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FORMAS ALTERNATIVAS DE
ENERGIA E PLANEJAMENTO
ENERGÉTICO
2

Renato Kazuo Miyamoto

FORMAS ALTERNATIVAS DE ENERGIA E


PLANEJAMENTO ENERGÉTICO
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2022
3

© 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A.

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Editorial
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________
Miyamoto, Renato Kazuo
Formas alternativas de energia e planejamento energético
M685f
/ Renato Kazuo Miyamoto. – São Paulo: Platos Soluções
Educacionais S.A., 2022.
32 p.

ISBN 978-65-5356-129-8

1. Fontes alternativas para geração de energia elétrica.


2. Matriz de energia elétrica no Brasil. 3. Previsão
de demanda. I. Título.
CDD 621.31
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 010289/O

2022
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
4

FORMAS ALTERNATIVAS DE ENERGIA E PLANEJAMENTO


ENERGÉTICO

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ___________________________________ 05

Matriz elétrica brasileira______________________________________ 07

Energia: desenvolvimento social e tecnológico________________ 18

Transição energética__________________________________________ 30

Plano Nacional de Energia____________________________________ 40


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Apresentação da disciplina

A energia é fundamental para a realização de atividades simples e


rotineiras do nosso dia a dia. Por exemplo, ao acordar pela manhã,
colocar a água do café para aquecer, tomar um banho matinal e ligar o
smartphone para nos atualizar com as notícias, utilizamos algum tipo de
energia. Ou mesmo ao dirigir nosso veículo até o trabalho, retirar o ticket
de estacionamento, bater um ponto eletrônico e ligar o computador.
Nesse sentido, percebe-se que estamos condicionados a utilizar energia,
e dentre as possibilidades, destaca-se a energia elétrica.

A energia elétrica é um indicador do desenvolvimento social de um


país, e por isso destaca-se a importância de estudos relacionados à
estimativa dos recursos disponíveis que podem ser utilizados na geração
de energia elétrica. Ainda, busca-se a aplicação de estratégias que
contribuam com o desenvolvimento sustentável, por meio da utilização
de recursos renováveis na matriz elétrica nacional.

Logo, a disciplina direciona-se para promover o entendimento sobre


esse cenário. Deste modo, o conceito de energia e principais fontes
alternativas que podem ser empregadas para a geração de energia
elétrica é abordado. Adicionalmente, é importante analisar a matriz
elétrica nacional e compreender quais são as projeções de consumo e
oferta de energia elétrica a partir de fontes renováveis.

Ainda, a disciplina aborda os aspectos relacionados ao planejamento


energético, considerando o papel governamental. Assim, é necessário o
estudo sobre os recursos energéticos existentes e como são utilizados
para o cenário atual de transição energética. A transição energética
busca realizar mudanças na matriz energética para substituir os
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combustíveis fósseis por fontes energéticas renováveis, com baixa


emissão de carbono. No setor de transporte, podemos citar a inserção
dos veículos elétricos. No setor elétrico, podemos citar o aumento
da geração de energia elétrica proveniente do sol e dos ventos, e a
implementação em larga escala de tecnologias de armazenamento de
energia.

Por fim, as estimativas do Plano Nacional de Energia 2050 serão


analisadas, permitindo uma visão a longo prazo sobre a expansão da
oferta de energia, para que seja possível a construção de uma matriz
elétrica sustentável que contribua com o desenvolvimento social,
tecnológico, econômico e ambiental, promovendo a eficiência do setor
elétrico.
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Matriz elétrica brasileira


Autoria: Renato Kazuo Miyamoto
Leitura crítica: Leandro José Cesini da Silva

Objetivos
• Apresentar as principais fontes alternativas para a
geração de energia e as características da matriz
energética brasileira.

• Estudar e analisar os dados da oferta interna


de energia elétrica no Brasil a partir de fontes
renováveis e não renováveis.

• Realizar uma análise energética da participação por


setor no consumo de energia elétrica.
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1. Matriz elétrica brasileira

O termo energia está relacionado com a capacidade de realizar trabalho,


seja através de alterações de temperatura (por exemplo, calor) ou de
alterações de deslocamento (por exemplo, por energia cinética ou
potencial). A energia está disponível em diversas formas, é fornecida por
várias fontes e pode ser transformada em outras formas de energia. Um
exemplo é a geração de energia hidrelétrica, que só é possível devido à
energia dispensada nesse processo (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016).

Em uma usina hidrelétrica, a energia potencial gravitacional da água


em uma represa é transformada em energia cinética de translação
nos condutos forcados da usina. Posteriormente, essa energia cinética
contribui para a movimentação das turbinas acopladas a um gerador.
No gerador, ocorre a transformação de energia cinética de rotação em
energia elétrica (MOREIRA, 2019).

Para a realização de atividades cotidianas e rotineiras, estamos


condicionados à presença de energia elétrica. Ela é um indicador
do desenvolvimento social de uma nação. A partir da análise dos
indicadores de oferta de energia elétrica per capita, com o auxílio de
ferramentas de gerenciamento e gestão de energia, decisões políticas
são tomadas para um planejamento energético (MOREIRA, 2019).

Por outro lado, há uma problemática ambiental relacionada à


exploração de recursos energéticos não renováveis. A matriz elétrica
mundial é pautada pelo uso de combustíveis fósseis, que têm mostrado
sinais de esgotamento. Assim, o modelo de desenvolvimento econômico
atual pode optar por uma descentralização da matriz elétrica através da
inserção de fontes alternativas de energia, de modo a contribuir com a
eficiência do sistema elétrico (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016).

Um exemplo são os sistemas descentralizados de parques eólicos e


solares, além das minis, micros e pequenas centrais hidroelétricas. A
9

principal diferença entre os sistemas centralizados e descentralizados


de fornecimento de energia elétrica consiste no fato de os sistemas
centralizados, geralmente de grande porte, estarem localizados longe
dos centros consumidores e precisarem de um sistema de transporte de
energia. Esse fato resulta em um fluxo de potência unidirecional, ou seja,
dos grandes centros de geração ao consumidor final. Vale ressaltar que
a opção por um planejamento centralizado ou descentralizado depende
de uma série de estudos de viabilidade (REIS; FADIGAS; CARVALHO,
2012).

Em relação à problemática ambiental, a matriz energética do Brasil


utiliza um total de 55,3% de energia proveniente de fontes não
renováveis. É importante salientar que o termo “matriz energética”
representa todas as fontes exploradas utilizadas como energia em todos
os setores. No cenário mundial, temos um total de 86,7% de energia
proveniente de fontes não renováveis (EPE, 2020).

Na parcela de fontes não renováveis, destacam-se o carvão, o gás


natural e o petróleo. Essas fontes de energia existem em quantidade
limitada e sua extração causa impactos ambientais negativos. Se
considerarmos o petróleo como exemplo, há o impacto da instalação de
plataformas e o risco de vazamentos durante a extração ou o transporte,
o que afetaria o ecossistema marinho. Ainda, sua queima contribui
para a elevação da temperatura global devido à emissão de gases efeito
estufa na atmosfera (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016).

Apesar dos impactos negativos do uso de combustíveis fósseis, o


petróleo é o principal combustível explorado no mundo. De acordo com
Moreira (2019), esse fato é justificado pelo custo reduzido em aplicações
que utilizam essa fonte de energia. Pensando na matriz de energia
elétrica, segundo Barros, Borelli e Gedra (2016), o custo de instalação de
uma usina termoelétrica é menor de que o custo de instalação de usinas
hidrelétricas e eólicas de mesma potência.
10

Desse modo, um modelo de desenvolvimento sustentável busca o


aumento da eficiência energética e a exploração de fontes renováveis
para aplicação na matriz elétrica, tais como: solar, eólica e biomassa,
dentre outras. O Quadro 1 apresenta as características e aplicações das
referidas fontes de energia.

Quadro 1 – Fontes alternativas de energia


Fonte Características Aplicações Observações
de
energia
Solar A energia emitida - Sistemas Os sistemas
pode chegar à fotovoltaicos. termossolares se
superfície terrestre - Sistemas diferenciam dos sistemas
a uma taxa próxima termossolares. de aquecimento solar. Os
de 1.400 W/m2, - Sistemas de termossolares produzem
oriunda da fusão aquecimento calor através de sistemas
de átomos de solar. de espelhos concentrados
hidrogênio. e posteriormente o
A radiação transformam em energia
emitida pelo sol elétrica. Os sistemas
pode variar de de aquecimento têm a
intensidade devido finalidade de manter
ao movimento um processo térmico
de translação e a uma temperatura
à inclinação do constante, por exemplo,
eixo de rotação em boilers solares.
da Terra.
Eólica Os ventos são - Sistemas A altitude de um
formados pela eólicos. terreno, o seu modelo
diferença de de vegetação e a
temperatura e disponibilidade hídrica
pressão entre podem influenciar
massas de ar significativamente o
que estão em perfil geral de circulação
camadas diferentes atmosférica.
da superfície.
Biomassa Definida como - Sistemas Pode ser aproveitada
matéria orgânica térmicos de por combustão direta,
cuja origem geração de processos termoquímicos
pode ser animal energia elétrica e processos biológicos.
ou vegetal. que utilizam
turbinas a
vapor.
Fonte: adaptado de Moreira (2019).
11

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2020), em


publicação do Balanço Energético Nacional (BEN) para o ano-base
de 2019, a participação da fonte eólica na matriz elétrica brasileira
apresentou um crescimento de 1% se comparada ao ano anterior. Ainda,
houve um aumento de 0,5% na contribuição da energia solar e 0,2% de
outras fontes. Esse fato colabora para a redução de 1,7% na participação
da geração da energia elétrica a partir de fontes hidráulicas, apresentada
no mesmo documento.

No documento da EPE (2021a) referente ao BEN do ano-base de 2020,


houve uma redução de 2,2% da geração de energia elétrica ofertada no
Brasil. A geração hidráulica diminuiu 0,4%. Por outro lado, as energias
renováveis demonstraram um aumento de 1,9% e 61,5% para as fontes
eólica e solar, respectivamente. Assim, destaca-se a importância de uma
análise energética nesse cenário.

1.1 Oferta interna de energia elétrica

Segundo a EPE (2021a), os dados publicados no relatório anual do BEN


(2021) indicam que entre os anos de 2019 e 2020 houve uma redução de
0,8% de geração de energia elétrica. Para um quantitativo total de 621,2
TWh produzidos no Brasil em 2020, as centrais de serviços públicos
contribuíram em 82,9%, e as autoproduções de energia elétrica (APEs)
contribuíram com 17,1%. A contribuição das APEs resulta em 106,22
TWh, considerando o somatório de todas as fontes alternativas utilizadas
para a autoprodução. Desse total, 60,7 TWh não foram injetados na
rede elétrica, ou seja, representam o consumo pela própria instalação
geradora. A Figura 1 ilustra a oferta interna de energia elétrica no Brasil
em 2020.
12

Figura 1 – Oferta interna de energia elétrica no Brasil em 2020

Fonte: adaptada de EPE (2021a, p. 16).

A partir da análise da Figura 1, percebe-se uma matriz de energia


elétrica majoritariamente renovável, com ênfase na fonte hídrica, que
corresponde a 65,2% da oferta interna. As fontes renováveis totalizam
84,8% da oferta interna de energia elétrica no Brasil, o que representa
um aumento de 61,5% em relação ao ano de 2019 (EPE, 2021b).

Ainda para o ano-base de 2019, a geração de energia elétrica a partir


de fontes não renováveis representa 15,2% do montante total da oferta
interna, o que configura um aumento de 12% em comparação ao ano
anterior. A Figura 2 ilustra a variação do consumo de energia elétrica por
setor, para o ano de 2020.
13

Figura 2 – Variação, em porcentagem, do consumo de energia


elétrica por setor, para o ano de 2020

Fonte: adaptada de EPE (2021a, p. 17).

O ano de 2020 foi atípico, marcado pela pandemia da covid-19, que


impactou diretamente a economia nacional e mundial. Analisando
a Figura 2, evidenciam-se os reflexos dessa pandemia, através das
quedas acentuadas no consumo de energia elétrica nos principais
setores da economia: comercial, público e energético. O consumo do
setor industrial apresentou variação positiva de 0,46%, justificada pela
contribuição dos setores de alimentos e bebidas, cujo aumento do
consumo foi de 41,3%. Devido às políticas de isolamento social, o home
office adotado pela maioria das empresas causou um aumento de 4,05%
do consumo de energia elétrica no setor residencial.

Ainda na Figura 2, os setores comercial, energético e público sofreram


redução do consumo de energia, com valores de 10,41%, 3,42% e 7,32%,
respectivamente. Para um estudo comparativo, a Figura 3 ilustra a
14

variação do consumo de energia elétrica por setor para o ano de 2019,


se comparado ao ano anterior.

Figura 3 – Variação, em porcentagem, do consumo de energia


elétrica por setor, para o ano de 2019

Fonte: adaptada de EPE (2021a, p. 17).

Na Figura 3, a porcentagem com valor negativo representa um


decréscimo de consumo de energia, se comparado ao ano anterior.
Assim, percebe-se uma redução de 2,44% do consumo de energia
elétrica no setor industrial, reflexo da inserção das fontes alternativas de
geração de energia elétrica em processos de geração distribuída (EPE,
2020). A seguir, uma análise sobre a participação do consumo de energia
elétrica no país será realizada.

1.2. Análise energética

A Figura 4 ilustra a participação por setor no consumo de energia


elétrica no ano de 2020. Os setores industrial, residencial e comercial,
juntos, representaram 79,9% do total consumido pelo país.
15

Figura 4 – Participação por setor no consumo de energia elétrica em


2020

Fonte: adaptada de EPE (2021a, p. 19).

A partir da análise da Figura 4, observa-se a participação por setor no


consumo de energia elétrica para o ano-base de 2020. Adicionalmente,
podemos destacar o aumento da contribuição de fontes renováveis
na matriz elétrica e da geração distribuída. Segundo a EPE (2021b), a
produção de energia elétrica através de fontes eólicas aumentou 1,9%,
com valores estimados de 57.051 GWh em 2020. Ainda, a potência
instalada para essa fonte de energia expandiu 11,4%. Segundo dados da
ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), o parque eólico nacional
possui capacidade atual de 17.131 MW.

Em relação à contribuição da micro e minigeração distribuída, no ano de


2020, representou 5.269 GWh, com um total de 4.768 MW de potência
instalada. Desse montante, 4.635 MW são provenientes de fonte solar
fotovoltaica. A Figura 5 ilustra a contribuição das fontes renováveis na
geração distribuída conectada à rede elétrica. Destaca-se a participação
16

majoritária da fonte de geração solar em sistemas de geração


distribuída.

Figura 5 – Contribuição das fontes renováveis na geração distribuída

Fonte: adaptada de EPE (2021a, p. 117).

A partir da análise da Figura 5, é possível observar uma contribuição


marcante da fonte solar em comparação com as demais apresentadas,
atingindo um aumento de geração de 82 vezes entre os anos de 2017
e 2020. É importante salientar que esses dados refletem a produção
descentralizada de energia elétrica em sistemas autoprodutores de
energia.

Pode-se concluir que a matriz de energia elétrica brasileira possui uma


sólida aplicação de fontes de energias renováveis. Para o ano-base de
2020, as fontes renováveis representaram 84,8% da contribuição de
geração de energia elétrica na matriz elétrica nacional (EPE, 2021b). Em
contrapartida, é preciso investir em novas tecnologias, com o intuito
de alcançar uma melhoria na eficiência energética e na exploração
de fontes alternativas renováveis de geração de energia elétrica e sua
inserção na matriz elétrica.
17

Referências
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Gerenciamento de energia: ações
administrativas e técnicas de uso adequado da energia elétrica. 2. ed. São Paulo:
Érica, 2016.
EPE. Empresa de Pesquisa Energética. Balanço Energético Nacional 2020: Ano-
base 2019. Rio de Janeiro: EPE, 2020.
EPE. Empresa de Pesquisa Energética. Balanço Energético Nacional 2021: Ano-
base 2020. Rio de Janeiro: EPE, 2021a.
EPE. Empresa de Pesquisa Energética. Resenha mensal do mercado de energia:
Ano-base 2021. Rio de Janeiro: EPE, 2021b.
MOREIRA, J. R. S. Energias renováveis, geração distribuída e eficiência
energética. Rio de Janeiro: LTC, 2019.
REIS, L. B. dos; FADIGAS, E. A. F. A.; CARVALHO, C. E. Energia, recursos naturais e a
prática do desenvolvimento sustentável. 2. ed. Barueri: Manole, 2012.
18

Energia: desenvolvimento social e


tecnológico
Autoria: Renato Kazuo Miyamoto
Leitura crítica: Leandro José Cesini da Silva

Objetivos
• Apresentar as características sobre a utilização
da energia elétrica e suas contribuições na matriz
energética do Brasil.

• Estudar os efeitos do uso de energia elétrica e


apresentar o cenário de digitalização do setor
elétrico brasileiro.

• Compreender os princípios do desenvolvimento


tecnológico brasileiro.
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1. Energia e o desenvolvimento tecnológico

A implantação das fontes alternativas e renováveis de energia em


sistemas de geração de energia elétrica tem ganhado destaque com o
passar dos últimos anos. Este fato pode ser justificado, principalmente,
devido à necessidade de redução de gases de efeito estufa e de
poluentes atmosféricos (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016). Segundo
dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2021), para o ano-base
de 2019, as fontes renováveis totalizaram 84,8% da oferta interna de
energia elétrica no Brasil.

Naturalmente, estudos são realizados para indicar as projeções do


uso das energias renováveis na matriz elétrica brasileira considerando
médio e longo prazos. Nesse cenário, a EPE, com base nas diretrizes
do Ministério de Minas e Energia (MME), elaborou o Plano Nacional de
Energia 2050, um documento de suporte para desenhos estratégicos
sobre a expansão de longo prazo do setor de energia (MME; EPE, 2021).

O Plano Nacional de Energia (PNE) é um instrumento de suporte


utilizado por agentes públicos, agentes do mercado e cidadãos para o
planejamento energético de um setor ou de uma nação. O aumento da
demanda energética mundial pode ser justificado devido ao crescimento
populacional e do consumo de energia elétrica per capita (MOREIRA,
2019). Esse aumento contribuiu para o avanço de um movimento que
busca o desenvolvimento tecnológico e soluções que propiciem o
aumento da eficiência energética e a redução do custo na geração de
energia elétrica a partir de fontes renováveis.

Vale ressaltar que apenas o desenvolvimento de novas tecnologias


para a geração de energia elétrica utilizando fontes renováveis não é
suficiente. É necessário que soluções sejam propostas para a inserção
dessas energias renováveis no sistema elétrico nacional. No caso
das fontes renováveis que possuem produção intermitente e não
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despachável, ou seja, que não são controladas pelo ONS (Operador


Nacional do Sistema), tais quais a eólica, a solar e a das ondas, são
necessários meios para a solução de problemas relacionados à
instabilidade da fonte de energia e da garantia de abastecimento (REIS;
FADIGAS; CARVALHO, 2012).

Pensando nessas soluções, há algumas possibilidades, como os


exemplos citados por Barros, Borelli e Gedra (2016):

I. A ampliação do sistema de transmissão.


II. O armazenamento de energia elétrica sob a forma química em
bancos de baterias, ou o armazenamento em forma de energia
cinética que pode ser transformada em energia elétrica.
III. A mudança de operação das atuais usinas.
IV. A gestão e a flexibilização da carga, ou seja, o incentivo ao
consumo em horários fora de ponta.
V. A geração distribuída.

Essas possibilidades são ações de planejamento energético, que são


escolhidas de acordo com os benefícios a médio e longo prazos. No
entanto, as escolhas não são triviais, pois deve-se considerar um cone de
incertezas, similar ao ilustrado na Figura 1, que contém as diversidades
de trajetórias da demanda de energia (MME; EPE, 2021).
21

Figura 1 – Diversidades de trajetórias da demanda de energia

Fonte: adaptada de MME e EPE (2021, p. 1).

Na Figura 1, no limite superior, observa-se um cenário de desafio de


expansão, que representa a expansão da infraestrutura e da oferta
de energia a partir do crescimento da demanda de energia. No limite
inferior, observa-se o cenário do desafio da estagnação, em que o
consumo de energia per capita permanece inalterado durante o período
em análise (MME; EPE, 2021). Nesse cenário, as autoridades do setor de
energia não precisam se preocupar com a expansão da capacidade de
atendimento, e apenas definir o perfil adequado da matriz de energia
elétrica, de acordo com os interesses políticos e ambientais (emissão de
gases causadores do efeito estufa, por exemplo).
22

1.1 Papel governamental

O papel do governo para o setor de energia sofreu algumas


transformações, devido, principalmente, ao aumento da complexidade
dos sistemas de geração de energia elétrica, refletindo também nas
etapas de transmissão e distribuição (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016).
Ainda, podemos citar as mudanças ocasionadas por uma expectativa de
maior descentralização e a liberalização dos mercados de energia (MME;
EPE, 2021).

No Brasil, os elevados investimentos financeiros destinados à expansão


do setor de energia, aliados ao desejo de atrair o setor privado a essa
expansão, levaram as autoridades do setor de energia a elaborar um
conjunto de dez princípios para o aprimoramento da base de um
planejamento energético a longo prazo (MME; EPE, 2021):

1. Neutralidade tecnológica: princípio que determina que uma


combinação na utilização de recursos renováveis de caráter não
controlável deve respeitar uma neutralidade tecnológica para que
haja confiabilidade no suprimento de energia.
2. Fomento à concorrência: princípio que visa garantir a livre
concorrência, evitando a concentração de poder de mercado.
3. Isonomia: princípio que visa garantir a assimetria entre os agentes
de oferta e demanda e entre os ambientes de contratação livre e
regulada.
4. Eficiência: princípio que visa garantir um mercado competitivo e
eficiente, levando em consideração os custos e os riscos para a
produção de energia elétrica. Ainda, deve-se incentivar o consumo
racional de energia elétrica.
5. Previsibilidade: princípio que visa garantir regras transparentes
e previsíveis para a redução das incertezas de investimentos,
melhorando os aspectos de eficiência.
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6. Simplicidade: princípio que visa garantir a segurança jurídica dos


contratos, propondo simplicidade e objetividade nas cláusulas e
regras.
7. Transparência: princípio que visa garantir a transparência sobre
as decisões públicas nas esferas de planejamento, regulação e
operação.
8. Coerência: princípio que visa garantir decisões assertivas para o
setor de energia, promovendo competitividade e eficiência.
9. Sustentabilidade: princípio que visa garantir o desenvolvimento
sustentável através da utilização de recursos naturais renováveis.
10. Precaução: princípio que visa garantir flexibilidade no
planejamento estratégico, levando em consideração as incertezas
e as consequências a longo prazo.

Os avanços tecnológicos têm alterado o comportamento dos


consumidores de energia elétrica. Por exemplo, a difusão de geração
distribuída permite que o consumidor seja mais ativo no setor
energético, assumindo maior protagonismo. Adicionalmente, algumas
tendências como consciência ambiental, mudanças climáticas,
digitalização e cidades inteligentes potencializam novos modelos de
negócios e uma participação mais efetiva do consumidor no setor
elétrico (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016; EPE, 2021).

Nesse sentido, há uma preocupação governamental sobre as


transformações que o setor elétrico vem enfrentando. Em janeiro de
2022, foi sancionado pela presidência da República o marco legal da
geração própria, contemplando as micro e minigeração distribuídas
e o sistema de compensação de energia, através do Projeto de Lei nº
5.829/2019 (BRASIL, 2019). No referido projeto, os encargos e as tarifas
do uso dos sistemas de transmissão e distribuição serão estendidos às
micro e minigerações.

O Projeto de Lei nº 5.829/2019 foi transformado na Lei Ordinária nº


14.300, de 6 de janeiro de 2022, que estabelece um direito adquirido,
24

no qual o atual regime de compensação de energia elétrica se mantém,


até 31 de dezembro de 2045, válido para os projetos existentes ou para
os projetos que forem protocolados em até 12 meses após a publicação
da lei. Depois desse período de transição, a unidade consumidora será
tarifada com base nas regras de cobranças da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel), tendo sido feito um estudo de valoração da
geração distribuída no Brasil (BRASIL, 2022).

1.2 Digitalização do setor elétrico

De acordo com MME e EPE (2021), um cenário de digitalização na


produção e no uso de energia elétrica no Brasil pode ser evidenciado.
Esse cenário contribui para o desenvolvimento tecnológico da nação.
Atualmente, já observamos um crescimento de aparelhos que utilizam
estratégias de sensoriamento e de comunicação com as unidades
consumidoras de energia, que são capazes de fornecer informações
sobre os padrões de consumo.

Este fato pode contribuir com o engajamento do consumidor e


maximizar o aproveitamento dos recursos energéticos distribuídos. Ou
seja, esse cenário propõe uma infraestrutura diretamente relacionada
à digitalização, que auxilia na identificação das preferências do
consumidor e da necessidade de adequação dos desenhos de mercado.
Assim, a estrutura de regulação deve aplicar novos modelos de negócio
e consequentemente aumentar a diversidade de agentes (MOREIRA,
2019).

Uma das tecnologias em desenvolvimento é a de cidades inteligentes,


que possui como finalidade utilizar tecnologias avançadas de informação
e comunicação para contribuir com melhorias da infraestrutura dos
centros urbanos. Uma das propostas das cidades inteligentes é a
de realizar a integração entre as fontes de energias renováveis, as
tecnologias de armazenamento e as tecnologias de comunicação para
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transformar o sistema elétrico, tornando-o mais eficiente e dinâmico


(BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016; EPE, 2021).

Deste modo, a digitalização está modificando a estrutura do setor


elétrico nacional, por meio de redes inteligentes que permitem a
observação, o controle e a análise da operação do sistema elétrico.
Por exemplo, a instalação de medidores inteligentes bidirecionais em
um sistema de geração distribuída auxilia no gerenciamento do perfil
do consumidor, que pode ser otimizado a partir de sua resposta à
demanda. Esse fato pode contribuir com oportunidades de negócios de
energia elétrica no varejo (MME; EPE, 2021).

Adicionalmente, a digitalização pode promover uma alteração na


estrutura tarifária, resultando em eficiência dos preços a partir do
perfil de consumo. Vale ressaltar a importância de acompanhar o
ritmo de evolução das tecnologias e seus impactos. Os conceitos sobre
IoT (Internet of Things), computação em nuvem, inteligência artificial
e armazenamento de dados são a tendência dessa digitalização.
Por outro lado, impactos negativos podem ser previstos, tais quais
ataques cibernéticos, custos para a segurança da informação e como
as operações majoritariamente centralizadas no sistema elétrico
serão tratadas (MME; EPE, 2021). A Figura 2 ilustra a maturidade e as
aplicações da digitalização no setor elétrico nacional.
26

Figura 2 – Digitalização no setor elétrico nacional

Fonte: adaptada de MME e EPE (2021, p. 59).

A partir da digitalização do setor elétrico apresentada na Figura


2, é possível elencar alguns desafios a médio e longo prazos. A
implementação de redes inteligentes promove o aproveitamento de
novas tecnologias. No entanto, pode haver problemas de confiabilidade
no fornecimento. Isso ocorre ao descentralizar o fornecimento de
energia elétrica, e por essa razão novas estratégias de operação devem
ser estudadas, o que acarreta a necessidade de maior flexibilidade no
planejamento energético (MOREIRA, 2019).

Um segundo desafio está relacionado com o gerenciamento de dados


elétricos, ou seja, uma vez utilizados dispositivos inteligentes que geram
27

banco de dados, há a necessidade de definir quem terá acesso e quais


as políticas de privacidade para essas informações (MME; EPE, 2021).

Por fim, na Figura 3 ilustra-se um esquema representativo que sintetiza


os temas abordados anteriormente, entre energia e desenvolvimento.
A crescente demanda de energia elétrica e a inserção de fontes
alternativas para sua geração contribuem para o desenvolvimento
social e tecnológico nacional. Adicionalmente, o desenvolvimento
tecnológico acarreta um cenário de digitalização no setor elétrico, que já
é uma realidade. Por fim, a longo prazo, é necessário um planejamento
energético que englobe todas essas etapas, sendo destinado ao
gerenciamento da energia, das informações/dados e das políticas de
segurança (MME; EPE, 2021).

Figura 3 – Energia e desenvolvimento

Fonte: elaborada pelo autor.

O planejamento energético é uma ferramenta utilizada para analisar


alternativas a fim de atender às ofertas e demandas da sociedade. Do
ponto de vista da oferta de energia elétrica, ele permite identificar as
fontes de energia mais adequadas, considerando aspectos tecnológicos,
ambientais, econômicos e sociais. Do ponto de vista da demanda,
por meio da elaboração de cenários futuros, ele propõe soluções em
eficiência e de uso racional da energia elétrica, e ainda contribui para
a resolução de conflitos entre oferta e demanda (BARROS; BORELLI;
GEDRA, 2016).

Portanto, o planejamento energético auxilia em tomadas de decisões


e na elaboração de políticas sustentáveis de energia elétrica. Para
28

isso, é necessário que ele esteja integrado ao planejamento de


desenvolvimento, que são políticas destinadas ao investimento público
e privado para aumentar o valor agregado a determinado produto
– no caso, o custo e a eficiência na geração de eletricidade. Ainda, é
essencial uma base de dados consolidada sobre os recursos energéticos
disponíveis e a evolução do consumo de energia elétrica nos setores em
análise (EPE, 2021).

Em caso de o planejamento energético ser inefetivo, há consequências


relacionadas ao dimensionamento do sistema de oferta, podendo gerar
desperdícios de energia e recursos financeiros, degradação dos recursos
energéticos, impactos ambientais, políticas de atendimento energético
ineficientes, dentre outras (MME; EPE, 2021).

Considerando o planejamento energético e a digitalização no setor


elétrico, há um potencial para a construção de novas arquiteturas
interconectadas de energia elétrica, e consequentemente a necessidade
da criação de um marco regulatório para adequar os incentivos
corretamente entre operador, consumidor e produtor (MME; EPE, 2021).
Logo, percebe-se a importância de uma regulação ativa e antecipativa. A
primeira busca incentivar a competitividade, enquanto a segunda busca
uma flexibilidade para a incorporação de novas tecnologias. Sabe-se
que essas decisões são complexas e dependem de vários fatores. Em
contrapartida, também são inevitáveis para o desenvolvimento social e
tecnológico de uma nação.

Referências
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Gerenciamento de energia: ações
administrativas e técnicas de uso adequado da energia elétrica. 2. ed. São Paulo:
Érica, 2016.
BRASIL. Câmara dos Deputados. PL nº 5.829/2019, apresentado em 05/11/2019.
Propõe a instituição do marco legal da microgeração e minigeração distribuída,
o Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE) e o Programa de Energia
29

Renovável Social (PERS); altera as Leis nºs 10.848, de 15 de março de 2004, e 9.427,
de 26 de dezembro de 1996; e dá outras providências. Transformado na Lei nº
14.300/2022. Brasília: D.O.U., 2019.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 14.300, de 6 de janeiro de 2022. Publicado
no DOU de 07/01/2022. Institui o marco legal da microgeração e minigeração
distribuída, o Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE) e o Programa de
Energia Renovável Social (PERS); altera as Leis nºs 10.848, de 15 de março de 2004, e
9.427, de 26 de dezembro de 1996; e dá outras providências. Brasília: D.O.U., 2022.
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energética. Plano
nacional de energia: PNE 2050. Rio de Janeiro: MME/EPE, 2021.
EPE. Empresa de Pesquisa Energética. Balanço Energético Nacional 2021: Ano-
base 2020. Rio de Janeiro: EPE, 2021.
MOREIRA, J. R. S. Energias renováveis, geração distribuída e eficiência
energética. Rio de Janeiro: LTC, 2019.
REIS, L. B. dos; FADIGAS, E. A. F. A.; CARVALHO, C. E. Energia, recursos naturais e a
prática do desenvolvimento sustentável. 2. ed. Barueri: Manole, 2012.
30

Transição energética
Autoria: Renato Kazuo Miyamoto
Leitura crítica: Leandro José Cesini da Silva

Objetivos
• Apresentar o conceito de transição energética.

• Estudar os recursos e as reservas energéticas no


setor elétrico brasileiro.

• Fornecer subsídios para a compreensão sobre a


relação entre os recursos energéticos e a transição
energética.
31

1. Recursos e reservas energéticas

Os recursos energéticos, essencialmente, são recursos naturais que


podem fornecer energia e não requerem atividade para que existam,
ou seja, são elementos da natureza que podem contribuir com o
desenvolvimento, o conforto e a sobrevivência da humanidade (PHILIPPI
JR.; REIS, 2016). Os recursos naturais, tais quais a luz solar, o vento, o
solo e a água, formados majoritariamente por cadeias de carbono, são
considerados recursos primários, e o homem não precisa interferir para
sua existência.

Alguns recursos podem ser aproveitados pelo homem em seu estado


natural, enquanto em outros casos os recursos podem ser utilizados
por meio da intervenção de equipamentos e processos que visem
à eficiência deles. Por exemplo, a luz solar pode ser aproveitada em
sua forma natural para aplicações na agricultura; no entanto, para o
processo de geração de energia elétrica, são utilizadas tecnologias e
equipamentos específicos (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016).

Pensando em energia elétrica, a inserção de políticas que promovem


a utilização de recursos naturais renováveis para a geração de
eletricidade pode contribuir com a melhoria na eficiência do setor
elétrico (PHILIPPI JR.; REIS, 2016). Dentre os recursos energéticos
existentes, há a classificação de renováveis e não renováveis. Em ambos
os casos, os recursos são substancialmente providos pela natureza, e
a diferença está no seu tempo de reposição. Por exemplo, uma árvore,
que em algumas aplicações pode ser utilizada como lenha, possui
uma estimativa de reposição de aproximadamente sete anos, e por
isso é considerada um recurso renovável, como ilustra a Figura 1. Já o
petróleo possui reposição estimada em alguns milhões de anos, sendo
considerado um recurso não renovável.
32

Figura 1 – Exemplo do ciclo da lenha (biomassa) e do petróleo

Fonte: adaptada de Philippi Jr. e Reis (2016, p. 49).

Com o passar dos anos e o avanço das tecnologias, um cenário de


transição energética é evidenciado. A transição energética é um conceito
que tem como objetivo a transformação da matriz energética que
utiliza combustíveis fósseis para uma matriz com reduzida emissão de
carbono, através da inserção de fontes renováveis. Esse fato contribui
para a redução de gases de efeito estufa e para um desenvolvimento
sustentável (MOREIRA, 2019).

1.1 Transição energética

O processo de transição energética está fundamentado em mudanças


complexas de procedimentos, com o objetivo de promover a redução
da emissão de carbono em sistemas de geração de energia elétrica. Por
esse motivo, não é um movimento linear e ocorre em passos lentos.
O atual processo de transição energética no Brasil fundamenta-se em
políticas de desenvolvimento sustentável, no cenário das mudanças
climáticas e nas inovações tecnológicas nas áreas de engenharia e
eletrônica relacionadas à nova era digital, conforme ilustra a Figura 2
(MME; EPE, 2021).
33

Para isso, tem sido observada a utilização de fontes renováveis e do gás


natural como combustíveis de transição. Ainda, destaca-se a eletrificação
em alguns processos de conversão de energia para a geração de energia
elétrica. Isso ocorre em conjunto com a automação e a digitalização
dos processos, contribuindo com a eficiência energética e com uma
maior participação de fontes renováveis não controladas pelo Operador
Nacional do Sistema (não despacháveis), tais quais a eólica e a solar
(BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016).

Figura 2 – Base da transição energética

Fonte: MME e EPE (2021, p. 34).

Ainda, na Figura 2 observa-se que a transição energética também está


relacionada com inovações tecnológicas – por exemplo, a partir de
alterações nos conversores de energia, da eficiência das máquinas
térmicas que utilizam carvão mineral, da melhoria dos geradores de
combustão interna e dos avanços em aerogeradores eólicos (PHILIPPI
JR.; REIS, 2016).

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), seguindo as diretrizes


propostas pelo Ministério de Minas e Energia (MME), elaborou um
34

documento intitulado Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050), que


apresenta as recomendações e projeções da energia no horizonte
de 2050. Nesse documento, as projeções da transição energética são
apresentadas.

Segundo o PNE 2050, a transição energética está fundamentada


na eletrificação a partir de fontes renováveis e na utilização de
biocombustíveis e do gás natural. Do ponto de vista global, o gás natural
tem sido gradativamente substituído pelo biogás e/ou biometano,
contribuindo com a eficiência do setor elétrico a partir da introdução de
fontes renováveis (MME; EPE, 2021).

Ainda, no mesmo documento, destaca-se a contribuição das baterias,


com uma previsão de aumento de competitividade para a garantia
da confiabilidade no setor elétrico, sendo essa a tecnologia de
armazenamento de energia elétrica mais utilizada na atualidade. Vale
destacar o papel das baterias no setor de transporte, disputando o
mercado com combustíveis e biocombustíveis através da crescente
inserção de veículos elétricos nesse setor.

Atualmente, não existem políticas destinadas especificamente ao


cenário da transição energética no Brasil. No entanto, algumas políticas
favorecem essa transição e a expansão do setor elétrico, tais como
(MME; EPE, 2021):

• Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC): trata-se de um


plano de adaptação de todos os setores a partir das consequências
que as mudanças climáticas promovem no setor de energia.

• Contribuição Nacionalmente Determinada (CND): trata-se de


um compromisso governamental para uma redução de 37%
da emissão de gases de efeito estufa até o ano de 2025, e uma
redução de 43% até o ano de 2030, considerando o ano de 2005
como referência.
35

• Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio): trata-se de um


incentivo ao incremento dos biocombustíveis na matriz elétrica e
energética do Brasil.

• Modernização do setor elétrico (Consulta Pública nº 33/2017):


fica definido o incentivo às políticas de transparência que visam
à competitividade para a utilização de inovações tecnológicas no
setor elétrico e ao aprimoramento dos recursos energéticos no
sistema elétrico nacional.

Nesse cenário, alguns desafios no setor de energia podem ser citados


(MME; EPE, 2021):

• Desenho de mercado e estrutura regulatória não fomentam a


transição energética: as novas tecnologias enfrentam dificuldades,
como a falta de informação sobre o risco tecnológico e a falta de
ações regulatórias sobre o uso das tecnologias.

• Incertezas sobre a evolução do setor elétrico: os processos


de inovação (da quarta Revolução Industrial – Industria 4.0)
utilizam eletrificação, automação e conectividade. Assim, muitas
dessas inovações sofrem incertezas tecnológicas, econômicas e
ambientais.

• Multiplicidade de setores na transição energética: por estar


interligada com a baixa emissão de carbono, a transição energética
oferta grandes oportunidades para o país. Nesse sentido, há uma
multiplicidade de setores envolvidos nessa transição, tais como as
políticas sociais, econômicas, científicas e educacionais e o campo
industrial, sendo necessário um alinhamento estratégico para a
harmonia entre esses setores na transição energética.

Para vencer os desafios, o PNE 2050 propõe algumas recomendações


para o gerenciamento das incertezas da transição energética. O Quadro
1 apresenta as referidas recomendações (MME; EPE, 2021).
36

Quadro 1 – Recomendações para a transição energética


Desafios Recomendações
2020 – 2030 2030 – 2040 2040 – 2050
Desafio 1 Promover planos de ação que permitam a coerência e a
Desenho de sinergia entre as políticas públicas e ações regulatórias.
mercado e Adequar os
estrutura desenhos de
regulatória mercado para
não fomentam fortalecer
a transição a transição
energética. energética.
Desafio 2 Elaboração de estratégias flexíveis que permitam
Incertezas sobre lidar com as incertezas tecnológicas.
a evolução do Realizar alianças internacionais
setor elétrico. para que haja uma flexibilidade
nas escolhas das estratégias.
Desafio 3 Desenvolver políticas energéticas
Multiplicidade que unifiquem os múltiplos
de setores setores e tornem a transição
na transição energética competitiva.
energética.
Fonte: adaptado de MME e EPE (2021, p. 39).

O cenário da transição energética relaciona como os energéticos


renováveis podem ser utilizados de acordo com as inovações
tecnológicas. Esses energéticos são usados no aquecimento de água
para a geração de eletricidade em turbinas a vapor, por exemplo, ou
mesmo pelo vento, através de geradores eólicos. A transição energética,
então, está diretamente relacionada com o desenvolvimento sustentável
(REIS; FADIGAS; CARVALHO, 2012).

1.2 Indicadores energéticos de sustentabilidade

De acordo com Philippi Jr. e Reis (2016), há um conjunto de indicadores


que visam atender às cinco dimensões da sustentabilidade, que são:
social, econômica, ambiental, espacial e política. O Quadro 2 apresenta
dez indicadores para a sustentabilidade em cada dimensão, aplicados ao
setor elétrico.
37

Quadro 2 – Indicadores energéticos de sustentabilidade


Sustentabilidade social
Indicador Função
1. A geração de energia Indica a contribuição da geração de energia
elétrica promove elétrica a partir de fontes renováveis para
trabalho e renda. promover empregos e renda.
2. Densidade de Indica o cenário de investimento em geração de energia
ocupação territorial. elétrica de acordo com a densidade populacional.
Sustentabilidade econômica
Indicador Função
3. Domínio das Indica se há a necessidade de importação de
tecnologias. equipamentos e tecnologias para a implementação
de sistemas de geração de energia elétrica.
4. Custo em operação. Indica se há uma competitividade no custo de
operação do sistema de geração de energia
elétrica, de acordo com parâmetros definidos pela
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Sustentabilidade ambiental
Indicador Função
5. Impacto ambiental. Indica se há um equilíbrio na relação custo versus
benefícios ambientais para a implantação do
sistema de geração de energia elétrica.
6. Restrições ambientais. Indica se há restrições ambientais para a
exploração da fonte de energia (por exemplo, se
há espaço adequado e autorização ambiental).
Sustentabilidade espacial
Indicador Função
7. Potencial local. Indica o quantitativo dos potenciais energéticos
renováveis ou não renováveis que estão sendo
explorados e os que são passíveis de exploração.
8. Característica do Indica se o recurso renovável ou não renovável
recurso energético. utilizado para a geração de energia elétrica
possui características para seu esgotamento.
Sustentabilidade política
Indicador Função
9. Relação entre energia Indica se o uso de energia a partir de fontes renováveis é
renovável e não renovável. majoritário em relação ao uso das fontes não renováveis.
10. Ações governamentais Indica um interesse governamental na exploração de
para o desenvolvimento determinado potencial energético e no desenvolvimento
do potencial energético. tecnológico para a geração de energia elétrica.
Fonte: adaptado de Philippi Jr. e Reis (2016, p. 131).
38

Na estrutura de um projeto que visa à sustentabilidade elétrica, em que


um dos pilares é a transição energética, pode-se evidenciar cinco etapas
bem definidas e ilustradas na Figura 3. A primeira etapa é uma avaliação
diagnóstica atual, verificando o interesse entre os envolvidos e o recurso
energético disponível através do levantamento dos recursos existentes.
A segunda etapa é o planejamento, em que as diretrizes e o plano de
ação são traçados, além da definição das prioridades e dos conflitos.

Figura 3 – Estrutura de um projeto que visa à sustentabilidade


elétrica

Fonte: elaborada pelo autor.

Ainda, de acordo com a Figura 3, na etapa de execução as ações


planejadas são colocadas em prática. Na sequência, uma avaliação dos
indicadores deve ser realizada para que uma revisão possa ajustar as
condutas políticas, sociais e ambientais. Vale ressaltar que o processo
segue de forma contínua, e a busca pela sustentabilidade através da
redução de impactos ambientais e da inserção de formas alternativas de
energia para a geração de energia elétrica permanece como uma meta
global.

Deste modo, observa-se que o processo de transição energética está


diretamente relacionado com os recursos e as reservas energéticas
presentes no território nacional. Logo, pensando em um planejamento
39

energético a médio e longo prazos, devem ser levados em consideração


um levantamento e uma previsão dos recursos energéticos existentes,
bem como o cenário de expansão tecnológica, e em conjunto
com os indicadores de sustentabilidade é possível propiciar um
desenvolvimento sustentável da matriz elétrica nacional.

Referências
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Gerenciamento de energia: ações
administrativas e técnicas de uso adequado da energia elétrica. 2. ed. São Paulo:
Érica, 2016.
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energética. Plano
nacional de energia: PNE 2050. Rio de Janeiro: MME/EPE, 2021.
MOREIRA, J. R. S. Energias renováveis, geração distribuída e eficiência
energética. Rio de Janeiro: LTC, 2019.
PHILIPPI JR., A.; REIS, L. B. Energia e sustentabilidade. São Paulo: Manole, 2016.
REIS, L. B. dos; FADIGAS, E. A. F. A.; CARVALHO, C. E. Energia, recursos naturais e a
prática do desenvolvimento sustentável. 2. ed. Barueri: Manole, 2012.
40

Plano Nacional de Energia


Autoria: Renato Kazuo Miyamoto
Leitura crítica: Leandro José Cesini da Silva

Objetivos
• Apresentar os critérios para a elaboração do Plano
Nacional de Energia.

• Compreender a relação entre a energia e a


socioeconomia.

• Compreender os estudos realizados no Brasil e os


recursos energéticos distribuídos.
41

1. Planejamento da expansão elétrica

Uma visão a longo prazo sobre a expansão da oferta de energia é


essencial para a construção de uma matriz de energia elétrica com
caráter sustentável através de avaliações socioeconômicas, políticas e
ambientais. Assim, para que os setores de planejamento possam propor
a construção dessa matriz elétrica, é necessário um suporte político que
facilite as ações de planejamento (JUNIOR; REIS, 2016).

No Brasil, não há políticas bem definidas sobre a expansão da oferta


de energia. No entanto, dois planos são elaborados para nortear essa
expansão. O primeiro é o Plano Decenal de Expansão (PDE), destinado
ao levantamento da estimativa de crescimento do setor de energia
para um cenário de médio prazo. Adicionalmente, o Plano Nacional de
Energia (PNE) realiza essa estimativa em um horizonte de longo prazo
(MOREIRA, 2019).

1.1 Plano Nacional de Energia (PNE)

O Plano Nacional de Energia (PNE) realiza estudos sobre as tendências


energéticas a longo prazo, de 20 a 30 anos, para que seja possível a
elaboração mais assertiva de um planejamento do setor de energia.
Publicado em dezembro de 2020 e apresentado pela Empresa de
Pesquisa Energética (EPE), seguindo as diretrizes do Ministério de Minas
e Energia (MME), o PNE 2050 contém as tendências e as recomendações
para o horizonte de 2050 (MME; EPE, 2021).

Vale ressaltar que o PNE analisa a projeção dos energéticos em geral,


ou seja, as fontes de energia utilizadas nos mais diversos setores. No
entanto, direcionaremos os nossos estudos às fontes energéticas que
podem ser utilizadas para a geração de energia elétrica. Assim, deve-se
compreender como os parâmetros econômicos, ambientais e técnicos
42

são levados em consideração para a elaboração de um Plano Nacional


de Energia (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016).

Os parâmetros econômicos estão relacionados com o reflexo do


crescimento da demanda na economia do país. Para isso, uma técnica
de projeções de cenários é utilizada na identificação das trajetórias
prováveis da demanda de energia elétrica de acordo com as variáveis
econômicas. Os parâmetros ambientais estão ligados à relação da
projeção da emissão de CO2 na geração de eletricidade de acordo com o
crescimento da demanda de energia elétrica (REIS; FADIGAS; CARVALHO,
2012).

Já os parâmetros técnicos são divididos em três módulos: o


macroeconômico, a demanda e a oferta. A Figura 1 ilustra as interações
entre os módulos para um planejamento energético a longo prazo.
No módulo macroeconômico, as variáveis da divisão do PIB (Produto
Interno Bruto) são quantizadas nos setores de economia para
cenários mundiais e nacionais. Os resultados do processamento
desse módulo são: o PIB anual, o PIB per capita e a valoração para
cada setor (industrial, agropecuário, serviço público e população), que
correspondem às entradas do módulo da demanda (JUNIOR; REIS, 2016).
43

Figura 1 – Planejamento energético no setor elétrico, a longo prazo

Fonte: adaptada de Junior e Reis (2016, p. 957).

Ainda na Figura 1, os resultados do módulo macroeconômico são as


variáveis de entrada para o módulo de demanda. O módulo de demanda
utiliza uma estratégia denominada Modelo Integrado de Planejamento
Energético (MIPE), usado para uma análise setorial da estimativa de
demanda de energia elétrica. O MIPE gera projeções de demanda
por fonte e por setor. Essas projeções são submetidas a parâmetros
de controle (como a elasticidade de consumo de energia elétrica, a
intensidade energética de recursos para a geração de eletricidade, o
consumo per capita de energia elétrica, dentre outros) que fornecem a
projeção de consumo final de energia elétrica (MME; EPE, 2021).
44

As projeções de saída do módulo de demanda são as entradas do


módulo de oferta. Nesse módulo, emprega-se a estratégia do Modelo
de Expansão a Longo Prazo (MELP), que realiza um estudo sobre
as inovações tecnológicas, os recursos energéticos, as estratégias
de regulação de energia e o reforço do sistema de transmissão e
distribuição de energia elétrica. O MELP fornece a projeção de oferta de
energia elétrica (JUNIOR; REIS, 2016).

1.2 Plano Decenal da Expansão (PDE)

O Plano Decenal da Expansão (PDE) tem como objetivo apresentar


as tendências a médio prazo, no horizonte de dez anos, com revisões
anuais. O PDE utiliza os cenários do PNE para auxiliar no planejamento
da expansão. Assim, um equilíbrio entre oferta e demanda, em conjunto
com aspectos socioambientais, e a redução de custos são objeto de
desejo (JUNIOR; REIS, 2016).

Para a elaboração de um PDE, ilustrado na Figura 2, primeiramente


estudos de oferta de energia são realizados a partir das projeções
do PNE, que também levam em consideração premissas setoriais e
aspectos técnicos e ambientais. Os resultados desse estudo são as
projeções de demanda de energia elétrica. Após a análise da previsão
de demanda, são estipulados os cenários de expansão, visando à
integração entre o sistema de transmissão e a necessidade de ampliação
das interligações elétricas (BARROS; BORELLI; GEDRA, 2016).

Ainda de acordo com a Figura 2, nos estudos de expansão, uma


análise do sistema de geração, relativa a aspectos de custo e riscos
ambientais, é realizada. Paralelamente, também é feita uma análise,
no sistema de transmissão, de aspectos de fornecimento de energia,
confiabilidade e tarifação. A partir das referidas análises, é possível
determinar configurações das usinas e das redes elétricas que sejam
45

capazes de suprir o cenário de expansão da geração e da transmissão.


Posteriormente, um relatório PDE é apresentado (JUNIOR; REIS, 2016).

Figura 2 – Planejamento energético no setor elétrico, a médio prazo

Fonte: adaptada de Junior e Reis (2016, p. 959).

O relatório do Plano Decenal de Expansão é utilizado para estudos


complementares, tais quais estudos de viabilidade técnica, estudos de
licenciamento ambiental e diretrizes socioambientais (MOREIRA, 2019).
Assim, destaca-se a importância da realização de estudos no Brasil
direcionados à oferta e à demanda de energia, e sobre os recursos
energéticos distribuídos.

1.3 Estudos realizados no Brasil

Segundo MME e EPE (2021), uma das preocupações do PNE 2050


está relacionada com as estratégias para fornecimento de potências
complementares para instantes em que o sistema elétrico necessita de
46

complementação. Desse modo, é preciso a introdução de tecnologias


que contribuam para o balanço de potência e, de preferência, que
possuam características sustentáveis (de baixa emissão de gases que
provocam o efeito estufa).

Dentre essas tecnologias, destacam-se: i) usinas termelétricas flexíveis


– que possuem como característica a agilidade em manobra, paradas
e religamentos; ii) usinas hidrelétricas reversíveis – que possuem um
sistema de bombeamento entre os reservatórios inferiores e destes
para os superiores em momentos de baixa carga; e iii) sistemas
de armazenamento de energia – capazes de armazenar energia
elétrica na forma química em baterias ou supercapacitores, ou fazer
armazenamento de energia para posterior transformação. Por exemplo,
a energia química do hidrogênio gasoso pode ser transformada em
energia elétrica através de pilhas a combustível, ou a energia cinética de
volantes inerciais pode ser transformada em energia elétrica através de
geradores conectados a essas cargas inerciais.

Nesse sentido, há alguns desafios para a implantação de novas


tecnologias (MME; EPE, 2021):

• Projeção de demanda a longo prazo: há algumas dificuldades para


estimar a demanda de carga, devido às mudanças de hábitos e
preferências do consumidor. Ainda, deve-se atentar aos impactos
regulatórios de novas tecnologias e saber que os sistemas de
armazenamento também configuram uma carga no sistema
elétrico.

• Projeção de oferta a longo prazo: há algumas dificuldades para a


estimativa de geração, devido às alterações da disponibilidade dos
recursos (principalmente os renováveis) em razão das mudanças
climáticas.
47

• Projeção dos custos a longo prazo: a inserção de estratégias


de potência complementar pode se alterar em momentos de
escassez, ou seja, o mercado se baseia em custo a curto prazo.

Dentre as tecnologias citadas, no modelo atual do PNE 2050 e


considerando os patamares de carga média e máxima, as usinas
termelétricas de partida flexíveis são as mais competitivas. A expansão
de usinas termelétricas de ciclo aberto que operam com gás natural
sofre com o desafio do crescimento de sua infraestrutura de gasodutos,
necessário para nivelar a demanda de energia elétrica, o que tende
a inviabilizar essa alternativa. As termelétricas que operam com
combustíveis líquidos (geralmente óleo diesel) são competitivas devido à
relação custo-benefício entre o custo de implementação e a capacidade
de potência. No entanto, por ser um combustível fóssil, essa é uma
alternativa não desejada (MME; EPE, 2021).

Desse modo, a potência complementar representa alternativas para um


balanço de potência no setor elétrico na área de geração e transmissão,
e deve ser analisada de acordo com a demanda de potência a ser
atendida. Adicionalmente, novas tecnologias ligadas ao sistema de
distribuição podem contribuir com a eficiência do setor elétrico. Essas
tecnologias podem ser sistemas de geração, de armazenamento ou de
redução de consumo de energia elétrica, e geralmente estão alocadas
perto do medidor de energia (JUNIOR; REIS, 2016).

Além da contribuição energética, a inserção dessas tecnologias –


intituladas Recursos Energéticos Distribuídos (RED), ilustradas na Figura
3 – contribui com a redução das perdas elétricas devido à proximidade
entre a geração e o consumo. Ainda, há contribuições na confiabilidade
do sistema elétrico para situações extremas (MME; EPE, 2021).
48

Figura 3 – Recursos energéticos distribuídos


Armazenamento atrás do medidor: baterias
conectadas ao consumidor que armazenam a
energia elétrica em excesso durante a geração
ou em instantes em que a tarifa é mais barata.

Carregamento inteligente de veículos


Geração Distribuída: geração de plantas elétricos: otimização do carregamento de
conectadas em baixa ou média tensão juntos acordo com as restrições da rede elétrica, a
ou próximos ao consumidor, como geradores disponibilidade de recursos renováveis locais e
fotovoltaicos e pequenas centrais eólicas. a preferência do consumidor.

Resposta a demanda: permite ao consumidor Eficiência energética: troca de equipamentos


a alteração do padrão de consumo e serviços por outros que realizem o mesmo trabalho com
ao sistema. um menor consumo de energia.

Fonte: adaptada de MME e EPE (2021, p. 148).

Nesse cenário, há alguns desafios para a inserção dessas tecnologias, de


acordo com o PNE 2050 apresentado no Quadro 1 (MME; EPE, 2021).

Quadro 1 – Mapa de projeção do PNE 2050


Recomendações
Desafios
2020 – 2030 2030 – 2040 2040 – 2050
Propor um desenho de mercado
Impasse entre uma considerando os custos e riscos
maior desagregação para a expansão dos REDs
e os custos de
transação Modelo de transição mais
descentralizado

Assegurar a qualidade Definir padrões para a


das instalações qualidade das instalações

Definir estratégias para o


levantamento de dados de
Incerteza no
acordo com a variação dos
planejamento
preços dos equipamentos e
das tecnologias dos REDs
49

A digitalização acarretará um
banco de dados com informações
Acesso aos dados sobre os perfis dos consumidores.
armazenados É necessária a definição de
protocolos de privacidade e
segurança da informação
Fonte: adaptado MME e EPE (2021, p. 151).

Nos estudos apresentados pelo PNE 2050, relata-se uma preocupação


com a descentralização de recursos energéticos, que demandaria
uma ação regulatória de produção de energia e ainda a necessidade
de um sistema de transmissão mais robusto e flexível. O sistema de
transmissão atual opera com linhas em corrente alternada e elos de
corrente contínua, em um total de 140.000 km, até o ano de 2019
(MME; EPE, 2021). Sua função, além do atendimento ao consumidor
de energia elétrica, está relacionada com o papel de interligação entre
os submercados de energia elétrica, propiciando confiabilidade da
operação e flexibilidade na inserção de novas centrais conectadas.

No entanto, a inserção de fontes renováveis não controláveis,


conectadas ao sistema de transmissão, cria um cenário desafiador em
relação a sua expansão. A implantação de linhas subterrâneas de alta
capacidade tem sido estudada para a expansão nas grandes metrópoles
e para interligar os sistemas eólicos offshore da costa brasileira. As linhas
subterrâneas propiciam maior confiabilidade, devido ao menor impacto
relacionado às adversidades climáticas. Entretanto, elas apresentam um
custo de implantação de sete a dez vezes superior aos sistemas aéreos
(MOREIRA, 2019).

Nesse sentido, algumas perspectivas tecnológicas para o sistema de


transmissão de energia elétrica foram traçadas para os próximos anos
(MME; EPE, 2021):

• Desenvolvimento e aprimoramento de isolação de cabos para


sistemas subterrâneos ou marinhos.
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• Desenvolvimento de novas tecnologias para estruturas, isoladores


e condutores dos sistemas de transmissão, de modo a minimizar
problemas ambientais.

• Desenvolvimento de sistemas inteligentes de decisão em tempo


real e sistemas de estimativa de falhas do sistema elétrico.

Ainda, um desafio para as próximas décadas está relacionado com


o envelhecimento do sistema de transmissão. Pensando nisso, cabe
ao setor de planejamento verificar o impacto da substituição por
novos equipamentos, mais modernos, ou optar por um processo de
revitalização do sistema de transmissão (MME; EPE, 2021; JUNIOR; REIS,
2016).

Um segundo desafio está relacionado com aspectos socioambientais


na implementação de novas linhas de transmissão. Pensando nisso,
cabe ao setor de planejamento verificar a aptidão para a elevação da
capacidade de transporte no sistema já existente e desenvolver políticas
que assegurem a implantação de novos sistemas, respeitando as esferas
social, econômica e ambiental (MME; EPE, 2021).

Por fim, há um desafio relacionado com o crescimento significativo


das fontes renováveis não controláveis na matriz elétrica. Em
contrapartida, com a presença das redes inteligentes, da geração
distribuída e dos sistemas de armazenamento de energia, a previsão é
de que o sistema elétrico seja mais flexível e acomode as variações da
geração, majoritariamente devido à penetração das energias eólicas e
fotovoltaicas em momentos de variação do fornecimento convencional
(MME; EPE, 2021). Desta forma, destaca-se a importância de estudos
estratégicos visando a um planejamento energético geral que contribua
com o desenvolvimento social, tecnológico, econômico e ambiental,
promovendo a eficiência do setor elétrico.
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Referências
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Gerenciamento de energia: ações
administrativas e técnicas de uso adequado da energia elétrica. 2. ed. São Paulo:
Érica, 2016.
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energética. Plano
nacional de energia: PNE 2050. Rio de Janeiro: MME/EPE, 2021.
JUNIOR, A. P.; REIS, L. B. Energia e sustentabilidade. São Paulo: Manole, 2016.
MOREIRA, J. R. S. Energias renováveis, geração distribuída e eficiência
energética. Rio de Janeiro: LTC, 2019.
REIS, L. B. dos; FADIGAS, E. A. F. A.; CARVALHO, C. E. Energia, recursos naturais e a
prática do desenvolvimento sustentável. 2. ed. Barueri: Manole, 2012.
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BONS ESTUDOS!

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