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EFICIÊNCIA E QUALIDADE
DE ENERGIA
Leandro Jose Cesini da Silva

EFICIÊNCIA E QUALIDADE DE ENERGIA


1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
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Editorial
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Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Silva, Leandro Jose Cesini da
S586e Eficiência e qualidade de energia/ Leandro Jose Cesini da
Silva, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020
42 p.
ISBN 978-65-87806-04-4
1. Eficiência.2. Qualidade de Energia I. Silva, Leandro
Jose Cesini da. II.Título.

CDD 621.3121
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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EFICIÊNCIA E QUALIDADE DE ENERGIA

SUMÁRIO
Fundamentos de energia e qualidade de energia____________________ 05

O setor elétrico e os distúrbios na rede______________________________ 20

Fundamentos de Eficiência Energética_______________________________ 36

Programas de Conservação de energia e cases de sucesso__________ 51

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Fundamentos de energia e
qualidade de energia
Autoria: Leandro Cesini
Leitura crítica: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes

Objetivos
• Introduzir os conceitos e fundamentos básicos
relacionados à energia.

• Estudar os aspectos econômicos, sociais e


ambientais da energia elétrica.

• Introduzir os conceitos e fundamentos sobre


qualidade de energia elétrica.

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1. Introdução

Você já parou para refletir sobre como a energia elétrica influencia o


meio em que vive? E como influencia a economia, a sociedade e o meio
ambiente? Nesta Leitura Digital, você encontrará as respostas para esses
questionamentos e ainda verá alguns conceitos básicos sobre esse
energético tão importante para a sociedade moderna.

A qualidade com que a energia é fornecida e os principais conceitos


e fundamentos básicos relacionados à qualidade serão apresentados
neste material. Assim, você poderá verificar como a qualidade de energia
influencia as atividades humanas.

2. Energia e seus fundamentos

A energia é necessária para que todas as atividades antropológicas


sejam realizadas. O sol, a primeira fonte de energia do planeta,
proporciona aos seres vivos condições para que possam se alimentar e
sobreviver. Essa sobrevivência depende também da utilização de outras
formas de energia para infinitos usos, principalmente, para o homem.

Quais formas de energia você já utilizou hoje?

A partir da Primeira Revolução Industrial, o homem passou a exigir do


planeta cada vez mais recursos naturais energéticos para transformar
em outras formas de energia (ELETROBRAS, 2008). Como já visto, o
sol é um recurso natural, assim como a água e combustíveis fósseis
disponibilizados pela natureza. A esses recursos é dado o nome de
fontes primárias de energia.

Agora, para você responder: qual o nome dado às fontes de energia que
foram geradas pela transformação das fontes primárias? Isso mesmo, a

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eletricidade, produzida pelo sol, pela água, por exemplo, são chamadas
de fontes secundárias, pois necessitam passar por um processo de
conversão, utilizando um recurso primário para tal.

A Figura 1 mostra um exemplo muito utilizado, atualmente para a


geração de eletricidade na matriz elétrica brasileira, com a utilização
de fontes primárias, como o vento e o sol, sendo captados por
aerogeradores e painéis fotovoltaicos, respectivamente. Além disso, a
Figura 1 ilustra os processos de conversão que a energia primária sofre
para que possa ser disponibilizada na rede de transmissão de energia
elétrica, necessária para satisfazer as necessidades humanas.

Figura 1 – Geração de eletricidade

Fonte: elxeneize/iStock.com.

Agora que você já viu que a utilização de um determinado tipo de


energia, como a eletricidade, por exemplo, depende da utilização de
recursos naturais para que possa ser disponibilizada, inclusive em sua
casa, talvez seja uma boa hora para refletir sobre como a utilização, bem
como a disponibilização dessas formas de energia, interagem com o
meio ambiente.

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Você acredita que todas as formas de conversão de energia primária e
secundária estão isentas de impactar o meio ambiente em que estão
instaladas? Para ilustrar essa análise, veja a Figura 2.

Figura 2–Usinas térmicas

Fonte: kamilpetran/iStock.com.

A Figura 2 apresenta o resultado da utilização de combustíveis fósseis


para geração de energia elétrica. Veja que a geração de eletricidade
passa por um processo de conversão que queima os combustíveis
fósseis e emite para a natureza todos os gases resultantes da queima,
inclusive os gases que causam o efeito estufa e transtornos ao
planeta.

Tanto a Figura 1 quanto a Figura 2 trouxeram formas distintas para


a geração de eletricidade. A primeira, utilizando recursos renováveis,
como o vento e o sol e a segunda utilizando-se de recursos não
renováveis, como os combustíveis fósseis (carvão, óleo combustível,
gás natural etc.). Aqui, cabe refletir sobre como é possível extrair da

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natureza recursos energéticos com o menor impacto para o meio em
que vivemos e como convertê-los em forma de energia, sem agredir o
meio e a vida do planeta.

Mantendo o foco na energia elétrica, como a disponibilidade de


energia pode impactar a vida das pessoas?

Veja que além do fato da disponibilidade, é preciso também pagar


para ter o acesso à eletricidade. A disponibilidade de energia leva
uma população a buscar mais qualidade de vida, quando pode, por
exemplo, refrigerar seus alimentos, ter acesso à informação (TV,
rádio, Internet), iluminação etc.

O acesso à energia elétrica traz desenvolvimento para a população


que dela usufrui. Para uma sociedade que ainda possui dificuldades
de levar o acesso à eletricidade para regiões remotas, veja que essas
comunidades sofrem ainda com os efeitos da geração de energia
elétrica, como visto na Figura 2, mesmo sem ter acesso à mesma.

As atividades de geração, de transporte, de distribuição e de


comercialização de energia são atividades econômicas que precisam
se apropriar de preços adequados, segundo Pinto Junior (2007). Por
meio de preços adequados é que se torna possível para o investidor
obter retornos financeiros atrativos para que o investimento possa
ser realizado.

A economia aplicada à energia deve levar em consideração a


maneira como os investimentos serão remunerados. Você já ouviu
falar na curva de oferta e demanda? Essa curva define qual deveria
ser o preço de equilíbrio de determinado produto, levando em
consideração à procura pelo mesmo, mas também a oferta desse
produto no mercado. Como o preço de equilíbrio é atingido? Simples,
quando a curva de demanda cruza a curva de oferta. Veja na Figura 3.

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Figura 3 – Curva oferta versus demanda

Fonte: adrian825/iStock.com.

Veja um exemplo, você já deve ter observado em sua fatura de energia


elétrica a cobrança de bandeiras tarifárias, verde, amarela e vermelha,
certo? Quando a oferta do produto eletricidade está escassa, ou seja,
nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas mais baixo e maior
despacho de usinas térmicas, você paga mais caro pela energia, que
pode ser bandeira amarela ou vermelha. Quando a oferta e demanda
estão alinhadas, ou seja, nível de reservatórios em condição confortável
e menos despacho de usinas térmicas, você paga a bandeira verde, mais
barata.

Você também pode atrelar à falta de equilíbrio entre oferta e demanda


em casos de falta de investimentos em infraestrutura energética. Talvez
você se recorde do racionamento de energia elétrica ocorrido em 2001.
Naquele momento, não havia preço que se poderia praticar para que o
consumo pudesse ser liberado para a sociedade, foi necessário racionar,

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pois o país, não tinha recursos energéticos disponíveis para atendimento
de toda a carga demandada.

3. Fundamentos de qualidade da energia


elétrica

Você, como usuário de energia elétrica, como reconhece que a


eletricidade que está chegando em sua casa não está adequada? Quais
os tipos de eventos que ocorrem em sua residência, no seu trabalho
ou no seu local de estudos que convencem que a qualidade da energia
elétrica não está adequada?

A variedade de nomenclaturas para o termo qualidade de energia é


extensa, pois percorre todo o trajeto desde a geração até à distribuição
da eletricidade para o consumidor final. Durante esse trajeto, vários
equipamentos são alimentados e que devido a falta de qualidade,
podem operar de forma inadequada, segundo Martinho (2013).

Essa percepção de como o sistema elétrico disponibiliza a energia


elétrica é de extrema importância. As concessionárias distribuidoras de
eletricidade estão cada vez mais preocupadas com essa questão, uma
vez que a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) coloca metas
da qualidade do fornecimento. Além disso, os próprios consumidores
estão buscando informações e cobrando das distribuidoras por melhor
qualidade dos serviços oferecidos.

Atualmente, a utilização de equipamentos eletrônicos, tanto nas casas,


como em indústria e comércios, aumentou de forma muito expressiva.
Esse tipo de equipamento possui maior sensibilidade quanto a
qualidade da energia elétrica que o alimenta.

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O serviço de fornecimento de energia elétrica, portanto, é considerado
de boa qualidade quando consegue disponibilizar de forma ininterrupta
e com custos viáveis para utilização, garantindo o bom funcionamento
dos equipamentos e o bem-estar das pessoas.

Veja que o fornecimento de energia elétrica envolve questões


sociais, econômicas e financeiras. Um consumidor conectado em sua
distribuidora possui relações comerciais que deverão ser tratadas, caso
algum distúrbio na rede o tenha afetado negativamente.

Outra questão social muito afetada, quando se fala em qualidade


do fornecimento, é quando tratamos de serviços essenciais para a
população. Imagine você em uma mesa de cirurgia em um hospital e
naquele momento falta energia ou mesmo ocorre uma variação brusca
no fornecimento. Essa questão é muito séria e, exatamente por isso,
a maioria dos hospitais possui, em seu sistema elétrico, geradores (na
maioria movidos a diesel) para mitigarem as ocorrências na rede elétrica
da distribuidora local.

Outro ponto de atenção é quando a qualidade da energia interfere


nos processos produtivos das indústrias e nas atividades do comércio.
Quantos potenciais prejuízos estão atrelados à falta de qualidade da
energia oferecida.

Como já visto, para que uma sociedade tenha acesso à energia elétrica,
primeiramente, precisa chegar até o ponto de consumo e também é
preciso pagar por ela. No Brasil, a falta de equilíbrio na distribuição de
renda e falta de acesso à eletricidade, obrigam muitas comunidades a
buscarem a energia a todo custo, para poderem também usufruir do
conforto que ela traz.

A falta de fiscalização das distribuidoras, bem como a falta de


capacidade da administração pública de coibir as instalações
clandestinas, torna o produto energia elétrica de fácil depreciação de

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sua qualidade. Na Figura 4 é possível verificar um sistema fadigado
diante dessas instalações.

Figura 4 – Instalações clandestinas de energia elétrica

Fonte: luoman/iStock.com.

Como garantir a qualidade de energia perante uma situação tão


crítica quanto a apresentada na Figura 4? Assim, nota-se que apesar
da distribuidora ser a garantidora da qualidade, o comportamento da
sociedade, nesses casos, dificulta ainda mais o acesso a essa energia.

Segundo Paulilo (2013), o controle de garantia de qualidade de energia


elétrica passa por algumas dificuldades, tais como:

• Aleatoriedade das ocorrências: os distúrbios na rede de


eletricidade podem ser causados por inúmeros fatores de difícil
identificação.

• Ocorrências são inevitáveis: não há qualquer sistema isento de


falhas.

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• Previsibilidade de ocorrências: tornar previsível uma falha no
sistema é uma tarefa desafiadora, pois, no caso da energia, são
vários processos interconectados, como geração, transmissão e
distribuição, que ocorrem simultaneamente.

• Extensa área: o Sistema Interligado Nacional (SIN) possui uma área


muito extensa o que também dificulta a garantia da qualidade de
energia elétrica fornecida em todo o território.

O termo qualidade de energia envolve especificamente três aspectos,


segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL): o primeiro deles
é o aspecto físico do produto de energia elétrica entregue; o segundo é
com relação ao serviço prestado pela distribuidora de energia elétrica;
e o último aspecto é aquele relacionado à qualidade no atendimento ao
consumidor.

O produto energia elétrica é fiscalizado pela agência reguladora e, em


ANEEL (2018), estabelece os seguintes fenômenos elétricos:

• Tensão em regime permanente: a conformidade da tensão elétrica


é dada por meio da comparação da tensão medida e entregue ao
consumidor em relação aos níveis de tensão especificados como
adequados, precários e críticos. Para consumidores atendidos
em tensões superiores a 1 kV, a tensão contratada poderá variar
na faixa de 95% a 105%. Já para os consumidores atendidos em
tensão inferiores a 1 kV, a tensão contratada deve ser a nominal,
sem variação.

• Fator de potência: calculado por meio das medições de potência


ativa e reativa ou de suas energias. Em consumidores conectados
em tensão abaixo de 230 kV, o valor de referência para o fator de
potência é entre os valores de 0,92 a 1,00 indutivo ou entre 1,00
e 0,92 capacitivo. No caso de consumidores atendidos em alta
e média tensões, a medição do fator de potência é obrigatória.

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Já para os consumidores conectados em baixa tensão, o
acompanhamento e medição do fator de potência é facultativo.

• Harmônicos: são fenômenos associados às deformações na forma


de onda de tensão e corrente em relação à senoidal da frequência
fundamental. A ANEEL define o limite dessas distorções por faixa
de tensão e por tipo de harmônica. Por exemplo, uma distorção
harmônica total de tensão (DTT%) que foi superada em apenas 5%
das 1008 leituras válidas (DTT95%), poderá atingir o limite de 10%
para tensões inferiores a 1 kV, poderá atingir 8% em tensões entre
1 kV e 69 kV e poderá atingir o valor de 5% para tensões entre 69
kV e 230 kV.

• Desequilíbrio de tensão: esse fenômeno é caracterizado por


variações da amplitude entre as fases de um sistema trifásico ou
defasagem angular entre fases de um mesmo sistema. O fator
de defasagem calculado não poderá ultrapassar o valor de 3%
para consumidores conectados em tensões até 1 kV. O limite para
consumidores conectados entre 1 kV e 230 kV passa a ser de 2%.

• Flutuação de tensão: esse fenômeno é caracterizado quando


existe uma variação repetitiva, aleatória ou esporádica do valor
de tensão, seja eficaz ou valor de pico. Os limites de flutuação são
calculados em pu e são definidos por níveis de tensão. Assim, a
severidade de uma flutuação de tensão de curta duração superada
em apenas 5% das 1008 leituras válidas (Pst95%) será de 1 pu para
tensões abaixo de 1 kV, será de 1,5 pu para tensões entre 1 kV e 69
kV e será de 2 pu para tensões entre 69 kV e 230 kV.

• Variação de frequência: o desequilíbrio entre geração e carga


podem ocasionar variações na frequência de fornecimento de
energia elétrica. O sistema elétrico deve operar na faixa de 59,9
Hz a 60,1 Hz. Em momentos de estresse do sistema elétrico é
permitido que essa faixa possa ser transgredida, de acordo com
algumas premissas.

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• Variação de tensão de curta duração: quando ocorre uma variação
significativa do valor eficaz da tensão elétrica em um período de
até três minutos, considera-se essa variação de curta duração. A
variação de tensão de curta duração ainda pode ser momentânea
ou temporária. A variação momentânea é caracterizada caso
o evento tenha duração de até três segundos. Já a variação
temporária ocorre entre três segundos e três minutos.

Você já pensou que a falta de qualidade da energia também pode


influenciar na relação entre a energia e o meio ambiente? Quando a
eletricidade possui baixa qualidade, muitas vezes, os equipamentos
necessitam compensar essa ineficiência, com maior consumo, pois parte
da energia entregue se perde em forma de calor, por exemplo.

Quando o consumo de energia elétrica aumenta para compor uma


ineficiência do sistema, logo você pode associar que existe alguma usina
térmica sendo despachada para suprir uma parcela das perdas. Assim, a
busca por sustentabilidade também deve levar em consideração a busca
pela qualidade e eficiência dos sistemas elétricos.

Existem vários termos em inglês que ilustram os principais problemas


que ocorrem no sistema elétrico e que causam depreciação da
qualidade da energia elétrica fornecida, tais como: SAG (curto intervalo de
subtensão), SWELL (rápida elevação da tensão nominal) e SURGE (elevação
impulsiva da tensão), segundo Capelli (2013), ou outros em português,
tais como: afundamento e elevação da tensão, harmônicas, surtos etc.

Além das imperfeições na forma de onda e distúrbios na rede elétrica, as


concessionárias distribuidoras de energia elétrica também perseguem
os seus indicadores de qualidade. Essas empresas possuem meta
para os seguintes indicadores DIC (duração de interrupção individual
por consumidor) e FIC (frequência de interrupção individual por
consumidor).

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A ANEEL define os limites de cada indicador e fiscaliza as distribuidoras.
Caso a concessionária não atinja os valores mínimos de confiabilidade
do sistema, deve ressarcir financeiramente o consumidor com créditos
em sua fatura de energia. A apuração dos indicadores individuais
de continuidade do sistema elétrico leva em consideração todas as
interrupções ocorridas no sistema. Existem algumas interrupções que
são expurgadas do cálculo, como um dia crítico, quando, por exemplo,
a rede elétrica é atingida por fortes chuvas, ou quando o Operador
Nacional do Sistema (ONS) estabelece o ERAC (Esquema Regional de
Alívio de Carga), momento em que ocorre um estresse no sistema
interligado nacional e o operador alivia o sistema elétrico, solicitando o
desligamento de cargas às distribuidoras.

Um consumidor que está conectado ao sistema interligado nacional


e possui tensão contratada acima de 69 kV, possui como limite para o
FIC de duas interrupções mensais, sendo valor máximo anual de cinco
interrupções. Para as mesmas características de consumidor, o indicador
DIC para o mês é de duas horas e o anual de cinco horas.

O terceiro e último aspecto no quesito qualidade de energia que a ANEEL


estabelece é com relação à qualidade comercial que a distribuidora
oferece aos seus consumidores. O indicador utilizado para monitorar
as distribuidoras nesse quesito é o FER (Frequência Equivalente de
Reclamação). Para estabelecimento dos limites do FER, as distribuidoras
são agrupadas de acordo com o número de unidades consumidoras
que possuem, tendo como referências suas características e os dados
históricos de reclamações que são enviados à ANEEL. O indicador é
definido a cada ano subsequente ao ano da revisão tarifária e estabelece
que, o limite do FER para cada distribuidora será o menor valor entre as
referências por grupo de distribuidoras e as referências individuais de
cada uma delas.

As questões envolvendo a qualidade de energia e os problemas que


ocasionam não são de agora, recentemente as análises de causa dos

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eventos ocorridos no sistema elétrico são de forma mais correlacionada.
Anteriormente, muitos problemas eram analisados de forma isolada
pelos agentes do setor, como por exemplo, analisando determinado
equipamento ou produto. Como você viu anteriormente, o sistema
elétrico é interligado e as operações de geração, transmissão e
distribuição estão interconectadas, segundo Martinho (2013).

Devido à integração entre os sistemas, muitas vezes, um problema


de qualidade pode estar relacionado a um conjunto de fatores. Um
distúrbio que afeta um consumidor pode ser o resultado de um outro
distúrbio em algum outro ponto do sistema.

É possível de se imaginar que, devido à complexidade do sistema


elétrico, exista uma infinidade de fatores que causam os problemas
de qualidade. Assim, uma solução para uma falha não deve ser
generalizada para todos os casos, pois cada falha merece um estudo
aprofundado.

Hoje, a preocupação com a qualidade da energia é uma preocupação


mundial e que todos os seguimentos econômicos estão sempre
envolvidos na busca por energia de qualidade.

Neste material, você aprendeu sobre os principais conceitos de energia


elétrica, desde sua interação com o meio e sociedade até às grandezas
físicas que a compõe. Foram também apresentados os principais
fundamentos sobre qualidade de energia, sua importância bem como os
desafios para manter o fornecimento de energia elétrica em parâmetros
satisfatórios para o bom funcionamento dos equipamentos.

Referências Bibliográficas
ANEEL. Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
Nacional – PRODIST: módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica. Brasília: Aneel,

18
2018. Disponível em: https://www.aneel.gov.br/documents/656827/14866914/
M%C3%B3dulo_8-Revis%C3%A3o_10/2f7cb862-e9d7-3295-729a-b619ac6baab9.
Acesso em: 29 jul 2020.
CAPELLI, A. Energia elétrica: qualidade e eficiência para aplicações industriais. 1.
ed. São Paulo: Érica, 2013
ELETROBRÁS et al. Energia elétrica: conceito, qualidade e tarifação: guia básico.
Brasília: Iel/nc, 2008.
MARTINHO, E. Distúrbios da energia elétrica. 3.ed. São Paulo: Érica, 2013.
PAULILO, G. (org.). Conceitos gerais sobre qualidade de energia. O setor elétrico, [s.
I.], v. 1, n. 84, p.28-35, 2013. Disponível em: https://www.osetoreletrico.com.br/wp-
content/uploads/2013/02/Ed84_fasc_qualidade_energia_cap1.pdf. Acesso em: 29 jul
2020.
PINTO JUNIOR, H. Q. et al. Economia da energia: fundamentos econômicos,
evolução histórica e organização industrial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

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O setor elétrico e os
distúrbios na rede
Autoria: Leandro Cesini
Leitura crítica: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes

Objetivos
• Apresentar os principais agentes do setor elétrico e
seu funcionamento.

• Introduzir os principais distúrbios que causam


anomalias na rede elétrica.

• Apresentar as principais tecnologias utilizadas para


melhoria da qualidade da energia elétrica.

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1. Introdução

Olá, estudante!

O setor elétrico é muito mais que um sistema físico para entrega de


energia, você sabia? Por trás de todo esse emaranhado estrutural que
compõe a geração, a transmissão, a distribuição e a comercialização,
existe um complexo grupo de agentes que fazem o sistema operar
da maneira como você conhece hoje. Aqui, abordaremos sobre como
funciona esse setor e os principais agentes que o compõe.

Para que o sistema elétrico funcione corretamente, é preciso que a


energia que percorre a rede esteja em níveis satisfatórios de tensão,
de frequência e sem deformações na forma de onda, para que seus
equipamentos possam funcionar da maneira correta. Nesta Leitura
Digital, estão apresentados os principais distúrbios que ocorrem na rede
elétrica e como utilizar da tecnologia para atenuá-los ou eliminá-los.

2. O setor elétrico brasileiro

Você sabia que os objetivos de qualquer prestação de serviço público,


inclusive a prestação dos serviços de energia elétrica, são promover para
a sociedade a confiabilidade de fornecimento, permitir a modicidade
tarifária e promover a universalidade da energia elétrica?

Entende-se por confiabilidade de fornecimento a garantia de que o


consumidor receberá a energia com qualidade e sem interrupção
ou risco de desabastecimento. A modicidade tarifária é um direito
assegurado ao usuário para que possa se conectar a rede e de que
todos os ganhos de produtividade das distribuidoras serão repassados
à tarifa, e o contrário também pode ocorrer. Por fim, a universalidade é
a garantia de acesso a todos os consumidores, independente da região

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que estejam ou quão longe estejam dos centros eletrificados, segundo
Tolmasquim (2015).

Talvez você tenha vivido ou mesmo ouvido falar sobre a crise de


abastecimento de energia elétrica ocorrida em 2001. Naquele ano, o
governo federal, juntamente com os agentes do setor elétrico, decretou
o racionamento de energia elétrica. Essa crise desencadeou sérias
transformações no setor elétrico, o que culminou na instituição de um
novo modelo de mercado para a energia elétrica.

Segundo Tolmasquim (2015), o novo modelo do setor elétrico trouxe um


significativo aperfeiçoamento do marco regulatório, entre elas:

• Modificações profundas na comercialização de energia no


Sistema Interligado Nacional (SIN), criando dois ambientes de
contratação:Ambiente de Contratação Livre (ACL).

• Ambiente de Contratação Regulada (ACR).

• As modificações institucionais também foram significativas:

• Criação da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)


para viabilizar a comercialização de energia elétrica no SIN.

• Criação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)


para exercer atividades de coordenação do SIN, planejando e
programando a operação e o despacho centralizado da geração de
energia elétrica.

• Retomada do planejamento setorial:

• Criação da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) para realizar


estudos de planejamento da matriz energética, visando a expansão
do sistema elétrico.

• ACR sendo suprido por energia contratada via leilões.

22
• A criação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).

De modo geral, as atividades do governo federal no setor elétrico são


desempenhadas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e
pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Esses são auxiliados pela EPE
e pelo CMSE.

Toda a regulação do setor elétrico é de responsabilidade de uma agência


específica, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e cabe a ela:

• Implementar políticas e diretrizes do governo federal para


exploração da energia elétrica.

• Promover, com base na diretriz do Ministério de Minas e Energia,


a contratação de concessionárias e permissionárias de serviço
público.

• Gerir os contratos de concessão e ou de permissão dos serviços


públicos contratados.

• Homologar as tarifas de energia elétrica das concessionárias


distribuidoras de energia elétrica.

• Regular e fiscalizar o serviço concedido, permitido ou autorizado.

O governo federal não é o único participante do mercado de energia


elétrica brasileiro. Uma série de outros agentes econômicos participa do
setor elétrico, tais como:

• Agentes de geração: são os agentes responsáveis por instalações


de geração de energia elétrica.

• Agentes de transmissão: são agentes responsáveis por instalações


de transmissão de energia elétrica.

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• Agentes de distribuição: são empresas concessionárias,
permissionárias ou autorizadas a realizar a distribuição de energia
elétrica.

• Agentes de comercialização: são comercializadoras de energia


elétrica que atuam no ACL.

• Segmento de consumo: é o segmento responsável pelo uso final


da energia.

Todos esses agentes estão interconectados no Sistema Interligado


Nacional (SIN) até o consumidor final, aquele que recebe a energia
elétrica para uso, seja uso industrial, comercial ou residencial. Alguns
agentes de geração não estão inseridos no SIN. Eles fazem parte do
sistema isolado, que são regiões mais remotas do país, onde as linhas
de transmissão interligadas não conseguiram chegar ou não possuem
viabilidade técnico-econômica para realização do investimento até o
momento. No sistema isolado, centrais geradoras se conectam com
linhas de transmissão dedicadas e de curta distância, que leva a energia
elétrica aos seus habitantes. Em Roraima, por exemplo, além da geração
térmica dedicada, existem linhas de transmissão que se conectam com o
país vizinho, Venezuela, para atendimento da região.

2.1 Estrutura tarifária no ACR

A tarifa de energia elétrica tem por objetivo remunerar as empresas


prestadoras de serviços de energia elétrica, no caso do Brasil, as
concessionárias distribuidoras de energia elétrica. Essas empresas
repassam para a tarifa todos os seus custos operacionais eficientes,
além de todos os investimentos necessários para a expansão do
sistema e, assim, garantir a continuidade dos serviços, o acesso e
universalização. As empresas transmissoras de energia elétrica possuem
outra forma de remuneração, por meio da Receita Anual Permitida
(RAP), rateada entre todos os seus cessantes.

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Para as distribuidoras de energia elétrica, quem define qual tarifa
será cobrada do consumidor final é o órgão regulador. Como visto
anteriormente, uma das responsabilidades da ANEEL é calcular o valor
devido aos custos operacionais e investimentos que serão repassados
para a tarifa de energia elétrica. Além disso, na sua fatura de energia
elétrica também são acrescidos à contribuição para a iluminação pública,
bem como os impostos estaduais e federais.

Em ANEEL (2017), você encontra os principais termos utilizados para


compor a despesa total de energia elétrica em sua fatura, tais como:

• Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD).

• Tarifa de Uso dos Sistemas de Transmissão (TUST).

• Tarifa de Energia (TE).

• Bandeiras Tarifárias.

As unidades de consumo, para terem o seu faturamento realizado, são


divididas em grupos, subgrupos, modalidade e posto tarifário:

• Grupos tarifários: representam os níveis de tensão em que a


unidade consumidora está conectada:

• Grupo A (> 2,3 kV): subdivide-se em A1 (>= 230 KV), em A2 (88


KV a 138 KV), em A3 (69 KV), em A3a (30 KV a 44 KV), em A4 (2,3
KV a 25 KV) e em AS (<2,3 KW subterrâneo).

• Grupo B (<2,3 KV): B1 (residencial), B2 (rural) e B3 (demais


classes de consumo).

• Modalidades tarifárias:

• Modalidade tarifária horária azul: aplica-se às unidades


pertencentes ao grupo A, possui tarifa diferenciada para

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contratação de consumo e de potência de acordo com as horas
de utilização. Consumidores com tensão superior a 69 KV são,
obrigatoriamente, contratados nessa modalidade.

• Modalidade tarifária horária verde: aplica-se às unidades


pertencentes ao grupo A e possui tarifa diferenciada para
contratação de consumo de acordo com as horas de utilização
do dia.

• Modalidade tarifária convencional binômia: aplica-se às


unidades pertencentes ao grupo A para contratação de
consumo e potência, independente das horas de utilização do
dia.

• Modalidade tarifária horária branca: aplica-se ao grupo B para


contratação do consumo de energia elétrica de acordo com as
horas de utilização do dia.

• Modalidade tarifária horária monômia: aplica-se ao grupo B


para contratação de energia elétrica independente das horas
de utilização do dia.

• Posto tarifário:

• Hora ponta: compreende o período de três horas consecutivas


diárias, definido pela distribuidora, de acordo com sua curva de
carga.

• Hora fora ponta: compreende ao período de horas diárias


complementares a definida no posto hora ponta.

A tarifa de energia TE é definida a cada ciclo de reajuste tarifário ou de


revisão tarifária e é subdividida como segue:

26
Quadro 1–Composição Tarifa de Energia TE

Parcela que recupera os custos pela


TE Energia.
compra de energia no ambiente regulado.

Recupera os custos relacionados aos


encargos de serviço do sistema (ESS), de
pesquisa e desenvolvimento e eficiência
TE Encargos. energética (P&D_EE), contribuição sobre o
uso de recursos hídricos (CFURH) e quota
da conta de desenvolvimento energético
(CDE).

Parcela que recupera os custos de


TE Transportes. transmissão relacionada ao transporte de
Itaipu e à rede básica de Itaipu.

Parcela que recupera os custos com


TE Perdas.
perdas na rede básica.

Fonte: ANNEL (2017)

3. Distúrbios da rede elétrica

Os principais distúrbios e transitórios que você pode encontrar no


sistema elétrico são: SAG’s (Afundamento de tensão de curta duração),
SWELL (Elevação de tensão de curta duração), sobretensão, subtensão,
interrupção e distorção harmônica. Além disso, segundo CAPELLI (2013),
os distúrbios podem ter dois tipos de origens, interna à instalação de
consumo ou externa à instalação.

27
3.1 SAG – Afundamento de tensão de curta duração

Define-se como SAG a ocorrência de um afundamento de tensão


entre 0,1 pu a 0,9 pu tendo como referência a sua tensão nominal de
operação em um intervalo de tempo de entre 0,5 ciclo a 1,0 minuto. Esse
fenômeno também é conhecido como DIP. Segundo Martinho (2013), a
ocorrência de afundamentos de tensão em um curto período de tempo,
pode ocasionar vários problemas em equipamentos eletrônicos, como
perda de dados, parada de processamento, perdas de segurança e
produtividade.

O acionamento de um motor, por exemplo, pode causar o afundamento


momentâneo da tensão, segundo Capelli (2013). Nota-se que essa seria
uma influência interna à instalação, mas qualquer ocorrência externa
poderia também ocasionar o mesmo distúrbio na rede.

Uma solução para proteger os sistemas elétricos contra esse tipo


de distúrbio é a utilização de transformadores ferrorressonantes,
também chamado de Constante Voltage Transformer (CVT). Esse tipo
de transformador possui relação de 1:1 e devido à excitação que
possuem em suas curvas de saturação, conseguem operar com certa
independência dos efeitos da variação de tensão, segundo Martinho
(2013).

Uma outra forma de atenuar os efeitos do SAG no sistema elétrico é


tratar aquilo que o causa e não o seu efeito. Como visto anteriormente,
a partida de grandes cargas, como motores, causa esse distúrbio na rede
elétrica, portanto, utilizar sistemas mais sofisticados de partida, como
inversores de frequência ou softstarters, já atenua de forma significativa
esses distúrbios.

28
3.2 Elevação de tensão de curta duração (SWELL)

Outro distúrbio que ocorre com frequência nos sistemas elétricos, ao


contrário do SAG, é a elevação de tensão em um período curto, também
chamado de SWEEL. Nesse caso, a elevação da tensão eficaz pode
variar entre 1,1 pu a 1,8 pu entre 0,5 ciclo a um minuto, na frequência
fundamental.

A ocorrência de SWELL na rede pode também, assim como o SAG,


danificar equipamentos eletrônicos, que são mais sensíveis, mesmo que
a alimentação passe por transformadores e fontes. Os equipamentos
eletrônicos possuem limites máximos para os níveis de tensão
suportáveis, Martinho (2013).

Ao contrário do SAG, o desligamento de cargas na rede elétrica pode


ocasionar o SWEEL. É possível também a ocorrência desse distúrbio
devido à falta de uma carga no sistema por um curto período, que
desestabiliza o sistema elétrico, ocasionando a elevação de tensão. Até
mesmo descargas atmosféricas podem causar o SWEEL na rede.

Um dos problemas que o sistema incorre quando há uma elevação na


tensão de forma momentânea é a atuação dos sistemas de proteção.
A depender dos ajustes dos parâmetros em fusíveis ou relés de
proteção, pode haver o desligamento de cargas e paradas de máquinas,
ocasionando prejuízos.

Na abordagem de Capelli (2013), a utilização de um varistor atenuaria


os efeitos de uma sobretensão de curta duração no sistema elétrico. O
varistor possui a característica de que quando sobre uma tensão acima
da sua nominal, reduz a sua resistência de forma significativa, chegando
a valores próximos de zero ohm. Assim, passa a absorver esse excesso
de tensão na forma de calor.

29
3.3 Variações de tensão de longa duração

Tanto o SAG quanto o SWEEL são variações que ocorrem na tensão


de fornecimento em períodos curtos, como visto, entre 0,5 ciclo e um
minuto. As variações de tensão de longa duração, que podem ser
também sobretensões ou subtensões, são ocorrências que ultrapassam
um minuto de duração.

As causas para sobretensão e de subtensão de longa duração são


praticamente as mesmas vistas anteriormente para curta duração, saída
ou falta de cargas e acionamento de cargas, respectivamente. Claro que
podemos citar outras causas, como falhas de transformadores, ajustes
mal realizados nos TAP’s dos transformadores, problemas em sistemas
que possuem cogeração, impedâncias da rede etc., segundo Martinho
(2013).

Para mitigar os efeitos da sobretensão e subtensão de longa duração,


tanto Martinho (2013) quanto Capelli (2013) sugerem a utilização
de estabilizadora de tensão para alimentação das cargas. Esses são
equipamentos que possuem a característica de estabilizar a tensão
independentemente da condição da tensão de entrada, garantindo uma
tensão adequada aos equipamentos elétricos e/ou eletrônicos.

3.4 Interrupção

O termo interrupção é de simples entendimento, pois é a ausência ou


quase ausência de tensão na rede elétrica. Por definição, a interrupção é
caracterizada quando o valor nominal está abaixo de 10% ou totalmente
nulo, que pode ocorrer em alguns ciclos ou por vários minutos.

A ausência de tensão em um sistema, assim como as outras variações de


tensão, seja de curta ou longa duração, podem fazer com que empresas
e estabelecimentos comerciais incorram em grandes prejuízos. Em uma
indústria química, por exemplo, uma variação de poucos segundos ou

30
uma interrupção que ocasione a parada de equipamentos, pode levar
horas para que a produção seja retomada, uma vez que todo o processo
industrial necessita ser recomposto para retomar a produção anterior à
ocorrência do evento.

3.5 Ruídos

O que caracteriza um sinal elétrico, tensão ou corrente com ruído, é


sua superposição com outro sinal com frequência menor que 200 Hz. O
tratamento deste distúrbio é um dos mais difíceis de ser realizado, pois
pode originar de várias fontes distintas.

É muito comum a ocorrência de ruídos na transmissão de sinais. Você já


imaginou o que pode ocorrer na transmissão de um sinal com ruídos?
A geração desses ruídos pode ser interna à instalação ou externa, por
meio de acionamento de motores elétricos e chaveamento de fontes,
por exemplo. Os equipamentos que, geralmente, podem causar ruídos
são os fornos a arco ou mesmo os inversores de frequência para
acionamentos de motores.

Por meio de aterramentos e blindagens eletromagnéticas adequadas


dos equipamentos, é possível, de maneira simples, restringir a
ocorrência de ruídos no sistema. Deve-se atentar para o aterramento
de equipamentos eletrônicos. A malha de terra para equipamentos
eletrônicos deve ser isolada das demais malhas de aterramento, porém,
deve ser conectada à elas para garantire a equipotencialização de todo o
sistema elétrico.

3.6 Harmônicas

Jean-Baptiste Joseph Fourier foi o responsável por definir que toda


função periódica e não senoidal pode ser representada por uma
somatória de expressões composta por uma expressão senoidal em

31
frequência fundamental e um conjunto de expressões senoidais em
frequências múltiplas da senoide fundamental e de uma componente
contínua, segundo Martinho (2013).

O problema das ondas harmônicas nos sistemas elétricos vem sendo


colocado em maior evidência recentemente, quando comparados com
os outros distúrbios estudados até aqui. Você sabe por quê? A utilização
de sistemas automatizados com cargas não lineares iniciou com maior
intensidade na década de 1980 e, a partir daí, as harmônicas começaram
a ser identificadas nos sistemas elétricos.

Uma característica que se distingue dos distúrbios vistos até aqui é que
a distorção harmônica é um distúrbio constante e não temporário. O
termo distorção harmônica é utilizado justamente para evidenciar uma
distorção da forma de onda fundamental de 60 Hz, ou seja, a distorção
harmônica descaracteriza a forma de onda senoidal.

No caso brasileiro, com sinais senoidais em frequência de 60 Hz, foi


possível, por meio da decomposição definida por Fourier, verificar que
algumas deformações eram causadas devido às harmônicas de terceira
ordem (180 Hz), de quinta ordem (300 Hz) e, assim, sucessivamente.
As ordens ímpares são as expressões mais encontradas, porém, as
expressões de ordens pares também são encontradas e formadas pela
presença de uma componente contínua DC no circuito.

A Figura 1 apresenta o exemplo da decomposição de uma forma de


onda senoidal, tendo a expressão fundamental e as várias expressões
em frequências superiores e múltiplas da fundamental. Veja também
que existe uma expressão contínua, sendo esta uma componente de
ordem par.

32
Figura 1 – Decomposição de uma onda senoidal

Fonte: Martinho (2013, p.81).

A mitigação dos efeitos das harmônicas no sistema, ou a redução de sua


ocorrência, pode ser atingida com as seguintes soluções:

• Filtros: uma forma de eliminar as frequências indesejadas é


utilizando os filtros, como o passa-faixa, o ativo ou o híbrido. Os
filtros passa-faixa são projetados para permitirem a passagem da
frequência de projeto somente, tendo um custo acessível. O filtro
ativo já possui uma banda de passagem maior, que pode variar da
segunda até à quinquagésima ordem. Já o híbrido, é junção dos
dois tipos de filtros citado anteriormente.

• Separação de circuitos: aqui, é possível definir os circuitos


poluidores e circuitos sensíveis. A separação desses dois circuitos
é possível desde que não onere mais o projeto quando comparado
com outras soluções. Esse tipo de aplicação, apesar de ser uma
alternativa, não elimina por completo a poluição do sistema.

• Transformadores de separação: a ligação de transformadores


separadores pode ser uma alternativa interessante, por exemplo,
um transformador ligado em triângulo/estrela tem a característica

33
de reter as harmônicas de ordem três e suas múltiplas, mas não
consegue reter as outras ordens que continuam a circular no
sistema.

3.7 Interferência eletromagnética (EMI)

As emissões eletromagnéticas são de origens diversas, podendo ser


naturais ou artificiais. A geração dessas emissões pode se dar por
meio das descargas atmosféricas, pela abertura e fechamento de relés,
acionamentos de motores CC e reatores de lâmpadas fluorescentes. As
linhas de transmissão também são fontes de emissões eletromagnéticas,
porém em uma banda mais estreita, segundo Liz (2013).

Atualmente, a emissão de ondas eletromagnéticas está cada vez mais


associada a dispositivos conversores estáticos de energia. A conversão
da energia consiste em realizar um processamento da energia,
convertendo de AC/DC ou DC/AC, por exemplo. Assim, a EMI pode ser
definida como a degradação na performance de um dispositivo causado
por um distúrbio eletromagnético.

Neste material, você pode aprender sobre como o setor elétrico


brasileiro está organizado e quem são os principais agentes que o
compõe. Além disso, foram apresentados os conceitos utilizados para o
faturamento do consumidor no ambiente de contratação regulada. Você
aprendeu também sobre os principais distúrbios que ocorrem na rede
elétrica, suas causas e consequências e como é possível mitigar os seus
efeitos.

Referências Bibliográficas
ANEEL. Entendendo a tarifa. Agência Nacional de Energia Elétrica, vinte e
quatro de novembro de dois mil e quinze. Disponível em: https://www.aneel.gov.

34
br/entendendo-a-tarifa/-/asset_publisher/uQ5pCGhnyj0y/content/composicao-
da-tarifa/654800. Acesso em: 29 jul 2020.
CAPELLI, A. Energia elétrica: qualidade e eficiência para aplicações industriais.
1.ed. São Paulo: Érica, 2013.
ELETROBRÁS et al. Energia elétrica: conceito, qualidade e tarifação: guia básico.
Brasília: Iel/nc, 2008.
LIZ, M. B. de. Contribuição para a redução da interferência eletromagnética
em fontes chaveadas. 2003. Tese (Doutorado)–Curso de Engenharia Elétrica,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.
MARTINHO, E. Distúrbios da energia elétrica. 3.ed. São Paulo: Érica, 2013.
TOLMASQUIM, M. T. Novo modelo do setor elétrico brasileiro. Brasília:
Synergia, 2015.

35
Fundamentos de Eficiência
Energética
Autoria: Leandro Cesini
Leitura crítica: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes

Objetivos
• Apresentar os principais agentes do setor elétrico e
seu funcionamento.

• Introduzir os principais distúrbios que causam


anomalias na rede elétrica.

• Apresentar as principais tecnologias utilizadas para


melhoria da qualidade da energia elétrica.

36
1. Introdução

Olá, estudante!

A busca em fazer mais com menos recursos é constante, não é mesmo?


Fazer mais, utilizando menos energia, traz retornos financeiros
diretamente para o bolso do consumidor. Então, utilizar os recursos de
forma eficiente torna-se um grande desafio no setor energético. Nesta
Leitura Digital, você estudará os conceitos básicos que tornam esse
tema tão importante para o dia a dia das pessoas, pois, além de ser uma
questão financeira, pode se tornar também uma questão ambiental,
uma vez que as conversões de energia podem ser poupadas.

A busca por eficiência energética deve possuir uma estrutura, ou seja,


um sistema que acompanhe as ações de eficiência aplicadas. Assim,
a gestão da eficiência energética deve possuir uma sistemática e uma
legislação que apoie esse tipo de conduta e que dê algumas diretrizes.
Aqui, serão apresentados alguns fundamentos sobre a gestão da
eficiência energética, bem como a legislação pertinente.

2. Eficiência energética

2.1 Fundamentos

Você, provavelmente, utiliza a energia com algum propósito, como


iluminar um ambiente ou aquecê-lo, não é mesmo? Em larga escala,
como, por exemplo, na indústria e no comércio, que serão os
ambientes tratados daqui para frente, a utilização da energia possui
como propósito a produção de algum produto. Portanto, identificar o
resultado devido ao uso da energia, passa a ser um fator importante

37
para que se possa realizar o gerenciamento do consumo, segundo
Barros et al. (2015).

A energia possui cada vez mais importância dentro dos custos


gerenciáveis de uma empresa, que é motivada pela busca de redução
de custos por conta de um mercado competitivo, pelas incertezas
referentes à disponibilidade energética ou até por restrições ambientais.
Independentemente das motivações, a promoção da eficiência
energética parte do princípio de utilizar o conhecimento de forma
aplicada, empregando os conceitos de engenharia, de economia e
administração aos sistemas energéticos, segundo Marques (2007).

Segundo Mathias (2014), buscar ganhos em eficiência energética de


uma determinada instalação ou processo, requer que perdas sejam
reduzidas de modo que o resultado final seja mantido. Isso também
requer que sejam utilizados de forma racional os recursos humanos,
materiais e econômicos, introduzindo ações de combate ao desperdício
de energia. Os ganhos em eficiência energética devem ser buscados,
levando em consideração as tecnologias empregadas nos processos em
análise, o grau de automação e controle existentes, a idade e o estado
de conservação dos ativos envolvidos nesses processos.

2.2 Gerenciamento da eficiência energética

Para que você possa estudar os sistemas energéticos de uma indústria,


por exemplo, é necessária a análise dos fluxos energéticos e das
demandas energéticas envolvidas nos processos que atendem a
produção dos bens e serviços. Um programa de eficiência energética
busca promover a redução do consumo de energia sem prejudicar a
produção e, frequentemente, esses programas são atrelados à busca de
redução das emissões dos gases efeito estufa.

O gestor de energia de uma empresa é o responsável por tornar cada


vez mais eficientes as instalações, os sistemas e equipamentos, além

38
de responder a dois desafios que são avaliar as demandas energéticas
necessárias ao atendimento atual e futuro da empresa, bem como
saber adquirir e contratar no mercado essa disponibilidade energética.
Não são tarefas simples, pois esbarram em restrições financeiras e na
disponibilidade de recursos de todos os tipos, como pessoal, materiais e
metodológicos. Dessa forma, está se tornando cada mais indispensável
que as empresas e seus gestores de energia possuam conhecimentos
nos aspectos legais e regulatórios dos mercados de energia, e ainda,
por dentro das tendências e perspectivas energéticas em que estão
inseridos, segundo Marques (2007).

A redução das perdas em instalações industriais e comerciais parte


da realização de um diagnóstico energético, que deverá ser utilizado
nos processos de gestão de energia, atrelados ao desenvolvimento de
projetos e investimentos para a melhoria dos processos produtivos e da
tecnologia empregada. Além disso, é necessário garantir as boas práticas
de operação e de manutenção em equipamentos. Para que um bom
diagnóstico possa ser realizado, é preciso identificar o que são as perdas
e que são desperdícios, mostrados no Quadro 1.

Quadro 1 – Comparação entre perda e desperdício energético

Perda de energia Desperdício de energia

Não pode ser totalmente eliminada. Pode ser totalmente eliminado.

Depende apenas do
Depende da tecnologia adotada
comportamento dos
(processos de produção e gestão).
profissionais.

Pode ser combatido de


Não pode ser reduzida de imediato
imediato (comprometimento e
(precisa ser avaliada e quantificada).
cooperação).

39
A redução depende de avaliação
A redução não depende de
econômica / investimentos em
avaliação econômica.
projetos de melhoria.

Implantação de melhorias Mudança de hábitos (aspecto


tecnológicas. comportamental).

Fonte: Mathias (2014, p. 9).

A análise do Quadro 1 mostra que as perdas de energia estão


atreladas aos aspectos técnicos dos equipamentos ou dos processos
e que a busca para a redução dessas perdas, geralmente, depende
de investimentos e de recursos. Quando a questão é o desperdício
de energia, está atrelado ao comportamento das pessoas, que de
certa forma, necessitam ser conscientizadas e motivadas a reduzir os
desperdícios nos ambientes em que atuam.

A otimização energética, bem como sua gestão, deve passar por uma
avaliação permanente de sua matriz, estabelecendo metas de curto,
médio e longo prazo, no que tange às perspectivas de consumo e de
demanda de energéticos, sejam eletricidade, biomassa, gás natural, óleo
combustível etc. Para a realização de qualquer atividade para redução
do consumo de energéticos, é imprescindível que se conheça e que se
realize o diagnóstico da realidade energética do sistema que está em
análise. Com esse diagnóstico, é possível a determinação de prioridades
e implementação de projetos, bem como seu acompanhamento.

Sobre a gestão da energia de uma instalação, aborda três diferentes


medidas:

1. Conhecimento das informações relacionadas com os fluxos de


energia, as ações que influenciam esses fluxos, os processos e
atividades que utilizam a energia e relacionam com um produto
ou serviço.

40
2. Acompanhamento dos índices de controle como, por exemplo,
consumo de energia, custos específicos, fator de utilização e os
valores médios, contratados, faturados e registrados de energia.
3. Atuação nos índices, com vista a reduzir o consumo energético por
meio da implementação de ações que buscam a utilização racional
de energia, segundo Marques (2007 p. 2).

Somente avaliações da realidade energética, por si só, não garantem


a racionalização do consumo e uso da energia. Na realidade, são um
primeiro passo, para que ações coordenadas e estratégicas possam ser
implementadas com o objetivo de redução do consumo. Essas primeiras
avaliações, que podem ser chamadas de auditorias energéticas,
podem ser um instrumento essencial para a obtenção de informações
que auxiliarão na construção de uma sistemática para a redução do
consumo de energia. Segundo Marques (2007), o fluxo apresentado
na Figura 1 pode ser utilizado como um direcionamento de como um
diagnóstico energético pode ser realizado, de forma genérica.

Figura 1 – Diagnóstico energético em etapas

Fonte: Marques (2007, p. 3).

41
É possível notar que o início de todo diagnóstico depende da
disponibilidade de dados para que se possa ter o total entendimento
de como são constituídos os fluxos de produção bem como a
caracterização energética de cada processo. Após essa etapa, parte-se
para avaliar onde estão as perdas energéticas para, posteriormente,
realizar os estudos necessários para determinação das alternativas que
serão recomendadas.

Segundo Marques (2007), um relatório de diagnóstico energético deve


conter alguns itens básicos:

• Resumo executivo: trata-se de uma breve introdução sobre o


trabalho, contendo os seus objetivos.

• Dados da empresa: inserir os dados da empresa como localização


e descrição básica dos processos.

• Estudos energéticos:

• Sistemas elétricos:

• Levantamento da carga elétrica instalada.

• Análise das condições de suprimento (qualidade do


suprimento, nível de harmônicas, fator de potência etc.).

• Estudo do sistema de distribuição de energia elétrica.

• Estudo do sistema de iluminação.

• Estudo de motores elétricos e outras cargas.

• Sistemas térmicos e mecânicos:

• Estudo de ar condicionado e exaustão.

42
• Estudo do sistema de geração e distribuição de vapor.

• Estudo do sistema de bombeamento e tratamento de água.

• Estudo do sistema de compressão e distribuição de ar


comprimido.

• Balanços energéticos: definir as entradas e saídas dos sistemas


e identificar as perdas.

• Análise de racionalização de energia: são realizados os estudos


técnicos e econômicos das alterações no projeto e no modo de
operação do sistema.

• Diagramas de Sankey atual e prospectivos.

• Recomendações.

• Conclusões.

• Anexos: consideram-se as tabelas, as figuras ou outra informação


relevante.

A partir dos itens vistos anteriormente, é possível que você elabore o


diagnóstico energético do sistema em análise. É um trabalho que exige
dedicação e conhecimentos de engenharia para que os estudos sejam
realizados, além de conhecimentos na área econômico-financeira para
realização das análises de viabilidade dos projetos a serem propostos.
Um dos itens necessários é o diagrama de Sankey, que é largamente
utilizado para representar os fluxos energéticos, caracterizando diversas
transformações intermediárias e mostrar as perdas associadas a cada
transformação. Os fluxos são representados por faixas com diferentes
larguras, sendo a largura a magnitude das unidades energéticas
trabalhadas, ou seja, quanto mais larga, mais energia é utilizada por
esse fluxo. Veja, na Figura 2, um exemplo de um diagrama de Sankey

43
relacionado à alimentação e uso da energia elétrica por um motor
elétrico.

Figura 2 – Diagrama de Sankey

Fonte: Marques (2007, p. 5).

É possível notar na Figura 2 que o total de perdas dada no sistema é de


52 KW e que, para o uso final, de fato, foram utilizados somente 48 KW.
Note que esse diagrama facilita o entendimento do leitor do relatório
quando forem apresentadas as recomendações, bem como os estudos
de viabilidade.

Segundo Mathias (2014), os programas relacionados à conservação de


energia elétrica, seja pela promoção da eficiência energética ou pela
promoção do uso consciente dos energéticos, trazem os seguintes
benefícios:

• A redução do consumo traz maior segurança de suprimento.

• Obtenção de ganhos micro e macroeconômicos, quando


associados ao aumento da produtividade e da competitividade.

• Aumento do acesso aos serviços de energia.

44
• Redução de impactos ambientais pela diminuição das emissões
dos gases efeito estufa.

• O investimento em eficiência energética pode ter uma viabilidade


econômica mais atrativa do que investimentos em suprimentos de
energia.

• A eficiência energética amplia o tempo de utilização das fontes


energéticas do planeta.

3. Legislação aplicada à eficiência energética

Desde 2001, o Brasil possui um importante instrumento para a indução


e promoção da eficiência energética. Trata-se da Lei n. 10.295, de 17 de
outubro de 2001, conhecida também como a lei da eficiência energética,
que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional
de Energia. Do ponto de vista que a eficiência energética deve estar
inserida na política energética nacional, a lei estimula o desenvolvimento
tecnológico, a introdução de equipamentos mais eficientes nos mais
variados usos e a preservação ambiental.

A lei da eficiência energética define os indicadores que deverão ser


perseguidos pelos produtores e importadores de equipamentos, que
são o consumo específico e o valor mínimo de eficiência energética. Ao
primeiro indicador, é a relação do consumo de energia pelo resultado
esperado de um processo. Por exemplo, o consumo específico de
uma produção industrial poderia ser a relação entre a quantidade de
energia elétrica consumida para produzir uma tonelada de um produto
(kWh/t). No caso do segundo indicador, pode-se considerar o nível de
rendimento, em porcentagem, que um equipamento deva possuir. Isso
significa que, no caso da Figura 2, o diagrama de Sankey evidencia que o
rendimento do motor apresentado é 48%, pois somente 48 KW dos 100
KW aplicados na entrada são realmente aproveitados pelo sistema.

45
Para o caso de motores elétricos, por meio do decreto n. 4.508, de 11
de dezembro de 2002, o governo federal definiu a regulamentação
específica para os níveis mínimos de eficiência energética de motores
elétricos trifásicos de indução rotor gaiola de esquilo, tanto de
fabricação nacional quanto importados. Essa legislação específica
garante que todos os motores a serem utilizados no país tenham as
mesmas características de fabricação, garantindo a mesma eficiência, de
acordo com sua potência.

A lei da eficiência energética é um marco legal, de extrema importância


para a constituição de uma política energética no Brasil, como um
instrumento eficaz e efetivo de política pública. Entretanto, sua
implementação demanda, por parte do poder executivo, grande
esforço para que regulamentações específicas sejam elaboradas, além
disso, de especificação de metas. Quando existem metas, precisam ser
fiscalizadas e sistematicamente acompanhadas, ações que não são de
simples aplicação (ELETROBRÁS, 2015).

4. Instalações e equipamentos

4.1 Iluminação

A utilização de lâmpadas mais eficientes tem se tornado comum nas


residências brasileiras. Segundo Eletrobrás (2019), a média de lâmpadas
LED instaladas nas residências brasileiras é de 2,1 por residência. As
lâmpadas fluorescentes ainda se apresentam como maioria, sendo a
média de 3,74 por residência. Já as lâmpadas incandescentes, que foram
retiradas do mercado nacional, possuem uma média de somente 0,55
por residência.

Segundo Barros et al. (2016), os problemas mais frequentemente


encontrados relacionados à iluminação são:

46
• Aproveitamento inadequado da iluminação natural.

• Utilização de equipamentos com baixa eficiência luminosa.

• Utilização de equipamentos inadequados em função da atividade e


local.

• Falta de comando para acionamento de grupos de lâmpadas.

• Ausência de manutenção preventiva.

• Comportamento dos usuários.

• Desconhecimento de conceitos luminotécnicos.

Para que um bom sistema de iluminação possa ser projetado, é


essencial que alguns conceitos sejam entendidos, tais como:

• Fluxo luminoso: dado na unidade lúmen (lm) representa a


quantidade de luz emitida por uma fonte.

• Intensidade luminosa: dado em cadela (cd) é o fluxo luminoso


irradiado na direção de um único ponto.

• Iluminância: tendo como unidade o lux (lx) representa a


quantidade de luz dentro de um ambiente.

Além dos conceitos apresentados anteriormente, os equipamentos


que compõem todo o sistema de iluminação têm grande importância
no índice de consumo de eletricidade desses sistemas. Os tipos de
lâmpadas adequadas ao ambiente, as luminárias que são utilizadas para
direcionamento do fluxo luminoso também possuem grande relevância
na eficiência do sistema de iluminação. Pode-se também colocar nos
itens de relevância os reatores utilizados. Além disso, equipamentos
auxiliares de automação também trazem grandes oportunidades de

47
redução do consumo de eletricidade, tais como: sensor de presença, relé
fotoelétrico, minuterias e dimmers.

4.2 Ar condicionado

Com o objetivo de manter o conforto térmico dos usuários em


diferentes ambientes, a utilização do ar condicionado se tornou de
extrema importância. Os equipamentos que constituem um sistema de
ar condicionado são basicamente o compressor, válvula de expansão
e evaporador e que interligados por uma tubulação que contém fluido
refrigerante, realizam as trocas térmicas de um ponto a outro do
sistema.

A manutenção adequada dos equipamentos de ar condicionado garante


o bom funcionamento, bem como mantém o consumo de energia
dentro dos padrões do equipamento. Os filtros desses equipamentos
devem ser substituídos regularmente, conforme indicação do fabricante.
Outro item importante que merece atenção é a limpeza dos trocadores
de calor, quanto maior a transferência de calor entre os tubos e líquido
refrigerante, melhor o desempenho energético desses sistemas,
segundo Barros et al. (2016).

A operação dos equipamentos de ar condicionado também é um fator


determinante para o bom funcionamento. O comportamento do usuário
interfere na otimização energética desses equipamentos, uma vez que,
por exemplo, podem esquecer de desliga-los ao final do expediente
de trabalho ou mesmo, o próprio usuário desabilitar o sistema de
automação, por descuido ou falta de conhecimento do funcionamento
do sistema, segundo Barros et al. (2016).

Os aparelhos de ar condicionado tipo janela, geralmente, são os menos


eficientes, seguidos pelo tipo split convencional e split com inversor de
frequência, que é capaz de modular a velocidade do compressor. Os
sistemas de ar condicionado com sistema centralizado de água gelada,

48
que utilizam chillers para realizar essa operação, são os equipamentos
mais eficientes.

4.3 Sistema de força motriz

O sistema de força motriz mais utilizado na indústria é o motor elétrico


de indução. O acionamento desse equipamento pode ser realizado de
forma direta ou utilizando algum sistema de controle. O motor, por si
só, não garante a realização das atividades dentro de uma indústria,
a ele devem estar acoplados alguns equipamentos, como bombas,
ventiladores, transportadores, entre muitos outros. Portanto, o motor
não é o único responsável pela eficiência de um sistema, é necessária a
avaliação de todo o conjunto para se determinar a eficiência, segundo
Barros et al. (2016).

Como visto anteriormente, os motores elétricos de indução trifásicos


possuem uma regulamentação que define os valores de eficiência
mínimos exigidos para comercialização. Para a obtenção de motores
mais eficientes muitos fabricantes iniciaram a produção de motores de
alto rendimento em substituição aos motores considerados padrão, que
nada mais é que utilizar materiais de maior qualidade, enrolamentos
com menor perda estática, redução das perdas joule em muitos
componentes.

Como a análise de eficiência de um motor depende de todo o conjunto,


o modo de acionamento do motor interfere em outras coisas, no
consumo de energia elétrica. Dentre os acionamentos disponíveis, o
inversor de frequência é o único que pode proporcionar economia
no consumo de energia elétrica durante a operação permanente do
equipamento. Os outros tipos de acionamentos como estrela/triângulo,
partida direta, chave compensadora e soft start, controlam somente a
partida dos motores elétricos, segundo Barros et al. (2016).

49
O dimensionamento adequado do motor elétrico depende de qual carga
será acionada a partir de sua operação. Trabalhar com um motor sub ou
sobre dimensionado, podem também trazer consumos de eletricidade
inadequados ao sistema.

Neste material, você estudou sobre um assunto atual importantíssimo, a


eficiência energética. Promover a eficiência depende de regulamentação
específica para controlar o nível de eficiência de equipamentos e
promover uma política energética que contemple o consumo consciente.
A gestão da energia passou a ser um tema de extrema importância para
redução de custos dentro dos processos produtivos, além de ser um
vetor para a promover a sustentabilidade.

Referências Bibliográficas
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, L. R. Eficiência energética – técnicas de
aproveitamento, gestão de recursos e fundamentos. São Paulo: Érica, 2015.
BARROS, B. F. de.; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Gerenciamento de energia: ações
administrativas e técnicas de uso adequado da energia elétrica. 2.ed. São Paulo:
Érica: 2016.
ELETROBRÁS. Pesquisa de posse e hábitos de uso de equipamentos elétricos na
classe residencial. Brasília, 2019.
ELETROBRÁS. Relatório PROCEL 2015. Brasília: Conceito Comunicação Integrada,
2015.
MARQUES, M. C. S. et al. (org.). Conservação de energia: eficiência energética de
equipamentos e instalações. Itajubá: Fupai, 2006.
MARQUES, M. C. S. et al. (org.). Eficiência energética: teoria e prática. Itajubá: Fupai,
2007.
MATHIAS, F. R. de C. Diagnóstico energético e gestão da energia em uma planta
petroquímica de primeira geração. 2014. Dissertação (Mestrado), curso de
Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2014.

50
Programas de Conservação de
energia e cases de sucesso
Autoria: Leandro Cesini
Leitura crítica: Giancarlo Michelino Gaeta Lopes

Objetivos
• Apresentar os principais programas de conservação
de energia.

• Discorrer sobre o uso eficiente de energia.

• Apresentar cases de sucesso na prática da eficiência


energética.

51
1. Introdução

Olá, estudante!

O incentivo à eficiência energética depende, muitas vezes, de programas


específicos que contribuem para disseminação e obrigatoriedade de
destinação de recursos para eficiência energética, ou mesmo, para
quebrar paradigmas e inserir novos hábitos e patamares técnicos em
equipamentos. Assim, você estudará sobre os principais programas
de eficiência energética aplicados no Brasil e poderá entender suas
principais características.

A adoção de práticas de conservação de energia exige de quem a aplica


conhecimentos técnicos e econômico-financeiros para torná-las viáveis
ao empreendimento. Nas próximas páginas serão apresentadas algumas
práticas de conservação de energia que obtiveram sucesso na sua
aplicação, reduzindo o consumo e, consequentemente, reduzindo as
despesas com energia.

2. Programas de Conservação de
Energia Elétrica

2.1 Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE)

O Programa Brasileiro de Etiquetagem se iniciou no ano de 1984 e


o responsável pela sua gestão é o Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia (Inmetro). O principal objetivo desse programa
é fornecer ao consumidor as informações referentes ao consumo
de energia. Tendo vários produtos a necessidade compulsória de
fornecimento dessas informações na devida etiquetagem, os fabricantes
devem submeter os seus produtos aos ensaios em laboratórios do

52
Inmetro, podendo assim, identificar a eficiência do equipamento entre
as letras A, B, C, D e E, sendo a letra A para o produto mais eficiente e a
letra E para o menos eficiente, segundo Barros et al. (2015).

As etiquetas utilizadas possuem certo número de informações que


auxiliam o consumidor na escolha dos seus produtos, no momento da
compra. Além da classificação por letras da eficiência dos produtos, a
etiqueta mostra o consumo de energia elétrica, como pode ser visto na
Figura 1, em KWh/mês.

Figura 1 – Etiquetas do PBE

Fonte: Inmetro (2020).

53
2.2 Programa Nacional de Conservação de Energia
Elétrica (PROCEL)

O Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica foi instituído


pelo governo federal, em 1985, é coordenado pelo Ministério de
Minas e Energia (MME) e executado pela Eletrobrás. O objetivo do
PROCEL é promover o uso eficiente da energia elétrica e combater os
seus desperdícios. Os resultados que o programa atinge contribuem
para a eficiência dos bens e serviços, possibilitando a postergação de
investimentos no setor elétrico, bem como reduzindo os impactos
ambientais (ELETROBRAS, 2019).

Em 2018, o PROCEL trouxe significativos resultados ao sistema elétrico


brasileiro. Segundo Eletrobras (2019), o programa promoveu a economia
de 4,87% do consumo de energia elétrica total do país entre outros
resultados, mostrados no Quadro 1.

Quadro 1 – Resultados PROCEL 2018

Energia economizada (bilhões KWh). 22,99

Demanda retirada da ponta (MW). 7.257

Emissão de CO2 equivalente evitada (milhão tCO2 e). 1.701

Economia em relação ao consumo total de energia


4,87
elétrica no Brasil (%).

Economia em relação ao consumo residencial de


16,90
energia elétrica no Brasil (%).

Número de residências que poderiam ser atendidas


com a energia economizada, durante um ano 12,12
(milhões).

Fonte: Eletrobrás (2019).

54
Em 1993, a Eletrobras criou o subprograma SELO PROCEL, que,
em parceria com o Inmetro, por meio do Programa Brasileiro de
Etiquetagem, divulga aos consumidores os níveis de consumo de energia
elétrica de equipamentos. Essa parceria corrobora com a promoção
da eficiência energética entre os brasileiros, além de ajudar a prover
os resultados vistos na Tabela 1. No caso das lâmpadas Led, para
receberem o SELO PROCEL, a potência real não deve ultrapassar 10%
da potência indicada na embalagem. Para os motores elétricos, existe
uma tabela com os rendimentos mínimos para cada faixa de potência do
equipamento, por exemplo, um motor de 50 CV 4 polos deve possuir no
mínimo 93,4% de rendimento.

3. Eficiência energética e suas aplicações

3.1 Sistemas de iluminação

Os sistemas de iluminação são amplamente utilizados, inclusive em


sua casa. A combinação adequada de lâmpadas, sensores, luminárias
e refletores eficientes, associada a hábitos saudáveis de utilização são
exemplos de como obter um sistema de iluminação eficiente, segundo
Marques (2007).

Na concepção de um sistema de iluminação existem vários itens que


merecem atenção, tais como:

• Controladores de luz: projetados para modificar a distribuição


espacial do fluxo luminoso. Podem ser do tipo refletor, refrator,
difusor, lente e colmeia. O tipo de refletor utilizado pode
influenciar no rendimento do sistema.

• Depreciação do fluxo luminoso: na medida em que existe o


acúmulo de sujeira sobre as lâmpadas e luminárias, existe também

55
a redução do fluxo luminoso, assim, a limpeza desses sistemas se
torna necessária.

• Eficiência luminosa: é a eficiência de cada tipo de lâmpada, dada pelo


quociente entre o fluxo luminoso (lúmens) e a potência consumida
(Watts).

• Fator de utilização: é dado pela razão entre o fluxo luminoso utilizado


pelo emitido pelas lâmpadas. A utilização de cores claras, no teto e
nas paredes, contribuem para o aumento desse fator.

• Vida mediana nominal: indica o valor em horas em que uma amostra


de 50% de lâmpadas se mantém acesas em condições controladas
em laboratório.

3.1.1 Aplicação

O exemplo de aplicação de ações de eficiência energética em sistemas de


iluminação é apresentado por Marques (2007) e ocorreu em uma empresa
do ramo de fabricação de pneus, localizada no estado do Rio de Janeiro. As
ações implementadas em duas unidades da empresa foram instalação de
fotocélulas e aproveitamento da luz natural.

Nas oficinas de controle de pneus e de estoque de gomas, existia a


utilização de iluminação artificial, por meio de lâmpadas de vapor metálico,
e forte incidência de iluminação natural durante o dia. A utilização de
fotocélula proporcionou o desligamento de parte da iluminação durante o
dia, sem comprometer a iluminação do plano de trabalho. Na área em que
a iluminação artificial era acionada 24 horas por dia, foi possível desligá-la
seis horas por dia, ou seja, 80 luminárias com lâmpadas de vapor metálico
de 250 W.

Em outro setor da empresa, para aproveitar a iluminação natural, foram


instaladas telhas translúcidas como medida de racionalização do consumo

56
de energia elétrica. Para essa atividade, foi necessário realizar também a
setorização do circuito de iluminação, a fim de que determinadas lâmpadas
pudessem ser desligadas durante o dia.

Para a realização das atividades listadas anteriormente, foi necessário o


investimento de R$ 6.725,00. Os resultados podem ser visualizados no
Quadro 2.

Quadro 2 – Resultados da implantação de telhas translúcidas


em determinada empresa

Energia Demanda Benefício


Projeto
(MWh/ano) (KW) (R$)

Instalação de fotocélulas. 43,0 5,0 3.831,00

Separação de circuitos de iluminação. 70,0 8,1 6.267,00

Instalação de telhas translúcidas. 104,5 12,1 9.331,00

Total: 217,5 25,2 19.429,00

Fonte: Marques (2007, p. 76).

Nota-se, portanto, pela análise dos dados do Quadro 1, que os resultados


financeiros foram muito maiores que os investimentos realizados. Nesse
caso, o retorno do investimento foi menor que um ano.

3.2 Acionamentos

O motor elétrico de indução trifásico é, intrinsicamente, um equipamento


eficiente. Sua curva de rendimento apresenta altos valores para cargas,
variando entre 50% e 100%, diferentemente do que é encontrado em
outras máquinas, como hidráulicas ou térmicas.

57
Os motores são equipamentos largamente utilizados nas instalações
industriais, possuindo grandes quantidades instaladas em uma mesma
unidade fabril e correspondem ao consumo aproximado de 25% de toda a
energia elétrica do país. Assim, devido à representatividade nas instalações
elétricas brasileiras, tornam-se um grande potencial de economia de
energia elétrica. Além disso, a má aplicação de um grande percentual
de motores, problemas com acoplamento mecânico, problemas com
limpeza e lubrificação e o mau dimensionamento, fortalecem o potencial
de economia que esses equipamentos possuem nas instalações elétricas.
Segundo Marques (2007), o sobre dimensionamento de motores é uma
causa comum. Estima-se que 40% dos motores instalados estão operando
com carga inferior a 40% de sua capacidade nominal. Esse problema,
muitas vezes, é dado pela falta de informação sobre a dinâmica das cargas
a serem acionadas e fatores de segurança mais generosos são utilizados.

Para que haja maior entendimento sobre as características físicas desses


equipamentos e as perdas associadas na operação de motores elétricos, a
Figura 2 apresenta a distribuição das perdas em um motor operando em
suas condições nominais.

Figura 2 – Distribuição de perdas em motores elétricos

Fonte: Marques (2007, p. 90).

58
As perdas por efeito Joule no rotor e no estator são resultado da
passagem da corrente elétrica nos enrolamentos. Já as perdas no ferro,
resultam nas perdas por histerese e Foucault, sendo a primeira dada
pela reorientação do campo magnético sobre o pacote de lâminas e
a segunda são devido à produção de calor originadas pela corrente
elétrica induzida no interior do material magnético. Já as perdas por
atrito e ventilação são provocadas pela geometria irregular do rotor e
pelo próprio ventilador. Para finalizar, as perdas adicionais incluem as
perdas não classificadas anteriormente.

A análise do fator de carregamento de um motor é um bom indicador


para evidenciar se está bem dimensionado ou não para a carga que
aciona. O valor do fator de carregamento maior que 75% poderá ser
considerado adequado para a carga que aciona. Entretanto, um fator de
carregamento abaixo de 75% não garante que um motor esteja sobre
dimensionado, pois esse fator concerne apenas ao regime permanente
e uma decisão definitiva sobre qual motor utilizar, devem ser realizadas
análises do regime transitório.

3.2.1 Aplicação

A aplicação de projetos de eficiência energética, envolvendo motores


elétricos de indução trifásicos, pode ser exemplificada pelo projeto
implementado em uma empresa do ramo alimentício é localizada no
estado do Espírito Santo e suas ações de eficiência energética foram
divulgadas em Marques (2007).

O projeto de eficiência energética nas instalações elétricas desta


empresa foi baseada na substituição de motores elétricos antigos por
motores com melhor rendimento, baseando-se na mudança tecnológica
e dimensionamento correto para as suas aplicações.

A implementação desse projeto passou por cinco etapas:

59
• Etapa 1: definição dos motores potencialmente ineficientes,
realizando a análise de dados de operação, como a medição das
correntes em regime permanente e dos dados de placa desses
equipamentos.

• Etapa 2: levantamento do regime de trabalho dos motores


elétricos, identificando as condições de trabalho de cada
equipamento, podendo assim ter uma visão geral dos processos.

• Etapa 3: realização de um diagnóstico das condições operacionais,


utilizando-se das informações coletadas nas etapas 1 e 2. Nesta
etapa, a empresa utilizou, como recurso, analisadores de energia
para monitoramento das curvas de carga.

• Etapa 4: após as análises realizadas nas etapas anteriores e


seguindo as orientações do estudo, iniciou-se as substituições dos
motores, que implicou na alteração das bases civis para instalação
dos novos equipamentos. Esses novos motores ou eram de
mesma potência, porém, mais eficientes, ou eram mais eficientes e
com potência ajustada.

• Etapa 5: após a implementação das sugestões que resultaram


dos estudos, foi realizado o acompanhamento e avaliação dos
resultados, através de medições para comparação com as
medições realizadas anteriormente à implementação do projeto de
eficiência energética.

Nesse projeto foram estudados 192 motores, totalizando uma potência


de 3.250 CV, com motores variando de 3 a 125 CV. O investimento total
aplicado para esse projeto foi de aproximadamente R$ 380 mil. Os
resultados do projeto de eficiência energética aplicados no conjunto de
motores elétricos podem ser visualizados no Quadro 3.

60
Quadro 3 – Resultados do projeto de eficiência energética
em motores elétricos

Redução de potência (KW). 36,40

Energia Economizada (MWh/ano). 739

Retorno do investimento. 2 anos e 4 meses

Economia (%). 10,3

Fonte: Marques (2007, p. 112).

Além dos benefícios financeiros, outros puderam ser atingidos pela


implementação das ações de eficiência energética em motores elétricos,
tais como: melhoria da disponibilidade dos equipamentos, redução das
demandas de manutenção, disseminação da importância da correta
especificação de equipamentos e garantia da eficiência no uso adequado
da energia.

3.3 Sistemas de ar comprimido

A utilização do ar comprimido é de extrema importância em várias


aplicações. Essa forma de energia é utilizada em transporte de materiais,
em máquinas operatrizes, em motores pneumáticos, sistemas de
comando e controle, instrumentação em geral, automação de processos
e em muitas outras aplicações.

O ar comprimido pode ser armazenado e conduzido próximo ao local de


utilização e sem necessidade de qualquer tipo de isolamento térmico,
como ocorre no caso da utilização do vapor. Ainda não oferece riscos
de incêndio ou explosão, podendo ser utilizado de forma flexível,
compacta e potente. Essas principais característica tornam o emprego
do ar comprimido cada vez mais requisitado nos mais variados tipos de
processo.

61
Apesar das inúmeras vantagens, o emprego do ar comprimido é
apontado como um alto consumidor de energia para a realização de um
determinado trabalho útil. Assim, a correta utilização desses sistemas
é imprescindível para que a sua utilização seja ótima sobre o ponto de
vista de eficiência energética.

Os equipamentos chamados compressores são os responsáveis


por realizar a compressão do meio. O rendimento global desses
equipamentos é determinado pela relação entre a potência útil
resultante do ar comprimido, dada pela sua vazão e pressão, e a
potência de entrada utilizada pelo motor elétrico.

De forma geral, o rendimento de um compressor é muito baixo, que


é uma característica inerente de sistemas limitados por processos
termodinâmicos que rejeitam calor e, consequentemente, perdem
energia para o meio ambiente. Segundo Marques (2007), o rendimento
médio calculado para três compressores de mesmas características
e marcas distintas varia entre 23% a 26,4%. Isso mostra o quanto a
utilização de ar comprimido deve ser criteriosa.

Dentre as possibilidades de melhor aproveitamento da energia em


sistemas de ar comprimido, é possível citar:

• Diminuição da massa de ar: o consumo de energia em um sistema


de ar comprimido é proporcional à vazão de saída de ar, ou seja,
qualquer redução da vazão irá reduzir o consumo. Os vazamentos
de ar comprimido são os grandes vilões de desperdício e devem
ser monitorados constantemente, verificando as conexões,
engates rápidos, válvulas e mangueiras, que são os locais com
maior incidência de vazamentos.

• Redução da temperatura de aspiração: o trabalho realizado para


compressão depende também da temperatura de aspiração do
ar externo ao compressor. Assim, utilizar o ar que esteja fora da
sala de compressão é uma estratégia interessante na tentativa

62
de captar o ar externo com temperatura menor, uma vez que
dentro da sala de compressão, o ar possui temperatura elevada. A
redução de temperatura de 35ºC para 25ºC traz uma economia de
energia em torno de 3,2%, segundo Marques (2007).

• Redução da pressão de operação: trabalhar com pressão mais


baixa do ar de comprimido também diminui o trabalho realizado
para compressão.

• Aproveitamento do calor rejeitado: para elevar o rendimento


global de um sistema de ar comprimido, pode-se utilizar o ar
quente exausto para aquecimento de água ou ar quente para
estufas ou outras aplicações apropriadas.

3.3.1 Aplicação

A aplicação de projetos de eficiência energética em sistemas de ar


comprimido pode ser exemplificada pelo caso de uma empresa do ramo
metalúrgico localizada em Minas Gerais. Esse caso é apresentado por
Marques (2007) e o principal objetivo é a utilização da energia térmica do
ar exausto dos compressores para realização do aquecimento de água
utilizada por funcionários durante os banhos.

Por meio da análise da curva de carga dos boilers elétricos utilizados


para aquecimento da água dos banhos dos funcionários, foi possível
verificar qual a potência necessária nos picos de consumo do sistema
elétrico. De posse dessa informação, foi necessário verificar também
qual seria a quantidade de energia que o sistema de ar comprimido
poderia fornecer ao novo sistema de aquecimento e realizar o
dimensionamento dos trocadores de calor e reservatórios de água
quente nos vestiários.

A necessidade de investimento foi de aproximadamente R$ 317 mil. A


economia anual obtida pelo novo sistema de aquecimento foi de R$ 116

63
mil/ano. Do ponto de vista energético, foram economizados 530 MWh/
ano e redução da potência de 220 KW.

3.4 Condicionamento ambiental

Em sistemas de condicionamento de ar que são responsáveis por


manter a temperatura e umidade do ar adequadas ao conforto humano,
ou para atendimento de exigências de processos, é muito comum que a
representatividade desses sistemas perante o consumo total de energia
elétrica seja considerável. Assim, medidas de otimização e uso racional
de energia devem ser implementadas, tanto em novos projetos como
em retrofit de instalações já existentes.

Em geral, as melhorias que são aplicadas nesses sistemas são agrupadas


em duas categorias. A primeira são as melhorias relativas à estrutura e a
segunda são as melhorias relativas ao sistema e condicionamento de ar.

As melhorias relativas à estrutura que levam à minimização de ganhos


ou perdas de calor são aquelas que envolvem a transmissão térmica, a
insolação, a infiltração de ar e umidade, e por último a geração interna.
Já as melhorias relativas aos sistemas de condicionamento de ar são
aquelas relacionadas ao projeto, à operação e à manutenção do sistema.

3.4.1 Aplicação

O caso de utilização da aplicação de ações de eficiência energética


em sistemas de condicionamento de ar foi apresentado por Marques
(2007), realizado nas instalações um prédio comercial localizado na
cidade de São Paulo. Para a realização desse trabalho, foi elaborado
um diagnóstico energético de todo o sistema de condicionamento de ar
do edifício, visitando os locais, entrevistando o pessoal de operação e
manutenção, análise das curvas de carga dos equipamentos envolvidos
no sistema.

64
O resultado principal do diagnóstico elaborado foi a possibilidade de
utilização de um termo acumulador, ou seja, um sistema que produza
gelo durante a madrugada, para ser utilizado nos períodos de maior
estresse do sistema, aonde a energia elétrica contratada era mais cara.
Para isso, foram substituídas duas centrífugas por novos chillers de 240
TR para geração de água gelada e capacidade de 160 TR para produção
de gelo.

O valor total investido para implementação desse projeto foi de


aproximadamente de R$ 2,25 milhões, com retorno de 2,8 anos. Esse
projeto também resultou a redução da demanda em horário de ponta
de 630 KW, economizando cerca de 890 MWh/ano.

Neste material, você aprendeu sobre os principais programas de


conservação de energia elétrica existentes no Brasil. Por meio de casos
de sucesso de implementações de ações voltadas à eficiência energética,
foi possível verificar a importância dessas ações e seus efeitos no
sistema elétrico e na vida financeira das empresas que investem nesse
tipo de projeto.

Referências Bibliográficas
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, L. R. Eficiência energética – técnicas de
aproveitamento, gestão de recursos e fundamentos. São Paulo: Érica, 2015.
ELETROBRAS. Resultados PROCEL 2019: ano base 2018. Brasília: Abóbaraxdesign,
2019. Disponível em: www.procelinfo.com.br. Acesso em: 30 jul 2020.
INMETRO. Etiqueta de eficiência energética. Disponível em: https://www2.
inmetro.gov.br/pbe/a_etiqueta.php. Acesso em: 30 jul 2020.
MARQUES, M. C. S. et al. (org.). Eficiência Energética: teoria e prática. Itajubá: Fupai,
2007.

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BONS ESTUDOS!

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