Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PEDAGOGIA - AULA 8
EDUCAÇÃO NÃO
FORMAL II
ABERTURA
Olá!
Nesta Unidade de Aprendizagem veremos quais são as habilidades ofertadas pelo
pedagogo em espaços de educação não formal e como pode ser construída a sua
atuação. Além disso, vamos discutir aspectos de sua formação e capacitação para tais
formas de atuação profissional.
• Preparar o pedagogo para trabalhar com a educação não formal, com técnicas e
métodos diferentes da educação formal;
BONS ESTUDOS!
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
REFERENCIAL TEÓRICO
BOA LEITURA!
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Resumo Abstract
O trabalho apresenta um estudo so- Non-formal education,
bre a educação não-formal e seu pa-
pel no processo educativo mais geral. civil society participation
Considera-se a educação não-formal and councils structures in
como uma área de conhecimento ain-
da em construção. Estuda-se a possi- the schools
bilidade deste processo em conselhos The paper presents a study about the
de escolas e o aprendizado que resul- non-formal education and its role in
ta da participação da so- the wide educative
ciedade civil nestes con- process. It considers
selhos. O trabalho se di- Maria da Glória Gohn the non-formal
vide em duas partes: a Pós-Doutorado em Sociologia, education as an area
primeira tem caráter teó- New School of University, New York of knowledge still in
rico e discute a categoria Professora Titular da construction. It studies
educação não-formal em UNINOVE e da UNICAMP the possibility of this
si, seu campo e atributos. Pesquisadora I do CNPq educational process in
Por meio da análise com- mgohn@uol.com.br the councils of schools
parativa, busca-se dife- and the learning that
renciá-la da educação results from the civil
formal e da educação informal. A se- society participation in these councils.
gunda investiga a categoria da edu- The paper has two parts: the first has a
cação não - formal em conselhos es- theoretical character and discusses the
colares, e em movimentos sociais que non-formal category, distinguishing it
atuam na área da educação. from the formal and informal education
Palavras-chave: Educação não-for- categories. The second one
mal. Educação formal. Educação in- investigates the non-formal category in
formal. Conselhos participativos. Par- the councils of the schools and in the
ticipação da sociedade civil. Conse- social movements acting in the
lhos de escolas. educational area.
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Educação não formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas 29
Na educação formal estes espaços são Na educação formal, entre outros ob-
os do território das escolas, são instituições jetivos destacam-se os relativos ao ensino
regulamentadas por lei, certificadoras, or- e aprendizagem de conteúdos historica-
ganizadas segundo diretrizes nacionais. Na mente sistematizados, normatizados por leis,
educação não-formal, os espaços educati- dentre os quais destacam-se o de formar o
vos localizam-se em territórios que acom- indivíduo como um cidadão ativo, desen-
panham as trajetórias de vida dos grupos e volver habilidades e competências várias,
indivíduos, fora das escolas, em locais in- desenvolver a criatividade, percepção,
formais, locais onde há processos interati- motricidade etc. A educação informal soci-
vos intencionais ( a questão da intenciona- aliza os indivíduos, desenvolve hábitos, ati-
lidade é um elemento importante de dife- tudes, comportamentos, modos de pensar
renciação). Já a educação informal tem seus e de se expressar no uso da linguagem,
espaços educativos demarcados por refe- segundo valores e crenças de grupos que
rências de nacionalidade, localidade, ida- se freqüenta ou que pertence por herança,
de, sexo, religião, etnia etc. A casa onde se desde o nascimento Trata-se do processo
mora, a rua, o bairro, o condomínio, o clu- de socialização dos indivíduos. A educa-
be que se freqüenta, a igreja ou o local de ção não- formal capacita os indivíduos a
culto a que se vincula sua crença religiosa, se tornarem cidadãos do mundo, no mun-
o local onde se nasceu, etc. do. Sua finalidade é abrir janelas de co-
nhecimento sobre o mundo que circunda
“Como se educa? Em que situação, em os indivíduos e suas relações sociais. Seus
qual contexto?” objetivos não são dados a priori, eles se
constróem no processo interativo, gerando
A educação formal pressupõe ambien- um processo educativo.Um modo de edu-
tes normatizados, com regras e padrões com- car surge como resultado do processo vol-
portamentais definidos previamente. A não tado para os interesses e as necessidades
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Educação não formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas 31
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
conteúdos não são dados a priori. São cons- por meio deles podemos conhecer o projeto
truídos no processo. O método passa pela socioeducativo do grupo, a visão de mundo
sistematização dos modos de agir e de pen- que estão construindo, os valores defendidos
sar o mundo que circunda as pessoas. Pe- e os que são rejeitados. Qual o projeto polí-
netra-se portanto no campo do simbólico, tico-cultural do grupo, em suma.
das orientações e representações que con-
ferem sentido e significado às ações huma- Para finalizar a primeira parte deste tex-
nas. Supõe a existência da motivação das to destacamos que também diferenciamos
pessoas que participam. Ela não se subor- a educação não- formal de outras propos-
dina às estruturas burocráticas. É dinâmi- tas de educação, apresentadas como edu-
ca. Visa à formação integral dos indivídu- cação social, no século XX, porque a mai-
os. Neste sentido tem um caráter humanis- oria daquelas propostas ao se dirigirem para
ta. Ambiente não formal e mensagens vei- os excluídos objetivam, na maior parte das
culadas “falam ou fazem chamamentos” às vezes, apenas inseri-los no mercado de tra-
pessoas e aos coletivos, e as motivam. Mas balho. Entendemos a educação não - for-
como há intencionalidades nos processos mal como aquela voltada para o ser hu-
e espaços da educação não-formal, há mano como um todo, cidadão do mundo,
caminhos, percursos, metas, objetivos es- homens e mulheres. Em hipótese alguma
tratégicos que podem se alterar constante- ela substitui ou compete com a Educação
mente. Há metodologias, em suma, que Formal, escolar. Poderá ajudar na comple-
precisam ser desenvolvidas, codificadas, mentação dessa última, via programações
ainda que com alto grau de provisorieda- específicas, articulando escola e comuni-
de pois o dinamismo, a mudança, o movi- dade educativa localizada no território de
mento da realidade segundo o desenrolar entorno da escola. A educação não- for-
dos acontecimentos, são as marcas que sin- mal tem alguns de seus objetivos próximos
gularizam a educação não-formal. da educação formal, como a formação de
um cidadão pleno, mas ela tem também a
Qualquer que seja o caminho metodoló- possibilidade de desenvolver alguns objeti-
gico construído ou reconstruído, é de suma vos que lhes são específicos, via a forma e
importância atentar para o papel dos agen- espaços onde se desenvolvem suas práti-
tes mediadores no processo: os educadores, cas, a exemplo de um conselho ou a parti-
os mediadores, assessores, facilitadores, mo- cipação em uma luta social, contra as dis-
nitores, referências, apoios ou qualquer ou- criminações, por exemplo, a favor das di-
tra denominação que se dê para os indivídu- ferenças culturais etc. Resumidamente po-
os que trabalham com grupos organizados demos enumerar os objetivos da educação
ou não. Eles são fundamentais na marcação não-formal como sendo:
de referenciais no ato de aprendizagem, eles a) Educação para cidadania;
carregam visões de mundo, projetos societá- b) Educação para justiça social;
rios, ideologias, propostas, conhecimentos c) Educação para direitos (humanos,
acumulados etc. Eles se confrontarão com os sociais, políticos, culturais, etc.);
outros participantes do processo educativo, d) Educação para liberdade;
estabelecerão diálogos, conflitos, ações soli- e) Educação para igualdade;
dárias etc. Eles se destacam no conjunto e f) Educação para democracia;
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Educação não formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas 33
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Educação não formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas 35
(passagem de ano sem exames), deslocamen- pela educação envolvem a luta por direitos
to de alunos de uma mesma família para dife- e são parte da construção da cidadania.
rentes escolas, atrasos nos repasses de verbas Movimentos sociais pela educação abran-
para merendas escolares, denúncias de frau- gem questões tanto de conteúdo escolar
des no uso dos novos fundos de apoio à edu- quanto de gênero, etnia, nacionalidade,
cação (especialmente o FUNDEF), entre ou- religiões, portadores de necessidades espe-
tras, foram pautas da agenda do movimento ciais, meio ambiente, qualidade de vida,
na área da educação. Registre-se ainda que a paz, direitos humanos, direitos culturais etc.
crise econômica e o desemprego obrigaram Esses movimentos são fontes e agências de
centenas de famílias das camadas médias a produção de saberes. O tema dos direitos
procurar vagas nas escolas públicas. Além de é fundamental porque ele dá universalida-
aumentar a demanda, essas famílias estavam de às questões sociais, aos problemas eco-
acostumadas a acompanhar mais o cotidiano nômicos e às políticas públicas, atribuin-
das escolas de seus filhos, desenvolvendo es- do-lhes caráter emancipatório. É a partir
sas práticas na escola pública, antes mais fe- dos direitos que fazemos o resgate da cul-
chada à participação dos pais. Com isso, em tura de um povo e de uma nação, especi-
muitos bairros, as escolas passaram a desem- almente em tempos neoliberais que des-
penhar o papel de centros comunitários, pois tróem ou massificam as culturas locais, re-
a falta de verbas e a busca de solução para gionais ou nacionais. Partir da ótica dos
novos problemas como a segurança, a vio- direitos de um povo ou agrupamento soci-
lência entre os jovens e o universo das drogas al é adotar um princípio ético, moral, ba-
levou-as à busca de parcerias, no bairro ou seado nas necessidades e experiência acu-
na região, com outros organismos e associa- mulada historicamente dos seres humanos
ções organizadas. Assim, as escolas passa- e não nas necessidades do mercado. A óti-
ram a ser, além de espaços de formação e ca dos direitos possibilita-nos a construção
aprendizagem da educação formal, centros de de uma agenda de investigação que gera
desenvolvimento da educação não-formal, sinergias e não compaixão, que resultam
agentes de construção de territórios civilizató- em políticas emancipadoras e não compen-
rios, articuladoras de ações que retomem o satórias. Fora da ótica da universalidade
sentido da civilidade humana. No entanto, dos direitos caímos nas políticas focaliza-
essa influência não advém apenas de uma das, meras justificativas para políticas que
tendência da escola em direção ao bairro: no promovem uma modernização conservado-
interior da escola também existem novos es- ra. A ótica dos direitos como ponto de par-
paços de participação, tais como os distintos tida poderá nos fazer entender as mudan-
conselhos tratados acima. ças sociais em curso.
Tendo em vista que um dos principais Listamos, a seguir, alguns dos princi-
sujeitos da sociedade civil organizada são pais eixos das demandas pela educação
os movimentos sociais, é importante regis- nos movimentos sociais envolvendo as es-
trar que os movimentos pela educação têm colas. A cada luta corresponde um momento
caráter histórico, são processuais e ocor- do processo de aprendizagem, típico da
rem, portanto, dentro e fora de escolas e educação não-formal, a saber:
em outros espaços institucionais. As lutas • Lutas pelo acesso;
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Educação não formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas 37
ção enquanto política educacional ao nível permanente, uma atividade de ação e refle-
das instâncias locais, sem esquecer que elas xão. Não basta um programa, um plano, ou
são parte de um todo que extrapola as fron- mais um conselho. É preciso reconhecer a exis-
teiras nacionais? Como gerar novas políticas tência e a importância da educação não-for-
na gestão dos fundos públicos? mal no processo de construção de uma socie-
dade sem injustiças, democrática..
São desafios e tarefas gigantescas. Não
dá para contar apenas com heroísmos de al- Construir cidadãos éticos, ativos, parti-
guns gestores públicos bem intencionados ou cipativos, com responsabilidade diante do
de poucas lideranças da sociedade civil, pois outro e preocupados com o universal e não
construir sentido e significados novos na ges- com particularismos, é retomar as utopias e
tão da escola é uma prática que tem que se priorizar a mobilização e a participação da
pautar por um outro olhar em relação ao pa- comunidade educativa na construção de
pel da escola num dado território. Não é mais novas agendas. Essas agendas devem con-
possível permanecer no conformismo diante templar projetos emancipatórios que tenham
de espaços dominados por antigos métodos como prioridade a mudança social, qualifi-
clientelistas, pela ordem tradicional. É preciso quem seu sentido e significado, pensem al-
criatividade e ousadia porque as novidades ternativas para um novo modelo econômi-
só ganham força quando passam a ter hege- co não excludente que contemple valores de
monia em certos coletivos organizados mais uma sociedade em que o ser humano é cen-
amplos. Por isso, é preciso voltar os olhos para tro das atenções e não o lucro, o mercado,
a organização da sociedade civil, para os pro- o status político e social, o poder em suma.
cessos de educação não-formal que nela se A educação não - formal é um campo vali-
desenvolvem, e para o papel que a escola oso na construção daquelas agendas, e para
pode ter como campo de formação de um dar sentido e significado às próprias lutas
novo modelo civilizatório. Precisamos de uma no campo da educação visando à transfor-
nova educação que forme o cidadão para atuar mação da realidade social.
nos dias de hoje, e transforme culturas políti-
cas arcaicas, arraigadas, em culturas políticas Concluímos este texto com uma proposta
transformadoras e emancipatórias. Isso não se de caráter sociopolítico: a de transformar
faz apenas em aulas e cursos de formação as escolas em centro de referências civili-
tradicionais, formulados no gabinete de algum zatórias nos bairros onde se localizam. Para
burocrata, e sim a partir da prática da gestão isso propomos a articulação dos processos
compartilhada escola/comunidade educativa, de participação da sociedade civil organi-
no exercício das tarefas de que a conjuntura zada com as escolas. Propomos, em suma,
de uma dada escola, numa determinada co- a articulação da educação formal com a
munidade territorial, necessite. Participar dos não-formal para dar vida e viabilizar mu-
conselhos e colegiados das escolas é uma ur- danças significativas na educação e na
gência e uma necessidade imperiosa, mas exige sociedade como um todo.
uma preparação contínua, um aprendizado
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
Referências
BAUMAN, Z. Community. Cambridge: Polity, 2001.
______. Educação não-formal e cultura política. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
______. Movimentos e lutas sociais na História do Brasil. São Paulo: Loyola, 1995.
______. Teoria dos movimentos sociais. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2004.
HONNETH, A. Luta por reconhecimento:a gramática moral dos conflitos sociais. São
Paulo: Ed. 34, 2003.
Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
PORTFÓLIO
Sabe-se que há vários espaços de educação não formal em que o pedagogo pode
atuar, diferentes das escolas.
Há alguns espaços que, por não haver uma regulamentação acerca do tipo de formação que
o ocupante da vaga deve ter, são ofertados a outros profissionais, principalmente com
formação em cursos de Ciências Humanas.
No caso de empresas, um setor que, normalmente, oferta vagas para pedagogos é o setor
de Recursos Humanos.
OBS: Para redigir sua resposta, use uma linguagem acadêmica. Faça um texto com no mínimo
20 linhas e máximo 35 linhas. Lembre-se de não escrever em primeira pessoa do singular, não
usar gírias, usar as normas da ABNT: texto com fonte tamanho 12, fonte arial ou times,
espaçamento 1,5 entre linhas, texto justificado.
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
PESQUISA
AUTO ESTUDO.
Aproveite o conhecimento!
Fora da escola