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Remoção de Microplasticos Artigo Doutorado
Remoção de Microplasticos Artigo Doutorado
1
ANDREY COSTA DE OLIVEIRA
NATAL/RN
OUTUBRO/2023
2
3
Andrey Costa de Oliveira
4
OLIVEIRA, Andrey Costa de – Remoção de microplástico de efluente sintético através de
adsorventes tratados com microemulsão, Tese de Doutorado, UFRN, Programa de Pós-
Graduação em Química, Área de Concentração: Química. Rio Grande do Norte, Natal – RN,
2023.
Orientadora: Profa. Dra. Tereza Neuma de Castro Dantas
RESUMO: O acúmulo de plásticos no meio ambiente vem se tornando cada vez mais uma
preocupação global. Pauta no relatório da ONU de outubro de 2021 e de outros órgãos
importantes, é perceptível a necessidade de se discutir sobre o tema e buscar soluções. Dentre
os impactos desses materiais, os microplásticos (partículas com dimensões inferiores a 5 mm)
vem ganhando destaque devido a presença, muitas vezes imperceptível, no ambiente. Nos
oceanos, são confundidos com alimentos pela fauna e muitas vezes não são devidamente
removidos nas estações de tratamento de água e esgoto (ETAE). Desse modo, esse trabalho
buscou estudar formas de remover esse contaminante de efluentes. A forma estudada foi através
do uso de adsorventes tratados com tensoativos utilizando a decantação para separá-los, uma
vez que, devido à estrutura do tensoativo e dos adsorventes, estes poderiam ter alguma interação
com os microplásticos, tornando possível sua extração. O efluente utilizado nos testes foi obtido
através da contaminação de água destilada por microplásticos adquiridos sinteticamente.
Contudo, foram comparados através do espectro do FTIR com microplásticos reais, retirados
da ETE da UFRN. Dentre os tensoativos testados, foi escolhido o Tween 80, pois, além da baixa
toxicidade, ele apresentou eficiente interação com o plástico, que foram comprovadas via
análise por FTIR. Quanto aos adsorventes, foram selecionados: bentonita, diatomita, bagaço de
coco, de cana e da casca da banana; todos eles passaram pelo tratamento com microemulsão
para posterior aplicação no tratamento do efluente. A quantificação de microplástico foi feita
através do espectro do FTIR da área de pico para diferentes massas de microplástico que variava
com a absorbância. Para os testes de adsorção, foi necessário aplicar o método NOAA para
separar os microplásticos dos adsorventes após a remoção. Como resultado, tem-se que o
bagaço da casca de banana apresentou a maior eficiência dentre os adsorventes não tratados:
70%. Já entre os adsorventes tratados, o bagaço de cana apresentou quase 80% de microplástico
removido. Logo, observa-se que a adsorção pode ser um método viável e eficiente para a
remoção de microplásticos de efluentes contaminados.
5
ABSTRACT
6
DEDICATÓRIA
7
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela força, perseverança e coragem que me destes para
conclusão deste trabalho.
Agradeço aos meus pais Ana Sandra Fonseca da Costa e Arlindo Delfino de Oliveira, pelo
apoio pessoal, sempre me encorajando a seguir em frente.
Agradeço especialmente a Professora Tereza Neuma de Castro Dantas por toda sua paciência,
comprometimento, colaboração, conselho e orientação neste trabalho, tornando-o realmente
possível.
Agradecer à Banca examinadora Dra. Maria Carlenise Paiva de Alencar Moura, José Luiz
Cardoso, Tamyris Thaise Costa de Souza e José Ribeiro dos Santos Junior.
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 02
2. ASPECTOS TEÓRICOS E ESTADO DA ARTE ................................................... 06
2.1. ASPECTOS TEÓRICOS.......................................................................................... 06
2.1.1. INDÚSTRIA DO PLÁSTICO ............................................................................... 06
2.1.2. CONSIDERAÇÕES E CLASSIFICAÇÃO DOS POLIMEROS ............................ 09
2.1.2.1. Forma molecular ou tipo de cadeia................................................................. 09
2.1.2.2. Origem .......................................................................................................... 10
2.1.2.3. Configuração ................................................................................................. 10
2.1.2.4. Conformação ................................................................................................. 10
2.1.2.5. Fusibilidade ................................................................................................... 10
2.1.2.6. Comportamento mecânico ............................................................................. 11
2.1.2.7. Polimerização por etapa ................................................................................. 11
2.1.2.8. Polimerização por cadeia ............................................................................... 11
2.1.3. PRINCIPAIS TIPOS E APLICAÇÕES DOS PLÁSTICOS MAIS PRESENTES
EM CORPOS D’ÁGUA ................................................................................................. 12
2.1.3.1. Polietileno (PE) ............................................................................................. 12
2.1.3.2. Polipropileno (PP) ......................................................................................... 13
2.1.3.3. Policloreto de vinila (PVC) ............................................................................ 13
2.1.3.4. Poliestireno (PS) ............................................................................................ 14
2.1.3.5. Politeraftalato de etileno (PET) ...................................................................... 14
2.1.4. NANOPLÁSTICOS E MICROPLÁSTICOS ......................................................... 15
2.1.5. IMPACTOS .......................................................................................................... 16
2.1.6. ADSORÇÃO......................................................................................................... 20
2.1.6.1. Área superficial ............................................................................................. 21
2.1.6.2. Propriedade do adsorvente e adsorvato .......................................................... 21
2.1.6.3. Temperatura .................................................................................................. 21
2.1.6.4. Potencial hidrogeniônico (pH) ....................................................................... 21
2.1.7. TENSOATIVOS ................................................................................................... 23
2.1.7.1. Classificação dos tensoativos ......................................................................... 24
9
2.1.7.1.1. Tensoativos iônicos ................................................................................ 24
2.1.7.1.2. Tensoativos não-iônicos ......................................................................... 24
2.1.7.1.3. Tensoativos anfóteros ............................................................................ 24
2.1.7.2. Emulsões ....................................................................................................... 25
2.1.7.3. Microemulsões .............................................................................................. 26
2.1.7.4. Diagrama de fases .......................................................................................... 26
2.2 ESTADO DA ARTE ................................................................................................. 28
2.2.1. ANÁLISE E DETERMINAÇÃO DE MICROPLÁSTICOS EM ÁGUA ............... 28
2.2.2. REMOÇÃO DE MICROPLÁSTICOS EM ÁGUA................................................ 30
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ................................................................... 35
3.1. OBTENÇÃO DAS AMOSTRAS ............................................................................. 35
3.1.1. Amostra real ..................................................................................................... 35
3.1.1.1. Separação dos microplásticos por peneiras ................................................ 36
3.1.1.2. Remoção da matéria orgânica dos microplásticos ...................................... 36
3.1.2. Amostra sintética .............................................................................................. 37
3.2. ESCOLHA DOS TENSOATIVOS ........................................................................... 38
3.2.1. Caracterização dos sistemas microemulsionados ............................................... 39
3.2.1.1. Tensão superficial ..................................................................................... 39
3.2.1.2. Diâmetro de gotícula e índice de polidispersão .......................................... 40
3.2.1.3. Concentração hidrogeniônica (pH) ............................................................ 41
3.3. ESCOLHA DOS ADSORVENTES ......................................................................... 41
3.3.1. Comportamento dos adsorventes em água ......................................................... 42
3.4. TESTE DE INTERAÇÃO: MICROPLÁSTICOS E ADSORVENTES..................... 42
3.5. TRATAMENTO DOS ADSORVENTES COM MICROEMULSÕES ..................... 43
3.6. CARACTERIZAÇÃO DOS ADSORVENTES ........................................................ 44
3.6.1. Análise termogravimétrica (TG) ....................................................................... 44
3.7. MONTAGEM DA CURVA DE CALIBRAÇÃO POR FTIR ................................... 44
3.8. ENSAIOS DE ADSORÇÃO .................................................................................... 45
3.8.1. Interação entre microplásticos e adsorventes ..................................................... 45
3.8.2. Separação dos microplásticos dos adsorventes .................................................. 45
10
3.8.2.1. Degradação dos adsorventes ..................................................................... 46
3.8.2.2. Separação dos microplásticos dos resíduos ................................................ 46
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................. 48
4.1. OBTENÇÃO DA AMOSTRA REAL ...................................................................... 48
4.2. OBTENÇÃO DA AMOSTRA SINTÉTICA............................................................. 49
4.3. OBTENÇÃO DOS DIAGRAMAS PSEUDOTERNÁRIOS ..................................... 54
4.4. ANÁLISE POR FTIR E ESCOLHA DO TENSOATIVO ......................................... 58
4.5. CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS MICROEMULSIONADOS ..................... 65
4.5.1. Tensão superficial ............................................................................................. 65
4.5.2. Diâmetro de gotícula e índice de polidispersão ................................................. 66
4.5.3. Potencial hidrogeniônico .................................................................................. 66
4.6. ESCOLHA DOS ADSORVENTES ......................................................................... 67
4.6.1. Comportamento em água .................................................................................. 67
4.6.2. Interação entre microplástico e adsorvente ........................................................ 68
4.7. DETERMINAÇÃO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO POR FTIR ........................... 69
4.8. TRATAMENTO DOS ADSORVENTES COM MICROEMULSÕES ..................... 73
4.9. CARACTERIZAÇÃO DAS ARGILAS ................................................................... 74
4.9.1. Análise termogravimétrica ................................................................................ 74
4.10. SEPARAÇÃO DOS MICROPLÁSTICOS POR DEGRADAÇÃO TÉRMICA ...... 80
4.11. ENSAIOS DE ADSORÇÃO .................................................................................. 81
4.11.1. Separação entre microplásticos e adsorventes ................................................. 81
4.11.2. Eficiência de remoção ..................................................................................... 83
5. CONCLUSÕES ......................................................................................................... 91
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 95
11
LISTA DE FIGURAS
12
Figura 27 – FTIR dos Microplásticos obtidos sinteticamente e através da ETE da
UFRN ............................................................................................................................. 53
Figura 28 – Diagramas Pseudoternários dos sistemas microemulsionados: (a)
Sistema 1; (b) Sistema 2; (c) Sistema 3; (d) Sistema 4 ..................................................... 54
Figura 29 – Estrutura molecular dos tensoativos Tween 85, Tween 80, Tween 20 e
Brij 92............................................................................................................................. 57
Figura 30 – Localização dos pontos escolhidos para análise nos diagramas em que
foram utilizados sistemas contendo o Tween como tensoativo: (a) Sistema 1; (b)
Sistema 2; (c) Sistema 3. ................................................................................................. 59
Figura 31 – Análise FTIR dos microplásticos filtrados após contato com os
sistemas microemulsionados ........................................................................................... 61
Figura 32 – Sobreposição das bandas FTIR das amostras: do tensoativo que
compõe o sistema microemulsionado e dos microplásticos .............................................. 63
Figura 33 – Decantação dos adsorventes em água .......................................................... 67
Figura 34 – Estrutura química da celulose e hemicelulose .............................................. 69
Figura 35 – Região da banda FTIR escolhida para o cálculo da área ............................... 70
Figura 36 – Curvas sobrepostas das seis amostras de microplástico ................................ 71
Figura 37 – Curva de Calibração Média da massa de microplástico versus a área
de pico ............................................................................................................................ 72
Figura 38 – Adsorventes tratados a Amostra 4 (Sistema microemulsionado
contendo 70% Tween 80/Butanol) .................................................................................. 73
Figura 39 – Curva TG-DTG dos adsorventes puros e tratados com microemulsão:
Bentonita, Diatomita, Bagaço de Coco, Bagaço da Cana e Bagaço da casca da
Banana. ........................................................................................................................... 74
Figura 40 – Curvas TG-DTG dos microplásticos sintéticos ............................................ 80
Figura 41 – Reação de oxidação do bagaço da casca de banana não tratada .................... 82
Figura 42 – Resíduos da reação de oxidação da casca de banana após decantação .......... 83
Figura 43 - Bandas FTIR do branco e dos microplásticos adsorvidos ............................. 84
Figura 44 – Eficiência de remoção dos adsorventes ........................................................ 88
13
LISTA DE TABELAS
14
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1
1 INTRODUÇÃO
É facilmente perceptível que os plásticos estão cada vez mais presentes em nosso dia a
dia, do mais simples ao mais complexo objeto. Basicamente tudo na rotina humana envolve
este produto, trazendo comodidade e praticidade, seja no transporte, em aparelhos eletrônicos,
roupas, calçados, embalagem, o canudo utilizado para beber, dentre tantos outros. Vive-se na
era do plástico, e o seu uso generalizado se deve às suas propriedades, tais como o baixo peso,
longa durabilidade, resistência, propriedades de isolamento térmico e elétrico, são facilmente
moldáveis através do calor e, principalmente, são de baixo custo (Derraik, 2002; Thompson et
al. 2009b).
Todo o plástico sintético existente hoje foi fabricado no último século, com grande
aumento nas últimas décadas, de modo que a sua produção desde os anos 2000 até hoje,
superam, em peso, todo o plástico produzido nos 50 anos anteriores ao novo milênio. Nesse
ritmo, já foram produzidos mais de 8,9 bilhões de toneladas de plástico desde 1950 e a
estimativa para 2030 é de mais 550 milhões de toneladas. De todo o plástico produzido, cerca
de 29% ainda está em uso, 6,3 bilhões de toneladas, ou 71%, foi descartado, onde 4,9 bilhões
de toneladas se acumulam em aterros sanitários ou na natureza, os demais são reciclados ou
foram incinerados (Vasconcelos, 2019; Geyer, 2017). Segundo Derraik (2002), 40% do plástico
é descartado em menos de um ano. Muito dessa porcentagem corresponde ao plástico de uso
único, ou seja, aquele que se torna descartável em 5 minutos de uso, como o canudo, copo,
prato, etc.
Trata-se de um material extremamente útil, mas devido não ser biodegradável, ele se
acumula nos mais variáveis ambientes, como o solo, ar, esgoto, águas tratadas, mas
principalmente, em rios e oceanos. Nos oceanos, devido às correntes oceânicas, grande parte
dos plásticos tendem a serem levados e se concentrarem em determinados pontos, levando a
formação de “ilhas de plástico”. No Pacífico, por exemplo, entre a California e o Havaí, a
centenas de quilômetros da costa, pesquisadores estimam uma concentração em torno de 87 mil
toneladas de plásticos (Lebreton et al., 2018). Esta quantidade compreende uma área
equivalente a três vezes o estado da Bahia- Brasil.
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superfície, promovem alta sorção de compostos orgânicos tóxicos, como hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (PAHs), bifenilos policlorados (PCBs), dentre outros. Além disso, por
assumir tamanhos menores desencadeia a ingestão desse material tóxico por peixes e aves, que
os confundem com alimento. Pesquisas mostram a ocorrência da ingestão de microplásticos por
várias espécies de peixes, onde um total de 157 partículas foram extraídas de 38% do total de
peixes estudados (Bessa et. al, 2018). Segundo Wilcox (2015), mais de 90% das aves marinhas
já ingeriram algum tipo de plástico, e esse número tende a ser superior a 99% em 2050, e assim
de acordo com MacArthur et al. (2016), haverá mais plástico do que peixes no oceano.
O impacto desses poluentes nos seres humanos ocorre por vários caminhos, desde a
ingestão de animais contaminados até a inalação pelo ar. Uma vez internalizados, os
microplásticos podem atravessar as membranas celulares e se instalar em diferentes regiões do
corpo. Já foram encontrados no leite materno, sangue e regiões profundas do pulmão (Ragusa
et al., 2022; Lauren, et al., 2022).
Frente a tantos problemas causados pelos plásticos, torna-se necessário mais estudos e
formas de como tratar efluentes contaminados por este material. Desse modo, pensou-se em
utilizar tensoativos para construir uma superfície com maior potencial de adsorção capaz de
remover partículas plásticas de um efluente. Os tensoativos são moléculas que em sua estrutura
apresentam uma parte polar e outra apolar e, sabendo que os plásticos são constituídos de
polímeros, grandes cadeias carbônicas apolares, pode haver uma interação entre a parte apolar
do tensoativo e o plástico. Aplicando esse estudo em uma situação real, eles podem reduzir
concentrações de plásticos que contaminam águas residuais, diminuindo a quantidade de
plásticos, uma vez que muitas estações de tratamento de esgotos ainda despejam significativas
quantidades de microplásticos em rios, lagos e oceanos após o tratamento do efluente (Talvitie
et al, 2017).
3
mostraram ou não eficientes.
Esta tese é constituída de seis capítulos que são divididos em: Capitulo 1 - Introdução
Geral; o Capitulo 2 -Aspectos Teóricos e Estado da Arte; o Capitulo 3 Metodologia
Experimental; o Capitulo 4 - Resultados e Discussão; no Capítulo 5 Conclusões Finais; Capitulo
6 Referências Bibliográficas.
4
CAPÍTULO 2 – ASPECTOS TEÓRICOS e
ESTADO DA ARTE
5
2 ASPECTOS TEÓRICOS E ESTADO DA ARTE
A palavra “plástico” deriva da palavra de origem grega: “plastikos”; que significa “pode
ser moldado”. Sua história começa em 1862 com Alexander Parkes, que através de um material
orgânico derivado da celulose, buscava um material substituto da borracha, que era muito
utilizada na época como matéria prima. Em 1869, o tipógrafo John Wesley Hyatt descobriu a
celuloide, um material a base de nitrato e celulose que tornava o filme sólido e flexível (Ribeiro,
2015).
O primeiro plástico sintetizado surgiu há cerca de 100 anos, com Leo Hendrik
Baekeland. Ele criou a Baquelita, a primeira resina sintética. Desde então o material passou a
ocupar lugar de destaque com significativa expansão de produção e comercialização. Entre
1950 e 2017 a produção passou de 1,7 para 322 milhões de toneladas produzidas por ano
(Soares-Caixeta et al., 2018).
6
Figura 1 apresenta de forma resumida da cadeia produtiva do plástico desde o óleo bruto de
petróleo.
Figura 1 – Cadeia produtiva do plástico do óleo bruto de petróleo aos produtos refinados
A Figura 1 também apresenta os polímeros com maior destaque mundial, de tal forma
que existe uma tabela (Figura 2) com seus respectivos códigos para identificá-los e destiná-los
corretamente a coleta seletiva. Plásticos derivados desses polímeros, geralmente apresentam no
produto o símbolo para identificação.
7
Figura 2 – Principais tipos de polímeros utilizados
8
produtor de plásticos no mundo, produzindo cerca de 6,3 milhões de toneladas por ano, onde
apenas 1% desse valor é reciclado. O faturamento dessa indústria é bilionário, entretanto,
devido ao consumo exagerado, grande parte do plástico acaba sendo descartado de maneira
inadequada, o que o torna um problema socioambiental (Olivatto, 2017).
A caracterização dos polímeros leva em conta vários critérios, como a origem, estrutura
física, tipo da cadeia, configuração, conformação técnica de polimerização utilizada, etc (Lucas
et al., 2001).
Podem ser de três tipos: lineares; ramificados; reticulados. A Figura 3 expressa essas
três formas.
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Os polímeros Lineares são compostos de várias cadeias longas unidas. Os Ramificados
possuem diversos ramos ligados a cadeia principal, já a reticulada é formada por cadeias
individuais de polímeros ligadas (Andrade, et al., 2001).
2.1.2.2 Origem
Podem ser naturais ou sintéticos. Os polímeros naturais são aqueles obtidos diretamente
da natureza. As proteínas, amido e celulose são exemplos de polímeros naturais, uma vez que
são formados pela repetição de várias moléculas, como os aminoácidos, monossacarídeos, etc.
Os sintéticos são obtidos através da polimerização, todos os polímeros a partir do petróleo são
exemplos de polímeros sintéticos, tais como a poliacrilamida, poli-isopreno, dentre outros
(Canevarolo-Jr, 2010).
2.1.2.3 Configuração
2.1.2.4 Conformação
2.1.2.5 Fusibilidade
10
fundem com o aquecimento, uma vez que podem apresentar ligações intermoleculares fortes e
repetida em grande quantidade e regularidade ou podem assumir estrutura tridimensional com
ligações cruzadas, como o exemplo das borrachas (Andrade, et al., 2001; Canevarolo-Jr, 2010).
São diferenciados de acordo com o módulo elástico, que é a medida da rigidez expressa
pela razão a tensão aplicada e a deformação do material. Essa classificação divide os polímeros
em: elastômeros, plásticos e fibras.
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Para que ocorra a ruptura da ligação dupla, são necessários reagentes químicos
chamados de iniciadores ou pode-se utilizar também radiações eletromagnéticas. A reação de
polimerização ocorre em três etapas: iniciação; propagação; terminação (Odian, 1991;
Billmeyer, 1984).
Devido as propriedades desses materiais, eles são capazes de formar uma grande
diversidade de materiais distintos, servindo para inúmeras aplicações.
Estudos mostram que a composição dos plásticos que mais poluem praias, rios e lagos
são: polietileno (PE); polipropileno (PP); policloreto de vinila (PVC); poliestireno (PE);
politeraftalato de etileno (PET) (Guo & Wang, 2019).
O polietileno tem a estrutura mais simples dentre os polímeros, sendo constituído pelo
monômero –(CH2)n–. Pode existir em cinco diferentes variações, que são o polietileno de alta
densidade (PEAD), o polietileno de baixa densidade (PEBD), polietileno linear de baixa
densidade (PEBDL), polietileno de ultra peso molecular (PEUAPM) e polietileno de ultra baixa
densidade (PEUBD). Todos esses possuem propriedades únicas, como boa flexibilidade e
trabalhabilidade, resistência a impacto, estabilidade térmica e química (Wasilkoski, 2002).
12
2.1.3.2 Polipropileno (PP)
Um material também muito vendido no mercado, uma vez que é um dos mais versáteis,
pois sua resina é formulada de acordo com o objetivo da aplicação. Pode alterar suas
características, podendo produzir peças que necessitem de alta rigidez ou sejam extremamente
flexíveis, sendo muito utilizado como canos e tubulações, na medicina, plastissóis, etc. O
monômero apresenta dois átomos de carbono ligados por uma dupla ligação e um átomo de
cloro (Cl) ligado a um dos carbonos. É considerado estável até 130°C; se decompõe facilmente
em temperaturas elevadas, liberando um vapor ácido (Maggi, 2011).
13
Figura 6 – Estrutura química do policloreto de vinila
14
Figura 8 – Estrutura química do politeraftalato de etileno
Em 2004, através dos estudos de Thompson et al. (2004), o termo microplástico ganhou
notoriedade e tornou-se mais comum. A denominação define partículas de plástico de tamanho
microscópico e vem sendo utilizada até hoje. A National Oceanic and Atmospheric
Administration (NOAA) em 2015, definiu os microplásticos como partículas de dimensões
inferiores a 5 mm. Entretanto essa dimensão não é padronizada, visto que alguns autores
consideram dimensões diferentes, muito embora todas sejam próximas.
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plástico, chamados pallets, são resinas termoplásticas de formato, cores e tamanhos variados.
Os pallets atingem o ambiente marinho, provavelmente através de perdas acidentais durante o
transporte ou através do escoamento por drenagem do descarte inadequado nas etapas do
processo industrial (Ogata, et al. 2009). Geralmente usados como matéria prima para produção
de outros plásticos, como produtos de higiene pessoal, limpeza industrial, fibras para compor
tecidos, etc. Produtos como sabonetes esfoliantes, cremes dentais e vários outros cosméticos
apresentam microesferas em sua composição, geralmente PE, PP ou PS (Olivatto, 2017; Fendall
& Sewell, 2009; Boucher, J & Friot D., 2017).
2.1.5 IMPACTOS
A primeira vez que detritos plásticos foram relatados em ambiente marinho foi no início
da década de 1970 (Carpenter & Smith, 1972). Desde então, a preocupação e interesse da
comunidade cientifica vem crescendo. Por não serem biodegradáveis, os plásticos se acumulam
no ambiente. Nos oceanos, esse acumulo já é tão grande que no Pacífico, entre a Califórnia e o
Havaí, estima-se que exista uma concentração de 87 mil toneladas de plástico, que são
conduzidos até o mesmo local através das correntes oceânicas (Lebreton et al., 2018). A área
que todo esse plástico ocupa é equivalente a três vezes o tamanho da França, com crescimento
cada vez mais rápido, uma vez que a produção em peso de plástico bate recorde a cada ano.
Microplásticos compreendem 94% de todo plástico que ali flutua, logo, ao invés de se encontrar
uma “ilha” propriamente dita, o que se encontra é uma água mais turva e opaca, visto que o
microplástico está bem diluído. Além dessa, que é a maior concentração de plásticos nos
oceanos, existem mais quatro “ilhas” de plásticos: uma a leste, também no Pacífico, e outra a
oeste, no Atlântico, da América do Sul, mais uma no oceano Atlântico, entre os EUA e o
continente africano e outra no oceano Índico. Para efeito de ilustração, na Figura 9 é
demonstrado a possível posição dessas “ilhas”.
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Figura 9 – Ilhas de plástico em cada oceano do globo
Fonte: Autor
Os danos ao reino animal são grandes: milhares de mamíferos e aves marinhas morrem
anualmente contaminadas ou presas em redes abandonadas. Os microplásticos e os
nanoplásticos, por apresentarem alta área de superfície, atuam nos corpos d’água como uma
esponja, promovendo uma forte sorção de compostos tóxicos, como hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (PAHs), bifenilos policlorados (PCBs), dicloro difenil tricloroetano
(DDTs) e metais pesados (Bergami, et al., 2017). Segundo pesquisa realizada por Boris (2015),
cerca de 90% dessas aves marinhas já ingeriram algum tipo de plástico.
Não se sabe exatamente quanto tempo os plásticos podem permanecer nos oceanos, tão
pouco sua taxa de degradação e redução de tamanho, mas, segundo pesquisas, ao atingirem
cerca de 20µm, esse material adquire dimensões similares as de alimentos de muitas espécies
invertebradas, além disso, a sorção de compostos tóxicos também o faz ter cheiro semelhante.
Desse modo, essas partículas são confundidas com alimentos por essas espécies, que por sua
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vez, servem de alimento para outras (Sobral et al., 2011; Menezes et al., 2022). No organismo,
os microplásticos obstruem o trato digestivo, causando falsa sensação de saciedade, provocando
desnutrição nos organismos, além de afetarem a produção hormonal. De um modo geral, esses
contaminantes se acumulam e são transferidos pela cadeia alimentar, atingindo as mais variadas
espécies, inclusive a humana (Carbery ,2018).
Os microplásticos mais comuns em ambientes marinhos são aqueles a base de PE, PP,
PS, PVC e PET (Guo & Wang, 2019). São esses mesmos tipos de polímeros que, segundo
Derraik (2002), no prazo de um ano são descartados no mar em 40% do total produzido, uma
vez que são mais comuns e utilizados pela população no dia a dia. Grande parte dessa
porcentagem corresponde ao plástico descartável, ou seja, que não é utilizado por muito mais
que cinco minutos e depois não tem mais serventia, como embalagens, talher, copo, prato,
canudo, garrafa de plástico, etc. Devido as formas incorretas de destinar apropriadamente o
material, eles acabam chegando aos ambientes marinhos.
Vale salientar que mesmo o indivíduo dando o destino correto para o plástico que
utilizou e descartou, esse plástico não deixa de existir, ele provavelmente seguirá para um
aterro, lixão ou reciclagem. Cerca de apenas 9% em média de todo o plástico produzido é
reciclado, entretanto, cada vez que são reciclados, alguns plásticos perdem, mesmo que pouco,
qualidade no processo enquanto outros perdem mais rápido, são diferentes do alumínio ou
vidro, por exemplo, que podem ser reciclados infinitas vezes e mesmo assim manterão suas
características (Geyer, 2017). Materiais a base de PET podem ser reciclados diversas vezes,
perdem pouco em qualidade, mas plásticos mais ‘finos’, como o PEAD (Polietileno de alta
densidade) são mais limitados a reciclagem, além disso, nem todo o plástico pode ser reciclado,
como é o caso dos termofixos, uma vez que são duros, resistentes e dificilmente será possível
molda-los na reciclagem. Logo, cedo ou tarde, aquele plástico não terá mais serventia e será
lixo, desse modo, apesar da reciclagem ter um viés nobre, mesmo se todo o plástico produzido
18
fosse reciclado, ela não resolveria o problema. Na verdade, o combate ao crescimento dessa
poluição está muitas vezes além do indivíduo, é necessário que o modo de produção acelerado
das indústrias dentro de um sistema capitalista seja revisto, pois, como pode ser observado no
trabalho de Geyer (2017), a quantidade de plástico só tende a aumentar com o tempo.
No caso dos plásticos que chegam aos lixões, trata-se de mais um ponto de acúmulo,
dos quais muitas vezes se localizam próximos à áreas de proteção ambiental, rios, mares, como
o Jardim Gramacho, por exemplo, o maior lixão da América Latina que se localiza na beira da
baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, ou seja, boa parte do lixo ali depositado acaba chegando
ao mar. Além disso, boa parte do lixo acumulado no lixão é queimado para controlar o volume,
sendo que o plástico, quando queimado a céu aberto, é uma das principais fontes de poluição
do ar, devido a liberação de dioxinas, ftalatos, dentre outros gases tóxicos, que ameaçam a
vegetação e a saúde humana e animal (Verna et al., 2016 ). Vale salientar que desde 2014 a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) proíbe o uso de lixões, mas ainda assim são
utilizados por vários municípios (Oliveira, 2014).
Os aterros sanitários são ditos hoje como a melhor solução para o problema do lixo,
entre eles o plástico, mas pesquisas mostram que até mesmo os aterros são possíveis fontes de
microplásticos a longo prazo, uma vez que são lixiviados juntamente com o chorume. O
chorume segue para uma estação de tratamento de esgotos, a qual não consegue lidar com todo
o microplástico diluído e este acaba, no final, sendo despejado em algum ambiente marinho
(He Pinjing et al., 2019; Talvitie, et al., 2017).
A Tabela 2 mostra uma tabela adaptada do trabalho de Guo & Wang (2019). Ela
apresenta a distribuição e abundância das quantidades de plásticos (item) por metro quadrado,
quilo ou volume de água de ambientes marinhos de alguns lugares do mundo.
19
Tabela 2 – Abundância de Microplásticos em alguns ambientes marinhos ao redor do globo
Mar de Marmara, Turquia 1,263 itens/m2 (na superfície) Tunçer et al., 2018
Noroeste do Mar Mediterrâneo 1,12 x105 itens/km2 (na superfície) Schmidt et al., 2018
Águas da costa mediterrânea de Israel 7,68-2,37 itens/m3 Van der Hal et al., 2017
Yellow Sea, China 545-282 itens/m2 (na superfície) Zhu et al., 2018
Ilhas Baleares, Spanish 900,3 itens/km2 (na superfície) Ruiz-Orejón et al., 2018
Fernando de Noronha, Brasil 137-160 partículas por m2 (na Cristina, Assunção & Ferreira,
superfície da areia da praia) 2020
Fonte: Adaptado de Guo & Wang (2019)
2.1.6 ADSORÇÃO
A adsorção pode acontecer de duas formas distintas, a depender da natureza das forças
envolvidas, de forma física (fisissorção) ou de forma química (quimissorção). Na adsorção
física, a interação entre adsorvato e adsorvente é relativamente fraca, sendo basicamente
atribuída a forças de Van der Waals, similares a forças de coesão. Na adsorção química, a força
é muito mais intensa se comparado a fisissorção, uma vez que há a troca ou partilha de elétrons
entre as moléculas do adsorvato e adsorvente. Outra diferença entre essas duas formas de
adsorção é que a fisissorção ocorre em toda a superfície do adsorvente, enquanto a quimissorção
só ocorre nos sítios ativos, a esses tipos de interação são dados os nomes de não localizada e
localizada, respectivamente (Nascimento et al., 2014).
20
Dentre os fatores que influenciam o processo de adsorção estão associados tanto a
natureza do adsorvente e do adsorvato quanto as condições operacionais. Dentre as condições
que influenciam no processo estão: pH, concentração da solução, área superficial, natureza do
adsorvente e adsorvato e a temperatura.
2.6.3 Temperatura
21
2.1.6.4 Potencial Hidrogeniônico (pH)
22
(Equação 1)
Com o objetivo de ajustar os dados experimentais sobre os valores de “q” versus Ce,
pode-se citar as equações de Langmuir, Freundlich, Redlich-Peterson, Temkim e Dubinin-
Radushkevich, sendo os dois primeiros modelos os mais utilizados (Nascimento et al., 2014).
2.1.7 TENSOATIVOS
Tensoativos são por definição moléculas anfifílicas, sintéticas ou naturais, que possuem
em sua estrutura uma parte hidrofílica (solúvel em água) e uma parte lipofílica (solúvel em
óleo). Sua grande característica está em conseguir atuar nas interfaces, sejam elas de líquido-
líquido, líquido-sólido ou líquidos-gás, diminuindo a tensão entre as fases (Hunter, 1992). A
Figura 11 mostra a representação genérica de um tensoativo.
Fonte: Autor
Dentre as características dos tensoativos, uma das mais importantes está na capacidade
de se aglomerarem em forma de micelas, que acorre quando a região onde eles se localizam,
seja na superfície ou na interface de duas soluções, satura, ou seja, a concentração chega a um
ponto em que não há espaço para mais tensoativos, logo, se adicionado mais, eles tendem a se
aglomerar e descer para o seio da solução. A este ponto que se dá o nome de concentração
23
micelar crítica (c.m.c.). A forma que o tensoativo migra para o seio da solução dependerá da
própria solução, se esta for apolar, então a região apolar do tensoativo (cauda) estará para o
exterior da micela e, no caso contrário, da solução polar, será a cabeça do tensoativo. A Figura
12 mostra esses dois tipos de micelas. Micelas que apresentam parte apolar para o exterior são
chamadas de inversas, já as que apresentam a cabeça para o exterior, são chamadas de diretas
(Guaraciara, 2006; Tupã, 2011).
Os tensoativos podem ser classificados em função da natureza da região polar. Ela pode
ser do tipo iônica, assumindo carga negativa ou positiva, do tipo não-iônico ou anfótero.
Podem ser divididos em dois tipos: aniônico e catiônico. Os tensoativos aniônicos são
caracterizados por apresentarem íons carregados negativamente quando dissolvidos em água,
são os exemplos dos sabões, compostos sulfonados, fosfatos, etc. Já os tensoativos catiônicos
são aqueles que apresentam carga positiva quando dissolvidos, sendo utilizados na produção de
cosméticos, inibidores de corrosão, dentre outras finalidades (Tadros, 2005).
É uma classe que não apresenta íons quando dissolvidos em água. Sua estrutura polar
se deve a presença de grupos funcionais como os hidróxi ou polioxietilênicos (Holmberg,
2003).
24
entretanto, o pH da solução determina qual carga prevalecerá. Para soluções ácidas, onde o pH
está abaixo de 4, a carga positiva prevalece, no caso de soluções básicas, das quais o pH está
acima de 9, a carga negativa prevalece, já para pHs entre 4 e 9, o tensoativo tem comportamento
não-iônico (Guaraciara, 2006).
2.1.7.2 Emulsões
Para o caso onde a gotícula está imersa em um meio oleoso e em seu interior existe água,
dá-se a esse sistema o nome de emulsão água em óleo (A/O), e, para o caso contrário, óleo em
água (O/A). Além dos três componentes: fase polar, fase apolar e tensoativo; pode existir a
presença de um quarto, o cotensoativo, que tem o objetivo de auxiliar na estabilidade da
25
gotícula. Sobre características das emulsões, destacam-se: instabilidade termodinamica,
tamanho entre 100 a 1000nm, apresentam aparência turva e necessitam de energia para serem
formadas (Oliveira, 2019; Wennerstroem et al., 1997).
2.1.7.3 Microemulsões
• Winsor I: quando o sistema apresenta óleo em excesso e, por isso, o sistema é dividido
em duas fases, a fase microemulsionada equilibrada e a fase óleo em excesso.
• Winsor II: similar ao Winsor I, entretanto, ao invés de óleo, a água está em excesso e,
26
por isso, o sistema também é dividido em duas fases, o microemulsionado e a água em
excesso.
• Winsor III: esse sistema é a junção dos Winsor I e II, ou seja, apresenta tanto água como
óleo em excesso, juntamente com a microemulsão. No caso, é um sistema trifásico.
• Winsor IV: é o sistema em que apresenta apenas a fase de microemulsão, ou seja, não
possui nada em excesso, tornando-se um sistema monofásico.
27
2.2 ESTADO DA ARTE
28
gravimetria; e o tipo de polímero por FTIR com reflectância total atenuada (ATR). Os estudos
não só comprovaram a presença do poluente, como estimaram uma concentração entre 3 e 18,4
unidades de partículas por metro cúbico, constatando a baía como uma das mais contaminadas
em comparação com ambientes similares, sendo o PE e PP, as partículas mais abundantes.
Dentre os materiais plásticos, foi observado que sua grande maioria provém de categoria
secundária, ou seja, de plásticos que se fragmentam até tamanhos microscópicos, o que indica
a falta de manejo de resíduos sólidos nos municípios da região. Ademais, a metodologia por
separação dos resíduos coletados, se mostrou mais eficiente do que por gravimetria, quando
otimizada pelo processamento digital de imagens.
No trabalho de Wieczorec et al. (2018), por exemplo, é relatado que microplásticos são
poluentes onipresentes nos mares. Os autores estudaram a ingestão de microplásticos por
espécies de peixes mesopelágicos, uma vez que sua migração contribui significativamente para
o transporte rápido de carbono e nutrientes para o mar profundo, logo, a contaminação desses
peixes poderia afetar adversamente essa ciclagem e auxiliar o transporte de microplásticos das
águas residuais para o fundo do mar. Através de análises de 233 peixes, verificaram que 73%
deles continham microplásticos em seu intestino e que os principais plásticos eram fibras de
polietileno, analisadas através da FTIR.
29
poluentes plásticos que persistiram, dos quais serão encaminhados para um corpo hídrico
receptor.
Rufino, Belé e Dantas (2020) estudaram um método comumente utilizado para análise
de microplásticos em matrizes aquosas, no qual possui uma etapa de oxidação ácida, propondo
alternativas de utilização de ozônio e peróxido de hidrogênio (POA). Os autores chegaram a
concluir que os estudos apontam a eficácia da etapa ácida na remoção de toda matéria orgânica,
uma vez que este tratamento deixou a amostra “limpa”, contendo apenas o microplástico para
análise. Além disso, concluíram que os POA’s utilizados para a degradação, se mostraram
muito eficientes.
30
são ambientes mais facilmente controlados e por isso mais propícios à implementação de
técnicas específicas de remoção, além do que, as águas nelas tratadas, tendem a destinar-se para
o consumo ou para rios, lagos e oceanos. Esta pesquisa propõe trazer, além da possibilidade de
uso nas ETE’s, abrir a possibilidade para mais estudos do uso de adsorventes para essa
finalidade, estudos que podem levar ao uso em outros corpos hídricos, tais como rios, lagos e
oceanos.
Oz, Erol, & Yurtsever (2017) pesquisaram a capacidade que os microplásticos, mais
especificamente o polipropileno (PP), polietileno (PE) e o poliestireno (PS), possuem em
adsorver o detergente oriundo de lixo doméstico. O uso desses polímeros foi feito pois são os
mais comuns. Seus estudos mostraram que não só os polímeros são bons adsorventes, como
quanto mais a concentração de detergente é reduzida, mais adsorção ocorre. A capacidade de
adsorção também variou com o tipo de polímero utilizado, com o pH e a temperatura.
Adsorções maiores aconteceram em pH 3 e a 40°C.
31
poliestireno (PS) e polipropileno (PP). Segundo os autores, o MBR apresentou cerca de 99,5%
de massa plástica removida, enquanto que o método OD apresentou 97%, enquanto que,
levando em consideração o número de MPs, o MBR apresentou 82,1% e o OD 53,6% de
remoção, ou seja, dentre os dois métodos, o MBR se sobressaiu, possivelmente devido à
filtração por membrana.
Xia et al. (2019), desenvolveram um trabalho cujo o objetivo foi estudar a contaminação
de onze estações de tratamento de água em Changzhou, na China, confirmando a presença de
microplásticos (MPs), ao mesmo tempo que foram vistas características como quantidade,
tamanho, cor e forma. Os autores concluíram que o tamanho variava de 0,5 a 1 mm, as cores
variaram bastante e o PET foi o principal polímero encontrado. As fibras foram as formas
predominantes, seguidas de fragmentos, flocos, esferas e filmes. Detectaram 14 tipos de
plásticos através da FTIR e a eficiência de remoção, utilizando o método NOAA, em todas as
onze estações foram superiores a 90%, com a maior de 97,15%.
Um trabalho feito por Rajita Bhuju (2020), teve o objetivo determinar como
biofloculantes derivados do quiabo, aloe vera, taro e outras plantas suculentas que são
32
promissores na remoção de contaminantes como metais pesados, corantes e óleos suspensos,
também podem oferecer um método alternativo para a remoção de microplásticos. O estudo
focou na remoção do poliestireno utilizando polissacarídeos derivados do quiabo, taro e aloe
vera. Segundo os resultados obtidos, para amostras com diferentes concentrações de polímero
e tempo de sedimentação, o procedimento utilizando a floculação foi capaz de remover uma
parcela dos microplásticos de poliestireno. Para 1 g/L, 87% do poliestireno foi removido em 30
minutos, 78% e 82% em uma hora para o quiabo, taro e aloe vera, respectivamente, chegando
à conclusão que o quiabo, dentre os três, mostrou resultados mais eficazes na remoção de
microplástico.
33
CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTO
EXPERIMENTAL
34
3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
A Figura 15 mostra um fluxograma das etapas realizadas neste trabalho para a obtenção
dos resultados de remoção dos microplásticos.
A amostra real foi obtida da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da UFRN. Coletou-
se um volume de 40 litros de água não tratada. Com o objetivo de verificar a presença de
microplásticos na amostra, foi utilizado o método NOAA (Martins, 2017), descrito nos itens a
seguir.
35
3.1.1.1 Separação dos microplásticos por peneiras
Seguindo o método NOAA, a amostra de 40 litros passou por duas peneiras, uma com
abertura de 5 mm (milímetros) e outra de 75 μm (micrometros), de modo a separar os
microplásticos da água. A peneira de maior abertura tinha o objetivo de barrar partículas
maiores e a peneira de menor abertura de barrar a passagem dos microplásticos, uma vez que,
para alguns autores (Karami, et al. 2018), tamanhos próximos a 75 μm, já podem ser
classificadas como nanoplásticos.
Após a dissolução do sal, o sistema foi levado para um decantador, e permaneceu por
48 horas. Na sequência, o funil foi aberto para que escoasse grande parte da solução, até que
restasse apenas uma pequena quantidade (20 mL) com todos os microplásticos na superfície.
Essa quantidade foi então filtrada a vácuo visando à separação dos microplásticos que foram,
em seguida, colocados em estufa a 90°C por 24h. Posteriormente foram pesados e levados para
o FTIR.
Os microplásticos são formados, em sua grande maioria, pelos plásticos mais comuns e
amplamente utilizados comercialmente, como o PET, HDPE, PVC, LDPE, PP e PS, conforme
mostra a Tabela 1. Pegou-se então materiais do cotidiano que têm como base um desses
36
plásticos e os triturou em um moinho de facas (Figura 16) tipo Micro Moinho da SUPEROHM,
simulando o processo de fragmentação que ocorre na natureza.
Tabela 3 – Polímero majoritário presente em cada material plástico e sua porcentagem na composição da
amostra sintética
37
3.2 ESCOLHA DOS TENSOATIVOS
A escolha do tensoativo teve como base a toxicidade e disponibilidade. Logo, testou-se
os tensoativos apresentados na Tabela 4, por apresentarem menores danos ao meio ambiente.
Tensoativo BHL
Tween 85 11
Tween 80 15
Tween 20 16,7
Brij 92 4,9
Para testar a interação dos microplásticos com os sistemas microemulsionados, foi feita
uma solução de 100 mL de cada ponto, adicionado-se 0,05 gramas de microplástico sintético
em cada uma e foram deixados em agitação por 24 horas.
38
Figura 17 – Agitador utilizado
Fonte: Autor
Após esse tempo, percebeu-se que, visualmente, não houve interação, uma vez que os
microplásticos continuavam dispersos no sistema. Contudo, para averiguar isso, a solução foi
filtrada à vácuo e o material retido no papel filtro foi seco à temperatura ambiente por 24 horas
e levado para análise por FTIR.
A tensão superficial dos sistemas foi avaliada pelo Tensiômetro Sensadyne (Figura 18).
A metodologia empregada no equipamento para determinar a tensão é a da pressão máxima de
bolha, no qual é aplicada pressão que resulta na formação de bolhas em dois capilares de
diâmetros diferentes. A frequência de borbulhamento é diferente devido à diferença dos
diâmetros dos capilares, onde através de um software é calculada a tensão da solução analisada.
39
Figura 18 – Tensiômetro Sensadyne
Figura 19 – Equipamento utilizado para medição do Diâmetro de Gotícula e Índice de Polidispersão (ZetaPlus)
Fonte: Autor
40
3.2.1.3 Concentração Hidrogeniônica (pH)
Os outros adsorventes foram obtidos a partir da casca seca do coco, da cana e da banana.
Os bagaços de coco, cana e da casca de banana, foram escolhidos devido: serem compostos
naturais, não prejudicando o meio ambiente; vasto uso como adsorventes, segundo a literatura
(Yamaura et al., 2007; Nogueira, et al., 2007); por seus componentes apolares, o que torna
possível a interação destes com os microplásticos; e por serem obtidos facilmente, tornando-os
41
baratos. Eles foram triturados no moinho de facas (Figura 16), secos a 100°C por 24 horas em
estufa e, em seguida, separados por granulometria. A separação foi feita por meio de peneiras,
na qual foi escolhida a granulometria de 300 µm para uso.
42
Figura 21 – Adaptação feita no funil para decantação
Fonte: Autor
A parte do sistema que escorreu foi coletada no Becker e filtrada à vácuo para obtenção
apenas do material sólido. Da mesma forma foi feito para os 20 mL de sistema restantes no
funil. Ambos foram deixados em repouso por 24 horas para secar em temperatura ambiente.
Esse mesmo procedimento foi feito para todos os adsorventes testados.
O método se baseou no trabalho de Borges (2018), que utilizou argilas tratadas com
microemulsões para tratar efluentes contaminados com cátions metálicos. Tomou-se beckers
43
de 100 mL distintos e, em cada um, foram adicionadas 1 grama de um dos adsorventes e 6
gramas do sistema microemulsionado escolhido. A microemulsão foi adicionada
cuidadosamente para que cobrisse todo o adsorvente. Em seguida, os beckers foram levados à
estufa onde permaneceram a 100 °C por 48 horas. Como os adsorventes têm densidades
diferentes, foi necessário usar massas diferentes para garantir que tudo fosse coberto pelos 6
mL de microemulsão adicionados.
Todos os cinco adsorventes, com e sem tratamento com microemulsão, bem como a amostra
de microplástico sintético, foram analisados no TG-DTG.
Fonte: TA Instruments
44
amostras, armazenadas em eppendorfs, foram enviadas para análise por FTIR. Vale salientar
que, como as massas são fixas, era fundamental que durante a realização do FTIR, toda a
amostra de plástico contida nos eppendorfs fosse analisada.
A curva de calibração foi montada com o auxílio do programa “Pega Ponto”, no qual se
escolheu uma região em comum das bandas de absorção no infravermelho (2750 a 3150
nanômetros) para cada massa de microplástico analisada. Dessa região, mediu-se a área do pico
no Excel e, relacionou-se essa área com a massa, obteve-se pontos que juntos resultaram na
curva de calibração. Como o processo foi feito em triplicata, foram construídas três curvas de
calibração e calculada a média entre elas.
Foram realizados dez ensaios de adsorção, cinco dos adsorventes sem tratamento:
bagaço de coco, bagaço de cana, bagaço da casca de banana, bentonita e diatomita; e mais cinco
destes mesmos adsorventes tratados com o sistema microemulsionado.
O mesmo procedimento também foi realizado para o Branco: sistema sem adsorventes,
apenas microplásticos e água.
Após às 48 horas, deixou-se escorrer o sistema do funil até que restassem 20 mL. A
45
parte que foi escorrida foi filtrada a vácuo e deixada para secar por 24 horas à temperatura
ambiente. Posteriormente, para separar os microplásticos dos adsorventes, o ensaio seguiu com
o protocolo NOAA (Masura et al., 2015). Para o branco, não foi necessário seguir com o
protocolo, visto que não há adsorventes para serem separados, desse modo, o filtrado dessa
amostra já foi encaminhado para análise por FTIR.
Na sequência, com a amostra seca, ela foi transferida para um Becker que continha 20
mL de uma solução 0,05 Mols de Fe (II). A solução de Fe (II) foi preparada adicionando 0,3 g
de FeSO4.7H2O em 20 mL de água a temperatura ambiente. Continuando, à essa solução foram
adicionados 20 mL de uma solução com 30% de H2O2. Após 5 minutos em reação, a amostra
foi levada para agitação e aquecida até 75°C por 30 minutos. A adição da solução com 30% de
H2O2, o tempo de reação, agitação e aquecimento se repetiram algumas vezes, a depender do
adsorvente, até garantir a degradação das substâncias não plásticas.
46
CAPITULO 4 – RESULTADOS E
DISCUSSÕES
47
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Figura 23 – Microplásticos obtidos a partir de 40L de efluente não tratado da ETE da UFRN
Massa Concentração
0,035 g 8,75.10-4 g/L
48
Devido à baixa concentração encontrada, optou-se por utilizar a amostra sintética na
pesquisa, uma vez que seriam necessários vários litros de água da ETE para extrair quantidades
de microplásticos suficientes para realização desse estudo.
Figura 24 – FTIR dos Microplásticos obtidos através de efluente não tratado da ETE da UFRN
Fonte: Autor
49
Figura 25 – Microplásticos obtidos sinteticamente
Fonte: Autor
50
(a) HDPE
(b) PET
(c) PP
51
(d) PS
(e) PVC
Fonte: Autor
52
Figura 27 – FTIR dos Microplásticos obtidos sinteticamente e através da ETE da UFRN
Fonte: Autor
Ademais, na região dos 3000 cm-1, é possível ver um acentuado pico em ambos os
espectros, sendo esse pico referente ao estiramento C-H, presente em todos os polímeros, como
pode ser visto na Figura 26. Em outro caso, um pico aparece expressivo na região entre 3600 e
3000 cm-1 para os microplásticos da ETE, isso pode ter acontecido devido à grande presença
de hidroxilas e compostos nitrogenados ligados ao carbono, caso que não acontece em
intensidade para os microplásticos sintéticos, uma vez que o único heteroátomo da composição
é o cloro (Cl), proveniente do PVC.
53
4.3 OBTENÇÃO DOS DIAGRAMAS PSEUDOTERNÁRIOS
Vale salientar que tanto o acetato de etila quanto o n-butanol foram escolhidos devido a
menor toxicidade se comparados a outras substâncias disponíveis. Contudo, eles ainda são
prejudiciais ao meio ambiente, porém, serão utilizados apenas para o preparo do sistema
microemulsionado, uma vez que o ideal é a total vaporização de ambos durante a etapa de
tratamento dos adsorventes, evitando serem levados até a etapa dos testes de adsorção.
Entretanto, há a possibilidade de moléculas remanescentes após a vaporização.
Figura 28 – Diagramas Pseudoternários dos sistemas microemulsionados: (a) Sistema 1; (b) Sistema 2; (c)
Sistema 3; (d) Sistema 4
54
(b) Sistema 2 – Tensoativo usado: Tween 80
55
(d) Sistema 4 – Tensoativo usado: Brij 92
Fonte: Autor
56
Figura 29 – Estrutura molecular dos tensoativos Tween 85, Tween 80, Tween 20 e Brij 92
(a) Tween 85
(b) Tween 80
(c) Tween 20
57
(d) Brij 92
Fonte: ChemNet
Com base na Figura 29, o baixo BHL do tensoativo Brij 92 ocorre devido à longa cadeia
carbônica e pouca presença de grupos que tenham afinidade com a água, o que não ocorre na
estrutura dos tensoativos Tweens, pois existe a presença de várias hidroxilas (OH). Entre os
tensoativos Tweens, a diferença do BHL é explicada pelo aumento do número de carbonos na
cadeia hidrofóbica.
Baseado nos diagramas obtidos, decidiu-se não utilizar o tensoativo Brij 92 por ter
apresentado uma pequena região de WIV, sendo assim, trabalhou-se apenas com os tensoativos
Tweens. Para os diagramas que utilizaram o tensoativo Tween como tensoativo, escolheu-se
um ponto de microemulsão, que fosse comum aos três tensoativos, para identificar qual
tensoativo apresentaria maior interação com o microplástico. Também se utilizou um ponto em
que a concentração de tensoativo fosse maior para averiguar se maiores concentrações
possibilitariam melhor adsorção. A Figura 30 mostra os seis pontos escolhidos para análise.
58
Figura 30 – Localização dos pontos escolhidos para análise nos diagramas em que foram utilizados sistemas
contendo o Tween como tensoativo: (a) Sistema 1; (b) Sistema 2; (c) Sistema 3.
59
Tabela 7 – Pontos de microemulsão escolhidos para o teste de interação com os microplásticos
60
Figura 31 – Análise FTIR dos microplásticos filtrados após contato com os sistemas microemulsionados
61
(c) Amostras 5 e 6: contém o Tween 20 como tensoativo interagindo com os microplásticos
Comparando as bandas nas cores preta e vermelha no FTIR, pode-se observar que os
picos vermelhos são mais intensos, apresentam áreas maiores, o que possivelmente mostra
melhor interação do microplástico com o tensoativo em sistemas onde há maiores
concentrações do tensoativo, haja vista que picos mais intensos implicam em maior
absorbância, consequentemente, em maior adsorção. Desse modo, as amostras 2, 4 e 6 se
mostraram mais eficientes.
62
Figura 32 – Sobreposição das bandas FTIR das amostras, do tensoativo que compõe o sistema
microemulsionado e dos microplásticos
63
(c) Sobreposição das bandas de FTIR da Amostra 6, Tween 20 e microplásticos
Fonte: Autor
Com base nos resultados, optou-se por escolher a amostra 4 para continuação dos
experimentos. A amostra 4 utiliza o Tween 80 como tensoativo e apresenta composição: 70%
C/T, 15% água e 15% óleo. Ela foi escolhida por apresentar BHL intermediário, boa região de
microemulsão (WIV) no diagrama, boa interação com os microplásticos, além de boa
disponibilidade. Este tensoativo é classificado como não-iônico e apresenta concentração
micelar crítica (c.m.c.) de 0,012 nM (10-9 Mol/L). Foi escolhido devido sua baixa toxicidade,
sendo frequentemente utilizado na indústria cosmética e como alternativa para remediação de
derramamento de óleo (Nazar et al., 2022).
64
A interação entre o tensoativo e os microplásticos podem ter acontecido devido a grande
quantidade de moléculas de oxigênio no tensoativo (Figura 29 – b), proporcionando ligações
dipolo-dipolo com alguns dos polímeros presentes na amostra de microplásticos. Além disso,
também é possível que interações por dipolo-induzido tenham acontecido entre a parte apolar
do tensoativo e a longa cadeia polimérica.
Tabela 8 – Resultados das caracterizações das microemulsões: tensão superficial, diâmetro de gotícula, índice de
polidispersão e pH
A tensão superficial dará uma resposta da tensão desse sistema em água, sendo mais ou
menos solúvel nela. Porém, na Tabela 8, é possível notar que as tensões superficiais das
amostras apresentam valores próximos. Desse modo, a variação do tensoativo ou mesmo as
diferentes concentrações entre óleo e água não influenciaram significativamente nessa
propriedade dos sistemas microemulsionados quando comparados. Logo, a tensão superficial
65
não influenciou na escolha do tensoativo.
Sobre essa análise, o diâmetro de gotícula esboça em média os tamanhos das micelas
presentes no sistema microemulsionado. O índice de polidispersão representa dispersão das
partículas em tamanho, compreendendo valores entre 0 e 1.
O pH é uma importante análise por que implicará na capacidade de adsorção, uma vez
que, a depender do adsorvente, ele adsorverá melhor em pH ácido, neutro ou básico. Porém, ao
analisar a Tabela 8, nota-se pelos resultados que os valores variaram levemente, aumentando a
acidez da amostra 2 para a amostra 6. Desse modo, a diferença do tensoativo utilizado na
composição das microemulsões não provocam grandes mudanças nesse parâmetro: menos de
uma unidade na escala de pH.
66
Sendo assim, a leve variação do pH é decorrente da maior facilidade que os tensoativos têm de
liberar o hidrogênio. Dado a estrutura da molécula, o Tween 20 (Figura 29 (c)) é aquele que
libera mais facilmente o hidrogênio, quando comparado aos demais.
Contudo, através dessa análise, viu-se que após certo tempo em repouso, eventualmente
os adsorventes tendem a se concentrar no fundo do recipiente em sua grande maioria (Figura
33), o que torna possível usá-los nos ensaios de adsorção por decantação.
67
4.6.2 Interação entre o microplástico e os adsorventes
Como não foi encontrado na literatura uma forma de proceder com esses experimentos
que levaram aos ensaios de adsorção, foram então realizados vários testes, de tentativa e erro,
até encontrar o padrão a ser utilizado.
68
menores quantidades de microplástico, após o repouso de dois dias, concentravam-se na
superfície do sistema. Desse modo, quando comparado ao branco (sistema sem adsorvente,
apenas água e microplástico), maiores concentrações do poluente localizavam-se no fundo,
junto ao adsorvente. Foi perceptível visualizá-los após a filtração desses precipitados. Portanto,
constatou-se que a maior concentração desses plásticos no fundo do recipiente aconteceu em
virtude da presença dos adsorventes.
A Figura 35 mostra a região do gráfico de FTIR (círculo vermelho) que foi escolhida
para ter a área calculada. O gráfico corresponde à amostra de microplásticos contendo 0,01
gramas (apresentada como exemplo). Para todas as outras amostras a região (2750 a 3150 nm)
foi utilizada para calcular a área. Essa região foi escolhida por ser nitidamente visível em todas
69
as bandas do FTIR, além de não haver interferências de outros picos oriundos de outras
absorções no espectro, dado aos diferentes componentes de cada plástico que compõe a
amostra.
Fonte: Autor
A Figura 36 mostra parte das bandas de FTIR das seis amostras analisadas do mesmo
microplástico. As curvas foram colocadas sobrepostas para que fosse possível analisar o
aumento da intensidade dos picos. Nota-se que à medida que se aumentava a massa (g) de
microplástico analisada em cada amostra, a região da curva utilizada para calcular a área
apresentou picos mais intensos. Desse modo, constata-se que a área aumenta com o aumento
da massa.
70
Figura 36 – Curvas sobrepostas das seis amostras de microplástico
Fonte: Autor
Duplicata Triplicata
Massa (g) Área do Pico Massa (g) Área do Pico Massa (g) Área do Pico
-2 -2
(cm ) (cm ) (cm-2)
0,0105 932,755 0,0098 1095,130 0,0102 884,635
0,0203 1433,765 0,0210 2070,880 0,0209 1603,075
0,0305 1796,240 0,0301 1900,000 0,0298 1937,380
0,0406 1999,660 0,0403 2320,165 0,0401 2238,125
0,0500 1823,125 0,0495 2417,154 0,0507 2257,005
0,0600 2444,090 0,0615 2531,770 0,0601 2776,365
71
Tabela 10 – Dados da Curva de Calibração Média
É possível observar na Tabela 9 que as áreas dos picos referentes a cada massa deram
valores próximos, o que mostra certa coerência e precisão das análises. A única dessas áreas
que se distanciou foi a referente à massa de 0,02 gramas da duplicata, e por esse motivo, ela foi
retirada e não participou do cálculo da média.
O gráfico da Figura 37 é a curva de calibração que foi plotada tomando como base os
dados da Tabela 10.
Fonte: Autor
72
Com respeito à curva de calibração apresentada na Figura 37 observa-se que ela se
aproxima de uma reta, apresentando valor de 0,9357 do R2. Desse modo, constata-se que quanto
maior a concentração de microplástico, mais intenso foi o pico e, consequentemente, maior a
área. Portanto, massas desconhecidas de microplásticos podem agora serem determinadas,
desde que se conheça a área do pico relativa.
Figura 38 – Adsorventes tratados com a Amostra 4 (Sistema microemulsionado contendo 70% Tween
80/Butanol)
73
mais, o tratamento foi realizado com microemulsão por que ela, diferente da solução de
tensoativo, segundo Borges (2019), apresenta melhor interação, justificada pela melhor
capacidade das microemulsões de se adsorverem na superfície do adsorvente.
Figura 39 – Curva TG-DTG dos adsorventes puros e tratados com microemulsão: Bentonita, Diatomita, Bagaço
de Coco, Bagaço da Cana e Bagaço da casca da Banana.
74
(b) Bentonita tratada
75
(d) Diatomita tratada
76
(f) Bagaço da casca de banana tratado
77
(h) Bagaço de cana tratado
78
(j) Bagaço de coco tratado
Fonte: Autor
Com respeito aos gráficos apresentados na Figura 39, percebe-se pouca variação das
massas para as argilas puras (bentonita e diatomita). A maior perda de massa para ambas
ocorreu por volta dos 100°C, temperatura na qual ocorre a perda de água de coordenação e
desidratação da argila (Carrilho, 2015). Contudo, quando tratadas com microemulsões (gráficos
“b” e “d”) a perda de massa foi maior, cerca de 50% até os 900°C. Isso ocorre devido a presença
do tensoativo que se degrada durante o aquecimento, por volta dos 380°C, como mostram os
picos expressivos da DTG (Curva azul).
79
aumento de massa degradada, uma vez que é somado à degradação do tensoativo em faixas de
temperatura semelhante aos da celulose, hemicelulose e lignina.
Fonte: Autor
80
Como é possível observar, a degradação do microplástico ocorre entre 300 e 500°C, o
que coincide com a degradação dos adsorventes, sejam eles tratados ou não, como mostram os
gráficos da Figura 39. Desse modo, essa forma de separar os microplásticos dos adsorventes
não foi possível, haja vista que haveria perda de ambas as substâncias. Assim sendo, optou-se
por utilizar o protocolo NOAA para isolar os microplásticos.
81
Figura 41 – Reação de oxidação do bagaço da casca de banana não tratada
Na etapa de decantação, para as amostras que continham argilas como adsorventes com
e sem tratamento, houve boa separação e os microplásticos na superfície puderam ser coletados
facilmente. Contudo, para as demais amostras, foi necessário retornar para a etapa de oxidação
do protocolo, visto que, apesar da maior parte dos resíduos decantarem, ainda haviam resquícios
na superfície. Desse modo, foi extraída a parte decantada e o restante do sistema, o que continha
os microplásticos e o adsorvente não decantados, foi oxidado com solução de 30% de H2O2
mais uma vez. Posteriormente, foram levados para decantação em solução de 5 Mols/L de NaCl
novamente. Esse procedimento se repetiu até que os microplásticos fossem isolados, pois, a
presença dos adsorventes iria interferir nas bandas de FTIR, podendo formar picos mais
intensos na região utilizada para se obter a curva de calibração através da área do pico, o que
implicaria em um resultado distorcido da quantidade de microplástico removido.
82
Figura 42 – Resíduos da reação de oxidação da casca de banana após decantação
Fonte: Autor
Uma vez separados dos adsorventes, foi obtida a banda de FTIR de cada microplástico
removido ao utilizar cada adsorvente tratado e não tratado. Desse modo, através das curvas,
poderam ser obtidas as áreas dos picos entre 2750 e 3150 cm-1 e, com isso, usando a curva de
calibração, pode-se obter a massa de microplástico extraída após o uso dos adsorventes.
A Figura 43 apresenta os resultados de FTIR das amostras após ensaio de adsorção. Para
cada gráfico da Figura 43 foi plotado o branco em conjunto com os microplásticos removidos
por cada adsorvente tratado e não tratado, respectivamente. Além disso, foi isolada a região da
banda que é utilizada para o cálculo da área.
83
Figura 43 – Bandas FTIR do branco e dos microplásticos adsorvidos
84
(c) Banda FTIR dos microplásticos adsorvidos no bagaço da Casca de Banana
85
(e) Banda FTIR dos microplásticos adsorvidos no bagaço de Coco
Fonte: Autor
Os gráficos foram plotados dessa forma para que fosse mais fácil visualizar a diferença
das intensidades dos picos após ensaio de adsorção em comparação com o branco. Com respeito
a isso, percebe-se o aumento da intensidade dos picos após o uso dos adsorventes, o que, por
sua vez, irá refletir na quantidade de microplásticos removidos.
Em relação a Figura 43, as bandas pretas são referentes ao FTIR da amostra branca,
igual para os cinco gráficos. As bandas azuis e vermelhas representam os microplásticos
removidos com o uso dos adsorventes com e sem tratamento, respectivamente. Observa-se que,
para todos os cinco gráficos, as bandas vermelhas apresentam picos maiores que as pretas, o
que indica aumento da eficiência de remoção ao se utilizar os adsorventes.
Ainda com respeito a Figura 43, é possível ver que, com exceção do bagaço da casca de
banana tratada (gráfico (c)), todas as bandas azuis apresentaram picos ainda mais intensos que
as vermelhas, ou seja, os adsorventes tratados são mais eficientes na remoção do que o
respectivo adsorvente sem tratamento. Isso ocorre devido a presença do tensoativo, pois ele
melhora a interação entre o microplástico e o adsorvente.
86
adsorvente sem tratamento apresentou maior capacidade de adsorção, isso pode ser devido: 1)
a não eficiência de separação do adsorvente não tratado com os microplásticos, o que levou a
ser lido pelo FTIR e a intensidade das bandas do adsorvente se somou aos dos microplásticos;
2) a interação do adsorvente com o microplástico já é suficientemente boa a ponto da presença
do tensoativo não ter significativa influência.
Desse modo, a área de cada banda foi calculada e, através da extrapolação da curva de
calibração (Figura 37), a quantidade de microplástico removidos pôde ser quantificada. A
Tabela 11 mostra os dados da área do pico e a respectiva quantidade de microplásticos
removidos para o Branco e a Tabela 12 mostra esses dados para os adsorventes.
Considerando que foram pesados 0,120 gramas de microplástico para contaminar a água
e desconsiderando quaisquer possíveis pequenas variações desse valor no momento da pesagem
para todos os ensaios, tem-se que, conforme a Tabela 11, aproximadamente 0,027 gramas dos
microplásticos decantaram naturalmente, o que corresponde a 22,5% da massa inicial. O cálculo
87
da eficiência foi feito para os microplásticos decantados além desses 22,5%, ou seja, sobre uma
base de 0,093 gramas (diferença entre 0,120 e 0,027).
0,074164 -------- x
x = 79,7 %
Como era esperado, após analisar as intensidades dos picos dos gráficos da Figura 43,
todos os adsorventes tratados, com exceção do bagaço da casca de banana, aumentaram a
eficiência de remoção. Dentre eles, o bagaço de cana tratado, aquele de melhor eficiência, foi
capaz de remover em torno de 80% de todo o microplástico da água, uma diferença de 44% se
88
comparado ao mesmo adsorvente não tratado. Quanto a menor diferença, tem-se a bentonita,
com 35,8% entre o adsorvente tratado e não tratado. Contudo, ainda assim apresenta um
aumento satisfatório. Isso mostra a eficiência da contribuição do tensoativo na adsorção do
microplástico no adsorvente, propiciando uma melhor remoção.
Com respeito a Figura 43, percebe-se que o bagaço de coco não tratado apresentou
eficiência muito próxima de zero, sendo então arredondado. Contudo, ao analisar a Tabela 12,
a massa de microplástico extraída é inferior àquela decantada naturalmente (Tabela 11), ou seja,
a eficiência chegou a ser, em pequena escala, negativa. Isso pode ter acontecido devido o coco,
dentre todos os outros adsorventes, ser aquele de mais difícil decantação, ou seja, mesmo após
48 horas em repouso, grande parte ainda se localizou na superfície. Desse modo, dada a
interação dele com os microplásticos, parte do adsorvente que permaneceu na superfície pode
ter impedido que o plástico decantasse. Essa hipótese é sustentada ao analisar o bagaço de coco
tratado, pois, uma vez que ele é decantado quase completamente, a eficiência de remoção
chegou a aproximadamente 51%, possivelmente potencializada pela atuação do tensoativo que
contribuiu tanto para decantação quando para a maior adsorção.
89
CAPITULO 5 – CONCLUSÕES
90
5 CONCLUSÕES
Através das análises de FTIR foi possível observar a interação, após contato entre os
microplásticos e os sistemas microemulsionados.
-Foram realizados testes de caracterização para as três amostras que melhor interagiram
com os microplásticos.
91
que decantavam junto com o adsorvente. Algumas formas de dosagem foram pensadas, outras
executadas e a escolhida foi através do FTIR, usando uma curva de calibração construída com
seis diferentes massas de microplásticos versus as áreas dos picos, obtidas por FTIR, das
respectivas massas.
Com relação aos ensaios de adsorção, conclui-se que, em comparação com a amostra
branca, todos os adsorventes não tratados, com exceção do bagaço de coco, contribuíram para
o aumento da adsorção dos plásticos, apresentando variada eficiência de remoção, sendo o
bagaço da casca de banana aquele que apresentou a maior eficiência, cerca de 77,7% e a
diatomina aquela que apresentou a menor eficiência, cerca de 5%. Além disso, conclui-se que,
com exceção do bagaço da casca de banana, todos os adsorventes melhoraram sua eficiência de
remoção após tratamento com microemulsão. Para o caso do bagaço de coco, a eficiência
alcançou 51,2%, um considerável aumento, dado que o adsorvente sem tratamento não
apresentou taxas de remoção. Já para o bagaço de cana, a eficiência de remoção saiu de 35,7%
para quase 80%, sendo essa a maior quantidade de microplástico removidos neste estudo. Para
as argilas, bentonita e diatomita, a eficiência também aumentou consideravelmente,
principalmente para a diatomita, que, de 5% de remoção para o adsorvente não tratado,
alcançou, aproximadamente, 53% após tratamento.
Vale salientar que o uso desses sistemas adsorventes foi feito para um efluente sintético,
porém tem aplicação especialmente para utilização em água residuais, aquelas que chegam as
estações de tratamento de esgoto (ETE). As ETEs apresentam um ambiente controlado, o que
seria propício ao uso desse método. Além disso, a água não contém grandes quantidades de
sais, tal como o mar, o que poderia desestabilizar as microemulsões. Contudo, conclui-se que
esse trabalho abre margem para um estudo pouco explorado até então: a remoção de
92
microplásticos por processos de adsorção, constituindo-se em um bom alicerce para a remoção
de microplásticos de águas. Estudos mais avançados, com outros adsorventes e tensoativos,
poderiam abrir margem para remoção em ambientes de grande escala e até mesmo salinos,
utilizando outros caminhos de extração por adsorção diferentes da decantação.
93
CAPITULO 6 – REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
94
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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