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ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I

1 Semestre 2011
Informações gerais

◮ Professor

Carlos A. Castro Jr.


 Bloco H, sala da coordenação de Pós-graduação
telefones: (19) 3521 3715 / (19) 3521 3871
 Bloco A, sala 205
telefones: (19) 3521 3732 / (19) 3521 3708
e-mail: ccastro@unicamp.br
Web: http://www.dsee.fee.unicamp.br/∼ccastro

◮ Ementa

1. Introdução aos sistemas da energia elétrica (SEE)


Nı́veis de geração, transmissão e distribuição
Problemas de planejamento e operação de um SEE
Limitações e restrições operativas
Necessidade de análise e simulações

2. Cálculo de fluxo de carga


Representação por fase
Formulação nodal das equações de corrente
Formulação nodal das equações de potência
Métodos de solução (Newton e desacoplados)
Programação por computador

–1–
3. Geradores sı́ncronos
Modelo de regime permanente de máquinas de pólos lisos e salientes
Curvas de capacidade
Limites de operação

4. Transformadores de potência
Circuitos equivalentes para transformadores de 2 e 3 enrolamentos
Conversão em pu, escolha de bases (alta e baixa tensões)
Representação de transformadores de tap variável
Autotransformador

5. Linhas de transmissão
Parâmetros tı́picos, uso de tabelas
Circuito equivalente
Carregamento caracterı́stico
Limites térmico e de estabilidade
Transmissão em corrente contı́nua

–2–
◮ Referências básicas

 Notas de aula.

 J.J. Grainger, W.D. Stevenson, Power system analysis, McGraw-Hill, 1994.

 A.J. Monticelli, A.V. Garcia, Introdução a sistemas de energia elétrica, Unicamp,


1999.

 Outros livros, artigos selecionados de revistas especializadas e URLs serão


indicados para cada capı́tulo.

◮ Calendário

Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho


01 03 05 07 03 05 02 05 07

08 10 12 14 10 12 07 09 12 14

15 17 19 21 17 19 14 16

22 24 22 24 26 28 24 26 21 23

29 31 31 28 30

Inı́cio/fim das aulas Semana de estudos

Não haverá aula Exame final

Prova

–3–
◮ Avaliação

 A avaliação será baseada em provas escritas.

Prova 1 (P1 ) – 31 mar


Prova 2 (P2 ) – 17 mai
Prova 3 (P3 ) – 28 jun
Exame final (E) – 12 jul

 Condições para aprovação:

(a) Se (P1 e P2 e P3 ≥ 7,0) → MF = max {P1 , P2 , P3} → APROVADO


Caso contrário → M = (P1 + P2 + P3 ) /3
(b) Se (M ≥ 5,0) e (P1 e P2 e P3 ≥ 4,0) → MF = M → APROVADO
Caso contrário MF = (M + E) /2
(c) Se MF ≥ 5,0 → APROVADO
Se MF < 5,0 → REPROVADO

◮ Informações adicionais

 Consulte a página:

http://www.fee.unicamp.br/cursos/et720
para:

• obter as notas de aula;

• obter as listas de exercı́cios;

• obter outros materiais considerados interessantes/importantes.

• consultar notas e frequência.

• acompanhar as mensagens postadas pelo professor no quadro de avisos.

–4–
 O aluno deverá ter em mãos material básico de desenho (régua, esquadro,
transferidor, compasso) em todas as atividades da disciplina.

 A frequência às aulas será verificada conforme legislação em vigor.

 O prazo para revisão de notas das provas será de uma semana a contar da data
de divulgação das notas.

 Procedimentos de prova: distribuição dos alunos em sala, inı́cio e término do


tempo de prova.

 Pode-se notar na ementa que alguns itens já foram apresentados em disciplinas
cursadas anteriormente. Por exemplo, linhas de transmissão, transformadores e
máquinas sı́ncronas.

Na realidade, este tópicos serão apresentados de forma mais aprofundada, ou de


maneira apropriada e voltada para aplicações especı́ficas em SEE.

Evidentemente, esta é uma boa oportunidade para rever os aspectos básicos de


cada assunto, tornando sua base mais sólida.

No entanto, ressalta-se que este curso não é uma mera repetição de assuntos já
vistos.

–5–
SisPot 2011
Encontro de Pesquisadores em Sistemas de Potência
18 a 20 de abril de 2011
Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação
FEEC − UNICAMP

Participe do SisPot 2011

Conheça as pesquisas realizadas na FEEC na área de sistemas de potência

http://www.fee.unicamp.br/SisPot2011

–6–
–7–
–8–
–9–
ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I
1 Semestre 2011
Capı́tulo 1 – Introdução
Parte I

1.1 A Engenharia e os sistemas de potência

◮ Há um certo grau de desinteresse pela área de sistemas de potência.

Esse desinteresse aumenta na proporção em que os avanços em outras áreas, como


por exemplo telecomunicações e computação, se tornam mais evidentes.

Esse é um fenômeno natural e tem ocorrido em nı́vel mundial.

É comum encontrar publicações de artigos em revistas especializadas com propostas


de ementas e abordagens que visam atrair os estudantes para a área de sistemas de
potência.

◮ A visão geral que se tem da área de sistemas de potência é um tanto errônea, e


parece haver razões concretas para isso.

Parece ser uma área estagnada, sem novidades ou avanços. Afinal, todos nós
acionamos interruptores todos os dias e temos energia elétrica à nossa disposição.

A energia elétrica tornou-se invisı́vel, no sentido de que uma grande parcela da


população dispõe dela e a utiliza, sem ter a menor noção do complexo sistema que
existe por trás de uma tomada.

–1–
1.2 Sistemas de potência e seu impacto na sociedade

◮ Em 1882, Thomas Alva Edison coloca em funcionamento a primeiro sistema de


potência (geração + transmissão + distribuição).

Isso ocorreu em New York, na Pearl St. Station. Geradores c.c. (chamados dı́namos
na época) acionados por motores a explosão forneciam 30 kW em 110 V a 59
consumidores (somente iluminação incandescente) numa área de 1 milha quadrada.

◮ A partir daı́, e também contando com a introdução do fornecimento de energia


elétrica em corrente alternada, os sistemas de potência evoluı́ram meteoricamente.

◮ A flexibilidade, eficiência e confiabilidade do serviço de fornecimento de energia


elétrica foram fatores determinantes no processo.

◮ Chegou-se a um ponto em que a sociedade tornou-se altamente dependente da


eletricidade. É difı́cil imaginar a sociedade moderna sem a eletricidade.

“Electricity is a very effective form of energy. It can be produced by a variety


of methods, moved quite efficiently and safely, and fashioned into light, heat,
power, or electronic activity with ease. Without it, neither the industrial nor
the cultural levels achieved by the human race would be possible. Over eighty
percent of the people on this planet have access to the personal use of
electric power on a daily basis.” 1

1 L. Philipson, H.L. Willis, Understanding electric utilities and de-regulation, Marcel Dekker, 1999.

–2–
◮ A qualidade do serviço é que o fez tornar-se invisı́vel para os consumidores.

◮ “O sistema interligado dos Estados Unidos da América é a maior e mais complexa


máquina já criada pelo homem.”

Autor da frase: Charles Steinmetz2, que morreu em 1923! Os sistemas elétricos no


mundo cresceram muito desde então.

Hoje em dia fica mais difı́cil fazer esta afirmação, pois há que se fazer uma
comparação com a World Wide Web, redes de comunicação, etc.

E mais, hoje todas essas tecnologias atuam de forma integrada!

◮ Alguns fatos são inquestionáveis:

 Sem energia elétrica não há WWW.

 Sem energia elétrica não há um sistema de comunicações.

 Hoje em dia utiliza-se a WWW no setor elétrico de forma intensiva.

 Hoje em dia utiliza-se a tecnologia de comunicações no setor elétrico de forma


intensiva.

Portanto, (SEP + WWW + comunicações) formam, sem dúvida, a maior e mais


complexa máquina já criada pelo homem, eu acho . . .

2Charles Steinmetz (1865-1923), engenheiro eletricista, desenvolveu ferramentas de análise matemática


para o estudo de circuitos de corrente alternada, através da utilização de números complexos.

–3–
◮ Além dos desenvolvimentos próprios da área, como por exemplo:

 estudos da supercondutividade a altas temperaturas;

 desenvolvimento de novos equipamentos mais eficientes e robustos;

 desenvolvimento de métodos de análise mais sofisticados e eficientes;

 pesquisa de novos materiais, etc.

a área de sistemas de potência sempre utiliza tecnologias de outras áreas a fim de


melhorar a qualidade dos serviços, como por exemplo:

 computação paralela;

 técnicas de inteligência artificial: sistemas especialistas, redes neurais artificiais,


lógica nebulosa, etc;

 algoritmos evolutivos: algoritmos genéticos, etc;

 técnicas avançadas de telecomunicações;

 eletrônica de potência (por exemplo os dispositivos FACTS).

–4–
◮ Antes dos computadores digitais, analisava-se o comportamento de redes elétricas
através dos network analyzers.

 usavam circuitos RLC e fontes para emular o sistema elétrico;

 podiam ocupar várias salas, no caso de sistemas de grande porte;

 consumiam muita energia;

 a implementação de modificações na rede era muito trabalhosa, implicando em


alterar a fiação e reajustar os elementos do circuito.

◮ Após os computadores digitais:

 as empresas de energia elétrica foram, de longe, as maiores usuárias de


computadores digitais e uma grande parcela de seu desenvolvimento deve-se a
elas;

 empresas de energia elétrica investiram muitos milhões de dólares no


desenvolvimento de hardware e software.

◮ O Brasil e o mundo estão passando há algum tempo por mudanças profundas na
estrutura de funcionamento dos SEP → a desregulamentação do setor elétrico.

◮ No Brasil, a privatização foi o primeiro passo para a desregulamentação.

◮ Tem havido a abertura de postos de trabalho a salários competitivos, para a


realização de trabalhos mais desafiadores.

Isto se deve à nova estrutura do setor, ao grau de complexidade para a sua


operação e à aposentadoria dos “velhos e sábios”profissionais.

–5–
1.3 O setor elétrico: velhos e novos tempos

◮ Desde o final do século XIX, até o final do século XX, o setor elétrico operou de
forma regulada – empresas detinham o monopólio local. O consumidor tinha que
comprar energia da empresa local

◮ Empresas costumavam ter uma organização vertical – realizavam todas as funções:


geração, transmissão, distribuição e comercialização

◮ Anos 80: sentimento de que a competição poderia ser uma melhor maneira de
encorajar novos investimentos no planejamento e operação do sistema elétrico
desregulamentação

◮ Alguns conceitos tornaram-se importantes no inı́cio de uma nova fase do setor


elétrico:

 Competição: duas ou mais entidades disputam oportunidades de negócios. A


competição ocorre em dois nı́veis:

• Geração (wholesale): diferentes empresas possuem geração e competem pela


venda de blocos de energia

• Comercialização (retail): consumidores poderiam ter a oportunidade de


escolher os seus fornecedores de energia dentre as ofertas feitas localmente,

ou seja . . .

–6–
 Desregulamentação: mudança das regras que definem a operação das empresas,
com o objetivo de encorajar a competição. Inclui mudanças no monopólio e
outras regras que definem os negócios das empresas, e nas regras de compra de
energia por parte dos consumidores. (seria re-regulamentação?)

 Reestruturação: “desmontar” as empresas e “remontá-las” segundo um novo


conceito organizacional

 Privatização: empresas estatais são vendidas a entidades privadas. A


reestruturação deve ser feita cuidadosamente para atrair mais potenciais
investidores no processo de privatização

 Open access: A rede de transmissão é vista como o meio de ligação entre


geradores a consumidores. Ambos pagam pelo seu uso

–7–
◮ Estrutura verticalizada × estrutura desregulamentada

Empresa

G
Receita da T custos
venda de Verticalizada
energia elétrica D lucro

Empresas

Receita G custos
lucro

custos Desregulamentada
Receita T&D
lucro

Receita C custos
lucro

◮ Caracterı́sticas da estrutura regulada:

 Monopólio (franchise) – somente a empresa local pode comercializar energia


elétrica no seu território determinado

 Obrigação de servir – a empresa local deve fornecer energia elétrica a todos os


consumidores do seu território

 Regulação supervisionada – todas as práticas operacionais e comerciais da


empresa devem atender regulamentação definida pelas agências governamentais

–8–
 Operação de mı́nimo custo – a empresa deve operar de forma a minimizar seus
requisitos de receita

 Tarifas reguladas – as tarifas cobradas pelas empresas são definidas de acordo


com regulamentação definida pelas agências governamentais

 Taxa de retorno assegurada – assegura-se à empresa um retorno “justo” de seus


investimentos, se estes estiverem de acordo com a regulamentação

◮ Benefı́cios da regulamentação:

 Legitimou a estrutura do setor elétrico – o monopólio e a regulação implicaram


na ideia de que o oferecimento do serviço era fundamental para a sociedade, e
que o governo cuidava disso

 As empresas tinham o reconhecimento e apoio dos governos

 O retorno dos investimentos eram garantidos

 Estabeleceu o monopólio local – as empresas podiam focar seus esforços em


desenvolver seus sistemas e melhorar a qualidade do fornecimento, sem
preocupações relativas a competição, manutenção e expansão do seu mercado,
etc.

◮ Resumindo: a regulação ofereceu uma maneira aceitável e livre de riscos para o


financiamento da criação do setor elétrico:

“Without utility regulation and government sponsorship or backing of electric


utilities, a universal electric system, reaching all homes and businesses, and
the infrastructure to support it, would never have been built.” 3
3 L. Philipson, H.L. Willis, Understanding electric utilities and de-regulation, Marcel Dekker, 1999.

–9–
◮ Justificativas para a desregulamentação:

 Regulação não é mais necessária – a objetivo original e fundamental para a


regulação, ou seja, incentivar o desenvolvimento de uma infraestrutura forte para
o sistema elétrico, já foi atingido

 Preços da energia podem cair – os preços devem cair devido a inovações e


competição

 Foco no consumidor – espera-se que a competição resulte em maior poder de


escolha para o consumidor e maior atenção à melhoria do serviço oferecido

 Incentivo à inovação – um setor elétrico competitivo poderá resultar em


recompensas àqueles que assumirem os riscos e usarem novas tecnologias e
abordagens comerciais

 Aumento da privatização – a desregulamentação pode aumentar o valor dos


ativos das empresas estatais, tornando-as mais atraentes para potenciais
investidores

– 10 –
1.4 Estrutura do setor elétrico brasileiro

◮ Entidades e suas funções4:

 Ministério de Minas e Energia – MME – encarregado de formulação, do


planejamento e da implementação de ações do Governo Federal no âmbito da
polı́tica energética nacional. O MME detém o poder concedente.

 Conselho Nacional de Polı́tica Energética – CNPE – órgão de assessoramento do


Presidente da República para formulação de polı́ticas nacionais e diretrizes de
energia, visando, dentre outros, o aproveitamento natural dos recursos
energéticos do paı́s, a revisão periódica da matriz energética e a definição de
diretrizes para programas especı́ficos.
4 Fonte: http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/I Introducao.pdf

– 11 –
 Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE – constituı́do no âmbito
do MME e sob sua coordenação direta, com a função precı́pua de acompanhar e
avaliar permanentemente a continuidade e a segurança do suprimento
eletroenergético em todo o território.

 Empresa de Pesquisa Energética – EPE – empresa pública federal vinculada ao


MME tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas
destinados a subsidiar o planejamento do setor energético.

 Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL – autarquia vinculada ao MME,


com finalidade de regular a fiscalização, a produção, transmissão, distribuição e
comercialização de energia, em conformidade com as polı́ticas e diretrizes do
Governo Federal. A ANEEL detém os poderes regulador e fiscalizador.

 Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS – pessoa jurı́dica de direito


privado, sem fins lucrativos, sob regulação e fiscalização da ANEEL, tem por
objetivo executar as atividades de coordenação e controle da operação de
geração e transmissão, no âmbito do SIN (Sistema Interligado Nacional). O
ONS é responsável pela operação fı́sica do sistema e pelo despacho energético
centralizado.

 Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE – pessoa jurı́dica de


direito privado, sem fins lucrativos, sob regulação e fiscalização da ANEEL, com
finalidade de viabilizar a comercialização de energia elétrica no SIN. Administra
os contratos de compra e venda de energia elétrica, sua contabilização e
liquidação. A CCEE é responsável pela operação comercial do sistema.

– 12 –
◮ A comercialização de energia elétrica é realizada em dois ambientes diferentes:

 Ambiente de Contratação Livre (ACL) – destinado ao atendimento de


consumidores livres5 por meio de contratos bilaterais firmados com produtores
independentes de energia, agentes comercializadores ou geradores estatais.
Estes últimos só podem fazer suas ofertas por meio de leilões públicos.

 Ambiente de Contratação Regulada (ACR) – destinado ao atendimento de


consumidores cativos por meio das distribuidoras, sendo estas supridas por
geradores estatais ou independentes que vendem energia em leilões públicos
anuais.

5 Consumidor
livre – consumidor que pode optar pela compra de energia elétrica junto a qualquer fornecedor, que é atendido em qualquer tensão e
com demanda contratada mı́nima de 3 MW. (Resolução ANEEL No. 264 e 456).

– 13 –
1.5 Referências

◮ Discussões da lista POWER-GLOBE


(http://listserv.nodak.edu/archives/power-globe.html).

◮ F.L. Alvarado, R.J. Thomas, A brief history of the power flow, IEEE Spectrum,
vol.38, n.2, Fev 2001.

◮ D. Morton, The electrical century, Proceeding of the IEEE, vol.87, n.3, Mar 1999.

◮ A.J. Monticelli, A.V. Garcia, Introdução a sistemas de energia elétrica, Unicamp,


1999.

◮ P. Kundur, Power system stability and control, EPRI, 1994.

◮ L. Philipson, H.L. Willis, Understanding electric utilities and de-regulation, Marcel


Dekker, 1999.

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/I Introducao.pdf

◮ A.H. Robbins, W.C. Miller, Circuit analysis with devices: theory and practice,
Delmar Learning, 2004.

– 14 –
Thomas Alva Edison (Milan, OH, EUA, 11 de Fevereiro de
1847 – West Orange, NJ, EUA, 18 de Outubro de 1931) – foi
um inventor e empresário dos Estados Unidos que desenvolveu
muitos dispositivos importantes de grande interesse industrial.
O Feiticeiro de Menlo Park (The Wizard of Menlo Park) foi
um dos primeiros inventores a aplicar os princı́pios da produção
maciça ao processo da invenção. Algumas de suas principais
contribuições são: a invenção do fonógrafo, a primeira câmera
cinematográfica bem-sucedida, a transformação do antigo te-
lefone, inventado por Alexander Graham Bell, em um aparelho
que funcionava muito melhor, o aprimoramento da máquina de
escrever, desenvolvimento de alimentos empacotados a vácuo,
desenvolvimento dos aparelhos de raios X. Dentre as suas con-
tribuições mais universais para o desenvolvimento tecnológico
e cientı́fico encontra-se a lâmpada elétrica incandescente, o
gramofone, o cinescópio ou cinetoscópio, o ditafone e o mi-
crofone de grânulos de carvão para o telefone. Edison é um dos
precursores da revolução tecnológica do século XX. Teve papel
determinante na indústria do cinema. A ele são atribuı́das mais
de 1300 patentes, ainda que nem todas sejam de invenções de
sua própria autoria.
“O gênio consiste em um por cento de inspiração e noventa e
nove por cento de transpiração.”

– 15 –
Charles Proteus Steinmetz, pseudônimo de Karl August Ru-
dolf Steinmetz (9 de abril de 1865, Breslau, Alemanha (hoje
Polônia) – 26 de outubro de 1923, Schenectady, NY, EUA)
– engenheiro eletricista, reconhecido por: (1) seu trabalho na
área de eletromagnetismo; (2) desenvolver método de cálculo
de grandezas elétricas alternadas utilizando números comple-
xos; (3) sua pesquisa em iluminação; (4) ter inventado os cir-
cuitos trifásicos; (5) ter desenvolvido uma expressão para as
perdas de histerese em circuitos magnéticos.
Até 1893, a análise de circuitos de corrente alternada era feita
utilizando elementos de cálculo diferencial e integral, resul-
tando em um processo difı́cil e trabalhoso. Steinmetz reduziu-a
a “um simples problema de álgebra”. O conceito chave desta
simplificação foi o fasor, que representa tensões e correntes
alternadas como números complexos. Steinmetz definiu ainda
uma grandeza chamada impedância, que corresponde à relação
entre os fasores de tensão e corrente.

– 16 –
ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I
1 Semestre 2011
Capı́tulo 1 – Introdução
Parte II

1.6 Sistemas de energia elétrica (SEE)

◮ Sistema de energia elétrica (SEE) – conjunto de equipamentos que operam em


conjunto e de maneira coordenada de forma a gerar, transmitir e fornecer energia
elétrica aos consumidores, mantendo o melhor padrão de qualidade possı́vel.

– 17 –
◮ Equipamentos – geradores, transformadores, linhas de transmissão, disjuntores,
pára-raios, relés, medidores etc.

◮ Padrão de qualidade – existem alguns requisitos básicos a serem satisfeitos pelas


empresas concessionárias de energia elétrica com relação ao fornecimento aos
consumidores:

 os nı́veis de tensão devem estar dentro de uma faixa especificada;

 a frequência deve estar dentro de uma faixa especificada;

 o serviço não deve sofrer interrupções (na prática: o serviço deve sofrer o
mı́nimo número de interrupções, e estas devem durar o menor tempo possı́vel);

 a forma de onda da tensão deve ser (a mais próxima possı́vel de) uma senóide;

 a energia deve ser entregue ao consumidor com o mı́nimo custo (geração


econômica, transmissão com mı́nima perda, etc.);

 o impacto ambiental deve ser mı́nimo (emissão de NOx, etc.);

 outros . . .

(
circuito elétrico – leis de Kirchhoff
◮ SEE é um
sistema de controle – operação otimizada

– 18 –
◮ Exemplo de um SEE moderno

Centro de Supervisão e Controle

controle aquisição de dados

unidade terminal remota (UTR)

c.a.
~ Distribuição
Transmissão
Geração
c.a. c.a.
medidor Carga
disjuntor

Conversor (inversor)

c.c.

Conversor (retificador)

transformador

~ gerador

– 19 –
◮ Idéia deste curso: estudar os principais componentes dos SEE e obter seus
respectivos modelos.

Tais modelos colocados juntos formam um circuito elétrico que deve ser resolvido
(cálculo de tensões nos nós, fluxos de corrente e/ou potência nos ramos).

Serão estudados também métodos de resolução desses circuitos.

1.6.1 Sistema de geração

 Gerador, transformador elevador (e ainda barragens, caldeiras, turbinas etc.).

• Conversão convencional:

Energia mecânica Alternador Energia elétrica

Fontes primárias: hidráulica


combustı́vel fóssil: carvão, petróleo, gás
fissão nuclear

• Conversão não convencional:

Solar: células fotoelétricas → rendimento baixo, alto custo


Eólica: cataventos → EUA (Califórnia), Dinamarca, Brasil e outros →
windmill farms) → nı́veis de penetração crescentes

– 20 –
Usina a carvão

A.R. Bergen, V. Vittal, Power Systems Analysis, 2nd Edition, Prentice Hall, 2000

Usina nuclear

A.R. Bergen, V. Vittal, Power Systems Analysis, 2nd Edition, Prentice Hall, 2000

– 21 –
Usina hidrelétrica

A.R. Bergen, V. Vittal, Power Systems Analysis, 2nd Edition, Prentice Hall, 2000

– 22 –
1.6.2 Sistema de transmissão

 linhas de transmissão, transformadores de regulação e acessórios;

 Uma divisão tı́pica é:

11,9kV

13,8kV distribuição

34,5kV

69kV subtransmissão

138kV

230kV

440kV transmissão

500kV

750kV

– 23 –
1.6.3 Sistema de distribuição

 Linhas de distribuição primárias e se-


cundárias, transformadores abaixadores e
cargas;

“. . . the distribution system has traditionally been characterized as the most


unglamorous component. In the last half of the twentieth century, the design
and operation of the generation and transmission components presented many
challenges to the practicing engineer and researchers. Power plants became
larger and larger and the transmission lines crisscrossed the land forming large
interconnected networks. The operation of the large interconnected networks
required the development of new analysis and operational techniques.
Meanwhile, the distribution systems continued to deliver power to the ultimate
user’s meter with little or no analysis. As a direct result, distribution systems
were typically overdesigned.
Times have changed and it has become very important and necessary to operate
a distribution system at its maximum capacity. Some of the questions that need
to be answered are:

• What is the maximum capacity?

• How do we determine this capacity?

• What are the operating limits that must be satisfied?

• What can be done to operate the distribution system within the operating
limits?

• What can be done to make the distribution system operate more efficiently?

All of these questions can be answered only if the distribution system can be
modeled very accurately.” 6
6 W.H. Kersting, Distribution system modeling and analysis, CRC Press, 2007.

– 24 –
 Da figura mostrada anteriormente pode-se extrair:

Distribuição
Transmissão

Carga

Restante
da rede

 e a estrutura dos sistemas de distribuição pode ser um pouco mais detalhada.

– 25 –
 Um sistema de distribuição simples é:

Linha de transmissão

Barramento de alta tensão

Chave
Subestação
Fusı́vel

Transformador abaixador
Regulador de tensão

Medição

Barramento de baixa tensão


Disjuntor

Transformador abaixador
Distribuição primária

Distribuição secundária

– 26 –
 Uma configuração mais elaborada da subestação é (configuração de um
disjuntor e meio – três disjuntores para dois alimentadores):

Linha 1 Linha 2

Subestação

X NF NF Y
NA

T1 T2
NF NA NF

1 2 3
AL1 AL3
NF NA NF

4 5 6
AL2 AL4

 Se a linha 2 sai de operação, disjuntor X abre e disjuntor Z fecha

 Se T1 sai de operação, disjuntores X, 1 e 4 abrem, e 2 e 5 fecham. Cada


transformador deve ser projetado de forma a poder alimentar os quatro
alimentadores

– 27 –
 Há muitas configurações de subestações possı́veis, desde que as seguintes
funções básicas sejam satisfeitas:

• a configuração deve representar um bom balanço entre a confiabilidade e


custo

• possibilidades de chaveamento nos lados de alta e baixa tensões

• transformação de tensão

• regulação de tensão (através de reguladores de tensão ou transformadores


com tap variável)

• proteção

• possibilidade de manobras

• medição (analógica ou digital)

 Topologias da rede primária (ordem crescente de custo):

• Primário radial – aéreo, tı́pico

fusı́vel

– 28 –
• Primário seletivo – aéreo, subterrâneo

• Primário em malha aberta – subterrâneo

– 29 –
• Spot network – subterrâneo

 Topologias da rede secundária (ordem crescente de custo):

• Malha (carga pequena) e radial (carga grande) – aérea

transformador

– 30 –
• Reticulada – subterrânea, custo extremamente elevado, não é mais construı́do

transformador

1.6.4 Sistema de proteção e manobras

 Relés, disjuntores, pára-raios, religadores, fusı́veis, chaves seccionadoras etc.

1.6.5 Sistema de aquisição de dados e controle

 Faz a interface com o Centro de Supervisão e Controle – em inglês SCADA (


Supervisory Control And Data Acquisition);

 Centro de Supervisão e Controle → Energy Management System (EMS):

• Avalia estado de operação da rede;

• Simula a ocorrência de possı́veis falhas e determina ações de controle


preventivo/corretivo;

• Determina ações para a operação econômica e segura.

– 31 –
1.6.6 Sistema de transmissão em corrente contı́nua

 Envolve tecnologia de estado sólido (eletrônica de potência). Transmissão em


CC não é econômica para distâncias menores que 500 km.

Exemplo no Brasil – sistema


de geração e transmissão de
Itaipu:

• usina hidrelétrica de Itaipu, situada no rio Paraná;


• apresenta dois sistemas de transmissão, com corrente alternada e com
corrente contı́nua;
• CA: 750 kV (eficaz de linha);
• CC: bipólo de +600 kV e -600 kV (tensão entre pólos de 1200 kV);
• Geradores (Brasil) – energia gerada a 60 Hz;
• Geradores (Paraguai) – energia gerada a 50 Hz;
• energia gerada no Paraguai que vem para o Brasil: 50 Hz retificada e
transmitida em CC (Foz do Iguaçú). CC transformado em 60 Hz (Ibiuna).

– 32 –
1.7 Área de sistemas de energia elétrica

◮ Vários problemas relacionados com SEE devem ser enfrentados pelos profissionais
da área, que vão desde a operação diária da rede até estudos de planejamento da
sua expansão, como por exemplo:

 operação em tempo real – garantir que geração atenda à demanda;


 análise de segurança em tempo real – avaliar efeitos de eventuais alterações na
rede; determinar estratégias de controle preventivo/corretivo;
 operação econômica (despacho econômico) – determinação das potências
entregues por cada gerador de forma a minimizar custo total de geração;
 proteção de sistemas;
 planejamento da expansão do sistema de transmissão;
 planejamento da expansão do sistema de geração;
 outros . . .

◮ O tamanho, a complexidade e os nı́veis de potência envolvidos na geração,


transmissão e distribuição de energia elétrica aumentaram muito desde Edison →
fato mundial.

É difı́cil para o operador e para o planejador terem a sensibilidade que tinham antes
e poderem prever o resultado de manobras ou defeitos.

Exemplo: o SIN (Sistema Interligado Nacional), que tem tem dimensão continental.

Todas as tarefas de operação devem ser realizadas em tempo real → restrição de


tempo severa

– 33 –
◮ Solução – utilizar o computador como ferramenta para:

 obter modelos precisos e confiáveis dos componentes da rede → MODELAGEM

 colocá-los juntos formando um grande circuito elétrico → MODELAGEM

 desenvolver métodos apropriados de resolução de circuitos →SOLUÇÃO

 simular cenários de operação → SIMULAÇÃO

 analisar os resultados → ANÁLISE

◮ A solução dos problemas acima requereu e ainda requer muita pesquisa para a
obtenção de métodos eficientes de abordagem dos mesmos.
A área de SEE é muito ativa do ponto de vista de pesquisa e tem havido grande
desenvolvimento nos últimos anos.

◮ Pesquisa no Brasil: universidades, programa de P&D/Aneel.

– 34 –
1.8 História

◮ SEE têm em torno de 130 anos.

◮ ∼ 1876 – não se sabia ainda qual a melhor maneira de transmitir a energia de uma
queda de água para um centro distante (tubulação de ar comprimido? óleo?).

◮ No caso da transmissão de energia elétrica não se sabia se seria melhor utilizar


corrente contı́nua (CC) ou corrente alternada (CA). No caso de CA, não se sabia
com que frequência nem com que número de fases.
Corrente alternada era gerada por máquinas chamadas alternadores. Corrente
contı́nua era gerada por máquinas chamadas dı́namos.
Corrente contı́nua parecia apresentar algumas vantagens sobre corrente alternada.
Baterias podiam ser usadas como backup em situações de emergência quando os
dı́namos falhavam, ou ainda suprir potência durante perı́odos de demanda baixa.
Além disso, dı́namos podiam operar em paralelo para atender a demanda crescente.
Naquela época, o uso de alternadores em paralelo era considerado muito difı́cil
devido a problemas de sincronização.

– 35 –
◮ Sequência cronológica (resumo):

No mundo

Ano Fato

1876 Inı́cio da concorrência para a construção do complexo de Niagara Falls


→ fato marcante na evolução da área.

1880 Thomas Alva Edison apresenta sua lâmpada incandescente (em cor-
rente contı́nua), a mais eficiente de então.
Na Europa há avanços na área de corrente alternada.

1882 Edison coloca em funcionamento um sistema de corrente contı́nua em


New York (empresa Edison Electric Company) → Pearl St. Station →
geradores CC (na época chamados dı́namos) acionados por motores
a vapor supriam 30 kW em 110 V a 59 consumidores → iluminação
incandescente → área de 1 milha quadrada.

1884 Criado o American Institute of Electrical Engineers (AIEE), depois


transformado no The Institute of Electrical and Electronics Engineers
(IEEE).

1885 George Westinghouse Jr. compra os direitos da patente de Goulard-


Gibbs para construir transformadores e encarrega William Stanley de
construi-los.

1886 Já há cerca de 60 centrais de corrente contı́nua (Edison) com cerca de
150.000 lâmpadas.
Stanley coloca em operação a primeira central em corrente alternada
(Westinghouse) em Great Barrington, Massachussets → 150 lâmpadas.

– 36 –
Ano Fato

1887 Já existem cerca de 120 sistemas de corrente contı́nua com cerca de
325.000 lâmpadas.
Empresa de Westinghouse cresce muito e já conta com cerca de
125.000 lâmpadas em corrente alternada.

1888 Edison passa a atacar duramente os sistemas de corrente alternada.


Preço do cobre sobe muito devido ao monopólio de um sindicato
francês.
Existia medidor de energia somente para corrente contı́nua (sistema ele-
troquı́mico). Os sistemas em corrente alternada cobravam por número
de lâmpadas. Tinham de produzir de 40% a 80% a mais que os sistemas
em CC para mesmo número de consumidores.

Shallenberger (engenheiro chefe de Westinghouse) coloca em funciona-


mento um medidor de energia em CA que fornece uma leitura direta de
quanta energia é consumida e, portanto, superior ao medidor de Edison.
Nikola Tesla publica um artigo em que mostra ser possı́vel construir um
motor em CA.
Westinghouse compra a patente de Tesla e o contrata para desenvolver
o motor (que só ficaria pronto em 1892).

– 37 –
Ano Fato

1890 Empresa de Edison e o próprio endurecem ainda mais a discussão. Edi-


son defendia a confiabilidade dos sistemas de corrente contı́nua e o
perigo apresentado por tensões em corrente alternada.
Primeira linha de transmissão em CA é posta em operação para trans-
portar energia elétrica gerada em uma usina hidroelétrica desde Willa-
mette Falls até Portland, Oregon (20 km, 4 kV, monofásica).
Morte de animais (cães e cavalos) através de corrente alternada.
Primeira execução em cadeira elétrica (06 Ago 1890) na prisão de Au-
burn, NY, foi em corrente alternada (gerador Westinghouse).
When the chair was first used, on August 6, 1890, the technicians
on hand misjudged the voltage needed to kill the condemned prisoner,
William Kemmler. The first jolt of electricity was not enough to kill
Kemmler, and only left him badly injured. The procedure had to be
repeated and a reporter on hand described it as “an awful spectacle, far
worse than hanging.” George Westinghouse commented: “They would
have done better using an axe.” (Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/War˙of˙
Currents)

1892 Entra em funcionamento o primeiro motor de indução de Tesla.


Comissão responsável pela concorrência de Niagara Falls decide que o
sistema será em corrente alternada.
Alemanha: é colocado em funcionamento um sistema de 100 HP (74,6
kW) com transmissão de 160 km em corrente alternada, 30 kV.
A empresa de Edison (Edison Electric Co.) junta-se a outra, a
Thomson-Houston, formando a General Electric que passa a produzir
transformadores e alternadores em larga escala.

– 38 –
Ano Fato

1893 Westinghouse ganha a concorrência para fornecer os alternadores e


transformadores de Niagara Falls.
Columbian Exhibition em Chicago → apresentado sistema de distri-
buição bifásico. A partir de então, a transmissão em CA trifásica foi
gradualmente substituindo os sistemas CC.

1896 Entra em funcionamento o complexo de Niagara Falls, com transmissão


de energia até Buffalo encerrando a discussão sobre CC e CA. Eram
transmitidos 10 MW de potência (valor alto para a época) até Buffalo
em uma distância de 20 milhas.

1920 Primeiras interconexões regionais (regional grids) começaram a ser


formadas.

1954 Primeira linha de transmissão HVDC moderna → Vastervik – ilha de


Gotland (Suécia) → 100 kV, 100 km.

1957 Primeira usina nuclear em Shippingport, PA, implantada por Wes-


tinghouse Co. and Duquesne Light and Power Co.

1965 Grande blecaute do Nordeste dos EUA → alavancou efetivamente o


desenvolvimento dos centros de supervisão e controle de redes. Só foi
superado pelo blecaute de 14 de agosto de 2003 na costa Nordeste dos
EUA e Canadá.

1970 Primeira linha de transmissão HVDC nos EUA → ± 400 kV, 1360 km
→ interligação do Pacı́fico, entre Oregon e Califórnia.

70→ Crise do petróleo → motivou a pesquisa por fontes alternativas de ener-


gia: eólica, célula combustı́vel, célula solar.

– 39 –
No Brasil

Ano Fato

1883 Primeira usina termelétrica instalada em Campos, RJ, para alimentação


de iluminação pública.

Primeira usina hidrelétrica instalada no Brasil, no rio Jequitinhonha, em


Diamantina, MG, para alimentação de uma empresa mineradora.

1889 Usina hidrelétrica Marmelos-Zero, no rio Paraibuna, em Juiz de Fora,


MG, foi a primeira usina hidrelétrica do paı́s e da América Latina a
fornecer energia elétrica para iluminação pública. Foi desativada em
1896.

– 40 –
Ano Fato

1920 Cerca de 300 empresas servem a 431 localidades com capacidade ins-
talada de 354.980 kW, sendo 276.100 kW em usinas hidroelétricas e
78.880 kW em termoelétricas.

1930 A capacidade instalada de energia elétrica do Brasil era em torno de


780 MW.

1939 Número de empresas chega a 1176, com 738 hidroelétricas e 637 ter-
moelétricas.
Mais de 70% de toda a capacidade instalada no Brasil pertencia a duas
empresas: a LIGHT (Brazilian Traction Light & Electric Co.) servia
a parte de SP e RJ, e a AMFORP (American & Foreign Power Co.)
servia parte de SP, Curitiba, Porto Alegre, Pelotas, Niterói, Petrópolis,
Belo Horizonte, Natal, Recife, Maceió, Salvador, Vitória.

1940 A capacidade instalada de energia elétrica do Brasil era em torno de


1.250 MW.

1948 Criação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF) de


economia mista para construir a usina de Paulo Afonso.
Mais tarde foram criadas a CEMIG em MG, USELPA e CHERP (depois
incorporadas à CESP) em SP, COPEL no PR, FURNAS na região
centro-sul.

1950 A capacidade instalada de energia elétrica do Brasil era em torno de


1.900 MW.

1960 A capacidade instalada de energia elétrica do Brasil era em torno de


4.800 MW.

– 41 –
Ano Fato

1961 Criada a Eletrobrás, como responsável pela polı́tica de energia elétrica


no paı́s.

1968 Foi criado o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica –


DNAEE. Consolidava-se a estrutura básica do setor, sendo a polı́tica
energética traçada pelo MME e executada pela Eletrobrás, atuando o
DNAEE como órgão normativo e fiscalizador.

1970 A capacidade instalada de energia elétrica no Brasil era em torno de


11.460 MW.

1973 Criados os Grupos Coordenadores para Operação Interligada – GCOIs,


os quais tinham a finalidade de coordenar, decidir ou encaminhar as
providências necessárias ao uso racional das instalações geradoras e de
transmissão, existentes e futuras, nos sistemas interligados das regiões
sudeste e sul.

70-80 O setor elétrico atingiu seu ápice, representado pelo “milagre


econômico”, e experimentou também o inı́cio de seu declı́nio, ou a
“década perdida”, passando incólume pela crise do petróleo em 1973,
tendo construı́do as maiores obras de geração hidrelétrica do paı́s, o
inı́cio do programa nuclear brasileiro (usina nuclear Angra I, entrando
em fase de testes em 1981, em operação experimental em março de
1982 e em operação comercial em janeiro de 1985. Angra II somente
entraria em operação em 2000), os grandes sistemas de transmissão
em 440 e 500 kV, os sofisticados sistemas de supervisão e controle
e o tratado de Itaipu, em 1973, cuja obra iniciou-se em 1975, sendo
concluı́da somente em 1991.

1980 A capacidade instalada de energia elétrica no Brasil era em torno de


31.300 MW.

– 42 –
Ano Fato

1990 A capacidade instalada de energia elétrica no Brasil era em torno de


53.000 MW.

1995 Foi aprovada a lei n. 8.967, que regulamentava os preceitos de licitação


para concessões e deu, assim, inı́cio à competição no setor elétrico.

1996 Através da lei n. 9.427, foi criada a Agência Nacional de Energia


Elétrica – ANEEL, autarquia em regime especial, vinculada ao MME,
com as atribuições de regular e fiscalizar a geração, a transmissão, a dis-
tribuição e a comercialização da energia elétrica, atender reclamações
de agentes e consumidores, mediar os conflitos de interesses entre os
agentes do setor elétrico e entre estes e os consumidores, conceder,
permitir e autorizar instalações e serviços de energia, garantir tarifas
justas, zelar pela qualidade do serviço, exigir investimentos, estimu-
lar a competição entre os geradores e assegurar a universalização dos
serviços. A Aneel passou a funcionar, efetivamente, a partir de 1997,
quando foi extinto o DNAEE, do qual é sucessora.

1998 O Operador Nacional do Sistema – ONS foi instituı́do pela lei n.


9.648/98, vindo assumir progressivamente as funções até então do
GCOI. As atribuições principais do ONS são operar o Sistema Inter-
ligado Nacional (SIN) e administrar a rede básica de transmissão de
energia, por delegação dos agentes (empresas de geração, transmissão
e distribuição de energia), seguindo regras, metodologias e critérios co-
dificados nos Procedimentos de Rede aprovados pelos próprios agentes
e homologados pela Aneel.
Foi instituı́do pela lei n. 9.648/98 o Mercado Atacadista de Energia
Elétrica – MAE, para ser o ambiente onde se processam a contabilização
e a liquidação centralizada no mercado de curto prazo.

– 43 –
Ano Fato

2000 A capacidade instalada de energia elétrica no Brasil era em torno de


72.200 MW.

2001 Foi decretado o racionamento de energia elétrica, nas regiões sudeste,


centro-oeste, nordeste e norte, que perdurou até fevereiro de 2002.

2003 A capacidade instalada de energia elétrica no Brasil era em torno de


77.300 MW.

2004 Foram aprovadas as leis n. 10.848 e 10.847 que, resumidamente, de-


finem o modelo do setor elétrico com as seguintes caracterı́sticas prin-
cipais: (i) a criação das “figuras”da energia existente, também cha-
mada de energia velha e da energia de novos empreendimentos, também
chamada de energia nova, criando formas distintas de comercialização
dessas energias; (ii) a existência de dois ambientes de contratação, o
Ambiente de Contratação Livre – ACL e o Ambiente de Contratação
Regulada – ACR; (iii) o “retorno”ao planejamento setorial e criação
do planejamento energético, com a criação da Empresa de Pesquisa
Energética – EPE, vinculada ao MME; (iv) a extinção do MAE e criação
da Câmara de Comercialização de Energia – CCEE, com funções mais
abrangentes; e (iv) a redefinição dos papéis do MME, que passa a
ser o executor da polı́tica energética emanada do Conselho Nacional
de Polı́tica Energética – CNPE e da Aneel, que passa a ter a função
exclusiva de regulação e fiscalização.

2008 A capacidade instalada de energia elétrica no Brasil era em torno de


93.500 MW.

– 44 –
1.9 Alguns dados atuais (fontes: ONS e ANEEL)

◮ Geração:
O potencial hidráulico do Paı́s é de 260 GW, dos quais em torno de 28% estão
sendo utilizados na produção de energia pelas usinas hidrelétricas de médio e grande
porte e as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s). A Região Norte tem o maior
potencial para geração hidráulica, 114 GW ou 44%, enquanto a Região Nordeste
tem apenas 10% deste total, 26 GW.
Ao final de 2008, a capacidade de geração instalada no SIN alcançou 89.000 MW,
sendo 74.000 MW em usinas hidrelétricas (incluindo 7.000 MW de Itaipu) e 14.000
MW em usinas térmicas (incluindo 2.000 MW das usinas nucleares). Para se obter
a capacidade de produção total disponı́vel, deve-se somar a esses valores a
disponibilidade de importação de 2.178 MW da Argentina e 6.000 MW de Itaipu,
parte contratada à ANDE/Paraguai.

◮ Transmissão:
O sistema de transmissão nas tensões de 230 kV a 750 kV (rede básica)
representava em dezembro de 2008 um total de 90.000 km.

◮ Distribuição:
O mercado de distribuição de energia elétrica é atendido por 64 concessionárias,
estatais (20%) ou privadas (80%), de serviços públicos que abrangem todo o Paı́s.
As concessionárias estatais estão sob controle dos governos federal, estaduais e
municipais. Em várias concessionárias privadas verifica-se a presença, em seus
grupos de controle, de diversas empresas nacionais, norte-americanas, espanholas e
portuguesas. São atendidos cerca de 47 milhões de unidades consumidoras, das
quais 85% são consumidores residenciais, em mais de 99% dos municı́pios brasileiros.

– 45 –
No dia 04/02/2010 houve recordes de demanda instantânea no SIN e nos Subsistemas
SE/CO, Sul e Norte, atingindo respectivamente 70.654 MW às 14h49min, 43.519 MW
às 14h44min, 13.355 MW às 14h53min e 4.381 MW às 15h52min. Os recordes
ocorreram devido à elevação da temperatura no paı́s, que atingiu 36oC no SE, 35oC no
Sul, 34oC no Norte e 32o no Nordeste.

A Tabela abaixo apresenta as demandas instantâneas máximas verificadas no SIN e nos


respectivos Subsistemas e os Gráficos apresentam os históricos diários, em 2010, das
demandas máximas instantâneas no horário de ponta e nos horários dos recordes.

Fonte: www.ons.com.br/sala˙imprensa. Último acesso em 06 fev 2010.

– 46 –
– 47 –
1.10 Cargas e fatores tı́picos da carga

◮ Tipos de cargas:

 Residenciais

 Comerciais de iluminação e condicionamento de ar em prédios, lojas, edifı́cios de


escritórios, etc

 Industriais trifásicas em geral, com predomı́nio de motores de indução

 Rurais de agroindústrias, irrigação, etc

 Municipais e governamentais (serviços e poderes públicos)

 De iluminação pública

◮ Demanda: carga nos terminais receptores tomada em valor médio em um


determinado intervalo de tempo

– 48 –
 intervalo de tempo → 0 demanda instantânea

 tı́pico: intervalos de 10 ou 15 minutos

 se a demanda é representada em kW, a área sob a curva fornece a energia


consumida em kWh

Veja a diferença entre demanda (média) e demanda instantânea:

◮ Demanda máxima: maior de todas as demandas que ocorreram em um perı́odo


especificado de tempo

– 49 –
◮ Diversidade de carga: cargas apresentam comportamento próprio, e suas demandas
máximas e mı́nimas normalmente ocorrem em instantes diferentes

 demanda diversificada: num dado instante, é a soma das demandas individuais


das cargas naquele instante

 fator de diversidade: relação entre a soma das demandas máximas do conjunto


de cargas e a demanda máxima do conjunto (sempre > 1)

◮ Fator de demanda: num certo intervalo de tempo, é a relação entre sua demanda
máxima e a carga nominal ou instalada total

◮ Fator de utilização: num determinado perı́odo de tempo, é a relação entre a


demanda máxima do sistema e a sua capacidade

– 50 –
replacements
 Exemplo

Considere o alimentador primário a seguir, em que representa-se a capacidade do


alimentador, as potências nominais dos transformadores abaixadores e as demandas
máximas mensais.

Sa = 1,2 MVA
T1 T2 T3
150 kVA 75 kVA 300 kVA

160 kVA 60 kVA 375 kVA


fp = 0,85 fp = 0,98 fp = 0,92

Fatores de demanda individuais dos transformadores:

160 60 375
fT 1 = = 1,067 fT 2 = = 0,800 fT 3 = = 1,250
150 75 300
Demanda máxima para o conjunto de transformadores:

|St | = | 160 ∠ cos−1 0,85 + 60 ∠ cos−1 0,98 + 375 ∠ cos−1 0,92 | = 592,08 kVA

Fator de demanda do conjunto:

592,08
fconjunto = = 1,28
150 + 75 + 300
Fator de utilização:

592,08
futiliz = = 0,493 ou 49,3%
1200


– 51 –
◮ Fator de carga: relação entre as demandas média e máxima do sistema em um certo
perı́odo de tempo

◮ Curva de duração de carga: a curva de carga varia em função do dia (dia útil,
sábado, domingo, feriado, acontecimentos extraordinários, estação, etc)
Para algumas aplicações deseja-se obter uma visão macroscópica do
comportamento da carga. Por exemplo: deseja-se determinar o número de horas ao
longo do ano em que a carga não é maior que um certo montante, ou ainda,
estabelecer a probabilidade de ocorrência de demandas em certa faixa de valores.
O procedimento para a obtenção da curva de duração de carga consiste em ordenar,
em ordem decrescente, as demandas diversificadas verificadas no perı́odo.

 durante 100 horas do mês a demanda não é menor que 1800 kW

 durante o mês a demanda não é menor que 400 kW

– 52 –
Curva de duração em pu:

 demandas maiores que 0,7 pu ocorrem durante 22% do tempo

 a probabilidade da carga exceder 70% da demanda máxima é 22%

1.11 Qualidade e confiabilidade da operação

◮ A qualidade do fornecimento pode ser avaliada em termos de:

 continuidade do fornecimento (número de interrupções do serviço e tempo de


duração dessas interrupções)

 nı́vel de tensão

 oscilações rápidas de tensão

 desequilı́brio da tensão

 distorções harmônicas da tensão

– 53 –
◮ O serviço de fornecimento de energia elétrica está sujeito a sofrer interrupções

◮ Dois ı́ndices são comumente utilizados para a avaliação da confiabilidade da


operação:
Pn Pn
i =1 Ca(i ) · t(i ) i =1 Ca(i )
DEC = FEC =
Cs Cs
onde:

DEC – duração equivalente por consumidor, é o número médio de horas que


cada consumidor do sistema ficou privado do fornecimento de energia elétrica no
perı́odo considerado

FEC – frequência equivalente de interrupção por consumidor, é o número médio


de interrupções que cada consumidor do sistema sofreu no perı́odo considerado

Ca(i ) – consumidores atingidos pela interrupção i

t(i ) – tempo de duração da interrupção i

Cs – número total de consumidores servidos pelo sistema onde ocorreu a


interrupção i

n – número total de interrupções

– 54 –
◮ Blecaute em Campinas, SP7 : “ Às 8h21min de uma quarta-feira, ocorreram
problemas na S/E Santa Bárbara da CESP de 440/138 kV, que motivaram o
desligamento dos três bancos de transformadores que totalizam 900 MVA. Como as
outras S/E e usinas da região não tinham capacidade para atender o sistema,
ocorreu o desligamento de 46 S/E da CPFL e 20 S/Es particulares que somavam
700 MVA e 450.000 consumidores.
O restabelecimento de energia na S/E Santa Bárbara ocorreu depois de sete
minutos, sendo que as demais S/E foram religando os consumidores em um perı́odo
compreendido entre nove minutos e uma hora.
Conforme o gráfico apresentado [a seguir], verificou-se que, apesar da ocorrência na
região de Campinas ter-se registrado entre as 8h21min e 9h30min, o processo
produtivo só retornou ao normal a partir das 21h do mesmo dia. Portanto, houve
uma queda na atividade econômica durante cerca de 12 horas.”

◮ Os estudos de confiabilidade utilizam como referência para determinar a necessidade


de novas linhas e/ou subestações o custo social do kWh interrompido, que pode ser
estimado como sendo da ordem de 50 a 100 vezes maior que o preço médio do kWh
faturado.

7 Fonte: J.A. Cipoli, Engenharia de distribuição, Qualitymark, 1993.

– 55 –
1.12 Automação da distribuição

◮ O termo Automação da distribuição abrange uma gama de implementações que vão


desde a simples adaptação de controle remoto a um equipamento já existente até a
utilização de dispositivos que operam com base em princı́pios modernos de
comunicações, inteligência e otimização. O termo automação sugere que o processo
seja auto-controlado.

◮ Uma definição comumente adotada no setor elétrico é: “Automação da distribuição


corresponde à utilização de um conjunto de tecnologias que permite o
monitoramento, a coordenação e a operação de componentes da rede, de forma
remota e em tempo real.”
O termo coordenação está diretamente ligado à automação.

◮ Distribution automation system (DAS) – conjunto de equipamentos instalados na


rede, de forma a atender os requisitos mencionados anteriormente
Distribution management system (DMS) – DAS acrescido de um centro de
operação e controle, com interface homem-maquina (IHM) apropriada e conjunto
de funções de controle que permitem a utilização mais eficiente possı́vel dos
equipamentos da rede.

◮ Por que automatizar?

 Redução dos custos de operação (por exemplo reduzindo as perdas de potência


nos alimentadores) e manutenção (por exemplo eliminando deslocamentos de
equipes para localização de defeitos na rede e eventuais manobras)

 Postergação de projetos de reforço da rede, já que uma operação mais eficiente
permite que se opere as redes mais próximas de seus limites

 Aumento da confiabilidade, pois a automação resulta na diminuição do número


de ocorrências de falta de energia, e do tempo de interrupção

 Novos serviços podem ser oferecidos aos consumidores, como medição remota,
tarifas mais flexı́veis em função do estabelecimento de prioridades de
fornecimento, etc

– 56 –
 Aumento da qualidade do serviço, incluindo melhores nı́veis de tensão, menores
componentes harmônicos, etc

 Melhor qualidade das informações obtidas pelas equipes de operação,


pós-operação e planejamento

◮ Principais funções de controle que podem ser implementadas:

 Demand-side management – permite que procedimentos previamente acordados


entre a empresa e consumidores levem a deslocamentos dos horários, diminuição
e até limitação dos picos de demanda

 Controle de tensão/potência reativa – através do controle de tap de


transformadores e reguladores de tensão e chaveamento de capacitores

 Diagnóstico, localização e isolamento de faltas – pode ser feito automaticamente

 Restabelecimento do serviço – permitindo o serviço volte rapidamente para os


consumidores nas áreas que não foram afetadas pela falta

 Reconfiguração – através da manobra de chaves, transferindo cargas entre


alimentadores, com o objetivo de minimizar as perdas de potência ativa, otimizar
os perfis de tensão e evitar sobrecargas

 Qualidade da energia – através da detecção e controle de desvios de tensão,


corrente e frequência que resultam em falhas ou operação anormal

– 57 –
1.13 Materiais de apoio

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/I Introducao.pdf

◮ http://www.fee.unicamp.br/cursos/et720 – material de apoio do Capı́tulo 1

◮ http://www.ieee.org/web/aboutus/history˙center/about/historical˙
articles.html

◮ http://en.wikipedia.org/wiki/Utility˙frequency

◮ http://en.wikipedia.org/wiki/War˙of˙Currents

◮ http://gnu.ets.kth.se/˜nt/tmp/electricity˙supply˙in˙the˙uk˙˙a˙
chronology.pdf

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/Distribuicao.pdf

◮ http:
//www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/IIGeracao I - Geracao Hidroeletrica.pdf

◮ http:
//www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/IIGeracao II - Geracao Termoeletrica.pdf

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/IIGeracao III - Co-geracao.pdf

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/IIGeracao IV - Gerador.pdf

– 58 –
1.14 Referências

◮ J.J. Grainger, W.D. Stevenson, Power System Analysis, McGraw-Hill, 1994.

◮ J.D. Glover, M. Sarma, Power System Anlaysis and Design, PWS-KENT, 1989.

◮ Proceedings of the Institute of Electrical and Electronics Engineers, vol.64, no.6,


September 1976.

◮ Agência Nacional de Energia Elétrica (http://www.aneel.gov.br).

◮ Operador Nacional do Sistema Elétrico (http://www.ons.com.br).

◮ D. Morton, The Electrical Century – Powering the Electrical Century, Proceedings of


the Institute of Electrical and Electronics Engineers, vol.64, no.6, September 1976.

◮ N. Marcolin, Rotas da eletricidade, Revista Pesquisa FAPESP, n.118, Dezembro de


2005.

◮ W.H. Kersting, Distribution system modeling and analysis, CRC Press, 2007.

◮ N. Kagan, C.C.B. de Oliveira, E.J. Robba, Introdução aos sistemas de distribuição


de energia elétrica, Edgard Blücher, 2005.

◮ J.A. Cipoli, Engenharia de distribuição, Qualitymark, 1993.

◮ J. Northcote-Green, R. Wilson, Control and automation of electrical power


distribution systems, Taylor & Francis, 2007.

◮ J.A. Momoh, Electric power distribution, automation, protection, and control, CRC
Press, 2008.

◮ A.R. Bergen, V. Vittal, Power Systems Analysis, 2nd Edition, Prentice Hall, 2000

– 59 –
Gustav Robert Kirchhoff (Königsberg, 12 de março de 1824 –
Berlim, 17 de outubro de 1887) – foi um fı́sico alemão, com
contribuições cientı́ficas principalmente no campo dos circui-
tos elétricos, na espectroscopia, na emissão de radiação dos
corpos negros e na teoria da elasticidade (modelo de placas de
Kirchhoff). Kirchhoff propôs o nome de ”radiação do corpo
negro”em 1862. É o autor de duas leis fundamentais da teoria
clássica dos circuitos elétricos e da emissão térmica.

– 60 –
ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I
1 Semestre 2011
Capı́tulo 2 – Cálculo de fluxo de carga

2.1 Estrutura geral dos sistemas de potência

Centro de Supervisão e Controle

controle aquisição de dados

unidade terminal remota (UTR)

c.a.
~ Distribuição
Transmissão
Geração
c.a. c.a.

medidor Carga
disjuntor

Conversor (inversor)

c.c.

Conversor (retificador)

transformador

~ gerador

–1–
2.2 Definição do problema de fluxo de carga

◮ Fluxo de carga (FC): obtenção das condições de operação (tensões, fluxos de


potência) de uma rede elétrica em função da sua topologia e dos nı́veis de demanda
e geração de potência.

SISTEMA ELÉTRICO

USINA
15,9 kV
42,7 MW SUBESTAÇÃO 72,2 MW
138,4 kV

12,1 Mvar 15,4 Mvar

3,3 MW 1,0 Mvar

13,4 kV
INDÚSTRIA

–2–
PowerWorld Co. – The visual approach to analyzing power systems (www.powerworld.com)

–3–
2.3 Análise estática

◮ Considere o seguinte circuito genérico:

Chave
i (t)
t0
+
Fonte v (t) Carga

v (t)

i (t)

i (t)

i (t)

i (t)
t
t0
transitório regime

–4–
Chave
i (t)
t0
+
Fonte v (t) Carga

v (t) ∼
t

i (t)
t

i (t)
t

t0
transitório regime

◮ Os circuitos elétricos são sistemas dinâmicos.

Variações em um parâmetro levam a variações das demais grandezas, envolvendo


um perı́odo transitório que precede a nova condição de operação em regime
permanente, se houver.

–5–
◮ Uma alteração na rede pode levar a um novo ponto de operação de regime
permanente ...

fluxo de potência tensão

fluxo de potência

◮ ou não, levando à instabilidade ...

fluxo de potência tensão

fluxo de potência

–6–
◮ Na análise estática, a preocupação reside nos pontos de operação de regime
permanente, e os transitórios não são levados em consideração:

ponto de operação
de regime

alteração

transitório

ponto de operação não há


de regime solução

◮ Análise estática: equações algébricas (lineares ou não lineares)


Análise dinâmica: equações algébrico-diferenciais (simulação no domı́nio do tempo)

–7–
◮ Fluxo de carga: Modelagem dos componentes → obtenção do sistema de equações
e inequações algébricas → métodos de solução → estado de operação da rede em
regime permanente.

◮ Modelagem é estática → rede representada por um conjunto de equações e


inequações algébricas.

Análise estática: obtém-se o estado de operação da rede em regime permanente →


comportamento dinâmico não é considerado.

2.4 Aplicações

◮ FC é utilizado tanto no planejamento como na operação de redes elétricas.

◮ Em geral é parte de um procedimento mais complexo.

◮ Alguns exemplos:

 Operação

análise de segurança: várias contingências (acidentes, distúrbios) são simuladas


e o estado de operação da rede após a contingência deve ser obtido. Eventuais
violações dos limites de operação são detectados e ações de controle corretivo
e/ou preventivo são determinadas.

 Planejamento

planejamento da expansão: novas configurações da rede são determinadas para


atender ao aumento da demanda e o estado de operação da rede para a nova
configuração deve ser obtido.

–8–
◮ Ao longo dos anos, vários métodos de solução do FC foram propostos. Para cada
aplicação existem os métodos mais apropriados. Os fatores considerados na escolha
são mostrados nas tabelas a seguir.

Tipos de solução
Precisa Aproximada
Sem controle de limites Com controle de limites
Off-line On-line
Caso simples Casos múltiplos

Propriedades dos métodos de solução do FC


Alta velocidade especialmente redes de grandes dimensões
para: aplicações em tempo real
casos múltiplos
aplicações interativas
Pequeno especialmente redes de grandes dimensões
espaço de para: computadores com pequena
armazenamento memória
Confiabilidade especialmente para: problemas mal-condicionados
análise de contingências
aplicações em tempo real
Versatilidade habilidade para incorporação de ca-
racterı́sticas especiais (controle de li-
mites operacionais, representação de
diversos equipamentos etc.); facili-
dade de ser usado como parte de pro-
cessos mais complexos
Simplicidade facilidade de manutenção e melhora-
mento do algoritmo e do programa

–9–
◮ Em geral uma aplicação requer várias caracterı́sticas.

Exemplo: na análise de segurança pode-se necessitar de um método de solução


aproximado, sem controle de limites operacionais, on-line, com solução de casos
múltiplos.

2.5 História

◮ Network analyzer – painéis em que os equipamentos do sistema eram emulados


através de conjuntos de fontes, resistores, capacitores e indutores variáveis.
Para redes reais, network analyzers eram enormes (ocupando várias salas),
consumiam muita energia e modificações na rede exigiam alterações na fiação e
ajustes nos valores dos componentes.
Network analyzers foram utilizados antes e também algum tempo depois da
utilização de computadores digitais.

◮ Primeiro método prático de solução do problema do FC através de um computador


digital → Ward e Hale, 1956 (método baseado na matriz Y)

◮ Métodos baseados na matriz Y : espaço de armazenamento pequeno (adequado aos


computadores da época), convergência lenta.

◮ Começo da década de 60: métodos baseados na matriz Z (Gupta e Davies,1961).


Convergência mais confiável, requerem mais espaço de armazenamento, mais lentos.

◮ Na mesma época: método de Newton (Van Ness, 1959). Caracterı́sticas de


convergência excelentes. Computacionalmente não era competitivo.

– 10 –
◮ Meados da década de 60: técnicas de armazenamento compacto e ordenamento da
fatoração (Tinney e Walker, 1967) tornaram o método de Newton muito mais
rápido e exigindo pequeno espaço de memória, mantendo a caracterı́stica de ótima
convergência → método de Newton passou a ser considerado como o melhor
método e foi adotado pela maioria das empresas de energia elétrica.

◮ Década de 70: métodos desacoplados (Stott e Alsaç, 1974) baseados no método de


Newton foram propostos → ainda mais rápidos, mantendo precisão e convergência.
Somente em 1990 foi apresentado um estudo teórico aprofundado das
caracterı́sticas dos métodos desacoplados.

◮ Foram propostos ainda: variações dos métodos desacoplados básicos, métodos para
redes mal-condicionadas, métodos para redes de distribuição (média e baixa
tensões), fluxo de carga da continuação, fluxo de carga ótimo, etc.

– 11 –
2.6 Motivação e idéias gerais

◮ Considere o seguinte sistema de potência:

fechado Região em operação

~ Distribuição
Transmissão
Geração

aberto
Carga

– 12 –
◮ Considere que:

 a função do sistema de geração é produzir a energia elétrica que será consumida


→ modelado como uma injeção de potência no barramento

 a linha de transmissão é modelada como um circuito RL série, representando as


perdas ôhmicas de potência e a presença de campo magnético em torno dos
condutores

 o sistema de distribuição consome a energia transportada pelo sistema de


transmissão → modelado como uma injeção de potência no barramento

◮ Diagrama unifilar correspondente:

Região em operação

~ Distribuição
Transmissão
Geração

1 2

P1 + j Q1 r +jx P2 + j Q2

P12 + j Q12
E1 = V1∠θ1 E2 = V2∠θ2
Geração Transmissão Distribuição

– 13 –
◮ Circuito por fase:

1 r jx 2

I
+ P1 P2 +
∼ E1 Q1 Q2 E2
− −

Geração Transmissão Distribuição

◮ Dados: V2 =| E2 |= 500 kV (tensão de linha)


S2 = P2 + j Q2 = 100 + j 0 = 100∠0◦ MVA (100 MW, 0 Mvar)
r = 25 Ω/fase
x = 125 Ω/fase

◮ Pede-se: V1
S1 = P1 + j Q1

Conhecendo essas grandezas, pode-se dizer que o estado de operação da rede é


totalmente conhecido. A partir daı́ outras análises podem ser realizadas.

◮ Os cálculos serão feitos em pu (por unidade), cuja idéia é muito importante no caso
de circuitos com vários nı́veis de tensão.

◮ Valores de base:

Sb = 100 MVA Vb = 500 kV

– 14 –
Conversão dos dados para pu:

E2 = 1∠0◦ pu (referência angular)


S2 = 1∠0◦ pu
25
r=  = 0,01 pu
Vb2/Sb
125
x=  = 0,05 pu
Vb2/Sb

Corrente pelo circuito:


∗ ∗
1∠0◦
 
S2
I= = = 1∠0◦ pu
E2 1∠0◦

Tensão na fonte:

E1 = E2 + I (r + j x )
= 1∠0◦ + 1∠0◦ (0,01 + j 0,05) = 1,0112∠2,8◦ pu

Potência fornecida pela fonte:

S1 = E1I ∗ = 1,0112∠2,8◦ = 1,01 + j 0,05 pu (101 MW, 5 Mvar)

V1 = 1,0112 pu V2 = 1 pu
1 perdas na transmissão 2

101 MW 100 MW

5 Mvar 0 Mvar

1 MW
5 Mvar

– 15 –
◮ Na prática, os dados e incógnitas não são os especificados anteriormente.

◮ Dados: S2 = P2 + j Q2 = 100 + j 0 = 100∠0◦ MVA (100 MW, 0 Mvar)


V1 = 1,0112 pu (*) (linha)
r = 25 Ω/fase
x = 125 Ω/fase

(*) Tensão na saı́da do transformador elevador na subestação da usina, mantida


constante através de um complexo sistema de controle.

◮ Pede-se: V2
S1 = P1 + j Q1

◮ A resolução analı́tica é mais complicada. Pode-se também resolver por tentativa e


erro.

◮ Resolução analı́tica

Lei das tensões de Kirchhoff:

E1 = E2 + ZI
= E2 + Z (S2 /E2)∗ (×E2∗)
E1E2∗ = V22 + ZS2∗

Considerando E1 = V1∠0◦ e E2 = V2 ∠θ2 :

V1V2 ∠ − θ2 = V22 + (r + j x ) (P2 − j Q2 )

Separando as partes real e imaginária:

V1V2 cos θ2 = V22 + (r P2 + x Q2)


V1V2 sen θ2 = (r Q2 − x P2)

– 16 –
Elevando as duas equações ao quadrado e somando-as, elimina-se θ2 :

V12V22 = V24 + (r P2 + x Q2)2 + 2V22 (r P2 + x Q2) + (r Q2 − x P2)2


4 2
 2
 h 2 2
i
V2 + V2 2 (r P2 + x Q2) − V1 + (r Q2 − x P2) + (r P2 + x Q2) = 0

que pode ser reescrita como:

V24 + bV22 + c = 0 ∆ = b2 − 4c
 
1/2
y1 = −b + ∆ /2
 
y2 = −b − ∆1/2 /2
n o
1/2 1/2
V2 = ±y1 , ±y2

Para os dados fornecidos: V2 = {±1, ±0,05} pu.

A resposta esperada é V2 = 1 pu. Então:

θ2 = sen−1 [(r Q2 − x P2 ) /V1 V2] = −2,8◦


 ∗
S2
I= = 1∠ − 2,8◦ pu
E2

S1 = E1I ∗ = 1,0112∠2,8◦ = 1,01 + j 0,05 pu (101 MW, 5 Mvar)

– 17 –
◮ Mesma solução anterior

 Mesmas magnitudes de corrente e tensão

 Mesmas potências consumida e gerada

 Mesmas perdas de potência ativa e reativa na transmissão

◮ Diagramas fasoriais referentes às duas resoluções:

E1

2,8◦
referência angular
I E2

mudança de referência

E1
referência angular
2,8◦
I

E2

– 18 –
◮ Interpretação dos resultados:

 As duas soluções negativas não têm significado fı́sico → são desprezadas.

 Supor que a potência ativa da carga no barramento 2 seja variável e que a


potência reativa seja nula:

V2 [pu]
operação estável
1

0,8
caso base V2cr
0,6

0,4
P2cr
0,2
operação instável
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
P2 [pu]

P2cr – máximo carregamento da rede para as condições especificadas.


V2cr – tensão para a qual ocorre o máximo carregamento.

 Exercı́cio

(1) Apresentar a curva [V2 × P2] completa para o circuito exemplo, considerando
Q2 = 0.
(2) Obter P2cr e V2cr analiticamente e comparar com os valores obtidos através da
análise da curva PV.
(3) Apresentar a curva [V2 × Q2] considerando P2 = 0 no mesmo gráfico de (1). Obter
Qcr cr
2 e V2 analiticamente e comparar com os valores obtidos através da análise da
curva PV.


– 19 –
◮ Os sistemas elétricos de potência são dinâmicos:

P2

P2cr

t
V2
processo de instabilidade
de tensão que resulta no
COLAPSO DE TENSÃO

t∗ t

→ Modelagem dos aspectos dinâmicos e métodos de resolução especı́ficos são


necessários.

◮ Para redes maiores:

Resolução por meios


analı́ticos é impossı́vel.

Tentativa e erro?

– 20 –
◮ Resolução por tentativa e erro

Uma idéia de um procedimento de cálculo iterativo:

(a) Inicializar contador de iterações ν = 0


(b) Escolher E2ν = E20
(c) Calcular a corrente pela carga:
 ∗
S2
I2ν =
E2ν

(d) Calcular a queda de tensão na linha de transmissão:

∆E ν = (r + j x ) I2ν

(e) Calcular a tensão na barra de carga:


 ∗
S2
E2ν+1 ν
= E1 − ∆E = E1 − (r + j x )
E2ν

(f) Incrementar contador de iterações (ν ← ν + 1) e voltar para o passo (c)

Começando com E2 = 1∠0◦ pu tem-se:

Iteração E2 [pu]

0 1+j0
1 1,0012 − j 0,0500
2 0,9987 − j 0,0493
3 0,9987 − j 0,0494
4 0,9987 − j 0,0494 Solução: E2 = 1∠ − 2,8◦ pu

Na realidade este método iterativo (Gauss) foi o primeiro a ser proposto para a
resolução das equações de fluxo de carga (∼ 1956).

– 21 –
◮ Resumo:

 É necessário o desenvolvimento de técnicas de resolução especı́ficas e eficientes


para o problema da determinação do estado de operação de redes elétricas em
regime permanente CÁLCULO DE FLUXO DE CARGA

 Fluxo de carga (load flow) = Fluxo de potência (power flow)

 É uma ferramenta básica para a análise de redes elétricas

2.7 Representação por fase

◮ A rede trifásica equilibrada é representada somente por uma das fases → diagrama
unifilar :

Furnas (Campinas)

Tanquinho (138 kV)

Taquaral
42 MVA
x = 21,24%
Tanquinho (69 kV)

Barão Geraldo Souzas

Itatiba
r = 1,41%
Nova Aparecida x = 3,68%
b = 0,06%
Trevo (69 kV)

x = 24,26% x = 28%

Trevo (138 kV)

barramento
Viracopos

– 22 –
◮ Barramento (barra) – nó do circuito.

◮ Ramos – linhas de transmissão ou transformadores, que conectam duas barras.

◮ Dados dos ramos – em % na base 100 MVA e tensão nominal (pu × 100%).

– 23 –
◮ Para as linhas de transmissão – utiliza-se o modelo π, em que r é a resistência série,
x é a reatância série e b é o carregamento total charging da linha (o dobro da
admitância shunt):

r jx

j b/2 j b/2

Para a linha Tanquinho-Trevo: Para a linha do exemplo da Seção


2.6:

Tanquinho Trevo 1 2
0,0141 j 0,0368 0,01 j 0,05

j 0,0003 j 0,0003

◮ Geração e carga – injeções de potência nas barras.

– 24 –
2.8 Formulação básica do problema de fluxo de carga

◮ Rede composta por barras e ramos (linhas de transmissão e/ou transformadores).

◮ Barras: 4 grandezas básicas: V – magnitude da tensão nodal


θ – ângulo de fase da tensão nodal
P – injeção de potência ativa nodal
Q – injeção de potência reativa nodal

2 grandezas são conhecidas e 2 devem ser calculadas. Para a rede exemplo da


Seção 2.6 :

Grandezas Grandezas
Barra conhecidas a calcular

1 V1 , θ1 P1 , Q1
2 P2 , Q2 V2 , θ2

◮ As barras são classificadas em:

→ barras de carga (PQ) – são conhecidas as potências ativa e reativa consumidas.


Deve-se calcular a tensão (magnitude e ângulo de fase) → conhece-se P e Q,
calcula-se V e θ.

→ barras de geração (PV) – são conhecidos a potência ativa gerada e a magnitude


da tensão terminal. Deve-se calcular o ângulo da tensão e a potência reativa gerada
(ou consumida) → conhece-se P e V , calcula-se θ e Q.

→ barra(s) de referência (Vθ, também chamadas de slack) – a tensão (magnitude e


ângulo de fase) é conhecida. Deve-se calcular as potências ativa e reativa →
conhece-se V e θ, calcula-se P e Q.

– 25 –
◮ A barra slack tem duas funções:

 Fornecer uma referência angular para a rede (a referência da magnitude de


tensão é o próprio nó terra)

 Exemplo

Calcular a potência ativa consumida pela impedância Z2 do circuito a seguir.

Z1 = 4∠90◦ Ω

+ V1 −
+ + +
∼ E V 100 V V2 Z2 = 3∠0◦ Ω
− − −

Utilizando a medição feita pelo voltı́metro, define-se a tensão da fonte E como:

E = 100∠α V

A corrente pelo circuito é:

E
I= = 20∠ (α − 53,1◦) A
(Z1 + Z2)

A potência complexa consumida por Z2 vale:

S2 = V2 · I ∗ = (Z2 · I) · I ∗ = Z2 · | I |2 = 1,2∠0◦ kVA

que resulta em uma potência ativa de 1,2 kW.

– 26 –
Comentários:
→ os fasores de tensão e corrente dependem de α.
→ as defasagens entre os fasores não dependem de α.

→ determinou-se a potência consumida sem que se conhecesse o valor de α.


→ as potências não dependem dos ângulos de fase das tensões e correntes e sim
das diferenças angulares entre as grandezas.

→ α pode ser escolhido livremente pois não altera os resultados finais.




 Fechar o balanço de potência da rede, levando em conta as perdas de


transmissão. As perdas de transmissão não são conhecidas a priori, e devem ser
supridas pelas unidades geradoras. Em geral, especifica-se uma barra da rede
que suprirá as perdas.

 Exemplo

Considere a rede de 3 barras e 3 ramos mostrada a seguir.

20 MW +
P
perdasi perdas1
i


(slack)
1 2 100 MW
perdas2 perdas3

∼ 80 MW

– 27 –
Comentários:
→ a barra slack deve fornecer 20 MW adicionais para satisfazer a demanda na
barra 2, pois o gerador da barra 3 entrega somente 80 MW.
→ a barra slack deve fornecer ainda uma quantidade adicional de potência para
suprir as perdas de potência nos ramos.


 Exemplo

Relembrando a solução da rede exemplo da Seção 2.6 :

V1 = 1,0112 pu V2 = 1 pu
1 perdas na transmissão 2

101 MW 100 MW

5 Mvar 0 Mvar

1 MW
5 Mvar

◮ Outros tipos de barras podem ser definidos, em função de situações de operação


particulares.

– 28 –
 Exemplo

Considere a rede a seguir.

1 2 3 4 5

∼ ∼

• Barras 3 e 4: barras de carga (PQ) → P e Q são conhecidos e deve-se calcular V e θ

• Barras 2 e 6: não têm carga nem geração associados → são consideradas como
barras de carga (PQ) com P = Q = 0

• Barras 1, 5 e 7: conectadas a geradores → barras de geração → em geral P e V


são conhecidos e deve-se calcular θ e Q

• Uma das barras deve desempenhar o papel especial de:

⋆ ser a referência angular da rede (θ especificado)

⋆ permitir o balanço de potência da rede

• Pode-se escolher, por exemplo, a barra 1 como a slack, atribuindo um valor para θ1 .
Logo, P1 passa a ser desconhecido.

• As barras 5 e 7 continuam a ser PV.




– 29 –
2.9 Formulação nodal – equações de corrente

◮ Considere a rede de três barras e três linhas mostrada a seguir.

∼ Pg1 , Qg1 Pg2 , Qg2 ∼

1 V1 , θ 1 P12 , Q12 V2 , θ 2 2

Pc1 , Qc1 r12 , x12 Pc2 , Qc2


sh
b12
r13 , x13 r23 , x23
sh sh
b13 P13 , Q13 P23 , Q23 b23

3 V3 , θ 3

Pc3 , Qc3

◮ Barras – 1 e 2 (gerador e carga) e 3 (carga)

→ Define-se a injeção lı́quida de potência ativa:

∼ Pgk
k Pgk − Pck = Pk
P1 = Pg1 − Pc1
Pck
P2 = Pg2 − Pc2 potencia transmitida
pelas linhas
P3 = 0 − Pc3

→ o mesmo vale para potência reativa.

– 30 –
→ o mesmo vale para as correntes – injeção lı́quida de corrente:

I1 = Ig1 − Ic1
I2 = Ig2 − Ic2
I3 = 0 − Ic3

◮ Três linhas de transmissão conectando as barras.

→ Linhas representadas pelos seus modelos π nominais.

→ impedância série z12 = r12 + jx12

→ admitância série:

1 r12 −x12
y12 = = g12 + jb12 = 2 2 + j 2 + x2
z12 r12 + x12 r12 12

sh
→ admitância shunt jb12

◮ Levando em conta as definições anteriores tem-se o circuito equivalente da rede por


fase em pu:

I1 I2

1 V1 , θ 1 y12 V2 , θ 2 2

I13 I12 I23

sh sh sh sh
j b13 j b12 j b12 j b23
y13 y23

3 V3 , θ 3

I3

sh sh
j b13 j b23

– 31 –
◮ Aplicando a lei das correntes de Kirchhoff para o nó 1:

→ a injeção de corrente I1 entrando na barra se distribui pelas linhas 1-2 e 1-3.

→ as correntes pelas linhas, por sua vez, têm duas componentes, uma pela
admitância série e outra pela admitância shunt.

I1 = I12 + I13
sh sh
= y12 (E1 − E2) + jb12 E1 + y13 (E1 − E3 ) + jb13 E1
| {z } | {z }
I12 I13

sh sh

I1 = y12 + y13 + jb12 + jb13 E1 + (−y12) E2 + (−y13) E3

em que Ej = Vj ∠θj , j = 1, . . . , 3.

◮ Realizando o mesmo procedimento para as demais barras, obtém-se o seguinte


sistema de equações:

sh sh

I1 = y12 + y13 + jb12 + jb13 E1 + (−y12) E2 + (−y13) E3
sh sh

I2 = (−y12) E1 + y12 + y23 + jb12 + jb23 E2 + (−y23) E3
sh sh

I3 = (−y13) E1 + (−y23) E2 + y13 + y23 + jb13 + jb23 E3

– 32 –
◮ Na forma matricial:

sh sh
     
I1 y12 + y13 + jb12 + jb13 −y12 −y13 E1
sh sh
 I2  =  −y12 y12 + y23 + jb12 + jb23 −y23  ·  E2 
sh sh
I3 −y13 −y23 y13 + y23 + jb13 + jb23 E3

ou:

I =Y·E

em que I é o vetor de injeções nodais de corrente (n × 1), E é o vetor das tensões


nodais (n × 1) e Y é a matriz admitância nodal (n × n). n é o número de barras da
rede.

◮ De acordo com os resultados obtidos obtém-se uma regra para a formação da


matriz Y:

 elementos fora da diagonal – o negativo da admitância série:


Ykm = −ykm

 elementos da diagonal – soma das admitâncias conectadas à barra:


sh
P 
Ykk = m∈Ωk ykm + jbkm
em que Ωk é o conjunto formado pelas barras vizinhas da barra k.

– 33 –
◮ A regra de formação da matriz admitância nodal indica que cada ramo contribui em
4 posições da matriz:

Rede elétrica

j k m

y1 y2

j k m

· · · + y1 −y1 j

−y1 y1 + y2 −y2 k

−y2 · · · + y2 m

– 34 –
◮ A matriz Y pode ser colocada na seguinte forma:

Y = ℜ{Y} + jℑ{Y} = G + jB

em que G é a matriz condutância nodal e B é a matriz susceptância nodal.

Logo:

I = (G + jB) · E

em que:

 
g12 + g13 −g12 −g13
G =  −g12 g12 + g23 −g23 
−g13 −g23 g13 + g23
e

sh sh
 
b12 + b13 + b12 + b13 −b12 −b13
sh sh
B= −b12 b12 + b23 + b12 + b23 −b23 
sh sh
−b13 −b23 b13 + b23 + b13 + b23

– 35 –
 Exemplo

Para a rede da seção 2.6 :

1 2
r jx

z = r + jx = 0,01 + j0,05 = 0,051∠78,69◦ pu


1
y = z −1 = ◦
= 19,6116∠ − 78,69◦ = 3,8462 − j19,2308 pu = g + jb
0,051∠78,69

 
3,8462 −3,8462
G = ℜ {Y} =

y −y
 −3,8462 3,8462
Y= =⇒
−y y 
−19,2308 19,2308

B = ℑ {Y} =
19,2308 −19,2308


– 36 –
2.10 Formulação nodal – equações de potência

◮ Na prática são especificadas as injeções de potência (P e Q) e não as correntes.

◮ Da equação das correntes:

I1 E1
I2 E2
.. ..
I =Y·E . = .
Ik Yk1 Yk2 · · · Ykk · · · Ykn Ek
.. ..
. .
In En

Logo:

Ik = Yk1 E1 + Yk2 E2 + · · · + Ykk Ek + · · · + Ykn Ekn


X X
= Ykk Ek + Ykm Em = Ykm Em
m∈Ωk m∈K

em que K é o conjunto formado pela barra k e suas vizinhas (K ← Ωk ∪ k).

– 37 –
 Exemplo

1
3

n
k
8

De acordo com a regra de formação da matriz admitância:

Ykk 6= 0
Yk1 , Y1k 6= 0
Yk3 , Y3k 6= 0
Yk8 , Y8k 6= 0
Ykn , Ynk 6= 0

e os demais Ykj = 0. Portanto:

X X
Ik = Yk1 E1 + Yk3 E3 + Yk8 E8 + Ykn En + Ykk Ekk = Ykk Ek + Ykm Em = Ykm Em
m∈Ωk m∈K

onde:

Ωk = {1, 3, 8, n}

K = {k, 1, 3, 8, n}

– 38 –
◮ Para uma barra k:

Sk = Pk + jQk = Ek Ik∗

Logo:

X
Sk∗ = Pk − jQk = Ek∗ Ik = Ek∗ Ykm Em
m∈K

◮ Lembrando que Ek = Vk ∠θk e Em = Vm ∠θm :

X
Pk − jQk = Ek∗ Ykm Em
m∈K
X
= Vk ∠ (−θk ) (Gkm + jBkm ) Vm ∠θm
m∈K
X
= Vk Vm (Gkm + jBkm ) e −j(θk −θm )
m∈K
X
= Vk Vm (Gkm + jBkm ) e −jθkm
m∈K
X
= Vk Vm (Gkm + jBkm ) · (cos θkm − j sen θkm )
m∈K

X
Pk = Vk Vm (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm )
m∈K
X
Qk = Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
m∈K

que são as equações das potências nodais → 2 equações para cada barra.

– 39 –
 Exemplo

Considere a rede de 2 barras da Seção 2.6 :

Geração (slack) Carga (PQ)


1 2
r jx

Em princı́pio tem-se 2 equações para cada barra, ou seja, um total de 4 equações:

X
P1 = V1 Vm (G1m cos θ1m + B1m sen θ1m )
m∈K1
X
= V12 G11 + V1 Vm (G1m cos θ1m + B1m sen θ1m )
m∈Ω1

P1 = V12 G11 + V1V2 (G12 cos θ12 + B12 sen θ12)


X
Q1 = V1 Vm (G1m sen θ1m − B1m cos θ1m )
m∈K1
X
= −V12 B11 + V1 Vm (G1m sen θ1m − B1m cos θ1m )
m∈Ω1

Q1 = −V12 B11 + V1V2 (G12 sen θ12 − B12 cos θ12)

– 40 –
X
P2 = V2 Vm (G2m cos θ2m + B2m sen θ2m )
m∈K2
X
= V22 G22 + V2 Vm (G2m cos θ2m + B2m sen θ2m )
m∈Ω2

P2 = V22 G22 + V2V1 (G21 cos θ21 + B21 sen θ21)


X
Q2 = V2 Vm (G2m sen θ2m − B2m cos θ2m )
m∈K2
X
= −V22 B22 + V2 Vm (G2m sen θ2m − B2m cos θ2m )
m∈Ω2

Q2 = −V22 B22 + V2V1 (G21 sen θ21 − B21 cos θ21)

 Exemplo

Considere a rede de 3 barras a seguir.

Geração (slack) Geração (PV)


∼ ∼

1 2

Carga (PQ)

– 41 –
Em princı́pio tem-se 2 equações para cada barra, ou seja, um total de 6 equações:

X
P1 = V1 Vm (G1m cos θ1m + B1m sen θ1m )
m∈K1

P1 = V12 G11 + V1 V2 (G12 cos θ12 + B12 sen θ12) + V1V3 (G13 cos θ13 + B13 sen θ13)
X
Q1 = V1 Vm (G1m sen θ1m − B1m cos θ1m )
m∈K1

Q1 = −V12 B11 + V1 V2 (G12 sen θ12 − B12 cos θ12) + V1V3 (G13 sen θ13 − B13 cos θ13)

Obtenha as equações para P2, Q2, P3 e Q3.

2.11 Idéia geral dos métodos de resolução

◮ A idéia básica é obter as 4 grandezas (P , Q, V e θ) para todas barras da rede.

→ Supor que sejam conhecidas todas as potências (P e Q) de todas as barras.

→ A idéia é determinar todas as tensões (V e θ) de forma que satisfaçam as


equações das potências nodais.

 Exercı́cio

Considere a rede de 2 barras da Seção 2.6 . Verificar que as equações das potências
nodais são satisfeitas para a solução encontrada (E1 = 1,0112∠0◦ pu,
E2 = 1∠ − 2,8◦ pu, S1 = 101 + j5 MVA, S2 = 100 + j0 MVA).

– 42 –
◮ Uma idéia para a resolução do problema:

→ Arbitrar tensões e testar se satisfazem as equações das potências nodais.

→ Se satisfizerem → solução do problema foi encontrada.

→ Se não satisfizerem → alterar as tensões e repetir o processo.

◮ Na Seção 2.6 foi mostrado um procedimento que segue esta idéia geral (método de
Gauss).

◮ Primeiro problema: como alterar as tensões convenientemente a fim de sempre


caminhar em direção à solução correta?

Segundo problema: não se conhece todas as potências → existem diferentes tipos


de barras e para cada tipo existem valores fornecidos e valores a serem calculados.

◮ Procedimento geral de resolução do problema de fluxo de carga:

 Tomar as equações de Pk para as barras dos tipos PQ (carga) e PV (geração),


para as quais existem valores especificados de Pk .

 Tomar as equações de Qk para as barras do tipo PQ (carga), para as quais


existem valores especificados de Qk .

 Supor que existam NPQ barras do tipo PQ e NPV barras do tipo PV.

 Tem-se (NPQ + NPV) equações de Pk e NPQ equações de Qk . O total de


equações é (2NPQ + NPV).

 As incógnitas são Vk e θk para as barras PQ e θk para as barras PV. O total de


incógnitas é também igual a (2NPQ + NPV).

– 43 –
 Tem-se um sistema de (2NPQ + NPV) equações algébricas não-lineares e
mesmo número de incógnitas.

 Obter as incógnitas por algum método (que será mostrado adiante).

 Calcular Pk para a barra de referência e Qk para a barra de referência e barras


PV.

 Exemplo

Descreva o procedimento de cálculo de fluxo de carga para a rede de 2 barras da Seção


2.6 , mostrada a seguir.
Geração (slack) Carga (PQ)
1 2
r jx

• Equações das potências nodais:

X
P1 = V1 Vm (G1m cos θ1m + B1m sen θ1m )
m∈K1
X
Q1 = V1 Vm (G1m sen θ1m − B1m cos θ1m )
m∈K1
X
P2 = V2 Vm (G2m cos θ2m + B2m sen θ2m )
m∈K2
X
Q2 = V2 Vm (G2m sen θ2m − B2m cos θ2m )
m∈K2

• Tomar P2 = . . ., pois P2 é especificado.


Tomar Q2 = . . ., pois Q2 é especificado.

– 44 –
• NPQ = 1 e NPV = 0 → o número de equações é igual a 2 NPQ + NPV = 2.

As incógnitas são V2 e θ2 → 2 incógnitas.

• Equações de fluxo de carga:

X
∆P2 = P2esp − P2cal c = P2esp − V2 Vm (G2m cos θ2m + B2m sen θ2m ) = 0
m∈K2
X
∆Q2 = Qesp
2 − Qcal
2
c
= Qesp
2 − V2 Vm (G2m sen θ2m − B2m cos θ2m ) = 0
m∈K2

• Resolver as equações de fluxo de carga, obtendo V2 e θ2.

• Calcular P1 e Q1 .


 Exercı́cio

Descreva o procedimento de cálculo de fluxo de carga para a rede de 3 barras mostrada


a seguir.

Geração (slack) Geração (PV)


∼ ∼
1 2

Carga (PQ)

– 45 –
2.12 Métodos de solução

◮ Através de algum método determina-se as tensões desconhecidas (magnitude e/ou


fase).

◮ As equações das potências nodais são:

X
Pk = Vk Vm (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm ) k = {barra PQ ou PV}
m∈K
X
Qk = Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm ) k = {barra PQ}
m∈K

Tem-se portanto (NPQ + NPV) equações de potência ativa e NPQ equações de


potência reativa.

◮ Supor que sejam arbitrados os valores das tensões desconhecidas (V e θ). A partir
das equações das potências nodais pode-se calcular:

Pkcal = Pk (V , θ) k = {barra PQ ou PV}


Qcal
k = Qk (V , θ) k = {barra PQ}

◮ No entanto, os valores de Pk e Qk dessas barras são conhecidos (dados do


problema) e valem Pkesp e Qesp
k .

– 46 –
◮ Se os valores de tensão arbitrados estiverem errados (o que é provável), pode-se
estimar o erro resultante da escolha desses valores:

∆Pk = Pkesp − Pkcal k = {barra PQ ou PV}


∆Qk = Qesp
k − Qk
cal
k = {barra PQ}

em que ∆Pk e ∆Qk são chamados de erros de potência, resı́duos de potência, ou


mismatches de potência (denominação mais comum).

Se os valores das tensões arbitrados corresponderem à solução exata do problema


tem-se mismatches de potência nulos:

∆Pk = 0 k = {barra PQ ou PV}


∆Qk = 0 k = {barra PQ}

◮ As chamadas equações de fluxo de carga são:

∆Pk = Pkesp − Pkcal = 0 k = {barra PQ ou PV}


∆Qk = Qesp cal
k − Qk = 0 k = {barra PQ}

que podem ser escritas de maneira geral como:

g (x ) = 0

em que o vetor g é o vetor dos mismatches de potência e x é o vetor das incógnitas


(magnitudes e ângulos de fase das tensões).

◮ A solução x s faz as funções g se anularem → g (x s ) = 0.

Os métodos de solução consistem na obtenção de x s que anula g (mismatches).

– 47 –
2.13 Método de Newton

Equação algébrica não-linear

◮ Considere a equação algébrica não-linear:

g (x ) = 0

que é um caso particular (unidimensional) de um sistema de equações algébricas


não-lineares (n-dimensional).

◮ Pretende-se determinar o valor de x para o qual a função g (x ) se anula. Em termos


geométricos a solução da equação acima corresponde ao ponto x s em que a curva
g(x ) corta o eixo horizontal x :

g (x )

xs x0 x

– 48 –
◮ A resolução do problema pelo método de Newton resulta em um processo iterativo
cujos passos serão detalhados a seguir:

(1) Inicializar contador de iterações ν = 0 e escolher um ponto inicial


x = x (ν) = x (0).

(2) Calcular o valor da função g (x ) no ponto x = x (ν) → g x (ν) .




(3) Comparar o valor calculado g x (ν) com uma tolerância especficada ε.




Se | g x (ν) |≤ ε, então x = x (ν) será a solução procurada dentro da faixa de




tolerância ±ε.
Se | g x (ν) |> ε, prosseguir com a execução do processo iterativo.


g (x )

g x (0)


+ε x
−ε
xs x (0)

(4) Linearizar a função g (x ) em torno do ponto x (ν), g x (ν) por intermédio da




série de Taylor desprezando os termos de ordem superior a 2:


(ν) (ν)
 
(ν)
 d  (ν)  (ν)

(ν)
 
(ν)

g x + ∆x ≈g x + g x ∆x = g x ′
+g x ∆x (ν)
dt

Este passo se resume de fato ao cálculo da derivada g ′ x (ν) .




– 49 –
(5) Resolver o problema linearizado, ou seja, encontrar ∆x (ν) tal que:

   
(ν) (ν)
g x +g ′
x ∆x (ν) = 0

ou:

x (ν)

g
∆x (ν) =− ′ 
g x (ν)
x (ν)

g
x (ν+1) − x (ν) =− ′ 
g x (ν)
(ν)

g x
x (ν+1) = x (ν) − ′ (ν) 
g x

g (x )

g x (0)


+ε x
−ε
xs x (1) x (0)

(6) Fazer ν + 1 → ν e voltar para o passo (2).

– 50 –
◮ Uma visão geral do procedimento é mostrada a seguir.

g (x )

g x (0)


g x (1)


g x (2)

+ε x
−ε
xs x (3) x (2) x (1) x (0)
solução

◮ Uma variação do método acima é obtida considerando-se a derivada constante (Von


Mises), ou seja, ela é calculada somente uma vez no ponto x (0) e utilizada em todas
as iterações:

g (x )

g x (0)


g x (1)


g x (2) 

g x (3)

+ε x
−ε
xs x (3)x (2) x (1) x (0)

– 51 –
◮ O número de iterações é maior que no método original.

Cada iteração é mais rápida pois a derivada não precisa ser calculada a cada passo
(esse fato ficará mais claro quando for tratado o caso multidimensional).

Sistema de equações algébricas não-lineares

◮ Considere agora o caso de um sistema n-dimensional de equações algébricas


não-lineares:

g1 (x1, x2 , · · · , xn ) = 0
g2 (x1, x2 , · · · , xn ) = 0
g3 (x1, x2 , · · · , xn ) = 0
..
.
gn (x1, x2 , · · · , xn ) = 0

ou:

g (x ) = 0

em que g (funções) e x (incógnitas) são vetores (n × 1):

g (x ) = [g1 (x ) g2 (x) ··· gn (x )]T


T
x = [x1 x2 · · · xn ]

◮ Os passos do processo iterativo de resolução para o caso n-dimensional são


basicamente os mesmos do caso unidimensional. A diferença está no passo (4)
onde, ao invés da derivada de uma função, aparece a matriz Jacobiana.

– 52 –
◮ A linearização de g (x ) em torno de x = x (ν) é dada por:

   
(ν)
g1 x + ∆x (ν)
≈ g1 x (ν)
+ ∂g1/∂x1|x (ν) ∆x (ν) (ν)
1 + ∂g1 /∂x2 |x (ν) ∆x 2 + · · · +

∂g1/∂xn |x (ν) ∆x (ν)


n
   
g2 x (ν) + ∆x (ν) ≈ g2 x (ν) + ∂g2/∂x1|x (ν) ∆x (ν) (ν)
1 + ∂g2 /∂x2 |x (ν) ∆x 2 + · · · +

∂g2/∂xn |x (ν) ∆x (ν)


n
..
  .  
(ν)
gn x + ∆x (ν)
≈ gn x (ν)
+ ∂gn /∂x1|x (ν) ∆x (ν) (ν)
1 + ∂gn /∂x2 |x (ν) ∆x 2 + · · · +

∂gn /∂xn |x (ν) ∆x (ν)


n

Logo:

     
(ν) (ν) (ν) (ν)
g x + ∆x ≈g x +J x ∆x (ν)

sendo a matriz Jacobiana J dada por:

 
∂ ∂ ∂
∂x1 g1 ∂x2 g1 ... ∂xn g1
∂ ∂ ∂

(ν)
 ∂  (ν)   ∂x1 g2 ∂x2 g2 ... ∂xn g2

J x = g x =
 
∂x  ... ... ... ... 

∂ ∂ ∂
∂x1 gn ∂x2 gn ... ∂xn gn x (ν)

O vetor de correção das incógnitas ∆x é calculado impondo-se:

   
(ν) (ν)
g x +J x ∆x (ν) = 0

– 53 –
◮ Caso particular em que n = 2:


(ν) (ν)∂ 
(ν) ∂ (ν)
g1 [(x1 + ∆x1) , (x2 + ∆x2 )] ≈ g1 x1 , x2 g1 ∆x1 +
+ g1 ∆x2
∂x1 ∂x2

(ν) (ν)
 ∂ (ν) ∂ (ν)
g2 [(x1 + ∆x1) , (x2 + ∆x2 )] ≈ g2 x1 , x2 + g2 ∆x1 + g2 ∆x2
∂x1 ∂x2

e:

 
(ν) (ν) ∂ ∂ (ν)
g1 x1 , x2 ∂x1 g1 ∂x2 g1 ∆x1 0
  + =
(ν) (ν) ∂ ∂
g2 x1 , x2 ∂x1 g2 ∂x2 g2 ∆x2(ν) 0

matriz Jacobiana

◮ Algoritmo para a resolução do sistema de equações g (x) = 0 pelo método de


Newton:

(1) Inicializar contador de iterações ν = 0 e escolher um ponto inicial


x = x (ν) = x (0).

(2) Calcular o valor da função g (x) no ponto x = x (ν) → g x (ν) .




(3) Testar convergência:

Se | gi x (ν) |≤ ε para i = 1, · · · , n, então x = x (ν) será a solução procurada




dentro da faixa de tolerância ±ε e o processo convergiu.

Caso contrário, prosseguir com a execução do algoritmo.

(4) Calcular a matriz Jacobiana J x (ν) .




– 54 –
(5) Determinar o novo ponto x (ν+1) :

   
(ν) −1 (ν) (ν)
∆x = −J x g x

x (ν+1) = x (ν) + ∆x (ν)

(6) Fazer ν + 1 → ν e voltar para o passo (2).

◮ Idéia geral da evolução do processo iterativo (para n = 2):

g1 x1
0
0

1
2
3 g2 1
2

x2

– 55 –
Problema de fluxo de carga

◮ No método de Newton para a resolução do sistema de equações g (x) = 0, o ponto


central consiste em determinar o vetor de correção ∆x através de:

g (x ν ) = −J (x ν ) ∆x ν

◮ Para o problema de fluxo de carga tem-se:


∆P ν P esp − P cal c
  
ν } NPQ + NPV
g (x ) = =
∆Qν Qesp − Qcal c } NPQ

∆θν
 
} NPQ + NPV
∆x ν =
∆V ν } NPQ

(ν)
∂ (∆P ) ∂ (∆P )

} NPQ + NPV
J (x ν ) =  ∂ ∂∆θQ ∂ ∂∆VQ 
( ) ( ) } NPQ
∂θ ∂V
|{z} |{z}
NPQ + NPV NPQ

◮ Lembrando das equações dos mismatches (cujas derivadas aparecem na matriz


Jacobiana) e de que os valores especificados das potências são constantes∗, pode-se
escrever:

(ν) (∗) esp calc



∂ (P ) ∂ (P ) ∆P = P
|{z} −P (V , θ)

J (x ν ) = −  ∂θ ∂V ↓
∂ (Q) ∂ (Q)

constante → derivada nula
∂θ ∂V

– 56 –
◮ As submatrizes que compõem a matriz Jacobiana são geralmente representadas por:

∂ (P ) ∂ (P )
H= N=
∂θ ∂V
∂ (Q) ∂ (Q)
M= L=
∂θ ∂V

As expressões para os elementos das matrizes H, M, N e L são deduzidas a partir


das expressões básicas de fluxo de potência (expressões de Pk e Qk ).

◮ Finalmente as equações podem ser colocadas na forma:

(ν) 
∆P ν ∆θν
   
H N
=
∆Qν M L ∆V ν

 Exemplo

Considere a rede de 2 barras da Seção 2.6 :

Geração (slack) Carga (PQ)


1 2
r jx

As equações a serem resolvidas neste caso são:

    
∆P2 H22 N22 ∆θ2
=
∆Q2 M22 L22 ∆V2

– 57 –
∂ ∂ 
V2 V1 (G21 cos θ21 + B21 sen θ21) + V22G22

H22 = P2 =
∂θ2 ∂θ2
= −V2 V1 (G21 sen θ21 − B21 cos θ21) +V22 B22 −V22 B22
| {z }
−Q2
= −Q2 − V22 B22


N22 = P2
∂V2
= V1 (G21 cos θ21 + B21 sen θ21) + 2V2 G22 × (V2/V2 )
= P2 + V22 G22 /V2


∂ ∂ 
V2V1 (G21 sen θ21 − B21 cos θ21) − V22 B22

M22 = Q2 =
∂θ2 ∂θ2
= V2 V1 (G21 cos θ21 + B21 sen θ21) +V22 G22 −V22 G22
| {z }
P2
= P2 − V22G22


L22 = Q2
∂V2
= V1 (G21 sen θ21 − B21 cos θ21) − 2V2 B22 × (V2/V2 )
= Q2 − V22 B22 /V2


◮ Dedução das expressões dos elementos da matriz H:

A expressão da potência ativa em uma barra k é:

X
Pk = Vk Vm (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm )
m∈K
X
2
= Gkk Vkk + Vk Vm (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm )
m∈Ωk

– 58 –
A segunda equação corresponde a uma separação dos termos correspondentes à
própria barra k. Logo, a somatória contém agora somente as barras vizinhas da
barra k.

Elemento fora da diagonal k-m – derivada da potência Pk em relação ao ângulo de


uma certa barra vizinha m:


Hkm = Pk = Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
∂θm

Elemento fora da diagonal m-k – derivada da potência Pm em relação ao ângulo de


uma certa barra vizinha k – basta inverter os ı́ndices k e m da expressão de Hkm :


Hmk = Pm = Vm Vk (Gmk sen θmk − Bmk cos θmk )
∂θk

Como:

Gmk = Gkm
Bmk = Bkm
θmk = −θkm

tem-se finalmente:

Hmk = −Vk Vm (Gkm sen θkm + Bkm cos θkm )

Elemento da diagonal k-k:

∂ X
Hkk = Pk = −Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
∂θk
m∈Ωk

– 59 –
Somando e subtraindo Bkk Vk2:

X
Hkk = −Bkk Vk2 + Bkk Vk2 − Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
m∈Ωk
 

= −Bkk Vk2 − Vk Vk Gkk sen


| {zθkk} −Bkk cos
| {zθkk} −

=0 =1
X
Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
m∈Ωk

Incluindo a barra k na somatória:

X
Hkk = −Bkk Vk2 − Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
m∈K
| {z }
=Qk
= −Bkk Vk2 − Qk

A expressão em termos da potência é mais simples mais econômica em termos de


cálculo, pois aproveita o valor da potência que já foi calculado anteriormente (este
fato ficará mais claro quando for apresentado o algoritmo de solução do fluxo de
carga).

Resumindo:


−Bkk Vk2 − Vk m∈K Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
 P

 Hkk = ∂θk Pk =
= −Bkk Vk2 − Qk




 Hkm = ∂θm Pk = Vk Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )


Hmk = ∂θk Pm = −Vk Vm (Gkm sen θkm + Bkm cos θkm )

– 60 –
Os elementos das demais matrizes são:


 P

 Nkk = ∂Vk Pk = Gkk Vk + m∈K Vm (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm )
Vk−1 Pk + Gkk Vk2

=




 Nkm = ∂Vm Pk = Vk (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm )


Nmk = ∂Vk Pm = Vm (Gkm cos θkm − Bkm sen θkm )


−Gkk Vk2 + Vk m∈K Vm (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm )
 P

 Mkk = ∂θk Qk =
= −Gkk Vk2 + Pk




 Mkm = ∂θm Qk = −Vk Vm (Gkm cos θkm + Bkm sen θkm )


Mmk = ∂θk Qm = −Vk Vm (Gkm cos θkm − Bkm sen θkm )


 P

 Lkk = ∂Vk Qk = −Bkk Vk + m∈K Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
Vk−1 Qk − Bkk Vk2
 
 =


 Lkm = ∂Vm Qk = Vk (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )


Lmk = ∂Vk Qm = −Vk (Gkm sen θkm + Bkm cos θkm )

◮ As matrizes H, M, N e L têm as mesmas caracterı́sticas de esparsidade que a matriz


admitância nodal Y.

◮ As matrizes H, M, N e L têm dimensões distintas, em função dos dados do


problema. A seguinte técnica é normalmente utilizada:

1. Construir as matrizes completas (dimensão [NB × NB]).


2. Na matriz H colocar um número muito grande (→ ∞) nas posições das
diagonais correspondentes a barras de referência.
3. Na matriz L colocar um número muito grande (→ ∞) nas posições das
diagonais correspondentes a barras de referência e PV.

– 61 –
Quando essas matrizes forem invertidas, os elementos das linhas e colunas
correspondentes aos elementos grandes das diagonais serão praticamente iguais a
zero, assim como as correspondentes correções das variáveis de estado, ou seja:


∆θk = 0 k ∈ {referência}
∆Vk = 0 k ∈ {referência,PV}

◮ Conhecendo-se os elementos da matriz Jacobiana e a maneira de calcular os


mismatches de potência, pode-se aplicar o método de Newton para o problema do
fluxo de carga.

 Exemplo

Considere a rede de 2 barras da Seção 2.6 :

Geração (slack) Carga (PQ)


Barra Dados Incógnitas
1 2
1 V1 , θ1 P1 , Q1
r jx 2 P2 , Q2 V2 , θ2

Para se conhecer o modo de operação da rede de forma completa deve-se conhecer as


tensões em todas as barras (Vk ∠θk ).

Incógnitas de tensão → V2 , θ2 → 2 incógnitas

São necessárias 2 equações → P2 , Q2

∆P2 = P2esp − P2 (V , θ) = 0

SUBSISTEMA 1 (obter os V e θ que faltam)
∆Q2 = Qesp
2 − Q2 (V , θ) = 0

– 62 –
Problema iterativo a ser resolvido (fluxo de carga):

∆P2 H22 N22 ∆θ2


=
∆Q2 M22 L22 ∆V2

Resolvido o SUBSISTEMA 1, pode-se calcular as potências desconhecidas:


P1 = · · ·
SUBSISTEMA 2 (calcular as potências que faltam)
Q1 = · · ·

 Exemplo

Considere a rede de 3 barras a seguir.

Geração (slack) Geração (PV)


∼ ∼

1 2

Carga (PQ)

– 63 –
Barra Dados Incógnitas
1 V1 , θ1 P1 , Q1
2 P2, V2 Q2 , θ2
3 P3, Q3 V3 , θ3

Para se conhecer o modo de operação da rede de forma completa deve-se conhecer as


tensões em todas as barras (Vk ∠θk ).

Incógnitas de tensão → θ2 , V3 , θ3 → 3 incógnitas

São necessárias 3 equações → P2 , P3 , Q3

∆P2 = P2esp − P2 (V , θ) = 0


∆P3 = P3esp − P3 (V , θ) = 0 SUBSISTEMA 1 (obter os V e θ que faltam)
∆Q3 = Qesp
3 − Q3 (V , θ) = 0

Problema iterativo a ser resolvido (fluxo de carga):

∆P2 H22 H23 N23 ∆θ2


∆P3 = H32 H33 N33 ∆θ3
∆Q3 M32 M33 L33 ∆V3

Resolvido o SUBSISTEMA 1, pode-se calcular as potências desconhecidas:


P1 = · · · 
Q1 = · · · SUBSISTEMA 2 (calcular as potências que faltam)
Q2 = · · ·

– 64 –
◮ Algoritmo de resolução dos subsistemas 1 (pelo método de Newton) e 2:

(1) Fazer contador de iterações ν = 0.


Escolher os valores iniciais das tensões (magnitudes para as barras PQ e ângulos
0 0

de fase para as barras PQ e PV) → Vk , θk .

(2) Calcular Pk (V ν , θν ) para as barras PQ e PV.


Calcular Qk (V ν , θν ) para as barras PQ.
Calcular os resı́duos (mismatches) de potência ∆Pkν e ∆Qνk .

(3) Testar a convergência:


| ∆Pkν |


 max k=PQ,PV
≤ εP o processo iterativo
Se e  =⇒ convergiu para a solução
 max | ∆Qν | ≤ εQ (V ν , θν ) → ir para o passo (7).

k k=PQ

Caso contrário, prosseguir.

(4) Calcular a matriz Jacobiana:

H (V ν , θ ν ) N (V ν , θν )
 
ν ν
J (V , θ ) =
M (V ν , θν ) L (V ν , θν )

(5) Determinar a nova solução V ν+1, θν+1 :




θν+1 = θ ν + ∆θν
V ν+1 = V ν + ∆V ν

sendo as correções ∆θν e ∆V ν determinadas pela resolução do sistema linear:

∆P (V ν , θν ) H (V ν , θν ) N (V ν , θν ) ∆θν
    
=
∆Q (V ν , θν ) M (V ν , θν ) L (V ν , θν ) ∆V ν

– 65 –
(6) Incrementar o contador de iterações (ν + 1 ← ν) e voltar para o passo (2).

(7) Calcular Pk para a barra de referência e Qk para as barras de referência e PV


(subsistema 2).

 Exemplo

Considere a rede de 2 barras da Seção 2.6 :

Geração (slack) Carga (PQ)


1 2
r jx

Dados: S2 = P2 + j Q2 = 1 + j 0 = 1∠0◦ pu (100 MW, 0 Mvar)


V1 ∠θ1 = 1,0112∠0◦ pu
r = 0,01 pu
x = 0,05 pu

Passo (1)
ν=0
V20 = 1,0112 pu , θ2 = 0 (valores arbitrários)

Passo (2)
P2 = V2 V1 (G21 cos θ21 + B21 sen θ21) + V22G22
   
3,8462 −3,8462 −19,2308 19,2308
G= B=
−3,8462 3,8462 19,2308 −19,2308
P2 = 1,0112V2 (−3,8462 cos θ2 + 19,2308 sen θ2) + 3,8462V22 para V20 e θ20 → P2 = 0

Q2 = V2V1 (G21 sen θ21 − B21 cos θ21) − V22 B22


Q2 = 1,0112V2 (−3,8462 sen θ2 − 19,2308 cos θ2 ) + 19,8462V22 para V20 e θ20 → Q2 =
0

– 66 –
∆P2 = P2esp − P2cal c = −1 − 0 = −1
∆Q2 = Qesp
2 − Q2
cal c
=0−0=0

Passo (3)
Considere εP = εQ = 0,01
max {| ∆P2 |, | ∆Q2 |} = 1 > 0,01

Passo (4)
−V22 B22 − Q2 P2 + V22 G22  /V2
    
19,6640 3,8893
J= =
P2 − V22G22 Q2 − V22 B22 /V2 −3,9328 19,4462

Passo (5)
 
0,0489 −0,0098
J−1 =
0,0099 0,0494
       
∆θ2 −1 ∆P2 −1 −1 −0,0489
=J =J =
∆V2 ∆Q2 0 −0,0099
V2 = 1,0112 − 0,0099 = 1,0013 pu
θ2 = 0 − 0,0489 = −0,0489 rad

Passo (6)
ν=1

Passo (2)
P2 = −0,9852 pu ∆P2 = −0,0148
Q2 = 0,0230 pu ∆Q2 = −0,0230

Passo (3)
max {| ∆P2 |, | ∆Q2 |} = 0,0230 > 0,01

Passo (4)
 
19,2578 2,8672
J=
−4,8415 19,2788

– 67 –
Passo (5)
 
0,0501 −0,0074
J−1 =
0,0126 0,0500
   
∆θ2 −0,0006
=
∆V2 −0,0013
V2 = 1,0013 − 0,0013 = 1 pu
θ2 = −0,0489 − 0,0006 = −0,0495 rad

Passo (6)
ν=2

Passo (2)
P2 = −1,0005 pu ∆P2 = 0,0005
Q2 = 0,0009 pu ∆Q2 = −0,0009

Passo (3)
max {| ∆P2 |, | ∆Q2 |} = 0,0009 < 0,01

convergiu para V2 = 1 pu
θ2 = −0,0495 rad −2,8◦

Passo (7)

P1 = V12 G11 + V1 V2 (G12 cos θ12 + B12 sen θ12) = 1,0102 pu 101,02 MW
2
Q1 = −V1 B11 + V1V2 (G12 sen θ12 − B12 cos θ12) = 0,0472 pu 4,72 Mvar

– 68 –
∆P2
0,02
V2
1,02 0,01
1,00
0,98 −0,02 −0,01 0,01 0,02 ∆Q2

−0,10 −0,05 θ2

−1

– 69 –
2.14 Métodos desacoplados

◮ Submatrizes da matriz Jacobiana representam sensibilidades entre as potências e a


tensão (magnitude e ângulo), por exemplo:

∂ ∆P
H= P ⇒ H≈
∂θ ∆θ

→ uma variação no ângulo da tensão implica em uma variação da potência ativa. O


mesmo tipo de análise vale para as outras submatrizes.

◮ Nos métodos desacoplados, assume-se que as sensibilidades

∂ ∂
P e Q
∂θ ∂V

são maiores que

∂ ∂
Q e P
∂θ ∂V

ou seja, existe um acoplamento forte entre

[P e θ] e [Q e V ]

e um acoplamento fraco (desacoplamento) entre

[Q e θ] e [P e V ]

◮ Este fato é em geral verificado para redes de transmissão de extra e ultra altas
tensões (tensões acima de 230 kV). Não se verifica para redes de distribuição em
geral (nı́veis de tensão mais baixos).

– 70 –
◮ O desacoplamento permite que outros métodos de solução do fluxo de carga (que
são derivados do método de Newton) sejam obtidos.

◮ Métodos desacoplados → simplificação da matriz Jacobiana.


→ modelo da rede é o mesmo utilizado no método de Newton.
→ o processo de convergência (caminho percorrido durante o processo iterativo) é
diferente.
→ o resultado final é o mesmo.

2.15 Método de Newton desacoplado

◮ Método de Newton:

∆P (V ν , θν ) = H (V ν , θν ) ∆θν + N (V ν , θν ) ∆V ν
∆Q (V ν , θν ) = M (V ν , θν ) ∆θν + L (V ν , θν ) ∆V ν
θ ν+1 = θν + ∆θν
V ν+1 = V ν + ∆V ν

◮ Devido ao desacoplamento, as matrizes de sensibilidade entre P e V (N) e entre Q


e θ (M) são ignoradas:

∆P (V ν , θν ) = H (V ν , θ ν ) ∆θν
∆Q (V ν , θν ) = L (V ν , θν ) ∆V ν
θν+1 = θν + ∆θν
V ν+1 = V ν + ∆V ν

– 71 –
◮ Esta é a forma simultânea. Aplica-se agora o esquema de solução alternado:

∆P (V ν , θν ) = H (V ν , θ ν ) ∆θν
θν+1 = θν + ∆θν
∆Q (V ν , θν ) = L (V ν , θν ) ∆V ν
V ν+1 = V ν + ∆V ν

◮ Duas primeiras equações → meia-iteração ativa


Duas últimas equações → meia-iteração reativa

◮ Aproximações na matriz Jacobiana são parcialmente compensadas pela atualização


das variáveis V e θ a cada meia-iteração.

◮ Os subproblemas ativo e reativo podem ter velocidade de convergência diferentes.


Existem várias formas de implementar os métodos desacoplados.

– 72 –
0

KP = KQ = 1  p = q = 0 Método de Newton Desacoplado


V 0 , θ0 Diagrama de Blocos

∆P (V q , θ p )

max {| ∆Pk |} : εp ≤
k = {PQ, PV} KP = 0

> =
∆θ p = H (V q , θp )−1 ∆P (V q , θ p ) KQ : 0
Meia-iteração ativa

θp+1 = θ p + ∆θ p 6=

p ←p+1

KQ = 1
Solução
∆Q (V q , θ p )
Meia-iteração reativa

max {| ∆Qk |} : εq ≤
k = {PQ} KQ = 0

> =
q q
∆V = L (V , θ ) p −1 q p
∆Q (V , θ ) KP : 0

V q+1 = V q + ∆V q 6=

q ←q+1

KP = 1

– 73 –
◮ No diagrama de blocos tem-se:

 p,q são os contadores das iterações ativa e reativa.

 KP e KQ são indicadores de convergência dos subproblemas ativo e reativo.

 sempre que alguma variável de estado é alterada (p.ex. θ), o indicador de


convergência do outro subproblema (p.ex. subproblema reativo) é feito igual a
1, forçando que os mismatches do outro subproblema (p.ex. ∆Q) sejam
avaliados, mesmo que este já estivesse convergido. Este procedimento evita
afastamentos do ponto de solução.

 o diagrama de blocos corresponde à solução do subsistema 1. Após a


convergência, o subsistema 2 pode ser resolvido. Outras grandezas podem
também ser calculadas, como fluxos de potência nos ramos.

Método de Newton desacoplado – uma versão diferente

◮ Esta versão pode apresentar uma convergência mais rápida para alguns sistemas.

◮ Considere a matriz diagonal V:

 
V1
 V2 0 
V=
 
0 ...

 
Vn

◮ As matrizes jacobianas podem ser colocadas na seguinte forma:

H = V H′
L = V L′

– 74 –
◮ Os elementos de H′ e L′ são:


Hkk = −Qk /Vk − Vk Bkk

Hkm = Vm (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )

Hmk = −Vk (Gkm sen θkm + Bkm cos θkm )

L′kk = Qk /Vk2 − Bkk


L′km = (Gkm sen θkm − Bkm cos θkm )
L′mk = − (Gkm sen θkm + Bkm cos θkm )

◮ As equações do método de Newton desacoplado ficam:

∆P /V = H′ ∆θ
∆Q/V = L′ ∆V

2.16 Método desacoplado rápido

◮ O diagrama de blocos é o mesmo que para o método desacoplado, mas as matrizes


utilizadas são diferentes.

◮ Considere as seguintes aproximações:

 cos θkm ≈ 1 (θkm pequeno) – válida para sistemas em geral, especialmente para
EAT (extra alta tensão) e UAT (ultra alta tensão).

 Bkk ≫ Gkm sen θkm – válida para sistemas em geral, especialmente para EAT
(extra alta tensão) e UAT (ultra alta tensão) – Bkm /Gkm ≈ 5 para linhas de
transmissão acima de 230 kV, podendo chegar a 20 em linhas de 500 kV.

– 75 –
 Bkk Vk2 ≫ Qk – se baseia no fato de que as reatâncias shunt são em geral muito
maiores que as reatâncias série.

 Vk ≈ 1 (valores em pu).

◮ As matrizes H′ e L′ ficam:


Hkk = −Bkk L′kk = −Bkk

Hkm = −Bkm L′km = −Bkm

Hmk = −Bkm L′mk = −Bkm
ou:

H′ ≈ B′
L′ ≈ B′′

◮ As matrizes B′ e B′′ dependem somente dos parâmetros da rede → são constantes


ao longo do processo iterativo.

São semelhantes à matriz B = ℑ{Y} com as seguintes diferenças:

 linhas e colunas referentes às barras de referência não aparecem em B′ .

 linhas e colunas referentes às barras de referência e PV não aparecem em B′′ .

◮ As matrizes B′ e B′′ têm estruturas idênticas às matrizes H e L.

◮ Pode-se trabalhar com as matrizes B′ e B′′ com dimensões (NB × NB) e colocar
um número grande nas diagonais apropriadas.

– 76 –
◮ As equações do método desacoplado rápido ficam:

∆P /V = B′ ∆θ
∆Q/V = B′′ ∆V

◮ Melhorias no desempenho do método desacoplado rápido foram observadas


alterando-se a matriz B′ , resultando em:

NB
X
′ −1
Bkk = xkm
m=1
′ ′ −1
Bkm = Bmk = −xkm
′′
Bkk = −Bkk
′′ ′′
Bkm = Bmk = −Bkm

em que xkm é a reatância série do ramo que conecta as barras k e m.

 Exemplo

Considere a rede de 2 barras da Seção 2.6 :

Geração (slack) Carga (PQ)


1 2
r jx

– 77 –
Dados: S2 = P2 + j Q2 = 1 + j 0 = 1∠0◦ pu (100 MW, 0 Mvar)
V1 ∠θ1 = 1,0112∠0◦ pu
r = 0,01 pu
x = 0,05 pu
   
3,8462 −3,8462 −19,2308 19,2308
G= B=
−3,8462 3,8462 19,2308 −19,2308

(1)
KP = KQ = 1
p=q=0
V20 = 1,0112 pu, θ20 = 0 rad

(2)
P2 = V2 V1 (G21 cos θ21 + B21 sen θ21) + V22G22 = 0
∆P2 = −1 − 0 = −1

(3)
| ∆P2 |= 1 > 0,01

(4)
∆P /V = B′ ∆θ → ′
∆P2 /V2 = B22 ∆θ2 ′
(B22 = 1/x = 20)
∆θ2 = −0,0494 rad

(5)
θ2 = 0 − 0,0494 = −0,0494 rad

(6)
p=1

(7)
KQ = 1

(8)
Q2 = V2V1 (G21 sen θ21 − B21 cos θ21) − V22 B22 = 0,2182
∆Q2 = 0 − 0,2182 = −0,2182

– 78 –
(9)
| ∆Q2 |= 0,2182 > 0,01

(10)
∆Q/V = B′′ ∆V → ′′
∆Q2/V2 = B22 ∆V2 ′′
(B22 = 19,2308)
∆V2 = −0,0112 rad

(11)
V2 = 1,0112 − 0,0112 = 1 pu

(12)
q=1

(13)
KP = 1

(14)
P2 = −0,9986
∆P2 = −1 + 0,9986 = −0,0014

(15)
| ∆P2 |= 0,0014 < 0,01

(16)
KP = 0

(17)
KQ 6= 0

(18)
Q2 = 0,0004
∆Q2 = 0 − 0,0004 = −0,0004

(19)
| ∆Q2 |= 0,0004 < 0,01

– 79 –
(20)
KQ = 0

(21)
KP = 0

convergiu para V2 = 1 pu
θ2 = −0,0494 rad −2,8◦


2.17 Controles e limites

◮ Os métodos mostrados tratam apenas da determinação do estado de operação da


rede (resolução do sistema de equações algébricas não-lineares).

◮ Complicações:

→ os equipamentos da rede apresentam limites de operação.

→ certos equipamentos realizam controle de certas grandezas.

◮ Limites:

→ injeção de potência reativa em barras PV (relacionado com as curvas de


capacidade, que serão vistas adiante).

→ limites de tensão em barras PQ.

→ limites dos taps de transformadores.

→ limites de fluxos em circuitos.

– 80 –
◮ Controles:

→ controle de magnitude de tensão nodal (local e remota) por injeção de reativos.

→ controle de magnitude de tensão nodal por ajuste de tap de transformadores em


fase.

→ controle de fluxo de potência ativa por ajuste do tap de transformadores


defasadores.

→ controle de intercâmbio entre áreas.

2.18 Programação por computador

◮ Redes elétricas reais em geral são de grande porte, resultando em matrizes grandes
e esparsas.

Considere uma rede com 100 barras e 200 ramos.

A matriz Y terá dimensão (100 × 100) → 10000 elementos.

Destes, serão não nulos:

100 + 2
|{z} 200} = 500 elementos
| ·{z
diag fora diag.

ou seja, um grau de esparsidade de:

 
10000 − 500
GE = · 100% = 95% → 95% dos elementos são nulos!
10000

◮ Armazenamento compacto de matrizes

Inversão de matrizes → fatoração (eliminação de Gauss)

– 81 –
→ método de resolução robusto e eficiente.

◮ Técnica de vetores esparsos

 Vetor independente com poucos elementos não nulos

 Somente alguns elementos do vetor dependente são desejados

2.19 Cálculo de fluxo de carga para redes de distribuição

◮ O desempenho de alguns métodos de fluxo de carga desenvolvidos para redes de


transmissão pode piorar quando utilizados para análise de redes de distribuição

Este fato é mais evidente para o caso do método desacoplado rápido

◮ Modelo de uma linha de distribuição:

x /r pequena

k m
r jx

j bsh j bsh

normalmente
desprezadas

– 82 –
◮ A relação X/R dos ramos de redes de distribuição é pequena, levando a uma
deterioração da dominância diagonal das matrizes de rede

Cabos utilizados nas redes


primárias de distribuição

Tipo Bitola X/R

Cobre 4 AWG a 250 MCM 0,52 a 2,56


ACSR 2 AWG a 266,8 MCM 0,50 a 1,67
AAC 2 AWG a 266,8 MCM 0,48 a 1,73

◮ Existem duas linhas básicas de pesquisa no desenvolvimento de métodos eficientes


de cálculo de fluxo de carga para redes de distribuição:

 Modificações do método de Newton (e de suas versões)

 Back-forward sweep

◮ A grande maioria dos métodos exploram o fato de que as redes de distribuição


operam de forma radial
Alguns admitem a existência de algumas poucas malhas (weakly meshed systems)
Outros não dependem da topologia

Subestação

Chave

aberta - radial fechada - malhado

– 83 –
2.20 Método da rotação de eixos

◮ É uma versão modificada do método desacoplado rápido (MDR)

◮ Consiste em mudar temporariamente o sistema de referência complexo através da


rotação dos eixos real e imaginário, de modo que as impedâncias representadas no
novo sistema de coordenadas passem a ter relação X/R favorável ao desempenho
do MDR

Imag
ϕ Imag′

X′

R Real
R′

Real′

◮ A impedância Z = R + j X de um ramo é representada no novo sistema de


coordenadas como:

Z ′ = R′ + j X ′ = Z · e j ϕ

R′ = R · cos ϕ − X · sen ϕ
X ′ = R · sen ϕ + X · cos ϕ

– 84 –
 Exemplo

Uma linha de distribuição é representada pela impedância Z = 2,0 + j 1,0 Ω. Obtenha a


impedância da linha no novo sistema de coordenadas com rotação de ϕ = 45◦

X
ϕ = 45◦
X′

X′
1

2 R

R

R′

A relação X/R do ramo é:

1,0
X/R = = 0,5
2,0

A impedância no novo sistema de coordenadas vale:

R′ = 2,0 · cos 45◦ − 1,0 · sen 45◦ = 0,7071


X ′ = 2,0 · sen 45◦ + 1,0 · cos 45◦ = 2,1213

Z ′ = 0,7071 + j2,1213 Ω

– 85 –
e a nova relação X/R do ramo é:

2,1213
X ′ /R′ = = 3,0
0,7071


◮ A aplicação da rotação de eixos a todas as impedâncias resulta em uma nova rede

Para a obtenção do mesmo estado final (tensões), deve-se aplicar a rotação de


eixos também às potências nodais

Para a rede original tem-se:

 ∗
∗ E V2
S =E·I =E· = ∗
Z Z

Para a rede modificada, impondo-se a condição que o estado de operação da rede


seja o mesmo:

V2 V2 V2
S′ = ′ ∗ = j ϕ ∗ = ∗ −j ϕ
= S · ej ϕ
Z (Z · e ) Z ·e

◮ Após a convergência do processo iterativo, deve-se aplicar a rotação em sentido


inverso para o cálculo das demais grandezas de interesse (p.ex. fluxos de potências
pelos ramos)

◮ O valor de ϕ deve ser escolhido para cada rede em estudo

◮ O método não depende da topologia da rede (radial/malhado)

◮ Existem propostas de obtenção de valores ótimos para ϕ

– 86 –
2.21 Métodos baseados em Back-forward sweep

◮ Existem vários métodos baseados em Back-forward sweep propostos na literatura

◮ Considere a rede de distribuição com 4 barras e 3 ramos mostrada a seguir

Alimentador

1 2 3

Subestação
Ramal

◮ Um procedimento de resolução do problema de fluxo de carga utilizando um método


baseado em Back-forward sweep é:

(1) Arbitrar tensões nodais Ek , k = 1, . . . , 4 (por exemplo Ek = 1∠0 pu)

1 2 3

E1 E2 E3

E4 4

– 87 –
(2) Calcular as correntes nodais:

 ∗
Sk
Ik = + Yksh · Ek k = 1, . . . , 4
Ek

em que Yksh corresponde à admitância do elemento shunt conectado à barra k.

1 2 3

I3
I1 I2
4

I4

(3) Back sweep: Começando pelos ramos terminais e caminhando em direção à


subestação, calcular as correntes nos ramos que conectam os nós k e m:

X
Ikm = Im + Imj
j∈Fm

em que Fm é o conjunto das barras alimentadas pela barra m

1 2 3
I12 I23

I24

– 88 –
Neste caso:

I24 = I4
I23 = I3
I12 = I2 + I23 + I24

(4) Forward sweep: atualizar as tensões nodais começando pela subestação em


direção às barras terminais. Para uma certa barra m:

Vm = Vk − Zkm · Ikm

em que a barra k é a outra barra terminal do ramo km, que alimenta a barra m

1 2 3
I12 I23

E1 E2 E3
I24

E4 4

No caso do exemplo:

E2 = E1 − Z12 · I12
E3 = E2 − Z23 · I23
E4 = E2 − Z24 · I24

– 89 –
(5) Teste de convergência:

(
max {∆Vk , k = 1, . . . , 4} ≤ tolerância ⇒ A solução foi obtida Fim
max {∆Vk , k = 1, . . . , 4} > tolerância ⇒ Voltar ao passo (2)

◮ Este método é especı́fico para redes radiais

◮ Algumas modificações no método foram propostas para os casos de redes malhadas

Por exemplo, elas podem ser aproximadas por redes radiais através da abertura dos
ramos que fecham as malhas. Os fluxos dos ramos que forem abertos são
representados por injeções de compensação que são atualizadas a cada iteração

◮ Nos métodos baseados em back-forward sweep o esquema de numeração das barras


e ramos é muito importante e influencia a eficiência global do método

◮ Há propostas especı́ficas para a inclusão de reguladores de tensão, geradores


independentes, etc

2.22 Método dos momentos

◮ É um método clássico de cálculo simplificado de quedas de tensão em ramos

◮ Pode ser utilizado nos métodos baseados em back-forward sweep para simplificar os
cálculos

– 90 –
◮ Considere o diagrama unifilar simplificado de uma linha de distribuição:

Z =| Z | ∠ϕ

Fonte Carga
R X

Ef I Ec

Aplicando a lei das tensões de Kirchhoff ao circuito tem-se:

Ef = Ec + ∆E = Ec + Z I = Ec + (R + j X) I

e o diagrama fasorial é:

Ef
β ∆E XI

α Ec
RI
I

RI cos α XI sen α

Define-se os fasores:

Ec = Vc ∠0 (referência angular)
Ef = Vf ∠β
I = I∠ − α
∆E = ∆V ∠γ

– 91 –
Retomando a equação do circuito:

Ef = Ec + Z I
Ef − Ec = (R + j X) I∠ − α
∆E = (R + j X) I (cos α − j sen α)
∆E = I (R cos α + X sen α) − j I (R sen α − X cos α)

Como o ângulo β em geral é pequeno para redes de distribuição, pode-se obter a


queda de tensão aproximada no ramo por:

∆V ≈ ℜ{∆E} = I (R cos α + X sen α)

◮ Este método é especı́fico para redes radiais

2.23 Fluxo de carga trifásico

◮ Para certas redes os desbalanceamentos entre as fases são significativos, sendo


necessária a resolução de um problema de cálculo de fluxo de carga trifásico

◮ Neste caso a modelagem adequada dos ramos é fundamental

– 92 –
◮ Considere um ramo de uma rede de distribuição composto por três fases e um
condutor neutro:

Ia
zaa
A a

Ib zab
zbb
B zac b

Ic zan
zcc
C c

In
znn
N n

em que:

zi i impedância própria do condutor da fase i


zi j impedância mútua entre os condutores das fases i e j

Utilizando a metodologia clássica de Carson1 obtém-se:

 h   i
1
 zi i = ri + 0,0953 + j 0,12134 · ln GMR + 7,934 Ω/mi


i
h   i
1

 zi j = 0,0953 + j 0,12134 · ln D + 7,934 Ω/mi

ij

em que:

ri resistência do condutor i [Ω/milha]


GMRi raio médio geométrico do condutor i [pés]
Di j espaçamento entre os condutores i e j [pés]
1 John R. Carson, “Wave propagation in overhead wires with ground return,” Bell Systems Tech. J., 5 (1926): 539–554. Também descrita em

W.H. Kersting, Distribution system modeling and analysis, CRC Press, 2007.

– 93 –
Define-se a matriz impedância primitiva:

 
zaa zab zac zan
 zba zbb zbc zbn 
Zprim =
 zca

zcb zcc zcn 
zna znb znc znn

A aplicação da lei das tensões de Kirchhoff para o ramo resulta em:

       
VAN Van zaa zab zac zan Ia
 VBN   Vbn   zba zbb zbc zbn 
 ·  Ib
 
 VCN  =  Vcn
   +  VF = Vf + Zprim If
  zca zcb zcc zcn   Ic 
VNN Vnn zna znb znc znn In

Como VNN = Vnn = 0, aplica-se a redução de Kron e o sistema passa a ser:

       
VAN Van Zaa Zab Zac Ia
 VBN  =  Vbn  +  Zba Zbb Zbc  ·  Ib  VF = Vf + Z If
VCN Vcn Zca Zcb Zcc Ic

em que a matriz reduzida Z é chamada de matriz de impedância de fase, sendo seus


elementos calculados por:

zi n zni
Zi j = zi j −
znn

◮ Conhecida a equação de cálculo de queda de tensão em um ramo através da


modelagem trifásica, pode-se, por exemplo, aplicar algum método baseado em
back-forward sweep para o cálculo de fluxo de carga

– 94 –
2.24 Referências

◮ F.L. Alvarado, R.J. Thomas, A Brief history of the power flow, IEEE Spectrum,
2001.

◮ B. Stott, Review of load-flow calculation methods, Proceedings of the IEEE, vol.62,


n.7, 1974.

◮ A.J. Monticelli, A.V. Garcia, Introdução a sistemas de energia elétrica, Unicamp,


1999.

◮ C.A. Castro, Material da disciplina IT601 – Cálculo de fluxo de potência, disponı́vel


em http://www.dsee.fee.unicamp.br/∼ccastro

◮ http://www.fee.unicamp.br/cursos/et720 – Apêndice – circuitos c.a. e sistema


por unidade

◮ W.H. Kersting, Distribution system modeling and analysis, CRC Press, 2007.

– 95 –
ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I
1 Semestre 2011
Capı́tulo 3 – Gerador sı́ncrono

3.1 Introdução

◮ Gerador sı́ncrono: conversor de potência mecânica em potência elétrica:

Pm Máquina Pe
água
Turbina Síncrona
vapor (Alternador)

Turbogerador com excitatriz

–1–
◮ No problema de fluxo de carga apresentado no capı́tulo anterior considerou-se:

Gerador ∼
Pg , Qg
Transformador

Barramento da usina modelo

◮ Há modelos mais completos, a serem aplicados em várias análises de sistemas


elétricos de potência. Exemplo: estudos de estabilidade.

◮ Somente será estudada a operação da máquina sı́ncrona em regime permanente.


Fenômenos transitórios são estudados em cursos mais avançados.

◮ Máquina sı́ncrona funcionando como gerador → barra PV → será discutida com


detalhe

◮ Motor sı́ncrono com carga mecânica acoplada ao eixo → é uma carga → é


modelado como tal e não será discutido nesse capı́tulo.

–2–
◮ Motores sı́ncronos conectados à rede sem carga mecânica no eixo → fornecimento
de potência reativa à rede → condensador sı́ncrono

Exemplo: lado inversor de um link CC consome muitos reativos → coloca-se um


condensador sı́ncrono:

 é mais barato que um banco de capacitores de potência equivalente devido ao


nı́vel de isolação exigido.

 permite um controle contı́nuo de fornecimento de reativos (bancos de


capacitores têm controle discreto).

CA CC CA

Retificador Inversor Q

Condensador
sı́ncrono

–3–
◮ Descrição básica da máquina sı́ncrona:

eixo fase b eixo rotor

a
rotor (pólos salientes)

c

enrolamento de campo b′
eixo fase a
gap (entreferro)
b
If c armadura (estator)
a′

eixo fase c

 Armadura (estator) – parte fixa → bobinas ficam acomodadas em ranhuras.

 Campo (rotor) – parte móvel → bobina enrolada no rotor por onde circula
corrente contı́nua → criação de um campo magnético.

 Entreferro (gap) – espaço entre estator e rotor → implica em uma relutância


magnética.

–4–
x

Estator de um hidrogerador

Rotor de um hidrogerador

–5–
◮ Pólos lisos × pólos salientes no rotor:

N N

S S

S N
pólos lisos (2 pólos) pólos salientes (4 pólos)
turbogerador hidrogerador

Pólos salientes Pólos lisos (rotor cilı́ndrico)

hidrogeradores turbogeradores (vapor)


turbina hidroelétrica: peça grande, pe- eficiência das turbinas a vapor aumenta
sada a altas velocidades
grande volume de água pequeno número de pólos
grande número de pólos

–6–
◮ Máquinas grandes (≈ 20 metros de diâmetro) e baixa velocidade → eixo na vertical
(em geral hidrogeradores).

Máquinas menores e altas velocidades → eixo na horizontal (em geral


turbogeradores).

◮ Exceção: o aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte no rio Xingu terá duas casas
de força. A principal, de 11000 MW, com 18 unidades com turbinas Francis
tradicionais, têm eixo vertical. A casa de força secundária, de 233 MW, terá uma
queda baixa, e serão utilizadas turbinas bulbo (como nas usinas do rio Madeira),
tendo eixo horizontal e baixa inércia. Elas são submersas como mostra a figura:

–7–
 Exemplo

Sistema de geração da usina de Itaipu: turbina Francis/gerador com velocidade de 92,3


rpm a 60 Hz (lado brasileiro) e 90,9 rpm a 50 Hz (lado paraguaio). Determine o número
de pólos das máquinas.

A expressão que relaciona o número de pólos (p), a velocidade em rpm (n) e a


freqüência da tensão gerada em Hertz (f ) é:

120 f
p=
n

Os respectivos números de pólos são:

120 · 60
pBr = = 78 pólos → lado brasileiro
92,3
120 · 50
pP a = = 66 pólos → lado paraguaio
90,9


–8–
replacements
◮ Excitação de campo:

Piloto

Gerador CC

Gerador Sı́ncrono
Turbina

campo
campo gcc
campo
GS GS controle GCC GS
GS
manual + reostato

CC
Controle
Controle eletrônico Eletro-mecânico

 Campo gerado pela própria rede através de um gerador CC auto-excitado

Piloto → gerador de imã permanente

 Controle eletrônico → mais rápido

–9–
3.2 Modelo da máquina sı́ncrona de pólos lisos

◮ É possı́vel obter um circuito elétrico equivalente para a máquina sı́ncrona de pólos


lisos.

◮ O circuito equivalente é obtido através da análise:

 do comportamento da máquina em vazio

fonte
c.c.
If

campo

armadura
acionamento
GS
n

 do comportamento da máquina sob carga

fonte
c.c.
If
Ia
campo
armadura

acionamento carga
GS
n

Pm Pe

 das perdas

– 10 –
3.2.1 Máquina operando em vazio

◮ Considere uma máquina trifásica em que somente o enrolamento da fase a é


representado para facilitar a análise.

eixo do estator
θ=0
eixo do rotor
θ = ω t0

rotor

φa
φM
a a′

estator

◮ Máquina é acionada (pela turbina) com velocidade angular constante ω. A posição


instantânea do rotor é:

θ = ωt

onde o ângulo θ é medido a partir do eixo do estator (referência angular).

– 11 –
◮ Corrente CC (if ) é aplicada no enrolamento de campo e gera um campo magnético
(H), que depende da intensidade da corrente e do caminho magnético:

if H

◮ A indução magnética (B) depende do meio no qual H existe:

H B

◮ O fluxo magnético é proporcional à própria indução e à área onde ela existe:

B φ

φ é máximo sobre o eixo do rotor (φM ).

– 12 –
◮ A máquina é construı́da de forma que o fluxo magnético tenha uma forma senoidal
no espaço.

eixo do estator

φ
φM
φa

ω t0 θ

eixo do rotor

◮ O fluxo sobre o eixo da fase a do estator é:

φa (θ) = φM cos θ

ou, em função do tempo:

φa (t) = φM cos ωt

– 13 –
◮ Pela lei de Faraday a tensão induzida no enrolamento da fase a do estator é:

d
ef (t) = −N φa (t)
dt

Na realidade há dispersão de fluxo:

fluxo enlaçado pelas


bobinas do estator

fluxo disperso

Considerando que φf seja o fluxo enlaçado pelas bobinas do estator:

d
ef (t) = −N φf (t)
dt
= N φ′M ω sen ωt
= Vp sen ωt

– 14 –
x

φf (t) ef (t)

◮ Tanto o fluxo concatenado como a tensão induzida são senoidais. Chamando de:

Φf → fasor associado a φf (t)


Ef → fasor associado a ef (t) → Força eletromotriz interna da máquina

tem-se um diagrama de fluxos e tensões em que a tensão está atrasada de 90◦ em


relação ao fluxo:

Φf

Ef

– 15 –
3.2.2 Máquina operando sob carga

◮ Carga conectada ao estator da máquina → correntes de armadura (fases a, b e c).

Considere que a carga é equilibrada. As correntes são:

ia (t) = Ip cos (ωt)


ib (t) = Ip cos (ωt − 120◦)
ic (t) = Ip cos (ωt + 120◦)

◮ São criadas 3 forças magnetomotrizes senoidais com mesmo valor máximo e


defasadas de 120◦:

Fa (t) = Fp cos (ωt)


Fb (t) = Fp cos (ωt − 120◦)
Fc (t) = Fp cos (ωt + 120◦)

Considere o instante ωt = 0:
c′ b′
Fp Fp
Fa = Fp Fb = − Fc = − Fc Fa
2 2
Fr a
A força magnetomotriz resultante é: Fb

3 c
Fr a = Fp b
2

a′

– 16 –
◮ A força magnetomotriz total (resultante das três fmm das fases) é:

3
Fr a (t) = Fp cos (ωt)
2

Fr a é a força magnetomotriz de reação de armadura1 → resultado da circulação de


corrente de armadura.

Fr a corresponde a um campo girante no entreferro.

A velocidade de giro de Fr a é igual à velocidade do campo do rotor → os dois


campos são estacionários um em relação ao outro.

◮ O campo girante de reação de armadura combinado com o campo de excitação


resultam em um campo total de entreferro, que determinará a tensão terminal do
gerador.

3.2.3 Diagrama de fluxos, tensões e correntes

◮ Considere que o gerador alimenta diretamente uma carga indutiva → corrente


atrasada em relação à tensão aplicada (tensão terminal do gerador).

◮ A seqüência de raciocı́nio é a seguinte:

 A corrente de campo produz um Φf


campo Φf .

1 Ver apêndice no final do capı́tulo.

– 17 –
 Φf induz uma tensão Ef (atrasada Φf
de 90◦). Ef

Φr a

Φf
 A corrente de carga Ia produz um
Ef
campo de reação de armadura Φr a
(em fase).
Ia

Φr a

Φf
 φr a induz uma tensão Er a (atrasada
Ef
de 90◦).
Er a

Ia

Φr a

Φf Φt
 A soma de Φf e Φr a resulta no
Ef
campo total de entreferro Φt .
Er a

Ia

– 18 –
Φr a

Φf Φt
 A soma de Ef e Er a resulta na
Ef
tensão terminal do gerador Et .
Er a
Et
Ia

3.2.4 Consideração das perdas

◮ As principais causas de perdas são:

 Perdas ôhmicas nos enrolamento → modeladas como uma resistência ra →


resistência de armadura.

 Dispersão de fluxo de armadura → modelada como uma reatância indutiva xℓ →


reatância de dispersão da armadura.

(*) ℓ → leakage

armadura
1 – linhas de campo que
passam pelo entreferro
1 2
condutor 2 – linhas de campo que
não passam pelo entreferro

– 19 –
3.2.5 Circuito equivalente

◮ Em termos das tensões pode-se escrever:

Et = Ef + Er a

◮ Verifica-se que:

 a corrente de armadura Ia está em fase com o fluxo Φr a , logo, está adiantada de


90◦ em relação à tensão Er a .

 ou Ia está atrasada de 90◦ em relação −Er a .

 é como se a tensão −Er a fosse aplicada sobre uma reatância e Ia fosse a


corrente pela reatância.

 efeito da reação de armadura modelada como uma reatância de reação de


armadura ou reatância magnetizante.

◮ Assim:

Et = Ef − (−Er a )
= Ef − jxr a Ia

◮ Semelhança com a expressão obtida para uma fonte de tensão real composta por
uma fonte de tensão ideal e uma impedância interna.

– 20 –
◮ Incluindo os efeitos das perdas tem-se o circuito equivalente da máquina sı́ncrona de
pólos lisos:

perdas
Ia Ia
ra xℓ xr a ra xs

+ xs + + +
∼ Ef Et ∼ Ef Et
− − − −

◮ O diagrama fasorial e a equação básica são:

Ef

δ jxs Ia Et = Ef − (ra + jxs ) Ia


ϕ Et ra Ia Vt = Vf ∠δ − (ra + jxs ) Ia ∠ − ϕ
Ia

◮ Este é o chamado modelo clássico e é adequado para análises de regime permanente


senoidal.

◮ Existem modelos mais elaborados para aplicações especı́ficas.

– 21 –
3.2.6 Caracterı́stica potência-ângulo

◮ Considerar o diagrama fasorial da máquina sı́ncrona mostrado acima.

◮ A tensão terminal Et foi tomada como a referência angular.

O ângulo de desfasagem entre Et e Ef é chamado de ângulo de potência.

◮ Da equação da máquina tem-se:

Et = Ef − (ra + jxs ) Ia
= Ef − ra Ia − jxs Ia

◮ Escrevendo os fasores de tensão e corrente em termos de seus módulos e ângulos,


sendo a tensão terminal tomada como referência angular:

Vt ∠0 = Vf ∠δ − ra Ia ∠ (−ϕ) − xs Ia ∠ (90◦ − ϕ)
= Vf cos δ + jVf sen δ − ra Ia cos ϕ + jra Ia sen ϕ − (1)
xs Ia cos (90◦ − ϕ) − jxs Ia sen (90◦ − ϕ)

◮ Tomando as partes imaginárias de (1) e considerando que ra ≪ xs (desprezando a


resistência):

0 = Vf sen δ − xs Ia sen (90◦ − ϕ)


Vf
Ia cos ϕ = sen δ
xs

– 22 –
◮ Multiplicando os dois lados da equação por Vt :

Ia
Vt Vf ∼ Pg , Qg
Vt Ia cos ϕ = P = sen δ
xs
Et

onde P é a potência ativa fornecida pelo gerador ao restante do circuito.

◮ A curva [P × δ] (potência-ângulo) mostra que existe um limite para a potência ativa


fornecida pela máquina → limite estático de estabilidade:

P Vt Vf
P = sen δ
Pmax xs
Vt Vf
Pmax =
xs
δl i m = 90◦

90◦ δ (*) Vt , Vf e xs constantes

◮ Tomando agora as partes reais de (1) e desprezando a resistência:

Vt = Vf cos δ − xs Ia cos (90◦ − ϕ)


Vf Vt
Ia sen ϕ = cos δ − (×Vt )
xs xs
Vt Vf Vt2
sen ϕ} =
|Vt Ia{z cos δ −
xs xs
Q

Vt Vf Vt2 Vt
Q= cos δ − = (Vf cos δ − Vt )
xs xs xs

– 23 –
◮ Em geral os geradores operam de forma que os ângulos de potência sejam de no
máximo 30◦ (tı́pico).

 Exemplo

Obtenha as curvas [P × δ] e [Q × δ] de um gerador sı́ncrono para: Vf = 1,2 pu,


Vt = 1,0 pu e xs = 1,0 pu. A resistência de armadura do gerador é desprezada.

Para essas condições tem-se:

Pmax P

Sobrexcitada ← → Subexcitada

0 90 180

δ[]

A potência ativa máxima (para δ = 90◦) é:

Vf Vt
Pmax = = 1,2 pu
xs

A potência reativa é nula para:

Vf cos δ − Vt = 0 δ = 33,6◦

– 24 –
Note que:

(Vf cos δ − Vt ) > 0 Q > 0 – máquina sobreexcitada, fornece potência reativa


(Vf cos δ − Vt ) < 0 Q < 0 – máquina subexcitada, consome potência reativa

3.2.7 Controles da máquina

◮ O gerador sı́ncrono faz parte de um grande sistema de geração, transmissão e


distribuição de energia elétrica.

G
SISTEMA
∼ ELÉTRICO

◮ A tensão terminal (magnitude, ângulo de fase e freqüência) é determinada pela


interação entre G e o restante da rede.

◮ Redes de grande porte são compostas por várias unidades geradoras.

◮ Cada gerador individualmente é em geral mais fraco que o conjunto dos demais.

– 25 –
◮ No caso de G, a tensão terminal será imposta pelo sistema, que é mais forte do que
ele.

◮ As seguintes ações de controle podem ser realizadas em G:

 Abertura ou fechamento da válvula de água (hidro) ou vapor (turbo) que aciona


a turbina.

 Variação da corrente de campo do gerador.

◮ Se o sistema for suficientemente forte, as ações de controle terão um impacto


muito pequeno (desprezı́vel) sobre a tensão terminal do gerador, que manterá a
mesma magnitude, ângulo de fase e freqüência.

◮ Diz-se então que G está conectado a um barramento infinito.

barramento
infinito

◮ O circuito equivalente de G fica:

xs

+ Ia +
If ∼ Ef Et constante

− −

– 26 –
◮ Dependento do fator de potência visto pelo gerador pode-se ter:

Ef

jxs Ia
δ carga indutiva
Et
Ia

Ef
jxs Ia
Ia
δ carga capacitiva
Et

◮ Para uma máquina de pólos lisos as potências entregues são:

Vt Vf Vt Vf Vt2
PG = sen δ QG = cos δ −
xs xs xs

Pode-se fazer uma simplificação que facilita as análises posteriores. As funções seno
e cosseno de ângulos pequenos (próximos a zero) podem ser escritas como
(decomposição em série de Taylor):

x3
sen x = x − + ··· ≈ x
6
x2
cos x = 1 − + ··· ≈ 1
2

– 27 –
e as expressões das potências ficam:

Vt Vf Vt Vf Vt2
PG = δ QG = −
xs xs xs

◮ Esta aproximação é tanto melhor quanto menor for o valor de δ:

P
Pmax

trecho da curva pode ser


representado por uma reta

90◦ δ
δ pequeno

◮ Controle de conjugado do eixo

 A potência elétrica entregue pelo gerador é o resultado de uma conversão de


potência mecânica fornecida ao seu eixo → conjugado de eixo.

 O conjugado de eixo é controlado pela válvula de controle de fluxo da turbina


(água, vapor).

 Variação do conjugado de eixo → variação da potência mecânica → variação da


potência elétrica.

– 28 –
 Equações completas

ANTES DEPOIS
Vt Vf Vt Vf
Pg0 = sen δ 0 Pg = Pg0 + ∆Pg = sen δ 0 + ∆δ

x s
|{z} xs
const.
→ Pg varia → δ varia

Vt Vf V2 Vt Vf  V2
Q0g = cos δ 0 − t Qg = Q0g + ∆Qg = cos δ 0 + ∆δ − t
xs xs xs xs
→ Pg varia → δ varia → Qg varia

Equações simplificadas

ANTES DEPOIS
Vt Vf 0 Vt Vf 0
Pg0 = Pg = Pg0 + ∆Pg =

δ δ + ∆δ
xs xs
→ Pg varia → δ varia

Vt Vf Vt2 Vt Vf Vt2
Q0g = − Qg = Q0g+ ∆Qg = − → ∆Qg = 0
xs xs xs xs
→ Pg varia → δ varia → Qg não varia!

 Conclusão sobre as relações de sensibilidade dos controles e potências:

conjugado / potência ativa → sensibilidade forte


conjugado / potência reativa → sensibilidade fraca

– 29 –
◮ Controle da excitação de campo

 A potência reativa do gerador é:

Vt Vf Vt2
Qg = cos δ −
xs xs
Vt
= (Vf cos δ − Vt )
xs | {z }
(∗)

(*) termo pode ser > 0 ou < 0

 Equação para o gerador sı́ncrono de pólos lisos:

Ef = Et + jxs Ia (ra desprezado)

 Para carga indutiva tem-se:

Ef

jxs Ia
δ
ϕ Et
Ia

– 30 –
Vf cos δ → projeção de Ef sobre o eixo de Et

Vf cos δ > Vt → Vf cos δ − Vt > 0 → Qg > 0 → máquina fornece potência reativa


para a rede

Vf grande → If grande → máquina sobreexcitada

 Para carga capacitiva tem-se:

Ef
jxs Ia
Ia
ϕ δ
Et

Vt e Ia mantidos constantes (iguais ao caso anterior)

Vf cos δ < Vt → Vf cos δ − Vt < 0 → Qg < 0 → máquina consome potência


reativa da rede

Vf pequeno → If pequeno → máquina subexcitada

 Para carga resistiva tem-se:

Ef

jxs Ia
δ
Ia Et

Vf cos δ = Vt → Vf cos δ − Vt = 0 → Qg = 0 → máquina opera com fator de


potência unitário

 Controle de excitação de campo: If varia → Vf varia.

– 31 –
 Equações completas

ANTES DEPOIS
0

0 Vt Vf 0 V t V f + ∆V f
sen δ 0 Pg0 = sen δ 0 + ∆δ

Pg =
xs xs
→ como não se alterou o

→ conjugado → Pg constante

→ Vf varia → δ varia → Pg constante

0

0 Vt Vf 0 0 Vt2 0
V t V f + ∆V f 0
 Vt2
Qg = cos δ − Qg = Qg + ∆Qg = cos δ + ∆δ −
xs xs xs xs
→ Vf varia → δ varia → Qg varia

 Conclusão sobre as relações de sensibilidade dos controles e potências:

excitação de campo / potência ativa → sensibilidade nula


excitação de campo / potência reativa → sensibilidade forte

◮ Exercı́cio proposto na lista ilustra as sensibilidades.

– 32 –
3.3 Modelo da máquina sı́ncrona de pólos salientes

3.3.1 Diagrama fasorial

◮ Efeito da saliência dos pólos → relutâncias diferentes devido a variações de


entreferro.

◮ O modelo da máquina é obtido através da decomposição nos eixos direto d e


quadratura q.

eixo direto d

If

eixo de quadratura q

◮ O efeito da saliência pode ser representado pela decomposição da corrente de


armadura Ia em duas componentes nos eixos direto (Id ) e de quadratura (Iq ).

◮ Como as relutâncias nos eixos d e q são diferentes → define-se reatâncias diferentes


xd e xq para cada eixo.

Relutância do eixo de quadratura > relutância do eixo direto → xq < xd .

– 33 –
◮ Equação básica:

Ef = Et + ra Ia + jxd Id + jxq Iq

◮ Diagrama fasorial:

Iq Eq Ef
q
δ
ϕ
Et jxq Iq
Ed

Id ra Ia
Ia
jxd Id

◮ Não é possı́vel obter um circuito elétrico equivalente para a máquina de pólos


salientes.

– 34 –
◮ Alguns valores tı́picos de reatâncias:

Local Tipo xd [pu] xq [pu]

Ilha Solteira Hidro 0,88 0,69


Henry Borden Hidro 1,27 0,76 → Cubatão
Santo Ângelo Cond. Sı́ncr. 1,30 0,90 → perto de São Paulo
Santa Cruz Turbo 1,86 1,86 → pólos lisos

3.3.2 Caracterı́stica potência-ângulo

◮ Considere novamente o diagrama fasorial da máquina de pólos salientes, agora


desprezando as perdas ôhmicas (ra ):

Iq Eq Ef
q
δ
ϕ
Et jxq Iq
Ed jxd Id

Id
Ia

– 35 –
◮ Agora aparecem também os eixos real (ℜ) e imaginário (ℑ), considerando a tensão
terminal Et como referência angular. Logo:

Et = Vt ∠0◦
Ef = Ef ∠δ
Ia = Ia ∠ − ϕ

◮ Em termos fasoriais:

Ia = Id + Iq

Logo:

ℜ{Ia } = ℜ{Id } + ℜ{Iq }

ou seja, trabalha-se aqui com as projeções das correntes no eixo real. De acordo
com o diagrama:

Ia cos ϕ = Id sen δ + Iq cos δ (2)

◮ Desprezando a resistência ra tem-se:

Vt sen δ = xq Iq
Vf − Vt cos δ = xd Id

ou:

Vt
Iq = sen δ
xq
Vf Vt
Id = − cos δ
xd xd

– 36 –
◮ Substituindo as expressões de Id e Iq na equação das projeções das correntes (2):

Vf Vt Vt
Ia cos ϕ = sen δ − cos δ sen δ + sen δ cos δ (×Vt )
xd xd xq
Vt Vf Vt2 Vt2
cos ϕ} =
|Vt Ia{z sen δ − cos δ sen δ + sen δ cos δ
xd xd xq
P

 
Vt Vf 1 1
P = sen δ + Vt2 − sen δ cos δ
xd xq xd
  
Vt Vf xd − xq 1
= sen δ + Vt2 sen 2δ
xd xd xq 2

V2
 
Vt Vf xd − xq
P = sen δ + t sen 2δ
| xd {z } |2 xd xq
{z }
pólos lisos saliência

Aparece agora um termo adicional na equação da potência, referente ao efeito da


saliência dos pólos.

– 37 –
◮ Curva [P × δ] para a máquina de pólos salientes:

k1 sen δ + k2 sen 2δ

Pmax

k1 sen δ

limite estático de δ
estabilidade (< 90◦) k2 sen 2δ

◮ Através de processo semelhante chega-se a uma expressão para a potência reativa:

Ia sen ϕ = Id cos δ − Iq sen δ


Vf Vt Vt
= cos δ − cos2 δ − sen2 δ (×Vt )
xd xd xq
 2
sen2 δ

Vt Vf 2 cos δ
sen ϕ} =
|Vt Ia{z cos δ − Vt +
xd xd xq
Q

cos2 δ sen2 δ
 
Vt Vf
Q= cos δ − Vt2 +
xd xd xq

– 38 –
 Exemplo

Obtenha as curvas [P × δ] e [Q × δ] de um gerador sı́ncrono para: Vf = 1,2 pu,


Vt = 1,0 pu, xd = 1,0 pu e xq = 0,7 pu. A resistência de armadura do gerador é
desprezada.

Para essas condições tem-se:

Pmax P

0 90 180

δ[]

3.4 Valores nominais de uma máquina sı́ncrona

◮ Tensão terminal – 15 kV
Potência aparente – 100 MVA
Reatâncias xd , xq (pu), na base 100 MVA / 15 kV – 1,5 pu e 1,0 pu
Fator de potência nominal – 95%

– 39 –
3.5 Curvas de capacidade (capability)

3.5.1 Definição

◮ É o contorno de uma superfı́cie no plano [P × Q] dentro do qual o carregamento da


máquina sı́ncrona pode ser feito de acordo com as suas limitações de operação em
regime contı́nuo.

◮ Curva de capacidade tı́pica:

P
S3
S1

S2
S′
S

capacitivo indutivo

 Área mais escura – pontos de operação permissı́veis.

 A curva é composta por diversos trechos – existem diversos fatores que limitam
a operação da máquina.

 S, S ′ – pontos permitidos – máquina não está plenamente utilizada.

– 40 –
 S2 , S3 – pontos não satisfatórios – limites violados.

• Tais pontos podem resultar na operação com sobrecarga – em alguns casos


pode-se operar com sobrecarga durante um certo intervalo de tempo.

• Alguns desses pontos podem nunca ser atingidos – os limites da máquina são
tais que é impossı́vel atingı́-los.

 S1 – ponto permitido – máquina plenamente utilizada.

◮ Curvas de capacidade podem ser traçadas para motores e geradores. Atenção será
dada aos geradores.

◮ Cada gerador possui uma famı́lia de curvas de capacidade, para diferentes tensões
terminais de operação.

→ A tensão terminal varia pouco, em torno do valor nominal.

→ Tı́pico: 3 curvas, para 0, 95, 1, 1, 05 pu.

3.5.2 Fatores que limitam a capacidade de um gerador

◮ Fatores gerais:

 Perdas de potência no ferro.

 Perdas de potência no cobre.

– 41 –
◮ Fatores especı́ficos:

 tensão terminal (Vt )

→ Vt aumenta → fluxo no ferro aumenta → perdas no ferro aumentam.

→ Vt é usado como parâmetro → famı́lia de curvas

 corrente de armadura (Ia )

→ Ia aumenta → ra Ia2 aumenta → perdas cobre no estator aumentam.

→ há um Iamax → dado indiretamente pela potência aparente máxima.

 corrente de campo (If )

→ If cria Ef (força eletromotriz induzida)

→ para uma tensão terminal constante → quanto mais indutiva for a carga
maior deve ser Ef e, portanto, maior o If (para que se tenha maior fluxo):

xs Ef
jxs Ia Ef′
+ Ia +
If ~ Ef Et
jxs Ia′
− −
Et
Ia
Ef = Et + jxs Ia Ia′

Ef′ > Ef

– 42 –
→ limitação das perdas no cobre do campo → limitação de If .

→ considere a seguinte situação: Vt fixo, a carga é tal que Ia é o máximo


permitido (perdas cobre na armadura).

→ como existe um If máximo, também existe um Ef máximo, Efmax .

→ o ângulo φ de defasagem entre Vt e Iamax pode ser no máximo tal que a queda
em xa , jxa Iamax , caia sobre o lugar geométrico de Efmax :

Efmax Ef1
Ef2

Ef3

Iamax

ϕ1 Et
ϕ2 Ia1
ϕ3

Ia2
Ia3

– 43 –
→ nota-se na figura que para ϕ1, Ef1 cai dentro do lugar geométrico e para ϕ2
Ef2 cai sobre o lugar geométrico.

→ ϕ3 não é um ângulo admissı́vel pois Ef3 cai fora do lugar geométrico.

→ conclusão: existe um fator de potência mı́nimo (ϕ máximo) de operação do


gerador, para o qual Ef é máximo → cos ϕ2.

→ se o gerador operar abaixo deste valor de fator de potência →


sobreaquecimento do circuito de campo.

 limite de estabilidade estática

→ curvas [P × δ] → valores de P maiores que o máximo não podem ser


convertidos → perda de sincronismo.

 excitação mı́nima permissı́vel

→ carga fortemente capacitiva → Ef muito baixo → δ aumenta para manter P


→ pode-se atingir o limite de estabilidade (δ = 90◦ ) e perde-se o controle da
máquina.

→ existe uma excitação mı́nima permitida.

 limite da máquina primária

→ a potência convertida pelo gerador pode ser limitada pela potência mecânica
máxima que pode ser fornecida pela máquina primária (turbina hidráulica, a
vapor, gás etc.)

◮ Perdas rotacionais (perdas mecânicas nos mancais) → não são diretamente


relacionadas com o carregamento da máquina → não afetam a curva de capacidade.

– 44 –
placements
◮ Levando em consideração todos os fatores obtém-se a curva de capacidade da
máquina para um certo Vt :

AB – Limitação por If
BC – Limitação por Ia
P CD – Limitação pela máquina primária
D C DE – Limitação por Ia
B EF – Limitação por estabilidade
FG – Limitação por excitação mı́nima
E
φ
F

G O A Q (ind)

– 45 –
3.5.3 Traçado da curva de capacidade

Máquina de pólos lisos

◮ Para uma máquina de pólos lisos tem-se a seguinte relação fasorial:

Ef = Et + jxs Ia

Ef

xs Ia
δ Et
O′ O
ϕ

Ia

→ Considere que Et é a tensão normal de trabalho e deve ser mantida constante.

→ Considere que Ia está no seu valor máximo (limite de perdas cobre na armadura).

→ Considere que Ef está no seu valor máximo (limite de perdas cobre no campo).

→ Nestas condições a máquina opera com fator de potência nominal.

– 46 –
◮ Mantendo as condições anteriores, a carga pode variar de puramente indutiva (Ia
90◦ atrasada em relação a Vt ) a puramente capacitiva (Ia 90◦ adiantada em relação
a Vt ).

→ jxs Ia está 90◦ adiantada em relação a Ia e acompanha a sua variação.

→ O lugar geométrico da extremidade de jxs Ia é a semi-circunferência BAC (centro


em O):

Ef A

xs Ia
δ Et
O′ C O B
ϕ

Ia

→ pontos externos a BAC não são permitidos (corresponderiam a correntes maiores


que a máxima).

→ pontos sobre BAC (operação limite) e pontos internos a BAC são permitidos.

– 47 –
◮ A extremidade de Ef se encontra com a extremidade de jxs Ia .

→ como Ef também está no seu valor máximo → o lugar geométrico de sua


extremidade está sobre a circunferência DA · · · (centro em O′ ):

Ef A

xs Ia
δ Et
O′ C O D B
ϕ

Ia

– 48 –
◮ A fim de satisfazer ao mesmo tempo as duas limitações (Ef e Ia – dois lugares
geométricos) → delimita-se a área de operação permitida pelo contorno DAC:

Ef A

xs Ia
δ Et
O′ C O D B
ϕ

Ia

→ arco DA – limite de campo.

→ arco AC – limite de armadura.

→ DAC → poderia ser considerada a curva de capacidade da máquina.

→ deve-se transformá-la em uma curva no plano [P × Q] e acrescentar outros


limites.

◮ Retomando a relação fasorial de tensões:

 
Vt
Ef = Et + jxs Ia ×
xs

Vt Ef Vt Et
= + jIa Vt
xs xs

– 49 –
◮ Redesenhando o diagrama fasorial tem-se:

Vt Vf
A
P xs
ϕ
Vt Ia
δ
O′ C Vt2 O Q DB Q (ind)
ϕ
xs
Ia

→ o eixo vertical de P é colocado com origem no ponto O.

→ o fasor jIa Vt (segmento OA) tem módulo Vt Ia , que é a potência aparente S


fornecida pelo gerador.

→ Vt Ia faz um ângulo φ com o eixo vertical. As projeções de Vt Ia nos eixos vertical


e horizontal são:

OP → Vt Ia cos ϕ → potência ativa


OQ → Vt Ia sen ϕ → potência reativa

– 50 –
→ agora o contorno DAC representa a curva de capacidade do gerador.

→ esta curva, em sua forma mais simples, representa somente as limitações devido
ao aquecimento dos enrolamentos de campo (DA) e armadura (AC).

→ deve-se incluir outros efeitos.

– 51 –
◮ Incluindo o limite de estabilidade: o limite teórico de estabilidade ocorre para
δ = 90◦:

Vt Vf
P max =
xs

em que Ef é perpendicular a Et :

Vt Vf
, para δ = 90◦
xs

Vt Vf
A
P xs
ϕ
Vt Ia
δ
O′ C Vt2 O Q DB Q (ind)
ϕ
xs
Ia

→ linha tracejada vertical partindo de O′ → lugar geométrico das potências


máximas para diferentes valores de Vf .

– 52 –
→ no caso da máquina exemplo, P max cai fora da região permitida.

→ neste caso, outros fatores limitantes entram em consideração antes que o limite
de estabilidade seja atingido → o limite de estabilidade não precisa ser considerado.

→ para um caso geral, deve-se considerá-lo → ponto O′ situa-se à direita do ponto


C:

A
Vt Vf
Vt Vf xs
, para δ = 90◦
xs

E
Vt Ia
ϕ

δ
C O′ ϕ Vt2 O D B Q (ind)
xs
Ia

→ para carregamentos com fator de potência capacitivo (Ia adiantado em relação a


Et ), pode-se atingir o limite de estabilidade.

→ segmento EO′ substitui o trecho EC na curva de capacidade → pontos à


esquerda de EO′ resultam em δ > 90◦ .

– 53 –
→ deve-se trabalhar sempre com uma margem de segurança para evitar que o limite
de estabilidade seja atingido → define-se então o limite prático de estabilidade.

→ para cada valor de Vf a nova potência máxima será limitada ao valor resultante
da diferença entre a potência máxima teórica para este valor de Vf e 10% da
potência nominal da máquina.

S
0,1Pn S′ P

A
Vt Vf
Vt Vf xs
, para δ = 90◦
xs

E
Vt Ia
ϕ

δ
C O ′
ϕ Vt2 O D B Q (ind)
xs
Ia

– 54 –
→ e a curva de capacidade fica então:

S
0,1Pn S′ P

A
N Vt Vf
Vt Vf xs
, para δ = 90◦
xs

E
Vt Ia
ϕ

δ
C O ′ F
ϕ Vt2 O D B Q (ind)
xs
Ia

– 55 –
◮ É possı́vel também considerar o limite prático de estabilidade através de um ângulo
δ max , por exemplo:

δ max = 75◦

◮ Neste caso, a inclusão desse limite no diagrama de capacidade é trivial e resulta em:

A
Vt Vf
Vt Vf xs
, para δ = 90◦ N
xs

E
Vt Ia
δ max
ϕ

δ
C O′ F ϕ Vt2 O D B Q (ind)
xs
Ia

– 56 –
→ deve também haver um limite inferior de excitação da máquina → o controle fica
muito difı́cil – o limite é:

mi n Vt Vfmi n
P =
xs

→ traça-se um cı́rculo de raio P mi n com centro em O′ → determina-se o trecho F G.

S
0,1Pn S′ P

A
N Vt Vf
Vt Vf xs
, para δ = 90◦
xs

E
Vt Ia
ϕ

F
δ
C O′ G Vt2 O D B Q (ind)
ϕ
xs
Ia

– 57 –
→ finalmente, deve-se levar em conta a limitação da máquina primária (turbina) →
linha horizontal, correspondente à máxima potência permissı́vel da máquina primária.

◮ Forma geral da curva de capacidade:

AB – Limitação por If
BC – Limitação por Ia
P CD – Limitação pela máquina primária
D C DE – Limitação por Ia
B EF – Limitação por estabilidade
FG – Limitação por excitação mı́nima
E
φ
F

G O A Q (ind)

 Exemplo

Traçe o diagrama de capacidade de uma máquina sı́ncrona para as seguintes condições


indicadas a seguir.
Potência aparente nominal S 1,11 pu
Tensão terminal Vt 1,0 pu
Tensão de campo máxima Vfmax 2,6 pu
Tensão de campo mı́nima Vfmi n 0,3 pu
Reatância sı́ncrona xs 1,67 pu
Potência máxima da máquina primária Pprmax
im 1,0 pu

– 58 –
A corrente nominal da máquina é:

S
Ia = = 1,11 pu
Vt

Da equação da máquina sı́ncrona tem-se:

Vt Vt
Ef = Et + jVt Ia
xs xs
1,0 1,0
· 2,6 ∠δ = · 1,0 ∠0◦ + |∠90 ◦
·1,0 · 1,11 ∠ − ϕ (Et é referência angular)
1,67 1,67 {z }
j

1,5569 ∠δ = 0,5988 ∠0◦ + 1,11 ∠ (90◦ − ϕ)

→ os 3 termos da equação formam o triângulo que compõem o diagrama fasorial.

→ é possı́vel (mas não necessário) resolver a equação, obtendo δ = 33,75◦ e


ϕ = 38,81◦.

Seqüência para o traçado do diagrama de capacidade:

(1) Traçar 0,5988 ∠0◦, que corresponde a Vt2/xs → O′ O.

O′ Vt2/xs O

– 59 –
(2) Com centro em O′ , traçar cı́rculo com raio 1,5569, que corresponde a Vt Vfmax /xs
(limitação de campo, lugar geométrico de Vfmax ) → D · · · .

Com centro em O, traçar cı́rculo com raio 1,11, que corresponde a Vt Ia (limitação
de armadura, lugar geométrico de Iamax ) → BAC.

C O′ Vt2/xs O D B

– 60 –
(3) Traçar os eixos P e Q.

Os cı́rculos traçados no passo (2) correspondem aos lugares geométricos para Vfmax
(perdas ferro) e Iamax (perdas cobre), e já definem o diagrama de capacidade básico
para a máquina DAC.

Vt Vf /xs
Vt Ia

C O′ Vt2 /xs O D B Q

– 61 –
(4) Traçar linha paralela ao eixo P passando por O′ → linha tracejada O′ E corresponde
a δ = 90◦ → limite de estabilidade estática → diagrama de capacidade agora é
DAEO′ .

E
A

Vt Vf /xs
Vt Ia

C O′ Vt2 /xs O D B Q

– 62 –
(5) O ângulo ϕ foi obtido anteriormente. Ele também pode ser obtido a partir do
próprio diagrama de capacidade, como sendo o ângulo entre o eixo P e a linha OA,
que corresponde à potência aparente Vt Ia .

Desta forma, a potência ativa nominal da máquina é calculada por:

Pn = Vt Ia cos ϕ = S · cos ϕ = 1,11 · cos 38,81◦ = 0,8650 pu

10% deste valor, ou seja, 0,0865 pu deve ser descontado para a obtenção da curva
prática do limite de estabilidade.

Para cada valor de Vf , traçar um cı́rculo com centro em O′ e raio Vt Vf /xs .

A partir do cruzamento do cı́rculo com a linha O′ E, desconta 0,1 · Pn = 0,0865 pu


→ traçar linha horizontal.

A intersecção do cı́rculo com a linha horizontal define o ponto prático de limite de


estabilidade da máquina para o valor escolhido de Vf .

O novo diagrama de capacidade é DASX.

– 63 –
x
P

S
E
A

Vt Vf /xs
Vt Ia

C O′ X Vt2 /xs O D B Q

– 64 –
(6) Excitação mı́nima:

Vt Vfmi n 1,0 · 0,3


P mi n = = = 0,1796 pu
xs 1,67

Traçar cı́rculo com centro em O′ e raio 0,1796, correspondente à excitação mı́nima.

O novo diagrama de capacidade é DASF G.

E
A

Vt Vf /xs
Vt Ia

F
C O′ X G Vt2 /xs O D B Q

– 65 –
(7) Incluir a limitação da máquina primária → linha paralela ao eixo Q para P = 1,0 pu.

O diagrama de capacidade final da máquina é dado pelo contorno DACHF G.

P
H C

O′ G O D Q

Trecho Limite

DA campo (perdas ferro)


AC armadura (perdas cobre)
CH máquina primária (turbina)
HF estabilidade
FG excitação mı́nima

– 66 –
 Exemplo

A partir do diagrama de capacidade da máquina sı́ncrona do exemplo anterior, obtenha


as grandezas solicitadas a seguir.

(a) Obtenha o valor do fator de potência nominal da máquina.

Este valor já foi obtido anteriormente durante o traçado do diagrama e vale:

fp = cos ϕ = cos 38,81◦ = 0,78

O fator de potência nominal é obtido diretamente do diagrama calculando-se o


cosseno do ângulo entre o eixo P e a linha OA:

OB
fp = cos ϕ = = 0,78
OA

P
H C

B A

O′ G O D Q

– 67 –
(b) Obtenha os limites de potência reativa quando a máquina fornece 0,8 pu de
potência ativa.

Traçar linha paralela ao eixo Q para P = 0,8 pu. Os limites são dados pela
intersecção da linha com o diagrama.

P
H C

A
0,8

O′ G Qmi n O Qmax D Q

Qmi n = −0,21 pu limite ativo: estabilidade, máquina consome potência reativa


Qmax = 0,73 pu limite ativo: perdas ferro, máquina fornece potência reativa

(c) Determine a potência ativa a partir da qual as perdas cobre são importantes na
definição dos limites de potência reativa.

P = 0,87 pu, que corresponde ao trecho OB mostrado no item (a). Para potências
ativas geradas maiores que este valor, Qmax será limitado pelas perdas cobre.

– 68 –
(d) A máquina fornece 1,0 pu de potência ativa. Determine Vf tal que δ = 30◦. Se a
operação sob as condições especificadas não for possı́vel, determinar o mı́nimo valor
de δ.

Como a máquina fornece 1,0 pu de potência ativa, opera sobre o trecho CH do


diagrama de capacidade. Traçar uma linha a partir de O′ formando 30◦ com o eixo
Q.

P
H C

F 30◦
O′ G O D Q

A linha não cruza o trecho CH, portanto, a operação sob essas condições não é
possı́vel. O ângulo δ mı́nimo é obtido traçando-se uma linha a partir de O′ que
passe por C. Neste caso, a máquina operará fornecendo potência ativa de 1,0 pu e
reativa máxima Qmax = 0,49 pu. O ângulo δ mı́nimo será igual a:

1,0
δ = tg−1 = 42,8◦
1,08

– 69 –
x

P
H C

δ
F

O′ G O Qmax D Q

O trecho O′ C equivale a 1,47 pu. Logo:

Vt Vf O ′ C · xs 1,47 · 1,67
O′ C = 1,47 = → Vf = = = 2,45 pu
xs Vt 1,0

– 70 –
Máquina de pólos salientes

◮ O procedimento para a obtenção do diagrama de capacidade de uma máquina de


pólos salientes é o mesmo daquele utilizado para o caso da máquina de pólos lisos
→ o diagrama de capacidade não difere, em essência daquele já obtido.

◮ O diagrama de capacidade obtido anteriormente é um caso particular de uma


máquina de pólos salientes para a qual xd = xq .

◮ Tem-se agora o conjugado de relutância associado ao termo de relutância da


potência fornecida pela máquina:

Vt2
 
Vt Vf xd − xq
P = sen δ + sen 2δ
xd 2 xd xq
| {z }
relutância

◮ Para a máquina de pólos salientes tem-se:

Ef = Et + jxd Id + jxq Iq

◮ Diagrama fasorial:
eixo q
B
Ef
jxq Iq
A
Iq
O′ δ jxd Id
ϕ Et O

Ia
Id
eixo d

– 71 –
◮ Prolongar a linha de Ia e traçar uma linha perpendicular a ela passando pelo ponto
O. Prolongar AB e obter o ponto de intersecção S.

S eixo q
B
Ef
jxq Iq

A
Iq α
δ jxd Id
O′ ϕ Et O
α
Ia
Id E
D
eixo d

◮ Triângulos O′ DE e OAS são semelhantes. Então:

O′ D OA
=
DE AS
Id xd Id
=
Iq xq Iq + BS

BS = (xd − xq ) Iq

AS = AB + BS → AS = xd Iq

OS 2 = OA2 + AS 2 → OS = xd Ia

– 72 –
◮ Observando novamente o diagrama:

S eixo q
B
C
Ef jxq Iq

A
Iq
δ jxd Id
O′ ϕ Et O
Ia
Id E
D
eixo d

◮ Os triângulos OAS e CBS são semelhantes:

AS BS
=
OS CS
xd Iq (xd − xq ) Iq
=
xd Ia CS

CS = (xd − xq ) Ia

OC = OS − CS → OC = xq Ia

– 73 –
◮ Variando o ângulo do fator de potência de −90◦ a 90◦ (puramente indutivo a
puramente capacitivo), o fasor Ia descreve uma semi-circunferência em torno de O′ .

O trecho OS = xd Ia gira da mesma forma em torno de O, resultando na


semi-circunferência tracejada → lugar geométrico dos pontos de operação no limite
de aquecimento da armadura.

Notar que a semi-circunferência não passa pelo ponto B (extremidade de Ef ) como


no caso da máquina de pólos lisos.

S eixo q
B
C
Ef jxq Iq

A
Iq
δ jxd Id
O′ ϕ Et O
Ia
Id E
D
eixo d

◮ Dividindo a equação da máquina por xd e multiplicando por Vt :

Vt Vt xq
Ef = Et + jVt Id + jVt Iq
xd xd xd

– 74 –
◮ O diagrama fica:

S eixo q
B
C
Vf Vt /xd
Vt Ia
A
Iq
δ Vt Id
O′ ϕ Vt2 /xd O Q
Ia
Id E
D
eixo d

◮ O trecho OS agora é Vt Ia , que corresponde à máxima potência aparente permissı́vel.

– 75 –
◮ Obtenção da curva de aquecimento do campo:

→ lembre que para máquinas de pólos lisos esta curva era uma semi-circunferência
de centro em O′ e raio Vt Ef /xs .

→ a partir do ponto S foi traçada uma paralela à direção de O′ B até o ponto O′′ .

→ a partir de O′ foi traçado o segmento O′ C ′ , paralelo a BS.

S
eixo q
B
C
Vf Vt /xd Vt Ia

C A
Iq
δ Vt Id
O′′ O′ ϕ Vt2/xd O Q
Ia
Id E
D
eixo d

– 76 –
→ Relações:

Vf Vt
C ′ S = O′ B =
xd
 
′ ′ xq
O C = BS = Vt Iq 1 −
xd
xq Vt2
AB = OX = Vt Iq = sen δ
xd xd

AB O′ C ′
sen δ = ′ = ′′ ′
O O O
′ ′
 
O O · O C 1 1
O′′ O′ = = Vt2 −
AB xq xd

′′ Vt2 ′′ ′
O O =O O+OO =
xq

→ O trecho C ′ S corresponde à parcela de pólos lisos. O trecho O′′ C ′ corresponde à


parcela de pólos salientes.

→ O′′ O′ é o diâmetro de uma circunferência que depende somente da saliência polar


→ relacionada com o conjugado de relutância (para pólos lisos o diâmetro será
zero).

S
eixo q
B
C
Vf Vt /xd Vt Ia
C′
A
Iq
δ Vt Id
O ′′
O ′ ϕ Vt2/xd O Q
Ia
Id E
D
eixo d

– 77 –
→ obter outros pontos do tipo S, por exemplo → S ′ → traçar reta a partir de O′′
determinando o ponto F .

→ o ponto S ′ será tal que F S ′ = C ′ S = O′ B = Vt Vf /xd , que é constante.

→ a curva final é uma cardióide → curva de aquecimento do campo é DSS ′ · · · .

→ curva de capacidade é DSE.

S′

S
eixo q
B
C
F Vf Vt /xd
C′ Vt Ia
A
Iq
δ Vt Id
′ E ϕ Vt2/xd O
O′′ O D Q
Ia
Id E
D
eixo d

◮ pode-se agora incluir os outros fatores.

– 78 –
◮ O lugar geométrico dos limites de estabilidade é uma curva que pode estar fora ou
dentro da curva de capacidade. A curva é obtida, para cada valor de Vf , por:

2 2
V2 v2
 

P =0 → Q+ t + Q+ t P2 = 0
∂δ xq xd

O′′ O′ E O D Q

– 79 –
→ para obter o limite prático de estabilidade, dar folga de 0, 1Pn e construir a curva
do limite prático de estabilidade da mesma forma que foi feito para a máquina de
pólos lisos, lembrando que as curvas de aquecimento de campo são cardióides.

S
0,1Pn S′

S
D

O′′ O′ F O D Q

◮ O trecho EF da figura acima refere-se à excitação mı́nima permitida (5% a 10% da


excitação normal), que também é uma cardióide.

◮ Deve-se finalmente incluir a limitação proveniente da máquina primária, da mesma


forma que foi feito para a máquina de pólos lisos.

– 80 –
3.6 Limites do gerador sı́ncrono no problema de fluxo de carga

◮ No problema de fluxo de carga as barras de geração são representadas como uma


injeção de potência ativa P esp no barramento com magnitude de tensão fixa V esp .
Representando essas condições no diagrama de capacidade traçado para V esp
tem-se:

P esp

Qmi n Qmax Q (ind)

◮ Em função das limitações da máquina, existem limites para o consumo ou


fornecimento de potência reativa pela máquina, Qmi n e Qmax respectivamente.

◮ Se algum dos limites de potência reativa for atingido, a máquina perderá a


capacidade de manter a magnitude da tensão no barramento em V esp . Assim, a
tensão passará a variar e o barramento apresentará um comportamento de barra de
carga (tipo PQ).

– 81 –
◮ Em análises envolvendo a determinação de ações de controle, por exemplo, pode-se
também especificar limites de geração de potência ativa, ou seja, Pgmi n ≤ Pg ≤ Pgmax :

P max

P mi n

Qmi n Qmax Q (ind)

◮ Naturalmente, esta simplificação na representação dos limites da máquina pode não


ser aceitável para certas análises.

– 82 –
3.7 Materiais de apoio

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/Geracao I - Geracao Hidroeletrica.pdf

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/Geracao II - Geracao
Termoeletrica.pdf

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/Geracao III - Co-geracao.pdf

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/Geracao IV - Gerador.pdf

Gerador de
Marmelos Zero
Descida do primeiro
rotor de Itaipu

– 83 –
3.8 Referências

◮ P.M. Anderson, A.A. Fouad, Power system control and stability, IEEE Press, 1993.

◮ C.A. Castro, M.R. Tanaka, Circuitos de corrente alternada – um curso introdutório,


Unicamp, 1995.

◮ A.E. Fitzgerald, C. Kingsley Jr., A. Kusko, Máquinas elétricas, McGraw-Hill, 1979.

◮ J.A.F. Melo, Geradores sı́ncronos: curvas de capacidade, Publicações técnicas


CHESF, n.2, 1977.

◮ A.J. Monticelli, A.V. Garcia, Introdução a sistemas de energia elétrica, Unicamp,


1999.

◮ G. McPherson, R.D. Laramore, An introduction to electrical machines and


transformers, John Wiley, 1990.

– 84 –
Apêndice – Reação de armadura

Considere uma carga equilibrada conectada a um gerador sı́ncrono trifásico:

van (t) ia (t) Z


a

vbn (t) ib (t) Z


b
n ∼ n

vcn (t) ic (t) Z


c

Gerador Carga

Tensões senoidais equilibradas (mesmos valores eficazes e defasadas de 120◦) são


aplicadas às impedâncias e resultam nas correntes:

ia (t) = I cos (ωt)


ib (t) = I cos (ωt − 120◦)
ic (t) = I cos (ωt + 120◦)

– 85 –
As correntes também têm os mesmos valores eficazes e são defasadas de 120◦ umas das
outras. Nota-se que é considerada a seqüência de fases abc. A corrente da fase a em
função do tempo é dada por:

ia (t)

90 180 270
−90 0 ωt [◦]

A corrente ia (t) circula pela bobina da fase a do gerador, criando uma força
magnetomotriz (fmm) também senoidal em relação ao tempo:

Fa (t) = F cos ωt

As linhas de campo são normais à direção da corrente. Considera-se o eixo da fase a


como a referência de ângulo θ, que representa a posição no espaço em relação ao eixo
da fase a:
a
θ=0
θ

a ⊙ ⊗ a′

– 86 –
Como as bobinas das fases são acomodadas em ranhuras distribuı́das ao longo do
estator, a fmm distribui-se senoidalmente no espaço.

No instante t = 0 tem-se:

ωt = 0 e ia (0) = I

A corrente tem seu valor máximo. A fmm induzida apresenta também o seu valor
máximo F ao longo do eixo da fase a e varia senoidalmente para θ variando:

Fa (θ)
F

−180 −90 90 180


0 θ [◦ ]

eixo da fase a

Para t = π/3ω tem-se:

ωt = π/3 e ia (π/3ω) = I/2

– 87 –
A fmm apresenta um valor máximo de F /2 ao longo do eixo da fase a e se distribui
senoidalmente:

Fa (θ)

F /2
−180 −90 90 180
0 θ [◦ ]

eixo da fase a

Observando o valor instantâneo da fmm Fa para um certo ângulo θ∗ , verifica-se que


esta varia de F cos θ∗ a −F cos θ∗ . Por exemplo, ao longo do eixo da fase a, θ∗ = 0 e a
fmm varia de F a −F . Para θ∗ = 60◦, a fmm varia de F /2 a −F /2. Para θ∗ = 90◦ , a
fmm é sempre igual a 0:

eixo da fase a

θ [◦ ]

0 60 90

– 88 –
Os comportamentos das correntes e das fmm’s das fases b e c são os mesmos que os
da fase a, só que defasados de −120◦ e 120◦, respectivamente.

Para t0 = 0:

 ia (t0 ) = I
ωt0 = 0 e ib (t0 ) = I cos (−120◦) = −I/2
ic (t0 ) = I cos (120◦) = I/2

Os valores de pico das fmm’s são F (fase a), −F /2 (fase b) e −F /2 (fase c) ao longo
dos respectivos eixos, distribuindo-se senoidalmente no espaço:

c a b

fmmb

θ [◦ ]

fmmc
fmma

Para θ0 = 0 tem-se:

Fa (θ0 ) = F
Fb (θ0) = F /4
Fc (θ0) = F /4

que resulta em uma fmm total de 3F /2. Note que para θ = ±90◦ a fmm total é nula.
Para θ = ±180◦ a fmm total é −3F /2. Conclui-se que, no espaço, a fmm total
distribui-se senoidalmente, e:

3
Fr a = F cos θ
2

– 89 –
Pode-se também visualizar a situação da seguinte maneira:

b′ c

Fr a
Fa

a Fb a′
Fc

b

c

Para t1 = π/3ω:

 ia (t1 ) = I cos (60◦ ) = I/2


ωt1 = π/3 (60◦) e ib (t1 ) = I cos (−60◦ ) = I/2


ic (t1 ) = I cos (180◦) = −I

Os valores de pico das fmm’s são F /2 (fase a), F /2 (fase b) e −F (fase c) ao longo
dos respectivos eixos, distribuindo-se senoidalmente no espaço:

c a b

fmma

θ [◦ ]

fmmb
fmmc

– 90 –
Para θ1 = 60◦ tem-se:

Fa (θ1 ) = F /4
Fb (θ1 ) = F /4
Fc (θ1) = F

que também resulta em uma fmm total de 3F /2. Note que para θ = 150◦ e θ = −30◦
(variação de ±90◦ em torno de θ1) a fmm total é nula. Tem-se ainda que a fmm total
vale −3F /2 para θ = 240◦ e θ = −120◦ (variação de ±180◦ em torno de θ1), indicando
que a fmm total distribui-se senoidalmente no espaço. A diferença agora é que o valor
de pico está deslocado de um ângulo de 60◦, que corresponde ao valor de ωt1 .

A expressão para Fr a levando em conta o tempo e o espaço é então:

3
Fr a = F cos (θ − ωt)
2

Pode-se também visualizar a situação da seguinte maneira:

b′ c

Fr a
Fa
a Fc
a′
Fb

b

c

– 91 –
Realizando esta análise para vários ângulos conclui-se que a fmm apresenta uma
distribuição senoidal no espaço e a posição de seu valor de pico 3F /2 gira no tempo,
com velocidade angular ω, configurando assim um campo girante.

Este campo é chamado de reação de armadura em função de existir a partir das


correntes de armadura.

A fmm de reação de armadura existe no entreferro da máquina juntamente com o


campo de excitação (criado pela corrente de campo). O campo resultante é que
determina o valor da tensão terminal do gerador.

– 92 –
ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I
1 Semestre 2011
Capı́tulo 4 – Transformador de potência

4.1 Introdução

◮ Transformador elevador (step-up trans-


former)

◮ Transformador abaixador (step-down


transformer)

◮ Transformador regulador (regulating


transformer)

 relação ≈ 1 : 1

 defasagem entrada-saı́da

4.2 Vantagens do uso de transformadores

◮ Considerar o diagrama unifilar do circuito trifásico e seu respectivo circuito por fase
mostrados a seguir.

R X

0,2Ω/fase I
∼ ∼ Vf 300 MW

17,3 kV
900 MW
fp = 1 Vf = 17,3
√ = 10 kV
3

–1–
Perdas de potência ativa por fase na linha de transmissão:

Pp = R | I |2

Potência ativa por fase fornecida pela fonte:

Pφ = | Vf | | I | fp (fp ≈ 1)

= | Vf | | I | → | I |=
| Vf |

Note que considerou-se o fator de potência visto pela fonte como unitário, ou seja,
o efeito da reatância da linha foi desprezado.

Coeficiente de perdas:

Pp R | I |2 R (Pφ / | Vf |)2 R Pφ
η= = = =
Pφ Pφ Pφ | Vf |2

ou seja, o coeficiente de perdas é inversamente proporcional ao quadrado da tensão


→ quanto maior a tensão de transmissão, menor o coeficiente de perdas → as
perdas se tornam proporcionalmente menos importantes em função do total de
potência transmitida.

No caso do circuito trifásico:

0,2 · 300 · 106


η= = 0,6
(10 · 103 )2

logo, o coeficiente de perdas é de 60%.

–2–
◮ Considerar agora que a transmissão é feita em um nı́vel de tensão dez vezes maior:

17,3 kV 173 kV 173 kV 17,3 kV


0,2Ω/fase

ηT = 98% ηT = 98%
900 MW
fp = 1

Coeficiente de perdas na linha de transmissão:

0,2 · 300 · 106


ηLT = = 0,006
(100 · 103)2

ou 0,6%, ou seja, uma redução significativa (100 vezes menor).

◮ Os transformadores inseridos no circuito também têm suas próprias eficiências.


Logo, sua utilização deve ser justificada se o coeficiente de perdas total (linha +
transformadores) for menor que os 60% calculados sem os transformadores.

Considerar P como a potência por fase gerada na fonte de tensão e transmitida.


Devido à presença do transformador elevador (cujo rendimento de 98% é tı́pico para
transformadores de potência), a potência que entra na linha é:

P ′ = 0,98 P

Devido às perdas de potência ativa na linha, a potência que chega ao transformador
abaixador é:

P ′′ = (1 − 0,006) P ′ = 0,994 · 0,98 · P = 0,9741 P

–3–
Após computadas as perdas no transformador abaixador, a potência entregue à
carga é:

P ′′′ = 0,98 P ′′ = 0,9546 P

O coeficiente total de perdas é:

P − P ′′′
 
ηtotal = = 0,0454
P

ou 4,54%, que é bem menor que no caso da transmissão a baixas tensões.

4.3 Transformador monofásico ideal

◮ Descrição geral:

núcleo laminado de Fe-Si

i1 φ i2
+ +
Fonte v1 N1 N2 v2 Carga
− −

Primário Secundário
Alta/Baixa tensão Baixa/Alta tensão

–4–
◮ Hipóteses:

 Não há perdas ôhmicas – a resistência dos enrolamentos é nula

 Não há dispersão de fluxo magnético – todo o fluxo φ está confinado no núcleo
e é concatenado com ambas as bobinas

 Não há perdas no núcleo – não há histerese nem correntes parasitas

 A permeabilidade magnética do núcleo é infinita (µnucl eo → ∞) – a corrente


necessária para criar o fluxo magnético no núcleo e, portanto, a força
magnetomotriz para magnetizar o núcleo, são desprezı́veis

◮ Circuito equivalente:
I1 I2

+ +

V1 V2
− −

N1 : N2

◮ Tensões e correntes são senoidais → V1 , V2 , I1 e I2 são fasores.

◮ Relações:

 Tensões e correntes:

V1 I2 N1
= = =a
V2 I1 N2

em que a é a relação de transformação (relação de espiras).

–5–
 Potências:

S1 = V1 I1∗ = V2I2∗ = S2

pois não há perdas (potência de entrada igual à potência de saı́da).

 Impedâncias:

I1 I2

+ +

V1 Z1 V2 Z2
− −

N1 : N2

A transformação de impedâncias (impedâncias refletidas) é dada por:

V1 aV2 V2
Z1 = = = a2 = a 2 Z2
I1 I2 /a I2

–6–
4.4 Transformador monofásico real

◮ São consideradas:

 Perdas ôhmicas nos enrolamentos

 Perdas no núcleo (histerese e correntes parasitas)

 Dispersão de fluxo

 Corrente de magnetização

◮ Circuito equivalente:

r1 x1 x2 r2

Iϕ I1′
+ I1 + + I2 +

V1 xm rc V1′ V2′ V2
Im Ic
− − − −

N1 : N2

Transformador ideal

 r1 , r2 – resistências que representam as perdas ôhmicas nos enrolamentos


(perdas cobre)

 x1 , x2 – reatâncias que representam a dispersão de fluxo

 rc – resistência que representa as perdas no núcleo (perdas ferro)

 xm – reatância que representa a magnetização do núcleo

–7–
◮ A relação de espiras é válida para V1′ e V2′ e para I1′ e I2.

◮ Em vazio:

 I2 = 0 → I1′ = 0

 Não há queda de tensão em r2 e x2 → V2′ = V2

 A impedância equivalente do ramo paralelo (rc e xm ) é muito maior que a


impedância equivalente série (r1 e x1) → pode-se desprezar os parâmetros série

 O circuito equivalente para o transformador em vazio fica:

I1′ = 0

+ I1 Iϕ I2 +

V1 xm rc V2
Im Ic
− −

N1 : N2
Transformador ideal

 A corrente no primário é:

i1 (t) = iϕ (t) = im (t) + ic (t)

e é pequena (da ordem de 5% da corrente nominal do transformador).

–8–
 A tensão no secundário é :

V1
V2 =
a

 Devido às não-linearidades (saturação do material ferromagnético):

• A corrente de excitação não é senoidal → representação fasorial não pode ser


usada

• A corrente apresenta componentes harmônicas ı́mpares (3a., 5a. etc.):

iϕ (t) = I1 sen (ωt) + I3 sen (3ωt) + I5 sen (5ωt) + · · ·

• A componente de 3a. harmônica é da ordem de 40% da corrente total.

• Em geral, como iϕ é pequena, considera-se somente a componente


fundamental (60 Hz) e pode-se então utilizar notação fasorial:

I1 = Iϕ

e o diagrama fasorial fica:

Ic V1

→ o transformador em vazio apre-


senta um fator de potência baixo

Im

–9–
◮ Com carga:

 I2 6= 0 → todos os parâmetros do circuito equivalente são considerados.

 Pode-se eliminar o transformador ideal refletindo as impedâncias do enrolamento


secundário e utilizando a relação de transformação para tensões e correntes:

r1 x1 a 2 x2 a2 r2

+ I1
Iϕ I2/a +

V1 xm rc aV2
Im Ic
− −

 Como Iϕ ≪ I1 pode-se desprezar os parâmetros shunt:

r1 + a2 r2 x1 + a 2 x2

+ +
I1 = I2/a
V1 aV2

− −

– 10 –
 Em geral para transformadores de potência (a partir de centenas de KVA) as
perdas ôhmicas podem ser desprezadas:

x1 + a 2 x2 = x

+ +
I1 = I2/a
V1 aV2

− −

4.5 Autotransformador ideal

◮ Considerar o transformador monofásico:

I1 I2

+ +

V1 V2 V1 = 120 V I1 = 250 A
V2 = 240 V I2 = 125 A
− −

N1 : N2

A potência aparente é:

S = V1 I1 = V2 I2 = 30 kVA

– 11 –
◮ Se for feita uma ligação fı́sica entre os enrolamentos primário e secundário tem-se o
autotransformador :

I2

N2
I1 + I2
V1 + V2
+

V1 N1
− −

A potência aparente nesse caso é:

S = V1 (I1 + I2) = (V1 + V2) I2 = 45 kVA

◮ O autotransformador transmite mais potência.

A potência transmitida por efeito magnético é a mesma do transformador.

O adicional de potência é transmitido por meio da própria ligação fı́sica entre os


enrolamentos.

Desvantagem: o autotransformador não pode ser usado quando a separação fı́sica


entre os enrolamentos for fundamental.

– 12 –
4.6 Autotransformador real

◮ As perdas no autotransformador são do mesmo tipo das perdas do transformador


(cobre, ferro etc.).

Como as perdas são as mesmas (bobinas são as mesmas, núcleo é o mesmo) →


autotrafo apresenta maior rendimento (maior eficiência).

O rendimento depende da relação de transformação, como mostra o exemplo a


seguir.

 Exemplo

Na prática, o autotransformador é composto por um só enrolamento:

+ +

V1 V2
tap
− −

Considere um autotransformador que alimenta uma carga de 800 V, 12,5 A a partir de


uma fonte de 800 V:

12,5 A 12,5 A

+ +

800 V 800 V Carga


I≈0
− −

Relação 1:1

– 13 –
1. o autotransformador tem relação de transformação 1 : 1.

2. toda a potência é transferida através da conexão elétrica e nada é transferido via


fluxo magnético.

3. a corrente na bobina do autotrafo é a corrente de excitação, que é muito baixa.

4. potência de perdas ≈ 0 → eficiência de ≈ 100%.

Considere agora a mesma carga sendo alimentada por uma fonte de 1000 V:

10 A 12,5 A

+ +
200 V
1000 V 800 V Carga

2,5 A
− −

Relação 5:4

1. a relação de transformação agora é 1000/800 = 5/4.

2. a potência na carga é de 800 · 12, 5 = 10 kVA.

3. a potência na fonte deve ser também 10 kVA. Logo a corrente da fonte é


10000/1000 = 10 A.

4. a carga é conectada a 4/5 do enrolamento, sobrando 1/5 → as tensões são


divididas em 800 V e 200 V.

– 14 –
5. perdas na porção 1/5:

1
P1 = R · 102 = 20R
5

em que R é a resistência do enrolamento.

6. perdas na porção 4/5:

4
P2 = R · 2, 52 = 5R
5

7. as perdas totais são de 25R.

Considere agora a mesma carga sendo alimentada por uma fonte de 1600 V:

6,25 A 12,5 A

+ +

800 V
1600 V 800 V Carga

6,25 A
− −

Relação 2:1

1. a relação de transformação agora é 1600/800 = 2/1.

2. a potência na carga é de 800 · 12, 5 = 10 kVA.

– 15 –
3. a potência na fonte deve ser também 10 kVA. Logo a corrente da fonte é
10000/1600 = 6, 25 A.

4. a carga é conectada a metade do enrolamento, sobrando a outra metade → as


tensões são divididas em 800 V e 800 V.

5. perdas na metade superior:

1
P1 = R · 6,252 = 19,53R
2

em que R é a resistência do enrolamento.

6. perdas na metade inferior:

1
P2 = R · 6,252 = 19,53R
2

7. as perdas totais são de 39,06R → maiores que o caso anterior.

8. conclusão: quanto mais distante a relação de transformação for de 1 : 1, maiores as


perdas do autotransformador.

9. por isso eles são mais usados como autotransformadores reguladores.




– 16 –
 Exemplo

Considerar os autotransformadores mostrados a seguir.

Ie Is Ie Is

+ + + +
I1 N1 N1 I1

Ve Vs Ve Vs
N2 N2
I2 I2
− − − −

Abaixador Elevador

Para o autotrafo abaixador tem-se:

Ve Is N1 + N2
= = =a>1
Vs Ie N2

Considerando que R é a resistência total do enrolamento, as perdas são dadas por:

N1 N2
P = RI12 + RI22
N
1 + N 2 N 1 + N 2
1 1
= 1− RIe2 + R (Is − Ie )2
a a
 
a−1 1
= RIe2 + R (a − 1)2 Ie2
a a
= RIe2 (a − 1)

Para a = 1 não há perdas e estas aumentam à medida que a se distancia de 1 (neste
caso a > 1 sempre).

– 17 –
Para o autotrafo elevador:

Ve Is N2
= = =a<1
Vs Ie N1 + N2

As perdas são:

N1 N2
P = RI12 + RI 2
N1 + N2 N1 + N2 2
= (1 − a) RIs2 + aR (Is − Ie )2
 2
a − 1
= (1 − a) RIs2 + aR Is2
a
 
1
= RIs2 −1
a

Para a = 1 não há perdas e estas aumentam à medida que a se distancia de 1 (neste
caso a < 1 sempre).

– 18 –
4.7 Transformador trifásico

◮ Banco trifásico (três transformadores monofásicos) ou Transformador trifásico


(enrolamentos em um único núcleo)

H1 X1 a b c
a

H2 X2 H1 H2 H3
A
H1 X1
b
C
H2 X2
B
H1 X1 X1 X2 X3
c
A C B
H2 X2

◮ Ambos os transformadores mostrados apresentam ligação Y-∆.

◮ Normalmente utiliza-se:

H – enrolamento de alta tensão

X – enrolamento de baixa tensão

◮ O transformador de um só núcleo tem a vantagem de ser mais compacto → menos


material → mais barato.

As ligações são internas → não há meio de alterá-la.

– 19 –
◮ O banco trifásico tem a vantagem da possibilidade de mudança das ligações.

◮ Ligação Y -∆:

É utilizada em transformadores abaixadores de tensão.



Se a relação de espiras for a = N1 /N2 – relação de transformação é a 3 e há uma
defasagem de 30◦ entre as tensões de linha do primário e secundário.

◮ Ligação ∆-Y :

É utilizada em trafos elevadores de tensão.



Se a relação de espiras for a = N1 /N2 – relação de transformação é a/ 3 e há uma
defasagem de 30◦ entre as tensões de linha do primário e secundário.

◮ Ligação ∆-∆:

Permite a ligação em ∆ aberto, ou V -V → caso em que se sabe que a carga vai


crescer no futuro → atende-se a carga atual em ∆ aberto e fecha o ∆ (acrescenta
terceiro transformador ao banco) quando necessário.

◮ Ligação Y -Y :

Ligação raramente usada pois terceiras harmônicas de correntes de excitação


introduzem distorções nas formas de onda.

Este problema pode ser contornado com o aterramento fı́sico dos neutros dos
enrolamentos.

Pode-se contornar o problema também com a instalação de um terceiro


enrolamento, que pode ser usado para outras tarefas, como alimentar a subestação,
por exemplo.

– 20 –
 Exemplo

Considere 3 transformadores monofásicos (1φ) com relação de transformação


Vp /Vs = a. Monte bancos trifásicos (3φ) de transformadores usando as várias ligações
possı́veis e obtenha as relações de transformação e defasagens entre tensões do primário
e secundário. Considere a seqüência de fases ABC.

Tensões nos enrolamentos primários:


√ √
VAN = V ∠0◦ VAB = 3 V ∠30◦ (pois VL = 3 VF ∠30◦ )

VBN = V ∠ − 120◦ VBC = 3 V ∠ − 90◦

VCN = V ∠120◦ VCA = 3 V ∠150◦

(a) Ligação Y -Y

A B a b
+ + + +
1 2 1 2
N n

3 3
+ +

C c

VAN V √ V
=a → Van = ∠0◦ → Vab = 3 ∠30◦
Van a a
VAB
=a
Vab

∗
√ √

IA Vab IA 1
S= 3 VAB IA∗ = 3 Vab Ia∗ → = → =
Ia VAB Ia a

– 21 –
(b) Ligação Y -∆

Ia
A B
+ + Iab
1 2 a +
IA N
1
Ica 3 2 b
+
+
3 c Ibc
+

VAN V
=a → Vab = ∠0◦
Vab a
VAB √
= a 3 ∠30◦
Vab

As tensões do primário estão adiantadas de 30◦ em relação às do secundário.

∗
√ √

IA Vab IA 1
S= 3 VAB IA∗ = 3 Vab Ia∗ → = → = √ ∠30◦
Ia VAB Ia a 3

A defasagem entre as correntes é a mesma das tensões.

– 22 –
Trocando duas fases de alimentação (equivale a considerar a seqüência de fases
ACB):

Ib
B A
+ + Iba
1 2 b +
IB N
1
Icb 3 2 a
+
+
3 c Iac
+

VBN V V
=a → Vab = − ∠ − 120◦ = ∠60◦
Vba a a
VAB √
= a 3 ∠ − 30◦
Vab

As tensões do primário estão atrasadas de 30◦ em relação às do secundário.

∗
√ √

IA Vab IA 1
S= 3 VAB IA∗ = 3 Vab Ia∗ → = → = √ ∠ − 30◦
Ia VAB Ia a 3

A defasagem entre as correntes é a mesma das tensões.

– 23 –
(c) Ligação ∆-Y

Ia
IA
a b
+ +
IAB 1 2
A +
n
1
ICA 3 2 B
+
+ 3
C IBC
+


VAB 3V
=a → Van = ∠30◦
Van a
3V
Vab = ∠60◦
a
VAB a
= √ ∠ − 30◦
Vab 3

As tensões do primário estão atrasadas de 30◦ em relação às do secundário.


IA 3
= ∠ − 30◦
Ia a

A defasagem entre as correntes é a mesma das tensões.

– 24 –
Trocando duas fases de alimentação (equivale a considerar a seqüência de fases
ACB):

Ib
IB
b a
+ +
IBA 1 2
B +
n
1
ICB 3 2 A
+
+ 3
C IAC
+

√ √
VBA 3V 3V
=a → Vbn =− ∠ − 150◦ → Van = ∠ − 30◦
Vbn a a
3V
Vab = ∠0◦
a
VAB a
= √ ∠30◦
Vab 3

As tensões do primário estão adiantadas de 30◦ em relação às do secundário.


IA 3
= ∠30◦
Ia a

A defasagem entre as correntes é a mesma das tensões.

– 25 –
(d) Ligação ∆-∆

IA Ia

A + IAB + Iab
a
1 1
ICA 3 2 B Ica 3 2 b
+ +
+ +
C IBC c Ibc

VAB
=a
Vab
IA 1
=
Ia a

Para circuitos radiais, a consideração da Para circuitos malhados, a defasagem


defasagem de 30% entre tensões de li- faz grande diferença e deve obrigatori-
nha introduzidas pelas ligações Y -∆ e ∆- amente ser levada em consideração.
Y é irrelevante.

Y -∆ Y -∆
138/13,8 kV 138/69 kV

Y -∆
138/69 kV

– 26 –
 Exemplo

Obter a potência complexa fornecida por um gerador trifásico que alimenta uma carga
através de um banco de transformadores ideais e de uma linha de transmissão. O banco
de transformadores é formado por 3 transformadores monofásicos de 20 MVA,
20/200 kV, ∆-Y . O circuito equivalente por fase de linha de transmissão resume-se à
impedância série ZL = 0 + j 100 Ω. A tensão de linha na carga é de 340 kV e a carga
consome 30 MVA com fator de potência 0,8 atrasado.

Diagrama unifilar:

Gerador Trafo LT Carga


∆-Y

Circuito completo:

Gerador Trafo LT Carga


IA Ia
A a a′

1 ZL Zc
IAB 1
B b b′
N ∼ 3 n n′
2 ZL Zc
2
C c c′

3 ZL Zc

60 MVA

20/200 3 kV

– 27 –
Tensão de fase na carga:

340
Va′ n′ = √ ∠0◦ kV (referência angular)
3

Potência complexa por fase na carga:

30
Sc = ∠ cos−1 0,8 = 10 ∠36,87◦ MVA
3

Corrente pela linha de transmissão:

 ∗
Sc
Ia = = 50,94 ∠ − 36,87◦ A
Va ′ n ′

Tensão de fase no lado de alta tensão do transformador:

Van = Va′ n′ + ZL Ia = 199,4 ∠1,17◦ kV

Potência fornecida à carga e à linha de transmissão:

S = 3 (Sc + SL )
= 3 Van Ia∗ = 30,47 ∠38,04◦ MVA

Como o gerador e o transformador são ideais, a potência fornecida pelo gerador é S.


Tensão de linha no lado da baixa tensão do transformador:

VAB 20
= → VAB = 19,94 ∠1,17◦ kV
Van 200

– 28 –
Tensão de fase nos terminais no gerador:

VAB
VAN = √ ∠ − 30◦ = 11,51 ∠ − 28,83◦ kV (seq. fase ABC)
3

Corrente no enrolamento de baixa tensão do transformador:

IAB 200
= → IAB = 509,43 ∠ − 36,87◦ A
Ia 20

Corrente de linha pelo gerador:


IA = 3 IAB ∠ − 30◦ = 882,35 ∠ − 66,87◦ A

Potência complexa fornecida pelo gerador:

S = 3 VAN IA∗ = 30,47 ∠38,04◦ MVA !

Fator de potência visto pelo gerador:

fp = cos 38,04◦ = 0,788

Tensão de linha no gerador:


VL = 11,51 3 = 19,94 kV

– 29 –
4.8 Transformadores de três enrolamentos

◮ Caso particular de transformador de múltiplos enrolamentos.

Transformadores de três enrolamentos são bastante utilizados em sistemas de


potência.

◮ Estrutura básica:

I1 I2

N2 E2

E1 N1

N3 I3 E3

◮ Terceiro enrolamento:

 Baixa tensão

 Pode ser conectado a fonte suporte de potência reativa (condensador sı́ncrono)

 Pode ser utilizado para a alimentação da subestação

 Pode capturar componentes harmônicas e correntes de seqüência zero devido a


desbalanceamentos de carga

– 30 –
x
Rede teste IEEE 14 barras

7 8

◮ Configuração básica de um transformador de três enrolamentos:

I2
I1

N2 E2

E1 N1
N3 I3 E3

– 31 –
◮ As relações entre tensões e correntes são obtidas utilizando-se o mesmo raciocı́nio
que para o transformador de dois enrolamentos.

Para as tensões:

E1 E2 E3
= =
N1 N2 N3

Para as potências, considera-se:

 potência de entrada = potência de saı́da (transformador ideal)

 potência no enrolamento 1 = potência no enrolamento 2 + potência no


enrolamento 3

N1 I1 = N2 I2 + N3 I3

◮ Escrevendo de outra maneira:

N1 N1
E1 = E2 = E3
N2 N3
= a2 E2 = a3 E3

N2 N3
I1 = I2 + I3
N1 N1
I2 I3
= +
a2 a3

– 32 –
cujas equações são atendidas pelo seguinte diagrama:

I2 /a2

I1

I3 /a3
a2 E2
E1
a3 E3

◮ No caso de um transformador real → parâmetros série e shunt são acrescentados ao


diagrama:

Z2 I2/a2

I1 Z1

I3/a3
a2 E2
E1 rc xm Z3
a3 E3

Todos os parametros são vistos pelo lado 1, ou seja, as impedâncias Z2 e Z3 são


valores já refletidos para o lado 1 de acordo com a relação de transformação.

– 33 –
◮ Os parâmetros shunt podem ser determinados através de ensaios de circuito aberto
→ enrolamentos 2 e 3 em aberto, tensão nominal aplicada ao enrolamento 1.

◮ Os parâmetros Z1 , Z2 e Z3 são determinados indiretamente. Os seguintes ensaios


de curto-circuito são realizados:

 Enrolamento 2 em curto, enrolamento 3 em aberto. Corrente nominal no


enrolamento 1 e determinação da impedância vista:

Z12 = Z1 + Z2

 Enrolamento 3 em curto, enrolamento 2 em aberto. Corrente nominal no


enrolamento 1 e determinação da impedância vista:

Z13 = Z1 + Z3

 Enrolamento 3 em curto, enrolamento 1 em aberto. Corrente nominal no


enrolamento 2 e determinação da impedância vista:

Z23 = Z2 + Z3

◮ As equações acima formam um sistema de 3 equações com 3 incógnitas, cuja


solução resulta em:

1
Z1 = (Z12 + Z13 − Z23)
2
1
Z2 = (Z12 + Z23 − Z13)
2
1
Z3 = (Z13 + Z23 − Z12)
2

– 34 –
4.9 Transformadores com tap variável

◮ A finalidade básica de transformadores é a conversão de nı́veis de tensão.

◮ Os transformadores pode ter funções adicionais, como por exemplo o controle de


tensão (potência reativa) em circuitos.

◮ Alguns transformadores têm relação de espiras variável:

posição máxima

posição nominal (tap nominal)

posição mı́nima

V1 V2

– 35 –
◮ Tomando novamente o exemplo do transformador da subestação de distribuição:

Distribuição
Transmissão

Carga

Restante
da rede

∼ Carga

Transformador
com tap variável

– 36 –
◮ Estrutura geral do transformador:

TC
∼ Carga

comutador de tap

+ − TP

retardo de tempo

V ajuste
I

relé regulador de tensão

 TC, TP – transformador de corrente, transformador de potencial, para medição


de corrente e tensão

 V ajuste (tensão de referência, ponto de ajuste, centro de banda) – tensão


desejada no terminal do regulador ou em uma barra remota do alimentador de
distribuição

– 37 –
 Largura de faixa – variação de tensão permitida entre a tensão de referência e a
tensão provocada pela carga. Exemplo: se a tensão é especificada em 127 V e a
margem é de 2 V, o regulador comutará o tap para que a tensão esteja na faixa
[125, 129] V. Isto evita o excesso de acionamentos do comutador de tap

 Temporização (tempo morto) – tempo de espera (delay) para iniciar o


acionamento do comutador de tap. Com este ajuste evita-se a atuação do
comutador para pequenas e rápidas variações de tensão

temporização
atuação do
comutador de tap

largura
referência
de faixa

tempo

– 38 –
 Compensação por queda de tensão na linha (line drop compensation – LDC) –
compensa a queda de tensão da linha entre o regulador de tensão e um centro de
carga determinado, localizado a uma distância elétrica do regulador (RL + j XL )

TC R L + j XL
∼ Carga

comutador de tap

+ − TP

retardo de tempo

V ajuste
R X I

relé regulador de tensão

– 39 –
◮ Autotransformadores reguladores de tensão:

RT


RT

banco de
capacitores

– 40 –
4.9.1 Transformadores reguladores

◮ Diagrama:

Van VAn = Van + ∆Va

∆Va
− +
a A

b B

c C

◮ Nota-se que o transformador série acrescenta ∆V ao valor da tensão V (válido para


as três fases).

◮ A variação em geral é de ±10% → tap variável.

◮ A mudança de tap pode ser feita com o transformador energizado → transformador


com mudança de derivação (tap) sob carga ou TCUL – tap changing under load ou
LTC – load tap changing.

◮ Em geral a mudança de tap é automática e operada por motores que atuam


acionados por relés ajustados para manter a magnitude de tensão em algum ponto
da rede no nı́vel pré-estabelecido. Este ponto da rede é normalmente o lado da
carga do trafo.

– 41 –
4.9.2 Transformadores defasadores

◮ Utilizado para o controle da defasagem entre as tensões no primário e secundário.

◮ Idéia: controlar o fluxo de potência ativa por ele.

◮ Diagrama:

Van
Van + ∆Va

∆Va

Vbn Vbn + ∆Vb


∆Vc
∆Vb

Vcn Vcn + ∆Vc

a ∆Va

∆Vb α
α
b c

∆Vc

– 42 –
◮ A tensão de saı́da da fase a é igual à tensão de entrada somada a uma tensão ∆Va
que é induzida pela tensão de linha Vbc , que por sua vez é defasada de Va de um
ângulo de 90◦ .

◮ O transformador defasador introduz uma defasagem de α entre as tensões de


entrada e saı́da.

4.10 Transformador monofásico em pu

◮ A representação do transformador monofásico em pu será mostrada através de um


exemplo.

 Exemplo

Considerar um transformador monofásico ideal de 4400/220 V, 22 kVA, que alimenta


uma carga nominal no lado de baixa tensão. Obter o circuito em pu.

I1 I2
+ +

O diagrama é: Fonte V1 V2 Carga


− −

4400/220 V

Primário e secundário são eletricamente isolados → valores de base podem ser


escolhidos de maneira independente.

É vantajosa a escolha das tensões de base Vb1 e Vb2 tais que Vb1/Vb2 = a onde a é a
relação de transformação.

– 43 –
Como a potência de entrada é igual à potência de saı́da (desconsiderando as perdas) →
a potência de base deve ser igual para os dois lados. Escolhendo:

Vb1 = 4400 V
Vb2 = 220 V
Sb = 22 kVA

pode-se obter as correntes de base:

Ib1 = Sb /Vb1 = 5 A
Ib2 = Sb /Vb2 = 100 A

Como a mesma potência de base foi escolhida para os dois lados, as correntes de base
dos enrolamentos também seguem a relação Ib1/Ib2 = 1/a.

As impedâncias de base são:

Zb1 = Vb1/Ib1 = 880 Ω


Zb2 = Vb2/Ib2 = 2,2 Ω

Uma certa corrente no enrolamento de alta tensão pode ser expressa em pu como:

I1 I2 /a
i1 = =
Ib1 Ib1
I2 /a I2
= = = i2
Ib2/a Ib2

– 44 –
ou seja, as correntes em pu nos dois enrolamentos são iguais. O mesmo vale para uma
certa tensão no enrolamento de alta tensão:

V1 aV2
v1 = =
Vb1 Vb1
aV2 V2
= = = v2
aVb2 Vb2

ou seja, as tensões em pu nos dois enrolamentos são iguais.

Para as impedâncias:

Z1
z1 =
Zb1
a 2 Z2
= 2 /S
Vb1 b
2
a Z2
= 2 /S
a2 Vb2 b
2
a Z2
=
a2 Zb2
Z2
= = z2
Zb2

ou seja, as impedâncias em pu também são iguais nos dois enrolamentos.

A conclusão é que em pu o transformador passa a ter uma relação de transformação


igual a um (grandezas iguais nos dois enrolamentos) → em pu não há o efeito
transformador, desde que os valores de base sejam escolhidos convenientemente.

– 45 –
 Exemplo

Considere o circuito monofásico contendo um transformador mostrado na figura a


seguir.

G TR LT C

Os dados dos equipamentos são os seguintes:

TR Transformador 13,8/220 kV, 1,5 MVA, rT = 3%, xT = 8%


LT Linha de transmissão rLT = 300 Ω, xLT = 900 Ω
C Carga 1 MVA, fp = 80% indutivo, 200 kV
G Gerador fonte ideal

A carga está operando nas condições nominais. Calcule a tensão no barramento do


gerador, a corrente no circuito e a potência fornecida pelo gerador.

O circuito em pu será:

rT xT rLT xLT

∼ e i zc

O circuito é dividido em duas áreas, referentes aos dois lados do transformador. Nota-se
que os parâmetros do circuito equivalente do transformador já são dados em pu (na
verdade, são dados em valores percentuais), calculados na base nominal do mesmo
(tensões nominais, potência nominal).

– 46 –
Para o lado de baixa tensão do transformador (área 1) tem-se os seguintes valores de
base:

Vb1 = 13,8 kV
Sb = 1,5 MVA

Para o lado de alta tensão do transformador (área 2), escolhe-se convenientemente os


seguintes valores de base:

Vb2 = 220 kV
Sb = 1,5 MVA

Os valores de base de corrente e impedância para as duas áreas são:

Ib1 = Sb /Vb1 = 108,6957 A


Ib2 = Sb /Vb2 = 6,8182 A
2
Zb1 = Vb1 /Sb = 126,96 Ω
2
Zb2 = Vb2/Sb = 32266,6667 Ω

Os parâmetros do transformador são:

rT = 0,03 pu
xT = 0,08 pu

Como a linha de transmissão está na área 2, seus valores em pu são:

rLT = 300/32266,6667 = 0,0093 pu


xLT = 900/32266,6667 = 0,0279 pu

– 47 –
A magnitude de tensão e potência aparente na carga são:

| vC | = 200/220 = 0,9091 pu
| sC | = 1/1,5 = 0,6667 pu

E os respectivos valores complexos são:

vC = 0,9091 ∠0◦ pu
sC = 0,6667 ∠36,87◦ pu

onde se levou em conta o fator de potência da carga e assumiu-se a tensão na carga


como referência angular.

A corrente pelo circuito é dada por:

 ∗
sC
i= = 0,7334 ∠ − 36,87◦ pu
vC

A corrente nos lados de baixa e alta tensões do transformador são:

Ibai xa = 0,7334 · 108,6957 = 79,7 A


Ial ta = 0,7334 · 6,8182 = 5 A

A tensão no barramento do gerador é dada por:

e = vC + (0,03 + 0,0093 + j 0,08 + j 0,0279) i = 0,9807 ∠2,69◦ pu

ou 13,53 kV.

– 48 –
A potência fornecida pelo gerador é:

sG = e i ∗ = 0,7192 ∠39,56◦ pu

o que corresponde a 1,08 MVA com um fator de potência visto pela fonte de 77%
indutivo.

 Exercı́cio

Repetir o exemplo anterior considerando como valores de base 1 MVA e 200 kV no lado
da carga. Calcular também o total de perdas de potência no transformador e na linha de
transmissão. Observação: os valores que já estão em pu devem ser convertidos para as
novas bases.

Resultados: zT = 0,0242 + j 0,0645 pu; sG = 1,0787 ∠39,56◦ pu (1,08 MVA);


Perdas(T +LT ) = 32 + j 87 kVA (linha + transformador).

 Exemplo

Considere o seguinte transformador monofásico:

20/440 kV
500 MVA
x = 5%

– 49 –
Os possı́veis modelos para o transformador são:

j X1 j X2

ou Xi em Ω

modelo 1 modelo 2

A reatância do transformador (x = 5%) foi calculada com base nos valores nominais. Se
for escolhido o modelo 1 (X referido ao lado de baixa tensão), tem-se Vb2 = 20 kV e
Sb = 500 MVA. Então:

2
Vb1 202
X1 = x Zb1 =x = 0,05 · = 0,04 Ω
Sb 500

Caso seja escolhido o modelo 2, ou seja, com X referido ao lado de baixa tensão,
tem-se:

2
Vb2 4402
X2 = x Zb2 =x = 0,05 · = 19,36 Ω
Sb 500

A relação entre as reatâncias é:

X1 0,04 202
= = 0,002066 = 2
= a2
X2 19,36 440

Logo X1 = a2 X2 e os valores em pu são os mesmos, desde que valores de base


convenientes sejam escolhidos. Caso sejam escolhidos valores de base que não estejam
relacionados com os valores nominais do transformador, como:

Vb1 = 25 kV e Sb = 250 MVA

então deve-se primeiro transformar a reatância em Ohms usando a base original e voltar
para pu considerando a nova base. Assim:

– 50 –
velho
novo velho Zb1
x =x novo
Zb1
velho 2

Vb1 novo
Sb1
= x velho
Sb1velho novo 2

Vb1
 velho 2 novo
Vb1 Sb1
= x velho novo velho
Vb1 Sb1

Neste caso:

 2
20 250
x novo = 0,05 · · = 0,016 pu
25 500

4.11 Autotransformadores em pu

◮ O procedimento de análise é idêntico ao do transformador.

Basta escolher como tensões de base as tensões nominais do autotrafo e a relação


de tensões em pu será 1 : 1.

– 51 –
4.12 Transformadores trifásicos em pu

◮ Dados de placa (nominais) do trafo monofásico: V1 , V2 , S, zT (pu ou %, base


nominal).

Dados de placa (nominais) do trafo trifásico: V1L, V2L, S3φ, zT (pu ou %, de fase).

◮ Idéia básica: escolher os valores de base iguais aos valores nominais do trafo.

◮ Considere um banco trifásico de transformadores ligado em Y-Y.

Para cada trafo monofásico do banco tem-se: V1, V2, S, zT .

Para o banco trifásico tem-se os seguintes valores de base:


Vb1 = VN1 = 3V1 Para as bases escolhidas, a impedância do
√ circuito equivalente do trafo trifásico em pu
Vb2 = VN2 = 3V2
é igual a zT .
Sb = 3S = S3φ

◮ Considere agora um banco trifásico de transformadores ligado em Y-∆.

Os valores de base para o banco são:


Vb1 = VN1 = 3V1
Novamente, a impedância do circuito equi-
Vb2 = VN2 = V2 valente do trafo trifásico em pu é igual a zT .
Sb = 3S = S3φ

– 52 –
 Exemplo

Considere o diagrama unifilar do circuito trifásico a seguir.

Vg 500 kV
∼ 9 MVA
Y-Y x = 1000 Ω fp = 1
10 MVA
15/500 kV
xT = 2%

Calcule a tensão Vg no barramento do gerador e o fator de potência visto pelo gerador.

Transformando o diagrama unifilar em um circuito trifásico tem-se:

XT 1 1 XL Pc

Pc = 3 MW
XT 2 2 XL Pc
∼ XL = 1000 Ω
2 152
XT 3 3 XL Pc XT = · = 0,45 Ω
100 10

– 53 –
O circuito por fase é:

XT XL

∼ 1 1 Vc P

√ √
15/ 3 : 500/ 3 kV
10/3 MVA

Área 1 Área 2

Para esse circuito tem-se:


Vc = 500/ 3 ∠0◦ kV (ref. angular)

Área 1 : Sb = 10/3 MVA → Zb1 = 22,5 Ω



Vb1 = 15/ 3 kV Ib1 = 384,9 A

Área 2 : Sb = 10/3 MVA → Zb2 = 25 kΩ



Vb2 = 500/ 3 kV Ib2 = 11,55 A

O circuito em pu fica:

xT xL vc = 1 ∠0◦ pu
3
+ + sc = = 0,9 ∠0◦ pu
i 10/3
∼ vg vc sc 1000
xL = = 0,04 pu
25000
− − 0,45
xT = = 0,02 pu
22,5

Portanto:

– 54 –
i = (sc /vc )∗ = 0,9 ∠0◦ pu (346,4 A no primário e 10,4 A no secundário)
vg = vc + j (xT + xL ) i = 1,0015 ∠3,1◦ pu
fp = cos (3,1◦ − 0◦) = 0,9985 (indutivo)

A tensão no barramento do gerador é igual a 8,7 kV (fase-neutro) e 15,02 kV


(fase-fase).

Maneira mais direta de resolver o problema:

Vb1 = 15 kV
Zb1 = 22,5 Ω Ib1 = √Sb = 384,9 A
3Vb1
Vb2 = 500 kV → → S
Zb2 = 25 kΩ Ib2 = √ b
3Vb2
= 11,55 A
Sb = 10 MVA

Circuito em pu (direto a partir do diagrama unifilar):

xT xL
xT = 0,02 pu
1000
+ + xL = = 0,04 pu
i 25000
∼ vg vc sc vc = 1 ∠0◦ pu
9
− − sc = = 0,9 ∠0◦ pu
10

e o procedimento de resolução é o mesmo que o anterior. Logo, para problemas


envolvendo transformadores trifásicos não é necessário obter o modelo por fase, etc.
Basta escolher os valores de base adequados.

– 55 –
 Exemplo

Resolver o mesmo problema do exemplo anterior, considerando agora o transformador


com ligação Y-∆ e seqüência de fases ABC.

O circuito é:

XT IB
B′
B Ia xL Sc
a a′
XT IA
A′
A + + 1
+ 1 2 Ica Ib xL
Iab b b′ Sc
N′ 3 + n′
Ibc
+ Ic
IC 3 2 xL Sc
XT C ′
+
c c′
C
n
N

em que Sc = 3 ∠0◦ MVA.

 √
V = 500/ 3 ∠0◦ kV
 an
 ′ ′


Vb′n′ = 500/ 3 ∠ − 120◦ kV
 V ′ ′ = 500/√3 ∠120◦ kV


cn

 √
 Ia = (Sc /Va′ n′ )∗ = 6 3 ∠0◦ A



Ib = (Sc /Vb′n′ )∗ = 6 3 ∠ − 120◦ A
 I = (S /V ′ ′ )∗ = 6√3 ∠120◦ A


c c cn

– 56 –
Como, para a ligação Y-∆ e seqüência de fases ABC, tem-se:

√ IL
IL = If 3 ∠ − 30◦ → If = √ ∠30◦
3

I = 6 ∠30◦ A
 ab


Ibc = 6 ∠ − 90◦ A

 I = 6 ∠150◦ A

ca

 √
 V an = V a ′ n ′ + jXL Ia = 500,32/ 3 ∠2,06◦ kV



Vbn = Vb′ n′ + jXL Ib = 500,32/ 3 ∠ − 117,94◦ kV
 V = V ′ ′ + jX I = 500,32/√3 ∠122,06◦ kV


cn cn L c

 √ ◦
√ ◦

 V ab = 500,32/ 3 ∠32,06 kV V L = V f 3 ∠30



Vbc = 500,32/ 3 ∠ − 87,94◦ kV
 V = 500,32/√3 ∠ − 122,06◦ kV


ca

√ 
A relação de transformação de cada transformador monofásico é 15/ 3 /500, logo:


VA′ N ′ 15/ 3
= → VA′ N ′ = 8,67 ∠32,06◦ kV
Vab 500
e:

(
VB′ N ′ = 8,67 ∠ − 87,94◦ kV
VC ′N ′ = 8,67 ∠152,06◦ kV

V ′ ′ = 15,01 ∠62,06◦ kV
 AB


VB′ C ′ = 15,01 ∠ − 57,94◦ kV

 V ′ ′ = 15,01 ∠ − 177,94◦ kV

CA

Para as correntes de linha no primário:

– 57 –
IA 500
= √ → IA = 346,41 ∠30◦ A
Iab 15/ 3

e:

(
IB = 346,41 ∠ − 90◦ A
IC = 346,41 ∠150◦ A

As tensões de fase na fonte são:

VAN = VA′ N ′ + jXT IA = 8,67 ∠33,1◦ kV

e:

(
VBN = 8,67 ∠ − 86,94◦ kV
VCN = 8,67 ∠153,06◦ kV

V = 15,02 ∠63,06◦ kV
 AB


VBC = 15,02 ∠ − 56,94◦ kV

 V = 15,02 ∠ − 176,94◦ kV

CA

A relação de transformação para o transformador é:

VA′ B′ 15
= ∠30◦ → defasagem entre tensões do primário e secundário
Vab 500

IA 500
= ∠30◦ → defasagem entre correntes do primário e secundário
Ia 15

– 58 –
Resolvendo o problema em pu tem-se o seguinte circuito:

xT xL
1 ∠30◦
+ + + +
i1 ic
∼ vg v1 v2 vc sc

− − − −

em que o bloco 1 ∠30◦ representa a defasagem introduzida em função do tipo de ligação.

Logo:

sc = 0,9 ∠0◦ pu
vc = 1,0 ∠0◦ pu
ic = (sc /vc )∗ = 0,9 ∠0◦ pu
v2 = vc + jxLic = 1,0006 ∠2,06◦ pu
v1 = v2 ∠30◦ = 1,0006 ∠32,06◦ pu
i1 = ic ∠30◦ = 0,9 ∠30◦ pu

vg = v1 + jxT i1 = 1,0015 ∠33,1◦ pu

que equivale a 15,02 kV.

vg e i1 foram igualmente defasados de 30◦. Assim, tem-se os mesmos valores de


potência complexa, fator de potência, etc.

– 59 –
4.13 Transformadores em pu com relação 1 : α

◮ Procura-se escolher os valores de base convenientemente de forma a eliminar os


transformadores do circuito.

Na realidade elimina-se o transformador ideal, mantendo os parâmetros do mesmo.

◮ Em alguns casos, no entanto, esta eliminação não é possı́vel, como mostra o


exemplo a seguir.

 Exemplo

Obtenha o circuito em pu referente ao diagrama unifilar a seguir.

Área 1 Área 2

11,9/34,5 kV
15 kVA

T1

T2

13,8/34,5 kV
1 15 kVA 2

– 60 –
A idéia é dividir o circuito em duas áreas e utilizar como valores de base os valores
nominais dos transformadores.

No entanto, nota-se que na área 1 há dois valores nominais diferentes.

Tomando T1 como referência, define-se:

Sb = 15 kVA
Vb1 = 11,9 kV
Vb2 = 34,5 kV

e T1 será eliminado, pois Vb1/Vb2 = a1.

Observando o lado de baixa tensão de T2, nota-se que a sua tensão nominal é diferente
de Vb1 , embora pertença à área 1. Logo, T2 não poderá ser eliminado, sendo
representado como um transformador com relação de transformação 1 : α em pu!

Considere que v1 e v2 sejam as tensões em pu nos barramentos 1 e 2. As tensões em


Volts serão:

V1 = v1 Vb1 e V2 = v2 Vb2

– 61 –
A relação entre as tensões deverá ser igual à relação de transformação de T2:

V1 v1 Vb1 13,8
= = a2 = = 0,4
V2 v2 Vb2 34,5

Logo:

v1 Vb2 34,5 1 1
= 0,4 = 0,4 · = 1,16 = ou v1 = v2
v2 Vb1 11,9 0,86 0,86

e o circuito em pu fica:


T2

1 : 0,86
1 2

Para transformadores reais, o procedimento é o mesmo.

– 62 –
Pode-se enxergar o problema sob outro ponto de vista, redesenhando o diagrama unifilar
como:

Área 1 Área 2

11,9/34,5 kV
15 kVA

T1

T2

13,8/11,9 kV 11,9/34,5 kV
1 15 kVA 2

Utilizando os mesmos valores de base definidos anteriormente, mantém-se a eliminação


de T1 e parte de T2, ou seja:


T2

1,16 : 1 1:1
1 2

pode ser eliminado

– 63 –
4.14 Transformadores com tap variável em pu

◮ Posição do tap é alterada → relação de transformação é alterada.

Para a relação de transformação em pu continuar 1 : 1 os valores das tensões de


base devem ser alterados → inaceitável, pois implica em um novo cálculo de vários
parâmetros do circuito sendo estudado.

◮ Idéia:

 Escolher as tensões de base supondo que o tap está na posição nominal (zero)
→ relação de tensão nominal do autotrafo.

 Manter as bases de tensão fixas e representar o autotrafo com tap fora do


nominal através de uma trafo com relação de espiras 1 : α, onde α é variável.

◮ Considere um transformador com a seguinte relação de transformação:

N1 VN1
a= =
N2 VN2

em que N1 e N2 são os números de espiras nos enrolamentos e VN1 e VN2 são as


tensões nominais nos dois lados do transformador.

◮ Na representação em pu, escolhem-se como tensões de base:

Vb1 = VN1 e Vb2 = VN2

e a relação de transformação em pu é 1 : 1.

– 64 –
◮ Se V1 e V2 são tensões nos dois lados do transformador e v1 e v2 são os seus
respectivos valores em pu, as seguintes relações são válidas:

V1
V2 = e v2 = v1
a

◮ Considere agora que este transformador seja de tap variável para o qual a situação
descrita anteriormente é válida para o tap na sua posição nominal.

◮ Caso ocorra uma mudança da posição do tap tal que:

N2 → N2 + ∆N2

a a nova relação de transformação


b ∆N2
será:
V1 N1 +
N2 V2
N1
a′ =
− − N2 + ∆N2

– 65 –
◮ Para uma mesma tensão V1 em um dos enrolamentos, a nova tensão no outro
enrolamento será dada por:

N2 + ∆N2
V2′ = V1
N1
N2 ∆N2
= V1 + V1
N1 N1
∆N2
= V2 + V1 (da relação para tap nominal)
N1
N1 ∆N2
= V2 + V2
| {zN2} N1
V1
 
∆N2
= V2 1+
N2
= V2 (1 + t) ← t = tap fora do nominal (off-nominal tap)
= V2 α

em que α leva em conta a mudança da posição do tap em relação aos valores


nominais.

◮ Transformando em pu:

V2′ V2
= α
Vb2 Vb2
v2′ = v2 α
= v1 α (pois v1 = v2)

– 66 –
◮ O circuito em pu fica (trafo real com parâmetros shunt desprezados):

zT

+
V1
V2

− −

1:α

 Exemplo

Considere o transformador de tap variável mostrado a seguir.

1 2

100 MVA
220/69 kV
xT = 8%

O comutador de tap é localizado no lado de baixa tensão e tem 20 posições, com tap
variando de ±5%. Representar o transformador em pu na situação em que o tap está na
posição +2.

– 67 –
Considere os valores de base iguais aos valores nominais do transformador:

Sb = 100 MVA
Vb1 = 220 kV
Vb2 = 69 kV

De acordo com as especificações do comutador de tap:

• posição central → tap nominal.

• 10 posições para variação de +5% → cada posição equivale a +0,5%.

• 10 posições para variação de −5% → cada posição equivale a −0,5%.

O comutador de tap está na posição +2 → corresponde a uma variação no número de


espiras de +1%:

∆N2
= t = 0,01
N2

Logo:

α = 1 + t = 1,01

– 68 –
e o circuito do trafo em pu é:

0,08 pu

Vb1 = 220 kV
v1 v2 Vb2 = 69 kV
Sb = 100 MVA

1 : 1,01

 Exemplo

Considere o circuito mostrado a seguir.

Vs V1 V2 Vc = 500 kV

100 MVA
j0,1 120 MVA j0,1 fp = 1
500 kV
xT = 12%

A tensão no barramento de carga é mantida constante em 500 kV. O transformador


regulador tem tap no lado da carga com 10 posições, variando de ±5%.

– 69 –
(a) Calcule a tensão Vs considerando que a posição do tap é a nominal.

Os valores de base são definidos como:

Sb = 100 MVA e Vb = 500 kV

Deve-se então corrigir o valor da reatância do transformador, pois o valor fornecido


foi calculado em outra base:

5002 100
xT = 0,12 · · = 0,1 pu
120 5002

E o circuito em pu fica:

vs v1 v2 vc = 1 ∠0◦ pu

j0,1 j0,1 j0,1 sc = 1 ∠0◦ pu

Dados da carga:

sc = 1 ∠0◦ pu
vc = 1 ∠0◦ pu (referência angular)

Corrente pelo circuito:

i = (sc /vc )∗ = 1 ∠0◦ pu

– 70 –
No secundário do transformador:

v2 = vc + j 0,1 i
= 1 + 0,1 ∠90◦ = 1,005 ∠5,71◦ pu

No primário do transformador:

v1 = v2 + j xT i
= vc + j 0,2 i = 1,02 ∠11,31◦ pu

Na fonte:

vs = v1 + j 0,1 i
= vc + j 0,3 i = 1,044 ∠16,7◦ pu

que equivale a 522 kV. A potência entregue na barra é:

s = vs i ∗ = 1,044 ∠16,7◦ pu = 1 + j 0,3 pu

ou seja, 100 MW e 30 Mvar. Note que a carga não consome potência reativa (fator
de potência unitário). Os 30 Mvar obtidos correspondem a perdas de potência nas
linhas de transmissão e transformador.

– 71 –
(b) Calcule a tensão Vs considerando agora que a posição do tap é +5%.

Tem-se a seguinte situação:

+5%

posição nominal (tap nominal)

V2

V1

Sendo N o número de espiras do enrolamento na situação de tap nominal, tem-se


na nova situação:

V1 N 1
= =
V2 N + 0,05N 1,05

Portanto o circuito em pu fica:

vs v1 v1′ v2 vc = 1 ∠0◦ pu

j0,1 j0,1 1 : 1,05 j0,1 sc = 1 ∠0◦ pu

Corrente no lado da carga:

i = (sc /vc )∗ = 1 ∠0◦ pu

No secundário do transformador:

– 72 –
v2 = vc + j 0,1 i
= 1 + 0,1 ∠90◦ = 1,005 ∠5,71◦ pu

No primário do transformador:

v1′ 1
=
v2 1,05
v2
v1′ = = 0,9571 ∠5,71◦ pu
1,05
i′
= 1,05
i
i ′ = 1,05 i = 1,05 ∠0◦ pu

v1 = v1′ + j xT i ′ = 0,9732 ∠11,87◦ pu

Na fonte:

vs = v1 + j 0,1 i ′ = 1,0 ∠17,77◦ pu

que equivale a 500 kV. A potência entregue na barra é:


s = vs (i ′ ) = 1,05 ∠17,77◦ pu = 1 + j 0,32 pu

ou seja, 100 MW e 32 Mvar. Note que a tensão na carga é mantida com uma
tensão Vs menor, porém, a injeção de potência reativa é maior.

– 73 –
4.15 Operação de transformadores em paralelo

◮ Considerar dois transformadores conectados em paralelo:

1 2
11,9 : 34,5 kV

T1

T2

A B 11,9 : 34,5 kV

chave

◮ Para cálculos em por unidade, divide-se o circuito em duas áreas para a definição
dos valores de base:

área 1 área 2
1 2
11,9 : 34,5 kV

T1

T2

A B 11,9 : 34,5 kV

Vb1 = 11,9 kV Vb2 = 34,5 kV

– 74 –
Os valores das tensões de base são escolhidos de forma que a relação entre eles seja
igual à relação de transformação dos transformadores. Em particular, foram
escolhidas as próprias tensões nominais dos transformadores. Em por unidade
tem-se:

1 2
1:1

T1

T2

A B 1:1

Transformadores reais são representados pelas suas respectivas reatâncias1:

1 2
j x1

T1

T2
A B j x2

1 Para transformadores de potência as perdas ferro e de magnetização são desprezadas. As perdas cobre também são em geral desprezadas.

– 75 –
◮ Considere que o transformador T2 tenha a sua relação de transformação aumentada
para (12,5 : 34,5 kV), através de uma mudança na posição do tap:

1 2
11,9 : 34,5 kV

T1

T2

A B
12,5 : 34,5 kV

Pode-se representar T2 da seguinte forma:

1 2
11,9 : 34,5 kV

T1

T2

A B 12,5 : 11,9 kV 11,9 : 34,5 kV

– 76 –
Dividindo o circuito em duas áreas:

área 1 área 2
1 2
11,9 : 34,5 kV

T1

T2

A B 12,5 : 11,9 kV 11,9 : 34,5 kV

Vb1 = 11,9 kV Vb2 = 34,5 kV

Em por unidade tem-se:

1 2
1:1

T1

T2

A B 1,05 : 1 1:1

12,5/11,9

– 77 –
Considerando as reatâncias dos transformadores:

1 2
j x1

T1

T2

A B 1,05 : 1 j x2

Verifica-se que o transformador com a posição do tap fora da nominal deve ser
representado em por unidade com uma relação (1,05 : 1) ou (1 : 0,952). Considere
agora que a chave AB seja aberta:

1 2
j x1

v
+ AB − T1
V
T2

A B vx j x2
1,05 : 1
v1 v2

– 78 –
Devido à alteração na posição do tap de T2, aparece uma tensão sobre os terminais
da chave:

vAB = vA − vB
= v1 − 1,05 vx
= v1 − 1,05 v2
= v1 − 1,05 v1
= −0,05 v1

A impedância vista pelos terminais A e B é:

zvista = j (x1 + x2) = zloop

Logo, tem-se:

zloop

A
+

∼ vAB V

B

– 79 –
Se a chave AB for novamente fechada, circulará uma corrente pelo circuito:

zloop

A
+

∼ vAB iloop

B

A corrente vale:

vAB
iloop =
zloop

Voltando ao diagrama unifilar do circuito, tem-se:

1 2
j x1

T1
iloop

T2

A B 1,05 : 1 j x2

em que iloop é uma corrente de circulação. Ao alterar-se a posição do tap de T2,


apareceu uma corrente de circulação, que é limitada pelas reatâncias dos
transformadores.

– 80 –
Sistemas de potência tı́picos são malhados, ou seja, existem vários loops e caminhos
paralelos para os fluxos de potência. Esta caracterı́stica confere maior flexibilidade
de operação e confiabilidade aos sistemas. Além disso, as tensões de transmissão e
nı́veis de potência têm aumentado ao longo dos anos, e os novos equipamentos são
conectados e operam juntamente com os equipamentos existentes. Assim, é natural
que se encontre loops ou caminhos paralelos que incluem transformadores.

Cuidados especiais devem ser tomados durante a fase de projeto a fim de evitar as
correntes de circulação. A configuração que poderia ser chamada de normal
conteria transformadores em paralelo com as mesmas relações de transformação.
No entanto, há situações em que introduz-se alterações nas relações de
transformação2 a fim de atender requisitos especı́ficos de operação.

2 Alterações na relação de transformação são obtidas através da mudança na posição dos taps dos transformadores. Dependendo do tipo de transfor-

mador, essa alteração pode resultar em diferentes magnitudes de tensão (transformador regulador) ou em defasagens entre as tensões (transformador
defasador).

– 81 –
4.16 Representação computacional do trafo com tap variável

◮ Em algumas aplicações é interessante classificar linhas de transmissão e


transformadores em uma mesma classe de equipamentos → ambos conectam dois
nós (duas barras) da rede.

◮ É conveniente representá-los por um mesmo modelo e tratá-los de maneira idêntica.

◮ Exemplo: problema de fluxo de carga → resolução do circuito para obtenção do seu


estado de operação.

◮ Como a linha é representada por um modelo π → deve-se representar o trafo


também por um modelo π.

◮ Procedimento: considerar o seguinte trafo:

i1 i2
z

+ + +

s1 v1 s1′ v1′ v2 s2

− − −

1:α

– 82 –
Tem-se as seguintes relações:

v1′ 1
=
v2 α

s1′ + s2 = 0
s1′ = −s2
v1′ i1∗ = −v2 i2∗
v1′ i1∗ = −α v1′ i2∗
i1
= −α
i2

As equações para as correntes são:

v1 − v1′ 1 1
i1 = = v1 − v2 (1)
z z αz
i1 1 1
i2 = − = − v1 + 2 v2 (2)
α αz α z

– 83 –
Considere agora o modelo π do trafo:

i1 is i2

+ z1 +

v1 ip2 z2 z3 ip3 v2

− −

◮ Para o modelo π:

i1 = is + ip2
1 1
= (v1 − v2 ) + v1
z1 z2
i2 = −is + ip3
1 1
=− (v1 − v2 ) + v2
z1 z3

Reescrevendo de maneira apropriada:

 
1 1 1
i1 = + v2 v1 − (3)
z1 z2 z1
 
1 1 1
i2 = − v 1 + + v2 (4)
z1 z1 z3

– 84 –
◮ Deve-se igualar os coeficientes das equações (1) com (3) e (2) com (4):

1 1
− =−
z1 αz
1 1 1
+ =
z1 z2 z
1 1 1
+ = 2
z1 z3 αz

que resulta em:

z1 = αz
 
α
z2 = z
α−1
 2 
α
z3 = z
1−α

 Exemplo

Um autotransformador trifásico com comutador de tap apresenta os seguintes dados de


placa:
220/22 kV 300 MVA
x = 6% Comutador no lado de BT, ±20%, 10 posições
Obtenha o modelo π equivalente do transformador para que se tenha tensões de 220 kV
e 18,2 kV em vazio.

– 85 –
Considerando os seguintes valores de base:

Sb = 300 MVA
Vb1 = 220 kV
Vb2 = 22 kV

tem-se o seguinte modelo para o transformador:

x = 0,06

+ +

v1 v2

− −

1:α

em que α representa a posição do tap. Para o tap na posição nominal tem-se:

220/22 kV

Para as condições especificadas no problema, tem-se:

220/18,2 kV

– 86 –
que pode ser representado por:

220/22 kV 22/18,2 kV

Transformando os valores de tensão em pu:

1:1 1 : 0,8273 1 : 0,8273

Como o comutador apresenta posições de tap discretas, deve-se escolher o valor mais
apropriado:

valor discreto mais próximo


1,00

1,12

1,20
1,04

1,16
1,08
0,80

0,92
0,84

0,96
0,88

0,8273

– 87 –
O modelo π fica:

+ j0,0504 +

v1 −j0,3150 j0,2646 v2

− −

Como a tensão no secundário é MENOR que o valor nominal, o parâmetro z3


corresponde a um INDUTOR.

 Exercı́cio

Repita o exemplo anterior considerando que deseja-se ter uma tensão de 25 kV no


secundário do transformador.

 Exercı́cio

No caso do transformador do exemplo anterior, determine a maior tensão possı́vel no


secundário (em vazio) e o obtenha o modelo π correspondente a essa situação.

– 88 –
4.17 Fluxos de potência ativa e reativa em transformadores

◮ Considere o modelo π do transformador:

Ek = Vk ∠θk Em = Vm ∠θm
Ikm y /α Imk

I2 I3
I1
α−1 1−α
 
α y α2 y

As correntes são dadas por:

Ikm = I1 + I2
y α−1
= (Ek − Em ) + y Ek
α α
 y
= (y ) Ek + − Em
α

Imk = −I1 + I3
y 1−α
= − (Ek − Em ) + y Em
α α2
 y y 
= − Ek + Em
α α2

– 89 –
Potência saindo do barramento k:


Skm = Ek∗ Ikm
h  y i

= Ek y Ek + − Em
α
1
= (g + jb) Vk2 − (g + jb) Vk Vm (cos θkm − j sen θkm )
α
Vk Vm
Pkm = gVk2 − (g cos θkm + b sen θkm )
α
Vk Vm
Qkm = −bVk2 − (g sen θkm − b cos θkm )
α

Potência saindo do barramento m:

∗ ∗
Smk = Em Imk
h y  y  i

= Em − Ek + Em
α α
1 1
= 2 (g + jb) Vm2 − (g + jb) Vk Vm (cos θkm + j sen θkm )
α α
g 2 Vk Vm
Pmk = V − (g cos θkm − b sen θkm )
α2 m α
b Vk Vm
Qmk = − 2 Vm2 + (g sen θkm + b cos θkm )
α α

◮ As perdas de potência podem ser calculadas por:

Pperdas = Pkm + Pmk


Qperdas = Qkm + Qmk

– 90 –
4.18 Referências

◮ A.L.M. França, notas de aula, 1989.

◮ C.A. Castro, M.R. Tanaka, Circuitos de corrente alternada – um curso introdutório,


Unicamp, 1995.

◮ A.J. Monticelli, A.V. Garcia, Introdução a sistemas de energia elétrica, Unicamp,


1999.

◮ J.D. Glover, M. Sarma, Power system analysis and Design, PWS-Kent, 1989.

◮ J.J. Grainger, W.D. Stevenson, Power System Analysis, McGraw-Hill, 1994.

◮ I.L. Kosow, Máquinas elétricas e transformadores, Globo, 1972.

◮ O.I. Elgerd, Introdução à teoria de sistemas de energia elétrica, Mc-Graw-Hill, 1981.

◮ L.N. Padilha, Análise comparativa de estratégias para regulação de tensão em


sistemas de distribuição de energia elétrica na presença de geradores distribuı́dos,
Dissertação de Mestrado, Escola de Engenharia de São Carlos/USP, 2010.

– 91 –
ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I
1 Semestre 2011
Capı́tulo 5 – Linhas de transmissão – Parte 1

5.1 Introdução

◮ Componentes de uma linha de transmissão:


(4)
(1) condutores
(2) isoladores (cadeia de isoladores de porcelana
ou vidro) (1)

(3) estruturas de suporte (torres, postes)


(2) (3)
(4) cabos pára-raios (cabos de aço colocados no
topo da estrutura para proteção contra raios)

5.2 Classes de tensão

◮ Sigla Denominação Valores tı́picos de tensão (de linha)


LV low voltage < 600 V
MV medium voltage 13,8 23 34,5 69 kV
HV high voltage 115 138 230 kV
EHV extra high voltage 345 440 500 600DC 765 kV
UHV ultra high voltage 1100 kV

–1–
5.3 Tipos de condutores

◮ Material

No passado: cobre

Atualmente: cobre, alumı́nio(∗)


(∗)
mais barato, mais leve, requer área da seção reta maior que o cobre para as
mesmas perdas

◮ Aéreos, subterrâneos

◮ Unidades mais comumente usadas:

 comprimento: metro [m], pé (foot) [ft], milha (mile) [mi]

1 ft = 0,3048 m
1 mi = 1609 m

 área da seção reta: milimetro quadrado [mm2 ], circular mil [CM](∗)


(∗)
1 CM = área de um condutor de um milésimo de polegada (mil) de diâmetro

–2–
◮ Condutores de alumı́nio (linhas aéreas):

Sigla (Inglês/Português) Significado (Inglês/Português)


AAC / CA all aluminum conductor (alumı́nio puro)
AAAC / AAAC all aluminum alloy conductor (liga de alumı́nio pura)
ACSR / CAA aluminum conductor steel reinforced (alumı́nio com
alma de aço)
ACAR / ACAR aluminum conductor alloy reinforced (alumı́nio com
alma de liga de alumı́nio)
outros para aplicações especiais

 ACSR (alumı́nio com alma de aço): aço mais barato que alumı́nio, a alma de aço
o faz ser mais resistente à tração (admite lances maiores) → é o mais utilizado

–3–
 liga de alumı́nio: alumı́nio + magnésio/silı́cio, por exemplo

 os condutores são nus (não há camada isolante)

 condutores são torcidos para uniformizar a seção reta. Cada camada é torcida
em sentido oposto à anterior (evita que desenrole, empacotamento é melhor)

ACSR (CAA) AAC (CA)

 Cabos de cobre (linhas subterrâneas): sólidos ou encordoados. Condutores


isolados com papel impregnado em óleo. Existem outros tipos de isolação

–4–
 Cabos ACCC (Aluminum Composite Conductor Core) – núcleo de carbono
envolvido por fibra de vidro. As fibras de carbono esticam menos que o aço. A
fibra de vidro não resulta na corrosão tı́pica que ocorre no contato aço/alumı́nio

alumı́nio

alumı́nio

alma de aço composto


condutor ACCC ACSR tradicional condutor ACCC

• Mais caro

• Maior capacidade de corrente

• Menor sag

Sag

–5–
 Exemplo

Determine a área de alumı́nio e a área externa total do condutor ACSR 26/7 Linnet em
cm2 .

De acordo com a tabela A.3, o condutor Linnet apresenta as seguintes caracterı́sticas:


Área de alumı́nio : 336.400 CM
Diâmetro externo : 0,721 in2

Calculando a área de alumı́nio em cm2:

0,001 2
in2

1 CM = π 2 ⇒
SAl = 0,264 in2 = 1,7 cm2
336.400 CM = SAl
que corresponderia a um condutor de alumı́mio de 1,47 cm de diâmetro. A área externa
total é:

 2
0,721
Sext = π = 0,408 pol2 = 2,634 cm2
2

Visualizando:

diâmetro equivalente
de alumı́nio diâmetro externo
1,47 cm 1,83 cm

–6–
5.4 Projeto de linhas de transmissão

◮ Fatores elétricos:

Determinam o tipo de condutor, a área e o número de condutores por fase

Capacidade térmica: condutor não deve exceder limite de temperatura, mesmo sob
condições de emergência quando pode estar temporariamente sobrecarregado

Número de isoladores: manter distâncias fase-estrutura, fase-fase etc. Deve operar


sob condições anormais (raios, chaveamentos etc.) e em ambientes poluı́dos
(umidade, sal etc.)

Esses fatores determinam os parâmetros da linha relacionados com o modelo da


linha

◮ Fatores mecânicos:

Condutores e estruturas sujeitos a forças mecânicas (vento, neve etc.)

◮ Fatores ambientais:

Uso da terra (valor, população existente etc.)

Impacto visual (estético)

◮ Fatores econômicos:

Linha deve atender todos os requisitos a um mı́nimo custo

–7–
5.5 Parâmetros das linhas de transmissão

campo elétrico
torre

isoladores

ifuga

condutor campo magnético


i

◮ Resistência (R)

Dissipação de potência ativa devido à passagem de corrente

◮ Condutância (G)

Representação de correntes de fuga através dos isoladores (principal fonte de


condutância) e do efeito corona

Depende das condições de operação da linha (umidade relativa do ar, nı́vel de


poluição, etc.)

O efeito corona ocorre quando campos elétricos muito intensos na superfı́cie do


condutor causam a ionização do ar, que se torna um condutor

É muito variável, em função dos fatores acima

Seu efeito é em geral desprezado (sua contribuição no comportamento geral de


operação da linha é muito pequena)

–8–
◮ Indutância (L)

Deve-se aos campos magnéticos criados pela passagem das correntes

◮ Capacitância (C)

Deve-se aos campos elétricos: carga nos condutores por unidade de diferença de
potencial entre eles

◮ Com base nessas grandezas que representam fenômenos fı́sicos que ocorrem na
operação das linhas, pode-se obter um circuito equivalente (modelo) para a mesma,
como por exemplo:

R X

Fonte G C G C Carga

Linha de transmissão

5.6 Resistência (R)

◮ Causa a dissipação de potência ativa:

potência dissipada no condutor


R= 2
Ief

–9–
◮ Resistência CC:

ρ − resistividade do material (Ω · m)

R0 = ρ Ω ℓ − comprimento (m)
A
A − área da seção reta (m2 )

◮ Cobre recozido a 20◦: ρ = 1,77 × 10−8 Ω · m

Alumı́nio a 20◦: ρ = 2,83 × 10−8 Ω · m

◮ ρ depende da temperatura → R0 varia com a temperatura (ρ aumenta → R0


aumenta):

R2 T + t2
=
R1 T + t1

em que a constante T depende do material:



 234,5 cobre recozido com 100% de condutividade
T = 241,0 cobre têmpera dura com 97,3% de condutividade
228,0 alumı́nio têmpera dura com 61% de condutividade

t
t1

t2

R1 R2 R

– 10 –
◮ R0 aumenta de 1 a 2% para cabos torcidos (fios de alumı́nio torcidos, p.ex. cabos
ACSR)

Para se ter x metros de cabo, necessita-se de 1,01x a 1,02x metros de fios para
depois agrupá-los e torcê-los

◮ Em corrente alternada a distribuição de corrente não é uniforme pela seção reta do


condutor → a corrente concentra-se na periferia do condutor

“Área útil” para passagem da corrente diminui → RAC > R0 → efeito pelicular
(“skin effect”)

 Exemplo

Um cabo AAAC Greeley (6201-T81) apresenta as seguintes caracterı́sticas (dados de


tabela):
resistência CC a 20◦ 0,07133 Ω/km

resistência CA a 50 0,08202 Ω/km
coeficiente de variação com a temperatura (α) 0,00347 ◦ C−1
Calcule o aumento percentual da resistência devido ao efeito pelicular, considerando a
seguinte equação para a variação da resistência em função da temperatura:

R2 = R1 [1 + α (t2 − t1 )]

A resistência CC a 50◦ é:

R050 = R020 [1 + α (50◦ − 20◦ )]


= 0,07133 · [1 + 0,00347 · (50◦ − 20◦)] = 0,07876 Ω/km

– 11 –
A relação entre as resistências CA (dada) e CC (calculada) a 50◦ é:

50
RCA 0,08202
= = 1,0414
R050 0,07876

ou seja, o efeito pelicular faz com que a resistência CA aumente em 4,14%

5.7 Indutância (L)

◮ Relacionada com os campos magnéticos produzidos pela passagem de corrente pelo


condutor → corrente produz campo magnético

H
H

⊗i

H
i H

– 12 –
◮ Fluxo concatenado com uma corrente (λ): é aquele que enlaça a corrente lı́quida

 Fluxo concatenado externo ao condutor: a corrente produz um campo


magnético (φ). O fluxo externo concatenado com a corrente enlaça toda a
corrente, portanto:

fluxo magnético (φ)

⊗i
λ=φ

 Fluxo concatenado interno ao condutor: o fluxo interno concatenado com a


corrente a uma distância x do centro do condutor de raio R é:

x  x 2
λ R λ=φ
φ i R

Assumindo densidade de corrente (distribuição de carga por área) uniforme, a


corrente enlaçada a uma distância x é proporcional à corrente
 total. Aparece
2 2
portanto na expressão de λ a relação entre áreas πx /πR

– 13 –
 Fluxo concatenado com uma bobina:

⊗i ⊗i ⊗i
λ

φ λ = 3φ

i i

A bobina tem 3 espiras. Logo, o fluxo concatenado “enxerga” três vezes a


corrente i

◮ Lei de Faraday:

d
e= λ
dt

Relação entre tensão e corrente para o indutor:

d
e=L i
dt

Dividindo uma equação pela outra, obtém-se uma expressão para a indutância:

d
L= λ
di

– 14 –
Se o circuito magnético possui permeabilidade magnética constante:

λ (∗)
L= H
i

(∗)

d d d d d Ni N 2A d
L= λ = Nφ = N BA = NA µH = NA µ = µi
di di di di di ℓ ℓ di

Se o circuito magnético possui permeabilidade magnética constante:

N 2 Aµ d N 2 Aµ
L= i= × (i /i )
ℓ di ℓ
N 2 Aµi Ni NAµ NAµ
= = · =H
ℓi ℓ i i
NA BNA φN λ
= µH = = =
i i i i

5.7.1 Indutância de um condutor

◮ Deve-se calcular a indutância devido ao fluxo interno no condutor, indutância devido


ao fluxo externo ao condutor e a indutância total

◮ Consideração: o condutor está isolado, isto é, outros condutores estão muito
afastados e os seus campos magnéticos não o afetam

– 15 –
Indutância devido ao fluxo interno

◮ Considerar um condutor sólido pelo qual circula uma corrente i

◮ Lei de Ampère:

I
H d ℓ = ic
c

“a intensidade de campo magnético (A/m) ao longo de qualquer contorno é igual à


corrente que atravessa a área delimitada por este contorno”

Esta expressão é válida para CC ou CA (utilizar fasores neste caso)

◮ Considerar a seguinte situação (condutor visto de frente):

dℓ

dx x

◮ Resolvendo a equação de Ampère:

πx 2 x
H (2π x ) = i → H= i A/m
πR2 2πR2

– 16 –
◮ Densidade de fluxo:

B = µr µ0 H Wb/m2

em que µ0 = 4π · 10−7 H/m é a permeabilidade do vácuo e µr é a permeabilidade


relativa do material

◮ Considerar o elemento tubular de espessura d x e comprimento ℓ:

dS dS = ℓ dx

dx H

O fluxo magnético é igual à densidade de fluxo B vezes a área da seção transversal


que o campo atravessa (H ⊥ d S):

d φ = B d S Wb

Da figura tem-se d S = ℓ d x e:

d φ = µr µo Hℓd x Wb

– 17 –
O fluxo por unidade de comprimento do condutor é (dividindo por ℓ):

d φ = µr µo Hd x Wb/m

◮ O fluxo concatenado com a corrente é proporcional à área de raio x :

x2
dλ = 2dφ
R
x2
= 2 µr µ0 Hd x
R
x2 x
= µr µ0 idx
R2 2πR 2
| {z }
H

x3
= µr µ0 i d x Wb/m
2πR4

Integrando:

R
x3 µr µ0
Z
λint = µr µ0 i d x = i Wb/m
0 2πR4 8π

e independe do raio do condutor, dependendo somente do material e da intensidade


da corrente

– 18 –
◮ A indutância devido ao fluxo interno é dada por:

d (∗) λint µr µ0
Lint = λint = → Lint = H/m
di i 8π
(∗) considerando permeabilidade constante

e é constante. Para materiais como o alumı́nio, cobre, ar, água, tem-se µr = 1 e:

1
Lint = · 10−7 H/m
2

Outra maneira de obter a indutância devido ao fluxo interno é através da energia


armazenada no campo magnético, que é dada por:

1
E = Linti 2 J
2

Considerando um cilindro de base circular com raio x e comprimento ℓ, a energia


armazenada também pode ser obtida por:

d 1
E = µr µ0 H 2
dV 2

em que V é o volume do cilindro:

V = πx 2 ℓ

– 19 –
Portanto:

d
V = 2πx ℓ
dx

Por unidade de comprimento:

d V = 2πx d x

Logo:

 2
1 1 ix
d E = µr µ0 H 2 2πx d x = µr µ0 2πx d x
2 2 2πR2

Para a obtenção da energia, deve-se integrar de 0 a R, o que resulta em:

1 1
E = µr µ0 i 2
2 8π

que, comparando com a primeira expressão da energia fornece:

µr µ0
Lint = H/m

– 20 –
Indutância devido ao fluxo externo

◮ Considere a seguinte situação em que se deseja obter o fluxo concatenado externo


ao condutor:

x dx
i

◮ A corrente total i é enlaçada. Aplicando a Lei de Ampère:

I
H dℓ = i
c
2πx H = i
i
H=
2πx

◮ Densidade de campo magnético:

(∗) µ0 i
B = µ0 H =
2πx
(∗) µr = 1 (ar)

– 21 –
◮ Fluxo magnético (lembrando do elemento tubular de comprimento ℓ e espessura d x ):

d φ = Bd S = Bℓd x

◮ Fluxo por unidade de comprimento:

µ0 i
d φ = Bd x = dx
2πx

◮ O fluxo concatenado é igual ao fluxo pois o mesmo enlaça toda a corrente uma vez:

µ0 i
d λ = d φ = Bd x = dx
2πx

◮ O fluxo concatenado externo deve ser calculado entre dois pontos externos ao
condutor:

P1
D1
x dx
i

D2

φ P2

– 22 –
◮ O fluxo entre dois pontos P1 e P2 quaisquer externos ao condutor é obtido pela
integração de d λ:

Z D2
λext = λ12 = dλ
D1

em que D1 e D2 são as distâncias dos pontos ao condutor (considera-se que r ≪ x ).


Logo:

D2  
µ0 i d x µ0i D2
Z
λ12 = = ln Wb/m
D1 2π x 2π D1

◮ Indutância devido ao fluxo externo entre os dois pontos:

   
λ12
(∗) µ0 D2 −7 D2
L12 = = ln = 2 · 10 ln H/m
i 2π D1 D1
(∗) considerando permeabilidade constante

5.7.2 Indutância de uma linha monofásica

◮ Considerar a linha monofásica:

r1 r2 Hipótese simplificadora:
i⊙ ⊗ −i

r1 , r2 ≪ D

– 23 –
◮ O fato da corrente no condutor 1 ser i e a corrente no condutor 2 ser −i faz com
que o cálculo de H para uma distância maior que a distância entre os condutores
seja nula, pois neste caso a corrente total enlaçada será nula (itotal = i + (−i ) = 0):

0 ⊙ ⊗ 0

◮ Indutância externa entre os condutores produzida pelo condutor 1:

 Uma linha de fluxo com raio maior ou igual a (D + r2 ) e com centro no condutor
1 não estará concatenada com o circuito, não induzindo portanto nenhuma
tensão. Em outras palavras, a corrente enlaçada por esta linha de fluxo é nula,
uma vez que a corrente no condutor 2 é igual e de sentido oposto à do condutor
1

 Uma linha de fluxo externa ao condutor 1 e com raio menor ou igual a (D − r2 )


envolve uma vez a corrente total

 As linhas de fluxo com raios entre (D − r2 ) e (D + r2 ) cortam o condutor 2 →


envolvem uma fração da corrente do condutor 2 que varia entre 0 e 1

– 24 –
◮ Simplificações:

 Admitir D ≫ r1 , r2 → (D − r1 ) ≈ (D − r2 ) ≈ D

 Considerar condutor 2 como um ponto, localizado a uma distância D do centro


do condutor 1

Então:

µ0 D
L1,ext = ln
2π r1

◮ Indutância externa entre os condutores produzida pelo condutor 2 (lembrar a


hipótese simplificadora r2 ≪ D e o condutor 1 é representado por um ponto
localizado no centro do condutor):

µ0 D
L2,ext = ln
2π r2

◮ Indutâncias internas: como considera-se que cada condutor “enxerga” o outro como
um ponto, o fluxo externo de um condutor não afeta o fluxo interno do outro.
Então:

µr µ0 1
L1,int = = · 10−7 H/m
8π 2
µr µ0 1
L2,int = = · 10−7 H/m
8π 2

– 25 –
◮ Indutância total devido ao condutor 1:

L1 = L1,int + L1,ext
 
µr µ0 µ0 D
= + ln
8π 2π r1

Considerando que a permeabilidade relativa dos materiais mais comuns das linhas
(cobre, alumı́nio) é unitária e que µo = 4π · 10−7 H/m:

  
µ0 1 D
L1 = + ln
2π 4 r1
   
 D
= 2 · 10−7 · ln e 1/4 + ln
r1
  1/4 
e D
= 2 · 10−7 · ln
r1
  
D
= 2 · 10−7 · ln
r1 e −1/4
 
D
= 2 · 10−7 ln ′ H/m
r1

A expressão acima é parecida com a do fluxo externo, só que engloba também o
fluxo interno. Equivale, portanto, ao fluxo externo de um condutor com raio:

r1′ = r1 e −1/4 = 0, 7788 r1

que é chamado de raio efetivo ou GMR – Geometric Mean Radius ou RMG – Raio
Médio Geométrico

– 26 –
◮ Indutância total devido ao condutor 2: o procedimento é o mesmo usado para o
condutor 1, resultando em:

L2 = L2,int + L2,ext
 
µr µ0 µ0 D
= + ln
8π 2π r2
  
D
= 2 · 10−7 · ln
r2 e −1/4
 
−7 D
= 2 · 10 ln ′ H/m
r2

onde:

r2′ = r2 e −1/4 = 0, 7788 r2

é o raio efetivo ou GMR – Geometric Mean Radius do condutor 2.

◮ Indutância total: é a soma das indutâncias dos condutores 1 e 2:

L = L1 + L2
     
D D
= 2 · 10−7 · ln ′ + 2 · 10−7 · ln ′
r1 r2
  2 
−7 D
= 2 · 10 · ln ′ ′
r1 r2
" !#
D
= 4 · 10−7 · ln p ′ ′ H/m
r1 r2

– 27 –
 a indutância depende da distância entre os fios, dos raios dos condutores e do
meio (µr e µ0 estão embutidos no termo 4 · 10−7)

 a indutância independe da corrente

◮ Se os condutores tiverem o mesmo raio:

r1′ = r2′ = r ′

e a indutância será:

 
D
L = 4 · 10−7 · ln H/m
r′

 Exemplo

Determine a indutância de uma linha monofásica cuja distância entre condutores é de


1,5 m e o raio dos condutores é igual a 0,5 cm

Os dois condutores têm mesmo raio. O raio efetivo (GMR) é:

r ′ = 0,7788 · 0,5 · 10−2 = 0,0039 m

A indutância da linha vale:

 
1,5
L = 4 · 10−7 · ln = 2,38 µH/m
0,0039

– 28 –
 Exemplo

A corrente pela linha de transmissão monofásica do exemplo anterior é igual a


120 A (rms), 60 Hz. Uma linha telefônica, cuja distância entre condutores é de 10 cm,
está situada no mesmo plano dessa linha, afastada de 1 m, conforme mostra a figura a
seguir. Calcule a tensão induzida na linha telefônica em Volts por metro de condutor.
Considere que o raio dos condutores da linha telefônica é muito menor que as distâncias
entre condutores do problema

1,0 m

10 cm
1,5 m

Linha de transmissão Linha telefônica

A tensão induzida na linha telefônica é o resultado de um fluxo concatenado entre os


dois condutores da linha, produzido pelas correntes nos condutores da linha de
transmissão

Neste caso, o fluxo concatenado com a linha telefônica tem duas componentes, uma
devido à corrente do condutor 1 (i ) e a outra devido à corrente no condutor 2 (−i ).
Lembrando que:

µ0 i
dλ = dx
2πx
e chamando as componentes de fluxo concatenado de λ1 e λ2 , tem-se:

2,6  
1 2,6
Z
−7 −7
λ1 = 2 · 10 · i · d x = 2 · 10 · i · ln
2,5 x 2,5
Z 1,1  
1 1,1
λ2 = 2 · 10−7 · (−i ) · d x = −2 · 10−7 · i · ln
1,0 x 1,0

– 29 –
Notar que a corrente no condutor 2 tem sentido contrário à do condutor 2. O fluxo
concatenado total é:

    
−7 2,6 1,1
λ = λ1 + λ2 = 2 · 10 · i · ln − ln = −1,1218 · 10−8 · i Wb/m
2,5 1,0

A corrente pelos condutores vale:


i (t) = 120 · 2 · sen (2πf t) A

em que f é a frequência e considerou-se o ângulo de fase da corrente nulo (referência


angular) Logo a expressão do fluxo fica:

λ = −1,3462 · 10−6 · 2 · sen (2πf t) Wb/m

A tensão induzida na linha por unidade de comprimento vale:

d √ √
v (t) = λ = 2πf ·(−1,3462)·10−6· 2·cos (2πf t) = −5,0750·10−4· 2·cos (2πf t) V/m
dt

cujo valor eficaz é:

Vef = 5,0750 · 10−4 V/m = 0,5075 V/km

Este é o valor da tensão induzida na linha telefônica por unidade de comprimento da


linha de transmissão

– 30 –
5.7.3 Fluxo concatenado com um condutor de um grupo de condutores

◮ Considere o grupo de n condutores:

P
I1 D1P

I2 D2P
1
D3P
2
DnP
I3
In
n
3

◮ A soma algébrica das correntes nos condutores é nula:

n
X
Ii = 0
i =1

◮ Idéia: calcular o fluxo concatenado com um condutor do grupo de condutores, por


exemplo, o condutor 1

O fluxo concatenado dependerá das contribuições das correntes I1 (do próprio con-
dutor), I2 , I3 . . . In

– 31 –
◮ Fluxo concatenado com o condutor 1 devido à corrente I1 : é composto por duas
parcelas → fluxo interno e fluxo externo

O fluxo externo será calculado até o ponto P somente (é um ponto de localização
arbitrária e não influencia no resultado final)

De acordo com os resultados obtidos anteriormente:

 
D1P
λ1P 1 = 2 · 10−7 · I1 · ln Wb/m
r1′

em que r1′ é o raio efetivo. λ1P 1 já inclui os fluxos interno e externo até o ponto P

◮ Fluxo concatenado com o condutor 1 devido à corrente I2 :

 
−7 D2P
λ1P 2 = 2 · 10 · I2 · ln Wb/m
D12

A expressão geral para o fluxo concatenado com o condutor i devido à corrente Ij


é:
 
−7 DjP
λi P j = 2 · 10 · Ij · ln Wb/m
Di j

– 32 –
◮ Fluxo concatenado com o condutor 1 devido às correntes de todos os condutores:

      
D 1P D 2P D nP
λ1P = 2 · 10−7 · I1 · ln + I2 · ln + . . . + In · ln
r1′ D12 D1n
= 2 · 10−7 · [I1 · ln (D1P ) + I2 · ln (D2P ) + . . . + In · ln (DnP )] +
      
−7 1 1 1
2 · 10 · I1 · ln ′ + I2 · ln + . . . + In · ln
r1 D12 D1n

Como I1 + I2 + . . . + In = 0 → In = − (I1 + I2 + . . . + In−1). Então:

D(n−1)1P
      
−7 D1P D2P
λ1P = 2 · 10 · I1 · ln + I2 · ln + . . . + In−1 · ln +
DnP DnP DnP
     
1 1 1
I1 · ln ′ + I2 · ln + . . . + In · ln
r1 D12 D1n

Se considerarmos o ponto P tendendo ao infinito (P → ∞), os termos DkP /DnP


tenderão a 1 e, portanto, seus logaritmos tenderão a zero. Logo, o fluxo concate-
nado com o condutor 1 vale (fazendo P → ∞):

      
1 1 1
λ1P = 2 · 10−7 · I1 · ln ′ + I2 · ln + . . . + In · ln Wb/m
r1 D12 D1n

◮ O afastamento do ponto P para o infinito é equivalente à inclusão de todo o fluxo


concatenado com o condutor 1

– 33 –
◮ Lembre que a expressão do fluxo concatenado acima é a de um condutor pertencente
a um grupo de condutores cuja soma das correntes seja nula

◮ A expressão é válida tanto para valores instantâneos (usar correntes instantâneas)


como para fasores (usar fasores das correntes)

5.7.4 Indutância de linhas com condutores compostos (mais de um condutor por


fase)

◮ Considere a seguinte linha monofásica:

a a′
b c b′ c′

n
n

condutor X condutor Y

◮ Caracterı́sticas da linha:

 Condutor composto: condutores encordoados, cabos.

 A fase X (condutor X) é composto por n fios idênticos em paralelo e conduz uma


corrente I uniformemente distribuı́da pelos fios. A corrente em cada fio é I/n.

 A fase Y (condutor Y) é composto por m fios idênticos em paralelo e conduz


uma corrente −I uniformemente distribuı́da pelos fios. A corrente em cada foi é
−I/m.

– 34 –
◮ Obtenção do fluxo concatenado com o fio a da fase X: deve-se levar em consi-
deração o efeito de todas as correntes por todos os fios, inclusive o próprio fio
a.

◮ De acordo com os resultados anteriores:

 
I 1 1 1
λa = 2 · 10−7 · · ln ′ + ln + . . . + ln
n ra Dab Dan
| {z }
fase X
 
I 1 1 1
−2 · 10−7 · · ln + ln + . . . + ln
m Daa′ Dab′ Dam
| {z }
fase Y

que resulta em:


−7
m
Daa′ Dab′ . . . Dam
λa = 2 · 10 · I · ln p Wb/m
n
ra′ Dab . . . Dan

◮ Em geral considera-se: ra′ = Daa = 0,7788ra

◮ A indutância do fio a é:


λa −7
m
Daa′ Dab′ . . . Dam
La = = 2 · n · 10 · ln p H/m
I/n n
ra′ Dab . . . Dan

– 35 –
◮ Para o fio b:


−7
m
Dba′ Dbb′ . . . Dbm
Lb = 2 · n · 10 · ln √ H/m
n
Dba Dbb . . . Dbn

◮ Para os outros fios da fase X o processo é semelhante.

◮ A indutância da fase X é calculada verificando-se que os fios a, b, . . . , n estão em


paralelo:

n
1 X 1
=
LX Li
i =1

◮ Utiliza-se também uma forma aproximada, que fornece bons resultados e simplifica
bastante as deduções. Primeiro, calcula-se a indutância média da fase X:

La + Lb + . . . + Ln
Lav =
n

Assume-se agora que a fase X é composta por n fios de indutância Lav em paralelo.
Portanto, a indutância da fase X vale:

Lav La + Lb + . . . + Ln
LX = = H/m
n n2

– 36 –
◮ Esta expressão é mais conveniente pois, substituindo os valores de La , Lb , etc.
obtém-se:

p
mn
(Daa′ Dab′ . . . Dam ) (Dba′ Dbb′ . . . Dbm ) . . . (Dna′ Dnb′ . . . Dnm )
LX = 2 · 10−7 · ln n2
p H/m
(Daa Dab . . . Dan ) (Dba Dbb . . . Dbn ) . . . (Dna Dnb . . . Dnn )

◮ Então:

Dm
LX = 2 · 10−7 · ln H/m
DsX

◮ Numerador: produto das distâncias dos fios da fase X e da fase Y:

p
mn
Dm = (Daa′ Dab′ . . . Dam ) (Dba′ Dbb′ . . . Dbm ) . . . (Dna′ Dnb′ . . . Dnm )

Dm é a Distância Média Geométrica – DMG, ou Geometric Mean Distance – GMD,


ou DMG mútua

◮ Denominador: produto das distâncias dos fios da fase X:

n2
p
DsX = (Daa Dab . . . Dan ) (Dba Dbb . . . Dbn ) . . . (Dna Dnb . . . Dnn )

DsX é o Raio Médio Geométrico – RMG, ou Geometric Mean Radius – GMR, ou


DMG própria da fase X

– 37 –
◮ A indutância da fase Y é obtida de maneira idêntica à da fase X e resulta em LY :

Dm
LY = 2 · 10−7 · ln H/m
DsY

◮ A indutância da linha é dada por:

L = LX + LY

◮ Caso as fases X e Y sejam idênticas, tem-se:

Dm
L = 4 · 10−7 · ln H/m
Ds

em que Ds = DsX = DsY

◮ Relembrando a expressão da indutância de uma fase de uma linha monofásica com


um condutor por fase:

 
D
L1 = 2 · 10−7 · ln ′ H/m
r1

e comparando com a indutância da fase X da linha com condutores compostos LX ,


percebe-se que a expressão de L1 é um caso particular da expressão de L1 :

Condutor único por fase Condutores múltiplos por fase

Distância entre fases (D) Distância média geométrica – DMG (Dm )


Raio efetivo do condutor (r1′ ) Raio médio geométrico – RMG (Ds )

– 38 –
 Exemplo

Calcule a indutância da linha monofásica mostrada a seguir.

r = 0,25 cm r = 0,50 cm

a d

6m 9m

b e

6m

lado X lado Y

Cálculo da DMG entre os lados X e Y (Dm ):

p
6
Dm = Dad Dae Dbd Dbe Dcd Dce = 10,743 m

em que:

Dad = Dbe = 9 m
p √
Dae = Dbd = Dce = + 62 92 = 117 m
p
Dcd = 92 + 122 = 15 m

– 39 –
RMG do lado X (DsX ):

p
9
DsX = Daa Dab Dac Dba Dbb Dbc Dca Dcb Dcc = 0,481 m

em que:

Daa = Dbb = Dcc = e −1/4r = 0,7788 · 0,25 · 10−2 = 1,9470 · 10−3 m


Dab = Dba = Dbc = Dcb = 6 m
Dac = Dca = 12 m

RMG do lado Y (DsY ):

p
4
DsY = Ddd Dde Ded Dee = 0,153 m

em que:

Ddd = Dee = e −1/4r = 0,7788 · 0,50 · 10−2 = 3,8940 · 10−3 m


Dde = Ded = 6 m

Indutâncias dos lados X e Y:

Dm
LX = 2 · 10−7 · ln = 6,212 · 10−7 H/m
DsX
Dm
LY = 2 · 10−7 · ln = 8,503 · 10−7 H/m
DsY

– 40 –
Indutância completa da linha por unidade de comprimento:

L = LX + LY = 14,715 · 10−7 H/m

 Exercı́cio

Calcule a indutância e a reatância por unidade de comprimento a 60 Hz da linha


monofásica mostrada na figura a seguir. Verifique que a DMG é praticamente igual à
distância entre os centros das fases quando esta é muito maior que as distâncias entre
os condutores de uma mesma fase.

45 cm 5 cm

a b c d

12 m

lado X lado Y

(Resposta: 1,9413 µH/m, 0,732 mΩ/m)

5.7.5 Uso de tabelas

◮ Existem tabelas com várias informações sobre os condutores: resistência, reatâncias,


RMG, etc.

◮ As tabelas fornecem a reatância para certas frequências (por exemplo 60 Hz), ao


invés da indutância.

– 41 –
◮ A reatância de um condutor (simples ou composto) vale:

 
−7 Dm Ω 1609 m
XL = 2πf L = 2πf · 2 · 10 · ln ×
Ds m 1 mi
Dm
= 2,022 · 10−3 · f · ln Ω/mi
Ds
1
= 2,022 · 10−3 · f · ln + |2,022 · 10−3
{z · f · ln Dm} Ω/mi
D s
| {z } Xd
Xa

em que:

Xa − reatância indutiva para espaçamento unitário (por exemplo, 1 pé se esta for
a unidade utilizada) – depende da frequência e do raio do condutor
Xd − fator de espaçamento da reatância indutiva – depende da frequência e do
espaçamento entre condutores

 Exemplo

Determine a reatância indutiva por milha de uma linha monofásica com as seguintes
caracterı́sticas:

frequência 60 Hz
tipo dos cabos Partridge
distância entre os centros dos cabos 20 ft

– 42 –
Tem-se portanto:

aço

alumı́nio
26Al / 7St

20
Área = 266.800 CM

Conforme definido anteriormente:

 2
0,001
1 CM = π in2 = 0,7854 · 10−6 in2
2

Logo, para o cabo Partridge:

Área = 266.800 CM = 0,2095 in2

que resulta em um diâmetro de 0,5165 in. Da tabela de condutores obtém-se:

Diâmetro externo = 0,642 in > 0,5165 in !

A razão da diferença é que a área em CM fornecida na tabela refere-se à área de


alumı́nio, enquanto que o diâmetro é externo, o que inclui o espaçamento entre os
condutores.

Além disso, o raio é igual a 0,5165/2 = 0,2583 in, ou 0,0215 ft. Pela tabela de dados
dos condutores tem-se:

RMG = 0,0217 ft 6= (0,7788 · 0,0215) !

– 43 –
Razão da diferença entre os RMG: o RMG (0,7788 · 0,0215) é calculado considerando
um condutor sólido. No entanto, o condutor Partridge é encordoado, e o RMG deve ser
calculado por:

p
26·26
RMG = Daa Dab Dac . . .

Da tabela A.3 de dados dos condutores, o RMG para o condutor é Ds = 0,0217 ft.
Pode-se utilizar diretamente a equação da indutância e obter a reatância por condutor:

20
X = 2,022 · 10−3 · 60 · ln = 0,828 Ω/mi
0,0217

e a reatância total será XL = 2 X = 1,656 Ω/mi

Ou então:

• da tabela A.3 a reatância indutiva para um pé de afastamento é Xa = 0,465 Ω/mi

• da tabela A.4, para um espaçamento de 20 ft o fator de espaçamento é


Xd = 0,3635 Ω/mi

• a reatância indutiva de um cabo será X = Xa + Xd = 0,8285 Ω/mi

• a reatância indutiva da linha (2 cabos): XL = 2X = 1,657 Ω/mi

– 44 –
 Exercı́cio

Uma linha monofásica de 2 km deve ser construı́da utilizando-se condutores ACSR


Linnet. Por motivos técnicos, a indutância total não deve exceder 4 mH. Obtenha o
espaçamento máximo entre condutores. Resolva o problema utilizando equações e
tabelas, e compare os resultados.

(Resposta: 1,1 m)

◮ Na tabela A.4, a expressão para Xd é:

Xd = 0, 2794 log d

em que d é o que chamamos de Dm (DMG) aproximado como sendo a distância


entre os centros dos cabos e aparece a função log ao invés de ln. Demonstração
da equivalência entre as expressões:

 Se ln d = y , então d = e y

 Aplicando o logaritmo:

log d = log e y = y log e

– 45 –
x
 Logo:

1
y= · log d
log e
= 2,3026 log d = ln d

 Assim, para 60 Hz:

Xd = 2,022 · 10−3 · f · ln d
= 2,022 · 10−3 · 60 · (2,3026 log d )
= 0,2794 log d

– 46 –
5.7.6 Linhas trifásicas

◮ Considere linha de transmissão trifásica composta por três fases e um condutor


neutro:

Ia
zaa
A a

Ib zab
zbb
B zac b

Ic zan
zcc
C c

In
znn
N n

em que:

zi i impedância própria do condutor da fase i


zi j impedância mútua entre os condutores das fases i e j

– 47 –
◮ Define-se a matriz impedância primitiva como:

 
zaa zab zac zan
 zba zbb zbc zbn 
Zprim =
 zca

zcb zcc zcn 
zna znb znc znn

A aplicação da lei das tensões de Kirchhoff para o ramo resulta em:

       
VAN Van zaa zab zac zan Ia
 VBN   Vbn   zba zbb zbc zbn 
 ·  Ib
 
 VCN  =  Vcn
   +  VF = Vf + Zprim If
  zca zcb zcc zcn   Ic 
VNN Vnn zna znb znc znn In

ou ainda:

     
∆VA zaa zab zac zan Ia      
 ∆VB   zba zbb zbc zbn   Ib
   ∆VF ZA ZB If
 ∆VC  =  zca · = ·
   
zcb zcc zcn   Ic  ∆VN ZC ZD In
∆VN zna znb znc znn In

Como VNN = Vnn = 0 e ∆VN = 0, tem-se:


∆VN = ZA · If + ZB · In
0 = ZC · If + ZD · In

– 48 –
Da segunda equação tem-se que In = −ZD−1 ZC If , que, substituı́da na primeira


resulta em:

∆VF = ZA − ZB ZD−1ZC If = Z · If


ou:

       
VAN Van Zaa Zab Zac Ia
 VBN  =  Vbn  +  Zba Zbb Zbc  ·  Ib  VF = Vf + Z If
VCN Vcn Zca Zcb Zcc Ic

em que a matriz reduzida Z é chamada de matriz de impedância de fase, sendo seus


elementos calculados por:

zi n zni
Zi j = zi j −
znn

O processo de redução da dimensão da matriz primitiva de rede é conhecido como


redução de Kron.

Será visto adiante que, no caso particular de uma linha balanceada e completamente
transposta conectada a uma carga equilibrada (condutores formam um triângulo
equilátero), a matriz impedância de fase será diagonal (permitindo o desacoplamento
entre as fases), com os elementos da diagonal principal iguais entre si.

– 49 –
5.7.7 Indutância de uma linha trifásica com espaçamento simétrico

◮ Considere a linha trifásica:

D D

a c
D

em que:

 os três condutores têm raios iguais, portanto o mesmo RMG, igual a Ds

 a distância entre condutores é D

 não há fio neutro ou o circuito é equilibrado → Ia + Ib + Ic = 0

– 50 –
◮ Fluxo concatenado com o condutor da fase a (há contribuições das três correntes):

 
1 1 1
λa = 2 · 10−7 · Ia ln + Ib ln + Ic ln
Ds D D
 
1 1
= 2 · 10−7 · Ia ln + (Ib + Ic ) ln
Ds D
 
1 1
= 2 · 10−7 · Ia ln − Ia ln (pois Ia = − (Ib + Ic ))
Ds D
 
−7 1
= 2 · 10 · Ia ln + Ia ln D
Ds
D
= 2 · 10−7 · Ia ln Wb/m
Ds

◮ Indutância da fase a:

λa D
La = = 2 · 10−7 · ln H/m
Ia Ds

◮ Por simetria, para as outras fases tem-se Lb = Lc = La

◮ Portanto:

D
La = Lb = Lc = 2 · 10−7 · ln H/m
Ds

– 51 –
5.7.8 Indutância de linhas trifásicas com espaçamento assimétrico

◮ O fluxo concatenado e a indutância de cada fase são diferentes → circuito


desequilibrado

◮ Equilı́brio é obtido através da transposição:

1 b
a c
Pos. 1
b a c
2 Pos. 2
c b a
3 Pos. 3

◮ Cálculos considerando a transposição são mais simples

Linhas não transpostas → considera-se a linha como transposta e a sua indutância


como a média das indutâncias das fases

– 52 –
◮ Fluxo concatenado com fase a, primeiro trecho:
a
D12  
D31 1 1 1
b λa1 = 2·10−7· Ia ln + Ib ln + Ic ln
Ds D12 D31
c D23

◮ Fluxo concatenado com fase a, segundo trecho:


c
D12  
D31 1 1 1
a λa2 = 2·10−7· Ia ln + Ib ln + Ic ln
Ds D23 D12
b D23

◮ Fluxo concatenado com fase a, terceiro trecho:

b
D12  
1 1 1
D31 c λa3 = 2·10−7· Ia ln + Ib ln + Ic ln
Ds D31 D23
a D23

◮ Fluxo médio concatenado com a fase a:

2 · 10−7
 
λa1 + λa2 + λa3 1 1 1
λa = = · 3Ia ln + Ib ln + Ic ln
3 3 Ds D12D23D31 D12D23D31
2 · 10−7
 
1 1
= · 3Ia ln − Ia ln (pois Ia = − (Ib + Ic ))
3 Ds D12D23D31

−7
3
D12D23D31
= 2 · 10 · Ia · ln Wb/m
Ds

– 53 –
◮ Indutância média por fase da linha trifásica com transposição:

Deq
La = 2 · 10−7 · ln H/m
Ds

em que:

p
3
Deq = D12D23D31

é o espaçamento equilátero equivalente da linha

 Exemplo

Determine a reatância indutiva por fase a 60 Hz da linha trifásica mostrada a seguir,


composta por condutores ACSR Drake.

20′ 20′

38′

• Pela tabela A.3, o RMG do condutor tipo Drake é Ds = 0,0373′

• O espaçamento equilátero da linha é:


20 · 20 · 38 = 24,7712′
3
Deq =

– 54 –
• A indutância e a reatância por fase valem:

24,7712
L = 2 · 10−7 · ln = 1,3 µH/m
0,0373
XL = 2πf L = 2π · 60 · 1,3 · 10−6 = 0,49 mH/m = 0,7884 H/mi

• O problema pode ser resolvido pela utilização das tabelas A.3 e A.4:

tabela A.1 → Xa = 0,399 Ω/mi


tabela A.2 (para Deq = 24′ ) → Xd = 0,3856 Ω/mi
tabela A.2 (para Deq = 25′ ) → Xd = 0,3906 Ω/mi

O valor de Deq é obtido por interpolação:

Deq

25
25 − 24 24,7712 − 24
24,7712 =
0,3906 − 0,3856 Xd − 0,3856
Xd = 0,3895 Ω/mi
24
0,3856 Xd 0,3906 Xd

e a reatância por fase vale:

XL = Xa + Xd = 0,399 + 0,3895 = 0,7885 Ω/mi

– 55 –
5.7.9 Condutores múltiplos por fase

◮ Extra-alta tensão (EAT ou EHV) → por exemplo 440 kV → efeito corona excessivo

Corona: descargas que se formam na superfı́cie do condutor quando a intensidade


do campo elétrico ultrapassa o limite de isolação do ar. Consequências: luz, ruı́do
audı́vel, ruı́do de rádio (interferência em circuitos de comunicação), vibração do
condutor, liberação de ozônio, aumento das perdas de potência (deve ser suprida
pela fonte)

◮ Solução: colocação de dois ou mais condutores por fase → cabos múltiplos (bundled
conductors)

d d
d ≪D
D d

◮ Outras configurações:

d
d
d d

– 56 –
◮ Outra vantagem dos cabos múltiplos: redução da reatância (aumento do RMG). O
RMG é calculado por:


b
p
2 · d2 =


 2 condutores D s = 4
D s Ds · d
 p p
3 condutores Dsb = 9 Ds3 · d 6 = 3 Ds · d 2

 p p
4 condutores Dsb = 16 Ds4 · d 12 · 22 = 1,09 · 4 Ds · d 3

◮ Equações da indutância e reatância são as mesmas, substituindo-se o RMG Ds do


condutor simples por Dsb para cabos múltiplos

◮ A corrente não é distribuı́da uniformemente entre os condutores da fase, pois


reatâncias por fase não são iguais. Essa diferença é pequena e geralmente é
desprezada

 Exemplo

Determine a reatância da linha trifásica mostrada a seguir.

Condutor ACSR Pheasant


d
d = 45 cm
a ′ b ′ c ′
a b c
D=8m
D
Comprimento da linha ℓ = 160 km

• Da tabela A.3, obtém-se o RMG do condutor Pheasant:

Ds = 0,0466′ → 0,0466 · 0,3048 = 0,0142 m

– 57 –
• No entanto, cada fase é composta por dois condutores → deve-se calcular o RMG
do cabo:

p
Dsb =
4
0,01422 · 0,452 = 0,0799 m

• Espaçamento equilátero equivalente para a configuração dada (DMG mútua) –


aproximação considerando-se apenas as distâncias entre os centros das fases:


3
Deq = 8 · 8 · 16 = 10,0794 m

O cálculo correto do espaçamento equilátero equivalente neste caso seria:


DMGab = DMGbc = 4 8 · 8,45 · 7,55 · 8 = 7,9937 m

DMGca = 4 16 · 16,45 · 15,55 · 16 = 15,9968 m

Deq = 3 7,9937 · 7,9937 · 15,9968 = 10,0734 m

que praticamente corresponde ao mesmo resultado anterior.

• Reatância por metro por fase:

10,0794
XL = 2π · 60 · 2 · 10−7 · ln = 0,3647 mΩ/m
0,0799

• Como a linha tem 160 km, a reatância total por fase da linha será:

X = XL · 160000 = 58,36 Ω

– 58 –
5.7.10 Linhas trifásicas de circuitos em paralelo

◮ Duas linhas trifásicas idênticas em paralelo possuem a mesma reatância indutiva.


A reatância equivalente será igual à metade de cada reatância individual, desde que
a distância entre as linhas seja tão grande que a indutância mútua entre elas possa
ser desprezada

◮ Duas linhas trifásicas em paralelo na mesma torre → indutâncias mútuas entre os


circuitos deve ser considerada

◮ O método de cálculo é semelhante ao que foi mostrado anteriormente

◮ Considera-se sempre que haja a transposição, resultando em cálculos mais simples


e resultados suficientemente precisos

– 59 –
 Exemplo

Uma linha trifásica de circuito duplo é constituı́da de condutores ACSR 26/7 tipo Ostrich
de 300.000 CM dispostos de acordo com a figura a seguir. Determine a reatância
indutiva por fase a 60 Hz em Ω/mi.

18′
a c′

10′
21′
b b′

10′
18′
c a′

• Pela tabela A.3, o RMG do condutor tipo Ostrich é Ds = 0,0229′

• DMG entre as fases a e b:

p
Dab = 102 + 1,52 = 10,1119′ = Da′ b′
p
Dab′ = 102 + 19,52 = 21,9146′ = Da′ b
h i1/4
2
DMGab = (10,1119 · 21,9146) = 14,8862′

DMGbc = DMGab = 14,8862′

– 60 –
• DMG entre as fases c e a:
h i1/4
2
DMGca = (20 · 18) = 18,9737′

• Espaçamento equilátero equivalente:

Deq = (DMGab DMGbc DMGca )1/3 = 16,1401′

• RMG: lembrando que assume-se a transposição

 Trecho 1 – fase a ocupando posição original:

p
202 + 182 = 26,9072′
Daa′ =
h i1/4
2
RMG1 = (0,0229 · 26,9072) = 0,7850′

 Trecho 2 – fase a ocupando posição originalmente ocupada por b:

Daa′ = 21′
h i1/4
2
RMG2 = (0,0229 · 21) = 0,6935′

 Trecho 3 – fase a ocupando posição originalmente ocupada por c:

RMG3 = RMG1 = 0,7850′

– 61 –
x

 RMG da fase a:

1/3
RMG = 0,78502 · 0,6935 = 0,7532′

 Indutância:

 
16,1401
L = 2 · 10−7 · ln = 6,1295 · 10−7 H/m
0,7532

 Reatância por fase:

XL = 2πf L = 2,3108 · 10−4 Ω/m = 0,3718 Ω/mi

– 62 –
 Exercı́cio

Repita o exemplo anterior para a configuração de linha mostrada a seguir e compare os


resultados obtidos.

18′
a a′

10′
21′
b b′

10′
18′
c c′

(Resposta: X = 0,3962 Ω/mi, 6,5% maior)

– 63 –
ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I
1 Semestre 2011
Capı́tulo 5 – Linhas de transmissão – Parte 2

5.8 Capacitância (C)

◮ Existem cargas em movimento e uma diferença de potencial entre condutores →


capacitância (carga/diferença de potencial → C = Q/V )

◮ A linha se comporta como se os condutores fossem placas de capacitores

5.8.1 Campo elétrico em um condutor cilı́ndrico

◮ Considerar um condutor cilı́ndrico, com carga uniforme, longo e perfeito


(resistividade ρ = 0)

O campo elétrico é radial:

linhas de
campo elétrico

equipotencial

–1–
◮ Os pontos equidistantes do condutor (linha tracejada) são equipotenciais
(apresentam a mesma intensidade de campo elétrico)

◮ A intensidade de campo elétrico no interior do condutor pode ser considerada nula

Considere a lei de Ohm (eletrostática):

E int = ρ J

em que J é a densidade de corrente. Considerando ρ = 0 (condutor perfeito),


tem-se E int = 0

Os elétrons no interior do condutor tenderiam a se repelir até a superfı́cie do


condutor, onde encontrariam um meio isolante

◮ O cálculo da intensidade de campo elétrico a uma certa distância x do condutor é


realizado utilizando a lei de Gauss:

I
ε E dS = Q
S

em que:

ε − permissividade do meio:

ε = εr ε0

ε0 é a permissividade do vácuo e vale 8,85 · 10−12 F/m. εr é a permissividade rela-


tiva do meio, sendo que para o ar seco vale 1,00054 e é normalmente aproximada
para 1
E − intensidade do campo elétrico
S − superfı́cie gaussiana
Q − carga total contida em S

–2–
◮ Para a solução da equação de Gauss, deve-se imaginar uma superfı́cie gaussiana,
cilı́ndrica, concêntrica ao condutor e de raio igual a x :

superfı́cie gaussiana E − campo elétrico

x
+q condutor

dℓ
retificando a faixa da
superfı́cie gaussiana
dℓ
2πx

◮ Tomando uma faixa da superfı́cie gaussiana de comprimento diferencial d ℓ a


equação fica:
Z
ε E · 2πx d ℓ = Q

pois a faixa tem área 2πx d ℓ

◮ Integrando:

Q
ε · E · 2πx ℓ = Q ⇒ E= V/m
2πx εℓ

◮ Considerando a carga por unidade de comprimento q = Q/ℓ:

q
E= V/m
2πx ε

–3–
5.8.2 Diferença de potencial entre dois pontos

◮ Considere a seguinte situação:

linhas equipotenciais

P1
D1

q P2
D2

◮ Fazendo uma analogia mecânica:

campo elétrico – força


diferença de potencial – trabalho

A diferença de potencial representa o trabalho para mover uma carga unitária (1 C)


entre dois pontos

◮ Diferença de potencial entre os pontos P1 e P2:

Z D2
V12 = V1 − V2 = E dx
D1
D2
q
Z
= dx
D1 2πx ε
q D2
= ln V
2πε D1

–4–
◮ Caso particular – ddp entre os pontos a e b:

r a b
q

Considerando o ponto a na superfı́cie do condutor e que D ≫ r tem-se:

q D
Vab = ln V
2πε r

5.8.3 Diferença de potencial entre dois condutores

◮ A diferença de potencial entre os dois condutores é obtida usando-se o princı́pio da


superposição:

rb
qa ra qb

D
superposição

qa a b

a b qb

–5–
Considera-se que:

 D ≫ ra , rb , ou seja, um observador em um condutor enxerga o outro condutor


como um ponto

 o campo interno ao condutor seja desprezı́vel

 a diferença de potencial total deve-se às contribuições de qa e qb

qa D qb rb
Vab = Vabdevido a qa + Vabdevido a qb = ln + ln
2πε ra 2πε D
 
1 D rb
= qa ln + qb ln
2πε ra D

Observações:

 Na equação:

q B
Vab = ln
2πε A
a referência está em q, ou seja:

V
a b
denominador numerador
distância da distância da
carga a a carga a b

 ddp devido a qa → referência no centro do condutor a → caminho de integração


a para b (ra para D)

 ddp devido a qb → referência no centro do condutor b → caminho de integração


a para b (D para rb )

–6–
5.8.4 Capacitância de uma linha monofásica

◮ Capacitância:

q
C= F/m
v

◮ Considere uma linha para a qual:

D
 os raios dos condutores são iguais: ra = rb = r q r

 qa = −qb = q
q r

◮ A diferença de potencial entre os dois condutores será:

q D q r
Vab = ln − ln
2πε r 2πε D
 2
q D
= ln
2πε r
q D
= ln V
πε r

◮ Utilizando a definição de capacitância e assumindo que para o ar tem-se εr = 1:

πε0 8,85π · 10−12


Cab = = F/m
ln (D/r ) ln (D/r )

–7–
◮ Considere a seguinte situação:

+ a

∼ Vab Cab carga


− b

linha de transmissão

O circuito pode ser representado por:

+ a

∼ Vab /2 2Cab carga/2


n − n n
+

∼ Vab /2 2Cab carga/2


− b

linha de transmissão

◮ A capacitância entre cada condutor e a terra vale:

2πε0 17,7π · 10−12


Can = Cbn = 2Cab = = F/m
ln (D/r ) ln (D/r )

–8–
e a reatância capacitiva fase-terra é dada por:

1
XC =
2πf C
2,8622 D
= · 109 · ln Ω·m
f r
1,7789 D
= · 106 · ln Ω·mi
f r

◮ Da mesma forma que para as reatâncias indutivas, a expressão da reatância


capacitiva fase-terra pode ser escrita como:

1,7789 1 1,7789
XC = · 106 · ln + · 106 · ln D
| f {z r} | f {z }
Xa′ Xd′

= Xa′ + Xd′

em que Xa′ é a reatância capacitiva para um pé de afastamento e Xd′ é o fator de


espaçamento. Essas grandezas são tabeladas.

r é o raio externo do condutor (se for encordoado, é uma aproximação que leva a
erros muito pequenos). Este valor é obtido na tabela de dados dos condutores

–9–
 Exemplo

Determine a capacitância, reatância capacitiva e susceptância capacitiva por milha de


uma linha monofásica que opera a 60 Hz. O condutor é o Partridge e o espaçamento
entre centros dos condutores é de 20 ft.

Para o condutor especificado, o diâmetro externo é de 0,642′′ . Portanto, o raio externo


é r = 0,0268′.

Capacitância entre condutores:

πε0 π · 8,85 · 10−12


Cab = = = 4,2030 · 10−12 F/m
ln (D/r ) ln (20/0,0268)

ou, multiplicando por 1609 tem-se Cab = 6,7626 · 10−9 F/mi. A capacitância fase-terra
é:

Can = 2Cab = 13,5252 · 10−9 F/mi

Reatância capacitiva:

1
XC = = 0,1961 MΩ·mi
2πf Can

ou, aplicando a fórmula direta:

1,7789 20
XC = · 106 · ln = 0,1961 MΩ·mi
60 0,0268

Susceptância capacitiva:

1
BC = = 5,0985 · 10−6 S/mi
XC

– 10 –
Da tabela A.3:

Xa′ = 0,1074 MΩ·mi

Da tabela A.5, para D = 20′ :

Xd′ = 0,0889 MΩ·mi

Reatância capacitiva fase-terra total:

XC = Xa′ + Xd′ = 0,1963 MΩ·mi

5.8.5 Influência do solo

◮ Considere a seguinte linha monofásica isolada:

linhas de
campo elétrico
equipotenciais

q −q

As linhas de campo elétrico são normais às equipotenciais.

– 11 –
◮ Caso a linha esteja suficientemente perto do solo, tem-se:

linhas de
campo elétrico
equipotenciais

q −q

solo

O solo também é uma superfı́cie equipotencial, causando uma distorção nas linhas
de campo elétrico, que serão normais a ele

A proximidade do solo altera o formato das linhas de campo elétrico → altera a


capacitância

O efeito é maior quanto mais próxima a linha estiver do solo

– 12 –
◮ Imagine uma continuação das linhas de campo elétrico abaixo do solo e simétrica ao
plano do solo (como em um espelho), terminando em cargas sob o solo:

linhas de
campo elétrico
equipotenciais

q −q

solo

−q q

As cargas sob o solo são denominadas cargas imagem

Pode-se remover a linha do solo e calcular a diferença de potencial e a capacitância


da maneira usual (método das imagens)

– 13 –
 Exemplo

No exemplo anterior foi determinada a capacitância entre condutores de uma linha


monofásica que opera a 60 Hz com condutores Partridge e espaçamento entre centros
dos condutores de 20 ft. Foi obtido o valor Cab = 4,2030 · 10−12 F/m. Obtenha a
expressão da capacitância levando em conta o efeito do solo e calcule a capacitância da
linha, supondo que ela esteja a 30 pés (≈ 10 metros) e 90 pés (≈ 30 metros) acima da
terra.

A expressão da capacitância considerando o efeito do solo será obtida através do


método das imagens.

Considere a superfı́cie do solo como um espelho. Assim, tem-se uma linha idêntica à
original, localizada abaixo da terra, e com carga oposta à primeira:

D
condutor a, carga +q condutor b, carga −q

M M
H H

solo

H H

condutor imagem a′ , carga −q condutor imagem b′ , carga +q


D

– 14 –
A tensão Vab deve levar em conta o efeito de todas as quatro cargas:

     

1  D  r   M  2H 
Vab =  q ln +  −q ln  +  −q ln  + q ln
     
2πε0  | {z r}  | {z D}   | {z 2H}  | {zM} 

devido a qa devido a qb devido a qa′ devido a qb′


D2 (2H)2
   
q
q
= ln 2 + ln 2
M = D2 + (2H)2
2πε0 r M
 2
(2H)2

q D
= ln ·
2πε0 r 2 (2H)2 + D2

Capacitância entre condutores:

q 2πεo
Cab = =  2 
Vab D (2H)2
ln r 2 · (2H)2 +D2

O efeito da terra pode ser desconsiderado se H → ∞:

′ πεo
Cab = lim Cab =
H→∞ ln (D/r )

que é uma expressão que já foi obtida anteriormente.

Para este exemplo, tem-se r = 0,0268′ e D = 20′ .


p
Para uma distância de 90′, H = 90′ e M = (2 · 90)2 + 202 = 181,1077′ e:

Cab = 4,2069 · 10−12 F/m


p
Para uma distância de 30′, H = 30′ e M = (2 · 30)2 + 202 = 63,2456′ e:

Cab = 4,2367 · 10−12 F/m

– 15 –
A figura a seguir mostra o valor da capacitância em função da altura da linha em
relação ao solo:

4,5

4,4

C ×10−12 F/m

4,3

4,2


4,1

4,0
0 50 100 150 200
H [ft]


5.8.6 Cabos

◮ Para cabos, tem-se:

 εr ≫ 1

 ε ≫ ε0

 distâncias pequenas entre condutores (fases)

– 16 –
◮ A capacitância atinge valores altos

◮ Cabos geram uma quantidade significativa de potência reativa:

 132 kV → 2000 kvar/mi

 220 kV → 5000 kvar/mi

 400 kV → 15000 kvar/mi

resultando em restrições nos comprimentos das linhas, devido a limitações térmicas


(temperatura de operação) dos cabos. Exemplos de comprimentos crı́ticos:

 132 kV → 40 mi

 200 kV → 25 mi

 400 kV → 15 mi

Solução: colocar reatores shunt ao longo da linha

cabo

reator shunt

– 17 –
5.8.7 Linhas trifásicas

◮ No caso de uma linha de transmissão trifásica a relação entre as cargas nos


condutores e os respectivos potenciais pode ser colocada na seguinte forma geral:

     
VAB P11 P12 P13 qA
 VBC  =  P21 P22 P23  ·  qB 
VCA P31 P32 P33 qC

Da mesma forma que ocorre com a indutância, no caso particular em que os


espaçamentos entre os condutores formam um triângulo e a carga é equilibrada, a
matriz dos coeficientes se torna uma matriz diagonal com seus elementos da
diagonal iguais entre si.

– 18 –
5.8.8 Capacitância de linhas trifásicas com espaçamento simétrico

◮ Considere a seguinte linha de transmissão trifásica:

D D

a c
D

◮ Considere a situação mais comum na prática:

 condutores idênticos: ra = rb = rc = r

 linha equilibrada: qa + qb + qc = 0

◮ Tensões fase-fase → cada tensão recebe contribuição das três cargas:

  a
1  D r D
Vab = qa ln + qb ln + qc ln  D D
2πεo r D D
|{z}
=0
1

D r
 c b
Vbc = qb ln + qc ln D
2πεo r D equipotencial
1

r D
 devido a qc
Vca = qa ln + qc ln
2πεo D r

– 19 –
◮ Considere os fasores de tensão:


Van = V ∠0◦ V Vab = 3V ∠30◦ V

Vbn = V ∠ − 120◦ V Vbc = 3V ∠ − 90◦ V

Vcn = V ∠120◦ V Vca = 3V ∠150◦ V

◮ Pode-se mostrar (fica como exercı́cio) que:

1
Van = (Vab − Vca )
3
◮ Fazendo as substituições:

 

1 1  D r r D
Van = · qa ln + qb ln −qa ln − qc ln 
 
3 2πε0 | r {z D} | D{z r}
de Vab de Vca

◮ Considerando qc = − (qa + qb ):

 3
qa D qa D
Van = ln = ln V
6πε0 r 2πε0 r

◮ A capacitância fase-neutro vale:

qa 2πε0
Can = = F/m
Van ln (D/r )

– 20 –
5.8.9 Capacitância de linhas trifásicas com espaçamento assimétrico

◮ Considere a seguinte linha trifásica:

D31
D23

1 2
D12

◮ Hipóteses:

 os condutores têm o mesmo raio r

 linha é transposta (igual ao caso da indutância) → obtém-se a capacitância


média

◮ Considerando a transposição, a linha pode ser separada em três trechos distintos:

 Para o trecho 1 em que a fase a está na posição 1, b na posição 2 e c na posição


3, tem-se:
c
D31
 
1 D12 r D23 D23
Vab1 = qa ln + qb ln + qc ln
2πε0 r D12 D31
a D12 b

– 21 –
x
 Analogamente para os outros 2 trechos:

b
D31
 
1 D23 r D31 D23
Vab2 = qa ln + qb ln + qc ln
2πε0 r D23 D12
c D12 a

a
D31
 
1 D31 r D12 D23
Vab3 = qa ln + qb ln + qc ln
2πε0 r D31 D23
b D12 c

◮ A tensão Vab é a média das tensões nos três trechos:

 √ 
1 1 3
D12D23D31 r
Vab = (Vab1 + Vab2 + Vab3 ) = qa ln + qb ln √
3 2πε0 r 3
D12D23D31

◮ Analogamente:

 √ 
1 1 r 3
D12D23D31
Vca = (Vca1 + Vca2 + Vca3 ) = qa ln √ + qc ln
3 2πε0 3
D12D23D31 r

◮ Lembrando que:

1
Van = (Vab − Vca )
3

– 22 –
e:
x
qa
Can =
Van

tem-se finalmente (para carga equilibrada → qa + qb + qc = 0):

2πε0
Can = Cbn = Ccn = F/m
ln (Deq /r )

em que Deq = 3
D12D23D31 é o espaçamento equilátero da linha.

 Exemplo

Determine a capacitância e a reatância capacitiva por milha da linha trifásica mostrada


a seguir. O condutor é CAA Drake, o comprimento da linha é de 175 milhas e a tensão
normal de operação é 220 kV a 60 Hz. Determine também a reatância capacitiva total
da linha e a potência reativa de carregamento.

20′ 20′

38′

Da tabela A.3, o diâmetro externo do condutor é 1, 108′′. O raio externo em pés é:

1′ 1
′′
r = 1,108 · ′′ · = 0,0462′
12 2

– 23 –
Espaçamento equilátero equivalente:


20 · 20 · 38 = 24,7712′
3
Deq =

Capacitância fase-neutro:

2πε0
Can = = 8,8482 · 10−12 F/m
ln (24,7712/0,0462)

Reatância capacitiva:

1
XC = = 299,7875 MΩ·m = 0,1863 MΩ·mi
2πf Can

Pelas tabelas A.3 e A.5 (usando interpolação):

)
Xa′ = 0,0912 · 106
6
⇒ XC = Xa′ + Xd′ = 0,1865 MΩ·mi
Xd′ = 0,0953 · 10

Reatância total da linha:

XC
X= = 1065,7143 Ω
175

– 24 –
Para o cálculo da corrente de carregamento, considere a seguinte situação:

condutor da fase a
+ Icar
Van Can

terra

Portanto:


Van 220 · 103/ 3
Icar = = = 119,2 A
X 1065,7143

Potência reativa trifásica gerada na linha:

QC = 3 Van Icar
Vab
= 3 √ Icar
3

= 3 Vab Icar = 45,4 Mvar

ou seja, aproximadamente 260 kvar/mi.

– 25 –
5.8.10 Efeito do solo sobre a capacitância de linhas trifásicas

◮ Utiliza-se o método das imagens:

a c

H2 H31

H1 H3
solo
H12 H23

a′ c′

b′

obtendo-se uma expressão para a capacitância que leva em conta as distâncias entre
os condutores e as distâncias entre os condutores e as imagens:

2πε0
Can =  √
3
 F/m
Deq H1 H2 H3
ln r · √
3
H12 H23 H31

– 26 –
5.8.11 Condutores múltiplos por fase

◮ Para n condutores, considera-se que a carga em cada um seja de qa /n (para a fase


a)

◮ O procedimento para a obtenção da capacitância é semelhante ao que já foi feito


até agora e o resultado final é:

2πε0
Can = b
 F/m
ln Deq /DsC

em que:

b

DsC = rd dois condutores por fase

b 3
DsC = rd2 três condutores por fase

b 4
DsC = 1,09 r d 3 quatro condutores por fase

b
Os DsC são RMG modificados em relação aos RMG usados no cálculo das
indutâncias, pois o raio externo substitui o raio efetivo

 Exemplo

Determine a reatância capacitiva por fase da linha trifásica mostrada a seguir.

Condutor ACSR Pheasant


d
d = 45 cm
a ′ b ′ c ′
a b c
D=8m
D
Comprimento da linha ℓ = 160 km

– 27 –
Da tabela A.3, o raio externo em metros é:

1,382 · 0,3048
r= = 0,0176 m
2 · 12

RMG modificado da linha:

b

DsC = 0,0176 · 0,45 = 0,0890 m

Espaçamento equilátero equivlente:


3
Deq = 8 · 8 · 16 = 10,0794 m

Capacitância:

2πε0
Can = = 11,7570 · 10−12 F/m
ln (10,0794/0,0890)

Reatância capacitiva por unidade de comprimento:

1
XC = = 225,6173 MΩ·m = 0,1402 MΩ·mi
2πf Can

Reatância capacitiva da linha:

XC 225,6173 · 106
X= = = 1410,11 Ω
ℓ 160 · 103


– 28 –
5.8.12 Linhas trifásicas de circuitos em paralelo

 Exemplo

Obtenha a susceptância capacitiva por fase da linha trifásica de circuito duplo mostrada
a seguir, que é composta por condutores CAA 26/7 Ostrich 300.000 CM.

18′
a c′

10′
21′
b b′

10′
18′
c a′

• Pela tabela A.3, o diâmetro externo do condutor tipo Ostrich é Ds = 0,680′′. O


raio externo em pés é:

0,680 1
r= · = 0,0283′
2 12

– 29 –
• DMG entre as fases e espaçamento equilatero equivalente:

p
Dab = 102 + 1,52 = 10,1119′ = Da′ b′
p
Dab′ = 102 + 19,52 = 21,9146′ = Da′ b
h i1/4
2
DMGab = (10,1119 · 21,9146) = 14,8862′

DMGbc = DMGab = 14,8862′


h i1/4
2
DMGca = (20 · 18) = 18,9737′

Deq = (DMGab DMGbc DMGca )1/3 = 16,1401′

• RMG:

h i1/4
2
RMGa = (r · Daa′ ) = 0,873′
h i1/4
2
RMGb = (r · Dbb′ ) = 0,771′

RMGc = RMGa = 0,873′

b
DsC = (RMGa RMGb RMGc )1/3 = 0,837′

– 30 –
• Capacitância por fase:

2πε0
Cn = b
 = 18,58 pF/m
ln Deq /DsC

• Susceptância por fase:

Bc = 2πf Cn = 7 nS/m = 11,27 µS/mi

 Exercı́cio

Repita o exemplo anterior para a configuração de linha mostrada a seguir e compare os


resultados obtidos.

18′
a a′
10′
21′
b b′
10′
18′
c c′

(Resposta: Cn = 17,60 pF/m, 5,3% menor)

– 31 –
5.9 Modelo da linha de transmissão

◮ Pode-se associar a uma linha de transmissão todos os parâmetros discutidos


anteriormente:

 Parâmetros série ou longitudinais


Resistência – perda de potência ativa com passagem de corrente
Indutância – campos magnéticos com passagem da corrente

 Parâmetros shunt ou transversais


Capacitância – campos elétricos com diferença de potencial
Condutância – correntes de fuga

◮ Como representá-los?

k m

R L R L
k m k m
G C G C

◮ Existem ainda outras possibilidades de representação

– 32 –
◮ Em todos os modelos, as tensões e correntes em cada elemento são todas diferentes

◮ Esses parâmetros são calculados por unidade de comprimento da linha e estão


distribuı́dos ao longo da linha

Portanto, cada trecho da linha ∆x , mesmo muito pequeno (trecho diferencial),


apresenta os quatro parâmetros:

∆x

R, L, C, G

– 33 –
5.9.1 Modelo da linha longa

◮ Considere o seguinte modelo de uma linha de transmissão, que pode ser uma linha
monofásica ou uma fase (fase-neutro) de uma linha trifásica:

IS I I + ∆I IR

+ + + +

VS V V + ∆V VR

− − − −

∆x

Gerador Linha de transmissão Carga

◮ O equacionamento será feito na forma fasorial

◮ Considere:

z ∆x = (R + jωL) ∆x – impedância série do trecho diferencial

y ∆x = (G + jωC) ∆x – admitância shunt do trecho diferencial

ω = 2πf (p.ex. para f = 60 Hz → ω = 377 rad/s)

– 34 –
◮ A corrente pela impedância série é a média das correntes no inı́cio e no fim do
trecho diferencial:

I + (I + ∆I) ∆I
=I+
2 2

A tensão na admitância shunt é a média das tensões no inı́cio e no fim do trecho


diferencial:

V + (V + ∆V ) ∆V
=V +
2 2

◮ As tensões no inı́cio e no fim do trecho diferencial são V e V + ∆V ,


respectivamente. A diferença ∆V se deve à queda de tensão associada à passagem
de corrente (média) pelos parâmetros série:

| +{z∆V} = |{z}
V V − z ∆ x Imédio
| {z }
fim inı́cio queda
 
∆I z ∆x ∆I
∆V = − (z ∆x ) · I + = −z I∆x − ≈ −z I∆x
2 2 }
| {z
≈0

◮ As correntes no inı́cio e no fim do trecho diferencial são I e I + ∆I, respectivamente.


A diferença ∆I se deve ao desvio de parte da corrente pelos parâmetros shunt, que
estão submetidos a uma tensão (média):

I| +{z∆I} = |{z}
I − y ∆ x Vmédio
| {z }
fim inı́cio desvio
 
∆V y ∆x ∆V
∆I = − (y ∆x ) · V + = −y V ∆x − ≈ −y V ∆x
2 2 }
| {z
≈0

– 35 –
◮ Note que os produtos de termos diferenciais são desprezados (muito pequenos)

◮ Fazendo ∆x → 0 (definição de derivada):

d
V = −z I
dx
d
I = −y V
dx

◮ Derivando em relação a x :

d2 d
V = −z I
dx2 dx
d2 d
I = −y V
dx2 dx

◮ Fazendo as substituições das derivadas:

d2
V = zyV
dx2
d2
I = zyI
dx2

que pode ser posta na seguinte forma:

d2
V (x ) = γ 2 V (x )
dx2
d2
2
I(x ) = γ 2 I(x )
dx

– 36 –
que são as equações de onda e:

√ p
γ= zy = (R + jωL) (G + jωC) = α + jβ

em que γ é a constante de propagação, α é a constante de atenuação e β é a


constante de fase

◮ Tomando como exemplo a equação de V : a solução da equação para V é tal que


diferenciando a solução duas vezes se chegue à própria expressão original de V
multiplicada por uma constante → isto sugere uma solução do tipo exponencial

◮ Considere a solução geral das equações diferenciais na forma:

V (x ) = A cosh γx + B senh γx
I (x ) = C cosh γx + D senh γx

em que:

e γx + e −γx
cosh γx =
2
e γx − e −γx
senh γx =
2

e as constantes A, B, C e D dependem das condições iniciais

– 37 –
◮ Supondo conhecidas a tensão e a corrente no inı́cio da linha:

V (x = 0) = V (0) e I (x = 0) = I (0)

tem-se:

A = V (0) e C = I (0)

◮ As constantes B e D são obtidas substituindo-se as expressões das soluções nas


equações de primeira ordem obtidas anteriormente:

d
V (x ) = −z I(x )
dx
d
I(x ) = −y V (x )
dx

Lembrando que:

d d
cosh x = senh x e senh x = cosh x
dx dx
obtém-se:

γ (A senh γx + B cosh γx ) = −z (C cosh γx + D senh γx )


γ (C senh γx + D cosh γx ) = −y (A cosh γx + B senh γx )

– 38 –
◮ Para x = 0:

γB = −z C = −z I (0)
γD = −y A = −y V (0)

r
z z
B = − I (0) = − I (0) = −Zc I (0)
γ y
r
y y 1
D = − V (0) = − V (0) = − V (0)
γ z Zc

◮ A solução fica finalmente:

V (x ) = V (0) cosh γx − Zc I (0) senh γx


1
I (x ) = I (0) cosh γx − V (0) senh γx
Zc
p
em que Zc = z /y é a impedância caracterı́stica da linha – interpretação: Zc é a
impedância a ser colocada no final da linha para que se tenha a máxima
transferência de potência entre gerador e carga → casamento de impedâncias

As equações fornecem a tensão e a corrente em qualquer ponto da linha, sabendo-se


V (0) e I (0) no inı́cio da linha
√ p
γ = z y e Zc = z /y dependem somente dos parâmetros da linha

◮ Potência complexa em um ponto x da linha:

S (x ) = V (x ) I (x )∗ = P (x ) + jQ (x )

– 39 –
◮ Se, ao invés da tensão e corrente no inı́cio da linha, forem fornecidas a tensão e
corrente no final da linha, as equações ficam:

V (x ) = V (ℓ) cosh γx + Zc I (ℓ) senh γx


1
I (x ) = I (ℓ) cosh γx + V (ℓ) senh γx
Zc

em que ℓ é o comprimento da linha, V (ℓ) e I (ℓ) são a tensão e a corrente no final


da linha e x é medido a partir do final da linha em direção ao inı́cio da linha

◮ Outras maneiras de calcular senos e cossenos hiperbólicos:

cosh (a + jb) = cosh a cos b + j senh a sen b


1 a
e ∠b + e −a ∠ − b

=
2
senh (a + jb) = senh a cos b + j cosh a sen b
1 a
e ∠b − e −a ∠ − b

=
2

θ2 θ4 θ6
cosh θ = 1 + + + + · · ·
2! 4! 6!
θ3 θ5 θ7
senh θ = θ + + + + ···
3! 5! 7!

– 40 –
 Exemplo

Considere uma linha monofásica cujos condutores têm um raio de 2 cm, estão
espaçados de 1 m, e:

• a resistência e a condutância são desprezadas

• a frequência é 60 Hz

• a tensão no inı́cio da linha é V (0) = 130 ∠0◦ kV

• a corrente no inı́cio da linha é I (0) = 50 ∠ − 20◦ A

Determine as expressões da tensão e da corrente ao longo da linha. Trace os gráficos


dos valores absolutos da tensão e da corrente para x variando de 0 a 5000 km. Verifique
o que ocorre com a tensão ao longo da linha se ela tem um comprimento de 200 km.

De acordo com o que foi apresentado anteriormente:

 
µ0 D −7 1
L= ln ′ = 4 · 10 ln = 1,6648 µH/m
π r 0,02 · 0,7788
πε0 8,85π · 10−12
C= = = 7,1071 pF/m
ln (D/r ) ln (1/0,02)

– 41 –
Os parâmetros caracterı́sticos da linha são:

z = R + jωL = j6,2763 · 10−4 Ω/m


y = G + jωC = j2,6794 · 10−9 S/m

p p
Zc = z /y = L/C = 483,9883 Ω
√ √
γ = z y = jω LC = j1,2968 · 10−6 m−1

α = ℜ{γ} = 0
β = ℑ{γ} = 1,2968 · 10−6 m−1

Tem-se ainda:

e jβx + e −jβx
cosh γx = cosh jβx = = cos βx
2
e jβx − e −jβx
senh γx = senh jβx = = j sen βx
2

Substituindo os valores numéricos nas expressões de tensão e corrente tem-se


finalmente:

V (x ) = 130 · 103 ∠0◦ · cos 1,2968 · 10−6x − 24,2 · 103 ∠70◦ · sen 1,2968 · 10−6x V
 

I (x ) = 50 ∠ − 20◦ · cos 1,2968 · 10−6x − 268,6015 ∠90◦ · sen 1,2968 · 10−6x A


 

– 42 –
x
150

123,7

100
V [kV]

50

0
0 200 1000 2000 3000 4000 5000
x [km]

150

130
123,7

100
V [kV]

50

0
0 50 100 150 200
x [km]

– 43 –
x
300

200
I [A]

100
97

0
0200 1000 2000 3000 4000 5000
x [km]

Das curvas pode-se notar que:

◮ a tensão e a corrente variam ao longo da linha

◮ para x ≈ 1160 km a tensão atinge o valor mı́nimo de aproximadamente 23 kV

◮ para uma linha com essas caracterı́sticas e de comprimento igual a 200 km, a
tensão no inı́cio da linha é de 130 kV e no final da linha é de aproximadamente
123,7 kV, apresentando uma regulação de:

130 − 123,7
Regulação = · 100 = 5,1%
123,7

– 44 –
 Exemplo

Uma linha de transmissão trifásica apresenta os seguintes parâmetros caracterı́sticos por


fase: R = G = 0, L = 1,33 · 10−7 H/m √e C = 8,86 · 10−12 F/m. Sabendo que no inı́cio
da linha (x = 0) tem-se V (0) = 220/ 3 ∠0◦ kV (de fase) e S (0) = 150 + j50 MVA
(por fase), obtenha:

(a) a constante de propagação γ

Este exemplo refere-se a uma linha trifásica cujos parâmetros da representação por
fase são fornecidos. Deve-se tratar uma fase da linha trifásica como uma linha
monofásica:


γ= zy
p
= (R + jωL) · (G + jωC)
p
= jωL · jωC

= jω LC
= j4,0925 · 10−7 m−1

(b) a impedância caracterı́stica Zc

p
Zc = z /y
p
= (R + jωL) (G + jωC)
p
= L/C
= 122,5206 Ω

– 45 –
(c) a tensão, a corrente e a potência no final da linha se o seu comprimento é de 300 km

A corrente no inı́cio da linha vale:

 ∗
S (0)
I (0) = = 1244,9913 ∠ − 18,43◦ A
V (0)

De modo similar ao exemplo anterior:

cosh γx = cosh jβx = cos βx


senh γx = senh jβx = j sen βx

As equações de onda são:

V (x ) = 127 · 103 · cos 4,0925 · 10−7 · x −




152,5371 · 103 ∠ − 18,43◦ · sen 4,0925 · 10−7 · x




I (x ) = 1244,9913 ∠ − 18,43◦ · cos 4,0925 · 10−7 · x −




1036,5604 · sen 4,0925 · 10−7 · x




As figuras a seguir mostram os valores absolutos (rms) da tensão e corrente em


função da distância ao ponto inicial da linha.

– 46 –
x

200

150
V [kV]

100

50

0
0 300 1000 2000 3000 4000 5000
x [km]

200

150

127
121,4
V [kV]

100

50

0
0 50 100 150 200 250 300
x [km]

– 47 –
x
1500

1000
I [A]

500

0
0 300 1000 2000 3000 4000 5000
x [km]

Para um comprimento de 300 km, tem-se:

V (300) = 121,4402 ∠ − 8,39 kV


I (300) = 1281,3949 ∠ − 23,82 A
S (300) = V (300) I (300)∗ = 155,6128 ∠15,43 MVA = 150 + j41,4024 MVA

Nota-se que a potência ativa no final da linha é igual à do inı́cio da linha (linha sem
perdas) e que a potência reativa no final da linha é menor que à do inı́cio da linha,
indicando que a linha apresenta um comportamento predominantemente indutivo.

– 48 –
◮ É possı́vel interpretar as equações de onda de tensão e corrente como ondas
viajantes → pode-se decompor a onda em onda incidente e onda refletida, que
resultam nas variações observadas nos exercı́cios anteriores

◮ Se carga apresenta impedância igual à impedância caracterı́stica → não há onda


refletida → linha plana ou linha infinita → formas de onda de tensão e corrente
planas se a linha for sem perdas

De outra forma: se a impedância vista pela fonte é igual a Zc → não há onda
refletida → linha plana ou linha infinita → formas de onda de tensão e corrente
planas

◮ Valores tı́picos de Zc são 400 Ω para linhas aéreas de circuito simples e 200 Ω para
dois circuitos em paralelo. O ângulo de fase de Zc está normalmente entre 0◦ e 15◦

◮ Cabos múltiplos têm Zc menor porque L é menor e C é maior

◮ Comprimento de onda: distância entre dois pontos da linha correspondentes a um


ângulo de fase de 360◦ ou 2π radianos:


λ=
β
Para linhas sem perdas:

2π 1
λ= √ = √
ω LC f LC

Valores tı́picos para 60 Hz giram em torno de 5000 km

◮ Velocidade de propagação da onda:

v =f λ

– 49 –
 Exemplo

Para a linha de transmissão monofásica estudada em exemplo anterior tem-se:

π
∠V [rad]

−π

0200 1000 2000 3000 4000 5000


x [km]

2π 2π
λ= = = 4845 km
β 1,2968 · 10−6
v = f λ = 2,91 · 108 m/s

– 50 –
◮ A velocidade de propagação calculada é sempre menor que a velocidade da luz no
espaço livre, que é dada por:

1
c=√
µ0 ε0

Considere uma linha monofásica sem perdas com dois condutores de raio r e sepa-
rados por uma distância D. A indutância e a capacitância da linha valem:

µ0 D 2πε0
L= ln e C=
2π r ′ ln (D/r )

em que r ′ = 0,7788r . A impedância série e a capacitância shunt por unidade de


comprimento valem:

z = jωL e y = jωC

A constante de propagação é igual a:

√ √ √ √
γ= z y = jω LC ⇒ β = ℑ{γ} = ω LC = 2πf LC

O comprimento de onda é:

2π 1
λ= = √
β f LC

– 51 –
A velocidade de propagação é:

1
v = λf = √
LC
 −1/2
µ0 D 2πε0
= ln ·
2π r ′ ln (D/r )
 −1/2
D 1
= µ0 ε0 ln ′
r ln (D/r )

1
v=q
µ0 ε0 ln(D/r
′)

ln(D/r )

Das equações acima nota-se que se r ′ = r tem-se:

1
v =c = √ = 2,9986 · 108 ≈ 3 · 108 m/s
µ0 ε0

Como r ′ < r tem-se v < c. O raio efetivo r ′ aparece em razão da existência


do fluxo magnético interno ao condutor. Se o fluxo magnético fosse totalmente
externo ao condutor, a velocidade de propagação seria igual à velocidade da luz
para uma linha sem perdas.

A presença de perdas também resulta em uma velocidade de propagação menor.

– 52 –
 Exemplo

Uma linha monofásica operando em 60 Hz é composta de dois condutores de raio 1 cm


espaçados de 1 m. Calcule as velocidades de propagação para os casos em que:

(a) R = 0 (linha sem perdas)

O raio efetivo é:

r ′ = e −1/4r = 0,0078 m

A indutância da linha é dada por:

 
µ0 D
L= ln ′
= 9,7103 · 10−7 H/m
2π r

em que D = 1 m. A capacitância é igual a:

2πε0
C= = 1,2075 · 10−11 F/m
ln (D/r )

Impedância série:

z = R + jωL = j0,0004 Ω/m

– 53 –
Admitância shunt:

y = jωC = j4,5521 · 10−9 S/m

Constante de propagação:


γ= z · y = j1,2909 · 10−6 m−1

que corresponde a uma constante de fase de:

β = ℑ{γ} = 1,2909 · 10−6 m−1

Comprimento de onda:


λ= = 4,8674 · 106 m
β

Velocidade de propagação:

v = λ f = 2,9204 · 108 m/s

que corresponde a 97,3% da velocidade da luz.

– 54 –
(b) R = 4 · 10−5 Ω/m.

Neste caso a sequência de cálculos é a mesma. As diferenças ocorrem para os


seguintes valores:

z = 4 · 10−5 + j0,0004 Ω/m


γ = 7,0422 · 10−8 + j1,2928 · 10−6 m−1
β = 1,2928 · 10−6m−1
λ = 4,8601 · 106 m
v = 2,9161 · 108 m/s

que corresponde a 97,2% da velocidade da luz. A inclusão de perdas resultou em


uma velocidade de propagação menor.

(c) R = 4 · 10−4 Ω/m.

Neste caso tem-se:

z = 0,0004 + j0,0004 Ω/m


γ = 6,3319 · 10−7 + j1,4378 · 10−6 m−1
β = 1,4378 · 10−6 m−1
λ = 4,37 · 106 m
v = 2,622 · 108 m/s

que corresponde a 87,4% da velocidade da luz.

– 55 –
5.9.2 Circuito equivalente com parâmetros concentrados

◮ Em geral tem-se interesse somente nas grandezas nos extremos da linha

◮ Idéia: obter um circuito com parâmetros concentrados que seja equivalente ao


modelo de uma linha longa descrito pelas equações de onda → simplifica os cálculos

◮ O circuito π equivalente de uma linha de comprimento ℓ é:

I (0) Z I (ℓ)

+ +

V (0) Y1 I1 I2 Y2 V (ℓ)

− −

Linha de transmissão

◮ o circuito equivalente poderia ser T, mas implicaria na criação de um nó fictı́cio no


circuito

– 56 –
Linhas longas (mais que 240 km)

◮ Idéia: obter equações para V (ℓ) e I (ℓ) em função de V (0) e V (0) e comparar com
as equações do modelo distribuı́do.

◮ Do circuito π-equivalente tem-se:

V (ℓ) = V (0) − Z [I (0) − Y1 V (0)]


I (ℓ) = I (0) − Y1 V (0) − Y2 V (ℓ)

V (ℓ) = V (0) − Z [I (0) − Y1 V (0)]


I (ℓ) = I (0) − Y1 V (0) − Y2 V (0) + ZY2 [I (0) − Y1 V (0)]

V (ℓ) = (1 + ZY1 ) V (0) − ZI (0)


I (ℓ) = (1 + ZY2 ) I (0) − (Y1 + Y2 + Y1 Y2 Z) V (0)

◮ Comparando com as equações de onda:

1 + ZY1 = 1 + ZY2 = cosh γx


Z = Zc · senh γx
1
Y1 + Y2 + Y1 Y2 Z = senh γx
Zc

– 57 –
◮ Z já está determinado. Determinação de Y1 e Y2 :

cosh γx − 1 1 cosh γx − 1
Y1 = =
Z Zc senh γx
e γx +e −γx
1 2 − 1 1 e γx + e −γx − 2
= γx
e −e
=
Zc Zc e γx − e −γx
−γx
2

1 senh2 γx
2 1 senh γx
2
= γx γx = γx
Zc senh 2 · cosh 2 Zc cosh 2
1 γx
Y1 = tanh = Y2
Zc 2

e o circuito π-equivalente para uma linha de comprimento ℓ fica:

Zc senh γℓ

1
Zc tanh γℓ
2
1
Zc tanh γℓ
2

– 58 –
 Exemplo

Para uma linha de transmissão trifásica, 60 Hz, tem-se R = 0,107 · 10−3 Ω/m,
L = 1,35 · 10−6 H/m e C = 8,45 · 10−12 F/m. A tensão no inı́cio da linha é igual a
220 kV e o seu comprimento é de 362 km.

(a) Determine Zc e γ.

Tem-se os seguintes resultados:

z = R + jωL = (1,07 + j5,0895) · 10−4 Ω/m


y = G + jωC = j3,1856 · 10−9 S/m
r
z
Zc = = 404,0493 ∠ − 5,94◦ Ω
y

γ = z y = 1,2872 · 10−6 ∠84,06◦ m−1

(b) Determine o circuito π equivalente da linha.

Para um comprimento ℓ = 362 km, os parâmetros dos circuito π equivalente são:

Z = Zc senh γℓ = 181,6733 ∠78,56◦ Ω


1 γx
Y1 = Y2 = tanh = 5,8703 · 10−4 ∠89,78◦ S
Zc 2

– 59 –
(c) Determine a impedância vista pela fonte caso uma impedância igual a Zc seja
conectada no final da linha.

A impedância vista no inı́cio da linha será:

Zvista = Y1−1// Z + Zc //Y1−1 = 404,0493 ∠ − 5,94◦ Ω = Zc


 

ou seja, a fonte no inı́cio da linha enxerga uma impedância igual à impedância


caracterı́stica Zc .

 Exercı́cio

Obtenha o gráfico [ |Vlinha| × x ] para a linha do exemplo anterior, considerando a


situação descrita no item (c).

Linhas médias (até 240 km)

◮ É feita a seguinte aproximação:

Os termos cosh e senh apresentam termos exponenciais. Desenvolvendo esses


termos exponenciais em série de Taylor tem-se:

x x2
e ≈1+x +
2! → termos de ordem maior que 2
2 foram desprezados
x
e −x ≈ 1 − x +
2!

– 60 –
◮ Se o comprimento da linha ℓ é pequeno, então | γℓ | será pequeno e as seguintes
aproximações são válidas:

senh γℓ ≈ γℓ
cosh γℓ ≈ 1 + (γℓ)2 /2
γℓ γℓ
tanh ≈
2 2

◮ Os elementos do circuito equivalente ficam:

r
z √
Z = Zc senh γℓ ≈ Zc γℓ = · z y · ℓ = z ℓ = (R + jωL) ℓ
y

r
1 γℓ 1 γℓ y √ ℓ ℓ ℓ
Y1 = Y2 = tanh ≈ · = · z y · = y = (G + jωC)
Zc 2 Zc 2 z 2 2 2

◮ O circuito equivalente da linha de transmissão com os parâmetros simplificados é


chamado de modelo π nominal:

(R + jωL) ℓ R L

ℓ ℓ C C
jωC 2 jωC 2 2 2

◮ Nas figuras, a condutância G foi desprezada e, no circuito da direita, o comprimento


da linha é considerado nos valores dos parâmetros

– 61 –
◮ Observações:

 Quase todas as linhas são modeladas como linhas médias (modelo π-nominal)

 Se a linha é longa, é modelada como vários circuitos π-nominal em cascata

 Em certos estudos exige-se uma grande precisão → equações de onda são


usadas → por exemplo em estudos de transitórios em linhas de transmissão, etc.

Linhas curtas (até 80 km)

◮ Encontradas normalmente em redes de distribuição e subtransmissão em média


tensão

◮ Os efeitos dos campos elétricos podem ser desprezados → capacitâncias shunt


desprezadas:

R L

– 62 –
 Exemplo

Para a linha de transmissão trifásica, 60 Hz, de um exemplo anterior, tem-se


R = 0,107 · 10−3 Ω/m, L = 1,35 · 10−6 H/m e C = 8, 45 · 10−12 F/m. Os seguintes
valores foram obtidos:

z = 5,2008 · 10−4 ∠78,13◦ Ω/m


y = 3,1856 · 10−9 ∠90◦ S/m
Zc = 404,0493 ∠ − 5,94◦ Ω
γ = 1,2872 · 10−6 ∠84,06◦ m−1

Determine os circuitos π equivalente e π nominal da linha e compare os resultados


obtidos. Considerar a linha com 362 km e com 100 km.

O circuito equivalente π equivalente da linha para ℓ = 362 km já foi calculado


anteriormente. Os parâmetros do circuito π nominal são:

Z = (R + jωL) ℓ = 188,2690 ∠78,13◦ Ω



Y1 = Y2 = jωC = 5,759 · 10−4 S
2

A tabela a seguir mostra a comparação entre os modelos, incluindo o erro resultante,


calculado por:

| parâmetro-π-equiv | − | parâmetro-π-nom |
erro% = · 100%
| parâmetro-π-equiv |

– 63 –
parâmetro π equivalente π nominal erro%

|Z| 181,6733 188,2675 −3,6


|Y | 5,8703 · 10−4 5,7660 · 10−4 1,8

Os parâmetros para ℓ = 100 km e os erros resultantes são mostrados na tabela a seguir.

parâmetro π equivalente π nominal erro%

|Z| 51,8693 52,0076 −0,3


|Y | 1,5950 · 10−4 1,5930 · 10−4 0,1

Verifica-se que as diferenças entre os modelos π equivalente e π nominal aumentam


para linhas mais longas.

 Exemplo (para ser estudado em casa)

Uma linha de transmissão trifásica de 60 Hz de circuito simples tem um comprimento de


370 km (230 mi). Os condutores são do tipo Rook com espaçamento horizontal plano
de 7,25 m (23,8 ft) entre condutores. A carga na linha é de 125 MW, a 215 kV, com
fator de potência de 100%. Determine a tensão, a corrente e a potência na barra
transmissora e a regulação de tensão da linha. Determine também o comprimento de
onda e a velocidade de propagação da linha.

O espaçamento equilátero equivalente da linha é:


3
Deq = 23,8 · 23,8 · 47,6 = 30 ft

– 64 –
Das tabelas A.3, A.4 e A.5 tem-se:

z = 0,1603 + j (0,415 + 0,4127) = 0,8431 ∠79,04◦ Ω/mi


y = j [1/ (0,0950 + 0,1009)] · 10−6 = 5,105 · 10−6 ∠90◦ S/mi

γℓ = z y ℓ = 0,4772 ∠84,52◦ = 0,0456 + j0,4750
p
Zc = z /y = 406,4 ∠ − 5,48◦ Ω

Na barra receptora tem-se:

215
VR = √ ∠0◦ = 124,13 ∠0◦ kV (tensão de fase, tomada como ref. angular)
3
∗  ∗
125 · 106/3

S/3
IR = = √ = 335,7 ∠0◦ A
VR 3
215 · 10 / 3

Das equações de onda:

VS = VR cosh γℓ + Zc IR senh γℓ
= 124,13 · 103 · 0,8904 ∠1,34◦ + 406,4 ∠ − 5,48◦ · 335,7 · 0,4596 ∠84,94
= 137,851 ∠27,77◦ kV

Is = IR cosh γℓ + (VR /Zc ) senh γℓ


= 335,7 · 0,8904 ∠1,34◦ + 124,13 · 103 /406,4 ∠ − 5,48◦ · 0,4596 ∠84,94


= 332,27 ∠26,33◦ A

– 65 –
Na barra transmissora:


Tensão de linha = 3 · 137,851 = 238,8 kV
Corrente de linha = 332,27 A
Fator de potência = cos (27,77 − 26,33) = 0,9997

Potência = 3 · 238,8 · 332,27 · 0,9997 = 137,4 MW

Considerando uma tensão fixa na barra transmissora, a tensão na barra receptora em


vazio (IR = 0) será:

VS
VRvazio =
cosh γℓ

Logo, a regulação será:

VRvazio − VR 137,85/0,8904 − 124,13


Regulação = · 100% = · 100% = 24,7%
VR 124,13

O comprimento de onda e a velocidade de propagação podem ser calculados por:

ℑ {γℓ} 0,4750
β= = = 0,002065 mi−1
ℓ 230

λ= = 3043 mi
β
v = f λ = 182580 mi/s = 2,94 · 108 m/s

– 66 –
 Exemplo (para ser estudado em casa)

Determine os circuitos π equivalente e π nominal para a linha do exemplo anterior.


Compare os resultados obtidos.

Os parâmetros do modelo π equivalente são:

Zeq = Zc senh γℓ = 186,78 ∠79,46◦ Ω


1 γℓ
Yeq = tanh = 0,000599 ∠89,81◦ S
Zc 2

Os parâmetros do modelo π nominal são:

Znom = z ℓ = 193,9 ∠79,04◦ Ω


y
Ynom = ℓ = 0,000587 ∠90◦ S
2

A impedância série do modelo π nominal excede a do modelo π equivalente em 3,8%. A


admitância em derivação do modelo π nominal é 2% menor que a do modelo π
equivalente.

– 67 –
5.10 Carregamento caracterı́stico da linha

◮ Conforme definido anteriormente, Zc corresponde à impedância caracterı́stica da


linha

◮ Para uma linha sem perdas (G = R = 0):

r r
z L
Zc = = Ω → impedância de surto (surge impedance)
y C

◮ Em alguns tipos de estudo, como por exemplo de descargas atmosféricas em linhas


de transmissão, as perdas são em geral desprezadas

◮ Carregamento caracterı́stico: potência fornecida a uma carga resistiva pura igual à


impedância de surto:

LT IL

√ p
VL / 3 Zc = L/C

Esta potência é transmitida através da linha de transmissão

Em Inglês SIL – Surge Impedance Loading

– 68 –
◮ A equação de onda da tensão pode ser dada por:

V (x ) = VR cosh γx + Zc IR sinh γx

em que VR e IR são a tensão e a corrente na barra receptora (final da linha)

◮ Para a linha sem perdas:

p
Zc = L/C cosh γx = cos βx

γ = jβ = jω LC senh γx = j sen βx

p
◮ Se uma carga com impedância Zc = L/C for conectada na barra receptora, a
corrente será:

VR
IR =
Zc
e a equação de tensão fica:

VR
V (x ) = VR cos βx + jZc sen βx
Zc
= VR (cos βx + j sen βx )
= VR e jβx
| V (x ) | = | VR |

ou seja, para uma carga cuja impedância é igual à impedância de surto, o perfil de
tensão será plano

– 69 –
◮ Análise semelhante para a equação de corrente fornece:

VR
I (x ) = IR cosh γx + senh γx
Zc
VR jβx
= e
Zc

| I (x ) | = | IR |

◮ Potência complexa através da linha:

S (x ) = V (x ) I (x )∗
| VR |2
=
Zc

ou seja, a potência ativa é constante ao longo da linha e não há fluxo de potência
reativa

◮ Se VL é a tensão de linha nop


final da linha, onde está conectada uma carga resistiva
de impedância igual a Rc = L/C (impedância de surto), a corrente vale:


VL / 3
IL = p A
L/C

– 70 –
◮ Potência total entregue à carga (carregamento caracterı́stico):


√ √ VL / 3
SIL = 3VL IL = 3VL p
L/C
VL2
=p
L/C

◮ Em geral a tensão utilizada para o cálculo de SIL é a tensão nominal da linha.


Portanto:

2
Vnominal
SIL = p
L/C

◮ SIL fornece um termo de comparação das capacidades de carregamento das linhas

◮ É comum a representação da potência transmitida por uma linha em valores por


unidade de SIL (p.ex. 0,2 pu SIL)

◮ SIL não corresponde à máxima potência que pode ser transmitida pela linha. Esta
depende de outros fatores, como o comprimento da linha etc.

– 71 –
5.11 Perfil de tensão da linha

 Exemplo

Considere novamente a linha de transmissão trifásica de 60 Hz de circuito simples de


um exemplo anterior, que tem um comprimento de 370 km (230 mi). Os condutores
são do tipo Rook com espaçamento horizontal plano de 7,25 m (23,8 ft) entre
condutores. Obtenha o perfil de tensão da linha, considerando as seguintes situações:
(a) linha em vazio; (b) linha em curto-circuito; (c) carga SIL conectada à barra
receptora (neste caso, desprezar as perdas ôhmicas da linha); (d) carga nominal
conectada à barra receptora; (e) carga leve conectada à barra receptora; (f) carga
pesada conectada à barra receptora.

Tem-se o seguinte circuito por fase:

IS IR

+ +

∼ VS VR ZL
− −

Os dados da linha são:

z = 0,8431 ∠79,04◦ Ω/mi


y = 5,105 · 10−6 ∠90◦ S/mi
γ = 2,0746 · 10−3 ∠84,52◦ mi−1
Zc = 406,4 ∠ − 5,48 Ω

– 72 –
(a) Em vazio: tem-se ZL → ∞ e, portanto, IR = 0. Da equação de onda de corrente:

VS VS
IR = IS cosh γℓ − senh γℓ = 0 → IS = tgh γℓ
Zc Zc

A equação de onda da tensão fica:

V (x ) = VS cosh γx − Zc IS senh γx
= VS (cosh γx − tgh γℓ senh γx )

(b) Em curto-circuito: tem-se ZL = 0, e, portanto, VR = 0. Da equação de onda da


tensão:

VS
VR = VS cosh γℓ − Zc IS senh γℓ = 0 → IS =
Zc tgh γℓ

A equação de onda da tensão fica:

V (x ) = VS cosh γx − Zc IS senh γx
 
senh γx
= VS cosh γx −
tgh γℓ

(c) Neste caso, as perdas ôhmicas da linha são desprezadas, logo:

z ′ = 0,8277 ∠90◦ Ω/mi


y ′ = y = 5,105 · 10−6 ∠90◦ S/mi
γ ′ = 2,0556 · 10−3 ∠90◦ mi−1
Zc′ = 402,66 Ω = ZL

– 73 –
Conforme visto anteriormente, a equação de onda da tensão neste caso fica:

VR = VS cos βℓ − jZc′ IS sen βℓ = Zc′ IR


VS
IR = cos βℓ − jIS sen βℓ
Zc′

Tomando a equação de onda de corrente tem-se:

VS
IR = IS cos βℓ − j sen βℓ
Zc′

Comparando as duas equações para IR , verifica-se que VS = Zc′ IS e a equação das


tensões fica:

V (x ) = VS (cos βx − j sen βx ) = VS e jβx


(d) Considerando uma carga nominal ZL : as equações de onda são:

VR = VS cosh γℓ − Zc IS senh γℓ = ZL IR (1)


VS
IR = IS cosh γℓ − senh γℓ = VR /ZL (2)
Zc

Substituindo (2) em (1) obtém-se a seguinte expressão para IS :

ZL
!
VS cosh γℓ + Zc VS senh γℓ
IS = (3)
ZL cosh γℓ + Zc senh γℓ

– 74 –
Portanto, a equação de onda de tensão fica:

V (x ) = VS cosh γx − Zc IS sinh γx

em que IS é dado por (3).

(e) Carga leve: vale a equação do item (d) com o valor apropriado de ZL .

(f) Carga pesada: vale a equação do item (d) com o valor apropriado de ZL .

A figura a seguir mostra os perfis de tensão para todos os casos estudados.

300

250

220

200
V [kV]

150
Vazio
Curto−circuito
SIL
Carga nominal
100 Carga leve
Carga pesada

50

0
0 50 100 150 200 230 250

x [mi]

– 75 –
5.12 Limites térmico e de estabilidade

◮ A equação de onda pode ser colocada na forma:

VS = AVR + BIR

em que:

VS , VR : tensões nas barras inicial e final, respectivamente


IS , IR : correntes nas barras inicial e final, respectivamente
A = cosh γℓ
B = Zc senh γℓ

◮ Considerando:

VR = VR ∠0◦
VS = VS ∠δ
A = A ∠α
B = B ∠β

tem-se:

VS − AVR VS AVR
IR = = ∠ (δ − β) − ∠ (α − β)
B B B

– 76 –
◮ A potência complexa na barra receptora é:

VS VR AV 2
SR = VR IR∗ = ∠ (β − δ) − R ∠ (β − α)
B B

VS VR AV 2
PR = cos (β − δ) − R cos (β − α)
B B
VS VR AVR2
QR = sen (β − δ) − sen (β − α)
B B

◮ Para facilitar a análise, considera-se uma linha média sem perdas:

A = cosh γℓ ≈ 1 ∠0◦
B = Zc senh γℓ ≈ Zc γℓ = z ℓ = (jωL) ℓ = jX = X ∠90◦

◮ Com relação à potência ativa:

VS VR VS VR
PR = cos (90◦ − δ) = sen δ
X X

P
P max

90◦ δ

– 77 –
◮ Mantendo VS e VR constantes, um aumento da carga implica em um aumento do
ângulo δ. Existe um limite máximo de potência ativa que pode ser entregue:

d VS VR
PR = cos δ = 0
dδ X

ou δ = 90◦ e:

VS VR
PRmax =
X

que representa o limite de estabilidade da linha sem perdas

◮ Considere que:

VS = VR = V
δ = 90◦
X=xℓ

Logo:

VS VR V2 K
PRmax = = =
X xℓ ℓ

ou seja, o limite de estabilidade da linha é inversamente proporcional ao seu


comprimento

– 78 –
Na prática, no entanto, considera-se (por motivos de segurança):

VS = V
VR ≈ 0,95V
δ ≈ 30◦
X=xℓ

Logo:

VS VR 0,95V 2 V2 K′
PRmax ′ = sen δ = ◦
sen 30 = 0,475 max
= 0,475 PR =
X xℓ xℓ ℓ

estabilidade estabilidade
prático
teórico
P

térmico

limite de
operação

– 79 –
◮ A utilização do limite prático de estabilidade visa manter a estabilidade durante
transitórios provocados por distúrbios na rede

O limite térmico, determinado pelo tipo de condutor (dados do fabricante) é


preponderante para linhas curtas

 Exemplo

A figura a seguir mostra a interligação entre as regiões Norte e Sul do Brasil, feita
através de linhas de transmissão de 500 kV.

Tucuruı́ Imperatriz
MA TCSC
Marabá
Imperatriz
PA
Colinas Colinas
PI
Miracema
Miracema
TO
MT
Gurupi
BA Gurupi
Serra da Mesa

Brası́lia
TCSC
MG
GO Serra da Mesa

– 80 –
• O trecho Imperatriz-Serra da Mesa tem aproximadamente 1020 km → linha longa

• A linha conta com compensação série (capacitores) e compensação shunt (reatores)

A compensação é realizada para controlar os nı́veis de tensão e aumentar a


capacidade de transmissão da linha

• TCSC (Thyristor Controlled Series Capacitor ) é utilizado para amortecer as


oscilações eletromecânicas entre os sistemas Norte e Sul

5.13 Capacidade e custos da transmissão

◮ Na seção 5.12 mostrou-se que a capacidade da linha de transmissão diminui com o


comprimento. Uma maneira de compensar o efeito da distância é utilizar tensões
mais elevadas, pois a capacidade de transmissão é aproximadamente proporcional ao
quadrado da tensão nominal de transmissão:

Custo

350 kV
para ℓ = 500 km
750 kV

Potência

– 81 –
Custo
350 kV
750 kV

500 km
300 km
150 km
Potência

Custo
Fixo

Total

Variável

Tensão

 Custo fixo – equipamentos

 Custo variável – perdas ôhmicas na transmissão

– 82 –
5.14 Fluxos de potência nas linhas de transmissão

◮ As linhas de transmissão podem ser representadas pelo modelo π equivalente (ou


nominal), composto pela resistência série (rkm ), pela reatância série (xkm ) e pela
sh
susceptância shunt (bkm )

Ek Em
k zkm m

Ikm Imk

sh sh
jbkm jbkm

◮ Impedância série:

zkm = rkm + jxkm

Admitância série:

1 rkm −xkm
ykm = = gkm + jbkm = 2 + x2 + j 2 + x2
zkm rkm km rkm km

em que gkm é a condutância série e bkm é a susceptância série

– 83 –
Tem-se:

 rkm ≥ 0 ; gkm ≥ 0

 xkm ≥ 0 ; bkm ≤ 0 (parâmetro série indutivo)

sh
 bkm ≥ 0 (parâmetro shunt capacitivo)

◮ Corrente saindo da barra k:

sh
Ikm = ykm (Ek − Em ) + jbkm E
| {z } | {z }k
série shunt

em que Ek = Vk e jθk e Em = Vm e jθm . Corrente saindo da barra m:

sh
Imk = ykm (Em − Ek ) + jbkm E
| {z } | {z m}
série shunt

◮ O fluxo de potência complexa saindo da barra k é dado por:


Skm = Pkm − jQkm = Ek∗ Ikm
sh
= Ek∗ ykm (Ek − Em ) + jbkm
 
Ek
= ykm Vk2 − ykm Ek∗ Em + jbkm
sh 2
Vk
sh
 2
= gkm + jbkm + jbkm Vk − (gkm + jbkm ) Vk Vm (cos θkm − j sen θkm )

Separando as partes real e imaginária:

Pkm = ℜ {Skm } = gkm Vk2 − Vk Vm (gkm cos θkm + bkm sen θkm )
sh
 2
Qkm = ℑ {Skm } = − bkm + bkm Vk − Vk Vm (gkm sen θkm − bkm cos θkm )

– 84 –
De maneira análoga:

Pmk = gkm Vm2 − Vk Vm (gkm cos θkm − bkm sen θkm )


sh
 2
Qmk = − bkm + bkm Vm + Vk Vm (gkm sen θkm + bkm cos θkm )

◮ Note que as expressões dos fluxos de potência foram obtidas considerando que estes
estão entrando na linha:

Ek Em
k Pkm Pmk m

Linha de transmissão
Qkm Qmk

Portanto, as perdas de potência na linha de transmissão são dadas por:

P perdas = Pkm + Pmk


= gkm Vk2 + Vm2 − 2Vk Vm cos θkm = gkm | Ek − Em |2


Qperdas = Qkm + Qmk


sh
Vk2 + Vm2 − bkm Vk2 + Vm2 − 2Vk Vm cos θkm
 
= −bkm
sh
Vk2 + Vm2 − bkm | Ek − Em |2

= −bkm

– 85 –
Note que:

 | Ek − Em | é a magnitude da tensão sobre o elemento série

 gkm | Ek − Em |2 são as perdas ôhmicas

 −bkm | Ek − Em |2 são as perdas reativas no elemento série (bkm < 0; potência


positiva – consumida)

sh
Vk2 + Vm2 corresponde à geração de potência reativa nos elementos shunt

 −bkm
sh
(bkm > 0; potência negativa – fornecida)

 Exemplo

Considere a rede elétrica a seguir.

k Ek Em m

Rede elétrica

sh
Os parâmetros da linha k-m são: zkm = 0,01 + j0,05 pu e bkm = 0,2 pu. Em um
determinado instante durante a operação da linha, suas tensões terminais são
Ek = 1,015 ∠ − 1,3◦ pu e Em = 1,020 ∠ − 6,3◦ pu. Calcule os fluxos de potência e as
perdas de potência na linha.

– 86 –
A admitância série da linha é:

1
ykm = gkm + jbkm = = 3,8462 − j19,2308 pu
zkm

Os fluxos de potência valem:

Pkm = gkm Vk2 − Vk Vm (gkm cos θkm + bkm sen θkm ) = 1,7309 pu
sh
 2
Qkm = − bkm + bkm Vk − Vk Vm (gkm sen θkm − bkm cos θkm ) = −0,5749 pu

Pmk = gkm Vm2 − Vk Vm (gkm cos θkm − bkm sen θkm ) = −1,7005 pu
sh
 2
Qmk = − bkm + bkm Vm + Vk Vm (gkm sen θkm + bkm cos θkm ) = 0,3128 pu

e são mostrados na figura a seguir.

k 1,7309 −1,7005 m
Linha de transmissão
−0,5749 0,3128

A figura indica que:

◮ Um fluxo de potência ativa de 1,7309 sai de k em direção a m. Um fluxo de 1,7005


chega na barra m. Percebe-se que houve uma perda de potência na transmissão de
potência ativa

◮ Um fluxo de potência reativa de 0,3128 sai de m em direção a k. Um fluxo de


0,5749 chega na barra k. Percebe-se que houve uma geração de potência reativa na
transmissão de potência ativa

– 87 –
Realizando o cálculo das perdas de potência:

P perdas = Pkm + Pmk = 0,0304 pu


ou
P perdas = gkm | Ek − Em |2 = 0,0304 pu

Qperdas = Qkm + Qmk = −0,2621 pu


ou
Qperdas = −bkm
sh
Vk2 + Vm2 − bkm | Ek − Em |2 = −0,2621 pu


Observando os termos da expressão de Qperdas separadamente:

−bkm | Ek − Em |2 = 0,1520 pu
sh
Vk2 + Vm2 = −0,4141 pu

−bkm

ou seja, a susceptância série resulta em consumo de potência reativa (> 0), enquanto
que a susceptância shunt resulta em geração de potência reativa (< 0). Neste caso em
particular, a geração é maior que o consumo.

– 88 –
5.15 Transmissão em corrente contı́nua

◮ Um sistema de transmissão em corrente contı́nua (c.c.) que interliga dois sistemas


de corrente alternada (c.a.) é chamado de elo de corrente contı́nua (elo c.c., do
Inglês DC link)

◮ O primeiro sistema de transmissão de energia elétrica comercial usando HVDC


(High Voltage Direct Current) foi o link de 98 km entre a Suécia continental e a ilha
Gotland (Suécia) em 1954

O link operava em 100 kV, transmitindo 20 MW de potência

A justificativa para a implantação do link foi econômica: eliminação da construção


de uma nova central térmica na ilha

◮ Desde então as potências e as tensões de operação de links c.c. aumentaram muito


(por exemplo, 6000 MW e ±600 kV)

◮ Utilização de HVDC:

 transmissão submarina

 transmissão aérea em longas distâncias

 amortecimento de oscilações (melhora


da estabilidade)

 interligação de sistemas com freqüências


diferentes

 transmissão em longas distâncias em


áreas metropolitanas

– 89 –
5.16 Tipos de elos c.c.

◮ Elo monopolar: terra é usada como retorno de corrente

c.a. Elo c.c. c.a.

◮ Elo homopolar: condutores com mesma polaridade (normalmente negativa) e


retorno de corrente pela terra

Elo c.c.
c.a. c.a.

– 90 –
◮ Elo bipolar: um condutor com tensão positiva e outro com negativa. A terra não é
usada como retorno de corrente em condições normais de operação (em
emergências isso pode ocorrer). Conversores ligados em série em cada lado

Elo c.c.
c.a. c.a.

5.17 Considerações sobre a transmissão em c.c.

5.17.1 Vantagens da transmissão em c.c.

◮ Menor número de condutores

Torres menores e mais baratas

Menores perdas

Menor nı́vel de isolação

– 91 –
◮ Comparação entre um sistema c.a. trifásico e um elo c.c. bipolar:

 Potência c.a. (considerando fator de potência unitário)


Pca = 3 Vℓ Iℓ

Potência c.c.

Pcc = 2 Vd Id

Para o sistema c.c. Vd é constante e, portanto, corresponde ao valor máximo:

Vd = Vccmax

Como o valor de pico da tensão de fase é 2 vezes maior que o respectivo valor
eficaz (rms), tem-se:


3
Vℓ = √ Vcamax
2

Considere que Vcamax = Vccmax e que as potências transmitidas sejam as mesmas:

Pca = Pcc

3V I = 2 Vd Id
√ √3 maxℓ ℓ
3 √2 Vca Iℓ = 2 Vccmax Id
3
√ I
2 2 ℓ
= Id

Id = 1,06 Iℓ

– 92 –
Perdas c.a.

p
Pca = 3 Iℓ2 Rℓ

Perdas c.c.

p
Pcc = 2 Id2 Rℓ

Para uma mesma resistência de linha Rℓ e considerando a relação entre as


correntes, tem-se:

p p
Pca = 1,33 Pcc

As perdas em c.a. são 33% maiores que as perdas c.c. para uma mesma
potência transmitida

 Considerando agora que as perdas sejam as mesmas:

3 Iℓ2 R = 2 Id2 R
r
3
Id = Iℓ
2

Para mesma potência transmitida (Pca = Pcc ) e considerando a relação entre as


correntes:

r r
3 Vℓ 3
Vd = √ = Vf
2 3 2

– 93 –
Em termos das tensões máximas:
r
3 Vcamax
Vccmax = √
2 2
max
= 0,87 Vca

A tensão c.c. é menor para mesmas perdas e mesma potência transmitida.


Logo, o nı́vel de isolação em c.c. é menor que em c.a.

5.17.2 Análise de custos

◮ A linha c.c. é mais barata que a linha c.a.: menos condutores, torres mais simples,
menor nı́vel de isolamento
Porém, são também necessárias as estações conversoras (c.a./c.c. e c.c./c.a.), que
são muito caras.

◮ A linha c.a. tem preço por km aproximadamente constante.

◮ A decisão sobre qual sistema adotar (c.a. ou c.c.) sob o ponto de vista de custos
depende basicamente do comprimento da linha:

custo
c.a.
c.c.

custo dos
conversores

≈ 800 km comprimento

– 94 –
5.18 Conversores – visão geral

◮ Configurações de conversores: monofásico ou trifásico, meia-onda ou onda completa

◮ Conversor trifásico de 6 pulsos (onda completa, Graetz):

Linha
Retificador Ld Rℓ

1 3 5
ea L c ia + + Id

eb L c ib
n ∼ vd Vd Inversor
ec L c ic

− −
4 6 2

◮ Descrição dos elementos do circuito e hipóteses simplificadoras:

 Lc : indutância de dispersão do conjunto gerador – transformador


Na verdade, a fonte de tensão trifásica em série com a indutância Lc podem
representar o circuito equivalente de Thévenin do sistema c.a.

 Rℓ : resistência da linha de transmissão (demais parâmetros da linha são


desprezados em c.c.)

 Ld : reator de alisamento (alta indutância, da ordem de 1 H). Considera-se


Ld → ∞ na análise, o que garante uma corrente Id constante (a tensão de saı́da
do conversor não é constante, mas apresenta um ripple)

– 95 –
 A alimentação c.a. é feita através de rede trifásica equilibrada e senoidal

 As válvulas do conversor apresentam resistência nula no sentido de condução e


resistência infinita no sentido oposto

 A ignição das válvulas é feita pelos gates e ocorrem a intervalos de tempo iguais.
No caso tem-se 6 válvulas, portanto, elas são disparadas a cada 60◦ (1/6 de
ciclo de tensão)

 A comutação é instantânea (uma válvula interrompe e outra conduz


instantaneamente)

◮ ea , eb e ec são as tensões de fase aplicadas ao conversor. O valor de pico das


tensões de fase é Em :

ec ea eb

ωt

π 2π
0 3 3

◮ A análise a seguir será feita para a operação da ponte sem controle de ignição dos
tiristores (tiristores comportando-se como diodos). O controle de ignição será
incluı́do adiante

◮ Dois tiristores conduzem por vez: aquele cuja tensão no catodo é a maior e aquele
cuja tensão no anodo é a menor

– 96 –
No intervalo 0 ≤ ωt ≤ π/3 a maior tensão é ea , logo, o tiristor 1 conduz. A menor
tensão é ec , logo, o tiristor 2 também conduz. A tensão vd será:

vd = eac = ea − ec

O mesmo tipo de raciocı́nio vale para os outros intervalos (de 60◦ em 60◦). A
tensão vd será:

vd

eab eac ebc eba

Vd
ωt

π 2π
0 3 3

cujo valor médio é:

√ √
3 2 3 3
Vd = Vℓ = Em ≈ 1,65Em
π π

em que Vℓ é a tensão de linha no secundário do transformador

Este valor de tensão Vd é normalmente denominado Vdo , pois é associado a um


ângulo de atraso (no disparo dos tiristores) nulo (α = 0)

◮ Com controle de ignição, ou seja, com ângulo de atraso não nulo (α 6= 0):

Vd = Vdo cos α

– 97 –
◮ A faixa de variação do ângulo de ignição é de 0 a 180◦. De 0 a 90◦, Vd assume
valores positivos. De 90◦ a 180◦, Vd é negativo. Neste último caso, como o sentido
da corrente não pode mudar, a ponte passa a operar como inversor

◮ Pode-se mostrar que, sendo α o ângulo de ignição e φ o ângulo de defasagem entre


tensão e corrente no secundário do transformador, cos φ = cos α. Ou seja, um
ângulo de ignição maior implica em um fator de potência menor, explicando o fato
do conversor consumir potência reativa
São colocados capacitores ou condensadores sı́ncronos no lado c.a. para o
fornecimento da potência reativa necessária

◮ A comutação não é de fato instantânea, mas leva um certo tempo para ocorrer. Por
exemplo, para ωt = π/3 o tiristor 1 deixa de conduzir, passando o tiristor 3 a
conduzir. Essa transição não é instantânea. Os tiristores 1 e 3 conduzem
simultaneamente por um certo tempo, e este fato é denominado overlap. Isso
implica em uma diminuição de Vd :


Vdo 3 2Vℓ
Vd = [cos α + cos (α + µ)] = [cos α + cos (α + µ)]
2 2π
= Vdo cos α − Rc Id

em que Vℓ é a tensão de linha no secundário do transformador e µ é o ângulo de


comutação (a comutação ocorre durante um tempo µ/ω). Define-se o ângulo de
extinção δ = α + µ

A resistência de comutação é dada por:

3ωLc 3Xc
Rc = = = 6f Lc
π π

e, embora seja considerada como resistência para efeitos de queda de tensão, não
consome potência ativa

A corrente na linha é:

– 98 –
Vℓ
Id = √ [cos α + cos (α + µ)]
2Xc

em que Xc = ωLc

◮ A corrente de linha (rms) no secundário do transformador é:

r
2
Iℓ = Id
3

◮ A corrente no secundário do transformador é dada ainda por:

Iℓ = Ip + j Iq

em que:


6Id cos α + cos(α + µ)
Ip =
π 2

e:


6Id 2µ + sin 2α − sin 2(α + µ)
Iq =
π 4(cos α − cos(α + µ)

◮ Mostra-se que:

1
cos φ ≈ [cos α + cos (α + µ)]
2

ou seja, quando se considera a comutação (µ 6= 0) o fator de potência visto do lado


c.a. (cos φ) é ainda menor, sendo necessária uma injeção ainda maior de reativos

– 99 –
◮ Circuito equivalente do retificador:

Rcr

+ Id +
+
Vdor Vdor cos α Vdr

− −

Vdor – tensão para ângulo de ignição nulo


Vdr – tensão no inı́cio da linha c.c.
Id – corrente no inı́cio da linha c.c.
Rcr – resistência de comutação, dada por 3ωLc /π = 3Xc /π = 6f Lc

◮ Circuito equivalente do inversor:

Rci

+ Id +
+
Vdi Vdoi cos β Vdoi

− −

β – ângulo de ignição do inversor (β = π − α)

– 100 –
◮ O fator de potência no lado c.a. do inversor é:

1
cos φ ≈ [cos γ + cos (γ + µ)]
2

em que γ é o ângulo de extinção do inversor:

γ =π−δ

◮ O circuito equivalente do elo c.c. é:

Retificador Inversor
Rcr Rℓ Rci

+ + Id + +
+ +
Vdor Vdor cos α Vdr Vdi Vdoi cos β Vdoi
− −
− − − −

Linha de transmissão c.c.

◮ Controle do elo c.c.:

Vdr − Vdi Vdor cos α − Vdoi cos β


Id = =
Rℓ Rcr + Rℓ + Rci

– 101 –
◮ Controle lento (≈ 5 segundos) → mudanças em Vdor e Vdoi através dos taps
dos transformadores alimentadores dos conversores

◮ Controle rápido (alguns milisegundos) → controle dos ângulos de ignição α e


β

5.19 Elo c.c. de Itaipu

◮ Configuração:

Sul

SE Eletrosul
Foz do Iguaçú Foz do Iguaçú

Tijuco Preto
Ivaiporã
60 Hz

Itaberá

750 kV 750 kV 750 kV


500 kV Sudeste

Itaipu 345 kV
50 Hz

Ibiúna

500 kV ±600 kV Sudeste

±6300 MW
SE ANDE
Elo c.c.

Paraguai

– 102 –
◮ Torres de transmissão em c.c.:

guarda (pára-raios)

4 × ACSR 1273 MCM


φ = 34,12 mm
−600 kV +600 kV d = 457 mm (entre condutores)

estal estal
linha c.c. bipolar
torre estaiada
(mais simples e leve que torres c.a.)

Estaiada

guarda (pára-raios)

4 × ACSR 1273 MCM


φ = 34,12 mm
−600 kV +600 kV d = 457 mm (entre condutores)

linha c.c. bipolar


torre estaiada
(mais simples e leve que torres c.a.)

Autoportante

– 103 –
◮ Sistema bipolar de 12 pulsos:

Elo c.c.

Y +600 kV Y
Y Y
monopólo 1

∆ ∆

c.a. Y Y c.a.
Y Y
monopólo 2

∆ −600 kV ∆

– 104 –
5.20 Conexão HVDC Brasil-Argentina (Garabi)

◮ Conexão Argentina (50 Hz) – Brasil (60 Hz)

◮ Estação conversora back-to-back de 2.200 MW

– 105 –
5.21 Materiais de apoio

◮ http://www.fee.unicamp.br/cursos/et720 – material de apoio do Capı́tulo 5

◮ http://www.dee.ufc.br/˜rleao/GTD/Transmissao.pdf

– 106 –
5.22 Referências

◮ A.J. Monticelli, A.V. Garcia, Introdução a sistemas de energia elétrica, Unicamp,


2003.

◮ J.D. Glover, M.S. Sarma, T.J. Overbye, Power system analysis and design, Cengage
Learning, 2008.

◮ J.J. Grainger, W.D. Stevenson, Power System Analysis, McGraw-Hill, 1994.

◮ O.I. Elgerd, Introdução à teoria de sistemas de energia elétrica, Mc-Graw-Hill, 1981.

◮ W.D. Stevenson, Elementos de análise de sistemas de potência, McGraw-Hill, 1986.

◮ Transmission line reference book – 345 kV and above, EPRI, 1987.

◮ Operador Nacional do Sistema Elétrico, http://www.ons.com.br.

◮ A.R. Bergen, V. Vittal, Power systems analysis, Prentice Hall, 2000.

◮ C.A. Castro, Material da disciplina IT601 – Cálculo de fluxo de potência, disponı́vel


em http://www.dsee.fee.unicamp.br/∼ccastro

– 107 –
ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I
1 Semestre 2011
Apêndice
Revisão de circuitos de corrente alternada e sistema por unidade

A.1 Circuitos de corrente alternada

◮ Circuito de corrente alternada genérico:

Fonte Carga

+ i (t) +

∼ vf (t) vc (t) Z
− −

◮ Tensão alternada da fonte aplicada sobre a carga:

vf (t) = Vp sen (ωt + α)

em que Vp é o valor de pico da tensão, α é o ângulo de fase e ω é a freqüência


angular dada por:

ω = 2π f

– 1–
No Brasil, f = 60Hz → ω = 377rad/s. O valor eficaz da tensão é:


Vef = Vp / 2

◮ Corrente elétrica que circula pela fonte e pela carga:

i (t) = Ip sen (ωt + β)



em que Ip é o valor de pico da corrente e β é o ângulo de fase. Ief = Ip / 2 é o
valor eficaz da corrente.

◮ As formas de onda de tensão e corrente podem ser representadas na forma fasorial,


em que as expressões no tempo são substituı́das por números complexos (fasores):


v (t) = 2 Vef sen (ωt + α)
n√ o
j(ωt+α)
=ℑ 2 Vef e
 
√ 
jα jωt
=ℑ 2 V| ef{ze } e
 
V~

em que o fasor V~ é um número complexo com módulo igual ao valor eficaz da


tensão Vef e ângulo igual ao ângulo de fase da tensão α. Pode-se escrever:

V~ = Vef e jα = Vef ∠α V

Para a corrente:

~
I = Ief e jβ = Ief ∠β A

– 2–
◮ Diagrama fasorial:

V~

~
I

◮ A relação entre os fasores de tensão na carga e corrente pela carga é definida como
a impedância da carga:

V~ Vef
Z= = ∠ (α − β) =| Z | ∠φ = R + jX Ω
~
I Ief

em que R é a resistência e X é a reatância. Se a carga tiver caracterı́stica indutiva X


e φ serão positivos. Se a carga tiver caracterı́stica capacitiva X e φ serão negativos.

◮ A potência entregue à carga pela fonte é:

p (t) = v (t) · i (t)


= Vef Ief cos (φ) [1 − cos (2ωt)] − Vef Ief sen (φ) sen (2ωt)
= P [1 − cos (2ωt)] −Q sen (2ωt)
| {z }| {z }
A B

– 3–
Observações:

 −π/2 ≤ φ ≤ π/2

 A → potência ativa instantânea

 P = Vef Ief cos φ = valor médio de p (t) = valor médio de A

 P só existe quando há elementos resistivos no circuito (φ 6= ±π/2)

 P ≥ 0, para qualquer φ

 B → potência reativa instantânea

 Q = Vef Ief sen φ = valor de pico de B

 Q só existe quando há elementos reativos no circuito (φ 6= 0)

 Q ≥ 0 para 0 ≤ φ ≤ π/2 (carga indutiva → consome potência reativa)

 Q ≤ 0 para −π/2 ≤ φ ≤ 0 (carga capacitiva → fornece potência reativa)

◮ Definição – potência complexa:

S = V~ ~
I∗
= Vef ∠α Ief ∠ − β = Vef Ief ∠ (α − β) =| S | ∠φ
= Vef Ief cos φ + j Vef Ief sen φ
= P + j Q VA

P – potência ativa (W)


Q – potência reativa (var)
| S | – potência aparente (VA)

– 4–
 Exemplo

Considere o circuito a seguir e mostre que a potência instantânea entregue ao resistor é


igual ao termo A e a potência instantânea entregue ao indutor é igual ao termo B na
expressão da potência instantânea.

i (t)

+
ir (t) ix (t)

v (t) = 2 Vef sen (ωt) V R X

Fasor de tensão:

V~ = Vef ∠0◦ V

Corrente pelo resistor:

~ V~ Vef
Ir = = ∠0◦ = Ir ∠0◦ A
R R

Corrente pelo indutor:

~ V~ Vef
Ix = = ∠ − 90◦ = Ix ∠ − 90◦ A
jωL X

– 5–
Diagrama fasorial:

~
Ir V~

~
Ix ~
I

Formas de onda das correntes no domı́nio do tempo:


ir (t) = 2 Ir sen (ωt)

ix (t) = 2 Ix sen (ωt − 90◦)

Potência instantânea no resistor:

pr (t) = v (t) ir (t)


= 2 Vef Ir sen2 (ωt)
= Vef Ir [1 − cos (2ωt)]

Pelo diagrama fasorial, Ir é a projeção de I no eixo real:

pr (t) = Vef I cos φ [1 − cos (2ωt)]

que é igual ao termo A da expressão geral da potência instantânea.

– 6–
Para o indutor:

px (t) = v (t) ix (t)


= 2 Vef Ix sen (ωt) sen (ωt − 90◦ )
= −2 Vef Ix sen (ωt) cos (ωt)
= −Vef Ix sen (2ωt)
= −Vef I sen φ sen (2ωt)

que é igual ao termo B da expressão geral da potência instantânea.

◮ Circuitos trifásicos:

 em condições normais de operação → equilibrado (fontes e cargas)

 cargas monofásicas são distribuı́das de forma a manter o equilı́brio

 tensões têm mesmo valor eficaz e são defasadas de 120◦

 correntes têm mesmo valor eficaz e são defasadas de 120◦

 pode-se calcular as grandezas de interesse somente para uma fase (em função
das observações anteriores) → diagrama unifilar

– 7–
◮ Potências em circuitos trifásicos:


P = 3 Vf If cos φ = 3 Vl Il cos φ

Q = 3 Vf If sen φ = 3 Vl Il sen φ

em que φ é o ângulo da impedância e os subscritos f e l indicam valores de fase e


de linha, respectivamente. As expressões acima independem da forma como a carga
e a fonte estão conectadas.

 Exercı́cio

Um motor, modelado como uma carga em Y equilibrada com impedância 10∠20◦ Ω por
fase é alimentado por uma fonte cuja tensão de linha é de 173 V. Calcular a corrente
fornecida à carga, o fator de potência da carga e as potências aparente, ativa e reativa
consumidas pela carga.

(Resposta: 10 A; 0,94; 3 kVA; 2,82 kW; 1,03 kvar).

 Exercı́cio

Uma tensão de linha de 4,4 kV é aplicada sobre uma carga conectada em Y consistindo
de três impedâncias iguais de 20∠30◦ Ω. A impedância de cada uma das três linhas que
conectam a carga ao barramento da subestação é 1, 4∠75◦ Ω. Determinar a tensão de
linha no barramento da subestação. Determinar também o fator de potência visto pela
fonte e a potência aparente fornecida pela fonte.

(Resposta: 4,62 kV; 0,84; 1,02 MVA).

– 8–
A.2 Sistema por unidade (pu) – revisão

◮ Quatro grandezas fundamentais: tensão, corrente, potência e impedância.

◮ Sempre que duas forem definidas, as outras duas podem ser obtidas.

◮ Idéia básica: exprimir as grandezas fundamentais de forma normalizada, ou seja,


exprimir cada grandeza como uma fração de grandezas fixadas arbitrariamente,
chamadas de grandezas de base:

grandeza na unidade apropriada


grandeza em pu =
valor de base

◮ Os valores de base são números reais → os módulos de números complexos são


expressos em pu e os ângulos de fase não são alterados.

– 9–
A.2.1 Circuitos monofásicos em pu

 Exemplo

Considere o circuito a seguir.

0,024 Ω 0,08 Ω

I 100 kVA
∼ E 200 V
fp = 80% atrasado

Os seguintes valores de base são definidos arbitrariamente:

Sb = 100 kVA
Vb = 200 V

As outras duas grandezas fundamentais (corrente e impedância) ficam automaticamente


determinadas:

Sb
Ib = = 500 A
Vb
Vb
Zb = = 0,4 Ω
Ib

– 10–
Basta dividir cada grandeza do circuito pela sua respectiva grandeza de base e obter o
circuito em pu:

0,06 pu 0,2 pu

i sc = 1 pu
∼ e vc = 1 pu
fp = 80% atrasado

Os cálculos são realizados em pu. Como a carga tem fator de potência 80% (atrasado,
carga indutiva), a potência complexa em pu é definida como:

sc = 1 ∠36, 87◦ pu

Assumindo a tensão na carga como nominal (200 V) e também como referência angular
do circuito:

vc = 1 ∠0◦ pu

A corrente pelo circuito é dada por:

 ∗
sc
i= = 1 ∠ − 36,87◦ pu
vc

– 11–
A tensão da fonte é dada por:

e = vc + z i = 1,1746 ∠6,06◦ pu

em que z é a impedância que conecta a carga à fonte. A tensão da fonte é portanto de


234,9127 V (multiplicando o valor em pu pela tensão de base).

As grandezas também são normalmente expressas em valores percentuais → a


resistência do circuito vale 0,024 Ω, 0,06 pu ou 6%.

A.2.2 Circuitos trifásicos em pu

◮ Para circuitos trifásicos equilibrados utiliza-se o modelo por fase

◮ Componente em Y → tomar uma fase do Y

Componente em ∆ → transformar em um Y equivalente e tomar uma fase do Y


equivalente

◮ Especialmente em estudos de geração e transmissão → assume-se circuito


equilibrado → modelo por fase → é como se fosse um circuito monofásico

◮ Em estudos relacionados com sistemas de distribuição, algumas vezes considera-se


como equilibrado. Em outras, o desequilı́brio é importante e não pode ser desprezado

◮ Escolha das bases → escolher valores adequados de tensão de fase e de linha de base

– 12–
 Exemplo

Uma fonte trifásica equilibrada de 220 V de linha alimenta uma carga conectada em Y
com impedância Z = 32,2 ∠60◦ Ω. Escolha as bases adequadas e calcular a impedância
da carga em pu.

Com relação à potência de base, pode-se arbitrar os valores:

Sbf = 1000 VA e Sbl = 3000 VA

em que Sbf é a potência de base por fase e Sbl é a potência de base total (3Sbf ).

Para as tensões, tem-se:

Vbf = 127 V e Vbl = 220 V

A escolha destes valores de base fazem com que em pu não haja diferença entre os
valores de fase e de linha, evitando as usuais confusões de cálculo.

A partir dos valores de base arbitrados, pode-se obter os outros valores de base:

Sbf
Ibf =
Vbf
Sbl /3
= √
Vbl / 3
Sbl
=√ = 7,8740 A
3Vbl

– 13–
Vbf
Zbf =
Ibf

Vbl / 3
= √
Sbl / 3Vbl
Vbl2
= = 16,13 Ω
Sbl

A impedância da carga em pu fica:

Z 32,2 ∠60◦
z= = = 2 ∠60◦ pu
Zbf 16,13

O modelo em pu é idêntico a um circuito monofásico com uma fonte de 1 pu


alimentando uma carga da impedância z , resultando em uma corrente:

1
i= = 0,5 ∠ − 60◦ pu
z

que transformada em unidades de corrente resulta em:

I = i Ibf = 3,94 ∠ − 60◦ A

– 14–
A.3 Material de apoio

◮ http://www.fee.unicamp.br/cursos/et720 – material de apoio do Apêndice

A.4 Referências

◮ C.A. Castro, M.R. Tanaka, Circuitos de corrente alternada: um curso introdutório,


UNICAMP, 1995.

◮ J.J. Grainger, W.D. Stevenson, Power System Analysis, McGraw-Hill, 1994.

◮ A.J. Monticelli, A.V. Garcia, Introdução a sistemas de energia elétrica, Unicamp,


1999.

– 15–

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