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Evangelho dos Hebreus

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O Evangelho segundo os Hebreus é um evangelho perdido, preservado apenas em


fragmentos dos escritos dos Pais da Igreja.1 Os estudiosos acreditam que ele foi
composto provavelmente no século II, no Egito. Já outro grupo de pesquisadores inclui
a datação desse evangelho entre os anos 65-100.2 Originalmente, foi escrito em grego3 ,
embora outros historiadores e teólogos tenham sugerido que o idioma utilizado tenha
sido o hebraico ou o aramaico.4 5 .

Esta obra pode ser a mesma que as chamadas Evangelho dos Ebionitas e Evangelho dos
Nazarenos.

Índice
 1 Contexto
 2 Composição
o 2.1 Tradição Patrística
o 2.2 Estudos Modernos
 3 Destinatário
o 3.1 Idioma
 4 Gnosticismo
 5 Ver também
 6 Referências

Contexto
Ver artigo principal: Antilegomena

Tiago, o Justo, o primo de Jesus de Nazaré, como o líder da seita judaica que mais tarde
se tornaria o cristianismo. O grupo inicial de cristãos estava localizados em Jerusalém,
proclamando que Jesus era o Messias prometido e o Filho de Deus. Esses primeiros
judeus cristãos foram chamados de nazarenos. O termo Nazareno foi aplicado pela
primeira vez para Jesus de Nazaré. Após sua morte, esse termo foi usado para identificar
a seita judaica que acreditava que Jesus era o Messias.

Os especialistas sugerem que Mateus pertencia a esse grupo. Essa afirmação é baseada
no seu Evangelho, que tenta provar que Jesus era o Cristo prometido na literatura
judaica. Hoje esse Evangelho está presente no Novo Testamento e é denominado
Evangelho de Mateus. Nele, há um conjunto de relatos sobre a vida e os ensinamentos
de Jesus Cristo. Mateus foi um coletor de impostos e seguidor de Jesus.

Um dos pais da Igreja, Pápias, afirmou que Mateus compôs “as declarações (ta logia)
em um estilo hebraico, e cada um registrou como foi capaz6 .
Orígenes escreveu: "O primeiro a ser escrito foi aquele segundo o coletor de impostos
que posteriormente tornou-se apóstolo de Jesus. Mateus o publicou para os crentes
oriundos do judaísmo, tendo ele sido composto em caracteres hebraicos”.

Eusébio também faz referência ao texto, explicando que os Apóstolos "escreveram


forçados pela necessidade. Mateus, de fato, pregou primeiro aos hebreus. Como devia
também partir para anunciar as palavras a outros, deixou por escrito na língua pátria o
evangelho, suprindo a falta de sua presença por meio dos escritos junto daqueles dos
quais se apartava”7 .

Ireneu nos dá uma visão mais ampla da data e das circunstâncias em que o Evangelho
de Mateus foi escrito, explicando que “Mateus, introduziu um evangelho escrito entre
os judeus ao estilo deles, quando Pedro e Paulo estavam pregando o Evangelho em
Roma e fundando a igreja nessa localidade”.

Jerônimo escreveu que Mateus, o cobrador de impostos e, posteriormente, um apóstolo,


compôs seu evangelho perto de Jerusalém para os cristãos hebreus. Em seguida, esse
evangelho foi traduzido para o grego, mas a cópia grega foi perdida. O original hebraico
foi preservado na Biblioteca de Cesareia, que Pânfilo de Cesareia diligentemente reunia.
Os Nazarenos transcreveram uma cópia para Jerônimo, que ele usou em seu trabalho.
Jerônimo ainda acrescenta que o evangelho de Mateus foi denominado o Evangelho dos
Hebreus ou às vezes o Evangelho dos Apóstolos, e foi usado pelas comunidade dos
Nazarenos. Este Evangelho dos hebreus é muito diferente do Evangelho de Mateus que
se encontra na Bíblia8 .

Composição
Tradição Patrística

Houve uma forte tradição na Igreja primitiva, atestada por Pápias, Ireneu, Orígenes,
Eusébio, Epifânio e Jerônimo, que afirmavam que Mateus tinha escrito o Evangelho na
língua hebraica. Ireneu, Epifânio e Jerônimo relacionaram o Evangelho dos Hebreus
com o evangelho de Mateus em hebraico.

Na época de Jerônimo, muitos comentaristas acreditam que o Evangelho dos hebreus


era o original do Evangelho de Mateus. Epifânio escreveu que: "Eles [os cristãos
judeus] também aceitaram o evangelho de Mateus e, como os seguidores de Cerinthus
and Merinthus, usavam apenas esse. Chamam-lhe o Evangelho dos Hebreus, pois na
verdade, Mateus foi o único que no Novo Pacto expôs e declarou o evangelho em
hebraico, utilizando o alfabeto hebraico".

Papias, bispo de Hierápolis na Ásia Menor durante a primeira metade do século II,
escreveu que Mateus compôs a logia em língua hebraica, e cada um interpretou-as como
podia. Ele também observa que a história da mulher pecadora estava localizada
originalmente no Evangelho dos Hebreus. Depois do comentário de Papias, só ouvimos
algo acerca do autor do Evangelho com Ireneu em 185, que observou que Mateus havia
escrito o Evangelho dos hebreus. Pantaenus, Orígenes e outros Pais da Igreja também
acreditavam que Mateus escreveu o Evangelho dos hebreus. Além disso, ninguém da
tradição patrística afirmou que Mateus escreveu o Evangelho grego encontrado
atualmente na Bíblia.
Tradicionalmente, o Cristianismo ortodoxo acredita que o Evangelho de Mateus foi
escrito por Mateus, o coletor de impostos. Existem várias controvérsias sobre essa visão
dentro da área acadêmica. Para uma boa parte dos estudiosos do Novo Testamento,
Mateus usou o Evangelho de Marcos e uma fonte comum, que também é encontrada no
Evangelho de Lucas conhecida como Q. Esta solução é conhecida como a hipotese das
duas fontes. Assim, é unânime entre os pesquisadores que o Evangelho de Mateus foi
composto em grego em um momento posterior ao Evangelho de Marcos, e não em
hebraico como Papias sugeriu.

BH Streeter ainda argumentou que uma terceira fonte, conhecido como M, e também
hipotética, está por trás do material em Mateus que não tem paralelo nem com Marcos
nem com Lucas. Até o final do século XX, havia vários desafios e refinamentos da
hipótese de Streeter. Em 1953, Parker colocou uma primeira versão de Mateus
(aramaico M) como uma fonte primária. Os Pais da Igreja identificavam essa fonte
como o Evangelho dos Hebreus.

Estudos Modernos

Os estudiosos concordam que há uma ligação entre o Evangelho dos Hebreus e O


Evangelho de Mateus. Apesar de, como Hans-Josef Klauck escreve, "o Evangelho dos
Hebreus não deve ser equiparado a uma 'Pré-Mateus'", estudos da evidência externa
relacionadas a esse Evangelho mostraram que, entre os Nazarenos e os Ebionitas, existia
um evangelho comumente chamado de Evangelho dos Hebreus. Ele foi escrito em
aramaico com caracteres hebraicos. Sua autoria foi atribuída a São Mateus. Com efeito,
enquanto o Evangelho dos Hebreus estava sendo distribuído e lido, os Pais da Igreja se
referiam a ele sempre com respeito, muitas vezes com reverência. Eles aceitaram esse
evangelho como sendo um trabalho de Mateus.

Embora o consenso acadêmico ainda mantenha a primazia de Marcos, ou seja, o


Evangelho de Marcos como a primeira fonte, alguns estudiosos modernos acreditam
agora que o Evangelho dos Hebreus era a segunda fonte usada no Evangelho de Lucas,
ajudando a formar a base para a tradição sinótica. Eles apontam que, na primeira seção
do De Viris Illustribus (Jerônimo), encontramos o Evangelho de Marcos: ele foi o
primeiro evangelho a ser escrito, servindo de base para os evangelhos mais tarde. Na
seqüência, provavelmente foi composto à fonte Q. O documento Q seria uma coleção de
ditos de Jesus Cristo (Logia), que circulou na igreja primitiva concomitantemente ao
Evangelho de Marcos. Entretanto, esse documento Q deveria estar no topo da lista de
Jerônimo, mas não é mencionado em nenhum lugar da sua obra. Pelo contrário, o
primeiro documento não é Q, mas o Evangelho dos Hebreus.

Apesar disso, o consenso acadêmico continua majoritariamente a favor da primazia de


Marcos; e este consenso não foi seriamente contestado por especulações em torno das
origens do Evangelho Hebraico. A existência do documento Q, e não do Evangelho dos
Hebreus para resolver o problema sinótico, é altamente conjectural. No entanto, os
argumentos em favor de Q como fonte primária de Mateus e Lucas continuam atraentes.

Destinatário
Jerônimo identifica os leitores deste evangelho como judeus conservadores e
observantes das práticas judaicas, distintos dos outros judeus que eram helenizados ou
que não eram tão rígidos na observância dos costumes; e também para quem a
Septuaginta Grega foi traduzida do hebraico. Foi amplamente utilizado pelos seguidores
de Hegésipo, Merinto e Cerinto, bem como pelos ebionitas e os nazarenos.

De acordo com Jerônimo, São Panteno encontrou este evangelho na Índia, tendo sido
levado para lá por Bartolomeu. Panteno fundou a Escola Catequética de Alexandria e
foi responsável por grande parte da Biblioteca de Cesareia. Nessa biblioteca, foi
preservada uma cópia do Evangelho dos Hebreus. Os Nazarenos de Beréia deram uma
cópia a Jerônimo.

Idioma

Ireneu acreditava que Mateus tinha publicado o Evangelho dos Hebreus na sua própria
língua, enquanto Pedro e Paulo estavam pregando em Roma, estabelecendo assim as
bases da Igreja. Hegesippus afirmou que foi escrita em siríaco. Eusébio também
acreditava que o Evangelho foi escrito em hebraico como fez Nicephorus. Epifânio
escreveu que os ebionitas utilizavam apenas o Evangelho dos Hebreus, onde foi
utilizado o alfabeto hebraico.

Jerônimo entrou em mais detalhes, confirmando que o Evangelho dos Hebreus foi
escrito em hebraico. Ele explicou que o Evangelho dos Hebreus foi escrito no idioma
caldeu e sírio, mas em estilo hebraico. Esse Evangelho havia sido traduzido para o
grego, mas essa tradução tinha sido perdida. Assim, ele traduziu para o latim e grego. O
original hebraico foi preservado na biblioteca de Cesaréia, que Pânfilo recolheu.

Hoje quase todos os estudiosos concordam que o Evangelho dos Hebreus existiu em
hebraico, grego e latim. Edwards, Nicholson, Hilgenfeld, Handmann e outros acreditam
que ele foi escrito originalmente em hebraico e foi destinado para os leitores de
hebraico. Outros, como Ehrman, acreditam que esse Evangelho foi composto
provavelmente em grego.

Gnosticismo
Os Carpocracianos eram um seita gnóstica cujo único texto sagrado era o Evangelho
segundo os Hebreus.

Ver também
 Evangelho dos Ebionitas e Evangelho dos Nazarenos - obras que podem ser a
mesma que esta.

Referências
1. Ir para cima ↑ CAMERON, Ron Cameron. The Other Gospels: Non-canonical
Gospel Texts. Westminster: John Knox Press, 1982 págs. 83-86
2. Ir para cima ↑ GEISLER, Norman e NIX, William. A Extensão do Canôn do
Novo Testamento in Introdução Bíblica. São Paulo: Vida, 2006. pág. 119-122.
3. Ir para cima ↑ EHRMAN, Bart. Evangelhos Perdidos: As Batalhas pela
Escritura e os Cristianismos que não chegamos a conhecer. São Paulo: Editora
Record, 2008. pág. 15.
4. Ir para cima ↑ Jerônimo. Against Pelagius 3.2
5. Ir para cima ↑ SCHMIDT, Peter Lebrecht. Und es war geschrieben auf
Hebraisch, Griechisch, und Lateinisch: Hiernymus, das Hebraer-Evangelium,
und seine mitterlaterliche Rezeption. Filologia Mediolatina 5, 1998. págs. 49-93
6. Ir para cima ↑ Eusébio de Cesareia. História Eclesiástica: The Writings of
Papias (em inglês). [S.l.: s.n.]. Capítulo: 39. , vol. III.
7. Ir para cima ↑ Eusébio de Cesareia. História Eclesiástica: His Review of the
Canonical Scriptures. (em inglês). [S.l.: s.n.]. Capítulo: 25. , vol. VI.
8. Ir para cima ↑ "De Viris Illustribus - Matthew, surnamed Levi", em inglês.

EVANGELHO DOS HEBREUS, APÓCRIFOS, ESTUDO BÍBLICO, TEOLÓGICO.

A inquestionável antiga data deste Evangelho, o caráter da maioria das suas citações,
não muito numerosos, o respeito com que é uniformemente mencionado por
escritores primitivos, e a estima em que goza atualmente por estudiosos em geral, o
Evangelho segundo aos Hebreus, merece atenção especial. Além da tradição, ao qual
não é necessário atribuir uma importância muito grande, que representou o nosso
Senhor ordenando aos seus discípulos a permanecer por doze anos em Jerusalém, é
razoável supor que para os residentes das comunidades cristãs em Jerusalém e
Palestina, um Evangelho escrito em sua própria língua (aramaico ocidental) seria logo
uma necessidade, e esse Evangelho seria naturalmente usado por cristãos judeus da
Diáspora. Judeus-cristãos, por exemplo, estabelecidos-se em Alexandria, poderia usar
este evangelho, enquanto os cristãos nativos, como sugerido por Harnack, poderia
usar o Evangelho dos egípcios, até que, naturalmente, ambos foram substituídos pelos
quatro Evangelhos sancionados pela igreja. Não há prova, contudo, de que o
evangelho era mais cedo do que os Sinópticos, muito menos que estava entre os pré-
evangelhos de Lucas. Harnack, na verdade, por uma filiação de documentos para os
quais parece haver mandado, dificilmente seria suficiente, colocando-o mais cedo
entre 65 e 100 d.C. Salmon, por outro lado (Intro, Lect X) conclui que “o Evangelho do
Nazareno”, longe de ser a mãe, ou até mesmo a irmã de um dos nossos quatro
canônicos, só pode pretender ser uma neta ou sobrinha”. Jerome (AD 400) sabia da
existência desse evangelho e diz que ele traduziu em Grego e Latim as citações que são
encontradas em suas obras e as de Clemente de Alexandria. Sua relação com o
Evangelho de Mateus, que por consenso quase universal é declarado ter sido escrito
originalmente em hebraico (ou aramaico), tem dado origem a muita controvérsia. A
visão predominante entre os estudiosos é que ele não era o original do Evangelho de
Mateus, que era uma tradução do grego, mas que era uma composição bastante cedo.
Alguns, como o Salmon e Harnack, estão dispostos a considerar o Evangelho dos
Hebreus de Jerônimo, para todos os efeitos, um quinto evangelho originalmente
composto para cristãos palestinos, mas que se tornou de valor insignificante
comparativamente com o desenvolvimento do cristianismo em uma religião mundial.
Além de duas referências para o batismo de Jesus e algumas de suas frases, tais como:
- “Nunca se alegre, exceto quando haveis de olhar para seu irmão no amor”, “Só agora
a minha Mãe, o Espírito Santo, levou-me pelos meus cabelos para o grande monte
Tabor” – que registra o aparecimento de nosso Senhor a Tiago, depois da ressurreição,
apresentado por Paulo (1Cor 15:7), uma das provas do evento; mas é claro que Paulo
poderia ter aprendido isso dos lábios do próprio Tiago, bem como da tradição comum,
e não necessariamente a partir deste Evangelho. Este fato é o detalhe principal da
importância que as citações deste evangelho acrescentam ao que já sabemos dos
Sinóticos. Em outras divergências dos Sinópticos, onde os mesmos fatos são
registrados, é possível que o Evangelho segundo os Hebreus possa incidir uma tradição
mais cedo e mais confiável. Por outro lado, a maior citação, que dá uma versão da
conversa de Cristo com o jovem governante rico, parece mostrar, como sugere
Westcott, que os Sinópticos dão o mais simples e, portanto, a forma anterior da
narrativa comum. Muitos estudiosos, porém, permitem que as poucas citações
sobreviventes deste Evangelho devem ser levados em conta na construção da vida de
Cristo. Os ebionitas deram o nome de Evangelho aos Hebreus de um Evangelho
mutilado de Mateus. Isto traz-nos aos evangelhos heréticos.

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