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Fascículos - Tribuna Do Norte
Fascículos - Tribuna Do Norte
Fascículo 1
Antes dos Europeus
As Origens do Homem Americano
O Homem, quando chegou ao continente americano, já havia
passado por uma longa evolução, desde o aparecimento do Homo Erectus, que
viveu há 1,7 milhão de anos até 200 mil anos atrás. Pertencia ao grupo do
Homo Sapiens. Não há, até o presente momento, unanimidade sobre a origem
dos primeiros povos que colonizaram a América, mostrando ser assim um
problema complexo. Diversas teorias abordam a questão, sendo a mais aceita
aquela que defende terem os primeiros homens vindos da Ásia, através do
Estreito de Bering, atingindo a América do Norte durante a última Era Glacial.
Um grande volume de águas retidas nas geleiras provocou o abaixamento do
nível das águas do mar, fazendo surgir uma ligação terrestre entre a Ásia e
América. Segundo a pesquisadora Betty J. Meggers, "a mais antiga ponte
terrestre existiu entre cerca de 50.000 e 40.000 anos atrás e foi usada por
várias espécies de mamíferos do Velho Mundo (...) Após um intervalo de
submergência que durou uns 12.000 anos, a ponte reapareceu entre cerca de
28.000 e 10.000 anos atrás". Nesse período, contudo, uma camada de gelo
surgiu como obstáculo à passagem humana durante alguns milhares de anos.
Acontece que, como esclareceu Meggers, "no decorrer de alguns milênios,
antes que os segmentos de Leste e Oeste se fundissem e um corredor se
abrisse novamente a ponte terrestre foi transitável." Permitindo, assim, a
caminhada humana. Foi aproveitando essa oportunidade que os asiáticos
teriam penetrado no continente americano.
Existem provas de caráter antropológico, etnográfico e lingüístico a
favor da teoria asiática, mas Paul Rivet acreditou que essa não foi a única via
de acesso do homem ao continente americano. Essas provas se restringiram a
uma região, a parte setentrional da América do Norte, segundo Rivet. É
justamente por essa razão que ele defende uma origem múltipla: os
australianos teriam invadido a região mais meridional da América do Sul. Para
Rivet, portanto, uma das influências étnicas que podem destacar-se na
América é de origem australiana. Sua ação, por discreta e limitada que tenha
sido, loga impor-se pela antropologia, pela lingüística e pela etnografia".
Acredita ainda esse cientista que uma parte da América foi povoada pelos
polinésios, apresentado provas lingüísticas, culturais e tradicionais.
Paul Rivet é de opinião que o Atlântico funcionou como uma barreira
intransponível para que o homem chegasse até ao continente americano e que,
"ao contrário, o litoral do ocidente da América foi permeável a migrações
múltiplas, em toda a sua extensão. O Pacífico não se tornou de forma alguma
um obstáculo. Foi, sim, um traço de união entre o mundo asiático, a Oceania e
o Novo Mundo".
A teoria da origem múltipla de Raul Rivet foi defendida por alguns,
porém combatida pelos seus adversários. A verdade é que, apesar do avanço
nessa discussão, a questão ainda não foi totalmente solucionada.
A controvérsia não atinge apenas a via de acesso, mas igualmente a
época em que os primeiros colonos povoaram a América. Para Betty Meggers,
"as discordâncias surgem das informações esporádicas inconclusivas, da
presença do homem do Novo Mundo entre 40.000 e 12.000 anos passados,
datação que alguns autoridades aceitam e outras não."
O certo é que o "homem entrou no Novo Mundo enquanto estava
ainda subsistindo à base de plantas e animais selvagens", nas palavras da
mesma autora. Esse homem, ao migrar para outras regiões, caminhou a pé.
Teria ocorrido, desse modo, várias migrações.
As primeiras comunidades agrícolas surgiram no México, na
América Central, Equador e Bolívia. Viviam em pequenos bandos. Eram
caçadores e coletores. À medida em que avançavam para o sul, segundo os
que acreditam na origem única, asiática, as comunidades foram passando por
mudanças, com o objetivo de se adaptarem ao novo ambiente. Essas
adaptações foram importantes para o desenvolvimento dos diversos grupos.
A agricultura promoveu uma verdadeira revolução. Posteriormente,
surgiram grandes civilizações: Astecas, Maias e Incas.
Os Primitivos habitantes do RN
Os Europeus
Fascículo 2
Prioridade Européia
Controvérsias Sobre a Presença Espanhola
A prioridade da descoberta do Brasil continua sendo uma questão
polêmica. Para alguns estudiosos, os espanhóis chegaram primeiro.
Varnhagen, por exemplo, defende que Alonso de Ojeda teria atingido o delta do
Açu no Rio Grande do Norte. Outros autores concordam que o navegador
espanhol visitou o Brasil, divergindo apenas do local. "Vinguand discorda e
aponta como sendo o local correto as proximidades do Cabo de São Roque".
Capistrano de Abreu e outros autores negam que Ojeda tivesse passado pelo
Brasil.
A viagem de outro navegante espanhol também é alvo de
discussões. Parece que Vicente Yañez Pinzon teria realmente vindo ao Brasil.
Robert Southey chegou a afirmar o seguinte. "A primeira pessoa que descobriu
a costas do Brasil foi Vicente Yañez Pinzon".
Segundo os cronistas, no dia 26 de janeiro de 1500, Pinzon chegou
a um lugar que denominou de Santa Maria de la Consolación. A controvérsia
que existe é sobre onde ficaria essa Santa Maria de La Consolación. Para uns,
seria o cabo de Santo Agostinho. Varnhagen indica a Ponta de Mucuripe.
Guanino Alves, que pesquisou a viagem de Vicente Pinzon, discorda e indica a
ponta de Itapajé, no litoral norte do Ceará, como o local certo. O fato é que o
navegante hispânico tomou posse da terra em nome da Espanha. E deu à
região visitada o nome de Rostro Hermoso. Depois, Pinzon se dirigiu para o
Norte, chegando até a foz do rio Amazonas, que denominou de Santa Maria de
la Mar Dulce.
Outro navegador espanhol que provavelmente passou pelo Rio
Grande do Norte foi Diego de Lepe e, segundo alguns pesquisadores, teria
atingido a enseada do Açu.
Apesar das controvérsias, não se pode negar que os espanhóis
antecederam aos portugueses na descoberta do Brasil, considerando que
estiveram no País antes de abril de 1500.
A Fundação de Natal
Fasículo 3
Capitania do Rio Grande
Novas Luzes Sobre a Fundação de Natal
Foi o escritor José Moreira Castelo Branco quem procurou
solucionar, de maneira definitiva, o problema da fundação de Natal. Com base
numa exaustiva pesquisa, publicou um estudo intitulado "Quem Fundou Natal",
onde provou que João Rodrigues Colaço foi de fato o primeiro capitão-mor do
Rio Grande. Apresentou dois documentos, encontrados por Serafim Leite. Um
deles é uma carta do provincial Pero Rodrigues, que registrava o trabalho de
catequese realizado no Rio Grande pelos padres Francisco Pinto e Gaspar de
Samperes, e diz ainda que "a tudo isso se achava presente o capitão da
fortaleza, João Rodrigues Colaço".
Em seguida, Castelo Branco faz o seguinte comentário: "isto ocorria
em março ou abril de 1599, porque a 19 deste último mês, já os ditos padres, a
fim de satisfazerem uma exigência do príncipe Pau Seco, para melhor garantia
e tornar a pacificação mais firme, partiam do forte do Rio Grande, em vista às
aldeias dos potiguares, até chegar às de Capaoba, donde seguiram com
destino à Paraíba".
O segundo documento, atribuído a Gaspar de Samperes, afirma o
seguinte: "João Rodrigues Colaço, o primeiro capitão que foi daquela
capitania".
Castelo Branco, apresentando essas provas, constatou ter sido
Rodrigues Colaço o primeiro capitão-mor do Rio Grande e, ainda, através do
documento em que dom Manuel Mascarenhas Homem deu sesmaria a João
Rodrigues Colaço, se comprova que esse senhor governava a capitania em
janeiro de 1600. Após examinar tudo isso, Castelo Branco conclui dizendo que
"o primeiro capitão-mor do Rio Grande foi João Rodrigues Colaço, que
governava no ano de 1599, devendo, por isso, ter sido o fundador da Cidade
do Natal".
Como Castelo Branco não se posicionou de maneira categórica,
usando, inclusive, a expressão "devendo, por isso, ter sido o fundador", não
fechava a questão, deixando o problema em aberto. É que o autor não
dispunha de nenhum documento oficial que confirmasse a sua teoria.
A importância do estudo de Castelo Branco, contudo, é muito
grande. Elaborou uma tese, hoje vitoriosa. Abriu novas perspectivas, trazendo
uma contribuição significativa e despertando a curiosidade de outros
historiadores. A sua teoria, portanto, ficou no terreno das possibilidades, ou
seja, uma abordagem perfeitamente válida.
Permitiu, por outro lado, que a versão que defendia sem dom
Manuel Mascarenhas Homem o fundador da Cidade do Natal ganhasse novos
adeptos: Hélio Galvão e Luís da Câmara Cascudo.
Tarcísio Medeiros divulgou, pela primeira vez, em fevereiro de 1973,
o Alvará de Nomeação de João Rodrigues Colaço, em seu livro "Aspectos
Geopolíticos e Antorpológicos da História do Rio Grande do Norte". Através
desse alvará se constata o seguinte:
1 - João Rodrigues Colaço foi nomeado capitão da Fortaleza, pelo
governador geral do Brasil, dom Francisco de Souza, confirmado,
posteriormente, pela metrópole.
2 - Não houve, portanto, interrupção, desde a data de nomeação,
pelo governador geral do Brasil, dom Francisco de Souza, até a designação
real, através do alvará de 18 de janeiro de 1600.
Esse alvará era, justamente, o documento oficial que Castelo Branco
reclamava e que, infelizmente, não chegou a conhecer.
O historiador Olavo de Medeiros Filho, em seu livro "Terra
Natalense", afirmou o seguinte: "Quando à transmissão do comando da
fortaleza a Jerônimo de Albuquerque, referida por frei Vicente, não há respaldo
documental. Conforme se verifica, através da leitura da Relação de Ambrósio
de Siqueira, de 24 de junho de 1598 até 5 de julho de 1603, houve a presença
de um capitão-mor da fortaleza e da Capitania do Rio Grande, de João
Rodrigues Colaço, o qual foi provido pelo governador geral do Brasil, dom
Francisco de Souza".
Essa informação é importante porque deixa claro que João
Rodrigues Colaço recebeu o comando da fortaleza após a sua conclusão e não
posteriormente, como se dizia no passado.
Jerônimo de Albuquerque, portanto, não foi designado capitão da
fortaleza por Mascarenhas Homem no dia 24 de junho de 1598.
É possível também concluir que João Rodrigues Colaço foi,
inicialmente, designado para responder pelo comando da fortaleza, por
Mascarenhas Homem, e somente depois foi nomeado capitão-mor da
Capitania do Rio Grande, pelo governador geral do Brasil, e, finalmente,
confirmado nessa função, pelo governo metropolitano.
Examinando os documentos encontrados pelo padre Serafim Leite e
publicados no livro "História da Companhia de Jesus no Brasil"; a "Carta de
Doacão de Sesmarias a João Rodrigues Colaço", publicada pela revista do
Instituto Histórico e Geográfico no Rio Grande do Norte; a "Relação de
Ambrósio de Siqueira", transcrita em parte - um pequeno trecho - por Olavo de
Medeiros Filho, em "Terra Natalenses"; o Alvará de Nomeação de João
Rodrigues Colaço, divulgado por Tarcísio Medeiros em "Aspectos Geopolíticos
e Antropológicos da História do Rio Grande do Norte" e, ainda, "Quem Fundou
Natal", de Castelo Branco, fica claro o seguinte" João Rodrigues Colaço foi
nomeado capitão da fortaleza por dom Francisco de Souza, sendo o primeiro a
exercer tal função no Rio Grande, e como continuava governando a capitania,
em janeiro de 1600, foi ele, JOÃO RODRIGUES COLAÇO QUEM FUNDOU A
CIDADE DO NATAL, NO DIA 25 DE DEZEMBRO DE 1599.
Domínio Holandês
A Insurreição Pernambucana
Fascículo 4
Tentativas de Conquista
O Fracasso do Primeiro Assalto
Após tantos estudos, os holandeses decidiram, finalmente, realizar a
conquista do Rio Grande.
Narra Câmara Cascudo: "A 21 de dezembro de 1631 partiram do Recife quatorze
navios, com dez companhias de soldados veteranos. Dois conselheiros da Companhia
assumiram a direção suprema, Servaes Carpenter e Van Der Haghen. As tropas eram
comandadas pelo Tenente-Coronel Hartman Godefrid Van Steyn-Gallefels. Combinaram
desembarcar em Ponta Negra, três léguas ao sul de Natal, marchando sobre a cidade".
O capitão-mor Cipriano Pita Carneiro reagiu, ordenando que seus liderados
abrissem fogo contra os invasores. Os holandeses, contudo, desistiram de realizar a conquista.
Depois, passaram por Genipabu, agindo como verdadeiros salteadores, legando duzentas
cabeças de gado...
Fracassou, assim, a primeira tentativa dos flamengos para dominar o Rio Grande.
O Governo Holandês no RN
Fascículo 5
O Governador dos Índios
Tradição de Bravura Vai de Pai Para Filho
A simples existência de uma aldeia com o nome de Meratibi, em
Pernambuco, não significa que essa aldeia tenha sido a povoação à qual dom
Antônio Felipe Camarão se referiu em seu testemunho. E mesmo que o
historiador pernambucano estivesse certo, a palavra que se encontras no
documento citado é "residia" e, claro, existe uma diferença entre "residir" e
"nascer". Esse documento, portanto, não prova que o chefe potiguar tenha
efetivamente nascido em Pernambuco...
Meratibi é o nome de uma aldeia pernambucana com grafia
semelhante à de outra aldeia potiguar chamada de Merebiti ou Meretibi. O
escritor Mário Mello aproveitou essa semelhança para forjar a sua teoria de que
Felipe Camarão teria nascido em Pernambuco.
Outro aspecto que se deve destacar: Luís da Câmara Cascudo
provou que existe no Rio Grande do Norte uma tradição popular sobre dom
Antônio Felipe Camarão entre pessoas iletradas, no interior e na época em que
ele realizou a pesquisa, na década de trinta. As mulheres que foram
consultadas desconheciam totalmente a controvérsia sobre Felipe Camarão.
Disse Câmara Cascudo: "Essa tradição popular da naturalidade de Camarão é
um ponto de referência de singular força argumentadora. Nenhum outro Estado
disputante de seu berço pode empregar as mesmas armas. Essa tradição oral
só existe no Rio Grande do Norte, onde dom Antônio Felipe Camarão é tido
como conterrâneo".
Caso Felipe Camarão tenha morado realmente na Mirituba
pernambucana - Pedro Moura provou que não -, ele já havia nascido e se
encontrava na idade adulta, dirigindo o seu povo. Foi assim que ele deixou o
Rio Grande para lutar contra os holandeses em Pernambuco.
Falta ainda comentar outro argumento a favor da tese
pernambucana. Em uma carta, Henrique Dias disse o seguinte: "Meus
senhores Olandeses, meu Camarada o Camarão não está aqui, porém eu
respondo por ambos. Vossas Mercês, saibam que Pernambuco é sua pátria e
minha, e que já não podemos sofrer tanta ausência d'ella! Aqui havemos de
deitar vossas mercês fora d'ella".
A questão é fácil de explicar. Com a palavra, novamente, Pedro
Moura: "De fato, Camarão nasceu nesta província, isto é, na circunscrição
naquele tempo criada por D. Diogo de Menezes, Capitania do Rio Grande do
Estado do Brasil", sujeita a um só governo geral, como parte integrante de uma
província militar - Pernambuco".
"Da mesma maneira frei Calado chamou "índios brasileiros, índios
da terra, índios pernambucanos", os nossos índios, indistintamente, nascido na
província limitar de Pernambuco, fossem eles tabajaras, fossem potyguares,
fossem cahetés".
Em síntese, a "pátria pernambucana" não significava apenas
Pernambuco, porém uma área bem mais ampla que incluía inclusive o Rio
Grande. E Antônio Felipe Camarão, ao dizer que lutava pela pátria
pernambucana, estaria também se referindo ao seu pequeno Rio Grande.
Henrique Dias, ao dizer "pátria", não estava se referindo
exclusivamente à Capitania de Pernambuco, porque ele não pretendia expulsar
os holandeses apenas de uma capitania, mas de todo o Nordeste.
A conclusão que se extraia de tudo o que foi dito é o seguinte:
existiram realmente dois chefes potiguares, pai e filho, que possuíam o mesmo
nome - Poti. O filho foi quem partiu do Rio Grande para lutar contra os
holandeses, em Pernambuco. O que não se comprova é que ambos nasceram
no Rio Grande do Norte.
As controvérsias não terminam aqui. Antes se imaginava que havia
só um Poti. Agora, provado que existiam dois, não fica fácil esclarecer os fatos
em que ambos se envolveram. Quem fez tal empreendimento, foi o pai ou o
filho? É preciso realizar, urgentemente, uma investigação séria sobre o
problema.
Dom Antônio Felipe Camarão nasceu, provavelmente, na Aldeia
Velha, no ano de 1580.
Com relação ao seu batismo, Nestor Lima aponta para o dia 13 de
junho de 1612 e parece estar certo. Naquele dia, ao se tornar cristão, o
potiguar tomou o nome de Antônio Felipe Camarão. O primeiro nome teria sido
uma homenagem ao santo do dia, Santo Antônio. O segundo nome seria uma
homenagem a Felipe IV, rei da Espanha. E, finalmente, Camarão, que é
tradução portuguesa do seu nome primitivo em tupi: Poti.
No dia seguinte ao do seu batizado, Felipe cassou com uma de suas
mulheres que, na pia batismal, recebeu o nome de Clara. As solenidades do
batizado e do casamento foram realizadas em grande estilo na Capela de São
Miguel de Guajerú.
Antonio Soares, no "Dicionário Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Norte", transcreve a opinião de D. Domingas do Loreto: "Na guerra da
restauração de Pernambuco, ostentou D. Clara, mulher do governador dos
índios. D. Antônio Felipe Camarão, o seu insigne valor com os mais ilustres
realces: porque, armada de espada e broquel, e montada em um cavalo, foi
vista nos conflitos mais arriscados ao lado do seu marido, com admiração do
holandez e aplauso dos nossos".
D. Antônio Felipe Camarão, além de grande guerreiro, foi igualmente
hábil estrategista. Sua maior vitória foi contra o general Arcizewski, que sentiu
humilhado ao perder para um chefe nativo. São suas as seguintes palavras,
transcritas por Antônio Soares, no "Dicionário Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte" : "Há mais de quarenta anos - disse o general - que não
milito na Polônia, Alemanha e Flandres, ocupando sem interrupção postos
honrosos, mas só o índio brasileiro Camarão veio abater-me o orgulho".
O valente chefe potiguar, pelo seu desempenho contra os inimigos,
recebeu diversas honrarias: o título de "Dom", dado por Felipe IV; Brasão de
Armas; "Capitão Mor e Governador de Todos os índios do Brasil", e as
comendas "Cavaleiro da Ordem de Cristo" e dos "Moinhos de Saure".
Dom Antonio Felipe Camarão morreu, segundo alguns autores, a 24
de agosto de 1648, sendo sepultado na Várzea, em Pernambuco.
A Guerra dos Bárbaros
Administração e Economia
Revolução de 1817
O Movimento em Pernambuco
Fascículo 6
Insucesso da Revolução
Monarquistas Vencem André de Albuquerque
Nada foi feito pelo governo revolucionário. A promessa de aumento
de soldo aos soldados não é cumprida. A ação se limitou a arrancar a Coroa
Real da Câmara em Extremoz, o que foi feito por Rego Barros.
"Uma fase triste e cinzenta. No Palácio da Rua Grande que teria seu
nome, André trabalha ou vive junto do Padre João Damasceno. Nenhuma
irradiação; nenhuma popularidade; nenhuma conquista; nenhuma vibração...",
narra Câmara Cascudo.
A reação monarquista, no Rio Grande do Norte, parte da residência
do alfaiate Manuel da Costa Bandeira. É de lá que surgem os contra-
revolucionários, depois das noves badaladas do sino da Igreja, o sinal pré-
determinado para o ataque. Chegando ao Palácio, encontraram o chefe
revolucionário só, sem guarda, sem defesa. Após um breve tumulto, André de
Albuquerque tem a virilha atravessada por uma espada. Ferido mortalmente, é
conduzido prisioneiro para a fortaleza onde, na madrugada de 26 de abril de
1817, falece, sem socorros médicos ou qualquer tipo de assistência. Seu corpo
foi arrastado pelas ruas da cidade , como se fosse um mendigo: "Amarram-no a
um pau, com cordas e oito soldados carregam o corpo para a cidade",
descreve Cascudo. Morte inglória para um homem da estatura de André de
Albuquerque. Quando o corpo passava pela Ribeira, foi envolvido por uma
esteira dada por Ritinha Coelho. Albuquerque foi encarado como um traidor da
monarquia, por essa razão, o povo gritava:
- Morreu Pai André!
- Viva dom João!
André de Albuquerque foi sepultado na única igreja existente na
cidade.
É importante salientar que, em recente restauração realizada na
Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, foram encontrados os restos
mortais identificados como sendo os do chefe revolucionário de 1817.
No mesmo dia do sepultamento de André de Albuquerque, foi
organizado um governo interino, que permaneceu no comando do Rio Grande
do Norte até o regresso de José Inácio Borges. Estava encerrada, de maneira
melancólica, a participação do Rio Grande no movimento revolucionário de
1817.
A Causa da Independência
Os Rebeldes do Equador
A Insubordinação de Pernambuco
Escravismo e Abolicionismo
Proclamação da República
Fascículo 8
Durante a República Velha
Inauguração do Sistema Oligárquico
Durante a Primeira República (1889/1930), a exemplo da demais
unidades da Federação do Rio Grande do Norte conheceu o sistema de
oligarquias.
Coube ao fundador do Partido Republicano, Pedro Velho de
Albuquerque Maranhão, inaugurar o sistema olugárquico no Estado. A base
econômica dessa primeira oligarquia, caracteriza como "personalista que
evoluiu, mais tarde, para uma oligarquia tribal", segundo Mariz (1980), foi o
açúcar.
A marca registrada do governo de Pedro Velho foi manter sempre os
interesses da sua oligarquia, antecedendo aos do partido. Prova dessa
tendência foi o empenho do nosso primeiro oligarca em indicar o seu irmão
Augusto Severo de Albuquerque Maranhão para disputar a sua vaga, na
Câmara Federal, aberta quando veio assumir o governo. Apesar da oposição
de outros chefes políticos, Augusto Severo foi eleito a 2 de maio de 1892,
Entretanto, essa eleição não foi homologada, sendo posteriormente anulada
em todo o País. Finalmente, no novo pleito realizado a 23 de abril de 1883,
onde mais uma vez Pedro Velho impôs a candidatura do seu irmão, Augusto
Severo de Albuquerque Maranhão foi eleito para a Câmara Federal. Pedro
Velho conseguiu ainda nomear seu outro irmão, Alberto Maranhão, secretário
da sua administração.
O substituto de Pedro Velho no governo foi o desembargador
Joaquim Ferreira Chaves que, mesmo não pertencendo à família Albuquerque
Maranhão, era ligado por estreitos laços de amizade aos membros da primeira
oligarquia estadual.
Por volta de 1920, o eixo econômico do Estado se desloca do litoral
(açúcar e sal) para o interior (exportação de algodão e pecuária). É nesse
contexto que aparece a segunda oligarquia, liderada por José Augusto Bezerra
de Medeiros, com bases políticas no Seridó, onde predominava a atividade
econômica de plantação e exportação do algodão.
A segunda oligarquia é interrompida no governo de Juvenal
Lamartine, quando eclode a revolução de 3 de outubro de 1930, que modificou
significativamente o panorama do País.
A Questão de Grossos
Limite e Charqueada Criam problema
Fascículo 9
A Arma Era a Lei
Os Reis do Sertão e do Cangaço
Lampião é apresentado, de uma maneira geral, como sendo um
homem cruel, dos mais violentos. Mas os cantadores, com seus versos e suas
violas, procuravam geralmente justificar as atitudes frias e violentas do "Rei do
Cangaço":
"Por que no ano vinte,
seu pai fora assassinado
da rua da Mata Grande,
duas léguas arredado...
"Lampião desde desse dia
jurou vingar-se também,
dizendo: foi inimigo,
mato, não pergunto a quem...
Só respeito neste mundo
Padre Cisso e mais ninguém".
Antonio Silvino, diferentemente de Lampião, encarnava a figura do
justiceiro protetor. Humilde, ocupava o lugar das autoridades que falhavam pela
ausência ou pela opressão. Não possuía a fama de perverso que acompanhou
Lampião até sua morte. "A exaltação dos cantadores pelas façanhas de
Antonio Silvino chegou ao delírio", disse Câmara Cascudo que, comprovar sua
afirmação, apresenta uma prova:
"Cai uma banda do céu,
seca uma parte do mar,
o purgatório resfria,
vê-se o Diabo com medo,
o céu Deus manda trancar!".
A Revolução de 1930
A Intentona Comunista
Fascículo 11
Intentona Não se Sustenta
Tiroteio e Fuga dos Combatentes
Dinarte Mariz, segundo Enoch Garcia, telefonou para o governador
da Paraíba, Argemiro de Figueiredo, que prometeu e efetivamente enviou
tropas paraibanas para o Rio Grande do Norte para combater os revoltosos da
Intentona Comunista.
Enoch recebeu o seguinte telegrama de Florêncio Luciano: "Enoch,
eu não sei o que aconteceu, mas o nosso povo reagiu em cima da Serra, e o
esbandalho foi grande. Até agora está correndo gente deles e gente nossa...".
Conclusão: aconteceu realmente um tiroteio, provocando a
debandada de ambas as facções. Entre os revolucionários, muitos eram
reservistas e nada tinham com a ideologia comunista. Na primeira
oportunidade, largaram as armas e fugiram... Os integrantes do outro lado
eram sertanejos, em sua maioria homens simples, pequenos agricultores ou
trabalhadores rurais que não estavam dispostos a participar de conflito algum.
Aos primeiros anos, fugiram.
Portanto, houve realmente um confronto na Serra do Doutor, interior
do Rio Grande do Norte,. Porém, sem as dimensões que se pretendeu dar. De
qualquer maneira, o fato marcou o final da Intentona Comunista de 35 no Rio
Grande do Norte.
A Epopéia da Aviação
Fascículo 12
O Populismo no RN
Forte Característica: O Carisma do Líder
Os teóricos se dividem quando procuram conceituar o que seja
populismo. Na realidade, os líderes políticos brasileiros classificados com o
rótulo de "populista" apresentam uma grande diversidade na maneira de agir.
Não se pode dizer que líder populista é aquele que busca o apoio popular,
porque todos, da direita, do centro ou da esquerda, fazem promessas
demagógicas com o objetivo de conquistar o voto das camadas mais humildes,
prometendo atender as reivindicações populares...
Mas a característica principal dos líderes populistas é o carisma.
Alguns chegavam a levar multidões ao delírio, criando um clima favorável ao
fanatismo. De uma madeira geral, não entravam em confronto com as
oligarquias, recebendo inclusive o apoio de algumas famílias tradicionais. Em
algumas regiões, o populismo ganhou como aliada a burguesia industrial,
sobretudo nos centros urbanos, onde esse segmento da sociedade começava
a surgir com bastante força.
O populismo surge, quase sempre, quando existe uma forte crise na
oligarquia, forçando-a fazer concessões pois para sobreviver precisa de um
governo que atenda, ao mesmo tempo aos interesses das três classes:
conservadora, média e popular... A roupagem é popular, porém, o poder
permanece nas mãos da elite. Às vezes, contudo, se volta para a esquerda,
tomando um caráter mais radical, no sentido de promover reformas em favor do
povo.
Não existe, portanto, uma política populista única e sim diretrizes,
variando o seu conteúdo de acordo com a formação ideológica e cultura de
cada líder.
Nos anos 60, o Brasil, passava por uma série crise política,
agravada pelo conflito ideológico esquerda versus direita, com radicalismo de
ambas as partes. Dentro desse contexto, se destacava o antagonismo entre as
forças nacionais ("comunistas") e as forças conservadoras ("entreguistas"),
com a participação ativa de políticos operários e estudantes.
Como conseqüência da crise que abalava o País. Quadros
renunciou, entregando o cargo de presidente da República a João Goulart, em
agosto de 1961. Goulart, em agosto de 1961. Goulart tomou posse em 7 de
setembro e governou, em regime parlamentarista, até ser deposto pelo golpe
militar em 1964.
As constantes crises políticas vividas pelo País refletiam e deixavam
profundas marcas na região nordestina. Apesar do crescimento de sua
produção industrial, a participação do Nordeste no produto total do País caía
para 15,5% ! Índice menor do que o de outras regiões.
Como conseqüência do processo de industrialização, cresceram os
centros urbanos, e, ao mesmo tempo, aumentava o êxodo rural, com o
deslocamento de grande número de famílias para as grandes cidades.
Um dos fatores que contribuíram para o êxito do populismo no Rio
Grande do Norte foi a atuação da Igreja Católica, com a instalação dos
sindicatos rurais e com o Movimento de Educação de Base.
As campanhas de educação popular contribuíram também para
acelerar o processo de politização das camadas mais humildes. Exemplos: a
"Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler", em Natal, e ao
Movimento de Cultura Popular" em Recife, ambas em 1960.
Foi sobretudo no processo político que o descontentamento popular
se refletiu no Nordeste, com grandes vitórias conquistadas pela oposição
durante o período compreendido entre 1956 a 1962. No Rio Grande do Norte,
em 1960, Aluízio Alves se elegeu governador e, no mesmo ano, Djalma
Maranhão chegou à prefeitura de Natal, também pela oposição.
A campanha política de 1960 se desenrolou num clima de muita
agitação. O governo Dinarte Maris deixou um testamento político que
desorganizou, completamente, as finanças do Estado.
O povo norte-rio-grandense estava asfixiado, aspirava por se livrar
daquela situação, recebendo com entusiasmo a mensagem oposicionistas que
prometia reformular os processos administrativos, dinamizar a administração
pública e criar as condições básicas para iniciar a industrialização, começando,
dessa maneira, o desenvolvimento do Estado. Essa proposta de governo era
defendida por um jovem e dinâmico político: Aluízio Alves . Uma vez candidato,
rapidamente assumiu a liderança do seu grupo, organizando uma coligação
partidária com a denominação de "Cruzada da Esperança", formada pelo PSD,
PTB, PCB, PRP, PTN e dissidentes da UDN. Para vice-governador foi indicado
o monsenhor Walfredo Gurgel, uma das mais expressivas lideranças do PSD
seridoense. Para a prefeitura da Cidade do Natal, dois líderes representantes
da esquerda: Djalma Maranhão, para titular, e Luiz Gonzaga, para vice-prefeito.
A nível nacional, a Cruzada da Esperança dividia-se. PSD, PTB e
PTN apoiavam o marechal Lott para presidente da República, um homem
honesto, nacionalista, porém, sem nenhuma aptidão política. Aluízio Alves e a
dissidência da UDN apoiavam Jânio Quadros. Para vice-presidente, os
candidatos eram João Goulart, com apoio do PSD, PTB e PTN, e Milton
Campos, apoiado por Aluízio.
Djalma Maranhão, um homem da classe média sem nenhuma
ligação com qualquer grupo econômico forte, de mãos limpas, partiu para a sua
campanha com muita garra.
Sua atuação vai se caracterizar, principalmente, por dois aspectos.
Primeiro, um caráter nitidamente ideológico. Nacionalista, desencadeava uma
luta aberta contra o imperialismo. Segundo, a participação direta e espontânea
do povo, em seus segmentos mais pobres.
Dentro dessa linha de ação, foram criados os Comitês Nacionalistas,
cuja importância foi salientada por Moacyr de Góes: "a organização da
campanha se fez em função dos Comitês Nacionalistas. A mobilização origina-
se do Comitê, para o Comitê e pelo Comitê. Entre janeiro e fins de setembro,
foram organizados e funcionaram 240 Comitês Nacionalistas também
conhecidos como Comitês Populares ou Comitês de Rua. Esse número ganha
maior expressão quando situado numa cidade de 160 mil habitantes, à época,
tendo tido um comparecimento eleitoral de pouco mais de 36 mil votantes".
A mobilização foi, portanto, muito grande. Crescia de importância
porque não se fazia apenas a exaltação da personalidade do candidato Djalma
Maranhão, mas ao mesmo tempo eram discutidos temas locais, regionais e
nacionais. Paralelamente à campanha política propriamente dita, se realizava
também um verdadeiro trabalho de politização das massas. Claro, uma vez
politizado, o eleitor se integrava na luta nacionalista e antimperialista.
A sua campanha fugia, e muito, das tradicionais campanhas
políticas, cuja base era o ataque pessoal, tão comum no Rio Grande do Norte e
no restante do Brasil.
A campanha de Aluízio Alves foi radicalmente diversa da realizada
por Djalma Maranhão quanto à metodologia de ação empregada. Bem mais
sofisticada. Utilizando inclusive uma empresa publicitária. Empregando, de
maneira racional e inteligente, os meios de comunicação de massa (rádio e
jornal). Usando slogans, como "Fome ou Libertação?". "mendicância ou
trabalho?", ou ainda "Miséria ou Industrialização?", colocava diante do eleitor o
caos em que se encontrava o Estado, sugerindo uma mudança radical através
da vitória da oposição. Esse triunfo marcaria o início de um processo de
desenvolvimento no Estado do Rio Grande do Norte.
A "Tribuna do Norte", jornal de Aluízio Alves, produzia cerca de 5 mil
exemplares diários, uma tiragem, bem maior do que "A Folha da Tarde", de
Djalma Maranhão. Como disse Agnelo Alves, irmão de Aluízio Alves, e também
jornalista, "foi o jornal que sedimentou a imagem de Aluízio, levando
diariamente, durante dez anos, seu nome a todo o Estado".
A 'Tribuna do Norte' serviu para influenciar determinados segmentos
da sociedade, como intelectuais, estudantes e grande parte do funcionalismo
público federal, estadual e municipal. Contribuiu igualmente para a tomada de
decisão de muitos indecisos. Com suas manchetes, notícias, fotos e editoriais,
traçava um quadro inteiramente favorável aos candidatos da Cruzada da
Esperança.
A situação caótica em que se encontrava o Estado foi uma
importante causa da vitória desta coligação partidária.
A liderança carismática de Aluízio Alves empolgou o povo. Ciente de
seu magnetismo pessoal, ele procurava por todos os meios manter o contato
direto e pessoal com os eleitores. O seus comícios e as suas passeatas
impressionavam pelo número de participantes e pelo entusiasmo. Velhos,
moços, crianças, mulheres de todas as idades, agitando nas mãos bandeiras e
ramos verdes, cantando as músicas da campanha e gritando "Aluízio, Aluízio,
Aluízio". Um espetáculo nunca visto no Rio Grande do Norte, suplantando,
portanto, a campanha de José da Penha, o primeiro líder popular da história
política do Estado.
Enfim, Aluízio Alves aparecia como um "homem comum", simples,
pobre, de resistência física extraordinária, passando noites inteiras acordado,
em virtude de vigílias, lutando e sofrendo sempre ao lado do povo. Nesse
aspecto, certamente, se aproximavam os dois líderes populistas: Djalma
Maranhão e Aluízio Alves. Ambos se apresentavam como pessoas pobres, da
classe média, sem dinheiro, lutando contra a máquina lubrificada, manipulada
pelos poderosos.
Havia, entretanto, uma grande diferença com relação ao
posicionamento ideológico. Um da esquerda, o outro do centro. Para Djalma
Maranhão, "o nacionalismo é ainda um movimento, uma revolução em marcha,
para se transformar, no futuro, no mais poderoso partido de toda a História do
Brasil".
Aluízio Alves definia o seu nacionalismo de outra maneira: "o nosso
nacionalismo é, por isso, pragmático, e se despe de qualquer sentido
ideológico de classe. Ele assenta no esforço capitalista, o esforço público, no
esforço misto. Os seus dois objetivos são: primeiro, entregar a instrumentos
brasileiros que representam a iniciativa privada e pública o comando da
economia, estabelecendo mecanismo através do qual o enriquecimento
nacional não se acumula nas mãos de poucos e antes alcance seu legítimo
usufrutuário, que é o povo; segundo, criar no Nordeste parcela significativa e
ponderável de um grande mercado interno que funcione para si e apenas
secundariamente para o mercado externo".
"Tal nacionalismo não é anti coisa alguma. Nem anticapitalista nem
antisocialista. Ele se situa fora da área do debate ideológico para inserir-se
corretamente na área em que o nacionalismo deve, por natureza colocar-se
para colher o apoio de toda a Nação".
Fascículo 13
Marcos Empreendedores
Preocupações Sociais, Jornalismo e Política
Depois de criar o Instituto Padre João Maria e organizar o Abrigo
Juvino Barreto, em 1943, Aluízio Alves partiu para uma iniciativa maior: criou a
Escola de Serviço Social.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o jornalista realizou o grande
feito de entrevistar, com ajuda de um intérprete, Eleanor Roosevelt, que veio a
Natal em campanha para eleger seu marido, Delano Roosevelt, presidente dos
Estados Unidos.
Nesse período, Aluízio Alves tinha dois programas radiofônicos. Aos
domingos, levava ao ar "Glórias do Brasil", com o objetivo de mobilizar a
opinião pública a favor dos aliados. O outro, chamado 'Ave Maria', era diário e
começava às 6 horas.
O Serviço de Proteção ao Menor se estendeu ao interior e, com a
ajuda dos bispos de Caicó e de Mossoró, chegou a reunir mais de 10.000
menores, em regime de semi-internato.
No governo do interventor general Dantas, Aluízio Alves foi o diretor
do SERAS, instituição por ele organizada.
Aos 23 anos, Aluízio foi eleito deputado federal, sendo o mais moço
da Assembléia Nacional Constituinte, em 1946, causando sensação no Rio de
Janeiro, por ser apenas não o mais jovem, mas também o único deputado que
era estudante. O artigo da Constituição de 1946 sobre assistência aos menores
e à maternidade é de sua autoria.
Reeleito deputado federal nos anos de 1950, 1954 e 1958, foi o
responsável pela criação do programa de Crédito de Emergência, para o
período de seca no Nordeste. E no ano de 1960 foi eleito governador, por
maioria absoluta.
Deixando o governo, continuou fazendo política, conseguindo
expressivos resultados. Elegeu o seu sucessor, monsenhor Walfredo Gurgel,
com 54% dos votos, e seu irmão, Agnelo Alves, chegava à prefeitura de Natal,
com 61% dos votos.
Com o golpe militar de 1964, os partidos (PSD, UDN, etc) foram
extintos. Em seu lugar foram criados dois novos partidos: ARENA e PMDB.
Aluízio Alves voltou à Câmara Federal em 1966, quando obteve
60.000 votos.
Em 1969, a grande frustração: foi cassado pelo Ato Institucional nº 5.
Afastado oficialmente da vida política, reagiu, fazendo com que seus aliados
mais fiéis se transferissem para o MDB.
Em 1970, Odilon Ribeiro Coutinho perdeu a eleição para o Senado.
O vitorioso foi Dinarte Mariz. Henrique Alves, filho de Aluízio, foi eleito
deputado federal, com grande votação.
Um marco na vida de Aluízio Alves, em sua profissão de jornalista,
foi quando fundou, juntamente com Carlos Lacerda, o jornal "Tribuna da
Imprensa", no Rio de Janeiro. Lacerda assumiu a direção e Aluízio, o cargo de
redator-chefe. Quando Carlos Lacerda partiu para o exílio, depois da eleição de
Juscelino Kubistchek, Aluízio assumiu a direção geral do órgão de imprensa.
Outra importante iniciativa nessa área é a fundação, no dia 24 de
março de 1950, em Natal, da "Tribuna do Norte", empresa em que seu
fundador exerceu a direção. Posteriormente, adquiriu a Rádio Cabugi. Surgia,
assim, o Sistema Cabugi de Comunicações que, na atualidade, é formado pela
Tribuna do Norte, TV Cabugi, Rádio Cabugi AM, Rádio Difusa de Mossoró,
Rádio Cabugi do Seridó e líder FM, de Parnamirim.
Cassado de seus direitos políticos, Aluízio Alves investiu em sua
carreira de empresário, fundando, no Rio de Janeiro, a Editora Nosso Tempo.
É assim que ele resume a sua atuação como empreendedor: "diretor industrial
de um grupo empresarial, construindo no Rio Grande do Norte a primeira
indústria de cartonagem: uma grande indústria de confecções, a Sparta; a
primeira e até agora única fábrica de tecidos, a Seridó, depois, Coteminas; o
Hotel Ducal Palace, na época, entre os três melhores do Nordeste. No Sul, era
presidente de indústrias e de duas grandes empresas comerciais do mesmo
grupo, com mais de 100 lojas em São Paulo, Rio e Minas".
Como escritor, Aluízio Alves publicou alguns livros, entre eles
"Angicos" (em 1997 foi lançada a 2ª edição, pela Fundação José Augusto), "A
Primeira Campanha Popular do Rio Grande do Norte", "Sem ódio e sem medo".
A verdade que não é secreta etc.
No dia 16 de agosto de 1992, Aluízio Alves tomou posse na
Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, em solenidade realizada após 17
anos de eleição no Salão dos Grandes Atos, da Fundação José Augusto. Foi
saudado pelo acadêmico Mário Moacyr Porto, que encerrou o seu discurso
com as seguintes palavras: "Ingressai nesta casa de homens de letras, senho
acadêmico Aluízio Alves, pela porta larga do talento. Não se aplica à V. Excia,
o apelido de imortal por adulação estatutária, mas de quem alcançará, pelos
seus feitos, um lugar destacado na admiração dos pós-terros. Sede bem-
vindo".
Aluízio, num longo discurso, lembrou importantes fases de sua vida
na suas diversas facetas: jornalista, político e escritor. E suas grandes
amizades, como, por exemplo, a de Hélio Galvão. Confessou que "jamais foi
minha ambição pessoal chegar à Academia".
Concluido, disse: "E por isso, diante de todos, posso repetir, quando
72 anos tentam inutilmente reduzir-me o ânimo, e apagar, na noite das
vicissitudes, a chama da esperança, uma palavra que, numa hora difícil se
tornou meu apelo e meu caminho: "a luta continua".
Aluízio Alves foi também ministro de Estado por duas vezes: ministro
de Administração do governo de José Sarney e, por sete meses, ocupou como
titular o Ministério da Integração Regional, no governo Itamar Franco, quando
elaborou o Projeto de Transposição das águas do São Francisco, beneficiando
os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e da Paraíba.
O Golpe de 1964
Pausa no Radicalismo
Fascículo 16
Dois Séculos
Século XIX: Novas Atividades Produtivas
No século XIX, além da predominância da criação de gado, houve
também a expansão das culturas do algodão e da cana-de-açúcar e, ainda,
cresceram as atividades extrativas, sal, marinho e cera de carnaúba.
Na segunda metade desse século, a criação de gado foi prejudicada
por duas secas: a de 1844/45 e 1877/79.
A cana-de-açúcar passou a ser a principal atividade econômica,
chegando a produzir, em 1860, cerca de 4.176.570 quilos. Depois, entretanto,
começou a decadência.
A indústria salineira, que se deu bem no princípio do século. pouco
depois entrou em declínio, porém, posteriormente, conseguiu uma notável
recuperação, nas regiões de Mossoró, Macau e Areia Branca.
No final do século XIX, outro produto atingiu um grande
desenvolvimento: a cera de carnaúba.
A indústria têxtil apresentou, desde o começo, 1870, um lento
desenvolvimento, graças a uma dupla concorrência : a da indústria têxtil do
Sudeste e a do Estado de Pernambuco. Denise Rakeya aponta outro fator, ou
seja, "a estrutura do mercado consumidor. Com exceção daquela parte da
população localizada nos núcleos urbanos, a maior parte não poderia, de fato,
constituir esse mercado".
A indústria têxtil vai se configurar como uma realidade a partir de
1877, quando "o presidente da província contratou com Amaro Barreto de
Albuquerque Maranhão a instalação de uma fábrica de fios e de tecidos em
Natal, e a inauguração ocorreu no ano de 1888. Em 1904, passou a funcionar
outro estabelecimento industrial, a Fábrica de Óleos e Farelos de Algodão", já,
portanto, no século XX.
Potencialidade do Turismo