteros ............................................................................ 24
2.1.7.2. Emulsões ....................................................................................................... 25
2.1.7.3. Microemulsões .............................................................................................. 26
2.1.7.4. Diagrama de fases .......................................................................................... 26
2.2 ESTADO DA ARTE ................................................................................................. 28
2.2.1. ANÁLISE E DETERMINAÇÃO DE MICROPLÁSTICOS EM ÁGUA ............... 28
2.2.2. REMOÇÃO DE MICROPLÁSTICOS EM ÁGUA................................................ 30
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ................................................................... 35
3.1. OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS ............................................................................. 35
3.1.1. Amostra real ..................................................................................................... 35
3.1.1.1. Separação dos microplásticos por peneiras ................................................ 36
3.1.1.2. Remoção da matéria orgânica dos microplásticos ...................................... 36
3.1.2. Amostra sintética .............................................................................................. 37
3.2. ESCOLHA DOS TENSOATIVOS ........................................................................... 38
3.2.1. Caracterização dos sistemas microemulsionados ............................................... 39
3.2.1.1. Tensão superficial ..................................................................................... 39
3.2.1.2. Diâmetro de gotícula e índice de polidispersão .......................................... 40
3.2.1.3. Concentração hidrogeniônica (pH) ............................................................ 41
3.3. ESCOLHA DOS ADSORVENTES ......................................................................... 41
3.3.1. Comportamento dos adsorventes em água ......................................................... 42
3.4. TESTE DE INTERAÇÃO: MICROPLÁSTICOS E ADSORVENTES..................... 42
3.5. TRATAMENTO DOS ADSORVENTES COM MICROEMULSÕES ..................... 43
3.6. CARACTERIZAÇÃO DOS ADSORVENTES ........................................................ 44
3.6.1. Análise termogravimétrica (TG) ....................................................................... 44
3.7. MONTAGEM DA CURVA DE CALIBRAÇÃO POR FTIR ................................... 44
3.8. ENSAIOS DE ADSORÇÃO .................................................................................... 45
3.8.1. Interação entre microplásticos e adsorventes ..................................................... 45
3.8.2. Separação dos microplásticos dos adsorventes .................................................. 45

10
3.8.2.1. Degradação dos adsorventes ..................................................................... 46
3.8.2.2. Separação dos microplásticos dos resíduos ................................................ 46
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................. 48
4.1. OBTENÇÃO DA AMOSTRA REAL ...................................................................... 48
4.2. OBTENÇÃO DA AMOSTRA SINTÉTICA............................................................. 49
4.3. OBTENÇÃO DOS DIAGRAMAS PSEUDOTERNÁRIOS ..................................... 54
4.4. ANÁLISE POR FTIR E ESCOLHA DO TENSOATIVO ......................................... 58
4.5. CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS MICROEMULSIONADOS ..................... 65
4.5.1. Tensão superficial ............................................................................................. 65
4.5.2. Diâmetro de gotícula e índice de polidispersão ................................................. 66
4.5.3. Potencial hidrogeniônico .................................................................................. 66
4.6. ESCOLHA DOS ADSORVENTES ......................................................................... 67
4.6.1. Comportamento em água .................................................................................. 67
4.6.2. Interação entre microplástico e adsorvente ........................................................ 68
4.7. DETERMINAÇÃO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO POR FTIR ........................... 69
4.8. TRATAMENTO DOS ADSORVENTES COM MICROEMULSÕES ..................... 73
4.9. CARACTERIZAÇÃO DAS ARGILAS ................................................................... 74
4.9.1. Análise termogravimétrica ................................................................................ 74
4.10. SEPARAÇÃO DOS MICROPLÁSTICOS POR DEGRADAÇÃO TÉRMICA ...... 80
4.11. ENSAIOS DE ADSORÇÃO .................................................................................. 81
4.11.1. Separação entre microplásticos e adsorventes ................................................. 81
4.11.2. Eficiência de remoção ..................................................................................... 83
5. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 91
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 95

11
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Cadeia produtiva do plástico do óleo bruto de petróleo aos produtos


refinados ......................................................................................................................... 07
Figura 2 – Principais tipos de polímeros utilizados ......................................................... 08
Figura 3 – Tipos de cadeias dos polímeros ..................................................................... 09
Figura 4 – Estrutura química do polietileno .................................................................... 12
Figura 5 – Estrutura química do polipropileno................................................................ 13
Figura 6 – Estrutura química do policloreto de vinila ..................................................... 14
Figura 7 – Estrutura química do poliestireno .................................................................. 14
Figura 8 – Estrutura química do politeraftalato de etileno ............................................... 15
Figura 9 – Ilhas de plástico em cada oceano do globo .................................................... 17
Figura 10 – Exemplo de isoterma de adsorção ................................................................ 22
Figura 11 – Representação de um tensoativo .................................................................. 23
Figura 12 – Representação esquemática das micelas ...................................................... 24
Figura 13 – Representação esquemática de micelas em emulsões ................................... 25
Figura 14 – Representação de um diagrama pseudoternário e regiões Winsor................. 27
Figura 15 – Fluxograma das etapas metodológicas para remoção dos
microplásticos ................................................................................................................. 35
Figura 16 – Moinho de facas .......................................................................................... 37
Figura 17 – Agitador utilizado ....................................................................................... 39
Figura 18 – Tensiômetro Sensadyne ............................................................................... 40
Figura 19 – Equipamento utilizado para medição do DP (ZetaPlus) ............................... 40
Figura 20 – Ferramentas usadas para medição do pH ..................................................... 41
Figura 21 – Adaptação feita no funil para decantação ..................................................... 43
Figura 22 – Analisador térmico modelo SDT Q600 ........................................................ 44
Figura 23 – Microplásticos obtidos a partir de 40L de efluente não tratado da ETE
da UFRN ........................................................................................................................ 48
Figura 24 – FTIR dos Microplásticos obtidos através de efluente não tratado da
ETE da UFRN ................................................................................................................ 49
Figura 25 – Microplásticos obtidos sinteticamente ........................................................ 50
Figura 26 – Plásticos componentes da amostra de microplástico sintética ....................... 50

12
Figura 27 – FTIR dos Microplásticos obtidos sinteticamente e através da ETE da
UFRN ............................................................................................................................. 53
Figura 28 – Diagramas Pseudoternários dos sistemas microemulsionados: (a)
Sistema 1; (b) Sistema 2; (c) Sistema 3; (d) Sistema 4 ..................................................... 54
Figura 29 – Estrutura molecular dos tensoativos Tween 85, Tween 80, Tween 20 e
Brij 92............................................................................................................................. 57
Figura 30 – Localização dos pontos escolhidos para análise nos diagramas em que
foram utilizados sistemas contendo o Tween como tensoativo: (a) Sistema 1; (b)
Sistema 2; (c) Sistema 3. ................................................................................................. 59
Figura 31 – Análise FTIR dos microplásticos filtrados após contato com os
sistemas microemulsionados ........................................................................................... 61
Figura 32 – Sobreposição das bandas FTIR das amostras: do tensoativo que
compõe o sistema microemulsionado e dos microplásticos .............................................. 63
Figura 33 – Decantação dos adsorventes em água .......................................................... 67
Figura 34 – Estrutura química da celulose e hemicelulose .............................................. 69
Figura 35 – Região da banda FTIR escolhida para o cálculo da área ............................... 70
Figura 36 – Curvas sobrepostas das seis amostras de microplástico ................................ 71
Figura 37 – Curva de Calibração Média da massa de microplástico versus a área
de pico ............................................................................................................................ 72
Figura 38 – Adsorventes tratados a Amostra 4 (Sistema microemulsionado
contendo 70% Tween 80/Butanol) .................................................................................. 73
Figura 39 – Curva TG-DTG dos adsorventes puros e tratados com microemulsão:
Bentonita, Diatomita, Bagaço de Coco, Bagaço da Cana e Bagaço da casca da
Banana. ........................................................................................................................... 74
Figura 40 – Curvas TG-DTG dos microplásticos sintéticos ............................................ 80
Figura 41 – Reação de oxidação do bagaço da casca de banana não tratada .................... 82
Figura 42 – Resíduos da reação de oxidação da casca de banana após decantação .......... 83
Figura 43 - Bandas FTIR do branco e dos microplásticos adsorvidos ............................. 84
Figura 44 – Eficiência de remoção dos adsorventes ........................................................ 88

13
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação por alguns autores: dimensão dos plásticos .............................. 15


Tabela 2 – Abundância de microplásticos em alguns ambientes marinhos ao redor
do globo .......................................................................................................................... 20
Tabela 3 – Polímero majoritário presente em cada material plástico e sua
porcentagem na composição da amostra sintética ............................................................ 37
Tabela 4 – Tensoativos disponíveis não tóxicos.............................................................. 38
Tabela 5 – Composição dos sistemas microemulsionados............................................... 38
Tabela 6 – Massa e concentração de microplásticos obtidos em 40L de efluente não
tratado da ETE da UFRN ................................................................................................ 48
Tabela 7 – Pontos de microemulsão escolhidos para o teste de interação com os
microplásticos ................................................................................................................. 60
Tabela 8 – Resultados das caracterizações das microemulsões: tensão superficial,
diâmetro de gotícula, índice de polidispersão e pH .......................................................... 65
Tabela 9 – Dados das curvas de calibração ..................................................................... 71
Tabela 10 – Dados da curva de calibração média ............................................................ 72
Tabela 11 – Área do pico e quantidade de microplásticos removidos do branco.............. 87
Tabela 12 – Áreas dos picos e quantidade de microplásticos removidos dos
adsorventes ..................................................................................................................... 87

14
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1
1 INTRODUÇÃO

É facilmente perceptível que os plásticos estão cada vez mais presentes em nosso dia a
dia, do mais simples ao mais complexo objeto. Basicamente tudo na rotina humana envolve
este produto, trazendo comodidade e praticidade, seja no transporte, em aparelhos eletrônicos,
roupas, calçados, embalagem, o canudo utilizado para beber, dentre tantos outros. Vive-se na
era do plástico, e o seu uso generalizado se deve às suas propriedades, tais como o baixo peso,
longa durabilidade, resistência, propriedades de isolamento térmico e elétrico, são facilmente
moldáveis através do calor e, principalmente, são de baixo custo (Derraik, 2002; Thompson et
al. 2009b).

Todo o plástico sintético existente hoje foi fabricado no último século, com grande
aumento nas últimas décadas, de modo que a sua produção desde os anos 2000 até hoje,
superam, em peso, todo o plástico produzido nos 50 anos anteriores ao novo milênio. Nesse
ritmo, já foram produzidos mais de 8,9 bilhões de toneladas de plástico desde 1950 e a
estimativa para 2030 é de mais 550 milhões de toneladas. De todo o plástico produzido, cerca
de 29% ainda está em uso, 6,3 bilhões de toneladas, ou 71%, foi descartado, onde 4,9 bilhões
de toneladas se acumulam em aterros sanitários ou na natureza, os demais são reciclados ou
foram incinerados (Vasconcelos, 2019; Geyer, 2017). Segundo Derraik (2002), 40% do plástico
é descartado em menos de um ano. Muito dessa porcentagem corresponde ao plástico de uso
único, ou seja, aquele que se torna descartável em 5 minutos de uso, como o canudo, copo,
prato, etc.

Trata-se de um material extremamente útil, mas devido não ser biodegradável, ele se
acumula nos mais variáveis ambientes, como o solo, ar, esgoto, águas tratadas, mas
principalmente, em rios e oceanos. Nos oceanos, devido às correntes oceânicas, grande parte
dos plásticos tendem a serem levados e se concentrarem em determinados pontos, levando a
formação de “ilhas de plástico”. No Pacífico, por exemplo, entre a California e o Havaí, a
centenas de quilômetros da costa, pesquisadores estimam uma concentração em torno de 87 mil
toneladas de plásticos (Lebreton et al., 2018). Esta quantidade compreende uma área
equivalente a três vezes o estado da Bahia- Brasil.

O plástico, com o passar do tempo, tende a se fragmentar, assumindo tamanhos menores.


Plásticos com tamanhos maiores que 5 mm são classificados como macroplásticos, de 25 µm a
5 mm como microplásticos e, de nanoplásticos, os que apresentam tamanho inferior a 20 µm
(Wagner, et al., 2014). Os microplásticos e os nanoplásticos, por apresentarem altas áreas de

2
superfície, promovem alta sorção de compostos orgânicos tóxicos, como hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (PAHs), bifenilos policlorados (PCBs), dentre outros. Além disso, por
assumir tamanhos menores desencadeia a ingestão desse material tóxico por peixes e aves, que
os confundem com alimento. Pesquisas mostram a ocorrência da ingestão de microplásticos por
várias espécies de peixes, onde um total de 157 partículas foram extraídas de 38% do total de
peixes estudados (Bessa et. al, 2018). Segundo Wilcox (2015), mais de 90% das aves marinhas
já ingeriram algum tipo de plástico, e esse número tende a ser superior a 99% em 2050, e assim
de acordo com MacArthur et al. (2016), haverá mais plástico do que peixes no oceano.

O impacto desses poluentes nos seres humanos ocorre por vários caminhos, desde a
ingestão de animais contaminados até a inalação pelo ar. Uma vez internalizados, os
microplásticos podem atravessar as membranas celulares e se instalar em diferentes regiões do
corpo. Já foram encontrados no leite materno, sangue e regiões profundas do pulmão (Ragusa
et al., 2022; Lauren, et al., 2022).

Frente a tantos problemas causados pelos plásticos, torna-se necessário mais estudos e
formas de como tratar efluentes contaminados por este material. Desse modo, pensou-se em
utilizar tensoativos para construir uma superfície com maior potencial de adsorção capaz de
remover partículas plásticas de um efluente. Os tensoativos são moléculas que em sua estrutura
apresentam uma parte polar e outra apolar e, sabendo que os plásticos são constituídos de
polímeros, grandes cadeias carbônicas apolares, pode haver uma interação entre a parte apolar
do tensoativo e o plástico. Aplicando esse estudo em uma situação real, eles podem reduzir
concentrações de plásticos que contaminam águas residuais, diminuindo a quantidade de
plásticos, uma vez que muitas estações de tratamento de esgotos ainda despejam significativas
quantidades de microplásticos em rios, lagos e oceanos após o tratamento do efluente (Talvitie
et al, 2017).

Assim, esse trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência da remoção de


microplásticos em efluentes sintéticos, principalmente aqueles que chegam as estações de
tratamento de esgoto, por meio da adsorção em adsorventes tratados com moléculas anfifílicas,
tensoativos, em sistemas microemulsionados. Para isso, algumas etapas foram cumpridas, tais
como: a obtenção da amostra trabalhada, escolha e caracterização do tensoativo, preparação
dos sistemas microemulsionados, escolha dos adsorventes e suas caracterizações e a forma de
dosar, quantitativamente, o percentual de microplástico removido pelo adsorvente. Desse
modo, foram obtidas respostas a respeito do uso da adsorção para remoção de microplásticos,
analisando-se o método, bem como os adsorventes e tensoativos escolhidos para o estudo se

3
mostraram ou não eficientes.

Esta tese é constituída de seis capítulos que são divididos em: Capitulo 1 - Introdução
Geral; o Capitulo 2 -Aspectos Teóricos e Estado da Arte; o Capitulo 3 Metodologia
Experimental; o Capitulo 4 - Resultados e Discussão; no Capítulo 5 Conclusões Finais; Capitulo
6 Referências Bibliográficas.

4
CAPÍTULO 2 – ASPECTOS TEÓRICOS e
ESTADO DA ARTE

5
2 ASPECTOS TEÓRICOS E ESTADO DA ARTE

2.1 ASPECTOS TEÓRICOS

2.1.1 INDÚSTRIA DO PLÁSTICO

A palavra “plástico” deriva da palavra de origem grega: “plastikos”; que significa “pode
ser moldado”. Sua história começa em 1862 com Alexander Parkes, que através de um material
orgânico derivado da celulose, buscava um material substituto da borracha, que era muito
utilizada na época como matéria prima. Em 1869, o tipógrafo John Wesley Hyatt descobriu a
celuloide, um material a base de nitrato e celulose que tornava o filme sólido e flexível (Ribeiro,
2015).

O primeiro plástico sintetizado surgiu há cerca de 100 anos, com Leo Hendrik
Baekeland. Ele criou a Baquelita, a primeira resina sintética. Desde então o material passou a
ocupar lugar de destaque com significativa expansão de produção e comercialização. Entre
1950 e 2017 a produção passou de 1,7 para 322 milhões de toneladas produzidas por ano
(Soares-Caixeta et al., 2018).

Em 1920, o químico alemão Hermann Staudinger chegou à estrutura molecular do


plástico descobrindo que este material é uma macromolécula com uma unidade essencial, o
“mero”. Essa descoberta possibilitou a criação dos mais variados tipos de plásticos existentes
hoje. Em 1930 o plástico já era realidade, visto como algo comum. Nessa época surge o
poliestireno. Em 1940, devido a sua versatilidade, resistência e custo, esse material já começava
a substituir couro, metal, lã, vidro, dentre outros. A partir desta data, foi iniciada a produção
dos materiais descartáveis (Pacheco et al., 2017).

A principal matéria-prima utilizada para obtenção do plástico é a Nafta. A Nafta é um


dos derivados do petróleo, mistura complexa de hidrocarbonetos, que é obtida através do refino,
separada de outros derivados devido sua temperatura de ebulição. Após ser separada, ela é
fornecida para a indústria de primeira geração, onde, através de diversos processos, obtém-se
os monômeros: estruturas básicas da composição dos plásticos. A indústria de segunda geração,
é responsável por transformar o produto da indústria de primeira geração em resinas
poliméricas, conhecidas como “pallets”. Por fim, a indústria de terceira geração molda e
confecciona o plástico. O produto final pode ser produzido utilizando apenas a resina pura do
polímero como também pode receber tratamento químico, alterando textura, cor, resistência e
forma de acordo com o que é desejado (Lima, 2001; ABIPLAST, 2015; Olivatto, 2017). A

6
Figura 1 apresenta de forma resumida da cadeia produtiva do plástico desde o óleo bruto de
petróleo.

Figura 1 – Cadeia produtiva do plástico do óleo bruto de petróleo aos produtos refinados

Fonte: (Olivatto, 2017)

A Figura 1 também apresenta os polímeros com maior destaque mundial, de tal forma
que existe uma tabela (Figura 2) com seus respectivos códigos para identificá-los e destiná-los
corretamente a coleta seletiva. Plásticos derivados desses polímeros, geralmente apresentam no
produto o símbolo para identificação.

7
Figura 2 – Principais tipos de polímeros utilizados

Fonte: (ABIPLAST, 2015)

A produção mundial de plástico tem crescido significativamente a cada ano. A indústria


do plástico aumentou sua produção de 1,5 milhões de toneladas em 1950 para 230 milhões em
2009 e aumentará para 550 milhões em 2030 segundo pesquisas (Geyer, 2017). De acordo com
a ABIPLAST (Associação Brasileiro da Indústria do Plástico), o Brasil é o quarto maior

8
produtor de plásticos no mundo, produzindo cerca de 6,3 milhões de toneladas por ano, onde
apenas 1% desse valor é reciclado. O faturamento dessa indústria é bilionário, entretanto,
devido ao consumo exagerado, grande parte do plástico acaba sendo descartado de maneira
inadequada, o que o torna um problema socioambiental (Olivatto, 2017).

2.1.2 POLÍMEROS: CONSIDERAÇÕES E CLASSIFICAÇÃO

Os plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares: os


polímeros. Polímeros que constituem o plástico são produtos sintéticos obtidos a partir de
resinas derivadas do petróleo.

São consideradas polímeros as moléculas de cadeia relativamente grande


(macromoléculas). Todo polímero é uma macromolécula, entretanto nem toda macromolécula
é um polímero. São formados por um ou mais grupos de moléculas menores que se repetem e
combinam, a essas moléculas menores é dado o nome de monômeros. O processo pelo qual
reagem para formar o polímero é chamado de polimerização. Em alguns casos a repetição é
linear, em outros a cadeia é ramificada ou interconectada, formando redes tridimensionais
(Canevarolo-Jr, 2010).

A caracterização dos polímeros leva em conta vários critérios, como a origem, estrutura
física, tipo da cadeia, configuração, conformação técnica de polimerização utilizada, etc (Lucas
et al., 2001).

2.1.2.1 Forma molecular ou tipo de Cadeia

Podem ser de três tipos: lineares; ramificados; reticulados. A Figura 3 expressa essas
três formas.

Figura 3 – Tipos de cadeias dos polímeros

(a) Linear (b) Ramificado (c) Reticulado

9
Os polímeros Lineares são compostos de várias cadeias longas unidas. Os Ramificados
possuem diversos ramos ligados a cadeia principal, já a reticulada é formada por cadeias
individuais de polímeros ligadas (Andrade, et al., 2001).

2.1.2.2 Origem

Podem ser naturais ou sintéticos. Os polímeros naturais são aqueles obtidos diretamente
da natureza. As proteínas, amido e celulose são exemplos de polímeros naturais, uma vez que
são formados pela repetição de várias moléculas, como os aminoácidos, monossacarídeos, etc.
Os sintéticos são obtidos através da polimerização, todos os polímeros a partir do petróleo são
exemplos de polímeros sintéticos, tais como a poliacrilamida, poli-isopreno, dentre outros
(Canevarolo-Jr, 2010).

2.1.2.3 Configuração

A configuração diz respeito ao arranjo espacial das ligações intramoleculares, ou seja,


entre os monômeros. Essa configuração é formada durante a polimerização e não pode ser
alterada posteriormente. As configurações podem ocorrer por encadeamento cabeça-cabeça e
cabeça-cauda, estéreo-isomerismo ou isomerismo geométrico (Canevarolo-Jr, 2010).

2.1.2.4 Conformação

A conformação é uma forma de classificação que leva em consideração o arranjo


geométrico espacial que a cadeia pode adquirir. Tal conformação pode ser do tipo novelo
aleatório, zigue-zague ou helicoidal (Callister-Jr, 2007).

2.1.2.5 Fusibilidade

A maneira como o polímero se funde determina todas as características referentes ao


tipo de processamento que este material pode sofrer. Quanto a fusibilidade, podem ser de dois
tipos: termoplásticos ou termofixos. Os termoplásticos são aqueles que se fundem por
aquecimento e se solidificam com o resfriamento. São solúveis e como exemplo tem-se o
polipropileno, polietileno, policloreto de vinila, etc. Os termofixos (ou termoestáveis) não se

10
fundem com o aquecimento, uma vez que podem apresentar ligações intermoleculares fortes e
repetida em grande quantidade e regularidade ou podem assumir estrutura tridimensional com
ligações cruzadas, como o exemplo das borrachas (Andrade, et al., 2001; Canevarolo-Jr, 2010).

2.1.2.6 Comportamento Mecânico

São diferenciados de acordo com o módulo elástico, que é a medida da rigidez expressa
pela razão a tensão aplicada e a deformação do material. Essa classificação divide os polímeros
em: elastômeros, plásticos e fibras.

Os elastômeros são polímeros que exibem alta elasticidade a temperatura ambiente,


possuem a característica de deformar e, após retirada da tensão, reconstitui seu estado original.
Os plásticos são materiais sólidos a temperatura ambiente, podendo tornarem-se fluidos e
moldáveis a temperaturas mais altas. Fibras são exemplos de polímeros termoplásticos,
possuindo moléculas orientadas no sentido longitudinal e alta resistência mecânica (Andrade,
et al., 2001).

2.1.2.7 Polimerização por Etapa

A Polimerização por etapa ocorre através da condensação de grupos funcionais


presentes nos monômeros, onde há o aumento do tamanho das moléculas e, consequentemente,
da sua massa molar, através de sucessivas ligações. O que dá início à reação de polimerização
são os grupos funcionais presentes nos monômeros, desse modo, devido essas reações, há
formação de subprodutos, como H2O, HCl, NH3, etc.

Alguns fatores influenciam fortemente neste tipo de polimerização, tais como a


temperatura, tempo de reação e relação equimolar dos grupos funcionais dos monômeros
(Odian, 1991; Billmeyer, 1984).

2.1.2.8 Polimerização por Cadeia

Na Polimerização por Cadeia os monômeros apresentam duplas ligações em suas


cadeias. Através da instabilidade, ocorre a ruptura destas ligações, gerando um polo positivo
chamado de sítio ativo, atraindo outros monômeros, fazendo-os se ligarem uns aos outros.

11
Para que ocorra a ruptura da ligação dupla, são necessários reagentes químicos
chamados de iniciadores ou pode-se utilizar também radiações eletromagnéticas. A reação de
polimerização ocorre em três etapas: iniciação; propagação; terminação (Odian, 1991;
Billmeyer, 1984).

2.1.3 PRINCIPAIS TIPOS E APLICAÇÕES DOS PLÁSTICOS MAIS PRESENTES EM


CORPOS D’ÁGUA

Devido as propriedades desses materiais, eles são capazes de formar uma grande
diversidade de materiais distintos, servindo para inúmeras aplicações.

Estudos mostram que a composição dos plásticos que mais poluem praias, rios e lagos
são: polietileno (PE); polipropileno (PP); policloreto de vinila (PVC); poliestireno (PE);
politeraftalato de etileno (PET) (Guo & Wang, 2019).

2.1.3.1 Polietileno (PE)

O polietileno tem a estrutura mais simples dentre os polímeros, sendo constituído pelo
monômero –(CH2)n–. Pode existir em cinco diferentes variações, que são o polietileno de alta
densidade (PEAD), o polietileno de baixa densidade (PEBD), polietileno linear de baixa
densidade (PEBDL), polietileno de ultra peso molecular (PEUAPM) e polietileno de ultra baixa
densidade (PEUBD). Todos esses possuem propriedades únicas, como boa flexibilidade e
trabalhabilidade, resistência a impacto, estabilidade térmica e química (Wasilkoski, 2002).

Figura 4 – Estrutura química do polietileno

12
2.1.3.2 Polipropileno (PP)

Trata-se de um dos mais importantes plásticos comerciais, ficando atrás apenas do


polietileno. O monômero que constitui a cadeia polimérica é constituído por três moléculas de
carbono, sendo uma delas um radical metila. Seu ponto de fusão pode alcançar no máximo
176°C. É um polímero de fácil moldagem, baixo custo, alta resistência química e moderada
resistência ao impacto, estável termicamente, dentre outras características. Esse material é
aplicado principalmente na indústria automobilística, embalagens, utilidades domésticas,
tecidos, etc (Mothé, 2016).

Figura 5 – Estrutura química do polipropileno

2.1.3.3 Policloreto de Vinila (PVC)

Um material também muito vendido no mercado, uma vez que é um dos mais versáteis,
pois sua resina é formulada de acordo com o objetivo da aplicação. Pode alterar suas
características, podendo produzir peças que necessitem de alta rigidez ou sejam extremamente
flexíveis, sendo muito utilizado como canos e tubulações, na medicina, plastissóis, etc. O
monômero apresenta dois átomos de carbono ligados por uma dupla ligação e um átomo de
cloro (Cl) ligado a um dos carbonos. É considerado estável até 130°C; se decompõe facilmente
em temperaturas elevadas, liberando um vapor ácido (Maggi, 2011).

13
Figura 6 – Estrutura química do policloreto de vinila

2.1.3.4 Poliestireno (PS)

Matéria-prima dos copos descartáveis, várias embalagens, fabricação de concreto leve,


fundação de estrada, dentre tantas outras aplicações, conhecido no Brasil como Isopor. Trata-
se de uma resina termoplástica amorfa e transparente, obtida através da polimerização do
estireno. É dividido em quatro tipos básicos de poliestireno: PS cristal; PS resistente ao calor;
PS de alto impacto; PS expandido. No geral caracterizam-se por possuir baixa condutividade
térmica, baixo peso, alta resistência mecânica, versatilidade, baixa absorção de água, resistência
ao envelhecimento, etc (Oliveira, 2013).

Figura 7 – Estrutura química do poliestireno

2.1.3.5 Politeraftalato de Etileno (PET)

Amplamente utilizado para a fabricação de engarrafados. Na década de 70, houve


necessidade de produção de garrafas maiores, leves e inquebráveis para embalar bebidas
carbonatadas. O PET, devido às suas características, se ajustou perfeitamente as exigências.
Trata-se de um polímero termoplástico, apresenta baixa absorção de água, resistência mecânica
e química, impermeabilidade a gases, é bem mais leve que embalagens tradicionais feitas de
vidro e alumínio. É produzido a partir da resina do polietileno de baixa densidade (Silva et al.,
2012).

14
Figura 8 – Estrutura química do politeraftalato de etileno

2.1.4 NANOPLÁSTICOS E MICROPLÁSTICOS

Em 2004, através dos estudos de Thompson et al. (2004), o termo microplástico ganhou
notoriedade e tornou-se mais comum. A denominação define partículas de plástico de tamanho
microscópico e vem sendo utilizada até hoje. A National Oceanic and Atmospheric
Administration (NOAA) em 2015, definiu os microplásticos como partículas de dimensões
inferiores a 5 mm. Entretanto essa dimensão não é padronizada, visto que alguns autores
consideram dimensões diferentes, muito embora todas sejam próximas.

As divergências no tamanho do que é considerado microplástico por muitos autores


ocorre, além de outros motivos, devido a adoção de uma nova escala que define partículas de
plásticos ainda menores: os nanoplásticos. Gigault e colaboradores (2018) propuseram o termo
“nanoplástico” para definir partículas já na escala nanométrica, com dimensões entre 1 nm a 1
µm. A Tabela 1 apresenta algumas definições de microplásticos e nanoplásticos em tamanho,
proposta por diferentes autores.

Tabela 1 – Classificação por alguns autores: dimensão dos plásticos

Autores Nanoplástico Microplástico Mesoplástico Macroplástico


Gregory & - 67 – 500 µm - -
Andrady, 2003
Galgani et al., - 25 µm – 5 mm 5 mm – 25 cm -
2013
NOAA - < 5 mm - -
Gigault, et al., 1 – 1000 nm 1 µm – 5 mm - -
2018
Karami, et al. < 1000 nm 25 µm – 1 mm 1 – 10 mm > 10 mm
2018

Microplásticos em ambientes aquáticos podem ter duas origens: primária e secundária.


A origem primária é aquela quando já produzido em tamanho microscópico. Esse tipo de

15
plástico, chamados pallets, são resinas termoplásticas de formato, cores e tamanhos variados.
Os pallets atingem o ambiente marinho, provavelmente através de perdas acidentais durante o
transporte ou através do escoamento por drenagem do descarte inadequado nas etapas do
processo industrial (Ogata, et al. 2009). Geralmente usados como matéria prima para produção
de outros plásticos, como produtos de higiene pessoal, limpeza industrial, fibras para compor
tecidos, etc. Produtos como sabonetes esfoliantes, cremes dentais e vários outros cosméticos
apresentam microesferas em sua composição, geralmente PE, PP ou PS (Olivatto, 2017; Fendall
& Sewell, 2009; Boucher, J & Friot D., 2017).

Os microplásticos de origem secundária, são macroplásticos que se fragmentaram de tal


forma e atingem tamanho microscópico, podendo continuar se fragmentando, atingindo
tamanhos ainda menores, nas dimensões dos nanoplásticos (Boucher & Frio, 2017). Geralmente
após o consumo do produto, o material plástico de pequena escala é destinado a esgotos
domésticos ou estações de tratamento de água e esgoto e terminam seu percurso em ambientes
aquáticos. Entretanto, em nenhum dos casos o plástico, seja primário ou secundário, é
completamente retido, contaminando os corpos hídricos (Olivatto, 2017).

2.1.5 IMPACTOS

A primeira vez que detritos plásticos foram relatados em ambiente marinho foi no início
da década de 1970 (Carpenter & Smith, 1972). Desde então, a preocupação e interesse da
comunidade cientifica vem crescendo. Por não serem biodegradáveis, os plásticos se acumulam
no ambiente. Nos oceanos, esse acumulo já é tão grande que no Pacífico, entre a Califórnia e o
Havaí, estima-se que exista uma concentração de 87 mil toneladas de plástico, que são
conduzidos até o mesmo local através das correntes oceânicas (Lebreton et al., 2018). A área
que todo esse plástico ocupa é equivalente a três vezes o tamanho da França, com crescimento
cada vez mais rápido, uma vez que a produção em peso de plástico bate recorde a cada ano.
Microplásticos compreendem 94% de todo plástico que ali flutua, logo, ao invés de se encontrar
uma “ilha” propriamente dita, o que se encontra é uma água mais turva e opaca, visto que o
microplástico está bem diluído. Além dessa, que é a maior concentração de plásticos nos
oceanos, existem mais quatro “ilhas” de plásticos: uma a leste, também no Pacífico, e outra a
oeste, no Atlântico, da América do Sul, mais uma no oceano Atlântico, entre os EUA e o
continente africano e outra no oceano Índico. Para efeito de ilustração, na Figura 9 é
demonstrado a possível posição dessas “ilhas”.

16
Figura 9 – Ilhas de plástico em cada oceano do globo

Fonte: Autor

Embora esse material apresente longevidade e resistência a degradação, a ação


combinada da radiação UV, presença de oxigênio, mudanças de temperatura, umidade,
movimento da maré e contato com contaminantes, são suficientes para provocar a fragmentação
do plástico pela degradação mecânica, térmica, foto-oxidativa, induzida por ozônio e hidrólise,
etc (Olivatto, 2017; Barnes et al., 2009)

Os danos ao reino animal são grandes: milhares de mamíferos e aves marinhas morrem
anualmente contaminadas ou presas em redes abandonadas. Os microplásticos e os
nanoplásticos, por apresentarem alta área de superfície, atuam nos corpos d’água como uma
esponja, promovendo uma forte sorção de compostos tóxicos, como hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (PAHs), bifenilos policlorados (PCBs), dicloro difenil tricloroetano
(DDTs) e metais pesados (Bergami, et al., 2017). Segundo pesquisa realizada por Boris (2015),
cerca de 90% dessas aves marinhas já ingeriram algum tipo de plástico.

Não se sabe exatamente quanto tempo os plásticos podem permanecer nos oceanos, tão
pouco sua taxa de degradação e redução de tamanho, mas, segundo pesquisas, ao atingirem
cerca de 20µm, esse material adquire dimensões similares as de alimentos de muitas espécies
invertebradas, além disso, a sorção de compostos tóxicos também o faz ter cheiro semelhante.
Desse modo, essas partículas são confundidas com alimentos por essas espécies, que por sua

17
vez, servem de alimento para outras (Sobral et al., 2011; Menezes et al., 2022). No organismo,
os microplásticos obstruem o trato digestivo, causando falsa sensação de saciedade, provocando
desnutrição nos organismos, além de afetarem a produção hormonal. De um modo geral, esses
contaminantes se acumulam e são transferidos pela cadeia alimentar, atingindo as mais variadas
espécies, inclusive a humana (Carbery ,2018).

O trabalho de Revel, Châtel, & Mouneyrac (2018) mostra como as partículas de


plásticos afetam o corpo o humano. Segundo eles, o consumo de animais contaminados;
adsorção pela pele por cosméticos com altas concentrações de nanoplásticos; inalação de
partículas provenientes de estações de tratamento de água e exposição de lodo no solo, dentre
outras fontes, podem eventualmente acometer a saúde humana, induzindo ao bloqueio
intestinal, fibroses, congestões e inflamações. Outras pesquisas também alertam a presença
desses poluentes no leite materno, sangue e nas camadas mais profundas do pulmão (Ragusa et
al., 2022; Lauren, et al., 2022).

Os microplásticos mais comuns em ambientes marinhos são aqueles a base de PE, PP,
PS, PVC e PET (Guo & Wang, 2019). São esses mesmos tipos de polímeros que, segundo
Derraik (2002), no prazo de um ano são descartados no mar em 40% do total produzido, uma
vez que são mais comuns e utilizados pela população no dia a dia. Grande parte dessa
porcentagem corresponde ao plástico descartável, ou seja, que não é utilizado por muito mais
que cinco minutos e depois não tem mais serventia, como embalagens, talher, copo, prato,
canudo, garrafa de plástico, etc. Devido as formas incorretas de destinar apropriadamente o
material, eles acabam chegando aos ambientes marinhos.

Vale salientar que mesmo o indivíduo dando o destino correto para o plástico que
utilizou e descartou, esse plástico não deixa de existir, ele provavelmente seguirá para um
aterro, lixão ou reciclagem. Cerca de apenas 9% em média de todo o plástico produzido é
reciclado, entretanto, cada vez que são reciclados, alguns plásticos perdem, mesmo que pouco,
qualidade no processo enquanto outros perdem mais rápido, são diferentes do alumínio ou
vidro, por exemplo, que podem ser reciclados infinitas vezes e mesmo assim manterão suas
características (Geyer, 2017). Materiais a base de PET podem ser reciclados diversas vezes,
perdem pouco em qualidade, mas plásticos mais ‘finos’, como o PEAD (Polietileno de alta
densidade) são mais limitados a reciclagem, além disso, nem todo o plástico pode ser reciclado,
como é o caso dos termofixos, uma vez que são duros, resistentes e dificilmente será possível
molda-los na reciclagem. Logo, cedo ou tarde, aquele plástico não terá mais serventia e será
lixo, desse modo, apesar da reciclagem ter um viés nobre, mesmo se todo o plástico produzido

18
fosse reciclado, ela não resolveria o problema. Na verdade, o combate ao crescimento dessa
poluição está muitas vezes além do indivíduo, é necessário que o modo de produção acelerado
das indústrias dentro de um sistema capitalista seja revisto, pois, como pode ser observado no
trabalho de Geyer (2017), a quantidade de plástico só tende a aumentar com o tempo.

No caso dos plásticos que chegam aos lixões, trata-se de mais um ponto de acúmulo,
dos quais muitas vezes se localizam próximos à áreas de proteção ambiental, rios, mares, como
o Jardim Gramacho, por exemplo, o maior lixão da América Latina que se localiza na beira da
baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, ou seja, boa parte do lixo ali depositado acaba chegando
ao mar. Além disso, boa parte do lixo acumulado no lixão é queimado para controlar o volume,
sendo que o plástico, quando queimado a céu aberto, é uma das principais fontes de poluição
do ar, devido a liberação de dioxinas, ftalatos, dentre outros gases tóxicos, que ameaçam a
vegetação e a saúde humana e animal (Verna et al., 2016 ). Vale salientar que desde 2014 a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) proíbe o uso de lixões, mas ainda assim são
utilizados por vários municípios (Oliveira, 2014).

Os aterros sanitários são ditos hoje como a melhor solução para o problema do lixo,
entre eles o plástico, mas pesquisas mostram que até mesmo os aterros são possíveis fontes de
microplásticos a longo prazo, uma vez que são lixiviados juntamente com o chorume. O
chorume segue para uma estação de tratamento de esgotos, a qual não consegue lidar com todo
o microplástico diluído e este acaba, no final, sendo despejado em algum ambiente marinho
(He Pinjing et al., 2019; Talvitie, et al., 2017).

A Tabela 2 mostra uma tabela adaptada do trabalho de Guo & Wang (2019). Ela
apresenta a distribuição e abundância das quantidades de plásticos (item) por metro quadrado,
quilo ou volume de água de ambientes marinhos de alguns lugares do mundo.

19
Tabela 2 – Abundância de Microplásticos em alguns ambientes marinhos ao redor do globo

Localização Abundancia Referências


Oceano Atlântico 1,15-1,45 item/m3 Kanhai et al., 2017

Mar de Marmara, Turquia 1,263 itens/m2 (na superfície) Tunçer et al., 2018

Noroeste do Pacífico 1 x104 itens/m2 (na superfície) Pan et al., 2019

Bacia Central do Ártico 0-375 itens/m3 Kanhai et al., 2018

Noroeste do Mar Mediterrâneo 1,12 x105 itens/km2 (na superfície) Schmidt et al., 2018

Águas da costa mediterrânea de Israel 7,68-2,37 itens/m3 Van der Hal et al., 2017

Yellow Sea, China 545-282 itens/m2 (na superfície) Zhu et al., 2018

Toscana, Itália 69,16 itens/km2 (na superfície) Baini et al., 2018

Ilhas Baleares, Spanish 900,3 itens/km2 (na superfície) Ruiz-Orejón et al., 2018

Fernando de Noronha, Brasil 137-160 partículas por m2 (na Cristina, Assunção & Ferreira,
superfície da areia da praia) 2020
Fonte: Adaptado de Guo & Wang (2019)

2.1.6 ADSORÇÃO

Trata-se da capacidade de interação entre a superfície de um sólido com determinadas


substâncias existentes em fluídos líquidos ou gasosos. É uma operação de transferência de
massa que ocorre espontaneamente devido as forças atrativas entre as moléculas. Para a espécie
que é atraída e se acumula na interface do material, dá-se o nome de adsorvato (ou adsorbato),
já a superfície sólida na qual as moléculas se depositam, dá-se o nome de adsorvente
(Latourrette & Pombeiro, 1991).

A adsorção pode acontecer de duas formas distintas, a depender da natureza das forças
envolvidas, de forma física (fisissorção) ou de forma química (quimissorção). Na adsorção
física, a interação entre adsorvato e adsorvente é relativamente fraca, sendo basicamente
atribuída a forças de Van der Waals, similares a forças de coesão. Na adsorção química, a força
é muito mais intensa se comparado a fisissorção, uma vez que há a troca ou partilha de elétrons
entre as moléculas do adsorvato e adsorvente. Outra diferença entre essas duas formas de
adsorção é que a fisissorção ocorre em toda a superfície do adsorvente, enquanto a quimissorção
só ocorre nos sítios ativos, a esses tipos de interação são dados os nomes de não localizada e
localizada, respectivamente (Nascimento et al., 2014).

20
Dentre os fatores que influenciam o processo de adsorção estão associados tanto a
natureza do adsorvente e do adsorvato quanto as condições operacionais. Dentre as condições
que influenciam no processo estão: pH, concentração da solução, área superficial, natureza do
adsorvente e adsorvato e a temperatura.

2.1.6.1 Área superficial

Afeta proporcionalmente a intensidade da adsorção, uma vez que ela é um fenômeno de


superfície. Para partículas maiores, a área de superfície é menor, pois haverá menos partículas
em contato com superfície do adsorvente, resultando em menor adsorção. Além disso, no
adsorvente, pode haver poros nos quais as partículas não conseguem adentrar devido seu maior
tamanho (Seka et al., 2004).

2.1.6.2 Propriedade do adsorvente e adsorvato

A natureza do adsorvente é fundamental, uma vez que a capacidade e a taxa de adsorção


dependem da área superficial específica, porosidade, volume, tamanho e distribuição dos poros
e dos grupos funcionais presentes. Já para o adsorvato, o tamanho da espécie e a polaridade são
características fundamentais para garantir uma melhor adsorção (Domingues, 2005;
Nascimento et al., 2014).

2.6.3 Temperatura

Na adsorção a temperatura afeta principalmente a constante de velocidade. O aumento


da temperatura promove o aumento na energia cinética, logo aumenta a mobilidade das espécies
do adsorvato, além de provocar aumento na taxa de difusão em toda a camada limite externa e
interna dos poros da partícula do adsorvente, devido a diminuição da viscosidade da solução.

O aumento da temperatura pode promover a desobstrução dos poros no interior da


estrutura do adsorvente, permitindo a penetração de moléculas maiores de adsorvato
(Nascimento et al., 2014).

21
2.1.6.4 Potencial Hidrogeniônico (pH)

O pH Influencia o processo de adsorção, uma vez que determina, no processo, a carga


da superfície do adsorvente, além de influenciar as interações eletrostáticas entre o adsorvato e
o adsorvente. Como a adsorção é favorecida quando adsorvato e adsorvente possuem cargas
opostas, favorecendo as interações eletrostáticas, um pH que corrobore com essa situação é
fundamental (Toledo, 2005).

Na adsorção, quando o adsorvente entra em contato com um dado volume de adsorvato,


a adsorção ocorre até atingir o equilíbrio. Ou seja, as moléculas ou íons tendem a fluir do meio
aquoso para a superfície do adsorvente até a concentração de soluto na fase liquida permanecer
constante. Neste ponto, a capacidade de adsorção pode ser determinada. A partir de dados
experimentais, onde é adicionada em um determinado volume (V) de uma série de soluções
com concentrações iniciais (C0) diferentes e conhecidas, e levando em consideração a relação
entre a concentração de soluto na fase líquida (C e) e a capacidade de adsorção (qe), isotermas
podem ser construídas, onde pode ser calculada a capacidade máxima de adsorção de um
adsorvente (Cooney, 1999).

Figura 10 – Exemplo de isoterma de adsorção

Fonte: (Nascimento et al., 2014).

Os testes podem ser repetidos em diversas temperaturas constantes, gerando uma


isoterma para cada temperatura. Desse modo, a isoterma de adsorção é um diagrama que mostra
a variação da concentração de equilíbrio no sólido adsorvente com a concentração da fase
fluída, em uma determinada temperatura. A capacidade de adsorção em cada ponto é calculada
conforme a Equação 1, onde “m” é a massa do adsorvente.

22
(Equação 1)

Com o objetivo de ajustar os dados experimentais sobre os valores de “q” versus Ce,
pode-se citar as equações de Langmuir, Freundlich, Redlich-Peterson, Temkim e Dubinin-
Radushkevich, sendo os dois primeiros modelos os mais utilizados (Nascimento et al., 2014).

2.1.7 TENSOATIVOS

Tensoativos são por definição moléculas anfifílicas, sintéticas ou naturais, que possuem
em sua estrutura uma parte hidrofílica (solúvel em água) e uma parte lipofílica (solúvel em
óleo). Sua grande característica está em conseguir atuar nas interfaces, sejam elas de líquido-
líquido, líquido-sólido ou líquidos-gás, diminuindo a tensão entre as fases (Hunter, 1992). A
Figura 11 mostra a representação genérica de um tensoativo.

Figura 11 – Representação de um tensoativo

Fonte: Autor

A região hidrofílica, ou polar, normalmente é composta por alguns grupos funcionais,


sendo representada na figura pelo círculo preto (cabeça do tensoativo). Já a região hidrofóbica,
ou apolar, é composta por cadeias lineares ou ramificadas de hidrocarbonetos, onde quanto mais
longa for, mais apolar essa região tende a ser, sendo ela representada na figura pela “cauda” do
tensoativo (Tadros, 2005).

Dentre as características dos tensoativos, uma das mais importantes está na capacidade
de se aglomerarem em forma de micelas, que acorre quando a região onde eles se localizam,
seja na superfície ou na interface de duas soluções, satura, ou seja, a concentração chega a um
ponto em que não há espaço para mais tensoativos, logo, se adicionado mais, eles tendem a se
aglomerar e descer para o seio da solução. A este ponto que se dá o nome de concentração

23
micelar crítica (c.m.c.). A forma que o tensoativo migra para o seio da solução dependerá da
própria solução, se esta for apolar, então a região apolar do tensoativo (cauda) estará para o
exterior da micela e, no caso contrário, da solução polar, será a cabeça do tensoativo. A Figura
12 mostra esses dois tipos de micelas. Micelas que apresentam parte apolar para o exterior são
chamadas de inversas, já as que apresentam a cabeça para o exterior, são chamadas de diretas
(Guaraciara, 2006; Tupã, 2011).

Figura 12 – Representação esquemática das micelas

Fonte: (TUPÃ, 2011)

2.1.7.1 Classificação dos tensoativos

Os tensoativos podem ser classificados em função da natureza da região polar. Ela pode
ser do tipo iônica, assumindo carga negativa ou positiva, do tipo não-iônico ou anfótero.

2.1.7.1.1 Tensoativo iônicos

Podem ser divididos em dois tipos: aniônico e catiônico. Os tensoativos aniônicos são
caracterizados por apresentarem íons carregados negativamente quando dissolvidos em água,
são os exemplos dos sabões, compostos sulfonados, fosfatos, etc. Já os tensoativos catiônicos
são aqueles que apresentam carga positiva quando dissolvidos, sendo utilizados na produção de
cosméticos, inibidores de corrosão, dentre outras finalidades (Tadros, 2005).

2.1.7.1.2 Tensoativos não-iônicos

É uma classe que não apresenta íons quando dissolvidos em água. Sua estrutura polar
se deve a presença de grupos funcionais como os hidróxi ou polioxietilênicos (Holmberg,
2003).

2.1.7.1.3 Tensoativos anfóteros

É um tipo de tensoativo que apresenta tanto a carga positiva quanto a negativa,

24
entretanto, o pH da solução determina qual carga prevalecerá. Para soluções ácidas, onde o pH
está abaixo de 4, a carga positiva prevalece, no caso de soluções básicas, das quais o pH está
acima de 9, a carga negativa prevalece, já para pHs entre 4 e 9, o tensoativo tem comportamento
não-iônico (Guaraciara, 2006).

2.1.7.2 Emulsões

Uma emulsão se dá pela dispersão de uma fase na outra na presença de um tensoativo,


onde essas fases apresentam polaridades opostas, polar e apolar, ou seja, são imiscíveis, como
a água e o óleo. O tensoativo atua na dispersão de uma fase na outra, localizando-se na interface,
diminuindo a tensão entre ambas. A forma do sistema consiste em micelas dispersas em uma
das fases, aquela em maior quantidade. Já a fase em menor quantidade, localiza-se no interior
da micela. Devido a estrutura do tensoativo, ele forma aglomerados onde seu interior apresenta
polaridade diferente de seu exterior, logo é capaz de “capturar” gotículas de uma fase, seja ela
polar ou apolar enquanto está imersa em outra (Prince, 1977; Guaraciara et al., 2007). A Figura
13 apresenta como ocorre esse comportamento para o caso da água como fase polar e óleo como
fase apolar.

Figura 13 – Representação esquemática de micelas em emulsões

Fonte: (Oliveira, 2018)

Para o caso onde a gotícula está imersa em um meio oleoso e em seu interior existe água,
dá-se a esse sistema o nome de emulsão água em óleo (A/O), e, para o caso contrário, óleo em
água (O/A). Além dos três componentes: fase polar, fase apolar e tensoativo; pode existir a
presença de um quarto, o cotensoativo, que tem o objetivo de auxiliar na estabilidade da

25
gotícula. Sobre características das emulsões, destacam-se: instabilidade termodinamica,
tamanho entre 100 a 1000nm, apresentam aparência turva e necessitam de energia para serem
formadas (Oliveira, 2019; Wennerstroem et al., 1997).

2.1.7.3 Microemulsões

São tipos de emulsões com algumas características particulares. Assim como as


emulsões, são formadas por pelo menos três componentes: água, óleo e tensoativo. Uma das
principais diferenças está na forma de obtenção, enquanto a emulsão necessita de energia para
ser formada, a microemulsão forma-se espontaneamente. Além disso, a variação do tamanho
das gotículas é menor, na casa dos 10 aos 300 nm, são termodinamicamente estáveis e
apresentam aparência transparente e translúcida, que, segundo Kawakami et al. (2002a), ocorre
justamente devido ao menor tamanho das micelas, ou gotículas (Lindman & Danielsson, 1981).

Devido possuírem alta estabilidade e proporcionarem baixas tensões interfaciais, esses


sistemas podem ser aplicados nas mais diversas situações. Podem atuar como inibidores de
corrosão ao formar um filme protetor sobre determinada superfície, sendo útil na indústria
petrolífera em sistemas avançados de recuperação, dentre outras aplicações (Wanderley-Neto,
2009; Oliveira, 2019).

2.1.7.4 Diagrama de fases

Os diagramas de fases representam as condições experimentais em que é possível obter


regiões de microemulsões. O diagrama de fases apresenta-se na forma de um triângulo (Figura
14) no qual cada vértice desse triângulo representa um componente do sistema. Para o caso de
diagramas com três componentes, dá-se o nome de diagrama ternário, para diagramas com
quatro componentes, onde dois deles terão uma relação constante e ocuparão um vértice do
triângulo, dá-se o nome de diagrama pseudoternário (Soares, 2012).

As microemulsões são sistemas com a capacidade de se equilibrar em quatro diferentes


formas que foram classificadas por WINSOR (1948). São elas:

• Winsor I: quando o sistema apresenta óleo em excesso e, por isso, o sistema é dividido
em duas fases, a fase microemulsionada equilibrada e a fase óleo em excesso.

• Winsor II: similar ao Winsor I, entretanto, ao invés de óleo, a água está em excesso e,

26
por isso, o sistema também é dividido em duas fases, o microemulsionado e a água em
excesso.

• Winsor III: esse sistema é a junção dos Winsor I e II, ou seja, apresenta tanto água como
óleo em excesso, juntamente com a microemulsão. No caso, é um sistema trifásico.

• Winsor IV: é o sistema em que apresenta apenas a fase de microemulsão, ou seja, não
possui nada em excesso, tornando-se um sistema monofásico.

A Figura 14 apresenta a forma de um diagrama de fases pseudoternário, assim como as


regiões de Winsor. Também é possível observar como essas regiões de Winsor se comportam
fisicamente.

Figura 14 – Representação de um diagrama pseudoternário e regiões Winsor

Fonte: (SOARES, 2012)

No caso dos diagramas pseudoternários utilizados para obter as regiões de


microemulsão, quando há a presença de um quarto componente, o cotensoativo, este relaciona
com a concentração de tensoativo de modo que apresentem uma razão constante (C/T).

27
2.2 ESTADO DA ARTE

A remoção de microplásticos de águas contaminadas é algo que vem começando a ser


discutido nos últimos anos, de tal modo que a maioria das pesquisas a cerca desse tema são
referentes a última década, uma vez que o próprio conceito “microplástico” é algo recente.

A primeira vez que microplásticos foram relatados em um trabalho científico foi em


1972, por Carpenter e Smith. Eles encontraram concentrações médias de 3500 peças por
quilometro quadrado de plásticos no oeste do mar de Sargaços e identificaram que o material
continha cerca de 0,25 a 0,5 centímetros de diâmetro. Relataram que essas partículas poderiam
ser fonte de alguns dos bifenilos policlorados e especularam que, devido ao crescente uso do
plástico na época, inevitavelmente levaria ao maior acúmulo de plásticos nos oceanos
(Carpenter & Smith, 1972).

2.2.1 ANÁLISE E DETERMINAÇÃO DE MICROPLÁSTICOS EM ÁGUA

Atualmente, existem vários estudos que comprovam o crescimento do acúmulo de


microplásticos nos oceanos e os malefícios ligados a eles. O método tradicional para
contabilizar microplásticos em ambientes marinhos foi desenvolvido nos Estados Unidos por
Masura, et al, 2015. O método consiste em vários procedimentos que isolam as partículas
plásticas de outras substâncias presentes, inclusive aquelas aderidas aos microplásticos. A
primeira etapa se trata do isolamento das partículas sólidas do líquido que pode ser por peneiras
ou redes de arrasto por embarcações. Após separados, os materiais são submetidos a oxidação
com peróxido úmido, feita com uma solução 35% de peróxido de hidrogênio na presença de
uma catalisador Fe (II) a 0,05M em água. Essa oxidação tem o objetivo de eliminar a matéria
orgânica presente, deixando o plástico intacto. Posteriormente é adicionado NaCl a amostra até
que esta atinja uma concentração de 5 Mols/L do sal. Assim, a amostra pode ser levada para
serem separadas por densidade, onde, após 24 horas, os plásticos permanecem flutuando na
superfície enquanto as demais substâncias decantam.

Pesquisadores brasileiros, em 2017, no Rio de Janeiro, buscaram avaliar a ocorrência de


microplásticos nas águas superficiais da porção oeste da Baía de Guanabara, além de determinar
a composição quantitativa e qualitativa das amostras. Segundo Olivatto (2017), autora do
trabalho, analisou-se os tipos de microplásticos por dois métodos: contagem de partículas e

28
gravimetria; e o tipo de polímero por FTIR com reflectância total atenuada (ATR). Os estudos
não só comprovaram a presença do poluente, como estimaram uma concentração entre 3 e 18,4
unidades de partículas por metro cúbico, constatando a baía como uma das mais contaminadas
em comparação com ambientes similares, sendo o PE e PP, as partículas mais abundantes.
Dentre os materiais plásticos, foi observado que sua grande maioria provém de categoria
secundária, ou seja, de plásticos que se fragmentam até tamanhos microscópicos, o que indica
a falta de manejo de resíduos sólidos nos municípios da região. Ademais, a metodologia por
separação dos resíduos coletados, se mostrou mais eficiente do que por gravimetria, quando
otimizada pelo processamento digital de imagens.

Seguindo os protocolos do método NOAA, Masura et al. (2015) avaliaram a presença,


distribuição, composição e classificação de microplásticos no efluente de esgoto bruto gerado
por estações de tratamento de esgoto (ETE). Avaliando uma amostra de 40L de esgoto, a
pesquisadora encontrou microplásticos de diversos tamanhos e classificou suas concentrações
baseadas no tamanho. Segundo estudos feitos pela autora, a maioria dos microplásticos
encontrados em estações de tratamento são oriundas de fibras e fragmentos. Fazendo uma
comparação com os da Baía de São Francisco, nos Estados Unidos, através de estudos,
compreendeu que a média dessas partículas encontradas por litro foi de 0,086, sendo 80% delas
classificadas como fibras e 17% como fragmentos. Por fim, fez um levantamento da média de
algumas ETE’s nos EUA e estimou valores próximos para o Rio de Janeiro.

No trabalho de Wieczorec et al. (2018), por exemplo, é relatado que microplásticos são
poluentes onipresentes nos mares. Os autores estudaram a ingestão de microplásticos por
espécies de peixes mesopelágicos, uma vez que sua migração contribui significativamente para
o transporte rápido de carbono e nutrientes para o mar profundo, logo, a contaminação desses
peixes poderia afetar adversamente essa ciclagem e auxiliar o transporte de microplásticos das
águas residuais para o fundo do mar. Através de análises de 233 peixes, verificaram que 73%
deles continham microplásticos em seu intestino e que os principais plásticos eram fibras de
polietileno, analisadas através da FTIR.

Em 2019, Ferrari Matheus avaliou a presença de microplásticos no esgoto sanitário do


município de Campo Mourão – PR, bem como caracterizou qualitativamente as micropartículas
plásticas das amostras de esgoto visando entender se há a possibilidade da influência do
lançamento de esgotos no corpo hídrico receptor da região. Concluiu que em 40 litros de esgoto
bruto, a grande maioria dos microplásticos são oriundos de atividades comuns à sociedade.
Além do esgoto bruto, notou-se que mesmo o esgoto tratado apresenta, em menor quantidade,

29
poluentes plásticos que persistiram, dos quais serão encaminhados para um corpo hídrico
receptor.

Rufino, Belé e Dantas (2020) estudaram um método comumente utilizado para análise
de microplásticos em matrizes aquosas, no qual possui uma etapa de oxidação ácida, propondo
alternativas de utilização de ozônio e peróxido de hidrogênio (POA). Os autores chegaram a
concluir que os estudos apontam a eficácia da etapa ácida na remoção de toda matéria orgânica,
uma vez que este tratamento deixou a amostra “limpa”, contendo apenas o microplástico para
análise. Além disso, concluíram que os POA’s utilizados para a degradação, se mostraram
muito eficientes.

Em outro trabalho, Cristina, Assunção e Ferreira (2020), analisaram a presença de


microplásticos nas praias do Sotavento e Barravento, na ilha de Fernando de Noronha. As
amostras foram coletadas de quadrantes de 900 cm-2 da linha da costa de 15 praias arenosas. As
partículas foram peneiradas através de peneiras de aço inoxidável com malha de 1 mm. Além
de separar os microplásticos, estes foram caracterizados de acordo com sua forma, cor e
tamanho. Os resultados encontrados foram a presença de microplásticos em concentrações de,
em média, 160 partículas por m2 na parte oeste da ilha e de 128 partículas por m2, em média,
na região leste da ilha. Por fim, concluíram que a concentração é oriunda de resíduos trazidos
pelo Atlântico, onde deve-se considerar as forças meteorológicas, sazonais, morfodinâmicas e,
principalmente, as antrópicas.

Menezes (2023), investigou a contaminação por plásticos nos organismos aquáticos,


utilizando peixes como modelos, avaliando possíveis efeitos da contaminação em aspectos
fisiológicos, funcionais e ecológicos. A autora expôs peixes de água doce aos microplásticos
buscando alterações na saúde e performance. Além disso, em experimento in situ, testou se a
presença do microplástico influencia na herbivoria de peixes de recife e as consequências no
ecossistema. Por fim, estimaram o grau de contaminação dos peixes pescados para comercio
no RN, com o objetivo de avaliar os impactos econômicos e ecológicos dessa poluição.

2.2.2 REMOÇÃO DE MICROPLÁSTICOS EM ÁGUA

Nos últimos anos, diferentes formas de retirar microplásticos de ambientes marinhos


vêm ganhando cada vez mais espaço. Atualmente, várias pesquisas já mostram formas de
aumentar a eficiência de remoção em estações de tratamento de água e esgoto (ETE’s). Estes

30
são ambientes mais facilmente controlados e por isso mais propícios à implementação de
técnicas específicas de remoção, além do que, as águas nelas tratadas, tendem a destinar-se para
o consumo ou para rios, lagos e oceanos. Esta pesquisa propõe trazer, além da possibilidade de
uso nas ETE’s, abrir a possibilidade para mais estudos do uso de adsorventes para essa
finalidade, estudos que podem levar ao uso em outros corpos hídricos, tais como rios, lagos e
oceanos.

Dentre os trabalhos referentes à remoção de microplásticos, tem-se a pesquisa de


Talvitie et al. (2017), que investigaram a remoção de microplásticos de quatro efluentes em
estações municipais de tratamento de águas residuais utilizando diferentes tecnologias
avançadas de tratamento em estágio final. O estudo incluía biorreator de membrana para o
primeiro estágio da estação de tratamento, diversos tipos de filtros (filtração rápida de areia e
flotação de ar dissolvido) no segundo estágio, ou seja, foram acrescentadas formas avançadas
de tecnologia em cada estágio, obtendo um resultado de remoção superiores a 95% em cada
método utilizado.

Oz, Erol, & Yurtsever (2017) pesquisaram a capacidade que os microplásticos, mais
especificamente o polipropileno (PP), polietileno (PE) e o poliestireno (PS), possuem em
adsorver o detergente oriundo de lixo doméstico. O uso desses polímeros foi feito pois são os
mais comuns. Seus estudos mostraram que não só os polímeros são bons adsorventes, como
quanto mais a concentração de detergente é reduzida, mais adsorção ocorre. A capacidade de
adsorção também variou com o tipo de polímero utilizado, com o pH e a temperatura.
Adsorções maiores aconteceram em pH 3 e a 40°C.

Em 2019, Ma et al. pesquisaram formas de tratamento de água potável contaminada por


microplásticos, e trataram essa água por meio de sais de Alumínio (Al) e Ferro (Fe) através de
coagulação e por meio da ultrafiltração. Eles descobriram que os sais tinham baixa eficiência,
devido sua estabilidade química, porém, encontraram uma forma de aumentá-la. Quanto menor
for o tamanho das partículas de polietileno (PE), maior é a eficiência de remoção, assim como
o uso de pH ácido. A ultrafiltração, por sua vez, devido ao pequeno tamanho dos poros,
conseguiu remover completamente as partículas.

Xuemin et al. (2019), utilizaram vala de oxidação (OD) e biorreator de membrana


(MBR), dois métodos avançados de remoção de microplásticos (MPs) de águas residuais, em
uma estação de tratamento de água no leste da China. Com respeito à amostra, eles constataram
que os MPs encontrados consistiam em tereftalato de polietileno (PET), polietileno (PE),

31
poliestireno (PS) e polipropileno (PP). Segundo os autores, o MBR apresentou cerca de 99,5%
de massa plástica removida, enquanto que o método OD apresentou 97%, enquanto que,
levando em consideração o número de MPs, o MBR apresentou 82,1% e o OD 53,6% de
remoção, ou seja, dentre os dois métodos, o MBR se sobressaiu, possivelmente devido à
filtração por membrana.

Haerul & Tae-Gwan (2019) investigaram a remoção de microplásticos de três diferentes


estágios em três diferentes estações de tratamento. Eles observaram que os dois primeiros
estágios de tratamento removem eficientemente, de 75% a 92%. As micropartículas de plástico
através de tecnologias com o ozônio, filtro de disco de membrana e tratamento rápido. No
terceiro estágio, a eficiência aumentou para valores acima de 98%. Dentre os microplásticos
analisados, os autores chegaram à conclusão que, em sua maioria, tratavam-se de microplásticos
primários, provenientes principalmente de produtos para cuidados pessoais. Por fim, os autores
também estudaram o efluente final que sai da estação de tratamento e é descarregado no rio
Geumho e concluíram que ainda havia uma concentração considerável de microplásticos.

No trabalho de Simon, Alst, & Vollertsen (2018) foi quantificada a massa de


microplásticos (MP) em dez das maiores estações de tratamento de águas residuais
dinamarquesas, usando imagem por infravermelho por transformada de Fourier baseada em
Matriz de plano focal. O objetivo foi coletar informações sobre as cargas gerais de MPs nas
águas residuais para estimar a massa e o número de partículas. O artigo mostra dados que as
estações de tratamento somam 3 t/ano (três toneladas por ano) de MPs, na faixa de 10 a 500
µm, descarregados quando se atribui a massa como unidade de medida complementar ao
número de partículas.

Xia et al. (2019), desenvolveram um trabalho cujo o objetivo foi estudar a contaminação
de onze estações de tratamento de água em Changzhou, na China, confirmando a presença de
microplásticos (MPs), ao mesmo tempo que foram vistas características como quantidade,
tamanho, cor e forma. Os autores concluíram que o tamanho variava de 0,5 a 1 mm, as cores
variaram bastante e o PET foi o principal polímero encontrado. As fibras foram as formas
predominantes, seguidas de fragmentos, flocos, esferas e filmes. Detectaram 14 tipos de
plásticos através da FTIR e a eficiência de remoção, utilizando o método NOAA, em todas as
onze estações foram superiores a 90%, com a maior de 97,15%.

Um trabalho feito por Rajita Bhuju (2020), teve o objetivo determinar como
biofloculantes derivados do quiabo, aloe vera, taro e outras plantas suculentas que são

32
promissores na remoção de contaminantes como metais pesados, corantes e óleos suspensos,
também podem oferecer um método alternativo para a remoção de microplásticos. O estudo
focou na remoção do poliestireno utilizando polissacarídeos derivados do quiabo, taro e aloe
vera. Segundo os resultados obtidos, para amostras com diferentes concentrações de polímero
e tempo de sedimentação, o procedimento utilizando a floculação foi capaz de remover uma
parcela dos microplásticos de poliestireno. Para 1 g/L, 87% do poliestireno foi removido em 30
minutos, 78% e 82% em uma hora para o quiabo, taro e aloe vera, respectivamente, chegando
à conclusão que o quiabo, dentre os três, mostrou resultados mais eficazes na remoção de
microplástico.

33
CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTO
EXPERIMENTAL

34
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Esse capítulo tem a finalidade de abordar os materiais, equipamentos e metodologias


experimentais utilizadas para realização das análises e obtenção do resultado dessa pesquisa.

A Figura 15 mostra um fluxograma das etapas realizadas neste trabalho para a obtenção
dos resultados de remoção dos microplásticos.

Figura 15 – Fluxograma das etapas metodológicas para remoção dos microplásticos.

3.1 OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS


As amostras consistem de microplásticos isolados que foram utilizados como
substâncias para serem extraídos. Foram obtidos por duas formas: Real e Sintética.

3.1.1 Amostra real

A amostra real foi obtida da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da UFRN. Coletou-
se um volume de 40 litros de água não tratada. Com o objetivo de verificar a presença de
microplásticos na amostra, foi utilizado o método NOAA (Martins, 2017), descrito nos itens a
seguir.

35
3.1.1.1 Separação dos microplásticos por peneiras

Seguindo o método NOAA, a amostra de 40 litros passou por duas peneiras, uma com
abertura de 5 mm (milímetros) e outra de 75 μm (micrometros), de modo a separar os
microplásticos da água. A peneira de maior abertura tinha o objetivo de barrar partículas
maiores e a peneira de menor abertura de barrar a passagem dos microplásticos, uma vez que,
para alguns autores (Karami, et al. 2018), tamanhos próximos a 75 μm, já podem ser
classificadas como nanoplásticos.

Após os microplásticos serem separados, eles foram retirados da peneira, colocados


sobre papel filtro e levados a estufa para secar a 90°C, por 24 horas.

3.1.1.2 Remoção da matéria orgânica dos microplásticos

Os microplásticos possuem capacidade de adsorver matéria orgânica. Assim, foi


realizado um tratamento de remoção conforme o método NOAA. Em um Becker, adicionou-se
20 mL de água destilada e 0,3 gramas de FeSO4.7H2O (Sulfato de Ferro II heptahidratado) de
modo a formar uma solução 0,05 molar de Fe (II). A essa solução foram adicionados os
microplásticos. Em seguida, 20 mL de uma solução 30% de H 2O2 foi adicionado ao sistema.
Após 5 minutos de reação, todo o sistema foi agitado e aquecido até 75°C por 30 minutos.

Passados os 30 minutos de agitação, NaCl foi adicionado em uma proporção de 6 gramas


para cada 20 mL, de modo que a concentração de sal alcançasse 5 mols/L. Foi importante a
adição do sal enquanto o sistema estava a 75°C para facilitar a dissolução enquanto era agitado.

Após a dissolução do sal, o sistema foi levado para um decantador, e permaneceu por
48 horas. Na sequência, o funil foi aberto para que escoasse grande parte da solução, até que
restasse apenas uma pequena quantidade (20 mL) com todos os microplásticos na superfície.
Essa quantidade foi então filtrada a vácuo visando à separação dos microplásticos que foram,
em seguida, colocados em estufa a 90°C por 24h. Posteriormente foram pesados e levados para
o FTIR.

3.1.2 Amostra Sintética

Os microplásticos são formados, em sua grande maioria, pelos plásticos mais comuns e
amplamente utilizados comercialmente, como o PET, HDPE, PVC, LDPE, PP e PS, conforme
mostra a Tabela 1. Pegou-se então materiais do cotidiano que têm como base um desses

36
plásticos e os triturou em um moinho de facas (Figura 16) tipo Micro Moinho da SUPEROHM,
simulando o processo de fragmentação que ocorre na natureza.

Figura 16 – Moinho de facas

Os materiais levados ao moinho são mostrados na Tabela 3:

Tabela 3 – Polímero majoritário presente em cada material plástico e sua porcentagem na composição da
amostra sintética

Item Polímero Porcentagem (%)


Cano PVC PVC 20
Garrafa Pet PET 20
Talher de plástico PS 20
Copo descartável PP 20
Pallets HDPE 20

Após serem triturados, os microplásticos foram separados por peneiras de diferentes


faixas granulométricas. Foi utilizada uma peneira com abertura que permite a passagem de
partículas inferiores a 1 mm e outra que permite a passagem de partículas inferiores a 75 µm
(0,075 mm). Os plásticos coletados entre 1 mm e 75 µm foram considerados como amostra
sintética. Tanto esta amostra final quanto os plásticos individuais que a compõem, foram
submetidos à análise por FTIR.

37
3.2 ESCOLHA DOS TENSOATIVOS
A escolha do tensoativo teve como base a toxicidade e disponibilidade. Logo, testou-se
os tensoativos apresentados na Tabela 4, por apresentarem menores danos ao meio ambiente.

Tabela 4 – Tensoativos disponíveis não tóxicos

Tensoativo BHL
Tween 85 11
Tween 80 15
Tween 20 16,7
Brij 92 4,9

Foram construídos os diagramas pseudoternários para cada sistema, modificando apenas


o tensoativo. A construção foi realizada por meio de titulações, uma com a fase oleosa e outra
com a fase aquosa, em sistemas com diferentes concentrações iniciais de tensoativo,
centrifugando-os para que fossem delimitadas as regiões de equilíbrio de acordo com os
sistemas Winsor. As composições de cada sistema estudado são apresentadas na Tabela 5.

Tabela 5 – Componentes dos sistemas microemulsionados

Sistema Tensoativo Fase aquosa Fase oleosa Cotensoativo


1 Tween 85 Água destilada Acetato de Etila n-Butanol
2 Tween 80 Água destilada Acetato de Etila n-Butanol
3 Tween 20 Água destilada Acetato de Etila n-Butanol
4 Brij 92 Água destilada Acetato de Etila n-Butanol

Depois de construídos os diagramas de fases, escolheu-se um ponto na região de Winsor


IV (microemulsão) comum para todos os sistemas, e outro ponto em que o sistema apresentasse
maior quantidade de tensoativo para analisar a interação com os microplásticos, totalizando
dois pontos para cada diagrama.

Para testar a interação dos microplásticos com os sistemas microemulsionados, foi feita
uma solução de 100 mL de cada ponto, adicionado-se 0,05 gramas de microplástico sintético
em cada uma e foram deixados em agitação por 24 horas.

38
Figura 17 – Agitador utilizado

Fonte: Autor

Após esse tempo, percebeu-se que, visualmente, não houve interação, uma vez que os
microplásticos continuavam dispersos no sistema. Contudo, para averiguar isso, a solução foi
filtrada à vácuo e o material retido no papel filtro foi seco à temperatura ambiente por 24 horas
e levado para análise por FTIR.

3.2.1 Caracterização dos sistemas microemulsionados

A caracterização foi feita para os sistemas microemulsionados que apresentaram melhor


interação com os microplásticos. As análises realizadas foram: tensão superficial, diâmetro de
gotícula, índice de polidispersão e concentração hidrogeniônica (pH).

3.2.1.1 Tensão Superficial

A tensão superficial dos sistemas foi avaliada pelo Tensiômetro Sensadyne (Figura 18).
A metodologia empregada no equipamento para determinar a tensão é a da pressão máxima de
bolha, no qual é aplicada pressão que resulta na formação de bolhas em dois capilares de
diâmetros diferentes. A frequência de borbulhamento é diferente devido à diferença dos
diâmetros dos capilares, onde através de um software é calculada a tensão da solução analisada.

39
Figura 18 – Tensiômetro Sensadyne

Fonte: (TEIXEIRA, 2012)

3.2.1.2 Diâmetro de Gotícula e Índice de Polidispersão

Tanto o diâmetro de gotícula quanto o índice de polidispersão foram medidos no


equipamento ZetaPlus (Figura 19). De acordo com as flutuações na intensidade do
espalhamento da luz infravermelha emitida, que atravessa a amostra e varia com o tempo, o
software faz uma correlação e esboça os resultados no computador. A metodologia do
equipamento se baseia no espalhamento dinâmico da luz (DSL), uma técnica de espectroscopia
de correção de fóton (PSC).

Figura 19 – Equipamento utilizado para medição do Diâmetro de Gotícula e Índice de Polidispersão (ZetaPlus)

Fonte: Autor

40
3.2.1.3 Concentração Hidrogeniônica (pH)

Inicialmente, o pH foi medido qualitativamente através de uma fita de pH (Figura 20


(a)). Em seguida, para averiguar o resultado, dando mais confiabilidade, a medição quantitativa
foi realizada com o uso de um pHmetro de bancada (Figura 20 (b)).

Figura 20 – Ferramentas usadas para medição do pH

(a) Fita de pH (b) pHmetro


Fonte: Autor

3.3 ESCOLHA DOS ADSORVENTES


Foram escolhidos cinco adsorventes para a realização desse trabalho, foram eles:
Bagaço de coco, Bagaço de cana, Bagaço da casca da banana e dois tipos de argilas (Bentonita
e Diatomita).

A Diatomita é oriunda do município de Maxaranguape - RN, obtida em sua forma bruta,


calcinada a 850°C e triturada em moinho de martelos. A Bentonita foi adquirida no mercado
comercial. Elas possuem como principal característica seu alto grau de inchamento, atingindo
até 20 vezes seu volume inicial. Elas foram escolhidas devido a disponibilidade de acesso, as
suas propriedades e o vasto uso como adsorventes segundo a literatura (Borges, 2018; Carrilho,
2015).

Os outros adsorventes foram obtidos a partir da casca seca do coco, da cana e da banana.
Os bagaços de coco, cana e da casca de banana, foram escolhidos devido: serem compostos
naturais, não prejudicando o meio ambiente; vasto uso como adsorventes, segundo a literatura
(Yamaura et al., 2007; Nogueira, et al., 2007); por seus componentes apolares, o que torna
possível a interação destes com os microplásticos; e por serem obtidos facilmente, tornando-os

41
baratos. Eles foram triturados no moinho de facas (Figura 16), secos a 100°C por 24 horas em
estufa e, em seguida, separados por granulometria. A separação foi feita por meio de peneiras,
na qual foi escolhida a granulometria de 300 µm para uso.

3.3.1 Comportamento dos adsorventes em água

Como os testes de eficiência de extração foram feitos por decantação, tornou-se


essencial analisar inicialmente o comportamento dos adsorventes em água. Para isso, foi
necessário que todos os adsorventes trabalhados se localizassem no fundo do recipiente no final
do processo, pois assim seria possível separá-los dos microplásticos que não foram adsorvidos,
uma vez que os que não foram adsorvidos permaneceriam flutuando na superfície ou no seio
da solução.

A análise do comportamento foi feita pesando-se 0,1 gramas de cada um dos


adsorventes em tubos de ensaio distintos de 50 mL e adicionando-se 20 mL de água destilada.
Os tubos foram agitados com agitador de tubos e depois levados para a centrífuga por 5 minutos.
Por fim, foram deixados em repouso até que todos decantassem.

3.4 TESTE DE INTERAÇÃO: MICROPLÁSTICOS E ADSORVENTES


A fim de analisar a interação dos adsorventes com os microplásticos, foi feito um
experimento qualitativo que consistiu em pesar 0,1 gramas de microplástico e 0,5 gramas de
adsorvente, adicionando-se em 100 mL de água destilada, agitando-as por 20 minutos, com
auxílio de agitador magnético e uma barra magnética a 500 rpm, e levando-as a um decantador
para ficarem em repouso por 48 horas. O decantador utilizado foi um funil adaptado, onde uma
mangueira foi acoplada por baixo e depois pressionada com uma agarra para que o sistema não
escapasse por baixo, como mostra a Figura 21.

42
Figura 21 – Adaptação feita no funil para decantação

Fonte: Autor

Após as 48h em repouso, o adsorvente e parte dos microplásticos concentraram-se no


fundo do funil. Afrouxou-se a agarra para permitir a passagem da água e do decantado até que
restassem apenas 20 mL no funil, que foi marcado previamente como mostra a Figura 21, local
onde a alíquota do sistema deveria alcançar à medida que este escorria pelo fundo.

A parte do sistema que escorreu foi coletada no Becker e filtrada à vácuo para obtenção
apenas do material sólido. Da mesma forma foi feito para os 20 mL de sistema restantes no
funil. Ambos foram deixados em repouso por 24 horas para secar em temperatura ambiente.
Esse mesmo procedimento foi feito para todos os adsorventes testados.

3.5 TRATAMENTO DOS ADSORVENTES COM O SISTEMA MICROEMULSIONADO

O tratamento dos adsorventes consistiu em impregná-los com o sistema


microemulsionado escolhido dentre os quatro sistemas apresentados na Tabela 4, visando torna-
los mais atrativos pelos microplásticos.

O método se baseou no trabalho de Borges (2018), que utilizou argilas tratadas com
microemulsões para tratar efluentes contaminados com cátions metálicos. Tomou-se beckers

43
de 100 mL distintos e, em cada um, foram adicionadas 1 grama de um dos adsorventes e 6
gramas do sistema microemulsionado escolhido. A microemulsão foi adicionada
cuidadosamente para que cobrisse todo o adsorvente. Em seguida, os beckers foram levados à
estufa onde permaneceram a 100 °C por 48 horas. Como os adsorventes têm densidades
diferentes, foi necessário usar massas diferentes para garantir que tudo fosse coberto pelos 6
mL de microemulsão adicionados.

3.6 CARACTERIZAÇÃO DOS ADSORVENTES

3.6.1 Análise Termogravimétrica (TG-DTG)

Todos os cinco adsorventes, com e sem tratamento com microemulsão, bem como a amostra
de microplástico sintético, foram analisados no TG-DTG.

O procedimento termogravimétrico foi realizado no Analisador Térmico modelo SDT


Q600, da TA Instruments, mostrado na Figura 22.

Figura 22 - Analisador Térmico TA Instruments, modelo SDT Q600

Fonte: TA Instruments

3.7 MONTAGEM DA CURVA DE CALIBRAÇÃO POR FTIR

A fim de analisar quantitativamente a eficiência de extração dos microplásticos pelos


adsorventes utilizados, foi necessária a montagem de uma curva de calibração dos
microplásticos. O procedimento consistiu em pesar cuidadosamente, em uma balança de
precisão, seis massas diferentes de microplásticos que variaram de 0,01 a 0,06 gramas, cuja
diferença entre elas era de 0,01 gramas. Esse processo foi feito em triplicata e todas as dezoito

44
amostras, armazenadas em eppendorfs, foram enviadas para análise por FTIR. Vale salientar
que, como as massas são fixas, era fundamental que durante a realização do FTIR, toda a
amostra de plástico contida nos eppendorfs fosse analisada.

A curva de calibração foi montada com o auxílio do programa “Pega Ponto”, no qual se
escolheu uma região em comum das bandas de absorção no infravermelho (2750 a 3150
nanômetros) para cada massa de microplástico analisada. Dessa região, mediu-se a área do pico
no Excel e, relacionou-se essa área com a massa, obteve-se pontos que juntos resultaram na
curva de calibração. Como o processo foi feito em triplicata, foram construídas três curvas de
calibração e calculada a média entre elas.

3.8 ENSAIOS DE ADSORÇÃO

Os ensaios de adsorção compreendem na aplicação dos adsorventes com e sem


tratamento para quantificar a capacidade destes sistemas na extração de microplásticos.

Foram realizados dez ensaios de adsorção, cinco dos adsorventes sem tratamento:
bagaço de coco, bagaço de cana, bagaço da casca de banana, bentonita e diatomita; e mais cinco
destes mesmos adsorventes tratados com o sistema microemulsionado.

3.8.1 Interação entre microplásticos e adsorventes

O procedimento foi feito de forma similar ao “Teste de interação dos microplásticos


com os adsorventes” (item 3.4). Todo processo foi feito de forma padronizada para todos os
ensaios, nos quais, para cada ensaio: primeiramente, em um Becker adicionou-se 0,5 gramas
do adsorvente, 0,12 gramas de microplástico e 100 mL de água. A agitação foi feita sempre
com a mesma barra magnética e agitador, a 500 rpm, por 20 minutos. Em seguida, o sistema
foi transferido para um funil adaptado onde permaneceu decantando por 48 horas.

O mesmo procedimento também foi realizado para o Branco: sistema sem adsorventes,
apenas microplásticos e água.

3.8.2 Separação dos microplásticos dos adsorventes

Após às 48 horas, deixou-se escorrer o sistema do funil até que restassem 20 mL. A

45
parte que foi escorrida foi filtrada a vácuo e deixada para secar por 24 horas à temperatura
ambiente. Posteriormente, para separar os microplásticos dos adsorventes, o ensaio seguiu com
o protocolo NOAA (Masura et al., 2015). Para o branco, não foi necessário seguir com o
protocolo, visto que não há adsorventes para serem separados, desse modo, o filtrado dessa
amostra já foi encaminhado para análise por FTIR.

3.8.2.1 Degradação dos adsorventes

Na sequência, com a amostra seca, ela foi transferida para um Becker que continha 20
mL de uma solução 0,05 Mols de Fe (II). A solução de Fe (II) foi preparada adicionando 0,3 g
de FeSO4.7H2O em 20 mL de água a temperatura ambiente. Continuando, à essa solução foram
adicionados 20 mL de uma solução com 30% de H2O2. Após 5 minutos em reação, a amostra
foi levada para agitação e aquecida até 75°C por 30 minutos. A adição da solução com 30% de
H2O2, o tempo de reação, agitação e aquecimento se repetiram algumas vezes, a depender do
adsorvente, até garantir a degradação das substâncias não plásticas.

3.8.2.2 Separação dos microplásticos dos resíduos

Após a degradação da matéria orgânica, foi adicionado NaCl ao recipiente contendo os


microplásticos e os resíduos da reação com o H2O2. A proporção de sal adicionado foi de 6
gramas para cada 20 mL de água, de modo que o sistema alcançasse uma concentração de 5
Moles de NaCl (padrão pelo método NOAA). Esse sistema, com os microplásticos, foi levado
para agitação por 15 minutos e, em seguida, transferido para o funil adaptado, sendo deixado
em repouso por mais 24 horas.

Dada a concentração da solução de NaCl, os microplásticos tendem a permanecer na


superfície, bem como parte do adsorvente. Desse modo, deixou-se que a solução escorresse até
que restassem apenas 20 mL no funil. Na sequência, nessa alíquota de 20 mL foi adicionada a
solução de 5 Moles de NaCl até a alíquota atingir 100 mL. O sistema foi agitado por 15 minutos
e transferido de volta para o funil, onde permaneceu em repouso por mais 24 horas. Em seguida,
a alíquota de 20 mL foi obtida novamente e o procedimento de adicionar solução de 5 moles de
NaCl, transferir de volta para o funil e deixar em repouso por mais 24 horas se repetiu. Isso foi
feito para remover o restante de qualquer resíduo de adsorvente que tivesse persistido. Por fim,
o sistema foi filtrado para obter apenas as partículas plásticas e essas, após secarem por 24
horas, foram levadas para análise por FTIR.

46
CAPITULO 4 – RESULTADOS E
DISCUSSÕES

47
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capitulo são abordados os resultados obtidos utilizando a metodologia


experimental apresentada, propondo discussões que corroborem com a literatura para justificar
os motivos para tais resultados e caminhos tomados.

4.1 OBTENÇÃO DA AMOSTRA DE MICROPLÁSTICOS REAL

A Figura 23 mostra os microplásticos extraídos de 40 litros de efluente da Estação de


Tratamento de Esgoto, da UFRN, após o tratamento pelo método NOAA.

Figura 23 – Microplásticos obtidos a partir de 40L de efluente não tratado da ETE da UFRN

Calculando-se a massa desses microplásticos, chegou-se ao valor apresentado na Tabela


6, bem como sua concentração, visto que para cada 40 litros de água, tem-se essa massa.
Entretanto, devido à perda de algumas partículas no momento de extração, dado a dificuldade
de retirar partículas muito pequenas retidas na peneira, estima-se que esse valor seja maior.

Tabela 6 – Massa e Concentração de Microplásticos obtidos em 40L de efluente da ETE da UFRN

Massa Concentração
0,035 g 8,75.10-4 g/L

48
Devido à baixa concentração encontrada, optou-se por utilizar a amostra sintética na
pesquisa, uma vez que seriam necessários vários litros de água da ETE para extrair quantidades
de microplásticos suficientes para realização desse estudo.

Para averiguar os componentes presentes nessa amostra de microplástico isolada da


ETE, foi realizada uma análise por FTIR visando identificar os possíveis polímeros contidos no
microplástico, comparando-a com amostras de plásticos puros. A Figura 24 mostra o gráfico
obtido através dessa análise. A interpretação foi realizada em conjunto com a curva FTIR dos
microplásticos sintéticos (Figura 27)

Figura 24 – FTIR dos Microplásticos obtidos através de efluente não tratado da ETE da UFRN

Fonte: Autor

4.2 OBTENÇÃO DA AMOSTRA DE MICROPLÁSTICOS SINTÉTICA

A Figura 25 apresenta a amostra sintética de microplástico obtida. Ela compreende


microplásticos que variam em tamanho de 75 µm a 1 mm. Todos os experimentos realizados
no decorrer do trabalho foram feitos utilizando essa amostra de microplástico.

49
Figura 25 – Microplásticos obtidos sinteticamente

Fonte: Autor

Os gráficos de FTIR apresentados na Figura 26 são de cada plástico utilizado e que


compõem a amostra sintética. Nessa Figura, também são mostrados os comprimentos de onda
no espectro de cada molécula orgânica presente no plástico. Cada gráfico apresenta a fórmula
molecular do plástico analisado no canto inferior esquerdo. É possível analisar a presença dos
picos de absorção que corroboram com as ligações feitas entre as moléculas de cada plástico.

Figura 26 – Plásticos componentes da amostra de microplástico sintética

50
(a) HDPE

(b) PET

(c) PP

51
(d) PS

(e) PVC

Fonte: Autor

A Figura 27 mostra os espectros de FTIR obtidos das amostras de microplásticos


sintéticos (curva preta) em conjunto com a banda dos microplásticos da ETE (curva vermelha,
a mesma curva apresentada na Figura 24) para melhor comparação.

52
Figura 27 – FTIR dos Microplásticos obtidos sinteticamente e através da ETE da UFRN

Fonte: Autor

É possível observar na Figura 27 alguns picos semelhantes entre os dois espectros,


indicando proximidade entre os microplásticos sintéticos e os encontrados na ETE. Pode-se
verificar que picos aparecem na mesma posição nos dois espectros com a diferença de serem
mais ou menos intensos. A maior intensidade de alguns picos dos microplásticos da ETE é
explicada devido a possível maior concentração de determinados tipos de plásticos, diferente
da sintética em que os plásticos foram misturados em iguais proporções, como ocorre na região
entre 1800 e 1500 cm-1 e entre 1250 e 1000 cm-1. É possível observar que entre essas regiões
os sintéticos também apresentam absorção, mas em menor intensidade.

Ademais, na região dos 3000 cm-1, é possível ver um acentuado pico em ambos os
espectros, sendo esse pico referente ao estiramento C-H, presente em todos os polímeros, como
pode ser visto na Figura 26. Em outro caso, um pico aparece expressivo na região entre 3600 e
3000 cm-1 para os microplásticos da ETE, isso pode ter acontecido devido à grande presença
de hidroxilas e compostos nitrogenados ligados ao carbono, caso que não acontece em
intensidade para os microplásticos sintéticos, uma vez que o único heteroátomo da composição
é o cloro (Cl), proveniente do PVC.

53
4.3 OBTENÇÃO DOS DIAGRAMAS PSEUDOTERNÁRIOS

A Figura 28 mostra os diagramas pseudoternários obtidos utilizando os sistemas


apresentados na Tabela 4: Acetato de Etila, Água destilada e Butanol como Fase oleosa, Fase
aquosa e cotensoativo, respectivamente, e Tween 85, Tween 80, Tween 20 e Brij 92 como
tensoativos. A razão Cotensoativo e Tensoativo: C/T = 1; foi escolhida para reduzir o custo
com tensoativo e dar mais estabilidade à micela.

Vale salientar que tanto o acetato de etila quanto o n-butanol foram escolhidos devido a
menor toxicidade se comparados a outras substâncias disponíveis. Contudo, eles ainda são
prejudiciais ao meio ambiente, porém, serão utilizados apenas para o preparo do sistema
microemulsionado, uma vez que o ideal é a total vaporização de ambos durante a etapa de
tratamento dos adsorventes, evitando serem levados até a etapa dos testes de adsorção.
Entretanto, há a possibilidade de moléculas remanescentes após a vaporização.

Figura 28 – Diagramas Pseudoternários dos sistemas microemulsionados: (a) Sistema 1; (b) Sistema 2; (c)
Sistema 3; (d) Sistema 4

(a) Sistema 1 – Tensoativo usado: Tween 85

54
(b) Sistema 2 – Tensoativo usado: Tween 80

(c) Sistema 3 – Tensoativo usado: Tween 20

55
(d) Sistema 4 – Tensoativo usado: Brij 92

Fonte: Autor

Pode-se observar nos diagramas, apresentados na Figura 28, que as regiões de


microemulsão (Winsor IV) são estreitas. Isso se dá pela média ou baixa interação entre o
tensoativo e a fase aquosa, o que é explicado pelos seus valores de BHL mostrados na Tabela
3. De acordo com os dados apresentados nessa Tabela 3, o tensoativo Brij 92 tem o menor BHL
e, assim, é o que apresenta menor região de microemulsão, sendo ela quase que apenas aberta
para o óleo. Para os tensoativos Tweens, observa-se que o BHL aumenta na ordem: Tween 85,
80 e 20; o que explica a crescente região de microemulsão nos diagramas. A Figura 29 apresenta
as estruturas moleculares dos tensoativos utilizados.

56
Figura 29 – Estrutura molecular dos tensoativos Tween 85, Tween 80, Tween 20 e Brij 92

(a) Tween 85

(b) Tween 80

(c) Tween 20

57
(d) Brij 92

Fonte: ChemNet

Com base na Figura 29, o baixo BHL do tensoativo Brij 92 ocorre devido à longa cadeia
carbônica e pouca presença de grupos que tenham afinidade com a água, o que não ocorre na
estrutura dos tensoativos Tweens, pois existe a presença de várias hidroxilas (OH). Entre os
tensoativos Tweens, a diferença do BHL é explicada pelo aumento do número de carbonos na
cadeia hidrofóbica.

4.4 ANÁLISE DO SISTEMA MICROEMULSIONADO POR FTIR E ESCOLHA DO


TENSOATIVO

Baseado nos diagramas obtidos, decidiu-se não utilizar o tensoativo Brij 92 por ter
apresentado uma pequena região de WIV, sendo assim, trabalhou-se apenas com os tensoativos
Tweens. Para os diagramas que utilizaram o tensoativo Tween como tensoativo, escolheu-se
um ponto de microemulsão, que fosse comum aos três tensoativos, para identificar qual
tensoativo apresentaria maior interação com o microplástico. Também se utilizou um ponto em
que a concentração de tensoativo fosse maior para averiguar se maiores concentrações
possibilitariam melhor adsorção. A Figura 30 mostra os seis pontos escolhidos para análise.

58
Figura 30 – Localização dos pontos escolhidos para análise nos diagramas em que foram utilizados sistemas
contendo o Tween como tensoativo: (a) Sistema 1; (b) Sistema 2; (c) Sistema 3.

As concentrações dos componentes de todos os pontos escolhidos são apresentadas na


Tabela 7. Desse modo, têm-se seis sistemas diferentes, onde três apresentam as mesmas
concentrações, variando apenas os tensoativos. Na Tabela 7 também se mostra como foram
nomeados cada ponto.

59
Tabela 7 – Pontos de microemulsão escolhidos para o teste de interação com os microplásticos

Amostras Ponto Composição


50% Tween 85/Butanol (C/T)
Amostra 1 Ponto comum do diagrama (a) 5% água (FA)
15% Ac. De Etila (FO)
50% Tween 80/Butanol (C/T)
Amostra 3 Ponto comum do diagrama (b) 5% água (FA)
15% Ac. De Etila (FO)
50% Tween 20/Butanol (C/T)
Amostra 5 Ponto comum do diagrama (c) 5% água (FA)
15% Ac. De Etila (FO)
70% Tween 85/Butanol (C/T)
Amostra 2 Ponto com maior concentração de tensoativo: 10% água (FA)
Diagrama (a) – Sistema 1 20% Ac. De Etila (FO)
70% Tween 80/Butanol (C/T)
Amostra 4 Ponto com maior concentração de tensoativo: 15% água (FA)
Diagrama (b) – Sistema 2 15% Ac. De Etila (FO)
70% Tween 20/Butanol (C/T)
Amostra 6 Ponto com maior concentração de tensoativo: 20% água (FA)
Diagrama (c) – Sistema 3 10% Ac. De Etila (FO)

Com a finalidade de se observar a interação dos sistemas microemulsionados com os


microplásticos, foi preparada uma solução de 100 mL de cada amostra nas concentrações
apresentadas na Tabela 7, adicionando-se 0,05 gramas de microplástico. Após 24 horas de
agitação, não houve solubilização, o que já era esperado dado a dificuldade de quebrar as
cadeias poliméricas devido sua estabilidade. De toda forma, esperava-se ainda algum tipo de
interação entre ambos. Desse modo, para averiguar tal suposição, todas as seis amostras com
microplásticos foram filtradas e o material coletado foi levado para ser analisado por FTIR.

A Figura 31 mostra os três gráficos de FTIR, cada um esboçando duas bandas. As


amostras com o mesmo tensoativo foram plotadas juntas para melhor comparação. As bandas
pretas são referentes às amostras 1, 3 e 5, aquelas que apresentam a mesma concentração de
componentes, já as vermelhas são as amostras 2, 4 e 6, referentes a aquelas com maiores
concentrações de tensoativo.

60
Figura 31 – Análise FTIR dos microplásticos filtrados após contato com os sistemas microemulsionados

(a) Amostras 1 e 2: contém o Tween 85 como tensoativo interagindo com os microplásticos

(b) Amostras 3 e 4: contém o Tween 80 como tensoativo interagindo com os microplásticos

61
(c) Amostras 5 e 6: contém o Tween 20 como tensoativo interagindo com os microplásticos

Comparando as bandas nas cores preta e vermelha no FTIR, pode-se observar que os
picos vermelhos são mais intensos, apresentam áreas maiores, o que possivelmente mostra
melhor interação do microplástico com o tensoativo em sistemas onde há maiores
concentrações do tensoativo, haja vista que picos mais intensos implicam em maior
absorbância, consequentemente, em maior adsorção. Desse modo, as amostras 2, 4 e 6 se
mostraram mais eficientes.

Para averiguar se houve interação das estruturas micelares da microemulsão com o


microplástico, é preciso avaliar os espectros FTIR dos tensoativos isolados e compará-las com
os dos microplásticos isolados e das amostras. A Figura 32 apresenta o resultado desses três
espectros sobrepostos. Como as amostras 2, 4 e 6 foram as mais eficientes, elas foram
escolhidas para serem plotadas.

62
Figura 32 – Sobreposição das bandas FTIR das amostras, do tensoativo que compõe o sistema
microemulsionado e dos microplásticos

(a) Sobreposição das bandas de FTIR da Amostra 2, Tween 85 e microplásticos

(b) Sobreposição das bandas de FTIR da Amostra 4, Tween 80 e microplásticos

63
(c) Sobreposição das bandas de FTIR da Amostra 6, Tween 20 e microplásticos

Fonte: Autor

Avaliando as sobreposições dos gráficos da Figura 32, é possível identificar, nos


comprimentos de ondas entre 1000 e 1250 cm-1, que os microplásticos (curvas azuis) não
apresentam picos nessa região, porém os tensoativos (curvas vermelhas) apresentam absorção
intensa. Desse modo, é possível identificar que há interação ao observar as amostras (bandas
pretas), pois há um novo pico nessa mesma região que surgiu após o tratamento com as amostras
microemulsionadas. Em outros comprimentos de onda é possível ver o mesmo comportamento,
mas em menor intensidade.

Com base nos resultados, optou-se por escolher a amostra 4 para continuação dos
experimentos. A amostra 4 utiliza o Tween 80 como tensoativo e apresenta composição: 70%
C/T, 15% água e 15% óleo. Ela foi escolhida por apresentar BHL intermediário, boa região de
microemulsão (WIV) no diagrama, boa interação com os microplásticos, além de boa
disponibilidade. Este tensoativo é classificado como não-iônico e apresenta concentração
micelar crítica (c.m.c.) de 0,012 nM (10-9 Mol/L). Foi escolhido devido sua baixa toxicidade,
sendo frequentemente utilizado na indústria cosmética e como alternativa para remediação de
derramamento de óleo (Nazar et al., 2022).

64
A interação entre o tensoativo e os microplásticos podem ter acontecido devido a grande
quantidade de moléculas de oxigênio no tensoativo (Figura 29 – b), proporcionando ligações
dipolo-dipolo com alguns dos polímeros presentes na amostra de microplásticos. Além disso,
também é possível que interações por dipolo-induzido tenham acontecido entre a parte apolar
do tensoativo e a longa cadeia polimérica.

4.5 CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS MICROEMULSIONADOS

Sendo as amostras 2, 4 e 6 as que apresentaram melhor adsorção, optou-se por fazer a


caracterização dessas para compará-las e legitimar a escolha da amostra utilizada nos demais
procedimentos.

A Tabela 8 mostra os resultados das caracterizações referentes a: tensão superficial,


diâmetro de gotícula, índice de polidispersão e potencial hidrogeniônico.

Tabela 8 – Resultados das caracterizações das microemulsões: tensão superficial, diâmetro de gotícula, índice de
polidispersão e pH

Tensão Superficial Diâmetro de Índice de


Sistema Composição (mN/m) a 30°C Gotícula (nm) Polidispersão pH
70% Butanol/Tween 85
Amostra 2 10% água 29,4 5,9 0,504 7,2
20% acetato de etila
70% Butanol/Tween 80
Amostra 4 15% água 31,1 8,1 0,462 6,93
15% acetato de etila
70% Butanol/Tween 20
Amostra 6 20% água 31,0 13,0 0,496 6, 28
10% acetato de etila

4.5.1 Tensão superficial

A tensão superficial dará uma resposta da tensão desse sistema em água, sendo mais ou
menos solúvel nela. Porém, na Tabela 8, é possível notar que as tensões superficiais das
amostras apresentam valores próximos. Desse modo, a variação do tensoativo ou mesmo as
diferentes concentrações entre óleo e água não influenciaram significativamente nessa
propriedade dos sistemas microemulsionados quando comparados. Logo, a tensão superficial

65
não influenciou na escolha do tensoativo.

4.5.2 Diâmetro de gotícula e Índice de polidispersão

Sobre essa análise, o diâmetro de gotícula esboça em média os tamanhos das micelas
presentes no sistema microemulsionado. O índice de polidispersão representa dispersão das
partículas em tamanho, compreendendo valores entre 0 e 1.

De acordo com a Tabela 8, percebe-se que, para o diâmetro de gotícula, os resultados


das três amostras apresentam valores próximos. Embora a amostra 6 tenha quase o dobro do
valor do diâmetro de gotículas das demais amostras, tal valor não apresenta grande influência
dado a pequena escala das gotículas. Desse modo, os diferentes tensoativos e concentrações de
óleo e água não influenciaram significativamente nesse parâmetro. Vale salientar que, quanto
menor o tamanho da micela, maior área de superfície ela ocupará, ou seja, maior será o número
de agregados micelares adsorvidos no adsorvente, preenchendo com melhor eficiência sua
superfície, possivelmente aumentando o potencial adsorvente. Contudo, como a diferença no
diâmetro de gotícula foi baixa, esse parâmetro não influenciou na escolha da amostra a ser
trabalhada. Por fim, segundo Guaraciara et al. (2007), microemulsões compreendem tamanhos
que variam, aproximadamente, de 5 a 100 nm, logo, tem-se que as amostras obtidas se encaixam
nessa definição.

No que diz respeito ao índice de polidispersão, segundo Lemos-Senna (2011), valores


de dispersão superiores a 0,3 classificam os sistemas como monodispersos. Assim, avaliando
os resultados obtidos, tem-se que os sistemas se classificam como monodispersos e também
não apresentam grandes diferenças entre si. Portanto, é mais um parâmetro que não justificaria
a escolha de uma amostra em detrimento da outra.

4.5.3 Potencial hidrogeniônico

O pH é uma importante análise por que implicará na capacidade de adsorção, uma vez
que, a depender do adsorvente, ele adsorverá melhor em pH ácido, neutro ou básico. Porém, ao
analisar a Tabela 8, nota-se pelos resultados que os valores variaram levemente, aumentando a
acidez da amostra 2 para a amostra 6. Desse modo, a diferença do tensoativo utilizado na
composição das microemulsões não provocam grandes mudanças nesse parâmetro: menos de
uma unidade na escala de pH.

Menores valores de pH estão relacionados a uma maior concentração de H + no meio.

66
Sendo assim, a leve variação do pH é decorrente da maior facilidade que os tensoativos têm de
liberar o hidrogênio. Dado a estrutura da molécula, o Tween 20 (Figura 29 (c)) é aquele que
libera mais facilmente o hidrogênio, quando comparado aos demais.

4.6 ESCOLHA DOS ADSORVENTES

4.6.1 Comportamento dos adsorventes em água

Os adsorventes utilizados foram as argilas: Diatomita e Bentonita, bem como os bagaços


da casca seca do coco, cana e banana.

O comportamento foi analisado ao deixar em repouso pequena quantidade de cada


adsorvente em recipientes apenas com água destilada. Após o repouso submetido, percebeu-se
que todos os adsorventes se concentraram no fundo do recipiente. Entretanto, a velocidade de
decantação foi diferente. As argilas precipitaram mais rapidamente, menos de 12 horas, ao
passo que os bagaços de coco, cana e banana levaram entre 24 e 48 horas. Dentre estes, o bagaço
de coco foi o mais demorado e tanto ele quanto a cana ainda apresentaram algumas poucas
partículas na superfície.

Contudo, através dessa análise, viu-se que após certo tempo em repouso, eventualmente
os adsorventes tendem a se concentrar no fundo do recipiente em sua grande maioria (Figura
33), o que torna possível usá-los nos ensaios de adsorção por decantação.

Figura 33 – Decantação dos adsorventes em água

67
4.6.2 Interação entre o microplástico e os adsorventes

Como não foi encontrado na literatura uma forma de proceder com esses experimentos
que levaram aos ensaios de adsorção, foram então realizados vários testes, de tentativa e erro,
até encontrar o padrão a ser utilizado.

Nesses testes, três parâmetros foram alterados: massa do adsorvente, massa do


microplástico e decantador. A respeito da massa dos adsorventes, primeiramente, foram
utilizados 4 gramas. Entretanto, essa quantidade foi bastante alta, à ponto de entupir o
decantador e impedir que o sistema escoasse. Além disso, para os bagaços de coco e cana,
aumentou significativamente a presença destes na superfície e nas paredes do recipiente,
principalmente no Becker utilizado para agitação antes de transferir o sistema para o
decantador. Assim, a massa foi então reduzida para 2,5 gramas, depois para 1 e por fim, 0,5
gramas.

A massa de microplástico utilizada inicialmente foi de 0,4 gramas, porém essa


quantidade trouxe problemas devido a grande quantidade de microplástico aderido nas paredes
do recipiente, fazendo com que o adsorvente perdesse eficiência de extração devido a menor
interação. Além disso, provocou entupimento do decantador junto com o adsorvente e
dificuldade de filtração. Optou-se então por diminuir essa concentração até 0,05 gramas,
contudo, a massa foi muito pequena, o que gerava dificuldade de visualização e maiores erros
caso algumas partículas fossem perdidas. Decidiu-se então trabalhar com 0,12 gramas,
resultando em uma proporção de um para cinco quando relacionada à concentração dos
adsorventes.

Ao realizar os experimentos, observou-se que as concentrações de 0,12 gramas de


microplásticos e 0,5 gramas de adsorventes apresentou-se satisfatória para trabalho, desse modo
foram escolhidas como concentração padrão. Entretanto, para os bagaços de coco e cana,
especificamente, o sistema ainda tinha dificuldade de fluir pelo decantador, uma vez que as
partículas ainda congestionavam a saída. Desse modo, adaptou-se um funil com uma
mangueira, como mostra a Figura 17, aumentando o diâmetro por onde escorre o sistema.
Assim, o sistema pôde escorrer sem dificuldades após o tempo em repouso. Além disso, o maior
diâmetro na parte superior do funil facilitou com que os microplásticos ficassem mais dispersos
e menos aderidos às paredes.

Foram realizados ensaios de decantação para cada adsorvente com a finalidade de


avaliar se haveria interação destes com o microplástico. Quanto a isso, observou-se que

68
menores quantidades de microplástico, após o repouso de dois dias, concentravam-se na
superfície do sistema. Desse modo, quando comparado ao branco (sistema sem adsorvente,
apenas água e microplástico), maiores concentrações do poluente localizavam-se no fundo,
junto ao adsorvente. Foi perceptível visualizá-los após a filtração desses precipitados. Portanto,
constatou-se que a maior concentração desses plásticos no fundo do recipiente aconteceu em
virtude da presença dos adsorventes.

Sendo assim, uma forma de dosar quantitativamente a concentração de microplástico


extraída era necessária. Buscaram-se algumas formas de realizar esse procedimento e uma das
encontradas foi por FTIR, através de uma curva de calibração.

A interação entre os microplásticos e os bioadsorventes (cana, coco e banana) pode ser


explicada devido as estruturas químicas que compõem esses adsorventes. Segundo Cabral et al.
(2017) e Leobet (2016), esses bioadsorventes são compostos primordialmente por celulose,
hemicelulose e lignina (Figura 34). Essas estruturas apresentam grandes quantidades de
oxigênio passíveis a interagir através de ligações de hidrogênio e/ou dipolo-dipolo com alguns
dos plásticos que compõem os microplásticos.

Figura 34 – Estrutura química da celulose e hemicelulose

4.7 DETERMINAÇÃO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO POR FTIR

A Figura 35 mostra a região do gráfico de FTIR (círculo vermelho) que foi escolhida
para ter a área calculada. O gráfico corresponde à amostra de microplásticos contendo 0,01
gramas (apresentada como exemplo). Para todas as outras amostras a região (2750 a 3150 nm)
foi utilizada para calcular a área. Essa região foi escolhida por ser nitidamente visível em todas

69
as bandas do FTIR, além de não haver interferências de outros picos oriundos de outras
absorções no espectro, dado aos diferentes componentes de cada plástico que compõe a
amostra.

Figura 35 - Região da banda FTIR escolhida para o cálculo da área

Fonte: Autor

A Figura 36 mostra parte das bandas de FTIR das seis amostras analisadas do mesmo
microplástico. As curvas foram colocadas sobrepostas para que fosse possível analisar o
aumento da intensidade dos picos. Nota-se que à medida que se aumentava a massa (g) de
microplástico analisada em cada amostra, a região da curva utilizada para calcular a área
apresentou picos mais intensos. Desse modo, constata-se que a área aumenta com o aumento
da massa.

70
Figura 36 – Curvas sobrepostas das seis amostras de microplástico

Fonte: Autor

A Tabela 9 mostra os dados utilizados para a montagem das curvas de calibração, em


triplicata, e a Tabela 10 apresenta a média desses dados.

Tabela 9 – Dados das Curvas de Calibração

Duplicata Triplicata
Massa (g) Área do Pico Massa (g) Área do Pico Massa (g) Área do Pico
-2 -2
(cm ) (cm ) (cm-2)
0,0105 932,755 0,0098 1095,130 0,0102 884,635
0,0203 1433,765 0,0210 2070,880 0,0209 1603,075
0,0305 1796,240 0,0301 1900,000 0,0298 1937,380
0,0406 1999,660 0,0403 2320,165 0,0401 2238,125
0,0500 1823,125 0,0495 2417,154 0,0507 2257,005
0,0600 2444,090 0,0615 2531,770 0,0601 2776,365

71
Tabela 10 – Dados da Curva de Calibração Média

Massa (g) Área do Pico (cm-2)


0,010167 970,840
0,020600 1518,420
0,030133 1877,873
0,040333 2185,983
0,050067 2165,761
0,060533 2584,075

É possível observar na Tabela 9 que as áreas dos picos referentes a cada massa deram
valores próximos, o que mostra certa coerência e precisão das análises. A única dessas áreas
que se distanciou foi a referente à massa de 0,02 gramas da duplicata, e por esse motivo, ela foi
retirada e não participou do cálculo da média.

O gráfico da Figura 37 é a curva de calibração que foi plotada tomando como base os
dados da Tabela 10.

Figura 37 – Curva de Calibração Média da massa de microplástico versus a área de pico

Fonte: Autor

72
Com respeito à curva de calibração apresentada na Figura 37 observa-se que ela se
aproxima de uma reta, apresentando valor de 0,9357 do R2. Desse modo, constata-se que quanto
maior a concentração de microplástico, mais intenso foi o pico e, consequentemente, maior a
área. Portanto, massas desconhecidas de microplásticos podem agora serem determinadas,
desde que se conheça a área do pico relativa.

4.8 TRATAMENTO DOS ADSORVENTES COM MICROEMULSÕES

A Figura 38 mostra os adsorventes impregnados com microemulsão após todo o


tratamento realizado.

Figura 38 – Adsorventes tratados com a Amostra 4 (Sistema microemulsionado contendo 70% Tween
80/Butanol)

Sabe-se que tanto a microemulsão quanto os adsorventes apresentam interações com os


microplásticos. Desse modo, a impregnação busca tornar o adsorvente mais atrativo,
melhorando a eficiência de extração.

A interação dos bioadsorventes com as microemulsões ocorre devido as ligações de


hidrogênio entre ambas. Como pode ser visto nas Figuras 29 e 34, as estruturas apresentam
várias moléculas de oxigênio passíveis a realizar esse tipo de interação. Além disso, vale
destacar que após ser secado na estufa, a maior parte do acetato de etila e butanol, pertencentes
a composição da microemulsão, são evaporados, permanecendo apenas os tensoativos. No

73
mais, o tratamento foi realizado com microemulsão por que ela, diferente da solução de
tensoativo, segundo Borges (2019), apresenta melhor interação, justificada pela melhor
capacidade das microemulsões de se adsorverem na superfície do adsorvente.

4.9 CARACTERIZAÇÃO DAS ARGILAS

4.9.1 Análise Termogravimétrica

Os gráficos das Figura 39 apresentam o comportamento térmico dos adsorventes


tratados e não tratados.

Figura 39 – Curva TG-DTG dos adsorventes puros e tratados com microemulsão: Bentonita, Diatomita, Bagaço
de Coco, Bagaço da Cana e Bagaço da casca da Banana.

(a) Bentonita pura

74
(b) Bentonita tratada

(c) Diatomita pura

75
(d) Diatomita tratada

(e) Bagaço da casca de banana puro

76
(f) Bagaço da casca de banana tratado

(g) Bagaço de cana puro

77
(h) Bagaço de cana tratado

(i) Bagaço de coco puro

78
(j) Bagaço de coco tratado

Fonte: Autor

Com respeito aos gráficos apresentados na Figura 39, percebe-se pouca variação das
massas para as argilas puras (bentonita e diatomita). A maior perda de massa para ambas
ocorreu por volta dos 100°C, temperatura na qual ocorre a perda de água de coordenação e
desidratação da argila (Carrilho, 2015). Contudo, quando tratadas com microemulsões (gráficos
“b” e “d”) a perda de massa foi maior, cerca de 50% até os 900°C. Isso ocorre devido a presença
do tensoativo que se degrada durante o aquecimento, por volta dos 380°C, como mostram os
picos expressivos da DTG (Curva azul).

Para os demais adsorventes, além da pequena perda de massa em 100°C, também


decorrente da desidratação, a degradação de modo geral foi mais expressiva. Nesse contexto,
houve a redução de 90% de massa para o bagaço de coco e para o bagaço de cana, ambos puros.
Já para o bagaço da casca de banana, cerca de 75% da massa foi perdida. O maior grau de
degradação, em comparação com as argilas, ocorre devido a presença da celulose (C 6H10O5)x,
hemicelulose (C5H8O4)m e lignina (C9H10O3(OCH3)0,9-1,7)n. A hemicelulose degrada entre 200
e 300°C, a celulose entre 300 e 400°C, já a lignina em uma faixa mais ampla, entre 250 e 500°C.
Para todas essas faixas de temperatura, os gráficos mostram uma queda da massa, ou seja, é
observado que os resultados condizem com o que há na literatura (Wild et al., 2014). Ademais,
no que tange esses adsorventes tratados com microemulsões, os gráficos apresentam um leve

79
aumento de massa degradada, uma vez que é somado à degradação do tensoativo em faixas de
temperatura semelhante aos da celulose, hemicelulose e lignina.

4.10 SEPARAÇÃO DOS MICROPLÁSTICOS POR DEGRADAÇÃO TÉRMICA

Sabendo-se que após a decantação os microplásticos estão juntos dos adsorventes,


buscou-se então uma forma de separá-los para que fosse possível obter a quantidade de
microplástico adsorvido através da curva de calibração.

Uma das formas pensadas para separar os microplásticos de quaisquer resquícios de


adsorvente na superfície para que apenas o efluente fosse dosado, foi por degradação térmica.
Acreditou-se que, caso as temperaturas de degradações fossem diferentes, seria possível
degradar o adsorvente para que restasse apenas o microplástico, ou degradar o microplástico
para que restasse apenas o adsorvente. Entretanto, isso não foi possível, pois as curvas de
degradação se sobrepoem em determinadas temperaturas. As curvas TG e DTG do
microplástico sintético são apresentadas na Figura 40.

Figura 40 – Curvas TG e DTG dos microplásticos sintéticos

Fonte: Autor

80
Como é possível observar, a degradação do microplástico ocorre entre 300 e 500°C, o
que coincide com a degradação dos adsorventes, sejam eles tratados ou não, como mostram os
gráficos da Figura 39. Desse modo, essa forma de separar os microplásticos dos adsorventes
não foi possível, haja vista que haveria perda de ambas as substâncias. Assim sendo, optou-se
por utilizar o protocolo NOAA para isolar os microplásticos.

4.11 ENSAIOS DE ADSORÇÃO

4.11.1 Separação entre microplásticos e adsorvente

Os ensaios de adsorção foram feitos para os adsorventes bentonita, diatomina, bagaço


da casca de banana, bagaço de cana e bagaço de coco com e sem tratamento com
microemulsões, além do branco (isento de adsorvente), para que fosse possível quantificar a
capacidade de remoção de microplástico de cada adsorvente.

O método de remoção, descrito no item 3.8, consistiu em diminuir a concentração de


microplásticos na superfície, fazendo com que decantem juntamente com os adsorventes. Desse
modo, após separados dos adsorventes, os microplásticos adsorvidos podem ser quantificados.

A priori, após adicionar água, adsorvente e microplásticos no mesmo recipiente, o


sistema é agitado por 20 minutos com barra magnética para garantir interação dos
microplásticos e adsorventes. Posteriormente, é deixado decantar por 48 horas, pois, foi
observado que esse é o tempo necessário para que todos os adsorventes decantem o máximo
possível. Além disso, durante esse intervalo de tempo, os microplásticos podem ainda interagir
melhor com o adsorvente.

No que diz respeito ao processo de separação, dado que os microplásticos removidos


estão em conjunto com os adsorventes, foi necessária uma estratégia para separá-los. O método
NOAA foi utilizado com esse objetivo. Quanto a esse método, a etapa de oxidação foi feita
repetidas vezes para garantir a degradação da matéria orgânica. Para as amostras que continham
bagaço da casca de banana, bagaço de cana e bagaço de coco, foi necessário repetir a oxidação
mais vezes, ou seja, maiores quantidades da solução 30% de H2O2 foram adicionadas a amostra.
A Figura 41 mostra a reação de oxidação ocorrendo para a amostra contendo o bagaço da casca
de banana sem tratamento como adsorvente.

81
Figura 41 – Reação de oxidação do bagaço da casca de banana não tratada

Como resultado da etapa de oxidação, obteve-se um pó fino que permaneceu no fundo


do recipiente. Em seguida, como instrui o protocolo NOAA, NaCl foi adicionado até a
concentração de 5 Mols/L e depois o sistema foi deixado em repouso para decantar.

Na etapa de decantação, para as amostras que continham argilas como adsorventes com
e sem tratamento, houve boa separação e os microplásticos na superfície puderam ser coletados
facilmente. Contudo, para as demais amostras, foi necessário retornar para a etapa de oxidação
do protocolo, visto que, apesar da maior parte dos resíduos decantarem, ainda haviam resquícios
na superfície. Desse modo, foi extraída a parte decantada e o restante do sistema, o que continha
os microplásticos e o adsorvente não decantados, foi oxidado com solução de 30% de H2O2
mais uma vez. Posteriormente, foram levados para decantação em solução de 5 Mols/L de NaCl
novamente. Esse procedimento se repetiu até que os microplásticos fossem isolados, pois, a
presença dos adsorventes iria interferir nas bandas de FTIR, podendo formar picos mais
intensos na região utilizada para se obter a curva de calibração através da área do pico, o que
implicaria em um resultado distorcido da quantidade de microplástico removido.

A Figura 42 mostra os resíduos decantados em solução 5 Mols/L de NaCl após 24 horas


em repouso para a amostra que continha bagaço da casca de banana como adsorvente.

82
Figura 42 – Resíduos da reação de oxidação da casca de banana após decantação

Fonte: Autor

4.11.2 Eficiência de remoção

Uma vez separados dos adsorventes, foi obtida a banda de FTIR de cada microplástico
removido ao utilizar cada adsorvente tratado e não tratado. Desse modo, através das curvas,
poderam ser obtidas as áreas dos picos entre 2750 e 3150 cm-1 e, com isso, usando a curva de
calibração, pode-se obter a massa de microplástico extraída após o uso dos adsorventes.

A Figura 43 apresenta os resultados de FTIR das amostras após ensaio de adsorção. Para
cada gráfico da Figura 43 foi plotado o branco em conjunto com os microplásticos removidos
por cada adsorvente tratado e não tratado, respectivamente. Além disso, foi isolada a região da
banda que é utilizada para o cálculo da área.

83
Figura 43 – Bandas FTIR do branco e dos microplásticos adsorvidos

(a) Banda FTIR dos microplásticos adsorvidos na Bentonita

(b) Banda FTIR dos microplásticos adsorvidos na Diatomita

84
(c) Banda FTIR dos microplásticos adsorvidos no bagaço da Casca de Banana

(d) Banda FTIR dos microplásticos adsorvidos no bagaço de Cana

85
(e) Banda FTIR dos microplásticos adsorvidos no bagaço de Coco

Fonte: Autor

Os gráficos foram plotados dessa forma para que fosse mais fácil visualizar a diferença
das intensidades dos picos após ensaio de adsorção em comparação com o branco. Com respeito
a isso, percebe-se o aumento da intensidade dos picos após o uso dos adsorventes, o que, por
sua vez, irá refletir na quantidade de microplásticos removidos.

Em relação a Figura 43, as bandas pretas são referentes ao FTIR da amostra branca,
igual para os cinco gráficos. As bandas azuis e vermelhas representam os microplásticos
removidos com o uso dos adsorventes com e sem tratamento, respectivamente. Observa-se que,
para todos os cinco gráficos, as bandas vermelhas apresentam picos maiores que as pretas, o
que indica aumento da eficiência de remoção ao se utilizar os adsorventes.

Ainda com respeito a Figura 43, é possível ver que, com exceção do bagaço da casca de
banana tratada (gráfico (c)), todas as bandas azuis apresentaram picos ainda mais intensos que
as vermelhas, ou seja, os adsorventes tratados são mais eficientes na remoção do que o
respectivo adsorvente sem tratamento. Isso ocorre devido a presença do tensoativo, pois ele
melhora a interação entre o microplástico e o adsorvente.

Contudo, para o bagaço da casca de banana, apesar de picos muito similares, o

86
adsorvente sem tratamento apresentou maior capacidade de adsorção, isso pode ser devido: 1)
a não eficiência de separação do adsorvente não tratado com os microplásticos, o que levou a
ser lido pelo FTIR e a intensidade das bandas do adsorvente se somou aos dos microplásticos;
2) a interação do adsorvente com o microplástico já é suficientemente boa a ponto da presença
do tensoativo não ter significativa influência.

Desse modo, a área de cada banda foi calculada e, através da extrapolação da curva de
calibração (Figura 37), a quantidade de microplástico removidos pôde ser quantificada. A
Tabela 11 mostra os dados da área do pico e a respectiva quantidade de microplásticos
removidos para o Branco e a Tabela 12 mostra esses dados para os adsorventes.

Tabela 11 – Área do pico e quantidade de microplásticos removidos para o Branco

Adsorvente Área (cm2) Massa microplástico (gramas)


Branco Nenhum 1641,78 0,027092

Tabela 12 – Área dos picos e quantidade de microplásticos removidos dos adsorventes

Adsorvente Área (cm2) Massa microplástico (gramas)


Bentonita 2482,08 0,055608
Diatomita 1779,80 0,031776
Bagaço da casca de banana 3768,95 0,099280
Bagaço de cana 2618,37 0,060233
Bagaço de coco 1620,56 0,026372
Bentonita tratada 3462,91 0,088894
Diatomita tratada 3090,92 0,076270
Bagaço da casca de banana tratado 3507,14 0,090395
Bagaço de cana tratado 3824,46 0,101164
Bagaço de coco tratado 3042,29 0,074620

Considerando que foram pesados 0,120 gramas de microplástico para contaminar a água
e desconsiderando quaisquer possíveis pequenas variações desse valor no momento da pesagem
para todos os ensaios, tem-se que, conforme a Tabela 11, aproximadamente 0,027 gramas dos
microplásticos decantaram naturalmente, o que corresponde a 22,5% da massa inicial. O cálculo

87
da eficiência foi feito para os microplásticos decantados além desses 22,5%, ou seja, sobre uma
base de 0,093 gramas (diferença entre 0,120 e 0,027).

Tomando como exemplo os microplásticos extraídos através do bagaço de cana tratado,


tem-se o cálculo da eficiência de remoção que foi aplicado:

 Total de MP em água (efluente): 0,093 g


 Quantidade de MP removidos pelo bagaço de cana tratado (Tabela 12): 0,101164 g
 Diferença entre MP removidos pelo adsorvente e o Branco: 0,101164 – 0,027000 =
0,074164 g

0,093000 --------- 100%

0,074164 -------- x

x = 79,7 %

Desse modo, apresenta-se na Figura 44, em porcentagem, a capacidade de remoção de


cada adsorvente, tomando como base os resultados obtidos e apresentados na Tabela 12.

Figura 44 – Eficiência de remoção dos adsorventes

Como era esperado, após analisar as intensidades dos picos dos gráficos da Figura 43,
todos os adsorventes tratados, com exceção do bagaço da casca de banana, aumentaram a
eficiência de remoção. Dentre eles, o bagaço de cana tratado, aquele de melhor eficiência, foi
capaz de remover em torno de 80% de todo o microplástico da água, uma diferença de 44% se

88
comparado ao mesmo adsorvente não tratado. Quanto a menor diferença, tem-se a bentonita,
com 35,8% entre o adsorvente tratado e não tratado. Contudo, ainda assim apresenta um
aumento satisfatório. Isso mostra a eficiência da contribuição do tensoativo na adsorção do
microplástico no adsorvente, propiciando uma melhor remoção.

Com respeito a Figura 43, percebe-se que o bagaço de coco não tratado apresentou
eficiência muito próxima de zero, sendo então arredondado. Contudo, ao analisar a Tabela 12,
a massa de microplástico extraída é inferior àquela decantada naturalmente (Tabela 11), ou seja,
a eficiência chegou a ser, em pequena escala, negativa. Isso pode ter acontecido devido o coco,
dentre todos os outros adsorventes, ser aquele de mais difícil decantação, ou seja, mesmo após
48 horas em repouso, grande parte ainda se localizou na superfície. Desse modo, dada a
interação dele com os microplásticos, parte do adsorvente que permaneceu na superfície pode
ter impedido que o plástico decantasse. Essa hipótese é sustentada ao analisar o bagaço de coco
tratado, pois, uma vez que ele é decantado quase completamente, a eficiência de remoção
chegou a aproximadamente 51%, possivelmente potencializada pela atuação do tensoativo que
contribuiu tanto para decantação quando para a maior adsorção.

Comparando os adsorventes, tem-se que os bioadsorventes apresentam muito mais


potencial de aplicação. Além de apresentarem maiores eficiências de remoção tanto com
tratamento como sem tratamento, com exceção do bagaço de coco, eles são mais facilmente
obtidos, uma vez que são resíduos, barateando assim o custo do processo.

89
CAPITULO 5 – CONCLUSÕES

90
5 CONCLUSÕES

Esse trabalho teve como objetivo averiguar a capacidade de extrair microplásticos


contidos em efluente sintético através de adsorção. Para isso, selecionou-se alguns materiais
frequentemente usados na literatura como adsorventes. Desse modo, foi avaliada a eficiência
de remoção de microplásticos de cada adsorvente com e sem tratamento com microemulsão.

Através das análises de FTIR foi possível observar a interação, após contato entre os
microplásticos e os sistemas microemulsionados.

Dentre os sistemas microemulsionados analisados, concluiu-se que a melhor opção de


tensoativo utilizado para impregnar os adsorventes foi o Tween 80, uma vez que sua estrutura
possibilita interações com o microplástico, norteando a adsorção, além de que apresenta BHL
intermediário, satisfatória região de Winsor IV, segundo o diagrama pseudoternário, e baixo
custo.

No que diz respeito a caracterização das microemulsões:

-Foram realizados testes de caracterização para as três amostras que melhor interagiram
com os microplásticos.

-Quanto a tensão superficial, não houve diferença significativa.

-Para o pH, as amostras apresentaram valores próximos da neutralidade. A amostra


contendo Tween 20 se mostrou levemente mais básica, seguida pela amostra contendo Tween
80 e, posteriormente, pela amostra com Tween 85, levemente ácida. Contudo, a variação do pH
foi pequena, cerca de 1 na escala.

- Quanto do diâmetro de gotícula, os agregados micelares apresentaram tamanhos


pequenos e muito próximos entre si, além de estarem dentro do que é considerado pela literatura
uma microemulsão.

Concluiu-se, portanto, que essas caracterizações não mostraram significativa diferença


entre os sistemas microemulsionados utilizados.

Em outra análise, observou-se que os adsorventes escolhidos apresentam interação com


os microplásticos, uma vez que, após decantação, observou-se menos partículas na superfície.
Desse modo, para confirmar essa observação, buscou-se uma forma de dosar os microplásticos

91
que decantavam junto com o adsorvente. Algumas formas de dosagem foram pensadas, outras
executadas e a escolhida foi através do FTIR, usando uma curva de calibração construída com
seis diferentes massas de microplásticos versus as áreas dos picos, obtidas por FTIR, das
respectivas massas.

Com a finalidade de aumentar a quantidade de microplásticos adsorvidos, os


adsorventes foram tratados com o sistema microemulsionado escolhido. De acordo com o
experimento realizado, segundo a metodologia descrita por Borges (2018), foi possível obter
um material impregnado com microemulsões.

Outrossim, sabendo-se que os microplásticos removidos decantariam em conjunto com


o adsorvente, foi necessário desenvolver uma forma de separá-los para que o material plástico
pudesse ser dosado. Desse modo, concluiu-se que a melhor maneira para os separar seria aplicar
o método NOAA, uma vez que a etapa de oxidação degradaria o adsorvente e a etapa de
separação por densidade, isolaria o microplástico.

Com relação aos ensaios de adsorção, conclui-se que, em comparação com a amostra
branca, todos os adsorventes não tratados, com exceção do bagaço de coco, contribuíram para
o aumento da adsorção dos plásticos, apresentando variada eficiência de remoção, sendo o
bagaço da casca de banana aquele que apresentou a maior eficiência, cerca de 77,7% e a
diatomina aquela que apresentou a menor eficiência, cerca de 5%. Além disso, conclui-se que,
com exceção do bagaço da casca de banana, todos os adsorventes melhoraram sua eficiência de
remoção após tratamento com microemulsão. Para o caso do bagaço de coco, a eficiência
alcançou 51,2%, um considerável aumento, dado que o adsorvente sem tratamento não
apresentou taxas de remoção. Já para o bagaço de cana, a eficiência de remoção saiu de 35,7%
para quase 80%, sendo essa a maior quantidade de microplástico removidos neste estudo. Para
as argilas, bentonita e diatomita, a eficiência também aumentou consideravelmente,
principalmente para a diatomita, que, de 5% de remoção para o adsorvente não tratado,
alcançou, aproximadamente, 53% após tratamento.

Vale salientar que o uso desses sistemas adsorventes foi feito para um efluente sintético,
porém tem aplicação especialmente para utilização em água residuais, aquelas que chegam as
estações de tratamento de esgoto (ETE). As ETEs apresentam um ambiente controlado, o que
seria propício ao uso desse método. Além disso, a água não contém grandes quantidades de
sais, tal como o mar, o que poderia desestabilizar as microemulsões. Contudo, conclui-se que
esse trabalho abre margem para um estudo pouco explorado até então: a remoção de

92
microplásticos por processos de adsorção, constituindo-se em um bom alicerce para a remoção
de microplásticos de águas. Estudos mais avançados, com outros adsorventes e tensoativos,
poderiam abrir margem para remoção em ambientes de grande escala e até mesmo salinos,
utilizando outros caminhos de extração por adsorção diferentes da decantação.

93
CAPITULO 6 – REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

94
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABIPLAST. (2015). Associação Brasileira da Indústria do Plástico: 1-40 p. 2015.

Andrade, C. T., Coutinho, F. M., Dias, M. L., Lucas, E. F., Oliveira, C. M., & Tebak, D. Dicionáriode
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584, 2018.

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Dissertação (Master of Science). College of Graduate Studies of Tarleton State University. May 2020.

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