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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Tema: A Historiografia África - correntes afrocentrista e eurocentrista

Estudante: XXXXXXXXXXXXXXX – Código: 7082XXXXX

Curso: Licenciatura em Ensino de História


Disciplina: Evolução do Pensamento Histórico
2º ano

O docente: Msc Félix Alberto Gemussse

Tete, Maio de 2024


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Categorias Indicadores Padrões Classificação

Pontuação Nota Subtotal


máxima do
tutor

Estrutura Aspectos Capa 0,5


organizacionais
Índice 0.5

Introdução 0.5

Discussão 0.5

Conclusão 0.5

Bibliografia 0.5

Conteúdo Introdução Contextualização 1.0

Descrição dos objectivos 1.0

Metodologia adequada ao 2.0


objecto do trabalho

Analise e Articulação e domínio 2.0


discussão
Revisão bibliográfico 2.0

Exploração dos dados 2.0

Conclusão Contributos teóricos 2.0


práticos

Aspectos Formatação Paginação, tipo e tamanho 1.0


gerais de letra, paragrafo e
espaçamento entre linhas.

Referências Normas APA 6ª Rigor e coerência das 4.0


bibliográfica edição em citações / referências
s citações e bibliográficas
bibliografia
Folha para recomendações de melhoria

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Índice
I: INTRODUÇÃO...........................................................................................................................1
II: ANÁLISE DA LITERATURA...................................................................................................2
2.1.1. A Historiografia africana de acordo com John Donald Fage e Phillip Curtin.......................2
2.1.2. Os desafios da História da África perante esta situação........................................................4
2.2. Evolução da Historiografia africana.........................................................................................6
2.2.1. Antiguidade............................................................................................................................6
2.2.2. A Idade Média........................................................................................................................6
2.2.3. Do século XV até à actualidade.............................................................................................8
2.3. Principais historiadores africanos desta época.......................................................................10
2.4. Principais correntes da Historiografia africana.......................................................................10
2.4.1. Corrente eurocentrista..........................................................................................................10
2.4.2. Corrente afrocentrica...........................................................................................................11
2.4.3. Corrente progressista...........................................................................................................11
III: CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................13
IV: BIBLIOGRAFIAS...................................................................................................................14
I: INTRODUÇÃO
A Historiografia Africana, reúne uma serie de abordagem no que diz respeito ao tema em
análise. Os primeiros trabalhos sobre a história da África são tão antigos quanto o início da
história escrita. Os historiadores do velho mundo mediterrânico e os da civilização islâmica
medieval tomaram como quadro de referência o conjunto do mundo conhecido, que compreendia
uma considerável porção da África. A África ao norte do Saara era parte integrante dessas duas
civilizações e seu passado constituía um dos centros de interesse dos historiadores, do mesmo
modo que o passado da Europa meridional ou o do Oriente Próximo. A história do norte da
África continuou a ser parte essencial dos estudos históricos até a expansão do Império
Otomano, no século XVI.
De tal modo que, partindo do pressuposto que uma historiografia é um conjunto escrito de
uma época e historiografia africana como a história da história de África remeteu-nos a analisar a
historiógrafa africana ao longo dos séculos dividindo em épocas para sua melhor compreensão.
Sendo assim, tivemos como objectivo geral; Descrever a historiografia africana e como
objectivos específicos analisar e a historiografia africana e identificar as suas fases. Para a
concretização do trabalho, foi possível através de consultas bibliográficas tendo como a
principais obras a de Joseph Ki-Zerbo com o título “História Geral de África I”: metodologias e
pré-historia de África. Brasília: Unesco, 2010

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II: ANÁLISE DA LITERATURA
2.1. Historiografia africana
Durante muito tempo perdurou a idéia de que não havia obras que abordassem a história da
África, e um dos argumentos é que não haveria fontes históricas para serem pesquisadas. Nessa
aula veremos que os textos sobre a história da África são praticamente paralelos ao aparecimento
da escrita e que existe um leque amplo de fontes históricas para a história da África que estão
sendo utilizadas pelos novos historiadores. Saliento que para os africanos o conhecimento da sua
história e das sociedades é ponto indispensável nos que eles chamam de tomada de consciência e
construção de uma identidade múltipla e em constante mudança. Até os anos cinqüenta a história
da África foi negligenciada pelo mundo ocidental.
Segundo a Enciclopédia Moradora Internacional (1981), “é o conjunto de obras
concernente a um assunto histórico ou produção histórica de uma época”.
A historiografia africana é a história da história de África; a maneira como a história
africana é escrita e interpretada ao longo dos tempos. Ela visa analisar e avaliar as várias fases
pelas quais passou a investigação, o ensino e as formas de abordagem da história de África.
Os primeiros trabalhos sobre a história da África são tão antigos quanto o início da
história escrita. Os historiadores do velho mundo mediterrânico e os da civilização
islâmica medieval tomaram como quadro de referência o conjunto do mundo conhecido,
que compreendia uma considerável porção da África. (KI-ZERBO, 2010).

2.1.1. A Historiografia africana de acordo com John Donald Fage e Phillip Curtin
A África tal como outros continentes, também têm a sua História e baseia-se nas diversas
obras deixadas por diversos autores quer estrangeiros quer africanos. Os autores estrangeiros
subdividem-se em autores Europeus e autores árabes.
Autores europeus
Na antiguidade clássica, descreviam-se as viagens e breves incursões marinhas através do
Sahara e ao longo da costa atlântica. Isto significa que a visão geográfica destes era bastante
reduzida.
As informações sobre o mar vermelho e Oceano Índico são mais sólidas, porque os
mercadores mediterrânicos constituíram os principais visitantes das costas africanas. Conclui-se
que conhece pouco espaço e pouca gente.

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Os autores não elaboraram as suas obras tendo em conta a dinâmica política, económica e
social dos africanos visitados na época, dai conclui-se que os registos foram esporádicos e não
constantes.
Sobre a historiografia da antiguidade pode-se concluir que há dificuldades de se
reconstituir a História da África no tempo davivência destes autores e coloca-os em dúvida
relativa `a possibilidade destes fazerem parte de historiadores africanos.
O século XV representa novo período de relações entre África e Europa, superando as
limitações anteriores (geográficas, políticas, económicas e sociais) e constituiu um período de
registo de algumas realidades que antes era impossível. Os registos e as tendências são
influenciados por vários preconceitos que surgiram e desenvolveram-se na época como a
superioridade da raça europeia em relação `a africana. Os preconceitos surgiram e
desenvolveram-se devido a alguns fenómenos importantes que marcaram a evolução da Europa
tais como o renascimento, o iluminismo e a revolução industrial.
Segundo Fage (1980) citando Hegel afirmava que a África é um continente não histórico,
porque não mostra sinais de evolução, pois os africanos não mostram tendências e capacidades
de aprender. Ki-zerbo (1980) cita Hegel a referir que a África não é uma parte da história do
mundo, pois não tem movimentos e progressos a mostrar, movimentos históricos próprios dela,
apenas um espírito a-histórico como no limiar da história do mundo. A África esteve estagnada,
sem avanços nem recuos. Foram os hamitas caucasoides que introduziram conhecimentos de
domesticação da natureza e os árabes introduziram a organização estadual. A história do Sul do
sahara é a história da penetração da civilização camita e outros invasores como berberes e judeus
criando estados e impérios.
Burton citado por Davidson (1969) considera que os africanos não tinham somente falhado
qualquer tentativa de passar de primitivos a menos primitivos, pois tinham também chegado a
um ponto de incapacidade tal que entregues a si mesmos, nunca seriam capazes de fazer o
melhor. Estes nem ocupam um lugar na grande escala hierárquica do progresso da selvajaria até
a civilização na qual a Europa ocupava o topo na linha de zênite. A deficiência fatal da sua
natureza; o cérebro do africano é demasiado pequeno para proporcionar o desenvolvimento da
civilização; o africano quando chega a adulto, o desenvolvimento mental é interrompido e, daí
começa a retroceder em vez de progredir. Samuel Baker citado por Davidson (1981), após

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regresso do Nilo em 1866 assegurou aos europeus que a mente dos africanos está tão estagnada
como o pântano que forma o seu insignificante mundo.
Segundo Fage (1980), Darwin introduziu dados para a separação dos africanos com
europeus, levando ao surgimento da antropologia para o estudo das sociedades africanas, isto é, a
história para os europeus e a antropologia para os povos primitivos sem História. Esta mitologia
vai influenciar o movimento colonial e no comércio de escravos.

2.1.2. Os desafios da História da África perante esta situação


 Procurar identidade através da reunião de elementos dispersos de uma memória coletiva;
 Revalorizar as descobertas recentes que a história e a arqueologia acumularam, pondo a
descoberto civilizações inteiras;
 Explicar o papel motor desempenhado pela África na História universal.

A África na história universal contribuiu pelas invenções técnicas do paleolítico; a importância


do ouro e dos negociantes do Sudão no comércio euro-asiático na idade média; a participação do
capital trabalho negro no desenvolvimento da revolução industrial; e o papel desempenhado
pelos afro-americanos na formação do sentido artístico.

No século XIX, a História é registada por comerciantes que registam a história dos locais onde
permaneciam durante muito tempo como por exemplo a África ocidental, a bacia do Zambeze,
do Congo, Baixa Guiné e Etiópia.

Do século XIX a 1947/8, a História continua com tendências racistas. Esta era registada por
europeus que se encontravam ao serviço da administração colonial e escreviam para o interesse
da sua dominação. Neste período, o registo das informações abarca todo o continente, pois
emerge uma elite africana que reivindica igualdade.

De 1947/8 a 1960 assiste-se a uma diminuição da tendência racista dos sistemas coloniais em
relação aos africanos devido `a influência do desenvolvimento do nacionalismo.

De 1960 aos nossos dias, assiste-se a lutas pelas independências em África em vários aspectos;
desaparece o cunho racista na historiografia africana; os europeus interessam-se pelo estudo dos
africanos e dos outros continentes; as Américas interessam-se pela História de África; os países
europeus passam a ser centros de estudo e divulgação da História africana e criam universidade

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para instruir africanos para a pesquisa da História nos seus países; a história de África deixa de
ser vista como propriedade da metrópole e começa a ser feita com objecto e métodos próprios; e
o africano deixa de ser objecto da história e passa a ser sujeito da História.

Autores árabes
Estes registavam o que viam em função dos seus interesses a partir do século IX, pois vieram em
África para desenvolver comércio e expandir o islamismo. Do século IX a XI/XII, as obras
destes autores sobre a África são raras apenas existem alguns autores historiadores como Al
Masudi, Al Bakri e Al Idrisi. Do século XII a XV há abundância de obras como as de Yakut, Al
Umari, Al Hassam (o leão africano). O mais importante autor árabe foi Ibn Khaldum, mas não
era árabe, apenas viveu no período árabe. Os principais escritos foram os Tárikh. As obras
abrangiam a África Oriental até Zamzibar, a parte do Magreb e o Sudão ocidental e oriental. Do
século XV até aos nossos dias foram superados pelos europeus.

Autores africanos
A partir do século XV emergem africanos que com recurso a línguas locais, árabe e Swahili
registam o seu dia-a-dia com objectivo de glorificar o seu passado. Os primeiros autores
africanos foram aqueles que estavam em contacto com os árabes em particular os islamizados. O
maior historiador africano foi Ibn Kaldum (tunisino) e viveu na segunda metade do século XIV e
século XV.

Do século XV a XIX emergem autores africanos no contexto económico e religioso, pois estes
tinham sofrido influência europeia positiva, pois viveram muito tempo como missionários e
guias comerciais, registando os acontecimentos que superavam o continente e situações
contemporâneas.

Do século XIX até 1947, emergem autores que registavam e analisavam o contexto social,
político e religioso em que se encontravam, isto é, começam a condenar as desigualdades entre
europeus e africanos.

De 1947 até aos nossos dias, emerge uma geração de nacionalistas que deixa obras de
contestação em relação a realidade social, política e religiosa; criam-se métodos para a
elaboração da História e são obras de contestação ao regime colonial; desafiam a historiografia
colonial e exigem ser sujeitos da História.

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Curtin e Terence Ranger (1980) afirmam que, olhando a história da África, com objectividade
sem comparações, isto é, com identidade própria, pode ser vista como parte da história geral
porque:

1. A História de África tem ligação com a História da Europa, Asia e América. Esta não
pode ser vista sem ter em consideração a África, pois o africano participou na economia
mundo. Por exemplos: o tráfico de escravo, o comércio na costa oriental de áfrica etc.
2. A história de áfrica é uma contribuição para a história geral porque tem temas próprios
que não são apêndices de outros factos verificados em outros continentes;
3. É parte da história geral, porque levanta a questão da cultura, defendendo que não se
pode fazer história sem cultura e os africanos têm cultura;
4. É parte da história geral, porque há um grande esforço de cientistas africanos, com
produções de valor.

Portanto os historiadores africanos, concluem que, se a África foi excluída do conjunto, foi
porque foi negligenciada a participação do africano, muito embora tivesse contribuído bastante
para a humanidade.

2.2. Evolução da Historiografia africana


2.2.1. Antiguidade
Os egípcios desenvolveram nessa época a escrita hieroglífica,que serviu para fixar o
legado religioso que até então era transmitido oralmente (cosmogonias e mitografias).
Ki-zerbo (coord) (2010) aventa que África ao norte do Sahara era parte integrante de duas
civilizações e seu passado constituía um dos centros de interesse dos historiadores, do mesmo
modo que o passado da Europa meridional ou o do Oriente Próximo.
As informações clássicas a respeito do mar Vermelho e do oceano Índico têm um
fundamento mais sólido, pois é certo que os mercadores mediterrânicos, ou ao menos os
alexandrinos, comerciavam nessas costas. (KI-ZERBO, 2010)
O Périplo do Mar da Eritreia (mais ou menos no ano +100) e as obras de Cláudio
Ptolomeu (por volta do ano +150, embora a versão que chegou até nós pareça referir -se
sobretudo ao ano +400, aproximadamente) e de Cosmas Indicopleustes (+647)
constituem ainda as principais fontes da história antiga da África oriental. (KI-ZERBO,
2010)

2.2.2. A Idade Média

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Neste período, os escritores e viajantes escreveram pouco sobre África. Somente há
registos sobre o norte de África que teve contacto com comerciantes fenícios, gregos e romanos.
Os autores árabes eram mais bem informados, uma vez que em sua época a utilização do
camelo pelos povos do Sahara havia facilitado o estabelecimento de um comércio regular com a
África ocidental e a instalação de negociantes norte-africanos nas principais cidades do Sudão
ocidental. Noutras regiões do continente também se fizeram registos escritos sobre os africanos,
feitos por escritores árabes, como: Al-Masudi; Al-Bakri; Al-Idrisi; Al-Umari; Ibn-
Batuta e Hassan Ibn Muhamad Al-Hassan (Leão de África) estes são de grande importância
para a reconstrução da história da África, em particular a do Sudão ocidental e central, durante o
período compreendido entre os séculos IX e XV. (KI-ZERBO, 2010)
Por outro lado, o comércio com a parte ocidental do oceano Índico tinha se desenvolvido a
tal ponto que um número considerável de mercadores da Arábia e do Oriente Próximo se
instalaram ao longo da costa oriental da África.
Por mais úteis que sejam essas obras para os historiadores modernos, pairam dúvidas de
que possamos incluir algum desses autores ou de seus predecessores clássicos entre os principais
historiadores da África. O essencial da contribuição de cada um deles consiste numa descrição
das regiões da África a partir das informações que puderam recolher na época em que a evolução
da historiografia da África escreveu. (KI-ZERBO, 2010)
Não existe nenhum estudo sistemático sobre as mudanças ocorridas ao longo do tempo
e que constituem o verdadeiro objectivo do historiador. Aliás, tal descrição nem chega a
ser realmente sincrónica, pois se é verdade que uma parte das informações pode ser
contemporânea, outras delas, embora pudessem ainda ser consideradas verdadeiras na
época em que o autor vivia, muitas vezes poderiam ser provenientes de relatos mais
antigos. (KI-ZERBO, 2010)

Além disso, essas obras apresentam o inconveniente de que, em geral, não há nenhum meio
de avaliar a autoridade da informação, de saber, por exemplo, se o autor a obteve por sua
observação pessoal ou a partir da observação directa de um contemporâneo, ou se ele
simplesmente relata rumores correntes na época ou a opinião de autores antigos. (KI-ZERBO,
2010).
Entre os primeiros historiadores da África, porém, encontra-se um muito importante, um
grande historiador no sentido amplo do termo: referimo-nos a Ibn Khaldun (1332 -1406) que, se
fosse mais conhecido pelos especialistas ocidentais, poderia legitimamente roubar de Heródoto o
título de “pai da história”. (KI-ZERBO, 2010).

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Ibn Khaldun é, realmente, um historiador muito moderno e é a ele que devemos o que se
pode considerar quase como história da África tropical, em sentido moderno. Na qualidade de
norte -africano e também pelo fato de ter trabalhado, a despeito da novidade de sua filosofia e de
seu método, no quadro das antigas tradições mediterrâneas e islâmicas, ele não deixou de se
preocupar com o que ocorria no outro lado do Sahara. (KI-ZERBO, 2010).

2.2.3. Do século XV até à actualidade


A partir do século XV, o continente africano, teve contactos com todo o mundo,
especialmente com os europeus, no contexto da Expansão europeia e com o envio no séc. XIX,
de expedições missionárias, cientificas e militares que escreveram sobre África em quase todas
áreas científicas, com especial destaque para a Geografia e exploração de recursos naturais.
Ki-zerbo (2010) diz que Os missionários, ao contrário, sentiam -se obrigados a tentar
alterar o que encontravam e, nessas condições, um certo grau de conhecimento da história da
África poderia ser -lhes útil.
A costa da Guiné foi a primeira região da África tropical descoberta pelos europeus; ela
foi o tema de toda uma série de obras a partir de 1460, aproximadamente (Cadamosto),
até o início do século XVIII (Barbot e Bosman). Uma boa parte desse material é de
grande valor histórico, porque fornece testemunhos directos e datados, graças aos quais
podem -se situar várias outras relações de carácter histórico. (KI-ZERBO, 2010).

Há também nessas obras abundante material histórico (entendido como não -


contemporâneo), sobretudo em Dapper (1688), que, ao contrário da maioria dos demais autores,
não era um observador directo, mas apenas um compilador de relatos alheios. Porém, o objectivo
essencial de todos esses autores era mais descrever a situação contemporânea do que fazer
história.
A partir do século XVIII, parece que a África tropical recebeu dos historiadores
europeus a atenção que merecia. Era possível, por exemplo, utilizar como fontes
históricas os autores mais antigos, sobretudo os descritivos – como Leão, o Africano, e
Dapper –, de maneira que as histórias e geografias universais da época, como The
Universal History, publicada na Inglaterra entre 1736 e 1765, podiam consagrar um
número apreciável de páginas à África. (KI-ZERBO, 2010).

Devido aos problemas coloniais, a África não foi considerada um espaço único e total, dai
que até hoje é frequente dizer-se «África branca» -África do Norte ou Magreb, e «África
Negra» - Sul do Sahara. Esta situação justifica o facto de aparecer uma história regionalizada:
 História de África Magrebina;
 História de África Ocidental;

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 Central e Oriental e África Meridional. (KI-ZERBO, 2010).
O crescimento do interesse dos europeus pela África havia proporcionado aos africanos
grande variedade de culturas escritas, que lhes permitia exprimir seu interesse por sua própria
história. Foi esse o caso principalmente da África ocidental, onde o contacto com os europeus
havia sido mais longo e mais constante, e onde sobretudo nas regiões que se tornaram colónias
britânicas – uma demanda pela instrução europeia já existia desde o início do século XIX.
Os contactos com os missionários cristãos parecem ter desempenhado um papel
significativo. Assim, floresceu em Uganda uma escola importante de historiadores locais desde a
época de A. Kagwa (cuja primeira obra foi publicada em 1906); ao mesmo tempo, R. C. C. Law
anotou, para a região ioruba, 22 historiadores que haviam publicado trabalhos antes de 1940 28,
em geral (como aliás os autores ugandenses) em línguas nativas. Dentre a das obras desse tipo,
uma tornou-se merecidamente célebre: A Short History of Benin de J. U. Egharevba, reeditada
diversas vezes desde sua primeira publicação em 1934.
A partir de 1947, a Société Africaine de Culture e sua revista Présence Africaine
empenharam -se na promoção de uma história – da África descolonizada. Ao mesmo
tempo, uma geração de intelectuais africanos que havia dominado as técnicas europeias
de investigação histórica começou a definir seu próprio enfoque em relação ao passado
africano e a buscar nele as fontes de uma identidade cultural negada pelo colonialismo.
Esses intelectuais refinaram e ampliaram as técnicas da metodologia histórica
desembaraçando -a, ao mesmo tempo de uma série de mitos e preconceitos subjectivos.
(KI-ZERBO, 2010).

A esse propósito devemos mencionar o simpósio organizado pela UNESCO no Cairo em


1974, que permitiu a pesquisadores africanos e não -africanos confrontar livremente seus pontos
de vista sobre o problema do povoamento do antigo Egipto.
Em 1948, aparecia a obra History of the Gold Coast de W. E. F. Ward. No mesmo ano, a
Universidade de Londres criava o cargo de lecturer em História da África na School of Oriental
and African Studies, confiado ao Dr. Roland Oliver.
É a partir dessa mesma data que a Grã -Bretanha empreende um programa de
desenvolvimento das universidades nos territórios que dela dependiam: fundação de
estabelecimentos universitários na Costa do Ouro e na Nigéria; elevação do Gordon
College de Cartum e do Makerere College de Kampala à categoria de universidades.
Nas colônias francesas e belgas, desenrolava -se um processo semelhante. Em 1950 era
criada a Escola Superior de Letras de Dacar que, sete anos mais tarde, adquiriria o
estatuto de universidade francesa. (KI-ZERBO, 2010).
Do ponto de vista da historiografia africana, a multiplicação das novas universidades a
partir de 1948 foi seguramente mais significativa que a existência dos raros estabelecimentos

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criados antes, mas que vegetavam por falta de recursos, tais como o Libéria College de Monróvia
e do Fourah Bay College de Serra Leoa, fundados respectivamente em 1864 e 1876.
A partir de 1948, a historiografia da África vai progressivamente se assemelhando à de
qualquer outra parte do mundo. E evidente que ela possui problemas específicos, como
a escassez relativa de fontes escritas para os períodos antigos e a consequente
necessidade de lançar mão de outras fontes como a tradição oral, a linguística ou a
arqueologia. (KI-ZERBO, 2010).

Mas é preciso ressaltar que esta evolução positiva teria sido impossível sem o processo de
libertação da África do jugo colonial: o levante armado de Madagáscar em 1947, a
independência do Marrocos em 1955, 22 Metodologia e pré -história da África a heróica luta do
povo argelino e as guerras de libertação em todas as colónias da África contribuíram
enormemente para esse processo já que criaram, para os povos africanos, a possibilidade de
retomar o contacto com sua própria história e de controlar a sua organização.

2.3. Principais historiadores africanos desta época


 Samuel Johson (Serra Leoa): A história dos Yorubas;
 Carl Christopher (Gana): A história da Costa de Ouro e de Ashant;
 Joseph Ki-Zerbo (Burkina-Faso): A História de África Negra.
Outros historiadores: Albert Adu Boahen; Bethwell Ogot; Teófilo Obenga; Elika Mibokolo;
John Donald Fage; Ronald; Oliver Terence Ranger; Philip Curtin, Basil Davidson e Walter
Rodney. (KI-ZERBO, 2010).

2.4. Principais correntes da Historiografia africana


2.4.1. Corrente eurocentrista
É uma corrente marcadamente racista, pois defende a superioridade da raça branca sobre a
negra. Sustenta que os africanos não tinham história antes de estabelecerem contactos com os
europeus. Afirma que África não é uma parte histórica do mundo.
Hegel (1770 -1831) definiu explicitamente essa posição em sua Filosofia da História, que
contém afirmações como as que seguem: “A África não é um continente histórico; ela não
demonstra nem mudança nem desenvolvimento”. Os povos negros “são incapazes de se
desenvolver e de receber uma educação. Eles sempre foram tal como os vemos hoje”. (KI-
ZERBO, 2010).
As coisas ficaram ainda mais difíceis para o estudo da história da África após o
aparecimento, nessa época e em particular na Alemanha, de uma nova concepção sobre o
10
trabalho do historiador, que passava a ser encarado mais como uma actividade científica fundada
sobre a análise rigorosa de fontes originais do que como uma actividade ligada à literatura ou à
filosofia.
Tal concepção foi exposta de forma muito precisa pelo professor A. P. Newton, em
1923, numa conferência diante da Royal African Society de Londres, sobre “A África e
a pesquisa histórica”. Segundo ele, a África não possuía “nenhuma história antes da
chegada dos europeus. A história começa quando o homem se põe a escrever”. (KI-
ZERBO: 2010)

Os historiadores coloniais profissionais estavam, assim como os historiadores profissionais


em geral, apegados à concepção de que os povos africanos ao sul do Sahara não possuíam uma
história susceptível ou digna de ser estudada. Como vimos, Newton considerava essa história
como domínio exclusivo dos arqueólogos, linguistas e antropólogos.
Nega assim, a possibilidade de os africanos terem contribuído para o desenvolvimento da
História Universal. O Eurocentrismo defende que somente com as fontes escritas é que se faz a
história.

2.4.2. Corrente afrocentrica


Surge em reacção à corrente eurocêntrica. Critica radicalmente a colonização, afirmando
que influenciou negativamente a evolução histórica africana. É uma corrente que valoriza
excessivamente as realizações africanas. Recusa influência que os outros povos exerceram
sobre a história de África. Para eles, a história é o que graças ao esforço exclusivo dos africanos,
sem concorrência de nenhum factor externo.
O afrocentrismo defende que se deve interpretar e estudar as culturas não europeias,
nomeadamente a africana, e os seus povos do ponto de vista de sujeitos ou agentes e não
como objectos ou destinatários. Estes não defendem que o mundo seja interpretado sob
uma única perspectiva cultural, como foi o caso do eurocentrismo, mais que seja
reconhecida a existência de uma cultura e a sua avaliação em termo de pensamento e
conhecimento através da sua própria perspectiva, nesse caso, mais concretamente a
cultura africana seja analisada, por si, enquanto sujeito e não através de modelos
culturais que por vezes não só a entendem como a desprezam e desvalorizam.
(FARIAS, 2003).

2.4.3. Corrente progressista


É uma corrente que reconhece o valor das fontes escritas, mas recusa aceitar que a história
seja feita apenas com base em documentos escritos, negando assim, ao eurocentrismo.

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Contrariamente ao eurocentrismo e ao afrocentrismo, o progressismo não espelha complexo de
superioridade nem de inferioridade. Reivindica
Parafraseando Ki-zerbo (2010:3) O progressismo expandiu-se a partir de meados do
século XIX com historiadores como: Albert Adu Boahen, Joseph Ki-Zerbo, Teólifo Obenga, e
Roland Oliver.
Uma investigação histórica séria e não discriminatória tendo como chave a combinação de
várias base metodologias e fontes. Esta corrente depende a importância das fontes orais para todo
o conhecimento – tudo o que é escrito é antes pensando e falado.

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III: CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após terminado o trabalho, percebemos que a história de África foi por muitos pensadores
ignorados na medida em que viam a África como se fosse um continente sem história devido a
forte presença da oralidade e da ausência de escritos sobre ela. O conhecimento africano deu-se
em um processo de continuas experiências, vivências que foram cada vez mais sendo
sistematizadas. Com esse conhecimento que foi sendo construído paulatinamente propiciou-se o
deslocamento por todas as vastas regiões, climas, relevos e vegetações do continente. Outro
passo foi dado na historiógrafa africana, quando Malinowski e Radcliffe Brown começaram a
influenciar as obras sobre a África, pois eles criticavam uma história que não tivesse um lastro de
fontes. Essa influência fez sair algumas obras de cunho mais histórico, como as de Leo
Frobernius que era etnólogo, antropólogo cultural, arqueólogo e historiador camuflado.
Ele publicou inúmeros trabalhos com os resultados de suas pesquisas, dentre outros pontos
ele encontrou as estatuetas da cidade de Ifé. Ele buscava uma influência etrusca na cultura
africana, inclusive nas estátuas. Fage aponta que obras de Frobernius praticamente não são lidas
e são muito criticadas, mas o autor ressalta que se faz necessária uma releitura das mesmas, pois
elas são repletas de informações.

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IV: BIBLIOGRAFIAS

Enciclopédia Miradora Internacional. São Paulo 1981


FARIAS, P. F. De Moraes. Afrocentrismo: entre Uma Contranarrativa histórica Universalista e
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