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WBA0147_v2.

LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR


E POLÍTICAS DE INCLUSÃO
Carlos Eduardo Candido Pereira

LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E


POLÍTICAS DE INCLUSÃO
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
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Editorial
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Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
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Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Pereira, Carlos Eduardo Candido
P436I Legislação da educação superior e políticas de inclusão/
Carlos Eduardo Candido Pereira, – Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
64 p.

ISBN 978-65-86461-88-6
1. Legislação. 2. Educação I. Pereira, Carlos Eduardo
Candido. II.Título.

CDD 378.81
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
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LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E
POLÍTICAS DE INCLUSÃO

SUMÁRIO
Introdução aos princípios da Legislação e da Legislação da Educação
no Brasil_____________________________________________________________ 05

Universidade: Ensino, Pesquisa e Extensão__________________________ 22

A Legislação Nacional Para a Educação Superior_____________________ 38

Ações Afirmativas, Políticas e Legislação de Inclusão_________________ 55

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Introdução aos princípios da
Legislação e da Legislação da
Educação no Brasil
Autoria: Carlos Eduardo Candido Pereira
Leitura crítica: Aline Oliveira Gomes da Silva

Objetivos

Para esta aula, apresentaremos temas relacionados


à legislação e, também, faremos um breve panorama
da Educação Superior, retomando alguns conceitos
diferenciadores. Desse modo, temos por objetivo:

• Conhecer o atual contexto da Educação Superior no


Brasil.

• Compreender a conceituação de Educação e Ensino.

• Verificar como se dá a formação da ordenação


legislativa no Brasil.

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1. Contexto da Educação Superior no Brasil

Para aqueles que um dia pretendem atuar num posto acadêmico


ou administrativo na universidade, seja ela pública ou particular, é
importante ter conhecimento do espaço que vivenciará por boa parte da
jornada diária.

Dado isso, devemos nos situar no momento presente para


compreendermo-nos como sujeitos da própria história e sujeitos que se
relacionam à sociedade.

Desta maneira, na sociedade globalizada e capitalista, a Educação é vista


como sinônimo de ascensão social. Afinal, para a Economia de um país
se tornar competitiva, é necessária mão de obra qualificada.

Portanto, cabe a alguns cursos técnicos e profissionais de nível médio


ou superior e, em especial, à universidade direcionar investimentos
na composição de quadros qualificados à competitividade econômica
nacional no mercado financeiro global.

Nesse sentido, para Dourado e Oliveira (1999), a Educação Superior tem


duas tarefas básicas: conhecimento e formação, em outras palavras,
produção de conhecimento e formação do profissional. Essas ações,
por sua vez, são etapas essenciais para inserção de qualquer país no
processo competitivo do mundo globalizado.

Assim, o investimento em cérebros, ou melhor, na criação de capital


intelectual e na formação de competências básicas permitiria tornar a
economia competitiva, uma vez que vivemos em uma sociedade marcada,
crescentemente, pela internacionalização produtiva, pelo aumento dos
conhecimentos técnicos-científicos e pela necessidade de elevação de
qualidade profissional. (DOURADO; OLIVEIRA, 1999, p. 12)

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Com isso, fica evidente que o bem econômico de maior valor para um
país é o capital intelectual que ele produz.

Nesse sentido, é importante apontar que, em virtude da globalização,


fato que permite maior integração entre culturas, as universidades têm
passado por processos de internacionalização, fazendo intercâmbios
entre seus estudantes para troca de experiências acadêmicas.

Neste cenário, o docente é o profissional da Educação quem guiará


os discentes na compreensão de fenômenos sociais e naturais, assim
como será o responsável em motivar à solução das mais variadas
necessidades à sociedade. Desse modo, seu papel é tão importante
que em atenção ao próprio trabalho deve ter o cuidado de não cair em
obsolência, ou seja, esse profissional necessita, para além da formação
inicial, continuar se capacitando e reinterpretando a prática pedagógica
num mundo de constantes e aceleradas mudanças.

Adentrando ao contexto da Educação Superior Brasileira, para


Pereira (2009), desde o final dos anos 1990, no Brasil, houve uma
grande expansão desta modalidade de ensino. Isso se deve aos
investimentos do Poder Público na expansão de universidades, uma
vez que, em âmbito internacional, o Brasil se responsabilizava com o
desenvolvimento do país na comparação do cenário do desenvolvimento
de seus setores sociais, econômicos e de serviços em nível global.

Neste cenário de desenvolvimento, coube um papel importante à


iniciativa privada: investir na Educação Superior. Dado isso, houve
o investimento massivo deste setor na criação de instituições
universitárias e, até mesmo, na expansão da oferta de cursos e vagas
para as instituições já existentes.

Por sua vez, explica-se tais investimentos em razão da promulgação de


legislações no país, como a Lei nº 9.394, de 1996 (BRASIL, 1996), também
conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN).

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Ela impôs crescimento de 2% em 1990 para 11% em 2010 no número
de matriculas em universidades brasileiras. Este fenômeno de expansão
de matrículas teve um impacto social, pois possibilitou o ingresso de
pessoas das mais variadas classes sociais na Educação Superior.

2. O conceito de Educação e de Ensino

Não é incomum, mesmo a profissionais da Educação, o equívoco de


interpretação entre as palavras Educação e Ensino. Muitas vezes, ocorre
um engano ao se fazer referência, por exemplo, entre as expressões
“Educação Superior” e “Ensino Superior”, no entanto, essas expressões
não são palavras sinônimas e, por isso, se torna importante diferenciá-
las.

Em termos gerais, de acordo com Moreira (2013), Educação significa um


conjunto de hábitos, valores, regras e Ensino se traduz na transmissão
de conhecimento. Assim, é possível afirmar que para ensinar é preciso
ter conhecimento de temas extraídos da Educação.

Para vários autores, a Educação é aquela que leva os sujeitos a


conviver em sociedade, pois deve propiciar aos seus membros o
autoconhecimento. Dado isso, para Saviani (2007, p. 154):

Se a existência humana não é garantida pela natureza, não é dádiva


natural, mas tem de ser produzida pelos próprios homens, sendo, pois,
um produto de trabalho, isso significa que o homem não nasce homem.
Ele forma-se homem. Ele não nasce sabendo produzir-se como homem.
Ele necessita aprender a ser homem, precisa aprender a produzir sua
própria existência. Portanto, a produção do homem é, ao mesmo tempo, a
formação do homem, isto é, um processo educativo. A origem da educação
coincide, então, com a origem do homem mesmo.

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Nesta perspectiva, o homem é um ser histórico que produz
conhecimento e trabalha sobre a natureza. A Educação se molda em
corpus teórico, ou seja, a Educação se torna ciência, ou seja, Pedagogia–
que é a ciência da Educação.

A Educação Superior, portanto, é um corpo de conhecimento dado


através de teorias, regras, valores e leis construídas historicamente.
O Ensino Superior se traduz na transmissão de conhecimentos da
Educação por meio de técnicas, de metodologias e das mais diversas
manifestações de didática e ensino. Assim, a instituição que ensina
em nível superior, pode ser denominada de IES (Instituição de Ensino
Superior), recebendo outras denominações previstas em lei, como:
faculdade, centro universitário e universidade.

3. Formação da Legislação

Sobre a legislação, é importante conhecermos qual a sua estrutura na


democracia brasileira. A pretensão aqui não é aprofundar a reflexão
em cada um dos itens da seguinte escala hierárquica, mas apontar o
ordenamento jurídico brasileiro que se aplica, sobretudo, à Educação.
De acordo com Toledo (2016), a sequência em ordem decrescente é:

1. Constituição Federal.
2. Emenda à Constituição.
3. Lei Complementar.
4. Lei Ordinária.
5. Lei Delegada.
6. Decreto Legislativo.
7. Resolução.
8. Decreto.
9. Instrução Normativa.
10. Instrução Administrativa.

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11. Ato Normativo.
12. Ato Administrativo.
13. Portaria.
14. Aviso.

Nesta ordem, percebe-se que a principal legislação no Brasil é a


Constituição Federal. Assim, as demais legislações submetem-se
à anterior na hierarquia. Alguns autores da área do Direito tratam
didaticamente esta divisão por meio da Pirâmide de Kelsen. Desse
modo, vale apontar que a mesma ordem se aplica às esferas estadual e
municipal.

Com relação à Constituição Federal (BRASIL, 1988), o Brasil já teve


em sua história oito delas. A mais recente é do final dos anos 1980,
considerada por muitos como constituição cidadã, por ter sido objeto
de construção democrática após duas décadas de regime militar no
país. A seguir, adentraremos nela para interpretar aspectos referentes à
Educação.

No capítulo III, Da Educação, Da Cultura e do Desporto, Seção I,


Educação, há dez artigos (205º ao 214º) que tratam sobre a Educação.

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988, art. 205)

Este artigo aponta a relação entre o Estado e a família na Educação,


visando o desenvolvimento da pessoa enquanto construção de
sociedade. Isso é evidenciado, por sua vez, pelos termos cidadania e
trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I–Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

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II–Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a
arte e o saber;

III–pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de


instituições públicas e privadas de ensino;

IV–Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V–Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma


da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso
público de provas e títulos, aos das redes públicas;

VI–Gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII–garantia de padrão de qualidade.

VIII–piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação


escolar pública, nos termos de lei federal. 

Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores


considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo
para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 1988, art.
206)

Em linhas gerais, o artigo trata da valorização do ensino no


reconhecimento de várias formas de ensinar, bem como da gratuidade
em instituições públicas. A gestão democrática no ensino público
caracteriza o aspecto cidadão da constituição e valorização dos
profissionais da educação, e destaca a importância do profissional da
educação por meio da previsão de piso salarial nacional e planos de
carreira.

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica,


administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao
princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

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§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas
estrangeiros, na forma da lei.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e


tecnológica. (BRASIL, 1988, art. 207)

O art. 207, por sua vez, aborda sobre a Educação Superior, sendo
a universidade o espaço previsto para a sua realização. Para isso,
sinaliza-se a autonomia das universidades para o ensino e a promoção
da ciência, bem como da própria organização interna administrativa,
patrimonial e financeira. O maior destaque é o que dá essência à
universidade, sendo a tríade de ensino, pesquisa e extensão, pois
permitem um relacionamento maior entre a instituição e a sociedade.
Em casos de necessidade, na forma da lei, as universidades poderão
admitir servidores estrangeiros.

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:

I–Educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)


anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria;

II–Progressiva universalização do ensino médio gratuito;

III–atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,


preferencialmente na rede regular de ensino;

IV–Educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos


de idade;

V–Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação


artística, segundo a capacidade de cada um;

VI–oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

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VII–atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica,
por meio de programas suplementares de material didático escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde. 

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua


oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino


fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela frequência à escola. (BRASIL, 1988, art. 208)

Os aspectos indicados tratam o dever do Estado na oferta da Educação


Básica aos brasileiros de quatro a dezessete anos, incorporando a
Educação Infantil, Educação Fundamental e Ensino Médio. Além disso,
há menção à ampliação da oferta às pessoas com deficiência e o ensino
noturno, programas complementares de material didático, transporte,
alimentação e outros tipos de assistência também caracterizam o
papel do Estado na Educação. Ademais, o referido artigo também faz
referência ao Poder Público, que deve acompanhar as matriculas e
frequência dos discentes.

Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes


condições:

I–cumprimento das normas gerais da educação nacional;

II–autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. (BRASIL, 1988,


art. 209)

Como se pode observar, o art. 209 trata sobre a possibilidade da


Educação ser oferecida pela iniciativa privada, desde que ela cumpra
a legislação respectiva e tenha sua situação regular junto aos órgãos
competentes da administração educacional.

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Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental,
de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores
culturais e artísticos, nacionais e regionais.

§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos


horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.

§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa,


assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas
maternas e processos próprios de aprendizagem. (BRASIL, 1988, art. 210)

Neste artigo, por sua vez, trata-se de conteúdos básicos comuns a serem
ensinados por todas as instituições escolares em território nacional.
Com isso, o Estado brasileiro sinaliza a elaboração de documentos a
especificar qual a pretensão de aquisição de aluno por faixa etária ou
ano escolar na Educação Básica. Assim, podemos citar os documentos
que foram elaborados após essa época, como: Parâmetros Curriculares
Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular. Nota-se ainda a
referência ao ensino em língua portuguesa ou indígena no respeito às
suas comunidades, bem como o ensino religioso sendo facultativo (não
obrigatório).

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão


em regime de colaboração seus sistemas de ensino.

§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios,


financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em
matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir
equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade
do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios;

§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na


educação infantil.

§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino


fundamental e médio.

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§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo
a assegurar a universalização do ensino obrigatório.

§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino


regular. (BRASIL, 1988, art. 211)

O art. 211 é especifico no regime de colaboração e responsabilidade


da Educação entre as esferas de governo federal, estadual (atuando no
ensino fundamental e médio) e municipal (atuação no ensino infantil
e fundamental). Neste item, também, são apontadas questões como a
prioridade da educação pública no ensino regular, o financiamento e o
repasse financeiro.

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no
mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente
de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.

§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos


Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos
respectivos Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto
neste artigo, receita do governo que a transferir.

§ 2º Para efeito do cumprimento do disposto no «caput» deste artigo, serão


considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os
recursos aplicados na forma do art. 213.

§ 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao


atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que se refere a
universalização, garantia de padrão de qualidade e equidade, nos termos
do plano nacional de educação.

§ 4º Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde


previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de
contribuições sociais e outros recursos orçamentários.

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§ 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento
a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na
forma da lei.

§ 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribuição social


do salário-educação serão distribuídas proporcionalmente ao número de
alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de
ensino. (BRASIL, 1988, art. 212).

O art. 212, por sua vez, desenha sobre o financiamento da educação.


Anualmente, o Governo Federal deve investir 18% de sua receita sobre
imposto na Educação e o Distrito Federal, Estados e Municípios devem
investir 25%. Ainda estão previstas outras formas de financiamento e
receitas, como o salário-educação e o dinheiro deve ser redistribuídos
com base no número de matrículas.

Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas,


podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou
filantrópicas, definidas em lei, que:

I–Comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes


financeiros em educação;

II–Assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária,


filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento
de suas atividades.

§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas


de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os
que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de
vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do
educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na
expansão de sua rede na localidade.

§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo e fomento à


inovação realizadas por universidades e/ou por instituições de educação

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profissional e tecnológica poderão receber apoio financeiro do Poder
Público. (BRASIL, 1988, art. 213)

Assim, há a possibilidade do financiamento público ser repassado para


instituições escolares comunitárias, confessionais e filantrópicas que, na
forma da lei, não são escolas não lucrativas de papel social relevante.
Esse repasse pode ser ocorrer para as escolas continuarem auxiliando a
sociedade com aplicação de excedente financeiro, doação de patrimônio
(com outras instituições de ensino) e, até mesmo, sob a forma de bolsas
de estudos aos discentes.

Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração


decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em
regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias
de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do
ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações
integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que
conduzam a:

I–erradicação do analfabetismo;

II–universalização do atendimento escolar;

III–melhoria da qualidade do ensino;

IV–formação para o trabalho;

V–promoção humanística, científica e tecnológica do País.

VI–estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em


educação como proporção do produto interno bruto. (BRASIL, 1988, art.
214).

O art. 214 sinalizou ações do Plano Nacional de Educação (PNE), que


dentro de uma década seria o responsável por cumprir algumas metas
para a melhoria da Educação, como a redução do analfabetismo. No
entanto, na História da Educação brasileira, há dois PNE’s; o primeiro

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foi elaborado em 1996, com duração entre 2001 e 2010; já o segundo
contempla os anos de 2014 a 2024, vigorando atualmente com a
finalidade de cumprir vinte metas por meio de dez diretrizes.

No que tange as metas para Educação Superior, destacam-se:

Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50%
(cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento)
da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a
qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por
cento) das novas matrículas, no segmento público.

Meta 13: elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção


de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no conjunto
do sistema de educação superior para 75% (setenta e cinco por cento),
sendo, do total, no mínimo, 35% (trinta e cinco por cento) doutores.

Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação


stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 (sessenta mil)
mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores. (BRASIL, 2014, [s.p.])

(…)

Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento)


dos professores da educação básica, até o último ano de vigência
deste PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação
básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as
necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
(BRASIL, 2014, [s.p])

Com relação a legislação da Educação, é possível apontar a importância


de algumas outras, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990)
e, a mais relevante de todas, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei nº 9.394, de 1996 (BRASIL, 1996), que no capítulo IV trata da
Educação Superior. O quadro a seguir apresenta de modo resumido o
que aponta cada uma dessas leis.

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Quadro 1–Artigos do Capítulo IV da LDBEN nº 9.394, de 1996 – Da
Educação Superior

Artigos Resumo do texto

43 Finalidade: ensino, pesquisa e extensão.

Cursos e programas: sequenciais, graduação, pós-graduação e


44
extensão.

45 Será ministrada em IES público ou privadas.

46 Autorização e reconhecimento de cursos.

47 Ano letivo: mínimo de 200 dias de trabalho acadêmico efetivo.

48 Diplomas reconhecidos nacionalmente.

Aceite de transferência de alunos de uma mesma área, desde que


49
haja vagas.

Quanto a ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de


50 seus cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade
de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.

As IES credenciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios


e normas de seleção e admissão de estudantes, levarão em conta
51
os efeitos desses critérios sobre a orientação do ensino médio,
articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas de ensino.

As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos


52 quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e
de domínio e cultivo do saber humano.

19
Autonomia universitária: fixar currículos e programas; estabelecer
extensão; fixar número de vagas; elaborar e reformar estatutos;
conferir graus, diplomas e títulos; firmar contratos, acordos
53
e convênios; aprovar e executar obras, bem como adquirir
patrimônio; administrar rendimentos; submeter a subvenção,
doações e heranças resultante de convênios e contratos.

 As universidades mantidas pelo Poder Público gozarão, na forma


da lei, de estatuto jurídico especial para atender às peculiaridades
54 de sua estrutura, organização e financiamento pelo Poder Público,
assim como dos seus planos de carreira e do regime jurídico do seu
pessoal.

Caberá à União assegurar, anualmente, em seu Orçamento Geral,


55 recursos suficientes para manutenção e desenvolvimento das
instituições de educação superior por ela mantidas.

 As instituições públicas de educação superior obedecerão ao


princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos
56
colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos da
comunidade institucional, local e regional.

Nas instituições públicas de educação superior, o professor ficará


57
obrigado ao mínimo de oito horas semanais de aulas.

Fonte: elaborado pelo autor.

Neste tema, abordamos assuntos que contemplaram os objetivos


propostos. Assim, conhecemos a perspectiva da sociedade globalizada e
neoliberal os fatores que levaram à expansão universitária. Além disso,
ressaltamos, também para efeitos didáticos e de correta compreensão,
a diferença dos conceitos Educação e Ensino, uma vez que não são

20
sinônimos e ao se referir à Educação Superior não se tratam do mesmo
assunto. Por fim, apresentamos a forma com que a legislação se ordena
no Brasil, bem como apresentadas as ações previstas na Educação pela
Constituição Federal e na Educação Superior na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional.

Referências Bibliográficas
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Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 18 abr. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Brasília, DF: Presidência da República, [1996]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 abr. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.005, de 26 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de
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DOURADO, L. F.; OLIVEIRA, J. F. Políticas Educacionais e Reconfiguração da Educação
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TOLEDO, M. Direito educacional. São Paulo: Cengage, 2016.

21
Universidade: Ensino,
Pesquisa e Extensão
Autoria: Carlos Eduardo Candido Pereira
Leitura crítica: Aline Oliveira Gomes da Silva

Objetivos
• Compreender a importância da universidade para
sociedade.

• Compreender a relação entre ensino, pesquisa e


extensão.

• Conhecer agências de fomento.

22
1. Universidade: papel social, dificuldades e
ações à sociedade

Qual seria a relevância da universidade à sociedade? Por que ela é


objeto de desejo de muitas pessoas? Qual seu papel e sua função? Nesta
unidade, verificaremos algumas considerações importantes sobre esta
instituição de ensino de nível superior.

As universidades não são tão recentes na história, pelo contrário, elas


são bem antigas. Nesse sentido, alguns registros históricos apontam que
elas iniciaram suas atividades na Europa no século VIII. As universidades
mais antigas do mundo, de acordo com a data de fundação, são a
Universidade de Bolonha (1088) na Itália, Oxford na Inglaterra (1096)
e a Universidade de Coimbra, em Portugal, criada em (1290). Outros
historiadores consideram que a mais antiga do mundo é a Universidade
de Karaouine (859), no Marrocos.

No Brasil, muitas pessoas acreditam que a universidade chegou


junto com a família real portuguesa em 1808, pois eles trouxeram
várias escolas de teor profissional. Naquele período, todavia, quase a
totalidade da população brasileira não tinha nenhum grau de instrução
e antes de surgirem as universidades aos moldes que hoje se conhece,
houve a criação de faculdades e outras escolas de nível superior, como
as de medicina. Desse modo, a primeira universidade do Brasil foi criada
no século XX, sendo ela a atual Universidade de Manaus (1909), que
pertence atualmente à Universidade Federal do Amazonas.

Na atualidade existem várias universidades no Brasil, sejam elas de


oferta de cursos presencial ou a distância, de graduação ou pós-
graduação e, graças a globalização, hoje é possível estudar em
universidades dentro ou fora do país de origem.

23
Nesse sentido, vale ressaltar que as últimas décadas trouxeram
uma grande expansão desta modalidade de ensino. Antigamente,
predominantemente até o final do século XX, o acesso à universidade
era mais restrito, não havia tantas vagas e, até mesmo, instituições
suficientes. Desse modo, cursar uma graduação era visto, para além de
uma ascensão social, algo voltado mais para as pessoas de elite.

Para as pessoas de classe média e, principalmente, de classe baixa, a


passagem pela universidade era mais desafiadora, pois na trajetória
delas havia dilemas de permanência no curso (em virtude, muitas
vezes, pelas dificuldades financeiras em se manter nos estudos, com
necessidade de trabalho ou bolsa de estudos, bem como dificuldades
de outra ordem, como a locomoção até a universidade e a compra de
materiais). Somado a isso, ainda havia os problemas das desigualdades
sociais que impactavam incisivamente no público preto, com deficiências
e indígenas.

Dado isso, a universidade, aos poucos, percebeu que para intensificar


a sua função social, não bastava buscar fazer a diferença na vida das
pessoas de sua comunidade interna. Ela necessitava ampliar o escopo
de suas ações para a comunidade externa e, deste modo, interagir com
a sociedade, sendo mais receptiva e inclusiva. Ao pensar e agir desta
maneira, a universidade permitia uma discussão generalizada com
impacto na legislação.

A universidade que exerce funções sociais acaba por preencher lacunas


onde Governo e outros órgãos públicos falham. Isso acontece em razão
da própria dificuldade do Estado se fazer presente na sociedade, mas
também pela falta de gestores capacitados em lidar com questões
sociais de mais alta complexidade, bem como pela falta de recursos
financeiros e materiais.

Porém, é importante ressaltar um aspecto muito importante sobre


este papel da universidade junto à sociedade. Ela, por si, não tem

24
a obrigação de realizar serviços da competência do Estado, mas
exercer ação reparatória com o uso da ciência. Em outras palavras, a
universidade deve contemplar à sociedade o esclarecimento e a busca
de soluções científicas, logo, a sua ação deve ser de qualidade e não de
assistencialidade, pois ela não resolve conflitos sociais.

Logo, na busca da superação destes conflitos de classes sociais, é


possível afirmar que à função da sociedade impacta as ações de ensino,
pesquisa, extensão, bem como à sua gestão. De acordo com Leff (2001,
p. 202):

Embora as universidades e instituições de educação superior gozem


de autonomia formal (liberdade de pesquisa e ensino), suas atividades
acadêmicas são afetadas pelos valores dominantes da sociedade na qual
estão inscritas.

Nesse sentido, podemos compreender que, em razão do conflito de


classes salientar as desigualdades, compete à universidade, enquanto
papel social, contribuir para examinar, interpretar e quiçá solucionar
problemas pontuais dados pelos conflitos presentes na sociedade.

Com relação aos conflitos sociais, talvez, fosse utópico pensar que a
vida privada e social não tivesse seus dilemas e desafios. Se eles não
existissem não haveria desafios, pessoas poderiam pensar a mesma
coisa e a tendência social seria a de monotonia. Por consequência,
poder-se-ia questionar: estudar porquê? Ensinar para quem? Pesquisar
o quê?

O significado maior destes conflitos à universidade é a promoção da


ciência. Assim, neste espaço, dado por autonomia de Lei, é possível
pensar e atuar na tríade: ensino, pesquisa e extensão, por meio de
projetos. Em razão dessa tríade–ensino, pesquisa e extensão -, a
universidade, por meio de seus docentes, pesquisadores ou grupos de
pesquisa, identificam desafios sociais ou naturais, aprofundam estudos
e buscam dar respostas à sociedade.

25
Nesse sentido, vale ressaltar que internamente à universidade também
existem seus próprios desafios e dilemas. Logo, há dificuldades internas
e dificuldades externas.

Neste contexto, por exemplo, há o financiamento para pesquisas. Nesse


sentido, existe diferença na arrecadação de verbas entre universidades
públicas e universidades particulares, e há projetos de estudo que
podem ter mais prioridade em comparação a outros (na maior parte das
vezes pelo valor que pode agregar ao investidor ou às universidades ou
ao tipo de bolsa/incentivo à pesquisa). Outro exemplo é a infraestrutura
de laboratórios de pesquisa e insumos; por vezes, há diferenças de
estruturas dentro de uma própria universidade ou entre universidades
distintas, bem como de campos de conhecimento. A condição de
mobiliários, a arquitetura dos prédios também são aspectos impactantes
ao trabalho acadêmico.

Na perspectiva externa, um exemplo se refere ao material humano,


ou seja, o tipo de aluno que chega à universidade. Em alguns casos,
eles chegam desmotivados a se aprofundar nos conteúdos para além
daqueles constantes no currículo dos cursos que realizam. Para aqueles
interessados, por vezes, há escassez de bolsas de pesquisas e outros
auxílios.

Como apontado, apesar destas dificuldades, não significa que a


universidade não faça nenhuma ação, pelo contrário, ela faz o bastante
graças à mencionada tríade de ensino, pesquisa e extensão.

De acordo com Rays (2003, p. 71):

A apropriação do conceito de indissociabilidade, em relação aos termos


ensino, pesquisa e extensão, é imprescindível para o planejamento,
desenvolvimento e avaliação das atividades curriculares que pretendem
tomar o conceito como princípio norteador das práticas cotidianas do
ensino superior.

26
De acordo com o autor, a indissociabilidade entre ensino, pesquisa
e extensão é base para articulação das atividades fins da educação
superior (RAYS, 2003). Com isso, ensino, pesquisa e extensão se agregam
e são incorporados pela universidade aos currículos dos cursos que
oferece. Isso se percebe na estrutura curricular e em ações em que
ocorra proximidade entre a teoria e a prática. Isso, na verdade, é o que
apregoa a legislação nacional à exemplo da Constituição Federal (BRASIL,
1988, art. 207):

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica,


administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao
princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas


estrangeiros, na forma da lei.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e


tecnológica.

E da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL 1996, art.


1996):

Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades,


sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições:

§ 1º (...)

III–estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica,


produção artística e atividades de extensão;

§ 2º (...)

V–programação das pesquisas e das atividades de extensão.

27
2. Ensino

Na tríade ensino, pesquisa e extensão, o primeiro deles certamente é


o mais conhecido. O ensino é a forma que se transpõe didaticamente
todos os elementos construídos pela ciência da Educação ou a
Pedagogia. É pelo ensino que se pode desenhar as possibilidades
para o desenvolvimento da aprendizagem. Desse modo, é importante
destacar que pode ocorrer a aprendizagem dentro ou fora de contextos
escolares, como: na família, no grupo de amigos, na igreja, na internet,
etc. Entretanto, esta aprendizagem, às vezes, está mais relacionada
à aquisição de informações desviadas do que direcionadas. Ou seja,
é como se afirmássemos que pelo uso de uma rede social seria
possível aprender conteúdos de política. É possível obter uma fonte de
informação ampla na internet, todavia, para o aprendizado ocorrer e
para o leitor compreender, é necessária a organização da informação
obtida.

Portanto, o ensino se realiza quando o tema a ser lecionado estiver


previsto as regras básicas de organização de conteúdo, os processos
didáticos direcionados à aprendizagem e as maneiras de avaliação,
que leve como resultado o educando: refletir, perceber, construir e
abstrair a realidade que o/a envolve. Isso vale desde à aquisição das
primeiras letras e números para uma criança em idade de alfabetização,
como para uma pessoa em qualquer faixa etária, até mesmo, em nível
superior.

Rays (2003, p. 72) aponta que o termo ensino faz alusão à forma
de “ensino sistematizado”. Para o autor: “necessitam-se selecionar
procedimentos didáticos que promovam o aprendizado crítico de
conteúdo, habilidades, hábitos e valores” (RAYS, 2003, p. 72).

Assim, é possível compreender que os procedimentos didáticos têm


sentido de pensar nas formas de se chegar ao conhecimento pretendido

28
para que o aluno possa ter a autocrítica pessoal e coletiva, ou seja,
moldar os seus valores pessoais. Nesta ocasião, a universidade ou a
instituição escolar investe na sua imagem, pois com base nela é que
vai transmitir à sociedade os seus objetivos e sua missão enquanto
instituição de ensino.

O ensino no Brasil possui uma legislação específica do que se espera


que os alunos aprendam na escola. Em atenção à universidade, em
nível macro da gestão, isso é pensado e efetivado num documento
denominado Projeto Político Pedagógico (PPP), que demonstra o
currículo do curso e as ementas de cada uma das disciplinas de um
curso de graduação. Ao iniciar o trabalho em uma disciplina dentro de
um curso, o professor nunca “parte do zero”, pois esse profissional da
Educação tem como guia um corpus teórico de que deve estar apto e ter
domínio para lecionar.

Ao ingressar numa universidade para atuar profissionalmente, o


professor necessita estar atento ao que instituição onde for lecionar
promove como missão, objetivo e valores.

Em função disso, talvez, seja pertinente ao docente ou ao candidato a


uma vaga de docência na universidade ou outra instituição de ensino
superior levar em consideração os valores da instituição pretendida.
Logo, fazer esta observação em comparação aos próprios objetivos
pessoais e profissionais podem direcionar para um trabalho de
sucesso se os objetivos forem comuns, ou poderá criar situações
desestimulantes, como: frustrações profissionais–em caso de
discordância de regras, missão, objetivos e dos valores do local do
trabalho.

Adicionalmente, além dos objetivos em comum, é importante ter


outras habilidades em seu perfil professional, pois a sociedade atual
apresenta muitas mudanças de postura e paradigma. Portanto, cabe ao
docente além de estar sempre se qualificando, buscar contribuir para

29
mudanças significativas enquanto ator, agente e propulsor de novas
perspectivas sociais. Afinal, a sociedade espera muito a contribuição
deste professional e da universidade.

3. Pesquisa

Quando se fala em pesquisa, o que vem à sua mente? Provavelmente


a resposta teria uma das seguintes ilustrações: pessoas dentro de
laboratório usando macacões ou jalecos específicos, um pesquisador
usando tubos de ensaio, alguém olhando para as estrelas, um cientista
com a cara de Einstein, etc.

Essas percepções, todavia, não devem estar marcadas por um estigma.


A ideia de pesquisa é bem ampla, porém tem relação direta com a
produção do conhecimento e a inovação da ciência. Para Rays (2003, p.
73):

A pesquisa, tanto a básica quanto a aplicada, necessita, ao lado do ensino


e da extensão, constituir-se como uma atividade progressivamente
constante nos meios acadêmicos e nas atividades de difusão de
conhecimentos e de intervenção em problemas efetivos da sociedade.
Essas atividades, conforme o caso, são realizadas não só nos meios
acadêmicos, mas também nos meios não acadêmicos. Assim, por
exemplo, o contato interativo com problemas específicos da sociedade
pode provocar nos pesquisadores a necessidade de transformarem os
resultados de suas investigações em ações cognitivas e práticas (cognição-
prática-cognição) que possam auxiliar a comunidade a resolver os seus
problemas. Esse contato interativo tem, ainda, despertado em muitos
pesquisadores, inquietações que os auxiliam na definição de temas e
problemas concretos de pesquisa.

Diante do exposto, observa-se que, na pesquisa, o olhar do pesquisador


requer constante reflexão para com o objeto de análise ou situação-

30
problema. O objeto investigado deve possibilitar o conhecimento sobre
ele, melhorando-o ou levando-o a um olhar pautado na inovação.

Assim, de acordo com Fonseca (2002), a pesquisa científica é o resultado


de um inquérito ou exame minucioso, realizado com o objetivo de
resolver um problema, recorrendo a procedimentos científicos. Assim,
investiga-se uma pessoa ou grupo capacitado (sujeito da investigação),
abordando um aspecto da realidade (objeto da investigação), no
sentido de comprovar experimentalmente hipóteses (investigação
experimental), ou para descrevê-la (investigação descritiva) ou para
explorá-la (investigação exploratória).

No ensino superior, o primeiro passo que o interessado em pesquisa


deve ter é o de buscar um professor pesquisador que possa orientar
o trabalho e, com isso, elencar quais os devidos procedimentos de
pesquisa. Na sequência, em parceria, ambos elaboram um projeto.
Posteriormente, é necessária fundamentação teórica e, por fim, o
método para checar uma hipótese ou teoria de estudo. No método,
portanto, deve estar previsto se a proposta do projeto será pautada em
análises quantitativa, qualitativa ou ambas.

Ao final da pesquisa, ao confrontar aquilo que coletou com a teoria


estudada, o pesquisador dará a sua argumentação de pesquisador
sobre o objeto estudado. Neste caso, vale ressaltar a parceria entre
pesquisador e orientador. O fato da troca de experiências, além de um
treino acadêmico, permite análise mais específica sobre os rumos da
pesquisa e do projeto.

No Brasil, há a possibilidade de se realizar pesquisa com o auxílio


financeiro na forma de bolsa de estudo ou bolsa de pesquisa. Algumas
vezes, a própria universidade concede auxílios à pesquisa com verba
própria. Todavia, o financiamento também pode ser chancelado por
instituições públicas e privadas, sendo os produtos, na maior parte dos
casos, patenteados e revendidos no mercado financeiro. No que tange

31
às universidades, os órgãos mais próximos que podem patrocinar os
estudos são conhecidos por agências de fomento.

Esses órgãos de fomento podem receber propostas de projetos de


pesquisa naquilo que se denomina de propostas de fluxo contínuo,
ou seja, recebendo propostas a qualquer período do ano ou, como na
maioria dos casos, por meio de editais que possuem regulamentação
própria com prazos e cronogramas.

4. As agências de fomento à pesquisa

As agências de fomento, de modo geral, são conhecidas por


serem entidades financeiras sem caráter bancário, pois elas são
regulamentadas pelo Banco Central do Brasil. No Brasil, algumas
agências de fomento ligadas ao governo estão disponíveis na esfera
federal, como: no Ministério da Educação ou ao Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações e aos Estados, por meio das
Fundações de Amparo e Pesquisa (FAP’s). Como docente pesquisador
ou discente, após a elaboração do projeto de pesquisa cientifica, vale
conferir as informações disponíveis na internet, em sites específicos,
para verificar a possibilidade de candidatura à bolsa de pesquisa. Para
isso, serão apresentadas algumas das principais agências de fomento:

• CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do


Ensino Superior): está ligada ao Ministério da Educação e atua,
principalmente, na pós-graduação em projetos de mestrado e
doutorado stricto sensu, para realização de estudos no Brasil ou no
exterior. Ela financia, além de bolsas de estudo, auxílios diversos
e apoios acadêmicos. Além disso, a Capes possui um repertório
relevante de estudos e pesquisas em revistas acadêmicas e base
de dados, sendo o seu banco de teses um repositório que traz
todas as produções acadêmicas realizadas no país. Nos últimos
anos, desde 2007, ela está atuando, em paralelo, no fomento à

32
formação de professores da educação básica por meio de bolsas
como o PARFOR (Plano Nacional de Formação de Professores
da Educação Básica). Outro importante auxílio está sendo para
estudantes em cursos de licenciaturas, que têm recebido apoio em
programas como o Programa Residência Pedagógica e o Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). Por fim, a
Capes também financia o projeto Universidade Aberta do Brasil
(UAB), que é um programa do governo, no âmbito de ensino
superior, voltado para a modalidade à distância. Vale a pena
conferir o site da CAPES em: www.capes.gov.br. Acesso em: 6 jul.
2020.

• CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e


Tecnológico está ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações. De maneira semelhante à CAPES,
ele também auxilia e fomenta a pesquisa, dá auxilio e apoio às
atividades de pesquisa e inovação. Todavia, não atua apenas
no Ensino Superior, mas também na Educação Básica e às
empresas, fomentando pesquisas no Brasil e no exterior. São as
principais bolsas acadêmicas no Brasil: ICJ – Iniciação Cientifica
Junior (Ensino Médio) e IC – Iniciação Científica (graduação).
Para a pós-graduação: Mestrado GM, Doutorado GD, Doutorado
Sanduíche no País (SWP). São as principais bolsas acadêmicas
no exterior: Graduação Sanduíche (SWG); para a pós-graduação
(Doutorado Pleno GDE, Doutorado Sanduíche no País – SWE,
Mestrado Profissional no Exterior–MPE). Por fim, são as bolsas
voltadas apenas para pesquisa: Pós-Doutorado (PDE), Estágio
Sênior (ESN), Treinamento no Exterior (SPE). Para as empresas,
no âmbito do ensino médio e graduação, as bolsas são: Iniciação
Tecnológica e Industrial (ITI), Iniciação Tecnológica em TIC’s (IT).
Para a Pós-graduação: doutorado sanduíche (SWI) e, por último,
como pesquisa às empresas: Pós-Doutorado Empresarial (PDI),
Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI), Especialista
Visitante (EV), Apoio à Difusão do Conhecimento (ADC), Iniciação ao
Extensionismo (IEX), Fixação e Capacitação de Recursos Humanos

33
(SET), Apoio Técnico em Extensão no País (ATP), Extensão no País
(EXP), Estágio/Treinamento no Exterior (BSP), Bolsa a Especialista
Visitante (BEV), Estágio/Treinamento no País (BEP) e, por último,
Desenvolvimento Tecnológico em TICs (DTC). Cada uma destas
bolsas e programas tem uma regra específica, portanto, vale
consultar mais informações pelo site, disponível em: http://www.
cnpq.br/. Acesso em: 6 jul. 2020.

• FINEP: Financiadora de Estudos e Projetos, ela está ligada ao


Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e
chancela projetos de grande porte, promove a organização de
eventos e projetos de pesquisa que visem o desenvolvimento
social e econômico do país. Confira editais e chamadas públicas
em: http://www.finep.gov.br. Acesso em: 6 jul. 2020.

• SEBRAE: trata-se de uma entidade privada e de interesse público,


que contempla a abertura e expansão dos pequenos negócios, por
meio do empreendedorismo. Esta entidade subsidia os custos
de serviços tecnológicos prestados por empresas especializadas
em tecnologia e inovação, as quais irão buscar soluções para
otimizar os resultados da gestão, aperfeiçoar processos ou
produtos da pequena empresa, tornando-a mais competitiva e
melhor preparada para o mercado. Confira mais sobre o SEBRAE,
acessando: www.sebrae.com.br. Acesso em: 6 jul. 2020.

• INCT: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia é um órgão


ligado ao CNPq e voltado à ciência brasileira, com programas
para formação de redes de pesquisa, parcerias institucionais,
abordagem de temas nacionais de modo multidisciplinar,
formação e capacitação de recursos humanos e investimentos de
longo prazo. Ele financia projetos de pesquisa e fornece bolsas de
iniciação cientifica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Saiba
mais acessando: http://inct.cnpq.br/. Acesso em: 6 jul. 2020.

• FAP’s: Fundações de Amparo à Pesquisa são agências pertencentes


aos Estados. Cada uma delas possui sua agência própria com

34
regras particulares. Em geral, ela financia a iniciação cientifica, dá
apoio técnico, bolsa de recém-mestre, bolsas de pós-graduação
– mestrado e doutorado strictu sensu. Algumas agências famosas
são: FAPESP, FAPERJ, FAPBAHIA, FAPMG, FUNCAP, etc. É possível
obter mais informações sobre elas por meio do site: http://www.
confap.org.br/. Acesso em: 6 jul. 2020.

Nesse sentido, vale ressaltar que cada agência de fomento tem regras
específicas para concessão de bolsas de pesquisa, auxílios e outros tipos
de apoio e, em geral, todas elas cobram relatórios parciais, relatórios
finais e, até mesmo, prestação de contas do dinheiro investido na
pesquisa. Um fato adicional aos projetos de pesquisa que pode incidir na
obtenção da bolsa é a passagem por um Comitê de Ética em Pesquisa,
ligado ao Conselho Nacional de Saúde (CONEP) no Ministério da Saúde.
O professor orientador ou o docente do ensino superior deve estar bem
informado das regras deste órgão para propor pesquisas e estudos.

5. Extensão

Bem parecida ao modo que é feita a pesquisa, a extensão tem suas


similaridades. A diferença, por sua vez, é que a pesquisa se concentra
mais em refletir teoricamente um aspecto da sociedade, enquanto a
extensão se apropria de conteúdos teóricos não tão complexos para
levar conhecimento e ação à sociedade. Desse modo, é importante
destacar que pesquisa e extensão são inerentes a qualquer matriz
curricular de um curso no Ensino Superior. Para Rays (2003, p. 74):

• Deve se entender extensão como o momento de ensino-


aprendizagem de acadêmicos com a sociedade, pois é o momento
em estes entram em contato com a sociedade e discutem os
problemas da mesma e buscam soluções em comum.

35
Para que se possa aplicar a extensão acadêmica à sociedade, também é
importante a elaboração de um projeto, apesar dele não ser obrigatório,
como na pesquisa. Por não ser obrigatório, ele não é desnecessário,
pois ele pode nortear as ações pretendidas. Desse modo, é importante
destacar também que não é necessário buscar apoio em agência de
fomento ou com outros patrocinadores para realizar a extensão. Por
vezes, fazer o simples, como levar o conteúdo de determinado assunto
estudado em sala de aula para uma comunidade já é o bastante.

No trabalho da extensão com a sociedade é importante que a ação não


seja estritamente assistencialista, ou seja, dar algo às pessoas sem que
possam refletir a sua experiência e quiçá mudar um comportamento
ou uma atitude negativa para qualificá-la como positiva. Por exemplo,
considere um curso de Odontologia, com carga horária e currículo para
formação dentro de cinco anos. Em um determinado semestre, como o
terceiro, o estudante cursa apenas aulas teóricas e, esporadicamente,
realiza pesquisas para responder os exercícios. O referido discente ainda
não iniciou os estágios de formação na área. Então, questiona-se: se até
o momento ele apenas estuda questões teóricas, em qual momento ele
poderia tatear a realidade e compreender mais a sua futura profissão
para além de estágios em clínicas? Algumas respostas seriam possíveis,
uma delas como a didática ou o tipo de ensino, o docente que pode
envolver na sua prática pedagógica a teoria. O limite disso é que nem
sempre todas as aulas serão assim e, além do mais, um estudante
inicial em odontologia tem contato restrito com a população. Neste
caso, um projeto de extensão pode permitir que ele faça observações
e compreenda a realidade social com mais detalhes, ainda mais se
envolver a experiência entre alunos de vários semestres.

Numa situação de projeto de conscientização da escovação bocal em


escolas com crianças de seis a dez anos, por exemplo, o estudante de
odontologia certamente poderia refletir sobre seu curso e seus objetivos
profissionais. Somado a isso, essa extensão teria caráter educativo, pois
as crianças nesta faixa etária talvez deveriam ser esclarecidas sobre

36
a importância da escovação. Isso poderia ser útil para elas, para suas
famílias, bem como pela escola. Esse fato configura a função social
da universidade. O contrário, ou seja, o assistencialismo seria se esse
discente fosse à escola entregar kits de escovação às crianças e não
fazer nenhuma intervenção. Assim, não há nenhuma transformação
social, logo, não se tem extensão.

Para finalizar, neste tema, verificamos a importância social da


universidade junto à sociedade. Para isso, a tríade ensino, pesquisa e
extensão promove a possibilidade de uma formação em nível superior
com mais capacidade de análise crítica e reflexiva. Além disso, vimos a
importância dos projetos de pesquisa e a possibilidade do fomento de
várias agências para a promoção da pesquisa e a inovação da ciência.
Este escopo se insere na política e gestão educacional, uma vez que,
dentro da lei, o ensino superior está suportado por todos este apoio
técnico dos órgãos de governo.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 18 abr. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Brasília, DF: Presidência da República, [1996]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 abr. 2020.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.
LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.
Petrópolis: Vozes, 2001.
RAYS, O. A. Ensino-Pesquisa-Extensão: notas para pensar a indissociabilidade.
Revista Educação Especial, Santa Maria, p. 71-85, mar. 2012. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/5034. Acesso em: 24 abr.
2020

37
A Legislação Nacional Para
a Educação Superior
Autoria: Carlos Eduardo Candido Pereira
Leitura crítica: Aline Oliveira Gomes da Silva

Objetivos
• Conhecer a atual estrutura de organização
acadêmica da Educação Superior no Brasil.

• Verificar a atual legislação que trata as funções de


regulação,supervisão e avaliação das instituições de
Educação Superior.

• Interpretar o Decreto nº 9.235 de 2017 referente à


Educação Superior.

38
1. A organização acadêmica da Educação
Superior no Brasil

Dentro de um Estado de Direito constituído o predomínio do aspecto


jurídico, com as leis, acaba por estruturar e organizar toda a hierarquia
das estruturas sociais e o sistema político de uma nação. Assim, todas as
instituições seguem as regras de acordo com sua finalidade.

Com isso, a organização acadêmica e universitária existente no passado


ainda é, culturalmente, bastante conhecida no presente. No passado, a
mencionada organização da Educação Superior se dava em três níveis:

1. Instituições Universitárias, compostas por Universidades e


Universidades Especializadas.
2. Centros Universitários.
3. Instituições Não Universitárias, onde se agregavam os Institutos
Superiores de Educação, os CEFET’s e CET’S, as Faculdades Isoladas
e as Faculdades Integradas.

Esses níveis ainda são presentes na cultura popular, pois uma instituição
de ensino superior antes conhecida como “Faculdade Isolada” ou
“Faculdade Integrada” ainda é conhecida com tal nomenclatura. O fato
é que tais instituições passaram por mudanças e, em alguns casos, para
continuar atendendo ao público, precisaram se readequar à Lei. No caso
das Universidades Especializadas, Faculdades Integradas ou Isoladas,
elas já nem existem mais dentro da Lei, os CET’s e CEFET’s foram
elevados ao nível do Ensino Superior pela esfera federal. Isso ocorreu
em virtude de uma nova forma de organização acadêmica que se
ordenou ao Brasil, em vista da promulgação do Decreto nº 9.235 (BRASIL,
2017), que traz no seu art. 15:

Art. 15. As IES, de acordo com sua organização e suas prerrogativas


acadêmicas, serão credenciadas para oferta de cursos superiores de
graduação como:

39
I - faculdades;

II - centros universitários; e

III – universidades. (BRASIL, 2017, art. 15)

Desse modo, esse artigo ainda aponta a ideia dos credenciamentos


institucionais. Toda instituição de origem particular ou privada inicia as
suas funções como faculdades. Para essa mesma instituição pleitear
o status de instituições maiores, na ordem: a) centros universitários e;
b) universidades – ela deve solicitar recredenciamento, obedecendo o
quantitativo previsto na lei para porcentagem de mestres e doutores
contratados, bem como a oferta de cursos de graduação e pós-
graduação, atividades de ensino e extensão e outras ações.

O Decreto nº 9.235, de 2017, portanto, será objeto de estudo mais


detalhado a partir do próximo capítulo.

2. A regulação, a supervisão e a avaliação das


instituições de Educação Superior: Decreto
nº 9.235, de 2017

Neste item, analisaremos o Decreto nº 9.235, de 2017, essa orientação


legal trata as maneiras de regulação, supervisão e avaliação da Educação
Superior. Nesse sentido, é importante realçar que este decreto amplia o
que está disponível acerca da Educação Superior em outras legislações,
como a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) e a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996).

O Decreto nº 9.235, de 2017, está ordenado em cinco capítulos e conta


com 108 artigos no total. Alguns capítulos, respectivamente o II, III e IV,
trazem seções específicas dos assuntos seguintes assuntos: regulação,

40
supervisão e avaliação. De modo resumido, apresenta-se a seguir a
estrutura do referido decreto:

Capítulo I - Da Educação Superior no Sistema Federal de Ensino - (art. 1º


ao 13)

Capítulo II - Da regulação

• Seção I - Dos atos autorizativos (art. 9º ao 14).

• Seção II - Das organizações acadêmicas (art. 15 ao 17).

• Seção III - Do credenciamento institucional (art. 18 ao 24).

• Seção IV - Do recredenciamento institucional (art. 25 ao 28).

• Seção V - Da oferta de pós-graduação (art. 29 ao 30).

• Seção IV - Do campus fora de sede (art. 31 ao 34).

• Seção VII - Da transferência de mantença (art. 35 ao 38).

• Seção VIII - Da autorização de cursos (art. 39 ao 44).

• Seção IX - Do reconhecimento e da renovação de reconhecimento


de cursos (art. 45 ao 52).

• Seção X - Do protocolo de compromisso (art. 53 ao 56).

• Seção XI - Do encerramento da oferta de cursos e


descredenciamento de instituições (art. 57 ao 58).

• Seção XII - Da validade dos atos (art. 59 ao 61).

Capítulo III - Da supervisão

41
• Seção I - Das fases do processo administrativo de supervisão (art.
62 ao 64).

• Seção II - Do procedimento preparatório (art. 65 ao 68).

• Seção III - Do procedimento saneador (art. 69 ao 70).

• Seção IV - Do procedimento sancionador (art. 71 ao 75).

• Seção V - Da oferta sem ato autorizativo (art. 76 ao 78).

Capítulo IV - Da avaliação

• Seção I - Da avaliação das instituições de educação superior e dos


cursos superiores de graduação e pós-graduação (art. 79 ao 85).

• Seção II - Da avaliação do desempenho acadêmico dos estudantes


de cursos de graduação por meio do Enade (art. 86 ao 89).

Capítulo V – Disposições Finais – Artigo 90 ao 108

Pela estrutura apresentada, pode-se notar que a Lei é bem específica


para tratar de alguns aspectos inerentes ao funcionamento da Educação
Superior. O título de cada um dos capítulos proporciona boa margem
interpretativa. Por ser uma legislação extensa, há a apresentação de
alguns pontos relevantes com comentários. Todavia, fica a indicação da
leitura da lei na íntegra com base na bibliografia.

O primeiro artigo do decreto indica que serão abordadas as funções de


regulação, supervisão e avaliação das instituições de educação superior
(IES) e dos cursos superiores de graduação e de pós-graduação lato
sensu nas modalidades presencial e a distância no Brasil.

No que tange à regulação, ou seja, a forma da Lei que aponta como


pode funcionar uma IES é indicado que deve ser realizada por meio
de atos autorizativos de funcionamento. O art. 10 subsidia tais

42
informações, tratando sobre: a) Ato Autorizativo de Credenciamento
e Recredenciamento da IES; b) Ato Autorizativo de Reconhecimento
ou Renovação dos Cursos Superiores. Em resumo, um dos atos é para
permitir a autorização do funcionamento da IES e o outro para autorizar
a oferta de cursos de graduação e pós-graduação.

Sobre a supervisão, a Lei determina que a finalidade é acompanhar


a IES por meio de ações preventivas ou corretivas, com perspectivas
de averiguar se está se cumprindo as normas gerais da Educação
Superior, bem como a regularidade e a qualidade da oferta dos cursos
de graduação e de pós-graduação lato sensu oferecidos. A supervisão
é realizada por um órgão de governo na esfera federal, estadual ou
municipal, ou, até mesmo, na parceria entre um ou mais deles.

Os processos de avaliação são apontados como tendo a principal


ferramenta o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior,
o SINAES. Nesse sentido, a lei aponta que esta avaliação tem caráter
formativo e que se constitui como referencial básico para os processos
de regulação e de supervisão da educação superior, com a finalidade de
promover a melhoria da qualidade dos cursos nas instituições.

Ainda sobre o capítulo inicial deste decreto, é possível perceber que


para além das ações de regulação, supervisão e avaliação, ele apresenta
alguns atores adicionais que atuarão junto às Instituições de Ensino
Superior. O art. 3, por sua vez, pontua alguns desses atores:

Art. 3º As competências para as funções de regulação, supervisão e


avaliação no sistema federal de ensino serão exercidas pelo Ministério
da Educação, pelo Conselho Nacional de Educação - CNE, pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep e pela
Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior - Conaes, conforme
estabelecido neste Decreto. (BRASIL, 2017, art. 3º)

Em vista disso, fazendo apresentação de cada um destes atores, com


relação ao ministério da Educação, na figura do Ministro de Estado:

43
Art. 4º Ao Ministro de Estado da Educação compete:

I - homologar pareceres do CNE em pedidos de credenciamento,


recredenciamento e descredenciamento de IES;

II - homologar pareceres e propostas de atos normativos aprovados pelo


CNE;

III - aprovar os instrumentos de avaliação elaborados pelo Inep;

IV - homologar as deliberações da Conaes; e

V - expedir normas e instruções para a execução de leis, decretos e


regulamentos.

§ 1º O Ministro de Estado da Educação poderá, motivadamente, restituir os


processos de competência do CNE para reexame.

§ 2º Os atos homologatórios do Ministro de Estado da Educação são


irrecorríveis na esfera administrativa. (BRASIL, 2017, art. 4º)

Como apontado, o papel do Ministro da Educação para com a Educação


Superior acontece mediante as ferramentas oferecidas por outros
órgãos da educação, como o CNE (Conselho Nacional de Educação) e o
CONAES (Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior). Além
disso, é papel do Ministro estar na linha de frente à análise e o despacho
administrativo das funções de regulação e supervisão da educação
superior. Numa escala hierárquica, a palavra final é sempre deste ator.

Com relação ao CNE (Conselho Nacional de Educação):

Art. 6º Compete ao CNE:

I - exercer atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento


ao Ministro de Estado da Educação nos temas afetos à regulação e à
supervisão da educação superior, inclusive nos casos omissos e nas
dúvidas surgidas na aplicação das disposições deste Decreto;

44
II - deliberar, por meio da Câmara de Educação Superior, sobre pedidos
de credenciamento, recredenciamento e descredenciamento de IES e
autorização de oferta de cursos vinculadas a credenciamentos;

III - propor diretrizes e deliberar sobre a elaboração dos instrumentos


de avaliação para credenciamento e recredenciamento de instituições a
serem elaborados pelo Inep;

IV - recomendar, por meio da Câmara de Educação Superior, providências


da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do
Ministério da Educação, quando não satisfeito o padrão de qualidade
para credenciamento e recredenciamento de universidades, centros
universitários e faculdades;

V - deliberar, por meio da Câmara de Educação Superior, sobre a inclusão e


a exclusão de denominação de curso
do catálogo de cursos superiores de tecnologia;

VI - julgar, por meio da Câmara de Educação Superior, recursos a ele


dirigidos nas hipóteses previstas neste Decreto; e

VII - analisar e propor ao Ministério da Educação questões relativas à


aplicação da legislação da educação superior. (BRASIL, 2017, art. 6º)

Como podemos observar, o CNE, em muitos casos, tem competência


deliberação, recomendação, análise e proposição de diretrizes para
deliberações. Além disso, ele é o órgão que assessora o Ministro da
Educação e dá o aval ao credenciamento e recredenciamento de cursos
quando às IES fazem solicitação de abertura ou recredenciamento
à Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior no
Ministério da Educação.

Portanto, compete ao INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas


Anísio Teixeira):

Art. 7º Compete ao Inep:

45
I - conceber, planejar, coordenar e operacionalizar:

a) as ações destinadas à avaliação de IES, de cursos de graduação e de


escolas de governo; e

b) o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes - Enade, os exames e


as avaliações de estudantes de
cursos de graduação;

II - conceber, planejar, coordenar, operacionalizar e avaliar:

a) os indicadores referentes à educação superior decorrentes de exames e


insumos provenientes de bases de dados oficiais, em consonância com a
legislação vigente; e

b) a constituição e a manutenção de bancos de avaliadores e


colaboradores especializados, incluída a designação das comissões de
avaliação;

III - elaborar e submeter à aprovação do Ministro de Estado da Educação


os instrumentos de avaliação externa in loco, em consonância com
as diretrizes propostas pela Secretaria de Regulação e Supervisão da
Educação Superior e pelos outros órgãos competentes do Ministério da
Educação;

IV - conceber, planejar, avaliar e atualizar os indicadores dos instrumentos


de avaliação externa in loco, em consonância com as diretrizes propostas
pela Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do
Ministério da Educação;

V - presidir a Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação - CTAA,


nos termos do art. 85; e

VI - planejar, coordenar, operacionalizar e avaliar as ações necessárias à


consecução de suas finalidades. (BRASIL, 2017, art. 7º)

O INEP é o órgão que atua mais próximo das instituições de ensino


superior quanto ao planejamento, coordenação, operacionalização

46
e instrumentalização das avaliações, sendo o ENADE o seu exemplo
de mais conhecimento popular. Em vista disso, também é de sua
competência a elaboração de relatórios e indicadores do Educação
Superior pública e particular no país.

Com relação ao CONAES (Comissão Nacional de Avaliação da Educação


Superior):

Art. 8º Compete à Conaes:

I - propor e avaliar as dinâmicas, os procedimentos e os mecanismos de


avaliação institucional, de cursos e de desempenho dos estudantes;

II - estabelecer diretrizes para organização das comissões de avaliação,


analisar relatórios, elaborar pareceres e encaminhar recomendações às
instâncias competentes;

III - formular propostas para o desenvolvimento das IES, com base nas
análises e recomendações produzidas nos processos de avaliação;

IV - articular-se com os sistemas estaduais de ensino, com vistas ao


estabelecimento de ações e critérios comuns de avaliação e supervisão da
educação superior; e

V - submeter anualmente à aprovação do Ministro de Estado da Educação


a relação dos cursos cujos estudantes realizarão o Enade. (BRASIL, 2017,
art. 8º)

Pelo excerto, podemos verificar o papel do Conaes na operacionalização


técnica dos procedimentos de avaliação e supervisão, bem como,
suporte aos estados para tal finalidade. Os relatórios apontam o cenário
dos cursos da Educação Superior e quais serão os cursos a serem
avaliados no ENADE.

47
O segundo capítulo do Decreto nº 3.295 de 2017 trata a regulação da
Educação Superior. Esse é um capítulo com muitas seções específicas,
sendo um destaque inicial o credenciamento das IES:

Art. 18. O início do funcionamento de uma IES privada será condicionado à


edição prévia de ato de credenciamento pelo Ministério da Educação

(…)

Art. 19. A mantenedora protocolará pedido de credenciamento junto à


Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério
da Educação, observado o calendário definido pelo Ministério da Educação.

(…)

Art. 20. O pedido de credenciamento será instruído com os seguintes


documentos:

(…)

II - da IES:

a) comprovante de recolhimento das taxas de avaliação externa

b) plano de desenvolvimento institucional - PDI;

c) regimento interno ou estatuto;

d) identificação dos integrantes do corpo dirigente e de informação sobre a


experiência acadêmica e professional de cada um

e) comprovante de disponibilidade e regularidade do imóvel;

f) plano de garantia de acessibilidade, em conformidade com a legislação,


acompanhado de laudo técnico emitido por profissional ou órgão público
competentes; e

48
g) atendimento às exigências legais de segurança predial, inclusive plano
de fuga em caso de incêndio, atestado por meio de laudo específico
emitido por órgão público competente. (BRASIL, 2017, art. 18-20)

Como podemos notar, o credenciamento de uma IES depende da


mantenedora custear taxas e demonstrar espaço físico à oferta
do atendimento educacional, valorizando as exigências legais de
segurança predial e acessibilidade. Os documentos que comprovem
a organização interna, como regimentos e, principalmente, o PDI
(Plano de Desenvolvimento Institucional) é essencial no processo de
credenciamento. Assim, não foi apontado nos artigos apresentados,
mas é importante mencionar que o processo de recredenciamento das
IES segue determinações semelhantes. Tanto para credenciamento
como recredenciamento, as IES devem contatar a Secretaria de
Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da
Educação.

No que se refere à autorização para funcionamento dos cursos:

Art. 39. A oferta de cursos de graduação em faculdades, nos termos deste


Decreto, depende de autorização prévia do Ministério da Educação.

(…)

Art. 41. A oferta de cursos de graduação em Direito, Medicina, Odontologia,


Psicologia e Enfermagem, inclusive em universidades e centros
universitários, depende de autorização do Ministério da Educação, após
prévia manifestação do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil e do Conselho Nacional de Saúde.

(...)

Art. 42. O processo de autorização será instruído com análise documental,


avaliação externa in loco realizada pelo Inep e decisão da Secretaria de
Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação.

49
(…)

Art. 43. O pedido de autorização de curso será instruído com os seguintes


documentos:

I - comprovante de recolhimento da taxa de avaliação externa in loco,


realizada pelo Inep;

II - projeto pedagógico do curso, que informará o número de vagas,


os turnos, a carga horária, o programa do curso, as metodologias,
as tecnologias e os materiais didáticos, os recursos tecnológicos e os
demais elementos acadêmicos pertinentes, incluídas a consonância da
infraestrutura física, tecnológica e de pessoal dos polos de educação a
distância do curso, quando for o caso.

III - relação de docentes e de tutores, quando for o caso, acompanhada


de termo de compromisso firmado com a instituição, que informará a
titulação, a carga horária e o regime de trabalho;

IV - comprovante de disponibilidade do imóvel.

Art. 44. A Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior


do Ministério da Educação procederá à análise dos documentos, sob os
aspectos da regularidade formal e do mérito do pedido, e ao final poderá:

I - deferir o pedido de autorização de curso;

II - deferir o pedido de autorização de curso com redução de vagas;

III - deferir o pedido de autorização de curso, em caráter experimental;

IV - indeferir o pedido de autorização de curso. (BRASIL, 2017)

Nesse sentido, os cursos podem ter autorização de funcionamento antes


mesmo de estarem registrados. Por vezes, o tempo para o registro do
curso pelo Ministério da Educação e o tempo de conclusão do curso
pela IES acaba coincidindo. De maneira diferente ao credenciamento da
IES, que dentre a documentação se prevê a construção do PDI (Plano de

50
Desenvolvimento Institucional), para cursos de graduação, para além
de outras documentações, deve ser apresentado o PPP (Projeto Político
Pedagógico) do curso.

As etapas finais para regulação da IES e dos cursos das IES é o próprio
reconhecimento do Ministérios da Educação e a assinatura do termo
de compromisso com renovações esporádicas, em vista do processo de
recredenciamento.

Adentrando aos principais aspectos do Capítulo III do Decreto nº 9.235


de 2017, apresenta-se temas referentes ao processo de Supervisão nas
IES. Em linhas gerais, quando a IES passa pelo processo de supervisão,
pode acarretar na identificação de irregularidades, como: avaliação
insatisfatória nos processos de avaliação, visitas in loco dos agentes do
governo ou, até mesmo, por meio de denúncias, como nos casos das IES
atuarem sem autorização.

Nesse sentido, o art. 62 aponta quais são os procedimentos


administrativos de supervisão possam sofrer no caso de necessidade de
melhorias:

Art. 62. O processo administrativo de supervisão instaurado para apuração


de deficiências ou irregularidades poderá ser constituído das seguintes
fases:

I - procedimento preparatório;

II - procedimento saneador; e

II - procedimento sancionador. (BRASIL, 2017, art. 62)

O primeiro procedimento preparatório dado pelo ministro da


educação e instaurado pela Secretaria de Regulação e Supervisão
do MEC aponta que a IES precisa readequar-se para um ou mais
pontos. Logo, ele é preparatório porque indicar a instauração de um

51
procedimento saneador, sancionador ou arquivamento de processo.
O procedimento saneador é aplicado nos casos de identificação de
deficiências ou de irregularidades passíveis
de saneamento, determinar providências saneadoras, em prazo não
superior a doze meses. O procedimento sancionador ocorrerá a
partir do procedimento preparatório, ou, então, nos casos em que não
se tendo cumprido as providências determinadas para o saneamento
das deficiências pela instituição e das demais situações previstas na
legislação educacional.

Ao final de um período apontado para readequações e melhorias, a IES


pode sofrer várias punições, como: suspensão de auxílios do governo,
abertura de cursos, vagas e, no caso mais grave, o descredenciamento
institucional.

O quarto capítulo do Decreto nº 9.235, de 2017, aborda o processo


de avaliação por meio de dois contextos. O primeiro deles é sobre a
avaliação das instituições de educação superior e dos cursos superiores
de graduação e pós-graduação que tem como principal ferramenta o
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

Art. 80. O Sinaes, a fim de cumprir seus objetivos e atender a suas


finalidades constitucionais e legais, compreende os seguintes processos de
avaliação:

I - avaliação interna das IES;

II - avaliação externa in loco das IES, realizada pelo Inep;

III - avaliação dos cursos de graduação; e

IV - avaliação do desempenho acadêmico dos estudantes de cursos de


graduação por meio do Enade. (BRASIL, 2017, art. 80)

Como podemos observar, a avaliação interna demanda à IES estruturar


formas de se auto pesquisar para saber qual tem sido a qualidade de

52
seu atendimento. A avaliação in loco é realizada pelas esferas de governo
que, aos moldes do que foi pontuado na supervisão, podem estabelecer
procedimento administrativos. A avaliação dos cursos é dada por
uma série de questões, como condições de acesso e permanência do
estudante na IES, projeto político pedagógico, acervo de biblioteca.

O segundo ponto é sobre a avaliação do desempenho acadêmico dos


estudantes de cursos de graduação por meio do Enade.

Art. 86. Os exames e as avaliações de estudantes de cursos de graduação


aferem os desempenhos em relação às habilidades e às competências
desenvolvidas ao longo de sua formação na graduação.

Art. 87. O Enade será aplicado a estudantes de cada curso a ser avaliado de
acordo com ciclo avaliativo a ser definido pelo Ministério da Educação.

Art. 88. Os instrumentos de avaliação do Enade serão compostos a partir


de itens do Banco Nacional de Itens da Educação Superior - BNI-ES a ser
mantido pelo Inep.

Art. 89. Os indicadores da educação superior serão calculados a partir das


bases de dados do Inep e de outras
bases oficiais que possam ser agregadas para subsidiar as políticas
públicas de educação superior. (BRASIL, 2017, art. 86-89)

Portanto, o ENADE avaliará o desempenho dos estudantes da graduação


dentro daquilo que o MEC e o INEP apontam como Banco Nacional
de Itens da Educação Superior, que é um documento que considera o
que é conhecimento básico para determinado curso de graduação. Os
resultados de desempenho permitem ao MEC atribuir nota ou conceito
ao curso de graduação e à IES, sendo uma escala de 0 a 5.

Como estudamos nesta unidade, por meio do Decreto nº 9.235, de 2017,


permitiu conhecer as principais regras que contemplam as Instituições
de Ensino Superior. Desse modo, esse estudo da lei permite conhecer

53
quais são as principais disposições governamentais para atividades fins
da Educação Superior.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.
Acesso em: 18 abr. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Brasília, DF: Presidência da República, [1996]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 abr. 2020.
BRASIL. Decreto nº 9.235, de 17 de dezembro de 2017. Dispõe sobre o exercício
das funções de regulação, supervisão e avaliação das instituições de educação
superior e dos cursos superiores de graduação e de pós-graduação no sistema
federal de ensino. Brasília, DF: Presidência da República, [2017]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/D9235.htm.
Acesso em: 30 abr. 2020.

54
Ações Afirmativas, Políticas e
Legislação de Inclusão
Autoria: Carlos Eduardo Candido Pereira
Leitura crítica: Aline Oliveira Gomes da Silva

Objetivos
• Verificar as ações afirmativas enquanto
contribuições e encaminhamentos de políticas
educacionais e de inclusão.

• Conhecer as Políticas Inclusivas Gerais da Educação


Superior.

• Analisar as Políticas Inclusivas Específicas da


Educação Superior.

55
1. Ações afirmativas: contribuições e
encaminhamentos

Nas últimas décadas, o mundo tem passado por um processo múltiplo


de políticas ideológicas com a reivindicação de proteção, direitos e
legislações específicas para o reconhecimento da liberdade dos mais
variados grupos sociais, etnias e raças.

No reconhecimento destas peculiaridades, grande parte dos governos


mundiais, como o Brasil, reconhecem essa multiplicidade social. Desde a
década de 1990, várias leis foram implementadas para que as chamadas
minorias pudessem ter reconhecimento de suas peculiaridades sociais.

Todavia, mesmo na atualidade, essas legislações, apesar de reconhecer


as minorias no campo político, no campo cultural estão presentes o
olhar do preconceito, do estigma, do ódio, da exclusão, da posse e
da discriminação. Este é o caso das pessoas com deficiências, negros,
indígenas, imigrantes, mulheres, idosos, homossexuais, moradores da
favela e, até mesmo, moradores de rua.

Apesar das reais dificuldades apontadas na atualidade, é importante


reconhecer no âmbito político e legal os avanços obtidos aos mais
variados grupos. Com isso, mencionamos os acontecimentos
históricos, como o período pós-guerras no século XX e a promulgação
da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das
Nações Unidas (ONU), em 1948. Por sua vez, isso propiciou ampliar
os debates ideológicos por igualdade que resultaram em políticas e
legislações ligadas às ações afirmativas.

De acordo com Santos (2005), as ações afirmativas são medidas tomadas


ou determinadas pelo Estado, espontânea ou compulsoriamente, na
forma de lei, com o objetivo de eliminar desigualdades historicamente
acumuladas. Assim, se garante a igualdade de oportunidades e

56
tratamento, bem como a compensação dos prejuízos incitados por
ações de discriminação e marginalização racial, étnica, religiosa, de
gênero, entre outros.

Somada a esta concepção, as ações afirmativas pretendem condenar as


discriminações acontecidas e que por ventura ainda aconteça aos mais
variados grupos na sociedade. Desse modo, as ações afirmativas, ao
serem incorporadas pela política, fixam que:

As ações afirmativas, enquanto políticas compensatórias adotadas para


aliviar e remediar as condições resultantes de um passado discriminatório,
cumprem uma finalidade pública decisiva para o projeto democrático,
que é a de assegurar a diversidade e a pluralidade social. Constituem
medidas concretas que viabilizam o direito à igualdade, com a crença de
que a igualdade deve se moldar no respeito à diferença e à diversidade.
Através delas transita-se da igualdade formal para a igualdade material
e substantiva Posto isso, com o advento de uma nova ordem propiciada
pela estruturação do Estado Moderno, as principais legislações voltadas a
esse público (das pessoas com deficiências) datam da segunda metade do
século XX, sendo o marco a Declaração Universal dos Direitos Humanos
em 1948. (SANTOS, 2005, p. 40)

Como podemos observar, as ações afirmativas buscam dar igualdade


de condições, mesmo que na atualidade a sua efetivação ainda seja um
processo de constante debate ideológico nas sociedades democráticas.

Entre todas as instituições de ensino numa sociedade democrática,


certamente, são as da Educação Superior onde as críticas reflexivas
sobre as ações afirmativas ganham mais ênfase e, por isso, também é
este tipo de instituição que mais vem se tornando flexível nas últimas
décadas. Isso explica o porquê, nos anos finais do século passado e
nos anos iniciais deste século, o governo brasileiro se dedicou mais às
políticas de diversidade no Ensino Superior. Para Moehlecke (2004, p.
477):

57
Com relação a permanência no Ensino Superior, as ações abrangem
basicamente, a concessão de bolsas vinculadas à participação em
programas e projetos que promovem uma reflexão sobre políticas
de diversidade [...]. Destacam-se ainda os programas de formação de
professores abrangendo temas como educação indígena, a educação de
gênero e a orientação sexual e as relações étnico-raciais.

Com isso, as políticas compensatórias aconteceram para evitar a evasão


dos estudantes no ensino superior, sobretudo os de classes sociais
desfavorecidas, bem como se formou mais professores e profissionais
no debate da diversidade, ou seja, pensou-se em ampliar o tema para
reduzir as desigualdades em vários setores profissionais.

2. Políticas inclusivas gerais da Educação


Superior

Com base no debate sobre as ações afirmativas e sua efetivação em


programas e políticas voltadas à Educação Superior, desde os anos
1990, é importante apontar algumas ações, sobretudo, de acesso
e permanência a esta modalidade de ensino para toda a sociedade
brasileira. Logo, sendo ações que reconhecem a diversidade e as
desigualdades sociais no Brasil e que buscam qualificar outras políticas
combatendo a exclusão e aumento da pobreza.

A primeira legislação de acesso à Educação Superior foi a criação do


Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), em 1998. No início, esse
exame possibilitou uma pontuação extra aos alunos do ensino médio a
alguns vestibulares do país, contribuindo ao Instituto Nacional de Ensino
e Pesquisa Anísio Teixeira (INEP) realizar diagnósticos para se pensar
outras alternativas de política da educação.

Desde aquela época, o ENEM é utilizado como ferramenta pelo INEP


para que este órgão, por meio de dados estatísticos, permita pensar

58
soluções para a melhoria da qualidade da Educação em nível médio e
ingresso na Educação Superior no Brasil.

Por sua vez, observou-se que, ao longo dos anos, em virtude das
análises do ENEM, foram criadas políticas de acesso e permanência à
Educação Superior, com auxílios financeiros e bolsas de estudo, como
o FIES (2001), o Prouni (2004) e o Sistema de Seleção Unificada – SiSU
(2010).

O Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES)


surgiu originalmente com a Lei nº 10.260 de 2001, porém, ao longo dos
anos sofreu várias atualizações no texto inicial sendo a versão mais
recente dada pela Lei nº 13.530, de 2017. O FIES é bem especifico ao
apontar que:

Art. 1º. (...) o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), de natureza


contábil, vinculado ao Ministério da Educação, destinado à concessão de
financiamento a estudantes de cursos superiores não gratuitos e com
avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério, de acordo
com regulamentação própria.

§ 1º. O financiamento de que trata o caput deste artigo poderá beneficiar


estudantes matriculados em cursos da educação profissional, técnica e
tecnológica, e em programas de mestrado e doutorado com avaliação
positiva, desde que haja disponibilidade de recursos, nos termos do que
for aprovado pelo Comitê Gestor do Fundo de Financiamento Estudantil.
(BRASIL, 2017, art. 1º)

Assim, fica explicito que o FIES financia estudantes de cursos superiores


não gratuitos (em outras palavras, públicos) em cursos e instituições
que tenham boa avaliação de desempenho e que eles, para além da
formação técnica, mas voltada à Educação Superior esteja voltado para
graduação e pós-graduação.

59
O PROUNI (Programa Universidade Para Todos), por sua vez, foi
institucionalizado pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, e tem
como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais
em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em
instituições de ensino superior privadas:

Art. 1º Fica instituído, sob a gestão do Ministério da Educação, o Programa


Universidade para Todos–PROUNI, destinado à concessão de bolsas
de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de 50% (cinquenta por
cento) ou de 25% (vinte e cinco por cento) para estudantes de cursos de
graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas
de ensino superior, com ou sem fins lucrativos. (BRASIL, 2005, art. 1º)

Além disso, a Lei do Prouni trata outras informações, como a condição


socioeconômica dos estudantes que venham pleitear participação no
programa, bem como as atribuições deles e da universidade. Para a
época de sua criação, a pretensão do governo federal era a de que as
classes sociais mais desfavorecidas pudessem ter acesso ao ensino
superior na esfera particular, uma vez que não havia vagas suficientes
na esfera pública.

O Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foi promulgado pela Portaria


Normativa nº 21 de 5 de novembro de 2012, definindo:

Art. 2º O Sisu é o sistema por meio do qual são selecionados estudantes a


vagas em cursos de graduação disponibilizadas pelas instituições públicas
e gratuitas de ensino superior que dele participarem (BRASIL, 2012, art. 2º).

Portanto, o Sisu se trata de um sistema que auxilia o estudante


ingressar numa universidade que assina com a Secretaria da Educação
Superior, no MEC, um termo de adesão. Assim, no momento em que
processos seletivos acontecerem, os estudantes se inscrevem (podendo,
inclusive, optar pela reserva de vagas para as ações afirmativas) e,
posteriormente, podem verificar a existência de vagas em universidades
por meio da classificação em chamadas regulares e em chamadas de

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lista de espera. Nesse sentido, vale ressaltar que a nota obtida no ENEM
é um dos critérios de pontuação.

Com relação a reserva de vagas, vale ressaltar que os estudantes que


optarem por esta condição poderão ser classificados em:

• Estudantes egressos de escola pública, com renda familiar bruta


igual ou inferior a 1,5 (um e meio) salário-mínimo per capita: que
se autodeclararam pretos, pardos e indígenas ou que não se
autodeclararam pretos, pardos e indígenas.

• Estudantes egressos de escolas públicas, independentemente de


renda: que se autodeclararam pretos, pardos e indígenas ou que
não se autodeclararam pretos, pardos e indígenas.

Como se pode notar, o Sisu também leva em consideração critérios


sociais dentre as políticas das ações afirmativas.

No próximo tópico, abordaremos sobre algumas políticas de inclusão de


caráter mais especifico da Educação Superior para alguns grupos sociais,
como: as pessoas com deficiência, os pretos e indígenas.

3. Políticas inclusivas específicas da Educação


Superior

No tópico anterior, apresentamos algumas conquistas das ações


afirmativas à sociedade em geral, no que tange às políticas de inclusão
no ensino superior desde os anos 1990. Na sequência, verificaremos
como essas políticas e ações permitiram legislações a grupos específicos
a partir dos anos 2000. Assim, trataremos de modo mais peculiar sobre
as políticas educacionais inclusivas voltadas às pessoas com deficiência,
pretos e índios.

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Com relação as pessoas com deficiência, este público tem cada vez
mais acesso à Educação Superior, seja na modalidade presencial ou
a distância. Logo, vale ressaltar que quando se trata o tema–políticas
inclusivas –, popularmente, se pensa apenas no público com deficiência.
Na verdade, o conceito de inclusão é amplo e atende outros públicos
também.

As políticas de inclusão educacional das pessoas com deficiência já


não são tão recentes, mas as dificuldades de prática pedagógica ainda
são complexas, como os desafios aos profissionais da educação e da
sociedade. Para ilustrar isso, basta imaginar como seria a seguinte
situação: uma pessoa com deficiência chegar a uma loja e pede ao
vendedor na língua de sinais uma informação sobre tamanho de uma
roupa. Aqui, provavelmente, há uma barreira de comunicação. Assim,
devemos nos perguntar: será que todos os vendedores da loja estão
preparados para atender neste tipo de situação?

O mesmo poderia ser aplicado à experiência de um docente na


Educação Superior: o que faria este profissional ao receber um aluno
com deficiência na sua sala de aula? Como ajudá-lo? A resposta
inicialmente é simples: se ao receber um aluno com deficiência e o
docente não souber o que fazer, ele deverá procurar a coordenação
do curso ou algum serviço de apoio da universidade. De todo modo,
ele nunca deverá ficar sem tomar uma atitude, devendo buscar
informações e se qualificar no tema.

Mas o que é a pessoa com deficiência? De acordo com a Lei nº 13.146, de


2015, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência:

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento


de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual,
em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas.

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§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial,
realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará:

I–Os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;

II–Os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;

III–A limitação no desempenho de atividades; e

IV–A restrição de participação.

§ 2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.


(BRASIL, 2015, art. 2º)

Como podemos observar, a definição da deficiência se dá por


impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas, sendo a sua avaliação considerada de
maneira biológica, psicológica e social com a observação de vários tipos
de impedimentos e limitações, e com o uso de instrumentos criados por
governos nesta observação. De modo geral, o Estatuto da Pessoa com
Deficiência é bastante amplo e também trata outros conceitos, como
acessibilidade, ajudas técnicas, saúde, educação, trabalho, comunicação
e entre outros. Logo, a sua leitura é fundamental para qualquer
profissional.

Além disso, em termos pedagógicos, apesar das necessidades especiais


dos alunos com deficiência, eles não devem ser tratados de modo
diferenciado, pois devem se sentir cada vez mais incluídos e tratados
como pessoas normais, mesmo que, por alguma necessidade especial,
necessite de um apoio diferenciado.

Quando mencionamos anteriormente sobre a dúvida das ações


possíveis que o profissional da educação deveria tomar ao receber um
aluno com deficiência, apontamos sobre buscar a coordenação do curso

63
e a própria instituição de ensino superior para a solução dos casos. O
fato é que no âmbito das universidades públicas federais um programa
já é existente (e que tem dado exemplo a outros tipos de instituições),
trata-se do INCLUIR, mas para conhecê-lo, é necessário reconhecer o
REUNI.

O REUNI, também conhecido como Programa de Apoio a Planos de


Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, foi criado
pelo Decreto nº 6.096 de 24 de abril de 2007 (BRASIL, 2007) e não
tratou especificamente da inclusão. Ele até poderia compor o capítulo
de políticas educacionais inclusivas gerais, mas além de não ser uma
lei, sendo um decreto, o seu o objetivo principal descrito é o de criar
condições para a ampliação do acesso e permanência de brasileiros
na educação superior, no nível de graduação, por meio de um bom
aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes
nas universidades federais.

A melhoria das estruturas físicas e dos recursos humanos na


universidade, graças ao REUNI, possibilitou direcionar uma ação
exclusiva para as pessoas com deficiência no INCLUIR, também
conhecido como Programa de Acessibilidade na Educação Superior.

O Incluir foi lançado em 2013 por meio de um documento orientador


expedido pela extinta SECADI (Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão) em parceria com a Secretaria
da Educação Superior (SESu). De um modo geral, o principal objetivo
do INCLUIR é fomentar a criação e a consolidação de núcleos de
acessibilidade nas instituições de ensino superior. Esses núcleos, de
acordo com o documento orientador, visam eliminar barreiras físicas,
de comunicação e de informação que restringem a participação e o
desenvolvimento acadêmico e social de estudantes com deficiência.

Na prática, os núcleos de acessibilidade se tornaram e ainda são


referência nas universidades federais para consulta de políticas

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as pessoas com deficiência, além de espaço de debates didáticos
pedagógicas, pesquisa e extensão.

A Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012), aborda sobre o


sistema de cotas, porém, somente na leitura dela é que se compreende
a sua referência ao público de estudantes da escola pública, em situação
racial e aos indígenas. Na prática, essa lei define a reserva de vagas
para cotas (50% do total de vagas dos cursos) subdivididas em: a)
metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar bruta
igual ou inferior a um salário mínimo; b) metade para estudantes de
escolas públicas com renda familiar superior a um salário mínimo e
meio. Em todos estes casos, devem ser respeitos o percentual mínimo
correspondente a soma de pretos, pardos e indígenas. Por se tratar
de uma lei muito curta, com apenas 9 artigos (o 2º revogado e o 9º
apontando a data em que entrou em vigor), a seguir faremos uma
exposição comentada:

Art. 1º As instituições federais de educação superior vinculadas ao


Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para
ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50%
(cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham cursado
integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Parágrafo único.  No preenchimento das vagas de que trata o caput deste


artigo, 50% (cinquenta por cento) deverão ser reservados aos estudantes
oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo (um
salário-mínimo e meio) per capita. (BRASIL, 2012, art. 1º)

Este artigo aponta a reserva de 50% das vagas para alunos que
estudaram sempre na escola pública por curso e turno. Na prática,
por exemplo, se uma IES oferece ao todo 100 vagas anuais no curso
de Letras, metade delas deverão ser reservados por esta lei ao público
alvo citado (50 ao todo, sendo 25 para o período diurno e 25 no período
noturno). Deste quantitativo, o estudante que pleitear vaga pelo sistema

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de cotas deverá comprovar ter renda familiar de até 1,5 salários-
mínimos.

Art. 3º  Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de


que trata o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por
autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com deficiência,
nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no mínimo igual
à proporção respectiva de pretos, pardos,
indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da
Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo da
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística–IBGE

Parágrafo único.  No caso de não preenchimento das vagas segundo os


critérios estabelecidos no caput deste artigo, aquelas remanescentes
deverão ser completadas por estudantes que tenham cursado
integralmente o ensino médio em escolas públicas. (BRASIL, 2012, art. 3º)

O art. 3º aponta, pela primeira vez, a reserva de vagas às pessoas pretas,


pardas, indígenas e pessoas com deficiência. Neste caso, por exemplo,
das 100 vagas disponíveis no curso de Letras anuais, distribuindo
50 para dois períodos, entre as 25 vagas por turno, deve ser feita a
distribuição entre alunos que sempre estudaram em escola pública e
o público mencionado. No caso de não haver pessoas deste público, a
vaga retorna aos que estudaram sempre em escola pública.

Art. 4º  As instituições federais de ensino técnico de nível médio reservarão,


em cada concurso seletivo para ingresso em cada curso, por turno, no
mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que
cursaram integralmente o ensino fundamental em escolas públicas.

Parágrafo único.  No preenchimento das vagas de que trata o caput deste


artigo, 50% (cinquenta por cento) deverão ser reservados aos estudantes
oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário-mínimo (um
salário-mínimo e meio) per capita. (BRASIL, 2012, art. 4º)

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Semelhante ao art. 1º, o art. 4º menciona o preenchimento de vagas
para escolas técnicas e profissionalizantes de ensino médio, sendo a
regra válida para alunos que estudaram sempre no ensino fundamental
do 1º ao 9º ano.

Art. 5º  Em cada instituição federal de ensino técnico de nível médio,


as vagas de que trata o art. 4º desta Lei serão preenchidas, por curso e
turno, por autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com
deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas no
mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos,
indígenas e pessoas com deficiência na população da unidade da
Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do
IBGE.

Parágrafo único.  No caso de não preenchimento das vagas segundo os


critérios estabelecidos no caput deste artigo, aquelas remanescentes
deverão ser preenchidas por estudantes que tenham cursado
integralmente o ensino fundamental em escola pública. (BRASIL, 2012, art.
5º)

Como no art. 3º, podemos observar a reserva de vagas às pessoas


pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência.

Art. 6º. O Ministério da Educação e a Secretaria Especial de Políticas


de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República, serão
responsáveis pelo acompanhamento e avaliação do programa de que trata
esta Lei, ouvida a Fundação Nacional do Índio (Funai). (BRASIL, 2012, art. 6º)

Neste artigo, por sua vez, são apresentados quais são os agentes de
governo responsáveis pelo acompanhamento e análise da política de
cotas, ouvindo-se órgãos específicos das minorias, como a Funai.

Art. 7º.  No prazo de dez anos a contar da data de publicação desta


Lei, será promovida a revisão do programa especial para o acesso às
instituições de educação superior de estudantes pretos, pardos e indígenas
e de pessoas com deficiência, bem como daqueles que tenham cursado
integralmente o ensino médio em escolas públicas. (BRASIL, 2012, art. 7º)

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O art. 7º aponta a revisão constante da lei, a fim de verificar se houve
diminuição dos prejuízos sociais historicamente enfrentados pelo
público alvo da lei, para isso, considerando-se o equilíbrio das diferenças
sociais.

Art. 8º As instituições de que trata o art. 1o desta Lei deverão implementar,
no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) da reserva de vagas prevista
nesta Lei, a cada ano, e terão o prazo máximo de 4 (quatro) anos, a partir
da data de sua publicação, para o cumprimento integral do disposto nesta
Lei. (BRASIL, 2012, art. 8º)

Por fim, o art. 8º apontava a reserva de vagas de maneira anual às


IES, desde que no 4º ano, já ocorrido, as vagas fossem totalmente
organizadas no sistema de cotas apresentado.

Assim, verificamos nesse tema a importância das ações afirmativas e


alguns processos históricos que culminaram em políticas e legislações
em prol de alguns grupos considerados como minorias na sociedade
brasileira. Em termos da Educação Superior, verificamos algumas das
principais legislações divididas em políticas de educação inclusiva geral
e específicas. O fato é que o escopo de legislações não estão todos
apontados neste tema, todavia, os principais e mais comuns à realidade
da Educação Superior. Desse modo, é importante frisar a importância
de se aprofundar no tema para um ou mais grupos apontados, pois há
mais legislações, especialmente à Educação Básica.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade
para Todos–PROUNI. Brasília, DF: Presidência da República, [2005]. Disponível em:
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BRASIL. Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Institui o Programa de Apoio a
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da Pessoa Com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF:
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SANTOS, S. A. Ações afirmativas e combate ao racismo nas Américas. Brasília:
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Bons estudos!

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