Templários No Brasil

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RENATO PEREIRA BRANDÃO

O ALDEAMENTO JESUfTICO DE SÃO LOURENÇO:


A HERANÇA TEMPLARIA NA CONSTRUÇÃO
DA ESPACIALIDADE M ISSIONARIA
BRASILEIRA

Dissertação de mestrado apresentada à Escola


de Belas Artes da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, sob a orientação da Profª Maria
Heloisa Fénelon Costa.

Rio de Janei ro, 1991


A Marta, minha mulher e companheira neste caninr.ar tão ârduo
daqueles que se dedicam ao magistério e pesquisa em nosso
pais e aos meus filhos Vanessa, Natasha, Pablo, Renato,
Leonardo, Clarissa e a minha neta Lucienne.
Aos meus pais, Jorge e Ricarda.
AGRADECIMENTOS

Expresso meus agradecimentos a Prof! Maria Heloisa


Fénelon Costa, por ter aceito o tema e a crientação deste
trabalho, para o qual suas sugestões e criticas foram decisivas.
Agradeço a todos oà professores do Mestrado em H�st6ria da Arte
da Escola de Belas Artes da UFRJ, em especial à Prof! Liana

Silveira, à Profª Rosza W. Vel Zoladz e ao ProfQ Agenor Rodrigues


Valle, que acompanharam mais de perto este trabalho. As
indicações de fontes e referências advindas destes professores
foram de fundamental importância na estruturação deste trabalho.
Agradeço igualmente aos meus colegas de mestrado. particularmente
à Ana Maria F. Monteiro de Carvalho por gentilmente ter cedido

cõpia do seu trabalho apresentado à Universi=3de de Coimbra

"Imagens de um projeto de edificação de um Novo �undo.


É de cosignar a ajuda dos colegas do Departamento de
Arqueologia e Museologia e do Departamento de Estudos Sociais

Aplicados da UNESA, sempre prontos a ouvir as m:nhas dúvidas a

auxiliar no que fosse possivel. Gostaria de par�icularizar este

agradecimentos aos Profs. Alfredo A. M. Castro de Sousa, Sheila


M. Castro de Sousa, César A. Lot�ffo, que a:ompanharam este

trabalho·desde os seus passos iniciais, e a Prof! Glâucia

Oliveira da Silva, pela leitura critica dos originais. Agradeço

também ao amigo Arquiteto Jorge Ottoni Menezes, juntos fizemos

diversos levantamentos, dentro os quais o da igreja de São


Lourenço dos tndios
Por fim gostaria de estender estes �g��decimen�os aos
meus alunos do curso de Arqueologia da UNESA, sempre curiosos
sobre o andamento, e questionadores dos seus resultados.
A todos agradeço a atenção a mim dispensada, sem a qual

não teria sido possível a concretização deste trabalho.


R E S U M O

BRANDÃO, Renato Pereira - O Aldeamento Jesuíta de são Lourenço:

A Herança Templária na construção da

especialidade missionária brasileira.

Rio de Janeiro. UFRJ. 1991

Centrada no histórico do aldeamento jesuítico de são


Loure�ço, a presente dissertação propõe-se a discutir a estraté
gia política e militar que permitiu a Portugal conquistar, de-
fender e ocupar o vasto litoral brasileiro como também manter
nas "plantations" um grande contingente de negros escravizados.

Diferencia os aldeamentos jesuíticos brasileiros das


reduções jesuíticas da América espanhola, concluindo que, . en­
quanto a arquitetura das igrejas jesuíticas prenderam-se a um
classicismo despojado, a espacialidade dos aldeamentos tenderam
para uma configuraç�o barroca, perpetuada no traçado das diver­
sas vilas e cidades originárias desses estabelec:Lmentos jesuítt
cos.

-··----
SUMARIO

1 · INTRODUÇÃO .........................................•... 1

1. 1. O Tema... ...... • ... ....... . . ... ...... • ............. ... .2

1.2 Orientação Te6r ica.................•...................3

1 .3 Orientação Metodológica ...........................•...6

1.4 Plano de Trabalho.•....................................8

2. . O TUPi E A OCUPAÇÃO ABORiGENE DO ESPAÇO BRASILEIR0 .... 13

2.1 A Ocupação Tupi-Guarani do Litoral Brasilerc.......... 14

2.2 As Caracteristicas Étnicas dos Tupi Litorãne�s

C Tupinambâ) ........................................... 18

3. O PATRIMõNIO AMERICANO DA HERDEIRA TEMPLAR:A......... 32

3.1 Os Monges Guerreiros do Monte do Templo............... 33

3.2 A Ordem de Cristo e a Descoberta do Brasil.. ......... 48


o
n
n
c/

VJ

57
O 4. O MILITAR E O RELIGIOSO SOB A MESMA CRUZ

A Estrat é gia do Regimento na Conquista da


Terra
4.1
58
do Tupi

da
4.2 A Companhia de Jesus nos Dominios do Padroado
62
Ordem de Cristo

4.3 A Luta Entre Templ á rios e Hospital á rios Pela Terra


n do Tupi
66

na na
4.4 As Ordens Religiosas e a Participa ç ao do Indige
m Constru çã o da Sociedade Brasileira
70
n

ÇO
5 O ALDEAMENTO DE SÃ O LOURENÇ O E A EST ÉTICA DO ESPA
92
MISSIONEIRO
rv
ra
r\ 5.1 Os Espa ç os Missioneiros Jesu í tico Diferenciados
93

^
n 5.2 A Est ética dos Espa ç os Missioneiros
96
O

98
5.3 O Aldeamento do í ndio cavaleiro de Cristo

101
O 3.4 O Espaç o de Sao Lourenç o
r\
r\
103
3.5 A Arte Jesu í tica em Sao Lourenç o

\
-
HLÆË
n
n

n
n
n
-
r\
b. CONSIDERAÇÕES FINAIS 127

r'»

REFER ÊNCIAS BIBLIOGR ÁFICAS 140

^|
S

RESUMO CRONOLÓGICO 150

n
/ -S

DOCUMENTAÇÃO ICONOGR ÁFICA 155

n
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o
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O

O
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O
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^
o
4
4
A
4
4
4
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4
4
4
4 1. INTRODUÇÃ O
4 N

a*>
r t

- 1.1. O Tema
A
A
4 1.2 Orienta çã o Teó rica

Orientaçã o Metodol ó gica


A 1.3

A
O» Plano de Trabalho
— 1.4

0
A
A
A
r\
n
o

o
/

o
O

o
o

o
2

A
XA 1.1. O Teraa

4 Devido a experiência profissional acumulada no caiapo da


4 intrinseco ,
4 Topografia , tive a oportunidade de vivenciar , de modo
4 obstáculos
o contexto espacial brasileiro. Em função dos grandes
A enfrentados , devido as caracteristicas geográficas
e ambientais
4 passei a
desta profissão ,
4 do espaço brasileiras , no exercicio
4 suspeitar de que a nossa história tem reservado à figura do
y
n4 colonizador português um papel muito acima da capacidade

no tocante a conquista e construção do nosso espaço


humana ,

colonial.
4 Ainda que se procure explicar esse empreendimento como
4
mercantilista movida pela ambiçao
4 consequência de uma açao
A desenfreada e empreendida pelo fio da espada , passei a considerar
A atribuir se- únicamente ao impeto
A deveras questionável

4 conquistador português a responsabilidade exclusiva pela

.
construção e preservação do espaço colonial brasileiro
acadêmicas passei a
O Ao dedicar me - as atividades
que moldou o nosso
pesquisar a respeito do processo histórico
/
N

-
-
r\
1

!
espaço. O desenrolar desta pesquisa colocou-me então

seguintes questionamentos:
perante os

Como pôde Portugal que , nos sécs. XV e XVI , possuia


r\ -
extremamente reduzido de colonos soldados para
ura número
o estendia por quase todas
atender uma açao colonialista que se
defender o imenso
regiões continentais , conseguir conquistar e
n litoral brasileiro , fazendo frente a diversas sublevações
“N
'
nações
r\ ind ígenas e tentativas de invasões empreendidas ror outras

europeias , bem mais poderosas do que o pequeno F.eino Lusitano


?
O
Como pode , ao mesmo tempo , raar.rer uma imensa

V
3

população de origem africana sob o julgo do escravid ão ?


Na procura de explicações para esse questionamento

a ação missionária da Companhia de Jesus ,


passei a estudar

atentando , principalmente , para o fato de que a espacialidade

da América portuguesa é essencialmente diversa


raissioneira
daquela construída pelos jesuitas na América espanhola . Enquanto

que nos dominios espanhóis as estruturas missionárias tendiam

para a autonomia , em relaçao a sociedade colonial , nas terras de

Portugal o espaço raissioneiro estava diretamente aos


)
nascentes núcleos coloniais. Na procura de respostas para tal

diferenciação espacial , atentei então para ura detalhe que tem

passado despercebido à nossa história colonial: a questão do

Padroado Religioso , exercido por uma ordem -


militar religiosa , a

Ordem de Cristo.

Essa pesquisa tem como proposta discutir os principio

de composição artistica presentes na estruturação do espaço

missioneiro , na arquitetura e na talha jesuitica presentes no

aldeamento de Sao Lourenço. Discutiremos também a conquista do

espaço litorâneo brasileiro a partir da açao jesuitica e do papel

institucional da Ordem de Cristo , procurando analizar as

consequências advindas de tal processo na construção da sociedade

colonial brasileira.

1.2. Orientação Teórica

Devido a proposta interdisciplinar desta pesquisa .

vimo nos obrigados a lidar cora princ í pios teóricos advindos d=


-
"N
1

4
X
-
4
História da Arte , da Arqueologia , da Etnologia e da História , o
4
3 que nos exigiu conciliar perspectivas disciplinares diversas.
4 Apesar dessa nossa pesquisa nao poder ser caracterizada

J como estritamente arqueológica , é ela balizada , ao nivel de

-1 chamar de "pensar
orientação teórica , do que poderiáraos
4
J -
arqueológico" , considerando se este como um método de abordagem

4 do processo histórico cultural a partir dos vestigios materiais e


-
4 das alterações ambientais originados , direta ou indireta , da
X3 arqueológica ser , norraalmente ,
« ;
X
açao humana. Apesar da pesquisa
4 associada ao processo de escavação , procura a moderna arqueologia
4
fugir desta ultrapassada concepção , pois diversas sao as maneiras
X
A de se abordar o processo histórico através dos vestigios

X materiais de origem humana.


X

-
X
X
na
É importante

atualidade ,
Antropologia , as suas
observar que apesar da Arqueologia
diretamente

raizes
associada

encontram se,

História da Arte pois aquelas que consideramos como as


-
à História

principalmente ,
estar ,
ou

primeiras
à

na

y escavações arqueológicas tinham como objetivo maior o resgate


)
A dos princípios estéticos -
greco romanos. Com o advento da
x Antropologia , a Arqueologia a ela se incorporou afastando se -
'--S partir das ú ltiras
f assim da história da arte. Contudo esta , a
n
A décadas , nao limitou-se à análise estético-descritiva ,
O
aprofundando os seus estudos no sentido de procurar correlacionar

alterações estéticas à dinâ mica social. A partir destas recentes

concepções , acreditamos ser ura caminho natural , e necessário , que

O os enfoques teóricos entre a Arqueologia e a História da Arte


Ov o quanto e
voltem a ser aproximar ; mormente ao considerar
n
O dificultoso e impreciso diferenciar a obra de arte dentre outras
o
0 •"
X
'

1
o s

"" N

manifesta ç oe3 da cultura material.

r Desta maneira ao centrarmos os nossos estudo , numa


abordagem interdisciplinar , na espacialidade mission á ria
jesuitica no Brasil e na express ã o artistica decorrente desse
processo mission á ria , procuramos resgatar essa aproxina ç ao entre
/" N
o "pensar arqueológico'* e a Hist ória da Arte.

A perspectiva arqueol ógica nos coloca frente a um


A enfoque um tanto diverso daquele normalmente expresso nas

n pesquisas hist óricas do periodo colonial , onde a chegada do


A colonizador portugu ês é o marco referencial primeiro. Assim , a
A nossa pesquisa inicia-se nao por este
A referencial roais sim em
A momentos pr é-hist óricos quando da chegada e ocupa çã o do nosso
A litoral por popula ções ceramistas da tradi ç ao Tupiguarani.
A
A Do ponto de vista hist ó rico procuramos fugir do enfoque
reducionista e dicotoroizador imprimido pela "obsess ã o

plantacionista" ( 1 ) assim como daquele que estuda o passado


tendo
^S .

o presente como refer ê ncia ( 2 ). Ao nosso ver , essas perspectivas


teó ricas praticamente eliminaram a participaç ao do indigena na
A nossa formaç ao espacial e cultural , reduzindo-o à imagem
do "bom
A i < selvagem" que sucumbiu frente ao impeto mercantilista do
invasor

europeu estando hoje a sua heranç a limitada a uma reduzida


contribuiçã o genética e a alguns remanescentes da cultura
material aborig ène , como o uso da rede de dormir e a utilizaçã o
da mandioca .
r' - Indubitavelmente , a sociedade brasileira assiste hoje ,
passivamente , a um intenso e declarado processo genocida do
TS
á
remanescente desta popula ç ao indigena , contudo é necess á rio que
sejam reavaliadas as for ç as que pautaram as rela çõ es inter étnicas
ns
o
o
'“S
4
4
3 6
4
J no periodo colonial que foram , obviamente , bastante diversas das
4 que hoje atuam.
4
1 1.3. Orientação Metodológica

4 É fato notório de que tanto a Antropologia quanto a


4 História advogara para si o "status" de ciência , porém , passamos a
4
4 questionar até que ponto estariamos obedecendo os critérios
4 metodológicos que norteiam uma pesquisa cientifica.

Consideramos como pensamento cientifico

a
aquele que ,
partindo do axioma da existência de um mundo objetivamente

J
o -
reconhecivel , procura conhece lo através de construções teóricas
consensualmente aceitas e baseadas era dados , ou informações ,
explicitamente verificáveis. A ciência , portanto , nao lida com

rS certezas , mais sim com pressupostos teóricas consensualmente


aceitos , os quais , a medida que os dados , ou informações ,
explicitamente verific áveis se alteram , seus paradigmas deverão
ser , necessariamente , revistos ( Bronowski , s/d.:131/2 e Ziman ,
L4
n 1979:50/55).

Dentro deste enfoque metodológico , -


faz se necessário
rs esclarecer que , ao propormos determinado modelo interprétâtivo ,

o não significa , necessariamente, que tenhamos a certeza de sua


veracidade , mas sim que o consideramos como a construção teórica
que melhor responde a um conjunto de dados até então disponí vel.

r\ A adoçao da metodologia cientifica traz o grande mérito


de exigir do pesquisador , de forma sistem á tica , um grande rigor
na seleção de seus dado3 e no tratamento interpretarivo destes. A
o
o
n

n 7

exig ê ncia de constru çõ es de modelos hipot éticos é , sem d ú vidas ,


ura ’'filtro" inibidor contra os excessos da criatividade subjetiva
C\
rs ou das distorções de cunho ideol ógico.

Contudo, Ziman ( 3 ) chama por é m a atençã o do equivoco


O
O existente na concepçã o da "supremacia ” do pensamento cientifico.
O Ao nosso ver , essa distor çã o fez com que quase todas as á reas do
O
O conhecimento , desejosas do reconhecimento acad êmico , procurassem
O obter o r ótulo de "ci ência".

Realmente , nao é dificil perceber que , a par


n da sua
o ineg á vel efic ácia , o pensamento cientifico tr ás també m profundas
n limita ções. A ciência nao considera o atipico , ou o individual , o

n que nao significa que ele nao exista ou que , ocasionalmente , nao
r\ se manifeste. Ao mesmo tempo a ciência é praticamente impotente
O
ao enveredar em campos onde nao é possivel a apresenta ç ao
n de
dados consensualmente comprov á veis. Sem d ú vidas que estas
O
limita çõ es se expressam de modo mais flagrante quando o objeto de
O
estudo é o comportamento humano , tanto numa perspectiva

hist órica , onde o individual muitas vezes se sobressai em rela çã o

o! ao social , como numa perspectiva cultural , or.de, por vezes ,



O
torna-se extremamente dificil utilizar dados explicitamente
comprov á veis , como em algumas quest õ es ideol ó gicas ou religiosas.
o* Ziman ( 1979:33 ) , referindo-se ao lugar da hist ó ria
dentro do campo cientifico considera que aparentemente constitui
ela uma verdadeira zona fronteiriç a entre as atividades
O
cientificas e nao cientificas.
r\
Ao nosso ver , em nada deveria diminuir a import â ncia de
uma á rea de conhecimento o fato desta n ã o se adezuar inteiramente

à metodologia cientifica . O que consideramos con; question á vel é


8

procurar apresentar inferências subjetivas revestidas da égide da


"cientificidade".

Temos portanto a consciência de que algumas inferências


aqui apresentadas nao deverão ser consideradas como
'•cientif icas" , por serem inferências subjetivas , ou seja , nao
alicerçadas era dados explicitamente comprováveis. Tivemos porém a

preocupação de não apresenta las como "modelos hipotéticos".


-
Em relaçao as inferências nas quais procuramos seguir
principio metodológicos reconhecidos como cient íficos temos
consciência de que nestas encontramo nos bera mais
- vulnerável às
criticas futuras , já que um dos principais objetivos da
metodologia cientifica é o de facilitar o processo de
critica e
revisão dos paradigmas hipotéticos. Contudo , ao mesmo tempo ,
exige , a metodologia cientifica , que essas mesmas criticas
obedeçam também aos seus princí pios metodológicos
, pois a critica
a um paradigma , construído a partir de dados expl
ícitos , implica ,
preferencialmente , na apresentação de um paradigma alternativo
alicerçado em dados comprovadaraente mais confiáveis ou de
construção interpretativa consensualmente mais
consistente.
Desta maneira , procuramos evitar a super valorizaçao da
ciência sem abrir m ão, porém , de , sempre que
possivel , apoiar as
nossas inferências nos princípios metodológicos
científicos.

1.4. Plano de Trabalho

O fio-condutor desta tese é o histórico do aldeamento


jesuitico de Sao Lourenco devido a sua import â ncia histórica e
o
o
**
* 9

1 arti3tica.

Temos como objetivo principal levantar quest ões sobre o


A mecanismo articulador da estrutura de poder no Brasil colonial e
*
A de que maneira essa articula ç ao orientou a construçã o da nossa
x espacialidade raissioná ria.
/
Como objetivo complementar , temos como proposta

** resgatar a participa ç ao do indigena era nossa forma çã o colonial ,



> considerando- o como agente hist órico ativo e participante.

1 A Iniciaremos focalizando algumas caracteristicas

culturais do indigena Tupi litor â neo , seguido de um breve


n hist órico da Ordem de Cristo e do seu papel institucional no
ò
A processo de expans ã o maritima de Portugal. Passaremos ent ã o a
A avaliar as principais diretrizes s ócio- politicas que pautaram o

*A
A processo mission á rio jesuitico no Estado do Brasil. Discutiremos

ent ã o , baseando-nos neste hist órico , a est ética do espa ç o

missioneiro. Só após abordaremos o hist órico do aldeamento


o
o jesuitico de Sã o Lourenço, a sua espacialidade e as express ões da
arte jesuitica nele presente.

Considerando que o poder politico portugu ês , durante a


O dinastia dos Avis , nao estava ainda estruturado aos moldes da
O
n Estado-Naçao absolutista , mantendo ainda a Igreja Cat ólica um

grande poder institucional , os modelos hist óricos a serem aqui


n propostos s ã o as seguintes:

O - Devido ao regime das correntes marinhas , o litoral


r\
brasileiro tinha uma import â ncia fundamental para o dominio
n
rs estrat égico da rota atl â ntica para as í ndias.
m
- O projeto colonial portugu ês na Am é rica voltava -se

O para a apropria ç ao da forç a guerreira Tupi litor â nea , Tupinamb á )

ér\
rs
A
A
A 10
*
A
A a fim de utiliza- la nao só na conquista e defesa ailitar do
A
A espa ç o colonial mas també m como for ç a repressora ao ind í gena
-4
hostil e ao negro escravisado . Esse projeto colonial implantado
J
A atrav és da ação missionária , principalmente jesuitica , foi fruto
J de uma estrat égia desenvolvida pela instituiçã o nilitar que
A
J possuia o poder do Padroado religioso no Brasil , a Ordem de

A Cristo , estando esta estrat égia expressa , principalmente , no


A Regimento do 12 Governador Geral , Tom é de Sousa.
A
A A dita invasao francesa à Guanabara , comandada por
A Villegagnon , nao foi , conforme acredita-se, uma disputa travada
A
entre protestantes e cat ó licos , mas sim ura desdobramento da luta ,
A
A que teve origem na Terra Santa , entre as Ordens militares
A
cat ó licas dos Templ á rios e Hospital á rios.
Ä
A - Por razoes ainda desconhecidas , a Companhia de Jesus ,
rs após negocia çõ es , resolveu apoiar os interesses da Ordem de
rs Cristo , na luta pelo dominio do litoral brasileiro , contra a

n Ordem dos Hospital á rios.


rs - A espacialidade dos aldeamentos jesu í ticos no Estado
D
CS do Brasil diferenciava -se da especialidade missioneira jesuitica

na Am érica espanhola por estarem , no Brasil , as ordens


n
religiosas , como a Companhia de Je3 us , submetidas ao poder maior
O
O do Padroado Religioso da Ordem de Cristo. Esta , por sua vez ,

condicionava o programa mission á rio religioso a um projeto


<n
<n militar onde os aldeamentos tinham um importante papel
áfS
estrat égico defensivo que os obrigavam a estar visseralmente

rr ligados aos nascentes n ú cleos colonial .

No campo da Antropologia e Hist ó ria da Arte ,


r
(V
discutiremos as diferencia ções nas composi ç oes espaciais

c T

raissioneira 3 e de suas rela ções com os espa ç os coloniais


envolventes , a partir das categorizações de composi çõ es cl ássicas
e barrocas propostas por Wölfflin , utilizando o espa ç o e o
hist ó rico do aldeamento de Sao Lourenç o como exemplo .
Procuraremos demonstrar que , assim como a igreja de
Santo In á cio do Col égio do Rio de Janeiro , atualmente HPm r
\ 1 - rA -
» %
11

missioneiras e de suas relações com os espaços coloniais

envolventes, a partir das categorizações de composições clássicas

e barrocas propostas por WOlfflin, utilizando o espaço e o

histórico do aldeamento de São Lourenço como exemplo.

Procuraremos demonstrar que, assim como a igreja de

Santo Inácio do Colégio do Rio de Janeiro, atualmente demolida,

também a igreja de São Lourenço deve sua traça a Francisco Dias,

sendo a sua fachada uma versão simplificada desta outra igreja

) jesuitica,a qual, por sua vez, é uma versão simplificada da

Igreja São Roque de Lisboa. Desta maneira, São Lourenço

representa uma versão despojada da fachada de São Roque.

Discutiremos também a validade da categorização de maneirista

para definir a linguagem estilistica desta igreja e de seu

retábulo.

Decorrente destas abordagens discutiremos outras

colocações que julgamos possam contribuir para melhor

esclarecimento das questões ligadas ao processo colonial

português no tocante da nossa formação espacial e étnica.


'

^
o
A
A
A 12
A
A NOTAS
A
A
1- Cardoso ( 1990 ) p. 70/1: "Nas duas ú ltimas d écadas , o
A desenvolvimento da profissionaliza çã o de historiadores
A e cientistas sociais , o incremento da pesquisa
A fundamentada era documenta ções maciç as e às vezes
seriadas , uma percepçã o da import â ncia das diversidades
A regionais , enfim o manejo de novas teorias e novos
A pontos de vista permitiram vislumbrar a racionalidade
intr í nseca da sociedade colonial que n ã o exclui ,
A claro , a necessidade dial ética externa /interna e sua
A consider á vel complexidade. ( ...). Longe de estruturar à
volta de duas posi ções polares somente, a sociedade
A abria -se era leque que n ã o anula mas relativiza a
A dicotomia simples antes percebida. ( ...). A anterior
A ) "obsess ã o plantacionista" diminuiu . Percebe-se por fim
uma sociedade rural onde um campesinato sempre esteve
A presente.
A
A 2- Butterfield apud Carr ( 1982) p. 39: "O estudo do
4 passado com ura olho , por assim dizer , sobre o presente
A é a fonte de todos os pecados e sofismas em hist ó ria
... ± a essência do que queremos significas pela
A palavra "anti- hist ó rico".
A
3- ( 1979 ) p. 44/54/69: "Para algumas pessoas , as palavras
"cient í fico" e "n ã o-cient í fico" acabaram por significar
simplesmente "verdadeiro e "falso" ou "racional" ou
n "irracional".( ... ). Da maneira como vejo as coisa 3 , os
n cientistas n ã o precisam afirmar que todo conhecimento é
pass í vel de ser reduzido a ci ê ncia , ou quase unicamente
n o conhecimento cient í fico é digno de cr édito.

n Entretanto , devem acreditar que algumas verdades podem
ri ser descobertas pelo m étodo cient í fico - isto é , pela
sua publicaçã o , cr í tica e aceita çã o por uma comunidade
r' livre- e que essas verdades 3 ã o basicamente merecedoras
A de cr édito. ( ... ) Para entendermos o conhecimento
cient í fico precisamos entender n ã o apenas a ignor â ncia
n cient í fica como també m o erro cient í fico. A Ci ê ncia é
r geralmente merecedora de fé era suas asseções , e os bons
cientistas n ã o se negam a admitir que ignoram a
resposta a certas perguntas. Às vezes , por ém , s ão
feitas algumas afirma ções cientificas que , depois de
tC\ amplamente aceitas , acabara por se revelar inteiramente
falsas. Esse fenô meno , perfeitamente familiar aos
r» cientistas que exercem sua atividade e a qualquer
íT \ pessoa que esteja a par da hist ória da Ci ê ncia , situa -
se fora do escopo da metafisica positivista , cuja
afragilidade fica , em consequ ência , exposta em toda a
sua nudez."

O
o
o
J
J
A
A
A
A
4
J
J
A
A
J
4
A 2. O TUPí E A OCUPAÇÃO ABORÍGENE DO ESPAÇO BRASILEIRO
J
J
J )
I 2.1 -
A Ocupaçao Tupí Guarani do Litoral Brasilero
A
A
A 2.2 As Caracteristicas Étnicas dos Tupi Litorâneos (Tupinarabá)
A
A
A
Á
A
n
n
n
n
A
A
n
o
O
<r\
T
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o
O,
rT\
'Tl
Ol

14

4
r>
-
2.1. A Ocupaçao Tupi Guarani do Litoral Brasileiro.

Ao iniciar a exploração territorial da "Terra de Santa


Cruz” , o colonizador português logo observou a predominância de
uma lingua nativa , que , com certas variações , era falada por um

nú mero maior de aborigènes ( 1). Os indigenas falantes desta


"lingua geral” , hoje conhecida como Tupi Guarani - e classificada

como pertencente ao Tronco linguistico Tupi , ocupavam grande

parte da bacia do -
Paraná Paraguai Uruguai - e, de modo quase

exclusivo e continuo , praticamente todo o litoral brasileiro (2).

De modo geral , os indigenas falantes das linguas do

-
Tronco Tupi , dentre elas o Tupi Guarani , ocupavaa as regiões de

terras baixas e florestas tropicais , incluindo a região

amazônica. Evitavam , os Tupi , as regiões planaltinas e serranas ,


que eram ocupadas , principalmente , por indiger.as falantes das
r~\
linguas pertencentes ao Tronco Macro Gê. -
Portanto o colonizador português encontrou a região

litorânea habitada , quase que exclusivamente. por indigenas

n -
falantes do Tupi Guarani , habitando os "Tapuias’’ (3) as regiões
O interioranas.
O
Quanto a origem dos povos do tronco Tupi é esse um tema

/is ainda cercado por controvérsias. Os linguistas acreditam que a


^s
/

cada superfilo , unidade abrangente dos troncos linguisticos ?


rh
r\ representa uma leva migratória separada , e em tempos distintos ,
/ "'N
para o Novo Mundo. Greensberg (apud Cerulli , 1972:30/31 )
' 'S-
O classificou o tronco Tupi dentro do superfilo Ar.dino- Equatorial ,

do qual também faz parte o tronco Aruak.


O
O Portanto , em tempos ainda nao determinado , mais
15

J—j
V
'
í
posterior as primeiras migra çõ es ,, teriam chegado diretamente à

-! i
1 Am érica Central ou do Sul , já que nao encontramos vest í gios de

linguas do superfilo Andino- Equatorial na Am érica do Norte ,


povo( s ) falante( s ) de uma lingua de onde originaram -se os troncos

Tupi e Aruak , tendo ent ã o se fixado na regi ã o araazõnica , ber ç o

desses troncos linguisticos.

Estudos glotocronol ó gicos sugerem que a diferenciaçã o


4 do Tronco Tupi se deu antes de 3.000 A .C.; já o Proto-Tupi-
-II
- J
Guarani teria surgido em torno de 500 A .C.. Brochado ( 1989:72/3 )
A associando os dados linguisticos aos arqueol ógicos , identifica o
4 Proto-Tupi com a difusã o da
A cer â mica policr ó mica ( Est á gio 5),

A localizando a sua á rea de expansao no m édio e baixo Amazonas ,


A entre a desembocadura do Madeira e a ilha de Marajó. J á ao Proto-
4
A Tupi -Guarani , associa -o esse mesmo autor à subtradiç ao Guarita ,
/"N
identificando um ramo migrat ório que , tomando a direçã o sul ,

-4 acabou por fixar-se na bacia do Paran á -Paraguai-Uruguai , dando

rs origem aos povos Guarani.

Quanto aos Tupi -Guarani do litoral , tradicionalmente

sao eles correlacionados a um ramo disperso dos Guarani que ,


n tendo atingindo o litoral , passou a ocupa - lo no sentido sul -

r\ norte , expulsando para o interior as popula ções Macro-J ê , que os

antecediam na ocupa ç ao do litoral , at é atingir a foz do Amazonas

( Ramos , 1971:87 ). Brochado ( 4 ) associou essa ocupa ç ao litor â nea

à subtradi ç ao Pintada , originada no alto Paran á , atingindo o

litoral cerca de 500-700 A .D. Posteriormente , este mesmo

arqueol ó go ( 1989:74/5) reformulou este modelo , propondo que , al é m


rife da migra ç ao litor â nea proveniente da bacia do Paran á -Paraguai , um
n
ftí outro ramo Tupi teria atingido diretamente o litoral pela
r
\

4
â 16
- I
i desembocadura do Amazõ nas , tomando ent ã o o sentido inverso

( norte-sul ) da migra çã o Guarani. Esses dois ramos migrat ó rios


A %

teriam ent ã o se encontrado no sul , resultando na forraa ç ao de uma


A
A fronteira ativa e hostil , em parte ao longo do Tiet ê.
- I Concordamos era parte cora Brochado, pois , alé m dos dados

arqueol ó gicos , julgamos que também os dados etnol ógicos aproximem

A mais os Tupi litor â neos aos amazônicos , ambos povos canoeiros


A adaptados as condi ções de florestas tropicais , do que aos
A
A ) Guarani . Contudo , os Tupi do litoral apresentavam caracteristicas

culturais especificas , que os diferenciavam de outros grupos

Tupi . Eram altaraente adaptados ao ambiente costeiro , que

permitiu-lhes explorar a fundo os recursos mar ítimos , nao só em


A mar aberto como també m , e principalmente , nas baias , restingas e
4
*J
mangues. Os relatos quinhentistas nao deixam d ú vidas

pesca , assim como a coleta de molusco e crust á ceos ,


de

tiveram
que a

uma
ry
import â ncia vital na subsist ência dos Tupi litor â neos ( 5).
' "N
"
rs Gabriel Soares de Souza ( 1938:360/1 ) , na nossa opini ã o

o mais importante cronista quinhentista , nos informa que o

O primeiro grupo Tupi a atingir o litoral baiano foram os Tupina ês ,


r\ vindos diretamente do sert ã o , para onde expulsaram os Tapuias.
O
Posteriormente , os Tupinamb ás dirigirara -se para o litoral vindos
o "d 'al é m do rio Sã o Francisco” , fazendo ent ã o guerra ao3 Tupina ês
ns
at é que os lan ç aram f ó ra das vizinhanç as do mar". Segundo esse
/ > cronista , essas informações foram obtidas diretamente dos

Tupinambás e Tupina ês , "era cuja mem ó ria andara estas hist ó rias de
O
rrs gera ç ao em gera ç ao". Desta maneira , os Tupinamb á teriam atingido
<r\ o litoral baiano vindo diretamente do sert ã o e nao do litoral
r\
n norte.

r\
r\
r\
,r\
17
n
n
r> Recorrendo mais uma vez aos dados hist ó ricos , lembramos que
n
o termo "Tamoio" utilizado , pelos outros indigenas Tupi , para
r\ denominar a "naçã o" que ocupava o litoral central fluminense ,

tem o significado de "avô" ( Sampaio , 1988:207). Já Staden


o
r\ ( 1974:154) observou que os Tupinambá ( Tamoio ) ocupavam nao só o

atual litoral fluminense como também parte das margens do rio

'"N Paraiba. Mendonç a de Sousa ( 1982: 58/60 ) , chama atenç ao , em

relaçã o ao Rio de Janeiro , de que, segundo dataç oes obtidas por

O
I Dias Jr . , as mais antigas est ã o no litoral central , enquanto que

O. as do litoral norte parecem ser mais recentes , indicando assim ?


n os dados arqueológicos , quanto a uma prov á vel maior antiguidade

dessa "na ç ao" em rela çã o as circundantes.

Desta maneira , levando-se era consideraçã o as


O
caracteristicas étnicas dos Tupi litor â neos , al é m dos dados
n
n arqueol ó gicos e hist óricos , acreditamos que estes indigenas
rv originaram -se de levas migrat ó rias de Tupi -Guarani araazCnicos ,

canoeiros , os quais seguindo os cursos de determinados rios

teriam atingido o litoral em pontos distintos , adaptando-se ent ã o

ao meio-ambiente costeiro e expulsando para o interior as


r\ popula ções de caç adores-coletores litor â neos , provavelmente
O
falantes de lingua3 Macro-J ê.

Após atingirem o litoral , em torno de 500 A. D., deu -se


O
in í cio a um dos mais expressivos movimento de expansao étnica

O registrado pela pr é- hist ó ria , pois 500 anos depois ocupavam , os


r\ Tupi -Guarani , o litoral brasileiro quase que totalmente. Quanto a

rs grandeza populacional formada pelo Tupi litor â neo quando da


r\ chegada do colonizador europeu , é esse t ó pico ainda muito
rs
discutido , havendo grandes diverg ências em rela ção aos numeros
n
J

ia

apresentados pelos etnólogos. Apesar de nao ser po3sivel , ainda ,


r\ apresentar um nú mero conclusivo baseado nos dados arqueológicos ,
a expansao da tradiçao cerâ mica Tupiguarani em território
o
brasileiro é, sem d úvidas , um dos mais expressivo registro de
r?\ ocupaçao espacial detectado pela arqueologia pré histórica (6). -

2.2 As Caracteristicas Étnicas dos Tupi Litorâneos (Tupinambá)

)
Apesar da relação lingua/cultura ser sempre muito
variável , existem algumas caracteristicas culturais comuns a
maioria dos povos Tupi Guarani.- Uma das mais expressiva é a
"flexibilidade" de sua cultura , que os fazem ser extremamente
receptivos a incorporar e sincretizar outros padrões culturais
( 7).

Essa caracteristica étnica expressa se nao - sòmente na


"cosmovisao" -
Tupi Guarani como na construção da sua
O
espacialidade. Ao contr ário da maioria dos grupos indigenas Jê ,

-
que caracterizam se pela dualidade (8), os -
Tupi Guarani tendem
r~
ri
para a unidade. Socialmente não costumam subdividir se - em

C\ "metades" , fazendo com que o espaço da aldeia nao seja

r> segmentado como nas aldeias Jê , onde cada metade tem o seu
r
"locu3" especifico. Também nao encontramos no centro das aldeias
r
r\ Tupi -Guarani a caracteristica "Casa dos Homens". Apesar da mulher

nao participar de determinadas decisões comunitárias , como a


n -

deflagraçao de uma guerra , o espaço masculino Tupi Guarani nao - é


r
'

aspecificamente demarcado.
r
O arguto observador Soares de Sousa ( 1938: 362) assim

fC
r\
r>

19

i sintetizou as caracteristicas étnicas dos Tupinamb á : "(...):

homens de grandes for ç as e de muito trabalho ; são


3 ão

muito
belicosos , e era sua maneira esfor ç ados , e para muitos , ainda que
r\
atrai ç oados: s ã o muito amigos da novidade , e demasiadamente
luxuriosos , e grande ca ç adores e pescadores , e amigo de
lavouras."
O
Passemos ent ã o a analizar as observaçõ es provenientes

desta fonte prim á ria :

) Quanto a robustez fisica desses abor í genes , é essa uma


Oi observa ção praticamente unâ nime de todos os cronistas. Como
depositavam eles seus mortos em urnas enterradas diretamente no
chao das aldeias , o solo á cido , caracteristico do litoral
brasileiro , impediu a boa conserva çã o dos seus restos

O esqueletais , impossibilitando assim a confirmaçã o deste dado


-1
a pela Antropologia Fisica. Contudo, devido a excel ê ncia do regime
m alimentar desses ind í genas , conforme veremos , nos parece ter
o
o bastante proced ê ncia esse dado etno- hist órico. Interessante
o
r\
observar que Soares de Sousa os reputa como "de muito trabalho” ,

contradizendo a interpretaçã o hist órica de que o colonizador


— 4

portugu ês 3 empre considerou o ind í gena como "indolente” , incapaz



>
de se adaptar as relações produtivas da sociedade colonial .

Quanto a quest ã o da tradiç ao belicosa desses indigenas ,


O D. Cook (9 ) observa que o registro paleopatol ô gico tem
n
o demonstrado ser um padrao generalizado para as culturas de
O tradi ç ao agr ícola , por é m de estrutura social nao complexa , a
O
O manuten çã o de guerras constantes cora as sociedades que lhes s ão

perif éricas. Desta maneira , os Tupi litor â neos ( Tupinamb á )


o
o representam um exemplo t í pico deste padrao de tradiç ao guerreira .
n
.

20

r\
Foi também esse um tópico * abordado , numa perspectiva

funcionalista , a fundo por F. Fernades. Segundo este autor


r\
(1970:58), a guerra teria uma finalidade definida na organização

O social , e ecológica , dos tupinambá ,"(...) interferindo por isso

nas condições de competição intercomunitária e no estabelecimento


O
do equilí brio biótico". Para Fernandes , a guerra tinha funções
determinadas e específicas , no sentido de manter o equilíbrio

social e biológico das comunidades Tupinambá. Independente destes

aspectos sociais levantados por Fernandes , chamamos a atençao de

que a estrutura de poder da sociedade Tupi litorânea


O
propiciava esse constante estado de beligerância. Brochado

( 1989:80) observou , com muita procedência , que a expansão Tupi

-
deve se , mais do que as migrações , ao processo de "enxaraamento"

dessas sociedades , que mantinham se - coesas só até um certo


o tamanho da populaçao , quando então fam ílias extensas se afastavam

para formar novos grupos locais. Ao nosso ver , esse processo de


r\
"enxamaraento" era intenso e extenso , principalmente porque o

poder politico desses grupos Tupi era extremamente "fluido" ,


)
podendo se "atoraizar” com relativa facilidade. Ao que parece , a
n .
autoridade do "principal" sustentava-se , primordialmente , no seu
n
O prestigio pessoal (10). Uma simples questão familiar poderia ser
c suficiente para nao só deflagrar um desmembramento do corpo
r
-
< N - social , como também dar inicio a um processo guerreiro que tendia

a se perpetuar , devido a prática do canibalismo ritual . Soares de


O
/
Sousa ( 1938:362) relata que , assim que os Tupinambá atingiram o
litoral baiano , expulsando os Tupinaê , dividiram -se "(...) em
/f\
bandos por certas differenças que tiveram uns aos outros , e
/T\ assentaram 3 uas aldeias apartadas , com o que se inimizaram ;
ns
v
ï

O,

21

n
n -
e faziam se cada dia cruel guerra , e coraiam se uns - aos outros".

(Ts Acreditamos que essas guerras , como a maioria das contendas

V tribais , nao tomassem vulto de grandes massacres ou exterm ínios ,


pois o seu objetivo maior , a par da disputa por um determinado
,
fnichoM costeiro , era o aprisionamento do "contrário" para que
/ N

este fosse canibalizado. Ao nosso ver , a guerra , e o consequente


sacrif ício ritual , mais do que pelo expresso sentimento de

vingança , era também motivadora para a realizaçao dos grandes

) festejos copiosamente regados a bebidas alcoólicas feitas a


O partir da fermentação do milho e da mandioca (11). Esses
O
festejos , para os quais se dedicavam cora grande anteced ência ,
r\
C\ tinham como função social , segundo nos parece , de reforçar a

coesão social da corpo comunitário e as alianças guerreiras.


Ao mesmo tempo , devemos ressaltar que , apesar de nao

serem nómades , a mobilidade espacial destes indigenas era


n grande. Na medida em que a guerra lhes era desfavorável. a

O tendência era do deslocamento da aldeia para um outro ponto do

litoral , ou próximo a este. Devido a esta dinâ mica étnica e


O
-
espacial torna se dificultoso delinear com precisão as fronteiras
n das diversas "nações". Acrescenta se - também que termos de
n
C' 3 ignifiç ados genéricos , como "Tupinikim " , "Tupinambá" e
r
' "Tabajaras" , passaram a ser utilizados , pelos europeus , como
n designativos dessas "nações", dando margem a grandes equivocos

pois um mesmo termo foi utilizados para denominar grupos

distintos , assim como casos houveram era que uma mesma "nação"

r recebeu mais de uma denominação (12).


Quanto aos aspecto de serem "muito amigos de
O
O novidades" í conforme já observamos , os grupos Tupi , em geral , têm
O
o
o
A
22
4
como peculiaridade étnica uma marcante "flexibilidade" ou
r\
o "plasticidade" cultural , que os fazem ser extremamente receptivos
ri
quanto "as novidades".
4
A Quanto a "lux ú ria", desespero dos mission á rios
4 religiosos , devemos observar que é esta uma observa çã o feito por

um europeu perante a uma cultura onde as rela ções amorosas nao

estavam associadas a tenta çõ es deraoniacas ou pecaminosas por é m



condicionadas a padr ões matrimoniais particulares onde a

; poligamia longe estava da perraissividade.


4 O fato de serem exiraios flecheiros , devido a riqueza

faunistica da mata atl â ntica e por ser uma cultura adapatada às

condi ções de florestas tropicais , os faziam "grandes ca ç adores".


Quanto ao fato de serem "amigos de lavoura", deve-se ao

fato de praticarem os grupos Tupi , em geral , uma horticultura

bastante diversificada . Parece-nos , por é m , que essa diversidade

tenha sido maior entre os grupos litor â neos do que os


O
interioranos. Deveras impressionante é o n ú mero de culturas
O
tropicais que esses indigenas conheciam , antes do contato com o
r\
A europeu . Soares de Sousa ( 1938:202) cita a3 seguintes: A
rs mandioca , tanto a "braba" ( t ó xica ), utilizada no fabrico da

farinha , quanto a "doce", utilizada pritipalmente para o fabrico


r\ de bebida alco ólica. Outros tubérculos , como a batata-doce e o

r\ car á. Diversas variedades de milho , pimenta , ab ó bora , chamada de

"gerum ú s , " e feij ã o , inclusive o amendoim que , segundo ele ,

"( .. . ) nao se sabe haver sen ã o no Brasil". Uma grande variedade


ák
de frutas como a mangaba , o ing á , o cajá , o ara ç a , o genipapo , a

pitanga , o maracuj á etc. , sendo por é m as mais importantes o caj ú ,


O
O ‘
a banana e o abacaxi . Alguns estudiosos a firmam q u e os indios só
A
4
4
1 23
4
4
4 vieram conhecer a banana ap ó s o contato cora o europeu , por ter
A ela uma origem comprovadamente asi ática . Contudo , Soares de Sousa
4 ( 13 ), assim como outros cronistas , nao deixa d ú vidas a respeito
4
A de uma variedade nativa , a " pacoba". Informa ele que as
f bananeiras foram trazidas de S. Tom é , afirmando por é m que a
4
4 " pacoba é um fruta natural desta terra". Contudo o fruto nativo
-I que mais impressionou aos europeus foi o abacaxi ou ananaz,
l
J levando este autor ( 1938.: 226 ) a afirmar que o seu sabor é muito
J ) doce e "( ... ) tao suave que nenhuma fruta da Espanha lhe chega na
J
formosura , no sabor e no cheiro". Além destas culturas de

4 subsist ê ncia , os Tupi-Guarani do litoral cultivavam o algodao e o


J tabaco.
A
Nao se tem d ú vidas de que o dominio dessa horticultura
A
A especializada foi de fundamental import â ncia para o sucesso do
A intenso movimento expansionista Tupi -Guarani ( 14), desconhecemos
A
A contudo , ainda , se a domestica çã o dessas diversas plantas , f ruto
A de uma acurada seleçã o fitogenética , foi realizada pelos pr ó prios
O
Tupi-Guarani ou se foi consequ ência de um processo difusionista
A ainda desconhecido , ou ainda , o que nos parece mais prov á vel ,
A consequ ê ncia da intera ç ao desses dois processo ( 15 ).
A
A A informaçã o de que seriam "amigos de lavoura"

confronta -se cora a interpreta çã o hist ó rica de que ,


A
tradicionalmente , o indigena nao se adaptava ao trabalho da
A
lavoura , pois esta nao faria parte do seu universo cultural.
A
Desta raeneira houve a necessidade de se recorrer ao trabalho do
A negro escravo , j á que as culturas abor í genes africanas seriam , em
A
grande parte , de tradi ç ao agr í cola. Boxer ( 1981 : 195 ) reprcduz o
A
A relato do povo da tribo Pende , que vivia na costa ar.§:lana .
A
A
'"'N
O
O

O 24

O
-
onde , referindo se ao3 portugueses , dizera que estes "Trouxeram -
nos milho e mandioca , facas e enxadas , amendoim e tabaco. Desde

então até aos nossos dias , os Brancos nao trouxeram nada senão
O
guerras e misérias”. Podemos observar que , na realidade , os
portugueses transmitiram a esse povo africano , como a diversos
O
outros , conhecimentos sobre lavouras tropicais que aprenderam com

n 03 indigenas -
Tupí Guarani do litoral brasileiro. Sao estas
rs culturas agricolas , até hoje , da maior importâ ncia para a
O \
O agricultura de subsistência não só do continente africano , como
ry de praticaraente todo o trópico-ú mido (16). Um importante dado a
q ser observado é o de que , apesar de dominarem as técnicas de
r>
cultivo de diversas culturas agricolas , estavam eles limitados à
"N
/

~
- tecnologia litica para as práticas de plantio , inclusive para

derrubar as grossas árvores da Mata Atlântica , já que o processo


de "coivara" , por eles adotado ,
- exigia a derrubada da mata antes

da sua queima.
r) O tipiti , apetrecho para o processamento da mandioca ;

a rede de dormir tecida em algodão ; as malocas retangulares , com


CT»
tetos e paredes diferenciados , sao igualmente caracteristicos da

cultura material Tupi.


O
Baseando-nos então nos dados arqueológicos e nos
r\ relatos históricos , podemos resumir da seguinte maneira as

rv principais caracteristicas dos indigenas -


Tupi Guarani que
r\ habitavam o nosso litoral , quando da chegada do europeu :

O - Eram altamente adaptados as condiçoes litorâneas.

D - Encontravam -se em franco processo de expansão demográfica.


(Th
- Dominavam a horticultura especializada.
O
- Possuiara um complexo cultural caractoristicamente "plástico" ou
o
25

"flex í vel".

Subdividiam-se em estruturas comunitárias autónomas.

- Eram habilíssimos guerreiros , tanto em terra como no mar.


Dedicavam-se a guerra -
inter tribal não só por disputas

territoriais mas por ter a guerra , e o ritual caní balístico


consequente , uma função específica de manutenção da estrutura

-
socio comunitária .

Defendemos o paradigma de que a participaçao desses

) ind ígenas , tanto no plano militar como no económico e racial , foi

fundamental para a concretização do projeto colonial brasileiro.

Porém , para que possamos entender em que bases esse

projeto se estruturou , -
faz se necessário resgatar a origem

histórica da cruz templária da Ordem de Cristo , estampada nos

velames das embarcações portuguesas e gravada no primeiro marco-

padrao implantado por Cabral em solo brasileiro.


<1
26

NOTAS

--A 1- Cardim ( 1939 ) p. 170: "Era toda esta prov í ncia ha muitas
/“\J e varias na ções de differentes linguas , por éra uraa é a

iA
princial que compreende algumas dez naçõe3 de Indios:
estes vivera na costa do mar , e era uraa grande corda do
sert ã o , por é m s ã o todos estes de uma s ó lingua ainda que
era algumas palavras discrep ã o

ij
2- Larouse ( 1970 ) p. 4034: "Das duas linguas documentadas
no per í odo colonial , o tupi -guarani foi registrado em
duas variantes ( dialetos ), o tupinambá ou tupi antigo ,
A falado nos secs. XVI e XVII era consider á vel extens ã o do
litoral brasileiro , de Sã o Paulo ao Maranh ã o - o que
A levou os colonizadores portugu êses a charaa - lo lingua
4 ) geral do Brasil ou , simplismente e por excel ê ncia , lingua
4 brasilica ; e o guarani antigo , registrado na primeira
metade do séc. XVII no Oeste do atual estado do Paraná ,

i onde os jesu í tas espanh ó is estasbelecerara suas famosas


redu ções de Guair á cora indios guarani , e , ura século
depois , bera mais ao sul , nas novas miss ã oes espanholas
que ent ã o se estenderam , à esquerda do rio Uruguai , no
territ ório do atual Est . do Rio Grande do Sul."
- Ao nosso ver , a utiliza çã o do termo tupinambá para
designar , genericamente , os diversos grupos Tupi-Guarani
4 litor â neos tem dado margens a diversos equivocos , pois
1 além dos sentidos genérico e linguistico , é ele també m
: designativo de algumas "na ções" especificas.

A
3- "Tapuia" é ura termo genérico , utilizado pelos falantes
do Tupi -Guarani , e adotado pelos portugueses , para
designar , pejorativamente , todo aquele indigena que n ã o
compartilhassem de sua l í ngua /cultura.

4- Ferrari ( 1983 ) p. 8: "Na evolu çã o da tradi çã o cer â mica


Tupiguarani , observam -se tr ês subtradi ções: a Pintada , a
~t Corrugada e a Escovada , Na subtradiçã o Pintada a maioria
dos vasilhames decorados sã o pintados. Na subtradi çã o
Corrugada a maior parte dos vasilhames decorados s ã o
pl ásticos , predominando a decora çã o corrugada . Tanto a
subtradiçã o Pintada , quanto a Corrugada , chegaram at é a
é poca hist órica . Os ind í genas encontrados da metade do
Estado do Paran á para o norte do Bra 3 il possu í am
predominantemente cer â mica da subtradiçã o Pintada ; os da
metade do Paran á para o sul do Brasil e p a i 3 G S vizinhos ,
possu í am cer â mica da subtradi çã o Corrugada ( Brochado ,
1973 b:7-20 ). Na subtradi çã o Escovada é abundante a
decora çã o decorada ; nos lugares onde ocorre é mais
recente que a Corrugada e refletiria a influ ê ncia
rs europé ia ( Brochado , 1973 a , 1973 b )".
Scatamacchia ( 1981 ) p.39: " A cer â mica é o elemento
diagn óstico para a identidade da tradiçã o . Essa pode ser

r\
27

lisa, com decoração plástica ou pintada. A decoração


plástica se apresenta corrugada, ungulada ou escovada. A
pintura policroma, com linhas vermelhas e/ou negras sobre
o branco, mais raramente linhas negras ou brancas sobre
vermelho, ou ainda com faixas vermelhas. Os motivos
decorativos da cerâmica são constituidos por complexos
padrões geométricos ou abstratos, através de linhas ou
traços paralelos distribuidos em zonas perfeitamente
delineadas. A pintura pode ser aplicada tanto na
superfície externa como interna. Ocorre frequentemente a
combinação de distintas técnicas de tratamemto de
superfície na mesma vasilha, assim como a alternância de
áreas decoradas com outras sem decoração."
Chamamos a atenção de que o termo "Tupiguaraní" é
designativo de uma determinada tradição arqueológica,
diferenciando-se assim do termo linguistice, escrito com
hifen. Contudo, os dados etnográficos permitem que se
) correlacione esses dois registros a um mesmo contexto
cultural.
Ferrari, Id. ibid.: "Segundo ele (Brochado), duas
ondas nigratórias teriam desenvolvido um imenso movimento
centrífugo: a primeira (subtradição Pintada),
originando-se no alto Paraná, a partir de cerca de A.D.
500-700 teria seguido pela costa Atlântica no sentido
sudoeste-nordeste, chegando pelo menos até o extremo
nordeste do Brasil; a segunda (subtradição Corrugada)
originária também do alto Paraná, a partir de cerca 1.300
teria descida pelo Uruguai, o Paraguai até o rio da
Prata.

5- Os cronistas são unânimes em afirmar o quanto eram, os


Tupi litorâneos, excelentes nadadores e canoeiros.
Segundo Léry (1960: 147): "Cabe observar que na América
tanto os homens corno as mulheres sabem nadas e são
capazes de ir buscar a caça ou a pesca dentro d�gua como
um cão. Também os meninos apenas começavam a ca�inhar já
se metem pelos rios e pelas praias, mergulhando como
patinhos" . Thevet (1978:106) nos informa que os frutos
do mar forneciam a alimentação básica desses aborígenes:
"O alimento mais comum desta pobre gente, mais consumido
que a própria carne, são os peixes do mar, ostras e
coisas semelhantes. Os que moram loge do mar pescam nos
rios. Os selvagens também dispõem da grande variedade de
frutas que a natureza lhes peoporciona. Nem por isso
deixam de viver longamente, com saúde e boa disposição.
Beltrão & Laraia (1971:206/211) em trabalho
interdisciplinar, reafirmam a importância da coleta de
moluscos na subsistência dos Tupi litorâneos: "( ... );
normalmente, como era de esperar, os aldeamentos estão
juntos a riachos e próximos a rios; as conchas (gênero
Anomalocardia, Ostrea, e representantes da familia
Mytilidae) estão sempre pregentes nos aldeament2s do
litoral; ( ... ) a existência de conchas nas alce�3s e a
localização dos acampament0�1 junto aos bancos �= moluscos
é uma confirmação, quase su��rflua, da inforn3:â= dos
o
-A
1

A 28
A
A cronistas de que o marisco constituia uma parte
importante da dieta alimentar d êsses ind í genas
A
A
6- Meggers apud Scataraacchia ( 1981 ) p. 43/4: "a ocorr ência
A fora do comum desta ampla dispersã o de estilos cer â micos
A tem atraido pouco interesse , provavelmente por ser f á cil
A perder o sentido de perspectiva em relaçã o ao Erasil , e
esquecer o fato de que n ã o encontramos era parte alguma da
J Am érica do Norte ou da Europa , exemplos de culturas
A ceramistas cora grau semelhante de homogeneidade
A distribu í dos por á reas de grandeza equivalente.

A
A 7- A respeito da "flexibilidade” cultural Tupi , Viveiro de
Castro ( 1986:89 ), nos diz o seguinte: "A monografia de
A Wagley & Galv ã o sobre os Tenetehara ( publicada em ingl ês
A em 1949: ediçã o em português em 1961 ) é um estudo
cl á ssico de mudan ç a cultural , que procura abordar o
A fenô meno em todos os aspectos da vida social deste povo
A Tupi-Guarani do Maranh ã o e Par á . ( ... ) Apontando para um
tra ç o que reaparece em outras monografias Tupi , os
A autores indicara a vida religiosa ( sobretudo no plano do
A discurso ) como o lugar da resist ência Tenetehara â
A mudanç a social imposta pela subordina çã o à sociedade
brasileira: n ã o obstante - e isto també m reaparece em
A in ú meros trabalhos sobre oa Tupi - observam que os
Tenetehara , ao contr á rio por exemplo de seus vizinhos
n Timbiras , s ã o extremamente ’’ pl á sticos *' e receptivos
quanto à adoçã o de novos padr õ es culturais.”

8- L évi -Strauss ( 1967 ) p. 23: ” Designa -se com o nome


de organiza çã o dualista um tipo de estrutura social
frequentemente encontrado na Am érica , Á sia e Oceania ,
caracterizado pela divis ã o do grupo social - tribo , cl ã
ou aldeia - em duas metades cujos membros mant é m , uns com
os outros , rela ções que podem ir da colabora çã o mais
O
intima à uma hostilidade latente , e associando geralmente
ambos os comportamento ”.
irk A quest ã o da dualidade J ê tem merecido bastante atençã o
m poparte dos antropó logos. Melatti ( 1978:80/ 1 ) , faz a
seguinte refer ência a respeito dos Krah ó: ”0s indios
rs Krah ó se dividem em v á rios pare3 de metades. Alguns
desses pares se subdividem , por sua vez , em grupos
menores . ( ... ) Uma s érie de atos de car á ter ritual ou
simbó licos distinguem os membros de cada um dessas
metades contr á rias. Assim , nas reuni õ es realizadas na
pra ç a da aldeia , os membros da metade Wakmeye se ajuntam
do lado leste , enquanto os Katamye ficam a oeste. Os
membros da metade oriental pintam seu corpo coz traç os no
r\ sentido vertical , enquanto os da ocidental , ccm tra ç o3
horizontais."
O
n 9- Palestra proferida na UNESA em 27-4-91
^ \

n
""N

ni 19
n
10- Claster ( 1988 ) p. 27/8: "É ent ã o por quatro tra ç os que na
Am érica do Sul se distingue o chefe. Como tal , ele é um
"apaziguador" profissional" ; alé m disso , deve ser
generoso e bom orador ; possui , enfim o privilégio da
poliginia . ( . . . ) Planajador das atividade econó micas e
cerimoniais do grupo , o lider n ã o possui qualquer poder
decisório , ele nunca est á seguro de que as suas "ordens"
ser ã o executadas: essa fragilidade permanente de um
poder sempre contestado d á sua tonalidade ao exercicio da
funçã o: o poder do chefe depende da boa vontade do grupo
( . . . ) Cora efeito , é not á vel constatar que es3 a
trindade de predicados - dom orat ó rio , generosidade ,
poliginia - ligados á pessoa do lider , concerne aos
mesmos elementos cuja troca e circula çã o constituem a
r\ sociedade como tal , e sancionam a passagem da natureza
) para a cultura .

ni
ri 11 - Sousa ( 1938 ) p. 376"Este gentio é muito amigo de
vinho , assim machos como femeas. o qual fazem de todos os
seus legumes , at é da farinha que comem : mas o seu vinho
principal é de uma raiz a que chamam de aipim ( .. . ), o
bebem com grandes cantares , e cantam e bailam toda uma
noita ás vesperas do vinho , e ao outro dia pela manh ã
começ am a beber , bailar e cantar ( ... )".

12 — Baseando -nos nas informa çõ es de Soares de Sousa ( 1938 )
o» e de Cardim ( 1939 ) identificamos as seguintes "na ções"
Tupi-guarani como as principais ocupantes do nosso
Mi
litoral no s éc. XVI , lembrando sempre a facilidade de
mobilidade , de "enxamamento" e de tomarem denomina çõ es
diversas , que tinham essas estruturas tribais:
Pitiguar ou Potiguar do Maranhao at é o rio Paraiba .
Caet é do rio Paraiba ao rio Sao Francisco.
Tupinambá do rio Sao Francisco ao sul da Bahia .
Tupuniquin - do sul da Bahia ao Espirito Santo.
Teraimin ó Espirito Santo
r> Tamoio ou Tupinamb á Rio de Janeiro
Tupinikin e/ou Tupi Sao Paulo
Carij ó do sul de Sã o Paulo a ilha de Santa Catarina
r\
r\
13- Soares de Sousa ( 1938 ) p. 207/8/9: "Pacoba é uma fruta
natural d ' esta terra , a qual se d á em uma arvore muito
r\ molle e facil de cortar , ( . . . ) As bananeiras tem
r\ arvores , folhas e cria çã o como as pacobeiras , e n ã o ha
nas arvores de uma 3 á s outras nenhuma differenç a , as
rs quaes foram ao Brazil de S. Thom é , aonde ao seu fruto
chamam bananas e na í ndia chamam a estes figos de horta
as quais s ã o mais curtas que as pacobas v . . . ): e n ã o
s ã o t ã o sadias como a 3 pacobas .
o Thevet ( 1978 ) p . 111 : "Quando voltava de
o Jerusal é m , vi , no Egito e em Damasco , uma arvore muito
o
O
O
O

A
rS 30
!
»

A semelhante a esta , mas cujas folhas n ã o alcanç avam sequer


a metade da 3 dimens ões citadas. Al é m do mais , 03 frutos
A de uma eram bastante diferentes dos da outra . Os da
pacoveira t ê m cerca de um pé de comprimento , sendo bem
A maiores que seus cong éneres asi áticos."
A
A 35- Acreditamos que a vantagem decorrente do dominio de
t écnicas horticultoras , no processo expansionista do Tupi
A litor â neo , n ã o tenha sido de ordem nutricional , j á que as
A popula ções litor â neas costumam apresentar um bom padr ã o
A alimentar e complex ã o fisica robusta , conforme observa
Schmitz ( 1984:36 ) em rela çã o as popula ções sambaquianas ,
A que antecederam os Tupi no litoral brasileiro. Sabemos
1 que dois problema crticos a serem enfrentado em uma
campanha militar é o do deslocamento das tropas e o apoio
'""N logistico , principalmente quanto ao abastecimento de
ra ções alimentares das tropas . Soares de Sousa ( 1938:194)
nos relata que , ao sairem esses nossos ind í genas em suas
incursõ es guerreiras , levavam à s costas , era unia espécie
1
de mochila impermeá vel feita de folhas , uma por çã o de
farinha de mandioca especialmente preparada , conhecida
A como "farinha de guerra". Ao mesmo tempo , a habilidade
A canoeira dos Tupi permitia ura r á pido deslocamento dos
! guerreiros ao longo do litoral. Thevet ( 1978:128) informa
que os Tupinamb á do litoral fluminense iam guerrear os
CS que viviam no "Morpi ã o", regi ã o litor â nea compreendida
A entre sul do Est . de Sã o Paulo ao norte de Santa
Catarina . Desta maneira , esta "farinha de guerra" , aliada
a habilidade de canoeiros permitiam o deslocamento de um
r\ grande n ú mero de guerreiros Tupi Guarani a longas
dist â ncias. Em nossa opini ã o , essa maior facilidade de
r\ deslocamento dos seus guerreiros , dava aos
D Tupi -Guarani uma grande vantagem , em relaçã o a maioria
dos grupos "tapuias , na disputa pelo litoral. 0 valor da
"farinha de guerra" logo foi reconhecido pelos
r* portugueses que passaram a adota - la na matalotagem dos
seus navios que partiam para a Metr ó pole , conforme
o observa Soares de Sousa ( 1938: 195 ).

f\
éí 15- Os Tup í-Guran í atribu í am a um personagem mitol ó gico
denominado Meire Humane , Maire- monan , Mair-Zumane. Sum é
T
/ \
ou Zom é , o papel de transmissor do conhecimento da
/ T\ horticultura especializada . Staden ( 1974:167) assim a ele
/ n\ se refere: "Fazem uma tonsura no alto da cabeç a e deixam
ficar em torno uma corõa de cabelos , como um monge.
Perguntei - lhes muitas v êzes de onde haviam tirado esse
o
. penteado , e responderam que seus antepassados o haviam
visto em um homem que se chamava Meire Humane , e havia
o feito muitas maravilhas entre éles. T ê m -no por um profeta
n ou apóstolo . Vasconcelos ( 1977: 1 - 123 ) informa que os
í ndios o descrevia como um homem branco , barbudo e
vestido .

m
n
r\

21
ï 16- Destas culturas citadas , sô mente o milho n ã o é , com
certeza , de origem brasileira. Por é m , as pesquisas
fito-genéticas tem corroborado as informa ções
etno-históricas à respeito da origem brasileira do
amendoim ( Sauer , 1987:64). Quanto a mandioca , apesar de
-
"N
alguns autores colocarem em d ú vida o seu local de origem ,
é o Brasil o maior deposit á rio de germoplasmas das
- --
" N, espécies nativas desse vegetal .

:
:
'N
-
1

-i

n
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A
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1
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4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4 3. O PATRIMÓNIO AMERICANO DA HERDEIRA TEMPLARIA
A
)
A
4 3.1 Os Monges Guerreiros do Monte do Templo
A
A
A 3.2 A Ordem de Cristo e a Descoberta do Brasil
A
4
A
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1

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n
o

1
'S
'

33

^
i 3.1 Os Monges Guerreiros do Monte do Templo

ni

Gambini (1988:75) ao tratar do processo missionário


jesuítico , observa que a cruz gravada
-
no marco padrão implantado
por Cabral é denotativa do componente ideológico que irá pautar a

politica colonial portuguesa , ao considerar que "psicologicamente

a cruz já estava presente no nome dado à ilha e na atitude


n
rN ) constelada no inconsiente coletivo".

Contudo , é importante observar que essa cruz rubra.


presente na simbologia nacional até o fim do Império , nao é

unicamente denotativa da religiosidade católica da Coroa


portuguesa , possuindo ela um caráter institucional particular.
r*
n» Para conhecer a sua origem precisamos remontar aos

tempos das Cruzadas , quando surgem as Ordens militares ,

instituições monásticas criadas com a finalidade de abrigar e


n
n proteger os peregrinos na Terra Santa .

Para proteger os caminhos que levavam a Cidade Santa ,

principalraente a estrada que ligava o porto de Jaffa à Jerusalém ,

assim como velar pelas cisternas de água potável (que os inimigos

r\ procuravam esvasiar ou envenenar), foi organizada em 1118 , por

nove cavaleiros francos , uma Ordem de cavalaria sob a denominação

de "Soldados Pobres de Jesus Cristo". Liderados por Hugo de

Payens dentre estes cavaleiros estava André de Montbard , sobrinho


A
A
do Abade Bernardo , de Clairvaux , que viria a ser santificado ( 1).
rN Esses cavaleiros foram acomodados em um local até hoje
O
conhecido como o " Monte do Templo" , por se acreditar que as

ruinas ai existentes eram a do Templo de Salomao , passando então


-4
4
\ 34
4
4
4 a Ordem a ser conhecida como a dos Cavaleircs do Teraplo de
- I Salomao , ou mais simplesmente Cavaleiros Templ á rio .
X
A Essa Ordem de cavalaria diferenciava de todas at é ent ã o
4 existentes por estruturar -se aos moldes de uma ordem mon á stica ,
4 fazendo os seus cavaleiros votos de pobreza , castidade e
j
4 obedi ência. Apesar do nú mero reduzidos de cavaleiros que a
4 principio a formava , a Ordem dos Cavaleiros Templá rios logo se
4 destacou dentre os ex ércitos crist ã os que lutavam na Palestina.
-4
J ) Em 1127 Hugo de Payens viaja do Oriente para a Europa.
4 Em 1128 realizou-se um Concilio em Troyen3 onde estavam
A
A presentes Hugo de Payens e Sao Bernardo. Neste Concilio , a

Igreja , por interferê ncia direta do abade de Clairvaux ,


A reconheceu oficialmente a Ordem dos Cavaleiros Fobres do Templo ,
A tendo a nova Ordem recebido as suas Regras do pr ó prio Sã o
Bernardo. Tornou -se assim a Ordem dos Templ á rios um bra ç o militar

da Igreja Cat ólica , formada por monges guerreircs que estavam sob
O
ã
\ a autoridade direta do Papa .

Em 1139, a bula papal "Omne Datum Optimum " r.ao só

confirma a Ordem como lhe d á o direito do incorporar ao seu

patrim ó nio os butins advindo das lutas contra os "infi éis".


STs
A partir de ent ã o a Ordem dos Templ á rios teve uma
?
rb ascençã o meteó rica formando um grande patrim ónic . gra ç as nao só
O aos butins conquistados era lutas como també m cevido as terras
o
recebidas por doa ções , sob as quais possuia direitos feudais .
O
Uma das primeiras doaç oes que a Ordern recebeu na
O
O Europa , ainda antes da sua confirmaçã o pela Igreja , foi a Vila
O de Fonte Arcada de Penafiel em Portugal , dcada pela Rainha
O
O lereza em 1126. Com a confirmacao da Ordem . eir 1128 , a mesma
A
A
A 35
A
A
rainha fez a doa ç ao do castelo de Soure e os territ ó rios
A
à adjacentes na Extremadura , para que os templ á rios cultivassem e
4 povoassem a regi ã o , at é ent ã o deserta , e guardassem esta
à
4 fronteira contra os mouros. Em 1190 o califa de Marrocos , a

-
A
A
frente de ura poderoso ex ército , invade Portugal , sendo

pelos templ á rios

1842: 12 ).
no cerco ao castelo de Tomar
derrotado

( Portugal ,

As doa ç oes territoriais tinham como finalidade


\
propiciar rendas para o sustento das tropas templ á rias , em luta
i na Terra Santa. Dessa maneira , apesar de exist ê ncia , na Europa ,
A
A de algumas fortalezas templ á rias guarnecidas por soldados , o

A grosso do contingente da Ordem nesse continente era constituido


A por monges que dedicavam -se principalmente à agricultura e à
A
administaç ao dos seus bens. Exceçã o eram os templ á rios da

Peninsula Ibérica , milicianos era luta constante contra os

ex ércitos mouros .
O
O ê xito da Ordem dos Templ á rio despertou os interesses
de uma outra Ordem mon á stica , criada també m na Terra Santa ,

r\ denominada Ordem dos Hospital á rios de Sao Joao de Jerusal é m. Esta


-
—- Ordem teve origem em um

negociantes origin á rios da cidadede de


mosteiro beneditino ,

Amalfi ,
estabelecido

com intuito
por

ce

abrigar doentes e necessitados. Junto com o mosteiro , consagrado


N

a Sao Joao Batista , construiu -se també m dois "hospí cios", a fio

de receber peregrinos de ambos os sexos . Em 1099 o mosteiro


ra
liberou -se da tutela dos beneditinos , fundando-se ent ã o essa

nova Ordem mon ástica que , devido ao seu car á cter inicialnente
-
o
,
assistencialista , veria a ser conhecida simplesmente coro a

"Ordem do Hospital" , em 1130 , atrav és de bula papal de Inoc è rcic


O
o
n
A" ,
36

II , foi essa Ordem reestruturada aos moldes da dos templ á rios ,

tornando-se també m uma ordem mon ástica- militar.

També m a Ordem dos Hospital á rio de Santa Maria dos

Alem ã es , fundada era 1128, com a ajuda de comerciantes de Bremen e

L ü beck e tendo como modelo a Ordem dos Hospiral á rios de Sâ o

Joao , transformou -se , por intervençã o de Frederico da Su á bia , na

terceira ordem mon ástica -militar , sendo confirmada pelo Papa

Celestino III , em 1191. Essa nova Ordem viria a ser conhecida

r* > como a Ordem dos Cavaleiros TeutOnicos ( Morreau , s/d .:221 ).

Essas tr ês Ordens militares-religiosas diferenciavam -se

r* visualmente pelas cores das cruzes que traziam nas suas bandeiras

n e há bitos: a dos templ á rios era vermelha , branca a dos


r* hospital ários enquanto a dos Cavaleiros TeutOnicos era preta.

Apesar dos Cavaleiros TeutOnicos posteriormente

constituirem um verdadeiro reino na Europa oriental , as


n principais forç as militares em luta na Terra Santa eram as tropas
O
o templá rias e hospital á rias. Se no campo militar estavam esses
O monges guerreiros unidos na luta contra C5 inimigos da
V
''H cristandade , no campo politico-econOmico os seus interesses

passaram a se chocar , o que os levou a constantes confronta çõ es.


/
’ Tvi

A Ordem dos Hospital ários també m se tornou presente no


Reino de Portugal . Em 1232 , Sancho II fez doa çã o aos
m hospitalários da vila de Crato. A partir de er.tao o Prior de
05
O Crato passou a ser representante do poder hospital á rio em

Portugal. Quanto aos templ á rios , é Tomar que passa a ser


o a sua

o sede em solo portugu ês. Desta maneira , Crato e Tomar


o representavam , em Portugal , a extens ã o ibérica desse conflito

intestino da Igreja Cat ó lica , que teve origem na Terra Santa .

1
o
4
4
A 37
4
4
4 Contudo , dentre estas duas Ordens , os templ á rios sempre

4 se fizeram mais poderosos , principalmente na Europa. Esse poder


4 advinha nâo somente da sua melhor estrutura militar e
4
4 patrimonial , como també m do uso que dela a Ordem fez.
4 Com as doaçoes recebidas na Europa , a Ordem pode
4
4 estruturar uma complexa rede de castelos e fortalezas que

4 passaram a ser utilizados como deposit á rios dos bens de nobres


A ( inclusive de algumas casas reais ) e de mercadores viajantes que ,

' A } com receio dos constantes assaltos nas estradas , depositavam seus
A valores em um estabelecimento templ á rio recebendo ent ã o um
4
4 documento relativo ao dep ósito. Cora a apresenta çã o desse

4 documento resgatava-se o correspondente ao depósito , no


4 estabelecimento templá rio mais pr ó ximo do local de destino do
4
4 depositante. Com o tempo esse documento templ á rio , precursor da
d atual letra de c â mbio , passou a ser utilizado como ura papel- moeda
n internacional. Como a Igreja proibia a usura , o que impedia por
O
n parte dos cat ó licos o ganho financeiro da explora çã o do capital ,
O devido a sua estrutura militar póde a Ordem , sem ferir essa
o
proibi çã o , tornar -se també m uma instituiçã o financeira , pois o
seu ganho era -teoricamente- sobre uma presta çao de servi ç o , a
f guarda e/ou transporte
T de bens , e nã o sobre a especula çã o

monet á ria. O impeto financista templ á rio foi transposto inclusive

para a Terra Santa onde faziam neg ó cios inclusive com os


1
pr ó prios mul ç umanos , " pois esses acreditavam ser prudente ter

algum dinheiro investido com os crist ã os ” ( Garten , 1987: 14/6 ).


o
4 Militarmente , os templ á rios distinguiam -se n ã o s ó pela
o disciplina e determina çã o das suas tropas , como també m pelas suas
O
o qualidades estrat égicas e diplom á ticas , sendo deveras habilidosos
r%
-i
4 4 38
4
4
na arte de tra çar alian ç as. Assim como no plano financeiro ,
4
4 também no plano diplom ático a Ordem nao disperdissava nenhuma
4 oportunidade para tratar cora o advers á rio ( Ibid .:48 ). Apesar de
4
4 Saladino ap ós a batalha de Hattin ter ordenado que fossem
4 degolados todos os prisioneiros templ á rios e hospital á rios
4
alegando que desejava purificar a terra destas
4 duas Ordens
4 militares , mais tarde viria ele a exigir a interraedia çã o dos
4 Templ á rios para garantir a validade de um acordo com cs cruzados
4
4 ( 2 ). Também na troca
4 ^ de Tiro por

serviram de intermedi ário entre o rei de Jerusal é m , Balduino


Damasco , os templ á rios

II ,
4 e os mul ç umanos ismaelitas , com quem se relacionavam ,
4
4 principalmente atrav és da seita dos Assassinos ( I b i d 7 5/6 ).
A O conflito dos templ á rios dentro da Igreja Cat ó lica n ã o
A
A se limitava à confronta çã o com os hospital á rios. Gra ç as as bulas

papais "Omne Datura Optimum", de 1139 , e "Milites Templis", de


ri 1149 , a Ordem obteve o direito de construir capelas e orat ó rios
n
r privados , de nao pagar e , se for o caso recolher , o dizimo
~
eclesi ástico e ter seus pr ó prios sacerdotes , para as missas e

4 confiss ões. Esses direitos davam nao s ó aos templ á rios grande
~
autonomia em rela çã o ao bra ç o secular da Igreja , ccmo també m
4 permitia que todos os projetos , problemas e conflitos internos da
#
T Ordem ficassem restritos às paredes de suas caceias. Os
'v templ á rios sofriam també m veladas criticas da Igreja secular
T
T devido a sua excessiva complasc ê ncia com outras express ões
4» religiosas. Assim , quanto mais rica e poderosa a Orden ficava ,

4* mais alimentava ci ú mes , rancores e intrigas .


4b Devido a autonomia alcan ç ada por essas Ordens
o
O militares , o Papa Greg ó rio X tentou fundi - las em ll ~ 3 . sendo
o
4
n
39

/“ N
por é m refutada e3sa , e todas as posterioras tentativas ,

pricipalraente pelos templ á rios , ciosos do seu maior poder .

Cora a queda de Sao Joao de Acre era 1291 , as tr ês Ordens


n
militar -religiosas sã o definitivamente derrotadas na Terra Santa.

Os Cavaleiros Teutô nicos transferem a sede da sua Ordem para

Marienburg de onde irao empreender um movimento de conquista

territorial na Europa Oriental . Os hospital á rios conquistarara a

ilha de Rodes de onde , devido a sua posicao estrat égica , passaram

a controlar o tr á fico raaritimo-coraercial mediterr â neo. Quanto aos

templ á rios , foi o seu Castelo dos Peregrinos o ú ltimo baluarte


A
A crist ã o a cair na Palestina . As tropas terapl á rias foram ent ã o

A evacuadas para Chipre e para a ilha de Ruad , a duas milhas ao

largo de Tortosa , onde os ú ltimos templ á rios da Terra Santa


A
A permaneceram defendendo-a durante doze anos. Guando finalmente
r! partiram de Ruad , em 1303 , nã o foi devido aos ataques
O
O mul ç umanos , mas sim devido as intrigas e acusa ções movidas contra
o a Ordem na Europa .
r Em 1306 , o Papa Clemente V convoca os Gr â o- mestres

r templá rio e hospital á rio à Franca para tratar , entre outros


V assuntos , da uni ã o das duas Ordens . Jacques de Villaret , Grao-

T> mestre hospitalá rio nã o atende ao chamado , alegando a necessidade

de estar presente em Rodes , rec é m-conquistada. Jacques de Molay ,


'T
Grao- mestre templá rio , deixa Chipre para atender ao chamamento do

Papa , aliado do rei de Franca , Felipe o Belo. Esnava dado o passo

inicial para a dissolu çã o da Ordem dos Templ á rics.


O
No amanhecer do dia 13 de outubrc de 1307 , numa
o rperaç ao comandada por Nogaret , agente de crnfian ç a do rei
O
n Jelipe , sao presos todos os templ á rios em Frar.ra , inclusive o
"N

40

-
Grâo mestre da Ordem , Jacques de Molay. Tem inicio um processo

inquisitório , a cargo do dominicanos , onde os templ ários são


' N
acusados de apostasia , negaçao da divindade de Cristo , ultrajes a

cruz, ritos obcenos , sodomia e idolatria , sendo as confissões


s' - templárias obtidas através de torturas. O Papa Clemente V,
através da bula "Pastoralis Praeminentiae" autoriza então a
instauração de um processo eclesiástico contra a Ordem. Em 1311 ,

iA »

»
após um obscuro e tumultuado processo , esse tribunal decide

extinção da Ordem dos Templários , ordenando que todos os


pela

seus
bens fossem incorporados ao patrimönio da Ordem dos

d Hospitalários. Jacques de Molay , o ú ltimo Grao mestre

é executado numa fogueira armada enfrente a


-
catedral
templário ,

de Notre
Dame , em 1314. Pouco depois morrera também o rei de França ,
Felipe , o Belo e o papa Clemente V.
A O rei de Portugal , D. Dinis , não acata a determinação

papal , criando uma nova ordem , a Ordem de Cristo transferindo


n
r ’
para esta nova Ordem todos os bens e cavaleiros templ ários (3).
r
Em 1319 , o Papa Joao XXII , sucessor de Clemente V, reconhece a
Ordem de Cristo como ordem religiosa , tornando a - assim a

.
1 sucessora legítima da Ordem dos Templários. A cruz templária
ganhou então uma outra cruz , branca , no seu interior , sendo essa
a origem da cruz gravada no primeiro -
marco padrao fincado em
T solo brasileiro.
T
'

n>
3.2 Considerações a Respeito da Extinção da Ordem dos Templários
a
O
n A dissolução da Ordem do3 Templários suscinca uma série
o
OV

A
i
Ov
41

de d ú vidas , merecedoras de um especifico trabalho de pesquisa.


Entretanto , mesmo sem aindar dispor de dados que nos permitam
estruturar modelos hipot éticos confi á veis , alguns desses
questionamentos exigem a nossa reflex ã o.

Evidentemente que as acusa ções de cunho religioso


engendradas contra os templ á rios faziam parte de um plano
<r> politico articulado por um rei ambicioso e centralizador ,
preocupado com a quest ã o do controle monet á rio do reino , que
o
) passava por uma grave crise financeira , inclusive cora uma divida
r> expressiva aos cofres templ á rios ( Partner , 1991 :76).
O
Contudo , o que nos apresenta como raarcantemente
enigm á tico é quanto a passividade , e coniv ê ncia , da Igreja
r
Cat ó lica no processo de destruiçã o da sua mais importante
n Ordem
militar , como també m dos pr ó prios templ á rios , pois , apesar de
n possuirem um ex ército poderoso , n ã o esbo ç aram qualquer rea çã o no
sentido de preservar a Ordem .

' ;

Por mais que aceitemos a explica çã o de que o Papa


franc ês , Clemente V , estivesse sob o dominio de Felipe , o Belo , é

- flagrante a passividade institucional

Nos parece claro que essa posi çã o


da Igreja neste

indica que
Ordem dos Templ á rios atendia também aos interesses de importantes
a
processo.

dissolu çã o da

/ rs .

segmentos dentro da Igreja. Dentre estes , a maior benefic á ria


foi , sem d ú vida , a Ordem dos Hospital á rios . Com a dissolu çã o da
sua maior rival , os hospital á rios tornaram -se cada vez mais
poderosos , pois os bens e propriedades advindos dos templ á rios
permitiram que essa Ordem se estruturassem como uma milicia
^ .
naval , passando a controlar grande parte do tr á fico mediterr â neo .
'Ti
nu No campo das suposições , alguns autores argumentam que
O
n\
o
P
P
i1 42
n
p
p que
~
haveria ura receio muito grande no seio da Igreja Católica de
templários se fizessem Papa , passando então a Ordem a
os
4 controlar integralmente , e definitivamente , a Igreja. Dariam
P
então inicio a um plano militar templário de formaçao de um reino
P
O religioso , conforme já vinha sendo realizando , na Europa Oriental
n , pela Ordem dos Cavaleiros Teutõnicos. Se essa Ordem estava
P
tendo sucesso na formaçao do seu reino próprio , o que não seriam
~N

que eram muitas vezes mais
os Templário capazes realizar , já
n
r ) poderosos , militar e econômicamente , que os Teutõnicos. Caso isso
r acontecesse , a Igreja Católica estaria definitivamente sob seu
^p
controle.
Independente desta especulação ter , ou nao ,

fundamentos , podemos afirmar que , no campo politico , os

templários representavam , devido a sua autonomia militar ,

financeira e administrativa , uma grande ameaça a determinadas

estruturas de poder , dentro e fora da Igreja . Em nossa opini ão ,


ri
0 essa ameaça havia de ser aceita enquanto os seus exércitos fo3sem

imprescendiveis na defesa da Terra Santa . Na medida em que a

A Ordem já nao era mais explicitamente necessária , iniciou -se um

d processo que finalizou com a sua extinção.


Quanto a questão da reaçao dos templ ários , nos parece

O ser bastante improv ável , devido a complexa rede de mosteiros (e


O
informações) que tinham por quase toda a Europa , que os
^p
templários tenham caido , ingenuinamente , na trama articulada por

Nogaret , sem suspeitarem do risco que a Ordem corria. Ao mesmo

O* tempo costuma se criticar o comportamento dos templários , durante


-
in a fase dos interrogatórios , por terem feito diversas confissees ,

mesmo sob tortura , o que nao se coaduna com a imagem de bravos


n
r\

A 43

A
Inicialme nte , é important e lembrar que quando a ilha
A
' guerreir os.
A de Ruad foi evacuada , indo as suas tropas para Chipre , nao f oi
A devido aos ataques mul ç umanos . Este fato nos parece um ind í cio

ä bastante significa tivo de que havia , por parte

consci ê ncia de que a sua Ordem corria perigo . Ao mesmo tempo ,


dos templ á rios ,

o
A e na
Aj grosso das tropas templ á rias estava concentra da em
salvo das
Chipre

pris õ es e
Peninsula Ibérica , o que a colocou a
A torturas . Desta maneira , provavelme nte aqueles que sofreram na

A A carne os impulsos s á dicos de policiais e inquisitor es eram , na

sua maioria , pacificos templ á rios dedicado s a administr a ç ao das


-JI diversas "commander ie" que haviam em Franç a. Ao mesmo tempo sabe-

se que Felipe, o Belo , nao conseguiu se apropiar dos bens que

deveriam estar sob a guarda dos templ á rios em Fran ç a , o que deu
A
4 margens a in ú meras lendas e procuras a "tesouros templ á rios ” que

A estariam at é hoje escondid os .

Portanto , nos parece bastante plausivel que a alta


n
S hierarquia templá ria estivesse ciente da conspira çã o era curso ,

procurand o assim preservar a estrutura militar , o "cora çã o” da


"l
'
J
institui çã o , e parte de seus recursos financeir os.

Dentro do aspecto religioso , apesar de nos parecer


“v
'

O bastante claro que as acusações de heresias movidas centra a

O Ordem tivessem um objetivo primordial mente politico , acredita mos

por é m que algumas dessas acusa çõ es , certamente exageradas , nao


''A

a eram , por é m , totalment e infundada s. Longe estavam , julgamos n ós ,


r\
dos templ á rios serem her éticos , por é m , por estarem praticamen te

independe nte da Igreja , j á que a ú nica autorida de que reconhec iam

era a do distante Papa , e devido aos constante s contatos com


O
O seitas orientais , nos parece inevit á vel que o catolici smo
o
o
A
4
O 44

A
templário estivesse sofrendo um processo de sincretismo com
4 outras formas de religiosidade. Bastante marcante é a passagem
4
era que os templários saem era defesa de ura raulçumano quando este é
4
4 atacado por um cavaleiro franco , por estar rezando dentro de um
4
igreja crista (Oldenbourg , 1968:339/40)). Acreditamos que tenha
4
4 sido em cima desse sincretismo que foi tramado y de forma
4 injuriosa , a 3érie de acusações religiosas que deram raotivo3 para
4 j que a Ordem fosse julgada por um tribunal eclesiástico , o único

4 \
que poderia decretar o seu fim .
J
4
Dentro deste quadro de interesses politicos
4
4 conflitantes nao é dificil supor que a criação da Ordem de Cristo
4
deveu-se nao somente ao espirito piedoso de D. Dinis. Julgamos
4
4 que interesses maiores pautaram uma negociação entre o rei e os
4 templários , de modo que em Portugal a Ordem dos Templários não
f
foi extinta mas apenas mudou de nome.

r\ Sem d ú vidas que dentre estes um dos mais importante foi


o o económico , contudo , ao nosso ver , também o aspecto militar
apresentava-se como fundamental. Conforme já nos referimos ,
devido às constantes lutas contra os mouros , a Peninsula Ibérica

era a região da Europa em que havia a maior concentração de


O)
tropas templárias , sempre prontas para uma mobilização. Se no

resto da Europa não foi muito dificil prender os aonges


r
* templários , o mesmo , com certeza , não ocorreria na Peninsula
r\
Ibérica . Ao mesmo tempo , além do risco de um conflito interno. a
r\
perseguição aos templá rios nesta região poderia dar lugar a uma
invasao moura que dificilmente seria contida. Desta maneira . os

O
guerreiros templários ai estacionados foram transferidos. sem

sofrerem nenhum tipo de perseguição , para a Ordem de Calatrava ,

Supomos que seja bastante provável que os templários

tenham concretizado algum tipo de aliança com este rei e cora a

O nascente burguesia mercantilista portuguesa. Posteriorraente , com

a revolução burguesa de 1383 , a sua maior inimiga , a Ordem dos

Hospitalários , renderá o seu apoio a aliança dos senhores feudais

com o rei de Castela (4). Como os interesses destas duas Ordem


45

na Espanha, e para Ordem de Cristo, em Portugal.

Contudo, além destas, outras razões houveram para que

D. Dinis tivesse não só acolhido os templários como também,

desobedecendo a determinacão papal, não ter efetuado a

transferência dos bens e patrimônios templários em Portugal aos

hospitalários.

Supomos que seja bastante provável que os templários

tenham concretizado algum tipo de aliança com este rei e com a

) nascente burguesia mercantilista portuguesa. Posteriormente, com

a revolução burguesa de 1383, a sua maior inimiga, a Ordem dos

Hospitalários, renderá o seu apoio a aliança dos senhores feudais

com o rei de Castela (4). Como os interesses destas duas Ordem

dificilmente seriam convergentes, o mais provável é que suas

alianças tenham sido firmadas em campos opostos.

Porém, o que temos de historicamente comprovável é que

a atuação da Ordem de Cristo está diretamente associada à questão

do expansionismo marítimo português. Esta associação é feita,

?rincipalmente, através da imagem do Infante D. Henrique e da

Escola de Sagres. Em nossa opinião, a História supervalorizou o

papel personalístico do Infante na questão dos descobrimentos, em

detrimento ao papel institucional da Ordem de Cristo.

D. Henrique costuma ser apresentado como Grão Mestre da

�rdern, que passa a ter importância dado ao espírito empreendedor

je seu dirigente. Todavia a fundamentação monástica templária da

0rdern de Cristo, que só viria a ser reformada no inicio do século

�VI, inviabilizava a possibilidade do Infante ser o poder maior

jentro da Ordem.

Indubitavelmente, foi ele um personagem históricc


(TN

ffX
o
4
4
4 46
4
4
4 deveras importante no processo de descobrimentos , porém , por tr ás
A dele estava uma poderosa Ordem possuidora de conhecimentos e
A
recursos que , junto com 03 investimentos advindes da burguesia
4
A mercantilista portuguesa , seriara imprescind í veis na realizacao
A
de ura empreendimento de tal magnitude.
i
4 Considera se , - usualmente , que esse processo
4 expancionista tinha como objetivo primordial atingir os
4
4 principais centros comerciais do Oriente contornando se - o
4 ) continente africano , a fim de fugir do bloqueio imposto pelos
4
mulçumanos após a queda de Constantinopla. Contudo , o tráfico
4
4 mediterrâneo com o Oriente nunca esteve totalmente fechado
4 durante todo o século XVI , principalmente aos negociantes das
4
-
cidades estados italianas ( Veneza , Florença , Milao e Génova ),
servindo estes como intermediários no comércio de especiarias
4 entre os mulçumano3 no Leste e os europeus do Norte no Ocidente
- 1
( Frank 1977:69).

Devido à intensa pirataria esse tráfico mediterrâ neo

era policiado pela força naval hospitalária , baseada na


A estratégica ilha de Rodes , passando então , os hcspital ários , a
A ser conhecidos como Cavaleiros de Rodes.
4 Por consequinte , o

o
o
desvio do comércio de especiarias para a via do Atlântico traria ,

como consequência , graves prejuizos tanto para determinados


A
O negociantes italianos como aos hospitalários.
r\ Desta maneira , ao nosso ver , o caminho mar ítimo para as
/A
í ndias atendia , primordialmente aos interesses da burguesia
mercantilists portuguesa , ao conseguir romper o monopólio dos
mercadores italianos , e da Ordem de Cristo . ao atingir os
n
r\ interesses da sua maior rival , a Ordem dos Hospitalarios de Sao
ir\
o

4
4
47

A
J Joao de Jerusal é m .
J Com a invasao da Europa Oriental por Maorn é II , que
4
chega a sitiar Belgrado , o Papa Cali 3to III solicita auxilie ao3
A
A monges guerreiros da Ordem de Cristo , e mais uca vez a cruz
A templ á ria , agora cora a pequena cruz branca nc seu interior ,
A
A tremular á novamente na vanguarda das tropas rristas . Com a
4 derrota deste sult ã o , era 1456 a Ordem de Cristo receber á , atrav és
A de bula papal "Inter Coetera" o direito do pacroado religioso
4
4 ) nas terras a serem descobertas , do cabo Bojador ás í ndias ( 5 ).
4 Interessante que mesmo Maom é l i,
observar foi o
A
A indiretamente respons á vel pela recupera çã o de uma parcela do

poder templ á rio , o mesmo que empreendeu um grande cerco a Rodes


A
era 1480 , devido a grande import â ncia estrat égica :essa ilha . Os
A
hospital á rios , contudo , resistiram bravamente aos ataques deste
Awi sult ã o.
m
Chamamos a atenç ao ao fato de que a estrat é gia

empreendida por Portugal era nao s ó consolidar a rota maritima às

í ndias via Atl â ntico , como també m de procurar obstruir o acesso

A ao Mar Vermelho e ao Golfo Pérsico . A 3 conquistas de Ormuz de

Goa por Afonso de Albuquerque , que lutou sob a crcz templ á ria da

Ordem de Cristo , permitiu que se obtivesse o controle da entrada

do Golfo Pérsico. Ao nosso ver , o seu obstinaco desejo pela

o* conquista de Aden , que lhe daria o controle do acesso ao Mar

Vermelho , nao deixa d ú vidas quanto aos objetivos que tanto


r\
perseguiu . Apesar desta estrat égia nao ter siro inteiramente

concretizada , representou ela um duro golpe aos interesses das


~
/ v
cidades -estados italianas e aos hospital á rios ( 6 ‘
o

4
4
J 48
4
!
4
3.2 A Ordem de Cristo e a Descoberta do BrasiL.

A descoberta do Brasil é vista , usualmente , como um

acidente de percuso para às índias. Apesar de questionar se a sua -


-
intencionalidade , considera se que a sua posse só despertou algum

— si
4
i interesse com o inicio da exploração do -
pau brasil.

opini ão , entretanto , de que o dominio do litoral brasileiro tinha

uma importância fundamental para o controle estratégico


Somos

da
da

rota

atlântica para o Oriente.


/
w
A Essa importância -
devia se nao sòraente ao fato de
A possibilitar dispor de portos intermediários para abastecimentos
j
j e reparos , sempre necessários para tao longa travessia , como

também , e principalmente , devido ao fato de que os trajetos dos


í
veleiros oceânicos sao definidos nao sòraente pelos regimes de

'"S ventos mas também em função das correntes raaritimas.


r\ Assim , apesar das Corrente das Canárias e da Guiné

percorrerem o litoral ocidental africano no sentido norte-sul até


a região equatorial , a Corrente de Benguele percorre o restante
'
-d
do litoral africano , no sentido contrário , ou seja , -
sul norte.

r\ Portanto , torna -se extremamente dificultoso contornar o Cabo da


r\ Boa Esperança vindo da Europa , acompanhando o litoral africano
O
r\ no seu todo. Ao mesmo tempo , a Corrente do Brasil percorre o

tu nosso litoral a partir do R . G. do Norte , no sentido norte sul . -


O
Desta maneira , para que as caravelas portuguesas

n ultrapassassem -
o Cabo da Boa Esperanç a , fazia se necessá rio que
O*
estas seguisem pr óxima ao litoral brasileiro até o encontro com a
fTY
Corrente das Falklands , que , vinda do Polo Sul , d i r i g e -s e ao
o
o
A
1 49

extrem o sul do conti nente afric ano ( 7 ).

Por conseg uinte , consi deram os que o domin io milita r

A desta por çã o do litor al brasil eiro possu ia uma grand


e import â ncia
A estrat égica para a viabi lizaç ao dos objeti vos da
Ordem de Crist o.
4 At é o reina do de D. Manue l tinha a Ordem de Crist o
4 mantid a inc ó lume a estrut ura templ á ria de monges guerre iros .
A Poré m , em 1496 , o Papa Alexa ndre VI transf ormou o voto de
castid ade em fideli dade conju gal . Em 1505 , o Papa
J ú lio II aboli u
o voto de pobre za , ao permi tir que os seus
cavale iros pudess em
testa r os seus bens ( Tavan o & Silva , 1881 :29 )
.

r* Em 1513 , por razoes que nos sao ainda desco nheci das ,
vem a tona um confl ito entre D. Manue l e a Ordem de
4 Retir a este monar ca da Ordem de Crist o o seu
Crist o.

44 mostei ro de Santa
Maria de Bel é m , entre gando-o aos monge s da Ordem
dos Jeró nimos .
Este moste iro era ura dos mais impor tante s patrim ó
nios perten cente
O
r\ a Ordem , sendo a sua arquit etura , de grande expre
ss ã o artis tica ,
n impreg nada de simbo logia templ á ria ( 8 ).
O
n Em 1514 , através do Papa Leao X, o mesmo monar ca
O conse gue aprop riar -se de parte do patrim ó nio colon ial da
Ordem ,
* atrav és da insti tuiçã o do Padro ado Real. O Brasi l ,
O por é m ,
perman eceu sob o poder da relig iosid ade de origem
templ á ria ( 9 ).
A . Teimo ( 1978:42 ) consi dera que o ano de 1513 marca
o
O
fim do "ciclo dos
c
r \
reis" da hist ó ria portu guesa , o qual ele
<
assoc ia a um grande proje to templ á rio . Contu do , acred itamo s que
esse proje to ir á se desdo brar em solo brasi leiro.
m
Esse desdo brame nto ter á inici o com a ascen s ã o ao trono
<T>
j sucess or de D . Manue l , D. Joao III , quand o ent ã Portug
o al e a
Ordem de Crist o estav am preste s à perde r a sua
colónia ameri cana .
A
Pi

/C
\
50
fn
Ts
devido à s constantes revoltas ind í genas e invas ões estrangeiras.

O A dificuldade de Portugal em fazer frente aos grupos


O
ind í genas hostis e aos concorrentes europeus na explora çã o das
riquesas da sua col ó nia americana devia -se , fundamentalmente , ao
fato de n ã o possuir , esse pequeno pa í s ibérico , soldados e de
colonos em n ú mero suficiente para a proteger e povoar , devido ao
1
Q grande nú mero de col ónias e entrepostos comerciais que possu í a

: por quase todos os continentes ( 10).

o ) Desta maneira , enquanto a Ordem de Cristo era renegada


o ao ostracismo por D. Manuel , o seu patrim ó nio americano estava
O
sendo ocupado por franceses e tomado por revoltas ind í genas.

P Aparentemente seria este um processo irrevers í vel , pois , se


r Portugal nao possu í a soldados suficientes para fazer frente às
P
CS invas ões estrangeiras , muito menos teria para enfrentar a
o
’’ m á quina de guerra Tupi -Guarani ” , devidamente adaptada às

condições tropicais da Mata Atl â ntica e do ambiente costeiro.


<
0
o Por é m , com a morte de D. Manuel , e a consequente subida ao Trono

de D. Jo ã o , o quadro politico se altera para a Ordem de Cristo.


ro
D. Joã o III ascendeu ao trono de Portugal em 19 de
O dezembro de 1521 , seis dias após a morte de seu pai , D. Manuel.
O
o Logo ap ós , em 14 de mar ç o de 1522 é elevado , atrav és da bula
'"'N " Eximiae devotionis" , ao cargo de Governador e Administrado da
O
O Ordem de Cristo ( Câ mara , 1954:82)

Em 1532 institui ele a Mesa da Consci ê ncia e Ordem ,

tribunal especifico das Ordem de Cavalaria ( 11 ), cuja a mais


'"'N
importante era , sem d ú vida , a Ordem de Cristo . Ser á
principalmente atrav és dos tribunais da Mesa de Consciê ncia e

Ordem que a Ordem de Cristo administrar á judicialmente o seu


C\
/“ N

in
H
A
51

patrim Onio brasi leiro.


/ffS
Em 30 de dezem bro de 1550 , por for ç a
A de urn breve do
Í3 Papa J ú lio III , foi D. Joao III elev ado a
Grao Mest re da Order n de
/'" N ‘ Crist o ( Ibid .:82), sendo o prime iro monar ca portu
guês a ocupa r a

A posi çã o m á xima dent ro da Ordem .

d Em 1553 , o Papa J ú lio III conf ere a


quali dade de Grao Mest re da Ordem de
D. Joao III , na
Crist o a atribu i çã o de
nomea r o cargo de juiz da Mesa de Consc i ência e
ri Orden s , deven do o
)
*
mesmo ser desem barga dor da Casa de Supli ca
çã o e portad or do grau
I de Caval eiro de uma das Orden s Milit ares (
rij C â mara , 1954:83/4).
Neste mesmo ano tem inici o as obras de const ru çã
o do claus tro de
A D. Joao III no moste iro templ á rio de Tomar ( )
A—
- 4
12 .
Desta manei ra , apesa r da Ordem dos Templ á rios ter
d
' r' f
tido
o seu apoge u no s éculo XII , nao signi fica que , ao inici o do
s éculo XVI , a sua impor t â ncia hist ó rica
n tive sse finda da . Sem
maiore s alard es , e talve z por isso , soube ram esses monge s
guerr eiros , atrav és dos séculos , prese rvar
uma boa parte do 3 eu
r
poder polit ico- insti tucio nal .
n
r
o
o
ih
r'

o
o
.

srs

fítk
!
'Tl

r.v
-- 52
rr\

NOTAS

1- As infor ma ções sobre os Templ á rios sem


~N
/
dever ã o ser credi tadas a Gorny ( 1974 ) ou ref er ê ncias
( 1986 ). a Howart h

n -
2 Apud Olden bourg ( 1968 ) p. 477: " Eu quero
, disse êle
( Salad ino ), purif icar a terra desta 3 duas
r^ imund as , cujas pr á ticas nã o t ê m nenhuma ordens
jamais renunc iaram à sua hosti
utilid ade , que
lidad e e n ã o presta r ã o
O nenhum servi ç o como escra vos. Uma e outra
s ã o o que h á
de pior entre os infi éis. ( ... ) Sabe
o ( Salad ino ) deveri a , mais tarde -se que ê le
, exigir a cau çã o dos
) irm ã os do Templ o para garan tir a valid ade de ura
com os cruzad os - ê le sabia que os templ
ac ôrdo
o incap azes de viola r ura jurame nto"
á rios eram

' 'S
/
3 - Ameal ( 1974) P. 107/8: ”0 mesmo sentid o das reali
dades ,
a mesma clariv id ê ncia , o mesmo engenh o revel a
o Monar ca
no longo e dific il probl ema dos Templ á rios . Conver
tem -
se estes numa espécie de banqu eiros de
r' Reis , de
Princi pes e de Nobre s dos maior es centr os europ eus
. A
ri Ordem , poder osa e rica , alarg a assim a sua influ ê ncia
mas atrai igual mente formi d á veis inimiz ades , entre as
n quais , no primei ro plano, a de Felipe, o Belo. Após
suces sivos e agitad os confl itos com os Papas Bonif á cio
rs VIII e Bento XI -em que desem penha papel de vulto o
Chanc eler Guilh erme de Nogar et , à testa do influ ente
n. grupo dos legist as - o Rei de Franç a conse gue fazer
r
(T\
- subir ao s ó lio ponti f í cio Beltr ã o de Goth , Arcebi spo de
Bord éus . Sob o nome de Clemen te V , mostr a se este
-
incli nado a atend er -lhe os desejo s. A seu pedid o d á
r\ como provad as as acusa çõ es de heres ia , corrupçã o
,
deson estid ade , usura - e decre ta em 1312 , pela Eula Vox
in excel sis , a supre ss ã o da Ordem do Templo , cujos bens
rN
rever tem à Ordem do Hospit al . N ã o ignor a Dom Dinis o
que Portug al deve aos Templ á rios. N ã o ignora tamb é m que
por vezes comet eram abuso s e os Reis se viram for ç ados
a marca r - lhes o seu desagr ado , a retir ar lhes a doa ções
-
e privil é gios. Inter essa - lhe , por é m . conse rvar no
patri m ónio nacio nal os valor es de que a Ordem é
possu idora. Embor a insti tua contr a ela o proce sso
judici al indic ado pelo Papa numa Bula de
1308 , avisa os
seus membr os para que se furte m ao castig o ; e todos
parte m a tempo para o estra ngeiro. Os procu radore s da
Coroa aposs am -se dos bens da Ordem . Dor. Dinis enten
se com seu genro Ferna do de Caste la para que tais bens ,-
de
aqui como no vizin ho Reino , n ã o sejam trans ferid
os a
rt* senho rio estra nhos. Adere a esse enten dimen to Jaime II
de Arag ã o . Tudo isto se passa antes do decret o de 1312
.
o Frent e à alianç a dos tr ês Sober anos penin sulare s ,

m
rr\
r\
~\
S

53

4 Clemente V abre excepção para os seus dominios. Os bens


dos Templ á rios , aqui , n ã o ser ã o dados aos Hospital
A mas seguir ã o destino a combinar entre os governates rios
á
e a
A Santa Sé. Ainda h á uma tentativa , logo frustada
entregar ao Cardeal Bertrand a povoa çã o e o castelo
, de
A Tomar. At é que em 1319 Jo ã o XXII , sucessor de Clemen
de
A V , cria uma nova Ordem era Portugal , intitulada te
de
A Cristo -Ordo Militiae Jesu Christi. Ressurrei çã o
da Ordem do Templo. Como na Ordem do Templo , o superio
velada
r
espiritual é o Abade de Alcoba ç a. O Gr ã o Mestre
- de
A Cristo , nomeado pelo Papa , é Gil Martins , Mestre
Ordem de Avis . Todas as possess ões da Ordem extinta s
da
adjudicadas
ão
à Ordem nova. A Coroa apressa -se a
entregar - lhe aquilo de que tomou conta . E Dom Dinis

-AA :
pode legitimamente alegrar -se por ter garantido
manuten çã o no Reino das importantes riquezaz de
esteves para ser desfalcado.
Encyclopedia e Diccionario Internacional
p. 11278 , V . XIX : "Extincta a Ordem por determina
que

( s/d . )
a

çã o de
A Clemeta V , o rei de Portugal , sem se indispô r com o
A pontifice, para nã o incorrer nas censuras da Egreja
t ã o habilmente se conduziu para
,
A evitar
consider á veis riquezas dos templ á rios sahissem
que as
do
A reino, que instituiu a Ordem de Christo por carta r égia
feita era Santar é m a 15 de Novembro de 1319 , dando - lhes
A tudo quanto era da supprimida Ordem , e assim continuou
A na 3 melhores relaçõ es com o papa Clemente e com o seu
successor Joã o XXII. Para a nova Ordem entraram todos
os templ á rios que de ella quizeram fazer parte , de modo
que em Portugal a Ordem dos templ á rios n ã o foi
n extincta , mas simplesmente mudou de nome .

4- Coelho ( 1965 ) p . 129/30: ”03 fidalgos convocados para


sustar a invasã o n ã o comparecera. O pr ó prio Nuno Alvare
s
n ã o responde , embora v á juntando tropas. É ent ã o que
A protege Á lvaro Gon ç alves Camelo , Prior do Hospital que
,
; perdoado , trair á de novo. (...). A ofensiva dos
renegados esboroa-se.( ... ) Á lvaro Gon ç alves Camelo foge
(Á para Castela . ( ...). A burguesia , dominada as
principais cidades , avanç a agora at é o ninho onde se
alimentava a velha nobreza feudal ( ... )."

5- Lacombe ( 1973 ) p. 54: ” É nesse ambiente de fervor em


defesa da cristandade que o Papa Calisto III ( Cardeal
Bó rgia ) expede a bula ’'inter coetera ” ( n ã o confundir
n
/ com a bula ’’Inter Coetera” , de 1494 , expedida por
Alexandre VI , sobrinho de Cali3to III ) de 13 de mar o
ç
de 1456. Este documento é fundamental do direito do
padroado , tal como vai ser mantido no Brasil durante
a
fase colonial.

O 6- Frank ( 1977) p . 69/70: ”A nova rota oceâ nica para as


o
-J
A
A 54

-I
especiaria3 orientais por todo o restante do
s éculo XVI
e tamb é m em parte do s éculo XVII , foi menos
que o prosseguimento do velho com ércio utilizada
de especiarias
por outros meios ; por isso , at é ent ã o ,
ela nã o havia
ainda substitu í do a rota terrestre , nem

iA italianos que dela dependiam.”


03 á rabes e

7- Cortesã o ( 1956 ) p. 8/9/18/19: "Grandpr é , que


'
Z
-
' en el siglo XVII , cita el caso de una nave que
once meses en el trayecto desde Francia a Angola
escribia
empl ó
r haberse empenado en realizar el viaje neveg
, por
ando siempre
r a lo largo de la costa de Africa . ( ... )
Tan grande eran
los obst á culos que encontraban los portuguese
s al
atravesar el golfo de Guinea , que , apenas cread
gobierno de Angola en
o el
1575 , inmediatamente las
travesias de Lisboa hacia la India empezaron a
A efectuarse por el Sur. ( ... ) Es lo que G. Schott
especialista contempor â neo nas eminente en la mat
, el
rs éria ,
escribe: "Forzados por las condiciones naturales
, los
navios de vela se ven obligados , al entrar en
Atl â ntico del Sur ,
el
a mantenerse siempre en la
proximidad de la costa americana ; su objetivo

ä4
r
alcanzar el cabo de Buenas Esperanza , est á muy
hacia el Sudeste y precisaraente en la direc
soplan los alisios del Sudeste. Por
preciso atravesar de lado la zona de
, que es
desviado
ci ó n donde
esta razó n es
estos alisios ,
A dejando al Este las pequenas islas
de Martin Vaz y
Trinidad ; y no es raro que, a causa de la
direcci ó n
Sudeste del viento , al r.avio se vea oblig
ado a
permanecer en la parte americana del oc
é ano en la
latitud de la desembocadura del rio de la Plata
(D ., r y
la nave debe virar al Este , una vez se hayan *

alcanzado
o con seguridad los vientos del Oeste
del hemisf ério
Sur .” Y el mismo ocean ógrafo observa que: ” La

-
'-Á
rs
ecuatorial del Sur , situada entre 29 de latit
109 de latitud Sur , empuja al velero hacia el
tal suerte que es necesario tener mucho cuidado
topar de muy cerca el cabo San Roque
corriente
ud Norte y
Oeste , de
para no
en la punta
avanzada de la costa brasilena . A pesar de todas
estas
precauciones tomadas de un modo minuciosos , todavia
acontece con frecuencia en nuestros dias que
el navio
no puede evitar la costa brasilena ”.
Ver mapa em anexo ( doc . icon . n 93 )
/
-
N

r\ 8- Teimo ( 1978 ) p. 40/1 : "Surge aqui , todavia , ura


dos mais
r\ pertubantes enigmas da hist ória de Portu
gal . Alude
M á rio Sampaio Ribeiro t no seu breve estude de Sitio
do
Restelo e das sua Igrejas de Santa Maria de
Bel é m , a
uma "reviravolta" que se teria dado no espirito
Manuel e que situa , com rigorosa precis ã o , de D .
( em 1513 ,
reviravolta que outros historiadores relacionam cora ur.a
O mudanç a de atitude para com os judeus , de protector
nos
O primeiros anos do seu reinado e de perseguido
r ncs

O
'•'N

4
4
4 55
4
4 restantes , mas que Sampaio Ribeiro escondendo mais do
A
AA que diz , refere à s rela ções do rei com a
Ordem de
Cristo. A entrega a uma Ordem contemplativa como a
Jer ô nimos do Templo de Santa Maria que pertencia de
dos
direito , conferido pelo Infante , à Ordem guerreira
4 Cristo , a sú bita suspensã o dos trabalhos nas Capelas
de
4 Imperfeitas orientados por JerOnimos , tudo acontec
e na
4 volta muito pr ó xima do ano 1513."
4
4 9- Lacombe ( 1973 ) p. 55: "Com a subida ao trono de
Manuel , por é m , tudo se modifica . Chegamos ao
D.
4 apogeu da consolida çã o do poder real . O Rei Ventur
oso
A consegue do Papa Leã o X ( Mediei ) duas bulas: a chamada
Dum fidei constantura , de 7 de junho de 1514 , que
A menciona pela primeira vez o Padroado Real nas coló nias
4 ) portuguesas , e a Pro excellenti praerainentia , de 12 de
junho de 1514. Aqui aparece enfim o direito
A apresenta ção para tõdas as terras adquiridas
de
nos
4 ú ltimos dois anos e para as adquiridas no futuro
Nas
,

4 restantes êsse direito permanece na Ordem de Cristo.


4
4 10- De acordo com Serr ão ( 1977:92), nos meados do s
XVI , enquanto a popula çã o de Espanha estava era torno de
éculo
4 7.400.000 pessoas e a da Franç a j á estava em torno
4 de
14 milh õ es , a de Portugal n ã o passava de 1.400.000
4 pessoas. A escassez de bra ç os camponeses impedia o
cultivo não só das terras coloniais como do pr ó prio
w Reino , pois , segundo Boxer ( 1981 :71 ), "( ... ) é um fato
r\ que vastas regiõ es de Portugal estavam ainda seriamente
subpovoadas , e muitas terras potencialmente vi á
veis
para a agricultura nã o eram cultivadas por falta
de
m ão-de-obra .". Conforme ainda este mesmo autor
( Ibid :73 ) , a crise de m ã o -de -obra em Portugal
ÍTI , era , nos
s éculos XV e XVI , t ã o grave que n ã o havia homens
4 disponiveis at é mesmo para compor as tripula ções de
n suas embarca ções , chegando ao ponto de , por vezes , nos
navios portugueses que faziam o com é rcio raaritimo no
indico , ser o capit ã o o ú nico homem branco a bordo.
/ "V
'

-
4S
11 - C â mara ( 1954 ) p. 83: M
0 Tribunal da Mesa da Consci ê ncia
e Ordens foi instituido em 1532 por D. Jo ã o III , sendo
seu primeiro presidente Frei Gaspar do Casal , bispo de
Funchal , ( ... ) As ordens de cavalaria , dessa épcca , à
semelhan ç a de suas cong é neres da idade m édia , v . g . a
dos Templ á rios , uma das mais famosas durante
as
n primeiras d écadas da monarquia lusitana , substitu í da
pela de Cristo , eram verdadeiras
n congrega çõ es
religiosas. ( ...) D. Joã o III conferiu - lhes privil é gios
O tais que num regime constitu í do em bases sclidas ,
dificil seria conciliar-se sua estrutura com a ordem
o juridica .
O
O
/ TU

O 56

12- Guima r ã es ( 1931 :60 ) repro duz o docume nto , datad


o de
de junho de 1553 , relat ivo ao inici o das obras 30
claus tro de D. Jo ã o III , em Tomar , fican do esta do
respo nsabi lidad e de Jo ã o Casti lho
dob a

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A
A 4. O MILITAR E O RELIGIOSO SOB A MESMA CRUZ
A
A
A )
A 4.1 A Estrat égia do Regimento na Conquista da Terra do Tupi
A
A
A 4.2 A Companhia de Jesus nos Dominios do Padroado da Ordern de
A
Cristo
4
A
A 4.3 A Luta Entre Templ á rios e Hospital á rios Pela Terra do Tupi

4.4 As Ordens Religiosas e a Participa ç ao do Indigena na


^T\
Constru çã o da Sociedade Brasileira

rr\
/T\

gh

iT>
nr>
n

Jl
*
n

^

i-
J 58
J
nl A Estrat égia do Regimento na Conquista da Terra Tupi.
A 4.1

A
Consideramos que só foi possivel a D. Joã o III , e à
A
A Ordem de Cristo , reverter o processo de perda da coló nia
A americana ao viabilizar um projeto estrat égico- militar que
A procurava suprir a deficiência maior de Portugal , ou seja a falta
j
4 de braç os que pudessem ocupar e defender o Brasil ( 1 ), atrav és da
4
coopta ç ao da for ça guerreira nativa Tupi litor â nea .
A
J ; Ao nosso ver , este projeto encontra -se expresso no
J
Regimento de Tom é de Sousa , 12 Governador Geral do Brasil , datado
4
4 de 17 de dezembro de 1548. Tal documento , devido a sua
4 import â ncia , é considerado por alguns estudiosos como a priseira
4
4 constitui çã o brasileira ( Tapaj ós , 1956:219 ).
4 O Governo Geral foi instituido como desdobra-ent:, e
4 nao em substitui çã o , da politica das capitanias heredit á rias
4
A .
( Ibid .:90/1 ) , as quais , por sua vez , foram inicialmente

autorgadas por D. Joao III na qualidade de Gr ã o- Mestre ca Ordem

de Cristo ( C â mara , 1954:83 ).


ri
'
\

Somos da opini ã o de que este Regimento ( In Mendonç a ,


á
1972:33/51 ) tenha sido elaborado sob os auspicios da mesma Ordem
rts
de Cristo , interessada maior na preserva çã o do seu patrim ónio em
terras americanas. Nele est á claramente expressa a politica a ser

adotada em rela ç ao aos ind í genas.

Assim , o referido Regimento ataca diretamente uma das

principais razoes das conturbaç oes ind í genas que era , conforme
O
O informou Pero de G ó is a D. Joao III ( 2 ) , o sequestro de í ndios
rs ’’
amigos dos crist ã os” por parte de alguns portugueses que ,
CS
n percorrendo a costa , atraiam indigenes para seus navios . onde os
r\
A
A
59

r\
A aprision avam afim de negocia - los cora tribos inimigas. O capitulo
AA 27 determin a que sejam condenad os a morte aqueles que "salteiam e

roubam os gentios que est ã o em paz” , determinan do també m que


A tal
A capitulo fosse notificad o em todas as Capitani as .
A Um outro importan te foco de disc órdia era a ocorr ência
A
4 de conflito s gerados nas trocas comercia is , entre os indigena s e
A portugues es. Conforme dissemos , os Tupi -Guarani dominava m uma
A
horticult ura tropical altament e especiali zada. Devido també m a
) extrema escassez de colonos lusitano s dispostos a emigrar para o
-- f
'

Brasil , a produ çã o agricola ind í gena tornou -se fundamen tal para a

sobreviv ência dos nú cleos coloniai s. Ap ós o contato inicial ,


n iniciou-se um processo de trocas dos produtos indigenas com
j

algumas mercadori as europé ias , na sua maioria de pouco valor.


A Este sistema de transa çã o , conhecido como "escambo", funciono u
'

-N
relativam ente bem nos primeiro s momentos ( 3 ). Por é m ,
rti paulatina mente , foram os indigenas se aperceben do da import â ncia
de suas mercador ias e do valor do dinheiro , exigindo ent ã o
valores que lhes pareciam justos. No capitulo 20 vemos que o
Regimento estabelec e a cria ç ao de feiras semanais onde os
- indigena s pudessem comercia lizar a sua produ çã o , proibindo també m

a ida de negociant es à s aldeias . Ao mesmo tempo , o capitulo 29


estabelec e que " para terem seus pre ç os certos e honestos” í ossem

rs estes estabelec idos pelos Capitae3 e Oficiais. Legisla ç oes


posterior es encarreg aram aos Almotac é is a incumbê ncia da
fiscaliz a ç ao dos preç os estabele cidos nas feiras . Desta maneira
procura o Regiment o minimiza r o conflito entre os indigena s
O
’amigos dos crist ã os ” e a nascente sociedad e colonial .
n
Atrav és do capitulo 9 podemos ver que , a:era a
'“ N
O
r>

60

comercialização dos produtos sob o monopólio da Corôa , que


n possuíam legislação especificas , o ú nico imposto cobrado sob a
produção colonial era o dizimo da Ordem de Cristo. Este , na
verdade , correspondia ao dizimo eclesiástico , fruto de eternos
conflitos da Ordem , desde a época templária , com a Igreja secular

(4).

O Regimento é claro também , quanto à politica de guerra


implacá vel a ser empreendida contra as "nações” hostis. O
H
) capítulo 5 determina que sejam destruídas as suas aldeias
-
x" N
"matando e cativando aquela parte deles que vos parece que abasta

para seu castigo e exemplo de todos”. Nos casos desses indigenas


2TÖ

aceitare m 3e sujeitar à autorida de colonial "reconhecendo

— sujeição e vassalagem ” , determina

perd ão , não sendo porém este extensí vel às suas


que lhes seja concedido

lideranças , que
o

deveriam ser enforcados em suas aldeias.

Como vemos , traça o Regimento um plano estratégico -


militar que era , de um lado , reprimir drásticamente possí veis
causas de deflagrações de hostilidades aos ind ígenas , de outro
lado , desferir com vigor o tacao repreensivo sobre aqueles que
H
-S
2
não reconhecessem a supremacia do poder colonial.

O capitulo 16 discorre sobre a maneira pela qual essa


ol
estratégia militar deveria ser empreendida. Observa se
- que para
O dar combate aos Tupinambá do sul da Baia , deveriam ser utilizados

guerreiros Tupiniquin . Pelas suas determinações , podemos ver


r\
o objetivo
^
maior é o controle estraté
que
gico do literal , de onde
n

ieveriam ser expulsos os Tupinambá , sendo ent ã o esse espa ç o

O imediatamente ocupado pelos aliados Tupiniquin.

n Através do cap í tulo 31 podemos constatar q ue d

O
r\
r\
r\

61

legislação quinhentista portuguesa proibia com rigor a entrega de

qualquer tipo de arma a quem nao fosse crist ã o. Obviamente que


esta legisla çã o teve origem na necessidade de defesa do Reino
portugu ês contra possiveis subleva ções mouras , sendo portanto o
porte de armas um privil égio exclusivo dos crist ã os . Em

A contrapartida , ficavam estes obrigados a atender à convoca çã o da


4
— (
Coroa para lutar em defesa do Reino , sempre

amea ç ado ( Boxer , 1981 : 31 /2 ). Desta


que

maneira ,
este

os
se visse

indigenas
/ cristianizados passavam a ter a obriga ç ao , em troca da cidadania
adquirida , de lutar em defesa dos interesses da Coroa portuguesa .

4 Ao mesmo tempo , é importante observar que a legisla çã o


A portuguesa discriminava os crist ã os "puros” daqueles que tivessem

o sangue maculado pela "raza de Judeu , Mouro ou Mulato"


-

* ( Schwartz , 1979:87 ). À queles que não conseguissem provar a


" pureza de sangue" estaria vedado o acesso aos cargos p ú blicos ,
eclesi ásticos e à s Ordens militares ( Mello , 1989:26 ). Contudo a
legisla çã o portuguesa nao considerou a origem indigena como
" m á cula de sangue” . Portanto , ap ós assumir a cidadania colonial ,
D atrav és do processo de convers ã o religiosa , o indigena e seus
.
^ descendentes ficavam nivelados , juridicamente ,
r\ aos cidadaos
portugueses de "sangue puro" ( Vide nota 5 do cap . 5 ).

O capitulo 23 trata da import â ncia da convers ã o


r\ religiosa dos indigenas , assunto que , devido ao poder do Padroado

Religioso , estava sob a al ç ada da Ordem de Cristo , determinando


tamb é m , atrav és do capitulo 45 , que os indios cristianizados
n fossem alocados pr ó ximo aos povoamentos coloniais .
O
Chamamos a aten ç ao para que neste Regimento - bastante

o minucioso a respeito da pol í tica a ser empregada em rela ç ao aos


o
n
4
4
4 62
4
4
4 ind ígenas - era nenhum momento delega D. Joao III , a qualquer
4 instituição religiosa ou autoridade civil , o direito de
4
"repartimiento" ou "encomiendas", tao usado na América
4 Espanhola
4 ( 5 ), ou qualquer outro poder tutelar sobre os í ndios cristãos.
4
Em linhas gerais podemos dizer que a politica expressa
4
4 no Regimento é a de guerra inclemente às "nações" ind í genas
4 -
hostis , procurando deslocá las da costa para o "sertão" , afira de
4
preservar o espaço
4 litorâneo sob o controle das "nações"

4 ) aliadas , cooptadas ao projeto colonial através da convers ão


4 religiosa. Sob o ponto de vista
4 estratégico- militar colocava o
4 indio perante a opção de incorporar se ao conquistador.
- adotando
4 o cristianismo , ou ter que enfrentar as forç as coloniais ,
4
4 formadas principalmente por "cristãos” originados das diversas
4 "nações” indigenas , armados e adestrados militarmente. Desta
4
maneira , por ser a Ordem de Cristo uma instituiçã o nã o só
religiosa como também militar , o processo missionário brasileiro
estava submetido a um amplo projeto militar , vcltado , a
principio , para o dominio do litoral brasileiro , através da
)
utilização da força guerreira nativa .
4
4.2 A Companhia de Jesus nos Dominios do Padroado da Ordem de
Cristo

A No auxilio da realizaçao de tal projeto colcnial Tomé


de Sousa veio acompanhado de quatro Padres e dois Irraã cs de uma
n recém fundada Ordem missionária a qual se propunha levar a
r\ palavra de Deus a todos que vivessem na "obscuridade" do
paganismo .

Esses quatros Padres , Manuel de Nó brega , Superior da

ifN
rs

63

Missã o , Leonar do Nunes , Juan de Azpicue ta Navarre , Antonio


r\ Pires
n e os Irmaos Vicente Rodrigu es e Diogo J á come estava m dando
r \i
inicio , em solo americ ano , ao empreen dimento mission á rio da ainda
n
obscura Companhi a de Jesus , fundad a por um fidalgo espanho l de
forma ç ao militar , Inigo Lopez de Onaz y Loyola , hoje conheci do
por Santo In á cio de Loyola ( 6 ).

Esta nova Ordem mission á ria foi estrutu rada de uma


O
maneir a muito particu lar , aos moldes de uma Ordem militar , como a

À dos Templ á rios. Sem muitas dificul dades , podemo s ver que possuem ,

essas duas estrut uras religio sas , muito em comum , o que n ã o seria

d de se estran har dada a forma ç ao militar de In á cio. A pr ó pria


estrut ura hier á rquica dos jesuitas lembra a dos templ á rios Assim
.
como esses monges guerrei ros estava m dividi dos en cavalei ros e

- j sargent os ,

coadjudo res .
os

Os
padres jesuita s

templ á rios tinham


dividia m -se

os seus
em profess os

estabel eciment os
e

'-N
inserid os em ’’Prov í ncias" , sob a ordem de um mestre provinc ial ,
que recebia , periodi camente , a visita de um cavalei
ro , conheci do
como Visita dor , incubid o de fazer relat ó rios peri ódicos . Essa
nesma estrut ura foi adotada pelos pelos jesuita s , atrav és dos
A
Padres Provin ciais e Visitad ores. A elei çã o do Superi or
»
jesu í tico , atrav és da Congreg a çã o dos profess
os ce quatro votos ,
n ê dos mesmos moldes que a elei çã o do Gr ã o Mestre
templ á rio ( 7 ).
Assim como os provinc iais templ á rios , as autori
dsces provinc iais
jesu í ticas tinham bastant e autonom ia decis ó ria , ao contr á rio das
« Jy
outras ordens religio sas onde os seus relisi osos ficavam
restri tos as determi na çõ es dos distant es Superio res.

Contudo , foi atrav és da elimin a çã o do coro


rs ( 8) e da
ausê ncia de uma ” mis3 ã o” especif ica (9 ) nos Capitu les da
o
o
o
A
A
A 64
A
A Compan hia de Jesus que , ao nosso

Ordem o que havia de mais peculiar


ver , In á cio incorpo rou nesta

na estrut ura templ á ria. A


elimin a çã o da obriga ç ao do coro permitiu
A aos jesuita s
A especia lizarem -se em divers as outras ativid ades al é m das
à religio sas , pois nã o estavam obrigado s a interro mper seus
4
4 afazere s para atender a essa obriga ç ao , conform e ocorria aos
À religio sos das outras Ordens . Ao mesmo tempo , por não ter a
4
Companh ia uma miss ã o especifi ca , a nao ser a de lutar
A contra os
A ) ex ército de L ú cifer , possibi litava aos jesuitas unia grande
A
autonom ia de a ç ao. Desta maneira , ao estrutu rar uma
A Ordem

A interna cionali sta sob a autorid ade direta do Papa , 3 em a


A obriga ç ao do coro e do cumprim ento de uma tarefa especifi ca ,
A
acredit amos que In á cio procura va reproduz ir a estrutu ra mon á stica
A
A templ á ria na Companh ia de Jesus , estrutu ra esta que tinha
A permit ido tornar a Ordem dos Templ á rios politic amente poderosa
e
O
economi camente ind é pendant e.

Manoel de N ó brega , o Superio r destes mission á rios , era


O
uma das mais importa ntes aquisiçõ es da nova Orden. Nascido em
A 1517 , estudar a nas Univer sidade s de Salaman ca e Coimbr a ,
A
graduan do -se em 1541 . Filho de um Desemba rgador e sobrinh o
O do
rS Chancel er - mor do Reino , esperav a ingress ar na alta hierarq uia
dGS
r\ funcion á rios da Coroa . Ao vagar uma colegia tura na Univers idade

r\ de Coimbra , candida tou -se para ocup á - la e, para surpres a sua ,


acabou preteri do por ura outro candida to . Tomado pela revolta ,
r\
ingress a , em 1544 , na rec é m -fundada Companh ia de Jesus dispost o ,
rs segundo nos parece , era torn á - la como uraa das sede do poder
O
eclesi á stico em Portuga l ( 10 ) .
n
n Em 1553 , o Brasil passou a ser conside rado como una
rh
r\
o
D

65

nova prov í ncia jesu í tica , sendo Manoel de Nóbrega designado como
seu Provincial. Neste mesmo ano aportou na Bahia Duarte da Costa ,
n segundo Governador Geral do Brasil , acompanhado de ura jovem Irm ão
r*
de complexao franzina e doentia mas que possuia aquilo que
n faltava em Nó brega para que o empreendimento jesuitico no Brasil
tomasse o impulso desejado , ou seja , um vigoroso discurso
religioso. O portador deste discurso
-
chamava se José de Anchieta

2 d i ).
A ) Ao chegar Anchieta a Salvador , encontrava se Nó brega em
-
A São Vicente , para onde logo
A partiu . Quando Nóbrega lançou os
fundamentos da atual cidade de Sao Paulo , nos campos de
Piratininga , em 25 de janeiro de 1554 , Anchieta , que logo
dominou

A -
a l í ngua Tupi Guarani , já o acompanhava (12). Logo
depois eclodiu
- um clima de intensa hostilidade entre os habitantes de Sao
Vicente e os Tamoio. Iniciaram então Nó brega e Anchieta um
D paciente trabalho de pacificação. Com o retorno de Nó brega
a Sã o
r> Vicente , permaneceu Anchieta entre os Tamoios conseguindo , após
:inco meses , superar enfim as hostilidades (13).

A visão juridica e administradora de Nó brega aliada ao


C\
rarisma mistico de Anchieta permitiu que a Companhia
D lanç asse
oases profundas para a sua açao missionária em solo brasileiro
que , ao nosso ver , estava diretamente associada a estratégia ,
expressa no Regimento , de apropriaçao da força
guerreira nauva
r>
na conquista colonial da terra Tupi e na defesa
cesta contra as
D
iiversas tentativas de invasões externas por parte de outros
D interesses colonialistas europeus . Destas , a que no3 interessa
D
nais diretamente é a conhecida invasao
D franzesa à baia de
O Guanabara.
D
TTN
é
o

4
4
4 66
A
A
4 4.3 A Luta Entre Templ á rios e Hospita l á rios Pela Terra do Tupi
A
A
A No in í cio do ano de 1555 , os ind í genas da "nação”
4 Temiminó foram expuls os da baia da Guanab ara por ind í genas de
A outra "na ç ao" Tupí -Guaraní , sua inimiga ,
A denomin ada de Tamoio
A pelos portug ueses e Tupinam bá pelos france ses . Eram os Temiminó
A lidera dos por Maracaj á - gua çú , ou Gato Grande , aliado dos
A portugu eses , que vieram em seu aux í lio . Os Temimi n ó
A foram ent ã o
A ) desloc ado para a Capitan ia do Espí rito Santo onde foram
A
abriga dos em aldeam entos jesu í ticos ( 14 ).
A
A Meses depois, em 10 de novembr o de 1555 , penetr ou
A nesta mesma baia uma esquadr a de naus francesa s , ocupand o uma
A
A ilhota pr óxima à sua barra. Era essa expedi çã o militar comanda da
A por Nicolas Durand de Villega ignon , que logo transfe re -se para
A uma outra ilha maior e melhor abriga da , dando inicio a constru
A çã o
de uma fortif ica çã o . Essa ilha , denomin ada pelos í ndios de
r\ Serigip e , guarda at é hoje o nome deste comanda nte franc ês , Ilha
O
O de Villeg aignon.
A
V i
Assim que chegou , Villeg aignon estabel eceu uma alianç a
A\
guerrei ra com a referi da "na ç ao" Tupina mb á que
A , , após a expulsã o

o
O
dos Temiminó , dominav am inteira mente a baia da Guanab ara . Em
1557 Villeg aignon recebe refor ç os de uraa frota
r\ de tr ês navios
comanda da por seu sobrin ho Bois - le-Comte ( 15 ).

À 30 de abril deste mesmo ano parte de Portug al M é m


de
c S á , 32 Governa dor Geral , nomeado
O em substit ui çã o a Duarte da
.Tosta ( 16 ). Assim que chegou , M é m de Sá defron tcu -se com a
eclos ã o de um grande levant e indige na na Capitan ia do Espirit o
O Santo . Ap ó s conseg uir pacific ar esta Capitan ia preparo u - se para
o
o
n
A
67
A
A
dar combate aos franceses na Guanabara , onde chegou em 1560 ,
A acompanhado do jesu í ta Provincial do Brasil , Pe. Manoel de
Nó brega. Villegaign on , por ém , tinha partido pouco antes para <3

A Europa , a fim de procurar apoio ao seu empreendime nto , deixando o

comando sob a responsabili dade de Bois - le-Comte.

Após intensos combates o Governador expulsou os


franceses de sua fortaleza , retirando -se para Sã o Vicente. Os
franceses , com ajuda dos aliados Tamoios refugiaram -se nas

/ matas , reconstruin do a fortaleza , depois da partida de M é m de Sá .

Essa expediçã o , conhecida como "invasao francesa",


costuma ser considerad a como um emprendiment o calvinista apoiado
pelo rei Henrique II , de Fran ç a , com finalidade de fundar uma
nova colOnia na Am érica , a "Franç a Ant á rtica ’1 ( 17).

Todavia , Southey ( 18 ) afirma desconhece r a l ó gica que


:ez do Brasil alvo desta expediçã o. Observa ele que n ã o seria do

"N interesse de Henrique II criar conflitos com Portugal . Alé m


rs disso , o comandante da expedi çã o n ã o era protestante , passando .
m
inclusive , a hostilizar os calvinista s , expulsando-os
posteriorm ente do forte que tinha batizado com o nome de Coligny
( 19 ).
0 ,

rd Atentando , por é m , a um detalhe podemos ent ã o discernir


a lógica clamada por Southey . Esse autor refere-se a Villegaig non
c\
como "cavaleiro de Malta"; conforme vimos , os hospital á rios , após
O
o terem conquistad o a Ilha de Rodes , fazendo dela a sede da sua
o Ordem , passaram a ser
O conhecidos como ’’cavaleiros de Rodes ” .
o Posteriorm ente , cora a tomada de Rodes , 1552, por Solim ã o ,
O
o Magnif ico , a sede da Ordem foi transferid a para Malta . Passara:?.
m ent ã o , os hospital á rios , a ser conhecidos como ’’cavaleiros de
«

A
A
t

n 1
68

-
A Malta", conforme Southey denomina Villegagn on . Na realidade , o
A navegador franc ês era um Frei hospital á rio , sobrinho do Gr ã o-
A Mestre da Ordem de Sao Joao de Jerusal é m , Villiers de I ' Isle Adam
A
A ( 20 ).
A Em Franç a , Villegagn on convidou os jesu ítas a tomar
A
A parte deste empreendim ento , conforme carta do Padre Nicolau
A Li étard , de 6 de mar ç o de 1560 , ao Geral da Companhia ( 21 ). Em
A
1562 , por motivos que nos sao ainda
A desconheci dos , o Geral da
A Companhia de Jesus decidiu nao aceitar o convite da alianç a com
A os hospital á rios , contra os seus seculares inimigos templ á rios da
A
A Ordem de Cristo ( 22).
A Neste mesmo ano de 1562 , Villegaigno n , que nao mais
A
voltou ao Erasil , negociou com o embaixador portugu ês
A em Paris ,
A Pereira Dantas , a ren ú ncia do empreendim ento hospital á rio em solo
A americano , recebendo era troca uma indeniza çã o de 30.000 ducados
r\ ( Wetzel , 1972:94). Contudo os soldados franceses , sob o comando
o de Bois-le-Comte ,
I
continuara m resistindo , obrigando assim à
O
continuida de da guerra .

À 1 Q de maio de 1563 chegou à Bahia , acompanhad o de


A
mais quatro jesuitas , Est ácio de Sá , filho de Diogo de Sá , por
sua vez primo direto do pai do Governador M é m de Sá , o cOnego
Mendes de Sá ( Ibid : 100 ). Veio ele com a incumbê ncia de ajudar o
CS
o Governado r a expulsar da Guanabara os invasores e ocupa - la , em
o definitiv o , fundando uma povoa çã o.
O
Apó s organizar uma esquadra , Est á cio de
D Sá partiu da
r\ 3 ahia em direçã o ao Espirito Santo e Sã o Vicente afim de receber
o refor ç os de í ndios e mamelucos ( Anchieta , 1988: 255/ 266 ). A 20
O de
o . aneiro de 1565 partiu ele de Bertioga para o Rio de Janeiro
O
r ^\
r\

A
A
A 69
A
A
A acompanh ado dos jesu í tas Gonç alo de Oliveira , capel ã o da
A expediçã o, e Anchiet a , ainda coadjuto r temporal. Acompanha va -o
A també m , dentre outros Í ndios , Ararib ó ia , " principal" Temirain ó
A do
A aldeamen to jesu ítico de Sã o Joao , situado no Espí rito Santo ( 23 ).
A Ao chegar à baia da Guanabara , Est á cio de Sá ocupou a regi ã o
A
A pr ó xima a sua barra , entre os morros Cara de C ã o e Pao de A
çú car ,
A onde fundou a cidade de S. Sebasti ã o , em 12 de mar ç o de 1565
A
( Tapaj ós , 1956: 137). Iniciou -se
A ent ã o uma luta de escaram u ç as
A entre as tropas comandad as por Est á cio de Sá e Bois - le -Comte , sem
-4 vit õria decisiva para nenhum deles .
A
A Em maio de 1566 , partiu do Tejo uma armada de tr ês
A galeões comandada por Cristó vã o Cardoso de Barros , trazendo
A
refor ç os e com ordens expressas para Mem de Sá ir pessoalme nte ao
A
A Rio e expulsar definitiv amente os francese s. Trazia també m o
A comandan te da esquadra duas cartas dirigidas
A a um cavaleir o

rd professo da Ordem de Cristo , nao identifi cado , com determin a çõ es


rs
v para lanç ar o h á bito de Frei cavaleir o da Ordem a M é m
'
de Sá. A
•" v
'
'

outra carta era dirigida ao j á Frei M é m de Sá com instru çõ es para


O
— impor o h á bito de novi ç o a Est á cio de Sá ( 24). Desta maneira ,
i para fazer frente à invasã o empreend ida por ura Frei hospita l á rio ,

Villegaig non , foi concedid o o mesmo t í tulo moná stico a M é m de S á .

Em 18 de janeiro de 1567 M é m de Sá chegou à Guanabar a


r\ iniciand o logo o ataque as posi ç oes franco hospital á ria. Em um
desses ataques o novi ç o Est á cio de Sá foi atingido por uma
í lechada no rosto , vindo a falecer um m ês depois . Destacou -se .
O
n nestes combates , a participa ç ao de Ararib ó ia , decisiva na
r>
expuls ão dos francos hospital á rio ( 25 ).

Batidos na Guanabara , os francese s dirigira m -se para


O
o
"N
'

n
A
A
A 70
A
A
A Pernambu co tomando posse de Recife , de onde forain novamente
A expulsos pelo comandant e da pra ç a de Olinda, entao um dos mais
A
floresce nte n ú cleo urbano brasilei ro ( Soutehy , ibid . :219 ).
A
A
A
A
A 4.4 As Ordens Religiosas , o Indigena e a Sociedad e Colonial
A Brasileir a
A
A
A Ao estudar a participaç ao das Ordens religios as e do
X
indigena na forma ç ao da nossa espaciali dade deparamo nos
A - com um
A n ú mero sempre crescent e de quest õ es ainda nao respondi das , o que
A nos leva a reconhec er o quanto ainda desconh ecemos sobre o tema .
A
fis
Ao nosso ver , pairam ainda muitas d ú vidas a respeito do

— processo de descobrim ento e conquist a da Am é rica . Pouco


conhecemo s a cerca do papel da Igreja Cat ólica e das cidades-
O
estados italiana s , que disputav am o monopó lio do com ércio cora o
Oriente via Mediterr â neo . Algun 3 document os a pouco descober tos.
th
e ainda em estudos , levantam question amentos a respeito da
O
A nacionali dade de Colombo. Teria sido ele , na realidad e ,
portugu ês? nos parece , tamb é m , pelo menos ins ó lito o fato do Nove

Mundo ter recebido o nome nao de um navegante , mais sira de de un


agente florenti no dos M édicis que teve uma partipa çã o bastante
d ú bia neste processo , ora viajando sob a bandeira de Espanha , ora
O de Portugal( 26 ). Ao mesmo tempo , apesar de atravess ar um momento

n critico , a Igreja Cat ó lica participa va ainda de forma indel é vel


n do poder politico dos paises cat ó licos inclusi ve Portugal que .
por mais avan ç ado que fosse a sua estrutu ra politics em rela ç a o
O
C\ aos outros poderes mon á rquicos europeus , julgamos n ã c ser correto
r\
rs
r\
A
A
A 71
A
'lr

A
A con 3 idera - la , para a é poca referente , como absolutista .

*
A
A
Sabemos que a estrutura de poder da Igreja Cat ó lica nao

era , assim como ainda hoje nao é, coesa e monol í tica , por é m
A desconhecemos fontes documentais que permita- nos identificar com
1
seguranç a as razoes que levaram a Ordem dos Hospital á rios a
*A invadir as terras que estavam sob o poder do Padroado da Ordem de
A Cristo. Baseando -nos , contudo , no hist ó rico destas duas Ordens
A
militares , propomos a seguinte interpreta ção
A como modelo
A ) hipot é tico: mesmo com a concretiza çã o da estrat égia templ á ria de
A desviar parte da rota comercial com o Oriente para o Atl â ntico , a
A
A Ordem dos Hospital á rios , apesar de nao mais tao intensamente ,
A continuou exercendo a sua fun çã o de guardia das rotas mar í timas
A
mediterrâ neas. Contudo , com a queda da sua estrat é gica Ilha de
A
- Rodes , Solimao passou a controlar o Mar Mediterr â neo , tornando-se

ent ã o , a rota Atl â ntica , a principal via comercial com o Oriente.


A
Como a batalha naval de Lepanto , onde Solimao foi derrotado pela
frota crista comandada por Andrea Dó ria , só se deu en 1571 ,
O
quando Villegaignon invadiu a Guanabara , a Ordem dos
Hospital á rios estava alijada do controle militar de quaisquer das
m rotas mar í timas com o Oriente , razao principal de sua exist ê ncia .

A Pela suas condições naturais , a baia da Guanabara apresentava -se


como um excelente ponto , senã o o melhor do litoral brasileiro , de

O apoio estrat égico para que a Ordem dos Hospital á rios continuasse

a ter poderes , em nome da Igreja Cat ó lica , de controle militar


O sobre a rota naval para o Oriente.
n
n O que nos apresenta ainda de modo bastante obscuro
quanto a posi çã o do Papa em rela ç ao a esse conflito , reis . apesar
O
de ser o rei de Portugal o Grao - Mestre da Ordem de Cristo , esta
4
4
^ 4 72
4
- J
5 conti nuava sendo uma Ordem Milit ar da Igrej a . Cat ó lica ,
4 perman ecendo , portan to , sob a sua autor idade m á xima . Um outro
A aspect o bastan te intrig ante é quanto as razõ es que levara m a
4 Compan hia de Jesus a optar por uma alianç a
com a Ordem de Crist o
4 e nao com a Ordem Sã o Joao de Jerus al é m . Intere ssant e obser var
4
4 que , enqua nto na Europ a a sede da Compan hia negocia va com
4 Villeg aignon , Nó brega j á partic ipava da 12 exped i
çã o movida por
4
M é m de Sá contra os france ses , em 1560 . Sem d ú vidas
4 que estav am
J ) em jogo intere sses , nao só pol í tico -econó micos como també m
A insti tucion ais e pessoai s , at é hoje escuso s. Tivera m por é m os
A jesuit as a cautel a de regis trar este epis
ó dio como uma luta entre
4 portug ueses cat ó licos e france ses protes tantes
.
A
Acredi tamos que a alianç a entre a Ordem de Crist o com
4 a
A Compan hia de Jesus fora de funda menta l impor â
t ncia no sucess o da
A estrat é gia de apropr ia ç ao da for ç a guerre ira nativa
A , contu do esta
alianç a logo mostro u que també m tinha suas aresta s . Os jesuita s
de imedi ato perceb eram que , para atend er as neces sidade s da

rs ambici osa obra que se propun ham a fazer no Brasi


l , dever ia gerar
A recurs os que a finan ciasse , mormen te porque a Ordem
e3 tava dando
ainda 03 seus passos inicia is , nao podend o o seu Superi or no
Brasil , Pe . N ó brega , conta r com recur sos substa
nciais advind os da
sede da Compan hia em Roma e també m porque
o Brasil era uma
Cs col ónia pobre , j á que os grande s inter esses portug ueses estav am
rA no Orient e . Um outro grande proble ma de ordem
finan ceira para a
r\
Compan hia de Jesus no Brasi l era a quest ã o do dizim o
Fs eclesi á stico. Manoe l de N ó brega , um profun do conhe cedor do
Cireit o Canó nico , de pronto deve ter perceb ido
o cercea mento da
(P\ autono mia jesuiti ca que haveri a de existi r nas terras
que faziam
.
s
4

73
4
4
A parte do património da Ordem de Cristo. Apesar desse poder
A patrimonial ser , a principio , de ordem espiritual , tomava ele
A dimensões politicas , juridicas e económicas. A
A Ordem de Cristo
4 retinha sob o seu poder , o direito de recolher todo o dizimo
A eclesiástico. Conforme vimos , foi esta uma das maiores
4 causa do
4 conflito templário com as outras Ordens religiosas e com a Igreja
4 secular de modo que com a sua herdeira nao seria diferente. Os
4 jesuitas logo
4 iniciam um processo de lam úria à Lisboa a respeito
4 ) de suas penúrias financeiras. Finalraente , D. Sebastião , em 1564 ,
4
como Mestre da Ordem
4 de Cristo , outorgar lhes - o direito ao
4 redizimo , ou seja , a décima parte do dizimo. Contudo o conflito
4 permanecia , já que os jesuitas nao tinham o direito de recolher
4
diretamente o redizimo , mas
4 esperar que este lhes fosse
4 repassado.

Apesar da renda dos jesuitas advirem ,


4 principalmente ,
das fazendas dos Colégios , onde se utilizavam principalmente o
r\ trabalho do negro escravo , acreditamos que nao fosse do agrado da

Companhia abrir mao da força


n produtiva indigena . Contudo , se
estes ficassem alocados , conforme determinava o Regimento ,
'-r
próximos aos núcleos coloniais , torna -se ia extremamente
rs - dificil
reter essa mao-de-obra , já que a legislação nao dava poderes
tutelares aos missionários sobre os indios cristianizados.
r\
Desta maneira , por ironia , a autonomia de inspiração
templária da Companhia de Jesus entrava em conflito , no Brasil ,
r\
rv com o poder , de herança templária , da Ordem de Cristo. O discurso
n jesuitico
-
dirige se entã o a alterar a legislação vigente ,
/TS
tentando obter , como ocorria na América Espanhola , a autonomia
O
r> ;.indica sobre os ind í genas . Esse discurso , ex t rena men te
ambiguo ,
mv
.
1

n
n
A
<
>
74

X
** baseava -se na necessi dade de se ter ura controle efetivo sobre

indios , devido a sua Mindole M agressi va e caniba l í stica ,


os

assim
X como , passando de um extremo
A a outro , devido també m a
X necessi dade de protege- los da contato "degener ativo" dos
A portugu eses. Apesar da const â ncia cora que esse discurs o foi
A
4 reprodu zido , os jesu í tas nao lograra m obter no Brasil o pleno
f
direito tutelar sobre os ind í genas , conforme possu í am na Am é rica
espanho la . Em meados do s éculo XVII , alegand o que a proximid ade
n
\ dos aldeame ntos à socieda de colonia l levava a degenera çã o de seus
Q
ind í genas , os jesu í tas , talvez objetivan do permiss ã o para isolar
n
os í ndio3 em regi õ es afastad as ou concentr ar os seus esfor ç os
no
A Maranhao e Grao-Par á onde tinham mais autonomi a , comunic aram a D.
A
Joao IV a intensao de abandona r "As Aldeias da Reparti çã o Sul"
O ( Leite , 1945:96 T .6 ). Era respost a , "recomen da EI - Rei ao
rS
Governa dor do Rio em 1679 , as Aldeias e miss õ es do Gentio ,
reprodu çã o mais uma vez do Regiment o de Tom é de Sousa ”
c
O
( Ibid .: 106 /7) , o qual , contrar iamente do que procura fazer supor
Serafim
n<
s
Leite , nao concedia nenhuma concess ã o especia l aos
jesu í tas , determi nando , como vimos , que os
aldeame ntos estives sem
n localiz ados pr ó ximos aos n ú cleos colonia is .
n
r' Apesar desta rela ç ao profund amente conflit uosa que
c mantinha a Companhi a de Jesus com a Ordem de Cristo rela
, ç ao esta
O
O que , como quase todos os conflit os interno s da Igreja
, foi muito
rs bem escamote ada , conside ramos que o trabalho mission á rio
O
jesu í tico foi fundame ntal para a concret iza çã o da estrat é gia
o religio sa militar da Ordem de Cristo .

Ao nosso ver , o referido projeto religio so - militar de


C Apropri a çã o da "m á quina de guerra" Tupinam b á era voltado nao sb
r
"v
.

PS
1

iffI\

4
75

Ú
r>
para fazer frente aos ind í genas hosti3 e

como também para


invasões estrangeiras ,
sufocar as possíveis revoltas dos escravos
africanos que aqui chegavam , conforme claramente expressam as
palavras do Pe. Pero Rodrigues referindo se
- a açao missionaria
jesuitica no Brasil:

"Suav íssimo fruto é a glória de Deus , que sempre


daqui se colhe o merecimento dos obreiros desta
4 \
vinha , a salvaçao de muitas almas que nao tinham
j
outro remédio , o proveito
A temporal dos
A portugueses , a mudança dos costumes desta gente
A bárbara . Têm neles os portugueses f iéis e
À
A esforçados companheiros na guerra , cuja flecha
muitas vezes experimentaram os estrangeiros , que
í
9 cometeram de entrar com mao armada algumas vilas
O deste Estado , e confessaram que mais temiam a
flecha destes que o nosso arcabuz. Também tê m
r\ neles um grande freio contra os negros de Guiné ,
A de cuja multid ão é para temer nao ponham alguma
A hora em aperto algumas Capitanias da costa do
O* Brasil .
n ( 197Õ{1607}:93 )
C\
r\
Nao é dif ícil de se compreender o porque da utilização
r\
ia força guerreira nativa nao só contra as invasces
externas mas
também contra os negros escravisados. Sabemos que
~s
/
a explora çã o
rredatória do oau brasi 1 nao seria suficiente
-
éTS para arcar custos e
atrair capitais em um empreendimento colonial
de grande dimensão
A
J
A 76
J
A
A como o do Brasil. Sabemos também que esse problema foi superado
A com a produç-ao açucareira. Contudo , para que a cana seja
A colhida
A -
faz se necessário que cada lavrador esteja munido de
um facão o
A qual é também uma arma eficaz , quando em maos
experientes. Ou
A
seja , para que a cana fosse colhida fazia se necessário armar
i - um
A verdadeiro exército de escravos negros , os quais , obviamente ,
estariam sempre prontos a se revoltarem. Desta maneira para
, que
3
pudesse haver uma produção açucareira em grande escala
rs no Brasil ,
A \ seria preciso estruturar um aparelho repressor voltad
o também às
A possí veis revoltas dos escravos negros.
A
A Em diversos manuscritos jesuíticos encontramos
A passagens que demonstram a importâ ncia dos indigenas
aldeados nao
A
A só na luta contra as "nações" indigenas hostis como também aos
O escravos negros revoltosos (27).

*1 Desta maneira , acreditamos que caso nao fosse a


r\ existência desse sistema de repressã o aos escravos negros
r\ fugidios ou revoltosos , estruturado a partir dos aldeamentos
r\
r\ missionários , teria sido impossível a vinda de um tão grande
A nú mero desses escravos , pois -
corria se o risco , conforme as
palavras jesu í ticas , de eclodir uma grande revolta com
^\
possibilidades , inclusive , dos negros escravos
tomarem o controle
efetivo de grande parte do Brasil . Devemos contudo
n lembrar que.
r\ se a legislação nao dava direitos tutelares aos jesuitas , os
indigenas cristianizados estavam na obrigaçã o de
O atender as
n mobilizações por parte da Coroa ou dos seus representantes
.
Nao só os indigenas dos aldeamentos mission á rios f oram
utilizado como elemento repressor do negro
n escravisado. Sampaio
n . 1978: 165) informa que no século XVI os propriet á rios de grandes
n
o
o?

r\ 77

fazendas com numerosas escravarias procuravam atrair ’’ una aldeia


do gentio amigo para o eventual suprimento de braços
para as suas
lavouras e onde se recutava de preferência o melhor
da sua gente
n para as bandeiras de guerra". Provavelmente , diversas cidades
r> interioranas tiveram origem nessas aldeias indigenas
fixadas era
locais determinados , devido a necessidade de prote
ção que tinham
os fazendeiros e senhores de engenho.
n Evidentemente , que a inserção do ind ígena na sociedade
\ colonial nem sempre se deu por livre opção destes . Vimos
como o
r\ Regimento previa a "guerras justas” , onde os prisioneiros eram
q reduzidos a servid ão. Contudo , o processo de servid ão indigena
O
diferenciava-se do regime escravagista a qual o negro estava
submetido , pois somente os indios cativos , e n ão os seus

n descendentes , perdiam a liberdade. Compreende se assim porque


- um

1
o
escravo negro valia bem mais que um indigena pois para este

A houveram diversas leis e alvarás que delimitavam os direitos de


O seus senhores , já que , diferentemente aos negros , eram
2 considerados naturalmente como seres humanos , tanto Coroa
Q
O ;omo pela Igreja.
o
rs
o
o
n
A
r>
r\
n
A
D
r>
r>
r
r
Ti
f
78

T
NOTAS
T
T
1- Tapajós ( 1956 ) p .5: "Logo que subiu ao trono ( 1527 )
,
T D. Jo ã o III , que era o tipo do monarc a admini strado r ,
7 mando u procede r ao censo da popula çã o . Encont ram se
seus resulta dos no Arquivo Hist ó rico Portug u ês , t . 49
-
1 e , por ê les , vemos a not á vel despro por çã o entre o
total
7 de fogos e o n ú mero dos que pertenc iam a vi ú vas
, CUJOS
marido s haviam sido devorad os pelas í ndias. Bastam
7 poucos dados: em É vora , por exemplo , para 2.873 lares
,
7 haviam 679 vi ú vas ; em Beja , 282 em 1.205 fogos
; em
Sines , 43 em 180 ; em Aldega lega , 29 era
7 20%, pois ,
106 ;
dos morado res . Era outros lugares ,
mais de
7 por
circun st â ncias fortui tas , a propor çã o baixa a 16%
1 % ( Set ú bal ) , 15% ( Tras -os - Montes ) e 18% ( Oldemir a ) , o
i
7
que , entret anto , é ainda um í ndice expres sivo.
consequ ê ncia é facilm ente perce bida : os campos foram
em grande parte , abando nados , A agricu ltura sofreu , e a
A
,
pen ú ria , ou matou de fome pelos caminh os a popula
çã o ,
ou for ç ou - a a entreg ar -se , mais ainda , à aventur a
orient al , j á agora , n ã o apenas para alevant ar o sagrado
pavilh ã o da Ordem de Cristo , mas por necess idade de
A sobrev iv ê ncia".
Al é m de grande parte da popula çã o econOm icamen te ativa
7 de Portug al ter sido "tragad a" pelas indias , D . Jo ã o
III teve ainda que presen ciar a popula çã o da M étropol e
* ser dizima da pela peste , conform e narra C â mara

o* ( 1954:65): "A sêca de 1521 , ano em que n ã o choveu
, foi
O uma de3 graç a para o pais. A peste de 522, uma
calami dade. A de 25 , uma cat á strofe . ( . .. ). Nesse mesmo
ano de 1525 fugiu a COrte portug u êsa para Coimb ra ,
espavor ida com o furor da peste , que assim complet ava
o
flagel o proven iente da s êca de 21 ."

^7 2- In Tapajós ( 1956 ) p . 214/5 {29 IV 1546}: "( ..)


- -
estand o assim muito conten te com ter a terra muito
. e
pac í fica e um engenho d ' á gua quase de todo feito
r\
~ , com
muitos canavia is , saiu da terra de Vasco Fernand es
Coutin ho um homem por nome Henriq ue Lu í s com outros e
em um carave l ã o , 3 em eu ser sabedo r , se foi a um pò rto
desta minha capita nia e contra o foral de V . A .
r\ resgat ou o que quis , e n ã o conten te com isso tomou por
engano um í ndio , o maior princi pal que nesta terra
havia e mais amigos dos crist ã os , e o prende u no navio
pedind o por ê le muito resgat e ( . . . ) por onde os
í ndios
se levant aram todos ( ... ) se , de V . A . n ã o é provid a
,
perder -se- á todo o Brasil antes de dois anos ( "
o ... ) .

3- Maestr i ( 1991 : 2/ 3 ) chama a aten çã o da import â ncia que


teve , para os ind í genas , as aquisi ções advind as da
r\ pr á tica do escamb o . Julga ele ser uma distor çã o

V.
4
4
A 79
4
4
A etnocentrista considerar que os ind ígenas teriam sido
logrados , pelos europeus , ao trocar seus produtos
4 "bugingangas": "Os europeus que deixar por
am registros
4 escritos sobre as suas visitas à costa do
Brasil
4 sugeriam desdenhosamente que os produtos americ
eram trocados por "bugingangas" de pouco preço. anos
4 Tal
avaliação refletia o maior valor mercantil dos produtos
4 obtidos no Novo Mundo em relação às mercadorias
européias cedidas no momento da troca. Do ponto
4 vista do europeu , essas "troca de desiguais" refor
de
4 ç avam
a opinião depreciativa dominante sobre a comunidade
americana. Apenas
A trabalhariam dias a fio por uma simples -faca , espelho
homens semi infantilizados
A ou machadinha . Esta descrição etnocêntrica do escamb
o
A americano foi aceita acriticamente por
historiadores. Para alguns deles ela corroboraria a
muitos
A \
tese da "inferioridade" indigena ; para outro3 ,
' A provaria a exploraçã dos autóctones pelos cú pidos
A á

prática da metalurgia do -
europeus. As populações pré colombianas desconheciam
ferro. As ferramentas
a
4 européias eram-lhes de grande ajuda na dura luta que
4 travavam com a natureza. (.. . ) . Através do escambo
,
incorporavara-se à divisão internacional do trabalho , o
A que lhe propiciava um real aumento da produtividade
das
atividades económicas . Estes instrumentos , facilitando
A a produção de bens de subsistências , aumentariam as
r esperanças de vida média e o crescimento demográfico
éT\ das comunidades basilicas.". Apesar de discordarmos
de
Maestri no tocante ao aumento da esperanç a de vida
rs média e do crescimento demográfico advindo das novas
aquisições tecnológicas , já que , conforme vimos ,
a
excelência do padrão alimentar e o crecimento
demográfico dos Tupi litorâneos eram , originalmente , j
á
bastante altos , concordamos plenamente quanto a sua
critica à perspectiva etnocentrista em
^ •

normalmente , é visto a questão do escambo. Gostar í amos,


cue
de chamar a atenção , também , para o fato de que
r\ a
produção indigena não era voltada , exclusivamente para
a obtenção dos produtos de subsistência .
Estudos
recentes tem mostrado que os indios , em geral , gastam
r
^ boa parte de sua força de trabalho no que poderia
considerar como a "tecnologia do estético". Um colar
tos
.

que as suas contas são feitas de sementes , ou cascas em


de
frutos , cuidadosamente polidas tem um alto valor
de
troca. Desta maneira , compreende se assim o
-
interesse dispertado aos indigenas as contas de vidro
alto
s
coloridas , as quais , para os europeus teriam pcuco
n valor .

4 - Observa Simonsen( 1962:81 /2) que , devido ao fato de ser


r o dizimo eclesi ástico a ú nica taxação , afora
produtos de monopólio da Coroa , sobre a produ çã
os
n colonial , carece de fundamentos econó micos
o
a
caracterização de feudal para o sistema de Capitarias
A^
o
i
(
4
30
4
4
-4 Heredi t á rias : "N ã o nos parec e razoá vel que
total idade
a quase
dos histo riado res pá trios acent uem ,
-4 demas ia , o aspec to feudal do sist ema das em
I donat arias ,
- chega ndo algun s a class ific à- los como um
retro cesso em
A rela çã o às conqui stas polit icas da é poca. (
por mais que estud emos os eleme ntos
... ). Ora ,
-4 hist ó ricos , n ã o
podem os concl uir que o regime das dona taria
s apres ente
4 pronu nciad a semelh anç a com a econom ia
fato se explic a pela falta de
medie val . ( ... ) O
4 carac teris ticas da vida medie val que
conhe cimen to
sô mente
das
4 recen tes estud os da hist ória econó mica t ê m escl os
areci do
sufic iente mente".
4
4 5- March ant , 1980 p . 9 3 r e p a r t i m i e n t o é a atribu i çã o
de lotes de indio s em plena propri edade , a
4 ) privi legia dos que deles podem dispo r à vonta ” (
indiv iduos
de . Lorin
4 & Capit an , Le travai l en Am érique avant et apr
ès
Colom b , p. 316 , Hist . Univ . du Trava il , Pari s ,
4 1914 . ) Os prime iros benef ici á rios fora m os chefe
Alcan ,
s
A milit ares da conqu ista espan hola . Mais tarde , at é
grand es de Espan ha recebi am indio s em encora os
4 alugan do-os ent ã o a fazen deiro s da colónia
ienda s ,
A , pois que
nunca vinham a essas in óspidas terra s da Am é rica"
.
4
4 6- Nasce u In á cio em 1491 na "Casa Torre s" , propr iedad
e dos
J Loyola s , na provin cia basca de Guip ú zcca ,
ao norte da
Espanh a , sendo o mais moç o de treze irm
4. morreu logo após o seu nasci mento , tendo
ã os. Sua m ã e
sido ele
criado pela mulhe r de seu irm ã o mais velho.
Confo rme
r\ ressa lta Marti n ( 1981 : 131 /5 ) , tr ês grand es
acont ecime ntos tiver am grand e reper cuss ã o na forma
do jovem fidal go. O prime iro deles , que acont eceu quase
çã o
quaren ta anos antes do seu nasci mento foi
O Const antin opla pelos turco s otoma nos ,
, a tomad a de
ocasi onand o a
fuga de um patrim ónio artis tico-cultu ral bizan tino
para
a Europ a . O segun do acont ecime nto teve curso
quando
In á cio era ainda um bebê e envol veu diret ament e os
Loyol as . Com a uni ã o dos Reino s de Caste la e Arag
ão ,
r\ torno u -se Grana da o ú ltimo balua rte mouro na terra
s do
novo Reino de Espan ha , cujos os sober ar.oa clama
ram aos
seus s ú ditos a expul s ã o defin itiva dos infi é is
r\ de seu
solo crist ã o . O pai de In á cio e tr ês de 3 eus
filho s
atend eram a este chama mento . A bela Grana da
foi
derro tada , sendo evacu ada a 6 de janei ro de 1492
.
Por é m , antes que isso aconte cesse. as espad as mouras
tinha m ceifa do a vida dos tr ês irm ã os ce In á cio Quando
.
se deu o terce iro acont ecime nto , In á gie n ã o tinha
ainda
dois anos de idade. Em 15 de mar ç o de 1493 o
, genov ês
Crist ó v ã o Colom bo entro u no porto espar.hol de Los Paios
rx anunc iando a desco berta de um Novo Mundo. Neste mesmo
ano , ao parti r Colom bo para a sua segun da viagem
às
novas terra s do Reino , acomp anhav a - o o irm ã o mai3 velho
r\ de In á cio , Marti n Garcia , espos o daque la que
o criou .
A
A
81
A
A
A Magdal ena de Ar á oz. Desta manei ra , o jovem
In á cio foi
A criado no moment o em que o mundo medie val estava
bombar deado pelos novos conhec imento s trazid
sendo
cs pelos
A s á bios bizan tinos , e ouvind o as hist ó rias
, conta das em
sua famili a , da tomad a de Grana da e da conqui
A Novo Mundo . Segund o M ü ller ( 1946), como a maioria sta do
A fidal gos espanh ó is de sua é poca , In á cio
teve uma
dos

A forma çã o milita r , entran do para o ex ército do


de Navar ra , o Duque de Najera , em 1517. Em 1521 -
Vice Rei
A defesa da cidade de Pampl ona contra o ex é rcito , na
franc ês ,
A é ating ido entre as pernas por uma bala de
canh ã o , que
destr oç a a sua perna direi ta , al é m de ferir a esquer
A Come ç a ent ã o uma fase de intens o sofrim ento fisico da .
I Retorn a ent ã o In ácio à "Casa Torre s", onde os m édicos
.
,
por determ ina çã o de In á cio , serra ram a sua
perna
direi ta , por esta n ã o ter calcif icada de forma
corret a
) . Ao sair da "Casa Torre" , em 1522 , o fidalg o espan
hol
trans forma ra -se. N ã o era mais um altiv o guerre iro mas
,
um misti co com a perna direit a defin itiva mente
deform ada . Vai a Monser rat e inici a escre ver
rs-
f
"Exerci cios Espiri tuais". Em 1523 fez os
uma peregr ina çã o
à Jerusa l é m . Ap ó 3 a sua volta , dedica -se aos
A para se tornar Padre. Era 1526 , em Alcal á é
estud os
proces sado
A pelo tribu nal eclesi á stico , sendo ent ã o preso
vai
. Libert o ,
para Salam anca , onde é novam ente preso e
proces sado. Em 1527 abando na a Espanh a , indo estuda
r em
Paris. Entra ent ã o para o Col é gio Santa B á rbara , do
— j
portug u ês Diogo de Gouve ia , onde conhec e o F . Pedro
Fabro e os estud antes Franc isco Xavier e Siraã o
n Rodrig ues , impre ssion ando-os profun dament e. Conheç e ,
o poster iormen te , Jacque s Lainez , Afons o Salmer ó n
Nicola u Bobad ilha . Em 15 de agosto de 1534 juntos fazem
e
o conhec ido "voto de Monser rat " , no qual , recon hecen do
Loyola como seu mestre , promet em libert ar a Terra Santa
n atrav és de uma nova cruzad a , cuja a arma n ã o mais seria
a espada , mais sim a conve rs ã o religi osa. Dirige m se
para Venez a , onde chega m em janeir o de 1537 , com
-
intui to de parti rem para a Terra Santa . Teve inici o
ent ã o a guerra turca , que fecho u a Pales tina aos
peregr inos crist ã os . Ainda em Venez a , In á cio de Loyol
o, a
é orden ado Padre pelo Bispo de Arbe. Em 1538 ,
acomp anhado de Laine z e Le Fevre , vai In á cio ã Roma
,
oferec er os seus servi ç os ao Papa Paulo III
O , não
encont rando , por é m , a prici pio nenhum a recept ividad e.
O Contu do , devid o a carê ncia de profes sores na
Unive rsida de de Roma , incub iu , o Papa , a Lainez e Faber
de fazer em confe rê ncias teol ó gicas , decic ando se In á cio
-
a dar assis t ê ncia aos neces sitad os e à s prosti tutas ,
o funda ndo um abrigo que as recol hessem . D . Jo ã o III ,
neces sitan do de missio n á rios para as novas col ó nias ,
o tomou conhec imento , atrav és de Diego Gouvei a
, da
exist ê ncia da , ainda n ã o of ic ialmer.te recon hecida .
Compan hia de Jesus , cujos os padres estari am oispos tos
a levar "a palavr a de Deus" a todos os
r-s ( Leite ,
cantos tc Mundo
1954: 26 /7 ) . Ap ó s recebe rem o cor vite do

o
82

soberano português de participarem da sua obra


missionária , partiram para Portugal Francisco Xavier e
Sim ã o Rodrigues , sendo Xavier mandado à í ndia , ficando
Rodrigues responsável pelo estabelecimento da Ordem em
Portugal. Finalmente , em 27 de setembro de 1540 , o Papa
Paulo III publica a bula "Regimini militantis
Eclesiae” , instituindo a Companhia de Jesus . Era 8 de
Abril de 1541 , Inácio foi eleito Superior da nova
Ordem .

7- Martin ( 1989) p . 170: " A Companhia de Inigo era ,


portanto , extremamente simples em sua estrutura
Era uma pir â mide de autoridade. No seu topo , ele
colocou um homem , que atendia pelo titulo de geral ou
-I j
padre-geral . ( ...) Êle era o "superior"
diferente de outros "superiores" da organização , que
geral ,

eram locais e encarregados de determinadas seções .


( . . . ) Sua autoridade era absoluta sobre a Sociedade
toda , suas várias partes e membros. ( . ..) O corpo da
Sociedade era composto de quatro categorias ou graus
( .. . ). Primeiro , em relação a isso , estava a categoria
ou grau de padres confessos. Os jesuitas desta
categoria eram aprovados em rigorosos testes
escolásticos e nas provas de sua qualidade religiosa ;
N
faziam três solenes votos de pobreza , castidade e
'“
'

obediência (votos comuns a todas as ordens religiosas


católicas); e faziam um voto especial de obediência ao
papa ( . ..) só eles podiam participar da eleição de um
geral .( . . . ) A segunda categoria ou grau abaixo do geral
era composto por padres que faziam votos simples , não

r\
solenes ; e não faziam o quarto votos ,
relação ao papa . Eram chamados , por tradição
especial , em
de
coadjutores espirituais.(...) O terceiro grau ou
categoria na pirâ mide dos jesuitas era o dos irmãos
leigos ; estes nunca se tornavam padres , mas faziam os
três votos simples e ficavam encarregados do trabalho
O manual nas casas jesu íticas , A quarta categoria era a
dos jovens seminaristas jesuitas , era geral chamados de
escolásticos , porque o seu preparo era feito através
das várias "escolas" -humanidades , filosofia , teologia ,
ciência de saber . Ao término de seu escolasticado ,
-
O eles eram ordenados padres e , dependendo de como
C\ -
tivessem se saido durante o aprendizado , juntavam se às
fileiras dos professos ou dos coadjutores espirituais.
( . . .) Inigo projetou apenas um elemento em sua
sociedade acima do padre-geral que recebera dele
r\ poderes t ão amplos. Foi a Congregação Geral: uma
r\ assembléia internacional de jesuitas , todos eles padres
professos , escolhidos entre o quadro de membros , e
r\ reunindo -se em Roma com os superiores m á ximos da
Sociedade. A congreagação geral é o órgão legislativo
supremo da Sociedade , responsá vel somente perante o
papa , não perante o padre-geral.
o
n
r\

4
. 4
83
4
4
4
8- O coro é a recita ç ao comunit á ria do Oficio Divino ou da
4 Liturgia das Hora 3 , atividade obrigat ó ria em todas as
4 Ordens Religiosas . Os templ á rios , por é m , quando ausente
de suas casas poderiam substitui r as ora ç oes
4 comunit á rias pela recita çã o de v á rios padres - nossos
4 ( Howarth , 1986:52 ).
4
4 9- Martin ( 1989 ) p . 157: "( ... ) toda ordem religiosa
4 romana foi constituci onalmente formada com apenas um
4 determin ado objetivo. Os membros de cada uma delas se
aperfeiç oaram apenas para cumprir uma finalid ade
4 especifi ca. Al é m disso , todos os membros de uma ordem
deviam , normamlme nte , viver , trabalha r e morrer em
4 determina das casas e comunidade s , suas vidas regulada s
4 por normas especifica s detalhad as era Constitui çõ es .
( ... ) Uma famosa ordem religiosa da é poca de Inigo , por
4 exemplo , tinha como objetivo constitu cional a liberdade
4 de ref é ns mantidos em escravid ã o pelo
,,
InfielM . Outra ,
a dos dominican os , era primordia lmente uma ordem para
i ensinar e pregar . Os francisca nos tinham por profiss ão
celebrar a gl ó ria e a alegria da pobreza corao sinal do
4 amor de Cristo por todos os homens e da sua inten çã o de
4 salv á - los das armadilha s dos vinculos terrenos . Outras
ordens , tais como a dos beneditin os , dos carmelita s e
4 dos cartuxos , foram formadas para levar uma vida pelo
menos parcialmen te afastada do trato com o mundo
movimenta do dos homens e para se ocuparem em cantar
louvores a Deus , rezar individual mente e , assim ,
almas Mais de uma ordem foi fundada
'nA aperfei ç oar suas .
como corpo de defesa para os lugares santos da
cristanda de em Jerusal é m e outras partes do mundo ,

o Outras ordens ainda foram fundadas para executar em


o servi ç os de enfermag em , hospitala res e para aquilo que
os crist ã os sempre chamaram de obras de caridade
cuidado com os moribundo s , com os indigentes e com os
famintos ; organizaçã o de centros de reabilitaçã o de
o prostituta s , col ó nias de leprosos e abrigos noturnos .

n
10 - Vasconcel os ( 1977 ) p . 174: "Chegado a idade suficient e ,
foi levado a estudar à Universid ade de Coimbra ; deu
O mostras de bom engenho , e habilida de , e n ã o de menor
indole para a virtude. Aperfei ç oado j á em humanidade s ,
entrou em desejos de passar a continuar seus estudos
r fora da pá tria . Partiu -se á Universi dade de Salamanca ,
rs e nesta fez t ã o bom emprego na intelig ê ncia dos C â nones
r\ (a que sempre foi inclinado ) que foi havido
conhecida mente por um dos mais avantajados naquela
profiss ã o . Feito este progresso , voltou a Portugal , a à
sua pr ó pria Universi dade de Coimbra : aqui consumou seus
estudos e se graduou de bacharel formado em C â nones ,
com grande aplauso , e opini ã o de 1 et r a 3 ( . . . ) . Avolta
desta opini ã o cresciam as esperanç as de valer no
servi ç o del - Rei , e de grandes despachos , assim por suas
o

i
4
4 84
4
4
letras , como por seus virtuosos costumes , e talentos
4
naturais ; e sobretudo pelas muitas valias que tinha ;
4 porque seu pai era Desembargad or , e ura tio Chanceler -
4 mor ( ... ). Vagara uma colegiatura na Universidad e: era
costume levar -se esta por oposi çã o : opòs -se a ela o
4 Padre N ó brega , á ent
j ã o Sacerdote de missa .
*
e suposto
4 que , a juizo dos melhores , e de seu mestre o Dr .
Navarro , fazia ele a seu opositor conhecida vantagem ,
4 ficou contudo aquele vitorioso , e N ó bregas rejeitado
4 ( que estes s ã o os juizos dos homens ). Conheceu o
soldado destro a tra ç a do Alt í ssimo , e deterninou
4 despicar-se com o mundo , afront á - lo e repudi á - lo , como
4 o mundo o fizerra com ele , entrando em uraa religi ã o , em
que por via de obedi ê ncia lograsse mais seguros seus
4 a Companhia de Jesus ( ... ) e
la ç os . Escolheu para isto
i nesta entrou com efeito no col é gio de Coimbra no ano do
J ) Senhor de 1544 ( ...)".
J
4 11 - Leite ( 1954 ) p. 67/8/70 V . 1: "O P. Jos é de Anchieta
J nasceu em La Laguna , Ilha de Tenerife , a 19 de Mar ç o de
1534. Filho de Juan de Anchieta , biscainho , e de D.
4 Meneia Dias de Clavijo . Entrou na Companhia em Coimbra
i com 17 anos de idade , a 1 de Maio de 1551 ( ...).
Anchieta nasceu nas Can á rias , pertencentes a Castela ,
I mas ele nã o se considero u castelhan o , nem espanhol , nem
4 mesmo canarino , senã o como lugar eventual de
nascimento . Tamb é m n ã o se considero u portugu ês nem
4
brasileiro , n ã o obstante incluir -se a si mesmo uma ou
4 !. outra vez entre os portuguese s . Na sua pena prevalecia
4 a asced ê ncia paterna , da Biscaia ."
4
-1 12- N ó brega ( carta a Martin de A . Navarro , Coimbra , da Bahia
em 10 de agosto de 1549 ). In Leite ( 1954 ) p. 141 V.
4 ) 1 : Ya
" ( Pe . Navarro )sabe la lengua de marnera que se
4 entiende con elles y a todos nos haze venta je , porque
J esta lengua parece mucho a la bizcayna".
A
4 13- Gonç alves de Magalh ã es , inspirou -se nessa passagem para
escrever , aparenteme nte por encomenda ce Pedro II
A ( Gomes , 1988:117 ) a c é lebre obra "Confedera çã o des
Tamoios” , fruto da imagina çã o rom â ntica que se
contrapõ e com a caracteris tica de descentral isno
politico dos Tupi. Sem d ú vidas que houve uma alian ç a
A guerreira , desfeita por Anchieta , entre os Tamoio da
A Guanabara , tradiciona lmente hostil aos portugueses , com
os Tamoio de Sã o Vicente , contudo longe estava de ser
'-S uma "Confedera çã o". Alguns mais incautos chegaram a
"
ver , na "Confedera çã o dos Tamoios , uma grande alian ç a
que reuniria n ã o somente diverso3 grupos Tupi -Guarani
como també m os Goitac á e Aimor é , todos sob o comando
o centraliza dor de Cunhambebe , o que n ã o tem nenhum
o fundamento etnohist ó rico .
X
i
I 85

X
i
X
I 14- Carta do Pe. Luis da Gr ã , do Espirito Santo , datada de
24 de abril de 1555 , in Leite ( 1954) p.226 /7 V . 1:
X que chamam
chegou aqui hum principal
J Maracajaga ç u , que quer dizer guato grande, que ee mui
J conhecido dos christ ã os e mui temido entre os gentios ,
e o mais aparentado entre elles. Este vivia no Rio de
X Janeiro e aa muitos annos que tem guerra com os
X Tamoios , e tendo dantes muitas vitorias delles , por
M derradeiro veir ã o-no pôr en tanto aperto con cercas que
puser ã o sobre a sua aldea e dos seus , que foi
X constrangid o a mandar hum filho seu a esta Capitania a
pedir que lhe mandassem embarca çã o pera se vir pello
X
aperto grande era que estava , porque elle e sua molher e
J
seus filhos e os mais dos seus se queriam fazer
I ) christ ã os . (...) Tirou Vasco Fernandez Coutinho sobre
4 isso testemunhas e mandou 4 navios pera que fossem
seguros dos francezes , que sempre aa naquelle Rio , e
J que lhe dessem todo favor con artelharia e mantimento
que levav ã o , mas que não os trouxessem se nã o
4
estivessem em extrema necessidade". O Pe. Antonio
'

4 Franco ( 1719 ), In ( N ó brega 1988:49) informa que a razã o


J da animosidade dos Tamoios de Sã o Vicente contra os
portugueses deveu -se ao fato destes terem auxiliado os
4
Temimin ós :"Quando n ós começ amos a ter guerra com os
J Temimin ós , gente do Gato Grande , os nossos confiados na
J multid ã o de nossos inimigos , que eram muito mais do que
nós e juntamente inimigos vossos , que tinham mortos
4 muitos de v ós outros , se metteram com elles contra nós ;
4 mas Deus ajudou-nos e pudemos mais". Os Teraiminó eram
conhecidos també m por "Margai á" ( Lery , 1960:42/3 ),
4 "Margaj ás" ( Thevet , 1978: 123 ) ou "maracaj á s" ( Staden ,
A 1974: 155).
4
4 15- Acompanhando Bois - le-Comte , que tinha ido à Europa
4 buscar refor ç os , estava o cronista protestante Jean de
Léry. O outro cronista franc ês desta invas ã o é o frade
A franciscano Andr é Thevet , que veio acompanhando
A Villegaignon , mas que n ã o mais se encontrava no
quando da chegada de Léry.
Brasil
A
A M é m de Sá dirigia-se ao Brasil , faleceu em
A 16- Enquanto
Portugal , a 11 de junho de 1557 D. Jo ã o III , primeiro
A soberano portugu ês a ostentar o titulo de Gr ã o- Mestre
A da Ordem de Cristo. Com a morte de D. Jo ã o III , assume
D. Catarina a Reg ê ncia do Trono portugu ês , devido a
A minoridade do sucessor , seu neto D. Sebasti ã o . Durante
A o peri ó do final da vida deste soberano , a Companhia de
Jesus conse;;ue , por obra de Sim ã o Rodrigues , torna -se
rtf\ Portugal . Essa r á pida ascen çã o roi motivo
poderosa em
de conflitos nao S Ó com outras institui çõ es
eclesi á sticas , que n ã o viam com bons olhos a ascen çã o
o
-A.

! 86

fulminante desta nova Ordem como tamb é m dentro da


pr ó pria Companhia de Jesus. Em 1552 , Inácio de Loyola
n afastou Sim ã o Rodrigues da direçã o ca Companhia em
Portugal , substituindo-o pelo Padre espanhol Diogo
Miram ( Assumpçã o , 1982:437/8/9). Era 1562, D. Catarina
abdicou da Reg ê ncia em favor do Cardeal -Infante D.
Henrique , estreitando este os lan ç o3 entre os jesuitas
e a familia real , sendo inclusive um Padre jesuita ,
Luis Gonç alves da C â mara , designado coco confessor de
ri D. Sebasti ã o ( Assumpçã o , 1982:455 ).

17- Carta de N ó brega ao Cardeal D. Henrique , de Sã o Vicente


datada de 19 de junho de 1560 , in N ó brega ( 1988 ) p.
226/7.: "( - - . ) Estes Francezes seguiam as heresias da
Allemanha , principalmente as de Calvino , que est á em
< ) Genebra , e segundo soube delles mesmos e pelos livros
que lhes acharam muitos , e vinham a esta terra a semear
estas heresias pelo Gentio a aprencel-as ao mesmo

:1 Calvino e outras partes para depois serem mestres , e


destes levou alguns a Villagalh ã o que era o que fizera
< aquella fortaleza , e se intitulara Rei do Brazil. Deste
se conta que dizia que , quando El - Rei ce Fran ç a o nã o
( quizesse favorecer para poder ganhar esta terra , que se

1 t
havia de ir confederar com os Turcos , proraettendo- lhe
de lhe dar por esta parte a conquista ca India , e as
naus dos Portuguezes que de l á viessem , porque poderia
aqui fazer o Turco suas armadas com muita madeira da
terra ; mas o Senhor olhou do alto tanta maldade e houve
4 miseric órdia da terra e de tanta perdi çã o de almas , e
4 mentita est inquitas sibi , e desfez- lhe o ninho e deu
4 sua fortaleza em m ã o dos Portuguezes , a qual se
destruiu o que delia se podia derrubar por n ã o ter o
,

Ti Governador gente para logo povoar e fortificar como


convinha . Essa gente ficou entre os Incios , e esperam
gente e socorro de Fran ç a , maiormente que dizem que por
4 El -Rei de Franç a o mandar , estavam alli para
H descobrirem os metaes que hovessem na terra ; assim ha
muito Francezes espalhados por diversas partes , para
1 melhor buscarem ." Ver també m carta de M é m de Sá a El -
D Rei , datada de 16 de junho de 1560 , publicada na REv .
do IHGB ( 1858 ), XXI , p . 13/4.

o
18- Southey ( 1981 ) p. 200: "Desde os tempos da primeira
0 descoberta haviam os franceses frequencado a costa do
Brasil ; agora tentavam -se estabelecer -se no Rio de
Janeiro , capitaneados por Nicolas Durar.d de Villegagnon
( sic ) , natural de Proven ç a , e cavaleir: de Malta . Era
este aventureiro um atrevido e experimentado
H) marinheiro . Quando os escoceses resolveram mandar cara
o Franç a a sua jovem rainha Maria , e com razao se receava
que os ingleses a aprisionassem , Villegagnon , que
comandava uma esquadra de gal és franceses em
--
V
J>
fingiu partir para a sua terra ; em
Leith ,
lugar disto por é m
o

O -
M» t

'
*

87

deu volta à Esc ócia , navega çã o que para aqueles vasos


se reputava impratic á vel , tomou a rainha na costa
ocidental , e a salvo a pôs na Bretanha . Em muitas
ocasi ões dera provas de valor e habilidade , e para
soldado daquelas eras tinha o raro m érito de possuir
n ã o pequenas dose de instru çã o. Este homem , por
interm édio de Coligny , representou a Henrique II que
era da honra e interesse da Franç a empreender uma
expedi çã o à Am érica , que tal tentativa distrairia a
atençã o e debilitaria a for ç a dos espanh ó is , que dali
tiravam t ã o avultada parte de suas riquesas ; que os
naturais gemiam sob o intoler á vel jugo e que para eles
seria um bera , e para o mundo uma gl ória libert á -los e
abrir à Europa o com ércio da Am érica. N ã o sei por que
l ó gica se podia isto aplicar ao Brasil , pais que n ã o
era da Espanha , nem aos portugueses , povo que n ã o
estava em guerra com a Franç a . Tal era contudo o
pretexto pú blico e Coligny deixou -se levar a prestar
toda a sua influ ência a este projeto , por lhe prometer
Villegagnon em segredo , que abriria na colónia um asilo
aos protestantes .

19- Southey ( 1981 ) p. 205: "Mas Villegagnon era um vil ,


traidor , e enganara Coligny . O zelo que inculcava pela
religi ã o reformada , mentido era para apanhar ao
almirante o seu dinheiros e o seu cr édito ; conseguindo
isto , e parecendo-lhe de maior vantagem seguir a
parcialidade oposta , ou comprado como se diz pelo
cardeal Guise , tirou a m áscara , desaveio -se com os
ministros huguenotes , e com tanta tirania e
intoler â ncia se houve , que os que tinham emigrado para
a Fran ç a Ant á rtica a gozar de liberdade de consci ê ncia ,
acharam -se sob um jugo mais ferrenhis do que na pátria
os oprimia ."

20- Wetzel ( 1972 ) p. 70/78: " Antes de chegar ao Brasil ,


Villegaignon j á havia publicado do Í3 livros , mas apesar
n de sua inclina çã o à vida intelectual , preferiu a
rt carreira das armas , entrando na ordem militar de S.
Jo ã o de Jerusal é m , també m chamada Ordem Equestre de
H Malta . Por sua filia çã o a essa Ordem , Villegaignon
o passou a ser chamado por alguns "O cavaleiros de
Malta ” . Ele era sobrinho de Villiers de I ’ Isle Adam ,
H Gr ã o - Mestre da Ordem.( ... ) Villegaignon era cavaleiro
i da Ordem de S. Jo ã o de Jerusal é m ( Hospital á rio ) aos
d quais pertencia a ilha de Rodes at é 1522 quando os
Turcos a tomaram . Os Hospital á rios retiraram -se ent ã o
o para a ilha de Malta . Por isso Villegaignon é chamado
cavaleiro de Rodes ou també m de Malta ” .

'Tv 21 - Bibl . de É vora , cod . CVIII /2-2 , f . 4 v - S . 29 tomo das


ns Cartas da Europa : Quadrimestre de Paris , escrita a seis
-i
X

X 88
X
i
de março de 1560 , por Nicolau Liatrão Faredense. Cd dice
I que pertenceu ao Colégio de Coimbra. Publicado em latim
4 - -
in Latt. Quadr. VI ( 1559 1560) 545 549 e em português
t por S. Leite , Hist. I 378-379 e Wetzel (1972:77/8):
"Por muitas vias se nos vão acrescentando as esperanças
J de alevantarmos muito cedo Colégio , por meio de um
4 cavaleiro principal de Rodes , homem as3im nas letras
4 gregas e latinas como em virtudes assinalado , o qual
haverá cinco anos que , por mandado dc Cristianissimo
4 Rei , foi à Ilha América para conquistar. 40) E
4 conquistando perto de duzentas léguas , parte com boas
obras que fazia , parte à força de armas , haverá três
4 meses que chegou , não com outro intento senão buscar
4 Bispo e sacerdotes para cultivar esta Ilha e reduzirem
a nossa santa Fé. O Ilustr íssimo Cardeal Lotarigiense ,
4 lhe prometeu que lhe daria alguma gente da nossa
* )
4
Companhia . 41) Com esta confiança veio este cavaleiro a
Paris . (...). Em América há assaz grande lugar . e
acomodado , para se exercitarem no33os ministérios. Há
4 perto de duzentas léguas , onde há muitos infiéis , que
4 se podem reduzir ao grémio da igreja , nem faltara lá
mancebos franceses , que entendem já a lingua da terra ,
4 os quais nos podem servir , na obra do catecismo , de
4 intérpretes , como tenho entendido de un ceies que de l á
veio. As naus se ficam aviando em um porto daqui perto.
4 42) O nome deste Cavaleiro é Nicolau Villegaignon.
4 Rogue Vossa Reverência ao Senhor que mande operários
J para sua messe".
Desta maneira não tem nenhum sentido afirmar que
J t; Villegaignon teria abraçado o protestantismo quando da
4 invasão à Guanabara , voltando ao catolicismo
posteriormente. Devemos observar ainda que quando da
A sua chegada a América , em 1555 , estava não só
A acompanhado de um frade franciscano , Thevét , como de
uma guarda pessoal de soldados esccceaes ( Nota de
A Milliet , in Lery 1970:38) súditos da rainha cató lica
A Maria , salva por Villegaignon. Observa também Wenzel
A (ibid.:78), que o pró prio Anchieta nã o desconhecia a
condição de Cavaleiro católico do almirante francês ,
A pois em uma das suas cartas informa que: "De Nicolau de
Villegaignon afirmavam todos eles ser católico e muito
douto e grande cavaleiro".
n í

22- Wetzel (1972) p. 78: "A proposta de Villegaignon não


rs foi aceita pelo Pe. Geral. Os fatos vieram a comprovar
o acerto de sua decisão , pois a essa data já a armada
de Mém de Sá ancorava na Guanabara e ccm ela o Pe.
Nó brega . De Roma escrevia o Geral Laynez ao Provincial
t
de Portugal , a 18 de abril de 1561: "Zn lo de acuei
r\ cavallero de Rodas , y la empresa de America no hay m ás
que tratar. Émonos consolado no poco ccn lo que scriven
r\
<
del Brasil acerca de aquella gente que tenia tomado la
fortaleza .. ." ( Archivum Romanum Societatis Jesu , r e m a ,
o Hisp. 66 , f . 169r " .
r>
r\

<* 89

23- Há muitas controv érsias a respeito da origem de


Araribó ia . Almeida ( 1935:16 ) apresenta -o como filho do
chefe teraimin ó Maracaj á -guass ú , o Gato -grande , tendo
nascido na atual Ilha do Governador por volta de 1523.
Citando Fr. Vicente do Salvador informa esse autor que
Ararib ó ia foi batizado na cap. de Sã o Vicente em 1530 .
tendo como padrinho o donat á rio desta capitania ,
Martins Affonso de Souza , de quem adotou o nome . Por é m
Serafim Leite 1938: 240
( ) contesta Almeida observando
que as fontes documentais s ã o omissas em relaçã o ao
< batismo de Ararib ó ia , inclusive quanto a sua ida à
Guanabara em 1560 , acompanhando M é m de S á , afirmando
que: "mas se est êve , foi como soldado an ó nimo , n ã o como
4 chefe". Concordamos em parte com S. Leite , pois ,
*4 > segundo constatamos , a primeira refer ê ncia documental
feita a Ararib óia é a carta do Pe. Pedro da Costa
( Navarro. 1988:482/9 ) , datada de de 27 de julho de
4 1565 , onde assim refere-se a esse chefe indigena:
4 "( ... ) ; trouxe també m o Padre ( Braz Louren ç o ) por
companheiros o padre Diogo Jacome e a mim , pera
4 acudirmos as necessidades das almas destes í ndios ,
4 entre os quaes havia j á duas egrejas feitas , scilicet:
4 na ald êa do Gato uma de Nossa Senhora da Concei çã o , e
na ald êa de Arariboi outra de S. Jo ã o” . Portanto , nada
4 existe a respeito do seu pretenso batismo apadrinhado
4 por Martim Afonso nem de sua filia çã o ao Maracaj á -
guass ú. Contudo o Pe. Pero Roiz , ( 1955 :69 ) , em obra
4 escrita em 1607 , afirma ter Ararib ó ia acompanhado o
4 Governador M é m de Sá na 3 ua incurs ã o ao Rio de Janeiro ,
"pela fama que tinha do seu valor", sendo já
4 considerado "um valoroso Capit ã o".

/ 24- Wetzel ( 1972 ) p . 123/4: " A condecora çã o era dada por


4 expressa vontade real , me3 mo se o requerente ( M é m de
A Sá ) talvez n ã o preenchesse todas as exig ências: " posto
que o Governador n ã o justificasse as calidades que lhe
A era necess á rio ter para ser recebido na dita Ordem ,
A porquanto me est á ora servindo nas ditas partes do
Brasil" ( Arq . Nac . da Torre do Tombo , Chancelaria da
rS
Ordem de Cristo , livro 19 , f . 16 v ; publ . por Sousa
o Viterbo in O Instituto 43 , [ 1986] 342-343 ). A carta em
(T\ favor de Est ácio é quase do mesmo teor e vera dirigida
ao Governador Geral "Frei" M é m de Sá cavaleiro da dita
Ordem para lhe impor o h á bito de novi ç o da Ordem de
A Cristo , em nome do rei . ( Arq . Nac . da Torre do Tombo ,
Chancelaria da Ordem de Cristo , livro 19 , f . 17 ; publ .
por J . Verissimo Serr ã o in O Rio de Janeiro II 54 )
Declara que o interessado n ã o justificava os titulos e
rs qualidades que requeria . Mas atendendo aos servi ç os
prestados à Coroa , e aos que de futuro ainda viesse a
prestar , era - lhe concedido a honrosa merc ê".
O Portanto , tanto M é m de Sá como Est á cio de O £ receberam .
o
o

<
4
< 90
4
4
I al é m de Cavaleiro , os titulos mon á sticos de Frei e
novi ç o , respectivamente, da Ordem de Cristo apesar de
I nã o possuirem qualifica çã o para tal. Desta maneira
4 podemos observar que nesta é poca a Ordem de Cristo
ainda preservava a sua estrutura mon á stica templ á ria .
4
4
4 25- Roiz ( Ibid .) p. 68: "Sempre em guerras e batalhas ,
entre os soldados de nome e valor se acha algum mais
I assinalado e conhecida vantagem , e que mostra seu â nimo
4 em algum feito de armas dificultoso , e alcanç ava a
vit ória nã o esperada. Tal foi um í ndio crist ã o em tOdas
4 estas guerras , contra franc êses e Taraoios , de cujo
4 esfôrç o confessaram os Capit ães portuguêses ser t ã o
levantado , que sem ê le nunca se tomara o Rio de
i
Janeiro , de modo que se pode chamar honra dos í ndios
J
4
> crist ã os do Brasil. Chamava -se pelo nome portugu ês
Martim Afonso de Souza , e pelo da terra Ararigboia".
4
4 26- Pereira , 1984 p. 71 /2/4/5: " Amerigo Vespucci era a
grafia italiana do nome do Florentino . ( ... ). Nascera a
4 9 de mar ç o de 1451 ( ... ). Terceiro dos quatros filhos
4 do tabeli ã o Nastagio Vespucci , membro de uma antiga e
respeit á vel familia florentins. ( ...) Am érico
4 permaneceu em Florenç a , conseguindo colocar -se na
4 importante casa banc á ria dos M édicis , onde trabalhou
4 cerca de 20 anos , antes de ser enviado à Sevilha em
fins de 1491 , como representante da firma junto a
J Juanato Berardi ( ... ) Os M édicis possu í am ’nteresses na
4 Espanha , tornando -se necess á ria a presen ç a nesse pais
de agente de confianç a. Am érico Vespúcio foi O
4 escolhido , sabendo-se com certeza que á se achava
j na
4 Andaluzia em 30 de janeirO de 1492 , ( . . . ) Vesp ú cio , que
j á adquirira conhecimentos sobre assuntos n á uticos ,
4 acumulados durante a sua permanê ncia na casa ae
4 Berardi , armadora de navios para a Coroa espanhola e
4 fornecedora de Crist ó v ã o Colombo , dedicara -se à leitura
de livros de astronomia e cosmografia ( Ptolomeu ) ( ...).
4 Ganhava assim em teoria o que lhe faltava na pr á tica
\
A marinheira , de que carecia sempre , pois n ã o realizou
mais do que tr ês ou quatro viagens oce â nicas , j á
A possuir experi ê ncia
beirando os cinquenta anos e sem
A anterior.
A
4 26- Informa çõ es dos Primeiros Aldeamentos da Baia , In
Anchieta , 1988 p . 373 : M
( ... ) por qu ã o necess á rias as
A
aldeias s ã o nesta terra , e estarem eles Padres nelas , e
A a governarem e sustentarem , assim pera dali dali se
O fazer dilig ê ncia pera as guerras , como é not ó rio que as
que se fizeram no Brasil foi t ã o necess á ria ajuda des
A í ndios como dos Portugueses , e pera no 3 sustentarem e
A defenderem dos í ndios nossos contr á rios , como cada dia
fazem , e acabado de os eles ditos Padres soltarem , esta
4
4
4 91
4
4
4 claro , que os í ndios se h ã o logo de ir das aldeias , e
h ã o de ser os que nos h ã o de fazer guerra , e fazendo
4 eles bastam para despovoar a terra , e quando o Senhor
4 governador tem por mui certo , que os escravos dos
Portugueses se h ã o de alevantar contra
4 OS seus
senhores , como fizeram o ano de 1568 , que muito poucos
4 escravos se levantaram puseram a terra em balan ç o de se
4 perder , e mataram alguns Portugueses , e se n ã o temeram
os í ndios das povoa çõ es e igrejas , se houveram de
4 levantar todos os escravos , e que por estas causas e
4 outras muitas que ele Senhor governador deixa legar -
lhes , pede e roga n ã o queiram desamparar
4 Ibid . p .387: Quando os negros de Guiné
4 alevantados deram em casa de Crist ó v ã o de Aguiar , e lhe
mataram dois homens , e lhe roubaram sua fazenda , êstes
4 í ndios acompanharam a Cosmo Rangel e a Diogo Dias de
4
4
> Veiga , que foram a eles , e os destruirara , matando
alguns e tomando outros que deram a seus senhores , e
depois disso por mandado do dito Cosmo Rangel andou um
4 Portugu ês por nome Inofre Pinheiros com í ndios das
4 igrejas buscando e espiando os negros de Guiné
alevantados , que h á por esta Baia , e deu neles , de que
4 tomou muitos , que se deram depois a seus senhores , e
4 onde quer que acham negros de Guiné fugidos , os tomam e
4 trazem a seus donos ; por onde os negros dizem , que se
n ã o foram os í ndios das aldeias , que já eles foram
4 forros , e a terra f ôra sua , mas que os í ndios os
J desbarataram ."
Rodrigues ( 1978) p .93 {1606}: "T ê m neles ( ind í genas ) os
4 portugueses fi é is e esfor ç ados companheiros na guerra ,
4 cuja flecha muitas vezes experimentaram os
estrangeiros , que cometeram de entrar com m ã o armada
algumas vilas deste Estado , e confessaram que mais
4 temiam as flechas destes que o nosso arcatuz. També m
4 t ê m neles um grande freio contra os negros de Guiné , de
; cuja multid ã o é para temer n ã o ponham alguna hora em
4 aperto algumas Capitanias da costa do Brasil"
4
A

4
4
4

O
o
n
-
r->
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4 5 O ALDEAMENTO DE S Ã O LOURENÇO E A
4
EST ÉTICA DO ESPA ÇO MISSIONEIRO
4
4
4 5.1 Os Espaç os Missioneiros Jesu í tico Diferenciados
4
4
4 5.2 A Est ética dos Espa ç os Missioneiros
4
4
4 5.3 O Aldeamento do í ndio cavaleiro de Cristo
4
4
A 5.4 A Arte Jesu í tica em Sao Lourenç o

À
4
)
4
4
4
4
4
A
A
A
A9
A
A
4
«
I
93
<
I
4 5.1. Os Espa ç os Missio neiros Jesu í ticos Diferen ciados
4
4
4 Um dos aspecto s mais instig antes a respeit o da a ç ao da
4 Companh ia de Jesus no Novo Mundo é quanto ao diferen te rumo que
4
tomou a sua açao missioná ria no Estado do Brasil em rela ç ao
4 à
I Am érica Espanho la ( 1 ). Arqueol ogicame nte , essa diferen cia çã o é
4 express a , princi palment e , ao nivel da espacial idade , nã o só em
4
« rela ç ao a constru ção de espa ç os mission eiros diferen ciados como
4 ) també m na articu la ção dessas estrutu ras missio ná rias com o macro
I
espa ç o colonia l.
4
X Em relaç ao aos espa ç os intern os missione iros . Gutierr ez
X
( 1987:24/6 ) observ a que a tipolog ia urbana
X das miss õ es
X jesu í ticas em territ órios hisp â nicos constit
u í a um ú nico sistema
X aut ónomo planifi cado a partir do tra ç ado urban í stico defini
do por
J
J Felipe II nas "Ordena nzas de Poblaci ó n", onde as varia ções
est ã o
4 mais vincula das as categori as dos element os arquite t ó nicos do que
A à distrib ui çã o da trama urbana . Possuia , esse sistema
A urbano ( ver
plantas das redu çõ es de Sao Joao Baptist a e Candel á ria
em anexo } .
A uma estrut ura axial centrad a em um n ú cleo organiz ador configur
ado
A
A pela ’’Plaza ” com acesso atrav és de uraa avenida central de eixo
4
iTS coincid ente com o da igreja . Essa configu ra çã o axia *
A
complem entava -se no desenv olvimen to do n ú cleo frontal integra do
pela referid a igreja , col é gio , resid ê ncia dos jesuitas
, cemit ério

rS e o asilo . Atr á s dessas constru ções situava -se a horta e pomar


D
dos padre3 , servido portand o es3e n ú cleo princip al
de limite ao
*
O povoado que só podia cresce r , nas outras tr ês
dimens ões . Al é m da
avenida central , partiam da "Plaza" mais duas ou
tr ês avenida s .
interli gadas por ruas transve rsais sempre rigorosa mente
or
r

-I
4
4 94
4
4
4 retilineas ( Lugon , 1977:71).
4 Em contrapartida os espaços dos aldeamentos jesuíticos
4
4 brasileiros , ( ver desenho do aldeamento do Espirito Santo e
4 planta do aldeamento de Sao Pedro em anexo), apesar de também
4
centralizados em um núcleo formado pela praça e igreja que
4
4 ocupavam , em geral , o topo de uma colina , desconheciam a
4
estrutura axial , obedecendo o traçado de suas ruas antes à
4
4 preocupação de vencer com suavidade os caprichos topográficos do
4 ) que a um modelo urbanístico previamente estabelecido. Este padrao
4
de assentamento era seguido nao só pelos aldeamentos missionários
4
4 como também por quase todos os pequenos núcleos urbanos
4
coloniais (2).
4
4 Referindo se - também a esta organizaçao urbanistica
4 menos rigida dos aldeamentos brasileiros , Lúcio Costa observa
4
! igualmente que estes relacionavam -se de modo menos independente
4 com o espaço colonial envolvente , do que as missões da Província
-J
do Paraguai (3).
A
A Provavelmente devido a esta maior autonomia em terras
j )
de Espanha , com a expulsão dos jesuitas suas missões
A ai

A localizadas tenderam ao abandono , conforme atestam diversas


A ruinas mis3ioneiras na Argentina , como San Ignacio
Mini e Santa
A Ana ; no Paraguai , como San
A Ignácio Guazú e Santa Rosa e no
r* Brasil , como as de Sao Miguel e Sao Lourenço no
R . G. do Sul , em
A }
território anteriormente pertencente à Espanha .

J á os aldeamentos jesuiticos , que estavam ligados


diretamente à nascente sociedade colonial , com a expulsão dos
rS
jesuitas transformaram -se em vilas e hoje , em sua maioria , fazem
O carte do complexo urbani3tico brasileiros conforme atestam no
i. At
v

O
o
4
«
4
95
1
4
4 E3 tado do Rio de Janeiro as cidades de Niterói , Itaguai , Sao
4
Pedro da Aldeia e o povoado de Itambi , tzdas originadas
4
4 diretamente de aldeamentos jesuiticos e de traçados urbanísticos
4
4
irregulares denotando , -
parece nos , o padrao de assentamento
apontado como caracteristico dos aldeament;s mission ários
4
J brasileiros .
4
Fazendo parte do património jesuitizo , a autonomia
4
4 espacial das missões em terras espanholas apoiava se - numa
4 ) produção voltada nao só para atender a todas as necessidades da
4
comunidade , pois além dos produtos agr ícolas produziam se roupas
4 , -
4 ferramentas e utensílios , como também para a cezercializaç ao de
4
diversos produtos , principalmente a erva- mate , cesde os primeiros
4
4 tempos uma importante fonte de renda para os jesuitas (Lugon ,
4 1977: 125 ) .
4
4 J á nos aldeamentos jesuiticos brasileiros , once as
A terras muitas vezes eram propriedades dos indiger.as , a produção
3 limitava -se a suprir a subsistência da comunidade. As rendas dos
rs
~ jesuitas no Brasil advinham , principalmente de
, suas fazendas ,
)
A estruturas espaciais diferenciadas dos alieamentos , onde
If
'S
" -
empregava se a fôrça de trabalho do escravo negr:.

Considerando que essas construções iiferenciades de


r\ espaços sejam reflexos de processos missioreiros igualzente
v
diferenciados , acreditamos ser possivel discernir as suas razoes
Kc. a partir do histórico apresentado.

Observamos , através do Regimento de 7:zé de Sousa , que


a aç ao missionaria brasileira estava inserida dentro um
rs
projeto estratégico militar . Desta maneira , ao se determin
ar que
SN
:3 aldeamentos estivessem localizados pr ó ximos s povoar entos
r\

<
96

(
I coloniai3 , procurava -se, ao nosso ver , utili zar esses espa ç os
I missi oneiro s como pontos de apó io estrat é gicos , a princ ipio
I de

« defesa mas poster iormen te també m de avan ç o , do espa ç o coloni al


( portug u ês .
< Portan to ,
< enquant o que na Am érica espanho la a

A legisl a çã o , através da "Ordena çã o de las í ndias" , preocu pava -se


4 em determ inar a espaci alidad e intern a das estrut uras urbana s
< missio neiras , o nosso Regimen to do Govern o Geral revela se omisso
à -
<
á
i
^ quanto a essa constru çã o espacia l , determ inando , por é m quanto

articu la ç ao dos espa ç os missio neiros


,
em rela ç ao aos espa ç os
a

i coloni ais envol ventes . Essa difere ncia çã o , deter minada por
< legisl a ções de orient a çõ es divers as , deram curso a espa ç os e
i
< proces sos missi oneiro s igualm ente difere nciado s.
i Acresc ido a essas difere ncia çõ es legisl ativas , a a çã o
4
jesuiti ca veio a
4 refor ç ar tais partic ularid ades . As
4 caract er ísticas de Ordem milita r da Compan hid de Jesus
, que davam
4
grande autono mia de aç ao aos jesu í tas ,
4 permit iu que , com a

4 utiliz a çã o da for ç a de traba lho indige ne , as miss


õ es da America
4 )
espanh ola se const ituiss em como estrut uras espaci ais e
4
4 econom icamen te aut önomas , apesar dos consta ntes atrito s com o
A clero secula r . J á no Brasi l , a a ç ao missio
n á ria jesuiti ca se
f fez
r\
sentir , princi palmen te , no plano milita r ,
r\ acompa nhando os
r\ indige nas quando mobili zados pela Coroa , e no educac ional ,
minis trand o o ensin o bá sico nos aldeam entos e avan ç
ado nos seus
Col é gios ( 4 ) .
Ts
(

O
S . 2 A Est ética do Espa ç o Missi oneir o
r~\

4
4
4 97
4
4
4
4
Na obra "Conceitos fundamentais da História da Arte” ,
4
4 Wöllflin procura demonstrar que os diversos estilos artisticos
4 podem ser aglutinados em duas grandes vertentes estruturais , uma
4
clássica e outra barroca (5).
4
4 Wölfflin estabelece cinco pares de conceitos
4 comparativos que permitem diferenciar a composição cl ássica da
4
4 barroca: o linear e o pictórico , plano e profundidade , forma
4 fechada e forma aberta , pluralidade e unidade , clareza e
y
4
obscuridade.
4
4 Aplicando as propriedades constratantes da forma
4 fechada e forma aberta , e da pluralidade e unidade (6),
4
4 procuraremos demonstrar que a espacialidade das missões

-I jesuiticas das provincias hispano americanas , geometrizante e


racionalista , associa-se a uma concepção de espacialidade
4
clássica , enquanto que a espacialidade dos aldeamentos jesuiticos
(
r
m
? -
brasileiros estrutura se , opostamente , dentro de uma formalizaçao

barroca.

Assim , podemos considerar que a estrutura espacial das


A
i missões em terras de Espanha formalizavam -se de maneira fechada ,
rs
onde a "Plaza" estabelecia o tectonismo centrado no templo cujo o

eixo estabelecia a ordenaçao desse espaço. Diferentemente


julgamos poder considerar a estrutura espacial dos nossos
aldeamentos como de forma aberta , onde a praça nao estabelecia um
A
tectonismo e nem havia uma ordenaç ao espacial imposta por um eixo

zentral .
Podemos observar que as missões articulavam -se com
espaço colonial espanhol como unidades m ú ltiplas , particularidade
rr\
O
o
.

I
1
« 98
I
I
1 da composição clássica , onde essas unidades missioneiras , apesar
-I
de inseridas em um conjunto , caracterizam -se por se expressarem
1
-

com total autonomia. Já a articulaçao espacial dos aldementos


J
i
jesuiticos
-
brasileiros insere se numa unidade absoluta em meio à

qual cada uma das partes deixou de ser independente.


4
i Baseando-nos assim no exposto , julgamos possivel
4 considerar como de composição clássica a estruturação espacial
i
4 das missões jesuiticas em terras hispâ nicas e de composição
4 ) barroca a estruturação espacial dos aldeamentos jesuiticos
4
brasileiros.
4
4 -
Considerando se que essa diferenciação de espacialidade
4
missioneira jesuitica seja consequência de projetos coloniais
4
igualmente diferenciados , acreditamos que a composição do espaço
4 missioneiro teve repercussão direta no processo de incorporação
4 do ind ígena à sociedade colonial brasileira (7).
4
4 Desta maneira , consideramos que a estratégia religiosa
AJ
'
militar empreendida para a conquista e defesa do espaço colonial
brasileiro , cuja composição barroca -atectonica e aberta - da
O
A espacialidade dos nossos aldeamentos jesuiticos é consequência
A
A direta , teve repercussão na formação da nossa identidade

6n-
—»
cultural , que segundo M . Canevacci (8) é a experiencia mais

-
0
i avançada de uma plurietnicidade.

o
5 5.3 O Aldeamento do í ndio Cavaleiro de Cristo
o
a
Após a expulsão dos franceses , Araribó ia 0 seus
ind í genas permaneceram no Rio de Janeiro . Tendo ele pedido ,
O
n

99

posteriormente , permiss ã o ao Governador para retornar ao seu


aldeamento de origem , Mém de Sá respondeu solicitando ao
"principal" Temiminó que ficasse para ajudar a povoar a regi ã o ,
3 e n d o- l h e e n t ão d o a d a u m a s e s m a r i a , n o o u t r o l a d o d a b a i a , p a r a a

instala ç ao da sua aldeia . Para que Ararib ó ia pudesse receber esta

sesmaria , j á anteriormente doada a Antonio de Marins , cedeu este ,

atrav és de uma escritura de renú ncia , os direitos destas terras

em favor de Martim Affonso de Souza , nome crist ã o de Ararib ó ia

) ( 9 ).

Como a legisla çã o determinava a quem recebesse uma

sesmaria a obriga ç ao de ocup á - la e plant á - la dentro de quatro


o meses e durante tr ès anos , antes de requerer a sua posse em
definitivo , o Auto de posse dessa sesmaria só foi lavrado em

vinte e dois de novembro de 1573. Neste documento , Martim Affonso

de Souza , Ararib ó ia , é identificado como um "cavalheiro da ordem

de Christo” ( 10 ).

Conforme vimos , Ararib ó ia , quando da sua ida para o Rio

A )
de Janeiro , era o "principal" do aldeamento
Joao , no Espirito Santo . Desta maneira , ao ocupar a sua sesmaria ,
jesuitico de Sao

junto vieram 03 jesuitas , formando assim um novo aldeamento , o de


Sã o Lourenç o.

O n ú cleo deste aldeamento foi implantado


ni
estrat égicamente em cima de um outeiro de onde avistava - se grande
wt
parte da baia da Guanabara , inclusive a sua barra . Gon ç alo de
r\
Oliveira , capeiao das for ç as portuguesas , foi o primeiro

n nission á rio dtf Sao Louren ç o , sendo d è le as primeiras inf orma ç oes
do aldeamento , em carta datada de 21 de maio de 1570 , onde faz.
r\
• ncluslve
. , ref é ncias a uma igreja ja construida no local ( 11 ) .
O-
f ï

1 00

Em 1578 , quatro "principais" de Sao Loirenço , alegando


que as terras deste aldeamento nao eram suficientes para "fazer
descer seus parentes para povoarem n ' este Rio” , solicitaram a
Salvador Corrêa de Sá a conces3ao de quatro légua3 de terras na
região do rio Macacú , fazendo divisa com a fazenci que Mn 'aquella
(
14 parte tem o collegio da companhia” , no que foram atendidos

Este aldeamento , desdobramento de Sao Lourerpo , recebeu


( 1 2).

a
( denominação de Sao Barnabé.
4 ) Próximo às terras do aldeamento os jesuitas
A =3tabeleceram uma pequena fazenda ,
4 denominada São Francisco
4 Xavier ou do Saco de Sao Francisco , da qual tem -se poucas
4 informações , acreditando se que a sua finalidade principal
4 - fosse
4 de fornecer madeira para o Colégio do Rio de Janeiro
, já que a
4 produção agricola estava centralizada nas grandes fazendas como
4
de Santa Cruz , Macacú e Campos. Com a expulsão des
4 jesuitas , os
4 padres de Sao Lourenço ainda ficaram ano e meio nesta fazenda ,
-* após a saida do aldeamento ( Leite , 1945: 112 , t.6 .

zí Apesar do aldeamento de Sao Lourenço ter s ido


)
recebedor de outros contingentes ind ígenas , além dos Temimin
ô, a
4
A sua populaçao nunca foi muito numerosa (13)
A Na verdade , as terras que pertencian aos indigenas
4* foram aos poucos sendo arrendadas e ocupadas , originando
rs assim um
novo povoamento , o de Sao Domingos da Praia Grande. Com a
expulsão dos jesuitas , em
O
1759 , São Louren ç o torna se- uma
freguesia , nao sendo poré m extinto o aldeamento , so contrá
o rio da
o taioria dos outros aldeamentos jesuiticos que lesa
O
transformam se -
e.m vilas . Em 1819 , por alvará de D . João VI ( In Vehrs , 1334:58)
Povoaçao de Sao Domingos da Praia Grande é ele ada
a - categoria
r\
O
4
4
5
ici
4
4
4 d e V i l a R e a l d a Pr a i a G r a n d e , f ormad a p o r 4 fr e g u e s i a s Sao
i Joao d e I c a r a i , S ã o Se b a s t i a o d e I t a i p ú , S a o
4 Lo u r e n ç o do s í ndios
4 e d e S a o G o nç al o , "q u e ficar ao d e s d e logo
desme mbrad as do Term o
d e s t a C i d a d e ( R i o d e J aneir o ) a q u e p e r t e n c
iam Em 1 3 3 5 , a
4
Vila d a P r a i a Grand e foi eleva da a c a t e g o r i a
4 d e cida de e c a p i t a l
4 d a P r o v i n c i a d o Rio d e Janei ro , q u e r e c e b e u c
o m o n o m e ofici al d e
4 N i c t h e r o y , d e n o m i n a ç ã o i n d i g e n e d o se u lo c a l .
J S ã o Lour enç o , ag o r a
r e d u z i d o a o e n t o r n o d o s e u n úc l e o or i g i n a l , pe r m a n e c e u , p o ré m ,
4 ) como aldeamento indigena.
A Neste m esmo a no de 1835 fo i feito
4 o ú ltim o

4 r e c e n s e a m e n t o do aldea mento ( C a s a d e i , 1 9 8 8 :6 4 )
onde c o n s t a t o u -s e
4 que alguns indigenas, apesar de continuarem frequentando o
4
4 a l d e a m e n t o , p o s s u i a m s u a s c a s a s n a c i d a d e. Foram conta biliz adas
4 u m t o t a l d e 4 6 famil ias form adas na sua maioria de indigenes ,
4
ha v e n d o t a m bé m algun s br a n c o s , inclu sive
J portugueses , e pardos
libertos casados com mulheres índias e mulheres pardas casadas
A c o m in d i o s . H a v i a m t a m bém algun s escravos negro s e pardos de
p r o p r i e d a d e de s t a s fam í l i a s . As mulhe res
n )
i nd í g e n a s tinha m cor.:
A ocupa ç a o p r i n c i p a l o f a b r i c o d e l ouç as ( 1 4 )
, s e n d o a s ativi dades
A de cunho mar ítimo
A ( pesca , tr i p u l a çã o de e m b a r c aça o e t c. ) as
A p r i n c i p a i s profi ssoes mascu linas . O a l d e a m e n t d
o e S a o Lour en ç o s ó
v e i o a s e r ofici almen te extin to em 1 8 6 6.

O
r\
rs
(V)
5.4 O Es p a ç o d e Sao Lour enç o
r
'

A p e s a r d e nao mais exist ir c o m o u m a e s t r u t


ura e s p a c i a.

n difer encia da . a d ispos i ç ã o atual d a s c a s a s e ruas q u e circu


ndam c
o
n
r\
r~\

1 02

do aldeamento , composto pela igreja e pra ç a ,


antigo núcleo
segurança , a sua estrutura
permite-nos identificar , com certa
das ruas
espacial original pois , apesar dos séculos , os traçados

de acesso a este núcleo permaneceram praticamente inalterados

genérico dos
(veja planta em anexo). Seguindo o referido padrao
de uma
aldeamentos brasileiros , situa-se , este núcleo , no alto

da
colina , inexistindo nao só o eixo axial coincidente com o eixo
avenida que lhe seria suporte , sempre
igreja como a pró pria
espanhola . Devido à
presente nas missões jesu í ticas da Am érica
3 a
topografia do terreno , as vias de acesso a este núcleo atingem
igreja.
praça numa posição lateral , e nao frontal , em relação à

igualmente , qualquer registro documental ou


Inexiste ,

arqueológico de alguma edificação diferenciada , como oficina .

por sua
casa das vi ú vas etc. , além das casas circundantes. Estas ,
espaço do aldeamento de forma actetõnica e
vez , ocuparam o

dispersa ( 15).
i
Posicionada a cavaleiro à baia da Guanabara , parece- nos
ialmente
evidente que na implantação deste núcleo levou -se primord

em consideração o aspecto estratégico militar , pois do adro desce

igreja pode-se acompanhar o movimento de embarcações em quase

a sua posição , junto ao mar


toda a baia . Ao mesmo tempo ,
o há beis canoeircs.
próximo à barra , permitia que os ind ígenas ,

rapidamente atingissem a fortaleza de Santa Cruz , principal


rs
esse
baluarte de defesa da ba ía da Guanabara , permanecendo assim ,
um importante núcleo de defesa do literal
aldeamento , como
posteriores à invasao frar.ee
n fluminense era tempos bem

bospital á ria . Respondendo a solicitação dos jesu í tas para mucar

íe local alguns aldeamentos , D . João TV , em Carta


Régia datada ce

O
1 103

6 de dezembro de 1647 ( In Leite , 1945: 102/3 , t 5), autoriza a


transferência do aldeamentos de Sao Bernabé , devendo porém ficar

posicionado de modo que os seus indigenas pudessem "acudir os


rebates da cidade" e o de Sao Francisco Xavier de modo que
pudessem defender as "barras de Marambaia e Cair. u , que é para o

que se fundou naquela paragem por ordem dos


^
sentares reis meus
antecessores". Quanto ao de Sao Lourenço , determina este rei que
"nao se deve bulir nela por ficar a uma légua da cidade e conde

) acode à fortaleza de Santa Cruz".

Como os aldeamentos nao geravam rendas par a a


Companhia , os jesuitas nao procuraram desenvolver ma cores
atividades económicas nas terras do aldeamento , além das roç as de

subsistência . Desta maneira , enquanto as terras do aldeamento


foram sendo ocupadas por um novo núcleo urbano as terras da
fazenda , zelosamente resguardadas pelos jesuicas , só após a
expulsão destes incorporou -se à zona urbana de Niterói.
À •
Talvez nao possamos dizer que houvesse um padrac na
í

^
I espacialidade dos nossos aldeamentos jesuiti::s , por é ir os
A principios da espacialidade que identificamos rresente em Sao
A Lourenço , repetiram -se , com algumas variações , en diversos cetros

O aldeamentos jesuiticos brasileiros .

(T\

rs 5.5 A Arte Jesuitica em Sao Lourenço


/ n
r\
O aldeamento de Sao Lourenço nos le£:u também duas
O
expressivas manifestações da arte jesuitica na Acerica
O
o portuguesa : A Igreja Sao Lourenço dos í ndios e : seu retábul;.
o
s
o

rv
4
<
I 104
4
I
-I Existe uma certa controv érsia a respeito da data de
4 constru çã o da igreja , atualmente conhecida como Sao Lourenç o dos
4
4 í ndios , j á que , at é o presente momento , nao se tem documenta çã o
4 fidedigna a esse respeito . Almeida ( 1938: 24), sem citar fontes ,
4
faz refer ê ncia à constru çã o de duas igrejas em Sã o Louren ç o , a
4
4 primeira iniciada em 1576 e inaugurada em 10 de agosto de 1578
4 "com a presenç a do dr . Antonio Salema , governador do sul do
4
I Brasil ” . Quanto à atualmente existente considera -a como uma
j
) segunda , construida em 1627. Bazin ( 1984: 148 V .2 ) provavelmente
4
baseando-se neste autor , adota esta mesma data para a atual
4
4 igreja de Sao Lourenç o dos í ndios . Contudo , conforme visto ,
4
Gon ç alo de Oliveira faz refer ê ncia a exist ê ncia de uma igreja em
4
J Sã o Lourenç o j á em 1570. Ao mesmo tempo , nada existe relacionando
4 a data de 1627 com a construção de uma igreja. Quanto à data
4
4 citada por Almeida para a inaugura çã o da primeira igreja , 10 de
4 agosto de 1578 , provavelmente refere -se , equivocadamente a da
A representa çã o do " Auto de Sã o Louren ç o ” , encenado em 10 de agosto

de 1 SS6 ou 87 e onde , em um dos seus versos , Sao Lourenç o faz


)
A refer ê ncia à igreja . Desta maneira , julgamos mais sensato
4
A concordar com Serafim Leite ( 16 ) que considera a igreja

inaugurada em 1586 , quando da representa çã o do Auto , como a


i
o
segunda e definitiva , e nao segundo a interpreta çã o de Almeida e

O 3azin .
rs Devemos observar que desde 1583 os jesuitas tinham já
r\
resid ê ncia fixa em Sao Louren ç o , iniciando neste mesmo ano a
r
-
ff!)
pr á tica da comunh ã o entre os ind í genas ( antes só se confessavam ) ,

que fundaram , ainda neste mesmo ano , duas Confrarias , a do

O Sant í ssimo Sacramento e das Almas do Purgat ó rio ( Leite , 1945: 433
r
r\
o

I
4
A
A 1 5

A
t . 1 ) , o q u e expli caria a nece ssida de d e
-i uma igrej a do porte de
Sao Loure nç o ainda no s éc . XVI . Deve mos també m obser var
j que os

« jesui tas , sempr e q ue p oss í vel , procu ravam edif icar t emplo s
4 só lido s e defin itivo d e pedra e cal ao
inv és d e fazer const ances
4 recon stru çõ es em taipa ( P . Santo s , 1966:3 8 )
4 . O fato da C ompan hia
J de Jesu s ter const ru í do algum as igrej as em taipa deve u -se , em
A gera l , à dific uldad e na obtenç ã o d a pedra
e , princ ipalm ente , do
A
AJ cal ( 17 ) . Contu do , d evido a exist ê ncia de samba quis ( 18 ) em
grand e parte do lito ral brasi leiro , os j e s u í
tas puder am conta r ,
A na const ru ç õ es d e suas edifi ca ç õe s , d e ricas j azida
s d e cal daí
A prove nient es , confo rme ocor reu na regi ã o
d a baia da Guana bara .
A Devem os t a m bé m consi derar q u e os ind í g e n a s de Arar ibó ia eram
d
A prove nient es d e um outro aldea mento j e s u
í tico , c de Sao Jo ã o ,
4 onde , incl usiv e , j á tinha m ergui do uma outr a igrej a , conta ndo
1 porta nto com exper iência nest e tipo d e edif
ica çã o.
Ao consi derar a atual igrej a como aquel a inaug urada
na
repre senta ç ao do Auto d e S ao Loure n ç o , em
1586 ou 87, devem os
n
obser var q u e isso a faz conte mpor â nea da Igrej a
de Sant o Iná cio
do Colégio do Rio de Jane iro , proje tada e const ru í da por
O '
Franc isco Dias no per í o do d e 1585/8 8 , c u j a a facha da
rN P. Santo s
rs consi dera como uma vers ã o simpl ifica da d aquel a da Igrej
a de Sao
Roque d e Lisbo a const ru í da por Franc isco Dias
C\ segun do proje to de

O Afons o Alvar es ( 19 ). Ao mesmo t e mpo , a facha da


ce Sã o Loure n ç o
dos í ndios de linha s simples , front ã o tria ngula r , óculo no
timpa no do front ã o e tr ê3 j a n e l a s no coro
O , segue c mesmo padra o
da Igrej a d e Santa In á c i o , padra o este q u e
se repe a na igreja
CS
do aldea mento de S ã o Barna bé , j á no inici o d
o séc . XVII I ( 1705 ).
n h ã o possu i S ã c loure n ç o o s cunha is lavra dos em nearia ne: a

k
v r

A
A io
A
A
A portada encimada por um pequeno frontao també m er cantaria como a
A d e Santo In á cio , por é m ambas as fachadas mant é m a mesmo padr ã o
A
estilistico . A diferen ç a maior en t r e essas fachadas j e s u i t i c a3
A
A est á no pequeno c a m p a n á rio- arcada de Sã o Lourenç o. Contudo ,
A
suspeitamos q u e este singular c ampan á rio s e j a ura adapta ç ao de
A
À uma torre sineira iniciada por é m nao totalmente conclu í da , como
A a d e Santo In á c io , q u e tinha a s u a torre posicionada da mesma
A
maneira q u e Sao Lourenç o , separada por é m d o corp: da igreja por
A
A um estreito corredor que permitia acesso ao p ú lpito elevado
A
atrav és de uma e s c a d a i n v i s í vel a o p ú blico ( Carvalho , 1 9 9 0: 21 ).

A Existe també m uma certa proximidade nas dimens õ es


A projetadas para essas essas duas igrejas . A d o Santo Iná cio foi
A
constru í da tendo 8 5 pa l m o s d e c o m p r i m e n t o , SO d e largura e 45 de

altura . J á Sao Lourenç o possui , segundo nossas medi ç õ es , 120

palmos de comprimento , 3 8 d e largura e os mesmos -.4 c


ZD de altura ,
*

o

q u e a faz mais comprida e estreita d o que a de Santo In ácio.


A
Contudo , observa P . Santos ( Ibid . : 52/3 ) qu e o przjeto inicial de

Santo In á cio estabelecia 1 1 5 palmos d e compriment:» devenco- se a

O sua altera çã o , a estar a "igreja encravada no morro e d ter - se


A querido evitar desmonte d e terra ”. Desta maneira , estas d uas
. ^
igrejas foram projetadas com praticamente o mesm: comprimento e
f \
altura , prevendo - s e uma largura menor para Sao L:j r e n ç o , j á qu e o

grande entrave construtivo estava na largura da cave.


rts
n Acreditamos q u e , paralelamente ao projeco da igreja do
O
Col égio do Rio , Francisco Dias tenha preparado tra ç a de Sao
A
O Louren ç o , vers ã o simplificada desta outra que ;: sua vez era

també m fruto de uma simplifica ç a o da fachada de fio Roque . Apesar

O -
desta hip ótese não u * r corroborada por fentes d :: ementais
'
sempre
/

o
-r
O
O
I 07

n
tão escassas para o século em questão. P. Santos ( Ibid .:46 ,48)
O
O observa que: "Dada as credenciais que trazia e as suas funções de
f)

arquitecto e revisor das obras de toda a Prov íncia , n ão é crivei
o
que Francisco Dias , durante os quase 50 anos em que viveu no

Brasil ( 1577 1623), - tenha realizado apenas as obras que os


o documentos lhe atribuem : os colégios da Baía , Rio de Janeiro ,

Olinda e Santos” .
O Estruturalmente Sao Lourenço dos í ndios insere -se no
O
segundo partido , de um total de quatro , estabelecido por Lúcio
O
O Costa ( 1941:29) para classificar as igrejas jesuiticas de uma só

nave. A esse segundo partido corresponde o das igrejas onde

O aparecem perfeitamente diferenciadas a nave e a capela- mor


O propriamente dita , de largura e pé direito menores.
O
O A habilidade construtiva dos ind ígenas de São Lourenço
O expressa -se nao só na igreja do aldeamento como também na
r \
Fortaleza de Santa Cruz , cuja estrutura é constituída de blocos
O
O de pedras lavradas , que , assim como as outras fortificações que
O guardam a barra da baia de Guanabara , foram constru ídas por
O
o ind í genas aldeados sob a orientação dos missionários da Companhia
ó ( 20 ).
O
O Quanto ao retá bulo (21) de Sao Lourenço , assim como
ocorre com a igreja , as fontes documentais nao nos informam de
O
quando data , quem é seu autor , ou mesmo 3e foi feito no Brasil ou
O
O em Portugal , conforme acredita Lúcio Costa ( 1941 :47), apesar de
O
sua madeira ser brasileira (freijó). Contudo Bazin ( 1984:282/3
o
n V . l ) que , ao classificar a morfologia dos retá bulos portugueses
O
em doze diferentes tipos , considera o de Sao Lourenç o como

o
.
i rr > - r iil *
'
» 1 I« » tipo 4 , GO I l ' I ** » !I«
'
1« n t r
* » iO p or io « lo 1 Õ 20 /70 , ï «; ro « i ita
O
\ r

n
^N
/

108

oertencer este ret á bulo a mesma oficina jesuiticE do Col é gio do

A
Rio que fez o da igreja do Santo In á cio ( Miseric órdia ) , oficina

esta que segundo P. Santos ( Ibid .:46 ) teve a frente Francisco

Dias quando idoso . Veio a falecer neste Col égio , em 1621 aos 93

anos de idade.
Quanto à defini çã o da linguagem art ística a que se

filiam a Igreja de Sã o Lourenç o e o seu ret á bulo , é de praxe

;onsider á - los como maneir Í 3 tas . Considerado a principio ,

) Jepreciativamente , como um estilo que se propunha a reproduzir a

" maneira" dos grandes mestres renascentista ou como um proto -

barroco , hoje , por é m , X.

tí visto como um estilo possuidor de

identidade pr ó pria ( 22 ).

Para Shearman ( 1978 : 14 , 34 ) a origen da express ã o

’ maneirismo" reside na palavra italiana "maniera "


que durante a

' Renacen ç a trazia consigo diversos significados mas que em muitos


rs
:asos pode traduzir -se pela palavra estilo send: a estiliza çã o
ri
o! loinsciente de si mesma o denominador comum de trias as obras de

arte maneiristas .
ri
Hauser ( 1972:477 ) observa a dificuldade na conceitua çã o
f N
io maneirismo , considerando que "mesmos os aspectos mais gerais

io maneirismo cont ê m caracteristicas muito variadas , que é

dif í cil reunir num conceito ú nico".


O
O Apesar desta dificuldade conceituai , j.lgaraos possivel

:aracterizar o maneirismo como um estilo que procura equilibrar -

se na aresta que separa a vertente do racionalisro classicista da

ertente da emotividade barroca . Como este pont: de equil í brio


O
'

dificilmente é alcan ç ado , há momentos maneiristas em que a

acionalidade cl á ssica se sobrepoe a emotividade rarroca e VlCri -


\JF
Z',
-
'"'N
n
Á
A 109
*A
A expressar
versa . Assim , o maneirismo , na procura de uma refinada
A
A ia emotividade tende , muitas vezes , ao ambiguo e ao conflituoso .
A Shearman - 72/3 )
( Ibid . . observa que a arquitetura
A
A maneirista caracteriza -se pela utiliza çã o de elementos a
4 principio funcionais ou estruturais -colunas , entablamentos ,
A tabern á culo-janelas - como decorativos , també m .
A assim

A inversamente , pela utiliza çã o do exc ê ntrico escondendo um


A prop ósito estrutural . Ao observarmos a igreja de Sao Lourenç o dos
A
A 'S
í ndios , nao identificamos nada em sua composi çã o que seja pr ó ximo
A do estilo maneirista , apesar de ter sido este o estilo art í stico
A
A universalmente predominante quando da constru çã o da igreja . Pais

A da Silva identifica as nossas primitivas igrejas jesu í ticas como


A
pertencentes a um c ódigo renascentistas simplificado , no que
A
A concordamos ( 23 ).
A Desta maneira , preferimos considerar a igreja de Sao
A
r\ Louren ç o dos í ndios nao como maneirista , mas sim como filiada ao
o vocabul á rio renascentista despojado .
O
No seu ret á bulo , por é m , a express ã o maneirista est á
n
claramente expressa . Toledo ( 1983: 174 ) observa que podemos
A
O1
-
'
distinguir claramente duas linhas gerais de composi çã o para cs

ret á bulos do século XVII . O primeiro sob a influ ê ncia dos


— r

tratadistas do Renascimento , particularmente Ser lio e Vignola ,


A
D segundo com desenhos lembrando portadas rom â nicas e com colunas

salomOnicas recobertos com ornatos fitom ó rficos . Os ret á bulos


S
' jesuiticos filiavam -se ao primeiro tipo . Realr. ente , podem ts
o ;bservar que este ret á bulo , assim como o da igreja de San:
:

In á cio do Col é gio do Rio de Janeiro ( atualmente na capela

Janta Casa da Miseric ó rdia ) , deriva do desenhos de u:


:.a portada ca
n
no

Serlio ( In Toledo , 1933: 1974 ) com tratamento caneiristico ,

expressos principalmente pelo recorte do coroanento , pelo

estriamento diagonal do fuste , pela presenç a de folhas e frutos e


de cabeç inhas de anjos que trazem significados nao s ó decorativo

como també m simb ó licos , apesar de por n ó s desconheci dos . Por é m é

na profus ã o do grotesco que vemos o maneirismo expressar -se de

A modo mais intenso na talha de Sao Louren ç o . Termo originado de


A "grutas” , o grotesco tem a sua origem em Alexandria , fruto da

) fus ã o da arte helénica com a egipsa e, qui çá , també m hind ú


A ( Hocke , ibid . : 115 ). A tribuna central destinada a receber a
A
-I imagem do santo segue a composi çã o de uma portada rom â nica ,
d frequente nas igrejas da regi ã o norte do Portugal , c:mo a igrej a

matriz de Bravaes ( In Toledo , ibd . : 177 ). L ú cio Costa Vê o

X
*
A ret á bulo de Sao Lourenç o como exemplo de

considerar belissima , pertence a uma


talha

fase de
que , apesar

transi çã o
de

ou

indefini çã o estilistica ( 24 ).

Discordamos desta interpretaçã o de L ú cio Costa , pois .

conforme vimos , o maneirismo expresso no ret á bulo de S ã o Louren ç o


nao deve ser visto como um barroca nascente , mas sim como um

estilo que guarda caracteristica e identidade pr ó pria .

Uma bela est á tua de Sao Lourenç o compce c ret á bulo


Q
o ( 25 ). Esculpida em madeira , nao se tem maiores informeras sobre

sua proced ê ncia , acreditando Bazin ( 1984: 143 V .2' que seja

o contempor â nea do ret á bulo .

O coramento do ret á bulo complementa -se ccr. ura pintura .


O
de autoria desconhecida , cuja a composi çã o ap ó ia -se r._ na marcante
V. diagonal . Segundo ainda W ö llflin ( 1084 : 137 ) a diagonal constitu
O
n din ^ ç ao principal para o barroco , representando t • : balo pare
o
'A
"
. '

ri
n i

r\ D aspecto tect ô nico do quadro na medida em que nega , ou pelo

menos dissimula , tudo que diz respeito ao3 â r.gulos retos da


^4
;ena ” . Al é m da composi çã o diagonal , esta pintura apresenta outras

:aracteristicas que W ö lfflin identifica como barrocas , como a

din â mica e o tratamento da forma e da luz.

Interessante observar a rela ç ao , aparentemente

contradit ó ria , entre os principios de composi çã o espacial das

miss õ es e aldeamentos j e s u í ticos com os estilos arquitet ô nicos de

) suas igrejas mission á rias . Enquanto que nas miss õ es das col ó nias

ie Espanha a constru ç ã o espacial estruturava -se dentro dos

padr õ es classicistas , em algumas das suas igrejas adotou - se um

/ ocabulario caracteristicamente barroca , inspirada na composi ç ã o

ie fachada da Ges ú de Roma , como a igreja da miss ã o de Sã o

Miguel. Já nos nossos aldeamentos , onde a estrutura ç ã o da

especialidade nao estava comprometida com os principios

construtivos cl á ssicos , os seus templos mantiveram -se apegados à

referida composi çã o renascentista , inspirado na composi çã o de

rachada da Sã o Roque de Lisboa , como a de Sã o Lc.renço e a de Sao


O
3 arnabé .

Assim , a arte em Sao Lourenç o expressa uma

m civersifica ç ao de estilos que a n ó s demonstra o qu ã o complexo


fll :01 o processo mission á rio colonial brasileiro . Numa

especialidade urban ística de composi çã o barroca , determinada pelo


ri
o '
egimento da Coroa , edificou -se um templo de frrmas cl á ssicas

ronstruido pelos indios segundo projeto portugu ês , cu j o o


O
o est á bulo é maneirista , feito nas oficinas jesu í tas cor seus
o acres assim como a pintura do painel , que é porem de
. composi çã o
O
O . rroca .
"A
r\
Cs

'"'N

112

^1 NOTAS

1- O nosso estudo limita -se ao antigo Estado do Brasil , do


qual , era 1621 , desmembrou -se as capitanias do Cear á ,
'
^ Maranh ã o e Par á , formando ent ã o o Estado do Maranhã o e
Gr ã o Par á . Nestes , a a çã o missioneira jesuitica tomou
caracteristicas pr ó prias aproximando-se , em alguns
aspectos , com a da Am é rica espanhola , Interessante
observar que a c o n j u n çã o das correntes marinhas e
ventos dominantes foi o fator imperioso nesta divis ã o
politica do atual territ ó rio brasileiro , c onjun çã o essa
que impedia a navega çã o costeira no sentido norte -sul .
Segundo o Comt . Max J . Guedes ( Palestra proferida no
IHGB em 10 - 10 -91 , essa
) c o n j u n çã o na costa norte do
Brasil equivale a da costa atlantica africana , que ,

) como vimos , impedia a


costa també m no sentido
navega çã o ao longo da
norte-sul . De acordo com o
referida

mesmo historiador naval , a s embarca çõ es saidas do


Estado do Brasil para o Maranh ã o e Gr ã o Par á . no seu
retorno eram obrigadas a arribar pr ó ximo a A ç ores para
s ó ent ã o atingir o cabo de Santo Agostinho e tomar a
rota sul . Desta maneira , as embarca çõ es saidas de
Portugal tomavam destino diretamente para o Maranh ã o e
Gr ã o Par á ou para o Brasil .

2- Reis Filho ( 1968: 130/ 1 ): "Os n ú cleos menores , mais


n antigos , instalavam -s e , em sua maior parte , em sitios
acidentados , no topo das colinas . Seus tra ç ados
A
apresentavam , ent ã o , no c o n j u n t o , caracteristicas de
acentuada irregularidade. As ruas adaptavan -se às
O . condi çõ es topogr á ficas mais favor á veis , e tendiam a se
organizar como liga çõ es entre os pontos de maior
import â ncia na vida d êsses n ú cleos , sem inten çã o de

A ordena çã o geom é trica . Uma constante na

comunidades . ( . .. ). Era relativamente


forma
organiza çã o d êsses centros era a valoriza çã o , por meio
de pra ç as , dos pontos de maior inter êsse para essas
comum
de

o
planejamento de pra ç as e sua a çã o tem sido reconhecida
r\ nas aldeias j e s u i t i c a s , como Carapicuiba , em S ã o Paulo
e Espirito Santo , na Bahia . Mais modestas do que os
O estabelecimentos dos padres espanh ó is , pois
O correspondiam a programas menos ambiciosos , essas
aldeias brasileiras tinham contudo , como n ú cleo , as
pra ç as onde se instalavam as igrejas e que eram objeto
de tratamento especial . ( ... ) Foi s ó depois de 1 ^ 20 e
comumente nas vilas e cidades novas , que se cornou
normal no Brasil a regularidade do tra ç ado .

o L . Costa ( 1941 ) p. 1 3: "O programa das c onstru çõ es


j e s u i t i c a s era relativamente simples . Pode ser dividido
O em tr ês partes , correspondendo cada uma destE um a
•r. *

determinada utilizaçã : o para o culto , a igre; z cm


n
r\

rs

113
r\
r\

coro e a sacristia ; para o trabalho , as aulas e


O oficinas ; para resid ência , os "cubículos” , a enfermaria
r\ e mais dependencias de serviço , além da "cerca" , con
horta e pomar. Sendo o objetivo da Companhia a doutrina
r\ e catequese , a igreja devia ser ampla afim de abrigar
o nú mero sempre crescente de convertidos e curiosos e
localizada , de preferencia , em frente a um espaç o
aberto -um terreiro- onde o povo se pudesse reunir e
andar livremente , não se prevendo , o mais das veze3 , a
construção ordenada de casas em volta dessa praça . s
que , ao contrá rio do que se observa nas missões do sul .
onde , como se ver á depois , cada núcleo jesuitico
constituia por si mesmo o "povo", isto é , a cidade , os
nossos principais colégios faziam parte de organizações
urbanas distintas , ou entã o , quando sucedia a algum dos
n numerosos aldeamentos , formados pelos padres , tomar
corpo -como foi o caso de São Paulo de Firatininga , por
o -
exemplo ele era logo repartido com as demais ordens
o religiosas e as autoridades civis. Assim , mais modesto
e menos independente , o programa jesuitico brasileiro
não comportava os traçados urbanisticos integrais tão
caracteristicos das missões da Província do Paraguai ,
das quais nos ficaram , por bem dizer -de quebra , os
-4 chamados Sete Povos das Missões.

•4
— Leite ( 1945) p.95: "Além dalguns motivos particulares
de menor monta , os Aldeamentos dos indios obedeceram no
o Brasil a um tr í plice fim : catequese , educação pelo
'"N trabalho , e defesa militar . Nos do Rio de Janeiro , os
sítios em que ficaram as tr ês Aldeias , S. Lourenç o
( Niterói), S. Francisco Xavier ( I tinga -Itaguaí), C*

Barnabé (Macacu) caracterizaram sobretudo o pensamento


de defesa , à roda do incomparável centro geográfico
fluminense , que é a Guanabara , uma de cada lado da
baí a , e outra no fundo dela , formando o triâ ngulo
o defensivo da Cidade . S. Pedro do Cabo Frio era como que
a guarda avançada , para a defesa do Promontório , onde
n •

de vez em quando os inimigos se atreviam a rondar .


>
<

r\
O
c Wöllflin ( 1984: 14/5): "O presente estudo ocupa se da
discussão das formas universais de representação. Seu
-
o objetivo não é anal izar a beleza da obra de um Leonardo
ou de um Dürer , e sim o elemento através do qual esta
beleza ganhou forma . Ele também não tenta analizar a
o representação da natureza de acordo com o seu conteúdo
imitative , nem em que medida o naturalismo do séc. xv:
difere daquele do séc. XVII , mas sim o tipo de
O percepçao que serve de base às artes pl ásticas no
O decorrer dos séculos . ( . .. ) O adjetivo cl ássico nã o
encerra aqui qualquer ju ízo de valor , m:is o Barroco
também possui o seu classicismo . O Barroco na o
O significa nem a decacéncia nem o aperfei ç oamento
elemento clássico , mau uma arte tot a imer.:e d i feren te
O
'

sJFP*

11 4

n
r\ evolu çã o ocidental da é poca mais recente n ã o pode ser
O sirolismente reduzida a uma curva com um aclive , um
á pice e um declive: ela possui dois pontos culminantes .
Podemos simpatizar tanto com um quando outro , mas X
oo preciso termos em mente que se trata de um julgamento
arbitr á rio , exatamente como é arbitr á rio dizer que uma
roseira atinge seu apogeu ao florescer e uma macieira
o ao dar frutos . ( . . . ) Nosso objetivo é comparar tipo com
tipo , algo j á acabado com algo j á acabado . é evidente
que n ã o existe nada de "acabado", no sentido estrito da
'
palavra : todo material hist ó rico est á sujeito a
O constantes transforma çõ es ; mas precisamos decidir por
O estabelecer as distinçõ es num momento frutifero ,
permitindo que elas nos falem enquanto elementos
O constratantes , se n ã o quisermos que toda a evolu çã o nos
escape por entre os dedos

O 6- Referindo-se a forma fechada e forma aberta , W ö lfflin


diz o seguinte: "Por forma fechada entendemos aquele
"A
tipo de representa çã o que , valendo -se de recursos mais
O ou menos tect ónicos , apresenta a imagem como uma
O realidade em si mesma , que , em todos os pontos , se
volta para si mesma . O estilo de forma aberta , ao
contr á rio , extrapola a si mesmo em todos os sentidos e
pretende parecer ilimitado , ainda que subsista uma
limita çã o velada , assegurando justamente o seu car á ter
fechado , no sentido est ético . ( .. . ) Mas a arte
representada do Barroco recusa veementemente a fixa çã o
de um eixo central ; a simetria pura ou desaparece por
n\ completo , ou torna -se imperceptivel , gra ç as a ruptura
do equil í brio as mais variadas . ( ... ) A arte cl á ssica é
m a arte das verticiais e das horizontais bem definidas .
Os elementos manifestam -se com total nitidez e
precis ã o . Quer se trate de um retrato ou de uma figura ,
*TH de um quadro que narre uma hist ó ria ou de uma paisagem ,
n no quadro predominam sempre as oposi çõ es entre as
A linhas horizontais e as verticias . Todos os desvios s ã o
medidos em rela çã o â forma primitiva pura . Em
m Contrapartida , o Barroco apresenta a tend ê ncia , n ã o de
o reprimir esses elementos , mas de dissimular o seu
contraste evidente. Uma estrutura tectOnica demasiado
fTi n í tida é vista pelo Barroco como algo r í gido demais e
contr á rio à id é ia de uma realidade viva . Quanto a
o pluralidade e unidade , W ö lfflin faz as seguintes
observa çõ es : " Veremos que o estilo cl á ssico obt é m a sua
O unidade atribuindo à s partes uma fun çã o aut ó noma , e que
'A o estilo Barroco destr ó i a independ ência uniforme das
partes em favor de um motivo geral mais unificado .
( ... ) Para o ideal de beleza do estilo cl á ssico é
O essencial que todas as partes se apresentem igualmente
claras ; o Barroco pode dispensar esse preceito ,
conforme demonstra o exemplo de Velasquez. ( ... ) Uma
o figura cl á ssica pode ser recortada : ela ter á sem
d ú vida , uma apr ê ncia menos favor á vel do que em seu meio
n
"A ;

O
'A
n\
'
^

4
4
l 115
4
4
I anterior , mas nunca perder á a identidade . A figura
barroca , ao contr á rio , tem a sua exist ê ncia totalmente
i associada aos demai3 motivos do quadro ; ( ... )” . ( Ibid :
À 173 , 184/5/6 ).

4 7- Apesar de referir -se a este processo como "acultura çã o”


« ( termo polê mico e muito discutido no â mbito
antropologia ) N . Wachtel ( 1988: 112/29) observa com
da

I muita propriedade que , "Corn efeito , a acultura çã o n ã o


*

4 se reduz a uma ú nica marcha , à simples


cultura indigena à cultura ocidental ;
passagem da
existe um
4 processo inverso , pelo qual a cultura indigena integra
I os elementos europeus sem perder suas caracteristicas
< originais . Essa dupla polaridade confirma que a
acultura çã o n ã o poder ser reduzida à difus ã o , no espa ç o
* ) e no tempo , de tra ç os culturais arbitrariamente
isolados: trata -se de um fen ô meno global que compromete
toda a sociedade”.

8- Em entrevista concedida ao suplemento Id é ias- Ensaios do


4 Jornal do Brasil , Massimo Canevacci , professor de
I Antropologia Cultural da Universidade de Roma ,
perguntado se considerava positiva a fragmenta çã o da
cultura que L é vi -Strauss observou nestes tr ó picos ,
respondeu o seguinte . ’’Esta fragmenta çã o é para mim
*
um
4 motivo de felicidade , porque vai destruir um tipo de
identidade muito fechada da Europa que n ós temos que
-44 mudar . Esses fluxos étnicos podem ser vistos como um

- conflito mas també m como um ganho , j á que desenvolvem


uma multiplicidade étnica . Por isso acho que o Brasil é
um pais de vanguarda . O fato de permitir uma
multiplica çã o , uma fragmentaçã o da identidade é o que
daria um sentido mais progressista a p ós- modernidade.
) Os tempos modernos se devenvolvem como destrui çã o do
A outro , que pode n ã o s ó ser destruido , mas incorporado .
4 Esse sofrimento da busca de uma identidade , como
4 acontece no Brasil , pode ser percebido como um momento
positivo . Se o Brasil sofre , ao mesmo tempo est á
4

O
"i
vivendo a experi ê ncia mais avan ç ada de
plurietnicidade. Para mim n ã o existe um pais do mundo
que experimente uma multietnicidade , uma multiplicidade
uma

cultural de uma forma t ã o progressista , de uma forma


t ã o pouco discriminat ó ria , comparando - se com outros
paises do mundo .


' t

9- Carta de sesmaria de Martim Affonso de Souza :


Saibam quantos este instrumento de carta de sesmaria
o virem , que no anno do nascimento de nosso senhor Jesus
Christo de 1568 annos , aos dezesseis dias do mez de
Mar ç o do dito anno , n 'esta cidade de S. Sebasti ã o to
Rio de Janeiro , terra d ' esta costa do Brazil , em a
pousada de mim tabei 1 i ã o abaixo nomeado . appareceu
O
-- -

n
I
I
J 116
J
I
J Martim Affonso , indio do gentio d ' esta terra , e me
apresentou uma petição , com um despacho n'ella , do sr.
4 governador Mendes de Sá , do conselho de ei -rei no3so
I senhor e capitão da cidade de S. Salvador da Bahia de
J Todos os Sanctos , e govarnador geral de todas as
capitanias e terras de todas estas costas do Brazil ,
J pelo dito senhor , etc. , da qual petição o translado é o
4 seguinte:
4 Petição
4
« -
Senhor . Diz Martim Affonso de Souza , homem nobre e dos
principais homens de genero terminimos , que mandando
4 el-rei nosso senhor a Estacio de Sá , que Deos tem , por
4 capitão de sua armada a conquistar e povoar este Rio de
Janeiro , , que elle dito Estacio de Sá vem ter à
4
) capitania do Espirito Sancto , aonde elle supplicante
era morador , e elle dito Estacio de Sá , com o ouvidor
4
Braz Fragoso , fallaram a elle supplicante quizesse vir
4
4
-
em sua companhia servir a el rei nosso senhor em ajudar
a povoar este Rio de Janeiro , porquanto os gentios
t d 'elle estavam em guerra e tinham era seu favor os
Francezes contra o estado real de Portugal , no que sua
í alteza era muito desservido , e que elle dito capitão
J Estacio de Sá desejava repelir e castigar os contrários
Francezes que n'este rio estavam , pelo qual pedia a
í elle supplicante que folgasse de vir na dita armada e
4 n'esta companhia para favorecer e ajudar na dita
empreza , o que elle supplicante muito folgou fazer , e
4 veio em sua companhia e , trouxe muita gente sua de
4 peleja , e muitas armas e mantimentos , e ajudou a
4 conquistar os inimigos e a povoar , e mandou sempre vir
de sua terra muitos mantimentos e armas e gente , por
4 lhe na guerra ser muita gente sua morta e diminuida , a
4 elle supplicante fizeram muito mal , e porque estava
muito dispeso , e gastado pedio licença a V .Sa. para
4
sahir com sua gente e repousar dos trabalhos passados ,
4 por haver quatro annos que andava n ’ esta conquista , e
4 por ser el - rei nosso senhor a quem muito fazia serviço ,
e porque elle supplicante desejava fazê- lo por lhe
4 V .Sa . mandar , quer trazer sua mulher e muita gente que
tem .
1 Pede a V .Sa. lhe faç a mercê de umas terras , que estão
o-r da banda de além , que foram de Antonio ce Marins e
rS estão defronte d ' esta cidade , a saber : desce a Barreira
Vermelha ao longo da agua salgada pelo rio acima ,
* caminho do norte , e do nordeste uma légua , para que na
dita terra faça seu3 logare3 e fazendas. No que
A receberá mercê.
E tudo visto pelo dito sr . governador a ç eti ção do
fft supplicante Martim Affonso de Souza , e o que lhe pedia ,
visto ser justo , e havando respeito ao proveito que se
o -
pode seguir a ser je da republica , e ao servi ç o de Deos
e ao de el - rei nosso senhor , e para a terra se povoar
deu ao d i t o Martim Affonso uma légua de terra ao longo
o
X
l
ï 117
X
A
X do raar e duas léguas para o sertao , as quaes tinha dado
a Antonio de Marins assim e da maneira que a tinha
X dado , aonde pede para se aposentar na dita terra e
1 fazer sua fazenda , por as ditas terras e3tarem ainda em
mattos maninhos e por aproveitar , as quaes terras estão
X no dito logar , e tem a dita medida e partem pelas ditas
! confrontações , como em sua petição diz , e a braça
1 porque se medirem será braç a craveira , a saber: duas
varas de medir por uma , como no reino se costuma medir ,
X o que tudo lhe deu e concedeu na maneira abaixo
X declarada ,segundo a fórma de seu regimento , de que o
traslado é o seguinte despacho do sr. governador:
A Dou a Martim Affonso uma légua de terra ao longo do
* mar e duas léguas para o sertão que tinha dado a
Antonio de Marins , assim e da maneira que as tinha dado
e com as condições de sua renunciação , hoje 16 de Março
A ) de 1568 annos.
A
Translado do regimento do Sr . governador .
* As terras e aguas das ribeiras que estiverem dentro do
*A termo e limites da mesma cidade , que s ão seis léguas
para cada parte que não forem já dadas a pessoas que as
A aproveitem , e estiverem em vaga e devolutas , para mim ,
e por qualquer via ou modo que seja , podereis das de
A sesmaria às pessoas que vo-las pedirem , as quaes terras
A assim dareis livremente sem outro algum fõro nem
tributo , só memte e dizimo á ordem de ncsso senhor Jesus
A Christo , com as condições e obrigações do foral dado ás
A ditas terras da minha ordenação do quarto livro , titulo
da sesmaria , com tal condiçã o que a tal pessoa , ou
pessoas , residam na povoação da dita bahia , ou nas
terras que assim lhe forem dadas , ao menos très annos ,
e que dentro do dito tempo as não possam vender nem
alienar , e tereis lembranç a que nã o deis a cada pessoa
mais terra que aquella que verdes ou vos parecer que
segundo sua possibilidade pôde aproveitar : e si algumas
A pessoas a quem forem dadas terras no dito termo as
tiverem perdidas por as não aproveitarem com as
condições e obrigações conteúdas n ' este capitulo , o
qual se transladar á nas cartas das ditas sesmarias . Com
as quaes condições e obrigações e declarações lhe assim
O dou as ditas terras ao dito Martin Affonso pela
n sobredita maneira com tal condição que elle resida em
o esta cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro , ou em
seu termo , ao menos os ditos très annos em meu
'"N regimento declarado ; e assim hei por bem que posto , e
que o dito meu regimento não diga nem falle em esta
cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro , hei , por
Ch serviç o de el -rei nosso senhor , que esta carta tenha
toda a for ç a e vigor como tem as que se fazem na cidade
de S. Salvador da Bahia de Todos os Santos , porque
assim o hei por bem serviç o do dito sector , como dito
é , e para sua guarda do dito suppl leant e Mart im Affonso
lhe mandou o dito Sr . governador ser feita esta carta
I
Jf

Û
r*

118

p e l a q u a i manda q u e e l la h a j a a p o s s e a s e n h o r i o d a s
d i t a s t e r r a s p a r a s e m p r e para e l l e e para to d o s o s seus
h e r d e i r o s e s u c c e s s o r e s ascendentes o u descendentes q u e
a p ôs d ' e l l e s v i e r e m , e com t a l c o n d i ç â: e e n t e n d i m e n t o
q u e e l l e r o m p a e a p r o v e i t e a s dites t e r r a s e a s

f o r t i f i q u e d a d a t a d ’ es t a e m t r ès i n n o s primeiros
s e g u i n t e s . E o u t r o s s i m far á d e m a n e i r a q u e d e n t r o em
q u a t r o m e z e s t e n h a f eito n ' ellas algum proveito e
- p l a n t a d o a l g u n s mantimentos . E c o m o fCr em c u m p r i d o s os
d i t o s t r ès annos q u e a s t e n h a aproveitado c o m o d i t o é I-
p o r q u e n ã o o f a z e n d o e l l e a s s i m passades o s d i t o s tr ès

a n n o s , q u e a p r o v e i t a d o n ã o t i v e r e m , s e dar á d e sesmaria
a quem as pedir para aproveitar , lhes s e r á deixado
l o g r a d o u r o s d o q u e ap r o v e i t a d o n ã o t iver , s o b r e t u d o
p a g a r á 1 $ r s . p a r a a s o b r a s d o conselho e d a r á por
e l l a s caminhos e s erventias o r d e n a d a e necess á r i a s a o
conselho p a r a f o n t e s e pontes , viveiros d e pedras que
) necess á r i o f ô r e m , a s q u a e s t erras pela sobredita
maneira l h e d a v a foros e isentam sem f!ros n e m tributo
s ó m e n t e d e t u d o o q u e l he nosso S e n h o r i é r n ' e llas de
s u a s n o v i d a d e s e l a v o u r a s e c r i a ç õe s pagar á o di z i m o a
Deus c o n f o r m e o r e g i m e n t o ; o q u e t u d; m a n d a q u e s e
conserve e g u a r d e sem duvida nem em b a r g o q u e l h e s e j a
p o s t o , e q u e e s t a c a r t a s e j a r e g i s t r a d a d e n t r o e m um
-- a n n o nos l i v r o s d a fazenda , c o m o o dit: s e n h o r e m seu
'“
N
r e g i m e n t o m a n d a s o b as p e n a s e m e llas co n t e ú d a. E
p o r q u e o d i t o s u p p l i c a n t e M a r t i m Affonso p r o m e t t e u d e
'N " ter , manter e c u m p r i r pela s o b r e d i t a ma n e i r a , l h e
mandou p a s s a r e s t a c a r t a d e s e s m a r i a , a por v e r d a d e eu ,
P e d r o d a C o s t a , tabelli ã o d a s n o t a s a escriv ã o d a s
O se s m a r i a s p o r e l -rei nosso s e n h o r , e m esta c i d a d e d e S.
'
Sebasti ã o e s e u s t e r m o s , q u e e s t e instrumento d e c arta
O d e s e s m a r i a escrevi . - Men de Sá . - E n ã o = 5 continha mais
o;

c o u s a a l g u m a e m a d i t a c a r t a d e sesnaria a q u e me
r e p o r t o e m o t h e o r d a qu a l eu d i t o tabs 1 li ã o e escriv ã o
3 d a s mesmas , An t o n i o T eixeira d e Carvalho , fi z p a s s a r a
p r e s e n t e c e r t i d ã o q u e a s ubscrevi e essignei . - Antonio
Teixeira d e Carvalho .
( In Silva , 1 8 5 4 : 3 0 3 -3 0 7 )
Q
—»
'
1 0- Auto d e p o s s e d a sesmaria d e Martim Affonso d e Souza :
O Saibam q u a n t o s es t e publico instrumerzo d e p o s s e d e
0 terras d e s e s m a r i a dada por m a n d a d o autoridade de
j u s t i ç a virem , q u e n o anno d o na s c i m e n t o d e nosso
O senhor Jesus Christo d e 1573 annos , acs vinte e dous
o dias d ' e s t e p r e s e n t e mez d e Novembro i ' e s t a p resente
o éra da banda d ' al é m d ' es t a c i d a d e i e S. Sebasti ã o
d ' esta c a p i t a n i a e g overna çã o e bahia d ' e s t e ?. io d e
Janeiro , terras do Brazil , no t e r m o d ellas , nas t e r r a s
3 q u e dizem s e r a escriptura e ca r t a d ad - a t r a z , mue o
g o v e r n a d o r o g e n e r a l M e n d o n ç a a Martim Affonso d e
n Souza , cavalheiro d a ordem d e C h r i s t o , e l ogo a h i , por
e s t e dito Martim Affonso , foi dit: a mim t iblico
n
. tabelliã o e a o p o r t e i r o m e s t r e Vascc e p e r i r.~ e 33
o

119

testemunhas , que ao todo foram presente , que o dito


governador lhe deu de sesmaria para elle e para seus
ascendentes e descendentes , ahi aonde estava uma légua
de terras e duas para o sertão , a qual logo começaria
das barreiras vermelhas que e3tão defronte d ' esta dita
cidade indo pelo rio e bahia correndo em comprimento da
dita légua e duas para o sertão a dentro , conforme a
doação e demarcação em elle conteúdo ; pelo dito
porteiro Mestre Vasco , e ante mim , deu posse da dita
légua de terras de comprimento , e para o sertão duas
léguas , conforme a dita carta , e que esta dita terça
depois se demarcar á com quem de direito deva fazer ,
porquanto o sr. governador capitão Christovam de
Barros , que de presente está , manda matter de posse da
dita terra conteúda com a dita carta . E logo o dito
) porteiro mestre Vasco , perante mim tabellião e
governador e testemunhas ao diante nomeadas , metteu em
a m ão do dito Martim Affonso de Souza terra , pedras ,
arêa e ramos , e lhe deu posse pessoal , actual e
realmente da dita légua de terras em comprimento ao
longo do dito rio e bahia , e duas para o sertão
conforme a dita carta atraz , dentro dos limites d ' ella
para elle e seus herdeiros ascendentes e descendentes
sem contradicção de pessoa alguma que até ahi
contradissesse conforme a dita carta actualmente, e o
dito Martim Affonso acceitou a dita posse , e se ha por
investido n ' ella , tomando sobre suas mãos a terra ,
pedra , arêa e ramos que o dito porteiro deu , e depois
de os ter andou passeando pela dita terra e com suas
proprias m ãos tomou por si a terra , pedras arêas e
ramos , se houve por mettido de posse da dita terra
conteúda na dita carta , e lhe foi dada a dita posse
pacificamente , do que o dito Martim Affonso de Souza
requereu a mim tabelli ão lhe mandasse passar
3 ) instrumento de posse nas costas da dita carta e dada da
dita terra para ele saber como assim lhe fòra dada a

i dita posse , o qual instrumento delia passei para sua


conservação e verdade da dita carta
instrumento de dada atraz por verdade do despacho em
ella atraz do dito sr . governador , porque manda que
atraz de

seja o dito Martim Affonso de Souza mettido de posse da


dita terra . Testemunhas que ao dito foram presentes
Miguel Barros Seabra , o dito governador e o reverendo
padre Gonçalo de Oliveira , procurador do collegio
d ' esta cidade , aonde todos assignaram com o dito
porteiro em esta dita cidade , aonde este dito
instrumento passei aos 27 dias do niez de Outubro da
sobredita éra por mandado do dito governador sem causa
o que duvida faç a , e aqui assignei de meu publico signal
que tal é , etc .
( In Silva , Ibid . :307/8)

11 - Carta dirigida ao Pe. Francisco de Borja Oer al da


1
^
r
< \

O
o
120
n

Companhia de Jesus em Roma ; publicada originalmente por


O Serafim Leite no Jornal do Comércio de 4 de novembro de
O 1934. Citada in Fortes ( 1935) p . 23: "Temos uma igreja
de São Lourenço , daqui uma légua , na aldêa de Martim
Affonso Ararigboia de muita gente Terraininó , toda
O christã , na qual ainda que se não reside de continuo ,
por falta de companheiros , é visitada por um dos
padres , lingua , a miude , que lhes diz missa todos os
domingos e santos onde lhe faz suas doutrinas e
praticas de Deus. E o que muito nos consola é vel os
perseverar na vida que tomaram , sem faltar
-
a suas
missas e doutrinas , como se nisso se criaram toda a
vida."
Leite (1945) p. 142 T.2: "Pelo baptismo , o índio não só
entra na religião verdadeira , mas conquista uma
situação que os equipara , na mente do legislador , aos
próprio Portugueses. é a igualdade pol í tica , Ela
) permitirá , da í a pouco , ao í ndio Araribóia , envergar o
há bito de Cristo.

12- Translado da Carta de Petição e despacho do Governador :


Senhor governador. Dizem Vasco Fernandes , Antonio
Salema , Salvador Corrêa , Antonio da Franç a e Fernão
d ' Alvares , como í ndios principais da ald êa de São
Lourenço deste Rio de Janeiro , que elles tem mandado à
serra a fazer descer seus parentes para povoarem neste
Rio , para que sendo muitos possão adjudar a fazerem-se
christãos e viverem na lei de Deos , e que vindo muita
gente , como espera que vir á , não é poss í vel estarem
todos na ald êa que agora está situada defronte desta
cidade , porque são muitos nélla e as terras poucas para
esta ald êa , quanto mais para os que descerem , e assim
ficam padecendo por não terem em que roçar , por ser já
tudo dado aos brancos , pelo que pedem elles ditos a V .
s § lhes conceda para os indios todos que da serra e de
outras partes descerem , quatro léguas de terras da
banda d ' alem do rio Macacú , que começar ão aonde se
• achar a data de Duarte de Sá , e correr ã o ao longo da
terra que n ’ aquella parte tem o collegio da companhia ,
até encher quatro léguas , e para o sert ã o até o pé da
Of serra dos Órgãos . E receberão mercê.
Despacho do Sr . governador . Dou aos suppiicantes a
o terra que pedem em sua petição , assim e da maneira que
o n ' ella se contém e passem - lhes sua carta . Hoje 9 de
julho de 1578 Salvador Corrêa de Sá ."
O' ( In Silva , Ibid .:346)
o
O
13- S. Leite ( 1945) p . 110 t.6: "A população de S . Lourenç o
n variava . Nunca foi muito populosa , desde a sua origem ,
o por não dispor de terras anexas capazes de ocupar e
o sustentar muita gente. Mas , de vez em quando os Padres
colocavam nela , ao menos provisòriamente , alguns í ndios
O descidos ou trazidos de outras Aldeias . como a de c*
O

*
i
I 121
4
4
4 Barnabé, e nesse caso os Padres voltavam a morar na
Aldeia para os atender e catequizar cor.o em 1689 , em
4 que dois Religiosos se encarregavam da doutrina e
4 administra çã o dos sacramentos às suas 330 almas .
Passada a urg ê ncia da catequese , voltava ao regime de
4 visita peri ó dica .
4
<
14- Referindo-se ao pequeno n ú mero de ind í genas que
I habitava Sã o Lourenç o , Pizarro e Ara ú jo faz uma
4 interessante observaçã o a respeito ia qualidade da
cer â mica produzida pelas ind í genas deste aldeamento:
* M
(...); por essa causa nao h á no mesmo distrito capela
i alguma , nem f á brica , a exceçã o das cue trabalham o
i barro para lou ç a grossa , em cuja oficir.a se empregam as
Í ndias com assaz destreza , e sem aparelhos demasiados .
Á
) O barro de c ôr preta , de que ordin á riarente fazem uso
para êsse minist ério , resiste muito ao fogo ; por isso
s ã o procuradas aquelas manufaturadas , com prefer ê ncia
X às fabricadas noutros lugares , para o servi ç o das
4 cozinhas . M
X
 15- Wied - Neuwied ( 1989 ) p. 27: "Desembarcamos a pouca
I dist â ncia de Sã o Lourenç o , e puse-o-nos a galgar
pequenos morros , por um caminho sobreado por lindas
1
plantas ; lantanas ( Lantana ) com suas flores cor de
I fogo , vermelho carregado ou cor -de- rosa ; helicó nias
I ( Heliconia ) e outros arbustos de aspecto igualmente
gracioso , formam aqui moitas cerradas. No alto da
J colina , as cabanas dos indios se espalham no meio de
4 laranjeiras , bananeiras e outras plantas carregadas de
deliciosos frutos ."

- 16- Leite ( Ibid . ) p. 108: " Na Aldeia de Sã o Lourenç o , a


A mais antiga Aldeia do Rio , deve ter -se representado a
A 10 de Agosto de 1586 o Auto de Sã o Louren ç o , preparado
pelo estudante de Filosofia depois Padre Manuel do
A Couto. Era Superior , outra vez , o mesmo Jesuita que
A tinha fundado a primeira Igreja de SIo Louren ç o , no
A tempo de Araribó ia , P. Gonç alo de Oliveira , capel ã o do
ex ército da conquista e funda çã o do Ric de Janeiro. H á
A todos os indicios de que aqu êle auto se representou na
A inaugura çã o da Igreja , n ã o a primitiva mas outra , j á
melhor e mais ampla o Autor do Auto fsz dizer a Sã o
A
,

Lourenç o , que trazia consigo a Deus , c _ e n ã o sairia da


A terra e para que Deus o ajudasse fizera "esta casa para
A
vT
1
ficar casa sua".. ."

- 17- Ao passar por Buenos Aires , a 19 de u. o de 1691 ,

-
V.
o
Padre Sepp ( 1972:81 / 2 ) fez o seguinte registro em seu
di á rio , onde podemos observar que : grande entrave
construtivo nas edifica ções de pedra e c a 1 era a
o
o
4
4
4 122
4
4
4 obtençã o deste ú ltimo : "Os quatro conventos de ordem
religiosa que h á aqui pertecem aos Franciscanos ,
4 Dominicanos , Trinit á rios e à Companhia ;e Jesus . Vivem
4 todos em extrema pobreza e priva çã o , pcrque a carestia
aqui é extremamente grande. As casas e igrejas n ã o s ã o
4 de pedra , mas de barro e lama . Tê m todas s ó um andar , e
4 isto n ã o porque faltassem pedras , mas parque o preparo
í da cal at é agora é desconhecido. Só n este ano os Padres
encontraram uma maneira de queimar cal . o
4 castelo , onde reside o senhor governador , tamb é m *=:
4 construido de barro e é defendido por um f ô sso e um
baluarte."
4
4
4 13- Sambaquis s ã o s í tios pr é- historicos once os vestigeos
arqueol ó gicos s ã o encontrados inseridos em uma
4 estrutura , superposta ao modelado natural , formada
4
) principalmente por carapa ç as de molusco , Devido a
constitui çã o destas carapa ç as , os sambaquis formam
4 ricas j a z i d a s calc á reas. Apesar dos tupinamb á
. 4 praticarem intensamente a coleta de molusco , s ã o estes
4 s í tios vest í gios de a uma ocupa çã o litcr à nea anterior a
ocupa çã o Tupiguaran í .
4
I 19- Santos ( 1966 ) P - 42 , 45/46 , 5 9: "Em lisboa , na Casa
4 Professa de S. Roque , da Companhia de Jesus , trabalhava
4 -j á o vimos - um Irm ã o , Francisco Dias . que em 1575
fizera a tra ç a d o col égio de Angra na Ilha Terceira , e
4 que era tido em muito boa conta . Indo a Roma o
4 Procurador d a Companhia no Brasil , ccnseguiu do P.
Geral que lho cedesse. Com sua vinda e : 1577 , começ a um
A segundo cap í tulo na arquitectura da Cozranhia de Jesus
no Brasil . ( . . . ) Arquiteto que se inscrevesse com esse
A nome Architectus"- foi Francisco Dies o primeiro .
Este foi como pedreiro que fez o seu aprendizado , o que
A era ali á s comum naquele tempo , e quand: o admitiram em
A 1562 na Companhia , em Lisboa , j á o era e gozava d e bom
conceito , porque logo lhe confiaram s direc çã o das
* A obras dos mais importante estabelecimento que os
Jesu í tas ent ã o erguiam em Portugal : a firosa igreja e
A Casa Professa de 3. Roque de Lisboa . ( . . . ) As duas
fachadas , a de Olinda e a do Rio , insiirano - se embora
em S. Roque , t ê m rela çã o a uma simplifica çã o capital , a
o da referida supress ã o das ordon ã ncias intermedi á rias
que em Portugal foram usadas at é numa igreja rural ,
o como a de Vila Vi ç osa ( c u j a constru çã o e contempor â nea
o da de S. Roque ) -supress ã o que representa uma
irrever ê ncia em rela çã o aos c â nones gramaticais do
Renascimento ( . . . ) O front ã o triangular das duas
O igrejas quinhentistas : do Rio e de C linda , tornou - se
O uma nota insistente d a s igrejas d a CO ïT renhia ."

20 - " Digam - nos no Rio de Janeiro a fortalria no -J - da


* -
/ TN

fT\

n
4
-

I •

I 123
4

( cidade , e a de Santiago da I 1 ha das Cobras , as cavas ,


< redutos , e trincheiras da cidade , e as fortifica çõ es da
barra , que os í ndios pela maior parte fizeram , sem m a i s
4 estipê ndio de ordin á rio , que algum pouco de mantimento
4 com que se sustentaram . Em particular na Fortaleza de
Santa Cruz assistiram muitos meses , em grande n ú mero ,
4 assistindo com ê les sempre os Padres , e ainda o Reitor
4 do Col égio , que em companhia do Capit ã o que era ent ã o
Martim de Sá , os foi aplicar à obra e industriar ;
4 digam - no també m os assaltos que aqui se deram , as
I armadilhas que fizeram , socorros que se mandaram à
4 Baia , assim quando eles est ê ve ocupada do holandês ,
como agora para a restaura çã o de Pernambuco , que n ã o
4 houve fac ç ao nenhuma destas em qu e n ã o f òssem os
4 í ndios'’ Resposta a uns Capitules ,
Colleg . , 1569 , Cf . , infra ,
1640 ,
Apê ndice C . In
Ges ú ,
Leite
4
4
) Ibid . : 104.

4 21 - Ret á bulo é o ornamento , geralmente entalhado na madeira


4 mas podendo ser també m em pedra , no qual apó ia - se o
4 altar . Palavra de origem latina q u e , segundo Toledo
( 1983: 173 ) deriva de "retro" , detr á s , e "t á bula " ,
4 t á bua .
d
4 22- Hocke ( 1974 ) p . 34/5 , 57 ): "Na Descida da Cruz de
r* Pontormo , bem como no ret á bulo de San Michele Visdomini
( 1 5 1 8 ), reconhecemos , sem d ú vida , as primeiras
manifestações concretas da revolu çã o anticl á ssica do
Maneirismo . Torna - se també m mais claro o emprego
original do conceito: maniera . Vasari era da opini ã o
que os pintores de que falamos pintavam alla manieri di
Michelangelo . Contudo , reside ai um ju í zo negativo .
Maneirismo significa : imita çã o e , q ui çá , at é imita çã o
\ d e m á qualidade . Vasari insinua que tais artistas n ã o
tinham uma maneira pessoal ( maneira prov é m do latin
manus: m ã o , que eles exageravam e q u e a sua arte era
dissonante e desordenada ). Vasari n ã o considerou que
tais "anticl á ssicos" de Floren ç a n ã o eram apenas
"maneiristas" no sentido de serem simples imitadores e
rs q u e os estilos que ele mais criticava , fez deles os
corifeus de uma nova "maneira" , ou s e j a , os criadores
de novo "maneirismo". Cerca de trezentos anos depois de
O Vasari , o termo "maneirismo" foi empregado , quase que
o exclusivamente , num sentido pejorativo . Somente cor.
Dvor á k aprendemos a reconhecer o Maneirismo como ur.
o estilo pr ó prio . A "abstra çã o antinatural" ( Dvor á k )
o tornou -se a meta de toda uma é poca . Ao inv és de imitar
a natureza , desenvolve-se a arte que procura dar largas
a a imagina çã o . Arte esta que " procura elevar mais as
rea ções ps í quicas e as emoções do qu e a conformidade
entre o o b j e t o e a percep çã o humana" . ( . . . ) Juntamente
com Dvor á k , podemos , pois , enfatizar : "no Maneirismo , a
imagina çã o est ética chega ao ponto d e considerar todas
Hh
i

r\

2
A 124

as obras dos séculos anteriores como t í midos prel ú dios"


ou com Panofsky : Mo Expressionismo possui mais ce um
ponto em comum com o Maneirismo ; ele se faz acompanhar
de uma especula çã o que retoma sua for ç a no setor em que
se distinguia o pensamento est ético do s éculo XVI , ou
seja , o da arte metaf í sica que visa a deduzir o
fenô meno da cria çã o art í stica de um prir.c í pio
transcedente e absoluto ou c ósmico , como se diria
hoje".

23- Pais da Silva ( 1986 ) p . 115/6 : " Ao contr á rio dos


Espanh ó is , que transportaram para a Am é rica o gosto
g ótico tardio , a primeira p á gina da arte portuguesa no
Brasil encontra -se intimamente vinculada a um c ódigo
renascentista muito simplificado e adaptado a
) condicionamentos locais de v á rias ordens , H á not í cias
das primitivas jesu í ticas do Salvador ( 1561 -85), de
Olinda ( 1584-92 ) , do Rio ( 1585 -88 ) e de Santos ( concl .
c . 1598 ) , a cuja tra ç a ou execu çã o esteve ligado o
arquitecto Francisco Dias S. J . ( 1538- 1633 ) , que
trabalhara na Igreja de S. Roque de Lisboa , mas que
foram posteriormente reconstru í das e ampliadas . Os
testemunhos que subsistem do primeiro quartel do s éculo
XVII acusam ainda apego a essa vis ã o despojada do
vocabul á rio renascentista : as igrejas das miss ões
inacianas de Reritiba e dos Reis Magos ( Esp í rito
Santo ), da Aldeia de S. Pedro ( Rio de Janeiro )e de S .
Ars I
Miguel ( S. Paulo ) , cujas estruturas s ã o de uma ou tr ês
na \ es , t ê m coberturas de madeira , muros de adobe , e
onde as solu çõ es cl ássicas se reduzem ao front ã o
^f triangular ( por vezes com ó culo do t í mpano ) e aos
cunhais sobrepostos a cornijas muito simples cu ao
friso d ó rico , aos pin áculos e à porta lisboer.se ( Reis
Magos )."
cH
24- Carvalho ( 1990 : 29/30 ): " A escultura do altar de Sã o
/•
>
Lourea ço , executada em madeira dourada e policromada é ,
como as demais ( esculturas do altar - mor de Santo In á cio
d e dos dois altares laterais de Nossa Ser.hora da
Concei çã o ) uma composi çã o em vulto , frontal e pouco
n expandida , de linhas s ó brias , fechadas e regidas por
o certos efeitos verticalizantes . Iconograf icar.ente ,
o representa o jovem di á cono espanhol Louren ç o cc s éculo
III da era crist ã , ordenado pelo papa Sixte II . que lhe
o teria confiado os tesouros da Igreja , os quais ele
o teria distribuido aos pobres , sendo r cr ISSO
martirizado por ordem do imperador romano Decius , no
n ano 258 . Conta a tradi çã o que o suplicie de Sã o
o Louren ç o consistiu em ass á - lo vivo sobre um braseiro .
Seu culto foi um dos privilegiado na Contra - Reiorma . *

Felipe II , pela coincid ê ncia da vit ó ria de S ã o Cuentin


o contra a Fran ç a ter ococrrido em 10 de agosto ce 1557
( dia que celebra o santo ) , o elegeu padroeiro da
|V
o

cs
n
' v
125
r\
m Espanha e lhe consagrou , em ex - voto , o pal á cio-
monast é rlo do Escoriai . A iconografia Sã o Lourenç o
da igreja dos í ndios á a mais geral . aquela que o
representa como um jovem de cabeç a nua e coroada ,
vestido com a dalm á tica de di á cono , orr.ada de motivos
chamejantes e portando à s m ã os os atrirutos da grelha
O ( s í mbolo do mart í rio crist ã o ).

;;
r\

n
'•“ N

3
.j

O J

n
o
n
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

V
)
r\

r>

128

4 conquistando-se inicialmente as regi õ es de matas e florestas

tropicais , ambientes naturais do Tupi , para só ent ã o , e em

as regi õ es
A algumas regi ões muito recentemente , serem ocupadas

A serranas e planaltinas , cora excessao do planalto paulistano , logo


ocupado no século XVI , mas de fundamental import â ncia para este
/~N

avanç o interiorano.
4 Costuma-se considerar que os ataques dos bandeirantes
4
4 à s missões jesu íticas guaranis tinha como finalidade a obtençã o

A de escravos indigenas para as lavouras canavieiras. Contudo


4 desconhecemos a exist ência de documentos do século XVII
4
4 confirmando o envio de contingentes de escravos indios para as
4 zonas produtoras canavieiras ou para qualquer outras regi ões

distantes da terra bandeirante. Consequentemente , o mais prov á vel


4 seja que tais indigenas seriara aprisionados para serem utilizados

-1 era
r\ como mao-de-obra na pr ó pria Vila de Sã o Paulo. Como esta n ã o
uma regi ã o de grande produ çã o a ç ucareira acreditamos que tamanha

car ê ncia de bra ç os servis fosse devido ao car á ter nao heredit á rio

O da servid ã o indigena que fazia necess á rio uma constante reposi çã o


n nao s ó para os produtores rurais mas , e principalmente , para as
r\
''“N
diversas ordens religiosas ai estabelecidas que , devido as sua

fiss õ es espec í ficas e a n ã o adoçã o do "repartimiento" no Brasil ,


n
nao podiam contar com um grande contigente indigena sob o seu

O total e permanente controle como nas miss ões jesu í ticas nas
O terras de Espanha , alvo dos ataques dos bandeirantes. L. Arroyo
O
O í 1954: 100 ) referindo-se ao documento do frei beneditino dirigido
n 1 C â mara de Sã o Paulo , onde solicita terras para fundar um
o
aosteiro , informa o seguinte:
r\

n
r\
r\
129
9
Esse documento pode ser levado à conta da

O verdadeira certid ã o de nascimento da igreja e

mosteiro de Sao Bento. Dai at é 1650 as refer ê ncias


O
sobre o templo nao t ê m grande significa çã o. Por

esse anos chegaram a Sao Paulo novos elementos da

% Ordem , tais como frei Gregorio , frei

Azevedo , frei Pedro dos Santos ,


Bernardo
frei
de

Maximo
A frei Joao Pimentel. Ao tempo era
- 1 Pereira e
j beneditinos o bandeirante
procurador dos frades

Manuel Preto , o fundador da igreja de Nossa


0 Senhora do ó . Tempos dificeis deviam ter sido as

tr ês d écadas tao avaras de documenta çã o sobre a

1 igreja . Dificuldades aumentadas com as doa çõ es de

terras que os beneditinos foram recebendo pelos

Cj anos afora . Porque a ra à o -de-obra para delas cuidar

tornava-se rara em Sao Paulo no alvcrecer do

século XVII . A igreja de Sao Bento , atrav és de

seus membros , nao teve a mesma participaç ao


r\
rs flagrante da igreja do Carmo , na cr ónica da
n cidade , cujos os sacerdotes chegaram a organizar

bandeiras para apresamento de indios . Nao , os


O beneditinos , talvez devido mesmo à sua superior
o forma ç ao intelectual , n ã o ousaram a tante ”

r\
O Apesar da "superior forma ç ao intelectual" dos

beneditinos , o seu procurador era um dos mais conhecidos


"apreadores" de indios , o bandeirante Manuel Pr ê te . Desta

maneira , nao temos duvidas que popula ç ao colonial de r ao Paulo


E
A
A 13C
A
'

A
X era formada quase que exclusivamente por elementos de erigem

X indigena . As pr ó prias tropas bandeirantes , que trouxeram grande


A quantidade de indios para Sao Paulo , era de maioria indigena ,
X
x conforme podemos constatar no seguinte relato jesuitico :
X
X
Pero como los de S. Pablo han visto q iespues de
X
aver destruydo la Prov . a de Guayr á ( ... ) cobraron
x ~T tan g.de avilantez y osadia qsalieron de su villa
'T
rS de San Pablo el ano pasado de 1636 y caminando

"j siete meses sujetando naciones con exercito de

ciento e cinq , ta Portugueses con arcabuzes y mil y


t
O quin . tos yndios Tupis brasiles

xr ( Coleç ao De Angelis , 1 - 29 , 1 , 69 in Cortes ã o ,

1958:430 )
f

Desta maneira , julgamos que nao tenha sido somente na

o forma ç ao populacional dos pequenos n ú cleos urbanos e vilas

interioranas que a participa ç ao indigena se fez presente. Reis


n
vi
o Filho ( 1968:81 ) , citando Thales Azevedo , informa que " por ocasi ã o
O
da restaura ç ao de Portugal , em 1640 , a popula ç ao da cidade do

-
“ •N
Salvador conservava-se a mesma do começ o do s éculo , oscilando em
O
torno de 10 mil o n ú mero de branco em todo o t êrmo". For é m , esse

mesmo autor ( Ibid .:80 ), citando o cronista Cardim , informa que em


O é poca pr ó xima ( final do século XVI ), a populaç ao da mesma cidade
O
de Salvador era formada de "tr ès mil vizinhos portugueses , oitc
O
3 mil indios christaos , e tr ès ou quatro mil escravos :e Guin é” .
'N
"

Considerando que a legisla çã o portuguesa reconhecia o indio

cristianizado e seus descendentes como branco , poder.es enter.der a


o
'"'N

rs

/'“ Ni
131

ri
razao do aparente desacordo destas informa ç oe3 , ao constatar que

entre os 10 mil " branco” estavam inclu í dos , al é m des portugueses ,

os crist ã os de origem indigena.


o
o Boxer ( 1981:101 ), refere-se aos colonos portugueses

n como "moradores", que teriam aqui chegado aos milhares com a

institui çã o do Governo Geral , atribuindo a estes a

responsabilidade pelo exterm í nio dos nossos ind í genas . Contudo

este autor nao explica a origem de um tao grande n ú mero de

colonos emigrantes , respons á veis por t ã o grande genocideo , j á que


-
'v em diversas passagens de suas obras chama ele a atenç ao para o

grande problema de escassez populacional enfrentado por Portugal .

O pretenso exterm í nio da popula ç ao aborig è ne pelo


O
portugu ês e a consequente desconsidera çã o da participa çã o

O indigena na forma ç ao do povo brasileiro tem levado algum


O; estudiosos a conclus ões totalmente infundadas a esse respeito ,
O
conforme podemos observar em Bergmann:
r\
O
Assim , o total dos que estavam no territ ó rio
0-
7 brasileiro em 1500, tomando aos que vieram de

fora , é de:

3 aproximadamente 2 a 2 , 5 milh ões de indigenas


? »*
3 , 5 milh õ es de africanos
o- tf
5 milh ões de europeus

ou seja , aproximadamente 10 , 5 a 11 milh õ es .


o
O Dai a popula çã o cresceu at é passar de 110 milh õ es
Hl atualmente. Por é m este aumento esconde evolu çã o
O mui diversas se considerarmos as tr ês ra ç as
v
o> esparadam » mte. 03 indigenas , de mais de 2 railh ô es
r
fT\

4
4 132
4
4 dirainuiram para perto de afrianos , de
A zero . Cs

A tr ês milhões e meio , triplicaram para 12 milhoes .


A Os europeus , de aproxiraadamente 5 milhoes de
4
4 imigrnates permanentes , se multiplicaram por 13 , 5

A vezes , para alcanç ar 68 milh ões.


A ( 1976: 19/20 )
A
A
A Por mais que o autor procure sustentar que a diferenç a
A
A do aumento populacional entre os descendentes de africanos e
4 europeus deveu -se as condi ç oes sociais , parece- nos infundado de
O
qualquer embasamento cientifico acreditar que a popula ç ao de

A origem europé ia tenha multiplicado 13 , 5 vezes o seu n ú mero


A original enquanto que a de origem africana somente triplicara
41
esse nú mero . Al é m do que nos parece biologicamente absurdo
n considerar o europeu como tao mais f értil e resistente as

condi ç oes tropicais do que o negro , é preciso considerar que o

maior n ú mero desses imigrantes europeus só aqui chegaram nos


n
séculos XIX e XX , quando os negros h á muito aqui j á estavam . Em
n
O nosso parecer , a razao de tal distor çã o deve-se ao fato de ter o
O autor conforme
eliminado a participa ç ao do indigena pois ,
o
procuramos demonstrar historicamente , uma fra ç ao consider á vel do

n» "branco" brasileiro é també m de origem indigena e nao


4
exclusiovamente europé ia . Devemos considerar també m que , de
7
4 acordo com Salzano e Freire- Maia ( 1967: 51 /2/3 ) as m ú lheres
7 que
indigenas s ã o as mais prolificas , chamando a aten ç ao de
7*
7 "( ... ) a redu çã o dos nossos contingentes indigenas nao parece
7 decorrer de fat ôres relacionados à fertilidade . Com efeito , a
7
7 percentagem de mulheres indigenas prolificas é mais de 50? . maior

7
A
A
A 133
A
A - rasileiras". Desta maneira , acreditamos que devida
O
H
f que a das neo
^
a uma expressiva particiopa çã o indigena na sua iorna ç ao e por 3 er

A a mulher indigena a mais prolifica , pode o crescimento


A
A populacional do "branco" brasileiro atingir a patamares

impossiveis se considerarmos como descendente unicamente de


A
A europeus.
A A exclusão do indigena na nossa fornaçao apóia-se
A que os
A também na opiniao de diversos historiadores consideram

A nossos indios como limitados atavicamente ou intelectualmente


A infantis , verdadeiros dementes que nenhuma participaçao efetiva
A poderiam ter na nossa História . As seguintes palavras de F. Mauro
n
- (1973:226 ,229), referindo-se a açao jesuitica no Brasil sao
A
A bastante ilustrativas dessa interpretação enganosa .

A
AI Os indios. Foram menores , senão crianças , era luta
O
O contra adultos europeus. Escravos , habitantes das
O aldeias jesu í tas ou residentes mal assimilados das

vilas , apresentaram toda espécie de problemas de


n
O assistência . (...) Foram os índios os primeiros
n beneficiários deste devotamento tidos jesu ítas ; a
d
3 todos. Eram os mais numerosos , os rasis desarmados
o também contra a natureza , contra os homens , contra
d
eles próprios. Foi preciso , por exemplo , lutar
d
d contra a antropofagia , que nao tinha . no Brasil
d ao que parece , nenhuma significa çã o religiosa , mas

decorria de puras razoes económicas e


d gastronómicas.
d
?
T
o
<r\
A

n
134

Discorrendo também sobre a ação jesuítica no Erasil ,

Boxer(1967:123) refere se- de maneira igualmente equivocada a


!
tf
respeito dos nossos ind ígenas:
O
A
4 Nao é necessário dizer que esta tarefa (conversão
4
4 dos indigenas) era excessivamente dificil e muitas
vêzes não recompensada. O ideal dos missionários
A homens
era transformar os selvagens em homens , os
r\
n ) em cristãos , e os cristãos , perseverantemente em
n sua fé. Esta última fase era inevità velmente a
O
mais dificil de se conseguir cora tribos nCaades ,

sempre era busca de comida na floresta , e cujo


A nivel cultural era equivalente à idade da pedra.

Os jesuitas logo virara que na sua melhor -alguns


diriam ú nica - esperança estava cora as crianças

'"N -
"pegando-as cêdo" , educando as da maneira devida ;

mas diversas vêzes os missionários viram seus mais


O
O ardorosos esforços chegarem a nenhum
-
res ltado.
O
O
Tinham que lutar por um lado contra o -
pc der do

atavismo de milhares de anos de vida selvagem e


O
o por outro , com o mau exemplo dado por muitos
O moradores , ou colonizadores. Na verdade. os
últimos tentaram sabotar o trabalho feito pelos
n> jesuitas entre os amerindios a quem viam c ão só

-
como mão de-obra explorável e consumivel ” .

Essa concepção de que os nossos Tupi litor âneos seriara


/

’culturalmente inferiores” e portanto impotentes à..ente a


v
-
' 'N
r\
n
rs
A
135
'

A
- s6 no
"cultura superior” européia

desconheciraento da etnologia indigena como na


fundamenta se
_
s a
nao

própria pré-
d história , já que o fato desses indigenas nã" terem deixado

A registros arqueológicos monumentais , como incas e aztecas , seria


X um indicativo desse "atrazo cultural". Porém a arqueologia
A
d demonstra o quanto pode ser enganosa essa correlação precipitada
A do registro material com o histórico de uma cultora. No caso dos
O
Tupi litorâneos a ausência de monumentos arquitetônicos está

diretamente associado a estrutura politics descentralizada e ao

modo de produção que , apesar do dominio de .na horticultura

d avançada , nao era voltado a produção e armazenamento de

excedentes. Contudo era uma cultura que estava en franco processo


A
ri de expansao conquistando e consolidando ura espaço de grande

O dimensão geográfica , verdadeiro "império” sem capital.

Assim , julgamos que devemos ter bastante cautela ao

m interpretar as correspodências jesuíticas pois es3as , usualmente

lidas como documentos reservados , foram também utilizadas como ura

O instrumento promocional da Companhia de Jesus.

Devemos , contudo , reconhecer que apesar do discurso da


. n
"tabula rasa" , os jesuitas incorporaram diversos aspecto da
O
O -
cultura Tupi Guarani no cotidiano e no espaço c cs aldeamentos.
O
Toledo (Ibid .:167), referindo-se ao projeto de /ignola para a
O
igreja Gesú de Roma , observa que ela faz parte ie ura conjunto
O arquitetónico onde estava previsto um espaço aberto retangular no

O qual vê a origem das praças de algumas cidaces brasileiras ,


O
certamente originadas de aldeamentos jesuíticrs. Contudo , F.

li Josta e Malhano ( 1987:29/30) observam que a ex.stência de uma


praça central é qua3e uma constante nos espaços ;23 aldeias dos
'

o
o
4
r
\
136

rS
nossos ind ígenas , a excessão de alguns poucos como os Karajá

cujas as aldeias sao construídas ao longo do rio Araguaia.

Observam também , os referidos autores , que nas aldeias

Tupinambás , apesar de limitadas por uma paliçada circular , a

t praça central era de forma retangular. Assim , acreditamos que a

A origem das praças dos aldeamentos jesuíticos estejam mais


A ) provavelmente na reprodução da praça central Tupinarabá do que no

projeto do conjunto arquitetônico da Companhia de Jesus em Roma.


r\
"A Em relaçao a herança teraplária , esta expressou se - não
O só na construção da nossa espacialidade. Uma constante dos nossos

retábulos barrocos sao as colunas salomônicas , introduzidas em

Portugal através de algumas construções como o mosteiro dos

Jerönimos de Belém , remontando a sua origem nas colunas do templo


r
o de Salomao , na Terra Santa (Toledo , ibid:179). Conforme vimos , os

templários receberam este nome por ocuparem o templo de Salomão e

O o mosteiro dos Jerônimos era uma dos mais importante mosteiros da


O Ordem de Cristo. Ironicamente , a decoração deste mosteiro ,
O
O impregnada de simbologia templária , passou a ser conhecida como
o gótico manuelino , trazendo assim o nome do monarca que o
O
desapropriou era favor da Ordem dos Jerônimos.
O
O Curiosamente , no seu romance "O pêndulo de Foucault" ,
o J. Eco (1989:171) refere-se a umbanda , que sabemos ser uma das
O
O manifestações religiosas que mais expande se nos centros - urbanos
O "uma
brasileiros inclusive dentre as classes média e alta , como
o
flor assaz tardia , nascida dos enxertos de rites indigenas na

rultura esótica européia , com uma mistica que chamaria de


O
templ ária ... M. Desconhecemos por completo as razees que levou o
O
O .utor a imaginar tal frase contudo. em fur.ç ao das nossas
137

pesquisas , reconhecemos a sua procedência histórica , Ao passar

perante a estátua do indio cavaleiro de Cristo , Araribóia , no

centro de Niterói no dia 22 de novembro do corrente ano , dia que ,


conforme registramos , recebeu esse chefe indigena a posse

definitiva das terras do aldeamento de Sao Lourenço e atualraente

considerado como a data da fundação de Niterói , encontramos o seu


pedestal recoberto de flores , com inequívoca conota ção religiosa ,
e velas. Assim , concordando com Eco , acreditamos que , sob a égide

do poder religioso templário , o indigena ao cristianizar -se tenha


incorporado ao seu universo mistico o discurso cristão ,

3 incretisrao este que enriquecido com a religiosidade africana ,

-
expresso na umbanda pela figura do "preto velho" , tenha originado

as diversas manifestações urabandistas , onde as figuras do

"cabloco" e do "Indigena" estão sempre presente.


Acreditamos que não esteja desvincunlado de um
contexto maior o fato da religiosidade brasileira , extremamente
sincrética , ter se formado sob o poder institucional de uma Ordem

que tinha era seu histórico acusações de sincretismc religioso. R .

Vainfas ( 1989:290) credita a uma precaridade do aparelho de poder

no Brasil colonial o fato da Inquisição ter sido aqui

extremamente branda em suas açoes repressoras. Apesar de não


estarmos alicerçados era dados conclusivos , lembramos porém que a

instituição que detinha o maior poder da religiosidade nesta

eolOnia tinha pago já um alto preço nos tribunais eclesiásticos

dominicanos e que , provavelmente , este '’manto templ á rio" envolvia

ma
. maior benevolência nao só em relaçao a expressão da

sexualidade como a própria religiosidade.

Finalrnente poderíamos dizer que se a ação jesu ítica no


>
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4 RESUMO CRONOLÓGICO

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1
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o

150
o
ri -
500- Inicio da ocupaçã o do litoral brasileiros pelos indigenas
Tupiguaraní .
í
1099- O mosteiro beneditino de Sã o Jo ã o da cidade de Jerusal é m
-4 torna-se a sede de uma nova Ordem assistê ncialista
denominada Sã o Joã o de Jerusal é m , conhecida como a "Ordem
4 do Hospital”
4
1118- Liderados por Hugo de Payens , nove cavaleiros francos
4 fundam a Ordem de cavalaria "Soldados Pobres de Jesus
I Cristo", com finalidade de proteger os peregrinos nos
4 caminhos palestinos. Instalam -se nas ruinas do Monte do
Templo , sendo ent ã o conhecidos como "Cavaleiros do Templo"
4 ou Templários. Fazem , os templ á rios , os votos religiosos de
4 castidade , pobreza e obediência .
A ) 1125- O rei Balduino de Jerusal é m reconhece essa nova Ordem de
4 cavalaria , concedendo o titulo de mestre do Templo a Hugo
de Payens

— 4 1126- A rainha Tereza de Portugal doa aos Templ á rios a vila de


4 Fonte Arcada de Penafiel
4 1128- No Concilio de Troyens e por interfer ê ncia de São Bernardo ,
I
a Igreja , reconhece a Ordem dos Templ á rios como uma Ordem
I monástica.
rs A rainha Tereza doa aos templ á rios o castelo de Soure e os
rs territ ó rios adjacentes.
n 1130- A Ordem Sã o Jo ã o Jerusal é m é reestruturada , deixando ce ser
o assistencialista transformando-se era Ordem militar , ccao a
o dos Templ á rios.

o 1139- A bula papaL "Omne Datum Optimum ” confirma a Orden dos


o Templ á rios , dando direito a incorpora çã o dos
patrim ó nio da Ordem .
butins ao
o
O 1149- Atrav és da bula "Milites Templis" os templá rios cbtem
o autonomia era rela çã o às autoridades episcopais. Passam a
ter suas pr ó prias igreja e sacerdotes e o direita de
recolher o dizimo eclesi ástica nas terras que fazem parte
de seu patrim ónio.
1?
í) 1190- O califa de Marrocos , a frente de um poderoso exercito
,
invade Portugal , sendo derrotados pelos templ á rios no cerco
ao castelo de Tomar , sede dos templ á rios em Portugal.

1191 - A Ordem moná stica assistencialista Santa Maria dos Alem


ã es
é també m reestrutura como uma Ordem militar passando a ser
'D conhecida como "Ordem dos Cavaleiros Teut ô nicos".

1232- Sancho II doa a Ordem dos Hospital á rios a vila de Irato ,


que passa a ser a sede do poder hospi tal á rios era Portugal .

T* 1273- O Papa Greg ó rio X tenta tundir 33 Orden3 don Templarics e


O
j
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151
OV
— V

t Hospital á rios.

1291 - Queda de Sã o Joã o de Acre. Os templ á rios mudam a sede da


Ordem para Chipre , os hospital á rios para ilha de Rodes e os
teut ò nicos para Marieburg , na Europa Oriental.

1303- 03 templ á rios retiram -se da ilha de Ruad na costa palestina


sendo estas as ú ltimas tropas crist ãs que ainda permaneciam
na regi ã o.

1306- O Papa Clemente V convoca à Franç a DS Gr ã o-Mestres


templ á rios e hospital á rios para discutirem a fus ã o das duas
Ordens. O Gr ã o- Mestre hospital á rio n ã o atende ao chamado
^ J papal , alegando ser necess á rio sua presenç a em Rodes.
Jacques de Molay , Gr ã o- Mestre templ á rio , deixa a sede da
» Ordem era Chipre e vai para Franç a .
i
'
ê

1307- Felipe, o Belo , ordena a pris ã o de todos os templ á rios na


i Franç a , inclusive do Gr ã o- Mestre da Ordem , Jacques de Molay

1308- O papa Clemente V , atrav és da bula papal ’’Pastoralis


Praeminentiae" autoriza a abertura de um processo
inquisit ório , a cargo dos dominicancs , contra os
templ á rios.
H*
1312- Atrav és da bula Vox in Excelso , o Papa Clemente V extingui
a Ordem dos Templ á rios , devendo todo o patrim ónio da Ordem
ser transferido para a Ordem dos Hospital á rios .

ni 1314- Jacques de Molay é condenado à uorte na fogueira , sendo


/TN executado em frente a catedral de Notre Dane. Pouco depois
Clemente V e Felipe , o Belo també m morrera.

1319- O Papa Jo ã o XXII , sucessor de Clemente V , atrav és da bula


rfppi
"Ad ea ex quibus” , cria a Ordem de Cristo , transferindo
para esta nova Ordem todo o patrim ó nio templ á rio em
Portugal .

1418- Atrav és da bula "Rex Regum ", o Papa MartirJio V ordena a


O prega çã o da Cruzada em Portugal .

1420- Atrav és da bula "In apost ó lica dignititis specula ” , o Papa


Martinho V concede a administra çã o da Orden de Cristo ao
Th Infante D. Henrique.

1427- Descobrimento dos A ç ores , por Diogo de Sil . es.

1434- Gil Eanes passa o Cabo Bojador

1444- Os navegadores portugueses avan ç ara at é Cabe Verde.

1456 - Atendendo solicita çã o do Papa Calisto III as tropas da


Ordem de Cristo lutara contra Maom é II que sitiava
n Belgrado . Atrav és da bula "Inter Coeters ’ . a Order de
rrv Cristo recebe o direito do Padroado Religicsa das terras a
rn
~V.
•'

m
152
I

r\.
OS serem descobertas , do cabo Bojador às í ndia3.

1460 - Morte do Infante D. Henrique


m
n \
1471- Tomada de Arzila e ocupaçao de Tânger , Descobrimento das
ilhas São Tomé e Principe.

'"'N
1475- Fernado Gomes atinge o Golfo da Guiné

1482- Descobrimento do Congo por Diogo Cao

1488- Bartolomeu Dias dobra o Cabo das Tormentas.

1491- Nascimento de Inácio de Loyola

J
1492 - Chegada de Cristóv ão Colombo à América .

« 1494- Tratado de Tordesilhas.

1496- O Papa Alexandre VI transforma o voto de castidade dos


monges da Ordem de Cristo em fidelidade conjugal

1498- Chegada de Vasco da Gama à Calecute

1500- Descoberta do Brasil

1502- Vasco da Gama parte novamente para às í ndias.

1503- Partida de Afonso de Albuquerque para à í ndias.

O 1505 - da
O Papa Júlio II aboliu
Ordem de Cristo.
o voto de pobreza para os cavaleiros

1506- A. de Albuerque conquista a ilha de Socotorá , em posição


Ol estratégica na entrada do mar Vermelho.
ni 1507 - PAfonso de Albuquerque ocupa Orrauz , à entrada do Golfo
r\ érsico.

1510- A. de Albuquerque conquista Goa , fazendo dela a sua capital

A 1511 - Conquista de Málaca por Afonso de Albuquerque

O 1513- D. Manuel retira da Ordem de Cristo o mcsteiro de Santa


-
Maria de Belém , entregando o à Ordem dos Jerõnimos.
O 1514- Embaixada ao Papa Leão X , tendo como consequência a
instituição do Padroado Real nas terras descobertas a
partir de 1512.

O*
1515 - D. Manuel destitui Afonso de Albuquerque do cargo de
Governador das í ndias , nomeando Lopo Scares , seu maior
rival . Morte de Afonso de Albuquerque.

n -
.519 Fernao de Magalhaea parte da Espanha para a conquista da3
O
'Thl

rr> 1 S3

_1
Molucas.

'TV 1520- Solimao II inicia a invasao à Europa.


ON
1521 - Morte de D. Manuel , assume o trono D. Joao III .
Inácio de Loyola é ferido no cerco de Pamplona

1522- Atrav és da bula "Eximiae devotionis" é concedido o cargo de


Governador e Administrador da Ordem de Cristo a D. Joã o III
Solim ã o II expulsa os hospital á rios da estrat égica ilha de
Rodes

1524- ú ltima Viagem de Vasco da Gama à í ndia .


n\ 1530- Os hospital á rios se estabelecem na ilha de Malta
mi
-i
^"N
"
1532- É institu í da a Mesa de Consciê ncia
especifico das Ordens de Cavalaria.
e Ordem , tribunal

1534- Instiuido por D. João III , era nome da Ordem de Cristo , o


sistema das Capitanias Heredit á rias no Brasil.
In á cio de Loyola faz o "voto de Monserrat"

1540- Papa Paulo III publica a bula "Regimi railitantis Ecclesiae"


instituindo a Companhia de Jesus
% 1544- N ó brega ingressa na Companhia de Jesus.

1548- Elaborado o Regimento do Governo-Geral no Brasil ,


a 1549- Tom é de Sousa chega ao Brasil , acompanhado dos primeiros
jesuí tas , inclusive Nó brega
O
ui 1550- O Papa J ú io III d á o T í tulo de Gr ã o Mestre da Ordem de
Cristo a D. Joã o III.
<D Tem in í cio da obras do claustro de D. Jo ã o III no mosteiro
de Tomar .

n 1553- O Brasil torna -se uma Prov í ncia


nomeado como o primero Provincial.
Jesu í tica . N ó brega é
o Chegada de Anchieta ao Brasil
n
1554- Anchieta pacifica os Taraoio de Sã o Vicente

O 1555- Villegaignon invade a ba í a da Guanabara

1557- Chega ao Brasil M é ra de Sá , 3 Q Governador Geral

1560- Partida de Villegaignon para Franç a , onde negocia o apoio


jesu í tico. M é m de Sá ataca os franceses na Guanabara .

rh 1563- Chegada de Est á cio de Sá à Salvador

1565 - Acompanhado de Ararib ó ia , " principal" temirain ó do


aldeamento jesu í tico de Sã o Jo ã o , Espirito Santo , E3 t ácio
de Sá ocupa a entrada da ba í a da Guanabara , fundando a í a
rn

154

cidade de Sã o Sebastiao do Rio de Janeira.

1566- M é m de Sá recebe o t í tulo de Frei e Est ácio de Sá de Novi ç o


da Ordem de Cristo.
qv 1567- M é m de Sá chega a Guanabara e expulsa definitivamente os

:í franceses .
Transfer ê ncia da cidade do Rio de Janeiro para o Morro
Castelo
do

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1568- Araribó ia recebe a "Carta de Sesmaria" das terras do
aldeamento de Sã o Lourenç o.
Pe Gonç alo de Oliveira , capel ã o da expediçã o , é o 19
apóstolo de Sã o Lourenç o
OV 1570- Morte de N ó brega. Gonç alo de Oliveira assume o cargo de
>
Superior do Col égio do Rio de Janeiro.
O Gov. Salvador Corrê a de Sá doa a 5 "principais" de Sã o
Lourenç o - Vasco Fernades , Antonio Salema , Salvador Correa ,
O Antonio de Franca e Fern ã o Alvares- as terras formadoras do
aldeamento de Sã o Barnabé

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1571- Solimao é derrotado na batalha naval de Lepanto

1573- Araribó ia recebe o "auto de Posse" das terras de Sã o


Lourenç o. Neste documento ele é identificado como Cavaleiro
da Ordem de Cristo

1587- Data prov á vel da inauguraç ao da atual Igreja de Sã o


O Lourenç o dos indios. Encena çã o do "Auto de Sã o Lourenç o".

1589- Morte de Araribóia


''T

1597- Morte de Anchieta


o
1759- Expuls ã o dos jesuitas dos dom í nios da Coroa portuguesa .
ri
n 1798- Napoleao expulsa os hospital á rios de Malta .
n 1822- Indeped ê ncia do Brasil

1866- O aldeamento de Sã o Lourenç o é oficialerante extinto.

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^1 - 1. Mapa de distribui çã o da familias linguisticas da Am é rica


meridional , segundo J. Greensberg . In CERULLI , Ernesta . Opus
cit . ( 1972 ) p. 27

2. A "gonfalon baucent", o estandarte templ á rio.


3. Mapa das correntes marinhas superficiais . Podemos observar
que a Corrente de Benguela impedia que as naus atingissem o
A Cabo da Boa Esperanç a contornando continete africano.
4 t
Observar també m a que Corrente Equatorial Sul impedia a
navega çã o costeira do Estado de Maranh ã o e Gr ã o-Far á ao
Estado do Brasil . In CORTEZ Ã O , Jaime. Opus cit. ( 1956 ) p.13.
A
4. Redu çã o de Sã o Jo ã o Batista , gravura era cobre de 1755. Notar
4 a estrutura tect ônica e axial , apoiada na avenida central de
4 eixo coincidente cora o templo. In SEPP , Anton S. J . In Opus
cit. ( 1972), gravura nQ 50.
>
5. Desenho do aldeamento do Espirito Santo , atual Abrantes , Est.
da Bahia. Notar a disposi çã o irregular das casa que circundam
o n ú cleo situado no topo de uraa colina . In REIS FILHO , Nestor
Goulart . Opus cit . ( 1968 ) figura nQ 23. O original encontra-
se no Arquivo Ultramarino , de Lisboa .
rk O. Planta do aldeamento de Sã o Pedro , atual Sã o Pedro da Aldeia ,
O Est. do Rio de Janeiro. Notar igualraente a disposi çã o
irregular das casas que circundam o n ú cleo. C ó pia feita por
Luiz Fernando Borges a partir de original existente na
o raapoteca do Arquivo do Hist ó rico do Ex ército . nQ 051 M -8 , 6-
O 1 , F6 - 5 .

O 7. Estabelecimentos jesuiticos do Est . do Rio ie Janeiros . In


O LEITE , serafim S. J . Opus cit . ( 1945 ) , p. 72. t .6.

3. Planta topogr á fica da cidade de Niter ó i datais de 1333 , ou


O seja , quando ainda da exist ê ncia do alieamento de Sã o
Louren ç o. C ó pia fotogr á fica de original existente na napoteca
O do Arquivo Hist ó rico do Ex ército .

O 9. Detalhe ampliado da planta anteriormente referida , onde


podemos visualizar o n ú cleo do aldeamento de Sã o Louren ç o.
rx
rx 10. Reconstitui çã o feita por R . Brand ã o e Cl á udia Lannes da á rea
rrx original do aldeamento de Sã o
" Autos de Demarca çã o".
Louren ç o , a partir dos

O 11 . Frontespicio da igreja do Santo In á cio do antigo Col é gio do


Rio de Janeiro . In COSTA , L ú cio. Opus cit . ( 1941 ) , figura 2
O
rx 12. Planta da igreja de Sao Louren ç o dos í ndios .
O
13. Ret á bulo da Igreja de Sao Lourenç o dos meios. Ir. COSTA ,
L ú cio . Opus cit . ( 1941 ) , figura 6.
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