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16/01/2018 Enc: Georreferenciamento - Sistema Eletrônico de Informações – Centro de Pr...

Enc: Georreferenciamento

Rosana Locatelli Toedter


Mon 15/1/2018 18:33

To: Sistema Eletrônico de Informações – Centro de Protocolo <sei@tjpr.jus.br>;

De: Registro de Imóveis- Cidade Gaúcha-PR <ricidadegaucha@gmail.com>


Enviado: segunda-feira, 15 de janeiro de 2018 17:12
Para: cgj
Assunto: Georreferenciamento

Prezados Doutores,

novamente diante de não uniformização dos procedimentos pelos vários Serviços de Registro de Imóveis do
Estado, venho à presença de Vv. Excias. solicitar a seguinte orientação:

Nos procedimentos de georreferenciamento de imóveis, havendo divisa com córregos "não navegáveis" e rios
"navegáveis", deve-se exigir anuência dos confrontantes localizados na outra margem das águas?

agradeço antecipadamente

Ricardo Teixeira Marques


Registro de Imóveis
Cidade Gaúcha-PR

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https://mail.tjpr.jus.br/owa/sei@tjpr.jus.br/#viewmodel=ReadMessageItem&ItemID=AAMkAGEzOWY0MTc4LWVlMTEtNDM0OS05YTI2LTQ3OTF… 1/1
Email (2575225) SEI 0003119-63.2018.8.16.6000 / pg. 1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
R Pref Rosaldo Gomes M Leitão, S/N - Bairro CENTRO CÍVICO - CEP 80530-210 - Curitiba - PR -
www.tjpr.jus.br

DECISÃO

SEI nº 0003119-63.2018.8.16.6000

1 – Trata-se de expediente iniciado em razão da consulta


formulada por Ricardo Teixeira Marques, do Serviço de Registro de Imóveis
da Comarca de Cidade Gaúcha, nos seguintes termos: “nos procedimentos de
georreferenciamento de imóveis, havendo divisa com córregos "não
navegáveis" e rios "navegáveis", deve-se exigir anuência dos confrontantes
localizados na outra margem das águas?”.

2 - Em que pese a matéria não esteja afeta à regulamentação


pela Corregedoria da Justiça para ser objeto de consulta, a título de
colaboração encaminhamos resumo de pesquisa realizada.

2.1 – Conforme conceito disponível no site do Instituto


Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)[1], georreferenciar um
imóvel é definir a sua forma, dimensão e localização, através de métodos de
levantamento topográfico.

O Incra, em atendimento ao que preconiza a Lei 10.267/01,


exige que este georreferenciamento seja executado de acordo com a sua Norma
Técnica para Georreferenciamento de Imóveis Rurais, que impõe a
obrigatoriedade de descrever seus limites, características e confrontações
através de memorial descritivo executado por profissional habilitado.

O Manual Técnico de Limites e Confrontações -


Georreferenciamento de Imóveis Rurais, 1ª Edição[2], esclarece que os
cursos d’água são as águas correntes, como rios, córregos, riachos, dentre
outros e, no item 4.2.1.8, disciplina que nesses casos, “o limite coincide
com a margem ou com o eixo, de acordo com a descrição constante no registro
de imóveis. Se a descrição for omissa, deve-se observar o Decreto nº
24.643, de 10 de julho de 1934 (Código de Águas), que divide os leitos
(álveos) dos cursos d’água em públicos e privados”.

O Código de Águas, em seu artigo 2º, prevê que são águas


públicas de uso comum as correntes, os canais, os lagos e as lagoas
navegáveis ou flutuáveis.

Por outro lado, disciplina, no artigo 8º que “são particulares


as nascentes e todas as águas situadas em terrenos que também o sejam,
quando as mesmas não estiverem classificadas entre as águas comuns de
todos, as águas públicas ou as águas comuns”.

Assim, conclui-se que os cursos d’águas são classificados em


públicos, caso sejam navegáveis, ou particulares, se forem não navegáveis.

No tocante aos rios particulares, o Instituto de Registro


Imobiliário do Brasil, ao responder questionamento sobre o tema[3],
esclareceu que os rios não navegáveis são particulares, ou seja, integram a
propriedade imobiliária, e nesses casos, a anuência do confrontante
(titular do imóvel localizado na outra margem do rio) para o procedimento

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de georreferenciamento do imóvel é indispensável, pois o eixo (meio) do rio
será a divisa das propriedades.

Já os rios navegáveis, por serem públicos, são considerados


imóveis autônomos. Dessa forma, não existe confrontação entre dois imóveis
rurais, pois entre eles há um bem autônomo: o rio público.

Porém, há divergência quanto à necessidade de notificação da


Fazenda Pública (Estado ou União) nos casos de georreferenciamento de
imóvel rural confrontante com um rio público, em razão dos denominados
“terrenos reservados”.

Dispõe o artigo 11 do Código de Águas que:

Art. 11. São públicos dominicais, se não estiverem destinados ao uso


comum, ou por algum título legítimo não pertencerem ao domínio particular;
1º, os terrenos de marinha;
2 º , os terrenos reservados nas margens das correntes públicas de uso
comum, bem como dos canais, lagos e lagoas da mesma espécie. Salvo quanto
as correntes que, não sendo navegáveis nem flutuáveis, concorrem apenas
para formar outras simplesmente flutuáveis, e não navegáveis.

Art. 14. Os terrenos reservados são os que, banhados pelas correntes


navegáveis, fora do alcance das marés, vão até a distância de 15 metros
para a parte de terra, contados desde o ponto médio das enchentes
ordinárias.

Portanto, se o imóvel rural confrontar com um rio público, “o


levantamento técnico de seus vértices deverá respeitar a faixa de
propriedade pública, ou seja, estar distante 15 metros do ponto médio das
enchentes ordinárias (ou 33 metros de preamar média de 1831, se o rio
estiver ao alcance das marés – art. 13 do Código de Águas)”, conforme
esclarece o registrador Eduardo Augusto, autor do Livro Registro de
Imóveis, Retificação de Registro e Georreferenciamento: Fundamento e
Prática.

Entretanto, se na matrícula do imóvel rural houver menção


clara de que a propriedade abrange as margens do rio, essas áreas não serão
consideradas terrenos reservados, mas sim terras particulares limítrofes ao
rio público, conforme exceção prevista no próprio artigo 11 do Código de
Águas.

Este foi o entendimento adotado pela Segunda Turma do Superior


Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº 443.370/SP[4], em
20.04.2004, e pela Primeira Turma da mesma Corte, no julgamento do Recurso
Especial nº 637.726/SP[5], em 03.03.2005.

As terras particulares limítrofes ao rio público deverão ser


excluídas do levantamento técnico pelo agrimensor somente se estiverem com
clara destinação pública, ainda que não tenham sido desapropriadas.

Assim, o agrimensor, ao realizar o levantamento técnico do


imóvel rural confrontante com um rio público, deverá observar se a
matrícula engloba as margens do rio (15 metros), bem como se estas áreas
possuem destinação pública, particularidades expressamente previstas no
Código de Águas e que tornam desnecessária a anuência do Estado ou da União
no procedimento de georreferenciamento de imóveis rurais confrontante com
rio público.

Nesse sentido, o registrador Eduardo Augusto defende que “se o


agrimensor apresentar uma planta em que há o completo e preciso
levantamento da margem do rio navegável, com expressa menção ao
distanciamento de 15 metros entre essa margem e o polígono do imóvel
particular (imóvel público denominado "terreno reservado"), acompanhado de
uma outra planta com a imagem do Google Earth de fundo que comprova o
respeito a tal faixa, a lógica indica a desnecessidade da anuência do
Estado ou da União, pois quaisquer que sejam os dados da descrição do
imóvel retificando, mesmo que incorretos, não há como prejudicar o Poder
Público.”

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3 – Diante do exposto, dê-se ciência desta matéria ao
consultante e expeça-se Ofício Circular aos Registradores de Imóveis do
Estado do Paraná, à ANOREG, à Associação dos Titulares de Cartório (ATC) e
à Associação dos Registradores de Imóveis do Paraná (ARIPAR).

4 – Após, encerre-se o presente expediente.

Curitiba, na data de registro no sistema.

MÁRIO HELTON JORGE


Corregedor da Justiça

[1]http://www.incra.gov.br/o-que-e-georreferenciamento
[2]https://sigef.incra.gov.br/static/documentos/manual_tecnico_limites_confrontacoes_1ed.pdf
[3] http://www.irib.org.br/noticias/detalhes/georreferenciamento-im-oacute-
vel-que-confronta-com-c-oacute-rrego-confrontante-anu-ecirc-ncia
[4] ADMINISTRATIVO - DESAPROPRIAÇÃO - INDENIZAÇÃO TERRENOS MARGINAIS DE RIO
NAVEGÁVEL (SÚMULA 479/STF). 1.Os terrenos que margeiam os rios navegáveis
são considerados bens de domínio comum, não sendo passíveis de indenização.
2. Excepcionam-se os terrenos que, na mesma situação, são titulados em nome
de seus proprietários. 3. Hipótese em que se trata de pedido de indenização
de terrenos marginais de rio navegável, segundo a Capitania dos Portos, mas
com título de propriedade em favor dos expropriados. 4. Recurso especial
improvido.
[5] ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. TERRENOS RESERVADOS. PRETENSÃO DE
INDENIZABILIDADE. DESCABIMENTO. 1. Os terrenos reservados nas margens das
correntes públicas, como o caso dos rios navegáveis, são, na forma do art.
11 do Código de Águas, bens públicos dominiais, salvo se por algum título
legítimo não pertencerem ao domínio particular. 2. Isto significa que os
terrenos marginais presumem-se de domínio público, podendo,
excepcionalmente, integrar o domínio de particulares, desde que objeto de
concessão legítima, expressamente emanada da autoridade competente. (...)
4. Ainda que demonstrada a navegabilidade do Rio Cabuçu de Cima, a
indenização das áreas marginais não poderia ser afastada, porquanto os
expropriados comprovaram a titularidade do imóvel desapropriado. 7. Recurso
Especial a que se nega provimento.

Documento assinado eletronicamente por Mario Helton Jorge,


Corregedor, em 26/01/2018, às 17:37, conforme art. 1º, III, "b", da Lei
11.419/2006.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site


https://sei.tjpr.jus.br/validar informando o código verificador 2599334 e o
código CRC 373D2EBE.

0003119-63.2018.8.16.6000 2599334v5

Decisão GC 2599334 SEI 0003119-63.2018.8.16.6000 / pg. 4

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